AUTO DA BARCA DO INFERNO questões

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AUTO DA BARCA DO INFERNO - GIL VICENTE Conflito interior - ao mesmo tempo que critica, de forma impiedosa, toda a sociedade de seu tempo, tem ainda o pensamento voltado para Deus Foi apresentado pela primeira vez em 1517, à rainha D. Maria de Castela Auto de moralidade Cenário um porto imaginário, onde estão ancoradas duas barcas: uma como destino o paraíso, tem como comandante um anjo; a outra, com destino ao inferno, tem como comandante o diabo, que traz consigo um companheiro . Todas as almas são obrigadas a passar por esse lugar para serem julgadas. Estilo, - todo o Auto é escrito em tom coloquial, ou seja, a linguagem aproxima-se a da fala, revelando assim a condição social das personagens, e todos o versos são Redondilhas maiores, ou seja, versos com sete sílabas métricas. DIABO 1) /À/ /bar/ /ca, à/ /bar/ /ca/, /hou/ /lá!/ 2) /que/ /te/ /mos/ /gen/ /til/ /ma/ /ré!: 3) /O/ /ra/ /ve/ /nha o/ /ca/ /rro a/ /ré!/ COMPANHEIRO 4) /Fei/ /to/, /fei/ /to!/ DIABO /Bem/ /es/ /tá!/ 5) Vai tu muitieramá, 6) atesa aquele palanco 7) e despeja aquele banco, 8) pera a gente que vinrá 6. As rimas obedecem, geralmente, ao esquema A,B,B,A,A,C,C,A como se pode ver na fala do onzeneiro: “Olá, ó demo barqueiro! (A) Sabeis vós no que me fundo (B) Quero lá tornar ao mundo (B) E trarei o meu dinheiro (A) Aqueloutro marinheiro (A) Porque me vê vir sem nada (C) Dá-me tanta borregada (C) Como arrais lá do barreiro (A)”

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AUTO DA BARCA DO INFERNO - GIL VICENTE Conflito interior - ao mesmo tempo que critica, de forma impiedosa, toda a sociedade de

seu tempo, tem ainda o pensamento voltado para Deus Foi apresentado pela primeira vez em 1517, à rainha D. Maria de Castela Auto de moralidade Cenário um porto imaginário, onde estão ancoradas duas barcas: uma como destino o

paraíso, tem como comandante um anjo; a outra, com destino ao inferno, tem como comandante o diabo, que traz consigo um companheiro.

Todas as almas são obrigadas a passar por esse lugar para serem julgadas. Estilo, - todo o Auto é escrito em tom coloquial, ou seja, a linguagem aproxima-se a da

fala, revelando assim a condição social das personagens, e todos o versos são Redondilhas maiores, ou seja, versos com sete sílabas métricas.

DIABO1) /À/ /bar/ /ca, à/ /bar/ /ca/, /hou/ /lá!/2) /que/ /te/ /mos/ /gen/ /til/ /ma/ /ré!:3) /O/ /ra/ /ve/ /nha o/ /ca/ /rro a/ /ré!/

COMPANHEIRO4) /Fei/ /to/, /fei/ /to!/

DIABO/Bem/ /es/ /tá!/

5) Vai tu muitieramá,6) atesa aquele palanco

7) e despeja aquele banco,8) pera a gente que vinrá

6. As rimas obedecem, geralmente, ao esquema A,B,B,A,A,C,C,A como se pode ver na fala do onzeneiro:     

“Olá, ó demo barqueiro! (A)Sabeis vós no que me fundo (B)Quero lá tornar ao mundo (B)E trarei o meu dinheiro (A)Aqueloutro marinheiro (A)

Porque me vê vir sem nada (C)Dá-me tanta borregada (C)

Como arrais lá do barreiro (A)” estrutura externa - um único acto, dividido em cenas - diálogos entre as almas que estão

sendo julgadas com o Anjo e com o Diabo. Os personagens do Auto são representantes típicos da sociedade da época (personagens-

tipo). - designados pela ocupação social que exercem. As posturas assumidas pelo Anjo e pelo Diabo acentuam ainda mais a tradicional oposição

entre Bem e Mal. As poucas falas fazem do Anjo uma figura quase estática e se contrapõe à alegria e ironia

do Diabo.

