Vilson longo

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1 Vilson Longo Uma lenda do futebol de Ilhéus Ilhéus - Bahia, julho de 2015

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Vilson Longo Uma lenda do futebol de Ilhéus

Ilhéus - Bahia, julho de 2015

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Mourão

VilsonLongo

Ademar

Vilson Longo, Mourão e

Ademar, entre outros, foram três

ícones da gloriosa história do

futebol do Colo-Colo de Ilhéus

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CoquitaGurita

Bita

BebetoManoelito Antonio

José

Padre Vilson Longo

Armandinho IvoBeto

Anos 60 (1963) - Colo-Colo de Ilhéus

O principal time da vivência futebolística de Vilson Longo.

Anos 60 (1964) - Seleção de Ilhéus

No destaque o atacante Vilson Longo.

Coquita

Ivo

Beto VilsonLongo

CatrocaArmandinho

MaracanãOliveirinha

ManoelitoAntonio

JoséGurita

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Cid Ribeiro(Técnico)

EdnaldoGrilo

NewtonLima

LuizMaia

João Carlos

FrancoRocha

João Borges Maurício

Badaró

TácitoGustavo

Kruschewsky Vilson

Longo

Cid Ribeiro(Supervisor)

Massa-Bruta Vilson

Longo

Maurício Badaró

Gustavo Kruschewsky

Tácito

Ano de 1969 - Seleção de Futebol de Salão de Ilhéus.

No destaque Vilson Longo.

Anos 70 - Seleção de Futebol de Salão de Ilhéus

Campeã dos Jogos Abertos do Interior, em Feira de Santana

no ano de 1971. No destaque Vilson Longo.

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José GarciaMartins

Francisquinho 1 8 0

EscoteiroTêteTiãoVilson Longo

Nouca

Nivaldo Ademar

Roberto Rei Babão Joca MamãoQuila

Rangel

ManezinhoOtacílio

Jaime

EduardoLongo

Joca

Romualdo

Anos 50 (1955) - Flamengo de Ilhéus, no destaque

Vilson Longo e Ademar do Bolo, em início de carreira.

Anos 70 (1970) - Seleção de Ubaitaba, no destaque

Eduardo Longo, o Quebê, irmão de Vilson.

A geração de futebol de Ubaitaba nos anos 60 e 70, teve o

privilégio de desfrutar do talento de Vilson Longo.

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Vilson Longo foi um cidadão baiano da Região Cacaueira, cuja

história de vida e a militância esportiva merecem o respeito e a

lembrança da nossa gente.

Para consecução dessas singelas notas foram de grande ajuda, o

depoimento de Filomena Longo, a Filó, irmã do saudoso Vilson Longo, a

memória futebolística do eterno goleiro Ademar do Bolo e as valiosas

informações do desportista Cid Ribeiro, do ex-arqueiro Quila e do ex-

atacante Ivo Babá.

Roberto Setúbal

Ilhéus – Bahia, julho de 2015.

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Didi e a Bola:

“Eu sempre tive muito carinho por ela. Porque

se não a tratarmos com carinho, ela não obedece. É

por isso que eu digo: Rapazes, vamos, respeitem.

Esta é uma menina que tem que ser tratada com

muito amor...”

Depoimento de Didi sobre a bola. Didi foi bicampeão mundial pela

seleção do Brasil, na Suécia em 1958 e no Chile em 1962. Na Suécia foi

considerado o melhor criador de jogadas da Copa do Mundo.

Vilson Longo, como jogador não só entendeu a mensagem do

“Mestre Didi”, como também a colocou em prática, o tempo todo da sua

memorável carreira esportiva.

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Vilson Longo: Uma lenda do futebol de Ilhéus

Na tarde de sábado, 27 de junho de 2015, o mundo esportivo de

Ilhéus e da região ficou consternado com o falecimento, no Hospital de

Ilhéus, do consagrado futebolista Vilson Longo.

Vilson nasceu na Fazenda Aurora, no dia 04 de junho de 1936. O

referido local pertence ao território municipal de Itacaré e representa um

importante sítio da Mata Atlântica dotado de excelentes recursos

naturais que, historicamente abrigaram as plantações pioneiras de

cacau naquele espaço geográfico do Vale do Rio de Contas.

