Post on 13-May-2021
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
UNIDADE ACADÊMICA ESPECIALIZADA EM CIÊNCIAS AGRÁRIAS
CAMPUS DE MACAÍBA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO ANIMAL UFRN/UFERSA
MANOEL PEREIRA NETO
AVALIAÇÃO DE MÉTODOS DE ANÁLISES PARA DETERMINAÇÃO DA
CONTAGEM DE CÉLULAS SOMÁTICAS NO LEITE CRU, MANTIDO EM
TANQUE DE RESFRIAMENTO
MACAÍBA, RN
2011
1
Manoel Pereira Neto
AVALIAÇÃO DE MÉTODOS DE ANÁLISES PARA DETERMINAÇÃO DA
CONTAGEM DE CÉLULAS SOMÁTICAS NO LEITE CRU, MANTIDO EM
TANQUE DE RESFRIAMENTO
Dissertação apresentada à Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),
Campus de Macaíba, como parte das
exigências para obtenção do título de Mestre
em Produção Animal.
Orientador: Adriano Henrique do Nascimento
Rangel, D. Sc.
MACAÍBA, RN
2011
2
Divisão de Serviços Técnicos
Catalogação da Publicação na Fonte. Unidade Acadêmica Especializada em Ciências Agrárias Campus Macaíba
Biblioteca Setorial Professor Rodolfo Helinski
Catalogação da Publicação
P 436a Pereira Neto, Manoel.
Avaliação de métodos de análises para determinação da contagem de células somáticas no leite cru, mantido em tanque de resfriamento / Manoel Pereira Neto. - Macaíba, RN, 2011.
51 f
Orientador (a): Prof. Dr. Adriano Henrique do Nascimento Rangel.
Dissertação (Mestrado) . Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Unidade Acadêmica Especializada em Ciências Agrárias Campus Macaíba. Programa de Pós- Graduação em Produção Animal UFRN/UFERSA.
1. Leite Bovino – Produção - Dissertação. . 2. Pecuária Leiteira - Dissertação. 3. Leite Cru – Células Somáticas.- Tanques de Resfriamentos – Dissertação. I. Rangel, Adriano Henrique do Nascimento. II.Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Unidade Acadêmica Especializada em Ciências Agrárias Campus Macaíba. IV. Título. RN/UFRN/BSPRH CDU 637.112
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AVALIAÇÃO DE MÉTODOS DE ANÁLISES PARA DETERMINAÇÃO DA
CONTAGEM DE CÉLULAS SOMÁTICAS NO LEITE CRU, MANTIDO EM
TANQUE DE RESFRIAMENTO
por
MANOEL PEREIRA NETO
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO SUBMETIDA AO
PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO ANIMAL (PPGPA)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE
MESTRE
JUNHO, 2011
© MANOEL PEREIRA NETO
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS
O autor aqui designado concede ao curso de Pós-Graduação em Produção Animal da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte permissão para reproduzir, distribuir,
comunicar ao público, em papel ou meio eletrônico, esta obra, no todo ou em parte, nos
termos da Lei.
Assinatura do Autor:__________________________________________________________
APROVADA POR:___________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Prof. Dr. Adriano Henrique do Nascimento Rangel
___________________________________________________________________________
Prof. Dr. Henrique Rocha de Medeiros
___________________________________________________________________________
Prof. Dr. Aurino Alves Simplício
___________________________________________________________________________
Prof. Dr. Jean Berg Alves da Silva
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Manoel Pereira Neto
AVALIAÇÃO DE MÉTODOS DE ANÁLISES PARA DETERMINAÇÃO DA
CONTAGEM DE CÉLULAS SOMÁTICAS NO LEITE CRU, MANTIDO EM
TANQUE DE RESFRIAMENTO
Dissertação apresentada à Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),
Campus de Macaíba, como parte das
exigências para obtenção do título de Mestre
em Produção Animal.
Aprovada em: ___/___/___
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________________
Prof. Dr. Adriano Henrique do Nascimento Rangel, UFRN
Orientador
_________________________________________________________
Prof. Dr. Henrique Rocha de Medeiros, UFRN
Primeiro Conselheiro
_________________________________________________________
Prof. Dr. Aurino Alves Simplício, UFRN
Segundo Conselheiro
_________________________________________________________
Prof. Dr. Jean Berg Alves da Silva, UFERSA
Terceiro Conselheiro
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DADOS DO AUTOR
MANOEL PEREIRA NETO – Nascido na cidade de São Tomé, RN, em 24 de janeiro de
1970. Concluiu o curso de Técnico Agrícola no Colégio Agrícola de Jundiaí, UFRN, no ano
de 1988, tendo ingressado na Escola Superior de Agricultura de Mossoró (ESAM),
concluindo o curso de Agronomia em junho de 1996. Ingressou na EMATER-RN no ano de
2006, sendo responsável pela assessoria de pecuária bovina.
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AGRADECIMENTOS
A Deus pela inspiração nos momentos mais difíceis dessa jornada;
À minha esposa Dalria Katharina e meus filhos (Milena Katharina, Danilo Ramon e Ana
Ariel), pela compreensão durante o período de curso;
À equipe do SAPI-RN, em especial a Viviane Araújo, pela disponibilidade e presteza no apoio
das ações de campo;
Ao CNPQ, pelo financiamento do projeto que originou os dados trabalhados nessa dissertação;
Ao Orientador Dr. Adriano Rangel, que soube encaminhar soluções para as dificuldades que se
apresentavam, e pelo apoio e compreensão durante todo o período do curso;
Ao Professor Henrique Rocha, pela orientação durante as análises estatísticas;
Aos demais membros da banca examinadora, em especial ao Dr. Aurino Simplício, pelas
importantes sugestões neste trabalho;
Ao Professor Emerson Aguiar, pela luta em tornar realidade o curso de Pós-Graduação em
Produção Animal – PGPA, o que me oportunizou realizar o sonho de concluir um mestrado na
área de produção animal;
Aos Diretores da EMATER-RN, Henderson Magalhães Abreu e Mario Varela Amorim, pelo
apoio e oportunidade para que eu pudesse concluir este curso;
Aos colegas de turma, por termos enfrentado de forma conjunta os desafios de sermos a
primeira turma deste curso;
À colega Fátima Barreto, funcionária da EMPARN pela presteza em fazer a correção
linguística;
À bibliotecária da EMATER-RN Cláudia Simone, pelas orientações nas referências
bibliográficas, durante todo o período do curso;
A todos que de alguma forma contribuíram para que eu pudesse concluir este curso.
Muito obrigado!
