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EPILEPSIA MIOCLÔNICA E DISSINERGIA CEREBELAR MIOCLÔNICA CONSIDERAÇÕES CLÍNICAS E ELETRENCEFALOGRAFICAS A PROPÓSITO DE 8 CASOS Luís MARQUES DE ASSIS * ADAIL FREITAS JULIÃO *** JOSÉ LAMARTINE DE ASSIS ** ROBERTO MELARAGNO FILHO** ARON J. DIAMENT*** HORÁCIO MARTINS CANELAS **** Mioclonias são freqüentes nos casos de epilepsia, sobrevindo de modo paroxístico e ocorrendo seja isoladamente, como única manifestação da crise (pequeno mal mioclônico) ou associadas a outros sintomas, principalmente a convulsões. Existem, porém, outras afecções, mais graves e de evolução progressiva, nas quais as mioclonias têm parte primordial, assumindo caráter contínuo, acompanhando-se ou não de crises convulsivas generalizadas; isso ocorre, por exemplo, na epilepsia mioclônica (Unverricht-Lundborg) e na dissinergia cerebelar mioclônica (Ramsay-Hunt), das quais nos ocuparemos no presente trabalho. A epilepsia mioclônica (EM) foi descrita por Unverricht (1891) e Lund- borg (1903), como afecção hereditária de caráter progressivo, com crises convulsivas generalizadas associadas a mioclonias e grave comprometimento psíquico. Em 1921, Hunt descreveu a dissinergia cerebelar mioclônica (DCM), constituída pela associação da dissinergia cerebelar progressiva com a epi- lepsia mioclônica de Unverricht-Lundborg. A partir dessas publicações ini- ciais, várias têm sido as referências a essas afecções na literatura. De 36 casos registrados na literatura que compulsamos 2, 4, 8, 14, 16, 21, 26, 27, 29, 32, 36, 37, 41, 45, 46, em 9 foi feito o diagnóstico de dissinergia cerebelar mioclônica e, em 27, de epilepsia mioclônica. A incidência predominou nitidamente em indivíduos com menos de 20 anos, com um mínimo de 3 e um máximo de 29 anos; 23 pacientes eram do sexo masculino e 13 do feminino. O tempo de evolução da doença variou entre 1 e 24 anos. Mioclonias, como manifestações básicas de ambas as afecções, estavam presentes em todos os 36 casos. Em apenas 2 constituíram o sintoma inicial da moléstia, em 8 apareceram concomitantemente com as convulsões e, em 17, apareceram após intervalo que variou de meses até 9 anos em relação à primeira crise convulsiva. Na maior parte dos 36 casos as mioclonias Trabalho da Clínica Neurológica da Fac. Méd. da Univ. de São Paulo (Prof. Adherbal Tolosa): * Médico contratado; ** Livre-docentes; *** Médicos auxilia- res; **** Assistente-Docente.

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EPILEPSIA MIOCLÔNICA E DISSINERGIA CEREBELAR MIOCLÔNICA

C O N S I D E R A Ç Õ E S C L Í N I C A S E E L E T R E N C E F A L O G R A F I C A S A

P R O P Ó S I T O D E 8 CASOS

Luís M A R Q U E S DE A S S I S *

A D A I L F R E I T A S J U L I Ã O * * *

JOSÉ L A M A R T I N E DE A S S I S * *

R O B E R T O M E L A R A G N O F I L H O * *

A R O N J. D I A M E N T * * *

H O R Á C I O M A R T I N S C A N E L A S * * * *

Mioclonias são freqüentes nos casos de epilepsia, sobrevindo de modo

paroxístico e ocorrendo seja isoladamente, como única manifestação da crise

(pequeno mal mioclônico) ou associadas a outros sintomas, principalmente

a convulsões. Existem, porém, outras afecções, mais graves e de evolução

progressiva, nas quais as mioclonias t êm parte primordial, assumindo caráter

contínuo, acompanhando-se ou não de crises convulsivas generalizadas; isso

ocorre, por exemplo, na epilepsia mioclônica (Unverr icht-Lundborg) e na

dissinergia cerebelar mioclônica (Ramsay -Hun t ) , das quais nos ocuparemos

no presente trabalho.

A epilepsia mioclônica ( E M ) foi descrita por Unverricht (1891) e Lund-

borg (1903), como afecção hereditária de caráter progressivo, com crises

convulsivas generalizadas associadas a mioclonias e grave comprometimento

psíquico. E m 1921, Hunt descreveu a dissinergia cerebelar mioclônica ( D C M ) ,

constituída pela associação da dissinergia cerebelar progressiva com a epi­

lepsia mioclônica de Unverricht-Lundborg. A partir dessas publicações ini­

ciais, várias têm sido as referências a essas afecções na literatura. De 36

casos registrados na literatura que compulsamos 2, 4, 8, 14, 16, 21, 26, 27, 29, 32, 36,

37, 41, 45, 46, em 9 foi feito o diagnóstico de dissinergia cerebelar mioclônica

e, em 27, de epilepsia mioclônica. A incidência predominou nitidamente em

indivíduos com menos de 20 anos, com um mínimo de 3 e um máximo de

29 anos; 23 pacientes eram do sexo masculino e 13 do feminino. O tempo de

evolução da doença variou entre 1 e 24 anos.

Mioclonias, como manifestações básicas de ambas as afecções, estavam

presentes em todos os 36 casos. E m apenas 2 constituíram o sintoma inicial

da moléstia, em 8 apareceram concomitantemente com as convulsões e, em

17, apareceram após intervalo que variou de meses até 9 anos em relação

à primeira crise convulsiva. N a maior parte dos 36 casos as mioclonias

Traba lho da Clínica N e u r o l ó g i c a da Fac . Méd. da Univ . de São Pau lo (Prof . Adherba l T o l o s a ) : * Médico cont ra tado; ** L iv re -docen tes ; *** Médicos auxi l ia ­res; **** Assis tente-Docente .

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se enquadravam na descrição de D e J o n g 1 3 : contrações involuntárias, rápi­

das, arrítmicas, assinérgicas, atingindo porções de músculos, músculos intei­

ros ou grupos musculares; embora permanentes, se agravam em paroxismos,

sendo ativadas por estímulos emocionais, tácteis, visuais e auditivos, ten­

dendo a se atenuar ou desaparecer durante o sono.

Convulsões ocorreram em 28 casos, quase sempre de tipo generalizado.

Dos 8 casos em que não foram assinaladas crises convulsivas, em 6 foi

feito o diagnóstico de D C M . E m alguns casos foram descritas as crises

acinéticas de Ramsay Hunt (queda brusca sem distúrbios de consciência).

E m 17 casos as convulsões constituíram o sintoma inicial da moléstia.

O comprometimento psíquico, t ido como uma das principais caracte­

rísticas, sobretudo na E M , não foi verif icado na proporção esperada. Assim

é que, dos 36 casos, em apenas 15 havia deterioração mental acentuada;

em 11 o rebaixamento mental era leve e, em 6, o psiquismo estava pràtica­

mente normal. N ã o havia referências precisas sôbre o exame psíquico em

4 pacientes. É importante acentuar não haver relação entre o grau de

comprometimento psíquico e o tempo de doença, sendo assinalados casos

com mais de 20 anos de evolução e psiquismo normal (Christophe e R e -

m o n d 8 ) , ao passo que em outros, com menor tempo de evolução, havia

grave comprometimento mental.

