Revista Identidades

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Revista Identidades | 1 Identidades Revista Identidades Nº 1 Ano 1 Dávila Medeiros Entrevistas com Emilly Fernandes e André Luiz Paiva revista Cinema e Sexu alidade Com Bruno Araújo Dicas de filmes sobre Gênero e Sexualidades Com Giovana Arquelino Identidades Revista Identidades |Nº 1 |Ano 1 Dávila Medeiros Entrevistas com Emilly Fernandes e André Paiva revista Cinema e Sexualidade Com Bruno Araújo Dicas de filmes sobre Gêneros e Sexualidades com Giovana Arquelino

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A revista Identidades é uma projeto experimental desenvolvido para a disciplina de Planejamento Gráfico pelos alunos do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

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Cinema e SexualidadeCom Bruno Araújo

Dicas de filmes sobre Gêneros e Sexualidadescom Giovana Arquelino

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EDIT ORIALÉ Brasil. É Brasília. É Feliciano. É deliquên-cia.Diante de tanta confusão sobre o que é lícito e não é lícito quando o que-sito é sexualidade, viemos trazer a todos um pouco do “Universo Trans”, na capa a Miss Trans RN 2013 - Dávila Medei-ros - caicoense, 26 anos, Trans e gata.

Nesta edição buscamos conversar com pessoas como André Paiva, estudante de Psicologia na Universidade Potiguar (UnP), que já realizou pesquisa sobre experiências trans. Além de entrevista com Emilly Fernandes, estudante de Psi-cologia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que nos fala um pouco sobre sua experiencia como trans e quais as dificuldades que já en-frentou diante de uma sociedade ma-chista e patriarcal.

Giovana Arquelino traz ainda dicas de filmes sobre a temática e Bruno Araújo um artigo de opinião sobre sexualidade e cinema.

revista Identidades

Direção ExecutivaBruno Araújo Giovana Arquelino

Trabalho desenvolvido durante a disciplina Planejamento Gráfico ministrada pelo professor Josenildo Soares Bezerra na Universidade Federal do Rio Grande do Norte durante o semestre 2013.2.

CapaDávila Medeiros

FotoNilson Nogueira

DiagramaçãoBruno Araújo

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SUM ÁRIO

Entrevista com Emilly Fernandes

Perfil de Dávila Medeiros

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Filmes sobre Gênero e sexualidades

Entrevista com André Luiz Paiva4

Artigo - Orações para Bobby como repre-sentação de realidades hoje em dia9

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André, nos fale um pouco inicialmente como ocorre as primeiras transforma-ções na grande maioria das travestis que você já teve contato e conheceu suas experiências de mu-danças corporais.

As travestis e transexuais femininas realizam transfor-mações corporais subme-tendo-se a intervenções principalmente através de travestis mais velhas, das experiências de amigas. Isso tanto no que se refe-re às questões de tomada de hormônios, que ocorre na maioria das vezes sem acompanhamento mé-dico, como na questão da colocação de silico-ne, que no caso é posto, predominantemente, no formato de silicone líquido industrial, injetado.

Quem faz as aplicações desse material?

Os hormônios, em geral, são tomados por conta própria, já que não há no sistema de saúde do país acesso a esse tipo de ser-viço de forma instituciona-lizada. No que se refere ao silicone pode-se dizer que elas aplicam umas nas ou-tras, dado que o acesso a

próteses cirurgicas é muito caro. As travestis que rea-lizam esse procedimento são chamadas de bomba-deiras, que são mais expe-rientes e de certa forma se especializam em fazer esse trabalho.

Quais os riscos que elas correm ao fazer uso desses materiais como silicone in-dustrial?

