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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇAO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO JEFERSON DA SILVA FERNANDES ANÁLISE DAS PRÁTICAS SOCIAIS DA IGREJA COMUNIDADE EVANGÉLICA DE MARINGÁ, À LUZ DA PRÁXIS RELIGIOSA. São Bernardo do Campo Agosto de 2010

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇAO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

JEFERSON DA SILVA FERNANDES

ANÁLISE DAS PRÁTICAS SOCIAIS DA IGREJA COMUNIDADE

EVANGÉLICA DE MARINGÁ, À LUZ DA

PRÁXIS RELIGIOSA.

São Bernardo do Campo

Agosto de 2010

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JEFERSON DA SILVA FERNANDES

ANÁLISE DAS PRÁTICAS SOCIAIS DA IGREJA COMUNIDADE

EVANGÉLICA DE MARINGÁ, À LUZ DA

PRÁXIS RELIGIOSA.

Dissertação apresentada em cumprimento à

exigência do Programa de Pós-Graduação em

Ciências da Religião da Universidade Metodista

de São Paulo, para obtenção do grau de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. James Reaves Farris

São Bernardo do Campo

Agosto de 2010.

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A dissertação de mestrado sob o título “Análise das Práticas Sociais da Igreja

Comunidade Evangélica de Maringá, à Luz da Práxis Religiosa,” elaborada

por Jeferson da Silva Fernandes foi apresentada e aprovada em 25 de

Outubro de 2010, perante banca examinadora composta pelos professores

Doutores James Reaves Farris (Presidente/UMESP), Geoval Jacinto da Silva

(Titular/UMESP) e Carlos Ribeiro Caldas Filho (Titular/Mackenzie).

__________________________________________ Prof. Dr. James Reaves Farris

Orientador e Presidente da Banca Examinadora

__________________________________________ Prof. Dr. Jung Mo Sung

Coordenador do Programa de Pós-Graduação

Programa: Pós-Graduação em Ciências da Religião.

Área de Concentração: Práxis Religiosa e Sociedade.

Linha de Pesquisa: Ação das Instituições e dos Movimentos Eclesiais na

Sociedade.

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Dedico esta Pesquisa a:

Maria Aparecida de Alcântara Silva, minha mãe-avó.

Zenilda da Silva Fernandes, minha mãe.

Anésio Fernandes, meu pai.

Jussara e meus filhos,

meus amores!

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AGRADECIMENTOS

A Deus que me trouxe e me sustentou até aqui.

As minhas irmãs: Angela, Alexandra e Diana.

Ao Rogério, irmão que Deus me deu.

Ao meu amigo Marcos, companheiro de inconformismo e indagações.

Ao meu orientador, Prof. Dr. James Reaves Farris que, pela paciência e

sabedoria, transformou minhas divagações em pesquisa Acadêmica.

Ao Prof. Dr. Geoval Jacinto da Silva a quem sou devedor, entre tantas outras

coisas, ao conhecimento sobre práxis e que, pela sua práxis de amor ao

próximo, me transformou em uma pessoa melhor.

Aos meus cunhados, Juliana e Marcelo, ao meu querido sobrinho Vitor e a

minha sogra especial, Dona Dora.

A Silvia Geruza Fernandes Gonçalves, que acreditou em mim, me tomou pela

mão e me ajudou a encontrar o caminho para a vida e também, para esse

mestrado.

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“Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras?

Porventura a fé pode salvá-lo? E, se o irmão ou a irmã estiverem nús, e tiverem

falta de mantimento quotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz,

aquentai-vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo,

que proveito virá daí? Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si

mesma. Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé

sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.

Tiago 2 : 14 - 18.

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FERNANDES, Jeferson da Silva. Análise das Práticas Sociais da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá, à luz da Práxis Religiosa. Dissertação. São Bernardo do Campo. Programa de Pós Graduação em Ciências da Religião – Universidade Metodista de São Paulo - 2010.

RESUMO A pesquisa analisa as práticas sociais da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá, localizada no Estado do Paraná, à luz da Práxis Religiosa. Esta Igreja tem se destacado por suas atividades sociais na cidade onde está sediada. Foi fundada em 1989, por Irene Ribarolli Pereira da Silva, ex-integrante da Igreja Metodista de Maringá. Após deixar a Igreja Metodista, foi ordenada pastora e acumulou também, a função de presidente da nova Igreja. Adotou o neopentecostalismo na formação da nova Igreja, com ênfase na batalha espiritual. São comedidos nos pedidos de dízimos e ofertas e, contrários a entrevista com demônios, devido à exposição dos fiéis que, são em sua sede, predominantemente oriundos da classe média. Ao contrário das igrejas neopentecostais que, privilegiam as multidões mas não prezam pelo contato individual com os fieis, está igreja, valoriza e facilita o contato dos membros com seus pastores e líderes. Para isso disponibiliza publicamente os ministérios da Igreja, com nome e telefone dos pastores e líderes, inclusive o telefone da presidente, para contato pelos fiéis. Em função das práticas sociais realizadas na cidade, no ano de 2003, criaram a Organização Reviver. Essa organização foi criada para expandir e melhorar as atividades da Igreja e, posteriormente foi declarada de utilidade pública, através de um projeto de lei, da Câmara de Vereadores da cidade. Ao analisar suas práticas sociais, serão confrontados as teorias e discursos desta igreja, com suas realizações, para avaliar se existe em seu meio, reflexão, diálogo, percepção da realidade e necessidade caracterizando Práxis, que visa transformação e libertação, ou se o que está por trás, destas atividades é somente um proselitismo disfarçado, ou mero assistencialismo, ou seja, apenas práticas, sem práxis. Palavras chave: práxis, práticas sociais, neopentecostalismo, Comunidade Evangélica de Maringá.

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FERNANDES, Jeferson da Silva. Analyze social practices of the Evangelical Community of Maringá, the light of Religious Praxis. Dissertation. São Bernardo do Campo. Dissertation. Graduation Program in Sciences of Religion – Methodist University of São Paulo - 2010.

ABSTRACT

The research analyze the social practices of the Evangelical Community of Maringá, located in the State of Paraná, in light of Religious Praxis. This Church has been hailed for its social activities in the city in which it was founded. The Church was founded in 1989, by Irene Ribarolli Pereira da Silva, a former member of the Methodist Church of Maringá. After leaving the Methodist Church, she was ordained as a pastor and given the function of the president of a new Church. She adopted Neopentecostelism in the formation of the new church, with special emphasis on spiritual warfare. The request for offerings and monthly contributions are moderate, and contrary to the interview of demons, due to the exposition of the faithful, primarily of the middle class. In contrast to Neopentecostal Churches that appeal to the masses, but offer little in terms of individual contact with the faithful, this church give value and facilitate contact with their members, their pastors, and leaders. Evidence of this is the availability of the names and telephones of pastors and leaders of various Ministries, including the telephone of the president, in order to maintain contact with the faithful. Organization Reviver, was created because of the social practices realized by the church in the city, in 2003.This organization was created to expand and improve the activities of the Church, and, afterwards, was declared useful to the public, via a law established by the City Council. The analysis of its social practices will be based on the theories and discourses of the church, as well as their realization, in order to evaluate the existence of dialogue, perception of the reality characterized by Praxis, that seeks transformation and liberation, or if what is behind these activities is only disguised proselytism, or simple social assistance, which would indicate only practice, without praxis. Key words: praxis, social practices, neopentecostalism, evangelical community of Maringá.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 11

Capítulo 1

1.1 A Cidade onde está situada a Igreja Comunidade Evangélica de Maringá, no Paraná.............................................................................................................. 18 1.2 A Criação e o Planejamento de Maringá pelos Ingleses........................................18 1.3 A Colonizadora Inglesa no Norte do Paraná..........................................................25 1.4 O Projeto, a Fundação e os Pioneiros de Maringá................................................ 29 1.5 A Origem do nome da cidade de Maringá............................................................. 32 1.6 Dados de Maringá em 2010: A cidade com a terceira maior população do Estado do Paraná.................................................................................................. 37

1.7 A Igreja Comunidade Evangélica de Maringá: ...................................................... 41 1.8 A Fundadora, sua História,Conversão e Formação............................................... 42 1.9 A Origem do Termo Comunidade nas Igrejas Evangélicas....................................45 1.10 A Fundação e a Expansão da Comunidade Evangélica de Maringá..................... 47 1.11 Do Pentecostalismo ao Neopentecostalismo.........................................................52

1.11.1 A Primeira Onda ou Pentecostalismo Clássico................................ 58 1.11.2 A Segunda Onda ou Deuteropentecostalismo ................................59 1.11.3 A Terceira Onda ou Neopentecostalismo........................................ 61

1.12 O Neopentecostalismo e a Liturgia da Comunidade Evangélica de Maringá....... 71 1.13 A Estrutura Administrativa da Igreja.......................................................................76

Capítulo 2

As Práticas da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá.................................. 78 2.1 As Práticas Sociais Internas e Externas da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá............................................................................................................ 78 2.2 Práticas por meio dos Ministérios ........................................................................ 80 2.3 Reunião de Células - Grupos Familiares.............................................................. 82 2.4 Práticas por meio do Atendimento Psicológico..................................................... 83 2.5 As Práticas às Família e aos Casais.....................................................................85 2.6 Práticas na Conscientização da Responsabilidade dos Pais................................87 2.7 Práticas no Ministério Infantil................................................................................ 88 2.8 Práticas no Ministério de Adolescentes................................................................ 89 2.9 Práticas no Ministério de Jovens.......................................................................... 90 2.10 Práticas no Ministério Homens e Mulheres de Negócios...................................... 91

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2.11 A Igreja inserida nos Bairros carentes da cidade..................................................... 2.12 A Igreja com uma Missão......................................................................................... 2.13 A Organização Reviver............................................................................................. 2.14 Programa de Orientação e Apoio às Famílias......................................................... 2.15 Cursos de Culinária e Artesanato............................................................................ 2.16 Oficina de Recreação............................................................................................... 2.17 Academia de Música................................................................................................ 2.18 Oficina de Danças.................................................................................................... 2.19 O reconhecimento de Utilidade Pública da Organização Reviver........................... 2.20 Os Projetos Futuros................................................................................................. Capítulo 3 Conceitos e Análises das Práticas Sociais da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá............................................................................................................... 3.1 A Pastoral, os conceitos e as críticas ao termo Ministério.................................... 3.2 A Contribuição da Educação,para a Transformação Social................................... 3.3 A Origem e o Conceito de Práxis na Grécia Antiga................................................ 3.4 O Conceito de Práxis em Marx............................................................................... 3.5 O Conceito e Diferenças entre Práxis e Prática em Vázquez............................... 3.6 O Conceito de Práxis em Floristan......................................................................... 3.6.1 Práxis como Ação Criadora e não Meramente Reiterativa........................................................ 3.6.2 Práxis como Ação Reflexiva e não Exclusivamente Espontânea... 3.6.3 Práxis como Ação Libertadora e de Modo Nenhum Alienante.................. 3.6.4 A Práxis como Ação Radical e não Meramente Reformista................. 3.7 Análise das Práticas Sociais da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá, à Luz da Práxis Religiosa....................................................................................... CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................... REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................... ANEXO A - Declaração de Utilidade Pública da Organização Reviver................................ ANEXO B - Depoimento da fundadora e Presidente da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá - Paraná...........................................................................................

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INTRODUÇÃO

Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras

diferentes, a questão é transformá-lo 1.

Ao mencionar uma frase de Karl Marx na introdução desta pesquisa, cujo alvo

são as práticas sociais de uma Igreja, o leitor pode inicialmente imaginar que,

por ser Karl Marx também autor da frase “a religião é o ópio do povo”, que

críticas severas estão por vir ao longo deste trabalho.

Contudo, o que se pretende com a pesquisa é compreender se as Práticas Sociais

da Comunidade Evangélica de Maringá promovem transformações, ou se tratam

apenas de práticas rotineiras; neste entendimento, é pertinente a citação acima. A

análise das práticas serão realizadas à luz da Práxis Religiosa.

Casiano Floristan define o termo Práxis como equivalente à ação ou à atividade e

afirma que, após Marx, a práxis se entende como prática social, como atividade

humana transformadora do mundo; a práxis é atividade conscientemente, dirigida a

um fim, é a renovação do sistema e emancipação pessoal. Não é mera prática,

repetição ou inalterabilidade.

A práxis é um ato do ser humano total, produzindo efeitos totais em todas as áreas

ao mesmo tempo. Porém, Floristan observa que uma práxis capaz de criar um

homem novo e de modificar a ação humana radicalmente em todas as áreas não

existe2. Ocorrem somente práxis parciais, com efeitos parciais.

1 MARX, Karl Heinrich; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã – Teses sobre Feuerbach. São

Paulo: Editora Moraes, 1984. p.111. 2 FLORISTAN, Casiano.Teologia Practica – Teoria y Praxis de La Accion Pastoral. Salamanca:

Edicines Sigueme, 1993. p.179.

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Santos Junior3, em concordância com Casiano Floristan, também menciona que o

aporte filosófico moderno sobre a práxis corresponde a Karl Marx, que as ideias

surgem da práxis material pela revolução econômica e social, pela transformação

na raiz. Para Marx, o critério da verdade é a práxis da pessoa humana.

A partir de Marx, a práxis passa a ser compreendida como prática social, atividade

humana transformadora do mundo, pois não existe possibilidade de emancipação e

supressão das desigualdades entre as classes sociais sem atitude práxis, porque

nem a teoria,nem a prática, nem a existência social podem libertar o ser humano.

O objetivo de estudar esse tema é compreender se por meio das práticas

sociais da igreja já citada, estão ocorrendo atividades e práxis que levam a

transformações libertadoras. Transformações que indivíduos carentes e a

própria sociedade anseiam e reconhecem como uma necessidade, em razão

dos inúmeros problemas sociais que ocorrem principalmente nas grandes

cidades de nosso país.

Não basta mero assistencialismo; as transformações são necessárias. Segun-

do Assmann & Sung4, quem entra em uma ação social, ou luta política, motivado

por uma experiência de ser interpelado pelo rosto do pobre ou das pessoas que

sofrem injustiças e dominações, sabe e sente dentro de si que não bastam boas

intenções. É preciso modificar a realidade que desumaniza e oprime o próximo e

resgatar a dignidade e o direito dessa pessoa.

Assmann & Sung afirmam que a espiritualidade cristã exige que se busquem

ações que sejam realistas, isto é, que não caiam no romantismo ou no idealismo

3 SANTOS JUNIOR, O.O. Itinerário para uma pastoral Urbana. São Bernardo do Campo: Editora

Metodista, 2008. p.96. 4 ASSMANN, H.; SUNG, J.M. Deus em Nós, O Reinado que Acontece no Amor Solidário aos

Pobres. São Paulo: Editora Paulus, 2010. p. 69.

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que nega a realidade “dura” da história, pois, sem realismo e eficácia, o amor

não produz frutos na sociedade5.

Os Objetivos específicos estão inseridos nos capítulos de forma a conhecer a

Igreja e suas práticas. A pesquisa foi dividida em três capítulos.

O Primeiro Capítulo retrata o contexto histórico e atual da cidade de Maringá e

da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá. Foi elaborado com a preocupação

de proporcionar parâmetros sobre o local em que a Igreja está inserida e as

características da cultura local6.

A história da cidade de Maringá, apesar de não ter sido relatada de forma

concisa, contribui com importantes informações sobre a formação da cidade e de

sua cultura. A região do norte do Paraná, incluindo Maringá, nasceu e se

desenvolveu devido ao trabalho e ao investimento de um elaborado projeto dos

ingleses.

Evidentemente, a filantropia não foi a motivação dos ingleses. Com a

colonização da região, queriam e conseguiram lucrar muito com a valorização

das terras e a exploração de madeira, entre outros. Ao conhecer a história de

Maringá, deparamo-nos com acontecimentos históricos desconhecidos da

grande maioria, como o fato de o Norte do Paraná ter pertencido ao Paraguai.

O capítulo também apresenta informações sobre como e por que os ingleses

influenciaram diretamente na ocupação do Norte do Estado do Paraná e

indiretamente na formação de Curitiba, além de curiosidades sobre o primeiro

governador do Paraná, um baiano, ex-conselheiro do Império.

5 ASSMANN, H.; SUNG, J.M. op.cit., p.70. 6 Características da cultura local nesse contexto significa o orgulho dos maringaenses pelo

sucesso e pela prosperidade da cidade.

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Fornece ainda informações sobre a importância econômica do café, responsável

por trazer para a região norte do Paraná diversos migrantes e imigrantes em

busca de riquezas e, por fim, mostra alguns dados econômicos atuais de

Maringá, que se tornou a terceira cidade mais importante do Paraná.

Na segunda parte desse primeiro capítulo, foram mencionados os fatos que

antecederam ao surgimento da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá, a

história da conversão da fundadora da Igreja, sua trajetória e as influências

externas.

Ainda que de forma sucinta, narra-se como e por que surgiu o termo

Comunidade, que inúmeras Igrejas Evangélicas adotaram, como parte do nome

de suas denominações. Após o conceito de Comunidade, são narrados como

ocorreu a fundação e a expansão da Comunidade Evangélica de Maringá.

Por se tratar de uma Igreja neopentecostal, foi necessário realizar uma

abordagem sobre esse fenômeno, seu surgimento e, consequentemente, sobre

o seu “antecessor”, o pentecostalismo, e como este chegou ao Brasil.

O pentecostalismo, no Brasil, foi dividido por Mendonça em duas fases7: a

primeira fase, ocorrida nos primeiros anos do século vinte, com o surgimento do

pentecostalismo clássico; e a segunda fase, na década de 1960, com o

surgimento do neopentecostalismo, da renovação carismática católica e das

agências de curas divinas.

Entretanto, Mariano8 menciona que, no Brasil, Paul Freston foi o primeiro a

dividir o movimento pentecostal em ondas, mais especificamente em três ondas.

Pelo fato de as Igrejas contidas na terceira onda, apresentarem diferenças

7 MENDONÇA, A. G.; FILHO, P.V. Introdução ao Protestantismo no Brasil. São Paulo: Edições

Loyola, 1990. p. 256. 8 MARIANO, R. Neopentecostais, Sociologia do Novo Pentecostalismo no Brasil. São Paulo:

Edições Loyola, 2005. Segunda Edição. p.28.

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significativas em relação às da segunda, a separação entre elas em três ondas,

segundo o autor parece ser correta e mais adequada9. Para essa pesquisa, foi

realizado o estudo em três ondas, conforme o trabalho de Paul Freston e

seguido posteriormente por Mariano, entre outros.

Ao final dessa parte, explanou-se como o neopentecostalismo é aplicado dentro

da Comunidade Evangélica de Maringá, sua liturgia e a sua estrutura

administrativa como Igreja.

No segundo capítulo estão relacionadas as Práticas Sociais internas e externas

da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá, especificada por meio das

práticas dos ministérios, das reuniões de células (grupos familiares), das práticas

por meio do atendimento psicológico, das práticas destinadas às famílias, aos

casais, aos filhos, das práticas para conscientização da responsabilidade dos

pais e das práticas no Ministério homens e mulheres de negócios.

Ainda nesse capítulo, foram mencionados os tópicos, as congregações desta

Igreja, inserida nos bairros carentes da cidade, a Igreja com uma Missão, e a

Organização Reviver, que foi criada por essa Igreja para ampliar e melhorar

suas atividades sociais, conforme declara.

No terceiro capítulo, foram abordados, em diálogo com alguns autores, o

significado de Pastoral, o conceito e críticas ao termo Ministério. Também foi

exaltada a importância e a contribuição da Educação para a transformação

social.

Para colaborar na análise da pesquisa, foram mencionados: a Origem e

Conceito de Práxis na Grécia Antiga; o Conceito de Práxis em Marx; o Conceito

e as diferenças entre Práxis e Práticas em Vázquez; o Conceito de Práxis em

Floristan; as características da Práxis; e, finalmente, a Análise das Práticas

Sociais da Comunidade Evangélica de Maringá, à Luz da Práxis Religiosa. 9 MARIANO, R. op.cit., p.29.

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Justifica-se o estudo da Comunidade Evangélica de Maringá, por meio das suas

práticas sociais, pelo intuito de obter conhecimento sobre essas atividades e

verificar se estão ocorrendo transformações, se há práxis ou assistencialismo,

ou ainda se, através dessas atividades, estão apenas acrescentando pessoas à

Igreja sem contribuições sociais. Trata-se de um fenômeno religioso, do qual há

a pretensão de se penetrar na busca de conhecimento e compreensão do

fenômeno. Não há nenhuma pesquisa realizada sobre essa Igreja.

Para o desenvolvimento da pesquisa, será utilizado o método do observador

participante e do método histórico.

Partindo do princípio de que as atuais formas de vida social, as instituições e os costumes têm origem no passado, é importante pesquisar suas raízes, para compreender sua natureza e função. Assim, o método histórico consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar sua influência na sociedade de hoje, pois as instituições alcançaram sua forma atual por meio de alterações de suas partes componentes, ao longo do tempo, influenciados pelo contexto cultural particular de cada época. Seu estudo, para uma melhor compreensão do papel que atualmente desempenham na sociedade, deve remontar aos períodos de sua formação e de suas modificações10.