Os sinais cerebelares são fundamentais no diagnóstico diferencial entre

E M e D C M ; sua presença, associada à tríade epilepsia-mioclonia-demencia,

faz o diagnóstico de D C M . N o entanto, sinais cerebelares discretos foram

assinalados também em casos de E M (Grinker e c o l s . 2 1 ) . A dificuldade da

pesquisa dos sinais cerebelares na vigência de mioclonias foi realçada por

Harr iman e M i l l a r 2 7 , assim como por Wohlfar t e H o o k 4 6 . P o r essa razão

êstes últimos equipararam muitos dos 10 casos que estudaram e que rotu­

laram de E M aos descritos por Ramsay Hunt em seu trabalho original.

N o que se refere à hereditariedade, em 4 casos havia referência a

doença semelhante nos familiares; havia parentesco entre 6 dos casos apre­

sentados; dos restantes, havia referência a convulsões nos familiares em

3 casos.

O liqüido cefalorraqueano foi normal em todos os casos em que foi

examinado, exceto em um paciente de M e l a r a g n o 3 7 , no qual revelou neu-

rolues. O exame radiológico contrastado (pneumencefalografia), quando

anormal, mostrou graus maiores ou menores de dilatação ventricular; nos

casos revistos não havia relação entre essa anormalidade e o tempo de

evolução da moléstia. N a literatura consultada, excetuando-se um caso de

Alajouanine e co l s . 2 , não havia referência a sinais radiológicos de atrofia

cerebelar.

A s alterações eletrencefalográficas encontradas na E M e na D C M de­

pendem, em sua maior parte, da existência das mioclonias que se caracte­

r izam por complexos espícula-onda ou poliespículas-onda.

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N a maioria dos casos a estimulação luminosa intermitente provoca

acentuação ou aparecimento das anormalidades ( D i R i s i o 1 7 ) . O r i tmo de

base, nos casos mais graves, apresenta desorganização mais ou menos acen­

tuada 1, 4, 13, 30, 3 3 . N o caso relatado por Daum e c o l s . 1 2 havia apenas dis­

ritmia difusa; nos casos de Alajouanine e c o l s . 2 e de Noad e L a n c e 3 9 o

traçado era l igeiramente anormal, não tendo sido registradas alterações

eletrencefalográficas características das mioclonias.

Gastaut e R é m o n d 1 9 estudaram as mioclonias sob o ponto de vista

eletrencefalográfico verificando serem as poliespículas as anormalidades mais

freqüentes, vindo, a seguir, os complexos espícula-onda lenta e, raramente,

as ondas lentas sòmente. Segundo êstes autores, nas epilepsias mioclônicas,

as descargas aparecem sôbre um traçado de base bastante alterado; nos

estádios avançados da moléstia, embora persistam as mioclonias, não há

correspondência elétrica, tudo se passando como se as alterações perma­

nentes dos ritmos cerebrais traduzissem uma incapacidade de reação do

cortex cerebral às aferências subcorticais.

São raros os registros de casos estudados sob o ponto de vista histo-

patológico. Coube a L a f o r a 3 3 descrever alterações consideradas, se não

patognomônicas, pelo menos características da E M : corpúsculos amilóides

intracelulares, de localização difusa, embora predominando nos núcleos da

base. Ajuriaguerra e c o l s . 1 e Harr iman e M i l l a r 2 7 encontraram lesões da

mesma natureza, porém com topografia diversa: os primeiros descreveram

as inclusões de Lafora predominando no núcleo denteado do cerebelo, no

locus niger, no globo pálido e no córtex rolândico; os últimos encontraram

as mesmas lesões predominando nos núcleos da base, no núcleo rubro e

na substância reticular. Harr iman e M i l l a r 2 7 encontraram, no coração e

no fígado, lesões semelhantes às do sistema nervoso. Y a k o v l e v 4 7 verificou,

em um caso de E M , atrofia acentuada do tronco cerebral e do cerebelo,

atrofias focais com distribuição difusa no córtex cerebelar e grande quan­

tidade de material amilóide na substância branca subcortical da região

centro-parietal dos hemisférios. Watson e D e n n y - B r o w n 4 5 estudaram um

caso de E M , descrevendo uma lipidose neuronal difusa de tipo degeneração

cerebromacular. Krebs e P l a n t e y 3 1 estudaram um caso de mioclonias es­

pontâneas, sem manifestações epilépticas, verificando a presença dos cor­

púsculos de Lafora principalmente no tegmento mesencefálico e na parte

alta da protuberância.

Baseados na localização cortical difusa das inclusões amilóides, con­

forme referências da literatura, Grinker e c o l s . 2 1 f izeram estudos histo-

patológicos por biópsia de córtex, nada tendo verif icado de anormal.

R a m s a y - H u n t 2 8 , quando descreveu a D C M , estudou um caso associado

à moléstia de Friedreich, encontrando, além das lesões próprias a esta

última, atrofia primária do sistema denteado e atrofia dos braços conjun­

tivos. Dimitr i e A r a n o v i c h 1 6 , em um caso de D C M , encontraram lesões

crônicas de caráter abiotrófico em regiões corticais e nos núcleos centrais,

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atrofia e esclerose em diversas regiões dos hemisférios cerebelares, nos

núcleos denteados e nas olivas bulbares e, a lém disso, degeneração dos

tratos espinocerebelares. Louis-Bar e van B o g a e r t 3 5 assinalaram, em um

caso, graves lesões do sistema dento-rúbrico, com integridade do córtex

cerebelar, ao lado de lesões degenerativas dos funículos dorsais da médula,

dos núcleos grácil e cuneiforme e dos núcleos vestibulares. Christophe e

G r u n e r 9 ressaltaram a constância do comprometimento do núcleo denteado

e dos braços conjuntivos.

Sob o ponto de vista histoquímico, Harr iman e M i l l a r 2 7 verif icaram

que as inclusões amilóides de Lafora não contêm lípides e sim traços de

proteínas com reações de um ácido mucopolissacarídico. Êsses estudos

foram confirmados ulteriormente por D ' A n g e l o e M a r t i n o t t i 1 1 em dois casos;

como Harr iman e Millar , êstes autores verif icaram a presença do material

intracelular em outros tecidos do organismo, além do sistema nervoso,

com caracteres químicos compatíveis com a existência, em quantidade ra­

zoável, de mucopolissacarídeos. Segundo D 'Ange lo e M a r t i n o t t i 1 1 , a con­

comitância do achado de tais inclusões nas células nervosas e em outros

tecidos, leva a admitir que a moléstia seja o resultado de um distúrbio

metabólico geral interessando a todo o organismo. Mil lard e N e i l l 3 8 estu­

daram, pela eletroforese, as mucoproteínas de pacientes portadores de E M ,

tendo verificado serem baixos os níveis de proteínas séricas, justificando

êsse achado pela existência de inclusões amilóides; assim, as mucoproteínas

se comportariam, nas epilepsias mioclônicas, como o cobre se comporta na

moléstia de Wilson.

