AJES - FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E...
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AJES - FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ADMINISTRAÇÀO DO VALE
DO JURUENA
ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO EM SAÚDE COM ÊNFASE EM
ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR
8,5
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA GESTAÇÃO E PUERPÉRIO EM UNIDADE
HOSPITALAR
CINTIA CÁSSIA CASANOVA PEREIRA LIZ
ORIENTADOR: PROF. ILSO FERNADES DO CARMO
SORRISO/2014
AJES - FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ADMINISTRAÇÀO DO VALE
DO JURUENA
ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO EM SAÚDE COM ÊNFASE EM
ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA GESTAÇÃO E PUERPÉRIO EM UNIDADE
HOSPITALAR
CINTIA CÁSSIA CASANOVA PEREIRA LIZ
ORIENTADOR: PROF. ILSO FERNADES DO CARMO
"Trabalho apresentado como exigência parcial para a obtenção do Título de Especialização em Gestão em Saúde com Ênfase em Administração Hospitalar."
SORRISO/2014
DEDICO este trabalho, primeiramente, a Deus, que esteve comigo nos momentos de incertezas; à minha família e principalmente a minha filha Emily.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, quero agradecer a DEUS, pelas oportunidades e conquistas,
e por estar sempre presente em minha vida, me dando ânimo e coragem para
enfrentar todas as dificuldades ao longo desse caminho.
A minha família pelo amor, apoio, e compreensão, pois eles são os pilares
que me dão sustentação todos os dias e sei que poderei contar com eles pelo resto
da minha vida.
Aos colegas que conquistei ao longo desses anos de convivência.
A meu orientador pela atenção e orientação concedidas na realização desse
trabalho.
As demais pessoas que de uma forma ou outra contribuíram para a
produção deste trabalho.
RESUMO
Dentre as complicações na saúde da mulher, algumas ocorrem no período
do puerpério, surge daí o interesse pelo tema e o desejo de melhor orientar a equipe
de enfermagem para dar assistência a essa mulher para que o parto, pós-parto
(puerpério) seja um acontecimento somático, e não um evento traumático. Este
estudo descreve a importância do pré-natal para um gestação e um parto tranquilo,
o puerpério e suas fases, a assistência de enfermagem e o preparo que o
profissional deve ter nesse momento tão significativo. Contudo o objetivo deste
trabalho é conhecer o papel do profissional de enfermagem durante o pós-parto
imediato dentro da unidade hospitalar, bem como as intervenções de enfermagem
na diminuição das intercorrências no puerpério, com o objetivo de tornar esta fase
realizadora e não traumática.
Palavras-Chave: Puerpério, Assistência. Pós-parto.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................06
1. PRÉ-NATAL...........................................................................................................07
1.1 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO PRÉ-PARTO........................................07
2. PARTO...................................................................................................................09
3. PUERPÉRIO..........................................................................................................14
3.1. Mudanças No Organismo Feminino..................................................................15
3.2. Fases Do Puerpério...........................................................................................16
3.2.1 puerpério imediato ............................................................................................17
3.2.2 puerpério tardio.................................................................................................17
3.2.3 puerpério remoto...............................................................................................17
3.2.4 complicações no puerpério...............................................................................18
4.0 COMPLICAÇÕES OBSTÉTRICAS E CONDUTA DE ENFERMAGEM ............20
5.0 IMPORTÂNCIA DA ASSITÊNCIA DE ENFERMAGEM NO PUERPÉRIO.........21
5.1. Cuidados Direcionados à Puérpera...................................................................22
5.2. Alta Hospitalar....................................................................................................25
5.3. Revisão Puerperal.............................................................................................26
5.4. Revisão Puerperal Tardia (até 42 dias)..............................................................26
6.0 AÇÕES EM RELAÇÃO À PUÉRPERA SEGUNDO O MINISTÉRIO DA
SAÚDE, MANUAL DO PUERPÉRIO ........................................................................28
6.1. Avaliação Clinico-Ginecológica..........................................................................29
6.2. Condutas Gerais.................................................................................................30
6.3. Ações em Relação ao Recém-Nascido..............................................................31
6.4. Infecção Puerperal (Puerpério Patológico).........................................................32
CONCLUSÃO............................................................................................................34
REFERÊNCIAS BIBILOGRÁFICAS..........................................................................35
INTRODUÇÃO
Durante a gravidez, a mulher passa por diversas transformações em todo
em seu organismo. No puerpério, que é a fase pós- parto, essas transformações
agridem a condições pré-gravídicas, porém esta evolução difere de mulher para
mulher. (JUNIOR, 2008).
Desta maneira observa-se a necessidade de um pré-natal eficaz e de uma
assistência de enfermagem de qualidade, na tentativa de minimizar as
intercorrências ocorridas em todas as fases do puerpério.
Conhecendo o papel do profissional de enfermagem durante o pós-parto
imediato, tardio e remoto bem como as intervenções de enfermagem na diminuição
e intercorrências no puerpério.
Tendo em vista que do período gestacional até o pós-parto a mulher passa
por grandes modificações em todo seu organismo e que muitas vezes estas podem
provocar algumas intercorrências clínicas que resultam em danos à saúde e à vida
tanto da gestante, quanto do feto é que se pretende abordar neste estudo alguns
elementos desse saber específico necessário ao desenvolvimento de uma
assistência fundamentada cientificamente e alicerçada na assistência e no processo
de enfermagem.
Iremos tratar das fases do puerpério e da importância de uma assistência de
enfermagem eficaz, colocando e discutindo sobre as ações relacionadas ao
puerpério e ao recém nascido segundo o Ministério da saúde.
1.PRÉ-NATAL
Segundo NELLI e PARTAMIAN (2012), é no período da gestação que as
mulheres, principalmente as de baixa renda, tem um atendimento ampliado de sua
saúde em geral. O pré-natal é o período onde a gestante deve ter uma assistência
multidisciplinar completa e orientação sobre todas as fases da gestação, as
mudanças do seu organismo, bem como do parto e pós-parto. Face onde são
realizados todos os exames para ter um acompanhamento geral da saúde da mulher
e do bebê.
Um pré-natal bem realizado garante uma diminuição significativa na
morbidade e mortalidade materno-fetal. As consultas devem ser realizadas
mensalmente até a 32º semana de gestação se tudo estiver bem com a mãe e o
bebê, caso contrário o obstetra determinará o tempo entre uma consulta e outra, a
partir daí as consultas são quinzenal ou até mesmo semanal. (NELLI E
PARTAMIAN, 2012)
Para (NELLI E PARTAMIAN, 2012), na primeira consulta o obstetra dele
levantar os seguintes dados: idade da gestante, menarca, número de gestações,
abortos, tipos de partos, intercorrências gravídicas e puerperal, data da última
menstruação (DUM), data provável do parto (DPP) e idade gestacional (IG).
