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 A ÉTICA SOCIAL DE LUTEROA educação como uma demonstração do amor ao próximo

Dr. Edson Pereira Lopes Ms. Nívea Costa da Silva 

Universidade Presbiteriana Mackenzie 

Resumo

Esta reflexão está inserida no binômino educação-religião, ou maisespecificamente ao cristianismo protestante, pois, propõe-se demonstrar que noestudo da História da educação brasileira, há muitas referências ao trabalhoeducacional dos jesuítas, que se estendeu por duzentos e dez anos no período dacolonização portuguesa com certo apoio do governo português. Todavia, hápouco destaque quanto à contribuição da educação religiosa protestante noperíodo em destaque.Sendo assim, este texto possui dupla finalidade: 1) demonstrar que um dosrelevantes fatores para a consolidação da Reforma Protestante do Século XVI foià educação; 2) destacar a contribuição da educação religiosa para a implantaçãodo protestantismo no Brasil.

Palavras chave: Ética social, educação, religião e Reforma Protestante

Abstract

This reflection is inserted between education-religion, or more specifically to theprotestant Christianity, therefore, it is considered to demonstrate that in the studyof the History of the Brazilian education, it has many references to the educationalwork of the Jesuits, that if extended per two hundred and ten years in the period ofthe Portuguese settling with certain support of the Portuguese government.However, it has little prominence how much to the contribution of the protestantreligious education in the period in prominence. Being thus, this text possess pairpurpose: 1) to demonstrate that one of the excellent factors for the consolidation ofthe Protestant Reformation of Century XVI was to the education; 2) to detach thecontribution of the religious education for the implantation of the protestantism in

BrazilKey Word: social ethics, education, religion and the Protestant Reformation

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 Introdução

Na pesquisa em História da Filosofia um termo utilizado por Platão ao tratar

do mito da caverna é a palavra dialética . A dialética como se sabe é composta de:

tese, antítese e síntese. Marx utilizou o referido termo para propor que a luta declasse resulta nas transformações sociais. Sem fazer apologia ao termo em

questão é fato que as sociedades estão sempre em transformações, as quais são

necessárias para aperfeiçoamento dos conceitos sociais.

Por conseguinte, já que a sociedade está em constante transformação em

busca dos seus próprios aperfeiçoamentos é que se pode discutir a moral e a

ética. Termos estes que surgem no Brasil como resultado de profícuas

necessidades sociais, pois até pouco tempo, muito pouco se discutia acerca deética. É possível que em algumas áreas, no Brasil, a reflexão a respeito da ética

ainda é incipiente.

Pois bem, esta comunicação terá como título: A ética social de Lutero – a 

educação como uma demonstração do amor ao próximo  e está dividida em três

partes principais: 1) o conceito de ética; 2) O reformador Martinho Lutero; 3) A

educação como ética social no pensamento de Martinho Lutero.

1. O conceito de ética

Já que a temática desta comunicação tem como foco a ética, cremos ser

necessário pontuar que a discussão dos termos “moral” e “ética”. Os dois termos

por muitos estudiosos são considerados sinônimos, mas ao mesmo tempo, há

razões para se acreditar que eles possuem diferenças quanto ao seu conteúdo.

O termo “moral”, procede do latim: “mores”; “moraalis”, “morale”  cujo

significado básico corresponde a “costume”, que pode ser identificado como:

[...] Princípios socialmente aceitos[...] que denota bonscostumes, boa conduta, segundo os preceitos socialmenteestabelecidos pela sociedade ou por determinado gruposocial [...]conjunto de valores como a honestidade, abondade, a virtude[...]conjunto de traços do caráter de umindivíduo ou dos caracteres de um povo, de uma sociedade(HOUAISS, 2001, p.).

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 Houaiss (2001, p. 1958) define, “moral”, como sendo preceitos ou

conjuntos de valores relacionados com um “determinado grupo social”. Assim,

acena ao princípio de que a moral é aceita por determinado grupo social. Assim, o

que é “moral” para uma determinada cultura, não o é, necessariamente para outro

grupo social.