C A S U Í S T I C A

A — Diss inergia cerebelar mioc lôn ica

CASO 1 — A . M . , 32 anos, sexo masculino, branco. In te rnado em 16-8-57 ( R . G . 67.344). In íc io da molést ia há 22 anos, de modo lento e insidioso, com abalos mio-clônicos durante o sono; 4 anos depois o paciente começou a apresentar crises convuls ivas ; a part ir do sét imo ano de doença as mioclonias começaram a se ma­nifestar t ambém durante a v i g í l i a , aumentando progress ivamente de freqüência e de intensidade, sofrendo a ação de fatôres emocionais ; nos períodos de ma io r exa­cerbação das mioclonias ocor r iam quedas bruscas, sem compromet imen to da cons­ciência; há 7 anos, dif iculdade na a r t i cu lação da pa lavra ; de 4 anos para cá não consegue andar. Antecedentes — U m a i rmã ( f a l e c i d a ) parece ter apresentado a mesma doença. Exame clínico-neurológico — B o m estado ge ra l ; não foi encon­trada qualquer anormal idade para o lado dos diversos órgãos e aparelhos. Reba i ­xamen to intelectual acentuado. Disbasia; s índrome cerebelar g loba l ; abalos mio-clônicos difusos, assimétricos, i r regulares , sofrendo a ação de emoções, acentuando­se com a m o v i m e n t a ç ã o e diminuindo com o repouso; não ex is tem mioclonias v e l o -palat inas . Exames complementares — Exame de liqüido cefalorraqueano, mediante punção suboccipital , normal . Reações sorológicas para sífilis, nega t ivas . Reação de Weltmann, f loculação a té o tubo 5; reação de Hanger posi t iva ( + + ); reação do timol, 4,4 u. Mac L a g a n ; reação de floculação do timol pos i t iva ( + + ) . Ele-trocardiograma: taquicardia sinusal. Pneumencefalograma: d i la tação simétrica do sistema vent r icular . Eletrencefalograma: a t iv idade e lé t r ica cerebral constituída,

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nas áreas posteriores, por ondas de 6 a 7 c/s pr inc ipalmente e, em menor proporção,

por ondas rápidas de pequena v o l t a g e m . N a s demais áreas há predomínio de

ondas rápidas. Espículas esporádicas, difusas, ge ra lmen te seguidas por pequenos

grupos de ondas lentas hipersíncronas (5 a 7 c / s ) , f o r am evidenciadas muitas

vêzes no t raçado espontâneo. A es t imulação luminosa in te rmi ten te provocou, em

tôdas as freqüências ensaiadas ( 1 a 15 c / s ) , o aparec imento de complexos espícula-

onda e poliespículas-onda de grande ampl i tude, predominando nas áreas occipi tais ,

sempre acompanhados de manifestações cl ínicas (aba los mioclônicos g e n e r a l i z a d o s ) .

CASO 2 — N . A . , 23 anos, sexo feminino, branca. In ternada em 11-12-57 ( R . G .

465.344). In íc io da doença há 6 anos, com abalos musculares, predominando nos

membros infer iores; por vêzes êsses abalos e r am de ta l intensidade que p r o v o ­

c a v a m a queda da paciente ; os periodos de aca lmia fo ram diminuindo progressi­

vamente , de modo que as mioclonias e ram quase contínuas na época da interna­

ção; raras crises epi lépt icas, t ipo g rande mal , a l g u m tempo após o início da

molést ia . Antecedentes — Re ta rdo no desenvo lv imen to psicomotor; uma t ia ma­

terna era epi lépt ica. Exame clínico-neurológico — B o m estado ge ra l ; não fo ram

encontradas anormal idades para o lado dos diversos órgãos e aparelhos. N í v e l

menta l entre 7 e 8 anos de idade. Disbasia; t remores intencionais, h ipermetr ia ,

incoordenação muscular, disdiadococinesia; abalos musculares do t ipo mioc lôn ico em

todo o corpo, aparecendo ass imètr icamente e sem r i tmicidade, por vêzes adqui­

r indo grande intensidade, pr inc ipa lmente ao fechamento das pálpebras. Ausência de

mioclonias ve lopa la t inas . Exames complementares — Exame de liqüido cefalor-

raqueano, median te punção suboccipital , normal . Reações sorológicas para sífilis,

nega t ivas . Pneumencefalografia, normal . Eletrencefalografia: numerosos surtos de

complexos i r regulares espícula-onda e de complexos poliespículas-onda, de grande

ampli tude, b i la tera is síncronos. N o s in te rva los en t re os surtos a a t i v idade elétr ica

era consti tuída pr inc ipalmente por ondas de 6 a 9 c/s, com maio r v o l t a g e m nas

áreas posteriores. Es t ímulos luminosos isolados, mesmo de intensidade re l a t iva ­

men te pequena, p r o v o c a v a m s is temat icamente a eclosão de paroxismos elétr icos

acompanhados de abalos mioclônicos genera l izados , predominando nos membros

inferiores.

CASO 3 — M.J.J., 14 anos, sexo feminino, parda. In te rnada e m 28-7-58 ( R . G

526.102). I n í c io da molés t ia há dois anos. com abalos musculares genera l izados ,

provocados por emoções ; acentuação lenta e progress iva das mioclonias que passa­

ram a surgir espontaneamente ; por vêzes a hipercinesia se in tens i f icava de ta{

fo rma que ocas ionava á queda da paciente; há um ano não consegue mais andar;

dessa época para cá v e m apresentando crises de convulsões genera l izadas ( a t é 4

vêzes por m ê s ) . Exame clínico-neurológico — B o m estado g e r a l ; não fo r am en­

contradas anormal idades para o lado dos d iversos órgãos e aparelhos. Def ic iência

menta l acentuada. Distasia e disbasia, sem défici ts motores ; s índrome cerebelar

g loba l ; abalos mioclônicos general izados , a r r í tmicos e assimétricos, que se exacer ­

b a m com est ímulos luminosos. N ã o ex is tem mioclonias ve lopa la t inas . Exames

complementares — Exame de liqüido cefalorraqueano, mediante punção suboccipi­

tal , normal . Reações sorológicas para sífilis, nega t ivas . Reação de Weltmann, f l o -

culação a té o tubo 5 1/2; reação de Hanger, n e g a t i v a ; reação de turvação do timal,

4,1 u. Mac L a g a n ; reação de floculação do timol, nega t iva . Pneumencefalografia:

discreta d i la tação ven t r i cu la r s imétr ica. Eletrencefalografia: numerosos surtos de

ondas lentas de ampl i tude e levada, com freqüência de 3 a 4 c/s, difusas, com

espículas in tercaladas de manei ra i r regular , fo rmando complexos espícula-onda;

ra ramente os surtos se acompanham de abalos mioclônicos genera l izados . Entre

os paroxismos, a a t iv idade e lé t r ica era consti tuída pr inc ipalmente por ondas de 3

a 5 c/s, observando-se moderada assimetria entre as áreas parieto-occipi tais , com

maio r v o l t a g e m à esquerda. Ev iden te a t i v a ç ã o com a es t imulação luminosa inter­

mitente .

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CASO 4 — M . M . A . , 2 4 anos, sexo feminino, branca. In te rnada e m 1 3 - 1 1 - 5 9

( R . G . 5 7 2 . 4 5 4 ) . In i c io da molés t ia há dois anos e me io com abalos musculares

genera l izados e quedas, sem distúrbios de consciência; as mioclonias sobrevinham

e m crises, cada 4 a 6 dias, não in terfer indo com as a t iv idades normais da paciente;

o quadro foi -se intensif icando progress ivamente de modo que, de um ano para

cá, a paciente não consegue mais andar. H á cêrca de um ano apresentou crise

convuls iva , que se repetiu por mais três vêzes . Antecedentes — A geni tora foi

doente menta l . Exame clinico-neurológico — Mau estado ge ra l e de nutr ição;

não fo ram encontradas anormal idades para o lado dos diversos ó rgãos e aparelhos.

