MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

41
ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁ CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM VIGILÂNCIA SANITÁRIA FRANCISCA FABIANA DOS SANTOS VIGILÂNCIA SANITÁRIA: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA NO MANUSEIO DE MUNIÇÕES E ARMA DE FOGO FORTALEZA 2006

Transcript of MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

Page 1: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁCURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM VIGILÂNCIA SANITÁRIA

FRANCISCA FABIANA DOS SANTOS

VIGILÂNCIA SANITÁRIA: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA NO

MANUSEIO DE MUNIÇÕES E ARMA DE FOGO

FORTALEZA

2006

Page 2: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

FRANCISCA FABIANA DOS SANTOS

VIGILÂNCIA SANITÁRIA: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA NO

MANUSEIO DE MUNIÇÕES E ARMA DE FOGO

Monografia submetida à Escola de Saúde Pública

do Ceará, como parte dos requisitos para a

obtenção do título de Especialista em Vigilância

Sanitária.

Orientador:Ms. Adail Afrânio Marcelino do Nascimento

FORTALEZA2006

Page 3: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

FRANCISCA FABIANA DOS SANTOS

VIGILÂNCIA SANITÁRIA: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA NO

MANUSEIO DE MUNIÇÕES E ARMA DE FOGO

Especialização em Vigilância Sanitária

Escola de Saúde Publica do Ceará

Aprovada em: 07 /07/2006

______________________________________________

Adail Afrânio Marcelino do Nascimento

Mestre

_______________________________________________

Alice Maria Correia Pequeno Marinho

Mestre

____________________________________________

Gilson Holanda Almeida

Mestre

Page 4: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

Aos meus pais, Lourdes e Benedito, eternos

incentivadores da concretização dos meus sonhos.

Page 5: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

AGRADECIMENTOS

À Deus, fonte de luz espiritual;

Ao orientador Adail Afrânio Marcelino do Nascimento pela amizade e cooperação

recebida;

Aos policiais que contribuíram na construção deste saber;

À Secretária Municipal de Saúde de Jaguaretama que me proporcionou a inserção no

contagiante mundo da Vigilância Sanitária;

À Escola de Saúde Pública, ao seu corpo docente e aos demais funcionários que me

acolheram durante esta jornada;

Às colegas Márcia Siebra, Keytianne, Marcia Santiago, pela força e carinho que me

dispensaram nos momentos difíceis deste curso;

Finalmente, a todos que compartilharam de minha jornada, acreditando que alcançaria

este objetivo, conseqüentemente, este momento significativo.

Page 6: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

RESUMO

O presente trabalho consta de um estudo exploratório-descritivo com abordagem qualitativa, que visa analisar as medidas de biossegurança na manipulação de munições e arma de fogo na prática do tiro esportivo, sendo esta pesquisa realizada em uma unidade de referência na Segurança Pública Nacional no Município de Fortaleza-CE. Os sujeitos do estudo foram 11 (onze) policiais federais que manipulavam munições e praticavam o tiro esportivo em outubro de 2005. Os dados foram analisados, discutidos e agrupados em categorias temáticas, de acordo com as falas dos sujeitos. Os resultados mostram que os ambientes da prática do tiro esportivo e das recargas de munições apresentam fatores de riscos à saúde, tais como: os tiros acidentais, exposição prolongada ao sol, ruído elevado, lesões oculares, exposição aos gases tóxicos provenientes da pólvora, da espoleta e dos resíduos de chumbo, apontando os Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) como extremamente necessários para prevenção e/ou eliminação dos riscos e acidentes neste esporte. Salientando-se, ainda, a necessidade de desenvolver um processo de orientação na manipulação das armas e munições e de sensibilização dos riscos à saúde e um estudo para compreender a realidade desta prática esportiva desmistificando este campo de atuação para profissionais de Vigilância Sanitária na prevenção e promoção de saúde dos policiais.

Page 7: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 7

2 OBJETIVOS .......................................................................................................... 92.1 Objetivo Geral .................................................................................................... 92.2 Objetivos Específicos ......................................................................................... 93 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ....................................................................... 103.1 Conceituando a Saúde do Trabalhador............................................................ 103.2 Contextualizando a Saúde do Trabalhador ..................................................... 103.3 Riscos em que Estão Submetidos os Policiais que Manuseiam

Munição e Arma de Fogo ................................................................................ 123.4 Normas Técnicas para Estocagem de Armas de Fogo e Munições, de

Acordo com o Ministério de Estado do Exército ............................................. 13

3.5 Medidas de Segurança na Manipulação de Armas de Fogo e Munição ........ 143.6 Doenças que Podem Ocorrer em Policiais que Trabalham com Munição e

Arma de Fogo ...................................................................................................... 153.6.1 Intoxicação pelo chumbo ................................................................................ 153.6.2 Intoxicação pelo dióxido de enxofre .............................................................. 163.7 Equipamentos de Proteção Individual .............................................................. 173.8 Qualidade de Vida do Trabalhador .................................................................. 194 RECURSOS METODOLÓGICOS ...................................................................... 205 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS ............................................ 225.1 Descrição do Ambiente Físico da Recarga e da Prática do Tiro .................... 225.2 Fatores de Riscos a que Estão Expostos os Policiais que Praticam o Tiro .... 245.2.1 Risco de um acidente ....................................................................................... 245.2.2 Risco químico ................................................................................................... 255.2.3 Risco de isolação .............................................................................................. 275.3 Uso de Equipamentos Individuais ..................................................................... 285.4 Identificação dos Riscos à Saúde ....................................................................... 296 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 32REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 34ANEXOS ................................................................................................................... 36

Page 8: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf
Page 9: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

1 INTRODUÇÃO

Ao iniciar este estudo, é de suma importância destacar a definição de Saúde do

Trabalhador como um campo do saber que visa compreender as relações entre o trabalho e o

processo saúde/doença, no entanto, considera-se que a concepção saúde/doença é processo

dinâmico, estreitamente articulado com os modos de desenvolvimento produtivo da humanidade

em determinado momento histórico. Partindo dessa premissa, compreende-se que a forma de

inserção dos homens nos espaços de trabalho, contribui decisivamente para formas específicas de

adoecer e morrer(MENDES: 1995).

Neste cenário, a Vigilância em Saúde do Trabalhador compreende uma atuação

contínua e sistemática, compondo-se por um conjunto de práticas sanitárias, articuladas supra-

setorialmente, cuja especificidade está centrada na relação da saúde com o ambiente e os

processos de trabalho e naquela com a assistência, calcada com os princípios da vigilância em

saúde, para a melhoria das condições de vida e saúde da população. (BRASIL, 2001).

As investigações sobre as condições do processo saúde/doença, no tocante aos

policiais, têm sido escassas, necessitando de maiores estudos no campo da saúde ocupacional,

para identificar os fatores de risco e os meios para desenvolverem melhores condições de

trabalho, priorizando a qualidade de vida da referida categoria.

Esses profissionais constituem um grupo que se destaca pelas peculiaridades das

atividades que desenvolve, exercendo seu trabalho nas mais diferentes condições, situações,

horários e ambientes.

Corroborando com esse raciocínio, Barboza (2003) relata que as intervenções na

saúde do trabalhador não se pautam apenas na ausência de doenças ocupacionais e acidentes de

trabalho, mas também, na transformação dos processos de trabalho em seus diversos aspectos, na

direção de buscar não apenas a eliminação de riscos pontuais, que podem ocasionar agravos à

saúde, mas processo produtivo que seja potencializador de saúde e de vida.

Dentre os diversos fatores de riscos dos quais são submetidos os policiais, estão: o

estresse, os riscos de acidente físico com armas, o risco auditivo. Mas, é o contato direto com

armas e munições e, conseqüentemente, com as substâncias das recargas de tais armamentos,

como: chumbo, pólvora e espoleta, que chama a atenção, pelo seu reconhecido efeito nocivo à

saúde.

7

Page 10: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

Para Mendes (1995) a sobrecarga de chumbo no organismo provoca alterações

gastrointestinais, renais, no sistema nervoso central, periférico, ósseo, hematológico e

cardiovascular.

Como profissional de saúde e integrante de uma Instituição da Polícia Federal, vimos

que as atividades laborais exercidas pelos policiais não estão de acordo com a norma técnica

estabelecida, embora possamos perceber que tais atividades devem obedecer medidas de

biossegurança.

A preocupação com essa realidade ganhou mais argumento quando da realização do

Curso de Especialização em Vigilância Sanitária, ocasião em que se tive a oportunidade de

estudar sobre assuntos ligados às medidas de biossegurança no processo de trabalho.

