MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf
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ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁCURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM VIGILÂNCIA SANITÁRIA
FRANCISCA FABIANA DOS SANTOS
VIGILÂNCIA SANITÁRIA: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA NO
MANUSEIO DE MUNIÇÕES E ARMA DE FOGO
FORTALEZA
2006
FRANCISCA FABIANA DOS SANTOS
VIGILÂNCIA SANITÁRIA: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA NO
MANUSEIO DE MUNIÇÕES E ARMA DE FOGO
Monografia submetida à Escola de Saúde Pública
do Ceará, como parte dos requisitos para a
obtenção do título de Especialista em Vigilância
Sanitária.
Orientador:Ms. Adail Afrânio Marcelino do Nascimento
FORTALEZA2006
FRANCISCA FABIANA DOS SANTOS
VIGILÂNCIA SANITÁRIA: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA NO
MANUSEIO DE MUNIÇÕES E ARMA DE FOGO
Especialização em Vigilância Sanitária
Escola de Saúde Publica do Ceará
Aprovada em: 07 /07/2006
______________________________________________
Adail Afrânio Marcelino do Nascimento
Mestre
_______________________________________________
Alice Maria Correia Pequeno Marinho
Mestre
____________________________________________
Gilson Holanda Almeida
Mestre
Aos meus pais, Lourdes e Benedito, eternos
incentivadores da concretização dos meus sonhos.
AGRADECIMENTOS
À Deus, fonte de luz espiritual;
Ao orientador Adail Afrânio Marcelino do Nascimento pela amizade e cooperação
recebida;
Aos policiais que contribuíram na construção deste saber;
À Secretária Municipal de Saúde de Jaguaretama que me proporcionou a inserção no
contagiante mundo da Vigilância Sanitária;
À Escola de Saúde Pública, ao seu corpo docente e aos demais funcionários que me
acolheram durante esta jornada;
Às colegas Márcia Siebra, Keytianne, Marcia Santiago, pela força e carinho que me
dispensaram nos momentos difíceis deste curso;
Finalmente, a todos que compartilharam de minha jornada, acreditando que alcançaria
este objetivo, conseqüentemente, este momento significativo.
RESUMO
O presente trabalho consta de um estudo exploratório-descritivo com abordagem qualitativa, que visa analisar as medidas de biossegurança na manipulação de munições e arma de fogo na prática do tiro esportivo, sendo esta pesquisa realizada em uma unidade de referência na Segurança Pública Nacional no Município de Fortaleza-CE. Os sujeitos do estudo foram 11 (onze) policiais federais que manipulavam munições e praticavam o tiro esportivo em outubro de 2005. Os dados foram analisados, discutidos e agrupados em categorias temáticas, de acordo com as falas dos sujeitos. Os resultados mostram que os ambientes da prática do tiro esportivo e das recargas de munições apresentam fatores de riscos à saúde, tais como: os tiros acidentais, exposição prolongada ao sol, ruído elevado, lesões oculares, exposição aos gases tóxicos provenientes da pólvora, da espoleta e dos resíduos de chumbo, apontando os Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) como extremamente necessários para prevenção e/ou eliminação dos riscos e acidentes neste esporte. Salientando-se, ainda, a necessidade de desenvolver um processo de orientação na manipulação das armas e munições e de sensibilização dos riscos à saúde e um estudo para compreender a realidade desta prática esportiva desmistificando este campo de atuação para profissionais de Vigilância Sanitária na prevenção e promoção de saúde dos policiais.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 7
2 OBJETIVOS .......................................................................................................... 92.1 Objetivo Geral .................................................................................................... 92.2 Objetivos Específicos ......................................................................................... 93 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ....................................................................... 103.1 Conceituando a Saúde do Trabalhador............................................................ 103.2 Contextualizando a Saúde do Trabalhador ..................................................... 103.3 Riscos em que Estão Submetidos os Policiais que Manuseiam
Munição e Arma de Fogo ................................................................................ 123.4 Normas Técnicas para Estocagem de Armas de Fogo e Munições, de
Acordo com o Ministério de Estado do Exército ............................................. 13
3.5 Medidas de Segurança na Manipulação de Armas de Fogo e Munição ........ 143.6 Doenças que Podem Ocorrer em Policiais que Trabalham com Munição e
Arma de Fogo ...................................................................................................... 153.6.1 Intoxicação pelo chumbo ................................................................................ 153.6.2 Intoxicação pelo dióxido de enxofre .............................................................. 163.7 Equipamentos de Proteção Individual .............................................................. 173.8 Qualidade de Vida do Trabalhador .................................................................. 194 RECURSOS METODOLÓGICOS ...................................................................... 205 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS ............................................ 225.1 Descrição do Ambiente Físico da Recarga e da Prática do Tiro .................... 225.2 Fatores de Riscos a que Estão Expostos os Policiais que Praticam o Tiro .... 245.2.1 Risco de um acidente ....................................................................................... 245.2.2 Risco químico ................................................................................................... 255.2.3 Risco de isolação .............................................................................................. 275.3 Uso de Equipamentos Individuais ..................................................................... 285.4 Identificação dos Riscos à Saúde ....................................................................... 296 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 32REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 34ANEXOS ................................................................................................................... 36
1 INTRODUÇÃO
Ao iniciar este estudo, é de suma importância destacar a definição de Saúde do
Trabalhador como um campo do saber que visa compreender as relações entre o trabalho e o
processo saúde/doença, no entanto, considera-se que a concepção saúde/doença é processo
dinâmico, estreitamente articulado com os modos de desenvolvimento produtivo da humanidade
em determinado momento histórico. Partindo dessa premissa, compreende-se que a forma de
inserção dos homens nos espaços de trabalho, contribui decisivamente para formas específicas de
adoecer e morrer(MENDES: 1995).
Neste cenário, a Vigilância em Saúde do Trabalhador compreende uma atuação
contínua e sistemática, compondo-se por um conjunto de práticas sanitárias, articuladas supra-
setorialmente, cuja especificidade está centrada na relação da saúde com o ambiente e os
processos de trabalho e naquela com a assistência, calcada com os princípios da vigilância em
saúde, para a melhoria das condições de vida e saúde da população. (BRASIL, 2001).
As investigações sobre as condições do processo saúde/doença, no tocante aos
policiais, têm sido escassas, necessitando de maiores estudos no campo da saúde ocupacional,
para identificar os fatores de risco e os meios para desenvolverem melhores condições de
trabalho, priorizando a qualidade de vida da referida categoria.
Esses profissionais constituem um grupo que se destaca pelas peculiaridades das
atividades que desenvolve, exercendo seu trabalho nas mais diferentes condições, situações,
horários e ambientes.
Corroborando com esse raciocínio, Barboza (2003) relata que as intervenções na
saúde do trabalhador não se pautam apenas na ausência de doenças ocupacionais e acidentes de
trabalho, mas também, na transformação dos processos de trabalho em seus diversos aspectos, na
direção de buscar não apenas a eliminação de riscos pontuais, que podem ocasionar agravos à
saúde, mas processo produtivo que seja potencializador de saúde e de vida.
Dentre os diversos fatores de riscos dos quais são submetidos os policiais, estão: o
estresse, os riscos de acidente físico com armas, o risco auditivo. Mas, é o contato direto com
armas e munições e, conseqüentemente, com as substâncias das recargas de tais armamentos,
como: chumbo, pólvora e espoleta, que chama a atenção, pelo seu reconhecido efeito nocivo à
saúde.
7
Para Mendes (1995) a sobrecarga de chumbo no organismo provoca alterações
gastrointestinais, renais, no sistema nervoso central, periférico, ósseo, hematológico e
cardiovascular.
Como profissional de saúde e integrante de uma Instituição da Polícia Federal, vimos
que as atividades laborais exercidas pelos policiais não estão de acordo com a norma técnica
estabelecida, embora possamos perceber que tais atividades devem obedecer medidas de
biossegurança.
A preocupação com essa realidade ganhou mais argumento quando da realização do
Curso de Especialização em Vigilância Sanitária, ocasião em que se tive a oportunidade de
estudar sobre assuntos ligados às medidas de biossegurança no processo de trabalho.