N ã o há déf ic i t menta l . Distasia e disbasia; s índrome cerebelar g loba l ; abalos

mioc lônicos difusos, assimétricos e ar r í tmicos , aparecendo em surtos quase contí­

nuos, acentuando-se com o fechamento das pálpebras e com as emoções . A s mio­

clonias interessam a todos os grupos musculares indis t intamente. Exames comple­

mentares — Exame de liqüido cefalorraqueano, mediante punção suboccipital , nor­

mal . Reações sorológicas para sífilis, nega t ivas . Eletrencefalografia: pequenos

surtos, raros, de complexos espícula-onda, i r regulares , difusos e simétricos, de am­

pli tude e l evada . Êsse t ipo de descarga era p rovocado pela fo toes t imulação que

t a m b é m de te rminava o aparec imento de abalos mioclônicos .

CASO 5 — V . H . V . A . , 2 0 anos, sexo feminino, branca. In te rnada e m 1 2 - 9 - 6 0

( R . G . 6 0 0 . 3 1 9 ) . In í c io da molés t ia há 3 anos com abalos musculares acometendo

todo o corpo, com cará te r paroxís t ico e de rápida duração; êsses episódios au­

men ta r am progress ivamente de freqüência, com duração cada v e z maior , sofrendo

a ação nít ida de fatôres emocionais ; há 6 meses, convulsão genera l izada . Antece­

dentes — R e t a r d o no desenvo lv imen to psíquico. Exame clinico-neurológico — B o m

estado ge ra l ; não fo ram encontradas anormal idades para o lado dos diversos

órgãos e aparelhos. Debi l idade menta l . Distasia e disbasia; bradi te leocinesia na

manobra índex-nar iz b i la te ra lmente ; disdiadococinesia; disar tr ia; abalos musculares

caracter izados por mov imen tos bruscos, rápidos, sem r i tmicidade, i r regulares ; não

exis tem mioclonias ve lopa la t inas . Est rabismo d ive rgen te à esquerda. Exames com­

plementares — Exame de líqüido cefalorraqueano, mediante punção suboccipital ,

normal . Reações sorológicas para sífilis, nega t ivas . Reação de Weltmann, f locula-

ção a té o tubo 2 1 / 2 ; reação de Hanger, pos i t iva ( + ) ; reação de turvação do timol,

2 , 0 u. M a c L a g a n ; reação de floculação do timol, pos i t iva ( + ) . Pneumencefalo-

grafia normal . Eletrencefalografia: d isr i tmia paroxís t ica difusa consti tuída por

numerosas descargas de poliespículas e complexos poliespículas-onda, i r regulares ,

f reqüentemente acompanhados por abalos mioclônicos . A es t imulação luminosa in­

te rmi ten te p rovocou sempre o aparec imento de surtos disr í tmicos.

B — Epi leps ia mioc lôn ica

CASO 6 — A . B . M . , 2 5 anos, sexo masculino, branco. In te rnado em 2 5 - 3 - 6 0

( R . G . 5 8 1 . 5 0 8 ) . In íc io da molés t ia há 1 8 anos com abalos acometendo todos os

grupos musculares indist intamente, sempre com cará ter episódico, quase diár io,

não interfer indo com os hábitos normais de v ida do paciente; por vêzes as mio­

clonias de t e rminavam queda, sendo t a m b é m re la tada a ocorrência de crises com

perda de consciência, mas sem fenômenos convuls ivos ; as mioclonias foram-se acen­

tuando progress ivamente de ta l forma que, de 6 meses para cá, são prà t icamente

contínuas, impedindo a marcha. Exame clinico-neurológico — B o m estado ge ra l ;

não f o r a m encontradas anormal idades para o lado dos diversos órgãos e aparelhos.

R e b a i x a m e n t o intelectual acentuado. Equi l íbr ío normal ; nenhum défic i t muscular;

as manobras para pesquisa da t ax ia são prejudicadas pela in terferência de mio ­

clonias; disdiadococinesia; disartr ia; abalos musculares acentuando-se com as emo­

ções; não ex i s tem mioclonias ve lopa la t inas ; cer to grau de hiper tonia em extensão

dos membros inferiores, com e x a g ê r o dos re f lexos de postura; re f lexos patelares

exa l tados b i la te ra lmente ; clono e sgo t áve l de pés e rótulas . Exames complemen-

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lares Exame de líqüido cefalorraqueano, mediante punção suboccipital , normal .

Reação de Weltmann, f locu lação até o tubo 4 1/2; reação de Hanger, posi t iva ( + ) ;

reação do timol, 2,0 u. M a c L a g a n ; reação de floculação do timol, nega t iva . Pneu-

mencefalografia: discreta d i l a tação ven t r i cu la r s imétr ica . Eletrencefalografia: dis­

r i tmia paroxís t ica bi la teral síncrona, consti tuída por complexos espícula-onda de

3 c/s, de ampl i tude e levada , isolados ou em pequenos grupos, difusos e s imétr icos;

a es t imulação luminosa in termi tente p rovocou o aparec imento de descargas isola­

das, difusas, de complexos i r regulares espícula-onda, e acompanhamento cl ínico,

mioclônico .

CASO 7 — C . F . A . , 18 anos, sexo masculino, branco. In ternado em 25-5-60

( R . G . 586.895). In í c io da molés t ia há dois anos, com crises convuls ivas genera l i ­

zadas, de freqüência mensal ; l o g o depois surg i ram mioclonias interessando todo

o corpo, cuja exacerbação cu lminava com uma crise convuls iva , seguindo-se um

período de aca lmia ; as mioclonias foram-se acentuando progress ivamente de modo

a impedir a marcha. Exame clínico-neurológico — Bom estado ge ra l ; não foram

encontradas anormal idades para o lado dos diversos órgãos e aparelhos. Psiquismo

aparentemente normal . Equi l íbr io normal ; disdiadococinesia; disartr ia; mioclonias

de grande intensidade, difusas, assimétricas e arr í tmicas , impossibi l i tando a mar­

cha; ausência de mioclonias ve lopa la t inas . Exames complementares — Exame de

liqüido cefalorraqueano, mediante punção suboccipital , normal . Reações sorológi-

cas para sífilis, nega t ivas . Reação de Weltmann, f loculação até o tubo 6 1/2; reação

de Hanger, nega t iva ; reação de turvação do timol, 4,1 u. Mac L a g a n ; reação de

floculação do timol, nega t iva ; reação do formol-gel, nega t iva . Radiografias de

crânio: impressão basilar. Pneumencefalografia: d i la tação s imétr ica do sistema

vent r icular . Eletrencefalografia: d isr i tmia paroxís t ica difusa consti tuída por nu­

merosos surtos difusos e s imétr icos de ondas 4 a 5 c/s de v o l t a g e m e levada e de

complexos i r regulares espícula-onda e poliespículas-onda; a fo toes t imulação não

provocou a g r a v a m e n t o .

Duran te o per íodo de in ternação fo r am observadas crises psicomotoras .

CASO 8 — A.P .S . , 4 anos, sexo feminino, branca. In ternada em 10-10-60 ( R . G .

