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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE MURILO DA COSTA CARVALHAES GESTÃO DA ÁGUA EM EDIFÍCIOS HABITACIONAIS DE MÚLTIPLOS PAVIMENTOS: Análise da Operação em Sistemas de Medição Individualizada em São Paulo entre 1980 e 2015 São Paulo 2016

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  • UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

    MURILO DA COSTA CARVALHAES

    GESTÃO DA ÁGUA EM EDIFÍCIOS HABITACIONAIS DE MÚLTIPLOS

    PAVIMENTOS: Análise da Operação em Sistemas de Medição

    Individualizada em São Paulo entre 1980 e 2015

    São Paulo

    2016

  • MURILO DA COSTA CARVALHAES

    GESTÃO DA ÁGUA EM EDIFÍCIOS HABITACIONAIS DE MÚLTIPLOS

    PAVIMENTOS: Análise da operação em sistemas de medição

    individualizada em São Paulo entre 1980 e 2015

    Dissertação apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial à obtenção de título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo. Área de concentração: Projeto de Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Prof.ª Dra. Célia Regina Moretti Meirelles

    São Paulo

    2016

  • MURILO DA COSTA CARVALHAES

    GESTÃO DA ÁGUA EM EDIFÍCIOS HABITACIONAIS DE MÚLTIPLOS

    PAVIMENTOS: Análise da operação em sistemas de medição

    individualizada em São Paulo entre 1980 e 2015

    Dissertação apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

    Aprovado em

    BANCA EXAMINADORA

    _______________________________________________________ Profª. Dra. Célia Regina Moretti Meirelles – Orientadora

    Universidade Presbiteriana Mackenzie

    ____________________________________________________ Profª. Dra. Maria Augusta Justi Pisani Universidade Presbiteriana Mackenzie

    ____________________________________________________ Prof. Dr. Paulo Takashi Nakayama

    Faculdade de Engenharia São Paulo - FESP

  • À Denise Romano da Costa Carvalhaes

  • AGRADECIMENTOS

    À minha esposa, por sua compreensão nas horas ausentes dedicadas ao mestrado,

    inspiração e incentivo para continuar os estudos.

    À minha família pelo e apoio constante, em especial meu pai e meu irmão.

    Aos amigos e colegas de trabalho devido a paciência e colaboração nos momentos

    de maior dedicação ao mestrado, além da parceria e troca de conhecimento nos

    desafios cotidianos.

    Aos professores da Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade

    Presbiteriana Mackenzie pela contribuição na construção do conhecimento.

    À Dra. Célia Regina Moretti Meirelles, por ter sido uma amiga e uma excelente

    profissional, que com muita dedicação me fez concluir esta empreitada.

    Ao Dr. Paulo Takashi Nakayama, pelas sugestões apontadas no exame de

    qualificação.

    À Dra. Maria Augusta Justi Pisani por compartilhar conosco seus conhecimentos.

    Aos amigos e colegas de trabalho, pelos ensinamentos e parceira nos desafios

    cotidianos.

    Aos professores da Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade

    Presbiteriana Mackenzie pela contribuição na construção do conhecimento.

  • C331g Carvalhaes, Murilo da Costa.

    Gestão da água em edifícios habitacionais de múltiplos

    pavimentos: Análise da operação em sistemas de medição

    Individualizada em São Paulo entre 1980 e 2015. / Murilo da

    Costa Carvalhaes - 2016. 106 f. : il. ; 30 cm

    Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade

    Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2016.

    Bibliografia: f. 102 – 106.

    1. Projeto. 2. Medição de água individualizada. 3.

    Conservação de água. 4. sustentabilidade. I. Título. CDD 341.762

  • "Se tens que lidar com água, consulta primeiro a experiência, depois a razão".

    Leonardo da Vinci

  • RESUMO

    Nos últimos anos, em decorrência da notória redução de água potável disponível na

    cidade de São Paulo, é necessário que sejam adotadas medidas para o

    aperfeiçoamento do seu uso racional. Tais ações podem ser implantadas no

    aprimoramento do abastecimento público e na distribuição em edifícios. Na escala

    predial novas soluções para a melhoria do desempenho podem ser incorporadas,

    como, por exemplo, a conscientização dos usuários, o uso de águas pluviais, a

    aplicação de equipamentos economizadores e a medição individualizada. Este

    último exemplo, quando aplicado em habitações coletivas, pode ser definido como

    uma ferramenta que indica o consumo de água em cada unidade autônoma e,

    portanto, possibilita a tomada de medidas para ele seja reduzido. Posto isso, pode-

    se entender que a fomentação desse instrumento colaborará para a economia de

    água. Por consequência, esta dissertação tem o objetivo de contribuir com dados

    técnicos, explicitados por meio de aplicações práticas, para que a medição

    individualizada seja empregada em edifícios projetados entre 1980 e 2015,

    cumprindo padrões básicos de qualidade. Para tanto, resumidamente, a pesquisa é

    composta das seguintes etapas: estudo das formas de implantação e dos

    componentes do sistema de medição individualizada; abordagem crítica de

    regulamentações, normas e guias sobre o tema, e; avaliação de estudos de caso.

    Por fim, na conclusão do trabalho, estão apresentadas as recomendações para

    especificação de hidrômetros em projetos e a variação média do consumo de água

    nos estudos de caso, que foi de 25% no período de treze meses após a

    individualização.

    Palavras-chave: projeto - medição de água individualizada – conservação de água –

    sustentabilidade.

  • ABSTRACT

    In recent years, due to the reduction of the potable water availability in the city of São

    Paulo, it is necessary the adoption of immediate measures for the improvement of its

    rational use. Such actions can be deployed in the improvement of public water supply

    and distribution in buildings. In building scale new solutions to improve the

    performance can be incorporated, for example, the awareness of users, the use of

    rainwater, applying saving equipment and submetering. The process of submetering,

    when applied to collective housing, can be set as a tool that indicates the water

    consumption in each apartment, and this enables to take actions to reduce it. That

    said, submetering can be understood as a work tool for saving water. This

    dissertation aims to contribute with technical data and explained through practical

    applications, so that the submetering should be used in buildings designed between

    1980 and 2015, fulfilling basic quality standards. To do so, briefly, the research

    consists in the following steps: study of the forms of implementation and the

    components of the submetering; critical approach to regulations, standards and

    guidelines on the subject, and; assessment case studies. Finally, the conclusion of

    the work presented the recommendations for specified water meter in projects and

    the average change in water consumption in the case studies, which was 25% in the

    period of thirteen months after submetering.

    Keywords: design - submetering - water conservation - sustainability.

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ANA Agência Nacional de Águas

    CAU Conselho de Arquitetura e Urbanismo

    CDHU Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano.

    CECAP Caixa Estadual de Casas para o Povo

    CEDIPLAC Centro de Desenvolvimento e Documentação da Indústria de

    Plástico para Construção Civil

    COMPESA Companhia Pernambucana de Saneamento

    CONMETRO Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade

    Industrial

    COPASA Companhia de Saneamento de Minas Gerais

    CREA Conselho Regional de Engenharia e Agronomia

    EMBASA Empresa Baiana de Água e Saneamento S.A.

    EPAL Empresa Portuguesas de Águas Livres

    GPRS Serviços Gerais de Pacote por Rádio

    INMETRO Instituto nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade

    Industrial

    l/s Litros por Segundo

    m³/h Metro Cúbico por Hora

    ONU Organização das Nações Unidas

    PBQP-h Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade

    PPR Polipropileno

    PROACQUA Programa de Qualidade e Produtividade dos Sistemas de

    Medição Individualizada de Água

    PSQ Programas Setoriais da Qualidade

    PVC Policloreto de Polivinila

    RMSP Região Metropolitana de São Paulo

    SABESP Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo

    SANASA Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S.A.

    SANEAGO Saneamento de Goiás S.A.

    SMIA Sistema de Medição Individualizada de Água

    SMR Sistema de Medição Remota

    UMA Unidade de Medição de Água

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1.1 Disponibilidade e demanda de recursos hídricos na região

