A educacao permanente da equipe de enfermagem para o cuidado nos servicos de saude

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    A educao permanente da equipe de enfermagem para o cuidado nos

    servios de sade mental

    Permanent education of the team of nursing for the care in the services ofmental health

    La educacin permanente del equipo de la enfermera para el cuidado enlos servicios de la salud mental

    Cludia Mara de Melo Tavares

    Doutora em Enfermagem. Vice-Coordenadora do Mestrado Profissional emEnfermagem. Professora Titular do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Psiquitrica da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa daUniversidade Federal Fluminense (UFF)

    Endereo

    RESUMO

    Estudo exploratrio, cujo objetivo foi analisar a necessidade de educaopermanente da equipe de enfermagem para o cuidar nos servios de sademental. Foram estudados trinta e sete profissionais de enfermagem de sademental. Como resultados, verificou-se que a equipe de enfermagem de sademental demanda qualificao de amplo espectro. Conclui-se que a educaopermanente da equipe de enfermagem de sade mental exige, alm deprogramas educacionais baseados em definio de competncias especficas,processos educativos crticos que visem o desenvolvimento de conhecimentos

    de carter interdisciplinar.

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    PALAVRAS-CHAVE: Sade mental. Empatia. Educao continuada emenfermagem.

    ABSTRACT

    Exploratory study whose objective was to analyze the necessity of permanenteducation of mental health care services nursing team. The subjects studiedwere thirty-seven mental health-nursing professionals. As results, we observedthat the team of nursing the mental health requires qualification the spectreample. It is concluded that the permanent education of the mental healthnursing team demands beyond established educational programs in definitionof specific abilities, critical educative processes that aim at the development ofthe interdisciplinar character of knowledge.

    KEYWORDS: Mental health. Empath. Continuing nursing education.

    RESUMEN

    Estudio exploratrio, cuyo objetivo fue analizar la necesidad de la educacinpermanente del equipo de enfermera para cuidar en los servicios de la saludmental. Fueron estudiadas treinta siete profesionales de enfermera mental.Como resultados, se verific que l equipe de la enfermera demandacalificacin de vasto espectro. Se concluye que la educacin permanente delequipo del oficio de enfermera de la salud mental exige ms all de programaseducativos establecidos en la definicin de las capacidades especficas, deprocesos educativos crtico que tienen como objetivo el desarrollo delconocimiento del carcter a interdisciplinar.

    PALABRAS CLAVE: Salud mental. Empata. Educacin continua enenfermera.

    INTRODUO

    O governo federal adotou a poltica de educao permanente como estratgiafundamental para a recomposio das prticas de formao, de ateno, degesto e de controle social no setor da sade, criando em 2003, oDepartamento de Gesto da Educao na Sade e instituindo em 2004, osPlos de Educao Permanente.

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    A discusso sobre a educao permanente dos profissionais passa a serfundamental e estratgica para a consolidao do Sistema nico de Sade(SUS). O plano de reordenao poltica de recursos humanos no SUSpreconiza a educao permanente no trabalho visando alcanar perfisprofissionais orientados pelas necessidades da populao, em cada realidade

    regional e em cada nvel de complexidade. Aponta que esta qualificao se dfrente a aes concretas do mundo do trabalho.

    A educao permanente parte do pressuposto da aprendizagem significativa.Os processos de capacitao do pessoal da sade devem ser estruturados apartir da problematizao do processo de trabalho, visando transformaodas prticas profissionais e a organizao do trabalho, tomando comoreferncia as necessidades de sade das pessoas e das populaes, dagesto setorial e o controle social em sade.1

    A educao o processo pelo qual a sociedade atua constantemente sobre o

    desenvolvimento do indivduo, no intuito de integr-lo ao modo de ser vivente. um processo poltico situado no tempo e no espao. Um verdadeiro processode educao no pode ser estabelecido se no atravs de uma anlise dasnecessidades reais de determinada populao.