602.365). In íc io da molés t ia há cêrca de um ano com crise de perda da cons­

ciência sem convulsões; crises idênticas repet i ram-se por 3 vêzes nos 4 meses

seguintes; depois, progress ivamente , surg i ram dif iculdade à marcha e à fa la e

abalos musculares nos membros infer iores; piora progressiva, com deter ioração

menta l ; nos dias que precederam a in ternação ocor re ram crises convuls ivas . Ante­

cedentes: um i rmão, com 5 anos de idade, t em doença semelhante . Exame clínico-

neurológico — R e g u l a r estado ge ra l ; não fo ram encontradas anormal idades nos

diversos ó rgãos e aparelhos. A paciente não contatua pela pa lavra ; o lhar indi­

ferente ; ev iden te reba ixamento menta l . Equi l íb r io e marcha impossíveis; fôrça

muscular reduzida, de manei ra discreta, g loba lmen te ; discreta hipertonia nos 4

membros ; a pesquisa da coordenação é prejudicada pela fal ta de cooperação;

abalos mioclônicos, não mui to intensos, i r regulares , difusos, aparecendo em surtos,

com longos periodos de aca lmia ; re f lexos profundos exa l tados de maneira geral ,

com sinal de Babinski à esquerda; discreto estrabismo convergen te à direita.

Exames complementares — Exame de líquido cefalorraqueano, mediante punção

suboccipital , normal . Reações sorológicas para sífilis nega t ivas . Radiografia do

crânio: microcefa l ia r e la t iva . Eletrencefalografia: a t iv idade elétr ica cerebral cons­

t i tuida pr inc ipa lmente por ondas lentas i r regulares de 3 a 7 c/s, com raras ondas

sharp intercaladas . A fo toes t imulação p rovocou o aparec imento de uma disri tmia

paroxís t ica difusa consti tuída por complexos i r regulares espícula-onda e poliespí­

culas-onda.

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E S T U D O E L E T R E N C E F A L O G R A F I C O

Todos os pacientes foram submetidos a um total de 31 exames eletren-

cefalográficos. A estimulação luminosa intermitente foi praticada em todos

e, em 4 pacientes, foi estudado o efeito de um curarizante (cloreto de

succinilcolina*) sôbre o traçado.

Comparação entre os traçados — Observou-se variabilidade do traçado

quanto à intensidade das alterações e quanto à forma dos surtos disrítmicos,

não só quando eram considerados pacientes diferentes, como também quando

se comparavam traçados do mesmo paciente em dias diferentes. N o s casos

mais graves, em que os abalos mioclônicos generalizados se apresentavam

com freqüência e intensidade maiores, o tipo de anormalidade paroxística

mais encontrado foi o de complexos poliespículas-onda (f igura 1 ) , coincidindo

as descargas registradas com o aparecimento das mioclonias. P e l o contrário,

nos casos em que os abalos mioclônicos eram raros, os surtos disrítmicos

eram representados, quase exclusivamente, por complexos espícula-onda iso­

lados ou em grupos, difusos e simétricos ou limitados a áreas pouco exten­

sas. Nos intervalos entre os surtos foi observada, na maioria dos traçados,

uma atividade elétrica constituída predominantemente por ondas teta.

Sensibilidade à fotoestimulação — A sensibilidade à fotoestimulação

intermitente se mostrou elevada em 6 casos; em um dêsses casos, que já

foi objeto de publicação anter ior 5 , a sensibilidade à estimulação luminosa

era tão intensa que ao simples piscamento seguiam-se, quase sempre, des­

cargas disrítmicas de amplitude elevada, em grande número, e violentos

abalos mioclônicos generalizados. E m dois casos foram obtidas respostas

inconstantes à fotoestimulação.

Ação do cloreto de succinilcolina ( C S C ) — A injeção do cloreto de

succinilcolina foi feita em 4 pacientes durante registro eletrencefalográ-

fico. Sua utilização teve por objetivo eliminar do traçado os potenciais

musculares e verificar, assim, qual a participação dêsses potenciais nas des­

cargas de poliespículas registradas nos traçados espontâneos. Seu uso foi

preconizado por Anderson e F u n k 3 com a finalidade de afastar os poten­

ciais musculares e os artefatos devidos a movimentos.

E m dois dêsses casos, enquanto perdurou a ação do CSC, foi observada

notável diferença nos registros eletrencefalográficos anterior e posterior à

injeção do medicamento, cujo efeito se manifestava durante cêrca de 4

minutos. Comparando-se as figuras 1 e 2, referentes a um caso em que

os abalos mioclônicos eram particularmente intensos e numerosos, verif i­

ca-se não só a substituição dos complexos poliespículas-onda por complexos

* Taquicurin, L a b o r a t ó r i o Paul is ta de B io log ia .

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espícula-onda de 3 a 4 c/s, como também o desaparecimento quase completo

dos surtos disrítmicos enquanto perdurou o efei to da substância curari-

zante. Assim, os paroxismos disrítmicos, que se sucediam a curtos inter­

valos (segundos) antes da injeção, só foram evidenciados, raramente, du­

rante os 3 ou 4 minutos em que atuou o CSC, podendo-se destacar um

trecho de traçado correspondente a um minuto, sem qualquer disritmia.

C O M E N T Á R I O S

E m todos os casos a moléstia se iniciou de maneira insidiosa, evo­

luindo de modo lentamente progressivo. E m apenas um paciente (caso 8)

a doença assumiu caráter mais agudo, lembrando o caso descrito por Janny

e G i b e r t 2 9 . Excetuando-se dois casos, nos quais a moléstia se iniciou em

idade inferior a 10 anos, nos demais o início ocorreu acima dessa idade,

com um limite superior de 21 anos. E m 5 casos foi fei to o diagnóstico

clínico de dissinergia cerebelar mioclônica e, em 3, de epilepsia mioclônica.

Contràriamente ao que v e m descrito na maior parte dos casos referidos

na literatura, em 5 pacientes as mioclonias constituíram o sintoma inicial

precedendo, de meses até anos, o aparecimento de convulsões.

Pela anamnese não foi possível identificar o início do quadro cerebelar.

Todos os pacientes, no momento da internação, estavam incapacitados de

andar; essa incapacidade surgia em determinada época da evolução, coin­

cidindo com o agravamento das mioclonias. Estas, pela sua intensidade,

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impediam a marcha, mascarando os distúrbios de equilíbrio de or igem cere-

belar que porventura os pacientes apresentassem.

E m dois pacientes (um caso de D C M e um de E M ) havia referência

à mesma doença em irmãos. E m um caso havia antecedentes familiares

epilépticos. Nos demais, nada foi apurado nesse sentido. N o v e l l e t o 4 0 , ba­

seado em ampla revisão bibliográfica, pensa que o caráter hereditário deve

ser encarado com prudência em relação à E M , admitindo ser mais conve­

niente determinar a hereditariedade em relação aos processos orgânicos

que podem levar a essa síndrome. W a l s h 4 4 , baseado no estudo das famílias

de 4 pacientes, procurou demonstrar que a E M é moléstia hereditária, com

caráter recessivo. W a d a e co l . 4 3 , estudando 96 parentes de dois irmãos

portadores de E M , 24 dos quais também sob o ponto de vista eletrencefa-

lográfico, chegaram à mesma conclusão que Walsh e tentaram estabelecer

relação entre E M e as epilepsias de modo geral, principalmente quanto à

hereditariedade.