Serão utilizadas as informações e os documentos da Igreja, como o depoimento

pessoal da fundadora, em que estão narrados a história da fundadora e da

Igreja, dos folhetos da Igreja e do site oficial da Igreja Comunidade Evangélica

de Maringá.

O pesquisador tem consciência da importância da neutralidade no trabalho a ser

realizado, principalmente pelo fato de ser integrante da Igreja a ser pesquisada,

o que lhe gera duas circunstâncias distintas. A primeira se refere à preocupação

contínua de não se deixar influenciar por sua formação religiosa; a segunda,

pela sua facilidade de transitar e penetrar nos diversos ministérios, sem

despertar em seus participantes desconfiança e mudanças de comportamento,

10 MARCONI, M.A.; LAKATOS, E.M. Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 2007. p.69.

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pela simples presença de um pesquisador “estranho”, o que certamente

contribuirá para uma apuração real dos fatos.

A fim de entender a história não escrita da Comunidade Evangélica de Maringá,

serão observados diversos cultos, realizadas conversas informais com o pastor

da Igreja Metodista, de onde a fundadora da Igreja estudada foi integrante,

conversas informais com a responsável pela Organização Reviver e com a

fundadora da Comunidade Evangélica de Maringá, para conhecer melhor os

fatos, desde sua conversão até a atualidade.

Casiano Floristan, através da Obra Teologia Práctica – Teoria y Práxis de La

Acción Pastoral11, será o principal referencial teórico para a sustentação do

conceito de práxis e para a análise das práticas sociais da Igreja Comunidade

Evangélica de Maringá.

O autor, além de conceituar o termo práxis, descreve o binômio teoria-práxis, a

consciência da práxis, e, a partir de certos apontamentos marxianos,

completados com outras correntes pragmáticas e existencialistas, descreve que

a práxis é uma mudança social e um compromisso militante, transformação de

estruturas e atitudes críticas, renovação do sistema social e emancipação da

pessoa. Ensina que a práxis não é mera prática, a saber, aceitação,

conformidade, repetição e inalterabilidade. Exorta que, ao contrário do que

muitos pensam, práxis não é sinônimo de prática.

Contudo, outros autores foram consultados e utilizados como referenciais

secundários, entre eles estão Ricardo Mariano, com Neopentecostais, e Geoval

Jacinto da Silva, com Abrindo Espaços para a Práxis da Missão de Deus.

Foram pesquisados ainda diversos autores, inclusive aqueles que narram a

história de Maringá e da região Norte do Paraná, além de Dissertações e Teses.

11 FLORISTAN, C. Teologia Practica, Teoria y Práxis de La Acción Pastoral. Salamanca:

Ediciones Sigueme, 1993.

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CAPÍTULO 1

1.1 A CIDADE ONDE ESTÁ SITUADA A IGREJA COMUNIDADE

EVANGÉLICA DE MARINGÁ, NO PARANÁ

Tendo em vista que o presente trabalho analisa as práticas sociais da Igreja

Comunidade Evangélica de Maringá, faz-se necessário conhecer o local em que

essa Igreja está inserida.

Para isso, visando a conhecer quais são as circunstâncias que influenciaram o

surgimento da cidade e algumas das características da cultura local, será narrada

a história da cidade, desde sua fundação até o presente momento.

1.2 A CRIAÇÃO E O PLANEJAMENTO DE MARINGÁ PELOS INGLESES

A cidade de Maringá está situada na região norte do Paraná. Até o ano de 1632,

essa região estava sob o domínio espanhol, por direito de conquista assegurado

pelo Tratado de Tordesilhas. A divisa do que pertencia a Portugal e à Espanha era

fixada pela denominação Linha Alexandrina ou meridiano de Tordesilhas12.

Entretanto, os paulistas, com o objetivo de encontrar ouro, pedras preciosas e

escravizar índios para os engenhos de açúcar, organizaram bandeiras e, partindo

de São Paulo, começaram a disputar essa região, hoje conhecida como o norte do

Paraná.

12 HILÁRIO, J. Maria do Ingá, Amargo sabor de Mel na Colonização do Paraná. Maringá: Gráfica

Ideal,1995. p.179.

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19

Em 1629, Raposo Tavares assumiu o comando da bandeira e derrotou os

espanhóis, com o extermínio dos índios guaranis, morte de jesuítas e a destruição

dos povoados espanhóis13.

A partir de 1632, com a retirada dos espanhóis, jesuítas e guaranis, o território do

norte do Paraná ficou completamente abandonado.

Mioni14 reforça essa situação ao mencionar que

“os bandeirantes asseguraram as fronteiras da Pátria. Expulsaram os espanhóis. A história se escreveu com sangue. Não fora os bandeirantes, isto tudo seria Paraguai”.

Segundo Hilário15, no período da colonização portuguesa, o território do atual

estado do Paraná fez parte da Capitania de Santo Amaro, que se estendia até a

região de Santana, em Santa Catarina, que, a partir de 1676, passou a se chamar

Laguna, que significa lagoa em espanhol.

Laguna serviu como ponto de apoio para o desbravamento da região sul brasileira.

Mas essa região, incluindo o litoral do Paraná, foi diversas vezes saqueada por

piratas ingleses.

Sem condições para resistir à superioridade dos piratas ingleses e cansados dos

sucessivos ataques, grande parte dos moradores da região do litoral, juntamente

com novos lusitanos que chegavam, procurou novos caminhos que os levassem

para além da serra do mar, o que resultaria em ficar a salvo da ação dos piratas

ingleses, que insistiam em continuar roubando, saqueando e incendiando as

povoações beira-mar.

13 HILÁRIO, J. op. cit., p.185. 14 BRANCO, G.M. F. Londrina no seu Jubileu de Prata.Documentário Histórico. Londrina:

Realizações Brasileiras,1959. p.21. 15 HILÁRIO, J.op. cit., p.109.

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20

Com esse objetivo, em 1654, uma expedição que partiu de Cananéia, chega ao

começo dos Campos Gerais, região do Paraná que os padres jesuítas,

procedentes das colônias espanholas, já haviam colonizado, onde se fundou a

cidade de Curitiba16·. Esses jesuítas foram posteriormente expulsos do Brasil.

Do povoamento de Curitiba, os colonos embarcavam o excedente de suas

produções para a cidade de Paranaguá, para comercialização. Somente no ano de

1723, finalmente o território do Paraná foi promovido à categoria de comarca,

sendo denominada como Comarca de Paranaguá. Porém, continuaria até o ano de

1853 subordinada a São Paulo. A partir dessa data, foi definitivamente emancipada

e elevada à categoria de Província do Paraná. O primeiro presidente da província

do Paraná foi um baiano que, anteriormente ao cargo de presidente da província,

foi conselheiro do império.

Hilário17 narra que, em 1865, o Brasil já devia muito dinheiro à Inglaterra, que

impunha, pelo poder de sua força militar, suas condições ao Brasil. Foi coagido

pela Inglaterra que D.Pedro II foi obrigado a declarar guerra contra os paraguaios.

Mesmo assim, após a guerra, a Inglaterra continuou a aprisionar navios brasileiros

em águas do Brasil e a desrespeitar a frágil soberania de um país novo e sem

forças bélicas, econômicas ou políticas.

Influenciados pelo que foi contado pelos piratas que saquearam o litoral do Brasil,

os ingleses foram informados, conforme narra Hilário, de que na região conhecida

como norte do Paraná havia um lugar misterioso, um lugar de ouro e pedras

preciosas, e de que as nativas, dóceis e gentis, aguçavam a sensualidade18. Desta

forma, em 1872, desembarcam, pela primeira vez, os ingleses no norte do Paraná.

16 HILÁRIO, J.op. cit., p.117. 17 Ibid.,p.227. 18 Ibid.,p.257.

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Os ingleses tinham problemas na área da diplomacia, em função do histórico de

imposições britânica ao país. Por isso, a Inglaterra convidou o rei da Suécia para

essa investida. Assim, junto com os ingleses desembarcou o sueco Cristiam Palm,

chefiando um grupo de agrimensores que tinham a missão de fazer levantamentos

topográficos, pesquisar minérios e florestas, com um objetivo pré-determinado.

Esse objetivo era projetar a construção de uma ferrovia transcontinental, cortando

ao meio o continente sul-americano e ligando o Atlântico ao Pacífico, como fórmula

para a Inglaterra, vender futuramente, trilhos, locomotivas, vagões e demais

artefatos produzidos pelas indústrias britânicas, que já os possuíam estocados e

sem compradores para a demanda.

Cristiam Palm morreu de malária no Rio de Janeiro, mas a missão prosseguiu. A

expedição era contratada pela Paraná and Mato Grosso Surray Expedition. Entre

os membros da expedição estava o engenheiro inglês Thomas Plantagenet Bigg-

Wither, que lançou em seu retorno à Inglaterra um livro sobre as aventuras no

Brasil, às quais denominou como “um passeio ao desconhecido reino das

maravilhas”19:

“... davam notícias das potencialidades agrícolas das terras, a

exploração da madeira com derrubada da portentosa mata Atlântica,

os registros geológicos, evidenciando riquezas no seu solo. Os

recursos inexplorados do Paraná acusavam a presença em grandes

veios de ouro, do diamante e outros cobiçados minerais enriqueciam

os relatórios e cadernetas de campo daqueles homens.” 20

Essa obra informou os ingleses sobre o Paraná e motivou-os a colonizar a região.

Era o ano de 1875. Em 15 de Novembro de 1889, com a proclamação da

República, o Paraná tornou-se um dos Estados do Brasil.

19 Ibid., p.259. 20 CORRÊA JUNIOR., J. A. O Trem de Ferro. Maringá: Editora 5 de Abril Ltda, 1991. p. 23.

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O café teve uma importante participação na economia brasileira no século XIX, e o

país tornou-se o principal exportador da bebida a partir de 1840. Entretanto, foram

os ingleses que conseguiram se destacar e obter considerável lucro com a

distribuição da bebida.

Com o fim da escravatura no Brasil, muitos imigrantes chegaram ao país para

trabalhar nas plantações de café. Alguns produtores, buscando solo fértil para a

plantação do café, encontraram no norte do Paraná o local ideal. Segundo Reis21,

fazendeiros mineiros e paulistas, com o intuito de desbravar novas terras para o

plantio, vieram para o norte do Paraná.

Entre os produtores que vieram para o norte do Paraná, estava o major Antonio

Barbosa Ferraz Junior, que era agricultor em Ribeirão Preto. Ele e os outros

proprietários locais, como conta Hilário22, tiveram muita dificuldade em transportar o

café colhido no Paraná para as regiões onde seria comercializado. Por isso,

formaram a Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná. O engenheiro responsável

pela construção foi Gastão de Mesquita Filho. O percurso seria entre Ourinhos-SP

e Cambará - PR.

Segundo Andrade23, a implantação das estradas de ferro foi um dos fatores mais

importantes para o desbravamento do norte do Paraná. Milhares de pessoas foram

atraídas para a região em busca de riquezas.

Citando uma publicação da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná,24 Hilário

comenta a versão oficial divulgada como explicação pela vinda dos ingleses ao

Brasil. Nesse período de início de colonização no norte do Paraná:

21 REIS, O.R. A História em Conta-Gotas. Maringá: Gráfica Primavera, 2004. p.17. 22 HILÁRIO, J. op. cit., p.208. 23 ANDRADE, A. Maringá, Ontem, Hoje e Amanhã. Maringá: Rumo Gráfica,1979. p.47. 24 Essa Companhia substituiu a anterior, fundada pelos ingleses.

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“... o governo do Brasil convidou a Inglaterra para conhecer sua situação agrícola e participar de investimentos dessa natureza, evento que, irrelevante em sua aparência, foi o fator principal de expansão do Paraná...”25

A vinda dos ingleses ficou conhecida como Missão Montagu, cujo líder da missão

inglesa foi Simon Joseph Fraser, o Lord Lovat, que havia sido secretário de Estado

para as Índias e secretário financeiro do tesouro da Grã-Bretanha. Seus

assessores foram Sir Charles Addis, diretor do Banco da Inglaterra e presidente do

Hong-Kong and Shangai Banking, e Sir Hartley Withers, conde de Londres.

A Missão Montagu, comandada por Lord Lovat, era aguardada pelas autoridades

brasileiras com esperança de receber recursos financeiros para incrementar a

economia interna e restabelecer a ordem nas finanças.26 Entretanto, Hilário revela

que o que ocorreu foi justamente o contrário: os banqueiros ingleses estavam

preocupados com a inadimplência brasileira e a ruinosa administração das finanças

no Brasil, pois um novo empréstimo de vinte e cinco milhões de libras havia sido

solicitado pelo presidente brasileiro Arthur Bernardes. Como não bastasse, os juros

e as amortizações junto ao grupo financeiro inglês N.M.Rothschild & Sons estava

atrasado. A dívida brasileira, portanto, não era exatamente com o governo

britânico.27

Gonçalves28 discorda da versão oficial, de convite do governo brasileiro, citando

Joffily: “... a Missão Montagu escondia, dentre outras motivações, um bem urdido plano de apropriação das excelentes terras do norte paranaense. A viagem teria sido uma imposição, e não o resultado de um convite. Os ingleses já conheciam o potencial daquelas terras...” 29

25 HILÁRIO, J. op. cit., p.209. 26 Ibid., p.262 e 263.

27 Ibid., p.263. 28 GONÇALVES, J.H.R.; DIAS, R.B. (Org.) Maringá e o Norte do Paraná. Maringá: UEM,

Imprensa Oficial do Paraná, 2000. p.97. 29 Ibid., p.97.

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Segundo Joffily, o grupo financeiro inglês N.M.Rothschild & Sons, desde 1919,

tinha interesse no norte do Paraná e, em 1922, encomendou uma expedição

precursora na região. A política econômica inglesa da época apressava a

liquidação de créditos no exterior e a busca de novos recursos em suas áreas de

influência imperialista. O objetivo era jamais levar divisas para fora da Inglaterra e,

sim, carreá-las para a ilha de onde estivessem.30

Conforme Andrade, Lord Lovat, chefe da Missão Montagu, ao visitar o norte do

Paraná, foi informado por Gastão de Mesquita Filho de que na cidade de Cambará-

Pr, houve um loteamento de glebas que foram vendidas a 50mil réis o lote de meio

quarteirão. Quando ocorreu a notícia da aproximação da estrada de ferro, os

preços dessas datas subiram e, em um ano, atingiram o valor de 50 contos de réis,

uma valorização de mil por cento, enquanto que, na Inglaterra, os bons negócios se

faziam na base de cinco por cento ao ano.31

Gastão de Mesquita Filho informou ao Lord Lovat que o governo do Paraná

venderia as terras do norte do Paraná por preços irrisórios e que, se fosse

realizado o prolongamento da estrada de ferro, da qual ele era o engenheiro

responsável, os ingleses teriam garantia para a exportação de madeiras e dos

produtos agrícolas para a Inglaterra, através do porto de Santos, e ainda teriam o

lucro exorbitante da valorização das terras, após a construção da ferrovia.

A falta de via de acessos e principalmente de condições para o escoamento da

produção agrícola contribuía para que o governo do Paraná determinasse o preço

das terras por lei por preços muito baixos, cerca de 20 mil réis por alqueire paulista

de 24.200 metros quadrados, conforme relata Andrade32.

30 JOFFILY, J. Londres-Londrina. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1985. p.49. 31 ANDRADE, A. op.cit., 47.

32 Ibid., p.51.

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Lord Lovat ficou convencido de que estava diante de uma excelente oportunidade

de lucros para os ingleses. Assim, o próximo passo foi criar uma companhia, uma

empresa para legalizar os futuros negócios que seriam feitos no norte do Paraná.

1.3 A COLONIZADORA INGLESA NO NORTE DO PARANÁ

De posse das valiosas informações sobre os possíveis novos investimentos, Lord

Lovat retornou à Inglaterra com o objetivo de prestar contas sobre sua vinda ao

Brasil e, imediatamente, deu início, com o aval dos demais investidores ingleses, à

criação de uma empresa para administrar os novos negócios no Brasil.

Assim nasceu, na Inglaterra, a empresa Brazil Plantations Syndicate Ltd, e a

subsidiária brasileira foi organizada pelo inglês Arthur Miller Tomas, com o nome

de Companhia de Terras do Norte do Paraná, em 24 de setembro de 1925.

Ao elaborarem o plano de colonização do norte do Paraná, que incluía a compra

das terras, as construções de estradas de ferro e de rodagem, os investidores

perceberam que seria necessário aumentar o capital da empresa, que era de

200.000 libras esterlinas. A matriz em Londres passou a ter um capital de 750.000

libras esterlinas e passou a se chamar Paraná Plantations Ltda.

A Companhia adquiriu do governo do Paraná, entre 1925 e 1927, 515 mil alqueires

de terra. Há informação de que 450.000 alqueires custaram 8.712 contos de réis,

em 1925.

De posse dos documentos fornecidos pelo governo do Paraná sobre as terras, a

Companhia dos ingleses fixou seu campo de ação em uma área situada entre os

rios Paranapanema, Tibagi e Ivaí. Entretanto, os ingleses se depararam com a

presença em alguns locais de pequenos agricultores, os quais haviam sido

outorgados pelo próprio governo do Paraná, além de alguns posseiros de terra.

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26

A solução para o impasse foi recomprar novamente essas áreas. Porém, Hilário

menciona que se teve notícias de violência praticada contra posseiros, índios e

caboclos que viviam naquela região.33

“O que se sabe, é que a companhia Norte do Paraná, como também outras companhias de colonizadoras, possuíam uma guarda particular, bem como se utilizavam de jagunços, também chamados de limpa-trilhos, ou quebra-milho, para remover e sanear as terras compradas...” 34

Por outro lado, segundo Andrade, havia rigor nas metas e no trabalho dos

dirigentes da Companhia Norte do Paraná. Na derrubada das matas, preservavam

uma parte para proteção das pessoas e preservação do meio ambiente. As

queimadas também eram controladas, para não enfraquecer o solo e comprometer

os investimentos nas terras.

Conforme relata Andrade, em relação aos núcleos populacionais, a Companhia

Norte do Paraná projetou que as cidades seriam formadas a uma distância

aproximada de 100 quilômetros uma das outras, na seguinte ordem: Londrina,

Maringá, Cianorte e Umuarama. Cidades planejadas para serem grandes

metrópoles.35

Entre uma cidade e outra, determinaram a criação de pequenas vilas, que seriam

uma espécie de centro abastecedor intermediário da região. Projetaram ainda que,

próximo às áreas urbanas, seriam destinadas áreas para a formação de chácaras,

com o intuito de suprir as necessidades alimentícias da população local, em

especial a produtos hortifrutigranjeiros.

33 HILÁRIO, J. op.cit., p. 281. 34 GONÇALVES, J.H.R.; DIAS, R.B., op. cit., p.73. 35 HILÁRIO, J. op. cit., p.299.

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Nas áreas rurais, as estradas foram planejadas para serem abertas para

possibilitar que a terra fosse dividida em pequenos lotes de 10,15 ou 20 alqueires,

com frente para a estrada principal ou secundária, e fundo para o ribeirão.

O café era o produto mais rentável na época e deveria ser plantado na proporção

de 1.500 pés por alqueire, sempre na parte alta do terreno. Na parte mais baixa,

deveria ser construída a casa do agricultor. Este poderia cultivar uma horta e criar

animais para o seu sustento e vender o excedente. Assim, o dinheiro das vendas

ficaria na própria região, gerando riquezas e sendo a mola propulsora do progresso

e do desenvolvimento.

Com esse propósito, as casas eram construídas próximas umas das outras,

aproximando as famílias, evitando o isolamento e criando consciência

comunitária36.

Em 1928, a Companhia de Terras Norte do Paraná, por meio da intermediação do

engenheiro Gastão de Mesquita filho, realizou a aquisição da Companhia

ferroviária São Paulo-Paraná.

Em Agosto de 1929, a Companhia de Terras Norte do Paraná inicía o

desbravamento das áreas adquiridas e parte em direção a um povoado já

existente, conhecido na época, como Patrimônio Três Bocas37.

Conforme informa Hilário, em 1930, o Patrimônio Três Bocas é alterado para

Patrimônio Londrina, e, em 3 de dezembro de 1934, foi decretado oficialmente

como município de Londrina, cujo nome significa filha de Londres.

Porém, com o início da segunda guerra, muitas empresas inglesas foram vendidas,

como forma de amenizar os gastos inseridos na guerra. Em 1942, Gastão de

36 ANDRADE, A. op.cit., p.47. 37 HILÁRIO, J. op. cit., p.282.

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Mesquita Filho é informado sobre a situação e, juntamente com Gastão Vidigal,

fundador do banco Mercantil de São Paulo e um dos maiores financistas do país,

adquirem a Companhia.