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................ 13
OBJETIVOS................................................................................................................. 15
CAPÍTULO I - REVISÃO DE LITERATURA....................................................... 16
1. Características da Pecuária Leiteira no Brasil.......................................................... 16
2. Cadeia Produtiva do Leite no Nordeste................................................................... 18
3. Monitoramento da Qualidade do Leite no Brasil..................................................... 23
4. Mastite..................................................................................................................... 24
4.1. Principais Tipos de Mastite................................................................................... 24
5. Contagem de Células Somáticas.............................................................................. 25
6. Métodos para determinar a contagem de células somáticas..................................... 26
7. Perdas Causadas pela Mastite Subclínica................................................................ 28
REFERÊNCIAS............................................................................................................ 30
CAPÍTULO II - Avaliação de dois métodos de análises para determinação da
contagem de células somáticas no leite cru, mantido em tanque de
resfriamento................................................................................................................ 35
Resumo......................................................................................................................... 36
Abstract......................................................................................................................... 36
Introdução..................................................................................................................... 37
Material e Métodos....................................................................................................... 38
Resultados e Discussão................................................................................................. 43
Conclusão...................................................................................................................... 48
Referências.................................................................................................................... 49
8
LISTA DE FIGURAS
CAPÍTULO I
Figura 1 - Evolução da produção de leite bovino no Brasil em bilhões de litros,
no período de 1995 a 2009...................................................................... 16
Figura 2 - Produção de leite bovino no Brasil em bilhões de litros, nos anos de
1995 e 2009............................................................................................. 18
Figura 3 - Evolução da produção no Brasil e na Região Nordeste no período de
2000 a 2009............................................................................................. 19
Figura 4 - Produção de leite nos estados da Região Nordeste nos anos de 1995 e
2009......................................................................................................... 19
Figura 5 - Maior produção, média e número de rebanhos, por estado, dos cem
maiores produtores de leite do Brasil..................................................... 20
Figura 6 - Quantidade de leite produzido e de leite inspecionado, por estado, no
ano de 2009............................................................................................. 21
Figura 7 - Quantidades de leite em milhões de litros, adquiridos por laticínios e
pelo PAA Leite, nos estados do Nordeste do Brasil............................... 22
Figura 8 - Valor líquido em R$ pago ao produtor pelo programa PAA Leite no
Brasil........................................................................................................ 23
CAPÍTULO II
Figura 1 - Localização das Propriedades.................................................................. 37
Figura 2 - Procedimento de coleta e acondicionamento das amostras. ................... 37
Figura 3 - Sequência de procedimentos para realização do teste
Somaticell®.............................................................................................. 39
Figura 4 - Tubo graduado do Somaticell®............................................................... 39
Figura 5 - Procedimento de análise com o DCC...................................................... 40
Figura 6 - Comparação dos resultados das médias de CCS, obtidos pelos
MilkoScanTM
FT+, DCC e Somaticell® com as exigências da IN
51/2002................................................................................................... 42
Figura 7 - Valores médios do ECS (log CCS) por método e por
propriedade............................................................................................. 43
Figura 8 - Comparação entre os resultados do ECS log (CCS) do Somaticell® e
MilkoScanTM
FT+................................................................................... 44
9
Figura 9 - Comparação entre os resultados do Log (CCS) do DCC e MilkoScan
TM FT+................................................................................................... 45
Figura 10 - Comparação entre os resultados do Log (CCS) do Somaticell e do Log
(CCS) do DCC........................................................................................ 45
10
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO I
Tabela 1- Estados com maiores crescimentos na produção de leite no período de
1995 a 2009............................................................................................. 17
Tabela 2- Produção de leite, rebanho e produtividade por vaca nos estados, na
Região Nordeste e no Brasil.................................................................... 21
Tabela 3- Limites máximos de CCS no leite no Brasil, de acordo com a Instrução
Normativa No 51/2002 (MAPA, 2002).................................................... 26
Tabela 4- Relação entre CCS do tanque, porcentagem de quartos infectados e
porcentagem de perdas de produção de leite........................................... 28
CAPÍTULO II
Tabela 1- Características gerais e índices zootécnicos das propriedades
trabalhadas................................................................................................ 38
Tabela 2
-
Composição média do leite nas oito propriedades...................................
38
Tabela 3
-
Valores médio, mínimo, máximo, e desvio padrão da contagem de
células somáticas (CCS*1000)................................................................. 41
Tabela 4
-
Número de amostras, valores médio, mínimo, máximo, e desvio
padrão do ECS log (CCS) obtidos nos três métodos............................... 42
Tabela 5
-
Valores médios de contagem de células somáticas (CCS*1000) e do
ECS log (CCS) obtidos pelos três métodos............................................. 43
Tabela 6
-
Número de amostras, coeficientes de correlação de Pearson (r) para o
MilkoScan em relação ao Somaticell® e ao DCC e do Somaticell
® em
relação ao DCC........................................................................................ 46
11
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CBT Contagem bacteriana total
CCS Contagem de células somáticas
CCS/µl Contagem de células somáticas por microlitro
Cel/mL Células por mililitro
CMT Califórnia Mastitis Test
CO Centro-Oeste
ECS Escore de células somáticas
FAO Food and Agriculture Organization
Log
(CCS) Contagem de células somáticas convertida ao logaritmo
MAPA Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento
MDS Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
N Número de amostras
N Norte
NE Nordeste
P Nível de significância
PAA Programa de Aquisição de Alimentos
r Coeficiente de correlação de Pearson
R$ Reais
S Sul
SAS Statystical Analysis System
SE Sudeste
SUDENE Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste
USDA United States Departament of Agriculture
WMT Winsconsin Mastitis Test
12
LISTA DE SÍMBOLOS
® marca registrada
% porcentagem
R$ reais
13
INTRODUÇÃO
O leite bovino ocupa lugar de destaque na economia brasileira, com o país ocupando a
quinta colocação entre os maiores produtores mundiais, com uma produção no ano de 2009 de
29,1 bilhões de litros (EMBRAPA, 2010) e uma projeção para 2011 da ordem de 30,8 bilhões
de litros (USDA, 2010). O Brasil tem apresentado taxa de crescimento da produção leiteira
superior à de seus competidores e deve, nos próximos anos, ganhar novas posições de países
tradicionais em pecuária leiteira. Em menos de trinta anos, o crescimento da produção de leite
no Brasil foi superior a 160%. Em parte, esse aumento foi vinculado à expansão da área
explorada, principalmente nos Cerrados de Goiás, no Triângulo e na região do Alto Paranaíba
em Minas Gerais. Além disso, novas fronteiras nas regiões Norte e Centro-Oeste deverão
somar-se ao crescimento em área para a produção leiteira no país (SANTOS et al., 2005;
CARVALHO et al., 2007; CARVALHO, 2008).
No entanto, o aumento da competitividade do setor leiteiro no Brasil exige que se
ultrapassem fortes desafios quanto à apropriação de conhecimentos e à adoção de tecnologias
com foco na qualidade do leite e seus derivados, o que dá suporte à conquista e manutenção
de mercados, interno e externo. Para tanto, deve-se priorizar a eficiência do processo
produtivo, o bem estar animal, a ética e a rastreabilidade, dentre outros aspectos, sem,
negligenciar o equilíbrio agro-ecológico, o impacto social e o retorno econômico (RANGEL
et. al, 2010).
O aumento da produção veio atrelado à necessidade da melhoria da qualidade do
produto. É prática cada vez mais frequente o pagamento do leite por critérios como
porcentagem de sólidos, composição e qualidade higiênica e, não apenas pelo volume ou
peso. No que diz respeito à qualidade higiênica do leite os parâmetros usados com maior
frequência são a Contagem Bacteriana Total (CBT) e a Contagem de Células Somáticas
(CCS). A qualidade industrial do leite está intimamente relacionada à carga microbiana dessa
matéria-prima, pelo fato da baixa qualidade microbiológica interferir, negativamente, nas
características organolépticas, no rendimento industrial, na inocuidade dos derivados e no
tempo de prateleira. Qualidade tem sido um tema recorrente quando se decide investir em
agregação de valor e, por consequência, em alimentos saudáveis e seguros. Ela está
diretamente ligada à competitividade e à rentabilidade e é de fundamental importância para a
conquista e manutenção dos mercados (RANGEL et. al, 2010)
14
O aumento da produção de leite no Brasil e a importância da melhoria da qualidade do
leite desencadearam uma série de ações, como, o aumento da granelização e a instalação de
tanques de resfriamento, individuais e coletivos. Estes têm como público alvo,
principalmente, os agricultores familiares (IBGE, 2007).
Uma forma de se medir a qualidade do leite em tanques é por meio dos resultados da
contagem de células somáticas (CCS), que pode ser feita por métodos que expressam os
resultados de forma qualitativa ou quantitativa. Para efeito de controle da qualidade do leite
acondicionado em tanques de resfriamento, os métodos quantitativos são os mais indicados,
por expressarem os resultados em número de células somáticas por quantidade de leite. O
Brasil possui uma rede de oito (08) laboratórios de referência para análise de leite, para onde
amostras do produto são enviadas e as análises são pagas pelo requerente. Apesar dos
resultados desses laboratórios servirem de referência, por atender a legislação em vigor no
país, isto é, a IN 51/2002, os procedimentos de colheita, armazenamento, envio das amostras,
análises e remessa dos resultados demandam ações que levam tempo. Dessa forma, dificulta
ao produtor o acesso rápido aos resultados o que favorece a tomada de decisões com relação a
possíveis mudanças nas práticas de manejo, particularmente, da promoção da saúde com foco
na melhoria da qualidade do leite. Neste contexto, duas alternativas para se proceder a
contagem de células somáticas foram testadas com o objetivo de facilitar o acesso aos
resultados. Dessa forma o presente trabalho teve o objetivo de avaliar métodos de análise de
contagem de células somáticas (CCS), obtidos a partir de amostras do leite cru mantido em
tanques de resfriamento.
15
OBJETIVOS
Geral
Avaliar métodos de análises para determinação da contagem de células somáticas
(CCS), em amostras de leite cru mantido em tanques de resfriamento.
Específicos:
Comparar os métodos para contagem de células somáticas, calculando o coeficiente de
correlação para os resultados de análises de CCS entre os métodos:
Somaticell® e MilkoScan
TM FT+;
Direct Cell Counter – DCC e MilkoScanTM
FT+;
Somaticell® e Direct Cell Counter – DCC.
