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UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho”
INSTITUTO DE ARTES
Luciano Freitas
Canto coral: propostas para dicção da língua inglesa americana
São Paulo
2012
Luciano Freitas
Canto coral: propostas para dicção da língua inglesa americana
Trabalho de conclusão de curso apresentado
ao Curso de Bacharel em Música com
Habilitação em Regência do Instituto de Artes
da Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” como requisito para obtenção
do título de Bacharel em Música.
Orientador: Prof. Dr. Fábio Miguel
São Paulo
2012
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo principal analisar e sugerir técnicas de
pronúncia da língua inglesa americana para coros formados por falantes da língua
portuguesa do Brasil, bem como pontuar possíveis erros comuns de pronúncia e como
esta pode influenciar e dificultar a perfoamance da peça que está sendo ensaiada. Para
isso foram utilizadas como amostras trechos de duas peças do compositor norte-
americano Norman Dello Joio, se executados por coros brasileiros, provavelmente
ocorreriam problemas de dicção e pronúncia. Estes problemas foram enumerados e
categorizados da seguinte maneira: associação com a fala em português, ditongos, o
som do “th” e do “t”, fonemas que soam diferentes da forma que estão escritos,
terminações de palavras e elisões. Para esses casos foram indicadas soluções que
possam viabilizar uma dicção no canto de melhor qualidade. Conclui-se que esses
problemas são gerados, na maioria das vezes, pela associação do indivíduo em questão
com a língua portuguesa e estes pode ser amenizados se isto for levado em conta,
transcrevendo estas palavras problemas como se estas fossem faladas em português do
Brasil.
ABSTRACT
The current work aims to analyze and suggest American English pronunciation
techniques for choirs having Brazilian Portuguese speaking choristers, as well as
punctuate possible mispronouncing and how this affects and harms the performance of
the song that is being rehearsed. In order to achieve this, it was used as samples,
excerpts from two songs by the American composer Norman Dello Joio; if performed
by Brazilian choirs, probably there would be diction and pronunciation problems. Those
problems were numbered and categorized as follows: association with speech in
Portuguese, diphthongs, the sound of "th" and "t", phonemes that sound different from
the way they are written, word endings and elisions. For these cases were given
solutions that can enable a diction in singing of better quality. We conclude that those
issues are raised, mostly, by the association of the individual concerned with the
Portuguese language and these can be mitigated if it is taken into account, problems
transcribing these words as if they were spoken in Brazilian Portuguese.
SUMÁRIO
Projeto de pesquisa..........................................................................................................1
Introdução.......................................................................................................................4
1. Diferenças entre o inglês falado e o inglês cantado....................................................6
2. Trechos selecionados para análise em relação às dificuldades de pronúncia.............9
3. Análise e sugestão para os problemas encontrados nos trechos selecionados...........18
3.1 Associação com os sons da Língua Portuguesa do Brasil............................18
3.2 Ditongos.......................................................................................................23
3.3 O som do “th”..............................................................................................23
3.4 O som do “t”................................................................................................24
3.5 Fonemas que soam diferentes......................................................................25
3.6 Terminações.................................................................................................25
3.7 Elisões .........................................................................................................27
4. Considerações Finais......................................................................................30
Referências bibliográficas..................................................................................33
Anexos...........................................................................................................................34
1
PROJETO DE PESQUISA
INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
Residi nos Estados Unidos da América por um período de quase quatro anos
onde tive a oportunidade de aprender inglês, estudar música e cantar em diversos corais.
Ao regressar ao Brasil, pude notar que os integrantes dos coros formados por cantores
falantes da língua portuguesa brasileira, ao cantarem peças em inglês escritas por
compositores americanos, apresentavam certas dificuldades para interpretar o texto, não
só pelo seu entendimento linguístico, mas, também, pela pronúncia e dicção.
Os ensaios desses coros nem sempre eram suficientes para que a dicção do texto
em inglês fosse cantado com clareza. A qualidade da pronúncia e da dicção pode
interferir na inteligibilidade do texto pelo público em que “A maior parte do público
deseja e espera entender o texto do cantor quando ele canta, e em seu canto elevar o
texto de uma maneira ardilosa para que a palavra não seja subordinada ao lindo som.”
(APPELMAN,1986, p. 172, tradução nossa)1
Esse problema se acentua uma vez que não vivemos em um país onde a língua-
mãe é a inglesa e esta língua apresenta fonemas e ditongos que não existem na língua
portuguesa como por exemplo “th”, “ous”, “ey”, entre outros. Desta maneira pode-se ter
comprometida a clareza da pronúncia do texto ao se cantar uma vez que “Por via de
regra, quando um fonema é pronunciado dentro de um ambiente lingüístico propício,
maior poderá ser sua inteligibilidade” (APPELMAN,1986, p. 239, tradução nossa) 2
De maneira geral, desde que cheguei dos Estados Unidos, tenho adquirido muita
experiência como professor de inglês em diversas escolas da cidade de São Paulo.
Tenho notado as diversas dificuldades de pronúncia e dicção de certos vocábulos em
inglês de cada aluno em sala de aula e vejo essas mesmas dificuldades se repetirem em
um ensaio de coro quando este prepara uma obra onde o texto é em inglês.
Tendo em vista a minha experiência como coralista nestes dois países e minha
experiência como professor, penso em desenvolver uma ferramenta para auxiliar os
1 Most audiences desire and hope to understand the text of the singer as he sings, and that in singing he
will elevate the text in an artful manner so that the word will not be subservient to the beautiful sound. 2 As a rule, the more consistently a phoneme is pronounced within a particular linguistic environment
the greater the intelligibility.
2
regentes no trabalho de dicção da língua inglesa americana com coros para falantes da
língua portuguesa brasileira.
OBJETIVOS
1. Selecionar trechos de partituras corais escritas por compositores americanos.
2. Identificar as dificuldades de dicção e pronúncia nos trechos selecionados.
3. Fazer um levantamento das dificuldades dos coralistas para com a língua inglesa
americana ao ser cantada.
