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  • Ano XVII, n 25, Dezembro/2005 119

    Motrivivncia Ano XVII, N 25, P. 119-131 Dez./2005

    EXPERIMENTANDO

    PROFISSIONALIZAO E HUMANIZAO:a prtica de ensino em cursos de

    Educao Fsica do perodo noturno

    Evando Carlos Moreira1

    Resumo

    O presente relato tem por objetivoapresentar uma possibilidade de atuao

    com a disciplina Prtica de Ensino docurso de Licenciatura em EducaoFsica, bem como oferecer um novo

    significado a esta disciplina quefreqentemente relegada para segun-do plano no processo de formao dos

    futuros professores ou pior, muitasvezes destina-se a momentos de prticasrepetitivas, o que acaba trazendo srias

    conseqncias formao e a prpriaatuao dos futuros professores.

    Palavras-chave: Educao Fsica,Prtica de Ensino, Formao Profissional

    Abstract

    The present story has for objective topresent a possibility of performance withdisciplines Practical of Education of thecourse of Licenciatura in PhysicalEducation, as well as offering a newmeant to this disciplines that frequentlyit is relegated for second plain in theprocess of formation of the futureteachers or worse, many times destines itpractical moments of repetitive, what itfinishes bringing serious consequencesto the formation and properperformance of the future teachers.Keywords: Physical Education, Practiceof Teaching, Professional Formation

    1 Doutorando em Educao Fsica - UNICAMP - Professor da FEFISA - Faculdades Integradas de Santo Andr

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    Formao Profissional

    Antes de mais nada, faz-senecessrio estabelecer a discussosobre o processo de profissiona-lizao do professor, visto que, aidia est baseada numa formaopautada no progresso de vida dosindivduos e da sociedade.

    Imbernn (2002) enfti-co ao afirmar que o importante nes-sas discusses sobre conceitos, queo professor utilize seus conhecimen-tos para emancipar as pessoas: oobjetivo da educao ajudar a tor-nar as pessoas mais livres, menosdependentes do poder econmico,poltico e social. E a profisso deensinar tem essa obrigao intrn-seca. (IMBERNN, 2002, p. 27).

    A partir dessa afirmao oautor define que o processo decapacitao profissional deve ofere-cer bases para que o futuro docenteatue como um agente facilitador doaprendizado, possibilitando ao gru-po a participao de todos.

    Para que essa caractersti-ca esteja presente, o desenvolvimen-to profissional deve levar o futuroprofessor a utilizar o conhecimentopedaggico, terico e de si mesmoao encontro da realidade, pois a for-mao ter significado quando es-tabelecer vnculos com o campo realde insero profissional. (IMBER-NN, 2002).

    A formao docente deveestar atenta s mudanas que a so-ciedade vem sofrendo, buscandoessencialmente atender s necessi-dades daqueles que buscam na edu-cao novas respostas para antigosproblemas.

    Quando a formao do pro-fessor estiver vinculada realidadede insero profissional ficar maisfcil transform-la, caso contrrio steorias perder-se-o no decorrer dosanos de atuao profissional, fican-do restritas ao mundo acadmico.

    Gallardo (1996) destacaque a educao pode na sua formamais simples, conduzir o indivduoa uma melhor formao, desenvol-vendo suas capacidades e atitudes.Dentro desta proposta de desenvol-vimento, o autor salienta que, a basede organizao de um grupo socialpassa pela Formao Humana eCapacitao.

    E o que Formao Huma-na e Capacitao?

    Gallardo (1997) salientaque a grande dificuldade consiste emno saber diferenciar formao decapacitao. Desta maneira afirmaque, a formao humana consisteem fazer com que o aluno seja sub-metido a normas, regras e regula-mentos, para organizar-se dentro deum grupo social, ou seja, desenvol-ver-se como pessoa que cria espa-os dentro de seu ambiente social,podendo dentro do mesmo viver o

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    respeito a si e aos outros, colabo-rando e intervindo frente ao grupo.

    Quanto capacitao,deve-se formar um indivduo comforas para realizar suas tarefas, deacordo com o seu desejo e dentrode suas possibilidades, atravs desuas habilidades e capacidades, ad-quirindo assim, autonomia para de-cidir e agir.

