AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO...

30
AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA PÓS-GRADUAÇÃO CURSO: METODOLOGIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E GESTÃO ESCOLAR ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA DE LEITURA E DE ESCRITA Dirce Maria Solano Gomes Orientador: Prof. Ilso Fernandes do Carmo BRASNORTE/2011

Transcript of AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO...

Page 1: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA

PÓS-GRADUAÇÃO CURSO: METODOLOGIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E

GESTÃO ESCOLAR

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA DE

LEITURA E DE ESCRITA

Dirce Maria Solano Gomes

Orientador: Prof. Ilso Fernandes do Carmo

BRASNORTE/2011

Page 2: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA

PÓS-GRADUAÇÃO CURSO: METODOLOGIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E

GESTÃO ESCOLAR

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA DE

LEITURA E DE ESCRITA

Dirce Maria Solano Gomes

Orientador: Prof. Ilso Fernandes do Carmo

“Trabalho apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Especialização em Metodologia do Ensino Fundamental e Gestão Escolar.”

BRASNORTE/2011

Page 3: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

AGRADECIMENTO

A Deus: pela vida, pelo dom e pela luz que nos iluminou nesta caminha; a

nossos pais: por ter nos oferecido um lar com ambiente sadio, oportunizado a

crescer com sabedoria;

Ao meu conjugue: pela paciência, pela compreensão e pelo incentivo para

que persistimos nessa caminhada;

Aos meus filhos que: sofreram com minha ausência em vários momentos

desta jornada;

Aos colegas: pela amizade e pela cooperação;

Ao orientador acadêmico pela dedicação e atenção dirigida auxiliando-me

em meus estudos.

Page 4: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

DEDICATÓRIA

A minha família que é a incentivadora da minha caminhada, dedico esse

trabalho que é fruto do meu esforço.

Ao nosso orientador e professor Ilso que não se omitiu em ajudar quando o

procurei.

Aos amigos e colegas que deram força para que eu não desistisse diante

das dificuldades.

E em especial aos meus netos que sofreram com a ausência da vovó.

Que Deus nos abençoe.

Amém.

Page 5: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

(...) “Aprender a ler e a escrever, alfabetizar-se é, antes de mais

nada, aprender a ler o mundo, compreender seu contexto, não numa

manipulação mecânica de palavras, mas numa retração dinâmica,

vincula linguagem e realidade...”

(Paulo Freire)

Page 6: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

RESUMO

O Presente trabalho surgiu da minha inquietação e reflexão em definir e

compreender a relação que existe entre alfabetização e letramento, termo recém

chegado ao vocabulário da Educação e das Ciências Lingüísticas, palavras que se

tornam cada vez mais frequentes no discurso escrito e falado de especialistas onde

a nova maneira de compreender a presença da escrita no mundo social trouxe a

necessidade de discutir novos termos que surgem e que sugerem uma

reinterpretação das práticas pedagógicas em sala de aula. Diante dessa, esta

pesquisa tratará de discutir conceitos que têm sido construídos na área dos estudos

do letramento desde a década de 1980.

Esse trabalho é uma pesquisa bibliográfica de autores apaixonados pela

educação onde busquei conceitos para compreender a teoria desses pensadores

que defendem a Educação como a Doutora Magda Soares e outros, explica que

letrar é mais do alfabetizar, é ensinar a ler e a escrever dentro de um contexto onde

a escrita e a leitura tenham sentido e façam parte da vida do aluno, ela explica que

ao olharmos historicamente para as ultimas décadas, podemos observar que o

termo alfabetização sempre entendido como de uma forma restrita de aprendizagem

do sistema de escrita foi ampliado.

Para entender melhor o conceito de alfabetizar e letrar, busquei a história da

alfabetização e a sua trajetória definindo o conceito de cada termo para chegar a

uma definição e relacionar algumas diferenças que existem entre os dois termos,

pois nem sempre o alfabetizado é letrado.

Esta pesquisa mostrou-me a importância de alfabetizar letrando, levando

os alunos a fazerem uso da leitura e da escrita, envolvendo-os em práticas sociais

que realmente tenham sentido para eles, com materiais de qualidade.

PALAVRAS CHAVE: alfabetização, letramento, educação, leitura e escrita

Page 7: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................07

CAPITULO I

1.História da alfabetização no contexto educacional brasileiro..........................09

1.1 O que é alfabetização?....................................................................................09

1.2 Trajetória da alfabetização............................................................................. 09

CAPITULO II

2.0 Alfabetização e letramento............................................................................15

2.1 Letramento em busca de uma definição......................................................17

2.2 O que é letramento..........................................................................................18

2.3 2.3 Letramento ideológico...........................................................................21

2.4 Letramento autônomo.................................................................................21

CAPITULO III

3.0 Alfabetizado ou letrado.....................................................................................22

3.1 Como diferenciar o alfabetizado do letrado?.....................................................23

CONCLUSÃO.............................................................................................................25

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................27

Page 8: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

INTRODUÇÃO

A constante busca pelo saber, a formação continuada, o diálogo e a

pesquisa farão com que nos tornemos pessoas, profissionais melhores. É nessa

perspectiva que busco ampliar meus conhecimentos sobre a área em que atuo, a

educação, mesmo atuando como docente a muito tempo, não nos garante uma boa

atuação.

O presente trabalho surge de pensar a alfabetização e o letramento como

práticas de leitura e de escrita que devem ser vistas como um processo cultural e

social, buscando meios que auxiliem no processo do ensino aprendizagem dos

discentes.

A escolha do termo procura buscar conhecimento bibliográfico nos estudos

que diferenciam estes dois conceitos. Onde o letramento é considerado mais

abrangente do que a alfabetização.