4. Propor soluções para o regente ao ensaiar tais peças.
METODOLOGIA
O trabalho consistirá na leitura e revisão da bibliografia geral e específica que
aborda o canto coral e a dicção da língua inglesa americana, bem como a seleção de
trechos de partituras para coral escritas por compositores americanos que contenham
palavras, que independente da altura e duração, apresentam maior dificuldade de
pronunciação. Em seguida, será feita uma análise destes trechos e um levantamento das
dificuldades de pronúncia e dicção por parte dos coralistas.
CRONOGRAMA
ATIVIDADE Início Término
Revisão da Literatura Coleta e leitura das principais
obras relacionadas ao assunto Mar/2012 Set/2012
Organização de Dados Organizar e selecionar os pontos
mais importantes para a pesquisa Jul/2012 Set/2012
Análise e interpretação dos
Dados
Contextualizar os pontos
importantes da pesquisa Set/2012 Out/2012
Apresentação dos
resultados
Elaboração do texto final e
entrega do trabalho Nov/2012 Dez/2012
3
BIBLIOGRAFIA
APPELMAN, D. Ralph. The science of vocal pedagogy. Indiana University Press.1986
MARSHALL, Madelaine. The singer‟s manual of English diction. G. Schirmer. 1953
NEWTON, George. Sonority in singing: a historical essay. New York: Vantage Press.
1984.
FISHER, Robert E. The Design, Development, and Evaluation of a Systematic Method
for English Diction in Choral Performance. Journal of Research in Music Education, v.
39, n. 4, p. 270-81, 1991.
FERNANDES, Angelo José. O Regente e a construção da sonoridade coral: uma
metodolo- gia de preparo vocal para coros. 2009. Tese (Doutorado). Unicamp.
4
INTRODUÇÃO
Residi nos Estados Unidos da América por um período de quase quatro anos
onde tive a oportunidade de aprender inglês, estudar música e cantar em diversos corais.
Ao regressar ao Brasil, pude notar que os integrantes dos coros formados por cantores
falantes da língua portuguesa brasileira, ao cantarem peças em inglês escritas por
compositores americanos, apresentavam certas dificuldades não só pelo seu
entendimento linguístico, mas, também, pela pronúncia e dicção.
A duração dos ensaios desses coros nem sempre eram suficientes para que o
texto em inglês fosse cantado com clareza. A qualidade da pronúncia e da dicção pode
interferir na inteligibilidade do texto pelo público em que “A maior parte do público
deseja e espera entender o texto do cantor quando ele canta, e em seu canto elevar o
texto de uma maneira ardilosa para que a palavra não seja subordinada ao lindo som.”
(APPELMAN,1986, p. 172, tradução nossa)3
Esse problema se acentua uma vez que não vivemos em um país onde a língua-
mãe é a inglesa e esta apresenta fonemas e ditongos que não existem na língua
portuguesa como por exemplo “th”, “ous”, “ey”, entre outros. Desta maneira pode-se ter
comprometida a clareza da pronúncia do texto ao se cantar uma vez que “Por via de
regra, quando um fonema é pronunciado dentro de um ambiente lingüístico propício,
maior poderá ser sua inteligibilidade” (APPELMAN,1986, p. 239, tradução nossa) 4
De maneira geral, desde que cheguei dos Estados Unidos, tenho adquirido muita
experiência como professor de inglês em diversas escolas da cidade de São Paulo.
Tenho notado as variadas dificuldades de pronúncia e dicção de certos vocábulos em
inglês de cada aluno em sala de aula e vejo essas mesmas dificuldades se repetirem em
um ensaio de coro quando este prepara uma obra com o texto em inglês. Há uma
tendência em pronunciar as palavras da forma como lemos em português, e na maioria
das vezes a palavra cantada em inglês tem até mesmo seu significado comprometido.
3 Most audiences desire and hope to understand the text of the singer as he sings, and that in
singing he will elevate the text in an artful manner so that the word will not be subservient to the beautiful
sound. 4 As a rule, the more consistently a phoneme is pronounced within a particular linguistic
environment the greater the intelligibility.
5
Por essa razão, um regente de coro deve dar atenção especial à pronúncia da
obra que será trabalhada para que, não só o texto cantado seja compreendido, mas para
que o sentido musical da peça possa ser aprimorado também.
A fim de que o público entenda bem a sonoridade característica e o
significado do texto – seja em que idioma for – é necessário, primeiramente,
que se trabalhe a pureza dos sons vocálicos e a clareza das consoantes.
Entretanto, um simples trabalho de enunciação não é o suficiente, sendo
necessário combiná-la com a prática insistente de se cantar as palavras com a
acentuação adequada e dar sentido ao conteúdo poético de cada verso,
ajustando-o ao conteúdo musical da obra. Assim, os textos ganham em
expressividade e seu significado é melhor comunicado. (FERNANDES, A.
J.; KAYAMA, A. G.; ÖSTERGREN, E. A., p. 51-74)
Por isso, tendo em vista a minha experiência como coralista nestes dois países e
minha experiência como professor, penso em desenvolver uma ferramenta para auxiliar
os regentes no trabalho de dicção da língua inglesa americana com coros para falantes
da língua portuguesa brasileira.
Para o desenvolvimento da proposta acima referida, foram selecionados trechos
de duas peças do compositor norte-americano Norman Dello Joio onde possivelmente
ocorreriam erros de dicção e pronúncia. Por meio dos problemas abordados, pretendo
sugerir certas soluções que poderão servir como ferramenta para um regente de coro, de
forma a melhorar a pronúncia no canto de obras em inglês de compositores norte-
americanos.
Reitero que o inglês que será considerado nesse trabalho é o de origem
americana.
O trabalho está divido da seguinte forma. No capítulo 1, intitulado Diferenças
entre o inglês falado e o inglês cantado, abordarei diferenças do idioma inglês quando
este é cantado e falado.
Em seguida no capítulo 2, selecionei trechos das peças “To Saint Cecilia” e “The
Blue Bird” e aponto possíveis problemas de pronúncia enfrentados por falantes da
língua porguesa do Brasil.
Para finalizar, no capítulo 3, agrupei e categorizei os fragmentos selecionados
onde fiz uma análise qualitativa de cada possível problema que seria encontrado, e a
partir dessa análise, apresentei uma solução para cada caso.
