Auto Da Barca Do Inferno Ppt Bom
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Sandra Raquel Silva
Nesta primeira cena, o Diabo e o Companheiro falamdos preparativos da viagem.
O Diabo sente-se eufórico, tal como se fosse para umafesta, já que prevê receber muitos passageiros na suabarca.
Esta cena funciona como uma introdução para o quese vai passar, ao mesmo tempo que o diálogo entre osdiabos cria um ambiente animado e divertido. Se na barca do Inferno se vive enorme animação, já
na do Anjo tudo permanece em silêncio.
Após o aprontar da barca para a recepção dos queaportam ao cais da morte, surge o Fidalgo D. Anrique,com um “pajem” que lhe segura a cauda do “manto” e lhetransporta uma “cadeira de espaldas”. O Fidalgo torna-sea personagem central desta cena, ostentando vaidade epresunção, porque, na vida terrena, tinha gozado deprivilégios especiais.
Elementos alegóricos da obra:
1. Cais – prefigura o lugar onde chegam aspersonagens após a sua morte, o fim da vidaterrena.
2. Barcas – prefiguram a viagem para o Inferno oupara o Céu, conforme o mal ou bem feito na terra.
3. Diabo / Anjo – prefiguram a condenação ousalvação, respectivamente.
Símbolos que identificam e caracterizam oFidalgo
- cadeira- pajem- manto
Função do pajemPersonagem figurante: vítima da tirania e da
exploração do Fidalgo (é por isso que é absolvido).
Acusações feitas ao FidalgoAcusações feitas pelo Diabo: abuso de poder.Acusações feitas pelo Anjo: tirania; vaidade.
Argumentos de autodefesa- Estatuto social (“sou fidalgo de solar”).- Rezas pela salvação da sua alma.
Intencionalidade crítica do ponto de vistareligioso
Criticam-se as rezas mecânicas.
Evolução psicológica da personagem- altivez;- arrependimento;- humilhação;- resignação.
Enquanto personagem-tipo, o Fidalgorepresenta a nobreza. Com ele, Gil Vicente criticaa tirania, a vaidade, a corrupção moral e ahipocrisia das crenças e práticas religiosas.
Expressividade da ironia- humilhar e ridicularizar o Fidalgo;- criar o cómico de linguagem;
Tipos de cómicoCómico de linguagem: ironia(poderoso D. Anrique);Cómico de situação: actuação da personagem;Cómico de carácter: maneira de ser da
personagem (Cf. didascália inicial).Objectivos:Criticar, moralizare divertir.
O Diabo não dá nome ao Onzeneiro, dizendo-o,porém, seu parente.
O Onzeneiro era um usurário que tinha enriquecido àcusta dos altos juros de dinheiro que emprestara aosnecessitados. Faleceu na çafra do apanhar, do dinheiropróprio e alheio.
Tipos de tratamento utilizados pelo Diabo- Tratamento por vós, no início;- Tratamento por tu, quando o Onzeneiro o trata
também por tu (marca de proximidade entre oOnzeneiro e o Diabo no que diz respeito à prática domal.)
Acusações feitas ao OnzeneiroO Onzeneiro é acusado de:- usura (simbolizada no símbolo cénico que ele
transporta, o bolsão);- ganância;- obsessão pelo dinheiro.
Subterfúgios utilizados pelo Onzeneiro paratentar escapar às consequências das acusações:
- Perante o Anjo: bolsão vazio.- Perante o Diabo: desejo de ir ao mundo dos vivos
buscar dinheiro para comprar a salvação.
Evolução psicológica do Onzeneiro:Descontentamento (Mais quisera eu lá tardar)
convicção (Dix! Nom vou eu em tal barca / Estoutratem avantagem) arrependimento (Ó triste, quem mecegou?)
Intencionalidade crítica do ponto de vistareligioso
- Burguesia;- Usura.
Linguagem do Diabo:- Irónica e contundente.Linguagem do Anjo:- Incisiva e sentenciosa.
Cómico de situação:É criado pelo contraste entre a riqueza de que o
Onzeneiro dispunha em vida e o estado de miséria emque se encontra depois de morto. No espaço paraalém da vida, apresenta-se tão pobre que nem sequerdispõe de uma moeda para pagar ao barqueiro.
Joane, o Parvo, é um pobre de espírito, ingénuo,inocente, puro e simples.
Reacção ao convite do Diabo- Personagens anteriores: indignação e troça.- Parvo: troça (Como é inocente, acha natural que o
homem voe).
Significado do silêncio do Diabo perante osinsultos do Parvo:
Ausência de pecados do Parvo.
Caracterização do Parvo- Inocência: cf. Auto-apresentação – Samica
alguém. (revela simplicidade e aponta para o seudestino final).
