A paisagem costeira entre as desembocaduras dos Rios...

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L U Í S G U S T A V O D E L I M A S A L E S A paisagem costeira entre as desembocaduras dos Rios Miriri e Mamanguape - PB Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciências Exatas e da Natureza Departamento de Geociências JOÃO PESSOA-PB 2002

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L U Í S G U S T A V O D E L I M A S A L E S

A paisagem costeira entre asdesembocaduras dos Rios Miriri e

Mamanguape - PB

Universidade Federal da ParaíbaCentro de Ciências Exatas e da Natureza

Departamento de Geociências

JOÃO PESSOA-PB2002

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A paisagem costeira entre asdesembocaduras dos Rios Miriri e

Mamanguape - PB

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S163p Sales, Luís Gustavo de Lima.A paisagem costeira entre as desembocaduras dos Rios

Miriri e Mamanguape – PB/ Luís Gustavo de Lima Sales.– João Pessoa, 2002.

48p.: il.Inclui bibliografia

Orientador: Paulo Roberto de Oliveira Rosa.

Monografia (graduação)UFPB/CCEN/DGEOC.

1. Geomorfologia Litorânea. 2. Paisagem Costeira. 3.Laguna colmatada.

UFPB/BC CDU 551.435.3 (043.2) 2. ed.

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L U Í S G U S T A V O D E L I M A S A L E S

A paisagem costeira entre asdesembocaduras dos Rios Miriri e

Mamanguape - PB

Monografia apresentada aoDepartamento de Geociências daUniversidade Federal da Paraíba,para obtenção do grau de Bacharelem Geografia.

Orientador: Prof. Ms. Paulo Roberto de Oliveira Rosa

Co-orientadora: Ms. Nivaneide Alves de Melo

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBACENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA

DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS

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L U Í S G U S T A V O D E L I M A S A L E S

A paisagem costeira entre asdesembocaduras dos Rios Miriri e

Mamanguape - PB

Aprovada em ____/____/______

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________

Prof. Ms. Paulo Roberto de O. Rosa (Orientador)

_________________________________________________

Prof. Ms. Eduardo Pazera Jr. (Examinador)

_________________________________________________

Prof. Ms. Maria Gelza R. F de Carvalho (Examinadora)

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Inácia e Péricles, e meu irmão Leonardo por me darem força em

seguir em frente e terminar o meu curso quando estava pensando em desistir dele;

A Antônio, Josefa (D. Pequena) e Rosemary por ser a minha segunda família e

também apoiar em todos os momentos da minha vida acadêmica;

A Leonardo Pacheco e Isoylle Cássio por estenderem os laços de amizade pós-

“cerca” da Universidade e compartilharem comigo, além do curso de Geografia, as viagens

sejam elas de campo ou a passeio;

E a Ricélia por ser a companheira que sempre lutou junto comigo nessa verdadeira

empreitada sem esquecer que foi a grande incentivadora de me dedicar mais ao meu curso, e

sem ela não sei se chegaria aonde eu cheguei.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, quero agradecer ao professor Paulo Roberto de Oliveira Rosa

que aceitou me orientar e seguir junto nessa empreitada com diversas discussões teórico-

metodológicas para enriquecer esta monografia. Muito Obrigado;

A Pablo e Eduardo pelo apoio na coleta dos dados de campo relativos a topografia e

aos esclarecimentos sobre o desenho auxiliado por computador (CAD);

A Conrad e Maria pelo apoio nos registros fotográficos em campo e por alguns

conselhos nos gráficos;

A Kalliana, Mônica, André, David, Heloísa e Cunha pela presença nesta

monografia;

A Nivaneide Alves por ter ido junto comigo ao campo para coletar os dados que

faltavam sobre a corrente de deriva;

A Maria Nilza pelas leituras e correções feitas neste trabalho; e

A todos que diretamente e indiretamente deram sua parcela de contribuição a esta

monografia.

Muito Obrigado a todos.

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Sumário

Lista de Figuras

Lista de Quadros

Resumo

Primeira Parte

1.1 – Introdução........................................................................................................... 10

1.2 – Referencial Teórico - Conceitual.................................................... 15

1.3 - Corpo Metodológico......................................................................... 18

Segunda Parte

2.1- A área de estudo com os elementos que a compõem...................... 26

2.2 – Funcionamento do elementos sobre a dinâmica da paisagem..... 35

2.3 - Área de depressão no compartimento geomorfológico da costa

paraibana.. ............................................................................................... 38

Terceira Parte

3.1 – Conclusão......................................................................................... 45

3.2 – Referências Bibliograficas.............................................................. 47

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Mapa de localização da área da laguna junto à Praia de Campina –

Município de Rio Tinto – Paraíba............................................................................... 14

FIGURA 2 - Inserção de casas de veraneio na área de depressão do ambiente

lagunar......................................................................................................................... 15

FIGURA 3 - Instrumento artesanal utilizado para uma das coletas de dados .......... 22

FIGURA 4 - Coleta dos dados da velocidade e do sentido da corrente..................... 23

FIGURA 5 - Teodolito usado para traçar o perfil longitudinal da laguna................. 24

FIGURA 6 e 7 - Anemômetro utilizado na coleta dos dados sobre a velocidade do

vento e a biruta utilizada para verificar a direção do vento......................................... 25

FIGURA 8 - GPS utilizado na plotagem dos pontos da área estudada...................... 25

FIGURA 9 – MNT gerado a partir de TIN para melhor visualizar a depressão

correspondente a laguna.............................................................................................. 26

FIGURA 10 - Depressão correspondente a laguna que sofreu o processo da

colmatagem................................................................................................................. 30

FIGURA 11 - Lagoa presente nas depressões mais rebaixadas................................. 31

FIGURA 12 - Perfil topográfico da laguna................................................................ 32

FIGURA 13 - Imagem de satélite (1991) que apresenta a foz do rio Miriri e o

litoral que contém a área em estudo............................................................................ 42

FIGURA 14 - Gradiente de declividade do Rio Miriri........................................................ 43

FIGURA 15 –Área da Bacia Hidrográfica do Rio Miriri........................................... 44

FIGURA 16 - Imagem SPOT (1991) equalizada para melhor visualização da área

em estudo..................................................................................................................... 46

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Dados referentes a velocidade dos ventos.......................................... 36

QUADRO 2 - Dados referentes a velocidade da corrente na área 1.......................... 38

QUADRO 3 - Dados referentes a velocidade da corrente na área 2.......................... 38

QUADRO 4 – Dados referentes ao gradiente de declividade do rio Miriri .............. 44

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RESUMO

Este trabalho pautou-se no estudo de um compartimento geomorfológico situado na

planície costeira da praia de Campina e localizado no município de Rio Tinto, Litoral

Norte da Paraíba. Por se tratar de um ambiente frágil onde contempla relevos pouco

consolidados, no caso do nosso estado; e também por ser uma depressão relativa, esse

estudo teve como objetivo verificar a possibilidade da existência de ambientes lagunares na

área que compreende a paisagem costeira entre as desembocaduras dos Rios Miriri e

Mamanguape. Sendo esta área uma paisagem costeira, deu-se início aos estudos apoiados

na categoria paisagem e corroborada por duas teorias: dos conjuntos e dos Sistemas. Para

tanto, fez-se necessário a utilização de alguns procedimentos e técnicas de pesquisa, tais

como: pesquisa bibliográfica; pesquisa cartográfica; pesquisa de campo; e o trabalho de

gabinete. Depois de todos estes procedimentos chegou-se a conclusão de que as áreas de

menor energia potencial próximos ao nível de base apresentam a possibilidade de

acumulação de águas e sedimentos e o compartimento geomorfológico de sedimentação

com progradação apresentam depressões relativa com acumulação e circulação de água.

