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AJES – INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO DO LÚDICO NA APRENDIZAGEM INFANTIL E SÉRIES INICIAIS BRINCADEIRA INFANTIL: SUA IMPORTÂNCIA PARA APRENDIZAGEM SATURNINA DA SILVA MARQUES ORIENTADOR: PROF. ILSO FERNANDES DO CARMO VÁRZEA GRANDE/2011

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AJES – INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA

ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO DO LÚDICO NA APRENDIZAGEM INFANTIL

E SÉRIES INICIAIS

BRINCADEIRA INFANTIL: SUA IMPORTÂNCIA PARA APRENDIZAGEM

SATURNINA DA SILVA MARQUES

ORIENTADOR: PROF. ILSO FERNANDES DO CARMO

VÁRZEA GRANDE/2011

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AJES – INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA

ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO DO LÚDICO NA APRENDIZAGEM INFANTIL

E SÉRIES INICIAIS

BRINCADEIRA INFANTIL: SUA IMPORTÂNCIA PARA APRENDIZAGEM

SATURNINA DA SILVA MARQUES

ORIENTADOR: PROF. ILSO FERNANDES DO CARMO

“Trabalho, apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Especialização em Educação do Lúdico na Aprendizagem Infantil e Séries Iniciais.”

VÁRZEA GRANDE/2011

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RESUMO

A brincadeira é uma forma privilegiada de aprendizagem. Na medida em que

vão crescendo, as crianças trazem para suas brincadeiras o que vêem, escutam,

observam e experimentam. As brincadeiras ficam mais interessantes quando as

crianças podem combinar os diversos conhecimentos a que tiveram acesso. Nessas

combinações, muitas vezes inusitadas aos olhos dos adultos, as crianças revelam

suas visões de mundo, suas descobertas. Atualmente, as crianças começam a

freqüentar cada vez mais cedo as instituições voltadas para elas, como as creches e

as escolas de Educação Infantil. Nesses espaços, o brincar é muitas vezes

desvalorizado em relação a outras atividades consideradas mais produtivas. A

brincadeira acaba ocupando o tempo da espera, do intervalo. Valorizar a brincadeira

não é apenas permiti-la, é suscitá-la. Ao observarmos atentamente o modo como as

diferentes crianças brincam, é possível perceber que os usos que fazem dos

brinquedos e a forma de organizá-los estão relacionados com seus contextos de

vida e expressam visões de mundo particulares. O objetivo primordial desta

pesquisa é demonstrar a importância da atividade lúdica na prática educativa,

principalmente na educação infantil. A metodologia aplicada a esta pesquisa é

qualitativa educacional, bibliográfica onde os textos foram analisados e interpretados

através de livros, revistas, artigos e sites. Diante da pesquisa é possível afirmar que

brincar não é passatempo e contribui para facilitar a construção ou aquisição do

conhecimento das crianças pequenas. É importante ressaltar que após esta

pesquisa, meus conhecimentos acerca do lúdico foram aprimorados, tornando a

minha prática pedagógica mais rica de informações e recursos que facilitam a

aprendizagem.

Palavras-Chaves: Jogos – Brincadeiras – Criança Pequena.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................04

CAPÍTULO I

ALGUNS PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL ..............................................08

1.1. O Lúdico na Educação .....................................................................................10

1.2. O Lúdico e a Prática Pedagógica .....................................................................12

CAPÍTULO II

HISTORICIDADE DA BRINQUEDOTECA NO BRASIL .........................................18

2.1. Brinquedoteca: Espaço lúdico na educação e lazer .........................................22

2.2. Brinquedos e Brincadeiras ...............................................................................24

CAPÍTULO III

O JOGO COMO RECURSO PRIVILEGIADO DE DESENVOLVIMENTO DA

CRIANÇA PEQUENA .............................................................................................28

3.1. O brincar preenche necessidades da criança e promove a representação

simbólica .................................................................................................................31

3.2. O brincar permite conhecer a realidade ...........................................................33

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................35

REFERÊNCIAS .......................................................................................................37

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INTRODUÇÃO

Brincar é uma realidade cotidiana na vida das crianças e, para que elas

brinquem, é suficiente que não sejam impedidas de exercitar sua imaginação. A

imaginação é um instrumento que permite as crianças relacionarem seus interesses

e suas necessidades com a realidade de um mundo que poucos conhecem; é o

meio que possuem para interagir com o universo dos adultos, universo que já exista

quando elas nasceram e que somente aos poucos puderam compreender.

A brincadeira expressa à forma como uma criança reflete, ordena,

desorganiza, destrói e constrói o mundo à sua maneira. São também um espaço

onde a criança pode expressar, de modo simbólico suas fantasias, seus desejos,

medos, sentimentos agressivos e os conhecimentos que vai construindo, a partir das

experiências que vivem.

Desde o momento em que nascem e à medida que crescem, as crianças

esforçam-se para agir e relacionar-se com o ambiente físico e social que as rodeia –

um mundo à sua maneira. É também um espaço onde a criança pode expressar, de

modo simbólico, suas fantasias, seus desejos, medos, sentimentos agressivos e os

conhecimentos que vai construindo, a partir das experiências que vivem.

Desde o momento em que nascem e à medida que crescem, as crianças

esforçam-se para agir e relacionar-se com o ambiente físico e social que as rodeia –

um mundo de objetos, relações e sentimentos que, pouco a pouco, vai-se ampliando

e que elas procuram, todo o tempo, compreender. Nesse esforço, constroem

conhecimentos sobre a realidade e podem se perceber como indivíduos únicos entre

outros indivíduos.

No processo de aprendizagem é necessário que a criança esteja motivada

para que se interesse por uma atividade. E essa motivação influência no seu

processo de aprendizagem e na construção de idéias e convicções próprias,

fazendo parte integrante de sua personalidade.

A aprendizagem depende em grande parte da motivação: as necessidades e

os interesses das crianças são mais importantes que qualquer outra razão para que

ela se ligue a uma atividade e da confiança na sua capacidade de construir uma

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idéia própria sobre as coisas, assim como exprimir seu pensamento com convicção

são características que fazem parte da personalidade integral da criança.

As brincadeiras permitem a exploração do potencial criativo de uma

seqüência de ações libertas e naturais em que a imaginação se apresenta como

atração principal, o que significa dizer que por meio do brinquedo, a criança

reinventa o mundo e liberam as suas fantasias.

Esta pesquisa tem como objetivo geral demonstrar a importância da

atividade lúdica na prática educativa, principalmente na educação infantil.

E tem como objetivos específicos:

• Analisar o espaço-físico das creches e escolas que promovem educação infantil.

• Identificar as funções educativas das brincadeiras na educação infantil;

• Esclarecer aos educandos e comunidade escolar que a brincadeira é uma forma

de garantir à criança o direito à infância.

Brincar é uma realidade cotidiana na vida das crianças e, para que elas

brinquem, é suficiente que não sejam impedidas de exercitar sua imaginação. A

imaginação é um instrumento que permite as crianças relacionarem seus interesses

e suas necessidades com a realidade de um mundo que poucos conhecem; é o

meio que possuem para interagir com o universo dos adultos, universo que já exista

quando elas nasceram e que somente aos poucos puderam compreender.

A brincadeira expressa à forma como uma criança reflete, ordena,

desorganiza, destrói e constrói o mundo à sua maneira. São também um espaço

onde a criança pode expressar, de modo simbólico suas fantasias, seus desejos,

medos, sentimentos agressivos e os conhecimentos que vai construindo, a partir das

experiências que vivem.

Desde o momento em que nascem e à medida que crescem, as crianças

esforçam-se para agir e relacionar-se com o ambiente físico e social que as rodeia –

um mundo à sua maneira. É também um espaço onde a criança pode expressar, de

modo simbólico, suas fantasias, seus desejos, medos, sentimentos agressivos e os

conhecimentos que vai construindo, a partir das experiências que vivem.

Desde o momento em que nascem e à medida que crescem, as crianças

esforçam-se para agir e relacionar-se com o ambiente físico e social que as rodeia –

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um mundo de objetos, relações e sentimentos que, pouco a pouco, vai-se ampliando

e que elas procuram todo o tempo, compreender. Nesse esforço, constroem

conhecimentos sobre a realidade e podem se perceber como indivíduos únicos entre

outros indivíduos.

No processo de aprendizagem é necessário que a criança esteja motivada

para que se interesse por uma atividade. E essa motivação influência no seu

processo de aprendizagem e na construção de idéias e convicções próprias,

fazendo parte integrante de sua personalidade.

A aprendizagem depende em grande parte da motivação: as necessidades e

os interesses das crianças são mais importantes que qualquer outra razão para que

ela se ligue a uma atividade e da confiança na sua capacidade de construir uma

idéia própria sobre as coisas, assim como exprimir seu pensamento com convicção

são características que fazem parte da personalidade integral da criança.