É mister que os profissionais, principalmente os policiais que manipulam as armas de

fogo, aprofundem seus conhecimentos acerca das medidas de biossegurança, pois estas

direcionam para uma prática segura e com qualidade no ambiente de trabalho, baseada nos

princípios da Vigilância em Saúde.

Refletindo-se na perspectiva da Vigilância Sanitária, que propõe, entre outras coisas,

integrar a responsabilidade pela eliminação, diminuição e prevenção dos riscos à saúde e de

intervenção sobre os problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e

circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde, instiga apreender como os

policiais vêm desenvolvendo essa atividade em sua prática e como utilizam as medidas de

biossegurança no âmbito do trabalho (BRASIL,2001).

Esses questionamentos têm origem na reflexão e observação do processo de trabalho

dos policiais, levantando os questionamentos: como é o ambiente físico em que ocorre a

manipulação das armas de fogo, munições e suas recargas? Quais os fatores de riscos que estão

expostos? Como utilizavam os equipamentos de proteção individual quando executavam tal

atividade?

Analisar essa atividade dos referidos profissionais, certamente constituiu uma

contribuição importante para repensarmos uma forma de melhor utilização das medidas de

biossegurança, em busca de uma assistência de qualidade na saúde do trabalhador. Neste sentido,

tornou-se relevante analisar as condições de biossegurança dos policiais que manipulam armas,

munições e fazem as recargas para a prática do tiro, como forma de identificar fatores de risco

que estão submetidos.

8

Page 11: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

• Analisar as condições de biossegurança dos policiais federais que manipulam armas de

fogo, munições e suas recargas na ótica da Vigilância Sanitária na cidade de

Fortaleza/CE em 2006.

2.2 Objetivos Específicos

• Descrever o ambiente físico em que ocorre a manipulação das armas de fogo, munições e

suas recargas;

• Identificar os fatores de riscos que estão expostos os policiais;

• Constatar a utilização de Equipamentos de Proteção Individual pelos policiais que

executam a manipulação e recargas de arma de fogo.

9

Page 12: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 Conceituando a Saúde do Trabalhador

As conquistas na Saúde do Trabalhador acompanham todo processo de ampliação do

conceito saúde/doença e a evolução do processo produtivo, firmando-se como uma área de

atuação de Saúde Pública com problemas complexos e diversos saberes.

A Saúde do Trabalhador é um dos campos da Saúde Coletiva que tem como

pressuposto a necessidade de que as ações de saúde sejam realizadas em sua integralidade. Para

Duncan et al. (1996, p. 302) ressalta que:

Todo profissional nesta área pode executar ações curativas (tratando os trabalhadores já acometidos por doenças) preventivas (propondo medidas ambientais corretivas, modificações no processo produtivo e no ritmo de trabalho, por exemplo) e de promoção de saúde (participando na capacitação e educação dos trabalhadores, seus representantes e os empresários, socializando as informações, informando sobre os riscos ocupacionais e seus efeitos, promovendo ações coletivas).

Portanto, podemos considerar que para levar de fato as ações de vigilância em saúde

do trabalhador em conjunto, incorporando princípios como: a interdisciplinaridade, a

pluriinstitucionalidade, o controle social, balizada na configuração do Sistema Único de Saúde

(SUS), tendo como objetivo a melhoria da qualidade de vida no trabalho.

Assim, as políticas na saúde do trabalhador devem ser voltadas para os princípios do

SUS, em consonância com os Sistemas Nacionais de Vigilâncias Sanitárias e de Vigilância

Epidemiológica, articuladas com a área assistencial, portanto, embasadas no trabalho, no

ambiente e na saúde, promovendo melhorias da qualidade de vida e conciliando os diversos

conflitos econômicos, sociais e políticos.

3.2 Contextualizando a Saúde do Trabalhador

Compreender a saúde do trabalhador e as relações saúde/doença/trabalho é de grande

importância para traçar o perfil ocupacional e adotar políticas de defesa da qualidade de vida

deste grupo produtivo da sociedade.

1

Page 13: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

Muitos pesquisadores têm estudado sobre a área ocupacional, identificando os

prejuízos à saúde física e mental dos trabalhadores e situações em que o trabalho deixa de

significar satisfação, ganhos materiais e sociais úteis, para tornar-se sofrimento, exploração,

doença e morte. (BARBOZA; SOLER, 2003).

Esta identificação dos limites entre atividades sadias e a evolução para o agravo à

saúde, torna-se um grande campo de atuação para diversos profissionais que se sensibilizam com

a relação do homem no seu setor produtivo, observando-o não apenas como um ser capaz de

produzir riquezas, mas um ser holístico influenciado pelas condições de trabalho, de saúde e

estilo de vida.

Para Fadel de Vasconcelos (1994) o aperfeiçoamento das intervenções em saúde do

trabalhador pressupõe a adoção de abordagens que operacionalizem fiscalizações dos ambientes

de trabalho, sob a forma de mapeamento de risco, o estabelecimento de fluxo de informações e o

delineamento dos perfis de morbimortalidade dos trabalhadores.

Por outro lado, este delineamento do perfil de morbimortalidade no Brasil é de difícil

demarcação, devido ao baixo número de notificações dos agravos à saúde do trabalhador, que

muitas vezes, quando notificados, não fazem elo com a relação laborativa.

Concordamos com o pensamento de Fadel de Vasconcelos (1997) quando se trata da

dimensão dos agravos à saúde do trabalhador no Brasil, classificando em duas características

fundamentais: a impossibilidade do dimensionamento real, devido à subnotificação dos agravos e

à inviabilidade desses agravos e inspeções sanitárias preventivas, posto que o instrumento oficial

segue um fluxo apenas ao pagamento de benefícios previdenciários e não chega aos órgãos com

atribuição de investigar os fatores determinantes do risco de acidentes e doenças ocupacionais.

Neste sentido, a visão assistencialista em beneficiar o trabalhador com pagamento

pelo agravo à saúde, não traça perfil, não identifica causas, não reduz o número de acidentes, não

garante o restabelecimento do trabalhador como força produtiva e marginaliza-o como inválido,

trazendo transtornos para o indivíduo, para a família e para a sociedade.

Então, as questões que envolvem a saúde do trabalhador e a necessidade de mapear os

riscos a que estão submetidos, devem ser discutidas, definindo medidas preventivas para

promover boas condições de trabalho e saúde.

1

Page 14: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

Ainda para o autor Fadel de Vasconcelos (1997), deve-se obter um desempenho

espacialmente situado e identificador de riscos, servindo ao planejamento da intervenção e da

organização dos serviços de saúde.

Segundo o Ministério da Saúde, a Vigilância em Saúde do Trabalhador avalia os

fatores determinantes de agravos à saúde dos trabalhadores, gerados pelo ambiente e condições

de trabalho ou pela organização de trabalho (como é planejado, estruturado e executado). O

resultado da exposição a este fato pode levar a acidentes de trabalho ou adoecimento (BRASIL,

2001).

Assim, é objetivo da Vigilância à Saúde do Trabalhador assegurar um ambiente e

condições de trabalho saudáveis, além de garantir a participação de trabalhadores e fornecer

subsídios para sua organização, por meio de sua inserção ativa no processo de produção, para

transformar as relações entre condições de trabalho e saúde.

3.3 Riscos em que Estão Submetidos os Policiais que Manuseiam Munição e Arma de Fogo

Os trabalhadores mesmo submetidos a riscos ocupacionais, sofrem influência dos

dados epidemiológicos da população geral, podendo ser agravados ou ter maior incidência de

acordo com a função laborativa que desempenhem. Os trabalhadores compartilham os perfis de

adoecimento e morte da população em geral, em função de sua idade, gênero, grupo social ou

inserção em um grupo específico de risco.

Para o Ministério da Saúde, o fator de risco é uma condição ou um conjunto de

circunstâncias que tem o potencial de causar um efeito adverso, que pode ser: morte, lesões,

doenças ou danos à saúde, à propriedade ou ao meio ambiente (BRASIL, 2001).

Além disso, os trabalhadores podem adoecer ou morrer por causas relacionadas ao

trabalho, como conseqüência da profissão que exercem ou exerceram, ou pelas condições

adversas em que seu trabalho é ou foi realizado (BRASIL, 2001).