O primeiro capitulo, analisa a trajetória da alfabetização no contexto

educacional brasileiro que trata da escrita onde o enfoque principal é analisar refletir

sobre a mesma, onde o Brasil vem a designar a condição de pessoas que mesmo

alfabetizados não conseguem fazer uso da leitura e da escrita.

O segundo capitulo, trata de uma abordagem conceitual sobre alfabetização

e letramento com pesquisa bibliográfica de autores apaixonados pela educação.

O terceiro capitulo vem relacionar algumas diferenças que existem sobre o

conceito de alfabetização e letramento, para que se possa refletir a respeito das

concepções que se tem até então sobre essas questões, pois nem sempre o

alfabetizado é letrado.

Precisaríamos de um verbo “letrar’’ para nomear a ação de levar os

indivíduos ao letramento... Assim , teríamos alfabetizar e letrar como duas ações

distintas, mas não inseparáveis, ao contrário:O ideal seria alfabetizar letrando, ou

seja: ensinar a ler e a escrever no contexto das práticas sociais da leitura eda escrita

de modo que o indivíduo se tornasse, ao mesmo tempo , alfabetizado e letrado.

Page 9: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

Ressalto que esse estudo está fundamentado em pesquisas de vários

educadores apaixonados pela educação.

08

Page 10: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

CAPÍTULO I

1. HISTORIA DA ALFABETIZAÇÃO NO CONTEXTO EDUCACIONAL

BRASILEIRO

1.1-O QUE É ALFABETIZAÇÃO?

É o processo pelo qual se adquire o domínio de um código e das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever, ou seja: o domínio da tecnologia – do conjunto de técnicas – para exercer a arte e ciência da escrita. (RIBEIRO, 2003,p. 91)

É uma relação entre os educandos e o mundo, mediado pela prática transformada desse mundo, que tem lugar precisamente no ambiente em que se movem os educandos. (FREIRE e MACEDO, 1990, p. 10).

A alfabetização é uma construção de um objeto conceitual, de natureza complexa, cuja apropriação requer um processo de longa duração, ou seja, vários anos (...) um processo dificilmente auto-realizável. (GEEMPA, citado em MOOL, 2001, p. 70).

Durante muito tempo, segundo Leda Verdiani Tfoufi (2002), pensava-se que

ser alfabetizado era conhecer o código lingüístico, ou seja, conhecer as letras do

alfabeto. Atualmente, sabe-se que, em hora seja necessário, o conhecimento das

letras não é suficiente para ser competente no uso da língua escrita. A língua não é

um mero código para comunicação. A linguagem é um fenômeno social, estruturado

de forma dinâmica e coletiva e, portanto, a escrita também deve ser vista do ponto

de vista cultural e social. Para dar conta desse processo de inserção numa cultura

letrada, tal como a atual, utiliza-se atualmente a palavra letramento, onde a

alfabetização é apenas um meio para se chegar ao letramento.

1.2-TRAJETÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO

O acesso à leitura e à escrita segundo CAGLIARI (2003), na antiguidade não

era privilegio só dos sacerdotes, reis ou pessoas de grande poder. Pessoas

adquiriam a leitura em sua própria casa sem ir à escola, apenas pela necessidade

de aprender a resolver seus negócios, comércios ou ler obras literárias ou em alguns

casos, para obter informações culturais da época.

Page 11: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

Segundo CAGLIARI (2003), os semitas, os gregos e os romanos nos deixam

alguns “alfabetos”, tabuinhas ou pequenas pedras, nas quais podiam encontrar o

alfabeto e serviam de caminho para as pessoas aprenderem a ler e escrever. Pode-

se dizer, então que essas “tabuinhas” foram as mais antigas “cartilhas da

humanidade”.

Nos séculos XV e XVI, período do Renascimento, segundo CAGLIARI

(2003), a leitura deixou de ser coletiva e passou a ser individual. Surgiu uma

inquietude com a necessidade de se ter um povo alfabetizado (isso sinalizava que a

nação era oprimida) e passou-se a dar importância à alfabetização de todos. Como

conseqüência, apareceram as primeiras Cartilhas, ensinando a escrever nas

línguas vernáculas, que até então era o latim.

Segundo ARANHA (1996), por volta dos anos de 1549 ainda no período

colonial, chega ao Brasil seu primeiro governador-geral, Tomé de Sousa,

acompanhado pelos padres jesuítas, que imediatamente, fizeram funcionar em

Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das escolas

elementares, secundárias, seminários e missões. Essas primeiras escolas brasileiras

fundadas pelos jesuítas tinham o objetivo de ensinar índios e os filhos dos colonos a

ler, escrever, contar números e a falar a língua portuguesa. Por volta dos anos de

1600, a população brasileira dominante era a agrária e escravista e, por isso, não

era importante a educação elementar, sendo esse uma das causas desse período a

maior parte da população brasileira ser analfabeta.

A EXPULSÃO DOS JESUITAS

De acordo com ARANHA (1996), somente em 1759 os jesuítas são expulsos

do Brasil pelo marques de Pombal com objetivo de tornar laico o ensino e atender os

interesses políticos e civis de Portugal, ocorrendo a desestruturação do sistema

educacional criado pelos jesuítas. O ensino regular ficou a deriva durante dez anos,

causando um grande retrocesso no sistema educacional brasileiro.

