Educação e seus atores - Experiências, sentidos e identidades

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Isabel de OlIveIra e sIlva GeraldO leãO (OrGs.) Educação E sEus atorEs experIêncIas, sentIdOs e IdentIdades E J A Estudos EM

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Esta coletânea apresenta artigos de pesquisadores que anali-sam problemas práticos e teóricos que são objetos de pesquisa

e de prática profissional no âmbito educacional. As reflexões apresentadas articulam-se com o propósito de desvendar, nos processos educativos, a complexidade das vivências e das expe-riências de diferentes sujeitos – crianças, jovens, adultos e idosos, educadores e educadoras. Ao buscar compreender os sujeitos e seus pertencimentos (sociais, geracionais, raciais, de gênero), este livro dialoga com representações, análises e indagações sobre a formação humana. Além de revelar as experiências individuais e coletivas dos sujeitos da educação, esta obra apresenta ele-mentos para melhor compreensão do papel do educador e suas contribuições nos processos educativos escolares e não escolares. Os textos aqui presentes pretendem contribuir para pensarmos os sujeitos sociais em sua constituição nos diferentes espaços, proporcionando aos professores e educadores em geral, bem como aos pesquisadores, subsídios para sua prática cotidiana.

www.autenticaeditora.com.br0800 2831322

Este livro apresenta os resultados

de pesquisas recentes desenvol-

vidas na linha de pesquisa Educa-

ção, Cultura, Movimentos Sociais

e Ações Coletivas, do Programa

de Pós-Graduação em Educação

da Faculdade de Educação da Uni-

versidade Federal de Minas Gerais

(FaE/UFMG). Trata-se de um convite

à partilha com os profissionais que

atuam em instituições escolares e

não escolares, bem como com os

demais pesquisadores da área.

O que move os autores é o de-

sejo de (re)conhecer os sujeitos, os

movimentos sociais e suas organiza-

ções, desvendar as experiências indi-

viduais e coletivas e suas marcas na

vida social mais ampla, compreen-

der a complexidade dos processos

educativos vividos por esses diferen-

tes atores sociais e contribuir para

desnudar alguns mecanismos que

perpetuam e multiplicam as desi-

gualdades em nossa sociedade.

Educação e seus atores: expe-riências, sentidos e identidades é

um convite a pensarmos os sujeitos

sociais em diferentes contextos, re-

lações e processos educativos.

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LEIA TAMBÉM DA COLEÇÃOESTUDOS EM EJA

A AlfAbetizAção de jovens e Adultos Em uma pErspEctiva dE lEtramEntoEliana Borges Correia de Albuquerque, Telma Ferraz Leal (Orgs.)

A construção do letrAmento nA educAção de jovens e AdultosMarina Lúcia Pereira

A formAção de professores pArA A educAção de jovens e Adultos dilEmas atuaisTania Maria de Melo Moura (Org.)

AlfAbetizAr letrAndo nA ejA FundamEntos tEóricos E propostas didáticasTelma Ferraz Leal, Eliana Borges Correia de Albuquerque, Artur Gomes de Morais (Orgs.)

Aprendendo com A diferençA Estudos E pEsquisas Em Educação dE jovEns E adultosLeôncio Soares (Org.)

desAfios dA educAção de jovens e Adultos – construindo práticas dE alFabEtizaçãoTelma Ferraz Leal, Eliana Borges Correia de Albuquerque (Orgs.)

diálogos nA educAção de jovens e AdultosMaria Amélia Giovanetti, Nilma Lino Gomes, Leôncio Soares (Orgs.)

práticAs de educAção de jovens e Adultos – complExidadEs, dEsaFios E propostasMarisa Narcizo Sampaio, Rosilene Souza Almeida

sujeitos dA educAção e processos de sociAbilidAde – os sEntidos da ExpEriênciaLeôncio Soares, Isabel de Oliveira e Silva (Orgs.)

Isabel de OlIveIra e sIlva

GeraldO leãO (OrGs.)