A Companhia inglesa já havia lucrado com a venda de terras e a exportação de

madeira, mas, ainda assim, venderam a Companhia de Terras Norte do Paraná e a

companhia Ferroviária por 1.520.000 libras esterlinas. O seu capital inicial foi de

750.000 libras esterlinas.

Como a estrada de ferro era de concessão do Governo Federal, o presidente

Getúlio Vargas concordou com a transação, desde que a ferrovia, que agora se

estendia da cidade de Ourinhos, Estado de São Paulo, a Apucarana, no Paraná,

fosse adquirida pelo Governo Federal por 88.000 contos de réis.

Porém, os ingleses queriam 128.000 contos de réis pela ferrovia. Essa

circunstância forçou os novos donos da Companhia a arcarem com a diferença de

40.000 contos de réis. Naquela época, a estrada de ferro era rentosa; em 1944,

seu balanço contabilizou lucro de 52.000 contos de réis38.

Em 1950, Herman Moraes Barros assumiu o cargo de diretor-gerente. Os novos

donos da Companhia alteraram, em 1951, o nome da empresa para Companhia

Melhoramentos Norte do Paraná. As atividades da Companhia foram diversificadas

e, além da colonização, atuaram na pecuária, na agricultura e principalmente no

setor industrial.

A Companhia Melhoramentos Norte do Paraná fundou 63 cidades e patrimônios,

vendeu lotes e chácaras para 41.741 compradores de áreas, entre cinco e trinta

alqueires, e aproximadamente 70.000 datas urbanas, com tamanho médio de 500

metros quadrados, e colonizou uma área correspondente a 546.078 alqueires.39

38 ANDRADE, A. op. cit., p.47. 39 Ibid., p.47.

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29

Com as diretrizes do plano inglês, as cidades fundadas obedeceram a um plano

urbanístico previamente estabelecido.

1.4 O PROJETO, A FUNDAÇÃO E O PIONEIROS DE MARINGÁ

Após a fundação de Londrina, a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná

continuou a comercializar suas terras em lotes pequenos, que variavam entre

cinco, dez ou quinze alqueires cada um, todos servidos por estradas e recursos de

água.

Novas estradas foram abertas, chegando à primitiva povoação conhecida como

Vila Macuco ou Vila Pinquim40, onde posteriormente foi fundada a cidade de

Maringá. Conforme descreve Hilário, a Companhia Melhoramentos Norte do

Paraná, chegou onde hoje é a cidade de Maringá, em 1945. Já havia alguns

poucos moradores na vila41, estes primeiros habitantes chegaram entre 1933 a

1944.

Segundo declara Reis, o povoamento da área compreendida pelo município de

Maringá iniciou-se aproximadamente em 1938, porém foi a partir da década de

1940, que começaram a ser erguidas as primeiras construções urbanas42.

Relata Hilário que a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná condicionava os

compradores de terras na cidade à obrigação de construírem casas, pois a grande

maioria dos compradores residiam em outras cidades, e a Companhia não queria

correr o risco de que estes compradores pudessem revender as terras, visando

40 HILÁRIO, J. op. cit., p.84.

41 Ibid., p.303. 42 REIS, O. op. cit., p.18.

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apenas ao lucro, por isso obrigavam a construção43. Dias & Gonçalves, informa que

o prazo para a construção das casas era de um ano após a aquisição.44

Duque Estrada45 também relata esse fato, ao mencionar a existência de uma

cláusula no contrato de venda, nos perímetros urbanos, no qual o adquirente era

obrigado a construir em determinado prazo. Assim, em razão da cláusula

contratual, as casas foram surgindo. A maior parte foi construída de madeira e

ficava fechada por falta de moradores, por esse motivo, entre 1947 e 1948,

Maringá era chamada de cidade fantasma.

Hilário enfatiza a situação, relatando em detalhes as centenas de casas fechadas,

com avenidas ostentando tocos enormes e raízes de árvores mal queimadas, ruas

sem iluminação à noite, cheias de lama e buracos.

Apesar disso, todas as cidades fundadas pela Companhia Melhoramentos Norte do

Paraná obedeciam a um plano urbanístico previamente estabelecido.

Andrade afirma que a cidade de Maringá foi projetada por Jorge de Macedo Vieira,

um engenheiro civil paulista. Em São Paulo, o engenheiro já havia colaborado com

os projetos e as construções dos bairros do Pacaembu, Alto da Lapa e Jardim

América46. Esse engenheiro havia sido contratado para trabalhar por uma empresa

de urbanismo em São Paulo. Depois desse período, resolveu dedicar-se à

urbanização e projetou e construiu os bairros de Vila Maria, Vila Formosa, Parque

da Mooca e Jardim Japão, entre outros. No Rio de Janeiro, projetou e construiu o

Jardim Guanabara, na Ilha do Governador. Também projetou e construiu obras no

interior do Estado de São Paulo e no interior do Rio de Janeiro. Em razão do

sucesso dos trabalhos realizados, a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná o

contratou para realizar o projeto de construção das cidades de Maringá e Cianorte.

43 Ibid., p.313. 44 GONÇALVES, J.H.R., op. cit., p.139. 45 ESTRADA, J.F.D. op. cit., p.13.

46 ANDRADE, A. op. cit., p.22.

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Segundo Reis, o planejamento da cidade de Maringá determinava que as praças,

avenidas e ruas fossem demarcadas, predominando o verde nativo, conjugando

com a organização do uso do solo. A principal característica do planejamento da

cidade foi projetar uma avenida que atravessasse a cidade de um extremo a outro,

que seria denominada como Avenida Brasil e teria 7.450 m de extensão.

A demarcação dos bairros foi cuidadosamente desenhada e denominada como

zona. Cada zona significaria um bairro. Desta forma, foi projetada uma zona

residencial destinada às classes elevadas, zona residencial destinada às classes

populares, zona comercial, zona industrial, centro cívico, aeroporto, núcleos

sociais, áreas verdes, parques, etc.47

Cada zona recebeu um número. Assim a zona 01 foi destinada para o comércio, as

edificações do Centro Cívico e de outros serviços, tais como Prefeitura, Fórum,

Câmara Municipal, Agência de Correios, Central de Telefone, Estação Rodoviária e

Ferroviária.

Segundo Reis, o engenheiro urbanista Jorge de Macedo Vieira foi contratado pela

Companhia Melhoramentos Norte do Paraná quatro anos antes da fundação da

cidade, mas nunca esteve em Maringá.48

Em 10 de maio de 1947, a cidade foi oficialmente fundada. Andrade afirma que o

café foi, naquele período, o produto agrícola que propiciou a arrancada histórica de

Maringá. O café era mais do que suficiente para garantir a balança de pagamento

do Brasil.

As condições de solo e clima contribuíram de forma decisiva para o enorme surto

da lavoura cafeeira, que expandira no norte do Paraná.49 Enquanto que a produção

47 REIS, O. op. cit., p.13. 48 Ibid., p.39. 49 ANDRADE, A. op. cit., p.66.

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mundial no período de 1930-1940 foi de 33 milhões de sacas anuais, 22,9 milhões

eram produzidos no país.

Com o intuito de desbravar novas terras para o plantio do café, fazendeiros

paulistas e mineiros foram os primeiros a chegar ao povoado. A mão-de-obra era

realizada geralmente pelos nordestinos.50

Conforme Reis, além dos paulistas e mineiros, também foram responsáveis pela

colonização da cidade os japoneses, italianos, portugueses, alemães, libaneses e

os nordestinos, entre outros, em menor quantidade.

A cidade tem orgulho de seus desbravadores. Em Maringá, a história do pioneiro-

desbravador é contada elevando-os quase a heróis.51

Foi criado pela prefeitura local um projeto denominado Projeto Memória, e instituiu-

se por lei a outorga do título de Pioneiro, que representa um título de honra e

reconhecimento, como homenagem aos primeiros moradores que chegaram no

início do surgimento da cidade de Maringá.52

1.5 A ORIGEM DO NOME DA CIDADE DE MARINGÁ

Ao deixar de ser vila, o novo povoado precisava de um nome.

A escolha dos nomes dos povoados, riachos, córregos e ribeirões, naquela época,

ficava a cargo do departamento de topografia da Companhia Melhoramentos Norte

do Paraná.

50 HILÁRIO, J. op. cit., p.319. 51 GONÇALVES, J.H.R. op. cit., p.356. 52 Ibid., p.430.

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Frequentemente, os patrimônios recebiam o nome da aguada mais próxima53, pela

utilização do dicionário guarani, além do uso dos nomes de santos, marca de

cigarros, times de futebol, nome de namoradas e esposas dos agrimensores.

No povoado onde foi fundada Maringá, a escolha do nome foi criteriosa e não

obedeceu a essa lógica exercida pelo departamento de topografia da Companhia.

Aproveitando o sucesso de uma música daquela época, a cidade foi batizada com

o nome dessa canção – Maringá.

O nome da música, além de batizar o nome da cidade, conferiu-lhe propaganda

gratuita, o que lhe concedeu popularidade instantânea, ajudando a alcançar os

objetivos da Companhia.

Joubert de Carvalho foi o compositor da música. Segundo Andrade, o compositor

era médico por formação e desejava ser nomeado médico do Instituto dos

Marítimos, no Rio de Janeiro. Para isso, solicitou a ajuda do então ministro da

Viação, José Américo, de quem era amigo.

Entretanto, antes de solicitar o pedido, Joubert de Carvalho procurou o oficial de

gabinete de José Américo, que era, na ocasião, Rui Carneiro. O chefe de gabinete

sugeriu ao compositor que fizesse uma música, narrando a triste realidade daquele

momento: a seca no nordeste. Devido à seca, muitos nordestinos migraram para

outras regiões e o ministro José Américo estava fazendo vários açudes na região,

para amenizar a seca.

O pedido era pertinente na lógica de Rui Carneiro, afinal Joubert de Carvalho era

desconhecido como médico, mas famoso como compositor. Segundo Reis, em

1921, a música “5 de Janeiro” tornou o compositor conhecido pela música feita por

ele, em homenagem ao renomado cientista Oswaldo Cruz.

53 HILÁRIO, J. op. cit., p. 300.

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Entre outros sucessos, Reis destaca a música “Príncipe”, que ficou conhecida

internacionalmente interpretada pela cantora francesa Rasiani. Carmem Miranda

interpretou a musica “Taí”54. Ao longo de sua carreira musical, Joubert de Carvalho

compôs mais de quinhentas canções.

Andrade acrescenta que as músicas de Joubert de Carvalho foram interpretadas

por cantores famosos da época, como Francisco Alves, Silvio Caldas e Elizinha

Coelho, entre tantos outros.55

Se, por um lado, o pedido para fazer uma música por Rui Carneiro, chefe do

Gabinete do Ministro, era uma espécie de condição para conseguir o emprego

desejado por Joubert de Carvalho, por outro lado, pela capacidade do compositor,

tratava-se de um pedido fácil.

Conta Andrade que Joubert de Carvalho começou a compor a música

imediatamente, na frente do Chefe do Gabinete. Para escrever a letra da música,

perguntou ao Rui Carneiro onde o ministro havia nascido e recebeu como resposta

que fora era uma cidade chamada Areias. Descartando o nome da cidade, por ser

difícil para a rima da nova música, perguntou onde o Rui Carneiro havia nascido;

recebeu como resposta a cidade de Pombal.

Joubert de Carvalho, para acrescentar informações à música, também perguntou o

nome das cidades onde a seca estava assolando os moradores do nordeste. Entre

as cidades mencionadas por Rui Carneiro, escolheu Ingá, uma cidade que está

situada a 87 Km de distância de João Pessoa, na Paraíba.

Para personificar na música, uma pessoa que se ausentava da sua terra,

simbolizando os milhares de nordestinos que migravam para as diversas regiões,

criou para a música uma personagem com o nome de Maria, por se tratar de nome

comum e de fácil identificação.

54 REIS, O. op. cit., p. 24. 55 ANDRADE, A. op. cit., p.28.

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Essa Maria, personagem inventada pelo compositor portanto, nunca existiu, e foi

retratada na canção como uma ex-moradora da cidade de Ingá, sendo mencionada

na música como Maria da cidade de Ingá.

O compositor, assim, cantarolando sua criação, alterou “Maria da cidade de Ingá”

para, “Maria do Ingá”. Assim, Joubert de Carvalho percebeu que a contração das

duas palavras soava melhor, ouvia-se ao, invés de Maria do Ingá, uma nova

palavra - Maringá.

Nasceu assim, na sala do Gabinete de Rui Carneiro, a música Maringá56. A canção

foi um sucesso nacional, e Joubert de Carvalho foi nomeado médico do Instituto

dos Marítimos, como havia solicitado.

A música chamada Maringá também agradou de forma generalizada os migrantes

e nordestinos que trabalhavam no povoado, que cantarolavam a canção em uma

identificação total com a letra.

Segundo Hilário, a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná era gerenciada

pelo inglês Arthur Hugh Miller Thomas, conhecido na época como Mister Thomas57,

casado com Elizabeth Thomas. Ela, ao ouvir os trabalhadores nordestinos

cantarem a música repetidamente, sugeriu, em homenagem aos trabalhadores

nordestinos, que o nome da nova cidade fosse Maringá58. A sugestão dela foi

recebida com aprovação total, dada a inteligência da escolha, pois a música já

divulgada projetaria a cidade nacionalmente. Seria propaganda gratuita.

56 Ibid., p.63. 57 REIS, O. op. cit., p. 22. 58 HILÁRIO, J. op. cit., p.307 e 308.

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Com a aprovação do compositor, o nome da música foi escolhido como nome da

cidade de Maringá. Eis sua letra :

Foi numa leva

Que a cabocla Maringá

Ficou sendo a retirante

Que mais dava o que falá.

E junto dela

Veio alguém que suplicou

Prá que nunca se esquecesse

De um caboclo que ficou.

Estribilho

Maringá, Maringá,

Depois que tu partiste,

Tudo aqui ficou tão triste,

Que eu garrei a maginá:

Maringá, Maringá,

Para havê felicidade,

É preciso que a saudade

Vá batê noutro lugá.

Maringá, Maringá,

Volta aqui pro meu sertão

Pra de novo o coração

De um caboclo assossegá.

Antigamente

Uma alegria sem igual

Dominava aquela gente

Da cidade de Pombal.

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Mas veio a seca

Toda chuva foi-se embora

Só restando então as água

Dos meus óio quando chora59.

Pelo fato de o nome da cidade de Maringá ter surgido de uma música, a cidade

ficou conhecida, posteriormente, também como cidade canção.

O compositor Joubert de Carvalho visitou Maringá e foi homenageado com o nome

de uma Rua e com um Busto. Também foi embaixador de Maringá no Rio de

Janeiro.60

1.6 DADOS DE MARINGÁ EM 2010: A CIDADE COM A TERCEIRA MAIOR POPULAÇÃO DO ESTADO DO PARANÁ O café foi indubitavelmente fundamental para a criação e expansão da cidade de

Maringá. Entretanto a lavoura cafeeira, que era o sustentáculo da economia de

Maringá e de todo o Norte do Paraná, enfrentou uma reviravolta e começou a

definhar a partir de 1953.

O confisco do café estocado para a queima, pelo Governo Federal, provocou a

falência financeira de muitos agricultores. A temperatura baixa em demasia,

conhecida como geada, nos anos de 1955, 1958, 1962, 1963, 1969 e 1972,

provocaram sensível diminuição na produção. Mas foi a geada de 1975, particular-

mente, crucial para a lavoura e para seus agricultores.61 Dessa geada não restou

nada; ocorreu a perda total das lavouras do Paraná. Os agricultores foram, por

força das circunstâncias, obrigados a diversificar seus negócios. Com essa

59 Ibid., p.94. 60 ANDRADE, A. op. cit., p.29. 61 HILÁRIO, J. op. cit., p.310.

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necessidade, iniciaram o plantio de soja, trigo, pastagens para o gado e a criação

do bicho-da-seda, entre outras.62

Entretanto, os empregados dos sítios e das fazendas foram, de forma gradativa,

sendo substituídos por tratores, colheitadeiras e demais máquinas agrícolas,

utilizadas nas novas plantações.

Ocorreu um êxodo do homem do campo para a cidade. Segundo Hilário, Maringá

recebeu uma verdadeira multidão de ex-trabalhadores rurais à procura de moradia,

serviço e alimentação.

Ao contrário do café, que concentrava o homem na zona rural, as máquinas

agrícolas levaram à diminuição da necessidade de mão-de-obra, obrigando a

maioria dos trabalhadores rurais a procurarem oportunidades na cidade.

Dias & Gonçalves relatam que o antigo trabalhador rural, ao ser trocado pelas

máquinas, engrossou as reservas de trabalho urbano e, de forma gradual,

começou a colocar em risco o planejamento elaborado para a cidade.

A migração campo-cidade e a suposta desqualificação dos egressos do campo

para o trabalho urbano favoreceram o aparecimento de favelas. Nesse período

formaram-se algumas favelas na cidade, começaram a ocorrer também

contravenções de pequeno porte, o aumento do suicídio e do número de casos de

alcoolismo, entre outras práticas63 que somente anos mais tarde, a administração

pública conseguiu erradicar.

A partir de 1980, contando com a ajuda da tecnologia que avançava a passos

largos, a indústria ganhou força em Maringá, destacando-se a indústria de

confecções. Posteriormente, Maringá também se destacou, na produção, comer-

cialização e exportação de equipamentos odontológicos, carretas, caçambas,

62 Ibid., p.310. 63 GONÇALVES, J.H.R. op. cit., p.325.

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tanques para caminhões, cadeiras de fibra de vidro para estádios e ginásios

desportivos, tecidos e fibras têxteis, barcos de pesca, couro, equipamentos de

segurança, calçados, carnes, laticínios e frutas entre tantas outras.

Conforme informações do IBGE64, no ano 2000, havia: 47 agências bancárias na

cidade; população estimada para o ano de 2009 de 335.511 pessoas; salário médio

mensal de 2,6 salários mínimos; onze partidos políticos; PIB per capita de R$

18.914,00, a taxa de crescimento geométrico de 2,08 %; a taxa de analfabetismo

de 15 anos ou mais de 5,4 %, e taxa de pobreza (2) IBGE/IPARDES de 8,74 %.65

ÁREA SOCIAL

INFORMAÇÃO FONTE DATA ESTATÍSTICA População Censitária – Total IBGE 2000 288.653 habitantes População - Contagem (1) IBGE 2007 325.968 habitantes População – Estimada IBGE 2009 335.511 habitantes Pessoas em Situação de Pobreza (2) IBGE/IPARDES 2000 26.453 Famílias em Situação de Pobreza (2) IBGE/IPARDES 2000 7.775 Número de Domicílios - Total IBGE 2000 96.645 Matrículas na Creche SEED 2008 5.390 alunos Matrículas na Pré-escola SEED 2008 6.033 alunos Matrículas no Ensino Fundamental SEED 2008 45.676 alunos Matrículas no Ensino Médio SEED 2008 15.198 alunos Matrículas no Ensino Superior MEC/INEP 2008 28.173 alunos Fonte: IBGE/IPARDES

O número de pessoas apuradas em situação de pobreza 66 pelo IBGE/IPARDES do

ano 2000 foi 26.453, e famílias em situação de pobreza, segundo o IBGE/IPARDES

do ano 2000, foram 7.775 . 64 Site acessado em 04.05.2010 http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 65 Fonte:IPARDES - Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social, acessado em

04.05.2010, tp://www.ipardes.gov.br/perfil_municipal/MontaPerfil.php?Municipio=87000&btOk=ok 66 Pessoas em situação de pobreza é a população calculada em função da renda familiar per

capita de até 1/2 salário mínimo. Os dados referentes à situação de pobreza são provenientes

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ECONOMIA

INFORMAÇÃO FONTE DATA ESTATÍSTICA População Economicamente Ativa IBGE 2000 151.652 Pessoas População Ocupada IBGE 2000 133.566 Pessoas Número de Estabelecimentos – RAIS MTE 2008 13.709 Número de Empregos – RAIS MTE 2008 120.415 Produção de Soja IBGE 2008 64.625 Toneladas Produção de Milho IBGE 2008 75.534 Toneladas Produção de Trigo IBGE 2008 7.250 Toneladas Bovinos IBGE 2008 6.403 Cabeças Eqüinos IBGE 2008 768 Cabeças Galináceos IBGE 2008 273.836 Cabeças Ovinos IBGE 2008 2.196 Cabeças Suínos IBGE 2008 20.590 Cabeças Receitas Municipais Prefeitura 2008 507.245.236,96 R$ 1,00

Despesas Municipais Prefeitura 2008 487.179.045,31 R$ 1,00

ICMS por Município de Origem do Contribuinte SEFA 2009 285.250.402,87 R$ 1,00

Fonte: IBGE/IPARDES

Planejada para alcançar 200.000 habitantes em 50 anos, Maringá foi implantada

como um grande empreendimento econômico e, atualmente, é a terceira cidade

mais populosa do Estado do Paraná, com 335.511 habitantes. Londrina ocupa a

segunda posição, com 510.707 habitantes.