6
1. DIFERENÇAS ENTRE O INGLÊS FALADO E O INGLÊS CANTADO
Neste capítulo abordarei as diferenças entre o inglês falado e o inglês cantado,
pois, por se tratar de um trabalho onde a pronúncia e dicção tem como foco principal, é
importante salientar que
Os sons que a boca humana produz incluem diversos eventos acústicos como
falar, cantar, gargalhar, tossir, assoviar, e sons de lábio. A discriminação
desses sons contribuem para evitar o sistema de erros do diálogo falado a
compreensão da comunicação da fala humana. (OHISHI, Y; GOTO, M;
ITOU, K; TAKEDA, K, p. 1, tradução nossa)5
Dentre desses variados eventos acústicos, será abordado por este trabalho apenas
a diferença entre a fala e o canto na língua inglesa.
Os autores Emmons e Chase ressaltam em seu livro que
(...) não se pode cantar como se fala. Não é o suficiente para atender as
advertências freqüentes para "cuspir as consoantes para fora", ou "relaxar, é
só como falar no tom", ou "cantar sobre as consoantes" (EMMONS, Shirlee;
CHASE, Constance, 2006, p. 62, tradução nossa)6
Essa citação traz uma ideia contrária a um pensamento comum de que o canto e
a fala são similares. Eles ainda complementam que:
1. O controle da respiração é muito mais rigoroso para o canto
do que para a fala.
2. Uma vogal deve ser sustentada por períodos maiores no canto
do que na fala.
3. A altura coberta pela voz cantada é muito superior que a
utilizada para falar.
4. Os sons do canto demandam maior variação de dinâmica.
5. Cantar requer um nível maior de ressonância, não necessária
para falar. (loc cit)7
Um outro ponto que diferencia o inglês falado e o cantado é a separação silábica
das palavras, que nem sempre coincidem com a divisão silábica de uma canção. “Uma
5 Sounds from the human mouth include various acoustic events
such as speaking, singing, laughing, coughing, whistling, and
lip noises. The discrimination of these sounds contributes to
avoiding spoken dialogue system errors and to understanding
human speech communication. 6 (…) one cannot sing as one speaks. It is not enough to heed the frequent admonitions to "just spit those
consonants out," or to "relax; it's just like speaking on pitch," or to "sing on the consonants". 7 1. Breath management responsibilities are far more stringent for singing than for speaking.
2. A vowel must be sustained for greater durations in singing than in speaking.
3. The range covered by the singing voice far exceeds that used for speaking.
4. The sounds of singing demand greater fluctuations of dynamics.
5. Singing requires a constant level of resonance not necessary for speaking.
7
palavra em inglês de duas ou mais sílabas é separada silabicamente pela sua estrutura e
esta mesma quando cantada, pode ser separada silabicamente para soar mais clara.”
(MARSHAL,1953, p. 7, tradução nossa.) 8 Exemplos:
spir-it-u-al spi-ri-tu-al
di-fer-ence di-ffe-rence
re-mind-er rem-in-der
Também é importante ressaltar que as vogais e as consoantes são emitidas de
formas diferentes quando cantadas. A cantora Miriam Tikotin, em seu website sobre
canto lírico, reporta que
Uma das diferenças entre falar e cantar é o tempo: nos cantamos muito mais
devagar. E na maioria das vezes nós cantamos vogais. Por causa disso – nós
temos que definir as vogais muito claramente. (...) Os cantores devem exager
a pronúncia das consoantes usando tempo e apoio extra com elas.9
(studio.miriamtikotin.com/voice_diction.html)
Como o presente trabalho pretende propor soluções de dicção de uma língua
estrangeira para que o coralista obtenha uma pronúncia aproximada daquela de um
nativo, é relevante ter consciência dessas diferenças entre canto e a fala, uma vez que os
possíveis problemas de pronúncia tratados aqui envolvem ditongos, sons característicos
da língua inglesa, fonemas que soam diferentes nesta mesma língua e sons de
consoantes, ou seja, para produzir estes sons, o coralista deve fazê-lo pensando na voz
cantada, levando em consideração fatores que vão desde o controle da respiração até a
separação silábica do trecho a ser cantado.
Para evidenciar a possibilidade de ter a pronúncia mais adequada de acordo com
a língua estrangeira quando se canta, observe a citação abaixo:
Por mais que os valores das vogais quando faladas variam de acordo com o
idioma ou dialeto, no canto eles não podem partir da coincidência de uma
altura de uma vogal e de um harmônico de uma fala. Isso é um absoluto no
canto. Essa é uma das razões pela qual uma pessoa pode cantar em uma
8 A word of two or more syllables is divided, in print, on the basis of its structure; the same word,
when sung, may be divided in an entirely different manner for the sake of clearer and more effective
singing. 9 One of the difference between singing and speaking is time: we sing much slower. And most of that
time we sing on vowels. Because of that - we have to define the vowels very clearly:
Singers should exaggerate pronouncing the consonants using extra time and extra support on them. If we
do not pay that extra attention - it will probably not be understood;
8
língua estrangeira sem sotaque, mas não pode falá-la sem sotaque.
(EMMONS, Shirlee; CHASE, Constance, 2006, p. 62, tradução nossa)10
A citação acima mostra que é possível cantar sem sotaque, o que evidencia ainda
mais a importância do trabalho da dicção com um coro.
10 Whereas spoken vowel values vary according to languages and dialects, in singing they cannot depart
from the coincidence of a vowel pitch and an harmonic of the sung pitch. This is an absolute in singing.
This is one of the reasons that a persons can sing in a foreign language without an accent but cannot speak
it without an accent.
9
2. TRECHOS SELECIONADOS PARA ANÁLISE EM RELAÇÃO ÀS
DIFICULDADE DE PRONÚNCIA
Esta análise possue trechos que foram retirados de duas peças, To Saint Cecilia e
The Blue Bird, do compositor americano Norman Dello Joio (1913 – 2008). Essas obras
foram escolhidas porque nesta pesquisa a proposta é trabalhar com problemas de
pronúncia no inglês norte americano e, além disso, tais obras tem sido bastante
executadas por vários coros11
, inclusive, brasileiros como foi o caso do Coro de Câmara
da Unesp que no ano passado realizou a primeira citada juntamente com a Banda
Sinfônica Jovem e neste ano tem trabalhado a segunda obra mencionada.