Para o Ministério da Saúde, a classificação dos fatores de risco para a saúde e

segurança dos trabalhadores, presentes ou relacionados ao trabalho, são cinco grandes grupos,

vejamos abaixo:

1

Page 15: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

Físicos: ruído, vibração, radiação, temperaturas extremas, pressão atmosférica anormal;Químicos: agentes e substâncias químicas, sob as formas líquidas, gasosas ou de partículas e poeiras minerais e vegetais, comuns nos processos de trabalho;Biológicos: vírus, bactérias, parasitas, geralmente associados ao trabalho em hospitais, laboratórios e na agricultura e pecuária.Ergonômicos e Psicossociais: decorrem da organização e gestão do trabalho, como, por exemplo: da utilização de equipamentos, máquinas e mobiliários inadequados, levando a posturas e posições incorretas; locais adaptados com más ou ritmo de trabalho excessivo, exigências de produtividade, relações de trabalho autoritárias, falhas no treinamento e supervisão dos trabalhadores, entre outros.Mecânicos e de acidentes: ligados à proteção das máquinas, arranjo físico, ordem e limpeza do ambiente de trabalho, sinalização, rotulagem de produto e outros que podem levar a acidentes do trabalho (BRASIL, 2001, p. 44).

Assim, podemos considerar que os policiais estão submetidos a cinco grupos de riscos

no seu ambiente de trabalho, haja vista, a exposição e manuseio de materiais nocivos à sua saúde

em períodos diários e constantes.

3.4 Normas Técnicas para Estocagem de Armas de Fogo e Munições, de Acordo com o Ministério de Estado do Exército

As normas técnicas a que estão submetidas a estocagem de arma de fogo e munições

são regidas por legislação específica que regulamenta a fiscalização de produtos controlados pelo

Exército, tendo como referência decretos e portarias ministeriais, como o Decreto Nº 55.649/65,

88.113/93, 2.025/83 e 2998/99. Além da Portaria Ministerial Nº1024 de dezembro de 1997, que

aprovou as Normas para Recarga de Munição.

Dentre as liberações referidas nos documentos citados, destacamos algumas

deliberações, tais como:

A tentativa de restringir a autorização da aquisição de produtos bélicos para as forças armadas e auxiliares, policiais civis e atiradores cadastrados em clube de tiro, no intuito de restringir o livre comércio de armas e munições;As munições recarregadas somente poderão ser utilizadas na prática de tiro, pelos atiradores habilitados e nos treinamentos de tiros, pelos sócios e alunos;Para o armazenamento de pólvora e espoleta deve ser realizada prova de posse de área perigosa julgada aceitável, que é uma área suficientemente distante de habitações, estradas e depósitos de explosivos e inflamáveis, com a finalidade de limitar os danos pessoais e materiais, em caso de acidentes;Não guardar armas de fogo junto com munições;Sempre alerta. Não recarregar quando estiver cansado ou sob efeito de medicamentos ou de álcool;Guardar pólvora e espoleta separadamente, mantendo a embalagem original (BRASIL,2005).

1

Page 16: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

Essas determinações visam a segurança pessoal do atirador, como das demais

pessoas que tenham proximidades com as armas e munições, buscando restringir a aquisição,

adequar o local de armazenamento e a prevenção de acidentes.

3.5 Medidas de Segurança na Manipulação de Armas de Fogo e Munição

As substâncias tóxicas liberadas no manuseio das munições e das armas, devido aos

resíduos que impregnam esse material, são desconhecidas por muitos, mas é importante lembrar

que podem ser absorvidas pelo organismo humano, acarretando transtornos à saúde.

Para melhor entendimento, adotamos a opinião de Silveira (2003) em relação à

contaminação com o chumbo, quando retrata sobre a fragmentação dos projéteis com o impacto

no alvo, a denotação da espoleta que contém estifilato de chumbo, e quando o cano da arma e a

bala não estão completamente alinhados, liberando partículas de chumbo quando a bala passa

através da arma. Outras fontes de contaminação são o manuseio de grânulos de chumbo, quando

da montagem dos cartuchos e a reciclagem da sucata de chumbo de projéteis já utilizados.

De acordo com a Norma Regulamentadora Nº 19, que trata sobre explosivos, editada

pelo Ministério do Trabalho e do Emprego em consonância com a Consolidação da Legislação

Trabalhista, são enumerados alguns cuidados que devem ser adotados para impedir a entrada

dessas substâncias no organismo, entre elas:

Não comer, nem beber durante as sessões de tiro, sem antes ter lavado as mãos, pois os resíduos de chumbo ficam nos dedos;Nunca pôr bolinhas de chumbo na boca;Não beber nem comer durante a recarga, pois a ingestão de alguns dos elementos químicos existentes nos componentes da recarga podem ser prejudiciais à saúde;A recarga de munições exige muitos cuidados e atenção e só deve ser realizada quando o profissional puder dedicar-se exclusivamente a esta atividade, a fim de evitar negligencias;A essência da recarga está no correto manuseio da pólvora e espoletas, e na observância dos procedimentos existentes nos manuais dos fabricantes de equipamentos/ componentes de recarga;Não se deve fumar, nem deixar fonte de calor ou chama aberta próxima de pólvora e espoletas;Sempre use óculos de proteção, pois pode ocorrer caso que pode haver ricochetes na hora do tiro;Nunca utilize componentes desconhecidos ou duvidosos;Se for limpar as armas com solvente, ter cuidado para não aspirar os seus resíduos;Proteger as mãos quando for limpar substâncias e pólvora que se acumulam no cano das armas (“chumbamento”);

1

Page 17: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

Sempre que possível utilize máscara descartável na recarga e na prática do tiro para diminuir a absorção pela via respiratória (BRASIL,2005).

As orientações citadas acima são relevantes para diminuir o risco de absorção pelo

organismo de resíduos tóxicos, utilizando equipamentos a priori simples, mas de grande

importância para a proteção individual, gerando barreiras preventivas de riscos.

3.6 Doenças que Podem Ocorrer em Policiais que Trabalham com Munição e Arma de Fogo

Muitos são os riscos a que estão submetidos os policiais que trabalham com munições

e armas. Seja o risco de lesão por disparo acidental, a intoxicação com os componentes das

munições e das substâncias que se formam na combustão da munição, que são nocivas ao

organismo humano.

As munições são formuladas à base de pólvora, espoleta, bucha (disco de pequena

espessura confeccionado para separar a pólvora do projétil) e projétil (chumbo).

Esses componentes são também resultados de misturas como: a pólvora de carvão,

salitre e enxofre, a espoleta de estifilato de chumbo, a bucha de couro, metal ou cortiça, e o

projétil de chumbo ou outro metal.

O contato direto e rotineiro na manipulação de recargas e na prática do tiro pela

combustão da pólvora formando uma camada gasosa de gases superaquecidos associados a

resíduos de pólvora que acompanham propulsão do projétil, pode trazer prejuízo para a saúde.

Os principais prejuízos apresentados pela literatura são intoxicação pelo chumbo e

pelo enxofre.

3.6.1 Intoxicação pelo chumbo

A intoxicação pelo chumbo, também conhecida como saturnismo ou plumbismo, é

uma intoxicação por exposição prolongada ao metal. A principal via de absorção é a respiratória,

seguida da digestiva.

O chumbo absorvido distribui-se para todo organismo, sendo excretado pelos rins, biles, suor e leite materno. O acúmulo de chumbo costuma ocorrer de forma lenta e

1

Page 18: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

progressiva no organismo. Aproximadamente, 90% do depósito total do metal no organismo acumulam-se nos ossos, ocupando o lugar do cálcio. O restante é encontrado no sangue e nos tecidos moles, especialmente nos rins e no cérebro (DUNCAN,1996)

As várias atividades profissionais, realizadas, atualmente, expõem o homem a níveis

potencialmente tóxicos de chumbo e seus compostos inorgânicos, tornando a possibilidade de

intoxicação uma realidade aguda ou crônica.

Na atividade policial, esta exposição se dá na fabricação de objetos e artefatos de

chumbo, inclusive munições, na relação de doenças profissionais legalmente reconhecidas pela

Previdência Social.

O quadro clínico varia muito dependendo do tempo e do nível de exposição

ambiental, uso de meios de segurança coletivos e individuais.

A intoxicação crônica é a forma mais comum, caracteriza-se por um quadro progressivo e insidioso com os seguintes sintomas: astenia, mialgia, dores nos membros inferiores, insônia, fadiga, irritabilidade, déficit progressivo de memória, epigastralgia e cefaléia, acompanhado de uma história ocupacional caracterizada por exposição prolongada e poucas medidas de segurança, além dos indicadores biológicos. Os transtornos gartrointestinais, hiperucemia, gota e artralgia também são comuns (DUNCAN,1996)

A intoxicação aguda manifesta-se em situações especiais de exposição ambiental e em

crianças.