16
CAPÍTULO I – REVISÃO DE LITERATURA
1 Características da Pecuária Leiteira no Brasil
A pecuária leiteira no Brasil é praticada em todas as regiões do território nacional,
sendo muita heterogênea, não havendo um padrão de produção (ZOCCAL et al. 2007).
Segundo Wrigth e Spers (2007), no Brasil há uma diversidade de sistemas de produção, não
havendo padronização nem mesmo regional, faltando informação consolidada sobre a
rentabilidade desses sistemas nas mais diversas situações de preços e custos e nas políticas de
aquisição de matéria-prima no que se refere à qualidade, permitindo a expressão de diversos
sistemas em uma mesma região. A realidade brasileira segundo o IBGE (2009), é que existem
1.349.326 propriedades rurais que produzem leite; desse total, 1.002.653 possuem um
rebanho que varia de 2 a 49 cabeças. Do total de propriedades, 145.595 possuem tanques de
resfriamento de leite, sendo 115.297 com capacidade de 1.000 litros. Segundo Zoccal, et al.
(2007), estima-se que 2,3% das propriedades leiterias são especializadas e atuam como
empresa rural eficiente, por outro lado, 90% dos produtores são considerados pequenos, com
baixo volume de produção diário, baixa produtividade por animal e pouco uso de tecnologia.
Evidencia-se que a agricultura familiar responde por 50,0% da produção brasileira de leite
bovino (IBGE 2007).
A produção de leite no Brasil vem sofrendo transformações nos últimos anos,
apresentando crescimento de sua produção anual, tendo atingido no ano de 2009 a produção
de 29,1 bilhões de litros (IBGE, 2009). Ao se considerar a população brasileira de
190.755.799 de habitantes segundo o censo demográfico de 2010, e a produção de leite em
2010, que segundo o USDA (2010) foi de 29,98 bilhões de litros, cada brasileiro teria
disponível um copo de leite por dia, ou 156 mL/habitante, o que é inferior ao consumo
recomendado pela FAO que é de 663 mL/dia. Para atender essa recomendação seria
necessário que a produção brasileira fosse de 46,61 bilhões de litros.
17
Figura 1. Evolução da produção de leite bovino no Brasil em bilhões de litros, no período de 1995 a
2009.
Fonte: IBGE, (2009).
Acompanhando essa transformação, observa-se que a produção de leite no Brasil vem
sofrendo alterações na sua geografia. Estados tradicionalmente produtores vêm reduzindo sua
produção, como São Paulo, que reduziu a produção anual de leite em 20% no período de 1995
a 2009, passando de 1,98 bilhões de litros para 1,58 bilhões de litros, enquanto estados sem
tradição na produção de leite tiveram sua produção aumentada no mesmo período, Tabela 1.
Tabela 1. Estados com maiores crescimentos na produção de leite no período de 1995 a 2009.
Estados Produção, em mil litros Variação
1995 2009 Mil litros %
Sergipe 66.013 286.568 220.555 334,11%
Pernambuco 212.709 788.250 575.541 270,58%
Rondônia 202.189 746.873 544.684 269,39%
Santa Catarina 815.379 2.237.800 1.422.421 174,45%
Amapá 2.710 6.706 3.996 147,45%
Maranhão 145.109 355.082 209.973 144,70%
Tocantins 103.731 233.022 129.291 124,64%
Rio Grande do Norte 105.608 235.986 130.378 123,45%
Mato Grosso 307.426 680.589 373.163 121,38%
Paraná 1.576.541 3.339.306 1.762.765 111,81%
Goiás 1.450.158 3.003.182 1.553.024 107,09%
Fonte: Dados adaptados a partir de informações publicadas pelo IBGE, 2009.
No ano de 2009, destacaram-se com as maiores produções as regiões Sudeste e Sul,
sendo responsáveis por 35,07% e 30,22% da produção brasileira, respectivamente. No período
de 10 anos compreendidos entre 2000 e 2009, destacaram-se com os maiores crescimentos as
regiões Sul com 83,05%, Nordeste com 76,61% e Norte com 60,74%. Enquanto, as regiões
16,518,5 18,7 18,7 19,1 19,8 20,5 21,6 22,3
23,524,6 25,4 26,1
27,629,1
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
18
Centro-Oeste e Sudeste apresentaram crescimento de 37,08% e de 21,53%, respectivamente
(IBGE, 2009).
Figura 2. Produção de leite bovino no Brasil em bilhões de litros, nos anos de 1995 e 2009.
Fonte: IBGE, 2009.
A aquisição de leite por estabelecimentos industriais sob algum tipo de inspeção
sanitária seja ela, federal, estadual ou municipal também vem apresentando crescimento. Na
comparação entre os anos de 2009 e 2010 o crescimento foi de 7%, sendo que do total da
produção de leite do país em 2010, 70% foi adquirido por indústrias com inspeção (IBGE,
2010).
Do total de leite adquirido no Brasil 26% vêm do Estado de Minas Gerais e 14,3%, do
Rio Grande do Sul. A região Nordeste com 5,6% da produção, a Norte com 6,0%, a Centro-
Oeste com 14,7%, a Sul com 33,4% e a Sudeste com 40,3%, (IBGE, 2011).
O crescimento da produção de leite no Brasil criou condições para que o país se
tornasse exportador. No ano de 2008 o país exportou (US$) 540.880 dólares, sendo os
principais produtos o leite em pó e o condensado, tendo importado (US$) 213.145 dólares,
sendo os principais produtos o leite em pó e o soro de leite (BRASIL, 2009). O país apresenta
competitividade em custos de produção e uma oferta em expansão, mas com nível de
produtividade muito aquém do padrão internacional (CARVALHO e VIEIRA, 2007).
1 Cadeia Produtiva do Leite no Nordeste
No Brasil durante as últimas décadas, ocorreram grandes mudanças na produção de
leite. No período de 2000 a 2009, a produção nacional cresceu 43,24% passando de 18,61
Nordeste Norte Sul Sudeste Centro-Oeste
1,89
0,40
4,10
7,54
2,24
3,81
1,08
8,98
10,42
4,22
1995
2009
19
bilhões de litros para 29,1 bilhões de litros. No Nordeste as mudanças estão ocorrendo de
forma mais acentuada. A produção cresceu 64,70%, passando de 2,16 bilhões de litros para
3,81 bilhões de litros (IBGE, 2009). Na Figura 3 encontra-se a evolução da produção de leite
no Nordeste e no Brasil.
Figura 3. Evolução da produção no Brasil e na Região Nordeste no período de 2000 a 2009.
Fonte: IBGE, 2009.
O principal estado produtor da região é a Bahia com uma produção no ano de 2009 de
1,18 bilhões de litros, representando 31% da produção. Os estados que mais aumentaram sua
produção no período de 1995 a 2009 foram Sergipe (334,1%), Pernambuco (270,5%) e
Maranhão (144,7%). Considerando-se o valor absoluto, o estado que teve o maior crescimento
foi Pernambuco com um aumento no período de 1995 a 2009 de 575,5 milhões de litros
(IBGE, 2009).
Figura 4. Produção de leite nos estados da Região Nordeste nos anos de 1995 e 2009.
Fonte: IBGE, 2009.
5,75%4,95%
4,27%
6,13%
7,86%
9,88%
7,60%
4,40%3,48%
10,38%
3,66% 3,76%
5,52%
2,82%
5,49%4,88%
3,16% 2,91%
5,54% 5,51%
0,00%
2,00%
4,00%
6,00%
8,00%
10,00%
12,00%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Nordeste Brasil
201
668
292145 140
213
56 106 66
232
1182
433355
214
788
87
236 287
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
AL BA CE MA PB PE PI RN SE
Mil
hõ
es
de L
itro
s
Leite Produzido 1995 Leite Produzido 2009
20
O número de grandes produtores também cresce no Nordeste. Os cem maiores
produtores do Brasil estão localizados em dez estados, destacando-se Minas Gerais com 45
produtores, São Paulo com o maior produtor com uma produção média de 61.917 kg de
leite/dia e o Paraná com 13, todos localizados no Município de Castro. A região Nordeste
destaca-se pela maior participação de estados, contando com quatro (04) entre os dez (10)
maiores produtores (MILKPOINT, 2011). Na Figura 5 encontram-se a maior produção, a
média e o número de rebanhos por estado dos cem maiores produtores de leite bovino do
Brasil.
Figura 5. Maior produção, média e número de rebanhos, por estado, dos cem maiores produtores de
leite do Brasil.
Fonte: Milkpoint, 2011.
