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MATEANDO SOLITO... Contam que um guerreiro guarani, que pela velhice não podia mais sair para as guerras, nem Era cuidado por sua filha, a bela Yari, que o tratava com imenso carinho, conservando – se solteira, para melhor se dedicar ao pai. Um dia, o velho guerreiro e sua filha receberam a visita de um viajante, que foi muito bem tratado por eles. A noite, a bela jovem cantou suave e triste para que o visitante adormecesse e tivesse um bom descanso . Ao amanhecer, antes de recomeçar a caminhada , o viajante confessou ser enviado de Tupã e para retribuir o bom trato recebido, perguntou aos seus hospedeiros o que eles desejavam e que qualquer pedido seria atendido. O velho guerreiro, lembrando que a filha, por amor a ele para melhor cuida – lo , não se casava apesar de muito bonita e disputada pelos jovens da tribo, pediu algo que lhe devolvesse as forças, para que Yari, livre de seu encargo afetivo, pudesse casar. O mensageiro de Tupã entregou ao velho um galho de arvores de Caá (erva – mate) e ensinou a preparar a infusão, que lhe devolveria as forças e o vigor e transformou Yari em “deusa dos ervais”, protetora da raça guarani. A jovem passou a chamar – se Caá – Yari , a deusa da erva- mate e a erva passou a ser usada por todos os componentes da tribo, que se tornaram mais fortes, valentes e alegres. 2 A LENDA DO MATE para a caça ou pesca, porque suas pernas trôpegas não mais o levavam, vivia triste em sua cabana.

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Contam que um guerreiro guarani, que pela

velhice não podia mais sair para as guerras, nem

Era cuidado por sua filha, a bela Yari, que o tratava com imenso

carinho, conservando – se solteira, para melhor se dedicar ao pai.

Um dia, o velho guerreiro e sua filha receberam a visita de um

viajante, que foi muito bem tratado por eles. A noite, a bela jovem

cantou suave e triste para que o visitante adormecesse e tivesse um

bom descanso .

Ao amanhecer, antes de recomeçar a caminhada , o viajante

confessou ser enviado de Tupã e para retribuir o bom trato recebido,

perguntou aos seus hospedeiros o que eles desejavam e que qualquer

pedido seria atendido.

O velho guerreiro, lembrando que a filha, por amor a ele para melhor

cuida – lo , não se casava apesar de muito bonita e disputada pelos

jovens da tribo, pediu algo que lhe devolvesse as forças, para que Yari,

livre de seu encargo afetivo, pudesse casar.

O mensageiro de Tupã entregou ao velho um galho de arvores de

Caá (erva – mate) e ensinou a preparar a infusão, que lhe devolveria as

forças e o vigor e transformou Yari em “deusa dos ervais”, protetora da

raça guarani. A jovem passou a chamar – se Caá – Yari , a deusa da

erva- mate e a erva passou a ser usada por todos os componentes da

tribo, que se tornaram mais fortes, valentes e alegres.

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A LENDA DO MATE

para a caça ou pesca, porque suas pernas trôpegas não

mais o levavam, vivia triste em sua cabana.

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O uso da ILEX PARAGUARIENSIS – a erva –

mate é pré – colombiano . Foi bebida básica dos

índios guaranis. Os ervais se estendiam , então ,

nas regiões do Paraná, Uruguai e Paraguai.

Os Jesuítas, no século XVII, estimulavam o

plantio e a produção da erva – mate , ampliando seu comércio à

Bolívia , Chile e Peru.

A erveira chega até 8 metros de altura e se parece com a

laranjeira, o tronco de casca lisa , esbranquiçada e de folhas perenes

, com cachos de flores brancas de 4 pétalas.

O uso atual da erva – mate é incentivado por suas várias

qualidades revigorantes , não tendo contra - indicações

registradas.

Há cerca de 280 espécies de erva-mate , quase todas do gênero

Ilex.

O chimarrão é tônico e estimulante do coração e do sistema

nervoso , elimina estados depressivos , conferindo aos músculos

maior capacidade de resistência à fadiga .

Atua sobre os movimentos do tubo digestivo , favorecendo a

evacuação e a mictação e como eficaz cicatrizante.

