Estudo do equilíbrio sólido-líquido de sistemas contendo aminoácidos e proteínas

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  • 7/26/2019 Estudo do equilbrio slido-lquido de sistemas contendo aminocidos e protenas

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    LUS FERNANDO MERCIER FRANCO

    ESTUDO DO EQUILBRIO SLIDO-LQUIDO DE SISTEMASCONTENDO AMINOCIDOS E PROTENAS

    So Paulo

    2012

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    LUS FERNANDO MERCIER FRANCO

    ESTUDO DO EQUILBRIO SLIDO-LQUIDO DE SISTEMASCONTENDO AMINOCIDOS E PROTENAS

    Dissertao apresentada Escola

    Politcnica da Universidade de So

    Paulo para obteno do ttulo de

    Mestre em Engenharia

    So Paulo

    2012

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    LUS FERNANDO MERCIER FRANCO

    ESTUDO DO EQUILBRIO SLIDO-LQUIDO DE SISTEMASCONTENDO AMINOCIDOS E PROTENAS

    Dissertao apresentada Escola

    Politcnica da Universidade de So

    Paulo para obteno do ttulo de

    Mestre em Engenharia

    rea de Concentrao:

    Engenharia Qumica

    Orientador: Professor Livre-Docente

    Pedro de Alcntara Pessa Filho

    So Paulo2012

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    Aos meus avs Zenaide e Antnio Srgio,

    Marylande e Paulo Fernando (in memoriam);

    a minha me, Priscila; ao papai,

    Gilberto (in memoriam); e ao mano

    Henrique dedico este trabalho.

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    AGRADECIMENTOS

    , alm de mandatrio que eu o faa, mandatrio pela minha conscincia mais do

    que pelo mero preenchimento de algumas linhas, um imenso prazer agradecer a

    quem de algum modo contribuiu comigo durante a execuo deste trabalho.

    O primeiro a quem devo e desejo agradecer o meu orientador Professor Livre-

    Docente Pedro de Alcntara Pessa Filho. ele a quem devo tudo o que sei sobre

    Termodinmica, desde os bancos acadmicos do terceiro ano de engenharia quando

    aprendi os primeiros conceitos de equilbrio de fases; poca em que ainda eu no

    sabia que isso seria objeto de investigao do meu mestrado. com imensa

    gratido que agora me dirijo a ele dizendo-lhe que sem sua pacincia e

    generosssima disponibilidade nada do que este texto contm lograria tal xito que

    agora surde a necessidade, mais do que o dever, de apresentar.

    Tambm agradeo aos amigos e colegas do Grupo de Engenharia de Bioprocessos

    (GEnBio), antigo Laboratrio de Engenharia Bioqumica (LEB), do Departamento de

    Engenharia Qumica da Escola Politcnica da Universidade de So Paulo cujas

    discusses incessantes, sobre os mais diversos contedos, esto dispersas aindaque de modo imperceptvel nas entrelinhas deste trabalho. Em particular, agradeo a

    Kelly Cristina Nascimento Alves Cruvinel quem, alm de me haver fornecido alguns

    dados experimentais que enriquecem a discusso dos modelos propostos neste

    trabalho, sempre me apoiou desde os tempos em que eu era aluno de iniciao

    cientfica.

    Por fim, agradeo ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e

    Tecnolgico (CNPq) e ao Departamento de Engenharia Qumica da EscolaPolitcnica da Universidade de So Paulo, pois me concedendo uma bolsa para

    cursar meu mestrado permitiram que eu o fizesse dignamente.

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    Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras l

    de Alagoas fazem o seu ofcio. Elas comeam com uma

    primeira lavada, molham a roupa na beira da lagoa ou do

    riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer.

    Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depoisenxguam, do mais uma molhada, agora jogando a gua com

    a mo. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e do mais

    uma torcida e mais outra, torcem at no pingar do pano uma

    s gota. Somente depois de feito tudo isso que elas

    dependuram a roupa lavada na corda do varal, para secar. Pois

    quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra

    no foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi

    feita para dizer.

    (Graciliano Ramos)

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    RESUMO

    A modelagem termodinmica do equilbrio slido-lquido de sistemas que contm

    aminocidos e protenas tem sido cada vez mais necessria para o desenvolvimento

    de equaes que permitam um projeto mais racional e eficiente das operaes

    unitrias encontradas nos processos de purificao destas molculas, tais como a

    precipitao e a cristalizao. Neste trabalho, apresentada uma relao unvoca

    entre a solubilidade de protenas e o pH; sendo necessrios como parmetros

    apenas informaes sobre a estrutura primria e os valores das constantes de

    ionizao de cada resduo na cadeia protica, considerando os diferentes estados

    de ionizao que a protena assume em soluo. Esta relao foi aplicada a

    sistemas de insulina suna a trs diferentes temperaturas, a sistemas de insulinas

    mutantes e a sistemas de b-lactoglobulina a diferentes concentraes de cloreto de

    sdio, resultando em uma bem sucedida correlao dos dados experimentais de

    solubilidade destes sistemas. Estudou-se tambm a no-idealidade de sistemas

    contendo aminocidos, partindo de consideraes sobre diferentes estados de

    ionizao da molcula assim como feito para protenas, mas adicionando um termo

    de no-idealidade, neste caso, um termo advindo do modelo de Pitzer para solues

    eletrolticas. Os sistemas, cujas curvas de solubilidade em funo do pH foram

    estudadas, so: DL-Alanina, DL-Metionina, L-Isoleucina, L-Leucina, DL-Fenilalanina,

    tambm glicina e seus oligopeptdeos e molculas com grupos b-lactmicos tais

    como a ampicilina, que um antibitico, e o cido 6-aminopenicilnico, que um

    precursor na rota de produo da ampicilina. Uma interpretao atravs de

    termodinmica estatstica para o parmetro de interao de Pitzer permitiu umaanlise mais profunda dos resultados. Relaes entre o segundo coeficiente virial

    osmtico, a solubilidade de protenas e a concentrao de agente precipitante foram

    desenvolvidas e aplicadas a sistemas de lisozima, ovalbumina e imunoglobulina

    humana. Os resultados desta aplicao mostraram quo profcua a abordagem

    empregada.

    Palavras-chave: Termodinmica Qumica. Equilbrio Slido-Lquido. Protenas.Aminocidos.

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    ABSTRACT

    The thermodynamic modeling of solid-liquid equilibrium of systems containing amino

    acids and proteins has become increasingly necessary for a more rational and

    efficient design of unit operations found in the downstream processing of these

    molecules, such as precipitation and crystallization. In this work, an unequivocal

    relationship between the protein solubility and the pH is presented. The resulting

    equation accounts for the different ionization states that protein molecules may

    assume in solution, and is written as a function of the primary structure and values of

    the ionization constant of each residue in the protein chain. The model was applied to

    the solid-liquid equilibrium of porcine insulin solutions at three different temperatures,

    solutions of mutant insulin molecules and solutions of b-lactoglobulin at different

    sodium chloride concentrations. A very successful correlation of the experimental

    solubility data was obtained in all cases. The solubility of amino acids and b-lactam

    compounds was also studied through a similar approach, but in this case the non-

    ideality of the solutions was accounted for by introducing Pitzers model for

    electrolyte solutions. The compounds whose solubility curves as a function of the pH

    were modeled include the amino acids DL-Alanine, DL-Methionine, L-Isoleucine, L-

    Leucine, DL-Phenylalanine, Glycine and its oligopeptides, and b-lactam compounds

    such as ampicillin, which is an antibiotic, and 6-aminopenicillanic acid, which is a

    precursor in the ampicillin production route. The interpretation of the binary

    interaction parameter values through a statistical thermodynamic approach allowed a

    deeper analysis of the results. Finally, equations relating the osmotic second virial

    coefficient, the protein solubility and the concentration of precipitant agents such assalts were developed. The resulting equations were successfully applied to solutions

    containing lysozyme, ovalbumin and immunoglobulin, which shows that the

    considered approach is promising.

    Keywords: Chemical Thermodynamics. Solid-Liquid Equilibrium. Proteins. Amino

    acids.

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 3.1 - Estrutura primria da insulina suna: seqncia de aminocidos e pontesde dissulfeto. Grupos ionizveis em negrito e distribuio de carga da configurao

    neutra correspondente ao estado de ionizao preponderante.................................47

    Figura 3.2 - Frao de molculas eletricamente neutras de insulina em funo do

    pH. Dados de pKA de Kaarsholm; Havelung e Hougaard (1990). Linha contnua,

    frao total. Linha pontilhada, frao preponderante.................................................47

    Figura 3.3 - Solubilidade da insulina suna em funo do pH a 278,2 K em 10,0 mM

    NaHCO3. Dados experimentais (), Tashima et al., (2009). Modelo proposto comvalores de pKAde Kaarsholm; Havelung e Hougaard (1990), linha contnua; com

    valores de pKAde Stryer (1995), linha pontilhada. Modelo de Tashima et al. (2009),

    linha semi-contnua....................................................................................................48

    Figura 3.4 - Solubilidade da insulina suna em funo do pH a 288,2 K em 10,0 mM

    NaHCO3. Dados experimentais (), Tashima et al., (2009). Modelo proposto com

    valores de pKAde Kaarsholm; Havelung e Hougaard (1990), linha contnua; com

    valores de pKAde Stryer (1995), linha pontilhada. Modelo de Tashima et al. (2009),linha semi-contnua. ..................................................................................................49

    Figura 3.5 - Solubilidade da insulina suna em funo do pH a 298,2 K em 10,0 mM

    NaHCO3. Dados experimentais (), Tashima et al., (2009). Modelo proposto com

    valores de pKAde Kaarsholm; Havelung e Hougaard (1990), linha contnua; com

    valores de pKAde Stryer (1995), linha pontilhada. Modelo de Tashima et al. (2009),

    linha semi-contnua....................................................................................................49

    Figura 3.6 - Curva de solubilidade da insulina mutante B13-GluGln em funo do

    pH em 0,1 M KCl a 23 oC. Dados experimentais (), Kaarsholm; Havelung e

    Hougaard (1990). Equao (3 - 32), linha contnua...................................................52

    Figura 3.7 - Curva de solubilidade da insulina mutante B9-SerAsp em funo do

    pH em 0,1 M KCl a 23 oC. Dados experimentais (), Kaarsholm; Havelung e

    Hougaard (1990). Equao (3 - 32), linha contnua...................................................53

    Figura 3.8 - Curva de solubilidade da insulina mutante B25-PheHis em funo do

    pH em 0,1 M KCl a 23 oC. Dados experimentais (), Kaarsholm; Havelung e

    Hougaard (1990). Equao (3 - 32), linha contnua...................................................53

    Figura 3.9 - Solubilidade da b-lactoglobulina bovina em soluo aquosa contendo

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    NaCl a 298,2 K. Dados experimentais (Grnwall, 1941): 0,001 mol L-1NaCl (); 0,005

    mol L-1NaCl (); 0,01 mol L-1NaCl (); 0,02 mol L-1NaCl (). Modelagem: linha

    contnua, 0,001 mol L-1; linha pontilhada, 0,005 mol L-1; linha semi-contnua, 0,01 mol

    L-1; linha com travesses, 0,02 mol L-1.......................................................................56

    Figura 4.1 - Valores de solubilidade da DL-Alanina a 298,15 K em soluo aquosa.