Os trechos serão apresentados, enumerados em separado apontando-se os
problemas quanto à pronúncia que neles podem ocorrer para em seguida agrupá-los por
categorias de problemas comuns e apresentar as sugestões para as dificuldades de
dicção observadas.
A escolha dos trechos foi baseada nas possíveis dificuldades de pronúncia das
palavras, sejam estas relacionadas à associação equivocada com a Língua Portuguesa do
Brasil, elisões, terminações, entre outros casos, que se verá mais adiante.
Trechos das obras selecionadas e possíveis problemas de pronúncia:
Seleção dos trechos de “To Saint Cecilia”
Trecho 1
11 Ver exemplos no Youtube: http://goo.gl/2lXqn / http://goo.gl/oJolp / http://goo.gl/3ofht
10
JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p. 5).
Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal.
Problema: palavra universal [jʊnɪvərsəl]
Trecho 2
JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p. 5).
Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal.
Problema: palavra began [bɪgæn]
11
Trecho 3
JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p. 6).
Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal.
Problema: frase When Nature underneath a heap of jarring atoms lay [wɛn netʃər
əndərniθ ə hip əv dʒɑrɪŋ ætəmz leI]
Trecho 4
JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p. 8-
9). Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal.
Problema: a frase ye more than dead [ji mɔr ðæn dɛd]
Trecho 5
12
JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p.
10). Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal.
Problema: a palavra obey [obeI]
Trecho 6
JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p.
11). Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal.
Problema: a frase Through all the compass of notes [θru ɒl ðə kəmpəs əv nots]
Trecho 7
13
JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p.
12). Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal.
Problema: a palavra full [fʊl]
Trecho 8
JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p.
14). Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal.
Problema: a palavra brethren [brɛðrən]
Trecho 9
14
JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p.
14). Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal.
Problema: a palavra faces [fesəz]
Trecho 10
JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p.
19). Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal.
Problema: a palavra Music [mjuzɪk]
Trecho 11
15
JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura (p.
25). Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal.
Problema: a palavra jealous [dʒɛləs]
Trechos de “The Blue Bird”
Trecho 12
JOIO, Norman Dello. The Blue Bird. New York: Carl Fischer, 1952. 1 partitura (p. 4).
Vozes mistas com piano.
Problema: a frase How shall I tell my love? [haw ʃæl aI tɛl maI ləv]
Trecho 13
16
JOIO, Norman Dello. The Blue Bird. New York: Carl Fischer, 1952. 1 partitura (p. 6).
Vozes mistas com piano.
Problema: a frase Hear while I tell [hɪr waIl aI tɛl]
Trecho 14
JOIO, Norman Dello. The Blue Bird. New York: Carl Fischer, 1952. 1 partitura (p. 9).
Vozes mistas com piano.
Problema: a frase I will not give you [aI wɪl nɑt gɪv]
Trecho 15
17
JOIO, Norman Dello. The Blue Bird. New York: Carl Fischer, 1952. 1 partitura (p. 9).
Vozes mistas com piano.
Problema: a palavra Bring [brɪŋ]
Trecho 16
JOIO, Norman Dello. The Blue Bird. New York: Carl Fischer, 1952. 1 partitura (p. 13).
Vozes mistas com piano.
Problema: a frase full well she knew [fʊl wɛl ʃi nu]
18
3. ANÁLISE E SUGESTÃO PARA OS PROBLEMAS ENCONTRADOS NOS
TRECHOS SELECIONADOS
Os trechos selecionados foram agrupados por problemas comuns e categorizados
da seguinte maneira: associação com a fala em português, ditongos, o som do “th” e do
“t”, fonemas que soam diferentes da forma que estão escritos, terminações de palavras e
elisões. Essas categorizações são apenas ilustrações das ocorrências que podem ser
encontradas quando um coro brasileiro canta em inglês. Pretende-se nesta parte do
trabalho, em cada agrupamento, abordar a palavra do trecho específico, como
provavelmente um brasileiro a cantaria e, apresentar uma solução para cada caso com
vistas a contribuir com uma pronúncia de melhor qualidade que poderá facilitar a
inteligibilidade do texto, bem como colaborar com aspectos tais como: a sonoridade do
coro, afinação, precisão rítmica, entre outros.
3.1 Associação com os sons da Língua Portuguesa do Brasil
Trechos: 2, 7, 11, 14, 15 e 16
É comum para um falante da Língua Portuguesa do Brasil ler uma palavra em
alguma outra língua e pronunciá-la como se fosse em português pois
por inconsciência da mudança necessária, coordenamos os movimentos dos
órgãos da fala (abertura da boca, língua, lábios, vibração das pregas vocais)
como se estivéssemos falando português; também guardamos tendências de
pronunciar (padrões de pronúncia) típicas do português. (SCHUMACHER;
WHITE; ZANETTINI, 2002, p. 36)
Nos trechos selecionados temos os seguintes casos
Palavra Problema/ Provável
pronúncia
Sugestão
a. began [bɪgæɲ] “Bigãn” – em inglês soará
como begun, particípio do
mesmo verbo.
“Bi-guén”
b. full [fʊl] “fúl” – em inglês soará
como fool, ou seja, tolo.
“fôul”
c. jealous [dʒɛləs] “Djélous” – a palavra pode “Djé-lãs” – onde ous
19
ficar incompreensível sempre tem o som de ãs
d. I will not give you [aj wɪl
nɑt gɪv]
O will e o give tendem a
soar como wheel e geev.
Wil e guiv - sendo o “i”
falado como o segundo “e”
da palavra “mexe
e. Bring [brɪŋ] O bring soa com [i], onde
na verdade é [I].
Bring – sendo o “i” falado
como o segundo “e” da
palavra “mexe”
f. full well she knew [fʊl
wɛl ʃi njʊ]
Novamente “fúl” – em
inglês soará como fool, ou
seja, tolo; e “níu” – em
inglês soará como knee, ou
seja, joelho.
Niú
No caso a, para a palavra began [bɪgæɲ] sugeri a pronúncia “Bi-guén” onde o
[æ], está em posição tônica e pode ser pensado, para aproximar com um som da língua
portuguesa, com o “é”, como por exemplo, na palavra “égua”. Desta forma evitaria-se a
dicção equivocada “Bigãn” que resultaria em outro tempo verbal em inglês. Deve-se
salientar, entretanto, que a terminação do “n”, deve ser de acordo com n [ɲ]. Ou seja,
não se deve falar o “n” final como um ditongo nasal, “êin” em português.