    O trabalhador, para conseguir uma melhor qualidade de vida, obrigado atrabalhar ao mesmo tempo em que se educa. Assim, o desenvolvimento comuma educao que corresponda s necessidades das pessoas durante a vida,atrai pessoas comprometidas com a sociedade em que vivemos. Para tal feito,o fenmeno da educao permanente atraiu a ateno de numerososeducadores.

    Historicamente, as polticas de educao profissional implementadas no Brasilforam voltadas para a formao de tcnicos para os diversos ramos daindstria, tendo o estado brasileiro um papel secundrio na capacitao depessoal para os setores de servios. Essa orientao repercutiu sobremaneirana formao de tcnicos e auxiliares de enfermagem para servios de sade,j que resultou numa quase total inexistncia de polticas de financiamentocom esta finalidade.

    Tambm a formao de trabalhadores de enfermagem de nvel superior foi

    marcada por currculos arcaicos, centrados no modelo hospitalocntrico, comcarga horria excessiva, dissociao entre teoria e prtica e entre ciclos bsicoe clnico, formao que favorece a utilizao indiscriminada de tecnologia,prtica profissional impessoal e descontextualizada.2

    grande a necessidade de se desencadear processos de capacitao detrabalhadores de enfermagem, j que o trabalho de enfermagem entendidocomo central para a melhoria da performance e da ateno prestada pelosservios de sade.

    A educao permanente compreendida como sendo um processo educativo

    contnuo, de revitalizao e superao pessoal e profissional, de modoindividual e coletivo, com objetivo de qualificao, reafirmao ou reformulao

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    de valores, construindo relaes integradoras entre os sujeitos envolvidos parauma praxe crtica e criadora.2

    No campo da sade mental, a estratgia de educao permanente tem comodesafio consolidar a reforma psiquitrica. Para o alcance deste desafio, os

    tradicionais programas de educao continuada, destinados apenas a informaros indivduos sobre recentes avanos em seu campo de conhecimento, devemser substitudos por programas mais amplos de educao permanente quevisem articular conhecimentos profissionais especficos com o de toda a redede saberes envolvidos no sistema de sade. Deste modo, a formao daenfermeira passa a exigir programas interdisciplinares de ensino quepossibilitem anlises mais integradas dos problemas de sade.3

    A reforma questiona a funo de saberes psiquitricos, ao mesmo tempo emque a assistncia tende a mudar do servio hospitalar para os cuidados noterritrio. Trs eixos devem sedimentar teoricamente e orientar a formulao

    da proposta de educao permanente em sade mental: a) a organizao dotrabalho em sade, com nfase no processo de trabalho dos trabalhadores darea de enfermagem em sade mental, tendo como perspectiva suatransformao atravs da construo de prticas renovadas, em funo dosdesafios colocados pela necessidade de implementao efetiva dos princpiosdo SUS; b) a integralidade da ateno como princpio (re)orientador dasprticas sanitrias e (re)organizador dos servios de sade. c) as bases para aconstruo de uma prxis pedaggica crtica que possa promover a formaode um novo profissional frente s demandas impostas pela necessidade detransformao da poltica de sade, como uma forma e potncia de explicitartoda a complexidade do processo de trabalho em sade, assim comopossibilitar a apreenso de novas habilidades necessrias construo deuma prtica mais qualificada em sade mental.4

    A presente pesquisa tem como objetivo analisar a necessidade de educaopermanente da equipe de enfermagem para o cuidar nos servios de sademental. Visa contribuir com novos elementos para a implantao da polticanacional de educao permanente, em consonncia com a poltica deeducao e desenvolvimento para o SUS, proposta pelo Ministrio da Sade.

    Considerando-se que a qualificao profissional dos trabalhadores do SUS

    um componente fundamental no processo de transformao qualitativa dosservios de sade pblica no Brasil, espera-se com este trabalho potencializarrecursos e interesses para resolver problemas de capacitao profissional detrabalhadores de enfermagem na perspectiva da ateno a sade mentalindividual e coletiva no mbito de SUS.

