UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

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I UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO Faculdade de Filosofia e Ciências da Religião Odilon Massolar Chaves Doutorando A VIVAMENTO E O COMPROMISSO SOCIAL METODISTA , NA INGLATERRA, NO SÉCULO XVIII: UMA BUSCA DE SUBSÍDIOS PARA A IDENTIDADE DO METODISMO BRASILEIRO NO 3 º MILÊNIO Prof. Dr. Lauri Emílio Wirth Orientador Em cumprimento parcial das exigências da pós-graduação para a obtenção de grau de doutor em Ciências da Religião São Bernardo do Campo, 2002

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I

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

Faculdade de Filosofia e Ciências da Religião

Odilon Massolar Chaves

Doutorando

AVIVAMENTO E O COMPROMISSO SOCIAL METODISTA,

NA INGLATERRA, NO SÉCULO XVIII: UMA BUSCA DE SUBSÍDIOS PARA A

IDENTIDADE DO METODISMO BRASILEIRO NO 3º MILÊNIO

Prof. Dr. Lauri Emílio Wirth

Orientador

Em cumprimento parcial das exigências

da pós-graduação para a obtenção

de grau de doutor em

Ciências da Religião

São Bernardo do Campo, 2002

II

BANCA EXAMINADORA

Presidente

_____________________________________________________________________________________

III

DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Adherico e Roza,que me educaram dentro dos princípios cristãos;

A minha famíliaque me deu força nos estudos e pesquisa.

IV

AGRADECIMENTOS

A Deusque me sustentou com sua imensa graça;

Prof. Dr.Lauri Emilio Wirth,pela valiosa orientação nesta pesquisa,

Aos professores e professoras da Umesp,pelo ensino e amizade;

Aos colegas da Pós-Gradução,pelo convívio fraternal.

A Rosilei e Ricardo,pela sempre preciosa atenção na secretaria.

V

RECONHECIMENTO

Igreja Metodista,

Instituto Metodista Bennett,

Universidade Metodista de São Paulo

Pela participação nos recursos financeiros,

que tornaram possível concluir o doutorado

VI

SINOPSE

Esta pesquisa tem o propósito de dar uma contribuição para a

elaboração histórica sobre o Avivamento e o Compromisso Social

Metodista, no século XVIII, na Inglaterra cujo subsídio poderá servir

para a identidade metodista no novo milênio. Tanto o avivamento, que

surgiu como com conseqüência do forte mover do Espírito Santo, bem

como a atuação do povo metodista junto às camadas pobres, como

resultado da prática das Obras de Misericórdia, sempre andaram

juntas. Fé e obras ou espiritualidade e ação social eram partes

integrantes de uma mesma mensagem, que pode ser resumida como

“a fé que atua pelo amor”. A ênfase na salvação total do ser humano,

com o passar dos anos, passou a ser entendida de maneira diferente

pelos novos grupos que surgiram na Igreja e que passaram a enfatizar

a salvação da alma (Espiritualismo) e o Compromisso Social

(Evangelho Social). Mais recentemente, a partir da década de

sessenta, esses grupos passaram a ter novos nomes: Teologia da

Libertação e Movimento Carismático. As divisões ocorridas, no último

século, no metodismo brasileiro, foram conseqüências, em grande

parte, do radicalismo entre esses dois grupos Se na Igreja Católica a

crise permanece, se bem que bem mais amena, entre os adeptos da

VII

Teologia da Libertação, cuja expressão maior são as CEB

(Comunidades Eclesiais de Base), e a RCC (Renovação Carismática).

(Católica), no metodismo brasileiro tem havido um caminhar para a

unidade entre os chamados “carismáticos” e os “liberais”,

especialmente, a partir do Concílio Geral de 1982, com a aprovação

do Plano para a Vida e a Missão da Igreja, e do Concílio Geral de

1987, com a organização da igreja em Dons e Ministérios Essas duas

ênfases teológicas, a partir da década de noventa, ficaram contidas na

Ação Missionária, que tem sido fator de unidade na Igreja. Esta

pesquisa procura mostrar essa realidade e aponta a atuação do

movimento metodista, na Inglaterra, como paradigma para a Igreja

Metodista, em território brasileiro, no novo milênio.

VIII

ABSTRACT

The purpose of this research is to investigate the approach of the

Methodist Church to renewal and social commitment in England during

the XVIII century. The author proposes that this historical Methodist

Movement can serve as a model for the Methodist Identity in the

present millennium. During the XVIII century, the Renewal Movement

(a result of the Holy Spirit) and the work among the poor (a practice of

works of mercy) were practiced together. Faith and deeds, or

spirituality and social work, completed a unified message: Faith works

through love. Groups that arose within the Methodist church interpreted

this emphasis on the salvation of the whole person in different ways.

Some groups started to emphasize salvation of the soul while others

emphasized social commitment (the social Gospel). Recently, with the

passing of the 1960’s, these groups were given new names: the

Theology of Liberation and the Charismatic Movement. The divisions

that occurred in the last century in the Brazilian Methodist Church

were, to a great degree, consequences of the radicalism of these two

groups. In the Catholic Church, the crisis between the two groups

IX

persists to a lesser degree. The Theology of Liberation movement is

expressed through the CEB (Base Ecclesiastic Communities) and the

RCC (the Renovation of the Catholic Charismatic). The establishment

of one document and one organization within the Methodist church has

helped to unite the “liberationists” and the ”charismatics”: The “Plan for

the Life and Mission of the Church” (approved during the 1982 meeting

of the General Council) and ‘Gifts and Ministries’ (organized during the

1987 meeting of the General Council). These theological emphases

were put into action after the 1990’s with the Missionary Action

Ministry. This has been the most important uniting factor in the Church.

This research is seeking to bring to light this modern reality and to

present England’s XVIII century Methodist Movement as a paradigm

for the Brazilian Methodist Church in the new millennium.

X

HOMENAGEM

A UM LÍDER COM UMA GRANDE VISÃO E IMENSA DETERMINAÇÃO

“Dê-me cem pregadores que não tenham medo de nada, a nãoser do pecado, e que não desejem mais nada, a não ser servir a Deus,e, não me importo se são clérigos ou leigos, eles sozinhos farãotremer os portões do inferno e estabelecerão o reino dos céus aqui naterra.”1

João Wesley

1HEITZENHATER, Richard P. Wesley e o povo chamado Metodista. São Bernardo doCampo-Rio de Janeiro: Editeo-Pastoral Bennett, 1986, p.266.

XI

O avivamento e o compromisso social Metodista, naInglaterra, no século XVIII: uma busca de subsídios para a

identidade do metodismo brasileiro no 3º milênio

XII

INTRODUÇÃO

“Enquanto John Wesley pregava a sua doutrinade salvação individual, compreendeu que a salvaçãoera também social (...)” .2

Hugh C. Tucker

A presente pesquisa tem como título: O avivamento e o

compromisso social Metodista, na Inglaterra, no século XVIII: uma

busca de subsídios para a identidade do metodismo brasileiro no 3º

milênio.

Na estrutura da tese3, temos o seguinte índice4: o capítulo

primeiro mostra o conflito teológico entre os chamados carismáticos e

os sócio-políticos. No segundo capítulo, é abordado o contexto social,

político e religioso em que surgiu o metodismo na Inglaterra, no século

XVIII. O capítulo terceiro analisa o perfil bibliográfico do criador do

2 TUCKER, Hugh C. “Ecumenismo metodista” em Expositor Cristão. São Paulo [s.ed], 19de fevereiro de 1948, ano 62, nº 8, p.1.3 Na digitação da tese, utilizamos o livro de Pedro Augusto Furasté: Normas técnicas parao trabalho científico. Porto Alegre: Serviços Datilográficos e Computadorizados, 10 ed,2001. Livro adotado pela pós-graduação em Ciências da Religião da Umesp.4 Richard P. Heitzenrater, que alcançou notoriedade mundial ao encontrar a chave paradecifrar o Diary particular de João Wesley, (HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.IX)propõe a seguinte divisão da história do metodismo primitivo: O surgimento do Metodismo(1725-1739); O reavivamento começa (1739-1744); A consolidação do movimento (1744-1758); O processo de amadurecimento do Metodismo (1758-1775); Tensões e transições(1775-1791). (HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.33-261).

XIII

metodismo, João Wesley. No quarto capítulo veremos como foi

formada a identidade teológica do movimento metodista abordando os

diversos movimentos da época, bem como a formação e

desenvolvimento da sua organização e a contribuição dos diversos

líderes da época ligados ao metodismo. O quinto capítulo mostra o

impacto e a contribuição do avivamento wesleyano, no século XVIII,

na Inglaterra, e na década de noventa, no metodismo brasileiro. No

sexto capítulo mostramos que o avivamento metodista trouxe uma

contribuição à sociedade inglesa e ao cristianismo. No último capítulo,

apontamos as principais diretrizes e fundamentos para um autêntico

avivamento, tendo como paradigma o avivamento metodista do século

XVIII.

O método escolhido para a nossa pesquisa é o método histórico.

Segundo Eva Maria Lakatos e Marina de Andrade Marconi, esse

método de procedimento parte do seguinte princípio:

“(...) as atuais formas de vida social, asinstituições e os costumes têm origem no passado, éimportante pesquisar suas raízes, para compreendersua natureza e função. Assim o método históricoconsiste em investigar acontecimentos, processos einstituições do passado para verificar a sua influênciana sociedade de hoje, pois as instituições alcançaramsua forma atual através de alterações de suas partescomponentes, ao longo do tempo, influenciadas pelocontexto cultural particular de cada época.”5

5 LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica. SãoPaulo:Editora Atlas, 1991, p.81-2.

XIV

Partimos de pressuposto básico de que temos que ir às raízes do

metodismo para compreender sua “natureza e função” e trazermos

pistas para o modo de ser e de agir do metodismo hoje.

Não desejamos trazer uma estrutura do passado para o hoje e

nem desejamos tentar repetir uma história e sim verificar os

fundamentos teológicos e a vivência wesleyana na abertura ao mover

do Espírito6 e no compromisso social, para servirem de base para o

nosso tempo, levando em conta a atual cultura e o contexto social e

político do país.

A vivência, conflitos e tendências no metodismo hoje nos levam a

buscar no passado as nossas raízes já que constantemente as

diversas tendências dentro da Igreja hoje buscam em Wesley os

fundamentos para suas práticas.

Como diz Adam Schaff:

“(...) a história é função dos interesses do presenteou - como escreve N.M. Prokovski - é a política atualprojetada sobre o passado.”7

Partimos do princípio de que o metodismo em cada época tem

tido crises, tem tido dificuldades em sua vocação profética e com a

sua própria identidade por causa do contexto social em que se situa.

Atualizando a afirmação das autoras citadas anteriormente, o

metodismo alcançou sua forma atual através de alterações, ao longo

6 Expressão que explicaremos na tese.7 SCHAFF, Adam. História e Verdade. São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora Ltda,1983, p. 271.

XV

do tempo, influenciados pelo contexto cultural particular de cada

época.

Como exemplo, citamos a década de cinqüenta quando o país

viveu um triunfalismo com o novo Presidente da República8 e o

metodismo teve também sua euforia com o “Avante por Cristo”9. Na

década de sessenta, quando o Brasil viveu um período de rápidas

transformações, o metodismo não conseguiu acompanhar todo o

processo no contexto em que vivia. Mas o Brasil entrou em crise e o

metodismo também:

“Todo esse desenvolvimento do capitalismonacionalista do populismo entrou em crise durante adécada de 60 devido à marginalização das grandesmassas rurais, para as quais não houve solução e asquais invadiram as cidades, pela limitação do seumercado interno, que levou a uma parada docrescimento econômico, a completar com o estadoplanejador e, finalmente, à desnacionalização do estadoe da economia, para favorecer a intervenção econômicaestrangeira.”10

8 No Governo de Juscelino ”a base para o progresso foi uma extraordinária expansãoindustrial. Entre 1955 e 1961, a produção industrial cresceu 80% (em preçosconstantes),com as percentagens mais altas registradas pelas indústrias de aço (100%),indústrias econômicas (125%), indústrias elétricas e comunicações (380%) e indústrias deequipamentos de transportes (600%)”. (SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Getúlio a Castelo.Rio de Janeiro: Paz e terra, 1975, p.204).9 O programa tinha quatro aspectos: Nossa Fé; Nossa Igreja; Nosso Ministério e NossaMissão (SEXTO CONCÍLIO GERAL. Avante por Cristo. [s.ed], [s.d], p. 138).10 GOTAY, Samuel Silva et al. História da Teologia na América Latina. São Paulo: EdiçõesPaulinas, 1981, p.149.

XVI

Essa análise nos ajuda a entender que a Igreja Metodista

aprovou sua organização em dons e ministérios11 somente em 1987,

porque o Brasil vivia um período de abertura democrática e de

participação popular.

Na verdade, o metodismo brasileiro caminhou muito à sombra da

ênfase política e social brasileira. Getúlio Vargas dirigiu o país da

década de trinta a década de cinqüenta com uma ditadura. O primeiro

bispo brasileiro dirigiu o metodismo com mão de ferro também de

1934 a 1955.12

Esse método histórico é uma opção que nos ajuda a ir por um

caminho mais seguro de fazermos uma pesquisa mais perto da sua

realidade.

Mais uma vez, Adam Schaff nos ajuda:

“A seleção dos fatos é portanto função do contextohistórico do historiador, da teoria que ela aplica (...).”13

Ao pesquisar sobre a história do metodismo é possível que outro

historiador chegue a resultados diferentes do nosso, sem ter forjado a

história ou mentido. Exatamente, porque o sujeito escreve do seu

lugar social, a partir de suas tendências, seleção dos fatos, opções,

interesses, mediações sociais, preconceitos, etc.

11 Organização em dons e ministérios significa a livre escolha do ministério (serviço) quecada pessoa deseja participar na organização da Igreja, sem burocracia. No sextocapítulo abordaremos com mais profundidade sobre os dons e ministérios na organizaçãometodista.12 O primeiro bispo do metodismo brasileiro foi César Dacorso Filho.13 SCHAFF, Adam. História e Verdade . Ibidem, p.237.

XVII

A questão chave da pesquisa é o equilíbrio wesleyano entre

piedade e o seu forte compromisso social, no século XVIII, na

Inglaterra. Uma identidade 14 cujo paradigma15 dará diretrizes aos que

buscam um avivamento em nossos tempos, no Brasil. Abordaremos,

no sexto capítulo, portanto, o metodismo no século XVIII, na Inglaterra,

e a sua contribuição para a Igreja Metodista, no Brasil, no 3º milênio.

Diversos movimentos influenciaram o metodismo ao longo de

sua história. O metodismo que os brasileiros receberam em 1867 veio

como uma roupagem ideológica, que o diferenciava grandemente de

suas origens na Inglaterra. Até mesma concordância com a escravidão

ocorreu na América por parte da liderança da Igreja.

Júlio de Santa Ana afirma:

“(...) a partir de 1839, começaram a surgir cismasna Igreja Metodista dos Estados Unidos por causadessa questão. Esta divisão durou até 1938. Mas o quemais nos interessa aqui é o fato de que foram setores

14 Segundo Magali do Nascimento Cunha, ”nunca se falou tanto em identidade na IgrejaMetodista (...). Falar de identidade e tentar reafirmá-la é próprio dos momentos de crise,seja individual ou coletiva (...). Identidade não se preserva; identidade é um processoincessante de construção: (...). Significa reler o passado com os olhos num processo deconstrução identificando o que foi criado no passado (os traços de identidade que ficam eos que foram abandonados), o que está sendo criado no presente (frente aos desafios darealidade) e somar tudo isso ao projeto futuro (como o que ainda não é que desafia opresente e o passado” (CASTRO, Clóvis Pinto de; CUNHA, Magali do Nascimento.Forjando uma Nova Igreja, São Paulo: Editeo, 2001, p.63-5). No Primeiro Capítulo,citaremos doze afirmações do Colégio Episcopal da Igreja Metodista publicada no livro AsMarcas Básicas da Identidade Metodista onde está definida a identidade metodista.15 “(...) terminologia que tomou conta das discussões metodológicas, da filosofia daciência e da epistemologia, desde 1962, quando Kuhn, lançou a primeira edição de suadiscutida obra, The Structure of Scientific Revolutions (...). (CASTRO, Clóvis Pinto de etal. Novos Paradigmas. São Bernardo do Campo: Instituto Ecumênico de pós-graduaçãoem Ciências da Religião, 1995, p.30-1). Paradigma é entendido como “modeloestabelecido por um conjunto de soluções concretas a certos problemas’ que regem osvários momentos e fases das atividades dessa ciência” (Ibidem, p.31).

XVIII

do metodismo, que não souberam assumir as suasresponsabilidades diante da questão escravista, os quechegaram a certas partes da América Latina. Isso querdizer que, além de sua orientação conservadora emquestões sociopolíticas, davam também sinais deincoerência entre o pensamento e a prática. Esteelemento deve ser tomado fortemente em conta quandose fala da nossa herança metodista.”16

O metodismo que veio para o Brasil foi dos sulistas derrotados

na Guerra de Secessão na América. Junius Newmam havia perdido

suas terras e veio tentar a sorte aqui,17 com a benção da Igreja

Metodista Episcopal do Sul.

“Em 1966, um número considerável de sulistas, quetinham sofrido prejuízos enormes em conseqüênciadessa conflagração, resolveu emigrar para o Brasil. ORev. Junius E. Newman, que antes era homem de certafortuna, tendo perdido tudo que possuía, durante essaguerra, precisava de alguma forma restabelecer osseus haveres. Vendo muitos dos seus amigos epatrícios partirem para uma terra longínqua eestrangeira, resolveu acompanhá-los, especialmenteanimado pela esperança de poder auxiliar napropaganda do Evangelho.”18

Ele, primeiramente, fixou residência em Niterói e depois, em 17

de agosto de 1871, organizou a primeira Igreja Metodista com nove

norte-americanos, em Saltinho, SP.19

16BONINO et al. Luta pela vida e evangelização. Edições Paulinas-Editora Unimep, 1985,p.50-1.17 SALVADOR, José Gonçalves. História do Metodismo no Brasil. São Paulo: ImprensaMetodista, 1982, p.51-5.18KENNEDY, J.L. Cinqüenta Anos de Metodismo no Brasil. São Paulo:ImprensaMetodista, 1928, p.1619 Ibidem, p.59.

XIX

Julio de Santa Ana, ao comentar sobre alguns elementos da

herança metodista, afirma:

“(...) o metodismo nos Estados Unidos, apesar deposicionar-se em favor da independência desse paísem relação ao poder colonial britânico (posição na qualdivergiu radicalmente com a de Wesley), caracterizou-se pelo predomínio de posições conservaras emquestões sociais e políticas, pelo menos até inícios donosso século, quando a influência da corrente do´Social Gospel´ começou a fazer-se sentir, emborajamais chegasse a predominar no pensamentometodista.“20

A corrente do Evangelho Social21 teve importante influência no

metodismo brasileiro, especialmente com a liderança do Rev.

H.C.Tucker,22 que foi líder na área social da Igreja Metodista entre as

décadas de trinta e cinqüenta.

Tucker se referiu ao evangelho integral pregado por Wesley:

“Enquanto John Wesley pregava a sua doutrina desalvação individual, compreendeu que a salvação eratambém social, que ele não poderia ser fiel ao

20 BONINO et al. Luta pela vida e evangelização. São Paulo-Piracicaba: Edições Paulinas-Editora Unimep, 1985, p.49-50.21 “Os anos finais do décimo nono século presenciaram o despertar de profundo interessesocial entre muitos cristãos. Sob a direção de ministros liberais como WashingtonGladden (!836-1918) e Walter Raschenbush (1861-1918) progrediu o ‘evangelho social’americano. No começo desse século o protestantismo expressara seu interesse socialprincipalmente em termos individuais, insistindo em reformas nas obras de caridade e namoral, mas o evangelho social focou sua atenção sobre aspectos corporados da vidamoderna e sobre a consecução da justiça social. Grande atenção foi dada às relaçõesentre capital e trabalho e o movimento influiu no encurtamento das horas diárias detrabalho” ( WALKER, Welliston. História da Igreja Cristã. Tradução de N. Duval da Silva. 2v. São Paulo: Imprensa Metodista, ASTE, 1967, p.282.22O grande líder no Brasil foi H. C. Tucker. Ele foi Secretário Geral de Ação Social naIgreja Metodista do Brasil. Tucker foi influenciado pelas idéias de Rauschenbusch.

XX

chamado do Mestre, se não ocupasse dos grandesmales do seu tempo” .23

Durante a história do metodismo em terras brasileiras surgiram

movimentos, especialmente, a partir da década de trinta procurando

despertar a Igreja, especialmente, para o crescimento. Alguns conflitos

e divisões foram inevitáveis.24 O conflito se tornou mais forte na

década de sessenta quando surgiu uma grande divisão no metodismo,

no Rio de Janeiro, em 1967. 25

A partir dos anos setenta, as duas tendências inerentes ao

metodismo brasileiro assumiram contornos mais nítidos através do

Movimento Carismático e da Teologia da Libertação. Desde, então, o

metodismo brasileiro vive procurando um ponto de equilíbrio e de

ação. Cada um deles sempre procura se fundamentar em Wesley e

no metodismo do século XVIII.

A cisão mais conhecida e mais trágica ocorreu em 1967, no Rio

de Janeiro, quando um grupo de cinco pastores entendeu que o

metodismo brasileiro havia se desviado de sua origem wesleyana. Por

isso organizaram a Igreja Metodista Wesleyana, exatamente por

entenderem que suas práticas eram apoiadas por João Wesley.

23 TUCKER, Hugh C. “Ecumenismo metodista” em Expositor Cristão. São Paulo [s.ed], 19de fevereiro de 1948, ano 62, nº 8, p.1.24 A primeira divisão ocorreu em torno de 1935 com a criação da Irmandade MetodistaOrtodoxa, em um conflito envolvendo o presbítero José Henriques da Matta, Faculdadede Teologia e bispo César Dacorso Filho.25Em janeiro de 1967, no Concílio Regional, em Nova Friburgo, RJ, cinco presbíterosentregaram as credenciais retirando-se da Igreja Metodista por discordância com o bispoNathanael Inocêncio do Nascimento. Organizaram a Igreja Metodista Wesleyana, cujaênfase principal passou a ser no batismo do Espírito Santo.

XXI

Assim, alegavam realizar um avivamento para o metodismo voltar às

suas raízes:

“(...) nos sentimos chamados pelo Espírito Santopara realizar uma obra de avivamento no seio da IgrejaMetodista do Brasil.”26

Como não viram outras alternativas, declararam:

“(...) retiramo-nos da Igreja Metodista do Brasilcom o propósito de organizarmos uma Igreja Metodistanos moldes do Metodismo Primitivo.”27

Essas tendências avivalistas ou sociopolíticas ainda geram

debates na vida da Igreja Metodista, mas sem grandes crises.

Afinal, o metodismo deve se preocupar também com a educação,

a questão indígena, fome, FMI e com a violência?28

Podemos expulsar demônios, orar em línguas, levantar as mãos

e bater palmas nos louvores ou estas práticas não fazem parte da

nossa identidade?29

26 O principal líder, Gessé Teixeira de Carvalho, fez esta declaração em carta ao ConcílioRegional. Eles estavam saindo porque sentiam que não tinham outra alternativa(CARVALHO, Gessé Teixeira de. "Leitura de Documentos" em Atas, Registros eDocumentos do 11º Concílio Regional da 1ª Região. 1967, p.40).27CARVALHO, Gessé Teixeira de., ibidem. O Metodismo Primitivo que é citado pelo grupoé o metodismo de Wesley e não a Igreja Metodista Primitiva, que surgiu após a morte deJoão Wesley, na Inglaterra.28 Essas questões têm sido abordadas naturalmente pelo Colégio Episcopal e demaisórgãos gerais da Igreja Metodista, como a Coordenação Nacional de Ação Social. No ano2000, o Credo Social foi republicado.29 O Colégio Episcopal publicou em 1988 a Pastoral sobre a Doutrina do Espírito Santo eo Movimento Carismático e procurou orientar os relacionamentos entre os chamadoscarismáticos e não carismáticos, entre as páginas 39 e 47.

XXII

Essas questões estão presentes na vida da Igreja.30 Por isso, a

razão desta pesquisa procurar analisar essas questões em Wesley e

assim contribuir para a Vida e a Missão da Igreja Metodista mostrando

sua origem, base teológica e identidade.

O PVM (Plano para Vida e a Missão da Igreja) aprovado no

Concílio Geral, em 1982, fundamentou e deu suporte para a ênfase

nas Obras de Piedade e Atos de Misericórdia. A Igreja conseguiu

colocar em um documento uma forte base teológica com ênfases dos

grupos carismáticos e os chamados “liberais”.31 Entre outras

importantes afirmações, o PVM diz:

“A missão acontece na promoção da vida e dotrabalho - para que haja vida são necessáriascomunhão e reconciliação com Deus e o próximo,direito a terra, habitação, alimentação, valorização dafamília e dos marginalizados da família, saúde,educação, lazer, participação na vida comunitária,política e artística,e preservação na natureza (At 2.42;II Co 5.18-20; Jo 10.10, 15.5. I Jo 1.7).”32

Na tese pretendemos fundamentar a ação do metodismo dentro

do equilíbrio das Obras de Misericórdia e Atos de Piedade, que hoje

30 Magali do Nascimento Cunha afirma que a implantação dos dons e ministérios nometodismo, em 1987, coincidiu com o crescimento do pentecostalismo e “alguns desviosda proposta metodista puderam ser notados na vida das igrejas, com a ênfase na criaçãode ministérios de reforço às práticas avivalistas de tendência carismática” (CASTRO,Clóvis Pinto de; CUNHA, Magali do Nascimento. Forjando uma nova Igreja. São Paulo:Editeo, 2001, p.69).31 A expressão “liberal” será explicada no Capítulo 1.32 CONCILIO GERAL. Vida e Missão. Editora UNIMEP, 1982, p.16-7.

XXIII

são praticados com outras expressões, como ação profética e vida

devocional, etc.

Por isso, a importância de abordar esses temas em Wesley

procurando diretrizes para os nossos dias, não só para o metodismo,

mas também para os diversos avivamentos que têm surgido.33 Assim,

a presente pesquisa quer ser uma contribuição para sustentar

teologicamente a ênfase e a prática atual metodista, que nos dois

últimos Concílios Gerais, em 1991 e 1997, colocou como tema: Igreja,

Comunidade Missionária a serviço do povo.

Cremos que o avivamento metodista, na Inglaterra, no século

XVIII, serve como paradigma para a Igreja, no Brasil, no novo milênio.

Nosso pressuposto básico é de que avivamento e compromisso social

fazem parte do todo do Evangelho e da identidade metodista.

Como afirma Steve Harper:

“As décadas de sessenta e setenta atacaramduramente esta dimensão da vida social e espiritual. A

33 As Igrejas Protestantes, Católicas e mesmo as pentecostais têm sido abaladas, nadécada de noventa, por diversos movimentos espirituais, como o G12, que têm geradopolêmicas e dividido diversas denominações. G12 é um movimento que têm abalado asIgrejas evangélicas em todo o Brasil levando seus líderes a se posicionar e a orientar osmembros e pastores de suas denominações. Sob a liderança de César e ClaúdiaCastellanos, fundadores da Missão Carismática Internacional, em Bogotá, Colômbia, omovimento passou a ser mais conhecido no Brasil a partir de junho de 1999, quando foirealizada uma Convenção, em São Paulo, com o lema “Avivamento Celular – Desafiopara o século XXI”. Mais de três mil e quinhentos pastores e pastoras de todas asdenominações participaram. O objetivo dos G12 é fazer de cada membro um líder. Háuma forte ênfase no discipulado pessoal. A estrutura básica da liderança é a seguinte:Líderes, supervisores, pastores-de-área, pastores-de-distrito.O G12 se baseia em quatropilares: ganhar, consolidar, treinar e enviar. As Igrejas Metodista e Presbiteriana do Brasile mesmo líderes da Assembléia de Deus, tomaram posição contrária ao movimento, quetêm na pastora Valnice Milhomens uma das principais líderes.

XXIV

relatividade moral e a ênfase nos direitos e privilégiosdo indivíduo desafiaram seriamente a nossa crença nospadrões universais. A nossa herança wesleyana,contudo, nos lembra de que tais padrões aindaexistem.”34

Esta dimensão social e espiritual ou espiritualidade social é que

desejamos recuperar em Wesley para servir de diretriz para as igrejas

que buscam avivamento no novo milênio.

A influência do Movimento Carismático e do Movimento

Profético35 no metodismo brasileiro ainda não foi objeto de uma

pesquisa cientifica mais profunda.

As preocupações e ênfases nas pesquisas têm sido diferentes e

têm levado sempre em conta as situações que cada autor vive em seu

lugar social. A tendência maior é dar um enfoque sob o ponto de vista

dos problemas sociais e não a partir também das necessidades e

ênfase da ação do Espírito Santo nas comunidades locais.

Devido aos problemas sociais e políticos na América Latina,

autores metodistas latino-americanos têm procurado discutir a

participação de Wesley diante dos problemas sociais de sua época,

na Inglaterra, com objetivo de encontrar um referencial para a atuação

da Igreja hoje.

34 HARPER, Steve. A vida devocional na tradição wesleyana. São Paulo:ImprensaMetodista, 1992, p.77.35 Expressão que relacionamos como político-social. No Capítulo 1 abordaremos sobreesse assunto.

XXV

Como exemplo, citamos o Primeiro Encontro de Teologia

Protestante, em Costa Rica, entre 6 e 11 de fevereiro de 1983, cujos

resultados foram publicados no livro La tradición protestante em la

teologia latinoamericana. Foi discutido amplamente sobre a tradição

metodista e foram levantadas questões como:

Poderemos falar e perceber um metodismo Latino-Americano?

Que elementos da herança Metodista a Igreja Latino-Americana

reconhece?

Os temas abordados – “O Wesley dos pobres” (Elza Tamez); "As

comunidades de base e a tradição metodista" (Mortimer Arias);

"Metodismo na América Latina – o caso uruguaio" (Emílio Castro), etc,

revelam a tendência de encontrar na tradição wesleyana respostas

para os problemas que afligem ao povo na América Latina.

A mesma tendência se observa no livro Luta pela vida e

evangelização – A tradição metodista na teologia latino americana,

publicado pela Unimep, em 1991.

Teólogos de expressão abordaram temas como: "Aspectos

políticos e ideológicos do metodismo histórico" (Clory Trindade de

Oliveira); "Herança e responsabilidade do metodismo na América

Latina" (Julio de Santa Ana); “O caráter ideológico do metodismo que

nos veio dos E.U.A.” (Nora Quiroga Boots); “Por uma Igreja solidária

com os pobres” (Vitório Araya G.), etc.

XXVI

Dentre os temas acima, destacamos dois. Segundo Clory

Trindade de Oliveira, para se compreender Wesley é preciso entender

que o seu pensamento político repousa na sua visão teológica do

homem:

“O ser humano é dado à desordem e aodesregramento; os governantes são os responsáveispelo cumprimento da tarefa de manutenção da ordem, afim de que a vida possa acontecer e o povo possaaproveitar as oportunidades que surgirem, inclusive asuprema oportunidade da aceitação de uma nova vidaaqui neste mundo, mas cujo objetivo final é o novomundo, sob a soberania amorosa e justa de Deus.”36

Nora Quiroga Boots comenta o caráter ideológico das Missões

que vieram dos EUA:

“(...) a Guerra Civil dos Estados Unidos e o seuresultado influíram significativamente nas missõesprotestantes, particularmente no Brasil. Cidadãosestadunidenses do Sul, insatisfeitos com os resultadosda Guerra Civil, emigraram para o Brasil (...).”37

As Instituições de Ensino, como a Unimep,38 têm procurado

retomar às raízes do metodismo primitivo lançando livros como

Aspectos do metodismo histórico, de Sante Uberto Barbieri, 1983, que

aborda temas como “A identidade do metodismo”, “A Ação Social do

Metodismo primitivo”, etc.

36 BONINO et al. Luta pela vida e evangelização. São Paulo: Edições Paulinas-Unimep,1985, p.35.37 Ibidem, p.115.38 Universidade Metodista de Piracicaba.

XXVII

Deste bloco de publicações, destacamos um lembrete de Sante

Uberto Barbieri:

“É bom lembrar aqui que João Wesley viveu naInglaterra antes da Revolução Industrial, quando aindanão se tinha consciência do que seria a redençãosocial, a justa retribuição ao trabalho e a verdadeiranoção de respeito humano. Não devemos, pois, esperarque os primeiros metodistas tivessem a mesmaconsciência moral que nós no século XX.”39

Outro livro publicado foi Metodismo: releitura latino-americana, de

José Miguez Bonino, 1983, abordando temas como: “Foi o metodismo

um movimento libertador?”, “Conservar o Metodismo? Em busca de

um genuíno ecumenismo”, etc.

Dentro do tema "releitura", Bonino diz:

“Em princípio, creio que as duas observações sãocorretas. A investigação de nossa ‘herança metodista’-como costumamos chamá-la – não pode ser nem nossaprimeira prioridade nem nossa lealdade derradeira.Nossa identidade não se forja primeiramente numaidentificação com o passado, mas na realização detarefas presentes e no compromisso com o projetohistórico. Entretanto – e aqui começamos com umaresposta positiva – tão pouco se forja ‘sem’ o passado.”40

Já Edward P. Thompson, historiador inglês comprometido com as

causas populares, escreveu A Formação da Classe Operária Inglesa,41

onde procura mostrar, a partir da Revolução Industrial, século XVIII,

como a classe operária se formou na Inglaterra. Neste aspecto, ele

39 BARBIERI, Sante Uberto. Aspectos do metodismo histórico. Unimep, 1983, p.12.40BONINO, José Miguez. Metodismo: releitura latino-americana. Editora Unimep, 1983, p.5.41 Editora Paz e Terra, 1, 2 e 3 v. 1987.

XXVIII

coloca o metodismo como tendo sido importante no processo, apesar

de ver também aspectos negativos, como o conservadorismo em

questões políticas. Thompson não poupa também críticas a Wesley.

Apesar das contradições, ele cita o movimento wesleyano como tendo

sido fundamental na sociedade inglesa, no século XVIII.

“(...) foi Wesley - ultraconservador em política esacerdotal em questões de organização - o primeiro achegar aos 'pobres de Cristo', quebrando o tabucalvinista com a simples mensagem: 'A única coisa afazer é salvar almas.” 42

Thompson citou ainda a importância do metodismo inglês na

organização dos operários:

“(...) é-nos conhecido o argumento de que ometodismo foi indiretamente responsável por umaumento na autoconfiança e capacidade deorganização do operariado.”43

Outra tendência é abordar a história do metodismo primitivo e sua

origem no Brasil. Neste aspecto temos autores reconhecidos, como

Duncan Alexander Reily (Metodismo Brasileiro e Wesleyano 44;

História Documental do Protestantismo no Brasil 45); José Gonçalves

Salvador (História do Metodismo no Brasil 46); Richard P. Heitzenhater

42THOMPSON, Edward P. A Formação da Classe Operária Inglesa. 1 v. Paz e terra,1987, p.36.43 THOMPSON, Edward P., Ibidem, 2 v. p.42.44 São Paulo: Imprensa Metodista, 1981.45 São Paulo: Imprensa Metodista, ASTE, 1984.46 São Paulo:Imprensa Metodista, 1982.

XXIX

(Wesley e o Povo Chamado Metodista47) e Mateo Lelièvre (João

Wesley, Sua Vida e Obra 48).

Dentre este bloco, destacamos o historiador Richard P.

Heitzenhater com o livro Wesley e o Povo Chamado Metodista. Uma

obra de grande importância para a compreensão do metodismo, na

Inglaterra, no século XVIII, onde o metodismo é apresentado como um

movimento.

Richard Heitzenhater diz:

“O foco unificador para Wesley era a preocupaçãocom o espalhar a santidade bíblica. Esta ênfase nateologia pratica era o traço central da tradição do ´viversanto´que por séculos havia atravessado muitas dasdivisões tradicionais dentro do cristianismo (...). Umtraço comum nessa seqüência histórica é a amplapreocupação pelo bem-estar das criaturas de Deus –mente, corpo e alma.”49

Uma outra ênfase atual vem dos metodistas Walter Klaiber e

Manfred Marquardts, teólogos alemães, que procuram abordar os

grande temas teológicos do metodismo wesleyano no livro Viver a

Graça de Deus.50 Os capítulos são: ”Anúncio responsável ou o porquê

de uma teologia metodista”; “Salvação universal ou o amor de Deus

para com seu mundo”; “Fé pessoal ou a experiência da salvação pelo

indivíduo”, “O ser-cristão total ou a realidade do amor”.

47 Editeo-Pastoral Bennett, 1996.48São Paulo:Editora Vida, 1997.49 HEITZENHATER, Richard P. Wesley e o povo chamado Metodista. São Bernardo doCampo-Rio de Janeiro: Editeo-Pastoral Bennett, 1986, p.322.50 São Paulo: Editeo-Editora Cedro,1999.

XXX

Os autores abordam as ênfases doutrinárias em Wesley. Uma

das afirmações do livro mostra como o metodismo se desenvolveu:

“As resoluções das consultas das conferênciasanuais do movimento de Wesley foram protocoladas epublicadas, formando a base doutrinária a que todos sereferiam (...) através da ´conferência anual´ ele crioupara as igrejas metodistas um instrumento que ascapacitou mesmo depois de sua morte a reagir emcomum e em bloco aos desafios de cada época.”51

Dentro da estrutura eclesiástica, os Bispos têm procurado

publicar Pastorais, abordando temas como As marcas da Identidade

Metodista, 1995; Pastoral sobre a Maçonaria, 2000. Todas as

Pastorais foram publicadas pela Biblioteca Vida e Missão. São

orientações visando, especialmente, a unidade da Igreja.

Uma das abordagens recentes que se aproxima mais da

nossa tese é a do teólogo metodista José Miguez Bonino, em seu

livro Rostros del protestantismo latinoamericano.52 Ele procura

mostrar, entre outras ênfases, o surgimento e amadurecimento do

pentecostalismo latino-americano. Ele afirma:

“O movimento pentecostal se coloca, maiormente,entre os setores mais empobrecidos de nossos tempose cidades. Dessa realidade, que foi também a realidadedesde a qual Jesus situou seu ministério (Lc 4.18), o

51 KLAIBER, Walter; MARQUARDT, Manfred. Viver a graça de Deus. São Bernardo doCampo-São Paulo: Editeo-Editora Cesdro, 1999, p.61-2.52 Publicado pela Nuvem Creacion, Buenos Aires-Grand Rapids y William B. EerdmansPublishing Conpany, ISEDET 1995.

XXXI

pentecostalismo desafia a uma sociedade em pecado eem franco processo de decomposição.” 53

Bonino ainda cita documento aprovado em O Encontro de

Pentecostais Latino Americano, Salvador, Bahia, janeiro de 1988, que

indica o amadurecimento dos pentecostais:

“(...) as igrejas pentecostais que, superando umahistórica tendência da marginalização social, se temcomprometido com os que sofrem e descobrindo novasformas de participação social.”54

Entre as teses relacionadas ao metodismo brasileiro,

destacamos: “Sobre sonhos e pesadelos da juventude Metodista

Brasileira nos anos sessenta”, de Jorge Hamilton Sampaio. Para ele, a

crise da mocidade na década de sessenta está relacionada com a

liderança da Igreja em priorizar a salvação da alma.55 Em sua tese,

Hamilton afirma que a mocidade defendia a salvação total do ser

humano.

Jorge Hamilton cita também documento do VII Congresso

Geral da Mocidade Metodista, realizado entre 16 e 20 de julho de

1969, que mostra as principais características da Igreja Metodista, na

década de sessenta: paternalismo, autoritarismo; legalismo,

53BONINO, José Miguez. Rostros del protestantismo latinoamericano, Nuvem Creacion,Buenos Aires, Grand Rapids y William B. Eerdmans Publishing Conpany, ISEDET, 1995,p. 69.54 ______. ______. Ibidem. Documento de síntese, 6-9 de janeiro de 1988, mimiografado,p.5.55 SAMPAIO, Jorge Hamilton. Sobre sonhos e pesadelos da juventude MetodistaBrasileira nos anos sessenta. Pós Graduação em Ciências da Religião da UniversidadeMetodista de São Paulo,1998, p.200,206, 238.

XXXII

clericalização, mistificação (colocar “panos quentes” em todas as

crises) e individualismo.56

Uma das únicas obras que abordam o avivamento, no

metodismo brasileiro, tem como título Avivamento e Despertamento

Missionário, de autoria do pastor metodista José Pontes Sobrinho.

Publicado em 1998, o autor procura fazer uma crítica aos erros

avivalistas, tais como espiritualismo exacerbado, supervalorização do

diabo, menosprezo do intelecto, emocionalismo, perigo de falsos

profetas, os erros dos falsos profetas e das profecias falsas, etc.

Na conclusão, o autor afirma:

“Ao concluir este livro, é nossa oração e esperançaque ele, com toda sua limitação, possa contribuir para acorreção dos erros que fatalmente surgem em temposde avivamento.”57

Contudo, o autor não deixa de reconhecer a existência de

manifestações emocionais e físicas nos avivamentos:

“Os escritos de John Wesley nos mostram quedurante suas pregações, cultos e reuniões, aconteciameventualmente manifestações marcadas por emoções.Em alguns momentos, alguns gritavam tão alto quantopodiam. Diversos caiam ao chão como se estivessemmortos (...).”58

Também os avivalistas ou carismáticos se apropriam, como os

liberais, de textos de Wesley, segundo sua inclinação teológica ou

56VII CONGRESSO GERAL da Mocidade Metodista. “Uma síntese sobre ascaracterísticas da Igreja Metodista”, 16 a 10 de julho de 1969, citado na tese Sobresonhos e Pesadelos da Mocidade Metodista nos anos sessenta, p.224-6.57 SOBRINHO, José Pontes Sobrinho. Avivamento e despertamento missionário. BeloHorizonte:Éphata Publicações, 1998, p.82-3.

XXXIII

interesse. No livreto 50 dias de oração pelo VII Encontro Nacional de

Avivamento, são citadas diversas experiências dos primeiros

metodistas, com o Espírito Santo. Entre elas está:

“Deus derramou abundantemente seu Espíritosobre nós Muitos ficaram cheios de consolação (...).Deus restaurou o homem à luz de sua face, e deu àjovem moça a convicção clara do seu amor.”59

O tema que é objeto de nossa pesquisa, portanto, não foi ainda

abordado cientificamente, no metodismo brasileiro.

Ao abordar a herança wesleyana, citamos Duncan Alexander

Reily:

“Certamente, não significa, porém, tentarmosreproduzir o wesleyanismo inglês do século XVIII e nemo metodismo norte-americano do século XIX ou XX,pois o princípio da autonomia nos liberta desta imitaçãoservil. Significa assumirmos responsavelmente a nossaherança, não como escravos a ela, senão com ‘agloriosa liberdade dos filhos de Deus (Rm 8.21).”60

Com esta tese desejamos contribuir para o equilíbrio e unidade

da Igreja hoje dentro de sua missão e busca de avivamento.

Desde o estabelecimento das missões vindas da América do

Norte, a partir de meados do século XIX, duas forças entraram em

choque no metodismo brasileiro empurrados pelo Evangelho Social e

58 Ibidem, p.37.59 Reunião dos metodistas, sob a liderança de Wesley, em 28/04/1762. Publicado nolivreto 50 dias de oração pelo VII Encontro Nacional de Avivamento, Ibidem, p. 7.

XXXIV

a Igreja Espiritual. Mas a mensagem maior que veio com os primeiros

missionários não foi de compromisso social e sim uma vida salva do

mundo pecador.61

O metodismo brasileiro oficialmente procurou um avivamento

nos moldes do metodismo wesleyano. Como exemplo, citamos o

Instituto Ministerial Geral da Igreja, em 1947.

Entre os dias 9 e 17 de julho de 1947, a Igreja promoveu seu I

Instituto Ministerial Geral, no Colégio Bennett, sob a direção da Junta

Geral de Educação Cristã. Segundo os documentos, o Instituto Geral

foi tão marcante que, no final do encontro, todos estavam com os

corações trasbordantes de entusiasmo cristão.

Os Bispos e pastores presentes lançaram um desafio a todos em

prol do mais pronto estabelecimento do Reino dos Céus em nossa

Pátria, através da sua ação evangelizante, educativa e assistencial.62

Os pastores aceitaram o desafio do Colégio dos Bispos de alcançar

seis mil novos membros no exercício eclesiástico.

O desafio tinha um preço:

60 REILY, Duncan Alexander. Metodismo Brasileiro e Wesleyano. São Paulo: ImprensaMetodista, 1981, p.17.61 Antônio Gouvêa de Mendonça afirma que “a teologia explícita nos sermões e hinos doscongregacionalistas, presbiterianos, metodistas e batistas, nos seus contornos gerais, é ado metodismo americano: o amor de Deus por todos os homens pecadores, o perdãogracioso pela aceitação, através da fé, do sacrifício expiatório de Cristo, a vidaregenerada visível na ética mundana e a expectativa da vida eterna no céu” (O CelestePorvir,. Edições Paulinas, 1984, p.203).62 Reportagem do Expositor Cristão sobre o “Instituto Geral do Ministério da IgrejaMetodista do Brasil”. Publicado em 28 de agosto de 1947, p.1.

XXXV

“O desafio vos apela a uma consagração irrestrita eincondicional, de todas as energias e capacidades, nagloriosa empresa da conquista do Brasil para Cristo.”63

O Instituto Ministerial trouxe aos pastores a consciência da

necessidade de mudança:

“1. Todos nós sentimos necessidade de renovaçãoespiritual concretizada numa experiência viva,resultante de nosso encontro com Jesus e o EspíritoSanto. Do vigor espiritual do Ministério da Igrejaresultará uma Igreja vivamente espiritual (...);

2. Todos nós sentimos necessidade de maisaproximação entre os ministros e pastores de nossaIgreja (...) O IG facilitou esta aproximação e a igreja jáestá gozando dos resultados dos novos ideais de queestão possuídos os pastores que não se furtaram aoprivilégio de tomar parte nos seus trabalhos;

3. Todos nós sentimos necessidade de dar mais forçaao trabalho de Evangelização (...). A ênfase nesteponto, avivou-nos o espírito o ideal de Cristo e da IgrejaCristã nos seus primórdios, dando a cada um de nósCONSCIÊNCIA do verdadeiro sentido deEVANGELIZAÇÃO (...).”64

O repórter oficial do Instituto Ministerial, no fim da reportagem,

declara:

“Cada pastor que participou do Inst. Minist. Geral jáestá infundindo em sua igreja uma nova consciência doque quer dizer Avivamento Espiritual, Trabalho Pastorale Evangelização.”65

63 Ibidem.64 ALMEIDA, José Rui de. “Os frutos do Instituto” em Expositor Cristão. 28 de agosto a 4de setembro de 1947, p. 14-5.65 Ibidem, p.15

XXXVI

Como resultado do Instituto Geral, os metodistas se envolveram

mais nas Cruzadas,66 na década de quarenta, e no Avante por Cristo,

na década de cinqüenta.

Durante a história do metodismo no Brasil, alguns líderes, como

Guaracy Silveira, lutaram para que a dicotomia espiritual-social

pudesse ser eliminada e a questão da espiritualidade fosse vista sem

preconceitos.

No início da década de cinqüenta, o Movimento das Cruzadas

em algumas denominações era forte, principalmente, em São Paulo.

Diante desta situação, na abertura do Concílio Regional do Centro, no

dia 23 de Janeiro de 1953, Guaracy Silveira propõe a eleição de uma

Comissão Especial para estudar a situação da Igreja Metodista do

Brasil em face do pentecostalismo e avivamento de João Wesley.67

A Comissão ficou constituída de Afonso Romano Filho, Guaracy

Silveira, Francisco Gonçalves Noceti, Joviniano Ferreira e Natanael

66 As Cruzadas e o Avante por Cristo foram movimentos que visavam dinamizar a Igrejanum todo, especialmente na evangelização. Com a manchete Cruzada Metodista deEvangelização, o Expositor Cristão, órgão oficial da Igreja Metodista, publicou em 11 deoutubro de 1955, matéria de Duncan Alexander Reily, novo Secretário Geral de Missões eEvangelização, que afirmou: “O Relatório Estatístico do VII Concílio Geral revela que,durante o qüinqüênio findo, a Igreja Metodista marchou a passos largos no setor material.Construiu um templo cada 21 dias e uma casa pastoral cada 53 dias. Quase triplicou omovimento financeiro do quadriênio anterior. As publicações aumentaram sensivelmenteas suas tiragens, a ‘Cruz de Malta’, por exemplo, ultrapassando o seu alvo por 8.000.Maso fato que o Metodismo ficou aquém do seu alvo de matrícula nas EE.DD.(Alvo:58.200;atingiu 48.800) e no número de membros da Igreja (Alvo:45.000; atingiu:40.500) era desanimador (...). Estas estatísticas destacaram o que a Igreja vem sentindodesde há muito – a necessidade de maior ênfase na evangelização (...)”. (REILY, DuncanAlexander. “Cruzada Metodista de Evangelização” em Expositor Cristão. São Paulo, 13 deoutubro de 1955, nº 41, ano 70, p.1).67 FILHO, Afonso Romano et al. "Extrato das Atas das sessões do 23º Concílio Regional"em Atas e Documentos. 21 a 25 de Janeiro de 1953, Piracicaba, p.14.

XXXVII

Bizarro Rosa. A Comissão Especial fez observações simpáticas ao

pentecostalismo:

“Devemos nos alegrar com o trabalho dospentecostais, e dar graças a Deus porque, aquilo quehá neles, que nos parecem erros de prática cristã, nãotenha sido obstáculo a que eles estejam alcançandomilhares de almas (...).”68

Para a Comissão, o metodismo tem armas dadas por Deus,

através de João Wesley, por isso não precisamos de armas de outras

comunidades para vencer a nossa luta.

Mas a Comissão foi franca e também disse:

“Devemos, portanto, nós, ministros e leigos, numavigorosa e honesta autocrítica, examinar nossas vidas everificar onde estão nossas falhas, para que,removidas, tornemos mais eficiente nossa vida noserviço do Mestre.”69

Foram dadas ainda várias recomendações, desde a prática do

jejum até o reconhecimento dos dons das pessoas que têm frutos no

trabalho, mesmo sendo de pouco preparo teológico. A Igreja deveria

prepará-los.

A questão ainda continua, se bem que bem mais tranqüila. Mas

há ainda os que são rotulados de “carismáticos” e “liberais.”70 A

68 Atas e Documentos do 23º Concílio Regional do Centro, 1953 [s.ed], "Suplemento 4",p.18.69 Ibidem.70CASTRO, Clóvis Pinto de; CUNHA, Magali do Nascimento.Forjando uma nova Igreja.Ibidem, p.56.

XXXVIII

questão hoje é saber se é possível haver uma unidade entre as

correntes teológicas como foi no metodismo primitivo.

É possível ser “avivado” ou “carismático” e ter um forte

compromisso social?

É possível ser “liberal” ou da Teologia da Libertação e ser

avivado?

Na história do metodismo, na Inglaterra, vemos que isso foi

possível. Nas Conferências Anuais,71 essa questão nunca mereceu

maior destaque e nunca gerou polêmica, a não ser a questão do livre

arbítrio, perfeição cristã, relação com a Igreja Anglicana, regras, etc.

Pelo desenrolar da história a força do avivamento e a ênfase na

participação profética do metodismo convergem para se tornar uma

força única em uma geração futura. Hoje ainda há radicalismo nos

dois grupos dentro da Igreja.

Mas muito menor do que na Igreja Católica onde a Renovação

Carismática Católica e os participantes das Comunidades Eclesiais de

Base têm ainda hoje sérios conflitos.

Mas o movimento carismático na Igreja Metodista é diferente do

catolicismo. No metodismo, ele encontrou uma herança histórica e

71Posteriormente, detalharemos a importância das Conferências Anuais no metodismo, naInglaterra, século XVIII.

XXXIX

uma base teológica que levam ao equilíbrio. Essa expressão

“carismática” tem a tendência de desaparecer dentro do metodismo.

É até já é possível se ver também alguns dos chamados liberais

participando do louvor com mais intensidade. É possível também ver

os chamados carismáticos hoje muito mais engajados na ação social e

conscientes politicamente. Desde que o metodismo passou a se

organizar em dons e ministérios, em 1987, passou a caminhar para

uma maior unidade.

Não cremos que a Igreja chegará em uma uniformidade, que não

é sinônimo de unidade. Cremos que as diretrizes da Igreja já são

resultado dessa mútua compreensão que vem de um amadurecimento

ao longo da história.

Nossa hipótese é que é possível essa retomada, tendo em vista

que os primeiros metodistas e Wesley tinham essa visão e práticas

bem definidas. Ao escrever sobre as marcas de um metodista, João

Wesley disse:

“Um metodista é alguém que tem o amor de Deusem seu coração, pelo Espírito Santo que lhe foi dado; éalguém que ama ao Senhor seu Deus, ‘com todo o seucoração, com toda a sua alma, com todo entendimentoe força (...).”72

72 WESLEY, João. As Marcas de Um Metodista. Publicado pelo Departamento deEditoração, São Paulo, [s.d.], p.3.

XL

Para Wesley era impossível uma pessoa ter o Espírito Santo e

ser voltada para si mesma.

“(...) Finalmente, na medida de suas forças, ele fazo bem a todos, amigos e inimigos, ao próximo e aoestranho, e isto em todas as espécies: não só a seuscorpos, vestindo os nus, dando de comer a quem temfome, mas, muito m ais do que isto, procurando o bemde suas almas, de acordo com os dons que vêm deDeus (...).”73

Mostrando sua percepção na ação do Espírito Santo, nas

reuniões congregacionais, Wesley descreveu em 28 de abril de 1762:

“(...) Depois do sermão, tivemos uma Festa de Amor.Foi hora deliciosa. Deus derramou e seu Espírito sobrenós. Muitos ficaram cheios de consolação(...).”74

Contudo, revelando seu equilíbrio, sensibilidade e ênfase no

compromisso social, ele relata um momento de um culto, em 10 de

março de 1765:

“Levantamos uma coleta em nossa congregaçãoem prol dos tecelões que estavam sem emprego (...).”75

O mesmo equilíbrio se percebe, em seu diário, escrito no dia 3

de março de 1788, quando ele trata de uma questão social séria - a

escravidão, numa quinta feira:

“Dei aviso de que, na quinta feira, pregaria sobre oassunto muito discutido - A Escravidão.”76

73 Ibidem, p.7.74 WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley. Ibidem, p.106.75 Ibidem, p.109.76 Ibidem, p.190.

XLI

E, já no dia seguinte, Wesley marca um momento de jejum e

oração para a libertação dos que estavam escravizados:

“(...) marcamos sexta-feira como dia de jejum eoração; que Deus se lembrasse daqueles homenspobres e desgraçados e (o que parece impossível comhomens, considerando a riqueza e poder na suapossessão) lhes desse meio de escapar, quebrando-lhes as algemas em pedaços.”77

Para Wesley, a ação do Espírito Santo no ser humano deveria

trazer, conseqüentemente, o amor a Deus e ao próximo, e, assim, um

compromisso social:

“Os que ‘andam segundo o Espírito’, tanto nocoração como na vida O Espírito lhes ensina a amar aDeus e ao próximo com um amor que é semelhante auma ‘fonte que jorra para a vida eterna’ (...).”78

Wesley diz claramente que era essa a razão do Espírito Santo

existir na vida do cristão:

“A manifestação do Espírito Santo teve em miraconceder-lhes (o que ninguém pode negar sejaessencial a todos os cristãos, em todos os tempos), amente que havia em Cristo; os santos frutos do Espírito,os quais, não os tendo alguém, esse tal não lhespertence; teve em vista enche-los de ‘caridade, gozo,paz, longanimidade, benignidade, bondade’ (Gl 5.22-24)(...).”79

77 Ibidem, p.191.78 WESLEY, João. Sermões de Wesley. 1v. São Paulo: Imprensa Metodista, 1981, p.173.79 Ibidem, p.83.

XLII

Avivamento e amor ao próximo e, conseqüentemente,

compromisso social, marcaram o metodismo, na Inglaterra, desde o

início:

“Esta ênfase particular em 'amar ao próximo' eseguir o exemplo de Cristo (que 'andou por toda a partefazendo o bem', Atos 10:38), continuou a caracterizar ometodismo, quando ele entrou no reavivamento.”80

Tanto que o último desejo de Wesley foi que seis pessoas

pobres deveriam levar seu caixão e por esse trabalho receberiam uma

libra cada uma delas.81 As cortinas fúnebres utilizadas na capela

foram, posteriormente, utilizadas na confecção de vestidos e

distribuídos entre as mulheres pobres.82

Vamos nos aprofundar nessa história e retirar, então, lições e

diretrizes para a caminhada da Igreja Metodista no novo milênio.

80 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.125.81 Ibidem, p.312.

XLIII

1- CARISMÁTICOS E SÓCIO-POLÍTICOS NA TRADIÇÃO

METODISTA BRASILEIRA

“Tudo isso num período em que o Golpe de 64, oemergir de um novo Catolicismo Romano depois doVaticano II e a onipresença de pentecostais produziramem nós uma profunda crise de identidade.”83

Duncan Alexander Reily

1.1. Do metodismo do Evangelho integral ao metodismo da ética

individualista

O metodismo nasceu com o coração aquecido84 e cresceu junto

às classes85 pobres na Inglaterra, especialmente a classe operária.86

Cresceu e amadureceu diante do mover do Espírito Santo, o chamado

82 Ibidem, p.313.83 REILY, Duncan Alexander. “Escola Dominical Ontem e Hoje” em Expositor Cristão,agosto de 1993, p.8.84 João Wesley teve a experiência do coração aquecido, em 24 de maio de 1738. Eledescreveu assim sua experiência: "Senti o coração maravilhosamente aquecer-se,senti que eu agora confiava em Cristo realmente em Cristo, somente em Cristo, parasalvação; e me foi dada a segurança de que Cristo havia perdoado os meus pecados,sim, os meus, e que eu estava salvo da lei, do pecado e da morte. (WESLEY, João.Trechos do Diário de João Wesley. Tradução de Paul Eugene Buyers. São Paulo:Imprensa Metodista, 1965, p.24).85 Em seu livro A formação da classe Operária Inglesa, Edward P. Thompson, historiadoringlês, afirma que o metodismo participou na formação da clsse operária inglesa, noséculo XVIII.86 Segundo Edward P. Thompson, a maior parte dos novos adeptos do metodismoprovinha da nova classe operária industrial (A Formação da Classe Operária Inglesa. 2 v.Paz e Terra, 1987, p.226).

XLIV

revival metodista,87 que proporcionou santificação88 e o impulsionou a

ser solidário com as classes oprimidas e empobrecidas.89

Portanto, a ênfase no Espírito Santo90 e no Compromisso

Social,91 fazem parte das raízes, da identidade metodista.92 A

submissão ao Espírito Santo93 e o compromisso social sempre

87Max Weber fala em "poderoso revival do Metodismo", na Inglaterra (A Ética Protestantee o Espírito do Capitalismo. 3 ed. Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais, 1983, p. 125).88 WESLEY, João.Trechos do diário de João Wesley. Traduzido por Paul Eugene Buyers.São Paulo: Imprensa metodista, 1965, p.130.89 Ibidem, p.112.90 Wesley utiliza diversas expressões para falar da ação do Espírito, como "cheio doEspírito", “a manifestação do Espírito" e "andam segundo o Espírito" (WESLEY, João.Sermões de Wesley, 1v. São Paulo: Imprensa Metodista, 1981, p.83, 173).91 Amor a Deus e ao próximo eram para Wesley as conseqüências naturais de alguémque tinha o amor de Deus em seu coração derramado pelo Espírito Santo (WESLEY,João. As marcas de um metodista. [s.ed], [s.d.], p.3,7).92. As marcas essenciais da identidade metodista são destacadas pelo Colégio Episcopalda Igreja Metodista como sendo: a. A base da fé e da prática do metodismo é a Bíblia (...)b. A experiência pessoal com Cristo é fundamental para a vida cristã pessoal ecomunitária (...). c. A presença e o poder do Espírito Santo é fundamental, tanto para avida da comunidade de fé como para a vida de piedade pessoal (...). d. A vida dedisciplina pessoal e comunitária é expressão de nosso amor a Deus, ao próximo e a nósmesmos (...). e. Paixão evangelizadora como testemunho de uma fé viva e práticaobjetivando proclamar e sinalizar a todas as pessoas as boas novas do amor de Deusrevelado em Jesus Cristo. f. Compromisso com o bem-estar da pessoa total: espiritual,moral, física, emocional, psicológica, mental e social (...). g. Sacerdócio Universal detodos os crentes (...). h. O sistema conexional é característica básica e fundamental paraa existência do Metodismo (...). i. A consciência de que somos 'parte da Igreja Universalde Jesus Cristo' (...). j. A graça divina é o fundamento de toda a revelação (...). l. A Igrejametodista vê-se em sua natureza como um corpo. Um organismo vivo (...) m. A vivênciaprática da fé cristã. O Metodismo afirma o valor da prática e da experiência da fé cristã(...). (COLÉGIO EPISCOPAL. Biblioteca Vida e Missão, 1995, p.17-19). No Concílio Geral,em Maringá, julho de 2001, o Colégio Episcopal reafirmou sua preocupação com aidentidade metodista: “(...) precisamos resistir à tentação da uniformidade de ritos epráticas missionárias, presentes na Igreja Evangélica brasileira, quase sempreindividualista, baseada na satisfação pessoal, na negação do sofrimento, e centrada naprosperidade a qualquer custo. Assim, em meio a essa situação, somos desafiados/as afortalecer a configuração da nossa identidade e o sentido de nossa finalidade – a vocaçãopara a qual fomos chamados”. (Colégio Episcopal. “O futuro do metodismo no Brasil” emAvante. Rio de Janeiro, Fé&Nexo, agosto 2001, p.3).93 Diversos teólogos metodistas usam outras terminologias, como “tudo o que o Espíritoopera”; “O Espírito de Deus não só age”; “ação do Espírito”; “obra do Espírito”, etc(KLAIBER, Walter; MARQUARDT, Manfred. Viver a graça de Deus – Um Compêndio deTeologia Metodista. Editeo – Editora Cedro, 1999, p.188-190). A expressão “mover do

XLV

andaram juntos no metodismo94 primitivo. Steve Harper fala de uma

espiritualidade social:

“Foi exatamente isso que aconteceu com aespiritualidade metodista primitiva. Sua combinação dapiedade e da misericórdia produziu um instrumento que,nas mãos de Deus, era mais eficaz do que esseselementos jamais teriam sido enquanto separados” .95

Para Wesley, a religião é essencialmente social. Reduzi-la só a

uma expressão solitária é destruí-la.96 Era, natural, portanto, a ação

dos metodistas junto ao povo.

Foi Wesley quem restabeleceu a ênfase na doutrina do Espírito

Santo que tinha sido quase extinta, devido ao deísmo dos teólogos da

Igreja oficial e ao socianismo e moralismo dos puritanos.97

Duncan Alexander Reily afirma:

”(...) ao restaurar a doutrina do Espírito Santo,Wesley contribuiu também para um saudável equilíbriona fé e na prática do cristianismo na Inglaterra e,

Espírito” é atual e reconhece a mesma personalidade do Espírito Santo. No livreto 50 diasde oração pelo VII Encontro Nacional de Avivamento, os autores - João Carlos Lopes eJosé Pontes Sobrinho, Coordenador Nacional de Expansão Missionária, afirmam:" (... )para celebrarmos o mover do Espírito de Deus em nossa vida pessoal e comunitária,capacitando-nos para continuar a ser uma Igreja viva no próximo milênio"(20/07a 07/09,página 3).94 Para Gonzalo Baéz Camargo, “o metodismo foi um movimento e não uma instituição. Ummovimento que se iniciou no redescobrimento da experiência viva da graça de Deus e do´testemunho do espírito`, feito por João Wesley, e que debaixo da influência de sua poderosapregação se propagou como um incêndio em bosque seco.” (Gênio e Espírito do MetodismoWesleyano. Imprensa Metodista, 1986, p.19).95 HARPER, Steve. A vida devocional na tradição wesleyana. Ibidem, p.76.96 BARBIERI, Sante Uberto. Aspectos do metodismo histórico. Editora Unimep, 1983, p.9.97 REILY, Duncan Alexander. “João Wesley e o Espírito Santo” em História, Metodismo ,Libertações . São Paulo: Editeo, 1990, p.5

XLVI

através do movimento metodista, ao protestantismo emgeral.”98

Entre as diversas categorias utilizadas por Wesley para falar da

ação do Espírito Santo está: "movidos pelo Espírito". Ele diz:

”(...)Tanto os antigos profetas como os apóstolosforam entusiastas, tendo estado, por diversas vezes,tão cheios do Espírito e tão influenciados por Aqueleque habitava em seu coração, que o exercício de suaprópria razão, de seus sentidos e de todas asfaculdades naturais, estando suspenso, erainteiramente dirigido pelo poder de Deus - e somente'falavam conforme eram movidos pelo Espírito Santo.”99

Sante Uberto Barbieri mostra que as expressões “renovação

espiritual” e “movimento” fazem parte da origem do metodismo:

“O metodismo não foi, na sua origem, uma novaforma eclesiástica. Foi um movimento de renovaçãoespiritual” .100

Mas o metodismo brasileiro seguiu a fórmula de João Wesley:

avivamento traz perfeição cristã, que é igual ao amor perfeito e,

conseqüentemente proporciona solidariedade aos marginalizados?101

Veremos que não. O metodismo brasileiro passou por diversas

crises. Só no início da década de noventa é que a Igreja Metodista

98 Ibidem.99 WESLEY, João. Sermões de Wesley. 2 v. São Paulo: Imprensa Metodista, 1981, p.216.100 BARBIERI, Sante Uberto, Ibidem, p.3. O objetivo de Wesley era transformar a Igreja, a Nação eespalhar a santidade bíblica por sobre a terra. Um movimento, portanto, de renovação espiritual,que abordaremos com mais detalhes mais à frente.101 WESLEY, João. Explicação clara da perfeição cristã. São Paulo: Imprensa Metodista, 1984,p.52.

XLVII

brasileira passou dos 100 mil membros.102 Muito pouco para uma

Igreja que, no tempo de João Wesley, acreditou ter sido levantada por

Deus para transformar a nação, a Igreja e espalhar a santidade

bíblica sobre a terra.103

Na América do Norte, o metodismo cresceu muito através dos

avivamentos e expansão nas fronteiras,104 mas também foi

influenciado por diversos movimentos avivalistas105 chegando,

inclusive, a haver divisões.106

Segundo Mortimer Árias:

“A contextualização norte-americana, em seuprimeiro período, mostra um movimento metodista aptopara o novo meio: originada do ‘revival’, prospera no‘revival’ (...).”107

Mais tarde a Igreja passou a enfatizar a ética individualista e,

muitas vezes, chegou ao ritualismo estéril e com status de classe

média, como diz Clory Trindade de Oliveira:

102 Em 1990, o metodismo brasileiro tinha 80.061 membros (XV CONCILIO GERAL. Atas eDocumentos. Juiz de Fora, 5 à 13 de julho de 1991. Gráfica e Editora Sanroquense Ltda, p.71).103 A santificação aqui descrita não é separação do mundo e alienante. Walter Klaiber e ManfredMarquardt afirmam: "Visto que a santificação é amor, ela é necessariamente santificação social.Por mais que Wesley pareça, algumas vezes, concentrar-se na experiência do indivíduo navivência de sua santificação, o horizonte da santificação é o da comunidade, o esforço pelacomunhão perfeita com Deus inclui o reto relacionamento com os outros homens" (Ibidem, p. 302).104 BONINO et al. Luta pela vida e evangelização. Edições Paulinas-Editora Unimep, 1985, p.100-1.105 Entre as denominações que surgiram, nos EUA, com origem no metodismo, estão:Igreja Metodista Livre, em 1858; Igreja do Nazareno;, em 1895. (______. A luta pela vidae evangelização. Ibidem, p.98, 101).106 BONINO et al. Ibidem, p. 98).107 ______. ______. ______. P.97.

XLVIII

“Ao redor do fim do século XIX, o metodismo jáhavia alcançado o status de classe média, com umaacentuada neutralidade burguesa. Ao chegar ao Brasil,o metodismo norte-americano, de origem sulista ecomprometido com o sistema político-social de suapátria, trouxe a ideologia dominante de que eraabsolutamente necessário e prioritário compartilhar os”benefícios da civilização protestante bíblico-norte-americana” com os brasileiros que eram menos“afortunados.”108

1.2. As grandes crises no metodismo brasileiro

Uma boa parte dos historiadores, como Edward Thompson,109 vê o

avivamento metodista, na Inglaterra, como tendo tido aspectos

positivos.110 O movimento Metodista levou a uma ativa participação

nas questões sociais, com os presos, escravos, meninos e meninas de

rua, desempregados, viciados etc.

A questão é que a Igreja pode passar por diferentes fases em sua

história. Ela pode ser instrumento de libertação bem como até de

omissão e de opressão. Pode perder a identidade e se afastar das

próprias raízes esquecendo a sua herança.

108 OLIVEIRA, Clory Trindade de. Situações Missionárias na História do Metodismo.Editeo – Imprensa Metodista, 1991, p.26.109 Thompson, historiador inglês, fala da participação metodista na formação da classeoperária inglesa, em seus livros A Formação da classe operária inglesa, volumes 1, 2, e3, Paz e Terra, 1987. Nos capítulos da tese trataremos desse assunto.110 No capítulo sobre “A Contribuição do Avivamento Metodista” abordaremos com maisdetalhes a posição do historiador inglês Edward P. Thompson, que indica que ometodismo foi ultraconservador em questões políticas e nos cultos deu ênfase aoemocionalismo.

XLIX

Segundo Paulo Ayres Mattos, por não haver no metodismo

brasileiro um projeto Missionário de índole nacional, que

proporcionasse unidade e levasse em conta o povo brasileiro, após a

década de trinta:

(...) os conflitos e contradições passaram a sermediados pelo carisma e força das lideranças e aunidade conexional do metodismo brasileiro passa a sermedida pela maior ou menor fidelidade às propostas eprogramas apresentados pelos líderes da Igreja.Quando aquela mediação tornou-se impossível, ascisões e expurgos foram inevitáveis (...) a unidadeburocrática-administrativa começou a vir a pique e asdivisões antes ocultas e abafadas foram pouco a poucose evidenciando(...).”111

A primeira divisão no metodismo brasileiro, ocorreu entre 1934 –

1935 e proporcionou a criação da Irmandade Metodista Ortodoxa, foi

por questões teológicas.112 Na finalidade de sua criação estava o

111 BONINO et al. Ibidem, p.298.112 Segundo José Henriques da Matta, a “gota d’água” foi em 1934 quando ele eraPresbítero Presidente do Distrito de Cataguases, MG. Na reunião do Concílio Distrital, umjovem formado "teve de prestar exames para ser recomendado à experiência dopastorado da Igreja Metodista do Brasil." (MATTA, José Henriques. Explicação daFundação da Irmandade Metodista Ortodoxa no Brasil , [s.ed], [e.d], p.2) No culto deabertura, o jovem havia pregado e utilizado a expressão "personificação do mal" para sereferir ao diabo. Como já havia alguns comentários sobre o liberalismo na Faculdade deTeologia, houve uma reação contrária da Comissão e do próprio José Henriques daMatta. Quando a Comissão estava reunida com o candidato, José Henriques da Mattapassava no local e ouviu a afirmação do candidato de que o diabo não era umapersonalidade. José Henriques da Matta, então, questionou duramente o candidatodizendo que então o Espírito Santo seria também apenas uma personificação dastendências boas do ser humano. O candidato acabou não sendo recomendado àexperiência por causa da questão sobre a personalidade do diabo. O reitor da Faculdadede Teologia, Derly de Azevedo Chaves, chegou após a decisão do Concílio Distrital. Elequestionou e censurou a decisão da Comissão e ao Rev. José Henriques da Matta. Aquestão aborreceu a José Henriques da Matta. Vários colegas o questionaram emdiversas reuniões posteriores. Segundo ele, "para os da Faculdade de Teologia de OGranbery eu fiquei sendo um difamador. O Bispo César mandou-me uma acusação,assinada por alguém dizendo que eu difamara a Faculdade de Teologia, o Bispo, pastorese missionários. Ao receber a acusação, tinha já tomado deliberação de deixar a Igreja

L

permanecer nas raízes wesleyanas, por isso, a expressão “ortodoxa”.