Outro erro muito comum para os falantes do português do Brasil acontece no
trecho b, ao pronunciar a palavra full [fʊl], em inglês “cheio”, é fazê-la soar como fool,
ou seja, “fúl” como seria escrito em português, que quer dizer tolo. Isso acontece pela
associação com a fala do português, uma vez que a vogal “u”, em posição tônica, nessa
mesma língua tem o som prolongado como em “urso” ou “uva. De acordo com o AFI
(Alfabeto Fonético Internacional) a vogal “u” nas duas palavras, tem transcrições
diferentes:
Full [fʊl] Fool [ful]
Para pronunciar corretamente a palavra full, basta dizer “fôul”, lido como se
estivesse falando português, uma vez que esta palavra “não tem equivalência em
20
português que sirva de exemplo”. (SCHUMACHER; WHITE; ZANETTINI, 2002, p.
44). Isso evita que o falante da língua portuguesa mude o significado das palavras,
como nas palavras pool (piscina) e pull (puxar).
Já no caso c, jealous [dʒɛləs], o “j” inicial tem o som semelhante ao “d” presente
na palavra “dia” [dʒiə] do português. Na mesma palavra, outro erro comum também por
causa da associação com a língua portuguesa, é o de pronunciar erronamente a sufixo
ous (əs), que em português se aproxima ao “as” da palavra casas [kazəs] ou até mesmo,
como o fonema “ãs”, de maçãs. Sendo assim a pronuncia mais ideal para a palavra
“jealous” é “djélãs”, como seria escrito em português.
Nos casos d e e, a vogal “i” das palavras Will e bring pode ser pensado a partir
do “i” reduzido, o [I] do AFI, como nos caso da palavra em português mexe [mæʃI], em
que o segundo “e” soa como um “i” curto. Essa sugestão é para evitar que o falante da
língua portuguesa pronuncie e cante o “i” [i] longo como, por exemplo, na palavra feet,
o que estaria errado e em alguns casos esse erro pode mudar o significado das palavras
como em leave (deixar, sair, partir) e live (morar), feet (pés) e fit (caber).
Na frase full well she knew [fʊl wɛl ʃi nu] do caso f, os problemas estão nas
palavras ful [fʊl], (explicado anteriormente no caso b) e knew [niú].
Na palvra knew, o “k” não é pronunciado e na minha experiência como professor
de inglês, este não é um erro tão frequente, mas ainda assim vale ressaltar que “os sons
das letras “k” e “g” não são pronunciados quando aparecem antes da letra “n”.”
(SCHUMACHER; WHITE; ZANETTINI, 2002, p. 69). Entretanto, o que geralmente
acontece com os falantes do português brasileiro ao pronunciar a palavra knew, é um
nítido som de ní ou níu. Isso acontece também pela presenta do “e” na palavra e a
associação com outras palavras em inglês que também contém a vogal “e” como, por
exemplo, nas palavras knee, free e creed.
Sendo assim, de acordo com o AFI, sugiro que a pronúncia seja “niú”
acentuando, mas não prolongando, o “u” e não o “í” como seria de costume, e de acordo
com a AFI, a transcrição fonética da palavra knew é [njʊ], ou seja, com uma semivogal
e um “u” curto, reduzido.
3.2 Ditongos
21
Trechos: 1, 5 e 10
As vogais da língua inglesa possuem quatorze sons de acordo com o padrão de
Received Pronunciation12
, destes, abordarei dois, contidos na obra de Dello Joio, que
são problemáticos por causa da associação com os sons do próprio português falado no
Brasil, que foi tratado no subtópico 2.1.
Palavra Problema/ Provável
pronúncia
Sugestão
a. universal [junɪvərsəl] “universal” – u como em
urso.
“iúnivãrsol”
b. obey [obeI] “obeí” – as vogais “o” e
“e” não soariam.
“ôu-bêi”
c. Music [mjuzɪk] “Míuziqui” – além de
acrescentar uma sílaba a
mais a vogal “u” soaria
com um ditongo
decrescente.
“miúzic”
Sabe-se que em português existem cinco letras para os sons das vogais: “a”, “e”,
“i”, “o” e “u”. Também, pode-se combinar esses sons para formar sequências de vogais
(ditongos e tritongos), por exemplo: ai, pau, outro.
Na língua inglesa, as vogais possuem outros sons, que eu português soariam da
seguinte forma:
Vogal em português Som da mesma vogal em inglês
A “êi” [eI]
E “í” [i]
12 Received Pronunciation (pronúncia recebida), conhecida como RP, é a pronúncia do inglês padrão teoricamente transmitida através do inglês literário.
22
I “ái” [aj]
O “ôu”[oʊ]
U “iú” [ju]
Nos ítens a e c, som da vogal “u” das palavras universal e music, ao ser
pronunciada, soa como um ditongo, “iú”, ou seja, junto com a vogal “i”. Entretanto,
vale lembrar que o som da vogal “u” do inglês, forma um ditongo crescente. Desta
forma o acento fica na vogal “u”, resultando no som “iú” e não “íu.
Na letra b, trata-se de dois ditongos: um sonoro e um escrito, respectivamente o
“ou”-bey “bei”13
sendo que a vogal “o” apresenta um ditongo decrescente, ou seja,
resulta-se no som “ôu” e não “oú”.
A sílaba tônica da palavra obey é a segunda, portanto trata-se de uma palavra
oxítona, e tendo em mente o ditongo decrescente com a sílaba tônica da mesma palavra,
se tem a exata proúncia “ôu-bêi”
Em canto, seja coral ou não, o regente deve ficar atento a esses problemas
relacionados ao ditongo, pois no próprio ditongo, a passagem de um som de vogal para
outro, pode implicar na afinação da cantada, uma vez que a abertura da boca, dentre
outros fatores, pode alterar a ressonância do som produzido.