O crescimento da produção de leite na região Nordeste se deu pelo aumento do
número de vacas ordenhadas e pelo aumento da produtividade, no entanto, ao se considerar a
produção por vaca/ano, a produtividade da região ainda é muito baixa. Apesar de a região
possuir 20,65% do total de vacas ordenhadas no país, só detém 12,8% da produção nacional
com uma média de 804 litros/vaca/ano, bem abaixo da média nacional que é de 1.297
litros/vaca/ano. Esta é baixa para os padrões internacionais, pois a média mundial no ano de
2009 foi de 2,35 ton/vaca/ano, com os Estados Unidos obtendo a média de 9,34 ton/vaca/ano
(EMBRAPA, 2010). Apenas três (03) estados do Nordeste possuem média superior à
nacional, Alagoas com 1.533 litros/vaca.ano, Pernambuco com 1.391 litros/vaca/ano e
Sergipe com 1.320 litros/vaca/ano. O Estado da Bahia apesar de ter a maior produção da
12,6
24,0 23,4
34,7
18,4 19,0
7,5
61,9
9,3
14,312,7
10,2 10,011,6
7,5
20,1
3 46
45
24
7
1
10
AL CE GO MG PR RS SE SP
Maior produção kg/dia x 1000
Média kg/dia x 1000
N de Rebanhos
21
região, possui a segunda menor produtividade que é de 555 litros/vaca/ano, ficando à frente
apenas do Piauí que produz 544 litros/vaca/ano.
Tabela 2. Produção de leite, rebanho e produtividade por vaca nos estados, na região Nordeste e no Brasil.
Locais Vacas ordenhadas Produção de leite Produtividade
Quantidade %* mil litros %* litros/cabeça.ano %*
Piauí 160.324 0,71% 87.165 0,30% 544 41,94%
Paraíba 233.698 1,04% 213.857 0,73% 915 70,55%
Alagoas 151.344 0,67% 231.991 0,80% 1.533 118,20%
Rio Grande do Norte 267.755 1,19% 235.986 0,81% 881 67,93%
Sergipe 217.091 0,97% 286.568 0,98% 1.320 101,77%
Maranhão 542.415 2,42% 355.082 1,22% 655 50,50%
Ceará 524.314 2,34% 432.537 1,49% 825 63,61%
Pernambuco 566.563 2,53% 788.250 2,71% 1.391 107,25%
Bahia 2.130.735 9,50% 1.182.019 4,06% 555 42,79%
Nordeste 4.633.915 20,65% 3.726.290 12,80% 804 62,00%
Brasil 22.435.289 100,00% 29.105.495 100,00% 1.297 100,00%
* Valores percentuais em relação ao Brasil
Fonte: Dados adaptados a partir de informações publicadas pelo IBGE, 2009.
Na região Nordeste a quantidade de leite inspecionado vem aumentando a cada ano,
no entanto ainda é baixa. No ano de 2009 o Brasil teve 67,34% do leite produzido adquirido
por laticínio com inspeção, enquanto no Nordeste esse valor foi de 28,42%. Os estados do
Ceará com 45,75%, Alagoas com 43,7%, Rio Grande do Norte com 32,0% e Bahia com
29,1% ficaram acima da média regional, mesmo assim, todos os estados da região ficaram
abaixo da média nacional (IBGE, 2009).
Figura 6. Quantidades de leite produzido e de leite inspecionado, por estado, no ano de 2009.
Fonte: IBGE, 2010.
232
1182
433355
214
788
87
236287
101
344
198
51 46162
1376 68
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
AL BA CE MA PB PE PI RN SE
Mii
lhõ
es d
e li
tro
s d
e le
ite
Leite Produzido Leite Inspecionado
22
O mercado tem forte influência no crescimento da produção de leite na região
Nordeste, merecendo destaque a entrada de grandes empresas de laticínios nos estados, como
é o caso da Danone no Ceará, da Betânia em Sergipe e da Batavo, Bom Gosto e Nestlé em
Pernambuco.
O mercado institucional também faz a diferença na região, sendo o caso do Programa
de Aquisição de Alimentos, modalidade Leite – PPA Leite, coordenado pelo Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS, que faz a aquisição de leite a agricultores
familiares para distribuição à população carente. Esse programa funciona na área de
abrangência da SUDENE, o que compreende todos os estados do Nordeste mais o norte de
Minas Gerais. Ao se fazer a análise do impacto sobre a quantidade de leite adquirido por
laticínios, verifica-se que três estados têm no programa o seu maior destino para o leite
adquirido por laticínios inspecionados, como é o caso do Rio Grande do Norte, que até 2009,
bancava todo o programa com recurso do próprio estado. O volume médio de leite
inspecionado destinado ao PAA Leite no Nordeste é de 17,9%, destacando-se os estados do
Rio Grande do Norte com 70,1%, Paraíba com 62,2% e Piauí com 61,3% do volume total de
leite adquirido em 2009. Os estados de Alagoas e Pernambuco também apresentam um
significativo volume de leite destinado ao PAA Leite com 18,5% e 20,0%, respectivamente,
valores estes superiores à média da região (BRASIL, 2009).
* Volume adquirido com recurso estadual.
Figura 7. Quantidades de leite em milhões de litros, adquiridos por laticínios e pelo PAA Leite, nos
Estados do Nordeste do Brasil.
Fontes: IBGE, 2010 e MDS, 2009.
101
344
198
51 46
162
13
76 68
19 17 16 829 32
8
53
9
0
50
100
150
200
250
300
350
AL BA CE MA PB PE PI RN* SE
Mii
lhõ
es d
e li
tro
s d
e le
ite
Leite Adquirido por Laticínios Leite Adquirido pelo PAA Leite
23
O preço médio incluindo frete e funrural (2,3%) pago ao produtor no Brasil no período de
março de 2010 a abril de 2011 foi de R$ 0,67 e R$ 0,79 por litro respectivamente. Os preços
líquidos pagos ao produtor pelo PAA Leite são um diferencial, pois não apresentam variação
durante o ano e geralmente são mais altos quando comparados aos praticados no Brasil. Na
Figura 8 encontram-se os preços líquidos pagos aos produtores pelo PAA Leite nos Estados
atendidos (BRASIL 2009).
Figura 8. Valor líquido em R$ pago ao produtor pelo programa PAA Leite no Brasil.
Fonte: MDS, 2010.
2 Monitoramento da Qualidade do Leite no Brasil
O Brasil criou o Programa Nacional de Melhoria da Qualidade do Leite (PNQL) a partir
da necessidade de implantar medidas para melhorar a qualidade do leite no país (DURR ,
2004).
Considerando a necessidade de aperfeiçoamento e modernização da legislação sanitária
federal, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) publicou a Instrução
Normativa 51/2002 em 18 de setembro de 2002, que aprova os regulamentos técnicos de
produção, identidade e qualidade do leite tipo A, do leite tipo B, do leite tipo C, do leite
pasteurizado, do leite cru refrigerado e o regulamento técnico de coleta de leite cru refrigerado
e seu transporte a granel (BRASIL, 2002).
O leite cru refrigerado produzido nas fazendas leiteiras do Brasil deve atender a
requisitos físicos, químicos, microbiológicos, de contagem de células somáticas e de resíduos
químicos (BRASIL, 2002). A verificação dos requisitos é feita por meio de amostras de leite
coletadas mensalmente em tanques de refrigeração individuais e coletivos e enviadas para
0,640,68 0,70 0,70
0,74 0,75 0,76 0,770,80
0,89
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
0,70
0,80
0,90
1,00
SE CE AL BA PB MG PE MA RN PI
24
uma das oito (08) Unidades Operacionais integrantes da Rede Brasileira de Laboratórios de
Controle da Qualidade do Leite, que fazem as análises usando metodologia analítica aceita
pelo MAPA.
Dentre os requisitos a serem atendidos, merece destaque a contagem de células
somáticas (CCS), por avaliar a presença ou não de mastite subclínica; fornecer dados de
estimativa das perdas de produção e como indicativo da qualidade do leite produzido na
fazenda (FONSECA e SANTOS, 2000). A determinação da CCS no leite do tanque de
expansão é vinculada, principalmente, à idéia de qualidade do leite em termos de consumo e
processamento, sendo a análise do leite parte do controle da mastite em termos de presença da
doença subclínica, evolução das infecções novas e crônicas, e perdas da produção de leite
(RODRIGUES, 2008).
Uma forma dos produtores terem acesso a dados de CCS de forma mais rápida, é por
meio do uso rotineiro de testes na fazenda que possibilitem acesso aos resultados da contagem
de células somáticas do tanque, por animal ou quarto mamário, oportunizando com isso a
tomada de decisão mais rápida, já que o processo de envio das amostras para o laboratório
apesar de fornecer resultados precisos demanda tempo para que o produtor tenha acesso aos
resultados.
