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AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA CURSO: ESPECIALIZAÇÃO EM LEITURA, LITERATURA E PRODUÇÃO DE TEXTO A INFLUÊNCIA DA ORALIDADE NA PRODUÇÃO TEXTUAL DOS ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL Claudemir Ferreira de Carvalho Orientadora: Ms. Eliana Walker ALTA FLORESTA/2010

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AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA

CURSO: ESPECIALIZAÇÃO EM LEITURA, LITERATURA E PRODUÇÃO DE

TEXTO

A INFLUÊNCIA DA ORALIDADE NA PRODUÇÃO TEXTUAL DOS ALUNOS

DO ENSINO FUNDAMENTAL

Claudemir Ferreira de Carvalho Orientadora: Ms. Eliana Walker

ALTA FLORESTA/2010

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AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA

CURSO: ESPECIALIZAÇÃO EM LEITURA, LITERATURA E PRODUÇÃO DE

TEXTO

A INFLUÊNCIA DA ORALIDADE NA PRODUÇÃO TEXTUAL DOS ALUNOS

DO ENSINO FUNDAMENTAL

Claudemir Ferreira de Carvalho

“Trabalho apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Especialização em Leitura, Literatura e Produção de Texto”.

ALTA FLORESTA/2010

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AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA

CURSO: ESPECIALIZAÇÃO EM LEITURA, LITERATURA E PRODUÇÃO DE

TEXTO

BANCA AVALIADORA

ORIENTADOR: MS. ELIANA WALKER

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Dedico a Deus,

pois sem ele nada seria possível.

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AGRADECIMENTO

Agradeço a todos que de alguma maneira

contribuíram na execução deste trabalho.

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RESUMO

O ensino da oralidade não pode ser visto isoladamente, isto é, sem relação com a

escrita, pois elas mantêm entre si relações mútuas e intercambiáveis. A escola

pesquisada está instalada no bairro São José Operário, no município de Alta

Floresta-MT. Para a obtenção dos resultados foi utilizada a observação direta

extensiva, através de anotações das observações feitas em sala de aula, atividades

vivenciadas e escritas feitas pelos alunos. O pesquisado teve sua identidade

preservada para se obter êxito nos resultados. Após análise dos resultados verificou-

se que a oralidade não é trabalhada em sala de aula, o que interfere negativamente

na escrita do aluno. Observou-se ainda que o mesmo não tem conhecimento sobre a

diversidade de formas de comunicação da língua materna. Verificou-se também que,

a fala do aluno faz com que o mesmo apresente marcas de sua linguagem coloquial

na escrita.

Palavras-chave: Escrita, Oralidade, Diversidade.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 7 1 LÍNGUA E LINGUAGEM ............................................................................................. 9 1.1 LÍNGUA ESCRITA E LÍNGUA FALADA ............................................................... 10 1.2 VARIAÇÕES LINGÜÍSTICAS .............................................................................. 11 1.3 ORALIDADE E ESCRITA DE ACORDO COM OS PCN’S ................................... 14 2 CONCEITO DE TEXTO.............................................................................................. 16 2.1 PRODUÇÃO DE TEXTOS ................................................................................... 17 2.2 PRODUÇÃO DE TEXTO NAS ESCOLAS ........................................................... 19 2.3 INFLUÊNCIA DA LEITURA NA PRODUÇÃO TEXTUAL ..................................... 21 3 A INFLUÊNCIA DA ORALIDADE NA PRODUÇÃO TEXTUAL ................................ 24 3.1 A ORALIDADE E A PRODUÇÃO TEXTUAL NA ESCOLA .................................. 26 4 ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................................. 30 4.1 COMPILAÇÃO DAS INFORMAÇÕES.................................................................. 30 CONCLUSÃO ............................................................................................................... 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 37

APÊNDICE ................................................................................................................ 40

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INTRODUÇÃO

Acredita-se que os objetivos primordiais do educador e da escola é otimizar

o uso da linguagem oral e escrita, uma vez que a fala e a escrita tornam possível a

comunicação, a troca de idéias, de experiências, de emoções e sentimentos, ao

mesmo tempo que oportunizam e possibilitam a criação de valores proporcionando

assim diferentes formas de construir a vida.

A escolha do tema justifica-se, devido a linguagem oral e escrita serem

elementos de comunicação importantíssimos ao desenvolvimento intelectual dos

seres humanos e a capacidade escritora em especial de cada um vai depender

muito do ambiente.

A escola pesquisada está instalada no bairro São José Operário, no município

de Alta Floresta-MT. Para a obtenção dos resultados utilizou-se a observação direta

extensiva, através de anotações das observações feitas em sala de aula, atividades

vivenciadas e escritas feitas pelos alunos, com o objetivo de verificar a influência da

oralidade na produção textual.

A apresentação do trabalho foi disposta em capítulos, sendo que o primeiro

explana sobre a língua e linguagem, língua falada e a língua escrita, variações

lingüísticas e a oralidade e a escrita de acordo com os PCN’s.

No segundo capítulo apresenta-se a influência da oralidade na produção

textual e a oralidade e a produção textual na escola. No terceiro capítulo apresenta-

se os resultados obtidos na pesquisa e a reflexão feita a partir da confrontação

destes com o referencial literário pesquisado. O embasamento teórico para

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abordagem do tema foi feito através dos autores Terra, Fávero entre outros e acesso

a internet.

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1 LÍNGUA E LINGUAGEM

A língua é a identidade de um povo e tem caráter social. Além disso, a

língua é um código formado por palavras e regras adotadas por uma sociedade. A

língua portuguesa é o código adotado no Brasil e em muitos outros países que se

comunicam utilizando-se dessa mesma língua.

É através desse código que os indivíduos se comunicam. Vale lembrar que a

língua representa a força de uma nação e se esta tem uma língua forte, madura e

independente assim também serão os membros desta nação.

Segundo Terra (1997), a língua que se fala é um bem, se for levado em

consideração que ela tem um caráter individual (bem privado) e de uso social (bem

público). A língua que você fala é um bem retornando ao conceito de bem (bens são

aquelas coisas que, por serem úteis ao homem, são objeto de apropriação), verifica-

se que a língua que você fala é um bem, por se encaixar perfeitamente na definição

apresentada. Conforme o mesmo autor, “Em primeiro lugar ela é útil e vantajosa ao

homem. Esse primeiro aspecto é inquestionável, pois a língua que falamos é nosso

principal veículo de comunicação e não conseguimos viver em sociedade sem nos

comunicar”.

É impossível pensar em convivência social sem pensar em linguagem, pois

não há comunicação sem ela. Há várias formas de codificar a língua dentro de

diversas linguagens. A língua que se fala faz parte da cultura, dos bens adquiridos

desde os primeiros dias de vida quando se balbucia a primeira linguagem do ser

humano, o choro do recém-nascido é uma forma de linguagem e muitas vezes eficaz

já que transmite uma mensagem de dor, fome, desconforto, sono. E a evolução

dessa linguagem depende do meio em que o indivíduo está inserido, com quem e

como é a cultura ao seu redor. Pois é através da cultura do meio em que estão

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inseridos os falantes que se dá a evolução e a transformação da língua.

Possibilitando a comunicação e a interação.