Educação E sEus atorEs

experIêncIas,

sentIdOs e IdentIdades

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OrganizaçãoIsabel de Oliveira e Silva

Geraldo Leão

Coleção Estudos em EJA

Educação E sEus atorEsexperiências, sentidos e identidades

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Copyright © 2011 Os organizadores

coordenador da coleção estudos em eja

Leôncio Soares

projeto gráfico de capa

Diogo Droschi

editoração eletrônica

Conrado Esteves

revisão

Ana Carolina Lins

editora responsável

Rejane Dias

AutênticA EditorA LtdA. Rua Aimorés, 981, 8º andar . Funcionários30140-071 . Belo Horizonte . MGTel: (55 31) 3222 68 19 Televendas: 0800 283 13 22www.autenticaeditora.com.br

Todos os direitos reservados pela Autêntica Editora. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora.

Revisado conforme o Novo Acordo Ortográfico.

dados internacionais de catalogação na Publicação (ciP)(câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Educação e seus atores : experiências, sentidos e identidades / organização Isabel de Oliveira e Silva, Geraldo Leão. – Belo Horizonte : Autêntica Editora, 2011. – (Coleção Estudos em EJA ; 10)

Vários autores.Bibliografia.ISBN 978-85-7526-499-7

1. Educação - Brasil - História 2. Pesquisa educacional 3. Sociologia educacional I. Silva, Isabel de Oliveira e. II. Leão, Geraldo. III. Série.

11-02687 CDD-370.981

Índices para catálogo sistemático:1. Brasil : Educação : Aspectos sociais 370.981

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Sumário

7 ApresentaçãoIsabel de Oliveira e Silva Geraldo Leão

Parte I – Os sentidos da experiência na Educação de Jovens e Adultos

Entre desejos, desafios e direitos: a EJA como espaço de ampliação da qualidade de vida da terceira idade Isamara CouraLeôncio Soares

Uma interpretação filosófico-antropológica das experiências escolares de jovens e adultos na EJALuiz Felipe Lopes CunhaCarmem Lúcia Eiterer

Parte II – Juventudes, territórios e identidades

Juventudes e identidades: sobre a constituição do corpo e de masculinidades no futebol Eliene Lopes FariaAna Maria Rabelo Gomes

Juventude e relações intergeracionais na EJA: apropriações do espaço escolar e sentidos da escola Carla Linhares MaiaJuarez Dayrell

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Ser jovem no campo: dilemas e perspectivas da condição juvenil camponesaCristiane Benjamim de Freitas Geraldo Leão

Parte III – Identidades, processos educativos e ações coletivas

Identidade racial e docência no ensino superior: vivências e desafios de professores pretos e pardos da UFMG Ana Amélia de Paula Laborne Nilma Lino Gomes

Educação popular, participação e cidadania: a experiência do PMI (Programa de Melhoramento para a Infância) Marcelo Edgardo Reinoso Faúndez Lúcia Helena Alvarez Leite

Policiamento escolar e saberes profissionais Luiz Alberto Oliveira GonçalvesWindson Jeferson Mendes de Oliveira

Movimento sindical e fabricação de subjetividades: as dirigentes sindicais e a arte de transformarem-se a si mesmasShirley Aparecida de MirandaRogério Cunha CamposEloisa Helena Santos

Os autores

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Este livro apresenta o resultado de pesquisas realizadas no âmbito da Linha de Pesquisa Educação, Cultura, Movimentos Sociais e Ações Coletivas, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da UFMG. Constitui-se na terceira obra dessa natureza publicada pela Linha: reunião de textos que tratam dos problemas práticos e teóricos que são objetos de pesquisa e de prática profissional de professores e estudantes do mestrado e do doutorado. A reunião em livro de análises realizadas no âmbito da Linha pretende fazer chegar aos profissionais que se encontram atuando em instituições escolares e não escolares, bem como aos demais pesquisadores da área, as reflexões realizadas na universidade e que podem subsidiar as análises e intervenções nas práticas cotidianas de educação em diferentes espaços educativos.

As investigações realizadas no âmbito dessa Linha de Pes-quisa são articuladas pelas temáticas abordadas e, sobretudo,

Apresentação

Isabel de oliveira e silvaGeraldo Leão

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pelo compromisso de desvendar e compreender a complexi-dade dos processos educativos experienciados pelos diferentes sujeitos. As pesquisas desenvolvidas na linha têm como foco o enfrentamento tanto das desigualdades sociais que se refletem nas condições de vivência dos processos educativos quanto da-quelas que são engendradas por esses mesmos processos. Assim, as análises desenvolvidas, ao se aproximarem dos sujeitos, dos movimentos sociais e das organizações, buscam desvendar as experiências individuais e coletivas e suas marcas na vida social mais ampla.

