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FACULDADE MERIDIONAL - IMED ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO Fabiana Melara DIMENSÕES DA GESTÃO PARTICIPATIVA: ESTUDO DE CASO DO MODELO UTILIZADO PELA SEMCO Passo Fundo 2016

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FACULDADE MERIDIONAL - IMED

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

Fabiana Melara

DIMENSÕES DA GESTÃO PARTICIPATIVA: ESTUDO DE

CASO DO MODELO UTILIZADO PELA SEMCO

Passo Fundo

2016

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Fabiana Melara

DIMENSÕES DA GESTÃO PARTICIPATIVA: ESTUDO DE

CASO DO MODELO UTILIZADO PELA SEMCO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Administração da Escola de

Administração da Faculdade Meridional –

IMED, como requisito parcial para a obtenção

do grau de Mestre em Administração sob a

orientação do Prof.ª Dr.ª Janaina Macke.

Passo Fundo

2016

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CIP – Catalogação na Publicação

M517d Melara, Fabiana

Dimensões da gestão participativa : estudo de caso do modelo utilizado

pelo Semco / Fabiana Melara. – 2016.

122 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Administração) – Faculdade Meridional – IMED, Passo Fundo, 2016.

Orientador: Profª. Drª. Janaina Macke.

1. Gestão participativa. 2. Arquitetura organizacional. 3. Governança

corporativa. I. Macke, Janaina, orientadora. II. Título.

CDU: 658.011.8

Catalogação: Bibliotecária Angela Saadi Machado - CRB 10/1857

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Dedicatória.

Ao Oscar,

pela confiança, paciência e parceria.

À família, que compreendeu as ausências,

sempre acreditando que teríamos

outros momentos de convivência.

À Janaína, minha orientadora,

por se manter disponível e confiante,

mesmo quando eu mesma já não acreditava ser possível.

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A única constante é a mudança.

Heráclito

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Modelo Estrela de Galbraith 42

Figura 2: Caracterização dos entrevistados 58

Figura 3: Roteiro do questionário semi-estruturado 59

Figura 4: Mapa conceitual que relaciona os principais tópicos abordados na pesquisa 63

Figura 5: Diagrama das palavras mais citadas nas entrevistas 72

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ANEXOS

Anexo I: Protocolo de pesquisa 113

Anexo II: Diário de campo- Entrevistas na Semco 117

Anexo II: Diário de campo – Visita guiada na Escola Lumiar 119

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RESUMO

A gestão participativa tem a prerrogativa de aliar os objetivos organizacionais com aqueles

dos indivíduos que dela fazem parte. A partir da década de 80, este modelo de gestão ganhou

notabilidade através da Semco, reconhecida nacional e internacionalmente por se apropriar de

um momento de crise e instabilidade econômica para transformar sua gestão. O estudo de

caso único exploratório teve por objetivo analisar na Semco as dimensões estrutura,

estratégia, processos, pessoas e recompensas que, segundo o Modelo Estrela de Galbraith,

quando sistematizadas, promovem organizações reconfiguráveis e, por consequência, mais

competitivas. Por meio de entrevistas em profundidade realizadas com gestores, a partir de

um questionário validado por especialistas e da observação direta e análise de documentos e

trabalhos publicados anteriormente recorreu-se à triangulação e análise de conteúdo para

constatar que todas as dimensões se fazem presentes na organização pesquisada e são

identificadas como imprescindíveis em organizações que primem por vantagens competitivas

sustentáveis. No entanto, a dimensão estratégia se mostra como central na preconização da

sistematização das demais, uma vez que parte da direção geral da organização e, a partir dela,

se desdobram os processos que culminarão na participação das pessoas para o atingimento dos

objetivos.

Palavras-chave: Gestão Participativa, Arquitetura Organizacional, Dimensões da Gestão,

Modelo Estrela de Galbraith, Modelo de Gestão.

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ABSTRACT

The participative management has the prerogative to ally the organizational objectives with

the objectives of the individuals that are part of it. Since the 1980’s this management model

gained notability through Semco, nationally and internationally recognised for appropriating a

time of crises and economic instability to transform its management. The single exploratory

case study had the objective to identify in Semco the dimensions structure, strategy,

processes, people and rewards that, according to the Galbraith Star Model, when systematized

promote reconfigurable and, therefore, more competitive organizations. Through in depth

interviews conducted with managers, starting with a questionnaire validated by specialists and

direct observation and analysis of documents and previously published studies, a triangulation

and content analysis were performed in order to find that all dimensions are present at the

researched organization and are identified as indispensable in organizations that aim for

sustainable competitive advantages. However, the dimension strategy shows to be central in

the preconisation of the other dimensions systematization, since it comes from the

organization’s general direction and, from it, the processes that result in the participation of

people to achieve the goals are unfolded.

Key-words: Participative Management, Organizational Architecture, Management

Dimensions, Galbraith Star Model, Management Model.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 13

1.1 Justificativa .................................................................................................................... 16

1.2 Problema de Pesquisa .................................................................................................... 18

1.3 Objetivos ......................................................................................................................... 18

1.3.1 Objetivo geral .................................................................................................................. 18

1.3.2 Objetivos específicos ....................................................................................................... 19

1.4 Delimitações ................................................................................................................... 19

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................ 21

2.1 Modelos de Gestão ......................................................................................................... 21

2.2 Gestão Participativa ...................................................................................................... 24

2.2.1 Diretrize da gestão participativa ..................................................................................... 26

2.2.2 Vantagens e desvantagens da gestão participativa .......................................................... 29

2.2.3 O modelo participativo na prática .................................................................................. 32

2.3 Arquitetura ou Desenho Organizacional .................................................................... 36

2.3.1 Estratégia ........................................................................................................................ 42

2.3.2 Estrutura ......................................................................................................................... 45

2.3.3 Processos ........................................................................................................................ 48

2.3.4 Pessoas ............................................................................................................................ 50

2.3.5 Recompensa .................................................................................................................... 52

2.3.6 A gestão participativa e o modelo estrela ....................................................................... 53

3. MÉTODO DE PESQUISA ........................................................................................... 56

3.1 Unidade de Análise ........................................................................................................ 57

3.2 Técnica e Instrumento de Coleta de Dados ................................................................. 57

3.5 Ferramenta de Análise de Dados .................................................................................. 62

3.6 Mapa Conceitual ............................................................................................................ 63

3.7 Contexto de Pesquisa: Caso da Semco ......................................................................... 64

3.7.1 Subunidade de análise: Escola Lumiar ............................................................................ 68

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ....................................................... 70

4.1 Identificação dos Componentes da Arquitetura Organizacional que contribuem para

a Gestão Participativa ............................................................................................................ 71

4.1.1 Estratégia ......................................................................................................................... 75

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4.1.2 Estrutura ......................................................................................................................... 77

4.1.3 Processos ........................................................................................................................ 82

4.1.4 Pessoas ............................................................................................................................ 86

4.1.5 Recompensa .................................................................................................................... 93

4.2 Identificação das Dimensões da Gestão Participativa da Importância de cada uma

delas no Processo de Desenvolvimento do Modelo de Gestão ............................................ 96

4.3 Proposição de um Modelo de Gestão Participativa ................................................... 97

5. CONCLUSÕES ........................................................................................................... 102

5.1 Contribuições Teóricas e Mercadológicas ................................................................ 105

5.2 Implicações Futuras ................................................................................................... 105

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 107

PROTOCOLO DE PESQUISA ........................................................................................... 115

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1 INTRODUÇÃO

O ambiente de mudanças não é uma novidade para as organizações, entretanto, a

decisão por permanecer flexível às mudanças exige articulação e comprometimento, além da

prática diária de entender a mudança como algo natural dentro da sua área de atuação. Afinal,

num ambiente globalizado a mudança é uma constante. Em razão de um contexto altamente

competitivo e dinâmico, integrar a gestão de pessoas com o desenvolvimento de vantagens

competitivas para a organização, alinhando objetivos de forma a ter resultados financeiros

saudáveis e retenção dos talentos, fortalece a busca de resultados no longo prazo.

Ponderando as pessoas como responsáveis pelas estratégias e desenvolvimento de

processos dentro das organizações, cabe a elas oportunizarem vantagens competitivas num

mercado em constante transformação. Este desafio envolve a integralidade dos departamentos

e pessoas, demandando flexibilidade e rápida adaptação (MONSALE; NARANJO, 2012).

As respostas das organizações frente à qualidade total, a reengenharia de processos, a

eliminação das fronteiras, as alianças entre parceiros é impactada pelas mudanças no cenário

mundial (SENGE, 2010). Este comprometimento implica na identificação do indivíduo com

os valores e objetivos da organização, e enfatizam a importância da prática da liderança.

Para tanto, diversos são os modelos de gestão descritos na literatura. Dentre eles,

americanos e orientais, alguns com mais ou menos sucesso, com mais ou menos adesão por

parte dos indivíduos que integram as organizações. No entanto, dentre os referenciais teóricos

a que se teve acesso, não foi encontrado um modelo brasileiro, fato que motivou a pesquisa.

Embora a administração tivesse por função realizar os objetivos da empresa, o que

consistia em produzir e vender mercadorias ou serviços visando um lucro; a tarefa de integrar

instalações, equipamentos, matéria-prima, maquinaria e pessoas é um tanto complexa, visto

que os indivíduos questionam ou resistem a pressões. Sendo assim, era preciso conquistar a

cooperação dos indivíduos, criando condições que permitissem um trabalho espontâneo em

busca dos objetivos organizacionais (MCGREGOR, 1973).

Nesta conquista, cabe destacar as teorias que abordam a questão das necessidades

humanas, e seu impacto no comportamento: teorias como a de Maslow, que sustenta que a

motivação surge como o desejo de satisfazer uma necessidade, considerando como prioritárias

as fisiológicas, seguidas numa crescente pelas necessidades de segurança, associação, estima

e finalmente autorrealização; e o modelo ERC de Alderfer, que igualmente considera a

motivação a partir da perspectiva de uma hierarquia de necessidades, com a progressão da

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satisfação, porém, somada a hipótese de regressão da frustração; se baseiam em diferenças

individuais. A teoria bifatorial de Herzberg por sua vez enfatiza a importância das

características dos cargos e das práticas organizacionais para a motivação dos indivíduos.

Cabe ainda revisar o modelo de necessidades adquiridas de David Mc Clelland, o qual

sustenta que as pessoas adquirem necessidades ou motivos de satisfação de acordo com o

contexto social em que os indivíduos vivem ou trabalham, ou seja, depende de aspectos como

realização, associação e poder (SOTO, 2008).

Neste sentido, a satisfação no trabalho é tida como consequência da relação entre a

recompensa obtida e a esperada, ou seja, quanto maior for esta diferença, maior o grau de

satisfação ou insatisfação, de acordo com o valor resultante ser maior ou menor que o

esperado (SOTO, 2008).

Uma significativa alteração do perfil das equipes e dos gestores foi observada a partir

do século XX, quando o mercado se tornou mais dinâmico, demandando a disseminação mais

rápida e eficaz do conhecimento e o comprometimento na busca dos objetivos organizacionais

(MOSCARDINI; KLEIN, 2015). Além de conseguir engajamento, tornar a organização eficaz

se torna um dos principais objetivos perseguidos pela gestão profissional. Em sua busca

diária, o gestor atua sobre a organização para encontrar a melhor configuração que resulte em

sucesso e diferenciação, obtendo vantagem competitiva frente aos concorrentes (GAZDA,

2009). Configuração esta que demanda um alinhamento que canalize a energia na busca dos

objetivos, permitindo a mudança constante de estruturas e processos (GALBRAITH, 1999).

A crescente turbulência no ambiente dos negócios e o aumento da complexidade

organizacional passam a exigir um novo mecanismo de relacionamento entre o indivíduo e a

organização da qual ele é membro. Cada empresa tem uma espécie de personalidade coletiva,

que transparece na forma como as pessoas que nela trabalham se relacionam, fazem críticas,

confraternizam, tomam decisões ou as protelam, criam critérios para a progressão de carreiras,

mantêm tabus e preconceitos, usam determinada linguagem (JOHANN, 2005). E esta

identidade ou estilo de gestão pode representar a peça chave para a motivação e a participação

dos indivíduos nas organizações, de forma que o gerenciamento possibilita objetivos comuns

e um sentimento de identidade (PETERSSON; SPÄNGS, 2005).

O modelo mais comum de gestão é o centralizado, quando os funcionários não

participam do processo de decisão; apenas recebem ordens após as decisões serem tomadas

pela liderança administrativa. Mas, modelos chamados participativos ou democráticos,

descentralizados, quando se delega a tomada de decisão, de forma a integrar a equipe inteira e

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distribuição de autoridade passam a ser observados, juntamente com a introdução de

processos de participação, juntamente com intervenções como tais como: incentivos,

recompensas e feedback de desempenho (MELIZO; CARPENTER; MATTHEWS, 2014;

GARCIA, et al. 2015).

A coordenação de indivíduos, a alocação de recursos, a definição de objetivos, a

concepção de planos e minimização de desvios dentro da organização são de conhecimento

notório para uma parcela considerável de empresas. No entanto, a gestão ainda tem pela frente

alguns enigmas e possíveis mudanças que exigem um pensamento ousado e abordagens

originais que, de certa forma, expõem as limitações dos processos e sistemas de gestão

rotineiros (HAMEL, 2007). Uma organização é eficaz quando torna-se capaz de criar

vantagens num curto prazo, combinando e recombinando novos e antigos conhecimentos e

habilidades, a fim de executar a melhor estratégia frente a cada novo desafio (GALBRAITH,

1999).

A democracia no local de trabalho surge em 1970, om a Escola Sociotécnica, e recorre

à satisfação do trabalhador para reduzir os conflitos trabalhistas. Com o objetivo de aumentar

a produtividade e a qualidade dos produtos, flexibiliza seus processos de produção através da

implementação de equipes autodirigidas: encorajamento de posturas abertas a novas visões e

riscos; descentralização na tomada de decisão e autonomia para grupos e departamentos. A

distribuição de tarefas se dava de acordo com as competências dos indivíduos, de forma que

participassem de processos como recrutamento, seleção e escolha de líderes (WOOD JR.,

1992; NUNES, et al, 2009).

A gestão participativa desponta como uma filosofia ou política que valoriza as pessoas

e sua capacidade de tomar decisões, solucionando problemas e contribuindo para o

desempenho e competitividade das organizações (PINSKI; ROCHA, 2004), ao passo que

capacita os colaboradores e desenvolve consciência crítica (JOHNSON, 2006). No entanto,

este modelo também é citado como passível de garantir maiores ganhos da organização, em

detrimento do colaborador, que acaba por trabalhar mais exaustivamente na busca de alcançar

os objetivos organizacionais em troca de participação nos lucros e resultados (PINSKI;

ROCHA, 2004; JOHNSON, 2006).

A democracia no local de trabalho se mostra relevante, posto que quanto mais

participam, mais os indivíduos compartilham dos objetivos de crescimento da organização

(COLLOM, 2003). Esta condição motivou o estudo da matriz de gestão participativa utilizada

pela Semco, em paralelo com o Modelo Estrela de Galbraith (1999), que destaca cinco

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dimensões - estratégia, estrutura, processos, pessoas e recompensa, com o propósito de

encontrar as possíveis congruências para um modelo de gestão organizaciona de sucesso.

A Semco iniciou suas atividades nos anos 50, no Brasil, e era dirigida de forma

autocrática por Antônio Semler. No início dos anos 80, seu filho Ricardo Semler assume o

controle da empresa: a favor da descentralização e de uma gestão participativa, começou a

mudar a forma de trabalhar e de fazer negócios. Ao longo dos anos, a empresa se modernizou

e investiu em outras empresas. De um número reduzido de clientes passa a ter como foco a

diversificação de seus negócios e licenças de fabricação (ANDRÉS; BRONCANO;

MONSALVE, 2015), e seu modelo de gestão participativa continua rendendo bons resultados

e se percebe internalizado nas pessoas da organização.

O Modelo Estrela de Galbraith foi desenvolvido em 1960, por Jay Galbraith, com o

objetivo de analisar as organizações. Seu fundamento abrange políticas de design que são

monitoradas pela gestão, exigindo habilidade por parte da organização, com o intuito de

modelar o comportamento e as decisões de forma eficaz. Compreende cinco dimensões de

análise, que são: a estratégia, que determina direção; a estrutura, que determina a localização

do poder de decisão; os processos, que têm a ver com o fluxo de informações; as

recompensas, que proporcionam motivação e incentivos para o comportamento desejado; e, a

seleção e o desenvolvimento das pessoas certas - em alinhamento com as demais políticas

internas - permitem à organização operar com a máxima eficiência (GALBRAITH, 2015).

1.1 Justificativa

A era do conhecimento trouxe com ela a preocupação com a flexibilização dos

processos, com o propósito de estimular a rápida adaptação ao contexto de competição onde

estão inseridas as organizações, além do recrutamento e seleção de talentos cada dia mais

exigentes e cientes de que seu papel não é apenas coadjuvante, mas decisor. Assim, novas

questões advindas da atribuição de responsabilidade, do alinhamento de objetivos, da medição

de desempenho e do sistema de recompensa, passam a requerer significativa atenção.

Com isso, surgem os modelos de gestão, que visam equiparar as estratégias das

organizações com os objetivos dos indivíduos que dela fazem parte. Dentre os modelos

destacados neste trabalho, pode-se perceber que houve uma crescente transformação na

relação empresa-indivíduo. Em anos anteriores, o foco acabava sendo a empresa e seus

dividendos, sendo o indivíduo um mero instrumento para a produção. Com o passar do tempo

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e a inclusão de tecnologias, abertura da economia, revisão dos aspectos sociais, dentre outros

aspectos, o indivíduo passou a ser considerado como peça chave no crescimento e

competitividade das organizações. Por conseguinte, também do indivíduo são demandadas

mudanças, posto que para assumir a oportunidade de tomar decisões, exige-se habilidade para

encontrar as informações e utilizá-las no momento adequado (UEMURA, 2006; MENDES,

2012).

Estes modelos de gestão devem levar em conta também a promoção da valorização do

indivíduo por meio de funções que promovam o crescimento, gerem novas ideias e visões, e

permitam o uso da criatividade para a promoção de vantagens competitivas (RODRIGUES;

VELOSO, 2013).

Embora a participação dos trabalhadores seja estudada há algum tempo, o tema revela-

se intrigante para os empregadores, devido a busca por práticas de trabalho de alto

desempenho, que proporcionam flexibilidade e qualidade, demandando o compartilhamento

de informação e a consulta dos funcionários para a tomada de decisão e feedbacks (BUDD;

GOLLAN; WILKINSON, 2010). Sob o âmbito acadêmico, cabe validar o Modelo Estrela de

Galbraith como uma referência-chave para a sustentação de vantagens competitivas na

organização.

Por ser dinâmico, mesmo que um modelo de gestão esteja dando resultados

satisfatórios, requer da organização uma constante revisão de suas estratégias, buscando se

antecipar a prováveis mudanças num curto ou médio espaço de tempo (GAZDA, 2009). Nesta

lógica, a gestão participativa figura como um modelo significativo, uma vez que parece aliar

as expectativas de reconhecimento atualmente perseguidas pelos indivíduos, com a velocidade

que as decisões precisam ser tomadas, e as mudanças implementadas, com o propósito da

organização se manter competitiva. Nesta busca pela adaptação, encontra-se na revisão da

arquitetura organizacional, em especial no Modelo Estrela de Galbraith, um fundamento

relevante, visto que incide diretamente na viabilidade de um ambiente dinâmico, dependente

de como são organizadas as dimensões estratégia, estrutura, processos, pessoas e recompensa,

com o propósito de tornar as organizações reconfiguráveis e, por consequência, mais

competitivas.

Monsale e Naranjo (2012) apontam que muitos dos trabalhos empíricos analisam a

relação entre o sistema de gestão de recursos humanos, os resultados e as estratégias,

defendendo um ajuste entre o sistema de gestão e as estratégias para obter vantagens

competitivas. Ao mesmo tempo, constatam existirem poucas evidências que confirmam ser

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necessário este ajuste para os resultados da organização e que a implantação de algumas

práticas de recursos humanos, embora inovadoras, não garantem a melhora dos resultados e

muito menos uma vantagem ou diferenciação competitiva.

Portanto, o trabalho encontra justificativa na possibilidade de contribuição acadêmica

pela análise de um modelo de gestão participativa brasileiro, sinalizando elementos relevantes

para a organização atuar mediante um modelo de gestão que contemple o alinhamento entre

as estratégias organizacionais e os objetivos dos indivíduos, em paralelo com a capacidade de

concretizar as reconfigurações necessárias para melhorar a competitividade num mercado em

constante mudança.

Como suporte, usou-se a definição de modelo como uma imagem simplificada do

conjunto das dimensões da organização, com a intenção de permitir a compreensão, análise e

melhoria do tema modelado. Atentando que modelo não é algo estático ou receita que não

aceita outros ingredientes, mas tem o intuito de servir como um guia para organizações que

estão constantemente reavaliando seus processos e modelo de gestão. Como contextualizado

por Uemura (2006), as decisões de um setor ou departamento podem impactar positiva ou

negativamente no resultado do conjunto da organização, uma vez que existe uma interligação

entre as partes do sistema que compõem o modelo. Não existe uma combinação única para se

atingir os melhores resultados, mas múltiplas combinações que podem resultar em melhor ou

pior desempenho, dependendo das circunstâncias e da combinação de elementos do sistema

de gestão (UEMURA, 2006).

1.2 Problema de pesquisa

A partir da contextualização apresentada anteriormente, sugere-se como problema de

pesquisa a seguinte questão: Quais as dimensões relevantes de um modelo brasileiro de gestão

participativa?

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo geral

Analisar as dimensões de um modelo de gestão brasileiro com base no caso da Semco.

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1.3.2 Objetivos específicos

a) Identificar e analisar os componentes da arquitetura organizacional que

contribuem para a gestão participativa;

b) Identificar e analisar as dimensões da gestão participativa e a importância de

cada uma delas no processo de desenvolvimento do modelo de gestão;

c) Propor um modelo de análise de gestão participativa para empresas brasileiras.

1.4 Delimitações da pesquisa

Ao se estudar os modelos de gestão, se percebe a proximidade e interrelação entre

temas como cultura, organizacional, gestão do conhecimento e aprendizagem organizacional,

em especial ao se abordar o quesito competitividade num ambiente em constante mudança.

Portanto, cabe destacar que não fazem parte do escopo desta pesquisa:

a) Cultura organizacional: a organização é composta por pessoas cujo

comportamento impacta na cultural organizacional (GARCIA; MAZIERO; ROCHA,

et al. 2015). Embora existam muitas vertentes, o conceito de cultura organizacional

apresenta como pontos comuns: incorpora elementos de cunho social, político,

simbólico, tecnológico, psicológico e histórico de cada organização; é singular e única

em cada organização; manifesta-se através de símbolos, práticas, comportamentos e

estruturas organizacionais; dentre outros (BEDANI, 2008). Enquanto no ambiente

organizacional, as pessoas se tornam parte de uma história, assumindo papéis,

compartilhando valores e institucionalizam comportamentos característicos

(SCHREIBER, 2015).

b) Gestão do conhecimento: a organização processa informações a fim de

solucionar problemas e tomar decisões. Ainda, cria conhecimento através da ação e

interação com contradições, de modo a gerar vantagens competitivas para enfrentar as

competição entre organizações (TAKEUCHI; NONAKA, 2008).

c) Aprendizagem organizacional: definida como um dos principais fatores para a

competitividade e sustentabilidade organizacional, é um processo psicológico que

acontece no nível do indivíduo e, de forma geral, está ligado às mudanças de

comportamento dos indivíduos. Em contextos organizacionais envolve a aquisição, a

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retenção e a transferência de conhecimento e pode ocorrer formal o informalmente

(MOSCARDINI; KLEIN, 2015).

.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A participação ou democracia no local de trabalho tem uma perspectiva ampla.

Compreende a possibilidade de ter direito à voz no ambiente de trabalho, como um tipo de

compensação para a sujeição às regras organizacionais, a preocupação coletiva e a igualmente

entre os pares. Neste modelo, o controle pelas decisões passa a ser dos trabalhadores,

considerados como capazes a partir do conhecimento compartilhado. E esta democratização

ultrapassa os limites da organização, empoderando as pessoas, que desenvolvem a habilidade

de participar, ganham confiança, e participam de forma mais efetiva na sociedade civil e na

política (HAZARIKA, 2013).

2.1 Modelos de Gestão

O antagonismo entre a organização do trabalho e o trabalhador demanda entendimento

quanto às inúmeras mutações nos modelos de administração e as dificuldades encontradas em

sua execução. A lógica do mercado capitalista é responsável pelas contradições entre o capital

e o trabalho, em função do nível de exploração produzir constantemente uma ameaça de

conflito. Em termos de mercado globalizado, as transformações ocorreram de forma

significativa na política, economia e sociedade, trazendo para o âmbito do trabalho novas

concepções e práticas ao processo de trabalho, ao trabalhador e às relações sociais. No

entanto, na administração das organizações os avanços aconteceram de forma muito mais

lenta (CIMBALISTA, 2002; ROHM; LOPES, 2015).

Mesmo que se observem inúmeras mudanças no que se refere ao trabalho, ainda é

possível identificar em muitas organizações pelo menos parte da mesma dinâmica do passado,

sendo importante fazer um resgate histórico que permita analisar as ligações entre os

diferentes modelos. Sob a premissa de que o trabalho deva gerar significado e dar sentido ao

trabalhador, entende-se que o trabalho dissociado do seu sentido, não passa de uma atividade

em que o trabalhador perde-se a si mesmo, negando sua própria vida. No entanto, sustenta sua

importância, uma vez que representa o meio de sobrevivência do homem (ROHM; LOPES,

2015).

Para melhor entender as mudanças por que passaram as organizações quanto à forma

de gestão e a crescente valorização do capital humano, estabeleceu-se uma revisão, que inicia-

se na década de 1850 com o caso do Barão de Mauá (1813-1889), um dos comportamentos

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empreendedores que implantou um modelo inovador de gestão de pessoas, que valorizava a

responsabilidade individual do empregado e o trabalho que desenvolvia, sendo altamente

descentralizado, e que valorizava a meritocracia, num momento em que a base do sistema

produtivo era escravocrata (PINTO; COSTA, 2009; SANTOS; LOPES; CLARO, 2009).

Na sequência, surge o movimento denominado fordismo, que contribui com inovações

tecnológicas através da mecanização, e econômicas pela produção em massa, afetando de

forma considerável as normas de consumo e de vida, influenciando tanto na organização de

trabalho quanto na gestão de pessoal, estabelecendo o controle do trabalho pelo ritmo das

máquinas e não mais pela supervisão humana (BORGES; YAMAMOTO, 2014).

Quando o fordismo passou a predominar no sistema produtivo, no final do século

XIX, o trabalhador passou a exercer suas atividades dentro de uma unidade fabril, em troca de

um salário. Em lugar de um produto completo, passou a realizar o trabalho de forma

fragmentada, sob a ótica da hierarquização e da predeterminação de funções, o que inibiu sua

autonomia e criatividade (ROHM; LOPES, 2015).

O sistema criado por Ford funcionou por décadas, período em que as empresas

americanas dominaram o mercado de automóveis. Mas a partir de 1955, esse modelo

começava a dar sinais de esgotamento e, nos anos 70 a ascensão de novos concorrentes,

vindos do Japão, colocou definitivamente em cheque o modelo de produção em massa

(WOOD JR., 1992).

Sob a ótica do Modelo Estrela de Galbraith, o fordismo pode ser classificado como

tendo uma estrutura não reconfigurável, em consequência das linhas contínuas de produção

que impediam a distribuição de poder e a possibilidade de desenvolver habilidades dos

indivíduos para a tomada de decisão, dado que tinham informações bastante limitadas, com

inexistência de fluxo de informação entre os processos (GALBRAITH, 1999). Somado a isto,

o planejamento estratégico não estava voltado a observar as movimentações do mercado, o

que levou mais tarde ao sucesso dos concorrentes vindos do Japão. Ainda sob esta ótica, as

pessoas eram meros braços necessários para a produção, sendo a remuneração básica estimada

como um benefício ou recompensa (WOOD JR., 1992; ROHM; LOPES, 2015).

Quando o processo de trabalho deixou de ter uma base taylorista-fordista para ser

substituído pelo toyotismo, marcado pela produção flexível e enxuta, demandou um novo tipo

de trabalhador. Não bastava mais um trabalhador que controlasse a divisão entre as atividades

mentais e manuais do período taylorista (ROHM; LOPES, 2015). Enquanto no sistema de

Ford os trabalhadores executavam uma ou duas tarefas simples, de maneira repetitiva, usando

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sua força física apenas (WOMACK; JONES; ROOS, 1992), no toyotismo passa-se a exigir

um trabalhador que integre pensamento e ação, e que também possa criar, produzindo

conhecimentos úteis para a organização capitalista. O processo deixa de se constituir apenas

de operários que executam tarefas repetitivas, e passa a contemplar trabalhadores do

conhecimento, cuja função é agregar outro tipo de valor aos produtos ou aos processos de

produção e gestão (ROHM; LOPES, 2015).

