Artigo de Revisão Revision Article - SciELO · disponíveis analgésicos não opióides, opióides...

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REVISTA PORTUGUESA DE PNEUMOLOGIA Vol XIII N.º 6 Novembro/Dezembro 2007 855 Dor oncológica Oncologic pain Recebido para publicação/received for publication: 07.05.29 Aceite para publicação/accepted for publication: 07.06.27 Carla Alves Costa 1 Cristina Santos 2 Paula Alves 2 Agostinho Costa 2 Resumo A dor pode ser definida de várias formas, sendo habi- tualmente descrita como uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a lesão tecidular real ou potencial, ou descrita em função de tal lesão. No doente oncológico, a dor pode estar relacionada com a neoplasia, com o seu tratamento, ou não ter relação com a doença neoplásica. A dor tem grande impacto no doente oncológico, significando agravamento do prognóstico ou morte próxima, daí a importância de uma abordagem e tratamento correctos. As opções para o tratamento farmacológico são várias, estando disponíveis analgésicos não opióides, opióides e co- -analgésicos. Os autores pretendem com este artigo rever o tratamento farmacológico da dor e alertar para a importância do reconhecimento da dor como doen- ça e da possibilidade de tratar e aliviar os doentes. Rev Port Pneumol 2007; XIII (6): 855-867 Palavras-chave: Dor, dor oncológica, analgésicos, opióides. Artigo de Revisão Revision Article Abstract Pain can be defined by several ways, but is usually descri- bes as an unpleasant sensorial or emotional experience related to real or potential tissue damage, or described in terms of such damage. The cancer patient may experien- ce pain related to the cancer itself, its treatment or not related at all with the oncologic disease. It has an extreme importance to the patient, as it is interpreted as a worse- ning of the prognosis or near death. Therefore it is extreme- ly important a correct approach and treatment of cancer pain. Pain can be treated by pharmacologic, non-pharma- cologic means and by more invasive procedures. The op- tions for pharmacologic treatment are various, since non- opioid, opioid analgesics and co-analgesics. The authors present a review of the pharmacological treatment of can- cer pain and alert to the importance of the recognition of pain as an illness and the possibility to be relieved. Rev Port Pneumol 2007; XIII (6): 855-867 Key-words: Pain, cancer pain, analgesics, opioids. 1 Interna do Internato Complementar de Pneumologia 2 Assistente Hospitalar Graduado/a de Pneumologia Unidade de Oncologia Pneumológica, Responsável: Maria José Melo Departamento de Pneumologia do Hospital de Pulido Valente, EPE (Director: Dr. Jaime Pina) Departamento de Pneumologia Hospital de Pulido Valente, EPE Alameda das Linhas de Torres n.º 117, 1769-001 Lisboa [email protected]

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Vol XIII N.º 6 Novembro/Dezembro 2007

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Dor oncológica

Oncologic pain

Recebido para publicação/received for publication: 07.05.29Aceite para publicação/accepted for publication: 07.06.27

Carla Alves Costa1

Cristina Santos2

Paula Alves2

Agostinho Costa2

ResumoA dor pode ser definida de várias formas, sendo habi-tualmente descrita como uma experiência sensorial eemocional desagradável associada a lesão tecidular realou potencial, ou descrita em função de tal lesão. Nodoente oncológico, a dor pode estar relacionada coma neoplasia, com o seu tratamento, ou não ter relaçãocom a doença neoplásica. A dor tem grande impactono doente oncológico, significando agravamento doprognóstico ou morte próxima, daí a importância deuma abordagem e tratamento correctos. As opçõespara o tratamento farmacológico são várias, estandodisponíveis analgésicos não opióides, opióides e co--analgésicos. Os autores pretendem com este artigorever o tratamento farmacológico da dor e alertar paraa importância do reconhecimento da dor como doen-ça e da possibilidade de tratar e aliviar os doentes.

Rev Port Pneumol 2007; XIII (6): 855-867

Palavras-chave: Dor, dor oncológica, analgésicos,opióides.

Artigo de RevisãoRevision Article

AbstractPain can be defined by several ways, but is usually descri-bes as an unpleasant sensorial or emotional experiencerelated to real or potential tissue damage, or described interms of such damage. The cancer patient may experien-ce pain related to the cancer itself, its treatment or notrelated at all with the oncologic disease. It has an extremeimportance to the patient, as it is interpreted as a worse-ning of the prognosis or near death. Therefore it is extreme-ly important a correct approach and treatment of cancerpain. Pain can be treated by pharmacologic, non-pharma-cologic means and by more invasive procedures. The op-tions for pharmacologic treatment are various, since non-opioid, opioid analgesics and co-analgesics. The authorspresent a review of the pharmacological treatment of can-cer pain and alert to the importance of the recognition ofpain as an illness and the possibility to be relieved.

