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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
INSTITUTO DE ESTUDOS DE SAÚDE COLETIVA
DEPARTAMENTO DE MEDICINA PREVENTIVA
A FUNÇÃO DO PSICÓLOGO NA EQUIPE DE CIRURGIA BARIÁTRICA
THAATY BURKLE HERCOWITZ DE FRANÇA
Orientador
PROF. DR. ANDRÉ MARTINS
Rio de Janeiro
2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
INSTITUTO DE ESTUDOS DE SAÚDE COLETIVA
DEPARTAMENTO DE MEDICINA PREVENTIVA
A FUNÇÃO DO PSICÓLOGO NA EQUIPE DE CIRURGIA BARIÁTRICA
THAATY BURKLE HERCOWITZ DE FRANÇA
Orientador
PROF. DR. ANDRÉ MARTINS
Tese de doutorado apresentada ao
Instituto de Estudos em Saúde
Coletiva, da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, como requisito
parcial para a obtenção do título de
doutora em Saúde Coletiva.
Rio de Janeiro
2014
THAATY BURKLE HERCOWITZ DE FRANÇA
A FUNÇÃO DO PSICÓLOGO NA EQUIPE DE CIRURGIA BARIÁTRICA
Tese de doutorado em Saúde Coletiva desenvolvida no Instituto de Estudos de Saúde
Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, área de concentração Ciências
Humanas e Saúde.
Aprovado em Rio de Janeiro, de de 2014.
Banca examinadora
Prof. Dr. André Martins Vilar de Carvalho (UFRJ/ Orientador)
Prof. Dra. Lucia Abelha Lima (UFRJ)
Profª. Drª. Cristina Rauter (UFF)
Profª. Drª Anna Paula Uziel (UERJ)
Prof. Dr. Nilson Guimaraes Doria (UERJ)
Para Alicia.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu marido, Igor, pelo amor, apoio, cuidado, compreensão e
entusiasmo de estar ao meu lado.
Aos meus pais por todo o amor.
A minha irmã pela parceria incondicional, por abrir mão do seu tempo e até de
parte do seu trabalho para me ajudar.
A Manuela, por sua alegria e afeto.
Ao meu querido orientador e professor André Martins pela alegria e
aprendizagem de cada um dos nossos encontros.
Ao amigo Leonardo que tanto me ajudou na pesquisa.
A todos os psicólogos que entrevistei que se mostraram tão receptivos e
disponíveis a realizar a pesquisa.
Ao Dr. Sergio Ricardo Dias Guimarães por me permitir fazer parte da sua equipe
e pelo apoio, sempre, nas minhas pesquisas.
A FAPERJ pelo financiamento que ajudou a viabilizar a realização dessa tese.
A minha filha Alícia que me ilumina com seu amor todos os dias.
RESUMO
A obesidade é apontada como um grave problema de Saúde Pública no Brasil e
em diversos paises do mundo. Atualmente a cirurgia bariátrica é considerada o
tratamento mais eficaz para casos de obesidade mórbida e obesidade associada a
algumas comorbidades. No Brasil as equipes de cirurgia bariátrica são formadas por
diversos profissionais, entre eles os psicólogos. Como não existem orientações
específicas sobre a atuação desse profissional nessas equipes, realizamos uma pesquisa
de campo para verificar qual a função dos psicólogos nas equipes de cirurgia bariátrica
na cidade do Rio de Janeiro. Para tal, entrevistamos 18 profissionais, que atuam em 36
equipes cirúrgicas. Coletamos seus dados pessoais, sua formação, se seguem alguma
orientação teórica, quantos pacientes cada um já atendeu, como se dá a rotina de
avaliação pré-operatória (ferramentas utilizadas, tempo de duração), se utilizam testes
psicológicos, além de informações sobre o tratamento pós-operatório dos pacientes; se
as equipes que atuam realizam reuniões periódicas e como é o percentual de adesão ao
tratamento dos pacientes. Os dados sofreram análise quantitativa e posteriormente
qualitativa. Os resultados indicaram que os psicólogos atuam de formas extremamente
diferentes, coletando dados e aplicando instrumentos variados durante a sua avaliação
psicológica pré-operatória, e também não têm conduta comum referente à indicação de
tratamento pós-operátorio. Concluímos que é urgente a criação de critérios, pelos
Conselhos de Psicologia, que possam orientar a atuação dos psicólogos nessas equipes,
além da formulação de um protocolo fundamentado prática e teoricamente que venha a
dirigir sua atuação sem limitá-la. Apresentamos uma proposta de protocolo em três
etapas, sendo estas anamnese (e entrevista inicial), entrevistas de discussão e reflexão
sobre a cirurgia – com a presença de familiares – e encaminhamento para um psiquiatra
para realização de avaliação. A indicação de tratamento pós-operatório deve ser feita
para todos os pacientes que realizarem a cirurgia bariátrica uma vez que o sucesso do
tratamento implica em mudanças comportamentais. O tratamento psicológico pode
auxiliar o paciente a lidar com suas dificuldades psíquicas que contribuíram para o
surgimento da obesidade. A proposta desse protocolo é um primeiro esforço na busca
de uma atuação fundamentada, descrita e analisada que tenha como finalidade o sucesso
do tratamento do paciente de forma integral e não apenas da cirurgia bariátrica em si.
Palavras Chave: obesidade, cirurgia bariátrica, psicologia, avaliação psicológica.
ABSTRACT
The obesity is appointed as a serious problem of Public Health in Brazil and in
many countries of the world. Currently, the bariatric surgery is considered the most
efficient treatment in cases of morbid obesity and obesity associated with some
comorbidities. In Brazil the bariatric surgery teams are formed by many professionals,
including psychologists. As there are not specific orientations about the actuation of this
professional in these teams, we have done a field research to verify the function of the
psychologists in bariatric surgery teams in Rio de Janeiro city. For this, we have
interviewed 18 professionals, who work in 36 surgical teams. We have collected their
personal data and formation, if they follow any theoretical orientation, how many
patients each one has already attended, how the pre-operative evaluation routine is (used
tools, duration time), if they use psychological tests, besides information about the post-
operative treatment of patients; if the teams that work do periodic meetings and how the
joining percentage into the patients’ treatment is. The data have been treated by
quantitative and then qualitative analysis. The results have indicated that psychologists
act very differently, collecting data and applying different instruments during their pre-
operative psychological evaluation, and do not have the same behavior related to post-
operative treatment indication. We have concluded that the creation of criteria, by
Psychology Councils, is urgent in order for them to guide the psychologists’ actuation
in these teams, besides the formulation of a protocol based on practice and theory that
manage their actuation without limiting it. We have presented a proposal of a protocol
in three steps: anamnesis (and initial interview), discussion interviews and reflection
about the surgery – with the presence of family members – and the request of a
psychiatric evaluation. The indication of a post-operative treatment must be done to all
patients that have the bariatric surgery once the success of the treatment implies on
behavioral changes. The psychological treatment can help the patient lead with psychic
difficulties that contributed to obesity appearing. The proposal of this protocol is a first
effort trying to search for an actuation founded, described and analyzed aimed to the full
success of the patient's treatment and not only the bariatric surgery itself.
Keywords: obesity, bariatric surgery, psychology, psychological evaluation.