Afirmam ainda que nesta primeira consulta é necessário solicitar exames
laboratoriais de sangue como: tipagem sanguínea, hemograma completo, glicemia,
sorologias, urina e a ultrassonografia obstétrica. Já na segunda consulta a gestante
deve apresentar o resultado dos exames de pré-natal e o médico irá realizar o
exame físico, verificar os sinais vitais, peso e inspeção obstétrica (altura uterina).
Deve-se orientar a gestante quanto a importância do bom desenvolvimento fetal, de
uma dieta equilibrada com proteínas, lipídios, cálcio, vitamina C, ácido fólico,
glicerídeos e carboidratos e de atividade física regular.
1.1 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO PRÉ-PARTO
A partir do momento que descobre a gestação o medo que mais aflige a
futura mamãe é o parto, e a escolha pelo tipo de parto, cesárea ou vaginal, é
exclusivamente da gestante. ((NELLI E PARTAMIAN, 2012).
Para BARROS (2006), o momento do parto é o mais importante para a
gestante, o recém nascido e os familiares, por isso a assistência de enfermagem é
de extrema importância para assegurar um parto seguro e tranqüilo, garantindo que
a mãe e o bebê não tenham nenhum tipo de sofrimento ou constrangimento.
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2. PARTO
Existem dois tipos de parto: o vaginal (normal) onde ocorre a expulsão
natural do feto, e ao cesariano, realizado por meio de incisão cirúrgica em região
supra -púbica para a retirado mecânica do feto. (NELLI e PARTAMIAN, 2012) Os
partos que ocorrem entre a 37ª e a 40ª semana de gestação são chamados de
―termo‖, os partos prematuros são os que ocorrem entre a 23ª e a 36ª semanas, e os
pós-parto são os realizados após a 40ª semana de gestação.
Segundo BRASIL (2006), algumas iniciativas de estímulo ao parto natural
têm sido propostas por organismos internacionais como a OMS e a OPS e servem
de modelo para as nossas políticas de atenção à saúde da mulher. Nesse sentido,
no ano 2000, a ONU propôs oito objetivos denominados objetivos do milênio.
(http://www.objetivosdomilenio.org.br/parceiros/" \t "_blank). Entre eles encontram-
se: melhorar a saúde das gestantes e reduzir a mortalidade infantil. Simplesmente,
porque toda essa engrenagem - que podemos chamar corrente das boas práticas, já
comprovadas em evidências científicas - começa no momento da fecundação e
culmina no primeiro ano de vida. Tudo isso tem relação com os indicadores da OMS.
Nesse pensar, de acordo com a OMS, a taxa ideal de partos cesáreos deve
ficar em torno de 7 a 10%, e não deve ultrapassar 15%. Entretanto, nos últimos 37
anos testemunhamos uma epidemia mundial de cesarianas. Na Holanda, essa
proporção é de 14%, nos Estados Unidos 26%, no México 34% e no Chile 40%. O
Brasil, infelizmente, faz parte dessa epidemia: é o campeão mundial em cesarianas,
e alcança índices altíssimos que passam de 80%.
Uma pesquisa com mulheres de camada social média, na cidade do Rio de
Janeiro, mostra que apesar do desejo pelo parto normal ao longo do período
gestacional, as mulheres são convencidas pelos obstetras da maior segurança, da
cesariana, o que as deixa desestimuladas e sentindo-se menos confiantes para o
trabalho de parto. Portanto, nesse panorama supomos que a cesariana passou a ser
utilizada indiscriminadamente, de forma abusiva e sem indicação (BRASIL, 2006)
Conforme BRASIL (2006), as indicações relacionadas aos fatores maternos
são poucas e incluem dentre outras, obstruções vaginais por tumores ou condilomas
e as indicações materno-infantil que são todas aquelas em que existe risco
significante para mãe-filho, a destacar: anormalidades placentárias, como a
chamada placenta prévia, descolamento prematuro de placenta e distócia como a
desproporção entre o tamanho do feto e a pélvis ou ineficiência das contrações
uterinas.
Nesse sentido, é preciso ter conhecimento sobre as vantagens do parto
normal para a saúde da mulher para que possamos conversar com elas e orientá-las
desde as consultas de pré-natal, por meio de argumentos fundamentados nas
práticas baseadas em evidências científicas tais como:
1. Menor risco de infecção puerperal.
2. Maior disposição para amamentar o bebê.
3. Menor dor no pós-parto.
4. Menos tempo de recuperação.
5. Menores complicações urinária e abdominal.
6. Maior relação mãe e filho.
A importância desse conhecimento mostra que precisamos levantar a
bandeira do resgate do parto normal com qualidade, para que possamos dar um
basta às cesarianas agendadas por conveniência médica. Afinal de contas, somos
profissionais de saúde e co-responsáveis na diminuição dos índices de morte
materna evitável por hemorragia e infecção puerperal (BRASIL, 2006). É preciso
deixar claro que deve existir uma razão válida para intervir no processo natural. Veja
abaixo os tipos de intervenção compatíveis com nossa atuação profissional:
1. Dar apoio à mulher, ao seu parceiro e a sua família durante o trabalho de parto,
no momento do nascimento e no pós-parto.
2. Observar a parturiente, monitorar o estado fetal, avaliar os fatores de risco,
detectar os problemas precocemente.
3. Encaminhar a parturiente a um nível de assistência mais complexo, caso surjam
fatores de risco ou complicações que justifiquem.
4. Realizar as intervenções como amniotomias e episiotomia, se necessário.
5. Prestar os cuidados com os recém-nascidos após o nascimento.
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A OMS e a OPAS, em reunião realizada nos escritórios regionais para as
Américas, em Fortaleza, Ceará, envolveu peritos em obstetrícia nacionais e
internacionais e procurou esclarecer à luz dos conhecimentos atuais as melhores
práticas a serem estimuladas na assistência ao parto, tais como: estímulo à
deambulação durante o trabalho de parto, a presença de um acompanhante, entre
outras. (BRASIL, 2006)
Sabemos que muitos serviços de saúde desconsideram essa classificação
da OMS e que a adoção ou não dessas práticas, tem como ponto de referência a
conveniência das Instituições e dos profissionais de saúde envolvidos no trabalho de
parto e parto.
Conforme BRASIL (2006), no atendimento à mulher no trabalho de parto e
parto podemos destacar as práticas mais comuns: impedimento da presença do
acompanhante, restrição hídrica e alimentar durante o trabalho de parto, falta de
privacidade da mulher, restrição no leito, exames vaginais frequentes, uso liberal e
uso rotineiro da episiotomia, enemas e ocitócitos.