Rev Port Pneumol 2007; XIII (6): 855-867

Key-words: Pain, cancer pain, analgesics, opioids.

1 Interna do Internato Complementar de Pneumologia2 Assistente Hospitalar Graduado/a de PneumologiaUnidade de Oncologia Pneumológica, Responsável: Maria José MeloDepartamento de Pneumologia do Hospital de Pulido Valente, EPE (Director: Dr. Jaime Pina)Departamento de PneumologiaHospital de Pulido Valente, EPEAlameda das Linhas de Torres n.º 117, 1769-001 [email protected]

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DefiniçãoA dor pode ser definida de várias formas, sendohabitualmente descrita como uma experiênciasensorial e emocional desagradável associada alesão tecidular real ou potencial, ou descrita emfunção de tal lesão1. A dor pode ocorrer semlesão tecidular real e a sua intensidade pode nãose correlacionar com a gravidade da lesão ob-servada. Há outras definições de dor, como se-jam: “Pain is what the experiencing person says it is,existing whenever he says it does” (McCaffery, 1987),“Existem poucas coisas que um médico faz mais impor-tantes do que o alívio da dor” (Angel, 1982).

ClassificaçãoA dor pode ser classificada de acordo comvários critérios. A sua classificação segundoa patogénese e duração tem importância naorientação terapêutica1.

a) Patogénese1. nociceptiva

• somática• visceral

2. neuropática• nervos periféricos• SNC• raiz nervosa

3. psicossomática

b) Duração1. aguda2. crónica

c) Local de origem

d) Causa1. oncológica2. traumática3. pós-operatório

No que diz respeito à patogénese, a dor podeser classificada como nociceptiva, neuropá-tica e psicossomática.A dor nociceptiva consiste no protótipo dador aguda em que a lesão tecidular estimuladirectamente os receptores da dor; de acor-do com o local de origem, pode ser somáti-ca ou visceral. A dor somática habitualmen-te é descrita como uma picada ou aperto,podendo ser superficial (pele) ou profunda(músculo, osso). A dor visceral é habitual-mente de difícil localização, tipo moinha, fre-quentemente acompanhada por reacções au-tonómicas, podendo ainda ser irradiada. Ador somática responde habitualmente bemaos analgésicos.A dor neuropática resulta de lesão de fibrasnervosas e o impulso doloroso origina-senas vias nervosas em vez de nas termina-ções nervosas (receptores). É projectadapara a área de inervação do respectivonervo. É frequentemente tratada com co--analgésicos ou adjuvantes (antidepressivos,anticonvulsivantes), sendo os opióides tam-bém utilizados, mas habitualmente menoseficazes.No que respeita à duração, a dor pode serclassificada como aguda ou crónica.A dor aguda resulta de lesão externa ou in-terna, geralmente de fácil localização, fun-cionando como advertência/protecçãorelativamente a um estímulo nocivo (ex.:retirada da mão após queimadura). A inten-sidade da dor correlaciona-se com o estí-mulo desencadeante.A dor crónica tem duração superior a seismeses, sendo considerada por si só comouma doença. Deixou de ter uma função pro-tectora e a sua intensidade não está relacio-nada com o estímulo causal. Distingue-seainda da dor aguda por se associar a altera-

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ções da personalidade, estilo de vida e dacapacidade funcional do indivíduo, por alte-rações do sono, diminuição da capacidadede atenção e irritabilidade. A dor irruptiva édefinida como uma exacerbação transitóriada dor crónica.

Fisiologia da dorA estimulação dos nociceptores leva àtransmissão desse sinal ao corno dorsal damedula através das fibras aferentes, essainformação é desviada para neuróniosmotores, suscitando uma resposta reflexa,como seja o retirar a mão antes da percep-ção consciente da dor provocada por umdeterminado estímulo. O impulso nervo-so é transmitido a estruturas supra-espi-nhais, chegando ao córtex cerebral, ondeé percebido como dor. Existem ainda re-flexos supra-espinhais que activam o sis-tema nervoso simpático, com aumento dafrequência cardíaca e respiratória e liber-tação periférica de catecolaminas.Os nociceptores são terminações de fi-bras nervosas Ad e C, existindo em gran-de número na pele, músculos, periósteo,cápsulas de órgãos internos e paredes devasos e órgãos ocos. São sensíveis a estí-mulos mecânicos, térmicos e químicos,sendo na sua maioria polimodais, ou seja,respondem a vários estímulos, havendoalguns unimodais.A transmissão do impulso nervoso é feitaa partir dos nociceptores pelas fibras Ad eC. As fibras Ad são mielinizadas, de con-dução rápida, responsáveis pela conduçãoda dor aguda e pelo reflexo de fuga. Asfibras C não são mielinizadas, são de con-dução lenta e responsáveis pela dor tipomoinha.