É mister que os profissionais, principalmente os policiais que manipulam as armas de
fogo, aprofundem seus conhecimentos acerca das medidas de biossegurança, pois estas
direcionam para uma prática segura e com qualidade no ambiente de trabalho, baseada nos
princípios da Vigilância em Saúde.
Refletindo-se na perspectiva da Vigilância Sanitária, que propõe, entre outras coisas,
integrar a responsabilidade pela eliminação, diminuição e prevenção dos riscos à saúde e de
intervenção sobre os problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e
circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde, instiga apreender como os
policiais vêm desenvolvendo essa atividade em sua prática e como utilizam as medidas de
biossegurança no âmbito do trabalho (BRASIL,2001).
Esses questionamentos têm origem na reflexão e observação do processo de trabalho
dos policiais, levantando os questionamentos: como é o ambiente físico em que ocorre a
manipulação das armas de fogo, munições e suas recargas? Quais os fatores de riscos que estão
expostos? Como utilizavam os equipamentos de proteção individual quando executavam tal
atividade?
Analisar essa atividade dos referidos profissionais, certamente constituiu uma
contribuição importante para repensarmos uma forma de melhor utilização das medidas de
biossegurança, em busca de uma assistência de qualidade na saúde do trabalhador. Neste sentido,
tornou-se relevante analisar as condições de biossegurança dos policiais que manipulam armas,
munições e fazem as recargas para a prática do tiro, como forma de identificar fatores de risco
que estão submetidos.
8
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
• Analisar as condições de biossegurança dos policiais federais que manipulam armas de
fogo, munições e suas recargas na ótica da Vigilância Sanitária na cidade de
Fortaleza/CE em 2006.
2.2 Objetivos Específicos
• Descrever o ambiente físico em que ocorre a manipulação das armas de fogo, munições e
suas recargas;
• Identificar os fatores de riscos que estão expostos os policiais;
• Constatar a utilização de Equipamentos de Proteção Individual pelos policiais que
executam a manipulação e recargas de arma de fogo.
9
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 Conceituando a Saúde do Trabalhador
As conquistas na Saúde do Trabalhador acompanham todo processo de ampliação do
conceito saúde/doença e a evolução do processo produtivo, firmando-se como uma área de
atuação de Saúde Pública com problemas complexos e diversos saberes.
A Saúde do Trabalhador é um dos campos da Saúde Coletiva que tem como
pressuposto a necessidade de que as ações de saúde sejam realizadas em sua integralidade. Para
Duncan et al. (1996, p. 302) ressalta que:
Todo profissional nesta área pode executar ações curativas (tratando os trabalhadores já acometidos por doenças) preventivas (propondo medidas ambientais corretivas, modificações no processo produtivo e no ritmo de trabalho, por exemplo) e de promoção de saúde (participando na capacitação e educação dos trabalhadores, seus representantes e os empresários, socializando as informações, informando sobre os riscos ocupacionais e seus efeitos, promovendo ações coletivas).
Portanto, podemos considerar que para levar de fato as ações de vigilância em saúde
do trabalhador em conjunto, incorporando princípios como: a interdisciplinaridade, a
pluriinstitucionalidade, o controle social, balizada na configuração do Sistema Único de Saúde
(SUS), tendo como objetivo a melhoria da qualidade de vida no trabalho.
Assim, as políticas na saúde do trabalhador devem ser voltadas para os princípios do
SUS, em consonância com os Sistemas Nacionais de Vigilâncias Sanitárias e de Vigilância
Epidemiológica, articuladas com a área assistencial, portanto, embasadas no trabalho, no
ambiente e na saúde, promovendo melhorias da qualidade de vida e conciliando os diversos
conflitos econômicos, sociais e políticos.
3.2 Contextualizando a Saúde do Trabalhador
Compreender a saúde do trabalhador e as relações saúde/doença/trabalho é de grande
importância para traçar o perfil ocupacional e adotar políticas de defesa da qualidade de vida
deste grupo produtivo da sociedade.
1
Muitos pesquisadores têm estudado sobre a área ocupacional, identificando os
prejuízos à saúde física e mental dos trabalhadores e situações em que o trabalho deixa de
significar satisfação, ganhos materiais e sociais úteis, para tornar-se sofrimento, exploração,
doença e morte. (BARBOZA; SOLER, 2003).
Esta identificação dos limites entre atividades sadias e a evolução para o agravo à
saúde, torna-se um grande campo de atuação para diversos profissionais que se sensibilizam com
a relação do homem no seu setor produtivo, observando-o não apenas como um ser capaz de
produzir riquezas, mas um ser holístico influenciado pelas condições de trabalho, de saúde e
estilo de vida.
Para Fadel de Vasconcelos (1994) o aperfeiçoamento das intervenções em saúde do
trabalhador pressupõe a adoção de abordagens que operacionalizem fiscalizações dos ambientes
de trabalho, sob a forma de mapeamento de risco, o estabelecimento de fluxo de informações e o
delineamento dos perfis de morbimortalidade dos trabalhadores.
Por outro lado, este delineamento do perfil de morbimortalidade no Brasil é de difícil
demarcação, devido ao baixo número de notificações dos agravos à saúde do trabalhador, que
muitas vezes, quando notificados, não fazem elo com a relação laborativa.
Concordamos com o pensamento de Fadel de Vasconcelos (1997) quando se trata da
dimensão dos agravos à saúde do trabalhador no Brasil, classificando em duas características
fundamentais: a impossibilidade do dimensionamento real, devido à subnotificação dos agravos e
à inviabilidade desses agravos e inspeções sanitárias preventivas, posto que o instrumento oficial
segue um fluxo apenas ao pagamento de benefícios previdenciários e não chega aos órgãos com
atribuição de investigar os fatores determinantes do risco de acidentes e doenças ocupacionais.
Neste sentido, a visão assistencialista em beneficiar o trabalhador com pagamento
pelo agravo à saúde, não traça perfil, não identifica causas, não reduz o número de acidentes, não
garante o restabelecimento do trabalhador como força produtiva e marginaliza-o como inválido,
trazendo transtornos para o indivíduo, para a família e para a sociedade.
Então, as questões que envolvem a saúde do trabalhador e a necessidade de mapear os
riscos a que estão submetidos, devem ser discutidas, definindo medidas preventivas para
promover boas condições de trabalho e saúde.
1
Ainda para o autor Fadel de Vasconcelos (1997), deve-se obter um desempenho
espacialmente situado e identificador de riscos, servindo ao planejamento da intervenção e da
organização dos serviços de saúde.
Segundo o Ministério da Saúde, a Vigilância em Saúde do Trabalhador avalia os
fatores determinantes de agravos à saúde dos trabalhadores, gerados pelo ambiente e condições
de trabalho ou pela organização de trabalho (como é planejado, estruturado e executado). O
resultado da exposição a este fato pode levar a acidentes de trabalho ou adoecimento (BRASIL,
2001).
Assim, é objetivo da Vigilância à Saúde do Trabalhador assegurar um ambiente e
condições de trabalho saudáveis, além de garantir a participação de trabalhadores e fornecer
subsídios para sua organização, por meio de sua inserção ativa no processo de produção, para
transformar as relações entre condições de trabalho e saúde.
3.3 Riscos em que Estão Submetidos os Policiais que Manuseiam Munição e Arma de Fogo
Os trabalhadores mesmo submetidos a riscos ocupacionais, sofrem influência dos
dados epidemiológicos da população geral, podendo ser agravados ou ter maior incidência de
acordo com a função laborativa que desempenhem. Os trabalhadores compartilham os perfis de
adoecimento e morte da população em geral, em função de sua idade, gênero, grupo social ou
inserção em um grupo específico de risco.
Para o Ministério da Saúde, o fator de risco é uma condição ou um conjunto de
circunstâncias que tem o potencial de causar um efeito adverso, que pode ser: morte, lesões,
doenças ou danos à saúde, à propriedade ou ao meio ambiente (BRASIL, 2001).
Além disso, os trabalhadores podem adoecer ou morrer por causas relacionadas ao
trabalho, como conseqüência da profissão que exercem ou exerceram, ou pelas condições
adversas em que seu trabalho é ou foi realizado (BRASIL, 2001).