O toyotismo aplicado às empresas japonesas instituiu, primeiramente, a flexibilidade

para se ajustar às condições da demanda, em termos de tempo e custo-preço; em segundo

lugar, os elevados padrões de qualidade e de diversidade de características dos produtos; e em

terceiro lugar, a sua capacidade de inovar permanentemente processos e produtos. Esta

mudança de paradigma mostra que, por meio da busca incessante de aperfeiçoamento,

autonomia, trabalho polivalente e, sobretudo, confiança e conhecimento, é possível manter

crescente a motivação pela melhoria contínua (CIMBALISTA, 2002).

A partir de acordos de incentivo com o governo sueco, a Volvo desenvolveu na década

de 1980 um processo inovador, onde os sindicatos dos trabalhadores foram envolvidos desde

o início do projeto de uma nova fábrica até a organização da produção. A iniciativa sueca

considerava a experiência e a presença do indivíduo como mais importante que a produção

propriamente dita. Por contemplar a presença de indivíduos atuando em meio à tecnologia e

equipamentos avançados, foi denominado como modelo sociotécnico, cujo objetivo era

ampliar a capacidade produtiva e a qualidade, com redução dos custos, o que se deu através

da combinação de aspectos de produção manuais com alto grau de automação e

informatização. Com isso, estavam estabelecidas as condições para a existência de um

elevado nível de flexibilização de produtos e de processos de produção, adequando-se a dois

fatores fundamentais: a internacionalização da produção e a democratização da vida no

trabalho, atendendo assim a boa parte das diretrizes do sindicato dos trabalhadores (WOOD

JR., 1992).

No modelo sueco, a organização do trabalho era baseada em grupos autodirigidos, sem

hierarquias, sem as tradicionais chefias diretas e com membros do grupo fazendo a gestão da

qualidade, dos custos e demais setores. Ainda, todos os meses se fazia rotação de funções,

com o objetivo de que ao final de dezesseis meses o operário soubesse montar um carro

completo. Os grupos de funcionários participavam do recrutamento, seleção e formação de

pessoal, além de escolher o líder dentre seus pares. As competências eram determinantes para

a distribuição de tarefas, e as mesmas eram constantemente aperfeiçoadas (NUNES, et al.,

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2009). A experiência da Volvo foi considerada à frente de seu tempo, e serviu de modelo a

diversas outras indústrias (BONDARIK; PILATTI, 2015).

Cabe destacar que esta última característica, a busca pelo prazer da execução, parece

ser um dos grandes objetivos das organizações ao procurar e implementar diferentes modelos,

como a gestão participativa ou democrática.

2.2 Gestão Participativa

Num modelo de organização tradicional, pode-se destacar o uso da burocracia e da

racionalização administrativa. São definidos cargos e unidades especializadas de acordo com

níveis hierárquicos, tendo camadas intermediárias encarregadas da orientação e coordenação

de subunidades e indivíduos especializados. Os processos são formalizados e detalham como

o trabalho deve ser realizado. As orientações estratégicas são repassadas pelos executivos da

organização. O modelo está apoiado por práticas administrativas de recursos humanos que

especificam claramente as responsabilidades individuais, inclusive como forma de status.

Geralmente, as unidades organizacionais são constituídas de pessoas que executam tarefas

equivalentes, de forma a nivelar as funções e facilitar a supervisão e avaliação. Os sistemas de

avaliação de cargo prezam por controle financeiro, em detrimento da criação de produtos ou

melhora na prestação de serviços. A integração deste ambiente é conquistada através de

processos de orientação hierárquica, como regras, procedimentos, metas e objetivos. A

tendência é que, num ambiente simples e estático, este modelo se mantenha competitivo

(MOHRMAN, 1995).

A gestão participativa implica na aplicação da democracia em todas as suas formas,

em todos os níveis da organização. Mas não basta apenas uma abordagem de gestão para

tornar a empresa democrática, é preciso transformar a tomada de decisão num processo de

consenso, em todos os níveis da organização, de forma que possa ser controlado pelas

pessoas. A essência da gestão participativa remete a uma filosofia que valoriza nos

trabalhadores a capacidade de tomar decisões e resolver problemas, de forma a aumentar a

motivação e a satisfação dos mesmos, aumentando, por consequência, a competitividade da

organização (PETERSSON; SPÄNGS, 2005).

O conceito de democracia no local de trabalho estabelece a co-gestão de trabalho ou o

envolvimento dos trabalhadores no compartilhamento pelo poder de decisão, na participação

direta e indireta na tomada de decisões, no acesso às informações necessárias para uma

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tomada de decisão acertada e na garantida de igualdade de direitos de caráter econômico,

saúde e segurança, além do direito à divisão do valor excedente criado pelo próprio trabalho.

(EGELS-ZANDÉN; HYLLMAN, 2007).

Embora os resultados do modelo de gestão participativa apareçam no longo prazo,

cabe à organização realizar investimentos significativos no curto prazo. Contudo, alguns

efeitos indiretos podem ser observados logo no início da implementação, como a melhora da

imagem da empresa e de seus administradores, impactando no clima organizacional; melhora

nos índices de produtividade; redução do absenteísmo; além do maior envolvimento dos

trabalhadores. Além disso, a formação de grupos para a resolução de problemas apresenta

efeito positivo sobre os níveis de produtividade e redução nos índices de abandono do

emprego. No entanto, os diferentes níveis de envolvimento dos trabalhadores dentro da

organização devem considerar as diversas finalidades da participação, sendo que o impacto da

participação direta na qualidade do emprego tem recebido muito menos atenção que o seu

impacto no desempenho organizacional. O princípio da participação compreende a melhora

na qualidade de vida no trabalho por um lado e por outro, os efeitos da produtividade sobre

maiores salários e segurança no trabalho (GONZALES, 2009).

No final da década de 60, início da década de 70, a democracia no local de trabalho

passou a ser vista nos Estados Unidos como meio de fomentar o comprometimento do

trabalhador, segundo Petersson e Spängs (2005). Mas, de acordo com Gutierrez (2012),

somente em 1980 iniciam-se as discussões sobre autogestão, mostrando sua importância e

necessidade frente ao contexto do momento. Neste mesmo período, o Brasil atravessava uma

fase de forte instabilidade econômica, com estagnação do crescimento e inflação ascendente

(GUTIERREZ, 2012). O aumento no ritmo de incorporação das mudanças tecnológicas e

organizacionais nas empresas brasileiras, que marca o período, resulta da necessidade de fazer

com que as empresas reagissem à recessão econômica interna e buscassem mercados

exteriores. Neste sentido, qualidade e flexibilidade surgem objetivando a reestruturação da

produção industrial e assim, uma melhora dos índices de competitividade (DONADONE,

2002). Atenta ao mercado, a Semco Equipamentos constata a necessidade de realizar grandes

mudanças para tentar sobreviver ao momento de crise, iniciando o processo de implementação

da gestão participativa ou democrática.

De forma ampla, o conceito de democracia no local de trabalho orienta para a

cooperação da gestão do trabalho e envolvimento dos trabalhadores. Nesta linha, são seis os

componentes da democracia no local de trabalho: i) soberania compartilhada sobre todos os

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níveis de decisão, ii) oportunidades para a participação direta e indireta na tomada de

decisões, iii) acesso a informações completas e treinamento para a tomada de decisão

assertiva, iv) igualdade de direitos e respeito pela dignidade individual, v) garantias

econômicas, de saúde e segurança; e vi) direito a divisão do valor excedente criado pelo

próprio trabalho (EGELS-ZANDÉN; HYLLMAN, 2007).

Ou seja, mais do que ter seus direitos garantidos pelos sindicatos, a democratização

compreende tanto os níveis estratégicos de governança da empresa, quanto os níveis

operacionais e de tomada de decisões cotidianas. Esta democracia no local de trabalho diz

respeito aos mecanismos institucionais e sociais, de forma a controlar inclusive a entrada e

saída do trabalhador remunerado, permitindo que organize seu horário de acordo com suas

responsabilidades externas (KLARE, 1988).

Entende-se que no Brasil, a difusão de ideias sobre participação entre os trabalhadores

foi influenciada pelos eventos políticos e sociais da década de 1980. O fim do regime militar;

as greves de 1978; a recessão dos anos 1980-83 e a atuação dos diversos setores sociais

envolvidos, induziram a um número crescente de experiências associados ao tema.

Começando pelo fundamento das estratégias mais radicais do movimento operário, associada

a formas de negociação direta com o patronato e à possibilidade de ampliação do elenco das

pautas de reivindicação, transpondo os aspectos salariais até questões relacionadas ao

cotidiano do chão de fábrica. No decorrer dos anos oitenta, a balança do poder no campo

pendia cada vez mais para o lado gerencial sendo pauta de publicações empresariais e

gerenciais, como do empresário Ricardo Semler. As notícias destacavam empresas que

estabeleciam novas formas de negociação com os empregados, na busca por solucionar os

embates trabalhistas por elas enfrentados. Somado a isso, no final da década surgiam os

primeiros exemplos de empresários e gerentes que discutiam sobre participação, em

específico sobre a criação de grupos que representassem os trabalhadores nas empresas, na

tentativa de evitar que problemas passíveis de serem resolvidos no interior da empresa fossem

direcionados para possíveis movimentos grevistas. Nesta época, os sindicatos pouco tratavam

do tema, indicando apropriação dessa temática pelo universo gerencial (DONADONE, 2002).

2.2.1 Diretrizes da gestão participativa

Abandonar as formas mais tradicionais de gestão pode resultar em benefício para a

organização e para os colaboradores. O tema ganhou notoriedade, uma vez que torna

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relevante a adequação do trabalho às necessidades do ser humano que o desenvolve

(DRUCKER, 2001).

Sob outra perspectiva se observa uma contradição no modelo de trabalho flexível, uma

vez que o perfil profissional exigido, com características de subordinação, agilidade e

flexibilidade, demanda profissionais que não possuam um alto grau de envolvimento afetivo

na sua relação com o trabalho. Assim, para que aconteça a internalização dos objetivos

organizacionais, é necessário que o trabalhador tenha dedicação intensa e despenda uma forte

carga emocional. Como consequência, os sujeitos são passíveis de serem caracterizados como

incompetentes caso falhem nas entregas e resultados, permanecendo sob o risco da demissão

(BAUMAN, 1999; ROHM; LOPES, 2015).

Na visão de Sennett (2000), o fundamento da descentralização e autonomia soma a

favor do risco de demissão dos trabalhadores, uma vez que, embora possam escolher os meios

para atingir suas metas e resultados, se deparam com grandes desafios, que acabam por

reduzir os integrantes das equipes. Para que as tarefas cumprissem aos prazos, houve uma

tendência de que os sujeitos mantivessem uma jornada de trabalho com um ritmo incansável e

com muitas horas extras, com prejuízo ao alcance sistemático das metas e dos resultados

(apud ROHM; LOPES, 2015).

Ainda, Zarifian (2002), considera que as novas ideologias organizacionais pressupõem

a crescente responsabilização e, mais do que produzir adesão a esses propósitos, excluindo a

possibilidade de resistência, pode facilitar o que chamou de engajamento subjetivo, no qual as

escolhas são possíveis, de forma que o trabalhador incorpore os novos valores empresariais

até certo ponto, percebendo a exploração e os limites do discurso. Para o autor, o

consentimento da subordinação não descarta a visão do trabalhador sobre a precarização da

vida e das possibilidades efetivas de reação ou mesmo da ação coletiva.

Talvez por isso, o modelo organizacional que delegava à razão seu sucesso, está sendo

substituído por um modelo baseado num conceito de ser humano cuja motivação não se

baseia apenas em vantagens econômicas, mas principalmente éticas e psicológicas, como

reconhecimento pelo que realiza, possibilidade de desenvolver seus talentos e orgulho por

fazer aquele trabalho. Com isso, as organizações que não investirem numa cultura que

valorize esses aspectos, podem vir a enfrentar consequências graves que tendem a resultados

como baixa produtividade, desinteresse, passividade, baixa autoestima do trabalhador, sendo

que este tipo de comportamento não pode ser revertido através de coerção e controle. Mesmo

não sendo a única responsável, muito menos sendo especialista em devolver a autoestima e

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confiança dos indivíduos, a organização pode criar condições para evitar que eles percam a

esperança e a motivação para produzirem com qualidade e se desenvolverem enquanto seres

humanos (PASSOS, 2006).

Estratégias participativas surgem como modelo eficiente para a gestão de conflitos e o

aumento na produtividade, por consequência promovem melhora na distribuição de benefícios

e poder dentro da organização. Ainda, a participação favorece o senso de comunidade,

contribuindo para o comprometimento e reduzindo turbulências e conflitos internos

(VALLADARES; LEAL FILHO, 2003).

As conquistas na área tecnológica transformaram significativamente o mundo do

trabalho e o dia a dia dos trabalhadores. Um grande número deles ainda continua trabalhando

por trabalhar, desconhecendo os objetivos da administração e sua parcela de participação nos

negócios. Portanto, tornar a satisfação no trabalho algo real e promover um ambiente que

estimule a inovação organizacional são ainda hoje grandes desafios da administração nas

empresas brasileiras (CIMBALISTA, 2002). Parte das empresas passa a priorizar o

envolvimento mais profundo dos colaboradores, por meio de uma maior participação, o que

resulta em mudanças nas relações de trabalho, em especial quanto à aquisição de novas

habilidades, ampliação de capacidades objetivas, aumento da flexibilidade, polivalência e,

sobretudo, autonomia no desempenho de atividades (CARVALHO, 2010).

Uma vez que a finalidade da empresa não é exclusivamente econômica e financeira,

mas, em primeiro lugar, humana e social, cabe considerar o trabalho pela produção e

resultados, tanto quanto pelo sentido da atividade, da subjetividade e da vivência. Posto que a

empresa não encontra uma finalidade em si mesma, uma vez que é um meio pelo qual é capaz

de produzir a sociedade e melhorar o bem-estar coletivo, mesmo daqueles que não fazem

parte da sua planta, deve considerar as consequências de seu funcionamento, tanto a nível

social quanto do meio ambiente, integrando esses diferentes parâmetros em seu sistema de

gestão (ROHM; LOPES, 2015).

Assim, avaliar os pontos relevantes na implantação da gestão participativa pode

estimular as organizações a reverem seus processos de gestão e, com isso, se capacitarem para

enfrentar as mudanças mercadológicas, quer aconteçam no campo de pessoal, bem como na

tecnologia.

Analisando o tema é possível identificar duas linhas de interpretações distintas: uma

entendendo que a participação praticada nas empresas não passa de uma nova roupagem de

manipulação e dominação e outra entendendo que a gestão participativa pode trazer vantagens

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para empregados e empregadores (SILVEIRA; OLIVEIRA; PALASSI, 2012). Com isso, a

participação pode contribuir para o aumento da eficiência, mas o que importa é que o termo

participação pode se referir tanto a um método de tomada de decisão, quanto abranger

técnicas utilizadas para persuadir os empregados a acatarem decisões já tomadas pela

administração (CARVALHO, 2010). Outra explicação é que a participação dos trabalhadores

assume muitos significados segundo a literatura estudada por Knudsen, Busck e Lind (2011),

merecendo destaque o fato de a participação lidar com a influência dos empregados no

processo da tomada de decisão; e a prerrogativa do privilégio concedido a quem, em menor

ou maior grau, participa da tomada de decisão na organização.

2.2.2 Vantagens e desvantagens da gestão participativa

Dada a desigualdade generalizada nos mercados de trabalho e os constantes conflitos

de interesse entre empregador e empregado, a negociação coletiva se torna essencial para a

garantia dos direitos de ambos, combinando suas vozes e força em organizações autodirigidas.

Para tanto, os empregados precisam de informação para desempenhar um papel contínuo de

participação (KLARE, 1989).

Harrison e Freeman (2004) sinalizam que a democracia organizacional está

frequentemente associada com o aumento do envolvimento e satisfação dos funcionários,

níveis mais elevados de inovação, aumento do compromisso pelas partes interessadas e

melhor desempenho organizacional. Contudo, destacam que os processos democráticos

podem absorver um tempo considerável para implementação e outros recursos

organizacionais de forma a reduzir a eficiência. Assim, listam alguns prós e contras da

democracia organizacional. Igualmente para Kerr (2004), o processo democrático pode

fornecer mais ou menos vantagens, dependendo da capacidade e motivação da força de

trabalho em participar do fluxo de informação e decisão. O autor complementa ainda que,

para aproveitar ao máximo o potencial dos trabalhadores na decisão participativa, a

organização deve explorar a força de seus talentos.

A participação dos trabalhadores tem sido defendida tanto pelo âmbito do trabalho

quanto do capital, porém, a participação pode tomar muitas formas diferentes, mas a condição

prévia necessária é a habilidade de participação, através do acesso a informações e

treinamentos que capacitem os indivíduos (COLLOM, 2001).

A relação entre os anseios individuais e os interesses coletivos, assim como a

participação e a capacidade de decidir os cursos da vida social, englobam a democracia.

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Assim, ao democratizar as decisões internas, também o capitalista se beneficia, já que as

escolhas coletivas conduzem a um maior comprometimento dos envolvidos. Ainda, com base

numa maior liberdade, as relações se fortalecem e o trabalho passa a ser um meio e não

somente um fim para o desenvolvimento do indivíduo (SEN, 2010).

Dentre os pontos fortes da democracia organizacional, Harrison e Freeman (2004)

ressaltam:

a) As pessoas gostam de ter uma voz, ou a capacidade de influenciar as organizações

nas quais trabalham. Portanto, a democracia pode promover compromisso com a

organização;

b) A participação nas decisões tende a melhorar o compromisso com a implementação

das mudanças aprovadas;

c) Organizações democráticas contribuem para as pessoas se sentirem mais

responsáveis em prol dos resultados organizacionais;

d) Os processos democráticos ajudam a criar um clima organizacional mais

participativo estimulando a inovação e a capacidade de mudar;

e) Dar poder para funcionários e gerentes permite o desenvolvimento de competências

e habilidades.

No entanto, os processos democráticos aludem também desvantagens, na visão de

Harrison e Freeman (2004), seriam elas:

a) Na medida em que o poder de decisão é dado a níveis mais baixos nas organizações,

essas pessoas podem não observar o todo ou não ter cultura, formação ou experiência

necessários para uma adequada tomada de decisão;

b) Os processos democráticos levam tempo, o que pode prejudicar a eficiência e

resultados da organização;

c) A implementação de processos democráticos requer mudanças organizacionais

radicais que são difíceis e demoradas, além do risco de falha;

d) A resistência frente aos processos democráticos pode partir dos gerentes de nível

médio e superior, devido às novas competências que serão necessárias. Assim como

pode haver resistência dos níveis mais baixos, que passariam a ter responsabilidade

por prestar contas da participação nas tomadas de decisão;

e) A democracia pode não se encaixar em algumas situações, como as que exigem

agilidade na tomada de decisão.

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Corrobora com esta visão a pesquisa de Gonzáles (2009), que destaca como

componente negativo deste modelo o aumentando da responsabilidade do trabalhador, de

forma a intensificar o tempo e o esforço dedicados para o cumprimento de suas metas,

podendo levar a riscos e sobrecargas de trabalho.

Para Pateman (1970), referenciado em Kundsen, Busck e Lind (2011), existem três

graus de participação dos indivíduos na organização, quanto ao processo de tomada de

decisão: a pseudoparticipação, a participação parcial e a participação plena. A

pseudoparticipação compreende situações onde não ocorre participação alguma na tomada de

decisões, ou seja, os empregados são persuadidos ou manipulados a aceitarem as decisões

tomadas pela administração. A participação parcial, por sua vez, é um processo no qual duas

ou mais partes influenciam-se reciprocamente na tomada de decisões, mas o poder final de

decidir pertence apenas a uma das partes. Quanto à participação plena, esta consiste num

processo no qual cada membro isolado de um corpo deliberativo tem igual poder de

determinar o resultado final das decisões, ou seja, define o autogerenciamento. Para

Ingvaldsen (2015), a busca pelo aprendizado está relacionada com o processo de participação

completo na prática sociocultural.

Embora esse formato também possibilite aos gestores o controle da participação e

empoderamento dos funcionários, ou permita que os gestores moldem seus colaboradores, não

sendo, portanto, suficiente para a criação de um ambiente de trabalho democrático

(PETERSSON; SPÄNGS, 2005), tanto a gestão participativa como a democracia no local de

trabalho mostram-se como fomentadoras do comprometimento e da motivação dos

colaboradores, uma vez que promovem a redução de barreiras e participação nos processos de

tomada de decisão, em maior ou menor grau, com considerável melhora na competitividade

das empresas (PINSKI; ROCHA, 2004; PETERSSON; SPÄNGS, 2005). No presente estudo,

gestão participativa e democracia no local de trabalho são tratadas como sinônimos.

A participação no trabalho foi compreendida como uma forma de distribuição do

poder entre os diversos atores inseridos em uma determinada relação de trabalho. Desta

forma, considera-se tanto mais participativa uma organização quanto maior a distribuição do

poder entre seus membros (COUTINHO, 2002). Ainda, segundo Knudsen, Busck e Lind

(2011), a participação tem diferentes forças motrizes, dentre elas, a democracia industrial

(sindicatos), a integração social (política) e a eficiência organizacional (produtividade,

sobrevivência), sendo esta última capaz de aumentar o compromisso dos trabalhadores, gerar

maior satisfação e motivação, além de reduzir a resistência à mudança.

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Desta forma, a administração participativa amplia o universo dos estudos sobre o

comportamento humano nas organizações, onde uma das propostas é a superação do conflito

entre o indivíduo e a organização. A implantação de uma cultura participativa passa por

várias etapas, que se tornam objeto de estudos, gerando as mais diversas propostas. Dentre

estas técnicas destacam-se o enriquecimento e ampliação das tarefas, o trabalho em equipe, a

rotação de cargos, dentre outros (BELTRÃO, 2006).

2.2.3 O modelo participativo na prática

A gestão participativa surgiu como uma maneira inovadora e moderna de gerenciar. A

partir dela, tornaram-se comuns os círculos de controle de qualidade, nos quais merece

destaque o empoderamento dos trabalhadores no que tange à autonomia para resolver os

problemas comumente ligados às suas respectivas áreas. A participação passa a ser vista como

um processo de desenvolvimento de consciência crítica e de aquisição do poder. Apesar da

participação na gestão existir há algum tempo, permanece a dificuldade para compreender o

sentido de participar. Um exemplo disso é percebido pelos diferentes enfoques que o termo

participação tem no cotidiano da gestão. Enquanto alguns creem que a participação se limita à

consulta aos envolvidos, para outros a participação só é efetiva com apropriação de poder

(SILVEIRA; OLIVEIRA; PALASSI, 2012).

Para os referidos atores, a preocupação com mecanismos participativos de gerência

ganhou ênfase através da busca por formas mais democráticas de administrar, e também da

tentativa de aumentar a eficácia na gerência do poder e do conflito num mundo organizacional

cada vez mais complexo. Assim, a conceituação da participação na teoria gerencial tem

origem no estudo de dois fatores básicos, inerentes ao meio organizacional: o conflito e a

cooperação, que levam ao conceito de que a participação compreende a totalidade das formas

e meios que os indivíduos ou a coletividade influenciam os resultados da organização

(SILVEIRA; OLIVEIRA; PALASSI, 2012).

No entendimento de Melo (2000), várias estratégias podem ser utilizadas para se

implementar uma administração participativa, nas quais a organização deve investir,

necessariamente, instrumentos para sua efetivação, tais como: treinamento, desenvolvimento,

informação e comunicação. A partir destes instrumentos e técnicas, é possível promover as

mudanças culturais necessárias, o que também envolve mudanças de comportamento e de

valores.

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Uma forma verdadeira de organização participativa requer mudanças profundas e

implica em muitos riscos. Talvez isto explique a relutância de gerentes mais tradicionais e

racionais em executá-la. Os que apresentam coragem, podem se deparar com problemas

prematuros mais graves ou falhas, e tendem a desistir do processo. O que pode ser justificado

pela dificuldade dos seres humanos em abandonar o poder, de modo que a resistência dos

gestores inviabilize a execução do modelo de gestão. Assim, quanto mais hierárquica uma

organização (poder na mão de gerentes de nível superior), maior a probabilidade de não

chegar ao final do processo de implantação (HARRISON; FREEMAN, 2004). Kerr (2004),

por sua vez, considera provável que as empresas com maiores dificuldades para

implementação do processo de gestão participativa são igualmente as que apontarão os

maiores benefícios.

Contudo, o ambiente participativo pode ser gerado a partir dos próprios funcionários.

Estes trabalhadores podem encontrar alternativas para solução de problemas, englobando a

participação na tomada de decisão, nos resultados e, possivelmente, nas alterações da

estrutura organizacional (BELTRÃO, 2006).

As formas participativas de gerência ganharam destaque pela busca por mecanismos

mais democráticos de administrar e, também, com propósito de aumentar a eficácia no

gerenciamento do poder e do conflito num ambiente organizacional cada vez mais intricado.

A participação dos trabalhadores na gestão de unidades produtivas não é um processo

absolutamente pacífico, uma vez que se tem a noção de que a participação é avaliada pelo

nível de controle (SILVEIRA; OLIVEIRA; PALASSI, 2012).

O perfil do profissional do trabalho flexível exige capacidade de se relacionar com

facilidade e boa adaptabilidade aos diferentes ambientes, o que viabiliza o trabalho em equipe.

Mas o ambiente social de trabalho nem sempre é favorável à convivência entre os sujeitos:

apesar de o discurso organizacional destacar a valorização do trabalho em equipe, na prática,

o ambiente tende a ser hostil e competitivo, de forma os conflitos tendem a ser mais uma

causa para o risco de demissão (ROHM; LOPES, 2015).

Seguindo esta lógica, destaca-se a importância da dimensão política interna,

responsável pela distribuição de poder na organização, de modo que colaboradores tenham

maior influência nas decisões sobre seu destino profissional e sobre o destino da própria

organização. Paradoxalmente, o clima organizacional baseia-se na integração, e aumento da

interação e do compartilhamento de valores individuais e organizacionais. Por sua vez, a

psicologia busca a autorrealização, satisfazendo aspirações individuais de iniciativa e

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criatividade e assegurando melhor integração e interação com o grupo organizacional

(BELTRÃO, 2006).

Além destas formas de participação, se detecta também o risco fabricado na pós-

modernidade, que compreende aquele criado pelo próprio sujeito, para si mesmo, na esfera

das crenças e suposições. Esse risco implica autorresponsabilização do sujeito por seu

sucesso-fracasso e emprego-desemprego, existindo uma cobrança contínua e angustiante para

se enquadrar às exigências dos empregadores (ROHM; LOPES, 2015).

Ainda, os sujeitos tendem a desenvolver um vínculo emocional com as organizações

onde trabalham, pois é característico do ser humano maximizar o prazer no seu estar no

mundo. Somado ao retorno monetário, os indivíduos esperam reconhecimento e delegam às

empresas a responsabilidade pelo seu sucesso pessoal, transferindo para elas seu ideal de

realização. Por sua vez, as organizações não tem propensão a desenvolver uma relação

emocional com o empregado além do que está estabelecido no contrato de trabalho, ou seja,

mantém uma relação de caráter utilitário. Com isso, as conquistas da organização passam a

representar seus ganhos e o indivíduo, que se dedica integralmente para ela, cria uma

realidade ilusória. Nesse caso, a aceitação dos ideais da organização por parte do sujeito é tão

fortemente interiorizada que, quando este é dispensado pela organização, tal ato é sempre

justificado em nome de um objetivo maior (ROHM; LOPES, 2015).

Katz e Kahn (1987) acreditam que a participação do indivíduo deve resultar em uma

variedade de condutas que apoiam a missão organizacional, como maior produtividade e

ações espontâneas pelo bem da organização. A autorrealização do indivíduo em auxiliar na

consecução dos objetivos organizacionais é condição básica para internalizar os objetivos

organizacionais. Além dos valores que o indivíduo traz consigo, outro fator relevante é o grau

em que o indivíduo vê a organização como sua própria criação. Participando em suas decisões

e recompensas, a organização se torna parte dele e ela parte dele.

Com base em estudos, Stoner e Freeman (1996), citados por Beltrão (2006),

perceberam que aumentando a moral dos trabalhadores consequentemente iria aumentar-se o

desempenho destes. Com isso, identificou-se a importância de se ter um grupo de trabalho

satisfeito e motivado, levando a aumentos de produtividade surpreendentes. Percebeu-se a

necessidade de reconhecimento, segurança e o sentimento de pertencer ao grupo no ambiente

de trabalho, fatores bem representativos além dos incentivos de caráter pecuniário, além da

importância de haver grupos informais, onde o trabalho passa a ser compreendido como um

processo coletivo e como uma atividade cooperativa.

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A partir desses estudos, houve uma melhor compreensão sobre a motivação humana,

comportamento de grupos e relações interpessoais no ambiente de trabalho, além da

importância do trabalho na socialização do homem. Com isso, permitiu-se que

administradores se tornassem mais sensíveis no comportamento eficaz com seus

subordinados, oferecendo novos insights em áreas como liderança, solução de conflitos,

relações de poder, mudança e comunicação organizacional (BELTRÃO, 2006).