As brincadeiras permitem a exploração do potencial criativo de uma

seqüência de ações libertas e naturais em que a imaginação se apresenta como

atração principal, o que significa dizer que por meio do brinquedo, a criança

reinventa o mundo e liberam as suas fantasias.

Esta pesquisa tem como objetivo geral demonstrar a importância da

atividade lúdica na prática educativa, principalmente na educação infantil.

E tem como objetivos específicos:

• Analisar o espaço-físico das creches e escolas que promovem educação infantil.

• Identificar as funções educativas das brincadeiras na educação infantil;

• Esclarecer aos educandos e comunidade escolar que a brincadeira é uma forma

de garantir à criança o direito à infância.

Serão analisadas as questões que comprovam a importância da brincadeira

no processo educativo. Buscando compreender a verdadeira função do ato de

brincar.

As brincadeiras permitem a exploração do potencial criativo de uma

sequencia de ações libertas e naturais em que a imaginação se apresenta como

atração principal, o que significa dizer que por meio do brinquedo, a criança

reinventa o mundo e liberam as suas fantasias, tendo como situação problema, os

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espaços físicos das creches ou até mesmo escolas que promovem a educação

infantil são apropriados para realização das brincadeiras?

A metodologia utilizada foi pesquisa educacional qualitativa onde os textos

foram analisados e interpretados, através de referências bibliográficas de autores

que ressaltam o ato do brincar no contexto escolar.

A pesquisa está dividida em três capítulos, onde o primeiro capítulo ressalta

os princípios da educação infantil dando ênfase na ludicidade como prática

pedagógica e como o lúdico atua na educação.

O segundo capítulo faz um breve levantamento sobre a historicidade da

brinquedoteca bem como sua atuação no espaço lúdico na educação e lazer,

ressaltando também a função dos brinquedos e brincadeiras no espaço infantil.

O terceiro capítulo descreve o jogo como recurso privilegiado de

desenvolvimento da criança pequena e como o brincar pode preencher as

necessidades da criança e permitir que ela conheça a realidade através de

representações simbólicas.

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CAPÍTULO I

ALGUNS PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL

O conhecimento, segundo BONAMIGO (1991), bem como as regras e os

valores é construído pela ação sobre o meio físico e social, cabendo, ao adulto,

oportunizar a ocorrência de situações interativas em que a criança precise tomar

decisões, fazer escolhas, expressar pontos de vista e fazer trocas no sentido de

desenvolver a autonomia e a cooperação. Entretanto, os processos pedagógicos

não se restringem à realização de atividades, sendo fundamental a realização de

reflexões sobre as atividades cotidianas.

E parte dos processos de ensino-aprendizagem a investigação das concepções e representações das crianças, considerando-se as características da faixa etária e as especificidades socioculturais do grupo e os ritmos de cada indivíduo. Para isso é fundamental que o adulto observe, interprete e registre as ações e as reações das crianças com a finalidade de descobrir o que é significativo para elas e as O trabalho pedagógico na educação infantil diferencia-se de acordo com a faixa etária e o processo de construção progressiva de autonomia por parte da criança. As atividades dedicadas a crianças de zero a um ano precisam considerar a sua grande dependência em relação ao adulto e, portanto a necessidade de interações individualizadas adulto-criança, nos momentos de explorar o próprio corpo através de movimentos e da experiência de diferentes sensações no contato com os objetos. (LEONTIEV, 1978, p.72).

Nessa fase inicial o ambiente precisa ser aconchegante, mas apresentar,

também, alguns desafios através da diversidade de materiais que irão mediar a

relação e as brincadeiras entre o adulto e a criança. Um exemplo é descoberta de

brinquedos que possibilitam formas variadas de interações dentro de um saco de

retalhos ou dentro de unia caixa fechadas como panos, bolsas, bolas, argolas,

cubos, fantasias, sapatos, etc.

Ainda segundo LEONTIEV (1978), as crianças de um a dois anos já poderão

participar de algumas atividades em grupo, mas ainda têm necessidade de muita

atenção individualizada por parte do adulto. Nessa fase, é fundamental pensar em

atividades que proporcionem o desenvolvimento motor e o desenvolvimento da

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linguagem, como, por exemplo, imitar os movimentos e os sons produzidos por

diferentes animais. Aqui, o adulto precisa estar muito atento para o significado da

fala das crianças, que se confunde com as ações e os gestos. Ainda é importante

considerar que o tempo de concentração em cada atividade é muito pequeno, sendo

necessária, portanto, uma variedade de propostas na rotina cotidiana.

Ainda segundo LEONTIEV (1978), de dois a quatro anos, iniciam os jogos

simbólicos, as brincadeiras de faz-de-conta e uma maior desenvoltura motora das

crianças para a exploração do ambiente e dos objetos. Nessa fase já é possível

organizar as primeiras rodinhas para comunicação e representação como, por

exemplo, fazer mímicas para imitar outros seres vivos, além de desenhar, pintar,

modelar, ler histórias infantis, ouvir e cantar algumas músicas. Nesse período as

crianças começam a tomar algumas decisões por conta própria, como escolher

alimentos e roupas e, também, se alimentar e se vestir sozinhas.

As crianças começam a se dar conta das diferenças entre as coisas mesmas e as suas representações através de desenhos, histórias, etc. A interação da criança com o mundo se dá, portanto, no plano da ação e no plano simbólico, através da fala, do jogo e da imitação. A passagem do plano da ação para o plano da representação se dá através da linguagem. As representações são condições para as operações mentais. (MOYLES, 2002, p.13).

Ainda segundo MOYLES (2002, p.13), “as ações são interiorizadas e

reconstruídas pelas representações.” Ao tomar consciência das ações, o sujeito

representa o real. Para isso, é importante valorizar o faz-de-conta, as imitações, os

desenhos, as histórias, a fala, as narrativas, etc. Além disso, a autonomia se

constitui através da responsabilidade em realizar tarefas e em cumprir

compromissos com o grupo. Um espaço importante é o do planejamento coletivo,

isto é, das decisões em grupo sobre as atividades cotidianas.

LEONTIEV (1978), ainda relata que dos quatro aos seis anos, é possível

investir nas atividades cooperativas que requerem negociações permanentes. Nesse

período começam a se estabelecer as regras de convivência, sendo o momento

privilegiado para o desenvolvimento de atividades a partir dos temas e das

metodologias oriundas das diferentes áreas de conhecimento.

Para tanto, é importante a observação dos interesses e das necessidades

das crianças, através da oferta de materiais variados e da proposição de atividades

diferentes simultaneamente para que elas possam realizar algumas escolham. Aqui

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a atividade simbólica começa a tornar-se mais complexa nas brincadeiras de faz-de-

conta e nas dramatizações. Também é possível propor jogos não-competitivos e

atividades de leitura e escrita de obras de literatura, de imagens, de músicas, etc.

A diferenciação entre o desenho e a escrita começa a ser construída nessa época. Além disso, a escrita, assim como a fala, é aprendida pela exposição a situações comunicativas, por isso é desejável proporcionar o contato das crianças com diferentes textos escritos na fase pré-escolar, para que percebam as diferenças de estilo entre a linguagem oral e a escrita e entre os diferentes textos escritos. (RAMOS, 1984, p.18).

Ainda de acordo com RAMOS (1984), para ler as crianças devem utilizar sua

experiência com o discurso de maneira a desenvolver estratégias que isolem o texto

do contexto, de modo a reduzir o número de opções complexas que um texto de

leitura apresenta. Ler, portanto, é lidar com a linguagem como algo em si, como um

meio de expressar significados que são relativamente independentes do contexto

imediato.

Em síntese, na educação infantil, as atividades devem ser planejadas com o

objetivo de atender as necessidades das crianças em suas diferentes fases de

desenvolvimento, de modo a contribuir para os processos de construção de sua

autonomia.

1.1. O LÚDICO NA EDUCAÇÃO

A educação no Brasil passou recentemente por reformulações por ocasião

da promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(LDB/1996) e a conseqüente divulgação dos Parâmetros Curriculares Nacionais

Estes fatos fizeram com que na década de 90 todas as escolas, de norte a sul do

Brasil, discutissem o assunto.

Muitos professores concordaram com tais diretrizes, outros não, O

importante não foram os posicionamentos, mas a possibilidade de debates que se

desencadeou e permitiu o repensar pedagógico e, nesta repensar ficou muito

evidenciado o uso das atividades lúdicas como estratégia para a construção do

conhecimento.

Os educadores são unânimes em afirmar que a educação é falha, rejeitam o

ensino pela via do treinamento da racionalidade excessiva, da repressão e da

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massificação Por outro lado, é unânime também em considerar a ludicidade como

uma estratégia viável que se adapta a novas exigências da educação, O problema é

que estes estudos ainda não foram suficientes para mudar as práticas vigentes.