Para o Ministério da Saúde, a classificação dos fatores de risco para a saúde e
segurança dos trabalhadores, presentes ou relacionados ao trabalho, são cinco grandes grupos,
vejamos abaixo:
1
Físicos: ruído, vibração, radiação, temperaturas extremas, pressão atmosférica anormal;Químicos: agentes e substâncias químicas, sob as formas líquidas, gasosas ou de partículas e poeiras minerais e vegetais, comuns nos processos de trabalho;Biológicos: vírus, bactérias, parasitas, geralmente associados ao trabalho em hospitais, laboratórios e na agricultura e pecuária.Ergonômicos e Psicossociais: decorrem da organização e gestão do trabalho, como, por exemplo: da utilização de equipamentos, máquinas e mobiliários inadequados, levando a posturas e posições incorretas; locais adaptados com más ou ritmo de trabalho excessivo, exigências de produtividade, relações de trabalho autoritárias, falhas no treinamento e supervisão dos trabalhadores, entre outros.Mecânicos e de acidentes: ligados à proteção das máquinas, arranjo físico, ordem e limpeza do ambiente de trabalho, sinalização, rotulagem de produto e outros que podem levar a acidentes do trabalho (BRASIL, 2001, p. 44).
Assim, podemos considerar que os policiais estão submetidos a cinco grupos de riscos
no seu ambiente de trabalho, haja vista, a exposição e manuseio de materiais nocivos à sua saúde
em períodos diários e constantes.
3.4 Normas Técnicas para Estocagem de Armas de Fogo e Munições, de Acordo com o Ministério de Estado do Exército
As normas técnicas a que estão submetidas a estocagem de arma de fogo e munições
são regidas por legislação específica que regulamenta a fiscalização de produtos controlados pelo
Exército, tendo como referência decretos e portarias ministeriais, como o Decreto Nº 55.649/65,
88.113/93, 2.025/83 e 2998/99. Além da Portaria Ministerial Nº1024 de dezembro de 1997, que
aprovou as Normas para Recarga de Munição.
Dentre as liberações referidas nos documentos citados, destacamos algumas
deliberações, tais como:
A tentativa de restringir a autorização da aquisição de produtos bélicos para as forças armadas e auxiliares, policiais civis e atiradores cadastrados em clube de tiro, no intuito de restringir o livre comércio de armas e munições;As munições recarregadas somente poderão ser utilizadas na prática de tiro, pelos atiradores habilitados e nos treinamentos de tiros, pelos sócios e alunos;Para o armazenamento de pólvora e espoleta deve ser realizada prova de posse de área perigosa julgada aceitável, que é uma área suficientemente distante de habitações, estradas e depósitos de explosivos e inflamáveis, com a finalidade de limitar os danos pessoais e materiais, em caso de acidentes;Não guardar armas de fogo junto com munições;Sempre alerta. Não recarregar quando estiver cansado ou sob efeito de medicamentos ou de álcool;Guardar pólvora e espoleta separadamente, mantendo a embalagem original (BRASIL,2005).
1
Essas determinações visam a segurança pessoal do atirador, como das demais
pessoas que tenham proximidades com as armas e munições, buscando restringir a aquisição,
adequar o local de armazenamento e a prevenção de acidentes.
3.5 Medidas de Segurança na Manipulação de Armas de Fogo e Munição
As substâncias tóxicas liberadas no manuseio das munições e das armas, devido aos
resíduos que impregnam esse material, são desconhecidas por muitos, mas é importante lembrar
que podem ser absorvidas pelo organismo humano, acarretando transtornos à saúde.
Para melhor entendimento, adotamos a opinião de Silveira (2003) em relação à
contaminação com o chumbo, quando retrata sobre a fragmentação dos projéteis com o impacto
no alvo, a denotação da espoleta que contém estifilato de chumbo, e quando o cano da arma e a
bala não estão completamente alinhados, liberando partículas de chumbo quando a bala passa
através da arma. Outras fontes de contaminação são o manuseio de grânulos de chumbo, quando
da montagem dos cartuchos e a reciclagem da sucata de chumbo de projéteis já utilizados.
De acordo com a Norma Regulamentadora Nº 19, que trata sobre explosivos, editada
pelo Ministério do Trabalho e do Emprego em consonância com a Consolidação da Legislação
Trabalhista, são enumerados alguns cuidados que devem ser adotados para impedir a entrada
dessas substâncias no organismo, entre elas:
Não comer, nem beber durante as sessões de tiro, sem antes ter lavado as mãos, pois os resíduos de chumbo ficam nos dedos;Nunca pôr bolinhas de chumbo na boca;Não beber nem comer durante a recarga, pois a ingestão de alguns dos elementos químicos existentes nos componentes da recarga podem ser prejudiciais à saúde;A recarga de munições exige muitos cuidados e atenção e só deve ser realizada quando o profissional puder dedicar-se exclusivamente a esta atividade, a fim de evitar negligencias;A essência da recarga está no correto manuseio da pólvora e espoletas, e na observância dos procedimentos existentes nos manuais dos fabricantes de equipamentos/ componentes de recarga;Não se deve fumar, nem deixar fonte de calor ou chama aberta próxima de pólvora e espoletas;Sempre use óculos de proteção, pois pode ocorrer caso que pode haver ricochetes na hora do tiro;Nunca utilize componentes desconhecidos ou duvidosos;Se for limpar as armas com solvente, ter cuidado para não aspirar os seus resíduos;Proteger as mãos quando for limpar substâncias e pólvora que se acumulam no cano das armas (“chumbamento”);
1
Sempre que possível utilize máscara descartável na recarga e na prática do tiro para diminuir a absorção pela via respiratória (BRASIL,2005).
As orientações citadas acima são relevantes para diminuir o risco de absorção pelo
organismo de resíduos tóxicos, utilizando equipamentos a priori simples, mas de grande
importância para a proteção individual, gerando barreiras preventivas de riscos.
3.6 Doenças que Podem Ocorrer em Policiais que Trabalham com Munição e Arma de Fogo
Muitos são os riscos a que estão submetidos os policiais que trabalham com munições
e armas. Seja o risco de lesão por disparo acidental, a intoxicação com os componentes das
munições e das substâncias que se formam na combustão da munição, que são nocivas ao
organismo humano.
As munições são formuladas à base de pólvora, espoleta, bucha (disco de pequena
espessura confeccionado para separar a pólvora do projétil) e projétil (chumbo).
Esses componentes são também resultados de misturas como: a pólvora de carvão,
salitre e enxofre, a espoleta de estifilato de chumbo, a bucha de couro, metal ou cortiça, e o
projétil de chumbo ou outro metal.
O contato direto e rotineiro na manipulação de recargas e na prática do tiro pela
combustão da pólvora formando uma camada gasosa de gases superaquecidos associados a
resíduos de pólvora que acompanham propulsão do projétil, pode trazer prejuízo para a saúde.
Os principais prejuízos apresentados pela literatura são intoxicação pelo chumbo e
pelo enxofre.
3.6.1 Intoxicação pelo chumbo
A intoxicação pelo chumbo, também conhecida como saturnismo ou plumbismo, é
uma intoxicação por exposição prolongada ao metal. A principal via de absorção é a respiratória,
seguida da digestiva.
O chumbo absorvido distribui-se para todo organismo, sendo excretado pelos rins, biles, suor e leite materno. O acúmulo de chumbo costuma ocorrer de forma lenta e
1
progressiva no organismo. Aproximadamente, 90% do depósito total do metal no organismo acumulam-se nos ossos, ocupando o lugar do cálcio. O restante é encontrado no sangue e nos tecidos moles, especialmente nos rins e no cérebro (DUNCAN,1996)
As várias atividades profissionais, realizadas, atualmente, expõem o homem a níveis
potencialmente tóxicos de chumbo e seus compostos inorgânicos, tornando a possibilidade de
intoxicação uma realidade aguda ou crônica.
Na atividade policial, esta exposição se dá na fabricação de objetos e artefatos de
chumbo, inclusive munições, na relação de doenças profissionais legalmente reconhecidas pela
Previdência Social.
O quadro clínico varia muito dependendo do tempo e do nível de exposição
ambiental, uso de meios de segurança coletivos e individuais.