Nesta coletânea estão presentes análises que envolvem si-tuações e projetos desenvolvidos com crianças, jovens e adultos, dentre os quais os idosos, esses últimos, uma faixa etária ainda pouco abordada no campo da educação. Dessa forma, este livro, no seu conjunto, permite dialogar com representações, análises e indagações sobre a formação humana, abrangendo as diferen-tes idades. As mutações sociais nas sociedades contemporâneas fazem emergir novos elementos de análise da experiência do tempo para esses diversos sujeitos. As fronteiras entre as ida-des parecem se mover alargando as experiências para além dos recortes etários, onde os sujeitos assumem novos papéis e relações sociais. Além disso, o Estado é confrontado com novas demandas e direitos, ao mesmo tempo que as condições sociais não são favoráveis para grande número de crianças, jovens, adultos e idosos.

Educação e seus atores: experiências, sentidos e identidades pretende, assim, contribuir para pensarmos os atores, os sujeitos sociais em sua constituição nos diferentes espaços e as relações entre esses espaços na configuração dos sujeitos e da vida social. As três partes que constituem o livro se interpenetram, guardando, no entanto, especificidades que procuramos destacar.

Na primeira parte, “Os sentidos da experiência na Edu-cação de Jovens e Adultos”, encontram-se dois artigos que analisam experiências de Educação de Jovens e Adultos (EJA)

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Apresentação

sob perspectivas inovadoras, seja pela abordagem teórico-metodológica, seja pelos sujeitos com os quais dialogam nas pesquisas realizadas. O primeiro texto, “Entre desejos, desafios e direitos: a EJA como espaço de ampliação da qualidade de vida da terceira idade”, de Isamara Coura e Leôncio Soares, enfoca dois elementos que merecem destaque: os idosos como sujeitos da EJA e as relações entre educação e qualidade de vida. Coura e Soares indagam sobre as expectativas e motivações para a volta à escola por parte de sujeitos idosos, bem como a respeito das condições oferecidas a esses sujeitos para vivenciarem suas experiências escolares nessa fase da vida.

Ao problematizar a presença de homens e mulheres que retornaram à escola já na chamada terceira idade, o capítulo toca, mais uma vez, nas questões relativas ao direito de acesso à escolarização básica e à sua negação à esmagadora maioria dos brasileiros até muito recentemente. A condição de traba-lhadores aparece nos discursos dos sujeitos como elemento central de suas experiências nas fases iniciais da vida. Sobre esse aspecto o trabalho assalariado e o auxílio no trabalho domés-tico destacam-se como fatores impeditivos para a frequência à escola. Coura e Soares tomam esse discurso, no entanto, à luz do contexto histórico, político e social de vivência da infância e juventude desses sujeitos, ressaltando o caráter desigual do desenvolvimento brasileiro que excluía a maioria da população do direito à educação escolar. Embora seja um elemento já lar-gamente discutido na literatura das ciências sociais, a associação dos discursos dos sujeitos que interpretam suas vivências com as questões macrossociais permite tratar a história a partir de histórias singulares. Nessa direção, as análises presentes nesse capítulo apresentam-se, inclusive, como possíveis elementos de re-flexão com os sujeitos da EJA, já que seus discursos são parte do conhecimento sobre si mesmos e sobre seus contextos de vida.

Da história recente do Brasil, o capítulo discute os ele-mentos que, de alguma forma, favorecem ou podem favorecer

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a presença desse grupo geracional na escola. Dentre esses fatores, encontram-se os demográficos que indicam o enve-lhecimento da população brasileira, associados ao contexto de reconhecimento social e legal dos direitos dos idosos, a partir das duas últimas décadas do século XX. Para Coura e Soares, no entanto, tais elementos não são suficientes para explicar a presença de homens e mulheres acima de 60 anos nos bancos escolares. Assim, trazem os discursos desses sujeitos que permi-tem identificar suas interpretações das próprias experiências e dos sentidos que elas assumem nesse momento da vida. É dessa interpretação que emergem elementos relacionados à qualidade de vida e à retomada de sonhos e desejos que fizeram parte das suas histórias pessoais.