Possui vitamina B, cálcio, magnésio, sódio, ferro e flúor : minerais

essenciais à vida.

O botânico francês Ausgust Saint – Hilaire afirma que:

“Há muitos méritos nessa bebida, dita diurética, própria para combater dores de

cabeça, para amenizar os cansaços do viajante e na realidade é provável que seu

amargor torne – a estomáquica e por conseguinte necessária em uma região onde se

come enorme quantidade de carne, sem os cuidados da perfeita mastigação.” *

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Erveira

Flor da erveira Fruto da erveira

* SAINT – HILAIRE, August de. Viagem ao Rio Grande do Sul. Belo Horizonte, Itatiaia, 1974, p.83

A ERVA MATE E OS ERVAIS

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Para o fabrico da erva – mate, há três operações:

I. SAPECO

II. SECAGEM – CARIJO OU BARBAQUÁ

II. CANCHEAMENTO

SAPECO - Após o corte, os ramos são passados por labaredas, para

abrir os vasos das folhas e provocar uma desidratação mais rápida .

CARIJO – Método de torrefação , usa o calor, direto de uma

fogueira, durante cerca de sete horas, até as folhas se tornarem

quebradiças .

BARBAQUÁ - Quase como o anterior , porém o calor é levado por

um conduto até onde se encontram os ramos. Esta operação leva

até 16 horas.

CANCHEAMENTO – É a trituração das folhas quando, os ramos

são golpeados com um pedaço de madeira – manguá - e , em seguida,

em um pilão. Completa – se assim o ciclo do preparo da erva – mate

artesanal .

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CancheamentoBarbaquáCarijo

FABRICO DA ERVA MATE

Sapeco

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O PORONGUEIRO é uma trepadeira de clima

tropical, rasteira com folhas largas e espalmadas.

Seu fruto, o porongo, depois de maduro, se torna

lenhoso e oco, com sementes soltas.

Em guarani, a cuia é chamada de CAIGUÁ ( caá = erva; i = água e

guá = recipiente ), portanto, recipiente para água da erva – mate.

A cuia é retirada da parte menor do porongo. Escolhido o local do

corte, desbasta – se o bocal com faca afiada dando – lhe uma forma

suave. Raspa – se com uma colher o seu interior, para a retirada do

bagaço e sementes.

Tendo a cuia pronta, é preciso curar ou curtir a cuia. Então,

coloca – se erva já usada e úmida, deixando assim por dois ou três

dias. É comum misturar cinza à erva, pois dá resistência ao porongo.

Porongueiro

Cuia - saco de touro Cuia – galleta ou bolacha

O PORONGO E A CUIA

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A bomba é um canudo metálico de cerca de 20 a 25

centímetros de comprimento, com uma extremidade

achatada e orifício longitudinal e na outra, um ralo com a

finalidade de coar a infusão.

Cada parte tem sua denominação:

1. Bico, biqueira, bocal, chupeta, ponteira;

2. Anel, respirador, pitanga, botão de rosa;

3. Haste, corpo da bomba, canudo;

4. Coador, ralo, bojo, colher, coco , apartador.

BICO

ANEL

HASTE

COADOR

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Tacuapi -

bomba primitiva

Bombas de prata

A BOMBA

* EU, Conde D’, Viagem Militar ao Rio Grande do Sul. ,Belo Horizonte, Itatiaia,1981, p42.

O uso da prataria religiosa e as melhorias econômicas da

população trouxeram influencias nos avios do mate.

Surgem os mates de cálice ou mates de pé, cuias com bocais de

prata, bombas de prata e de ouro ou com detalhes nesses materiais.

“Para o gaúcho a cuia e a bombilha são distrações tão indispensáveis

como o charuto ou o tabaco para a maioria dos europeus ” *

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Mate é palavra quéchua , designa a cuia,

recipiente para a infusão de erva – mate, passando

a designar o mate pronto.

Cada parte desse conjunto – cuia, erva e bomba – possui nomes

característicos:

A – Topete, respiro, morrete, barranco, crista...