Metodista do Brasil, e trabalhar de acordo com a organização que fizera, a que dei o títulomais tarde de Irmandade Metodista Ortodoxa no Brasil." (MATTA, José Henriques.Explicação da Fundação da Irmandade Metodista Ortodoxa no Brasil. Ibidem, p.8).Segundo o bispo César Dacorso Filho, José Henriques teve três denúncias: calúnia,separatismo e intromissão indébita em atribuições alheias (dada por um ministro);difamação, separatismo e atitudes impróprias de um ministro (dada por uma pessoa quenão pertence a Igreja); quebra voluntária e proposital dos Cânones, com prejuízo materiale moral para o denunciante (dada por um eminente leigo). (FILHO, César Dacorso. “Umacarta do Superintendente da Igreja Metodista do Brasil” em Expositor Cristão. 9 de abril de1935, p.1e 2.) Em pleno Concílio Regional do Norte, realizado em Belo Horizonte, entre29 de janeiro e 4 de fevereiro de 1935, o bispo César nomeou o Conselho de Sentençacomposto de José Antonio de Figueiredo, João Pereira do Couto, Benjamim da Silva Reis,Oswaldo Luis da Silva e Antonio de Campos Gonçalves. O Bispo ainda nomeou duaspessoas ligadas a Faculdade de Teologia, contra a qual José Henriques da Matta havialevantado questões. Nomeou para promotor Derli de Araújo Chaves (Reitor da FT) e parapresidente da comissão o professor “modernista” W.H.Moore. (Anuário do ConcílioRegional do Norte. Belo Horizonte, 29 de janeiro a 4 de fevereiro de 1935). Durante a 7ªsessão, “o Conselho de Sentença nomeado para o julgamento de José Henriques daMatta, por instrumento do seu secretário João Augusto do Amaral, apresenta a sentençadada, sendo o acusado excluído do ministério e da Igreja Metodista do Brasil” por quatrovotos contra um. (Anuário do Concílio Regional do Norte. Belo Horizonte, 29 de janeiro a4 de fevereiro de 1935, p.25) A Comissão se baseou no artigo 219, letra C dos Cânonesde 1934, o qual coloca o acusado no delito de heresia. Os outros delitos eramclassificados em: Conduta imprópria (manifestação de gênio inconveniente, linguagemimpura, ofensiva, ação injusta, ou quebra da ordem ou disciplina da Igreja; Má-administração eclesiástica ou ineficiência administrativa; d) Imoralidade. Este julgamentofoi criticado pelo redator do Expositor Cristão, José Guerra, em 26 de janeiro de 1935 nareportagem “O Concílio Regional do Norte sob o ponto de vista do Redator”. Ele disse: “Não tivemos privilégio de um encontro com o Rev. Matta que, fomos informado, estevepresente, apenas um dia, ao Concílio, do qual se retirou sob acusação, sem prestarrelatório. É com profundo pesar que vemos retirar-se do nosso grêmio esse velhocompanheiro, espírito culto e cristão zeloso.” (GUERRA, José de Azevedo. “O ConcílioRegional do Norte sob a ponto de vista do redator” em Expositor Cristão. 26 de fevereirode 1935, p.2). José Guerra procurou ressaltar seu caráter: “Deve ser dito de passagemque as acusações apresentadas não afetam o seu caráter moral, basearam-se emconseqüência de certos escritos, nos quais ele delatava idéias que se propagavam àsocapa (disfarce - nota do autor) e, segundo o seu julgamento, solapavam os alicerces daIgreja.” (Ibidem). Quando o bispo César questionou a reportagem do “Expositor”, JoséGuerra respondeu dizendo que “um processo como esse, contra um ministro que laborouem nossas fileiras pelo espaço de 20 anos, devia ser conhecido pela Igreja fazer um juízoreto sobre os seus dirigentes. Não sabemos se tal processo seguiu os tramites legais; seo paciente foi primeiramente admoestado pelo superior hierárquico e se, depois disso,perseverou naquelas faltas.” (“Resposta de José Azevedo Guerra ao Bispo CésarDacorso Filho” em Expositor Cristão, 09 de abril de 1935, página 2). José Guerra aindacontinua: “Se foi acusado em plenário, mesmo não comparecendo, era de justiça querecebesse cópia da acusação e tivesse, pelo menos, dez dias de prazo para preparar suadefesa, antes de ser declarado expulso do seio do ministério da Igreja Metodista” (Ibidem).

LI

A data da fundação é considerada 31 de janeiro de 1934. Neste ano,

José Henriques da Matta organizou a Irmandade com a finalidade de

promover também o avivamento:

“(...) promover a expansão do Reino de DEUS e oAvivamento Espiritual; realizar e cooperar com obrassociais, tudo sem fronteiras denominacionais.” 113

A busca do avivamento e santidade proporcionou também, entre

1946-1948, uma crise e divisão nas igrejas metodistas de Vila Mazzei

e Tucuruvi, em São Paulo, e o surgimento da Igreja Evangélica do

Avivamento Bíblico,114 que teve origem e foi organizada dentro da

113 MATTA, José Henriques. Explicação da Fundação da Irmandade Metodista Ortodoxano Brasil. {s.ed], [s.d], p.2.114 O Provisionado-Suplente-Estudante Benedito de Paula Bittencourt era pastor em VilaMazzei e Tucuruvi. Ele convidou o seminarista Mário Roberto Lindstron para ajudar nasduas paróquias. Nem sempre Bittencourt podia estar presente durante a semana (Cartade Benedito de Paula Bittencourt, em 29 de julho de 1997). Lindstron teve assim liberdadenas duas igrejas. Muitos membros viam a urgente necessidade de uma maior santificaçãoe de clamar por misericórdia ao Senhor. Foi dentro deste contexto, influenciado por doisjaponeses - Taisuke Sákuma e Kinzo Uchida - que alguns membros das igrejasmetodistas de Vila Mazzei e de Tucuruvi participaram de um movimento de santificação.(Entrevista de Ruth Fialho Dias, em maio de 1997, com Orestes Branchini, AngelaBranchini e José de Oliveira e Silva. Informação por escrito de José de Oliveira e Silva,em 1997, sobre a igreja Metodista de Vila Mazzei e o surgimento do movimento.Informação oral de Air Sudário da Silva, em Belo Horizonte, durante o Concílio Geral, emfevereiro de 1997. Ele se converteu com as pregações da Igreja Evangélica doAvivamento Metodista, no princípio da década de cinqüenta. Hoje é membro da IgrejaMetodista em Sorocaba). “No final de 1945 começou um grande descontentamento noseio da Igreja Metodista em Vila Mazzei devido ao comodismo e indiferença sobre osensinamentos da Bíblia. A vaidade, o conformismo com o mundanismo aumentou essedescontentamento. Isso fez que tivesse início de certo movimento de grande número demembros que começaram a buscar a santificação e poder através do batismo com oEspírito Santo.” Segundo o pastor Bittencourt, o movimento foi realizado “com práticasque nem eram do avivamento.” (Informações de Benedito de Paula Bittencourt, em cartade 29 de julho de 1997). Ele e sua esposa Elisa se sentiram “exprimidos por algo quenunca havíamos visto e que representava para nós algo estranho, especialmente o modode orar aos gritos e com gemidos prolongados (...) ”. (Ibidem). Havia uma Igreja dentro daprópria igreja, pois cerca de 30 pessoas tinham suas próprias reuniões onde buscavam asantificação e o batismo do Espírito. Ficaram conhecidos com o “grupo do clamor”. Todoseles oravam com intensidade buscando a santidade e o poder do Espírito. O movimento

LII

teve início na Faculdade de Teologia, em Rudge Ramos, São Bernardo do Campo. Haviadois seminaristas japoneses que pertenciam a Igreja Metodista Livre - Taisuke Sákuma eKinzo Uchida. Eles influenciaram o jovem Mário Roberto Lindstron, que acabava dechegar a Faculdade, em 1945. Os jovens japoneses ensinavam a necessidade de buscara experiência de santificação ou santidade. Mário Lindstron foi batizado pelo Espírito.Passou a ser ajudante em Vila Mazzei e Tucuruvi. O avivamento foi levado para as duasigrejas por Mário, Taisuke e Kinzo, que tiveram várias reuniões nas casas com osmembros. Um dos líderes do movimento, Taisuke Kinzo, havia nascido no Japão, em1915, e teve o sonho de conhecer e morar no Brasil chegando aqui em 1933. No dia 17de maio de 1935 ele teve um encontro com Jesus. Em 21 de setembro de 1937 passoupela experiência da “segunda benção”. Após ter ficado doente por vários anos, sentiu ochamado de Deus para o ministério pastoral, em 29 de abril de 1940, ingressando naFaculdade de Teologia, em Rudge Ramos, em 1943 (UCHIDA, Kinzo. Autobiografia.Expositor Cristão, 11 de dezembro de 1947, p.3). Em sua dissertação para o bacharel deteologia, em 1947, Kinzo abordou o seguinte tema: A Segunda Benção, sua Comunicaçãoe segredo de sua Conservação. Nela, Kinzo diz que “sem a segunda benção, dificilmentealguém produzirá obra duradoura de edificação espiritual cristã; pois é ela a geradora deenergia para a ‘loucura da pregação” (Ibidem). Para ele, segunda benção é o mesmo quesantificação. A primeira benção é a justificação. O catedrático de sua dissertação foi oprofº Almir dos Santos (UCHIDA, Kinzo. Autobiografia. Expositor Cristão, 11 de dezembrode 1947, p.3). No ano de 1946, os jovens Alírio Flora Agostinho e Oswaldo Fuentes forampara a Faculdade e logo na chegada decidiram orar com Mário para agradecer a viagem eexperimentaram o batismo com o Espírito. Ficaram então marcados, como já aconteciaMário Lindstron, como pertencentes ao ’grupo’ (SEMINÁRIO TEOLÓGICO AVIVALISTAPOR EXTENSÃO. Conhecendo o Avivamento Bíblico, ibidem, p.1) O grupo respeitava opastor e só orava do modo tradicional em sua presença. Bittencourt diz: “sempre que euchegava nas reuniões de oração que eles estavam dirigindo, cessavam a metodologiaempregada do ‘clamor’ e voltavam a orar pacificamente como até então se praticava. Nãoprecisava que eu dissesse qualquer coisa para que a atitude fosse mudada e, depois deencerrada a reunião, vinham me pedir desculpas.” (Informações de Benedito de PaulaBittencourt, em carta de 29 de julho de 1997). Para resolver o problema, o pastor localconvidou “o profº Almir dos Santos para fazer uma visita àquelas igrejas e falar a elassobre o assunto, o que foi feito, por dois ou três dias. Tucuruvi escolheu o métodotradicional (de então) de ser metodista, e abandonou os rapazes, mas em Vila Mazzeiperdemos metade da congregação que saiu com o Mário Roberto e, ato continuo,abandonou também o Seminário.” (Informações de Benedito de Paula Bittencourt, emcarta de 29 de julho de 1997). No dia 7 de setembro de 1947, na Faculdade de Teologia,em Rudge Ramos, SP, nasceu oficialmente a Igreja do Avivamento Bíblico (SEMINÁRIOTEOLÓGICO AVIVALISTA POR EXTENSÃO. Conhecendo o Avivamento Bíblico. CursoPastoral, 3º e 4º estágio, apostila, [s.d], p, 1). Neste dia, estavam presentes osseminaristas japoneses Taisuke e Kinzo, Mário Lindstron, Alírio Flora Agostinho, OswaldoFuentes e diversos membros das igrejas de Tucuruvi e Vila Mazzei. A sugestão do nomeda Igreja veio de Orestes Branchini. Os dois grandes incentivadores do movimento foramCícero Faustino Inojosa (Presidente da Sociedade de Homens) e Orestes Branchini(Presidente da Mocidade), que depois se tornaria pastor. A esposa de Cícero - OtiliaInojosa - nunca se afastou da igreja Metodista de Vila Mazzei. O primeiro líder escolhido,porém, foi Tertuliano Antunes, um jovem professor e crente novo. Sua esposa eraaleijada e tinha dificuldades de andar. Ele liderou a Igreja até a chegada de MárioLindstron, em 1947, quando foi excluído da Faculdade de Teologia. Oswaldo Fuentes eAlírio Flora Agostinho ainda permaneceram na Faculdade, em 1947, quando saíram.

LIII

Faculdade de Teologia, em Rudge Ramos, SP. Seus principais líderes

foram os jovens estudantes Mário Roberto Lindstron, Alírio Flora

Agostinho, Oswaldo Fuentes, Taisuke Sákuma e Kinzo Uchida:

“Quando o jovem Mário Roberto Lindstron,candidato ao ministério metodista veio para aFaculdade de Teologia em 1945, encontrou osestudantes Taisuke Sákuma e Kinzo Uchida, ambos daIgreja Metodista Livre, que faziam seu curso no mesmolocal, Kinzo foi o instrumento usado por Deus parapregar ao seminarista Mário Roberto Lindstron que,então, estava insatisfeito com sua vida espiritual, esentia a necessidade de buscar a ‘experiência desantificação ou de santidade’- doutrina pregada pelometodismo histórico. Ele e outros colegas entregaram-se então à busca de poder e santificação, orandointensamente. Mário encontrou então o que buscava: obatismo no Espírito Santo (...). Sendo o seminaristaMário ajudante das igrejas de Tucuruvi e Vila Mazzei,São Paulo – Capital; foi usado por Deus para anunciara mensagem de despertamento, que foi aceita por

Oswaldo Fuendes foi se dedicar a advocacia e Alírio a outra função. (Entrevista de RuthFialho Dias, em maio de 1997, com Orestes Branchini, ibidem). Este assunto foi discutidono Concílio Regional do Centro, em janeiro de 1948, após o relatório do pastor IrineuMonteiro de Pinho, e chegou à cúpula da Igreja: “Atendendo ao pedido de Álvaro Alves deSouza no pedido que fez sobre os ex-seminaristas da Faculdade de Teologia (Alírio FloraAgostinho e Oswaldo Fuentes), Augusto Schwab informa que eles estão fora da IgrejaMetodista.” (ATAS E DOCUMENTOS do Concílio Regional do Centro. 27 de janeiro a 2de fevereiro de 1948, p.44). Tertuliano Antunes voltaria para a Igreja Metodista de VilaMazzei com a chegada de Mário Lindstron, pois estava desempregado e não resistiu aproposta de emprego do pastor metodista José Guerra. A notícia foi publicada noExpositor Cristão de 11 de setembro de 1947: “Novos membros - Recebemos por batismoe profissão de fé: Turfa Asaf e Pedro da Silva; a pedido: Tertuliano Antunes e MariaBarbosa (...)”. (”Em Vila Mazzei todas as organizações cooperam na arrancada próCruzada” em Expositor Cristão, 11 de setembro de 1947, p.3). A Igreja Evangélica doAvivamento Bíblico passou a utilizar a Harpa Cristã e, posteriormente, a se reunir na casade Edmundo Branchini (que anos depois iria para a Congregação Cristã) e depois nacasa humilde de Lázaro Sansão, em Jaçanã. Logo uma intensa evangelização foirealizada nas praças, feiras, nos bairros vizinhos (Tremendé e Jardim Tremendé) e nacidade de Mairiporã. No dia 15 de junho de 1947, nas águas do rio Cabuçú, entre SãoPaulo e Guarulhos, foi realizado o batismo de 47 avivalistas, entre eles, Mário Lindrston.Em agosto foi realizada a primeira assembléia da Igreja, organizada a primeira diretoria econsagrado Mário Lindrstron como pastor. O batismo e a assembléia foram presididospelo missionário Henry Jeffery, na época ligado a Missionary Chapel of London(SEMINÁRIO TEOLÓGICO Avivalista por Extansão. Conhecendo o Avivamento Bíblico,ibidem, p.2).

LIV

muitos. Esses irmãos avivados tiveram profundasexperiências com o Espírito Santo e se tornarampoderosos na oração.” 115

No dia 7 de setembro de 1947, nos eucaliptos da Faculdade de

Teologia, em Rudge Ramos, SP, nasceu oficialmente a Igreja do

Avivamento Bíblico.116

“A preocupação básica do grupo consistia emsantificação, poder para testemunhar e reavivamentodas igrejas”.117

Na década de sessenta, o chamado Movimento de Renovação

Espiritual 118 atingiu em cheio as Igrejas históricas. Entre 21 a 26 de julho

de 1964, aconteceu o I Encontro de Renovação Espiritual, em Belo

Horizonte, na Igreja Batista da Floresta, sob a liderança de José Rego do

Nascimento. O I Encontro fez uma Declaração de Princípios de Renovação

Espiritual:

“1) Renovação Espiritual será somente uma mensagem,não uma denominação particular nem um movimento emtorno de determinado homem (...); 2) As igrejas, alcançadaspela mensagem, procurem se conservar dentro de suaherança denominacional (...); 3) Que se procure levar asigrejas a se ajustarem à orientação do apóstolo Paulo em ICOR. 12 e 14, na ordem e decência dos cultos (...); 4) Quese procure evitar pregação ou literatura de caráter ofensivoou pessoal...; 5) Que se promovam encontros, nacionais e

115 SEMINÁRIO TEOLÓGICO Avivalista por Extensão. Conhecendo o Avivamento Bíblico.Curso Pastoral, 3º e 4º estágio, apostila, [s.d], p.1.116 Ibidem.117 Ibidem, p.2118 Movimento iniciado em fins da década de cinqüenta e liderado pelos pastores BatistasEnéas Tognini, de São Paulo, e Antônio Rego do Nascimento, de Minas Gerais, queinfluenciou diversas Igrejas históricas, entre as quais, a Igreja Metodista (TOGNINI,Enéas. Renovação Espiritual no Brasil. São Paulo: Editora Renovação Espiritual, [s.d] ).

LV

regionais, para pregações de inspiração e exercício do cultoapostólico (...)”119

A crise entre os que desejavam o avivamento e os que se

opunham (conservadores e liberais120) levou à “divisão wesleyana”, 121

em 1967, e a criação da igreja Metodista Wesleyana.122 Para Gessé

119 MINAS BATISTA. I Encontro de Renovação Espiritual. Janeiro-Abril de 1964, p.5.120 Paulo Ayres Mattos chama de liberais os metodistas de tendência teológica oposta aoscarismáticos e aos conservadores: “Diante disto, como é possível querer imputar aoscarismáticos ou aos liberais a crise de identidade que hoje vivemos?” (BONINO et al. Lutapela vida e evangelização. Ibidem, p.299).121 Expressão popular para falar da crise e surgimento da Igreja Metodista Wesleyana, em1967, no Rio de Janeiro.122 Uma crise gerada pelo conflito entre o bispo Nathanael e os líderes do Movimento deRenovação Espiritual caiu como uma bomba sobre o Concílio Regional da PrimeiraRegião em 1967, cujos estragos se fizeram sentir de uma forma traumática durantelongos anos. Para Gessé Teixeira de Carvalho, “as razões que deram origem àseparação, basearam-se na doutrina do batismo do Espírito Santo, como sendo umasegunda benção para o crente. Na aceitação dos dons espirituais como recursos divinospara a realização da obra (...)” .(CARVALHO, Gessé Teixeira. A vida Espiritual de minhaIgreja. Ed 4, 1996, p.14). No primeiro Concílio Regional que presidiu, em 1966,Nathanael com sua forte personalidade e determinação já havia procurado assumir adireção espiritual da Região. Atingiu em cheio o Movimento de Renovação Espiritual,quando publicou o Documento "Do Culto Público" onde criticou os excessos emocionais eafirmou que o culto deveria ter ordem, dignidade e majestade. Ele disse ainda que o culto"não pode transformar-se em emocionalismo incontrolado, próprio dos momentos detragédia." (NASCIMENTO, Nathanael Inocêncio. "Do Culto Público "em Atas, Registros eDocumentos dom 10º Concílio Regional da 1ª Região, 1966, p.52). Ele concluiu dizendoque "as normas litúrgicas devem ser seguidas." (Ibidem., p.53). Na primeira sessão doConcílio Regional, em Nova Friburgo, RJ, teve inicio às 9 hs, na manhã do dia 5 deJaneiro. Começou com uma comunicação do Bispo dizendo que o diácono Oriele Soaresdo Nascimento havia se retirado da Igreja Metodista, comunicando a decisão através deuma carta.94 Oriele decidiu sair porque não concordou com o teor de uma carta peloBispo intimidando os pastores a decidirem abandonar o movimento de renovação ouabandonar a Igreja (Oriele Soares do Nascimento, [Informação oral], 06/05/1997).Nathanael chamou os “avivados” para conversar. Com Gessé, que era Secretário deMissões, Nathanael foi categórico dizendo que ele havia feito um levantamento na Regiãoe que no máximo umas 60, 70 pessoas sairiam. Ele não deveria perder seu tempo. Naentrevista, o Bispo disse que esperava contar com ele na Secretaria de Missões. Gesséestava disposto a continuar, mas na despedida Nathanael lhe disse que ele seriatransferido de igreja e que teria que começar tudo de novo. Gessé, então, disse que iriaorar sobre o assunto (Gessé Teixeira de Carvalho, [Informação oral], 16 de dezembro de1997). No dia 05 de Janeiro, às 14 hs, 13 pessoas se reuniram na ponte da FundaçãoGetúlio Vargas, onde se realizava o Concílio Regional, e decidiram organizar a IgrejaMetodista Wesleyana. Essas pessoas foram: “Idelmício Cabral dos Santos, WaldemarGomes de Figueiredo, Coró da Silva Pereira, José Mendes da Silva, Zeny da Silva

LVI

Teixeira de Carvalho, que viria a ser Bispo na Igreja Metodista

Wesleyana, a questão foi teológica:

“As razões que deram origem à separação,basearam-se na doutrina do batismo do Espírito Santo,como sendo uma segunda benção para o crente. Naaceitação dos dons espirituais como recursos divinospara a realização da obra” .123

Outra conseqüência da crise da década de sessenta foi o

traumático fechamento da Faculdade de Teologia, em 1968,124

num período de golpe militar no país. O fechamento da Faculdade de

Teologia foi conseqüência da ação dos conservadores dentro da

Igreja. A gota d'água, para alguns, foi a presença do arcebispo de

Olinda, D. Helder Câmara, na formatura dos alunos da Faculdade de

Teologia, em 1967. Ele era considerado inimigo dos militares. O apoio

a D. Helder foi visto como concordância com a sua luta social e ao

ecumenismo. 125

Para alguns, a crise na Faculdade de Teologia foi uma crise de

indisciplina. Os argumentos foram:

Pereira, Dinah Batista Rubim, Ariosto Mendes, Wilson da Silva Mendes, Jacir Vieira eAntônio Faleiro Sobrinho (CARVALHO, Gessé Teixeira de. A vida Espiritual de minhaIgreja. Ibidem).123 CARVALHO, Gessé Teixeira. A vida Espiritual de minha Igreja. 4 ed. [s.ed], 1996, p.14.124 Crise entre a juventude e acadêmicos de teologia da Igreja Metodista com a liderançada Igreja proporcionou o fechamento da Faculdade de Teologia, em São Bernardo doCampo, SP.125 O Jornalista Percival de Souza afirma: “Dom Helder, paraninfo dos audazes formandosda Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, em Rudge Ramos, São Paulo, no ano de1967. A faculdade seria arbitrariamente fechada no ano seguinte, com o expurgo emestilo de limpeza teológica dos jovens simpatizantes da contestação política, oengajamento parcialmente clandestino, em especial na AP, e as conseqüências: jovenspresos em paróquia central, após denúncia do próprio pastor local à repressão, em tardede reunião de sábado, que levou vários deles para o Dops e o DOI-CODI (Eu, CaboAnselmo. Depoimento a Percival de Souza, Editora Globo, 1999, p.192-3).

LVII

“(...) onde a liberdade sexual, o uso de bebidaalcoólica e do fumo e o desrespeito a Direção tornaramo ambiente insuportável.”126

A situação teria chegado ao seguinte ponto:

“Após a oração de agradecimento, os seminaristasjogaram a comida para cima em sinal de protesto.”127

Para Elias Boaventura tais fatos foram citados como pretexto

para justificar a intervenção do Gabinete Geral e suspender as aulas.

Na verdade, o que houve foi uma crise política e ideológica, que

resumidamente mostrou-se nos seguintes episódios:

“1. D. Hélder Câmara é convidado para serparaninfo de uma turma de seminaristas e o fatorepercute desfavoravelmente por toda a Igreja.

2. Diversos seminaristas participaram depasseatas estudantis em São Paulo e alguns sãopresos.

3. Correm rumores de que a UNE teriaorganizado um congresso nas férias, no ‘campus’ semautorização do Reitor Otto Gustavo Otto.

4. Os Bispos Metodistas são avisados emreunião, por um líder metodista que o DOPS e oExército estavam preocupados com a situação nafaculdade.

5. O Gabinete Geral suspende as aulas, dispensaprofessores, destitui o Conselho Diretor e provoca apronta reação dos jovens que começam a comparecerà Faculdade através de caravanas.”128

126 BOAVENTURA, Elias. Esboço da História do Metodismo no Brasil. UNIMEP, [s.ed],[s.d], p.30.127 Ibidem.128 Ibidem.

LVIII

A crise foi grande e o Gabinete Geral resolveu convocar o

Concílio Geral Extraordinário, em 1968, em Piracicaba, que confirmou

a decisão do Gabinete Geral e anunciou a reabertura da Faculdade de

Teologia para 1969.129

Um dos professores da Faculdade de Teologia - José Gonçalves

Salvador - afirmou:

“(...) estourou a greve dos seminaristas (1968),seguindo-se o conseqüente fechamento doeducandário e a exoneração dos mestres, um dosquais fui eu, sem que, todavia, saiba até hoje osmotivos para isto.”130

Em que contexto se situava a Igreja Metodista na década desessenta?

Duncan Alexander Reily em sua análise sobre a situação da

Igreja Metodista, na década de sessenta, diz:

“Tudo isso num período em que o Golpe de 64, oemergir de um novo Catolicismo Romano depois doVaticano II e a onipresença de pentecostaisproduziram em nós uma profunda crise deidentidade.”131

O Conselho Mundial de Igrejas, em 1969, alertou sobre o

despreparo e a conseqüente crise nas Igrejas históricas:

129 Ibidem.130 SALVADOR, José Gonçalves. História do Metodismo no Brasil. [Imprensa Metodista?]1982, p.10.131 REILY, Duncan Alexander. “Escola Dominical Ontem e Hoje” em Expositor Cristão,agosto de 1993, p.8.

LIX

“A Igreja cristã no Brasil atravessa uma das fasesmais difíceis de sua história. Herdeira de estruturasalienígenas e acostumados à reflexão importada (...).O desmoronamento das velhas estruturas parece nostomar de surpresa, inteiramente despreparados queestávamos para o evento (...). Os antigos programasevangelísticos e as costumeiras campanhasmissionárias parecem-lhes agora inadequadas paraenfrentar os novos tempos (...).”132

Diante dessa nova realidade, a partir de 1974, alguns líderes da

Igreja Metodista, no Rio Grande do Sul, passaram a ter a chamada

experiência do batismo do Espírito Santo133, sob a liderança de Moises

Cavalheiro e Erasmo Ungaretti. Sady Machado da Silva, bispo da

Região, assim se expressou sobre o movimento no sul:

"Surge um movimento de Renovação ( por algunsdenominados 'Carismáticos') com apoio e/ou restriçõespor parte de pastores e membros da Igreja. Dessamatéria nós nos ocupamos e preocupamos,especialmente, por ocasião do Instituto Ministerial.Temos nos esforçado para orientar, no sentido de evitarexcessos que se confundem com emoção e nãopropriamente ação do Espírito Santo e, por outro lado,não podemos ficar contentes com a bonita herança queherdamos e nada mais. Pessoalmente acho que ou o

132 CONSELHO MUNDIAL DE IGREJAS. Uma Igreja para o Mundo. Traduzido por JacyC.Maraschin. Publicadora Eclesia. Edições Oikoumene, 1969, p. 9.133 Expressão bíblica (Mc 1.8). Segundo o metodista George W. Ridout, “o batismo doEspírito é uma benção e experiência dos crentes. É bem diferente da regeneração”(RIDOUT, George W. O poder do Espírito Santo. São Paulo: Imprensa Metodista, 1973,p.37). Pentecostais, como Gordon Lindsay, afirmam que a evidência inicial do batismo doEspírito Santo é falar em outras línguas (LINDSAY, Gordon. Como receber o Batismo noEspírito Santo. Cruzada de Literatura, [s.ed], [s.d], p.12). Já o Colégio Episcopal da Igrejametodista, apesar de afirmar que “o dom de línguas é um dom de edificação pessoal e,em outras circunstâncias, pode ser usado para edificação da comunidade” (COLÉGIOEPISCOPAL. Orientações pastorais sobre o uso dos dons do Espírito e outras práticas.São Paulo, [s.ed], 1989, p.13), ele também é categórico: “O batismo com o Espírito Santonão está condicionado à presença do Dom de línguas como sinal confirmativo” (Ibidem).

LX

Espírito Santo fala através da Igreja ou esta sedesgasta e as pedras falarão."134

O conflito com a liderança da Igreja Metodista foi inevitável. Um

grupo saiu da Igreja e formou a Comunidade de Porto Alegre. No

Concílio Regional, em 1976, eles deixaram a Igreja metodista:

"Sobre o movimento carismático 'ecumênico, obispo falou francamente apontando seus aspectospositivos e negativos e lamentou a saída de doispastores metodistas (Erasmo Ungaretti e MoisésCavalheiro) integrados de tal forma no movimento, quepediram' licença para tratar de interesses na fase maisprodutiva do ministério."135

1.3. Teologia da Libertação e o Movimento Carismático comoalternativas para o metodismo brasileiro

Com o despreparo da Igreja Metodista para a situação

reinante do país e com as crises, os resultados negativos logo foram

percebidos nas estatísticas. William Schisler Filho disse que os dados

comprovavam que a Igreja Metodista havia parado. Na sua análise,

ele citou as perdas no período de 1965-1976, como demonstram,

dentre outros, os seguintes resultados:

134 SILVA, Sady Machado da. "Relatório do bispo Sady Machado da Silva ao XI ConcílioGeral da Igreja Metodista" em Atas e Documentos do XI Concílio Geral da IgrejaMetodista.1974, p.81.135 GUTIERREZ, Washington. "Concílio da 2ª Região recebe pessoas importantes" emExpositor Cristão. 1ª quinzena de março de 1977, p.11. A expressão "a saída de" não estáno texto publicado, mas é o que se entende que era para ter sido escrito.

LXI

- Menos 28 igrejas;

- Menos 11.101 alunos na Escola Dominical;

- Menos 1.216 Sociedades de Jovens;

- Menos 1960 Sociedades de mulheres.136

A Igreja havia decrescido, segundo ele, porque havia deixado de

ser missionária; havia deixado secar as principais fontes de

crescimento (Sociedades e Escola Dominical) e havia perdido a sua

unidade e mística.137

O fato é que, depois da crise da década de sessenta, no

metodismo brasileiro, duas fortes tendências se fizeram presentes: o

movimento social-político que pregava a Responsabilidade Social da

Igreja (os também chamados liberais138 ou Evangelho Social 139,

136 FILHO, William Schisler. "Os dados comprovam: a Igreja parou" em Expositor Cristão.2ª quinzena de Julho de 1978, p.13.137 Ibidem.138 Expressão com origem na Teologia Liberal, cujo início teve “uma séria de experiênciashereges” (WALKER, Welliston. História da Igreja Cristã. 2 v. São Paulo: ImprensaMetodista, Aste,1959, p.281). O professor Charles Briggs (1841-1913) do UnionTheological Seminary Nova York foi demitido pela Assembléia Geral Presbiteriana, em1893 (Ibidem). “Nas primeiras décadas do século os conservadores militantes fizeram umesforço para expulsá-los através de amarga controvérsia fundamentalista-modernista”(Ibidem). Albrecht Ristchl (1822-1889) foi “pioneiro do liberalismo e teólogo de valor moral(...) os esforços de Ritschl visavam a formar uma nova síntese apologética entre a fécristã e o novo conhecimento trazido pela erudição científica e histórica” (Ibidem, p.250).Para Ritschl, “a vida cristã é essencialmente social” (Ibidem, p.252).139 “Os anos finais do décimo nono século presenciaram o despertar de profundointeresse social entre muitos cristãos. Sob a direção de ministros liberais comoWashington Gladden (1836-1918) e Walter Rauschenbusch (1861-1918) progrediu o ‘’evangelho social” (WALKER, Welliston. História da Igreja Cristã. 2 v. São Paulo:Imprensa Metodista, Aste,1959, p. 282). No metodismo brasileiro. H.C.Tucker foi ogrande líder. Ele foi influenciado pelas idéias de Rauschenbusch. Tanto assim que, em1906, ele criou o Instituto Central do Povo, no Rio de Janeiro, chamado inicialmente deMissão Central. O Rio de Janeiro vivia em uma difícil situação social. Havia muitamiséria, muitas revoltas no Brasil. Tanto que o presidente Rodrigues Alves (1902-1906)teria no programa do seu governo apenas melhorar os portos para exportação e sanear a

LXII

posteriormente, Teologia da Libertação140) e o Movimento

Carismático141.

cidade do Rio de Janeiro, pois a população era constantemente dizimada pela febreamarela, peste bubônica, varíola e outras epidemias. Osvaldo Cruz fez intensa campanhae acabaria com a peste bubônica. Contudo, houve muitos protestos pela forma como foifeito. Muitos boatos foram espalhados. Houve, inclusive, conflitos com a polícia, quegeraram a morte de 23 pessoas. O missionário metodista H.C. Tucker teve umaparticipação importante na campanha contra a febre amarela (1903-1908). Ele colocouOsvaldo Cruz em contato com o Dr. Walter Reed, que havia saneado Cuba, e comoutras pessoas nos EUA. Havia muita miséria. Por isso, em 1907, o Expositor Cristãopublicou o artigo “ A Pobreza” dizendo que para ver os desgraçados não era preciso irmuito longe. Bastava ir até as vilas ou perto da cidade. A população vivia descontentecom os constantes aumentos dos preços dos alimentos e dos transportes. Foi nestecontexto que apareceu a figura de Tucker e a criação da Missão Central procurando darsolução prática para atender às necessidades dos operários das favelas da Saúde eGamboa, no centro do Rio de Janeiro (TUCKER, Hugh C.; CERILLANES, J.I. Relatórioda Comissão de Temperança e Serviço Social em Atas do 1º Concílio Geral da IgrejaMetodista do Brasil, São Paulo, p.40). H.C.Tucker, na verdade, seria o defensor e oprático do Evangelho Social no Brasil. Preocupado com a segurança das crianças,quando uma foi atropelada e morta na rua, ele publicou em jornais do Rio de Janeiro aimportância de construir parques para crianças - parques de recreio. O interesse cresceuna sociedade e a prefeitura doaria um terreno para a construção de um parque derecreio. Em 1911, no Rio de Janeiro, seria construído o primeiro "playground" moderno.No Instituto Central do Povo eram realizados cultos, instruções religiosas, jardim deinfância, datilografia, aulas de costura, culinária, enfermagem, recreação, serviço médicoe odontológico, jogos ao ar livre, educação física, etc. Na Conferência Anual de 1914eram anunciados os dois primeiros batismos de surdos-mudos do Instituto Central doPovo realizado no dia 19 de julho.O Instituto mantinha três classes para surdos-mudos.Walter Rauschenbusch escreveria Cristianizando a Ordem Social (1914) e Os PrincípiosSociais de Jesus (1916). Nestes livros, houve crítica ao capitalismo e ênfase nasocialização da propriedade.140 O tema e exemplo do êxodo foram redescobertos e serviram de reflexão bíblica e deestímulo aos cristãos da América Latina. Na reunião da Igreja e Sociedade na AméricaLatina (ISAL), em 1966, o professor Beato fez uma reflexão teológica sobre o êxodo comouma iniciativa da graça de Deus para o ser humano ser liberto da escravidão e caminharpara a Terra Prometida e a liberdade (ARIAS, Mortimer. Salvação Hoje. Petrópolis-Rio deJaneiro:Vozes-Tempo e Presença, 1974, p.37). A década de sessenta foi o período deformação da Teologia da Libertação, que via na história de opressão do Egito sobre opovo de Deus semelhança com a situação de miséria, opressão e cativeiro na AméricaLatina. As Comunidades Eclesiais de Base foram os locais propícios para conscientizaçãodos problemas sociais e para fortalecimento e apoio mútuo. A Igreja se voltou para opobre. As CEBs surgiram com alguns movimentos, entre eles, renovação bíblica emovimento de educação popular, este, baseado no método de Paulo Freire. Ajudaramnessa caminhada da Igreja, na luta pela justiça e apoio aos pobres e oprimidos, asAssembléias do Conselho Mundial de Igrejas de Nova Delhi (1961); Upsala (1968),Nairobi (1975), etc. A quarta Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas realizada emUpsala, em julho de 1968, no documento “Renovação em Missão”, afirmou que deveriamser favorecida as experiências de novas formas de testemunho e serviço (Ibidem, p. 121).

LXIII

A ênfase na responsabilidade da Igreja veio, especialmente, a

partir da II Assembléia Mundial do Conselho Mundial de Igrejas, em

agosto de 1954, Evanston, EUA. Alguns brasileiros participaram e

voltaram entusiasmados com as teses ali discutidas. Incentivaram

líderes religiosos para se reunirem e discutirem sobre a

responsabilidade social da Igreja. Os graves problemas sociais do

Brasil levaram evangélicos brasileiros a se organizarem:

“Tudo isso fez que um grupo de crentesevangélicos do Brasil, que assistiram em Evanston,Estado de Illinois, na América do Norte, a 2ªAssembléia do Conselho Mundial de Igrejas, onde taisteses foram amplamente discutidas, decidissemconvocar, sem qualquer caráter oficial, vários líderesdas diversas igrejas evangélicas, para estudar essesmesmos problemas em relação à nossa Pátria.”142

No mesmo ano, a Conferência Episcopal Latino- Americana, em Medellin, apontou para asalvação do ser humano total com temas como “libertação integral”; “educaçãolibertadora”; “conversão e libertação.” (Ibidem, p.33). Na década de setenta se tornou fortea Teologia da Libertação num continente marcado pelos golpes de estado, desrespeitoaos direitos humanos, corrupção administrativa etc. O ano de 1970 é considerado o ano-chave para a Teologia da Libertação, quando houve uma série de encontros e simpósiosem diversos países latino-americanos resultado de uma nova consciência sobre asituação oprimida do povo e a missão libertadora da Igreja. Nascida com a experiêncialibertadora de Cuba, em 1959, na década de sessenta ela seria formulada, especialmentea partir de 1968, em Medellin, com os teólogos católicos. Em 1970 aconteceram diversosencontros sobre Teologia da Libertação (Bogotá, Buenos Aires, México). Em 1971,Gustavo Gutierrez publicaria o livro Teologia da Libertação e Leonardo Boff publicaria, em1972, Jesus Cristo Libertador. O tema “exílio” e “cativeiro” seriam abordados na Teologiada Libertação, pois era uma realidade na América Latina num tempo de ditadura militar.141 Nas próximas páginas da tese abordaremos a origem do Movimento Carismático.142CONFEDERAÇÃO EVANGÉLICA do Brasil. Comissão de Igreja Sociedade. Estudossobre A responsabilidade Social da Igreja. [s.ed], Março de 1956.

LXIV

A II Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas realizada em

Evanston representou um marco de mudança de mentalidade e ação

em diversos líderes de Igrejas Evangélicas no Brasil.143

Como conseqüência, em 1955, em São Paulo, durante uma

semana foi discutido sobre a responsabilidade social da Igreja através

da Comissão Igreja e Sociedade, que era um departamento da

Confederação Evangélica do Brasil. O presidente era o pastor

Benjamim Moraes e o secretário executivo, Waldo A. César.

A I Consulta sobre a Responsabilidade Social da Igreja foi

realizada em São Paulo entre os dias 15 e 18 de novembro de 1955

com a presença de quarenta pessoas de 12 denominações e

organizações, como o Conselho Mundial de Igrejas. O objetivo foi dar

uma resposta ao clamor dos marginalizados em todas as suas

necessidades.

A visão dos líderes era:

“Diante do quadro de rápidas transformações porque o mundo está passando, cumpre a Igreja de Cristoestudar, com a Bíblia na mão e sob a iluminação doEspírito Santo, as novas contingências sociais, a fim deoferecer aos povos conturbados a solução cristã detodos os seus problemas.”144

143 João Parahyba escreveu no Expositor Cristão, em 24 de outubro de 1957, um artigochamado “Ele mesmo deu evangelistas”, onde comenta que até a Assembléia deEvanston, a ênfase era colocada em métodos de evangelização e depois passou a sersobre as convicções teológicas que respaldam a proclamação do Evangelho.144 Ibidem.

LXV

Havia 21 leigos e 19 pastores presentes na I Consulta. Entre os

metodistas presentes estavam: Charles Wesley Clay, Francisco

Gonçalves Nocetti, Hulda Chaves Lenz César, João Parayba da Silva,

Robert Whitfield Wisdom e William Richard Schisler Filho.145

Entre os problemas sociais da época levantados estavam:

“Fora dos centros urbanos, o quadro social denosso País apresenta-se-nos verdadeiramente trágico.A atuação governamental faz-se sentir tãoescassamente que o sertanejo se sente alheio aosproblemas nacionais, circunscrito ao seu pequenomundo local, sem aspirações nem esperanças. Omundo de doenças que cerca o homem do campo alia-se à falta de escolas, à superstição, à ausência dehigiene e de remédios (...)à existência das 'favelas`. Onúcleo de famílias morando em miseráveis choupanasnos grandes centros urbanos (e só no rio de Janeiro,há mais de 400.000 favelados); o problema daprostituição que cresce assustadoramente enquanto seagravam as dificuldades econômicas (...).”146

Entre os temas abordados, estavam:

“Problemas dos países de rápida mudança social” (Profº Egbert

De Vries); “Fundamentos bíblicos e teológicos da responsabilidade

cristã na esfera político-social” (Rev. Wilhelm Hann);

“O significado e as conseqüências da Encarnação” (Richard

Shaull), etc.147

145 Ibidem.146 Ibidem.147 Ibidem.

LXVI

O Encontro foi um marco no protestantismo brasileiro e trouxe

várias conseqüências ao metodismo. O despertar para as questões

sociais foi grande. O período 1955/1965 foi marcado por avanços:

“(...) marcado pelo maior engajamento da igreja navida das comunidades. O evangelho é encarnado narealidade de pobreza e injustiça nacional. O credosocial passa a ser uma força crescente na formaçãoreligiosa dos fiéis. As obras de assistência social setransformam em obras promocionais" do ser humanocom cursos de alfabetização e cursos de orientaçãoprofissional.148

Um dos líderes que despertou a Igreja sobre a sua

responsabilidade social foi o presbiteriano Richard Shaull, um dos 10

membros da Comissão Igreja e Sociedade.

Seus escritos influenciaram líderes e a juventude, entre os quais

está Gutemberg de Campos, que escreveu um artigo ao Expositor

Cristão, em 1954, e citou algumas afirmações de Richard Shaull, entre

elas:

“Não basta para o homem ter liberdade para votar.É preciso que tenha, também, capacidade eoportunidade para ganhar um salário alto compatívelcom a sua dignidade de ser livre e responsável.”149

148 CÉSAR, Ely Éser Barreto. "Evolução Social Brasileira e Igreja Metodista" em ExpositorCristão. 1ª quinzena de maio de 1977, p.4.149 CAMPOS, Gutemberg. “ Cristianismo e problemas sociais” em Expositor Cristão. São Paulo,30 de dezembro de 1954, ano 69, nº 52, p.4.

LXVII

A Conferência do Nordeste, em 1962, na cidade de Recife, foi

outro evento marcante para o protestantismo brasileiro. A Conferência

teve como tema “Cristo e o processo revolucionário brasileiro”. Almir

dos Santos, Secretário Geral de Ação Social na Igreja Metodista do

Brasil, foi um dos líderes do encontro e afirmou sobre sua importância:

“A Conferência do Nordeste foi uma tentativa paraencontrar novas formas de ação da Igreja na situaçãorevolucionária que vive o povo brasileiro na horapresente (...). A Igreja deve estar disposta, inclusive, amudar as suas estruturas eclesiásticas, se necessáriofor, para melhor cumprir a sua missão no mundoatual.”150

Dentro dessa necessidade de ampliar a ação da Igreja, o Ciemal151 (Conselho de Igrejas Evangélicas Metodistas da América Latina e

do Caribe) foi organizado em 1969, com a necessidade e o propósito

de um maior testemunho profético152 na América Latina:

“A dimensão profética de nosso ministério éirrenunciável, no momento que atravessa nossaAmérica, como denúncia da injustiça da ordemimperante (...).”153

Um outro fato importante aconteceu em 1971: a aprovação do

novo Credo Social no metodismo brasileiro.154 Ele serviu de âncora

150 SANTOS, Almir dos. “Cristo e o processo revolucionário brasileiro” em ExpositorCristão. São Paulo, 15 de outubro de 1962, ano 77, nº 20, p.7.151 CIEMAL, Missão e Testemunho. Organizado em 2 de fevereiro de 1969, em Santiagodo Chile com a “presença dos delegados das Igrejas Metodistas da Argentina, Bolívia,Brasil, Chile, Costa rica, Cuba, México, Panamá, Peru e Uruguai”, p.3.152 Como a citação aponta, o termo profético aqui quer dizer, especialmente, promover ajustiça.153 BONINO et al. Luta pela vida e evangelização. Ibidem, p.252.154 “Nosso Credo Social tem como base um documento semelhante elaborado em 1922pela Igreja Metodista Episcopal do SUL (EUA), chamada por nós de Igreja-mãe. Este foi

LXVIII

para os líderes da Igreja. Entre alguns líderes e documentos da Igreja

Metodista, a expressão “libertação” passou a ser utilizada dentro da

ênfase da Missão da Igreja. Isac Aço assim se expressou:

“Evangelizemos, pois evangelizar é continuar aobra de Cristo que evangelizou aos pobres, foi enviadopara proclamar libertação aos cativos.”155

A Teologia da Libertação foi a passagem do cristianismo social156para um cristianismo revolucionário157, numa época que exigia que a

Igreja fosse revolucionária e lutasse também pela liberdade,

democracia, direitos humanos e justiça social.

inspirado no documento produzido naquele país pelo Conselho Nacional de Igrejas deCristo, em 1908. Em 1930, quando houve a autonomia da Igreja metodista no Brasil, odocumento da Igreja-mãe passou a fazer parte dos nossos Cânones, editados em 1934(...) o 10º Concílio geral da Igreja Metodista (1970-1971), novamente sob a iniciativa daJunta Geral de Ação Social, realizou mais uma reforma no Credo Social com a finalidadede atualizá-lo” (IGREJA METODISTA. Credo Social. São Paulo: Editora Cedro, BibliotecaVida e Missão, 1999, p.7-8)155 AÇO, Isac. “Evangelizemos” em Expositor Cristão. São Paulo, 31 de julho de 1971,ano 86, nº 14, p.3.156 Samuel Silva Gotay afirma que “ (...) os cristãos que enfrentaram a problemática sócio-econômica e política da América Latina antes do desenvolvimento da Teologia daLibertação o fizeram equipados com a teologia européia do cristianismo social” (Históriada Teologia na América Latina, Edições Paulinas, São Paulo, p. 139). Segundo ele, com ocristianismo social houve uma ênfase na humanização, pois na doutrina social cristã, “(...)o homem enquanto pessoa, possui uma projeção à transcendência que lhe confere´direitos e deveres” (...). (Ibidem, p.143). O cristianismo social enfatizava os direitos edeveres dos cristãos na sociedade.157 As idéias da Teologia da Libertação surgem no final da década de cinqüenta, segundoSamuel Silva Gotay. “No final da década de 50 nota-se a estagnação dos programas deindustrialização e desenvolvimento social que haviam enchido de esperança osmovimentos populistas (...)”. (Samuel Silva Gotay, ibidem, p.149). Ele afirma: “O fracassoda atividade da esquerda cristã brasileira, em 1964, levará um grande número de cristãose sacerdotes à participação revolucionária na América Latina (...). Em fevereiro de 1968,se realizou em Montevidéo o Primeiro Encontro Latino-Americano Camilo Torres, onde ossacerdotes latino-americanos discutiram a incorporação dos cristãos à luta revolucionária”(Ibidem, p.152-153)

LXIX

O outro movimento que surgiu como opção para a saída da crise

no metodismo brasileiro foi o chamado Movimento Carismático158, que

procurou enfatizar os carismas, os dons espirituais.

O Movimento Carismático159 começou nas Igrejas históricas, em

1960, na Igreja Episcopal em Van Nuys, Califórnia sob a liderança do

pastor Dennis Bennet. Na Igreja Católica começou em 1967 na

Universidade de Duquesne, Califórnia.160

Uma das primeiras denominações históricas a darem apoio ao

Movimento Carismático, nos EUA, foi a Igreja Presbiteriana Unida, em

1970. Ela manifestou sua aprovação através do documento A Obra do

Espírito. Logo depois a Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos

também deu sua aprovação ao movimento em outro documento

chamado A pessoa e a obra do Espírito Santo - Com referência

especial ao batismo do Espírito Santo.161

Em novembro de 1972, a Assembléia de Deus, nos EUA, se

posicionou sobre o Movimento Carismático no periódico Advance. Ela

reconhecia o que Deus fazia ao redor do mundo dizendo:

158 Os Bispos metodistas brasileiros definem o Movimento Carismático como “ (...) o “Neo-Pentecostalismo´ou, ainda, a ´Renovação Carismática´, é o despertar no seio de Igrejastradicionais de uma nova experiência, conhecida no ambiente do PentecostalismoClássico, de vivência do Batismo do Espírito Santo e dos Dons do Espírito” (Pastoralsobre a Doutrina do Espírito Santo e o Movimento Carismático. Sede Geral, São Paulo, 2ªedição, 1988, p.10).159 O padre Caetano Minette de Tillesse define o Movimento Carismático como “ (...) aIgreja em oração” (A Teologia da Libertação à luz do Movimento Carismático. SãoPaulo:Edições Paulinas, 1979, p.8).160 PRANDI, Reginaldo. O sopro do Espírito. São Paulo: Edusp, 1997, p.32.161WILLIAMS, J. Rodman. O Movimento Carismático e a Teologia Reformada.Carapicuíba, SP, [s.ed.], 1980, p.5-6.

LXX

“Os ventos do Espírito Santo estão soprandolivremente fora do corpo pentecostal.”162

As Igrejas pentecostais entendiam que não eram mais os únicos

lugares da manifestação dos dons espirituais, mas elas advertiam:

“As Assembléias de Deus não aprovam nenhumadoutrina ou conduta manifestadamente antí-bíblica.Tampouco condenam categoricamente qualquer coisaque não se conforme aos seus padrões.”163

Na Igreja Ortodoxa, o Movimento Carismático surgiu em 1971. Já

em 1973, foi realizada a primeira Conferência Carismática Ortodoxa,

em Ann Arbor, Michigan, EUA.164

Os conflitos foram inevitáveis. O próprio New York Times

publicou um artigo sobre os novos movimentos que estavam trazendo

rupturas nas Igrejas tradicionais:

“Para algumas outras Igrejas, a causa maisinquietante de conflito tem sido o movimentocarismático (...). Faz pouco reuniram-se na cidade deKansas 50 mil carismáticos dos meios católicos eprotestantes, numa reunião que se constituiu num dosmaiores acontecimentos ecumênicos jamais ocorridosnos Estados Unidos.”165

162 HORTON, Stanley M. O Avivamento Pentecostal. CPAD, 1997, p.66. “CorpoPentecostal” aqui é entendido como as Igrejas que aceitam o Pentecostes nos dias atuais,ou seja, os dons do Espírito. Nesse sentido, segundo os Bispos metodistas do Brasil, ometodismo tem também origem pentecostal: “Como herdeiros do Pentecostes do séculoXVIII, o movimento conduzido por Deus através dos irmãos Wesley (...). (Pastoral sobre aDoutrina do Espírito Santo e o Movimento Carismático. Ibidem, p.9).163 Ibidem.164 WILLIAMS, J. Rodman. Ibidem, p. 9 e 38.165 “A crise da religião convencional” (Briggs apub Estado de São Paulo, 23.10.77).

LXXI

1.4. 1974, início de grandes mudanças no metodismo brasileiro

O início da década de setenta começou promissor para o

metodismo brasileiro. O Ministério Pastoral Feminino encontrou

espaço na Igreja, a partir do Concílio Geral de 1970-71. Nos Cânones

de 1971 está registrado no Art.157, parágrafo único:

“Na ordem presbiteral, a Igreja acolhe homens emulheres que reconhece vocacionados para a plenitudedo ministério ordenado (...).”166

Em 1971, o Conselho Mundial Metodista, reunido em Denver,

Colorado, EUA, convocou o metodismo mundial para participar da

campanha “Metodismo Mundial em Chamas por Cristo”. Em 1973, o

metodismo brasileiro seguiu a recomendação para o início da

campanha e realizou três eventos:

- Lançamento oficial da campanha no dia 10 de junho, Dia de

Pentecostes. Em diversos lugares foram realizadas concentrações ao

ar-livre. Na central de Belo Horizonte se reuniram duas mil pessoas,

sob a liderança do bispo Omar Daibert;

- Vigília Mundial de Oração no dia 31 de dezembro das 12:00

às 24 h;

166 CÂNONES da Igreja Metodista. São Paulo: Imprensa Metodista, 1971, p.109.

LXXII

- Estudo do livro Jesus Cristo para Hoje de Barclay, nas

Escolas Dominicais, no 1º semestre de 1974.167

De uma forma mais acentuada, a partir de 1974, experiências

com o Espírito Santo passaram a ocorrer na vida de pastores e igrejas

metodistas. A própria liderança da Igreja testemunha que um sopro do

Espírito aconteceu em seu meio, em 1974, antes do Concílio Geral:

“Sentindo a ingente responsabilidade paracumprimento da Missão aqui e agora, no Brasil e nomundo, buscavam os conselheiros encontrar o caminhoadequado para o desenvolvimento da Obra profética daIgreja. Não estavam em reunião formalmenteadministrativa; apenas dialogavam.

Ao sopro do Espírito Santo, que vivifica, fortalece econserva a Igreja, surgiu espontaneamente, cremosnós, o tema que será centro de toda a preocupação eprogramação da Igreja no quadriênio: Ministério eMissão.”168

No Concílio Geral de 1974 foi aprovado o tema para o quadriênio

na igreja: ”Missão e Ministério”. Antes, foi tomada uma decisão

histórica. Pela primeira vez, a agenda reservou um dia (quarta feira)

para jejum e oração. Os Bispos disseram:

“Vamos à Fonte da Água da Vida.”169

Eles ainda alertaram aos conciliares:

167 CONSELHO GERAL. "Plano Quadrienal" em Atas e Documentos do XI Concílio Geral,1974, p.223.168 COLÉGIO EPISCOPAL. "Mensagem do Colégio Episcopal ao XI Concílio Geral da IgrejaMetodista. Atas e Documentos do XI Concílio Geral. 1974, p.32.169 Ibidem, p. 33.

LXXIII

“Se no final deste colendo Concílio tivermossomente dotado a Igreja de uma legislação perfeita,vamos necessitar clamar com 'saco e cinza na cabeça'pela inutilidade do encontro conciliar (...). Reunimo-nospara achar, encontrar, reencontrar a Missão da IgrejaMetodista no hoje no mundo e no agora do Brasil.”170

Mas fora dos Concílios algo mais acontecia. O pastor argentino

Juan Carlos Ortiz através dos seus livros O Discípulo e Ser e Fazer

Discípulos171 influenciou também os líderes carismáticos da Igreja

Metodista, no Brasil. Jamie Buckingham afirmou, em 1974:

“(...) Deus está agindo, enviando de novo aquelaslínguas de fogo de Pentecostes por todo o mundo. E osensinamentos de Juan Carlos se tornam agoranecessários para maiores esclarecimentos sobre a açãodo Espírito Santo nestes últimos tempos antes da voltade Cristo. 172

Não era mais possível fechar os olhos para a realidade do

Movimento Carismático nas igrejas Metodistas. No seu relatório sobre

170 Ibidem.171 Ortiz é um ministro argentino que através do discipulado alcançou bons resultados decrescimento em sua igreja.172 ORTIZ, Juan Carlos; BUCKINGHAM, Jamie. Ser e fazer discípulos. São Paulo:Edições Loyola, 1979, p.9. Entre as afirmações do pastor argentino pentecostal JuanCarlos Ortiz, que despertou muitos líderes para o discipulado, está: “As ovelhas devemparir ovelhas.Não só têm que parir como também alimentá-las com leite. Quem pariu, dáleite. Vacas produzem bezerros, figueiras produzem figos, e ovelhas produzemcordeirinhos. Portanto, ministros devem produzir ministros. De modo que as ovelhas semultiplicam e alimentam os cordeirinhos com o seu próprio leite, e nós, ministros,pegamos esses cordeirinhos e fazemos deles ministros” (Ibidem., p.27). Ortiz criticou asestruturas da época: ”As nossas estruturas eclesiásticas não favorecem o crescimento. Aspessoas são salvas e começam a crescer. Ouvem os sermões, aprendem a doutrina,chegam ao nível espiritual de pastor – e param. E a Igreja se torna um ambiente detensões” (Ibidem, p.32). Sua proposta foi o discipulado através Ide “células vivas. isto é,pequenos grupos de quatro ou cinco pessoas que se reúnem nas casas sob acoordenação de um líder, de modo que suas vidas possam ser moldadas para semobilizarem e se multiplicarem em outras células” (Ibidem., p.39). A partir de 1979,quando fui pastor em Itaguai e Muriqui, RJ, conheci alguns livros de Ortiz com os pastoresdo distrito eclesiástico de Campo Grande, que liam e debatiam sobre os assuntosabordados neles, especialmente, o discipulado..

LXXIV

o ano de 1975, ao Concílio da Primeira Região, o bispo Almir dos

Santos disse que o Plano Quadrienal tinha um total desconhecimento

dos membros das igrejas. Disse mais:

“Ainda para continuar sendo honesto, penso que aênfase de muitas igrejas não esteve no PlanoQuadrienal, mas em certos aspectos do movimentocarismático que vem atuando em todas as igrejascristãs no mundo de hoje, inclusive na CatólicaRomana. O Colégio Episcopal elaborou e publicou umapastoral sobre o Movimento Carismático, e para elatemos endereçado os pastores e leigos interessados nodespertamento espiritual da Igreja.”173

Bispo Almir dos Santos ainda falou da necessidade de

mudança na vida de algumas pessoas e do valor do movimento:

“Pessoalmente, creio que este movimento, quandopurificado de seus exageros, traz grande benefício àsigrejas e aos crentes. Não há como negar orebaixamento do nível de vida espiritual e moral demuitas das pessoas das nossas comunidades,transformadas em verdadeiros clubes.”174

No metodismo brasileiro o Movimento Carismático teve início,

especialmente, na 1ª (Rio de Janeiro), 2ª (Rio Grande do Sul) e 6ª

Regiões Eclesiásticas (Paraná e Santa Catariana).175 Diversas igrejas

173 SANTOS, Almir dos. "Relatório do bispo Almir dos Santos ao Conselho Regional daPrimeira Região Eclesiástica da Igreja Metodista" em Atas e Documentos. Rio de Janeiro,[s. ed], 1978, p 39.174 Ibidem.175 São sete as Regiões Eclesiásticas e um Campo Missionário no metodismo brasileiro. A1ª abrange o Rio de Janeiro; a 2ª, o Rio Grande do Sul. A 6ª Região abrange ao Paraná eSanta Catarina. Ter a experiência com o Batismo do Espírito Santo, nos movimentospentecostais, significa, especialmente, falar em línguas estranhas, conforme At 2.5 e 1Co12.10.

LXXV

experimentavam um mover do Espírito. Alguns líderes passavam pela

experiência do Batismo do Espírito.176

Em 1978, no Brasil, o Concílio Geral da Igreja Metodista elegeu

um Bispo carismático - Richard dos Santos Canfield - de uma Região

considerada carismática. Com esta atitude reconhecia o Movimento no

metodismo brasileiro. Neste ano, o tema aprovado no Concílio Geral

revela a intenção da Igreja: Unidos pelo Espírito, Metodistas

Evangelizam.

O Movimento Carismático foi mais bem aceito do que o

Movimento de Renovação Espiritual177 por não ter uma preocupação

tão moralista e doutrinária, como o Movimento Wesleyano, na década

de sessenta. Além do mais, houve amadurecimento em relação à

participação na vida política e social brasileira.178

176 Entre esses lideres, estão: Paulo Lockmann e Richard Canfield (que vieram a se tornarBispos na Igreja Metodista), Erasmo Ungaretti e Moisés Cavalheiro, que pertenciam aocorpo docente do Seminário Metodista, em Porto Alegre (GUTIERREZ, Washington."Concílio da 2ª Região recebe pessoas importantes" em Expositor Cristão. 1ª quinzenade março de 1977, p.11). Não há ainda nada escrito a respeito destas experiências.O quese sabe é por testemunho pessoal. Paulo Lockmann conta que sua experiência foi em1974, em Porto Alegre. A experiência de Richard Canfield foi em Londrina, 1976. Nasduas ocasiões, Moisés Cavalheiro estava ministrando. Recordando essa época, AsaphBorba disse:” 'Começou a haver gente liberta e batizada com o Espírito Santo (...). Euparticipei daquilo tudo, eu entrei naquele rio” (BORBA, Asaph. “O embaixador da músicaevangélica” em VINDE. Abril de 1997, p.40).177 Movimento avivalista ocorrido na década de sessenta, liderado pelos pastores batistasEnéas Tognini e Antônio do Rêgo Monteiro. O Movimento teve a participação de algunspastores metodistas, que em 1967 criaram a Igreja Metodista Wesleyana.178 O Movimento de Renovação Espiritual da década de sessenta apoiou o golpe de 1964,no Brasil, crendo que era uma intervenção de Deus. O Movimento Carismático, quandosurgiu, já conhecia os extremos da ditadura e, especialmente, no metodismo brasileiro, jáhavia a consciência da salvação integral, herança da ênfase de Wesley em Atos dePiedade e Obras de Misericórdia, que explicarmos mais adiante em outro capítulo.

LXXVI

Na Consulta Nacional sobre Evangelização promovida pelo

CEDI (Centro Ecumênico de Documentação e Informação), em 1980,

foi constatado o avanço do Movimento Carismático também nas

Igrejas brasileiras:

“Constatamos que o movimento de renovação nasIgrejas, como o movimento carismático, está assumindoproporções significativas no Brasil e no mundo.”179

Mais tarde, iniciou-se o ENAVI (Encontro Nacional de

Avivamento e Santificação) organizado pelos líderes carismáticos

metodistas. O primeiro foi realizado ainda de forma tímida entre os

dias 21 e 23 de abril de 1989, no Acampamento Betel, em São Paulo,

com a presença de três Bispos e cerca de 120 pessoas, a maior parte

era de pastores e pastoras.180

O Enavi foi organizado com o objetivo de promover o

avivamento espiritual no metodismo brasileiro e tem sido realizado de

dois em dois anos. O VI ocorrido em 1999 reuniu cerca de nove mil

pessoas em Londrina, Paraná.181 No último Enavi, no Maracanãzinho,

em 2000, cerca de quatro mil pessoas participaram.182

Na palavra de apresentação do livreto motivador para que a

Igreja viesse a orar e jejuar durante cinqüenta dias pelo VII Enavi, no

Rio de Janeiro, no ano 2000, está:

179 CEDI. Missão e Evangelização. Tempo e Presença. [s.ed], [s.d], p.24.180 O autor participou do encontro em São Paulo. Os dados são de sua observação pessoal.181 DO EDITOR, “No Enavi, 9 mil metodistas celebram a Jesus como Senhor” em Expositor Cristão.Outubro de 1998, nº 10, p.11.182 ______.”7º Enavi mostra a necessidade do genuíno avivamento” em Expositor Cristão. Outubrode 2000, nº 10, p.12-3.

LXXVII

“Queremos então desafiá-lo/a a se envolvercriativamente e com muita intensidade, juntamente comsua igreja, nesses 50 dias de oração pelo reavivamentodevocional da nossa amada Igreja metodista.”183

Estes dois movimentos dentro do metodismo - sócio-político e

Movimento Carismático - cada um por si, sempre procuraram uma

alternativa para a crise no metodismo brasileiro, desde a década de

sessenta.184

A crítica que José Miguez Bonino faz aos dois movimentos é que

eles agindo assim, separadamente, não têm conseguido alcançar seus

objetivos:

“O Evangelho Social tratou de restaurar aperspectiva profética com sua insistência nos 'princípiossociais' de Jesus. Porém tanto sua interpretação 'liberal'desses princípios como sua incapacidade para vincula-los com uma visão teológica mais plena frustraram emparte esse intento. O movimento carismático, nainsistência em Jesus Cristo como 'Senhor' e, porconseguinte na fé com o 'discipulado' abriu as portaspara um desenvolvimento cristológico mais pleno queme parece, no entanto, que não logrou definir osconteúdos sociais mais profundos do discipulado aoque convoca.”185

183 LOPES, João Carlos; SOBRINHO, José Pontes. “Palavra de apresentação” em 50 dias deoração pelo VII Encontro Nacional de Avivamento. Ibidem, p.3.184 Bispo Paulo Ayres Mattos afirma: “(...) como é possível imputar aos carismáticos ou aos liberaisa crise de unidade que hoje vivemos? Ora, a falta da unidade de nossa Igreja deve-se sim à faltade um projeto Missionário nacional que, fundamentado numa evangelização encarnada narealidade do povo brasileiro, pudesse ter superado de forma criativa as tensões e conflitos quedividiram a Igreja Metodista antes e depois de 1930” , no texto “A questão da unidade metodista(Ou da unidade que temos à unidade que precisamos)”. (BONINO et al. Luta pela vida eevangelização, Ibidem, p.299).185 BONINO, José Miguez Rostros del protestantismo latinoamericano. Nueva CreacionBuenos Aires - Grand Rapids y William B. Eerdmans Publishing Conpany, ISEDET, 1995,p.120.

LXXVIII

Neste ponto a tensão entre o Evangelho Social e o Movimento

Carismático é mais forte no catolicismo brasileiro. Há uma

incompatibilidade entre a proposta da Renovação Carismática Católica

(RCC)186 e a proposta das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs),

como afirma Reginaldo Prandi em seu livro Um Sopro do Espírito:

“A RCC é confrontada permanentemente com ocatolicismo das CEBs e com o pentecostalismo, umavez que a hipótese básica assume que o catolicismocarismático pode ser pensado como movimentoconservador de dupla reação: primeiro, um movimentomais geral, voltado para fora do catolicismo, isto é,tendo como oposição o pentecostalismo e outrasreligiões que vêm minando as fileiras católicas.Segundo, um movimento voltado para dentro da própriaIgreja, enfraquecendo as posições assumidas pelaIgreja Católica da Teologia da Libertação e das CEBs,comprometida com transformações sociais àesquerda.”187

186 Logo no princípio do Movimento Carismático, líderes da R.C.C. (RenovaçãoCarismática Católica) se reuniram, entre 4 a 11 de janeiro de 1978, e apreciaram asdiversas críticas feitas ao movimento. Entre suas conclusões estão: “Constatamos que aBíblia, em particular o Novo Testamento, não fala exatamente como os adeptos daTeologia da libertação gostariam que ela falasse. Pelo contrário, em alguns casosconcretos, o Novo Testamento aconselha atitudes contrárias àquelas desejadas pelateologia da Libertação, por exemplo 1Pedr 2,13-25 ou 1 Cor 7,20-23. (...) A estrutura é uminstrumento humano, a serviço do homem. Não pertence a Igreja propor outro modeloeconômico, nem de lutar para promover outro sistema econômico (...) Efetivamente, aigreja parece muito comprometida com o poder e com as estruturas injustas (...) De outraparte, uma simples mudança de estrutura política ou econômica não resolveria, se nãohouvesse primeiramente uma conversão interior (...) Finalmente, todos ficaramconvencidos de que o seu compromisso para com os mais pobres e os marginalizados émanifestação essencial do Reino de Deus (...) Uma vez que a segunda Páscoa élibertação pelo Espírito Santo, ficamos com a grande confiança que Ele mesmo guiarátodos os nossos Grupos de oração, em íntima união com seus Pastores e todos osmembros autênticos da Igreja” (TILLESSE, Caetano Minette. A Teologia da Libertação àluz da Renovação Carismática. São Paulo: Edições Loyola, 1979, p.37-46).187 PRANDI, Reginaldo, Ibidem, p. 11.

LXXIX

Reginaldo Prandi descreve em seu livro os conflitos entre

padres e a RCC e diz que desde a sua fundação, nos EUA, ela

enfrentou resistência por parte da Igreja progressista do catolicismo.188

A questão do Espírito Santo e a participação social da Igreja têm

gerado conflitos, discórdias e divisões desde que o metodismo foi para

a América, especialmente diante da questão da escravidão.189

Ela sempre esteve presente nos debates da Igreja Metodista, no

Brasil, e ainda o é. Muitos são rotulados de “carismáticos” e

“progressistas”.190 Apesar da publicação das Pastorais dos Bispos

sobre a doutrina do Espírito Santo,191 diversas divisões têm ocorrido

na Igreja.192

188 Ibidem, p.57.189“Embora já nas Atas da Conferência Anual Metodista de 1780 se diga que a Conferênciareconhece que a escravidão é contrária às ’leis de Deus, do Homem e da Natureza’, e que ‘sedesaprovam aqueles que têm escravos’, o certo é que, já a partir de1839, começaram a surgircismas na Igreja Metodista dos estados Unidos por causa dessa questão” (BONINO et al. Luta pelaVida e Evangelização. São Paulo: Edições Paulinas-Editora Unimep, 1985, p.50).190 Expressão utilizada pelos conservadores e carismáticos para falar dos que se envolvem emquestões sociais e políticas.191 Em 1980, o Colégio Episcopal publicou a Pastoral sobre a Doutrina do Espírito Santo e oMovimento Carismático. Nesta Pastoral, os bispos dão “diretrizes para todos”. “Para os pastores epastoras carismáticos”; “Para os pastores e pastoras não carismáticos”; ”Para os leigos quetenham tido experiências carismáticas”; Para os leigos não carismáticos”. Em 1988, os Bispospublicaram Dons e Ministérios; Em 1989, o Colégio Episcopal publicou: Orientações pastoraissobre o uso dos dons do Espírito e outras práticas.192 As mais recentes foram: em 1982, alguns leigos organizaram a Comunidade CristãEvangélica, em Suzano, SP; Igreja Metodista Renovada, em 1993, Vila Mariana, SP, foiorganizada com o pastor Joel Cardoso; a Igreja Evangélica Ebenézer, com o pastorSamuel Palma Ferreira, em Vila Industrial, SP, 1994 (Carta da Comissão especial paraaveriguação, São Bernardo do Campo, 27 de julho de 1994, Flávio Moraes de Almeida);o Projeto Vida Igreja Evangélica, organizada no dia 4 de fevereiro de 1997 com o leigoPaulo Térsio, membro da Igreja em Campo Belo , SP. Todas elas surgiram por causa doavivamento ou questões como a maçonaria, cujos líderes sentiram falta de abertura eapoio por parte das autoridades da Igreja Metodista (Relatório: Por que vocês sesepararam da Igreja Metodista? Rev. Flávio Moraes de Almeida, 8 de julho de 1994).

LXXX

Entre as principais denominações que surgiram por causa de

conflitos na Igreja Metodista, estão: Irmandade Metodista Ortodoxa,

1934/1935;193 Igreja Evangélica do Avivamento Bíblico, 1946;194 Igreja

Metodista Cristã Brasileira, 1961;195 Igreja Metodista Wesleyana,

1967;196 Comunidade de Porto Alegre, 1976;197 Comunidade

Evangélica de São José do Rio Preto, 1977;198 Igreja Metodista

Renovada, em Ribeirão Preto, 1981;199 Igreja Metodista Renovada, em

São Paulo, 1993.200

Antônio Gouvêa de Mendonça afirma que os protestantes

historicamente têm sido incapazes de lidar adequadamente com as

divergências, como o movimento carismático, favorecendo as

divisões.201 No Movimento Carismático Metodista não há uma reação

193A irmandade Metodista Ortodoxa foi fundada em 31/01/1934 e tem sua sede em Madureira, RJ(Nota em carta oficial da Irmandade Metodista Ortodoxa, em carta do Bispo Samuel Henriques daMatta, em 5 de dezembro de 1997).se SEMINÁRIO Teológico Avivalista por Extensão. Curso Pastoral, matéria: Conhecendo oAvivamento Bíblico, [s.ed.], [s.d.], folhas 1.195 RODRIGUES, Helerson Bastos. No Mesmo Barco. ASTE - Programa Ecumênico dePós Graduação em Ciências da Religião, 1986, p.54.196 CARVALHO, Gessé Teixeira. A vida Espiritual de minha Igreja. 4ª edição, 1996, p.14.197 GUTIERREZ, Washington. "Concílio da 2ª Região recebe pessoas importantes" emExpositor Cristão. 1ª quinzena de março de 1977, p.11. (BRUM, Hélio Maurício.Movimento das Comunidades Evangélicas. [s.ed],1977, p.3.198 BARROS, Davi F. "Os Movimentos Carismáticos" em Expositor Cristão. 1ª quinzena defevereiro de 1978, p.10.199BARRETO, Inaldo. Compreendendo o mundo após a queda. Igreja Metodista Renovada.[s.ed],1977.200 CARDOSO, Joel. Igreja Metodista Renovada. Conheça a nossa História . [s.ed], [s.d.], p.3.201 Em 1992, Antonio Gouvêa de Mendonça afirmou que o movimento carismático “ é muito forte einfluente nas igrejas e não tem sido devidamente avaliado. A Igreja Católica, segundo sua práticahistórica de lidar com dissidências, está tentando gerí-lo no seu próprio interior; as igrejasprotestantes, com sua tradicional impotência para manter divergências têm favorecido a formaçãode comunidades alternativas (MARASCHIN Jaci [ed]. Estudos de Religião. São Bernardo doCampo: Bartira Gráfica e editora, ano VI, nº 8, outubro de 1992, p.53).

LXXXI

sistemática ao pentecostalismo e nem aos liberais. Há, sim,

discordância em alguns posicionamentos. 202

Diante disso, perguntamos se é possível às Igrejas de hoje uma

prática semelhante àquela do tempo de Wesley: uma Igreja com

submissão ao Espírito Santo e com compromisso social.

Nosso pressuposto básico é de que é possível caminhar para a

unidade no metodismo, especialmente, levando os grupos a

compreenderem que as Obras de Piedade e os Atos de Misericórdia

fazem parte das raízes wesleyanas. São dois aspectos constitutivos

da identidade metodista. É possível e necessária uma Ação

Missionária comum entre os chamados carismáticos e a ala

progressista da Igreja. Esta Ação Missionária é fator de unidade da

Igreja.

Esta é a proposta do bispo Paulo Ayres Mattos, que fala em

unidade da Igreja através de um Projeto Missionário Nacional.203

Para ele, o projeto teria exigido uma pneumatologia:

“(...) profética (crítica e transformadora da realidadebrasileira), carismática (fundamentada na diversidadedos ministérios e serviços concedidos pelo Espíritolivremente a todos os crentes), comunitária (o povo deDeus sobrepondo-se à máquina burocrática e àslideranças personalistas) e Missionária (voltada para

202Um dos questionamentos de alguns carismáticos mais conservadores, no metodismo, é emrelação ao ecumenismo com a Igreja Católica. Para os mais conservadores, não é possívelrelacionar-se com uma Igreja que adora Maria e é submissa ao Papa.203 BONINO et al. Luta pela vida e evangelização, Ibidem, p.299.

LXXXII

fora da instituição metodista, em direção ao mundo dosbrasileiros.”204

Com o objetivo de encontrar uma base histórica e teológica sólida

para o mover do Espírito Santo e um forte compromisso social junto ao

povo carente é que pesquisaremos esta história cheia de fatos

apaixonantes e que poderão apontar um caminho para a Igreja, no

Brasil, em nossos dias.