O diagnóstico baseia-se na história ocupacional, exame clínico e exames laboratoriais

como níveis séricos de chumbo, na urina e na urina pós quelante, fluorescência óssea ao raio X.

Um grande número de pacientes apresenta melhora progressiva com o simples

afastamento da exposição. Isto se deve à liberação progressiva e diminuição da absorção diária.

Casos que necessitem de tratamento medicamentoso devem ser encaminhados para centro

especializado em tratamento com quelante.

3.6.2 Intoxicação pelo dióxido de enxofre

O enxofre, um não-metal insípido e inodoro, é facilmente reconhecido na forma de

cristais amarelos que ocorrem em diversos minerais de sulfito e sulfato, ou mesmo em sua forma

1

Page 19: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

pura. É utilizado em fertilizantes, além de ser constituinte da pólvora e medicamentos laxantes,

tem usos como fungicida e espoliante.

O enxofre, o qual na combustão, transforma-se em óxido de enxofre, sendo este

constituído principalmente de dióxido de enxofre . Os estudos toxicológicos têm mostrado que o

dióxido de enxofre é principalmente um gás irritante das vias respiratórias, pele e olhos. É

conhecida a sua capacidade de causar broncoconstrição com conseqüente da resistência do fluxo

de ar nos pulmões (AIR LIQUIDE, 2002).

A exposição ao dióxido de enxofre, mesmo em baixos níveis, pode causar doenças

crônicas obstrutivas dos pulmões e, após longos períodos, o sistema respiratório fica prejudicado

com aumento das doenças relacionadas (SAÚDE BRASIL, 2005).

3.7 Equipamentos Proteção Individual

Identificar os riscos à saúde do trabalhador, em seu ambiente de trabalho, é essencial

para estipular medidas de prevenção aos agravos. É importante também um processo de

sensibilização para identificação do risco e da necessidade de se proteger dos eventos repetitivos

que traz os transtornos à saúde. Essa identificação dos riscos e da sensibilização dos profissionais

deve ser acompanhada de condições nos ambientes de trabalho na proteção individual e/ou

coletiva.

O Ministério da Saúde recomenda que Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC)

devem ser utilizadas antes de se recomendar o uso de Equipamentos de Proteção Individual

(EPI’s), particularmente no que se refere à proteção respiratória e auditiva (BRASIL, 2001).

É importante ressaltar que EPI’s podem ser úteis e necessários em algumas

circunstâncias, porém, não devem ser os únicos nem a medida de proteção mais importante.

Além da garantia de qualidade, os EPI’s utilizados devem ter sua efetividade avaliada

em seu uso cotidiano, uma vez que as especificações do fabricante e testes de qualidade são feitos

em condições diferentes do uso real. Os programas de utilização de EPI’s devem contemplar o

treinamento adequado para uso, acompanhamento e manutenção e/ou reposição periódica e

higienização adequada (BRASIL, 2001).

1

Page 20: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

Assim, as luvas, máscaras, protetores auriculares, roupas especiais, entre outros,

devem ser adequados às situações reais de trabalho e as especificações e diferenças individuais

dos trabalhadores.

Uma forma de controle do ambiente de trabalho é evitar que um agente

potencialmente perigoso ou tóxico para a saúde seja utilizado, formado ou liberado, se isto não

for possível, ou seja, essencial para o desenvolvimento da atividade, de forma a não se propagar

pelo ambiente. Quando não se tem forma de conter o agente no ambiente de trabalho, é

importante bloquear as vias de entrada no organismo, seja a respiratória, pele, boca e ouvidos,

para evitar que órgãos críticos sejam lesados (BRASIL, 2001).

Quando as condições de trabalho e as medidas de proteção são adotadas, é

fundamental o desenvolvimento de um processo de sensibilização dos trabalhadores para

identificarem-se como sujeitos participantes do processo, responsabilizando-os pela proteção da

sua própria saúde.

Para o Ministério da Saúde:

A informação e o treinamento dos trabalhadores são componentes importantes das medidas preventivas relativas aos ambientes de trabalho, particularmente se o modo de executar as tarefas propicia a formação ou dispersão de agentes nocivos para a saúde ou influencia as condições de exposição [...] Em situações especiais, podem ser adotadas medidas que limitem a exposição do trabalhador por meio da redução do tempo de exposição, treinamento específico e utilização de EPI (BRASIL, 2001, p. 44).

Desta forma, é de estrema necessidade conhecer os Equipamentos de Proteção, seja

individuais ou coletivos, adotados por policias na manipulação de munições e armas de fogo,

diante do conhecimento dos diversos riscos químicos a que estão submetidos.

3.8 Qualidade de Vida do Trabalhador

A qualidade de vida tem sido a busca de trabalhar a saúde, além da ausência de

doenças, para compreensão mais abrangente, de bem-estar humano e social, conciliando critérios

de satisfação individual e coletiva.

Há vários significados associados à qualidade de vida [...] o conceito mais abrangente inclui um conjunto de indicadores econômicos e de desenvolvimento sociocultural

1

Page 21: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

identificados como nível ou padrão de vida de uma população. Em política, o conceito-chave é o da eqüidade na distribuição das oportunidades sociais. Em psicologia social a referência mais forte é a experiência subjetiva da qualidade de vida representada pelo conceito de satisfação (DUARTE E DIOGO,2000)

Logo, melhorar a qualidade de vida implica em investir na ampliação das

potencialidades humanas em todas as dimensões da vida.

Para Minayo e Souza (2003) a qualidade de vida tem sido concebida como uma

representação social que leva em conta parâmetros objetivos (a satisfação das necessidades

básicas e das necessidades criadas pelo grau de desenvolvimento econômico e social) e subjetivos

(bem-estar, felicidade, amor prazer realização pessoal).

Na organização do trabalhador, as discussões da qualidade de vida, juntamente com as

condições de trabalho, a complexidade das relações socioeconômicas têm contribuído para

construir processo de mudanças e de resolução de problemas vivenciados pela saúde do

trabalhador.

Segundo Minayo e Souza (2003) a proposta de qualidade de vida, na saúde do

trabalhador, dialoga com noções de motivação, satisfação, saúde-segurança no trabalho,

envolvendo discussões recentes sobre novas formas de organização do trabalho e novas

tecnologias.

Portanto, a qualidade de vida no trabalho, extrapola tal ambiente, pois sofre

influências da realidade, das expectativas do trabalhador e das condições de organização que

desempenha na sua atividade profissional.

1

Page 22: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

4 PERCUSOS METODOLÓGICOS

A fim de analisar as condições de biossegurança dos policiais federais que manipulam

armas de fogo, munições e suas recargas, realizamos um estudo do tipo descritivo, numa

perspectiva de abordagem qualitativa. A opção por essa abordagem prende-se à nossa

compreensão de que ela incorpora melhor o significado e a intencionalidade como inerentes aos

atos, às relações e às estruturas sociais como construções humanas significativas.

Como explica Triviños (1987, p. 86), “A pesquisa de natureza descritiva é aquela que

tem como foco essencial o desejo de conhecer uma realidade, ou seja, descrever fatos e

fenômenos de uma determinada situação”. Para Minayo (1996) o estudo exploratório-descritivo

proporciona conhecimentos afirmativos e provoca mais questões para aprofundamentos

posteriores, dentro de uma abordagem qualitativa investigando o mundo dos significados das

ações e reações humanas.

O estudo foi desenvolvido em uma unidade descentralizada de uma Instituição

Federal, de referência na Segurança Pública Nacional do Município de Fortaleza-CE, que tem

como atividade-fim a repressão ao crime, trabalhando sistematicamente no combate ao crime

organizado, a proteção ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e como polícia administrativa

ou fiscalizatória.

Os sujeitos da pesquisa foram 11 (onze) policiais federais que manipulavam armas de

fogo e munições para o treinamento do tiro esportivo que estava em atividade.

O período de coleta de dados foi no mês de outubro de 2005. Para a coleta de dados

empíricos dessa investigação, utilizamos como instrumento a entrevista semi-estruturada, com

um roteiro previamente testado, a partir da realização de um teste piloto com dois policiais.

Optamos pela entrevista semi-estruturada por considerarmos que, o entrevistado tem a

possibilidade de discorrer sobre o tema proposto, sem respostas ou condições prefixadas pelo

pesquisador. Esse tipo de entrevista permite maximizar a apreensão da realidade empírica, que se

caracteriza por uma comunicação verbal que reforça a importância da linguagem e do significado

da fala. (MINAYO, 1996).

No momento da análise das entrevistas, foi percorrida cada etapa detalhadamente,

ouvindo atentamente o que será exposto por cada depoente, transcrevendo integralmente suas

falas gravadas, buscando manter a originalidade de seus pensamentos.