Como elas não encontram nenhum respaldo na polí-tica de saúde é evidente que essas práticas podem gerar danos e agravos à saúde. Ocorre de, por exemplo, travestis ou tran-sexuais terem problemas de infecção por causa de se submeter a postura de silicone industrial ou ocorrer dessa substância se espa-lhar pelo corpo causando deformação, o que apon-ta a urgente necessidade das políticas públicas em saúde inserir esse público e demanda. Infelizmente na prática tem ocorrido o contrário, havendo casos de pessoas TRANS que tem atendimento recusado quando procuram atendi-mento, inclusive com jus-tificativa de cunho moral para a recusa do atendi-mento, numa clara viola-

ção de direitos humanos em relação a essa popu-lação.

Você acha que se deve pensar em travestis como política de saúde?

A questão não é especi-ficamente pensar travesti como política de saúde, mas pensar uma outra di-ferença. Talvez o conceii-to mais interessante seja o de experiências TRANS, isso porque algumas das que já tive contato, se afir-mavam como transexuais.Inicialmente se tem a ideia que a transexual está inse-rida na política de saúde, através do processo tran-sexualizador do SUS (Siste-ma Único de Saúde). Mas aí também existem com-plicações porque é um programa de difícil acesso, longe da universalização e que tem uma lógica de patologização, no sentido de que para que haja essa inserção, a pessoa passa a ser vista como alguém que tem um transtorno, que hoje tem é chamado de Disforia de Gênero. Essa perspectiva patologizante é extremamente perversa e vem sendo discutido e questionada por segmen-tos da academia e dos

André Paiva fala sobre experiências TRANS abordando modificações corporais e saú-de por Bruno Araújo

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movimentos sociais.

Todas as pessoas que se afirmam travestis devem ser vistas como transexu-ais?

Não, já que esse reco-nhecimento se dá numa lógica médica e não de autodeterminação. Mas no que se refere a pensar outras políticas de saúde talvez essa diferença se torne irelevante. O que hoje existe são pessoas trans inseridas e pesso-as trans não inseridas no processo transexualizador do SUS. E uma vez não inseridas nesse processo, independente de se afir-marem como travestis ou como transexuais, elas estão sofrendo as mes-mas vulnerabilidades de saúde, porque não tem nenhum respaldo dentro da política de saúde. Ou seja, existem pessoas pre-cariamente ibnseridas nas poiticas através do pro-cesso transexualizador do SUS e pessoas que nem à esse acesso precário tem acesso. No mais as cate-gorizações como travestis e transexuais se tornam muito fluidas, de forma que uma mesma pessoa em alguns momentos se afirma como travesti e em outros momentos se afirma como transexual, a literatura da área e as ex-periências de campo que já tive apontam isso.

André Paiva é estudante de Psi-cologia na Universidade Potiguar e pesquisa temas relacionados às experiências TRANS, saúde coleti-va e estudos queer.

Como é a questão do preconceito quando o assunto é transexuais e travestis?

As pessoas que conheço que são TRANS, de forma mais ou menos direta, de uma forma mais ou menos frequente, estão inseridas em movimentos sociais e isso traz uma diferença na forma com que elas li-dam com essas questões, dado que os discursos po-líticos e os discursos teóri-cos circulam nesse meio e tem influência na for-ma de reconhecimento delas. É muito comum a afirmação da categoria transexual, por exemplo, porque é uma categoria que de certa forma, está menos estigmatizada do que a categoria travesti. No sentido de que a tra-vesti foi associada a uma série de preconceitos, uma série de estereóti-pos que inclusive muitas delas não querem para si. Como, por exemplo, a questão da prostituição e a questão da violência, que são estigmas que es-tão associados “as traves-tilidades”. Evidente que isso é um estigma basea-do em preconceitos, fora do contexto de realidade predominantemente, ma. Já a transexual está asso-ciada a uma pessoa que tem uma incoerência en-

tre gênero e corpo, isso leva a discussão para o aspecto dito patológico. Aí é como se fosse mais simples, você se afirmar como transexual, porque seria uma forma mais confortável, recorrendo a um discurso da natura-lização, afirma-se assim uma certa “natureza” fe-minina, o que é justificá-vel dado que a nossa ten-dência não apenas nas questões relacionadas ao gênero e sexualidades é apelar para uma pre-tensa naturalidade das experiênias. No entanto, essa questão é pequena, dado que o que deve ser considerado é que nas experiênias TRANS é uma pessoa que necessita de determinado cuidado em saúde devido às suas mo-dificaões corporais.