A cidade de Londrina, como o próprio nome sugere, também foi criada pelos

ingleses em 1932. Curitiba é a Capital do Estado do Paraná e a cidade mais

populosa do Estado, com 1.851.215 habitantes. Entre as cidades mais prósperas

dos micro dados do Censo Demográfico (IBGE) e das Tabulações especiais feitas pelo

IPARDES.

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do Paraná, Maringá é sexta mais rica e a 65ª cidade mais rica do país, segundo

informação veiculada pelo jornal paranaense Gazeta do Povo, no dia 3/5/2010.67

Em Maringá há um aeroporto, onde operam cinco companhias aéreas: Azul Linhas

Aéreas, Gol Linhas Aéreas, Pantanal Linhas Aéreas, Trip Linhas Aéreas e Sol

Linhas Aéreas. Conta também com rodoviária e transporte ferroviário, além do

porto seco, pois Maringá está na rota do Mercosul.

1.7 A IGREJA COMUNIDADE EVANGÉLICA DE MARINGÁ A sede da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá está estabelecida no bairro

denominado como Zona 02, na Avenida Itororó, 449. Em Maringá, há outras cinco

Igrejas desta denominação. Em sua sede, a maioria de seus integrantes pertencem

à classe média.

Com exceção da sede, as outras cinco Igrejas, são denominadas pela Comunidade

Evangélica de Maringá como Congregações e estão situadas nos bairros Alvorada,

João de Barro/Santa Felicidade, Los Angeles, Oásis e Zona 05. Há também uma

sexta Igreja, estabelecida na cidade de Paiçandu, localizada aproximadamente a

dezessete quilômetros de Maringá. Ao todo, somam-se sete Igrejas.

Em Maringá, o trabalho social desenvolvido por meio da Organização Reviver foi

reconhecido e declarado como de Utilidade Pública. No país, a Igreja começa a ser

conhecida pelo sucesso e alcance de suas músicas. Essa Igreja já lançou quatro

CDs e dois DVDs.

A empresa Som livre lançou um CD com uma coletânea de músicas evangélicas

interpretadas por cantores como, Aline Barros, André Valadão, Irmão Lázaro, Régis

67 Consulta realizada no dia 4.5.2010, pelo endereço eletrônico:

http://www.gazetadopovo.com.br/economia/conteudo.phtml?tl=1&id=955548&tit=Nove-cidades-

paranaenses-estao-entre-as-100-mais-ricas-do-Brasil.

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Danese, Robson Monteiro. A Igreja Comunidade Evangélica de Maringá participa

desse CD com a música “Descansarei”.

Uma particularidade da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá é a sua

fundação por uma mulher, a pastora Irene Ribarolli Pereira da Silva – Presidente da

Comunidade Evangélica de Maringá e da Organização Reviver, que continua a

presidir a denominação.

1.8 A FUNDADORA, SUA HISTÓRIA, CONVERSÃO E FORMAÇÃO

A conversão da fundadora da Comunidade Evangélica de Maringá, Irene Ribarolli

Pereira da Silva, ao evangelho ocorreu pela dor emocional provocada pelo

falecimento de pessoas de sua família.

Casada com Waltermino Pereira da Silva, falecido em 2007, é mãe de Waltermino

Pereira da Silva Júnior, Cibele Ribarolli Pereira Montosa, Juliana Ribarolli Pereira

da Silva Zanoni e Carolina Ribarolli Pereira da Silva Casado.

A fundadora é Mestre em Letras e Professora aposentada da Universidade

Estadual de Maringá. Pastora desde novembro de 1989, é a líder da Igreja

Comunidade Evangélica, da Organização Reviver e líder do Ministério de Batalha

Espiritual.

A fundadora, anteriormente a sua conversão, não convivia com problemas

conjugais ou familiares, desfrutava de boa saúde e sempre teve uma situação

financeira privilegiada; entretanto, sua vida desmoronou de forma repentina, após

uma tragédia familiar.68

68 Conforme Documento da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá, intitulado: Depoimento

Pessoal, sobre os principais fatos da minha conversão e fundação da Comunidade Evangélica

de Maringá. O Depoimento é da fundadora, Pastora Irene Ribarolli Pereira da Silva. Esse

documento não está datado, há uma cópia em anexo a essa pesquisa .

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Vítimas de um acidente de trânsito, seis pessoas de sua família morreram. Sua

irmã, o marido da irmã e os seus quatro sobrinhos, filhos do casal. Com o

falecimento dos seus familiares, com quem tinha profundos laços de amor e

convivência diária, sua vida perdeu as referências e o sentido.

O sentimento de perda dos seus familiares e as dificuldades emocionais para

aceitar a tragédia provocaram uma dor emocional maior do que poderia suportar.

Naquela ocasião, muitas pessoas se esforçaram para lhe dar amparo e consolo,

mas foram as evangélicas, segundo relata, que continuaram a lhe edificar.

Entre tais pessoas esavam sua sogra Cenita, conhecida na época como Irmã

Cenita, e o pastor Messias da Igreja Presbiteriana Independente da cidade de

Londrina-Paraná, que também é seu cunhado.Segundo relata, o convívo amoroso

e a oração constante a levaram à conversão.

Naquela época, foram realizadas muitas orações na sua casa. Em uma dessas

orações, com a presença de uma amiga evangélica, ela teve sua primeira

experiência sobrenatural, com visões espirituais, proporcionada por Deus. Em

menos de três meses, ela afirma ter recebido o novo nascimento, convertendo-se

assim, ao evangelho de Jesus, recebendo também a vontade de viver, a

esperança, o consolo e o batismo no Espírito Santo.

O Batismo no Espírito Santo ocorreu antes de ela receber o batismo pelas águas.

Foi novamente em sua casa que ela teve uma segunda experiência sobrenatural

com Deus e, dessa vez, recebeu também o dom de falar em outras línguas,

fenômeno religioso conhecido como glossolalia.

A partir de então, ela deixa suas funções de professora universitária para se

dedicar à família e a Deus. Nesse mesmo período, seu marido também se

converteu e se batizou na Igreja Presbiteriana Independente de Maringá, mas ela

não.

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Ela percebeu que a liberdade no fluir dos dons do Espírito Santo não se adequava

ao estilo de culto da Igreja Presbiteriana Independente da época. Após

conhecerem o pastor Wanderley Nunes da Costa, da Igreja Metodista de Maringá,

ela e o marido decidiram ser membros dessa Igreja, onde permaneceram por

aproximadamente dez anos.

Segundo informa, a influência do ministério plural, aberto ao mover do Espírito

Santo, foi muito boa e agregou valores a sua formação espiritual, que retribuiu com

alguns trabalhos na Igreja, principalmente ajudando no evangelismo de casa em

casa e no atendimento telefônico, para oração e aconselhamento. Conforme relata,

naquela época, houve um grande avivamento na Igreja Metodista.

Após aquele período aproximado de dez anos, ocorreu a transferência do pastor

local da Metodista. O novo pastor não concordou com as manifestações dos dons

espirituais, mas ela e seu marido tinham convicção do legítimo agir do Espírito

Santo sobre suas vidas. Como o passar do tempo, ela e seu esposo começaram a

se sentir deslocados dentro da Igreja, porque criou-se uma tensão, gerada pela

posição do novo pastor. Sem solução para o impasse, isso lamentavelmente

terminou com a sua saída da Igreja Metodista, o que não era o que desejavam,

conforme afirma.

Decorridos dois meses, mudaram para a cidade de Londrina, onde congregaram na

Igreja Metodista Central, com o pastor Luiz Wesley de Souza, e trabalharam com

os casais dessa Igreja. Após permanecerem por três anos em Londrina, retornam a

Maringá, após o convite de uma senhora pentecostal, para fundar uma Igreja para

ser uma alternativa de Igreja Evangélica, no bairro da Zona 05, em Maringá.

Começaram a se reunir para orar e louvar a Deus. Toda semana, conforme

afirmam, aumentava o número de pessoas nessas reuniões, o que os levou a

procurar um pastor para conduzir o grupo. Porém, a vinda desse pastor trouxe

nova decepção e precisaram se retirar do grupo.

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Contudo, conforme afirma, com o desejo de cumprir o propósito de Deus, e do que

acreditavam ser o ideal como Igreja Evangélica, buscaram informações sobre o

trabalho de outras Comunidades Evangélicas. Visitaram até a Argentina, onde, na

época, havia um grande avivamento espiritual.

Nesse novo início, foram influenciados pelo Bispo Robson Rodovalho, na época

presidente da Comunidade Evangélica de Goiânia, atualmente Comunidade

Evangélica Sara Nossa Terra. Do contato com o Bispo Rodovalho, ocorreram

influências importantes. Houve a consagração, pelo mesmo pastor, da pastora, do

casal Irene e Waltermino, do filho do casal, da nora e da sogra Cenita.

Também ocorreram, além do nome da nova denominação, Comunidade Evangélica

de Maringá, a introdução do discipulado, de ministérios de cura da alma e batalha

espiritual, entre outras.

Durante mais de dez anos, ocorreram influências também dos pastores Miguel

Piper e Thomas Wikings, da Comunidade Cristã de Curitiba, por meio da escola de

líderes, chamada Siloé.

1.9 A ORIGEM DO TERMO COMUNIDADE NAS IGREJAS EVANGÉLICAS O número de Igrejas Evangélicas que se utilizam do termo Comunidade é

significativo. Segundo informação de um dos pastores da Comunidade Evangélica

Sara Nossa Terra, o início da utilização do termo ocorreu com o Bispo Rodovalho.69

E, segundo apurado na Comunidade Evangélica de Maringá, o nome dessa Igreja

foi, de fato, influência desse.

O termo Comunidade buscava reformular o pensamento evangélico do final da

década de 1980 e início da década de 1990. A Comunidade Evangélica Sara a

Nossa Terra afirmava, naquela época, que a Igreja Evangélica no Brasil estava

69 O Bispo Rodovalho é o líder e fundador da Comunidade Evangélica Sara a Nossa Terra.

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pregando apenas a volta de Cristo. Concluíram que a volta de Cristo só aconteceria

após o evangelho ser pregado a toda criatura. Dessa forma, o raciocínio foi que,

sendo assim, Cristo não iria voltar tão rápido como se pensava e pregava até então

e, neste sentido, era preciso viver o que definiram como o evangelho do reino.

Essa reformulação coincide com a terceira onda, ou neopentecostalismo, como

prefere Mariano, que começa na segunda metade dos anos 1970, cresce e se

fortalece no decorrer das décadas de 1980 e 1990.

Então, começaram a pregar o evangelho do reino, cujo enfoque passava pelos

cinco ministérios que a Igreja Evangélica havia deixado de pregar, em função da

iminente volta de Cristo. Reformularam também a forma de louvar, introduzindo

instrumentos e ritmos diversos, novas estratégias na evangelização, na forma de

adorar e na realização dos cultos, que se tornaram menos formais e passaram a

contar com a participação do que, na época, denominou-se sacerdócio leigo. Esse

sacerdócio afirmava que cada cristão é um sacerdote, e a Igreja, nas casas,

propiciava o exercício dos dons de seus integrantes.

Os cinco ministérios estavam fundamentados no livro de Efésios 4:11:

E ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros como evangelistas, e outros como pastores e mestres.

E uma outra frente apontava para as mudanças em relação ao nome das

denominações. Para isso, fundamentaram-se em Atos dos Apóstolos 2:44:

Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum.

Desse versículo bíblico, buscaram realçar a força da Igreja primitiva, em que as

pessoas viviam em comunhão e unidade de propósitos. O termo agradou e

diversas Igrejas Evangélicas adotaram o termo Comunidade como parte do nome

da denominação.

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Foi o que aconteceu também com a Igreja Comunidade Evangélica de Maringá. O

mesmo aconteceu em várias Igrejas em diversas cidades do país70·. Entretanto,

nem todas adotaram a palavra Evangélica após o termo Comunidade.

1.10 A FUNDAÇÃO E A EXPANSÃO DA IGREJA COMUNIDADE EVANGÉLICA DE MARINGÁ

Após a conversão de Irene Ribarolli Pereira da Silva e do marido dela, eles

frequentaram a Igreja Metodista de Maringá, onde atuaram ativamente em alguns

ministérios da Igreja. Porém, o novo pastor da Igreja Metodista de Maringá não

concordou com o pentecostalismo que lhe foi apresentado, e as divergências foram

inevitáveis. Irene e seu marido tinham convicção sobre o legítimo agir do Espírito

Santo sobre eles e, após ficarem deslocados, dentro da Igreja Metodista, devido à

tensão gerada e, sem nenhuma solução para o impasse, culminou na cisão não

desejada pelo casal Irene e Waltermino.

Após o desligamento da Igreja Metodista em Maringá, mudaram-se para a cidade

de Londrina e, durante três anos, permaneceram na Igreja Metodista Central

daquela cidade.

Após esses três anos em Londrina, o casal o aceitou o convite de uma irmã

pentecostal para fundar uma Igreja Evangélica no bairro da zona 5, em Maringá

70 Comunidade Evangélica Internacional Zona Sul, Comunidade Evangélica Luterana Bom Pas-

tor,Comunidade Evangélica Fé e Esperança,Comunidade Evangélica Luterana Concordia,

Comunidade Evangélica Cristo Vive, Comunidade Evangélica Araçatuba, Comunidade Evangé-

lica de Porto Alegre, Comunidade Evangélica de Cascavel, Comunidade Evangélica Leão de Ju-

dá, Comunidade Evangélica de Campinas, Comunidade Evangélica Vida Eterna, Comunidade

Evangélica Atos, Comunidade Evangélica Luterana Santíssima Trindade, Comunidade

Evangélica Entre as nações, Comunidade Evangélica Gênesis, Comunidade Evangélica Igreja

da Família, Comunidade Evangélica Kairós, Comunidade Evangélica de Maceió, Comunidade

Evangélica Restauração em Cristo, Comunidade Paz e Vida entre outras.

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onde não havia templo Evangélico. Declaram que escolheram um local para orar,

louvar ao Senhor, e algumas pessoas começaram a se reunir com eles.

Tratava-se de um local provisório, era um barracão de alvenaria, nos fundos de

uma residência, anteriormente usado pela irmã Cenita, no bairro da zona 2, até que

a irmã Sebastiana Bento dos Santos terminasse a construção do templo na zona 5.

Toda semana, aumentava o número de pessoas participantes nas reuniões. Como

nem a Irene, nem seu marido eram pastores, acharam melhor procurar um pastor

para conduzir esse grupo e iniciar uma vida cristã, com amor, com comunhão,

transparência e próximo do modelo da Igreja primitiva, segundo informam. O

salário desse pastor era pago pelo marido da irmã Irene, pois era impossível para

as pessoas que ali se reuniam arcar todo mês com o salário dele.

Mas, novamente, sofreram outra decepção com um pastor. Já eram aproximada-

mente umas 250 pessoas que se reuniam toda semana quando, finalmente, o

templo na zona 5 ficou pronto. Contudo, o pastor recusou, de forma arbitrária, a se

mudar para o novo local e decidiu que, tanto as pessoas que estava pastoreando,

como as decisões seriam de acordo apenas com sua exclusiva vontade.

O pastor voltara atrás com o que havia sido o objetivo, de se viver em uma Igreja

próxima aos padrões da Igreja primitiva, uma comunidade, ou seja, tudo em

comum.

Surpresos e decepcionados com a atitude desse pastor, concluíram que expor as

atitudes do pastor, ou criar uma disputa pelas pessoas não era saudável,

principalmente aos novos convertidos. A Irmã Cenita já havia saído da II Igreja

Presbiteriana Independente de Maringá, onde, por anos congregara como

evangelista e fazia parte, agora, desse novo grupo.

O referido pastor os liberou para irem embora do grupo. Refletiram e decidiram por

não expor os novos convertidos que se reuniam ali aos acontecimentos e,

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novamente partiram, o pastor ficou com as pessoas que lá se reuniam. Foram onze

as pessoas, incluindo a Irmã Cenita, que partiram desse grupo.

Assim, após mais um período de tempo, e já consagrada como pastora pelo Bispo

Robson Rodovalho, já tendo conhecido outras denominações e Comunidades

Evangélicas e considerando ter recebido orientação divina para fundar uma nova

Igreja, nos últimos dias de novembro de 198971, com apenas onze pessoas, a

fundadora Irene inicia oficialmente a Igreja Comunidade Evangélica de Maringá.

Naquela época, foi o primeiro templo Evangélico entre os bairros denominados

como bairros das zonas 05 e 06, da cidade de Maringá.

O imóvel onde a Igreja foi estabelecida não era próprio. Foi concedido em

comodato vitalício por uma pessoa conhecida como Irmã Sebastiana, que era

integrante da Igreja Cristo Jesus Independente, nos seus oito primeiros anos de

existência.

O senhor Alcides Parizotto, cunhado da Pastora Irene e de outras pessoas de sua

família, juntamente com seu marido, já consagrado Pastor, Waltermino Pereira da

Silva, e a Irmã Sebastiana, doaram o valor para a compra do terreno no bairro da

zona 05, as mesmas pessoas doaram também o som e as cadeiras.

Naquela época, o local em que a Igreja estava estabelecida era considerado aos

maringaenses como um bairro distante. Entretanto as pessoas saiam dos mais

diferentes bairros de Maringá e se deslocavam para a Igreja, mesmo sendo

considerado um local muito longe.

O louvor da nova Igreja agradou e passou, desde então, a exercer uma forte

influência nas pessoas evangélicas da cidade, principalmente entre os jovens.

Utilizando ritmos e instrumentos variados, e com o cuidado na escolha das letras

71 Conforme informação do site da Comunidade Evangélica de Maringá, acessado em

07.05.2010, http://www.comunidade.org.br/index.php.

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das músicas, por acreditar que, além de conduzir o ouvinte à adoração, deveriam

também abordar o sofrimento e as dificuldades do dia-a-dia e, ao final trazer

consolo, esperança e sentido, diante da comunhão do membro com a Igreja e com

Deus.

Segundo essa Igreja, até o presente momento, a música executada na Igreja

continua a exercer grande influência dentro e fora da Igreja Comunidade

Evangélica de Maringá. A pretensão da Igreja é divulgar, por meio da música, os

ensinamentos de Deus.

Atualmente, o louvor é uma das mais conhecidas facetas da Comunidade, na

cidade e fora da cidade. Segundo suas declarações, a equipe pastoral e seus

lideres por meio do louvor, da oração, da Palavra, comunhão e do labor, acreditam

que trabalham para o reino de Deus.

Atestam que os Ministérios de Grupos Familiares (Células), de Crianças e de

Intercessão fizeram parte do começo da história dessa Igreja e sustentaram,

juntamente com o Ministério de Evangelismo e de Misericórdia, o futuro

crescimento da Comunidade.72

Com o crescimento de seus membros, o local que a Igreja ocupava se tornou

pequeno e, novamente por meio da família Parizotto, a Igreja recebeu a doação de

um novo templo maior e em lugar bem mais confortável.

Inauguraram o templo sede, localizado na Avenida Itororó, 449, em um dos bairros

mais valorizados da cidade. Posteriormente, inauguraram-se outras cinco

congregações, nos diferentes bairros da cidade de Maringá e ainda outra

congregação, na cidade de Paiçandu.

72 Conforme informação do site da Comunidade Evangélica de Maringá, acessado em

07.05.2010, http://www.comunidade.org.br/index.php.

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A Igreja passou, então, a contar, a partir dessa nova etapa da inauguração da

sede, com novos ministérios, como o de Batalha Espiritual e os Ministérios de

Casais e Discipulado. Acredita que estes novos ministérios proporcionaram à Igreja

um crescimento mais saudável e um pastoreamento mais eficaz.

Segundo informações obtidas por meio do site da Igreja Comunidade Evangélica

de Maringá, desde o início de sua fundação, a Igreja manteve um compromisso

com o próximo, mais especificamente com aqueles que se encontram vulneráveis

socialmente e sem condições de viver com dignidade.

Com ações assistenciais voltadas à caridade, a Comunidade Evangélica de

Maringá se empenhou em promover doações de alimentos, roupas, calçados e

brinquedos. Afirma que, paralelamente, ministravam palestras sobre família, vida

espiritual, educação, saúde e higiene.

Sentindo necessidade de separar as ações de caridade, das demais ações sociais

voltadas à promoção, à inclusão social e à capacitação para geração de renda, em

2003, a Pastora Irene fundou a Organização Reviver, braço social da Comunidade

Evangélica de Maringá.

Todas essas ações passaram a ser direcionadas às crianças, aos adolescentes e

às famílias em situação de vulnerabilidade e risco social.

Atualmente a Igreja Comunidade Evangélica de Maringá conta aproximadamente

com 2.500 membros. Por ser uma Igreja neopentecostal, faz-se necessário um

breve relato do que é e como surgiu esse fenômeno.