Filho de Pedro João Longo e de Eulina Camargo dos Santos, a

Dona Lilinha, seu pai, um conhecido cacauicultor, exercia liderança na

Região do Baixo – Contas influenciando no segmento dos produtores

rurais e no campo político.

Foi Prefeito de Itacaré, ainda nos tempos de Barra do Rio de

Contas, gestão: 1928 - 1930.

Tinha o temperamento forte, mas era um homem honrado e de

palavra. Nas relações cotidianas, era distinguido com o tratamento de

“Coronel Pedro Longo”.

Produziu uma numerosa prole. No total foram 21 filhos, fruto de

três relacionamentos, tendo 19 deles chegado à maioridade.

Com Dona Lilinha eram 11 filhos: João Antônio, Vilson, Itália,

Marisa, Maria da Glória, Maria das Dores, Maria de Lourdes, Filomena,

José e Eduardo. Outro faleceu precocemente. Todos nascidos no

bucólico ambiente rural da Fazenda Aurora, onde, também, passaram a

infância.

O Coronel Pedro Longo preocupado com a educação e o

aprendizado dos meninos montou uma estrutura particular com o

funcionamento de uma escola na sede da Fazenda para realizar a

alfabetização dos seus filhos e dos filhos dos trabalhadores. Com esse

propósito contratou o Professor Ariston do Arraial de Faisqueira que

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permanecia na propriedade durante a semana, em regime exclusivo,

para o ensino.

Naqueles bons tempos, na Fazenda, a recreação da garotada era

bastante prazerosa, como: andar nas trilhas das roças de cacau para

colher jaca e outras frutas da época, pegar passarinhos, correr atrás das

galinhas, tomar banho nos poços do Ribeirão Pequeno, afluente do

Ribeirão Catolé que deságua no Contas, além de dormir cedo e acordar

cedo.

Enquanto isso, os homens jogavam bola no campinho improvisado

no pasto da Aurora. Nesse contexto, Vilson Longo, desde a infância,

revelou aptidão e talento para o futebol, a natação e outros esportes. O

futebol já veio no seu DNA. Os seus dotes naturais começaram a serem

aperfeiçoados jogando na roça, de pés descalços com outras crianças,

manejando com intimidade o limão ou a laranja, às vezes uma bola de

meia ou uma bola de borracha pequena. Essas brincadeiras

contribuíram sobremaneira para consolidar o seu diferencial, de técnica

apurada e de fino trato no domínio da bola, mais tarde colocados em

prática nas peladas e em partidas oficiais, no curso da sua versátil e

extensa carreira de atleta.

No final da década de 40, em 1949, uma mudança radical afetou a

rotina da família.

Com a morte do patriarca Pedro Longo, sua companheira Dona

Lilinha tomou a decisão de transferir-se com a família para a cidade de

Ilhéus, mesmo porque, as exigências escolares da meninada foram

ampliadas, bem como, apareciam requerimentos de saúde.

Assim, a turma do Coronel Pedro Longo rumou para Ilhéus e se

estabeleceu no novo endereço na Avenida Canavieiras.

De um modo geral, as novidades da cidade grande agradaram ao

pessoal dos Longo, porém, Vilson Longo especialmente, encontrou

condições objetivas para materializar os sonhos de “menino-esportista”

acalentados no universo silvestre da Fazenda Aurora.

Na vivência de Ilhéus, ainda adolescente, jogava futebol com os

colegas e amigos, nas areias da praia, nos campos de bairros e nas

quadras, da alvorada até ao anoitecer.

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Ilhéus/Vilson Longo/Ilhéus foi amor à primeira vista. Um exemplo

de identidade, de corpo e alma, entre o cidadão e a comunidade. Por

certo, estimulado pela presença de variados atrativos: praia e mar,

opções de modalidades esportivas diversas, campeonato de futebol de

campo, futebol de salão, futebol de praia, basquete e vôlei, boa

infraestrutura escolar, cinema, clubes para festejos sociais, alternativas

para construção de novas amizades. Enfim, nessa alvissareira

atmosfera social da Ilhéus dos anos 50 e 60, Vilson Longo potencializou

os seus atributos de notável esportista.

Também estudava, fez o primário e concluiu o ginásio no IME, mas

a comunhão com o futebol dificultou avanços maiores nessa área.