B – Bomba, bombilha, tacuapi ( em guarani )

C – Beiço ou bocal

D – Pescoço

E – Cuia, mate , porongo ou caiguá ( em guarani )

F – Umbigo, cabo, bico

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BOMBA

TOPETE

CUIA

BEIÇO

PESCOÇO

CUIA

UMBIGO

O MATE

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Para aquecer a água , a chaleira média é a

mais usada, embora o tipo mais comum , até a

pouco tempo, era a chaleira preta de ferro.Usa-se também a cambona e a chicolateira.

A cambona é feita de qualquer lata, com um pedaço de arame

passado várias vezes junto ao bocal , deixando um rabicho para

segurar.

A chicolateira possui alça, tampa e um pequeno bico , é usada

também entre carreteiros e tropeiros. Os guaranis fabricavam um

recipiente de barro cozido, para aquecer a água do chimarrão.

Para preparar um bom mate, coloque uma cevadura de erva na

cuia, cerca de 2/3 de sua capacidade ; a seguir acomode a erva de

um só lado , tampando com uma das mãos a boca do porongo .

Colocar, então, água morna ou fria, deixando a cuia recostada ,

para inchar a erva. Ao introduzir a bomba, tape o bocal com o

polegar. O passo seguinte será sorver e cuspir fora o primeiro mate

(veneno). Já pode então servir o mate . Quando o mate deixou de

espumar , “ vira – se o mate ”. Com a bomba, troca – se de lado a

erva. Ou retira – se a parte esgotada e coloca – se erva nova.

Assim o mate é refeito.

“Quando o mate é de boa qualidade pode – se escaldá – lo até 10 ou 12 vezes

sem renovar a erva. Conhece – se que esta perdeu sua força e que é necessário

trocá – la quando ao derramar sobre ela a água fervente não se forma espuma à

superfície.

Os verdadeiros viciados do mate tomam – no sem açúcar e então tem – se o

chamado chimarrão.

A primeira vez que provei essa bebida achei – a muito sem graça, mas logo

me acostumei a ela e atualmente tomo vários mates, de enfiada, com prazer, até

mesmo sem açúcar. Acho no mate um ligeiro perfume, misto de amargor ,

que não é desagradável.” *

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Chicolateira Cambona

PREPARANDO O MATE

*Saint – Hilaire, Auguste. Viagem ao Rio Grande do Sul. Belo Horizonte, Itatiaia, 1974 p.83

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Para o mate doce , habito feminino, as cuias

são menores que as usadas no chimarrão.

Aparecem as de porcelanas, de anjo ou não, a

partir do século XVIII, importadas da Europa, e as

cuias de barro cozido mais simples e populares.

Para o mate doce são também usadas canecas, xícaras, copos

de chifre , embora a cuia de porongo seja ainda a preferida como

recipiente para essa bebida.

Para cevar o mate doce segue – se o mesmo processo do amargo.

Quando está pronto o mate, cada vez que for servido, coloca – se

uma colherinha de açúcar na cuia.

Toma – se o mate com mel, açúcar queimado, leite fervido com

canela, ou casca de laranja seca.

Usa – se também um ferrinho. Em brasa, com cabo de madeira, com

o qual se queima o açúcar diretamente na cuia.

O mate acompanhado com rapadura é muito usual.

“ O mate é de si um pouco amargo ; mas é fácil fazer predominar na decocção o

gosto do açúcar, e assim é bastante agradável, uma vez que a pessoa se habituou às

partículas de matéria pulverizada que lhe sobem à boca pelo tubo.Quando estive no

Paraguai não deixava eu também de tomar meu mate, com muito prazer , antes de

pegar no sono” *

Cuia de porcelana - anjo

Cuias vidro, cerâmica e prata Porta erva e açúcar

O MATE DOCE

* EU, Conde D’. Viagem militar ao Rio Grande do Sul, Belo Horizonte, Itatiaia, 1981, p. 42

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A medicina campeira está também associada

ao mate, através do uso das ervas medicinais

agrestes.

O jujo - as ervas – deve ser colhido na lua cheia se for folha e ,

na lua minguante ou nova, se raiz, pois assim concentra maior poder

devido ao fluxo da seiva, que conforme a lua, está na folha ou na raiz.