3 Mastite
A inflamação da glândula mamária é denominada de mastite ou mamite sendo o
principal problema dos rebanhos leiteiros. É causada por microrganismos, tais como bactérias
sendo estes considerados os agentes mais importantes, fungos, leveduras e algas (SANTOS e
FONSECA, 2007). Estudos realizados em diversos rebanhos do Brasil identificaram como os
principais agentes patogênicos causadores de mastite: Corynebacterium sp., Staphylococcus
aureus, Staphylococcus sp., Streptococcus sp., Streptococcus agalactiae. (LARANJA e
MACHADO, 1994; BRITO et al., 1999; BARBALHO e MOTA, 2001; MARTINS et al.,
2010).
4.1. Principais Tipos de Mastite
A mastite, dependendo de sua forma de manifestação, é classificada em dois tipos
principais, a mastite clínica que são os casos em que os sintomas são evidenciados, como
aumento da temperatura, edema, endurecimento, e dor na glândula mamária, podendo
25
apresentar grumos, pus ou características diferentes no leite (SANTOS e FONSECA, 2007).
Esses sintomas são facilmente detectados por quem lida com animais rotineiramente. O outro
tipo é a mastite subclínica que tem como característica não apresentar alterações visíveis na
glândula mamária nem no leite. Segundo alguns autores, essa forma de mastite merece
atenção, pois causa maiores prejuízos devido à redução da produção e alteração da
composição do leite. Para Peleja et al. (2006), causa grandes perdas na produção e na
composição do leite, já para Nielsen et al. (2010) a mastite é geralmente considerada a doença
mais importante na produção leiteira, principalmente devido à sua alta prevalência e impacto
negativo sobre o rendimento e composição do leite.
Segundo Santos e Fonseca (2007), a mastite subclínica tem uma prevalência em
rebanhos leiteiros 15 a 40 vezes maior do que a mastite clínica. Martins et al. (2010),
encontraram prevalência de 5,8% e 65,0% de mastite clínica e subclínica, respectivamente no
Mato Grosso. O principal indicador da mastite subclínica é o aumento da contagem de células
somáticas (CCS) no leite (FONSECA e SANTOS, 2000).
4 Contagem de Células Somáticas
Quando a glândula mamária é invadida por um agente patogênico, o organismo reage,
mandando para o local, células de defesa (leucócitos), para tentar reverter o processo
infeccioso. Estas, somadas às células de descamação do epitélio secretor de leite dos alvéolos
são chamadas de Células Somáticas do Leite (CCS) (FONSECA e SANTOS, 2000).
Em animais sadios, 65,0% a 80,0% do total de células somáticas de origem epitelial,
enquanto esse número cai para 50,0% em animais com mastite crônica, e alcança valores
ainda mais baixos, isto é, de 10,0% a 45,0% em casos mais severos (FONSECA e SANTOS,
2000). Para Philpot e Nickerson (1991) em uma glândula mamária infectada, as células de
defesa correspondem entre 98% e 99% das células encontradas no leite. O aumento da CCS
do leite nos casos de mastite se dá pela maior passagem de leucócitos do sangue para a
glândula mamária, aliada à maior descamação do epitélio lesado. Portanto, quando há
presença de um microrganismo patogênico na glândula mamária, geralmente a contagem de
células somáticas se apresenta elevada, e esse aumento na CCS é a principal característica
usada para o diagnóstico da mastite subclínica (SANTOS e FONSECA, 2007). Para o exame
de amostras individuais do leite considera-se como normal de 100.000 a 200.000 cel/ml de
26
leite. Resultado superior a 200.000 cel/mL são indicativos de infecção subclínica (LANGONI,
2007).
A CCS é uma ferramenta importante para o diagnóstico da mastite subclínica, sendo
aceita internacionalmente como a medida padrão para determinar a qualidade do leite cru, e
consequentemente para monitorar a sanidade da glândula mamária (SMITH e HOGAN,
1998), sendo usada por produtores, indústrias e entidades governamentais. Os resultados da
CCS podem ser obtidos a partir de amostras de quartos mamários individualmente,
principalmente em trabalhos de pesquisa, amostras compostas oriundas dos quatro quartos,
em especial para monitoramento de rebanho e de amostras do tanque visando monitorar a
qualidade do leite (SANTOS 2006). A CCS do leite de tanques de resfriamento indica a
incidência média de mastite no rebanho (MACHADO, et al. 2000), sendo a correlação entre a
CCS média no tanque e a ocorrência de mastite de 0,50 a 0,96 (EMANUELSON e FUNKE,
1991).
A contagem de células somáticas (CCS), além de revelar o estado de saúde da
glândula mamária, vem sendo usada há muito tempo por diferentes países como indicador da
qualidade higiênica do leite. Na Austrália, União Europeia, Nova Zelândia, Suíça e Noruega o
limite máximo de células somáticas admitido no leite é de 400.000 cel/mL (GIGANTE,
2004). No Canadá e Estados Unidos da América, os limites fixados são, respectivamente,
500.000 e 750.000 (SANTOS, 2006).
No Brasil a IN 51/2002, estabelece os limites máximos de CCS para o leite medido
por propriedade rural ou por tanque comunitário, Tabela 3.
Tabela 3. Limites máximos de CCS no leite no Brasil, de acordo com a Instrução Normativa No
51/2002
(MAPA, 2002).
Regiões S, SE, CO N, NE S, SE, CO N, NE S, SE, CO N, NE
Período De 01.07.2005
até 01.07.2008
De 01.07.2007
até 01.07.2010
De 01.07.2008
até 01.07.2011
De 01.07.2010
até 01.07.2012
A partir de
01.07.2011
A partir de
01.07.2012
Valor Máximo de
CCS (Cel/mL) 1.000.000 750.000 400.000
Fonte: Brasil, 2002.
5 Métodos para determinar a contagem de células somáticas
A determinação da contagem de células somáticas em leite bovino cru pode ser
realizada por métodos diretos ou indiretos, permitindo que sejam feitas análises de leite ainda
na unidade produtiva e em laboratórios que usam equipamentos capazes de analisar várias
27
amostras em um curto período de tempo. Como exemplo dos métodos indiretos, tem-se: o
California Mastistis Test (CMT) que é bastante simples, possível de ser realizado na fazenda
sendo considerado um dos primeiros métodos indiretos para determinação da CCS
(RODRIGUES, 2008). Consiste em estimar a CCS por meio da reação de um detergente
aniônico neutro que atua rompendo a membrana das células presentes na amostra de leite
liberando o material nucleico, resultando em uma mistura de alta viscosidade. Os resultados
são avaliados em função do grau de gelatinização sendo expressos em escores (FONSECA e
SANTOS, 2000). O aprimoramento do CMT resultou no Wisconsin Mastitis Test (WMT) que
usa o mesmo reagente do CMT diluído em 1:1 em água destilada, e tem o resultado expresso
em milímetros, que está correlacionado com a contagem de células somáticas. O Somaticell®
é uma adaptação do Winsconsin Mastitis Test (WMT), sendo um teste qualitativo por
essência, mas apresenta a conversão do volume restante da mistura leite e reagente para
valores quantitativos em ccs/mL. É comercializado na forma de kit, em que cada kit contém:
100 pipetas brancas para amostra de leite, 100 tubos de análise, 100 tampas com orifícios
calibrados, 100 canudos para homogeneização e 5 frascos de reagente com bico dosador
(CAP-LAB, 200-?).
Contudo, a microscopia direta com o uso de um microscópico óptico é o método de
referência para a contagem de células somáticas em leite cru. Esse método apresenta o
inconveniente de demandar muito trabalho, estando sujeito a variabilidade de interpretação
entre os observadores. Ainda, segundo Silveira et al (2005) essa metodologia demanda muito
tempo para ser realizada, não sendo o método mais recomendado para monitorar a qualidade
do leite de rebanhos com grande número de animais. Por não ter sido criado para realizar
análises de amostras em série, seu emprego fica prejudicado pelo uso excessivo de mão-de-
obra tornando elevado o custo da análise (LEITE, 2006).