Porém, o mais importante disto é que a sociedade como um todo deve prestar mais atenção

nas áreas que estão sendo habitadas para que futuramente não venham sofrer com as

conseqüências de um mau planejamento, já que existem áreas que nunca devem ou

deveriam ser habitadas e, esta, infelizmente já está sendo.

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PRIMEIRA PARTE

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1.1 Introdução

A paisagem costeira é um dos cenários mais belos e exuberantes já encontrados na

Superfície Terrestre. Porém, esta paisagem é bastante frágil por ser constituída, aqui na

Paraíba, de relevos que são composto por sedimentos pouco consolidados, onde diversos

processos erosivos e de deposição atuam sobre eles, caracterizando, desta forma, um

ambiente altamente dinâmico. Os processos de construção e reconstrução do modelado da

paisagem costeira são resultados das ações de diversos conjuntos naturais como o

climático, o hidrográfico, o geomorfológico e o biótico, dentre os quais, um dos elementos

mais importante é o Rio.

O rio é o principal agente modelador do relevo na questão que envolve uma erosão

sem ação efetiva das forças estruturais, pois, com o trabalho de erosão, de deposição e de

transporte de sedimentos, acaba esculpindo a superfície da Terra. Na área em que foi

proposto o estudo, o rio Miriri é um dos principais fornecedores de sedimentos e está

localizado ao Sul da possível laguna, isso por conta dos ventos que são predominantemente

de Sudeste para Noroeste1 e, consequentemente, a deriva litorânea, que é a responsável

pelo transporte dos sedimentos trazidos pelos rios, ao Sul em direção Norte.

A possível laguna existente na área de estudo encontra-se atualmente afogada por

sedimentos e coberta por gramíneas do tipo capim. Desta forma, verificar a possibilidade

da existência de ambientes lagunares na área que compreende a paisagem costeira

entre as desembocaduras dos rios Miriri e Mamanguape, passa a ser o questionamento

que, a partir de agora, será investigado. A área de estudo está localizada no município de

Rio Tinto, Litoral Norte da Paraíba como mostra a figura abaixo:

1 Segundo o Atlas de Geografia da Paraíba.

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Figura 1- Mapa de localização da área da laguna junto à Praia de Campina Município deRio Tinto - Paraíba.Fonte: Painel Ilustrativo em Rio Tinto

Reconhecemos a importância de se estudar um tema como este, em se tratando do

litoral nordestino, um ambiente tão explorado economicamente, para os mais diversos fins,

como a inserção de loteamentos visando futuras instalações de residências de veraneio e

turismo local, que avançam sobre a paisagem frágil, colocando em risco tanto a natureza

como a população ali residente (Ver Figura 2).

Figuras meramente ilustrativas

laguna

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Figura 2 – Inserção de casas de veraneio na área de depressão do ambiente lagunar - 2/02/02.Foto: Maria Vicente de Barros.

Estas explorações estão adentrando nas áreas que não são propícias a essa prática de

investimento; uma área sujeito à inundação, posto que já se verificou alagamentos

anteriores que possivelmente tenham a ver com o Oceano Atlântico. Esclarecemos que este

trabalho prende-se à investigação da existência de ambientes lagunares nessa área e não à

verificar a invasão do homem ali. Porém, caso haja a existência desse tipo de ambiente, os

responsáveis pela a administração pública terão um instrumento importante de

planejamento e gestão ambiental para combater esta prática. Por isso a importância de se

estudar um tema como este.

Residênciasinstaladas na

depressãoDEPRESSÃO

Estacas definindoos lotes

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Para facilitar nosso estudo, estabelecemos alguns enfoques que darão rumo e sentido

na busca de resposta aos problemas levantados, quais sejam:

a) As áreas de menor energia potencial próximo ao nível de baseapresentam a possibilidade de acumulação de águas e sedimentos;

b) O compartimento geomorfológico de sedimentação comprogradação possibilita áreas de depressão relativa com acumulação ecirculação de água.

Neste trabalho, a Geografia é entendida como uma ciência que tem um papel

importante na observação das transformações ocorridas na superfície da Terra. Na medida

que investiga, analisa e compreende a dinâmica que ocorre no meio ambiente, gera um

produto final para que toda essa dinâmica seja entendida por aquele que vai trabalhar na

área. O produto do qual estamos falando é o mapa temático, que proporciona ao geógrafo

localizar e situar aquilo que constitui o objeto de sua pesquisa. Os dados colhidos durante

todo o tempo de investigação são para Nimer (1988), os indicadores mais fortes das

tendências de um fenômeno. São eles que geram um mapa temático. Porém, nesse estudo

propomos, não um mapa temático, mas sim uma documentação temática.

O objetivo desta pesquisa é procurar compreender o funcionamento da paisagem

costeira e como ela está representada atualmente em uma área de depressão, possivelmente

uma laguna afogada por sedimentos. Entendemos que este trabalho se justifica pela

importância de se investigar o funcionamento dos elementos encontrados na paisagem

costeira da possível laguna em estudo; de se analisar este ambiente frágil por estar em uma

área de confluência de relevos diferentes e pouco consolidados; de ser um evento pouco

estudado, cujos pontos de fragilidade ainda não foram detectados; e por gerar uma

documentação temática que contemple o maior número possível de evidências sobre a área

em estudo para que outras pessoa possam ser contempladas com essas informações e a

partir daí poderem planejar e gerenciar o meio ambiente da melhor forma possível.

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Portanto, nossa intenção é investigar a possibilidade da existência de ambientes

lagunares, bem como o processo de desaparecimento destes ambientes através de uma série

de objetivos:

a) Delimitar a área de estudo com os elementos que a compõem;b) Caracterizar os elementos que compõem o ambiente de

estudo;c) Determinar o funcionamento destes elementos sobre a área da

possível laguna afogada por sedimentos;d) Caracterizar o processo que fez com que essa laguna fosse

desativada; ee) Confeccionar uma documentação temática da área em estudo.

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1.2 Referencial Teórico - Conceitual

Neste estudo a principal categoria analisada é a paisagem e nos apoiamos, para a

compreensão da realidade investigada, na Teoria dos Conjuntos e na Teoria dos Sistemas.