Percebe-se que a moral é estabelecida pelos “códigos”, os quais cumprem

a função norteadora da moral. Assim, ao se utilizar o termo “código” referindo-se a

ética, ele está estreitamente ligado à moral, visto que, a moral prescreve

regulamentos, leis, enquanto que a ética possui conteúdos de caráter universal

(SINGER, 1994, p.19), não restrito a uma “determinada coletividade”.

O termo “ética” procede de ethos , grego, e, posteriormente ethica  

(ABBAGNANO: 2000, p. 380) cujo significado básico também pode ser traduzido

como “costume” (HOUAISS, 2001, p. 1271).

Isto posto, quando se estudam os termos “moral” e “ética”, percebe-se que

ambos podem ser interpretados como: costume.

A ética pressupõe princípios “universais”, isto é, na tomada de decisão não

devo pensar somente no meu próprio interesse (SINGER, 1994, p. 18), antes a

minha preocupação deve ser esta decisão, atinge ou não ofensivamente o meu

próximo. Nota-se assim, que a ética resulta na reflexão crítica do comportamento

ou decisões a serem tomadas pela sociedade.

A ética se considerada como reflexão crítica da moral se pode preconizar a

importância de seu estudo em todas as sociedades, haja vista que ela contribui

para que as tomadas das decisões passem pelo crivo, na busca de um mundo

melhor.

Em tal contexto se pode discutir a ética social de Martinho Lutero, em que

um dos seus fundamentos é a sua concepção de que a educação é uma maneirade tornar o mundo melhor.

2. O reformador Martinho Lutero

A Reforma Protestante aconteceu em 31.10.1517, com o monge

agostiniano Martinho Lutero, nascido no dia 10/11/1483 em Eisleben, na Saxônia.

Seu pai, era de origem camponesa, ganhou dinheiro nas minas de cobre, sobre a

qual tinha direito, chegando a ficar consideravelmente rico. Todavia, quando donascimento de Lutero, os negócios não andavam tão bem, todavia o pai de Lutero

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 não mediu esforços para prover educação de qualidade ao filho (CAIRNS, 1990,

p.233).

Em 1501, Lutero entrou para a Escola de Direito da Universidade de Erfurt,

no entanto, seu dom e vocação apontavam-lhe os assuntos religiosos. Em 1505,

ingressou na Ordem dos Agostinianos, onde conquistou prestígio como

intelectual. Em 1508, já era professor da Universidade de Wittenberg (CAIRNS,

1990, p.234). Anos mais tarde, viajou para Roma, sede da igreja papal,

regressando decepcionado com o ambiente de corrupção e avareza no qual vivia

o clero (CAIRNS, 1990, p.234).

Ainda que Lutero houvesse terminado o curso de Direito, preferiu a vida

religiosa, entrando na Ordem dos Agostinianos. Sua preocupação central, e que o

levou a tomar tal decisão, consistia na questão da salvação da sua alma. Para um

homem medieval, o caminho da salvação era o correto.

No mosteiro, começou a travar lutas agonizantes. Havia entrado ali à

procura da salvação mas não encontrou a paz e a segurança de quem está no

caminho de Deus. Mesmo tendo uma vida exemplar de piedade, sua alma ardia

com o sentimento de pecado e com o pensamento constante de estar debaixo da

ira divina e, por esta razão praticava penitências, conforme as palavras de Nichols

(1985, p. 146): “Para livrar seu pai do purgatório subiu de joelhos a escada da

Santa Sé, a escadaria que se diz ter sido trazida da casa de Pilatos; repetindo,

em cada degrau, o Pai Nosso. Ao chegar ao topo, surgiu-lhe uma pergunta: quem

sabe se tudo isto é verdade? Mas isso logo passou[...]”.

Em 1511, foi transferido para Wittenberg, onde se tornou professor de

Bíblia, recebendo, ali mesmo, o título de Doutor em Teologia. Ele ensinava a

Bíblia no vernáculo, e com o intuito de aperfeiçoar seus ensinamentos, começou a

estudar as línguas originais da Bíblia (hebraico e grego). De 1513 a 1515, deuaulas sobre salmos; de 1515 a 1517, sobre Romanos e, depois, Gálatas e

Hebreus (CAIRNS, 1990, p.234).