PERSONAGENS:O Diabo é a personagem mais interessante da peça. Sua fala, marcada por ironias e sutilezas,

revela o prazer que sente em conduzir as almas para o Inferno; daí o fato de ser brincalhão e hipócrita, porque está sempre se divertindo com as almas pecaminosas.

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O Anjo é a personagem séria. Fala pouco e dispensa às personagens apenas as palavras que justificam o embarque delas com o Diabo.

O Fidalgo - Traz um manto (símbolo da vaidade) e vem acompanhado por um pajem (símbolo da tirania) que carrega uma cadeira (símbolo do seu estatuto social). Esse representante da nobreza é condenado à barca do inferno por ter levado uma vida tirana cheia de luxúria e pecados. Antes do embarque, porém, o Diabo se diverte com ele, dizendo-lhe que a mulher não lhe era fiel e que chorou de alegria com a sua morte.

O Onzeneiro (Agiota), que traz uma imensa bolsa vazia como símbolo de sua ganância e da inutilidade dela, pois nada levará para a eternidade.Ao chegar à barca do inferno o Diabo o chama- lhe “meu parente”. Ao descobrir o destino do batel infernal, ele recusa-se a embarcar e vai até a barca da gloria, mas o Anjo acusa-o de onzena (agiotagem) e não permite a sua entrada. Condenado pela ganância, usura e avareza, retorna à barca do inferno e tenta convencer o Diabo a deixá-lo voltar ao mundo dos vivos para buscar o dinheiro que acumulou durante a sua vida. Mas o diabo não cede aos seus argumentos e ele acaba embarcando no batel infernal.

O Parvo (Bobo) Joane. Segundo o Anjo, seus pecados foram conseqüência de sua inocência, por isso irá para a barca do Anjo. Desprovido de tudo, ele é recebido pelo Diabo, que tenta convencê- lo a entrar em sua barca. Ao descobrir o destino do batel infernal, o parvo insulta o Diabo e vai até a o batel da glória. Lá chegando, o parvo diz não ser ninguém e, por causa da sua humildade e modéstia, a sua sentença é a glorificação. O Sapateiro, que traz consigo todas as ferramentas necessárias para a execução do seu trabalho (formas e avental). Ao saber o destino da barca do inferno, ele recorre ao Anjo, mas a sua tentativa é vã e ele é condenado por roubar o povo com seu ofício durante 30 anos e pela sua falsidade religiosa. O Frade vai acompanhado pela amante(Florença). Alegre, cantante e bom dançarino, o frade veste-se com as tradicionais roupas sacerdotais e sob elas, instrumentos e roupas usadas pelos praticantes da esgrima, de que ele se revela muito hábil. O Frade indigna-se quando o Diabo o convida a entrar em sua embarcação, pois acredita que seus pecados deveriam ser perdoados, uma vez que ele é um representante da Igreja. Sempre acompanhado da amante, segue até o batel da glória. onde o Anjo nem sequer lhe dirige a palavra, cabendo ao Parvo a tarefa de condenar o frade à barca do inferno por seu falso moralismo religioso. Brísida Vaz, uma mistura de feiticeira com alcoviteira. Ao ser recebida pelo Diabo ela declara possuir muitas jóias e três arcas cheias de materiais usados em feitiçaria. Mas seu maior bem são “seiscentos virgos postiços”. Como a palavra “virgo” corresponde ao hímen, pode-se dizer que a alcoviteira Brísida Vaz prostituiu 600 meninas virgens. No entanto, o adjetivo postiço dá margem a interpretação de que as moças não eram virgens e Brísida Vaz enganou seiscentos homens. Ao saber qual era o destino do batel infernal, ela vai até à barca do Anjo e, com um discurso semelhante ao usado nas artes da sedução, tenta convencer o anjo a deixá-la embarcar. Mas essa tentativa é inútil, pois ela é condenada à barca do inferno pela prática de feitiçaria, prostituição e por alcovitagem.