Outros conceitos como o de laguna também deram suporte a esta pesquisa.

O conceito científico de paisagem, segundo TRICART (1982, p. 15), “abrange uma

realidade que reflete as profundas relações, freqüentemente não visíveis, entre seus

elementos”. Porém, por trás de toda essas relações não visíveis, está ocorrendo todo um

processo de modelagem e remodelagem da paisagem. Ela não é estática, ao contrário, é

altamente dinâmica, principalmente, quando se trata da paisagem costeira, que é bastante

frágil por ser composta de terrenos mais recentes como o Quaternário que ainda não está

consolidado, por isso os agentes modeladores da paisagem como o vento, a chuva, a

abrasão marinha e, principalmente o rio, que é considerado o principal agente modelador

da paisagem, atuam.

A paisagem é um sistema que possui conjuntos como o climático, o hidrográfico, o

geomorfológico bem como a interseção entre eles, o biótico, que segundo Strahler (1994)

são denominados de conjuntos naturais. Se ocorrer alguma alteração nos elementos que

compõe os conjuntos naturais acarretará toda uma transformação neste sistema.

Climático Biótico Geomorfológico

Hídrico

(adaptação/elaboração a partir da proposta de Strahler)

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Trazendo para o contexto da área em estudo, o ambiente encontrado é composto por

uma paisagem costeira que foi definido como palco onde atores atuam, é o caso dos rios,

dos ventos, das chuvas, dos homens, alterando constantemente a modelagem desta

paisagem. Uma área em particular é fruto desta investigação, ou seja, a laguna que se

encontra atualmente afogada por sedimentos.

O geógrafo e escritor Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, em sua obra

Geossistemas: a história de uma procura, invoca Ab’Sáber ao tratamento de três níveis de

análise da paisagem do Quaternário e conclui:

Ao se tratar de um conceito de Geomorfologia a serviço das pesquisassobre o Quaternário, preconizava Ab’Sáber a caracterização de trêsníveis intimamente relacionados, na análise da paisagem, a saber:compartimentação, estrutura superficial e fisiologia da paisagem.Enquanto que o primeiro ligava-se ao plano horizontal, o segundorevelava, no plano vertical, a estrutura enquanto que o terceiro – numaimagem biológica- abrangia toda a complexa gama dos processosdinamizadores da paisagem, indicando-se ai a ação antrópica.(MONTEIRO, 2000: 27).

Visto por este ângulo, cada nível tratado acima assume um papel importante e,

portanto, estão entendidos da seguinte forma:

i) a estrutura : Dolfuss considera que “o geógrafo situa noespaço as estruturas que compõem um mosaico, cujo arranjo é por eleestudado com o objetivo de extrair o seu significado.” Seja qual for anatureza dos fenômenos analisados, “o geógrafo adota o mesmoprocedimento afim de decompor o seu domínio em conjuntos cujafisionomia e cujas funções sejam homogêneas.” (DOLFUSS,1973:32).Portanto, a análise estrutural dos elementos que compõem a paisagemem questão e o estudo dos conjuntos que as presidem é indispensávela qualquer pesquisa geográfica;

ii) a compartimentação: neste trabalho a compartimentação éentendida como a divisão do relevo, isso devido às idéias de Ab’Sábercitados em Monteiro, onde menciona que o nível decompartimentação refere-se ao plano horizontal., ou seja, ao relevo.Dessa forma, a compartimentação da área em estudo estácompartimentada da seguinte forma: planície costeira e baixosplanaltos costeiros; e

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iii) a fisiologia da paisagem: no dicionário da línguaportuguesa, entende-se fisiologia como “parte da Biologia que estudaas funções dos órgãos nos seres vivos, animais e vegetais.”(BUENO,1955, p. 464). Visto por este ângulo, a fisiologia dapaisagem é a parte da Geografia que estuda as funções ocorridas entreos elementos dos conjuntos naturais, promovendo, desta forma, todauma mudança na paisagem em si.

Quanto aos conceitos mais internos da área de estudo, como o de laguna que, para

Guerra (1997, p. 381), refere-se à uma “depressão contendo água salobra ou salgada,

localizada na borda litorânea. A separação das água da laguna das do mar pode-se fazer

por um obstáculo mais ou menos efetivo, mas não é rara a existência de canais, pondo em

comunicação as duas águas.”. Esse autor adverte que “na maioria das vezes, se usa

erradamente o termo Lagoa ao invés de Laguna” Outros conceitos mais específicos da

área serão tratados no item 2.1.

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1.3 – Corpo Metodológico

A configuração atual da paisagem costeira encontrada na área em estudo, evidencia

uma Laguna afogada por sedimentos. Para comprovar esta afirmativa o pesquisador deve

sempre buscar a realidade do fenômeno investigado, ou seja, sempre chegar próximo à

verdade do que e como aconteceram os processos que levaram a configuração atual do

objeto estudado. Para tanto, é preciso um maior número de evidências e elas só serão

levantadas a partir da coleta de dados.

No nosso caso, para conseguir coletar esses dados utilizamos alguns instrumentos e

métodos de pesquisa para depois iniciarmos o processo investigativo, que foi dividido em

várias etapas, tais como: pesquisa bibliográfica, pesquisa cartográfica, trabalho de campo

e trabalho de gabinete.

• A pesquisa bibliográfica:

A primeira parte deste estudo consistiu no levantamento bibliográfico junto à

Biblioteca Central da UFPB, Biblioteca Setorial do curso de Geografia e algumas

bibliotecas particulares de professores do DGEOC (Departamento de Geociências), onde

foram pesquisadas bibliografias que deram base a esta investigação.

• A pesquisa cartográfica:

Já a pesquisa cartográfica foi feita junto a dois laboratórios do Departamento de

Geociências) (DEGEOC), Laboratório de Geografia Aplicada – (LGA) e Laboratório de

Ensino e Pesquisas em Análise Espacial (LEPAN) e teve como objetivo extrair

informações das Cartas Topográficas do Rio Soé (Folha SB-25-Y-A-VI-3-SO) e Barra de

Mamanguape (Folha SB-25-Y-A-VI-3-NO) na escala 1: 25000, ambas confeccionadas pela

SUDENE (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste) no ano de 1974, como

também as cartas de Guarabira (Folha SB.25-Y-A-V, MI 1134) e Cabedelo (Folha SB.25-

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Y-A-VI, MI 1135) na escala de 1: 100.000, também confeccionadas pela SUDENE, no ano

de 1989.

• A pesquisa de campo:

A terceira etapa consistiu em todo o levantamento realizado diretamente no campo:

reconhecimento da área objeto de estudo, depois coleta dos dados necessários à

compreensão dos atributos daquele lugar e, por fim, registro do momento atual da

dinâmica da paisagem costeira através de fotografias.

Para coleta dos dados no campo foram utilizados alguns instrumentos artesanais e

digitais de coleta, tais como: garrafas plásticas pet do tipo Pitchula (Figura 3), dois canos

do tipo PVC, Câmara Digital, Teodolito Eletrônico, Anemômetro, dentre outros.