Lutero só encontraria paz interior entre os anos 1512 e 1517, quando

estudou a epístola de Paulo aos romanos e leu o capítulo 1., versículo 17: “O

  justo viverá pela fé”. Este texto despertou sua mente para entender que a

salvação é pela graça, e que somente pela fé em Cristo era possível alguém

tornar-se justo diante de Deus (CAIRNS, 1990, p.234). “A partir daí, a doutrina da justificação pela fé e a sola scriptura (somente as Escrituras), a idéia segundo a

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 qual as Escrituras são a única autoridade para o pecador procurar a salvação,

passaram a ser os pontos principais de seu sistema teológico” (CAIRNS, 1990,

p.234).

No ano 1517, apareceu em Wittenberg um homem chamado Tetzel,

enviado pelo arcebispo Alberto de Mogúncia, para vender indulgências emitidas

pelo papa. De toda a parte, muitas pessoas vieram comprar essas indulgências,

pois elas ofereciam diminuição das penas do purgatório. Essa multidão, porém,

pensava, em virtude da forte propaganda de Tetzel na venda da sua mercadoria,

que com a compra das indulgências conseguiriam o perdão dos seus pecados1.

A venda das indulgências, chegou até Lutero, que de pronto se apresentou

contrário. Assim, em 31 de Outubro de 1517, às vésperas do dia de “Todos os

Santos”, quando muitos compareciam à Igreja do Castelo, em Wittenberg; Lutero

afixou as 95 teses, as quais demonstravam que a Igreja não podia oferecer

perdão aos pecados, tão pouco alterar a situação do suposto purgatório, mas

somente Deus, poderia fazê-lo.

As teses negavam, em suma, que o papa ou a Igreja fossem mediadores

entre o homem e Deus, não sendo dignos de perdoar os pecados. A partir daí,

estava proclamada a Reforma Protestante, cujos princípios teológicos mais

fundamentais eram:

a) Justificação pela Fé – Os cristãos seriam justificados, ou declarados

  justos, mediante a fé, que é dom ou presente gratuito de Deus (Efésios 2.8,9;

Romanos 5.1).

b) Somente as Escrituras é autoridade (CAIRNS, 1990, p.234) – Lutero

declarava que as Escrituras deveriam ser lidas por qualquer pessoa, em sua

própria língua. Para tanto, ninguém necessitava de mediadores humanos na

hermenêutica bíblica, antes o próprio Deus os capacitaria para a interpretação daverdade. Portanto, a Bíblia é a autoridade na questão religiosa e não o Papa. Além

disso, proclamou a doutrina fundamental do Sacerdócio Universal, uma das

principais doutrinas da Reforma Protestante do Século XVI, que é comentada por

NIchols (1985, p. 152), da seguinte maneira:

1

- “Tetzel ensinava que o arrependimento não era necessário para quem comprasse umaindulgência, por si mesma ela era capaz de dar perdão completo de todo pecado”. (CAIRNS,1990, p. 235)

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 O homem podia confessar seus pecados a Deus e delereceber o perdão. Para sua salvação o homem nãonecessitava dos ritos dos sacerdotes [...] cada homem podiaentender as Escrituras pela iluminação da fé[...] Luterolibertou os homens do temor, e libertos do medo foram

igualmente libertos do poder da igreja medieval econduzidos a uma religião mais sincera e profunda(NICHOLS, 1986, p.152).

Por fim, Lutero rejeitou qualquer possibilidade da salvação como fruto do

mérito do eleito ou da presciência de Deus, como pré-requisito para a salvação,

pois segundo ele só é possível pela graça (CAIRNS, 1990, p. 234), quando citou o

apóstolo Paulo: “Pela graça sois salvos, mediante a fé, e isto não vem de vós é

dom de Deus; não por obras para que ninguém se glorie” (Efésios 2.8,9).

3. A educação como ética social no pensamento de Martinho Lutero

Como inferência de sua compreensão teológica, encontra-se seus

pressupostos ético-sociais, haja vista que em sua concepção o cristianismo

fundamenta-se na práxis do evangelho.

Na compreensão do termo práxis  é necessário ressaltar que ele está

relacionado com o grego theorein , cujo significado que Platão interpretou como “a

procura pelo conhecimento das causas últimas do divino”. Para os gregos a

“teoria” está vinculada a uma faculdade superior do ser humano, o espírito

(HARPRECHT, 1998, pp. 70-71).