INDICE DE GRÁFICOS
Gráfico 1. Idade dos entrevistados ------------------------------------------------------------- 71
Gráfico 2. Sexo dos entrevistados -------------------------------------------------------------- 71
Gráfico 3. Tempo da formação em psicologia ------------------------------------------------ 72
Gráfico 4. Cursos de pós-graduação realizados pelos entrevistados ---------------------- 73
Gráfico 5. Áreas dos cursos de pós-graduação ------------------------------------------------ 73
Gráfico 6. Cursos de pós graduação e área do conhecimento estudado------------------- 75
Gráfico 7. Abordagens utilizadas --------------------------------------------------------------- 76
Gráfico 8. Relação entre tipo de abordagem e áreas dos cursos de pós-graduação ----- 77
Gráfico 9: Realização de outros tipos de avaliação psicológica --------------------------- 79
Gráfico 10. Outros tipos de avaliação psicológica citados ---------------------------------- 79
Gráfico 11. Quantidade de equipes em que os entrevistados atuam ---------------------- 81
Gráfico 12: Tempo de atuação em equipes de cirurgia bariátrica -------------------------- 82
Gráfico 13. Quantidade de pacientes atendidos ------------------------------------------------ 82
Gráfico 14. Número de pacientes atendidos e quantidade de equipes em que os
profissionais atuam -------------------------------------------------------------------------------------------- 83
Gráfico 15. Número de encontros para realizar avaliação pré-operatória ----------------- 84
Gráfico 16. Tempo de atuação em equipes de cirurgia bariátrica e quantidade de
encontros utilizados para realização da avaliação psicológica ------------------------------ 86
Gráfico 17. Abordagem utilizada e número de encontros para realizar a avaliação pré-
operatória --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 87
Gráfico 18. Quantidade de instrumentos utilizados para a realização da avaliação
psicológica ------------------------------------------------------------------------------------------------------ 91
Gráfico 19. Quantidade de encontros para realização da avaliação psicológica e número
de instrumentos utilizados -------------------------------------------------------------------------- 92
Gráfico 20. Utilização da Entrevista pelos entrevistados ------------------------------------ 94
Gráfico 21. Uso da entrevista com familiar ---------------------------------------------------- 94
Gráfico 22. Uso de testes psicológicos na avaliação pré-operatória da cirurgia bariátrica
------------------------------------------------------------------------------------------------------ 95
Gráfico 23. Realização de sessão informativa durante a avaliação psicológica ---------- 96
Gráfico 24. Realização da entrevista de devolução ------------------------------------------- 97
Gráfico 25. Uso de outros instrumentos durante a avaliação ------------------------------- 98
Gráfico 26. Abordagens teóricas e uso de testes psicológicos ------------------------------- 99
Gráfico 27. Quantidade de testes psicológicos utilizados pelos entrevistados ---------- 100
Gráfico 28. Uso da Escala de Hamilton --------------------------------------------------------101
Gráfico 29. Uso da Escala de Compulsão Alimentar – EAT ----------------------------- 101
Gráfico 30. Uso do Body Shape Questionnaire – BSQ ------------------------------------- 102
Gráfico 31. Uso do teste BDI -------------------------------------------------------------------- 103
Gráfico 32. Uso do BAI -------------------------------------------------------------------------- 103
Gráfico 33. Uso do Questionário de Intenção Suicida de Beck ---------------------------- 104
Gráfico 34. Uso do HTP ------------------------------------------------------------------------ 105
Gráfico 35. Uso do EFN -------------------------------------------------------------------------- 105
Gráfico 36. Profissionais que coletam dados sobre a História de Vida ------------------ 106
Gráfico 37. Profissionais que coletam dados sobre a História da Obesidade ----------- 107
Gráfico 38. Profissionais que coletam dados sobre o uso de substâncias ----------------- 108
Gráfico 39. Profissionais que coletam dados sobre a história familiar dos pacientes --109
Gráfico 40. Profissionais que coletam dados sobre a rotina alimentar -------------------- 110
Gráfico 41. Profissionais que coletam dados sobre histórico de tratamento prévio --- 111
Gráfico 42. Profissionais que perguntam sobre o acesso à cirurgia bariátrica ---------- 111
Gráfico 43. Profissionais que questionam sobre as expectativas para a cirurgia bariátrica
----------------------------------------------------------------------------------------------------- 112
Gráfico 44. Profissionais que perguntam sobre o histórico de atividades físicas
realizadas - ---------------------------------------------------------------------------------------113
Gráfico 45. Profissionais que questionam sobre aspectos da vida sexual dos pacientes ---
----------------------------------------------------------------------------------------------------- 114
Gráfico 46. Profissionais que coletam dados acerca de transtorno alimentar ----------- 115
Gráfico 47. Critérios para considerar um paciente apto à cirurgia ------------------------- 116
Gráfico 48. Presença de quadro de Depressão Aguda como critério para considerar um
paciente não apto à cirurgia ---------------------------------------------------------------------- 117
Gráfico 49. Profissionais que usam o critério do abuso do álcool ----------------------- 118
Gráfico 50. Profissionais que têm como critério o uso de drogas para considerar um
paciente não-apto à cirurgia ----------------------------------------------------------------------- 119
Gráfico 51. Profissionais que tem como critério “presença de medo excessivo” para
considerar um paciente não-apto à cirurgia ----------------------------------------------------- 119
Gráfico 52. Profissionais que citaram o critério “presença de fantasias” em relação ao
procedimento para considerar um paciente não-apto à cirurgia --------------------------- 120
Gráfico 53. Profissionais que citaram o diagnóstico de Psicose como critério para
considerar um paciente não-apto à cirurgia ------------------------------------------------------ 121
Gráfico 54. Profissionais que consideram o diagnóstico de uma doença psiquiátrica
como critério para considerar um paciente não-apto à cirurgia ----------------------------- 122
Gráfico 55. Profissionais que consideram os problemas físicos de saúde como critério
para considerar um paciente não-apto à cirurgia ---------------------------------------------- 123
Gráfico 56. Profissionais que consideram o retardo mental como critério para considerar
um paciente não-apto à cirurgia ----------------------------------------------------------------- 124
Gráfico 57. Profissionais que consideram a ausência de suporte familiar como critério
para considerar um paciente não-apto à cirurgia ---------------------------------------------- 125
Gráfico 58. Profissionais que consideram como critério “esgotar outros tipos de
tratamento” para liberar um paciente para a cirurgia ---------------------------------------- 126
Gráfico 59. Profissionais que consideram outros critérios para liberar um paciente para a
cirurgia ----------------------------------------------------------------------------------------------------------- 127
Gráfico 60. Já fez contra-indicação à cirurgia? ---------------------------------------------- 128
Gráfico 61. Entrega do laudo ao paciente ----------------------------------------------------- 129
Gráfico 62. Posicionamento dos profissionais em relação à indicação de tratamento pós-
operatório ------------------------------------------------------------------------------------------------------– 130
Gráfico 63. Pacientes retornam para o tratamento? ----------------------------------------- 132
Gráfico 64. Percentual de pacientes que retornam para tratamento após a cirurgia --- 133
Gráfico 65. Realização de reuniões de equipe ------------------------------------------------ 135
INDICE DE TABELAS
Tabela 1. Idade dos entrevistados ------------------------------------------------------------- 71
Tabela 2. Sexo dos entrevistados -------------------------------------------------------------- 71
Tabela 3. Tempo da formação em psicologia ------------------------------------------------ 72
Tabela 4. Cursos de pós-graduação realizados pelos entrevistados ----------------------- 73
Tabela 5. Áreas dos cursos de pós-graduação ----------------------------------------------- 73
Tabela 6. Cursos de pós graduação e área do conhecimento estudada ------------------- 75
Tabela 7. Abordagens utilizadas --------------------------------------------------------------- 76
Tabela 8. Relação entre tipo de abordagem e áreas dos cursos de pós-graduação ------ 77
Tabela 9: Realização de outros tipos de avaliação psicológica ---------------------------- 79
Tabela 10. Outros tipos de avaliação psicológica citados ---------------------------------- 80
Tabela 11. Quantidade de equipes em que os entrevistados atuam ----------------------- 81
Tabela 12: Tempo de atuação em equipes de cirurgia bariátrica -------------------------- 82
Tabela 13. Quantidade de pacientes atendidos ---------------------------------------------- 82
Tabela 14. Número de pacientes atendidos e quantidade de equipes em que os
profissionais atuam ------------------------------------------------------------------------------ 84
Tabela 15. Número de encontros para realizar avaliação pré-operatória ----------------- 85
Tabela 16. Tempo de atuação em equipes de cirurgia bariátrica e quantidade de
encontros utilizados para realização da avaliação psicológica ---------------------------- 86
Tabela 17. Abordagem utilizada e número de encontros para realizar a avaliação pré-
operatória ----------------------------------------------------------------------------------------- 88
Tabela 18. Abordagem utilizada, tempo de atuação em equipe de cirurgia bariátrica e
quantidade de encontros para realizar a avaliação ------------------------------------------ 89
Tabela 19. Quantidade de instrumentos utilizados para a realização da avaliação
psicológica ---------------------------------------------------------------------------------------- 91
Tabela 20. Quantidade de encontros para realização da avaliação psicológica e número
de instrumentos utilizados ---------------------------------------------------------------------- 92
Tabela 21. Utilização da Entrevista pelos entrevistados ----------------------------------- 94
Tabela 22. Uso da entrevista com familiar -------------------------------------------------- 94
Tabela 23. Uso de testes psicológicos na avaliação pré-operatória da cirurgia bariátrica -
------------------------------------------------------------------------------------------------------ 95
Tabela 24. Realização de sessão informativa durante a avaliação psicológica ---------- 96
Tabela 25. Realização da entrevista de devolução ------------------------------------------ 97
Tabela 26. Uso de outros instrumentos durante a avaliação ------------------------------- 98
Tabela 27. Abordagens teóricas e uso de testes psicológicos ------------------------------ 99
Tabela 28. Quantidade de testes psicológicos utilizados pelos entrevistados ---------- 100
Tabela 29. Uso da Escala de Hamilton ------------------------------------------------------ 101
Tabela 30. Uso da Escala de Compulsão Alimentar – EAT ------------------------------ 101
Tabela 31. Uso do Body Shape Questionnaire – BSQ ------------------------------------ 102
Tabela 32. Uso do teste BDI ------------------------------------------------------------------ 103
Tabela 33. Uso do BAI ------------------------------------------------------------------------ 103
Tabela 34. Uso do Questionário de Intenção Suicida de Beck --------------------------- 104
Tabela 35. Uso do HTP ----------------------------------------------------------------------- 105
Tabela 36. Uso do EFN ----------------------------------------------------------------------- 105