Dor oncológicaEstima-se que 35-45 % dos doentes on-cológicos sentem dor à data do diagnós-tico ou numa fase precoce da doença, quecerca de 70 % apresentam dor na faseavançada e que quase todos têm dor nafase terminal da doença. No doente on-cológico, a dor está relacionada com aneoplasia em 60-90 % dos casos (invasãoou compressão de estruturas), em 5-20 %dos casos está relacionado com o trata-mento (radioterapia, fibrose, neuropatiapós-quimioterapia, pós-operatório) e em3-10 % a dor não tem relação com a doen-ça neoplásica.A dor tem grande impacto no doente on-cológico, significando agravamento doprognóstico ou morte próxima, diminui-ção da autonomia, diminuição do bem--estar e qualidade de vida, ameaça de au-mento do sofrimento físico e desafio àdignidade2,3.

Abordagem do doente com dorAntes de iniciar o tratamento, deve ser feitauma avaliação global do doente e da dor, in-cluindo a caracterização rigorosa desta, in-terferência da mesma nas actividades da vidadiária e relações interpessoais e, ainda, da his-tória farmacológica.Relativamente à caracterização da dor, é es-sencial determinar o seguinte:

• localização• intensidade• tipo (somática, visceral, neuropática)• início• duração/variação diurna• factores de alívio e agravamento• sintomatologia acompanhante

Estima-se que 35-45%dos doentesoncológicossentem dor à datado diagnósticoou numa faseprecoce da doença

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Fig. 1 – Escalas de avaliação da intensidade da dor

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• interferência nas actividades da vida diária• etiologia (relacionada ou não com a

neoplasia)

Sendo a dor difícil de avaliar devido à sua subjec-tividade e grande variabilidade na tolerância,para determinar a intensidade da dor podemser utilizadas várias escalas, como seja a escalavisual analógica, a escala numérica, verbal e dasfaces4 (Fig. 1). A mais frequentemente utiliza-da é a escala numérica, sendo as outras reser-vadas para situações especiais, como a escaladas faces para a avaliação da dor nas crianças.

Tratamento da dorO tratamento da dor pode ser de três tipos:farmacológico, não farmacológico, interven-ções mais invasivas.

Tratamento farmacológico

• analgésicos não opióides• analgésicos opióides• co-analgésicos

Tratamento não farmacológico

• intervenção psicológica• intervenção física

– fisioterapia– frio– calor– acupunctura

• radioterapia (RT)• ablação por radiofrequência

Intervenções mais invasivas

• analgesia intratecal• bloqueio nervoso• cirurgia paliativa• neurocirurgia

Tratamento farmacológicoDe acordo com a OMS, o tratamento far-macológico da dor deve ser preferencialmen-te: por via oral, de modo a proporcionar aodoente um maior grau de independência econforto; pelo relógio, de modo a obter alí-vio constante da dor, os analgésicos devemser administrados em intervalos fixos, deacordo com a sua duração de acção, sem es-quecer a medicação para a dor irruptiva; pelaintensidade, de acordo com a escada da dor,por três degraus (dor ligeira, moderada esevera); para o indivíduo, a posologia ade-quada é aquela que permite alívio da dor como mínimo de efeitos acessórios; com aten-ção aos pormenores, ou seja, adaptando otratamento aos hábitos e rotinas do doente1.Em 1983, a OMS desenvolveu um modelopara o tratamento da dor em três degraus,de acordo com a sua intensidade (Fig. 2). Oprimeiro degrau corresponde a dor ligeira,devendo ser tratada com analgésicos nãoopióides (AINE e paracetamol), o segundodegrau corresponde a dor moderada, estan-do indicados os opióides fracos e, no ter-ceiro degrau, para a dor severa, estão indi-cados os opióides fortes. Dependendo daintensidade da dor, a terapêutica deve seriniciada no patamar correspondente, comdoses adequadas. Se a dor persistir ou agra-

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Fig. 2 – Escada da OMS para o tratamento da dor

(...) o tratamentofarmacológico da dordeve serpreferencialmente:por via oral,(...) pelo relógio,(...) pela intensidade,(...) para o indivíduo,(...) com atenção aospormenores