Johnson (2006) cita a democracia organizacional como responsável por combater ou

reparar os sintomas de alienação dos funcionários, e amenizar os problemas associados ao

capitalismo desestabilizado, além de promover autonomia e sentimento cívico. Segundo o

autor, a democracia organizacional beneficia o trabalhador ao oportunizar crescimento e

desenvolvimento, aumentando sua moral e satisfação e, como consequência, melhora a

produtividade da empresa; ademais motiva o monitoramento do esforço dos colegas. Destaca

que, neste caso, os incentivos financeiros perdem parte de sua importância, já que os

trabalhadores reconhecem sua relevância, tornando-se menos avessos às mudanças e mais

inclinados a investir na empresa, resultando em organizações mais competitivas, através de

processos, produtos e serviços inovadores, dispensando a vigilância, uma vez que passa a

existir senso de propósito.

McLagan e Nel (2000 apud CARVALHO, 2010) entendem que a única forma de

substituir o modelo de gestão tradicional pelo participativo é através da quebra de paradigmas.

Os autores argumentam que à medida que a tecnologia transforma o trabalho, reduzindo o

número de pessoas necessárias para produzir um produto ou serviço específico, mais aumenta

a busca pela participação. Mas isto exige que as pessoas tenham uma nova visão de mundo,

assumindo posturas mais maduras e profissionais, de forma que a organização como um todo

se envolva no processo, seja na decisão, ação, formulação ou execução do mesmo.

A participação na administração está vinculada ao aspecto cognitivo, pois se exige

como pré-condição o pensar juntos sobre os problemas e soluções na gestão das organizações.

Assim, dentre as vantagens e/ou benefícios, para as organizações e trabalhadores, advindos da

administração participativa, teríamos: a participação ajuda a aumentar a confiança dos

empregados nas intenções e objetivos da organização; dá vazão à ansiedade que as pessoas

tem por expressar uma opinião com relação a sua situação de trabalho; provoca melhoria nas

comunicações; pode evitar que mudanças mal imaginadas sejam postas em prática;

desenvolve a capacidade dos subordinados; desenvolve uma mutualidade de interesse entre

empregados e administração; produz soluções engenhosas em situações problemáticas; a

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maior satisfação gera maior rendimento; o maior envolvimento com o progresso gera um

maior comprometimento com as decisões tomadas (BELTRÃO, 2006).

Knudsen, Busck e Lind (2011), concluem através de seus estudos que uma atuação

conjunta e democrática de gestores e funcionários possibilita maior eficácia no enfrentamento

das ameaças do mercado, uma vez que a participação, direta ou representativa, tem um papel

positivo para a qualidade do ambiente de trabalho. Os altos níveis de bem-estar psicossocial

são encontrados em locais de trabalho com altos níveis de participação.

A gestão participativa não descarta o uso da autoridade, e implica num envolvimento

ainda maior do gestor com seus subordinados, na medida em que suas competências são ainda

mais exigidas. O que muda neste modelo é a visão dos dirigentes sobre o exercício da

autoridade, alterando o envolvimento do grupo na tomada de decisões e o aumento da

autonomia (CARVALHO, 2010).

Por fim, embora a gestão participativa não seja um conceito novo, sua efetiva

implementação demanda uma mudança radical na postura dos gestores e colaboradores. Para

que o modelo possa existir na prática, é necessário haver confiança e responsabilidade de

ambas as partes, e um alinhamento de objetivos que permita a visualização clara dos objetivos

organizacionais. Fundamentado neste referencial, pretende-se analisar a SEMCO - empresa

que segundo estudos como os de Petersson e Spängs (2005) e Carvalho (2010) retratam como

exemplo de uma organização com participação ampla -, no intuito de identificar os elementos

congruentes para a proposição de um modelo de gestão que contribua para o sucesso e

competitividade empresarial. Especialmente porque, como descrito por Johnson (2006), os

processos que conduzem à formação das organizações democráticas são menos propensos a

emergir do que aquelas não democráticas, sugerindo uma maior compreensão dos processos

que permitem a criação de locais de trabalho democráticos.

2.3 Arquitetura ou Desenho Organizacional

Uma vantagem competitiva está baseada na forma como os esforços empresariais

estão organizados, uma vez que o conjunto de estruturas, processos, sistemas e estratégias

contribuem com o desempenho da empresa. Sendo assim, torna-se oportuno fazer uma revisão

teórica sobre o tema, dado que a arquitetura ou desenho organizacional da matriz participativa

em estudo apresenta várias especificidades (GAZDA, 2009).

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Diante dos desafios, forças – dentre elas, tecnologia, globalização, oferta, competição-,

e pressões por que passam as organizações, faz-se necessário modelar o espaço

organizacional, buscando satisfazer as necessidades e aspirações humanas e de mercado

(CARVALHO, 2015).

No entanto, cabe salientar que a arquitetura ou desenho referido não trata da

arquitetura física da organização, mas sim da correlação que pode ser feita acerca de sua

praticidade e utilidade, enquanto que o homem trabalha e vive naquilo que é criado; quanto

aos aspectos do comportamento, que podem representar a moldura para as realizações da

vida; quanto ao fato de que, assim como os projetos arquitetônicos, as estratégias da empresa

devem refletir o futuro; e, finalmente, ao grupo de pessoas que trabalham em conjunto. Ainda,

o termo arquitetura permite equiparar o fato de não existirem construções com uma mesma

arquitetura, salvo raras exceções, assim como, cada organização apresenta um conjunto de

sistemas, estruturas, processos e estratégias únicos (GAZDA, 2009).

A organização é a união de todos os que partilham interesses, valores ou ideias

semelhantes; sem ela, não é possível exercer ou usar o poder; sua fonte de poder, é admitida

como indispensável quando se busca o poder ou se necessita dele. Da organização advém a

persuasão necessária e a consequente submissão aos seus propósitos. Organizações

expressivas exigem um condicionamento interno preciso, a fim de obter um resultado externo

relevante (GALBRAITH, 1989).

O termo estrutura organizacional é usualmente citado como equivalente à arquitetura

organizacional. No entanto, embora importante para o desenho da organização, uma vez que

reflete a alocação interna de poder e status, a estrutura não constitui sua face mais

considerável. Por influenciarem o desempenho e a cultura da organização, os processos, as

pessoas e as recompensas têm se tornado dimensões tão relevantes quanto a estrutura. Neste

sentido, o projeto organizacional torna-se uma das melhores ferramentas que levam ao

fortalecimento da competitividade das organizações, na medida em que estruturas inovadoras

tenderiam a aumentar sua eficiência e efetividade (FERNANDINO; OLIVEIRA, 2010).

A relação entre forma ou estrutura organizacional com desempenho da organização

considera: (i) a importância que a coordenação tem para a tarefa, dado que a tomada de

decisão numa tarefa interfere no desempenho da outra, por serem interdependentes; (ii) a

racionalidade limitada do indivíduo, ou seja, a empresa pode demandar tratamento de

informações que excedem a capacidade cognitiva dos responsáveis pela tomada de decisão;

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(iii) e a relação entre empresa e ambiente organizacional, precisando ser adaptado de acordo

com as discussões de contingência (MENDES, 2012).

A arquitetura organizacional é descrita como a conexão dos vários sistemas, estruturas,

processos e estratégias que constituem uma empresa, o que significa que a arquitetura inclui a

estrutura formal, as práticas de trabalho, a natureza da organização informal, os tipos de

operação e os processos de seleção, integração e desenvolvimento de pessoal

(FERNANDINO; OLIVEIRA, 2010).

As instituições são instrumentos de ação coletiva, que teriam como objetivo ordenar o

conflito e aumentar a eficiência. As instituições são comedidas, apresentando regras formais e

informais, a fim de estruturar as interações sociais, econômicas e políticas. Refere ainda, que

o desenho organizacional acaba por basear-se na relação entre os agentes, os incentivos e o

sistema de controle (MENDES, 2012).

Para que o resultado destas interações seja positivo, as pessoas e a informação são

fatores determinantes para o sucesso das organizações no cenário atual. A gestão na era do

conhecimento se diferencia de outras formas gerenciais, uma vez que as pessoas, a forma

como os indivíduos gerenciam a informação, se organizam, produzem, armazenam e

compartilham conhecimento, e como se comportam dentro de um novo contexto, equivalem a

diferenciais competitivos (CARVALHO, 2015).

Uma organização complexa se caracteriza por uma grande difusão do conhecimento

específico. O grau de complexidade organizacional tem consequências importantes quanto à

concessão de direitos de tomada de decisões. Daí a importância do conhecimento e sua

distribuição para uma economia ajustada à organização, de forma que a performance da

organização depende da co-localização do conhecimento com o direito de tomada de decisão.

Com isso, as empresas ajustadas atribuem a autoridade da tomada de decisão àqueles que

combinam a informação necessária e a autoridade que se precisa para tomar boas decisões,

buscando alinhar sistemas de medida de resultados, remuneração e recompensa. Neste

sentido, o conhecimento tem caráter difuso, sendo mais eficaz a descentralização, dado que os

direitos de tomada de decisões são adquiridos pelos indivíduos que detém melhores condições

de utilizá-los devido ao conhecimento específico que possuem (MENDES, 2012).

Grande parte dos administradores reconhece as organizações através da estrutura

formal, representada pelo organograma clássico, dispõe prioritariamente das relações estáveis

e formais, entre as tarefas e as unidades de trabalho, excluindo o comportamento da liderança,

o impacto do ambiente, as relações informais e a distribuição de poder. As atividades relativas

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à configuração da arquitetura organizacional devem considerar de que forma a estrutura

permitirá à organização implementar suas várias estratégias e realizar o trabalho exigido; e

como a arquitetura consolidará os indivíduos que trabalham na e para a organização ou como

será o impacto das mudanças nas pessoas (NADLER; TUSHMAN, 1993 apud

FERNANDINO; OLIVEIRA, 2010).

Um grande desafio para as organizações é encontrar meios que permitam

disponibilizar o conhecimento pertinente à disposição dos responsáveis, mediante um custo

não oneroso, o que pode acontecer pela transferência do conhecimento aos que têm os direitos

de tomada de decisões; e transferindo os direitos de tomadas de decisões aos que têm o

conhecimento (MENDES, 2012).

A interdependência de tarefas interfere no desenho organizacional, assim como na

tomada de decisão, uma vez que facilita ou dificulta o acesso ao conhecimento e às

informações. Inclusive, a racionalidade limitada do indivíduo pode contribuir para a

complexidade dos problemas organizacionais, uma vez que possíveis tomadas de decisão

podem exceder a capacidade cognitiva dos indivíduos (NADLER; TUSHMAN, 1997).

As empresas mais estruturadas atribuem a autoridade da tomada de decisão àqueles

que combinam a informação necessária e a autoridade de que precisam para tomar as

melhores decisões, alinhando os sistemas de medida de resultados e de remuneração,

recompensando estes indivíduos como forma de incentivo (MENDES, 2012).

Toda empresa precisa de uma organização que mude tão rapidamente quanto seus

negócios se alteraram. Para não ficar para trás, muitas empresas estão dedicando uma grande

parcela de tempo e energia na gestão da mudança. Esta tarefa pode ser realizada mais

facilmente se houver uma cultura de mudança na organização. Se a mudança é constante,

cabe projetar as organizações para que sejam constante e rapidamente mutáveis ou

reconfiguráveis (GALBRAITH, 1999).

Esta inteligência competitiva passa a ser, para Carvalho (2015), uma ferramenta

gerencial para efetivar as estratégias definidas pelas organizações. O autor faz referência a

Nadler et al. (1994), para quem o fator estratégia é responsável pelas decisões que partilham

os escassos recursos frente as limitações e oportunidades de um dado ambiente. As opções de

mercados, ofertas, tecnologias e competências, são fatores que carecem ser gerenciados

perante uma definição de estratégias de longo prazo, sendo traduzidos em objetivos de curto

prazo.

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As organizações devem ser analisadas e entendidas como complexos sistemas sociais

cujos elementos são interdependentes: cada escolha efetivada em uma parte do sistema afeta

as demais partes, melhorando ou comprometendo o resultado final do conjunto. Por isso, cabe

estudar cada parte dentro do todo, tendo ciência de que não existe uma combinação única para

alcançar os melhores resultados, mas sim diversas combinações que podem ter um excelente

desempenho, dependendo das circunstâncias e dos próprios elementos do sistema (UEMURA,

2006).

Dentre os elementos informais, estão os fatores críticos de sucesso, que determinam a

sobrevivência do negócio, e compreendem o alinhamento de processos, estrutura, métrica e

recompensa; os fatores contextuais que representam a realidade em que funciona a

organização, como ambiente de negócios, instalações físicas, história do negócio e ambiente

político-social; a cultura, já mencionada no tópico anterior, definida pelo padrão de

comportamento oriundo das atividades e atitudes das pessoas da organização; e o tipo de

produto ou serviço entregue pela empresa, uma vez que determina o perfil e o

dimensionamento de recursos necessários para a produção. Este último elemento informal

define o grau de liberdade na tomada de decisão dos gestores do negócio, influenciando

diretamente os principais processos organizacionais (UEMURA, 2006).

Como elementos formais do modelo organizacional definem-se: a) tarefa, distribuída

entre os indivíduos, precisa ser executada para que a atividade fim do negócio seja cumprida,

sendo dependente da estrutura organizacional e dos processos; b) pessoas, que representam o

elemento fundamental para qualquer modelo escolhido, cujas habilidades, formação, valores e

atitudes são mais adequados para determinados tipos de cargos ou funções, o que demanda

uma correta alocação; c) sistema de seleção/desenvolvimento, no curto ou longo prazo

permite a identificação de profissionais com perfil adequado para as necessidades do modelo

organizacional; e d) a estrutura organizacional, definida a partir da distribuição das atividades,

responsabilidade e autoridade para determinados cargos ou indivíduos, sendo estes

coordenados vertical ou horizontalmente (UEMURA, 2006).

O desenho organizacional pode apoiar as políticas, comportamentos e desempenho,

descrevendo o caminho que os líderes podem e devem seguir para efetuar o processo de

mudança. Neste sentido, as quatro forças fundamentais que moldam as organizações - poder

de compra, variedade, mudança e velocidade - mostram como criar uma organização que

responde de forma eficaz e rápida às demandas dos clientes. Para um desenho organizacional

eficaz, a responsabilidade dos líderes começa com a formulação da estratégia, que determina

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direção. Na sequência, o sistema de recompensas produz a motivação para realizar. E as

práticas de recursos humanos influenciam e, muitas vezes, definem as mentalidades e as

competências dos trabalhadores (GALBRAITH, 1995).

Uemura (2006) refere que a arquitetura organizacional deve ponderar os trade-offs e as

futuras possibilidades de alterações no seu modelo organizacional, assegurando condições

favoráveis para as análises e decisões necessárias para a operação. Desta forma, o projeto do

modelo organizacional e o gerenciamento de operações obtém o alinhamento às necessidades

de mercado (clientes e concorrentes), levando em conta as restrições econômicas e técnicas.

O desenho organizacional eficiente deve considerar estratégia, fronteiras da empresa,

estrutura interna e governança como padrões centrais. Segundo esclarece, o balanceamento

eficiente destes parâmetros determina o direito de decisão além de permitir um eficiente

balanceamento de incentivos, que maximizem os resultados gerados pelo desenho

organizacional (MENDES, 2012).

Para a organização atingir seus objetivos de forma mais adequada, deve ser suportada

pela arquitetura, ou seja, quando o indivíduo tem acesso às exigências de habilitação e

conhecimento de determinada tarefa e estas são coerentes com as suas características

(habilidade e conhecimento), sendo viável sua realização na referida organização. Quanto

maior a congruência entre os componentes estratégicos, maior a eficiência da organização.

Neste caso, a eficiência aparece como o grau em que o produto organizacional real é

semelhante ao produto esperado ou planejado (GAZDA, 2009).

Primando por esta eficiência e vantagens competitivas, as organizações, que foram

criadas para executar estratégias de negócios, percebem que a superioridade de hoje não dura

muito tempo, até mesmo as organizações passam a ter vida curta. No passado, a gestão

trabalhava uma fórmula de negócios vencedora, erguia barreiras e sustentava sua vantagem.

Mais tarde, foi criada uma estrutura de organização com base em funções, produtos / serviços,

mercados, para projetar uma fórmula do sucesso. Para completar, processos de planejamento,

orçamentação, informação, desenvolvimento de produtos, sistemas de compensação, seleção e

promoção de critérios, planos de carreira, avaliações de desempenho e treinamento e

desenvolvimento seriam concebidos e alinhados uns com os outros, formando a estrutura da

organização. Na atualidade, as vantagens da organização são rapidamente copiadas ou mesmo

superadas por concorrentes, de forma a tornar a organização vulnerável. É preciso, portanto,

um novo desenho organizacional, que compreenda processos facilmente reconfigurados e

realinhados com esta necessidade de constante mudança estratégica (GALBRAITH, 1999).

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Assim, o Modelo Estrela de Galbraith (1999), cujo desafio é projetar organizações

para executar estratégias que primem por vantagens competitivas sustentáveis, configura uma

conveniente base para estudo. Quando vantagens do produto não são sustentáveis ao longo do

tempo, os vencedores serão aqueles que criarem vantagens temporárias. Sob este cenário, os

líderes deverão estar orientados para o futuro, criando continuamente valor para o cliente.

Deverão agir de forma rápida para corresponder e superar as vantagens atuais, de forma que

as organizações tenham capacidade para respostas flexíveis e diversidade de movimentos ao

longo do tempo, tendo mais probabilidade de sucesso. A organização reconfigurável é o meio

para executar esta estratégia de forma contínua (GALBRAITH, 1999; 2002). Este modelo

apresenta cinco elementos, que compreendem: estratégia, estrutura, processos, pessoas e

recompensa, conforme figura 1:

Figura 1: Modelo Estrela de Galbraith

Fonte: Galbraith (1999), adaptado pelo autor.

2.3.1 Estratégia

Derivada da palavra grega strategos, significa general. Foi usada por muito tempo pelo

exército, com a finalidade de desenvolver grandes planos e obter vantagens frente ao inimigo,

devendo ser mantida em segredo para ganhar as batalhas. Após evoluir, a formulação

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estratégica passa a analisar o contexto onde a organização está inserida, suas forças e

fraquezas, suas oportunidades e ameaças a fim de se manter competitiva (NARCISO;

PULIDO, 2014).

A estratégia passa a ser a dimensão que determina as metas e os objetivos da

organização, assim como os valores e a missão a ser alcançada. Ela delimita os produtos ou

serviços que serão oferecidos, o mercado onde se atuará e os valores que a organização

assumirá perante seus clientes. Ao definir a direção a ser seguida pela organização, a

estratégia estabelece os parâmetros que nortearão a escolha do desenho organizacional mais

adequado para a implementação das ações, além de possivelmente orientar rotas alternativas,

que permitam reação num ambiente dinâmico (GALBRAITH, 1999; 2002; SCHREIBER,

2015).

A estratégia determina o caminho dos processos dentro de uma empresa e está

claramente ligada e é percebida quando se pondera o crescimento da empresa (GALBRAITH,

1981), e deve levar em conta inclusive as culuras regionais ou religiosas do local de trabalho,

a fim de se utilizar de estilos de liderança, que atendam as necessidades de desenvolvimento

(ARDICHVILI, 2001).

Num curto prazo, é possível que os custos de inovação em gestão sejam muito mais

visíveis que os benefícios (HAMEL, 2007). O comprometimento dos indivíduos da

organização pode permitir um ajuste mais rápido às exigências de um mercado em

permanente mudança (PETERSON; SPÄNGS, 2005). Nem sempre as estratégias são

elaboradas por indivíduos formalmente designados para tal, no entanto, é preciso que os

mesmos estejam empenhados em identificar vantagens competitivas potenciais (TAKEUCHI;

NONAKA, 2008). Para isso, deve prevalecer a visão de que o processo estratégico opera

como um processo de formulação e implementação, preferencialmente realizado em conjunto,

para obter o comprometimento da organização como um todo (SCHREIBER, 2015).

Para aumentar a qualidade do diálogo e das tomadas de decisão, é demandada uma

postura mais arrojada por parte da empresa, de forma a antever possíveis inconvenientes que

possam surgir, decorrentes de problemas pessoais ou críticas internas, a fim de que não

extrapolem as fronteiras da organização. Em muitos espaços organizacionais, a discussão

ainda é limitada. Um debate de questionamento direto é limitado em tempo e ao número de

pessoas presentes. Muitas vezes, funcionários que não se sentem fortalecidos para falar

abertamente dentro da empresa farão isso externamente. Por isso, cabe ainda comparar os

custos desta liberdade com o preço que se paga quando a discordância é introvertida, quando

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se deixam escapar as oportunidades de melhorar a qualidade de decisões importantes, ou

quando os funcionários que experimentam a indiferença, ou são proibidos de expor suas

ideias, ficam propensos ao descomprometimento (HAMEL, 2007).

Responsável por equilibrar forças contraditórias, a estratégia deve articular os

objetivos financeiros de redução de custos de curto prazo com o aumento da produtividade,

objetivo de longo prazo. Somado a isso, deve basear-se na proposição de valor para o cliente,

de forma que atenda os atributos por ele esperados. O ajuste do mapa estratégico da

organização impacta diretamente na melhoria de desempenho dos processos internos, que por

sua vez alavancam o fornecimento de valor para clientes, acionistas e comunidade

(MENDES, 2012).

Esta dimensão compreende também a ética empresarial, que se faz fundamental entre

as organizações e homens de negócios. Juntamente com o aumento de pressão por uma maior

liberdade de decisão dos gerentes, ampliam-se as razões para as empresas serem mais sérias

acerca de sua ética (WIND; MAIN, 2002), bem como para atuarem contribuindo com o

desenvolvimento de seu entorno, ou seja, gerando empregos, investindo em aumento de

capital, adquirindo bens e realizando negociações. Desta forma, as organizações impactam

diretamente nas condições sociais que, por consequência, garantem a continuidade do

contexto competitivo, beneficiando empresa e comunidade, contribuindo com uma economia

próspera (PORTER; KRAMER, 2006).

A integração horizontal das operações da organização demanda que as equipes

conheçam o aspecto geral do negócio de forma a integrar os indivíduos e valorizar suas

habilidades de participar dos esforços de solução de problemas de perspectivas múltiplas e se

comunicar eficientemente. Mesmo assim, as negociações complexas, muitas vezes

estratégicas por natureza, são definidas pelos executivos que dirigem a empresa

(MOHRMAN, 1995).

Em geral, a estratégia empresarial compreende o volume de diversificação na carteira

ou portfólio dos negócios que a empresa opera, e a diversificação medida pelo número de

áreas de negócios nas quais as unidades de negócios competem. Para agregar valor aos seus

negócios, a empresa demanda uma organização projetada para atingir seus objetivos

previamente planejados (GALBRAITH, 1995).

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2.3.2 Estrutura

A estrutura define o formato de administração da organização, otimizando os fluxos de

atividades e processos das mais diferentes áreas, implementando políticas que mobilizem os

colaboradores para a participação (SANTOS, et al., 2014). Considerada uma consequência da

estratégia, a estrutura integra as metas e políticas da organização, estabelecendo uma ordem

coerente para a efetivação das ações (NARCISO; PULIDO, 2014), num ambiente cada vez

menos previsível e mais complexo onde estão inseridas as organizações. Mesmo assim,

muitas destas organizações ainda seguem abordagens clássicas e estratégias projetadas com

base em momentos estáveis, quando análise e planejamento têm como foco potencializar o

desempenho imediato, em lugar da solidez do longo prazo. Com o objetivo de avaliar o

resultado de empresas como estas, os pesquisadores Reeves, Levin e Ueda (2016),

investigaram 30 mil empresas públicas dos Estados Unidos, ao longo de 50 anos, e

constataram que as empresas estão desaparecendo muito rapidamente, independente do

tamanho, idade ou setor.

A proposta de estrutura organizacional pertencente à organização inovadora,

presumindo a coexistência de uma estrutura inovadora e outra operacional dentro da

organização. À estrutura inovadora cabe a concepção das ideias e à operacional, sua

implementação. Assim, é necessário que se estabeleça um processo de integração que

possibilite a transferência das ideias de uma estrutura para a outra (PERROTTI, 2004).

Para estabelecer estratégias num contexto organizacional dinâmico torna-se essencial

considerar o ambiente externo e interno para alcançar vantagem competitiva sustentável. Para

enfrentar a concorrência em condições favoráveis, cabe analisar e interpretar todos os fatores

determinantes para a competitividade, enfatizando o que é significativo para cada negócio.

Explorar as habilidades internas e estruturais, e ponderar sobre os fatores externos à

organização, não garante sucesso eterno, mas oportunizam condições de permanecer atuante

no mercado (SCHNEIDER, et al., 2009).

A estrutura da organização reconfigurável consiste de uma parte estável e outra parte

flexível. Define a forma como a organização distribui internamente o poder e a autoridade,

especialmente em relação a quatro aspectos básicos: (i) o tipo de especialização requerida

para a realização do trabalho; (ii) o formato de cada nível da estrutura; (iii) os critérios a

serem utilizados para a distribuição de poder, tanto na dimensão vertical quanto lateral; (iiii)

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os critérios de departamentalização que serão utilizados para definição das áreas que

compõem cada um dos níveis da estrutura (GALBRAITH, 1999).

O funcionamento organizacional horizontal se mostra como um importante aspecto

que oportuniza o sucesso da empresa num mundo altamente interdependente e competitivo. A

velocidade, a qualidade, o aprendizado organizacional e a melhoria contínua requerem um

trabalho eficaz em toda a organização. Horizontalizar processos não é uma ação de baixo

custo e demanda investimento de tempo e de energia. Para sua efetivação, é estrategicamente

necessário que o desenvolvimento e a divulgação dos planos possam ser acompanhados por

todos os envolvidos, proporcionando e intensificando um suporte para obter decisões

eficientes. Para agilizar os processos de equipe e os mecanismos de integração horizontal

deve-se fazer um esforço a fim de que não consumam tempo desnecessário (MOHRMAN,

1995).

Cabe destacar que a organização que valoriza e proporciona tarefas interessantes é

reconhecida pelos funcionários, e estes tendem a fazer um esforço maior para gerar novas

ideias. Ainda, quando em equipe, os indivíduos contribuem e compartilham ideias, que podem

levar à novas soluções competitivas. Além disso, as relações interdepartamentais são

reconhecidas como importantes para partilhar novas ideias e conhecimentos (RODRIGUES;

VELOSO, 2013).

Convencer as pessoas de que contribuir é algo seguro, independentemente do cargo

que ocupam na organização, é base para implementar uma cultura de participação. Somado a

isso, quando todos ficam cientes, de forma franca e direta, das diretrizes e compromissos, o

ato de contribuir se torna mais útil e realizador para os funcionários (DETERT; BURRIS,

2016).

Para descobrir inovações, os líderes precisam se envolver com os funcionários, de

forma a recolher informações novas e relevantes. Neste processo, também podem identificar

desafios e soluções inovadoras visíveis apenas em um nível específico da organização

(REEVES; LEVIN; UEDA, 2016).

O desenho da organização é mais do que a escolha de estruturas divisionais

alternativas (GALBRAITH, 1981). Responsável por impactar a difusão de conhecimento na

organização, a estrutura precisa estar organizada permitindo este intercâmbio, otimizando a

reflexão e a ação, de forma a permitir o alinhamento com os objetivos da empresa (GAZDA,

2009). A variação na estratégia deve ser correspondente com transformações em processos e

sistemas, tanto quanto em estrutura (GALBRAITH, 1981).

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Neste aspecto, a tecnologia da informação pode ser um grande facilitador, uma vez

que permite maior liberdade para as equipes, que podem estar conectadas com a empresa,

independente do local onde estejam. Esta interligação dependerá da formação das equipes, do

trabalho realizado por elas e dos incentivos recebidos. Para isso, a tendência é de que os

padrões de comunicação, os processos de decisão, a gestão da carreira e os sistemas de

reconhecimento serão cada vez mais horizontalizados, de forma a descentralizar a tomada de

decisão nas equipes, uma vez que o fator tempo se mostra chave para permanecer no jogo

(GALBRAITH, 1995).

Em geral, as equipes autodirigidas estão configuradas para funcionar de forma

independente e agregam indivíduos que possuem habilidades necessárias à execução das

tarefas como um todo e à solução de problemas, fazendo ajustes com base em informações e

conhecimentos procedentes de diferentes áreas da organização; têm coordenação horizontal,

podendo transferir tarefas e decisões administrativas quando necessário; sua coordenação

hierárquica chefe-subordinado é reduzida, acontecendo horizontalmente na máxima extensão

possível (MOHRMAN, 1995).

Outro ponto interessante é o fato da colaboração estar tomando conta do ambiente de

trabalho. Embora esta característica repercuta como bastante positiva, Cross, Rebele e Grant

(2016), constataram através de pesquisas realizadas em mais de 300 organizações, que a

distribuição de trabalho colaborativo costuma ser extremamente desequilibrada, sendo que

apenas 3-5% dos funcionários acabam se dispondo ao trabalho em 20-35% das empresas

estudadas.

As equipes podem ser organizadas a partir de qualquer nível da organização, basta

existir a necessidade de integração. Podem ser formadas por colaboradores cujo trabalho

precisa ser integrado e as definições rígidas de como realizar determinada demanda darão

lugar a organizações individualizadas, projetadas para as tarefas disponíveis, utilizando

estruturas, papéis e processos adequados a sua otimização (MOHRMAN, 1995).

