UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · 1-2-Processos de maturação e ambiente de...

45
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A importância da família no desenvolvimento emocional do recem nascido. Por: Marcelle Almada Silva Orientador Prof. Fabiane Muniz Rio de Janeiro 2012

Transcript of UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · 1-2-Processos de maturação e ambiente de...

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A importância da família no desenvolvimento emocional do

recem nascido.

Por: Marcelle Almada Silva

Orientador

Prof. Fabiane Muniz

Rio de Janeiro 2012

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A importância da família no desenvolvimento emocional do

recem nascido.

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Terapia de família.

Por: Marcelle Almada Silva.

3

AGRADECIMENTOS

A Deus, a minha família, aos meus

professores e amigos que me apoiaram

durante essa trajetória.

4

DEDICATÓRIA

Ao meu pai e minha mãe pelo constante

apoio e incentivo.

5

RESUMO

O trabalho aborda o desenvolvimento emocional do recem nascido com base

na teoria psicanalítica de Donald Winnicott. Destaca o papel do ambiente na

formação do ser humano e o papel da mãe suficientemente boa como o melhor

ambiente para que esse desenvolvimento ocorra de forma satisfatória,

respeitando o ritmo próprio do bebê. Aborda o trajeto de desenvolvimento do

recem nascido da dependência absoluta de um outro ser à independência e

integração. Reconhece a importância da mãe nesse processo e a necessidade

da participação da família como apoio fundamental à mãe que exerce suas

funções maternas, ou na ausência da mesma, estende aos familiares a

responsabilidade pela maternagem. Reconhece a importância de um ambiente

suficientemente bom para dar o apoio e contenção adequada ao bebê e assim

favorecer seu desenvolvimento e destaca que falhas nesse percursso podem

gerar inúmeras patologias.

6

METODOLOGIA

Este trabalho será realizado através de uma pesquisa bibliogáfica sobre

o tema proposto: o desenvolvimento emocional do recem nascido.As pesquisas

teoricas serão embasadas pela teoria psicanalítica com referência nas idéias

de D.W. Winnicott, médico pediatra e pesquisador que devido a sua prática

clínica pesquisou sobre o desenvolvimento emocional primitivo.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO8888888888888888888888.8

CAPÍTULO I- O processo de desenvolvimento emocional do recem nascido8888888888888888888888888...9 1-1- A origem das emoções no ser humano 88888888888888...9 1-2-Processos de maturação e ambiente de facilitação888888888..9 1-3-O início da vida psíquica:da depêndencia à integração88888888.12 1-4-A construção do self e a base do desenvolvimento emocional88888.15

CAPÍTULO II- A relação materna e sua importância para o desenvolvimento emocional do recem nascido88............19 2-1-A preocupação materno primária e a mãe suficientemente boa888.19 2-2-Cuidado materno:da contenção física à emocional88888888...24 2-3-As falhas na maternagem8888888888888888888.28

CAPÍTULO III – A importância da família como apoio para a mãe e para o desenvolvimento emocional do recem nascido8888.31

3-1-A relação recem-nascido e ambiente88888888888888..31 3-2-O recem nascido e as falhas ambientais888888888888.834 3-3- A família como ambiente de facililitação88888888888.8835

CONCLUSÃO888888888888888888888842

BIBLIOGRAFIA 888888888888888888888.44

8

INTRODUÇÃO

O presente trabalho pretende abordar sobre a contribuição da família no

desenvolvimento emocional do recem nascido. Utiliza como referência o

pensamento psicanalítico do médico inglês Donald Winnicott (1896-1971).

O trabalho se divide em três capítulos: O primeiro capítulo procura refletir

sobre o processo de desenvolvimento emocional do recem nascido,

abordando sobre a origem das emoções no ser humano considerando os

processos de maturação e os ambientes de facilitação. Aborda também o

percursso de desenvolvimento do recem nascido que vai da dependência

total á integração.

O segundo capítulo vai refletir a relação materna e sua importância no

desenvolvimento emocional do recem nascido.Essas reflexões partem de

dois conceitos importantes da teoria de Winnicott que se relacionam entre si:

“preocupação materna primária”e “mãe suficientememente boa”, percebendo

a mãe como o ambiente ideal para o desenvolvimento do filho.

O terceiro capítulo pretende abordar a relação da família e suas funções,

que podem ser: apoio a mãe que realiza as suas funções maternas ou

exercer a própria maternagem na ausência ou impossibilidade da mãe

realizar essa função. Neste capítulo é abordado também a relação recem

nascido e ambiente (mãe) e as falhas nesse processo que podem gerar

diversas patologias e impedir ou retardar o pleno desenvolvimento do recem

nascido.

9

1- O processo de desenvolvimento emocional do recem nascido.

Este capítulo abordou o processo de desenvolvimento emocional do recem

nascido que ao nascer é totalmente dependente de um outro ser humano que

servirá como “ego auxiliar” visando alcançar o pleno desenvolvimento do

bebê.Esse processo passa por vários estágios que vai da dependência total até

a independência, visando à integração.Neste capítulo é abordado também a

importância do ambiente para que o desenvolvimento ocorra e o potencial

genético do bebê seja atingido em sua totalidade.

1.1- Origem das emoções no ser humano:

Na atualidade existem estudos que comprovam a existência de vida

emocional nos recem nascidos. Estas teorias acreditam que como o

crescimento físico do bebê depende de vários fatores para ocorrer de forma

plena e satisfatória, assim também ocorre com o desenvolvimento emocional.

Esses fatores responsáveis pelo desenvolvimento emocional divergem de

acordo com o autor e sua teoria. Mas hoje em dia, várias pesquisas

comprovam a importância da família no processo de desenvolvimento do

recem nascido como o primeiro ambiente de desenvolvimento do ser humano.

Dessa forma, o desenvolvimento emocional do bebê tem início ainda no

útero materno e de forma gradativa vai se desenvolvendo e se diferenciando

da mãe que o gerou. No início o bebê não tem ainda um ego formado e por

isso pega por empréstimo o ego da mãe, ou representante materno,

responsável pelos cuidados atribuidos ao bebê. É característica dessa fase a

total dependência do bebê a esses cuidados, realizando tanto a contenção

física como a psicológica.

1.2- Processos de maturação x ambiente de facilitação:

Para compreender o desenvolvimento emocional do recem nascido vamos

partir das ideias de Donald Winnicott e do pensamento psicanalítico. A

10

psicanálise é uma área que desde os primórdios de sua formação se

interessou pelos processos de desenvolvimentos do ser.

Winnicott foi um autor que muito contribuiu para o pensamento psicanalítico.

Médico pediatra partiu do atendimento clínico com bebês, crianças e seus

pais. Devido a sua prática clínica pesquisou os estágios mais primitivos do

desenvolvimento emocional do ser humano.

Seu interesse partia da análise de recem nascidos e sua relação com a

mãe, valorizando esse ambiente como primordial para o desenvolvimento pleno

do bebê tanto física como emocionalmente. Constatou que antes mesmo do

nascimento, o bebê está em completa interação com a mãe que o está

gerando. Destaca através de suas análises que o desenvolvimento físico e

emocional do recem nascido vai depender portanto de dois fatores: o processo

de maturação que é herdado e o ambiente que esse bebê esta inserido.

“ No início o lactente é completamente dependente da

provisão física da mãe viva em seu útero e depois como

cuidado do lactente.” (WINNICOTT, 1983, p.81)

E conclui:

“ 8 o processo maturativo depende para a sua evolução da

provisão do ambiente. Podemos dizer que o ambiente

favorável torna possível o progresso continuado dos

processos de maturação. Mas o ambiente não faz a criança.