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var deve-se optimizar as doses do fármacoutilizado. Se mesmo assim não se obtivercontrolo adequado da dor, deve-se subir umdegrau e não prescrever outro fármaco domesmo patamar. Na dor severa pode havernecessidade de iniciar o tratamento comopióides fortes. Em qualquer degrau podemser associados fármacos adjuvantes ou co-analgésicos5.Alguns autores põem em causa a utilizaçãoda escada da OMS, alegando um atraso naobtenção de alívio eficaz e rápido da dor.Existem estudos que demonstram que70-90 % dos doentes com dor tratados se-gundo a escada da OMS obtêm analgesia efi-caz, havendo ainda 10-30 % dos doentes quemantêm dor não controlada. Um estudo con-trolado e randomizado avaliou a eficácia etolerabilidade de opióides fortes comparadocom fármacos dos degraus 1 e 2 em 100doentes terminais com dor ligeira a modera-da. Os parâmetros avaliados foram a inten-sidade da dor, necessidade de mudança demedicamento, qualidade de vida, performancestatus de Karnofsky (PS) e efeitos indeseja-dos. Verificou-se que o grupo de doentes queiniciou à partida opióides fortes obteve mai-or alívio da dor, menor necessidade de mu-dança de medicamento, sem maior númerode efeitos indesejados e sem alterações naqualidade de vida e PS do que o grupo queiniciou o tratamento no degrau adequado àintensidade da dor6.A escada da OMS não é explícita relativa-mente a quando se deve avançar para proce-dimentos mais invasivos.Apesar de não ser um método perfeito, con-tinua a ser utilizado e recomendado pelamaioria dos grupos envolvidos no acompa-nhamento e tratamento do doente oncoló-gico com dor.

Tipos de fármacos

• Analgésicos– não opióides (degrau 1)– opióides

- fracos (degrau 2)- fortes (degrau 3)

• Co-analgésicos ou adjuvantes– antidepressivos– anticonvulsivantes– corticosteróides– bisfosfonatos

Fármacos do degrau 1Todos os fármacos de degrau 1 apresentam“efeito tecto”, ou seja, uma dose máxima apartir da qual não é possível obter mais anal-gesia. Este grupo inclui o paracetamol e osanti-inflamatórios não esteróides (AINE)7,8.O paracetamol apresenta acção analgésica eantipirética, não tendo no entanto acção anti--inflamatória significativa. O mecanismo deacção não é bem conhecido, mas presume--se que tenha acção central. Não deve serultrapassada a dose de 4 g/24 h administradocronicamente e 6 g/24 h em situações agu-das, devido ao risco de hepatotoxicidade pordepleção de grupos SH.Os AINE actuam por inibição da ciclooxige-nase (COX), inibindo a síntese de prostaglan-dinas (PG) envolvidas no processo inflama-tório e na dor. Podem ser não selectivos ou“clássicos”, inibindo a COX1 e 2, como oAAS, ibuprofeno, diclofenac, ou ser selectivos,inibindo apenas a COX2, como o celecoxib eo rofecoxib. Os AINE apresentam vários efei-tos secundários, nomeadamente gastrintesti-nais (náuseas, epigastralgia, ulceração, hemor-ragia), renais (insuficiência renal aguda, nefriteintersticial) hematológicos (antiagregação pla-

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A escada da OMSnão é explícitarelativamentea quando se deveavançar paraprocedimentosmais invasivos

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quetária, hemorragia), ou reacções de hiper-sensibilidade. Estes efeitos são mais notórioscom os AINE não selectivos. Os inibidoresda COX2 apresentam como efeito secundá-rio principal o aumento do risco cardiovascu-lar, por inibição da prostaciclina.Existem à venda combinações de AINE,paracetamol e cafeína que não são recomen-dadas devido ao maior risco de lesão renal.A escolha do fármaco deste grupo deve serbaseada na relação risco/benefício de cadadoente. Os indivíduos medicados com AINEcom risco acrescido de efeitos secundários gas-trintestinais deverão receber protecção gástri-ca com omeprazole (20 mg/dia)7,8 (Quadro I).