Figura 3 - Instrumento Artesanal utilizado para uma das coletas de dados – 2/08/02.Foto: Maria Vicente de Barros.

Um dos dados colhidos com instrumentos artesanais foi a velocidade da corrente

de deriva. As garrafas plásticas mediam 30 cm de comprimento e foram levemente

preenchidas com água e areia de praia, dando um certo peso para que pudesse flutuar na

água do mar. Esses pesos foram de 235 gramas para uma das garrafas plásticas e 275

gramas, para a outra. Já os dois canos do tipo PVC de 20mm serviram para observarmos

quando as garrafas passavam pelos pontos determinados. Outros instrumentos como uma

trena de 30 m de comprimento e um cronômetro, também fizeram parte desta coleta com o

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objetivo de medir a distância e o tempo das garrafas plásticas de um ponto a outro. Desta

forma pudemos observar a trajetória das garrafas plásticas, o tempo e a distância.

A coleta de dados referente à corrente de deriva procedeu-se da seguinte forma:

primeiro foram preenchidas as garrafas plásticas com a água e a areia; em seguida foram

marcados dois pontos (o inicial e o final), em intervalos diferentes; a distância entre esses

dois pontos era de 50 m. O passo seguinte foi a entrada de uma pessoa no mar até alcançar

a corrente para soltar a garrafa plástica (ver figura 4). Enquanto isso, outra pessoa que

estava fora do mar observava, no tubo de PVC, o momento em que a garrafa plástica

passava no ponto inicial e quando chegava no ponto final; e uma terceira pessoa marcava o

tempo entre os dois pontos. Desta forma, foram feitas cinco tomadas em duas diferentes

áreas para se tirar a média e obter o resultado da direção e velocidade da corrente de deriva

de cada área respectivamente.

Figura 4 – Coleta dos dados da velocidade e do sentido da corrente. 02/09/2002.Foto: Maria Vicente de Barros

Outros dados foram coletados como: o perfil longitudinal da depressão, utilizando-

se um teodolito eletrônico da marca NIKON NH-20 (ver Figura 5); o sentido e a

velocidade do vento naquele dia, com a utilização de um anemômetro da marca Wilh.

Lambrecht GmbH 3400 Gotting e uma biruta (ver Figura 6 e 7); a plotagem dos pontos da

área em estudo com a utilização do GPS Garmin-III (ver Figura 8); e registros da paisagem

da área utilizando-se uma Câmara Digital da marca Epson PC-650.

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Figura 5 – Teodolito usado para traçar o perfil longitudinal dalaguna. – 12/09/2002. Foto: Conrad Rodrigues Rosa.

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Figura 8 – GPS utilizado na plotagem02/09/2002. Foto: Conrad Rodrigues R

FvF

Figura 6 - Anemômetro utilizado na coletados dados sobre a velocidade do ventoFoto Conrad Rodrigues Rosa. 12/09/2002.

dos pontos da área estudadaosa.

iguras 6 e 7 – biruta utilizada paraerificar a direção do vento.oto: Conrad Rodrigues Rosa– 12/09/2002

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• O trabalho de gabinete e laboratório:

A última etapa consistiu no trabalho de gabinete, onde foram extraídas todas as

informações dos livros e das cartas topográficas da SUDENE, e analisados todos os dados

colhidos diretamente no campo. As informações extraídas e fichadas dos livros deram

suporte a esta pesquisa. Já as informações relativas aos documentos primários referentes ao

cenário em observação, como às cartas topográficas de 1: 25.000, geraram outros produtos:

perfis transversais e longitudinais da área em estudo e um Modelo Numérico do Terreno

(MNT) (ver Figura 9). Quanto às cartas de 1: 100.000, o objetivo foi realizar o perfil

longitudinal do Rio Miriri para verificar o seu gradiente de declividade e Imagens de

Satélite e aerofotos documentos que permitiram a demonstração do conjunto de elementos

constituintes do ambiente em que contém o fato geográfico em estudo.

Figura 9 - MNT gerado a partir de TIN para melhFonte: Carta da SUDENE na escala 1:25000 de Bar

Rio Miriri

OceanDesembocadurado rio Miriri

Ocean

Área dalaguna

3

or visualizar a depra de Mamanguap

o Atlânticoo Atlântico

Rio Mamanguape

Lagoa de praia

ressão correspondente a laguna .e e Rio Soé.

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Esses perfis transversais e longitudinais foram extraídos pelo método dito

tradicional, e os instrumentos utilizados foram um escalímetro, papel milimetrado, lápis

comum, borracha e régua paralela. Os perfis tiveram como objetivo visualizar melhor a

forma de relevo da área, demonstrar a depressão correspondente à Laguna e gerar um

diagrama de declividade. No entanto uma visualização virtual do modelado foi possível a

partir da geração da Modelagem Numérica do Terreno (MNT). Esse modelo, na definição

de Carlos Alberto Felgueiras, no livro Introdução à ciência da geoinformação, é “uma

representação matemática computacional da distribuição de um fenômeno espacial que

ocorre dentro de uma região da superfície terrestre.” (CÂMARA, cap. 7) Para gerar esse

produto foi utilizado a cartografia digital. Primeiramente foram extraídas as curvas de nível

das cartas de Barra de Mamanguape e Rio Soé pelo meio de digitalização manual com uso

da mesa digitalizadora e do programa CAD; depois as curvas foram exportadas para o

SPRING (Sistema de Processamento de Informações Georreferenciadas) onde foi gerada

uma grade irregular triangular TIN (Triangular Irregular Network). O objetivo aqui foi

justamente observar a superfície da área entre as desembocaduras do Rio Miriri e do

Mamanguape.

Após todos esses instrumentos e técnicas, utilizamos para interpretar a paisagem o

método indutivo, tomando como suporte as teorias dos Conjuntos e dos Sistemas. Essas

teorias serviram para nortear a compreensão da paisagem em estudo, já que a paisagem

neste trabalho foi vista como um grande sistema1 aberto, isso, porque existe uma entrada

de energia e matéria que é transformada dentro do sistema pelos conjuntos naturais:

climático, geomorfológico, hidrográfico e, a interseção entre eles, o biótico; e, que

posteriormente, essa energia e matéria saem desse sistema. Portanto, para uma maior

aproximação da verdade da área estudada, acreditamos que as melhores teorias, são

aquelas que poderiam dar suporte à pesquisa sendo essas a nosso ver a dos Conjuntos e a

dos Sistemas.

1 Para Christofoletti um sistema pode ser definido como um conjunto dos elementos e das relações entre si eentre outros atributos. Cf. CHRISTOFOLETTI, 1980: 1).

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SEGUNDA PARTE

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2.1 - A área de estudo com os elementos que a compõe

Compartilhamos a opinião de Olivier Dolfuss sobre o nível da estrutura da paisagem

quando afirma que: “seja qual for a natureza dos fenômenos analisados, o geógrafo adota

o mesmo procedimento afim de decompor o seu domínio em conjuntos” (DOLFUSS, 1973:

32).