Tabela 37. Profissionais que coletam dados sobre a História de Vida ------------------ 106
Tabela 38. Profissionais que coletam dados sobre a História da Obesidade ----------- 107
Tabela 39. Profissionais que coletam dados sobre o uso de substâncias --------------- 108
Tabela 40. Profissionais que coletam dados sobre a história familiar dos pacientes -- 109
Tabela 41. Profissionais que coletam dados sobre a rotina alimentar ------------------- 110
Tabela 42. Profissionais que coletam dados sobre histórico de tratamento prévio ---- 111
Tabela 43. Profissionais que perguntam sobre o acesso à cirurgia bariátrica ---------- 111
Tabela 44. Profissionais que questionam sobre as expectativas para a cirurgia bariátrica
-----------------------------------------------------------------------------------------------------112
Tabela 45. Profissionais que perguntam sobre o histórico de atividades físicas realizadas
-----------------------------------------------------------------------------------------------------113
Tabela 46. Profissionais que questionam sobre aspectos da vida sexual dos pacientes - --
-----------------------------------------------------------------------------------------------------114
Tabela 47. Profissionais que coletam dados acerca de transtorno alimentar ----------------
-----------------------------------------------------------------------------------------------------115
Tabela 48. Critérios para considerar um paciente apto à cirurgia ----------------------- 116
Tabela 49. Presença de quadro de Depressão Aguda como critério para considerar um
paciente não apto à cirurgia ------------------------------------------------------------------- 117
Tabela 50. Profissionais que consideram pacientes com quadro de depressão aguda
como não aptos ao procedimento cirúrgico ------------------------------------------------- 117
Tabela 51. Profissionais que usam o critério do abuso do álcool ------------------------ 118
Tabela 52. Profissionais que têm como critério o uso de drogas para considerar um
paciente não-apto à cirurgia ------------------------------------------------------------------ 119
Tabela 53. Profissionais que tem como critério “presença de medo excessivo” para
considerar um paciente não-apto à cirurgia ------------------------------------------------- 120
Tabela 54. Profissionais que citaram o critério “presença de fantasias” em relação ao
procedimento para considerar um paciente não-apto à cirurgia ------------------------- 121
Tabela 55. Profissionais que citaram o diagnóstico de Psicose como critério para
considerar um paciente não-apto à cirurgia ------------------------------------------------- 121
Tabela 56. Profissionais que consideram o diagnóstico de uma doença psiquiátrica
como critério para considerar um paciente não-apto à cirurgia -------------------------- 122
Tabela 57. Profissionais que consideram os problemas físicos de saúde como critério
para considerar um paciente não-apto à cirurgia ------------------------------------------- 123
Tabela 58. Profissionais que consideram o retardo mental como critério para considerar
um paciente não-apto à cirurgia -------------------------------------------------------------- 124
Tabela 59. Profissionais que consideram a ausência de suporte familiar como critério
para considerar um paciente não-apto à cirurgia ------------------------------------------- 125
Tabela 60. Profissionais que consideram como critério “esgotar outros tipos de
tratamento” para liberar um paciente para a cirurgia -------------------------------------- 126
Tabela 61. Profissionais que consideram outros critérios para liberar um paciente para a
cirurgia ------------------------------------------------------------------------------------------- 127
Tabela 62. Já fez contra-indicação à cirurgia? --------------------------------------------- 128
Tabela 63. Entrega do laudo ao paciente ---------------------------------------------------- 129
Tabela 64. Entrega do laudo ao paciente e abordagens teóricas ------------------------- 130
Tabela 65. Posicionamento dos profissionais em relação à indicação de tratamento pós-
operatório --------------------------------------------------------------------------------------– 131
Tabela 66. Indicação de tratamento pós-operatório e abordagens teóricas ------------- 131
Tabela 67. Pacientes retornam para o tratamento? ---------------------------------------- 132
Tabela 68. Percentual de pacientes que retornam para tratamento após a cirurgia ---- 133
Tabela 69. Abordagem utilizada, número de encontros para avaliação pré-operatória e
taxa de retorno para tratamento -------------------------------------------------------------- 134
Tabela 70. Realização de reuniões de equipe ---------------------------------------------- 135
SUMÁRIO
Lista de Siglas ------------------------------------------------------------------------------------ 16
Introdução ------------------------------------------------------------------------------------ 18
Capítulo 1. Histórico da cirurgia bariátrica e a inserção do psicólogo ------------------- 22
1.1 – A inserção do psicólogo nas equipes de cirurgia bariátrica ------------------------- 34
1.1.1 – Revisão bibliográfica ------------------------------------------------------------------- 36
1.2 – Análise dos instrumentos de avaliação ------------------------------------------------- 61
1.2.1 – Inventário de Depressão de Beck -------------------------------------------------- 62
1.2.2 – Inventário Multifásico de Personalidade de Minnesota ------------------------- 63
1.2.3 - Boston Entrevista para a Cirurgia Bariátrica ------------------------------------- 64
1.2.4 – Mini International Psychiatric Interview ----------------------------------------- 66
1.2.5 – Entrevista Clínica Estruturada ------------------------------------------------------ 66
Capítulo 2. Metodologia e resultados --------------------------------------------------------- 68
2.1 – Participantes ------------------------------------------------------------------------------- 68
2.2 – Local ---------------------------------------------------------------------------------------- 68
2.3 – Instrumentos ------------------------------------------------------------------------------- 68
2.4 – Materiais ----------------------------------------------------------------------------------- 69
2.5 – Procedimentos ----------------------------------------------------------------------------- 69
2.6 – Resultados --------------------------------------------------------------------------------- 70
Capítulo 3. Análise e discussão dos resultados -------------------------------------------- 137
3.1 – Características dos psicólogos entrevistados ---------------------------------------- 138
3.2 – Avaliação pré-operatória --------------------------------------------------------------- 144
Conclusão --------------------------------------------------------------------------------------- 181
Referências bibliográficas -------------------------------------------------------------------- 200
ANEXO I ---------------------------------------------------------------------------------------- 219
ANEXO II --------------------------------------------------------------------------------------- 211
ANEXO III -------------------------------------------------------------------------------------- 213
ANEXO IV ------------------------------------------------------------------------------------- 214
LISTA DE SIGLAS
ANS – Agência Nacional de Saúde
BAROS - Bariatric Analysis and Reporting Outcome System
BAI – Inventário de Ansiedade de Beck
BDI – Inventário de Depressão de Beck
BIAQ - Body Image Avoidance Questionnaire
BSRQ - Body-Self Relations Questionnaire
BSQ - Body Shape Questionnaire
CFM - Conselho Federal de Medicina
CFP – Conselho Federal de Psicologia
CI – Termo de Consentimento Informado
CID – Classificação Internacional de Doenças
COESAS - Comissão de Especialidades Associadas
DSM - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
DSM III – R - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – 3ª edição,
Revisada
DSM-IV - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – 4ª edição
DSM-V - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – 5ª edição
EAT - Eating Attitudes Test
EDI - Eating Disorder Inventory
EMDR - Eye Movement Desensitization and Reprocessing
EUA – Estados Unidos da América
GOTA – Grupo de Estudos em Obesidade e Transtornos Alimentares
HTP – Teste psicológico House, tree, person (Traduzido: Casa, árvore, pessoa)
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IMC – Índice de Massa Corporal
MINI – Mini International Psuchiatric Interview
MMPI – Inventário Multifásico de Personalidade de Minessota
http://www.ibge.gov.br/
MMPI-2 – Inventário Multifásico de Personalidade de Minessota - 2ª edição
OMS – Organização Mundial de Saúde
PAI - Inventário de Avaliação de Personalidade
QEWP - R - Questionnaire on Eating and Weight Patterns – Revised
RQC – Razão Cintura – Quadril
SBCB – Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica
SBCBM – Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica
SCID- II – Entrevista Clínica Estruturada
SCN - Síndrome do Comer Noturno
SP – São Paulo
SUS – Sistema Único de Saúde
TCAP - Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica
TCC - Transtorno do Comer Compulsivo
TCC – Terapia Cognitivo Comportamental
TSH – Thyroid Stimulating Hormone
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
WALI – Inventário sobre Peso e Estilo de Vida
18
Introdução
O desejo de realizar esta pesquisa surgiu durante minha atuação em uma equipe
multidisciplinar de atendimento a indivíduos obesos, candidatos à cirurgia bariátrica (também
conhecida como cirurgia de redução do estômago) ao longo de 36 meses. O trabalho que
realizei nesta equipe consistiu em fazer avaliação psicológica pré-operatória e acompanhar o
pós-operatório dos pacientes.
Durante esse período diversas questões surgiram tais como: o que leva estes pacientes
a se candidatarem a esse procedimento radical? Existem fatores psicológicos que predispõem
ao sucesso do tratamento pós-operatório? Por que os pacientes conhecem tão pouco do
procedimento ao qual escolhem se submeter? Em longo prazo, quais os desdobramentos
psíquicos que acometem os pacientes que realizam a cirurgia? Como atuam os psicólogos
nessas equipes? O que se espera da sua atuação? Interessou-me, por isso, investigar as
peculiaridades desse tratamento. Estabelecemos então o objetivo desta pesquisa como o de
esclarecer a função do psicólogo na equipe de cirurgia bariátrica. Para alcançar esse objetivo,
nos propusemos a:
- Fazer uma pesquisa detalhada do material teórico produzido sobre a função do psicólogo na
equipe multidisciplinar de cirurgia bariátrica;
- mapear através de entrevista semi-estruturada os meios de avaliação e tratamento usados por
psicólogos membros dessas equipes, analisando os resultados obtidos;
- apresentar uma proposta de conduta ou mesmo um eixo orientador para o trabalho, na forma
de um protocolo de orientação à atuação do psicólogo na equipe de cirurgia bariátrica.
19
Para alcançar esses objetivos, realizamos um levantamento de dados, através de
pesquisa teórica e de campo, e posteriormente analise qualitativa a função do psicólogo nas
equipes multidisciplinares que realizam cirurgia bariátrica em pacientes obesos, na cidade do
Rio de Janeiro.
No que diz respeito à clínica, o objeto do presente projeto justifica a sua relevância em
função do crescente número de pacientes obesos que chegam aos consultórios de psicologia
durante a fase pré-operatória da cirurgia bariátrica. Graças ao aumento da prevalência da
obesidade mórbida e de seus riscos associados, no Brasil, os profissionais de saúde se
deparam com os desafios inerentes ao seu cuidado. Atualmente a cirurgia bariátrica é
considerada uma opção de tratamento dessa patologia, de tal forma que faz parte do Programa
das Políticas de Saúde Pública do nosso país, por exemplo, a Portaria GM/MS/ Nº 628 de 26
de abril de 2001 que aprovou o Protocolo de Indicação de Tratamento Cirúrgico da Obesidade
Mórbida.