O ensino oficial, segundo ARANHA (1996), é implantado no Brasil a partir

de 1772, depois da expulsão dos jesuítas, passando a ser baseado nas chamadas

aulas régias de disciplinas separadas. A sociedade brasileira, naquela época,

10

Page 12: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

continuava com sua aristocracia agrária escravista, a economia era agro-

exportadora dependente e submetida à política colonial da opressão. Com essas

características sociais e econômicas, a educação no Brasil sofre graves

conseqüências, ou seja, o analfabetismo e o ensino estava precários agravado pela

expulsão dos jesuítas e por demorar a reforma pombalina da educação brasileira.

Segundo SOUZA (2006, p.13), após a Revolução Francesa, a escola se

tornou universal, a educação passou a ser direto de todos, e teve grande relevância

a educação de crianças, que antes era realizada só com adultos, sendo que depois

houve a preocupação com a alfabetização das crianças e a alfabetização foi

introduzida como matéria escolar. As cartilhas, naquele contexto, passaram por

mudanças.

Antes, segundo SOUZA (2006), elas acompanhavam o calendário escolar

em sua estruturação, passando, então a ser em divididas, a partir daquele momento,

em lições, abordando um tema em cada lição. Seu método de ensino era pautado no

método alfabético, passando, mais tarde, ao método silábico, surgindo o ba- be- bi-

bo-bu, modelo para os futuros livros de alfabetização.

O ano de 1789, segundo SOUZA (2006), foi o ponto de partida para o

acesso do indivíduo à cultura escrita. A união de alfabetização e da escola só se

consolidou aproximadamente um século mais tarde com a promulgação das leis

fundamentais que formaram o alicerce da escola pública obrigatória, laica e gratuita.

Foram criadas as Escolas de Primeiras Letras através do decreto imperial de 15 de

outubro de 1827, que tratava da primeira Lei Geral relativa ao Ensino Elementar em

todas as cidades, vilas e lugares mais populosos do império. Nas Escolas de

Primeiras Letras, deveriam ser ensinadas a leitura e a escrita das palavras, as

quatro operações (adição, subtração, multiplicação e divisão) e noções de geometria

prática.

CIDADÃOS ALFABETIZADOS

As idéias republicanas segundo SOUZA (2006, p.25), propõem um novo

modelo cultural, pois, com o surgimento das indústrias e a urbanização crescente

com novos valores em relação ao analfabetismo, elas são disseminadas pela classe

11

Page 13: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

dominante, exigindo dos cidadãos o mínimo de instrução. Naquele momento, a

educação ganha um novo conceito pelos pais das crianças, passando a ser

enxergada como a esperança de ascensão social.

Segundo SOUZA (2006), desde o inicio do século XIX até sua metade,

muitas pessoas que freqüentavam a escola com intuito de se alfabetizar não

passavam da terceira série primaria, hoje chamado de Ensino Fundamental e isso

acontecia também devido ao ensino estar centrado no professor e não no aluno.

Pesquisas revelam, segundo SOUZA (2006), que até o final da Segunda

Guerra Mundial (1939 a 1945), mais da metade da população brasileira era

analfabeta. Naquele período, a sociedade brasileira se caracterizava como uma

sociedade rural, vivia da agricultura e exportação e sua população maior estava no

campo.

Nos anos 50, instala-se no Brasil, o estado nacional desenvolvimentista

passado de um pais extremamente agrícola e rural para industrial e urbano,

começando o grande êxodo rural. Apareceram as novas exigências de mão-de-obra

qualificada e alfabetizada, com o surgimento das industrias, impulsionando o Estado

a reformular a sua função em relação á prestação de serviços públicos e, como

conseqüências, a educação básica também sofre mudanças. Houve a expansão da

Escola Básica Regular para atender as necessidades dessa nova sociedade e, no

que se referia a alfabetização, o objetivo era apensa o de decifrar palavras e frases.

(CARVALHO, 2005, p.27).

No segundo Congresso de Educação de Adultos em 1958, segundo

CARVALHO (2005), surgem reflexões em relação ás criticas das campanhas de

alfabetização, que se restringiam ao ensino de apenas assinar o nome, sendo que,

muitas vezes, a pessoa nem sabia escrever o alfabeto.

Como disse CARVALHO (2005), no inicio dos anos 60, surgem os

movimentos com objetivo de alfabetizar as classes populares:

• Centros Populares de Cultura (CPC);

• Movimento de Educação Popular;

• Movimento de Educação de Base (MEB);

• Campanha “De pé no chão também se aprende a ler”.

12

Page 14: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

Com o surgimento desses movimentos, não podemos deixar de citar as

contribuições de Paulo Freire (1975), como suas idéias de que o individuo só

aprende através da dialética, criando uma metodologia com a função de alfabetizar

a classe oprimida, vista por ele como a classe analfabeta. Seu método, segundo

Paulo Freire (1975), tinha como pressuposto a utilização de “palavras geradoras”,

palavras que faziam parte da vida do aluno, pois, em sua opinião, os indivíduos não

deveriam apenas aprender a formar palavras descontextualizadas, mas

compreender seu contexto dentro do meio onde estavam inseridos. A essência das

idéias de Paulo Freire (1975), era que antes de ensinar uma pessoa a ler as

palavras, era preciso ensiná-la a ler o mundo.

Nos anos 70, segundo SOUZA (2006, p14), surge um novo movimento.

Naquele período, há uma visão que para um país desenvolver sua população, esta

não pode ser analfabeta, dando inicio às ações do “Movimento Brasileiro de

Alfabetização” (Mobral) que nasceu como uma nova solução para erradicar o

analfabetismo atendendo a um contingente de jovens e adultos em 3.953

municípios. Porém, sua duração foi curta, sendo extinta em 1985, quando surge a

Fundação Educar que apoiava, financeira e tecnicamente, as iniciativas do governo,

das entidades civis e das empresas, com o intuito de alfabetizar os cidadãos

brasileiros.