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O Judeu, acompanhado de seu bode, símbolo do judaísmo. Ele dirige-se ao batel infernal é até mesmo o Diabo, que sempre mostrou-se muito desejo por almas, se recusa a levá-lo. O Judeu tenta subornar o Diabo, mas esse, sob pretexto de não levar bode em sua barca, aconselha-o a procurar a “outra” barca. O judeu então tenta aproximar-se do Anjo, mas o Parvo acusa-o de ter desrespeitado o Cristianismo. O Diabo acaba por levar o Judeu e o bode rebocados na sua barca, pois é «mui ruim pessoa» O Corregedor. Traz consigo vários autos (processos) e pode ser comparado aos juizes atuais. Ao ser convidado a embarcar no batel infernal ele começa a argumentar em sua defesa. No meio da conversação, chega o Procurador, trazendo consigo vários livros. Ao ser convidado a embarcar, ele também se recusa e os dois representantes do judiciário conversam sobre os crimes que cometeram juntos e seguem para a barca da glória. Ao chegarem, o Anjo, ajudado pelo Parvo, não permite que eles embarquem, condenando-os ao batel infernal por usarem o poder do judiciário em benefício próprio. O Enforcado representa o ladrão estúpido, pois se deixou levar pela fala do tesoureiro da Casa da Moeda, que lhe induziu a acreditar que a morte por furtos o levaria ao Paraíso. Embarca com o Diabo.

Quatro Cavaleiros que morreram nas cruzadas em defesa do Cristianismo. Eles passam, cantando, pelo batel infernal, o Diabo convida-os a entrar, mas eles seguem em direcção ao batel da glorificação, onde são recebidos pelo Anjo. O facto de morrer a lutar pelo Cristianismo garante a esses personagens uma espécie de passaporte para a salvação. EXRCÍCIO1. Em Auto da barca do inferno, de Gil Vicente, os personagens que embarcam com o Anjo são:a) os quatro cavaleiros e o sapateiro. b) o frade e o enforcado.c) o judeu e o corregedor. d) os quatro cavaleiros e o parvo Joane.e) Brízida Vaz e Florença.

Textos para as questões 2 e 3.Texto 1Esta barca onde vai ora,que assi está apercebida? [preparada]DIABOVai pera a ilha perdida, [para o Inferno]e há de partir logo ess’ora.FIDALGOPera lá vai a senhora?DIABOSenhor, a vosso serviço.FIDALGOParece me isso cortiço...DIABOPorque a vedes lá de fora.FIDALGOPorém, a que terra passais?

DIABOPera o inferno, senhor.FIDALGOTerra é bem sem sabor.DIABOQuê?... E também cá zombais?FIDALGOE passageiros achaispera tal habitação?

Texto 2PARVOHou daquesta!DIABOQuem é?PARVOEu sô.É esta a naviarra nossa?

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DIABODe quem?PARVODos tolos.DIABOVossa.Entra!PARVODe pulo ou de vôo?Hou! Pesar de meu avô!Soma, vim adoecer [soma = em resumo]e fui má hora morrer,

e nela, pera mi só. [naquele momento só meu, isto é, ele morreu de diarréia.]DIABODe que morreste?PARVODe quê?Samicas de caganeira.DIABODe quê?PARVODe cagamerdeira!Má rabugem que te dê!

2. a) Nos textos acima, temos dois fragmentos da peça de Gil Vicente intitulada Auto da barca do inferno. Aponte uma diferença quanto ao nível de linguagem empregado pelas personagens.a) O Fidalgo se expressa numa linguagem correta, emprega um vocabulário simples e correto, enquanto a personagem Parvo Joane emprega determinados termos e expressões (Samicas de caganeira, por exemplo) típicas das pessoas mais humildes e sem instrução formal.

b) O nível da linguagem empregada nos fragmentos transcritos funciona como instrumento de caracterização das personagens? Justifique.b) No tempo de Gil Vicente, os recursos de cenários eram bastante pobres e uma forma de caracterizar a personagem era através do recurso da fala. Desta forma, como no fragmento transcrito, uma personagem da corte possui, além das roupas e do criado, um nível de linguagem condizente com sua origem sócio‐econômica. Já uma personagem de origem humilde possui uma linguagem marcada por expressões vulgares.