    Dados experimentais (o), Tseng et al. (2009); soluo com NaOH ou HCl (),

    Pradhan e Vera (1998); soluo com KOH ou HNO3 (), Pradhan e Vera (1998).

    Modelo Proposto (linha contnua). Modelo Ideal (linha pontilhada). .........................70

    Figura 4.2 - Valores de solubilidade de DL-Metionina a 303,0 K em soluo aquosa

    (com HCl ou NaOH) em funo do pH. Dados experimentais (), Fuchs et al. (2006).

    Modelagem: soluo ideal, linha pontilhada; modelo proposto, linha contnua...... ...70Figura 4.3 - Valores de solubilidade da L-Isoleucina a 298,15 K em soluo aquosa

    (com HCl ou NaOH). Dados experimentais (o), Tseng et al. (2009). Modelo Proposto

    (linha contnua). Modelo Ideal (linha pontilhada). .....................................................71

    Figura 4.4 - Valores de solubilidade da L-Leucina a 298,15 K em soluo aquosa

    (com HCl ou NaOH). Dados experimentais (o), Tseng et al. (2009). Modelo Proposto

    (linha contnua). Modelo Ideal (linha pontilhada).......................................................71

    Figura 4.5 - Valores de solubilidade da DL-Fenilalanina a 298,15 K em soluoaquosa (com HCl ou NaOH). Dados experimentais (o), Tseng et al. (2009). Modelo

    Proposto (linha contnua). Modelo Ideal (linha pontilhada)........................................72

    Figura 4.6 - Valores de solubilidade da L-Serina 298,15 K em soluo aquosa (com

    HCl ou NaOH). Dados experimentais (o), Tseng et al. (2009). Modelo Proposto (linha

    contnua). Modelo Ideal (linha pontilhada).................................................................72

    Figura 4.7 - Valores de solubilidade da tirosina 298,15 K em soluo aquosa. Dados

    experimentais (o), Hitchcock (1924). Modelo considerando o grupo Rionizvel (linhacontnua). Modelo considerando o grupo Rno-ionizvel (linha pontilhada)............75

    Figura 4.8 - Curva de solubilidade em soluo aquosa (com HCl ou NaOH) em

    funo do pH. Dados experimentais de glicina (), de diglicina () e de triglicina (),

    Lu et al. (2006). Modelagem - Equao (4 - 23) - com valores de lda Tabela 4.4:

    glicina, linha contnua; diglicina, linha semi-contnua; triglicina, linha pontilhada..... .77

    Figura 4.9 - Curva de solubilidade em soluo aquosa (com HCl ou NaOH) em

    funo do pH. Dados experimentais de tetraglicina (), de pentaglicina () e de

    hexaglicina (), Lu et al. (2006). Modelagem - Equao (4 - 23) - com valores de l

    da Tabela 4.4: tetraglicina, linha contnua; pentaglicina, linha semi-contnua;

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    hexaglicina, linha pontilhada......................................................................................77

    Figura 4.10 - Estrutura da ampicilina.........................................................................79

    Figura 4.11 - Estrutura do cido 6-aminopenicilnico................................................79

    Figura 4.12 - Valores de solubilidade da ampicilina 283,06 K em soluo aquosa

    (com HCl ou NaOH) em funo do pH. Dados experimentais (o), Santana et al.

    (2010). Modelo Proposto (linha contnua). Modelo Ideal (linha pontilhada)...............80

    Figura 4.13 - Valores de solubilidade da ampicilina 288,01 K em soluo aquosa

    (com HCl ou NaOH) em funo do pH. Dados experimentais (o), Santana et al.

    (2010). Modelo Proposto (linha contnua). Modelo Ideal (linha pontilhada)...............81

    Figura 4.14 - Valores de solubilidade da ampicilina 292,95 K em soluo aquosa

    (com HCl ou NaOH) em funo do pH. Dados experimentais (o), Santana et al.(2010). Modelo Proposto (linha contnua). Modelo Ideal (linha pontilhada)...............81

    Figura 4.15 - Valores de solubilidade da ampicilina 298,03 K em soluo aquosa

    (com HCl ou NaOH) em funo do pH. Dados experimentais (o), Santana et al.

    (2010). Modelo Proposto (linha contnua). Modelo Ideal (linha pontilhada)...............82

    Figura 4.16 - Valores de solubilidade do cido 6-aminopenicilnico 283,06 K em

    soluo aquosa (com HCl ou NaOH) em funo do pH. Dados experimentais (o),

    Santana et al. (2010). Modelo Proposto (linha contnua). Modelo Ideal (linhapontilhada).................................................................................................................82

    Figura 4.17 - Valores de solubilidade do cido 6-aminopenicilnico 288,01 K em

    soluo aquosa (com HCl ou NaOH) em funo do pH. Dados experimentais (o),

    Santana et al. (2010). Modelo Proposto (linha contnua). Modelo Ideal (linha

    pontilhada).................................................................................................................83

    Figura 4.18 - Valores de solubilidade do cido 6-aminopenicilnico 292,95 K em

    soluo aquosa (com HCl ou NaOH) em funo do pH. Dados experimentais (o),Santana et al. (2010). Modelo Proposto (linha contnua). Modelo Ideal (linha

    pontilhada).................................................................................................................83

    Figura 4.19 - Valores de solubilidade do cido 6-aminopenicilnico 298,03 K em

    soluo aquosa (com HCl ou NaOH) em funo do pH. Dados experimentais (o),

    Santana et al. (2010). Modelo Proposto (linha contnua). Modelo Ideal (linha

    pontilhada).................................................................................................................84

    Figura 4.20 - Valores de solubilidade da ampicilina 298,15 K em soluo aquosa em

    funo do pH. Dados experimentais a diferentes fraes mssicas de metanol: (o)

    0,0 %, () 15,0 %, () 30,0 % e () 50,0 %. Santana; Mattedi e Giordano (2010).

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    Modelo proposto: 0,0 % (linha contnua), 15,0 % (linha com travesses), 30,0 %

    (linha semi-contnua) e 50,0 % (linha pontilhada)......................................................85

    Figura 4.21 - Valores de solubilidade do cido 6-aminopenicilnico 298,15 K em

    soluo aquosa em funo do pH. Dados experimentais a diferentes fraes

    mssicas de metanol: (o) 0,0 %, () 15,0 %, () 30,0 % e () 50,0 %. Santana;

    Mattedi e Giordano (2010). Modelo proposto: 0,0 % (linha contnua), 15,0 %(linha

    com travesses), 30,0 % (linha semi-contnua) e 50,0 % (linha pontilhada).............86

    Figura 5.1 - Solubilidade da lisozima da clara de ovo de galinha em funo da

    molalidade de cloreto de sdio. Dados experimentais (), Watanabe (2007).

    Equao de Cohn (linha contnua).............................................................................95

    Figura 5.2 - Valores do segundo coeficiente virial osmtico em funo da molalidadede cloreto de sdio em pH = 4,5. Dados experimentais obtidos em Curtis et al.

    (2002). Lisozima nativa, modelo (linha contnua), dados experimentais (). Lisozima

    D101F, modelo (linha pontilhada), dados experimentais ()......................................96

    Figura 5.3 - Valores da solubilidade da lisozima em funo do segundo coeficiente

    virial osmtico. Dados experimentais obtidos em Guo et al. (1999). Lisozima a 25 C

    e pH = 4,2 com variaes na concentrao de cloreto de sdio (). Lisozima a 18 C

    e pH = 4,5 com variaes na concentrao de cloreto de amnio (). Lisozima a 23C e pH = 7,8 com variaes na concentrao de brometo de magnsio (). Modelo

    de Haas; Drenth e Wilson (1999) com z= 3 eA= 0.001 (linha pontilhada). Modelo de

    Guo et al. (1999) com Dm= 250 kJ mol-1(linha semi-contnua). Modelo de Ruppert;

    Sandler e Lenhoff (2001), (linha com travesses). Equao (5 23) (linha contnua).

    ...................................................................................................................................97

    Figura 5.4 - Solubilidade da ovalbumina em solues de sulfato de amnio. Dados

    experimentais (), Judge; Johns e White (1996). Equao de Cohn (linha contnua)....................................................................................................................................98

    Figura 5.5 - Segundo coeficiente virial osmtico da ovalbumina em solues de

    sulfato de amnio a pH = 4,0. Dados experimentais (), Mehta; White e Litster

    (2011). Equao (5 21) com Ks= 2,45 kg mol-1, (linha contnua)............................99

    Figura 5.6 - Segundo coeficiente virial osmtico da imunoglobulina humana (IgG)

    em solues de cloreto de sdio. Dados experimentais (), estes dados ainda no

    foram publicados, mas foram cedidos por Kelly Cristina do Nascimento Alves

    Cruvinel (comunicao pessoal). Equao (5 21), (linha contnua)......................100

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 3.1 - Anlise da funo qjk...............................................................................45

    Tabela 3.2 - Valores de pKAdos grupos ionizveis da insulina humana....................46

    Tabela 3.3 - Valores de CQ[Equao (3 40)] e CQG[Equao (3 41)] entre os

    modelos aplicados e os dados experimentais de solubilidade de insulina suna a

    diferentes temperaturas.............................................................................................51

    Tabela 3.4 - Valores de pKAe de nmero de resduo que se ionizam como ctions

    (n+) para insulinas mutantes. Dados de Kaarsholm; Havelung e Hougaard (1990)..52

    Tabela 3.5 - Valores de pKAdos grupos ionizveis da b-lactoglobulina bovina..........55

    Tabela 4.1 - Quadro-resumo de trabalhos sobre a no-idealidade de solues de

    aminocidos...............................................................................................................60

    Tabela 4.2 - Valores do parmetro de interao le do CQ[Equao (3 40)] para

    diversos conjuntos de dados experimentais de solubilidade de aminocidos em

    funo do pH..............................................................................................................69

    Tabela 4.3 - Valores de CQ[Equao (3 40)] em porcentagem para os diferentes

    modelos aplicados aos conjuntos de dados de solubilidade de DL-Alanina, L-

    Isoleucina, L-Leucina, DL-Fenilalanina e L-Serina a 298,15 K. Dados experimentais

    de Tseng et al. (2009). ..............................................................................................73

    Tabela 4.4 - Valores do parmetro de interao le do CQ(Equao 3 - 40) para

    diversos conjuntos de dados experimentais de solubilidade de glicina e seus

    oligopeptdeos em funo do pH. Dados experimentais de Lu et al. (2006)..............76

    Tabela 4.5 - Valores dos parmetros s, e e CQG para os sistemas contendo

    ampicilina e cido 6-aminopenicilnico. Dados experimentais de Santana et al.