As mioclonias apresentaram as mesmas características em todos os 8

casos, enquadrando-se na descrição de D e Jong. E m um caso (caso 1) a

moléstia se iniciou com abalos musculares durante o sono, assim permane­

cendo durante 7 anos; sòmente a partir de então elas surgiram durante

a vigília, com freqüência cada vez maior, até se tornarem pràticamente

contínuas. Embora pessoas normais possam apresentar "abalos noturnos",

principalmente no início e no final do sono, essas manifestações, quando

exageradas, podem relacionar-se com fenômenos epilépticos. S y m o n d s 4 2 ,

baseando-se em 5 casos estudados e em elementos obtidos em revisão biblio­

gráfica, concluiu ser a síndrome das mioclonias noturnas uma variante

epiléptica que pode ter caráter familiar. Nosso caso realça essa hipótese.

A fisiopatogenia das mioclonias é, até hoje, assunto controvertido. Sendo

os abalos mioclônicos arrítmicos e difusos, o têrmo foi também empregado

para designar fenômenos rítmicos e localizados. A s mioclonias palato-farin-

go-laringo-óculo-diafragmáticas são caracterizadas por movimentos involun­

tários rítmicos do palato mole, do faringe, do laringe, dos músculos oculares,

do diafragma e, às vêzes, de outros músculos, podendo ser uni ou bilaterais.

A êsse respeito Fo ix e c o l s . 1 8 estudaram 4 casos; o exame histopatológico

mostrou, em todos, comprometimento do trato tegmento-olivar ( fe ixe cen­

tral da ca lo ta ) , com degeneração pseudo-hipertrófica da oliva bulbar. Van

Bogaert e B e r t r a n d 7 verificaram, em um caso, lesões no núcleo denteado

direito, com degeneração hipertrófica da oliva bulbar esquerda e atrofia

do braço conjuntivo direito, estando intacto o trato tegmento-olivar; se­

gundo êstes autores, as mioclonias rítmicas dependeriam da lesão de um

vasto sistema funcional cujas sinapses essenciais se localizariam nas olivas

bulbares e nos núcleos denteados do cerebelo. Guillain e M o l l a r e t 2 2 , re­

gistrando dois casos de mioclonias rítmicas velo-faringo-laringo-óculo-dia-

fragmáticas, atribuíram tais hipercinesias à interrupção de um sistema

triangular com ápices no núcleo rubro, na oliva bulbar e no núcleo den­

teado. Os mesmos autores, em trabalho u l t e r io r 2 3 , assinalaram que em

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alguns casos, ao lado das mioclonias velopalatinas, existem mioclonias em

outros terri tórios musculares (pescoço e abdome) , admitindo não haver uma

fronteira absoluta entre os mioclonias esqueléticas e as rítmicas. Guillain

e T h u r e l 2 4 relataram um caso em que, além de mioclonias rítmicas velo­

palatinas, havia mioclonias nos membros à esquerda; os autores admitiram

que lesões no mesencéfalo, nos braços conjuntivos, no trato tegmento-olivar,

na oliva bulbar e nas fibras olivo-denteadas condicionassem as mioclonias

esqueléticas e as não esqueléticas. Guillain, Mollare t e B e r t r a n d 2 5 estu­

daram, sob o ponto de vista histológico, um caso de mioclonias rítmicas,

encontrando degenerescência das olivas bulbares, atrofia dos corpos resti-

formes e degeneração do núcleo denteado, com integridade do trato tegmento-

olivar. Delmas-Marsalet e van B o g a e r t 1 5 descreveram, em um caso de mio­

clonias rítmicas determinadas por intervenção cirúrgica no tronco cerebral,

lesões do núcleo denteado e do trato tegmento-olivar no mesmo lado das

mioclonias, com lesões olivares recentes, certamente ulteriores ao apareci­

mento das mioclonias.

Esta rápida revisão bibliográfica mostra a importância de certas estru­

turas do tronco cerebral e do cerebelo na gênese das mioclonias rítmicas

ou não. Lesões do trato tegmento-olivar, das olivas bulbares, dos núcleos

denteados e do pedúnculo cerebelar superior são comuns a quase todos os

casos. Lesões de determinadas zonas do "triângulo" de Guillain e Mollaret

provocariam degenerações retrógradas, das quais a degeneração hipertrófica

das olivas bulbares seria o exemplo mais frisante. Bebin 6 estudou o trato

tegmento-olivar em macacos, sob o ponto de vista anatômico e experimental,

verificando que as fibras que o constituem, de comprimento variável, partem

principalmente do tegmento do tronco cerebral, terminando na oliva infe­

rior; êsse feixe contém não só fibras provenientes do núcleo rubro, mas

também do núcleo denteado do cerebelo; sua estimulação produz movi­

mentos da musculatura do véu do paladar, elevação e desvio da úvula,

elevação e contração do palato mole para o lado estimulado. Bebin con­

cluiu que as mioclonias velopalatinas resultam de um desequilíbrio no sistema

constituído pelo núcleo denteado, pelo t ra to tegmento-ol ivar e pela oliva

inferior, causado por lesões irritativas e destrutivas; nestas últimas, as

hipercinesias ocorrem no lado contralateral à lesão olivar, sendo ipsolate-

rais em relação à lesão do núcleo denteado. Segundo Bebin não é sòmente

a lesão do trato tegmento-olivar que explica a degeneração hipertrófica da

oliva bulbar, conforme era admitido anteriormente; a lesão do núcleo den­

teado contralateral, que concorre com fibras para a constituição dêsse

feixe, também poderia levar a êsse tipo de alteração olivar. Esse trabalho,

publicado em 1956, concorda com o de van Bogaer t e B e r t r a n d 7 (1928)

no qual os autores, estudando um caso com lesão do núcleo denteado direito

e degeneração hipertrófica da oliva bulbar esquerda, aventaram a hipótese

de que esta degeneração fôsse cruzada, dependendo de degeneração retró­

grada com ponto de partida no núcleo denteado contralateral.

O advento da eletrencefalografia trouxe novos elementos no sentido

de lançar maiores esclarecimentos, fisiopatogênicos, sôbre as mioclonias.

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Grinker e c o l s . 2 1 f izeram registros eletrencefalográficos e musculares simul­

tâneos, verificando que as espículas eram síncronas com as mioclonias e se

iniciavam nos pólos frontais. Haguenau e c o l s . 2 6 f izeram registros eletren­

cefalográficos e eletromiográficos concomitantes, com fotoestimulação, veri­

ficando que os complexos espícula-onda apareciam com ou sem acompanha­

mento mioclônico e que os abalos mioclônicos às vêzes não apresentavam

correspondência eletrencefalográfica; considerando o tempo de condução do

estímulo retiniano para os centros receptores e o tempo decorrido para

que fôssem obtidas as respostas eletrencefálica e muscular, Haguenau e

cols, admitiram que a lesão determinante das mioclonias se localiza em

região mediana, na parte alta do tronco cerebral. Christophe e Rémond 8

endossaram essa hipótese quando f izeram o estudo eletrencefalográfico de

um caso de D C M , no qual registraram complexos espícula-onda bilaterais

e simétricos. A existência de ritmos delta, particularmente occipitais, indi­

caria, segundo Gastaut e R é m o n d 1 9 , a existência de lesão ao nível dos

braços conjuntivos, da qual essa anormalidade eletrencefalográfica seria um

sinal à distância. L e c a s b l e 3 4 , estudando um caso de E M e baseando-se tam­

bém no tempo de condução do estímulo luminoso e no tempo necessário

para a obtenção da resposta motora, verificou que o estímulo motor nasce

em nível subcortical. Gastaut e R é m o n d 1 9 verif icaram que a resposta mio-

clônica pode preceder, sobrepor-se ou seguir-se à espícula cortical e, por

isso, admit iram que a resposta muscular não depende da descarga cortical;

ambas as respostas dependem de um terceiro fenômeno, de localização pro­

váve l em estruturas mesodiencefálicas, com irradiação do estímulo supe­

riormente, para o cór tex e, inferiormente, para os neurônios motores; a

variação no tempo de irradiação seria responsável pelo assincronismo entre

as respostas corticais e musculares. Kreindler e c o l s . 3 2 f izeram o estudo ele­

trencefalográfico de 3 casos de D C M verificando a ação, sôbre o traçado

e sôbre o quadro clínico, da clorpromazina e da adrenalina; levando em

conta os resultados obtidos e considerando que essas substâncias têm ação

sôbre a substância reticular, julgaram os autores ser a substância reticular

mesodiencefálica a sede provável das lesões responsáveis pelas mioclonias.