Entre os tipos mais comuns de linguagem estão a linguagem verbal sendo

aquela que tem por unidade a palavra. A linguagem não verbal tem outros tipos de

unidade, como gestos, o movimento e a imagem. Há também a linguagem mista

como as histórias em quadrinhos, o cinema e a TV que utilizam a imagem e a

palavra, sinalização de trânsito, bandeirinhas do futebol, entre outras. Para Terra

(1997), “Damos o nome de linguagem a todo sistema de sinais convencionais que

nos permite realizar atos de comunicação”. E o mais dinâmico dentre todos os atos

de comunicação está o ato da fala que é a própria concretização da língua e tem

caráter individual. Pode-se dizer que os indivíduos têm uma mesma língua, utilizam

a mesma linguagem, porém não possuem a mesma fala.

Segundo Terra (1997), a fala por outro lado possui um caráter privado, ou

seja, pertence exclusivamente a cada indivíduo que a utiliza. Assim cada falante tem

o domínio da língua que fala e pode usá-la como bem quiser, dentro das regras

estabelecidas com os demais falantes.

1.1 LÍNGUA ESCRITA E LÍNGUA FALADA

A língua escrita é mais elaborada menos econômica e por não dispor dos

recursos da língua falada é estática. E isso se dá devido ao fato de que na fala pode

se utilizar outros recursos como a entonação, as pausas, os gestos, os olhares,

fazendo da linguagem oral a modalidade mais expressiva, mais criativa, mais

espontânea e natural, estando, por isso mesmo, mais sujeita a transformações e

evoluções.

A língua escrita é, foi e sempre será mais bem-elaborada que a língua falada, porque é a modalidade que mantém a unidade lingüística de um povo, além de ser a que faz o pensamento atravessar o espaço e o tempo. Nenhuma reflexão, nenhuma análise mais detida será possível sem a língua escrita, cujas transformações, por isso mesmo, se processam lentamente e em número consideravelmente menor, quando cotejada com a modalidade falada (SACCONI, 1994).

É nas escolas onde costuma se ensinar a língua falada com base na língua

escrita, por ser considerada superior. E ao professor cabe ensinar as duas

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modalidades, mostrando as características e as vantagens de uma e outra, sem

deixar transparecer nenhuma superioridade ou inferioridade, que em verdade não

existem. Isso não quer dizer que se deve admitir tudo na linguagem dos alunos

(SACCONI, 1994).

Importante é fazer o educando perceber que o nível da linguagem deve

variar de acordo com a situação em que está fazendo uso da linguagem já que o

ambiente determina o nível da linguagem a ser empregado. E isso deve ser mais

enfático no Ensino Médio, pois os alunos estão se preparando para o vestibular.

Assim, mostrar aos alunos a diferença e ensiná-los a respeitá-las é parte

essencial no desenvolvimento da linguagem. Desde os primeiros passos escolares,

passando pelo ensino fundamental, médio e superior deverão ser orientados de

maneira a aceitarem a sua própria língua e as diversidades que nela ocorrem. Assim

os alunos certamente teriam um problema a menos na convivência social, o de se

desfazerem dos preconceitos que têm com as diferentes formas de comunicação

oral que encontraram, conheceram e utilizaram. Caberia então a escola somente

acrescentar mais uma, a língua culta.

1.2 VARIAÇÕES LINGÜÍSTICAS

Entende-se que variação lingüística é aquela em que uma dada língua sofre

transformação no tempo e no espaço. Luft (1997) enfatiza que a língua deve ser

vista, analisada e ensinada como entidade viva. Se ela é variável, então não é

morta, porque, além disso, sofre modificações de acordo com a situação e com o

seu contexto. Vê-se com isso, que é um engano pensar que haja certos ou errados,

pois o que nos parece certo e correto hoje; daqui alguns anos não será mais, por

causa do efeito de transformação e evolução da língua.

Há razões suficientes advindas de pesquisas científicas e históricas para

que comunidades inteiras se expressem de uma forma e não de outra. E rotular que

só existe uma forma de usar a língua e que todos devem empregar a mesma

linguagem seria um desrespeito às diferenças culturais que cada um traz consigo.

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Para Possenti (2000), cada cidadão tem sua própria linguagem e cada

situação de comunicação não é única, é característica então dela ser dinâmica e

variável. Isso na maioria das vezes não é uma transformação induzida pelo homem,

mas pela própria natureza da língua, ou seja, pela própria necessidade que tem para

evoluir. Quando a variação é induzida pelo ser humano, isso ocorre por ela ser

passível de mudança, devido o homem se deparar em determinadas situações por

ele vividas.

A língua é considerada um fato social, pois ao mesmo tempo em que ela é

variável, é conservadora no sentido de que precisa e necessita manter uma forma

para que se possa permitir a comunicação em uma dada comunidade lingüística.

Assim, conforme a mobilidade da língua, não há uma forma única e fechada de se

falar. Novas formas e novos usos vão surgindo a todo o momento, prevalecendo

uns, desaparecendo outros.

Porém esta evolução não pode ser feita de qualquer jeito, ela tem de

respeitar regras para que se possa interagir com um outro falante, pode-se citar aqui

o uso da gramática que tem por objetivo organizar a língua de forma lógica e

seqüencial de forma que todos possam decodificá-la da melhor forma em

determinada situação.

Diante disso, vê-se que a variação linguística está associada às diferenças

que são observadas na linguagem de diferentes grupos sociais. Podem ser por

critérios variados, como: fatores e condições de níveis sócias do falante, grau de

escolaridade, níveis culturais, região do falante, a situação da fala em que é

utilizada, de etnia, de sexo, de idade. Tudo isso influencia a maneira de cada falante,

num processo de transformação e diferenciação. A cada situação, em cada lugar,

através de cada meio cultural e social, para cada individuo, vai-se mudando o modo

de se dizer coisas.

Toda língua, além de variar geograficamente, no espaço, também muda com o tempo. A língua que falamos hoje no Brasil é diferente da que era falada aqui mesmo no início da colonização, e também é diferente da língua que será falada aqui mesmo dentro de trezentos ou quatrocentos anos! É por isso, que nós lingüistas dizemos que toda língua muda e varia. Quer dizer, muda com o tempo e varia no espaço (...) E é por isso também que não existe só a língua portuguesa (BAGNO, 2003).

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Dentre esses critérios de variação, vê-se que a variação geográfica ou

regional refere-se às diferenças de vocabulário, ou seja, de pronúncia ou sotaque e

referentes à construção gramatical das frases, observadas entre falantes de

diferentes regiões que utilizam a mesma língua.

Já com relação à influência social e do grau de escolaridade, pode-se dizer

que existe uma oposição de variantes lingüísticas que se dá entre a chamada

linguagem culta (ou padrão) e a linguagem popular.

Para Possenti (2000), a variação estilística relaciona-se às diferenças

observadas na fala de um mesmo indivíduo, de acordo com a situação em que ele

se encontra, por exemplo, o assunto tratado, o tipo de ouvinte que está lhe

escutando, o grau de intimidade entre os interlocutores, o estado emocional do

falante, o grau de formalidade para quem se vai falar. Assim, de acordo com a

situação, o indivíduo “escolhe” o tipo de linguagem que julga mais adequado.