2- A INGLATERRA NO SÉCULO XVIII

“É o século na qual a economia inglesa setransforma no centro da economia mundial; o século noqual o império colonial inglês se constituí no impériodominante e na qual se acham as bases daindustrialização inglesa.”205

Franz Hinkelammert

204 Ibidem205 “Las Condiciones económico-sociales Del Metodismo em la Inglaterra Del Siglo XVIII” (FranzHinkelammert apud Departamento Ecuménico de Investigaciones, 1983, p.21).

LXXXIII

Para compreendermos melhor as idéias e práticas de Wesley e

do metodismo inglês, abordaremos de um modo geral a Inglaterra no

século XVIII. Abordagem descritiva, não analítica, com o intuíto de

contextualizar o tema em apreço. Contudo é importante termos

consciência de que isso é uma tarefa difícil. Como afirma Duncan

Alexander Reily:

“Caracterizar um século é tarefa árdua earriscada.”206

Mas é fundamental entendermos como o metodismo nasceu, se

desenvolveu e realizou sua missão em meio à revolução social,

religião e política da época.

J.P. Barruel de Lagenest afirma:

“O fenômeno religioso caracteriza-se por ser, aomesmo tempo, individual, social, pessoal e comunitário;nele há contínua inter-relação e interação do indivíduocom a sociedade e da sociedade com o indivíduo, dapessoa para com a comunidade e da comunidade paracom a pessoa.”207

Para pesquisarmos sobre uma história evidentemente temos que

levar em consideração a trilogia: ser humano, tempo e espaço. O ser

humano interfere e é influenciado no meio em que vive. Não se pode

escrever sobre um fato histórico sem levar em consideração o

contexto em que ele se situa.

Adam Schaff, contudo, alerta:

206 REILY, Duncan A. História Documental do Protestantismo no Brasil . São Paulo, ASTE, 1984,p.9.207 LAGENEST, J.P. Barruel de. Elementos de Sociologia da Religião Editora Vozes Ltda, 1976,p.36.

LXXXIV

“O historiador – sujeito que conhece – é um homemcomo qualquer outro e não pode libertar-se das suascaracterísticas humanas: não é capaz de pensar semas categorias de uma língua determinada, possui umapersonalidade socialmente condicionada no quadro deuma realidade histórica concreta, pertence a umanação, a uma classe, a um meio, a um grupoprofissional, etc., com todas as conseqüências que tudoisto implica no plano dos estereótipos que aceitainconscientemente, em geral, da cultura de que é aomesmo tempo uma criação e um criador, etc.”208

Não podemos escrever a história de uma Igreja sem levar em

conta os fatos sociais em que ela surgiu. Os fatos e fenômenos vão

acontecendo mediados por variáveis sociais, culturais, políticas,

econômicas e outros fatores. O sujeito interfere e sofre as

conseqüências do meio onde se localiza:

“(...) em função das quais introduz noconhecimento elementos de subjetividade diversos:preconceitos, opiniões preconcebidas, predileções efobias, os quais caracterizam a sua atitude cognitiva.”209

Adam Schaff nos alerta mais uma vez:

“No seu trabalho, o historiador não parte dos fatos,mas dos materiais históricos, das fontes, no sentido maisextenso deste termo com a ajuda dos quais constrói oque chamamos os fatos históricos. Constrói-os namedida em que seleciona os materiais disponíveis emfunção de um certo critério de valor, como na medida emque os articula, conferido-lhes a forma deacontecimentos históricos.. Assim, a despeito dasaparências e das convicções correntes, os fatos

208 SCHAFF, Adam. História e Verdade. São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora Ltda, 1983,p.284.209 Ibidem, p.291.

LXXXV

históricos não são um ponto de partida, mas um fim, umresultado.”210

O historiador não se isenta de tendências ao pesquisar e

escrever sobre os fatos históricos, mesmo que ele não esteja

envolvido emocional ou historicamente com os fatos ou idéias

pesquisadas. A verdade atingida no conhecimento histórico é uma

verdade objetiva relativa.211

Segundo Adam Schaff, é ilusório pensar em evitar os

condicionamentos de classe social, pois o sujeito é um produto

social.212 Para ele:

“A única solução é a escolha entre oscondicionamentos de classe possíveis, e não a tentativade lhes escapar em geral”.213

2.1. Contexto social

A partir da física de Isaac Newton (1642-1727), centrada na lei da

gravitação universal, que tornou compreensível os movimentos de

todas as partes do mundo físico, e da psicologia de John Locke214

(1632-1704), a qual parecia desvendar os mistérios da mente humana,

o século XVIII é conhecido como o Século das Luzes. Acompanhou o

210 Ibidem, p.307.211 Ibidem, p.301.212 Ibidem, p.295.213 Ibidem.214 Manfred Marquardt afirma que Wesley “aparentemente (...) estava imbuído de uma tendênciacontemporânea pelo empirismo e seguiu Locke em sua abordagem sobre as questões doconhecimento” (Redescobrindo o Sagrado. São Paulo: Editeo, 2000, p.18).

LXXXVI

Iluminismo o conceito de religião natural, elaborado por Edward

Herbert (1583-1648) e o Deísmo, sendo o livro de Mattew Tindal

(1657-1733), Cristianismo tão velho quanto a criação (1730),

conhecido como a bíblia dos deístas.215

Uma das conseqüências da expansão do iluminismo no fim do

século XVI e início do século XVII foi o desenvolvimento do

racionalismo na religião.216

“O conhecimento recente de antigas civilizações ede outras religiões ampliou os horizontes humanos e osconfrontou com outras culturas que não a cristã. Aprova da verdade para Locke era a razoabilidade, nosentido de conformidade com o senso comum.Compreendia ele a moralidade como o conteúdoprincipal da religião.”217

Alguns filósofos passaram também a combater o cristianismo

existente na Grã-Bretanha. Historiadores liberais como conservadores

são quase unânimes em afirmar que o iluminismo218 despertou uma

crítica ao cristianismo e aos diversos relatos de milagres na Bíblia.

“Toland, o superficial, combatia o Cristianismo portodos os meios que tinha ao seu alcance multiplicandoseus livros e sofismas, e levando seus discursosinflamatórios tanto às tabernas como aos salõesnobres. O elegante conde de Shaftesbury atacavafortemente a revelação divina (...). O fanático Woolston

215 REILY, Duncan A. História Documental do Protestantismo no Brasil. Ibidem, p.9.216 WALKER, Welliston. História da Igreja Cristã. 2 v. ASTE, São Paulo, [s.ed], [s.d], p.190.217 Ibidem, p.190.218 Manfred Marquartd, entretanto, adverte: “Essas referências às atitudes afirmativas e críticas deWesley, a respeito do iluminismo e do lugar da razão, podem nos fazer cautelosos contrajulgamentos precipitados acerca desse movimento filosófico, como sendo a fonte de todo o declíniomoral e da perda das crenças religiosas em nossas sociedades seculares ou pós-modernas”(Redescobrindo o Sagrado , Ibidem, p.18).

LXXXVII

nos seus Discursos sobre os milagres, obra cuja vendachegou, segundo se diz, a trinta mil exemplares, atacoucom violência os relatos dos evangelhos, declarandoque não passavam de mitos e lendas (...”).219

Com o Iluminismo veio também a Revolução Industrial, que

substituiu as ferramentas pelas máquinas e a energia humana pela

energia motriz. No aspecto positivo da Revolução Industrial, a

invenção da máquina de fiar e tecer trouxe grande desenvolvimento.

“Com a invenção de máquinas mais eficientes defiar e tecer, e com a aplicação da força (primeiro daágua, e, depois de James Watt [1736-1819], do vapor)para propulsionar essas máquinas, nasceu o sistemade fábricas (substituindo a fabricação caseira quedominava até então) e divorciando a indústria dosolo.”220

Foram várias as invenções ocorridas durante o século XVIII, que

levaram o país de agrícola a industrial.

“James Watt (1736-1819) patenteou a primeiramáquina de fato a vapor, em 1769. James Hargreaves(?-1778) tirou patente, em 1770, da máquina de fiar.Richard Arkwright (1732-1792) inventou o fusomecânico, em 1768. Edmund Cartright (1743-1823)inventou, em 1784, o tear. Josias Wedgwood (1730-1795) de 1762 em diante tornou efetivas suas olarias deStaffordshire.”221

Com essas mudanças, a Inglaterra tornou-se uma grande

potência, o entreposto central do comércio mundial.222 No começo do

219WALKER, Welliston, Ibidem, p.11.220 Ibidem.221 Ibidem, p.203.222 ARRIGHI, Giovanni. O longo século XX. Editora Unesp, 1997, p.215.

LXXXVIII

século XVIII, ela obtém o monopólio da comercialização têxtil de

algodão hindu.

Como o maior produtor era a Índia, a Inglaterra passou a

comprar a lã para revendê-la. Proporcionou modernização e a

utilização de diversas pessoas como mão de obra barata:

“Grandes massas de operários, e mesmo decrianças, são colocadas a serviço do ferro, do carvãode pedra e da grande indústria têxtil.”223

Ao ultrapassar a Holanda, depois da metade do século XVIII, a

Inglaterra passa a deter a hegemonia econômica mundial, quando foi

parte integrante de um processo contínuo de expansão, restruturação

e reorganização financeira da economia mundial capitalista.224 Ela

deixa de ser subordinada e se transforma:

“(...) na nova dirigente e organizadora da economiacapitalista mundial.”225

Franz Hinkelammert, durante o Primeiro Encontro de Teologia

Protestante, na Costa Rica, entre 6 e 11 de fevereiro de 1983, afirmou:

“Que representa o século XVIII para a Inglaterra? Éo século na qual a economia inglesa se transforma nocentro da economia mundial; o século no qual o impériocolonial inglês se constituí no império dominante e naqual se acham as bases da industrialização inglesa.”226

223 BONINO et al. Luta pela vida e Evangelização. Ibidem, p.246.224 ARRIGHI, Giovanni, Ibidem, p.214.225 Ibidem.226 “Las Condiciones económico-sociales Del Metodismo em la Inglaterra Del Siglo XVIII” (FranzHinkelammert apud Departamento Ecuménico de Investigaciones, 1983, p.21).

LXXXIX

A crescente necessidade de matéria prima implicou numa

mudança na estrutura agrária inglesa. A produção de alimentos deu

lugar à produção de lã. Os grandes latifundiários transformaram suas

fazendas em produtoras de lã. Os fazendeiros começaram a ocupar as

terras cedidas aos agricultores para integrá-las às suas fazendas e

transformá-las em fazendas de lã, utilizando menos mão de obra

levando a expulsão de grande número de camponeses de suas

terras.227

A desapropriação das terras proporcionou uma crise social

enorme, que afetou grande parte da população trazendo desemprego

em massa.

Segundo Edwards Thompson:

“Na agricultura, os anos entre 1760 e 1820 foram aépoca de intensificação dos cercamentos, em que osdireitos a uso da terra comunal foram perdidos numavila após a outra; os destituídos de terras e, no sul, oscamponeses empobrecidos são abandonados àsexpensas dos granjeiros, dos proprietários de terras edos dízimos da Igreja.”228

Muitos passaram a vaguear pela cidade procurando onde ficar.

Para o historiador Christhoper Hill, a realidade social na Inglaterra, no

final do século XVII, era alarmante:

“(...) por baixo da aparente estabilidade daInglaterra rural, dos vastos e plácidos campos abertosque cativam o olhar, havia portanto a fermentação emobilização dos invasores de florestas, dos artesãos e

227 Ibidem.228 THOMPSON, Edward P. A Formação da Classe Operária Inglesa. 2 v. Paz e Terra, 1987,p.22.

XC

pedreiros itinerantes, de desempregados de ambos ossexos em busca de trabalho, de atores, menestréis ejograis ambulantes, bufarinheiros e charlatões, ciganos,vagabundos, vadios, concentrando-se principalmenteem Londres e nas grande cidades.”229

Uma contradição enorme na Grã-Bretanha que passou a ter a

hegemonia mundial, mas que vivia grave crise social:

“A expansão comercial, o movimento defechamento das terras comunais, os inícios daRevolução Industrial - tudo ocorreu à sombra da forca.Os escravos brancos deixavam nossas costas para asplantações americanas e depois para a Terra de VanDieman, enquanto Bristol e Liverpool enriqueceram comos lucros da escravidão branca; e os proprietários deescravos das plantações das Índias ocidentaistransportavam sua riqueza para antigas linhagensgenealógicas no mercado casamenteiro de Barth. Nãoé um quadro agradável. Nas profundezas, policiais ecarcereiros apascentavam nos pastos do crime: opagamento por assassinatos de encomenda, o dinheiroembargado pela justiça, o comércio de álcool para suasvítimas. O sistema de recompensa proporcional àgravidade do crime, oferecidas pela captura de ladrões,incitava-os a aumentar o delito dos acusados. Ospobres perdiam seus direitos na terra e eram tentadosao crime pela sua pobreza e pelas medidas preventivasinadequadas; o pequeno comerciante ou.” mestre deofícios eram tentados à falsificação ou a transaçõesilícitas por temor à prisão por dívidas (...).”230

Para o historiador inglês Edward Thompson, a Revolução

Industrial foi catastrófica para o povo:

“O povo foi submetido, simultaneamente, àintensificação de duas formas intoleráveis de relação: aexploração econômica e a opressão política. As

229 HILL, Christopher. O mundo de ponta-cabeça. São Paulo: Companhia Duas Cidades, 1991,p.65.230 THOMPSON, Edward P., Ibidem, 1 v. p.64.

XCI

relações entre patrões e empregados tornaram-se maisduras e menos pessoais (...).”231

Segundo o metodista Francis Gerald Ensley, no século XVIII, a

conduta moral de uma grande parte era irregular, na Inglaterra:

“A Bretanha estava nas garras de uma Idade doGelo, mais conhecida na história como a Idade daRazão. Muitos consideravam morta a organizaçãoEclesiástica e também a vida cristã (...). A moral erabaixa, como resultante. Os estadistas proeminenteseram incrédulos e distinguiam-se pela conduta irregular,enquanto as massas pobres eram ignorantes e brutaisnum grau de difícil descrição.”232

Entre os problemas sérios na sociedade inglesa, o historiador

metodista Duncan Alexander Reily cita alguns e afirma que havia

imoralidade ente os altos oficiais do governo; o jogo havia se tornado

quase um passatempo; o alcoolismo era um problema tremendo; a

recreação era bárbara em geral; o roubo de todo tipo era comum,

etc.233

Como conseqüência de toda uma insatisfação social, a lei era

odiada e deprezada. O movimento de resistência à lei tomava a forma

de atos individuais e de insurreições esporádicas. O povo inglês era

conhecido pela sua turbulência e o povo de Londres pela sua falta de

respeito.234

231 ______. 2 v. p.23.232 ENSLEY, Francis Gerald. João Wesley, o Evangelista. São Paulo, Junta Geral de Educaçãocristã, 1960, p.10.233 REILY, Duncan Alexander. Metodismo brasileiro e wesleyano. São Paulo: Imprensa Metodista,1981, p.148-53.234 THOMPSON, Edward P. 1 v. Ibidem, p.64.

XCII

Diversos motins surgiram por questões sociais e econômicas:

“(...) ocasionados pelos preços do pão, pelospedágios e portagens, impostos de consumo, 'resgates',greves, nova maquinaria, fechamento das terrascomunais, recrutamentos e uma série de outrasinjustiças.”235

Motins famosos por causa de alimentos foram os registrados na

Feira do Ganso em Nottingham, 1764, e ficou conhecido como o

"Grande Motim do Queijo", quando queijos inteiros rolaram pelas

ruas. Na mesma cidade, houve o motim provocado pelo alto preço da

carne, em 1788. O povo arrancou as portas e venezianas dos

açougues, que foram incendiados.236

2.2. Contexto político

A situação política na Inglaterra, no século XVIII, era tranqüila,

em comparação ao século anterior, quando houve guerra civil237 e o rei

Carlos I foi destituído e morto em 9 de fevereiro de 1649.238

A partir de 1688, o sistema político inglês caminhou para a

política de clientela, que consistia na manipulação dos favores e

ameaças. Os favores consistiam em salvar uma pessoa da cadeia ou

forca.239

235 Ibidem, p.64-5.236 Ibidem, p.67.237 HILL, Christhoper, Ibidem, p.83.238 Ibidem, p.337.239 Ibidem, p.333.

XCIII

“Os conflitos políticos e religiosos do séculoanterior não somente produziram cicatrizes, masdeixaram ainda feridas abertas a sangrar. A tiraniaStuart somente terminou com a guerra civil e morte dorei(1649), A Comunidade de Cromwell (1649-1660) e aexpulsão final de James II pela Revolução Protestantede 1688, causaram ódios, derramamento de sangue, oexílio ou morte de muitos homens de caráter ecapacidade, em todos os partidos, e o conseqüenteempobrecimento da nação.”240

A ilha da Grã-Bretanha, no século XVII, e, consequentemente,

parte do século XVIII, apresentava um quadro peculiar na corte:

“Na Inglaterra do século XVII era elegante ir aohospício de Bedlam ver os pobres lunáticos; no teatroisabelino e especialmente no do rei Jaime sãofreqüentes as máscaras de loucos dançando. Bobos dacorte, ou bobos de casas aristocráticas, fazem partedesse panorama mais amplo; é de se perguntar se elesseriam sempre tão espirituosos como os deShakespeare, embora não haja dúvida de queeventualmente alguns homens muito sagazesrepresentavam o papel de bobo para ganhar a vida.Alguns governantes inteligentes, ouvindo os seusbobos, talvez tenham conseguido varar a barreira decortesãos bajuladores que se interpunha entre eles e aopinião pública. Mas foi certamente um progresso queHenry Barrow, separatista radical, criticasse por razõesde princípio a prática de os bispos manterem bobospara se divertirem. Os Stuart foram os últimosmonarcas ingleses a terem bobos da corte; e o ultimobobo que sabemos ter servido a uma família senhorialna Inglaterra morreu em 1746, em Durham, no.” mesmoano em que fracassou a derradeira tentativa derestaurar a dinastia Stuart.”241

240 JOY, James Richard. O despertamento religioso de João Wesley. Instituto Metodista Bennett,1996, p.94.241 Ibidem, p.269.

XCIV

A situação política volta ao normal quando o príncipe Charles é

derrotado em abril de 1746.242

A partir de meados do século XVIII, a Grã-Bretanha passa a deter

a posição central na economia mundial. Segundo Giovanni Arrichi, isto

ocorre no contexto do ciclo sistêmico de acumulação.243 O ciclo

genovês vai do século XV ao início do século XVII; o ciclo holandês,

do fim do século XVI até decorrida a maior parte do século XVIII; o

ciclo britânico, da segunda metade do século XVIII até o inicio do

século XX .244

A Grã-Bretanha disputava com a França a supremacia mundial.

Quando ela venceu a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), estava

encerrada a luta com a França pela supremacia,245 contudo, não ainda

mundial.

Segundo Giovanii Arrighi, isso se deu após a perda da colônia na

América. Os norte-americanos haviam vencido os ingleses com o

apoio dos franceses em aliança com os holandeses. Posteriormente,

houve retaliação britânica à Holanda após a Guerra da Independência

dos EUA causando assim a aniquilação do poderio marítimo

holandês com as conseqüentes perdas em seu império nas Índias

Orientais. Em conseqüência, uma crise que vinha minando o mercado

242 Ibidem.243Para Gionanni Arrighi os ciclos sistêmicos de acumulação são definidos como compostos deuma fase de expansão material seguida por uma fase de expansão financeira (O longo século XX.São Paulo:Editora Unesp, 1997, p.90).244 Ibidem, p.6245 Ibidem, p.51.

XCV

financeiro de Amesterdam, desde 1760, roubou-lhe a posição central

na economia mundial, que passou à Grã-Bretanha.246

Para Giovanni Arrighi, a Inglaterra/Grã-Bretanha ‘tornou-se’ uma

ilha poderosa através de um árduo processo bissecular de

‘aprendizagem’ sobre como transformar uma desvantagem geopolítica

fundamental, na luta continental pelo poder diante da França e da

Espanha, numa vantagem competitiva decisiva na luta pela

supremacia comercial no mundo.247

Havia dois partidos políticos na Inglaterra do século XVIII.

“O partido Tory era conservador, enquanto opartido Whig era favorável a reformas e ao progresso;era liberal com preocupações sociais.”248

O fato é que a Inglaterra do século XVIII, politicamente foi

tolerante, em relação ao século anterior onde houve constante luta.249

Mas os nervos de muitos estavam abalados pela catástrofe política do

século anterior.250 Havia um governo monárquico, que tinha uma certa

tranqüilidade em governar com o partido Tory.251

Contudo, a fermentação social trouxe dificuldades para o

Governo, quando surgiram as turbas, que lutavam pelos seus direitos,

como a turba de Londres, em 1760, que ficou fora do controle das

autoridades:

246 Ibidem, p.163.247 Ibidem.248 BONINO et al. Luta pela Vida e Evangelização. Ibidem, p.34.249 Ibidem, p.36.250 JOY, James Richard, Ibidem, p.95.251 BONINO et al. Luta pela Vida e Evangelização. Ibidem, p.34.

XCVI

“Num certo sentido, era uma turba de transição, emvias de se tornar uma multidão radical autoconsciente;o fermento da Dissidência e da educação políticaentrava em ação, dando ao povo uma predisposiçãopara assumir a defesa das liberdades populares,desafiando as autoridades, em 'movimentos de protestosocial, onde o conflito subjacente dos pobres contra osricos’ (...) é claramente visível.”252

Esses protestos assumiam um tom republicano e revolucionário,

quando o povo dizia slogans como: Maldito seja o Rei! Maldito seja o

Governo! Malditas sejam as Justiças!253

A última grande ação de uma turba, no século XVIII, ocorreu em

14 de julho de 1791, em Birmingham, quando reformadores da classe

média comemoravam a tomada da Bastilha, na Revolução Francesa.

Naquela noite, e nos três dias seguintes, casas de cultos, lojas e

casas foram saqueadas e incendiadas, especialmente os dissidentes

ricos foram as principais vítimas.254

2.3. Contexto religioso

O surgimento do protestantismo na Inglaterra teve origem em

uma disputa do rei Henrique VIII com a Igreja de Roma. De "defensor

da fé", título que recebeu do Papa por defender o catolicismo contra os

escritos de Lutero, o rei da Inglaterra passou a ser visto como um

252 THOMPSON, Edward P, 1 v. ibidem., p.73.253 Ibidem.254 Ibidem, p.77.

XCVII

herege pela atitude de se separar da Igreja Católica e assumir a

liderança como "cabeça da Igreja" na Inglaterra.255

“O Parlamento da reforma (1532-35) estabeleceuuma forma Erastina de governo, isto é, elesproclamaram Henrique VIII como cabeça tanto da Igrejacomo do estado na Inglaterra (pelo Ato de Supremacia)e constituíram a Igreja da Inglaterra como a religiãooficial do estado e uma parte integrante da estruturapolítica.”256

Com o rei Eduardo VI, a Igreja Anglicana adotou o Livro de

Oração Comum, em 1549, e os 42 Artigos de Religião (depois

mudados para 39 Artigos).257 Em 1595, Richard Hooker escreveu Of

The Laws of Ecclesiastical Polity (Das leis do estabelecimento

Eclesiástico) promovendo uma exposição da estruturação e da

doutrina da Igreja.258

Os protestantes que não estavam vinculados à Igreja do Estado,

eram conhecidos com dissidentes ou não-conformistas (mais tarde

conhecidos como Igrejas Livres).259

Entre 1553-1558,260 a Inglaterra foi governada por Maria Tudor.

Durante esse período, muitas pessoas se exilaram e sofreram

influência do protestantismo em Genebra, Zurique e Frankfort. Após

sua morte, voltaram com um protestantismo mais radical, zeloso e que

255 WALKER, Welliston, Ibidem, p.82.256 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.4-5.257 Ibidem, p.6.258 Ibidem, p.9.259 REILY, Duncan A., Ibidem, p.12.260JONES, D.M.Lloyde. Os Puritanos. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1993, p.254.

XCVIII

tinham a Bíblia como autoridade por excelência superando toda

pretensão da Igreja de ser a intérprete ou ter a sua custódia.

Pelo desejo que tinham de purificar a Igreja passaram a ser

chamados de “puritanos.”

“Queriam banir dos ofícios o que criam ser umremanescente de supertição romanista e desejavampara cada paróquia um pregador zeloso, espiritual. Emparticular, eram contrários às vestes clericais (...)opunham-se ao ajoelhar para receber a Ceia doSenhor, dizendo que tal atitude implicava adoração dapresença física de Cristo; combatiam o uso de aliançasno casamento, tendo-o como continuação do conceitodo matrimônio como um sacramento; fazer o sinal dacruz no batismo, como superstição.”261

A partir do puritanismo e com o apoio de simpatizantes, como

professores da Universidade de Cambridge, as idéias separatistas se

desenvolveram. Um dos líderes do puritanismo foi Thomas Cartwright

(1535 ?-1603).262

Eles e seus companheiros puritanos se opunham à separação

da Igreja oficial da Inglaterra. Queriam introduzir a disciplina e as

práticas puritanas e esperar as reformas do governo. Alguns não

quiseram esperar tal mudança. Eram os separatistas, dentre os quais

se encontravam os adeptos da política congregacional.263

“Os separatistas insistiam em que os ministrosdeviam ser eleitos pela congregação de seus fieis epagos por contribuições voluntárias destes (...).

261 WALKER, Welliston, Ibidem, p.139.262 Ibidem, p.140.263 Ibidem, p.141.

XCIX

Defendiam a tolerância para todas as seitasprotestantes, repelindo a censura eclesiástica e todasas formas de jurisdição eclesiástica, em favor de umadisciplina interna às congregações, sem o aval denenhuma sanção coercitiva (...). O seu programaimplicaria em destruir a Igreja nacional, deixando acada congregação a responsabilidade de seus negóciose havendo apenas um tênue contato entre as diversascongregações (...).” 264

Mais tarde, então, surgiram os chamados, não-conformistas,

dissidentes ou Igrejas-Livres. Estes incluem os Congregacionalistas ou

Independentes, os Batistas e os Presbiterianos, por um lado, com os

Quacres e os Unitários por outro lado.265

Os Puritanos tinham uma forte influência pietista.

“Os puritanos freqüentemente portavam umapreocupação tipicamente calvinista, a promoção dapiedade individual, a qual se tornou, então,característica de muitos não-conformistas.”266

Quem não pertencia à Igreja oficial sofria os efeitos do Código

Clarendon (1661-65)267 e da Lei de Provas (1672)268, cujo objetivo era

264 HILL, Christopher. Ibidem, p.52-3.265 VIDLER, Alec R. A Igreja numa era de revolução. Lisboa: Editora Ulisséia Limitada, 1961, p.137.266 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.17.267 No reinado de Carlos II,na Inglaterra, várias “provisões visavam a por os puritanos fora daIgreja” (WALKER, Welliston, ibidem, p.155). “Pelo Primeiro Ato do Conventículo, de 1664, aspenalidades para quem comparecesse a um ofício não de acordo com o Livro de Oração efreqüentado por cinco ou mais pessoas da mesma família eram: multa, prisão e deportaçãodefinitiva. Pelo ‘Ato das Cinco Milhas’, de 1665, era proibido a quem quer que fosse ‘em ordenssacras ou pretensas ordens sacras’ ou alguém que tenha pregado num ‘conventículo’, e não hajafeito juramento condenando a resistência armada ao rei e assegurado não intentar ‘nenhumaalteração de governo quer na igreja quer no Estado morar num raio de cinco milhas de uma cidadeincorporada ou dentro da mesma distância do lugar onde exercera o ministério. A essas pessoastambém era vedado ser mestre-escola – quase a única ocupação à disposição de um ministrodeposto. Estas e outras deliberações do assim chamado ‘Código Clarendon ’não foram passíveisde estrita tolerância, mas levaram às grandes perseguições aos dissidentes” (Ibidem, p.155).

C

forçar a uniformidade religiosa na Inglaterra. Eram impedidos de

exercerem o poder político e ainda tinham que pagar dízimos para o

sustento do culto anglicano.269

A maior parte dos ingleses vivia, no século XVII, em um mundo

mágico. Para eles, Deus e o demônio intervinham diariamente - um

mundo de feiticeiras, fadas e encantamentos .270

O fato é que durante os anos de 1640 a 1650 surgiram

movimentos sectários, na Inglaterra:

“Alguns deles como os Levellers e os Diggers,formaram seitas tanto religiosas como políticas. Outrosfortemente demonstraram tendências milenáristas(relativo ao milênio), especialmente os Homens daQuinta Monarquia. Ainda outros revelaram inclinaçõesmísticas, tais como os Seekers e os Finders.”271

Dentre as seitas estavam os Ranters, grande parte dos quaiseram artesãos:

“(...) um bom número dos seus partidários foirecrutado entre artesãos itinerantes, que se viramlibertos durante a Revolução das peias quecaracterizavam o sistema de trabalho interior - homensque não tinham amarras e estavam prestes a rompercom a tradição.”272

Os Ranters não formavam, necessariamente, uma congregação

que se reunia para cultos:

268 “Todos os que tinham funções militares ou civis, com poucas exceções, vivendo dentro de trintamilhas de Londres, eram obrigados a tomar a Ceia do Senhor conforme o rito da Igreja daInglaterra ou o perder seus postos” (Ibidem, p.156).269 WALKER, Welliston, Ibidem, p.141.270 HILL, Christopher, Ibidem, p.99.271 WALKER, Welliston, Ibidem, p.160.

CI

“(...) grande população móvel e itinerante depequenos cottagers expulsos de sua terra, algunscamponeses, outros artesãos, que lentamente iamsendo atraídos pelas grandes cidades, onde se sentiamcomo estranhos, dispostos assim (às vezes) a seintegrarem em grupos religiosos que rapidamente seradicalizavam.”273

Para eles, o juízo final era coisa inventada e a vida após a morte

não existia:274

“(...) vinda de Cristo significa a vinda aos homenspor intermédio do seu espírito. Quando ele assimintegrar nos corações dos homens, estes nãoprecisarão mais de socorros tão baixos a elesministrados de fora.”275

Um Ranter, Joseph Salmon, escreveu o folheto Anti-Christ in

Man (O Anti-Cristo no homem), em 1647. Ele afirmava que não

precisamos ir a Roma, Cantuária. A luz natural reside no homem, sob

o nome de Cristo. 276

Salmon foi preso em 1650. Foi solto com a promessa de se

retratar. Foi a Barbados, onde teve dificuldades de organizar uma

congregação Anabatista, em 1682.

272 HILL, Christopher, ibidem, p.204.273 Ibidem.274 Ibidem, p.207.275 Ibidem.276 Ibidem, p.206.

CII

Jacob Baythumley publicou The Light end na Darh Sides of God

(Luzes e trevas em Deus), 1650. Para ele, o inferno e o demônio

estão dentro de nós. Não devíamos guiar–nos pela Bíblia e sim pelo

Espírito de Deus que temos em nós. 277

Em 1650, os Ranters eram conhecidos como coppinistas ou

claxtinianos. Richard Coppin foi pastor anglicano até 1648. Ele

escreveu Divine Teachings (ensinamentos divinos), em 1649. Foi a

obra mais influente junto aos Ranters. Coppin foi celebrado como

sucessor de Joseph Salmon. Em 1655, Coppin foi preso por causa de

suas pregações.278 Ele tratava como alegóricas as histórias da Queda

e do Dia do Juízo. 279

A Lei de 9 de agosto de 1650 contra as blasfêmias visava

especialmente os Ranters. As penas eram severas: seis meses de

reclusão, banimento em caso de reincidência e morte se o banido se

recusasse a deixar o pais ou retornasse clandestinamente.280 Os

blasfemadores foram tratados com rigor pelo Exército e obrigados a

deixarem suas fileiras, como Joseph Salmon.

“Já que os ranters nunca tiveram qualquerorganização, ao que sabemos, é difícil afirmar que fimlevou a massa dos fiéis depois que foram detidos seuslíderes, em 1650 e 1651.”281

277 Ibidem, p.219.278 Ibidem.279 Ibidem, p.220.280 Ibidem, p.208.281 Ibidem, p. 225.

CIII

Uma outra seita chamava-se Anabatista ou ainda Familistas ou

Membros da Família do Amor. O familismo foi difundido na Inglaterra

graças a um marceneiro itinerante de origem holandesa – Christopher

Vittels.

“A principal doutrina anabatista era que as criançasnão deviam ser batizadas. A aceitação do batismo - istoé, a recepção na Igreja – tinha de ser o ato voluntáriode um adulto. Isso claramente subvertia o conceito deuma Igreja Nacional, à qual todo inglês, toda inglesapertencia; ao invés desta, propunha a formação decongregações voluntárias por aqueles que acreditavamser os eleitos. Logicamente, um anabatista tinha deobjetar ao pagamento de dízimos, os dez por cento dosganhos de cada um que, pelos menos teoricamente,serviam para sustentar os ministros da Igreja estatal.Muitos anabatistas recusavam-se também a prestarjuramentos, pois não admitiam que uma cerimôniareligiosa servisse para finalidades judiciais e seculares;outros rejeitavam a guerra e o serviço militar (...). Onome veio a ser usado num sentido pejorativo genérico,para referir-se àqueles que, creditava-se, opunham-se`ordem social e política vigente.”282

Os familistas ou membros da Família do Amor eram seguidores

de Henry Niclaes, nascido em Munster, em 1502, que pregou que o

céu e o inferno haviam de se encontrar nesse mundo.

“Acreditavam que os homens e mulherespudessem resgatar, na terra, o estado de inocência queexistia antes da Queda (...). Punham em comum assuas propriedades, pensavam que todas as coisas seproduziam segundo a natureza, e que só o espírito deDeus, presente no fiel, pode compreender corretamenteas Escrituras.”283

282 Ibidem, p. 43-4.283 Ibidem, p.44.

CIV

Existiram ainda outras seitas, como a dos grindletonianos. Foi a

única seita inglesa que deve o seu nome a um lugar e não a uma

pessoa ou a um conjunto de crenças (...).284

A congregação de fiéis desenvolveu diversas heresias. Entre

elas, afirmavam:

“(1) Devemos confiar mais num ímpeto que nosvenha do espirito do que no próprio Verbo; (2) é pecadocrer no Verbo (...) faltando um ímpeto do espírito(3) ofilho de Deus afetado pelo poder da graça desempenhatão perfeitamente cada um dos seus deveres, que seriapecado ele pedir perdão por qualquer falta quecometesse, tanto quanto à forma como quanto ao fundo(...).”285

Mas de todos esses movimentos um dos mais notáveis produtos

das guerras civis na Inglaterra foi os Quacres, chamados também de

Sociedade dos Amigos. 286

Seu fundador foi Jorge Fox (1624-1691), que procurava

ansiosamente a realidade espiritual, o que aconteceu em 1646.

“Daí lhe veio a firme convicção de que toda criaturarecebe do Senhor uma porção de luz e que se esta ´LuzInterior´é seguida, ela seguramente leva à Luz da Vidae à verdade espiritual.”287

Contrário ao formalismo, sua crença se baseava na imediata

inspiração do Espírito Santo. Os elementos externos eram

284 Ibidem, p.94.285 Ibidem, p.95.286 WALKER, Welliston, Ibidem, p.160.287 HILL, Christopher, Ibidem, p.95.

CV

condenados. Os sacramentos são verdades interiores e espirituais. Os

títulos artificiais, como Rei, Juiz deviam ser rejeitados. A guerra é

ilícita e a escravidão incompatível.288

Eles viviam em extrema vigilância do comportamento dos

membros. Os Quacres foram perseguidos, mas o Ato de Tolerância,

em 1689, lhes deu liberdade. Fox morreu em 1691. 289

Grande importância também tiveram as Sociedades no

desenvolvimento da religiosidade na Inglaterra.

As sociedades adquiriram grande importância na Inglaterra, no

século XVII. Elas procuravam preencher o vazio espiritual do povo

inglês. Em certo sentido, elas se pareciam aos collegia pietatis de

Spener. Eram compostas, especialmente, por participantes da Igreja

oficial.

“Iniciadas por Anthony Horneck, na década de1670, as sociedades religiosas eram também formadasde pequenos grupos de leigos, que representavam umafusão quase espontânea de moralismo e devoção,zelosos de promoverem a real santidade (...).”290

As sociedades tinham a função de promover a verdadeira

santidade, mas também promoviam algumas causas de caridade,

combatendo a pobreza e o analfabetismo, por exemplo.291

288 WALKER, Welliston, Ibidem, p.160-1.289 Ibidem.290 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.21291 Ibidem, p.23.

CVI

Acreditavam que a solução para a mudança da sociedade era a

mudança individual de cada pessoa. Por essa razão promoviam o

esforço individual de uma vida de piedade.292 Não tinham preocupação

com a evangelização e crescimento.

Mais tarde, surgiram outros grupos, como a Sociedade para a

Reforma de Costumes, em 1691.

“Preocupada com a moralidade da vizinhança, estasociedade foi designada para encorajar e ajudar osmagistrados a executarem seus deveres nocumprimento das leis a respeito de ofensas morais,especialmente ´profanação e devassidão.”293

Outra sociedade surgiu - A SPCK (Sociedade para a Propagação

do Evangelho). Esta sociedade procurou atacar o que considerou a

raiz do problema: a ignorância. A SPCK procurou desenvolver canais

para a educação do povo.

“O programa da SPCK consistia principalmente emestimular o estabelecimento de escolas de caridadepara ensinar os pobres, promovendo a disseminação debibliotecas de empréstimo e visitando os presos paradar-lhes instrução e livros, além de prestar-lhesassistência religiosa.”294

Os sermões eram, geralmente, sobre as virtudes morais.

Segundo o historiador Mateo Lelièvre, a Inglaterra apresentava um

aspecto sombrio em sua religiosidade. Ele cita Montesquieu:

292 Ibidem.293 Ibidem, p.24.294 Ibidem., p.24.

CVII

“Não ha religião na Inglaterra; quatro ou cincomembros da Câmara dos Comuns freqüentam a missaou o culto oficial. Se por ventura alguém falar em Deus,todos riem.”295

Alec Vidler afirma que a Igreja Anglicana era quase sem

expressão na vida do povo:

“Conservadora sem ser teológica. Pensava-sepouco em problemas doutrinários. A religião, como seensinava na Igreja Anglicana, significava obediênciamoral ao desejo de Deus.”296

Havia homens sábios e talentosos na Igreja Anglicana, no

século XVIII, como os teólogos Guilherme Sherlock, Daniel Waterland,

o bispo Butler e o cônego Prideaux, mas seus sermões eram meras

dissertações sobre assuntos morais, que eram lidos em tons frívolos e

superficiais.297

2.4. Wesley no contexto social-político-religioso da Inglaterra

Dentro desse contexto social, político e religioso nasceu e viveu

Wesley. A questão é: até que ponto João Wesley foi um produto

desse meio questionador ?

O fato é que muito do que o metodismo praticou foi incorporado

ou adaptado por Wesley, como as Sociedades. Os próprios

antepassados de João Wesley foram influenciados pelas Sociedades,

295“Notes Su L' Anglaterre” (Monstesquieu apub Lelièvre, 1997, p.11).296 VIDLER, Alec R. Ibidem, p.36.297 LILIÈVRE, Mateo. João Wesley – Sua vida e obra. São Paulo: Editora Vida, 1997, p.16.

CVIII

especialmente pela SPCK (Sociedade para a Propagação do

Evangelho) e ele próprio ganhou livros quando foi como missionário

para a Geórgia.

“Em 1700, Samuel Wesley tentou organizar umapequena sociedade religiosa em Epworth, construídanos moldes das sociedades de Londres. Livros epanfletos foram pedidos a SPCK.”298

Os metodistas, posteriormente, deram grande ênfase à

educação dos pobres, apoio aos presos, evangelização, ênfase na

santidade, etc, fruto das influências das sociedades da época.

O próprio pai de Wesley tinha no projeto da sociedade de

Epworth a criação de escolas para os pobres, distribuição de folhetos

visando a edificação pessoal, etc.299

Wesley tinha consciência sobre o valor das sociedadesmetodista. Falava delas até num tom de supremacia:

“(...) não há sociedade religiosa nenhuma debaixodo céu, que não exige dos homens para seremadmitidos nela, senão o desejo de salvar as suasalmas. Olhai ao vosso redor, não podeis ser admitidosna Igreja ou Sociedade dos Presbiterianos, Anabatistas,se não aceitardes as mesmas opiniões deles, e vosconformardes com a mesma adoração. Só osMetodistas é que não insistem em que tenhais asmesmas opiniões, mas pensam e deixam pensar. Nemimpõem qualquer modo de adoração (...).”300

298 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem p.27.299 Ibidem, p.29.300 WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, op. cit, p.210.

CIX

As sociedades, posteriormente, foram importantes na formação e

desenvolvimento do metodismo. Foi numa sociedade que Wesley teve

sua experiência no dia 24 de maio de 1738.

“A participação nas sociedades era aberta a todosquantos desejassem fugir da ira vindoura. A Sociedadereunia-se semanalmente, sendo que a oração, aexortação, e o cuidado mútuo eram os principaiscomponentes da vida comum. O alvo principal eraauxiliarem-se mutuamente a alcançar a sua própriasalvação.”301

Em 1743, Wesley criou as Regras Gerais das Sociedades

Unidas302 para controlar as atividades das sociedades. A escolha da

sociedade para o movimento metodista foi acertada.

“Em 1768, o Metodismo possuía quarenta circuitose 27.341 membros. Dez anos mais tarde, havia crescidopara sessenta circuitos e 40.089 membros. Em 1798, oMetodismo tinha 149 circuitos com 101.712membros.”303

Quando Wesley iniciou seu ministério, as tendências no

pensamento e na vida religiosa na Inglaterra, no início do XVIII, eram

preocupantes, segundo o historiador Walker Welliston:

301 HARPER, Steve, Ibidem, p.66.302 O motivo para Wesley organizar as sociedades era que os convertidos precisam ganharalimento imediato. Para ele, a pregação não poderia produzir espiritualidade madura e muitos seperdiam ou ficavam adormecidos. (Ibidem, p.64-65). Steve Harper cita livro de Samuel Emerick –Spiritual Renewal for Methodism (Nashville:Methodist Evangelistic Material, 1958), p.2 – ondeWesley diz: “Eu estava convencido do que nunca, de que pregar como um apóstolo, sem ajuntaros que são despertados, e sem treiná-los os caminhos de Deus, era como conceber filhos para oassassino. Quanta pregação não têm havido todos estes vinte anos através de Pembrokeshire!Mas nenhuma sociedade regular, nenhuma disciplina, nenhuma ordem ou conexão; e o resultado éque nove em cada dez despertos estão agora mais adormecidos do que nunca” (HARPER, Steve,Ibidem, p.65).303 Ibidem.p.65.

CX

“O racionalismo penetra todas as classes depensadores religiosos, de modo que mesmo entre osortodoxos o cristianismo se assemelhava mais a umsistema de moralidade apoiado por sanções divinas.”304

Em relação à política, Wesley foi conservador, fiel ao Rei. Na

tentativa de restauração da dinastia Stuart305, houve um episódio

envolvendo os irmãos Wesley. Rumores indicavam uma ligação deles

com o pretendente à coroa, o Príncipe Charles, o Belo, que estava na

França. Eram suspeitos de serem Jacobitas,306 partidários de Stuart.

304 WALKER, Welliston, Ibidem, p.203.305 Segundo Heitzenhater, “a restauração da monarquia sob Charles II (convidado a voltar para otrono pelo próprio Parlamento) significava o restabelecimento também da Igreja. A monarquia dosStuart, considerando-se autorizada por ‘direito divino’, seguiu o ritual tradicional de auto-autorização através de uma série de atos do Parlamento (..) (HEITZENHATER, Richard P., ibidemp.13). Charles I havia sido executado “diante de uma multidão ávida por vingança, Charles foi aoencontro da morte com tal graça e dignidade que, dez anos depois, após uma década semmonarquia e sem uma Igreja estabelecida, mesmo as forças revolucionárias que formavam oParlamento reconheceram que a Inglaterra estaria melhor com a antiga forma degoverno do quenascondições precárias, tanto políticas, como religiosas, que Oliver Cromwell havia tentato dirigir(..) ( Ibidem, p.13). “A execução de Charles I, em 1649, chamada, nos livros de orações posteriroesde ‘o Martírio do abençoado Rei Charles o Primeiro’, cuja dignidade e conduta real naquelaocasião ajudou, mais tarde, a reforçar a perspectiva de direito divino dos defensores dos Stuart”(Ïbidem, p.14).306 A expressão Jacobitas vem de Henry Jacob (1553-1625). Ele foi pastor em Oxford, depois foipara a Holanda. Em 1600 foi pastor de uma igreja composta de exilados ingleses. Em 1604,escreveu Razões extraídas da Palavra de Deus e dos melhores testemunhos humanos queprovam a necessidade de reformar a nossa Inglaterra . Em 1610, publicou Divino Princípio e aInstituição da Verdadeira, Visível e Ministerial Igreja de Cristo. Em 1611, Jacob publicou outro livroonde afirma que ´o governo da Igreja sempre deve ser com o consentimento do povo´ (JONES,D.M.Lloyd, Os Puritanos, Ibidem, p.159-180). Juntamente com outros teólogos “formularam osprincípios da posição independente ou congregacional não separatista, da qual proveio o modernocongregacionalismo. Empenhados em evitar a separação da Igreja da Inglaterra, trabalharam afavor de um sistema nacional de igrejas congregacionais estabelecidas” (WALKER, Welliston,Ibidem, p.146). Henry fundou uma igreja em Southwark, 1616, a primeira congregacional que aindaexiste Ibid., p.146). Os partidários de James, que fugiu para a frança onde esperava aoportunidade de voltar ao trono inglês, passaram a ser chamados de ”Jacobitas”. Depois de 1688,“os atos parlamentares tradicionais, se seguiam depois de uma sucessão real, forçaram osseguidores da linha dos Stuart a uma decisão difícil. Os bispo e outros líderes da Igreja queapoiavam James (e que foram chamados de ‘Jacobitas’), mas que deviam assinar um voto defidelidade ao novo monarca, de acordo com o Ato de Supremacia, tiveram que escolher entre suaconsciência e seu benefício eclesiástico. Aqueles que foram incapazes de assinar foram chamadosde ‘não-jurados’ (nonjurors) e perderam suas posições na Igreja e no governo. Em geral, os não-jurados representavam o maior segmento de oposição à monarquia de William e Mary(HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.16)”.

CXI

E isso significava ser perseguido e agredido violentamente por parte

do povo.307

Segundo Glen Williamson, Susana Wesley era uma jacobita.

Provavelmente, esse fato levava Wesley a ser identificado como

partidário dos Stuarts:

“Susana, cujas simpatias sempre se voltaram paraos Stuarts, suplantados por Guilherme e sua rainha em1688, era uma jacobita confirmada. Para ela, o princípede Orange era um usurpador da coroa.” 308

Carlos Wesley foi acusado de orar para que o Senhor trouxesse

de volta o Príncipe banido. Ele foi inocentado pela justiça e aproveitou

para demonstrar sua lealdade à coroa. 309

“Wesley achou melhor escrever ao rei, em nomedos metodistas, uma mensagem de lealdade (...).”310

Quando o príncipe Charles invadiu a Escócia, em 1745, Wesley

foi para Newcastle para ficar junto ao seu povo.

“(...) Em contato com o prefeito e afirmou seu lealapoio, declarando com clareza: 'Eu exorto todos os queme ouvem a fazerem o mesmo, e em suas diversassituações a se manifestarem como súditos leais que,enquanto temerem a Deus, não poderão honrar senão aorei.”311

307 JOY, James Richard, Ibidem, p.95.308 WILLIAMSON, Glen. Susana. Miami, EUA: Editora Vida, 1988, p.144.309 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.151.310 Ibidem.311 Ibidem, p.161.

CXII

Samuel e Susana Wesley, pais de João e Carlos Wesley, foram

leais à coroa inglesa, portanto, apoiavam o partido Tory. Wesley

seguiu aos seus pais,312 embora a sua consciência social o levasse à

atitudes contrárias ao partido Tory em relação à liberdade religiosa, à

guerra, ao contrabando, à escravidão, à produção e comércio de

bebidas.313

Apesar de citar o metodismo como um grupo religioso que serviu

de base para o surgimento de sentimentos de esperança e de

solidariedade entre os operários, Edward Thompson coloca Wesley

como muito conservador em questões políticas:

“A certo nível, pode-se reconhecer sem a menordificuldade o caráter reacionário – na verdade,odiosamente subserviente – do wesleyanismo oficial.As poucas intervenções políticas ativas de Wesleyincluíram panfletos contra o dr. Price e os colonosamericanos. Raramente deixou passar a oportunidadede impor a seus seguidores as doutrinas de submissão(...).”314

Contudo, Wesley foi sensível às necessidades dos excluídos e

questionador da situação social do povo. Em 1759, ele comentou

sobre a difícil situação dos presos que estavam em Knowle:

“Andei a pé até Knowle, boa milha distante deBristol, para visitar os prisioneiros franceses. Mais de mile cem, segundo fomos avisados, estavam reunidos numpequeno espaço, sem cousa alguma em que deitar,senão colchões de palha, e sem cobertores; para secobrirem só tinham alguns trapos, quer de dia quer denoite, portanto, morreram como se fossem ovelhas

312 Ibidem.313 Ibidem, p.37.314 THOMPSON, Edward P, 1v. ibidem, p.42.

CXIII

atacadas de morrinha. Fiquei horrorizado; à tarde pregueisobre Êxodo 23:9 ´Não oprimirás o peregrino; pois vósconheceis o coração do peregrino, visto que fostesperegrinos na terra do Egito.” 315

Em seu tempo, aumentaram as injustiças sociais e o

desemprego. Em seu diário, João Wesley comenta, em 1772, sobre

um grande desemprego como nunca se tinha visto antes:

“Descobrindo que muita gente estava sememprego, e conseqüentemente em necessidades, porcausa de uma crise no comércio, crise tão grande comonunca houvera igual lembrança do homem (...).”316

Mesmo tendo sofrido com os motins, quando foi perseguido por

questões religiosas,317 Wesley elogiou a ação de uma turba por agir

sem violência, em James Town:

“(...) estivera em atividade durante todo o dia; massua preocupação era apenas com os açambarcadoresdo mercado, que tinham comprado trigo em toda parte,para matar de fome os pobres e carregar um navioholandês, que estava no cais; mas a turba trouxe-o todode volta para o mercado e vendeu-o pelos comerciantesao preço comum. E isso fizeram com toda calma ecompostura imagináveis, sem atacar nem ferirninguém.”318

A aceitação das mensagens de Wesley e de seus companheiros,

especialmente pela classe mais pobre, se deu porque elas atingiram

suas necessidades:

315 WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley. Ibidem, p.108-9.316 Ibidem, p.110.317Os motins contra Wesley e os metodistas foram, muitas vezes, incentivados por párocos.Contudo, em 1789, quando João Wesley voltou a Talmouth, depois de quarenta anos, aondechegou a ser preso por um motim imenso, agora todos olhavam para ele com amor e bondade(Trechos do Diário de João Wesley. Ibidem, p.56-63).

CXIV

“Foi esta combinação de piedade e misericórdiaque deu à espiritualidade wesleyana a sua vitalidade eministério. Essa combinação impediu que asSociedades Unidas se tornassem introvertidas e auto-suficientes. Wesley fez do mundo a sua paróquia edesejava que os seus seguidores fizessem omesmo.”319

Steve Harper, por isso, define a espiritualidade wesleyana como

espiritualidade social.320 Ela surgiu da ênfase de Wesley nos Atos de

Piedade e Obras de Misericórdia.

3- PERFIL BIOGRÁFICO DE JOÃO WESLEY

318 THOMPSON, Edward P, 1 v. Ibidem, p.67.319 HARPER,Steve, Ibidem, p.78.320 Ibidem, p.79

CXV

“Dos meus dez anos para treze ou catorze tivepouco para comer, mui pouco além de pão e água” . 321

João Wesley

Dentro desta tese a importância de João Wesley é fundamental,

pois foi ele o organizador do metodismo, na Inglaterra, no século XVIII.

Por isso a necessidade de conhecer sua origem, formação e o que o

moveu a participar de um movimento que incomodou a Igreja

Anglicana, teve sérias controvérsias com o calvinismo, participou na

formação da classe operária inglesa e foi ele o líder máximo de um

movimento espiritual, que é visto hoje por diversas pessoas como

paradigma para os avivamentos contemporâneos.

Vamos, por isso, conhecer a sua origem, formação, crises e

desenvolvimento, dentro dos anos turbulentos da Revolução Industrial

e Religiosa na Inglaterra, quando surgiram diversos movimentos,

inclusive o metodismo liderado por João Wesley.

3.1. Seu ambiente familiar

João Wesley nasceu no dia 17 de julho de 1703 e era filho de

Susana e Samuel Wesley, pastor da Igreja Anglicana.

CXVI

“Os pais dos irmãos Wesley322 eram descendentesde não-conformistas, Seus avós estavam entre osclérigos expulsos em 1662. O pai, Samuel Wesley(1662-1735), preferira o ministério da Igrejaestabelecida e fora, desde 1696 até a morte, pároco daigreja campesina de Epworth. Homem de sinceratendência religiosa, no entanto era pouco prático.Escreveu a Vida de Cristo em verso e um comentárioao livro de Jó. A mãe, Suzana Annesley, era mulher denotável fortaleza de caráter, sendo, como seu marido,anglicana devota. Os filhos tinham muito dos pais, maistalvez da força materna. Num lar de dezenove filhos,dos quais oito morreram na infância, a regra era dotrabalho duro e de estrita economia.”323

Susana Wesley é citada por alguns historiadores, entre eles,

Duncan Alexander Reily, como a "mãe do Metodismo",324 pois através

dos seus métodos disciplinou os seus filhos e filhas e sua atuação

junto à Wesley foi determinante em sua vida espiritual.

Susana marcou profundamente a vida de seus filhos. Ela tinha

consciência de sua responsabilidade. Muitas vezes, teve que tomar

decisão sozinha pela ausência de seu esposo, Samuel Wesley.

Em carta escrita a seu esposo, em 6 de fevereiro de 1711,

Susana comenta sobre sua função e responsabilidade:

“Como sou mulher, assim também sou dona denumerosa família; e ainda que a maiorresponsabilidade, pelas almas deste lar, cai sobre você,contudo, na sua ausência não deixo de considerar cadaalma que você deixa aqui sob meu cuidado, como umtalento entregue a mim, pelo grande Senhor de todas asfamílias, tanto no céu como na terra; e se eu for infiel a

321 LILIÈVRE, Mateo, Ibidem, p.168-9.322Os irmãos Wesley aqui citados se referem a João e Carlos Wesley por serem líderes domovimento metodista, na Inglaterra, no século XVIII.323 WALKER, Welliston, ibidem, p.205.324 REILY, Duncan Alexander. Metodismo brasileiro e wesleyano, Ibidem, p.49.

CXVII

Deus ou a você, pela negligência de melhorar estestalentos, como posso eu responder a Ele, quando Eleexigir contas da minha mordomia?”325

Wesley um dia solicitou a sua mãe que lhe escrevesse sobre as

principais regras que ela usou na educação familiar. Susana lhe

respondeu, em 24 de julho de 1732, dizendo que ele poderia dispor

das regras, se as julgasse proveitosas.326 Entre as diversas regras

utilizadas por Susana Wesley com os filhos e filhas, estão:

“As crianças tinham de conformar-se a certométodo de viver, em certas coisas compreensíveis,desde o nascimento; tais como, vestir, despir, mudançade fralda, etc.”327

“Quando chegavam à idade de um ano (e algumasantes dito), eram ensinadas a temer a vara, e a chorarbrandamente.”328

“Uma vez crescidas e mais fortes, eram limitadas atrês refeições do dia.”329

“Às dezoito horas, logo que terminasse o cultodoméstico, jantavam; às dezenove horas a empregadadava banho nelas; e, começando com a mais nova, elamudava a roupa delas e preparava todas para a camaàs vinte horas.”330

“A fim de formar a mente das crianças, a primeiracoisa que fazer é vencer-lhes a vontade, e traze-las aoponto de obedecer.”331

325 WESLEY, João, Ibidem, p.222.326 WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, Ibidem, p.225.327 Ibidem.328 Ibidem, p.226.329 Ibidem.330 Ibidem, p.227.331 Ibidem.

CXVIII

“`As crianças do nosso lar, logo que podiam falar,era ensinado o ´Pai Nosso´ , que tinham de repetir nahora de deitar e levantar.”332

“Muito cedo na sua vida, meus filhos aprenderamdistinguir ente o domingo e os outros dias dasemana.”333

“Logo aprenderam que não seriam atendidas segritassem por alguma coisa, e tinham que falar comdelicadeza quando pediam alguma coisa.”334

“Não se ensinava a ler antes dos cinco anos deidade, mas a Kezzy, por exceção se tentou maiscedo.”335

“Sair do lugar, ou sair da sala não lhes erapermitido, sem boa razão; correr no jardim ou na rua,sem permissão, era considerado falta grave.”336

“Que nenhuma menina seria ensinada a trabalharantes de aprender a ler bem.”337

Até os quatro anos de idade, Wesley conviveu apenas com umas

quatro ou cinco irmãs, pois somente depois nasceria Carlos Wesley.338

Quando era pequeno, aos cinco anos de idade, Wesley foi salvo

de um incêndio, em 9 de fevereiro de 1709, e ficou conhecido como

"tição tirado do fogo.”339 A infância de Wesley teve momentos

difíceis com algumas perdas:

332 Ibidem, p.229.333 Ibidem.334 Ibidem.335 Ibidem, p.230.336 Ibidem, p.231.337 Ibidem, p.234.338 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.26.339 LILIÈVRE, Mateo, Ibidem, p.28.

CXIX

“Mais de uma vez, a pobreza instalou-se tal qualuma hóspede importuna naquele lar. Seu pai morreuendividado, a despeito dos prodígios econômicosrealizados por sua digna esposa. A morte visitou aquelafamília com freqüência, deixando lembrançasdolorosas. A casa pastoral foi atingida duas vezes porum incêndio criminos”o.340

Quando tinha nove anos de idade, Wesley teve varíola. Ele

suportou os sofrimentos com paciência, o que levou sua mãe a

escrever ao marido, que estava em Londres, e dizer:

“João tem agüentado sua enfermidade como umhomem e um verdadeiro cristão, sem proferir uma únicaqueixa.”341

3.2. Sua formação escolar

Por volta de 1770, Samuel e Susana Wesley enviaram seus filhos

para receberem uma educação mais formal em escolas excelentes.

Samuel e Carlos foram para Westminster e João Wesley para

Charterhouse.

Wesley comentou, mais tarde, sobre suas dificuldades na escola

longe de casa:

“Dos meus dez anos para treze ou catorze tivepouco para comer, mui pouco além de pão e água.”342

340 Ibidem, p.27.341 Ibidem, p.29.342 Ibidem, p.168-9.

CXX

Essa fase aconteceu, no período em que ele estudava fora de

casa, entre 1714-1719. Foi graças ao pedido do seu pai e ao

patrocínio do Duque de Buckingham,343 então Lord Chumberlain da

casa real, que Wesley pôde ingressar como aluno interno em

Charterhouse, Londres, em 28 de janeiro de 1714.344

“Essa escola fundada em 1611 por Thomas Sutton,ocupava edifícios antigos que formavam parte de umantigo mosteiro e acomodava cerca de 100 rapazes. Osalunos mais jovens eram brutal e tiranicamentemaltratado pelos mais adiantados e forçado a fazer todaa sorte de trabalhos manuais e serviçoshumilhantes.”345

Uma carta de seu irmão Samuel, professor na Escola

Westminister, aos pais revela como João Wesley se portava:

“(...) João é rapaz corajoso, e aprende o hebraicotão depressa como pode.”346

Em 1720, João Wesley foi para a Universidade, em Oxford,

graças, mais uma vez, a uma bolsa concedida, agora, pela escola:

“Anualmente, a escola de Charterhouse enviavaquatro de seus melhores estudantes para aUniversidade com uma bolsa de quarenta libras,equivalente a 800 dólares.”347

343 Historiadores como Duncan Reily, José Gonçalves Salvador, Richard Heitzanhater, JamesRichard Joy e teólogos como Sante Uberto Barbieri não comentam sobre este apoio financeiro aosestudos de Wesley.344 JOY, James Richard, Ibidem, p.31.345 Ibidem, p. 42.346 Ibidem.347 Ibidem, p.45-6.

CXXI

Wesley estudava no Christ Church College, um dos melhores

estabelecimentos de cultura superior em todos os internatos que

formavam a Universidade de Oxford.348

Uma homenagem da escola a Wesley, em 1722, revela como ele

era visto pela comunidade estudantil:

“Era um dos de nossa companhiaWesley, João Wesley.Qual profeta incansável, longos anos,Intimorato sempre, e sem canseiras,Trabalhando passou, com alegria,Servindo a Deus com fé, sem desenganos,Em múltiplas carreiras.”349

Um companheiro da escola assim descreveu Wesley:

“(...) sensato e perspicaz, um jovem do maisapurado gosto pelos estudos clássicos e imbuído dossentimentos mais nobres e liberais.”350

A carreira de Wesley prosseguia brilhante. Em 1724, João Wesley

se formou bacharel; no ano seguinte, foi ordenado diácono da Igreja

Anglicana.351

Em março de 1726, recebeu sua toga de honra, do “Lincoln

College”, da Universidade de Oxford. Esse título de “Fellow”, além do

valor honorífico, dava-lhe uma posição de independência.352

348 LILIÈVRE, Mateo, Ibidem, p. 32.349 JOY, James Richard., Ibidem, p.45.350 Ibidem, p.31.351 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p. 21, 31-7.352 Ibidem, p. 35.

CXXII

“A Universidade de Oxford, no início do séculodezoito, refletia muito dos problemas que caracterizama sociedade inglesa como um todo. Embora umobservador contemporâneo sentisse que Oxford fosse´um lugar de boas maneiras, assim como deaprendizagem.”353

Como ponto fraco, havia uma lassidão nas atividades acadêmicas

e espirituais dentro da Universidade.354

“Voltando a Oxford, em setembro de 1726, Wesleyrecebeu novas distinções acadêmicas. Foi reconhecidocomo literato de excelente gosto, muito versado nasliteraturas antigas e de suma habilidade nos debatesfilosóficos. Em novembro do mesmo ano seussuperiores demonstraram confiança nele, ao chamá-lopara ocupar a cátedra de literatura grega e presidir osdebates políticos dos estudantes.”355

Neste mesmo ano, aos 23 anos, Wesley recebeu o grau de

mestre em artes ou humanidades, depois de apresentar três teses em

latim.356

Entre os anos de 1727–1729, Wesley atuou como coadjutor de

seu pai. Foi ordenado presbítero no dia 22 de setembro de 1728.357

Carlos, em 1729, deu início a algumas atividades religiosas com

alguns colegas da Universidade de Oxford, cujo grupo seria conhecido

depois como Clube Santo e metodistas.358

353 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.31.354 Ibidem.355 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p. 35.356 Ibidem, p.36.357 WALKER, Welliston., Ibidem, 206.358 HEITZENHATER, Richard, p. 41.

CXXIII

“A palavra de Carlos, em maio de 1729, de quehavia convencido um colega a se juntar a ele numestudo sério e a freqüentar semanalmente a Igreja,encorajou João a visitar Oxford, onde ele chegou no diade seu aniversário, 17 de junho. Durante os dois mesesseguintes, João, Carlos, o amigo de Carlos, WilliamMorgan (e ocasionalmente seu velho amigo BobKirkham), animavam um ao outro em suas atividadesacadêmicas e religiosas, reunindo-se ocasionalmentepara o estudo e indo à igreja todas as semanas. Odiário de João mostra que essas reuniões entre amigos,durante essas dez semanas que ele passou em Oxfordno verão de 1729, não eram regulares; mas assementes de um modelo organizacional começaram agerminar durante esse período.”359

O começo formal das atividades regulares do Clube Santo foi no

fim do inverno de 1929/30, quando Bob Kirklam deixou sua

sociedade e começou a encontrar-se com Wesley e Morgan

regularmente.360

Em 1729, Wesley se tornou o líder do “Clube Santo”, organizado

por Carlos Wesley, Robert Kirlham e William Morgan.361 O grupo

ampliou sua visão e atividades passando a visitar aos presos. Seus

estudos e vida regrada levaram os estudantes a chamá-los de

metodistas. Estavam, porém, longe ainda do que viria a ser o

metodismo.362

3.3. Sua vida missionária e o contato com os moravianos

“Fui à América para converter índios, porém, oh!Quem me converterá?”

359 Ibidem, p.38.360 Ibidem, p.39.361 Ibidem, p.38.362 Ibidem.

CXXIV

João Wesley

Geórgia foi fundada no dia nove de junho de 1732 quando o rei

Jorge II concedeu uma Carta Constitucional para a fundação da nova

colônia norte-americana. Esse território deve a sua fundação a

Oglethorpe, que havia sido ajudante-militar do príncipe Eugênio.363

“Naquela colônia nascente faltavam pastores quenão somente pregassem aos colonos, como tambémestivessem prontos para evangelizar os índios e osescravos negros. Oglethorpe anelava tanto por issoque, tendo ouvido Wesley pregar, rogou-lhe que seencarregasse dessa missão.”364

João Wesley foi encaminhado à Geórgia como missionário

voluntário, sem pagamento ou uma nomeação especifica.365 Partiram

no dia 14 de outubro de 1735366 e em 6 de fevereiro de 1736 os irmãos

Wesley chegaram à Geórgia como missionários. Essa viagem teve

grande influência sobre a sua vida, pois teve a oportunidade de

encontrar-se com os morávios que tiveram grande influência sobre sua

vida.

“Um de seus bispos, David Nitshemann,acompanhava-os; era um ancião de 70 anos de idade eamável, embora fosse muito reservado. Wesley e seuscompanheiros começaram imediatamente uma amizadecom aqueles excelentes cristãos, que lhes

363 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p.51.364 Ibidem, p.57.365A motivação básica de Wesley era a busca de sua salvação (REILY, DuncanAlexander. Metodismo brasileiro e wesleyano, Ibidem, p.85).366 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p.52.

CXXV

evidenciaram um tipo de cristianismo superior àqueleque tinham conhecido até então.”367

A travessia foi longa e com tempestades. A angústia tomava

conta de todos, inclusive de Wesley, que temeu a morte. Somente os

moravianos tinham atitude tranqüila e serena. O que mais

surpreendeu Wesley foi a atitude deles em face da morte, quando

ondas gigantescas vieram sobre o navio. Somente os morávios

permaneceram calmos e continuaram a cantar um hino.368 E quando

ele perguntou aos morávios, se eles não estavam espantados:

“‘Não, senhor,’ respondeu o morávio comsingeleza, ‘nossas mulheres e crianças não temem amorte’. Wesley passou a entender que ainda não tinhaa fé suficiente como a deles.”369

João e Carlos Wesley desejavam evangelizar os índios e

acreditavam que esse trabalho iria auxilia-los no progresso

espiritual.370

Duncan Alexander Reily argumenta que há evidências de que eles

desejavam mesmo buscar a salvação de suas almas.371 Eles

consideravam que poderiam se tornar melhores cristãos participando

na evangelização dos índios. 372

367 Idem, p.53.368 Ibidem, p.54.369 Ibidem.370 REILY, Duncan Alexander. Metodismo brasileiro e wesleyano, Ibidem, p.85.371 Ibidem.372 Ibidem.

CXXVI

Em maio de 1736, Wesley fundou em Savannah uma pequena

sociedade para cultivo da vida religiosa.

“Wesley procurou agrupar as almas piedosas queencontrava (da mesma maneira que fazia em Oxford),em pequenas sociedades, as quais deviam reunir-seuma ou duas vezes por semana, a fim de seexaminarem, instruírem e exortarem mutuamente.Essas reuniões, que mais tarde desempenharam umpapel tão importante na organização do Metodismo,surgiram das necessidades de sua obra missionária.”373

Mas nem tudo correu bem para os Wesley. Ambos acabaram

voltando frustrados para a Inglaterra.

3.4. Sua vida sentimental

Carlos Wesley voltou logo à Inglaterra, em 1736, desgostoso e

doente. O término do relacionamento sentimental de João Wesley com

Sophy Hopkey e o casamento apressado dela com Williamson foi

desastroso para a vida do homem e pároco João Wesley.374

A descoberta de que ela tinha um comportamento secreto duplo e

a sua falta de penitência, levou Wesley a excluí-la da comunhão. Isso

foi considerado uma afronta por William Williamson, marido de Sophy,

373 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p.57.374 Wesley não teve sorte na vida sentimental. Mais tarde, ele se casaria e seu casamentoseria um desastre acabando cedo, apesar dele ter acreditado o contrário, por isso disse:“Tendo recebido resposta clara do Sr. Perronet, fiquei convencido de que devia casar. Pormuitos anos fiquei solteiro, julgando que podia ser mais útil como solteiro do que comocasado. E louvo a Deus que me ajudou a viver assim. Agora estou plenamenteconvencido de qu%, nas minhas circunstâncias atuais, poderei ser mais útil no estado decasado. Sob esta convicção clara e pelo conselho de amigos, casei-me, há poucos dias“(WESLEY, João. Coletânea da Teologia de João Wesley, ibidem, p.212).

CXXVII

que fez uma série de acusações ao grande júri de Savannah contra

Wesley.375

Thomas Causton, tutor de Sophy e magistrado-chefe formou um

júri e indiciou Wesley em dez acusações. Para ele, Wesley era um

mau caráter:

“(...) um hipócrita malicioso, um sedutor, um traidorde minha confiança, um egrégio mentiroso edissimulador, empenhado em afastar de mulherescasadas as afeições por seus maridos, um beberrão, oproprietário de um bordel, admitindo prostituas (...).”376

Wesley deixou secretamente a colônia, em dezembro de 1737,

com amargura e desapontamento, antes que qualquer julgamento

fosse realizado.377

Alguns historiadores acham difícil entender como Wesley teve

tanta inabilidade para desenvolver um relacionamento duradouro com

uma mulher.378 Richard Heitzenhater acredita que o fato de Wesley ter

vivido até os quatro anos de idade, ou seja seus primeiros anos de

vida, somente com suas irmãs, pois só havia ainda ele de menino em

casa, ajudou Wesley, mais tarde, a ter uma disposição de aceitar as

habilidades da liderança das mulheres permitindo que elas

pregassem.379 No relacionamento sentimental não aconteceu o

mesmo.

375HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.69-0.376 Ibidem, p. 69-0.377 Ibidem, p.71.378 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.26.379 Ibidem.

CXXVIII

Wesley chegou a defender o celibato ao escrever sobre

Pensamentos de uma vida de solteiro onde ele exalta os exemplos de

Jesus e de Paulo.380

Um dia ele mudou de opinião e se interessou por Graça Murray,

uma viúva que era governanta em um orfanato. Ela fez promessa a

Wesley, mas quando ele fez uma de suas viagens soube que Graça

havia se interessado por João Bennett, um dos pregadores, o que foi

um duro golpe para Wesley.381

Em 1751, foi apresentado a uma outra viúva, Sra.Vazeille, mãe

de quatro filhos, que parecia ter ótimas qualidades.382

Wesley foi precipitado no casamento com Molly Vazeille. Em 2 de

fevereiro de 1751, com 48 anos, argumentou a razão de se casar:

“Por muitos anos fiquei solteiro, julgando que podiaser mais útil como solteiro do que como casado. E louvoa Deus que me ajudou a viver assim. Agora estouplenamente convencido de que, nas minhascircunstâncias atuais, poderei ser mais útil no estado decasado.”383

Mas Wesley passou a ter sérias dificuldades com sua esposa, que

era muito ciumenta.

380 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p.194.381 Ibidem, p.195.382 Ibidem.383 WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, Ibidem, p.212.

CXXIX

“Todas as qualidades dela eram, com efeito,eclipsadas por um grande defeito: era muito ciumenta.Incapaz de compreender a natureza e elevação docaráter de seu esposo, nem a pureza de seus motivos,deixou-se levar por sua imaginação desviada atéconceber as suspeitas mais absurdas e afrontosas (...)Dominadas por idéias preconcebidas, algumas vezes oseguia até 100 milhas de distância para vê-lo entrar emuma cidade e descobrir que tipo de companhia elelevava pelo caminho afora.”384

O casamento terminou em 23 de janeiro de 1771, quando ela

deixou a casa. Wesley tinha 68 anos. Apesar de amá-la, declarou:

“Hoje, não sei porque motivo, ela saiu paraNewcastle com a intenção de nunca mais voltar. Noneam reliqui; nom dismasi; non recabo.” 385

Depois desta experiência sentimental, Wesley permaneceu só até

o fim de sua vida.

3.5. Sua experiência espiritual

Wesley saiu de Savannah, dia 27 de novembro de 1737, depois

do seu fracasso sentimental e espiritual, e chegou à Inglaterra no dia

1º de fevereiro de 1738.386

Todo esse episódio, junto com a experiência no navio com as

tempestades, revelou a Wesley, que ele precisava de uma profunda

mudança espiritual. Em diversas ocasiões, ele revelou a fraqueza do

seu coração. Ele tinha medo de morrer:

384 Ibidem, p.195-6.385 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p.197.386 JOY, James Richard , op cit, p.71.

CXXX

“Altas horas da noite, acordei-me com o rugido dovento, fiquei assustado; tal susto me revelou que eutinha medo de morrer.”387

Ele não tinha a certeza de sua salvação. Quando esteve na

América, um dos moravianos lhe perguntou:

“Tens o testemunho dentro de ti mesmo?Testemunha o Espírito Santo com o teu espírito de queés filho de Deus?” 388

João Wesley não soube responder. Quando foi perguntado

novamente, se ele conhecia a Jesus Cristo e se tinha a certeza da

Salvação, mais uma vez Wesley hesitou.389

Wesley vivia em meio aos moravianos onde o radicalismo era

explorado. Ele chegou a afirmar que esteve perto de cair em trevas:

“Chego a pensar que estou mais perto daquelemistério de Satanás (...); fiquei tão perto que,provavelmente, teria caído nele, se não fosse a grandemercê de Deus.”390

Entre os problemas colocados por Casiano Floristán e Juan José

Tamayo é o imediatismo com que se aspira a experiência.391 A

exigência espiritual de Wesley o levaria a buscar a sua experiência

com Deus de uma forma quase obsessiva.