A intoxicação crônica é a forma mais comum, caracteriza-se por um quadro progressivo e insidioso com os seguintes sintomas: astenia, mialgia, dores nos membros inferiores, insônia, fadiga, irritabilidade, déficit progressivo de memória, epigastralgia e cefaléia, acompanhado de uma história ocupacional caracterizada por exposição prolongada e poucas medidas de segurança, além dos indicadores biológicos. Os transtornos gartrointestinais, hiperucemia, gota e artralgia também são comuns (DUNCAN,1996)
A intoxicação aguda manifesta-se em situações especiais de exposição ambiental e em
crianças.
O diagnóstico baseia-se na história ocupacional, exame clínico e exames laboratoriais
como níveis séricos de chumbo, na urina e na urina pós quelante, fluorescência óssea ao raio X.
Um grande número de pacientes apresenta melhora progressiva com o simples
afastamento da exposição. Isto se deve à liberação progressiva e diminuição da absorção diária.
Casos que necessitem de tratamento medicamentoso devem ser encaminhados para centro
especializado em tratamento com quelante.
3.6.2 Intoxicação pelo dióxido de enxofre
O enxofre, um não-metal insípido e inodoro, é facilmente reconhecido na forma de
cristais amarelos que ocorrem em diversos minerais de sulfito e sulfato, ou mesmo em sua forma
1
pura. É utilizado em fertilizantes, além de ser constituinte da pólvora e medicamentos laxantes,
tem usos como fungicida e espoliante.
O enxofre, o qual na combustão, transforma-se em óxido de enxofre, sendo este
constituído principalmente de dióxido de enxofre . Os estudos toxicológicos têm mostrado que o
dióxido de enxofre é principalmente um gás irritante das vias respiratórias, pele e olhos. É
conhecida a sua capacidade de causar broncoconstrição com conseqüente da resistência do fluxo
de ar nos pulmões (AIR LIQUIDE, 2002).
A exposição ao dióxido de enxofre, mesmo em baixos níveis, pode causar doenças
crônicas obstrutivas dos pulmões e, após longos períodos, o sistema respiratório fica prejudicado
com aumento das doenças relacionadas (SAÚDE BRASIL, 2005).
3.7 Equipamentos Proteção Individual
Identificar os riscos à saúde do trabalhador, em seu ambiente de trabalho, é essencial
para estipular medidas de prevenção aos agravos. É importante também um processo de
sensibilização para identificação do risco e da necessidade de se proteger dos eventos repetitivos
que traz os transtornos à saúde. Essa identificação dos riscos e da sensibilização dos profissionais
deve ser acompanhada de condições nos ambientes de trabalho na proteção individual e/ou
coletiva.
O Ministério da Saúde recomenda que Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC)
devem ser utilizadas antes de se recomendar o uso de Equipamentos de Proteção Individual
(EPI’s), particularmente no que se refere à proteção respiratória e auditiva (BRASIL, 2001).
É importante ressaltar que EPI’s podem ser úteis e necessários em algumas
circunstâncias, porém, não devem ser os únicos nem a medida de proteção mais importante.
Além da garantia de qualidade, os EPI’s utilizados devem ter sua efetividade avaliada
em seu uso cotidiano, uma vez que as especificações do fabricante e testes de qualidade são feitos
em condições diferentes do uso real. Os programas de utilização de EPI’s devem contemplar o
treinamento adequado para uso, acompanhamento e manutenção e/ou reposição periódica e
higienização adequada (BRASIL, 2001).
1
Assim, as luvas, máscaras, protetores auriculares, roupas especiais, entre outros,
devem ser adequados às situações reais de trabalho e as especificações e diferenças individuais
dos trabalhadores.
Uma forma de controle do ambiente de trabalho é evitar que um agente
potencialmente perigoso ou tóxico para a saúde seja utilizado, formado ou liberado, se isto não
for possível, ou seja, essencial para o desenvolvimento da atividade, de forma a não se propagar
pelo ambiente. Quando não se tem forma de conter o agente no ambiente de trabalho, é
importante bloquear as vias de entrada no organismo, seja a respiratória, pele, boca e ouvidos,
para evitar que órgãos críticos sejam lesados (BRASIL, 2001).
Quando as condições de trabalho e as medidas de proteção são adotadas, é
fundamental o desenvolvimento de um processo de sensibilização dos trabalhadores para
identificarem-se como sujeitos participantes do processo, responsabilizando-os pela proteção da
sua própria saúde.
Para o Ministério da Saúde:
A informação e o treinamento dos trabalhadores são componentes importantes das medidas preventivas relativas aos ambientes de trabalho, particularmente se o modo de executar as tarefas propicia a formação ou dispersão de agentes nocivos para a saúde ou influencia as condições de exposição [...] Em situações especiais, podem ser adotadas medidas que limitem a exposição do trabalhador por meio da redução do tempo de exposição, treinamento específico e utilização de EPI (BRASIL, 2001, p. 44).
Desta forma, é de estrema necessidade conhecer os Equipamentos de Proteção, seja
individuais ou coletivos, adotados por policias na manipulação de munições e armas de fogo,
diante do conhecimento dos diversos riscos químicos a que estão submetidos.
3.8 Qualidade de Vida do Trabalhador
A qualidade de vida tem sido a busca de trabalhar a saúde, além da ausência de
doenças, para compreensão mais abrangente, de bem-estar humano e social, conciliando critérios
de satisfação individual e coletiva.
Há vários significados associados à qualidade de vida [...] o conceito mais abrangente inclui um conjunto de indicadores econômicos e de desenvolvimento sociocultural
1
identificados como nível ou padrão de vida de uma população. Em política, o conceito-chave é o da eqüidade na distribuição das oportunidades sociais. Em psicologia social a referência mais forte é a experiência subjetiva da qualidade de vida representada pelo conceito de satisfação (DUARTE E DIOGO,2000)
Logo, melhorar a qualidade de vida implica em investir na ampliação das
potencialidades humanas em todas as dimensões da vida.
Para Minayo e Souza (2003) a qualidade de vida tem sido concebida como uma
representação social que leva em conta parâmetros objetivos (a satisfação das necessidades
básicas e das necessidades criadas pelo grau de desenvolvimento econômico e social) e subjetivos
(bem-estar, felicidade, amor prazer realização pessoal).
Na organização do trabalhador, as discussões da qualidade de vida, juntamente com as
condições de trabalho, a complexidade das relações socioeconômicas têm contribuído para
construir processo de mudanças e de resolução de problemas vivenciados pela saúde do
trabalhador.
Segundo Minayo e Souza (2003) a proposta de qualidade de vida, na saúde do
trabalhador, dialoga com noções de motivação, satisfação, saúde-segurança no trabalho,
envolvendo discussões recentes sobre novas formas de organização do trabalho e novas
tecnologias.
Portanto, a qualidade de vida no trabalho, extrapola tal ambiente, pois sofre
influências da realidade, das expectativas do trabalhador e das condições de organização que
desempenha na sua atividade profissional.
1
4 PERCUSOS METODOLÓGICOS
A fim de analisar as condições de biossegurança dos policiais federais que manipulam
armas de fogo, munições e suas recargas, realizamos um estudo do tipo descritivo, numa
perspectiva de abordagem qualitativa. A opção por essa abordagem prende-se à nossa
compreensão de que ela incorpora melhor o significado e a intencionalidade como inerentes aos
atos, às relações e às estruturas sociais como construções humanas significativas.
Como explica Triviños (1987, p. 86), “A pesquisa de natureza descritiva é aquela que
tem como foco essencial o desejo de conhecer uma realidade, ou seja, descrever fatos e
fenômenos de uma determinada situação”. Para Minayo (1996) o estudo exploratório-descritivo
proporciona conhecimentos afirmativos e provoca mais questões para aprofundamentos
posteriores, dentro de uma abordagem qualitativa investigando o mundo dos significados das
ações e reações humanas.
O estudo foi desenvolvido em uma unidade descentralizada de uma Instituição
Federal, de referência na Segurança Pública Nacional do Município de Fortaleza-CE, que tem
como atividade-fim a repressão ao crime, trabalhando sistematicamente no combate ao crime
organizado, a proteção ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e como polícia administrativa
ou fiscalizatória.