    (2010).........................................................................................................................80

    Tabela 5.1 - Comparao dos valores de CQdefinido pela Equao (3 40) para o

    sistema contendo lisozima.........................................................................................97

    Tabela A.1 - Valores de pKApara aminocidos, peptdeos e molculas com grupos b-

    lactmicos estudados no captulo quatro.................................................................126

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    LISTA DE SMBOLOS E SIGLAS

    Letras latinas

    a parmetro universal do Modelo de Pitzer

    aH+ atividade do on H+

    ai atividade do componente i

    aP0 atividade da molcula de protena eletricamente neutra

    A rea superficial do soluto

    parmetro do modelo de Debye-Hckel

    b parmetro universal do modelo de Pitzer

    Bij segundo coeficiente virial osmtico para interao entre os componentes iej

    B parmetro do modelo de Debye-Hckel

    ck carga total de uma molcula de protena em um estado de ionizao k

    c carga mdia das molculas de protena

    C parmetro do modelo de Debye-Hckel

    C1 parmetro ajustvel para clculo do segundo coeficiente virial do modelo de

    Pitzer

    C2 parmetro ajustvel para clculo do segundo coeficiente virial do modelo de

    Pitzer

    ds densidade do solvente

    D parmetro do modelo de Kirkwood

    e carga eltrica

    fi fugacidade do componente i

    fi0 fugacidade do componente ino estado de referncia

    gk restrio de igualdade devido s leis de conservaogEX energia livre de Gibbs excedente

    gij parmetro de energia caracterstico da interao entre os componentes iej

    gij(.) funo de distribuio radial

    Gij parmetro do modelo NRTL

    I fora inica

    kB constante de Boltzmann

    Ks constante de salting-out

    Kk constante do equilbrio de ionizao entre uma molcula de protena neutra e

    uma molcula da mesma protena em um estado de ionizao k

  • 7/26/2019 Estudo do equilbrio slido-lquido de sistemas contendo aminocidos e protenas

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    L(.) operador lagrangeano

    m nmero de componentes no sistema

    mi molalidade do componente i

    mi0 molalidade do componente ino estado de referncia

    m0 molalidade de molculas eletricamente neutras de protenas

    msal molalidade do sal

    M ction

    nmero de conjuntos de dados experimentais

    Ms massa molecular do solvente

    n nmero total de resduos ionizveis de uma dada protena

    nA nmero de resduos carregados negativamente

    nB nmero de resduos negativos no carregados

    nC nmero de resduos carregados positivamente

    nD nmero de resduos positivos no carregados

    n+ nmero de resduos positivos em uma dada protena

    N quantidade de matria do sistema

    nmero de dados experimentais

    NA nmero de Avogadro

    Ni quantidade de matria total do componente ino sistemaNi

    (a) quantidade de matria do componente ina fase a

    p presso

    P0 protena eletricamente neutra

    Pk+c protena em um estado de ionizao k com carga total +c

    r coordenada radial

    R constante real dos gases

    S entropia

    solubilidadeSA solubilidade de um dado aminocido

    T temperatura

    uij potencial intermolecular entre os componentes iej

    U energia interna do sistema

    U energia interna total do sistema

    U(a) energia interna da fase a

    V volume do sistema

    V volume total do sistema

    V(a) volume da fase a

  • 7/26/2019 Estudo do equilbrio slido-lquido de sistemas contendo aminocidos e protenas

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    ws massa do solvente

    Wij potencial da fora mdia entre os componentes iej

    xi frao molar do componente i em fase condensada

    X nion

    yi frao molar do componente iem fase gasosa

    zi carga eltrica do componente i

    z+ carga eltrica do ction M

    z- carga eltrica do nion X

    Letras gregas

    aj frao ionizada do resduoj

    aij parmetro de no-aleatoriedade na mistura

    a+1 frao de grupos amina ionizados em sistemas contendo aminocidos

    a-1 frao de grupos cido carboxlico ionizados em sistemas contendo

    aminocidos

    b parmetro da equao de Cohn

    g tenso superficial do solventeg0 tenso superficial da gua pura

    gi coeficiente de atividade do componente i

    gA0 coeficiente de atividade de um aminocido eletricamente neutro

    g coeficiente de atividade inica mdio

    e parmetro de interao atrativa de van der Waals

    e0 permissividade do vcuo

    er constante dieltrica

    ejk carga do resduojem uma molcula de protena em um estado de ionizao

    k

    hj(.) funo auxiliar que depende apenas do resduoj

    qjk(.) funo auxiliar que depende tanto do resduo j quanto do estado de

    ionizao k

    k inverso do comprimento de Debye

    ke termo de correo no clculo da variao do potencial qumico devida

    energia envolvida na formao de uma cavidade para alocar a molcula nasoluo

  • 7/26/2019 Estudo do equilbrio slido-lquido de sistemas contendo aminocidos e protenas

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    lk multiplicador de Lagrange relativo restrio de igualdade gk

    lij segundo coeficiente virial do modelo de Pitzer para as interaes entre os

    componentes iej

    l-1 segundo coeficiente virial do modelo de Pitzer entre as formas aninica e

    zwitterinica de um dado aminocido

    l+1 segundo coeficiente virial do modelo de Pitzer entre as formas catinica e

    zwitterinica de um dado aminocido

    l0 segundo coeficiente virial do modelo de Pitzer entre a forma zwitterinica e a

    forma neutra no-zwitterinica de um dado aminocido

    lzwitt segundo coeficiente virial do modelo de Pitzer entre duas molculas

    zwitterinicas de um dado aminocidoL coeficiente de salting-in

    Lijk terceiro coeficiente virial do modelo de Pitzer para as interaes entre os

    componentes i,je k

    md momento de dipolo eltrico

    mi potencial qumico do componente i

    miL potencial qumico do componente ina fase lquida

    miS potencial qumico do componente ina fase slida

    mi0 potencial qumico do componente ino estado de referncia

    Dm* potencial qumico de transferncia de uma molcula de protena do estado

    de um gs hipottico para o interior de uma soluo

    Dmcav variao do potencial qumico devida energia envolvida na formao de

    uma cavidade para alocar a molcula na soluo

    Dmelet contribuio eletrosttica variao do potencial qumico

    DmvdW variao sofrida pelo potencial qumico devido as interaes atrativas de van

    der Waals entre o solvente e o soluto.nj estado carregado do resduoj

    n+ coeficiente estequiomtrico do ction M

    n- coeficiente estequiomtrico do nion X

    p nmero de fases no sistema

    P presso osmtica

    ri concentrao do componente i

    s raio de van der Waals mdioincremento molal da tenso superficial

  • 7/26/2019 Estudo do equilbrio slido-lquido de sistemas contendo aminocidos e protenas

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    tij parmetro do modelo NRTL

    fA0 frao de molculas de aminocido eletricamente neutras

    fk frao de molculas de protena em um estado de ionizao k

    coeficiente de fugacidade osmtico

    fzwitt frao de molculas de aminocido na forma zwitterinica

    f0 frao de molculas de protenas eletricamente neutras

    frao de molculas de aminocido eletricamente neutras na forma no-

    zwitterinica

    f-1 frao de molculas de aminocido na forma aninica

    f+1 frao de molculas de aminocido na forma catinica

    y nmero de estados de ionizao possveisyj potencial eltrico do componentej

    W razo entre o coeficiente de salting-out e o incremento molal da tenso

    superficial

    Siglas

    CQ critrio quantitativo

    CQG critrio quantitativo global

    NRTL do ingls: Non-Random Two Liquids

    pH co-logaritmo decimal da atividade do on H+

    pI ponto isoeltrico

    pKA co-logaritmo decimal da constante de equilbrio de ionizao

  • 7/26/2019 Estudo do equilbrio slido-lquido de sistemas contendo aminocidos e protenas

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    SUMRIO

    1 Introduo...............................................................................................................222 Elementos fundamentais da termodinmica de equilbrio de fases........................25

    2.1 A equao fundamental em sua representao entrpica................................25

    2.2 A equao de Gibbs-Duhem.............................................................................26

    2.3 Os critrios de equilbrio de fases....................................................................27

    2.4 Fugacidade, atividade e convenes...............................................................29

    2.5 Modelos termodinmicos de energia livre de Gibbs excedente.......................31

    2.6 Modelos termodinmicos para solues eletrolticas.......................................32

    3 Efeito do pH na solubilidade de protenas..............................................................353.1 Introduo.........................................................................................................35

    3.2 Desenvolvimento terico..................................................................................36

    3.2.1 Clculo da frao de protena eletricamente neutra...................................39

    3.2.2 Extenso teoria de Linderstrm-Lang e Grnwall...................................41

    3.2.3 Equivalncia entre as duas abordagens....................................................44

    3.3 Resultados e Discusses.................................................................................45

    3.3.1 Solubilidade da insulina em funo do pH e da temperatura.....................45

    3.3.2 Solubilidade da b-lactoglobulina em funo do pH e da fora inica.........54

    4 No-idealidade de solues de aminocidos e compostos b-lactmicos...............57

    4.1 Introduo.........................................................................................................57

    4.2 Desenvolvimento terico..................................................................................61

    4.2.1 Clculo das fraes eletricamente neutras e carregadas ..........................61

    4.2.2 Modelo de Pitzer ........................................................................................63

    4.2.3 Uma abordagem por termodinmica estatstica da no-idealidade...........66

    4.3 Resultados e Discusses.................................................................................69

    4.3.1 Solubilidade de aminocidos em funo do pH.........................................69

    4.3.2 Solubilidade da glicina e de seus oligopeptdeos em funo do pH...........76

    4.3.3 Solubilidade de compostos b-lactmicos em funo do pH, da temperaturae do solvente.......................................................................................................78

    5 Segundo coeficiente virial osmtico de protenas e suas relaes.........................87

    5.1 Introduo.........................................................................................................87

    5.2 Desenvolvimento terico..................................................................................89

    5.2.1 Potencial qumico de referncia.................................................................90

    5.2.2 Equao de Cohn.......................................................................................92

    5.2.3 Modelo proposto.........................................................................................93

  • 7/26/2019 Estudo do equilbrio slido-lquido de sistemas contendo aminocidos e protenas

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    5.3 Resultados e Discusses.................................................................................94

    5.3.1 Resultados para a lisozima........................................................................94

    5.3.2 Resultados para a ovalbumina...................................................................98

    5.3.3 Resultados para a imunoglobulina humana.............................................1006 Concluses...........................................................................................................101