2

Page 23: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

A partir das falas, buscou-se apreender o significado, agrupando-os em 04 (quatro)

categorias temáticas (ambiente físico, fatores de riscos, uso de Equipamentos de Proteção

Individuais e identificação dos riscos à saúde) e discutidas com a literatura existente sobre o

assunto. Segundo Minayo (1996), as categorias são empregadas para se estabelecer classificações

que agrupam elementos, idéias ou expressões em torno de um conceito.

Para o cumprimento dos objetivos deste estudo, utilizamos a Resolução 196, de 10 de

outubro de 1996 (Diretrizes e Normas Reguladoras de pesquisas envolvendo Seres Humanos) do

Conselho Nacional de Saúde, que tem mérito de dar ênfase aos compromissos éticos com os

sujeitos da pesquisa.

Durante a entrevista, na primeira etapa da coleta de dados, os policiais foram

informados de que estariam sendo observados. Para a realização das entrevistas, inicialmente,

demos informações sobre a pesquisa, seus objetivos e aspectos éticos envolvidos, destacando os

cuidados relativos ao sigilo dos informantes e o caráter voluntário da participação. Todos os

entrevistados assinaram o termo de consentimento informado e todos os relatos foram gravados

com a aquiescência dos participantes da pesquisa para posterior transcrição.

Os discursos produzidos pelos sujeitos da pesquisa foram transcritos na íntegra e

codificados, utilizando-se a letra “P” (policiais) seguida de numeral de 1 a 11.

2

Page 24: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS

5.1 Descrição do Ambiente Físico da Recarga e da Prática do Tiro

Partindo da premissa de que o ambiente de trabalho deve ser apropriado para a

realização das atividades laborais, entretanto, para o policial que desenvolve a recarga ou prática

do tiro é necessário observar o ambiente no qual ela se desenvolve, iniciando com um

planejamento para minimizar os riscos de acidentes e adotar medidas de prevenção e controle dos

seus efeitos adversos.

Considerando esses pressupostos, apresenta-se a seguir uma descrição do ambiente físico da

recarga e da prática do tiro através de suas falas.

[...] são ambientes fechado de um lado, protegido, para o tiro não vazar [...] o lugar onde eu recarrego é um quartinho que tem um ventilador, exaustor que é para não juntar gases nem ar poluído para não ficar respirando aquilo (P1).

[...] ele fica em um local bastante isolado, tem um barranco atrás da linha de tiro, pneus e proteção para prática eficiente (P2).

[...] existe dois ambientes: um ambiente aberto e um ambiente fechado. O ambiente fechado é quando você vai fazer o tiro ao alvo (P3).

[...] é um espaço bastante amplo e distante, em virtude do risco que envolve a lida com arma de fogo e um tanto quanto indoxo [...] parece uma região do sertão (P4).

[...] é um ambiente aberto, mas que a gente monta com madeira, são vários tipos de técnicas, cada ambiente vai de acordo com a técnica utilizada (P5).

[...] geralmente os treinos são durante o dia com o sol bem quente e tem um local apropriado que é uma área reservada pra você manipular sua arma com segurança (P6).

[...] ambiente físico da prática de tiro é um ambiente, mas regido de segurança possível. Em todo estante do tiro tem um local para a limpeza, desmonte e monte. Já a recarga, em uma sala específica, própria, um ambiente que não tenha muita gente, tem que trabalhar com cuidado, ter a margem de segurança, você não pode fazer em qualquer ambiente (P7).

[...] é um estande aberto e tem várias filas, é um lugar bem aberto, assim meio serrado, de barro (P8).[...] a recarga nossa é feita em casa, a gente chega lá num quarto anexo, no térreo, aí a gente coloca o armamento dentro de um armário fechado, a munição numa gavetinha, as espoletas sempre guardadas em um isopor pra ela não pegar poeira e umidade porque

2

Page 25: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

estraga, e a pólvora é colocada em um balcão, sempre num lugar arejado e sempre trancado pra evitar que as pessoas cheguem lá e puxem (P9).

[...] sempre é feito de acordo com o regulamento, com a autorização, é vistoriado e sempre vamos para organizar, ver se a condição é boa, de segurança (P9).

O ambiente maior segurança possível. [...] a munição é feita por um colega, carregada por um colega que é o “P11”, que também já é especialista nisso e nunca ocorreu nenhum incidente com relação à munição e nem nos locais de treinamento (P10).

É realizado de uma zona que não tem casas próximas. O tiro in dor é um pouco mais prejudicial, porque os vestígios de pólvora eles ficam no ar [...] então, à medida que você vai respirando, vai sentindo aquela coisa ruim no nariz, mas lá onde a gente pratica é totalmente favorável ao tiro (P11).

Ao serem analisados os discursos dos policiais, percebe-se que, a prática, a recarga

da arma e a recarga da munição ocorrem em momentos e em ambientes diferentes. O ambiente

da prática do tiro é realizado em área isolada, específica e distante da zona urbana, podendo ser

em ambientes fechados ou abertos, conforme modalidade da prática do tiro.

Observa-se, ainda, que os depoentes referem ao ambiente aberto como fato positivo

para a prática do esporte, enquanto no ambiente fechado, quando enfatizado, é relatada a

possibilidade de inalação de gases. Exemplificando uma situação em que o ambiente de trabalho

pode ser gerador de efeitos adversos à saúde dos trabalhadores, responsável por morbidades,

absenteísmo e mortalidade por acidentes de trabalho, doenças ocupacionais e outras patologias

causadas por fatores ocupacionais.

O reconhecimento das condições de risco no ambiente de trabalho significa identificar

fatores ou situações com potencial de dano. Nos discursos dos entrevistados, observamos que o

ambiente apresenta riscos de lesões pelo manuseio de arma de fogo, risco respiratório, quando

realizado em ambientes fechados, e de lesão de pele, devido à exposição excessiva ao sol.

Verifica-se que alguns dos entrevistados caracterizam um dos ambientes como área

reservada para recarga e descarga da arma de fogo, local de “segurança específica”, seguindo as

normas que determinam um local específico para o desmonte da arma e manipulação, não

podendo, essa prática, ocorrer em meio aos estandes. Nesse espaço ocorre a manipulação tanto da

arma carregada como se tem contato direto com a munição preparada e estruturas das armas nas

quais pode se ter resíduos resultantes dos tiros durante a prática do esporte.

2

Page 26: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

Para o Ministério do Exército, um ambiente adequado para a recarga e prática do tiro

deve envolver a dispersão de gases tóxicos oriundos das substâncias de composição da munição,

dos solventes e das explosões do tiro.

Percebemos através dos discursos, que a preparação da recarga da munição ou a

preparação artesanal da munição, pode ou não ser realizada pelo próprio praticante de tiro

esportivo, quando não, são deixadas, geralmente, a cargo de um policial com mais experiências

quanto a esse procedimento.

Portanto, o ambiente da recarga de munição é regulamentado pelo Ministério do

Exército e segue regras rígidas como: distâncias entre domicílios, ambiente exclusivo para a

atividade, boa ventilação, sem umidade, longe de fonte de calor, uso de máscara, separação da

pólvora e chumbo, armamento separado da munição, e bom sistema de segurança contra furtos e

roubo.

Enquanto a manipulação na área de segurança de recarga da arma é realizada com

projéteis confeccionados no ambiente de recarga de munição, o contado é com substâncias que

formaram os projéteis como “ponta” de chumbo, espoleta, pólvora, cápsula. Substâncias descritas

na literatura, geralmente, como tóxicas, devido à possibilidade de absorção pelo organismo

(MENDES, 1995; BRASIL, 2001).

Visualiza-se, ainda, que alguns entrevistados realizam a fabricação artesanal de

munição, no entanto, referem à importância do ambiente seguro e ventilado para a realização da

recarga de munição. Os demais policiais, que adquirem a munição de instrutores ou compra

direto das distribuidoras, não fazem referencia quanto ao ambiente onde se realiza a recarga.

5.2 Fatores de Riscos a que Estão Expostos os Policiais que Praticam o Tiro

5.2.1 Risco de um acidente

O ambiente no qual desenvolve a prática de tiro é regido por normas para área de

recarga, de descarrego, e de prática propriamente dita. É monitorada por um instrutor que dá

ordens e segue regras de desclassificação, de acordo com pontuação ou práticas perigosas.

2

Page 27: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

Nos discursos abaixo, os entrevistados ressaltam os riscos de acidentes dentro de suas rotinas de atividades.