Segundo Gozzano e V i z i o l i 2 0 , o córtex cerebral tem papel, se não essen­

cial, pelo menos de grande importância na fisiopatogenia das mioclonias.

possìvelmente mediante diminuição das descargas inibidoras córtico-reticula-

res, liberando a ação ativadora da formação reticular. O cerebelo teria im­

portância fundamental na cessação das mioclonias pois cada descarga es­

pinal, que resulta em mioclonia, provoca uma poderosa descarga de im­

pulsos aferentes para o cerebelo, particularmente para o lobo anterior que

funciona como área supressora; considerando que o lobo anterior do cere­

belo se projeta na formação reticular inibidora parece lógico, segundo Goz­

zano e Viziol i , que a descarga do neurônio motor espinal que provoca a mio­

clonia, eventualmente a inibe através das vias espinocerebelar, cerebelo-

reticular e reticulospinal. Dessa forma parece ser justificado admitir a

existência de um circuito retículo-espino-cerebelo-retículo-espinal controlan­

do a gênese e a cessação das mioclonias.

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N o a d e L a n c e 3 9 explicam as mioclonias generalizadas por descargas

maciças e paroxísticas da substância reticular, através do trato retículo-

espinal facilitador; as mioclonias parciais seriam produzidas por descargas

parciais e as mioclonias de pequenos grupos de fibras musculares seriam

devidas a distúrbios das influências inibitórias descendentes da substância

reticular.

Da análise dos resultados fornecidos pela eletrencefalografia, uma con­

clusão se impõe : é em nível subcortical que nasce o estímulo mioclônico,

provàvelmente na substância reticular da região mesodiencefálica.

Diante dos achados de autopsia, parece razoável aproximar as lesões

responsáveis pela D C M daquelas que produzem a mioclonia velopalatina,

ou seja, com localização predominante na região bulbocerebelar; as lesões

encontradas na E M estariam localizadas na parte alta do tronco cerebral.

Essa opinião é compartilhada, em parte, por K r e b s 3 0 . Entretanto, a loca­

lização bulbocerebelar das lesões na D C M é posta em dúvida pelo tra­

balho de Christophe e Rémond 8 que, como vimos, estudando um caso sob o

ponto de vista eletrencefalográfico, localizaram o ponto de or igem das des­

cargas mioclônicas na parte alta do tronco cerebral.

Como se pode depreender, a fisiopatogenia das mioclonias é ainda

assunto obscuro. H á aparente contradição entre as hipóteses fisiopatogê-

nicas formuladas quando se tomam por base os dados eletrencefalográficos

e os anátomo-patológicos: aquêles tendem a situar a lesão na parte alta

do tronco cerebral; êstes, na parte baixa (bulbocerebelar) . Mesmo quando

encaradas ambas as afecções apenas sob o ponto de vista histopatológico,

alguns aspectos divergentes são encontrados. Uma análise cuidadosa de­

monstra que as lesões encontradas na E M , independentemente da natureza

e do caráter difuso que assumem, ocorrem também em estruturas que

entram na constituição do "tr iângulo" de Guillain e Mollaret , seja na sua

porção superior ( reg ião t egmenta l ) , seja no segmento bulbocerebelar.

E m nosso modo de ver, as lesões responsáveis pelas mioclonias em

geral estão localizadas em algum ponto ou em alguns pontos de uma vasta

área que corresponde, em linhas gerais, ao triângulo de Guillain e Mollaret .

Desde que, como vimos, o comprometimento de determinadas partes dêsse

tr iângulo leva a degeneração retrógrada de vias e núcleos correspondentes,

torna-se difícil, em determinado momento, interpretar as alterações anátomo­

patológicas; nesse caso pode ser surpreendido um quadro histopatológico

que pode estar em franca evolução ainda, não se encontrando definidas

as alterações. Dessa forma pode ser explicada a variedade das descrições

histológicas referidas na literatura, sempre com a mesma base comum, mas

com nuances quando comparados os casos entre si. O que chama a atenção,

e insistimos nesse ponto, é a constância com que determinadas estruturas

são lesadas, em grau maior ou menor, sempre se enquadrando no "triân­

gulo" de Guillain e Mollaret .

Se do ponto de vista anátomo-patológico é possível, até certo ponto,

unificar as lesões geradoras de mioclonias, a mesma tentativa deve ser

feita em relação aos achados eletrencefalográficos. N ã o será difícil admi-

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t i r que as alterações elétricas registradas, localizando o estímulo na parte

alta do tronco cerebral, decorram de lesão ao nível do ápice do "triângulo",

representado pela região tegmental . Encarando-se o problema dessa forma,

verifica-se que não há contradição entre ambos os métodos de pesquisa.

Apesar da complexidade das estruturas compreendidas no triângulo, é

desnecessário ressaltar a importância, provàvelmente fundamental, que de­

sempenha a substância reticular na fisiopatogenia das mioclonias (Gozzano

e V i z i o l i 2 0 e Noad e L a n c e 3 9 ) .

Outras manifestações — Convulsões generalizadas ocorreram em todos

os casos, com freqüência variável . A s crises estáticas de Ramsay Hunt

foram referidas sempre que as mioclonias adquiriam certo grau de inten­

sidade.

E m virtude da diferenciação clínica entre D C M e E M basear-se prin­

cipalmente na existência, naquela, de sinais cerebelares, em alguns casos

é difícil o diagnóstico diferencial. Encontramos, em nossos casos, as mesmas

dificuldades referidas por vários autores na pesquisa dos sinais cerebelares.

A intercorrência de mioclonias tornava por vêzes impossível uma conclusão.

Somente após exames repetidos, em períodos de acalmia das mioclonias, é

que pudemos fazer o diagnóstico clínico de D C M .

E m dois casos (6 e 8) havia sinais pirâmido-extrapiramidais. A êsse

propósito cumpre referir a opinião de N o a d e L a n c e 3 9 , segundo os quais,

tanto a síndrome extrapiramidal como a cerebelar, tão freqüentemente asso­

ciadas à E M , são fàcilmente explicáveis pelas conexões dêsses sistemas com

o sistema reticular.

O exame mental, fe i to em 7 casos, revelou rebaixamento acentuado

em 6 e comprometimento leve em um, sem haver relação nítida com o

tempo de evolução da moléstia.