A prática profissional nos mostra que a abstenção total de líquidos durante o
trabalho de parto deve-se ao temor quanto ao risco de aspiração do conteúdo
gástrico, associado ao risco da anestesia geral na cesariana. No entanto, restringir a
alimentação ou a oferta de líquidos durante o trabalho de parto não garante menor
conteúdo estomacal e ainda pode levar à desidratação e à Cetose, além de deixar a
gestante com a glicemia baixa durante o parto. (BRASIL, 2001).
De acordo com o MS em BRASIL (2006), a privacidade da mulher no
ambiente do parto deve ser respeitada. A parturiente necessita ter um quarto
próprio, onde o número de prestadores de serviço deve ser limitado ao essencial.
No que se refere ao direito de acompanhante de escolha da mulher, já
reconhecido como benéfico para a parturiente e recomendado em diversas
instâncias, inclusive pelo MS, é um suporte psíquico e emocional, um contato físico,
que diminui o medo e a ansiedade, além de somar forças para estimular nos
momentos mais difíceis. Porém, infelizmente, esse aspecto ainda não é adotado de
forma regular e sistemática em todo o país. (BRASIL; 2001).
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Contudo, ao contrário do exposto, geralmente, apenas as mulheres mais
favorecidas economicamente, que têm seus partos realizados por financiamento de
seguros de saúde, em hospitais privados, se beneficiam desse direito.
Porém, justificativas comuns contra essa conduta apontam que a presença
de acompanhante no pré-parto, infligiria a privacidade de outras parturientes, que a
estrutura física do centro obstétrico não comporta a presença dele e que, na
cesariana, sua presença implicaria no uso de roupas estéreis as quais andam em
falta até mesmo para os profissionais de saúde.
Para BARROS (2006), um dos métodos de alívio da dor é a oportunidade de
aceitar qualquer posição que a parturiente deseje, adotando posturas verticalizadas
e de deambular, sem a interferência dos prestadores de serviço. A parturiente não
deve ficar restrita ao leito e em decúbito dorsal. Ela pode e deve ficar em pé, sentar
e caminhar conforme sua vontade.
Afirma ainda que a associação de algumas medidas não-farmacológicas e
não-invasivas auxilia no alívio da dor durante o trabalho de parto, tais como:
exercícios respiratórios, técnicas de relaxamento, massagem, deambulação e
adoção de outras posições que não a deitada durante o trabalho de parto.
Nesse entendimento, pesquisas demonstram que manter a parturiente em
decúbito dorsal afeta o fluxo sanguíneo, com o risco de comprometer o feto. E que
ficar em pé, ou em decúbito lateral está associado a uma maior intensidade e
eficiência das contrações no que concerne a sua capacidade de causar dilatação
cervical. (BARROS; 2006)
Outro destaque se refere ao uso de enema ou esvaziamento do reto,
sigmóide e do colo descendente intestinal no início do trabalho de parto. Sabe-se
que esta prática proporciona menor risco de infecção local, maior facilidade para a
descida do feto e influência positiva sobre a contratilidade uterina. No entanto, a
utilização deste procedimento apresenta certo risco de lesão intestinal e gera
desconforto e constrangimento à mulher no momento da sua realização. (BARROS;
2006).
Para BRASIL (2006), embora o ato de evacuar no período expulsivo do parto
seja incomum e represente grande constrangimento para a mulher, a realização ou
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não do enema deve ser uma decisão da parturiente. Essa prática vem caindo em
desuso e vai ao encontro das evidências científicas atuais.
O uso rotineiro da tricotomia é utilizado nas Instituições com os seguintes
objetivos: reduzir a incidência de infecção da episiotomia, facilitar a episiorrafia e a
higiene pós-parto. Porém, não existem evidências científicas sobre os benefícios de
sua utilização. (BRASIL; 2006). Entretanto, a prática profissional demonstra que as
mulheres já chegam às Instituições tricotomizadas, o que caracteriza uma prática
cultural.
Outro aspecto citado em BRASIL (2006), se refere à prescrição da
hidratação venosa no parto vaginal. Ela é justificada para evitar a desidratação, o
que seria desnecessário se fosse oferecidos líquidos e alimentação leve à
parturiente.
Ressaltando que a enfermeira que assiste o trabalho de parto deve ter
habilidade no cuidado fisiológico e técnico, além de uma boa dose de humanismo. O
encorajamento e a confiança transmitida à parturiente pode ser uma influência
marcante no momento do nascimento.
Portanto, sensibilizar e transformar o cuidado mecanizado em humanizado,
embasado nas boas práticas às mulheres e suas famílias em trabalho de parto e
parto, não é um processo tão simples. Mas, pela adoção de uma postura
humanizada, conseguiremos transformar o cenário do nascimento como um local do
acolhimento à família. (BRASIL; 2006).
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3 PUERPÉRIO
Período puerperal é compreendido como o período que se inicia logo após o
parto e termina quando o organismo materno retorna às condições normais.
Conceitua-se puerpério o período do ciclo grávido puerperal em que as
modificações locais e sistêmicas, provocadas pela gravidez e parto no organismo da
mulher, retornam à situação do estado pré-gravídico. (BRASIL, 2006)
Neste período ocorrem adaptações fisiológicas e comportamentais
complexas nas mulheres caracterizadas pelos fenômenos involutivos, pelo
estabelecimento da lactação, pela adaptação psicológica da mãe e pelo
estabelecimento da relação mãe-filho e familiares e considerando-se estas
modificações e adaptações, acredita-se na importância de prestar uma atenção
especial e específica a este período, reconhecendo a individualidade.
Segundo BRASIL (2006), a primeira e segunda hora após o delivramento
devem ser passadas no Centro Obstétrico, pois neste período podem ocorrer
hemorragias. Corresponde ao chamado Quarto Período do parto. Passado este
período inicial, estando a puérpera equilibrada hemodinamicamente e formado o
globo de segurança de Pinard (útero ao nível da cicatriz umbilical e firmemente
contraído), poderá ser encaminhada ao alojamento conjunto, após serem seus sinais
vitais avaliados e anotados.
As transformações que se iniciam no puerpério, com a finalidade de
restabelecer o organismo da mulher à situação não gravídica, ocorrem não somente
nos aspectos endócrino e genital, mas no seu todo. A mulher neste momento, como
em todos os outros, deve ser vista como um ser integral, não excluindo seu
componente psíquico (BRASIL, 2006)
Ao se examinar uma mulher no puerpério, deve-se inicialmente, se sua
situação clínica permitir, fazer uma breve avaliação do seu estado psíquico, e
entender o que representa para ela a chegada de uma nova criança. O
estabelecimento de uma adequada empatia entre o examinador e sua cliente
proporcionará uma melhor compreensão dos sintomas e sinais apresentados. É
comum que neste momento a mulher experimente sentimentos contraditórios e
sinta-se insegura. (BRASIL, 2006)
Cabe à equipe de saúde estar disponível para perceber a necessidade de
cada mulher de ser ouvida com a devida atenção. (BRASIL, 2006).