Na melhor das hipóteses possibilita a criança a concretizar

seu potencial” (WINNICOTT, 1983, p.81)

De acordo com Celeri no início do processo de desenvolvimento emocional

três aspectos são considerados por Winnicott , a hereditariedade, o bebê e o

meio e afirma:

“ De um lado há a hereditariedade, de outro, o ambiente,

(cuidado materno), que pode apoiar, falhar ou traumatizar.

11

No meio está o bebê, vivendo,crescendo e acumulando

experiências.” ( CELERI, P.28)

Dessa forma, o recem nascido traz um potencial genético herdado mas não

traz a certeza, nem a garantia que essa carga genética será plenamente

atingida, pois para isso é fundamental um ambiente que favoreça esse

desenvolvimento. Ainda de acordo com o pensamento de Winnicott, Celeri vai

afirmar:

“Ao nascer, o bebê traz consigo suas tendências

hereditárias, que incluem o que Winnicott demoninou “os

processos de maturação”, isto é, um impulso biológico para

a vida, para o crescimento e para o desenvolvimento. O

crescimento físico e emocional depende para sua efetivação,

de uma provisão ambiental, denominada ambiente de

facilitação, cuja a característica é a adaptação às

necessidades, sempre cambiantes, que se originam dos

processos de maturação” ( CELERI, P.28)

Podemos observar que no início da formação do ser humano, tanto em

relação ao seu crescimento físico quanto emocional, ocorre a dependência de

dois fatores de extrema importância nesse processo: As tendências

hereditárias, que incluem o que Winnicott chamou de “os processos de

maturação” ou seja um impulso biológico para o crescimento e

desenvolvimento e de outro lado a provisão ambiental, denominada por ele de

“ambiente de facilitação” cuja a característica é a adaptação às necessidades

desse bebê. Dessa forma verificamos que o ambiente suficientemente bom,

aquele que se adapta ao ritmo do bebê e suas necessidades permite que o

material herdado alcance o crescimento físico e emocional e a costrução plena

do ser.

“O ambiente suficientemente bom, possibilita o processo de

maturação, isto é a evolução do ego e seus mecanismos de

12

desenvolvimento do self, a história do id, das pulsões e suas

vicissitudes” ( CELERI, P.28)

1.3-O início da vida psíquica: Da dependência rumo à independência e

integração.

Seguindo o pensamento de Winnicott podemos buscar compreender o

processo de amadurecimento do bebê e consequentemente seu

desenvolvimento emocional. Como vimos, o potencial hereditário já trazemos

conosco no nascimento e se o ambiente que nos rodeia for favorável esse

potencial certamente será alcançado.

Winnicott (1962) traz o conceito de “integração” ou de “identidade pessoal”

como resultado do desenvolvimento emocional individual e o ego vai

representar essa integração na forma de uma unidade pessoal. Sua teoria

parte da ideia de nao integração primária do ego do bebê, ou seja, ao nascer

ainda não existe um ego formado. A tendência à integração, faz parte do

potencial herdado e que pode se concretizar desde que os processos

ambientais de sustentação adequada, pela mãe, sejam proporcionados.

Partindo dessa ideia ele traça um caminho que deverá ser percorrido por

esse bebê no processo de desenvolvimento emocional que ele vai dividir em

tres estágios:

* dependência absoluta,

* dependência relativa,

* rumo à independência.

Estes estágios estão diretamente relacionados ao caminho evolutivo que o

bebê traça do nascimento à integração e constituição do ego.

Para Winnicott (1963) o crescimento emocional do recem nascido é o

resultado dessa jornada que vai da dependência à independência. Porem

destaca que para o se humano alcançar a maturidade implica não somente

atingir o crescimento pessoal, como também se socializar. Acredita que o

adulto é capaz de satisfazer suas necessidades pessoais sem ser anti- social,

13

ou seja o adulto é um ser capaz de viver em sociedade. Dessa forma, observa

que a independência nunca é absoluta . E partindo da ideia que somos seres

sociais afirma:

“O indivíduo normal não se torna isolado, mas se torna

relacionado ao ambiente de um modo que se pode dizer

serem o individuo e o ambiente interdependentes”

(WINNICOTT, 1983, p.80)

Winnicott vai constatar que no início da vida o bebê é totalmente

dependente de um outro ser. Nessa fase que ele denominou de

dependência absoluta o bebê encontra se totalmente dependente física e

emocionalmente da mãe, que em condições normais é o ambiente ideal para

seu desenvolvimento. E afirma:

“ O início do surgimento do ego inclui inicialmente uma

quase absoluta dependencia do ego auxiliar da figura materna

e da reduçao gradativa e cuidadosa da mesma visando à

adaptação. Isto faz parte do que eu domino “maternidade

suficientemente boa”; neste sentido o ambiente figura entre

outros aspectos essenciais da dependência , no meio do qual

o lactente esta se desenvolvendo, utilizando mecanismos

mentais primitivos.” ( Winnicott, 1983, P 15)

Verificamos que quando o bebê nasce está totalmente dependente da

provisão materna mas não tem consciência dessa dependência. Nessa fase

é muito importante que a mãe mantenha a ilusão de onipotência necesária

do bebê, para posteriormente quando o mesmo estiver preparado e capaz

de lidar com a sensação de ser incompleto ela possa ir aos poucos

desiludindo-o.

Posteriormente a essa fase conhecida como dependência absoluta

vem a fase de dependencia relativa. Essa fase tem como característica a

desilusão gradual por parte da mãe onde o bebê vai ocupando um espaço

separado dela e personalisado. Surge então a ideia do “ eu” e “não eu”, e a

14

afirmação “eu sou”, em que a criança se reconhece como um ser com

interior e um exterior, e começa a ter identidade. Nesta fase o bebê começa

a sentir-se real, a encontrar o caminho próprio para existir e de se relacionar

consigo mesmo e com os outros.

Essa jornada que vai do estágio de dependência à independencia é

uma jornada que cada um de nós temos que seguir. Alcançar a

independência vai depender de cada caso, de como cada um com seu

potencial genético vai reagir ao cuidado materno. Determinar o que significa

normalidade neste caso é considerar a interação desses dois fatores: tanto

o individuo como a sociedade (ambiente) são determinantes nesse

processo.

Para Winnicott:

“Nesta linguagem normalidade significa tanto saúde do

indivíduo como da sociedade, e a maturidade completa do

individuo não é possível no ambiente social imaturo ou

doente” ( WINNICOTT,1983, p.80).

Percebemos que segundo a teoria de winnicott o fator que vai garantir o

pleno desenvolvimento emocional do recem nascido garantindo que seu

potencial herdado seja atingido é sem duvida nenhuma o ambiente em que

esse bebê esta inserido, que ele nomeou de “ambiente de facilitaçao”. Para

esse autor, o melhor ambiente para o pleno desenvolvimento do recem nascido

é sem duvida nenhuma o ambiente materno. Ele parte do princípio que a mãe

que gerou esse bebê por aproximadamente nove meses tenha durante esse

percurso desenvolvido condições únicas de lidar com ele de forma a entender

o ritmo e as necessidades do filho. Dessa forma, a mãe suficientemente boa é

aquela que atende as necessidades físicas e emocionais do filho respeitando o

tempo e as necessidades do mesmo e não impondo em tempo algum algo que

esteja além das reais necessidades do bebê, portanto é um ambiente que está

em plena sintonia com a criança deixando de lado as vontades maternas e

familiares. Quem manda e dá o ritmo é o proprio bebê que precisa se sentir

onipotente e seguro.

15

Esse ambiente “ideal” nem sempre é estabelecido por parte da mãe por

diversos fatores, principalmente por problemas psicológicos relacionados a

ansiedade , depressão entre outros problemas relacionados a saúde física e ou

psicológica da mãe. E qualquer falha nesse ritmo entre a mãe e o bebê gera

um ambiente desfavorável para que o processo de amadurecimento ocorra na

sua plenitude.