    Sendo assim, pode-se di-zer que a funo de todos os profis-sionais engajados nos meios educa-cionais :

    Fazer vivenciar a responsabilidade,a cooperao, honradez, etc. ago-ra, para que assim elas construamseu prprio futuro com autono-mia, responsveis de seu viver e peloque elas faro conscientes de seuser social. (GALLARDO, 1996, p. 2).

    Maturana (1995) por suavez afirma que a formao humanae capacitao devem tornar o indi-vduo uma pessoa capaz de criar noespao onde vive.

    A formao humana,enfatiza o autor, consiste na criaode condies para que o indivduocresa e respeite as pessoas que comele convivem, adquirindo sua indi-vidualidade, criando identidade econfiana em si prprio. Essa forma-o dentro do processo educacional algo que far sentido se o sujeitoconseguir viver como pessoa respon-

    svel, capaz de decidir, refletir e cor-rigir possveis erros.

    Maturana (1995, p. 13)define que a tarefa educacional e odesenvolvimento social do indiv-duo, no ambiente escolar, deve faci-litar o crescimento do mesmo paraque atue como cidado conscientede seu papel no grupo em que vive.

    Pesamos que la tarea de laeducacin escolar, como umespacio artificial de convivencia, espermitir y facilitar el crecimientode los nios como seres humanosque se respetan a si mismos y a losotros com consciencia social y eco-lgica, de modo que puedemactuar con responsabilidad ylibertad en la comunidad a quepertenezcan.

    Silva (1989) salienta que,a formao profissional busca ape-nas fazer com que o indivduo ad-quira instrumentos para viabilizar atransmisso de conhecimento nomeio em que ser inserido,desconsiderando as situaes reaisde cada local.

    A formao profissionaldeve ter uma base slida, um alicer-ce para que o futuro profissionalpossa estar comprometido com aatuao e que vise a Formao Hu-mana e a Capacitao do indivduoenquanto ser pensante, crtico, cons-ciente, participativo que necessita

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    de capacitao e aperfeioamentopara o futuro.

    Para que esse processoocorrer necessria a participaode um profissional qualificado. ParaGmez (1992, p. 110), esse profis-sional: [...] actua reflectindo naaco, criando uma nova realidade,experimentando, corrigindo e inven-tando atravs do dilogo que esta-belece com essa mesma realidade.

    Feimen-Nemser (1990apud COSTA, 1996) destaca que oprofissional de Educao deve reu-nir para junto de si um conjunto deidias e objetivos obtidos em umaformao acadmica, visando a suautilizao em uma atuao futura.O autor salienta, desta maneira, quepara uma boa formao profissio-nal o futuro professor deve ter:

    Orientao Acadmica,que um processo de transmissode conhecimento e desenvolvimen-to da compreenso, entendida comoapropriao de conhecimento, pelainteligncia humana, alm de ser amaneira do professor entender queos indivduos so nicos e cada umtem o seu tempo e a sua maneirade desenvolver-se, que ocorre coma tomada de conscincia, a partir doestmulo oferecido pelas experin-cias a que submetido;

    Orientao Prtica, quebusca formar um bom professor, quesaiba lidar com situaes nicas,incertas e problemticas. Deve ser

    feita sempre com a questo da re-flexo sobre a ao;

    Orientao Tecnolgica,que tem por objetivo fazer com queo profissional desempenhe com efi-ccia a tarefa de ensinar;

    Orientao Pessoal, queajuda o futuro professor a aprender aaprender, entendendo que o aprendi-zado e desenvolvimento pessoal eprofissional nunca se encerram, e acompreender, tomando conscinciada sua importncia social, no bastan-do conhecimento terico ou acadmi-co, mas identificar as necessidades dediversas realidades e contextos;

    Orientao Crtica/ Soci-al, que aborda a dimenso polticae tica do ensino, tratando da cons-truo de uma sociedade mais justae democrtica.

    Se durante o desenvolvi-mento do curso de formao profis-sional de Licenciatura em EducaoFsica, a tarefa que o professor devedesempenhar for considerada, as Ins-tituies de Ensino Superior poderocontribuir de maneira mais adequa-da prtica e atuao dos professo-res de Educao Fsica que chegamao mercado de trabalho todos osanos. Certamente no apenas issoque melhora a capacidade do profes-sor, mas essas aes se constituemcomo elementos que orientam a aodocente, considerando a gama deproblemas polticos e sociais que seenfrentam nos dias atuais.