Observa-se que com o passar dos anos foi e continua a ser crescente o número de
cirurgias realizadas, porém, como apontou o Boletim Brasileiro de Avaliação de Tecnologias
em Saúde - BRATS 05 (ANS, 2008), embora seja uma tecnologia muito difundida, ainda não
há clareza em relação aos seus resultados em longo prazo. Então é necessário realizar
constantes discussões de questões inerentes a sua terapêutica, tais como eficácia, riscos,
vantagens e desvantagens.
No capítulo 1 dessa pesquisa contextualizamos históricamente a cirurgia bariátrica.
Seu surgimento, os tipos de técnicas existentes, os casos considerados indicações cirúrgicas,
os riscos envolvidos no tratamento. Em seguida nos detivemos a tratar a respeito da inserção
do psicólogo na equipe multidisciplinar de cirurgia bariátrica; como esse profissional
20
começou a fazer parte dessas equipes, qual a sua atuação. Para detalhar o assunto revisamos a
literatura encontrada, inicialmente apresentando e discutindo os textos que compõem o
principal livro texto sobre o assunto: Contribuições da Psicologia na Cirurgia da Obesidade
de Franques & Arenales-Loli (2006) e em seguida realizamos uma pesquisa sobre o tema em
3 bases de dados, a saber: Scielo, Lilacs e MedLine. Os termos utilizados para realizar a
pesquisa foram “cirurgia bariátrica” (“bariatric surgery”) e “psicologia” (“psychology”).
No capítulo 2 apresentamos a metodologia utilizada para coleta de dados de campo, e
em seguida os resultados encontrados. Entrevistamos 18 psicólogos que atuam em equipes de
cirurgia bariátrica na cidade do Rio de Janeiro. Através de uma entrevista semi-estruturada
(vide ANEXO I), coletamos informações tais como: seus dados pessoais, sua formação, se
atuam dentro de alguma abordagem teórica, quantos pacientes cada um já atendeu, como se
dá a rotina de avaliação pré-operatória (ferramentas utilizadas, tempo de duração), se utilizam
testes psicológicos, além de informações sobre o tratamento pós-operatório dos pacientes; se
as equipes que atuam realizam reuniões periódicas e como é o percentual de adesão ao
tratamento dos pacientes.
No capítulo 3 analisamos os dados coletados, discutindo os resultados, relacionamos
as respostas obtidas durante as entrevistas, cruzamos dados de abordagem teórica com as
condutas dos profissionais, apontamos detalhadamente cada etapa da avaliação psicológica
realizada pelos entrevistados; tudo com a finalidade de extrair de suas respostas quais os
aspectos esses profissionais priorizam coletar e trabalhar durante a sua atuação.
Na conclusão da tese retomamos os documentos que visam orientar os profissionais
que atuam em cirurgia bariátrica, tanto do Ministério da Saúde quanto do CFM – Conselho
Federal de Medicina. Inclusive pesquisamos, mas não encontramos nenhum documento do
21
CFP – Conselho Federal de Psicologia com diretrizes, orientações aos psicólogos. Tomamos o
único documento encontrado que foi elaborado por um conselho regional, o CRPPR e os
detalhamos e discutimos. Em seguida, elaboramos uma proposta diretriz para a avaliação
psicológica pré-operatória, composta por 3 etapas que seriam: entrevista semi-estruturada
baseada no modelo proposto por Franques & Arenalis-Loli (2006) com algumas perguntas
complementares, sessão ou sessões de discussão e reflexão sobre a cirurgia (nas quais o
psicólogo vai falar com o paciente e também com seus familiares sobre a cirurgia que será
realizada, as considerações importantes sobre o pré e pós-operatório, dificuldades comuns
encontradas, expectativas reais a serem alcançadas) e encaminhamento a um psiquiatra para
avaliação e tratamento de quadros de transtorno mental, se existirem. E posteriormente
indicação de tratamento psicológico pós-operatório para todos os pacientes que operarem.
A pesquisa mostrou que apesar de atuantes nas equipes de cirurgia bariátrica, os
psicólogos têm condutas extremamente diversas e poucos registros sobre seus sucessos junto
aos pacientes pré e pós-operados. É importante que os profissionais escrevam, publiquem,
apresentem em eventos da área os dados que retratam a sua atuação, seus sucessos e
dificuldades, pois assim poderíamos fundamentar cada prática e compartilhar aquilo que tanto
os cirurgiões quanto especialmente os pacientes relatam da importância do tratamento
psicológico ao longo do tratamento da obesidade que inclui a cirurgia bariátrica. Propusemos
então, por fim, um protocolo de conduta baseada nos critérios existentes para a indicação e
contra-indicação da cirurgia, no intuito de contribuir com nossa pesquisa para o
aperfeiçoamento da atuação do psicólogo na equipe de cirurgia bariátrica.
22
Capítulo 1. Histórico da cirurgia bariátrica e inserção do psicólogo.
Histórico da cirurgia
A obesidade foi interpretada de forma diferente nas diversas épocas da humanidade,
refletindo os valores culturais e científicos de cada momento histórico. Para exemplificar
podemos citar as modelos com formas arredondadas que serviam de inspiração aos pintores
da renascença, em contraste ao modelo de beleza extremamente magro da atualidade. Apesar
da importância dos valores culturais, a obesidade está relacionada a uma gama de patologias
que faz com que, atualmente, seja considerada uma importante doença nutricional. É
considerada uma doença crônica, caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura. Na
Classificação Internacional de Doenças – 10ª edição (CID-10) ela é considerada uma entidade
nosológica clínica inserida no capítulo IV das Doenças Endócrinas, Nutricionais e
Metabólicas descrita sob a sigla CID10 – E66. Obesidade.
Além de uma patologia, a obesidade é também um fator de risco para outras
enfermidades. Está também associada a maior risco de depressão, menor produtividade e
diminuição da auto-estima, comum em pacientes obesos (SEGAL & FANDIÑO, 2002;
RYDEN & TORGERSON, 2006).
Sua etiologia varia conforme o gênero e independe da idade. Atualmente a obesidade é
um problema de saúde pública mundial, fala-se em uma pandemia que atinge tanto países
desenvolvidos, quanto os que estão em desenvolvimento (SWINBURN et al., 1999;
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2004).
23
No Brasil, assim como em outros lugares do mundo, o número de pessoas obesas já
ultrapassa o de pessoas desnutridas (SICHIERI & SOUZA, 2007). Dados do Vigitel1 (2010)
indicam que, no Brasil, 48,1% da população apresenta excesso de peso e 15% obesidade. A
obesidade pode ter diversas causas: fisiológicas (doenças neuroendócrinas), uso de
medicamentos (tais como antipsicóticos, antidepressivos, antiepiléticos, antidiabéticos etc.),
cessação do tabagismo, vida sedentária e alimentação. A definição de obesidade segundo a
SBCBM – Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica – é:
“uma alteração da composição corporal, com determinantes
genéticos e ambientais, definida por um excesso relativo ou
absoluto das reservas corporais de gordura, que ocorre quando,
cronicamente, a oferta de calorias é maior que o gasto de
energia corporal, e que resulta com frequência em prejuízos
significantes para a saúde” (SBCBM, 2010).
O principal meio utilizado de avaliação da obesidade é o cálculo do Índice de Massa
Corporal (IMC). Sua fórmula consiste na divisão do peso em quilogramas pela altura em
metros do indivíduo ao quadrado. De acordo com esse cálculo, existem as seguintes
classificações, propostas pela Organização Mundial de Saúde - OMS (2000), de peso em
adultos: quando o resultado obtido é de até 18,49kg/m² considera-se baixo peso. Entre 18,5 e
24,99kg/m² o peso é tido como normal (considerado saudável); o resultado maior que 25
indica sobrepeso, sendo entre 25 e 29,99kg/m² é considerado pré-obesidade. Resultado maior
que 30kg/m² indica obesidade, dividido da seguinte forma: entre 30 e 34,99kg/m² obesidade
1 Sistema de monitoramento para fatores de risco e proteção para doenças crônicas não transmissíveis por meio
de inquérito telefônico, produzido pela Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde.
24
de grau I, 35 e 39,99kg/m² obesidade de grau II e igual ou maior que 40kg/m² obesidade de
grau III (ou obesidade mórbida).
Apesar de ser o índice indicado pelo Conselho Federal de Medicina - CFM (2005,
2010), em consonância com a OMS (2000), para o diagnóstico de obesidade, o uso do IMC
apresenta diversas limitações que já vêm sendo apontadas em estudos (DEURENBERG et al,
1999; LEMIEUX et al, 1993; GUS et al, 1998), tais como: esse índice não distingue massa
gordurosa de massa magra (o que limita seu uso, sobretudo no caso de indivíduos mais
velhos), não reflete a distribuição de gordura corporal (a medida de distribuição de gordura
corporal é relevante porque a intra-abdominal é um importante fator de risco potencial de
doença, independente da gordura corporal total), populações diferentes apresentam diferentes
proporções corporais, não refletindo o mesmo grau de gordura.
Outro indicador muito utilizado para determinar o padrão de obesidade é o coeficiente
encontrado da relação entre as medidas de circunferência da cintura e do quadril (conhecido
como RQC - Razão Cintura - Quadril). Seu resultado é obtido através da divisão da
circunferência da cintura pela circunferência do quadril. O risco de doenças é maior quando o
número obtido atinge valor superior a 0,95 para homens e 0,85 para mulheres (NIEMAM,
1998).
Pereira, Sichieri e Marins (1999) demonstraram que a relação abdominal-quadril
também indicou estar associada a riscos de comorbidade na população brasileira. A OMS
(1995) considera a RQC como um dos critérios para caracterizar a síndrome metabólica,
quando o cálculo apresenta resultado superior a 0,90 para homens e 0,85 para mulheres.