Contudo, no âmbito do futebol de Ilhéus, Vilson Longo realizou

quase tudo, de A a Z, numa carreira brilhante. Jogou no trio de ouro da

cidade: Flamengo (início), Colo-Colo (desenvolvimento e apogeu) e

Vitória (encerramento).

Também jogou por um breve período no Fluminense de Itabuna, a

briosa equipe grapiúna dos famosos irmãos Riela. Esse envolvimento

deveu-se a consideração que nutria para com seu amigo e companheiro

de basquete o Doutor Gabi Pinheiro, que era dirigente do referido clube.

Vilson Longo não alcançou o cenário nacional do futebol.

As versões sobre esse fato são muitas e variadas. Uma dessas

histórias relata que ele foi para o Rio de Janeiro fazer testes no Botafogo

e no Vasco. Outra, o destino foi São Paulo, onde treinou no Corinthians.

Nessas oportunidades viajava, treinava, agradava, ou melhor,

encantava e depois por alguma razão retornava e não celebrava o

contrato.

Não se empolgava com as promessas de fama e dinheiro.

Uma coisa, porém está descartada, não era por falta de futebol,

isso ele possuía de sobra, tinha com fartura.

Adorava a liberdade, estava acostumado a viver em contato com a

natureza, a praia, a mata cacaueira, os ribeirões, enfim, com a vida

descontraída.

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Talvez, por não suportar o regime profissional do futebol, de rígida

disciplina, da necessidade de ficar preso na concentração na véspera

dos jogos, enfrentar o castigo dos treinamentos físicos, ou mesmo o

calendário intensivo de viagens. Quem sabe, fosse por razões do

sentimento, de saudades da terra adotiva – Ilhéus, ou do pequenino

rincão nativista, a Fazenda Aurora lá no interior de Itacaré.

Jogava com alegria, dava prazer vê-lo jogar. Fazia o que queria

com a bola, ela sempre lhe obedecia. Criava jogadas de rara beleza, de

maneira simples e eficiente.

Vilson Longo e Ademar do Bolo pertenciam a mesma geração. Um

de 1936 e o outro de 1935. Apesar de atuarem em posições distintas,

tiveram trajetória futebolística imbricada e bem semelhante, ambos

começaram no Flamengo, em meados dos anos 50, permanecendo por

pouco tempo, ainda no verdor dos seus anos.

Depois foram para o Colo-Colo, alcançando o ápice das carreiras,

entre o final dos anos 50 e a década de 60, numa das melhores equipes

do futebol local, obtendo conquistas e sucesso que os colocou,

definitivamente como dois ícones da valorosa história do clube azul e

amarelo da Capitania de São Jorge dos Ilhéus.

Também estiveram juntos defendendo a seleção ilheense.

Aquela época, de 1957 a 1967, provavelmente foi a década de

maior esplendor do futebol sul-baiano. Por sinal, coincidia também, com

o primeiro ciclo virtuoso na história da evolução do futebol brasileiro,

culminando com as vitórias nos mundiais da Suécia, em 1958 e no

Chile, em 1962.

No plano municipal o clássico de disputa mais acirrada era Colo-

Colo X Flamengo.

Na esfera regional, ganhava magnitude e rivalidade os jogos entre

as seleções de Ilhéus X Itabuna. Nessas disputas sempre quentes,

aconteciam com certa frequência conflitos misturados, dentro do campo

e nas arquibancadas.

As duas seleções tinham bons jogadores, havia equilíbrio no

padrão e na qualidade técnica dos plantéis. Assim como nos torneios

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entre os times, de um lado: Janízaros, Fluminense e Flamengo

(Itabuna), do outro: Colo-Colo, Flamengo e Vitória (Ilhéus), os jogos,

também eram parelhos, mas era um fato normal os clubes ilheenses

obterem sucesso.

No entanto, em nível de seleção, na maioria dos confrontos

Itabuna levava vantagem. Possivelmente a coesão dos dirigentes

articulados com a comunidade no apoio a seleção, criava reflexos

positivos.

Em Itabuna a seleção era muito mais do que uma questão do

futebol e acabava provocando uma mobilização social envolvendo todos

os segmentos da cidade.

A seleção virou um símbolo da cultura esportiva grapiúna, sendo

campeã por seis vezes consecutivas, no período de 1960 a 1965, do

campeonato Intermunicipal de Futebol do Estado da Bahia.

Nas inúmeras jornadas defendendo as cores do Colo-Colo, Vilson

Longo teve muitos e variados parceiros no ataque do clube ilheense.