Nos anos 80, PIAGET (1977), com a disseminação da idéia do

construtivismo atrelada às idéias de sobre a construção do conhecimento e as

pesquisas em relação á psicogênese da língua escrita, fases nos quais a criança

desenvolve as suas hipóteses de escrita, novas teorias de ensino e aprendizagem

começaram a surgir bem como outros métodos de alfabetização embasados na

concepção sócio interacionista. A competência técnica do professor alfabetizador

também era objeto de pesquisa.

Uma nova visão de alfabetização surgiu no final da década de 90 com o

fenômeno letramento e, segundo SOARES (2001), letramento é definido como o

estado ou a condição que adquire um grupo social ou um individua como

conseqüência de terço apropriado da escrita e da leitura e de suas praticas sociais.

Para COSTA (2002), o termo letramento possui um significado, mas abrangente e

complexo, valorizando as características sociais nas praticas de letramento, as

13

Page 15: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

quais são culturalmente determinadas e que se adquirem no processo interativo de

fala leitura e escrita.

Ressalta-se, ainda, segundo COSTA (2002), que no dia 13 de fevereiro de

2001, foi lançado a Década da Alfabetização das Nações Unidas. Naquele evento,

foram reforçadas as intenções e os esforços de sentido de tentar diminuir

significativamente o analfabetismo, disseminando essa preocupação de todos os

países do mundo. O lançamento da Década da Alfabetização Brasil coincide com

compromisso com a erradicação do analfabetismo.

14

Page 16: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

CAPÍTULO II

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

Segundo BURANELLO (2008, p. 7), mesmo antes de começar a frequentar

a escola, a criança já possui uma série de conhecimentos sobre a língua escrita.

Esses conhecimentos são decorrentes da interação sociocultural que ela mantém ou

manteve com a escrita e da relação com pessoas alfabetizadas, relação esta que

ocorre nos mais diversos contextos em que ler e escrever têm função social. Mesmo

a criança filha de pais não alfabetizados ou com baixo nível de escolarização, ou

ainda aquela que vive em zonas não urbanas, pode possuir algum conhecimento

sobre a função da escrita.

Tendo isso por pressuposto, ao receber o aluno para os 1º e 2º anos

escolares, o professor deve partir dos conhecimentos prévios dos alunos para levá-

los a construir novos conhecimentos acerca da língua escrita.

Como disse BURANELLO (2008), nesse nível de escolarização, o aluno

precisa entender a escrita como um objeto social e não como um objeto escolar.Isso

será possível a partir de uma prática pedagógica em que a leitura e a escrita sejam

trabalhadas de maneira significativa.

Ler, segundo BURANELLO (2008), é mais complexo que do que saber

codificar (isto é, transformar sinais gráficos em sons) e escrever vai além de saber

codificar( ou seja, transformar sons em sinais gráficos). Saber ler implica em

compreender as intencionalidades do texto, as características próprias do gênero, os

efeitos provocados pelas escolhas lingüísticas do autor etc. Saber escrever consiste

em produzir um discurso coerente e coeso conforme uma intenção comunicativa.

Diante disso, ensinar o nome das letras e o valor sonoro delas é uma tarefa

importante e necessária para o professor-alfabetizador, mas não deve ser a única.

Pode-se dizer que, nos primeiros anos de escolarização, o professor precisa garantir

ao aluno a alfabetização, ou seja, a habilidade de ler (decodificar) e escrever

(codificar), mas também o letramento. A respeito desses conceitos, esclarecem

LEAL, ALBURQUERQUE e MORAIS (2006, p. 71):

O primeiro termo, alfabetização, corresponderia ao processo pelo qual se adquire uma tecnologia- a escrita alfabética e as habilidades de utilizá-la para ler e escrever.Dominar tal tecnologia em que precisamos ler e produzir

Page 17: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

textos reais.’’envolve conhecimentos e destrezas variados, como compreender o funcionamento do alfabeto, memorizar as convenções letra-som e dominar seu traçado, usando instrumentos como lápis, papel ou outros que os substituam.

Já o segundo termo, letramento, relaciona-se ao exercício efetivo e competente daquela tecnologia da escrita, nas situações

Alfabetização e letramento, conforme explica SOARES (2003, p.22), não são

práticas excludentes, pelo contrário. Ao mesmo tempo em que ensina a natureza do

sistema de escrita, o professor pode e deve propor atividades de leitura de textos.

Desse modo, alfabetizará letrando ou, alternando a ordem dos termos, mas não o

princípio, letrará alfabetizando.

Segundo BATISTA (2007, p. 11) afirma que há diferentes níveis de

letramento:

(...) Como são muito variados os usos sociais da escrita e suas competências a eles associados (de ler um bilhete simples a escrever um romance), é freqüente levar em consideração níveis de letramento (dos mais elementares aos mais complexos). Tendo em vista as diferentes funções (para se distrair, para se informar, por exemplo) e as formas pelas quais as pessoas têm acesso à língua escrita- com ampla autonomia, com a ajuda do professor ou da professora, ou mesmo por meio se alguém que escreve, por exemplo, cartas ditadas por analfabetos-, a literatura a respeito assume ainda a existência de tipos de letramento ou de letramentos, no plural.

Durante muitos anos, segundo KATO 1986), pensava-se que ser

alfabetizado era conhecer letras do alfabeto. Atualmente, sabe-se que o

conhecimento dessas letras não é satisfatório para ser competente no uso da

linguagem escrita, já que essa não é um mero código para comunicação. Ela é um

processo cognitivo, uma pratica social e ideológica, que é estruturada de forma

dinâmica e coletiva e, neste modo, a escrita também deve ser pensada assim.