Fármacos do degrau 2Os fármacos do degrau 2 são os opióides fra-cos, como o tramadol, codeína diidrocodeína,dextropropoxifeno, entre outros. Estes fárma-cos têm posologia máxima devido ao aumentode efeitos secundários com doses elevadas Otramadol é um derivado sintético da codeínaque actua ligando-se aos receptores opióides μe inibindo a recaptação neuronal da serotoni-na. Tem metabolização hepática e eliminaçãorenal, logo, se houver insuficiência renal ouhepática, pode ser necessário reduzir a dose ouprolongar o intervalo de administração. Nãodeve ser excedida a dose de 400 mg/dia porreduzir o limiar convulsivo7,8,9.A diidrocodeína é também um derivado sin-tético da codeína e o dextropropoxifeno apre-

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Quadro I – Características de alguns AINE

Início acção (min) Duração acção (h) Dose (mg) Dose máx/d (mg)Diclofenac 60-120 6-12 50-100 a cada 8/12 h 200Ibuprofeno 30 4-6 400-600 a cada 6 h 3200Naproxeno 30-60 até 7 250-500 a cada 6/8 h 1500

senta uma estrutura semelhante à metadona.O doente com dor ligeira a moderada deveser tratado com opióide fraco associado aAINE ou paracetamol. Se sob doses tera-pêuticas a dor não estiver controlada, não sedeve mudar para outro fármaco deste gru-po, mas passar a opióides fortes.

Fármacos de degrau 3Os opióides actuam ligando-se aos recepto-res μ, κ e δ, podendo ser classificados deacordo com a sua actividade intrínseca emagonistas, agonista parcial/antagonista, ago-nista/antagonista (Quadro II).Um agonista puro é um fármaco que exerceefeito nos receptores μ e nos outros recep-tores. Um agonista parcial/antagonista exer-ce um efeito agonista parcial num receptor eefeito antagonista em pelo menos um recep-tor, e um agonista/antagonista exerce umefeito agonista puro num receptor e um efei-to antagonista em pelo menos um recep-tor10,11 (Quadro III).

Quadro II – Efeitos dos opióides actuando nos diferentesreceptores

μμμμμ κκκκκ δδδδδ

Efeito Analgesia Analgesia AnalgesiaDepressão Depressão Depressãorespiratória respiratória respiratóriaEuforia DisforiaObstipação Sedação

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Os agonistas puros apresentam comportamen-to farmacocinético semelhante entre si, atin-gindo o pico da concentração sérica aos seisminutos após administração endovenosa, 30minutos após administração subcutânea ouintramuscular e 60 a 90 minutos após adminis-tração oral ou rectal. Têm metabolização he-pática e eliminação renal. A semi-vida é deaproximadamente 3-4 horas, atingindo concen-trações estáveis após as primeiras 24 horas.A morfina tem efeitos centrais e periféricos.Alguns dos seus efeitos são indesejáveis, de-vendo ser evitados e tratados quando presentes.

• Efeitos centrais

– analgesia– depressão respiratória– náuseas e vómitos– euforia– sedação– miose– efeito antitússico– hipotensão e bradicardia

• Efeitos periféricos

– obstipação– contracção do esfíncter de Oddi

– contracção do esfíncter vesical (retençãourinária)

– analgesia em tecidos inflamados

A depressão respiratória é o efeito indeseja-do mais temido, levando por vezes a que osopióides não sejam prescritos em situaçõescom indicação para tal.O metabolismo e eliminação da morfina são bemconhecidos e previsíveis. Existe em múltiplasapresentações, para administrar por via oral comlibertação rápida e libertação lenta, administra-ção intramuscular e endovenosa, sendo o opióidemais frequentemente utilizado10,11. Não tem um“tecto” posológico, sendo a “dose ideal” aquelaque oferece o máximo de analgesia com o míni-mo de efeitos acessórios, devendo ser titulada essadose de acordo com as necessidades do doente.A morfina oral de libertação rápida tem iníciode acção cerca de 30 minutos após a administra-ção e duração de aproximadamente 4 horas. Amorfina de libertação lenta tem início de acçãopassado cerca de uma hora, com pico às 2-3horas e duração de aproximadamente 12 horas.O efeito analgésico do fentanil por via trans-dérmica tem início aproximadamente 12horas após a aplicação do adesivo, pico às24-48 horas e duração de 72 horas2,12.Quando se prescreve terapêutica com morfi-na num doente que nunca foi medicado comopióides, a dose inicial deve ser 5-10 mg demorfina de libertação rápida de 4/4 h (dosediária 30-60mg). Passadas 24 horas, a dosedeve ser titulada de acordo com a eficácia dadose prescrita e necessidade de eventual tera-pêutica de “resgate”. Num doente com expo-sição prévia a opióides, a dose deve ser calcu-lada com base numa tabela equivalência deopióides, reduzindo essa dose em 25-50%, demodo a reduzir a possibilidade de tolerânciacruzada entre opióides (Quadro IV).

