Artigo Sangue Bovino Em Po Final

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 Sangue bovino em pó   Adriana Auricchio  Eng. de Alimentos / Instituto Mauá de Tecnologia   Daniella Stuart Coelho  Eng. de Alimentos / Instituto Mauá de Tecnologia   Fernanda Barbosa Montagna  Eng. de Alimentos / Instituto Mauá de Tecnologia   Juliane Fernandes Martins  Eng. de Alimentos / Instituto Mauá de Tecnologia   Rodrigo Camargo Pacheco  Eng. de Alimentos / Instituto Mauá de Tecnologia   Ricardo Jambas Piovan  Eng. de Alimentos / Instituto Mauá de Tecnologia   Eng. Dr. Marcello Nitz  Coordenador dos cursos de Engenharia Química e de Alimentos do Instituto Mauá de Tecnologia Introdução O alto teor de proteínas do sangue bovino proporciona a alguns produtos alimentícios propriedades tecnologicamente interessantes, tais como a possibilidade de alteração de textura e solubilidade e o aumento do valor nutricional. Além disso, o sangue bovino é um resíduo da indústria frigorífica e apresenta-se como material de elevado índice poluente. A combinação desses fatores tem feito crescer o interesse e a necessidade de se aproveitar o sangue  bovino, passando-se a considerá-lo um subproduto. O método de secagem é uma a lternativa para a conservação de sangue i ntegral ou de suas frações, visando ao aproveitamento posterior. Conservar o sangue líquido por refrigeração é muito caro, pois, além do grande consumo de energia, os custos para transporte e estocagem do material líquido são maiores do que para o pó. Entre as diversas técnicas de secagem existentes, a secagem por spray dryer  atomização  apresenta vantagens importantes tanto do ponto de vista do

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Artigo Sangue Bovino Em Po Final

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  • Sangue bovino em p

    Adriana Auricchio

    Eng. de Alimentos / Instituto Mau de Tecnologia

    Daniella Stuart Coelho

    Eng. de Alimentos / Instituto Mau de Tecnologia

    Fernanda Barbosa Montagna

    Eng. de Alimentos / Instituto Mau de Tecnologia

    Juliane Fernandes Martins

    Eng. de Alimentos / Instituto Mau de Tecnologia

    Rodrigo Camargo Pacheco

    Eng. de Alimentos / Instituto Mau de Tecnologia

    Ricardo Jambas Piovan

    Eng. de Alimentos / Instituto Mau de Tecnologia

    Eng. Dr. Marcello Nitz Coordenador dos cursos de Engenharia Qumica

    e de Alimentos do Instituto Mau de Tecnologia

    Introduo

    O alto teor de protenas do sangue bovino proporciona a alguns produtos

    alimentcios propriedades tecnologicamente interessantes, tais como a

    possibilidade de alterao de textura e solubilidade e o aumento do valor

    nutricional. Alm disso, o sangue bovino um resduo da indstria frigorfica e

    apresenta-se como material de elevado ndice poluente. A combinao desses

    fatores tem feito crescer o interesse e a necessidade de se aproveitar o sangue

    bovino, passando-se a consider-lo um subproduto.

    O mtodo de secagem uma alternativa para a conservao de sangue integral

    ou de suas fraes, visando ao aproveitamento posterior. Conservar o sangue

    lquido por refrigerao muito caro, pois, alm do grande consumo de energia,

    os custos para transporte e estocagem do material lquido so maiores do que

    para o p.

    Entre as diversas tcnicas de secagem existentes, a secagem por spray dryer

    atomizao apresenta vantagens importantes tanto do ponto de vista do

  • produto quanto do processo. possvel no s se trabalhar com baixas

    temperaturas do produto, preservando se suas caractersticas, como tambm

    controlar a dimenso das partculas, diferentemente do que acontece em outros

    mtodos de secagem. Ao se variar as condies de processo temperatura,

    vazo, velocidade do disco, entre outras possvel alterar as caractersticas do

    p resultante e, assim, determinar a sua aplicao, seja em produtos

    alimentcios, rao animal, seja em fertilizante.

    Neste artigo apresenta-se inicialmente o potencial de utilizao do sangue

    bovino tendo em vista suas propriedades. Em seguida, as diferenas entre a

    farinha de sangue e o sangue em p obtido da secagem por atomizao. Por fim,

    mostra-se um exemplo de processo de secagem realizado num secador spray

    dryer piloto.

    Sangue bovino

    O sangue bovino um dos mais importantes subprodutos do abate em

    frigorficos (GRAU, 1965). Devido sua riqueza em protenas (17% p/p em

    mdia) muito utilizado em diversos pases na alimentao humana, em

    produtos como sopas, molhos e pes. As quantidades de sangue anualmente

    disponveis so muito elevadas; no Brasil, a produo aproxima-se de 90

    milhes de litros. Porm somente uma pequena parte empregada em produtos

    alimentcios; a maior parte destina-se produo de fertilizante, rao para

    animais ou, ainda, descartado no meio ambiente. Por esse motivo, o emprego

    do sangue bovino pode ser de grande utilidade na indstria alimentcia, pois,

    alm de melhorar o valor nutritivo dos produtos, pode contribuir

    significativamente para a reduo da poluio ambiental.