A aceitação da ludicidade, por parte dos professores, não garantiu uma postura lúdico-pedagógica na sua atuação. O lúdico é uma ciência nova que precisa ser estudada e vivenciada, mas a tendência dos profissionais é achar que sabem lidar com esta nova ferramenta porque um dia já brincam. Entretanto, ao iniciarem o trabalho, deparam-se com muitas dúvidas, pois eles aprenderam muito sobre sua área profissional durante a formação acadêmica e muita pouco sobre ludicidade, tendo por isso poucos elementos de análise e compreensão deste tema como fator de desenvolvimento humano. (NASCIMENTO, 1996, p.32).

Para sanar estas dificuldades muitos educadores buscam na teorização o

embasamento para o seu trabalho, outros partem diretamente para a prática. Teoria

leva ao saber e forma o animador. O educador lúdico inter-relacionando teoria e

prática.

A educação pela via da ludicidade propõe-se a uma nova postura

existencial, cujo paradigma é um novo sistema dc aprender brincando inspirado

numa concepção de educação para além da instrução.

Neste sentido, reflexões sobre: por que se joga? Onde se joga? Quando se

joga? Como se joga? São questões que se encontram, ainda hoje, no itinerário

escolar, e as respostas a estes questionamentos são as molas propulsoras que

motivam e inquietam os profissionais contemporâneos, pois a literatura tem

mostrado que é possível ensinar sem entediar e que o jogo é o método dc

aprendizagem mais eficaz para a construção do conhecimento, independentemente

da idade cronológica do aluno,

O jogo na educação, atualmente, tem uma conotação diferente daquele conceito que prevaleceu por muito tempo no Brasil, no qual a competição e as regras fixas eram os aspectos que o diferenciava das brincadeiras, Trata-se o jogo, hoje, de forma bem mais abrangente. Neste sentido, tanto pode ser competição, como apenas representar uma ação lúdica. E a ludicidade que dá o caráter de jogo às atividades escolares. (KISHIMOTO, 1992, p. 50).

Ressalta-se a idéia de que é preciso que os profissionais da educação

reconheçam o real significado do lúdico para aplicá-lo adequadamente,

estabelecendo a relação entre o brincar e o aprender a aprender.

É voz corrente entre aqueles educadores que defendem o jogo como

estratégia pedagógica que é na sala de aula que a ludicidade ganha espaço, pois a

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criança se apropria de maneira mais prazerosa dos conhecimentos, ajudando na

construção de novas descobertas, desenvolvendo e enriquecendo sua

personalidade e, ao mesmo tempo, permitindo ao professor avaliar o crescimento

gradativo do aluno, numa dimensão que vai além das tradicionais provas

classificatórias.

Para que o jogo possa desempenhar a função educativa é necessário que este seja pensado e planejado dentro de uma proposta pedagógica. Na verdade, esta não é a prática mais utilizada na escola, pois, atualmente, o jogo ainda é usado nos espaços menos nobres, em horários livres, no recreio, para descansar e logo após retornar as atividades sérias, exatamente como preconizavam as teorias sobre jogo do século passado. (KISHIMOTO,1992, p. 53).

O jogo na escola desenvolvido desta forma representa apenas modismo,

pois, neste caso, a preocupação não se direciona para a qualidade do aprender

brincando, mas a quantidade de jogos oferecidos. Esta concepção que considera o

jogo apenas como recreação, embora seja também importante, desenvolve a

ludicidade, não gera a construção do conhecimento, que é a função principal da

escola.

Segundo NASCIMENTO (1996), a ludicidade, hoje, direcionada tanto para

crianças, jovens ou adultos em diferentes instituições como escolas, empresas,

universidades, hospitais, tem que ser tratada com cientificidade para poder ser um

fator de transformação.

1.2. O LÚDICO E A PRÁTICA PEDAGÓGICA

Atualidade e relevância para a realização de pesquisas em torno do brincar

se evidenciam na medida em que as crianças em geral estão apartadas do

brinquedo.

De acordo com NASCIMENTO (1996), isto ocorre, basicamente por duas

razões. Por um lado, as condições econômicas, muitas vezes, não permitem a

aquisição de brinquedos relevantes para a criança. Torna-se, ainda, a

desorganização familiar, o trabalho prematuro, a violência contra a criança e a

qualidade devida como um todo.

Por outro lado, a escola também não diminui esta distância, pois parece não

valorizar muito o brincar. Raramente, ela oportuniza situações dentro e fora da sala

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de aula para que a criança se expresse, invente e jogue. No espaço escolar, a

preocupação recai quase que exclusivamente com o desenvolvimento cognitivo da

criança. Desconsidera-se, assim, que o brinquedo contém, em forma condensada,

todas as dimensões do desenvolvimento: socioafetivo, cognitivo e psicomotor.

Uma possibilidade de superação destas dificuldades pode ser encontrada na disponibilização de uma brinquedoteca. Brinquedoteca é um espaço preparado para estimular a criança a brincar, possibilitando o acesso a uma grande variedade de brinquedos, dentro de um ambiente especialmente lúdico. É um lugar que convida a explorar, a sentir, a experimentar. (CUNHA, 1992, p. 36).

Esta autora acredita que, sendo um ambiente para estimular a criatividade,

deve ser preparado de forma criativa com espaços que incentivem a brincadeira de

faz de catita, a dramatização, a construção, a solução de problemas, a

sociabilização e a vontade de inventar.

A brinquedoteca contaria, portanto, com um conto de faz-de-conta, jogos

variados, uma sucatoteca, um cantinho para história e para música, cantinho da

oficina, cantinho das brincadeiras e outros espaços.

A construção de uma brinquedoteca é um esforço no sentido de respeitar a

infância, nutrindo-a com elementos indispensáveis ao seu crescimento saudável e

da sua inteligência. Não representa apenas oportunidade de acesso. Mais do que

isso, expressa uma filosofia de educação voltada para o respeito ao eu da criança e

às potencialidades que precisam de espaço para se manifestar.

A brinquedoteca é um espaço privilegiado onde os alunos de diversos cursos podem não só observar a criança, mas também desenvolver atividades de aperfeiçoamento profissional. Docentes vinculados às unidades universitárias conduzem pesquisas a partir de situações de brincadeiras que ocorrem no interior das brinquedotecas (KISHIMOTO,1992, p. 55).

As disponibilidades de acervos e materiais de jogos, além de auxiliar tarefas

docentes, permitem ao público informar-se sobre a temática do jogo. A possibilidade

de assessoria de profissionais de diferentes áreas, diferentes cursos, bem como

escolas, permite à universidade oferecer serviços à comunidade.

Compreender as imagens e representações que construímos sobre infância e o brincar no decorrer de nossas vidas pode auxiliar-nos na sociedade como pessoas que também podem brincar e criar sua prática pedagógica. Esse é um espaço que a brinquedoteca tem tentado construir... (WAJSKOP, 1992, p. 102).

Na verdade, o brincar representa um fator de grande importância na

socialização da criança, pois é brincando que o ser humano se torna apto a viver

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numa ordem social e num mundo culturalmente simbólico. Brincar exige

concentração durante um grande intervalo de tempo. Desenvolve iniciativa,

imaginação e interesse. Basicamente, é o mais completo dos processos educativos,

pois influencia o intelecto, a parte emocional e o corpo da criança.

Na formação de profissionais WAJSKOP (1992), defende ainda que na

educação da criança pequena, seja nos cursos específicos de 2º grau ou em cursos

de pedagogia, aprendem-se freqüentemente diversas teorias sobre o brincar e o

desenvolvimento infantil sem, no entanto, estabelecer uma relação com práticas

educacionais e crianças reais.

Geralmente, as propostas transmitidas idealizam a infância, criando uma

idéia junto aos educadores de que ora não há nada a fazer frente às brincadeiras,

ora estas devem ser aproveitadas de maneira estritamente didática, transformando o

jogo livre em exercício motor puro e simples.

Assim, sendo a brinquedoteca o espaço da criança, nada melhor do que

utilizar este local para observá-la e conhecê-la de forma mais completa. O trabalho

de formação de professores deve, portanto, basear-se, simultaneamente, em grupos

de reflexão sobre teorias e concepções de infância vinculadas ao brincar e na

vivência de situações de jogos interativos, tendo como ponto de apoio crianças em

atividades lúdicas, assim como avaliação da prática pedagógica dos atuais e futuros

docentes.

Analisando as concepções das professoras e alunas entrevistadas para esse

estudo, podemos observar que o brincar é considerado importante, serve para

aprender, para extravasar, para refletir sobre o mundo, estimulando a criatividade e

auxiliando no desenvolvimento.