    METODOLOGIA

    Trata-se de um estudo exploratrio-descritivo realizado com a equipe de

    enfermagem de servios pblicos especializados em sade mental domunicpio de Niteri - RJ.

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    Para a coleta de dados elaborou-se um instrumento, composto por um total devinte questes abertas e fechadas. O instrumento foi previamente testado eaplicado aos membros da equipe de enfermagem.

    Em respeito aos aspectos ticos e legais, o projeto foi aprovado pelo Comit

    de tica em pesquisa com seres humanos do Centro de Cincias Mdicas daUniversidade Federal Fluminense (UFF). Todos os integrantes da amostraforam informados sobre os objetivos da pesquisa, atendendo a Resoluo196/96 sobre pesquisa envolvendo seres humanos.

    A amostra do estudo foi definida a partir de entrevista com o coordenadormunicipal de estgio de sade mental e a coordenadora de ensino e pesquisada rede de sade mental do municpio de Niteri/RJ. Participaram do estudo: 9enfermeiros e 21 tcnicos da equipe do Hospital Psiquitrico Municipal; 3enfermeiros e 4 tcnicos da equipe dos Centros de Ateno Psicossocial(CAPS) do Municpio. Desta forma a amostra final foi constituda por 37

    membros da equipe de enfermagem (12 enfermeiros e 25 tcnicos).

    Os dados foram analisados e interpretados luz da perspectiva terica daenfermagem psiquitrica. Atravs da integrao de diferentes dados, utilizou-se a triangulao de dados para analisar dados objetivos e subjetivos, a fim decorrigir os "bias" de cada tipo de anlise.

    RESULTADOS E DISCUSSO

    Os resultados mostram que nos ltimos cinco anos no ocorreu atividadeespecfica de capacitao para a equipe de enfermagem da rede de sademental do municpio de Niteri/RJ. Apenas alguns treinamentos locais foramrealizados, como abordagem introdutria ao trabalho. A coordenao da redede sade mental destacou seu interesse por processos de educaopermanente junto aos trabalhadores de enfermagem, mencionando asdificuldades apresentadas pela equipe de enfermagem nos processos detrabalhado junto a equipe multidisciplinar de sade mental.

    Perfil dos trabalhadores de enfermagem da rea de sade mental no

    municpio de Niteri - RJOs 16 enfermeiros e 102 tcnicos de enfermagem de sade mental domunicpio esto lotados em servios especializados (Hospital Psiquitrico eCAPS). As unidades bsicas de sade do municpio no dispem de equipe deenfermagem de sade mental. Esta situao fruto de uma poltica de sademental centrada na lgica da doena opondo-se ao modelo de promoo dasade.

    A tabela abaixo apresenta o perfil dos profissionais de enfermagementrevistados.

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    Como podemos verificar na Tabela 1, 58% dos enfermeiros que atuam nosservios especializados de sade mental tm idade entre 23 a 33 anos,enquanto 56% dos tcnicos entre 34 a 43 anos. Poder-se-ia dizer que osenfermeiros se comparados aos tcnicos se encontram na fase ascendente desua trajetria profissional e consequentemente, bastante receptiva a

    programas de atualizao e desenvolvimento profissional.

    Quanto ao tempo de atuao profissional no campo da sade mental, 50% dos

    enfermeiros trabalham na rea de 1 a 5 anos e 36% dos tcnicos de 6 a 10

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    anos. Esses achados indicam que os enfermeiros esto a menos tempo nosservios de sade mental, do que os tcnicos.

    Observa-se uma maior mobilidade entre os enfermeiros do que entre ostcnicos nos servios de sade mental. Parte desta mobilidade profissional

    explicada pela renda. Verifica-se naTabela 1, que 58% dos enfermeiros e 52%dos tcnicos recebem entre 2 a 3 salrios, no havendo distino salarial entreas duas categorias profissionais. Assim, o tempo de servio contribui mais como salrio da equipe de enfermagem, do que a sua qualificao profissional.