3.1. MODIFICAÇÕES NO ORGANISMO MATERNO
As principais mudanças ocorridas no organismo feminino no pós-parto
podem ser listadas de seguinte forma: o útero irá diminuir de volume, a região do
períneo ficará edemaciada e cianosada, o que irá desaparecer até o final do
puerpério e as mamas estarão aptas para amamentar. Neste período é provável que
ocorra mudanças psicológicas como medo e depressão, podendo ocorrer também
mudanças na pressão artéria e batimentos cardíacos (BARROS, 2006).
Alterações anatômicas e fisiológicas no puerpério segundo o BRASIL (2006):
A puérpera apresenta um estado de exaustão e relaxamento, principalmente se
ela ficou longo período sem adequada hidratação e/ou alimentação, além dos
esforços desprendidos no período expulsivo. Este estado pode se manifestar por
sonolência que exige repouso. Após despertar e receber alimentação adequada,
sem restrições, a mulher poderá deambular e dedicar-se aos cuidados com o
filho.
A puérpera pode apresentar ligeiro aumento da temperatura axilar (36,8° - 37,9°)
nas primeiras 24 horas, sem necessariamente ter um quadro infeccioso instalado.
Podem ocorrer ainda calafrios, mais freqüentes nas primeiras horas após o parto.
Estas alterações podem ocorrer sem traduzir um risco à saúde da mulher, mas
exigem do examinador cautela, pois também pode corresponder a processos
mórbidos, como a infecção puerperal.
O sistema cardiovascular experimenta, nas primeiras horas pós-parto, um
aumento do volume circulante, que pode se traduzir pela presença de sopro
sistólico de hiperfluxo. Nas puérperas com cardiopatia, em especial naquelas que
apresentam comprometimento da válvula mitral, o período expulsivo e as
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primeiras horas após o delivramento representam uma fase crítica e de extrema
necessidade de vigilância médica.
Também neste período a puérpera tem seu padrão respiratório restabelecido,
passando o diafragma a exercer funções que haviam sido limitadas pelo aumento
do volume abdominal.
A volta das vísceras abdominais à sua situação original, além da descompressão
do estômago, promove um melhor esvaziamento gástrico. Os esforços
desprendidos no período expulsivo agravam as condições de hemorróidas já
existentes. Esta situação causa desconforto e impede o bom esvaziamento
intestinal. Nas mulheres que pariram por cesárea, soma-se ainda o íleo paralítico
pela manipulação da cavidade abdominal.
Traumas podem ocorrer à uretra, ocasionando desconforto à micção e até
mesmo retenção urinária, situação atenuada pelo aumento da capacidade vesical
que ocorre normalmente neste período. A puérpera pode experimentar nos
primeiros dias pós-parto um aumento do volume urinário, pela redistribuição dos
líquidos corporais.
A leucocitose no puerpério é esperada, podendo atingir 20.000 leucócitos/mm3,
contudo sem apresentar formas jovens em demasia (desvio à esquerda) ou
granulações tóxicas em porcentagem expressiva dos leucócitos. A quantidade de
plaquetas está aumentada nas primeiras semanas, assim como o nível de
fibrinogênio, razão para se preocupar com a imobilização prolongada no leito,
situação que facilita o aparecimento de complicações tromboembólicas.
A pele seca e queda dos cabelos podem ocorrer. As estrias tendem a se tornar
mais claras e a diminuírem de tamanho, embora muitas permaneçam para
sempre.
3.2. FASES DO PUERPÉRIO
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De acordo com BARROS (2006), este período se divide em três: puerpério
imediato (inicia-se após a dequitação e se estende até o 10° dia do pós-parto),
puerpério tardio (do 11° ao 45° dia pós-parto) e puerpério remoto ( do 46° dia até a
completa recuperação das alterações imprimidas pela gestação).
3.2.1. PUERPÉRIO IMEDIATO
O puerpério imediato é considerado os primeiros 10 dias após o parto sendo
marcado por intensas modificações fisiológicas, psicológicas e sociais . Nessa fase,
a mulher vivencia a volta de seu organismo às realidades físicas antes de
engravidar. O tamanho do útero volta ao normal em mais ou menos quatro semanas
após o parto.
A amamentação é muito importante para essa regressão, pois solta a
ocitocina, uma substância que é responsável pela expulsão do leite e reduz o
sangramento e o tamanho do útero no pós-parto.
3.2.2. PUERPÉRIO TÁRDIO
O puerpério tardio é o período de transição onde todas as funções são
influenciadas pela lactação, com o útero regredindo mais lentamente. A cavidade
uterina acha-se epitelizada por volta do 25º dia, com a vagina mantendo um padrão
atrófico.
3.2.3. PUERPÉRIO REMOTO
È um período impreciso, onde a vagina torna-se normoestrogênica. A
menstruação retorna podendo ser precedida de ovulação. As lactantes podem ficar
amnorreícas por 8 a 12 meses e as não lactantes por pouco menos de 2 meses.
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Assim, no período puerperal a mulher necessita de orientação, apoio afetivo
e atenção, sendo assim, a enfermagem é de estrema importância já que estes
profissionais têm preparo técnico e científico para desenvolver todos os cuidados
necessários para proporcionar uma melhor recuperação, prevenção de possíveis
complicações e fornecer informações a respeito das mudanças ocorridas durante
esta fase. (BARROS, 2006).
Desta maneira observamos a necessidade de uma assistência de
enfermagem de qualidade, na tentativa de minimizar as intercorrências ocorridas em
todas as fases do puerpério, pois nesse momento a mulher tem necessidade de
atenção, tanto física como psíquica, não devendo ser tratada como mais um número
de um leito ou enfermaria, mas sim pelo nome, com respeito e atenção, tendo o
cuidado de não voltar às atenções somente à criança e que o alvo da atenção nesse
momento é a puérpera pelos riscos psicológicos e físicos. A avaliação clínica de
enfermagem deve ser rigorosa e os achados registrados no prontuário de forma
clara, a fim de que qualquer alteração possa ser observada e tratada. (BRASIL,
2001)
3.2.4 COMPLICAÇÕES NO PUERPÉRIO
Segundo NELLI e PARTAMIAN (2012), durante o puerpério podem ocorrer
algumas complicações como:
Fissuras – rachaduras nos mamilos, deixando-os doloridos e apresentando
sangramento;
Ingurgitação – acumulo excessivo de leite nas mamas, ocasionando dor e
edema;
Mastite – Inflamação e infecção nas mamas, ocorre por complicações das
fissuras ou da ingurgitação;
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Infecção puerperal – ocorrida no aparelho genital, seja pela epsiotomia ou
pelo útero. Complicação grave podendo ocorrer a septicemia oque pode levar
ao óbito materno.