Um aspecto que merece destaque, e é levantado pelas pesquisas de Barsade e O'Neill

(2016), é que a maioria das empresas não presta muita atenção à sua cultura emocional,

mesmo ciente de que as emoções influenciam o comprometimento, o engajamento, a

criatividade, a forma de tomada de decisão, a qualidade de vida e o turnover. Segundo os

autores, as emoções positivas são consistentemente associadas ao melhor desempenho, a

responsabilidade individual e a maiores níveis de confiança; enquanto que emoções negativas

estimulam a hostilidade, o medo, o baixo desempenho e a alta rotatividade de pessoal.

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Apesar dos esforços para melhorar a comunicação interna, independente do nível de

hierarquia, muitas vezes os resultados não são satisfatórios devido, principalmente, ao medo

das consequências, que temem aflorar: constrangimento, isolamento, baixas avaliações de

desempenho, perdas de promoção e até demissão; e a sensação de irrelevância, quando a

opinião não gera mudanças. Ao passo que, quando funcionários são capazes de expressar suas

preocupações livremente, as organizações alcançam níveis melhores de retenção e

desempenho. Quando os funcionários tem liberdade para dizer o que pensam, é mais simples

retê-los e melhorar seu desempenho. Quando ocultos, erros e decisões ruins aumentam em

ritmo acelerado, e muitas ideias talentosas dificilmente são reveladas (DETERT; BURRIS,

2016).

Alterações na estrutura também podem facilitar a cooperação espontânea e voluntária

dos indivíduos. As unidades funcionais do modelo tradicional, integradas pelo gerente geral

são substituídas cada vez mais por modelos organizacionais dotados de mecanismos para a

integração das múltiplas funções, com ênfase comum em clientes, produtos, projetos ou

processos (MOHRMAN, 1995).

2.3.3 Processos

Mudar e inovar implica em uma alteração sistemática com base em processos e

rotinas. Cabe destacar que, cada um destes sistemas possui subsistemas independentes ou

interdependentes, e que a organização não conseguirá ter uma rápida resposta às demandas de

clientes e adotar novas tecnologias se os seus processos de tomada de decisão forem

centralizados. Porém, é preciso se manter um equilíbrio, a fim de que cada processo tenha

autonomia para tomar decisões rápidas, ao mesmo tempo em que se mantém conectados com

os demais para serem coordenados (MEIRELLES; CAMARGO, 2014).

Os processos descrevem os fluxos de informação que atravessam toda a empresa. A

organização reconfigurável precisa de sistemas de contabilidade, estruturas de dados e

planejamento de processos que lhe permita operar como uma coleção de unidades de negócios

em miniatura. Esta organização deve estar alinhada com os sistemas também reconfiguráveis

e flexíveis, gerida por uma equipe capaz de estabelecer prioridades e alocar recursos; e a

mudança associada à constância dos conflitos, demandando uma esquipe de gestão hábil na

resolução dos mesmos (GALBRAITH, 1999; 2002).

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A projeção de processos horizontais resulta da combinação da necessidade de melhora

do desempenho organizacional e da inclusão de novas tecnologias de informação, que

permitam a integração de funções múltiplas. Com isso, Mohrman (1995) refere elementos que

induzem para a adoção deste modelo horizontal:

a) a valorização do aprendizado requer uma exposição sistêmica à organização, a fim

de gerar soluções para problemas complexos ou outras formas de executar

determinado trabalho. Cabe destacar que os produtos e processos passaram a ser

facilmente copiados ou replicados, de forma que a vantagem competitiva pode ser

mantida através do pioneirismo, da melhor execução e da manutenção da liderança

organizacional;

b) pressões por redução de prazo para aprovação e lançamento de produtos requerem

planejamento e otimização de processos simultâneos, não havendo espaço para atrasos

decorrentes de aprovação burocrática ou lentidão de um processo de decisões

escalonadas através dos níveis de hierarquia;

c) a tecnologia da informática e a comunicação permitem a ligação em tempo real de

diversas áreas da organização com conjunto de dados e ferramentas. A utilização mais

adequada destes meios requer normas para armazenamento de dados;

d) reestruturar organizações promovendo o trabalho de equipe de forma horizontal

envolve uma significativa mudança na orientação dos indivíduos e dos sistemas

organizacionais que moldam o comportamento.

As empresas que conseguirem explorar o potencial da centralização das prioridades,

ações e recursos nos seus processos, podem ver o processo para além da área industrial. Tanto

que, parte do sucesso que as empresas japonesas tiveram com relação às suas concorrentes

americanas nas décadas de 80 e 90 decorreu do fato de terem implementado o gerenciamento

de processos antes de as empresas ocidentais entenderem tal questão. O papel de destaque

dado ao gerenciamento de processos na cultura corporativa japonesa garantiu o

desenvolvimento de processos rápidos e eficientes em áreas importantes como

desenvolvimento de produtos, logística, vendas e comercialização. Assim, o conceito de

processos permite uma visão ampla do comportamento gerencial, mais integrada e abrangente

(GONÇALVES, 2000).

Outro aspecto importante é a comunicação, pois tem como objetivo primordial

promover mudanças de atitudes e comportamentos além de alavancar a disseminação do

conhecimento. E neste sentido, a liderança tem papel fundamental para uma comunicação

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eficaz, facilitando o relacionamento interpessoal positivo na equipe e promovendo um

ambiente mais propício à troca de ideias e revisão de processos (GARCIA, et al. 2015).

Integrar e combinar ativos, dentre eles o conhecimento, é uma habilidade fundamental

para as organizações que primam pelo desenvolvimento e melhoria contínua de seus

processos (MEIRELLES; CAMARGO, 2014). A administração tem um importante papel

também no projeto e na reestruturação permanentes da organização. A integração horizontal

acontece por meio de um conjunto de mecanismos integrativos claros. Em ambientes

dinâmicos, a mudança estará na ordem do dia. Assim, as alterações administrativas requerem

atenção contínua para que os incentivos sejam alinhados, para que ocorra desenvolvimento e

para que os processos satisfaçam às necessidades da organização. As organizações horizontais

são orientadas para processos e projetos e estão adaptadas para as tarefas existentes.

Assegurar que essas formas organizacionais estejam adaptadas, modificadas, estabelecidas e

descontinuadas é a chave para seu funcionamento eficiente (MOHRMAN, 1995).

2.3.4 Pessoas

Nesta dimensão encontram-se as políticas de recursos humanos que norteiam a ação

organizacional e que estão relacionadas às formas que serão utilizadas para identificar,

recrutar, selecionar, contratar e promover os talentos, bem como identificar as habilidades e

conhecimentos que são necessários para implementar o planejamento estratégico

(GALBRAITH, 2002).

A área de Recursos Humanos deve estar alinhada para criar uma cultura cujos

comportamentos e mentalidades suportem a reconfigurabilidade, uma vez que os conflitos

dentro de uma unidade podem minar a energia da empresa. As políticas de recursos humanos

começam com práticas de atração e recrutamento de pessoas que se encaixem na organização,

não apenas na função demandada. Considerando que os trabalhos vão ser alterados e novas

habilidades serão aprendidas, a personalidade do indivíduo passa a ter maior importância,

devido à dificuldade para se mudar os valores das pessoas. Neste sentido, os testes de

personalidade, as simulações de trabalho e as entrevistas ajudam em muito a organização a

encontrar as pessoas mais adequadas. Para a organização reconfigurável, os atributos mais

procurados são a capacidade de trabalhar em equipe, resolver problemas, lidar com conflitos,

e ter o desejo e o potencial para aprender novas habilidades. As entrevistas contribuem na

seleção de pessoas eficazes para o trabalho multifuncional (GALBRAITH, 1999).

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As hierarquias têm se mostrado adequadas para agregar esforços, coordenar atividades

que demandam pessoas e funções diferenciadas. No entanto, quando a ideia é mobilizar

esforços e inspirar pessoas, o resultado não é tão satisfatório. Quando a base de troca deixa de

ser apenas contratual, e passa a ser voluntária, a dedicação e o comprometimento passam a

basear a afiliação às metas e objetivos do grupo (HAMEL, 2007).

Assim, organizações que oportunizam ações autônomas por parte das pessoas que a

compõem, aumentam as possibilidades de motivação dos indivíduos para a criação de

conhecimento. Nestes casos, os indivíduos e grupos autônomos estabelecem as tarefas por

conta própria e desempenham em conjunto as funções que acordarem necessárias, tendo como

foco os objetivos da organização (TAKEUCHI; NONAKA, 2008).

A cada novo dia, os funcionários decidem por conta própria se aceitam conceder

iniciativa, criatividade e empenho para a organização. E, segundo Hamel (2007), isso tende a

ser facilitado quando se entende o objetivo da organização, quando o trabalho ultrapassa a

ocupação e adquire status de causa.

Num ambiente onde o trabalho se funde com o lazer e os prazos tendem a extrapolar

os contratos trabalhistas, a fluidez e a mobilidade precisam ser aliadas do trabalhador, a fim

de que os indivíduos desenvolvam um espírito corporativo (MC ROBBIE, 2002).

E este elo estreito entre autonomia e responsabilidades, faz diminuir a necessidade de

controles burocráticos, que minam a motivação. Em lugar deles, a autocrítica e a pressão dos

colegas acabam por promover a lealdade e os ajustes na produtividade. O controle do sucesso

deixa de pertencer a um gerente e passa a ser de cada indivíduo, que tem sua liberdade

associada à responsabilidade de impulsionar a empresa através de suas tomadas de decisão

(HAMEL, 2007).

O desenvolvimento da lealdade das pessoas para a mudança está pautado na

tranquilidade com que recebem novos episódios de mudança, e esta passa pela forma como se

faz uso da comunicação. Quanto mais a organização estiver aberta e transparente ao diálogo e

aos feedbacks, maior a possibilidade de desenvolvimento de habilidades e comportamentos

que proporcionem agilidade e eficácia nos processos de mudança (MEIRELLES;

CAMARGO, 2014).

Para depositar autoridade nos indivíduos, é necessário que exista uma cultura de

confiança e transparência. A alta direção precisa confiar que as pessoas farão o que é certo

para a empresa. Da mesma forma, os indivíduos devem estar confiantes de que haverá

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compartilhamento da recompensa de sua produtividade (HAMEL, 2007). O que leva à

dimensão seguinte, que é a recompensa.

2.3.5 Recompensa

Por sua vez, o sistema de recompensa precisa ser igualmente flexível e reconfigurável.

Neste sistema encontram-se aqueles aspectos que influenciam a motivação e o

comprometimento das pessoas com os objetivos da organização e devem estar alinhados com

a estrutura e os processos para influenciar a direção estratégica da organização

(GALBRAITH, 1999).

A maior parte dos planos de remuneração tem como objetivo atrair os indivíduos

certos e motivá-los a dar o melhor de si no exercício de suas funções. Criar uma estrutura de

incentivos excelente é difícil, e não representa garantia de que os maiores incentivos

resultarão em melhor desempenho. Para o autor, estes resultados não significam que a

remuneração pelo trabalho e contribuições das pessoas deva ser subtraído. Mas, demostram

que as formas de remuneração podem produzir consequências não intencionais relevantes,

como no caso de bônus muito altos, que podem gerar estresse e levar os beneficiários

potenciais a focarem demais na remuneração, comprometendo o desempenho (ARIELY,

2010).

Cada vez mais, as recompensas como ganhos compartilhados, bônus pelo

cumprimento de metas, participação nos lucros e participação acionária serão baseadas no

desempenho organizacional e de equipe. Em geral, práticas como basear o tamanho do mérito

no desempenho da equipe e fazer com que os próprios trabalhadores determinem o pagamento

do mérito individual incentivam a cooperação (MOHRMAN, 1995).

O conservadorismo dos sistemas de remuneração são os maiores obstáculos à

mudança e flexibilidade. A remuneração tende a ser complexa, quantitativa, rígida; quando a

proposição é por planos de pagamento equiparados e flexíveis. Os novos sistemas de

recompensa permitem agilidade, com menor burocracia (GALBRAITH, 1999).

As avaliações deixam de ser realizadas apenas pelos chefes e passa a haver um

processo de avaliação, normalmente informatizado, que permita sua realização sempre que

necessário, sendo feito e concluído em menos de um dia. Assim, os sistemas de pagamento

estão tornando-se mais flexível no uso de mais bônus e menos anuidade, as escalas e notas

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mais simples, o valor é calculado pelas habilidades em vez de postos de trabalho, e incentivo

para mudanças mais rápidas e mais experimentação (GALBRAITH, 1999).

Interesses individuais costumam entrar em conflitos, pois quando os indivíduos

buscam apenas benefícios próprios, o sistema como um todo tende a se tornar mais fraco. Este

é o dilema dos chamados problemas de ação coletiva: muitos não se sentem incentivados a

agir de forma a favorecer a estrutura como um todo a menos que se beneficiem de maneira

imediata. Confiança e reciprocidade combinadas formam um mecanismo capaz de ajudar as

organizações a superar este impasse (REEVES; LEVIN; UEDA, 2016).

Para um programa de participação nos lucros bem sucedido, por exemplo, demanda

atenção sobre a rotatividade dos colaboradores, remuneração competitiva, ausência de

paternalismo, recusa em dar prêmios de consolação quando os lucros não forem alcançados,

além de transparência na divulgação dos relatórios dos dados financeiros da organização. Um

sistema simples, que forneça informações limitadas, mas relevantes pode compreender e agir

rapidamente (SEMLER, 1989). O ideal, é que se propicie a responsabilidade individual, assim

como a equidade das avaliações e recompensas calcadas em responsabilidades bem

delimitadas, com adequadas medições e comparações justas entre as pessoas, de forma que

valorizem o comportamento produtivo do indivíduo (MOHRMAN, 1995).

2.3.6 A gestão participativa e o modelo estrela

A capacidade de reconfiguração de uma organização possivelmente represente uma

fonte mais sustentável de vantagem. Mas este modelo exige tempo e recursos para construir

os sistemas de informação e práticas de recursos humanos; investimento significativo no

recrutamento e treinamento; investimento de gestão em coordenar o trabalho dentro e entre as

unidades de negócios; além de uma comunicação intensa dentro da organização. Há também a

possibilidade de problemas, como a incapacidade da organização em selecionar e recrutar as

pessoas adequadas, que promovam o alcance dos objetivos, ou o desgaste de energia para

resolver conflitos internos, sendo necessário calcular os ônus e bônus do modelo dentro de

uma dada organização (GALBRAITH, 1999).

Torna-se possível identificar interações entre a prática da gestão participativa e o

Modelo Estrela de Galbraith (1999), cujas cinco dimensões citadas se revelam como

elementos valiosos que oportunizam o equilíbrio entre os objetivos dos indivíduos e das

organizações, pois quando integrados permitem utilizar de forma eficiente o conhecimento,

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estimulando a participação nos processos de tomada de decisão, e consequentemente,

ampliam a motivação e a competitividade (MENDES, 2012).

O investimento em remunerações adequadas defendido pelo Barão de Mauá para

valorizar a responsabilidade individual do trabalhador; a redução de custos e melhora na

qualidade dos produtos, introduzidas pelo fordismo; o trabalhador integral, integrando ação e

razão, demandando confiança e responsabilidade, defendidas pelo toyotismo; e, mais do que a

produção propriamente dita, a valorização do ser humano, defendida pela escola sociotécnica

(WOOD Jr., 1992; WOMACK; JONES; ROOS, 1992; NUNES, et al., 2009; PINTO;

COSTA, 2009; ROHM; LOPES, 2015), podem ser observados com diferentes ênfases na

gestão participativa talvez representando uma evolução de modelos de gestão anteriormente

utilizados.

Voltada à redução de desperdícios e aumento da produção, com pouca ou nenhuma

preocupação com mudanças profundas em processos ou produtos, a empesa teria suas vendas

asseguradas, caso cumprisse um padrão razoável de qualidade. Com os sucessivos avanços

tecnológicos, aumento e diversificação da força de trabalho, globalização, crescimento da

competição, a empresa se depara com uma realidade de maior dinamismo, que exige um

importante e contínuo incremento de competitividade para atuar num mercado competitivo e

com consumidores mais exigentes. O que passa a exigir mudanças frequentes nas

organizações, que precisam ser rápidas, já que a mudança deixa de ser uma opção. De forma

que as empresas têm gradativamente abandonado uma postura reativa para assumir uma

postura proativa frente às mudanças (PINTO; SOUZA, 2009).

A arquitetura organizacional deve estar à frente de sua época, ou seja, ser capaz de

prever as mudanças necessárias a fim de estar melhor preparada para atingir seus objetivos.

Neste sentido, é bem provável que se confirme que este modelo de gestão não é ideal para

toda e qualquer organização, independente de sua área de atuação, no entanto, a identificação

das dimensões relevantes para sua prática podem elencar igualmente pontos de mudanças na

prática de outros modelos, resultando em complementaridades que gerem aumento do

desempenho (GAZDA, 2009). Encontrar a forma menos custosa de transferência do

conhecimento para a tomada de decisão descentralizada tem grande impacto nesta melhora do

desempenho (MENDES, 2012).

No entanto, a transferência de conhecimento não é algo fácil, uma vez que os

indivíduos envolvidos nesta troca têm diferentes interpretações sobre os fatos, devido à

diversidade de culturas. A informação passa a ter valor de conhecimento a partir do momento

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em que se entende e aprende seu conteúdo, identificando também a forma de utilizá-la, ou

seja, quando é codificada e se torna acessível para seus públicos (MENDES, 2012).

Assim, a arquitetura ou desenho organizacional é responsável pela coordenação das

tarefas de forma que, embora interdependentes, devem se adaptar ao contexto do mercado,

integrando a estrutura de poder, os resultados e remuneração, permitindo centrar o

atendimento de todos os elementos essenciais da organização. Nesse sentido, uma arquitetura

organizacional eficiente deve considerar a estratégia, as fronteiras da empresa, a estrutura

interna e a governança como elementos centrais, de forma que o equilíbrio destes permita

incentivar bons resultados (MENDES, 2012).

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3. MÉTODO DE PESQUISA

Para alcançar os objetivos do presente estudo, visando contribuir com a teoria, através

da proposição de um modelo de análise de gestão brasileiro, elegeu-se a pesquisa qualitativa

exploratória, sob o escopo do estudo de caso único, tendo como base a matriz participativa da

Semco, empresa reconhecida nacional e internacionalmente por mudar a forma de fazer

negócios e humanizar o local de trabalho, além de sustentar uma vantagem competitiva no

decorrer de 30 anos.

Dado como adequado para fenômenos organizacionais, o estudo de caso permite a

retenção de características holísticas significativas dos eventos da vida real como

comportamento de grupos, processos organizacionais e administrativos, além de ser preferido

quando as questões buscam explicar circunstâncias presente. Preposto no exame de eventos

contemporâneos, quando os comportamentos relevantes não podem ser manipulados,

oportuniza ao pesquisador utilizar uma variedade ampla de fontes, como documentos,

registros em arquivo, entrevistas e observação direta (YIN, 2010). É uma estratégia de

pesquisa que se fundamenta na compreensão de um fato dinâmico, apresentado dentro de uma

configuração específica (EISENHARDT, 1989).

Inicialmente, foi realizada uma revisão da literatura, que teve como objetivo sintetizar

o conhecimento do assunto, a fim de melhor compreender o fenômeno, e incorporar

resultados significativos em prática.

A investigação qualitativa viabiliza aferir o que é dito e o que é realizado na prática, de

forma a interpretar o conteúdo dos discursos dentro de um quadro de referência, onde é

possível fazer um paralelo entre a ação real e a ação objetivada pelas organizações

(MINAYO; SANCHES, 1993).

A fim de resguardar os critérios confiabilidade e relevância, equivalentes à pesquisa

qualitativa, o presente estudo levou em consideração as sugestões de Bauer e Gaskell (2015),

que elencam seis critérios de boa prática para guiar uma pesquisa qualitativa de qualidade,

que são: a triangulação e reflexividade das perspectivas; a documentação transparente dos

procedimentos da pesquisa; os detalhes da construção do corpus; a descrição pormenorizada

dos resultados; a evidência de surpresa pessoal; e a validação comunicativa. Por fim,

igualmente com o intuito de aumentar a confiabilidade do estudo de caso, foi desenvolvido

um protocolo com base nas orientações de Yin (2010) e modelo proposto por Tódero (2011).

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Enfim, buscou-se descrever o método de forma precisa e clara, a fim de permitir uma

possível replicação do estudo (EISENHARDT, 1989; YIN, 2010).

3.1 Unidade de Análise

O estudo tem como unidade de análise os gestores da Semco. A escolha privilegiou

uma gestora que fez parte da equipe original que gerenciou a mudança, demais gestores que

tiveram um papel relevante na manutenção do processo da gestão participativa, e profissionais

com no mínimo cinco anos de casa. Embora pudessem apresentar percepções conflitantes,

vivenciaram diferentes períodos, podendo sinalizar a maturidade do modelo de gestão.

Os gestores tiveram papel fundamental no processo de implantação do modelo de

gestão participativa, dado o acesso precedente às estratégias e ao impacto da cultura

participativa em sua forma de trabalho, visto que geralmente se identificam de forma natural

com modelos burocráticos.

Ainda, seguindo o que preconiza Yin (2010), a literatura prévia pode servir de guia

para a definição da unidade de análise. Com base nisto, para o referencial teórico foram

utilizados estudos previamente publicados, como Pinski e Rocha (2004), Peterson e Spängs

(2005) e Carvalho (2010), nos quais os gestores também equivalem às unidades de análise.

3.2 Técnica e Instrumento de Coleta de Dados

Para implementar o método, buscou-se a entrevista individual ou de profundidade,

caracterizada como uma conversação que durou em torno de uma hora e, embora com

questões-guia planejadas a fim de dar conta dos objetivos da pesquisa, manteve a flexibilidade

para absorver assuntos ou dados não previstos anteriormente ou, igualmente, suspender

tópicos que se mostraram desinteressantes durante o andamento do processo (BAUER;

GASKELL, 2015). Por sua vez, Godoi e Mattos (2012) reforçam que por basear-se em

conversação e capacidade de ouvir, permitindo a livre expressão dos interlocutores, retrata

uma entrevista informal.

De cunho qualitativo, a entrevista fornece os dados básicos para o desenvolvimento e a

compreensão das relações entre autores e situação, cujo objetivo é a compreensão detalhada

das crenças, atitudes, valores e motivações, em relação ao comportamento das pessoas em

contextos sociais definidos (BAUER; GASKELL, 2015). Ainda, para Yin (2010), as

entrevistas são uma fonte essencial de evidência do estudo de caso já que abordam assuntos

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humanos e eventos comportamentais e, quando bem informados, os entrevistados podem

inclusive ajudar a identificar outras fontes relevantes.

As entrevistas têm como objetivo usar dos entrevistados como fonte de dados para a

coleta de experiências, visões, interpretações, memórias, opiniões, seu entendimento sobre o

assunto, ideias, emoções, sentimentos, percepções, comportamento, práticas, ações,

interações, crenças, compromissos, relacionamentos. As mesmas devem concentrar-se em

indivíduos que possam fornecer os dados pesquisados, priorizando eventos, processos, causas,

efeitos (CLOSS; ANTONELLO, 2014).

O estudo considerou a realização de entrevistas em profundidade, com base em um

roteiro de questionário semiestruturado, organizado para contemplar as cinco dimensões do

Modelo Estrela de Galbraith (1999), com o propósito de evidenciar os dados qualitativos para

atingir os objetivos da pesquisa (EISENHARDT, 1989).

Os entrevistados foram selecionados por conveniência, e as entrevistas realizadas

através de encontros presenciais, e agendados de acordo com a disponibilidade dos

envolvidos, o que acabou por atrasar o trabalho, uma vez que a empresa em processo de

mudança de endereço o que implica no envolvimento de todos os departamentos.

Foram usadas múltiplas fontes de evidência, assim, além das entrevistas, foi praticada

a observação direta informal, bastante útil para oportunizar a coleta de informação adicional

sobre o tópico em estudo (YIN, 2010).

Também se recorreu à análise de documentos, como forma de elaborar um processo de

triangulação e corroboração que resultou num modelo de gestão embasado na realidade

organizacional (EISENHARDT, 1989; YIN, 2010).

Para aumentar a confiabilidade da pesquisa de estudo de caso e orientar a coleta de

dados do caso único, foi elaborado um protocolo de pesquisa (YIN, 2010), conforme Anexo I.

Como forma de facilitar a concessão das entrevistas, o referido documento foi encaminhado

para a Semco juntamente com a carta de apresentação.

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Figura 2: Caracterização dos entrevistados

Gestor Gênero Tempo de

empresa

Função Duração da

entrevista

Entrevistado 1 M 20 anos Coordenador Assistência Técnica

27'46”

Entrevistado 2 F 5 anos Assistente de Marketing

– migrando para Gestão

27'42”

Entrevistado 3 M 15 anos Gestor Técnico de Engenharia

35'51”

Entrevistado 4 F 15 anos Gestora de Recursos Humanos

27'36”

Entrevistado 5 F 30 anos Gestora/Consultora de Recursos

Humanos

48'10”

Entrevistado 6 F

mais de 5 anos* Gestora Educacional

95’

* tempo não confirmado com exatidão pela gestora Fonte: Do autor (2016).

Destaca-se como limitação da pesquisa o acesso aos gestores que, mesmo após

insistentes tratativas via e-mail e telefone, resultou num reduzido número de entrevistados. No

entanto, como os mesmos tinham representatividade, dado que estavam imersos na cultura da

organização devido ao tempo de empresa, cada um ao seu modo, logrou êxito nas

explanações, de forma a contribuir na identificação e análise das dimensões pesquisadas no

modelo da Semco (EISENHARDT, 1989; YIN, 2010). A coleta aconteceu no mês de janeiro

de 2016, através de visita presencial a dois endereços distintos da Semco em São Paulo/SP. A

fim de preservar o sigilo da identidade dos entrevistados, os mesmos foram denominados de

acordo com a ordem em que as entrevistas aconteceram, compreendendo do entrevistado 1 até

o entrevistado 6.

A possibilidade da sexta e última entrevista ser realizada já havia sido descartada

quando a mesma foi autorizada. Embora externa à Semco, a Escola Lumiar tem seus

princípios ligados diretamente ao modelo de gestão participativa, uma vez que teve origem a

partir dos valores de Ricardo Semler e um grupo de pessoas afins, que compartilhavam a ideia

de que era necessário alterar o modelo escolar vigente, como forma de se ter profissionais

competitivos no mercado. A oportunidade de realizar uma análise extensiva, favoreceu os

insights frente ao caso único estudado (YIN, 2010), em especial por apresentar uma

possibilidade de se ter futuros profissionais preparados para enfrentar o dinamismo e a

concorrência por habilidades e competências que levam à inovação de ideias e ações.

O questionário foi elaborado a partir do referencial, de forma a contemplar as cinco

dimensões do Modelo Estrela de Galbraith, em razão do que recomenda Yin (2010), de que a

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pesquisa é relativa às questões e não necessariamente sobre as respostas. Também considerou-

se a formulação de questões que possibilitassem ao pesquisador um diálogo, o que viabilizou

a evidência dos dados relevantes ao atingimento dos objetivos da pesquisa.

A validação do questionário foi designada a dois especialistas na área, sendo eles:

a) Dr. Carlos Costa, PhD e professor no Programa de Pós-Graduação em

Administração da Escola de Administração da Faculdade Meridional – IMED;

ministra a disciplina de Análise e Interpretação de Dados no Mestrado; atua

principalmente nas áreas de Sucessão Organizacional, Comportamento

Organizacional;

b) Dr. Jorge Gomes, do Lisbon School of Economics & Management da Universidade

de Lisboa; Diretor associado do MBA Programme; ministra as disciplinas de

Estratégia e Gestão de Recursos Humanos.

A partir do retorno dos especialistas, o questionário recebeu ajustes para permitir a

análise individual e em profundidade (EISENHARDT, 1989), antes da sua aplicação para

gestores da Semco, resultando no conteúdo da figura abaixo, que contempla as cinco

dimensões do Modelo Estrela de Galbraith.

Figura 3: Roteiro do questionário semi-estruturado

Dimensão Questão Questionário semi-estruturado

ERA 1 Quais as vantagens do modelo de gestão participativa utilizado pela Semco?

ERA 2 Quais as desvantagens do modelo de gestão participativa utilizado pela Semco?

ERA 3 Conhece outras empresas que também utilizam o modelo participativo? Tem

informações sobre o nível de participação dos colaboradores (pseudo, parcial ou plena

participação)?

ERU 4 Por desenho ou arquitetura organizacional entendemos a conexão dos vários sistemas,

estruturas, processos e estratégias que constituem uma empresa. Assim, contempla a

estrutura formal, as práticas de trabalho, a natureza da organização informal, os tipos de

operação e os processos de seleção, integração e desenvolvimento de pessoal.

Na sua opinião, o desenho organizacional da Semco demanda alguma alteração? Quais

mudanças deveriam ser realizadas?

ERU 5 Como são definidos os objetivos e estratégias da Semco? Existe uma periodicidade

prevista? / A cada quanto tempo são revistos? Quem participa?

PRO 6 Existe uma periodicidade definida para a revisão dos processos? Como se dá a

reavaliação dos mesmos?

ERA 7 Quais são os valores da Semco? Como se dá a definição destes valores? Quem participa

desta definição?