Percebe-se, então, que existe um nível de fala no qual predomina a

linguagem culta, e um nível de fala coloquial ou informal que predomina no

vocabulário da linguagem popular. É necessário sim, que exista dentro de uma

sociedade uma linguagem padrão, pela qual, todos se adaptem a uma regra a

seguir. Se assim fosse, este padrão fixo e estável, não haveria problema. Porém

esta estabilidade é uma utopia, só existe na visão daqueles que são ignorantes no

assunto.

Há de se considerar as várias formas de uso da língua e, logicamente, que

não fuja à organização seqüencial que possa impossibilitar o entendimento da

linguagem. A língua popular ou coloquial dificilmente reage às várias mudanças que

ocorrem, desde que, essa mudança não prejudique a interação.

Embora a sociedade use de preconceito contra esta variante de linguagem,

não há erro e sim inadequação de situação. Já a língua culta, ao contrário, cria um

ideal. Não podendo alterar em nada a norma estabelecida pela gramática normativa.

Portanto, a correção consiste em obedecer à norma lingüística que rege as camadas

superiores da sociedade.

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1.3 ORALIDADE E ESCRITA DE ACORDO COM OS PCN’S

Segundo o Parâmetro Curricular Nacional (BRASIL, 1997), o ensino de

língua portuguesa na escola desde o começo dos anos 50 tem sido o ponto principal

da discussão sobre a necessidade de melhoria na qualidade da educação no Brasil.

O centro dessa discussão tem sido a respeito da leitura e da escrita, que apontam a

necessidade de encontrar maneiras de garantir realmente essa aprendizagem.

Com respeito à linguagem oral, não se trata de ensinar a fala "correta", mas

sim a fala adequada ao contexto do uso. Os esforços para mudar a alfabetização

escolar consolidaram-se nos últimos dez anos, em práticas de ensino que têm como

o centro de atenção o uso da linguagem. Pode-se dizer que os PCNs, representam

avanços concretos no tratamento do ensino de língua oral, já que a partir de sua

organização estrutural, é possível vislumbrar possibilidades de bons currículos no

campo da oralidade.

O domínio da língua tem estreita ligação com a plena participação social. É

através dela que o homem se comunica e tem acesso à informação. Cabe à escola

promover a ampliação do conhecimento progressivamente a todos os seus alunos,

para o exercício da cidadania, direito garantido a todos.

A linguagem é uma forma de agir interindividual de acordo com a finalidade

específica, um processo de conversão, realizado nas práticas sociais, nos variados

grupos da comunidade e nos diferentes momentos da história. Dessa maneira, se

produz linguagem tanto em uma conversa entre amigos, quanto ao fazer uma lista

de compras, dependendo das práticas sociais das quais se participa:

A língua é um sistema de signos histórico e social que possibilita ao homem significar o mundo e a realidade. Portanto, aprendê-la é aprender não só as palavras, mas seus significados culturais e o modo como as pessoas em seu meio cultural a entendem (BRASIL, 1997).

Brasil (1997), coloca que a linguagem verbal fornece meios ao homem de

expor a realidade física e social, quando aprendida, mantêm um vínculo muito

grande com o pensamento. Levando as pessoas a comunicarem suas idéias,

pensamentos e intenções de várias maneiras, não importando se há o uso da

gramática padrão ou não, assim, produzindo-se a linguagem, aprende-se a

linguagem.

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Os PCNs consideram o ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa na

escola em três variáveis: o aluno, a língua e o ensino. O aluno é o sujeito do ato de

aprender, é quem age sobre o objeto de conhecimento. A língua; tal como se fala e

se escreve fora da escola, é a que se fala em instâncias públicas e a existente nos

textos escritos que circulam socialmente. O ensino; é a prática educacional que

organiza a medição entre sujeito e objeto do conhecimento. Para acontecer essa

mediação o professor precisa planejar e dirigir as atividades didáticas, orientando e

apoiando o esforço de ação e reflexão do aluno.

Hoje em dia os níveis de leitura e da escrita são bem diferentes e mais

superiores que o de algum tempo atrás. Com o crescente progresso em que o

mundo se encontra essa exigência nos níveis de leitura e escrita tende a crescer

sempre mais. Para a escola, como espaço de conhecimento, atender a essa

demanda é necessário rever como está sendo praticado o ensino da língua, que

sempre é tratada como um monte de regras a serem aprendidas, sem vida e

emoção.

Então cabe à escola viabilizar o acesso do aluno ao universo de textos que

circulam socialmente, ensinando-os a produzir e a interpretar. Isso inclui o ensino de

textos em todas as disciplinas em que os alunos trabalham no seu dia-a-dia escolar.

Sobre a fala, no Brasil possui muitas variedades dialetais. Segundo Brasil

(1997), “na sociedade a linguagem oral é utilizada de formas diferentes: um cientista,

um professor, um feirante, um repórter, enfim, todos que precisam falar em voz alta,

usam a linguagem de acordo com as diferentes instâncias que essa prática exige”.

À escola cabe ensinar o educando a usar a linguagem oral em diversas

situações comunicativas. Planejando e realizando entrevistas, debates, seminários,

dramatizações e outras, fazendo com que essas situações didáticas e atividades

façam sentido para o aluno.

Quanto à escrita cabe os professores trabalhar através de textos,

orientando-os na produção e interpretação. Ensinar a escrever textos torna-se uma

tarefa muito difícil fora do convívio com textos verdadeiros. Quando os textos que

circulam socialmente entram na escola, servem como modelo, ponto de referência,

diversidade para as atividades textuais. A variedade de textos que existe fora da

escola pode e deve ajudar no desenvolvimento do conhecimento letrado do aluno.

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2 CONCEITO DE TEXTO

Segundo Koch (1997), o texto consiste em qualquer passagem falada ou

escrita, que forma um todo significativo, independente de sua extensão. Trata-se de

uma unidade de sentido, de um conjunto de relações responsáveis pela tessitura do

texto.

Chama-se textualidade o conjunto de características que fazem com que um

texto seja um texto, e não apenas uma sequencia de frases. Beaugrande E Dressler

(apud Fiorin, 1996), apontam diversos fatores responsáveis pela textualidade de um

discurso qualquer: a coerência e a coesão, que se relacionam com o material

conceitual linguístico do texto, e mais; intencionalidade, aceitabilidade,

situacionalidade e a intertextualidade, que tem a ver com os fatores pragmáticos

envolvidos no processo sócio-comunicativo.

a) Coerência - ela está diretamente ligada à possibilidade de se estabelecer

um sentido para o texto, ou seja, ela é o que faz com que o texto faça sentido para

os leitores, devendo portanto, ser entendida como um princípio de interpretabilidade.

b) Coesão - é o encadeamento dos parágrafos, que faz com que eles se

liguem entre si. Porém um texto pode muito bem ser coeso se no entanto incoerente.

c) Intencionalidade - ela exige do produtor a construção de um discurso

coerente e coeso, capaz de satisfazer os objetivos em uma determinada situação

comunicativa (informar, convencer, pedir, etc).

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d) Aceitabilidade - dá-se quanto à expectativa de que o recebedor tenha

acesso a um texto coerente e coeso.

e) Situacionalidade - refere-se a que diz respeito à adequação do texto à

situação sócio-comunicativo, responsável pela pertinência e relevância do texto.

f) Intertextualidade - para isso o texto deve interagir com outros textos que

funcionam oco seu contexto.