O outro capítulo que integra essa parte do livro, intitulado “Uma interpretação filosófico-antropológica das experiências escolares de jovens e adultos na EJA”, de Luiz Felipe Lopes Cunha e Carmem Lúcia Eiterer, apresenta resultado de pes-quisa com ex-alunos de um programa de Educação de Jovens e Adultos que se dispuseram a participar voluntariamente de um processo de reflexão sobre a própria experiência por meio do curso de Antropologia Filosófica oferecido a eles. A pesquisa-intervenção tomou o pensamento de Paulo Freire como enfoque teórico. Essa análise desdobra-se em duas dire-ções: a da compreensão das experiências de homens e mulheres na EJA e a da apropriação dos referenciais analíticos de Paulo Freire para a compreensão da experiência humana. Os autores empreendem um diálogo com trabalhos que explicitaram as interpretações de alunos e alunas da EJA, ampliando assim o universo de vozes que falam, neste texto, sobre a experiência de frequentar a escola básica na vida adulta. Assim, Cunha e Eiterer, para entender os sentidos da escola para os sujeitos, utilizaram-se de outras pesquisas que evidenciam experiên-cias culturais, históricas e sociais semelhantes e partiram para uma reflexão com os sujeitos à luz do pensamento de Freire. A pergunta que guiou a intervenção com o grupo foi: o que é o

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Apresentação

ser humano? E, assim, os autores pretenderam e conseguiram apreender elementos da interpretação dos sujeitos a respeito de si mesmos e de suas experiências.

Embora o texto indique claramente quem são os sujeitos e o caráter voluntário da participação em um curso de Antro-pologia Filosófica, o que fornece indícios sobre os sentidos da escola para esses sujeitos, parece-nos relevante chamar a atenção para outros aspectos. Ou seja, o caráter reflexivo mais profun-do expresso pelos sujeitos relaciona-se tanto com o curso em si (O que é o ser humano?) quanto com, possivelmente, uma história pessoal ou características pessoais favorecedoras de uma postura reflexiva perante si mesmos e o mundo. Refletir nessa direção permite relativizar a escola e, ao mesmo tempo, reforçar a ideia da complexidade e das múltiplas faces das ex-periências dos sujeitos.

As contribuições das reflexões construídas por Cunha e Eiterer parecem encontrar-se menos nos importantes achados relativos aos significados – para além do diploma e de objetivos utilitaristas ou instrumentais – do que na evidência das possi-bilidades interpretativas acerca da própria realidade presentes nas reflexões dos sujeitos da pesquisa. Além disso, a EJA não pode deixar de falar em Paulo Freire, e este texto nos coloca diante de diferentes dimensões: em sua interpretação do homem e das condições de opressão e em sua visão das possibilidades educativas das relações claramente emancipatórias. Esse ca-pítulo oferece aos educadores subsídios para a construção de intervenções que colocam os educandos, suas experiências, valores e representações no centro dos processos educativos.

Na segunda parte desta coletânea, “Juventudes, territórios e identidades”, encontram-se três capítulos. Nessa parte, são os jovens, a condição juvenil e suas experiências em diferentes contextos (ou territórios) que são problematizados. A rua, o bairro, a escola urbana e a escola do campo aparecem nesses capítulos como integrantes dos processos constitutivos das

