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Desde a implementação da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia nas terras do Recôncavo, especificamente nas cidades de Amargosa, Cachoeira, Cruz das Almas, Santo Antônio de Jesus e mais recentemente nas cidades de Feira de Santana e Santo Amaro, que os jovens de origem popular, oriundos das zonas rurais, bairros periféricos e pequenas cidades do interior vêm contrariando com a lógica meritocrática e excludente da educação e assim rompendo com a frequente tradição de uma escolaridade de pouca duração e obtendo trajetórias de êxito escolar. A renda per capita da família, a escolaridade dos pais, o trabalho na infância e na juventude, a má qualidade da educação básica e a baixa quantidade de vagas nas instituições de ensino superior sempre foram às principais variáveis que implicavam no processo de escolarização desses jovens oriundos de classes populares e consequentemente contribuía para que uma grande maioria de brasileiros fossem excluídos do sistema de ensino superior. Entretanto, nos últimos anos, o Brasil vem passando por uma série de transformações naquilo que tange as formas de ingresso nas universidades públicas e as políticas de meritocracia escolar. A interiorização das universidades federais, a expansão e democratização da educação superior, e as políticas desenvolvidas pelo Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, o REUNI, estão mudando a cara da universidade publica, e contribuindo para o acesso desses estudantes ao ensino superior. Diante do exposto, esse trabalho objetiva realizar uma reflexão teórica, baseada na literatura nacional e na análise das autobiografias de 20 estudantes de origem popular, membros do Programa de Educação Tutorial, PET Conexões de Saberes da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, publicadas no livro Currículo, Formação e Universidade: autobiografias, permanência e êxito acadêmico de estudantes de origem popular”, no intuito de compreender de que forma, esses estudantes oriundos do interior, das favelas, das margens e entornos do Recôncavo e interior da Bahia, acessaram o ensino superior e trilharam a sua permanência na UFRB. Com isso, pretende-se identificar os impactos das políticas de inclusão e afiliação na excelência da vida acadêmica desses estudantes, criando um diálogo analítico entre a auto-definição e a cidade de origem, compreendendo melhor o perfil socioeconômico, geográfico e racial desses estudantes, para assim depreender como se deu/se dá a sua trajetória na universidade. Nas auto-biografias dos estudantes que analisamos, podemos perceber que a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, caminha para a valorização daquilo que eles são e do lugar que eles vêem. Por está situada no Recôncavo da Bahia, a UFRB, assim como as outras instituições de ensino, sejam elas da educação básica ou de ensino superior, não pode simplesmente ocupar o Recôncavo, ela tem que ser do Recôncavo e incorporar em suas atividades de ensino, pesquisa e extensão a história, a cultura, as tradições e saberes do Recôncavo e do seu povo. A universidade não pode apenas ocupar o espaço físico dessas cidades e dessa região, ela precisa vincular-se às histórias, aos saberes edificados nessas terras, e levá-los para dentro das salas de aulas, assim como, levar as salas de aulas para os espaços onde esses saberes foram construídos e constituídos. Por fim, acreditamos que as autobiografias colocam os sujeitos no centro da construção do conhecimento, suas práticas, fazeres, carreiras, condutas, experiências e subjetividades possibilitaram-nos interpretar e compreender as políticas de inclusão, permanência e afiliação acadêmica da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. COULON, Alain. Condição de Estudante: A Entrada na vida Universitária. Salvador: EDUFUBA, 2008, pp. 31-46. NASCIMENTO, Cláudio Orlando Costa do. JESUS, Rita de Cássia Dias Pereira de. Currículo e Formação: diversidade e educação das relações étnico- raciais. Curitiba: Progressiva, 2010, 338pgs. ROMERO, Tania Regina de Souza. Autobiografias na (re)construção de identidades de professores de línguas: o olhar crítico-reflexivo. Campinas, SP: Pontes, 2010. 348p. (Colecao Novas Perspectivas em Linguistica Aplicada). ZAGO, Nadir. Do acesso à permanência no ensino superior: percursos de estudantes universitários de camadas populares. Revista Brasileira de Educação, V. 11, Nº 32, 2006. BUENO, Belmira Oliveira. O método autobiográfico e os estudos com histórias de vida de professores: a questão da subjetividade. Revista Educação e Pesquisa, São Paulo, V. 28, Nº1, pp 11-30. Através das auto-biografias, esses estudantes gritam as suas identidades, as marcas sociais e culturais que carregam e os caminhos da sua formação, desde a entrada na universidade, aos percalços para a permanência e conclusão. Foi possível perceber, que todos os estudantes que escreveram as suas histórias de vida são oriundos de comunidades populares urbanas, que estudaram em escolas públicas, adentraram a universidade através da política de cotas, que seus pais sacrificam-se para manter os mesmos nas universidades, que a entrada no PET impacta diretamente no seu êxito acadêmico, e que sua permanência na universidade está condicionada não somente a obtenção de auxílio financeiro, qual é de extrema importância para os mesmos permanecerem estudando, como também a identificação com o espaço universitário, este que em muitas das vezes acaba sendo um lugar estranho, onde o estudante não se identifica, nem mesmo afilia-se com o mesmo. O estudante acaba tendo que adaptar-se aquela estrutura pré-estabelecida. É por isso, que uma parcela dos estudantes de origem popular acabam evadindo das universidades, porque suas identidades não são legitimadas naquele espaço, seus saberes não são reconhecidos, restando sempre para eles o local de estranhamento Rita de Cássia Pereira Dias de Jesus¹ Elder Luan dos Santos Silva¹ Iansmin de Oliveira Gonçalves² Ao se fazer a opção pelas histórias de vida, pelo vivido e narrado no campo dos atos formativos é legitimar o direito do sujeito-pesquisador escrever em primeira pessoa. É uma escrita e leitura de si, os autores são objetos e sujeitos de suas próprias narrativas. Ao analisar as trajetórias de vida dos estudantes de origem popular, que compõe o PET conexões de saberes, buscou-se compreender, a partir de um empreendimento historiográfico (JESUS, 2010, pp. 26) o processo de formação desses indivíduos sob a perspectiva dos ensinamentos adquiridos ao longo de sua vida, aquilo que foi apreendido a partir de suas vivências e experiências, e que contribuíram para formar socialmente e culturalmente esses indivíduos. ¹Doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia, Professora Adjunta I da Universidade Federal da Bahia e Tutora do PET-Conexões de Saberes Acesso, Permanência e Pós Permanência/UFRB. ²Graduandos do curso de Licenciatura Plena em História da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia membro do grupo PET-Conexões de Saberes Acesso, Permanência e Pós Permanência/UFRB