Ainda para analisar a textualidade de um texto, Charolles (apud Costa Val,

1991), apresenta quatro meta-regras. São elas: Continuidade, Progressão, Não

contradição e Articulação.

a) Continuidade - é quando for feito a retomada de elementos no decorrer do discurso, para dar a eles uma sequencia constante. b) Progressão - ela complementa a repetição, garante a retomada de elementos passados, garantindo que o texto não se limite a repetir indefinidamente o que já foi colocado. Dessa forma equilibra-se o que já foi dito com o que se vai dizer, garantindo a continuidade do tema e a progressão do sentido. c) Não contradição - um texto deve obedecer a regras básicas. Suas ocorrências tem que ser compatíveis entre si, não só no que trazem explícito, como também no que delas se pode concluir por pressuposição o inferência. d) Articulação - ela é responsável pela maneira com os fatos apresentados no texto se encadeiam formado uma relação de continuidade, progressão e não contradição, para que um texto seja realmente um texto.

Porém todos estes itens enumerados, sempre terão que se adequar aos

conceitos de coerência e coesão, na forma como se relacionam com cada item.

2.1 PRODUÇÃO DE TEXTOS

Segundo Bräkling (2010), do mesmo modo que a leitura, a produção textual é

uma técnica de linguagem e, como tal, uma prática social, pois em várias

circunstâncias da vida escrevemos textos para diferentes interlocutores, com

distintas finalidades, organizados nos mais diversos gêneros, para circularem em

espaços sociais vários. Produz-se textos em diversas situações. A cada situação

correspondem:

a) finalidades diferentes: manifestar a forma de pensar a respeito de determinada matéria lida; divulgar determinados serviços buscando seduzir possíveis clientes; convencer a respeito de determinadas interpretações de dados; obter notícias sobre um ente querido; informar sobre sua qualificação profissional; b) interlocutores diversos: leitores de um determinado veículo da mídia impressa (jornal, revista); transeuntes de determinados locais (vias de circulação, rodoviária etc.); colegas de trabalho, leitores de determinada

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revista acadêmico-científica ou de determinado tipo de livro; um parente próximo ou um amigo; um possível contratante; c) lugares de circulação determinados: mídia impressa; academia; família ou círculo de amizades; determinada empresa (esfera profissional); vias públicas de grande circulação de veículos e pessoas; d) gêneros discursivos específicos: carta de leitores; anúncio; folheto de propaganda; outdoor; artigo acadêmico-científico; carta pessoal; currículo.

Segundo BRÄKLING (2010), escrever um texto é uma atividade que nunca é

a mesma nas diferentes circunstâncias em que ocorre, porque cada escrita se

caracteriza por diferentes condições que determinam a produção dos discursos.

Essas condições referem-se aos dados mencionados, mas não apenas a eles. Um

aspecto a ser analisado ainda é o lugar do qual se escreve.

Escrever implica no domínio de determinados métodos: saber planejar o que

vai ser escrito conforme as características do contexto de produção colocado, saber

escrever o que foi planejado, saber revisar o que foi escrito, durante o processo

mesmo de escrita e após finalizado, e saber reescrever o texto produzido e revisado.

Como bem escreveu Freire (2001), aprender a ler e a escrever “é entender o

que se lê e escrever o que se entende”. Geralmente sozinhas, as crianças, os

adolescentes e mesmo os adultos lêem textos de maneira superficial, enxergando

apenas o que “salta aos olhos”, o que está “escondido”, o que está subentendido.

Para se tornar um bom leitor ou amadurecer para a leitura, qualquer aluno

precisa ser levado a aprofundar-se na ação de ler, aprendendo a observar melhor os

detalhes e nuanças, na busca de realmente compreender o que está lendo.

Como escreveu Silva (1981), “ler é antes de tudo compreender, não sendo

jamais um ato mecânico e desinteressado, mas uma experiência consciente”.

Para Andalô (2000):

A atividade de reescrita começa pela leitura do professor, esse desenvolvendo com leitura, dramatização, desenho e texto escrito pela criança, faz com que ela reflita sobre a linguagem, uma vez que precisa aprofundar-se na compreensão da história, para poder criar uma ilustração e reproduzir, por escrito, o que foi lido.

A reescrita de histórias é uma atividade adequada para ensinar a ler e a

escrever, porque levam o aluno a refletir a respeito do conteúdo e da forma do texto

(texto narrativo-descritivo, em prosa). Além disso, representam um momento de

produção de textos coerentes e coesos, com começo, meio e fim, em que o aluno

explora suas hipóteses de escrita e libera sua criatividade. Como pode-se ler nos

Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997): ”É no interior do funcionamento

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da linguagem que é possível compreender o modo desse funcionamento.

Produzindo linguagem, aprende-se linguagem”.

2.2 A PRODUÇÃO DE TEXTOS NAS ESCOLAS

A instituição escolar, de maneira geral, tem preparado o educando para ler e

escrever narrações, descrições e cartas. O aluno é treinado para produzir textos

modelares, com regras fixas preestabelecidas e numa linguagem “escolar”, distante

da realidade. “Esse trabalho leva o aluno a decodificar sem compreender, e escrever

sem expressividade”. (CÓCCO; HAILER, 1996)

A exploração de textos diversificados – verbais e extra-verbais – é uma

prática pedagógica que proporciona o desenvolvimento da expressividade, do uso

funcional da linguagem, da leitura e da reflexão sobre o mundo.

Em todos os momentos, é possível fazer a leitura e a escrita de textos

diversificados. Todos os textos existentes no ambiente podem ser utilizados em

atividades, sendo divididos em práticos, informativos, literários e extra-verbais.

Os textos práticos são aqueles utilizados no cotidiano, em diversas

situações. Eles contribuem para uma melhor comunicação entre as pessoas e

facilitam as atividades do dia-a-dia, como bilhete, anúncio, bula de remédio, manual

de instrução e outros.

Os textos informativos têm a função de transmitir conhecimentos,

descobertas, conclusões, como o texto jornalístico, enciclopédia, dicionário e outros.

Os textos literários são registros de pensamentos e fantasias do homem e de sua

relação com o mundo que o cerca. Têm o objetivo de divertir e expressar

pensamentos e ideias por meio de conteúdo e forma escolhidos pelo autor, como

contos, fábulas, novelas e crônicas. Os textos extra-verbais utilizam códigos não-

lingüísticos, como formas, cores, sons e gestos, como pintura, escultura, música e

arquitetura.

Segundo Cócco E Hailer (1996), “o trabalho com os textos pode explorar a

funcionalidade, o conteúdo propriamente dito, as características da superestrutura

esquemática, o contexto e as condições de produção”. Este último aspecto refere-se

a um enfoque discursivo da exploração textual.

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Igualmente como a leitura, a produção textual é uma prática de linguagem

sendo assim, uma prática social. Desta maneira, em diversas fases da vida

escrevem-se textos para diferentes leitores, com diversas finalidades, formados nos

mais diversos gêneros, para circularem em espaços sociais alterar.

A prática da escrita na escola é um acontecimento monológico no qual o

aluno escreve para si. Considera-se uma escrita para si pelo fato que

exclusivamente o aluno transmite sentido ao texto produzido, sem levar em

consideração os outros membros constituintes no processo de comunicação. A

produção de texto é realizada dentro de uma expectativa singular de linguagem. No

âmbito escolar a linguagem tem duas concepções, ambas de caráter monológico.