Alterando a abertura da boca, bem como a vogal é também uma das
principais formas de alterar a ressonância do canto. (...) Mudar a posição de
tom, o arredondamento ou disposição dos lábios, ou o tamanho da abertura da
mandíbula de seus cantores, você deve ter notado mudanças significativas
para o tom.14
(EMMONS, Shirlee; CHASE, Constance, 2006, p. 117-118)
13 A letra Y pode ser considerada ambas vogal e consoante. The letter Y can be regarded as both a
vowel and a consonant. In terms of sound. http://oxforddictionaries.com/words/is-the-letter-y-a-vowel-or-
a-consonant 14
Changing the mouth opening as well as the vowel is also a major way to change the resonance
of the singing. (…) Changing the tone position, the rounding or spreading of the lips, or the size of the
jaw opening of your singers, you will have noticed significant changes to the tone.
23
3.3 O som do “th”
Trechos: 3, 6 e 8
Palavra Problema / Provável
pronúncia do th
Sugestão
a. Underneath [əndərniθ]
“s”, “t” ou “f”
Para pronunciar o “th” é
preciso morder a língua e
assoprar. b. Through [θru]
c. Brethren [brɛðrən]
Existem dois tipos de sons que produzimos:
aqueles formados somente pelos diferentes movimentos das estruturas da
cavidade oral associados „a passagem do ar pela boca, como o som do “f” ou
“t”, por exemplo; aqueles em que, além dos diferentes movimentos e da
passagem do ar pela boca, tmabém ocorre a vibração das pregas vocais, ou
seja, a produção de voz. Exemplos são o som do “v” ou “d”.
(SCHUMACHER; WHITE; ZANETTINI, 2002, p. 25)
No caso do “th” da língua inglesa, é possível pronunciá-lo destas duas formas
embora ele seja um som extremamente, e naturalmente, difícil para brasileiros, pois esse
som não existe na língua portuguesa. A técnica para produzir esse som é a seguinte:
morder a língua e assoprar como se estivesse emitindo o som do “s”. Dessa maneira
emitir-se-á o som do th sem voz. No entanto, para emitir o som do th com voz, repita o
procedimento acima, só que ao invés de assoprar como se estivesse emitindo o som do
“s”, emita o som do “z”. Note que o som do “th” com som é emitido sempre quando há
uma vogal na frente dele, como nas palavras the, though, author.
Nos casos a, b e c, o “th” é pronunciado sem voz, ou seja, sem a vibração das
pregas vogais, uma vez que em todos os casos o “th” é seguido de uma consoante ou
está no final da palavra. Desta maneira forma, evitar-se-á confundir o “th” com o som
de “f” ou “t”, o que implicaria no entendimento da palavra.
24
3.4 O som do “t”
Trecho: 13
Palavra Problema/ Provável
pronúncia
Sugestão
a. tell [tɛl] “tél” com o mesmo “t” de
“telefone”
“tsél” onde o “t” soa quase
como um “ts"
Do trecho Hear while I tell [hɪr waIl aI tɛl], tratarei nesse ítem apenas da palavra
tell [tɛl] onde a consoante “t” parece ser problemática quanto sua pronúncia na língua
inglesa.
O “t” em português possue dois sons diferentes: o “t” de “quantia” [ku ntʃi ] e o
“t” de “tatu” [t tu].
Nenhum dos casos citados acima possue o som do “t” da língua inglesa.
Como dito no subtópico 2.3, existem dois tipos de sons que produzimos a partir
de uma consoante, com som e sem som. No caso do “t” em questão, este é produzido
sem som, ou seja, requer apenas um som da passagem de ar que seja audível.
Na língua inglesa
Devemos usar som similar ao sotaque de algumas regiões de SC (como em
Blumenau, por exemplo) ao pronunciar “Bom dia!”, “Boa tarde” ou “Hoje eu
irei ao dentista”. Nestas expressões os sons ficam sem o “chiado”
característico de alguns sotaques, que não existe nesses casos em inglês.
(SCHUMACHER; WHITE; ZANETTINI, 2002, p. 25)
Para ilustrar a citação acima, sugiro tentar pronunciar o “t” posicionando a
língua na crista alveolar superior, ou seja, na cavidade bucal localizada bem atrás dos
dentes superiores. Desta forma o “t” soará quase como um “ts”.
É extremamente importante ser preciso na pronúncia “t” da língua inglesa para
não resultar na mudança de significado das palavras. Ex.: “Dime” [dajm] (dez centavos)
e “time” [tajm] (tempo).
25
3.5 Fonemas que soam diferentes
Trechos: 3 e 6
Palavra Problema/ Provável
pronúncia
Sugestão
Of [əv] Óf – O que em inglês
soaria como “off” e não
“of”
“óv” – com “v” ao invés de
“f”
De acordo com o AFI, a pronúncia correta para a preposição “of” [əv] é “óv”.
Neste caso a consoante “f” tem som de “v” para não ser confundida com o advérbio
“off” [əf].
Pelas razões expressadas no subtópico 2.2, o falante da língua portuguesa do
Brasil facilmente confundiria essas duas palavras.
3.6 Terminações
Trechos: 4 e 9
Palavra Problema/ Provável
pronúncia
Sugestão
a. dead [dɛdt].]
“dédji” “déd” com o ultimo “d”
soando como um “t”
b. faces [feIsəz]
“fêiss” “fêicês”
No caso a, o problema encontra-se no “d” final da palavra dead [dɛd].
Em português, os casos em que o “d” mudo aparecem em palavras como
“advogado” [adʒvogadʊ] e “Edna” [ɛdʒnə], o “d” acaba soando como um “dj”. Sendo
26
assim a tendência do falante do português ao pronunciar a palavra dead, é a de soar algo
como “dédji”.
Uma possível solução para isso é pensar na consoante “d” como se fosse o “t”
no sotaque da região sul do Brasil, nas palavras “dia”, “tarde”, como afirma
(SCHUMACHER; WHITE; ZANETTINI, 2002, p. 25). Somente assim o último “d” soaria
puramente mudo.
No fragmento em questão, há uma outra peculiaridade que pode dificultar ainda
mais a pronúncia da palavra dead, especialmente com relação ao último “d”. Note no
trecho 5, que a palavra dead deve ser cantanda na duração de duas mínimas e uma
colcheia ligadas e logo em seguida há uma pausa cortando o som. Sendo assim a
sugestão final para a melhor execução e clareza deste excerto é a de cantar a letra “d”
como explicado acima, exatamente na entrada da pausa, cortando o som.