    A sangria feita de forma correta deve remover 60% do sangue do animal e os

    40% restantes ficam retidos em msculos e vsceras. Devido ao seu alto valor

    nutritivo, o sangue suscetvel ao crescimento bacteriano. Um controle rigoroso

    da sua temperatura necessrio para se garantir um produto final que satisfaa

    s exigncias higinico-sanitrias. Ele normalmente refrigerado a 3 C antes de

    ser armazenado ou transportado (ALFA LAVAL, 2007). Na Tabela 1

    apresenta-se a composio do sangue bovino.

  • Tabela 1. Composio do sangue bovino

    Constituintes Concentrao (g/L)

    Protenas 194,0

    Lipdios 1,8

    Glicdios 1,0

    Sais minerais 9,0

    Fonte: QUAGLIA E ALESSANDRONI. Secagem de sangue bovino incorporado protena texturizada de soja, em leito fluidizado e em leito fixo. Campinas: P.J.A. Sobral, 1987.

    Apesar do seu potencial nutritivo, a quantidade de sangue destinada ao consumo

    humano muito pequena. A utilizao mais extensa ocorre em indstrias

    farmacuticas e qumicas. O sangue tem sido utilizado tambm como fertilizante

    e na nutrio animal. Existe, portanto, a possibilidade de se ampliar a sua

    utilizao na alimentao humana, o que contribuiria para a suplementao

    proteica, alm de reduzir a poluio de efluentes e aumentar a eficincia da

    indstria.

    As protenas do sangue integral tm boas propriedades funcionais, como

    capacidade de emulsificao e de reteno de gua (SOBRAL, 1987). A presena

    do sangue em formulaes, por sua vez, pode modificar significativamente a cor

    dos produtos, o que desestimula a utilizao dele em alguns casos. Por isso o

    plasma tem emprego mais amplo nas formulaes de produtos crneos, como

    salsichas, presuntos, pats e hambrgueres, alm do uso em sopas, panificao e

    confeitaria, pois possui propriedades funcionais e no altera as caractersticas

    organolpticas do produto final. Para a utilizao do plasma, a frao celular tem

    de ser separada, carregando consigo a maior parte das protenas do sangue.

    Segundo WISMER-PEDERSEN (1979), em mdia 100 kg de sangue contm 66

    kg de plasma, que possuem 8% da protena (5,3 kg), enquanto 33 kg da frao

    celular contm 35% da protena (11,6 kg). A diferena de um quilograma devida

    ao anticoagulante.

  • Grande parte do sangue oriundo de abatedouros coagulada e desidratada em

    secadores rotativos para a obteno de farinha de sangue, que pode ser

    comercializada como rao animal (ALFA LAVAL, 2007). O processo de

    coagulao e secagem em secadores rotativos prejudica a qualidade do produto

    final. Por isso, no possvel utilizar-se farinha de sangue para a alimentao

    humana. Na Tabela 2 apresenta-se uma comparao entre sangue em p obtido

    pela secagem em spray dryer e a farinha de.

    Tabela 2. Diferenas do processo de coleta do sangue

    FARINHA DE SANGUE COMUM SANGUE EM P POR SPRAY DRYER

    Canaletas de coleta sem especificao

    (comum)

    Canaletas de coleta em ao inox 314 ou 316

    e dimensionadas para melhor proteo do

    sangue na degola

    Sem separao do vmito durante a

    coleta do sangue

    O vmito deve ser separado do sangue para

    manter sua qualidade

    Adio de anticoagulante no

    obrigatria, pois o sangue sofrer

    alteraes no sistema de desidratao

    A adio do anticoagulante obrigatria,

    pois no se pode processar sangue

    coagulado nem hemolisado.

    Tempo de sangria do animal no tem

    tempo definido

    O tempo de sangria do animal deve ser de

    no mnimo 1 minuto e no mximo 4

    minutos, a fim de coletar apenas sangue

    no hemolisado e no coagulado.

    O tanque de armazenagem do sangue

    no resfriado e no possui projeto

    especfico

    O tanque de armazenagem do sangue

    coletado possui desenho especfico, com

    formato horizontal, sistema de envase por

    baixo e submerso, evitando hemlise,

    resfriado com temperaturas entre 1 e 3 C.

    Bombas para a transferncia do

    sangue sem especificao, podendo

    ser centrfugas ou helicoidais

    Bombas para transferncia do sangue

    devem ser com rotores flexveis, com

    velocidade controlada e reduzida, para

    evitar a hemlise do sangue durante o

    bombeamento

    No possui as Boas Prticas de

    Fabricao como critrio bsico e

    normativo para a coleta e produo

    da farinha de sangue

    As Boas Prticas de Fabricao so critrio

    bsico e normativo para produo do

    sangue em p pelo processo spray dryer.