Essas concepções vêm ao encontro do pensamento de muitos teóricos,

entre eles Piaget, Vygotsky, Elkonin, Kishimoto e outros:

A brincadeira infantil constitui uma situação social onde, ao mesmo tempo em que há representações e explorações de outras situações sociais, há formas de relacionamento interpessoal das crianças ou eventualmente entre elas e um adulto na situação, formas estas que também se sujeitam a modelos, a regulações, e onde também está presente a afetividade: desejos, satisfações, frustrações, alegria, dor. (OLIVEIRA,1988, p. 110).

Entretanto, os dados coletados para este estudo mostram que os

professores não conseguem em sua prática pedagógica desenvolver situações de

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aprendizagens lúdicas em que o futuro professor tenha oportunidade de vivenciar o

brinquedo como um processo dc desenvolvimento e aprendizagem.

Talvez isso seja reflexo da nossa cultura, em que brincar e trabalhar é

considerado atividades opostas. Na concepção popular, trabalho é atividade séria e

importante, brinquedo é lazer.

Na escola, aprendemos que há um tempo para divertir-se e outro para

trabalhar. Os professores, como adultos, têm essa idéia do brincar e na sua prática

transformam o brincar em jogo dirigido, não considerando o papel sério que o brincar

desempenha na estruturação do pensamento, das emoções e do corpo da criança.

Por outro lado, a pesquisa tem demonstrado que a aprendizagem é mais

significativa quando a atividade lúdica está presente no contexto educacional,

embora isso não se apresente como prática constante na escola.

Alguns educadores não estão muito seguros do modo como a criança aprende brincando e como o professor pode ensinar através de interações espontâneas, embora compreendam e apreciem as potencialidades do brinquedo. (BONAMIGO e KUDE, 1991, p. 46).

Esta realidade nos remete à problemática da formação dos profissionais em

educação que, muitas vezes, não estão preparados para as reais necessidades da

escola.

Neste sentido, entendemos que é de fundamental importância oportunizar

aos educadores experiências lúdicas e reflexão sobre a inserção do jogo na escola.

Ou seja, enfocando as teorias propostas, a comprovação da importância do jogo, a

forma como as crianças brincam e sobre os objetos que poderiam contribuir na

atividade construtiva da brincadeira.

Os estudos sobre o jogo mostram que não se pode conhecer nem educar

uma criança sem saber por que e como ela brinca.

ANDRADE (1994, p. 80), afirma que: “importa primeiro que os próprios

professores saibam brincar para estarem em condições de partir do jogo das

crianças e a ele regressarem”.

Acreditamos que o papel do adulto e do professor na escola é de observar,

diferenciar comportamentos e intervir oportunamente. E ele que estrutura o campo

das brincadeiras na vida das crianças, por meio da oferta de determinados objetos,

fantasias, brinquedos ou jogos.

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Desta forma, CUNHA (1992), afirma que a brinquedoteca constitui-se num

espaço organizado que permite, a partir de situações de brincadeiras,

desenvolverem propostas de formação em serviço com educadores e futuros

educadores, enfocando a relevância do brincar para a educação.

Para tanto, é preciso mexer com a formação e, sobretudo, com a

sensibilidade dos professores. Acreditamos na importância da formação

sistematizada e contínua que acontece em várias frentes para que se possa

alicerçar o acordar desse sujeito que parece estar adormecido.

Através de estudos e da prática teórica reflexiva e também sensível, CUNHA

(1992), relata que é possível formar aquele sujeito leitor da necessidade, da

vontade, do interesse e da realidade, no sentido de buscar e resgatar o sujeito que

cria que inventa que sonha que imagina que busca o belo e que brinca.

Ainda segundo CUNHA (1992), através dessa prática teórico-reflexiva o

professor pode tornar o pedagógico mais consciente. E, para fazer isto seu fazer

precisa de um método de trabalho, de registro e de busca que difere de pessoa para

pessoa, mas que inspira uma metodologia de observação e registro, de reflexão ode

avaliação, onde o professor recria seguindo seu próprio jeito num espaço de

liberdade, de encontro, de interação o de reflexão cotidiana sobre a prática social,

cognitiva, afetiva e psicomotora que acontece na relação educativa.

Dessa forma, junto ao aluno, o professor pode aprender a olhar, observar a

realidade com arte, e fazer da prática pedagógica cotidiana uma prática reflexiva

teórica e, por que não dizer, também lúdica.

E nestas mediações pode recuperar o lúdico em suas disciplinas, abordando

diversas questões sobre o brincar, como: a relação adulto-criança, o brinquedo, sua

história, a brincadeira e seu espaço, etc. Não em contraposição às demais

atividades, mas como parte integrante da vida dos alunos na Instituição.

Diante disso, CUNHA (1992), ressalta que a partir dos elementos do

currículo, ementa do programa, da experiência da observação, registro, análise,

reflexão e avaliação sobre o que acontece no fazer pedagógico, o professor terá,

certamente, mais condições de planejar e propor situações significativas.

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Para que ele possa desenvolver um bom trabalho, necessita também de

referências, aprofundamento teórico, que lhe forneçam as bases conceituais do

ponto de partida para a criação autônoma do programa da sua disciplina.

No entanto, esse referencial é uma condição necessária, mas não suficiente

para a mudança. Assim, além de um programa bem elaborado que contemple o

lúdico, é preciso produzir uma série de políticas de desenvolvimento curricular.

Neste sentido, vai ter otimizadas as chances de pensar sobre o lúdico e o

lugar que ele ocupa a organização do espaço reservado a ele dentro do programa

da disciplina, bem como nas escolas de seus alunos, resgatando-o como elementos,

de cultura e uma referência a mais no repertório do brincar, além de sei-vir ao

desenvolvimento infantil e à construção de conhecimentos.

Enfim, embasados nos estudos realizados, entendemos que brincando a

criança vai compondo urna infinita abertura de possibilidades — tal como a imagem

do caleidoscópio, que lhe permite uma legitimidade do inundo, e é inserida nesta

perspectiva transformadora que apontamos a ação lúdica na escola. Pois, se

acreditamos que nossos alunos são criativos, imaginativos em função das

potencialidades de seu pensamento, podemos tornar possível o impossível,

utilizando uma linguagem mágica, única e universal que é a linguagem da

brincadeira.

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CAPÍTULO II

HISTORICIDADE DA BRINQUEDOTECA NO BRASIL

As brinquedotecas no Brasil, segundo WAJSKOP (1992), começaram a

surgir nos anos 80. Como toda idéia nova, apesar do encantamento que desperta,

tem que enfrentar dificuldades não somente para conseguir sobreviver

economicamente, mas também para se impor como instituição reconhecida e

valorizada a nível educacional.

A brinquedoteca brasileira difere das chamadas Toy Libraries porque não

tem como atividade principal o empréstimo de brinquedos. A brinquedoteca é o

espaço criado com o objetivo de proporcionar estímulos para que a criança possa

brincar livremente.

A brinquedoteca pode ser considerada como um local onde as crianças permanecem por algumas horas, é um espaço onde acontece uma interação educacional. As pessoas que trabalham na brinquedoteca, os brinquedistas, têm formação profissional, são educadores preocupados com a felicidade e com o desenvolvimento emocional, social e intelectual das crianças. (WAJSKOP, 1992, p. 109).

Ainda segundo o autor WAJSKOP (1992), o brincar assumiu, através da

brinquedoteca, características próprias, voltadas para a necessidade de melhor

atender as crianças e as famílias brasileiras. Como conseqüência deste fato, seu

papel dentro do campo da educação cresceu e hoje podemos afirmar, com

segurança, que ela é um agente de mudança do ponto de vista educacional.

A brinquedoteca provoca reflexões e, por despertar pais e educadores para

uma nova maneira de considerar a atividade infantil, provoca também alterações em

escalas de valores. Pelo simples fato de existir, a brinquedoteca é um testemunho

de valorização da atividade lúdica das crianças.

Na elaboração dos objetivos de uma brinquedoteca, WAJSKOP (1992),

embasa que são enumeradas como principais finalidades do trabalho nela

desenvolvido:

• Proporcionar um espaço onde a criança possa brincar sossegada, sem cobranças

e sem sentir que está atrapalhando ou perdendo tempo;

• Estimular o desenvolvimento de uma vida interior rica e da capacidade de

concentrar a atenção;

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• Estimular a operatividade das crianças;

• Favorecer o equilíbrio emocional;

• Dar oportunidade à expansão de potencialidades;

• Desenvolver a inteligência, criatividade e sociabilidade;

• Proporcionar acesso a uni número maior dc brinquedos, de experiências e de

descobertas;

• Dar oportunidade para que aprenda a jogar e a participar;

• Incentivar a valorização do brinquedo como atividade geradora de

desenvolvimento intelectual, emocional e social;

• Enriquecer o relacionamento entre as crianças e suas famílias;

• Valorizar os sentimentos afetivos e cultivar a sensibilidade.