Observando a paisagem como uma relação de conjuntos intersectivos, e compostos

por clima, hidrografia, relevo e a vida em todas as suas nuanças, tomamos como destaque a

questão relativa ao relevo, sendo este um conjunto constituído de Montanhas, Planaltos e

Planícies. O Território paraibano não possui Montanhas no seu sentido específico,

considerando as suas proporções, porém o mesmo não ocorre com os outros dois

segmentos: planaltos e planícies.

As características dessas duas unidades do relevo se dão através de dois processos: a

erosão e a sedimentação. No planalto, os processos de erosão superam os de sedimentação,

pelo simples fato de estarem em posição mais alta. Já na planície, os processos de

sedimentação superam os de erosão, isso por constituírem áreas rebaixadas. Porém, se

estiverem em ambientes com condições que permitam a sua formação, as planícies podem

se localizar em qualquer cota altimétrica. Na área em estudo vamos encontrar as seguintes

unidades de relevo: as planícies costeiras e os baixos planaltos costeiros.

A origem da Planície Costeira da secção em estudo se deu a partir da deposição e

acumulação dos cordões litorâneos devido as “mudanças do regime fluvial combinadas

com a sucessão de transgressão e regressão durante o Pleistoceno e o Holoceno2.”

(NEVES, 1997:15). Esses cordões litorâneos, ao se acumularem, ocasionam o avanço do

continente sobre o mar, ocorrendo desta forma a progradação. Porém, com este avanço, a

planície costeira acaba por gerar outro fenômeno que, segundo Travassos & Outros, foi o

barramento das “desembocaduras dos rios, fazendo com que eles passem a correr

paralelamente às mesmas, originando também lagoas à sua retaguarda. Estas

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características são evidenciadas na planície flúvio-marinha, aqui identificada como

planície da Barra de Mamanguape, que se estende por aproximadamente 6 Km, desde

Oitero, ao sul, até o Pontal da Rocha, extremidade norte”.(TRAVASSOS & Outros,1992:

2).

Visto por este ângulo, o avanço do continente sobre o mar originou este estudo, a

existência da possível laguna costeira e como se deu o processo da colmatagem já que, na

opinião de Travassos & Outros, a progradação faz com que as desembocaduras dos rios

sejam barradas onde, conseqüentemente, são criadas áreas com possibilidades de serem

alagadas, como a laguna e que, posteriormente venha a chegar ao estágio de verdadeiras

campinas, como as que se encontram atualmente e que servem até para pastagem. (ver

Figura 10).

Figura 10 - Depressão correspondente a laguna que sofreu o processo da colmatagem- 2/08/02.

Foto: Maria Vicente de Barros.

2 O Pleistoceno e o Holoceno fazem parte do período Quaternário que tem como característica ciclos deregressão e transgressão marinha e por oscilações do clima.

Área decampina

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Com relação às Características Geo-Ecológicas e o Uso Racional do Meio na

propriedade Barra de Mamanguape, Rio Tinto – PB, Travassos & Outros consideram a

planície flúvio-marinha da área em estudo como:

irregular, apresentando, em relação ao nível médio do mar, elevaçãomédia de 3m, e depressões em torno de 1 e 2 m, longas e paralelas acosta, que correspondem, respectivamente, às cristas dos cordõeslitorâneos e as reentrâncias que ocorrem entre eles. (TRAVASSOS &Outros, 1992:2)

Em consequência destas depressões, no período chuvoso elas ficam alagadas e as

mais rebaixadas armazenam o maior número de água originando desta forma as Lagoas

(ver Figura 11), como as do Taboão e de Praia, que secam logo que termina o período

chuvoso.

Figura 11 – Lagoa presente nas depressões mais rebaixadas. – 12/09/2002.Foto: Conrad Rodrigues Rosa.

Para verificar as elevações que os autores mencionaram anteriormente, foram

realizadas algumas medições através de levantamentos topográficos diretamente no

campo, com instrumentos como o teodolito eletrônico. Os dados nos mostraram que a

elevação está a 3.8 metros acima do nível médio do mar e a depressão correspondente a

Lagoa dePraia

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laguna é uma depressão relativa (ver figura 12), desta maneira, ela está acima da preamar,

porém está abaixo da estrada e da elevação.

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FIGURA 12 – Perfil longitudinal da área em estudo.

Elevação entre o mar e a laguna

Depressão referente a laguna

m

Escalas Aproximadas :Escala Horizontal 1: 937Escala Vertical 1: 157

PERFIL LONGITUDINAL DA ÁREA EM ESTUDO

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A outra unidade de relevo encontrada foi o Baixo Planalto Costeiro mais conhecido

como Tabuleiros Costeiros, que são originários do período Terciário, depois do Oligoceno

e até o Pleistoceno médio. Este relevo surgiu a partir da “erosão do material desagregado

do Maciço da Borborema, em fases repetidas de resistasia3” (CARVALHO, 1982: 26).

Para Antonio Texeira Guerra, o Tabuleiro é uma “forma topográfica de terreno que se

assemelha a planaltos, terminando geralmente de forma abrupta. No Nordeste brasileiro

os tabuleiros aparecem de modo geral em toda a costa” (GUERRA, 1978: 404). Portanto,

a forma topográfica do terreno encontrada no Norte da desembocadura do Rio Miriri

encaixa-se na definição de Antonio Texeira Guerra, já que o relevo termina de forma

abrupta caracterizando, desta forma, uma falésia viva, ou seja, uma falésia que ainda sofre

os processos de erosão provocados pela abrasão marinha, pela chuva, pelos ventos, etc., e o

recuo rápido dessas falésias também é favorecido pelo material pouco consolidado e nada

resistentes aos processos erosivos, que são os sedimentos argiloso-arenosos.

Segundo Carvalho, esta falésia viva que se encontra ao Norte da desembocadura do

Rio Miriri, é uma falésia morta que, por consequência de modificações ambientais,

começou a sofrer novo processo de abrasão. Na observação da autora:

As falésias mortas, afastadas da costa atual, indicam antigos limitescosteiros. Em alguns locais, dependendo das modificaçõesambientais, falésias mortas podem começar a sofrer nova atuaçãodo processos abrasivos. É o caso que está ocorrendo na área dadesembocadura do rio Miriri, onde parte de algumas falésias estãosendo reativadas em consequência dos deslocamentos do leitofluvial. Estes deslocamentos permitem uma nova ação das ondassobre a escarpa que anteriormente encontrava-se em posição deabrigo à erosão marinha. (CARVALHO, 1982: 28).

Outras formas de relevo são encontradas entre as desembocaduras do Rio Miriri e

Mamanguape e as principais são a praia e a depressão. Porém, uma outra forma de relevo

chamou nossa atenção: uma elevação localizada entre o limite da preamar e a depressão

que poderia ser uma duna fixada pela vegetação ou a crista do cordão litorâneo. No que

tange às depressões, são as reentrâncias surgidas a partir da justaposição dos cordões

litorâneos e a laguna corresponde à essas depressões.