387 WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, Ibidem, p. 15.388 Ibidem, p. 16.389 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p.55.390 WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, ibidem, p. 19-0.391 FLORISTÁN, Casiano; TAMAYO, Juan José [ed]. Conceptos fundamentales delcristiniasmo. Apostila de Colóquios, Universidade Metodista de São Paulo, [s.d], p. 494.

CXXXI

Alguns estudiosos interpretam que Wesley não se considerava

um convertido:

“Fui à América para converter índios; porém, oh!quem me converterá?” 392

Como Wesley tinha se proposto a buscar a santidade, ele era

muito exigente consigo mesmo. Cinqüenta anos mais tarde, Wesley

reconheceria o engano dessa sua afirmação. A influência Morávia393 o

havia levado a entender que antes ele tinha a fé de um servo e não de

um filho. O servo buscava a fé, enquanto o filho tinha a segurança da

fé. Ambos buscavam a Salvação.394

James Fowler nos ajuda a entender um pouco mais o que houve

com Wesley. Ele afirma que a fé tem estágios. Segundo ele, são seis

estágios: Fé Intuitivo-Projectiva; Fé Mítico-Literal; Fé Sintético-

Convencional; Fé Individuativo-Reflexiva; Fé Conjuntiva e Fé

Universalizante.395 Wesley estaria, então, dentro da passagem de um

estágio para outro. O mais provável é que ele estivesse passando

para o estágio da Fé Conjuntiva:

“A fé conjuntiva do estágio 5 implica a integração,no eu e na própria perspectiva de muita coisa que foisuprimida ou não-reconhecida no interesse daautocerteza e da consciente adaptação cognitiva eafetiva à realidade, próprias do estágio 4. Este estágiodesenvolve uma Segunda ‘Segunda ingenuidade’(Ricouer), na qual o poder simbólico é reunido a

392 WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, Ibidem, p. 20.393 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.77.394Ibidem, p.303.395 FOWLER, James. Estágios da Fé. Editora Sinodal. [s.d.], p.5.

CXXXII

significados conceptuais. Aqui também deve haver umanova retomada e reconsideração do passado dapessoa. Deve haver uma abertura às vozes do ´eumais profundo’ da pessoa. É importante observar queisto implica um reconhecimento do inconsciente social –os mitos, imagens ideais e preconceitos profundamenteembutidos no sistema do eu em virtude da educação dapessoa dentro de determinada classe social, tradiçãoreligiosa, grupos étnicos ou coisa semelhante”.396

Nesta época, para Wesley, a esperança de salvação estava

firmada em sua sinceridade de ter uma vida santa. Desde 1725, ele

havia iniciado a busca da perfeição:

“Em 1725, encontrei com ´Regras de Santo Viver eMorrer´ (Rules of Holy Libing and Dyin), pelo BispoTaylor. Foquei impressionado especialmente com oCapítulo sobre Intenção; e senti a intenção fixa deentregar-me a Deus. Nisto fiquei confirmado poucosdias depois pelo Modelo Cristão, e desejava entregar-me a Deus de todo o coração. Isto é exatamente o queentendo agora pela Perfeição. Eu a busquei desdeaquela hora.” 397

Ele publicou, em 1733, Coleção de modelos de oração para

todos os dias da semana.398 Portanto, Wesley era convertido no

sentido que hoje consideramos uma conversão. Ele tinha sim, muitas

dúvidas antes de 1738. Além disso, sua desastrosa atuação pastoral

na América havia aumentado essa dúvida, mas ele não buscava a

396 Ibidem, p.166.397 WESLEY, João. Trechos do diário de João Wesley. Ibidem, p.215.398 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p. 46.

CXXXIII

conversão e sim a santificação. Escrevendo sobre o ano de 1733,

Wesley disse:

“No mesmo ano publiquei (primeira vez que tenteipublicar qualquer coisa), para uso dos meus alunos,uma ´Coletânea de Formas de Oração´. E nesta obrafalei explicitamente em dar ´totalmente o coração e avida a Deus´. Esta foi, então, como é agora, a minhaidéia a respeito da Perfeição (...).” 399

Diante dos fracassos que experimentou na América, Wesley foi

muito crítico consigo mesmo e, então, notou que o seu coração estava

corrompido:

Diante desse quadro, Wesley percebeu mais nitidamente o

estado do seu coração. Por isso, afirmou que aprendeu na América

que o seu coração estava corrompido:

“(...) que eu tenho estado destituído da glória deDeus; que meu coração está completamentecorrompido (...).”400

Wesley saiu da Geórgia com amargura e desapontamento.

Como positivo, passou a ser mais cauteloso. Havia aprendido a

conhecer com os moravianos direção paternal de Deus; havia vencido

seu medo do mar. Em acréscimo, havia conhecido muitas pessoas

que, como ele, buscavam a santidade e desejam servir a Deus.401

399 WESLEY, João. Trecho do Diário de João Wesley, ibidem, p.215-6.400 Ibidem, p. 21.401 Ibidem, p. 72.

CXXXIV

A consciência de sua situação o levou a procurar ajuda e a se

humilhar. Conheceu um moraviano chamado Pedro Bohler que lhe

ensinou sobre a fé viva. Wesley disse:

“(...) me surpreendeu mais e mais com a explicaçãoque me deu a respeito dos frutos da fé viva, a santidadee a felicidade que ele afirmou acompanharem tal fé.”402

Os moravianos diziam que não existem graus de fé403. Ou você

tem ou não tem fé404. Wesley não tinha a fé que os moravianos

tinham, por isso, se julgava um incrédulo. Pedro Bohler lhe ensinou

sobre a fé viva.405

Wesley estava triste porque seus amigos haviam tido

experiências com Deus e ele ainda não. George Whitefield 406 tinha

tido uma experiência espiritual, em 1735, e Benjamim Ingham407

também já havia experimentado uma transformação. Carlos Wesley

402 Ibidem, p. 22.403 Para James Fowler a fé tem estágios: “Quando falamos do envolvimento de Deus nosentido de iniciar o relacionamento que chamamos fé, normalmente fazemo-lo – pelomenos na tradição bíblica – em termos das categorias de revelação e graça (...). Talvez acoisa mais importante que se pode dizer ao concluir este livro é que nosso estudo dodesenvolvimento da fé, até agora, sublinha o fato de que nós, seres humanos, parecemoster uma vocação genérica – um chamado universal – para nos relacionarmos com oFundamento do Ser em um relacionamento de confiança e lealdade.” (Estágios da fé,Ibidem, p.247-8)404 James Fowler afirma que “a fé é interativa e social, requer comunidade, linguagem,ritual e alimentação. A fé também é moldada por iniciativas que vem de além de nós e deoutras pessoas, iniciativas de espírito ou graça” (Ibidem, p.10).405 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p.64.406Whitefield nasceu em Gloucester, Inglaterra, no dia 16/12/1714. Seus pais eramzeladores da Estalagem do Sino. O Clube Santo o ajudou no propósito de ter uma vidasanta. Sua experiência espiritual foi em 1735, antes dos irmãos Wesley. Foi maiorpregador do que Wesley com quem divergiu em relação a predestinação. No Anexo,abordaremos sobre a vida de Whitefield.407 Benjamim Ingham pertencia ao Clube Santo e foi para a Geórgia junto com osWesleys e com Carlos Delamontte, outro membro do Clube Santo (LELIÈVRE, Mateo,Ibidem, p. 52-3).

CXXXV

408também tinha sentido uma "palpitação no coração", em 21 de maio

de 1738,409 mas João Wesley ainda não havia tido a sua

experiência.410

Esta “palpitação do coração” de Carlos Wesley dentro da

estrutura da experiência religiosa, segundo Casiano Floristán e Juan

José Tamayo, é algo difícil de se explicar:

“Basta entrar um pouco nas descrições daexperiência para que apareça a insuficiência dessacaracterização tão genérica. Não é algo superior, é osupremo.”411

Wesley estava consciente do estado do seu coração. Sabia que

precisava de uma ação de Deus em sua vida. Havia aprendido que a

fé viva poderia restaurar a sua vida. Pela influência dos moravianos,

Wesley pensava que não tinha fé e que era incrédulo. Ele aprendeu

que precisa ter uma fé viva.

Rudof Otto explica sobre essa predisposição que Wesley tinha

para vir a ter uma experiência com o sagrado:

408 Carlos Wesley nasceu em 18 de dezembro de 1708 e escreveu mais de seis mil hinos,que eram cantados com entusiasmo pelo povo. No Anexo, abordaremos sobre sua vida.409 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 79-0.410 Estas experiências se enquadram dentro das formas de experiência religiosaelaborada por Casiano Floristán e Juan José Tamayo, que eles chamam de “AExperiência Mística” . Ela consiste num ato isolado na vida de um indivíduo e umaexperiência contínua com vistas a etapas de purificação ascética e de prova ativa epassiva. Origina uma forma de relação com Deus, o divino, segundo os contextosreligiosos (...) aqui o contato se produz por um “toque substancial de Deus” na substânciamesma da alma (Conceptos fundamentales del cristianismo, Ibidem, p.487).411 Ibidem, p.492.

CXXXVI

“A religião realiza-se na história da seguintemaneira: primeiramente, na evolução histórica doespírito humano, graças à ação recíproca do objetoexcitativo e da predisposição. A predisposição tornar-seatp e toma a forma determinada pela ação. Emsegundo lugar, em virtude da predisposição a intuiçãoreconhece, em certas partes da história, a manifestaçãodo sagrado.Esta descoberta age sobre a natureza esobre o grau da predisposição. Em terceiro lugar, esteduplo fundamento estabelece a comunhão do sagradocom o conhecimento, da alma com a vontade.”412

Diante das crises, Wesley decidiu procurar os moravianos, que o

haviam mostrado sobre uma fé superior.

“Uma semana após ter voltado para a Inglaterra,Wesley se encontrou com Peter Bohler, um ministroluterano (ordenado mais tarde por Zinzendorf para oministério morávio) recentemente chegado daAlemanha e a caminho da América. O contato deWesley com Bohler, durante os quatro mesesseguintes, proporcionaria modelos tanto para arenovação espiritual como para o desenvolvimentoorganizacional do metodismo.”413

Wesley, contudo, continuava preocupado com a falta de

segurança da fé, que havia se tornado evidente em sua viagem

durante as duas travessias do oceano.414 A vida de Wesley começou

a ter um novo rumo, quando ele foi sem vontade a uma reunião numa

412OTTO, Rudof. O Sagrado. Traduzido por Prócoro Velásquez Filho. São Paulo:Imprensa Metodista-Ciências da Religião, 1985, p. 164.413HEITZENHATER, Richard P. Ibidem, p.76. O Conde Nicolau von Zinzendorf nasceu emDresden, no dia 26 de maio de 1700. Seu pai era um alto oficial da Corte eleitoral daSaxônia. Seu pai morreu cedo e a mãe se casou de novo. Ele foi criado pela avó, abaronesa pietista Henrietta Catarina von Gersdorf. No Anexo, abordaremos sobre a vidado Conde Zinzendorf.414 Ibidem.

CXXXVII

sociedade, no dia 24 de maio de 1738. No culto, alguém comentava

sobre a mudança que Deus opera pela fé em Jesus.415

Wesley assim descreveu a sua experiência, quando disse ter

sentido seu coração aquecido:

“(...) senti que eu agora confiava em Cristo,somente em Cristo, para salvação; e me foi dada àsegurança de que Cristo havia perdoado os meuspecados, sim, os meus, e que eu estava salvo da lei dopecado e da morte.”416

Wesley comemorou a experiência417 com um testemunho diante

dos presentes.418 Mais tarde, continuou no quarto de Carlos Wesley

com um hino.419 Os ensinos de seus mentores morávios se tornaram

uma confissão pública.420

Essa experiência espiritual mudou a vida espiritual de João

Wesley. Rudof Otto, ao destacar o não-racional na experiência com o

divino, afirma:

415 Ibidem, p. 24.416 WESLEY, João. Trechos do diário de João Wesley, Ibidem, p.24.417 A “Experiência Mística” de Wesley, segundo Casiano Floristán e Juan José Tamayo,se enquadra igualmente nas experiências de seus companheiros relatadas anteriormente(Conceptos fundamentales del cristianismo, Ibidem, p.487).418 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 80.419 Apesar de considerar o cristianismo superior às outras religiões (OTTO, Rudof. OSagrado. Traduzido por Prócoro Velásquez Filho. São Paulo: Imprensa Metodista-Ciências da Religião, 1985, p. 7), Rudof Otto vê paralelo das experiências da graça e deregeneração em outras religiões (Ibidem, p.41). Rudof Otto afirma que “uma evidênciahiperbólica faz-se sentir em todo verdadeiro sentimento de felicidade religiosa, mesmoonde ele se apresenta mesurado e contido. É o que corresponde claramente ao estudodas grandes experiências, nas quais a emoção religiosa aparece em sua pureza típica ena sua realidade suprema manifesta-se com clareza mais perceptível (...). (Ibidem, p.40).

CXXXVIII

“Em toda piedade que atinge um grau superior,desenvolve-se ao mesmo tempo a consciência daobrigação e do mandamento moral, e este últimoapresenta-se como mandamento da divindade.” 421

Em sua experiência religiosa, Wesley sentiu, especialmente,

segurança: Ele sentiu que agora confiava em Cristo. Somente nele

para a Salvação. Foi-lhe dada a segurança de que Cristo havia

perdoado os seus pecados. Ele passou a ter a segurança de ter sido

salvo da lei do pecado e da morte , etc.422

“Aos olhos dos próprios Wesleys, antes do dia 21de maio de 1738, para Carlos, e 24 de maio do mesmomês e ano para João, eles não eram plenamentecristãos, pois lhes faltava o elemento essencial, a féevangélica.”423

Wesley vivia dentro de um contexto de efervescência religiosa e

de conflitos internos. É possível entender a experiência de Wesley

dentro do que Casiano Floristán e Juan José Tamayo afirmam:

“(...) seu contato experiencial com a realidade émediado pela cultura, a sociedade, e sobretudo alinguagem (...).”424

A experiência de Wesley foi mediada pelos conceitos de fé,

salvação e comunhão com Deus que ele recebeu dos moravianos.

Richard Heitzenhater afirma:

420 Ibidem.421 OTTO, Rudof. O Sagrado. Ibidem, p.56.422 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p.66.423 REILY, Duncan Alexander, Ibidem, p.87.424 FLORISTÁN, Casiano; TAMAYO, Juan José, Ibidem, p.480

CXXXIX

“A fé como confiança e certeza não era maisapenas uma verdade expressa em conceitos, mas, pelocontrário, uma realidade experimental. O ensino deseus mentores morávios agora se tornara umaconfissão que ele podia fazer por si mesmo.”425

Rudof Otto explica a tendência do ser humano que está oculta

na alma e os místicos a chamam de “profundezas de sua alma”:

“Seja sob a forma de Reino de Deus que virá ou soba forma de acesso do sujeito à realidade supraterrestree beatifica; seja na espera e no pressentimento ou naexperiência presente; sob as formas e nasmanifestações as mais diversas, aparece umatendência única, estranha e poderosa, em direção a umbem que conhece apenas a religião e que não éracional. A alma tem disto certeza, busca-a por intuiçãoe a reconhece por detrás de expressões simbólicasobscuras e insuficientes. Este fato atesta que além donosso ser racional existe, oculto no fundo de nossanatureza, um elemento último e supremo que nãoencontra satisfação no saciamento, nem na supressãodas necessidades que respondem às tendências e àsexigências de nossa vida física, psíquica e espiritual.Os místicos chamaram esta experiência de´profundezas da alma.” 426

Após sua experiência, Wesley foi à Alemanha conhecer mais de

perto o estrilo de vida dos moravianos. Ele encontrou e entrevistou

diversas pessoas. Prestou bastante tenção na organização morávia e

encontrou o que procurava:

“Encontrei aqui aquilo que buscava, a saber, provasvivas do poder da fé: pessoas salvas do pecado internotanto como do pecado externo, ‘pelo amor de Deusderramado nos seus corações’; e de toda a dúvida e

425 HEITZENHATER, Richard, Ibidem,p. 80426 OTTO, Rudof. O Sagrado. Traduzido por Prócoro Velásquez Filho. São Paulo:Imprensa Metodista-Ciências da Religião, 1985, p.39-40.

CXL

medo pelo testemunho constante ’do Espírito Santoderramado sobre ele”. 427

Retornando à Inglaterra, em setembro de 1738, Wesley começou a

agir, especialmente para resolver assuntos que ainda causavam

confusão em sua mente, como a exigência dos morávios sobre a

plenitude da fé (segurança).428

Anos mais tarde, contudo, Wesley diria que, após 24 de maio de

1738, ele passou da condição de servo para a condição de filho de

Deus.429

“Sua experiência do coração aquecido ocorrera numaquarta-feira. No domingo seguinte, Wesley pregou por duasvezes sobre um tema novo para ele: ´Esta é a vitória que venceo mundo, a nossa fé´ (1Jo 5.4) pela manhã e sobre o Deus ´quejustifica o ímpio´ (Rm 4.5) de tarde.”430

Wesley passou a viver a fé liberta do medo e da dúvida. Segundo

Reily, ele realmente recebeu esta espécie de fé no dia 24 de maio de

1738.431

Em seu sermão A Justificação pela fé, impresso em 1747,

Wesley relata o que em sua vida havia experimentado:

“A fé é, em geral, a divina, sobrenatural, evidênciaou convicção ‘das coisas não vistas’, não perceptíveis

427 WESLEY, João. Trechos do diário de João Wesley. Ibidem, p.25.428OTTO, Rudof. O Sagrado. Traduzido por Prócoro Velásquez Filho. São Paulo:Imprensa Metodista-Ciências da Religião, 1985, Ibidem, p.82-5.429 Ibidem, p.303.430 REILY, Duncan Alexander. O Metodismo brasileiro e wesleyano, Ibidem, p. 91.431 Ibidem, p.91.

CXLI

aos sentidos corporais, sejam passadas, futuras ouespirituais.”432

William James descreve psicologicamente o fruto em alcança

esse estado religioso semelhante ao que Wesley alcançou:

“O homem que vive em seu centro religioso de energiapessoal, e é movido por entusiasmos espirituais, diferedo seu eu carnal anterior de maneiras perfeitamentedefinidas. O novo ardor que lhe inflama o peitoconsome em seu brilho os ‘nãos ’que dantes o sitiavam,e mantém-no imune à infecção de toda a porçãorastejante da sua natureza. Magnaminidade outroraimpossíveis tornam-se fáceis; convencionalismosdesprezíveis e incentivos mesquinhos, antigamentetirânicos, perdem o seu domínio. A parede de pedradentro dele desmoronou, quebrou-se-lhe a dureza docoração.”433

Dentro da experiência com o sagrado, Casiano Floristán e Juan

José Tamayo esclarecem que ela aparece de forma diferente nas

pessoas, mesmo em uma mesma tradição. Dentro desse fenômeno

tão complexo, pode significar consciência da presença de Deus;

consciência da responsabilidade de uma missão recebida, etc.434

Wesley sentiu seu coração aquecer-se maravilhosamente e

ampliou seus horizontes:

“O sujeito em contato com essas dimensões ampliaas fronteiras do seu conhecimento; transcende a formade conhecimento ordinário em termos de sujeito-objeto;

432 WESLEY, João. Sermões de Wesley. v.1, ibidem, p.117.433JAMES, William. As variedades da Experiência Religiosa. Tradução de Octavio MendesCajado. São Paulo: Editora Cultrix, 1995, p. 171-2.434 FLORISTÁN, Casiano; TAMAYO, Juan José, Ibidem, p. 482-3.

CXLII

se sente de alguma maneira inundado pela realidadeque se apresenta e fica misteriosamente identificadocom ela; e sente uma intensa comoção afetiva queorigina sentimento de paz, gozo (...).”435

Uma outra forte experiência religiosa 436 que os carismáticos437 de

hoje desejam ressaltar, ocorreu pouco tempo depois da experiência do

coração aquecido e foi registrado pelo próprio Wesley:

“Janeiro 1, 1739. Mr. Hall, Kinchin, Ingham,Whitefield, Hutchins e meu irmão Carlos estavampresentes à nossa festa de amizade em Fetter Lane,com mais sessenta de nossos irmãos. Pelas 3 horas damanhã, enquanto nos mantínhamos em oração, o poderde Deus veio poderosamente sobre nós, de tal modoque muitos clamaram de indizível alegria, e muitoscaíram por terra. Logo que recobramos um poucodaquele espanto e do temor que nos sobreveio dapresença da Majestade Divina, entoamos em uma sóvoz: "Louvamos-Te, ó Deus, reconhecemos a Ti comoSenhor.”438

435 Ibidem, p. 484.436 Esta forma de experiência Casiano Floristán e Juan José Tamayo chamam de “Experiência Carismática”, cujas características são: visões, batismo do Espírito Santo,experiências de revelação através das quais Deus tem conduzido a humanidade a ummelhor conhecimento de sua existência, sua vontade e seu desígnio para com oshomens. Em alguns casos, as visões são acompanhadas de fenômenos extraordinários(Conceptos fundamentales del cristiniasmo, Ibidem, p. 488).437 William Allen, cita Whitefield, que lembra essa experiência: “Foi na verdade ummomento Pentecostal: (História dos Avivamentos Religiosos, Rio de Janeiro, CasaPublicadora Batista, 1958, p.21). Benedito Natal Quintanilha, coloca a experiência de1739 da seguinte forma: “(...) Wesley alcançou a experiência denominada por váriosnomes: Santificação, Perfeição Plena, Perfeito Amor, Segunda Benção, Santidade Bíblica,Revestimento de Poder, Batismo com o Espírito Santo, Plenitude do Espírito Santo”(QUINTANILHA, Benedito Natal. Doutrinas Metodistas, Copiadora e Gráfica Ltda, SãoPaulo, 3ª edição, 1995, p.26). Duncan Alexander Reily, contudo, afirma que “há, naverdade, diversas razões bem substanciadas por concluir que a experiência de 2 dejaneiro de 1739 não deve ser vista como o ‘batismo do Espírito Santo’ de Wesley” (REILY,Duncan Alexander. Fundamentos Doutrinários do metodismo brasileiro. São Paulo:Êxudos, 1997, p.24).438ALLEN, William E. História dos Avivamentos Religiosos. Casa Publicadora Batista,1958, p. 32.

CXLIII

Dentro do sentido técnico que o termo experiência tem adquirido

na metodologia científica, Casiano Floristán afirma que:

“(...) a palavra experiência não tem aplicação noterreno religioso, dado que a relação vivida na ER secaracteriza por ter sua origem numa realidadesobrenatural ou ao menos superior ao homem queescapa a sua iniciativa ou controle.”439

Wesley não ressalta, posteriormente, em seu diário essa

experiência. Talvez por ela ter se tornado comum no meio metodista

com o constante mover do Espírito Santo, mas a experiência do

coração aquecido, em 24 de maio de 1738, foi um marco na vida de

João Wesley.440

Como é explicada cientificamente a experiência religiosa?

Os editores Casiano Floristán e Juan José Tamay afirmam que a

experiência significa um conhecimento obtido na vida, no sentido de

que a pessoa já passou por ela. Ela tem um forte impacto sobre a

pessoa:

“Este tipo de conhecimento, ainda que se refira aum objeto exterior, repercute sobre o sujeito, e envolve,

439 FLORISTÁN, Casiano; TAMAYO, Juan José, Ibidem, p. 480.440 Após suas experiências com o coração aquecido e com o poder do Espírito Santo, em01 de janeiro de 1739, Wesley “registrou muitas ocasiões quando as pessoas foram´fulminadas´, ´feridas pela espada do Espírito´, ´tomadas de fortes dores´, ´feridas nocoração´ ou ´caiam de joelhos´. Logo começou a circular a notícia de que as pessoasestavam ´tendo estranhos acessos´ nas reuniões da sociedade; a mesma coisa começoua acontecer ocasionalmente nos ofícios públicos em Newgate e em outros lugares.Wesley ficou sabendo que muitos ficavam escandalizados com essas manifestaçõesexteriores do poder de Deus, mas explicou que, na maioria dos casos, a pessoa atacadaera aliviada através da oração e era levada a sentir paz alegria” (HEITZENHATER,Richard P., Ibidem, p. 100).

CXLIV

e transforma em alguma medida sua vida e seumundo.”441

A experiência com o sagrado traz uma ruptura e uma enorme

capacidade de mobilização de todas as faculdades do sujeito, libera

sua energia.442

“Constitui um fato extraordinário na vida dossujeitos, um hiato que divide a vida e que assinala comtodo cuidado as circunstâncias do lugar e sobre todotempo.”443

3.6. As três conversões de Wesley

Afinal, uma pessoa pode se converter três vezes?

Para o teólogo Mortimer Árias, sim é possível. Segundo ele,

Wesley teve três momentos de conversão, dentro da visão

contextualizada do metodismo na América Latina, onde se propõe que

a Igreja esteja junto ao povo, seja povo e instrumento de libertação.

Mortimer Arias cita o francês dominicano Maximino Piette Llama,

que afirma que o ano de 1725, em Oxford, foi a primeira conversão de

Wesley, quando ele foi aceito como professor de Lincoln College e

decide iniciar o caminho para sua ordenação como ministro da Igreja

Anglicana.444

441 Ibidem, p. 480.442 FLORISTÁN, Casiano; TAMAYO, Juan José, Ibidem, p.485.443 Ibidem.

CXLV

Wesley decide individualmente se aprofundar na vida espiritual

em busca da santidade.445 As leituras de Regras para Viver e morrer

santamente, do Bispo Jeremias Taylor, e do livro A Imitação de Cristo,

de Tomás Kempis:

“Wesley inicia uma busca intensa e tenaz pelasantidade total. Começa a escrever seu diário e realizarum severo auto-exame cada dia. Sua meta ‘ter a mentede Cristo’ e ‘andar com Ele andou.”446

Wesley passou a ter uma firme convicção de que o viver santo é

essencial ao verdadeiro cristianismo. Tanto que em 1730 começou a

ler Sério chamado a uma vida devota e santa de William Law.447

Sobre esse tempo de busca da santidade e de leituras, Wesley

diz:

“Em 1725, encontrei com ‘Regras de Santo Viver’(Rules of Holy Living and Dying), pelo Bispo Taylor.Fiquei impressionado especialmente com o Capítulosobre Intenção; e senti a intenção fixa de entregar-me aDeus. Nisto fiquei confirmado poucos dias depois peloModelo Cristão, e desejava entregar-me a Deus de todoo coração. Isto é exatamente o que eu entendo agorapela Perfeição. Eu a busquei desde àquela hora.”448

444 “John Wesley the Evolution of Protestantism” (Llama apub Bonino et al, p.114)445 Wesley ainda não tinha tido contato com os Pietistas. Sua influência vinha da leiturade autores Puritanos. Max Weber afirma que o metodismo, e certamente Wesley, sendode origem inglesa, na sua ”ética prática relacionava-se intimamente àquela do puritanismoinglês, cujo ‘revival’ aspirava a ser” (A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo,Ibidem, p.101).446 ARIAS, Mortimer. “Las comunidades de base y la tradición wesleyana” em La tradiciónprotestante la americalatina, Ibidem, p. 113-4.447 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem,p. 33.448 WESLEY, João. Trechos do diário de João Wesley. Ibidem, p.215.

CXLVI

A segunda conversão de Wesley aconteceu, então, em

Aldersgate, em 24 de maio de 1738. Foi uma experiência de

segurança interna de sua salvação, a uma vivência que os teólogos

chamam de testemunho interior do Espírito Santo. Muitos anos mais

tarde, Wesley fala dessa experiência como passar da fé de um servo

para a segurança da fé de um filho de Deus.449

William James explica o que significa uma conversão:

“Converte-se, regenerar-se, receber a graça, sentira religião, obter uma certeza, são outras tantasexpressões que denotam o processo , gradual ourepentino, por cujo intermédio um eu até então dividido,e conscientemente errado e infeliz, se torna unificado econscientemente certo, superior e feliz, emconseqüência do seu domínio mais firme das realidadesreligiosas. Isso, pelo menos, é o que significa aconversão em termos gerais, quer acreditemos, quernão, que se faz mister uma operação divina direta paraproduzir uma mudança natural dessa ordem.”450

Para os teólogos latino-americanos, a terceira conversão de

Wesley, em Bristol no ano de 1739, foi mais marcante.

Qual era a importância de Bristol?

“Bristol era o epicentro da dupla revolução agrícolae industrial do século XVIII, com seus camponeses

449 James Fowler coloca esse momento na vida de Wesley como a passagem de umestágio da fé. Provavelmente, foi a passagem do estágio da fé sintético-convencional(Estágios da fé. Ibidem, p.130), para a fé individuativo-reflexiva (Ibidem, p.154), isto é, o“adulto começa a assumir seriamente o encargo da responsabilidade por seus próprioscompromissos, estilo de vida, crenças e atitudes” (Ibidem, p.154).450 JAMES, William. As variedades da Experiência Religiosa. Tradução de OctavioMendes Cajado. São Paulo: Editora Cultrix, 1995, p.126.

CXLVII

desalojados com seus artesãos e operários, seusmineiros e comerciantes, em um dos centros vitais doImpério Britânico em plena expansão manufatureira ecomercial.”451

A cidade de Bristol tinha cerca de 50 mil habitantes. Era rodeada

de minas de carvão que ajudavam a estimular a crescente revolução

industrial. Era líder no reino e o porto principal para o comércio com a

América do Norte e com as Índias Ocidentais. Importava tabaco e

açúcar e exportava produtos manufaturados.452

Foi em Bristol que as multidões respondiam aos apelos das

pregações de George Whitefield.453 Igualmente, Wesley estava em

contato direto com as massas. Isso significou uma radical mudança

em seu ministério, seus enfoques e em sua própria teologia.454

Thomás Maxfield, que se era um dos líderes do movimento, teve

uma emotiva experiência com a pregação de João Wesley, em Bristol,

abril de 1739.455

Mortimer Àrias cita o teólogo metodista Albert Outler, que

considera esse momento o real começo do metodismo. Para ele,

Aldersgate havia acendido um coração, mas não havia ensinado a

451“John Wesley the Evolution of Protestantism” (Llama apub Bonino et al, p.120).452 HEITZENHATER, Richard, p.98-9.453 As pregações de Whitefield impressionaram a Wesley, que estava acostumado aomodo de decência e ordem. Ele viu seu companheiro pregar para 30 mil pessoas emudou seu modo de pensar, mesmo a contragosto. Haviam manifestações físicas nosculto, cujos apelos emocionais de Whitefield vinham da influência emocional Pietista cujasênfases eram no arrependimento, confissão e mudança de vida (HEITZENHATER,Richard P., Ibidem, p.98-101).454 Ibidem, p.121.455 REITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.115.

CXLVIII

comunicar o Evangelho e como guiar as pessoas à santidade. A partir

de 2 de abril de 1739, passou a haver uma nova perspectiva

evangelística e pastoral.456

3.7. “Gosto de música simples e de gente simples”

João Wesley

Wesley não era melhor pregador do que George Whitefield, mas

seus dons como organizador eram notáveis.457 Os números mostram

que ele era um homem dinâmico e prático. Escreveu 233 trabalhos

originais e resumiu ou editou outros tantos. 458Ele se preocupava muito

com a formação do povo chamado metodista, especialmente, os

pregadores.

Edward P.Thompson afirma que George Whitefield e outros

pregadores conseguiram impressionar mais do que Wesley. Contudo,

Wesley teve seu reconhecimento também:

“Mas foi Wesley o organizador, administrador eordenador mais enérgico e hábil. Conseguiu combinarnas proporções exatas de democracia e disciplina,doutrina e emotividade (...).”459

456 “Evangelism in the wesleyam Spirit’ (Outler apud Àrias, Nashville, p.122).457 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.210.458 JOY, James Richard., Ibidem, p. 77.459 THOMPSON, Edward P. A Formação da Classe Operária Inglesa. 1 v. Ibidem, p.38.

CXLIX

Wesley era dinâmico e pregou mais de 40 mil sermões.460 Ele

visitou o País de Gales 24 vezes; a Irlanda, 21 vezes e a Escócia, 20

vezes.461

“As viagens de Wesley eram incessantes. Em1764, entre 19 de maio a 4 de agosto, período de 77dias, ele viajou de Bristol a Inverness na Escócia, evoltou pregando em 122 cidades, realizando 300 cultos,além das reuniões das sociedades unidas.”462

Wesley cresceu junto com o Movimento Metodista. No final de

1738, ele passou a entender a função do Espírito Santo como

central, tanto como fonte de autoconhecimento (evidência interna,

testemunho do Espírito) e também como fonte dos frutos (evidência

externa – frutos do Espírito).463

Em diversas ocasiões, ele descreveu o mover do Espírito com

expressões como estas: "Deus manifestou o Seu poder"; "Enquanto

nos mantínhamos em oração, o poder de Deus veio poderosamente

sobre nós"; "Deus derramou abundantemente Seu Espírito sobre nós.”

Para ele, isso era o real avivamento.464

Como abordamos nessa tese, o avivamento, contudo, não era

algo isolado, que se perdia dentro de um coração ou se estacionava

dentro de um templo. Ele trazia justificação, santificação e,

consequentemente, obras de misericórdia. Em seu sermão

Cristianismo bíblico, Wesley afirma:

460 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p. 344.461 JOY, James Richard. O Despertamento Religioso de João Wesley. Instituto MetodistaBennett, 1996, p.79.462 Ibidem, p.78.463 HEITZENHATER, Richard P. Ibidem, p.91.

CL

“O amor de Deus foi também derramado em seucoração pelo Espírito Santo que lhe foi dado (...). E oamor filial de Deus foi-se aumentando continuamente,pelo testemunho que ele possuía em si mesmo (...). Osque assim amam a Deus, não podem deixar de tambémamar a seus irmãos, ‘não em palavras somente, masem obras e em verdade”. 465

Na caminhada do progresso do metodismo, Wesley se viu diante

de fatos novos, que ele teve que superar. Uma dessas novidades foi a

pregação ao ar livre, à qual inicialmente fora contra. Ele mesmo diz:

“Sábado, dia 31, de tarde, cheguei a Bristol, ondeencontrei o sr. Whitefield. A princípio quase não podiareconciliar-me com este modo esquisito de pregar noscampos, conforme o sr. Whitefield me deu exemplo nodomingo, pois tenho eu sido toda a minha vida, e istoaté agora, tão agarrado a todos os pontos que eramconsiderados de acordo com a decência e a ordem, -tais eram os meus preconceitos, - considerava pecadoum pecador salvar-se fora da igreja.”466

Revelando toda uma visão espiritual e uma maturidade,

posteriormente, Wesley disse:

“(...) preguei ao ar livre perto do Hospital deKeelmen. Que maravilha que o diabo não gosta depregações ao ar livre! Nem eu gosto disso; aprecio maisum salão de comodidades, almofadas macias, púlpitobonito; porém onde está meu zelo, se eu não pisar aospés todas estas cousas, com o fim de ganhar maisalmas?” 467

464 WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, Ibidem, p.103-5.465 ______. Sermões de João Wesley. 1 v, Ibidem, p.85.466 ______. Trechos do Diário de João Wesley, Ibidem, p.28.467 Ibidem, p.30.

CLI

Sua visão de organizador foi colocada em prática também

quando William Morgan,468 um irlandês e um dos participantes do

Clube Santo, sugeriu que fossem visitados os presos e condenados na

Prisão do Castelo. O jovem irlandês começou também a trazer

crianças das famílias pobres de Oxford. Posteriormente, Wesley

percebeu que as crianças pobres precisavam de um melhor

atendimento e uma organização permanente. No fim de junho de

1731, Wesley contratou a senhora Plat para tomar conta das

crianças.469

Quando o movimento evangelístico trouxe novos desafios

pastorais, Wesley soube tomar novas decisões:

“A crescente necessidade de estrutura eorganização, à medida que o movimento crescia emtamanho e complexidade, é refletida no sumário de umareunião realizada no final de junho de 1732, eregistrada no diário de Wesley: ´separei homens etarefas.”470

Os bands foram importantes no processo de formação da

organização metodista. Eles eram mais wesleyanos do que muitas

sociedades.471 Eram grupos pequenos de cinco a dez pessoas que se

reuniam para edificação e apoio espiritual.

468 William Morgan influenciou os líderes do Clube Santo para o exercício da solidariedadeaos presos, crianças, idosos e pobres. No Anexo, abordaremos sobre sua vida.469 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 40-1.470 Ibidem, p.45.471 Existiam diversas sociedades na Inglaterra. Wesley e outros líderes do Clube Santolideravam algumas, mas não necessariamente elas eram consideradas metodistas(HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.103).

CLII

“Suas principais atividades eram a confissão e aoração; o alvo deles era o crescimento espiritual. Osbands eram homogêneos, de acordo com o modelomorávio; havia band de mulheres, de homens e mesmode rapazes (...).”472

Com o desenvolvimento do movimento metodista, Wesley foi

necessário tomar decisões radicas e se separar dos moravianos.

Procurou seu próprio modelo de bands. Como homem simples e que

tinha sensibilidade para com os problemas do ser humano, Wesley

percebeu equívocos no modelo morávio:

“(...) não se adaptava bem às necessidades daclasse trabalhadora inglesa, pessoas que enfrentavamas dificuldades da mudança social e das condiçõeseconômicas do mundo de trabalho diário.”473

Mais tarde, diante das novas exigências, Wesley fez novas

adaptações, criou os bands seletos474 para aqueles que haviam

recebido a remissão dos pecados e estavam tendo uma vida

exemplar.

Essas adaptações e abertura ao novo, caracterizaram Wesley e

o metodismo, na Inglaterra, no século XVIII.

3.8. Wesley diante das oposições e controvérsias religiosas

472 Ibidem, p.104.473 Ibidem, p.108.474 As classes se diferenciam dos bands: eram agrupadas geograficamente em vez deserem divididas pela idade, sexo ou estado civil; elas continham todas as pessoas dasociedade, não apenas aquelas que voluntariamente se agrupavam (Idem, p.119).

CLIII

Em sua caminhada, Wesley enfrentou toda espécie de oposição,

incompreensão, crítica e abandono. Ele viveu em um período difícil

para o povo inglês, que explodia em revoltas. A Inglaterra se tornava o

principal centro econômico do mundo, mas com o povo pagando um

alto preço.475

“As classes populares da Inglaterra do século XVIIIeram ignorantes, grosseiras e desordenadas. Tinhamherdado as agitações políticas do século anterior ehavia uma tendência muita elevada aos alvoroços (...)nunca mudava seu ódio intenso aos papistas, de umlado e, de outro, aos dissidentes.”476

Foi na Universidade, em Oxford, que Wesley começou a

experimentar oposição às suas idéias e práticas religiosas.

“(...) em 1731, os estudantes de mais tempo decasa fizeram uma reunião com o fim expresso de detero progresso do Metodismo. No ano seguinte, aimprensa, que já exercia uma grande influência naInglaterra, também entrou na luta. O semanário Eogg´sWeekly Journal atacou com violência Wesley e seusamigos, comparando-o com os essênios da Judéia e ospietistas da Suíça, e acusando-os de querer transformara Universidade em um mosteiro.”477

Um dos problemas sérios e de provas para o grupo metodista

aconteceu em 1732, com a notícia da morte de William Morgan, cujo

475 Conferir Contexto Social e Wesley no contexto social-político-religioso da Inglaterra nono século XVIII , no Capítulo 2 da tese, onde há uma descrição mais detalhada da gravecrise em que vivia o povo.476 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p.12.477 Ibidem, p.46.

CLIV

boato dizia que sua morte foi devido ao rigoroso ascetismo do estilo de

vida metodista.478

As controvérsias foram especialmente em relação às doutrinas.

Wesley queria que os pregadores e clérigos metodistas pregassem,

especialmente, sobre as três doutrinas principais metodistas:

“(...) as três grandes doutrinas bíblicas - o pecadooriginal, a justificação pela fé, e a conseqüentesantidade.”479

Ele definia a santidade ou a perfeição cristã numa palavra – o

amor de Deus derramado no coração pelo Espírito Santo:

“Nas Minutes, Wesley mais uma vez define aperfeição cristã como ‘amar a Deus de todo o coração,de modo que qualquer mal temperamento é destruído,e todo o pensamento, palavra e ação surgem e sãoconduzidos para aquele fim pelo puro amor a Deus e aonosso próximo.”480

Em 1764, Wesley fez uma revisão e um sumário do que ele

entendia sobre a doutrina da perfeição cristã.481

478 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.46.479 Ibidem., p.204.480 Ibidem., p.205.481 1) Existe a perfeição, pois ela é constantemente citada nas Escrituras. 2) Ela não vemcedo como a justificação, pois as pessoas justificadas precisam ‘prosseguir para aperfeição’ - Hebreus 6:1. 3) Não é tão tardia quanto a morte, pois S.Paulo nos fala dehomens vivos que eram perfeitos – Fil.3:15. 4) Não é absoluta. A perfeição absoluta nãopertence ao homem, nem aos anjos, mas somente a Deus. 5) Ela não torna o homeminfalível: ninguém é infalível enquanto está no corpo. 6) É ela sem pecado? Não vale apena contendermos a respeito de termos. Ela é ’salvação do pecado’. 7) É ‘amor perfeito’- I Jo 4:18. Este é a essência da mesma. As suas propriedades ou frutos inseparáveissão: alegria constante, oração sem cessar e em tudo darmos graças- I Ts 5:16, etc. 8)

CLV

Umas das piores dificuldades que Wesley teve em seu ministério

foi as controvérsias teológicas com o seu amigo Jorge Whitefield. Por

causa da defesa de Whitefield da predestinação482 e sua tendência de

depreciar a necessidade de santificação e de edificação na vida cristã,

eles se separaram.483

Qual era a diferença básica entre o arminianismo de Wesley e a

predestinação de Whitefield?

Para Wesley, o livre arbítrio contribuía mais para a glória de Deus

do que a predestinação, que ele chamava também de

“condenação”.484

Ao contrário de Wesley, George Whitefield acreditava na doutrina

da perseverança do crente:

“A disputa teológica de Wesley com Whitefield tinhadois pontos: as doutrinas relacionadas com apredestinação e as questões da justiça imputada.

Não podemos prová-la. Não pode de maneira nenhuma permanecer como um pontoindivisível, ser incapaz de desenvolvimento, pois uma pessoa aperfeiçoada em amor podecrescer na graça muito mais rapidamente do que o fazia antes. 9) Pode ser perdida.Temos muitos exemplos disto. Mas não tínhamos inteira convicção disso até 5 ou 6 anosatrás. 10) É constantemente precedida e seguida de um trabalho gradual.” (BURTNER,Robert W.; CHILES, Robert E. Coletânea da teologia de João Wesley. Ibidem, p.212).482 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem., p.107.483 Ibidem, p.214.484 Eis um resumo do que Wesley pensava sobre a predestinação: Se existe a eleição,toda a pregação seria vã; ela tende a destruir diretamente a santidade; tende a destruir onosso zelo pelas boas obras; subverte toda a revelação cristã; faz a revelaçãocontradizer-se; é uma doutrina cheia de blasfêmia, pois coloca Jesus como um hipócrita,um enganador do povo, etc (BURTNER, Robert W.; CHILES, Robert E. Coletânea dateologia de João Wesley. Ibidem, p. 53-4)

CLVI

Whitefield aceitava a crença dos calvinistas de que umapessoa verdadeiramente justificada por Deusperseveraria na fé até o fim – não havia nada parecidocom recaída entre os verdadeiros crentes.”485

Sobre a justiça de Cristo, Wesley e Whitefield tinham a seguinte

opinião:

“Sobre a justificação, Whitefield concordava com aidéia calvinista de que apenas a justiça de Cristo éimputada a nós para nossa salvação, e que não temosjustiça a não ser a de Cristo. Wesley estava ficandoconvencido que a atividade de Deus em Cristo, emboraa causa de nossa salvação, era apenas uma parte doquadro; a atividade de Deus em nós era tambémimportante, de modo que a fé que temos, em nós, pelagraça de Deus (“uma confiança real que o homem temde que Cristo o amou e morreu por ele” ) era a condiçãoexigida para nossa salvação. E essa fé resultaria emuma verdadeira mudança no crente, onde, pela graçade Deus , a justiça de Cristo seria concedida à pessoa,que não apenas seria tida como justa mas se tornariajusta (santificação ou santa).”486

Whitefield era o principal líder calvinista entre os reavivalistas

evangélicos.487 Em 1741, eles se separaram. Foi inevitável, pois

Wesley era arminiano e Whitefield, calvinista.488 Entre as

discordâncias com Whitefield estava sobre a possibilidade da

eliminação do pecado na vida humana. Whitefield disse:

“Não concordo que a realidade do pecado íntimapossa ser destruída nesta vida.”489

485 HEITZENHATER, Richard P.Ibidem, p.107.486 Ibidem.487 Segundo D.M.Lloyd-Jones, Os temas das pregações de Whitefield eram: O pecadooriginal, A regeneração, o Espírito Santo, a justificação pela fé, etc. (JONES, D. M. Lloyd.Os puritanos. Ibidem, p.130-1).488 HEITZENHATER, Richard P.Ibidem, p.120-1.489 Ibidem, p.120.

CLVII

Em abril de 1739, Wesley pregou seu sermão Livre Graça e

depois o publicou juntamente com o poema “Redenção Universal” de

Carlos Wesley:

“O sermão tratou diretamente de seu ponto básicode diferença com George Whitefield, a doutrina dagraça irresistível e todos os corolários dapredestinação: redenção limitada, eleição incondicional,condenação (lei ‘horrível’) e perseverança dossantos.490

Uma das batalhas teológicas travadas por Wesley foi contra o

antinomianismo, que a Conferência de 1744 definiu assim:

“P. Que é antinomianismo?R. A doutrina que torna a lei inútil em presença da fé.”491

Wesley precisou fazer um vigoroso protesto junto à Conferência

pela tendência de alguns metodistas para o calvinismo antinominiano.

Suas três questões foram:

“Dissemos, em 1774: ´Temo-nos inclinadodemasiadamente para o calvinismo. Em quê?1.Com relação à fidelidade do homem. Nosso Senhormesmo ensinou-nos a usar essa expressão. Nuncadevíamos envergonhar-nos dela. Devíamos proclamarfirmemente, estribados em sua autoridade, que, se ohomem não for fiel nas riquezas injustas, Deus lhe nãodará as riquezas verdadeiras.

490 Ibidem491 WESLEY. João. Sermões de Wesley. v.2, ibidem, p.174.

CLVIII

2. Em relação a trabalhar pela vida. Isto também nossoSenhor nos recomendou expressamente. Trabalhai –literalmente operai – pela comida que permanece paraa vida eterna. E, de fato, todo crente, até que suba àglória, trabalha para a vida e pela vida.3. Temos recebido como máxima que ó homem nadadeve fazer para a justificação. Nada pode ser maisfalso. Quem quer que deseje achar graça diante deDeus, ´cesse de fazer o mal e aprenda a fazer o bem´.,Quem quer que se arrependa, fará ´obras dignas dearrependimento´. E se isto não se faz para achar graça,para que, então, se faz?” 492

Wesley teve também batalhas teológicas com os Moravianos,

especialmente em relação ao quietismo,493 mas as batalhas teológicas

contra a predestinação,494 foram mais intensas. Wesley teve sérias

dificuldades, pois alguns dos seus líderes e amigos tendiam para o

calvinismo, como George Whitefield e a condessa Lady Huntingdom.

Foi preciso a Conferência Anual de 1770 confirmar o metodismo

arminiano,495 com o apoio de Fletcher.496

“Em 1769, a controvérsia sobre a predestinaçãorenovou-se com intensidade. Na ´Conferência´ de 1770

492 Ibidem, p.174-5.493 Um moraviano, Philip Henry Molther, ensinava que, para alcançar a verdadeira religião,deveriam ser abandonados “todos os meios de graça e todas as obras de piedade e, emvez disso, deviam permanecer ‘quietos’ diante do Senhor” (HEITZENHATER, Richard P.,Ibidem, p.154).494 Rudof Otto afirma que “Ela é o meio pelo qual tenta-se dar uma expressão conceitual aalgo que não pode ser explicado. Como mistério, ela é absolutamente indispensável eperfeitamente legítima. Esta liberdade torna-se summainjúria quando não se leva emconta que ela é um signo analógico, e quando se toma esse ideograma por um conceito epor base de uma teoria. A idéia de predestinação torna-se, numa religião racional como ocristianismo, perniciosa e intolerável, por mais que se tente faze-la inofensiva deatenuações múltiplas” (OTTO, Rudof. O Sagrado. Ibidem, p.91.).495 WALKER, Welliston, Ibidem, p. 212.496 João Guilherme de La Flechére ou João Fletcher nasceu em Nyon, Suíça, em 12 desetembro de 1729. Descendia de uma família francesa e estudou na Universidade deGenebra. Por questões de consciência não se tornou pastor da Igreja Reformada, porcausa do credo calvinista. Foi um dos líderes que apoiou Wesley. No Anexo,abordaremos sobre a sua vida e ministério.

CLIX

Wesley tomou forte posição arminiana e foi defendidopor seu devotado discípulo, o suíço John WilliamFletcher (...). O resultado da controvérsia foi confirmaro caráter arminiano do metodismo wesleyano.”497

Mas mesmo tendo dificuldades, inclusive, com George

Whitefield, eles continuaram amigos. Inclusive, a pedido dele, Wesley

pregou no seu ofício fúnebre, em 1770.498

Talvez, por isso, Wesley publicou, em 1771, o sermão O Senhor

nossa Justiça. O objetivo foi prevenir mal-entendido sobre a salvação

pela fé. Contudo, ele repudiava as contendas sobre religião:

“Como são odiosas e como são numerosas ascontendas levantadas acerca da religião! E nãosomente entre os filhos deste século, entre os que nãoconhecem o que seja a verdadeira religião, mas entreos filhos de Deus (...). Quantas almas débeis seescandalizam por essa causa! Quantos estropiados sedesviaram do caminho! Quantos pecador esseafervoraram no desprezo de toda a religião e naaversão àqueles que professam!”499

Por diversas vezes, Wesley procurou resolver conflitos nas

sociedades metodistas, mas as mais graves foram com os próprios

líderes e até amigos. Foi assim com Thomas Maxfield500 e George

Bell.

497WALKER, Welliston, Ibidem, p.212.498 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 241.499 WESLEY, João. Sermões de Wesley. v.1, ibidem, p.406.500 Maxfield foi o primeiro pregador leigo do metodismo, em abril de 1739, após ter tidouma violenta experiência em Bristol com a pregação de Wesley (HEITZENHATER,Richard P., Ibidem, p.115).

CLX

“Em janeiro de 1763, George Bell estavaproclamando que o fim do mundo chegaria no mêsseguinte, dia 28 de fevereiro.”501

As tentativas de mudar Bell foram em vão. Maxfield afirmava que

o cristão perfeito estava sem pecado e, uma vez perfeito, permanecia

nesse estado quase angelical.502 Ambos deixaram o metodismo.

Vários artigos procuravam atingir a sua moral. Um deles,

referindo-se a Wesley, tinha por titulo "A serpente e a raposa". Até

caricaturas sobre Wesley foram publicadas mostrando, inclusive,

obscenidades, etc.503 O fato dos metodistas limitarem suas reuniões

apenas a membros que tivessem tickets de classes,504 levou a

diversas interpretações e críticas, entre elas:

“(...) críticas apontadas em Fanatical Conversion(Conversão Fanática) a respeito da festa do amormetodista, como uma orgia onde as ´virgens sãodepravadas em fantasias religiosas.”505

No período de controvérsia, o "pai do metodismo" se dedicou ao

empreendimento editorial. Escreveu muito. Na década de 1750, ele

escreveu uma média de seis obras por ano. Depois de 1765, ele

aumentou a produção.506

501 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.209-0.502 Ibidem.503 Ibidem, p. 267.504 Ibidem. Os metodistas tinham a “secreta’ (senão subversiva) prática de limitar suasreuniões apenas aos membros que tivessem os tickts de classes” (HEITZENHATER,Richard P., Ibidem, p.267).505 Ibidem.506 Ibidem, p. 228. Em 1745, Wesley já desejava viajar menos e escrever mais, mas aConferência não achou aconselhável por ora (HEITZENHATER, Richard P.,ibidem,p.154).”Entre as obras importantes durante esse período estavam o sumário desua doutrina mais distinta, A Plain Account of Christian Perfection (Um simples relato da

CLXI

Entre os prós e contra sobre Wesley, o teólogo metodista Rui de

Souza Josgrilberg afirmou:

“Wesley foi conservador politicamente,centralizador na organização das sociedadesmetodistas, mas liberal na visão do indivíduo, suasliberdades, possibilidades e necessidades sociais. Foisensível ao desespero do povo e aos seus clamores. Aincorporação de categorias liberais em sua teologiaproporcionou a Wesley elemento de um equilíbriodinâmico e uma visão teológica-flexível.”507

Apesar de toda sua formação e liderança, Wesley era simples e

preferia a simplicidade do povo. Em 1781, ele foi a um concerto onde

passou momentos agradáveis, mas se sentiu fora do seu ambiente:

“Passei uma hora agradável assistindo ao concertodo meu sobrinho. Mas senti-me fora do meu ambiente,estando no meio de Lords e Senhoras. Gosto demúsica simples e de gente simple”s.508

Wesley faleceu no dia 2 de março de 1791, aos 88 anos. Uma de

suas últimas declarações foi:

“O melhor de tudo é que Deus está conosco.”509

perfeição cristã, 1766), e mais dois sermões, em 1767, The Witness of th Spirit, II ( Otestemunho do Espírito, II) e The Repentance of Believers (O arrependimento doscrentes), ambos com uma revisão significativa de seus sermões anteriores sobre essesassuntos” (Ibidem, p.228).507 BONINO et al. Luta pela Vida e Evangelização, Ibidem, p.263.508 WESLEY, João, Ibidem, p.200.509 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.308.

CLXII

No seu túmulo está colocada a seguinte frase que revela seu

caráter e credibilidade:

“Ele foi uma das poucas personalidades quesobreviveram à inimizade e ao preconceito, e recebeuem seus últimos anos todo o respeito de todas asdenominações.”510

3.9. O Ministério Feminino dentro do messianismo de Wesley

Wesley procurou justificar e explicar a ênfase na Perfeição

Cristã, bem como a abertura ao Ministério Feminino como uma

concessão e delegação de Deus ao metodismo, no século XVIII, a

partir de 1738.

“Em 1738, quando Deus começou a sua grandeobra na Inglaterra, comecei a pregar às mesmas horas,verão ou inverno, e não faltaram os ouvintes.”511

Ele chamou a esse momento de “Dispensação Extraordinária da

Providência de Deus.”

O líder do metodismo chegou a essa conclusão, especialmente,

quando percebeu que algumas mulheres poderiam pregar no

metodismo. Deus estava permitindo fazer uma exceção às regras

tradicionais existentes na Inglaterra. Wesley afirmou:

510 Ibidem, p.312.511 WESLEY, João. Trechos do diário de João Wesley, ibidem, p.138. Em 1738, Wesleyteve a experiência do coração aquecido.

CLXIII

“Não creio que todas as mulheres são chamadaspara falarem em público, nem que todos os homens osão para serem pregadores metodistas; porém,algumas têm um chamado extraordinário para isso, e aidaquela que não o obedece" (documents, 4:171).Wesley aceitou o argumento de um "chamadoextraordinário" reconhecendo que não apenas apregação leiga, mas também 'todo o trabalho de Deuschamado metodismo, era uma 'dispensaçãoextraordinária da providência de Deus.” 512

Não está aqui a primeira abertura ao ministério feminino?

Começando com Susana Wesley513 e continuando com

pregadoras como Mary Bosanquet, Sarah Crosby, Sarah Ryan514 e

outras,515 o metodismo pode ter sido o primeiro movimento religioso a

abrir espaço para o ministério feminino.

“Se Susannah acendeu o pavio do reavivamento,John Wesley abanou a chama até transformá-la numverdadeiro incêndio. Sua praticidade característica tevepapel importante nos reavivamentos, inclusive amodificação de seus pontos de vista sobre aparticipação feminina.”516

512HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 248.513 No Capítulo 3, Seu Ambiente Familiar, é abordado sobre a importância de SusanaWesley no metodismo e na vida de Wesley.514HEITZENHATER, Richard P. , Ibidem, p.249.515 Selina Shirley, Condessa de Huntingdon, apesar de ter se unido ao calvinismo deGeorge Whitefield, é chamada a “rainha do metodismo” pelas suas obras sociais. Eraconhecida pelo título de Lady Huntingdon. Deixou suas propriedades para o sustento desetenta e quatro capelas (Estranha estirpe de audazes, Ibidem, p.83-0).516 GRENZ, Stanley J. Mulheres na Igreja. São Paulo: Candeia, 1997, p.47.

CLXIV

Segundo Stanley J.Grenz, inicialmente, Wesley deu autorização

para as mulheres somente “exortar” e não “pregar”. Contudo, elas

passaram da exortação para a pregação.517

“O sucesso desses esforços finalmente levouWesley a concluir que o chamado da mulher era umfator-chave na determinação desse ministério”.518

Dentro do movimento das Escolas Dominicais, a metodista Ana

Ball se destacou:

“A senhorita Ana Ball, de High Wycombe, éconsiderada a fundadora da primeira Escola DominicalMetodista, no sentido exato do termo. Organizada noano de 1769, a sua escola Dominical funcionou pormuitos anos.”519

A oportunidade concedida às mulheres de pregarem está

também dentro do messianismo520 de Wesley.

Segundo Duncan Reily:

“João Wesley teve a consciência de estar envolvidoem algo extraordinário que o próprio Deus fazia nomundo.”521

517 Ibidem.518 Ibidem.519 REILY, Duncan Alexander. Metodismo brasileiro e wesleyano, Ibidem, p.159-0.520 Aqui deixamos de abordar o tema “ministério feminino” onde só levantamos algumaspossibilidades, para abordar o messianismo em Wesley, que faz parte deste subcapítulo edentro do qual se encontra o próprio ministério feminino.521 REILY, Duncan Alexander. Fundamentos Doutrinários do Metodismo brasileiro, Ibidem,p.47.

CLXV

O próprio resgate da doutrina da perfeição cristã, segundo Reily,

fazia parte da responsabilidade dada por Deus ao metodismo, no

século XVIII:

“A perfeição cristã, cria Wesley, era o depositumque Deus havia entregue aos metodistas como suaresponsabilidade especial.”522

A própria expansão do metodismo, além da Inglaterra, deve ser

vista dentro desse entendimento de Wesley. Em 1746, ele definiu sua

visão da seguinte forma:

“(...) ´um chamado suficiente da Providência´ paranovos lugares, tais como Dublin ou Edinburgo: `1: Umconvite de...um homem sério temente a Deus, que temuma casa para nos receber. 2. A probabilidade defazermos o melhor indo mais adiante, do que ficandomais tempo onde estamos.”523

A participação leiga e todo o trabalho metodista eram visto como

uma dispensação extraordinária da providência de Deus.524

Esse messianismo de Wesley, segundo Max Weber, surge em

oposição à liderança tradicional e à liderança burocrático-legal. Ele se

posiciona e é visto como um instrumento de Deus para consertar o

que está de errado na sociedade.525 E Wesley acreditava ter sido o

metodismo levantado por Deus para mudar a situação vigente, ou

seja, para:

522 REILY, Duncan Alexander. Wesley e sua Bíblia. São Paulo: Editeo, 1997, p.39.523 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 163.524 Ibidem, p.248.

CLXVI

“(...) reformar a nação (...) e espalhar a santidadebíblica sobre a terra.”526

A crise social, na Inglaterra, no século XVIII, como resultado da

Revolução Social, havia criado um ambiente propício para o

surgimento das idéias messiânicas.527 Como afirma Dominique Julia:

“Esses movimentos inscrevem-se em situaçõessociais determinadas: perda da individualidade por umasociedade global, por causa de uma ocupaçãodominante (situação colonial), opressão, no próprio seioda sociedade, das camadas inferiores pela camadasociais privilegiadas, desorganização que ameaça aconfiguração de um equilíbrio e a desestruturação deuma cultura (...).”528

O metodismo do século XVIII trazia, portanto, em sua origem

ideais messiânicas, que o motivou a prosseguir em sua caminhada. A

chamada Dispensação Extraordinária da Providência de Deus, entre

ela, a oportunidade de pregar às mulheres, nada mais é do que essa

visão messiânica.

525 QUEIRÓZ, Maria Isaura.O messianismo no Brasil e no mundo. Editora Alfa-Omega,1977, p.26-9.526 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 230.527 No 2º capítulo é abordado sobre os diversos movimentos espirituais que surgiram naInglaterra, especialmente entre os séculos XVI e XVIII.528 DOMINIQUE, Julia. História: Novas Abordagens. [s.ed.], [s.d.], p.115. Maria IsauraPereira de Queiróz afirma que essa situação pode levar “à concepção do reino ideal queum enviado divino instalará no mundo” (O Messianismo no Brasil e no mundo. EditoraAlfa-Omega, 1977, p.26-7).

CLXVII

4- A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE METODISTA

“Olhai ao vosso redor, não podeis ser admitidos naIgreja ou Sociedade dos Presbiterianos, Anabatistas, senão aceitardes as mesmas opiniões deles, e vosconformardes com a mesma adoração. Só osMetodistas é que não insistem em que tenhais asmesmas opiniões, mas pensam e deixam pensar.” 529

João Wesley

Este capítulo pretende mostrar as raízes da formação da

identidade metodista,530 as doutrinas que moveram Wesley e os

529 WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, Ibidem, p.210.530 Na parte introdutória, já abordamos sobre o conceito de identidade. Relembramos aafirmação de Magali do Nascimento Cunha no livro Forjando uma Nova Igreja: ”Nunca sefalou tanto em identidade na Igreja Metodista (...). Falar de identidade e tentar reafirmá-laé próprio dos momentos de crise, seja individual ou coletiva (...). identidade não sepreserva; identidade é um processo incessante de construção: (...). Significa reler opassado com os olhos num processo de construção identificando o que foi criado nopassado (os traços de identidade que ficam e os que foram abandonados), o que estásendo criado no presente (frente aos desafios da realidade) e somar tudo isso ao projetofuturo (como o que ainda não é que desafia o presente e o passado” (cf. CASTRO, ClovisPinto de - CUNHA, Magali do Nascimento. Forjando uma Nova Igreja, São Paulo, Editeo,2001, p.63-5). O Colégio Episcopal reafirmou no Concílio Geral, em julho de 2001, aimportância da nossa identidade:“(...) somos desafiados/as a fortalecer a configuração danossa identidade e o sentido de nossa finalidade – a vocação para a qual fomos

CLXVIII

principais líderes do movimento que influenciou a classe operária

inglesa e a vida religiosa na Inglaterra. Este capítulo é o coração da

tese, onde estão expostos algumas das idéias, conceitos e doutrinas

que levaram o metodismo a ser um forte movimento espiritual no

século XVIII, especialmente na Grã-Bretanha e na América do Norte.

São diversas as heranças doutrinárias que influenciaram na

formação do metodismo. Wesley herdou desde sua formação familiar

o paradigma da santidade ou perfeição531. Sua visão tendia sempre

para este lado. Em seu Diário, em 1765, ele cita as leituras dos livros

Santo viver e morrer, do Bispo Taylor, em 1725, e Perfeição Cristã, de

Law, em 1927, quando ele tomou a decisão de ser inteiramente

devotado a Deus.532

Wesley encontrou, especialmente no Pietismo, Puritanismo e

Arminianismo uma forte base para sustentar suas pregações e

práticas visando a santificação.

Wesley não teve a intenção de criar a Igreja Metodista533. Nada

foi programado para se criar uma nova Igreja na Inglaterra do século

chamados” (COLÉGIO ESPISCOPAL. “O futuro do metodismo no Brasil” em Avante, Riode Janeiro, Fé&Nexo, agosto 2001, p.3).531 Em seu livro Explicação Clara da Perfeição Cristã, publicado pela Imprensa Metodista,1984, Wesley afirma: “Convém observar que este sermão foi o primeiro de todos os meustrabalhos a ser publicado. Este era o conceito de religião que tinha e não hesito emchamá-la pelo termo Perfeição” (Ibidem, p.11).532 WESLEY, João. Trechos do diário de João Wesley. Ibidem, p.215.533 No seu diário, em 2 de janeiro de 1787, Wesley comenta sobre um fato em Depford:”(...) A maioria dos homens de influência na Sociedade se achava zangada porque queriaseparar-se da Igreja. Esforcei-me para raciocinar com eles, mas em vão; não tinha bomsenso nem até boas maneiras. Finalmente, depois duma reunião de toda a Sociedade, eulhes disse: ’Se vós estais resolvidos, podereis ter culto nas horas da Igreja; mas ficaisabendo que dessa hora e m diante, não vereis mais a minha face’. Esta expressão feriu

CLXIX

XVIII, nem Wesley se rebelou contra a Igreja Anglicana.534 Em seu

diário, ele escreveu sobre a posição doutrinária metodista, referindo-se

ao diálogo com um clérigo anglicano:

“Um clérigo sério desejava saber em que pontosnós (os Metodistas) nos diferenciávamos da IgrejaAnglicana? Respondi: ´que eu saiba, em nada; asdoutrinas, que nós pregamos, são as doutrinas daIgreja Anglicana; deveras, as doutrinas fundamentais daIgreja se encontram tanto nas orações como nos artigose homilias.”535

Para alguns estudiosos do metodismo,536 foi o Espírito Santo

quem moveu corações e abriu as portas para o surgimento do

Movimento ou Avivamento Metodista. No centro do avivamento está a

vida:

“(...) avivar significa trazer-se novamente à vida.Ilustrativamente significa fazer uma pessoa morta amassagem cardiológica necessária para voltarem osbatimentos do coração (...) É algo semelhante aonarrado em Ezequiel 37.1-14. A ação do Espírito divinono vale de ossos secos, simbólico ao povo de Israel.” 537

profundamente; também daquela hora em diante não se ouviu mais acerca da separaçãoda Igreja” (WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley. Ibidem, p.208).534 Mateo Lilièvre, em seu livro João Wesley - sua Vida e Obra, p.349, cita diversosautores que realçam o caráter de Wesley. Uma de suas citações é de Lecky, historiadoringlês, séc. XVIII, onde ele diz que "nada mais injusto do que atribuir a Wesley a ambiçãodo cismático ou os instintos subversivos do revolucionário" (England Intre EighthenthCentury, tomo II, p.632).535 WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, Ibidem, p.36.536Na Introdução citamos opiniões de diversos historiadores e teólogos sobre o revival, oreavivamento ou avivamento metodista no século XVIII.537LEITE, Nelson Luiz Campos. Como alcançar o genuíno avivamento. Exodus Editora,1997, p.19. Báez Camargo afirma que “o metodismo não foi outra coisa, senão aexpressão do ímpeto de constante renovação espiritual (...) O avivamento evangélico doséculo XVIII; tal é a expressão de que se servem os historiadores para designar ometodismo” (Gênio e Espírito do Metodismo Wesleyano. São Paulo: Imprensa Metodista,1986, p.17). Welliston Walker fala em “Reavivamento na Igreja Católica” e “ReavivamentoEvangélico na Grã-Bretanha” (História da Igreja Cristã. 2 v. ibidem, p.102 e 201). A

CLXX

Mas o que foi o avivamento metodista?

Segundo Gonzalo Baez Camargo, o movimento metodista foi,

antes de tudo, um avivamento evangelístico:

“O quer dizer isto? Simplesmente um retorno àexperiência e doutrina da salvação pela graça livre euniversal de Deus, em Cristo Jesus e ao gênero (tipo)de vida e obras cristãs que procedem dessaexperiência.”538

Wesley interpretava teologicamente esse mover do Espírito como

tendo objetivos claros. Em 1762, ele escreveu:

“O dia de Pentecostes não chegou ainda na suaplenitude; mas não duvido que venha; e então vocêverá tantas pessoas santificadas como justificadas.”539

O Avivamento Metodista ocorreu dentro de uma grave crise

social, na Inglaterra, com a Revolução Industrial540 e não foi um

expressão “aviva” e depois “reaviva” foi retirada de Habacuque 3.2: “ Aviva a Tua obra, óSenhor”.538 CAMARGO, Gonzalo Baez. O desafio de João Wesley aos metodistas de hoje. SãoPaulo:Setor Gráfico do I.M.S., Terceira Região Eclesiástica, maio de 1986, p.4.539 WESLEY, João. Trechos do diário de João Wesley. Ibidem, p.130.540 No Contexto Político, Contexto Social e Contexto Religioso, no Capítulo 2, abordamosem que ambiente ocorreu o avivamento metodista.

CLXXI

movimento isolado. Havia também um mover do Espírito541 em

diversas partes, como em Gales e na Escócia, na década de 1730. 542

As experiências de santificação no meio do povo metodista 543

confirmavam e motivavam Wesley a prosseguir na caminhada de

transformar a sociedade, Igreja e espalhar a santidade bíblica. Em

1757, ele registrou em seu Diário um dos casos em que alguém

alcançou a perfeição cristã:

“Conta, peço-te, dize a todos que a perfeição éconseguível, e exorta a todos que a busquem (...)”.544

Casiano Floristán e Juan José Tamayos afirmam que a

experiência religiosa traz mobilização:

“(...) são experiências cujo conteúdo supera emmuito a capacidade de expressão do sujeito (...) É umaexperiência de alguma maneira imediata (...) uma

541FLORISTÁN,Casiano; TAMAYOS, Juan José.Conceptos fundamentales delcristianismo. Ibidem, p.485). Dentro da experiência carismática, os estudiosos afirmam:“(...). Nesse sentido interpreta a teologia de tais experiências como experiências derevelação através das quais Deus têm conduzido a humanidade a um melhorconhecimento de sua existência, sua vontade e seu desígnio para com os homens”(Ibidem., p.487).542Desde 1670, as sociedades religiosas haviam feito sérias tentativas de ter umreavivamento espiritual. O reavivamento de Gales começou em meados da década de1730 e um reavivamento procedeu Wesley tanto em Cornwall como na Escócia(HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.97).543 Wesley cita em seu diário vários exemplos de pessoas que haviam alcançado aperfeição cristã, entre elas, miss Berresford. Ela é citada como modelo de piedade e deatividade. Sua palavra: “Conta, peço-te, dize a todos que a perfeição é conseguível (...)Manda dizer ao Sr. W. que sinto não ter crido mais cedo na doutrina da perfeição cristã(Ibidem, p.125-6)”.544 WESLEY, João. Trechos do diário de João Wesley. Ibidem, p.125.

CLXXII

enorme capacidade de mobilização de todas asfaculdades do sujeito.” 545

Por mais que tenha havido uma participação ampla, muito se

deve ao gênio organizador de Wesley.546

Dentro do tema da tese – avivamento e compromisso social - essa

visão messiânica e prática de Wesley o levaram a experimentar

diversos avivamentos no meio do povo chamado metodista, que teve

como conseqüência um compromisso social com o povo inglês dentro

da revolução industrial que ocorria na Inglaterra. As chamadas Obras

de Misericórdia ensinada por Wesley eram praticadas por aqueles que

tinham fé.547

Dentro da compreensão de Wesley, todos os que eram justificados

pela fé deveriam ser zelosos de boas obras548 e para haver

santificação, o que creu deveria praticar boas obras. E as obras

necessárias à santificação deveriam ser as Obras de Piedade e Obras

de Misericórdia.549

Toda essa dinâmica é obra do Espírito Santo:

545FLORISTÁN,Casiano; TAMAYOS, Juan José.Conceptos fundamentales delcristianismo. Ibidem, p.485546 O mesmo Mateo Lelièvre diz que "Wesley era ainda mais organizador que pregador, etão grandioso nesse sentido que nenhuma outra pessoa de seu século se iguala a ele"(Ibidem, p.354). Richard Heitzenhater afirma que Wesley tinha a habilidade de prosperarem períodos de crise e confusão (Wesley e o Povo Chamado Metodista, Ibidem.p.48).547 WESLEY, João. Sermões de Wesley. 2 v., ibidem, p.352.548 Ibidem, p.352.549 Ibidem, p.354. Obras de Piedade consistiam em oração, participar da Ceia do Senhor,estudar as Sagradas escrituras, jejuar, etc. As Obras de Misericórdia consistiam em vestiros nus, alimentar os famintos, visitar aos presos, dar pousada ao peregrino, etc.

CLXXIII

“O Espírito lhes ensina a amar a Deus e ao próximocom um amor que é semelhante a uma ‘fonte que jorrapara a vida eterna”. 550

A herança doutrinária colocou um firme alicerce no movimento

metodista do século XVIII. Wesley soube reter o que era bom dos

diversos movimentos e grupos.

Mas quais foram os movimentos espirituais que deram ao

metodismo suas principais ênfases doutrinárias?

4.1. A herança doutrinária

João Wesley foi influenciado em sua prática espiritual pelo

Arminianismo,551 Puritanismo, Moravianos e Pietismo, que enfatizavam

mais o aspecto emocional, o moralismo e a vida devocional com Deus.

Dentro das contribuições da época para a formação da identidade

metodista estes grupos tiveram uma parcela importante na vida dos

primeiros líderes

“A busca de Wesley, durante esse período, de umacompreensão mais significativa das exigências do vivercristão, o levou finalmente a englobar o perfeccionismodos pietistas, o moralismo dos puritanos e a devoçãodos místicos, numa abordagem pragmática que elesentia poder operar dentro da estrutura e da doutrina daIgreja da Inglaterra.”552

550 WESLEY, João. Sermões de Wesley. 1 v., ibidem, p.163.551 SALVADOR, José Gonçalves. Arminianismo e Metodismo. São Paulo:ImprensaMetodista, JGEC, [s.d.], p. 19-28.552 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 31.

CLXXIV

Mas também foi grande a influência do anglicanismo na vida de

Wesley e dos primeiros metodistas. No amadurecimento do

movimento, as Conferências Anuais foram importantes na formação e

estruturação das idéias.

4.1.1. A herança Arminiana

A expressão arminianismo vem de Jacob Armínius (1560-1609).

Ele nasceu nos Países Baixos (Holanda) num contexto de tradição

calvinista.553 Estudou Teologia, Filosofia, Hebraico, Literatura e outras

disciplinas. Pastoreou uma igreja em Amsterdã.554 Ao ser chamado

para defender o calvinismo extremado criticado pelo rico negociante

Koornher, Armínius acabou criticando a doutrina da predestinação

trazendo uma grande polêmica e criando inimigos, como Franz

Gomarus,555 que dava ênfase na soberania de Deus e negava o valor

da fé do ser humano.