Por outro lado, práxis está relacionada com o grego prasso que pode ser

definido como “ação” ou “prática”. Na concepção grega, o prasso está vinculado à

matéria que é inferior as coisas do espírito.

Estas concepções definições exerceram profunda influência na civilização

ocidental, e talvez por isso, é que o trabalho em que envolve a teoria (utilização

do cérebro) é considerado superior e são mais bem remunerados, enquanto que

os trabalhos práticos ou das mãos são menos remunerados. Ora, isso influenciou

o conhecimento teológico, que

, e conforme se pode verificar em suas obras, uma das práticas do

evangelho fundamenta-se na educação. A educação de qualidade e gratuita é

compreendida como sendo uma demonstração de amor ao próximo.

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 À luz desse contexto, Lutero propõe os seguintes aspectos relativos à

questão educacional:

1. O Estado deve ser obrigado a prover educação – Ora, se o

Estado deve prover educação para todos, deve-se assinalar que a preocupação

de Lutero é quanto ao dever e acesso de todas as pessoas em relação à

educação. Comentando sobre Martinho Lutero, Paul Monroe (1979, p.179),

afirma:

Lutero via claramente a importância fundamental daeducação universal para a Reforma e a preconizouinsistentemente em suas pregações. O ensino deveriachegar a todo o povo, nobre e plebeu, rico e pobre; deveria

beneficiar meninos e meninas – avanço notável; finalmente,o Estado deveria decretar leis para freqüênciaobrigatória[...]Era opinião de Lutero, ainda, que o Estadotinha o dever de obrigar os seus súditos a enviar seus filhosà escola, da mesma forma que compelia todos eles aprestar serviço militar para sua defesa e prosperidade.Conseqüentemente, a educação deveria ser mantida edirigida pelo Estado.

Ele apregoava, portanto, uma distinção entre Escola e Igreja, sendo esta

uma crítica ao “sistema” educacional da época. Lutava pois, para libertar a

educação da Igreja, por meio da efetiva participação do Estado (LOPES, 2003,

pp. 46-49).

2. A educação é dever da família – Analisando os escritos de Lutero,

percebemos a importância que ele dava à família como uma instituição educativa,

na mesma proporção da escola (MONROE, 1979, p. 179) . Para ele, a educação

deveria começar dentro de casa e, para aperfeiçoamento, continuar na escola.

Possivelmente seu pensamento estava centrado na vida dos patriarcas do AntigoTestamento, quando eram os pais, os responsáveis em ensinar a lei do Senhor

(Deuteronômio 6.1-7).

3. O Currículo Escolar – Em sua concepção, o currículo deveria conter: 1)

Latim e Grego, que constituíam a base maior do currículo de Lutero. A estas

disciplinas acrescentou o hebraico, que também tentou colocar ao alcance de

todos. É fácil entender a razão de preservar estas línguas, por serem elas as

línguas das Escrituras. Além disso, ele dava atenção à lógica e à matemática,

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 dando, também, grande relevância à ciência, à música, à ginástica (MONROE,

1979, p.178) .

4. Tempo de Aula – Em sua carta Aos conselhos de todas as cidades da 

Alemanha para que criem e mantenham escolas cristãs , Lutero (1995, p. 320) dá

pistas de seu entendimento a respeito do tempo de aula, quando diz:

[...] Um novo mundo surgiu, onde as coisas se passam demaneira diferente. Minha opinião é que devemos enviar osmeninos à escola uma ou duas horas por dia e fazê-losaprender um ofício em casa durante o resto do tempo. Édesejável que estas ocupações andem lado a lado.

Assim, deveriam ter, no máximo, duas horas diárias na escola e o restantedo tempo deveria ocorrer em casa, para o aprendizado de algum ofício, alguma

profissão. Portanto, pensava na questão escolar teórica, mas também, na

questão da formação profissional.

Lutero propunha a educação como sendo um princípio da ética social, e

que só por meio dela, a Reforma poderia ter êxito, pois, a Reforma Protestante do

Século XVI compreendia a necessidade de alfabetizar todas as pessoas para:

1) O estudo das Escrituras – Segundo sua maneira de conceber, asEscrituras poderiam ser estudadas e interpretadas por todos. Ora, somente

conseguiria estudar as Escrituras quem pudesse ler. Assim,como desejava que a

Bíblia se tornasse um texto comum, não deveria somente traduzi-la, havendo,

também, necessidade de educar pessoas para estudá-la nos originais. Eis, a

importância da educação.