Quadro III – Classificação dos opióides de acordo com asua actividade intrínseca

Agonista Agonista/Agonista parcial/ antagonistaantagonistaOpióides Morfina Buprenorfina Pentazocina

FentanilMetadonaOxicodonaHidromorfonaPetidina

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Deve ser oferecida em simultâneo terapêuti-ca de “resgate” para a dor irruptiva, na dosede 1/6 da dose diária total, de preferência omesmo opióide utilizado em esquema (quecorresponderá à dose utilizada a cada 4h).Se passadas 24 horas o doente mantiver dor, adose de morfina deve ser aumentada em quanti-dade equivalente à dose de resgate utilizada nas24 horas, habitualmente 25-50 % da dose diária.Após a titulação da dose diária necessária,deve-se passar para morfina de libertaçãolenta, que deverá ser iniciada no horário deadministração de uma das tomas de morfinade libertação rápida. É fundamental a ma-nutenção da terapêutica de “resgate” e o ajus-te frequente da dose diária.Quando se pretende passar de uma terapêu-tica de via oral para administração transdér-mica através de adesivos (ex.: fentanil TD),devem sobrepor-se as administrações nasprimeiras 24 horas, pois o adesivo apenasatinge o pico de analgesia às 24-48 horas.A administração de opióides por via parentéri-ca, por perfusão contínua, deve ser reservadapara situações em que não é possível a via oral,por náuseas e vómitos ou alterações do trânsitointestinal que afectem a absorção gastrintestinalda morfina. Pode ser utilizada a via endovenosa

ou subcutânea. A via endovenosa exige cuida-dos específicos, devendo ser utilizada apenas emregime de internamento. A via subcutânea utili-za bombas infusoras portáteis, com sistemas desegurança. A dor não controlada, só por si, nãoé indicação para administração de morfina porvia parentérica, apesar de por vezes ser utilizadaem casos de dor intensa, visto o alívio e a titula-ção da dose serem mais rápidos.Para converter a dose de morfina por via oralpara via endovenosa, somar a dose total das 24horas de morfina oral, dividir essa dose por 3 ecalcular a velocidade de perfusão. Atendendo aque a preparação de morfina para perfusão é numaproporção de 1:1 (diluição de 50 mg/50 ml desoro fisiológico; 1 mg/ml), a velocidade de admi-nistração é fácil de determinar. Exemplo: se a dosediária de morfina oral é de 120 mg, a dose diáriapor via endovenosa será de 40 mg. Assim, deveadministrar-se 1,6 mg/h, logo, 1,6 ml/h.

Efeitos indesejados dos opióidesOs opióides têm efeitos secundários inde-sejáveis previsíveis, que se não forem evita-dos ou minimizados podem dificultar a ti-tulação da dose e a aderência do doente àterapêutica. Os efeitos mais frequentes são

Quadro IV – Tabela de conversão de opióides

Tabela de conversão de opióides, posologia em mgTramadol (oral/rectal) 150 300 450 600Tramadol (sc/im/ev) 100 200 300 400 500Morfina (oral) 30 60 90 120 150 180 210 240Morfina(sc/im/ev) 10 20 30 40 50 60 70 80Fentanil TD 25 μμμμμg/h 50 μμμμμg/h 75 μμμμμg/h 100 μμμμμg/hBuprenorfina (sl) 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 2,4 2,8 3,2Buprenorfina TD 35 μμμμμg/h 52,5 μμμμμg/h 70 μμμμμg/h 87,5 μμμμμg/h 105 μμμμμg/h 122,5 μμμμμg/h 140 μμμμμg/h

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náuseas e vómitos, obstipação, secura daboca, sedação e tolerância. Outros efeitosmenos frequentes são depressão respirató-ria, alterações cognitivas (alucinações, ideiasdelirantes), hiperalgesia, mioclonias, dispep-sia e prurido.

• ObstipaçãoOs opióides reduzem o peristaltismo dotracto gastrintestinal, havendo uma perma-nência mais prolongada das fezes no in-testino, logo maior absorção de água dasfezes que consequentemente leva à obsti-pação. Não é habitual o desenvolvimentode tolerância para a obstipação. É consen-sual a prescrição de laxantes aquando doinício do tratamento com opióides, paraprevenir este efeito acessório (ex.: sene,lactulose, leite de magnésia). É fundamen-tal manter uma hidratação adequada e exer-cício físico regular.