No conceito de Armínius:

“(...) a predestinação ia de encontro à natureza deDeus e a do homem, gerava desespero, tirava oestímulo para uma vida de santidade e diminuía aimportância do Evangelho.”556

553 WALKER, Welliston, Ibidem, p. 134. O primeiro a reagir ao rigor calvinista foi o eruditoholandês Dirck Coornhert (1522-1590), entretanto essa reação alcançou expressão plenacom Jacó ou Jacobus Arminius.554 SALVADOR.José Gonçalves. Arminianismo e Metodismo, Ibidem, p.22.555 Ibidem, p.28.556 Ibidem.

CLXXV

Entre as declarações de fé do calvinismo, na Confissão de

Westminster,557 estava a doutrina da predestinação:

“Pelo decreto de Deus, para a manifestação de suaglória, alguns homens e anjos são predestinados para avida eterna e outros preordenados para a morte eterna.Ninguém é redimido por Cristo senão somente oseleitos. O resto da humanidade aprouve a Deus (...)deixá-la de lado e ordená-la para a desonra e para a ira(...).”558

O fato é que o rigor do calvinismo havia produzido reações,

especialmente na Holanda e com Jacob Armínius559 ela alcançou

expressão plena.560

Depois da morte de Arminius, João Wtenbogaert (1557-1644) e

Simão Episcopius (1583-1643) sistematizaram e desenvolveram

opiniões arminianas e se opuseram à ênfase corrente sobre minúcias

de doutrina, considerando o cristianismo primordialmente uma força

para a transformação moral. Em 1610 eles e outros quarenta e um

simpatizantes redigiram uma declaração de fé contrariando a doutrina

calvinista da predestinação.561

“Em oposição à doutrina calvinista da graçairresistível, ensinavam que a graça pode ser rechaçada,e, mostravam incerteza com referência ao ensino

557 A Confissão de Westminister foi redigida em 1643 pela Assembléia de Clérigos ao qualfora confiada a tarefa de organizar o New Establishment (BETTENSON, Henry.Documentos da Igreja Cristã. São Paulo: Imprensa Metodista, ASTE, 1967, p.278).558BETTENSON, Henry. Documentos da Igreja Cristã. São Paulo: Imprensa Metodista,ASTE, 1967, p. 278-9.559 Também chamado de Jacobus Arminius (BETTENSON, Henry. Documentos da IgrejaCristã, Ibidem, p. 305).560 WALKER, Welliston. História da Igreja Cristã. 2 v. São Paulo: ASTE, 1967, p. 15.561 Ibidem, p.135.

CLXXVI

calvinista da perseverança dela, assegurando serpossível perder a graça uma vez recebida.”562

O Sínodo de Dort563 condenou os pontos de vista do

arminianismo e adotou cânones com tom bem calvinista, que se

tornou a base doutrinal da Igreja holandesa. Os remonstratenses

foram banidos.564

Jacob Armínius não trouxe tanta influência na Holanda, mas sim

na Inglaterra de Wesley.565 Outras pessoas seguiram seus passos,

entre elas, o Bispo Burnet:

“O Bispo Burnet, em 1699, deu novo impulso àstendências arminianas, quando publicou suas obrasExposição dos Trinta e Nove Artigos, dedicadas ao reiGuilherme III. Nela, ao interpretar o Artigo XVIII, quetratava da Predestinação, deu-lhe sentido arminiano elhe atribuiu igual validez ao calvinista.”566

562 Ibidem.563 O Sínodo de Dort, 1618, condenou os pontos de vista dos arminianos, que foramobrigados a deixar a Igreja Reformada. Nos “Cinco Artigos” condenados pelo Sínodo estádito: I. Que Deus, por um eterno e imutável plano em Jesus Cristo, seu Filho, antes quefossem postos os fundamentos do mundo, determinou salvar, de entre a raça humanaque tinha caído no pecado – em Cristo, por causa de Cristo e através de Cristo (...). II.Que, em concordância com isto, Jesus Cristo, o Salvador do mundo, morreu por todos(...). III. Que o homem não possui por si mesmo a graça salvadora (...) mas que énecessário que por Deus em Cristo e através de seu Santo espírito seja gerado de novoe renovado em entendimento, afeições e vontade (...). IV. Que esta graça de Deus é ocomeço, a continuação e o fim de todo o bem; de modo que nem mesmo o homemregenerado pode pensar, querer ou praticar qualquer bem, nem resistir a qualquertentação para o mal sem a graça precedente (ou preveniente) que desperta, assiste ecoopera (...). V. Que aqueles que são enxertados em Cristo por uma verdadeira fé, e queassim foram feitos participantes de seu vivificante Espírito, são abundantemente dotadosde poder para lutar contra Satã, o pecado, o mundo e sua própria carne, e de ganhar avitória (...). (BETTENSON, Henry, Ibidem, 305-6).564 WALKER, Welliston. História da Igreja Cristã. 2 v. São Paulo: ASTE 1967, p. 136.565 Ibidem.

CLXXVII

O bispo George Bull, em 1699, defendeu e escreveu sobre as

idéias de Armínio e teve grande aceitação, especialmente através de

sua obra Exposição dos Trinta e Nove Artigos, dedicada ao Rei

Guilherme III:

“Nela, ao interpretar o Artigo XVII, que trata daPredestinação, deu-lhe sentido arminiano e lhe atribuiuigual validez do calvinismo. Quer dizer que tantoimportava um quanto o outro. Ambos podiam seraceitos. Havia lugar na Igreja para as duas posições.”567

Os avós de Wesley568 participaram da Igreja dissidente, mas seus

pais se filiaram à Igreja Anglicana. Samuel e Susana Wesley

inculcaram em João Wesley idéias da Harmonia Apostólica569 do

bispo Bull, que teve grande aceitação na Inglaterra.

“A teologia de Bull generalizou-se, pois no seio da IgrejaOficial e para termos noção da mesma, daremos, a seguir,breve apanhado: Jesus Cristo, por Sua obra expiatória, é oSalvador dos homens, mas cada qual tem a sua parte afazer, procurando ativamente reformar a própria vida. Secada um agir desse modo, tornar-se-á capaz de receberméritos da expiação. Fé e obra são identificadas numa sófinalidade. A justificação é pela fé e pelas obras. São doisaspectos de uma só realidade. Nem Paulo se opõe a Tiago enem Tiago a Paulo. No conceito do bispo Bull, a fé incluitodas as obras da piedade cristã. A fé não se limita só aaceitar como válidos os ensinos do Evangelho: envolve,também, desejo de ser bom e de fazer o bem. Noutraspalavras: a fé passa a ser ato do próprio homem” (...)..Ajustificação exige, igualmente, a copartipação do homem.Deus considera ao transgressor como justo, livre da pena,desde que este assim queira”.570

566 SALVADOR, José Gonçalves. Arminianismo e Metodismo. São Paulo: IgrejaMetodista do Brasil, [s.d], p. 51.

567 Ibidem.568 Ibidem, p.63.569 Ibidem., p.61-2.

CLXXVIII

Os irmãos Wesley seguiram muito de perto diversos conceitos

teológicos do arminianismo,571 entre eles, o livre arbítrio572 e a graça

preveniente.573

Seguindo o arminianismo, para Wesley a doutrina da

predestinação é contrária ao espírito da Bíblia e destrói os atributos de

justiça, misericórdia e verdade de Deus e o coloca pior do que o

demônio. Segundo ele:

“A predestinação representa o mais santo Deuscomo pior do que o demônio, mais falso, mais cruel emais injusto.”574

Sobre o livre arbítrio, o 8º Artigo de Religião explica:

“A condição do homem, depois da queda de Adão,é tal que ele não pode converter-se e preparar-se peloseu próprio poder e obras, para a fé e invocação deDeus; portanto, não temos forças para fazer boas obrasagradáveis e aceitáveis a Deus sem a sua graça porCristo, predispondo-nos para que tenhamos boa

570 Ibidem., p.62.571 WALKER, John. A História do Avivamento Morávio. Goiás: [s.ed.]. 1978, p. 2.572“Armínio discordava tanto de Agostinho como de Calvino, quando negava ter o homemficado reduzido pelo pecado à inatividade. Houve algo que o homem não perdeu. Aindalhe resta a capacidade de responder à graça de Deus e aceitá-la ou recusá-la. Noutraspalavras: ainda possui liberdade e volição e, assim, é responsável pela sua decisão”(SALVADOR, José Gonçalves, Ibidem, p.41).573 No IV artigo de Jacobus Arminius, condenado pelo Sínodo de Dort, está dito:” Que estagraça de Deus é o começo, a continuação e o fim de todo o bem; de modo que nemmesmo o homem regenerado pode pensar, querer ou praticar qualquer bem, nem resistira qualquer tentação para o mal sem a graça precedente (ou preveniente) que desperta,assiste e coopera (...). Que aqueles que são enxertados em Cristo por uma verdadeira fé,e que assim foram feitos participantes de seu vivificante Espírito, são abundantementedotados de poder para lutar contra Satã, o pecado, o mundo e sua própria carne, e deganhar a vitória (...)”.574 BURTNER, Robert W.; CHILES, Robert E. Coletânea da Teologia de João Wesley.Ibidem, p. 54.

CLXXIX

vontade e operando em nós quando temos essa boavontade.” 575

Mas qual ênfase doutrinária proclamada pelo Arminianismo que

cooperou para o Avivamento ou compromisso social metodista?

Dentro da compreensão de Wesley, o livre arbítrio é fundamental

para que ocorra avivamento e compromisso social.

O livre arbítrio dentro da identidade metodista leva o ser humano

a uma dependência da graça de Deus, o incentiva a sair de sua

situação pecaminosa, crescer espiritualmente e a alcançar a perfeição

cristã. O livre arbítrio motiva o ser humano a buscar mais a Deus e a

amar ao próximo. Ao contrário de levar a resignação, ele é motivado

a lutar. Wesley afirma:

“Lutemos constantemente por desembaraçarmos-nos de todas as coisas inúteis que nos rodeiam. Deusgeralmente suprime das nossas almas assuperficialidades na mesma proporção que nós aeliminamos do nosso corpo. A melhor maneira deresistir ao diabo é destruir qualquer coisa do mundo quepermanece em nós (...).576

Dentro do tema da tese – avivamento e compromisso social – o

livre arbítrio motiva a buscar o Espírito Santo e a ser solidário com os

que sofrem. Segundo Wesley, os frutos imediatos do Espírito na vida

do cristão, são:

575 CÂNONES da Igreja Metodista, Ibidem, p.36.

CLXXX

“amor, alegria, paz, coração misericordioso,humildade de espírito, mansidão, doçura,longanimidade. Es os frutos exteriores são: fazer o bema todos os homens, não fazer mal a ninguém e andarna luz, guardando uma obediência zelosa, uniforme, atodos os mandamentos de Deus.”577

O arminianismo influenciou tanto a Wesley que a partir de 1778 a

sua revista passou a se chamar A Revista Arminiana.578

Para ele, a graça é livre e alcança a todos. Não depende dos

méritos humanos. O ser humano decide aceitá-la ou não. Pela fé nos

apropriamos dos méritos de Jesus.579 A fé é a única condição

necessária para a salvação. Mas esta fé não é obra humana. Provém

da graça de Deus. Ele completa:

“(...) a graça de Deus da qual nos vem a salvação égratuita em tudo e para todos.”580

4.1.2. A influência Anglicana

Se João Wesley e os primeiros metodistas discordavam, em

parte, da Igreja Anglicana e criam que Deus os havia levantado,

inclusive, para mudar esta Igreja, ela deixou uma grande influência na

estrutura e na base doutrinária do metodismo.

576 WESLEY, João. Explicação clara da Perfeição Cristã, ibidem, p.125.577 ______. Sermões de Wesley. 1 v., ibidem, p.213.578 “A revista wesleyana passou a denominar-se, desde 1778, ‘A Revista Arminiana’ (TheArminian Magazine). É digno de nota que o primeiro artigo publico no volume de 1792 é atradução do escrito de Armínio, intitulado ‘O julgamento de Armínius acerca dos decretosdivinos’ (SALVADOR, José Gonçalves, Ibidem, p.77)”.579 BURTNER, Robert W. ; CHILES, Robert E.,Ibidem, p. 160.

CLXXXI

A Igreja Anglicana surgiu em 1534 por vontade do rei Henrique

VIII, que se separou da Igreja Católica para obter o divórcio e se

casar de novo para ter um herdeiro. Ele havia se casado secretamente

em 25 de janeiro de 1533 com Ana Bolena. O Papa Clemente VII

preparara uma bula ameaçando o rei de excomunhão em 11 de julho

de 1533.581

“A resposta do rei foi uma série de leis obtidas em1534 do parlamento. Por elas foram proibidos quaisquerpagamentos ao papa; todos os bispos seriam eleitospor indicação do rei; todos os juramentos de obediênciaao papa, licenças romanas e outros reconhecimentosda autoridade papal eram nulos.”582

O Parlamento inglês aprovou o "Ato de Supremacia"

reconhecendo o rei como o único cabeça da Igreja na Inglaterra e não

mais o papa. O rei elaborou dez artigos de religião, uma espécie de

credo, mas quando ele morreu a Inglaterra ainda tinha muito do

catolicismo.583

Os antepassados de João e Carlos Wesley foram anglicanos. O

pai, Samuel Wesley, foi pastor na Igreja da Inglaterra. Wesley foi

ordenado sacerdote e serviu em Epworth durante três anos, ajudando

seu pai. Por isso, também havia um respeito grande pela Igreja de

origem, tanto que João e Carlos Wesley lutaram contra a separação e

morreram anglicanos.

580 Ibidem, p. 147.581 WALKER, Welliston, Ibidem, p.83.582 Ibidem.583 Ibidem, p. 84.

CLXXXII

Dos 39 Artigos de Religião da Igreja oficial, os metodistas

deixaram 25 como parte da base doutrinária. Entre algumas dessas

ênfases doutrinárias, resumidamente citamos:

Nos 25 Artigos de Religião, que formam basicamente a herança

doutrinária que o metodismo herdou do anglicanismo, estão: (1) Da fé

na Santa Trindade; (2) Do Verbo ou Filho de Deus que se fez

verdadeiro Homem; (3) Da ressurreição de Cristo; (4) Do Espírito

Santo;584 (5) Da suficiência das Santas Escrituras para a salvação; (6)

Do Antigo Testamento; (7) Do pecado original;585 (8) Do livre arbítrio;

(9) Da justificação do homem; (10) Das boas obras; (11) Das obras de

superrogação;586 (12) Do pecado depois da justificação; (13) Da Igreja;

(14) Do purgatório;587 (15) Do falar na congregação em língua

584 Este artigo 4º afirma: “O Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho, é da mesmasubstância, majestade e glória com o Pai e com Filho, verdadeiro e eterno Deus”(CÂNONES da Igreja Metodista, Ibidem, p.34).585 Este artigo diz : “O pecado original não está em imitar Adão, como erradamente dizemos Pelagianos, mas é a corrupção da natureza de todo descendente de Adão, pela qual ohomem está muito longe da retidão original e é de sua própria natureza inclinado ao mal eisto continuamente” (CÂNONES da Igreja Metodista, Ibidem, p.36). “Pelágio era ummonge inglês, possivelmente, de origem irlandesa. Em 400 veio a Roma e ficou chocadocom o baixo nível da península itálica. Achando que havia necessidade de um esforçomoral mais acentuado, chocou-se com a oração de Santo Agostinho: ‘Concede-me,Senhor, o que tu exiges, e manda o que for de teu agrado. ’Sua doutrina, parece não Terprovocado distúrbios antes de sua ida `a África após o saque de Roma” (BETTENSON,Henry. Documentos da Igreja Cristã, ibidem, p.87).Ele acredita que o homem podiapermanecer sem pecado. Com isso, ele dizia glorificar a Deus “já que reconhecemos quedEle nos vem esta dádiva e este poder” (BETTENSON, Henry, Ibidem, p.88).586 Obras de superrogação significa: “As obras voluntárias que não se achemcompreendidas nos mandamentos de Deus, as quais se chamam de obras desuperrogação, não se podem ensinar sem arrogância e impiedade; pois, por elas,declaram os homens que não só rendem a Deus tudo quanto lhe é devido, mas tambémde sua parte fazem ainda mais do que devem, embora Cristo claramente diga: ´Quandotiverdes feito tudo o que se vos manda, dizeis: Somos servos inúteis” (CÂNONES daIgreja Metodista. Ibidem, p.37).587 Este 14º artigo afirma: “A doutrina romana do purgatório, das indulgências, veneraçãoe adoração, tanto de imagens de relíquias, bem como a invocação dos santos, é umainvenção fútil, sem base em nenhum testemunho das Escrituras e até repugnantes à

CLXXXIII

desconhecida; (16) Dos Sacramentos; (17) Do batismo; (18) Da Ceia

do Senhor; (19) De ambas as espécies; (20) Da ablação única de

Cristo sobre a cruz; (21) Do casamento dos ministros; (22) Dos ritos e

cerimônias da Igreja; (23) Dos deveres civis dos cristãos; (24) Dos

bens dos cristãos; (25) Do juramento do cristão. 588

As chamadas Fontes do Conhecimento Espiritual 589 como

critério para a compreensão da verdade espiritual tiveram como ponto

de partida o anglicanismo:

“À típica trilogia anglicana de autoridade (Escritura,tradição cristã, razão) ele acrescentou a experiênciahumana direta da realidade divina como um critérioimportante para a compreensão da verdade divina.”590

Segundo Manfred Marquardt:

Palavra de Deus (CÂNONES da Igreja Metodista. São Paulo: Associação ReligiosaImprensa da Fé, 1998, p. 38)588 CÂNONES da Igreja Metodista. Ibidem, p.33-43.589 Além da Tradição Cristã, Razão, Escritura e Experiência Espiritual, a Criação Naturaltambém estava incluída nas Cinco Fontes do Conhecimento Espiritual. Para Wesley,“Toda Escritura é inspirada por Deus” (BURTNER, Robert W.; CHILES, Robert E., Ibidem,p.20). Sobre a importância da razão, ele diz: “o Filho de Deus começa a sua obras nohomem capacitando-nos a crer nele. Ele abre e alumia os olhos de nosso entendimento”(Ibidem,p.23). Segundo Wesley, o Testemunho do Espírito, a Experiência Espiritual é “aevidência mais forte da verdade do cristianismo” (Ibidem, p.30). Sobre a importância datradição cristã, ele diz: “ (...) Clemente Romanus, Inácio, Policarpo, Justino Mártir, Irineu,Origenes, Clemente Alexandrinus, Cipriano, aos quais eu acrescentaria Macarius e EfraimSyrus (...). Reverencio muito estes cristãos com todas as suas falhas porque vejo tãopoucos cristãos atualmente; porque leio tão pouco nos escritos dos últimos tempos e ouçotão pouco de cristianismo genuíno, e porque a maioria dos cristãos modernos (assimchamados) não contentes com o serem totalmente ignorantes a respeito do cristianismotêm profundos preconceitos contra ele chamando-o ‘entusiasmo’ e não sei mais o que”(BURTNER, Robert W.; CHILES, Robert, Ibidem, p.35-6). Sobre a Criação Natural,Wesley diz: “Assim todas as partes da natureza nos conduzem ao Deus da natureza”(Ibidem, p.37).590 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 320.

CLXXXIV

“Escritura, razão e experiência tornaram-se, cadavez mais, o lema de Wesley para a autoridade nafé.”591

Sobre a importância da experiência, que Wesley chamava

também de Testemunho do Espírito, 592ele escreveu:

“Supõe-se geralmente que a evidência tradicionalse enfraquece com o passar do tempo visto que ela temnecessariamente de passar por muitas mãos numacontínua sucessão de épocas. Mas nenhuma extensãode tempo pode possivelmente afetar a força daevidência interna. Ela é igualmente forte e nova atravésdo curso.”593

Para Wesley religião e razão devem caminhar juntas,594 mas para

ele a razão não pode dar fé, esperança, amor ou produzir virtudes.595

“Somente ele pode dar aquela fé que é a‘evidência’ e a convicção ‘das coisas não vistas’.Somente ele pode fazer-nos gozar a esperança viva deuma herança eterna nos céus, e só ele pode ‘derramaro seu amor no vosso coração pelo Espírito Santo quevos é dado.”596

A justificação ocupou lugar central na pregação metodista. Este

tema provinha dos escritos dos reformadores e indiretamente da Igreja

Anglicana. 597

591 MARQUARDT, Manfred. Redescobrindo o Sagrado. São Paulo: Editeo, 2000, p.18.592 BURTNER Robert; CHILES, Robert, Ibidem, p.29.593Ibidem, p. 31.594 Ibidem, p.25.595 Ibidem, p.27.596 Ibidem.597 KLAIBER Walter; MARQUARDT, Manfred, Ibidem, p.270.

CLXXXV

No 9º Artigo de Religião dos Metodistas, que foi retirado dos 39

Artigos de Religião da igreja Anglicana, a justificação é assim definida:

“Somos reputados justos perante Deus somentepelos merecimentos de nosso Senhor e Salvador JesusCristo, por fé e não por obras ou merecimentos nossos;portanto, a doutrina de que somos justificados somentepela fé é mui sã e cheia de conforto”. 598

Para Wesley a justificação é o mesmo que perdão e libertação da

culpa e do castigo.

“Esta é, pois, a salvação pela fé, mesmo no mundopresente; salvação do pecado e das conseqüências dopecado, expressas com freqüência pela palavrajustificação, a qual, tomada em sentido mais lato,implica na libertação da culpa e do castigo, pelapropiciação de Cristo atualmente aplicada à alma dopecador (...).599

Mas em que sentido as ênfases doutrinárias da igreja Anglicana

contribuíram com o avivamento ou compromisso social do metodismo?

Entre essas ênfases está a justificação, que leva ao novo

nascimento e inicia o processo de santificação600. E entre os sinais do

novo nascimento está o amor, que é derramado em nossos corações

pelo Santo Espírito.601 Ao próximo deve ser ministrado esse amor, que

proporciona ao cristão compromisso social. Segundo Wesley:

598 CÂNONES da Igreja Metodista, Ibidem, p.37.599 WESLEY, João. Sermões de Wesley. Tradutor Nicodemus Nunes. v 1. São Paulo:Imprensa Metodista, 1953, p.36.600 Ibidem, p.112.

CLXXXVI

“Os frutos necessários desse amor de Deus são oamor a nosso próximo – a toda alma que Deus criou,não excetuando nossos inimigos (...)”.602

Após a justificação, a dinâmica das Obras de Misericórdia, bem

como as Obras de Piedade, são também necessárias para que haja

santificação. Wesley diz:

“E cabe a todos os que são justificados seremzelosos de boas obras. Estas são tão necessárias quese o homem voluntariamente as negligenciar, nãopoderá razoavelmente esperar que jamais sejasantificado (...)”. 603

Só após a morte de João Wesley é que oficialmente o metodismo

se separou do anglicanismo.604

“Os metodistas wesleyanos separaram-se da IgrejaEstabelecida aos poucos e, por fim, somente após amorte de John Wesley (1791), que desejava que seusseguidores evitassem a separação.”605

Em 1784 dois importantes passos foram dados para o

rompimento:

“Em 28 de fevereiro Wesley, por um ‘Ato deDeclaração’, cuidou da continuação do movimento apósa sua morte, nomeando uma ‘Conferência’ de cemmembros para zelar pelas propriedades e assumir adireção do movimento. Foi um passo avante noautogovêrno do metodismo. Em 1º de fevereiro Wesleyjuntou-se a outros presbíteros da Igreja da Inglaterrapara ordenar presbíteros e um superintendente para aAmérica. Na verdade, isto foi um rompimento com a

601 WESLEY, João. Sermões de Wesley. 1 v., ibidem, p.376.602 Ibidem, p.377.603 WESLEY, João. Sermões de Wesley. 2 v., ibidem, p.252.604 WALKER, Welliston,.Ibidem, p.214.605 Ibidem.

CLXXXVII

igreja da Inglaterra, ainda que Wesley não oconsiderasse como tal.”606

Em 1795, através do “Plano de Pacificação”,607 o metodismo

tentou resolver as tensões através da aprovação de um documento.608

Ele permitia que o sacramento fosse ministrado aonde a liderança

local aprovasse. O Plano foi um reconhecimento da separação

eclesiástica entre metodistas e anglicanos, o controle da Conferência

sobre o metodismo.609

4.1.3. A herança do Pietismo

O Pietismo foi um rompimento com as tendências escolásticas

do luteranismo alemão, que havia assumido uma interpretação

606 Ibidem.607 O Plano de Pacificação determinava: “O sacramento da ceia do Senhor não seráadministrado em qualquer capela a não ser que o permitam a maioria dos depositáriosdesta capela, dos ecônomos e líderes dela (sendo eles os mais qualificados para darem aopinião do povo). Contudo, em todos os casos se deverá obter primeiramente oconsentimento da Conferência... Previsto que, em todas as capelas em que a ceia doSenhor já tem sido pacificamente administrada a sua administração continuará para ofuturo... Concordamos em que a Ceia do Senhor seja administrada entre nós somente nosdomingos à tarde, exceto lá onde a maioria dos ecônomos e líderes desejarem que seja,nos horários eclesiásticos... Contudo, nunca será administrada naqueles domingos emque é administrada na igreja paroquial. A ceia do Senhor deverá sempre seráadministrada na Inglaterra segundo a forma da Igreja estabelecida; mas a pessoa que aadministra terá a liberdade de anunciar hinos, usar a exortação e a oração extemporânea.Onde quer que na Inglaterra o serviço divino é celebrado no dia do Senhor, em horárioseclesiásticos, o pregador oficiante deve ou ler o ritual da Igreja – a abreviação feita pornosso venerável pai – ou pelo menos as leituras marcadas pelo calendário. Portanto,recomendamos quer o serviço plenos quer a abreviação. A nomeação dos pregadoresmencionados no título arrolado, e seus sucessores, são as únicas pessoas legais queconstituem a Conferência. E pensamos que os irmãos mais jovens não têm razão emobjetar a essa proposição, visto que são regularmente eleitos segundo a idade” (BETTENSON, Henry. Documentos da Igreja Cristã, ibidem, p. 293).608WALKER, Welliston, Ibidem.609 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.318.

CLXXXVIII

dogmática, exata e rígida. Foi uma afirmação da primazia do

sentimento na experiência cristã.610

O Pietismo foi uma tentativa de renovar a Igreja Luterana na

Alemanha, reinstalando diversos temas da Reforma tradicional.611

Philipp Jacob Spener (1635-1705) foi a figura predominante do

reavivamento pietista.612

Nessa época, no Luteranismo, era enfatizada a pura doutrina e a

prática dos sacramentos como os elementos suficientes para a vida

cristã. Isto tornava a religião sem influência na sociedade, além de não

cooperar para a vida abundante dos cristãos.613

O papel do leigo era passivo na Igreja. Ele, simplesmente, ouvia

os sermões do pastor, participava dos sacramentos e das ordenanças.

A vida cristã era vista como aceitar unicamente os dogmas da

Igreja.614

Mais alguns fatores contribuíram para o surgimento do Pietismo,

entre eles, a Guerra dos 30 Anos (1618-1648),615 envolvendo toda a

Europa Ocidental. Nesta guerra, a Alemanha ficou arrasada,

proporcionando uma onda de misticismo.

610 WALKER, Welliston, Ibidem, p.190.611 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.19.612WALKER, Welliston, Ibidem, p.190.613 Ibidem.614 Ibidem.

CLXXXIX

Philipp Jacó Spener, versado em exegese bíblica, foi

influenciado pelo livro Verdadeiro Cristianismo do Místico Johann

Arndt (1555-1621), publicado entre 1605-1609. Spener foi influenciado

também pelos escritos puritanos de Lewis Bayly, especialmente pelo

livro A Prática da Piedade.616

Spener era pastor em Frankfurt e sentia-se embaraçado por toda

a autoridade estar nas mãos do governo. Em 1670, chamou um

pequeno grupo de pessoas de idéias semelhantes para estudarem a

Bíblia, orar e meditar sobre o sermão pregado no Domingo.617 Tudo

isto com o objetivo de aprofundamento na vida espiritual.

No ano de 1675, publicou a Pia Desideria, onde mostrava a

interferência do governo na Igreja, o mau exemplo dos clérigos, as

controvérsias religiosas existentes, as bebedices e imoralidades e a

ambição dos leigos. Para Spener estes eram os principais males da

época.618

Na Pia Desideria, Spener atacou os líderes políticos:

“Enquanto isso, muitas pessoas revestidas deautoridade civil procuram tirar proveito de suassituações. Pela maneira como vivem, pode-se concluirque poucos sabem o significado do verdadeirocristianismo.”619

615 A Guerra dos trinta anos foi entre católicos e protestantes, na Europa, e começou naBoêmia. WALKER, Welliston, ibidem, p.125.616 Ibidem, p. 191.617 Ibidem.618 Ibidem.619SPENER. Philipp Jacob. Pia Desideria. Imprensa Metodista, Ciências da Religião,1985, p.25.

CXC

Sobre os pastores, Spener afirmou:

“Eles buscam promoção, pulam de paróquia aparóquia e envolvem-se em todo tipo de conchavos.”620

Spener pretendia empreender uma reforma moral e espiritual e

propôs um coração reto e a conversão. Propunha ainda a formação de

círculos nas congregações para a leitura da Bíblia, vigilância mútua e

auxílio.

Ele elaborou propostas para a situação da Igreja, entre elas,

incentivou o uso mais extensivo das Escrituras; o exercitamento do

sacerdócio universal; prática e conhecimento do cristianismo; a

reforma das escolas e universidades, etc.621

“O plano de renovação de Spener foi realizadoatravés de pequenos grupos conhecidos como collegia-pietatis - escolas de piedade.”622

No programa de reforma de escolas e universidades, Spener

orientou os professores de teologia para que os alunos tivessem uma

vida de piedade. Entre os livros que sugeriu para que os alunos

lessem estava A Imitação de Cristo, de Thomas Kempis,623 que mais

tarde influenciou Wesley.

620 Ibidem, p.27.621 Ibidem, p.56-80.622 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 20.623 SPENER, Philipp Jacob. Pia Desideria. Ibidem, p.73.

CXCI

Spener teve várias oposições e foi considerado herege.624

Depois da morte de Spener, outras pessoas contribuíram na liderança

do Pietismo como Augusto Hermann Francke (1663-1727).625

“Francke era dotado de imensa energia e gênioorganizador. Sua paróquia de Glaucha era um modelode fidelidade pastoral. Suas conferências nauniversidade foram exegéticas e experimentais; e suacombinação de cátedra e pratica pastoral foi altamentebenéfica para seus alunos.”626

Wesley incorporou ao Metodismo algumas ênfases do Pietismo,

como a experiência pessoal e uma maior participação do leigo na vida

da Igreja.627

Na América, em 1737, Wesley publicou uma Coleção de Salmos

e Hinos onde diversas expressões revelam a teologia e a prática

Pietista de Wesley:

“Esses textos, muitos traduzidos do alemão,expressam o coração de um pietismo baseado nasEscrituras e elucidam os temas que eram apreocupação espiritual mais importante para Wesley –completa dependência da graça, centralidade do amore o desejo de fogo genuíno para inflamar seu coraçãofrio.”628

624Spener foi acusado de heresia. “Falsamente, como demonstrando afastamentointencional dos padrões luteranos; mas com verdade no sentido de que seu espírito eideais eram inteiramente distintos da ortodoxia luterana da hora” (WALKER, Welliston,Ibidem, p.192).625 Ibidem. p.192.626 Ibidem, p.194.627 BURTNER, Robert W. ; CHILES, Robert E. Ibidem, p.28-3.628 HEITZENHATER, Richard, Ibidem, p. 69.

CXCII

Dentro do tema da tese - avivamento e compromisso social – o

Pietismo deu impulso na busca da comunhão com Deus, que leva ao

avivamento, e a solidariedade aos oprimidos. O Pietismo é a religião

do coração. O arrependimento, o perdão, o novo nascimento, a vida

eterna e a cruz foram algumas marcas do Pietismo. Vários hinos

revelam esta marca, como o hino escrito pelo missionário metodista J.

J. Ranson:

“Por meus delitos expirouJesus a vida e luz.O meu castigo ele esgotouNa ensangüentada cruz.”629

Outro missionário metodista, Justus H. Nelson, que esteve em

Belém, Pará, entre 1882-1925, traduziu diversos hinos, dos quais nove

se encontram no Hinário Evangélico. 630

Um deles diz:

“Achei um bom amigoJesus, o SalvadorO escolhido dos milharespara mim;Dos vales é o Lírio;É o forte mediador,Que me purifica e guarda para si;Consolador Amado,Meu protetor do mal,Solicitude minha toma a si (...).”631

629 HIÁRIO Evangélico, hino 413, Imprensa Metodista, 1985, p. 246.630Hinário Evangélico é uma coleção de hinos publicados e utilizados pela IgrejaMetodista.631 Ibidem, hino 226, p. 166.

CXCIII

Dentro do tema da tese - avivamento e compromisso social - o

Pietismo trouxe sua contribuição ao metodismo ao dar ênfase ao novo

nascimento632 e, consequentemente, a santificação e perfeição cristã,

que para Wesley é perfeito amor.633 Ele explica que amor é este:

“É amar o Senhor nosso Deus de todo coração,mente e alma e força e amar ao próximo como a nósmesmos, como a nossa própria alma”.634

O Pietismo foi um movimento necessário, na época, diante de

uma religião muito mais voltada para os debates teológicos,

esquecendo-se de enfatizar a comunhão pessoal com Deus.

“O Pietismo foi um rompimento com tais tendênciasescolásticas.”635

Uma das críticas que se faz ao Pietismo é que ele rompeu com a

ortodoxia confessional, mas não trouxe líderes religiosos que

tomassem o lugar dos velhos teólogos dogmáticos.636

“A teologia pietista alemã, como é vista nosescritores como Spener, August Hermenn Francke, eparticularmente Nicholas Ludwing von Zinzendorf(patrono dos morávios), seria caracterizada como‘teologia do coração.”637

632 WESLEY, João. Sermões de Wesley. 2 v., ibidem, p.348.633 Ibidem, p.348.634 WESLEY, João. Explicação clara da perfeição cristã. Ibidem, p.88.635 WALKER, Welliston, Ibidem, p. 190.636 Ibidem, p. 233.

CXCIV

Wesley deve ao Pietismo uma contribuição valiosa a sua fé.

Contudo, além da comunhão com Deus, ele também teve

sensibilidade com os sofrimentos 638 da classe operária inglesa.

O equilíbrio de Wesley determinou o amadurecimento do

metodismo. Ele falava da necessidade do cristão praticar as obras de

Piedade639 (oração, leitura da Bíblia, jejum, participação na ceia e

cultos, etc.), aspectos nos quais mostra a influência pietista sobre

Wesley, contudo, enfatizava também a necessidade da prática dos

atos de Misericórdia640 (alimentação aos famintos, vestir os nus, visitar

os presos e enfermos, etc).

“Wesley partilha os pressupostos de Zinzendorf; oscristãos são santificados unicamente pela fé, e emCristo; mas Wesley tem, além disso, a convicção que opoder santificador da graça de Deus entraeficientemente na vida dos homens e os capacita parao perfeito amor a Deus e aos Homens, seussemelhantes”.641

4.1.4. A contribuição dos Moravianos

637 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.19.638 No quinto capítulo abordaremos o compromisso social dos metodistas.639 WESLEY, João. Sermões de Wesley. 2 v., p,.354.640 A ênfase de Wesley nos Atos de Misericórdia remonta às Sociedades religiosas que“também estimulavam algumas causas de caridade” (HEITZENHATER, Richard P.,Ibidem, p.23). Heitzenhater afirma que “trabalhando com os pobres, as sociedadespretendiam, não tanto melhorar seu nível de vida num sentido econômico, mas melhorarsuas vidas num sentido moral e espiritual” (Ibidem, p.23). Samuel Wesley, pai de Wesley,foi influenciado pela SPCK (Sociedade para a propagação do Evangelho) e tentouorganizar uma sociedade em Epworth (Ibidem, p.27). Cinco das catorze regras que eleescreveu se referem à caridade (Ibidem, p.29).641 KLAIBER Walter; MARQUARDT, Manfred, Ibidem, p.302.

CXCV

Os moravianos sofreram na Guerra dos Trinta Anos (1618-

1648)642 e fugiram das perseguições. Eles pertenciam a diversos

grupos:

“(...) seguidores de Huss, Lutero, Calvino e outrosreformadores, fugindo das perseguições mortíferasdaquela época, acharam asilo em Herrnhut, nopatrimônio de um fidalgo abastado, o CondeZinzendorf.” 643

Os morávios de língua alemã buscaram refúgio na Sexônia.

Posteriormente, em 1722, o Conde Zinzendorf deu-lhes permissão de

fundar uma aldeia em Berthelsdorf, a qual denominaram Herrnhurt. A

eles se juntaram muitos pietistas germânicos.644

A partir de 1727, eles fizeram uma Aliança Fraternal a fim de

procurar e enfatizar os pontos em que concordavam e não salientar as

suas diferenças. O amor fraternal e a unidade em Cristo seriam o que

ligariam uns aos outros e se comprometeram a obedecerem aos

estatutos da aliança. Seriam verdadeiro seguidores de Cristo.645

No dia 13 de agosto de 1727, numa reunião onde se celebrava a

Ceia do Senhor, os moravianos tiveram uma experiência carismática,

como hoje interpreta Casiano Floristán,646 e caíram no chão. Eles se

642 Só a Alemanha teve um decréscimo de mais de 10 milhões de pessoas. Os camposforam desvastados e as indústrias destruídas ( WALKER, Welliston, Ibidem, p. 130).643 WALKER, John. Sangue e Fogo, A História do Avivamento Morávio. Rubiataba,Goias:[s.ed],1978, p.1.644 WALKER, Welliston, Ibidem, p. 198.645 WALKER, John. Sangue e Fogo, Ibidem, p. 2646Casiano Floristán afirma que a experiência mística é interior, imediata, simples,passiva e frutífera, que têm lugar em nível de consciência. Já a experiência carismática

CXCVI

entregaram às orações e nos quatro anos seguintes experimentaram

tempos de avivamento constantes. Ascendeu um desejo ardente de

levar a salvação de Cristo aos pagãos. O avivamento produziu um

movimento missionário.647

Eles saíram como missionários pelo mundo. Foi assim que

Wesley teve, em 1736, um encontro com um grupo de morávios no

navio em que viajava para a América:

“Os missionários moravos mostravamextraordinária devoção. Alguns como Dover, um oleiro,que para pregar aos escravos na Ilha de S.Tomás(Índias Ocidentais) ofereceu-se como escravo, paramelhor atingir o seu fim, pois os proprietários deescravos não lhes consentiram que pregasse aos seusserviçais. Outros ofereciam-se voluntariamente para aGroelândia. Em 1734 abriram uma missão entre osPeles Vermelhas, no estado de New York e naPensilvânia.”648

Na América, Wesley teve um contato mais intenso com os

moravianos e conviveu com eles.

“O líder morávio apresentou a Wesley as diferençasentre os dois grupos de alemães pietistasrepresentados na Geórgia. De um lado, osSalzburgers, estalecidos em New Ebenezer, seguiamos ensinamentos de August Hermann Francke eSamuel Urlperger, firmados na tradição de PhillippJacob Spener e da Universidade de Halle. De outrolado, os morávios, estabelecidos em Savannah,

inclui fenômenos como visões, audições (Conceptos Fundamentales del Cristianismo,Ibidem, p. 486-8).647 WALKER, John. Ibidem, p. 3-4.648 TUCKER, John T. Compêndio de História de Missões. Lisboa: [s.ed.], 1954, p.170.

CXCVII

seguiam os ensinamentos de Spangenberg e NicholasLudwig von Zinzendorf.”649

Dentro da tese - avivamento e compromisso social, os

Moravianos influenciaram pouco. Os morávios influenciaram mais a

vida espiritual de Wesley, quando ele esteve na América,

especialmente, em relação a fé:

“(...) os pietistas alemães haviam tomado o lugarcentral na sua busca de uma fé significativa. Asimagens e os ensinamentos centrais da ‘teologia docoração’ dos morávios, ficaram claramente impressosem sua mente e espírito quando esteve na Geórgia.”650

Quando viajava para sua missão na América, João Wesley

observou cuidadosamente as atitudes dos moravianos no navio. Entre

suas observações, estão:

Eram meigos e nenhuma injúria os ofendia;

Eram isentos de espírito de medo;

Não tinham espírito de ira, orgulho e vingança;

Consideravam o Sermão da Montanha como lâmpada para os

pés;

O servir a Deus era considerado o único motivo de suas vidas,

Tinham uma fé viva.651

Wesley se referia ao moraviano como:

649 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.60.650 Ibidem, p.73.651 WALKER, John, Ibidem, p. 6.

CXCVIII

“(...) o adocicado morávio (...)” .652

O episódio da tempestade a bordo653 levou Wesley a observar a

vida dos moravianos e a ter mais submissão a Deus:

“Submissão à sábia, santa e graciosa vontade deDeus; a também abrir seus olhos para a profundidadeda fé dos morávios alemães que estavam a bordo.”654

Em Londres, ele se encontrou com o líder Peter Bohler durante

uns quatro meses para aprender mais sobre a fé.655 Esse contato

proporcionou a Wesley paradigmas para a renovação espiritual e o

desenvolvimento organizacional do metodismo.656. Em um sermão

publicado em 1765 – O meio bíblico de salvação – Wesley explica

sobre a fé:

“Mas qual é a fé pela qual somos santificados;salvos do pecado e aperfeiçoados em amor? ‘É umadivina evidência ou convicção, primeiro de que Deus oprometeu nas Santas Escrituras (...). Em segundo lugar,uma divina evidência ou convicção de que Deus écapaz de cumprir o que prometeu (...). E, em terceirolugar, uma evidência, ou convicção de que Deus pode equer faze-lo agora.” 657

652 WESLEY, João. Sermões de Wesley. 2 v, p,.445.653 Wesley temia o mar e nunca havia estado em um navio. Diante da tempestade, ”A nuarealidade da morte iminente mostrou a fragilidade do senso de segurança de Wesley (...)A terceira e pior tempestade, apenas uma semana antes de avistarem a terra, levouWesley à ‘submissão à sábia, santa e graciosa vontade de Deus’; e também abriu seusolhos para a profundidade da fé dos moravianos alemães que estavam a bordo”(HEITZENHATER, Richard P.,Ibidem, p.58-9).654 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 59.655 Ibidem, p. 76.656 Ibidem.

CXCIX

Pedro Bohler organizou no dia 1º de maio de 1738 (antes da

experiência de Wesley) a Sociedade de Fetter Lane, que veio a ser o

terceiro surgimento do metodismo.658

João Wesley e John Hutton participaram da organização da

sociedade.659 As regras tinham o objetivo de proporcionar saúde

espiritual. Quando Bohler foi para Londres deixou Wesley na liderança

da sociedade.

Em que sentido os moravianos contribuíram para a vida de

Wesley e, consequentemente, com o metodismo?

Os morávios estão ligados historicamente a experiência do

“coração aquecido” de Wesley. Ele foi a uma Sociedade Moravia, em

24 de maio de 1738, quando teve sua experiência. Alguns estudiosos

chegam a falar de sua “conversão Moravia”.660

Após sua experiência, Wesley foi até a Alemanha passar um

período com eles. Através dos moravianos, Wesley aprendeu sobre a

dedicação total ao senhor. João Wesley partilhou de alguns

pressupostos teológicos do conde Zinzendorf, especialmente a fé::

“Os cristãos são santificados unicamente pela fé,em Cristo; mas Wesley tem, alem disto, a convicçãoque o poder santificador da graça de Deus entra

657 WESLEY, João. Sermões de Wesley. v 2, ibidem, p.355-6.658HEITZENHATER, Richard P., Ibidem., p.78.659 Ibidem, p.79;660 RUMBLE, L. “Os Metodistas” em Vozes em defesa da fé. Petrópolis:Editora VozesLimitada, 1959, p.30.

CC

eficientemente na vida dos homens e os capacita parao perfeito amor a Deus e os homens.”661

Evidentemente, por ser uma pessoa prática, houve afirmações

teológicas que Wesley teve que deixar de lado. 662 Ele reteve o que

considerou bom.

“Wesley também prestou muita atenção àorganização morávia. A divisão de Herrnhut emgrupos de vizinhança, chamados “coros” , fornecia abase para onze ‘classes’ baseadas na localizaçãogeográfica. Além dessas havia dez classes,determinadas pelo sexo e idade, que formavam a basepara a supervisão espiritual diária para conversaçõesreligiosas regulares.”663

Em 1739, Wesley começou a questionar algumas posições de

líderes morávios, entre elas a quietude,664 que consistia em afirmar

que os cristãos deveriam abster-se dos meios de graça,

especialmente a Ceia do Senhor, e ficar quietos na presença do

Senhor em espera. Isso cancelava as obras de misericórdia e os atos

de piedade, o que Wesley não concordou:665

“Vós subestimais as boas obras, (especialmente asobras exteriores de misericórdia), nunca insistindo depúblico na necessidade delas, nem proclamando seuvalor excelência.” 666

661 KLAIBER, Walter; MARQUARDT, Manfred, Ibidem, p. 302.662 Em 1739, com tendências morávias, Philip Henry Molther, passou a ensinar nassociedades de Londres que não haviam meios de graça e sim Cristo. Eles deveriampermanecer "quietos", diante do Senhor. Essa "teologia sublime" era contrária "a tudo emque Wesley há muito tempo cria e praticava". Wesley exortou as sociedades a esperaremno Senhor em todas as sua ordenanças (HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.106).663 Ibidem, p. 84.664 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.106.665 Ibidem, p. 106.666 WESLEY, João. Sermões de Wesley. v.2, ibidem, p.174.

CCI

Wesley se opôs também a idéia morávia de que o pecado não

permanece naquele que é nascido de Deus. Em seu sermão “Sobre o

pecado nos crentes”, ele afirma:

“Dos seguidores de Zinzendorf, nestes vinte anos,muitos de nossos compatriotas herdaram a mesmaopinião, afirmando que a corrupção da natureza nãomais existe no que crê em Cristo”.667

Wesley afirmava que Cristo pode estar no mesmo coração em

que habita o pecado, caso contrário, ele não poderia ser salvo do

pecado. Para ele, onde há doença há necessidade de médico.668 Por

isso, Wesley exortava os crentes à contínua vigilância contra a carne,

o mundo e o diabo669. Ele criticou abertamente essa doutrina morávia:

“Já se observou que a doutrina oposta – que não hápecado nos crentes – é bastante nova na Igreja deCristo: dela não se ouviu falar durante dezesseteséculos, nem antes que fosse descobertas pelo CondeZinzendorf”.670

Dentro do tema da tese - avivamento e compromisso social – os

moravianos foram importantes para despertar em Wesley uma fé viva.

Contudo, ele teve que evitar, especialmente o “quietismo” dos

moravianos:

667 _______._______. 1 v., p.258. Por pecado, Wesley entende como “toda tendênciapecaminosa, paixão ou afeição, tais como orgulho, obstinação, amor ao mundo, dequalquer espécie ou grau; cobiça, ira, impertinência; qualquer disposição contrária àmente que havia em Cristo” (Ibidem, p.258-9.)668 WESLEY, João. Sermões de Wesley. v.1, ibidem, p.262.669 Ibidem, p.270.

CCII

“(...) no outono de 1739, em uma das freqüentesviagens de Wesley a Londres, ele descobriu que PhilipHenry Molther, recentemente chegado da Alemanha,havia convencido muitas pessoas da Sociedade queelas não possuíam a verdadeira religião, e deviam,portanto, descontinuar todos os meios de graça e todasas obras de piedade e, em vez disso, deviampermanecer ‘quietos’ diante do Senhor”.671

A partir da Conferência Anual de 1745, Wesley se dedicou mais

a escrever. Ele estava preocupado com a influência morávia que

contaminava672 as sociedades. Por isso, escreveu “Uma breve

apresentação da diferença entre os Irmãos Morávios...e o Reverendo

Sr. João e Carlos Wesley” 673 e ainda “Um diálogo entre um

antinomiano e seu amigo”.674

“Wesley expurgou os escritos de Zinzendorf de´três grandes erros´ que encontrou: salvação universal,antinomianismo e quietismo.”675

Sobre o antinomianismo, Wesley explica:

“Guardai-vos do antinomianismo, quero dizer, deanular a lei ou alguma parte dela pela fé (...). Digamos:´Amo os teus mandamentos mais do que ouro, mais doque ouro refinado. Amo a tua lei. Medito nela tododia.”676

670 Ibidem, p.262.671HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.106.672 Ibidem, p.154.673 Nesta publicação, ele “responde à acusação de Church de que Wesley compartilhavade muitos dos mesmos problemas que havia colocado aos pés dos moravianos noJournal, tais como negar qualquer valor às boas obras (HEITZENHATER, Richard P.,Ibidem, p.154)”.674 Apesar de Wesley apreciar a profunda piedade dos moravianos, ele se preocupavacom seu antinomianismo, ou seja, ética que dispensa a lei (HEITZENHATER, Richard P.,Ibidem, p.154).675 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 155.676 WESLEY, João. Explicação clara da Perfeição Cristã, Ibidem, p.112.

CCIII

Quais foram as principais divergências com os moravianos?

A salvação universal, quietismo e antinominianismo677 foram as

principais divergências doutrinárias com os Moravianos. Wesley

chegou a escrever uma carta à Igreja Moravia, na Inglaterra,

questionando essas ênfases doutrinárias e pressionando-os a

mudarem na doutrina, disciplina e prática.678 Ele fez a demarcação e

continuou firme em seu propósito trazendo identidade e unidade ao

metodismo.

Por outro lado, a fé e a organização morávia foram aceitas, em

parte, por Wesley e contribuíram na formação da identidade

metodista.

4.1.5. A influência dos Puritanos

Segundo Duncan Reily, o Puritanismo679 surgiu na Inglaterra no

reinado da Rainha Isabel (Elizabeth I), na segunda metade do século

XVI:

“Foi um movimento para `purificar` o cultoanglicano dos vestígios romanos ou, de uma outraótica, calvinizar a Igreja na Inglaterra.”680

677 ______. Sermões de Wesley. 2 v., p,.445.678HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 143.679 No Capítulo 2, no Contexto Religioso, o Puritanismo é também citado.

CCIV

D.M.Lloyd-Jones coloca o Puritanismo como tendo começado a

manifestar-se com William Tyndale por volta de 1524.

“Por que dizer isso? Porque o puritanismo, comoespero demonstrar, é um tipo de mentalidade. É umaatitude, é um espírito, e é evidente que duas dasgrandes características do puritanismo começaram amostrar-se em Tyndale. Ele tinha um ardente desejo deque o povo comum pudesse ler as Escrituras. Mashavia grandes obstáculos em seu caminho; e é o modocomo ele enfrentou e venceu os obstáculos que mostraque Tyndale era um puritano. Ele lançou uma traduçãoda Bíblia sem o endosso e sanção dos bispos (...).Essas duas ações eram típicas do que sempre foi aatitude dos puritanos para com as autoridades.”681

D.M.Lloyd-Jones, dentro dessa linha de pensamento, coloca John

Knox como o fundador do puritanismo inglês: 682

“(...) era costume receber a Ceia de joelhos. Esta éuma prática anglicana. John Knox foi o primeiro aensinar as pessoas – e não somente a ensiná-las,porém a pô-lo em prática – a tomar a Ceia assentadas.Isso é puritanismo na prática.”683

Os protestantes que não estavam vinculados à Igreja do Estado,

eram conhecidos como dissidentes ou não-conformistas, depois como

Igrejas Livres.

680 REILY, Duncan Alexander. “O culto do Protestantismo Puritano-Pietista” em O cultoProtestante no Brasil., Estudos de Religião 2, São Paulo: Imprensa Metodista,1985, p.91.681 JONES, D.M.Lloyde. Os Puritanos. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas,1993, p.249-0.682 Ibidem, p.282.683 Ibidem, p.277.

CCV

Por causa das perseguições da Rainha Maria Túdor, entre 1553

e 1558,684 diversas pessoas se exilaram em Genebra, Zurique e

Frankfurt. Especialmente em Genebra:

“Ali entraram em contato direto com movimentosprotestantes que tinham ido muito mais longe em suasreformas do que a Igreja da Inglaterra.”685

Essas pessoas sofreram influências e voltaram com um

protestantismo radical.686 Passaram a ter a Bíblia como autoridade por

excelência superando toda pretensão da Igreja de ser a intérprete ou

ter a sua custódia. Sua ênfase sempre foi na doutrina da graça, na

teologia pastoral e na Igreja pura.687

Como tivessem o desejo de purificar a Igreja, passaram a ser

chamados de “puritanos”. Os Puritanos se tornaram um partido com

forte influência política.

“Queriam banir dos ofícios o que criam ser umremanescente de supertição romanista e desejavampara cada paróquia um pregador zeloso, espiritual. Emparticular, eram contrários às vestes clericais (...)opunham-se ao ajoelhar para receber a Ceia doSenhor, dizendo que tal atitude implicava adoração dapresença física de Cristo; combatiam o uso de aliançasno casamento, tendo-o como continuação do conceito

684 LILIÉVRE, Mateo, Ibidem, p.8. O rei Henrique VIII havia mudado a Inglaterra docatolicismo para o anglicanismo . Seu filho Eduardo VI, a reforma religiosa prosseguiu,mas quando Maria Túdor assumiu o poder, iniciou uma perseguição aos protestantes(Ibid, p.8). Maria perseguiu ao Arcebispo Cranmer, por ele ter declarado sem valor ocasamento de sua mãe (WALKER, Welliston, Ibidem, p.91).685 MENDONÇA, Antônio Gouvêa. O Celeste Porvir, Ibidem, p. 35.686 JONES, D.M.Lloyde, Ibidem, p. 251.687 Ibidem, p.267.

CCVI

do matrimônio como um sacramento; fazer o sinal dacruz no batismo, como supertição.”688

Essas pessoas queriam introduzir a disciplina e as práticas

puritanas e esperar as reformas do governo. Alguns não quiseram

esperar tal mudança. Eram os separatistas, dentro os quais se

encontravam os adeptos da política congregacional.689

“Os separatistas insistiam em que os ministrosdeviam ser eleitos pela congregação de seus fieis epagos por contribuições voluntárias destes (...).Defendiam a tolerância para todas as seitasprotestantes, repelindo a censura eclesiástica e todasas formas de jurisdição eclesiástica, em favor de umadisciplina interna às congregações, sem o aval denenhuma sanção coercitiva (...). O seu programaimplicaria em destruir a Igreja nacional, deixando acada congregação a responsabilidade de seus negóciose havendo apenas um tênue contato entre as diversascongregações (...).”690

Surgiram, posteriormente os chamados não-conformistas,

dissidentes ou Igrejas-Livres. Estes incluem os Congregacionalistas

ou Independentes, os Batistas e os Presbiterianos, por um lado, com

os Quacres e os Unitários por outro lado.691 Os Puritanos tinham uma

forte influência pietista.

“Os puritanos freqüentemente portavam umapreocupação tipicamente calvinista, a promoção dapiedade individual, a qual se tornou, então,característica de muitos não-conformistas.”692

688 WALKER, Welliston. História da Igreja Cristã. 2 v. Ibidem, p. 139.689 Ibidem, p. 141.690 HILL, Christopher, Ibidem, p. 52-3.691 VIDLER, Alec R, Ibidem, p. 137.692 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 17.

CCVII

Antônio Gouvêa Mendonça afirma que tanto o Pietismo como o

Puritanismo faziam parte da teologia de Wesley:

“Os metodistas continuaram enfatizando o conflitopenitencial (arrependimento), a convicção de pecado ea experiência pessoal de regeneração. Em seus pontosprincipais, a teologia de Wesley é Reformada ePuritana, especialmente na ênfase moral.”693

Max Weber compara o metodismo do século XVIII com o

ascetismo monástico694 da idade média:

“O poderoso revival do Metodismo, que, em fins doséculo XVIII, procedeu o florescimento da indústriainglesa pode ser comparado com uma dessas reformasmonásticas.”695

As Sociedades foram utilizadas por Wesley e tiveram influência

na organização do movimento metodista. Elas foram criadas em 1670

por Anthony Horneck com objetivos puritanos:

“(...) eram também formadas de pequenos gruposde leigos, que representavam uma fusão quaseespontânea de moralismo e devoção de promoverem areal santidade no coração e na vida.”696

693 MENDONÇA, Antônio Gouvêa, Ibidem, p. 41.694 “Antão, o fundador do monaquismo cristão, nasceu em Koma, no Egito central, porvolta de 250, de cêpa nativa (copta).Impressionado pelas palavras de Cristo, ao moçorico, desfez-se de suas posses e, por volta de 270, encetou vida de ascese em sua vilanatal. Quinze anos mais tarde, dedicou-se à vida solitária, tornando-se eremita. (...)Jejuava, praticava a mais severa abnegação e orava constantemente, Cria que vencendoa carne, se aproximaria cada vez mais de Deus. Antão em breve teve muitos imitadores(....).O primeiro grande aperfeiçoador do monaquismo foi Pacômio. (...) fundou o primeiromosteiro cristão, em Tabenísi, no Sul do Egito, por volta de 315-320” (WELLISTON,Walker. História da Igreja Cristã. v 1, Ibidem, p.182-3).695 WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, Ibidem, p. 125.696 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 21.

CCVIII

A renovação da aliança introduzida por Wesley no Natal de 1747

tinha uma conotação reformada-puritana.697

“A idéia de aliança teve, desde o início, na tradiçãometodista, uma grande significação. Tanto em suapregação, como na ordenação da vida comunitáriaeclesiástica, João Wesley – influenciado pela teologiareformada – reservou uma posição significativa para aidéia de aliança.”698

Em que consistia a renovação da aliança?

A idéia é de que Deus age por meio da aliança e através de sua

graça.699 Na aliança, os parceiros são exortados a viverem em

obediência700 a Deus, que sempre mantém sua fidelidade.701 Os

participantes são chamados a uma nova conversão de suas vidas a

Deus.702

“A primeira liturgia de renovação da aliança de queWesley nos informa, se realizou em agosto de 1755,emSpitalfields. Os cultos de renovação da aliança erampreparados com oração e jejum, e para eles foiestabelecida, como data regular, o primeiro domingo doano novo. O ponto alto desses cultos era constituídopela entrega renovada dos membros da comunidade aoDeus da aliança. Wesley se sentia feliz por terestabelecido para os metodistas um meio de graça, que

697 KLAIBER, Walter; MARQUARDT, Manfred, Ibidem, p.150.698 Ibidem.699 Ibidem, p.151.700 Ibidem.701 Ibidem, p.152.702 Ibidem, p.153.

CCIX

quase por toda parte tinha caído em desuso, do qualeles recebiam ricas bênçãos.”703

Apesar dos pais de João e Carlos Wesley terem aderido à Igreja

e ao partido político oficial, Wesley teve toda uma herança Puritana,

pois os seus antepassados foram não – conformistas:

“Samuel e Susanna vieram de um background não-conformista. Como já vimos, o pai de Samuel (JohnWesley) tinha sido destituído de sua paróquia pelobispo de Bristol no século dezessete. Susanna era filhade Samuel Annesley, um conhecido ministro não-conformista de Londres no final do século dezessete.”704

Que os Wesley tinham consciência do passado puritano de sua

família fica evidente no seguinte episódio relato por Mateo Lelièvre.

Ele cita uma carta de Samuel, irmão de João e Carlos Wesley,

endereçada à Susana, em 20 de maio de 1739, por ela estar dando

apoio a Wesley. Em sua carta ele se mostra preocupado com a mãe e

pede a Deus para livra-la de cair em nova heresia:

“(...) assim como desgraçadamente já se achouenvolta em outra heresia (...).”705

A “heresia” aqui citada foi pelo fato de Susana Wesley ter sido

Puritana em sua juventude.706

703 KLAIBER, Walter; MARQUARDT, Manfred, Ibidem, p.153.704 Ibidem, p. 26.705 LILIÈVRE, Mateo, Ibidem, p.84.706 Ibidem.

CCX

Em carta a Wesley, em 23 de fevereiro de 1725, Susana deixa

claro a sua orientação Puritana e Pietista aos filhos e filhas:

“(...) Meu querido Joãozinho: A transformaçãooperada em sua alma me tem dado muito o que pensar(...). Peço-lhe encaricidamente que faça um examerigoroso de sua consciência a fim de saber se tem umaesperança bem fundamentada da salvação e descobrirse possui a fé e o arrependimento que são, conformevocê bem sabe, as condições indispensáveis paraentrarmos em uma aliança com Deus.”707

Contribuiu o Puritanismo para o avivamento e o compromisso

social metodista?

Foi inevitável Wesley sofrer influências do Puritanismo num

contexto muito puritano e com o background que recebeu de seus

antepassados.708 Como vimos, pouca foi a contribuição do Puritanismo

no Avivamento e Compromisso Social dos metodistas. A influência foi,

especialmente, na utilização das Sociedades, a idéia da Aliança e a

ênfase moral das Regras Gerais.709

4.1.6. As Conferências Anuais

Sob a liderança de João Wesley, os pregadores participam de

reuniões para avaliação, aprovação de assuntos relacionados à vida e

707 Ibidem, p.33.708 “Samuel e Susanna vieram de um background não-conformista. Como já vimos, o paide Samuel (John Wesley) tinha sido destituído de sua paróquia pelo bispo de Bristol noséculo dezessete. Susanna era filha de Samuel Annesley, um conhecido ministro não-conformista” (HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.26).

CCXI

à missão do metodismo. Nas Conferencias Anuais haviam estudos,

debates, orientações, exame dos pregadores, planos, etc,

proporcionando assim a formação da identidade e trazendo unidade

aos metodistas.710

A primeira Conferência Anual teve início em 25 de junho de

1744711 e foi um marco no desenvolvimento da doutrina e disciplina

wesleyana. Trata-se de uma reunião realizada para direcionar o

reavivamento e fazer ajustes. A Conferência durou uma semana. Além

dos irmãos Wesley e os pregadores, estavam presentes mais quatro

ministros anglicanos: João Hodges, Henrique Piers, Samuel Taylor e

João Meriton.712

“A Conferência tinha em sua ordem do dia trêsperguntas:1.O que ensinar?2.Como ensinar?3.Como regulamentar a doutrina, a disciplina e aprática?”713

Outras Conferências vieram. A seguir registramos o tema

principal discutido nas principais Conferências realizadas quando

Wesley ainda era vivo:

709 BURTNER, Robert; CHILES, Robert. Coletânea da Teologia de João Wesley,ibidem,p.264-6.710 WESLEY. João. Trechos do Diário de João Wesley, ibidem, p.113.711 Wesley assim comentou sobre esta Conferência: “Na segunda-feira, 25 de junho de1744, demos início à primeira conferência, estando presente seis clérigos e todos osnossos pregadores. Na manhã seguinte consideramos seriamente a doutrina dasantificação ou perfeição cristã” (Explicação Clara da Perfeição Cristã, ibidem, p.41).712 A Conferência, que se reuniu na capela de uma antiga fundição, foi precedida, navéspera, por um culto solene de Santa Ceia, e, na manhã do dia da abertura, por umsermão de Carlos Wesley (LILIEVRE, Mateo, Ibidem, p. 139-0).713 Ibidem. P. 140.

CCXII

Na segunda Conferência, realizada em 1º de agosto de 1745, a

santificação continuou sendo o principal assunto.714 Foi discutido "o

que pregar" e as doutrinas básicas com ênfase na perfeição sem

negligenciar a justificação. Ficou estabelecida a prática de uma

Conferência Anual;715

Na terceira Conferência Anual, em 26 de maio de 1746, a

preocupação foi averiguar as atas anteriores.716 A pregação ao ar livre

foi estimulada.717 Dois anos depois, foram discutidas as regras e o

currículo da Escola em Kingswood. Houve também uma preocupação

com a função das Sociedades;718

Em 1749, a Conferência discutiu sobre a União Geral das

Sociedades em toda a Inglaterra.719 Dois anos depois, Wesley

convocou a Conferência Anual para examinar os pegadores. Seis

meses depois, os Wesley continuaram a examinar os pregadores

individualmente ou em grupos;720

A questão doutrinária era uma constante nas Conferências. Em

1753, a discussão abordou temas como a predestinação, os

714 WESLEY, João. Explicação Clara da Perfeição Cristã. Ibidem, p.41.715 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 152.716 WESLEY, João. Explicação Clara da Perfeição Cristã. Ibidem, p.42.717 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.161-2.718 Ibidem, p. 168.719 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p. 174.720João ordenou a expulsão dos efeminados, intrometidos e levianos, mas advertiu aCarlos que eles precisavam de pelo menos quarenta pregadores" (Ibidem, p. 182).

CCXIII

moravianos e o antinomianismo.721 Cinco anos depois, em 1758, em

Limerick, Irlanda, acusações de falta de ortodoxia doutrinária foram

lançadas contra um dos pregadores, Mark Davis, que havia se tornado

metodista recentemente. Thomas Walsh, convertido do catolicismo,

defendeu seu companheiro.722 Em 1763 as questões mais sérias

tratadas foram sobre a perfeição cristão. Havia uma comoção porque

alguns afirmavam ter recebido o dom da perfeição e outras pessoas

foram ao extremo levantando questões sobre a maldição e o estado

angelical;723

Através de outras Conferências Anuais, o movimento metodista

foi sendo solidificado com as decisões tomadas, pois elas se tornaram

leis para os pregadores e demais líderes praticarem.

Entre essas decisões, está a preocupação com os pregadores:

721"A Conferência anual dos pregadores realizada em Leeds, em maio de 1753,apresentou uma oportunidade para se estabelecer diversos assuntos. Os problemasdoutrinários eram a primeira ordem do dia, especialmente as contínuas tensões com 'acorrupção dos alemães' (isto é, os morávios) e a 'mancha' da predestinação e doantinomianismo (isto é, Whitefield) " (Ibidem, p. 186).722 O argumento de defesa de Thomas Walsh foi de que Mark Davis mudaria quando setornasse mais familiarizado com a literatura metodista (HEITZENHATER, Richard P.,Ibidem, p. 199).723 Nesse período o assunto perfeição cristã causava certa comoção. Alguns acreditavamter recebido o dom da perfeição entusiasmando assim a Wesley, seu ardente defensor.Por outro lado problemas começaram a surgir com extremismos de certos pregadores.“Alguns haviam afirmado que até a perfeição a pessoa estava sob a maldição de Deus,entre eles, Thomás Maxfield e George Bell, que levaram a doutrina até as últimasconseqüências afirmando que com a perfeição as pessoas passavam a viver em estadoangelical. A Conferência de 1763 procurou tratar desses abusos (.HEITZENHATER,Richard P., Ibidem, p. 209-0)”.

CCXIV

1765: Aprovação do “Fundo para os pregadores" beneficiando os

pregadores "cansados", suas viúvas e filhos;724

1768: Wesley deu aos pregadores mais um ano para deixarem

seus trabalhos seculares.725

Algumas decisões trouxeram ruptura, como ocorrido em 1770.

Foi decidido reavivar o trabalho onde estava estagnado e dar atenção

às doutrinas. A Conferência defendeu as idéias de Armínio em

contraste com a predestinação. Isso trouxe profundo desgosto aos

calvinistas, entre essas pessoas estava a condessa Lady Huntingdon,

que declarou a Wesley que não pregaria mais em suas capelas.726

A preocupação com os pregadores continuou sendo uma

constante nas Conferências. Em 1773, Wesley persuadiu 49

pregadores presentes a assinarem os “Artigos do Acordo”, esboçado

em 1769.727 Por esta aliança, eles apoiavam uns aos outros, à antiga

doutrina e disciplina metodista. No ano seguinte, mais 72 outros

assinariam. Em 1775, outros 81 novos pregadores assinariam

também.728 Em 1776, a Conferência Anual decide por maior

severidade nos exames dos pregadores.729 No ano de 1778, Wesley

724 Em 1767, os pregadores contribuíam com um total de cerca de 50 libras anualmenteao Fundo para os pregadores (Ibidem, p. 234).725 Pregadores itinerantes recebiam um subsídio anual de 12 libras mais as despesas, eesperava-se que servissem a conexão em tempo integral (Ibidem, p. 234).726 LILIÈVRE, Mateo. João Wesley - sua vida e obra. Ibidem, p. 253.727 Pelos Artigos do Acordo, os pregadores se comprometiam “por essa aliança apoiaremum ao outro e à antiga doutrina e disciplina metodista” (HEITZENHATER, Richard P.,Ibidem, p. 254).728 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 254, 258.729 Ibidem, p.266.

CCXV

se preocupa com a saúde dos pregadores e pergunta porque eles têm

problemas nervosos. Deu seis conselhos práticos, entre eles, fazerem

diariamente exercícios físicos; dormirem cedo e acordarem cedo,

etc.730 Na Conferência de 1793 foi proibido o título "reverendo" aos

pregadores e acabou a distinção entre pregadores ordenados e não

ordenados.731

Nos últimos anos de vida de Wesley, as principais decisões da

Conferência foram:

Em 1784, Wesley pede voluntários para acompanhar Thomas

Coke na América. Ele escolheu Thomás Vazey e Richard Whatcoat.732

Wesley registrou em seu Diário, no dia 31 de agosto de 1784:

“O Dr. Coke, Sr. Whatcoat e Sr. Vazey chegaram deLondres com o fim de embarcar para a América.Quarta-feira, 1º de setembro. Estando agoraesclarecido na minha própria mente tomei agora umpasso que me pesara por muito tempo, e nomeei o Sr.Whatcoat e Sr. Vazey para irem servir às ovelhasdesconsoladas na América” .733

Em 1785, Wesley Ordenou John Pawson, Thomas Hanby e

Joseph Taylor como pregadores na Escócia. Wesley permitiu a

Christopher Hopper presidir as sessões da Conferência.734

730 Ibidem, p.272.731 Ibidem, p.314.732 Ibidem, p.287.733 WESLEY, João. Trechos do diário de João Wesley. Ibidem, p.165.

CCXVI

Já sem a liderança de Wesley, em 1795, foi aprovado o "Plano de

Pacificação".735 Foi reconhecida a separação eclesiástica entre o

Metodismo e a Igreja Anglicana.736

Na verdade, as atitudes tomadas durante sessenta anos por

Wesley e as Conferências Anuais não levaram a uma reforma da

Igreja Anglicana, mas deram aos metodistas uma identidade própria e

distinta.737

As Conferências foram fundamentais no metodismo primitivo:

“As resoluções das consultas das conferênciasanuais do movimento de Wesley foram protocoladas epublicadas, formando a base doutrinária a que todos sereferiam.” 738

Segundo Edward Thompson:

“As Conferências Anuais Wesleyanas, com sua'plataforma', comitês com suas ordens do dia emeticuloso encaminhamento, parecem uma incômoda'contribuição' a mais para o movimento trabalhista deépocas mais recentes”7.739

Esta afirmação de Thompson está dentro de sua visão de que o

metodismo foi um fator importante na formação da classe operária

inglesa. Uma contribuição foi exatamente conseguir a reorganização

734HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.294.735 Já abordado neste capítulo.736 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.317.737 Ibidem, p. 314.738 KLAIBER, Walter; MARQUARDT, Manfred. Ibidem, p. 61.739 THOMPSON, Edward P. 1 v. Ibidem., p. 44.

CCXVII

do povo, abrir espaço para sua participação e despertar líderes

através das classes onde haviam estudos e pregações.

Em sua afirmação, Thompson vê as Conferências Anuais como

tendo sido um desses espaços para a participação popular.

Tiveram as Conferências participação no avivamento e

compromisso social metodista do século XVIII?

Dentro da tese – avivamento e compromisso social – a

contribuição das Conferências foi, especialmente, em dar um rumo

equilibrado ao movimento metodista, especialmente dentro da ênfase

Atos de Piedade e Obras de Misericórdia.

O movimento metodista teve três etapas em seu desenvolvimento,

segundo Wesley. É o que abordaremos a seguir.

4.2. Passos na organização do movimento

“(...) em quase todos os lugares os Metodistas sãoainda gente pobre, desprezada e trabalha sob oopróbrio e que muitas inconveniências (....”)740

João Wesley

740 WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, Ibidem, p.115.

CCXVIII

João Wesley considerava que o movimento metodista era uma

Dispensação Extraordinária da Providência de Deus:

“Wesley aceitou os argumentos de um ´chamadoextraordinário, reconhecendo que não apenas apregação leiga, mas também ´todo o trabalho de Deuschamado Metodista´ era uma ´dispensaçãoextraordinária.” 741

Foi evidente o messianismo de Wesley dentro de sua

compreensão do chamado ao metodismo. Maria Isaura Pereira de

Queiroz afirma que circunstancias internas, que fomentam insatisfação

com as condições humanas de existência podem levar à concepção

do reino ideal que um enviado divino instalará no mundo. 742

Para Wesley, a Dispensação extraordinária da Providência de

Deus compreendia a doutrina da Perfeição Cristã743, o Ministério

Feminino744 e o surgimento do próprio metodismo.745

Duncan Reily vê essa tendência messiânica em Wesley, ao

afirmar:

“João Wesley teve a consciência de estar envolvidoem algo extraordinário que Deus fazia no mundo.”746

741 HEITZENHATER, Richard P. Ibidem, p.248.742 QUEIRÓZ, Maria Isaura Pereira de. O Messianismo no Brasil e no mundo.Editora Alfa-Omega, 1977, p.37.743 REILY, Duncan Alexander. Fundamentos doutrinários do Metodismo brasileiro. Ibidem,p.61.744 HEITZENHATER, Richard P. Ibidem, p. 248.745 Ibidem, p. 230.746 REILY, Duncan Alexander. Fundamentos doutrinários do Metodismo brasileiro. Ibidem,p.47.

CCXIX

4.2.1.Os três começos do metodismo747

O Metodismo não foi programado, não teve o nome escolhido

pelos próprios adeptos e nem pretendia ser uma Igreja estabelecida.

O Metodismo surgiu do desejo de colocar o cristianismo em prática, de

se levar mais a sério a vida cristã. João Wesley mesmo destacou três

etapas no desenvolvimento do Metodismo antes de 1739: em Oxford,

Geórgia e Londres.