Os sujeitos da pesquisa foram 11 (onze) policiais federais que manipulavam armas de
fogo e munições para o treinamento do tiro esportivo que estava em atividade.
O período de coleta de dados foi no mês de outubro de 2005. Para a coleta de dados
empíricos dessa investigação, utilizamos como instrumento a entrevista semi-estruturada, com
um roteiro previamente testado, a partir da realização de um teste piloto com dois policiais.
Optamos pela entrevista semi-estruturada por considerarmos que, o entrevistado tem a
possibilidade de discorrer sobre o tema proposto, sem respostas ou condições prefixadas pelo
pesquisador. Esse tipo de entrevista permite maximizar a apreensão da realidade empírica, que se
caracteriza por uma comunicação verbal que reforça a importância da linguagem e do significado
da fala. (MINAYO, 1996).
No momento da análise das entrevistas, foi percorrida cada etapa detalhadamente,
ouvindo atentamente o que será exposto por cada depoente, transcrevendo integralmente suas
falas gravadas, buscando manter a originalidade de seus pensamentos.
2
A partir das falas, buscou-se apreender o significado, agrupando-os em 04 (quatro)
categorias temáticas (ambiente físico, fatores de riscos, uso de Equipamentos de Proteção
Individuais e identificação dos riscos à saúde) e discutidas com a literatura existente sobre o
assunto. Segundo Minayo (1996), as categorias são empregadas para se estabelecer classificações
que agrupam elementos, idéias ou expressões em torno de um conceito.
Para o cumprimento dos objetivos deste estudo, utilizamos a Resolução 196, de 10 de
outubro de 1996 (Diretrizes e Normas Reguladoras de pesquisas envolvendo Seres Humanos) do
Conselho Nacional de Saúde, que tem mérito de dar ênfase aos compromissos éticos com os
sujeitos da pesquisa.
Durante a entrevista, na primeira etapa da coleta de dados, os policiais foram
informados de que estariam sendo observados. Para a realização das entrevistas, inicialmente,
demos informações sobre a pesquisa, seus objetivos e aspectos éticos envolvidos, destacando os
cuidados relativos ao sigilo dos informantes e o caráter voluntário da participação. Todos os
entrevistados assinaram o termo de consentimento informado e todos os relatos foram gravados
com a aquiescência dos participantes da pesquisa para posterior transcrição.
Os discursos produzidos pelos sujeitos da pesquisa foram transcritos na íntegra e
codificados, utilizando-se a letra “P” (policiais) seguida de numeral de 1 a 11.
2
5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS
5.1 Descrição do Ambiente Físico da Recarga e da Prática do Tiro
Partindo da premissa de que o ambiente de trabalho deve ser apropriado para a
realização das atividades laborais, entretanto, para o policial que desenvolve a recarga ou prática
do tiro é necessário observar o ambiente no qual ela se desenvolve, iniciando com um
planejamento para minimizar os riscos de acidentes e adotar medidas de prevenção e controle dos
seus efeitos adversos.
Considerando esses pressupostos, apresenta-se a seguir uma descrição do ambiente físico da
recarga e da prática do tiro através de suas falas.
[...] são ambientes fechado de um lado, protegido, para o tiro não vazar [...] o lugar onde eu recarrego é um quartinho que tem um ventilador, exaustor que é para não juntar gases nem ar poluído para não ficar respirando aquilo (P1).
[...] ele fica em um local bastante isolado, tem um barranco atrás da linha de tiro, pneus e proteção para prática eficiente (P2).
[...] existe dois ambientes: um ambiente aberto e um ambiente fechado. O ambiente fechado é quando você vai fazer o tiro ao alvo (P3).
[...] é um espaço bastante amplo e distante, em virtude do risco que envolve a lida com arma de fogo e um tanto quanto indoxo [...] parece uma região do sertão (P4).
[...] é um ambiente aberto, mas que a gente monta com madeira, são vários tipos de técnicas, cada ambiente vai de acordo com a técnica utilizada (P5).
[...] geralmente os treinos são durante o dia com o sol bem quente e tem um local apropriado que é uma área reservada pra você manipular sua arma com segurança (P6).
[...] ambiente físico da prática de tiro é um ambiente, mas regido de segurança possível. Em todo estante do tiro tem um local para a limpeza, desmonte e monte. Já a recarga, em uma sala específica, própria, um ambiente que não tenha muita gente, tem que trabalhar com cuidado, ter a margem de segurança, você não pode fazer em qualquer ambiente (P7).
[...] é um estande aberto e tem várias filas, é um lugar bem aberto, assim meio serrado, de barro (P8).[...] a recarga nossa é feita em casa, a gente chega lá num quarto anexo, no térreo, aí a gente coloca o armamento dentro de um armário fechado, a munição numa gavetinha, as espoletas sempre guardadas em um isopor pra ela não pegar poeira e umidade porque
2
estraga, e a pólvora é colocada em um balcão, sempre num lugar arejado e sempre trancado pra evitar que as pessoas cheguem lá e puxem (P9).
[...] sempre é feito de acordo com o regulamento, com a autorização, é vistoriado e sempre vamos para organizar, ver se a condição é boa, de segurança (P9).
O ambiente maior segurança possível. [...] a munição é feita por um colega, carregada por um colega que é o “P11”, que também já é especialista nisso e nunca ocorreu nenhum incidente com relação à munição e nem nos locais de treinamento (P10).
É realizado de uma zona que não tem casas próximas. O tiro in dor é um pouco mais prejudicial, porque os vestígios de pólvora eles ficam no ar [...] então, à medida que você vai respirando, vai sentindo aquela coisa ruim no nariz, mas lá onde a gente pratica é totalmente favorável ao tiro (P11).
Ao serem analisados os discursos dos policiais, percebe-se que, a prática, a recarga
da arma e a recarga da munição ocorrem em momentos e em ambientes diferentes. O ambiente
da prática do tiro é realizado em área isolada, específica e distante da zona urbana, podendo ser
em ambientes fechados ou abertos, conforme modalidade da prática do tiro.
Observa-se, ainda, que os depoentes referem ao ambiente aberto como fato positivo
para a prática do esporte, enquanto no ambiente fechado, quando enfatizado, é relatada a
possibilidade de inalação de gases. Exemplificando uma situação em que o ambiente de trabalho
pode ser gerador de efeitos adversos à saúde dos trabalhadores, responsável por morbidades,
absenteísmo e mortalidade por acidentes de trabalho, doenças ocupacionais e outras patologias
causadas por fatores ocupacionais.
O reconhecimento das condições de risco no ambiente de trabalho significa identificar
fatores ou situações com potencial de dano. Nos discursos dos entrevistados, observamos que o
ambiente apresenta riscos de lesões pelo manuseio de arma de fogo, risco respiratório, quando
realizado em ambientes fechados, e de lesão de pele, devido à exposição excessiva ao sol.
Verifica-se que alguns dos entrevistados caracterizam um dos ambientes como área
reservada para recarga e descarga da arma de fogo, local de “segurança específica”, seguindo as
normas que determinam um local específico para o desmonte da arma e manipulação, não
podendo, essa prática, ocorrer em meio aos estandes. Nesse espaço ocorre a manipulação tanto da
arma carregada como se tem contato direto com a munição preparada e estruturas das armas nas
quais pode se ter resíduos resultantes dos tiros durante a prática do esporte.
2
Para o Ministério do Exército, um ambiente adequado para a recarga e prática do tiro
deve envolver a dispersão de gases tóxicos oriundos das substâncias de composição da munição,
dos solventes e das explosões do tiro.
Percebemos através dos discursos, que a preparação da recarga da munição ou a
preparação artesanal da munição, pode ou não ser realizada pelo próprio praticante de tiro
esportivo, quando não, são deixadas, geralmente, a cargo de um policial com mais experiências
quanto a esse procedimento.
Portanto, o ambiente da recarga de munição é regulamentado pelo Ministério do
Exército e segue regras rígidas como: distâncias entre domicílios, ambiente exclusivo para a
atividade, boa ventilação, sem umidade, longe de fonte de calor, uso de máscara, separação da
pólvora e chumbo, armamento separado da munição, e bom sistema de segurança contra furtos e
roubo.