1.4- A construção do self e a base do desenvolvimento emocional.

Winnicott (1965) em seu artigo que trata sobre concepções modernas do

desenvolvimento emocional do bebê, destaca o primeiro ano de vida pois

acredita ser um período de grande importância nesse processo. Afirma que:

“Muita coisa acontece no primeiro ano de vida da criança: o

desenvolvimento emocional tem lugar desde o principio; num

estudo da evoluçao da personalidade e do carater é

impossível ignorar as ocorrencias dos primeiros dias e horas

de vida ( e mesmo do último estágio de vida pré- natal, no

caso de crianças pós-maturas); e até a experiencia do

nascimento pode ser significativa.” ( WINNICOTT, 2011 ,P.3)

O primeiro ano de vida, o final da gestação, como também a hora do

nascimento são fases que vão deixar marcas que podem claramente afetar

o desenvolvimento emocional e psíquico do bebê.

Essa fase que vai da gestação ao nascimento incluindo os primeiros

meses pós- nascimento reforça a importância da mãe nesse processo de

desenvolvimento devido ao tamanho estado de interação em que estão

ambos e dado a tamanha dependência do ego do bebe ( em formação) a

um ego auxiliar. Winnicott afirma que:

“8Há algo na mãe de um bebê que a torna

particularmente qualificada para proteger seu filho nesta

fase de vulnerabilidade e que a torna capaz de contribuir

16

positivamente com as claras necessidades da criança8

( WINICOTT, 2011,p.3).

A mãe é a pessoa mais indicada para lidar com esse momento de

forma positiva, com algumas exeções, mas no geral ela é o ambiente mais

indicado para fazer a contenção do filho uma vez que na gestação se

prepara fisica e emocionalmente para essa função.

Considerando a importância desse período inicial no desenvolvimento

físico e emocional do ser humano,a base do desenvolvimento do bebê

visando a integração parte de uma tendência inata ao desenvolvimento,

tanto fisico como psicológico, que inclui o desenvolvimento emocional do

bebê, sua integração e sua gradativa evolução de um estado de

dependência absoluta de um ego auxiliar para um estágio de

independência.

Da mesma forma que há uma evolução do crescimento físico do bebe ,

também há um processo evolutivo no desenvolvimento emocional até

chegar à integração. Para esse autor esta tendencia inata ao

desenvolvimento aborda também o desenvolvimento emocional do bebe.

“ No universo psicológico, há uma tendencia ao

desenvolvimento que é inata e que corresponde ao crescimento

do corpo e ao desenvolvimento gradual de certas funções.Assim

como o bebê geralmente senta por volta dos cinco ou seis meses

e da os primeiros passos na época de seu primeiro aniversário,

quando talvez já terá aprendido a usar umas duas ou três

palavra, assim também há um processo evolutivo no

desenvolvimento emocional8” ( WINNICOTT,2011, p.5)

Essa evolução emocional do bebê que ao nascer depende

integralmente dos cuidados de outro ser consegue no decorrer desse

processo chegar a um estágio de independência a integração do eu, isto

ocorre quando a criança já é uma unidade.A criança de um ano geralmente

17

já adquiriu o status de individuo, ou seja, a personalidade já tornou-se

integrada. Essa integração vai aos poucos sendo desenvolvida pela criança,

obviamente para Winnicott este estágio de integração depende do

organismo mas é muito mais uma questão ambiental.

Existe uma relação entre a integração e as experiências emocionais.

Embora seja diferente de criança para criança, basicamente com um ano de

idade algumas crianças já estão de posse de uma personalidade formada,

um “SELF” cujas características pessoais se destacam. Também pode

existir o oposto crianças de um ano aproximadamente que no final desse

período não conseguiram uma personalidade tão definida e continuam

dependendo de um cuidado contínuo. O ambiente é o grande diferencial

neste processo.

Para Winnicott (1971) a base da integração e totalidade do ser é

alcançada com o amadurecimento. A forma que ele define self para as

tradutoras de sua obra para o francês revela claramente a sua forma de

compreender esse processo.

“ Para mim , o self, que não é o ego , é a pessoa que eu

sou, que é somente eu, que possui uma totalidade baseada

na operação do processo maturativo.Ao mesmo tempo, o self

tem partes e é na verdade, constituido dessas partes. Tais

partes se aglutinam num sentido interior- exterior no curso do

processo maturativo, auxiliado, como deve sê-lo

(principalmente no início), pelo ambiente humano que o

contem, que cuida dele e que de forma ativa o facilita.

Normalmente o self se acha localizado no corpo, mas pode,

em determinadas circunstâncias, dissociar-se do corpo nos

olhos e na expressão facial da mãe, no espelho que pode vir a

representar o rosto da mãe. Finalmente, o self atinge

significativa relação enre a criança e a soma das

identificações que, depois de bastante incorporação e

introjeção de representações mentais, se organizam em forma

de uma realidade interna viva. A relação do menino ou menina

com sua própria organização psíquica interna se modifica de

18

acordo com as expectativas manifestadas pelo pai e pela mãe

e por aqueles que se tornaram importantes na vida do

indivíduo que até não cresceu e que continua a crescer da

dependência e imaturidade para a independência, ou

capacidade de se identificar com objetos de amor maduros,

sem perda da identidade individual.”

( NETO, p.20)

Etendemos que o inicio do desenvolvimentto emocional do ser humano

está relacionado a diversos fatores. Sendo a relação entre mãe e bebê de

imensa importância para o desenvolvimento do mesmo e para sua

integração e construção de sua identidade. Assim como existe um ritmo de

desenvolvimento físico que envolve etapas importantes nesse processo,

também existem etapas importantes no desenvolvimento emocional do bebê

que vai seguir um caminho da dependência absoluta, do outro como

cuidador, agindo como um “ego auxiliar” até atingir etapas mais avançadas

de desenvolvimento rumo à independência e atingindo a integração.

A criança recem nascida geralmente nesta fase está totalmente

dependente dos cuidados maternos necessitando de contenção física e

psíquica por parte do seu cuidador. No decorrer do primeiro ano de vida o

bebê vai se estruturando e formando um mundo psíquico, um mundo interno

que vai se integrando na formação de um self, uma totalidade e aos poucos

vai se diferenciando desse outro.

19

2-A relação materna e sua importância para o desenvolvimento

emocional do recem nascido.

Este capítulo abordou a importância do ambiente para o desenvolvimento

emocional do recem nascido,considerando a mãe saudável como o ambiente

ideal para que esse desenvolvimento ocorra de forma plena e

satisfatória.Trazendo alguns conceitos da teoria de Donald Winnicott foi

possível abordar a relação existente entre a mãe e o bebê desde a gestação e

após o nascimento e que parte da satisfação das necessidades físicas e

emocionais. Assim, foi possível perceber a importância dessa relação de

maternagem, que se for exercida de forma insuficiente pode deixar sequelas

que muitas vezes levam ao desenvolvimento de uma série de patologias.

2.1-A “preocupação materno primária” e a “mãe suficientemente boa”.

Para melhor compreendermos o processo de desenvolvimento emocional

do recem nascido vamos partir da relação mãe- bebê. Vários autores

acreditam na importância dessa relação inicial para o processo de

desenvolvimento emocional do bebê, Pois verificaram que os primeiros anos do

desenvolvimento emocional infantil funcionam como base para as etapas

posteriores do crescimento humano.

“ Dizemos que o apoio do ego materno facilita a

organização do ego do bebê.Com o tempo, o bebê torna-se

capaz de afirmar a sua própria individualidade, e até

mesmo de experimentar um sentimento de identidade

pessoal.” (WINNICOTT, 2006, p.9)

O recem-nascido precisa da sua relação com a mãe para se constituir

tanto física como emocionalmente. No inicio é atraves desse contato

saudável que o bebê vai se construindo como ser humano. Essa relação é

importante para que o emocional possa se construir e se desenvolver de

20

forma plena. Neste percurso os afetos se constroem e são a base para todas

as relações posteriores do bebê.