    Comparando estes resultados com os obtidos em estudo anterior5, confirma-seo fato de que a insero do enfermeiro no mercado de trabalhode sademental ocorre por meio da primeiraoportunidade de emprego do recm-formado.

    No que diz respeito ao sexo, a distribuio se d de maneira praticamente

    uniforme, 50% dos enfermeiros e 48% dos tcnicos so do sexo feminino.Considerando que os homens representam a grande minoria no universo detrabalhadores de enfermagem, expressiva sua participao na psiquiatria.Este fato pode ser explicado pelas representaes de violncia sobre ainstituio psiquitrica, onde a fora fsica masculina ainda utilizada comoforma de coero e apaziguamento das formas de expresso incontrolvel daloucura.

    Quanto ao nvel de escolaridade, convm salientar que 20% dos tcnicospossui o 3 grau completo e 12%, incompleto. Esse dado demonstra ointeresse dos trabalhadores de nvel mdio pela continuidade dos estudos, oque depe a favor de processos de educao permanente. Tambm entre osenfermeiros observa-se essa diligncia, j que 59% destes fizeram cursos deespecializao e um (8%) est cursando o mestrado.

    Entre os motivos apresentados pelos enfermeiros, da escolha da psiquiatriacomo campo de atuao profissional, destacam-se a oferta deemprego/concurso (67%) e a escolha pessoal (33%). Os motivos apresentadospelos tcnicos coincidem: oferta de emprego/concurso (44%) e escolhapessoal (20%). A oferta de emprego contribui mais para os enfermeiros do quepara os tcnicos. Esse fato reflete a indeterminao em torno do trabalho do

    tcnico e uma maior especificao do trabalho do enfermeiro em sademental.

    A admisso do enfermeiro para trabalhar na psiquiatria era at a dcada de 80,associada a castigo, um lugar para onde poucos profissionais iam de livreescolha e para onde o funcionrio-problema era transferido. O sentido daadmisso para o quadro de funcionrios tinha a mesma conotao deadmisso de um paciente, absoluta falta de livre escolha.6

    A insatisfao com o trabalho em psiquiatria o motivo para 100% dosenfermeiros e 72% dos tcnicos desejarem trabalhar em outra rea da

    enfermagem. Os campos de trabalho indicados pelos enfermeiros como maisatraentes so o ensino (31%), a emergncia/CTI (31%) e a sade pblica

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    (26%), enquanto os tcnicos gostariam de trabalhar em emergncia/CTI (18%)e enfermagem do trabalho (14%).

    A enfermagem clssica construiu um campo de ao identificado com amedicina, empreendendo esforos para classificar a ao que lhe prpria,

    so exemplos deste empreendimento diagnstico de enfermagem e a consultade enfermagem. Ancorada no positivismo cientfico a enfermagem buscouclassificar sua ao, desenvolver protocolos e procedimentos referidos aocuidado da doena e sua manifestao. Seguindo esse modelo, a enfermeirapsiquitrica referia sua ao profissional a dependncia do diagnstico e daordem mdica. A ao de enfermagem servia apenas para a manuteno deum ambiente teraputico, palco de intervenes mdico-centradas.6

    A persistncia de uma assistncia desqualificada no campo da sade mentalfaz com que os profissionais da rea tenham um grande desinteresse por estecampo de atuao. A falta de definio em torno do papel do enfermeiro

    psiquitrico gera dificuldades no seu processo de trabalho em equipe.

    Alm disso, os enfermeiros possuem um vnculo de trabalho mais precrio doque do restante dos demais enfermeiros. O fato de algunsenfermeirosseremfuncionrios cooperados enfraquece as suas relaes com a instituio. Ovnculo frgil nogarante a continuidade do trabalho e, portanto, da assistncia,como seria desejado.

    Por tudo isso, a enfermagem psiquitrica, no obteve grandes avanos noBrasil. Embora se observe uma tendncia de mudana na prtica dosenfermeiros, especialmente, relativa sua aproximao do cliente,desenvolvendo prticas teraputicas e grupais, assim como um espao maisdefinido e reconhecido na equipe de sade mental.