Enquanto a manipulação na área de segurança de recarga da arma é realizada com
projéteis confeccionados no ambiente de recarga de munição, o contado é com substâncias que
formaram os projéteis como “ponta” de chumbo, espoleta, pólvora, cápsula. Substâncias descritas
na literatura, geralmente, como tóxicas, devido à possibilidade de absorção pelo organismo
(MENDES, 1995; BRASIL, 2001).
Visualiza-se, ainda, que alguns entrevistados realizam a fabricação artesanal de
munição, no entanto, referem à importância do ambiente seguro e ventilado para a realização da
recarga de munição. Os demais policiais, que adquirem a munição de instrutores ou compra
direto das distribuidoras, não fazem referencia quanto ao ambiente onde se realiza a recarga.
5.2 Fatores de Riscos a que Estão Expostos os Policiais que Praticam o Tiro
5.2.1 Risco de um acidente
O ambiente no qual desenvolve a prática de tiro é regido por normas para área de
recarga, de descarrego, e de prática propriamente dita. É monitorada por um instrutor que dá
ordens e segue regras de desclassificação, de acordo com pontuação ou práticas perigosas.
2
Nos discursos abaixo, os entrevistados ressaltam os riscos de acidentes dentro de suas rotinas de atividades.
[...] o maior perigo é um atirador inexperiente, ou inabilitado, que por uma avoada qualquer, ele dá um tiro num colega (P1).
[...] caso de um disparo acidental. [...] não há registro de acidente de tiro no estande no Brasil, pelo que me consta não existe (P2).
[....] o risco existe, desde de que não sejam obedecidas as normas de segurança (P6).
[...] a prática do tiro é perigosa, por causa do manuseio, na hora que vai praticar, sempre que você vai limpar sempre com máximo de segurança (P9).
Na prática de manuseio de armas de fogo deve-se o portador ficar atento para os
cuidados de risco de um acidente. Os discursos demonstraram sentimentos de preocupação e
atenção, quanto ao manuseio dessas, bem como, a utilização da norma preconizada pelo
Ministério do Exército.
A prevenção de acidentes deve levar em consideração dois aspectos fundamentais:
primeiro refere-se à sensibilização quanto aos riscos da prática do tiro e, em segunda, a avaliação
do ambiente de estande com área reservada para recarga, já a descarga, as regras sempre são
esclarecidas, relembradas e a avaliada as condições psicológicas dos praticantes.
Tendo em vista a necessidade de identificação dos riscos de acidentes, a saúde do
trabalhador correlacionando com a vigilância sanitária, visualiza a relevância dessa quanto a
responsabilidade pela eliminação, diminuição e prevenção dos riscos à saúde e de intervenção
sobre os problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e
da prestação de serviços de interesse da saúde.
5.2.2 Risco químico
Os agentes químicos são considerados importantes nas relações de trabalho, devido ao
amplo espectro de substâncias encontrados nos locais de trabalho.
Na prática do tiro e nas manutenções das armas, poder-se-iam enumerar diversas
substâncias as quais estão expostos os policiais entre elas os solventes, pólvora, chumbo, espoleta
e os lubrificantes como relatam os depoentes seguir:
2
A manutenção é própria, cada qual faz a sua manutenção. Limpeza com produtos químicos, no caso, com querosene, óleo, certo? Tem solventes, você desmonta, lava, limpa. O querosene, o produto mais perigoso é o querosene. [...] agora a recarga, geralmente, tem pessoa a quem podemos comprar a munição já feita, mas seria mais cara, no caso eu mesmo faço a minha recarga, aí é onde está o perigo [...] eu faço em minha casa, eu tenho a minha máquina, tudo registrado pelo Exército, direitinho [...] você tem que ter conhecimento, não pode ser um leigo chega lá e querer fazer recarga sem saber, não [...] se você pegar em uma espoleta, ela tem um produto químico dentro que é altamente oxidante e as modernas desoxidante. Então ele passa para a corrente sanguínea, além de você estar danificando a espoleta, ela pode falhar. Se você pegar nela, tá entendendo? A pólvora é um dos produtos químicos também tóxico, você não pode pegar, você tem que usar luvas (P1).
Quem faz a manutenção da arma e a limpeza da arma quem faz é cada atirador que faz em sua casa. Agora, é [...] limpa e lubrifica em casa, agora em relação à munição, tem pessoas que faz a munição (P2).
[...] e utilizo o material de limpeza, eu limpo, tem o óleo para retirada da pólvora, coloco óleo lubrificante, quando tenho tempo, eu deixo um pouquinho ela ficar no óleo, para evitar ferrugens (P4).
[...] para treinamento, a munição utilizada é feita com a máquina do departamento, temos uma máquina que faz recarga, essa recarga ela é feita, a única coisa que é nova é no caso a ogiva, o resto é tudo reaproveitável (P5).
[...] nos treinamentos é recarga, agora no dia a dia a minha arma é municiada com munição própria, nova [...] (P6).
[...] o esporte não é barato. Hoje 90% da munição do tiro é recarregada, quando a gente não recarrega, a gente tem uma pessoa que recarrega pra fazer um tiro de munição específica (P7).
[...] Tem vezes que a arma tá muito suja, você tem que deixar ela de molho, deixar de molho no solvente, a fábrica manda dizer que pode colocar até na água morna com sabão, aí ela vai soltando [...] (P9).
[...] mas a parte de recarga não tem, não é danosa à saúde, porque a pólvora ela tá toda acondicionada, e a pólvora, ou seja, quando ela não está sendo usada na detonação do projétil ela não tem absolutamente nenhuma contra-indicação, é totalmente seguro, tanto pra quem usa como pra quem faz (P11).
Conforme se observa, 6 dos 11 policiais identificam algum risco químico na recarga
da munição ou manipulação da arma de fogo, sendo relatados como fatores de riscos químicos os
solventes, espoleta, pólvora. Nas falas, o chumbo não é referido como risco, devido à ogiva ser,
geralmente, adquirida nova e tornando-se não reaproveitavél, diminuindo, assim, o contado na
manipulação, embora exista.
2
Para Mendes (1995) os solventes são produtos químicos líquidos à base de carbono,
compostos de diversas estruturas químicas, utilizadas para dissolver outras substâncias e que as
principais vias de exposição a estes solventes são as inalatórias e cutâneas, afetando,
principalmente, a pele e o sistema nervoso central.
A recarga é uma das atividades de quem manuseia arma que traz mais prejuízo à
saúde, devido o contato mais próximo de substâncias que compõem a pólvora, a espoleta e
também o projétil de chumbo, que tem grande contato com a pele e interfere, principalmente, no
sistema nervoso, na pele, no sangue e rins.
Para Mendes (1995) a principal via de exposição é a inalação de poeira de chumbo,
mas a ingestão também é, devido à contaminação de mãos, alimentos e cigarros.
A pólvora, conforme relata o P11, apresenta redução da inalação dos gases tóxicos no
simples manuseio, sendo mais expressiva a contaminação na hora da detonação do projétil, com
possibilidades de inalação de gases poluentes com base no dióxido de carbono e de enxofre. É
importante enfatizar que, embora não sejam inalados os gases no momento do manuseio, outras
substâncias maléficas ao aparelho respiratório são aspiradas, quando não devidamente protegido,
devido degradação da pólvora, resultante da manipulação, podendo formar nuvens de poeira de
pólvora.
A espoleta, também identificada como risco químico, é fonte de contaminação que
segundo Silveira (2003) contém estifinato de chumbo, um composto altamente explosivo, usado
para iniciar a combustão na espoleta. A manipulação dessa é tóxica, devido à presença do
chumbo, que pode ser absorvido através do contato com a pele.
5.2.3 Risco de isolação
As atividades realizadas ao ar livre, recebendo as radiações solares por períodos
prolongados, podem provocar cãibras, síncopes, exaustão e/ou insolação (MENDES, 1999).
Na prática do tiro, quando realizada em campos abertos, é comum a exposição ao sol
por períodos prolongados. Porém, apenas o policial número 6 identificou como risco para a
prática do tiro esportivo.