Todavia, com dois jogadores brilhou de maneira especial, onde o

entrosamento e a empatia nos gramados chegava próximo à perfeição.

Nesse conceito, o primeiro destaque vai para o saudoso Tinho. Um

fenomenal atacante, capaz de produzir jogadas magistrais.

Foi profissional no Vitória da capital, era bastante jovem e reunia

potencial para chegar à seleção brasileira, mas acabou falecendo,

prematuramente, de acidente de carro.

Vilson e Tinho tinham tanta afinidade que, nas manhãs dos dias

úteis da semana, fora do campo, o lazer preferido dos dois era percorrer

a praia da Avenida no trecho da Catedral até as imediações do bairro da

Cidade Nova, tocando a bola, iam e vinham, de um para o outro, de pé

em pé. Um correndo pela faixa da preamar e o outro segurando o ritmo

na parte baixa da linha da maré.

O outro destaque foi protagonizado pelo servidor do Banco do

Brasil e famoso goleador do Colo-Colo, o cearense Mourão. Dentro das

quatro linhas, a sintonia dele com Vilson Longo era de alto nível. Vilson

com sua reconhecida classe e técnica refinada, gerava o jogo, dava

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passes perfeitos e sempre encontrava o matador Mourão em condições

para fulminar o gol adversário.

O repertório desses dois era muito variado. Às vezes

surpreendiam e vinham tabelando do meio de campo, envolvendo a

retaguarda do time oponente até a sentença final: lançamento de Vilson

Longo e gol de Mourão.

Vilson Longo era um atleta holístico, de talento múltiplo. Também

teve muita projeção no futebol de salão, atualmente denominado futsal.

Segundo palavras abalizadas do ex-goleiro e companheiro Ademar do

Bolo: “Eu não gostava de jogar futebol de salão com aquela bola

pequena. Meu negócio era o futebol de campo. Mas, não perdia

uma partida ou disputa de torneio no Ginásio de Esportes Herval

Soledade, somente para ver as exibições do talento de Vilson

Longo. Vilson foi cracão no futebol de salão. Fazia o que queria

com a bola na quadra de futsal”.

Ainda na direção dos arqueiros, o ex-goleiro Quila, da seleção e do

Comercial de Ubaitaba relata o seguinte: “Vilson Longo jogou o

campeonato de 1969 aqui em Ubaitaba.

Jamais me esqueço de uma partida na reta final contra o

Benfica de Aurelino Leal. Time forte, torcida da cidade cheia de

energia e entusiasmo e, um Prefeito, o saudoso Almir Araujo

apaixonado por futebol.

Chegou o dia do jogo, o Benfica contando com a providencial

ajuda do Prefeito teve condições para adquirir reforços e trouxe

vários bons jogadores de fora, principalmente de Itabuna.

Do lado do Comercial, Vilson Longo era a única novidade. A

titulo de incentivo um grupo de torcedores prometeu premiar com

20 (vinte cruzeiros) – moeda da época - quem marcasse cada gol do

nosso time.

Começo de jogo duro, bem disputado. Ai entrou a categoria

de Vilson Longo e o faro de artilheiro de Nelsão Piroca. Vilson

desequilibrava, construía jogadas, driblava, se movimentava pelo

campo, abria o jogo entregava na bandeja e Piroca ia botando no

fundo da rede.

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No final, ganhamos de 6 x 1, todos os gols de autoria de

Nelsão Piroca que, merecidamente embolsou 120 (cento e vinte

cruzeiros), mas, o garçom da partida, o nome do jogo foi Vilson

Longo.”

Essas são da lavra do ex-jogador Ivo Babá, destacado atacante

amigo e companheiro no Colo-Colo e na seleção de Ilhéus: “Nunca vi

um atleta amador, no interior da Bahia melhor do que Vilson Longo.

Tanto no futebol de campo como no futebol de salão;

Muitas vezes, nos treinos ele costumava fazer o seguinte

desafio e o preferido nesses embates era o vigoroso

lateral Coquita, jogador do Colo-Colo e da seleção.

Vilson se dirigia para o cantinho do escanteio, colocava

o pé sobre a bola e chamava – Negão venha tomar...