O mesmo autor ainda relata que a principal implicação educacional da

brinquedoteca, é a valorização da atividade lúdica, que tem como conseqüência o

respeito às necessidades afetivas da criança. Promovendo o respeito à criança,

contribui para diminuir a opressão dos sistemas educacionais extremamente rígidos.

Além de resgatar o direito à infância, a brinquedoteca tenta salvar a

criatividade e a espontaneidade da criança tão ameaçada pela tecnologia

educacional de massa.

Embora com uma proposta realmente alternativa, a brinquedoteca vem

exercendo influência dentro dos sistemas sociais nos quais se insere.

Os reflexos a nível acadêmico também já se fazem sentir e podem ser

analisados pelos professores universitários a quem cabe, como pensadores oficiais

da educação, a crítica metodológica e a pesquisa científica.

Reportando-me ao outro lado do fenômeno, àquela extremidade onde o

processo educacional se desenrola exercido de forma consciente ou inconsciente,

mas acontecendo de maneira inevitável. Viver é, segundo BACHELARD (1988), ao

mesmo tempo, exercer e sofrer processos educacionais. Todos nós aprendemos

com a vida, todos nós produzimos algum tipo de influência ao nosso redor.

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Dentro de uma cultura primitiva, BACHELARD (1988), ressalta que os

valores tradicionais têm um peso tão grande que a educação segue normas bem

definidas, as quais não poderão ser transgredidas sem que um preço alto seja pago.

Arrancar uma pessoa do contexto de uma forte tradição é muito perigoso, é como

arrancar uma árvore com raízes fortes; é preciso muito cuidado e conhecimento a

respeito, para transplantá-la, caso contrário ela morrerá.

Já dentro da civilização a que se referiu Maslow, quando usou o termo

“aldeia global”, na civilização moderna, comandada pela televisão e por outros meios

de comunicação de massa, segundo BROUGÈRE (1993), as mudanças são mais

fáceis de serem aceitas, porque já existe o hábito de Ver coisas diferentes que,

dependendo da forma como são apresentadas, despertam o desejo de serem

imitadas. A moda é uma prova de fato. A indústria das imitações se encarrega de

colocar o sonho da elegância ao alcance de todos os bolsos. Não é difícil criar

necessidades de consumo, basta ser eficiente no processo de sedução.

Entretanto, quando se trata de provocar transformações na forma de pensar,

quando se trata de mexer com uma escala de valores, que não está conscientizada,

muito menos refletida, a insegurança domina a situação e dispara os mecanismos

de defesa.

Pode haver um longo caminho a ser percorrido antes que uma nova postura

educacional possa ser assimilada. Este caminho pode ser tão longo que, ao final

dele, a postura que o provocou já tenha sido transcendida.

A busca a nível intelectual gera muita ansiedade, pois mais de 1000 livros

novos são editados a cada dia, portanto, mesmo que uma pessoa não faça mais

nada na vida além de ler, seria impossível ficar totalmente atualizada. Felizmente

existe a memória do computador para substituir a nossa e a Internet para nos

possibilitar acesso às informações dos maiores centros de pesquisa do mundo.

Entretanto, sabemos que ter as informações de nada valem se não

soubermos discriminá-las, se não formos capazes de perceber o que realmente

significam e se não formos suficientemente criativos para fazer bom uso delas.

O fenômeno da captação da verdade segundo BACHELARD (1988), não

passa necessariamente por caminhos intelectuais. Conteúdos advindos do que Jung

chamaria de inconsciente coletivo, chegam a pessoas em diferentes partes do

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mundo, por meios intuitivos... O bom senso e a sabedoria interior continuam

orientando as pessoas de bom coração; em contrapartida, a ciência oficial a cada

dia descobre que não era tão exata quanto imaginava.

Algumas mudanças estão acontecendo mesmo sem que tenhamos uma

explicação racional para elas, muitas vezes transcendendo os caminhos intelectuais.

• O que move uma educadora a criar uma brinquedoteca?

• O que ela espera que aconteça com as crianças que irá receber?

Provavelmente as razões primeiras foram de ordem afetiva. BACHELARD

(1988), pesquisando o papel da imaginação e da intuição nas descobertas de

grandes cientistas, observa que eles não seguiam caminhos lógicos, mas, os mais

famosos, como Einstein, Max Plank, Pasteur e Bernard pintavam, escreviam peças

ou cuidavam de flores, ou seja, cultivavam sua sensibilidade.

Existem relatos de Einstein, segundo BACHELARD (1988, p.77), afirmando

que algumas de suas mais importantes fórmulas chegavam até quando ele estava

fora de seu ambiente de trabalho, fazendo coisas como cuidar de roseiras, O mesmo

auto: refere-se à pesquisa científica como “uma aventura intelectual, envolta em

prazer, própria de quem está disposto a correr riscos e enfrentar o desconhecido”.

O primeiro passo para as grandes realizações não é exatamente um ato

racional, mas é um insight, um sentimento, uma forte sensação de interesse, um

irresistível envolvimento pela idéia. Segundo Frank Barron (1958), a ansiedade é

concomitante ao abalo provocado pelo encontro criativo, pois ele provoca uma

alteração no relacionamento eu - mundo.

RolIo MAY (1960, p.33), afirma que “as pessoas criativas distinguem- se

pelo fato de serem capazes de viver com ansiedade, embora paguem um alto preço

por esse dom de loucura divina”.

O processo criativo, segundo BACHELARD (1988), é uma tentativa de

encontrar um sentido maior. Ele pode nascer de uma situação desafiadora ou de

urna inspiração, mas é, certamente, um fenômeno de sensibilidade, mas embora

havendo motivação para a criação de uma obra de arte, uma preparação é

indispensável para a sua concretização. Esta preparação inclui conhecimento sobre

possibilidades e aspectos técnicos, mas requer também habilidade para aplicá-los e

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todo este processo criativo somente irá acontecer se existirem condições favoráveis

ao desenvolvimento da criatividade, condições essas que passaremos a analisar a

seguir.

2.1. BRINQUEDOTECA: ESPAÇO LÚDICO NA EDUCAÇÃO E LAZER

Restituir o espaço, meios e o tempo para que nossas crianças brinquem

espontaneamente e sem cobranças é o nosso compromisso hoje, considerando que

em nome da educação formal, e, fator ainda mais sério a sermos devidamente

ponderados, desde a fase pré-escolar, nós as manipulamos e as monopolizamos,

para atividades divididas, sempre vigiadas e guiadas por projetos que devem atingir

os resultados determinados pelos adultos.

Hoje o tempo das crianças é habitualmente saturado por deveres e afazeres,

restando muito pouco para as atividades lúdico-criativas. Assim, diminuem as

possibilidades da criança descobrir sua própria maneira de ser, construir sua

afetividade e fazer suas próprias descobertas por meio do brincar. Nessa perda de

respeito pela infância e de seus verdadeiros interesses e necessidades somos,

finalmente, quase obrigados a esquecer o que desejamos e o que deveria ser

prioridade para as crianças.

Foi refletindo acerca dessa realidade, que não se vive só no Brasil, mas em

toda América, que consideramos necessário resgatar o brincar como elemento

essencial para o desenvolvimento integral de criança em sua criatividade, em sua

aprendizagem, em sua socialização, enfim, em todos os ambientes e circunstâncias

de sua vida: no lar, na vizinhança, na escola e na comunidade. Com essa motivação

surgem as brinquedotecas (ludotecas), com um projeto de educação não pensando

a educação e o lazer para as crianças, jovens e adultos, como um espaço de

animação lúdico e criativo de socialização, transformado dia a dia pela imaginação,

espontaneidade e alegria de todos.

A LBV, instituição educativa e cultural que conta com uma das maiores

redes de creches e pré-escolas no Brasil e no exterior, preocupada com a

assistência e também com a formação e educação integral das crianças e no apoio

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à família, segundo ANDRADE (1994), desenvolveu um trabalho sócio–educacional

com uma equipe multidisciplinar.

As brinquedotecas são pensadas, nesse projeto, como espaços do encontro

da cultura popular, e especialmente para o resgate do brincar como atividade de

lazer e direito de todos.

O projeto, segundo MOYLES (2002), compreendeu três etapas

Diagnóstico (1991): avaliação e discussão do trabalho nas creches e pré-

escola dos recursos materiais e humanos, do papel dos profissionais e a

participação da família.

Proposta lúdica (1992): trabalho de sensibilização com a equipe da

instituição e com as famílias através de oficinas lúdicas, pró-integração criança,

família e comunidade.

Criação das brinquedotecas (1993): treinamento das futuras animadoras das

brinquedotecas. Realização do I e do II Encontros, para avaliação do trabalho.

Lançamento da campanha “Solidariedade Mundial pelos Direitos da Criança”.