Existem algumas outras formas – menos utilizadas – de avaliar a gordura corporal e a
sua distribuição, que são: medição da espessura das pregas cutâneas, bioimpedância,
25
ultrassonografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética e a medida de
circunferência abdominal.
Ultimamente observa-se um aumento desproporcional da quantidade de pessoas com
quadro de obesidade mórbida em relação à obesidade em geral (VAN HOUT & VAN HECK,
2009). A obesidade de grau III está associada a uma série de fatores tais como a redução da
expectativa de vida, frequente presença de comorbidades, piora da qualidade de vida. Na lista
das doenças para as quais a obesidade é fator de risco, as mais citadas são: hipertensão
arterial, doenças cardiovasculares, doenças cerebrovasculares, diabetes mellitus do tipo II,
entre outras. Além das enfermidades que enumeramos, existem também os distúrbios mais
comuns em pessoas obesas, que são: distúrbios lipídicos, diminuição do HDL, aumento da
insulina, intolerância a glicose, apneia do sono etc. Aponta-se também que o risco de morte de
um paciente obeso mórbido é cinco vezes maior do que o de um não obeso (BRAY, 1998).
O tratamento da obesidade mórbida tem se mostrado um desafio aos profissionais da
área de saúde. A abordagem clínica, tanto a medicamentosa quanto a não medicamentosa não
tem se mostrado um meio eficaz de diminuição e manutenção do peso para casos de pessoas
obesas mórbidas. Segundo Shiraga (2006), 98% dos pacientes que têm obesidade mórbida não
alcançam sucesso em seu tratamento clínico. Eles até conseguem perder parte do excesso de
peso, mas a maior dificuldade encontrada é a conservação do peso perdido durante um
período de pelo menos dois anos. Os motivos que fazem o tratamento clínico falhar podem ser
diversos. Talvez porque o modelo de tratamento seja sempre o mesmo para muitos pacientes,
a saber, com ou sem o uso de medicamentos aliado à dieta de baixa ingestão calórica e
indicação de atividade física regular. Quando utilizados, os medicamentos podem ser de três
tipos (OMS, 2000): os que modificam a saciedade ou diminuem a fome, os que reduzem a
digestão e a absorção de nutrientes e os que aumentam os gastos energéticos (sendo que esses
26
não são aprovados no Brasil). Durante o uso do medicamento observa-se uma grande e rápida
perda de peso nos pacientes. Essa diminuição se dá especialmente porque graças à ação dos
medicamentos os pacientes seguem rigorosamente a dieta prevista no tratamento (muitas
vezes nem chegam a comer tudo que é prescrito). Em contrapartida, logo que cessam (ou
mesmo quando diminuem) a medicação, deixam de ficar sob o efeito do remédio e voltam a
se alimentar como faziam antes, e consequentemente, reganhando o peso que perderam e na
maior parte das vezes chegam a adquirir mais do que tinham antes. A dieta de restrição
alimentar indicada no tratamento clínico, quase sempre é prescrita sem que o nutricionista
conheça os hábitos e a cultura dos sujeitos atendidos (LIMA et al, 2000; FERREIRA &
MAGALHÃES, 2007). Observamos diversas vezes pacientes relatando dietas padronizadas,
impressas em blocos nas salas de endocrinologistas e nutricionistas.
Raramente a psicoterapia é indicada em qualquer tratamento clínico, apesar do sucesso
relatado por alguns estudos sobre a associação do tratamento nutricional e psicológico
(CAVALCANTI, DIAS & COSTA, 2005; DAMASO et al, 2006).
A falta de adesão do paciente ao tratamento clínico é uma preocupação para os
profissionais de saúde e tem sido discutida em diversas pesquisas (ASSIS & NAHAS, 1999;
WILSON & SCHLAM, 2004; TORAL & SLATER, 2007).
Diante do cenário de dificuldade para o tratamento clínico da obesidade que em 1991
o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos estabeleceu que o único tratamento eficaz
na perda e manutenção ponderal do obeso mórbido é o tratamento cirúrgico.
A cirurgia bariátrica é um tipo de terapêutica que surgiu na década de 1950, e reúne
técnicas destinadas ao tratamento da obesidade e das suas comorbidades. Inicialmente as
cirurgias eram do tipo disabisortivas (CAVALIERI & FANZÓI-DE-MORAES, 2004) –
27
promoviam uma grande diminuição da absorção dos nutrientes ingeridos, nos pacientes
operados. Já na década de 60 na Europa os procedimentos cirúrgicos se desenvolveram tendo
como objetivo principal a restrição alimentar (BETTINI, 2000). Estudos desenvolvidos por
Kremer et al. (apud HALPERN et al, 1998) constataram que as cirurgias disabisortivas
produziam graves sequelas funcionais nos operados, e por isso, durante a década de 70 esses
métodos foram abandonados.
No Brasil a cirurgia bariátrica chegou durante a década de 70. O médico Salomão
Chaib, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, no serviço de Cirurgia do
Aparelho Digestivo começou a realizar as derivações jejuno-ileais, do tipo Payne2 para o
tratamento da obesidade. Porém não alcançou os resultados que esperava, os pacientes
apresentaram graves sequelas causadas pela cirurgia (especialmente desnutrição grave) e o
tratamento caiu em descrédito (SBCBM, 2010; MARCHESINI, 2006).
Durante a década de 80, nos EUA, Edward Mason descreveu as técnicas de by-pass
gástrico, gastroplastia horizontal e gastroplastia vertical com uso do anel de polipropileno. No
Brasil o médico Arthur Garrido também começou a fazer uso desses procedimentos.
No início dos anos 90 surgiram as primeiras técnicas mistas, que associam restrição no
estômago à diminuição da absorção através da redução de em média um metro do intestino. A
técnica de gastroplastia vertical com anel foi sendo substituída pela banda gástrica ajustável
que posteriormente deu lugar a cirurgia por videolaparoscopia.
2 Que envolve a exclusão de quase todo o intestino delgado, permanecendo o trânsito alimentar apenas em 35cm
de jejuno proximal e 10 cm do íleo distal.
28
Em 1996 os primeiros cirurgiões que atuavam com a cirurgia bariátrica fundaram a
Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica – SBCB, em São Paulo. Logo depois, em 1998,
foi realizado o Primeiro Congresso da SBCB no Hospital da Beneficiência Portuguesa.
Em 26 de abril de 2001 o Ministério da Saúde editou a Portaria Nº628 que aprovou o
Protocolo de Indicação de Tratamento Cirúrgico da Obesidade Mórbida – Gastroplastia no
âmbito do SUS. E a partir de então hospitais públicos de saúde passaram a ser cadastrados
como Centros de Referência em Cirurgia Bariátrica.
O ano de 2004 marcou o inicio da chamada cirurgia metabólica, a partir de um artigo
publicado pelo médico Francesco Rubino, que realizou um estudo sobre a exclusão duodenal
e o controle da diabete em animais (RUBINO, MARESCAUX, 2004). Surgiu então o
conceito de cirurgia metabólica devido ao sucesso que a cirurgia bariátrica obteve em relação
às comordidades comuns nos pacientes obesos. Durante o ano de 2005 os primeiros estudos
sobre a cirurgia metabólica foram realizados no Brasil. Em 2006 o conceito metabólico foi
incorporado à cirurgia bariátrica (SBCBM, 2010).
O número de cirurgias realizadas no Brasil aumentou muito nos últimos anos.
Segundo dados da SBCBM, foram realizadas 16 mil cirurgias em 2003, esse número
aumentou para 45 mil em 2009 (sendo 25% dessas, realizadas por videolaparoscopia) e 60 mil
em 2010 (das quais, 35% por videolaparoscopia) (SBCBM, 2011). Desde janeiro de 2012
entrou em vigor no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde da Agencia Nacional de Saúde
Suplementar (ANS), que a cirurgia bariátrica através de videolaparoscopia deve ter cobertura
dos planos de saúde.
29
A cirurgia é considerada um procedimendo de grande porte, sua taxa de mortalidade
apresentada pela SBCBM, é de 0,23% para os procedimentos por videolaparoscopia e de 4%
para os procedimentos abertos (SBCBM, 2010).
O Ministério da Saúde (BRASIL, 2007) e o Conselho Federal de Medicina (CFM,
2005) publicaram as indicações para o tratamento cirúrgico da obesidade, a saber: IMC
superior a 40kg/m² (independente da presença de comorbidades), IMC entre 35 e 40 com
presença de comorbidade que seja classificada como “grave” por um médico especialista na
área da patologia que surgiu ou piorou graças à obesidade, tratamento clínico prévio
considerado ineficaz e obesidade estável há pelo menos 2 anos.
Em relação à idade, considera-se que abaixo de 16 anos não existem estudos que
corroborem a indicação da cirurgia (exceto em alguns casos de doenças genéticas específicas).
Entre 16 e 18 anos a cirurgia é possível, desde que seja indicada e exista consenso entre a
família e a equipe multidisciplinar. Entre 18 e 65 anos não existe nenhuma restrição em
relação à idade, e para casos de pacientes maiores de 65 anos, a equipe deve fazer uma
avaliação individual de cada caso para verificar os riscos envolvidos.
São considerados pré-requisitos também a compreensão por parte do paciente e da
família de todos os riscos e conseqüências do tratamento cirúrgico e pós-cirúrgico e o suporte
familiar constante.
Algumas situações que são consideradas adversas à realização da cirurgia bariátrica,
de acordo com o Ministério da Saúde e a SBCBM, são: doenças genéticas, limitação
intelectual significativa em pacientes sem suporte familiar considerado adequado, quadro de
transtorno psiquiátrico atual não controlado e o uso de álcool ou drogas ilícitas (sendo que
quadros psiquiátricos graves, que estejam sob controle, não contraindicam esse procedimento,
30
segundo a SBCBM). O Boletim Brasileiro de Avaliação de Tecnologias em Saúde (2008)
aponta ainda que a cirurgia é contra-indicada para indivíduos com história recente de tentativa
de suicídio e pessoas com distúrbios demenciais graves.