3. Ao dirigir-se ao Diabo, o Fidalgo comete um engano e o Diabo o corrige imediatamente. De que engano se trata?3. O Fidalgo confunde o sexo do Diabo, tratando-o por “senhora”, o que faz com que o Diabo diga em seguida “Senhor, a vosso serviço”.

Texto para a questão 4Peço‐vo‐lo de giolhos! (joelhos)Cuidais que trago piolhos,anjo de Deos, minha rosa?Eu sou aquela preciosaQue dava as moças a molhos (em quantidade)A que criava as meninasPêra os cônegos da Sé...Passai‐me por vossa fé,Meu amor, minhas boninas (flores, margaridas)Olho de perlinha fina.a) No fragmento acima, Brízida Vaz, a alcoviteira (cafetina que agenciava mulheres para os cônegos e os nobres) procura persuadir o Anjo de levá‐la para o Paraíso. Na tentativa de convencê-lo, ela emprega certos termos e expressões típicos de uma linguagem sedutora. Quais são essas expressões? Por que as expressões caracterizam a personagem? a) Brízida Vaz se dirige ao Anjo tratando‐o por “meus olhos”, “minha rosa”, “meu amor”, “minhas boninas”, “olho de perlinhas finas”. As expressões condizem com a função da personagem, já que esta tinha por ofício a prostituição e o ofício de seduzir as meninas para os cônegos.

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b) Além das expressões sedutoras, Brízida Vaz emprega um argumento a seu favor. De que argumento se trata?b) Brísida Vaz alega em sua defesa os favores que prestou aos cônegos da Sé, preparando-lhes as meninas.

5.Das personagens de Auto da barca do inferno, a condenada ao Inferno por explorar o povo através de seu ofício é:a) o fidalgo. b) o frade.c) o enforcado. d) o parvo joane.e) o sapateiro.

6.(FUVEST 2007) Leia o texto abaixo e responda:

E chegando à barca da glória, diz ao Anjo:BRÍSIDA: Barqueiro, mano, meus olhos,prancha a Brísida Vaz!ANJO: Eu não sei quem te cá traz…BRÍSIDA: Peço-vo-lo de giolhos!Cuidais que trago piolhos,anjo de Deus, minha rosa?

Eu sou Brísida, a preciosa,que dava as môças aos molhos.A que criava as meninaspara os cônegos da Sé…Passai-me, por vossa fé,meu amor, minhas boninas,olhos de perlinhas finas!            (…)

a) No excerto, a maneira de tratar o Anjo, empregada por Brísida Vaz, relaciona-se à atividade que ela exercera em vida? Explique resumidamente.Sim, pois ao elogiá-lo com freqüência e usar adjetivos no diminutivo, verificamos que sua profissão era ser cafetina e prostituta.b) No excerto, o tratamento que Brísida Vaz dispensa ao Anjo é adequado à obtenção do que ela deseja – isto é, levar o Anjo a permitir que ela embarque? Por quê?Não, pois ela o trata como se fosse um cliente, o que evidencia ainda mais seu pecado.

7.(UNICAMP 2008) Leia o diálogo a seguir, de “Auto da Barca do Inferno”:DIABO: Cavaleiros, vós passaise não perguntais onde is?CAVALEIRO: Vós, Satanás, presumis?Atentai com quem falais!OUTRO CAVALEIRO: Vós que nos demandais?Siquer conhecê-nos bem.Morremos nas partes d’além,e não queirais saber mais.

a) Por que o cavaleiro chama a atenção do Diabo?Porque o Diabo não reconhece que ele e seus companheiros, em virtude da morte que tiveram, não irão em sua barca, mas na barca da glória.

b) Onde e como morreram os dois Cavaleiros?