As ervas não devem ser colocadas na cuia , pois impregna gosto na

suas paredes. O melhor lugar para colocar as ervas medicinais é o

recipiente da água.

O porta – cuia nada mais é que um descanso para o mate, pois nem

todas as cuias possuem formas que permitem, pararem de pé sem

apoio.

Há variados tipos de porta – cuia - o tripé, porta – cuia de

taquarembó - de nós de cana – de couro e outros bastante elaborados,

produzido por artesãos e artistas.

Há algumas maneiras improvisadas para descansar o mate: numa

caneca; entre o bico e o corpo da chaleira ou ainda acomodada na

cambona.

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Macela

Porta cuias – taquarembó e de couro

O MATE : MEDICINA E O

PORTA CUIA

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No Rio Grande do Sul, a tradicional hospitalidade é

constante na vida do gaúcho. O mate desempenha

uma importante função agregadora , harmonizando ,

através do calor humano , esta simbiose afetiva ,

pelo clima de respeito que floresce entre os mates

conversados.

O chimarrão tem a propriedade sagrada de unir os casais e

harmonizar os filhos, despertando a intimidade que solidifica o núcleo

familiar.

Nos galpões ou nas salas requintadas onde o homem simples, pela

autenticidade , cultiva a amizade desinteressada , aí ele estende o

braço para oferecer o mate , num gesto largo e franco de quem

demonstra hospitalidade e deposita confiança e se aprende, ali, o bem

– querer.

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Estatueta –

Getulio Vargas,

mateando

SENTIDO SOCIAL DO MATE

Aquarela de Rudolf Herman Wendrot- 1853

“E no ponto de vista de consumo temos nesse produto uma bebida

excelente, quer usada como chá, quer como mate chimarrão ou doce e quer

usada à moda indígena, como refrigerante, deitando – se – lhe água fria na

própria cuia e tomando – se por meio de bomba, com ou sem açúcar. O mate

doce com leite é uma bebida deliciosa.” *

JACQUES, João Cezimbra. Assuntos do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Erus, 1979, p. 198.

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Reflexão...

Pouca coisa é tão popular ou democrática como o chimarrão ou

mate. Na região sul da América , desde o Brasil até a Argentina, o

uso dessa bebida , com pequenas variações , impregnou-se nas

gerações, imprimindo um dos elementos da identidade regional e

platina .

Presente nas grandes rodas e eventos, em todas as classes

sociais, difundido nas artes , o mate unifica a todos , quer como

benéfico à saúde , quer pelo simples prazer de matear solito.

Economicamente , os ervais do sul do Brasil concentram 97%

da produção nacional , contribuindo , assim , para a difusão desse

hábito tão salutar.

Cristina Kirchner e Papa FranciscoCharge

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O Rio – Grande extrahe de seus mattos nativos hum pouco de

herva – matte, applica ao seu consumo, ou exporta , herva –

matte, etc. Dreys

A erva-mate Ponche Verde, como empresa,iniciou em

1990, na cidade de Itapuca, RS, com os irmãos Edson e

Alécio Sassi.

Em função do crescimento da produção e buscando

melhores mercados e menores distâncias dos centros

distribuidores, a empresa transferiu-se, em 2003, para

Arvorezinha.

Com o aumento da demanda, foi necessária a

contratação de novos funcionários. Atualmente 28 pessoas

trabalham na empresa e representantes, em vários

municípios.

A erva - mate Ponche Verde , também é

comercializada em outros estados, como Bahia, Goiás,

Distrito Federal...

Atualmente, planta uma área de 100 ha. e produz

1.598.000 toneladas anuais.

Patrocinador CulturalFábrica da erva-mate Ponche Verde

Ervais, em Arvorezinha.

Embalagens da erva-mate Ponche Verde.

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• E no ponto de vista de consumo

temos nesse produto uma

bebida excelente, quer usada

como chá, quer como mate

chimarrão ou doce e quer usada

à moda indígena, como

refrigerante, deitando – se – lhe

água fria na própria cuia e

tomando – se por meio de

bomba, com ou sem açúcar. O

mate doce com leite é uma

bebida delicios