    hidrográfica Paraná 18

    Figura 1.2 Metodologia de pesquisa 22

    Figura 2.1 Início da medição individualizada no Brasil e no mundo 27

    Figura 2.2 Sistema de distribuição de água sem previsão para medição

    individualizada 28

    Figura 2.3 Sistema de distribuição de água com previsão para medição

    individualizada 29

    Figura 2.4 Condomínio Residencial Heliópolis 33

    Figura 2.5 SMIA com hidrômetros na coluna técnica 34

    Figura 2.6 Hidrômetros instalados em coluna técnica 35

    Figura 2.7 SMIA com hidrômetros instalados em abrigos no hall

    comum 36

    Figura 2.8 Hidrômetros instalados em abrigos no hall comum 36

    Figura 2.9 SMIA com hidrômetros instalados no barrilete 37

    Figura 2.10 Hidrômetros instalados no barrilete 38

    Figura 2.11 SMIA com hidrômetros instalados no térreo 39

    Figura 2.12 Hidrômetros instalados no térreo 39

    Figura 2.13 SMIA com hidrômetros instalados em múltiplos ramais 41

    Figura 2.14 Construção de nicho para instalação de hidrômetros em

    sistema de distribuição de água não sem previsão para

    medição individualizada 41

    Figura 2.15 Instalação de hidrômetros em sistema de distribuição de

    água não sem previsão para medição individualizada 42

    Figura 2.16 Hidrômetro 44

    Figura 2.17 Hidrômetro – ferramentas para controle da qualidade 46

    Figura 2.18 Hidrômetro de turbina 47

    Figura 2.19 Sistema de medição remota por rádio frequência 48

    Figura 2.20 Etapas de transmissão de um sistema de medição remota

    por meio da radiofrequência 50

    Figura 2.21 Sistema de medição remota por rádio frequência 51

  • Figura 2.22 Vazões de projeto no ramal de alimentação, obtidas pelo

    método probabilístico e pelo dos pesos 54

    Figura 3.1 Sistemas de medição individualizada de baixa qualidade 63

    Figura 3.2 Concentrador de dados PROACQUA e emissão de tarifa

    individualizada 66

    Figura 3.3 Sistemas de medição remota 69

    Figura 3.4 Localização dos hidrômetros 70

    Figura 3.5 Especificação de hidrômetros 71

    Figura 3.6 Altura máxima de instalação 72

    Figura 3.7 Padronização das unidades de medição de água 72

    Figura 3.8 Proposta para padronização da unidade de medição de

    água 73

    Figura 4.1 Zonas residenciais e comerciais CECAP 74

    Figura 4.2 Visão geral do conjunto 75

    Figura 4.3 Esquema estrutural da primeira fase. 76

    Figura 4.4 Hidrômetro individual - CECAP 77

    Figura 4.5 Implantação condomínio na Vila Brasilândia 78

    Figura 4.6 Condomínio na Vila Brasilândia, pavimento de acesso. 79

    Figura 4.7 Hidrômetros individuais no condomínio na Vila Brasilândia 80

    Figura 4.8 Distribuição dos hidrômetros individuais no condomínio na

    Vila Brasilândia 80

    Figura 4.9 Condomínio na Vila Brasilândia, reservatório coletivo 81

    Figura 4.10 Hidrômetros individuais no condomínio na Vila Brasilândia 82

    Figura 4.11 Hidrômetros individuais no condomínio na Vila Brasilândia 82

    Figura 4.12 Planta apartamento tipo do Condomínio 84

    Figura 4.13 Hidrômetros instalados nos ramais do edifício. 85

    Figura 4.14 Perfil de consumo do edifício entre março de 2014 e março

    de 2015 (mês x m3) 86

    Figura 4.15 Consumos individuais de água do edifício entre 10/01/2015

    e 10/02/2015 em m³ 87

    Figura 4.16 Planta apartamento tipo do Condomínio B 89

    Figura 4.17 Hidrômetros instalados nos ramais do edifício 90

    Figura 4.18 Perfil de consumo do edifício entre setembro de 2014 e 91

  • julho de 2015 (mês x m3).

    Figura 4.19 Consumos individuais de água do edifício entre 17/10/2015

    e 17/11/2015 em m³ 92

    Figura 4.20 Planta apartamento tipo do Condomínio C 94

    Figura 4.21 Hidrômetros instalados nos ramais do edifício. 95

    Figura 4.22 Perfil de consumo do edifício entre setembro de 2014 e

    julho de 2015 (mês x m3) 96

    Figura 4.23 Consumos individuais de água do edifício entre 18/11/2014

    e 17/12/2014 em m³ 97

    Figura 4.24 Hidrômetro e rádio utilizado nos estudos de caso 98

    Figura 4.25 Coletores de dados utilizados nos estudos de caso 98

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1.1. Critérios para seleção das amostras 24

    Tabela 2.1. Manifestações patológicas em subsistemas de medição

    individualizada.

    30

    Tabela 2.3. Vazões nos pontos de utilização em função do aparelho

    sanitário e da peça de utilização

    55

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 3.1. Programas institucionais de medição individualizada de

    água

    68

    Quadro 5.1 Quadro comparativo dos estudos de caso 100

  • SUMÁRIO

    1. INTRODUÇÃO ................................................................................. 17

    1.1. JUSTIFICATIVA................................................................................ 21

    1.2. OBJETIVOS...................................................................................... 22

    1.3. METODOLOGIA............................................................................... 22

    1.4. ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS...................................................... 25

    2. CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DA MEDIÇÃO

    INDIVIDUALIZADA................................................................................. 27

    2.1. TOPOLOGIAS DE SISTEMAS DE MEDIÇÃO INDIVIDUALIZADA

    DE ÁGUA................................................................................................ 33

    2.1.1. Componentes de sistemas de medição individualizada de

    água.........................................................................................................

    43

    3. REGULAMENTAÇÕES, NORMAS E GUIAS............................... 56

    3.1. PROGRAMAS INSTITUCIONAIS DE MEDIÇÃO

    INDIVIDUALIZADA DE ÁGUA................................................................. 56

    3.2. DETERMINAÇÃO DOS CRITÉRIOS PARA ANÁLISE DA

    OPERAÇÃO DE SISTEMA DE MEDIÇÃO INDIVIDUALIZADA DE

    ÁGUA....................................................................................................... 69

    4. ESTUDOS DE CASO.................................................................... 74

    4.1. ESTUDOS REFERENCIAIS......................................................... 74

    4.1.1. CECAP Guarulhos....................................................................... 74

    4.1.2. Condomínio Vila Brasilândia...................................................... 78

    4.2. ESTUDOS DE CASO COM AVALIAÇÃO DO CONSUMO........... 83

    4.2.1. Edifício com múltiplos ramais (1980 e 1998)............................ 83

    4.2.2. Edifício com único ramal (1999 e 2008)..................................... 88

    4.2.3. Edifício com único ramal (2009 e 2014)..................................... 93

    4.2.4. Estudos de caso – Sistema de medição remota........................ 98

    5. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................ 100

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................... 102

  • 17

    1. INTRODUÇÃO

    O Brasil detém 12% das fontes de água doce do mundo, o que significa que

    se trata de um país privilegiado em recursos hídricos. Entretanto, a sua distribuição é

    desigual, pois a maior concentração de água ocorre nas regiões com menor

    densidade populacional, como a região Amazônica. A região Amazônica detém uma

    média de 80% da água doce do Brasil, por outro lado, a região Metropolitana de São

    Paulo, onde está concentrada a maior parte da população e atividades econômicas,

    detém somente 1,6 % (LEAL; VICÀRIA, 2007).

    A Figura 1.1 apresenta a relação entre disponibilidade hídrica da bacia

    hidrográfica do Paraná e a demanda. Em azul estão as regiões de disponibilidade

    hídrica de excelente a confortável; em amarelo as regiões em estado preocupante;

    em lilás as bacias em situação muito crítica com esgotamento dos recursos.

    Observa-se no mapa que, já no ano de 2005, a disponibilidade hídrica da região

    Metropolitana de São Paulo era classificada pela Agência Nacional de Água (ANA)

    como muito crítica.

  • 18

    Figura 1.1. Disponibilidade e demanda de recursos hídricos na região hidrográfica Paraná.

    Fonte: ANA, 2005, p. 120.

    Outro agravante para região é o alto consumo per capita. Segundo Instituto

    Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2000), no Brasil o consumo era de 302

    l/hab/dia (litros por habitante por dia), quase três vezes superior aos 110 l/hab/dia

    recomendados pela Organização das Nações Unidas – ONU e superiores a outras

    grandes cidades como Buenos Aires com 246,5 l/hab/dia (CARDÃO, 1985) e Tóquio

    200 l/hab/dia (WHATELY, 2009).

  • 19

    Hespanhol (2008) apontou a situação crítica em termos de abastecimento de

    água potável da bacia do Alto Tietê, onde está localizada a Região Metropolitana de

    São Paulo (RMSP), na qual são necessários 70 m³/s para abastecer a população,

    sendo que 33 m³/s eram importados do sistema Cantareira em conjunto com as

    bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Em março de 2015, o sistema já

    apresentava sintomas de colapso, pois a vazão máxima de transposição para a

    RMSP estava restrita a 15,33 m³/s”, como aponta o Comunicado da ANA (2015, p.1),

    demonstrando que o aumento da oferta de água para essa metrópole será cada vez

    mais difícil.

    Assim, postas as dificuldades de aumentar a oferta de água na região,

    entende-se que a alternativa para a continuidade de abastecimento de água potável

    é reduzir a demanda pelo insumo. Para isso é fundamental que os novos projetos de

    edifícios sejam mais eficientes no tocante às ações preventivas. Para tanto, faz-se

    necessária a implantação de sistemas de gestão de águas, como o aproveitamento

    das águas pluviais, o reuso das águas cinzas, a especificação de equipamentos

    economizadores e a medição individualizada ou setorizada, entre outros.

    Dentre os sistemas de gestão, em edifícios de múltiplos pavimentos

    habitacionais, a medição individualizada de água é destacada por diversos autores,

    como uma “ferramenta-chave” da gestão. Segundo Ilha (2008, p. 2), a “redução do

    consumo” depende de ações integradas que vão “desde a realização de uma

    manutenção eficiente, até o emprego de componentes e sistemas economizadores.

    Essas ações são potencializadas com a sensibilização dos usuários”. Em algumas

    cidades, como Sidney e Lisboa, a medição individualizada é obrigatória, pois é

    empregada pelas prefeituras como uma ferramenta de redução da demanda de

    água e justiça social, trazendo benefícios como a redução da geração de esgoto e a

    preservação das nascentes.

    Pode-se definir a medição individualizada de água como a medição do

    consumo de água de cada unidade habitacional por meio de um ou mais

    hidrômetros.

  • 20

    Uma das problemáticas de um edifício projetado sem a medição

    individualizada é que o consumo de todas as unidades habitacionais é medido

    mediante um único hidrômetro e, por consequência, é apresentada tão somente em

    uma conta comum aos condôminos, cujo valor é rateado por todos,

    independentemente do consumo de cada apartamento. Esta prática impede que

    cada usuário conheça seu consumo real e aplique qualquer iniciativa individual de

    economia de água. Com a medição individualizada de água é possível que cada

    apartamento tenha o seu próprio medidor, proporcionando a identificação do perfil

    de consumo de cada moradia e, sobretudo, a adoção de medidas para redução de

    consumo pelos próprios moradores, tais como eliminar vazamentos e substituir

    equipamentos sanitários.

    A instalação dos hidrômetros não proporciona economia por si só, mas pode

    promover a educação ambiental dos usuários, uma vez que os afeta diretamente já

    que são penalizados quando consomem muito e beneficiados quando consomem

    pouco. Isso reflete na mudança de comportamento, promovendo hábitos mais

    sustentáveis e a redução do tempo de uso dos equipamentos hidráulicos em

    atividades rotineiras como banho e lavagem de louça, além de muitos usuários

    passarem a se atentar a consertos de vazamentos e gotejamento, elencando-os

    como prioridade.

    A implantação do sistema de medição individualizada de água insere novos

    equipamentos ao edifício e interfere nas etapas de projeto, execução e manutenção,

    como descreve Gonçalves (2006, p. 3).