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    Para Schn (1992), a esco-la deve servir como ambiente quefavorea a criao de espaos de li-berdade, visando a promoo dareflexo na e da ao, onde o pro-fessor deve aprender tanto a ouviros alunos como fazer uma inter-re-lao professor/ aluno na busca daconstruo da cultura.

    O autor salienta aindaque, a formao de um professorreflexivo, pode levar o mesmo a darsentido a tudo que acontece em salade aula, aumentando assim suacapacitao para atuao no ensino,podendo observar e alterar sua ma-neira de agir.

    Partindo desse princpio oprofessor forma para si uma visomltipla, unindo o saber tericocom a prtica e o contato com a re-alidade torna-se coerente frente aosconceitos adquiridos na formaoacadmica.

    Segundo o autor, entre te-oria e prtica que se encontram asfalhas. Os futuros professores rece-bem todos os conceitos tericosdurante todos os anos em que per-manecem nos bancos acadmicos,para no final do curso (geralmente,por questes legais, o contato ofici-al com a prtica tem incio nos doisltimos anos de curso) confronta-rem com a prtica. O autor pressu-pe que, uma formao adequadaexistir quando a vivncia entre te-oria e prtica se iniciarem juntas.

    Primeiro ensinam-se os princpioscientficos relevantes, depois a apli-cao destes princpios e, por lti-mo, tem-se um practium cujoobjectivo aplicar pratica quoti-diana os princpios da cincia apli-cada. (SCHN, 1992, p. 91).

    Almejando essa vinculaoentre os conhecimentos ministradosdurante a formao profissional coma realidade, surge a possibilidade delevar os futuros professores a umcontato mais profundo com o seuhabitat de sua atuao, a escola.

    Constatando que as carac-tersticas do processo de prepara-o profissional do professor deEducao Fsica devem estar dire-tamente ligados ao mundo que oscerca; considerando que essavinculao pode se dar em qualquercircunstncia; considerando que aprtica da Educao Fsica no per-odo noturno facultativa em algunscasos (o que significa na maioriadas vezes que ela no existe); foiestabelecido uma parceria entre aFefisa - Faculdades Integradas deSanto Andr com uma Escola Mu-nicipal de Santo Andr, para que osalunos do 4 ano do curso de Li-cenciatura em Educao Fsica pu-dessem juntamente com o profes-sor responsvel pela disciplina Pr-tica de Ensino, ministrar aulas paraos alunos matriculados no projetoEducao de Jovens e Adultos - EJA.

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    A Prtica de Ensino

    A Prtica de Ensino, enten-dida como uma disciplina presentena grade curricular dos cursos deformao de professores, um mo-mento importantssimo para o futu-ro docente.

    A expresso Prtica de En-sino tem um significado diretamen-te ligado a um contexto de ao,colocar algo em atividade, colocarem prtica, o exerccio de ensinar.Dessa forma, pode-se considerar quea Prtica de Ensino uma maneirade utilizar tcnicas de comunicao,tcnicas de ensino, colocar em pr-tica o que se aprende teoricamente,e, especificamente em aes concre-tas e com grupos parecidos com arealidade futura de atuao.

    A Prtica de Ensino devecolocar o futuro professor em con-tato com a escola e toda sua estru-tura, assim como em relao diretacom alunos, suas condutas, perso-nalidades, pois assim, torna-se pos-svel e mais palpvel a realidade.

    Esse contato com a reali-dade deve ocorrer em todos os n-veis de atuao, desde a EducaoInfantil at o Ensino Mdio, a diver-sidade de experincias essencial aoaluno que est em formao.

    Entende-se que um dos fa-tores mais importantes da Prtica deEnsino a vinculao direta do fu-

    turo professor com os alunos que seencontram na escola e a presena doprofessor formado e habilitado parao exerccio profissional, contribuindocomo agente facilitador entre o conhe-cimento terico e o conhecimentoprtico, sendo o responsvel pelasatividades ministradas pelos alunos.