[...] o maior perigo é um atirador inexperiente, ou inabilitado, que por uma avoada qualquer, ele dá um tiro num colega (P1).

[...] caso de um disparo acidental. [...] não há registro de acidente de tiro no estande no Brasil, pelo que me consta não existe (P2).

[....] o risco existe, desde de que não sejam obedecidas as normas de segurança (P6).

[...] a prática do tiro é perigosa, por causa do manuseio, na hora que vai praticar, sempre que você vai limpar sempre com máximo de segurança (P9).

Na prática de manuseio de armas de fogo deve-se o portador ficar atento para os

cuidados de risco de um acidente. Os discursos demonstraram sentimentos de preocupação e

atenção, quanto ao manuseio dessas, bem como, a utilização da norma preconizada pelo

Ministério do Exército.

A prevenção de acidentes deve levar em consideração dois aspectos fundamentais:

primeiro refere-se à sensibilização quanto aos riscos da prática do tiro e, em segunda, a avaliação

do ambiente de estande com área reservada para recarga, já a descarga, as regras sempre são

esclarecidas, relembradas e a avaliada as condições psicológicas dos praticantes.

Tendo em vista a necessidade de identificação dos riscos de acidentes, a saúde do

trabalhador correlacionando com a vigilância sanitária, visualiza a relevância dessa quanto a

responsabilidade pela eliminação, diminuição e prevenção dos riscos à saúde e de intervenção

sobre os problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e

da prestação de serviços de interesse da saúde.

5.2.2 Risco químico

Os agentes químicos são considerados importantes nas relações de trabalho, devido ao

amplo espectro de substâncias encontrados nos locais de trabalho.

Na prática do tiro e nas manutenções das armas, poder-se-iam enumerar diversas

substâncias as quais estão expostos os policiais entre elas os solventes, pólvora, chumbo, espoleta

e os lubrificantes como relatam os depoentes seguir:

2

Page 28: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

A manutenção é própria, cada qual faz a sua manutenção. Limpeza com produtos químicos, no caso, com querosene, óleo, certo? Tem solventes, você desmonta, lava, limpa. O querosene, o produto mais perigoso é o querosene. [...] agora a recarga, geralmente, tem pessoa a quem podemos comprar a munição já feita, mas seria mais cara, no caso eu mesmo faço a minha recarga, aí é onde está o perigo [...] eu faço em minha casa, eu tenho a minha máquina, tudo registrado pelo Exército, direitinho [...] você tem que ter conhecimento, não pode ser um leigo chega lá e querer fazer recarga sem saber, não [...] se você pegar em uma espoleta, ela tem um produto químico dentro que é altamente oxidante e as modernas desoxidante. Então ele passa para a corrente sanguínea, além de você estar danificando a espoleta, ela pode falhar. Se você pegar nela, tá entendendo? A pólvora é um dos produtos químicos também tóxico, você não pode pegar, você tem que usar luvas (P1).

Quem faz a manutenção da arma e a limpeza da arma quem faz é cada atirador que faz em sua casa. Agora, é [...] limpa e lubrifica em casa, agora em relação à munição, tem pessoas que faz a munição (P2).

[...] e utilizo o material de limpeza, eu limpo, tem o óleo para retirada da pólvora, coloco óleo lubrificante, quando tenho tempo, eu deixo um pouquinho ela ficar no óleo, para evitar ferrugens (P4).

[...] para treinamento, a munição utilizada é feita com a máquina do departamento, temos uma máquina que faz recarga, essa recarga ela é feita, a única coisa que é nova é no caso a ogiva, o resto é tudo reaproveitável (P5).

[...] nos treinamentos é recarga, agora no dia a dia a minha arma é municiada com munição própria, nova [...] (P6).

[...] o esporte não é barato. Hoje 90% da munição do tiro é recarregada, quando a gente não recarrega, a gente tem uma pessoa que recarrega pra fazer um tiro de munição específica (P7).

[...] Tem vezes que a arma tá muito suja, você tem que deixar ela de molho, deixar de molho no solvente, a fábrica manda dizer que pode colocar até na água morna com sabão, aí ela vai soltando [...] (P9).

[...] mas a parte de recarga não tem, não é danosa à saúde, porque a pólvora ela tá toda acondicionada, e a pólvora, ou seja, quando ela não está sendo usada na detonação do projétil ela não tem absolutamente nenhuma contra-indicação, é totalmente seguro, tanto pra quem usa como pra quem faz (P11).

Conforme se observa, 6 dos 11 policiais identificam algum risco químico na recarga

da munição ou manipulação da arma de fogo, sendo relatados como fatores de riscos químicos os

solventes, espoleta, pólvora. Nas falas, o chumbo não é referido como risco, devido à ogiva ser,

geralmente, adquirida nova e tornando-se não reaproveitavél, diminuindo, assim, o contado na

manipulação, embora exista.

2

Page 29: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

Para Mendes (1995) os solventes são produtos químicos líquidos à base de carbono,

compostos de diversas estruturas químicas, utilizadas para dissolver outras substâncias e que as

principais vias de exposição a estes solventes são as inalatórias e cutâneas, afetando,

principalmente, a pele e o sistema nervoso central.

A recarga é uma das atividades de quem manuseia arma que traz mais prejuízo à

saúde, devido o contato mais próximo de substâncias que compõem a pólvora, a espoleta e

também o projétil de chumbo, que tem grande contato com a pele e interfere, principalmente, no

sistema nervoso, na pele, no sangue e rins.

Para Mendes (1995) a principal via de exposição é a inalação de poeira de chumbo,

mas a ingestão também é, devido à contaminação de mãos, alimentos e cigarros.

A pólvora, conforme relata o P11, apresenta redução da inalação dos gases tóxicos no

simples manuseio, sendo mais expressiva a contaminação na hora da detonação do projétil, com

possibilidades de inalação de gases poluentes com base no dióxido de carbono e de enxofre. É

importante enfatizar que, embora não sejam inalados os gases no momento do manuseio, outras

substâncias maléficas ao aparelho respiratório são aspiradas, quando não devidamente protegido,

devido degradação da pólvora, resultante da manipulação, podendo formar nuvens de poeira de

pólvora.

A espoleta, também identificada como risco químico, é fonte de contaminação que

segundo Silveira (2003) contém estifinato de chumbo, um composto altamente explosivo, usado

para iniciar a combustão na espoleta. A manipulação dessa é tóxica, devido à presença do

chumbo, que pode ser absorvido através do contato com a pele.

5.2.3 Risco de isolação

As atividades realizadas ao ar livre, recebendo as radiações solares por períodos

prolongados, podem provocar cãibras, síncopes, exaustão e/ou insolação (MENDES, 1999).

Na prática do tiro, quando realizada em campos abertos, é comum a exposição ao sol

por períodos prolongados. Porém, apenas o policial número 6 identificou como risco para a

prática do tiro esportivo.

2

Page 30: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

[...] geralmente os treinos são durante o dia, com o sol bem quente, se expõe muito ao sol por longos períodos [...] outra coisa que eu também tô sempre usando também, é protetor solar que a gente fica exposto ao sol, você chega lá umas 9 horas e fica até umas 14 horas, é bom também para evitar um câncer de pele ou coisa assim [...] (P6).

Torna-se importante orientar aos praticantes de tiro a necessidade de hidratação e uso

de protetor solar, a fim de prevenir riscos com insolações.

5.3 Uso de Equipamentos de Proteção Individuais

As medidas que se podem adotar para contornar as situações adversas que envolvem a

prática do tiro incluem alterações no ambiente da atividade e limitações na exposição aos fatores

de risco.

Para que essas medidas sejam efetivas, é necessário analisar o tempo de exposição,

necessidade de um treinamento específico e utilização de equipamentos de proteção individual.

No caso deste estudo, foi verbalizado o uso de equipamentos de proteção, sendo

unânime a identificação dos os óculos, os abafadores como indispensáveis, conforme se verifica

nas falas abaixo.

[...] É, temos equipamentos, óculos, temos os abafadores para o ouvido, nunca se dá tiro sem abafador, óculos para proteção se chumbinho vir pegar no olho [...] (P1).

[...] tem que usar um abafador para o ouvido não ter problema, porque algumas armas pesadas têm o tiro muito alto, bastante alto o barulho, e também um óculos de proteção. Quando você vai atirar com a metralhadora o alvo, resvala alguma coisa, ele pode voltar alguma coisa. Você tem que tá com a vista protegida [...] (P3).