    Um princípio importante na implementação da medição individualizada em edifícios é o de manter ou elevar os patamares da qualidade dos sistemas hidráulicos prediais, tanto em edifícios novos quanto existentes, garantindo ao usuário final o desempenho dos produtos e das atividades e serviços realizados pelas organizações envolvidas, como concessionárias de água e prestadoras de serviços (projeto,

    construção e operação).

    Isso requer uma correta adequação desses equipamentos ao espaço

    arquitetônico e um correto dimensionamento dos equipamentos. Quando os

    equipamentos estão posicionados em locais inadequados, podem gerar problemas

    de acesso, segurança ou dificuldade de manutenção. Hidrômetros mal

  • 21

    dimensionados podem prejudicar a pressão de abastecimento ou dificultar a

    detecção de vazamentos.

    Em linhas gerais, a implantação de sistemas de medição individualizada

    bem projetados e bem executados, até há alguns anos atrás, poderia ser entendida

    como uma ação que geraria um benefício social e ecológico para as cidades

    brasileiras. Hoje, uma vez que é iminente o término das reservas de água de

    algumas dessas cidades, como São Paulo, a implantação desses sistemas é uma

    peça-chave para a manutenção da existência social e econômica desses centros,

    uma vez que sem tal insumo não é possível as suas manutenções.

    Nessa pesquisa propõe-se discutir soluções já praticadas para as principais

    topologias hidráulicas de edifícios de múltiplos pavimentos na cidade de São Paulo

    na década de 1980, mais precisamente, desde o início da utilização maciça dos

    tubos de PVC (Policloreto de vinila). Isso requer que sejam demonstradas as

    principais configurações arquitetônicas e de sistemas prediais de distribuição de

    água fria e quente. Ainda nesse contexto, outro ponto abordado na pesquisa é a

    inovação tecnológica. Algumas inovações abrem novas possibilidades para a

    medição individualizada, e, consequentemente, para a gestão de água em edifícios.

    Por meio delas, torna-se possível medir em locais onde antes não era possível e de

    formas mais eficientes.

    1.1. JUSTIFICATIVA

    O trabalho busca contribuir para melhoria dos sistemas de gestão de água

    potável em edifícios habitacionais, por meio de estudos de caso, oriundos da

    experiência do autor. Para isso, também são abordados temas dos dois projetos de

    norma sobre o tema desenvolvidos nesse período (04:005.10-47: Medição de Água

    e Gás: Provedor de Serviços de Medição para Edifícios e ABNT NBR 15806), cuja

    elaboração contou com a participação do autor.

  • 22

    1.2. OBJETIVO

    Pretende-se por meio desta pesquisa divulgar a importância da eficiência da

    gestão das águas em edifícios habitacionais, contribuindo de forma direta nos novos

    projetos e para a melhoria do desempenho no ambiente construído, com foco na

    medição individualizada de água para edifícios de múltiplos pavimentos.

    Os objetivos específicos são:

    Discutir a gestão da água em edifícios habitacionais e avaliar as principais

    ferramentas para redução do consumo desse insumo;

    Determinar as interfaces entre projeto e sistemas de medição individualizada

    em edifícios habitacionais, como, por exemplo, analisar o posicionamento dos

    componentes do sistema no projeto e o dimensionamento da infraestrutura

    necessária para abrigá-los;

    Aprofundar-se na operação dos sistemas de medição individualizada de água

    em edifícios habitacionais. Isto é, medi-los e avaliá-los nas etapas de projeto,

    execução e manutenção.

    1.3. METODOLOGIA

    A pesquisa consiste na aplicação de estudos de caso e será constituída das

    seguintes etapas:

    Figura 1.2 Metodologia de pesquisa.

    Fonte: CARVALHAES, M.

    Etap

    a 1

    Revisão bibliográ-fica E

    tap

    a 2

    Seleção das amostras

    Etap

    a 3

    Determi- nação dos parâ-metros

    Etap

    a 4

    Estudos de caso

  • 23

    ETAPA 1 – Revisão bibliográfica

    Nesta etapa foram coletados dados existentes de fontes secundárias, como

    dissertações, teses, textos, publicações, regulamentações e outros que sejam

    definidos ao longo da pesquisa, enfocando os temas da gestão da água em

    habitações com foco em medição individualizada. As principais referências são o

    Manual de sistemas de medição individualizada do PROACQUA, a tese Metodologia

    para a implantação de programa de uso racional da água em edifícios, da Profa. Dra.

    Lúcia Helena de Oliveira e as normas ABNT NBR 5626: 1998 e 15806: 2010 da

    Associação Brasileira de Normas Técnicas.

    ETAPA 2 – Seleção das amostras

    Para evidenciar diferentes contextos, foram selecionados e analisados

    alguns casos de edifícios habitacionais com sistemas de medição individualizada de

    água em São Paulo. Entretanto, como se trata de um amplo universo, é necessária

    a determinação de um critério para seleção das amostras, de modo que se tente

    abranger a amplitude das tipologias existentes. Portanto, conforme apresentado na

    Tabela 1.1, para cada período construtivo, sob o ponto de vista de regulamentos de

    medição individualizada, deverá haver pelo menos um estudo de caso. Essa

    característica construtiva foi determinada como critério porque influencia os meios de

    implantação e manutenção de sistemas prediais e o consumo de água.

    Esses três períodos foram abordados detalhadamente na pesquisa, mas,

    resumidamente, a constituição deles pode ser explicada pela ocorrência de três

    eventos, quais sejam: a) na década de 1980 se inicia a aplicação de tubulações de

    água fria de PVC em edifícios residenciais, um material que facilitou a implantação

    de hidrômetros, mesmo que os edifícios ainda não eram projetados para esse fim; b)

    em 1998 é lançada a primeira legislação paulistana sobre medição individualizada,

    de modo que, a partir desse documento, se inicia o projeto de edifícios com previsão

    para individualização; c) em 2009 são publicados os critérios técnicos da SABESP

    (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), estabelecendo as

    diretrizes técnicas para implantação e operação da medição individualizada.

  • 24

    Tabela 1.1. Critérios para seleção das amostras.

    Variáveis Modelos tipológicos

    TIPO 1 TIPO 2 TIPO 3

    Período Entre 1980 e 1998 Entre 1999 e 2009 Entre 2009 e 2014

    Fonte: CARVALHAES, M.

    ETAPA 3 – Determinação dos parâmetros

    Para a determinação dos parâmetros de análise da operação de sistemas de

    medição individualizada de água, em face da lacuna normativa, será efetuada uma

    pesquisa bibliográfica em regulamentações de programas institucionais nacionais e

    internacionais, em regiões com distintas características climáticas e econômicas.

    Para isso, foram selecionados os seguintes programas,

    PROACQUA (SABESP) – São Paulo, SP;

    SANASA – Campinas, SP;

    EMBASA – Salvador, BA;

    COMPESA – Recife, PE;

    COPASA– Belo Horizonte, MG;

    SANEAGO– Goiânia, GO;

    South East Water – Melbourne, Australia;

    Departamento de Infraestrutura – Queensland, Austrália;

    Empresa Portuguesa de Águas Livres – Lisboa, Portugal.

    Nesse levantamento bibliográfico, o conteúdo será organizado de forma que,

    em cada um dos nove programas, sejam apontados a descrição da instituição, a

    população atendida, a documentação publicada, os critérios técnicos e os

    mecanismos para garantia da qualidade. Assim, será possível avaliá-los e reunir os

    parâmetros mais adequados.

  • 25

    ETAPA 4 – Estudos de caso

    A conclusão das etapas anteriores possibilitará a formatação de um

    protocolo e, por meio dele, foram analisadas as operações dos quatro estudos de

    caso monitorados por meio de sistemas de medição remota por rádio frequência,

    selecionados conforme os critérios estabelecidos na Tabela 1.1. Essa análise visa a

    comparação de cada edifício com um modelo ideal, onde os principais parâmetros

    de desempenho são atingidos. A pesquisa contará também com estudos de casos

    referenciais como o Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado, o primeiro

    edifício individualizado do Brasil.

    Como resultado final dessa análise, deverá estar concluído um quadro

    comparativo entre os estudos de caso, abrangendo as características construtivas,

    os equipamentos utilizados e os métodos de implantação.

    1.4. ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS

    Essa dissertação é composta de cinco capítulos, os quais apresentam os

    seguintes conteúdos:

    O capitulo 1 é reservado para apresentação do tema e da descrição dos

    objetivos da pesquisa, bem como à indicação da metodologia utilizada e à relevância

    do tema.

    No capítulo 2 são discutidas as características técnicas da medição

    individualizada, as formas de sua implantação em um edifício de múltiplos

    pavimentos e quais interferências ocorrem no projeto com os demais sistemas

    prediais. Posteriormente, é apresentado e debatido cada componente do sistema,

    como, por exemplo, hidrômetros, tecnologias de medição remota e métodos de

    dimensionamento.

  • 26

    No capítulo 3 são apresentadas e analisadas as regulamentações, normas e

    guias, momento em que são analisados os programas de medição individualizada de

    água mais relevantes, incluindo as regulamentações, os guias de operação e as

    exigências técnicas.

    No capítulo 4, para fins de comprovação e obtenção de resultados, são

    analisados os estudos de caso.

    No capítulo 5 são apresentadas e discutidas as considerações finais

  • 27

    2. CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DA MEDIÇÃO INDIVIDUALIZADA

    A medição individualizada é uma prática antiga em alguns países. “É

    realizada na Europa há aproximadamente 85 anos” (ROMANO, 1998, p. 1). Nos

    Estados Unidos a medição individualizada ganhou reconhecimento em razão do

    aumento do custo da água. “Entre 1990 e 1998, o custo da água e do esgoto para os

    consumidores aumentou 45%, medido pelo Índice de Preços do Consumidor. O

    aumento é quase o dobro dos tradicionais 25% nesse período de tempo” (BENNET,

    2004, p. 1).

    No Brasil, o primeiro condomínio com medição de água individualizada foi

    construído em 1968, que corresponde ao conjunto habitacional de 2.880 unidades

    do CECAP em Guarulhos, projetado pelos arquitetos Vilanova Artigas, Paulo

    Mendes da Rocha e Fábio Penteado. A Figura 2.1 representa resumidamente o

    início da medição individualizada no Brasil e na Europa.