Inauguração de seis brinquedotecas.

Em 1994, foram inauguradas mais seis unidades e foi realizado o I Encontro

de Brinquedotecas.

Como conclusão preliminar desse trabalho, considerando que o projeto tem

prosseguimento, observa-se, segundo MOYLES (2002), que a LBV contava até

1995 uma rede de doze brinquedotecas no Brasil e quatro em outros países da

América Latina. No presente ano serão inauguradas oito brinquedotecas (outubro e

prevê-se também o funcionamento de urna brinquedoteca móvel para percorrer as

favelas da cidade de São Paulo).

A instituição tem sido convidada por vários países da América Latina e

Europa para mostrar o seu trabalho uma vez que são animadores os resultados:

Grécia, Argentina, Uruguai, Paraguai Colômbia, Equador. Costa Rica. Austrália,

Cuba, Japão.

As diversas atividades da brinquedoteca têm contribuído de maneira

significativa para integração criança, escola, família e comunidade. E acreditamos no

sucesso do projeto, não somente pela avaliação já feita nos encontros, mas também

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pelo interesse dos profissionais e das equipes das creches e pré-escolas, buscando

sair da rotina pouco estimulante e criando oportunidades para que as crianças se

preparem ludicamente para descobrir o saber.

2.2. BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS

A partir da descoberta da infância e da associação da criança ao brincarem,

termos como brinquedos e brincadeiras conotam criança. A dimensão da criança

está sempre presente, quando se analisam os brinquedos e brincadeiras.

O brinquedo entendido como objeto, suporte da brincadeira, segundo

KISHIMOTO (1992), supõe relação íntima com a criança, seu nível de

desenvolvimento e indeterminação quanto ao uso, ou seja, a ausência de um

sistema de regras que organize sua utilização. Uma boneca permite à criança desde

a manipulação até brincadeiras como “mamãe e filhinha”. O brinquedo estimula a

representação, a expressão de imagens que evocam aspectos da realidade. Ao

contrário, jogos, como xadrez, construção, exigem, de modo explícito ou implícito, o

desempenho de habilidades definidas pela estrutura do próprio objeto e suas regras.

O brinquedo representa cenas realidades. Uma representação é algo

presente no lugar de algo. Representar, segundo OLIVEIRA (1988), é corresponder

a alguma coisa e permitir sua evocação, mesmo em sua ausência, O brinquedo

coloca a criança na presença de reproduções: tudo o que existe no cotidiano, na

natureza e construções humanas. Pode-se dizer que um dos objetivos do brinquedo

é dar à criança um substituto dos objetos reais, para que possa manipulá-los.

Duplicando diversos tipos de realidades, o brinquedo as metamorfoseia e fotografa,

não reproduzindo apenas objetos, mas uma totalidade social.

A realidade representada sempre incorpora modificações: tamanho, formas

delicadas e simples, estilizadas ou, ainda, antropomórficas.

Ainda segundo OLIVEIRA (1988), os brinquedos podem incorporar também,

um imaginário preexistente criado pelos desenhos animados, senados televisivos,

mundo da ficção científica com motores e robôs, mundo encantado dos contos de

fada, estórias de piratas, índios e bandidos.

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Ao representar realidades imaginárias, os brinquedos expressam,

preferencialmente, personagens sob forma de bonecos, como manequins

articulados ou super-heróis, mistos de homens, animais, máquinas e monstros.

O brinquedo propõe um mundo imaginário à criança e representa a visão

que o adulto tem da criança. No caso da criança, segundo MOYLES (2002), o

imaginário varia conforme a idade: para o pré-escolar de 3 anos, está carregado de

animismo; de 5 a 6 anos, integra predominantemente elementos da realidade. O

adulto introduz nos brinquedos imagens que variam de acordo com a sua cultura.

Cada cultura tem maneiras de ver a criança, de tratar e educar. Uma delas,

a concepção da criança como homem em miniatura, segundo OLIVEIRA (1988),

revela uma visão negativa; a criança é um ser inacabado sem nada específico e

original, E contra essa visão que, a partir do século XVIII, Rousseau, no Emilio,

reivindica a especificidade infantil, a criança como portadora de uma natureza

própria que deve ser desenvolvida.

A infância é, também, a idade do possível. Pode-se projetar sobre ela a

esperança de mudança, de transformação social e renovação moral.

A infância é portadora de uma imagem de inocência; candura moral,

associada à natureza primitiva dos povos, um mito que representa a origem do

homem e da cultura.

Segundo RAMOS (1984), a imagem de infância é constituída pelo adulto,

por meio de duplo processo; ela está associada a todo um contexto de valores e

aspirações da sociedade e depende de percepções próprias do adulto, que

incorpora memórias de seu tempo de criança. Se a imagem de infância reflete o

contexto atual, ela é carregada, também, de uma visão idealizada do passado do

adulto, que contempla sua própria infância. A infância expressa no brinquedo

contém o mundo real, com seus valores, modos de pensar e agir acrescidos pelo

imaginário do criador do objeto.

BACHELARD, em A poética do devaneio (1988, p. 93-137), nos mostra que

há sempre uma criança em todo adulto, que devaneio sobre a infância é um retomo

a infância pela memória e imaginação. A poesia é o estimulante que permite esse

devaneio, essa abertura para o mundo, para o cósmico, que se manifesta no

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momento da solidão. Há em nós uma infância represada que emerge quando

algumas imagens nos tocam.

BACHELARD (1988), considera as imagens que sobrevêm do fundo da

infância como produtos da memória e da imaginação, Os fatos são

metamorfoseados pela imaginação que recria as situações, com novo olhar, com

novo brilho. Daí nem sempre memória ser aceita como documento factual em

trabalhos de história.

Por ser o devaneio composto de memória e imaginação é que se entende

Mário de Andrade, em Vestida de preto (1943), apud FARIA (1993, p. 130), falar de

a alegria de ter soltado balões quando na verdade não o fez. São suas fantasias,

sua imaginação que recriam situações de retomo à infância como a satisfação de

soltar balões.

Quantas memórias de infância povoam a imaginação quando nos

deparamos com as canções; “cai, cai, balão, cai, cai balão, na Rua do Sabão!” ou

“café com pão, café com pão, café com pão, Virgem Maria, que foi isto, maquinista?”

(Manoel Bandeira, 1986) apud FARIA (1993, p.139). Os devaneios retornam as

lembranças de infância, mas também nossos sonhos, ideais e vontades. Muitas

vezes, o passado marcado pela ausência de brinquedos alimenta o devaneio,

dinamizando-o com a imaginação criativa, Mário não foi criança de soltar balão,

mas, quando adulto, gostava de brincar com os sobrinhos, esconder doces pela

casa e pedir para achar, apertar a campainha das portas e sair correndo. Suas obras

retratam diferentes imagens de infância: miserável, feliz, cada uma com graus

diferentes de memória e imaginação. São seus devaneios que permitem o retorno à

infância e à expressão de diferentes visões de criança em sua vasta produção

literária.

Assim como a poesia, os jogos infantis despertam em nós o imaginário, a

memória dos tempos passados. Em Infância (1984), segundo RAMOS (1984),

recorda seu cotidiano de criança pobre, que construía brinquedos de barro e

invejava os meninos que possuíam brinquedos mecânicos- Em contraposição,

Baudelaire, em Curiosités Esthétiques, apud BROUGÈRE (1993), relembra o

menino burguês que deixa seus brinquedos sofisticados para olhar interessado o

brinquedo vivo (rato) do menino maltrapilho. São também sugestivas as poéticas

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páginas de José Lins do Rego, em Menino de engenho (1969), segundo ANDRADE

(1994), relembrando seus tempos de infância em que nadava nos rios, trepava nas

árvores, trocava frutas roubadas da despensa com piões que dormiam nas nãos dos

espertos moleques da senzala.

O brinquedo contém sempre referência ao tempo de infância do adulto com

representações veiculadas pela memória e imaginação. O vocábulo “brinquedo”,

segundo KISHIMOTO (1992), não pode ser reduzido à pluralidade de sentidos do

jogo, pois conota criança e tem uma dimensão material, cultural e técnica. Corno

objeto é sempre suporte de brincadeira. E o estimulante material para fazer fluir o

imaginário infantil, tendo relação estreita com o nível de seu desenvolvimento. E a

brincadeira? É a ação que a criança desempenha ao concretizar as regras do jogo,

ao mergulhar na ação lúdica. Pode-se dizer que é o lúdico em ação. Dessa forma,

brinquedo e brincadeira relacionam diretamente com a criança e não se confundem

com o jogo.

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CAPÍTULO III

O JOGO COMO RECURSO PRIVILEGIADO DE DESENVOLVIMENTO DA

CRIANÇA PEQUENA.