Os métodos diretos fazem a contagem direta das células, geralmente com o uso de
corantes que tingem as células somáticas deixando-as diferenciadas para a contagem das
células em si ou de estruturas celulares (RODRIGUES, 2008). A Rede Brasileira de Controle
da Qualidade do Leite (RBQL) emprega equipamentos eletrônicos que usam diversas técnicas
de análises para determinar a contagem de células somáticas no leite cru, sendo usados como
alternativa para facilitar o controle leiteiro e a avaliação da qualidade do leite (SILVEIRA et
al, 2005). Dentre as tecnologias usadas pelos equipamentos eletrônicos, tem-se: a citometria
de fluxo usada pelos equipamentos Somacount (Bentley Instruments Inc.) e Fossomatic
28
(FOSS Denmark), a técnica da espectometria no infravermelho com transformada de fourier
usada no equipamento MilkoScanTM
FT+ (FOSS Denmark). A leitura óptica por meio de
equipamento eletrônico portátil também vem sendo usada, o exemplo é o Direct Cell
Counter(3)
(DCC), que é um aparelho movido a bateria capaz de determinar a contagem de
células somáticas de uma amostra de leite cru em, aproximadamente, quarenta e cinco
segundos (DELAVAL, 2003). O DCC por ser portátil e de fácil uso é passível de ser usado
na unidade produtiva.
6 Perdas Causadas pela Mastite Subclínica
O processo inflamatório na mastite provoca mudança na composição do leite elevando a
contagem de células somáticas (CCS), causando impacto na qualidade e produção do leite.
As estimativas mais precisas de perdas de produção de leite causadas pela mastite são
aquelas baseadas na CCS. Alguns estudos determinaram que existe forte relação entre a CCS
do tanque e a porcentagem de quartos infectados no rebanho, e que o aumento da CCS no
tanque é um reflexo direto do aumento do número de quartos infectados, o que leva a aumento
nas perdas de produção (FONSECA e SANTOS, 2000).
Tabela 4. Relação entre CCS do tanque, porcentagem de quartos infectados e porcentagem de perdas de
produção de leite.
CCS do tanque % de quartos infectados % de perdas de produção
200.000 6 0
500.000 16 6
1.000.000 32 18
1.500.000 48 29 Fonte: NMC, 1996
A indústria de laticínios cada vez mais vem implantando o pagamento do leite pela sua
qualidade e composição. Segundo Ribas et al. (2004) a implantação de sistemas de pagamento
por qualidade, com base nos resultados das análises de gordura, proteína, lactose e/ou de
sólidos totais, e da contagem de células somáticas, possibilitará ao país se enquadrar nos
padrões internacionais de qualidade, necessários à manutenção e conquista de oportunidades
de mercado.
Estudos indicam que uma maior CCS no leite provoca a diminuição no teor de lactose
(AULDIST, et al., 1995; MACHADO et al., 2000; FERNANDES, et al., 2004; EL-
TAHAWY e EL-FAR, 2010; MOSLEHISHAD, 2010).
A gordura percentualmente não reduz em relação à quantidade de leite produzida,
chegando a haver um aumento desse componente em leite com alta CCS. Esse fato se deve à
29
redução da produção de leite ser mais acentuada que o decréscimo da produção de gordura,
ocorrendo concentração desse componente (MACHADO, et al., 2000; FERNANDES, et al.,
2004; RIBAS, et al., 2004).
A presença de elevadas CCS no leite tem efeitos conflitantes sobre a concentração
total de proteína, quando medida pela concentração total de nitrogênio. Segundo Auldist e
Hubble (1998), em animais com mastite, ocorre o aumento na concentração de proteínas de
origem do sangue durante a inflamação com concomitante redução na concentração de
caseína, resultando assim em alterações mínimas na concentração de proteína total do leite.
30
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35
CAPÍTULO II
AVALIAÇÃO DE MÉTODOS DE ANÁLISES PARA DETERMINAÇÃO DA
CONTAGEM DE CÉLULAS SOMÁTICAS NO LEITE CRU, MANTIDO EM TANQUE
DE RESFRIAMENTO
36
Avaliação de métodos de análises para determinação da contagem de células somáticas
no leite cru, mantido em tanque de resfriamento
Resumo - A qualidade do leite cru mantido em tanque de resfriamento de oito propriedades
do Rio Grande do Norte foi analisada, com o objetivo de avaliar métodos para determinação
da contagem de células somáticas (CCS). Foram usados o kit Somaticell® e o equipamento
portátil Direct Cell Counter (DCC), sendo comparados entre si e com o MilkoScanTM
FT+
(FOSS Denmark) que usa a metodologia do Infravermelho com Transformada de Fourier
(IVTF). Os dados de CCS foram transformados para escore de células somáticas ECS log
(CCS) e analisados pelo pacote estatístico SAS®
Statical Analisys System, (SAS,
INSTITUTE, 1998). Foram feitas a comparação das médias e a correlação dos escores de
células somáticas por meio do coeficiente de correlação de Pearson, sendo aplicado o Teste de
Tukey a 1%. Não foi observada diferença significativa para a comparação das médias. A
correlação entre os escores de células somáticas foi significativa, sendo de 0,907 e 0,876 entre
o MilkoScanTM
FT+ e o kit Somaticell®
e o Direct Cell Count (DCC) respectivamente, e de
0,943 entre o kit Somaticell®
e o Direct Cell Count (DCC). Os métodos avaliados podem ser
recomendados para o monitoramento da qualidade do leite cru refrigerado mantido em tanque
de resfriamento em nível de unidade produtiva.
Palvras-chave: ccs, escore de células somáticas, mastite, qualidade do leite.
Evaluation of methods of analysis to determine the somatic cell count in raw milk, kept
in the cooling tank
Abstract – We analyzed the quality of raw milk from eight dairy farms in Rio Grande do
Norte stored in a cooling tank , in order to evaluate methods for determining somatic cell
counts (SCC). The Somaticell® kit and a portable Direct Cell Counter (DCC) were
compared with each other and with the MilkoScanTM FT+ (FOSS Denmark), which uses
Fourier Transform Infrared (FTIR) spectroscopy). Direct cell counter data were processed for
somatic cell scores (log-transformed somatic cell count) and analyzed with the SAS®,
statistical package , Statistical Analysis System, (SAS, INSTITUTE, 1998). Comparison of
means and correlation of somatic cell scores were conducted using Pearson’s correlation
coefficient and the Tukey Test at 1 %. No significant difference was observed for comparison
of means. The correlation between somatic cell scores was significant, that is, 0.907 and
0.876 between the MilkoScanTM FT+ and the Somaticell® kit and Direct Cell Count (DCC)
respectively, and 0.943 between the Somaticell® kit and Direct Cell Count (DCC). The
methods can be recommended for monitoring the quality of raw milk kept in a cooling tank in
the production unit.
Key Words: scs, dcc, somatic cell score, mastitis, milk quality.
37
Introdução
O leite bovino é um alimento importante para a sobrevivência e o desenvolvimento da
cria e a alimentação e nutrição humana, sendo um produto relevante para a economia
brasileira e mundial. Segundo a USDA (2010), os principais países produtores mundiais de
leite encerraram o ano de 2010 com uma produção de 437.901 mil toneladas. Destacando-se a
União Europeia com uma produção de 134.200 mil toneladas, os Estados Unidos da América
com 87.450 mil toneladas, a Índia com 50.300 mil toneladas, a Rússia com 31.400 mil
toneladas, o Brasil com 29.948 mil toneladas e a China com 29.100 mil toneladas. Ressalta-se
que o Brasil figura junto com a China, Rússia, Índia e Ucrânia entre os maiores produtores
agrícolas da próxima década. Ainda, tanto na produção quanto no consumo, as maiores taxas
de crescimento ocorrerão nos produtos e derivados de origem animal. O setor lácteo deve ter
um dos maiores crescimentos dentre as commodities, ocorrendo o incremento da popularidade
dos derivados lácteos entre os consumidores dos países em desenvolvimento. Também,
ocorrerá a expansão da demanda, particularmente devido ao aumento da riqueza. A retomada
do crescimento econômico e o aumento da população humana globais devem impulsionar o
comércio internacional de produtos lácteos e os preços (SIQUEIRA e ALMEIDA, 2010).
O Brasil criou o Programa Nacional de Melhoria da Qualidade do Leite (PNQL) pela
necessidade de se implantar medidas com foco na melhoria da qualidade do produto e de seus
derivados. No ano de 2002 foi publicada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA) a Instrução Normativa No
51 que aprova os regulamentos técnicos de
produção, identidade e qualidade do leite tipos A, B e C, do leite pasteurizado e do leite cru
refrigerado, bem como, a regulamentação técnica para a coleta do leite cru refrigerado e seu
transporte a granel (BRASIL, 2002).