O desenvolvimento emocional e sua constituição enquanto ser humano

depende muito mais do ambiete formador do que das características

herdadas, pois é o ambiente que vai oferecer as condições necessárias para

que este potencial herdado seja alcançado. Em geral a independência

emocional do ser, se estabelece quando a criança é capaz de se defrontar

com o mundo e suas complexidades. Neste contexto todo o cuidado

recebido no início da vida é decisivo para o processo de amadurecimento e

desenvolvimento do ser.

Do ponto de vista psicológico, estes cuidados deixam marcas que estão

relacionadas ao modo como as relações com o ambiente são estabelecidas.

Dessa forma, conhecer os processos desse período é, fundamental para

todos os que lidam com a saúde e desenvolvimento do bebê.

“ Em geral, estas coisas são possíveis principalmente porque a

dependência, que é absoluta a princípio, mas caminha

gradualmente para a independência, foi aceita como fato e

preenchida por seres humanos que se adaptaram às

necessidades do indivíduo em desenvolvimento, sem

ressentimentos e em função de um sentimento natural de fazer

parte, que pode ser convenientemente chamado de amor.”

(WINNICOTT, 2006, p.78)

Para isso é necessário compreender o desenvolvimento emocional

infantil em toda a sua complexidade e a importância do ambiente nos primeiros

anos de vida do ser humano. Ao nascer o bebê ainda não é um ser

estruturado, não possui um ego formado, portanto, depende de outro ser que

já possua uma integração e um ego para auxilia-lo em sua formação. Ser um

“ego auxiliar” é primeiramente uma função materna, pois partimos do

21

pressuposto que na gestação essa relação já foi iniciada. Mas, não é uma

regra e a função de maternagem , poder conter e cuidar desse bebe, pode ser

realizada por outra pessoa próxima como um pai, uma avó e até mesmo uma

babá. Essa pessoa precisa através de sua sensibilidade atender as

necessidades do bebê e buscar satisfaze-las plenamente de acordo com o

ritmo imposto por ele. Presume-se que a mãe saudável dentro de uma relação

com o bebê consegue construir este clima de total integração.

O desenvolvimento físico e emocional do novo ser está completamente

relacionado aos cuidados que vai receber neste momento inicial de formação

do seu ego. E dependendo desses cuidados esse processo pode ser realizado

plenamente ou deixar sequelas para o resto da vida do ser.

Desta forma, o relacionamento mãe-bebê é considerado a base para a

constituição do psiquismo. Entendemos que Winnicott percebeu a relação

existente entre a mãe e o bebê, principalmente nos primeiros meses de vida

deste e observou, que naturalmente, a maioria das mães, aquelas saudáveis,

após o nascimento ficam tão ligadas aos cuidados e necessidades de seus

bebês, que quase se tornam um só.

“ A mãe sabe, de uma forma extremamente sensível, quais

são os sentimentos de seu bebê com relação a essas coisas, pois

temporariamente, ele se encontra em sintona com ela.Ela ajuda o

bebê a livrar-se dos gritos, dos berros, dos chutes e das

substâncias excretadas, e está pronta para receber os presentes

de amor nos momentos em que estes estão disponíveis.Ela vai ao

encontro do potenciaal do bebê, de acordo com a forma em que a

potencialidade dele se manifesta no momento, e na fase exata do

desenvolvimento em que ele se encontra. (WINNICOTT, 2006,

p.58)”

Como nem todas as mães conseguem desenvolver essa sensibilidade e

estarem saudáveis ao ponto de conseguirem servir de ego auxiliar. Winnicott

vai definir a mãe suficiente boa como aquela que consegue exercer de forma

satisfatória a maternagem.

22

De acordo com o vocabulário de psicanálise Laplanche e Pontalis (2001)

o conceito de maternagem num sentido amplo define “ o conjunto dos

cuidados prodigalizados aos infans neste clima de ternura ativa, oblativa,

atenta e constante que caracteriza o sentimento maternal” (p.276)

“ o recem- nascido e a mãe constituem um tema bastante

amplo, e no entanto eu não gostaria que me fosse

atribuída a tarefa de descrever o que se sabe sobre o

recem-nascido considerado isoladamente: o que está em

discussao é a psicologia, e gosto de partir do princípio

segundo o qual, ao consirerarmos um bebê, também

consideremos as condições ambientais e por tras delas a

mãe.”(WINNICOTT,2006, P 29)

A mãe suficientemente boa se dedica quase que todo o tempo aos cuidados

do bebê e se torna um grande ambiente facilitador do desenvolvimento do

mesmo.

“É provável que, nestas circunstâncias, as mães se

tornem capazes de uma forma especializada, de se

colocar na situação do bebê – quero dizer, de quase se

perderem em uma identificação com ele, de tal forma que

saibam (genérica ou especificamente) aquilo de que o

bebê precisa naquele exato momento.É claro que, ao

mesmo tempo, continuam sendo elas mesmas, e têm

consciência de uma necessidade de proteção enquanto se

encontram neste estado que as torna vulneráveis.Elas

assumen a vulnerabilidade do bebê. ..” (WINNICOTT,

2006, p.83)

Nesse processo verificamos que embora o desenvolvimento saudável do

bebê, seja algo muito importante e dependa de um cuidado materno, a tarefa

da mãe é muito simples. A mãe deve criar um ambiente que respeita o ritmo

de seu bebê. Como cada um tem o seu ritmo, A mãe deve perceber através da

23

sensibilidade que adquire nesse momento, as necessidades do bebe e dessa

forma fazer com que tudo ao redor se adapte, nesse primeiro momento, ao

bebê, Protegendo-o de mudanças repentinas. Sua meta deve ser garantir um

ambiente repetitivo e monótomo, que é o que a criança precisa nos primeiros

meses de sua vida.

" (...) o bebê necessita exatamente daquilo que a mãe faz

perfeitamente, se for natural, se estiver à vontade e entregue à

sua missão". (WINNICOTT, 1982, p.29)

A mãe que se adapta às necesidades do seu bebê vai apresentando ao

bebê o mundo em pequenas doses proporcionando um ambiente apropriado

para o desenvolvimento do seu filho. Ela é nesse momento, quem mais

conhece o bebê. O pai tem uma função também importante: vai criar

condições no ambiente ao redor da mãe e do bebê para que possam ter essa

relação próxima de forma tranquila e protegida. E o desenvolvimento ocorre

quando o bebê tem apoio de um ego auxiliar visando a sua integração, uma

vez que ao nascer ele não possui ainda um ego integrado.

“Inicialmente a mãe suficientemente boa é o ambiente

favorável para o desenvolvimento e crescimento do

bebê.Essa mãe reconhece a dependência do bebê e aos

poucos vai se adaptando constantemente as suas

necessidades, criando um setting onde o bebê pode viver uma

experiência de onipotência e progredir no seu

desenvolvimento no sentido da integração, do crescimento

emocional e do acúmulo de vivências.”( CELLERI ,P .28)

Para desempenhar essa função a mãe deve permanecer adulta assumir a

vulnerabilidade do bebê, passando a necessitar ela própria de amparo. Sendo

o pai da criança, a família e o ambiente social próximo responsáveis em

assumir essa função.