‘‘É alfabetizada a pessoa que é capaz de ler e escrever com compreensão

um enunciado curto e simples sobre a vida cotidiana”. (UNESCO, 1958, p.4)

Em relação à alfabetização, segundo KATO 1986),, destaca-se que essa é

apenas um meio para o letramento (uso social da leitura e da escrita). Para constituir

cidadãos participativos, é necessário levar em conta a noção de letramento e não

somente de alfabetização. Letrar significa inserir o aprendiz no mundo letrado,

realizando atividades com diferentes usos de escrita na sociedade. Essa inclusão

começa antes da alfabetização escolar, ou seja, inicia quando o aprendiz começa a

se relacionar socialmente com as praticas de letramento no seu mundo social: os

16

Page 18: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

pais lêem para ele, quando vê alguém fazendo anotações ou observa os rótulos

indicando os produtos nas prateleiras no supermercado ou em casa, etc.

Segundo os PCNs (BRASIL,1997ª, p.54):

Um leitor competente só pode constituir-se mediante uma prática constante de leitura de textos de fato, a partir de um trabalho que deve de organizar em torno da diversidade se textos que circulam socialmente. Esse trabalho pode envolver todos os alunos, inclusive aqueles que ainda não sabem ler convencionalmente.

2.1 LETRAMENTOS EM BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO

Segundo SOARES (2001,p.80), a origem das duvidas e contradições sobre

letramento esta na dificuldade de formular uma definição mais precisa e universal

desse fenômeno. A dificuldade de se encontrar essa definição esta no fato que a

palavra letramento sugere uma vasta gama de conhecimento, habilidades,

capacidades,valores,usos e funções sociais.

Reconhecendo esses múltiplos significados e variedades de letramento,

SCRIBNER & COLE (1984,p.18), defende a convivência de “desagradar” seus

diversos níveis e tipos em um processo de decomposição. A sugestão que faz

Harman de uma definição de letramento que distinga três diferentes estágios

representa uma tentativa de realizar essa “desagregação”:

O primeiro estágio é a concepção de letramento como um instrumento. O segundo é a aquisição do letramento, a aprendizagem das habilidades de ler e escrever. O terceiro é a aplicação prática dessas habilidades em atividades significativas para o aprendiz. Cada estágio é dependente do anterior,cada um é um componente necessário do letramento.(HARMAN,1970,p.228)

Mesmo que apenas sob a perspectiva da dimensão individual, é difícil definir

letramento devido à extensão e diversidade das habilidades individuais que podem

ser consideradas como constituintes do letramento.

Uma primeira fonte de dificuldade, que atinge o cerne mesmo da questão, é

que o letramento envolve dois processos fundamentalmente diferentes: ler e

escrever. Nas palavras de SMITH:

Ler e escrever são processos frequentemente vistos como imagens espelhadas uma da outra, como reflexos sob ângulos opostos de um mesmo fenômeno: a comunicação através da língua escrita. Mas há diferenças fundamentais entre as habilidades e conhecimentos empregados

17

Page 19: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

na leitura e aquelrs empregados na escrita, assim como há diferenças consideráveis entre os processos envolvidos na aprendizagem da leitura e os envolvidos na aprendizagem da escrita. (1973, p.117)

2.2 E O QUE É LETRAMENTO?

Segundo Angela Kleiman (1991,p.15), os estudos no Brasil estão numaetapa

ao mesmo tempo incipiente e extremamente vigorosa, configurando-se hoje como

uma das vertentes de pesquisa que melhor conquretiza a união do interesse teórico,

a busca de descrições e explicações sobre um fenômeno, com o interesse social, ou

aplicado, a formulação de perguntas cuja resposta possa vir a promover uma

transformação de uma realidade tão preocupante como é a crescente

marginalização de grupos sociais que não conhecem a escreita.

O conceito de letramento começou a ser usado nos meios acadêmicos

numa tentativa de separar o impacto social da escrita (KLEIMAN,1991) dos estudos

sobre a alfabetização, cujas conotações escolaresdestacam as competências

individuais no uso e na prática da escrita.Eximem-se dessas conotações os sentidos

que Paulo Freire atribuiu à alfabetização, que a vê como capaz de levar o

analfabeto a organizar reflexivamente seu pensamento, desenvolver a consciência

crítica, introduzí-lo num processo real de democratização da cultura e de libertação

(FREIRE,1975). Porém, esse sentido ficou restrito aos meios acadêmicos,por outro

lado, os estudos sobre o letramento examinam o desenvolvimento social que

acompanhou a expansão dos usos da escrita desde o século XVI.

Uma estudante norte-americana, de origem asiática Kate M. Chong, citada

em SOARES (2004, p. 41), ao escrever sua história pessoal de letramento, define-o

em um poema:

Letramento não é um gancho

Em que se pendura cada som enunciado,

Não é treinamento repetitivo de uma habilidade,

Nem um martelo

Quebrando blocos de gramática.

Letramento é diversão

é leitura a luz de vela

18

Page 20: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

Ou lá fora, à luz do sol

São notícias sobre o presidente

O tempo, os artistas da TV

E mesmo Mônica e Cebolinha

Nos jornais de domingo.

É uma receita de biscoito,

Uma lista de compras, recados colados na geladeira,

Um bilhete de amor,

Telegramas de parabéns e cartas,

De velhos amigos.

É viajar para países desconhecidos,

Sem deixar sua cama,

É rir e chorar

Com personagens, heróis e grandes amigos.