2
[...] geralmente os treinos são durante o dia, com o sol bem quente, se expõe muito ao sol por longos períodos [...] outra coisa que eu também tô sempre usando também, é protetor solar que a gente fica exposto ao sol, você chega lá umas 9 horas e fica até umas 14 horas, é bom também para evitar um câncer de pele ou coisa assim [...] (P6).
Torna-se importante orientar aos praticantes de tiro a necessidade de hidratação e uso
de protetor solar, a fim de prevenir riscos com insolações.
5.3 Uso de Equipamentos de Proteção Individuais
As medidas que se podem adotar para contornar as situações adversas que envolvem a
prática do tiro incluem alterações no ambiente da atividade e limitações na exposição aos fatores
de risco.
Para que essas medidas sejam efetivas, é necessário analisar o tempo de exposição,
necessidade de um treinamento específico e utilização de equipamentos de proteção individual.
No caso deste estudo, foi verbalizado o uso de equipamentos de proteção, sendo
unânime a identificação dos os óculos, os abafadores como indispensáveis, conforme se verifica
nas falas abaixo.
[...] É, temos equipamentos, óculos, temos os abafadores para o ouvido, nunca se dá tiro sem abafador, óculos para proteção se chumbinho vir pegar no olho [...] (P1).
[...] tem que usar um abafador para o ouvido não ter problema, porque algumas armas pesadas têm o tiro muito alto, bastante alto o barulho, e também um óculos de proteção. Quando você vai atirar com a metralhadora o alvo, resvala alguma coisa, ele pode voltar alguma coisa. Você tem que tá com a vista protegida [...] (P3).
[...] eu, pessoalmente, utilizo óculos. Todos nós utilizamos óculos de proteção pra que não venha atingir os olhos, protetor auricular e alguns utilizam coletes [...] eu tenho luva também, mas só que a luva atrapalha. Para fazer a limpeza, eu utilizo luvas em virtude do óleo, e também porque também é indicado nas instruções de uso. Lá no tiro a gente não utiliza porque atrapalha um pouco. (P4).
Nós usamos o protetor de ouvido que é obrigatório no tiro, os óculos que é obrigatório [...] (P7).
Nenhum, o que agente tenta fazer é voltar sempre a bancada, antes a gente fazia num quarto, quando tá lá a porta fica sempre aberta pra ventilar, pra não ficar desabafado, agora o manuseio é normal, sem luva sem nada. (P9).
2
Pra prática de tiros sim, a maior preocupação são com os olhos que são obrigatório o uso de óculos de proteção, e com os ouvidos pra evitar a perda da audição, então agente trabalha com protetor auricular e com óculos pra proteger a visão. (P10).
Na prática do tiro é obrigado [...] o uso de abafador e de óculos, obrigado. (P11).
Só óculos, mas a proteção quase que, que dispensável, porque o perigo mesmo eu não vejo nenhum. (P1). (Quanto à recarga).
Observa-se nas falas o reconhecimento da necessidade do uso dos equipamentos de
proteção individual, embora, também, perceba-se a minimização de necessidade do uso da luva
na prática do tiro, por apresentar melhor treinamento e habitualidade para a acomodação do uso.
Outra dificuldade na implementação dos equipamentos de proteção individual é do
colete, que seria uma proteção para o risco de um tiro acidental.
Quanto à recarga de munição, nota-se uma maior negligência no uso de equipamentos
de proteção, embora seja a atividade que tenha maior contato com produtos químicos e poeira dos
resíduos.
5.4 Identificação dos Riscos à Saúde
Para Mendes (1995) o trabalhador compartilha com o conjunto da população das
estatísticas de adoecer e morrer, mas é reconhecido que o trabalho pode determinar formas
diferenciadas de adoecer e morrer, de acordo com a profissão a que são submetidos, apresentando
um campo que deve ser contemplado pelos serviços de saúde.
A identificação desses riscos e a promoção da saúde, no ambiente de trabalho, devem
ser uma prerrogativa dentro dos serviços públicos e privados, incentivados pelos órgãos que
trabalham com as condições de trabalho, incluindo, aqui, a Vigilância Sanitária.
A prática do tiro, enquanto esporte e necessidade de aperfeiçoamento para os
policiais, apresenta riscos à saúde, devido: ao ambiente no qual se realiza, os risco de acidente,
riscos de lesão e riscos químicos que estão submetidos, segundo relatam os policias nas falas
abaixo:
[...] E outra coisa também que passa muitas vezes para o sangue é o chumbo, o chumbo mesmo da ponta da bala mesmo, você não pode ficar pegando muito, porque passa para a corrente sanguínea. O cara que não faz é até melhor comprar de fábrica mesmo,
2
porque se você comprar de alguém que faz em fundo de quintal, muita gente já adoeceu com isto, você está propiciando a doença de alguém (P1).
[...] a audição, né, porque pelo que eu falei devido ao barulho que é alto. Quando você está no estande de tiro são muitos atiradores. Nós temos em uma média de 13 atirando simultaneamente [...] e sempre usando óculos [...] outra coisa que eu também tô sempre usando também é protetor solar que a gente fica exposto ao sol, você chega lá umas 9 horas e fica até umas 14 horas, é bom também para evitar um câncer de pele ou coisa assim. (P3).
[...] risco existe em virtude da utilização da arma de fogo, mas esse risco é necessário porque na nossa atividade temos que ter a certeza do que é capaz de fazer e do funcionamento daquela arma. (P4).
[...] se não utilizar a proteção auricular e a proteção para os olhos certamente terá um grande risco, fora as vezes que uma cápsula sai, bate no braço, mas não há nada de grave no máximo uma queimadura leve. (P5).
o risco existe, você quando está manuseando uma arma de fogo você tem que estar sempre atento observando aquelas normas de segurança [...] mesmo na limpeza também tem que seguir as normas de seguranças. O risco existe desde de que não sejam obedecidas as normas de segurança, procedimentos de segurança. (P7).
Eu mesma só vejo na prática de tiro, como risco, um tiro. (P8).
Geralmente o risco maior que a gente corre é, assim, tipo, um erro humano mesmo, arriscado a levar um tiro por descuido de um colega, mas as regras de segurança estão sendo batidas sempre [...] risco com a munição, tem assim, os gases da pólvora, do chumbo que assim, sempre em contato depois de muito tempo pode ser que cause risco maior, e pra pessoa que está carregando, sempre em contato com o chumbo, pode acarretar um risco à saúde. (P10).
Riscos à saúde? Olha! Eu acredito que a gente lida também com o chumbo, o chumbo do projétil, o projétil é dividido em quê? Na ogiva, a cápsula, a pólvora que vem dentro e a espoleta, o que é que seria danoso ali? A pólvora, com certeza, não é, porque ela está acondicionada e o projétil, ou seja, a ogiva de chumbo, ele já vem totalmente feito, o danoso seria você fazer aquele projétil, aquela ogiva, aí realmente seria muito perigoso pra saúde, muito mesmo [...] (P11).
[...] E tem amigos meus que constroem aquelas ogivas. E como é que constrói? Derrete o chumbo no fogão mesmo. Derrete e depois coloca num receptáculo que ele vai endurecer, e à medida que ele vai derretendo, vai soltando gases, né? Ali é muito danoso, mas quando está fazendo a recarga, já recebe feito o projétil, é a mesma coisa de um pedaço de chumbo qualquer. (P11).
Nesses relatos, observa-se que as falas não se restringem apenas ao acidente com tiro
acidental, mas também doenças percebidas ou que tiveram o conhecimento de que outras pessoas
adquiriram na prática do tiro. Ainda pode-se identificar uma alerta para o risco na manipulação
3
da recarga de munições, incluindo, aqui, o chumbo e a espoleta pelo grau de absorção desse
agente e seus efeitos maléficos à saúde.
Um tópico importante que surgiu nas entrevistas é o fato da recarga ter o preço alto da
munição industrializada, levando os policiais a adquirirem ou realizarem a própria recarga da
munição, com o intuito de baratear os custos.
A fabricação dessa munição artesanal deve ser realizada por profissionais que tenham
conhecimento da prática e dos riscos que envolvem tal atividade, com o intuito de diminuir os
agravos à saúde.