“ Dentre as tese que defendo, há uma especial: a de que

as mães, a não ser que estejam psiquiatricamente doentes, se

24

preparam para a sua tarefa bastante especializada durante os

últimos meses de gravidez, mas que gradualmente voltam ao

seu estado normal nas semanas e meses que se seguem ao

processo de nascimento. Já escrevi muito sobre esse assunto,

sob o título “preocupação materna primária” .Neste estado , as

mães se tornam capazes de colocar-se no lugar do bebê, por

assim dizer. Isto significa que elas desenvolvem uma

capacidade surpreendente de identificação com o bebê, o que

lhes possibilita ir ao encontro das necessidades básicas do

recem nascido, de uma forma que nenhuma máquina pode

imitar, e que não pode ser ensinada8.”(WINNICOTT, 2006,

p.30)

Este conceito de “preocupação materno primária” esta relacionado ao

conceito de “mãe suficientemente boa”. Que pressupõe que a mãe no seu

período de gestação vai desenvolver condições para exercer a maternagem de

forma a satisfazer as necessidades de seu bebê no ritmo próprio do mesmo. A

mãe suficiente mente boa não se antecipa nem se atrasa aos desejos e reais

necessidades do filho ela está atenta ao que é necessario ao bebê naquele

exato momento.E para isso, em condições normais, ela desenvolveu essa

capacidade, ou melhor essa sensibilidade especial, funcionando como uma

concha protetora que vai sendo retirada na medida em que o bebê vai se

desenvolvendo e se tornando um ser de dentro para fora.

2.2-O cuidado materno: da contenção física a contenção emocional.

Nos primeiros meses de vida, o bebê precisa de atenção e cuidados

exclusivos visando garantir um desenvolvimento saudável para a vida toda. É

através desse contato direto que o bebê confere à mãe a sua identidade. Ou

seja, o bebê faz de sua mãe uma mãe ao investí-la mesmo antes de percebê-

la. Ao nascer, o bebê tem uma dependência total da mãe, que é eleita seu

25

objeto primordial. Todos os afetos, são despertados pela mãe ou por quem

exerça a maternagem, através de sua presença e até mesmo ausência.

“As bases da saúde mental do indivíduo , no sentido de

ausência de psicose ou predisposição à mesma

(esquizofrenia), são lançadas por este cuidado materno,

que quando vai bem dificilmente é percebido, e é uma

continuação da provisão fisiológica que caracteriza o

estado pré-natal.” (WINNICOTT,1983,p.49)

Este contato da mãe com seu filho vai partir das necessidades do mesmo,

se inicia na contenção fisica quando a mãe vai suprir as necessidades ligadas

a alimentação e higiene do bebê e posteriormente entram em cena as

necessidades emocionais. Para Winnicot, é através do funcionamento

corporal que o self é construído, pela satisfação das necessidades

emocionais por uma "mãe suficientemente boa", que consegue dar um

"holding" ao seu filho: forma pela qual a mãe sustenta ou cuida do seu bebê.

“holding- protege da agressao fisiológica; leva em conta a

sensibilidade cutanea do lactente- tato, temperatura,sensibilidade

auditiva, sensibilidade visual, sensibilidade à queda (ação da

gravidade) e a falta deconhecimento do lactente a existência de

qualquer coisa que não seja ele mesmo” (WINNICOTT, 1983,

p.48).

O "holding", que também inclui o "holding" físico, é a forma inicial em que

uma mãe pode demonstrar ao seu filho o seu amor: primeiro é atraves dos

cuidados fsicos que aos poucos se estende aos cuidados emocionais de

atenção, afeto, segurança, etc.

26

“Segue também as mudanças instantâneas do dia –a-dia

que fazem parte do crescimento e do desenvolvimento do

lactente, tanto físico como psicológico.” (WINNICOTT,

1983, p.48).

Como em um primeiro momento o ego do bebeê é um ego fraco que precisa

ser amparado pelo ego materno afim de se tornar forte, a mãe passa a

sustentar física e emocionalmente esse bebê, satisfazendo sua dependência

absoluta.

“No início , porém, é o ato físico de segurar a estrutura

física do bebê que vai resultar em circunstãncias

satisfatórias ou desfavoráveis em termos

psicológicos.Segurar e manipular bem uma criança facilita

os processos de maturação, e segurá-la mal significa uma

incessante interrupção destes processos, devido às

reações do bebê às quebras de adaptação” (WINNICOTT,

2006, p. 54)

Tanto a mãe, como o pai e a família de modo geral são de grande

importância na medida que exercem certas funções psíquicas, como o holding,

considerada favoraveis para o atendimento das necessidades básicas do ser

humano visando a integração. Ao proporcionar um Holding físico e psicológico

e uma contenção corporal adequada,favorecendo a onipotência do bebê,

deixando ele acreditar que esta criando e controlando o mundo, a mãe

dedicada permite que o self verdadeiro se revele.A mãe que se adapta a

realidade interna do filho é capaz de favorecer a sua relação com o mundo

externo de forma gradativa e de acordo com seu ritmo.

“A capacidade que a mãe possui de ir ao encontro

das necessidades em constante processo de mutação e

desenvolvimento deste bebê permite que a trajetória de vida seja

relativamente contínua; permite-lhe, também, vivenciar situações

27

fragmentárias ou harmoniosas, a partir da confiança que deposita

no fato concreto de o segurarem, juntamente com fases reiteradas

da integração que faz parte da tendência hereditária de

crescimento.O bebê passa, com muita facilidade, da integração

ao conforto descontraído da não integração, e o acúmulo destas

experiências torna-se um padrão e forma uma base para as

expectativas do bebê .Ele passa a confiar nos processos internos

que levam à integração em uma unidade” (WINNICOTT, 2006,

p.86)

O ambiente suficientemente bom possibilita o processo de maturação , isto

é, a evolução do ego e seus mecanismos de defesa, quando o cuidado

materno mostra-se confiável, a “continuidade da linha da vida” do bebê se

mantem e ele vivencia uma continuidade do ser, pois os processos de

desenvolvimento de seu ego não sofreram excessivas perturbações

emocionais ou físicas. Essa é a base do ego. Caso falhas nesse processo

venham a ocorrer como: mudanças na rotina, abandono do bebê a

“continuidade do ser” é interrompida, pois ele passa a ter de reagir a essas

falhas, que são vividas como invasão. Essa ruptura provoca um

enfraquecimento do ego e uma ameaça de aniquilamento do self, um

sofrimento de qualidade e intensidade psicóticas.

Caso o bebê não tenha oportunidade de recuperar-se dessas falhas num

ambiente favoravel a “continuidade da linha da vida” não poderá ser

recuperada e nos casos extremos o bebê deixa de ter condições de ser,

prejudicando o desenvolvimento de um self pessoal .

“ Essa função materna essencial possibilita à mãe

pressentir as expectativas e necessidades mais precoces

de seu bebê, e a torna pessoalmente satisfeita sentir o

lactente à vontade.É por causa desta identificação com o

bebê que ela sabe como protege-lo, de modo que ele

comece por existir e não por reagir. Aí se situa a origem do

28

self verdadeiro que não pode se tornar uma realidade sem

o relacionamento especializado da mãe, o qual poderia ser

descrito com uma palavra comum: devoção” (WINNICOTT,

1983,p.135).

2.3-As falhas na maternagem.

Em casos extremos quando o cuidado materno deixa falhas e o bebê não

tem oportunidade de recuperar-se dessas falhas ele começa a reagir. O

resultado é uma ameaça de aniquilamento do self do bebê que ao se sentir

ameaçado organiza defesas para se proteger dessa “agonia inimaginável”.

Essa agonia é descrita por Celeri em seu artigo” a mãe devotada e seu bebê”

como “ 8uma agonia além de nossa capacidade de descrição, sendo as

ansiedades psicóticas e as defesas organizadas 8”( p.31)

Entendemos essas invasões do meio ambiente resultante das falhas

maternas como traumas que levam o bebê a reagir ao ambiente, antes de

estarem preparados, pois ainda não desenvolveram mecanismos psiquicos

que o ajudem a perceber o que é bom ou mau no ambiente. Após essa

experiência traumática, defesas são organizadas, mas o bebê já teve sua

continuidade de ser interrompida pela falha ambiental, podendo vir a atrapahar

na estrutura do self e na organização do ego.