    Em pases mais desenvolvidos o enfermeiro passou a assumir mais atividadescom finalidade teraputica por intermdio do relacionamento teraputico eprogramas de educao a pacientes e familiares,7 o que garante maiorautonomia e satisfao profissional.

    Constatou-se que 75% dos enfermeiros e 48% dos tcnicos de enfermagemque hoje atuam nos servios de sade mental do municpio, j trabalharam

    com pacientes psiquitricos em outras instituies. Parte significativa daequipe de enfermagem atua nos demais servios psiquitricos do municpio etambm do estado. Nesse sentido, de grande importncia o estabelecimentode programas de educao permanente, j que mesmo no desejando, taisprofissionais constituem a fora de trabalho de enfermagem de sade mentalda regio.

    A fragilidade na qualificao da equipe de enfermagem de sade mental

    A Tabela 2 demonstra que o manejo do paciente a principal dvida dosprofissionais de enfermagem nos servios de sade mental. 92% dos

    enfermeiros abordados e 72% dos tcnicos relatam dificuldades em realizarcom qualidade do atendimento de enfermagem ao paciente psiquitrico.

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    Considerando-se que o primeiro passo para cuidar de um paciente comtranstorno psiquitrico estabelecer uma relao teraputica8 torna-se urgentee necessrio a qualificao destes profissionais.

    Historicamente, a ao de enfermagem no alvejava o paciente, mas amanuteno do "ambiente teraputico", para ser um verdadeiro palco deintervenes mdico-centradas.5 Este afastamento institucionalmenteautorizado parece explicar a admisso de profissionais de enfermagem queno reunam qualificaes mnimas para o cuidado do paciente psiquitrico. Oenfermeiro psiquitrico tem dvidas sobre o significado de seu papelprofissional e pouco utiliza o julgamento clnico para realizao das atividadesde enfermagem.9

    27% dos enfermeiros e 39% dos tcnicos apresentam dvida em como lidarcom pacientes que apresentam comportamento agressivo. A agressividade um comportamento que visa ameaar ou prejudicar a segurana ou a auto-estima da vtima, quase sempre visa punir.8 A ao de subordinao,dependncia e violncia so a marca da psiquiatria tradicional. Desta forma,entendemos, que a violncia est associada ao prprio modelo tradicional deateno em psiquiatria e a vigilncia das atitudes agressivas coubehistoricamente a equipe de enfermagem. A iluso e o desejo de autonomiaadministrativa, da manuteno da ordem institucional necessria para oexerccio do poder disciplinar, alimentava o exerccio de um poder perverso da

    enfermagem, obtido por meio de mecanismos de prevalecimento ou coaodos pacientes.6

    Uma outra dificuldade destacada, especialmente pelos tcnicos deenfermagem, lidar com a sexualidade do paciente nos espaos institucionais.H uma carncia de discusso na instituio psiquitrica sobre o assuntosexualidade. Um silncio institucional que no registra esse tipo de ocorrnciae no discute a manifestao da sexualidade dos pacientes, havendo umanegao do prprio sexo em si. Em especial para o grupo de tcnico deenfermagem, a sexualidade no um domnio portador de significaoespecial na construo da pessoa. Os tcnicos de enfermagem em sade

    mental se submetem a regras de moralidade que advm da definio deposies sociais no interior da famlia, combinadas com a classificao de

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    gnero. Representaes acerca do corpo e sexualidade associadas a noode respeito, moral e vergonha, so fruto de um sistema de valores que estrelacionado com a concepo de pessoa que preside a viso de mundo dasclasses populares.10 Comparando percentuais de enfermeiros e tcnicos nesteestudo podemos observar que este tema apresenta maior dvida entre os

    tcnicos.