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4 COMPLICAÇÕES OBSTÉTRICAS E CONDUTA DE ENFERMAGEM
Existem várias situações patológicas que podem ocorrer na gestação,
gerando urgências ou emergências. Foram classificadas por BRUNNER e
SUDDARTH (1980);
Prenhez ectópica – Gravidez fora da cavidade uterina, na sua maioria tubária,
porém existem outros tipos como cervical (no colo do útero), abdominal e ovariana.
Placenta prévia – Inserção da placenta fora do local normal.
Descolamento prematuro da placenta (DPP) – Separação prematura da
placenta que está normalmente implantada, ocorrendo hemorragia e podendo levar
ao aborto.
Mola Hidatiforme – doença rara, caracterizada por gestação atípica, devido
anomalia no desenvolvimento da placenta, podendo haver ou não presença de feto.
Diabetes – Doença sistêmica causada por distúrbio metabólico. Surge em
02% das gestantes, podendo desaparecer após o parto, ou permanecer como
doença clínica.
Toxemia/Eclâmpsia ou DHGE – Distúrbio inerente á gestação, caracterizado
por vasoespasmo generalizado, retenção de sódio e possível lesão renal, divide-se
em pré-eclâmpsia e eclampsia. Na pré-eclâmpsia a gestante tem sinais de
hipertensão, proteinúria (perda de proteína na urina) e edema, já na eclampsia, além
da hipertensão e da proteinúria, a gestante também apresenta anasarca, delírios,
convulsões e confusão mental, podendo levar ao óbito da gestante e do bebê.
Aborto – Interrupção da gravidez antes que o feto se torne viável, ou seja,
antes de 24 semanas.
5.0 IMPORTÂNCIA DA ASSITÊNCIA DE ENFERMAGEM NO PUERPÉRIO
Como o enfermeiro é o profissional que mais estreitamente se relaciona com
a mulher durante o ciclo gravídico-puerperal e tem importante papel nos programas
de educação em saúde, durante o pré-natal, ele deve preparar a gestante para o
aleitamento, para que no pós-parto o processo de adaptação da puérpera ao
aleitamento seja facilitado e tranquilo, evitando assim, dúvidas, dificuldades e
possíveis complicações. (BRASIL, 2001).
Ao se examinar uma mulher no puerpério, deve-se inicialmente, se sua
situação clínica permitir, fazer uma breve avaliação do seu estado psíquico, e
entender o que representa para ela a chegada de uma nova criança. O
estabelecimento de uma adequada empatia entre o examinador e sua cliente
proporcionará uma melhor compreensão dos sintomas e sinais apresentados. É
comum que neste momento a mulher experimente sentimentos contraditórios e
sinta-se insegura. (BRASIL, 2006).
Cabe à equipe de saúde estar disponível para perceber a necessidade de
cada mulher de ser ouvida com a devida atenção. (BRASIL, 2006).
Afirma também o BRASIL (2006), que alterações do humor, com labilidade
emocional, são comuns no puerpério. E, entretanto, o estado psicológico da mulher
deve ser observado, uma vez que quadros de profunda apatia ou com sintomas de
psicose puerperal devem ser identificadas precocemente.
Nestas situações, um tratamento adequado deve ser instituído rapidamente.
Nas mulheres que tiveram um óbito fetal, atenção especial deve ser dada, pois a
perda do filho pode provocar um sentimento de luto que necessita de tempo e
algumas vezes de ajuda para superá-lo. Recomenda-se instalar estas mulheres em
alojamentos sem a presença de crianças, para não provocar lembranças e
comparações.
Nas mulheres que tiveram filhos que necessitam de tratamento imediato, em
especial os recém-nascidos malformados, deve-se procurar compreender os
sentimentos da mulher diante desta nova e inesperada situação. O entendimento
destas situações (natimorto e malformados) pelos acompanhantes é importante para
a melhor recuperação da puérpera.
O profissional de saúde deve reforçar as ações do aleitamento que foram
introduzidas no pré-natal, promovendo uma melhor adaptação da mãe ao filho.
Deve-se encorajar a mãe a levar seu filho ao peito precocemente para que este
contato permaneça efetivo. (BRASIL, 2006).
No período puerperal que o processo de lactação se torna concreto e a
capacidade de amamentar da puérpera se torna alvo de críticas desencorajadoras e
diante de dificuldades com o bebê é colocada a dúvida da quantidade e qualidade
do leite materno. A mãe pode entender esta atitude como incapacidade de cuidar de
seu filho e como conseqüência disso poderá inibir a lactação, devido à sua
ansiedade. Profissionais enfermeiros capacitados devem estar ao lado da mãe,
orientando-a no início do aleitamento materno e ajudando-a na busca de soluções
para suas dúvidas quanto ao aleitamento materno. (UNICEF; IBFAN, 2002).
5.1. CUIDADOS DIRECIONADOS À PUÉRPERA
Assistência ao puerpério segundo BRASIL (2006):
1. Puerpério imediato (1° ao 10° dia): a mulher tem necessidades de
atenção física e psíquica. Não deve ser tratada como um número que corresponda
ao seu leito ou enfermaria, e sim pelo nome, com respeito e atenção. Nos momentos
iniciais após o parto, a relação mãe-filho não está ainda bem elaborada, portanto
não se deve concentrar todas as atenções apenas à criança, pelo risco de que isso
seja interpretado como desprezo às suas ansiedades ou queixas. Deve-se lembrar
que o alvo da atenção neste momento é a puérpera. A avaliação clínica deve ser
rigorosa, sendo os achados transcritos para o prontuário médico, de forma clara e
obedecendo uma padronização.
O obstetra deve realizar um exame físico completo, orientando a puérpera
sobre:
• Deambulação: estimular a deambulação o mais precoce possível.
• Higiene: após iniciada a deambulação e estando bem, deve-se estimular o banho
de chuveiro. Não há necessidade de utilizar substâncias antissépticas na região
perineal. Nos casos de parto por cesariana, aconselha-se proteger o curativo ou
22
renová-lo no 1° dia, sendo que a partir do 2° dia deverá permanecer descoberta a
ferida, o que inclusive permite melhor observação.
• Mamas: a utilização de sutiã deve ser recomendada, por proporcionar melhor
conforto à mulher. O colostro já está presente no momento do parto. A descida do
leite, no entanto, ocorre entre o 1° e 3° dia pós-parto, embora a colocação da criança
ao peito deva ser feita logo após o nascimento para que ocorra liberação de
prolactina e ocitocina, com conseqüente produção e liberação do leite. A
identificação de deformidades nos mamilos, ou presença de fissuras, geralmente
ocasionadas por pega inadequada ao peito, pode trazer prejuízos à mulher,
favorecendo o ingurgitamento, e ao aleitamento. Mastites e abscessos necessitam
de atenção especial, não sendo motivos para se desencorajar o aleitamento
exclusivo.