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identidades e das subjetividades. O primeiro capítulo dessa parte, “Juventudes e identidades: sobre a constituição do corpo e de masculinidades no futebol”, de Eliene Lopes Faria e Ana Maria Rabelo Gomes, tematiza o futebol como contexto de experiências de aprendizagem do e no corpo. As autoras rea-lizam uma abordagem das construções sociais do gênero em que as masculinidades são abordadas como práticas sociais. Ancorado no conceito de participação, ao lado do conceito de habilidade, o texto enfatiza o conjunto de elementos presentes na aprendizagem do futebol – significados, disposições corpo-rais, tipos de atenção e de destrezas no uso de instrumentos e do próprio corpo, emoções e conhecimentos que caracterizam a prática. Segundo as autoras, os sujeitos aprendem a partir da “participação plena em atividades socioculturais”. O capítulo oferece uma descrição das vivências de jovens de um bairro de Belo Horizonte nas práticas futebolísticas caracterizadas como espaços de uma singular sociabilidade masculina, en-fatizando o corpo masculino que se constitui no futebol, e o futebol que se constitui pelo corpo masculino. As autoras evidenciam o universo de construção simbólica sobre o ser homem e o masculino, intimamente articulada à compreensão do ser mulher e do feminino, elementos de oposição signifi-cados nesse contexto pela exacerbação de ações, vocabulário e disposições corporais associados ao universo masculino e à masculinidade. Identificam também a flexibilização nas “re-gras” que devem reger as relações entre os homens nos rituais do jogo em que o contato corporal e as manifestações de afe-tividade entre eles são não apenas tolerados, mas entendidos como desejáveis. Assim, a aprendizagem, no caso do jogo, envolve não somente sua dimensão técnica, mas, sobretudo a aprendizagem de códigos de conduta restritos a essa prática, o que passa a integrar o universo simbólico dos praticantes. As análises empreendidas pelas autoras, embora tratando de um tema que, à primeira vista, parece distante dos temas

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Apresentação

educacionais clássicos, revelam-se importante contribuição para a compreensão da aprendizagem – seja escolar ou não –, evidenciando sua dimensão integral no ser humano, que envol-ve as dimensões éticas, cognitivas e corporais a um só tempo.

O segundo artigo desta parte, “Juventude e relações inter-geracionais na EJA: apropriações do espaço escolar e sentidos da escola”, de Carla Linhares Maia e Juarez Dayrell, nos traz os jovens no ambiente escolar urbano. Assim como Faria e Gomes, o grupo focalizado é analisado como constituído nos universos simbólico e de relações de que participam. Assim, a questão geracional, presente quando se fala dos jovens, é analisada nesse trabalho em sua dimensão relacional. As análises referem-se a uma pesquisa realizada em uma sala de aula na qual conviviam jovens, adultos e idosos. O encontro de sujeitos de diferentes gerações no espaço da sala de aula é analisado nesse capítulo por meio da ideia de fronteira cultural, transpassada da ideia de espaço concreto para uma espacialidade simbólica entre grupos ou campos que expressam distintas compreensões da realidade, valores, visões de mundo: ou seja, distintas culturas. Nesse sentido pode-se falar em fronteiras culturais. Maia e Dayrell, ao operarem com essa ideia, captaram a existência, no espaço da sala de aula, tanto da barreira física e simbólica quanto de um espaço mais poroso, de comunicação, de troca entre os diferentes, onde se estabelece o jogo da alteridade. Assim, a dimensão relacional dos processos identitários evidencia-se de forma nítida, na medida em que o ambiente pesquisado oferece um campo de relações cotidianas não tão facilmente observável em outros contextos – uma especificidade da EJA em algumas configu-rações de sala de aula.

A observação prolongada e os elementos daí advindos e explicitados nesse texto possibilitaram tornar evidentes proces-sos de socialização e as epistemes próprias a cada geração. Ao mesmo tempo que compartilham códigos, os distintos grupos geracionais adotam outros que são muito diferentes, até opostos, o que cria ruídos e barreiras à comunicação. Além disso, Maia

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e Dayrell destacam a diferença no plano da memória. Sendo as memórias constitutivas dos sujeitos e grupos, as gerações mais novas não compartilham das memórias das anteriores, ou o fazem apenas no plano do ouvir contar, e não do vivido. Assim, as relações intergeracionais observadas no contexto es-colar representam um jogo de aproximações e distanciamentos entre os sujeitos pesquisados. Ou seja, a dinâmica das relações intergeracionais apresenta-se nesse contexto como um universo rico de interações, marcado por diferenças que não impedem a comunicação, cuja observação permite maior inteligibilidade do que é próprio a cada grupo.