    27% dos enfermeiros e 11% dos tcnicos apresentam dvidas de como intervirna crise de emergncia psiquitrica. Situaes de crise psiquitrica soaquelas em que o funcionamento geral gravemente prejudicado e o indivduose torna incompetente ou incapaz de assumir responsabilidades pessoais. Osindivduos que apresentam uma crise tm uma necessidade urgente deassistncia e apoio do enfermeiro para ajudar a mobilizar os recursosnecessrios para resolver a crise. A metodologia bsica calcadaprincipalmente em tcnicas organizadas de resoluo de problemas eatividades estruturadas visando mudanas.8

    Nesse sentido, um preparo mais consistente exigido do profissional, incluindoa devida habilidade para utilizar o julgamento clnico.

    A tabela a seguir apresenta as dificuldades apontadas pela equipe deenfermagem no processo de cuidar dos usurios dos servios de sademental, admitindo mais de uma resposta por profissional.

    De acordo com atabela 3, a maior dificuldade apresentada pelos enfermeirospara atuar no campo da sade mental interagir com a equipe (24%), seguidada interao com a famlia do paciente (16%). Em relao aos tcnicos, amaior dificuldade a interao com a famlia (18%) e a interao com a equipe(13%). Vale ressaltar que a equipe de enfermagem aponta dificuldades empraticamente todos os aspectos relacionados ao campo de cuidado em sademental, demonstrando a fragilidade de sua formao. Isto ressalta que existeuma nova forma de organizao do processo de trabalho de enfermagem e dainstituio psiquitrica, exigindo alm da conscientizao acerca dos princpiosque orientam as prticas, uma reviso do papel da enfermeira.11

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    Para dirimir dvidas, 26% dos enfermeiros disseram discutir o problema com aequipe multiprofissional, enquanto 20% dos tcnicos disseram procurar achefia imediata. Com base nesse resultado, podemos constatar que a maioriada equipe permanece com dvidas.

    A tomada de decises atravs de reunies de equipe e a prontadisponibilidade dos participantes de contriburem para avaliao e interveno

    nas diferentes situaes que se apresentam no cotidiano de um servio desade mental parece ser uma estratgia para superao das dificuldadeseducativas no mbito da equipe de enfermagem.12,13

    Necessidade de educao permanente da equipe de enfermagem desade mental

    Quanto realizao de processos de educao permanente, 100% dosenfermeiros e 84% dos tcnicos tm interesse em participar. 50% dosenfermeiros e 80% dos tcnicos disseram ter procurado atividadesrelacionadas educao permanente nos ltimos 5 anos, por conta prpria,

    com pouco ou nenhum incentivo por parte da instituio onde trabalham. Asdvidas apresentadas no processo de trabalho em sade mental, a expectativade melhoria do vnculo de trabalho e as vantagens salariais so os principaismotivos relacionados a busca por capacitao.

    Quanto ao investimento na qualificao profissional 92% dos enfermeirosafirmam que pagariam por um curso que fosse do seu interesse, 75%gostariam de fazer mestrado em enfermagem, 50% de fazer o doutorado,enquanto 42% fariam mestrado em outra rea. A maioria dos tcnicos (92%)tambm pagaria por um curso que fosse do seu interesse. 40% gostariam defazer graduao em enfermagem, 24% gostariam de fazer mestrado namesma rea, 32% teriam interesse de fazer doutorado. 24% dos entrevistadosafirmaram que s poderiam estudar se o curso fosse gratuito.

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    Quanto a processos de busca individual de educao permanente 67% dosenfermeiros adquiriram no ltimo ano pelo menos um livro da rea de sademental, enquanto 60% dos tcnicos no adquiriram nenhuma obra. 25% dasobras lidas pelos enfermeiros foram indicadas por livreiros e 25% porprofessores. 30% das obras lidas por tcnicos foram indicadas por algum

    membro da equipe de sade e 30% no lembram de quem foi indicao.

    Importante observar que enquanto a leitura dos tcnicos de enfermagem favorecida pela equipe de sade, a dos enfermeiros est relacionada aprofessores e livreiros. O enfermeiro tem maior autonomia para a tomada dedeciso quanto a sua prpria formao do que os tcnicos.