    Outro fato que contribuisignificativamente para o processoformativo a discusso e a reflexosobre as aes que ocorreram no co-tidiano escolar, visto a opinio e su-gesto de colegas e professores queacompanham as aulas ministradas.

    Portanto, relao direta comescolas e alunos, organizao e cons-truo de planos de aula, filmagens efotografias das aulas aplicadas, rela-trios individuais e em grupo e dis-cusses sobre as aes pedaggicaspossibilitam que a Prtica de Ensinotorne-se um grande laboratrio (nobom sentido!) para que os futuros pro-fessores, a partir da reflexo, tornem-se realmente profissionais.

    A experincia da Prticade Ensino nos cursos deEducao Fsica no per-odo noturno: primeirasconsideraes

    Sendo a Prtica de Ensinouma maneira de utilizar tcnicas decomunicao e ensino, obtidas no

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    plano terico transformando-se emaes concretas, com grupos de alu-nos numa realidade futura de atua-o, entende-se que a relao da te-oria com a prtica revela possveisproblemas e provveis solues.Assim, tem-se uma nova atuao,com menor quantidade de falhas.

    Assim, dentro do curso deEducao Fsica a Prtica de Ensinoinsere o futuro professor na realida-de escolar e toda sua estrutura, as-sim como estabelece uma relaodireta com alunos e por conseqn-cia no cotidiano das aes docentes.

    Desta forma, inicialmente,so estabelecidas relaes de parce-ria com escolas prximas da regio emque a instituio est situada. A esco-la cede um espao de construo desaberes prticos, contribuindo para aformao daqueles que estaro atu-ando na mesma futuramente.

    Utilizando essa estruturaorganizacional so atendidas as ne-cessidades que o Conselho Nacionalde Educao (2002) estabelece nasDiretrizes Curriculares Nacionais paraa formao de professores da educa-o bsica, garantindo que a prticatranscenda os espaos do estgio,mantendo uma relao com a reali-dade e nunca desarticulada do curso.

    Assim, buscou-se no per-odo noturno (considerando a impos-sibilidade de ministrar aulas paracrianas do ensino fundamental eadolescentes do ensino mdio, vis-

    to que a oferta do primeiro nveldificilmente existe no perodo no-turno e o segundo por ter uma gra-de de horrio que no permite a in-sero da Educao Fsica) estabele-cer uma reflexo sobre a realidadedelicada pela qual passa a EducaoFsica, fato apontado por outro tra-balho (OLIVEIRA, 1999), bem comoelaborar uma proposta que estimu-lasse o grupo a refletir sobre a reali-dade do sistema de ensino.

    A disciplina de Prtica deEnsino da Fefisa - Faculdades Inte-gradas de Santo Andr tem comoobjetivo identificar, diagnosticar,aproximar, atuar e refletir sobre asrealidades de atuao profissional.Com esses objetivos foram iniciadosos trabalhos da disciplina.

    Primeiramente, fez-se umavisita ao local em que as atividadesseriam desenvolvidas, tendo a inten-o de constatar a realidade fsicada escola e obter um primeiro con-tato com o grupo de alunos, fatoesse que Santos (2002) denominaanlise de conjuntura, que tem porobjetivo refletir de maneira crticasobre a realidade educacional.

    Em termos de espao fsi-co, a escola apresenta uma quadracoberta, bem iluminada e um ptiocom dimenses inferiores a quadra,mas plenamente utilizvel.

    Dentre outras constata-es, o que mais chamou atenona observao efetuada foi o grupode alunos.

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    So alunos com faixa etriaentre 16 e 60 anos, ou seja, um gru-po muito heterogneo, que passapor um processo de alfabetizao eque necessitam de cuidados diferen-ciados dos que so oferecidos paraalunos em idade escolar adequada.

    Em conversa com a direoda escola, a mesma afirmou que to-dos os cuidados possveis fossemtomados, uma vez que estes alunosapresentam uma auto-estima muitobaixa, problemas de aprendizagemmuito srios e que ao menor sinalde desconfiana de que algum pos-sa os estar utilizando como motivode brincadeiras, a desistncia dosestudos e a dificuldades de traz-losnovamente para escola seria enorme.