• Abdome: identificação de vísceras aumentadas e ou dolorosas, atenção à
involução uterina e à ferida cirúrgica, se o parto ocorreu por cesariana. É necessário
proceder a ausculta dos ruídos hidroaéreos.
• Genitália: inspecionar sistematicamente a região perineal, com atenção especial
aos lóquios. O achado de edemas, equimoses e hematomas implica na necessidade
de aplicação de frio no local, com bolsa de gelo, nas primeiras 24 horas. A
identificação de lóquios fétidos pode traduzir quadro infeccioso.
• Membros: pesquisar sinais de trombose venosa profunda, principalmente o relato
de dores nos membros inferiores e edema súbito. Identificar o aparecimento de
sinais fiogísticos.
A maternidade desencadeia na mulher que se tornou mãe um conjunto de
processos psicoafetivos denominado maternagem. Para FORNA (1999), a
assistência a um recém-nascido é uma tarefa absorvente e contínua, que só pode
ser bem executada por uma pessoa — a mãe. As mães saudáveis apresentam um
estado psiquiátrico especial, chamado preocupação materna primária. Essa
condição, desenvolve-se gradualmente e torna-se um estado de sensibilidade
23
aumentada, durante e especialmente, ao fim da gravidez, a qual persiste por várias
semanas após o nascimento da criança.
FORNA (1999), afirma ainda que as mães tornam-se capazes de colocar-se
no lugar do bebê. Isso significa que elas desenvolvem, intuitivamente, uma
capacidade surpreendente de identificação com ele, o que lhes possibilita ir ao
encontro das necessidades básicas do recém-nascido, de forma que nenhuma
máquina pode imitar, e que também não pode ser ensinada.
As alterações fisiológicas e endócrinas dos níveis de estrogênio e
progesterona no final da gestação, no parto e no pós-parto têm um importante papel
no início e na manutenção do período sensitivo primário. O exercício da maternagem
pela mulher tem componentes, além dos biológicos, também históricos, sociais e
culturais, que atuam, sobremaneira, na forma como a mulher materna o seu filho.
FORNA (1999).
Chamamos nesse momento a sua atenção para a síndrome de tristeza pós-
parto (STTP), disforia pós-parto ou também chamada de pospartum blues definida
como uma síndrome transitória e auto-limitada, que afeta de 50 a 85% das mulheres
no pós-parto. Para FORNA (1999), caracteriza-se por alterações no estado mental
materno durante o pós-parto imediato, com crises de choro, irritabilidade, tensão,
inquietude, fadiga e tristeza, que se restringem aos primeiros 10 dias após o parto.
Para FORNA (1999), as alterações fisiológicas no pós-parto podem vir
acompanhadas de distúrbios de ordem psíquica por se tratar de uma fase em que a
mulher encontra-se emocionalmente vulnerável. Esses distúrbios ocorrem ao mesmo
tempo em que é exigida uma postura de mãe ideal, que demonstra felicidade,
receptividade, assim como disposição para amamentar e dispensar cuidados com o
recém-nascido. Geralmente, não se leva em consideração o momento de intensas
transformações biológicas, psicológicas e sociais da mulher nesse período.
Segundo FORNA (1999), não só aos filhos, mas também ao seu papel de
mãe. Deve ser aquela que compreende os filhos, que dá amor total (...), deve ser
capaz de enormes sacrifícios, deve ser fértil e ter instinto maternal, a não ser que
seja solteira e/ou pobre, e nesse caso será aviltada precisamente por essas
condições.
24
Esse contexto mostra que esses fatores geradores dessa instabilidade
atingem o pico em torno do 5º dia, e diminui no 10º após o parto. Algumas vezes,
pode passar despercebida pelos profissionais de saúde e até mesmo pelos
familiares. Em sua prática do cuidado a essas mães, recomendamos como medidas
de enfrentamento da síndrome de tristeza pós-parto (STTP):
1. Lembrar que a tristeza é normal.
2. Estimular o descanso e a manutenção de um bom padrão de sono.
3. Incentivar a utilização de técnicas de relaxamento.
4. Estimular a puérpera a conversar com parceiro, familiares e pessoas próximas
sobre o seu sentimento.
5. Dar esclarecimento ao parceiro e familiares sobre a STTP.
6. Estimular a participação da puérpera em grupos comunitários: grupos de mães,
grupos de ajuda ou de profissionais especializados (profissional de saúde
mental).
A jornalista FORNA (1999), afirma que as pressões pessoais e culturais sob
as quais as mulheres frequentemente exercem a maternidade, tornam-nas
excepcionalmente ansiosas e culpadas. A autora ressalta que não existe uma
experiência única da maternidade. Na verdade, a maternidade tem sua própria
história. As mulheres vêm com histórias pessoais diversas e são mães dentro de
diferentes contextos sociais, econômicos e étnicos.
Precisamos considerar, na prática do cuidado que, a dualidade entre o bem
e o mal, certo e errado, bonito e feio, vítima e algoz, são conceitos profundamente
arraigados culturalmente, em que perpassam a questão da maternidade e
maternagem. Funcionam como se a mulher/mãe só se enquadrasse em duas
classificações: a mãe perfeita (amorosa, zelosa) ou mãe má (que trata mal,
desleixada), quando na verdade, somos seres complexos e contraditórios. FORNA
(1999).
5.2. ALTA HOSPITALAR
25
Segundo o BRASIL (2006), não se deve dar a alta à puérpera sem
conhecimento da classificação sangüínea da mãe. Naquelas com fator Rh negativo,
não sensibilizadas e com recém-nascido Rh positivo e Coombs negativo, utiliza-se a
imunoglobulina anti-D, nas primeiras 72 horas. Importante também é conhecer o
resultado da sorologia para sífilis (caso não tenha sido realizado no pré-natal).
Sendo positiva, iniciar o tratamento, se este não foi realizado previamente, e
comunicar ao médico responsável pela assistência do recém-nascido. Nas
puérperas que estão bem e não se detectam anormalidades, a alta pode ser
consentida após as primeiras 24 horas, e nas submetidas a cesárea, com 48 horas.
Lembrando que essa decisão é de responsabilidade do médico obstetra, o qual deve
deixar um número de emergência para a puérpera ou familiar entrar em contato em
caso de necessidade.