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Madame SatãMalandro, artista transformista, capoeirista, presidiário, pai adotivo, negro e pobre. Este é João Francisco dos Santos (Lázaro Ramos), mas conhecido como Madame Satã. O filme se passa no bairro boêmio da Lapa, em 1932, onde Francisco divide uma casa com Laurita (Marcélia Cartaxo), prostituta, e sua filha Firmina. Também fazem parte do seu mundo o Tabú, seu cúmplice; Rentinho, aman-te; e Amador, Dono do bar Danúbio azul. Não existem limites. Sexo, gênero e um país que acaba de sair do regime escravista.

Direção: Karim AinouzDuração: 105 min.Ano: 2002

Tudo sobre minha mãeNo dia de seu aniversário, Esteban (Eloy Azorín) ganha de presente da mãe, Manuela (Cecilia Roth), um ingresso para a nova montagem da peça “Um bonde chamado desejo”, estrelada por Huma Rojo (Marisa Paredes). Após o espetáculo, ao tentar pegar um autográfo de Huma, Esteban é atrope-lado e morre. Manuela resolve então ir até o pai do menino, que vive em Barcelona, para dar a notícia. No caminho ela encontra o travesti Agrado (Antonia San Juan), a freira Rosa (Penélope Cruz) e a própria Huma Rojo.

Direção: Pedro AlmodóvarDuração: 101 min.

Ano: 1999

Delicada AtraçãoJamie Gangel (Glen Berry) e Ste Pearce (Scott Neal) são vizinhos e moram em um subúrbio londrino. Ste frequentemente é espancado pelo pai. Sensibilizada com a situação, Sandra (Linda Henry), mãe de Jamie, o acolhe em sua casa. A partir daí, os garotos começam a se envolver amorosamente e têm que enfrentar o preconceito.

Direção: Hettie MacdonaldDuração: 85 min.Ano: 1997

Dicas de Filmes sobre Gênero e sexualidades

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Fale sobre você

Sempre fui uma garota como as outras. Sempre fui muito agitada e curio-sa. Venho de uma família de seis irmãos, 4 mulheres e dois homens. Tive uma infância tranquila, uma adolescência um pouco conturbada e uma tran-sição para a vida adulta cheia de muitas conquis-tas. Algumas delas difíceis e dolorosas, outras fáceis e satisfatórias. Talvez, a minha maior conquista tenha sido a autonomia como mulher e a força para fazer a transição de male to female, como é chamada na gíria das pessoas TRANS. Atual-mente faço Psicologia pela UFRN, estou no sexto período e gosto muito.

Como está sendo sua hor-monização?

O processo de hormoni-zação está sendo bom. Minha única crítica é que ele está sendo informal, visto que já fui há milha-res de médicos e todos se recusaram a fazer dando a desculpa de que “não sabem”. É uma triste reali-dade. Eu tentei realmente fazer o processo de ma-neira segura e saudável, então resolvi ler artigos científicos da sociedade internacional de endo-crinologia e achei algo que poderia me ajudar.

Conhecendo Emilly FernandesTenho usado um manual dessa associação que é para hormonização de pessoas TRANS. Tenho sete meses e sete dias de hormônios e realmente as mudanças são notáveis. Há uma grande transfor-mação. Muita coisa já mudou e a tendência é mudar mais. Estou cada vez mais suave e femi-nina. Pretendo ano que vem tentar novamente uma hormonização sau-dável, até porque é um processo que continua a vida toda, mesmo que eu opere e faça a transgeni-talização. Como se deu a escolha de seu nome? E como está o processo de mu-dança em seus docu-mentos oficiais?