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PRO 8 Qual o procedimento utilizado para desenvolver o compartilhamento de poder nas

tomadas de decisão?

PRO 9 Se sabe que uma maior quantidade de informações gerou a necessidade de aprofundar o

conhecimento. Neste sentido, como você vê os canais de comunicação utilizados pela

Semco? Como se dá a disseminação do conhecimento?

PES 10 Uma das características do jeito de ser da Semco é encarar o trabalho como fonte de

autorrealização. Como acontece o processo de motivação das pessoas, já que precisam

aliar realização com cumprimento de metas?

PES 11 Considera adequado conceituar que a gestão participativa estimula os indivíduos a

desenvolverem suas habilidades e competências?

PRO 12 Entendemos que os valores dos indivíduos são de difícil modificação. Considerando

que o dinamismo do mercado exige revisão das funções dentro das empresas, com o

desenvolvimento de novas habilidades, a personalidade do indivíduo passa a ter grande

importância. Neste sentido, os testes de personalidade, as simulações de trabalho e as

entrevistas auxiliam a organização a encontrar as pessoas mais adequadas.

Na Semco, quais são os principais aspectos da personalidade analisados durante o

recrutamento e seleção?

REC 13 Dos sistemas de remuneração e recompensa adotados atualmente, quais os que

apresentam melhor resultado na motivação dos colaboradores?

ERA 14 Para não ficar para trás, muitas empresas estão dedicando uma grande parcela de tempo

e energia na gestão da mudança. Esta tarefa pode ser realizada mais facilmente se

houver uma cultura de mudança na organização. Se a necessidade de mudança é

constante, cabe projetar as organizações para que sejam constante e rapidamente

mutáveis ou reconfiguráveis.

Quais são os fatores que podem favorecer o processo de mudança, para uma empresa

assumir o desafio e os riscos de implementar um novo modelo de gestão?

PES 15 Como se sente atuando na Semco? Lembra de alguma situação em que este modelo

causou mal-estar ou problema?

PES 16 Quais suas chances de voltar a trabalhar numa organização com gestão tradicional ou

burocrática?

Fonte: Elaborado pela autora e validado por especialistas na área (2015).

Legenda de sinalização das dimensões do Modelo Estrela de Galbraith

ERA: Estratégia

ERU: Estrutura

PRO: Processos

PES: Pessoas

REC: Recompensa

As entrevistas aconteceram num tom informal, durante as quais, a pesquisadora

incluiu novas questões, conforme o direcionamento dos depoimentos, de forma a examinar

possíveis elementos não apontados inicialmente (YIN,2010). As mesmas foram gravadas e

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transcritas na íntegra, num total de vinte e sete páginas. A partir dos textos, o conteúdo foi

validado pelos respondentes, que assinaram a Autorização para uso de dados/informações.

Durante o tempo em que ficou na empresa, em dois endereços diferentes, a pesquisadora

registrou os dados da observação direta informal num documento nomeado Diário de campo,

disponível nos Anexos II e III.

Somado às entrevistas e à observação direta, foi realizada a análise de documentos

concedidos pela Semco (BOJIKIAN, 2005), além de trabalhos publicados anteriormente

como os de Pinski e Rocha (2004), Peterson e Spängs (2005), Uemura (2006), Gazda (2009) e

Carvalho (2010).

Estas múltiplas fontes convergiram sobre os mesmos dados, de forma a dar maior

qualidade à coleta (YIN, 2010), como melhor descrito no item seguinte.

3.5 Ferramenta de Análise de Dados

A principal vantagem do uso de múltiplas fontes de evidência é o desenvolvimento de

linhas convergentes de investigação, dando origem a um processo de triangulação e

corroboração. Com isso, se pretendeu dar maior confiabilidade para os resultados

(EISENHARDT, 1989; YIN, 2010; MINAYO, 2012). Ainda, desta forma, foi possível

conferir possíveis falsas inferências sobre o tema pesquisado (BAUER; GASKELL, 2015).

A análise foi baseada na combinação destes dados coletados através das diferentes

fontes com a literatura publicada anteriormente, envolvendo autores com literatura

semelhante, como Petersson e Spängs (2005) que observa as vantagens do modelo de gestão

participativa e o quanto ele pode servir de base para outras organizações; ou conflitantes

como Rohm e Lopes (2015), que destacam que os indivíduos desenvolvem vínculos

emocionais com a organização, de modo a criar uma realidade ilusória, considerando

justificável uma possível dispensa, desde que para atingir um objetivo maior da empresa

(EISENHARDT, 1989).

A partir da análise de conteúdo, que consiste num conjunto de técnicas de análise das

comunicações, utilizando procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo

das mensagens, seguiu-se as fases de pré-análise, exploração do material e tratamento dos

resultados - inferência e interpretação, detalhados na sequência, com base em Bardin (2006) e

Mozzato e Grzybovski (2011):

a) na fase de pré-análise, buscou-se organizar o material coletado, tendo um primeiro

contato com os documentos que foram submetidos à posterior análise. Neste ponto, as

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entrevistas foram transcritas obedecendo regras de exaustividade, sem omissão de

dados, formando o corpus da pesquisa. Também foram observadas: a

representatividade da amostra; a homogeneidade da coleta dos dados através do

questionário semi-estruturado; a pertinência dos documentos e a exclusividade,

classificando as dimensões em uma única categoria;

b) na segunda fase, ou fase de exploração do material, fez-se a classificação das

categorias, reunindo os elementos em razão de características comuns, categorizando-

os;

c) o passo seguinte compreendeu a separação dos conteúdos de cada dimensão do

Modelo Estrela de Galbratith, de forma a identificá-los, dando sentido a interpretação

da relação entre os dados obtidos e a fundamentação teórica.

Como elemento visual, se definiu por utilizar o software tagCrowd de forma a

estruturar um diagrama com as palavras mais citadas durante as entrevistas. Estas palavras

foram analisadas a partir da transcrição literal das gravações. Para esta construção, foram

utilizados alguns filtros: idioma português, seleção máxima de cinquenta palavras, inclusão do

número de frequência, sendo o mínimo de vinte citações por palavra, e a exclusão de

elementos de ligação e vícios de linguagem.

3.6 Mapa Conceitual

O mapa conceitual representado pela figura 4, relaciona o conjunto de conceitos

abordados na pesquisa, apresentando a linha histórica dos modelos de gestão, além da

caracterização do termo arquitetura organizacional, em especial o Modelo Estrela de

Galbraith que recomenda a reconfigurabilidade como característica imprescindível num

organização, e suas cinco dimensões, que compreendem: estrutura, estratégia, processos,

pessoas e recompensa.

Estas dimensões parecem encontrar congruência com as particularidades da gestão

participativa, como a cultura da flexibilidade e adaptabilidade, a descentralização do poder de

tomada de decisão e a confiança nas pessoas, que por sua vez são consideradas como

principais ativos dentro da organização.

Objetivando propor um modelo de gestão que, embora dinâmico, contemple os

principais elementos que contribuem para o sucesso e competitividade organizacional, a

análise se baseou no caso da Semco.

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Figura 4: Mapa conceitual que relaciona os principais tópicos abordados na pesquisa.

Fonte: Do autor (2015).

3.7 Contexto de Pesquisa: Caso da Semco

A escolha empírica justifica-se pela singularidade do caso e por trazer práticas

avançadas de participação. A Semco iniciou suas atividades nos anos 50, no Brasil, sob

direção de Antônio Semler, que comandava a gestão dos negócios de forma autocrática, além

de ter sido o engenheiro responsável pela patente de uma centrífuga para a indústria de óleos

vegetais, primeiro produto da empresa. Na década de 60 a Semco começa a produzir bombas

hidráulicas, bombas de carga, eixos e outros componentes para a indústria naval. Antônio teve

um filho, Ricardo Semler, nascido em São Paulo em 1959 (KIMAKIWITZ; VON et al., 2011;

ANDRÉS; BRONCANO; MONSALVE, 2015) que, ao assumir a gestão da Semco entendeu

que a melhor alternativa estava na diversificação dos negócios.

Com uma gestão autocrática e conservadora, e noventa por cento do faturamento com

a produção de equipamentos e peças advinha do mercado naval, de um número reduzido de

clientes, a Semco constata que estava numa situação complicada quando entre 1980 e 1981

deflagrou-se uma crise no ramo naval. Frente a este contexto, precisava decidir se aceitava

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mudar rapidamente, diversificando as atividades e profissionalizando a empresa, ou veria

décadas de trabalho perdidas em pouco tempo (SEMLER, 2002).

Naquele momento, aos 22 anos de idade, Ricardo Semler assume o controle da

empresa paterna, para fazer uma completa revolução administrativa. A favor da

descentralização e de uma gestão participativa, alargou o leque de negócios da empresa e

começou a mudar a forma de trabalho. Dentre as mudanças, efetuou a dispensa de vinte e

duas das cento e dez pessoas que trabalhavam na Semco, entre as quais estavam gerentes

gerais, financeiros, de produção e de vendas que impediam a profissionalização da empresa. A

partir de então, se deu a buscar por profissionais para compor diversas áreas, com o propósito

de diversificar e reestruturar a empresa. Foram contratados profissionais para a área

comercial, engenharia, produção e, por último, em 1983, começou a estruturar o setor de

recursos humanos e implantar as ideias de transformar o local de trabalho em um ambiente

agradável. E, mesmo sob oposição de seu pai, iniciou a diversificação dos negócios e o

salvamento da empresa (SEMLER, 2002; CARVALHO, 2010).

Muitas são as razões para que novos grupos de pessoas sejam convidadas a realizar

mudanças em organizações. Uma nova equipe traz consigo novas perspectivas, novas

habilidades e uma energia dedicada à mudança (MINTZBERG, 2006).

A visão de que o conflito entre tecnologia avançada e mentalidade arcaica é uma das

principais razões que caracterizam o ambiente de trabalho moderno com insatisfação,

frustração, inflexibilidade e estresse, ressaltado por Ricardo Semler (KIMAKIWITZ; E.

VON; et al., 2011), talvez consiga dar a dimensão do paradoxo que a organização resolveu

enfrentar, mesmo que para isso fosse preciso atuar de forma empírica, reavaliando cada

processo e modificando-o sempre que necessário.

Ao longo dos anos, a empresa tem modernizado, expandindo seu alcance e investir em

outras empresas, até compreender várias divisões. De um pequeno número de clientes passa a

ter como foco a diversificação de seus negócios e licenças de fabricação (ANDRÉS;

BRONCANO; MONSALVE, 2015).

Ricardo foi autor do best-seller Virando a própria mesa, livro no qual relata a grande

revolução que fez ao assumir o controle da Semco no lugar de seu pai no início da década de

1980 e como a tornaria uma das empresas mais conhecidas do mundo. Em favor da

descentralização, de uma gestão participativa, Ricardo Semler entedia que a Semco dependia

de inteligências diversificadas, dentre elas a emocional, que está relacionada a aspectos como

autoconsciência, sentimentos, motivação, empatia e relacionamento social, contrário à postura

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de seu pai, que mantinha uma estrutura autocrática tradicional na gestão dos negócios

(SEMLER, 2002; SEMLER, 2006; VANDERBURG, 2004).

Para Ricardo Semler, o maior obstáculo para implantação da gestão participativa

foram os gerentes, pois na maioria das vezes eram mais conservadores com o dinheiro que o

próprio acionista. No entanto, precisavam entender que eram também funcionários e não a

empresa – já que a empresa é a soma das pessoas (PETERSSON; SPÄNGS, 2005).

Na medida em que a natureza humana exige reconhecimento, as pessoas tendem a

encontrar senso de propósito e tornarem-se produtivas, em consequência do poder de tomada

de decisão ser colocado em suas mãos. O que leva a uma empresa mais eficiente e flexível,

onde os colaboradores melhoram financeira e pessoalmente, ao mesmo passo que melhora a

participação da empresa no mercado (VANDERBURG, 2004). A visão de uma organização

mais humana, sem sacrificar o crescimento e a lucratividade era o objetivo principal que

Ricardo buscava intensamente (CARVALHO, 2010).

Outro obstáculo a ser vencido foi à mentalidade de pensar que o lucro da empresa

pertencia somente aos acionistas, ou seja, a quem investia. Para tanto, iniciou-se a discussão

quanto à viabilidade de implementação de um programa de participação nos lucros. Então, em

dezembro de 1986, a Semco promoveu o Fórum Nacional de Participação nos Lucros,

reunindo os executivos de quase todas as empresas que tinham esta prática num painel de

debates, além de trezentos executivos na platéia. Chegaram à conclusão que ainda teriam

muita luta pela frente, devido à resistência da época frente a este tipo de programa (SEMLER,

1989; PINTO; COSTA, 2009).

Assim, tornou-se um Grupo com sólida trajetória e comprovado histórico de negócios

bem-sucedidos na América do Sul, transformando um lugar comum de trabalho em um local

admirado pelas suas práticas inovadores na gestão de recursos humanos. De acordo com as

informações disponíveis em seu site, atua em diversos ramos de atividades, compreendendo

duas empresas que se dedicam exclusivamente ao desenvolvimento e fabricação de

agitadores, misturadores, moinhos e equipamentos de refrigeração (SEMLER, 2002;

SEMLER, 2006; VANDERBURG, 2004; ANDRÉS; BRONCANO; MONSALVE, 2015).

A filosofia da Semco foi construída com base na participação e no envolvimento das

pessoas, com um conceito de negócio rentável, somado a um sistema democrático, com

trabalho flexível, responsabilidade e autocontrole. Como objetivo, a Semco busca delegar às

pessoas o controle de seus cargos, estimulando-as a encontrar soluções para seus problemas e,

por consequência, melhorar os resultados organizacionais (ANDRÉS; BRONCANO;

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MONSALVE, 2015).

Com base neste caso, Petersson e Spängs (2005) analisaram os tópicos estrutura,

tomada de decisão, comunicação e pessoas, dos quais se pode destacar como relevantes para a

o reconhecimento do modelo de gestão participativa da Semco:

a) estrutura plana da organização, possibilitando que as decisões sejam tomadas por

funcionários que serão influenciados mais diretamente pelas mesmas;

b) todos os funcionários sabem o que estão ou não autorizados a fazer, tendo metas

estabelecidas e podendo cobrar os colegas quando estes não cumprirem suas

responsabilidades;

c) houve a implementação de rotação nos postos de trabalho, permitindo o fluxo de

conhecimento e poder, ampliando as habilidades dos indivíduos;

d) com a transparência no processo de tomada de decisão, o funcionário passa a

observar as mudanças propostas por ele, dando mais valor aos resultados;

e) os canais de comunicação tornam-se primordiais, já que a informação representa a

base para a tomada de decisão, precisando ser entendida por todos os envolvidos;

f) os salários e recompensas tornam-se transparentes, e são decididos pelos próprios

funcionários, com base nas habilidades e responsabilidades de cada um;

g) o sindicato passa a ter um importante papel na democratização do local de trabalho,

e seu ingresso na organização passa a ser facilitado, uma vez que é responsável por

prover o conhecimento legal.

Ao dar maior controle aos funcionários, a Semco fez com que o local de trabalho fosse

mais agradável e menos estressante. Somado a esta mudança na relação com os trabalhadores,

mudou a maneira de fazer negócios, o que tornou o processo muito mais eficiente. Os

funcionários passaram a ter mais envolvimento com a empresa, o que levou a redução drástica

de problemas e incidentes internos, além de uma busca conjunta pelo sucesso (SEMLER,

1989; VANDERBURG, 2004; BOJIKIAN, 2005).

Com o passar do tempo, a empresa ampliou o número de produtos destinados ao setor

industrial, além de investir em novos empreendimentos na área de serviços. Quando a

globalização ganha força, a Semco se move em áreas de serviços inovadores (SEMLER,

2002; 2006; VANDERBURG, 2004; ANDRÉS; BRONCANO; MONSALVE, 2015).

Passados 30 anos do início da implantação do modelo de gestão participativa, a Semco

ainda se encontra em um processo constante de adaptação e remodelação, para ajustar

processos e se manter competitiva. Contudo, demonstra maturidade, o que pode leva-a a ser

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referência para outras organizações do mesmo setor, bem como de setores distintos. Por se

tratar de uma circunstância rara e efetiva de gestão participativa em organizações brasileiras,

seu modelo foi escolhido como objeto da pesquisa.

3.7.1 Subunidade de análise: Escola Lumiar

A partir da entrevista com a Gestora Escolar e da análise de materiais impressos

(folders) distribuídos no dia da visita guiada, e do site da escola, foi possível verificar que a

Lumiar está no endereço visitado há apenas dois anos. Possui treze anos de existência como

escola, tendo um pouco mais de vida como projeto - aproximadamente quinze anos. Conta

hoje com cento e quinze estudantes e tem uma proposta com base em quatro eixos principais,

que são:

a) trabalhar com a multietariedade;

b) trabalhar por meio de projetos (não existe a figura do professor);

c) entendimento do currículo;

d) e, ainda, trabalhar com base na gestão participativa.

A escola surgiu de uma iniciativa de Ricardo Semler, empresário que identificou que a

autonomia, a horizontalidade do trabalho e a construção comunitária necessárias no mercado

de trabalho eram incompatíveis com um modelo escolar baseado na lógica do momento. A

partir disso, em parceria com sua esposa, é criada a Fundação Ricardo Semler, mais tarde

denominada Fundação Ralston-Semler, que passa a fomentar a reunião de pessoas de diversas

áreas para debater sobre um novo modelo de escola.

Seu fundamento está no fato de que o resultado de enfrentar o desafio é infinitamente

maior do que manter as séries tradicionais, visto que a dinâmica de trabalho se aproxima

muito da realidade de mercado.

Em lugar de alunos, as crianças e jovens são denominadas estudantes. As turmas são

divididas em ciclos, que representam espaços de referência, dedicados a um grupo. Este grupo

tem um tutor, com formação educacional, responsável pela sua gestão, com foco em gerir

interesses e necessidades, considerando o desenvolvimento e o aprendizado. Além do tutor, a

escola conta com mestres, que têm como função auxiliar o tutor, independente da sua

formação acadêmica, mas com pré-requisito de ser apaixonado pelo que faz, de forma a

compartilhar suas habilidades.

Periodicamente são realizadas Assembleias e Rodas, onde todos (orientadores e

estudantes) participam. Nestas ocasiões, são tomadas as decisões e deliberações,

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até mesmo sobre o espaço físico da escola, também em constante mudança e adaptação, como

forma de reforçar seus valores e trazê-los para a prática.

A gestão participativa se faz presente na escola, estimulando a construção da

autonomia pela gestão de tempo e recursos. A equipe interna trabalha num modelo mais

horizontal: estimulando o comprometimento e a responsabilidade individual e coletiva. Aos

pais não é dado o direito de deliberar sobre dinâmica da escola num primeiro momento, mas

existe escuta, consulta e possíveis ajustes quando identificado/acordado como necessário.

O currículo é em formato de mosaico: o tutor identifica dentre os projetos, oficinas e

módulos, o que se encaixa nas orientações do MEC (currículo formal); porém não de forma

linear, mas com base nas habilidades e competências dos estudantes. A avaliação não se

resume a um momento (prova), mas diariamente o estudante é levado a avaliar o que

aprendeu e registrar num diário de bordo, organizado para cada projeto, e o qual é apresentado

para os pais bimestralmente.

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4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A complexidade e a velocidade do contexto de mercado acabam por gerar a

necessidade de estabelecer vantagens organizacionais conscientes, com a otimização conjunta

de seu desempenho processual, técnico e humano, a fim de ajustar as estruturas e os processos

para o desenvolvimento de novos produtos/serviços. E, como consequência, reduzir o

enredamento administrativo, de forma a criar unidades diferenciadas, que trabalhem juntas.

Estas equipes tendem a reconhecer a importância do papel da hierarquia na estratégia do

negócio, e também as oportunidades de executar as tarefas de forma horizontal, administrando

as possibilidades de produção, por meio do domínio de múltiplas habilidades (MOHRMAN,

1995).

(...) devido a condição do mercado, as coisas tem que mudar, tem que se adaptarem.

Então precisamos fazer a reengenharia rapidamente (entrevistado 1)

Wind e Main (2002) evidenciam que, com o fim das fronteiras para tecnologia e

negócios, somente as pessoas permanecerão cercadas por fronteiras nacionais para formar

uma nação, de forma que as habilidades e as ideias serão seus ativos substanciais. Com isso,

junto com as novas oportunidades competitivas, se intensifica a concorrência e a necessidade

de aprimorar técnicas e a qualidade de produtos e serviços.

(...) esta questão da mudança depende muito da condição de mercado. Eu acho que

quando a situação está crítica, obriga as empresas (...) a fazerem mudanças e se

adequarem de uma melhor forma para sobreviverem no mercado, buscando novos

negócios, novas parcerias (entrevistado 1).

Na Semco, constata-se, que a mudança inicial, acontecida em meados dos anos 80 foi

do tipo quebra-paradigma, ou seja, uma mudança revolucionária, como forma de realinhar a

organização com seu ambiente competitivo, posto que a inatividade ao enfrentar as crises

tende a levar ao fracasso. Mudanças deste tipo estão muito associadas à sucessão do CEO, o

que também aconteceu na organização estudada. Também se associa às mudanças a

composição de novos grupos de executivos, como forma de compor uma equipe com novas

habilidades, perspectivas e energia renovada, capaz de promover discussões e o

desenvolvimento de novos valores e crenças da Semco (PINSKI; ROCHA, 2004;

MINTZBERG, 2006).

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(...) Todo processo, toda a minha participação neste processo de implantação do

novo modelo, foi uma grande realização pra mim! Na época, eu vinha de um

momento profissional que eu já trabalhava em RH, eu trabalhava no sistema

bancário, financeiro, você está longe das pessoas, é um modelo completamente

diferente... e eu tava sedento por gente! E aí surgiu a oportunidade de trabalhar na

Semco e, com toda esta proposta de mudança, realmente foi realizador... todo

processo foi realizador! (entrevistado 5).

O Grupo Semco costuma ser uma empresa de grandes mudanças de tempos em

tempos. Não se assuste, consideramos isto positivo. Observe as mudanças sem medo

(...) (Manual de Sobrevivência Semco – Capítulo Dinamismo).

Cada decisão dirigida para um elemento do sistema tende a afetar os demais

elementos, melhorando ou comprometendo o resultado final do conjunto (UEMURA, 2006).

Como não existe um equilíbrio perfeito entre estratégia, estrutura, pessoas e processos, cabe

ajustá-los constantemente ao processo, de forma a gerar mudanças incrementais. Com o

passar do tempo, a tendência é que ocorra uma maior estabilidade, sendo necessário um

número menor de mudanças devido a questões internas (MINTZBERG, 2006).

Retomando os objetivos específicos da pesquisa, segue a análise subdividida de forma

a relacionar os pontos alcançados pelo estudo.

4.1 Identificação dos componentes da Arquitetura Organizacional que contribuem para

a Gestão Participativa

A arquitetura organizacional é tida como a conexão dos vários sistemas, estruturas,

processos e estratégias que constituem uma empresa, incluindo a estrutura formal, as práticas

de trabalho, a natureza da organização informal, os tipos de operação e os processos de

seleção, integração e desenvolvimento de pessoal (FERNANDINO; OLIVEIRA, 2010).

O desenho organizacional eficiente deve considerar estratégia, fronteiras da empresa,

estrutura interna e governança como padrões centrais, e precisa ser coerente com a própria

natureza do conhecimento e a distribuição do mesmo na empresa: a tomada de decisão

impacta na interdependência das tarefas; a solução pode ficar prejudicada pela racionalidade

limitada do indivíduo responsável pela tomada de decisão; e a posição do desenho

organizacional faz referência à relação entre empresa e ambiente organizacional, devendo

sofrer adaptações conforme contingências (MENDES, 2012).

É a arquitetura organizacional que deve dar suporte para a organização atingir seus

objetivos de forma adequada, buscando uma maior congruência entre os componentes

estratégicos e, com isso, levando a uma maior eficiência da organização (GAZDA, 2009).

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Esta coerência oportuniza vantagens competitivas, uma vez que os produtos em si não

representam uma vantagem de longo prazo. Como forma de agir rapidamente para

corresponder e superar as próprias vantagens e as dos concorrentes, as organizações devem se

manter reconfiguráveis, sistematizando constantemente as dimensões estratégia, estrutura,

processos, pessoas e recompensas (GALBRAITH, 1999; 2002).

Embora a arquitetura organizacional de que trata a pesquisa não esteja ligada

diretamente a estrutura física do espaço, se entende que cabe evidenciar algumas

peculiaridades que podem impactar no ambiente organizacional como um todo e na facilidade

de sistematização das dimensões.

Os entrevistados que se dispuseram a participar da pesquisa ficavam em duas unidades

distintas da Semco, ambas na cidade de São Paulo. No primeiro endereço visitado, se

observou algo incomum para uma grande empresa com negócios nacionais e internacionais: a

inexistência de secretária ou recepcionista, além de uma antessala no lugar de uma sala de

recepção com cadeiras ou poltronas. Outro aspecto evidenciado, embora de caráter subjetivo,

foi a percepção de leveza do ambiente: todos se mostraram receptivos e simpáticos, embora

atentos às suas responsabilidades.

No segundo endereço visitado, após imediata recepção, e encaminhamento para uma

das salas de reuniões, foi possível observar um grupo trabalhando no período que deveria ser

o horário de almoço. O mobiliário modular, de cores claras, era evidenciado pela organização

e pelos itens de caracterização das pessoas que habitavam cada um dos espaços: algumas

mesas sóbrias e praticamente vazias, outras mesas coloridas e com ordenação criativa.

Nos dois endereços, o espaço apresentava boa iluminação e ar condicionado central.

As pessoas se vestiam com roupas pouco formais, parecendo estar à vontade. Existiam salas

de reuniões envidraçadas e equipadas para teleconferências. Embora com liberdade para

conversar entre si, e realizar conversas em pequenos grupos, munidos de seus computadores,

o tom e o volume da reunião informal pouco parecia impactar os demais colaboradores,

caracterizando um ambiente tranquilo, sem ruídos excessivos ou fatores de dispersão para os

colaboradores.

Para favorecer a conversa entre os pares e a troca de ideias, foi determinado um espaço

comum para café, água e lanches, que também é frequentado pelos visitantes convidados. Por

se tratar de um andar todo, existem salas reservadas para reuniões e grandes espaços de

trabalho, em sua maioria delimitados por paredes de vidro. Estas paredes ratificam o valor

transparência, citado por todos os entrevistados como um dos mais importantes, dentre muitos

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outros que também fazem parte da cultura da Semco. Ainda, além de difundir a luz, o vidro

permite acesso a uma visão mais geral do ambiente, e proporciona um espaço para a

comunicação de dados relevantes, bem como para estimular a fixação dos valores, missão e

visão da organização, já que estes ficam dispostos na forma de adesivos neste local. Para

enfatizar a transparência a partir da estrutura da organização, salienta-se que não se observa a

utilização de outros meios para o isolamento do som.

O gerente geral também tem seu lugar neste espaço amplo, compartilhando do mesmo

modelo de mobília, descomplicando a interação sempre que solicitado ou quando observar

necessidade.

Para corroborar com estas características apresentadas, revelando as palavras mais

citadas durante as entrevistas, se definiu por utilizar o software tagCrowd de forma a

estruturar um diagrama, conforme resultado da figura 5. Para esta construção, foram

utilizados alguns filtros: idioma português, seleção máxima de cinquenta palavras, inclusão do

número de frequência, sendo o mínimo de vinte citações por palavra, e a exclusão de

elementos de ligação e vícios de linguagem.

Figura 5: Diagrama das palavras mais citadas nas entrevistas

Fonte: Software tagCrowd.com

O relato dos entrevistados demandou atenção da pesquisadora, de forma a ouvir as

palavras exatas, captando componentes afetivos e de humor, entendendo o contexto a partir do

qual o entrevistado compreende o mundo (YIN, 2010), até porque os seres humanos tendem a

desenvolver vínculo emocional com as organizações onde trabalham (ROHM; LOPES, 2015).

Assim, com o auxílio da transcrição do áudio gravado durante as entrevistas foi

possível observar no diagrama o destaque dado ao termo pessoas, confirmando que os

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gestores em questão têm a cultura da Semco nitidamente internalizada, e não fazem distinções

entre cargos ou funções dentro da organização.

Evitamos usar os termos funcionário, empregado, colaborador e outros parecidos.

Somos uma equipe inteira e só temos pessoas e é assim que chamamos a todos que

trabalham conosco (Manual de Sobrevivência Semco).

Aparecem em evidência também as palavras gente e a gente, que reforçam o valor do

compartilhamento e demonstram que o sentimento de equipe faz parte do dia a dia da

organização. Também são bastante citados os termos empresa, Semco, modelo, mudança,

mudar, liberdade, valores, todos representando o comprometimento dos entrevistados com a

organização e o contexto participativo que a envolve.

Sobre liberdade: No grupo Semco não há lugar para formalidade. As portas estão

sempre abertas e as pessoas devem falar o que realmente pensam, sem receios e sem

inibições (...) (Manual de Sobrevivência Semco).

Sobre você... e os outros: Como todos podem dizer abertamente o que pensam, as

fofocas e boatos não devem ser estimulados. Qualquer tentativa de prejudicar outra

pessoa é vista como coisa séria. Participe e fale tudo o que você pensa, abertamente

e de forma a melhorar as coisas (Manual de Sobrevivência Semco).