• Náuseas e vómitosAs náuseas e vómitos ocorrem em apro-ximadamente 30-60% dos doentes sob te-rapêutica com opióides. O mecanismo épor estimulação da trigger zone, cujo neu-rotransmissor é a dopamina, e por atrasono esvaziamento gástrico por redução doperistaltismo. A maioria desenvolve tole-rância após a primeira semana de trata-mento. Estão habitualmente indicados ametoclopramida ou domperidona, peloseu efeito no peristaltismo e efeito antido-paminérgico.

• SedaçãoPode ocorrer sedação nos primeiros dias deutilização de opióides ou quando se aumen-ta a dose. Este efeito pode ser potenciadoquando se utilizam outros fármacos com efei-

to depressor do SNC. A maioria dos doen-tes desenvolve tolerância após a primeirasemana de tratamento.

• Tolerância e dependênciaA tolerância define-se como a necessidadede aumentar a dose do fármaco para obten-ção do mesmo efeito. Pode ocorrer na utili-zação crónica de opióides, sendo favorável atolerância aos efeitos adversos. A tolerânciaà analgesia é rara em doentes com dor cróni-ca, sendo frequente a manutenção da mes-ma dose de fármaco quando o estímulo do-loroso se mantém estável. Habitualmente, anecessidade de aumentar a dose está relacio-nada com agravamento da dor e não com atolerância ao fármaco.A dependência física caracteriza-se por apa-recimento de síndroma de abstinência coma suspensão brusca da medicação. Pode serevitado com a redução gradual da dose.A dependência psíquica (adição) caracteriza--se pela utilização compulsiva e continuadado fármaco, adoptando comportamentosinadequados para a obtenção do mesmo. Omedo da dependência psíquica pode serresponsável em parte pela subprescrição deopióides e pela má aderência ao tratamento.

• Depressão respiratóriaA depressão respiratória é dos efeitos aces-sórios mais temidos dos opióides. Esteefeito deve ser tido em conta, mas não so-brevalorizado, pois a dor só por si é umestimulante do centro respiratório, e veri-fica-se desenvolvimento de tolerância ra-pidamente para este efeito. A depressãorespiratória habitualmente não se desen-volve se o aumento da dose for gradual. Asonolência precede sempre a depressãorespiratória. Se necessário, pode utilizar-se

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um antagonista dos opióides (naloxona)para reverter esse efeito.

• Outros efeitosA secura da boca é devido ao efeito anticoli-nérgico dos opióides.Pode ocorrer prurido devido à libertação dehistamina.

Tratamento da dor irruptivaA dor irruptiva pode ser definida como umaexacerbação passageira da dor que se so-brepõe a um fundo de dor persistente está-vel (Fig. 3). Os doentes com dor crónicamoderada ou intensa podem apresentar dorirruptiva em 52 a 64% dos casos. É habi-tualmente uma dor de intensidade moderadaa grave, de início rápido (< 3 minutos em43 % dos doentes), com duração relativa-mente curta (aprox. 30 minutos) e frequên-cia de 1 a 4 episódios por dia. Pode ser dedois tipos13:

• Incidental: tem um evento precipitante iden-tificável (ex., pôr-se em pé, andar, tossir)

• Espontânea: surge sem causa precipitanteidentificável.

Alguns doentes apresentam agravamento da dorrelacionado com a diminuição da concentraçãosérica dos analgésicos de manutenção. Nestescasos, o ajuste dos analgésicos de manutençãomediante um aumento da dose ou uma reduçãodo intervalo de administração poderia ser maisadequado do que as restantes abordagens.A dor irruptiva incidental pode ser minimi-zada com a evicção dos eventos precipitan-tes ou com a administração do fármaco deresgate antes do evento. A evicção dos even-tos precipitantes pode limitar a autonomia,diminuindo a qualidade de vida.A dor irruptiva espontânea não é previsível,logo terá de ser tratada quando surge.Uma estratégia possível para eliminar a dorirruptiva seria aumentar a dose da medica-ção de base, mas esse aumento de dose im-plica um aumento dos efeitos indesejáveis,perdendo-se o equilíbrio óptimo entre anal-gesia e efeitos indesejáveis (Fig. 4).Assim, a forma de tratar esta dor será forne-cer ao doente medicação de resgate ou SOS

Fig. 3 – Dor irruptiva sem tratamento adequado Fig. 4 – Dor irruptiva com tratamento incorrecto

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A dor irruptiva podeser definida comouma exacerbaçãopassageira da dorque se sobrepõea um fundo de dorpersistente estável

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(Fig. 5). O fármaco ideal tem de ter início deacção rápido com curta duração.O que está preconizado é utilizar preferen-cialmente 1/6 da dose diária total do medi-camento para a dor crónica de base. O idealé utilizar o mesmo opióide. Assim, numdoente medicado com morfina de libertaçãolenta, deve-se utilizar morfina de libertaçãorápida. Num doente medicado com fentaniltransdérmico pode utilizar-se o fentanil viatransmucosa (TM). O fentanil via transmu-cosa tem início de acção aos 3-5 minutos.Num doente medicado com morfina, parautilizar o fentanil TM tem de ser calculada adose equianalgésica. Assim, 200 mcg de fen-tanil TM correspondem a 2 mg de morfinaendovenosa e a 6 mg de morfina oral.