É um atlas do mundo,

Sinais de transito, caças ao tesouro,

Manuais, e instruções, guias,

E orientações em bulas de remédios,

Para que você não fique perdido.

Letramento é, sobretudo,

Um mapa do coração do homem,

Um mapa de quem você é,

E de tudo o que você pode ser.

Segundo Magda Soares (2004, p.41), o poema mostra que letramento é

muito mais que alfabetização. Ele expressa muito bem como letramento é um

estado, uma condição:o estado ou condição de quem interage com diferentes

portadores de leitura e de escrita, com diferentes gêneros e tipos de leitura e de

escrita, com as diferentes funções que a leitura e a escrita desempenham em nossa

vida. Enfim: letramento é o estado ou condição de quem se envolve nas numerosas

e variadas práticas sociais de leitura e de escrita.

‘’Letramento “procura estudar e descrever o que ocorre nas sociedades quando adotam um sistema de escritura de maneira restrita ou generalizada; procura ainda saber quais praticas psicossociais substituem

19

Page 21: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

as “letradas” em sociedades ágrafas, letramento assim tem por objetivo investigar não somente quem não é alfabetizado, e , nesse sentido, desliga-se de verificar o individual e centraliza-se no social”. (TFOUNI, 2002, p.9-10).

‘’Letramento é o estado ou condição que adquire um grupo social ou um individuo como conseqüência de ter-se apropriado da escrita e leitura e de suas práticas sócias. (SOARES, 2003, p.31-39)

‘’Letramento numa dimensão social é o que as pessoas fazem com as habilidades de leitura e de escrita, em um contexto especifico, e como essas habilidades se relacionam com as necessidades, valores e práticas sociais. (SOARES, 2003, p.31-39).

De acordo com TFOUNI (1995), a escrita, a alfabetização e o letramento

estão atrelados entre si e. Para essa autora, os sistemas de escrita são um produto

cultural, ou seja, são frutos de conhecimentos passados por outras pessoas. Já a

alfabetização e o letramento são processos de aquisição de um sistema escrito.

Segundo TFOUNI (1995, p.9).

A alfabetização refere-se à aquisição da escrita enquanto a aprendizagem de habilidade para a leitura e pra a escrita e as chamadas práticas de linguagem. Isso é direcionado a efeito por meio dos procedimentos de escolarização e, portanto, do ensino formal.

Podemos então concluir que “o letramento tem por objetivo pesquisar não

somente quem é alfabetizado, mas também quem não é alfabetizado e, nesse

sentido, desliga-se de verificar o individual e centraliza-se no social”. (TFOUNI, 1995,

p. 10).

Resumindo, disse SOARES (2004, p. 78), os conceitos de letramento que

enfatizam sua dimensão social fundamentam-se ou em seu valor pragmático, isto é,

na necessidade de letramento para o efetivo funcionamento na sociedade ( a

versão “fraca” ), ou em seu poder “revolucionário”, ou seja, em seu potencial para

transformar relações e práticas sociais injustas (a versão forte). Apesar dessa

diferença essencial, tanto a versão ”fraca” quanto a versão “forte” evidenciam a

relatividade do conceito de letramento:porque as atividades sócias que envolvem a

língua escrita dependem do projeto que cada grupo político pretende implementar,

elas variam no tempo e no espaço.

(...) um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado; alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; já o indivíduo letrado, o indivíduo que vive em estado de letramento, é não só aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente às demandas sociais da leitura e da escrita (SOARES, 2004, p.39).

20

Page 22: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

2.3 LETRAMENTO IDEOLÓGICO

Visão reveladora das legitimas possibilidades das práticas e eventos de

letramento, pois dá a entender o reconhecimento de fatores que acontecem por

estarem estritamente unidos ás composições culturais e dominantes do meio onde

ocorre. Depende, também, do jogo de forças nas relações sócias e considera os

contextos de uso de um determinado grupo. Uma exemplificação disso pode ser as

pessoas de classes sócias diferentes que tenderão também, a ter uma relação com

a escrita de maneira diferenciada, considerando que essa relação é sempre

dependente do contexto em que estas pessoas estão inseridas. Isso quer dizer que

quem vive num universo cheio de escrita poderá ter melhor desempenho nas

habilidades de leitura e de escrita. Segundo STREET:

Qualquer estudo etnográfico do letramento atestará, por implicação, sua significância para diferenciações que são feitas com base no poder, na autoridade, na classe social, apartir da interpretação desses conceitos pelo pesquisador. Assim, já que todos os enfoques sobre o letramento terão um viés desse tipo, faz mais sentido, do ponto de vista da pesquisa acadêmica, admitir e revelar, de início, o sistema ideológico utilizado, pois assim ele pode ser abertamente estudado, contestado e refinado. (1993, p. 9).

2.4 LETRAMENTO AUTÔNOMO

Representando nas escolas de concepção tradicional, enxerga a oralidade e

a escrita como praticas diferentes, considerando somente uma forma de letramento

a ser desenvolvida, estando essa forma atrelada ao progresso, a civilização e à

mobilidade social (KLEIMAN,1995, p.22). No modelo autônomo, a escrita é vista

habitualmente como um bem em si mesma, já que ela é o fator principal do

desenvolvimento cognitivo do sujeito.