    O sistema de coleta no precisa ser

    higienizado e sanitizado antes da

    O sistema de coleta deve ser higienizado e

    sanitizado antes da coleta do sangue, assim

    como todos os utenslios usados no

  • coleta do sangue processo.

    No existe linha de limpeza especfica

    e destinada ao sistema de coleta e

    tanque de armazenagem do sangue

    Existe uma linha de limpeza exclusiva ao

    sistema de coleta e armazenagem do

    sangue.

    Para destinar o sangue alimentao humana, na etapa de sangria deve ser

    adicionado o anticoagulante. O anticoagulante mais utilizado o citrato de sdio

    (SOBRAL, 2007). As protenas devem ser tratadas cuidadosamente. Isso

    significa minimizar o contato com o ar e com a gua, bem como evitar qualquer

    efeito de cisalhamento, que pode romper os glbulos vermelhos, tornando

    vermelho o plasma. Esse fenmeno chamado hemlise.

    Spray dryer

    O processo de secagem em spray dryer transforma um fluido alimentcio

    bombevel em produto seco numa nica operao (MUJUMDAR, 2007, p 217).

    Esse processo envolve a atomizao de uma matria-prima que contm lquido e

    slidos em soluo, suspenso ou emulso. A matria-prima atomizada

    formando gotculas que, em contato com o fluxo de ar quente, resultam no

    produto seco. O contato ocorre na cmara do equipamento (BAKER, 1997).

    Diferentemente dos outros mtodos de secagem, a introduo do ar quente no

    prejudicial a produtos sensveis ao calor, uma vez que o tempo de secagem em

    spray dryer muito curto. Assim que a gotcula se choca com o ar quente, a gua

    evaporada e forma-se o p.

    Exemplo de processo de secagem

    Um estudo de secagem de sangue bovino integral foi desenvolvido por

    estudantes de Engenharia de Alimentos da Escola de Engenharia Mau, em seu

    secador spray dryer piloto, fabricado pela Tecnape (Figura 1). O sangue foi

    obtido num abatedouro da regio de Ribeiro Preto e adicionado de citrato de

    sdio para estabilizao.

  • Figura 1 Secador spray dryer piloto capacidade de evaporar 5 L/h

    O aspecto do sangue seco mostrado na Figura 2.

    Figura 2 Sangue bovino integral em p

    Nesse estudo verificou-se a influncia das temperaturas de entrada e sada do ar

    na umidade do p e nas caractersticas da partcula. As condies de secagem

    no alteraram o teor de protena nem o tamanho e distribuio de tamanho de

  • partcula, pois essas duas ltimas variveis dependem da rotao do disco de

    atomizao.

    As temperaturas do ar de secagem variaram de 175 C a 225 C na entrada e de

    110 C a 150 C na sada. A umidade do p variou de 3,2 a 4,0% nas condies de

    teste.

    As partculas apresentaram uma distribuio de tamanho normal, conforme

    mostra a Figura 3, em que se observa um dimetro mdio de 30 m.

    Figura 3 Distribuio do tamanho das partculas de sangue em p.

    O processo de secagem apresentado pode ser facilmente transposto para

    condies industriais, pois o equipamento empregado tem caractersticas

    semelhantes s dos secadores de grande escala. Outros estudos podem ser feitos

    com a finalidade de se verificar a influncia da rotao do disco nas propriedades

    da partcula.

    Concluso

    Neste trabalho mostrou-se o potencial da utilizao do sangue em p obtido por

    secagem em spray dryer. O trabalho de secagem apresentado produziu sangue

    integral em p com dimetro mdio de 30 m. A umidade do p ficou abaixo de

  • 4,0% nos testes realizados e o teor de protena no foi influenciado pelas

    condies operacionais do equipamento.

    Referncias Bibliogrficas

    ALFA LAVAL. Sangue em p. Sucia, p. 1-7, 1. jan. 2007.

    BAKER, Christopher G. J. Industrial drying of foods. London: Blackie

    Academic & Professional, 1997.

    GRAU, R. Carne y productos carnicas. Zaragoza: Acribia, 1965.

    MUJUMDAR, Arun S. (Ed.). Handbook of Industrial Drying. 3. ed. Boca

    Ratn: CRC, 2007.

    SOBRAL, P. J. A. Secagem de sangue bovino incorporado protena texturizada

    de soja, em leito fluidizado e em leito fixo. Dissertao de mestrado.

    Campinas: Faculdade de Engenharia de Alimentos da UNICAMP, 1987.

    WISMER-PEDERSEN, J. Utilization of animal blood in meat products.

    Food Technol., v. 4, n. 8, 1979.