O indivíduo aprende a partir do lugar que ocupa e com as ações que realiza e, embora

a vivência de cada um sobre uma mesma circunstância seja única (MINAYO, 2011), o que se

percebe é que a liberdade e a autonomia do modelo de gestão participativo promovem o

comprometimento das pessoas da Semco com os resultados e a manutenção da vantagem

competitiva da organização, o que pode ser ilustrado pelo número de citações da palavra

processo, visto como essencial, juntamente com a sistematização das demais dimensões, que

são analisadas na sequência, a partir das dimensões da arquitetura organizacional de

Gallbraith (1999).

Alguns dos princípios que fundamentam a forma de trabalhar da Semco tendem a ser

cada vez mais comuns e até necessários num ambiente dinâmico. Em especial, a capacidade

de transformar-se continuamente, sem para isso demandar o trabalho de consultores ou a

formulação de estratégias complicadas (SEMLER, 2010).

Muito além da participação nos lucros e resultados, na Semco, o que se percebe é a

participação efetiva dos indivíduos na totalidade de ações da organização, desde decisões

aparentemente simples até grandes mudanças. E, uma vez inserido na cultura da Semco, o que

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configura como o grande diferencial nesta participação é que o indivíduo passa a agir de

forma naturalmente participativa, em todas as esferas e comunidades das quais faz parte.

4.1.1 Estratégia

Os benefícios do investimento em inovação da gestão podem ter sua percepção

retardada, o que pode gerar a percepção negativa e incorreta de que ela implica em custos

demasiados ou desproporcionais ao seu resultado (HAMEL, 2007). Porém, com o

comprometimento dos indivíduos, a organização pode se ajustar com mais agilidade,

respondendo com maior velocidade às exigências do mercado dinâmico e competitivo

(PETERSON; SPÄNGS, 2005).

As estratégias podem ser elaboradas por indivíduos não formalmente responsáveis ou

designados para isso, de qualquer forma, é preciso que todos estejam comprometidos com a

identificação de potenciais vantagens competitivas que beneficiarão a toda a organização

(TAKEUCHI; NONAKA, 2008).

(...) a empresa se propõe a mudar sim, se precisar mudar uma estratégia, mudar o

caminho pra gente ter o sucesso, nós vamos fazer (...) e os concorrentes, muitas

empresas surgem fazendo o que a gente faz, mas de uma forma diferente (…)

(entrevistado 2).

Para a organização competir num ambiente dinâmico, suas estratégias devem

considerar tanto os aspectos internos como externos, despendendo tempo e energia para

aquilo que for relevante para seu tipo de negócio (SCHNEIDER, et al., 2009).

(...) é uma questão de mercado, o que eu visualizo é que são as pessoas que estão

voltadas para o mercado, é o diretor, o pessoal de vendas, que começam a definição

e falam: - olha, aqui este mercado não tá legal, a gente não tá vendendo, a gente tem

muito concorrente, vamos atuar em outro mercado (...) (entrevistado 3).

Num ambiente de concorrência, a ética se mostra como um valor fundamental, em

especial em organizações com mais liberdade e descentralização das decisões, o que exige dos

gestores uma atenção constante para reforçar a postura da organização (WIND; MAIN, 2002).

A capacidade de colocar em prática seus planos estratégicos, em especial aqueles de

longo prazo, garante a participação efetiva da organização na vida da comunidade do seu

entorno, investindo no aumento de capital, adquirindo bens e realizando negociações

(PORTER; KRAMER, 2006).

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(...) a base da relação, assim, dos princípios é transparência, honestidade – é uma

empresa que não se envolve nesses escândalos, nesta questão de bola, de pagar...

sabe, não tem, preza muito por isso - , e preza muito também, é um dos valores,

pelas pessoas, eles querem que as pessoas trabalhem, e trabalhem felizes... estejam

aqui porque querem estar aqui, não só porque precisam (entrevistado 4).

Para aumentar a qualidade dos diálogos e das tomadas de decisão, a organização

deverá estar preparada para possíveis conflitos interpessoais, que podem inclusive ultrapassar

as fronteiras da organização (HAMEL, 2007).

o fato de você ter esta abertura de informações na Semco, isso é uma das partes do

modelo participativo, acho que isso é uma das grandes vantagens (entrevistado 3).

Mesmo assim, cabe considerar o custo-benefício desta estratégia, dado que contribui

com o sentimento de pertencimento, uma vez que é dado ao indivíduo o poder de contribuir

em assuntos importantes da organização (HAMEL, 2007).

(…) se precisar mudar alguma estratégia nós vamos sentar, se reunir com quem a

gente identificar que é necessária a presença, a participação, e a gente altera

(entrevistado 2).

(...) como a gente pretende que todos participem, só que é difícil juntar todo mundo,

você não vai colocar todo mundo para participar de todas as decisões, que acaba

sendo inviável, acaba isso não é eficiente, não é eficaz (entrevistado 3).

Ricardo Semler imprimiu características singulares, com base em suas crenças e

valores, tanto para a Semco, quanto para a Escola Lumiar. Questionando hábitos

administrativos e os comparando com as exigências do mercado por profissionais com

habilidades e competências para tomar decisões e mudar quando necessário, encontrou na

gestão participativa uma alternativa viável para aliar a valorização do ser humano com

resultados financeiros desejados (PINSKI; ROCHA, 2004).

(...) identificou que a autonomia, a horizontalidade do trabalho e a construção

comunitária necessárias no mercado de trabalho eram incompatíveis com um

modelo escolar baseado na lógica do momento (...) mais tarde (...) convoca-se um

grupo de pessoas de diversas áreas para debater sobre um novo modelo de escola

(...) a dinâmica fica muito próxima do dia a dia real (...) (entrevistado 6).

Novas ideias são consideradas perigosas, especialmente para aqueles que têm interesse

na ordem estabelecida. A discussão nos espaços organizacionais ainda é limitada a um

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determinado período de tempo e de pessoas, o que contribui para o enfraquecimento da

participação dos funcionários (HAMEL, 2007).

(...) qualquer coisa que acontecer tem que estar sempre trocando, conversando (…)

tudo aqui a gente troca, conversa para poder evitar o erro (entrevistado 2).

Embora o erro figure como algo permitido na Semco, desde que se tire dele um

aprendizado, nota-se uma preocupação das pessoas por desempenhar adequadamente sua

função, tomando as decisões mais acertadas para o atingimento dos resultados positivos, ao

passo que se utilizam da informalidade e facilidade de acesso aos colegas para buscar

cumplices com quem dividir vitórias e derrotas.

Esta gestão horizontal demanda investimento de tempo e confiança, e se torna

eficiente a partir da integração dos sistemas organizacionais. Valorizando a habilidade de

trabalhar em equipe e contribuir com a solução dos problemas, mesmo que algumas decisões

e negociações mais complexas tenham de partir dos níveis superiores, este formato de

organização tende a alcançar velocidade e qualidade, além de promover o aprendizado

organizacional (MOHRMAN, 1995).

(...) a grande mudança a gente fez no passado, de horizontalizar a estrutura, a cadeia

de comando, trabalhar em pequenos grupos, trabalhar os processos de tomada de

decisão nos mais diversos níveis, isso fez com que o básico, o fundamental estivesse

presente e hoje, funciona mesmo com as mudanças que eventualmente precisam ser

feitas sob conta do negócio (entrevistado 5).

(...) o próprio modelo traz maior possibilidade da pessoa se sentir realizada. Aquilo

que eu falei no começo, me dizem que você participa das tomadas de decisão, o aliar

liberdade com responsabilidade, eu tenho a liberdade de dizer aquilo que eu penso,

eu tenho a liberdade de contribuir com o meu conhecimento da organização, ao

mesmo tempo tenho responsabilidade pelos resultados que aparecerem e,

principalmente, eu tenho... eu sou remunerado, sou recompensado pelo resultado

alcançado (entrevistado 5).

4.1.2 Estrutura

A estrutura representa o meio pelo qual a organização será gerida. Pode ser definida

como a divisão das tarefas e a coordenação das mesmas para alcançar os objetivos

estratégicos (SANTOS, et. al., 2014).

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(...) acaba sendo mais trabalhoso, mais difícil principalmente com os jovens. (...)

como eles não tem uma referência anterior, é assim, a gente já teve muito trabalho, e

assim para eles se perderem, se desencaminharem, é muito fácil. Então toda hora a

gente tem que trazer para a realidade e dizer 'olha, tudo bem, aqui não tem controle

de horário, mas você precisa estar aqui este horário, a gente está te preparando

também para o mercado de trabalho', tem um compromisso além do dia a dia. Então

é um desafio, sempre foi! (entrevistado 4).

É um modelo em que você não pode ter uma visão de curto prazo. Como é um

processo de educação, você tá educando as pessoas a um novo modelo, e você está

se educando neste novo modelo também, porque, por incrível que pareça, até hoje a

gente tem dificuldade de encontrar empresas, muitas empresas que adotam sistema

semelhante... A gente ainda tem da nossa cultura, é mais comum, desde a educação

familiar, a educação na escola e a vida profissional, é muito mais um modelo

autocrático... então quando você muda esse modelo, é preciso fazer as pessoas

pensarem de uma maneira diferente, e encontrar caminhos diferentes, isso requer

tempo! (…) se você tem uma empresa que não tem esta visão de médio e longo

prazo, o modelo não funciona. Não dá certo. Você tem que dar tempo para que as

coisas amadureçam (…) o caminho acaba sendo mais longo, você precisa de mais

tempo, mas quando o processo acontece, ele acontece de uma maneira mais efetiva

(entrevistado 5).

Fazer uso da liberdade exige certo grau de maturidade, tanto que merece destaque o

fato de que pequenos aprendizes ou estagiários têm dificuldades de adaptação ao modelo, cuja

causa pode ser em parte a inexistência de experiências de trabalho anteriores, além da falta de

discernimento entre autonomia e responsabilidade na busca por resultados organizacionais

sustentáveis. Cenário que corrobora com a importância de uma educação básica que prime

pelo desenvolvimento de jovens com habilidades para a tomada de decisão.

Equipes autodirigidas atuam de modo independente, sendo formadas por pessoas que

reconhecem em si as habilidades necessárias para cada função. As tarefas ficam sob sua

responsabilidade, em especial a solução de problemas a partir das informações compartilhadas

pela organização (MOHRMAN, 1995).

(…) Eu entendo que é importante o processo participativo, e como te disse, acho que

as pessoas acabam se sentido parte daquilo e é um incentivo a mais para o trabalho

(entrevistado 1).

(...) percebo é que as pessoas são mais comprometidas, e elas se sentem mais

valorizadas (entrevistado 4).

(...) a desvantagem seria, vamos supor, amanhã eu saio daqui e vou para uma

empresa que é rígida, aí eu acho que a desvantagem é assim, você se sente num

ambiente tão bem, e vai para um outro modelo muito rígido, acho que talvez

nesse ponto, na mudança de empresa, e aí você se adaptar novamente a uma outra

estrutura, um outro ambiente (entrevistado 2).

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(...) quando você trabalha num modelo de administração participativa, você tem a

possibilidade de proporcionar às pessoas a chance de conhecer melhor o negócio,

proporcionar às pessoas um melhor entendimento a respeito das decisões tomadas,

principalmente porque, muitas delas, dessas decisões, são tomadas em conjunto. Isso

faz com que as pessoas consigam se engajar mais ao trabalho (...) (entrevistado 5).

Frente a uma nova demanda ou necessidade, podem surgir novas equipes, organizadas

informalmente, que serão integradas por colegas afins, na busca de otimizar as estruturas,

papéis e processos, direcionando-os para a adaptação necessária para manter a produtividade e

a lucratividade organizacional (MOHRMAN, 1995).

(...) nós vamos fazer uma mudança, estamos mudando, vamos mudar para o interior,

então esta questão da mudança foi discutida com todos os gestores, os prós, os

contras, como fazer, quando fazer, e tudo mais... então, ela é discutida, não é uma

pessoa que tem uma ideia e impõe aquela ideia. Todas as ideias são discutidas

(entrevistado 1).

(...) vai ser contratada uma pessoa para a engenharia, eles chamam uma pessoa da

área de assistência técnica uma de compras, uma pessoa da área de contratos, uma

pessoa da área de fábrica, uma pessoa de uma outra área, e todas estas pessoas se

juntam para participar desta entrevista. (...) todas as pessoas podem fazer perguntas,

(...) Então praticamente todos participam da contratação de alguém aqui dentro da

empresa (entrevistado 1).

(…) tem uma interação muito boa entre os setores, acho que não tem que ter

nenhuma alteração, até reuniões departamentais, assim, um setor quer a participação

do outro, convida, aí pode falar um pouco do seu departamento (entrevistado 2).

(...) quais são as pessoas que podem colaborar mais nesse momento? E aí convida

estas pessoas, chama ou estas próprias pessoas já se envolvem naturalmente naquilo

e acaba sendo compartilhado (entrevistado 4).

(..) a partir do momento em que eu tenho a possibilidade de participar das tomadas

de decisão, e aí tem uma série de coisas que são de minha responsabilidade, isso

traz, apesar de trazer a carga da responsabilidade, ao mesmo tempo te traz a

satisfação, o prazer, de 'bom, eu faço parte disso, aquilo que der certo eu tenho parte

nisso, e o que der errado eu também tenho a minha responsabilidade sobre' (...)

(entrevistado 5).

Embora uma equipe seja constituída por um número reduzido de pessoas, que

conciliam habilidades e competências na busca de um objetivo comum, o resultado é coletivo

e impactará na organização como um todo. Além do resultado inferido, a autonomia para a

realização das tarefas tende a promover oportunidades de aprendizagem, desenvolvimento e

um maior nível de participação, aumentando por consequência a motivação, a criatividade e a

inovação (ANDRÉS; BRONCANO; MONSALVE, 2015).

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Os colaboradores reconhecem as organizações que valorizam os esforços e ideias

individuais e, como retorno, contribuem com soluções competitivas e compartilham ideias

entre departamentos (RODRIGUES; VELOSO, 2013), visto que o resultado impactará na

organização como um todo.

(…) Acho que esta questão da participação, de você poder opinar, você tem uma

ideia, você pode levar direto para o seu diretor, não precisa passar para o seu chefe,

especificamente; a questão da empresa liberar e sempre estar mostrando para os

funcionários como tá andando sua situação financeira (entrevistado 1).

(...) acredito que a gestão participativa na verdade força que as pessoas se

desenvolvam em outras habilidades. Então você é contratado para fazer projetos na

Semco, mas você acaba sendo demandado por tomar decisões (...) (entrevistado 3).

(...) para participar você tem que conhecer, tem que aprender coisas, então, é um

processo constante de desenvolvimento de todo mundo, independente da posição

hierárquica, da função (entrevistado 5).

Abordagens clássicas e estratégicas direcionadas para períodos estáveis da economia

estão defasadas. As organizações se deparam com menor previsibilidade e maior

complexidade sendo imprescindível potencializar seu desempenho (BARSADE; O’NEILL,

2016).

(…) Então acho que nós costumamos chamar de informalidade, acho que esta

informalidade que nós trabalhamos aqui, ela ajuda muito (entrevistado 1).

(…) a Semco na verdade ela discute a decisão com um grupo de pessoas, não é o

diretor que deu uma ideia na cabeça dele ele chega lá e impõe as coisas. Ele traz o

assunto para discussão com um grupo de pessoas, assim como, por exemplo, uma

pessoa de baixo também pode levar uma ideia que vai gerar uma decisão de

mudança talvez até na empresa, e isso é discutido entre vários (entrevistado 1).

Foi levantado pelos entrevistados um paradoxo: o ônus e o bônus da informalidade.

Embora concordem com as vantagens de se trabalhar num ambiente informal, e o quanto as

decisões podem ser aceleradas por esta característica, também destacam a necessidade de se

ter alguns processos formalizados, garantindo registros para pesquisas futuras ou mesmo

documentação para possíveis fiscalizações ou respostas de processos judiciais.

Ao mesmo tempo em que trabalham para agir rapidamente frente ao contexto

competitivo, cabe voltar sua atenção à cultura emocional: em geral, emoções positivas estão

associadas ao melhor desempenho, a autorresponsabilidade e ao aumento da confiança. Em

contrapartida, também o desgaste por excesso de trabalho pode ser levado em consideração,

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de forma a não desestimular a colaboração dos indivíduos e suas equipes (CROSS; REBELE;

GRANT, 2016).

A comunicação interna se destaca como um pilar fundamental numa estrutura que

oportuniza liberdade: através dela os indivíduos adquirem segurança para participar com

ideias e soluções, deixando de lado o constrangimento e o medo da demissão. Apresentar suas

ideias passa a ser um funcionamento natural nesta cultura participativa (DETERT; BURRIS,

2016).

(…) Eu vejo que no mínimo ela gera a curiosidade nas pessoas, certo, e força um

pouco a pessoa em vez de ficar só reclamando ela 'poxa, eu to reclamando, mas não

dou nenhuma ideia, não participo, poderia participar'. Então, antes de reclamar ela

fala 'o que eu poderia estar fazendo pra ajudar?' (entrevistado 1).

(...) você tem que compartilhar conhecimento, pra que as pessoas possam mesmo

participar (entrevistado 5).

Na Semco, compartilhar ideias é algo natural, que faz parte da cultura. Independente

da formação, posição ou cultura, as pessoas que fazem parte da Semco são incentivadas a

participar, questionar e exercer sua criatividade (PINSKI; ROCHA, 2004). Com isso, se

confirma a informação de Detert e Burris (2016), de que ao estarem convencidas de que a

contribuição é segura, torna-se possível implementar a cultura da participação em todos os

departamentos da organização.

Somado a isso, quando todos ficam cientes, por exemplo, do teor da reunião, como

forma de se preparar para ela, levando sugestões ou considerações relevantes, bem como as

diretrizes e compromissos são informados de forma franca e direta, o ato de contribuir se

torna menos frustrante e inútil para os funcionários (DETERT; BURRIS, 2016).

(...) de 2-2 meses, 3-3 meses, (…) olha tal mês vai ter a reunião, (...). Nesta reunião

ele apresenta toda a situação da empresa, é discutido todos os problemas da empresa

com todos, é aberto para a pessoa dar opinião, se tem alguma ideia, até para a área

de vendas, então a pessoa da área de compras por exemplo, se tiver uma ideia para

ajudar em vendas, pode chegar e dar a ideia (entrevistado 1).

(...) em uma reunião, a gente pede, pede que outras pessoas participem, pede que as

pessoas tragam assuntos (entrevistado 4).

A própria presença do gestor geral no mesmo ambiente dos demais, fazendo uso do

mesmo tipo de mesa e cadeira das demais pessoas, como são denominados todos dentro da

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Semco, sem uma secretária para anunciar possíveis interessados em conversar, reforça esta

cultura da transparência.

Como apontam Reeves, Levin e Ueda (2016), para descobrir inovações, os líderes

precisam se envolver com os funcionários, de forma a recolher informações novas e

relevantes. Neste processo, também podem identificar desafios e soluções inovadoras visíveis

apenas em um nível específico da organização.

(...) a gente precisa manter com bastante frequência é a conversa com as pessoas que

ocupam um cargo de liderança, para evitar tomar decisões da maneira tradicional,

ele como líder, ele precisa constantemente compartilhar essa tomada de decisão com

a sua equipe (…) a gente precisa insistir (…) todo mundo aprende neste modelo, e

está aprendendo permanentemente, constantemente (…) é ter a postura, você trouxe

um problema, legal, qual é a solução dele? A solução não está comigo, vamos

discutir, eu não quero discutir o problema, quero discutir a solução (entrevistado 5).

4.1.3 Processos

A descentralização e a mudança sistemática de processos e rotinas independentes ou

interdependentes oportunizam rapidez de resposta às demandas de clientes e capacidade de

absorver novas tecnologias. No entanto, a autonomia que permite decisões rápidas exige uma

conexão e coordenação de processos (MEIRELLES; CAMARGO, 2014).

(...) você percebe que se você não tiver uma liderança adequada dentro da Semco,

que compartilha dos valores da Semco, se esta pessoa não, enfim, ela não se

enquadra, ela acaba naturalmente saindo, ela em algum momento outras pessoas vão

entrar em conflitos com ela, ou então ela mesmo não vai gostar, ela vai sair, então

com o tempo o time vai se formando. E a mesma coisa os liderados. Se você tem um

liderado que prefere que cada tarefa seja definida, que seja mandado, na verdade não

mandado, mas que seja liderado de uma forma que é outro tipo de liderado, ele

acaba não ficando, porque a gente precisa também que estas pessoas tomem

decisões, que andem sozinhas, que... acho que com o tempo este time vai sendo

formado (Entrevistado 3).

Por meio de metas estabelecidas, a estrutura horizontal permite aos indivíduos tomar

as decisões junto àqueles que serão afetados diretamente por elas (PETERSON; SPÄNGS,

2005). Os processos permitirão que o fluxo das informações necessárias chegue a estes

indivíduos, integrando os sistemas de modo flexível e reconfigurável, sendo possível gerir a

equipe e estabelecer prioridades (GALBRAITH, 1999). Por permitir esta integração, o

gerenciamento de processos tem papel de destaque na organização (GONÇALVES, 2000).

Cada uma das atividades organizacionais, executada a partir de uma demanda, implica

em uma cadeia de operações. Esta sequência requer tempo, recursos humanos e materiais,

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para promover o processo cujo resultado seja compatível com o que estava planejado

(MORHMAN, 1995).

(...) semana passada, por exemplo, a gente reuniu um time de pessoas que trabalham

aqui (...) a gente pensou, 'puxa, vamos chamar mais algumas pessoas que conhecem

bem, que trabalham em outra áreas, reuniu um grupinho e falou: - olha, vamos

discutir, fazer um brainstorming, fazer uma avaliação do que pode ser melhorado pra

esse ano (entrevistado 3).

A ciência de que deve partir para a ação, independente de ter recebido a ordem para

isso, é dada às pessoas assim que entram na organização e recebem o Manual de

Sobrevivência, uma cartilha nos moldes de revista em quadrinhos, com muitos desenhos

coloridos e autoexplicativos, que informam as principais práticas e valores da Semco, usando

uma linguagem simples e direta. Formulado quando iniciou o processo de mudança nos anos

80, até hoje é revisitado a fim de disseminar a cultura da organização.

(...) O que segue tem o objetivo de fazer com que todos falem a mesma língua.

Porém, é importante lembrar que não queremos pessoas sem opinião na empresa –

grite e brigue quando alguma coisa não está certa ou não bate com a sua visão –

questione bastante, e lute com outros pela mudança de qualquer coisa que está

escrito aqui, se houver necessidade. Enquanto nossas diretrizes estiverem em vigor,

porém, é importante que todos remem o barco na mesma direção (...) (Manual de

Sobrevivência Semco).

(...) A gente tem o que rege os valores da Semco (...), que é o Manual de

Sobrevivência que a gente procura resgata-lo, que a gente procura usá-lo sempre que

possível. Então, (...) não faz muito tempo, a gente costumava, algumas pessoas

falavam: - poxa, ninguém tá lendo o manual, tem gente que nem sabe o que é (...), a

gente vinha para as reuniões de engenharia e abria alguma página e lia, e discutia

sobre isso, então acho que na verdade é uma forma de relembrar, de resgate (...), a

gente faz workshop, a gente discute algum tema específico. Alguns anos atrás (...) a

gente fez um resgate muito interessante, a gente criou um código de conduta (...) e

dentro daquele grupo ali daquele workshop, as pessoas falaram o que é importante, o

que estas pessoas deveriam fazer mais, o que que a gente se compromete fazer daqui

para a frente, a gente escreveu isso, escreveu à mão mesmo num quadro, cada um foi

lá achou que aquilo estava válido, assinou e tem esse quadro, (...) eventualmente

você vê ele. Então isso foi uma forma de revisão (Entrevistado 3).

(...) A gestão participativa se faz presente na escola, estimulando a construção da

autonomia pela gestão de tempo e recursos: se planeja coletivamente as atividades

do dia ou da semana; as crianças conquistam sua mobilidade, uma vez que não

precisam andar em fila, por exemplo; são ouvidas e decidem em conjunto, como vai

ser a vivência do dia (salvo detalhes como lanche e limpeza, por exemplo, que

demandam ajuste de horário dos profissionais responsáveis). Existe uma

possibilidade de liberdade bastante marcada, e a possibilidade da criança poder

tomar uma decisão (Entrevistado 6).

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A comunicação não fica restrita apenas aos valores, a proximidade das pessoas que

trabalham na organização acaba por estimular a conversa e a troca de ideias, seja para

melhorar processos ou para estar inteirado sobre o que está acontecendo na organização e no

mercado como um todo.

(...) o que a gente faz, tem estas reuniões gerais em que participam todos os

funcionários, então ali principalmente as informações todas sobre a empresa, são

repassadas; temos as reuniões departamentais, em cada gestor faz uma reunião

mensal com sua equipe; e tem a reunião de dirigentes, reunião dos gestores. Então

muito assim, o que é passado nesta reunião de dirigentes, os dirigentes eles têm a

responsabilidade de passar pros colaboradores nesta reunião do departamento... é

mais, acho que isso, mais conversa (...) (Entrevistado 4).

Torna-se fundamental para a organização agregar e combinar ativos para a melhoria

contínua de seus processos (MEIRELLES; CAMARGO, 2014).

Periodicidade definida, não, não existe, isso é de acordo com o decorrer do ano, do

negócio, da necessidade, condições de mercado (Entrevistado 1).

(...) a gente não tem aquele modelo de processo super estruturado, onde tá tudo

escrito, bonitinho e que de vez em quando precisa revisar... a gente não tem isso!

Isso acontece realmente no dia a dia. As coisas vão acontecendo e aí você vai

criando processos quando necessário, revisando processos quando necessário, não

é... não tem aquela coisas assim certinha (Entrevistado 5).

Características diferenciadas como flexibilidade do trabalho em equipe, remuneração,

possibilidade de capacitação, segurança no trabalho e transparência, são reconhecidas como

práticas que geram o maior nível de comprometimento entre os funcionários (ANDRÉS;

BRONCANO; MONSALVE, 2015).

O processo de atração, recrutamento e seleção de pessoas deve considerar a

personalidade dos indivíduos, para além da função para a qual se candidata. Para tanto, as

entrevistas intensivas se mostram muito adequadas, visto que que avaliam se a pessoa gosta

de trabalhar em equipe, consegue resolver problemas, qual sua postura diante de conflitos e

seu desejo em aprender sempre (GALBRAITH, 1999).

(...) forma de contratação que passa por aquela entrevista integrada, então várias

pessoas analisam esse candidato, então na verdade vai ser uma coisa menos

formatada, menos de avaliação, menos de critério, mas talvez de sentimentos, e

você consegue numa entrevista perceber muito da pessoa (...) (entrevistado 3).

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(...) o RH ele faz uma pré-seleção das pessoas que estão tecnicamente dentro do

perfil e até se tem o perfil pessoal da empresa, aí o gestor entrevista, avalia

principalmente esta questão técnica, a gente entra num consenso, 'acho que estes

dois ou três candidatos têm o perfil e acho que poderiam entrar, qualquer um destes

candidatos aqui', e aí a gente chama para esta seleção integrada. Quem participa: o

RH, o gestor da área, os pares desta pessoa que vai entrar, e pessoas de outras áreas

que tenham uma relação direta. E quem define o candidato aprovado é este grupo

(entrevistado 4).

Num ambiente dinâmico a mudança será pauta diária. Para tanto, a integração

horizontal acontecerá por meio de um conjunto de mecanismos claros e os incentivos devem

estar alinhados, promovendo o desenvolvimento e a satisfação das necessidades da

organização (MOHRMAN, 1995). As decisões para ganho de velocidade e qualidade tornam-

se imprescindíveis para haver sincronismo nas interfaces verticais e horizontais da

organização (UEMURA, 2006).

(...) no meu departamento, se tiver um processo que nós estamos identificando que

está engessado, que precisa ser alterado, nós vamos sentar, conversar e vamos

mudar. E em todos os departamentos existem os processos, que nem no meu caso

nós temos, tem a definição, mas se precisar alterar, qualquer momento, com certeza

a gente conversa e vamos alterar. Tem esta abertura (entrevistado 2).

A gente muda bastante. Nossos canais acho que podem ser melhorados, nós temos

apesar de ter as reuniões, e a gente está, estamos muito próximos agora, tudo

praticamente junto, então a comunicação acaba sendo até rápida, mas pode falhar,

como já aconteceu. Às vezes falha porque você acredita que a pessoa já está sabendo

e não está. Eu acho que tudo pode melhorar (entrevistado 2).

(...) tem a reunião geral, que é onde todo mundo fica sabendo de todas as

informações, o pessoal da engenharia, assistência técnica e suprimentos tá muito lá

na fábrica, eles tão sempre conversando, sempre juntos, então nessa parte, tudo que

é relacionado a cliente, a nossa venda, estão sempre muito conectados de tudo

(entrevistado 2).

(...) as atividades que nós fazemos são muito variadas, tem esta abertura que nem

falei, da gente sentar, conversar, 'olha, como que a gente vai fazer isso', (…) não é

engessado (entrevistado 2).