O terceiro capítulo dessa parte, “Ser jovem no campo: dilemas e perspectivas da condição juvenil camponesa”, de Cristiane Benjamim de Freitas e Geraldo Leão, analisa as experiências de escolarização de jovens do meio rural, estudantes do terceiro ano do ensino médio de uma Escola Família Agrícola – Escola Família Agrícola Paulo Freire no município de Acaiaca, Minas Gerais. Se o campo da educação e, especificamente os estudos da área da EJA e sobre juventude vêm procurando, há alguns anos, dar visibilidade ao sujeito jovem, ainda são poucos os trabalhos que se voltam para suas experiências de escolarização fora dos contextos urbanos. Par-tindo do reconhecimento das intensas transformações pelas quais passa a vida no campo, relacionadas às transformações mais amplas nos campos econômico, político, social e cultural, Freitas e Leão buscam compreender as suas repercussões na condição juvenil nesse contexto. Assim, embora focalizem jovens estudantes do Ensino Médio, o estudo traz elementos de suas experiências e práticas sociais, envolvendo as trajetó-rias escolares, mas não se restringindo a elas. Pelas vozes dos jovens do meio rural, esse capítulo permite entrar em contato com interpretações que esses sujeitos realizam a respeito da própria condição – jovens do meio rural – e, especialmente, sobre os sentidos que atribuem à vida no campo, ao trabalho e à escola, indagando ainda sobre os planos para o futuro.

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Apresentação

Freitas e Leão, procurando ultrapassar a visão desses sujei-tos restrita à condição de alunos, tomam sua condição de jovens do campo como um elemento da diversidade juvenil que deve integrar os estudos sobre os jovens e a juventude. Nessa direção, as análises empreendidas inserem-se no quadro dos estudos sobre esses sujeitos e sua condição, conferindo visibilidade às experiências escolares, de trabalho, sociais e culturais que ocorrem no contexto rural. Esse foco, no entanto, não impediu a atenção às análises que indicam a transformação das fronteiras entre rural e urbano ocorrida nas últimas décadas. A comunica-ção entre esses dois territórios é apreendida nesse capítulo, seja no que concerne à dimensão econômica com transformações nas formas e tipos de trabalho em que se inserem os trabalha-dores do campo, seja nos modelos de socialização e de práticas culturais. A escolarização desses jovens também funciona como um elemento de comunicação entre o meio rural e o urbano na medida em que muitos jovens do campo estudam na cidade.

Para Freitas e Leão, nesse contexto, os jovens produzem valores e elaboram projetos de vida que vão além do campo e da produção na agricultura familiar. Como momento em que muitas definições sobre o futuro devem ser enfrentadas, a escola aparece como um elemento que amplia as possibilidades desses sujeitos. Eles podem ou não permanecer no meio rural, engendrando conflitos que integram suas experiências sociais e escolares.

Na pesquisa realizada, toma-se contato ainda com uma organização escolar que se difere do modelo urbano, largamente difundido e conhecido, em que os tempos e espaços assumem novas configurações. Essa organização ensejou hipóteses acerca das questões de gênero definidoras do perfil majoritariamente masculino da turma, dentre outras questões que permitem am-pliar a compreensão das relações entre os diferentes elementos da experiência escolar.

No que concerne ao conhecimento relativo a essa parcela da juventude, o trabalho de Freitas e Leão oferece elementos

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fundamentais para rompermos com visões que não corres-pondem às experiências desses sujeitos. É o caso, por exem-plo, da ideia de que os jovens do campo experimentam certa homogeneidade com relação aos gostos, condições e estilos de vida. O artigo apresenta uma imagem na qual se encontra uma variedade de estilos, valores e condições de vida, o que inclui o modo de vestir, de falar, bem como a posse de bens de consumo como celulares e o contato com a cultura midiática difundidos entre esse grupo. Esses elementos são importan-tes para a compreensão das experiências desses sujeitos e, fundamentalmente, para informar os projetos voltados para a educação do jovem do campo, seja no plano das políticas, seja no plano propriamente pedagógico.