A primeira etapa começou no ano de 1729 em Oxford com

Carlos Wesley, William Morgan e João Wesley em que se

encontravam ocasionalmente para estudos acadêmicos e para irem à

igreja. O verdadeiro começo, com propósitos e projetos, foi no fim do

inverno de 1729/1730. Bob Kirkham748 filiou-se ao grupo. Eles se

reuniam quase que diariamente no quarto de um deles. Por sugestão

de William Morgan, o grupo começou a visitar também os presos.

Morgan foi o planejador de grande parte do trabalho de ação social no

início do Metodismo.749

747 “Wesley foi muito específico ao destacar três etapas no progresso do metodismo antesde1739: Oxford, Geórgia e Londres. Esta sugestão de uma progressão explicitadosdesenvolvimentos iniciais fornece uma moldura dentro da qual se pode examinar asorigens do metodismo (HEITZENHATER, Richard P. Ibidem, p.33).748 Bob Kirklam era estudante e amigo dos irmãos Wesley. “O diário de Wesley revelaclaramente o modelo que desenvolveu no começo de março de 1730: reuniões à noite, naterça-feira, no quarto de Carlos, Quinta-feira no de Kirklam, no sábado no de João” (HEITZENHATER, Richard P. Ibidem, p.39).749 Ibidem.

CCXX

Nessa etapa , eles foram chamados de Clube Santo, Traças da

Bíblia e Metodistas.750 João Wesley se tornou o líder do grupo, que se

propunha à busca de um viver santo. Seu irmão Carlos Wesley havia

começado com o grupo antes de João Wesley.751

Foi nesta etapa que os metodistas começaram a visitar os presos

na Prisão do Castelo incentivados por Willam Morgan. No dia 14 de

agosto de 1730, os irmãos Wesley acompanharam Morgan na visita

aos presos. Em dezembro de 1730, o grupo expandiu suas atividades

e passou a incluir a visitação aos encarcerados da prisão na cidade no

North Gate (Bocardo).752

“O jovem irlandês, que era o planejador de grandeparte do esquema de ação social dos metodistas,começou também a trazer crianças das famílias pobresem Oxford, pelo menos já no começo da primavera de1731 (...) João percebeu bem depressa que a situaçãoexigia uma organização permanente, e pelo fim dejunho de 1731, ele contratou a senhora Plat para tomarconta das crianças. Os metodistas, entretanto,continuaram a Ter um ativo interesse e participação noprogresso das crianças.”753

Contudo, os metodistas de Oxford tinham, especialmente, suas

ações guiadas para um auto-exame em cada dia. Eles observavam se

estavam amando mais a Deus, ao próximo, se tinham mais humildade,

mortificação, abnegação, mansidão e gratidão.754

750 Ibidem, p.41.751 "No início, esta se constituía somente dos dois irmãos e dos jovens Roberto Kiklam eGuilherme Morgan. Pouco a pouco, novos membros, tanto catedráticos como estudantes,reuniam-se a esse primeiro núcleo" (LILIEVRE, Mateo, Ibidem, p.42).752 HEITZENHATER, Richard P. Ibidem, p.40.753 Ibidem, p.40-1.754 Ibidem, p.47.

CCXXI

Qual era o ponto central da espiritualidade dos metodistas de

Oxford ?

Era a religião do coração, a vida interior, que leva a uma vida

santa, que são características pietistas:

“Era, então, um estado interior da alma refletido no(e medido pelo) seu estilo de vida cristã.”755

Outra característica dos metodistas de Oxford foi que as várias

regras e métodos que dirigiam as atividades dos metodistas

originavam-se, geralmente, do grupo de João Wesley depois de

testadas.756 O encargo piedoso de Wesley tinha o objetivo de salvar

sua própria alma.757 Com este objetivo ele foi para a América.

A segunda etapa do desenvolvimento do Metodismo foi na

Geórgia aonde Wesley chegou no dia seis de fevereiro de 1736.

“(...) esse período foi bastante importante paraWesley, que mais tarde o chamou de ‘o segundosurgimento do metodismo’. Tal terminologia se refereprincipalmente ao estabelecimento de um grupowesleyano na Geórgia semelhante aos metodistas deOxford. Mas a experiência na Geórgia também foi umepisódio importante na peregrinação espiritual deWesley e teve assim um papel significativo no seudesenvolvimento teológico.”758

755 Ibidem, p.47.756 Ibidem, p.49.757 Ibidem., p. 58.758 Ibidem, p,.59.

CCXXII

Mas porque este período é considerado a segunda etapa do

metodismo?

Nesse local, Wesley teve diversos encontros com os moravianos

e com os pietistas.759 Ele encorajava as pessoas desse grupo

corrigindo, instruindo e exortando uns aos outros. Eles se reuniam nas

tardes de domingo, quartas à noite e sábados para momentos

devocionais.

Em fevereiro de 1737 a sociedade em Savannah já havia

estabelecido uma rotina semanal de reuniões. Paralelamente, Wesley

mantinha sua paróquia com freqüência dominical de sessenta a

oitenta pessoas.760

“Em Savannah, tanto quanto em Oxford,desempenhou sua atividade principal com o bem dos´pequeninos´; os pobres, os enfermos, e as criançaseram objeto do seu cuidado especial. Interessou-semuito também pelos negros (...).”761

Richard Heitzenhater afirma que Wesley parecia se sentir melhor

com sua missão entre os negros americanos, apesar do seu desalento

por eles não terem instrução cristã e os conhecimentos básicos da

fé.762

759 Ibidem, p.58.760 "Havia um pequeno grupo em Savannah que iria formar um núcleo para o programatipicamente metodista de enriquecimento espiritual" (HEITZENHATER, Richard P, Ibidem,p.62).761 LELIÈVRE, Mateo. Ibidem, p.56-7.

CCXXIII

“Uma experiência similar em Ponpon, nomes deabril seguinte, resultou em um trabalho de catequesepara uma jovem negra, cuja atenção às suas instruçõesele descreveu com inexprimível’. A moça ficouparticularmente intrigada com o comentário de Wesley,dizendo que se ele fosse boa, sua alma deixaria seucorpo por ocasião de sua morte e iria viver com Deus‘acima no céu’, onde ninguém a espancaria ou amagoaria. No dia seguinte ela se lembrou de tudo, edisse a Wesley que iria pedir a Deus, seu criador, quemostrasse como ‘ser boa’. Seu sucesso nesta aventurafoi duplicado pouco tempo depois com um jovem rapazde Purrysburg, que ele achou ser ‘tanto desejoso comocapaz de receber as instrução. Estes incidenteslevaram-no a propor um programa de instruções paraos negros americanos (...) não há indicação de que oplano tenha sido posto em prática.”763

Em Savannah, Wesley se preocupou com o ensino das crianças.

Ele dirigiu uma escola dando aula de religião para trinta a quarenta

alunos. Além da instrução oral, ele dava aos alunos alguns exemplos

práticos. Um dia foi a escola descalço porque alguns alunos que

tinham sapatos desprezavam aos que não tinham.764

“O segundo surgimento do metodismo na Geórgia,embora marcado por inovações interessantes, alcançouum sucesso limitado numa situação envolvida portensões e políticas. Os esforços para implantar umaversão da piedade meditativa da high-Church, nointerior de uma colônia lutando para manter a ordem e acivilidade básicas, não conquistaram muitos adeptosentre uma população sem muita inclinação religiosa.”765

762 HEITZENHATER, Richard P. Ibidem, p.67.763 Ibidem, p. 67.764 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p.58.765 HEITZENHATER, Richard P., ibidem, p.94.

CCXXIV

O casamento de Sophy Hopkey , de quem ele gostava, trouxe

dificuldades imensas para o ministério pastoral de Wesley. As

denúncias de seu futuro marido contra Wesley apressaram a sua

saída da América.

E o que caracteriza a terceira etapa do metodismo, segundo

Wesley?

A terceira etapa do Metodismo foi em Londres. Wesley percebeu

que o movimento sobreviveu em Oxford e se desenvolveu em outros

lugares. Percebeu também que muitos dos seus amigos haviam

experimentado uma transformação de vida, entre eles Whitefield, que

pregava com fervor em diversos lugares. Havia na Inglaterra uma

fermentação espiritual.766

No dia 1º de maio de 1738, o moraviano Peter Bohler organizou

uma célula (Band) convidando algumas pessoas que tinham o mesmo

modo de pensar; entre elas Wesley e James Hutton. Foram colocadas

duas regras para pertencer a essa pequena sociedade:

“1. Que eles se encontrariam uma vez por semanapara confessarem suas faltas uns aos outros e paraorarem também uns pelos outros a fim de que fossemcurados (cf. Tiago 5.16).2. Que qualquer outra pessoa, de cuja sinceridade elesestivessem bem seguros, poderia, se assim odesejasse, reunir-se com eles para aquele propósito”..767

766 Ibidem, p. 74.767 Ibidem, p. 78.

CCXXV

O grupo ficou conhecido como Sociedade Fetter Lane, que

Wesley chamaria mais tarde de:

“O terceiro surgimento do Metodismo”. 768

Com a ida de Peter Bohler para a América, Wesley ficou como o

líder principal da sociedade, cuja única exigência era a sinceridade de

intenção. A preocupação básica do grupo era com a soteriologia, a

saúde espiritual.769

Neste período, Carlos Wesley, em meio às lutas espirituais,

sentiu uma estranha palpitação coração e pode dizer que cria. Assim,

ele achou paz com Deus. Ele teve a certeza de que seus pecados

estavam perdoados.770 Três dia depois, em 24 de maio de 1738,

Wesley teve seu coração estranhamente aquecido. Sentiu seus

pecados perdoados e obteve a paz em Deus.771

Wesley visitou os moravianos, em 1738, na Alemanha e voltou

com mais dúvidas em relação à fé, mas ele aprendeu com a sua

organização e aplicou as classes em suas sociedades. Logo depois,

ele começou a se desprender de alguns ensinamentos dos

moravianos. Passou a aceitar que havia graus de fé e que a libertação

768 Ibidem,p.79.769 Ibidem, p.79.770LILIÈVRE, Mateo, Ibidem, p.67.771 Abordamos a experiência de Wesley no 3º capítulo.

CCXXVI

do pecado deveria ser entendida como libertação do domínio do

pecado.772

Nesta etapa, dentro do tema da tese – avivamento e compromisso

social - o avivamento se sobressaiu.

Nesta terceira etapa, Wesley procurou entender mais da ação do

Espírito. Ao ler, em 10 de outubro de 1738, sobre as experiências de

Jonathan Edwards,773 Wesley percebeu a influência do Espírito Santo

nos reavivamentos na América e começou a entender mais sobre a

importância do Espírito Santo.774

As dúvidas, neste período, ainda continuavam na vida de Wesley,

especialmente sobre a fé, mas ele continuava a pregar com

entusiasmo.

O que ele havia lido sobre o mover do Espírito na América com

Jonathan Edwards aconteceria, pela primeira vez no princípio de 1739:

“Na passagem do novo ano, durante uma noite devigília na celebração da festa do amor, o poder de Deusveio poderosamente sobre o grupo Fetter Lane, de talmaneira que muitos gritavam com extraordinária alegriae muitos caíram no solo.”775

772 Ibidem, p.82.773 Jonatham Edwards (1703-1758) era pastor congregacional em Northampton. Foi olíder do chamado Grande Despertamento ocorrido na Nova Inglaterra. No Anexo, no finalda tese, colocaremos sua biografia.774HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.91.775 Ibidem, p. 90. Esta experiência é citada por alguns carismáticos e pentecostais como aexperiência do Batismo com o Espírito Santo ou unção do Espírito . No livro Heróis da Féestá escrito sobre essa experiência: ”Essa unção do Espírito Santo dilatou grandemente

CCXXVII

Logo depois, com temor, eles entoaram o cântico que diz:

"Louvamos-Te, ó Deus, reconhecemos a Ti como Senhor.”

Uma experiência carismática, segundo Casino Floristán,

acontece em diversas religiões e é caracterizada por fenômenos como

visões, audições, revelação, manifestações físicas, etc.776

Segundo Heitzenhater, a ação do Espírito começou a ser

evidente na vida dos que ouviam as pregações dos metodistas.

Wesley menciona que numa pregação em dezembro de 1738, uma

senhora foi liberta de sua loucura, outra recebeu testemunho de que

era filha de Deus, outra o testemunho do Espírito etc.777

“A inspiração espiritual deste tipo, entretanto,trouxe controvérsias. Wesley não era simplesmentecrédulo em todos os casos, mas estava inclinado a´testar o espírito do modo bíblico, ´para ver se ele erade Deus ou não.”778

Milhares de pessoas passaram a vir para ouvir as pregações de

Whitefield, Wesley e Carlos Wesley. Em 1739, Whitefield pregou em

uma ocasião para 30 mil pessoas. Cada vez que Wesley pregava,

haviam de um a quatro mil pessoas presentes. A média ficou no

primeiro mês em 3 mil pessoas ao ar livre, cemitérios, praças etc.779

os horizontes espirituais de Wesley” (BOYER, Orlando. Heróis da Fé. Rio de Janeiro:CPAD, 1986, p.68).776 FLORISTÁN, Casiano; TAMAYO, Juan José. Ibidem, p.487-8.777HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.92.778 Ibidem, p. 92.779 LILIÈVRE, Mateo, Ibidem, p. 77.

CCXXVIII

Wesley não era um pregador tão conhecido como Whitefield,780mas logo o número de assistentes ficou entre 12 e 20 mil.781

Em Bristol, em 1739, a grande maioria dos participantes era

constituído de mineiros das minas de carvão, que ajudavam na

revolução industrial, na Inglaterra.782

“O tamanho dessas multidões não era tãoespantoso quanto o número relativamente pequeno depessoas que naquela época realmente estavamarroladas em sociedades até esse momento.”783

O clero local via essas pregações dos metodistas como sendo

algo ilegal.784 Havia manifestações espirituais que ele descrevia

dizendo que as pessoas estavam sendo fulminadas, feridas pela

espada do Espírito, tomadas de fortes dores. Algumas caíam de

joelhos, outras tinham estranhos acessos, mas ele registra ainda que

a maioria era aliviada pela oração e alcançava a paz.785

Em 1749, Wesley relatou sobre algumas manifestações no final

do culto:

“Quando, enfim, despedi o povo com a benção,ninguém se mexeu; ficaram todos nos seus lugares,enquanto eu ia passando no meio deles. Logo se ouviu

780 No Anexo abordaremos sobre a vida de George Whitefield.781LILIÈVRE, Mateo, Ibidem, p. 79.782 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 99.783 Ibidem, p.100.784 Ibidem, p.101.785 WESLEY, João. Trechos do diário de João Wesley, Ibidem, p.37-8.

CCXXIX

uma pessoa que gritou: ´Meu Deus, meu Deus, tu teesquecestes de mim´. Tendo dito isto, caiu no chão.Oramos a Deus em favor dela. Seus gritos junto com demuitos outros, clamando a Deus, se aumentaram. Masnós continuamos lutando com Deus em oração, até queEle nos atendeu com a paz.”786

Wesley precisava entender mais sobre o avivamento e leu os

relatos do avivamento que ocorria na América com Jonathan Edwards.

Ele passou a ver a ação do Espírito no meio do povo chamado

metodista como sendo a mesma ação que ele havia lido nos relatos

de Jonathan Edwards.787

“Ele menciona diversas mulheres, em particular, queresponderam `a obra do Espírito em conseqüência desua pregação em Oxford”.788

Segundo D.M.Llloyd.Jones:

“(...) Edwards defendia as incomuns e excepcionaisexperiências que estavam sendo concedidas a certaspessoas naquela época particular.”789

Esta terceira etapa foi um período de amadurecimento espiritual

na vida de Wesley:

“O terceiro surgimento do metodismo, a SociedadeFetter Lane, foi o resultado de uma combinação deinfluências: anglicana, metodista e morávia (...). Wesleyajudou a consolidar o trabalho dos metodistas e dosmorávios dentro das estruturas fornecidas pela Igrejada Inglaterra (...). Wesley estava calmamente

786 Ibidem, p.84.787HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 91.788 Ibidem, p.92.789 JONES, D.M. Lloyd. Os Puritanos, ibidem, p.372.

CCXXX

elaborando sua teologia no contexto de sua própriaperegrinação espiritual e dentro da edificação mútua depequenos grupos de crentes..”790

Era necessária uma estrutura e Wesley soube organizar o

movimento metodista, como veremos a seguir.

4.2.2. O caminhar do metodismo para sua estabilidade

Wesley não tinha a intenção de criar uma nova Igreja. Em 1790,

ele disse:

“Vivo e morro como membro da Igreja da Inglaterra,e ninguém que respeita o meu julgamento me separaradela”.791

Seu desejo era, através das sociedades, criar um povo capacitado

e santificado para assim transformar a Igreja Anglicana e a nação

inglesa. Tanto é verdade, que no início, ele não ministrava a Santa

Ceia nas sociedades, mas pedia que o povo participasse da Igreja

Anglicana.792 Ele não marcava cultos no mesmo horário dos cultos

anglicanos e nem tinha pastores, mas pregadores. Wesley, contudo,

tinha uma visão clara dos seus objetivos e de suas possibilidades:

“Dê-me cem pregadores que não tenham medo denada, a não ser do pecado, e que não desejem maisnada, a não ser servir a Deus, e, não me importo se sãoclérigos ou leigos, eles sozinhos farão tremer os

790 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.94.791 BETTENSON, Henry. Documentos da Igreja Cristã, ibidem, p.292.792 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 191.

CCXXXI

portões do inferno e estabelecerão o reino dos céusaqui na terra.”793

Com o desenvolvimento, porém, Wesley foi obrigado a tomar

certas decisões e a criar certos organismos que foram aos poucos

afastando mais o Metodismo do Anglicanismo. O rompimento oficial,

porém, só ocorreu quatro anos após a sua morte, na Conferência

Anual realizada em 1795.794

“(...) embora pretendessem ´reformar´ a Igreja naInglaterra, na realidade davam aos metodistas umaidentidade própria distinta da Igreja.”795

Eis alguns avanços do Metodismo ocorridos durante o tempo em

que Wesley era o grande líder:

Em 1738 é criada a Sociedade de Fetter Lane que seria

denominada depois por Wesley como o terceiro surgimento do

Metodismo;796

No Natal de 1738, Wesley escreveu as Regras das Sociedades

Unidas. 797Era uma versão revisada das regras usadas pela

Sociedade Fetter Lane.798 As Regras consistiam basicamente em

793 Ibidem, p.266.794 Ibidem, p. 317-8.795 Ibidem, p. 314.796 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 94.797 Entre alguns itens das regras, estão: ” I – Abster-se cuidadosamente da prática domal, especialmente: 1) Não comprar ou vender no Dia do Senhor; 2) Não tomar qualquerbebida alcóolica a menos que seja indicada pelo médico;3) Serdes de uma só palavratanto no comprar como no vender (...) II – Praticardes boas obras zelosamente, de modoparticular: 1) Dardes a maior quantidade de esmolas que puderdes; 2) Chamardes aatenção de todos os que pecarem na vossa presença, e isso com amor e sabedoria; 3)

CCXXXII

“Abster-se cuidadosamente da prática do mal (...)Praticardes boas obras zelosamente (...) Atenderdesconstantemente a todos os mandamentos de Deus(...)”799

No dia 12 de maio de 1739 foi lançada a pedra fundamental do

que viria a ser o primeiro templo metodista no mundo - a casa de

pregação em Londres - Sociedade da Fundição.800

Dentro do tema da tese – avivamento e compromisso social - em

junho de 1739, foi lançada a pedra fundamental da Escola em

Kingswood para as crianças dos mineiros revelando a forte

preocupação de Wesley e dos metodistas com os empobrecidos:

“Para que as crianças (dos mineiros) tambémpossam saber aquilo que concorre para a sua paz, foiproposto, há algum tempo, que fosse construída umacasa em Kingswood; e no meio de muitas dificuldades,vistas e não vistas, foi lançada a pedra fundamental emjunho próximo passado.”801

Serdes exemplos de diligência, frogalidade, de renúncia e tomardes a vossa cruzdiariamente (...) III ) Atenderdes constantemente a todos os mandamentos de Deus, demodo especial: 1) Irdes à Igreja e comungardes todas as semanas e estardes presentesàs reuniões públicas das sociedades; 2) Ouvirdes a pregação todas as manhãs anão serque a distância, as ocupações ou a doença vos impeçam de fazê-lo; 3) Orardes todos osdias, em particular, e em família, se sois chefes de família (...). (BURTNER, Robert;CHILES, Robert. Coletânea da Teologia de João Wesley, ibidem, p.265-60.798 Alguns autores levantam a possibilidade das Regras das Sociedades Unidas teremsido escritas em 1739 (HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.90).799 BURTNER, Robert; CHILES, Robert. Coletânea da Teologia de João Wesley, ibidem,p.265-6.800 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p. 78.801 WESLEY, João. Trechos do diário de João Wesley, ibidem, p.63-4.

CCXXXIII

Em 23 de julho de 1740 Wesley e seus companheiros fundam a

Sociedade Unida puramente metodista, após ter se afastado dos

moravianos de Fetter-Lane. 802 Wesley escreveu sobre sua origem:

“Oito ou dez pessoas vieram a mim, em Londres,em fins de 1739, e pareciam profundamenteconvencidas do pecado e a suspirar sinceramente pelaredenção. Como duas ou três fizeram no dia seguinte,desejavam que eu orasse com elas e as aconselhassesobre como fugirem da ira vindoura que pendiaconstantemente sobre as sua cabeças. Para quetivéssemos mais tempo para essa grande obra, marqueium dia em que poderiam vir juntas. Elas o fizeram todasas semanas, especialmente, às quintas-feiras à noite.Dei a estas e a quantas outras desejassem, pois o seunúmero crescia dia a dia, os conselhos que julgueinecessários, e sempre terminávamos a nossa reuniãocom oração adequada às suas diferentesnecessidades. Essa foi a origem da Sociedade Unida,primeiro em Londres e depois em outros lugares.”803

Em 1742 são organizadas as sociedades, dividindo os membros

em classes, visando levá-los ao perfeito amor. As classes eram

agrupadas geograficamente e continham todas as pessoas da

Sociedade.804

Wesley orientou como as pessoas deveriam se agrupar:

“Para que se possa discernir mais facilmente seestão realmente realizando a sua salvação, cadasociedade é dividida em grupos menores chamadosclasses, de acordo com as suas residências. Há cerca

802 WALKER, Welliston, Ibidem, p.210.803BURTNER, Robert; CHILES, Robert. Coletânea da Teologia de João Wesley, ibidem,p.264. Enquanto Walker Welliston coloca a data de 23 de julho de 1740 (WALKER,Welliston, Ibidem, p.210), Wesley escreve que tudo começou em fins de 1739.804 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p.118.

CCXXXIV

de 12 pessoas em casa classe sendo uma delasindicada para ser o líder.”805

Ao visitar a sociedade de Newcastle relaxada na disciplina, em

1743, Wesley normatizou o processo de realizar exames ao escrever

A Natureza, o Plano, e as Regras Gerais das Sociedades Unidas. Em

uma breve história e descrição das sociedades, Wesley detalhou as

regras para os membros.806

“A fim de se juntar à sociedade, era exigido que aspessoas demonstrassem apenas uma condição - ´odesejo de fugir da ira vindoura, para ser salvo de seuspecados´. Aqueles, entretanto, que quisessemcontinuar nas sociedades, deveriam demonstras ´aevidência de seu desejo de salvação, primeiro, nãopraticando o mal...segundo, fazendo o bem (...).terceiro, obedecendo todas as ordenanças de Deus.”807

Apesar destes três pré-requisitos não serem a totalidade da

verdadeira religião, eles se tornaram o mínimo que se esperava de

uma pessoa para permanecer na sociedade.

“Eles representavam a antítese doantinominianismo, que nessa época simbolizava umadas maiores ameaças ao programa wesleyano.”808

Em 1744 é realizada em Londres a Primeira Conferência Anual

para Pregadores.809

805 BURTNER, Robert; CHILES, Robert. Coletânea da Teologia de João Wesley, ibidem,p.264.806 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 138.807 Ibidem, p. 138.808 Ibidem, p.139. Antinomianismo significa não praticar a lei.809 "A Conferência abriu suas sessões na Segunda feira, 25 de junho de 1744, e durouuma semana. Além dos dois irmãos Wesley, estavam presentes mais quatro ministros

CCXXXV

No ano de 1746 são nomeados pregadores itinerantes e o

campo é dividido em circuitos. Wesley estabeleceu sete circuitos com

vários pontos de pregação, para onde os pregadores eram

designados, geralmente dois ou três para o mesmo local e um mês de

itinerância, depois se mudavam para outra região.810

“A fim de manter seus pregadores em atividadeconstante e evitar que esgotassem seus recursospregando em um mesmo lugar, exigia deles quemudassem freqüentemente do local de atividade. AConferência de 1767 regularizou essas substituições etornou-as obrigatórias. Ali se resolveu que ´não sedevia manter o mesmo pregador no mesmo lugar pormais de um ano, e nunca mais do que dois anosconsecutivos´. Mais tarde, esse limite foi ampliado paratrês anos.” 811

No ano de 1748, Wesley publicou o segundo volume de

sermões.812

Em 1769, Wesley tomou uma decisão histórica: perguntou na

Conferência quem estaria disposto a ir como pregador para a América.

anglicanos: João Hodges, pastor em Wenvo (principado de Gales); Henrique Piers, vigáriode Bexley, convertido através de Carolos Wesley e um dos partidários mais devotos domovimento; Samuel Taylor, bisneto do dr. Rowland Taylor, que confessou a sua fé emcima da fogueira nos dias de Maria, a sanguinária,; e, por último, João Meriton, pastor dailha de Man, associado, nos últimos anos de sua vida, com o ministério itinerante de seusamigos Wesley. Dos quatro pregadores leigos que tomaram parte da primeiraConferência, Tomás Richards, Tomás Maxfield e João Bennet passaram a ser,posteriormente, ministros de outras igrejas. Somente João Downes viveu e morreu comometodista" (LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p. 139-0).810 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 162811 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p.242.812 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.177.

CCXXXVI

Boardman e Pilmoor se ofereceram. Foi o início da autonomia do

metodismo na América, que aconteceria em 1784.813

Em 1770 a Conferência Anual toma forte posição arminiana. Em

1771, Wesley publicou Vindication of the Rev. Mr.Wesley’s Last

Minutes (Defesa das últimas Minutes do Rev. Sr. Wesley) escrito por

John Fletcher.814 Foi o tiro inicial de uma longa série de rajadas contra

os calvinistas.815

“A principal ameaça à oposição calvinista, deacordo com os wesleyanos, era o antinomianismo, ounegligência da lei moral. O trabalho de Fletcherfocalizava esse assunto (...).” 816

Em 1772, foi fundada em Londres, patrocinada por Wesley, uma

sociedade para assistir os pobres conhecida como Comunidade

Cristã.817

Dentro da tese – Avivamento e compromisso social – a criação

desta sociedade revela o compromisso social de Wesley com os

empobrecidos.

A Conferência Anual de 1784, Wesley fez o "Ato de Declaração"

ou o Estatuto Declaratório nomeando uma conferência de 100

pregadores - os "Cem Legais" - como sucessor de Wesley em

perpetuidade. Esse documento foi registrado no Tribunal Superior no

813 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p.233.814 No Anexo, abordaremos sobre a vida de Fletcher.815 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 246-7.816 Ibidem, p.247.

CCXXXVII

dia 28 de fevereiro de l784.818 Em 1784, no dia primeiro de setembro,

Whatcoart e Vasey são nomeados por Wesley como diáconos na

América. Logo depois, foram ordenados presbíteros. Thomas Coke foi

nomeado como superintendente na América.819

Com a independência da América, muitos sacerdotes anglicanos

voltaram à Inglaterra. Milhares de crianças permaneciam sem batismo

na América e alguns metodistas permaneciam sem participar da Ceia

do Senhor.820 A nomeação de pastores, portanto, era necessária e

urgente. Mesmo com oposição, Wesley procedeu à ordenação de

presbíteros para pastorearem na América.821 Neste mesmo ano, na

Conferência de Natal, na América, é criada a Igreja Metodista

Episcopal. Uma denominação separada da Inglaterra.822

Na Conferência Anual, em 1788, Wesley ordenou Alexander

Mather, presumivelmente para suprir a continuidade de ministros

metodistas ordenados na Inglaterra depois de sua morte. Dois meses

depois, nomeou um comitê para supervisionar a livraria e gerenciar as

suas contas. Quatro meses mais tarde escreveu um testamento

revisado.823

Em 1771, Wesley já havia feito seu testamento:

817 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p.281.818 Ibidem, p.310.819 HEITZENHATER, Richard P., cit, p.287.820 Ibidem, p.287.821 Ibidem.822 O ano de 1784 foi o "ano crucial do metodismo, ocasião em que Wesley concedeu àssociedades inglesas sua constituição, e às norte-americanas a sua organizaçãoepiscopal" (LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p.309).

CCXXXVIII

“Revisei e transcrevi meu testamento, declarando,em linguagem simples, clara e breve o mais que pude,nada mais e nada menos o ´que tenho feito com osbens terreais que deixarei no mundo” .824

Em 1790, o Metodismo tinha cerca de 300 pregadores na

Inglaterra e 71.463 membros;825

Wesley faleceu em 1791, no dia dois de março. Antes, reuniu

forças para cantar o hino "Louvarei meu Criador enquanto tiver fôlego.”

João Wesley disse:

“O melhor de tudo é que Deus está conosco.”826

Até na hora do seu enterro, Wesley pensou em ajudar aos

pobres dentro de sua prática de amar ao próximo. O seu funeral foi no

dia nove de março e seis pessoas pobres levaram o caixão. Eles

ganharam uma libra cada uma, conforme desejo de Wesley.

Nas decisões seguintes da Conferência, William Thompson foi

eleito presidente da Conferência, em 1791.827 Na Conferência de

1795, pelo Plano de Pacificação ocorreu à separação eclesiástica

entre o Metodismo e Anglicanismo.828

823 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 200-1.824 WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley. Ibidem, p.169-0.825HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, 306.826 Ibidem, p.308 -9.827 Ibidem, p.314.828 Ibidem, p.317.

CCXXXIX

Conclusão do capítulo

Wesley foi um homem do seu tempo. Ele viveu e sentiu

intensamente as alegrias, contradições e sofrimento do povo inglês, do

qual ele esteve muito perto. Como um cristão, viveu também a

revolução espiritual que ocorria na Inglaterra e em outras partes do

mundo. Experimentou o coração aquecido e viu fenômenos

acontecerem em suas pregações.

Estudou, debateu e formulou posições doutrinárias para alicerçar

o povo metodista em sua busca pela santidade.

Herdou as ênfases e práticas religiosas do anglicanismo,

puritanismo e pietismo. Na busca da segurança da fé e da paz de

espírito, teve encontros com novos líderes e outros grupos, como os

moravianos, e teve diante de si novos horizontes da espiritualidade e

aprendeu sobre novas formas de servir a Deus.

Mas foi na caminhada da prática da fé, nas crises e desafios que

Wesley e os primeiros metodistas amadureceram e encontraram

definitivamente a base doutrinária do movimento metodista, debatida e

formulada, especialmente, nas Conferências Anuais.

Deixou a doutrina da Perfeição Cristã como a forte base

doutrinária da nova Igreja que se formou porque acreditou que Deus

CCXL

havia levantado o povo metodista para transformar a Igreja e a nação

e espalhar a santidade bíblica por sobre a terra.

Wesley soube organizar o movimento metodista evitando que o

avivamento caminhasse para o fanatismo e o compromisso social

fosse transformado no quietismo indiferente ao sofrido povo inglês,

como veremos no capítulo a seguir.

CCXLI

5- O IMPACTO DO AVIVAMENTO METODISTA

“Deus derramou abundantemente Seu Espíritosobre nós.”829

João Wesley

O avivamento 830 do século XVIII, na Inglaterra, ocorrido entre os

metodistas é considerado paradigma831 para algumas pessoas.832 Ele

teve como conseqüência a solidariedade aos necessitados,

especialmente aos operários.

Em um dos seus sermões, Wesley disse:

“Mas quantos há neste país cristão que trabalhame suam e afinal não têm senão que lutar contra atristeza e a fome?” 833

829 WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, ibidem, p.105.830 Max Weber usa a expressão poderoso revival para falar do movimento metodista noséculo XVIII, na Inglaterra (A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, Ibidem, p.125).831 Segundo Kuhn, o paradigma é ’um modelo ou padrão aceito’ que orienta a montagemde um quebra-cabeça, servindo para solucionar problemas considerados importantes pelacomunidade que o adota” (CASTRO, Clóvis Pinto de et al.Novos Paradigmas. Ibid, p.32).Nesse sentido, o avivamento metodista é um padrão para o verdadeiro avivamento bíblicopara os dias de hoje.832 MAC ALISTER, Robert. Boletim do bispo Roberto. [s.ed], dezembro de 1987.833 BURTNER, Robert; CHILES, Robert. Coletânea da Teologia de João Wesley, ibidem,p.246.

CCXLII

Para muitos estudiosos e líderes evangélicos, o Movimento

Metodista impediu a Inglaterra de ter uma revolução semelhante a

que aconteceu na vizinha França, em 1789.834

Avivamento e compromisso social caminharam sempre juntos

no metodismo do século XVIII. As experiências espirituais na vida de

Wesley foram diversas ao longo de toda caminhada, mas duas foram

fundamentais: o coração aquecido, em 24/05/1738, e o derramamento

do Espírito Santo, em 01/01/1739.835 Por outro lado, a ação do Espírito

Santo trouxe compromisso com os necessitados:

“Já na primeira conferência anual (1744), aoestabelecer algumas regras práticas para aliviar asituação dos mais necessitados, aponta nessa direção:‘Até que tenhamos todas as coisas em comum, cadamembro trará, uma vez por semana, honestamente,tudo que possa para um fundo comum.”836

João Wesley, em seu sermão O Cristianismo Bíblico, pregado em

24 de agosto de 1744, em Oxford, comenta sobre os motivos da

manifestação do Espírito Santo a todos os cristãos, entre eles, após

realizar mudança interior, levar a andar no trabalho de amor:

834“ Num tom apologético, alguns ” historiadores concordam que, embora o século XVIIIfosse para a Europa continental uma época de dissolução, para a Inglaterra, pelocontrário, foi o momento de benéfica mudança, que regenerou a vida de uma nação einiciou uma era inteiramente nova (...). Essa regeneração da Inglaterra foi, em especial,obra do metodismo, e assim reconhece a história eclesiástica” (LELIÈVRE, Mateo,Ibidem, p. 371). O francês Edmundo Scherer chama o metodismo de o ‘movimento quetransformou a face da Inglaterra’ (Ibidem, p. 372).835 Para Nadir Pedro dos Santos, um dos líderes do Movimento de Renovação Espiritual,na década de sessenta e um dos fundadores da Igreja Metodista Wesleyana, em 1967, nodia 24 de maio, Wesley teve a experiência da justificação e no dia 1º de janeiro, ele teve aexperiência da santificação (Retalhos de um Pastorado Itinerante. Cromosete Gráfica eEditora Ltda, 1997, p.59-0).836 BONINO et al. Luta pela vida e evangelização, Ibidem, p.29.

CCXLIII

“Conceder-lhes ( o que ninguém pode negar sejaessencial a todos os cristãos, em todos os tempos), amente que havia em Cristo; os santos frutos do Espírito,os quais, não os tendo alguém, esse tal não lhepertence; teve em vista enchê-los de ‘caridade, gozo,paz, longanimidade, benignidade, bondade (Gál, V:22-24); dotá-los de fé (talvez esta idéia melhor se expressepelo termo fidelidade), com humildade e temperança;habilitá-los a crucificar a carne, com suas feições ecobiças, suas paixões e desejos; e em conseqüência damudança interior, assim assegurada, preencher todajustiça exterior, ‘andar como Cristo também andou na‘obra da fé, na paciência da esperança, no trabalho deamor’ (! Tes.I:3).837

Neste capítulo pretendemos mostrar que o metodismo participou

profundamente na transformação social inglesa porque viveu o

Evangelho integral de Jesus Cristo. Ele procurou suprir às

necessidades espirituais e sociais, especialmente dos excluídos pela

revolução industrial.

5.1. O desenvolvimento da ação do Espírito Santo no movimento

metodista

O mover838 do Espírito no meio do povo chamado metodista, na

Inglaterra, não foi um fato único e isolado. Houve simultaneamente

outros avivamentos em algumas partes do mundo.839

837 WESLEY, João. Sermões de Wesley. 1.v, ibidem, p.83.838 Wesley utiliza a expressão ”Movidos pelo Espírito Santo” (BURTNER, Robert; CHILES,Robert, Ibidem, p.20.)839REILY, Duncan Alexander. “João Wesley e o Espírito Santo” em História, Metodismo,Libertações, Ibidem, p.15.

CCXLIV

O dia 13 de agosto de 1727 é conhecido como o dia do

renascimento da Igreja Moravia.840.Quando era realizado um ofício, os

presentes foram marcados por um forte poder espiritual. Casiano

Floristán e Floriano José Tamayo explicam esta experiência com o

sagrado:

“Nesses momentos e situações o sujeito entra emcontato com novas dimensões da realidade queexpressa em termos de profundidade ou totalidade;assiste uma ampliação maravilhosa das fronteiras deseu conhecimento; transcende a forma deconhecimento ordinário em termos de sujeito-objeto; sesente de alguma maneira inundado pela realidade quese apresenta e até misteriosamente identificado comela; e padece de uma comoção afetiva que originasentimentos de paz, gozo (...)”841.

Por volta de 1730, aconteceram os chamados reavivamentos em

Gales e na Escócia, que antecederam a Wesley.842 Na América, a

partir do fim de 1734, Jonathan Edwards foi o líder no chamado

"Primeiro Grande Despertamento.”

“O movimento de maior influência e o maistransformador na vida religiosa da América no séculodécimo oitavo foi o Grande Despertamento –reavivamento que teve muitas fases e se estendeu pormais de cinqüenta anos.”843

Não se pode também atribuir a João Wesley a realização do

avivamento metodista na Inglaterra. Havia um mover do Espírito em

diversos lugares e sua ação em meio ao povo metodista aconteceu

840 HEITZENHATER, Richard P. Ibidem, p.198.841 FLORISTÁN, Casiano; TAMAYO, Floriano Juan José, Ibidem, p.483-4.842 Ibidem, p.97.843 WALKER, Welliston, Ibidem, p.216.

CCXLV

com diversos líderes. Ele foi, sim, o principal líder do movimento

metodista. Segundo Duncan Alexander Reily:

“Wesley percebia que os diversos movimentos, asaber: os morávios, no continente da Europa, osmetodistas, na Grã-Bretanha, Jônathas Edwards eoutros na Nova Inglaterra (América do Norte) realmenteperfaziam uma única obra de Deus.”844

Foi George Whitefield quem despertou Wesley para as

pregações ao ar livre aonde milhares vinham participar e onde houve

diversos derramamentos do Espírito. Wesley o viu pregar no dia 1º de

abril de 1739 para trinta mil pessoas em Rose Green. Ele logo passou

a pregar também no "campo".845

O fato de não estar dentro de um ambiente litúrgico rígido da

Igreja Anglicana trouxe maior liberdade às pessoas e ao Espírito

Santo.

A experiência de 24 de maio de 1738846 trouxe a Wesley a

segurança da salvação, mas a experiência do poder de Deus, na

madrugada da vigília iniciada, no dia 3l de dezembro do mesmo ano,

trouxe a Wesley profunda reflexão sobre o derramar do Espírito Santo.

“Tais demonstrações da obra do Espírito levaramWesley a refletir sobre sua própria condição e, empoucos dias, teve novamente uma oportunidade deescrever notas de auto-reflexão.”847

844REILY, Duncan Alexander. “João Wesley e o Espírito Santo” em História, Metodismo,Libertações, Ibidem, p. 15. A expressão “campo” significa pregar fora do templo.845 Ibidem, p. 99.846 Experiência citada e comentada no Capítulo 2.847 HEITZENHATER, Richard, Ibidem, p. 90.

CCXLVI

A ação do Espirito Santo passou a fazer parte da vida diária de

Wesley. Em 1749, ele registrou em seu Diário:

“Preguei (como de costume), às cinco horas e àsquinze, com convicção e poder do Espírito.”848

Dez anos antes, em 1739, Wesley escreveu alguns versos num

volume de Hinos e Poemas Sagrados onde ele revela sua

necessidade do poder do Espírito Santo e do amor de Deus:

“(...) Senhor, fortifica-me com o poder do TeuEspírito,Posto que sou chamado pelo Teu grande nomeEm Ti todos os meus pensamentos errantes se unem,De todas as minhas obras seja Tu o alvo;O Teu amor me assista toda a vidaE a minha única ocupação seja o Teu louvor (...)”. 849

Segundo Heitzenhater, tais experiências levaram Wesley a auto-

reflexão e a registrar que tinha dúvidas sobre si em relação ao amor,

paz e alegria. Em sua avaliação, o cristão é alguém que tem o fruto do

Espírito. Nesse sentido, ele não se considerava um cristão850.

A partir de 1739, Wesley presenciou uma constante ação do

Espírito no meio do povo. Estiveram presentes em suas pregações

848 WESLEY, João. Trechos do diário de João Wesley. Ibidem, p.82.849 ______.______. Explicação clara da perfeição cristã. Ibidem, p.13-4.850 Ibidem.

CCXLVII

milhares de pessoas: Blackheath (12.0000); Moorfields (20.000);

Gloucester (7.0000); Parque de Kensington (20.000).851

Após longa experiência com as pregações e com as sociedades

metodistas, seu conceito, em 1761, era:

“(...) onde não se encontra o poder de Deus, otrabalho enfraquece.” 852

Multidões vinham ouvir as pregações dos metodistas. Em 20 de

maio de 1752, Wesley registrou em seu Diário:

“Preguei em Beddick a grande multidão de Coliers (mineiros de carvão), ainda que chovia durante apregação.”853

A teologia e os métodos de Whitefield e Wesley passaram a ser

atacados pela imprensa local, mas o pai de Metodismo passou a ter

consciência de que Deus o havia chamado para pregar além das

fronteiras da paróquia.854

As sementes do avivamento estavam brotando no meio do povo

chamado metodista de uma forma que Wesley e os primeiros

metodistas não haviam pensado ou experimentado antes. Com o

851 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p. 79.852 WESLEY, João. Trechos do diário de João Wesley, ibidem, p.115.853 Ibidem, p.73.854 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p. 86.

CCXLVIII

avivamento, muita gente simples do povo passou a freqüentar as

sociedades metodistas.855

Nas pregações de Wesley e Whitefield começaram a haver

manifestações físicas. Alguns caiam no chão. Outras pessoas

gritavam, choravam, gemiam. Até auto-esbofeteamento e mordidas

ocorriam.856

Certa ocasião, um quaker estava perto e muito desgostoso pela

dissimulação daquelas criaturas. Ele estava mordendo os lábios e

franzindo a testa quando caiu como que fulminado por um raio.857

Wesley e os metodistas foram chamados de entusiastas,858 ou

seja, pentecostais, para os dias de hoje. Wesley não aceitava essa

acusação. Ele orava a Deus para livrar as pessoas dos gritos, que

revelavam que sua alma estava em profunda agonia.859

As manifestações passaram a ser algo natural nos cultos em que

Wesley e Whitefield pregavam. Certa vez, Wesley foi impedido de

pregar em Epworth e o pastor local pregou um sermão o acusando de

entusiasta.860 Alguém convidou Wesley para voltar ali e pregar às 6

855 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 127.856 REILY, Duncan Alexander. “João Wesley e o Espírito Santo” em História, Metodismo,Libertações, ibidem, p. 20.857 FISCHER, Harold A. Avivamentos que avivam. Livros Evangélicos, 1961, p. 101.858 O Bispo Joseph Butler foi um dos que chamou os irmãos Wesley e Whitefield de “entusiastas” (REILY, Duncan Alexander. “João Wesley e o Espírito Santo” em História,Metodismo, Ibidem, p. 19).859 Ibidem.860 Quando havia prática contrária ao ensinamento bíblico, Wesley não deixava de orientarou até repreender aos que agiam assim, mesmo sendo pregadores, como aconteceu comGeorge Bell, que marcou o fim do mundo para 28 de fevereiro de 1763. Ele acabou

CCXLIX

horas da manhã. Ele ficou no lado oriental do templo, sobre o túmulo

do seu pai e pregou durante uma semana no mesmo lugar.

“Neste local, algumas vezes, suas voz era abafadapelo choro e clamor dos ouvintes e diversos caíramcomo se estivessem mortos. Ele disse: Meu paitrabalhou aqui durante quase 40 anos; mas houvepouco fruto. Eu sofri também entre este povo, e pareciaque os meus esforços eram feitos em vão, mas osfrutos aparecem agora.”861

Os que eram alcançados pelo mover do Espírito Santo estavam

dependentes de Deus: o povo simples, sofrido, que vivia

miseravelmente. Eram os mineiros, os criados, os tecelões

desempregados, as crianças pobres, etc. Eles experimentaram a

graça de Deus e eram transformados. 862

Para Wesley:

“O mesmo Espírito que conduz o pecadorarrependido a Cristo e lhe permite confessar ´Jesus éSenhor´ (1Co 12.3) faz-nos não apenas andaruniformemente como Cristo andou (1Co 11.1) comotambém ter o mesmo sentimento que nele houve, asaber, o de esvaziar-se a si mesmo e identificar-se coma nossa humanidade, nossa miséria, nosso pecado enossas contradições, a fim de nos remir (...).”863

deixando o metodismo, juntamente com Maxfield. Wesley chegou a mandar Bell a pararde falar em línguas (HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 209-0).861 FISCHER, Harold A. Avivamentos que avivam. Ibidem, p.102.862 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 90.863 REILY, Duncan Alexander. “João Wesley e o Espírito Santo” em História, Metodismo,Libertações, Ibidem, p. 18.

CCL

Os avivamentos aconteciam em momentos de orações ou

pregações. Não era algo programado. Em abril de 1739, houve um

reavivamento em Bristol.864 Em 1750, o reavivamento metodista era

reconhecido na Inglaterra.865

Em 31 de maio de 1767, Wesley registra em seu Diário sobre um

grande avivamento ocorrido em Cork:

“Estive aqui quando a chama do avivamento estavamais alta, e preguei ao ar livre, no centro da cidade e nolado sul, perto do quartel, e diversas vezes emBlackpool, que fica ao norte. Mais e mais interessados,e houve aqui avivamento maior do que em qualqueroutra parte do reino.” 866

No Diário de Wesley e outros livros encontramos o relato de

diversos acontecimentos relacionamentos ao Espírito Santo no meio

do povo metodista:

A descrição de Wesley sobre ação do Espírito Santo revela a

evidência do fruto do Espírito no movimento metodista. O avivamento

se tornou parte da identidade metodista. Numa das reuniões, em 13

de outubro de 1747, a chama do amor marcou a vida dos presentes:

“(...) uma chama de amor se manifestou de talmaneira como nunca se tinha visto antes.”867

864 HEITZENHATER, Richard, Ibidem,98-9.865 Ibidem, p.181.866 WESLEY, João.Trechos do diário de João Wesley, ibidem, p.156.867 Ibidem, p.97.

CCLI

Em outra reunião, em 9 de fevereiro de 1750, o fruto do Espírito

descrito por Wesley foi a alegria:

“(...) a voz de louvor subiu ao trono de Deus, e foigrande o nosso regozijo perante o Senhor.”868

Já na reunião de 18 de fevereiro de 1750, uma semana depois,

houve a experiência com o poder de Deus:

“Hoje, também, onde nós nos reunimos, Deusmanifestou Seu poder.”869

A ação do Espírito proporcionava a mudança do caráter. Não era

apenas a evidência dos dons espirituais, como em 28 de abril de 1762,

quando houve transformação nas pessoas presentes:

“Deus derramou abundantemente Seu Espíritosobre nós. Muitos ficaram cheios de consolação (...)Deus restaurou o homem à luz da Sua face, e deu àjovem moça a convicção clara do Seu amor.”870

Junto com o avivamento vinham também os problemas como

resultado de extravagâncias. No avivamento de 1762, em Londres,

Wesley comenta sobre o joio semeado por Satanás entre o trigo, após

ele se ausentar:

“Mas logo que me ausentei, estalou o entusiasmo.Dois ou três começaram a espalhar suas própriasimaginações como revelações vindas de Deus, e daísupuseram que jamais morreriam; estes, lutando paraque outros fossem da mesma opinião, provocarambarulho e confusão. Pouco depois, estas mesmas

868 Ibidem, p.101.869 Ibidem, p.103.870 Ibidem, p.105.

CCLII

pessoas com algumas mais, cometeram outrasextravagâncias; criam-se imunes à tentação e à dor; eque possuíam o dom de profecia e de discernir espíritos(...). Nesta época, um amigo que morava certa distânciade Londres, me escreveu assim: ´Não fique alarmadoque Satanás semeie joio entre o trigo de Jesus Cristo.Sempre foi assim, especialmente numa ocasião denotável derramamento do Espírito (...)” .871

Em 10 de julho de 1767, Wesley mostra em seu Diário que a

manifestação do Espírito acontecia também pela oração. Deus não era

indiferente ao clamor dos metodistas:

“(...) Deus respondeu às nossas orações. Pareciaque as portas do céu foram abertas.”872

Em algumas ocasiões, como em 9 de outubro de 1768, as

orações eram incessantes para Deus manifestar sua graça. Havia uma

certeza de que Deus era poderoso e misericordioso para os atender:

“(...) não cessaram de clamar a Deus enquanto nãoforam atendidos. Deus lhes transbordou o coração dealegria.”873

Os metodistas oravam também por um avivamento específico,

como Wesley revela que aconteceu, em 19 de maio de 1769:

“(...) oramos por avivamento no trabalho do Senhor(...) desta feita Deus tocou o coração do povo, e até ocoração daqueles que estavam mortos no pecado.”874

871 WESLEY, João.Explicação Clara da Perfeição Cristã, ibidem, p.72.872______.Trechos do diário de João Wesley, Ibidem, p.99.873 Ibidem.874 Ibidem.

CCLIII

Wesley descreveu a mudança que o Espírito do Senhor realizou

em suas vidas e, conseqüentemente, nas fábricas:

“Não mais impudícia ou profanação foramencontrados, pois Deus havia colocado uma novacanção em seus lábios, e as blasfêmias setransformaram em louvor.”875

Diversos metodistas experimentaram o poder do Espírito.

Wesley, como cita a madame Guyon:

“Creio que ela não era somente uma boa mulher,mas até mesmo virtuosa em grau eminente,profundamente consagrada a Deus e muitas vezesfavorecida por comunicações extraordinárias com oEspírito Santo.”876

Essas experiências são denominadas por Casiano Floristán e

Juan José Tamayo de “Experiências religiosas como experiências da

presença de Deus, com ou sem mediação perceptiva”.877 Segundo

eles:

“Decisivo em tais experiências o fato de que osujeito não só percebe a presença, senão que a aceita,a reconhece (...) pode em outros casos converter-se joentendimento e a consciência de uma presençapermanente de Deus, que envolve a vida de umapessoa (...) constitue um índice elevadíssimo derealidade que lhes leva a conceder-lhes maior créditoque o mesmo testemunho dos sentidos.”878

875 Ibidem.876 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p. 302.877 FLORISTAN, Casiano; TAMOYO, Juan José, Ibidem, p. 485.878 Ibidem.

CCLIV

Alguns dons do Espírito Santo eram evidenciados no meio do

povo metodista. João Wesley dizia que o dom de curar é um dom que

havia sido destinado a permanecer na Igreja.879 Ele dizia também que

Deus dava sonhos divinos, êxtases e visões para fortalecer e animar

aos que crêem.880

Thomaz Walsh registra em seu diário, em 08/03/1750, que o

Senhor lhe deu um idioma desconhecido, achegando sua alma a Ele

de um modo maravilhoso.881

Wesley, contudo, teve dificuldades com alguns pregadores na

questo dos dons espirituais. Ele pediu ao pregador George Bell para

deixar de falar em línguas como sendo de Deus.882

Em 1788, disse que observava há quase setenta anos os

profetas que profetizam coisas terríveis. Para Wesley, eles eram

levados pela vã imaginação e raramente se convenciam de seus

erros. 883 Wesley fala do misticismo como sendo um veneno.884

5.2. Diferentes avivamentos no meio do povo metodista

879 BAILEY, Keith. Cura Divina. Editora Betânia, 1988, p. 200.880 WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, Ibidem, p. 134.881 CONDE, Emílio. Pentecoste para todos. CPAD, 1985, p. 35.882 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.210.883 WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, Ibidem, p.211.884 Ibidem.

CCLV

O avivamento se tornou uma marca do metodismo. Wesley,

contudo, também observou um "entusiasmo selvagem" entre o

avivamento genuíno.885 Ele se pautou sempre pelo equilíbrio e

fundamentação bíblica. Fora disso, Wesley não tinha dúvidas de

questionar. Foi assim com George Bell, que pregava o fim do mundo

para 28 de fevereiro de 1763. Ele se separou dos metodistas.886

Mas, no meio dos exageros, Wesley também presenciou

diversas manifestações do poder do Espírito. Em 1884, ele encorajou

o avivamento na Inglaterra dizendo:

“A quem verdadeiramente esses são os símbolosde nossa missão, prova de que Deus nos enviou.Sessenta mil pessoas volvendo suas faces para o céu,e muitas delas se regozijando em Deus, seu Salvador.”887

Apesar de alguns verem o Metodismo entrando em um período

de tempestade e tensão, Wesley comparava a obra do Espírito entre

os metodistas ingleses com o reavivamento realizado por Jonathan

Edwards na América, quando houve uma forte ação do Espírito

Santo.888

Um dos reavivamentos que impressionaram Wesley foi o de

Weardale, em 1772. Entre as semelhanças com os outros

reavivamentos estão: "seu surgimento inesperado, rápido progresso,

grande número de conversões, emoções violentas que ocorreram, e o

885 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.277.886George Bell foi repreendido por Wesley e saiu do movimento metodista, juntamentecom Maxfield e alguns seguidores (HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.210).887 Ibidem, p.293.

CCLVI

povo simples que o liderou", mas também Wesley percebeu que

haviam diferenças:

“Este era um verdadeiro reavivamento do trabalho,não um começo; o povo foi despertado e justificado emtempo muito mais curto; um número muito maior foiconvertido; o número de visões e revelações fatalmentefalsificadas pelo diabo foi bem menor; e o grupo deliderança incluía três pregadores itinerantes que foramrenovados em amor (...).”889

Se Wesley não promovia encontros de avivamento, não se pode

deixar de registrar que ele sabia de sua importância. No princípio, em

1739, Wesley viu diversas manifestações do poder de Deus, que ele

descrevia as pessoas como sendo:

“(...) fulminadas, feridas pela espada do Espírito,tomadas de fortes dores, feridas no coração ou caíamde joelhos.” 890

Houve muitas críticas a Wesley e ao Movimento Metodista.891

Mas essas pessoas atingidas pelo poder de Deus eram aliviadas pela

oração e encontravam a paz.892

Neste período, nas colônias inglesas na América, também

estava havendo avivamento. Foi o chamado "Primeiro Grande

Despertamento". Começou com Jonathan Edwards, em 1734. Logo

depois, chegou George Whitefield que teve uma grande participação e

888 Ibidem, p.293.889 Ibidem, p.249.890 Ibidem, p.100.891 Ibidem, p.100-1.892 Ibidem, p.100.

CCLVII

o avivamento se espalhou por diversos lugares até por volta do ano de

1758. Mais tarde, Wesley compararia a obra do Espírito nos

metodistas, na Inglaterra, com os reavivamentos de Jonathan

Edwards, na Nova Inglaterra.893

A ação do Espírito de Deus acontecia em diversos lugares,

especialmente onde haviam corações humildes, submissos ao Senhor,

que viviam nos limites da miséria e só esperavam em Deus.894

Pentecoste era uma expressão utilizada por Wesley para falar da

vinda do Espírito Santo. Apesar de toda a ação Espírito que acontecia,

ele declarou em 1762:

“O dia de Pentecostes não chegou ainda na suaplenitude; mas não duvido que venha (...).”895

O progresso da obra missionária foi um fruto reconhecido por

Wesley que revela a chegada do Pentecoste. Ele sabia que o Espírito

poderia realizar coisas maiores. Neste mesmo ano, Wesley disse:

“Nosso Pentecoste finalmente chegou’, disse em1762, ao contemplar os progressos da obra missionária.Somente em Londres, mais de 400 membros dassociedades testificaram que foram libertos de todopecado. Em Liverpool, a sociedade passou por umaverdadeira metamorfose em sua perfeição.”896

893 Ibidem, p.293.894 Ibidem, p.127.895 WESLEY, João, Ibidem, p.130.896 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p.217.

CCLVIII

O avivamento era resultado do trabalho espiritual que as

sociedades desenvolviam na busca da perfeição cristã. O avivamento

havia começado mesmo em 1761 e o objetivo era buscar a santidade.

“O grande avivamento que apareceu no âmbitodas sociedades em 1761 era a melhor prova de queelas levavam muita a sério essa missão” .897

Wesley estava feliz com o que presenciava. Era o coroamento

de todo um trabalho. Ele disse:

“Aprouve a Deus derramar Seu Espírito em todasas partes, tanto na Inglaterra como na Irlanda, e de umamaneira tal que nunca sequer vimos antes, pelo menosnestes últimos vinte anos.” 898

O avivamento em Dublin foi o mais notável para Wesley. Teve

início com um pregador chamado João Manners, pessoa singela e

sem eloquência, mas que parecia destinada a essa obra. João Wesley

descreveu o que viu:

“Essa gente está tomada pelo fogo divino; nuncapresenciei dias como o domingo passado. Enquantoorava na sociedade, o poder de Deus tomou conta denós completamente, e alguns exclamavam em voz alta,‘Senhor, já posso crer.” 899

Wesley presenciou a chama do avivamento não somente entre

os jovens e adultos, mas também entre as crianças por volta do ano

de 1781.900 Em Epworth, a industrialização havia instalado quatro

897 Ibidem, p.216.898 Ibidem, p.217.899 Ibidem, p.218.900 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 277.

CCLIX

fábricas de fiar e tecer. Diversas crianças foram empregadas. Algumas

delas entraram por acaso em uma reunião de oração e foram tocados

no coração.

“Alguns deles entrando por acaso em uma reuniãode oração foram tocados no coração. Seus esforçosentre os companheiros mudaram então as condiçõesem três fábricas.”901

Wesley ficou entusiasmado também com a Escola Dominical,

que atendia especialmente as crianças. Ele acreditava que era uma

das formas de expandir o avivamento. Ele deu todo apoio ao jornalista

Roberto Raikes, quando ele deu início ao atendimento aos meninos e

meninas que andavam pela rua e incentivou aos metodistas que

sempre ensinassem às crianças.902

Mas, afinal, o avivamento era algo que deveria somente

acontecer naturalmente ou deveria ser propagado?

Como característica do metodismo, Wesley entendeu que o

avivamento deveria ser propagado. Em 1787, ele escreveu a um de

seus pregadores que havia organizado uma Escola Dominical e disse:

“Parece que essas escolas serão um meiopoderoso de que Deus se valerá para propagar umavivamento religioso no país.” 903

901 Ibidem.902 WALKER, Welliston., Ibidem, 224.903 Ibidem, p.299.

CCLX

Nisto tudo vemos que o metodismo foi uma expressão dinâmica

da espiritualidade, em seu inicio, onde a ação do Espírito Santo foi

fundamental:

“A expressão de uma espiritualidade dinâmicapessoal e comunitária. A plenitude da manifestação doEspírito na vida da pessoa e da comunidade testifica olugar fundamental do Santo Espírito no movimento. Elenão seria apenas o Consolador, mas o Sustentador, oFortalecedor, o Inspirador, o que nutria todos nocaminho da verdade, o que possibilitaria a experiênciada graça, o recebimento do dom e o frutificar da novavida.”904

5.3. A conseqüência do avivamento metodista: compromissosocial

“Refletindo hoje sobre o caso de uma pobre mulherque sofre continuamente de dor no estômago, pudeobservar a negligência indesculpável da maioria dosmédicos nos casos dessa natureza. Prescrevem drogase mais remédios sem saberem um jota da natureza detais desordens. Não a conhecendo, não podem curar,embora possam matar o paciente. De onde vem a dordessa mulher (ela nunca teria dito coisa alguma, se nãofosse perguntada)? Ela vem do desgosto pela morte doseu filho. De que adiantaria o remédio enquantopermanecer a tristeza? Por que então não consideramtodos os médicos até onde as desordens físicas sãocausadas ou influenciadas pela mente, e por que nãopedem a assistência de um ministro para os casos quefogem à sua alçada?"905

904LEITE, Nelson Luis Campos. As Marcas Básicas da Identidade Metodista, [s.ed],1993,p.10.905 BURTNER, Robert; CHILES, Robert. Coletânea da Teologia de João Wesley, ibidem,p.252

CCLXI

Wesley nasceu numa Inglaterra doente. Alguns autores chegam

a afirmar que a Inglaterra estava à beira de uma revolução semelhante

a que aconteceu na França em 1789,906 ou seja, três anos antes de

Wesley falecer.

“Foi um século, cuja poesia não tinha romance,cuja filosofia não tinha penetração, e cujos políticos nãotinham caráter; século de luz sem amor, cujos própriosméritos eram da terra, terrenos.” 907

A influência do Metodismo teria sido vital para mudar a situação

vigente na Inglaterra. Wesley não foi um reformador de estruturas e

nem via o indivíduo como agente de transformação social, mas sua

contribuição, dentro da visão da época, foi fundamental para mudar a

situação social. Alguns se entusiasmam tanto que chegam a colocar o

metodismo até como o remédio para aquela época na Inglaterra:

“O evangelho de Wesley era o remédio para aqueleséculo enfermo. Não somente abrasou corações,esclareceu inteligências, expulsou temores, acalmou osnervos, repreendeu pecados específicos e estimulou oamor ao próximo, mas expressou-se em atos decaridade.”908

Desde o princípio, Wesley estava interessado numa pergunta:

906 Edward P.Thompson afirma que o metodismo talvez tenha inibido a revolução (AFormação da Classe Operária Inglesa. 2 v. Ibidem, p.264). Já o historiador francês ElieHalévy (1870 -1938), no livro História do Povo Inglês no século XVIII, afirma que aInglaterra têm uma dívida com o metodismo porque ele impediu a Revolução semelhantea da França, em 1789.

907JOY, James Richard. O Despertamento Religioso de João Wesley, Ibidem, p. 96.908 Ibidem, p.97.

CCLXII

“Você ama e serve a Deus?” 909

Wesley tinha um cristianismo prático. Não lhe agradava um

avivamento enclausurado. O avivamento deveria levar a um

compromisso social. A fórmula de Wesley era: Avivamento traz

santificação910, que é igual a amor perfeito.911 O amor perfeito inclui

amar a Deus e ao próximo.912 Em seu sermão Os quase cristãos,

pregado em Santa Maria, Oxford, em 25 de julho de 1741, Wesley

afirma que aquele que é totalmente cristão, além de amar a Deus,

ama também ao próximo:

“A segunda coisa em que implica o ser totalmentecristão é o amor ao próximo.”913

Conforme o tema desta tese, o mover do Espírito Santo e a

santificação, necessariamente, deveriam trazer atos concretos de

amor a Deus e ao próximo.

“Visto que a santificação é amor, ela énecessariamente santificação social. Por mais queWesley pareça, algumas vezes, concentrar-se naexperiência do indivíduo na vivência de suasantificação, o horizonte da santificação sempre é o dacomunidade; o esforço pela comunhão perfeita comDeus inclui o reto relacionamento com os outroshomens.”914

909 “O amor de Deus está no coração da tradição wesleyana. Ele é a base de sua teologia,é o ímpeto para sua missão, e é a razão de sua organização” (HEITZENHATER, RichardP., Ibidem, p. 321).910 WESLEY, João. Trechos do diário de João Wesley. Ibidem, p.130.911 ______. Explicação clara sobre a perfeição cristã. Ibidem, p.52, 130.912 Ibidem, p.52.913 ______. Sermões de Wesley. 1 v, Ibidem, p.53.914 KLAIBER Walter; MARQUARDT, Manfred, Ibidem, p.302.

CCLXIII

Em 1742, Wesley escreveu sobre O Caráter de um metodista,

cuja marca principal era o amor a Deus e ao próximo. Wesley começa

este texto dizendo o que não são as marcas de um metodismo:

“As marcas distintivas de um metodista não são assuas opiniões de qualquer sorte. O seu assentimento aeste ou aquele esquema de religião ou o seu abraçarde qualquer grupo particular de noções ou o seuesposar o julgamento de um ou outro homem, estãocompletamente fora de discussão.”915

Mas qual é, então, a marca? Wesley pergunta e responde que

a sua principal marca de um metodista é o amor:

“Um Metodista é alguém que tem o amor de Deusem seu coração, pelo Espírito Santo que lhe foi dado;éalguém que ama ao Senhor seu Deus, ‘com todo o seucoração, com toda a sua alma, com todo oentendimento e força’(...). Ele faz o bem a todos,amigos e inimgos, ao próximo e ao estranho, e isto emtodas as espécies: não só aos seus corpos, vestindo osnús, dando de comer a quem tem fome, mas muito maisdo que isto, procurando o bem de suas almas, deacordo com os dons que vêm de Deus (...).”

Heitzenhater interpreta o que Wesley afirma sobre as marcas de

um metodista:

“A ação filantrópica dos metodistas, muitas vezes,foi a nível pessoal. João Wesley procurou envolver acomunidade na expressão de atos de misericórdia. Eledizia que as pessoas que se enriquecem devem

915 WESLEY, João. As marcas de um Metodista. São Paulo: Imprensa Metodista, [s.d], p.1

CCLXIV

proporcionalmente aumentar seus atos de misericórdia,caso contrário, serão avarentos.” 916

Uma das formas de levantar dinheiro para ajudar aos

necessitados era através de "pregações de caridade".917

Uma hipótese para a ênfase metodista nas obras de caridade:

sua origem pode ter sido nas próprias Sociedades. Ao ajudar os

necessitados, os membros da Sociedade pretendiam melhorar seu

nível de vida espiritual.918

“As sociedades religiosas, na tentativa de ajudar amelhorar essa situação, acharam necessário assumiruma atitude apologética que sustentasse programastais como o desenvolvimento das escolas de caridade,destacando, com muito cuidado, que tais escolas nãoeram o berço de descontentes ou revolucionários (...).”919

Em termos teológicos, contudo, a visão de Wesley para que

ajudássemos o necessitado pode ser encontrada em seu sermão O

Mordomo Fiel escrito em 1768. Para ele, somos dispenseiros da

alma, corpo, bens materiais e dos vários talentos dados por Deus.

Baseado em Lucas 17, Wesley afirma que um dia o Juiz nos julgará:

“Foste conseqüentemente, um benfeitor geral dahumanidade, alimentando o faminto, vestindo o nu,

916 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.252.917 Ibidem, p.127.918 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem., p.23.919 Ibidem, p.23-4. A SPCK (Sociedade para a propagação do Evangelho) procuroudesenvolver canais para a educação do povo nos princípios cristãos. Samuel Wesley, paide João e Carlos Wesley, organizou uma sociedade em Epworth. Livros e panfletos forampedidos a SPCK. A Sociedade era composta por 12 pessoas, modelo que Wesley seguiumais tarde com seus amigos em Oxford. (HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.25-8).

CCLXV

confortando o enfermo, abrigando o forasteiro,consolando o aflito, segundo suas váriasnecessidades? Foste os olhos do cego, os pés doestropiado? Foste o pai dos órfãos e o marido da viúva?E trabalhaste por levar a efeito todas as obras demisericórdia, como meio de salvar as almas da morte?”920

Eis algumas das atitudes de Wesley e dos metodistas diante dos

problemas sociais:

5.3.1. O combate à pobreza

A revolução industrial no século VXIII trouxe grande desemprego

entre o povo. Wesley tinha uma visão social razoável para a sua

época. Ele não culpava os pobres pela sua situação social e sim a

falta de alimento, emprego, ganância, etc.921

Wesley acreditava que a questão da pobreza poderia ser

resolvida através da santificação do mundo:

“(...)’virá o tempo em que o cristianismopredominará e cobrirá toda a face da terra’, quandocessarão guerras, ódios e desconfianças, que nosseparam, desaparecerão; injustiça e pobreza serãobanidas e a justiça regerá o mundo. Esta meta elevadasempre deve estar na base de nossos esforços e deveser a medida de nossas expectativas, em vista dosdons que Deus nos concedeu.” 922

920 WESLEY, João. Sermos de Wesley. v.2, ibidem, p.509.921 Em 1773, em Pensamentos sobre a presente escassez de alimentos, Wesley “culpa acarência de alimento e habitação a um ciclo de ganância entre os que ´têm`, e não apreguiça dos que não ´têm`. Ele declara mais particularmente que a causa do problemapode ser reduzida a ´destilação’ (NT – isto é, fabricação de bebidas alcoólicas), imposto eluxo” (Ibidem, p. 253).922 “Viver a graça de Deus” ( WIilliams apud Marquardt, 2000, p.310).

CCLXVI

Esta esperança de Wesley vinha de sua piedade e do seu

messianismo.923

Em 1783, Wesley registrou em seu Diário:

“Notando a pobreza profunda de muitos dos nossosirmãos, resolvi fazer o que podia para aliviá-los. Faleipessoalmente com alguns que estavam em boascondições, e recebi quarenta libras. Depois de indagar,quais eram as pessoas mais necessitadas, eu as visiteide casa em casa.”924

Era difícil a situação da classe operária, na Inglaterra. Ela era

nova e não tinha dos patrões o devido reconhecimento do seu valor.

Muitos camponeses perderam suas terras e passaram a andar pelas

cidades. 925

Como se devia esperar, os que pertenciam à classe dos ricos

viviam bem. Eles gastavam seu tempo em jogos e em reuniões

sociais, onde imperava a imoralidade. Portanto, os ricos não tinham

tempo para pensar na situação das demais classes.926

Não faltou em Wesley a nota profética relativa aos graves

problemas sociais. Segundo José Miguez Bonino, ele rechaça as

explicações tradicionais sobre as causas da pobreza. Denuncia a

923 O messianismo de Wesley é abordado no Capítulo 2.924 WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley. Ibidem, p.111.925 HILL, Christopher, Ibidem, p.65.926 REILY, Duncan Alexander. Metodismo brasileiro e wesleyano, Ibidem, p.149-0.

CCLXVII

privatização, que deixa milhares de camponeses desempregados na

Inglaterra.

“ Wesley se manifestou, de modo particular em seutratado ´Thoughts on the Present Scarcity of Previsions`(work, 11/53 ss): Ali, Wesley não se limita a comprovara terrível situação em que se encontra, senão querechaça as explicações tradicionais da pobreza comodestino ou como conseqüência de preguiça ou vício.Tais explicações, diz ele, são ´perversas ediabolicamente falsas´. Denuncia a privatização dapropriedade (énclousure laws´) que deixa milhares decamponeses sem terra.” 927

A explicação inovadora, segundo Bonino, foi exatamente a

denuncia da privatização da propriedade que deixava milhares

desempregados.

Um fator fundamental para aumentar o número de

desempregados e, conseqüentemente a pobreza, foi a revolução

industrial ocorrida na Inglaterra no último terço do século dezoito, que

a transformaria de país agrícola em industrial. 928

Esta revolução trouxe vantagens ao país, mas tirou também o

pão-de-cada-dia de muitos que fabricavam à mão. Quando acontecia

uma nevada, como em 1740 em Bristol, muitos acabavam na miséria.

Ele incentivava os metodistas de mais posses que ajudassem os

927BONINO, José Miguez. Metodismo: releitura latino-americana [s.ed], Unimep-Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, 1983, p. 9. Nas páginas seguintes, as açõesde Wesley contra a pobreza são destacadas.928 REILY, Duncan Alexander, Ibidem, p.153.

CCLXVIII

empobrecidos. Como resultado, nessa ocasião, mais de cento e

cinqüenta pessoas por dia eram alimentadas. 929

Quais foram as atitudes de Wesley num país em que as massas

pobres eram ignorantes e brutais num grau de difícil descrição? 930

Podemos dizer que, pelo menos de quatro maneiras, Wesley

tentou resolver o problema da pobreza:

João Wesley levantou ofertas para os que estavam

desempregados. Em seu diário ele diz:

“Levantamos uma coleta em nossa congregaçãoem prol dos tecelões que estavam sem emprego. Acoleta importou em quarenta libras.”931

Wesley solicitou aos metodistas que assumissem um

compromisso de ajuda contínua aos menos favorecidos. Os

metodistas procuravam fazer a sua parte:

“O dinheiro levantado nas sociedades era usado,em parte, para a caridade local. Os stewards dasociedade de Londres distribuíam sete ou oito libras porsemana para os pobres.” 932

Em 1741, Wesley percebeu que um grande número de pessoas

da Sociedade Unidade de Londres carecia de meios de vida. Sua

atitude foi:

929 WALKER, Welliston. História da Igreja Cristã. 2 v. São Paulo: ASTE, 1967, p. 203.930ENSLEY, Francis Gerald. João Wesley, o Evangelista, Ibidem, p.109.931 WESLEY, João. Trechos do diário de João Wesley, Ibidem, p.109.

CCLXIX

“(...) fez um apelo à Sociedade para que cada umcontribuísse, se eles fossem capazes, com um penny(mais ou menos) por semana para um fundo de auxílioaos pobres e doentes, e que também trouxessemroupas das quais pudussem dispos, para seremdistribuídas (...).”933

Wesley e outros metodistas construíram orfanatos, asilos e lares

para viúvas dentro da ética social metodista.934 Uma destas pessoas

foi Maria Bosanquet que gastou toda sua herança na manutenção de

um orfanato e de um posto de caridade. 935

Os metodistas criaram "a casa dos pobres". 936Eram duas casas

alugadas perto da Fundição937 para viúvas e idosos. Haviam cerca de

doze pessoas. Em 1763, um grupo de mulheres (Sarah Crosby, Sarah

Ryan, Mary Bosanquet) organizou uma escola e um orfanato em

Leytonstone.938

A caridade metodista era grandemente uma filantropia pessoal.

À Miss March, Wesley determinou:

932 HEITZENHATER, Richard P.Ibidem, p.253.933 Um "penny" significa um centavo de libra esterlina (HEITZENHATER, Richard P.