Pode-se afirmar que a escola, a mais importante das agências do letramento, preocupa-se não com o letramento, prática social, mas com apenas um tipo de prática de letramento, a alfabetização, o processo de códigos (alfabeto numérico), processo geralmente concebido em termos de uma competência individual necessária para o sucesso e promoção na escola. Já outras agências de letramento como a família, a igreja, a rua como lugar de trabalho mostram orientaçõesde letramento muito diferentes. (KLEIMAN, 1995,p.20)

21

Page 23: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

CAPÍTULO III

3.0- ALFABETIZADO OU LETRADO

Chegamos finalmente a grande diferença, segundo Magda Soares (2001),

entre a alfabetização e letramento, pois uma pessoa alfabetizada é diferente de um

letrado.

Há, assim uma diferença entre saber ler e escrever mas não faz uso da

leitura e da escrita, é alfabetizada, enquanto que o letrado sabe ler e escrever e faz

uso freqüente da leitura e da escrita. Quais habilidades e aptidões de leitura e

escrita qualificam um individuo como letrado? Que tipos de material escrito um

individuo deve ser capaz de ler e escrever para ser considerado letrado?

As competências que constituem o letramento são contínuas e indicam

diversos tipos e níveis de habilidades, capacidades e conhecimentos que podem ser

aplicados a diferentes tipos de material escrito. Portanto, é difícil especificar, de uma

maneira não arbitrária, uma linha divisória que separaria o indivíduo letrado do

iletrado.

Segundo a UNESCO, as definições de letrado e iletrado, com o propósito de

padronização internacional das estatísticas em educação, são uma tentativa de fazer

tal distinção:

É letrada a pessoa que consegue tanto ler quanto escrever com compreensão uma frase simples e curta sobre sua vida cotidiana.

É iletrada a pessoa que não consegue ler nem escrever com compreensão uma frase simples e curta sobre sua vida cotidiana. (UNESCO, 1958, p.4 )

Portanto letramento é o que as pessoas fazem com as habilidades de leitura

e escrita, em um contexto especifico, e com essas habilidades se relacionam com as

necessidades, valores e práticas sociais, em outras palavras, letramento é o

conjunto de práticas sociais ligadas à leitura e a escrita em que os indivíduos se

envolvem em seu contexto social. Assim, as práticas em sala de aula devem estar

orientadas de modo que se promova a alfabetização na perspectiva do letramento e,

tomando as palavras de SOARES (2001), que se proporcione a construção de

habilidades para o exercício efetivo e competente da tecnologia da escrita. Esse

exercício:

Page 24: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

[...] implica habilidades várias, tais como: capacidade de ler ou escrever para atingir diferentes objetivos – para informar ou informar-se, para interagir com os outros, para imergir no imaginário, no estético, para ampliar conhecimentos, para seduzir ou induzir, para divertir-se, para orientar-se, para apoio à memória, para catarse...:habilidades de interpretar e produzir diferentes tipos e gêneros textos, habilidades de orientar-se pelos protocolos de leitura que marcam o texto ou de lançar mão desses protocolos, ao escrever: atitudes de inserção efetiva no mundo da escrita, tendo interesse e informações e conhecimentos,escrevendo ou lendo de forma diferenciada, segundo as circunstâncias, os objetivos, o interlocutor [...].( SOARES,2003, p.92).

3.1 COMO DIFERENCIAR O ALFABETIZADO DO LETRADO

Assim como disse Magda Soares (2001), é difícil a resposta a essa pergunta

porque letramento envolve dois fenômenos bastante diferentes, a leitura e a escrita,

cada um deles muito complexo, pois constituído de uma multiplicidade de

habilidades, comportamentos, conhecimentos:

LER: É um conjunto de habilidades e comportamentos que se estendem

desde simplesmente decodificar sílabas ou palavras até ler Grande Sertão Veredas

de Guimarães Rosa... Uma pessoa pode ser capaz de ler um bilhete, ou uma

história em quadrinhos, e não ser capaz de ler um romance,um editorial de

jornal...Assim:ler é um conjunto de habilidades, comportamentos, conhecimentos

que compõem um longo e complexo continuum: em que ponto desse continuum uma

pessoa deve estar, para ser considerada alfabetizada, no que se refere à leitura? A

partir de que ponto desse continuum uma pessoa pode ser considerada letrada, no

que se refere à leitura?

ESCREVER: É também um conjunto de habilidades e comportamentos que

se estendem desde simplesmente escrever o próprio nome até escrever uma tese

de doutorado... uma pessoa pode escrever um bilhete, uma carta,mas não ser capaz

de escrever uma argumentação defendendo um ponto de vista, escrever um ensaio

sobre determinado assunto... Assim: escrever é também um conjunto de

habilidades, comportamentos, conhecimentos que compõem um longo e complexo

continuum; em que ponto desse continuum uma pessoa deve estar, para ser

considerada alfabetizada, no que se refere à escrita? A partir de que ponto desse

continuum uma pessoa pode ser considerada letrada, no que se refere à escrita?

23

Page 25: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

Conclui-se que há diferentes tipos e níveis de letramentos, dependendo das

demandas do indivíduo e de seu meio, do contexto social e cultural.

24

Page 26: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

CONCLUSÃO

A importância deste trabalho que vem a finalizar minha formação em pós-

graduação é de avaliar a importância do assunto que provoca tantas reflexões entre

estudiosos da educação e nós professores que muitas vezes ficamos em dúvida

como muitas vezes ficamos em dúvida como oferecer condições para que eles

alcancem o contexto do letramento. Como disse Magda Soares, é preciso usar

letramentos, no plural, porque não é só responsabilidade do professor de Língua

Portuguesa, mas, de todos os professores que trabalham com leitura e escrita.