    Figura 2.1. Início da medição individualizada no Brasil e na Europa.

    Fonte: CARVALHAES, M.

    Até 1998, como apresentado na Figura 2.2, os sistemas de distribuição de

    água da maior parte dos edifícios construídos em São Paulo eram projetados com

    diversas prumadas, com uma série de ramais por unidade habitacional, sendo que

    em alguns casos chegavam a mais de dez. A partir desse ano, quando foi aprovada

    a Lei Municipal de São Paulo n° 12.638/1998, que propõe a “previsão” de medição

    individualizada de água em novos condomínios, alterou-se a forma de projetar e

  • 28

    construir os edifícios, uma vez que a medição isolada do consumo de água passou a

    ser obrigatória.

    Era oportuno que o modelo antigo de diversas prumadas por unidade

    habitacional fosse substituído por um novo, com apenas uma prumada no edifício, e

    toda a distribuição no interior dos apartamentos fosse executada por meio de um

    único ramal, tal como apresentado na Figura 2.3. Entende-se como previsão a

    disponibilização de um trecho de tubulação para a instalação de um ou mais

    hidrômetros.

    Figura 2.2. Sistema de distribuição de água sem previsão para medição individualizada.

    Fonte: OLIVEIRA (2008, p. 2).

  • 29

    Figura 2.3. Sistema de distribuição de água com previsão para medição individualizada.

    Fonte: OLIVEIRA (2008, p. 2)

    Apesar do impulso alcançando após essa legislação, os critérios técnicos

    não estavam bem definidos, pois a Lei Municipal nº 12.638/1998 não abordava esse

    mérito. Diante da ausência de regulamentação, grande parte dos novos edifícios

    construídos a partir de 1998 dispunha da “previsão” para medição individualizada,

    mas apresentava muitos problemas técnicos, a exemplo de hidrômetros alocados

    em ambientes de difícil instalação, manutenção de difícil acesso do usuário, como

    em forros no interior de banheiros, shafts em alturas superiores a 1,80 metros, ou

    instalados em outros locais sem acesso.

    O fato de não existirem documentos normativos, base documental

    tecnológica e acordos setoriais para a qualidade, expôs os usuários a formas

    imprecisas e injustas de cobrança ou penalizações por defeitos. A Tabela 2.1

  • 30

    apresenta algumas dessas manifestações patológicas constatadas em cinco estudos

    de caso na cidade de Goiânia, analisados por Peres (2006).

    Como diagnosticado nos estudos de casos avaliados por Peres (2006),

    apesar da medição individualizada não prejudicar a operação do sistema predial de

    distribuição de água fria, visto que alguns parâmetros se mantiveram dentro dos

    índices permitidos pela ABNT NBR 5626: 1998, como os índices de ruídos,

    vazamentos e a pressão hidráulica, demonstrou que em alguns casos a falta de

    acessibilidade aos hidrômetros chegou a inviabilizar a medição. Isso se deve à falta

    de planejamento na fase de projeto e ao pouco conhecimento sobre a operação do

    sistema.

    Tabela 2.1. Manifestações patológicas em subsistemas de medição individualizada.

    Patologia Edifício 1 Edifício 2 Edifício 3 Edifício 4 Edifício 5

    Vazamentos

    31,4% uma

    ocorrência;

    2,9% duas

    ocorrências;

    2,9% três ou

    mais

    ocorrências.

    11,4% uma

    ocorrência;

    2,9% três ou

    mais

    ocorrências.

    20% uma

    ocorrência;

    6% duas

    ocorrências;

    2,9% três ou

    mais

    ocorrências

    23,1% uma

    ocorrência;

    2,6% duas

    ocorrências.

    13,3% uma

    ocorrência;

    6,7% duas

    ocorrências.

    Mais de 50% da incidência de vazamentos se deu na bacia sanitária com caixa

    acoplada.

    Ruído

    14,3%

    perceberam o

    ruído, mas

    não se

    incomodam.

    5,7%

    perceberam

    e se

    incomodam;

    10,0%

    perceberam,

    mas não se

    incomodam.

    18%

    perceberam,

    mas não se

    incomodam.

    2,6%

    perceberam

    e se

    incomodam.

    6,7% percebem,

    mas não se

    incomodam.

    Mais de 82% disseram não notar ruídos, sendo que, os observadores disseram

    que isso ocorria antes do processo de conversão para individualização da medição

    do consumo, assim, a ocorrência apontada por alguns moradores não pôde ser

    atribuída à individualização do subsistema. Além disso, a avaliação depende da

    sensibilidade do usuário.

    Pressão

    hidráulica

    40% muito

    alta;

    25,7% alta;

    20% normal;

    17,10%

    muito alta;

    8,6% alta;

    68,6%

    8,0% muito

    alta;

    10,0% alta;

    76,0%

    2,6% muito

    alta;

    10,3% alta;

    82,1%

    26,7% alta;

    66,7% normal;

    6,7% baixa.

  • 31

    11,4% baixa;

    2,9% muito

    baixa.

    normal;

    4,3% baixa;

    1,4% muito

    baixa.

    normal;

    4% baixa;

    2% muito

    baixa.

    normal;

    2,6% baixa;

    2,6% muito

    baixa.

    Foi realizado um monitoramento de pressão hidráulica do edifício 1, onde 40% dos

    entrevistados reclamam de pressões elevadas, ao medir, observou-se que a

    máxima pressão foi de 250 kPa, valor muito abaixo do recomendado pela ABNT

    NBR 5626: 1998. Em todos os casos analisados, os moradores afirmaram não

    terem notado diferenças na pressão hidráulica após a individualização. Quando do

    uso simultâneo de equipamentos, 80% dos moradores disseram não terem tido

    perda de conforto; 7,7% dos moradores do edifício 2 e 33,3% do edifício 4

    disseram ter observado esse desconforto antes da individualização.

    Falta de

    acessibilidade

    Hidrômetros

    localizados na

    cobertura

    dificultando o

    acesso.

    Hidrômetro

    no térreo de

    cada um dos

    blocos.

    Hidrômetro

    localizado

    em local

    alto, onde é

    necessário o

    uso de

    escada para

    efetuar a

    leitura.

    Hidrômetro

    no térreo de

    cada um dos

    blocos.

    Hidrômetro no hall

    da escada.

    No edifício 1, a concessionária não realiza a leitura dos hidrômetros em função da

    extrema dificuldade para acesso aos abrigos.

    Fonte: PERES (2006).

    Essa forma de projetar arrastou-se até 2007, quando por meio do programa

    PROACQUA (2008) a SABESP e o CEDIPLAC (Centro de Desenvolvimento e

    Documentação da Indústria de Plástico para Construção Civil) estabeleceram

    critérios técnicos a serem seguidos, como, por exemplo, o dimensionamento e os

    locais para instalar os equipamentos. Apesar desses conceitos técnicos disponíveis

    nos materiais elaborados pelos programas não serem obrigatórios, muitos projetistas

    começaram a seguir as recomendações e incorporar em seus projetos a “previsão”

    dos sistemas de medição individualizada de água na área comum de condomínios e

    com alturas acessíveis.

    No âmbito nacional, nos últimos anos, com a intenção de contribuir para a

    redução dos problemas, surgiram esforços para a normalização dessa atividade.

    Concessionárias, agências reguladoras e entidades de classe publicaram

    regulamentações. Porém, essas ações ainda são descoordenadas, pois cada cidade

  • 32

    ou Estado cria uma regulamentação própria. Apesar das particularidades de cada

    região, que devem ser consideradas para a implantação da normalização, grande

    parte dos critérios poderia ser padronizada para todo o país. Com a variação de

    requisitos e a complexidade das normas tornou-se mais difícil a adesão dos

    membros da cadeia produtiva. Os projetistas, os construtores e os fabricantes são

    obrigados a adequar-se a cada novo projeto.

    Como abordado anteriormente, antes de 1998 eram pontuais os casos de

    condomínios projetados com “previsão” para medição individualizada de água. Em

    busca de minimizar seus custos, muitos empreendimentos antigos passaram a

    buscar meios de instalar o sistema de medição individualizada, cuja implantação

    está condicionada a duas soluções: ou elabora-se um novo projeto, ou promove-se a

    substituição do sistema predial de distribuição de água existente para um modelo

    com previsão.

    Teoricamente o primeiro modelo é a melhor solução, pois nele são

    incorporados todos os novos conceitos de projetos, os mais recentes materiais e

    técnicas. Contudo, cabe a ressalva de que se trata de uma contundente interferência

    no edifício e de elevado custo, que exige a construção de forros ou sancas e, em

    alguns casos, interferência na estrutura. Já no segundo modelo é instalado um

    hidrômetro em cada ramal do edifício, utilizando o sistema predial de distribuição de

    água fria existente. Dessa forma, a interferência na estrutura do edifício é menor e a

    sua implantação tende a ser mais econômica que o primeiro modelo.

    No início da década de 2010, por meio do Selo Casa Azul, a medição

    individualizada de água transformou-se em uma exigência para projetos de

    habitação de interesse social financiados pela Caixa Econômica Federal. Como

    influência dessa certificação o Condomínio Residencial Heliópolis, projeto do

    arquiteto Rui Ohtake, apresentado na Figura 2.4, adotou a medição individualizada

    de água.

  • 33

    Figura 2.4. Condomínio Residencial Heliópolis.

    Fonte: http://www.ruyohtake.com.br/#!/arquitetura/21, acessado em 08/06/2015.

    2.1. TOPOLOGIAS DE SISTEMAS DE MEDIÇÃO INDIVIDUALIZADA DE ÁGUA –

    SMIA

    O sistema de medição individualizada de água pode ser classificado por

    meio do local de instalação dos hidrômetros individuais. Atualmente, existe uma

    série de possibilidades, incluindo, no caso de condomínios antigos, a sua adaptação

    por meio da instalação de um medidor por ramal. A seguir foram descritas as cinco

    alternativas possíveis de instalação dos hidrômetros, são elas: em colunas técnicas,

    em abrigos, no barrilete e no pavimento térreo.