A contagem de células somáticas (CCS) do leite dos rebanhos bovinos do Brasil
passou a ser monitorada por exigência da IN 51/2002, com valores máximos por região
geográfica e datas limites para que sejam alcançados. Isso pelo fato da CCS ser aceita
mundialmente como um dos principais indicadores da qualidade do leite e ainda por favorecer
a avaliação da presença ou não de mastite subclínica no rebanho, fornecendo assim dados para
a estimativa das perdas de produção em nível de unidade produtiva (FONSECA e SANTOS,
2000). A determinação da CCS no leite do tanque de expansão é vinculada, principalmente, à
ideia de qualidade do produto em termos de consumo e processamento, sendo a análise do
38
leite parte do controle da mastite em termos de prevalência da doença subclínica, evolução
das infecções aguda e crônica e perdas da produção de leite (RODRIGUES, 2008).
A situação atual da pecuária leiteira brasileira orienta para a necessidade de se ter
informações rápidas e confiáveis quanto ao número de CCS no leite em nível de unidade
produtiva, daí a importância da avaliação do número de CCS no tanque de resfriamento, o que
favorece a tomada de decisão rapidamente para correção de possíveis ocorrências. O envio de
amostras para uma das unidades operacionais integrantes da Rede Brasileira de Laboratórios
de Controle da Qualidade do Leite, apesar de atender a legislação, tem como principal
inconveniente, o período de tempo transcorrido entre a coleta do leite e o acesso aos
resultados, que a depender da região geográfica pode ser longo, além dos custos com o envio
e a análise.
Objetivou-se neste trabalho avaliar métodos de análise para determinação da contagem
de células somáticas (CCS) em leite bovino cru, mantido em tanques de resfriamento, por
meio de equipamentos passíveis de determinarem a CCS em nível de unidades produtivas.
Material e Métodos
Coleta das amostras
No período de janeiro de 2010 a janeiro de 2011, foram coletadas mensalmente,
amostras de leite cru mantido em tanques de resfriamento, de oito fazendas especializadas na
produção de leite bovino, localizadas nas Mesorregiões: Agreste Potiguar nos municípios de
Brejinho, Ielmo Marinho, Monte Alegre e São Pedro e - Leste Potiguar nos municípios de
Extremoz, Goianinha, Macaíba e São José de Mipibu, no Estado do Rio Grande do Norte,
Figura 1. As propriedades acompanhadas faziam parte do projeto Sistema Agropecuário de
Produção Integrada de Leite (SAPI) na Região Agreste do Rio Grande do Norte. Esses
municípios apresentam uma produção de leite de 29,12 milhões de litros/ano o que
corresponde a 12,3% da produção total do Estado (IBGE, 2009).
39
Figura 1. Localização das Propriedades
Fonte: Google Earth, 2010.
Em cada propriedade foram coletadas oito amostras em frascos com capacidade para
40 mL, sendo quatro delas sem adição de conservante e nas outras quatro foi acrescentado o
conservante Bronopol®. Os frascos eram acondicionados em caixa térmica contendo gelo,
sendo as quatro amostras sem conservante analisadas pelo Somaticell® e pelo Direct Cell
Counter (DCC), e as quatro amostras contendo o conservante eram encaminhados para o
laboratório da Clínica do Leite (ESALQ/USP) para análise eletrônica da contagem de células
somáticas por Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier (IVTF), com o
equipamento MilkoScanTM
FT+ (FOSS, Denmark). O procedimento de coleta (Figura 2) foi
realizado segundo recomendações do “Manual de instruções para coleta e envio de amostras
de leite para análise” (CASSOLI e MACHADO, 2006).
Figura 2. Procedimento de coleta e acondicionamento das amostras.
40
Na Tabela 1, apresentam-se as características gerais e índices zootécnicos das
propriedades.
Tabela 1. Características gerais e índices zootécnicos das propriedades trabalhadas.
Propriedade Município Regime de
manejo Genótipo
No de animais
em lactação
No de
ordenhas/dia
Média
vaca/dia (litro)
Produção/dia
(litro)
1 Monte
Alegre Semiconfinado Jersey 48 2 15 720
2 Ielmo
Marinho Confinado
Girolando
acima de 7/8 281 3 17,89 5.026
3 São Pedro Semiconfinado Girolando 125 2 13,2 1.650
4 Macaíba Semiconfinado Girolando e P.
suiço 99 2 16,16 1.600
5 Brejinho Semiconfinado Girolando 105 2 11,43 1.200
6 Goianinha Semiconfinado Girolando e
holandez 177 2 11,86 2.100
7 São José de
Mipibu Semiconfinado
Girolando e holandez
166 2 11,75 1.950
8 Extremoz Semiconfinado Giroalndo 75 2 12 900
Dados de jan/2010
A composição média do leite das oito fazendas encontra-se na Tabela 2 apresenta-se em
conformidade com as características físico-químicas do leite bovino para a região Nordeste
(BARBOSA, et al., 2006).
Tabela 2. Composição média do leite nas oito propriedades.
Propriedade Gordura,% Proteína,
%
Lactose,
%
Sólidos
Totais %
Extrato Seco
Desengordurado, %
Nitrogênio
Uréico, mg/dL
1 4,25 3,65 4,22 13,09 8,84 11,51
2 3,07 3,19 4,47 11,65 8,59 17,09
3 3,07 3,17 4,53 11,77 8,69 14,95
4 3,33 3,25 4,53 12,09 8,76 13,23
5 3,38 3,29 4,30 11,95 8,57 12,47
6 3,54 3,37 4,40 12,26 8,71 12,56
7 3,53 3,40 4,42 12,26 8,73 15,73
8 3,52 3,20 4,47 12,17 8,64 10,08
Análises das Amostras de Leite
Análise com o Somaticell®
A análise se repetiu para cada amostra tendo-se utilizado o procedimento mostrado na
Figura 3. Com o tubo na posição vertical, foi adicionado reagente até a marca de 2 mL, em
seguida com o auxílio da pipeta foi colocado leite até atingir a marca de 4 mL. O tubo foi
mantido na posição vertical e a solução agitada com auxílio de um canudo, fazendo-se 30
movimentos de sobe e desce, por um período de 20 segundos a 24 segundos. Após a
41
homogeneização o tubo foi fechado com tampa própria até o seu travamento e virado,
deixando a tampa voltada para baixo por 30 segundos. Transcorrido esse período o tubo era
virado novamente, aguardava-se 5 segundos e procedia-se a leitura do líquido remanescente
na escala graduada no próprio tubo, Figura 4.
Figura 3. Sequência de procedimentos para realização do teste Somaticell
®.
Figura 4. Tubo graduado do Somaticell
®
Análise com o Direct Cell Counter Delaval – DCC
As amostras para análise foram conservadas sob refrigeração, sendo analisadas na
manhã posterior ao dia da coleta. A amostra era homogeneizada, sendo colocada em um copo
descartável, de onde, com um cassete descartável, aspirava-se 0,6 mL de leite, em seguida
colocava-se o cassete contendo a amostra no aparelho de leitura que emite um feixe de luz
que atravessa o cassete e permite que o equipamento leia a amostra e faça a contagem
individual de células. O tempo de leitura por amostra é de aproximadamente 45 segundos,
sendo o resultado apresentando em CCS/µl no visor do aparelho, Figura 5.
42
Figura 5. Procedimento de análise com o DCC
MilkoScanTM
FT+ (FOSS, Denmark)
Os resultados das análises feitas pelo laboratório durante o período de janeiro de 2010
a janeiro de 2011 foram usados como referência para a comparação com os resultados obtidos
pelo Somaticell® e pelo Direct Cell Counter. Os frascos contendo amostras de leite foram
acondicionados em caixas térmicas com gelo reciclável e enviados, na manhã seguinte, ao dia
da coleta para o Laboratório da Clínica do Leite (ESALQ-USP). Os resultados da CCS foram
determinados por Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier (IVTF),
usando o equipamento MilkoScanTM
FT+ (FOSS, Denmark).
Análise Estatística
Os dados coletados nesta pesquisa foram organizados e avaliados utilizando-se
estatística descritiva, análise de variância (ANAVA) e análise de correlação. Para isto foram
testados a homogeneidade das variâncias e a normalidade dos dados. Esses testes
demonstraram a necessidade de se realizar transformação matemática da variável CCS para
que fosse possível alcançar a normalidade e homogeneidade das variâncias (ALI e SHOOK,
1980; SHOOK, 1982; SHOOK e RUEGG, 1999). Foi utilizado o logaritmo (LOG) de (x+1)
na base 10, onde o “x” corresponde ao valor medido da variável CCS. Os dados de CCS
transformados foram chamados de Escore de Células Somáticas (ECS) e apresentavam
distribuição normal e homogeneidade de variância. Os resultados foram analisados
utilizando-se o pacote estatístico SAS®, Statical Analisys System, (SAS INSTITUE, 1998).