    75% dos enfermeiros e 100% dos tcnicos acreditam que processos deeducao permanente, voltados para a sade mental devam ser realizados emconjunto com a equipe de enfermagem, com nfase nos aspectos tcnicos eprofissionais.

    Percebe-se que os tcnicos, mais do que os enfermeiros, encontram-se nadependncia da relao com a equipe de enfermagem. Embora o enfoquetcnico do aprendizado defendido pelas duas categorias profissionais.

    Constatou-se que 92% dos enfermeiros e 68% dos tcnicos possuem acesso eutilizam a Internet. Este dado significativo por facilitar o acesso a informaese a processos de educao distncia. Fazer uso desta ferramenta auxiliaprogramas de qualificao, o que permite uma agilizao nos processoscomuncacionais necessrios educao permanente. Alm de permitir adiscusso quanto as possibilidades de uso desta tecnologia.14

    Entretanto, o mais importante, perceber que o uso das tecnologias dacomunicao no muda, em princpio, as velhas questes para a proposiode um projeto de educao permanente: para quem? Para qu? Como esteprojeto ser desenvolvido? Sem parmetros pedaggicos e dos contedos aserem veiculados, o uso da tecnologia servir muito pouco a qualificao daequipe de enfermagem de sade mental.

    83% dos enfermeiros gostariam de aprofundar seus conhecimentos em sademental. Os assuntos apontados como de maior interesse para a equipe de

    enfermagem so psicofarmacologia (75%), conhecimentos relacionados aaspectos clnicos do cuidado com a pessoa portadora de sofrimento psquico,dependncia qumica, emergncia psiquitrica e promoo da sade mental(75%). 67% dos enfermeiros demostram interesse em temas relacionados arte, reabilitao psicossocial e diagnstico de enfermagem. 80% dos tcnicosapresentam interesse pelos aspectos clnicos do cuidado ao paciente, 80%demonstram interesse pelo SUS, seguido de 76% que gostariam de sabermais sobre informtica, enfermagem psiquitrica e promoo da sade mental.

    Os temas apontados pela equipe de enfermagem indicam interesse porprocessos educativos amplos. Com base nos dados encontrados, podemos

    afirmar que a educao permanente necessria e desejada pela equipe de

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    enfermagem de sade mental, que j vem adotando algumas iniciativas nosentido de promov-la.

    CONSIDERAES FINAIS

    Como indicam os resultados, h uma necessidade premente de se estabelecerprocessos de educao permanente junto equipe de enfermagem de sademental. A falta de um vnculo trabalhista estvel, aliada a deficincia deformao no campo da sade mental pode interferir na qualidade daassistncia prestada pela equipe de enfermagem nos servios de sademental.

    A equipe de enfermagem de sade mental apresenta grande interesse emparticipar de processos de educao permanente. A possibilidade de mudar a

    situao de vida e as oportunidades salariais e profissionais decorrentes daqualificao profissional foi o fator mais importante na deciso de participar decursos. Ao investigar que tipos de educao extra-muros so procuradas pelaequipe, constatou-se predomnio nos cursos de ps-graduao lato senso.

    Acredita-se que a educao permanente dos trabalhadores de enfermagem darea de sade mental exige alm de programas educacionais baseados emdefinies de competncias especficas, processos educativos mais amplos eproblematizadores que visem o desenvolvimento de conhecimentos de carterinterdisciplinar. Assim, preciso assegurar apoio construo de sistemasintegrais de educao permanente no mbito do prprio servio. Estes devemauxiliar no conhecimento de estratgias inovadoras de cuidar, favorecer ointercmbio de experincias e a aliana entre os servios de sade e asinstituies acadmicas.

    Espera-se que este estudo seja uma oportunidade para reafirmar que aadequada formao profissional fundamental para a execuo plena daspolticas do setor de sade mental e que a cooperao entre servio-universidade fortalecem e desenvolvem a fora de trabalho em sade.

    REFERNCIAS

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