Em relação à eficácia do procedimento, foi realizado na Suécia um importante estudo
intitulado Swedish Obese Subjects (RYDEN & TORGERSON, 2006) que fez uma coorte
prospectiva e comparou um grupo que realizou a cirurgia bariátrica com outro que foi
submetido ao tratamento clínico para obesidade. No total foram acompanhadas, por um tempo
médio de 10 anos, 4.047 pessoas, sendo 2.010 que fizeram à cirurgia e 2.037 formando o
grupo controle (do tratamento clínico). Como resultado, observou-se que a perda de peso foi
maior no grupo que realizou a cirurgia e o mesmo grupo apresentou maior tendência à
estabilização do peso alcançado. Os autores verificaram também que houve maior diminuição
das comorbidades no grupo dos pacientes operados.
Apesar de o estudo citado ter acompanhado um grande número de indivíduos,
acreditamos que faltam dados para analisar os resultados obtidos pelos pacientes,
especialmente em longo prazo. Levando em consideração ainda que foi um estudo realizado
na Europa, em um povo com cultura e hábitos diferentes do Brasil.
Uma especificidade do Brasil é que para que seja realizado o procedimento, existe a
exigência, por parte do Ministério da Saúde (BRASIL, 2001) e do Conselho Federal de
Medicina (CFM 2005, 2010) que se constitua uma equipe multidisciplinar para cuidar dos
pacientes que pretendem se submeter a qualquer tipo de cirurgia bariátrica. Os membros
obrigatórios que devem fazer parte desse grupo são: cirurgião com formação específica,
médico clínico (geral, endocrinologista, intensivista ou cardiologista), psiquiatra ou
psicólogo(a) e nutrólogo ou nutricionista. Podem existir ainda alguns componentes associados
31
para atuar junto à equipe obrigatória: anestesiologista, endoscopista, enfermeiro(a),
fisioterapeuta, assistente social e o profissional de educação física.
É indicado pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2001) e também pela SBCBM que os
candidatos ao procedimento cirúrgico passem por um preparo pré-operatório que começa com
consultas com o cirurgião bariátrico, o clínico (ou cardiologista), o psiquiatra e ou psicólogo e
o nutricionista. Durante essas consultas o paciente e seus familiares devem ser informados de
forma ampla sobre o procedimento ao qual irá de submeter. Em seguida são solicitados
diversos exames para verificar as condições físicas do paciente: laboratoriais (hemograma,
coagulograma, glicemia, perfil lipídico, enzimas hepáticas, uréia e creatinina, ácido úrico,
TSH, dentre outros que ficam a critério da equipe); exames de avaliação cardiológica
(eletrocardiograma e outros a critério do clínico ou do cardiologista); exames de avaliação
respiratória (radiografia de tórax e outros a critério do clínico ou do pneumologista) e exames
de avaliação do aparelho digestório (ecografia abdominal e endoscopia digestiva alta – com
pesquisa de helicobacter pylori).
É considerada obrigatória pela SBCBM a utilização do Termo de Consentimento
Informado - CI - preenchido pelo paciente e também por um familiar antes da realização do
procedimento. Esse termo de consentimento tem a finalidade de informar textualmente ao
paciente e a seus familiares a respeito de aspectos importantes da cirurgia, tais como
indicações, riscos envolvidos e etc.
Após todos os exames e avaliações dos profissionais da equipe, se for o caso o
paciente é indicado para a cirurgia. Não há definição específica sobre o tempo de avaliação e
preparo pré-operatório dos pacientes. No BRATS 05 (ANS, 2008) consta que no Hospital
Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ esse período dura em torno de seis meses,
32
porém não encontramos dados relativos à duração desta fase em publicações ou em outros
serviços.
Atualmente as cirurgias são classificadas como restritivas e mistas (que podem ser
mais malabsortivas – ou disabisortivas - ou mais restritivas). Schiavon (2003) descreve as
cirurgias restritivas como aquelas que fazem com que os pacientes percam peso graças à
drástica diminuição de ingestão de alimentos durante as refeições porque é construído no seu
estômago um pequeno reservatório (com tamanho aproximado de 30ml, conhecido como
“novo estômago”) e que se comunica com o restante do aparelho digestivo.
As técnicas mistas associam a restrição à ingestão alimentar e a disabsorção dos
nutrientes.
Atualmente os procedimentos aceitos pelo CFM (2010) são: restritivos (balão
intragástrico, gastroplastia vertical bandada ou cirurgia de Mason, banda gástrica ajustável,
gastrectomia vertical) e mistos (com maior componente restritivo: gastroplastia com
reconstituição em Y do Roux; ou com maior componente disabsortivo: cirurgia de derivação
bilio-pancreática com gastrectomia horizontal – também conhecida como cirurgia de
Scopinaro, cirurgia de derivação bilio-pancreática com gastrectomia vertical e preservação do
piloro – também conhecida como cirurgia de duodenal switch).
As cirurgias apenas disabsortivas estão proscritas graças à alta incidência de
complicações metabólicas e nutricionais geradas em longo prazo (CFM, 2010). Há um
consenso segundo a SBCBM de que as outras técnicas ou procedimentos cirúrgicos não
citados acima “não apresentam indicação atual de utilização ou se encontram em fase de
estudos” (SBCBM, 2010).
33
Existem diversos riscos e complicações de acordo com a técnica cirúrgica escolhida.
Alguns deles são: fístula (vazamento do conteúdo do estômago ou do intestino), embolia
pulmonar e infecção.
As técnicas com restrição gástrica apresentam como efeito colateral mais comum a
intolerância a alimentos sólidos, náuseas, vômitos, síndrome do empachamento (síndrome de
dumping) e a queda de cabelo. Em alguns procedimentos o paciente operado precisa tomar
suplementos vitamínicos durante o resto da sua vida. Em todos os casos é indicado fazer um
acompanhamento vitalício quanto à má nutrição de proteínas, anemia (especialmente quando
o duodeno é desviado, a má absorção de ferro e cálcio pode levar a uma predisposição a
anemia por deficiência de ferro) e doenças ósseas. Em outras técnicas pode ocorrer inchaço
abdominal, evacuação fétida ou gases. Quando ocorrem modificações da estrutura intestinal,
estas podem levar o aumento do risco de formação de cálculo biliar e necessidade de remoção
da vesícula biliar.
Para o período pós-operatório recomenda-se retorno aos médicos e a toda equipe
multidisciplinar, além de exames laboratoriais periódicos, por toda a vida. Inicialmente um
cuidado mais freqüente, especialmente durante o primeiro ano pós-operado, posteriormente
ainda que menos freqüente, o cuidado deve continuar (ANS, 2008). É indicado ainda que o
indivíduo conte com suporte psicológico que o “ajude a aderir às mudanças de hábitos
necessárias após a realização da cirurgia” (NICE, 2002). A priori as equipes devem se
assegurar das condições para que o seguimento pós-operatório seja adequado. É indicado que
o paciente deve, também, praticar uma atividade física contínua. Porém, observa-se um alto
percentual de abandono do tratamento e consequentemente do novo estilo de vida adquirida
após a operação, antes do primeiro ano de cirurgia (TOLONEN et al, 2004), ou seja, ainda
durante o início do período do tratamento.
34
Quando a intervenção é feita através de videolaparoscopia o tempo de internação varia
entre dois ou três dias. Se não há intercorrências, em seguida o paciente recebe alta hospitalar
e vai para sua residência com indicação de um determinado período de alimentação
exclusivamente líquida, que na maioria das vezes varia entre 15 e 30 dias (a dieta é composta
por sucos, caldos, vitaminas). A perda de peso obtida no primeiro mês após a cirurgia é
bastante alta, por vezes alcançando em torno de 10% da massa total que o paciente tinha antes
do procedimento. Após o período de dieta líquida, a alimentação indicada passa a ser pastosa
e boa parte dos alimentos pode voltar a ser consumida pelo paciente, em porções muito
reduzidas. Aos poucos o cardápio vai se diversificando mais e após um período de dieta
pastosa a dieta sólida começa a ser gradualmente introduzida.
A cirurgia é considerada como falha em casos onde a perda é inferior a 50% do
excesso de peso. Buchwald et al (2004) fizeram uma pesquisa com um grupo de 10.172
pacientes operados em algumas técnicas de cirurgia bariátrica e encontraram uma perda média
de 61,2% do seu excesso de peso.
1.1 A inserção do psicólogo nas equipes de cirurgia bariátrica
Na Portaria Nº 492 de 31 de agosto de 2007 do Ministério da Saúde e na
resolução de nº 1766/05 inciso 3 de 2005 do CFM foi definido que um profissional psicólogo
ou psiquiatra deve fazer parte da equipe multidisciplinar responsável por cuidar do paciente
durante os períodos pré e trans-operatório. Porém, nem sempre foi assim. Quando as cirurgias
bariátricas surgiram no Brasil, estes profissionais não faziam parte das equipes cirúrgicas. Em
1983 surgiu no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo o serviço de psicologia
35
(MARCHESINI, 2006; SILVA, 2008). Logo os psicólogos começaram a ser solicitados para
realizar avaliação psicológica em indivíduos atendidos nesse serviço e que eram candidatos à
cirurgia bariátrica, buscando verificar as “condições psicológicas” desses pacientes e como
eles reagiam à condição de uma nova alimentação, propondo um tratamento pré e pós-
cirúrgico (SILVA, 2008).