“8uma certa proporção de bebês

experimentou falhas ambientais quando a dependência era

um fato; neste caso, em graus variados, houve um prejuízo

concreto, que pode ser muito difícil de reparar.Na melhor

das hipóteses, o bebê que está se tornando uma criança ou

um adulto leva consigo a memória latente de um desastre

ocorrido com o seu eu, e muito tempo e energia são gastos

em organizar a vida de tal forma que esta dor não volte a

ser experimentada” (WINICOTT, 2006, p.77)

29

E conclui:

“Na pior das hipóteses, o desenvolvimento da criança como

pessoa é distorcido para sempre, e em consequência a

personalidade é deturpada, ou o caráter e deformado.”

(WINNICOTT, 2006, p.77)

Quando ocorrem falhas nessa relação inicial mãe- bebê, ou representante

materno não ocorre a formação do ego do mesmo e a constituição do self não

ocorre plenamente.Frente as ameaças que ocorrem o bebê se defende antes

mesmo de estar preparado e uma dessas defesas é a constituição de um falso

self.

O falso self é um indicador de problemas na constituição do novo ser.

Revela claramente que o desenvolvimento não esta ocorrendo plenamente o

que afeta o seu desenvolvimento físico, emocional e psíquico. Para Winnicott:

A mãe que não é suficientemente boa não é capaz

de complementar a onipotencia do lactente , e assim falha

repetidamente em satisfazer o gesto do lactente;ao invés,

ela o substitui por seu próprio gesto, que deve ser validado

pela submissão do lactente.Essa submissão por parte do

lactente é o estágio inicial do falso self, e resulta da

inabilidade da mãe de sentir as necessidades do lactente

( WINNICOTT,1983 ,p.133)

O bebê precisa da sua relação com a mãe para se constituir tanto física

como emocionalmente. No início e através desse contato saudável o bebê vai

se construindo como ser humano. Essa relação é importante para que o

emocional possa se construir e se desenvolver de forma plena. Os afetos se

constroem e são a base para todas as relações posteriores do bebê. O

desenvolvimento emocional e sua constituição enquanto ser humano

depende muito mais do ambiete formador do que das características

herdadas.O estágio de independência emocional do ser, se estabelece de

30

modo geral quando a criança é capaz de se defrontar com o mundo e todas

as suas complexidades.

31

3- A importância da família como apoio para a mãe e para o desenvolvimento emocional do recem nascido.

Este capítulo abordou a importância da família no processo de

desenvolvimento do recem nascido. A família é fundamental tanto no apoio a

mãe como ao bebê. No primeiro caso, a família serve como suporte emocional

à mãe que sensível também precisa de contenção emocional.Já no segundo

caso a família substitui à mãe ausente ou complementa a função materna na

contenção e cuidados com o recem nascido.

3.1- A relação recem nascido e ambiente:

O desenvolvimento do recem nascido parte de uma dependência total do

ambiente em que está inserido.Neste caso, podemos pensar no conceito de

“ambiente facilitador” indo alem da relação mãe- bebê, para uma relação que

se estenda a um grupo maior como a família.

A família neste contexto, adquire várias funções: dar suporte a mãe que

cuida diretamente do bebê, como também na ausência desta realizar a

maternagem do bebê tentando suprir essa falta. A família é de grande

importância, pois caso essa ausência materna não seja devidamente prenchida

por alguem que exerça as funções maternas, ocorrerão sequelas irreversíveis

na formação e constituição desse recem nascido.

“As bases da saúde mental do indivíduo, no sentido de

ausência de psicose ou predisposição à mesma

(esquisofrenia), são lançadas por este cuidado

materno,que quando vai bem dificilmente é percebido, e é

uma continuação da provisão fisiológica que caracteriza o

estado pré-natal. (WINNICOTT, 1983,p.49)

32

Por acreditar na importância do ambiente para a formação do ser, Winnicott

rompe com paradigmas anteriormente estabelecidos pela psicanálise

freudiana.

“o novo exemplar proposto por Winnicott é o bebê no

colo da mãe, precisando crescer- isto é, constituir

uma base para continuar existindo e integrar-se

numa unidade .A generalização – guia mais

importante é a teoria do amadurecimento pessoal,

da qual a teoria da sexualidade é apenas uma

parte”(LOPARIC, p.57)

Esta visão psicanalitica que rompe com a visão tradicional, prioriza o meio

externo: o ambiente. Ele acredita na influência do ambiente externo

contribuindo na construção interna do ser.

“enquanto a psicanálise tradicional estuda o

psiquismo humano, concebido

metapsicologicamente(especulativamente) como um

aparelho movido a pulsões dirigidas para objetos

(daí o papel central do relacionamento objetal

visando a satisfação), a winnicottiana jamais se

distancia da relação factual indivíduo- ambiente, o

indivíduo sendo caracterizado pela tendência para o

crescimento por amadurecimento e o ambiente,

investido do papel de facilitador do amadurecimento”

(LOPARIC ,p.59)

A busca da integração está diretamente relacionada a formação do ego, como

resultado do amadurecimento. Quando o bebe se diferencia do outro cuidador.

33

“ Da mesma forma, Winnicott substitui o conceito

freudiano de aparelho psíquico pelo conceito de integração

ou de identidade pessoal, resultado do “desenvolvimento

emocional da pessoa individual”8” ”(LOPARIC ,p.60)

E conclui :

“O ego passa a ser o termo que designa a

tendência do indivíduo de se tornar integrado na forma de

uma unidade pessoal. Essa tendência atinge um momento

decisivo na fase do “Eu sou”, na qual é criada a diferença

entre o si-mesmo e o mundo exterior como tal, o que

permite que o indivíduo se experencie, pela primeira vez,

como habitado por instintos e se torne , com o passar do

tempo responsáveis por estes” ”(LOPARIC ,p.60)

Winnicott rompe com a visão de ser humano isolado e percebe- o em

constante interação com outros seres, inclusive acredita nessa relação com o

ambiente para a construção do eu.Ele não só admite um meio externo, como

acredita na relação fundamental desse ambiente para o desenvolvimento do

bebê.

“O indivíduo humano não se relaciona com outras pessoas,

em primeiro lugar, por buscar o prazer, mas por precisar da

sua presença e da sua confiabilidade e por necessitar que

sejam satisfeitas as suas tensões instintuais.Neste último

caso, “ satisfazer’’ significa , em primeiro lugar aplacar ou

acalmar8” ( LOPARIC , p.61)

34

3.2- O recem nascido e as falhas ambientais:

De acordo com Winnicott as falhas na relação inicial entre bebê e ambiente

vão gerar sequelas e deixar o campo aberto para uma série de patologias.