3 Resistasia conforme Antônio Texeira Guerra, indica o “período em que houve o desaparecimento de umafloresta devido a uma ruptura de equilíbrio climático e biológico.” (GUERRA, 1978: 371).

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A elevação entre a praia e as depressões já foi discutida por alguns autores como

Rosa (1999), Travassos & Outros (1992) e Carvalho (1982), que considera:

desde o limite com o Rio Grande do Norte até a foz do RioMamanguape ocorrem, de modo mais significativo, as dunas,formações arenosas originadas pela ação dos ventos de sudeste sobreas areias marinhas. Nesse trecho, alcançam relativa continuidadeespacial, aparecendo mais esparsas entre a Barra de Mamanguape eo rio Miriri.(CARVALHO,1982: 21).

Visto pelo ângulo da autora, embora apareçam mais esparsas, as dunas na área

estudada existem. Já Rosa menciona que “a elevação que há entre o mar e a depressão é

(...) um relevo possivelmente de dunas fixadas pela vegetação, pois o material é arenoso e

o vento é constante com velocidades que variam de 6 a 9 metros por segundo”. (ROSA,

1999: 10). Outro autor, Victor Leinz (1970:156), ressalta que o ventos com velocidade de

32Km/h (8m/s), é capaz de transportar uma partícula de 0,75 mm.

Porém Bigarella (1989), citado em Travassos & Outros (1992) alerta que para se

caracterizar depósitos eólicos (dunas) é preciso, além das características texturais e

mineralógicas, a distinção entre feições da estrutura sedimentar desenvolvida durante a

deposição. Esses levantamentos não foram levados em conta pelos autores citados

anteriormente, nem este trabalho se propõe a caracterizar essas dunas, portanto, a dúvida

diante desta questão está em verificar qual a função dessa elevação. Esta questão será

tratado mais à frente, no capítulo Funcionamento do elementos sobre a dinâmica da

paisagem .

Além do relevo, outros conjuntos também fazem parte da paisagem costeira da área

estudada, como é o caso do climático, presente no elemento vento. Esse elemento tem

grande importância pelo fato de ser um dos agentes transportadores de sedimentos, e mais,

por determinar qual o sentido que a deriva litorânea irá tomar. Ou seja, os sedimentos

trazidos pelos rios irão desembocar no mar e a partir do sentido da deriva litorânea os

sedimentos tomarão o seu destino.

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De acordo com o Atlas Geográfico da Paraíba, os ventos do nosso estado são de L e

SE, porém no nosso litoral, o sentido dos ventos é de SE – NO. Quanto à velocidade dos

ventos, de acordo com Aroldo de Azevedo (1958) tem-se a seguinte classificação:

- O vento é fraco se for de 1 a 4 m/s;- O vento é moderado se for de 4 a 8 m/s;- O vento é forte se for de 8 a 16 m/s;- O vento é violento se for de 16 a 25 m/s, e;- O vento é Furacão se for maior de 25 m/s.

Algumas medições foram feitas em campo e os resultados demostraram que a

média dos ventos é de 8,4m/s, caracterizando assim um vento do tipo forte, segundo a

classificação de Aroldo de Azevedo. (ver Quadro 1).

Data: 12 de Setembro de 2002-09-19Hora: 14:00 h

Quadro 1

DADOS REFERENTES A VELOCIDADE DOSVENTOS

Observação Velocidade

1 9,0 m/s

2 8,0m/s

3 8,0 m/s

4 7,0 m/s

5 9,0m/s

6 9,0m/s

7 8,0m/s

8 9,0m/s

9 9,0m/s

10 8,0m/s

Total 8,4m/s

Fonte: Trabalho de Campo realizado na praia de Campina em12 de Setembro de 2002.

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Outro elemento importante do conjunto clima é a pluviosidade média anual da área

objeto de estudo, que está em torno de 2.000 a 2.2000 mm/ano, segundo o Atlas

Geográfico do Estado da Paraíba, portanto, localiza-se numa zona de chuvas abundantes.

O próximo conjunto também tem grande influência na modelagem da paisagem

costeira. Trata-se do conjunto hidrográfico, que está representado naquela área pelos Rios

Miriri e Mamanguape e pelo Oceano Atlântico, onde os trabalhos das ondas e da corrente

de deriva litorânea têm um papel ímpar no transporte e na deposição dos sedimentos

trazidos por esses dois rios. O elemento rio já foi tratado no começo desta investigação

onde ressaltamos que o seu trabalho é de extrema importância na modelagem do relevo

pelo fato da erosão, do transporte e da deposição dos sedimentos serem trazidos por eles.

Estes sedimentos vão parar no Oceano Atlântico e a partir daí acontecer outro tipo de

trabalho que se dá pelas ondas e pela corrente litorânea. O papel desses dois elementos

contribui para a formação das praias arenosas.

As praias correspondem a uma faixa coberta por sedimentos advindos do rio, do

mar e dos ventos compreendida desde a linha da maré baixa (baixa-mar) até a linha da

maré alta (preamar), no caso da área estudada, até a micro-falésia (Berma). Segundo

Inman(1960), citado em Neves (1997), “as praias arenosas constituem a manifestação

mais comum dos processos litorâneos, e as ondas e as correntes delas derivadas, os

principais fatores atuantes no estado de equilíbrio da distribuição dos detritos litorâneos”.

Dentro desta forma de relevo encontramos outras unidades geomórficas, quais sejam: ante-

praia, estirâncio, pós-praia e o Berma.

Como se pode observar os conjuntos naturais estão interligados e dificilmente

vamos tratar de um conjunto sem dar exemplos de elementos que compõem outro tipo de

conjunto natural. As ondas, segundo o Dicionário Geológico-Geomorfológico de Antônio

Texeira Guerra (1987:306), são os “movimentos de vaivém das águas do mar, causado

pelo vento. Quanto maior for a velocidade do vento maior as alturas das ondas. Elas

transmitem energia e realizam maior parte do modelado das zonas litorâneas.”. O

movimento dessas ondas vai originar outro tipo de transporte, a corrente de deriva.

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A corrente de deriva litorânea “é resultante do fato das ondas incidirem sobre o

litoral de forma inclinada, embora a retração das águas se realize no sentido

perpendicular ao litoral e provoque movimentação dos sedimentos em ziguezague. O

transporte de sedimentos é paralelo à costa.” (GUERRA, 1987: 128). Esses elementos do

conjunto hidrográfico e os outros elementos dos conjuntos, tratados neste item, serão

melhor compreendidos quando forem tratados de uma forma completa interagindo entre si

e causando a dinâmica da paisagem costeira da área. É o que faremos a seguir.