    7 Referncias bibliogrficas.....................................................................................104

    Apndice A Integrao do perfil de carga em funo do pH.................................110

    Apndice B Cdigo-fonte do programa de clculo de solubilidade de protenas. .112

    Apndice C Expresso para o coeficiente de atividade de um soluto no ensemblede McMillan-Mayer...................................................................................................117

    Apndice D Cdigo-fonte do programa de ajuste de parmetros para o clculo dasolubilidade de aminocidos e compostos b-lactmicos..........................................121

    Anexo A Valores de pKAusados nos clculos do quarto captulo.........................126

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    22

    1 Introduo

    et si in tanta scriptorum turba mea fama in obscuro sit,

    nobilitate ac magnitudine eorum me qui nomini officient

    meo consoler

    (Titus Livius, inHistria de Roma)

    Apesar de muitos acreditarem ser a Termodinmica uma rea concluda do universo

    cientfico, prova-se constantemente que, justamente por estar a Termodinmicaconsolidada do ponto de vista formal da lgica matemtica e da interpretao fsica,

    ela pode contribuir de modo nico para a descrio de fenmenos descritos apenas

    recentemente. A revoluo biotecnolgica, que marca desde a segunda metade do

    sculo XX at os dias correntes tanto os processos industriais quanto a pesquisa

    acadmica, traz consigo desafios importantes para uma maior compreenso dos

    sistemas ditos biolgicos, ou seja, sistemas que tm como alguns de seus

    componentes molculas de algum modo originadas de seres vivos.A importncia mais bvia da Termodinmica reside no fato de ela poder fornecer

    uma imensa gama de informaes sobre o sistema com a necessidade de poucos

    parmetros. Este fato tanto mais relevante quanto mais complexo for o sistema

    estudado. Na verdade, a Termodinmica em sua forma mais primitiva prescinde

    inclusive da hiptese atmica, o que a garante tal generalidade que ainda em uma

    natureza na qual no houvesse tomos suas leis seriam vlidas e poderiam ser

    aplicadas irrestritamente. Quanto a isso, notam-se na introduo de seu livro sobre

    Termodinmica Estatstica as observaes de Terrell L. Hill:

    [...] Although thermodynamics itself does not provide a molecular picture of

    nature, this is not always a disadvantage. Thus there are many complicated

    systems for which a molecular theory is not possible; but regardless of

    complications on the molecular level, thermodynamics can still be applied to

    such systems with confidence and exactness.[]

    (HILL, 1986, p. 1)

    A reside a explicao para a comunho entre a Termodinmica e todas as outras

    cincias da natureza, sem considerar os aspectos filosficos muitas vezes

  • 7/26/2019 Estudo do equilbrio slido-lquido de sistemas contendo aminocidos e protenas

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    apropriados das leis da Termodinmica.

    No h mais espao (se que antes houve algum) para a pesquisa cientfica que se

    limite a uma nica rea do conhecimento. Dessarte, os profissionais de

    Termodinmica tm na medida do possvel servido a comunidade cientfica como um

    todo, com interpretaes, modelos e mesmo dados experimentais de propriedades

    que auxiliam as pesquisas dedicadas s mais diversas reas.

    No caso de sistemas que contm protenas, h uma grande e crescente demanda

    por conhecimento devido s inmeras aplicaes, seja no setor farmacutico, seja

    na indstria alimentcia. Aqui, estudar-se-o alguns destes sistemas. A abordagem

    pretendida corresponde explorao dos limites da termodinmica clssica na

    descrio destes sistemas.Molculas de protena apresentam, entre outras, uma caracterstica que torna a sua

    modelagem termodinmica um pouco mais complicada: a presena de ons na

    cadeia. Pode-se dizer que a teoria de solues eletrolticas nasce, ou pelo menos,

    ganha notoriedade com o trabalho de Petrus Debye e Erich Hckel, que no incio da

    dcada de 1920, propuseram um mtodo de clculo da no-idealidade devida

    presena de eletrlitos em soluo atravs da soluo linearizada e unidirecional da

    equao de Poisson-Boltzmann. Mesmo assim, as solues contendo eletrlitosainda hoje so alvo de intensa pesquisa. At porque a prpria teoria de lquidos

    ainda um captulo no qual h hoje muito esforo empregado. Quando se pensa em

    protenas, que na verdade so polieletrlitos muito menos simples que polieletrlitos

    de polmeros sintticos, a modelagem se apresenta repleta de simplificaes, sejam

    de ordem geomtrica (tal como considerar a protena uma esfera), sejam de ordem

    de distribuio de cargas, dotando a protena de uma carga lquida sem considerar

    os diferentes estados de ionizao.As principais intenes aqui pretendidas esto centradas em uma busca por uma

    descrio termodinmica mais fiel na sua representao dos fenmenos estudados.

    O segundo captulo ser dedicado a uma brevssima reviso dos conceitos

    fundamentais de termodinmica de equilbrio de fases de modo a facilitar ao leitor,

    desacostumado nomenclatura termodinmica, a compresso dos captulos

    seguintes. Diferentemente do segundo captulo, os que o seguiro, com

    pouqussimas excees que sero postas em relevo a medida que aparecerem,

    integram os desenvolvimentos tericos inditos aqui propostos.

    No terceiro captulo ser apresentado o desenvolvimento de uma relao terica

  • 7/26/2019 Estudo do equilbrio slido-lquido de sistemas contendo aminocidos e protenas

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    24

    para a predio da curva de solubilidade de protenas em funo do pH

    considerando que a fase slida nica e s contm molculas eletricamente neutras

    de protenas pelo princpio de eletroneutralidade da fase em equilbrio

    termodinmico. Resultados para a insulina suna a diferentes temperaturas, algumas

    insulinas mutantes e para a b-lactoglobulina a diferentes valores de fora inica

    sero apresentados e discutidos tambm neste captulo. Tanto a modelagem quanto

    os principais resultados deste captulo foram publicados em um artigo recente

    (FRANCO; PESSA FILHO, 2011).

    No quarto captulo, a equao deduzida no captulo terceiro ser modificada de

    modo a ser aplicada a sistemas contendo aminocidos e molculas com grupos b-

    lactmicos incluindo para tanto um termo de no-idealidade calculado pelo modelo

    de Pitzer para solues eletrolticas. Ao parmetro de interao introduzido pelo

    modelo de Pitzer ser dada uma interpretao a partir da termodinmica estatstica

    que permitir uma discusso mais robusta do ponto de vista cientfico.

    No quinto captulo sero deduzidas relaes entre o segundo coeficiente virial, a

    concentrao de agente precipitante (tipicamente sais) e a solubilidade de protenas.

    Sero estudados sistemas com lisozima, ovalbumina e imunoglobulina G humana.

    Outros modelos publicados na literatura sero comparados ao modelo proposto.O sexto e derradeiro captulo ser dedicado exclusivamente a exposio das

    concluses deste trabalho e a sugesto de trabalho futuros.

    Todas estas contribuies visam a aprofundar e a discutir a fsico-qumica envolvida

    em sistemas que contm aminocidos ou protenas do ponto de vista clssico da

    termodinmica de equilbrio de fases. As relaes aqui desenvolvidas so de

    utilidade no apenas da discusso cientfica, mas claramente da aplicao

    tecnolgica.Acaba-se, por fim, este introito com uma esperana sutil lanada pelo famoso

    historiador romano, Tito Lvio, e aqui registrada sob a forma de epgrafe: a que os

    trabalhos que a esse sucedam o superem, e este ser o consolo deste que o

    escreve.

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    2 Elementos fundamentais da termodinmica de equilbrio de fases

    ,

    (Pilatos, inEvangelho de So Joo)

    O objetivo de despender algumas pginas com aspectos introdutrios aos

    problemas de equilbrio de fases facilitar ao leitor desta dissertao alguns

    conceitos sem os quais a compreenso do trabalho que se segue se tornariaextremamente rdua e laboriosa. No h, todavia, algum intento aqui seno o de

    expor exclusivamente o formalismo termodinmico necessrio s dedues que se

    seguiro. Reitera-se que nada do que neste captulo est apresentado novo, nem

    to pouco fruto da pesquisa a qual esta dissertao justifica sua existncia, todavia,

    estas linhas que custaram mais de cem anos de pesquisa em termodinmica so

    indispensveis ao entendimento das discusses que se seguiro.

    A epgrafe, ainda que de alguma forma jocosa (em uma traduo livre: o queescrevi, escrevi), pretende ilustrar a robustez da termodinmica quanto um ramo da

    cincia consistente e inviolvel.

    2.1 A equao fundamental em sua representao entrpica

    Dado um sistema simples com mcomponentes, a equao fundamental descreve

    completamente todos os estados de equilbrio. Em sua representao entrpica, a

    equao fundamental dada explicitando a entropia, S, do sistema como funo da

    energia interna, U, do volume, V, e da quantidade de matria, N, de cada

    componente (MODELL; REID, 1983):

    S=S(U , V , N 1 ,...,Nm) (2 - 1)

    A equao fundamental representa, assim, uma hipersuperfcie em um espao dem+3dimenses cujos pontos representam estados de equilbrio do dado sistema.

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    26

    Sendo uma diferencial exata, a equao fundamental pode ser associada s duas

    primeiras leis da termodinmica de modo que a variao infinitesimal de entropia do

    sistema seja dada por:

    dS(U , V , N 1 ,...,Nm)=1T

    dU+p

    TdV

    i =1

    m i

    TdNi (2 - 2)

    Em que T a temperatura termodinmica:

    1T

    =( SU)V ,N (2 3)p a presso do sistema:

    p=T( SV)U ,N (2 4)

    E, mi o potencial qumico da espcie i:

    i=T ( SN i )U , V , Nj ,ij (2 5)

    2.2 A equao de Gibbs-Duhem

    A equao fundamental expressa em sua forma entrpica pela Equao (2 1) pode

    tambm ser, e assim comumente , escrita em sua representao energtica:

    U=U (S , V , N1 , ..., Nm) (2 6)

    Com sua diferencial exata dada por:

    dU (S , V , N1 , ...,Nm)=T dSp dV +i=1

    m

    i dN i (2 7)

    Sendo a transformada de Legendre total de uma dada funo

    f( x ):n / x =[ x1 , ... , x n] , tem-se que:

    T (f( x ))=f(x)k=1

    n

    ( f( x )x k)x k (2 8)E, aplicando-se essa transformada de Legendre total na funo definida na Equao

    (2 6), tem-se que:

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    27

    T (U (S , V , N1 , ..., Nm))=U (S , V , N1 , ..., Nm)TS+ pVi =1

    m

    i N i (2 9)

    Tomando a diferencial da Equao (2 9):

    d T(U (S , V , N1 , ... ,Nm))=...

