Post on 26-Apr-2020
Sociedade, Estado e Mercado
Teoria do Sistema Mundo e da Dependência
Prof.: Rodrigo Cantu
Teoria do Sistema Mundo
Immanuel Wallerstein(1930 -)
Andre Gunder Frank (1929 – 2005)
Giovanni Arrighi (1937 – 2009)
Estágios de desenvolvimento de W. W. Rostow(The Stages of Economic Growth: A Non-Communist Manifesto, 1960)
• Sociedade tradicional
• Pré-condições para a decolagem
• Decolagem
• Rumo à maturidade
• Era do consumo de massa
Etapas de Rostow
Formas de sistemas sociais
• Mini-sistemas
• Sistemas mundo
• Impérios mundo
• Economias mundo
Núcleo
Semi-periferia
Periferia
Fontes da vantagem do centro
• Indústria
• Cadeias integradas e agregação de valor
• Inovação
Atlas da complexidade econômica
http://atlas.cid.harvard.edu/
Produtos exportados pelos EUA em 2015
EUA – Pauta de exportação
Alemanha – Pauta de exportação
Japão – Pauta de exportação
Espanha – Pauta de exportação
Brasil – Pauta de exportação
Paraguay – Pauta de exportação
Angola – Pauta de exportação
China – Pauta de exportação
Espaço mundial sem distorções
Espaço mundial segundo PIB (% do PIB mundial) - 1900
Espaço mundial segundo PIB (% do PIB mundial) - 1960
Espaço mundial segundo PIB (% do PIB mundial) - 2015
Giovanni Arrighi(1937-2009)
Ciclos Sistêmicos de Acumulação
PIB como proporção do PIB mundial
Fonte: FMI, World Economic Outlook
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Brazil China Germany Japan United States
A descoberta da América e a de uma passagem para as Índias Orientais pelo cabo da Boa Esperança são os dois maiores e mais importantes eventos registrados na história da humanidade. [...] Por unirem, até certo ponto, as regiões mais distantes do mundo,
por possibilitar-lhes aliviar mutuamente as necessidades, aumentar suas satisfações e estimular sua
atividade, sua tendência geral pareceria ser benéfica. Para os nativos, porém, tanto os das Índias Orientais como os das Índias
Ocidentais, todos os benefícios comerciais que possam ter
advindo desses eventos naufragaram e se perderam nos infortúnios horríveis que provocaram. Contudo, esses infortúnios parecem ter derivado mais de acidentes do que da própria natureza desses eventos.
Na época específica em que se realizaram tais descobertas,
aconteceu que a superioridade de forças estava a tal
ponto do lado dos europeus, que estes puderam cometer impunemente toda sorte de injustiças naquelas regiões longínquas. Futuramente, porém, é possível que os nativos desses países se tornem mais fortes, ou os da Europa mais fracos, e os habitantes de todas as diversas regiões do mundo
possam chegar àquela igualdade de coragem e força que, inspirando temor mútuo, constitui o único fator suscetível de intimidar a injustiça de nações independentes e
transformá-la em certa espécie de respeito pelos direitos recíprocos. Contudo, nada parece ter mais probabilidade de criar tal igualdade de força do que o intercâmbio mútuo de conhecimentos e de todos os tipos de aprimoramentos que natural, ou melhor, necessariamente, traz consigo um amplo comércio entre todos os países.
Smith, A. Riqueza das Nações, livro II, pp.141
Teoria crítica latino-americana
Aníbal Quijano(1928 -)
Fernando H. Cardoso(1931 – )
Enzo Faletto(1935 – 2003)
Walter Mignolo(1941 -)
Enrique Dussel(1934 -)
Teoria da Dependência
Antecedentes:
• Desenvolvimento desigual e combinado (Trostsky)
• Teorias do imperialismo (Lenin)
• Ausência de feudalismo na América Latina (C. Prado Jr.)