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Desde a implementação da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia nas

terras do Recôncavo, especificamente nas cidades de Amargosa, Cachoeira, Cruz das

Almas, Santo Antônio de Jesus e mais recentemente nas cidades de Feira de Santana

e Santo Amaro, que os jovens de origem popular, oriundos das zonas rurais, bairros

periféricos e pequenas cidades do interior vêm contrariando com a lógica

meritocrática e excludente da educação e assim rompendo com a frequente tradição

de uma escolaridade de pouca duração e obtendo trajetórias de êxito escolar. A renda

per capita da família, a escolaridade dos pais, o trabalho na infância e na juventude, a

má qualidade da educação básica e a baixa quantidade de vagas nas instituições de

ensino superior sempre foram às principais variáveis que implicavam no processo de

escolarização desses jovens oriundos de classes populares e consequentemente

contribuía para que uma grande maioria de brasileiros fossem excluídos do sistema de

ensino superior. Entretanto, nos últimos anos, o Brasil vem passando por uma série de

transformações naquilo que tange as formas de ingresso nas universidades públicas e

as políticas de meritocracia escolar. A interiorização das universidades federais, a

expansão e democratização da educação superior, e as políticas desenvolvidas pelo

Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades

Federais, o REUNI, estão mudando a cara da universidade publica, e contribuindo

para o acesso desses estudantes ao ensino superior.

Diante do exposto, esse trabalho objetiva realizar uma reflexão teórica, baseada na

literatura nacional e na análise das autobiografias de 20 estudantes de origem

popular, membros do Programa de Educação Tutorial, PET Conexões de Saberes da

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, publicadas no livro

“Currículo, Formação e Universidade: autobiografias, permanência e êxito acadêmico

de estudantes de origem popular”, no intuito de compreender de que forma, esses

estudantes oriundos do interior, das favelas, das margens e entornos do Recôncavo e

interior da Bahia, acessaram o ensino superior e trilharam a sua permanência na UFRB.

Com isso, pretende-se identificar os impactos das políticas de inclusão e afiliação na

excelência da vida acadêmica desses estudantes, criando um diálogo analítico entre a

auto-definição e a cidade de origem, compreendendo melhor o perfil

socioeconômico, geográfico e racial desses estudantes, para assim depreender como se

deu/se dá a sua trajetória na universidade.