    A) SMIA com hidrômetros instalados em coluna técnica (shafts)

    A principal vantagem da instalação dos hidrômetros em colunas técnicas é a

    facilidade de manutenção e operação. Nesse modelo, sem o emprego de um

    sistema de medição remota, a principal desvantagem é a dificuldade de medição,

    uma vez que os hidrômetros estão distribuídos pelos andares, o que retarda

    http://www.ruyohtake.com.br/#!/arquitetura/21

  • 34

    consideravelmente a leitura dos hidrômetros. Como definido a seguir por

    PROACQUA (2008, p. 22):

    Verifica-se, também, a obrigatoriedade de instalar uma válvula ventosa no barrilete pressurizado e de um ramal de respiro para o barrilete por gravidade. Estes dispositivos garantem a integridade da pressão e o funcionamento adequado do hidrômetro, de modo que não haja a formação de pressão negativa na rede.

    Na Figura 2.5 é apresentada a configuração esquemática do sistema e na

    Figura 2.6 uma imagem da instalação.

    Figura 2.5. SMIA com hidrômetros na coluna técnica.

    Fonte: CARVALHAES, M.

  • 35

    Figura 2.6. Hidrômetros instalados em coluna técnica.

    Fonte: CARVALHAES, M.

    B) SMIA com hidrômetros instalados em abrigo

    A opção por abrigos, na maioria dos casos, é utilizada em adaptações de

    sistemas de medição coletiva para individualizada. Tal como no modelo anterior,

    sem o sistema de medição remota, também retrata o mesmo inconveniente para a

    equipe de leitura.

    A Figura 2.7 apresenta a configuração esquemática de um SMIA com os

    hidrômetros instalados em abrigos no hall e na Figura 2.8 uma imagem da

    instalação, cuja configuração é muito semelhante aos modelos com montagem dos

    hidrômetros em coluna técnica. Além disso, nota-se que as observações sobre o

    sistema de pressurização e ventosas são as mesmas, mas quando instalados no

    interior das unidades habitacionais, para facilidade de leitura, torna-se

    indispensáveis os sistemas de medição remota.

  • 36

    Figura 2.7. SMIA com hidrômetros instalados em abrigos no hall comum.

    Fonte: CARVALHAES, M.

    Figura 2.8. Hidrômetros instalados em abrigos no hall comum.

    Fonte: CARVALHAES, M.

  • 37

    C) SMIA com hidrômetros instalados no barrilete

    Essa solução é limitada pelo espaço disponível no barrilete e para

    montagem de prumadas independentes para cada unidade habitacional. Ela é

    normalmente empregada em edifícios de até 4 (quatro) pavimentos, como o caso de

    habitações de interesse social. Como em grande parte dos edifícios, o acesso ao

    barrilete é restrito, por isso, para facilidade da leitura dos hidrômetros, é

    recomendável o emprego de sistemas de medição remota. Na Figura 2.9 é

    apresentada esquematicamente essa topologia e na Figura 2.10 uma imagem da

    instalação.

    Figura 2.9. SMIA com hidrômetros instalados no barrilete.

    Fonte: CARVALHAES, M.

  • 38

    Figura 2.10. Hidrômetros instalados no barrilete.

    Fonte: CARVALHAES, M.

    D) SMIA com hidrômetros instalados no pavimento térreo

    Assim como quando instalados no barrilete, essa solução é limitada pelo

    espaço disponível no pavimento térreo e para montagem das prumadas individuais.

    Ela é normalmente empregada em edifícios de até 4 (quatro) pavimentos. A grande

    vantagem dessa topologia é a facilidade de medição, um critério importante para

    concessionárias, pois a depender do caso dispensa a entrada da equipe de leitura

    no condomínio. Quando não existirem recursos para a adoção de SMRs, essa

    topologia demonstra grande vantagem frente às demais. Na Figura 2.11 é

    apresentado o modelo e na Figura 2.12 uma imagem da instalação.

  • 39

    Figura 2.11. SMIA com hidrômetros instalados no térreo.

    Fonte: CARVALHAES, M.

    Figura 2.12. Hidrômetros instalados no térreo.

    Fonte: CARVALHAES, M.

  • 40

    E) SMIA com hidrômetros instalados em múltiplos ramais

    Independentemente do número de prumadas que abastecem uma unidade

    habitacional ou comercial, os equipamentos hidrossanitários são sempre

    abastecidos por ramais ou sub-ramais. Assim, uma vez medidos os volumes de

    água que passam por essas tubulações é possível determinar o consumo da

    unidade, como apresentado na Figura 2.13. A instalação dos hidrômetros nesse

    modelo de implantação ocorre nas seguintes etapas:

    a) Por meio de análise do projeto hidráulico do edifício quantifica-se o número

    de hidrômetros necessários. Antes do início da obra, é recomendável fechar todos

    os registros da unidade e, em todos os pontos de consumo, verificar se há

    passagem de água, isso porque em alguns casos podem ocorrer erros de execução

    ou alteração no projeto original;

    b) A próxima etapa consiste em construir um local adequado para a instalação

    do equipamento, devendo remover o revestimento e a alvenaria no local logo abaixo

    ao registro para criação de um nicho, cujo tamanho varia de acordo com o diâmetro

    e o material da tubulação. Para instalar um tubo de PVC de 25 mm, por exemplo, um

    nicho de 30 centímetros é o suficiente. Nessa etapa os equipamentos empregados

    são simples, basta uma serra circular para delimitar o local a ser instalado e uma

    talhadeira ou martelete para remover o material. Esse processo é apresentado na

    Figura 2.14.

  • 41

    Figura 2.13. SMIA com hidrômetros instalados em múltiplos ramais.

    Fonte: CARVALHAES, M.

    Figura 2.14. Construção de nicho para instalação de hidrômetros em sistema de distribuição de água

    não sem previsão para medição individualizada.

    Fonte: CARVALHAES, M.

    c) Uma vez criado o espaço necessário, instala-se o hidrômetro e uma tampa

    removível para manutenção, como apresentado na Figura 2.15. Esse equipamento

    deve estar sempre acessível para manutenção e acompanhamento do consumo.

  • 42

    Figura 2.15. Instalação de hidrômetros em sistema de distribuição de água não sem previsão para

    medição individualizada.

    Fonte: CARVALHAES, M.

    Como os hidrômetros são instalados no interior das unidades, torna-se mais

    difícil a leitura frequente in loco, pois em muitas ocasiões o acesso será inviável,

    razão pela qual é imprescindível o uso de um sistema de medição remota, a

    exemplo da radiofrequência.

    Algumas limitações devem ser consideradas antes da implantação de um

    sistema de medição individualizada de água em edifícios “sem previsão”, são elas a

    capacidade da válvula de descarga e o material da tubulação. As válvulas de

    descarga antigas apresentam uma vazão muito superior aos equipamentos

    hidráulicos restantes em uma unidade habitacional. Mais detalhadamente, como

    indicado na ABNT NBR 5626: 1998 (1998, p. 13), enquanto a capacidade de “vazão

    da válvula de descarga é 1,70 litros por segundo, a de um chuveiro é 0,2 l/s, a de um

    lavatório é 0,15 l/s, a de um tanque é 0,25 l/s e a de uma pia é 0,25 l/s.” Neste caso

    é necessário ter um hidrômetro com uma capacidade de medição muito superior,

    com uma vazão nominal mínima igual a 6,0 m³/h. E é nesse ponto que encontramos

    barreiras, além de preço elevado, esses medidores são duas vezes maiores que um

    utilizado para medir um ramal comum, o que dificulta a implantação em um edifício

    existente. Outro ponto é que as tecnologias de medição remota para medidores

    desse tamanho também são mais escassas.

  • 43

    Somado a isso, alguns tipos de materiais da tubulação dificultam

    consideravelmente a instalação do hidrômetro, como, por exemplo, o ferro

    galvanizado. A dificuldade de solda desse material torna muito difícil a manipulação

    em nichos pequenos. O trabalho em PVC é o mais simples e rápido, em razão da

    facilidade de trabalho com esse tipo de material, na medida em que o corte e a cola

    são realizados com maior facilidade.

    2.1.1. Componentes de sistemas de medição individualizada de água

    Entre os componentes integrantes de um sistema de medição remota estão

    os hidrômetros, os sistemas de medição remota e as conexões de diversos

    materiais, como PVC, PPR (Polipropileno) e cobre. Atualmente, no mercado

    brasileiro é possível encontrar uma gama de opções para cada um desses itens,

    sendo que a escolha correta deles é fundamental para a garantia da qualidade da

    operação do sistema.

    A não-conformidade técnica de materiais e componentes da construção civil resulta em habitações e obras civis de baixa qualidade, afetando o cidadão, as empresas e o habitat urbano como um todo. (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2014, p. 1).

    No âmbito da seleção das conexões, recorre-se aos itens aprovados pelos

    programas setoriais de qualidade do Programa Brasileiro da Qualidade e

    Produtividade (PBQP-h). Esse programa foi lançado pelo Governo Federal em 1990,

    sendo seu principal objetivo o combate a não conformidade intencional às normas

    técnicas de produtos. Nas palavras de Ambrozewicz (2003, p. 30):

    Articulação, mobilização e parcerias: essas podem ser consideradas as palavras-chave do PBQP-H, um programa em que o Estado atua como agente indutor e mobilizador da cadeia produtiva, por meio de entidades representativas, órgãos de fomento e de normalização.

    Para seleção dos hidrômetros e dos sistemas de medição remota, uma vez

    que eles não estão organizados em programas setoriais da qualidade, foram

    abordados em tópicos específicos.

  • 44

    Hidrômetros

    Os hidrômetros são ferramentas que medem o volume de água consumido.

    Com os dados gerados por esses equipamentos é possível realizar a cobrança do

    consumo e elaborar o perfil de consumo do setor por ele atendido, informações vitais

    para controle da demanda de água. Nas palavras de Nielsen (2003, p. 15): “o

    volume de água consumido pelos usuários de um sistema de abastecimento de

    água é contabilizado ou medido por aparelhos denominados de hidrômetros ou

    medidores de água, que são homologados, testados e aprovados”. Na Figura 2.16 é

    apresentado um hidrômetro.