• Desenvolvimento para fora vs para dentro (Cepal)
Teoria da Dependência
Correntes:
• Estruturalistas: R. Prebisch, C. Furtado, O. Sunkel, A. Pinto, H. Jaguaribe, M. C. Tavares, A. Ferrer
• Não-marxistas: F. H. Cardoso e E. Faletto
• Marxistas: R. M. Marini, T. dos Santos, V. Bambirra
Teoria da Dependência
Teses centrais:
A dinâmica econômica de certos países é condicionada pela
dinâmica (expansão e retração) de outra economia à qual está subordinada
América Latina sempre foi capitalista – colonização europeia como expansão do capitalismo mercantil
Divisão internacional do trabalho – centro (atividades na fronteira tecnológica) e periferia (atividades de baixo valor agregado)
Multi-dimensionalidade da dependência – condição dependente possui consequências não só econômicas, mas também políticas, sociais e culturais.
Teoria da Dependência
Etapas da dependência na América Latina:
Séc. XVI-XIX– Exportação de produtos primários via monopólios comerciais concedidos pelo Estado colonizador, mão de obra servil ou escrava
Séc XIX – meados do séc XX – Incentivos e investimento do mercado do centro para a produção e exportação de produtos primários, trabalho servil ou assalariado
Meados do séc XX-1990 – Investimentos diretos de empresas multinacionais, indústria do fim do ciclo do produto
1990-Hoje – Abertura do mercado de capitais e dependência de fluxos financeiros internacionais, re-especialização produtiva
Teoria da Dependência
Impactos políticos da dependência:
Centro• Economias integradas• Tecnologia se difunde homogeneamente• Vantagens no comércio internacional• Aumento do salário real• Incorporação política de classes subalternas
Periferia• Economias não integradas• Tecnologia concentrada no setor exportador /
heterogeneidade produtiva• Desvantagens no comércio internacional• Baixos salários• Exclusão política e social
Impactos políticos da dependência (Cardoso e Faletto):
Economias com controle interno do sistema produtivo
• Argentina, Brasil, Uruguai, Colômbia
• Oligarquia doméstica domina Estado e atividades exportadoras
• Choque adverso: burguesia doméstica se volta à industrialização (como atividade acessória)
• ↑ Urbanização, ↑ assalariamento
• ↑ Mercado interno
• Incorporação sócio-política de classes médias
Impactos políticos da dependência (Cardoso e Faletto):
Economias de enclave• México, Bolívia, Venezuela / Chile, Peru /América Central
• Oligarquia doméstica domina Estado, não domina atividades exportadoras
• Choque adverso: burguesia internacional não se volta à industrialização
• Estado como ator da mudança e incorporação sócio-política de classes médias
Aníbal Quijano (1928 -)
Quijano, A. 2005. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina, p.117.
A América constitui-se como o primeiro espaço/tempo de um padrão de poder de
vocação mundial e, desse modo e por isso, como a primeira id-entidade da
modernidade. Dois processos históricos convergiram e se associaram na produção
do referido espaço/tempo e estabeleceram-se como os dois eixos fundamentais do
novo padrão de poder. Por um lado, a codificação das diferenças entre
conquistadores e conquistados na ideia de raça, ou seja, uma supostamente
distinta estrutura biológica que situava a uns em situação natural de inferioridade
em relação a outros. Essa ideia foi assumida pelos conquistadores como o principal
elemento constitutivo, fundacional, das relações de dominação que a conquista
exigia. Nessas bases, consequentemente, foi classificada a população da América, e
mais tarde do mundo, nesse novo padrão de poder. Por outro lado, a articulação de
todas as formas históricas de controle do trabalho, de seus recursos e de seus
produtos, em torno do capital e do mercado mundial.
Quijano, A. 2005. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina, p.121.
[...] os colonizadores exerceram diversas operações que dão conta das condições que
levaram à configuração de um novo universo de relações intersubjetivas dedominação entre a Europa e o europeu e as demais regiões e populações domundo, às quais estavam sendo atribuídas, no mesmo processo, novas identidades
geoculturais. Em primeiro lugar, expropriaram as populações colonizadas – entreseus descobrimentos culturais – daqueles que resultavam mais aptos para odesenvolvimento do capitalismo e em benefício do centro europeu. Em segundolugar, reprimiram tanto como puderam, ou seja, em variáveis medidas de acordocom os casos, as formas de produção de conhecimento dos colonizados, seuspadrões de produção de sentidos, seu universo simbólico, seus padrões de
expressão e de objetivação da subjetividade. [...] Em terceiro lugar, forçaram –também em medidas variáveis em cada caso– os colonizados a aprenderparcialmente a cultura dos dominadores em tudo que fosse útil para a reproduçãoda dominação, seja no campo da atividade material, tecnológica, como da subjetiva,especialmente religiosa. É este o caso da religiosidade judaico-cristã. Todo esse
acidentado processo implicou no longo prazo uma colonização dasperspectivas cognitivas, dos modos de produzir ou outorgar sentido aosresultados da experiência material ou intersubjetiva, do imaginário, do
universo de relações intersubjetivas do mundo; em suma, da cultura.