Muitas propostas pedagógicas para creches e pré-escolas baseiam-se na

brincadeira. O jogo infantil tem sido defendido na educação infantil como recurso

para a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças. O modo como ele é

concebido e apropriado pelos professores infantis, todavia, revela alguns equívocos.

Segundo OLIVEIRA (1988), os que trabalham com a educação de crianças

até 6 anos, falam muitas vezes em jogo simbólico, sem, contudo, dar mostras de

terem elaborado de um modo mais científico como ele ocorre e qual sua função no

desenvolvimento humano.

O mesmo autor ainda ressalta que se chega a propor, como metodologia da

educação infantil, o “dar o jogo simbólico às crianças”, ignorando ser o jogo uma

disposição pessoal delas para agir de modo simbólico em algumas situações. Ou, no

pólo oposto, simplesmente se decide deixar a criança brincar como queira, como se

jogar fosse algo próprio da natureza biológica da espécie e, portanto, não

necessitasse de suportes culturais.

Assume-se, assim, uma concepção espontaneísta de educação e uma

versão romântica de um processo realizado apenas sob impulsos internos, o qual

permite relaxar tensões, mas não construir algo novo. Outros professores tratam o

jogo infantil em uma versão restrita de aprendizagem e em clima “cor - de - rosa”,

mas sob o controle dos adultos.

OLIVEIRA (1988), nos diz que as concepções apresentadas terminam

fazendo, é afastar o professor como figura de interação e interlocução, ou seja,

como parceiro da criança em seu processo de desenvolvimento, ignorando que,

nesse processo, certas noções estão-se construindo, ou poderão se construir, desde

que se cuide para que isso ocorra. O jogo é precisamente uma atividade que tem

que ver com conteúdos e habilidades trabalhados pela criança em seu

desenvolvimento no interior de uma cultura concreta.

A brincadeira, segundo VYGOTSKY (1987), é o recurso privilegiado de

desenvolvimento da criança pequena por acionar e desenvolver processos

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psicológicos — particularmente a memória e a capacidade de expressar elementos

com diferentes linguagens, de representar o mundo por imagens, de tomar o ponto

de vista de um interlocutor e ajustar seus próprios argumentos por meio do confronto

de papéis que nele se estabelece, de ter prazer e de partilhar situações plenas de

emoção e afetividade.

Ainda segundo VYGOTSKY (1987), a brincadeira infantil, beneficia-se de

suportes externos para sua realização: rituais interativos, objetos e brinquedos,

organizados ou não em cenários (casa de bonecas, hospital, etc.), que contêm não

só temas, mas também regras. Em virtude disso, o professor pode organizar áreas

para desenvolvimento de atividades diversificadas que possibilitem às crianças

estruturar certos jogos de papéis em atividades específicas. Vejamos alguns

exemplos.

Em uma creche, as crianças de 3, 4 e 5 anos gostavam de ficar por muito

tempo, em uma área onde foi montado um supermercado em miniatura,

classificando elementos — no caso, produtos naturais (como frutas e vegetais) e

produtos industrializados (de limpeza, de higiene, de alimentação), colando-lhes

rótulos com símbolos por elas criados e desempenhando em rodízio os papéis de

comprador e vendedor,

Em outras duas áreas da creche foram organizadas casinhas: uma delas

permitia que as próprias crianças assumissem papéis de membros de uma família

humana. Sendo elas próprias as personagens dos enredos, utilizavam-se do corpo,

além da voz, como recurso expressivo-comunicativo Na outra eram dramatiza dos

episódios da vida fantástica de uma família de ursinhos. Nessas situações, as

crianças podiam manipular os bonecos-personagens, emprestando-lhes a voz.

Em uma pré-escola, as crianças de 6 anos gostavam muito de brincar de loja

de sapato. No papel de compradoras, aprendiam a comprar, a explicar o que

queriam, a experimentar os modelos e pagar pela mercadoria. Como vendedoras,

aprendiam a usar determinados modos de convencer a clientela, a inventar uma

unidade para medir o tamanho dos pés dos fregueses e o dos modelos de sapato

disponíveis, a cobrar, receber o dinheiro e devolver eventuais trocos.

Enquanto isso, outra turma utilizava o cantinho da cozinha, criado em outra

área da sala, em que existiam livros e cartazes com receitas escritas de forma

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simples. As crianças liam as receitas, buscavam os mantimentos, mediam-nos e os

preparavam. A participação tanto dos meninos quanto das meninas era estimulada

nos dois contextos lúdicos como forma de superar certos estereótipos relativos a

gênero que circulavam entre as crianças.

KISHIMOTO (1992), ressalta que esses jogos de papéis que as crianças

estabelecem com os companheiros de idade, permitem o desenvolvimento de certas

habilidades e conhecimentos, já que o apoio do professor as auxilia a entrar nos

personagens e a agir segundo suas características.

Em áreas organizadas nas salas como cenários para desenvolvimento de

alguns temas de faz-de-conta, podem ser trabalhadas a imaginação, a expressão

corporal dramática, a representação da vida diária e do fantástico. Podem ainda ser

construídas habilidades de argumentação e de cálculos, à medida que as atividades

realizadas pelas crianças promovam diferentes competências delas.

Ainda de acordo com KISHIMOTO (1992), em certas ocasiões, um tema

pode ser mais enfatizado (por exemplo, uma festa das bruxas). Em outras, são as

regras o principal elemento de controle. Mas é sempre fundamental para a criança

envolver-se com o jogo, e isso depende de ela sentir-se emocionalmente bem na

relação com o entorno humano: os professores e as outras crianças.

Podem-se ainda propor jogos de manipulação às crianças menores, com um

enfoque de estimulação sensorial, a fim de promover a exploração do ambiente.

Para as maiores podem-se propor jogos motores, de exploração, jogos simbólicos

ou jogos didáticos (de mesa), para ensino, por exemplo, de matemática.

Ë possível organizar a atividade, deixando as crianças circular pelos

ambientes e envolver- se em diferentes tipos de jogos. Nessa situação, a atitude do

professor é a de ser um observador cuja tarefa é acompanhar a riqueza das

interações infantis que aí ocorrem. Há professores que tomam, por exemplo, a figura

de um avião ou o desenho de uma ponte feito pela criança para estimular a turma a

criar uma história e nela assumir papéis.

Outros supervisionam dramatizações realizadas pelas crianças para fazê-las

avançar na construção de enredos mais longos, seja os criados por elas próprias,

seja os tirados de histórias infantis ou contos de fada, levando-as a caracterizar de

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forma cada vez melhor os personagens com respeito a posturas, voz, indumentárias,

cenários e cenas.

A intervenção do professor deve basear-se em uma análise das situações de jogo produzidas pelas crianças, em relação tanto a seu conteúdo (temas, personagens, clima emocional, etc.) como a seus aspectos externos ou formais (normas, uso dos materiais, organização do espaço, modos de desempenhar os papéis como protagonistas ou não, e outros). (KISHIMOTO, 1992, p.33).

Quando percebe que uma criança já está dominando uma situação e

mostra-se pronta para novos desafios, o professor pode atuar sobre as regras do

jogo, tornando-as mais difíceis; por exemplo, ao pedir à criança que ande apenas

sobre um pé, como se tivesse machucado o outro.

Ainda segundo KISHIMOTO (1992), a cada etapa do desenvolvimento,

certos jogos existentes em nossa cultura são particularmente interessantes. Jogos

expressivos e corporais são muito apropriados para os bebês, ao passo que os de

manipulação e de faz-de-conta constituem grandes desafios às crianças de 2 a 6

anos. Já as brincadeiras tradicionais são apreciadas e vantajosas à aprendizagem

para as diferentes idades, mesmo que os bebês apenas as observem e imitem os

movimentos por meio de gestos corporais.

3.1. O BRINCAR PREENCHE NECESSIDADES DA CRIANÇA E PROMOVE A

REPRESENTAÇÃO SIMBÓLICA.

O brincar não pode ser definido apenas como algo que dá prazer á criança,

pois como podemos observar no dia a dia, muitas brincadeiras desenvolvidas pelas

crianças trazem resultados que elas não gostariam de vivenciar, como por exemplo,

quando perdem uma partida de futebol.

“Por isso é mais adequado definir o brincar como algo que preenche

necessidades da criança, o que significa entender que as necessidades motivam as

crianças para agirem.” (VYGOTSKY, 1989, p.92).

Se a criança age no brinquedo por meio da imaginação para satisfazer suas

necessidades devemos considerar a evolução das necessidades, pois são diferentes

em cada estágio de desenvolvimento em que a criança se encontra.

Conseqüentemente, as situações de brinquedo também são diferentes. Para

detectarmos a evolução das necessidades, basta observarmos que as crianças

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muito pequenas buscam a satisfação de seus desejos imediatamente e fazem a

maior birra quando não conseguem satisfazê-los.