    Figura 2.16. Hidrômetro.

    Fonte: Techem, 2015.

    No Brasil, as exigências impostas para utilização desses equipamentos em

    atividades econômicas estão descritas na Resolução 11 do Conselho Nacional de

    Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial Conmetro (1998, p. 3), são elas:

  • 45

    Corresponder ao modelo aprovado pelo Inmetro (Instituto Nacional de

    Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial);

    Ser aprovados em verificação inicial, nas condições fixadas pelo

    Instituto;

    Ser verificados periodicamente.

    A aprovação dos modelos e as verificações iniciais e periódicas são

    legalmente regulamentadas pela Portaria n° 246 de 17 de outubro de 2000 e pelo

    respectivo regulamento Técnico Metrológico, do Inmetro, do Ministério do

    Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

    Hidrômetros especificados corretamente estimulam o uso racional de água,

    enquanto o inverso provoca o uso perdulário do insumo, pois quando um sistema de

    medição individualizada perde a precisão, o usuário pode não sentir o peso de seus

    hábitos de consumo, inibindo que ele adote práticas de uso racional, como conserto

    de vazamentos e instalação de equipamentos economizadores. Nesse sentido,

    Nielsen (2003, p. 20): “A performance metrológica dos medidores de água influi

    diretamente no consumo real dos usuários, pois provoca uma reação de

    comportamento do mesmo”.

    Como apresentada na Figura 2.17, as ferramentas para controle da

    qualidade de medição de um hidrômetro são o dimensionamento, o posicionamento,

    as homologações e as verificações periódicas do equipamento pelas entidades

    responsáveis.

  • 46

    Figura 2.17. Hidrômetro – ferramentas para controle da qualidade.

    Fonte: CARVALHAES, M.

    Os hidrômetros mais utilizados são os velocimétricos, dos tipos monojato e

    multijato, que registram o consumo por meio do movimento de uma turbina em

    função da vazão de passagem, como apresentado na Figura 2.18. Essa turbina

    apresenta desgaste conforme o tempo de uso, justamente por isso é que para a

    manutenção da qualidade metrológica é fundamental a verificação periódica do

    hidrômetro. Tanto é assim que a Portaria n° 246 do Inmetro, item 8.1, determina que:

    “(...) as verificações periódicas são efetuadas nos hidrômetros em serviço, em

    intervalos estabelecidos pelo Inmetro, não superiores a cinco anos”.

    Controle da qualidade

    de hidrômetros

    Verificações Periódicas:

    Desgaste e envelhecimento

    Dimensionamento, posicionamento e especificação de

    materiais

    Homologações

    INMETRO

  • 47

    Figura 2.18. Hidrômetro de turbina.

    Fonte: http://g1.globo.com/tecnologia /noticia/2010/07/ conheca-o-funcionamento-do-hidrometro.html,

    acessado em 08/06/2015.

    Patologias relacionadas à falta de manutenção desses equipamentos

    repercutem diretamente nas estratégias de redução da demanda, segundo Fontes

    (2004, p. 1):

    Medidores parados ou com indicações de medições inferiores às reais, além da evidente perda do faturamento, elevam erroneamente os indicadores de perdas do sistema, pois apesar da água estar sendo fornecida ao usuário, parte dela não está sendo contabilizada.

    Sistemas de medição remota

    A necessidade de maior velocidade e precisão nas medições motivou a

    evolução de hidrômetros lidos presencialmente para sistemas de medição remota.

    Além da rapidez, trouxeram a possibilidade de efetuar medições em lugares com

    acesso controlado, como apartamentos. Assim, o emprego dessa tecnologia na

    medição impulsionou a qualidade e as possibilidades de implantação, como os

    http://g1.globo.com/tecnologia%20/noticia/2010/07/%20conheca-o-funcionamento-do-hidrometro.html

  • 48

    sistemas de medição individualizada de água em edifícios “sem previsão” por meio

    da instalação de um hidrômetro em cada ramal do edifício. Na Figura 2.19 são

    apresentados três equipamentos de medição remota por radiofrequência.

    Figura 2.19. Sistema de medição remota por radiofrequência.

    Fonte: Techem, 2015.

    Outra melhoria obtida mediante o uso desses sistemas é a geração de

    alarmes de vazamentos e de fraudes, o que torna possível melhorar o controle da

    gestão do consumo, identificando mais rapidamente os pontos de perdas e

    reduzindo o desperdício.

    Segundo ABNT NBR 15806: 2010 (2010, p. 4), os sistemas de medição

    remota são definidos como:

    (...) responsáveis pela transmissão dos dados. São constituídos por medidores providos de geradores de pulsos dispositivos auxiliares de medição, dispositivos adicionais de medição e prescrições documentadas, que permitem a medição e outras funcionalidades tais como acionamento de válvulas de bloqueio digital à distância.

    Como se pode notar na descrição da ABNT NBR 15806: 2010, em razão de

    evolução tecnológica dos equipamentos, os sistemas de medição remota têm

  • 49

    demonstrado excelência no auxílio às atividades de controle e gestão do consumo

    de água, e, ainda, contribuem para a absorção de outras funcionalidades.

    Segundo PROACQUA (2008), a operação desses sistemas não se encerra

    na medição, pois é prolongada para outras atividades, como retenção e exame de

    dados, de modo que o sistema seja retroalimentado com o intuito de melhorar a

    gestão de água nos edifícios de múltiplos pavimentos. De acordo com o

    PROACQUA (2008, p. 24), “a leitura remota é caracterizada pela automatização da

    medição e da transmissão de dados de fontes remotas para estações de

    recebimento, nas quais sofrem processamento, análise e arquivamento”.

    Nos países pioneiros na medição remota em edifícios de múltiplos

    pavimentos, como Estados Unidos e Alemanha, segundo Mrozinski (1991), as

    discussões da aplicação desses sistemas em edifícios habitacionais e comerciais

    vêm sendo realizadas desde o começo da década de 1970. Apesar de ter sido

    conceitualmente estabelecida no século XIX, somente recentemente a leitura remota

    efetivamente foi colocada em prática.

    Segundo Rozas (2002), nos Estados Unidos, entre os anos de 1988 e 1998,

    ocorreu um crescimento de 20 mil para 15,8 milhões de unidades de medição

    remota instaladas. A motivação para tanto foi a redução de custo dos equipamentos,

    em razão do desenvolvimento tecnológico nas áreas de eletrônica e de informática,

    bem como o aumento de custos das leituras tradicionais (in loco).

    Na análise a seguir, PROACQUA (2008, p. 24) se aprofunda nas causas do

    pioneirismo de certas nações quanto ao emprego do sistema de leitura remota.

    O emprego mais massivo de leitura remota pode ser observado na América do Norte, isto porque, historicamente, suas concessionárias de energia elétrica e gás foram as primeiras a se preocupar com o aumento na eficiência operacional, com a redução de custos e com o comportamento dos usuários num mercado cada vez mais competitivo (características como a busca por serviços com mais qualidade). Deve ser citado também o processo mundial de desregulamentação dos setores energéticos, de água e de telecomunicações (que acarretou em privatizações), a livre-concorrência, o desenvolvimento de setores como o de telecomunicações, além da própria busca por eficiência. Ásia e Europa foram os seguintes a empregar a leitura remota, após a

  • 50

    percepção desta como importante ferramenta de gestão, num contexto de consolidação dos setores envolvidos.

    No Brasil os primeiros sistemas de medição remota foram instalados no final

    da década de 1990, tendo destaque em 1998 a implantação da setorização do

    consumo no campus Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira, localizado na

    cidade de São Paulo. Entretanto, somente em meados da década de 2000 o sistema

    começou a ser aplicado e, basicamente em condomínios, passou a alcançar maior

    escala de aplicação. Ainda hoje, o emprego desta técnica pelas concessionárias

    brasileiras é insignificante.

    A função principal de um sistema de medição remota de água é transmitir,

    com confiabilidade, a informação captada no medidor até uma central de

    gerenciamento de dados, incluindo alarmes e dados de consumo. Para essa

    transmissão podem ser utilizados diversos meios de comunicação, como cabos,

    linhas telefônicas e radiofrequência. As etapas de transmissão de um sistema de

    medição remota mediante a radiofrequência são representadas, resumidamente, na

    Figura 2.20.

    Figura 2.20. Etapas de transmissão de um sistema de medição remota por meio da radiofrequência.

    Fonte: CARVALHAES, M.

    Como mostra a Figura 2.21, na operação dos sistemas de radiofrequência

    os dados gerados pelos hidrômetros são enviados para um concentrador, podendo

    ser fixo ou móvel.

    Hidrômetros

    Concentrador de dados

    Central de Gerenciamento

  • 51

    O concentrador fixo é instalado no interior do edifício, assim todos os dados

    gerados pelos hidrômetros são direcionados para ele. Por sua vez, deve enviar os

    dados coletados até a central de gerenciamento, cuja transmissão, normalmente, é

    feita por meio de uma linha telefônica. Via de regra, esse modelo é empregado em

    edifícios distantes da central de gerenciamento.

    No caso de aplicação de um concentrador móvel, na data programada para

    extração dos dados de medição, o concentrador deverá ser levado até o edifício

    para coleta e, posteriormente, para a central de gerenciamento, como representado

    na Figura 2.21. Nessa forma de operação existe a possibilidade de redução de

    custos, uma vez que o mesmo concentrador pode ser utilizado em diversos edifícios.

    Geralmente, é aplicado em regiões metropolitanas, onde os edifícios estão próximos

    da central de gerenciamento.

    Figura 2.21. Sistema de medição remota por radiofrequência.

    Fonte: Techem, 2015.