Fármacos adjuvantesou co-analgésicosOs fármacos adjuvantes podem ser utilizadosem qualquer degrau da escada da OMS1,2,12.Não apresentam efeito analgésico eficazquando utilizados isoladamente, mas emcombinação com analgésicos podem permi-

tir redução das doses de opióides, assim comotêm um papel importante no tratamento dador neuropática, que habitualmente é difícilde tratar mesmo com opióides. São utiliza-dos para este feito antidepressivos anticon-vulsivantes, corticosteróides, bisfosfonatos,anestésicos locais, entre outros.

• AntidepressivosOs antidepressivos tricíclicos são os adjuvan-tes mais utilizados. O mecanismo de acçãoainda não é bem conhecido, mas provavel-mente deve-se ao aumento da concentraçãode monoaminas no corno dorsal da medula,por inibição da sua recaptação. São particu-larmente úteis na dor neuropática, sendo atépor vezes considerados com terapêutica deprimeira linha neste tipo de dor. Existe evi-dência que suporta a utilização da amitripti-lina, nortriptilina e desipramina, e mais re-centemente da paroxetina. Devido à acçãoanticolinérgica, apresentam como efeitosacessórios obstipação, secura da boca, reten-ção urinária e taquicardia. A desipramina é oque provoca menos efeitos acessórios. Aten-dendo a que os opióides apresentam algunsdestes efeitos, o seu aparecimento deve servigiado de forma mais apertada quando seassociam estes fármacos.

• AnticonvulsivantesOs anticonvulsivantes são utilizados para otratamento da dor neuropática há mais de50 anos, como a carbamazepina para o tra-tamento da nevralgia do trigémeo. Os fár-macos mais utilizados são a carbamazepina,a fenitoína, o valproato, a gabapentina e oclonazepam.A carbamazepina e a fenitoína podem cau-sar toxicidade hepática, leucopenia e trom-bocitopenia, devendo ser usados com cui-

Fig. 5 – Dor irruptiva com tratamento adequado

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dado em doentes oncológicos, necessitandode monitorização de níveis séricos.A gabapentina tem menos efeitos indesejá-veis e aparentemente não apresenta interac-ções medicamentosas, pelo que tem tido umautilização crescente. O clonazepam é utiliza-do habitualmente na dor neuropática paro-xística e lancinante, devendo ser utilizadocom cuidado, pois é o anticonvulsivante commaior efeito sedativo.

• CorticosteróidesEste grupo de fármacos é utilizado habitual-mente em indivíduos com doença avançada,em situações de compressão/infiltração ner-vosa aguda, aumento da pressão intracrania-na, dor óssea (habitualmente por metasti-zação) e dor visceral (distensão capsular).Melhoram as náuseas, o apetite e o humor.Alterações gastrintestinais, síndromas neu-ropsiquiátricas, miopatia proximal e hiper-glicemia são alguns dos efeitos acessóriosindesejados possíveis com a utilização pro-longada. Atendendo a que este grupo de fár-macos é utilizado habitualmente em indiví-duos com doença avançada, a probabilidadede surgirem é menor.O fármaco mais utilizado é a dexametasonadevido a ter uma semivida prolongada (> 36 h)e acção mineralocorticóide mínima.

• BisfosfonatosSão utilizados no tratamento de dor ósseageralmente causada por metastização óssea,da hipercalcemia devido à destruição ósseaou paraneoplásica e na prevenção de frac-turas patológicas em doentes com metasti-zação óssea. Os bisfostonatos inibem a ac-ção osteoclástica. Os mais frequentementeutilizados são o pamidronato e o ácido zo-ledrónico.

ConclusõesA dor é um sintoma subjectivo e de difícilavaliação por terceiros. No entanto, é possí-vel tratá-la de forma eficaz, com tratamentofarmacológico, em 80 a 90 % dos casos. Éum dos sintomas mais valorizado, temido eincapacitante para o doente, sendo sinóni-mo de sofrimento. Assim, é fundamental avalorização, avaliação e quantificação correc-tas da dor, de forma a escolher e implemen-tar o tratamento adequado.

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