    ...dU (S , V , N1 ,...,Nm)TdSSdT + pdV + Vdpi=1

    m

    i dN ii =1

    m

    N idi (2 10)

    A equao de Gibbs-Duhem simplesmente dada pela condio de que a variao

    infinitesimal da transformada de Legendre total da equao fundamental nula,

    logo, observando-se a substituio da Equao (2 7) na Equao (2 10), tem-se:

    SdTVdp+i=1

    m

    N i di =0 (2 11)

    Essa Equao (2 11) serve como uma restrio a ser respeitada por qualquer

    modelagem termodinmica que se pretenda em equilbrio de fases. Na verdade, ela

    usada como garantia de consistncia termodinmica a um dado modelo.

    2.3 Os critrios de equilbr io de fases

    Em geral, a apresentao que se faz dos critrios para os equilbrio de fases

    perpassa caminhos matemticos e propostas de exemplos que acabam por dificultar

    a compreenso.

    Aqui, tentar-se- um mtodo pouco utilizado nas classes de termodinmica, mas que

    segundo a percepo deste que escreve parece apresentar uma consistncia

    matemtica que deve por fim isentar dvidas quanto a sua aplicao mais geral.

    Tomemos para anlise um sistema isolado com m componentes e p fases; de

    acordo com a segunda lei da termodinmica a entropia deste sistema isolado

    sempre aumenta em uma dada transformao, logo no equilbrio sua entropia deve

    ser mxima de modo que no haja nenhuma transformao que leve o sistema para

    outro estado que no seja o de equilbrio.

    Deve-se reescrever, ento, a equao fundamental expressa pela equao (2 1)

    de modo a contemplar um sistema multifsico:

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    28

    S=S(U ,V ,N1 , ... ,N m) (2 12)

    Sendo os vetores definidos por coordenadas de cada fase do sistema:

    U =[U(1)

    ,U(2)

    , ...,U()

    ] (2 13)

    V =[V(1) ,V(2) , ...,V ()] (2 14)

    N i =[N i(1)

    ,N i(2)

    , ... ,N i( )] , com i =1,2,..., m (2 15)

    Posto isto, tem-se que este um problema de maximizao de entropia sujeito s

    restries de conservao energtica, espacial e material:

    max S=S (U ,V ,N1 , ...,Nm)

    s.t. :

    g1(U )==1

    U()U=0

    g2 (V )==1

    V()V =0

    gj(N i)==1

    N i()

    N i=0, i=1,... ,m e j=3,... ,m+ 2 (2 16)

    Assim, pode-se definir o lagrangeano da entropia como:

    L(U ,V ,N1, ...,N m , )=S (U ,V ,N1,... ,Nm)k=1

    m+ 2

    k gk (2 17)

    A condio de otimalidade dada pela condio de gradiente do lagrangeano da

    entropia nulo:

    L(U , V ,N1, ... ,Nm , )=0 (2 18)

    Com isso, ter-se-o (m+2)(p +1) equaes a serem satisfeitas:

    {

    L(U ,V ,N1, ... ,Nm , )

    U () =

    1T

    ()1=0, =1,... ,

    L (U ,V ,N1,... ,Nm , )

    V() =

    p()

    T()2=0, =1,... ,

    L(U ,V , N1,... , Nm , )

    N i()

    =i

    ( )

    T()i+ 2=0, =1,... , e i =1,..., m

    (2 19)

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    29

    Obviamente para completar as (m+2)(p +1) equaes a serem satisfeitas, devem-se

    incluir as restries de igualdade que reaparecem nas derivada parciais do

    lagrangeano pelo multiplicadores de Lagrange.

    Logo, tem-se que para maximizar a entropia de um sistema isolado com m

    componentes e pfases, devem-se obedecer as seguintes relaes:

    11

    =T (1)=T (2)==T ()

    21

    =p (1)=p(2)==p()

    i+ 2

    1 =i(1)

    =i(2)

    ==i()

    , i=1,... , m (2 20)

    As equaes apresentadas em (2 20) representam os critrios do equilbrio de

    fases: igualdade das temperaturas, das presses e dos potenciais qumicos de cada

    componente.

    Do ponto de vista de fenmenos de transporte possvel, e at talvez mais fcil,

    imaginar que o equilbrio um caso particular do estado estacionrio para o qual a

    fora motriz da grandeza responsvel pelo transporte constante e nula, id est, o

    transporte s ocorre se h diferena de potencial, se o potencial trmico

    (temperatura) for o mesmo em todas as fases do sistema no h transporte de calor,

    se o potencial mecnico (presso) for igual em todas as fases do sistema no h

    deslocamento de fronteira e, analogamente, se o potencial qumico de cada

    componente for o mesmo em todas as fases no h transporte de massa. As

    equaes fenomenolgicas mostram claramente como o fluxo dependente da

    fora motriz de tal modo que se esta ltima for nula no h fluxo e o sistema est em

    equilbrio. Ainda que se considerem acoplamentos, a situao de equilbrio aquela

    em que todas as foras motrizes so nulas; portanto, mesmo os efeitos de

    acoplamento no ocorrero.

    2.4 Fugacidade, atividade e convenes

    O potencial qumico tal como proposto por Gibbs na segunda metade do sculo XIX

  • 7/26/2019 Estudo do equilbrio slido-lquido de sistemas contendo aminocidos e protenas

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    (PRAUSNITZ; LICHTENTHALER; AZEVEDO, 1999) no de fcil assimilao,

    porque no possvel sua percepo no mundo fsico real de modo to intuitivo

    quanto o potencial trmico (temperatura) e o mecnico (presso). No entanto, a

    definio de fugacidade d uma idia mais sensvel do fenmeno fsico. A

    fugacidade, assim como definida por Lewis, substitui a presso no clculo do

    potencial qumico de um processo isotrmico de um gs ideal de modo a contemplar

    os efeitos no considerados no modelo de gs ideal:

    fi

    fi0=exp(ii

    0

    RT) (2 21)

    em que fi a fugacidade do componente i, fi0

    a fugacidade do componente i noestado padro,mi o potencial qumico do componente i, mi0 o potencial qumico do

    componente ino estado padro, R a constante real dos gases (R= 8,314 J mol-1K-

    1), T a temperatura do sistema em K.

    Pela sua definio possvel equivaler a igualdade de fugacidades de cada

    componente em todas as fases do sistema como um critrio de equilbrio alternativo

    ao da igualdade de potenciais qumicos expressa na Equao (2 20) sem perda de

    generalidade.

    Para um gs ideal puro, a fugacidade igual a presso e, para uma mistura de

    gases ideais, igual a presso multiplicada pela frao molar: yip. A definio de

    fugacidade assim completada pelo limite observvel a todos os sistemas puros ou

    misturados no qual o comportamento destes sistemas se aproxima do de gs ideal

    para presses muito baixas:

    limp0

    fi

    y i p=1 (2 22)

    em que yi a frao molar do componente ie p a presso do sistema.

    Embora a definio de fugacidade ajude nos clculos de equilbrio de fases de

    gases, sua aplicao a sistemas condensados um tanto quanto mais complicada.

    Isto se deve ao fato de ter-se relacionado tudo a diferena entre o comportamento

    do sistema real e o do gs ideal; e, portanto, isso exige dados experimentais a

    temperatura e composio constante sobre todo o intervalo de densidades no se

    excetuando a regio bifsica. Como na maioria das vezes no se dispe de tamanha

    quantidade de informaes, usa-se alternativamente uma outra abordagem para

    clculos da fase lquida. Definindo uma soluo ideal e calculando os desvios entre

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    a soluo real e essa soluo ideal pelas propriedades de excesso, que no caso da

    energia livre de Gibbs de excesso ou ainda, energia livre de Gibbs excedente

    est relacionada ao coeficiente de atividade. Assim, cabe definir a atividade de um

    componente e o coeficiente de atividade deste componente. Da prpria definio de

    fugacidade expressa pela Equao (2 21), define-se a atividade como:

    a i=fi

    fi0 (2 23)

    De modo similar ao que est escrito em (2 22), surge a necessidade de se definir o

    coeficiente de atividade, g, de um dado componente icomo:

    i=a

    i

    x i (2 24)

    Aqui cabe explicitar algo que ser necessrio: a conveno simtrica e a

    assimtrica. Esta necessidade emerge a medida em que se arbitra qual o estado

    padro (ou estado de referncia) com o qual se executar o clculo do potencial

    qumico. Na conveno simtrica, o estado padro o mesmo para todos os

    componentes; j na conveno assimtrica, no.

    2.5 Modelos termod inmicos de energia livre de Gibbs excedente

    O coeficiente de atividade est relacionado a energia livre de Gibbs excedente ou

    seja, a diferena entre a energia livre de Gibbs de um sistema real e a energia livre

    de Gibbs de uma mistura ideal pela seguinte equao:

    lni =[ (g

    EX

    RTi =1

    m

    N i)N i

    ]T , p ,N

    j

    (2 25)

    A Equao (2 25) traz a possibilidade de ao se propor um modelo de energia livre

    de Gibbs excedente, possa-se avaliar a no-idealidade de um dado componente em

    soluo. Um dos modelos mais aplicados nos ltimos quarenta anos o famoso

    NRTL (da sigla em ingls: Non-Random Two Liquids) que foi proposto em um artigo

    de Renon e Prausnitz (1968). Na sua forma para sistemas multicomponentes, a

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    energia livre de Gibbs excedente dada por:

    gEX

    RT

    =i=1

    m

    x i

    j=1

    m

    jiGji xj

    l=1

    m

    G li x l

    (2 26)

    em que, o parmetro tij dado pela diferena entre os parmetros de energia

    caractersticos da interao de iej, gij:

    ji =gjig ii

    RT(2 27)

    E, o parmetro Gij dado pela exponencial da multiplicao entre o parmetro tije o

    parmetro de no-aleatoriedade na mistura aij:

    Gji =exp(ji ji ) , c om ji=ij (2 28)

    Em termos do logaritmo natural do coeficiente de atividade de um dado componente

    i, tem-se que:

    lni =j=1

    m

    ji Gji xj

    l=1

    m

    Gli x l

    +j=1

    m xj G ij

    l=1

    m

    G lj x l

    (ijr=1

    m

    x rrj Grj

    l=1

    m

    G li x l

    )(2 29)

    Coube aqui apresentar mais pormenorizadamente este modelo em especial, para

    ajudar a discusso de uma particular aplicao a sistemas contendo aminocidos

    apresentada no captulo quarto. Evidentemente h outros tantos e to importantes

    modelos que inclusive sero citados ao decorrer do texto, todavia como a aplicao

    do modelo NRTL ser comparada a aplicao de um outro modelo neste trabalho,

    considerou-se por bem apresentar sua formulao.