Nem Coquita nem ninguém conseguia tirar-lhe a bola,

que ficava girando colada no pé do mago Vilson. Ela só

saía com falta derrubando o seu dono;

Em certas ocasiões, antes dos jogos, ele ficava

chutando uma bola de camurça pequena contra a

parede. A bola ia e sempre voltava com precisão na

mesma direção, no ponto onde ele estava. Repetia várias

vezes esse movimento e tudo saia igualzinho, numa

espécie de tênis praticado com o pé;

Em outro momento ele se divertia fazendo embaixada.

Era capaz de bater seguidamente, mais de 300

embaixadas, alternando a perna direita e a esquerda com

a bola mantendo a mesma cadencia. Para acabar

precisava a gente gritar, chega, tá bom!

Assim eram algumas fantasias de Vilson Longo. O homem

que fazia dançar a bola com os pés.”

Outro depoimento digno de registro versando sobre as qualidades

de Vilson Longo no futsal vem do desportista ilheense Cid Ribeiro,

advogado, aposentado e tradicional morador do bairro do Pontal.

No início dos anos 70, Cid Ribeiro recebeu a honrosa tarefa de ser

o Supervisor da Delegação de Ilhéus na disputa dos Jogos Abertos do

Interior realizados na cidade de Feira de Santana: “Consciente da

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importância do evento Ilhéus, na modalidade de Futebol de Salão,

organizou um grupo composto por excelentes jogadores, a

exemplo de, Guilherme Adami, Gustavo Kruschewsky, Maurício

Badaró, Tácito, dentre outros e, mais Massa-Bruta, goleiro de

Coaraci, um paredão debaixo do gol e, excelente na distribuição da

bola. A função de técnico, por consenso, ficou sob a

responsabilidade do indiscutível Vilson Longo.

No palco da competição, as apostas sobre o provável

campeão recaiam com maior peso no anfitrião Feira de Santana,

que possuía um timaço. Os jogos eram muito equilibrados, mas

Ilhéus estava bem e foi superando os adversários, matando um

leão a cada dia.

No embalo, após eliminar os donos da casa, Feira chegamos à

partida final contra Jequié. Infelizmente, sofremos uma grave baixa,

perdemos o fixo Guilherme Adami por contusão, tratava-se de um

dos principais jogadores do quinteto titular, bem como era

integrante da seleção baiana universitária de futsal.

Com esse imprevisto, o técnico Vilson Longo procurou-me

preocupado para discutir a escolha do substituto de Guilherme.

Fez várias ponderações sobre as possibilidades dos reservas;

Depois de ouvi-lo, dei a resposta de pronto:

Você, o homem é VOCÊ;

Vilson Longo, naquele jeito muito próprio dele, titubeou e quis

recuar;

Eu insisti, não tem outro, só VOCÊ;

Ele continuou refletindo, mas acabou aceitando.

No jogo final, Ilhéus fez uma bonita exibição coletiva, fomos

os campeões e, uma vez mais Vilson Longo soube justificar sua

condição de excepcional jogador”.

No plano pessoal, tive o privilégio de participar de alguns jogos na

companhia desse grande esportista, na década de 70, em Ubaitaba.

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Vilson Longo contava 34 anos, ostentava a mesma técnica

apurada e continuava no ativismo dos esportes, notadamente o futebol

de campo e o futebol de salão.

Foi convidado por Miguel Calixto, funcionário do Banco do Brasil e

um entusiasta desportista ubaitabense. Na ocasião contou com a

cumplicidade de Eduardo Longo, na intimidade Quebê, o irmão mais

novo de Vilson, que era casado e domiciliado em Ubaitaba e, também,

muito bom de bola.

Aliás, Vilson Longo tinha costume de participar da vida social de

Ubaitaba, onde frequentou na infância e na adolescência, mantinha os

laços de família e lidava com negócios oriundos da herança agrícola

cacaueira.

Ademais, do ponto de vista futebolístico, tinha jogado no ano

anterior, 1969, no campeonato local, defendendo o Comercial e

sagrando-se campeão ao lado de: Nelsão Piroca, Carlos Alberto,

Otacílio, Quebê, Rei Babão, Quila, entre outros craques da “Velha-

Itapira”.

Nesse torneio o vice-campeão foi o Vitória do abnegado esportista

Antônio Magno que, também teve o jogador revelação do campeonato,

com o impetuoso Manezinho, ponta direita originário de Itacaré.