Cabe ressaltar que o encaminhamento ao psicólogo faz parte de uma série de
encaminhamentos feitos pelo cirurgião antes da realização da cirurgia, sendo parte do
protocolo médico. O que significa, consequentemente, que o paciente não comparece ao
atendimento graças ao seu desejo, e sim, porque faz parte da rotina pré-operatória.
A necessidade do profissional na equipe se deu, segundo Marchesini (2006) porque
diversas publicações que faziam avaliação dos resultados do tratamento cirúrgico chamaram a
atenção para a necessidade de uma equipe multidisciplinar para atendimento aos pacientes. A
questão da qualidade de vida foi enfatizada nesses estudos, trazendo à tona discussões sobre
as repercussões psicológicas da cirurgia bariátrica.
A pesquisa apresentada por Oria & Moorehead (1997) no 14º Encontro Anual da
Sociedade Americana de Cirurgia Bariátrica foi um marco nesse sentido. Os autores
apresentaram o BAROS – Bariatric Analysis and Reporting Outcome System, um sistema que
visava analisar categorias de resultados obtidos após a cirurgia bariátrica. Para montar o
sistema os autores solicitaram auxilio aos cirurgiões e também aos psicólogos que atuavam
com pacientes de cirurgia bariátrica e mostraram a necessidade do trabalho em conjunto dos
profissionais, ou seja, da atuação da equipe multiprofissional.
Em 2003 foi criada a Comissão de Especialidades Associadas (COESAS) dentro da
Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica. Participam da COESAS as profissões que
36
compõem, junto ao cirurgião, as equipes de cirurgia bariátrica. Atualmente fazem as seguintes
profissões ou especialidades: anestesiologia, cirurgia plástica, educação física, enfermagem,
fisioterapia, nutrição, psicologia e psiquiatria.
1.1.1 Revisão bibliográfica
Diversos autores apontam problemas psicológicos que podem estar presentes no
período pós-operatório.
Powers et al (1997; 1999) e Hsu et al (1998) realizaram estudos com pessoas obesas
que se submeteram a cirurgia bariátrica restritiva e concluíram que pacientes que
apresentavam quadros psiquiátricos prévios tais como episódios bulímicos, transtorno do
comer compulsivo (TCC), síndrome do comer noturno (SCN), bulimia nervosa e ingestão
compulsiva de grandes quantidades de líquidos, apesar de perderem peso logo após a
realização do procedimento cirúrgico não deixaram de apresentar tais quadros. Para os
autores, a presença dos transtornos alimentares faz com que os pacientes apresentem um
reganho de peso rápido, comprometendo assim o sucesso do tratamento. Estes dados reforçam
a importância do diagnóstico dessas patologias ser feito precocemente, durante a avaliação, na
fase pré-operatória.
Em um texto freqüentemente citado em trabalhos apresentados nos Congressos sobre
cirurgia bariátrica, Silva (2008) afirma que é comum “após a cirurgia aparecer complicações
de ordem afetivo-emocional bem como o deslocamento da compulsão alimentar para outros
sintomas, como anorexia, bulimia, alcoolismo etc.”.
37
Fandiño et al (2004) apontaram que pacientes com obesidade grave podem apresentar
um aumento de psicopatologia associada. Eles ressaltam a importância da avaliação clínica
criteriosa antes da cirurgia bariátrica com o objetivo de reduzir possíveis complicações pós-
operatórias.
Em uma coletânea de referência intitulada Cirurgia da obesidade, Franques (2006)
revela que as mudanças drásticas do peso corporal ocorridas após a gastroplastia acarretam
mudanças importantes na vida do paciente como um todo. Para a autora, a maior parte deles
necessita de psicoterapia para lidar com essas mudanças. Ela aponta ainda que o paciente
necessite encontrar novas formas de aliviar suas tensões, não recorrendo mais à comida.
Cordás (2006) aponta no mesmo livro que apesar da grande perda de peso, muitos
pacientes (especialmente mulheres) não conseguem perceber mudanças na sua imagem
corporal. E por conta dessa distorção de sua imagem, por vezes desistem do tratamento
devido a não alcançarem à melhora que imaginavam conseguir. Porém o autor afirma que não
é possível, mesmo com a avaliação, prever todos os casos onde possam ocorrer transtornos
alimentares ou outros transtornos psiquiátricos durante a fase pós-operatória da cirurgia
bariátrica, entretanto, quando as patologias já existiam na etapa pré-operatória, maior cuidado
e observação devem ser destinados ao paciente no período pós-cirúrgico.
De um modo geral, as diversas análises sobre o tema dos problemas psicológicos
anteriores e posteriores que acometem os obesos candidatos à cirurgia bariátrica convergem
para a necessidade do profissional psi na equipe do tratamento que a inclui, seja para avaliar
as condições prévias ou posteriores à cirurgia, seja para que seja realizado um tratamento
psicológico como complemento ao tratamento cirúrgico, se o objetivo da cirurgia não é
apenas o sucesso da cirurgia em si, mas o sucesso do tratamento com um todo.
38
Porém, apesar de o psicólogo fazer parte das equipes e ser muito discutida a
necessidade do atendimento pré e pós-operatório, pouco encontramos na literatura sobre a
efetiva atuação do psicólogo na clínica da cirurgia bariátrica. Os autores em geral ressaltam
que a presença do psicólogo é importante, mas não descrevem sua função, como estes
realizam ou devem realizar as avaliações pré-operatórias, se promovem intervenções, e se for
o caso, qual intervenção realizada vem se mostrando eficaz, quais cuidados que o paciente
deve, de fato, ter na fase pré e pós-operatória.
Buscando uma literatura específica sobre a atuação do psicólogo em equipes de
cirurgia bariátrica, revisamos, tal como segue abaixo, o principal livro sobre a função e a
atuação do psicólogo, intitulado Contribuições da Psicologia na Cirurgia da Obesidade, de
Franques e Arenales-Loli (2006). Em seguida, realizamos uma pesquisa em três bases de
dados: Scielo, Lilacs e MedLine. Os termos de pesquisa utilizados foram “cirurgia bariátrica”
(“bariatric surgery”) e “psicologia” (“psychology”).
Iniciemos pelo livro Contribuições da Psicologia na Cirurgia da Obesidade (Franques
e Arenales-Loli, 2006), que é considerado uma obra de referência acerca da função do
psicólogo na equipe de cirurgia bariátrica. Seu conteúdo é formado por 20 capítulos e todos
promovem discussão sobre a relação entre a psicologia e a obesidade, sendo que 10 deles
abordam especificamente a atuação do psicólogo no contexto da cirurgia bariátrica.
Abordando a atuação do psicólogo, Tardivo (2006) propõe que sua função é já antes
da cirurgia, fazer uma avaliação com intervenção. Ela aponta o uso de testes projetivos como
um recurso para alcançar esse objetivo. Diz que apenas através de um psicodiagnóstico
compreensivo, podemos avaliar um paciente durante a fase pré-operatória. Para definir o
psicodiagnóstico compreensivo ela recorre às palavras de Trinca:
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“Encontrar um sentido para o conjunto das informações
disponíveis, tomar aquilo que é relevante e significativo na
personalidade, entrar empaticamente em contato emocional
com alguém, e conhecer os motivos profundos da vida
emocional dessa pessoa”.
A autora afirma que não é possível determinar um protocolo de avaliação, que os
instrumentos utilizados pelos psicólogos podem variar de acordo com cada caso, que cabe ao
profissional eleger o que acha importante. Ainda que discuta a função do psicólogo na equipe
de cirurgia bariátrica, o texto aborda a questão de forma vaga, com alguns apontamentos mais
detalhados, mas sem fornecer um direcionamento para o leitor.
Já Franques (2006) aponta a importância do encaminhamento feito pelo cirurgião
antes mesmo do paciente chegar ao psicólogo. Ela ressalta o fato de que quando o paciente
tem a explicação do porque ir ao psicólogo, esse individuo já chega mais interessado no seu
atendimento.
Em “Entrevista psicológica” Franques abordou detalhadamente essa importante
ferramenta usada pelos psicólogos. Ela recomenda o uso da entrevista semi-dirigida porque
nela “o paciente tem espaço para colocar-se, falar sobre o que escolher, sendo que o
entrevistador intervém com o objetivo de buscar maiores esclarecimentos, clarear pontos
obscuros ou confusos e ampliar informações”. Ressalta também a importância de ser feita
uma avaliação do estado mental do paciente.
O capítulo escrito por Franques foi o que nos pareceu mais objetivo ao tratar sobre a
atuação do psicólogo na equipe de cirurgia bariátrica, a autora propõe inclusive um modelo de
entrevista clínica, que anexamos a essa pesquisa (vide ANEXO II), pois servirá para auxiliar a
discussão dos dados que coletamos durante a pesquisa de campo. Em seu modelo, os
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seguintes itens devem fazer parte da entrevista: dados de identificação, história da obesidade,
hábitos alimentares, doenças associadas, história psiquiátrica pessoal e familiar,
desenvolvimento, análise do modo de vida, avaliação da motivação para a cirurgia e para a
mudança, busca do significado da obesidade na vida do paciente e no seu grupo social e
verificação do quanto o ambiente pode lhe proporcionar apoio. Em seu modelo, a autora cita
os desdobramentos de cada um dos itens, oferecendo ao leitor uma sugestão concreta de
entrevista.
No texto “Utilizando fotografias: modos de reconstrução da própria história de vida.