Como destacado na pesquisa de Peterson e Spängs (2005), a Semco mantém como

pilares do seu modelo de gestão a participação dos indivíduos na tomada de decisão; a

participação nos lucros, o livre fluxo de informações e a transparência nas relações. Mas

mesmo com uma gestão mais próxima do ser humano, com processos que permitem a

autonomia e a tomada de decisão, a organização passa por problemas e dificuldades, como

contestar processos judiciais e causas trabalhistas. A informalidade, não do modelo, mas

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característica da organização, resulta na falta de registros muitas vezes importantes para

consultas futuras.

De fato, mesmo numa gestão participativa, as atividades precisarão ser coordenadas;

os esforços individuais, alinhados; os objetivos, definidos; o conhecimento, disseminado; e os

recursos financeiros, alocados; mas, cada vez mais, esse trabalho será distribuído para as áreas

secundárias (HAMEL, 2007).

(...) a ideia é que todos tomem conhecimento, sim. E obviamente nem sempre é o

que a gente quer.... Eu gostaria de fazer, por exemplo, tem uma linha de

equipamentos que a gente tem muita experiência, eu gostaria de trabalhar mais nela,

e a Semco acaba investindo em outras linhas, mas é porque o mercado que demanda

essa postura, essa direção da Semco, então a gente tem que entender isso, também

(entrevistado 3).

Mais uma vez a maturidade e a co-responsabilidade pelos resultados da organização

promovem uma visão ampla das decisões, de forma a deixar claro que não se trata de

retaliação ou preferência pessoal. As decisões precisam levar em conta a saúde financeira,

como forma de garantir a segurança da organização e de todos que dela fazem parte.

A participação representa um conjunto de regras ou procedimentos que levam à

tomada de decisão, criando oportunidades de envolvimento e, quando efetiva, tem papel

fundamental na redução de custos, na qualidade dos produtos e serviços, no aumento da

criatividade e na redução do absenteísmo e rotatividade dos colaboradores (VALLADARES;

LEAL FILHO, 2003).

4.1.4 Pessoas

Quando o trabalho deixa de ser percebido apenas como um contrato, e as ações das

partes passam a ser mais naturais e voluntárias, a dedicação e o comprometimento suscitam o

atingimento das metas e objetivos do grupo (HAMEL, 2007).

De forma geral, os relatos dos entrevistados destacam esta naturalidade, proporcionada

em grande parte pela participação conjunta nas tomadas de decisão, o que, segundo eles, se

mostra como um aliado no amadurecimento dos indivíduos, que se tornam mais responsáveis

e engajados com os resultados da organização.

(...) me sinto motivado por outros valores, por ter pessoas que eu gosto, o ambiente,

acho que isso tudo é uma parte da motivação das pessoas, você está num ambiente

bacana, as pessoas se sentem à vontade (…) e isso ajuda na motivação (entrevistado

3).

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A natureza humana exige reconhecimento. Sem ele, as pessoas perdem o senso de

propósito e se tornam insatisfeitas, improdutivas. Ao colocar mais poder de tomada de decisão

nas mãos de seus funcionários, a empresa se torna mais eficiente e flexível, à medida que os

colaboradores melhoram financeira e pessoalmente (SEMLER, 2000), e o ambiente se torna

mais agradável e menos controlador (VANDERBURG, 2004).

(...) as pessoas só mudam quando elas entendem a razão da mudança... já entendendo

a razão da mudança é difícil, se não entender, esquece, mudanças não vão acontecer

(...) (entrevistado 5).

Só vale a pena trabalhar num lugar que dê orgulho. Crie este orgulho na qualidade do

que você faz (...) (Manual de Sobrevivência da Semco).

Este orgulho transparece nas falas, deixando claro que não faz parte apenas de um

discurso, mas do dia a dia das pessoas. Chama igualmente atenção, o fato de que foram

relatados momentos de sucesso, em paralelo com situações de dificuldades, que exigiram dos

envolvidos a revisão e readequação de suas participações.

Na esfera das necessidades, se encontram os aspectos financeiros de proteção, a

segurança de um plano de aposentadoria, saúde e seguro conta acidentes, salários anuais

garantidos. Bem como o resguardo dos sindicatos trabalhistas, que mais diretamente

regulamentam promoções e demissões, normas para reclamações, provisões para arbitramento

e proteção contra mudanças de horários e categorias de trabalho (MCGREGOR, 1973).

Para que se tornem práticos, os valores precisam ser internalizados e traduzidos,

mesmo que isso demande sistemática e, num primeiro momento, reduza a produtividade e

desencadeie o caos (HAMEL, 2007).

(...) aqui as pessoas tem que ser comprometidas, (...) Às vezes, a pessoa entrar aqui e

acha que 'posso fazer o que eu quero', só que não vai cumprir o que ela precisa fazer,

o seu trabalho. Então assim, acho que a gente precisa sentir acho que é isso,

comprometimento da pessoa e flexibilidade dela (entrevistado 2).

(...) os dois principais (valores) é a transparência e a confiança. A transparência,

assim, é pra todos, então a gente tem uma reunião geral que acaba acontecendo a

cada dois meses, depende, ali são apresentados todos os resultados da empresa,

então todo mundo acompanha isso, e é tudo muito transparente (...) Tem gente até

que não gosta disso (...) E aí a gente sempre fica naquele dilema, a gente fala ou não

fala?! Se a gente não falar vai contra os princípios, então, é melhor falar, ser

transparente (…) E aí, entra também a questão da confiança. Então quando existe

uma quebra de confiança entre a empresa e (…) as pessoas, aí é muito difícil de se

manter a relação de trabalho, porque esta seria a base aí de todo o relacionamento

(entrevistado 4).

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(...) acho fundamental (...) a crença no ser humano. Acreditar que ele tenha

capacidade de se auto-determinar. A crença na importância da liberdade com

responsabilidade, as duas precisam andar juntas pra que a coisa funcione

adequadamente. Transparência... também é fundamental para o nosso modelo

(entrevistado 5).

O dilema de ser ou não transparente impacta diretamente nos valores do modelo

participativo, e destaca tamanha a dificuldade das pessoas frente às mudanças e condições que

alteram o status quo, impactando no comportamento contraproducente de alguns indivíduos

que, em lugar de buscarem alternativas para superar as possíveis dificuldades, bloqueiam a si

mesmos de forma a atuar contra os objetivos da organização.

Todos os membros de uma organização deveriam ter permissão para agir de forma

autônoma, até onde as circunstâncias permitissem. Assim, a empresa tende a aumentar a

chance de identificar oportunidades inesperadas. Esta forma de trabalho acaba também por

estimular a motivação dos indivíduos para a criação de novos conhecimentos que são

compartilhados com os demais membros (TAKEUCHI; NONAKA, 2008).

(...) a autonomia, a horizontalidade do trabalho e a construção comunitária

necessárias no mercado de trabalho, eram incompatíveis com um modelo escolar

baseado na lógica do momento (...) (entrevistado 6).

Para assumirem uma postura de tomadores de decisões e de participantes efetivos na

organização, os indivíduos precisam estar preparados. Se esta preparação acontecer desde a

educação escolar, talvez seja possível conviver mais naturalmente com a autonomia.

(...) constatações simples como identificar que nem sempre um estudante mais velho

sabe mais que o mais novo; que se determinado assunto não é conhecido, pode ser

buscado; que não é preciso estar entre iguais para aprender, fazem parte de uma

dinâmica natural na vida dos estudantes que passam pela escola (...). O feedback das

famílias, é de que marcadamente suas crianças são muito mais seguras em outros

ambientes; e que o currículo não linear não se configura como problema, ele já sabe

aprender a aprender e vai em busca do que ainda não conhece (entrevistado 6).

A condução das tarefas é de responsabilidade individual nas equipes autogeridas. As

prioridades e requisitos para o atendimento dos objetivos coletivos envolvem os indivíduos de

forma que o trabalho em equipe, a comunicação, as habilidades e a participação na solução de

problemas são valorizados como recompensa (MOHRMAN, 1995).

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(...) ninguém fica me dizendo o que eu tenho que fazer (...) então ninguém precisa me

dizer o que fazer. Por outro lado, essa é uma carga muito grande, porque eu assumo

muitas vezes o que eu tenho que fazer e se acaba assumindo muitas vezes muito mais

do que numa outra estrutura um pouco mais segmentada, mais burocrática, menos

participativa... então acaba assumindo muitas coisas, enfim, acho que todo mundo

acaba fazendo isso, e você acaba muitas vezes trabalhando demais (…) acho que a

cobrança acaba sendo sua, mesmo (entrevistado 3).

(...) outra coisa que acho que tá ligada um pouco no compartilhar, não bem o poder,

mas as decisões, é a seleção integrada (...) Então se a maioria ali entrar no consenso

que o melhor candidato é X, mesmo que para o gestor é o Y, vai se entrar no consenso

e a maioria que vai escolher (entrevistado 4).

É possível ponderar que aqueles que assumem a postura de autonomia frente às

responsabilidades de seu cargo, também o fazem fora da organização, levando trabalho para

casa nos finais de semana ou férias, o que muitas vezes culmina numa sobrecarga de trabalho,

dado que os resultados gerais passam pelo atingimento dos resultados individuais.

A autonomia representa o grau de controle que os trabalhadores exercem sobre seu

trabalho. Ao passo que, ao transferir autonomia para os indivíduos, a organização mantém as

equipes motivadas e confiantes nas suas estratégias e mudanças de rota (HAMEL, 2007).

Também, a tomada de decisão se torna cada vez mais importante, dado que a concorrência

está baseada no fator tempo (GALBRAITH, 1995).

(...) eu gosto da liberdade que eu tenho, como eu falei, ninguém precisa ficar

dizendo o que eu preciso fazer, eu sei o que eu tenho que fazer, eu aprendi o que

tenho que fazer, e eu faço (entrevistado 3).

(...) Muitas vezes eu também não sei o que fazer do projeto, apesar de ter um pouco

mais de experiência. Então eu dou alguma diretriz, digo 'olha, você pode fazer

assim'... mas eu mesmo dou a liberdade 'se você achar outra forma melhor, pode

fazer' (...) (entrevistado 3).

(...) eu acho que uma coisa importante pra você manter uma estrutura como essa,

participativa é uma formação de um bom time (...) (entrevistado 3).

Formar equipes demanda um investimento considerável de recursos, e alteração do

paradigma de desenvolvimento individual para dar ênfase ao desenvolvimento de grupos e

equipes. A liderança executiva e a moldagem da integração horizontal no topo da cadeia são

fundamentais para o processo de mudança (MOHRMAN, 1995). E a comunicação tem papel

importante na prática da gestão da mudança, e demanda atenção de todos os níveis para que

seja clara e adequada ao receptor (PINSKI; ROCHA, 2004).

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(...) a gente faz muita questão de conversar com as pessoas a respeito do modelo,

também aí a pessoa precisa ter interesse em conhecer e se adaptar, a essa nova forma

de trabalho; perceber nela também transparência... são coisas que eu busco perceber

nos processos de seleção que eu conduzo. Eu acho que o próprio modelo de seleção

integrada leva o candidato até a perceber se a Semco é uma empresa onde ele quer

trabalhar ou não, porque não é toda pessoa que se sente bem em ser entrevistado em

grupo, ser avaliado... mesmo quando você está contratando alguém que vai para uma

posição de liderança, você ser entrevistado pelos seus futuros subordinados (...)

(entrevistado 5).

Mas nem todas as pessoas se adaptam a uma organização cujo modelo de gestão é o

participativo. Muitos indivíduos precisam ser coordenados, dirigidos, e seguir processos pré-

determinados, uma vez que não desenvolveram a habilidade de autonomia ou preferem não se

responsabilizar pelos resultados como um todo, apenas pela realização sistemática de suas

funções.

A adesão das pessoas aos objetivos da organização faz com que todos saibam o que

devem fazer. Isso não elimina uma direção firme, mas uma autoridade baseada na confiança,

onde as lideranças usam do carisma e competência para gerir suas equipes, por meio de

relacionamento e não hierarquia (LIMA, 2010). Em lugar da relação chefe-subordinado, a

gerência passa a ter envolvimento com as pessoas, de maneira a coordenar o trabalho em

parceria com os demais. Cabe aos gerentes assegurar que as equipes se desenvolvam na

direção dos objetivos organizacionais, para respectivo alcance das recompensas

(MOHRMAN, 1995).

Mais liberdade, você consegue desenvolver melhor suas atividades, porque você

pode trazer ideias, não fica aquela coisa engessada, se tem que cumprir aquilo, não,

de repente você tem a liberdade de conversar com o seu gestor da mesma forma que

você conversa com o seu colega de trabalho. Então acho que isso facilita o ambiente,

a troca de ideias, acho que melhora para a empresa, acho que a empresa ganha com

isso (entrevistado 2).

(...) O que eu vejo, o que eu sinto, como a gente tem assim uma autonomia muito

grande pra fazer as coisas, você tem a chance de errar... então não é aquela empresa

'se você errar, você já vai ser punido', não você tem a chance de participar de vários

assuntos, de se envolver (entrevistado 4).

A gente foca flexibilidade, bom relacionamento interpessoal é importante, iniciativa,

se for também um cargo de gestor, é importante que o gestor não só delega, ele

participa também, então tem que ser alguém que faça e também faça a gestão, tem

que ser alguém mão na massa e gestão (...) (entrevistado 4).

Para muitos indivíduos, o movimento da cultura do trabalho em equipe se mostra

desconfortável, em especial quando a organização está em processo de transição de modelo.

Dada a nossa orientação cultural, é provável que essa transição seja efetuada somente se as

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organizações atentarem para a necessidade de reconhecimento pessoal e para o sentido de

realização. Para tanto, cabe o uso de mecanismos que incorporem o reconhecimento do valor

pessoal em paralelo com o reforço do espírito de equipe. Implica, também, recompensar o o

esforço de desenvolver meios para que os próprios membros identifiquem, claramente,

contribuições superiores (MOHRMAN, 1995).

(...) quando é necessário, ou numa reunião geral quando alguém levanta uma

questão, todo mundo conversa, troca, então... os valores estão sempre sendo

praticados (entrevistado 2).

(...) é bom para a pessoa, é bom para a empresa essa questão da participação, poque

ela se sente parte daquilo, ela é parte daquilo, na verdade ela se sente parte daquilo, e

quando ela é parte daquilo, ela vai encarar de forma diferente (entrevistado 4).

(...) você, obrigatoriamente, precisa acreditar na capacidade de desenvolvimento, de

crescimento e de mudança do ser humano, que muitas vezes isso a gente não

encontra por aí... Então, se você não acredita que a pessoa tem, independente do seu

grau de instrução, independente da experiência profissional ou pessoal que ela tenha,

ela pode sim crescer, se desenvolver, dentro da sua, do seu momento tem condição

de contribuir para o processo. Esta é uma crença fundamental, se ela não tá presente,

o processo também não acontece. E não ter medo de que você pode errar! Que você

pode tomar uma decisão de ir pra um determinado caminho e não é aquele caminho

e você precisa refazer... Então, esse processo de aprendizado e de retomada e tal

também precisa estar presente. Não é uma coisa que você planeja e vamos lá... o

caminho não é reto, não é linear... Então também é ter isso consciente e acreditar que

as curvas fazem parte do processo, e enriquecem inclusive (entrevistado 5).

O grande desafio acho que foi justamente trabalhar com este momento da

desconfiança. Volto a dizer, ele é natural, mas você precisa tomar um cuidado

bastante grande pra que esta desconfiança se dissipe. Então era um momento de

muita responsabilidade: como fazer com que as pessoas acreditassem que era uma

coisa boa para todo mundo (...) (entrevistado 5).

Em um mercado em que a diferenciação tem como base a criatividade, uma força de

trabalho motivada sempre superará o desempenho de uma que é meramente diligente. Os

seres humanos sentem mais prazer quando fazem as coisas que desejam fazer, em lugar de

realizar o que foi determinado (HAMEL, 2007).

(...) você saber que aquela atividade depende de você, é um desafio, e aí acho que a

satisfação pessoal, você falar 'estão me dando esta responsabilidade', aí tem a

motivação que você vê que o pessoal está trabalhando em conjunto, o pessoal 'quero

que aconteça, vai ser o melhor', a gestora de tar junto, de falar, 'não, vamos lá', às

vezes você está meio desanimado, então acho que assim, que é um conjunto de

coisas pra te motivar. A equipe, que nós temos um bom relacionamento, tem abertura

para falar, para dizer se não tá bom, esse é o caminho, não esse não é o caminho,

vamos melhorar, então acho que isso motiva, pelo fato de você ter esta liberdade, é

uma motivação (entrevistado 2).

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Uma coisa que me chama bastante atenção também, eu venho pra Semco motivado,

porque eu não venho pra Semco como, eu não sinto como um trabalho, a maior

parte das pessoas que trabalham comigo são meus amigos também, a gente sai da

Semco, vai tomar uma cerveja, se encontra pra fazer algumas coisas nos finais de

semana, então isso acaba sendo, não só parte do meu trabalho, acaba sendo parte da

vida. Então acho que isso é uma vantagem grande (entrevistado 3).

Uma forma de construir uma empresa que seja adequada para o futuro parece ser

construir uma que também seja adequada aos seres humanos. Conceber um sistema de gestão

que respeite e trate adequadamente a iniciativa, a criatividade e a paixão do ser humano, se

mostra essencial para o sucesso (HAMEL, 2007).

(...) Nas outras empresas, chegava no domingo à noite, 'ai, meu deus, ir pra lá de

novo, aguentar aquela pessoa, não sei o que...', porque aqui, estes problemas

existem, mas você tem a liberdade de você chegar e falar. Se tá com uma dificuldade

com uma pessoa, ou problema... qualquer coisa, você vai, seja seu gestor, seja quem

for, você vai, chama e você fala, você pontua, 'olha, não tá legal, tá acontecendo

isso, e eu tô me sentindo desta forma!'. Isso até é bem visto aqui! Então, esta questão

de você poder falar o que você pensa, o que você sente, é o que faz muita

diferença (entrevistado 4).

(...) acredito que é um modelo que proporciona pras pessoas a possibilidade de um

crescimento, de um amadurecimento, tanto profissional quanto pessoal, porque você

acaba levando os fundamentos do modelo para a sua vida como um todo, e que outro

modelo não te proporciona (entrevistado 5).

O aprendizado em coordenar esforços de muitas pessoas, sem a promoção de uma

hierarquia opressiva de administradores; a manutenção do controle sobre os custos sem

sufocar a imaginação humana; e construir organizações em que a disciplina e a liberdade não

sejam mutuamente exclusivas (HAMEL, 2007), parece caracterizar a gestão participativa.

Tanto que ao serem questionados sobre como se sente atuando na Semco, as respostas

retratam um clima organizacional positivo, especialmente para o Departamento de Recursos

Humanos:

Eu estou há 20 anos na empresa, eu me sinto bem. As pessoas falam 'ah, eu não

tenho vontade; eu acordo de manhã e puxa, vou voltar para o trabalho, vou ter que ir

lá na Semco'... eu tenho amigos aqui na Semco, de longa data, tem pessoas novas...

quando tem pessoas novas eu procuro falar um pouco da minha pessoa, da minha

experiência (...) (entrevistado 1).

Eu gosto muito daqui (entrevistado 2).

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Eu me sinto bastante realizado. Eu me sinto bem. Me sinto, como falei, ninguém

precisa ficar me dizer o que fazer, então você se sente... na verdade acaba sendo

auto, autorrealização… você correr atrás do que você quer, correr atrás do que

precisa ser feito, então, eu me sinto bem. Eu gosto da Semco, estou na Semco há 15

anos e eu não tenho interesse em sair (entrevistado 3).

Feliz! (entrevistado 4)

Você ter a possibilidade de participar da estruturação do modelo, da implantação, de

viver e vivenciar a reação das pessoas, ter a possibilidade de adaptar tudo aquilo que

for necessário, adaptar para que o modelo funcionasse bem, sentir a satisfação de

todo mundo e a satisfação da gente mesmo, pessoal... sempre foi muito bom! Nossa,

é realmente uma realização profissional e pessoal muito grande (entrevistado 5).

A relação do colaborador em permanecer na empresa caracteriza como afetiva, quando

tem apego emocional e o indivíduo se identifica com a organização; normativa, quando reflete

um sentimento de obrigação para a permanência na empresa; e de continuidade indicando

necessidade do emprego. Esta relação orienta um comportamento positivo que contribui de

forma mais efetiva na execução dos objetivos organizacionais (MONSALE; NARANJO,

2012).

Este apego emocional parece reforçar a responsabilidade das pessoas sobre os

resultados da organização, de forma a sentirem certa obrigação por apresentarem soluções

adequadas quando estas são requeridas pelo contexto do mercado.

Parte deste comportamento ou relação acaba por ser reconhecido através das

recompensas pelo resultado individual ou coletivo.

4.1.5 Recompensa

O sistema de recompensas busca conectar as pessoas com as diretrizes e metas

organizacionais, através da troca do trabalho pelo equivalente de benefícios ou ganhos

condicionados a resultados de métricas (UEMURA, 2006).

A participação nos lucros e resultados na Semco é para valer (...) (Manual de

Sobrevivência da Semco).

É importante o desenvolvimento de um sistema de recompensa nas organizações,

visando o reconhecimento do valor do indivíduo para a organização, de maneira compatível

com o trabalho de equipe. A recompensa desafia nos indivíduos o desenvolvimento e a

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aplicação de múltiplas competências, mas não estimula a rivalidade em busca de recompensa

por mérito (MOHRMAN, 1995). Envolvidas com os resultados de suas unidades, as pessoas

tendem a ter atitudes mais maduras, responsáveis e trabalhar para entregar produtos de

qualidade, exercendo certa pressão sobre os colegas que porventura possam estar

prejudicando o atingimento dos objetivos do grupo (PINSKI; ROCHA, 2004).

Um bom sistema de recompensa deve estar embasado num adequado processo de

avaliação, permitindo uma comparação justa entre as pessoas, deixando claro que, quanto

mais aprendem e produzem, mais as pessoas da organização recebem em contrapartida

(MOHRMAN, 1995; GALBRAITH, 1999).

(...) se a empresa bateu o resultado, você vai receber dentro do percentual de metas

que você alcançou. Se você alcançou 100% de suas metas, você vai receber um

salário a mais no final do ano inteiro. Você tem dois salários apostados na empresa,

nós chamamos assim, apostado na empresa, isto acaba te estimulando a que a

empresa dê bons resultados, porque você vai ganhar com isso também (entrevista 1).

(...) você se sente parte de algo maior, e não apenas parte fazendo uma função ali

burocrática, técnica que acaba sendo às vezes menos motivadora (entrevistado 3).

Existe um aumento da percepção da necessidade de desenvolver habilidades, bem

como da importância da participação (PETERSON; SPÄNGS, 2005). Uma equipe se torna

autoconfiante e diferenciada quando lhe é dado o controle sobre o maior número possível de

aspectos de seu desempenho. Mas precisa ter fronteiras permeáveis, uma vez que seus

projetos podem depender de outras equipes. Uma forma de otimizar esta abertura e este

relacionamento é a fixação de objetivos e recompensas, que tendem a direcionar todos num

único sentido (MOHRMAN, 1995), sendo este desempenho medido, avaliado e

recompensado, dado que quando o pagamento de recompensas é vinculado ao resultado, tende

a motivar desempenhos superiores (GALBRAITH; NATHANSON,1981).

(...) você poder contribuir, você saber que o resultado lá na frente, você faz parte

daquele processo. Então acho que isso motiva, não fica, você sabe que é a equipe

que trabalha juntos, então o resultado vai todo mundo recebe os aplausos, vamos

dizer assim, acho que isso é um ponto de motivação, com certeza (entrevistado 2).

O que eu vejo, o que eu sinto, como a gente tem assim uma autonomia muito grande

pra fazer as coisas, você tem a chance de errar... então não é aquela empresa 'se você

errar, você já vai ser punido', não você tem a chance de participar de vários assuntos,

de se envolver (entrevistado 4).

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A possibilidade de ter conhecimento e comparar os salários dentro da empresa exerce

estímulo para os funcionários desenvolverem habilidades e assumirem novas

responsabilidades, dado que podem reconhecer as funções e as pessoas que são remuneradas

de forma mais generosa. Esta transparência ultrapassa o conhecimento dos valores salariais,

ela amplia seu espectro para dados estratégicos, financeiros e ficam disponibilizados para

qualquer funcionário, podendo ser revisto sempre que tiver interesse. Para construir uma

organização com alto nível de confiança, não podem haver segredos (HAMEL, 2007).

(...) a gente sabe que se a empresa for bem (...) nós vamos ser recompensados

(entrevistado 2).

(...) a gente sabe muito facilmente o que tá acontecendo, o diretor chama para

reuniões, mostra números, e não esconde que ó, a gente precisa mudar, a gente

precisa cortar custos, eventualmente precisa até cortar custos assim, e isso significa

cortar pessoas, então a gente tá sempre sabendo disso (…) (entrevistado 3).

Independente do índice de motivação, quando o indivíduo está fazendo algo que de

alguma maneira tenha relação com sua autoimagem, toda a atividade é capaz de instigar a

motivação e induzir a uma maior dedicação ao trabalho. Assim, talvez a responsabilidade dos

gestores em promover significação ao trabalho possa ser menor do que o não boicote do

processo produtivo (ARIELY, 2010).

É engraçado assim que num momento de crise, se não tem esta motivação

financeira, que é uma motivação (...) boa, talvez você perca um pouco, algumas

pessoas se motivam pelo dinheiro, mas outras continuam fazendo as metas, mesmo

sabendo que não vai dar lucro (...) (entrevistado 3).

Por este ângulo, constata-se que o resultado financeiro é apenas parte da recompensa

buscada por muitos indivíduos. Um ambiente agradável, de crescimento pessoal e

profissional, com possibilidade de troca de ideias e autonomia também representa ganhos para

este perfil de pessoa.

Bônus individuais baseados em produtividade ou lucro são melhores em vincular o

pagamento ao desempenho, no entanto, apresenta efeitos colaterais, pois dificilmente estimula

a cooperação. Quando a organização opta por planos globais e cooperativos, tende a estimular

o trabalho em equipe. Portanto, não existe um único sistema de recompensa ideal: cabe a cada

organização avaliar sua estratégia e ajustar o melhor sistema de recompensas que, por sua vez,

leve em conta os demais sistemas da organização (GALBRAITH; NATHANSON, 1981).

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O balanceamento ou reorganização eficiente das dimensões determina o direito de

decisão além de permitir uma eficiente verificação de incentivos, que maximizem os

resultados gerados pelo desenho organizacional (MENDES, 2012).

Participação no dia a dia: A filosofia do Grupo Semco é a da participação e do

envolvimento ativo. Não se acomode. Opine, candidate-se, diga sempre o que você

pensa – não seja apenas mais um na empresa. Opine sobre tudo que lhe interessa,

mesmo que não for solicitado a fazê-lo. Seja ativo com o seu palpite (Manual de

Sobrevivência Semco).

4.2 Identificação das Dimensões da Gestão Participativa e da importância de cada uma

delas no processo de desenvolvimento do Modelo de Gestão

Revolucionária nos anos 80, ainda hoje todos os entrevistados disseram não conhecer

organização brasileira que utilize o modelo com a profundidade da Semco. Reconhecem que

existem várias empresas que utilizam práticas participativas, mas de forma descontinuada.

A gestão participativa se revela como um processo que pretende o desenvolvimento da

empresa a longo prazo, em paralelo com o crescimento e valorização do indivíduo. Sendo que

o fundamento dessa participação é a confiança, onde organização e colaboradores dividem

responsabilidades, participam do estabelecimento de metas e objetivos, debatem decisões,

traçam os rumos do negócio e dividem os resultados. O debate de ideias, o respeito pela

opinião alheia, e a receptividade ao considerar outros pontos de vista, estão baseados no

diálogo aberto, transparente e sem os obstáculos impostos por níveis ou hierarquia. Todos são

convidados a contribuir, contanto que desenvolvam habilidades e competências individuais,

que serão revertidos em resultado conjunto.

Com base em estudos de Pinski e Rocha (2004); e Peterson e Spängs (2005), que

também tiveram como unidade de pesquisa os gestores da Semco, foi possível constatar que a

estrutura e os processos, como a participação na tomada de decisão e a comunicação

transparente, estimulam a democracia no local de trabalho e permitem ajustes rápidos às

exigências do mercado, explicando o clima organizacional de participação efetiva dos

indivíduos.

No que lhe concerne, a teoria da gestão participativa destaca a necessidade de

mudanças profundas nas organizações a fim de implementarem tal modelo, demandando a

utilização de estratégias, que demandam investimento em treinamentos, desenvolvimento,

informação e comunicação por parte da organização (MELO, 2000).

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No modelo de gestão praticado pela Semco, o que se observa é que a gestão

participativa tem como estratégia o empoderamento das pessoas - que conferem significado

ao seu trabalho -, e que sua estrutura foi aperfeiçoada ao longo de um período para traduzir

esta característica. Tempo necessário para que as mudanças fossem internalizadas e

validassem uma cultura baseada em novos comportamentos e novos valores. Esse modelo

reduziu incertezas e aumentou o acordo sobre os objetivos, uma vez que as decisões são

tomadas a partir de subdecisões, de forma sistematizada, porém não engessada. A

flexibilidade e a adaptabilidade se fazem presentes na cultura de uma organização com gestão

participativa. As pessoas envolvidas com o negócio precisam estar cientes de seu papel e das

necessidades constantes de mudanças e adaptações.