5.3. REVISÃO PUERPERAL
Revisão puerperal precoce (entre 7 a 10 dias) o retorno deve ser marcado
em torno do 7° ao 10° dia de puerpério, recomendando-se que seja feito na unidade
de saúde mais próxima da residência da mulher, incluindo a criança e o
companheiro. Neste retorno, deve-se ouvir as queixas da puérpera, proceder ao
exame físico adequado, com ênfase ao estado hematológico, rastreamento de
infecção (puerperal ou da ferida operatória). Fundamental é o exame das mamas e o
incentivo para continuação do aleitamento materno. Para as puérperas que possuem
vínculo empregatício ou nas que exercem atividades por conta própria (autônomas)
e que ainda não estão em gozo da licença maternidade, deve-se fornecer o atestado
médico para esta situação e orientá-las a comparecer ao Posto de Benefícios do
INSS mais próximo de sua residência, pois terão direito a 120 dias de licença. As
mulheres que amamentam, ao retornar da licença maternidade, têm direito a licença
complementar para amamentação, de dois descansos diários de trinta minutos cada
até a criança completar seis meses.
5.4. REVISÃO PUERPERAL TARDIA (ATÉ 42 DIAS)
26
Após o atendimento precoce, deve-se orientar a puérpera para retornar para
nova avaliação entre o 30° e o 42° dia pós-parto. Nesta ocasião, ouvem-se as
queixas da mulher e procede-se novo exame físico. Importante é discutir o
aleitamento materno e orientar a mulher para problemas que tenham surgido ou que
ela tenha ouvido de outras pessoas.
Alguns desses comentários prejudicam a continuação do aleitamento. Nesta
ocasião, podem-se liberar os exercícios físicos, desde que a mulher se sinta bem e
não apresente complicações. Nas puérperas que não completaram seus esquemas
de vacinação, deve-se aproveitar este momento para fazê-la, em especial da
imunização contra o tétano, hepatite B e rubéola.
27
6.0 AÇÕES EM RELAÇÃO À PUÉRPERA SEGUNDO O MINISTÉRIO DA SAÚDE,
MANUAL DO PUERPÉRIO
Segundo o Ministério da Saúde, BRASIL (2006), quanto à consulta de
enfermagem na unidade básica de saúde diz:
Verificar o cartão da gestante ou perguntar à mulher sobre:
- Condições da gestação;
- Condições do atendimento ao parto e ao recém-nascido;
- Dados do parto (data; tipo de parto; se cesárea, qual a indicação);
- Se houve alguma intercorrência na gestação, no parto ou no pós-parto (febre,
hemorragia, hipertensão, diabetes, convulsões, sensibilização Rh);
- Se recebeu aconselhamento e realizou testagem para sífilis ou HIV durante a
gestação e/ou parto;
- Uso de medicamentos (ferro, ácido fólico, vitamina A, outros).
Ainda, faz-se necessário perguntar como se sente e indagar sobre:
- Aleitamento (freqüência das mamadas – dia e noite –, dificuldades na
amamentação, satisfação do RN com as mamadas, condições das mamas);
- Alimentação, sono, atividades;
- Dor, fluxo vaginal, sangramento, queixas urinárias, febre;
- Planejamento familiar (desejo de ter mais filhos, desejo de usar método
contraceptivo, métodos já utilizados, método de preferência);
- Condições psicoemocionais (estado de humor, preocupações, desânimo, fadiga,
outros);
- Condições sociais (pessoas de apoio, enxoval do bebê, condições para
atendimento de necessidades básicas).
6.1. AVALIAÇÃO CLINICO-GINECOLÓGICA
• Verificar dados vitais;
• Avaliar o estado psíquico da mulher;
• Observar estado geral: pele, mucosas, presença de edema, cicatriz (parto normal
com episiotomia ou laceração/cesárea) e membros inferiores:
• Examinar mamas, verificando a presença de ingurgitamento, sinais inflamatórios,
infecciosos ou cicatrizes que dificultem a amamentação;
• Examinar abdômen, verificando a condição do útero e se há dor à palpação;
• Examinar períneo e genitais externos (verificar sinais de infecção, presença e
características de lóquios);
• Verificar possíveis intercorrências: alterações emocionais, hipertensão, febre, dor
em baixo-ventre ou nas mamas, presença de corrimento com odor fétido,
sangramentos intensos. No caso de detecção de alguma dessas alterações, solicitar
avaliação médica imediata, caso o atendimento esteja sendo feito por outro
profissional da equipe;
• Observar formação do vínculo entre mãe e filho;
• Observar e avaliar a mamada para garantia do adequado posicionamento e pega
da aréola. O posicionamento errado do bebê, além de dificultar a sucção,
comprometendo a quantidade de leite ingerido, é uma das causas mais freqüentes
de problemas nos mamilos.
Em caso de ingurgitamento mamário, mais comum entre o terceiro e o quinto
dia pós-parto, orientar quanto à ordenha manual, armazenamento e doação do leite
excedente a um Banco de Leite Humano, caso haja na região. (BRASIL, 2006).
A mastite puerperal é uma inflamação mamária causada pela entrada de
bactérias, principalmente o Staphylococos aureus, que atinge de 2% a 3% das
mulheres que estão amamentando, sobretudo as primíparas, por terem um
tegumento cutâneo mais delicado. Com isso, os enfermeiros devem prestar
29
orientação quanto ao manejo correto da lactação e da amamentação, informar
quanto a importância da introdução de medidas de limpeza dos mamilos tanto na
prevenção da mastite quanto para a amamentação, informar que o desmame
abrupto beneficia o aumento da estasse láctea com possível formação de abcessos,
da necessidade da realização de massagens nas mamas para facilitas a fludificação
do leite, salientando que a amamentação só deve ser interrompida em caso de saída
de pus pelo mamilo e se o amamentar for muito doloroso. (NEME, 2000).
Preocupados com a referida questão, a enfermagem que atua na área tem
buscado aprimorar seu conhecimento técnico-científico e desenvolver estratégias de
aplicação destes conhecimentos na prática, visando contribuir de forma mais efetiva
para qualidade da assistência à mulher e conseqüentemente, para a redução da
mortalidade materna. O recurso utilizado para o alcance desse objetivo tem sido a
sistematização da assistência de enfermagem, que na prática concretiza-se por
meio do emprego do processo de enfermagem. (BARROS, 2006).