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1.11 DO PENTECOSTALISMO AO NEOPENTECOSTALISMO

Segundo Mariano,73 a expansão do pentecostalismo é um fenômeno de amplitude

mundial e vêm crescendo de forma considerável em várias sociedades em

desenvolvimento, como o sul do Pacífico, da África e do leste e sudeste da Ásia.

Entretanto, no Brasil, o crescimento do pentecostalismo foi muito mais além do que

o verificado nessas outras regiões. O Brasil se destaca como o maior país

protestante da América Latina,com aproximadamente 50 milhões de evangélicos. 74

Mariano esclarece que a palavra evangélica, na América Latina, é utilizada para as

denominações cristãs nascidas ou descendentes da Reforma Protestante europeia

do século XVI. Portanto, a palavra evangélica é empregada tanto para as Igrejas

Protestantes históricas, as quais cabem mencionar as Igrejas Luterana,

Presbiteriana, Congregacional, Anglicana, Metodista e Batista, como as Igrejas

Pentecostais, entre as quais a Assembleia de Deus, a Congregação Cristã no

Brasil, A Igreja do Evangelho Quadrangular, O Brasil para Cristo, Deus é Amor e

Casa da Benção, entre outras.

Passos75 define o pentecostalismo como um segmento do cristianismo que adota

uma interpretação e uma prática marcadas pelo que consideram ser uma

experiência do Espírito Santo, iniciada pelo batismo no Espírito Santo e confirmada

pelos dons das línguas, a glossolalia, e das curas divinas. A sua característica

principal é a centralidade na experiência emocional, com culto de louvor

efervescente, a tendência à leitura literal dos textos bíblicos e a prática do

exorcismo.

73 MARIANO, R. Neopentecostais, Sociologia do Novo Pentecostalismo no Brasil. São Paulo:

Edições Loyola, 2005, 2ª Edição. p. 9. 74 Mariano utiliza esses números em sua Obra de 2005, cujos dados foram obtidos de Martin

(1990:60). 75 PASSOS, J.D. Pentecostais, Origens e Começo. São Paulo: Editora Paulinas, 2005, p.14.

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Ricardo Mariano, por sua vez, descreve o pentecostalismo como surgido nos

Estados Unidos, no começo do século vinte, sendo herdeiro e descendente do

metodismo wesleyano e do movimento holiness.76

Para Mendonça77, do ponto de vista teológico, o pentecostalismo moderno tem sua

origem nesse movimento de santidade, sendo que este, por sua vez, deve muito ao

conceito wesleyano de perfeição cristã como segunda obra da graça, distinta da

justificação.

O foco mais preciso do movimento pentecostal foi a escola Bíblica de Topeka, nos

EUA, onde Charles Fox Pahram defendia a ideia de que o falar em línguas,

conforme dado pelo dom do Espírito Santo, era um dos sinais que acompanhavam

o batismo no Espírito Santo.

Romeiro78 informa que William Joseph Seymour, filho de ex-escravos, aprendeu

por si mesmo a ler e a escrever, tornou-se pregador e foi aluno de Pahram.

Pela simpatia que nutria pela Ku Klux Klan79, Pahram proibiu William Joseph

Seymour de frequentar a mesma sala de aula sobre seus ensinamentos a respeito

do batismo do Espírito Santo, com pessoas cuja cor de pele eram brancas, mas

permitiu que Seymour ouvisse do lado de fora da sala.

76 Segundo Passos, trata-se de um grupo norte-americano denominado santidade, do início do

século XX, p.18. 77 MENDONÇA, A.G.; FILHO, P.V. Introdução ao Protestantismo no Brasil. São Paulo: Edições

Loyola, 1990.p. 47. 78 ROMEIRO, P. R. Esperanças e Decepções: Uma análise da Prática Pastoral do

Neopentecostalismo na Igreja Internacional da Graça de Deus, sob a Perspectiva da Práxis

Religiosa, Tese, 2004, p.45. 79 Ku Klux Klan (também conhecida como KKK) era o nome de várias organizações racistas dos

Estados Unidos que apoiavam a supremacia branca e o protestantismo, em detrimento das

demais religiões.

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O pregador Willian J. Seymour, discípulo de Pahram, após ser expulso da Igreja da

evangelista Nelly Terry, em Los Angeles, por pregar a mesma ideia de Pahram,

começou a promover reuniões de casa em casa e, no dia 6 de Abril de 1906, um

menino de oito anos falou em línguas, seguido de outras pessoas. Iniciava-se pelo

menos formalmente, o movimento pentecostal.

Após assistir aos ensinamentos de Pahram e entendê-los, Seymour alugou em Los

Angeles um antigo templo metodista na Rua Azuza – 312. Nesse local, começaram

os fenômenos que atraíram muitas pessoas. As experiências eram sempre

acompa- nhadas de manifestações de línguas, profecias, orações em voz alta e ao

mesmo tempo cânticos espirituais.

Apesar do contexto social extremamente hostil à raça negra, William Joseph

Seymour viveu o que compreendia ser pentecoste, que era mais do que falar em

línguas, significava amar, a despeito do ódio. Enfrentou o racismo e o ódio de uma

nação, mas demonstrou que o Pentecoste era algo muito maior e diferente do es-

tilo de vida americano de sucesso.

Esse pastor batista80 acreditava que um novo pentecostes iria unir negros e

brancos, em uma época em que, nos EUA, havia forte preconceito e discriminação

racial. Os negros deviam ceder seus lugares nos ônibus aos brancos e havia até

bebedouros de água diferenciados para os negros não usarem o mesmo dos

brancos.

Entretanto, as pressões foram tantas que, nos EUA, surgiram Igrejas pentecostais

negras e brancas. Mas, ainda assim, isso não impediu o movimento de se espalhar

de Los Angeles, chegando a Chicago e de lá para diversas partes do mundo.

Também no Brasil, Chicago exerceu grande importância na exportação do

fenômeno. De lá, três pregadores vieram para o nosso país: Louis Francescon,

80 SELIVON, M. O Discurso da Igreja Renascer em Cristo. Dissertação, 2004. p.45.

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fundador da Congregação Cristã, Daniel Berg e Gunnar Vingren, fundadores da

Assembléia de Deus.

Mendonça considera como sendo três as vertentes do pentecostalismo brasileiro,

partindo do núcleo comum de Chicago: a Batista, a Presbiteriana e a Metodista.81

O pentecostalismo desconstrói as devoções santorais tradicionais. Passos declara

que, na base do discurso inoclasta pentecostal, que renega o poder da imagem do

santo, estão uma iconoclastia histórica, a perda da função social do santo e a

busca de um novo sagrado, vivo e eficaz. Por esse motivo, os pentecostais

afirmam a exclusividade de Jesus e de seu poder que, segundo Passos, cumpre a

mesma função dos santos católicos, pois ele é o mediador entre Deus e os

homens, capaz de resolver todos os problemas da metrópole, assim como

interpretá-los.82

João Décio Passos também adota a expressão pentecostalismo, para designar

todo segmento cristão, originado do ocorrido em Azuza Street e que se desdobrou

em inúmeras denominações no Brasil.

Segundo o entendimento desse autor, para os adeptos do pentecostalismo, Deus

todo-poderoso faz-se presente e atuante por meio de algumas mediações que

possibilita aos fiéis uma relação de contrato e aliança, de forma a operar

interferências no curso da natureza humana e da história, realizando milagres na

vida dos fiéis.

No pentecostalismo, a Bíblia é a palavra de Deus e presentifica sua força. A Bíblia

é usada como objeto hierofânico, que manifesta o sagrado. Da mesma forma como

não há catolicismo popular sem a imagem do santo, não há pentecostalismo sem

Bíblia. Contudo, a Bíblia sofre, no pentecostalismo, a mesma manipulação do santo

pelo fiel. Seja abrindo uma pagina da Bíblia ao acaso para que Deus fale, seja

81 MENDONÇA, A.G.; FILHO, P. V. op.cit., p. 48. 82 PASSOS, J.D. op.cit., p. 104.

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usando gestos de colocar a mão sobre a Bíblia, ou colocar contribuições entre suas

paginas.83

Passos, ressalva que o pentecostalismo brasileiro tem vários começos no Brasil, a

partir de sua chegada no início do século XX, construindo fases, linhagens e

denominações, além da implantação de novas práticas.

Segundo Mariano, a principal diferença do pentecostalismo para o protestantismo

estão expostas nas definições do pentecostalismo já descritas por Passos, à qual

apenas acrescenta o discernimento de espíritos. As diferenças são baseadas na

Bíblia, no seu livro de Atos, no capítulo dois.

Os pentecostais, ao contrário dos protestantes, acreditam que Deus, através do

Espírito Santo, por meio de Cristo, continua agir hoje da mesma forma que no

cristianismo primitivo, curando enfermos, expulsando demônios, distribuindo

bênçãos e dons espirituais, realizando milagres, dialogando com seus servos,

concedendo infinitas amostras concretas de seu supremo poder e inigualável

bondade.84

As Igrejas pentecostais estão mais concentradas nas capitais e regiões me-

tropolitanas, arrebanham as camadas mais pobres e menos escolarizadas da

sociedade, as quais buscam superar as precárias condições de existência,

organizar a vida, encontrar sentido, alento e esperança diante da ineficiência do

Poder Público.85 Entretanto há Igrejas que direcionam com relativo sucesso seu

evangelismo às classes médias.86

83 Ibid., p.107. 84 MARIANO, R. op. cit., p.10. 85 Ibid., p.12. 86 Ibid., p.16.

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Ricardo Mariano cita uma pesquisa feita pelo Diário Oficial do Estado do Rio de

Janeiro, que indica que de cada dez templos evangélicos criados no período, nove

eram pentecostais.87

Esse crescimento foi tão notório que obrigou a Igreja Católica, acomodada pelos

séculos de dominação religiosa no Brasil, a reagir ocupando mais espaços na TV

com a Rede Vida, a maximizar o uso das suas quase 200 emissoras de rádio,

incrementar a participação dos leigos nas celebrações, revalorizar tradições

populares e as pastorais sociais e de saúde. Além de renovar ainda mais sua

liturgia, para além das inovações concebidas pelo Concilio Ecumênico Vaticano II,

abrir novas pastorais, tornar sacerdotes mais disponíveis, acolhedores e atentos as

necessidades dos fiéis e conceder espaços a expressividade emocional nas

missas.88

Mariano menciona que, nos EUA, é comum utilizar a metáfora marinha de ondas

para classificar distintos movimentos de renovação da linha pentecostal. Cita ainda

que David Martin (1990) distingue três grandes Ondas: a Puritana, a Metodista e a

Pentecostal, e que a maior façanha desta última foi espalhar-se pelos mundos

anglo e hispânico em larga escala.

O pentecostalismo no Brasil foi dividido por Mendonça em duas fases89. Conside

rou como sendo os primeiros anos do século XX o surgimento do pente- costalismo

clássico, e a década de 1960 como o surgimento do neopentecostalismo, da

renovação carismática católica e das agências de curas divinas.

Paul Freston dividiu o movimento pentecostal em três Ondas, a partir de um corte

histórico institucional e da análise dinâmica interna do pentecostalismo brasileiro, a

qual, acrescentada pelas recentes pesquisas de Mariano e Passos, entre outros,

87 Ibid., p.11. 88 Ibid., p.14. 89 MENDONÇA, A.G.; FILHO, P. V. op. cit., pg. 256.

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retrata melhor o fenômeno, ao contrário de outros autores que dividiram o

movimento do pentecostalismo em apenas duas fases distintas.

1.11.1 A PRIMEIRA ONDA OU PENTECOSTALISMO CLÁSSICO Para Paul Freston, a primeira Onda do pentecostalismo brasileiro inicia-se no

período de 1910, com a chegada da Congregação Cristã, seguida pela Assembleia

de Deus em 1911. Mariano classifica esse período como Pentecostalismo

Clássico.90

Essa primeira Onda pentecostal é marcada por certa linearidade e regularidade,

constituindo um período longo e com um crescimento lento. A Congregação Cristã

é marcada pela imigração italiana, sendo seu fundador um italiano, Luigi

Francescon, no bairro do Brás em São Paulo.

Francescon passou pelo presbiterianismo avivalista norte-americano, integrou o

movimento holiness em Chicago, em um grupo coordenado por um pastor que

presenciou os fenômenos de glossolalia de Los Angeles, juntamente com

Seymour.91

A Assembleia de Deus vem da mesma raiz pentecostal norte-americana, mas

constitui bases teológicas muito diferentes da Congregação Cristã. Também

nasceu do querigma missionário dos holiness. Essa Igreja foi fundada por dois

imigrantes suecos vindos de Chicago, que afirmavam ter recebido orientação divina

para fundar a Igreja em Belém do Pará.

Passos informa que foi em 191092 que ocorreu a vinda dos suecos Gunnar Vingren

e Daniel Berg para o Brasil. Congregaram inicialmente em uma Igreja Batista de

90 MARIANO, R. op. cit., p. 29. 91 PASSOS, J.D. op. cit., p.88. 92 Ibid., p.90.

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Belém. Porém suas pregações pentecostais provocaram um cisma após sete

meses e desencadeou na fundação da Assembleia de Deus.

Contudo, esse pentecostalismo das duas Igrejas, Congregação Cristã e

Assembleia de Deus, reinou de forma absoluta até 1950, desde a fundação das

Igrejas até sua difusão para todo o país. Inicialmente, seus integrantes eram

pessoas simples, de baixa escolaridade.

Essas pessoas eram discriminadas pelos protestantes históricos e perseguidas

pela Igreja Católica. Tinham a crença na volta iminente de Cristo, na salvação

paradisíaca e um comportamento de radical sectarismo e ascetismo, de rejeição do

mundo exterior.

Essa primeira Onda abrange o período de 1910 até 1950.

1.11.2 A SEGUNDA ONDA OU DEUTEROPENTECOSTALISMO Conforme Freston, a segunda Onda ocorre no início dos anos 1950, na capital de

São Paulo. Mariano classifica esse período como Deuteropentecostalismo,

ressaltando que o radical deutero significa segundo, ou segunda vez, sentido que,

para ele, torna-se mais apropriado para nomear a segunda vertente pentecostal.93

Passos descreve que o contexto dessa segunda Onda do pentecostalismo é o

crescimento industrial e a consequente concentração urbana, proveniente do êxodo

rural e seus cinturões de pobreza. Nasce de uma idiossincrasia metropolitana.94

A chegada em São Paulo de dois americanos, ex-atores de filmes de faroeste,

vinculados à International Church of the Foursquare Gospel, à frente da Cruzada

93 MARIANO, R. op. cit., p.32. 94 PASSOS, J. D. op. cit., p.92.

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Nacional de Evangelização, braço evangelístico da Igreja do Evangelho Quadran-

gular, provocaram mudanças.

Eles trouxeram para o Brasil o evangelismo de massa, centrado na mensagem da

cura divina, difundindo-a por meio do rádio que, até então, era considerado

mundano e diabólico até a década de 1950, por esse motivo não era utilizado pela

Assembleia de Deus e pela Congregação Cristã.95

Com mensagens sedutoras e métodos inovadores e eficientes, atraíram, além de

fiéis, pastores de outras confissões evangélicas e milhares de indivíduos dos

estratos mais pobres da população.

Passos caracteriza esse período como um reavivamento pentecostal à brasileira,

prioritário do carisma da cura, que vem responder, sobretudo, às necessidades das

populações empobrecidas das metrópoles, adotando métodos de pregação mais

adaptados à linguagem moderna, com a oferta dos bens religiosos em pregações

públicas e pelos meios mais modernos de comunicação.96

Com o êxito das pregações, ocorreram fragmentações das denominações que, até

então, contava apenas com a Congregação Cristã e a Assembleia de Deus. Assim,

percorrendo o mesmo caminho de curas divinas, surgiu a Igreja O Brasil para

Cristo, cujo fundador teve passagem pelo catolicismo, assembleísmo e Evangelho

Quadrangular. Também surgiram a Igreja Deus é Amor e a Casa da Benção, entre

outras.97

Conforme menciona Ricardo Mariano, a ênfase na cura divina, a partir dos anos

1950, foi decisiva para a aceleração do crescimento e da diversificação institucional

do pentecostalismo brasileiro, que teve repercussões também em outros

95 Ibid., p.30. 96 Ibid., p.92. 97 Ibid. p.30.

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continentes. Aliás, a cura divina, segundo os pesquisadores norte-americanos, foi a

responsável pela explosão pentecostal em diversas partes do mundo.

Em relação à teologia, entre a primeira Onda e a segunda, há distinções

significativas apenas nas ênfases que cada qual conferia a um ou outro dom do

Espírito Santo. A primeira Onda enfatiza o dom de línguas, a segunda, o de curas.

Entretanto, existem diferenças entre essas Igrejas, a Congregação Cristã é

predestinacionista, de origem Calvinista, enquanto que as demais adotam a

teologia Arminiana.

Mariano enfatiza que, com a utilização do rádio, tendas, cinemas, teatros e

estádios, além da ênfase na cura divina e em alguns casos exorcismos, justifica-se

a divisão em três ondas pelo critério do corte-histórico-institucional e não pela

existência significativa de diversidades teológicas entre elas.

A segunda Onda ocorreu no período entre 1950 e o início dos anos 1960 e tem

como marca a fragmentação e pluralidade de grupos e denominações.98

1.11.3 A TERCEIRA ONDA OU NEOPENTECOSTALISMO

A terceira onda, ou neopentecostalismo, como prefere Mariano, começa na

segunda metade dos anos 1970, cresce e se fortalece no decorrer das décadas de

1980 e 1990.

Conforme menciona Mariano, a Igreja de Nova Vida, fundada no Rio de Janeiro,

em 1960, pelo missionário canadense Robert McAlister, está na origem das Igrejas

Universal do Reino de Deus, fundada no Rio de Janeiro em 1977, da Internacional

da Graça de Deus, fundada no Rio de Janeiro em 1980, e da Cristo Vive, em 1986.

98 MARIANO, R. op. cit., p.29.

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Essas três Igrejas, ao lado da Comunidade Evangélica Sara a Nossa Terra,

fundada em Goiás em 1976, a Comunidade da Graça, fundada em São Paulo em

1979, a Renascer em Cristo fundada em São Paulo em 1986 e a Igreja Nacional de

Nosso Senhor Jesus Cristo, fundada em 1994, constam entre as primeiras e

principais Igrejas Neopentecostais, segundo Mariano99, surgidas no período entre a

década de 1970 a 1990.

Mariano menciona também algumas entidades paraeclesiásticas neopentecostais.

Entre as mais conhecidas estão a Associação dos Homens de Negócio do

Evangelho Pleno (Adhonep), Missão Shekinah, comandada pelo pastor Jesher

Cardoso, e a Ágape Reconciliação, liderada por Neusa Itioka.100

A definição da classificação do termo como terceira onda, já está consagrada pelos

pesquisadores brasileiros para a designação de neopentecostal. O prefixo NEO,

menciona Mariano, é mais apropriado por remeter à formação recente e também

pelo caráter inovador do neopentecostalismo.

Freston, comentado por Mariano, observa que a terceira onda em contraste com a

segunda onda de Igrejas paulistas, fundadas por migrantes de nível cultural

simples, a terceira onda é formada sobretudo por Igrejas cariocas, fundadas por

pessoas citadinas de nível cultural um pouco mais elevado.101

Sobre as características do neopentecostalismo, Mariano destaca como

fundamentais a exacerbação na guerra espiritual contra o Diabo e seus anjos

decaídos, a pregação enfática da Teologia da Prosperidade e a liberalização dos

99 Ibid., p. 32. 100 Bacharel em Teologia (Faculdade Metodista Livre), formada em Pedagogia pela USP e

doutora em Missiologia pelo Seminário Teológico Fuller (Pesadena, California, EUA). Desde

1988, atua na área de libertação, cura Interior e batalha espiritual, ministraram individualmente a

mais de 60 mil pessoas e a mais de 800 igrejas por meio de seminários e cursos intensivos

locais. Esses cursos são pagos. Informação obtida no site:

http://www.agapereconciliacao.com.br/v3/quemsomos.asp?expandable=0, em 18.05.2010. 101 MARIANO, R. op. cit., p.35.

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estereotipados usos e costumes de santidade. Segundo Oro, essas Igrejas também

se estruturam empresarialmente e algumas possuem fins lucrativos.102

Observa-se ainda a ruptura com o sectarismo e o ascetismo puritano dos pente-

costais como a principal característica do neopentecostalismo. Mariano afirma que

o neopentecostalismo constitui a primeira vertente pentecostal de afirmação do

mundo.

Contudo, isso não significa que todas as denominações formadas em meados dos

anos 1970 em diante devem ser classificadas como neopentecostais, pois nem

todas apresentam as marcas características dessa corrente pentecostal. Deve-se

consi- derar as genealogias e os vínculos institucionais antes de analisá-las e

classificá-las.