É papel dos órgãos fiscalizadores identificar a recarga artesanal e propiciar
conhecimento dos riscos a que estão submetidas às pessoas que realizam a manipulação de forma
inadequada e em ambientes impróprios, propiciando perigo não só para o profissional, mas para
pessoas a sua volta.
Apesar de ser percebido por alguns policiais, o risco à saúde pela manipulação dos
componentes da munição e dos riscos que envolvem o ambiente da prática do tiro, há policiais
que só identificam como risco à saúde, o risco acidental de um tiro, estando disperso quanto ao
ambiente e os instrumentos que usam nessa atividade.
Ainda pode-se concluir que, existem policiais que têm o conhecimento sobre os
possíveis riscos à saúde, mas minimizam por considerarem que os riscos ocorrem apenas no
momento da detonação do tiro. Fato contraditório com a literatura, que segundo Silveira (2003)
pode ocorrer tanto na fragmentação do projétil no impacto no alvo, como na detonação da
espoleta ou também quando o cano da arma e a bala não estão completamente alinhados. Para
Mendes (1995) o chumbo e seus compostos tóxicos são identificados como risco profissional na
fabricação de objetos e artefatos, inclusive munições. Para o Ministério da Saúde a contaminação
com o chumbo relaciona-se também com o tempo de exposição e os seus efeitos acumulativos no
organismo (BRASIL, 2001).
3
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo desperta uma reflexão sobre a prática do tiro, quanto à forma, aos
riscos e à percepção dos policias no manuseio da arma de fogo e da recarga de munições. Um
esporte praticado por grupos específicos e, muitas vezes, distante dos estudos dos profissionais da
saúde, quanto à promoção de saúde, prevenção dos fatores de riscos e estudos estatísticos de
Vigilância em Saúde, que envolve a prática desses profissionais.
Considerando os objetivos traçados e os dados obtidos nesta pesquisa, o estudo
revelou que o ambiente físico onde ocorre a prática do esporte, é agravado pela modalidade de
prática do tiro e que o ambiente da recarga deve seguir normas regulamentadas pelo Ministério
do Exército, pois para os policiais, os estandes apresentam boas condições para a prática de tiro
Os policiais federais identificam a prática do tiro como segura, desde que sigam as
normas de segurança e apontem como os maiores riscos tiros acidentais, exposição prolongada ao
sol, ruído elevado, lesões oculares. Mas são poucos os que identificam a exposição aos gases
tóxicos provenientes da pólvora e da espoleta, como também não relatam sobre as precauções do
contato com os projéteis, os quais deixam nas mãos resíduos de chumbo, muitas vezes por
períodos prolongados.
Quanto à aquisição da munição, ela pode ocorrer de três formas: compra de munição
nova, compra de munição recarregada e realização da própria recarga. Observou-se que, quem
compra a munição nova ou recarregada não se refere aos riscos dessa prática da recarga, quanto
aos que recarregam, identificam os riscos, embora alguns os menosprezem. Foi relatado, ainda,
que ocorre a recarga na própria residência, com licença dos órgãos responsáveis.
Outro ponto importante da pesquisa é quanto ao uso dos Equipamentos de Proteção
Individual, que são relatados como necessários o uso de óculos, proteção auricular. Porém, foram
identificados riscos de insolação, de tiro acidental, risco químico e os policiais não identificaram
a necessidade de uso de equipamentos de proteção neste sentido.
O que este estudo revela diz respeito à importância de uma análise crítica da referida
prática, repensando as condições, o grau de conhecimento dos praticantes, intensificando os
debates sobre o assunto e despertando nos profissionais de saúde e, em especial, na Vigilância
Sanitária, mais um campo de atuação, enquanto conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir
3
ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente,
da produção e circulação de bens e prestação de serviço de interesse à saúde
A escassez de estudos específicos sobre o tema na área da saúde, leva-me a sugerir a
realização de novas pesquisas, a fim de despertar a consciência crítica dos profissionais da área e,
em particular, dos profissionais que realizam recarga e a prática do tiro.
3
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3
SAÚDE BRASIL. Qualidade do ar. Disponível em: <http://www.saudebrasilnet.com.br/saude2.asp?secao17&id=229>. Acesso em: 13 jul. 2005.
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TRIVIÑOS, A. N. S. A pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. 145 p.
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APÊNDICE A
ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
I-IDENTIFICAÇÃO
NOME: _______________________________________________________________
IDADE: ______________________________________________ SEXO: ( ) F ( ) M
SITUAÇÃO CONJUGAL: ________________________________________________
CARGO: ________________________________________ SETOR: __________
GRAU DE INSTRUÇÃO: _____________________
CATEGORIA DE EXPOSIÇÃO: _____________________________
CURSO DE TIRO:_________________________________________
II-QUESTÕES NORTEADORAS
1) Descreva o ambiente no qual desenvolve a atividade de manuseio de recarga de munição e
arma de fogo.
2) Quem faz a manutenção das armas?
3) É necessário algum equipamento de proteção individual para manuseio de munições e armas?
4) Você identifica algum risco para a saúde no manuseio e recarga de arma de fogo?
ENTREVISTADOR: ___________________________________________
ENTRVISTADO: ______________________________________________
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APÊNDICE B
TERMO DE CONSENTIMENTO DA INSTITUIÇÃO
Estamos solicitando a V.Sª. a autorização para coleta de dados, no Departamento de
Polícia Federal no Ceará, que serão utilizados na pesquisa científica de conclusão do Curso de
Especialização em Vigilância Sanitária da Escola de Saúde Pública do Estado do Ceará.
A citada pesquisa será realizada no mês de setembro de 2005, tendo por objetivo:
“Analisar as medidas de biossegurança na estocagem, manipulação e recarga de munição e arma
de fogo”, dos policiais que realizam prática esportiva de tiro.
Os dados obtidos nas entrevistas serão apresentados em relatórios e revistas científicas
da área da saúde, sempre omitindo nomes ou quaisquer informações que possam identificar os
entrevistados.
Atenciosamente,
_________________________________
Francisca Fabiana dos Santos
AUTORIZAÇÃO
Declaro que conheço os objetivos da pesquisa “Análise das medidas de biossegurança na
estocagem, manipulação e recarga de munição e arma de fogo” e autorizo a realização da
coleta de dados.
____________________________
Superintendente do DPF
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APÊNDICE C
TERMO DE CONSETIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Estamos desenvolvendo uma pesquisa entrevistando policiais que realizem prática de tiro esportivo ou de treinamento, no intuito de conhecer as condições de biossegurança na estocagem, manipulação e recarga de armas de fogo e de munições. Assim, estou lhe convidando para participar deste estudo.
O presente estudo será realizado com policiais desta instituição (SR/DPF/CE), objetivando conhecer as condições e os riscos a que estão expostos os policias que trabalham com munições de arma de fogo.
Para isso, se o(a) senhor(a) concordar em responder algumas perguntas sobre o assunto, gostaria de pedir permissão para gravar a nossa conversa, pois, assim, eu não perderei tempo escrevendo, e ao mesmo tempo, não perderei nada do que o (a) senhor me falar. Gostaria de dizer que a sua participação é voluntária. Pelo fato de aceitar participar da pesquisa o senhor (a) não receberá nenhum benefício em troca dessa entrevista.
Informo-lhe que os dados obtidos na sua entrevista serão somados aos de outras entrevistas e serão apresentados em relatórios e revistas científicas da área da saúde, sempre omitindo o seu nome, ou qualquer informação que possa lhe identificar.
Caso surjam outras dúvidas, poderá entrar em contato no meu endereço: Rua Jaú, n. 60, Bloco III, Apto. 304, Vila União, Tel. 99723825.
Em face aos motivos acima mencionados, gostaria muito de poder contar com sua valorosa cooperação, a qual, desde já, agradeço.
Atenciosamente,
__________________________________________
Francisca Fabiana dos Santos
Declaro que tomei conhecimento do estudo: “Análise das Medidas de Biossegurança na
Estocagem, Manutenção e Distribuição de Munição e Arma de Fogo”, realizado pela pesquisadora
Francisca Fabiana dos Santos, compreendi seus objetivos, concordo em participar da pesquisa e declaro
que não me oponho que a entrevista seja gravada.
Fortaleza, ______ de ____________________ de 2005.
_____________________________________________
Assinatura do depoente
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