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2.2 - Funcionamento do elementos sobre a dinâmica da paisagem

Para compreender a atual configuração da paisagem costeira, mais precisamente na

área onde encontra-se a laguna, foi necessário, primeiramente, localizar a área para depois

caracterizar os elementos que a compõem. Assim chegou-se a parte de como esses

elementos interagem para dar o funcionamento do sistema aberto Lagunar.

Muitas das lagunas são temporárias, principalmente em se tratando da região

Nordeste, onde o volume de chuvas é menor e distribuídas de forma irregular, comparado a

outras regiões do Brasil. Quando o período de estiagem é longa, essas lagunas secam e se

transformam em verdadeiros pastos. A esse respeito, Antonio Texeira Guerra ( 1989: 253)

ressalta que: “Algumas lagoas são temporárias e existem apenas na estação das águas,

transformando-se em pastos por ocasião da estação seca. A tendência natural dessas

lagoas é o seu enchimento, isto é, sua colmatagem”. Vale ressaltar que esse mesmo autor

chama a atenção para o uso errôneo da denominação de lagoa para as laguna, que estão

situadas na borda litorânea.

A colmatagem a que Antonio Texeira Guerra se refere, nada mais é que o “trabalho

de atulhamento ou de enchimento realizado pelos agentes naturais ou pelo homem, em

zonas deprimidas” (op. Cit.: 98). No caso deste estudo, as áreas deprimidas seriam a

laguna, e o trabalho de enchimento foi realizado pelos agentes naturais, como veremos a

seguir. Foi observado nos dados colhidos em campo, que a laguna é uma depressão e a sua

superfície é plana. Desta forma, essa laguna caracteriza-se como uma área de menor

energia potencial propiciando a acumulação de sedimentos e posteriormente ocasionando o

processo da colmatagem. Ora, os agentes responsáveis pelo trabalho da colmatagem são os

elementos que foram caracterizados no item anterior e fazem parte dos conjuntos naturais

proposto por Strahler.

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Como vimos no início deste trabalho, a paisagem costeira é um ambiente altamente

dinâmico e sua configuração muda costantemente, devido à alta fragilidade desse sistema

por se tratar de relevos pouco consolidados. A área de estudo era formada por tabuleiros

costeiros que, com o passar do tempo, sofreram processos de erosão dos mais diversos,

como a do mar e a dos ventos. Porém, veio o período das glaciações, e aí aquela área

sofreu um processo inverso que foi a progradação, ou seja, o avanço do continente sobre o

mar. (TRAVASSOS & Outros, 1992), (ROSA, 1999) e (CARVALHO,1982).

Vimos também que quando há o processo de progradação as desembocaduras dos

rios são barradas e aí surgem as lagoas, como as do Taboão e a Lagoa de praia. Esse

barramento é provocado pela a ação das ondas que jogam os sedimentos na praia e o

trabalho conclui-se pelo vento que, por meio de saltação, carrega os sedimentos para a

parte mais interna. Na borda da área de estudo tem-se uma elevação de aproximadamente 6

metros, alguns autores como Rosa (1999) dizem que são dunas fixadas pela vegetação,

outros como Travassos & Outros (1992) dizem que são cristas de cordões litorâneos. Na

verdade foram essas elevações que possivelmente cortaram a ligação do mar com a laguna.

Um dos principais fornecedores de sedimento para a área é o rio Miriri. As coletas de

dados sobre o vento e o sentido da corrente de deriva comprovaram que o sentido dos

ventos é de Sudeste para Noroeste e, consequentemente, o sentido da deriva é de Sul para

Norte. Esse rio vai trazer consigo os sedimentos continentais colhidos ao longo de seu

trabalho de erosão e ao desembocar no Oceano Atlântico, no trecho ao sul da área da

Laguna, vai descarregar todo esse sedimento e, a partir daí, o trabalho de transporte será

feito pela corrente de deriva. Com base nos dados colhidos diretamente no campo, no dia

12 de Setembro, os ventos eram de Sudeste para Noroeste e o sentido da corrente era de

Sul para Norte e sua velocidade média no primeiro trecho observado foi de 0,74m/s. Já no

segundo trecho o sentido da corrente era o mesmo do primeiro, porém a velocidade média

registrada foi de apenas 0,33m/s, ou seja, o primeiro era mais veloz quase que o dobro do

segundo trecho. Esses dados podem ser verificados nos quadros 2 e 3.

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Quadro 2

Área 1Distância entre os pontos: 50 metros

DADOS REFERENTES A VELOCIDADE DA CORRENTE NA ÁREA 1

Amostragens Tempo Velocidade

1 1min32seg 1,84m/s

2 2min26seg 0,34m/s

3 1min57seg 0,42m/s

4 1min33seg 0,53m/s

5 1min25seg 0,58m/s

Tempo/Velocidade médias 1min46seg 0,74m/s

Fonte: Trabalho de Campo realizado na praia de Campina em 12 de Setembro de 2002.

Quadro 3

Área 2Distância entre os pontos: 50 metros

DADOS REFERENTES A VELOCIDADE DA CORRENTE NA ÁREA 2

Amostragens Tempo Velocidade

1 2min34seg 0,32m/s

2 2min19seg 0,36m/s

3 2min19seg 0,36m/s

4 2min41seg 0,31m/s

5 2min31seg 0,33m/s

Tempo/Velocidade médias 2min29seg 0,33m/s

Fonte: Trabalho de Campo realizado na praia de Campina em 12 de Setembro de 2002.

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2.3 - Área de depressão no compartimento geomorfológico da costa

paraibana

Partindo do princípio que a planície costeira é formada quase em toda sua

totalidade pelos sedimentos oriundos do continente, verificamos que esses sedimentos

transportados pelos rios, quando são depositados nas áreas frente a sua foz, acabam sendo

movimentados mais uma vez, mas doravante os agentes são outros: marés, ondas e

principalmente as correntes. A partir desta constatação não há como observar a franja

costeira paraibana sem consideramos a foz dos rios, o seu perfil longitudinal e também o

gradiente de declividade, sendo que este será um agente determinante para inferirmos

sobre a situação que se estabelece enquanto erosão regressiva, ou seja, de jusante para

montante.

A área observada fica imediatamente ao norte da foz do rio Miriri (ver Figura 13),

que tem um caudal relativamente significativo, porém não atinge o fluxo dos rios grandes,

imediatamente paralelos e laterais: Paraíba e Mamanguape. No entanto, é um rio que

abarca uma bacia hidrográfica relativamente acentuada para a região costeira e possui uma

extensão de 44 km e uma declividade que se estende a partir da cota de 140 metros de

altitude. O que mais nos chama a atenção é o seu gradiente de declividade, demonstrando

sua competência na queda e conseqüentemente no transporte de sedimentos (ver Figura

14).

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Figura 13 – Imagem de satélite (1991) que apresenta a foz do rio

em estudo.