Segundo Silva (2010), a primeira, traz a linguagem como expressão de

pensamento, ou seja, produção de um texto precisa expressar o modo qualitativo do

pensamento de seu produtor. Essa concepção é baseada no uso da gramática

normativa, com isso um texto bem escrito precisa seguir as normas da língua

padrão, e deve mostrar, de maneira lógica, o pensamento de seu produtor, sem

sofrer influências.

Para Silva (2010), a segunda tem a linguagem como instrumento de

comunicação, que leva uma informação de um emissor para um receptor e exerce

apenas essa finalidade. Nessa concepção o texto traz em si o objetivo estrito e

restrito de conduzir, de levar essa informação, sem influência de ruídos

comunicativos, deve ser preciso e objetivo.

Porém nas escolas a prática de produção textual é sedimentada. Utiliza-se

concepções reducionistas, da linguagem e da escrita. Na prática escolarizada o

aluno elabora um texto unicamente para alcançar uma nota, preocupa-se

exclusivamente em levar uma informação acerca de determinado tema ao

professor/receptor.

Assim, a preocupação com a produção de textos não consegue ultrapassar a

concepção de que a forma é primordial, um pré-requisito para a redação cujo ensino,

quando existente, se limita à preparação para exames que testam a proficiência dos

alunos a partir de alguns modelos preestabelecidos de textos. Em outras palavras,

quando a proposta é ensinar a escrever, ela não consegue ir além dos objetivos

imediatistas que por sua vez, não retiram do aluno o papel de “re-produtor”.

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2.3 INFLUÊNCIA DA LEITURA NA PRODUÇÃO TEXTUAL

Conforme Vieira (2010), saber escrever pressupõe, antes de mais nada,

saber ler e pensar. O pensamento é expresso por palavras, que são registradas na

escrita, que por sua vez é interpretada pela leitura. Como essas atividades estão

intimamente relacionadas, pode-se concluir que: quem não pensa (ou pensa mal) ,

não escreve ( ou escreve mal): quem não lê (ou lê mal) não escreve (ou escreve

mal).

Para a autora, ler, portanto, é fundamental para escrever. Mas não basta ler,

é preciso entender o que se lê. Entender o que se lê significa ir além do simples

reconhecimento do significado das palavras que aparecem no texto. É preciso,

também, compreender o sentido das frases, para que se alcance a finalidade maior

da leitura: a compreensão das ideias e, num segundo momento, os recursos

utilizados pelo autor na elaboração do texto. “A compreensão do texto a ser

alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o

contexto” (Freire, 2001).

Apesar do grande poder dos meios eletrônicos de comunicação de massa, a

leitura ainda é uma das fontes mais ricas de informação. A leitura não só ensina os

mecanismos da língua escrita, mas também fornece ideias que ajudam na tarefa de

escrever.

Em termos de linguagem, assim como em muitos outros domínios, a criação e

a descoberta não ocorrem no vazio. Existem convenções linguísticas que o aluno

necessita dominar. Não será, portanto, simplesmente incentivando e respeitando os

textos produzidos espontaneamente pelos alunos e tampouco impondo-lhes, através

de um treino repetitivo de textos simplificados, em modelo correto de língua escrita,

que se estará possibilitando o momento deles serem capazes de criar textos

compatíveis aos padrões convencionados para o português escrito. É necessário

oferecer-lhes oportunidades de contato com diferentes modelos, contextualizando a

língua escrita através de seus usos, mesmo antes de se tornarem efetivamente

capazes de ler e escrever.

Conforme Vieira (2010), a aquisição da língua escrita não se dá unicamente

no espaço escolar. Muitos pequenos leitores já estão se formando em seu ambiente

familiar graças ao contato frequente com livros escritos principalmente para eles. E

aí que se pode afirmar que as crianças começam a gostar da leitura antes de

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aprender a ler: ouvindo histórias lidas por adultos, folheando seus próprios livros,

examinando as gravuras, criando seus próprios enredos, sempre de acordo com

suas motivações e interesses imediatos.

“A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura

desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e

realidade se prendem dinamicamente” (Freire, 2001).

No entanto, o ensino formal da leitura converge para o interior da escola, que

dependendo de como compreende a leitura, a escola pode tomar caminhos

diferentes. Há processos e métodos que amparados por certos materiais didáticos,

mais afastam do que sensibilizam seus alunos para o ato prazeroso de ler.

Segundo Vieira (2010), para que a leitura faça sentido, é preciso, antes de

mais nada, que esteja em sintonia com as motivações de quem lê. Quando se fala

em sintonia, em prazer de ler, deve ficar claro que a satisfação não se reduz ao

lúdico, ao recreativo. O prazer está tanto em obter uma informação, em

compreender uma instrução, em estudar um tema, em tomar conhecimento de fatos,

em embalar-se na poesia e em dar asas à imaginação.

Assim, a leitura de textos provoca, no leitor, um movimento de reflexão sobre

o mundo e sobre o mundo do texto. A prática de ler acaba envolvendo o aluno. Ler é

valorosa ação e acontecimento para que o aluno extrapole e avance enquanto ser

que pensa e que descobre o pensamento dos outros, através da palavra e da sua

organização. Nesse sentido, é que há a troca. E então leitura e troca podem se

sinônimos.

No processo de produção de textos escritos os Parâmetros Curriculares

Nacionais (1997), sugerem atividades que possibilitam ao aluno desenvolver o

domínio da escrita em situação de uso público da linguagem. E, de acordo com os

próprios PCNs (1997), “a redação desses textos deve sempre considerar suas

condições de produção que variam de acordo com a finalidade, especificidade do

gênero, lugares de circulação e interlocutor eleito”.

A leitura, por esse ponto de vista, torna-se um grande investimento

pedagógico, e um importante material que circula pelas aulas. É aí se retorna ao

papel de orientador do professor para que ocorra o encontro do leitor com o texto, no

sentido de o ler ir impulsionando o leitor e também o seu escrever.

A questão do prazer da leitura como a do prazer da escrita são semelhantes,

pois uma e outra sugere a participação do leitor e escritor. Assim, na produção

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textual a leitura e a escrita se complementam, sendo estas habilidades a base de

qualquer ato educacional.

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3 A INFLUÊNCIA DA ORALIDADE NA PRODUÇÃO TEXTUAL

A linguagem utilizada em sala de aula apresenta um perfil específico, pois, a

fala do professor, por ser de um sujeito letrado, abandona as marcas da oralidade e

se deixa impregnar pelas marcas do texto escrito. Assim, nas séries iniciais do curso

fundamental, o aluno oriundo das classes populares, que está iniciando sua

apropriação da escrita, e que, portanto, escreve como fala, tem de interagir com um

professor cuja fala é modelada pelas marcas do discurso escrito letrado, fala como

escreve / escreve sob pressão das normas gramaticais.

Segundo Marcuschi (1993), conseqüentemente, a falta de sintonia entre o

discurso do professor e o do aluno não se dá apenas pelo fato de terem origem em

grupos sociais distintos, mesmo porque nem sempre é assim, mas pelo fato de que

o discurso do professor, diferentemente do aluno, corresponde à fala de sujeitos já

letrados, fala impregnada pela escrita.