Segundo Mariano, para ser classificada como neopentecostal, uma Igreja fundada

a partir de meados da década de 1970 deve apresentar as características

teológicas e comportamentais do neopentecostalismo quanto mais destas

características estiverem presentes, tanto mais adequado será classificá-la como

neopentecostal.103

Quanto menos sectária e ascética e quanto mais liberal e tendente a investir em

atividades extraIgreja, como as empresariais, políticas, culturais, assistênciais,

entre outras, em especial naquelas tradicionalmente rejeitadas ou reprovadas pelo

pentecostalismo clássico, mais próxima a Igreja deve estar do espírito, do ethos e

do modo de ser dos componentes da vertente neopentecostal.

Importa ressaltar que o movimento pentecostal é muito mais complexo e

abrangente do que as correntes e os contornos mencionados. Não há

homogeneidade teológica entre as Igrejas neopentecostais, como não há no

pentecostalismo clássico e no deuteropentecostalismo.

102 Ibid., p.36. 103 Ibid., p. 37.

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Ricardo Mariano relata que a teologia liberal católica e protestante, além de tratar o

Diabo e suas hostes como metáfora e abstração, não acreditam em curas

milagrosas, intervenções sobrenaturais na história ou na vida cotidiana dos

indivíduos.104

Essa teologia liberal obteve sucesso em estreitos setores da sociedade, mas

atualmente está em franco declínio. Essa teologia liberal foi repudiada pelos

pentecostais, em sua maioria pobres e de pouca escolaridade, comumente alheios

e indiferentes aos devaneios e as vicissitudes da erudição teológica, porém

igualmente presos ao literalismo bíblico e crentes na personificação do mal.

O pentecostalismo possibilitou a essas pessoas simples as condições necessárias

para anunciar e instalar seus mitos, suas crenças e suas práticas rituais. Os

pastores e fiéis enxergam a ação divina e a demoníaca em todos os

acontecimentos da vida. Não existindo acaso, o que dá sentido à vida. A Bíblia

contêm as respostas necessárias.

O dualismo, a luta entre o reino celestial e o das trevas permeia todo o cristianismo

e o próprio pentecostalismo clássico ou da primeira onda. Todavia, a diferença é

que o neopentecostalismo exacerbou essa guerra. As Igrejas da segunda onda, ou

deuteropentecostalismo, acompanham de perto, mas sem o mesmo impacto.

Os neopentecostais acreditam e afirmam que tudo o que ocorre no mundo físico

decorre da guerra travada entre as forças divina e demoníacas no mundo espiritual.

Deus e seus anjos, o Diabo e seus demônios estão no mundo espiritual em luta

constante.

104 Ibid., p.110.

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O mundo físico é o habitado pelas pessoas. A narrativa do livro de Jó é geralmente

mencionada como um exemplo dessa afirmação.105 O que ocorre no mundo físico é

reflexo dos acontecimentos do mundo espiritual.

Neste sentido, os seres humanos, conscientes ou não, estão dentro dessa guerra,

cada pessoa agindo segundo seu livre-arbítrio e podendo, pelo poder e autoridade

concedidos por Deus, em nome de seu filho Jesus Cristo, reverter as obras do mal,

alterando as realidades indesejáveis do mundo material.

Com exceção da Bíblia, as Igrejas Pentecostais se opõem ao uso de objetos

sagrados dotados de poder mágico e terapêutico, para não sucumbirem à idolatria.

Entretanto, as Igrejas Universal e Internacional da Graça, indiferentes às críticas

das demais, distribuem aos fiéis objetos ungidos, dotados de poderes mágicos ou

miraculosos, ato que mais as aproxima das crenças e práticas dos cultos afro-

brasileiros e do catolicismo popular que essas Igrejas tanto combatem.

Conforme narra Mariano, mediante o pagamento de ofertas estipuladas, a Igreja

Universal e a Internacional da Graça distribuem aos seus fiéis rosa, azeite do amor,

perfume do amor, pó do amor, saquinho de sal, arruda, sal grosso, oliveiras,

fotocópia de dinheiro benzido, areia da praia do mar da Galiléia, água fluidificada,

cruz, chave, pente, sabonete. Como na Umbanda e no catolicismo popular,

recomendam que sejam colocados ora na comida, ora jogados no rio, ora

passados no corpo, ora guardados na carteira, carregados no bolso e assim por

diante.106

A guerra espiritual avançou entre as Igrejas evangélicas a partir dos anos 1990,

mas entre os neopentecostais foi onde mais se proliferou. Surgiu a Teologia do

Domínio que descreve tudo o que se refere à luta dos cristãos contra o Diabo, cuja

guerra é feita contra demônios específicos, espíritos territoriais e hereditários.

105 Livro contido na Bíblia, Antigo Testamento. 106 MARIANO, R. op. cit., p.134.

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Nessa Teologia, os demônios de alta hierarquia satânica, são distribuídos para agir

e tentar controlar, áreas geográficas especificas, como países, cidades, bairros,

influenciando ou dirigindo diretamente instituições, grupos étnicos, tribais culturais

e religiosos.107

Os espíritos hereditários, ou de geração, são responsáveis pelas maldições na

família, carregando consigo a maldição provocada pelo demônio herdado. Para se

libertar, o indivíduo precisa renunciar ao pecado e às ligações demoníacas de seus

ancestrais e quebrar, por meio do poder de Deus, as maldições hereditárias.

O expoente da maldição hereditária desenvolve uma hermenêutica para tentar

explicar a causa de orações não respondidas e os acontecimentos fatídicos em

sucessão, como o alcoolismo, a prostituição, as enfermidades congênitas e os

demais vícios. Também tentam explicar por esse raciocínio a causa das guerras,

da violência, da desigualdade e das injustiças sociais.108

Após os fiéis se converterem a Jesus, são encaminhados para o processo de

libertação e aos cultos de cura interior. Na cura interior, oferecem-se a libertação

espiritual e a emocional às pessoas que sofreram traumas, (algumas fazem

regressão mental até a fase uterina), às que foram abusadas sexualmente, às

dependentes de drogas, tabaco e álcool, bem como aquelas com problemas de

depressão, homossexualismo, criminalidade, separação conjugal e no relaciona-

mento familiar.

Para receberem a cura interior, precisam primeiro confessar os traumas, que são,

segundo afirmam, feridas que o Diabo usa para aprisioná-los. Depois devem pedir

perdão pelos pecados dos antepassados, perdão pelas próprias transgressões e,

ainda, perdão às pessoas que os teriam prejudicado.109

107 Ibid., p.137. 108 Ibid., p.140. 109 Ibid., p. 142.

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Por meio da luta espiritual, e fundamentados nesse entendimento, a Igreja

Universal e a Internacional da Graça fazem constantes entrevistas com pessoas

possuídas por demônios, para saberem seus nomes e a causa da possessão,

antes de expulsá-los das pessoas. Entretanto tal postura causa exposição excessi-

va dos fiéis.

As Igrejas Renascer em Cristo, Comunidade Evangélica Sara a Nossa Terra e

Comunidade da Graça, entre outras neopentecostais, não utilizam essa forma de

entrevista e evitam, nos cultos de libertação, expor os fiéis e visitantes a situações

constrangedoras.

Avessas ao espetáculo, não entrevistam demônios em público nem abusam do

possesso, quando desejam saber a origem da possessão, levam o endemoninhado

para uma sala reservada.

As paraeclesiásticas neopentecostais, Missão Shekinah e o Ágape Reconciliação,

oferecem cursos para formar pastores especializados no ministério de libertação e

batalha espiritual.

Outra característica que diferencia os pentecostais dos neopentecostais é que

antes os pastores pentecostais preparavam os fiéis para desfrutarem após a morte

dos prazeres do céu ou, após a volta de Jesus à terra. Atualmente, os pastores

neopentecostais preparam os fiéis para desfrutarem dos prazeres do céu na terra,

ou seja, aqui e agora.

João Décio Passos é enfático ao descrever as ofertas do neopentecostalismo. Para

o autor, o que ocorreu foi um desdobramento e uma adaptação da tradição

pentecostal, com seu paradigma original, à tradição brasileira, ao longo do século

vinte. Segundo afirma, toda religião segue a história humana, no seu

desenvolvimento e nas suas dinâmicas econômicas, sociais e culturais, tecendo

com elas relações de trocas, de forma que uma influencia a outra na configuração

de suas visões e de suas práticas. Dessa forma, ao mesmo tempo em que a

religião ajuda a construir a sociedade como um todo, ela é também construída por

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esta. O autor menciona a obra de Karl Marx e Max Weber110, para quem a cultura

só pode ser compreendida dentro de cada época da história.

Segundo Passos, a marca que caracteriza o neopentecostalismo é a oferta de bens

salvíficos, pois após o fiel receber a salvação e o batismo no Espírito Santo, segue-

se a conquista da prosperidade plena, uma vida feliz, sem doenças, sem misérias,

sem desavenças e sofrimentos.

As ofertas dos neopentecostais avançaram onde o pentecostalismo parava. Antes

o sofrimento e a espera pela volta de Jesus recebia a máxima atenção, o que levou

os pentecostais à postura de não fazerem parte deste mundo. O pentecostalismo

herdou a atitude de rejeição e afastamento do mundo diretamente do metodismo e

do movimento holiness, dos quais se originou. Daí provêm as raízes puritana e

pietista do movimento pentecostal, conforme narra Mariano.111

Essa forma de pensar e agir foi intensa a ponto de ter surgido nas Igrejas

pentecostais uma prática denominada “Usos e Costumes”.

Os fiéis, orientados por seus pastores, não podiam praticar esportes e não podiam

ser torcedores de uma equipe de futebol, não podiam assistir à televisão, as

mulheres não podiam cortar o cabelo, depilar-se, maquiarem-se, as calças

compridas e blusas sem mangas lhes eram proibidas e usavam roupas que,

obrigatoriamente, deviam cobrir os joelhos. O controle de natalidade era

considerado aborto, e o aborto sempre foi considerado pecado. Assim, além de

pobres, as famílias eram numerosas.

110 PASSOS, J.D. op. cit., p. 63. O autor comenta parte do pensamento de Karl Marx para

ressaltar a importância da produção econômica na produção da cultura, e Max Weber, com a

obra A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, para expor o ângulo inverso da relação da

religião com a sociedade. 111 MARIANO, R. op. cit., p. 190.

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Os homens não podiam usar barba, quando muito usavam bigode; na sua maioria

usavam terno e nunca iam à praia ou à piscina pública. Homens e mulheres eram

conhecidos e muitas vezes alvo de anedotas, por tais vestimentas. Fumar e beber

era proibido.

Nas Igrejas pentecostais, os homens obrigatoriamente se sentavam de um lado da

Igreja, enquanto as mulheres se sentavam do outro lado. Durante o culto, o louvor

era realizado por meio de um hinário com músicas centenárias. Não havia guitarra,

bateria, rock, samba, entre outros ritmos considerados “coisa” do Diabo. Também

eram do Diabo a política, o dinheiro, a moda, o carnaval, a utilização da televisão e

de anticoncepcional.

Existiam nessas Igrejas disciplinas severas destinadas aos desobedientes, as

quais poderiam resultar desde a exposição pública do ato praticado pelo fiel

desobediente, em casos de penas brandas, e, em casos mais severos, até a

expulsão do rol de membros da denominação.

Entretanto, com o rápido processo de modernização no Brasil, a partir dos anos

1970, e com a ascensão social dos fiéis pentecostais e das promessas da

sociedade de consumo, dos serviços de crédito ao consumidor, dos sedutores

apelos do mundo da moda, do lazer e das opções de entretenimento criadas pela

indústria cultural, essa religião ou se mantinha sectária e ascética, o que

acarretaria na diminuição dos fiéis, ou fazia concessões.112 Desta forma, ocorreram

as concessões ou adaptações teológicas para justificar esse novo momento.

A teologia da prosperidade e a Confissão Positiva, amplamente divulgadas no país

pelo livro Há poder em suas Palavras113, crença de que os cristãos detêm poderes,

concedidos pela Bíblia a seus fiéis, para trazer à existência, para o bem ou para o

mal, o que falam ou decretam com a boca em voz alta, contribuiu para justificar as

mudanças.

112 Ibid., p.149. 113 GOSSETT, D. Há poder em suas palavras. São Paulo: Editora Vida, 1979.

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Com essa nova forma de interpretar os textos bíblicos, em algumas Igrejas os

pastores passaram a exigir ou determinar que Deus cumprisse suas promessas

escritas na Bíblia. Deus estaria obrigado a fazer cumprir qualquer pedido em linha

com o que está escrito na Bíblia. O cristão deveria tomar posse da sua benção e da

sua prosperidade.

Conforme explica Mariano114, pela ótica neopentecostal, Deus não pode deixar de

cumprir com suas promessas bíblicas. O criador não tem escolha senão cumprir o

prometido. Está preso às promessas que fez, a onipotência divina fica compro-

metida. Cabe aos homens entregar os dízimos, além das ofertas, com amor e

alegria, por ser um dever do cristão, ter fé em Deus e em sua palavra, confessar ou

profetizar as bênçãos em sua vida e esperar o cumprimento das promessas

divinas.

O neopentecostalismo fundamentado, ou justificado na nova teologia, que lhe dava

base bíblica para seus ensinamentos começou a difundir-se. Os fiéis, agora

alinhados com a sociedade, estudam mais, sonham com promoções e em alcançar

melhores salários, praticam esportes e podem ser torcedores de uma equipe de

futebol, podem assistir à televisão. As mulheres podem usar anticoncepcional,

cortar o cabelo, depilar-se, maquiarem-se, as calças compridas e blusas sem

mangas lhes foram liberadas e, em alguns casos, os pastores sentem saudades da

época em que as roupas femininas obrigatoriamente, deveriam cobrir os joelhos e

não podiam ser transparentes.

Os homens podem usar barba, e em inúmeras Igrejas os pastores não usam mais

terno para pregar, não são mais conhecidos pelas vestimentas. Fumar ainda é

proibido, mas beber já é tolerado, desde que com moderação, e em algumas

114 MARIANO, R. op. cit., p.161.

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Igrejas se recomenda que não seja em locais públicos, para não correr o risco “de

se assentar na roda de escarnecedores”.115

Não há mais separação de gênero durante o culto, os homens e as mulheres

sentam-se juntos, cada qual com sua família. A liturgia mudou, o louvor é composto

de músicas evangélicas que fazem sucesso na atualidade. Há guitarra, bateria,

rock, samba, entre outros ritmos que antes eram considerados “coisa” do Diabo.

Na política, já houve a campanha irmão vota em irmão, o dinheiro é bem vindo e há

algumas Igrejas milionárias, caso da Igreja Universal do Reino de Deus e a

Internacional da Graça, ambas não apenas utilizam a televisão, como também

compraram emissoras próprias.

Em muitas Igrejas, há em seus sites sugestões de moda e, em algumas Igrejas no

Rio de Janeiro, há participação em escolas de samba, nos quais alguns

evangélicos desfilam e, segundo afirmam, com finalidades evangelísticas.

Entre as inúmeras Igrejas Evangélicas neopentecostais existentes em todo o país,

não há um padrão de conduta entre elas, cada denominação adota, à sua maneira,

as práticas e a intensidade desse fenômeno, conforme suas convicções.

1.12 O NEOPENTECOSTALISMO E A LITURGIA DA COMUNIDADE EVANGÉLICA DE MARINGÁ

A Comunidade Evangélica de Maringá afirma ter sido respaldada, edificada e

aconselhada por líderes de outras denominações evangélicas. Entre os mais

conhecidos estão os pastores Lamartine Posella, da Igreja Batista Palavra Viva,

Asaph Borba e Jorge Linhares, da Igreja Batista Getsêmani, e o Pastor Silas 115 Uma referência à Bíblia, salmo 1:1, Bem-aventurado o homem que não anda segundo o

conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos

escarnecedores, utilizado por algumas Igrejas, como advertência a não se relacionar com

pessoas de má índole, ou não convertidas à mesma religião.

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Malafaia. O pastor Messias Anacleto Rosa, da Igreja Presbiteriana Independente

de Londrina e cunhado da pastora-presidente, e o pastor Rodolfo Montosa, genro

da pastora-presidente, também são citados.

O neopentecostalismo na Comunidade Evangélica de Maringá é comedido. Por se

tratar de uma Igreja em cuja sede predomina a classe média, a Igreja demonstra

aversão ao espetáculo e ao sensacionalismo. Mesmo nos cultos em que são

realizadas as batalhas espirituais, quando algum membro ou visitante, expressa

possessão demoníaca e não é despossuído imediatamente, após o exorcismo do

pastor, é rapidamente retirado do meio dos fiéis e encaminhado para uma sala

reservada.

Enquanto Igrejas como a Universal e a Internacional da Graça, entre outras tantas,

utilizam tempo considerável do culto para convencer os ouvintes a realizarem suas

ofertas, visando as bênçãos que receberão em troca dos dízimos e das ofertas, na

Comunidade Evangélica de Maringá isso não ocorre. Não há as famosas

“sacolinhas” ou salvas, onde os fiéis depositam suas ofertas.

Quando uma pessoa se converte na Comunidade Evangélica de Maringá, ou se

transfere para lá, vindo de outra Igreja, ela é direcionada a participar de seis etapas

oferecidas pela Igreja. As pessoas casadas participam também dos cursos casados

para sempre e pais para toda a vida.

Os cursos/etapas são denominados como:

1) Encontro com Deus; 2) Batismo; 3)Integração; 4) Módulo de discipulado que,

inclui Antigo Testamento I e II, Caráter, Visão e Aconselhamento; 5) Segundo

módulo do discipulado, com cura interior, oração, história de Israel e temas

diversos; 6)Participar em uma célula; 7) Curso casados para sempre e pais para

toda a vida.

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Especificamente na etapa denominada como Integração, o fiel é doutrinado sobre

dízimos e ofertas. Durante os cultos, não se ensina ou se motiva os fiéis sobre as

ofertas, salvo em alguma pregação especifica sobre o tema, o que raramente

acontece.

A Liturgia da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá é bem definida e, salvo

nos casos em que a Igreja recebe algum pregador convidado de outra

denominação, há um roteiro pré-estabelecido que é flexível, mas que na maioria

das vezes, é obedecido116.

Antes do culto, alguns poucos fiéis se reúnem em uma sala denominada sala de

oração, para intercederem em favor do culto.

Inicia-se o culto sempre com o louvor. Devido à grande quantidade de músicos na

sede, há uma escala dividindo os dias em que cada músico irá tocar. Durante o

louvor, as músicas e os ritmos são diversificados. Os fiéis acompanham com

palmas. Normalmente inicia-se com músicas mais aceleradas e culmina com

músicas que remetem à reflexão. Em alguns intervalos do louvor, entre uma

música e outra, um dos vocalistas chama a atenção dos fiéis para aquilo que está

sendo cantado.

Sem alarde, normalmente, nos últimos momentos do louvor, é anunciado aos fiéis

o momento das ofertas e dos dízimos. Os fiéis se levantam dos seus lugares para

realizarem a entrega de seus dízimos e suas ofertas. Não há maior interrupção do

louvor, não se realiza nenhum tipo de explicação sobre o dízimo, nem se incentiva

as pessoas a fazê-lo.

Para depositar suas ofertas, as pessoas saem dos seus bancos e caminham em

direção ao púlpito, onde, na parte de baixo, fica o gazofilácio, local onde os fiéis

116 Informações obtidas através de observação pessoal, em diversos cultos assistidos pelo

próprio pesquisador.

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depositam os dízimos e as ofertas e voltam aos seus lugares, enquanto os músicos

continuam a tocar e cantar.

Os diáconos e as diaconisas não usam uniformes; utilizam roupas normais. Não é

possível diferenciar um diácono de um membro.

Após o louvor, são feitas apresentações de novos fiéis, ou de algum encontro ou

trabalho realizado pela Igreja. Depois são mencionadas as atividades da semana,

bem como desafios e alvos para oração. E, sempre após um longo período de

recados, o pastor que irá pregar é convidado a subir no púlpito.Realiza-se uma

nova oração e, em seguida o pastor faz uma leitura bíblica e inicia a sua pregação.

Utiliza-se com frequência a inconveniente expressão “diga para o seu irmão(ã) ao

seu lado...” Dificilmente um mesmo pastor prega em dois domingos seguidos.

Ao final da pregação, os músicos, por iniciativa própria, ou chamados pelo

pregador, iniciam um novo louvor, enquanto o pastor convida as pessoas para mais

uma oração. Há casos em que as pessoas são convidadas a irem à frente do

púlpito, para serem ungidas e receberam oração específica.

No encerramento do culto, executam-se músicas com ritmos acelerados,

denomina- das como de celebração, enquanto os fiéis vão se dirigindo para fora da

Igreja.

A Igreja possui dias e horários específicos para os cultos, sendo o principal deles

no Domingo.

Os cultos são celebrados com temas específicos. No domingo às 9h30 min e às

19h, ocorrem os cultos de Celebração; na segunda-feira realiza-se a reunião dos

Homens e Mulheres de negócios, às 18h30min; na terça-feira, às 14h30min,ocorre

o culto tarde da Graça; na quarta-feira não há culto; na quinta-feira, às 20h

acontece o culto de Avivamento; na sexta-feira, às 20h, há o culto de Adolescentes;

e no sábado, às 20h, o culto dos Jovens.