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Morreram na África, em nome de Deus, tentando converter os mouros e reconquistar Jerusalém. Os dois Cavaleiros morreram nas "partes d’além", em um combate contra os mouros na defesa da Igreja.

c) Por que os dois passam pelo Diabo sem se dirigir a ele?Porque, não são enganados pela armadilha do diabo de enfeitar sua barca, como seguidores da Igreja, eles sabem perfeitamente que não ficarão com o diabo.

8.(UNICAMP 2009) Na seguinte cena do Auto da Barca do Inferno, o Corregedor e o Procurador dirigem-se à Barca da Glória, depois de se recusarem a entrar na Barca do Inferno.

CORREGEDOR:  Ó arrais dos gloriosos,passai-nos neste batel! ANJO: Ó pragas pera papel,pera as almas odiosos!Como vindes preciosos,sendo filhos da ciência! CORREGEDOR:  Ó ! habeatis clemênciae passai-nos como vossos!

JOANE (PARVO): Hou, homens dos breviairos,rapinastis coelhorumet perniz perdiguitorume mijais nos campanairos ! CORREGEDOR: Ó! Não nos sejais contrairos,Pois nom temos outra ponte! JOANE (PARVO):  Beleguinis ubi sunt?Ego latinus macairos.

Vocabuláriopera: parahabeatis: tendehomens dos breviairos: homens de leisRapinastis coelhorum/Et perniz perdiguitorum: Recebem coelhos e pernas de perdiz como suborno Beleguinis ubi sunt?: Onde estão os oficiais de justiça?Ego latinus macairos: Eu falo latim macarrônico

a) De que pecado o Parvo acusa o homem de leis (Corregedor)? Este é o único pecado de que ele é acusado na peça?O corregedor é acusado de urinar nos túmulos e de aceitar propina, além disso, pelo próprio Anjo, o corregedor é acusado de ser corrupto em seus julgamentos.

b) Com que propósito o latim é empregado pelo Corregedor? E pelo Parvo?O corregedor emprega o latim para mostrar sua autoridade, já o parvo utiliza o latim para ridicularizar sua autoridade. 9. (FUVEST 1997) Indique a afirmação correta sobre o Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente:

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a) É intrincada a estruturação de suas cenas, que surpreendem o público com o inesperado de cada situação.b) O moralismo vicentino localiza os vícios não nas instituições, mas nos indivíduos que as fazem viciosas.c) É complexa a crítica aos costumes da época, já que o autor é o primeiro a relativizar a distinção entre o Bem e o Mal.d) A ênfase desta sátira recai sobre as personagens populares, as mais ridicularizadas e as mais severamente punidas.e) A sátira é aqui demolidora e indiscriminada, não fazendo referência a qualquer exemplo de valor positivo.

10.(FUVEST 1998) Considere as seguintes afirmações sobre o “Auto da Barca do Inferno”, de Gil Vicente:I. O auto atinge seu clímax na cena do Fidalgo, personagem que reúne em si os vícios das diferentes categorias sociais anteriormente representadas.II. A descontinuidade das cenas é coerente com o caráter didático do auto, pois facilita o distanciamento do espectador.III. A caricatura dos tipos sociais presentes no auto não é gratuita nem artificial, mas resulta da acentuação de traços típicos.Está correto apenas o que se afirma em:a) I. b) II. c) II e) III. d) I e II. e) I e III.

11.(PUC 1998) Diabo, Companheiro do Diabo, Anjo, Fidalgo, Onzeneiro, Parvo, Sapateiro, Frade, Florença, Brísida Vaz, Judeu, Corregedor, Procurador, Enforcado e Quatro Cavaleiros são personagens de AUTO DA BARCA DO INFERNO, de Gil Vicente. Analise as informações a seguir e selecione a alternativa incorreta, cujas características não descrevam adequadamente a personagem.a) Onzeneiro idolatra o dinheiro, é agiota e usurado; de tudo que juntara, nada leva para a morte, ou melhor, leva a bolsa vazia.b) Frade representa o clero decadente e é subjugado por suas fraquezas: mulher e esporte; leva a amante e as armas de esgrima.c) Diabo, capitão da barca do inferno, é quem apressa o embarque dos condenados; é dissimulado e irônico.d) Anjo, capitão da barca do céu, é quem elogia a morte pela fé; é austero e inflexível.e) Corregedor representa a justiça e luta pela aplicação íntegra e exata das leis; leva papéis e processos. 12.(UFrs 2000) Em relação ao “Auto da Barca do Inferno” de Gil Vicente, considere as seguintes afirmações.I – Trata-se de um grande painel que satiriza a sociedade portuguesa de seu tempo.II – Representa a transição da Idade Média para o Renascimento, guardando traços dos dois períodos.III – Sugere que o Diabo, ao julgar justos e pecadores, tem poderes maiores que Deus.Quais estão corretas?a) Apenas I.b) Apenas I e II.c) Apenas I e III.