A terceira parte deste livro intitula-se “Identidades, proces-sos educativos e ações coletivas”. Nela, reúnem-se os capítulos que se dedicam a um conjunto de problemas que envolvem questões identitárias no âmbito de processos educativos formais e não formais, bem como à dimensão educativa presente nas ações coletivas. O primeiro capítulo, “Identidade racial e docên-cia no ensino superior: vivências e desafios de professores pretos e pardos na UFMG”, de Ana Amélia de Paula Laborne e Nilma Lino Gomes, analisa os processos de construção da identidade racial de docentes do ensino superior. O texto focaliza a vivência da condição racial por parte desses professores em diferentes espaços, com centralidade para o ambiente acadêmico que integram, e investiga as nuances e os conflitos presentes nas experiências desses sujeitos, analisando-os à luz dos estudos sobre as relações raciais brasileiras. As autoras assumem como categoria analítica o conceito de raça, entendido do ponto de vista sociológico, o qual permite compreender e desvelar a com-plexidade do quadro de desigualdades entre negros e brancos no Brasil. Ancoradas na ideia de que as identidades raciais são uma construção social, histórica e cultural, as autoras contribuem para a compreensão da questão das identidades, as quais não podem desconsiderar a dinâmica das relações raciais no Brasil.

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Apresentação

A pesquisa empreendida pelas autoras traz as vozes de professores da universidade a respeito da identidade racial nas quais encontram um discurso que expressa uma problematiza-ção do que denominaram seu lugar racial na sociedade. Laborne e Gomes trazem depoimentos e análises que indicam as tensões presentes nas reflexões dos sujeitos a respeito do próprio per-tencimento racial. As autoras captaram que, nas interpretações que fazem a respeito da própria condição e das relações raciais no Brasil, esses professores expressam uma vivência subjetiva – que supõe sua interpretação e os olhares dos outros – marcada por ambiguidades que as classificações oficiais não são capazes de apreender. Por meio dos depoimentos, entramos em contato com interpretações de ações, disposições e angústias vividas pelos outros do ambiente familiar dos entrevistados e que revelam a complexidade da vivência subjetiva da condição de negro ou mestiço no Brasil. Expressam-se autoimagens e visões compartilhadas no grupo social. No entanto, vemos também, em algumas interpretações, a percepção de que tanto a vivência subjetiva quanto a interpretação que fazem da própria condição e das relações raciais são marcas sociais e que a mudança pas-sa por transformações sociais complexas. O capítulo oferece, assim, elementos para a compreensão da questão das relações raciais no Brasil por meio do diálogo com uma literatura da qual utilizam categorias analíticas que permitem uma leitura dos depoimentos para além do individual, tratando-os como construções históricas, sociais e culturais.

O segundo capítulo dessa parte, “Educação popular, participação e cidadania: a experiência do PMI (Programa de Melhoramento para a Infância)”, de Marcelo Edgardo Reinoso Faúndez e Lúcia Helena Alvarez Leite, ultrapassa o território brasileiro e analisa um programa chileno voltado para a infância e as crianças em seu caráter de educação popular. As análises focalizam os processos educativos dos adultos envolvidos – as mães – no contexto da participação em um movimento social.

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O programa caracteriza-se como uma ação incorporada pela política pública de educação do Chile na área da Educação Infantil que conta com a participação das comunidades. Esse capítulo oferece importante contribuição para o entendimento de uma área da educação que vem crescendo em importân-cia no mundo todo e que, nos países da América Latina, configura-se como um dos grandes desafios dos sistemas edu-cacionais. A educação infantil é uma área da educação definida pelo seu caráter de compartilhamento de cuidados e educação das crianças entre famílias e instituições educacionais. Assim, esse capítulo apresenta uma oportunidade ímpar de discussão do sentido do compartilhamento dos cuidados e da educação das crianças pequenas entre as esferas pública e privada, o que supõe a construção de referências para uma zona de comu-nicação ainda pouco explorada nos sistemas educativos. Ao situar a experiência em análise, o texto apresenta elementos do contexto latino-americano no que concerne aos programas de educação não formal para a primeira infância, articulados a políticas de melhoria das condições de vida, o que, como revela a literatura da área, foi – e ainda é – uma marca dos debates e políticas para a primeira infância, cujas contradições merecem reflexão. Em diálogo com essa literatura, os autores destacam o caráter positivo das experiências de participação popular em programas voltados para a infância e voltam-se para a dimen-são de enfrentamento das condições de pobreza a que estavam submetidas famílias e crianças envolvidas.