Escolhi Emilly porque é um nome doce e meigo e combina comigo, me-nos quando eu estou nos dias da TPM. Mas gosto muito desse nome por ele ser suave. E Mel porque, uma amiga minha que se chama Mel, me vestiu a primeira vez como me-nina e me deixou linda nesse dia. Na justiça já foi iniciado o processo de troca de nome e sexo nos documentos oficiais, e o núcleo de práticas jurídi-cas da UFRN me ajudou muito. Juntamos várias provas e estamos espe-rando as audiências. Atu-

almente meu processo está no Tribunal de Jus-tiça e aguardo ser jul-gado. Apesar de saber que a bancada ainda é conservadora, eu estou confiante.

Como você pensa seu futuro?

Meus planos futuros, ve-jamos... Se formar, ser psicóloga clínica e hos-pitalar, fazer mestrado e doutorado. Quero ser professora da UFRN. Quero me casar e ter meus filhos. Sonho mui-to em ser mãe. Também quero fazer cirurgia de feminização facial e de redesignação sexual. Pretendo ajudar muito a minha família e também tenho um sonho de um dia ficar livre de todo o preconceito que passo e ter uma vida mais dig-na e mais humana.

Emilly Mel Fernandes, estu-dante de Psicologia na UFRN.

por Giovana Arquelino

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Nome: Dávila MedeirosIdade: 26 anosOlhos: castanhos escurosCabelos: castanhos escurosSigno: ÁriesNaturalidade: Caicó/RNCintura: 74 cmQuadril: 102 cmCoxa: 60 cmProfissão: modelo fotográfica e maquiadoraComida preferida: arroz, fei-jão, verduras e bifeFilme preferido: a última casaMúsica preferida: logo eu (Jorge & Matheus)Uma inspiração: minha mãe

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Miss TRANS RN 2013

Foto: Nilson Nogueira

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Muito tem se discutido sobre o cinema como re-presentação de realida-des. Pois desde a sua cria-ção no final do século XXI teóricos da área buscam entender o cinema como um modo de representa-ção do cotidiano social. Diante disso, busco neste artigo fazer uma breve análise do filme norte- americano Orações para Bobby (2009) dirigido por Russell Mulcahy, filme cria-do para televisão.Busco analisar o discur-so do filme e trazer para possíveis realidades. Ora-ções para Bobby mos-tra a esperança de uma mãe pela “cura divina” da sexualidade do filho. Ter um filho gay, não fa-ria deles nem um pouco uma família feliz. Ironica-

mente percebemos no filme uma questão muito discutida ultimamente no Brasil, uma suposta ajuda psicológica para alguém que “se diz gay”, tornan-do possível a cura “desse mal”. Hoje encontramos prin-cipalmente nos filmes de Almodóvar, uma gama de objetos cênicos que remete à sexualidade, e todos os conflitos sociais envolvidos. Desta forma, fica claro que existe uma identificação das perso-nagens com o público es-pectador, até porque em algumas produções o ob-jetivo é retratar o que tal-vez já tenha acontecido, outros são apenas mate-riais ficcionais.Trazendo o assunto de rejeição familiar e suicí-

dio para nossa realidade, podemos citar o caso do jovem Saulo de Assis Lima, 23 anos, homossexual, soro positivo e rejeitado pela família evangélica, que tirou sua vida pulan-do de uma torre com mais de 70 metros de altura em Porto Velho, em abril desse ano (2013). Desta forma, o cinema torna possível o entendimento dos modos de vida, da coerência e dos sentidos pelos quais as vivências, comportamentos, iden-tidades, subjetividades e práticas sócio-culturais, vêm sendo constituídas e re-elaboradas na ficção e na realidade.

Orações para Bobby como representação de realidades hoje em dia

Por Bruno Costa

Foto: divulgação

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