Compreendi que devemos ensinar o aluno e ele aprender. Há convenções

que precisam ser ensinadas e aprendidas, como decodificar letras e palavras e toda

a tecnologia muito complicada para o aluno, como segurar o lápis, escrever de cima

pra baixo e vice-versa, da esquerda pra a direita e outros que para um adulto letrado

é fácil, mas para eles são difíceis.

Então, conclui que para um aluno ter sucesso na aprendizagem, o ideal é

alfabetizar letrando, e para que isso aconteça devemos oferecer material escrito de

qualidade e estar convivendo num meio onde a escrita e a leitura façam parte do seu

contexto social.

A alfabetização e o letramento são termos distintos, há diferenças entre

aprender o código da escrita e ter habilidade de usá-lo.

Também compreendi que eles são indissociáveis em suas especificidades

sem hierarquia, pode-se letrar antes de alfabetizar ou ao contrário. Isso explica o

grande problema que enfrentamos em sala de aula, o fracasso do sistema de

alfabetização na progressão continuada. Os alunos chegam ao segundo ano sem

saber ler e escrever.

Compreendo então,que o nosso problema não é apenas ensinar a ler e a

escrever, mas é, também, e sobretudo, levar os alunos a fazer uso da leitura e da

escrita, envolvendo-se em praticas sociais de leitura e de escrita, que seja algo que

realmente tenha sentido, uso e função para as pessoas.

Page 27: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

Somente a educação pode fazer com que cada cidadão seja o principal

personagem de sua história para exercerem seus direitos, sobre tudo para serem

felizes.

26

Page 28: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARANHA, Maria Lucia de Arruda. Historia da educação. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1996. BATISTA, Antônio Augusto Gomes e outros. Capacidades linguísticas: alfabetização e letramento. Pró-letramento: programa de formação continuada de professores dos anos/séries iniciais do ensino fundamental. Brasília, MEC/SEB, 2007. BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1997ª. BURANELO, Cristiane. Letramento e alfabetização linguística educacional. 2º Ano. São Paulo: Escala, 2008. (Coleção Conhecer e Crescer). CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetizando sem o bá, bé, bi, bo, bu. São Paulo: Scipione, 1998. CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetizando Sem o bá , bé, bi, bo, bu. São Paulo: Scipione, 2003. CARVALHO, Marlene. Alfabetizar e letrar: um diálogo entre a teoria e a prática. Petrópolis: Vozes, 2005. COSTA, Deborah C. P. A construção de gêneros secundários na educação infantil. Campinas: Unicamp,2002. CHONG, Kate M. O que é letramento. In: SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 41. ed. São Paulo: Cortez, 2001. FREIRE, Paulo; MACEDO, Donaldo. Alfabetização: leitura da palavra leitura do mundo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975. HARMAN, D. I literacy: An Overview. Harvard Educational Review, Harvard, v. 40, n.2, p.226-243, 1970. KATO, Mary. Estudos em alfabetização. Campinas: Pontes; Juiz de Fora: Editora Da Universidade Federal de Juiz de Fora,1997. . KATO, Mary. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística. São Paulo: Ática.1986. (Série Fundamentos).

Page 29: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

KLEIMAN, Angela B. Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas: Mercado de Letras, 1995. KLEIMAN, Angela. Os significados do letramento. São Paulo: Mercado das letras, 1991. LEAL, Telma Ferraz; ALBURQUERQUE, Eliana B. Correia de MORAIS, Artur Gomes de. Avaliação na escola: a prática pedagógica como eixo de reflexão:. ensino fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade. Brasília: MEC/FNDE, 2006b. MOOL, Jaqueline. Alfabetização possível. Reinventando o ensino e o aprender. São Paulo: Mediação, 2001. MORAIS, Artur Gomes de. Concepções e metodologias de alfabetização: por que é preciso ir além da discussão sobre velhos métodos?. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/alf_moarisconcpmetodalf.pdf>. Acesso em 12 ago. 2011. SOUZA, Leonília e Maristela. Alfabetização: fundamentos, processos e métodos. Palmas: Global, 2006.. PIAGET, Jean. O julgamento moral da criança. São Paulo: Mestre JOU, 1977. RIBEIRO, V. M. (org.). Letramento no Brasil. São Paulo: Global, 2003. SCRIBNER, S. & COLE ,M. The Psychology of Literacy. Cambridge, Harvard University Press, 1984. SMITH, F. Psycholinguistics and Reading. London: Holt, Rinehart & Winston, 1973 SOARES, Magda. Alfabetização e letramento. São Paulo: Contexto, 2005. SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. SOARES, Magda. O que é letramento e alfabetização. 2004. Disponível em: <http://moderna.com.br/moderna/didáticos/ef/artigos/2004/00/14. htm >. Acesso em 9 dez.2010. SOARES, Magda. Letramento e escolarização. In: RIBEIRO, V. M.(Org.). Letramento no Brasil, reflexões a partir do INAF 2001. São Paulo: Global, 2003. STREET, B. V. Cross-Cultural approaches to literacy. Cambridge. MA: C.U. P, 1993. ___________. Letramento e escolarização. In: RIBEIRO, Vera Masagão (org.). Letramento no Brasil. Global: São Paulo, 2003.

28

Page 30: AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO …biblioteca.ajes.edu.br/arquivos/monografia_20130823155452.pdf · Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das

TFOUNI, Leda Verdiani. Letramento e alfabetização. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2002. ___________. Alfabetização e Letramento. São Paulo: Cortez, 1995. UNESCO. Recommendation concerning the International Standardization of Educational statistics. Paris: UNESCO,1958. UNESCO. Disponível em www.unesco.org.br/noticias/revista/ant/noticias2003/decador_alfabetizacao/mostra_documento. 13 ago. 2011.

29