Quijano, A. 2005. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina, p.122.
Conceito de modernidade
“O fato de que os europeus ocidentais imaginaram ser a culminação de uma
trajetória civilizatória desde um estado de natureza, levou-os também a pensar-se
como os modernos da humanidade e de sua história, isto é, como o novo e ao mesmo
tempo o mais avançado da espécie. Mas já que ao mesmo tempo atribuíam ao
restante da espécie o pertencimento a uma categoria, por natureza, inferior e por
isso anterior, isto é, o passado no processo da espécie, os europeus imaginaram
também serem não apenas os portadores exclusivos de tal modernidade, mas
igualmente seus exclusivos criadores e protagonistas. O notável disso não é que os
europeus se imaginaram e pensaram a si mesmos e ao restante da espécie desse
modo –isso não é um privilégio dos europeus– mas o fato de que foram capazes de
difundir e de estabelecer essa perspectiva histórica como hegemônica dentro do
novo universo intersubjetivo do padrão mundial do poder”.
Quijano, A. 2005. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina, p.121.
Nesse sentido, a pretensão eurocêntrica de ser a exclusiva produtora eprotagonista da modernidade, e de que toda modernização de populaçõesnão-européias é, portanto, uma europeização, é uma pretensão etnocentrista e
além de tudo provinciana. Porém, por outro lado, se se admite que oconceito de modernidade se refere somente à racionalidade, à ciência, àtecnologia, etc., a questão que estaríamos colocando à experiência histórica nãoseria diferente da proposta pelo etnocentrismo europeu, o debate consistiriaapenas na disputa pela originalidade e pela exclusividade da propriedade dofenômeno assim chamado modernidade, e, em consequência, movendo-se nomesmo terreno e com a mesma perspectiva do eurocentrismo. Há, contudo, um
conjunto de elementos demonstráveis que apontam para um conceito demodernidade diferente, que dá conta de um processo histórico
específico ao atual sistema-mundo. Nesse conceito não estão, obviamente,ausentes suas referências e seus traços anteriores. Porém, define-se enquantoparte de um universo de relações sociais, materiais e intersubjetivas, cujaquestão central é a libertação humana como interesse histórico da sociedade etambém, em consequência, seu campo central de conflito.
Quijano, A. 2005. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina, p.121.
Em primeiro lugar, o atual padrão de poder mundial é o primeiro efetivamente
global da história conhecida. Em vários sentidos específicos. Um, é o primeiroem que cada um dos âmbitos da existência social está articulado a todas asformas historicamente conhecidas de controle das relações sociaiscorrespondentes, configurando em cada área um única estrutura com relaçõessistemáticas entre seus componentes e do mesmo modo em seu conjunto. Dois,é o primeiro em que cada uma dessas estruturas de cada âmbito de existênciasocial, está sob a hegemonia de uma instituição produzida dentro doprocesso de formação e desenvolvimento deste mesmo padrão de poder.Assim, no controle do trabalho, de seus recursos e de seus produtos, está aempresa capitalista; no controle do sexo, de seus recursos e produtos, a famíliaburguesa; no controle da autoridade, seus recursos e produtos, o Estado-nação;no controle da intersubjetividade, o eurocentrismo. Três, cada uma dessasinstituições existe em relações de interdependência com cada uma das outras.Por isso o padrão de poder está configurado como um sistema. Quatro,finalmente, este padrão de poder mundial é o primeiro que cobre a totalidadeda população do planeta.
A. Quijano
• Colonialidade do poder
• Capitalismo (economia)
• Racismo (eurocentrismo / dominação simbólica)
• Diferença colonial (dominação econômica e
simbólica)