Uma abordagem complexa dos gêneros orais, pode ajudar a diminuir as

distâncias que o ensino elitista impõe entre a vida social e a produção escolar

porque também pode fornecer bons modelos para que sejam trabalhadas as

variações, conceitos de desvios e de erros e, ao mesmo tempo, valorizar e pôr em

circulação uma produção textual que permita o sujeito assumir, sem sentimento de

inferioridade, suas performances orais e escritas (MARCUSCHI, 1993).

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Muitas pesquisas tem sido realizadas ultimamente sobre a língua falada,

quer nas ciências humanas, quer nas sociais e, ainda que um número crescente de

trabalhos compare-a com a modalidade escrita, pouco sabe-se sobre elas.

Embora nas duas o sistema lingüístico seja o mesmo para a construção das

frases, Marcuschi (1993), afirma que “as regras de sua efetivação, bem como os

meios empregados, são diversos e específicos, o que acaba por evidenciar produtos

diferenciados” .

Segundo Marcuschi (1993), sociólogos, antropólogos, educadores,

psicólogos e lingüistas têm se debruçado sobre o assunto e diante de tanto

interesse, era de se esperar que as características da fala e da escrita já tivessem

sido analisadas exaustivamente, porém se há muitos trabalhos, a concordância entre

eles é pequena. A escrita tem sido vista como de estrutura complexa, formal e

abstrata, enquanto a fala, de estrutura simples ou desestruturada, informal, concreta

e dependente do contexto.

Historicamente a escrita, sempre foi considerada a verdadeira forma de

linguagem e a fala instável, não podendo constituir objeto de estudo. Essa postura

só começou a mudar no século passado quando da fonética passa a disciplina

autônoma, Estes estudos, porém, não resultaram em comparação entre a fala e a

escrita, acentuando a especificidade de cada uma, mas a primeira é vista como

primária e a segunda como dela derivada. Segundo Mattoso Câmara (apud Favero,

2003), “a escrita decorre da fala e é secundária em referencia a esta”.

As gramáticas tratam as relações entre a fala e a escrita tendo como

parâmetro a língua escrita. Este fato tem gerado uma postura polarizada e

preconceituosa. Segundo Marcuschi (1993), “os gramáticos imaginam a fala como o

lugar do erro, incorrendo no equívoco de confundir a língua com a gramática

codificada”.

Parece consenso que a língua falada deve ocupar um lugar de destaque no

ensino da língua. Segundo Marcuschi (1993), a motivação para que essa

modalidade seja trabalhada com tal relevo se dá de um lado, porque o aluno já sabe

falar quando chega à escola e domina, em sua essência, a gramática da língua. Por

outro lado, a fala influencia sobremaneira a escrita, principalmente no que se refere

à representação gráfica dos sons.

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Certamente em termos de desenvolvimento humano, a fala é status primário. Culturalmente, os homens aprendem a falar antes de escrever e, individualmente, as crianças aprendem a falar antes de ler e escrever. Todas as crianças aprendem a falar (excluindo-se as patologias); muitas crianças não aprendem a ler e a escrever. Todas as culturas fazem uso da comunicação oral; muitas línguas são ágrafas. De uma perspectiva histórica e da teoria do desenvolvimento, a fala é claramente primária (BIBER apud FAVERO, 2003).

Quanto à escola não se trata obviamente de ensinar a fala, mas de mostrar

aos alunos a grande variedade de usos da fala, dando-lhes a consciência de que a

língua não é homogênea, trabalhando com eles os diferentes níveis (do mais

coloquial ao mais formal) das duas modalidades, escrita e falada. Na verdade vem-

se criando a consciência de que a oralidade tem um papel no ensino da língua.

A questão não é falar certo ou errado e sim saber que forma de fala utilizar, considerando as características do contexto de comunicação, ou seja, saber adequar o registro às diferentes situações comunicativas. É saber coordenar satisfatoriamente o que falar e como fazê-lo, considerando a quem e por que se diz determinada coisa (BRASIL, 1997).

Assim, a questão da oralidade é colocada como um problema de adequação

as diferentes situações comunicativas. Nessa perspectiva, o ensino da oralidade não

pode ser visto isoladamente, isto é, sem relação com a escrita, pois elas mantêm

entre si relações mútuas e intercambiáveis.

Portanto, oralidade e escrita são práticas e usos da língua com

características próprias, mas não suficientemente opostas para caracterizar dois

sistemas lingüísticos nem uma dicotomia. Ambas permitem a construção de textos

coesos e coerentes, ambas permitem a elaboração de raciocínios abstratos e

exposições formais e informais, variações estilísticas, sociais e dialetais.

3.1 A ORALIDADE E A PRODUÇÃO TEXTUAL NAS ESCOLAS

O ensino da língua portuguesa nas escolas está mais centrado na escrita.

Cagliari (1992) afirma que “há mais preocupação coma a aparência da escrita do

que com o que ela realmente faz e representa”. Tal atitude parece completamente

errada e fora de propósito. Torna-se indispensável apontar que a língua escrita é

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mais uma modalidade da língua a ser aprendida. Não se pode, de maneira

nenhuma, desvalorizar e descriminar as habilidades orais que estão em uso nos

vários segmentos da sociedade, em todos os seus níveis. Neste contexto, deve-se

levar em conta a questão da adequação, cada circunstância determina de quem nela

está envolvido comportamento, vestimenta e linguagem adequados.

Para Cagliari (1992), a existência de distintas modalidades no uso da língua

e o domínio da língua padrão são pontos que preocupam todos os envolvidos com o

ensino da língua portuguesa. Apesar do consentimento dos diversos níveis do uso

da língua, o domínio do padrão culto escrito é condição imprescindível para o

aprimoramento cultural, moral e intelectual do indivíduo e o desenvolvimento do país

e da população. Portanto, é da escola, a responsabilidade de ensinar a norma culta

escrita sem desprezar as demais modalidades da língua consideradas “erradas” por

alguns segmentos tradicionalistas do sistema educacional.

O texto falado, de maneira geral, é criado na ocasião da conversação, não

tendo rascunho, como em regra acontece no texto escrito. Ele é planejado

localmente, isto é, esquematizado passo a passo, conforme se desenvolve a

conversação. O texto escrito pode ser esquematizado, examinado, rascunhado. Para

Cagliari (1992), o texto falado oferece pouca elaboração em comparação ao texto

escrito. Além do mais, do ponto de vista sintático, o texto falado é bastante

fragmentado, pois as frases são cortadas, existindo, assim, por vezes, rupturas na

construção à medida que a frase muda de direção, tomando outro caminho sintático.

Esse formato fragmentado da modalidade oral, frases truncadas, etc, é a forma que

distingui em muito as duas modalidades.

Já o texto escrito, apesar de poder ser reescrito, não deixa entender, ao ser

apresentado como acabado, as marcas de sua elaboração. Ele se mostra pronto,

lógico, com seqüência temporal. Existe, também, a questão do planejamento, que na

escrita começa no tema a ser desenvolvido, atingindo ao planejamento lingüístico. A

modalidade escrita da língua implica a articulação de conceitos e de aspectos

lingüísticos.

Portanto, a fala pode ser uma maneira de produção textual discursiva para o

uso da comunicação na modalidade oral, sem a obrigação de uma tecnologia além

do aparato disponível pelo próprio indivíduo. Caracteriza-se pelo uso da língua na

sua forma de sons ordenadamente articulados e expressivos, bem como os

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aspectos prosódicos, envolvendo, também, uma série de recursos significativos de

outra ordem, tal como os movimentos do corpo, a mímica e a gestualidade.