“Winnicott deu-se conta, baseado em inúmeros casos

clínicos, que a crianças sofrendo de distúrbios psíquicos

mais variados, em particular as crianças psicóticas,

“revelavam dificuldades no seu desenvolvimento emocional

na infancia, mesmo como bebes8” (LOPARIC , p.54)

E relaciona essas falhas com o surgimento de várias patologias:

“No início da década de 40, ele passara a sustentar que a

tendencia anti-social, os comportamentos delinquentes e os

distúrbios de caráter (psicopatias) decorrentes dela são causados

pela falha ambiental ocorrida num estágio de dependencia

relativa, no qual o indivíduo já adquiriu a organização egóica

suficiente para perceber a deprivação (deprivation) efetiva (perda

de um objeto ou de um quadro de referencia que era, antes, bom

e disponível ) e para entender que a responsabilidade pela perda

era do ambiente (que este ficou lhe devendo algo) (LOPARIC

p.56)”

Com relação a psicoses e a esquizofrenia Loparic afirma que

Winnicott chegou a inesperada conclusão de que a esquizofrenia era uma

espécie de doença provocada por uma deficiencia ambiental (LOPARIC

p.56). E completa:

“A esquizofrenia se origina- essa é a tese que Winnicott

começará a defender apoiado, de novo, em dados colhidos

na sua intensa clínica pediátrica- no estágio de dupla

dependência, ou seja, no período em que o indivíduo em

desenvolvimento ainda não adquiriu a capacidade de ter

35

consciencia do ambiente externo e de se dar conta das

falhas deste. (LOPARIC , p.54)

3.3-A família como ambiente de facilitação:

Analisar o papel da família no desenvolvimento emocional do recem nascido

é de grande importancia pois o desenvolvimento emocional parte de uma

dependencia total de um cuidado materno, ou representante materno , que

possa neste percursso oferecer condições desse ser aos poucos ir se

diferenciando até alcançar a integração.

Como vimos, A mãe, em princípio, é a pessoa mais indicada para realizar

essa contenção e oferecer esse suporte físico e emocional ao filho devido ao

contato que ambos desenvolveram na gestação. Mas, por tras dessa relação

dual existem outras pessoas envolvidas tanto no que se refere em oferecer

contenção física e emocional ao bebê, como também no suporte emocional à

própria mãe do bebe. É neste ponto que surge a família para fazer parte e

complementar essa relação inicial.

Para melhor compreendermos esse processo para o desenvolvimento

emocional do recem nascido precisamos refletir a importancia da família na

construção social do ser humano.

“Um ponto de grande importância para compreender

o pensamento de Winnicott é que ao enfatizar a

importância do fator maturacional e o papel da mãe

suficientemente boa, ele inclui não apenas o pai, mas

também os ancestrais e a cultura em que todos estão

inseridos” (PARENTE,p.22)

No início do ciclo de vida de cada ser humano não existe ainda um

desenvolvimento de nossas características humanas. Seremos frutos do

ambiente em que estamos inseridos.Neste ponto é que perceberemos com

clareza o valor da cultura e da aprendizagem em nossa vida para nossa

36

formação e constituição. A família tem uma imensa importancia nesse

percursso do desenvolvimento pois é ela quem vai inserir a cultura em nosso

cotidiano para a nossa formação.

“ Conta-se que por volta de 1920 foram encontradas

na Índia duas meninas que teriam crescido entre lobos

.Essas crianças não possuíam quaisquer das

características humanas: não choravam, não riam e,

sobretudo, não falavam.Seu processo de humanização só

teve início quando passaram a participar do convívio

humano. (ARANHA E MARTINS, 2009, p.46)

Atraves desse relato podemos refletir sobre a importância do ambiente para

a formação dos seres humanos.Crianças que não tiveram contato com seres

humanos no início de sua constituição enquanto ser não desenvolveram

características básicas de seres humanos: falar, andar de forma ereta,

demonstrar emoções,etc. são características que tem o desenvolvimento

prejudicados neste contexto.

E como vimos, o melhor ambiente para o desenvolvimento do recem nascido

é a mãe, por ela estar sensivelmente envolvida com esse bebê, a ponto e

conseguir entrar no ritmo dele, satisfazendo suas necessidades na medida

certa: nem mais nem menos.

Winnicott em sua teoria acreditava na importância da família para a

formação do novo ser, tanto na relação de apoio a mãe que esta exercendo a

contenção desse bebê, como na substituição da mãe, se necessário, neste

processo. No primeiro caso quando a família serve de apoio a mãe que esta

exercendo a maternagem Winicott vai afirmar:

“ Dentre as teses que defendo, há uma especial: a de que

as mães, a não ser que estejam psiquiatricamente doentes,

se preparam para a sua tarefa bastante especializada

durante os últimos meses de gravidez, mas que

gradalmente voltam ao seu estado normal nas semanas e

37

meses que se seguem ao processo de

nascimento.”(WINNICOTT, 2006, p.30)

Ele acredita que nesta fase as mães desenvolvem uma capacidade que lhes

possibilita uma maior identificação com seus bebês o que facilita a realização

favorável de uma maternagem suficientemente boa. Na medida em que a mãe

consegue sanar as necessidades de seu bebe de forma positiva, ou seja, na

medida certa sem deixar falhas nem exesso nesta relação, o que viria a

comprometer o desenvolvimento do mesmo.

“8o certo é que ao chegar ao fim da gravidez e nas

primeiras semanas depois do nascimento de uma criança a

mãe está preocupada com ( ou melhor, “devotada ao”)

cuidado de seu nene, que de início parece ser parte dela

mesma.” (WINNICOTT, 1983, p.81)

E completa:

“Neste estado, as mães se tornam capazes de colocar-se

no lugar do bebê, por assim dizer.Isto significa que elas

desenvolvem uma capacidade surpreendente de

identificação com o Bebê, o que lhes possibilita ir ao

encontro das necessidades básicas do recem nascido, de

uma forma que nenhuma máquina pode imitar, e que não

pode ser ensinada.” .”(WINNICOTT,2006,p.30)

De acordo com Neto a gestação é o período de conhecimento entre a mãe e

o seu bebê e dessa forma cria-se condições para que o bebe se diferencie e

construa a sua individualidade. Mas para que isso ocorra a mãe precisa ser

amparada também, apoiada por seus familiares.

“ Essa mãe já reconheceu desde a gestação as

manifestações singulares de seu feto ( principalmente

38

motoras). São elas que prosseguem após o nascimento.A

mãe –suficientemente-boa consegue captar as

peculiaridades do ser em desenvolvimento e respeitá-las.

Não se confunde com o bebê, não impõe seu gesto,

empresta seu sonhar para que a individualidade se

constitua.” (NETTO, p.19)

Winnicott chama esse processo de “preocupação materna primária” mas

reconhece que nem todas as mães conseguem atingir esse estágio. E quando

isso ocorre devido alguns problemas psicológicos é o pai ou algum

representante na família quem vai ficar responsável em exercer essa função de

conter e amparar esse bebê até que o mesmo esteja apto e preparado e tenha

se tornado um ser de dentro para fora.

“ É necessário comentar que Winnicott escreveu que não

existe um bebê se não houver uma mãe e,

consequentemente, não pode existir ma mãe sem um pai,

ainda que no imaginário da mãe e referido, eventualmente,

ao próprio pai da mãe. Considero que a mãe só poderá

exercer a preocupação materna primária se houver um pai

suficientemente bom” .”(OUTEIRAL ,p.14)

Mesmo sendo considerada o ambiente ideal para o desenvolvimento do bebê,

a mãe precisa de amparo neste processo para realizar suas funções maternas:

“Para isso ela usa suas próprias experiências como

bebê. Deste modo a própria mãe está em um estado

dependente, e vulnerável.”( WINNICOTT,1983, p.81)

E afirma:

“8inicialmente a mãe sozinha é o ambiente

favorável.Ela necessita de apoio por esta época, que é

39

melhor dado pelo pai da criança (digamos seu esposo) ,por

sua mãe, pela família e pelo ambiente social imediato”

(WINNICOTT, 1983, p.81)

Dessa forma, verificamos que a família exerce um papel de grande

importancia no que diz respeito ao relacionamento com a mãe, amparando e

dando suporte a mesma para exercer sua maternagem como ao próprio recem

nascido quando fica a seu encargo sustentar e conter esse bebê:

“ Nosso autor reconhece a importância de considerar a

inserção da família numa dada cultura para compreender

o tipo de relação e a atribuição de signifiado que a criança

em desenvolvimento na relação com seu ambiente familiar

atribui aos elementos quea cultura lhe oferece”

(OUTEIRAL, p.14)

O desenvolvimento físico e emocional do indivíduo para ocorrer de forma

plena e satisfatória precisa de um ambiente facilitação, que possibilite que o

material herdado geneticamente seja alcançado potencialmente.O melhor

ambiente de desenvolvimento para o bebê é a mãe, que está sensivelmente

ligada ao filho e capaz de satisfazer suas necessidades básicas, devido a

capacidade que desenvolveu desde a gestação. Mas ele sabe que existem

exceções e muitos casos em que a família é quem vai exercer a maternagem,

ou oferecer suporte emocional para que a mãe exerça plenamente a

maternagem. Este autor inclui como “ambiente facilitador” alem da mãe , o pai

e a família.