  • 52

    Meio físico para transmissão de dados

    Como visto anteriormente, no Brasil, na maioria das aplicações de sistemas

    de medição individualizada de água, a transmissão de dados entre o hidrômetro e a

    central de gerenciamento pode ser dividida em duas fases. A primeira fase ocorre

    entre os hidrômetros instalados em um condomínio e um concentrador, sendo a

    radiofrequência e o barramento de campo os meios mais utilizados. A segunda fase

    ocorre entre os concentradores e uma central de gerenciamento, enquanto as

    transmissões dos dados são realizadas por linha telefônica (GPRS) ou pela coleta

    de leituristas. Rozas (2002, p. 25) definiu da seguinte maneira essa etapa de

    comunicação:

    Medição off-site. Quando existe um dispositivo eletrônico no medidor,

    mas os dados de leitura ainda são coletados por um leiturista.

    Medição automática. Quando os dados são enviados diretamente às

    concessionárias.

    O desempenho de um sistema de comunicação de dados depende da

    escolha do meio físico para transmissão dos dados. Um meio de comunicação vai

    definir as características de confiabilidade da transmissão, a área de cobertura e a

    velocidade.

    Determinação das vazões em sistemas de medição individualizada de água

    Quando o edifício é projetado com previsão para a medição individualizada o

    número de prumadas é reduzido e os ramais de alimentação interna de água

    atendem diferentes ambientes sanitários, com distintos períodos de pico. Assim,

    deve-se projetar o sistema para atender as solicitações que ocorrem em

    determinados períodos do dia, especialmente no período de pico, alterando o

    modelo de estabelecimento das vazões para o método probabilístico. Dessa forma,

    como

    (...) os trechos da tubulação de água, onde estão instalados os medidores, atendem diferentes tipos de ambientes sanitários – cozinhas, banheiros etc. – com diversos períodos de pico de uso dos aparelhos. Por exemplo, em uma cidade como São Paulo, um trecho da tubulação de água fria, com hidrômetro instalado, pode atender

  • 53

    simultaneamente banheiros sociais, com períodos de pico das 6h às 8h e das 18h às 20h, e cozinha, com período de pico das 11h às 14h e em outros casos das 18h às 20h. Na condição mais desfavorável o período ocorrerá das 18h às 20h com o uso simultâneo de alguns aparelhos sanitários do banheiro e da cozinha. (OLIVEIRA; ILHA; GONÇALVES, 2007, p. 6).

    O método da soma dos pesos previsto na ABNT NBR 5626: 1998 considera

    que cada equipamento hidráulico apresenta um consumo e a soma deles determina

    a vazão de abastecimento, sem, contudo, levar em consideração a quantidade de

    usuários e os períodos de utilização, considerando o mesmo período de pico para a

    utilização dos aparelhos.

    O método probabilístico de determinação de vazões, também citado na

    mesma norma, possibilita ao projetista determinar as variáveis de projeto, como

    número de usuários, tempo de duração da utilização e vazões solicitadas pelos

    equipamentos sanitários, a fim de conseguir um sistema mais preciso, melhorando o

    desempenho do hidrômetro. Portanto, a análise do método probabilístico obtém

    resultados mais próximos da realidade, melhorando o desempenho do hidrômetro.

    Na Figura 2.22, Oliveira, Ilha e Gonçalves (2007) apresenta os resultados

    obtidos em três edifícios residenciais multifamiliares compostos por dez pavimentos,

    todos com um apartamento por andar. A análise considerou apartamentos com

    diferentes vazões, o primeiro um dormitório e um banheiro (1D/1B), o outro, dois

    dormitórios e dois banheiros (2D/2B) e, por fim, o terceiro, três dormitórios e três

    banheiros (3D/3B). As populações estimadas são, respectivamente, duas, quatro e

    seis pessoas. Na primeira coluna são apresentados os resultados obtidos pelo

    método dos pesos, na segunda pelo probabilístico. Os resultados obtidos pelo

    método probabilístico indicam uma redução dos valores de vazão nos ramais de

    alimentação, em relação ao método recomendado pela ABNT NBR 5626: 1998.

  • 54

    Figura 2.22. Vazões de projeto no ramal de alimentação, obtidas pelo método probabilístico e pelo

    dos pesos.

    Fonte: OLIVEIRA; ILHA; GONÇALVES, 2007, p. 7.

    Além da alteração no método de determinação das vazões, outra mudança

    no procedimento de elaboração de projetos de sistemas prediais hidráulicos e

    sanitários em condomínios residenciais, decorrente da introdução da medição

    individualizada de água, é a especificação dos equipamentos sanitários nas

    unidades habitacionais. Como exposto anteriormente, todos os equipamentos

    deverão ser abastecidos por um único ramal, onde será instalado o hidrômetro. Em

    razão disso, as vazões de funcionamento solicitadas por eles deverão apresentar

    certa homogeneidade, ou seja, como apresentado na Tabela 2.3, entre 0,10 e 0,30

    l/s. No caso de equipamentos que solicitam vazões maiores no ponto de consumo,

    como as válvulas de descarga (1,70 l/s), tanto o diâmetro do ramal, quanto o

    hidrômetro especificado seriam insuficientes.

    0

    0,1

    0,2

    0,3

    0,4

    0,5

    0,6

    0,7

    1 Banheiro 2 Banheiros 3 Banheiros

    Vazão

    (L/

    s)

    Probabilístico NBR 5626

  • 55

    Tabela 2.3. Vazões nos pontos de utilização em função do aparelho sanitário e da peça de utilização.

    Aparelho sanitário

    Peça de utilização Vazão de projeto

    litros/segundo

    Bacia sanitária Caixa de descarga 0.15

    Bacia sanitária Válvula de descarga 1.70

    Banheira Misturador (água fria) 0.30

    Bidê Misturador (água fria) 0.10

    Chuveiro ou ducha Misturador (água fria) 0.20

    Chuveiro elétrico Registro de pressão 0.10

    Lav. de roupas Registro de pressão 0.30

    Lavatório Torneira mist. (Água fria) 0.15

    Fonte: ABNT NBR 5626: 1998 (1998, p. 13).

  • 56

    3. REGULAMENTAÇÕES, NORMAS E GUIAS DE MEDIÇÃO INDIVIDUALIZADA

    DE ÁGUA

    Para a análise da operação de sistemas de medição individualizada de água

    faz-se necessário o levantamento dos programas institucionais nacionais e

    internacionais, bem como a avaliação dos critérios adotados. Em um primeiro

    momento, são caracterizadas as instituições responsáveis pelos programas,

    apresentando-se a quantidade de clientes e de municípios abrangidos e as

    principais motivações para a elaboração da normalização. Somado a isso, há a

    preocupação em descrever como cada um deles aborda as responsabilidades sobre

    projeto, execução e manutenção e os princípios adotados para desenho do

    programa, como tecnologias obrigatórias e procedimentos para medição. E, por fim,

    são avaliados os principais documentos normativos e os critérios neles expostos

    para garantir a qualidade do sistema e a precisão da medição, desde a escolha dos

    componentes até a manutenção do sistema.

    3.1. PROGRAMAS INSTITUCIONAIS DE MEDIÇÃO INDIVIDUALIZADA DE ÁGUA

    3.1.1 Instituições pesquisadas

    SABESP: A SABESP foi fundada em 1973 para prestação de serviços públicos de

    saneamento básico no Estado de’ São Paulo. Em 2015, a SABESP prestou serviços

    para 364 municípios, atendendo uma população de 28 milhões de habitantes. Em

    2007 foi lançado o Programa PROACQUA, um convênio entre a SABESP e o

    CEDIPLAC, cuja premissa inicial era formulação de uma proposta técnica de

    operação em medição individualizada.

    SANASA: A SANASA (Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S.A.)

    foi criada em 1973 para prestar serviços de saneamento básico no município de

    Campinas. Em maio de 2006, o município de Campinas homologou a lei 12.549, que

    impõe a obrigação da medição individualizada em condomínios novos. Em razão

    disso, no mesmo ano, a SANASA adotou critérios para a individualização em

    condomínios novos e existentes, por meio da publicação das Normas Comerciais,

  • 57

    Técnicas e de Sistema de Medição Remota. Em 2015, efetuou atendimento de

    aproximadamente 1.145.000 consumidores.

    EMBASA: A EMBASA (Empresa Baiana de Água e Saneamento S.A.) foi criada em

    1971 para prestar serviços de saneamento básico no Estado da Bahia. Em 2009 o

    município de Salvador promulgou a Lei Municipal Lei nº. 7 780, que impõe a

    obrigação da medição individualizada em condomínios novos. Em razão disso, no

    mesmo ano, a EMBASA adotou critérios para a individualização em condomínios

    novos e existentes. Segundo Silva (2010, p. 3)

    “Até o mês de fevereiro do ano de 2010, existiam na cidade do Salvador 411 edifícios multifamiliares com ligações individualizadas cadastradas no Sistema Comercial da EMBASA, totalizando 7.103 apartamentos que recebem as suas contas de água e esgoto de forma independente. A maioria dessas edificações é antiga e adaptou as suas instalações hidráulicas ao sistema de hidrometração individualizada”.

    Em 2015, a EMBASA prestou atendimento a uma população de 12,7 milhões de

    pessoas.

    COMPESA: A COMPESA (Companhia Pernambucana de Saneamento) foi criada

    em julho de 1971 para prestar serviços de saneamento básico no Estado de

    Pernambuco. A COMPESA foi a concessionária pioneira no Brasil em medição

    individualizada, começando em 1994. Em 2015, a COMPESA atendeu a 173

    municípios no Estado de Pernambuco.

    COPASA: A COPASA (Companhia de Saneamento de Minas Gerais) foi fundada

    em 1974 para prestar serviços de saneamento básico no estado de Minas Gerais.

    Em 2006, após a divulgação da medição individualizada pela ANA, surgiu o

    interesse da COPASA nessa atividade. Em 2014, a COPASA atendia a uma

    população de 14,5 milhões de pessoas em 615 municípios.

    SANEAGO: A SANEAGO (Saneamento de Goiás S.A.) foi fundada em 1960, a

    Saneamento de Goiás S.A. para prestar serviços de saneamento básico no Estado

    de Goiás. A SANEAGO foi uma das concessionárias pioneiras no Brasil, começando

  • 58

    a medição água individualizada em 2003. Em 2015, a SANEAGO prestou

    atendimento a 223 munícipios em Goiás.