A escrita pode ser um jeito de produção textual discursiva para fins de

comunicação com apropriadas especificidades materiais e se caracterizaria por sua

constituição gráfica, ainda que envolva igualmente recursos de ordem pictórica e

outros (situa-se no plano dos letramentos). Trata-se de uma habilidade de uso da

língua complementar à fala. A escrita é empregada em contextos sociais

fundamentais da vida cotidiana, em paralelo direto com a oralidade, como a escola,

o dia-a-dia, o trabalho entre outros.

Segundo Cagliari (1992), nestes contextos, as evidências e os objetivos do

uso da escrita são variados e diversificados. Relações inevitáveis entre escrita e

contexto precisam existir, fazendo aparecer gêneros textuais e formas

comunicativas, bem como terminologias e expressões típicas. Seria importante que

a escola soubesse um pouco mais sobre essa questão para enfrentar sua tarefa com

mais preparo e maleabilidade, servindo até mesmo de orientação na relação de

textos e definição de níveis de linguagem a trabalhar.

A oralidade é vista, diversas vezes, de uma maneira errada, portanto, a

gramática normativa está voltada para a língua escrita, mesmo quando tenta abordar

temas específicos da língua falada.

A língua falada, tomada como ponto de partida, indica um começo da produção textual que, aos poucos, busca novas formas de manifestação. São importantes: a leitura de conto de fadas e sua reescrita; a participação em entrevistas: a possibilidade do aluno falar sobre suas experiências etc., sempre em ambiente descontraído onde as várias formas de linguagem estejam presentes (LEMOS, 1996).

O aluno vai querer ler e escrever e este seu desejo o motivará a pensar,

levantar hipóteses sobre como se organiza e funciona o jogo das letras, palavras e

histórias. O aluno sabe intuitivamente que há uma diversidade de “modos de falar e

de escrever”, de gêneros, de tipos textuais, de formatações discursivas que priva,

interpõe restrições a seu potencial de fala.

Para produzir textos não existem fórmulas mágicas. A maioria dos autores

que explora, estuda e incentiva a escrita, são unânimes em afirmarem que não é

nada fácil colocar pensamentos em letra de fôrma, porém nada é melhor do que

sentir que a clareza da linguagem torna efetiva a comunicação humana.

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Assim, acredita-se que um dos objetivos primordiais do educador e da

escola é otimizar o uso da linguagem oral e escrita, uma vez que a fala e a escrita

tornam possível a comunicação, a troca de idéias, de experiências, de emoções e

sentimentos, ao mesmo tempo que oportunizam e possibilitam a criação de valores

proporcionando assim diferentes formas de construir a vida.

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4 ANÁLISE DOS DADOS

Existem várias razões para justificar as diferenças entre a língua falada e a

escrita. De modo geral, discute-se que ambas apresentam distinções porque diferem

nos seus modos de aquisição, nas suas condições de produção, transmissão e

recepção, nos meios através dos quais os elementos de estrutura são organizados.

A escrita é essencialmente um processo mecânico, sendo necessárias a manipulação de um instrumento físico e a coordenação consciente de habilidades específicas motoras e cognitivas. Assim, a escrita é completa e irremediavelmente artificial, enquanto a fala é um processo natural, fazendo uso dos meios assim chamados órgãos da fala (AKINNASO apud FAVERO, 2003).

Verifica-se que a língua falada não possui uma gramática própria, suas regras

de efetivação é que são distintas em relação à escrita. O que existe é maior iniciativa

por parte de quem fala.

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4.1 COMPILAÇÃO DAS INFORMAÇÕES

Através de anotações das observações feitas em sala de aula e das

atividades vivenciadas e escritas feitas pelos alunos, coletou-se as informações

sobre o tema pesquisado. Para identificação, cada aluno receberá a letra A seguida

de um número, A1, A2.

O trabalho solicitado aos alunos foi à observação de uma paisagem, seguida

de uma produção de texto, da qual retirou-se os seguintes dados:

“(...) depois de um dia tam canssativo, mas tem gente que nem liga para

esse probrema. Quando acabar a água talvez possão abrir os olhos e si perguntar

para si mesmo (...)” (A 1).

“(...) moro perto de um rio ondi esta se acabando pois tem pessoa que estão

o poluindo (...)cada um faz sua parte para termo tudo de bom” (A 2).

“Para se chegar lá, é muito dificiu, pois lá é, um labirinto (...) um índio que

incarou o labirinto (...)”(A 4).

“(...) se você não preservá isso pode acaba (...) o ar é muinto diferente e

refrescante” (A 5).

“A natureza é uma coisa linda de se vê, que pena que muitas pessoas

desmatam, mata passarinhos polui o riu e acaba com tudo (...) foi deixado por Deus

para nós cuidarmos e preservar” (A 6).

“Porfavor não faz poluição porque que vai morrer vai ser nós” (A 7).

“(...) sem as arvores e os frotos nos não vive não só nós mas também os

animas (...) por que sem as arvores nós não tem o fruto nem os animais. (...) sem

água nós morre seco e não tem peixes para nós pescar e os animas (...)” (A 8).

“Sé desmatar, as nacentes sé secam daí não vai te cachoeira rios. daí a

água não vai parar o reservatorio e não vai para o nosso copo para nos beber.

Vamos cuidar.fim” (A 9).

“(...) agua 1% nos podemos usar 1% ta pra discongela e 98% esta no mar”

(A 10).

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“(...) quando nós formos banhar neles não vai ter como banhar por causa do

lixo” (A 11).

“(...) com caichoeira, arvores grandes (...)”(A 12).

“(...) para nos não poluir a água sempre preservar a natureza (...) quando vc

fica perto de uma cachoera de arvore vc fica muito mas souto mas com prazer viver

com a natureza” (A 13).

“A água é pouca e ainda sim acontece o disperdicio um dia a água vai

acabar (...)”(A 14).

“(...) podemos nos prejudicar no futuro, nós mesmo (...)”(A 15).

Foram analisados vinte e cinco textos, sendo que apenas em oito não foram

encontrados traços de oralidade somente erros ortográficos. Ao término da análise

percebe-se que a oralidade influencia a escrita dos alunos.

Observa-se que a língua popular caracteriza-se pela economia das marcas

de gênero e número, como por exemplo, quando se fala “nóis vai, nos foi, eles veio,

eles foi. Segundo Possenti (2000), a língua também é caracterizada pela

simplificação gramatical com predomínio de frases simples, assim como o uso

excessivo de “aí”, “então”, predomínio das regências diretas nos verbos e do uso de

pronomes pessoais retos como objetos.

No aspecto vocabulário, pôde-se observar uma variedade maior na língua

padrão, com maior precisão no emprego de vocábulos técnicos, ou seja, termos ou

vocabulário mais rico. Enquanto na língua popular predomina um vocabulário mais

limitado, utilizado nos mais variados sentidos, como é o caso das gírias, vocabulário

mais pobre.

Com relação às diferenças das falas observadas na língua popular, verifica-

se que, embora não cheguem a prejudicar a comunicação, servem para marcar as

formas lingüísticas de maior ou menor prestígio social. Como exemplo, citar as

seguintes formas na visão da “não padrão” como: pobrema, craro, falaro, oio, homi,

teia, paia, muié, dentre outros.