    2.6 Modelos termodinmicos para solues eletrolticas

    Enquanto a prpria teoria de lquidos ainda objeto de intensa pesquisa, no foi

    abandonada durante o sculo passado, e nem nos prximos o ser, a modelagemde solues que contenham eletrlitos. A natureza de tais solues traz

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    complicaes adicionais a este tipo de modelagem e restries antes no

    consideradas tais como o princpio de eletroneutralidade da fase termodinmica em

    equilbrio estvel.

    A teoria de Debye-Hckel publicada no incio dos anos de 1920 foi pioneira no

    tratamento de solues eletrolticas e at hoje constitui um trabalho de referncia na

    maioria das publicaes relacionadas a este tema. Este teoria est baseada na

    soluo linearizada e unidirecional da equao de Poisson-Boltzmann (HILL, 1986):

    2j=4e

    i

    z i i(1z i eikB T) (2 30)

    em quey

    o potencial da espciej,

    e a carga eltrica,

    e a permissividade do

    vcuo, zi a carga eltrica da espcie i, ri a concentrao da espcie i, kB a

    constante de Boltzmann e T a temperatura.

    Pela soluo da Equao (2 30), e por algumas consideraes, chega-se ao

    coeficiente de atividade de uma espcie inica no limite de altas diluies:

    lnj=zj

    2e

    2

    2kB T (2 31)

    em que k o inverso do comprimento de Debye1:

    2=

    4e2

    k BT

    i

    i z i2

    (2 32)

    Muitas vezes esta Equao (2 32) escrita em termos da fora inica, I, que

    definida como:

    I=12

    i

    m i z i2

    (2 33)

    em que mi a molalidade do componente iem mol por kilograma.

    De fato este modelo um modelo limite a concentraes de eletrlitos muito baixas,

    tipicamente limitado a fora inica da ordem de 0,01 mol kg-1 (PRAUSNITZ;

    LICHTENTHALER; AZEVEDO, 1999). No decorrer do sculo passado outros

    modelos foram propostos com o intento de ampliar a faixa de aplicao a sistemas

    eletrolticos; um dos mais exitosos nesta empresa o modelo de Pitzer (PITZER,

    1973). No fundo, este modelo pode ser dividido em dois termos principais: um de

    1 O comprimento de Debye uma distncia de interao caracterstica associada ao potencialeletrosttico blindado (PRAUSNITZ; LICHTENTHALER; AZEVEDO, 1999).

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    longo alcance que devido as interaes eletrostticas anlogas ao modelo de

    Debye-Hckel, e um de curto alcance que uma expanso virial de modo a assumir

    a hiptese que as interaes entre muitos corpos pode ser dividida em contribuies

    de interaes de dois-a-dois, trs-a-trs e assim por diante. Este modelo tambm se

    baseia em uma proposio para a energia livre de Gibbs excedente:

    gEX

    RTw s=f(I )+

    i

    j

    m i mj ij (I)+i

    j

    k

    m i mj mk ijk+ ... (2 34)

    em que ws a massa de solvente, f(I) uma funo dependente da fora inica, lij

    o parmetro das interaes binrias (dois-a-dois) e Lijk o parmetro das interaes

    ternrias (trs-a-trs).

    Como as propriedades termodinmicas so usualmente medidas para eletrlitos

    neutros e no espcies inicas individuais, convencionou-se escrever os modelos

    para solues eletrolticas aplicando a restrio de eletroneutralidade em termos de

    um coeficiente de atividade inica mdio que dado pela mdia geomtrica dos

    coeficientes de atividade do ction e o do nion. Esta abordagem que para sistemas

    salinos, por exemplo, muito interessante, no o para polieletrlitos, para os quais

    algumas complicaes aparecem. Em termos do coeficiente de atividade inica

    mdio, o modelo de Pitzer dado por:

    ln=13z+ z-( e

    2

    0rk B T)3/ 2

    (2ds NA)1/2

    8 [ 2b ln(1+ bI )+ I1+ bI ]+ ...

    ...+ m( 2+ -+ + -){2 (0)+ 2(1)

    2I[1(1+ I1/ 2

    2I

    2)exp(I 1/ 2)]}+ ...

    ...+ 9m 2

    [ (+ -)

    2

    ++ -](+ MMX+ -MXX) (2 35)

    em que n+e n-so respectivamente os coeficientes estequiomtricos do ction Me

    do nion X. Os outros parmetros sero definidos no quarto captulo quando da

    aplicao do modelo de Pitzer.

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    3 Efeito do pH na solubilidade de protenas

    Si lon veut noncer le prncipe dans toute sa gnralit et en lappliquant lUnivers, on le voit pour

    ainsi dire svanouir et il ne reste plus que ceci: il y a quelque chose qui demeure constant.

    (Henri Poincar, in Thermodynamique)

    3.1 Introduo

    Os primeiros trabalhos relacionados modelagem da curva de solubilidade de

    protenas em funo do pH datam do incio do sculo XX. Green (1931) props um

    modelo para a curva de solubilidade da carboxihemoglobina eqina considerando

    que esta protena se comportaria tanto como um cido bivalente quanto uma base

    bivalente. J Grnwall (1941) atribuiu a Linderstrm-Lang o desenvolvimento de um

    modelo capaz de predizer a curva de solubilidade a partir da integrao do perfil de

    carga da protena. Este trabalho de Grnwall, apesar de esquecido, de extrema

    importncia e relevncia tanto para o trabalho aqui apresentado quanto, e aqui um

    motivo muito mais nobre, para o desenvolvimento de modelos a partir das

    ferramentas da termodinmica clssica.

    digno de nota o trabalho de Fredericq e Neurath (1950) no qual uma proposta de

    equacionamento para uma correlao semi-emprica da curva de solubilidade de

    insulina apresentada. No h, de fato, algo novo em relao modelagem do

    efeito do pH na curva de solubilidade neste trabalho; no entanto, apesar de no

    haver qualquer meno ou referncia quanto origem da equao proposta, nota-se

    que uma aplicao direta da equao descrita por Grnwall (1941). H uma

    hiptese implcita no trabalho de que o perfil de carga lquida da insulina em funo

    do pH seja linear na regio do ponto isoeltrico, o que bastante plausvel para

    muitas protenas. Assim, pela integrao da equao diferencial proposta por

    Grnwall (1941), uma correlao semi-emprica quadrtica obtida. Refora-se o

    uso da expresso semi-emprica devido natureza dual da equao: em parte

    advinda de um desenvolvimento terico descrito por Grnwall (1941) e atribudo a

    Linderstrm-Lang; e em parte pela necessidade de se obterem parmetros a partir

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    de um ajuste de um conjunto de dados experimentais.

    Contudo, os trabalhos mais recentes se concentram na modelagem da curva de

    solubilidade de aminocidos em funo do pH dando maior enfoque aos modelos

    termodinmicos para solues no-ideais, tanto atravs de equaes de estado

    como de modelos de energia livre de Gibbs excedente.

    Entretanto, o primeiro trabalho dedicado exclusivamente modelagem e predio da

    curva de solubilidade de protenas propriamente dita em funo do pH foi publicado

    por Tjong e Zhou (2008). Neste trabalho, a solubilidade foi calculada a partir da

    energia livre de transferncia da fase slida para a fase lquida. Para a execuo

    deste clculo, a energia livre de transferncia foi dividida em duas contribuies:

    uma de natureza eletrosttica, calculada pela mdia de 100 conformaes proticasadvindas da aplicao de dinmica molecular a pH constante; e outra, de natureza

    no-eletrosttica, baseada na rea superficial acessvel ao solvente. Porm, o

    esforo computacional requerido pelo modelo por eles proposto para calcular

    apenas alguns pontos da curva no apresenta uma aplicabilidade razovel. Alm

    deste trabalho, Tashima et al. (2009) propuseram uma modelagem termodinmica

    para prever a curva de solubilidade especificamente da insulina suna aplicando o

    modelo de Pitzer truncado aps o segundo coeficiente virial.Aqui uma relao analtica entre a solubilidade de protenas em funo do pH ser

    desenvolvida sob a hiptese de que a atividade da molcula de protena

    eletricamente neutra permanece constante com o pH. Assim se entende a epgrafe

    deste captulo e que encontrada no apenas neste mas em muitos

    desenvolvimentos tericos: h alguma coisa que permanece constante.

    3.2 Desenvolvimento terico

    No caso do equilbrio slido-lquido, no qual a fase slida nica e contm apenas

    molculas de um soluto i, a condio do equilbrio de fases expressa na Equao (2

    20) supondo a igualdade de presses e temperaturas das fases a priori dada

    simplesmente por:

    iL(T , p , x)=i

    S(T , p) (3 1)

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    em que miL o potencial qumico do soluto na fase lquida e miS o potencial qumico

    do soluto na fase slida. Desprezando-se os efeitos da presso sobre o clculo do

    potencial qumico, hiptese comum a sistemas que no envolvam fase gasosa, tem-

    se que para um processo isotrmico no h variao do potencial qumico da fase

    slida j que sua composio fixa; portanto, o potencial qumico do soluto na fase

    lquida tambm no se altera em tal processo. Posto isto, conclui-se que mudanas

    nas condies da fase lquida tais como variao de pH no alteram o potencial

    qumico do soluto nesta fase.

    A solubilidade de um soluto em fase lquida a concentrao de equilbrio deste

    componente nesta fase. Assim, se a solubilidade do soluto for suficientemente

    diminuta, para um processo isotrmico desprezando-se os efeitos da presso, pode-

    se adotar a considerao de uma soluo ideal segundo a lei de Henry e expressar

    o potencial qumico deste soluto na fase lquida em termos de molalidade como:

    iL(m )=i

    0(m 0)+ RT lnm i

    mi0 (3 2)

    em que:

    m0=[0,0,...,0, m i

    0=1,0,..., 0] (3 3)

    Sendo mia molalidade do soluto na fase lquida, ou ainda a solubilidade do soluto

    em termos de molalidade; e, mi0(m0) o potencial qumico de referncia do soluto. Este

    estado de referncia escolhido o estado de referncia de uma soluo ideal de

    concentrao unitria, ou seja, uma soluo hipottica na qual o soluto tem uma

    molalidade mi0 = 1,0 mol kg-1, mas experimenta as mesmas interaes que se

    estivesse em uma soluo a infinita diluio.

    Quando o soluto uma protena, outros pormenores devem ser levados em conta. Amolcula de protena um polieletrlito biolgico e, sendo assim, esta se ioniza em

    soluo aquosa. Isto se deve ao fato de que alguns aminocidos que compem a

    protena tm grupos polares que participam de equilbrios qumicos com o on H+.

    Para grupos alcalinos, o equilbrio de ionizao :

    NH 3+NH2+ H

    + (3 4)

    Todavia, para grupos cidos, o equilbrio de ionizao :

    COOHCOO-+ H+ (3 5)

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    A partir destes equilbrios qumicos possvel notar que as molculas de protena

    em uma soluo tm diferentes estados de protonao, e, portanto, distintos valores

    de carga eltrica. Porm, a solubilidade determinada experimentalmente a soma

    da concentrao de todas as molculas de protenas.