Na ANAVA para comparação das médias foi aplicado o teste de Tukey a 1% de significância
e na análise de correlação foi utilizado o coeficiente de correlação de Pearson.
43
Resultados e Discussão
Os valores máximos, mínimos e médios da contagem de células somáticas (CCS), o
número de amostras e o desvio padrão são apresentados na Tabela 3.
Tabela 3. Valores médio, mínimo, máximo, e desvio padrão da contagem de células somáticas (CCS*1000).
Variável N Média Desvio
Padrão
Valor
Mínimo Máximo
MilkoScanTM
FT+ 97 525,40 321,19 100,00 1963,75
DCC 67 580,28 316,60 112,50 1759,00
Somaticell® 82 597,39 257,96 136,00 1478,00
Ao se observar a Tabela 3 verifica-se que a média de CCS está em conformidade com
dados encontrados em diversas regiões do país. Machado et al. (2000) em 4.785 amostras
oriundas de tanques no Estado de São Paulo e do norte de Minas Gerais encontraram média
de 505.000 cels/mL e desvio de padrão de 593.000 cels/mL. Silva et al. (2009) em tanques do
sudoeste goiano descrevem valores de CCS para os períodos seco e chuvoso de 524.000 e
529.000 cels/mL respectivamente. Souza et al. (2006) ao analisarem 91.618 amostras da
região Sudeste do Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro no período de 01.07.2005 a
30.06.2006 encontraram 510.000 cels/mL e desvio padrão de 522.000 cels/mL.
Apesar da média de CCS estar em conformidade com médias encontradas outras
regiões produtoras do país, observa-se que os valores máximos registrados em todos os três
métodos estão em desconformidade com a IN 51/2002 (Tabela 3). No entanto, ao se observar
as médias da CCS obtidas, registra-se a conformidade para o período inerente ao estudo, mas
não para a data final estabelecida pelo MAPA para a implantação da Instrução Normativa
51/2002 (Figura 6).
Ao se analisar a média de CCS por propriedade (Figura 6), verifica-se que, para os
padrões exigidos pela IN 51/2002, uma propriedade não atingiu o limite mínimo em nenhum
dos três métodos usados. Enquanto, outra não alcançou esse limite com o resultado da análise
do DCC. Por outro lado, ao se considerar os valores máximos da CCS exigidos ao final da
implantação da IN 51/2002, observa-se que apenas uma propriedade estaria produzindo leite
dentro dos padrões da CCS exigidos.
44
Figura 6. Comparação dos resultados das médias de CCS, obtidos pelos MilkoScan
TM FT+, DCC
e Somaticell® com as exigências da IN 51/2002.
O número de amostras, os valores médio, mínimo e máximo, e desvio padrão do
escore de células somáticas ECS são apresentados na Tabela 5.
Tabela 4. Número de amostras, valores médio, mínimo, máximo, e desvio padrão do ECS log (CCS+1)
obtidos nos três métodos.
Variável N Média Desvio
Padrão
Valor
Mínimo Máximo
MilkoScanTM
FT+ 97 6,10 0,59 4,62 7,58
DCC 67 6,23 0,53 4,73 7,47
Somaticell® 82 6,29 0,49 4,92 7,30
A comparação dos dados do ECS, por método e propriedade pode ser vista na figura 7.
0
150
300
450
600
750
900
1050
1200
1350
1 2 3 4 5 6 7 8
CC
S
(*1
00
0 c
el/m
L)
Propriedade
MilkoScan
DCC
Somaticell
Valor atual de CCS 750.000, até:
01.07.2011 S, SE e CO
01.07.2012 N e NE
Valor máx. de 400.000 CCS/ml a partir
de: 01.07.2011 S, SE e CO
01.07.2012 N e NE
45
Figura 7. Valores médios do ECS (log CCS) por método e por propriedade.
A comparação das médias do resultado da CCS, para os três métodos, considerando os
resultados da CCS em cel/mL e ECS são apresentados na Tabela 6.
Tabela 5. Valores médios de contagem de células somáticas (CCS*1000) e do ECS [log (CCS+1)]
obtidos pelos três métodos.
Variável Valor Médio
CCS (*1000 cel/mL) ECS
MilkoScanTM
FT+ 525,396 6,099a
DCC 580,283 6,23a
Somaticell® 597,390 6,291
a
Valores seguidos de letras iguais, na mesma coluna, não apresentam diferença siginificativa (P>0,01).
Comparação do Somaticell® com o MilkoScan
TM FT+
A contagem de células somáticas determinada pelo método indireto com o Kit
Somaticell® não apresentou diferença significativa (P>0,01) quando comparada aos resultados
obtidos pelo método direto com o uso da metodologia Espectroscopia de Infravermelho com
Transformada de Fourier (IVTF) com o uso do equipamento MilkoScanTM
FT+, da FOSS
(Tabela 6). Rodrigues (2008), descreveu haver correlação significativa (P<0,001) de 0,92
quando comparou os resultados de CCS do Somaticell® com os resultados do equipamento
Fossomatic. A comparação dos resultados transformados para log de CCS do Somaticell®
com o MilkoScanTMFT+ apresentou correlação de r = 0,91; P<0,0001; e encontra-se na
Figura 8.
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
6,00
7,00
8,00
1 2 3 4 5 6 7 8
Val
or
Méd
io E
CS
(lo
g C
CS
)
Propriedade
MilkoScan
DCC
Somaticell
46
Figura 8. Comparação entre os resultados do ECS log (CCS) do Somaticell® e MilkoScanTM FT+
Comparação do Direct Cell Counter, DeLaval – DCC com o MilkoScanTM
FT+
A contagem de células somáticas determinada pelo método direto com o equipamento
portátil Direct Cell Counter (DCC) da Delaval, que usa a leitura óptica não apresentou
diferença significativa (P>0,01) quando comparada aos resultados obtidos pelo método direto
com o uso da metodologia Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier
(ITF) com o uso do equipamento MilkoScanTM
FT+ da FOSS. A comparação dos resultados
transformados para log (CCS) mostrou correlação significativa, com r = 0,88; P<0,0001
(Figura 9), corroborando os achados de Ruegg et al. (2005) ao analisarem 800 amostras de
leite com o DCC e com um equipamento automatizado. Os resultados da avaliação pelo DCC
foram comparados com aqueles da miscroscopia direta para determinar a CCS em leite de
cabra apresentando correlação positiva (BERRY & BROUGHAN, 2007). Estando de acordo,
também, com as correlações para leite de ovelhas (GONZALO et al., 2006).
5,00
5,50
6,00
6,50
7,00
7,50
5,00 5,50 6,00 6,50 7,00 7,50
Lo
g (
CC
S)
So
mat
icel
l®
Log (CCS) MilkoScan TM FT+
47
Figura 9. Comparação entre os resultados do Log (CCS) do DCC e MilkoScan TM FT+
Comparação do Somaticell® com o Direct Cell Counter, DeLaval – DCC
A comparação das médias de CCS entre o Somaticell® e o Direct Cell Counter não
apresentou diferença significativa (P>0,01) (Tabela 6). A comparação das médias
transformadas para log (CCS) apresentou correlação positiva com r = 0,94 (P < 0,0001)
(Figura 10).
Figura 10. Comparação entre os resultados do Log (CCS) do Somaticell e do Log (CCS) do DCC
5,00
5,50
6,00
6,50
7,00
7,50
5,00 6,00 7,00 8,00
Lo
g (
CC
S)
DC
C
Log (CCS) Milkoscan TM FT+
5,00
5,50
6,00
6,50
7,00
7,50
5,00 5,50 6,00 6,50 7,00 7,50
Lo
g (
CC
S)
So
mat
icel
l®
Log (CCS) MilkoScan TM FT+
48
Tabela 6. Número de amostras, coeficientes de correlação de Pearson (r) para o MilkoScan em relação
ao Somaticell® e ao DCC e do Somaticell
® em relação ao DCC.
Variável N r Valor de P
Milkoscan x DCC 67 0,88 < 0,0001
Milkoscan x Somaticell® 82 0,91 < 0,0001
DCC x Somaticell 52 0,94 < 0,0001
Conclusão
1. O Kit somaticell®
e o Direct Cell Counter (DCC) mostraram-se adequados para o
monitoramento da CCS no leite cru de vaca, mantido em tanques de resfriamento, podendo
ser usados em nível de unidade produtiva.
49
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