    SOUTH EAST WATER – MELBOURNE, AUSTRÁLIA: South East Water foi

    fundada em 1995, ela é uma prestadora de serviços de saneamento básico e

    soluções ambientais em uma área que abrange o sudeste de Melbourne até o Sul

    Gippsland. Em 1998 foi alterado o Código dos Condomínios Residenciais de

    Melbourne, permitindo a medição individualizada pela concessionária, de modo que,

    nesse mesmo ano, a South East Water iniciou a prestação desse serviço. Para

    incentivar a adaptação em edifícios antigos a concessionária oferece a instalação

    gratuita do medidor. Entretanto, é cobrado o serviço de medição e os custos para

    adaptar as instalações hidráulicas dos edifícios. Em 2015, a South East Water

    atendeu uma população de 1,7 milhões.

    QUEENSLAND INFRAESTRUTURA URBANA - BRISBANE AUSTRÁLIA:

    Queensland Infraestrutura Urbana foi fundada em 2010, ela é uma prestadora de

    serviços de saneamento básico para os municípios de cinco regiões no sudeste do

    Estado de Queensland, Brisbane, Lockyer Valley, Ipswich, Somerset e Scenic Rim.

    Iniciou a medição individualizada em 2008, devido à alteração do “Ato Estadual de

    Abastecimento de Água” nesse mesmo ano, pois passou a permitir a cobrança

    individual dos proprietários. Em 2015, a empresa abasteceu 532.000 residências.

    EPAL – LISBOA, PORTUGAL: A EPAL (Empresa Portuguesa de Águas Livres S.A.)

    foi fundada em 1974, ela é uma prestadora de serviços de saneamento básico na

    cidade de Lisboa. Ao contrário das concessionárias discutidas acima, a EPAL tem

    maior proximidade da execução dos sistemas prediais de distribuição de água, pois,

    para que ela efetue a ligação dessa rede com o sistema público de distribuição de

    água, as instalações prediais devem respeitar todos os critérios técnicos

    especificados no “Manual de Redes Prediais” (EPAL, 2011), no qual estão

    disponibilizadas as diretrizes para medição individualizada. Em razão disso, se torna

    mais difícil precisar a data de início da medição individualizada pela concessionária.

    Em 2015, a EPAL atendeu uma população de três milhões de pessoas.

  • 59

    3.1.2. Análise comparativa entre as Regulamentações em medição

    individualizada de água

    A escassez de água e a demanda da sociedade por métodos mais justos de

    cobrança forçaram as concessionárias brasileiras a formularem programas de

    medição individualizada de água. No Brasil esse movimento teve início em 1994,

    tendo a COMPESA como pioneira, e apesar dos mais de 20 anos de maturação, ele

    ainda se encontra em estágio embrionário em todo o país. Isso pode ser evidenciado

    mais claramente em regiões como a metropolitana de São Paulo, onde se estima

    que em 2015 existam apenas aproximadamente 150 mil apartamentos

    individualizados e na sua esmagadora maioria não existe envolvimento direto da

    concessionária, e sim da iniciativa privada.

    Em todos os programas do Brasil existem indícios claros de um desejo de

    participação da iniciativa privada no processo, uma vez que em todos eles as etapas

    de projeto e instalação são por ela executadas, sendo que em algumas são incluídas

    as fases de manutenção e leitura. Em contrapartida, entende-se que não há uma

    compreensão por parte das concessionárias brasileiras a respeito da interferência

    que a implantação desses sistemas provoca na cadeia da construção civil. Isso

    porque, com exceção do programa da SABESP lançado em 2009, existem somente

    curtas instruções técnicas para implantação do sistema, indicando alguns critérios

    básicos, sem que haja uma abordagem sistêmica, incluindo-se outras especialidades

    como sistemas de distribuição de água fria, projeto arquitetônico e sistemas de

    aquecimento de água.

    Contudo, a regulamentação de medição individualizada da SABESP é mais

    abrangente do que as restantes, sendo composta por duas normas e três volumes

    técnicos. As duas Normas Técnicas da SABESP estabelecem os critérios para

    implantação do sistema no condomínio, a primeira, denominada NTS277 (2008),

    estabelece os critérios hidráulicos e arquitetônicos; a segunda, a NTS 279 (2008),

    em linhas gerais, adequa as funcionalidades do concentrador, ou seja, formato do

    display, organização dos comandos, protocolos externos, relação de alarmes e

    processo de acionamento da válvula de bloqueio ao sistema padrão da SABESP.

  • 60

    Os três volumes da documentação técnica têm função de orientar

    tecnicamente projetistas, construtores e gestores, abordando diversas áreas da

    construção civil e são denominados por Diretrizes de Projeto; Aquisição e Gestão de

    dados; e Execução e Manutenção.

    Tratando-se de documentação, dentre os programas avaliados, destaca-se a

    experiência da EPAL (Empresa Portuguesa de Águas Livres), que, ao contrário das

    concessionárias nacionais, mantém uma relação próxima com a implantação dos

    sistemas prediais hidráulicos dos edifícios por ela atendidos. O Manual de redes

    prediais da EPAL (2011) abrange os sistemas prediais hidráulicos e sanitários por

    completo, nele são abordadas as características mais relevantes do projeto e da

    execução de sistemas de medição individualizada, demonstrando claramente as

    responsabilidades de cada participante do processo. O manual é dividido em

    capítulos que abordam a elaboração do processo de abastecimento, concepção de

    projeto, disposição construtiva, dimensionamento e instalação de hidrômetros.

    Apesar da exigência por tecnologia SMR, é pouco abordada na documentação

    técnica, inclusive quais modelos podem ser utilizados.

    Em todas as regulamentações pesquisadas existem alguns pontos em

    comum, como, por exemplo, o estabelecimento da localização dos hidrômetros no

    edifício, qual seja: local de fácil acesso e área comum do edifício, a fim de que possa

    facilitar a leitura, a manutenção e, sobretudo, dificultem a ocorrência de fraudes.

    Sobre esse critério cabe discutir algumas iniciativas privadas bem-sucedidas

    de medição individualizada com os hidrômetros instalados no interior dos

    apartamentos, como em edifícios antigos sem previsão, que constituem a grande

    maioria das construções brasileiras. Nesses empreendimentos, apesar do evidente

    aumento do risco de fraudes se comparado com um modelo ideal, de um edifício

    com os hidrômetros na área comum, são constadas reduções do consumo de água,

    da geração de esgotos e ascensão de justiça social.

  • 61

    Cabe ressaltar ainda que, como apresentado no item 2.1.1., atualmente

    existem tecnologias capazes de gerar alarmes para as principais fraudes, a exemplo

    do fluxo reverso e fraude magnética. Portanto, ao tratar-se de edifícios em fase de

    projeto, deve-se restringir a instalação de todos os componentes do sistema de

    medição individualizada à área comum. Porém, ao tratar-se de edifícios já

    construídos, a decisão a ser tomada é definir entre fomentar os benéficos desse

    sistema aos usuários e ao meio ambiente ou restringir o risco de fraudes à

    concessionária.

    Em alguns programas são indicadas as alturas máximas e mínimas de

    instalação desses componentes, na regulamentação da SANASA (2015) entre 0,50

    e 1,50 metros do piso e na da SABESP (2008) entre 0,30 e 1,50 metros do piso. Isso

    ocorre para facilitar a manutenção dos componentes e acesso dos usuários, que, por

    sua vez, representa um enorme ganho de qualidade se comparado aos projetos

    iniciais de medição individualizada de água, nos quais se chegava a instalar

    hidrômetros no forro.

    Porém, cabe ressaltar que o estabelecimento muito rigoroso no tocante às

    alturas pode provocar o aumento do valor do metro quadrado construído, elevando o

    custo de implantação do sistema, o que dificulta o acesso da população. Isso

    porque, cada vez mais, as construtoras para melhorarem o aproveitamento do

    espaço procuram diminuir os ambientes para circulação, assim restam poucos locais

    para a instalação de sistemas contra incêndio, shafts para distribuição de energia

    elétrica e medição individualizada de água e gás.

    Assim, cabem às entidades responsáveis pelas regulamentações avaliar

    sistemicamente a inserção da medição individualizada na construção civil,

    afastando-se um pouco essas documentações do modelo ideal e permitindo alturas

    um pouco distintas, como, por exemplo, 0,20 ou 1,80. Dessa forma é possível

    alcançar grande economia na implantação e promover maior aderência à medição

    individualizada de água.

  • 62

    Dentre as regulamentações pesquisadas, existem critérios únicos que não

    são encontrados em nenhuma outra. No programa da SABESP (2008), por exemplo,

    é exigido o uso de válvulas de bloqueio remoto, a fim de que seja interrompido e

    restabelecido o abastecimento de água dos usuários inadimplentes por meio do

    acionamento de um dispositivo localizado na portaria do edifício, e, assim,

    dispensada a entrada de um funcionário da concessionária no condomínio.

    Atualmente, o dispositivo de bloqueio remoto mais utilizado nessas

    aplicações são as válvulas solenoides, um dispositivo utilizado nas mais diversas

    aplicações industriais, porém sem histórico de uso em sistemas prediais de

    distribuição de água fria residenciais, em que se faz necessário o controle de

    abertura, fechamento e/ou desvio de fluxo de algum fluído, seja ele ar, gás ou

    líquido. Essa exigência promove alguns obstáculos para implantação da medição

    individualizada de água, como o financeiro, visto que esses equipamentos tem um

    custo similar aos hidrômetros e requerem o mesmo espaço, bem como de caráter

    técnico visto que não existe no mundo um programa de reconhecido sucesso técnico

    com a aplicação desses equipamentos em sistemas prediais de distribuição de água

    fria em edifícios residenciais. E, ainda, um obstáculo operacional, pois ao

    restabelecer o abastecimento de água à distância pode-se promover uma inundação

    no apartamento, já que nesse momento pode haver algum equipamento hidráulico

    aberto e não haverá ninguém presente para fechá-lo.

    O processo de implantação de medição individualizada pode ser definido em

    etapas de projeto, execução, leitura e manutenção. Em grande parte das

    regulamentações vigentes no Brasil apenas algumas delas são incluídas e outras

    são ignoradas. Em linhas gerais, ao tratar-se do controle de qualidade, os programas