“Uma jogada memorável:

O referido jogo com a participação de Vilson Longo aconteceu

no verão de 1970.

A seleção de Ubaitaba enfrentou Ituberá em partida amistosa,

saindo-se vencedora pelo placar de 3 X 1.

Tarde de domingo chuvosa, o Estádio Felipe Miranda cheio de

gente, afinal naqueles tampos o futebol era a grande diversão

popular da nossa região, da Bahia e do Brasil. Não havia domingo

sem futebol.

Vilson Longo jogando na ponta direita vinha provocando

estrago na defesa adversária, desde o início do jogo e, todas as

vezes que pegava na bola, além do seu marcador, vários jogadores

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se deslocavam na tentativa de formar uma parede e impedir sua

progressão e seus dribles demolidores.

Então surgiu um lance onde o goleiro Quila, com a bola

dominada, imediatamente fez a ligação direta, num tiro, alto,

potente e enviesado que atravessou a linha divisória do gramado e

foi caindo para o lado direito do ataque. Vilson Longo amorteceu a

bola com extrema habilidade e ficou com ela presa entre o piso

gramado e a sola da chuteira direita. Quietinha e obediente, a bola

parecia numa postura de reverência e submissão ao mestre.

Vilson permaneceu ali parado, alguns instantes, depois

começou a balançar o corpo e passar o pé sobre a bola que

continuava imóvel, enquanto isso, foi juntando adversários e,

acabou ficando três jogadores à sua frente, meio indecisos e

receosos de dar o bote. De repente ele fez um movimento ágil,

ameaçando correr na direção da linha de fundo e, os três, ao

mesmo tempo, tentaram acompanhá-lo. Ele voltou para posição de

origem, a bola permanecia estática e, dois marcadores caíram

estatelados no chão molhado, provocando aplausos e gritos de

entusiasmo dos torcedores pelo campo inteiro.

Ainda, nesse dia memorável para o futebol de Ubaitaba, o

criativo Vilson Longo estava inspirado e começou o seu show

particular, antes do juiz apitar o início da peleja.

Após vestir o calção, colocar os meiões, calçar as chuteiras e

com a camisa largada nos ombros, já na parte externa, em frente

aos vestiários, inaugurou uma série interminável de pontinhos,

quicando a bola de couro de cor marrom, marca “Drible”,

empregando a perna direita, ora alternando com a esquerda. Em

seguida, semi-deitado, apoiado nas mãos usando, simultaneamente

os dois pés controlando a bola, sem deixar cair no chão. - Um

deleite para todos que apreciam a magia do futebol”.

Vilson Longo praticou o chamado esporte de massa, o futebol,

bem como outras modalidades de esportes coletivos de apelo popular.

Foi admirado e assistido da arquibancada por muitas pessoas. Nunca

faltou espectadores para olhar e se deliciar com suas qualificadas

apresentações esportivas.

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Todavia, tinha uma vida pessoal reservada. Possuía hábitos bem

simples, o temperamento calmo, um pouco introvertido, demonstrando

até certa timidez. Era desapegado de coisas materiais, embora fosse

profundamente dócil e educado no trato com os seus semelhantes.

Não tinha inimigos, não reclamava da vida. Não se casou ou teve

filhos biológicos, numa parte da sua existência, morou só.

A bola foi a principal companheira, era sua terapia. Com ela

formou uma família unida e feliz: bola de limão, de laranja, de meia, de

borracha, de futebol de campo, de futsal, de futebol de praia, de vôlei,

de basquete, de tênis de mesa...

Por outro lado, na conjuntura atual, de materialismo exacerbado,

de violência primitiva, onde a sociedade encontra sérias dificuldades de

criar mecanismos capaz de salvaguardar uma juventude mais saudável,

Vilson Longo, há muito tempo combatia o bom combate.

É imperativo registrar o seu ideário e a sua disponibilidade cidadã

no trabalho diuturno com as crianças e os jovens de Ilhéus. Essas ações

educativas representam a continuidade da participação social do ex-

atleta e, sobretudo simbolizam um legado indelével do lendário mestre.

Com sua maturidade de esportista, desenvolveu esquemas de

ensino que motivavam os meninos para o aprendizado e, de maneira

lúdica, transmitia os fundamentos e os detalhes do futebol, além de

inserir princípios para uma boa convivência comunitária.

Certamente, essa era uma missão sublime que lhe proporcionava

a felicidade íntima.