    Sendo a fase slida composta apenas por protena e sendo uma fase em equilbrio

    estvel, pelo princpio de eletroneutralidade nela deve haver somente molculas

    eletricamente neutras. Isto significa que o equilbrio de fases se estabelece apenas

    entre molculas de protena eletricamente neutras. Logo, a Equao (3 2) no

    vlida para qualquer molcula de protena, mas apenas e to-somente para as

    molculas de protena eletricamente neutras. E, por conseqncia do critrio de

    equilbrio de fases expresso na Equao (3 1), a molalidade das molculas deprotena eletricamente neutras na fase lquida deve permanecer inalterada com a

    variao do pH da soluo. A molalidade destas molculas uma frao da

    solubilidade da protena nesta soluo. Assim pode-se escrever:

    m0=0(pH )S (pH ) (3 6)

    em que m0 a molalidade das molculas de protena eletricamente neutras da fase

    lquida, f0 a frao de molculas de protena eletricamente neutras da fase lquida

    e S a solubilidade da protena na fase lquida. Contudo, conforme afirmado

    anteriormente, m0deve ser constante com a variao do pH, assim ao se aplicar a

    Equao (3 6) no ponto isoeltrico, pode-se escrever que:

    m0=0(pI )S( pI) (3 7)

    Logo, pela simples comparao entre as Equaes (3 6) e (3 7), chega-se

    seguinte relao:

    S( pH)=0(pI )S (pI )0(pH )

    (3 8)

    A Equao (3 8) descreve a curva de solubilidade de uma dada protena em

    soluo em funo do pH. Apesar de ser uma equao simples, resta ainda a

    dificuldade de se calcular a frao de molculas de protena eletricamente neutras

    na fase lquida.

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    3.2.1 Clculo da frao de protena eletricamente neutra

    Para o clculo da frao de molculas de protena eletricamente neutras

    indispensvel considerar que todos os resduos efetivamente ionizveis da protena,

    inclusive os grupos amina e cido carboxlico terminais, podem estar eletricamente

    carregados ou no devido aos equilbrios qumicos expressos nas Equaes (3 4)

    e (3 5). Sendo no nmero total de resduos ionizveis de uma dada protena, o

    nmero de estados de ionizao possveis, y, :

    =

    =0

    nn!

    (n)!!=

    =0

    n

    (n

    )=2n (3 9)

    Dentre estes estados, alguns representam molculas de protena cuja carga total

    seja nula. A carga de uma molcula de protena dada pela soma da carga

    individual de cada resduojem um dado estado de ionizao k:

    ck=j=1

    n

    jk (3 10)

    em que ejk a carga individual de cada resduo jem um dado estado de ionizao ke pode ser expressa como:

    jk={1, paragrupos cidoscarregados0, paraquaisquer grupos neutros

    + 1,paragrupos bsicoscarregados(3 11)

    Considerando que a equao de Henderson-Hasselbach vlida para cada grupoj

    e que o equilbrio qumico estabelecido entre o grupoje o on H+ independente de

    qualquer outro equilbrio qumico desta natureza que ocorra nesta mesma molculade protena, tem-se que a frao ionizada deste grupoj dada por:

    j (pH)=( 11+ 10pHpKAj )[(1+ j)

    2

    (j1)

    210pHpK Aj] (3 12)

    em que pKAj o co-logaritmo decimal da constante de equilbrio qumico do grupoje

    nj o estado carregado do grupo j (-1, para grupos cidos e, +1, para grupos

    alcalinos).

    Assim, a frao de molculas de uma dada protena em um dado estado deionizao k dada pelo produtrio da frao do grupo jcom a carga especfica

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    associada ao estado de ionizao k:

    k(pH )=i=1

    n

    j' (pH) (3 13)

    Sendo que:

    j' (pH)={ j (pH) , sejk01j (pH ), sejk=0 (3 14)

    Logo, substituindo a Equao (3 12) na Equao (3 14) e a resultante na

    Equao (3 13), ter-se- que a frao de molculas de protena eletricamente

    neutras em um dado estado de ionizao k dada simplesmente por:

    k(pH )=j=1

    n

    {(1

    1+ 10pHpKAj )[(1+ j

    2 jk)10pHpKAj(

    j12 jk)]} (3 15)

    Sujeita seguinte restrio de eletroneutralidade:

    j=1

    n

    jk=0 (3 16)

    Apesar de a frao de molculas de protena eletricamente neutras de um dado

    estado de ionizao kdepender do pH, a razo entre esta frao e a frao demolculas de protena eletricamente neutras em outro estado de ionizao qualquer

    lno depende do pH. Pode-se demonstrar por argumentos de equilbrio qumicos

    entre molculas eletricamente neutras em diferentes estados de ionizao que esta

    razo dada por (FRANCO; PESSA FILHO, 2011) :

    logk(pH )

    l (pH )=

    j =1

    n

    pKAj(jkjl) (3 17)

    Assim, indiferente qual estado de ionizao que resulte em uma molcula

    eletricamente neutra de protena utilizado para efetuar o clculo da Equao (3

    8). Combinando as Equaes (3 8) e (3 15), tem-se que a curva de solubilidade

    de uma dada protena em funo do pH dada por:

    S( pH)=S (pI)j =1

    n

    {(1+ 10

    pHpKAj

    1+ 10pIpK

    Aj)[(1+ j2 jk)10pIpKAj(j12 jk)]

    [(1+ j

    2

    jk

    )10pHpKAj

    (j1

    2

    jk

    )]}(3 18)

  • 7/26/2019 Estudo do equilbrio slido-lquido de sistemas contendo aminocidos e protenas

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    41

    para qualquer estado de ionizao kque respeite a restrio imposta na Equao (3

    16). Basicamente a Equao (3 18) uma expresso para a predio da curva

    de solubilidade de uma dada protena em funo do pH da soluo e requer como

    parmetros apenas a solubilidade no ponto isoeltrico e informaes a respeito da

    estrutura primria da protena, ou seja, a seqncia de aminocidos que a compe e

    as respectivas constantes de equilbrio de ionizao. Isto torna esta abordagem

    extremamente relevante e de fcil aplicao.

    3.2.2 Extenso teoria de Linderstrm-Lang e Grnwall

    fato que as primeiras tentativas de se prever a curva de solubilidade de uma

    protena, em funo seja do pH seja da concentrao de agente precipitante, datam

    da primeira metade do sculo passado, quando ainda muito poucas informaes

    estruturais sobre protenas eram conhecidas. Ainda assim, clebres trabalhos como

    o de Cohn (1925) e o de Green (1931) so ainda hoje referncias abundantemente

    citadas e prepararam de certo modo o caminho trilhado neste quase um sculo dededicao pesquisa sobre a fsico-qumica de sistemas proticos. Infelizmente

    alguns trabalhos de no menor importncia ficaram esquecidos. Este o caso do

    trabalho de Grnwall (1941). Neste trabalho Grnwall atribui a Linderstrm-Lang o

    desenvolvimento de uma teoria para o clculo da solubilidade de protenas em

    funo do pH atravs da integrao do perfil de carga lquida da protena em funo

    do pH.

    As hipteses desta teoria apresentada por Grnwall (1941) so: i) o equilbrio slido-lquido se estabelece com as molculas eletricamente neutras de protena em

    soluo; ii) a variao do pH da soluo no altera a atividade das molculas

    eletricamente neutras de protena em soluo.

    Assim, poder-se-ia reconstituir a formulao de Linderstrm-Lang e Grnwall

    partindo do seguinte equilbrio entre uma molcula de protena eletricamente neutra

    e uma molcula ionizada em um dado estado de ionizao kcom uma carga total c:

    P0+ cH+ P

    k

    + c (3 19)

    cuja relao de equilbrio dada por:

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    K k=a

    P k+ c

    a P0a

    H+

    c(3 20)

    em que Kk a constante de equilbrio referente a Equao qumica (3 19), aPk a

    atividade da molcula de protena de carga total cem um estado de ionizao k, aP0

    a atividade da molcula de protena eletricamente neutra e aH+ a atividade do on

    H+. Todavia, a atividade de um componente o produto entre sua concentrao e o

    coeficiente de atividade deste componente (g) Equao (2 24). Assim, a

    molalidade da molcula de protena com carga total ce em um estado de ionizao

    k dada por:

    mk=K ka P 0

    aH

    +

    c

    k(3 21)

    J a solubilidade da protena a soma das concentraes de todos os estados de

    ionizao possveis, mesmo de cargas totais distintas:

    S=k=1

    mk=k=1

    K ka P0

    aH

    +

    c

    k(3 22)

    Derivando a Equao (3 22) com respeito atividade do on H+

    e assumindo que aatividade da molcula de protena eletricamente neutra permanece constante:

    dS

    d aH

    +

    =a P0k=1

    c aH+c1 K k

    ka P0

    k =1

    aH+c K k

    k2

    d k

    d aH

    +

    (3 23)

    O segundo termo do lado direito da Equao (3 23) pode ser simplificado do

    seguinte modo:

    a P0

    k=1

    a

    H

    +

    c K k

    k2

    d k

    d a H+=a P

    0

    k=1

    a

    H

    +

    c K k

    k

    d lnk

    d a H +=

    k=1

    mkd lnk

    d a H +(3 24)

    Considerando que os coeficientes de atividade da gua e do on H+so constantes a

    Equao (3 24) deve ser nula para que a equao de Gibbs-Duhem seja satisfeita

    (uma deduo para a equao de Gibbs-Duhem est apresentada no seo 2.2do

    segundo captulo). Assim, a Equao (3 23) pode ser reescrita como:

    d lnS

    d lna H+=

    (a H +

    S

    )d S

    d a H+=k =1

    c aH+c K k

    k

    k=1

    aH

    +

    c K kk

    =k =1

    c mk

    k=1

    mk

    =c (3 25)

  • 7/26/2019 Estudo do equilbrio slido-lquido de sistemas contendo aminocidos e protenas

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    43

    em que c a carga mdia das molculas de protena conforme proposta de

    Linderstrm-Lang (1924). Reescrevendo a Equao (3 25) em termos de pH:

    d logSd pH =c (3 26)

    A Equao (3 26) descreve a curva de solubilidade da protena em funo do pH

    pela integrao da carga mdia da protena. Esta equao foi primeiramente

    derivada por Grnwall (1941). Entretanto, o nico mtodo de aplicao desta

    equao encontrado na literatura era realizado pela aproximao linear do perfil de

    carga na regio do ponto isoeltrico e a integrao da reta resultante. Contudo,

    pode-se relacionar a carga mdia da protena com as informaes da estruturaprimria da mesma atravs da seguinte equao:

    c (pH)=j=1

    n

    j j (pH ) (3 27)

    Inserindo a Equao (3 12) na Equao (3 27), tem-se que:

    c (pH)=12j=1

    n

    ( 11+ 10pHpK Aj)[1+ j(1j)10pHpKAj ] (3 28)Logo, substituindo a Equao (3 28) na Equao (3 26):

    d logSd pH

    =12j=1

    n

    ( 11+ 10pHpK Aj)[1+ j(1j)10pHpKAj ] (3 29)A Equao (3 29) pode ser integrada de um pH de referncia at o pH no qual se

    deseja calcular a solubilidade da protena. Tomando como pH de referncia o ponto

    isoeltrico, pI:

    logS(pI)

    logS(pH )

    d logS=12

    pI

    pH

    {j =1n

    ( 11+ 10pHpKAj)[1+ j(1j )10pHpKAj ]}

    d pH (3 30)

    Fazendo a integrao como apresentado no Apndice A, chega-se a:

    logS (pH)S (pI )

    =j=1

    n

    [log(1+ 10pHpK Aj1+ 10pIpKAj )(1+ j )2 (pHpI)] (3 31)Ou ainda:

    log S (pH)S (pI )

    =n+(pIpH )+j=1

    n

    [log(1+ 10pHpK

    Aj

    1+ 10pIpKAj )] (3 32)

  • 7/26/2019 Estudo do equilbrio slido-lquido de sistemas contendo aminocidos e protenas

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    em que n+ o nmero total de grupos alcalinos na molcula de protena.