[...] eu, pessoalmente, utilizo óculos. Todos nós utilizamos óculos de proteção pra que não venha atingir os olhos, protetor auricular e alguns utilizam coletes [...] eu tenho luva também, mas só que a luva atrapalha. Para fazer a limpeza, eu utilizo luvas em virtude do óleo, e também porque também é indicado nas instruções de uso. Lá no tiro a gente não utiliza porque atrapalha um pouco. (P4).

Nós usamos o protetor de ouvido que é obrigatório no tiro, os óculos que é obrigatório [...] (P7).

Nenhum, o que agente tenta fazer é voltar sempre a bancada, antes a gente fazia num quarto, quando tá lá a porta fica sempre aberta pra ventilar, pra não ficar desabafado, agora o manuseio é normal, sem luva sem nada. (P9).

2

Page 31: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

Pra prática de tiros sim, a maior preocupação são com os olhos que são obrigatório o uso de óculos de proteção, e com os ouvidos pra evitar a perda da audição, então agente trabalha com protetor auricular e com óculos pra proteger a visão. (P10).

Na prática do tiro é obrigado [...] o uso de abafador e de óculos, obrigado. (P11).

Só óculos, mas a proteção quase que, que dispensável, porque o perigo mesmo eu não vejo nenhum. (P1). (Quanto à recarga).

Observa-se nas falas o reconhecimento da necessidade do uso dos equipamentos de

proteção individual, embora, também, perceba-se a minimização de necessidade do uso da luva

na prática do tiro, por apresentar melhor treinamento e habitualidade para a acomodação do uso.

Outra dificuldade na implementação dos equipamentos de proteção individual é do

colete, que seria uma proteção para o risco de um tiro acidental.

Quanto à recarga de munição, nota-se uma maior negligência no uso de equipamentos

de proteção, embora seja a atividade que tenha maior contato com produtos químicos e poeira dos

resíduos.

5.4 Identificação dos Riscos à Saúde

Para Mendes (1995) o trabalhador compartilha com o conjunto da população das

estatísticas de adoecer e morrer, mas é reconhecido que o trabalho pode determinar formas

diferenciadas de adoecer e morrer, de acordo com a profissão a que são submetidos, apresentando

um campo que deve ser contemplado pelos serviços de saúde.

A identificação desses riscos e a promoção da saúde, no ambiente de trabalho, devem

ser uma prerrogativa dentro dos serviços públicos e privados, incentivados pelos órgãos que

trabalham com as condições de trabalho, incluindo, aqui, a Vigilância Sanitária.

A prática do tiro, enquanto esporte e necessidade de aperfeiçoamento para os

policiais, apresenta riscos à saúde, devido: ao ambiente no qual se realiza, os risco de acidente,

riscos de lesão e riscos químicos que estão submetidos, segundo relatam os policias nas falas

abaixo:

[...] E outra coisa também que passa muitas vezes para o sangue é o chumbo, o chumbo mesmo da ponta da bala mesmo, você não pode ficar pegando muito, porque passa para a corrente sanguínea. O cara que não faz é até melhor comprar de fábrica mesmo,

2

Page 32: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

porque se você comprar de alguém que faz em fundo de quintal, muita gente já adoeceu com isto, você está propiciando a doença de alguém (P1).

[...] a audição, né, porque pelo que eu falei devido ao barulho que é alto. Quando você está no estande de tiro são muitos atiradores. Nós temos em uma média de 13 atirando simultaneamente [...] e sempre usando óculos [...] outra coisa que eu também tô sempre usando também é protetor solar que a gente fica exposto ao sol, você chega lá umas 9 horas e fica até umas 14 horas, é bom também para evitar um câncer de pele ou coisa assim. (P3).

[...] risco existe em virtude da utilização da arma de fogo, mas esse risco é necessário porque na nossa atividade temos que ter a certeza do que é capaz de fazer e do funcionamento daquela arma. (P4).

[...] se não utilizar a proteção auricular e a proteção para os olhos certamente terá um grande risco, fora as vezes que uma cápsula sai, bate no braço, mas não há nada de grave no máximo uma queimadura leve. (P5).

o risco existe, você quando está manuseando uma arma de fogo você tem que estar sempre atento observando aquelas normas de segurança [...] mesmo na limpeza também tem que seguir as normas de seguranças. O risco existe desde de que não sejam obedecidas as normas de segurança, procedimentos de segurança. (P7).

Eu mesma só vejo na prática de tiro, como risco, um tiro. (P8).

Geralmente o risco maior que a gente corre é, assim, tipo, um erro humano mesmo, arriscado a levar um tiro por descuido de um colega, mas as regras de segurança estão sendo batidas sempre [...] risco com a munição, tem assim, os gases da pólvora, do chumbo que assim, sempre em contato depois de muito tempo pode ser que cause risco maior, e pra pessoa que está carregando, sempre em contato com o chumbo, pode acarretar um risco à saúde. (P10).

Riscos à saúde? Olha! Eu acredito que a gente lida também com o chumbo, o chumbo do projétil, o projétil é dividido em quê? Na ogiva, a cápsula, a pólvora que vem dentro e a espoleta, o que é que seria danoso ali? A pólvora, com certeza, não é, porque ela está acondicionada e o projétil, ou seja, a ogiva de chumbo, ele já vem totalmente feito, o danoso seria você fazer aquele projétil, aquela ogiva, aí realmente seria muito perigoso pra saúde, muito mesmo [...] (P11).

[...] E tem amigos meus que constroem aquelas ogivas. E como é que constrói? Derrete o chumbo no fogão mesmo. Derrete e depois coloca num receptáculo que ele vai endurecer, e à medida que ele vai derretendo, vai soltando gases, né? Ali é muito danoso, mas quando está fazendo a recarga, já recebe feito o projétil, é a mesma coisa de um pedaço de chumbo qualquer. (P11).

Nesses relatos, observa-se que as falas não se restringem apenas ao acidente com tiro

acidental, mas também doenças percebidas ou que tiveram o conhecimento de que outras pessoas

adquiriram na prática do tiro. Ainda pode-se identificar uma alerta para o risco na manipulação

3

Page 33: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

da recarga de munições, incluindo, aqui, o chumbo e a espoleta pelo grau de absorção desse

agente e seus efeitos maléficos à saúde.

Um tópico importante que surgiu nas entrevistas é o fato da recarga ter o preço alto da

munição industrializada, levando os policiais a adquirirem ou realizarem a própria recarga da

munição, com o intuito de baratear os custos.

A fabricação dessa munição artesanal deve ser realizada por profissionais que tenham

conhecimento da prática e dos riscos que envolvem tal atividade, com o intuito de diminuir os

agravos à saúde.

É papel dos órgãos fiscalizadores identificar a recarga artesanal e propiciar

conhecimento dos riscos a que estão submetidas às pessoas que realizam a manipulação de forma

inadequada e em ambientes impróprios, propiciando perigo não só para o profissional, mas para

pessoas a sua volta.

Apesar de ser percebido por alguns policiais, o risco à saúde pela manipulação dos

componentes da munição e dos riscos que envolvem o ambiente da prática do tiro, há policiais

que só identificam como risco à saúde, o risco acidental de um tiro, estando disperso quanto ao

ambiente e os instrumentos que usam nessa atividade.

Ainda pode-se concluir que, existem policiais que têm o conhecimento sobre os

possíveis riscos à saúde, mas minimizam por considerarem que os riscos ocorrem apenas no

momento da detonação do tiro. Fato contraditório com a literatura, que segundo Silveira (2003)

pode ocorrer tanto na fragmentação do projétil no impacto no alvo, como na detonação da

espoleta ou também quando o cano da arma e a bala não estão completamente alinhados. Para

Mendes (1995) o chumbo e seus compostos tóxicos são identificados como risco profissional na

fabricação de objetos e artefatos, inclusive munições. Para o Ministério da Saúde a contaminação

com o chumbo relaciona-se também com o tempo de exposição e os seus efeitos acumulativos no

organismo (BRASIL, 2001).

3

Page 34: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo desperta uma reflexão sobre a prática do tiro, quanto à forma, aos

riscos e à percepção dos policias no manuseio da arma de fogo e da recarga de munições. Um

esporte praticado por grupos específicos e, muitas vezes, distante dos estudos dos profissionais da

saúde, quanto à promoção de saúde, prevenção dos fatores de riscos e estudos estatísticos de

Vigilância em Saúde, que envolve a prática desses profissionais.