2) Para que a educação provesse bons governantes – Em sua carta Aos 

conselhos de todas as cidades da Alemanha para que criem e mantenham escolas cristãs , Lutero (1995, p. 318), afirma:

Mesmo que (como já disse) não existisse alma e não seprecisasse das escolas e línguas por causa da Escritura ede Deus, somente isso já seria motivo suficiente parainstituir as melhores escolas tanto para meninos como parameninas em toda parte, visto que também o mundo precisade homens e mulheres excelentes e aptos para manter seuestado secular exteriormente, para que então os homensgovernem o povo e o país, e as mulheres possam governarbem a casa e educar bem os filhos e a criadagem. Ora, tais

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 pessoas devem surgir dentre os meninos, e tais mulheresdevem surgir dentre as meninas. Por isso urge que seeduquem meninos e meninas para isso.

Considerações finais

Por fim, ao se considerar o título desta comunicação A ética social de 

Lutero - A educação como uma demonstração do amor ao próximo , é importante

destacar que a educação é fundamental para a compreensão do conceito de ética

social de Martinho Lutero, haja vista:

1) Relevância da relação do protestantismo e sua expansão com o

moderno modelo e escolarização. Torna-se notório, no estudo da Reforma, ofato de que os países protestantes foram desenvolvidos econômica (WEBER,

1985, pp. 65-90) e socialmente, por investirem mais firmemente, em educação.

Compreendiam que qualquer sociedade só poderia desenvolver-se em todos os

patamares, políticos, sociais e econômicos, se lhe fosse proporcionada educação

de qualidade. Tendo em mente estes princípios, os protestantes logo perceberam

a necessidade de serem mantidas escolas ao lado das igrejas.

Por conseguinte, a educação foi uma estratégia de evangelização. Ora, talestratégia, colaborou grandemente com a Reforma e, também deixou importante

legado ao impulsionar a preocupação de todos com as questões educacionais,

ensinando que a educação é o mais importante meio para o desenvolvimento de

uma sociedade verdadeiramente justa, conforme proposta bíblica.

2) Relação Protestantismo, Reforma e Sociedade letrada – Além do que

  já foi problematizado anteriormente se torna mister acenar aqui, que a Reforma

Protestante do Século XVI apregoou a necessidade de que o Estado assumisse aresponsabilidade de prover ensino gratuito para todos os seus membros. Ora,

este princípio revela que o protestantismo, em seu conceito educacional, deixa

transparecer a importância de se estar continuamente preocupados com a

escolarização, no sentido de que todos venham a ter acesso à educação gratuita

e de qualidade.

Este pressuposto é claramente entendido como sendo parte integrante da

concepção educacional dos Reformadores, pois, quanto mais educados, maioresseriam as oportunidades para a formação de bons reis, príncipes, pastores,

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 membros fiéis para as igrejas. Assim, o pressuposto é de que a Reforma somente

alcançaria êxito se houvessem pessoas devidamente educadas para governarem

adequadamente os Estados e a sociedade, e não só a preocupação com as

questões do Estado, mas também, mesmo dentro do lar, haveria necessidade de

mulheres que soubessem cuidar com sabedoria da casa e da família. Nota-se,

implicitamente, que a educação não só abrangeria os altos cargos, mas também a

mãe, a filha, a irmã, deveriam estar aptas a ensinar os filhos e irmãos, dentro da

própria casa (COMENIUS, 1997, p. 26).

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 Referências Bibliográficas

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LOPES, E. P. – O conceito de teologia e pedagogia na Didática magna de 

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Alemanha para que criem e mantenham escolas cristãs. São Leopoldo, RS:

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MONROE, P. – História da educação . 14ª edição, São Paulo: Companhia Editora

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Presbiteriana, 1985.

SINGER, P. – Ética prática . 1ª edição, São Paulo: Editora Martins Fontes, 1994.

WEBER, M. – A ética protestante e o espírito do capitalismo. 5ª edição, São

Paulo: Pioneira, 1985.