Segundo Possenti (2000), na oralidade, diversos modelos de estruturas

populares já fazem parte da língua comum, como por exemplo, não falar os “r” finais

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dos verbos no infinitivo como (“falá” “dizê” “ comê” ), o “u” final de algumas formas

verbais do passado como exemplo (falô; cantô, parô), etc.

Assim em meio as variedades existentes, a língua padrão é normalmente a

variedade sugerida para a escrita, por ser a língua padrão a empregada pelo grupo

social dominante.

É, pois, papel da escola formar indivíduos com sólidos conhecimentos e

habilidades de interpretação oral e escrita, ou seja, que saibam buscar, selecionar e

interpretar criticamente informações e comunicar idéias por diferentes linguagens;

bem como hábitos intelectuais e técnicas de trabalho que lhes permitam prosseguir

os estudos com competência, tenham hábitos adequados de estudo, saibam

trabalhar em grupo e tenham qualidades como empenho, organização, flexibilidade

e tolerância e que incorporem a importância do conhecimento e o prazer de

aprender.

A educação vai além, porém tudo depende da linguagem, da forma como se

expressar, de saber qual linguagem utilizar em cada momento, com cada pessoa,

em cada seguimento da sociedade. E formar pessoas que atuem de forma ativa na

vida social e cultural, requer uma atenção mais cuidada das escolas no preparo dos

adolescentes para a vida em sociedade. É na escola que será formada a linguagem

do aluno, desde os primeiros passos da vida escolar. É ela que dará estrutura e

conhecimento para utilizar sempre que necessário a língua culta.

Desta forma, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL,

1997), ao ensinar Língua Portuguesa a escola assume para si a responsabilidade de

contribuir para assegurar aos seus alunos o acesso aos saberes da fala e da escrita

necessários para que cada um seja capaz de interpretar os diferentes textos que

circulam, de assumir a palavra, de produzir textos eficientes nas mais diversas

situações.

Assim, a fala do aluno faz com que o mesmo apresente marcas de sua

linguagem verbal na escrita, conforme os dados obtidos.

“(...) ele diseu na cachoeira e se encontrouse (...) começaro a banhar e

Tiago pediu para banha do outro lado da cachoeira. (...) Tiago tinha um probrema

ele fumava drogas (...) Nicole pediu expricação (...) Nicole falava que não tava afim

(...)Voceis pença que o fim vai ser felizes para sempre (...)” (A 3).

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Segundo Cagliari (1992), o aluno traz para a escola a variedade lingüística

do meio em que vive, em que aprendeu a falar, e que deve ser respeitada porque

interfere diretamente no seu processo de aprendizagem. “No início da escolarização

a fala exerce influência sobre a escrita” (MARCUSCHI, 1993, p. 13).

A oralidade não é trabalhada em sala de aula, o que interfere negativamente

na escrita do aluno.

“(...) preserve oqui presiso ser preservado” (A 17).

À escola cabe ensinar o educando a usar a linguagem oral em diversas

situações comunicativas. Planejando e realizando entrevistas, debates, seminários,

dramatizações e outras, fazendo com que essas situações didáticas e atividades

façam sentido para o aluno. Assim, através de atividades o aluno deve ser

preparado para reconhecer e utilizar a língua de forma adequada a diferentes

conceitos.

Ler e escrever não são tarefas extras que possam ser sugeridas aos alunos como lição de casa e atitude de vida, mas atividades essenciais que através delas se alcançará o objetivo do ensino da língua. Portanto, seu lugar privilegiado, embora não exclusivo, é a própria sala de aula (POSSENTI, 2000, p. 22).

Percebeu-se também, que o aluno não tem conhecimento sobre a

diversidade de formas de comunicação da língua materna.

“(...) duas meminas foram passiar pela floresta (...) mas tinha um pobema

não tinha agua nele (...) O riacho encheo e então ficou lindo (...)”(A 16).

FREIRE (2001, p.45), assinalava: "A linguagem tem a ver com as classes

sociais, sendo que a identidade e o poder de cada classe se refletem na sua

linguagem". Assim, faz-se necessário criar um ambiente onde todos aprendam a

utilizar a linguagem “ideal”, “adequada”, uma linguagem única e dentro de padrões,

normas e conceitos. Esse ambiente é a escola.

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CONCLUSÃO

A oralidade e a escrita na educação, recebem ênfase, devido a freqüentes

sugestões para que a língua oral esteja presente nos currículos. Entretanto, são

poucas as possibilidades de engajar discussões verdadeiramente intensas para

colocar o tema no cotidiano escolar.

Assim, ao término deste trabalho percebe-se que a oralidade não é

trabalhada em sala de aula, o que interfere negativamente nas produções do aluno.

Percebe-se também que a fala do aluno faz com que o mesmo apresente marcas de

sua linguagem coloquial na escrita.

A linguagem utilizada em sala de aula apresenta um perfil específico, pois,

por ser de um sujeito letrado, a fala do professor abandona as marcas da oralidade e

se deixa impregnar pelas marcas do texto escrito. Assim, nas séries iniciais do curso

fundamental, o aluno oriundo das classes populares, que está iniciando sua

apropriação da escrita, e que, portanto, escreve como fala, tem de interagir com um

professor cuja fala é modelada pelas marcas do discurso escrito letrado, fala como

escreve / escreve sob pressão das normas gramaticais.

Conseqüentemente, a falta de sintonia entre o discurso do professor e o do

aluno não se dá apenas pelo fato de terem origem em grupos sociais distintos,

mesmo porque nem sempre é assim, mas pelo fato de que o discurso do professor,

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diferentemente do aluno, corresponde à fala de sujeitos já letrados, fala impregnada

pela escrita.

Uma abordagem complexa dos gêneros orais, pode ajudar a diminuir as

distâncias que o ensino elitista impõe entre a vida social e a produção escolar

porque também pode fornecer bons modelos para que sejam trabalhadas as

variações, conceitos de desvios e de erros e, ao mesmo tempo, valorizar e pôr em

circulação uma produção textual que permita o sujeito assumir, sem sentimento de

inferioridade, suas performances orais e escritas.

Qualquer falante sabe intuitivamente que há uma diversidade de “modos de

falar e de escrever”, de gêneros, de tipos textuais, de formatações discursivas que

priva, interpõe restrições a seu potencial de fala.

Todavia, e importante salientar que para a língua escrita precisa-se respeitar

regras, pois na forma escrita da língua há um ensino bem mais elaborado e superior

do que a falada. Pois aquela pode ser organizada, respeitar regras e limites já que é

estática e esta é mais difícil para o aluno respeitar regras, limites e imposições visto

que é dinâmica e representa grande parte da bagagem cultural do estudante.

Isso não quer dizer que não se deva trabalhar a norma padrão na oralidade

com o intuito, ou com a desculpa de não desrespeitar a cultura do aluno. Deve-se

mostrar ao aluno que a língua tem diversidades, a linguagem pode ser melhorada,

despertando no aluno o desejo de aprender um novo meio de se expressar e a

importância deste para a vida em sociedade. O professor precisa mostrar também

ao aluno, que a fala e a escrita não podem ser dissociadas e que elas se influenciam

mutuamente.

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APÊNDICE

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APÊNDICE A – Modelo de Texto

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Observe a figura acima. Agora escreva um texto sobre ela. ___________________________________________________________________

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