No caso b, a palavra faces [fesəz] está no plural. É comum aos falantes do
português confundirem a pronúncia das palavras, quando no plural, que possuem
terminações em “es” como em services, offices, buses, pronunciando o “es” como “Is”,
ou seja com “i” curto como em palavras no português tais como: Mente [MeɲtʃI],
Cabide [kabidʒI]. Por isso, deve-se lembrar que de acordo com o AFI é necessário se
acrescentar uma sílaba extra [əz] para fazer a diferenciação da mesma palavra no
singular.
Para que não seja cometido o erro de pronúncia, anteriormente comentado e, a
sílaba extra [əz] seja devidamente pronunciada, sugiro que a vogal “e”, da palavra faces
seja pensada com acento circunflexo, como na palavra “você”, resultando numa vogal
mais fechada e neutra. Na tabela abaixo coloco alguns exemplos de como as palavras no
plural devem ser pronunciadas, com esta sugestão mencionada.
Singular Plural Sugestão em
português
Face [feIs] Faces [feIsəz] “fêicês”
Service [sərvəs] Services [sərvəsəz] “sãrvãcês”
Bus [bəs] Buses [bəsəz] “bãcês”
27
Office [ɒfəs] Offices [ɒfəsəz] “ófecês”
Language [læŋgwədʒ] Languages [læŋgwədʒəz] “lénguãdjês”
3.7 Elisões
Trechos: 3, 6 e 12
Palavra Problema/ Provável
pronúncia
Sugestão
a. When Nature underneath
a heap of jarring atoms lay
[wɛn netʃər əndərniθ ə hip
əv dʒɑrɪŋ ætəmz leI]
“Uêin Neitchãr ãnderníθ a
rípi ófi jarring átoms lêi”
“UêNêitchãr ãnderníθahíp
óv jórrinétamz lêi”
b. Through all the compass
of notes [θru ɒl ðə kəmpəs
əv nots]
“s‟ru au de compéss ófi
nôutis”
“θru ólθã compéssóv
nôuts”
c. How shall I tell my love?
[haw ʃæl aI tɛl maI ləv]
“Hóu shau ai téu mai lóvi” “hau sháulái téll mai lãv”
Ao ensaiar uma peça em inglês, o regente de coro deve dar atenção especial à
dicção dos coralistas para que as frases musicais e o texto fiquem o mais claro possível.
Isto porque a dicção permite: uma enunciação clara, capaz de proporcionar
um melhor entendimento do texto; uniformidade sonora das vogais, essencial
para uma afinação refinada e para a maior homogeneidade sonora;
uniformidade de articulação consonantal, essencial para o equilíbrio rítmico;
e flexibilidade dos lábios, da língua e da garganta, permitindo uma produção
vocal eficiente e saudável. (FERNANDES, A. J.; KAYAMA, A. G.;
ÖSTERGREN, E. A.,p. 51-74)
Um dos pontos da dicção a ser trabalhado para que a inteligibilidade do texto
fique mais fluente quando se tratar de um outro idioma, é a elisão.
28
Por definição, “elisão é a omissão de sons, sílabas ou palavras na fala. Isto é
feito para tornar a linguagem mais fácil de dizer, e mais rápido.”15
Na língua portuguesa
existem elisões já escritas em algumas palavras, como por exemplo, “daquele”,
“naquele” e “disto”; ou então separadas por apóstrofos como em “d‟água” e “Santa
Bárbara D‟Oeste”.
Musicalmente, essa supressão de fonemas, além de facilitar a articulação do
texto, colabora para o melhor entendimento e fluência das frases musicais propostas
pelo compositor. Nos trechos selecionados, realço alguns dos erros cometidos pelos
coralistas falantes da língua portuguesa.
Esses problemas geralmente ocorrem, pois os sons das vogais e consoantes da
língua inglesa são produzidos em locais diferentes da boca comparado aos locais onde
as vogais e consoantes da língua portuguesa são produzidos, e além disso, a língua
portuguesa ainda possui alguns fonemas nasais que são emitidos quando “a corrente de
ar vibrante passa pelas cavidades bucal e nasal, formando cinco fonemas vocálicos
nasais: linda, tenta, banda, onda, fundo.”16
Como mostra a tabela acima, três trechos problemáticos da obra de Dello Joio
foram selecionados e em seguida proponho possíveis soluções:
Na frase a há um caso típico de elisão logo no começo onde aparece uma
palavra terminada em “n” e outro em seguida começada em “n”: When Nature [wɛn
netʃər].
Nesse caso, sugiro que faça a redução dos dois “n” em questão para um, que
soaria “uêNêitchãr” [wɛnetʃər], como seria escrito em português. Deste modo, será
evitado o erro grave de pronúncia da palavra when que seria um “uêin” anasalado.
Novamente ressalto que o som do “n”, deve ser emitido de acordo com o n [ɲ], ou seja,
não se deve falar o “n” final como um ditongo nasal.
Na mesma frase a, ocorre-se outra elisão em heap of jarring [hip əv dʒɑrɪŋ].
Segundo as Dicas de Pronúncia da Língua Inglesa da BBC, esse tipo de elisão deve ser
feito “quando uma palavra termina em consoante e a próxima palavra começa com um
15 Elision is the omission of sounds, syllables or words in speech. This is done to make the language easier to say, and faster. http://www.teachingenglish.org.uk/knowledge-database/elision 16
http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/tipos-de-fonemas
29
som de vogal, há então uma ligação suave entre essas duas”.17
Embora essa dica de
pronúncia foi proveniente dos consultores linguísticos da BBC de Londres onde o inglês
britânico é falado, esta também se aplica ao inglês americano. Sendo assim, sugestão
para a pronúncia para o trecho heap of seria “rípóv” [hipəv].
Esta regra também se aplica aos casos selecionados b e c. Os mesmo problemas
se repetem e as soluções são similares.
Trecho em questão Sugestão de pronúncia com a elisão e
como seria falado em português do
Brasil
compass of [kəmpəs əv] Compass_of [kəmpəsəv], ou seja
“compéssóv”.
shall I [ʃæl aI] Shall_I [ʃælaI], ou seja “sháulái”.