Rio Mamanguape

Área da laguna colmatada

Corrente de deriva – direçãoNorte

Lagoa doTaboão

Miriri e o litoral que contém a área

Rio Miriri

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Quadro 4

DADOS REFERENTES AO GRADIENTE DE DECLIVIDADE DO RIO MIRIRI

PONTOS DISTÂNCIA (Km) DECLIVIDADE (m) GRADIENTE PROPORCIONAL(m/Km)A – B 8,2 52,0 6,34B – C 15,0 47,0 3,13C – D 4,6 15,0 3,26D – E 8,6 15,0 1,74E – F 7,9 3,0 0,37

FIGURA 14- Perfil do gradiente de declividade

Escalas Aproximadas: Escala Horizontal 1:328000 e Escala Vertical 1:2857

Altura inicial do rio Miriri140 m

PERFIL DO GRADIENTE DE DECLIVIDADE

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Observando o perfil longitudinal do rio, podemos destacar que além da erosão

regressiva a área da bacia de 44.920 ha (ver figura 15) também passa a ser um fator de

interesse, pois o perfil transversal denota que sua superfície também perde material a

partir do ataque dos agentes intempéricos (principalmente sol e chuva). O rio Miriri não

possui um curso muito extenso e seu leito não se debruça sobre a superfície de material

cuja litologia é cristalina. Nesse caso, o rio desce de superfícies cujo relevo planáltico é de

baixa altitude rolando sobre o material da formação geológica, denominado de Barreiras

sendo que essa formação geológica é constituída de material sedimentar variegado e não

consolidado, por isso sensível aos ataques das intempéries, passando a oferecer material

sedimentar após a erosão (laminar e vertical) para o fundo dos vales, daí para a calha

fluvial e, conseqüentemente, para os níveis de menor energia chegando até a foz.

FIGURA 15 – Área da bacia hidrográfica do rio Miriri

O material quando chega a foz do rio e se precipita para o mar por força do

empurrão referente ao fluxo das águas de montante, é depositado nessa área e

imediatamente sofre novas ações de transporte que nesse caso já não mais corresponde ao

ÁREA DA BACIA 449,20 haESCALA APROXIMADA

1:236363

Rio Miriri

ÁREA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MIRIRI

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rio e sim às forças oceânicas como ondas, marés e fundamentalmente as correntes. O

trabalho das correntes, juntamente com o das marés e ondas, em um sincronismo que se

acentua em períodos referentes aos fatores determinantes do comportamento geográfico da

paisagem, é praticamente o mesmo em relação ao clima (translação, rotação, pressão e

temperatura) estabelecendo um processo de balanço em que envolve deposição e retirada

de sedimentos num movimento constante. No entanto, o que pode ocorrer é que havendo

uma sedimentação intensa, oriunda dos rios e conseqüentemente da retirada de material das

falésias ativas, esse material inevitavelmente vai sendo depositado a jusante de sua área de

origem, criando assim a possibilidade de sedimentação e ocasionando uma progradação

normalmente por formação de cordões litorâneos.

Essa progradação, no caso específico da área aqui estudada, indica que é uma área

de laguna colmatada por sedimentos, após o processo inicial enquanto ambiente lagunar

(ver Figura 16). Esse ambiente de depressão que abrigou a penetração das águas do mar,

foi a combinação do relevo planáltico a oeste, em decomposição principalmente por

intempéries, bem como por sedimentação oriunda da deposição marinha a leste. Essa área

lagunar ficou confinada a partir do momento em que o canal de ligação com o mar foi

interrompido por uma barreira de sedimentos oriundos do próprio mar com colaboração

significativa dos ventos que atuam na área com velocidade acima de 8m por segundo4 e de

forma constante.

4 Os dados referentes à velocidade do vento foram obtidas em campo, de forma amostral, o que não indicaum padrão, mas sim uma amostragem que nos permite, mesmo que de forma elementar, inferir indicando queo vento nesse lugar é uma agente de construção e decomposição de relevo.

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Figura 16 – Imagem SPOT (1991) eqüalizada para melhor visualização da área em estudo.

Laguna colmatada objeto do estudo

Área com possívelsedimentação nasupefície

Relevo planáltico residual do Barreiras

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TERCEIRA PARTE

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3.1 - Conclusão

Após cumprir todas as etapas deste estudo, quais sejam: o levantamento

bibliográfico; o levantamento cartográfico; as coletas e as análises dos dados colhidos

diretamente no campo; e o trabalho de gabinete, que se propôs a investigar a possibilidade

da existência de ambientes lagunares na área que compreende a paisagem costeira entre as

desembocaduras dos Rios Miriri e Mamanguape e o por quê desta área estar preenchida

por sedimentos, acreditamos que esta questão tenha sido respondida.

A partir do exposto, vimos que as áreas de menor energia potencial próximos ao

nível de base apresentam a possibilidade de acumulação de águas e sedimentos. Esta

questão pôde ser comprovada através dos perfis que foram feitos na área e através das

fotografias e bibliografias consultadas. Os perfis realizados revelaram que a área da laguna

tinha a sua energia potencial menor ou igual a zero, já que correspondia a uma planura,

sendo assim a energia potencial não tinha força para romper a barreira que se formou no

canal e ao longo de toda a praia. Desta forma, cortada a ligação entre a laguna e o mar, esta

área possivelmente represou o restante da água que ainda existia no seu interior e passou

só a receber e acumular sedimentos que vinham através de saltação e do material

desagregado do Barreiras. Com o acúmulo de sedimento maior do que o da água essa

laguna sofreu o processo de entulhamento, denominado de colmatagem e que hoje

encontra-se bastante avançado por causa da vegetação do tipo campina.

Quanto ao compartimento geomorfológico de sedimentação com progradação,

como é o caso da área estudada, apresentam depressões relativa com acumulação e

circulação de água, o exemplo maior disso são as lagoas ainda existentes na secção em

estudo, como também a própria laguna que, embora já tenha sofrido o processo da

colmatagem falado anteriormente, no dia em que realizamos o trabalho de campo esta área

encontrava-se com alguns pontos de alagamento devido à quantidade razoável de chuva

que acontecera naquela época.

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Assim, como foi falado no início desta investigação, as áreas de depressão

encontradas nas bordas litorâneas, como em todas as áreas encontradas no nosso planeta,

têm um processo evolutivo de construção e reconstrução de sua paisagem. Porém, na área

em que foi realizado este estudo, o processo é bastante dinâmico devido à fragilidade deste

ambiente. Vale ressaltar que o passado pode constituir uma chave para o futuro, ou seja,

apesar de algumas lagunas estarem cobertas por sedimentos e em estado de verdadeiras

campinas, isso não leva a crer que esta área seja sempre assim; por outro lado, a qualquer

momento esta laguna pode retornar ao seu estágio anterior e o mar voltar a manter contato

direto com esse ambiente. A partir dai, se a área estiver habitada, o problema poderá ser de

proporções catastróficas.

A sociedade como um todo deve prestar mais atenção nas áreas que estão sendo

habitadas para que, futuramente, não venham sofrer com as conseqüências de um mau

planejamento, já que existem áreas que não deveriam ser habitadas. Esta foi a principal

intenção deste trabalho.

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3.2 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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