As análises que esse capítulo apresenta do Programa de Melhoramento para a Infância não perdem de vista sua inserção no contexto histórico do Chile nos anos 1970-1980 que, assim como no Brasil, ensaiava a retomada dos espaços de partici-pação popular fechados pelo prolongado período de ditadura militar. A abordagem desse programa permite uma leitura das sociedades latino-americanas em um período da história recente em que a educação torna-se um elemento de mobilização e uma

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Apresentação

possibilidade de participação popular e exercício da cidadania por meio da articulação de diferentes organizações sociais.

Apresentando uma descrição da estrutura, do funciona-mento e das condições de organização do Programa de Me-lhoramento para a Infância, o texto permite o acesso a uma experiência que consegue incorporar os elementos que há muito vêm sendo debatidos como características que devem integrar os programas de Educação Infantil, como a busca por assegurar o atendimento das especificidades da educação das crianças pequenas, tais como a articulação com as famílias e a comunidade, a flexibilidade na organização pedagógica, dentre outros elementos. O capítulo finaliza oferecendo uma reflexão sobre as relações entre educação, cultura e cidadania presentes na participação dos movimentos sociais na educação pública.

O terceiro texto desta parte do livro, “Policiamento escolar e saberes profissionais”, de Luiz Alberto Oliveira Gonçalves e Windson Jeferson Mendes de Oliveira, apresenta uma impor-tante contribuição à compreensão de um fenômeno que vem ganhando cada vez mais espaço: a violência no ambiente escolar. Esse tema vem sendo objeto de preocupação e debate dentro e fora dos muros da escola, nos debates acadêmicos, na mídia e em diferentes espaços sociais, mobilizando atores e institui-ções os mais diversos. O artigo introduz um desses atores – o policial – que, nos últimos anos, passa a frequentar o ambiente escolar atendendo a transformações nas práticas e relações aí estabelecidas. Essas relações ainda não estão suficientemente esclarecidas, embora já sejam objetos de pesquisas há algum tempo.

O capítulo aborda os processos constitutivos de novas iden-tidades do policial diante de novas demandas apresentadas pela escola, focalizando os saberes e as habilidades mobilizados e/ou construídos no desempenho da função de policiamento escolar. Embora o foco seja o policial, o texto permite inferir elementos importantes a respeito das representações dos profissionais da

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Educação e seus atores: experiências, sentidos e identidades

escola sobre o fenômeno da violência escolar e os elementos a ela relacionados. Os autores situam a discussão sobre a violência escolar enfatizando as mudanças de discursos, bem como as transformações nas relações entre a escola e a polícia. Para isso, retomam, por meio da literatura, os processos constitutivos das imagens da polícia construídos historicamente, indicando as origens da incorporação, por essa instituição, da função de promoção da paz. Evidenciam, então, as contradições presen-tes nessa direção assumida pela polícia cuja função primeira relaciona-se com o combate ao crime e ao uso da força para manutenção da ordem social. Tais elementos nos parecem muito elucidativos para a compreensão das tensões presentes nas relações entre os atores das duas instituições – polícia e escola. As reflexões realizadas pelos autores oferecem elementos fundamentais para a reflexão sobre os processos civilizatórios atribuídos à educação escolar, sobre seus limites diante da com-plexidade das nossas sociedades, dentre outros elementos para a compreensão da escola na sociedade brasileira contemporânea.

O texto focaliza os policiais, em cujos depoimentos se apre-ende o caráter de uma construção na prática, e seus saberes, ain-da não sistematizados e que, fundamentalmente, não integram os processos de formação pelos quais passam os policiais que hoje se relacionam com a escola. Assim, os autores encontram, na pesquisa realizada, policiais que possuem representações e discursos sobre a escola, os alunos e suas famílias baseados no senso comum e, nas palavras dos entrevistados, no bom senso, que arguem como elemento de sua prática profissional mobili-zado cotidianamente. Assim, para esses agentes, a necessidade da presença da polícia na escola relaciona-se diretamente com essas representações, nas quais a ideia de fracasso das famílias torna-se referência fundamental.

Embora esses agentes informem que não tiveram formação para o trabalho de policiamento escolar – o qual se encontra, inclusive, em um lugar inferior na hierarquia das funções

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