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Na Comunidade Evangélica de Maringá, comemora-se o aniversário de todos os

seus membros, pois acredita-se que Deus sempre ensinou seu povo a ter um

calendário anual e, dentro dele, muitas festas celebrativas, como a Páscoa,

Pentecostes, Festa dos Tabernáculos, etc. No primeiro domingo de cada mês, é

realizada a Santa Ceia.

Apesar da característica específica quanto a não dar ênfase, ao recolhimento de

dinheiro, por meio das doações dos fiéis, há outras características que fortalecem o

entendimento de Igreja neopentecostal, entre elas está a declaração da Pastora-

Presidente:

Precisamos estar conscientes do mundo invisível em que Satanás e seus demônios pelejam impiedosamente contra a humanidade, mas que na vida cristã autêntica temos armas e aliados invencíveis na guerra espiritual na qual estamos envolvidos. Aliançados com Deus somos mais do que vencedores. Deus nunca nos deixará sós. Precisamos confiar e avançar. Cada conquista, cada vitória será para a glória de Deus. No final da nossa vida poderemos dizer como Paulo: “Combati o bom combate, corri a carreira, guardei a fé” (II Tm 4:7). A Comunidade crê que recebeu de Deus autoridade sobre Londrina, Niterói, Brasília e Maringá. Semanalmente o grupo se reúne para orar e pedindo a Deus estratégias para o combate e rogando que Deus desmantele os ardis satânicos revelados aos profetas do Senhor. Quando orientados, fazemos caminhadas de oração pelos bairros ou pontos específicos da cidade onde se observa claramente a presença de sistemas satânicos operando e controlando certos espaços ou classes de pessoas dominando-as. Temos que saber guerrear já que estamos participando da luta (...) (...)O inimigo foi derrotado na cruz, mas não foi totalmente destruído. Precisamos conhecer como ele opera a fim de impedi-lo de conseguir o que ele urde. Deus está conosco e pelejará por nós. Não somos mais um grupo que sai quebrando maldições já anuladas ou repetindo renúncias dos vínculos criados por alianças não cristãs”(...) (...)Somos um grupo que procura detectar novas estratégias de Satanás para destruir as cidades e seus habitantes; verificamos se houve o retorno de espíritos às posições que tinham ocupado anteriormente e confirmamos a posse territorial e a libertação conseguida por Jesus na cruz do calvário(...) Antes de tudo orar!

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Pra Irene Ribarolli Pereira da Silva Pastora Titular e líder do Ministério de Batalha Espiritual. 117

1.13 A Estrutura Administrativa da Igreja A administração da Igreja é realizada pelo que denomina de um gestor.

Esse gestor tem a responsabilidade de gerenciar e comandar, no dia-a-dia, as

necessidades burocráticas, avaliar e suprir, se pertinente, os pedidos de recursos

humanos ou econômicos dos diversos ministérios da Igreja.

As demais congregações, como não conseguem ser independentes em razão do

inexpressivo valor recebido pelos seus fiéis, também são administradas por este

mesmo gestor. Dessa forma, as congregações enviam para a sede todo o valor

arrecadado dos fiéis, que é contabilizado e registrado pela Igreja. Em contrapartida,

a sede, por meio desse gestor, arca todo mês com todas as despesas das

congregações. Entre essas despesas, inclui-se o pagamento de energia elétrica,

água, reforma e manutenção das congregações e o salário do pastor.

Contudo, todas as decisões mais complexas, além das relativas às áreas pastorais

e ministeriais, entre outras, são decididas por um Conselho. Trata-se de um

Conselho que é formado pelos pastores e presidido pela pastora-presidente. Os

assuntos são expostos ao conselho para solução ou decisões necessárias, quando

há algum impasse, acata-se a palavra final da pastora-presidente da Igreja

Comunidade Evangélica de Maringá.

117 Texto extraído do site oficial da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá, em 25.05.2010,

Batalha espiritual, http://www.comunidade.org.br/index.php.

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Há uma rigorosa fiscalização, conforme a Igreja informa, sobre os gastos com o

dinheiro arrecadado. As ofertas e os dízimos são contabilizados e depositados em

uma conta bancária. As retiradas de dinheiro ou pagamentos são efetuadas por

meio de cheque, com duas assinaturas.

Entretanto, apesar de se afirmar que existe a preocupação com a transparência na

arrecadação e nos gastos da Igreja, os valores não são divulgados, o que

impossibilitou uma melhor análise sobre a administração dos recursos financeiros,

para efeitos desta pesquisa.

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CAPÍTULO 2

AS PRÁTICAS DA IGREJA COMUNIDADE EVANGÉLICA DE MARINGÁ Este capítulo tem a finalidade de descrever quais são as principais práticas sociais

da Comunidade Evangélica de Maringá. Desta forma, após a descrição das

atividades realizadas por essa Igreja, será possível realizar, no capítulo seguinte,

as análises desejadas.

2.1 AS PRÁTICAS SOCIAIS INTERNAS E EXTERNAS DA IGREJA COMUNI-DADE EVANGÉLICA DE MARINGÁ

De acordo com a última pesquisa do IPARDS (Instituto Paranaense de

desenvolvimento Econômico e Social), órgão oficial do Estado do Paraná, apurou-

se existir 26.453 pessoas em situação de pobreza na cidade de Maringá.118

Esses dados foram levantados no ano 2000, o que provavelmente reflete em um

número ainda mais significativo de pessoas em situações de pobreza em Maringá,

tendo em vista que a pesquisa foi realizada dez anos atrás.

Em razão dessa realidade de pobreza, desde o ano de 1989, a Comunidade

Evangélica de Maringá declara ajudar aos menos favorecidos da cidade, os quais

clamavam por ajuda, para suprir suas necessidades básicas de sobrevivência.119

118Conforme informação do site:

http://www.ipardes.gov.br/perfil_municipal/MontaPerfil.php?Municipio=87000&btOk=ok, acessado

em 13.05.2010. (2) Pessoas em situação de pobreza é a população calculada em função da

renda familiar per capita de até 1/2 salário mínimo. Os dados referentes à situação de pobreza

são provenientes dos micro dados do Censo Demográfico (IBGE) e das tabulações especiais

feitas pelo Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social do Governo

do Paraná).

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Apesar do extraordinário sucesso que a cidade de Maringá conseguiu alcançar, é

notória a presença de pessoas mendigando pelas ruas do centro da cidade.

Segundo afirmam, foram realizadas inúmeras atividades pela Comunidade

Evangélica de Maringá, dentre as quais a distribuição de alimentos, roupas e

calçados.Tais atividades eram desenvolvidas na sede da Igreja e, posteriormente,

passaram a ser realizadas pelas Congregações dessa Igreja. Por isso, as ações

realizadas na sede, considerada como Igreja abastada, em muito difere das

práticas realizadas nos bairros carentes, onde foram implantadas essas

Congregações.

As Congregações foram implantadas nos bairros pobres, visando alinhar às

práticas sociais de acordo com a necessidade e realidade do bairro. Os ministérios

foram adaptados para atender a essa demanda.

Percebe-se uma significativa diferença entre a Igreja sede e as Igrejas instaladas

nos bairros, quanto à forma de perceber a realidade e a necessidade. Como

exemplo disso pode ser mencionado o culto realizado na quinta-feira na sede, em

que se busca o avivamento espiritual, distinguindo-se da congregação João de

Barro/Santa Felicidade, cuja ênfase, no mesmo dia, é a busca pela libertação.

Para descrever cada departamento ou área de atuação das práticas da Igreja

Comunidade Evangélica de Maringá, utiliza-se a palavra ministério seguido do

nome da área de atuação. Dessa forma, o conceito de ministério será abordado

com respaldo de autores consagrados.

119 Conforme informação do site da Igreja: http://www.comunidade.org.br/index.php, acessado

em 13.05.2010.

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2.2 PRÁTICAS POR MEIO DOS MINISTÉRIOS.

Conforme define Clovis Pinto de Castro120, o termo ministério é, sem qualquer

dúvida, uma tradução que esvazia e empobrece o sentido pastoral que, para os

católicos, tem uma forte conotação sociológica, pois, na sua essência, há a

interlocução de duas hermenêuticas, a teológica e a política. A leitura da palavra de

Deus e a leitura dos sinais dos tempos.

Ainda para esse autor, para a maioria dos evangélicos, o termo ministério tem um

colorido mais eclesiástico e menos sociológico e, no contexto dos evangélicos,

volta-se tanto para as práticas das próprias Igrejas locais (como o ministério de

louvor) como para a inserção destas na realidade social (como o ministério com

meninos de rua, de ação social entre outros).

As Igrejas Evangélicas são resistentes ao termo pastoral e continuam a

desenvolver as suas experiências sempre voltadas para a visão de ministério. O

termo pastoral continua, em muitos círculos, com dificuldade de compreensão e de

aplicabilidade na vida das comunidades. É o que ocorre na Comunidade

Evangélica de Maringá, em que, para cada área de atuação dentro da Igreja,

utiliza-se a palavra ministério. Dessa forma, cada ministério é uma espécie de

departamento, todos sujeitos à liderança da pastora-presidente. Os ministérios são

divididos por faixa etária ou por área de interesse.

Acreditam que “os braços humanos do amor de Deus”121 se manifestam na

Comunidade Evangélica de Maringá, por meio das pessoas dos seus pastores e

líderes, por isso entendem que os ministérios são um serviço para os membros da

Igreja e de qualquer pessoa interessada ou necessitada de ajuda. Por essa razão,

tornam público o número do telefone de todos os líderes da Igreja, os quais são

120 CASTRO, C.P. Por uma fé cidadã, a dimensão pública da Igreja. São Paulo: Edições Loyola,

2000. p.105. 121 Frase extraída da Bíblia Sagrada, Oséias capítulo 11, versículo 4.

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divulgados nos folhetos durante os cultos e nas demais reuniões com os líderes e

também no site da Igreja.

Assim, ao contrário dos líderes da Igreja Universal e de outras neopentecostais,

que amam as multidões, mas não valorizam o atendimento pessoal ao fiel, os

pastores e demais líderes de ministérios são orientados a permanecerem

disponíveis e a fornecer o número de seu telefone para contato dos interessados.

Não há exceção para esse entendimento, mesmo a pastora-presidente divulga seu

número de telefone, como se observa abaixo, juntamente com os demais líderes e

cooperadores nos diversos ministérios da Igreja:

Pra. Irene Ribarolli Pereira da Silva – Presidente da Comunidade Evangélica de

Maringá e da Organização Reviver- 9904-0220.

Pr. Antonio A. Mazzarin e Pra. Enoan Mazzarin- Ministério de Aconselhamento-

3222-8357.

Pr. Aristeu Bertozzi - Pr. Ministério de Células e Rede de Homens- 3029-0242 /

9973-0248.

Pra. Edna Maria Paula Ravaneli - Ministério de Evangelismo - 9945-4139.

Pr. Luis Roberto N. Oliveira – Ministério de Jovens - 3026-4291.

Pr. Marcelo A. Gonçalves – Ministério de Discipulado e Adolescentes - 9925-4089.

Pr. Silvio Renato Neves - Gestor - 3262-5922 / 9972-8186.

Pr. Sirdenei Porfírio da Silva - Superintendente Congregacional e Aconselha-

mento - 3028-3823.

Líderes:

Pra. Alice M.G.Silva – Ministério de Libertação.

André e Caroline Rodrigues – Ministério para Jovens.

Antonio Geraldo e Cleusa Dias - Projeto Débora - 3226-5843.

Carla Tiaki - Ministério para Adolescentes - 3028-0933.

Clarice Teixeira - Ministério Infantil, Células Juvenis e Crianças - 3026-1820.

Eliud e Lucelena Paiva – Ministério Casados para Sempre, Educação de

Filhos e Curso para Noivos - 3028-6503.

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Fukumi Santos Lima - Ministério Alegria de Viver (3a. Idade ) - 3263-4981.

Gerson Tudela - Homens e Mulheres de Negócios - 3028-0589.

Iolanda Assoni - Intercessão - 9929-2930.

Pra. Irene Ribarolli P. Silva – Batalha Espiritual - 9904-0220.

Jeanete Ferreira - Cura - 9961-0535.

Leila Giovanini Neves - Ministro do Altar - 3262-5922.

Maria Ivanilde Mommensohn - Discipulado - 3031-0421.

Maria Regina e Rodrigo Luz - Ministério Células - 3026-1439.

Maria Edite Calefe - Rede de Mulheres - 9143-3301.

Rose Moraes – Ministério de Louvor - 3227-9103 / 9904-0222.

Sueli Maldonado – Ministério Discipulado das Congregações - 3028-7753.

Sueli Merizzio – Ministério de Misericórdia - 9992-8354 / 3026-2744.

Yone Sanches Pinto - Oficina de Artes - 3226-2649.

Almir de Moraes, Eliud e Lucelena Paiva, João e Nair Montoro, Laurindo e

Sueli Merizzio, Maria Lourdes Freitas - Ministério do Diaconato.

Pastores das Congregações:

Pra. Alice M. G. Silva - Congregação Jd. Alvorada - 3026-4387.

Pr. Antonio dos Santos - Congregação Jd. Oásis - 3301-8755 / 9928-7345.

Pr. Carlos B. Lacerda - Congregação em Paiçandu - 3305-1231.

Pra. Marta P. Martins - Pra. Congregação Zona 05 - 3222-6820.

Pra. Margarete Maria Saes - Pra. Cong. Jardim Los Angeles - 3031-6135.

Pra. Oricena V. Pinto - Congregação João de Barro - 3255-0023.122

2.3 REUNIÃO DE CÉLULAS – GRUPOS FAMILIARES As células funcionam, em sua maioria, em grupos de sete pessoas, sob a

orientação do Presbitério da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá, que

122 Todos os nomes e telefones foram obtidos por meio do site da Igreja Comunidade Evangélica

de Maringá: http://www.comunidade.org.br/index.php, acessado em 22.05.2010.

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outorga as coordenadas aos líderes, que têm autoridade para pastoreamento

desses grupos.

As reuniões são realizadas na residência de um dos participantes. Por sua

característica informal, as pessoas, após serem inseridas no grupo, sentem-se

pertencente a ele. As reuniões de células promovem comunhão, orientação sobre

temas religiosos e sociais, fortalecimento emocional e desenvolvimento do caráter

do fiel.

A ferramenta para os estudos realizados nas células são os livros da Bíblia. Afirma-

se que se ensina para os participantes, membros ou não, a como reagirem e

praticarem, no dia-a-dia, o estilo de vida cristão diante das necessidades familiares,

profissionais ou emocionais.

Cada líder de célula tem o compromisso de “cuidar de perto” de seus membros,

visitando, aconselhando e orando. Nessas reuniões, ao contrário do culto, em que

as pessoas são apenas ouvintes, estas têm uma participação importante. Elas

questionam, discordam, aprendem e ensinam.

As células têm também o propósito de trazer crescimento à Igreja, e, por isso, há

um interesse duplo na participação dos não membros da Igreja.

2.4 PRÁTICAS POR MEIO DO ATENDIMENTO PSICOLÓGICO O aconselhamento psicológico oferecido pela Igreja Comunidade Evangélica de

Maringá é realizado objetivando dar amparo emocional aos fiéis. Ou seja, está

disponível apenas para os fiéis dessa denominação. Dessa maneira, para o

integrante da Igreja interessado em obter ajuda psicológica, é marcado

previamente um atendimento pastoral, com o objetivo de avaliar qual é a sua

necessidade.

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Essa primeira análise ocorre por dois fatores: primeiro por se tratar de uma Igreja e

pelos pastores estarem à disposição dos membros; segundo porque os psicólogos

são voluntários e em menor número, o que resultaria em demora no atendimento.

Cabe, portanto, ao pastor avaliar se o fiel realmente necessita do psicólogo ou do

atendimento pastoral. Quando o pastor está convencido da necessidade, o fiel

passa a receber ajuda dos psicólogos.

Os atendimentos são agendados pela secretaria da sede. Esse ministério conta

ainda com o trabalho de uma estagiária do curso de psicologia, que realiza o

trabalho de triagem e a primeira entrevista.123

Afirma-se que o atendimento psicológico visa a dotar a Igreja de um recurso que

auxilie seus membros na busca da restauração do seu “eu”, da cura das feridas

mais íntimas e profundas, contando com o que a Igreja define ser um diferencial:

todo procedimento terapêutico é pautado nos princípios bíblicos, aliando-se

psicologia e teologia.

Pelo fato de os psicólogos serem membros da própria Igreja, há uma comunicação

entre pastor e psicólogo, pois, da mesma forma que o pastor indica o psicólogo,

este, quando convencido de que o fiel superou seu problema, dá-lhe alta ou se

julgar necessário, encaminha-o para aconselhamento pastoral.

Segundo o entendimento dessa Igreja, o verdadeiro cristão busca chegar à

“estatura de varão perfeito”, por isso deve, a cada dia, ficar mais parecido com

Jesus. Sendo assim, precisa estar limpo e liberto de quaisquer laços ou prisões,

como feridas na alma e transtornos psicológicos. Dessa forma, essa Igreja afirma

que todas as patologias podem ser curadas espiritualmente, ou seja, pelo poder de

Deus mas, assim como Deus usa os médicos, dando-lhes sabedoria e conheci-

mento para tratar os transtornos físicos, da mesma forma, usa os psicólogos para

123 Texto extraído do site oficial da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá, em 28.05.2010

http://www.comunidade.org.br/index.php.

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tratar dos transtornos psicológicos (emocionais). Fundamenta-se no versículo

bíblico do profeta Daniel:

“... instruídos em toda a sabedoria, doutos em ciência, versados no conhecimento...” (Daniel 1:4).

O Ministério de Psicologia Clínica da Comunidade Evangélica de Maringá conta

com uma equipe de três psicólogas, que realizam o atendimento sem custo algum

para os membros da sede e das congregações.

2.5 AS PRÁTICAS ÀS FAMÍLIAS E AOS CASAIS

A família é valorizada na Igreja Comunidade Evangélica de Maringá. O segundo

casamento não é realizado por essa denominação. Contudo, reflexo da sociedade,

o número de pessoas que estão no segundo casamento cresce de forma

significativa, e muitos casais nessa situação, tornam-se membros de alguma Igreja

Evangélica.

Assim como os casais do segundo casamento, mulheres separadas, mães solteiras

e avós que são chefes de família já somam um número expressivo dentro das

Igrejas. Por sua vez, a Comunidade Evangélica de Maringá acolhe essas pessoas,

minimizando ao máximo as sequelas das denominadas novas famílias, com

aconselhamento pastoral e psicológico, além de intensificar o seu trabalho, na

família tradicional.

Para isso, contam com o ministério de casais. Todos os casais da Igreja são

obrigados a participar do curso Casados para Sempre, importado dos EUA – MMI –

Marriage Ministries International, fundado em 1983, no Colorado.

O alvo do ministério e o propósito do curso Casados para Sempre é equipar e

capacitar os casais para lhes proporcionar vida em plenitude no relacionamento, o

que o ministério denomina de uma-só-carne. Assim, seriam capazes de cumprir o

chamado de Deus em suas vidas.

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Nesse ministério, os princípios bíblicos são compartilhados semanalmente,

transmitindo aos casais maneiras de se relacionar entre os membros da família,

sob a influência do poder do Espírito Santo, tornando seus lares oásis de paz, para

sua vizinhança e comunidade, afirma a Comunidade Evangélica de Maringá. Dessa

forma, a Igreja declara que cada lar se torna um “farol”124, em que o casal torna-se

apto a ministrar salvação, libertação e cura, em nome de Jesus. Declara ainda que

a força, a unidade e o poder sinérgico que emana desse relacionamento de uma-

só-carne são usados por Deus para ministrar a outros casais.

Para aqueles casais, cujos lares estão enfrentando problemas no relacionamento

conjugal, a Igreja afirma que o curso oferece esperança de reconciliação e cura. Os

casamentos que ficaram “frios” e rotineiros, descobrem nova vida e vibração. Por

outro lado, afirmam que os casamentos que já têm uma base sólida caminham

para a excelência e aprendem a usar sua estabilidade para reproduzir vida em

outros casamentos.

O curso tem a duração de catorze semanas, sendo composto de catorze lições. As

aulas possuem dinâmicas e, segundo a Igreja, os casais, durante o curso, vibram

com o aprendizado e se fortalecem cada dia mais. O curso ajuda a construir

casamentos fortes, com base no diálogo, compreendendo as necessidades de

cada cônjuge, e com mudanças nos comportamentos, por meio da visão, do

propósito e do direcionamento oferecido pelo curso.

O curso Casados Para Sempre está aberto para os casais integrantes da Igreja e

também para casais que não são membros da Igreja.

124 Texto extraído do site oficial da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá, em 28.05.2010

http://www.comunidade.org.br/index.php.