Nas auto-biografias dos estudantes que analisamos, podemos perceber que

a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, caminha para a valorização

daquilo que eles são e do lugar que eles vêem. Por está situada no Recôncavo da

Bahia, a UFRB, assim como as outras instituições de ensino, sejam elas da

educação básica ou de ensino superior, não pode simplesmente ocupar o

Recôncavo, ela tem que ser do Recôncavo e incorporar em suas atividades de

ensino, pesquisa e extensão a história, a cultura, as tradições e saberes do

Recôncavo e do seu povo. A universidade não pode apenas ocupar o espaço

físico dessas cidades e dessa região, ela precisa vincular-se às histórias, aos

saberes edificados nessas terras, e levá-los para dentro das salas de aulas, assim

como, levar as salas de aulas para os espaços onde esses saberes foram

construídos e constituídos. Por fim, acreditamos que as autobiografias colocam

os sujeitos no centro da construção do conhecimento, suas

práticas, fazeres, carreiras, condutas, experiências e subjetividades

possibilitaram-nos interpretar e compreender as políticas de

inclusão, permanência e afiliação acadêmica da Universidade Federal do

Recôncavo da Bahia.

COULON, Alain. Condição de Estudante: A Entrada na vida

Universitária. Salvador: EDUFUBA, 2008, pp. 31-46.

NASCIMENTO, Cláudio Orlando Costa do. JESUS, Rita de Cássia Dias

Pereira de. Currículo e Formação: diversidade e educação das relações étnico-

raciais. Curitiba: Progressiva, 2010, 338pgs.

ROMERO, Tania Regina de Souza. Autobiografias na (re)construção de

identidades de professores de línguas: o olhar crítico-reflexivo. Campinas, SP:

Pontes, 2010. 348p. (Colecao Novas Perspectivas em Linguistica Aplicada).

ZAGO, Nadir. Do acesso à permanência no ensino superior: percursos de

estudantes universitários de camadas populares. Revista Brasileira de

Educação, V. 11, Nº 32, 2006.

BUENO, Belmira Oliveira. O método autobiográfico e os estudos com

histórias de vida de professores: a questão da subjetividade. Revista Educação e

Pesquisa, São Paulo, V. 28, Nº1, pp 11-30.

Através das auto-biografias, esses estudantes gritam as suas identidades, as

marcas sociais e culturais que carregam e os caminhos da sua formação, desde a

entrada na universidade, aos percalços para a permanência e conclusão. Foi possível

perceber, que todos os estudantes que escreveram as suas histórias de vida são

oriundos de comunidades populares urbanas, que estudaram em escolas públicas,

adentraram a universidade através da política de cotas, que seus pais sacrificam-se

para manter os mesmos nas universidades, que a entrada no PET impacta

diretamente no seu êxito acadêmico, e que sua permanência na universidade está

condicionada não somente a obtenção de auxílio financeiro, qual é de extrema

importância para os mesmos permanecerem estudando, como também a

identificação com o espaço universitário, este que em muitas das vezes acaba sendo

um lugar estranho, onde o estudante não se identifica, nem mesmo afilia-se com o

mesmo.

O estudante acaba tendo que adaptar-se aquela estrutura pré-estabelecida. É

por isso, que uma parcela dos estudantes de origem popular acabam evadindo das

universidades, porque suas identidades não são legitimadas naquele espaço, seus

saberes não são reconhecidos, restando sempre para eles o local de estranhamento

Rita de Cássia Pereira Dias de Jesus¹

Elder Luan dos Santos Silva¹

Iansmin de Oliveira Gonçalves²

Ao se fazer a opção pelas histórias de vida, pelo vivido e narrado no campo

dos atos formativos é legitimar o direito do sujeito-pesquisador escrever em

primeira pessoa. É uma escrita e leitura de si, os autores são objetos e sujeitos de

suas próprias narrativas. Ao analisar as trajetórias de vida dos estudantes de origem

popular, que compõe o PET conexões de saberes, buscou-se compreender, a partir de

um empreendimento historiográfico (JESUS, 2010, pp. 26) o processo de formação

desses indivíduos sob a perspectiva dos ensinamentos adquiridos ao longo de sua

vida, aquilo que foi apreendido a partir de suas vivências e experiências, e que

contribuíram para formar socialmente e culturalmente esses indivíduos.

¹Doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia, Professora Adjunta I da Universidade Federal da Bahia e Tutora do PET-Conexões de Saberes – Acesso, Permanência e Pós

Permanência/UFRB.

²Graduandos do curso de Licenciatura Plena em História da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia membro do grupo PET-Conexões de Saberes – Acesso, Permanência e Pós

Permanência/UFRB