“O ambiente facilitador e seus ajustes adaptativos

progressivos às necessidades individuais poderiam ser isolados,

para estudo da saúde.Incluir-se-iam as funções paternais,

complementando as funções da mãe, e a função da família,com

sua maneira cada vez mais complexa ( à medida que a criança

40

fica mais velha) de introduzir o princípio da realidade, ao mesmo

tempo que devolve a criança à criança.” (WINNICOTT,2011,p.5)

Ele acredita na importância do meio social, para favorecer o desenvolvimento

do bebe e inclui a família nessa função.

“8creio que a família da criança é a única entidade que

possa dar continuidade á tarefa da mãe (e depois também do pai)

de atender as necessidades do indivíduo.Tais necessidades

incluem tanto a dependência como o caminhar do indivíduo em

direção à independência.(WINNICOTT, 2011, p.131)”

Em sua teoria acredita que o desenvolvimento do ser e alcance da integração

seja resultante da evolução do estágio de dependência à independência

resultado da maternagem suficiente boa.

“ O cuidado materno transforma-se num cuidado

oferecido por ambos os pais, que juntos assumem a

responsabilidade por seu bebê e pela relação entre todos

os filhos.Além disso, os pais têm a função de receber as

contribuições fornecidas pelas crianças sadias da família. O

cuidado proporcionado pelos pais evolui para a família e

esta palavra começa a ter seu significado ampliado e passa

a incluir ao avós, primos e outros indivíduos que adquirem

o status de parentes devido à sua grande proximidade ou a

seu significado especial- os padrinhos , por exemlo.”

( WINNICOTT, 2011, p.130)

A família na visão de Winnicott surge para dar continuidade ao trabalho

inicial da mãe.“É função da família constituir o terreno sobre o qual se

41

desenvolve na prática esse dado essencial do crescimento pessoal”

(WINNICOTT, 2011, p.137).

De acordo com suas pesquisas conclui que a integração e desenvolvimento

do indivíduo ocorre no decorrer de toda infância e adolescência, intercalando

situações de integração e desintegração.

“a família contribui de dois modos (8) para a maturidade

emocional do indivíduo: de um lado dá-lhe a oportunidade de

voltar a ser dependente a qualquer momento; do outro, permite-

lhe trocar os pais pela família mais ampla, sair desta em direção

ao círculo social imediato abandonar esta unidade por outras

ainda maiores. (WINNICOTT, 2011, p.137)

Winnicott em suas pesquisas percebeu a importância do ambiente familiar

para o desenvolvimento emocional do recem nascido e do ser humano de

modo geral. Dessa forma, o desenvolvimento humano, tanto físico como

emocional, não se resume à infância, deve ser encarado como um processo

contínuo de troca de experiências.

A família como primeiro grupo social deve ser encarada como fundamental

no desenvolvimento primitivo do recem nascido e em todas as etapas de

desenvolvimento do ser humano.

42

CONCLUSÃO

Com este trabalho pude perceber a riqueza do pensamento de Winnicott

com relação ao desenvolvimento emocional do recem nascido e a importância

do ambiente nesse processo.

Suas pesquisas partem da observação direta de bebês devido a sua

condição de médico pediatra e vão além alcançando um olhar psicanalítico que

rompe com a psicanálise tradicional e inclui o ambiente, um fator externo, no

processo de formação do ser.

Constatou a dependência total do recem nascido ao ambiente e classificou a

mãe saudável como o melhor ambiente para que esse desenvolvimento

ocorra. Destacando também a necessidade de amparo da mãe, que vulnerável

nesse período, precisa do pai e de seus familiares, ou seja, inclui a família

como fundamental para que o desenvolvimento do bebê ocorra plenamente.

A família como ambiente facilitador surge tanto no apoio a mãe que exerce a

maternagem como também surge como substituta na ausência dessa mãe.

Pois em vários casos é o pai, a avó, ou algum cuidador que vai servir de “ego

auxiliar” do bebê. Sobretudo nos dias atuais com o ritmo da vida pós-moderna

é fundamental e cada vez mais comum a divisão de tarefas e a participação da

família na vida do bebê amparando, complementando ou substituindo a mãe na

contenção desse bebê.

O recem nascido precisa de amor, de contato e de que alguém esteja

disposto a perceber seu ritmo próprio entrando em sintonia com ele para que

possa ir se desenvolvendo de dentro para fora criando um mundo interno, um

“eu”. Se houver uma mãe sensível e disposta a realizar essa tarefa o bebê

certamente atingirá seu potencial herdado. Caso isso não venha a ocorrer por

diversos fatores relacionados à ausência da mãe, ainda podemos acreditar que

esse potencial genético do bebê poderá ser plenamente alcançado atraves dos

cuidados de outras pessoas próximas que estejam sensivelmente envolvidas

nesse processo.

43

Todo esse processo envolve devoção, entrega e amor ao próximo e acredito

que a família pode contribuir muito e de diversas formas para que o

desenvolvimento emocional e físico do recem nascido ocorra de forma plena e

satisfatória.

44

BIBLIOGRAFIA

ARANHA,MariaLuciadeArruda,MARTINS,MariaHelenaPires.Filosofando:introdu

ção à Filosofia.4ªed.São Paulo:Moderna,2009.

CELERI,Eloisa Helena R.Valler. A mãe devotada e seu bebê. Viver mente e

cérebro.Memória da Psicanálise-Winnicott. nº5. pág:28 a 39.

LOPARIC,Zeljko.Um novo paradigma. Viver mente e cérebro.Memória da

Psicanálise-Winnicott. nº5. pág:53 a 63.

NETO,Orestes Forenza.Constituição de si mesmo e transicionalidade.Viver

mente e cérebro.Memória da Psicanálise-Winnicott. nº5. pág:16 a 21.

OUTEIRAL,José.D.W.Winnicott: o homem e a obra.Viver mente e

cérebro.Memória da psicanálise-Winnicott.nº5. pág:6 a 15.

WINNICOTT,D.W.O ambiente e os processos de maturação:estudos sobre a

teoria do desenvolvimento emocional.trad.por Irineo Constantino Schuch

Ortiz.Porto Alegre:Artes Médicas,1983.

______________.O Brincar e a Realidade. Trad.José Octavio de A. Abreu e

vanede Nobre.Rio de Janeiro:Imago,1975.

______________.Tudo começa em casa.trad.Paulo Sandler.5ªed.São

Paulo:Martins Fontes,2011.(textos de psicologia).

______________.A família e o desenvolvimento individual.trad.Marcelo

Brandão Cipolla.4ªed.São Paulo:Martins Fontes,2011.(textos de psicologia).

______________.ExploraçõesPsicanalíticas.trad.José Octavio de Aguiar

Abreu.Porto Alegre:Artes médicas,1994.

45

______________.O bebê e suas mães.trad.Jeferson Luiz Camargo.3ªed.São

Paulo:Martins Fontes,2006.

PARENTE,Sônia Maria B.A.A criação da externalidade do mundo. Viver mente

e cérebro.Memória da Psicanálise-Winnicott. nº5. pág:22 a 27.