    A experincia da Prticade Ensino nos cursos deEducao Fsica no per-odo noturno: a realidadeda Educao de Jovens eAdultos

    Para Oliveira (2001), o adul-to, que freqenta a modalidade deensino conhecida atualmente comoEducao de Jovens e Adultos EJA,geralmente o migrante que chegas grandes metrpoles, filho de tra-balhadores rurais sem qualificaoe com baixo nvel de instruo es-colar, comeam a trabalhar na rea

    rural durante a infncia e na adoles-cncia e quando buscam a alfabeti-zao o fazem muito tarde.

    Porm, para a autora, ojovem que procura a EJA, bem comoo adulto, um excludo da escola,porm j freqentou a escola duran-te algum tempo e acaba incorporan-do-se a modalidade de ensino emfases mais adiantadas de escolarida-de, portanto, com maiores chancesde concluir o ensino fundamental oumesmo o ensino mdio.

    Segundo Oliveira (2001),muitos dos chegam na EJA no sa-bem ler e escrever, porm so indiv-duos que convivem socialmente, emuitas vezes pelas condies concre-tas de sua existncia no necessitamler. O conhecimento da leitura e daescrita uma caracterstica do traba-lho, o trabalho que alfabetiza ouanalfabetiza o homem, de acordocom o que exija dele, sua valoraos pode ser feita levando em consi-derao o nvel de trabalho que cadaindivduo executa na sociedade.

    Dessa forma, Pinto (2003)afirma que o jovem e o adulto anal-fabeto no podem ser consideradoscrianas que cessaram o desenvol-vimento cultural, mas deve-se levarem considerao que so membrosatuantes na sociedade, no apenaspor ser um trabalhador e sim peloconjunto de aes que exerce. Oadulto analfabeto um elemento deinfluncia na comunidade, sendo

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    assim, o educador no deve utilizar asmesmas ferramentas para a alfabetiza-o de crianas e para a alfabetizaode adultos, pois cada um deles temsuas caractersticas e necessidades.

    Soares (2002), por sua vez,considera que a educao escolarpara jovens e adultos pode auxiliarna eliminao das discriminaes,proporcionando conhecimentosmais avanados, formando pessoasmais solidrias e conseqentemen-te um pas mais autnomo e demo-crtico. Da a busca de uma socie-dade menos desigual e mais justa.

    Segundo Pinto (2003), oeducador da EJA, deve ser aquelecom conscincia crtica, entendendosua ao como uma atividade emi-nentemente social.

    Considerando esses apon-tamentos sobre as condies neces-srias para a ao docente, commuitas dvidas e medos, mas espe-ranosos de que algo poderia serfeito, iniciaram-se as aulas de Edu-cao Fsica para EJA.

    Um primeiro fato a relatarfoi a timidez inicial de alguns, umavez que as atividades estavam sen-do registradas por filmadora, paraque posteriormente pudessem serdiscutidos pontos relevantes com osalunos, estabelecendo assim a refle-xo sobre a ao, tendo por objeti-vo formar um profissional mais cr-tico e consciente de seu papel.

    Este conceito de formao deum professor crtico, se aproxima mui-to da formao do professor reflexivo,defendido por Schn. Essa reflexopode e deve ser construda atravs deuma habilidosa prtica de ensino.

    Existe, primeiramente, um momen-to de surpresa: um professor refle-xivo permite-se ser surpreendidopelo que o aluno faz. Num segun-do momento, reflecte sobre essefacto, ou seja, pensa sobre aquiloque o aluno disse ou fez e, simulta-neamente, procura compreendera razo por que foi surpreendido.Depois, num terceiro momento,reformula o problema suscitadopela situao, talvez o aluno noseja de uma aprendizagem lenta,mas, pelo contrrio, seja exmio nocumprimento das instrues. Numquarto momento, efectua uma ex-perincia para testara sua nova hi-ptese; por exemplo, coloca umanova questo ou estabelece umanova tarefa para testar a hipteseque formulou sobre o modo depensar o aluno. Este processo dereflexo-na-aco no exige pala-vras. (SCHN, 1992, p. 83).

    Com a utilizao dessastcnicas, pressupe-se que o futuroprofessor poder instrumentalizar-se de forma a melhorar cada vezmais sua prtica, tendo sempre emvista o educando.