Note que em alguns casos, as elisões devem ser evitadas quando o texto não
ficar claro ou “quando uma palavra de importância pode ser confundida por uma outra
palavra, então as palavras devem ser separadas.” (MARSHALL, Madelaine, p. 82).
Exemplos:
Steps in Sin
If aught Faught
Nesse caso, a opção da elisão dependerá também da tradução do texto, desta
forma o regente ou o ensaiador saberá quando fazer elisões.
17 “When one word ends with a consonant sound and the next word begins with a vowel sound
there is a smooth link between the two.
http://www.bbc.co.uk/worldservice/learningenglish/grammar/pron/progs/prog1.shtml#linking1
30
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Busquei com o presente trabalho, possíveis problemas de pronúncia, no canto,
que os falantes da língua portuguesa do Brasil podem encontrar na língua inglesa
americana, exemplificados e analisados em determinados trechos de duas obras de
Norman Dello Joio para coral.
No capítulo 1, onde abordei algumas diferenças entre o inglês falado e o inglês
cantado, pudi também inferir que é possível cantar em um idioma estrangeiro com
sotaque reduzido utilizando-se apenas das técnicas vocais básicas.
Em seguida selecionei pequenos excertos das peças “To Saint Cecilia” e “The
Blue Bird” onde apontei possíveis problemas de pronúncia enfrentados por falantes da
língua porguesa do Brasil.
Uma vez que a explicação básica das diferenças entre o canto e a fala na língua
inglesa e as amostras da análise foram apurados, fiz uma análise qualitativa destes
problemas e propus soluções de pronúncia para eles levando em consideração um coro
de falantes da língua portuguesa do Brasil.
Embora pode-se haver muitos problemas de dicção envolvendo associação com
a fala em português, ditongos, o som do “th” e do “t”, fonemas que soam diferentes da
forma que estão escritos, terminações de palavras e elisões, pude verificar que, na
maioria dos casos analisados, o fator que mais dificulta a pronúncia da língua inglesa é a
associação incorreta que o indivíduo em questão faz com a língua portuguesa. Por um
fator inconsciente, os movimentos dos órgãos da fala seguem uma tendência já
adquirida pela língua-mãe, o que gera padrões de pronúncia.
Ao longo da análise, utilizei-me dessa associação para criar transcrições desses
trechos problemáticos como se estes fossem falados em português, partindo do AFI,
busquei sempre um fonema na língua portuguesa que mais se aproximasse do fonema
em inglês, de forma de não comprometer a sonoridade e inteligibilidade da palavra no
texto cantado, como por exemplo:
Palavra em inglês Possível erro de pronúncia Como se falaria em
português
began [bɪgæɲ] “Bigãn” – em inglês soará
como begun, particípio do
mesmo verbo.
“Bi-guén” – soando como se
deve ser pronuciado.
31
Esse tipo de transcrição (escrever como se fala na própria língua) pode ser feito
com outras palavras ou frases de outras peças de outros compositores americanos, como
mostra o exemplo abaixo, tendo como exemplo “The Battle Hymn of the Republic” da
compositora norte-americana Julia Ward Howe:
Frase em inglês Possível erro de pronúncia Como se falaria em
português
coming of the Lord
[kəmɪŋ əv ðə lɔrd]
“comin ófi de Lórdji” –
quase inteiramente associado
à língua portuguesa do Brasil
“Câmin óv dãlôrd”
Por último tratei das elisões, que não deixa de ser algo que fazemos com certa
frequência quando falamos português, porém quando encontramos um idioma que não
dominamos, ao ler uma frase, tentamos pronunciar palavra por palavra, e isso prejudica
a fluência do texto. Musicalmente falando, a fluência do texto é fundamental para que a
obra que está sendo trabalhada possa ter sentido musical.
Assim como previsto, a pesquisa servirá como um caminho para regentes de
coros que possuam coralistas que não dominam a língua inglesa americana e/ou o
Alfabeto Fonético Internacional. Sendo assim transcrevi alguns fonemas do AFI como
este seria falado em português do Brasil. Isto, de certa forma, facilitaria o trabalho do
regente para com o coro que está sendo ensaiado, não só para melhorar a inteligibilidade
do texto em si, mas também para haver uma compreensão do texto musical para todos
os ouvintes.
32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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MARSHALL, Madelaine. The singer‟s manual of English diction. G. Schirmer. 1953
FISHER, Robert E. The Design, Development, and Evaluation of a Systematic Method
for English Diction in Choral Performance. Journal of Research in Music Education, v.
39, n. 4, p. 270-81, 1991.
EMMONS, Shirlee; CHASE, Constance. Prescription for Choral Excellence. Oxford
Press: 2006.
JOIO, Norman Dello. The Blue Bird. New York: Carl Fischer, 1952. 1 partitura. Vozes
mistas com piano.
JOIO, Norman Dello. To Saint Cecilia. New York: Carl Fischer, 1958. 1 partitura.
Vozes mistas e piano ou instrumentos de metal.
FERNANDES, A. J.; KAYAMA, A. G.; ÖSTERGREN, E. A., A prática coral na
atualidade: sonoridade, interpretação e técnica vocal. 2006.
http://www.revistas.ufg.br/index.php/musica/article/download/1865/1770. Acesso em: 9
de setembro de 2012.
OHISHI, Yasunori; GOTO, Masataka; ITOU, Katunobu; TAKEDA, Kazuya.
Discrimination between Singing and Speaking Voices, 2005,
ftp://ftp.cs.pitt.edu/web/projects/nlp/conf/interspeech2005/IS2005/PDF/AUTHOR/IS05
1733.PDF, acesso em: 12 de outubro de 2012.
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8 de outubro de 2012
Is the letter Y a vowel or a consonant? http://oxforddictionaries.com/words/is-the-letter-
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BBC – elision. http://www.teachingenglish.org.uk/knowledge-database/elision Acesso
em: 8 de outubro de 2012
33
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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1984.
Choral Forum. http://www.choralnet.org/view/221707 Acesso em: 4 de outubro de 2012
FERNANDES, Angelo José. O Regente e a construção da sonoridade coral: uma
metodolo- gia de preparo vocal para coros. 2009. Tese (Doutorado). Unicamp.
http://dictionary.reference.com/browse/of?s=t Acesso em: 4 de outubro de 2012