6.2. CONDUTAS GERAIS
• Orientar sobre:
– higiene, principalmente nas mamas e genitária;
- alimentação saudável, com ingesta hídrica aumentada e a inclusão de muitas
frutas e verduras;
- atividades físicas gradativa;
– atividade sexual, informando sobre prevenção de DST/Aids;
– cuidado com as mamas, reforçando a orientação sobre o aleitamento
(considerando a situação das mulheres que não puderem amamentar);
– cuidados com o recém-nascido, como banho, curativo do coto umbilical e troca de
fraudas;
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– direitos da mulher (direitos reprodutivos, sociais e trabalhistas);
– Orientar sobre planejamento familiar e ativação de método contraceptivo, se for o
caso;
– informação geral sobre os métodos que podem ser utilizados no pós parto;
– explicação de como funciona o método da LAM (amenorréia da lactação);
– se a mulher não deseja, ou não pode, usar a LAM, ajudar na escolha de outro
método;
– disponibilização do método escolhido pela mulher com instruções para o uso, o
que deve ser feito se este apresentar efeitos adversos e instruções para o
seguimento;
– aplicar vacinas, dupla tipo adulto e tríplice viral, se necessário;
– oferecer teste anti-HIV e VDRL, com aconselhamento pré e pós-teste, para as
puérperas não aconselhadas e testadas durante a gravidez e o parto;
– prescrever suplementação de ferro: 40 mg/dia de ferro elementar, até três meses
após o parto, para mulheres sem anemia diagnosticada;
– tratar possíveis intercorrências;
– registrar informações em prontuário;
– agendar consulta de puerpério até 42 dias após o parto;
6.3. AÇÕES EM RELAÇÃO AO RECÉM-NASCIDO
• Verificar a existência da Caderneta de Saúde da Criança e, caso não haja,
providenciar abertura imediata;
• Verificar se a Caderneta de Saúde da Criança está preenchida com os dados da
maternidade.
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• Caso não esteja, procurar verificar se há alguma informação sobre o peso,
comprimento, idade gestacional e condições de vitalidade;
• Verificar as condições de alta da mulher e do RN;
• Observar e orientar a mamada reforçando as orientações dadas durante o pré-
natal e na maternidade, destacando a necessidade de aleitamento materno
exclusivo até o sexto mês de vida do bebê, não havendo necessidade de oferecer
água, chá, ou qualquer outro alimento;
• Observar e avaliar a mamada para garantia de adequado posicionamento e pega
da aréola;
• Observar a criança no geral: peso, postura, atividade espontânea, padrão
respiratório, estado de hidratação, eliminações e aleitamento materno, ectoscopia,
características da pele (presença de palidez, icterícia e cianose), crânio, orelhas,
olhos, nariz, boca, pescoço, tórax, abdômen (condições do coto umbilical), genitália,
extremidades e coluna vertebral. Caso seja detectada alguma alteração, solicitar
avaliação médica imediatamente. (BRASIL, 2006).
6.4. INFECÇÃO PUERPERAL (PUERPÉRIO PATOLÓGICO)
As complicações mais comuns no pós-parto são a hemorragia puerperal,
que é qualquer perda de sangue calculada em mais de 500 ml, que acontece
durante ou depois do terceiro estágio do trabalho de parto e que por ser uma das
principai causas de mortalidade materna deve ser diagnosticada e tratada
imediatamente, evitando complicações futuras. (NEME, 2000).
É aquela localizada nos órgãos genitais que ocorre após o parto ou
abortamento recente. Atualmente esta definição é complementada, com o conceito
de MORBIDADE FEBRIL PUERPERAL, que é definida como: a presença de
temperatura de no mínimo 38º C, durante 02 dias quaisquer, dos primeiros 10 dias
pós-parto, excluídos às 24 horas iniciais. (SPINELLI, 2008)
32
Para SPINELLI (2008), fatores de risco para infecção puerperal:
Cesariana
Ruptura prematura das membranas
Manipulação vaginal excessiva (toques)
Trabalho de parto prolongado
Traumas cirúrgicos
Hemorragia ante, intra e pós-parto
Retenção de restos ovulares / placentários
Corioamnionite
Infecções pré-existentes
Desnutrição ou obesidade
Condições sócio-econômicas
Assistência pré-natal inadequada
- Formas Clínicas
Perineovulvovaginite e cervicite
Infecção da episiotomia
Endometrite / endomiometrite
Parametrite
Anexite
Peritonite
Tromboflebite pélvica séptica
Choque séptico
Segundo o Ministério da Saúde, BRASIL (2001, p. 01)
A Humanização da Assistência Obstétrica e Neonatal é a condição para o adequado acompanhamento do parto e puerpério. Receber com dignidade a mulher e o recém – nascido é uma obrigação das Unidades. A adoção de práticas humanizadas e seguras implica na organização de rotinas, procedimentos e estrutura física, bem como a incorporação de condutas acolhedoras e não intervencionistas.
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CONCLUSÃO
Tanto na gestação quanto período puerperal, vários cuidados á mulher
fazem parte das ações dos profissionais de saúde, haja vista que essa é uma fase
de ansiedade e insegurança, principalmente a enfermagem, que deverão estar aptos
a esta assistência e para que isso aconteça é necessário a aquisição de
profissionais qualificados e comprometidos de forma pessoal e profissional, que
recebam a gestante e/ou parturiente com profissionalismo, respeito, ética e
dignidade, além de serem incentivadas e orientadas a exercerem a sua autonomia
no papel ativo da mulher no parto, como também serem protagonistas de suas vidas
e repudiarem qualquer tipo de discriminação e violência que possam comprometer
os direitos de mulher cidadã.
A assistência de enfermagem em pacientes no puerpério é muito importante
porque uma assistência qualificada pode evitar grandes danos para a paciente
como, riscos de infecções, danos psicológicos, entre outros. Sendo assim, a
puérpera bem informada e preparada para cuidar de seu bebê e de sua recuperação
pós-parto possui menos riscos de quaisquer complicações.
A experiência de gestar, parir e de cuidar de um filho pode dar a mulher uma
nova dimensão de vida e contribuir para seu crescimento emocional e pessoal. Por
outro lado, pode causar ansiedade, desorganização interna, ruptura de vínculos e de
papéis, podendo até, resultar em quadros de depressão puerperal, mais conhecida
como depressão pós-parto. Este é o período no qual a autoconfiança da mulher
encontra-se em crise. O puerpério é influenciado por vários fatores que desencadeia
modificações, tanto internas quanto externas e, por isso, torna-se um momento
carregado de sentimentos e sensações.
A orientação e apoio aos familiares também é muito válida, por se tratar de
um evento novo e desconhecido em suas vidas, onde devem estar preparados para
dar todo o suporte que a gestante/parturiente necessita nesse período tão especial e
importante e também terem o conhecimento necessário para auxiliá-la nos primeiros
cuidados com o recém nascido.
REFERÊNCIAS BIBILOGRÁFICAS
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SPINELLI M.B. Atenção humanizada à mulher no ciclo gravídico-puerperal /pauta de obstetrícia. 2008. Disponível em: <http://www.recife.pe.gov.br/noticias/arquivos/1144.pdf>. Acesso em :14 nov. 2013.