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    Outro dado a salientar, eque inicialmente pode ter constran-gido uma parte dos alunos, no fa-vorecendo a participao das aulas,foi a presena de um grupo consi-dervel de alunos que estavam fa-zendo observaes e o relatrio decampo para posterior avaliao.

    Esse relatrio tem por fi-nalidade verificar se o grupo que estaplicando a aula atingiu o objetivoproposto para a mesma; se utilizoucontedos e estratgias adequadas;se estavam preparados para atuar;como ocorreu a relao professor ealuno; verificar como os alunos re-ceberam as atividades vivenciadas;alm de colocar os outros alunos emposio de avaliadores, situaoessa que deve ser experimentadacom conscincia e responsabilidade.

    Passado esse momento ini-cial, o que se pde observar foi umgrupo altamente motivado e extre-mamente ativo, independente da ida-de (lembrando que o grupo era com-posto por alunos entre 16 e 60 anos).

    Foram ministradas 16 au-las, oito para cada turma.

    O objetivo dessas aes,alm de aproximar o aluno, futuroprofessor, da realidade de atuao,era favorecer, para os alunos da EJAo entendimento da importncia deuma prtica regular de atividade f-sica, apontando a relevncia da mes-ma por meio do questionamento detudo o que se faz.

    No possvel manter umaviso tecnicista, descontextualizada,faz-se necessrio transformar, oferecernovo sentido, suplantar as prticasrepetitivas que privilegiam os maisaptos e exclui os menos hbeis, possi-bilitando a apropriao de cultura,algo to importante para os alunos.

    Com esse novo significado,com essa transformao, foram vri-os os contedos vivenciados, desdeatividades recreativas que levaram osalunos a refletirem sobre a realidadecotidiana at a elaborao de umaorquestra, explorando ritmo e movi-mento com materiais reciclveis.

    Enfim, as experincias fo-ram marcantes para todos, at quedireo da escola, juntamente comas professoras procuraram-nos e afir-maram categoricamente que os alu-nos, alm de gostarem muito dasaulas, vinham aprendendo mais, vis-to que existiu por parte da faculda-de e de todos os alunos a preocupa-o de sempre contextualizar a ati-vidade, explicando o que , paraquem, por que e como executar.

    Assim, muitos foram osmomentos de partilha de idias, dereflexo na ao, que os futuros pro-fessores puderam vivenciar.

    Posterior as atividades,aconteciam s discusses sobre asaulas, visando ampliar ainda maisas reflexes sobre as aulas.

    Dentro das discusses,muitas vezes calorosas, o que se

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    percebeu foi um grupo de alunosmais amadurecido pessoal e profis-sionalmente, fruto do contato duro,porm enriquecedor com a realidade.

    Como exposto no inciodeste relato, o fato de tornar-se pro-fessor no deve ser entendido comouma funo que se preocupe nica eexclusivamente com a transmisso desaberes, mas com a transformao eemancipao daqueles que esto pre-sentes no processo de ensino-apren-dizagem. (IMBERNN, 2002).

    Despertar os futuros pro-fessores para uma conscincia res-ponsvel, que leve a superao domodelo social vigente uma ban-deira que os cursos de formaoprofissional deveriam levantar, pos-sibilitando um desenvolvimentocom qualidade para a sociedade quenecessita de mudana.

    A troca de experincias fundamental, o que se observoucom nitidez foi um crescimentomuito grande, tanto dos futuros pro-fessores como dos alunos que parti-ciparam das aulas.

    Fao aqui a consideraode que essa proposta favoreceu aconstruo de um espao para trocade experincias muito relevantesqueles que dela participaram, fican-do a seguinte reflexo:

    Se dois homens vm andando poruma estrada, cada um carregandoum po, e, ao se encontrarem, eles

    trocam os pes, cada homem vaiembora com um; porm, se doishomens vm andando por umaestrada, cada um carregando umaidia, e, ao se encontrarem, elestrocam as idias, cada um vai em-bora com duas. (CORTELLA,1999, p. 159).

    Para ns profissionais daeducao, este deveria ser o sentidode nossa atuao junto aos nossosalunos, fazer com que eles percebamque a vida de cada um deles podeser um eterno partilhar de idias, ide-ais, esperanas, sonhos e vitria.

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