Em que momento surgiu a obesidade?”, Ascencio (2006) ressalta a importância do psicólogo
compreender em qual momento surgiu a obesidade em seu paciente. Para tal ela realiza uma
entrevista (que não descreveu) e solicita que o paciente leve para o atendimento diversas fotos
da sua vida, desde a sua infância. Entre essas fotos, solicita algumas da época que surgiu a
obesidade, para que possam juntos falar da sua história de vida e também da obesidade. Ela
utiliza um exemplo de um caso atendido para demonstrar que através das fotos sua paciente
ressignificou sua obesidade, podendo então, alcançar o que era para a autora essencial antes
da cirurgia, em suas palavras, “o desvelamento do significado da obesidade por meio da
reconstrução da história de vida dessa paciente”.
Entendemos então que um dos focos da avaliação psicológica para essa autora é situar
em qual momento da vida do paciente a obesidade surgiu. As ferramentas que ela utiliza para
isso são a entrevista e a solicitação de fotografias. De acordo com seu texto, contextualizar a
obesidade é essencial antes da cirurgia, ou seja, seria parte do trabalho pré-operatório. A
autora não aborda como lidar com casos de pacientes que não façam esse “desvelamento”, se
ela contra-indica a cirurgia, se adia a liberação do paciente ou se assume alguma outra
conduta.
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Tratando sobre o psicodiagnóstico, Tardivo (2006) em “O psicodiagnóstico no
contexto da cirurgia bariátrica: avaliar, compreender e intervir. O trabalho do psicólogo
clínico” propõe que o psicólogo realize também uma intervenção junto a sua avaliação. Para
ela, o uso de testes gráficos possibilita mediar o contato do profissional com o paciente. A
autora apresenta um estudo de caso para demonstrar como os desenhos e as histórias que os
pacientes descrevem podem trazer informações ao psicólogo.
Porém algumas de suas palavras na conclusão do capítulo nos trouxeram
questionamentos:
“De alguma forma Ana [a paciente do caso descrito pela
autora]3 nos permitiu que a conhecêssemos e buscássemos
compreendê-la. Estamos juntos a uma jovem que sofre e busca
ajuda. Parece ter uma estrutura “evoluída”, em se tratando de
psicopatologia psicanalítica. Tem um ego bem-estruturado com
predomínio de tendências reparadoras e aspectos depressivos.
Apresenta, a meu ver, as condições para enfrentar um
procedimento cirúrgico (para o qual deve ser bem preparada) e
a necessidade de um apoio psicoterápico a fim de empreender a
principal tarefa da vida de uma pessoa: ser ela mesma....”
Diante desse trecho da autora nos questionamos sobre as suas próprias conclusões. O
que viria a ser uma estrutura “evoluída”, como ela descreveu? O ponto de vista da
psicopatologia psicanalítica é o ponto de vista relevante durante a atuação do psicólogo na
avaliação psicológica dos pacientes candidatos a cirurgia bariátrica? Apesar de falar de um
diagnóstico psicanalítico a autora indica psicoterapia para a paciente após a cirurgia. Essas
linguagens não apresentam contradições?
Em consonância do Tardivo, Franques também aponta que o objetivo do trabalho do
psicólogo é “organizar os elementos presentes no estudo psicológico para obter uma melhor
3 Grifo nosso.
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compreensão do paciente, a fim de ajudá-lo”. Porém apesar de abordarem a ajuda ao paciente,
as autoras não descrevem de que forma os profissionais devem fazê-la e nem mesmo em que
momento.
Em “Avaliação pré-operatória de uma paciente artista visual: o uso da arte para
reconhecimento do corpo”, Gleiser (2006) ressalta a importância do diagnóstico de transtorno
da imagem corporal antes da realização da cirurgia. Pois, para a autora, se a pessoa não se vê
da forma adequada, sem distorções, ela não vai alcançar o corpo magro que almeja. Para
Gleiser “a conduta básica de uma pessoa com transtorno da imagem corporal é uma excessiva
preocupação com o peso. O peso passa a ser critério para avaliar sua felicidade, ânimo,
sucesso etc”. No decorrer da sua avaliação (que chama de “avaliação emocional”), ela diz
algo que talvez possamos entender como uma intervenção: em casos de pessoas com
transtorno da imagem corporal, ela procura conhecer as realizações alcançadas pelo paciente
em sua vida, pois ao falar de seus sucessos é possível fazer com que o paciente se perceba
capaz de conseguir conquistas. Pois a autora percebe que a pessoa que teve conquistas ao
longo da vida apresenta uma imagem corporal menos desvalorizada, menos idealizada. A
autora afirma também que a imagem corporal mais difícil de modificar é a do paciente que é
obeso desde a infância.
A autora não descreve de que forma faz o diagnóstico de transtorno da imagem
corporal, se apenas através de entrevista ou se utiliza algum teste psicológico. Gleiser ao
encerrar seu texto afirma que:
“O papel da avaliação psicológica é acima de tudo mobilizar
recursos egóicos capazes de compreender o que vai mudar. A
imagem corporal do obeso pode adquirir múltiplos
significados; em geral essa imagem é associada a aspectos
patológicos simbolizando suas dificuldades mais profundas”.
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Logo, concluímos a partir de suas palavras que a principal função da avaliação
psicológica pré-operatória é fazer com que o paciente tenha compreensão das mudanças que
ele passará após a cirurgia. E que a imagem corporal da pessoa obesa pode estar associada a
“aspectos psicopatológicos” que representam suas “dificuldades mais profundas”. Então em
um caso de paciente com alteração da imagem corporal o psicólogo deveria contra-indicar o
procedimento cirúrgico? Se o paciente não compreender o que vai mudar após a cirurgia ele
então não deveria operar?
No texto “Avaliação para cirurgia bariátrica no contexto hospitalar: diferentes
formas de intervenção” Belfort (2006) descreve duas formas de avaliação psicológica
(individual e em grupo) e diz que os recursos psíquicos que tornam um paciente apto ao
procedimento cirúrgico são: ausência de patologias graves, capacidade de elaboração de
conflitos, condições de separar a cirurgia da problemática emocional e percepção da imagem
corporal menos distorcida. Para obter esses dados a autora afirma que a avaliação psicológica
pode ser feita através de entrevista inicial e anamnese, aplicação do teste HTP – House, tree,
person, entrevista na forma de contos e entrevista devolutiva.
Essa entrevista na forma de contos é um recurso desenvolvido por Arenales-Loli
(2001) e consiste em 10 a 11 histórias a serem completadas que possibilitam a projeção de
conteúdos como relações sociais, sexualidade, afetividade, agressividade perante o corpo
obeso, fantasias que possuem a respeito da cirurgia e do pós-operatório, entre outros dados.
Para a avaliação realizada em grupo a autora aponta que primeiro se apresenta aos
pacientes às informações em relação à cirurgia e então a avaliação vai sendo realizada ao
longo de sucessivos encontros que se estendem por meses. Não foi descrito no texto como se
desenvolve o trabalho com o grupo após a fase das informações.
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Ela defende que as avaliações individuais realizadas de forma pontual, dentro de um
espaço de tempo delimitado e com número de sessões restritos, possibilita realizar ou não a
indicação da cirurgia bariátrica. E que em contrapartida as avaliações realizadas em grupo por
um período de tempo mais prolongado proporciona mais elementos para a avaliação do
paciente além de criarem a possibilidade dele compreender e elaborar questões relativas a
obesidade.
Em “Adolescentes obesos, sua família e a avaliação preparatória para o tratamento
cirúrgico: quando começar e quando terminar?” Benedetto (2006) fala da sua atuação
fazendo avaliação, preparação psicológica pré-operatória e orientação a grupos de apoio
mensais (tanto para os pacientes adolescentes quanto para os seus familiares) na fase posterior
a cirurgia, indicando apenas alguns casos para terapia individual.
A autora aponta que como especificidade do tratamento do adolescente, logo convoca
a família para participar dos encontros pré-operatórios. Diz que em sua avaliação realiza
entrevista, atividades de imagem corporal, procura conhecer a demanda e perspectiva em
relação à cirurgia, leva informações sobre o procedimento ao paciente, pretende trabalhar os
medos e angústias não discriminados, aumentar o enfrentamento e as iniciativas para buscar
desmistificar o “milagre da cirurgia”.
Especificamente, os dados que ela diz querer coletar durante a entrevista são: histórico
da obesidade, perspectivas e demandas do paciente para o emagrecimento, identificar o
padrão de repertório psicológico, social e familiar. Procura saber se há alguma patologia
impeditiva ao procedimento, identificar as funções emocionais do comer e da obesidade e
preparar o adolescente para as dificuldades que irá encontrar antes, durante e após a operação.
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Em “Funcionamento familiar e cirurgia da obesidade”, Benedetti (2006) ressalta a
importância de o psicólogo conhecer a família do paciente que vai se submeter à cirurgia
bariátrica, para que seja alcançado o sucesso da cirurgia.
No texto “Depressão e obesidade” Franques e Ascencio (2006) relatam estudos de
diagnósticos de depressão e sua intensidade em pacientes candidatos a cirurgia bariátrica. Elas
se referem ao uso do teste Inventário de depressão de Beck - BDI como ferramenta de
diagnóstico e para auxiliar a escolha da conduta do tratamento para esses pacientes.
O uso de questionários também foi citado por Matos (2006) em seu texto “Quando o
hábito alimentar se transforma em transtorno alimentar”, pois além de descrever os
transtornos alimentares a autora também aponta quais os testes utilizados para detecção da
presença e da gravidade dos sintomas dos transtornos. Ela cita o uso dos seguintes testes:
Eating Attitudes Test – EAT, Eating Disorder Inventory – EDI, Bulimia-Test e o Bulimic
Investigatory Test Edinburgh. Para investigar as questões com relação à imagem corporal a
autora cita o Body-Self Relations Questionnaire – BSRQ, Body Shape Quest