Exames complementares — O exame de liqüido cefalorraqueano foi

normal em todos os casos. O pneumencefalograma, feito em 6 casos, foi

anormal em 4, tendo mostrado a existência de dilatação ventricular simé­

trica, o que atesta a gravidade e a difusão do processo. E m apenas um

caso havia sinais radiológicos que f izeram suspeitar da existência de atro­

fia cerebelar; mas não houve elementos seguros para que pudesse ser feita

uma afirmação. Êsse dado negativo corrobora os achados de autópsia, se­

gundo os quais as alterações cerebelares ocorrem em maior grau no núcleo

denteado e nas vias dêle dependentes, estando menos comprometido o córtex

cerebelar.

A análise dos resultados eletrencefalográficos demonstra, a nosso ver,

de maneira indiscutível, que o componente poliespícula, tal como se apre­

senta na figura 1, é constituído principalmente por potenciais musculares,

embora muitas vêzes não sejam evidentes clinicamente as contrações mus­

culares responsáveis por sua gênese. A eliminação do componente muscu­

lar pelo cloreto de succinilcolina possibilita apreciar, em forma pura, a des­

carga mioclônica cortical ( f ig . 2 ) , representada por complexos espícula-onda.

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Aliás , nos pacientes em que os abalos mioclónicos eram raros e pouco

intensos, os surtos disrítmicos eram representados, quase exclusivamente,

por complexos espícula-onda, e não por poliespículas-onda.

É evidente também que o CSC promove acentuada diminuição da fre­

qüência dos surtos disrítmicos. Isso seria explicado pela atuação do CSC

no sistema nervoso central, como anticonvulsionante; essa ação, entretanto,

não foi demonstrada até agora. P o r outro lado, admitindo que as descar­

gas mioclônicas se originem em estruturas subcorticais e se propaguem em

dois sentidos, isto é, para o córtex cerebral e para os motoneurônios, a eli­

minação dos potenciais musculares pelo CSC permitiria o registro das des­

cargas corticais em estado de pureza. Nesse caso teríamos de admitir que,

do ponto de or igem das descargas mioclônicas, partiriam estímulos reticulos-

pinais em muito maior número que os reticulocorticais, de tal forma que,

eliminados aquêles, fôssem registrados apenas êstes, em número muito menor.

A análise de nossos casos e daqueles referidos na literatura, principal­

mente sob o ponto de vista anátomo-patológico, demonstra que as seme­

lhanças clínicas entre a D C M e a E M , que se tornam mais evidentes em

alguns casos nos quais é difícil a apreciação dos sinais cerebelares, não

t êm bases histopatológicas sólidas. Mui to pelo contrário, às semelhanças

clínicas correspondem quadros anátomo-patológicos diversos, fazendo supor

tratar-se de entidades clínicas distintas. A s desordens degenerativas bulbo-

cerebelares, assim como a associação da D C M com a moléstia de Friedreich

(Ramsay H u n t 2 8 , Costa R o d r i g u e s 1 0 , Alajouanine e c o l s . 2 ) enquadram essa

afecção no grupo das heredodegenerações cerebelares e espinocerebelares.

A uniformidade das lesões da D C M não é encontrada no mesmo grau quando

se faz a revisão dos casos de E M . Nesta, as lesões são sempre mais difusas

e mesmo o substrato anátomo-patológico varia, quanto à sua natureza,

embora sejam encontradas com maior freqüência as inclusões amilóides de

Lafora. A idéia de que lesões de natureza diversa provoquem um mesmo

quadro clínico de D C M é corroborada por M e l a r a g n o 3 7 , que descreveu um

caso de neurolues com manifestações clínicas dessa afecção, e por Mathon 3 6 ,

em cujo paciente, após extirpação de neurinoma do ângulo pontocerebelar

esquerdo, se desenvolveu um quadro superponível ao descrito por Ramsay-

Hunt.

R E S U M O

Registrando 5 casos de dissinergia cerebelar mioclônica e 3 casos de

epilepsia mioclônica os autores fazem revisão de alguns problemas refe­

rentes a essas afecções, especialmente no que se refere às mioclonias que

são analisadas à luz dos conhecimentos anátomo-patológicos e eletrencefa­

lográficos. Sob o ponto de vista anátomo-patológico é chamada a atenção

para o caráter dinâmico das lesões, de forma que, num dado momento,

surpreende-se um quadro histológico que pode estar em franca evolução;

isso explica a variedade dos achados anátomo-patológicos registrados na lite­

ratura, mas sempre com uma base anatômica comum, localizando-se as lesões

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produtoras de mioclonias no circuito olivodentorrúbrico ( t r iângulo de Guil-

lain e M o l l a r e t ) . Os autores tentam explicar as mioclonias em geral, por

lesão de um ou de vários pontos compreendidos nesse circuito, ressaltando

a importância, provàvelmente fundamental, da substância reticular do tronco

cerebral. N a opinião dos autores, os achados eletrencefalográficos concor­

dam com os dados anátomo-patológicos, no que diz respeito à topografia

das lesões.

Pe lo estudo eletrencefalográfico, durante injeção de substância curari-

zante (c lore to de succinilcolina), com conseqüente supressão dos fenô­

menos musculares, os autores verif icaram que essa substância altera a mor­

fologia das descargas disrítmicas e diminui seu número. A diminuição da

freqüência das descargas é interpretada pelos autores como podendo resul­

tar de um número maior de estímulos dirigidos aos motoneurônios que ao

córtex, partindo de estruturas subcorticais responsáveis pelas mioclonias;

durante a ação do cloreto de succinilcolina seriam registrados apenas os

estímulos corticais, mais raros. Outra possibilidade aventada pelos autores

seria a ação anticonvulsionante do cloreto de succinilcolina, o que ainda não

foi demonstrado.

Embora ambas as afecções, em certos casos, apresentem um quadro

clínico muito semelhante, a histopatologia permite separá-las em entidades

clínicas distintas.

S U M M A R Y

Myoclonic epilepsy and myoclonic cerebellar dyssynergia: clinical

and electroencephalographic considerations about 8 cases.

Five cases of myoclonic cerebellar dyssynergia and 3 cases of myoclonic

epilepsy are reported. T h e authors make a revision of the problem, specially

about myoclonic manifestations. Myoclonus is analyzed pathologically and

electroencephalographically. F r o m the pathological point of v iew the dyna­

mic feature of the lesions is emphasized, so that, at a given time, it is pos­

sible to have a histological picture that is in progression. This explain the

variety of pathological descriptions in the literature, even though all of

them have a common anatomical basis, the olivodentorubral tr iangle being

the site of the lesions producing myoclonus. The authors t ry to explain

myoclonus as caused by lesions of one or several points in this triangle,

emphasizing the importance of the reticular formation of the brain stem.

I t is the opinion of the authors that the electroencephalographic patterns

agree wi th the pathological findings in what concerns the site of the lesions.

T h e authors verified that, by making an electroencephalographic record

with the aid of a curare-like drug (succynilcholine chlor ide) , which sup­

presses the muscular component, the morphology of the waves is changed

and the frequency of the paroxysms is diminished. T h e decrease in the

frequency of discharges is interpreted as being the result of a greater

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number of stimuli directed to the motoneurons than to the cerebral cortex,

starting in subcortical structures which are responsible for the myoclonus;

during the action of succynilcholine chloride only the cortical discharges,

which are rarer, would be registered. Or else, this curare-like drug would

have an anticonvulsivant action which has not ye t been demonstrated.

Although both diseases, in some cases, have a very similar clinical pic­

ture, it is possible, on histopathological grounds, to regard them as two

distinct clinical conditions.

R E F E R Ê N C I A S

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Clínica Neurológica — Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

— Caixa Postal 3461 — São Paulo, Brasil.