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d) Apenas II e III.e) I, II e III.

13.(UFrs 2004) Considere as seguintes afirmações, relacionadas ao episódio do embarque do fidalgo, da obra “Auto da Barca do Inferno”, de Gil Vicente.I – A acusação de tirania e presunção dirigida ao fidalgo configura uma crítica não ao indivíduo, mas à classe a que ele pertence.II – Gil Vicente critica as desigualdades sociais ao apontar o desprezo do fidalgo aos pequenos, aos desfavorecidos.III – No momento em que o fidalgo pensa ser salvo por haver deixado, em terra, alguém orando por ele, evidencia-se a crítica vicentina à fé religiosa.Quais estão corretas?a) Apenas I.b) Apenas I e II.c) Apenas I e III.d) Apenas II e III.e) I, II e III.

14.(PUC 2008) Gil Vicente escreveu o “Auto da Barca do Inferno” em 1517, no momento em que eclodia na Alemanha a Reforma Protestante, com a crítica veemente de Lutero ao mau clero dominante na igreja. Nesta obra, há a figura do frade, severamente censurado como um sacerdote negligente. Indique a alternativa cujo conteúdo NÃO se presta a caracterizar, na referida peça, os erros cometidos pelo religioso.a) Não cumprir os votos de celibato, mantendo a concubina Florença.b) Entregar-se a práticas mundanas, como a dança.c) Praticar esgrima e usar armamentos de guerra, proibidos aos clérigos.d) Transformar a religião em manifestação formal, ao automatizar os ritos litúrgicos.e) Praticar a avareza como cúmplice do fidalgo, e a exploração da prostituição em parceria com a alcoviteira.

15.(FUVEST) Indique a afirmação correta sobre o Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente:(A) É intricada a estruturação de suas cenas, que surpreendem o público com a inesperado de cada situação.(B) O moralismo vicentino localiza os vícios, não nas instituições, mas nos indivíduos que as fazem viciosas.(C) É complexa a critica aos costumes da época, já que o autor primeiro a relativizar a distinção entre Bem e o Mal.(D) A ênfase desta sátira recai sobre as personagens populares mais ridicularizadas e as mais severamente punidas.(E) A sátira é aqui demolidora e indiscriminada, não fazendo referência a qualquer exemplo de valor positivo.

16. (PUC) Considerando a peça Auto da Barca do Inferno como um todo, indique a alternativa que melhor se adapta à proposta do teatro vicentino.A) Preso aos valores cristãos, Gil Vicente tem como objetivo alcançar a consciência do homem, lembrando-lhe que tem uma alma para salvar.

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B) As figuras do Anjo e do Diabo, apesar de alegóricas, não estabelecem a divisão maniqueísta do mundo entre o Bem e o Mal.C) As personagens comparecem nesta peça de Gil Vicente com o perfil que apresentavam na terra, porém apenas o Onzeneiro e o Parvo portam os instrumentos de sua culpa.D) Gil Vicente traça um quadro crítico da sociedade portuguesa da época, porém poupa, por questões ideológicas e políticas, a Igreja e a Nobreza.E) Entre as características próprias da dramaturgia de Gil Vicente, destaca-se o fato de ele seguir rigorosamente as normas do teatro clássico.

COMENTÁRIOS: Gil Vicente, teatrólogo inserido no Humanismo, ainda mantém forte ligação com os valores medievais, sobretudo os cristãos. Dessa forma, busca a moralização do homem para que este encontre a salvação de sua alma.