Já uma criança em torno de cinco anos possui uma grande quantidade de

desejos e não poder satisfazer todos imediatamente. São essas necessidades não

realizáveis imediatamente que fazem com que a criança busque brincar de forma

simbólica. VYGOTSKY nos aponta essa tendência:

“para resolver essa tensão, a criança em idade pré escolar envolve-se num mundo ilusório e imaginário onde os desejos não realizáveis podem ser realizados, e esse mundo é o que chamamos de brinquedo´´ (1989, p.106).

O mundo ilusório provocado pelas forças dos desejos não realizáveis

permite á criança expandir o imaginário e agir sobre a realidade.

Como vimos o brincar preenche necessidades da criança e a criação

simbólica (faz de conta, desenhos etc.) é fundamental para a construção do

conhecimento. Todavia, é preciso considerar, numa perspectiva mais ampla, a

dimensão afetiva presente no brincar.

KLEIN (1991), diz que a análise, por meio do brincar, mostrou que a

simbolização possibilita á criança transferir não apenas interesses, mas também

fantasias ansiedades e culpa a outros objetos além das pessoas. Dessa forma,

muito alívio é experimentado no brincar, e esse é um dos fatores que o tornam tão

essencial para a criança. Para ela, a criança ao brincar estará representando seus

medos, suas angustias suas ansiedades e seus desejos. O exemplo a seguir pode

retratar esses elementos:

Cláudia, 4 anos, ainda segundo KLEIN (1991), queria ir brincar à casa de

Mariana, sua vizinha de 5 anos. Como no dia anterior já havia estado lá e, segundo

sua mãe fez muita arte e bagunça, foi proibida pela mãe de ir á casa de Mariana. A

reação de Cláudia foi fenomenal. Chorou, esperneou, fez manhas, mas a mãe, firme

em seu posicionamento, não permitiu que ela fosse á casa de Mariana. Cláudia

continuou chorando por um bom tempo. Passados alguns minutos. Cláudia dirigiu se

a seu quarto pegou sua boneca e começou a dizer:- você não vai á casa de

Mariana. Ontem você foi lá e sujou as coisas. Desobedeceu-me. Você não vai... Ah

vamos fazer o seguinte: você vai lá um pouquinho e volta já viu! Ah bom! Ainda bem

que voltou rapidinho, senão iria levar umas boas palmadas!

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Penso que essa situação é exemplar para destacar os elementos afetivos

presentes no contexto. Por meio da imaginação, Cláudia realizou seu desejo indo á

casa de Mariana e assumiu simbolicamente o papel de mãe. Isso permitiu que

elaborasse seus sentimentos e emoções (possivelmente ódio!) em relação á mãe.

Projetou também, na boneca, sua condição de filha, incluindo as tensões envolvidas

nesse papel. Desse modo, o brincar se configura num espaço potencial de

elaboração afetiva e de mediação de sentimentos á outros elementos, objetos e

pessoas.

Mediante a movimentação das imagens e sentimentos contidos na

brincadeira é possível promover uma ação no sentido de favorecer a superação de

conflitos e frustrações. (WINNICOTT, 1975, p.82).

Na ausência do diálogo com adultos e outras crianças, o brincar os

desenhos e as histórias infantis são os únicos espaços que a criança tem para

manifestar seus desejos e elaborar suas frustrações.

3.2 O BRINCAR PERMITE CONHECER A REALIDADE.

Embora a idéia piagetiana interativa seja necessária e fundamental para se

compreender o brincar, acreditamos que ela é insuficiente. É preciso considerar

elementos do campo sociocultural. (BROUGÉRE, 1993).

O brincar gira em torno da cultura lúdica que é, antes de tudo, segundo

WINNICOTT (1975), um conjunto de procedimentos que tornam a brincadeira

possível, com a incorporação de aspectos da cultura em que a criança vive. A

criança, ao representar uma situação numa brincadeira, necessariamente o faz

partindo das relações sentidas ou vivenciadas no ambiente e na cultura.

Dessa forma, incorporam nas brincadeiras as regras e os papéis sociais com

os quais convive. Representando, conhece e incorpora nas brincadeiras as regras e

os papéis sociais com os quais convive. Representando, conhece e incorpora a

realidade, principalmente imitando os adultos. Com a interiorização das regras e dos

papéis sociais a criança constrói formas imaginárias, apoiando suas próprias

criações em esquemas que são os mesmos encontrados em sua trajetória cultural e

de relações com objetos e pessoas.

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Assim, outro aspecto definido no brincar é que toda situação imaginária

oculta regras socialmente constituídas.

Quando uma criança brinca de casinha e assume o papel de mãe se

comporta e comporta-se como ela. Na imaginação simbólica, a cena é definida pelo

significado e também é regida por regras. Ao brincar com uma caixa de sapato,

dizendo que é um cachorro, se relaciona com significado atribuído (cachorro) e não

apenas com o objeto (caixa de sapato); e leva em consideração também as regras

sociais internalizadas, expondo o cachorro a brincadeiras semelhantes a situações

que ocorrem entre pessoas e animais observadas no cotidiano.

WINNICOTT (1975), ressalta que para a criança, o imaginário apresenta-se

maior’ do que o real. A expansão dos conceitos, por meio das generalizações que a

criança faz, propicia o movimento criativo e contribui para a construção da

inteligência. Ao representar que está dirigindo um carro, comporta-se além do, que

pode fazer e, necessariamente, imagina várias funções do objeto e se imagina na

situação.

O carro que se movimenta, o carro em que cabe certo número de pessoas,

no carro que vai á fazenda, enfim, infinitas possibilidades de ações e exercício de

regras que mobilizam os confins do imaginário. O brinquedo cria uma região de

tensão criativa, a qual VYGOTSKY (1989), denominou de zona de desenvolvimento

proximal; ‘região’ de domínio psicológico em constante transformação, representada

pela distância entre o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento

potencial.

No brinquedo, a criança sempre age como se ela fosse maior do que é na

realidade. Assim, se aproxima de seu potencial. Esse também é um aspecto

prospectivo do brincar.

Como no foco de uma lente de aumento, o brinquedo contém todas as

tendências do desenvolvimento de forma condensada sendo ele mesmo uma grande

fonte de desenvolvimento. (VYGOTSKY, 1989, p.117). Assim, evidencia-se no

brinquedo, o espaço para a criação humana..

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com o que foi observado no início deste trabalho, se indagava

sobre as possibilidades da brincadeira exercer um papel de questionamentos acerca

do conhecimento e do saber. Para estar coesa com tal afirmação, foi preciso buscar

e pesquisar em alguns autores com suas teorias e só assim foi feito fundamentações

e argumentações plausíveis e cabíveis para a discussão.

Percebe-se que através da ludicidade o ser humano desfaz todos os

conflitos internos e frustrações, o qual reconstrói as energias, idéias e pensamentos;

uma vez que o jogo desperta o conhecimento, e é brincando que a criança

desenvolve as potencialidades, as habilidades motoras, as qualidades, o espírito de

iniciativa e de equipe, a coragem, a sociabilidade, a capacidade criadora, a

disciplina, a gentileza, enriquecendo-se assim de valores morais, afetivos e

intelectuais na aparente descontração na hora do brincar.

Conclui-se que a aprendizagem se processa a partir do sujeito, que este

aprende em contato físico, interpessoal, e psicosocial com o meio em que vive e em

que está inserido. Pois como sabemos o sujeito não é algo acabado e pronto, mais

se constrói no dia a dia e o seu conhecimento não é herdado geneticamente, mas se

dá justamente no contato com o meio.

Assim por ser o jogo essencial na formação da criança propõe-se que

todas as pessoas que estão direta ou indiretamente ligadas á infância deve fazer o

uso do mesmo, mas de uma maneira consciente, organizada e com objetivos, metas

claramente definidas, pois de nada vale saber fazer sem compreender seu real

sentido.

No entanto, o estudo lúdico deve ser visto como uma oportunidade

indispensável para a aprendizagem das crianças viabilizando dessa forma, um fazer

pedagógico mais eficiente, a partir de experiências, observações em sala de aula e

da adoção do lúdico como método de ensino para as crianças.

Ao pensarmos na prática pedagógica esta deve ser transformada no dia a

dia de forma crítica e consciente, com o qual teremos condições de afirmar sempre

que a criança é um ser integrado dentro de uma óptica universal.

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Assim através da confecção e aplicação de jogos e brincadeiras, conclui-se

que os professores e psicopedagogos possam ensinar fazer e brincar com seus

alunos de maneira desejável, tornando assim o aluno um sujeito ativo no processo

ensino-aprendizagem, onde estarão vindo de encontro ás necessidades do aluno.

Portanto o que cada professor tido como educador deve buscar não é que

a criança aprenda a brincar com este ou aquele brinquedo, mas que através dele ela

possa se desenvolver plena e saudável.

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