Ibidem, p.128).934 “Essa ênfase particular em ‘amar o próximo’ e seguir o exemplo de Cristo (que ‘andoupor toda a parte fazendo o bem’, Atos 10:38), continuou a caracterizar o metodismo,quando ele entrou no reavivamento” (Ibib., p.125).935BARBIERI, Sante Uberto. Estranha Estirpe de Audazes, Ibidem, p.151.936 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.167.937 “A Fundição se tornou o quartel general de Wesley em Londres. As depend6encias dareconstrução incluíam: (A) os apartamentos de Wesley, (B) seu escritório, (C) um sinobatendo diariamente às 3 horas da manhã para os cultos matinais e às 4 horas da tardepara as orações vespertinas, (D) a entrada principal, (E) a entrada para o salão depregações, (F) uma habitação para familia, pregadores, etc, (F) sala de aula, sala para osgrupos, (H) estábulo, (I) cocheira e quintal” (HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.109).938 Ibidem.

CCLXX

“Vá e veja o pobre e doente em suas pobreschoupanas. Tome a sua cruz, mulher! Lembre-se da fé!Jesus foi adiante de você e irá ao seu lado.” 939

Wesley reconhecia que nem sempre era algo agradável o

trabalho junto aos pobres, como a sujeira e outras circunstâncias

desagradáveis. Em carta posterior, ele lhe pediu que: :

“(...) visitasse os pobres, as viúvas, os doentes, osórfãos em sua aflição; sim, embora eles não tenhamnada que os recomende a não ser que foramcomprados com o sangue de Cristo. É verdade que nãoé agradável à carne e ao sangue. Há milhares decircunstâncias geralmente ligadas a isso que chocam adelicadeza de nossa natureza, ou antes, a nossaeducação. Mas as bênçãos que se seguem a essetrabalho de amor irão mais do que equilibras a cruz.”940

Empréstimo foi uma solução que Wesley encontrou para trazer

novas oportunidades às pessoas que passavam por grandes

dificuldades financeiras.941

“Wesley estabeleceu em julho de 1746 um fundode empréstimos, iniciando a empresa com somente 30libras esterlinas. Mas o fundo proporcionou a muitosuma chance, dando-lhes um novo começo de vida.”942

Houve problemas na área de empréstimo e algumas pessoas

procuraram levar vantagem ou depois, simplesmente, viravam suas

costas à igreja. Foi o caso de James Lackington. Conseguiu um

939 Ibidem, p. 252.940 Ibidem, p.252.941 Ibidem, p.166.942 REILY, Duncan Alexander. A Influência do Metodismo Revolução Social na Inglaterra

no século XVIII., Ibidem, p. 8.

CCLXXI

empréstimo de cinco libras. Ele teve grande sucesso em seus

negócios, contudo dois anos depois de ter recebido o empréstimo, ele

deixou os metodistas. 943

Wesley procurou arranjar emprego para os pobres. Considerou

mais importante arranjar emprego do que dar esmola. Procurou ainda

escrever e orientar sobre medicina caseira. Escreveu Medicina

Primitiva:

“(...) Wesley expandiu o programa de assistênciamédica entre seu povo. Fascinado pelas doenças ecuras desde os dias de Oxford, Wesley estavaconvencido, há muito tempo, ‘por inúmeras provas’ deque os médicos regulares prestam muitíssimo poucosbenefícios (...). Ele havia estocado remédios nas trêsprincipais casas de pregação por cerca de um ano epublicado uma pequena coleção de receitas medicinais.Agora ele havia conseguido um cirurgião e umfarmacêutico para o auxiliarem em ‘um tipo deexperiência emergencial, a distribuição regular deremédios.”944

Apesar de verificar falhas no atendimento médico, Wesley não

pretendia substituí-los. Ele havia conseguido um cirurgião e um

farmacêutico para o auxiliarem.945 Wesley não queria ir além de sua

capacidade.946

943 HEITZENHATER, Richard P., op. cit, p. 251-2.944 Ibidem, p.166.945 Ibidem.946 Ibidem, p.166-7.

CCLXXII

“(...) sua intenção era ajudar aqueles que tivessemuma doença crônica e não aguda, e enviar todos oscasos difíceis e complicados para os médicos.”947

Wesley então, não foi indiferente à situação da pobreza que

reinava na Inglaterra. A sua participação foi em termos concretos. Ele

não culpava os pobres dizendo que eles eram preguiçosos, mas sim a

ganância dos que tinham muito. A ação metodista junto aos pobres

era resultado da ênfase no amor ao próximo. Entre as marcas de um

metodista está:

“(...) ele ama ao seu próximo como a si mesmo e acada homem como a sua própria alma. Seu coraçãoestá cheio de amor à humanidade e para com cada filhodo ’Pai dos espíritos de toda a carne’. Nenhumobstáculo é ao seu amor o fato de um homem lhe serdesconhecido, mesmo que este seja um tipo cuja vidaele desaprove, pois paga o ódio com boa vontade. Eleama até mesmo os seus inimigos, sim, os inimigos deDeus, os maus e todos os ingratos.”948

5.3.2. Criação de escolas para o povo

Quase não havia preparo escolar na Inglaterra.949 Praticamente,

só os ricos estudavam. Isto se fez, inclusive, sentir entre os próprios

pregadores metodistas. Por isso Wesley se preocupou em criar

947 “Entre os seus primeiros casos estava um verdadeiro teste para seu método. WilliamKikman, de setenta e um anos, um tecelão que sofria de uma ‘tosse muito aborrecida’desde os onze anos.O medo de Wesley era que, se falhasse nesse caso, os outros sesentiriam desencorajados a voltarem lá. O xarope receitado curou a tosse em dois ou trêsdias, sendo Wesley cuidadoso em não assumir o crédito dessa cura, atribuindo tudo aopoder de Deus” (Ibidem, p.167).948 WESLEY, João. As marcas de um Metodista, Ibidem, p.4-5.949 “Em 1715 havia em todo o Reino Unido somente 1.193 escolas primárias,freqüentadas por 26.920 alunos” (LILIÈVRE, Mateo, Ibidem, p.14).

CCLXXIII

escolas para os filhos dos pregadores metodistas, um grupo de

sessenta e três pregadores.

“Havendo na América nessa época somente oitentae três pregadores metodistas. Nenhum deles, comexceção do Dr. Thomas Coke, havia estado numcolégio, ou mesmo no que seria chamado agora, umaescola secundária rudimentar. Todos eramdesesperadamente pobres financeiramente.” 950

Diante desta situação, quais foram as atitudes de Wesley?

Wesley criou escolas para os pobres e para os filhos dos

pregadores metodistas. Entre essas escolas estão "A escola da

Fundação de Londres", "A Casa dos Órfãos em Bristol" e a "Escola

Kingswood" que os metodistas abriram para os filhos dos mineiros de

Kingswood.951

Whitefield, além de ser avivalista e um grande pregador do

metodismo, também se preocupava com o trabalho social. Foi ele

quem fundou a Escola Kingswood e um orfanato na Geórgia. 952

Em 4 de janeiro de 1758, Wesley registrou em seu Diário:

“Cheguei a Kingswood, e fiquei contente por causada escola, que é finalmente o que já eu há muito queria

950 LUCCOCK, Halford, ibidem, p. 65. Thomás Coke nasceu em 1747, no País de Gales, erecebeu diploma de doutor em leis. Em 1784, foi nomeado por Wesley comoSuperintendente do Metodismo na América. Título, posteriormente, mudado paraBispo.Idem, p.107-1.951 ROY, James Richard, ibidem, p. 80.952 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 121.

CCLXXIV

que fosse: uma benção a todos que residem nela, e atodos os metodistas.”953

Wesley observou que haviam falhas no sistema educacional da

Inglaterra, mostrando assim que tinha uma atitude crítica diante do

mundo em que vivia. E is um resumo das falhas que ele encontrou:

1) As escolas eram mal localizadas,2) As crianças piores corrompiam as melhores,3) A instrução religiosa era falha,4) As disciplinas eram mal escolhidas,5) Havia defeitos na pedagogia. 954

Neste período, o jornalista Robert Raikes criou a Escola

Dominical para educar as crianças pobres que andavam fazendo

arruaça pelas ruas aos domingos. Nesta escola, Raikes administrava

Matemática, Geografia e Religião, entre outras coisas. Wesley

prontamente apoiou tal idéia e a empregou nas sociedades

metodistas. Tudo indica, inclusive, que a Escola Dominical de Ana

Ball, membro da Sociedade Metodista em High Wycombe, foi iniciada

quatorze anos antes da de Roberto Raikes.955

Assim vemos que Wesley não foi também indiferente a situação

educacional na Inglaterra. Seu compromisso social compreendia

também as escolas.

Quando encontrava problemas nas escolas, Wesley demonstrava

preocupação. Em 1781, ele disse sobre a Escola de Kingswood:

953 WESLEY, João.Trechos do Diário de João Wesley. Ibidem, p.64-5.954 REILY, Duncan Alexander, Ibidem, p. 9.955 LUCCOCK, Halford, Ibidem, p. 86.

CCLXXV

“Quanta preocupação esta escola me tem dado porestes trinta anos! Faço planos, mas quem é que vaiexecutá-los! Eu não sei; o Senhor me ajudará!”956

E quando Wesley observou o progresso na Escola de Kingswood,

ele disse, em 1786:

“Achei tudo como eu queria: as regras estão sendoobservadas e o comportamento das crianças demonstraque estão sendo governadas com sabedoria.”957

5.3.3. A luta pela melhoria das prisões

Não havia condição de um ser racional viver nas prisões da

Inglaterra, pois faltava quase tudo: água, luz, higiene. Não havia

também a intenção de reformar os réus, reabilitando-os como

cidadãos úteis.958

Outro fator ainda contribuía para piorar a situação dos presos: o

carcereiro, não tendo um salário estipulado pelo governo, tirava o que

podia dos que estavam encarcerados.959

956 WESLEY, João.Trechos do Diário de João Wesley. Ibidem, p.66.957 Ibidem, p. 66.958 REILY, Duncan Alexander. A Influência do Metodismo Revolução Social na Inglaterrano século XVIII, Ibidem, p. 11.959 REILY, Duncan Alexander, Metodismo brasileiro e wesleyano, Ibidem, p.164.

CCLXXVI

Quais foram as atitudes de Wesley ante o problema dos

cárceres?

Expressar amor aos excluídos, como resultado da ação do

Espírito Santo e da santificação, mas Wesley não agiu sozinho. Foi

William Morgan quem sugeriu inúmeras vezes a Wesley visitar os

presos na Prisão do Castelo.

“Morgan tinha estado desenvolvendo uma amplaárea de atividades beneficentes, já há algum tempo:ensinando as crianças órfãs, cuidando dos pobres eidosos, visitando prisões.” 960

Os irmãos Wesley visitaram a Prisão do Castelo com Morgan

pela primeira vez em 24 de agosto de 1730 e passaram a visitar, pelo

menos, uma vez por semana. Morgan foi o planejador de grande

parte do trabalho social dos metodistas. 961

Semanalmente, João Wesley visitava as prisões levando roupas,

remédios, alimentos e também um conforto espiritual. Isto começou

com o Clube Santo: em agosto de 1730, pela influência de Morgan,

começaram a visitar os encarcerados em Oxford962 e, praticamente,

continuou por toda a vida de Wesley.

A conversão de carcereiros pela pregação metodista foi outro

fator importante para o melhoramento dos cárceres. Um dos

carcereiros convertidos foi Dagge. Eis um resumo e adaptação de uma

960 HEITZENHATER, Richard P., ibidem, p.40.961 Ibidem.962 WALKER, Welliston, ibidem, p. 206.

CCLXXVII

carta de Wesley, sobre a transformação que este carcereiro teve na

prisão:

“1) A cadeia passou a ficar limpa, pois cada presoficou com responsabilidade de limpar a cela;2) Não houve mais brigas, pois o carcereiro resolvialogo com os presos as controvérsias que surgiam;3) O roubo praticamente deixou de existir nas prisões,pois os presos sabiam que seria restrita a sua clausurase roubassem;4) Não foi mais permitida a embriaguez, embora ocarcereiro pudesse tirar lucro disto;5) A prostituição acabou, pois foi tomado oprocedimento de separar as mulheres dos homens nasprisões;6) A ociosidade foi evitada, pois providenciavam-seferramentas para os presos trabalharem;7) O domingo era observado. Os detentos não sedivertiam nem trabalhavam aos domingos. Elesparticipavam do culto público;8) Passou a haver uma preocupação com a vidaespiritual do preso.” 963

O Metodismo, através do avivamento e sua ênfase social

influenciou também pessoas que tinham grandes responsabilidades

administrativas no país. Um dos influenciados foi João Howard, que

era uma espécie de secretário de segurança. Ele dedicou sua vida à

reforma das prisões procurando dar ao preso condições dignas de um

ser humano. 964

Wesley, então, não foi omisso diante dos problemas dos presos.

Ele participou ativamente da vida dos encarcerados e transformou

estas prisões de uma maneira indireta.

963 REILY, Duncan Alexander.A Influência do Metodismo Revolução Social na Inglaterrano século XVIII, Ibidem Ibidem, p. 13.

964 NICHOLS, Robert. História da Igreja Cristã. Casa Editora Presbiteriana, 1954, p. 193.

CCLXXVIII

5. 3.4. A luta contra a escravidão

O comércio de escravos negros era algo considerado normal

pelo povo inglês. O povo era, praticamente, indiferente a esta situação

e os ricos prosperavam às custas do sofrimento do escravo.

Wesley agiu energicamente contra tal procedimento de um

goveno cristão, que permitia a existência da escravidão na Inglaterra.

Em 1774, Wesley escreveu um livro chamado Pensamento Sobre a

Escravidão. Assim ele se expressa nesse livro:

“Metade da riqueza de Liverpool é derivada daexecrável soma de todas as vilanias comumentedenominadas comércio de escravos. Desejo por Deusque o comércio de escravos nunca mais sejaestabelecido. Que nunca mais roubemos e vendamosnossos irmãos como animais, nunca mais osassassinemos aos milhares e dezenas de milhares.”965

Outra atitude de Wesley foi apoiar os grandes líderes do país,

que lutavam para acabar com a escravatura. Um dos líderes foi

Guilherme Wilberforce para quem Wesley escreveu, entre outras

coisas, o seguinte:

“Meu caro senhor: a não ser que o poder divino otenha levantado para ser um athanasius contramundum, não posso ver como poderá o senhor terminarsua gloriosa empresa, opondo-se àquela execrávelvilania, que é o escândalo da religião, da Inglaterra e danatureza humana. A não ser que Deus o tenhaverdadeiramente levantado para esta obra, o senhor

965 LUCCOCK, Halford, Ibidem, p. 31.

CCLXXIX

será consumido pela oposição dos homens e dosdemônios, mas, se Deus for pelo senhor, quem lhe daráconta? São eles todos juntos mais fortes que Deus?Oh! Não se canse de fazer o bem. Continue, em nomede Deus, e com a força do seu poder, até que aescravidão americana, a mais vil que já houve sob osol, se desvaneça diante desse poder. O servo que oestima, João Wesley.”966

A consciência cristã não percebia, na época de Wesley, que a

escravidão era um crime e era algo condenado por Deus, pois Ele

quer restaurar a dignidade humana e o Evangelho é libertador,

restaurador. Essa consciência não existia nem em Whitefield que

quatro anos antes de morrer deixara em testamento numerosos

escravos de suas fazendas na Geórgia com a condessa Lady

Huntingdon. 967

A oposição à escravidão não foi uma atitude isolada de Wesley.

A Conferência Anual de 1780 reconheceu que a escravidão é contrária

às Leis de Deus.968

Portanto, avivamento e compromisso social sempre estiveram

juntos no movimento metodista, na Inglaterra, no século XVIII. O

metodismo atraiu também a burguesia969, mas avivamento e a pobreza

estavam interligados.

“À medida que o avivamento metodista seespalhava pelos subúrbios pobres das cidadesinglesas, no começo de 1740, as novas sociedades

966 Ibidem, p. 30.967 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p. 283.968 BONINO et al. Luta pela vida e Evangelização, Ibidem, p. 50.969 BARBIERI, Sante Uberto. Aspectos do metodismo histórico. Editora Unimep, 1983,p.15.

CCLXXX

metodistas começaram a ficar cheias de mineiros,criados e muitas outras pessoas de classe trabalhadoraque vivia nos limites da miséria, senão emcalamidade.”970

Foi assim, na década de 40, no século XVIII, bem como no final

da vida de Wesley, nas décadas de 80 e 90, na luta contra a

escravidão. O avivamento atraia o povo simples e o coração cheio de

amor proporcionava solidariedade aos excluídos da sociedade.

970 HEITZENHATER, Richard P., op. cit, p.127.

CCLXXXI

6- A CONTRIBUIÇÃO DO AVIVAMENTO METODISTA

“A Inglaterra foi poupada da revolução a que ascontradições de sua política e economia poderiam terconduzido, pela influência estabilizadora da religiãoevangélica, particularmente o metodismo.”971

Elie Halévy

6.1. Contribuição do metodismo ao cristianismo na Inglaterra

Uma boa parte da liderança mundial dos evangélicos considera o

metodismo de Wesley como paradigma para o avivamento e como

modelo de Igreja para hoje.

Oswaldo Smith, avivalista internacional, chegou a afirmar:

“Como resultado de minhas leituras, estou certo deque os metodistas primitivos estavam mais próximos daexperiência apostólica do que qualquer outro grupo depessoas que conheço.”972

No livro Identidad Pentecostal, uma publicação do Clai (Conselho

Latino Americano de Igrejas), um pentecostal Gabriel O. Vaccaro inclui

o metodismo dentro do que ele chama de “Movimento da fé

apostólica” ao dividir em quatro períodos a história da Igreja:

971 “The Birth of Methodism in England” (Halévy pub Bonino, p.32).

CCLXXXII

“a) Estabelecimento da Igreja (Período Apostólico);b) Apostasia da Igreja (até a idade média);c) A reforma da Igreja (Lutero);d) A Restauração da Igreja (sob Wesley).”973

Este autor pentecostal propõe ainda a seguinte periodização para

o desenvolvimento da história da Igreja:

“a) Período que vai até Constantino;b) Com os séculos de obscuridade (que para oshistoriadores pentecostais chega até Lutero);c) A partir de Wesley, avivamento pentecostal, batismodo Espírito Santo e exercício dos Dons Espirituais naigreja.”974

Para ele, o metodismo é um divisor de águas na história da

Igreja, especialmente, inaugurando a ação da Igreja numa perspectiva

pentecostal.

O bispo Roberto Mac Alister, fundador da Igreja Nova Vida,

numa expressão de fé e dentro de uma idéia messiânica, chegou a

falar que será um avivamento semelhante ao do metodismo primitivo

que salvará o Brasil:

“A única coisa que poderia salvar o Brasil seria umreavivamento espiritual, tal como se verificou na“Inglaterra do século 18, o que provocou umasubstancial mudança na vida pública quando uma

972 SMITH, Oswald J. O Reavivamento de que Precisamos. [s.ed],1958, p.101. O autoraqui fala do metodismo wesleyano e não da nova denominação surgida, na Inglaterra,após a morte de Wesley.973 VACCARO, Gabriel O. Identidad Pentecostal. Clai, Quito, Equador, 1990, p. 51. OSecretário Geral do Clai, Felipe Adolf, afirma sobre Vaccaro: “el nos há permitidoacercarnos a lo pentecostal desde uma perspectiva diferente, natural, auténtica” (Ibidem,p.7).974 Ibidem, p.252.

CCLXXXIII

consciência metodista mexeu com todas as camadasda sociedade, desde o padeiro até o parlamentar.”975

Maria Isaura Pereira Queiróz afirma que as crenças messiânicas

pressupõem a necessidade de salvação terrena e levam`à concepção

do reino ideal que um enviado instalará no mundo.976

6.2. Contribuição do metodismo à sociedade inglesa

O metodismo na Inglaterra é visto por diversos autores como um

modelo. Por mais que isso possa ser um triunfalismo dos metodistas,

algo de extraordinário aconteceu na Inglaterra, para que Paul (David)

Y. Cho, pastor da Assembléia de Deus, a maior igreja local do mundo,

na Coréia do Sul, chegasse a dizer:

“A pregação dos irmãos Wesley salvou a Inglaterrade mergulhar numa revolução como a que a Françaexperimentou no século XVIII.”977

O país vivia num caos. Era chamada a "nação selvagem". A

revolução industrial trouxe progresso, mas também proporcionou

desemprego.978

975 MAC ALISTER, Robert. Boletim do bispo Roberto. [s.ed], dezembro de 1987.976 QUEIRÓZ, Maria Isaura Pereira de. Ibidem.977 CHO, Paul Y. Oração, a chave do avivamento. Editora Betânia, 1986, p. 12.978“A Revolução Industrial havia trazido consigo uma abominável exploração dostrabalhadores, que se amontoavam, em número crescente, em bairros em que aaglomeração e o abandono tornavam insalubres e moralmente corrompidos”(CAMARGO, Gonzalo Baéz, Ibidem.p. 55).

CCLXXXIV

Para Edward Thompson, o metodismo serviu à burguesia e ao

proletariado:

“(...) o metodismo obteve o maior êxito em servirsimultaneamente como religião da burguesia industrial(apesar de compartilhar este terreno com outras seitasheterodoxas) e de amplos setores do proletariado. Nãopode haver dúvida sobre a profunda devoção de muitascomunidades da classe operária (incluindo igualmentemineiros, tecelões, operários industriais, marinheiros,ceramistas e trabalhadores rurais à Igrejametodista).”979

Apesar de Wesley não atacar efetivamente as estruturas sociais,

o avivamento metodista não foi alienante. Ele proporcionou uma ativa

participação nas questões sociais, como os presos, escravos, meninos

e meninas de rua, desempregados, vícios , etc.

Max Weber toca nesse tema, ao comentar sobre o revival

metodista:

“O poderoso revival do Metodismo, que, em fins doséculo XVIII, precedeu o florescimento da indústriainglesa pode ser comparado com uma dessas reformasmonásticas.”980

Weber, contudo, mostra que a conversão no metodismo não era

somente seguido por um piedoso gozo da comunidade de Deus, à

maneira do pietismo emocional de Zinzendorf. Para ele:

“A emoção, uma vez despertada, era dirigida parauma luta racional pela perfeição. Assim, o caráter

979 THOMPSON, Edward P., Ibidem, 2 v. p. 232.980 WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Biblioteca Pioneira deCiências Sociais, 3 ed. 1983, p.125.

CCLXXXV

emocional de sua religiosidade não levou a umcristianismo sentimentalista interior, do tipo do pietismoalemão.”981

Essa é uma das contribuições do metodismo. Para Wesley, a

razão assistida pelo Espírito Santo é fundamental na vida cristã.

A questão da terra tão discutida nos dias de hoje era uma

preocupação de Wesley. Ele questionava a estrutura social vigente,

que aumentava a pobreza.

“Mas por que a terra está tão cara? Porque, pelasrazões acima, a aristocracia não pode viver de formaque está acostumada, sem aumentar a sua renda, oque a maioria só pode fazer aumentando os aluguéis.Assim, o posseiro, pagando mais aluguel pela terra,precisa ganhar mais pelos produtos. Isto por sua vez,aumenta o preço da terra e assim a roda gira.”982

O metodismo participou na reforma dos costumes. O próprio

Wesley comenta em suas pregações sobre a situação da sociedade

inglesa e dos membros da Igreja Anglicana.

“Todos os que se chamam “membros da Igreja daInglaterra” estão cordialmente empenhados naoposição às obras do diabo e combatendo contra omundo e a carne? Ai! Não podemos dizer isto. Temoque, ao contrário, a maior parte deles sejam omundo.”983

981 Ibidem, p. 101.982 WESLEY, John. Pensamentos sobre a falta de alimentos. Lewiasham, 20 de fevereirode 1773. In: Mosaico nº 4, 1993, p. 8-9.983 WESLEY, João. Sermões de Wesley. 2 v. São Paulo: Imprensa Metodista, 1981, p.520.

CCLXXXVI

Em vez de combater os males, eles próprios estavam vivendo

segundo o mundo, isto é, segundo o povo que não conhece a Deus

para qualquer propósito de salvação.984 Wesley afirmou isso em seu

sermão “A reforma dos costumes”, em 30 de janeiro de 1763, na

capela de West-Street, Sevendials. Em seu sermão, Wesley fez um

histórico do surgimento da Sociedade para a Reforma dos Costumes,

em Londres, no século XVII.

“Incrível soma de bem foi feito por essa Sociedade,durante perto de quarenta anos. Mas, depois, tendo amaior parte dos membros fundadores ido a receber suarecompensa, os que lhes sucederam se tornaramfracos no espírito e abandonaram o trabalho; de modoque, poucos anos faz, a Sociedade se extinguiu, semque qualquer remanescente permanecesse noreino.”985

Um novo grupo havia surgido, em agosto de 1757, disposto a

ressuscitar a Sociedade para a Reforma de Costumes.

Para eles, os grandes problemas eram:

“(...) se fez menção da grande e abusivaprofanação daquele dia sagrado, por parte de pessoascomprando e vendendo, mantendo o comércio aberto,bebendo pelas tavernas, permanecendo de pés ouassentadas nas ruas, nas estradas ou nos campos,vendendo suas mercadorias como nos dias comuns;especialmente em Moorfields, que então se enchiadesses transgressores todos os domingos, da manhã ànoite.”986

Entre as providências que o grupo tomou, estão:

984 Ibidem.985 Ibidem, p.521.986 Ibidem.

CCLXXXVII

“(...) enviaram petições a S. Excia. O Lorde Maior eao Tribunal de Aldermen; às Justiças com sede emHick´s Hall e às de Westminster; e receberam de todasessas venerandas cortes o maior encorajamento nosentido de prosseguirem na obra.”987

Depois comentaram a idéia com várias pessoas de posição

eminente e ao corpo de clérigos, assim como a ministros de outras

denominações na cidade de Londres e Westminster e seus

arredores.988

O grupo fundador da Sociedade distribuiu milhares de panfletos

dando instrução às autoridades policiais e demais oficiais locais

explicando seus deveres para executarem as leis. No começo de

1758, deram informações aos magistrados daqueles que profanavam

o dia do Senhor.

“Por esse meio eles limparam as ruas e os camposdos transgressores notórios que, sem qualquer respeitoa Deus e ao rei, vendiam suas mercadorias de manhã ànoite. Em seguida passaram a uma empresa maisdifícil: evitar a bebedeira no dia do Senhor.”989

O grupo foi censurado, insultado e ofendido. Não só pelos que

bebiam, mas também pelos donos das tavernas que obtinham lucro

com as bebidas. 990

987 Ibidem.988 Ibidem.989 Ibidem, p.522.990 Ibidem.

CCLXXXVIII

Depois de conseguir impedir que as bebidas fossem vendidas, a

Sociedade se voltou para os diversos tipos de jogadores. Segundo

Wesley:

“(...) que faziam da exploração dos jovens e dosinexperientes o seu comércio, despojando-os de todo oseu dinheiro. Depois de os terem reduzido à miséria,freqüentemente lhes ensinavam o mesmo mistério deiniqüidade.”991

Outra ação da Sociedade foi acabar com as casas de prostituição

processando-as de acordo com a lei. Muitas das mulheres que se

prostituíam ficaram agradecidas por saírem dessa situação. Wesley

fala da sabedoria da Divina Providência ao fazer surgir o Asilo

Madalena onde as mulheres que não tinham moradia pudessem ficar.

Nesse local, elas foram recebidas com ternura e viveram em

conforto.992

Em seu sermão, Wesley faz um balanço da quantidade de

pessoas que foram levadas à Justiça pela Sociedade entre agosto de

1757 a agosto de 1762: 9.596.993

Eram cento e sessenta pessoas que participam da Sociedade

para a Reforma de Costumes sendo cerca de vinte relacionadas a

991 Ibidem, p. 523.992 Ibidem.993 Ibidem.

CCLXXXIX

Whitefield, cerca de cinqüenta relacionadas a Wesley; cerca de vinte à

Igreja Estabelecida e cerca de setenta eram dissidentes.994

Sua visão sobre a importância dessa ação da Sociedade era:

“Na proporção em que se promove a justiça detoda espécie, avança, pois, o progresso nacional.”995

A ação da Sociedade não devia ser através da violência e nem

da intimidação. Para Wesley, os membros deveriam ser escolhidos

pelo seu caráter. Ele realça como importante a fé, coragem, prudência,

humildade, doçura, simplicidade e mansidão, etc. Para ele, somente

assim a Sociedade será eficiente.996

“O que acrescenta doçura ainda maior ao trabalhoe à dor é o amor cristão a nosso próximo.”997

Nem todos historiadores e teólogos viram em Wesley e no

metodismo do século XVIII um movimento transformador.

“Segundo Richard Niebuhr, os irmãos Wesley –forjadores do movimento wesleyano – repensaram oconceito de Reino (de Deus) pelo símbolo do céu eviram o pecado como relaxamento e um vício individuale não como uma opressão ou um desajuste social.”998

994 Ibidem. Os que eram “dissidentes” não pertenciam à Igreja oficial da Inglaterra. Oprimeiro defensor realmente notável das idéias separatistas, na Inglaterra, foi RobertoBrowne (1550-1633). Em 1581, ele criou, com seu amigo Roberto Harrison, umacongregação independente em Norwich ( WALKER, Welliston, ibidem, p.141-2).995 Ibidem. p.526.996 Ibidem, p.532-6.997 Ibidem., p.532.998 CONSEJO MUNDIAL DE IGLESIAS. Consulta com las Iglesias Pentecostales. Peru,14 el 19 de noviembre del 1984, p. 19-0.

CCXC

Thompson condenada o autoritarismo de Wesley e ainda os

cultos wesleyanos como tendo aspectos negativos:

“O termo é desagradável, mas é difícil não ver nometodismo desta época uma forma ritualizada demasturbação mental. Energias ou emoçõesameaçadoras para a ordem social eram liberadas eminocentes e esporádicas festas de confraternização,vigílias, reuniões mensais ou campanhasrenovacionistas.”999

Apesar disso, Thompson cita o metodismo como uma força que

conseguiu atrair os operários e lhes dar uma esperança:

“Mas foi Wesley - ultraconservador em política esacerdotal em questões de organização - o primeiro achegar aos 'pobres de Cristo', quebrando o tabucalvinista com a simples mensagem: 'A única coisa afazer é salvar almas.”1000

Para ele, Wesley conseguiu seu sucesso por ser organizador,

administrador das sociedades. Conseguiu combinar nas proporções

exatas democracia e disciplina, doutrina e emotividade.1001

Os dados, contudo, revelam um Wesley com uma visão da

importância da Igreja ser comunitária (sociedades). Em termos

sociais, o metodismo procurou atender também aos necessitados e

pobres. Thomas W. Madron afirma:

999THOMPSON, Edward P., Ibidem, 2 v. p. 248.1000______. Ibidem, 1 v. p. 36.1001 Ibidem, p.38.

CCXCI

“A velha fundição de Londres, por exemplo,transformou-se num verdadeiro crisol de projetos – casade misericórdia para viúvas, escola para meninos,dispensário para enfermos, bolsa de trabalho e agênciade emprego, cooperativa de crédito e agência deempréstimo, sala de leitura e igreja.”1002

Segundo vários teólogos e historiadores, entre eles, o bispo

Sante Uberto Barbieri, a luta de Wesley contra a escravidão cooperou

para o seu fim na Inglaterra:

“A abolição da escravidão, na Inglaterra, foi oresultado do avivamento metodista e da filantropia queinspirou por causa da ênfase que João Wesley dava àdoutrina da salvação universal e da igualdade de todosos homens perante Deus.”1003

Segundo ele, foi devido à doutrina e disciplina metodista que

infundiram nos líderes do proletariado e da burguesia uma inclinação

para a ordem, contra a violência.1004

Edward Thompson concorda com a afirmação sobre a

disciplina,1005 mas vê esse resultado como negativo, pois

impossibilitou de acontecer a revolução inglesa ao proporcionar aos

operários a resignação.1006

Já o historiador francês Elie Halévy (1870 -1938), no livro História

do Povo Inglês no século XVIII, sustentou que a Inglaterra tem uma

1002 “John Wesley on Economics” (Madron apub Bonino, p.26).1003 BARBIERI, Sante Uberto. Aspectos do metodismo histórico. Editora Unimep, 1983,p.15.1004 Ibidem.1005 THOMPSON, Edward P., Ibidem, 2 v. p. 255.1006 Ibidem, p. 264.

CCXCII

dívida com o metodismo, pois foi poupada de uma revolução

semelhante à acontecida na França em 1789:

“A Inglaterra foi poupada da revolução a que ascontradições de sua política e economia poderiam terconduzido, pela influência estabilizadora da religiãoevangélica, particularmente o metodismo.”1007

O próprio Edward P. Thompson argumenta favoravelmente à

participação do metodismo no processo revolucionário inglês, apesar

da Conferência Wesleyana, que sob a liderança de Wesley era

autoritária, pois ele só aceitava as mudanças após serem

consumadas. Mas, segundo ele, a contribuição do metodismo é

inegável. Ele afirma:

“Mas, a outro nível, é-nos conhecido o argumentode que o metodismo foi indiretamente responsável porum aumento na autoconfiança e capacidade deorganização do operariado.”1008

Thompson cita ainda autores, como Wearmouth, que fazem uma

leitura favorável ao metodismo na formação da classe operária

inglêsa.1009

6.3. A contribuição do avivamento do século XVIII ao metodismo

brasileiro no 3º milênio

1007 “The Birth of Methodism in England” (Halévy apub Bonino, p. 32).1008 THOMPSON, Edward P., Ibidem, 2 v. p. 42.1009 Ibidem, p. 43.

CCXCIII

“(...) desde o metodismo primitivo

aprendemos com Wesley (...).1010

Colégio Episcopal da Igreja Metodista

Wesley continua sendo a “alma” do metodismo.1011 Ele ainda fala

através dos seus escritos e sua influência continua sendo

determinante na vida e missão do metodismo. Ele é o paradigma para

os metodistas, tanto carismáticos, conservadores e progressistas.

Como afirma o teólogo Rui Josgrilberg:

“Os metodistas, em quase todas as partes domundo onde se encontram, estão redescobrindo JohnWesley como fonte de inspiração para umaespiritualidade, uma teologia e uma pastoralcontextualizadas.”1012

Em relação ao avivamento, o metodismo primitivo é o paradigma

para nossos dias. Bispo Nelson Luis Campos Leite afirma:

“João Wesley, no desenrolar do seu movimentoavivador ocorrido na Inglaterra no século 18,fundamenta a espiritualidade do movimento na açãodinâmica da Graça, espiritualidade esta que traz comoresultado na vida do que crê e da Igreja os ATOS DEPIEDADE e as OBRAS DE MISERICÓRDIA, presentesnas dimensões eclesiais da Intra-Igreja, Inter-Igreja eExtra-Igreja (sua vivência e missão fora dos seuslimites internos e dentro do contexto da realidadehistórica humana e social).”1013

1010COLÉGIO EPISCOPAL. Relatório do Colégio Episcopal ao 16º Concílio Geral.Biblioteca Vida e Missão, 1997, p. 671011 Ibidem, p. 260.1012 BONINO et al. Luta pela vida e evangelização, Ibidem, p. 259.1013 LEITE, Nelson Luiz Campos. Como alcançar o genuíno avivamento. Êxodus editora,São Paulo, 1997, p.28.

CCXCIV

A contribuição do avivamento wesleyano do século XVIII ao

metodismo brasileiro atual, portanto, é notória nas citações em

documentos, planos, estudos e pastorais dos Bispos. Entre estas

contribuições, destacamos e abordaremos quatro: consciência

profética; abertura aos dons e ministérios; crescimento numérico e

evangelização integral (Ação Missionária).

Por outro lado, também é impossível abordar sobre a contribuição

histórica do avivamento e compromisso social ao metodismo, na

década de noventa, sem dar uma visão histórica sobre o assunto, pois

durante décadas duas tendências caminharam separadas no

metodismo brasileiro – o Evangelho Social e a Igreja Espiritual, ou

Evangelical, cujas ênfases sempre foram conflitantes. Uma

preocupando-se com os problemas que afligem o ser humano e a

outra com a vida espiritual.

Na década de sessenta, com a supremacia do grupo conservador

no Colégio Episcopal 1014 proporcionando exclusão dos, então,

“renovados”, que saíram para formar a Igreja Metodista Wesleyana,

em 1967, e dos chamados “liberais”, que foram perseguidos e alguns

presos e torturados durante o regime militar, os que permaneceram

encontraram no recém organizado Movimento Carismático e na

1014 Em 1965, Natanael Inoscêncio do Nascimento chegou ao episcopado através dochamado “esquema”, que propunha retirar os missionários da liderança da Igreja e osliberais “comunistas” da literatura da Igreja. Seu episcopado perseguiu os chamadosRenovados, no Rio de Janeiro proporcionando a chamada “divisão wesleyana”, em 1967.

CCXCV

Teologia da Libertação uma base para seus ideais e práticas, tendo

sempre Wesley como referencial.

Nesses movimentos, era possível ver semelhança com o

movimento metodista, no século XVIII, nas práticas das Obras de

Misericórdia e Atos de Piedade. Apesar de divergentes, os dois

movimentos proporcionaram uma volta às raízes wesleyanas e uma

busca da identidade metodista, que estava deteriorada com as

diversas crises internas e influencias externa.

Os participantes das idéias desses dois movimentos contribuíram

para o metodismo brasileiro, das décadas de setenta a noventa, ser

uma Igreja atuante na sociedade, cuja unidade documental foi possível

acontecer, especialmente, no Plano para a Vida e a Missão da Igreja,

aprovado no Concílio Geral de 1982.

As principais contribuições dos adeptos da Teologia da

Libertação e dos participantes do Movimento carismático ao

metodismo brasileiro, a partir da década de setenta, foram:

6.3.1. Uma consciência profética

O metodismo da década de noventa tem uma consciência social

e age proféticamente.1015 João Wesley é o grande inspirador. A

1015 Já foi citado no Capítulo 5, no item 3.4. A luta contra a escravidão, a posição enérgicade Wesley condenando o procedimento iníquo do Governo inglês, que permitia aexistência da escravidão. Em 1774, ele escreveu Pensamento sobre a Escravidão,quando denuncia que grande parte da riqueza de Liverpool era derivada do comércio de

CCXCVI

expressão “como Wesley” é comum ser encontrada nos documentos

oficiais da Igreja. Os metodistas são vistos assim:

“Como Wesley, combatem tenazmente osproblemas sociais que oprimem os povos e associedades onde Deus os tem colocado, denunciandoas causas sociais, políticas, econômicas e morais quedeterminam a miséria e a exploração e anunciando alibertação que o Evangelho de Jesus Cristo oferece àsvítimas da opressão.”1016

Mas foi a partir da década de setenta que a volta às raízes

wesleyanas foi mais intensa. Nas décadas de sessenta e setenta,

quando a situação social e política na América Latina exigiam por

parte da Igreja uma atuação mais libertadora, diversos metodistas se

levantaram na luta por justiça, democracia e liberdade, principalmente

durante o período em que regimes ditatoriais imperavam na América

Latina. Os militares davam os golpes e assumiam o poder trazendo

opressão e desrespeito aos direitos humanos. Foram diversos os

golpes. 1017

A Igreja na América Latina foi tomando consciência de seu papel

profético na sociedade. O exemplo do êxodo seria redescoberto e

serviria de reflexão bíblica e de estímulo aos cristãos da América

escravos. Essa atitude de Wesley mostrou o seu lado profético e serve hoje de modelopara os metodistas agirem em questões sociais. COMBLIN, Joseph. A Ideologia deSegurança Nacional. Editora Civilização Brasileira. 1977, p. 150-208.1016XIII Concílio Geral da Igreja Metodista. Plano para a Vida e a Missão da Igreja. EditoraUnimep, São Paulo, 1982, p. 9.1017 COMBLIN, Joseph. A Ideologia de Segurança Nacional. 3 ed.Editora CivilizaçãoBrasileira: Rio de Janeiro, 1980, p.150-204. Os golpes foram nos seguintes anos: Brasil(1964); Argentina (1966); Peru e Panamá (1968); Bolívia (1969 e 1971); Equador (1972),Uruguai e Chile (1973).

CCXCVII

Latina. A década de sessenta seria o período de formação da

Teologia da Libertação, que via na história de opressão do Egito sobre

o povo de Deus semelhança com a situação de miséria, opressão e

cativeiro na América Latina. Gustavo Gutierrez, Leonardo Boff, entre

outros, foram grandes articulares do movimento através de livros. Em

seu livro Pobreza y Liberacion em América Latina, Gutierrez afirmou:

“O anúncio do evangelho é uma contribuição àlibertação de tudo o que oprime ao pobre aqui e agorada injustiça social em que vive, e o conduz assim aviver como filho de Deus e entrar em comunhão com oPai.”1018

O metodismo na América Latina procurou se organizar para

cumprir melhor seu papel histórico. No dia 2 de fevereiro de 1969, em

Santiago do Chile, as Igrejas Metodistas da América Latina criariam o

Conselho de Igrejas Evangélicas Metodistas da América Latina

(Ciemal), para fortalecer o testemunho cristão e expressar a paixão

evangelizante.1019 Posteriormente, quando as Igrejas do Caribe

passaram a fazer parte e o Ciemal este se tornou o Conselho de

Igrejas Evangélicas Metodistas da América Latina e Caribe.

Os fundamentos teológicos de sua origem e missão são:

“A profunda necessidade de sinalizar e trabalharpela unidade, conexidade e ecumenicidade dometodismo latino-americano e caribenho.

A profunda necessidade de sinalizar e trabalhar poruma busca da identidade própria, indigenização e

1018 GUTIERREZ, Gustavo. Pobreza y Liberacion em América Latina. Cristianismo ySociedade. Argentina: [sed], nº 63, 1970, p. 75.1019 CIEMAL. Missão e Testemunho. [ s.ed], [s.d], p.3.

CCXCVIII

contextualização do metodismo latino-americano ecaribenho.

A profunda necessidade de sinalizar e trabalhar peloevangelho através de uma prática mais integral,histórica e teologicamente, sinal do Reino de Deus,comprometida com a libertação do povo latino-americano e caribenho, a partir dos empobrecidos.”1020

O fato histórico de maior relevância foi a necessidade de

concretizar a autonomia em relação à liderança da Igreja Metodista

dos EUA e desenvolver uma teologia prática e um maior

relacionamento entre as Igrejas metodistas da América Latina.

Era necessária uma postura de maior atuação nos problemas que

envolviam as Igrejas Metodistas na América Latina, especialmente, em

um período de ditadura militar. Inclusive, alguns metodistas foram

presos ou foram mortos pelos militares. Alguns traídos pelos próprios

irmãos na fé, inclusive, pastores.1021

Para viabilizar mais eficientemente o testemunho cristão, as suas

três Comissões de Evangelização, Promoção Humana e Assuntos

Educacionais seriam, nos anos noventa, transformados em uma só:

Comissão de Missão e Testemunho.1022

Na década de setenta se tornou forte a Teologia da Libertação

num continente marcado pelos golpes de estado, desrespeito aos

direitos humanos, corrupção administrativa , etc. O ano de 1970 é

1020 Ibidem, Ibidem, p. 7-8.1021 SOUZA, Percival de. Eu, Cabo Anselmo, Ibidem, p.193.1022 CIEMAL,Ibidem, p. 8.

CCXCIX

considerado o ano-chave para a Teologia da Libertação, quando

houve uma série de encontros e simpósios em diversos países latino-

americanos resultado de uma nova consciência sobre a situação

oprimida do povo e a missão libertadora da Igreja.

Fato importante no metodismo brasileiro foi a aprovação do novo

Credo Social pelo X Concílio Geral, em 1971, quando ele foi

incorporado à constituição da Igreja e passou a constar do conjunto

doutrinário que define o pensamento da Igreja Metodista.1023

Entre suas afirmações, estão:

“A reconciliação do homem em Jesus Cristo tornaclaro que a pobreza escravizadora em um mundo deabundância é uma grave violação da ordem de Deus; aidentificação de Jesus Cristo com o necessitado e comos oprimidos, a prioridade da justiça nas Escrituras,proclamam que a causa dos pobres do mundo, é acausa dos seus discípulos (...). É injusto aumentar ariqueza dos ricos e o poder dos fortes confirmando amiséria dos pobres e oprimidos. Os programas paraaumentar a renda nacional precisam criar condiçõesequatitativas de recursos, combater discriminações,vencer injustiças econômicas e libertar o homem dapobreza (...).”1024

O Credo Social serviu de âncora para os líderes da Igreja. Entre

alguns líderes e documentos da Igreja Metodista, a expressão

“libertação” passou a ser utilizada dentro da ênfase da Missão da

Igreja. Isac Aço assim se expressou:

1023 X Concílio Geral da Igreja Metodista. Credo Social. [s. ed], 1971, p.1.1024 Ibidem, p. 7.

CCC

“Evangelizemos, pois evangelizar é continuar aobra de Cristo que evangelizou aos pobres, foi enviadopara proclamar libertação aos cativos.”1025

Os próprios Bispos metodistas brasileiros, em sua Pastoral em

1971, já usavam termos semelhantes:

“Nosso testemunho e serviço cristãos no mundonos levarão a dizer ´não´ a tudo que escarnece do amorde Cristo, a todo sistema, todo programa e toda pessoaque trate qualquer ser humano como se fora um objetoirresponsável ou como um mero lucro, aos quedefendem a injustiça em nome da ordem, e aos quesemeiam a guerra (...).”1026

Na Igreja Metodista no Brasil, o XI Concilio Geral teve mudanças

substanciais em sua forma de encarar a missão da Igreja. A Missão

teve primazia no Concílio e o tema aprovado foi “Missão e Ministério”.

A ênfase foi na libertação:

“(...) programa de ação da Igreja, como serva deJesus Cristo, para libertar totalmente o Homem, atravésdo poder do Evangelho (...).”1027

Mas o Plano Quadrienal aprovado no Concílio Geral significou um

avanço e foi mais enfático ainda. A expressão “libertação” foi utilizada

para falar do ser humano e das estruturas injustas. A missão da Igreja

tem como objetivo, entre outras coisas:

“Libertar o ser humano de todas as coisas que oescravizam e conduzi-lo à comunhão com Deus e o

1025 AÇO, Isac. “Evangelizemos” em Expositor Cristão. São Paulo, 31 de julho de 1971,ano 86, nº 14, p. 3.1026 COLÉGIO ESPISCOPAL. “Pastoral dos Bispos da Igreja Metodista” em ExpositorCristão. São Paulo, 30 de junho de 1970, ano 85, nº 12, p.1.1027 CONSELHO GERAL. Atas e Documentos do XI Concílio Geral. Relatório do ConselhoGeral, Rio de Janeiro, 4 a 14 de julho, Imprensa Metodista, p. 33.

CCCI

amor ao próximo; buscar a transformação dos sereshumanos e das estruturas sociais, à luz do Evangelhode Cristo (...).”1028

No metodismo brasileiro o avanço em relação ao trabalho junto

aos índios se faz sentir com a aprovação pelo Colégio Episcopal das

Diretrizes Pastorais para a Ação Missionária Indigenista.

Entre suas diretrizes, está:

“A Igreja metodista reconhece que cada povo ésujeito e protagonista da própria história. Por isso todasas missões e todos os espaços de solidariedadeassumidos pela Igreja tem o propósito de fortalecer osprincípios de autodeterminação que os povos indígenasprojetam e constroem historicamente (...).” 1029

O Ministério profético exercido pelos metodistas no século XVIII,

na Inglaterra, tem sido retomado pelo metodismo brasileiro, nas

últimas décadas. No seu relatório ao XVI Concílio Geral, o Colégio

Episcopal afirmou:

“O sistema neo-capitalista do mercado total,associado às novas tecnologias, tem demonstrado umaperversidade especialmente cruel em países nãodesenvolvidos, onde o processo de exclusão atingeenormes contingentes da população pobre (...).”1030

Uma marca wesleyana que é necessária permanecer sem a qual

a Igreja não será fiel às suas raízes.

1028 Ibidem, p. 37.1029 COLÉGIO EPISCIOPAL. Diretrizes Pastorais para a Ação Missionária Indigenista.Ibidem, p. 15.1030 ______. Relatório do Colégio Episcopal ao XVI Concílio Geral, Ibidem, p. 17.

CCCII

6.3.2. A organização em dons e ministérios

(...) Pedro era um pregador cheio do EspíritoSanto como Wesley.1031

Colégio Episcopal da Igreja Metodista

Wesley constantemente é citado quando se deseja abordar

oficialmente as questões relacionadas ao Espírito Santo, tanto para se

falar da importância de se ter experiências com o Espírito Santo bem

como no combate aos extremos do avivamento.

“Wesley, diante dos que se apresentavam parareceber atribuição de pregadores locais, lhesperguntava: (1) tens a Graça? (experiência viva comcristo). (2) Tens os dons? (reconhecimento do chamadodo Espírito). (3) tens os frutos? (comprovação naprática da Graça e dos Dons).”1032

A expressão e ênfase dons do Espírito não haviam tido ainda

uma atenção da liderança do metodismo brasileiro. A rejeição ao

Movimento de Renovação Espiritual, na década de sessenta, impediu

que a abertura aos dons e ministérios acontecesse há mais tempo.

Contudo, havia uma efervescência na sociedade e no metodismo. O

Movimento Carismático cresceu e teve seu papel na redescoberta dos

dons e ministérios.

1031 ______. Dons e Ministérios. São Paulo: Departamento Editorial, 1988, p. 38.1032 Ibidem, p.16.

CCCIII

O dia 25 de março de 1974 é histórico no metodismo brasileiro,

pois o Conselho Geral (composto de todos os Bispos e leigos e

clérigos de cada Região) estava reunido para elaborar o Plano

Quadrienal para ser apresentado ao próximo Concílio Geral. Havia

uma angústia nos presentes, pois os números nas estatísticas não

traziam boas perspectivas. Mas veio o sopro do Espírito sobre os

presentes. Houve um mover do Espírito num diálogo informal entre os

conselheiros.

Não houve nada sobrenatural, mas a consciência dos presentes

foi de que houve uma ação do Espírito Santo, naquela noite, em 1974,

convocando a Igreja para a Missão:

“Sentindo a ingente responsabilidade paracumprimento da Missão aqui e agora, no Brasil e nomundo, buscavam os conselheiros encontrar o caminhoadequado para o desenvolvimento da Obra profética daIgreja. Não estavam em reunião formalmenteadministrativa; apenas dialogavam. Ao sopro doEspírito Santo, que vivifica, fortalece e conserva aIgreja, surgiu espontaneamente, cremos nós, o temaque será centro de toda a preocupação e programaçãoda Igreja no quadriênio: Ministério e Missão.”1033

Algo ainda marcante aconteceu no Concílio Geral de 1974. Por

proposta do então pastor Paulo Ayres Mattos, houve a decisão de

deixar os Cânones em segundo lugar para discutir primeiro a Missão

da Igreja. Foi um passo muito importante. A Igreja estava dizendo que

a Missão deve ser a preocupação máxima.1034

1033 ______. "Mensagem do Colégio Episcopal ao XI Concílio Geral da Igreja Metodista”.Atas e Documentos do XI Concílio Geral. [s. ed],1974, p. 32.1034 Ibidem, p. 3.

CCCIV

Neste Concílio foi tomada uma decisão histórica. Pela primeira

vez, a agenda reservou um dia (quarta feira) para jejum e oração. Os

Bispos disseram:

“Vamos à Fonte da Água da Vida.”1035 Elesdisseram: se no final deste colendo Concílio tivermossomente dotado a Igreja de uma legislação perfeita,vamos necessitar clamar com 'saco e cinza na cabeça'pela inutilidade do encontro conciliar (...). Reunimo-nospara achar, encontrar, reencontrar a Missão da IgrejaMetodista no hoje no mundo e no agora do Brasil.”1036

O tema aprovado foi "Missão e Ministério". Foi um início para a

Igreja chegar na organização em Dons e Ministérios. Para

completar, foram extintas as Juntas de Ecônomos e criada a

Comissão de Patrimônio e Finanças.

Entre as recomendações ao XI Concílio Geral, feita pela

Comissão do Estado Geral da Igreja, estava o desejo de um novo

Pentecostes na Igreja:

“(...) e, acima de tudo, os ministros de Deus,clérigos e leigos, não poderão ficar condicionados aoséculo presente e nem à tendência de apegodemasiado à História da Igreja, nos livre paracriatividade de acordo com a inspiração do EspíritoSanto, flamejado por um novo Pentecostes que tornepleno de valor espiritual a Igreja Metodista em nossopaís.”1037

1035 Ibidem, p. 33.1036 Ibidem.1037 Comissão do Estado Geral da Igreja. Atas e Documentos do XI Concílio Geral.[s.ed], 1974, p. 54. A Comissão era composta pelos pastores Oswaldo Dias da Silva,Lindopho da Silva Lavoura e Silas Pereiras Barbosa.

CCCV

O tema aprovado, no Concílio Geral de 1978, mostra o caminho

de maturidade que a Igreja havia encontrado: Unidos pelo Espírito

Metodistas Evangelizam.

Dentro da caminhada que proporcionou mudança na vida da

Igreja, foi realizada a consulta sobre "Vida e Missão", colhendo

subsídios para o Concílio Geral de 1982. O Concílio Geral, realizado

em Piracicaba, aprovou o Plano para a Vida e a Missão da igreja, que

ajudou na unidade da Igreja e deu diretriz sólida para a prática da

Igreja.

As decisões do Instituto Internacional para Evangelização

Mundial do Conselho Mundial Metodista, realizada em 1984, na

Geórgia, EUA, revelaram tendências da Igreja e ajudou na abertura ao

mover do Espírito. O Instituto enviou uma mensagem a Igreja:

“À medida que nossos corações se abriram um aooutro e ao Espírito Santo, tivemos uma visão maisampla de evangelização e descobrimos novos meios deoferecer a fé cristã ao mundo. Confessamos nossosfracassos do passado e as limitações da nossa vidainterior, chamamos os cristãos em toda a parte parapacturar conosco em uma nova dedicação à tarefa daevangelização mundial.”1038

A mensagem dizia ainda:

1038Instituto Internacional para evangelização mundial do Conselho Mundial Metodistarealizado entre os dias 16 de julho a 2 de agosto de 1984. Expositor Cristão. 2ª quinzenade outubro de 1984, p. 11.

CCCVI

“O segredo do crescimento da Igreja se encontraem células de oração, estudos bíblicos e amor epreocupação um pelo outro.”1039

Disse ainda:

“Uma nova abertura e obediência à direção e aopoder do Espírito Santo fazem-se necessárias.”1040

Com a abertura na sociedade brasileira, a organização popular e

a democracia influenciaram e ajudaram a desmantelar toda estrutura

antidemocrática dentro da Igreja.

Na V Região (Interior de São Paulo, Triângulo Mineiro, Mato

Grosso e Goiás), em 1985, foi aprovado o Projeto de dons e

ministérios. O Expositor Cristão publicaria a seguinte matéria: “V RE

descobre dons e ministérios para realizar a Missão”. Em 1986,

oficialmente começaria uma experiência prática com os dons e

ministérios através do projeto que preparava agentes da missão. O

ponto de partida era entender que o leigo já estava preparado.

Precisava apenas reconhecer seus dons e ministérios. Entre os

possíveis dons e ministérios estavam: visitação, oração, música,

música e cânticos, mordomia cristã, proclamação, ensino, lazer e

recreação, aconselhamento, solidariedade, governo, literatura , etc.

O Concílio Geral aprovou, em 1987, a organização da Igreja em

dons e ministérios e a Igreja abriu oficialmente as portas para o mover

do Espírito, para a participação de todos e para a maturidade

1039 Ibidem.1040 Ibidem.

CCCVII

espiritual. A Igreja passou a reconhecer a pluralidade existente em seu

meio e a impossibilidade de haver uma uniformidade. Os Bispos

declararam:

“Somos desafiados a reconhecer, em nossarealidade, um fato inquestionável: 'A nossa Pluralidade'.Pluralidade teológica, prática, no aspecto daconfiguração regional, local e nacional.”1041

Para os Bispos, a organização da Igreja Metodista em dons e

ministérios:

“a) reafirmou o princípio conciliar para todos osníveis, inclusive a igreja local e a descentralização dopoder:b) a igreja local deixou de ser vista como unidade

institucional, e, sim "Comunidade da fé";c) enfatizou o sacerdócio universal de todos os crentese a necessidade de todos se envolverem na missão;d) reafirmou o conceito de Igreja e missão percebidanos últimos anos e presente no "Plano para a vida e amissão da Igreja";e) reafirmou a unidade da Igreja e o princípio metodistade conexidade.”1042

. Nesse novo paradigma, os dons e ministérios passaram a ser

fundamentais para a vida e missão da Igreja:

“A Missão para a qual Deus tem nos chamado,desenvolvida através da multiplicidade de dons e

1041COLÉGIO EPISCIOPAL. Relatório do Colégio Episcopal ao XIX Concílio Geral. RudgeRamo, SP. julho/87, p.6. Conexidade é o oposto de congregacionalismo. As igrejasmetodistas locais são interligadas e devem se ajuda mutuamente. “Deus lhe deu essaforma de articulação unificadora para cumprir sua vocação histórica (...)”. (CANÔNES daIgreja Metodista. São Paulo:Imprensa da Fé,1998, p.80).1042 ______. Plano Nacional: Ênfases e Diretrizes. Biblioteca Vida e Missão. SolariunServiços Criativos, 1997, p.17-8.

CCCVIII

ministérios , tem seu chão e apoio em nossa realidadebrasileira e leva a sério o seu contexto atual.”1043

Em 1989, o Colégio Episcopal já amadurecido publicou

Orientações Pastorais sobre o uso dos dons do Espírito e outras

práticas. A linguagem utilizada reconhecia diversas expressões que no

passado foram rejeitadas. Efetivamente, a experiência e a ação do

Espírito Santo passaram a fazer parte do novo paradigma do

metodismo brasileiro. Os Bispos disseram:

“Muitas pessoas estão experimentando algo novo,em suas vidas cristãs. Uma nova efusão do Espíritoque provoca profundas mudanças de vida. Aexperiência do Espírito, que pode ser chamada de'batismo do Espírito', 'derramamento do Espírito','plenitude do Espírito' ou 'segunda benção' e outros,sempre provoca mudanças na vida das pessoas.”1044

Disseram mais:

“O movimento 'Dons e Ministérios' trouxe novamotivação e alento no período final do quinquênio,mobilizando algumas Regiões, várias igrejas e umaimensidão de irmãos(as) leigos(as). Cremos que oEspírito está agindo em nosso meio (...).”1045

Segundo os Bispos, organização da Igreja em dons e ministérios:

“a) reafirmou o princípio conciliar para todos osníveis, inclusive a igreja local e a descentralização dopoder:

1043 Ibidem, p. 12.1044______ Orientações Pastorais sobre o uso dos Dons do Espírito e outras práticas.[s.ed],1989, p. 8.1045 Ibidem, p. 7.

CCCIX

b) a igreja local deixou de ser vista como unidadeinstitucional, e, sim "Comunidade da fé";c) enfatizou o sacerdócio universal de todos os crentese a necessidade de todos se envolverem na missão;d) reafirmou o conceito de Igreja e missão percebidanos últimos anos e presente no "Plano para a vida e amissão da Igreja";e) reafirmou a unidade da Igreja e o princípio metodista

de conexidade.”1046

A expressão “dons e ministérios” passou a ser comum e parte

dos documentos da Igreja:

“A Missão para a qual Deus tem nos chamado,desenvolvida através da multiplicidade de dons eministérios , tem seu chão e apoio em nossa realidadebrasileira e leva a sério o seu contexto atual.”1047

Outro passo para o amadurecimento da Igreja foi dado em 1991.

O Concílio Geral procurou despertar a Igreja para o trabalho

missionário com o tema: Igreja: Comunidade Missionária a Serviço do

Povo. As duas maiores tendências teológicas da Igreja ajudaram na

elaboração e aceitação, por parte das igrejas, desta ênfase.

Na Avaliação Nacional Metodista realizada em novembro de

1990 foi constatado que 91% das igrejas estavam organizadas em

dons e ministérios. Exatamente 85% delas declararam que a

organização em dons e ministérios era um sistema melhor do que o

sistema de “Juntas e Comissões”, que existiu até 1987. Apenas três

anos de experiência para uma avaliação excelente.

1046______. Plano Nacional: Ênfases e Diretrizes. Biblioteca Vida e Missão. SolariunServiços Criativos, 1997, p. 17-8.1047 Ibidem, p. 12.

CCCX

6.3.3. Paixão evangelizante

“Desde os planos quadrienais, a IgrejaMetodista no Brasil lutava para sair de uma açãomajoritariamente voltada para si mesma e voltar-separa uma ação missionária que projetasse concreta ehistoricamente as convicções missionárias herdadasde João Wesley e do metodismo histórico.”1048

Colégio Episcopal da Igreja Metodista

Crescimento numérico sempre foi sinônimo de crise no

metodismo brasileiro, apesar dos entusiasmos e campanhas durante

décadas. A ênfase do Movimento Carismático fez retomar, em parte, a

realização de grandes concentrações do povo como foi ao redor de

Wesley e Whitefield. O mais importante foi que passou a haver

crescimento da Igreja. Em princípio lento, mas depois com resultados

satisfatórios.

As ênfases burocráticas foram cedendo espaço para momentos

devocionais na vida da Igreja, que passaram a atrair as pessoas que

precisam de momentos de paz e restauração de suas vidas. No seu

relatório sobre o ano de 1975 ao Concílio da Primeira Região, o bispo

Almir dos Santos usou de honestidade e disse que o Plano

Quadrienal tinha um total desconhecimento dos membros das igrejas.

Disse mais:

1048______L Relatório do Colégio Episcopal ao 16º Concílio Geral. Biblioteca Vida eMissão, 1997, p 21.

CCCXI

“Ainda para continuar sendo honesto, penso que aênfase de muitas igrejas não esteve no PlanoQuadrienal, mas em certos aspectos do movimentocarismático que vem atuando em todas as igrejascristãs no mundo de hoje, inclusive na CatólicaRomana. O Colégio Episcopal elaborou e publicou umapastoral sobre o Movimento Carismático, e para elatemos endereçado os pastores e leigos interessados nodespertamento espiritual da Igreja.”1049

Bispo Almir dos Santos ainda disse:

“Pessoalmente, creio que este movimento, quandopurificado de seus exageros, traz grande benefício àsigrejas e aos crentes. Não há como negar orebaixamento do nível de vida espiritual e moral demuitas das pessoas das nossas comunidades,transformadas em verdadeiros clubes.”1050

Em doze anos, a Igreja Metodista, no Rio de Janeiro, teve um

crescimento irrisório. Ela alcançou o seguinte número de membros:

1963:12.494 1051

1975:14.254 1052

Houve uma frustração por a Igreja não ter chegado aos 100 mil

membros, em 1982, como havia sido colocado no Concílio Geral de

1049 SANTOS, Almir dos. "Relatório do bispo Almir dos Santos ao Conselho Regional daPrimeira Região Eclesiástica da Igreja Metodista" em Atas e Documentos. Rio de Janeiro,[s. ed], 1978, p. 39.1050 Ibidem.1051 ATAS, Registros e Documentos. Estatística, Rol de Membros, Tabela I, 8º ConcílioRegional, 9 a 14 de Janeiro de 1964. Imprensa Metodista, São Paulo.1052 ATAS e Documentos. 20º Concílio, 6 a 9 de Janeiro de 1977, Instituto MetodistaBennett, p. 70.

CCCXII

1978. As causas foram diversas. Segundo o Conselho Geral, os

próprios delegados do Concílio Geral reagiram com indiferença. Houve

ainda falta de sensibilidade e motivação do grupo responsável pela

execução. Outra justificativa foi de que o prazo dado inviabilizou a

meta.1053

Diante das dificuldades decrescimento, em 1984, Adriel de

Souza Maia, Bispo presidente do Colégio Episcopal, disse:

“O bom êxito da evangelização depende doavivamento da própria Igreja.”1054

No II Seminário Nacional de Evangelização, realizado em 1984,

na Faculdade de Teologia, foi publicado um manifesto que propunha,

entre outras coisas, uma evangelização ampla:

“Que a evangelização seja a razão de ser da Igreja,levando em conta a realidade da comunidade e asexpectativas das igrejas locais; Que pratiquemos umaevangelização que inclua a proclamação, ação social ea educação (...).”1055

Diante dos resultados negativos no crescimento da Igreja e

dentro das diretrizes do Plano de Vida e Missão, o Colégio Episcopal e

os Secretários Gerais, em 1985, procuraram promover a

1053 RELATÓRIO do Conselho Geral ao XIII Concílio Geral. Atas e Documentos. [s. ed],1982, p.41-3.1054 Destaques do Relatório Episcopal do bispo Adriel Maia publicado no Expositor Cristãoem 1984, p. 9.1055 RAMALHO, Eliane. “Evangelização, a razão de ser da Igreja” em Expositor Cristão.

1ª quinzena de novembro de 1984, p. 12.

CCCXIII

evangelização e a espiritualidade para o restante do quinquênio. A

ênfase foi na:

redescoberta da evangelização; expansão missionária; mística e carisma do metodismo; revitalização da piedade (santidade).1056

Havia a busca de uma nova Igreja pela liderança da Igreja. No

artigo "1986, a Igreja a Caminho de sua Identidade", publicado no

Expositor Cristão, o professor da Faculdade de Teologia, Tércio

Machado Siqueira, disse:

“(...) a nova Igreja só nascerá a partir do esforçocomum, sem regionalismos e sem preconceitos àsposições teológicas. A unidade da Igreja é o únicocaminho para o projeto Dons e Ministérios produzirfrutos (...).”1057

Neste período de estudos, debate, busca, amadurecimento, o

crescimento da Igreja ainda foi bastante fraco:

1974: 61.990

1978: 67.236

1982: 71.949

1987: 74.039

1056 Reportagem da jornalista Léia Leme no Expositor Cristão com o título “ColégioEpiscopal e Secretários Gerais concluem para o restante do quinquênio as ênfasesevangelização e espiritualidade”. 1ª quinzena de abril de 1985, p. 12.

1057 SIQUEIRA, Tércio Machado. "1986, a Igreja a Caminho de sua Identidade" emExpositor Cristão. 1ª quinzena de fevereiro de 1987, p. 16.

CCCXIV

1990: 83.652 1058

O grande salto no crescimento no metodismo brasileiro começou

na década de noventa. Foi o desembocar de toda uma trajetória. A

partir de 1974, com a ênfase na Missão da Igreja e não nos Cânones;

a abertura maior ao mover do Espírito no Concílio Geral de 1978; a

estabilidade trazida pelo Plano Para a Vida e Missão da Igreja,

aprovado no Concílio Geral de 1982; a abertura para organizar a

Igreja em Dons e Ministérios, aprovado no Concílio Geral de 1987; a

ênfase na Igreja como uma comunidade a serviço do povo, aprovado

no Concílio Geral de 1991 é que a Igreja voltaria às suas raízes.

Os relatórios apontaram os seguintes números de membros:

1990 1996

83.652 112.641 1059

Enfim, o metodismo passou dos 100 mil membros. O ano de

1999 trouxe um aumento de 7.751 novos membros ao metodismo

brasileiro significando um crescimento de 5,94%. Em 1998, o

crescimento numérico foi de 8.908 novos membros e significou um

crescimento de 9,3%.

As 3ª (Capital de São Paulo e Vale do Paraiba) 4ª (Minas Gerais,

Espírito Santo, etc) e 5ª Regiões (Interior de São Paulo e sul de Minas

1058 COLÉGIO EPISCIOPAL Relatório do Colégio Episcopal ao 16º Concílio Geral, Ibidem,p.26.1059 Ibidem.

CCCXV

Gerais) tiveram um crescimento percentual semelhante ficando entre

2% e 3%. A 6ª Região (Paraná e Santa Catarina) teve um

crescimento maior: 7,32%.

O destaque ficou com a área missionária, que mais cresceu

percentualmente. A Remne (Região Missionária do Nordeste) teve

16,23% e os CMA (Campo Missionário da Amazônia) tiveram 12,69%.

A 2ª Região (Rio Grande do Sul) foi a única que não

acompanhou o crescimento. Ela teve um decréscimo de 1,39%. Por

outro lado, dos 7.751 novos membros recebidos, a 1ª Região recebeu

4.729. Isso significa que 61% dos membros arrolados no metodismo

vieram da 1ª Região.

Em 1999, eram 138.172 membros arrolados no metodismo

brasileiro. O quadro das estatísticas referente ao ano de 1999 aponta

para este crescimento:

Região 1998 1999 CrescimentoTotal

%

1ª 51.589 56.318 4.729 9,17

2ª 8.969 8.844 -125 1,39

3ª 17.413 17.907 494 2,28

4ª 19.873 20.408 535 2,69

5ª 16.456 17.047 591 3,59

6ª 11.661 12.515 854 7,32

Remne 3.018 3.508 490 16,23

CMA 1.442 1.625 183 12,69

CCCXVI

Total 13.0421 13.8172 7.751 5,94 1060

Ressaltando a importância da paixão pela missão e sempre

colocando Wesley como paradigma, o Colégio Episcopal, em seu

relatório ao XVI Concílio Geral, afirmou:

“Ser uma Igreja missionária é um desafio de Deus para osmetodistas. Cremos mesmo no reavivar da velha chama dapaixão pela missão, tão notória em João Wesley, FrancisAsbury e em tantos outros do metodismo primitivo.”1061

6.3.4. A salvação integral

“Nós, metodistas, somos como João Wesley, umpovo comprometido com a evangelização integral, queune preocupação com o ser humano enquanto corpo,alma e espirito; trabalhamos e anunciamos a vida plenahoje e a vida eterna.”1062

Colégio Episcopal da Igreja Metodista

Se havia uma dicotomia entre social e espiritual no metodismo

brasileiro, essa tendência tem desaparecido. Tem havido um

crescente amadurecimento e ênfase na salvação integral do ser

1060 DO EDITOR. “Metodismo chega a 138 mil membros” em Expositor Cristão, maio de2000, Editora Cedro, p.10.1061 COLÉGIO EPISCIOPAL Relatório do Colégio Episcopal ao 16º Concílio Geral. Ibidem,p.26.1062 Ibidem, p.78.

CCCXVII

humano. Esse amadurecimento pode ser visto nas decisões dos

Concílios Gerais.1063

Em 1982, a Igreja conseguiu colocar em um documento uma

forte base teológica para as obras de misericórdia e os atos de

piedade unindo os carismáticos e os liberais ao aprovar no Concílio

Geral o PVM - Plano para a Vida e a Missão da Igreja, apesar da

oposição dos mais conservadores.1064 Entre outras importantes

afirmações, o PVM diz:

“A missão acontece na promoção da vida e dotrabalho - para que haja vida são necessárioscomunhão e reconciliação com Deus e o próximo,direito à terra, habitação, alimentação, valorização dafamília e dos marginalizados da família, saúde,educação, lazer, participação na vida comunitária,política e artística, e preservação na natureza (At 2.42;2Co 5.18-20; Jo 10.10, 15.5. 1Jo 1.7 ).” 1065

Para o bispo João Carlos Lopes, o PVMI rejeitou um modelo de

Igreja de manutenção e proporcionou unidade:

“O Plano para a Vida e a Missão da Igreja (PVMI)foi aprovado pelo XIII Concílio Geral, em um momento

1063 Magali do Nascimento Cunha vê a questão do Evangelho integral de maneiradiferente. Para ela, essa ênfase é da teologia avivalista, “difundida em especial pelomovimento evangelical” (CASTRO, Clovis Pinto de; CUNHA, Magali do Nascimento.Forjando uma nova Igreja, Ibidem, p. 62. Segundo ela, as Igrejas históricas e pentecostaisprocuram atualmente fazer trabalho social, mas sem atingir as causas. “Esses projetossociais se revelam desprovidos de análise crítica em relação ao funcionamento dasociedade e de atuação frente às causas dos efeitos que eles visam atingir” (Ibidem).1064 Clóvis Pinto de Castro afirma que a Consulta Nacional “Vida e Missão”, em 1981, edepois a aprovação do PVM pelo Concílio Geral, em 1982, “(...) não agradaram aossetores mais conservadores e carismáticos da Igreja (...)”. (CASTRO, Clovis Pinto de ;CUNHA, Magali do Nascimento, Idem, p.42).1065 CONCILIO GERAL. Vida e Missão. Editora UNIMEP, 1982, p.16-7.

CCCXVIII

de forte tensão entre pelo menos três tendênciasdistintas presentes na igreja (a progressista, aconservadora e a carismática). Seu gênio foi acapacidade integradora, como demonstrada naretomada de equilíbrio entre os atos de piedade e asobras de misericórdia.”1066

O PVMI deixou de ser um Programa de ação para um

determinado período para ser um paradigma, que propôs um novo

modelo de Igreja:

“(...) se tornar linhas gerais que deverão orientartoda a ação da Igreja nos próximos anos, devendoquando necessário, ser avaliado periodicamente.” 1067

Dentro do processo de amadurecimento da Igreja, a implantação

dos dons e ministérios, a partir de 1987, revolucionou a vida e a

Missão da Igreja Metodista em terras brasileiras. Liberdade para se

organizar e maior participação dos membros foram alguns dos

resultados desse novo paradigma na estrutura da Igreja.

Como avanço e busca de uma âncora, um eixo para mobilizar

toda a Igreja, a década de noventa é fundamental. A expressão Ação

Missionária passou a ser esse eixo.

Especialmente, o paradigma da Ação Missionária conseguiu

superar barreiras, preconceitos e unir o que parecia impossível:

carismáticos, conservadores e progressistas. A Ação Missionária

engloba toda a prática evangélica, pois inclui pregação, cultos,

1066 LOPES, João Carlos. “O Plano para a Vida e Missão da Igreja, 18 anos depois” emAvante, Suplemento Fé & Nexo, agosto de 2000.1067 Idem.

CCCXIX

expansão missionária, ação social, educação, luta pelos oprimidos etc.

O metodismo conseguiu a unidade em torno deste paradigma. Uma

longa caminhada passando pelos Concílios Gerais, especialmente de

1974 a 1997.

A Igreja ampliou sua visão, atuação e estruturação. Expressões

teológicas como “missão”, “ministério”, “dons e ministérios”,

“libertação”, “mover do Espírito”, etc, passaram a reger a vida da

Igreja.