Por ocasião do seu falecimento recrudesceram manifestações nas

redes sociais, destacando o mérito esportivo e atributos de cidadania do

saudoso Vilson Longo.

As instituições esportivas também reconheceram a contribuição

para o futebol prestada pelo ex-atleta, assim como, o seu trabalho de

benemérito da juventude ilheense:

O Colo-Colo de Futebol e Regatas, manifestou pesar e

solidariedade à família, aos amigos e aos admiradores do ex-

jogador;

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A Federação Baiana de Futebol, determinou que fosse

obedecido um minuto de silencio em “Homenagem

Póstuma” ao falecido, na decisão daquele domingo, dia

28/06/2015, entre Fluminense de Feira e Flamengo de

Guanambi;

O Presidente da Liga Ubaitabense de Futebol determinou

luto na entidade, em “Homenagem Póstuma” ao falecido;

José Santos Longo (irmão de Vilson Longo): - Estive

presente naqueles momentos de dor, mas fiquei muito

emocionado ao ver aquelas crianças chorando, todos alunos,

dando a última despedida. Vá em paz meu irmão Vilson

Longo;

Gustavo Kruschewsky, (amigo, ex-jogador e companheiro no

futebol de salão e de campo): - Vilson Longo, durante toda

a sua vida, demonstrou um espírito sempre jovem. Com um

currículo de atleta brilhante de várias modalidades esportivas

notadamente o futebol de campo e salão, hoje denominado

futsal. Amado pelos seus alunos e por todos os seus amigos;

Padre (amigo, ex-jogador, companheiro no Colo-Colo e,

também, no futebol de salão) – Muita coisa do futebol

aprendi com Vilson Longo. Ele foi o meu Professor;

José Garcia (ex-jogador e companheiro nos tempos do

Flamengo) – Vilson Longo era um jogador espetacular;

Arnaldo Gonçalves Pereira (amigo e admirador) – Vilson

Longo foi uma pessoa maravilhosa, homem simples,

humilde, sempre sorridente. No seu velório senti a falta de

pessoal do meio esportivo, de representante da Prefeitura,

afinal de contas era uma pessoa muito querida;

José Nazal (amigo e admirador) – A característica principal

de Vilson Longo era a generosidade, deixou excelente

cabedal de serviços prestados à comunidade ilheense,

sobretudo ensinando tudo que sabia aos jovens. Merece

uma homenagem à altura, com seu nome inscrito de forma

indelével num logradouro da cidade ou num equipamento

esportivo;

Raimundo Hagge (saudoso autor do livro intitulado “Túnel do

Tempo – Futebol de Itabuna – Cem anos de história”) –

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Considero Vilson Longo o maior atleta do futebol ilheense.

Era habilidoso, sabia finalizar, tinha uma arrancada

fulminante e, também, encantava pela educação;

Rita Longo (sobrinha de Vilson Longo) – Em nome da

família, agradeceu as manifestações de carinho e

depoimentos homenageando a memória do seu tio Vilson

Longo. Enfatizou o relacionamento e o caráter de

solidariedade com o saudoso Vilson, bem como, recordou

emocionada o último encontro mantido com o mesmo na

Fazenda Aurora.

Na missa de 7º dia, no dia 05 de julho do corrente, celebrada pelo

Padre Cristo na Igreja da Avenida Princesa Isabel, em Ilhéus, tivemos

outras oportunas manifestações de amigos e admiradores, dentre esses

o Professor Renato Peixoto, companheiro de Vilson Longo na Escolinha

de Futebol dos meninos do Colégio Nossa Senhora da Piedade,

ressaltou as palavras proferidas pelo saudoso esportista, quando estava

sendo conduzido, já enfermo, para o Hospital de Ilhéus: “Sei que não

volto mais, porém sou um homem feliz por tudo que fiz. O que mais

gosto é de dar aulas aos meninos”.

É essencial reconhecer que Vilson Longo deixou uma legião de

descendentes, de filhos da cidadania esportiva.

Enfim, Vilson Longo foi e até hoje é, um dos maiores jogadores do

futebol de Ilhéus e do Sul da Bahia. Uma verdadeira lenda!

Roberto Setúbal

(Conterrâneo e admirador do saudoso esportista e cidadão Vilson

Longo)

Ilhéus – Bahia, julho de 2015.