    A Equao (3 32) relaciona a solubilidade da protena com a variao do pH da

    soluo. A prxima subseo dedicada a provar que tanto a Equao (3 18)

    quanto a Equao (3 32) so equivalentes.

    3.2.3 Equivalncia entre as duas abordagens

    Apesar das formulaes aparentemente distintas, tanto a integrao do perfil de

    carga mdia da protena quanto o desenvolvimento exposto em 3.2.1so anlogos.Ao se tomar o logaritmo decimal da Equao (3 18), tem-se que:

    logS (pH)S (pI)

    =j=1

    n

    log(1+ 10pHpKAj

    1+ 10pIpKAj)+ ...

    ...+j=1

    n

    log

    {[(1+ j2 jk)10pIpKAj(j12 jk)]

    [(1+

    j

    2 jk)10pHpKAj

    (

    j

    1

    2 jk)]}(3 33)

    Pelo bem da simplicidade, definir-se-o duas funes:

    j( pH)=log(1+ 10pHpKAj

    1+ 10pIpKAj) (3 34)

    jk (pH )=log

    {[(1+ j

    2

    jk

    )10pIpK Aj

    (

    j1

    2

    jk

    )][(1+ j2 jk)10pHpKAj(j12 jk)]}(3 35)

    Fica evidente pela observao das Equaes (3 34) e (3 35) que a funo hjno

    depende do estado de ionizao k, enquanto a funo qjkdepende. Assim, pode-se

    analisar cada possibilidade. Esta anlise da funo e qjk est na Tabela 3.1.

  • 7/26/2019 Estudo do equilbrio slido-lquido de sistemas contendo aminocidos e protenas

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    Tabela 3.1 - Anlise da funo qjk.nj jk qjk Nmero de resduos

    -1 -1 pI - pH nA-1 0 0 nB

    +1 +1 0 nC+1 0 pI - pH nD

    Pela Tabela 3.1, possvel inferir que a Equao (3 33) pode ser escrita como:

    logS (pH)S (pI )

    =(nA+ nD)( pIpH )+j =1

    n

    j(pH) (3 36)

    Entretanto, a Equao (3 36) deve tambm satisfazer a restrio expressa na

    Equao (3 16), assim:

    j=1

    n

    jk=0nA=nC (3 37)

    Portanto, de acordo com a restrio de eletroneutralidade advinda da Equao (3

    37), tem-se que:

    (nA+ nD)=(nC+ nD)=n+ (3 38)

    Logo, a Equao (3 36) respeitando a restrio de eletroneutralidade pode ser

    escrita como:

    logS (pH)S (pI )

    =n+(pIpH )+j=1

    n

    j (pH) (3 39)

    Assim fica provada a identidade entre as Equaes (3 18) e (3 32).

    3.3 Result ados e Discusses

    3.3.1 Solubilidade da insulina em funo do pH e da temperatura

    A Tabela 3.2 apresenta os valores de pKAdos grupos ionizveis da insulina humana

    para o clculo da curva de solubilidade desta protena em funo do pH de acordo

    com a Equao (3 32). H na Tabela 3.2 dois conjuntos de valores de pKA: um

    chamado isolado que o valor do pKA do aminocido livre obtido pela titulao

  • 7/26/2019 Estudo do equilbrio slido-lquido de sistemas contendo aminocidos e protenas

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    46

    potenciomtrica do aminocido, e outro que o valor do pKAna cadeia protica e

    obtido pela titulao potenciomtrica da protena.

    Tabela 3.2 - Valores de pKAdos grupos ion izveis da insulina humana.Aminocido Grupo Nmero pKA(isolado)a pKA(cadeia)b

    Gly -NH2(terminal) 1 9,80 7,38

    Glu -COOH 4 4,30 4,37

    Tyr Fenol-OH 4 10,90 10,20

    Asn -COOH (terminal) 1 2,00 3,45

    Phe -NH2(terminal) 1 910 7,38

    His Imidazol-NH2 2 6,00 5,98

    Arg Guanidina-NH2 1 12,50 11,10

    Lys -NH2 1 10,80 8,52

    Ala -COOH (terminal) 1 2,30 3,45

    aStryer (1995).bKaarsholm; Havelung e Hougaard (1990).

    De fato, os dados que sero correlacionados aqui so de insulina suna; entretanto,a diferena entre a insulina suna e a insulina humana de apenas um aminocido

    em termos de estrutura primria, logo bastante razovel considerar que os valores

    de pKAna cadeia da insulina humana so praticamente iguais aos valores do pKAna

    cadeia da insulina suna.

    O cdigo-fonte do programa de clculo dos diversos estados de ionizao bem

    como do clculo da curva de solubilidade est apresentado no Apndice B.

    Como a insulina possui ao todo 16 grupos ionizveis, o nmero de estados deionizao possveis : y= 65536. Destes, 8008 estados tem carga nula. A frao

    total , pois, a soma das fraes destes 8008 estados cuja carga total seja nula. Na

    Figura 3.1, ilustra-se a estrutura primria da insulina suna destacando-se os grupos

    ionizveis e a distribuio de carga da molcula eletricamente neutra cuja frao

    preponderante. Deve-se notar que o estado de ionizao correspondente a molcula

    eletricamente neutra que prepondera aquele no qual h maior possibilidade de

    resduos eletricamente carregados que ainda resultam em uma molcula neutra,

    exceo da tirosina (Tyr), estarem carregados positiva ou negativamente nesta

    configurao.

  • 7/26/2019 Estudo do equilbrio slido-lquido de sistemas contendo aminocidos e protenas

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    47

    Na Figura 3.2, so apresentadas as curvas de frao de molculas de insulina

    eletricamente neutras em funo do pH na regio do ponto isoeltrico. H neste

    grfico duas curvas: uma que a soma de todas as fraes neutras, chamada

    frao total; e, outra que representa o estado de ionizao neutro preponderante da

    insulina.

    Figura 3.2 - Frao de molculas eletricamente neutras deinsul ina em funo do pH. Dados de pKAde Kaarsholm; Havelunge Hougaard (1990). Linha contnua, frao total. Linha pont ilhada,

    frao preponderante.

    4,0 4,5 5,0 5,5 6,0

    0,0

    0,1

    0,2

    0,3

    0,4

    0,5

    0,6

    pH

    Figura 3.1 - Estrutura primria da insul ina suna: seqncia de aminocidos e pontes dedissul feto. Grupos ionizveis em negrito e distr ibuio de carga da configurao neutra

    correspondente ao estado de ioni zao preponderante.

  • 7/26/2019 Estudo do equilbrio slido-lquido de sistemas contendo aminocidos e protenas

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    48

    Observa-se pela Figura 3.2 que as fraes de molculas de protena eletricamente

    neutras alcanam um ponto mximo exatamente no ponto isoeltrico, ponto este que

    pode ser definido como pH no qual a carga lquida mdia das molculas de protena

    nula. Ou seja, o ponto mximo da frao de molculas neutras corresponde ao

    ponto de mnima solubilidade.

    J as Figuras 3.3, 3.4 e 3.5 apresentam o resultado da modelagem para trs

    diferentes temperaturas para a curva de solubilidade da insulina suna em funo do

    pH. Comparam-se o modelo proposto calculado com diferentes valores de pKA

    valores de pKAisolados; e, valores de pKAna cadeia com o modelo proposto por

    Tashima et al. (2009).

    Figura 3.3 - Solubilidade da insulina suna em funo do pH a278,2 K em 10,0 mM NaHCO3. Dados experimentais (), Tashima et

    al., (2009). Modelo proposto com valores de pKAde Kaarsholm;Havelung e Hougaard (1990), linha cont nua; com valores de pKA

    de Stryer (1995), linha pontilhada. Modelo de Tashima et al.(2009), linha semi-contnua.

    4,0 4,5 5,0 5,5 6,00,0

    4,0

    8,0

    12,0

    16,0

    20,0

    24,0

    28,0

    32,0

    Solubilidadex105/mol.kg

    -1

    pH

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    49

    Figura 3.4 - Solubilidade da insulina suna em funo do pH a288,2 K em 10,0 mM NaHCO3. Dados experimentais (), Tashima et

    al., (2009). Modelo proposto com valores de pKAde Kaarsholm;Havelung e Hougaard (1990), linha cont nua; com valores de pKA

    de Stryer (1995), linha pontilhada. Modelo de Tashima et al.(2009), linha semi-contnua.

    4,0 4,5 5,0 5,5 6,00,0

    4,0

    8,0

    12,0

    16,0

    20,0

    24,0

    28,0

    Solubilidadex105/mol.kg

    -1

    pH

    Figura 3.5 - Solubilidade da insulina suna em funo do pH a298,2 K em 10,0 mM NaHCO3. Dados experimentais (), Tashima et

    al., (2009). Modelo proposto com valores de pKAde Kaarsholm;Havelung e Hougaard (1990), linha cont nua; com valores de pKA

    de Stryer (1995), linha pontilhada. Modelo de Tashima et al.(2009), linha semi-contnua.

    4,0 4,5 5,0 5,5 6,00,0

    3,0

    6,0

    9,0

    12,0

    15,0

    Solubilida

    dex105/mol.kg

    -1

    pH

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    50

    Deve-se notar que a validade do modelo restrita a regio prxima ao ponto

    isoeltrico; j que para valores de pH distantes deste ponto a curva de frao de

    molculas neutras tende a zero, resultando pela Equao