No Planejamento Nacional da Igreja Metodista aprovado no

Concílio Geral, em 1991, os Bispos disseram o que esperavam

alcançar na Ação Missionária. Foram colocadas como prioridades as

seguintes questões e problemáticas:

a criança e o adolescente empobrecido; o idoso; a situação indígena; o racismo; a condição da mulher; o uso social da terra (rural e urbana); a saúde pessoal e familiar; o trabalho; a ética; o crescimento numérico da Igreja.1068

Em 1991, o Concílio Geral procurou despertar a Igreja para o

trabalho missionário com o tema: Igreja: Comunidade Missionária a

Serviço do Povo.

CCCXX

Os Bispos reafirmaram, em 1991, que a Igreja de Dons e

Ministérios não era um programa para ser substituído por outro.

Passou a ser parte do paradigma. Ele passou a ser aceito na Igreja:

“É um movimento fruto da ação do Espírito nascidono interior da Igreja.”1069

Os Bispos assumiram um compromisso em pleno Concílio Geral,

em 1991:

“Comprometemo-nos, em ato de adoração, comosacrifício vivo, santo e agradável a Deus; não nosconformando com as estruturas de pecado do presenteséculo, convocamos a todos os metodistas a todos osmetodistas a assumirem, juntamente conosco, essecompromisso de testemunho de fé e de serviço em prolde sermos 'Uma Igreja Missionária a Serviço doPovo.”1070

A questão é: porque em diversas igrejas esse paradigma da Ação

Missionária tem se mostrado real e significativo trazendo vida e

envolvimento na Ação Missionária, mas em outras igrejas isso não

ocorre?

Simplesmente porque algumas lideranças, tradições, medo do

novo têm mantido a Igreja em paradigmas antigos, que já mostraram

estarem superados, pois não respondem às necessidades humanas e

nem as diretrizes bíblicas.

1068 MAIA, Adriel de Souza e outros. "Planejamento Nacional" em Atas e Documentos. XVConcílio Geral. Juiz de Fora, 5 à 13 de Julho de 1991, p.137.1069COLÉGIO EPISCIOPAL "Relatório do Colégio Episcopal ao Concílio Geral" em Atas eDocumentos. Juiz de Fora, 5 a 13 de Julho de 1991, p.81.1070 Ibidem, p. 87.

CCCXXI

Hoje a Igreja Metodista tem o paradigma da Ação Missionária,

que inclui pregação, expansão missionária, ação social, luta pela

justiça, dons e ministérios, educação, louvor, abertura para a ação do

Espírito Santo, etc.

“Entende-se por Ação Missionária o conjunto deatividades, palavras, atos e testemunhos, realizadospela Igreja, comunidade de fé, que se dispõe acooperar com Deus em resposta à graça e a vocação,no seu propósito de proporcionar vida àhumanidade.”1071

O avivamento deve ter como conseqüência transformação de

vidas, ação missionária e justiça social. Como disse bispo Paulo

Lockmann, Presidente do Colégio Episcopal da Igreja Metodista,

sobre as suas características:

“Um avivamento Espiritual Bíblico Metodista queseja maduro e produza, junto ao fervor espiritual,compromisso missionário real, promovendo assimvisíveis mudanças nas comunidades locais, onde Deusnos tem colocado.”1072

A Igreja passou a utilizar a expressão Ação Missionária para

enfatizar a mensagem total do Evangelho - social e espiritual, em

outras palavras, Obras de Misericórdia e Atos de Piedade, como

Wesley ensinou aos metodistas primitivos e como o Colégio Episcopal

ensina:

1071______. Plano Nacional: Ênfases e Diretrizes. São Paulo: Biblioteca Vida e Missão,1997, p. 351072 LOCKMANN, Paulo. "O Avivamento Espiritual - Uma Visão Metodista" em Avante.Janeiro/97, p.2.

CCCXXII

“Nós, metodistas, somos, como João Wesley,comprometidos com a evangelização integral, portanto,temos preocupação integral com o ser humano comocorpo, alma e espírito” .1073

7 - O PARADIGMA DO AVIVAMENTO METODISTA DO

SÉCULO XVIII

“Há uma variabilidade irreconciliável nas operaçõesdo Espírito Santo nas almas dos homens,especialmente quanto ao modo da justificação. Muitos oencontram derramando-se sobre eles como umatorrente enquanto experimentam o poder dominador dagraça salvadora (...) mas Ele opera em outros demaneira muito diferente: Ele exerce a sua influência de

1073 COLÉGIO EPISCOPAL. Carta Pastoral do Colégio Episcopal sobre a Aliança comDeus. São Paulo: Editora Cedro, Biblioteca Vida e Missão, 2000, p.14.

CCCXXIII

maneira delicada, refrescante como o orvalhosilencioso” .1074

João Wesley

7.1. A questão do avivamento na Igreja evangélica brasileira

Se na década de sessenta, o Movimento de Renovação Espiritual

atingiu profundamente as Igrejas históricas, como a Metodista, Batista

e Presbiteriana,1075 na década de noventa os movimentos avivalistas

têm retornado e novamente tem trazido inquietações e/ou influências

nas Igrejas históricas sacudindo suas estruturas. 1076

Alguns vêem esse ”mover do Espírito” como sendo positivo. O

Jornal Expressão Nacional colocou como manchete, em julho de 2000:

“O Brasil vive um grande mover do Espírito” 1077 e afirmou:

“As projeções apontam que em pouco tempo onúmero de evangélicos no Brasil irá se igualar ao de

1074 BURTNER, Robert ; CHILES, Robert, Ibidem, p.95.1075 Assunto já abordado na tese.1076 A Revista Eclésia, ano v, nº 57, agosto de 2000, aborda sobre “ A polêmica do G12”.Um movimento da Igreja em células, que divide as igrejas e líderes evangélicos no Brasil.Como exemplo, enquanto o pastor René Terra Nova, da Igreja Batista da Restauração,em Manaus, acredita que o movimento irá curar os males da Igreja e afirma: “Arestauração hoje é uma igreja no modelo dos 12”, o pastor Silas Malafaia, da Assembléiade Deus, Rio de Janeiro, o contradiz e afirma “ lamentar profundamente que pastores eigrejas respeitados no país estejam aderindo ao G12” (Revista Eclésia, Ibidem, p.24). O“G12” também atinge o metodismo brasileiro. No Rio de Janeiro, grandes igrejas comoMacaé e Retiro, em Volta Redonda, se envolveram e têm gerado problemas doutrinários ede relacionamento.1077 MENDES, Roberto de Mattos (dir). Expressão Nacional, Serra Negra, São Paulo,julho de 2000, ano II, nº 16, primeira página.

CCCXXIV

descrentes.os últimos censos demográficos apontamum crescimento de mais de 5% ao ano.”1078

O mesmo Jornal, na mesma edição, coloca uma notícia chamada

“Avivamento paranaense” e comenta afirmações do pastor Edson de

Oliveira Filho, da Igreja Missionária Peniel:

“‘Ate 1994 a Igreja era apagada’, comenta,‘recebemos o Ministério de Evangelismo de Colheira,vindo da Argentina e igrejas como a Metodista e asPresbiteriana Independente e do Brasil se engajaramno movimento. Houve um crescimento muitogrande(...).”1079

Outros líderes vêem a questão de uma forma diferente e

inquietante.

O professor Dr. Gottfried Brakemeier, ex-pastor presidente da

IECLB (Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil) e da (FLM)

Federação Luterana Mundial tem abordado sobre os movimentos

pentecostais.

A posição de Brakemeier foi apresentada, em 2000, em debate a

respeito do movimento carismático no seio da IECLB, numa análise

sobre “O Espírito Santo e a Igreja Luterana.”

“Brakemeier começa sua análise fazendo umadistinção entre religiosidade e religião. “A religiosidadeestá em alta, a religião em baixa. Religiosidade é a févivida pelas pessoas, religião é a fé representada eadministrada pelas instituições. Observamos, neste

1078 Ibidem.1079 Ibidem, p.05.

CCCXXV

final de século, uma explosão de religiosidade sobconcomitante diminuição da religião”, constata.”1080

Brakemeier diz que, de modo estranho, as igrejas pentecostais

não suportam a diversidade dos carismas, e resolvem suas

divergências internas recorrendo à divisão. Ele lembra que a

comunidade de Jesus Cristo é composta de públicos diversos, que,

uma vez confessando-se como cristãos, deverão ter assegurado seu

espaço.

“Onde os carismáticos brigam, desprezam unsaos outros e racham a comunidade, aí eles ainda sãomuito ‘carnais’, como o apóstolo Paulo alerta em 1Coríntios 3 e principalmente em 1 Coríntios 13´, aponta,ressaltando que “a intransigência religiosa e oexclusivismo grupal destróem o templo de Deus, que éa comunidade e na qual deve habitar o Espírito deDeus.” 1081

Na atualidade, alerta, é preciso distinguir o que é autenticamente

cristão e o que não passa de pura moda. O próprio Espírito Santo

fornece esses critérios.

“Ainda assim, é preciso considerar o quemovimento carismático apregoa. “Movimentos quesacodem as estruturas da Igreja certamente apontampara aspectos negligenciados ou omissos no passado”,também na Igreja Luterana, onde há erros a seremcorrigidos.”1082

Brakemeier salienta que a Igreja Luterana é Igreja pentecostal,

mas a seu modo. Ele alerta que nem toda Igreja que se diz

1080 Serviço de notícias em português da Agência Latino-Americana e Caribenha deComunicação, “Igreja Luterana é também Igreja pentecostal” em Expositor Cristão, julhode 2000, nº 7, página, 10.1081 Ibidem.1082 Ibidem.

CCCXXVI

pentecostal é evangélica, nem toda religiosidade é cristã e nem todo

discurso do Espírito Santo é autêntico. Mas ele afirma que a IECLB

deve prestar mais atenção ao que se passa em seu meio: déficit de

afetividade, teologia por demais voltada ao intelecto, falta de vigor

missionário, de testemunho pessoal e vivência do discipulado.

“Por isso, confessa, “sonho com uma Igreja maisalegre, consciente do seu talento, menos escondida emais corajosa no testemunho.” O futuro vai mostrar seo movimento carismático que está presente também naIECLB trará renovação à Igreja ou uma profundadivisão ou até mesmo alienação, afirma.”1083

A própria Igreja Assembléia de Deus, que é pentecostal, têm

discutido a necessidade de mudança na Igreja e procurado um

reavivamento.

Em seu artigo, Reavivamento Interno, José Wellington Bezerra da

Costa, Presidente da Convenção Geral das Assembléias de Deus no

Brasil, mostra sua preocupação ao constatar um declínio em diversas

áreas de sua denominação:

“Por que igreja de Cristo não tem alcançado omundo há mais tempo? Porque o número demissionários que enviamos é cada vez menor? Por quetemos tão poucos missionários preparados para seremenviados? Por que temos tão poucas conversões nosnossos cultos? Por que o número de crentes batizadosno Espírito Santo diminui tanto nos últimos dias?.”O percentual de crescimento das Assembléias de Deusno Brasil era, até pouco tempo, cerca de 30% ao ano.Mas, no projeto da Década da Colheita chegamos à

1083 Ibidem.

CCCXXVII

conclusão, após exaustiva pesquisa, que essecrescimento diminui para 5%.”1084

José Wellington Bezerra da Costa propõe um reavivamento

interno na Assembléia de Deus:

“Precisamos de um reavivamento. Este, aliás, é otema que estamos estudando nesse primeiro trimestre.“Precisamos de reavivamento na família, no ministério,na igreja etc. Precisamos, também de pregadoresavivalistas. Mas não precisamos de pregadores queusam de artifícios para levar o povo ao delírio como sea pregação fosse um show, nem precisamos depregadores que batizam os crentes no Espírito Santo.Quem batiza os crentes no Espírito Santo é Jesus.Sensacionalismo não resolve nada.”1085

O pastor metodista José Magalhães Furtado, escreve no

Expositor Cristão o artigo A Igreja profética na sociedade atual e diz

que há necessidade da Igreja mudar. Ele diz as razões, entre elas:

“Por que será que as igrejas históricas tão antigasnão têm rádio e televisão e as Neo-Pentecostais tãonovas têm e falam para a sociedade, impondo inclusivesua visão do mundo? Erro na estratégia, voto desilêncio, isolamento das coisas do mundo? Por que asmatérias pagas na grande imprensa, destacando avisão da Igreja Metodista são tão escassas? E dechamadas na televisão em rede nacional, temosnotícias? Onde foram parar as denúncias dasimprobidades administrativas cometidas? Por que nãose critica a corrupção no Brasil? (...).”1086

1084COSTA, José Wellington Bezerra da. “Reavivamento Interno”, Site<WWW.visaog12.com.br/arquivos_lideres/1_wellington.htm> Feira de Santana, BA,28/08/00.1085 Ibidem.1086 FURTADO, José Magalhães. “A Igreja profética na sociedade atual” em ExpositorCristão, dezembro de 2000, p.16.

CCCXXVIII

Dentro do tema da tese – Avivamento e Compromisso Social - a

Revista VINDE, em um dos seus editoriais, fala sobre "Sinais de

Avivamento Genuíno" e incluiu o Metodismo de Wesley como

exemplo:

“Os grandes avivamentos julgaram e denunciarampelo poder da Palavra, socorreram e defenderam ospobres, marginalizados e oprimidos. Foi assim na IgrejaPrimitiva (Atos 2.42-43; 4.32-35; 2 Co 8.1-5; Rm 12.1-3), na Inglaterra nos tempos de Wesley, nos EstadosUnidos com Charles Finney.”1087

Mas em termos de avivamento espiritual, esse paradigma é

aceito por uma grande parte dos líderes e estudiosos do avivamento,

como citamos acima. Até mesmo por Igrejas tradicionais, como a

Igreja Batista.

O Jornal Batista publicou Mensagem da 55ª Assembléia da

Convenção Batista do Rio Grande do Norte, em 2000, que afirma o

Brasil estar precisando de um avivamento espiritual:

“Quando antevemos os alvores de um novo séculoe milênio, havemos de convir ser gritante anecessidade de um avivamento, no Brasil, no mundo.Como acentua pr. Damy Ferreira, a situação geral denossas igrejas exige um avivamento.”1088

1087 QUEIRÓZ, Carlos Pinheiro. "Sinais de Avivamento Genuíno" Revista VINDE. Ano 1,nº 4, Fevereiro de 1996, p.66.1088 55ª Assembléia da Convenção Batista do Rio Grande do Norte. "O Avivamento de queprecisamos" em Jornal Batista. Rio de Janeiro,10 a 16/7/00, p.11. Damy Ferreira afirmaque há uma insatisfação espiritual nas igrejas; há mundanismo, pecado generalizado; hádesinteresse pela Bíblia; há famílias e lares em crise; há ausência de conduta cristãgenuína; há falta de amor; há falta de ênfase na vida de oração; há falta de estímulo para

CCCXXIX

A Assembléia da Convenção Batista do Rio Grande do Norte,

realizado em 2000, cita Latourette, identifica sete períodos de grandes

avanços e avivamento. O Avivamento metodista na Inglaterra é

colocado como quinto período:

“(...) avivamentos wesleyanos da Inglaterra,concomitantemente, com os grandes despertamentosnos EUA, dos séculos 18 e 19 (...).”1089

O Bispo e Presidente do Colégio Episcopal da Igreja Metodista,

Paulo Lockmann,1090 fala da necessidade do metodismo buscar o

avivamento. As razões são diversas, especialmente, a situação social

brasileira:

“A existência, hoje, em nosso estado e em nossopaís, do fenômeno sempre crescente damarginalização, é prova da não-realização do bemcomum. Cresce a marginalização na medida em que asdecisões da política econômica do governo sãotomadas tendo em vista o interesse de gruposeconômicos nacionais e internacionais, o que em certosentido, dá no mesmo. Ser marginalizado é ser mantidofora, à margem daquilo que é direito de todos: moradia,trabalho, com salário justo, saúde, educação e livreparticipação no poder de decisão. É ser privado dodireito de uma terra para plantar (...). Por tudo istoqueremos ver em nossa Igreja um avivamento queincendeie o coração e a vida do povo metodista de talmaneira que leve a envolver-se com o povo, ajudandoas organizações populares em suas lutas; sendo um

o ministério de tempo integral; há pouca autoridade no púlpito, etc (cf. "O Avivamento deque precisamos", p.11).1089 Ibidem.1090 Paulo Tarso de Oliveira Lockmann foi o Presidente do Colégio Episcopal da IgrejaMetodista até 2001.

CCCXXX

sinal de amor e solidariedade com os que sofrem(...).”1091

No final do seu artigo, Paulo Lockmann afirma:

“Afinal, foi assim com João Wesley no século XVIII;e por que não pode ser igual conosco, neste Brasil, nofinal do século XX?”1092

7.2. O paradigma do avivamento wesleyano, no século XVIII, paraos metodistas brasileiros no novo milênio

Quais, então, as contribuições que o avivamento metodista do

século XVIII pode dar hoje à Igreja Metodista em terra brasileira?

Quais as diretrizes principais que podem ser dadas aos

movimentos de renovação da nossa década pensando num genuíno

avivamento no terceiro milênio, que inclua o compromisso social?

Pelo menos, dez marcas do avivamento wesleyano podem

servir de modelos para os metodistas brasileiros e mesmo de outras

denominações.

7.2.1 O genuíno Avivamento leva ao Evangelho integral e nãotrata só da “alma” ou só do corpo

1091 LOCKMANN, Paulo Tarso de Oliveira. “Compromisso com Deus e com o povo” emExpositor Cristão, outubro de 2000, p.24.1092 Ibidem.

CCCXXXI

“Às onze horas, preguei em Winchester, onde seacham quatro mil franceses presos. Fiquei satisfeito emsaber que eles têm bastante comida, e são bemtratados.”1093

João Wesley

O avivamento genuíno proporciona a prática do Evangelho

integral e não deve se caracterizar somente em algumas ênfases

espiritualistas, como curas, visões, dons espirituais, etc.

Vida devocional com Deus deve andar junto com solidariedade

aos marginalizados. O avivamento genuíno trará a consciência das

injustiças e da situação dos oprimidos. E mais do que isso: levará a

uma prática de solidariedade. O amor será a base, a motivação para

lutar pelos menos favorecidos, exatamente como Wesley entendia a

razão de ser do avivamento em seu tempo.

Richard Heitzenhater afirma:

“Em Oxford, no começo da década de 1730, osmetodistas (universitários em sua maioria) haviamcoletado dinheiro e outras coisas para os pobres dacidade. À medida que o reavivamento metodista seespalhava pelos subúrbios pobres das cidadesinglesas, no começo da década de 1740, as novassociedades metodistas começaram a ficar cheias demineiros, criados e muitas outras pessoas da classetrabalhadora que viviam nos limites da miséria, senãoem calamidade.”1094

1093 WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, Ibidem, p. 182.1094 HEITZENHATER, Richard P., p. 127.

CCCXXXII

O genuíno avivamento tem uma mão estendida aos céus

clamando pela graça e poder de Deus, bem como tem a outra mão

estendida aos necessitados, como resultado do amor de Deus em

nossos corações.

Os metodistas exerciam o ministério da misericórdia:

“(...) educando as crianças nos albergues, levandoalimento aos necessitados, fornecendo lã e outrosmateriais com as quais as pessoas pudessem fazerroupas e outras coisas duráveis para usar e vender.”1095

Por outro lado, Wesley registrou em seu diário momentos

devocionais, o que eram freqüentes entre os metodistas:

“Hoje foi observado como dia de jejum e oração;oramos por avivamento no trabalho do Senhor. Muitosassistiram ao culto às cinco horas, às nove e às treze,mas em muito maior número assistiram ao de vigília;desta feita Deus tocou o coração do povo, e até ocoração daqueles que estavam mortos no pecado.”1096

A grande ênfase de Wesley foi a prática das Obras de

Misericórdia e Atos de Piedade.

7.2.2. O Avivamento proporciona consciência crítica e rejeita o

fanatismo

“Estais também no mesmo perigo se desprezais ainteligência, a sabedoria e o conhecimento humano;

1095 Ibidem, p. 125.1096 WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, Ibidem, p.199.

CCCXXXIII

cada um dos quais é um excelente dom de Deus epode servir para os mais nobres fins.”1097

João Wesley

O avivamento genuíno não leva à alienação numa ênfase fora da

realidade do mundo e, sim, cria uma consciência crítica.

Tanto que para Wesley o alvo do movimento era:

“(...) reformar a nação...e espalhar a santidadebíblica sobre a terra (...).”1098

Quando em uma de suas sociedades, Wesley observou que

algumas pessoas gritaram durante a pregação, alguns caíram no chão

perdendo as forças quando escutavam a Palavra de Deus. Para

Wesley:

“Esses sintomas não os posso atribuir a causanatural senão ao Espírito de Deus. Não duvido que eraSatanás que os rasgava quando eles iam a Cristo; daíos gritos pelos quais pudessem desacreditar a obra deDeus, e espantar o povo para que não escutasseaquela palavra que lhe podia salvar a alma.”1099

Quando havia prática contrária ao ensinamento bíblico, Wesley

não deixava de orientar ou até repreender aos que agiam assim,

mesmo sendo pregadores, como aconteceu com George Bell, que

marcou o fim do mundo para 28 de fevereiro de 1763. Ele acabou

1097 WESLEY, João. Explicação Clara da perfeição Cristã. São Paulo: Imprensa Metodista,1984, p. 1091098 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 230.1099 Ibidem, p.40-1.

CCCXXXIV

deixando o metodismo, juntamente com Maxfield. Wesley chegou a

mandar Bell parar de falar em línguas.1100

Em 1743, Wesley refutou mais uma vez seus críticos.

“Wesley publicou Na Earnet Appel to Men ofReason and Religion (um sério apelo aos homens derazão e religião).”1101

A história recente registra o suicídio coletivo de diversas

pessoas pertencentes a algumas seitas resultado de um grande

fanatismo: Templo do Povo, Guiana, 912 mortos (1978); Grande

Sacerdote, Filipinas, 60 mortos (1985); Igreja Amigos da Verdade,

Japão, 7 mortos (1986); "deusa" Park Soon-Ja, Coréia do Sul, 32

mortos (1987); Seita dos Davidianos, EUA, 80 mortos (1993); Ordem

do Templo Solar, Canadá, 5 mortos (1994); Ordem do Templo Solar,

Suiça, 48 mortos (1994); Ordem do Templo Solar, França, 16 mortos

(1995); Ordem do Templo Solar, Canadá, 5 mortos (1997), Porta do

Paraíso, EUA, 39 mortos (1997).1102

Wesley, por isso, dizia que a religião que não é racional é falsa.

A razão, por si só, não pode nos dar fé, virtude, esperança, salvação.

Mas ela, assistida pelo Espírito, nos faz compreender a Palavra, a

santidade, o novo nascimento , etc. A razão é um dom de Deus para a

investigação da verdade.1103

1100 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 209-0.1101 Ibidem, p.130.1102 O GLOBO. "Suicídio na passagem do cometa" em O Globo. 28 de março de 1997, 2ed, p. 20.1103 BURTNER, Robert ; CHILES, Ibidem, p. 22-8.

CCCXXXV

7.2.3. O avivamento genuíno se fundamenta na Bíblia em vezde visões e profecias

“Estais em perigo de ser vitima do fanatismo acada momento, se por menos que seja, vos afastaisdas Escrituras (...).”1104

João Wesley

O avivamento genuíno não vive sob as diretrizes de profecias e

revelações espirituais. Ele tem base bíblica. Ele está aberto às

revelações do Espírito e às novas formas de atuar, desde que tenham

base bíblica.

O psicólogo William James destaca o movimento metodista pelo

seu equilíbrio e ressalta os modelos individuais que ele estabeleceu

como típicos e dignos de imitação:

“O Metodismo segue aqui, sem dúvida, se não oequilibrado mental, pelo menos, de um modo geral, oinstinto espiritual mais profundo. Os modelos individuaisque ele estabeleceu como típicos e dígnos de imitaçãonão são apenas os mais interressantesdramaticamente, mas psicologicamente têm sido osmais completos.”1105

Em 20 de julho de 1740, Wesley cita um fato numa sociedade

em Feter-Lane, onde algumas pessoas se levantavam contrárias a

algumas doutrinas metodistas. Sua palavra foi:

1104 WESLEY, João. Explicação Clara da Perfeição Cristã, Ibidem, p. 109.1105 JAMES, William . As variedades da Experiência Religiosa. Ibidem, p. 148.

CCCXXXVI

“Eu creio que estas asserções são redondamentecontrárias à Palavra de Deus. Tenho vos admoestadoacerca destas coisas repetidas vezes, e vos tenhorogado que volteis à ´lei e ao testemunho.”´1106

Wesley escreveu Explanatory Notes Upon the New Testament

(Notas explicativas sobre o Novo Testamento), cuja primeira edição foi

publicada em 1925. No ano seguinte foi republicado com uma errata.

No ano de 1762 Wesley e Carlos terminaram um aperfeiçoamento dos

textos bíblicos e terminaram uma nova edição.

“Junto com a coleção de Sermons on SeveralOccasions (Sermões para diversas ocasiões) que Joãopublicou (quatro volumes até 1760), forneciam umabase doutrinária como direção para os pregadores.”1107

Wesley dizia:

“Seja eu o homem de um livro. De modo que estoudistante dos costumes atarefados dos homens. Eu meassento à sós: somente Deus está aqui. Em suapresença abro e leio o seu livro (...).”1108

Para resolver questões pessoais ou das sociedades, Wesley

recorria às escrituras. Em 1739, em Bath, devido a certo homem

notável no lugar, pediram a Wesley para ele não pregar. Ele pregou e

a mensagem enfatizou a Bíblia:

1106 WESLEY, João. Explicação Clara da Perfeição Cristã. Ibidem, p.38.1107 HEITZENHATER, Richard, Ibidem, p. 212-3.1108 BURTNER, Robert; CHILES, Ibidem, p. 16.

CCCXXXVII

“As Escrituras ensinam que todos pecaram ecarecem da glória de Deus, grandes e pequenos, ricose pobres, tanto uns como os outros.”1109

Por causa desse boato, Wesley ganhou maior número de

ouvintes.

Em 1739, em Weaver’s Hall, Wesley enfrentou os “profetas

franceses”, que desviavam membros das sociedades:

“(...) eu me esforcei para pôr a descoberto os seuserros, e exortei o povo que seguisse a santidade eevitasse tais profetas, como se evita o fogo, e todosque não falam de ‘acordo com a lei e o testemunho.”1110

Na crise na sociedade em Fetter-Lane, em 1740, em seus

argumentos Wesley disse:

“Eu creio que estas asserções são redondamentecontrárias à palavra de Deus. Tenho vos admoestadoacerca destas coisas repetidas vezes (...).” 1111

E assim Wesley agiu em toda sua vida.

7.2.4. O avivamento capacita para o testemunho cristão

“Durante a última oração dele fiquei completamentesubjugada pelo poder de Deus. Senti mudançainexplicável no fundo do meu ser, e desde aquela horanão tenho sentido ira, nem vaidade ou mau gênio: nada

1109 WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, Ibidem, p. 32.1110 Ibidem, p.36.1111 Ibidem, p.38.

CCCXXXVIII

que seja contra o puro amor de Deus, que sintoconstantemente”. 1112

João Wesley

Muitos dos que se tornaram pregadores eram pessoas simples,

pobres e que passavam por dificuldades, como a maior parte do povo

metodista.1113 Wesley, por isso também, procurava prepará-los. Dentro

do seu equilíbrio, João Wesley sempre perguntava aos pregadores:

“Tens os dons? Tens a graça? Tens osfrutos?” 1114

Wesley sabia que o Espírito Santo capacitava, mas ele era

muito cuidadoso com as pessoas que exerciam ministérios. Em seu

diário, em 15 de maio de 1751, ele disse:

“Realizamos pequena Conferência com trintapregadores presentes. Indaguei particularmente arespeito da sua graça, dons e fruto (...).”1115

No ano de 1775, a Conferência Anual, Wesley examinou

queixas de pessoas contra os pregadores. Elas afirmavam que alguns

não estavam qualificados para o trabalho:

“(...) não possuindo graça e dons suficientes paraexecutar.”1116

1112 Ibidem, p.87.1113 Ibidem, p.115.1114 HEITZENHATER, Richard, Ibidem, p.176.1115 WESLEY, João, Trechos do Diário de João Wesley, Ibidem, p. 103.1116 Ibidem, p. 116.

CCCXXXIX

Contudo, após examinar com cuidado, ele viu que as queixas

não tinham fundamentos, pois disse:

“Deus tem realmente enviado seus trabalhadorespara a seara, e que os qualificou para a obra (...).”1117

Wesley combatia os exageros, mas acreditava também que o

Espírito Santo pudesse capacitar com dons sobrenaturais, apesar de

não destacá-los:

(...) “Para fortalecer e animar aqueles que crêem, epara salientar a sua obra, favoreceu diversos deles comsonhos divinos, outros com êxtase e visões” .1118

O movimento metodista deu oportunidade aos leigos e leigas de

exercerem seus ministérios. No ministério da Palavra, Thomas

Maxfield, John Nelson, James Wheatley, Thomas Walsh se

destacaram, alem de uma infinidade de outras pessoas.1119

As mulheres tiveram grande oportunidade e se destacaram no

ensino e obras sociais. Mais tarde, Mary Bosanquet convenceu a

Wesley sobre as mulheres pregarem. O argumento de Wesley aos

opositores foi:

“Todo trabalho de Deus chamado metodista erauma dispensação extraordinária da providência deDeus.”1120

1117 Ibidem.1118 Ibidem, p.134.1119 Ibidem, p. 27.1120 HEITZENHATER, Richard P., biidem, p. 248.

CCCXL

Outras mulheres também tiveram o ministério da palavra: Sarah

Crosby, Sarah Mallett, etc.1121 As mulheres também se destacaram no

Ministério de Ensino (Ana Ball) e nas obras sociais (condessa Lady

Hungtingdon). 1122

Acima de tudo, Wesley acreditava que o avivamento produzia a

santificação e as pessoas viveriam vida digna e santa diante de Deus.

Em 1751, ele registrou em seu Diário:

“O barbeiro que me barbeava disse: ‘Senhor, eulouvo a Deus por sua causa. Quando o senhor estavaem Bolton, a última vez, eu era o ébrio mais notável dacidade; fui ouvi-lo pregar, fiquei perto da janela e Deusme feriu no coração. Então orei, pedindo poder sobre omeu vício de beber, e Deus me deu mais do que eupedira, tirou-me o desejo de beber (...).1123

Para Wesley, tudo o que Deus exige é que tenhamos a fé que faz

obras impulsionadas pelo amor.1124 Uma pessoa perfeita será

testemunha de Cristo, pois não fará nada contrário ao amor, que

permanece em sua alma. Todos os seus pensamentos, palavras e

ações serão governadas pelo amor.1125

7.2.5. O avivamento impulsiona para a Ação Missionária

“(...) tanto em Nova York como na Filadélfia grandesmultidões assistem aos cultos para ouvir, e se portam

1121 Ibidem.1122 REILY, Duncan Alexander. Metodismo brasileiro e wesleyano, Ibidem, p.159-0.1123 WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, Ibidem, p.88.1124 ______. Explicação clara da perfeição cristã. Ibidem, p.88.1125 Ibidem, p.53.

CCCXLI

bem, e a sociedade em cada lugar, já tem mais de cemmembros.”1126

João Wesley

Como uma cadeia, a chama do avivamento weslayano se

espalhou pela Inglaterra e outras partes do mundo.

“À medida que o reavivamento metodista seespalhava pelos subúrbios pobres das cidadesinglesas, no começo da década de 1740, as novassociedades metodistas começaram a ficar cheias demineiros, criados e muitas outras pessoas da classetrabalhadora que viviam nos limites da miséria, senãoem calamidade.”1127

Como o reavivamento se espalhou por outras partes do país,

houve a necessidade de ter casas de pregação, o que deixou Wesley

vulnerável a acusações de que estava criando uma nova seita.1128

Segundo James Richard Joy, o “Ide” de Jesus foi a primeira

ordem que veio ao Wesley despertado.1129 Ele passou a vida pregando

o Evangelho:

“As viagens de Wesley eram incessantes. Em1764, entre 19 de maio e 4 de agosto, período de 138dias, ele viajou de Bristol a Inverness na Escócia, evoltou pregando em 122 cidades, realizando 300cultos, além das reuniões das sociedades unidas.”1130

1126 ______. Trechos do Diário de João Wesley . Ibidem, p. 165.1127 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 127.1128 Ibidem, p. 141.1129 JOY, James Richard, Ibidem, p. 108.1130 Ibidem, p. 116.

CCCXLII

Wesley era todo missionário. Visitou a Escócia 20 vezes e o Pais

de Gales, 24 vezes.1131

Ele se sentia capacitado para pregar e dizia que pregação com o

poder do Espírito Santo:

“Preguei (como de costume), às cinco horas e àsquinze, com convicção e poder do Espírito.”1132

Sua orientação aos pregadores era:

“Falei com todo entusiasmo que puderdes; masnão griteis! Falai com todo o coração, mas com vozmoderada”1133

Mais tarde, Wesley dividiu o campo em circuito, para um melhor

atendimento dos pregadores às sociedades, que para lá eram

nomeados. Em 1768 haviam trinta e quatro circuitos.1134

Em 1785, Wesley falou do crescimento do metodismo em todo o

mundo:

“(...) fico pensando em como um grão de mostarda,plantado há cinqüenta anos, tem crescido. Tem-seespalhado através da Gra-Bretanha e Irlanda ; à ilha deWight, e à ilha de Man; então à América, às ilhas‘Leward’, e outra vez a todo o continente do Canadá eNewfoundland.”1135

1131 Ibidem, p.117-8.1132 WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, Ibidem, p. 82.1133 JOY, James Richard, Ibidem, p. 131.1134 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 234.1135 WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, Ibidem, p. 206.

CCCXLIII

7.2.6. O avivamento leva ao compromisso social

“Nesta época do ano, costumamos distribuir carvãoe pão entre os pobres da Sociedade.”1136

João Wesley

Os teólogos metodistas alemães Walter Klaiber e Manfred

Marquardt afirmam:

“Visto que a santificação é amor, ela énecessariamente santificação social. Por mais queWesley pareça, algumas vezes, concentrar-se naexperiência do indivíduo na vivência de suasantificação, o horizonte da santificação é o dacomunidade, o esforço pela comunhão perfeita comDeus inclui o reto relacionamento com os outroshomens.”1137

A luta de Wesley contra a escravidão foi importante para mudar o

rumo da história dos negros na Inglaterra. Em seu diário, ele registrou,

em 3 de março de 1788:

“Fui a Bristol, e tendo dois ou três dias, completeimeu sermão sobre A Conferência. Dei aviso de que, naquinta feira, pregaria sobre o assunto muito discutido –A Escravidão. Conseqüentemente a casa estavarepleta de gente, alta e baixa, rica e pobre. Pregueisobre aquela profecia antiga: ´Alargue Deus a Jafé ehabite Jafé nas tendas de Sem; e seja-lhe Canaã porservo´(Gn 9.27).”1138

1136 Ibidem, p. 112.1137 KLAIBER, Walter; MARQUARDT, Manfred , Ibidem, p. 302.1138 WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, Ibidem, p. 190.

CCCXLIV

Richard Heitzenhater afirma que o metodismo teve como ênfase

principal o amor:

“Esta ênfase particular em ´amar o próximo´eseguir o exemplo de Cristo (que ´andou por toda a partefazendo o bem´, Atos 10:38), continuou a caracterizar ometodismo, quando ele entrou no reavivamento.”1139

A casa dos pobres, a Escola em Kingswood, a assistência

médica aos pobres são algumas das manifestações do ministério da

misericórdia exercido pelos metodistas.1140

A sensibilidade de Wesley para com os problemas do povo era

grande e sempre ele procurava dar uma resposta urgente:

“Notando a pobreza profunda de muitos dosnossos irmãos, resolvi fazer o que podia para aliviá-los.”1141

Especialmente, os excluídos mereceram maior atenção de

Wesley, inclusive nas pregações, como em 1752:

“Preguei em Beddick a grande multidão de Coliers(mineiros de carvão).”1142

Toda essa ação levou o historiador inglês Edwards Thompson a

afirmar que o metodismo foi importante na formação de classe

operária inglesa, no século XVIII.1143

1139 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 125.1140 Ibidem, p. 166-8.1141 WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, Ibidem, p. 111.1142 Ibidem, p. 73.1143 No quinto capítulo da tese citamos as declarações de Edwards Thompson.

CCCXLV

7.2.7. O avivamento genuíno não é superficial, mas proporcionatransformação de vidas

“Deus derramou abundantemente seu Espíritosobre nós. Muitos ficaram cheios de consolação(...).”1144

João Wesley

O avivamento genuíno pode nos levar a ter expressões

corporais na liberdade que o Espírito traz, mas deve também moldar o

nosso caráter à semelhança de Jesus, a fim de que tenhamos o amor,

a misericórdia e a prática da justiça no nosso viver diário.

Em seu diário, Wesley cita diversas pessoas que foram

justificadas e santificadas. Uma delas, Elizabeth Longmore, em 1760,

descreveu sua experiência quando sua alma se tornou toda amor:

“Desde aquela hora, não tenho sentido meuspensamentos se desviarem de Deus. Tenho cuidadocom cada palavra que falo, com cada olhar e cadapensamento.Esquadrinho o coração constantemente, enada acho ali senão amor.”1145

Levantar as mãos no louvor e orações, dançar nos momentos de

cânticos, balançar o corpo pode acontecer com as pessoas que são

visitadas pelo Espírito ou estão tendo grande regozijo espiritual.

Acontece, contudo, mais com as pessoas extrovertidas do que com as

introvertidas. Mas não podemos medir a espiritualidade das pessoas

1144 WESLEY, João.Trechos do Diário de João Wesley, Ibidem, p. 104.1145 Ibidem, p. 128.

CCCXLVI

somente por essas expressões. O avivamento nos leva a andar em

amor e a viver como filhos e filhas da luz.

Para falar das conseqüências do derramamento do Espírito,

Wesley dizia que as pessoas haviam sido despertadas, justificadas,

restauradas, convertidas, renovadas, etc.

Há avivamentos fabricados pelas pessoas, que não são

avivamentos e sim animação onde têm até manifestações psíquicas,

carnais e demoníacas, mas não tem mudança de caráter e nem a

ação plena do Espírito. O verdadeiro avivamento traz transformação

de vidas.

Wesley dizia:

“O dia de Pentecostes não chegou ainda na suaplenitude; mas não duvido que venha; e então vocêverá tantas pessoas santificadas como justificadas.”1146

Por isso, no Exame dos pregadores, Wesley era exigente nesses

pontos. Em 1766, ele perguntou aos pregadores:

“Você tem fé em Cristo? Você está indo em direçãoà perfeição? Você espera ser perfeito em amor nestavida? Está gemendo angustiado por ela? Você estáresolvido a devotar-se inteiramente a Deus e à suaobra?” 1147

7.2.8. O avivamento traz crescimento integral à Igreja

1146 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 130.1147 Ibidem, p.235.

CCCXLVII

“O Senhor reaviva a sua obra como no princípio.Multidões unem-se a sua Igreja todos os dias.”1148

João Wesley

O avivamento genuíno traz transformação de vidas e

consequentemente crescimento numérico.

A partir de 1739, Wesley viu e experimentou um grande derramar

do Espírito no meio do povo. Estiveram presentes em suas pregações

milhares de pessoas: Blackheath (12.0000); Moorfields (20.000);

Gloucester (7.0000); Parque de Kensington (20.000).1149

Aos poucos o metodismo se espalhou para outros povos e

países. O trabalho em Dublin, Irlanda, começou em 1747 comm os

pregadores Jonathan Reeves e John Trembath.1150 Foi assim, em

1759 com Natanael Gilbert, que iniciou o metodismo nas Antilhas.1151

Nas pregações de João Wesley, na Inglaterra, milhares de

pessoas iam ouvir sua Palavra. Era comum haver 10, 20 e 30 mil

pessoas em suas reuniões públicas. Algumas sociedades chegavam a

mais de 1 mil membros. Havia uma média, por volta de 1776, de um

crescimento de 1600 membros por ano.1152

1148 LELIÈVRE, Mateo., Ibidem, p.192.1149 Ibidem, p.79.1150 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.163.1151 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p.205.1152 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.265.

CCCXLVIII

Quando Wesley faleceu, em 1791, o Metodismo tinha, na

Inglaterra, cerca de 300 pregadores e 71.463 membros.1153

As Festas de Amor contribuíam para que o interior das pessoas

fosse tratado e transformado. Wesley descreve em seu diário, em 10

de junho de 1780, um desses momentos:

“Então celebramos a Festa de Amor, que foi amais viva que eu jamais vira em muitos anos. Muitosfalaram, e com grande fervor e muita simplicidade;portanto, quase todos os presentes deram louvores aDeus pela consolação que lhe trouxe.”1154

As classes permitiam as pessoas que desejam participar do

movimento metodista de crescerem na fé e no conhecimento. Haviam

quatro tipos de classe:

“Sociedades unidas (unidet societies), pequenascompanhias (bands), sociedades seletas (selectsocieties) e arrependidos (penintents). As sociedadesunidas ( as mais numerosas de todas) compunham-sede todas as pessoas que tinham sido revivificadas;aqueles que professam ter recebido o perdão de seuspecados deviam reunir-se em pequenas companhias(bands); os membros destas últimas que persistiam emandar na luz do Senhor constituiriam as sociedadesseletas; e, finalmente, as pessoas pertencentes àssociedades unidas que permanecessem com suasculpas formariam um grupo à parte, chamados osarrependidos”1155

1153 Ibidem, p. 306.1154 WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, Ibidem,107.1155 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p.141.

CCCXLIX

A preocupação de Wesley era que os metodistas crescessem

em número, sim, alcançando os miseráveis, que eram excluídos da

sociedade, mas que estes uma vez justificados crescessem também

em qualidade.

7.2.9. O avivamento traz o derramar do amor de Deus

“Deus restaurou o homem à luz da sua face, e deuà moça a convocação clara do seu amor”1156

João Wesley

Geralmente, as pessoas esperam receber do avivamento o

poder do Espírito acompanhado dos dons espirituais. Mas a

manifestação do amor de Deus está presente no genuíno avivamento.

Foi assim na Inglaterra com os metodistas. No seu diário,

Wesley registrou:

“Depois do sermão, tivemos uma Festa de Amor.Foi hora deliciosa. Deus derramou abundantementeseu Espírito sobre nós. Muitos ficaram cheios deconsolação (...). Deus restaurou o homem à luz da suaface, e deu à moça a convicção clara do seu amor; e detal maneira extraordinária, que parecia que toda a suaalma era amor.” 1157

Essas experiências eram constantes e não casuais. Em 1749,

ele registrou:

1156 WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, Ibidem, p.105.1157 Ibem, p.105.

CCCL

“Na reunião da sociedade de S., uma chama deamor se manifestou de tal maneira como nunca se tinhavisto antes.”1158

As diversas experiências religiosas registradas em seu diário

sempre ressaltam o amor de Deus. Em 1765, a jovem Grace Paddy

disse:

“Senti mudança inexplicável no fundo do meu ser,e desde aquela hora não tenho sentido ira, nemvaidade ou mau gênio: nada que seja contra o puroamor de Deus que sinto constantemente.” 1159

Em suas explicações, Wesley via a certeza de que sua ênfase

na perfeição:

“Observo que o espírito e a experiência destes doiscorrem paralelamente. Comunhão constante com Deuso Pai e o Filho enche-lhes o coração com humildadeamor. Agora isto é o que sempre tenho e ensino arespeito da perfeição.”1160

7.2.10. O avivamento proporciona mudança na sociedade

“(...) o metodismo foi indiretamente responsável porum aumento na autoconfiança e capacidade deorganização do operariado.”1161

Edward Thompson

1158 Idem, p.97.1159 Ibidem, p.87.1160 Ibidem, p.128.1161 THOMPSON, Edward P., Ibidem, 2 v., p.42.

CCCLI

Na década de sessenta, quando o metodismo estava com fraco

crescimento e com suas crises, William R.Read escreveu o livro New

Patterns of Church Growth in Brazil (Fermento Religioso nas Massas

do Brasil). Ele elogiou o crescimento das Igrejas Evangélicas e

comentou que não entendia o que estava acontecendo com a Igreja

Metodista no Brasil, mas disse com todo o seu conhecimento de

historiador:

“(...) creio que nela vai arder novamente o fogodivino, que há de varrer toda a sociedade.” 1162

Passados mais de trinta anos, o metodismo brasileiro está mais

próximo de realizar esta afirmação de William R. Read. Um

avivamento, como no metodismo primitivo, que alcançou a classe

marginalizada da sociedade e se preocupou com as questões sérias,

na Inglaterra, como as crianças, desempregados e presos.

“O nível social da população operária elevava-serapidamente; os mineiros transformaram-se empessoas de bem. Quando viajava pelo norte e observouas casas de Weardale, graciosamente cercadas delindos jardins, onde se respiravam o conforto e a paz,Wesley não deixava de dizer: ‘três entre quatro casa outalvez nove entre dez foram construídas depois de oMetodismo aparecer nessas paisagens.”1163

1162 READ, William R. Fermento Religioso nas Massas do Brasil. Livraria Cristã UnidaLtda, 1976, p.191.1163 LILIÈVRE, Mateo, op. cit, p.269.

CCCLII

O metodismo fez diferença na sociedade na questão de sua luta

contra a escravidão.

“Quando Wesley denunciou ao seu país o crime daescravidão, a consciência pública ainda não estavaacordada para esse assunto e os próprios cristãos nãotinham refletido sobre sua gravidade. Whitefield, aomorrer quatro anos antes, deixara numerosos escravosem suas fazendas na Geórgia, e os doara em seufalecimento à Lady Huntingdon.”1164

Para Nelson Luiz Campos Leite, o metodismo e as Igrejas em

geral carecem de um genuíno avivamento:

“(...) carecemos de um genuíno avivamento emnosso meio. Um avivamento bíblico, cristocêntrico,movido pelo Espírito, pleno de dons e ministérios,compromissado com as pessoas e a sociedade,missionário e que visa a transformação da pessoa, dafamília e das estruturas da sociedade. O Espírito há derealizar em nós uma obra conforme a perspectiva de Ez36.24-28.” 1165

Este é o avivamento que o metodismo precisa experimentar hoje.

1164 Ibidem, p.283.1165 LEITE, Nelson Luiz Campos. "Editorial" em Expositor Cristão. Janeiro de 1997, p.2

CCCLIII

Anexo

Líderes e coadjuvantes do metodismo

Segundo Heitzenhater, havia uma fermentação do Espírito

Santo no mundo 1166 quando Wesley e o povo chamado metodista se

despertaram para reformar a Igreja, a Nação e espalhar a santidade

bíblica sobre a terra, especialmente, a partir de 1738. Essa ação do

Espírito Santo ocorreu em diversos lugares e na vida de diversas

pessoas.

1166 Ibidem, p.97.

CCCLIV

Para completar, a partir de 1738, João Wesley teve uma forte

experiência espiritual e viu acontecer um grande avivamento na

Inglaterra.1167

Diversas pessoas atuaram como coadjuvantes para realizar

uma grande mudança nos corações do povo e na estrutura da

sociedade, na Inglaterra e na América, no século XVIII, entre eles,

William Morgan, Carlos Wesley, Francis Asbury, Thomas Coke, Pedro

Bohler e tantos outros .

“(...) Wesley cria firmemente que, para atender auma situação crítica na Inglaterra, o próprio Deushavia levantado a um ministério extraordinário, a saber,pregadores sem preparo teológico formal, semdiploma.”1168

Carlos Wesley chegou a dizer que via:

“(...) tudo ao nosso redor em surpreendentefermentação. Com certeza o cristianismo está mais umavez levantando a cabeça.” 1169

Além do grande líder que foi João Wesley, outras pessoas

também contribuíram para o avivamento metodista, entre eles:

1. George Whitefield

1167 Ibidem, p.801168 REILY, Duncan Alexander. “João Wesley e o Espírito Santo” em História MetodismoLibertações, [s.ed], [s.d], cp.cit, p.20.1169 Ibidem, p. 75.

CCCLV

Whitefield nasceu em Gloucester, Inglaterra, no dia

16/12/1714.1170 Seus pais eram zeladores da Estalagem do Sino.

Muito cedo Whitefield ficou órfão de pai. Teve as suas tentações e

pecados da mocidade. 1171

O Clube Santo o ajudou no propósito de ter uma vida santa. Sua

experiência com Deus foi em 1735, antes dos irmãos Wesley.1172João

Wesley o orientou sobre a justificação pela fé. Ele foi ordenado pastor

anglicano1173 pelo Bispo Benson, no dia 20/06/1736.1174 Uma semana

depois, pregou seu primeiro sermão e cerca de 15 pessoas teriam

ficado loucas depois da Palavra.1175

Verdade ou não, o fato é que as mensagens de Whitefield

levavam o povo a ter manifestações físicas:

“ (...) foram freqüentes notáveis manifestações defenômenos físicos. Homens e mulheres choravam,desmaiavam, tinham convulsões.”1176

Qual era o conteúdo de sua mensagem e como era a sua forma

de pregar?

“Sua mensagem era o Evangelho da graçaperdoadora de Deus, da paz alcançada pela aceitaçãode Cristo pela fé e da conseqüente vida de alegreserviço (...). Dramático, patético, insinuante, possuidor

1170 JONES, D.M.Lloyd, Ibidem, p.113.1171 WALKER, Welliston, Ibidem, p. 206.1172 Ibidem, p. 206.1173 Ibidem., p. 206.1174 JONES, D.M.Lloyd, Ibidem, p.122.1175 Ibidem.1176WALKER, Welliston, Ibidem, p. 210.

CCCLVI

de voz maravilhosamente expressiva, os auditórios dedois continentes diante dele se fundiam como cera.” 1177

Whitefield atraia multidões, uma média de 20 mil pessoas. Ele

levou os irmãos Wesley a terem gosto pela pregação no "campo.” Foi

o primeiro a construir uma obra social, a Kingswood School.1178 Na

América construiu também um orfanato na Geórgia. 1179

Ele era de origem humilde e teve uma intensa vida de oração.

Suas mensagens continham estes temas: "o pecado original"; "a

regeneração"; "a justificação pela fé". Foi para a América, a partir de

agosto de 1739, e teve participação importante no chamado "Primeiro

Grande Despertamento" junto com Jonathan Edwards. Até Benjamim

Franklin gostava de ouvi-lo pregar.1180 As pessoas se reuniam para

ouvir alguém ler os seus sermões.

No século XVIII, nenhum inglês pregou com tanto poder. Suas

pregações eram acompanhadas de comoção espiritual. Sem espírito

denominacional, pregava para todas Igrejas. Marcantes foram suas

pregações em Kingswood, Inglaterra, bairro habitado exclusivamente

por mineiros.1181

1177 Ibidem, p. 207.1178 JONES, D.M.Lloyd, Ibidem, p.cit, p.120.1178 WALKER, Welliston, Ibidem, p.107.1179 LELÉVRE, Mateo, Ibidem, p. 76.1180 BARBIERI, Sante Uberto. Estranha Estirpe de Audazes., Ibidem, p.77.1181 Em 1739, sua segunda visita teve 2000 ouvintes e entre 4000 e 5000 na terceira visitae essas cifras não demoraram em chegar a 10.000 e 20.000 pessoas ouvindo seusentusiasmados sermões (HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.77).

CCCLVII

George Whitefield esteve sete vezes na América: 1738, 1740,

1744-1748, 1751-1752, 1754-1755, 1763-1765 e 1769-1770.1182

Ele tinha sua crença particular sobre a ação do Espírito Santo:

“Cria nas impressões internas, diretas, imediatasfeitas pelo Espírito Santo.”1183

Até Jonathan Edwards o censurou por isso, mas ele não o

ouvia.1184 Ele acreditava que o Espírito Santo lhe falava pessoalmente.

Ele se consumiu pregando o Evangelho. Após um dia intenso de

pregação e atendimento a diversas pessoas, já com a saúde

debilitada, Whitefild faleceu no dia 30/09/1770 aos 55 anos de idade.

Ele havia convidado Wesley para pregar no ofício fúnebre.1185

2. Howell Harris

Harris nasceu em Travecca, no País de Gales,1186 em 1714, e

faleceu em 1773. Ele era professor e num culto anglicano na paróquia

de Talgarth, no dia 25 de maio de 1735, sentiu todo o seu pecado.

Após uma luta intensa, encontrou a paz ao entregar-se totalmente a

Jesus.

1182 LILIÈVRE, Mateo, Ibidem.p. 76.1183 JONES, D.M.Lloyd, Ibidem, p.1301184 Ibidem, p.130.1185 WALKER, Welliston, Ibidem, p. 207.1186 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p.88

CCCLVIII

Três semanas depois, no dia de Pentecostes - 18 de junho - ele

estava orando na torre de Liangasty e teve nova experiência.1187 A

partir daí passou a ser um inflamado pregador.

“O reavivamento em Gales começou comseriedade em meados da década de 1730 com aconversão de Howell Harris e Daniel Rowland.”1188

Harris começou visitando os presos. Depois passou a pregar ao

ar livre. Com as conversões, passou a estabelecer as Sociedades.1189Ele dizia que os ministros de Gales não pregavam a verdade. Ele

foi perseguido e foi expulso da sua escola. Ele clamou pelo

avivamento.

Nas visitas aos doentes, a palavra de Harris era acompanhada

de tanto poder que muitos ali clamavam a Deus pelo perdão dos

pecados.1190 Herris era sensível ao Espírito Santo.1191

Foi amigo de Whitefield e dos irmãos Wesley, com os quais fez

alianças. Por isso, ele freqüentou as Conferências Anuais do

metodismo.1192

Em 1742, ele procurou fazer uma Associação com todas as

Sociedades de Gales. Whitefield ficou como dirigente. Em 1748,

Wesley participou com ele e Whitefield de uma conferência da

1187 JONES, D.M. Lloyd, Ibidem, p.292.1188 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.97.1189 JONES, D.M. Lloyd, Ibidem, p.293.1190 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.301.1191 JONES, D.M. Lloyd.Ibidem, p.300.1192 Ibidem, p. 208.

CCCLIX

Associação de Gales. Wesley queria a união dos diversos ramos do

avivamento. Harris não apenas concordou com diversas regras

visando a união. Ele também participou das Conferências wesleyanas

durante três anos.1193

Eles estavam dispostos a não falarem mal um do outro e

procuraram ter entendimento sobre justificação, predestinação e

perfeição. Mas foi um "acordo inútil", como disse Carlos Wesley. O

assunto ficou sobre a mesa.1194

Em algumas ocasiões, Harris deu um grande apoio a Wesley.

Quando Wesley estava sendo pressionado para nomear pregadores, o

que seria um rompimento com a Igreja Anglicana, os Wesley tiveram o

apoio de Howell Harris (que participou dessa conferência a convite de

Carlos Wesley) e mantiveram firme sua posição à ordenação e à

opinião de que seria ilegal que leigos ministrassem os sacramentos

nas sociedades metodistas.1195

Na Conferência de 1763, havia uma grande insatisfação dos

pregadores em relação ao rígido controle de Wesley. A saída de

Maxfield havia criado um fermento entre os pregadores. Mas Howell

Harris reprimiu os descontentes ao dizer:

1193HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.171.1194 Ibidem, p.171-2.1195 Ibidem, p.208.

CCCLX

“Se o sr. Wesley alguma vez abusar do seu poder,quem chorará por ele se seus próprios filhos não ofizerem.”1196

O efeito foi espantoso sobre os pregadores, que começaram a

chorar e o assunto foi encerrado:

“Essas simples palavras tiveram um espantosoefeito sobre os pregadores, que ´estavam chorando, portodos os lados, e desistiram inteiramente doassunto.”1197

Harris ficou sete anos de cama, pelo desgaste nas pregações.

No seu enterro, mais de 20 mil pessoas estiveram presentes como

gratidão e admiração. Houve nove sermões.

“Especialmente, quando foi ministrada a Ceia doSenhor, Deus derramou abundantemente o SeuEspírito de maneira maravilhosa.”1198

3. Jonathan Edwards

Jonathan Edwards (1703-1758) era congregacional e não

participou diretamente com Wesley do movimento metodista na

Inglaterra. Mas teve em Whitefield um grande aliado no chamado

"Primeiro Grande Despertamento".1199

1196 Ibidem, p.211.1197 Ibidem.1198 JONES, D.M. Lloyd, Ibidem, p.308.1199 ALLEN, William E. História dos avivamentos religiosos. Casa Publicadora Batista,1958, p.22. O chamado também Grande Despertamento foi “o movimento de maiorinfluência e o mais transformador na vida religiosa da América no século décimo oitavo(...) teve muitas fases e se estendeu por mais de cinqüenta anos (...) Começou odespertamento em 1726, em Raritan Valley, Nova Jersey nos meios reformados

CCCLXI

Além disso, Wesley viu neste avivamento um modelo para o

metodismo, a partir dos relatos que leu em 10 de outubro de 1738.1200

“Lendo os relatos de Edwards sobre a obra deDeus na Nova Inglaterra, ele pôde perceber as novaspossibilidades da ação divina entre o povo.”1201

Jonathan Edwards se tormou pastor em 1727. Mais tarde, foi ser

assistente do seu avô Salomão Stoddard, em Northampton (1643-

1729), na América. Com a morte do seu avô, ele pastoreou a igreja

Congregacional até 1750.1202

Preocupado com a vida espiritual da Igreja, no final de 1734,

buscou em oração um avivamento. Ele mesmo descreve como

aconteceu:

“Foi nos últimos dias de dezembro que o Espírito deDeus começou a estabelecer-se extraordinariamente ea operar maravilhosamente entre nós.”1203

Mas foi na primavera de 1735 que houve um constante

derramamento do Espírito, como Jonathan Edwards gostava de dizer:

“O avivamento se espalhou pelas cidades vizinhas,atingindo puritanos e presbiterianos tradicionais.”1204

holandeses, sob a direção de Teodoro J.Frelinghuysen (1691-1748). (WALKER, Welliston,Ibidem, p.216)”.1200 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 85.1201 Ibidem, p.91.1202 WALKER, Welliston, Ibidem, p.219-0.1203 EDWARDS, Jonathan. O poder de Deus na vida de Jonathan Edwards. Portugal:

Edições de Espada do Senhor, 1978, p.19.

CCCLXII

A partir de 1740, Whitefield participou diretamente do

avivamento, inclusive, morando na casa de Jonathan Edwards. Até

1760, cerca de 25 a 50 mil pessoas se converteram. Foram criadas

cerca de 150 igrejas. Começou também o interesse missionário pelos

índios.1205

Um dos seus escritos – Narração de conversões surpreendentes

– influenciou a Wesley, em 1738:

“No dia 10 de outubro, ele leu a ´surpreendente´narrativa de Jonathan Edwards acerca das conversõesna Nova Inglaterra. Nesta obra ele pôde ver claramentea influência do espírito Santo nos reavivamentos naNova Inglaterra. Esta leitura confirmou, para ele, osignificado da dinâmica espiritual nessa narrativa e adimensão pneumatológica na explicação teológica dela;isso estabeleceu a base para sua compreensão domovimento do Espírito entre o povo.”1206

Em 1745, ele também resumiu e publicou um panfleto sobre as

obras de Jonathan Edwards.1207 Eles ainda tinham em comum o fato

de terem nascido no mesmo ano.

Ele foi considerado um filósofo,1208 teólogo1209 e grande

pregador. Entre os livros que escreveu, estão: Tratado a Respeito das

1204 MENDONÇA, Antônio Gouvêa. O Celeste Porvir. Edições Paulinas, 1984, p. 49.1205 Ibidem.1206 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 85-6.1207 Ibidem, p.155.1208 JONES, D.M. Lloyd, Ibidem p.358.1209 Ibidem, p.366.

CCCLXIII

Emoções (1746); Tratado sobre a Vontade (1754); A natureza da

Verdadeira Virtude (1765).1210

Era líder em reavivamento1211 e pregava sobre o pecado original,

justificação pela fé, a história da obra de redenção, etc. Jonathan

Edwards era um Puritano.1212 Sua teologia tinha como base a clássica

ênfase calvinista na soberania de Deus e na predestinação.1213

Ele acreditava numa direta e imediata influência do Espírito, e

numa conversão súbita e dramática.1214 Contudo, em 1750, sua igreja

local o despediu ao derrotá-lo por 230 a 23 votos.1215 Ele foi para

Stockbridge onde se tornou missionário entre os índios e procurou

defender o calvinismo contra o arminianismo. Ele teve oportunidade de

escrever seu famoso Tratado sobre a Vontade, em 1754:

“(...) sustentou que ainda que todos os homenstenham capacidade natural para sevoltarem para Deus,falta-lhes habilidade moral – isto é, inclinação – para.”1216

Jonatham acreditava na evidência sobrenatural do poder de

Deus, mas também sabia dos perigos dos impulsos tendo, por isso,

criticado Whitefield.1217

1210 WALKER, Welliston, Ibidem, p. 220.1211 Ibidem, p.220.1212JONES, D.M. Lloyd, Ibidem, p.356-7,1213 WALKER, Welliston, Ibidem, p.220.1214 JONES, D.M. Lloyd, Ibidem, p.356.1215 Ibidem, p.355.1216 WALKER, Welliston, Ibidem, p. 220.1217 JONES, D.M. Lloyd, Ibidem, p.368-9.

CCCLXIV

Chamado a ocupar a presidência de Princeton, ao tomar uma

vacina contra a varíola, em 1758, Jonathan veio a falecer.1218

4. Conde Zinzendorf

O Conde Nicolau von Zinzendorf nasceu em Dresden, no dia 26

de maio de 1700. Seu pai era um alto oficial da Corte eleitoral da

Saxônia. Seu pai morreu cedo e a mãe se casou de novo. Ele foi

criado pela avó, a baronesa pietista Henrietta Catarina von

Gersdorf.1219 Desde jovem foi marcado pela sua vida religiosa:

“Apaixonada devoção pessoal a Cristo.”1220

Zinzendorf acolheu em seu patrimônio localizado na Alemanha,

os seguidores de Huss, Calvino, Lutero e outros reformadores, que

estavam sendo perseguidos. Com uma parte deles tinha vindo da

Morávia ficaram conhecidos como moravianos.1221

Eles estavam divididos e procuraram orar ao Senhor. No dia

cinco de agosto de 1727 fizeram uma Aliança Fraternal. Passaram a

enfatizar os pontos em que concordavam:

“Neste dia o Conde fez uma aliança com o Senhor.Os irmãos prometeram, um por um, que seriamverdadeiros seguidores do Salvador (...).”1222

1218 WALKER, Weliiston, Ibidem,p.221.1219 Ibidem, p.197.1220 Ibidem.1221 Ibidem, p.198.1222 WALKER, John, Ibidem, p.2.

CCCLXV

No dia 13 de agosto de 1727, enquanto oravam e participam da

Ceia do Senhor algo aconteceu:

“O poder e a benção de Deus vieram de forma tãopoderosa sobre o grupo inteiro que tanto o pastor comoo povo caíram juntos no pó diante de Deus, e nesseestado de mente continuaram até a meia-noite,tomados em oração e cântico, choro e súplicas.”1223

Em 1727, o Conde Zinzendorf se tornou Bispo Morávio. Os

quatro anos seguintes foram de constantes avivamentos. Fizeram um

pacto de oração contínua que durou cem anos.1224 Num período de 25

anos missionários foram enviados a diversas partes do mundo.

Wesley fez a seguinte tradução do texto do Conde Zinzendorf:

Coleção de Salmos e Hinos, que revela a imagem do calor positivo

que a teologia morávia havia fixado como alvo de sua busca espiritual:

“Oh, brilha em meu peito gelado”;Inspira meu coração com o sagrado calor.”1225

Wesley foi a Alemanha conhecer o Conde e o trabalho dos

moravianos. Retirou lições positivas e negativas. Ele viu divergências

no ensino de Pedro Bohler e Zinzendorf. Ele observou a organização

morávia e retirou a idéia da localização geográfica das classes. Mas a

partir daí passou a ter um constante conflito com eles, especialmente,

na questão da "quietude" e os "graus de fé".1226

1223 Ibidem.1224 Ibidem, p.4.1225 HEITZENHATER, Richard P. , Ibidem, p. 73.

CCCLXVI

Acabou havendo divisão na Sociedade de Fetter Lane por causa

de questões doutrinárias com os moravianos.1227 Alguns problemas

continuaram existindo em algumas sociedades por causa da influência

morávia.

“Embora João houvesse se separado dosmoravianos há uns três ou quatro anos, e embora ainfluência antinomiana continuasse a contaminar associedades, ele não podia deixar de apreciar a profundapiedade que caracterizava muito dos irmãos.”1228

Os moravianos deram a Wesley os primeiros ensinamentos e

exemplo de uma vida de fé e de submissão plena a Jesus.

5. John Fletcher

João Guilherme de La Flechére ou João Fletcher nasceu em

Nyon, Suíça, em 12 de setembro de 1729. Descendia de uma família

francesa e estudou na Universidade de Genebra. Por questões de

consciência não se tornou pastor da Igreja Reformada, por causa do

credo calvinista. Foi para a carreira militar. Depois desistiu e foi para a

Inglaterra.1229

1226 Ibidem, p.82-4.1227 Ibidem, p.112.1228 Ibidem, p.154. A separação ocorreu em 1740. Fetter Lane foi um marco na posiçãocontrária aos moravianos. Em 1745, Wesley expurgou os escritos de Zinzendorf de trêsgrandes erros: salvação universal, antinomianismo e quietismo (HEITZENHATER,Richard P., Ibidem, p.153).1229BARBIERI, Sante Uberto. Estranha estirpe de Audazes. São Paulo: ImprensaMetodista, p. 93.

CCCLXVII

“Durante uma de suas permanências em Londrespôde entrar em contato com os metodistas e renasceu-lhe o zelo religioso (...).”1230

Wesley o aconselhou a se ordenar na Igreja Anglicana. Logo

percebeu que as pessoas não demonstravam interesses pela vida

espiritual. Viu a abundância do comercio de bebidas. Tornou-se

pároco de Madeley. 1231

“Não era homem de alta eloquência, mas imprimiatal espirito de piedade e tal sentimento de candura noque dizia, que suas palavras chegavam fundo nocoração dos ouvintes.” 1232

Sua saúde nunca foi boa. Cuidava dos pobres. Ficou conhecido

em toda a Inglaterra como “o vigário de Madeley” Apesar de ser

anglicano, nunca perdeu o fervor metodista. 1233

“Wesley sentiu muito que ele resistisse em aceitar oconvite para substituí-lo no caso de vir a faltar. E pordois motivos não aceitou: por sua má saúde e por suamodéstia.” 1234

Em 1781, casou-se com Maria Bosanquet, que havia sido

excelente cooperadora de Wesley, uma das poucas mulheres que ele

permitia dirigir a palavra em reuniões metodistas. 1235

1230 Ibidem.1231 Ibidem, p.94.1232 Ibidem.1233 HEITZENHATER, Richard, Ibidem, p.96.1234BARBIERI, Sante Uberto. Estranha estirpe de Audazes., Ibidem, p.94.1235 Ibidem, p.97.

CCCLXVIII

Quando Lady Huntingdon deixou o metodismo por ser favorável

à predestinação, ele convidou Fletcher para ser presidente do colégio

Trevecca, ele ficou no cargo por dois anos, mas depois deixou. 1236

No ministério de governo da Igreja, John Fletcher se destacou.

Em momentos cruciais do movimento, ele defendeu Wesley em

questões doutrinárias. Ele era seu assistente e considerado o apóstolo

João do metodismo.1237

Wesley foi atacado por Walter Shirley, em 1771, um clérigo que

havia sido aliado de Wesley:

“O suporte principal da defesa de Wesley foi JohnFletcher, que havia se demitido da presidência docolégio de Lady Huntingdon em Trevecca, no inicio doano e cuja Vindication of the Rev. Mr. Wesley LastMinutes (Defesa das Ultimas Minutes do Rev. Sr.Wesley), publicada por Wesley logo após a Conferênciade 1771, foi o tiro inicial de uma longa série de rajadascontra os calvinistas” .1238

João Guilherme de La Flechére era a pessoa cuja combinação

de conhecimento e piedade vital se encaixava no modelo que Wesley

tinha em mente para substituí-lo.. Ele escreveu a Fletcher em janeiro

de 1773, perguntando quem está capacitado para presidir o trabalho.

Wesley fez uma extensa descrição do líder perfeito e, depois,

perguntou se Deus havia providenciado alguém qualificado:

1236 Ibidem, p.101.1237 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p.213, 257-264, 305.1238 HEITZENHATER, Richard, Ibidem, p.246-7.

CCCLXIX

“Quem é ele? Você é o homem!” 1239

Sobre ele, Wesley escreveu:

“No decurso de 80 anos, disse ele, ‘conheci muitoshomens de coração excelente e de vida perfeita; masnunca vi outro como ele; outro que se iguale emprofunda devoção para com Deus. Homem tãoimaculado como ele (...).”1240

John Fletcher foi o melhor amigo e mais hábil dos conselheiros

de Wesley. Fletcher morreu no dia 14 de agosto de 1785.1241

6. Carlos Wesley, William Morgan e outros

Na Grã-Bretanha, outras pessoas, pobres e ricas, fizeram parte

da liderança do povo chamado metodista. Uma dessas pessoas foi

Carlos Wesley, que nasceu em 18 de dezembro de 1708. 1242 Ele

escreveu mais de seis mil hinos, que eram cantados com entusiasmo

pelo povo.

Carlos Wesley teve a experiência da segurança da fé primeiro

que João Wesley:

“(...) no meio de contínuas lutas espirituaisenquanto estava doente no domingo de Pentecostes,sentiu ´uma estranha palpitação no coração´, foi capaz

1239 Ibidem, p.254.1240 Ibidem, p.305.1241BARBIERI, Sante Uberto. Estranha estirpe de Audazes, Ibidem, p.102.1242 LELIÈVRE, Mateo, Ibidem, p. 41.

CCCLXX

de dizer ´Eu creio, eu creio!´ e achou-se em paz comDeus.”1243

Carlos Wesley sempre esteve ao lado do irmão João. Apesar de

ser um tanto cético quanto aos relatos das multidões que iam às

pregações de Wesley e Whitefield, mudou de opinião, quando em 24

de junho 1739 pregou em Moorfields para uma multidão, segundo

ele, calculada em dez mil pessoas.1244

Mas a grande contribuição de Carlos foi com os hinos. Um dos

versos fala de um momento de luta que os metodistas passavam:

“Permanecei firmes em Seu grande poder,Revestidos de toda a Sua força;E tomai para armar-vos para a luta,A panóplia de Deus.” 1245

A expressão "panóplia" quer dizer a armadura utilizada por um

soldado da idade média.

Contudo, Carlos Wesley expressou, acima de tudo, o grande

amor de Deus em seus hinos. O Divino Amor, um dos seus hinos mais

conhecidos revela a influência da Teologia Pietista, diz:

“Divino amor, a todos os amores supera,Alegria do céu para a terra desce;Fixe em nós a Sua Humilde habitação;Toda a sua fiel misericórdia coroada!Jesus, toda a arte e compaixão,

1243 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.79.1244 Ibidem, p.100.1245 RIDOUT, George W. Revival Blessings or Seasons os Refreshing from the Presence

of the Lord. Pentecostal Publishing Company, Louisville, KY, p. 37.

CCCLXXI

Puro amor ilimitado da arteVisite-nos com a Sua salvação;Entre em todo trêmulo coração.

Respire, oh respire, Espírito amoroso,Em todo peito preocupado!Deixe-nos a Sua herança;Deixe-nos encontrar o descanso.”1246

As expressões "habitação", Espírito amoroso", "descanso" revela

a Teologia Pietista do coração, céu, paz interior, etc. A letra do "Divino

Amor" conclui assim:

“Leve toda a nossa propensão a pecar;Seja o Alfa e o Ômega;

O fim e o começo da fé,Fixe nossos corações à liberdade.

Venha, Todo-Poderoso, para entregar,Deixe-nos receber toda a sua vida;De repente retorne e nunca,Nunca mais deixe os Seus templos.Em Ti seremos sempre bênçãosSirva-te como o Seu anfitrião no céu,Oramos e louvamos a Ti sem cessar,Glória no Seu perfeito amor (...” 1247

Entre os outros hinos que Carlos Wesley escreveu, estão: "Vem

Espírito divino inspirar nossos corações"; "Oh! Se eu tivesse mil

línguas", etc.

Mas outras pessoas também tiveram o ministério do louvor e

música, entre eles, Guilherme Williams, que escreveu "Guia, Grande

1246 Letra de Carlos Wesley traduzida pelo rev. Antônio de Campos Gonçalves. "Hinos eCânticos" em Expositor Cristão, outubro de 1999, p. 23.1247 Ibidem.

CCCLXXII

Jeová"; Eduardo Perronet, que escreveu "Poder do nome de Jesus";

Thomas Olivers, que escreveu "Ao Deus de Abrahão louvai", etc.

William Morgan influenciou os líderes do Clube Santo para a

necessidade do exercício da solidariedade e os levou ajudar aos

presos, crianças, idosos, pobres.1248 Ele foi o grande incentivador do

trabalho beneficente da Igreja e despertou Wesley para a visita às

prisões.

No Ministério da Palavra, Thomas Maxfield, John Nelson, James

Wheatley, Thomas Walsh, Cennick1249 também se destacaram, alem

uma infinidade de outros ministros.

Várias mulheres se destacaram no ensino, obras sociais e na

pregação. 1250

“Todo trabalho de Deus chamado metodista erauma dispensação extraordinária da providência deDeus.”1251

Ainda outras mulheres se destacaram no Ministério de Ensino

(Ana Ball) e nas obras sociais (condessa Lady Hungtingdon).

“A senhorita Ana Ball, de High Wycombe, éconsiderada a fundadora da primeira Escola DominicalMetodista, no sentido exato do termo. Organizada noano de 1769, a sua Escola Dominical funcionou pormuitos anos.”1252

1248 Ibidem, p.40.1249 Ibidem, p.114.1250 Ibidem, p.247-8.1251 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 248.1252 REILY, Duncan Alexander. Metodismo brasileiro e wesleyano, Ibidem, p.159-0.

CCCLXXIII

Na liderança do movimento metodista, Thomas Coke, o primeiro

Bispo nomeado por Wesley, e Francis Asbury (1745-1816), tiveram

destacada atuação na América.1253

Obras Consultadas

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1253 HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.287.

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