Considerando os objetivos traçados e os dados obtidos nesta pesquisa, o estudo

revelou que o ambiente físico onde ocorre a prática do esporte, é agravado pela modalidade de

prática do tiro e que o ambiente da recarga deve seguir normas regulamentadas pelo Ministério

do Exército, pois para os policiais, os estandes apresentam boas condições para a prática de tiro

Os policiais federais identificam a prática do tiro como segura, desde que sigam as

normas de segurança e apontem como os maiores riscos tiros acidentais, exposição prolongada ao

sol, ruído elevado, lesões oculares. Mas são poucos os que identificam a exposição aos gases

tóxicos provenientes da pólvora e da espoleta, como também não relatam sobre as precauções do

contato com os projéteis, os quais deixam nas mãos resíduos de chumbo, muitas vezes por

períodos prolongados.

Quanto à aquisição da munição, ela pode ocorrer de três formas: compra de munição

nova, compra de munição recarregada e realização da própria recarga. Observou-se que, quem

compra a munição nova ou recarregada não se refere aos riscos dessa prática da recarga, quanto

aos que recarregam, identificam os riscos, embora alguns os menosprezem. Foi relatado, ainda,

que ocorre a recarga na própria residência, com licença dos órgãos responsáveis.

Outro ponto importante da pesquisa é quanto ao uso dos Equipamentos de Proteção

Individual, que são relatados como necessários o uso de óculos, proteção auricular. Porém, foram

identificados riscos de insolação, de tiro acidental, risco químico e os policiais não identificaram

a necessidade de uso de equipamentos de proteção neste sentido.

O que este estudo revela diz respeito à importância de uma análise crítica da referida

prática, repensando as condições, o grau de conhecimento dos praticantes, intensificando os

debates sobre o assunto e despertando nos profissionais de saúde e, em especial, na Vigilância

Sanitária, mais um campo de atuação, enquanto conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir

3

Page 35: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente,

da produção e circulação de bens e prestação de serviço de interesse à saúde

A escassez de estudos específicos sobre o tema na área da saúde, leva-me a sugerir a

realização de novas pesquisas, a fim de despertar a consciência crítica dos profissionais da área e,

em particular, dos profissionais que realizam recarga e a prática do tiro.

3

Page 36: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

REFERÊNCIAS

AIR LIQUILE. Ficha de dados de segurança dióxido de enxofre. Disponível em: <http//www.airliquide.com/safety/msds/pt/113_Al_pt.pdf>. Acesso em: 13 jul. 2005.

BARBOZA, D. B.; SOLER, Z. A. S. G. Afastamento do trabalho na enfermagem: ocorrências com trabalhadores de um hospital de ensino. Revista Latino-Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 11, n. 2, mar./abr. 2003.

BRASIL. Ministério da Saúde. Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde. Brasília, DF, 2001. (Serie A; Normas e Manuais Técnicos, n. 114).

______. Ministério da Saúde. Saúde do trabalhador. Brasília, DF, 2001. (Caderno de Atenção Básica, n. 5).

BRITO, J. C.; PORTO, M. F. S. Processo de trabalho, riscos e cargas à saúde. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, 1991.

DUARTE, Y. A. de; DIOGO, M. J. D. Atendimento domiciliar: um enfoque gerontológico. São Paulo: Atheneu, 2000.

DUNCAN, B.B. et. al. Medicina ambulatorial: condutas clínicas em atenção primária. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1996.

FADEL DE VASCONCELLOS, L. C. Os caminhos do caminho: a municipalização como estratégia de consolidação da saúde do trabalhador no setor saúde. 1994.Dissertação (Mestrado) - Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 1994.

FADEL DE VASCONCELLOS, L. C.; RIBEIRO, F. S. N. Investigação epidemiológica e intervenção sanitária em saúde do trabalhador: o planejamento segundo bases operacionais. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, abr./jun. 1997.

MENDES, R. Patologia do trabalho. Rio de Janeiro: Atheneu, 1995.

MINAYO, M. C. S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1996.

MINAYO, M. C. S.; SOUZA, E. R. de. Missão investigar: entre o ideal e a realidade de ser policial. Rio de Janeiro: Garamond, 2003. 352 p.

3

Page 37: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

SAÚDE BRASIL. Qualidade do ar. Disponível em: <http://www.saudebrasilnet.com.br/saude2.asp?secao17&id=229>. Acesso em: 13 jul. 2005.

SILVEIRA,M.A; FERREIRA,L.R. Intoxicação por Chumbo em atividade de instrução de tiro. Rev. Bras. Med. Trab., Belo Horizonte. Vol.1 Nº. p.71-73. Jul-set.2003.

TRIVIÑOS, A. N. S. A pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. 145 p.

3

Page 38: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

APÊNDICE A

ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

I-IDENTIFICAÇÃO

NOME: _______________________________________________________________

IDADE: ______________________________________________ SEXO: ( ) F ( ) M

SITUAÇÃO CONJUGAL: ________________________________________________

CARGO: ________________________________________ SETOR: __________

GRAU DE INSTRUÇÃO: _____________________

CATEGORIA DE EXPOSIÇÃO: _____________________________

CURSO DE TIRO:_________________________________________

II-QUESTÕES NORTEADORAS

1) Descreva o ambiente no qual desenvolve a atividade de manuseio de recarga de munição e

arma de fogo.

2) Quem faz a manutenção das armas?

3) É necessário algum equipamento de proteção individual para manuseio de munições e armas?

4) Você identifica algum risco para a saúde no manuseio e recarga de arma de fogo?

ENTREVISTADOR: ___________________________________________

ENTRVISTADO: ______________________________________________

3

Page 39: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

APÊNDICE B

TERMO DE CONSENTIMENTO DA INSTITUIÇÃO

Estamos solicitando a V.Sª. a autorização para coleta de dados, no Departamento de

Polícia Federal no Ceará, que serão utilizados na pesquisa científica de conclusão do Curso de

Especialização em Vigilância Sanitária da Escola de Saúde Pública do Estado do Ceará.

A citada pesquisa será realizada no mês de setembro de 2005, tendo por objetivo:

“Analisar as medidas de biossegurança na estocagem, manipulação e recarga de munição e arma

de fogo”, dos policiais que realizam prática esportiva de tiro.

Os dados obtidos nas entrevistas serão apresentados em relatórios e revistas científicas

da área da saúde, sempre omitindo nomes ou quaisquer informações que possam identificar os

entrevistados.

Atenciosamente,

_________________________________

Francisca Fabiana dos Santos

AUTORIZAÇÃO

Declaro que conheço os objetivos da pesquisa “Análise das medidas de biossegurança na

estocagem, manipulação e recarga de munição e arma de fogo” e autorizo a realização da

coleta de dados.

____________________________

Superintendente do DPF

3

Page 40: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

APÊNDICE C

TERMO DE CONSETIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Estamos desenvolvendo uma pesquisa entrevistando policiais que realizem prática de tiro esportivo ou de treinamento, no intuito de conhecer as condições de biossegurança na estocagem, manipulação e recarga de armas de fogo e de munições. Assim, estou lhe convidando para participar deste estudo.

O presente estudo será realizado com policiais desta instituição (SR/DPF/CE), objetivando conhecer as condições e os riscos a que estão expostos os policias que trabalham com munições de arma de fogo.

Para isso, se o(a) senhor(a) concordar em responder algumas perguntas sobre o assunto, gostaria de pedir permissão para gravar a nossa conversa, pois, assim, eu não perderei tempo escrevendo, e ao mesmo tempo, não perderei nada do que o (a) senhor me falar. Gostaria de dizer que a sua participação é voluntária. Pelo fato de aceitar participar da pesquisa o senhor (a) não receberá nenhum benefício em troca dessa entrevista.

Informo-lhe que os dados obtidos na sua entrevista serão somados aos de outras entrevistas e serão apresentados em relatórios e revistas científicas da área da saúde, sempre omitindo o seu nome, ou qualquer informação que possa lhe identificar.

Caso surjam outras dúvidas, poderá entrar em contato no meu endereço: Rua Jaú, n. 60, Bloco III, Apto. 304, Vila União, Tel. 99723825.

Em face aos motivos acima mencionados, gostaria muito de poder contar com sua valorosa cooperação, a qual, desde já, agradeço.

Atenciosamente,

__________________________________________

Francisca Fabiana dos Santos

Declaro que tomei conhecimento do estudo: “Análise das Medidas de Biossegurança na

Estocagem, Manutenção e Distribuição de Munição e Arma de Fogo”, realizado pela pesquisadora

Francisca Fabiana dos Santos, compreendi seus objetivos, concordo em participar da pesquisa e declaro

que não me oponho que a entrevista seja gravada.

Fortaleza, ______ de ____________________ de 2005.

_____________________________________________

Assinatura do depoente

3

Page 41: MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA manuseio de arma de fogo.pdf

3