Assim, o que se pode inferir é que a estratégia leva a diferenças de estrutura,

processos, pessoas e recompensas, ou seja, a diferentes arquiteturas organizacionais. Nesse

aspecto, a descentralização e a autonomia apresentam-se como condições que sustentam a

confiança que, por sua vez, estimula os indivíduos à participação, tendo estes o poder de

decisão de alterar processos sempre que julgarem necessário para a competitividade, bem

como para assumirem o desafio de aprender mais a cada dia, uma vez que serão co-

responsáveis pelos resultados que podem ou não ser positivos, cabendo à organização alinhar

sistemas de medida de resultados, remuneração e recompensa.

Portanto, as cinco dimensões do Modelo Estrela de Galbraith foram identificadas no

modelo de gestão participativa analisado, sendo que a estratégia representa a base para toda a

arquitetura ou desenho organizacional. Uma vez que a cultura da participação se faz presente

na organização, automaticamente a estrutura, os processos, as pessoas e as recompensas

encaminham-se para o alcance dos objetivos traçados, desde que observada a prática diária da

confiança e descentralização do processo de tomada de decisão, bem como a transparência

frente às possíveis mudanças e situação de mercado.

4.3 Proposição de um Modelo de Análise de Gestão Participativa

Com base na identificação dos componentes da arquitetura organizacional e das

dimensões da gestão participativa e sua importância no modelo pesquisado, propõe-se um

modelo de análise de gestão para empresas brasileiras que estão orientadas para se manterem

competitivas num mercado em constante mudança.

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A gestão participativa representa um modelo inovador de gerenciamento: baseado num

conceito cujo foco é o ser humano, posto que viabiliza o desenvolvimento de habilidades, a

autonomia, o pertencimento e o trabalho em equipe; implica na aplicação da democracia em

todos os níveis da organização, de forma que o processo de decisão possa ser controlado pelas

pessoas dos diferentes setores; e os ganhos passam a ser divididos entre todos (PETERSON;

SPÄNGS, 2005; PASSOS, 2006; SILVEIRA; OLIVEIRA; PALASSI, 2012; ROHM; LOPES,

2015).

Embora a vantagem competitiva das organizações esteja alicerçada na forma como os

esforços empresariais estão sistematizados, de modo que o conjunto de estratégias, estruturas

e processos facilitem ou dificultem o acesso ao conhecimento e às informações para uma

adequada tomada de decisão, não existe uma combinação ou arquitetura organizacional única

para alcançar os melhores resultados, mas sim diversas combinações que podem resultar em

um desempenho excelente, dependendo das circunstâncias e da sistematização das dimensões

(NADLER; TUSHMAN, 1997; UEMURA, 2006; GAZDA, 2009).

Mesmo diante das vantagens citadas, a gestão participativa apresenta desvantagens.

Dentre elas, a falta de registros de processos que, num futuro próximo podem desencadear

problemas trabalhistas, por exemplo, ou mesmo demandar retrabalhos comumente não

praticados num modelo burocrático. Ainda, nem todas as pessoas estão dispostas a mudar seus

valores e cultura, normalmente voltados para um modelo burocrático já internalizado: quando

ocupam cargos operacionais tendem a seguir ordens e desenvolver tão somente a função para

a qual foram contratadas; quando ocupam posições de liderança delegam e ordenam as ações,

sem necessariamente trabalhar em conjunto com os demais.

Apesar disso, se entende que um trabalho voltado para a valorização do ser humano,

aliando objetivos pessoais e profissionais, parece induzir a motivação necessária para o

indivíduo encontrar sentido no exercício da sua função e na possibilidade de desenvolver

novas habilidades e competências, sentindo-se desafiado a continuar buscando sempre mais.

O alto nível de comprometimento das pessoas da Semco está fundamentado no grau de

autonomia que elas encontram ao realizar seu trabalho e a transparência nas informações, o

que lhes possibilita propor melhorias e conseguir melhores resultados organizacionais

(MONSALE; NARANJO, 2012).

Assim, o modelo da figura 4, originou-se a partir da interrelação e interdependência

observadas entre as dimensões estratégia, estrutura, processos, pessoas e recompensa. Além

da vantagem em abandonar formas tradicionais de gestão, que oportuniza vantagens para a

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organização e seus integrantes (DRUCKER, 2001), assumindo uma gestão mais inovadora,

com base na valorização do ser humano, promovendo um clima organizacional favorável à

mudança e para a implementação eficaz e dinâmica de ideias (RODRIGUES; VELOSO,

2013).

A partir do Modelo Estrela de Galbraith, e o case de gestão participativa da Semco, as

cinco dimensões foram analisadas sob a perspectiva de que a dimensão estratégia permeia

todas as demais e permanece flexível e acessível à reconfiguração sempre que esta se mostrar

necessária para a manutenção de vantagens competitivas.

As dimensões foram renomeadas de acordo com suas especificidades identificadas

durante as entrevistas, sendo a Estratégia redefinida como Arquitetura Organizacional,

Processos como Recursos, Pessoas como Equipes Autodirigidas e Recompensa como

Retorno. Contempla o encaixe das dimensões no formato de quebra-cabeças, uma vez que

precisam estar perfeitamente ajustados, a fim de se obter resultados relevantes para a

organização. Este encaixe deve levar em conta o dinamismo do mercado, em busca da

manutenção da vantagem competitiva organizacional, dando sentido à reconfiguração

defendida por Galbraith no seu Modelo Estrela (1999) e destacado pelos entrevistados.

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Figura 4: Modelo de análise competitivo para empresas brasileiras.

Fonte: Elaborado pela autora (2016).

A identificação das dimensões de Galbraith na Semco permite analisar que:

a) Estratégia: a determinação das metas e objetivos se dá a partir do contexto de

mercado, somada com a visão dos departamentos da organização, que concentram as

opiniões e ideias de todos os colaboradores, independente do cargo que ocupam;

b) Arquitetura organizacional: a horizontalização da Semco permite a distribuição

do poder dentre as pessoas que fazem a organização – todos, sem exceção, podem

contribuir com ideias. Embora participativa, a Semco possui cargos de maior

autoridade, cabendo a estes acolherem as ideias e as considerarem no momento de

novas definições/ajustes estratégicos;

c) Recursos: o fluxo de informação se mostra efetivo e sem barreiras de cargos,

contribuindo para a transferência e integração de ações;

d) Equipe Autodirigida: a política de recursos humanos contempla a ambientação

dos candidatos a gestão participativa desde a sua seleção, quando participam de uma

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entrevista diferenciada, da qual participam profissionais de setores afins, que podem

aprovar ou desaprovar tal candidato. O desenvolvimento dos indivíduos dentro da

organização deverá ser buscado individualmente, sendo apoiado e incentivado pela

organização que as pessoas estejam sempre buscando aprender mais;

e) Retorno: é inerente ao indivíduo buscar reconhecimento pela sua dedicação. Na

Semco, as pessoas precisam trabalhar juntas para que todos ganhem e, mais do que a

participação nos lucros e resultados, se percebe como recompensa também a liderança

de mercado; a inovação, através da possibilidade de fazer a diferença na vida de

muitas pessoas por meio do desenvolvimento de equipamentos e soluções efetivas; a

possibilidade de aprender com os colegas e estes ultrapassarem as fronteiras da

empresa, oportunizando laços de amizade e companheirismo.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Academia e organizações continuam representando universos distintos, e pouco

compartilham experiências e conhecimentos. Embora não existam soluções e processos

prontos à venda em pacotes fechados, ou teorias definitivas, a partilha de informações entre

estes mundos diversos pode promover, no mínimo, novas perspectivas para os modelos de

gestão.

Buscando aliar teoria e prática, a pesquisa teve como objetivo geral analisar as

dimensões de um modelo de gestão brasileiro com base no caso da Semco, e como objetivos

específicos: i) identificar os componentes da arquitetura organizacional que contribuem para a

gestão participativa; ii) identificar as dimensões da gestão participativa e a importância de

cada uma delas no processo de desenvolvimento do modelo de gestão; e iii) propor um

modelo de análise de gestão participativa para empresas brasileiras.

Ao identificar os componentes da arquitetura organizacional, se entende a importância

do alinhamento entre os mesmos, para uma organização se manter competitiva. Ao considerar

o ambiente interno e externo à empresa, cabe à arquitetura o alicerce para que estratégia,

estrutura, processos, pessoas e recompensa sejam sistematizadas e reconfiguradas quando

necessário.

Ao verificar as dimensões da gestão participativa, constata-se que todas são análogas

em importância e relevância. No entanto, a estratégia se mostra precedente na sistematização,

dado que é responsável por identificar o contexto e os momentos de necessidade de

reconfiguração. O que se percebe é que para uma organização se manter competitiva, o

alinhamento dos objetivos é fundamental, e demanda compreensão de todas as pessoas

envolvidas, independente do cargo que ocupam, pois suas visões e opiniões podem auxiliar

nas mudanças estratégicas que sustentarão as vantagens competitivas.

Com base nestas considerações, o case pesquisado se mostrou como referência de

sucesso a ser ponderado. Ao assumir a Semco nos anos 80, Ricardo Semler precisou

reinventar a organização para que ela se mantivesse sustentável. Para tanto, foi preciso que

buscasse novas teorias e as testasse na sua organização, dando andamento àquilo que se

mostrasse viável e deixando de lado o que não fosse aplicável para a sua realidade. Assim,

surge o modelo de gestão participativa reconhecido nacional e internacionalmente, no qual foi

possível identificar os componentes da arquitetura organizacional, bem como as dimensões e

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sua importância na eficiência do modelo participativo, sendo possível propor um modelo de

gestão com base na estratégia, para posterior configuração das demais dimensões.

Após 30 anos vivenciando o modelo participativo, a Semco reporta parte de seu

sucesso à capacidade de readaptação e reconfiguração sempre que o mercado assim

condicionou.

Evidencia-se, igualmente que, neste período de tempo, houve uma considerável

evolução tecnológica nos processos produtivos e, mesmo assim, os indivíduos se mostram tão

ou mais importantes, pois cabe a eles aliar ciência, técnica e conhecimento na busca de

estratégias que ofereçam ou mantenham as vantagens competitivas das organizações.

Pesquisar mais profundamente sobre o modelo de gestão participativa oportuniza

constatar que as pessoas entendem e respondem a priorização do ser humano por parte das

empresas. A possibilidade de desenvolver novas habilidades como subsídio para a tomada de

decisão ou permissão de experimentar, sem haver uma cobrança exagerada quando acontecem

erros, desde que se aprenda com estes, acaba por empoderá-las.

A promoção da autonomia incentivada pelo modelo de gestão participativa, a

transparência dos processos e metas, a possibilidade de recompensas, a consciência de que

revisão e reformulação fazem parte da rotina, se refletem em ações individuais mais maduras,

que tendem a gerar realização pessoal, uma vez que o indivíduo passa a ser protagonista de

suas escolhas.

Apesar das decisões compartilhadas demandarem inicialmente mais tempo e

investimento, os resultados descrevem o quanto a gestão participativa pode agilizar as

tomadas de decisão quando o processo está maduro, quando as pessoas já internalizaram a

cultura e entenderam a importância da sua autonomia e responsabilidade para o atingimento

dos objetivos organizacionais.

Em contrapartida, a pesquisa permite inferir que o modelo de gestão participativa,

quando factual, oportuniza que a direção tenha como foco os resultados financeiros, ficando

atenta às possibilidades de aquisições ou investimento em outros segmentos, cujo resultado

seja economicamente positivo. A gestão interna da organização é executada pelos

funcionários que sentem-se comprometidos e responsáveis pelo comando dos negócios,

assumindo as questões internas como a gestão das pessoas, a revisão de processos, o

incremento de recursos e realocação de pessoas, de maneira a manter a organização

competitiva e sustentável.

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Para transformar organizações não existe uma fórmula, mas sabe-se que o ponto de

partida de qualquer mudança ou adaptação do modelo de gestão, deve advir dos gestores. A

partir deles se dará a disseminação do processo. A implementação da gestão participativa, em

especial, deve observar a definição de estratégias que servirão como eixo de sustentação para

as demais dimensões estrutura, processos, pessoas e recompensa. E para esta sistematização

obter sucesso, dependerá de uma comunicação eficiente e transparente, além da convicção e

da difusão da confiança mútua como valor organizacional, além de uma dose de empirismo

que, como experienciado por Ricardo Semler e seu grupo da Semco, é necessário para testar a

viabilidade das ideias.

Com isso, a partir do Modelo Estrela de Galbraith (1999) e da análise do case único de

gestão participativa no Brasil, o estudo propõe um modelo de gestão participativa para

empresas brasileiras, que alinha as dimensões estrutura, processos, pessoas e recompensa de

forma que mantenham a relação de interdependência, mas de modo que estejam norteadas

pela estratégia, entendida como preconizadora dos objetivos organizacionais. A

reconfiguração das dimensões com base no contexto competitivo e dinâmico do mercado é

fator chave para sustentar as vantagens competitivas e o ambiente participativo.

Um ambiente que alia a autorrealização dos indivíduos, o dinamismo, a liberdade e a

confiança recíproca frente à busca de objetivos claros e transparentes da organização, induz

ao aumento da criatividade, considerada como necessidade estratégica, visto que é primordial

se reinventar num ambiente em que produtos e serviços são copiados muito rapidamente.

Ponderando que inovar consiste em implementar as ideias que permitem o atingimento de

vantagens econômicas, a gestão participativa acaba por estimular também o

empreendedorismo, característica imprescindível quando se fala em desenvolvimento e

manutenção organizacional, de forma a perpetuar a empresa nacional, mesmo num cenário de

crescente competitividade.

5.1 Limitações

O estudo encontrou limitações relevantes quanto ao acesso aos entrevistados:

a) A Semco estava num processo de mudança de endereço, demandando ajustes

em todos os setores, o que somado a um momento de instabilidade econômica e a uma

estrutura enxuta, prejudicou bastante o acesso aos gestores da organização;

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b) Não foi possível fazer um contraponto, entrevistando funcionários de nível

operacional, a fim de validar as informações relatadas pelos gestores, embora este

público não figurasse entre os objetivos do estudo.

5.2 Contribuições Acadêmicas e Mercadológicas

Frente a vantagens não sustentáveis por um longo período, cabe à academia encontrar

particularidades que permitam otimizar a implantação de um modelo de negócio baseado na

participação. Ainda, se faz importante esclarecer que flexibilizar não é o mesmo que deixar

solto: para uma organização propiciar a flexibilização de suas estratégias e processos, terá que

ter objetivos claros; agir para alcançar seus planos; contar com pessoas responsáveis; estar

disposta a rever, reavaliar e mudar sempre que necessário.

Além disso, as pessoas estão cada vez mais conscientes do seu papel fundamental para

o sucesso das organizações, se envolvendo mais profundamente nas práticas diárias. Assim,

através de cases de relevância, cabe sensibilizá-las para o fato de que, num modelo

participativo, seu desempenho está diretamente ligado aos seus resultados individuais, ou seja,

quanto melhor for seu desempenho, maiores as chances de que seus ganhos/recompensas

sejam igualmente maiores.

No âmbito mercadológico, faz-se necessário sublinhar que, mesmo num modelo de

gestão participativa, problemas de inadaptação, conflitos e pressão se fazem presentes e

afetam a gestão das pessoas, visto que os indivíduos são particularmente diferentes e a medida

de sua satisfação está diretamente ligada às experiências anteriores e à cultura que o cerca.

Portanto, o trabalho do departamento de recursos humanos se torna ainda mais estratégico e

imprescindível.

Em contrapartida, embora existam problemas semelhantes aos encontrados num

modelo de gestão tradicional, no modelo participativo a arquitetura organizacional estimula a

cultura do feedback e da troca de ideias, reduzindo a incidência de processos judiciais e

aumentando a responsabilização individual pelos próprios resultados enquanto profissional.

5.3 Sugestões para Pesquisas Futuras

Para além da tecnologia e dos produtos, a inovação pode ser efetivada na estrutura, nos

modelos de gestão, nas normas e processos da organização. Esta forma de inovação é

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denominada como organizativa, e possui a vantagem de ser difícil de ser copiada,

promovendo vantagem competitiva sustentável. Para tanto, o fator humano tem grande

relevância na interação dos fatores de mudança (MONSALE; NARANJO, 2012).

Sendo assim, sabendo que o modelo de gestão participativa demanda tempo para

implantação, e tomando por base as características de imediatismo das gerações Y e C, e os

modelos startups de negócios, como estimular o comprometimento de longo prazo na busca

de objetivos e resultados?

Com o acesso facilitado à tecnologia e à informação, o discurso de participação ou a

distribuição irrelevante de poder não convence e não promove a competitividade

organizacional. Com base nos resultados desta pesquisa, que identificam na gestão

participativa um modelo que pode representar vantagem competitiva num ambiente de

dinamismo e competitividade, como utilizam o modelo de gestão participativa?

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ANEXO I

PROTOCOLO DE PESQUISA

Pesquisadora: Fabiana Melara

Este protocolo de pesquisa servirá como elemento de orientação para o pesquisador e

de comunicação com a empresa a ser estudada. Nele estão descritos os procedimentos a serem

adotados durante a pesquisa de campo, os quais podem sofrer alterações durante o processo de

pesquisa.

Visão geral do estudo

O principal objetivo desta pesquisa é identificar as dimensões de um modelo de

gestão, com suporte naquele utilizado pela Semco, a fim de se basear nas dimensões

relevantes para a proposição de um modelo de gestão brasileiro.

No entanto, cabe salientar que a ideia não é propor um modelo estático, mas sim

identificar as dimensões mais importantes para que a organização tenha condições de revisar

constantemente suas estratégias, buscando antecipar-se a prováveis mudanças num curto ou

médio espaço de tempo. Nesta perspectiva, a gestão participativa é um modelo de interesse,

uma vez que procura aliar as expectativas de reconhecimento atualmente perseguidas pelos

indivíduos, com a velocidade que as decisões precisam ser tomadas, e as mudanças

implementadas, com o propósito da organização se manter sustentável.

Objetivo geral

Analisar as dimensões de um modelo de gestão brasileiro com base no caso da Semco.

Objetivos específicos

a) Identificar as dimensões da gestão participativa e a importância de cada uma delas

no processo de desenvolvimento do modelo de gestão;

b) Identificar os componentes da arquitetura organizacional que contribuem para a

gestão participativa;

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c) Propor um modelo de gestão participativa para empresas brasileiras.

Conduta ética

A partir da autorização da empresa para a realização da pesquisa, foram destacados os

seguintes pontos que reforçam a conduta ética a ser adotada pelo pesquisador para a

realização da pesquisa de campo:

a) Ética no tratamento das informações da empresa e das pessoas que participaram da

pesquisa;

b) Sigilo quanto às informações da empresa, liberadas somente para a realização desta

pesquisa;

c) Observância e adequação do pesquisador à cultura e às políticas da empresa;

d) Divulgação da pesquisa, somente após a leitura e liberação da mesma pela

empresa;

e) A empresa se reserva ao direito de solicitar alguma adequação no conteúdo da

pesquisa que seja inadequado aos seus princípios.

Técnica de coleta de dados

No presente estudo, propõe-se utilizar o estudo de caso como método para a pesquisa

qualitativa exploratória. A coleta de dados será realizada por meio das seguintes técnicas:

a) Entrevistas semiestruturadas;

b) Observação direta;

c) Análise de dados secundários (documentos, vídeos, outras pesquisas).

Questionário Semiestruturado

Ao iniciar cada entrevista, a pesquisadora apesentar-se-á e explicará brevemente o

propósito da pesquisa. Na sequência, serão solicitadas informações a respeito do perfil de

cada entrevistado, iniciando-se então a entrevista propriamente dita. São apresentadas a seguir

as questões que compõem o questionário-guia:

1. Quais as vantagens do modelo de gestão participativa utilizado pela Semco?

2. Quais as desvantagens do modelo de gestão participativa utilizado pela Semco?

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3. Conhece outras empresas que também utilizam o modelo participativo? Tem informações

sobre o nível de participação dos colaboradores (pseudo, parcial ou plena participação)?

Por desenho ou arquitetura organizacional entendemos a conexão dos vários sistemas,

estruturas, processos e estratégias que constituem uma empresa. Assim, contempla a estrutura

formal, as práticas de trabalho, a natureza da organização informal, os tipos de operação e os

processos de seleção, integração e desenvolvimento de pessoal.

4. Na sua opinião, o desenho organizacional da Semco demanda alguma alteração? Quais

mudanças deveriam ser realizadas?

5. Como são definidos os objetivos e estratégias da Semco? Existe uma periodicidade

prevista? / A cada quanto tempo são revistos? Quem participa?

6. Existe uma periodicidade definida para a revisão dos processos? Como se dá a reavaliação

dos mesmos?

7. Quais são os valores da Semco? Como se dá a definição destes valores? Quem participa

desta definição?

8. Qual o procedimento utilizado para desenvolver o compartilhamento de poder nas tomadas

de decisão?

9. Se sabe que uma maior quantidade de informações gerou a necessidade de aprofundar o

conhecimento. Neste sentido, como você vê os canais de comunicação utilizados pela Semco?

Como se dá a disseminação do conhecimento?

10. Uma das características do “jeito de ser” da Semco é encarar o trabalho como fonte de

autorrealização. Como acontece o processo de motivação das pessoas, já que precisam aliar

realização com cumprimento de metas?

11. Considera adequado conceituar que a gestão participativa estimula os indivíduos a

desenvolverem suas habilidades e competências?

Entendemos que os valores dos indivíduos são de difícil modificação. Considerando

que o dinamismo do mercado exige revisão das funções dentro das empresas, com o

desenvolvimento de novas habilidades, a personalidade do indivíduo passa a ter grande

importância. Neste sentido, os testes de personalidade, as simulações de trabalho e as

entrevistas auxiliam a organização a encontrar as pessoas mais adequadas.

12. Na Semco, quais são os principais aspectos da personalidade analisados durante o

recrutamento e seleção?

13. Dos sistemas de remuneração e recompensa adotados atualmente, quais os que apresentam

melhor resultado na motivação dos colaboradores?

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Para não ficar para trás, muitas empresas estão dedicando uma grande parcela de

tempo e energia na gestão da mudança. Esta tarefa pode ser realizada mais facilmente se

houver uma cultura de mudança na organização. Se a necessidade de mudança é constante,

cabe projetar as organizações para que sejam constante e rapidamente mutáveis ou

reconfiguráveis.

14. Quais são os fatores que podem favorecer o processo de mudança, para uma empresa

assumir o desafio e os riscos de implementar um novo modelo de gestão?

15. Como se sente atuando na Semco? Lembra de alguma situação em que este modelo

causou mal-estar ou problema?

16. Quais suas chances de voltar a trabalhar numa organização com gestão tradicional ou

burocrática?

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ANEXO II

DIÁRIO DE CAMPO – Entrevistas Semco

Pesquisadora: Fabiana Melara

Data: 19 e 20 de janeiro de 2016

Cenário específico: Escritório Semco

Relação/descrição dos participantes: duas mulheres e três homens, com responsabilidade de

gestão em seus respectivos cargos. Todos estavam vestidos confortavelmente, e pareceram

bastante disponíveis e tranquilos para a conversa, que aconteceu em uma pequena sala de

reuniões.

No dia 19/01, pela manhã, fui recepcionada com muita gentileza, diretamente pela gestora de

recursos humanos, dado que a Semco não tem secretária.

Fui encaminhada para uma pequena sala de reuniões, espaço definido para a realização das

entrevistas. Os gestores foram convidados individualmente para se fazerem presentes e

responderem ao questionário semi-estruturado, teor pelo qual todos manifestaram bastante

interesse.

As entrevistas transcorreram de forma tranquila, sem que houvesse pressão pelo tempo ou que

se percebesse incômodo.

Nas falas era possível constatar emoção ao falar da Semco, dos amigos que todos têm lá, do

tempo de trabalho e crescimento pessoal.

Dois dos entrevistados, após desligado o gravador, continuaram dispostos a conversar.

No dia 20/01, na parte da tarde, cheguei antes do horário, prevendo mais trânsito. Fui

imediatamente recepcionada na sala de reuniões, de onde podia observar um grupo já

trabalhando, no período que deveria ser o horário de almoço.

Mobília simples/clean, mesas bem organizadas e com itens de personalização.

Pessoas vestidas com roupas pouco formais, parecendo estar à vontade. Quadros com valores,

compromisso, propósito e missão ficam expostos nas paredes. Sala de reuniões envidraçada e

equipada para teleconferências, com monitor posicionado para poder ser observado da sala de

trabalho. Não existe preocupação com o isolamento do som.

As pessoas conversam entre si, porém o ambiente não tem poluição sonora, me pareceu bem

tranquilo.

Sala de trabalho sem divisórias e com bastante entrada de luz externa, mas com cortinas

fechadas no momento da visita, provavelmente devido ao reflexo nos monitores... boa

iluminação, ar condicionado central.

Não contempla sala de recepção, apenas antessala sem cadeiras. Ausência de secretária.

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RH possui sala individual, sem isolamento acústico, com vidros na parte da frente

Em ambos os endereços, existe um espaço para café, água e lanches, favorecendo a troca de

ideias, e delimitando a mesa apenas para trabalho e água.

A entrevista aconteceu de forma tranquila, sendo possível reconhecer muita emoção e

propriedade nas falas da gestora que entrou na Semco para implementar o processo da gestão

participativa. Embora deva ter respondido a muitos questionários e falado bastante sobre a

gestão participativa em outras oportunidades, se mostrou muito receptiva e se colocou a

disposição para dúvidas ou outras informações.

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ANEXO III

DIÁRIO DE CAMPO – Visita guiada à Escola Lumiar

Pesquisadora: Fabiana Melara

Data: 03 de março de 2016

Cenário específico: Escola Lumiar

Relação dos participantes: gestora da escola, demais visitantes (em torno de 20 pessoas)

Dinâmica: foi permitido a cada visitante que fizesse uma pergunta, e de posse da relação dos

questionamentos, foi possível coletar as informações abaixo:

. A escola tem 2 anos neste endereço / 13 anos existência como escola e um pouco mais como

projeto (+- 15 anos)

. 115 alunos

. Fachada discreta

. Vizinha de prédios residenciais mais antigos (aparentemente)

. Antônio (assim chamado pelas crianças), responsável pela portaria parece ter algum tipo de

deficiência

. Móveis e estrutura simples e colorida

. Crianças alegres/arteiras e professores correndo para todo lado!

. 4 eixos principais: trabalhar com a multiretariedade; por meio de projetos (não existe a

figura do professor); entendimento de currículo; e por último a gestão participativa

. Iniciativa Ricardo - autonomia, horizontalidade do trabalho, construção comunitária... frente

a um modelo escolar incompatível com a lógica atual...

. Fundação + grupo debate = escola

. Quem está aqui é estudante

. Ciclos: espaços de referência, dedicados a um grupo

. Cada grupo tem um tutor. Este atua fazendo a gestão do grupo, com foco gerir interesses e

necessidades, considerando desenvolvimento e aprendizado: o projeto vai emergir do grupo,

que compartilha de um objetivo comum, e trabalhar para realizar concretamente em

determinado tempo

. O projeto mobiliza a habilidade gestora dos estudantes, com foco coletivo

. Oficinas, também surgem das necessidades e interesses, sem ter de gerar resultados

. Forte potencial de engajamento dos estudantes!!!

. Mestre: auxilia o tutor, com qualquer formação, atuando em qualquer área... banco de

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mestres (apaixonados por determinado tema, ou com algumas habilidades para compartilhar)

. Leitura de mundo: inserir no dia a dia a relação de conteúdos que estão na mídia - ler em

conjunto com a criança... gerando reflexão...

. Assembleia: todos participam!!

. Fundamento Lumiar: o resultado de enfrentar o desafio é infinitamente maior do que manter

as "séries" tradicionais - dinâmica próxima do dia a dia (nem sempre os mais velhos sabem

mais!; para aprender, não preciso estar com iguais!)

. Espaço físico também em constante mudança, adaptação

. Gestão participativa: construção da autonomia; gestão de tempo e recursos - planejamento

coletivo das atividades do dia ou semana; crianças vão conquistando mobilidade (não

precisam andar em fila), decidem no início do dia, como vai ser a vivência do dia (salvo

detalhes como lanche, por ex), possibilidade de liberdade marcada, de acordo com o que foi

combinado; construir a possibilidade da criança poder tomar uma decisão...

. Equipe trabalha num modelo mais horizontal... comprometimento, responsabilidade...

.Pais não deliberam sobre dinâmica da escola num primeiro momento, mas existe escuta,

consulta

. Decisões são tomadas nas assembleias e nas rodas (encontros entre orientadores e alunos)

. Currículo em mosaico: tutor identifica dentre projetos, oficinas e módulos o que se encaixa

nas orientações do MEC (currículo formal); porém não de forma linear... a base são

habilidades e competências... a maneira de trabalhar está em aberto nas regras/normas

educacionais

. Mosaico digital: está em desenvolvimento, para mapear o estudante . Avaliação: não se

resume a um momento... diariamente, o estudante é levado a avaliar o que aprendeu (diário de

bordo de cada projeto)

. Retorno das famílias: segurança da criança em outros ambientes se torna marcante; currículo

não linear não se configurou como problema, ele já sabe aprender a aprender e vai em busca!