- Pobreza de espírito.Destino do ParvoParaíso.Razões da salvação do ParvoCriticar, comentar e divertir. OParvo fica no cais para criticar os quepretendem embarcar. Irresponsávele inocente, é posto em cena por Gil Vicente para
julgar as outras personagens e fazer rir. É umcomentador.
Características da linguagem do Parvo- Nível de língua popular, calão (Caga no sapato;
mija n’agulha);- Construções sintácticas ilógicas (reforçam a sua
pobreza de espírito).
Cómico de linguagemCómico de linguagem: utiliza uma linguagem
insultuosa.
Diverte e critica ao mesmo tempo: Ridendo castigatmores.
Mudança de atitude do Parvo, perante oDiabo e perante o Anjo
- Perante o Diabo: agressivo e injurioso.- Perante o Anjo: humilde e inocente (Queres-me
passar além?).
Como é um pobre de espírito, é opróprio Anjo que apresenta osmotivos que justificam a suaentrada na Barca da Glória: permalícia non erraste. / Tua simprezat’abaste.
Atenção:Joane – era assim que se chamavam os Parvos –
era uma personagem-tipo comum no teatro medieval.Esta personagem é a concretização do preceitocristão, segundo o qual, são bem aventurados ospobres de espírito porque deles é o reino dos Céus.
Objectivo da ironia do Diabo (Santo sapateirohonrado!)
- Criticar o Sapateiro de forma sarcástica;- denunciar os pecados do réu.
Pecados do sapateiro- Roubo e exploração do povo.
Símbolos cénicos- Avental;- formas (compradas com o dinheiroroubado aos clientes).
Simbologia dos elementos cénicos- Símbolo do roubo e da exploração do povo;- materialização dos pecados.
Argumentos de defesaArgumentos de cariz religioso (confissão,
comunhão, missas, esmolas).
N.B. O Sapateiro, tal como o Fidalgo, acreditavaque as rezas se poderiam sobrepor aos pecados.
A condenação das personagens quepecaram, apesar das rezas que fizeram oumandaram fazer encerra uma crítica à formasuperficial como muitos católicos praticavama religião, pensando que as rezas, asmissas, ou as comunhões tinham mais valordo que a prática do bem.
Personagem-tipo- Representa um grupo socioprofissional, os
artesãos.- materialização dos pecados desse grupo: roubo e
exploração do povo.Tipos de crítica- Socioprofissional e económica (roubo e
exploração do povo);- religiosa (hipocrisia das crenças e práticas
religiosas).Cómico de linguagem- Calão: profere obscenidades (puta);- Gíria: utiliza termos técnicos (badana, cordovão).
O Frade é uma das personagens mais duramentecriticadas por Gil Vicente, mas também uma das maisdivertidas. Desde a sua chegada ao cais, a dançar e acantar, mostra-se sempre alegre e amigo de se divertir.
Surge em cena acompanhado de Florença, que étambém o nome da cidade italiana de Toscana; era ocentro do Renascimento no século XV e simbolizava acorrupção.
Símbolos cénicos- hábito de frade;- equipamento de esgrima (capacete, escudo e
espada);- rapariga.Valor dos símbolos cénicosO equipamento de esgrima representa o lado
mundano do Frade que se dedicou, em vida, aactividades muito pouco próprias da sua condição.A rapariga representa a quebra dos votos decastidade a que os membros do clero eramobrigados.
Função de FlorençaFigurante: Florença – cúmplice dos
pecados do Frade (condenada).Argumentos de acusação- libertinagem;- não cumprimento dos votos de
castidade.Argumentos de autodefesa- hábito;- reza dos salmos.
Silêncio do Anjo nesta cena- substituição do Anjo pelo Parvo;- contraste entre o silêncio do Anjo e a euforia
do Frade;- forma de consciencialização dos pecados por
parte do réu.
Crítica do ParvoTom – irónico.Objectivo – denúncia donão cumprimento dos votos de castidade.
Oposição entre os votos formulados peloclero regular e o comportamento do Frade:
- castidade / luxúria / pobreza /mundanalidade;
- obediência / libertinagem.Tipos de cómicoCómico de carácter – comportamento do Frade
(apresenta-se a julgamento com a moça e outrossímbolos, em detrimento dos valores espirituais);
Cómico de situação – lição de esgrima;Cómico de linguagem – ironia do Diabo (Gentil
padre mundanal).
Intencionalidade crítica desta cena:Com esta cena, Gil Vicente pretende
denunciar:- a devassidão do clero (a afirmação E eles
fazem outro tanto! alarga a crítica aos outrosfrades, mostrando que a quebra dos votos decastidade de Frei Babriel longe de ser umaexcepção é um hábito generalizado.);
- o materialismo e a corrupção de valores daIgreja;
- o carácter artificial das orações;- a cópia dos costumes da nobreza.