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2.6 PRÁTICAS NA CONSCIENTIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE DOS PAIS

Por meio do curso denominado Pais para toda Vida, a Igreja afirma que orienta e

estimula a conscientização da responsabilidade dos pais sobre seus filhos. Os pais

são orientados e treinados a perceberem que os filhos são o reflexo da educação

dos próprios pais e que, portanto, os filhos serão o reflexo deles. Os pais são

levados a compreenderem que, para dar estabilidade e segurança aos filhos, o

casamento deve estar sobre o que denomina a base da aliança, em que cada

cônjuge cumpre o seu papel.

O curso procura despertar nos pais a alegria e gratidão de entenderem os filhos

como um presente de Deus. São estimulados a descobrir o temperamento singular,

os dons de motivação e a linguagem de amor deles e a amá-los incondicional-

mente; a compreender a diferença entre contribuir e investir tempo na vida dos

filhos; a aprender a estar presente na vida diária deles, e a desenvolver um caráter

piedoso nos filhos, tanto nas atitudes como no comportamento.

O curso tenta orientar ainda sobre como exercer a disciplina baseada na

autoridade de pais e não no poder; como transferir sabedoria, compreensão e

conhecimento aos filhos, para que eles sejam felizes, protegidos e prósperos na

vida; como ter um relacionamento com alegria, entre os pais e filhos e entre os

irmãos.

Há ainda ensino de fundamentos da educação e da disciplina, a maneira de Deus,

sobre como criar a moral nas crianças, a fim de que os filhos tenham a capacidade

de discernir o certo do errado; como saber o momento certo e a forma correta de

dizer que ama o filho; e por fim, como ensinar os filhos a respeitarem corretamente

às autoridades, aos pais, aos idosos e a se tornem cidadãos honrados e

vencedores.

Durante o curso, há diálogo e troca de experiências entre os casais e entre os

palestrantes. O curso é disponível para os fiéis da Igreja e demais membros da

sociedade.

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2.7 PRÁTICAS NO MINISTÉRIO INFANTIL

O Ministério Infantil tem como objetivo, oferecer ensino religioso às crianças nos

horários de cultos e também nas reuniões de células. O alvo dos professores é

ensinar as crianças a pensarem, mediante as perguntas: O quê? Por quê?

Como? Onde? Quando? Por quem? Bem como motivá-las a meditar na palavra

de Deus diariamente, levando-as a conhecer mais a Deus.125

As crianças que participam desse ministério têm entre 18 meses a 10 anos de

idade e são organizadas por faixa etária: entre 18 meses a 3 anos; entre 4 e 6

anos; entre 7 e 8 anos; e por último, entre 9 e 10 anos.

As reuniões são realizadas às terças-feiras, quintas-feiras e domingos, com

ensino e aprendizagem, de acordo com a faixa etária e suas necessidades.

A reunião da terça-feira é denominada de célula. Os grupos de células são

compostos por crianças e juvenis de 6 a 12 anos, sempre às 20h, no templo da

Comunidade e nos templos dos bairros. O objetivo das células é discipular e

também agregar pessoas à Igreja, visa a alcançar vizinhos, amigos e parentes

dos frequentadores.

A cada dois meses, realiza-se uma confraternização entre as células, com

integração lazer e evangelismo entre as crianças e os amigos convidados. Com

os mesmos objetivos, a cada final de semestre, realiza-se outra confraternização

em uma chácara, onde cada células apresenta teatro, músicas ou danças.

Desenvolvem-se também algumas atividades como: escola bíblica de férias (4 a

12 anos), coral infanto-juvenil (7 a 16 anos), noite do pijama (2 a 6 anos) e

125 Site da Comunidade Evangélica de Maringá, acessado em 02.06.2010

http://www.comunidade.org.br/index.php.

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reuniões e acampamentos (7 a 12 anos), esportes e recreações (até 12 anos),

além de programas especiais em datas comemorativas.

2.8 PRÁTICAS NO MINISTÉRIO DE ADOLESCENTES

A Comunidade Evangélica de Maringá afirma que o Ministério de Adolescentes,

incentiva a participação dos juvenis nos discipulados. Por meio do ensino

religioso, a Igreja procura levar os adolescentes a terem compromisso com Deus,

com a Igreja e com a família. Para isso, eles são orientados a obedecer aos

fundamentos da vida cristã, como a fé, a santidade, o amor a Deus e ao próximo.

As atividades são semanais com o culto teen. As células (reuniões em grupos

pequenos), o curso de formação de líderes (discipulado) e o ensaio da banda

teen, são para aqueles com vocação musical. São realizadas também algumas

atividades anuais como os acampamentos, evangelismos, intercâmbios com

outros grupos evangélicos, e as tardes esportivas e recreativas, como gincanas e

arborismo.

Afirma-se que os adolescentes procuram se comportar dentro dos padrões

aprendidos na Igreja e se esforçam para influenciar no relacionamento familiar,

escolar e em seus círculos de amizades. O adolescente adquire consciência

sobre sua parcela de responsabilidade e sobre seus atos, segundo a Igreja.

Dessa forma, assumem uma postura de vida comedida, e a grande maioria deles

não fuma, não ingere bebidas alcoólicas, não usa drogas, não se envolve com o

crime, é avessa à violência, estuda mais, é consequentemente mais educada e

procura respeitar os pais e as autoridades.

De maneira geral, as Igrejas têm o propósito de formar pessoas, para seguir as

normas e crenças em Deus. E a Comunidade Evangélica de Maringá confirma

que procura orientar os adolescentes para amarem e “servirem” a Deus.

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Os adolescentes procuram influenciar outras pessoas de sua convivência, na

família, escola, ministério e em seus círculos de amizades. O que se evidência é

que há benefícios também à Igreja, com o acréscimo de fiéis. A faixa etária varia

entre 13 a 17 anos, aproximadamente.

Por meio das reuniões de células, eles podem se expressar, perguntar, aprender

e ensinar. Há diálogo e comunhão. Esse ministério cria um ambiente acolhedor

para os participantes do grupo e também aos visitantes.

2.9 PRÁTICAS NO MINISTÉRIO DE JOVENS Os integrantes deste ministério são os jovens que ultrapassaram a faixa etária

do grupo de adolescentes, ou jovens que se converteram com dezoito anos ou

mais. Estão incluídos neste ministério todos os solteiros.

As atividades reforçam e ampliam o ensino religioso, que foi aplicado pelo

ministério de adolescentes. Os temas das reuniões visam sempre a firmar o

compromisso com Deus e com a Igreja, e são abordados com mais ênfase do

que no ministério de adolescentes. Os temas principais são: vida religiosa e

familiar, trabalho, namoro, sexo, drogas e vícios em geral.

Os jovens são orientados sobre a importância e a responsabilidade de estudar,

escolher uma profissão, sobre o noivado, o casamento e preparados e

motivados para um relacionamento de acordo com os valores adquiridos na

Igreja e a expressá-los em sua família, na escola, na faculdade, no trabalho e

entre os amigos.

As atividades desse ministério são realizadas nos cultos específicos para os

jovens e em pequenos grupos (as células). São realizadas esporadicamente,

atividades de cunho evangelístico e de consciência sobre os problemas sociais,

por meio da distribuição de sopas e outros alimentos em ruas do centro da

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cidade, onde há concentração de mendigos, drogados e prostitutas, ou em

bairros carentes.

Conforme declara a Igreja, a missão e os propósitos do Ministério de Jovens é

“ganhar” jovens não-cristãos, integrando-os a pequenos grupos, ensinando-os a

obedecer a Palavra de Deus, a fim de adorar e servir a Deus com suas vidas.

Para isso, orientam e incentivam esses jovens através do ensino religioso, a

praticarem a oração diaria, a fazerem leitura da Bíblia, terem uma vida exemplar,

com bom testemunho de vida cristã, afim que tenham maturidade espiritual e

que isso se reflita, em amor e serviço na pregação do Evangelho e àqueles que

não são convertidos a Jesus.

Cita-se a frase creditada a Joel A. Baker para expressar a visão desse

ministério:

"Visão sem ação não passa de sonho. Ação sem visão é só um passatempo. Visão com ação pode mudar o mundo”.126

2.10 PRÁTICAS NO MINISTÉRIO HOMENS E MULHERES DE NEGÓCIO.

Esse Ministério é voltado para os empresários, profissionais liberais, autônomos,

homens e mulheres de negócios. Foi criado no exemplo da Adhonep. Contudo, em

razão da distância daquela, que realiza suas reuniões normalmente em hotéis e

restaurantes de luxo, a Comunidade Evangélica de Maringá adaptou o conceito

para aplicá-lo na própria Igreja. As reuniões são realizadas às segundas-feiras às

18h30 min.

126 Site da Comunidade Evangélica de Maringá, http://www.comunidade.org.br/index.php,

acessado em 02.06.2010.

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Realizam-se ainda alguns eventos, como café da manhã, jantares, seminários ou

palestras nas empresas e em outros locais. Também são feitas visitas e

aconselhamento empresarial aos interessados.

As reuniões, além de motivacionais, são educativas e abordam temas sobre

administração e finanças. Há testemunhos de empresários e profissionais liberais

que experimentaram e obtiveram resultados positivos com o que aprenderam.

Afirma-se que esse ministério proporciona aos empresários e profissionais liberais,

o embasamento bíblico e a capacitação necessária para transpor todas as

barreiras que surgem no dia-a-dia, fortalecendo e incentivando, na orientação da

Palavra de Deus, o espírito empreendedor existente em cada um, a fim de que

venham a alcançar satisfação, vitória e prosperidade nos seus empreendimentos e

nas demais áreas de suas vidas.

Os temas abordados são variados, e qualquer pessoa interessada pode participar

das reuniões. Esse ministério recebe currículos de empregados que são anuncia-

dos aos participantes, proporcionando algumas oportunidades de emprego.

2.11 A IGREJA INSERIDA NOS BAIRROS CARENTES DA CIDADE

Maringá é uma importante cidade, tanto no Paraná quanto no Brasil. Atualmente,

ocupa a posição de terceira cidade mais populosa do Estado e a sexta cidade mais

rica do Paraná. No ranking nacional, é a 65ª cidade mais rica do país.

Lamentavelmente o progresso, o sucesso e a economia da cidade não consegui-

ram eliminar os mesmos problemas existentes nas demais cidades do país. Os

problemas sociais são reflexo de um complexo maior, entre os quais estão a

globalização e a exclusão social.

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O analfabetismo, a falta de capacitação técnica, o desemprego, os crimes, o

consumo excessivo de álcool, consumo e tráfico de drogas, a prostituição, a

violência doméstica, a AIDS e o crescente número de adolescentes grávidas estão

entre as inúmeras mazelas que avançam na cidade de Maringá.

Nos Bairros João de Barro e Santa Felicidade, as consequências da exclusão

social são percebidas à luz do dia. Jovens e adultos podem ser encontrados

consumindo ou vendendo drogas. O alcoolismo também está presente em grande

parte da população masculina e tem crescido seu consumo também entre as

mulheres. Observam-se famílias sendo destruídas, seja por meio da prisão do

marido, seja pelas constantes intrigas que geram violência doméstica, separação

dos casais e a criação das chamadas novas famílias. Os filhos recebem, nessas

circunstâncias, um modelo de comportamento reprovável, mas que tendem a

repetir de forma ainda mais cruel.

A Igreja Comunidade Evangélica de Maringá afirma que instalou suas

congregações em bairros específicos, principalmente nesses dois bairros, para

que, de acordo com a realidade destes, pudesse implementar melhor suas práticas

sociais, para amenizar os diversos problemas sociais ali encontrados. Nessa

expectativa, estabeleceu-se uma Congregação nos Bairros: Jardim Oasis, Jardim

Los Angeles, Zona 05, Jardim Alvorada e nos mais necessitados João de Barro e

Santa Felicidade.

2.12 A IGREJA COM UMA MISSÃO

A Igreja Comunidade Evangélica de Maringá entende, como a grande maioria das

Igrejas Evangélicas, que sua missão primordial é a pregação do evangelho.

Entretanto, como Igreja neopentecostal, enfatiza o que considera ser uma vida

plena. Essa referência à vida plena está relacionada às bênçãos que os fiéis têm à

disposição, pelo fato de terem se convertido ao evangelho, estando aptos, portanto,

a receberam a prosperidade e libertação - espiritual, emocional e financeira.

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Descreve da seguinte forma a missão da Igreja:

Nossa missão é a pregação do evangelho e a capacitação do homem para a vida plena conferida por Cristo. Queremos que cada membro da Comunidade seja um ministro de Deus, cheio de fé, santidade, amor e compromisso com Deus e com o próximo.127

2.13 A ORGANIZAÇÃO REVIVER

As primeiras práticas sociais da Comunidade Evangélica de Maringá, focadas nos

Bairros João de Barro e Santa Felicidade, ocorreram de forma mais acentuada fora

do território da Igreja, ou seja, aconteceram dentro de um espaço cedido pela

direção da escola local, a Escola Municipal Benedita Natália Lima.

Essa prática social da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá, nos bairros João

de Barro e Santa Felicidade, ficou conhecida como Projeto Cenita, em razão de a

Pastora Cenita ter iniciado e liderar as atividades no local.

Essas atividades se realizaram com ações de caridade e promoção humana,

desenvolvidas por meio de doações de alimentos, roupas, calçados, brinquedos e

também de orientações familiares, atividades festivas, fortalecimento espiritual,

atividades recreativas e educativas para crianças, acompanhada de distribuição de

lanches.

Com o passar do tempo, a Igreja percebeu a necessidade de uma ação mais

efetiva e resolveu separar as atividades religiosas das demais ações sociais e

valorizar as soluções do próprio bairro, pois as soluções eram de cima para baixo.

A Igreja afirma que refletiu sobre as necessidades reais daqueles excluídos e como

seria a melhor forma de contribuir para amenizar os problemas sociais, com mais

agilidade e eficiência. Para conseguir que as atividades resultassem numa 127 Site da Comunidade Evangélica de Maringá, http://www.comunidade.org.br/index.php

acessado em 07.06.2010.

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abrangência maior das práticas sociais necessárias e desejadas para aqueles

bairros carentes, decidiu criar uma Organização por meio do Terceiro Setor.

Declara que entendeu que mais importante do que divulgar e propagar o nome da

denominação, era ajudar as pessoas excluídas e necessitadas. A Igreja com-

preendeu que a criação de uma organização romperia com o assistencialismo,

possibilitando também receber recursos de fontes diversas, inclusive dos não

simpatizantes com uma instituição religiosa.

Conforme afirma Kappaun128, no Terceiro Setor, o oferecimento de serviços à

população, por intermédio das ONGs, são mais eficientes do que aqueles que são

oferecidos pelo Estado, quando o Estado atua de forma insuficiente.

O Terceiro Setor se tornou possível devido às mudanças ocorridas a partir da

década de 1990, do modelo de associativismo em todo o mundo. A sociedade civil

mobilizou-se por meios dos movimentos sociais e das Organizações Não-

Governamentais (ONGs) para oferecer socorro, ainda que limitado, diante da

vastidão dos problemas sociais.

Segundo o autor, a transferência dos serviços públicos para a sociedade civil,

mediante as ONGs, trouxe à tona o denominado Terceiro Setor, que tem

representado um fenômeno de proporções mundiais e tem incorporado as ações

referentes ao enfrentamento das questões sociais, por meio de ações organizadas

pela sociedade civil e de empresas no mundo contemporâneo.

O Estado é o Primeiro Setor, representado por entes políticos, ou seja, as

Prefeituras Municipais, os Governos dos Estados e a Presidência da República,

além de entidades a estes entes ligados, como os Ministérios, as Secretarias, as

Autarquias, entre outras. Trata-se, portanto, do setor público, que obedece ao seu

caráter público e exerce atividades públicas e aplica, ou deveria aplicar o dinheiro

128 KAPPAUN, M. A Práxis Social da Igreja: Inserção Pública Transformadora. Campinas:

Editora Batista Independente, 2008. p.23.

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público em ações para a sociedade, com a finalidade de diminuir as desigualdades

sociais, erradicar a pobreza, a marginalização e promover o bem-estar de todos,

sem preconceito de origem, etnia, gênero e cor, construindo uma sociedade mais

justa e solidária.

O Segundo Setor caracteriza-se por bens e serviços, com lucros e benefícios

próprios, voltados para si mesmos. Nele estão incluídos o mercado e as empresas

que exercem atividades privadas, ou seja, que atuam em benefício próprio e

particular, cujo objetivo é o sucesso e o lucro, sem compromisso com as condições

sociais do individuo.

Paradoxalmente, é o mercado, por meio das empresas, que investem no Terceiro

Setor. Dessa forma, as empresas contribuem economicamente, o que permite o

enfrentamento de parte dos problemas sociais, de uma parcela da grande popula-

ção excluída. Vale ressaltar que o investimento das empresas no Terceiro Setor

ocorre devido à motivação em receber incentivos fiscais, concedidos pelo Estado.

O Terceiro Setor nasceu da discussão sobre o fortalecimento da sociedade civil

que, em decorrência da democratização globalizada, o Estado não conseguiu

realizar sua função na totalidade. Dessa forma, seu objetivo é complementar ou

substituir as ações que deveriam ser executadas pelo Estado.

Assim, o Terceiro Setor é composto por organizações privadas, sem fins lucrativos,

que atuam nas lacunas deixadas pelos setores público e privado, buscando a

promoção do bem-estar social. Não é nem público nem privado, é um espaço

institucional que abriga entidades privadas com finalidade pública.

O Terceiro Setor é formado pelas ONGs, sem fins-lucrativos, ele pode ser de

natureza religiosa, filantrópica e solidária e prestar serviços gratuitos à população.

O termo ONG foi denominação dada pela ONU, para designar as entidades de

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caráter privado, com fins públicos, executores de projetos humanitários ou de

interesse público transnacional.129

Mas isso não exime o Governo de suas responsabilidades, pois tais entidades são

um reconhecimento de que a parceria com a sociedade permite a formação de uma

sociedade melhor. O Terceiro Setor não é, e não pode ser, substituto da função do

Estado. A ideia é de complementação e auxílio na resolução dos problemas

sociais.

Com esse propósito, foi fundada, em junho de 2003, a Organização Reviver, para

ser o braço social da Comunidade Evangélica de Maringá. A Organização Reviver

é dirigida pela Pastora Irene Ribarolli Pereira da Silva, presidente da Comunidade

Evangélica de Maringá.

O início do trabalho da Organização Reviver caracterizou uma nova e importante

fase nas práticas sociais da Igreja. Contribuiu para incrementar as atividades

realizadas nos bairros João de Barro e Santa Felicidade, bairros pobres da cidade,

envolvendo voluntários na prestação de serviços e incentivando os fiéis a ter um

compromisso prático com os mais necessitados.

As ações deixaram de ser realizadas na Escola Municipal Benedita Natália Lima. A

Igreja construiu uma congregação no bairro e cedeu parte do espaço desse imóvel

para a realização das atividades da Organização Reviver.

Essa Organização afirma realizar as práticas sociais, de acordo com as normas

exigidas do CMDCA (Conselho Municipal da Criança e do Adolescente) e COMAS

(Conselho Municipal da Assistência Social). Pautada em suas diretrizes, a

Organização Reviver elaborou o Projeto Reviver, que oferece ações voltadas a

crianças, adolescentes e seus familiares, contemplando também famílias em

situação de vulnerabilidade social.

129 BRITO, B. W.B.; LIBERAL, M.M.C. O Impacto da Práxis Religiosa na Construção de Vínculos

Sociais. São Paulo: Editora Expressão & Arte, 2009. p. 81.

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A Organização Reviver conta, em seu quadro de recursos humanos, com três

instrutores contratados. Também dispõe da contribuição de voluntários, uma

assistente social, uma coordenadora de projetos, além de vários outros

profissionais de diversas áreas de atuação.

Os principais objetivos da Organização Reviver são:

Promover a inclusão social de crianças e adolescentes em situação de risco;

oferecer novas alternativas para a geração de renda às famílias; resgatar a

dignidade pessoal, elevando a autoestima e autoconfiança; fortalecer e preservar a

família.

2.14 PROGRAMA DE ORIENTAÇÃO E APOIO ÀS FAMÍLIAS

O Programa de orientação e apoio às famílias tem como objetivo principal

complementar as ações que foram ou estão sendo desenvolvidas com as crianças

e os adolescentes que estão matriculadas na Organização Reviver.

Por meio das atividades e demais ações feitas junto às famílias dessas crianças ou

desses adolescentes, procura-se contribuir para melhorar o convívio familiar e,

consequentemente, o seu bem-estar social.

As ações deste programa são definidas de forma a:

Realizar encaminhamentos aos recursos da comunidade; desenvolver a cidadania;

melhorar a relação afetiva com os filhos; orientar na solução das dificuldades

pessoais e familiares; melhorar o nível de conhecimento e informações por meio de

palestras.

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2.15 CURSOS DE CULINÁRIA E ARTESANATO.

Esses cursos, para sua operacionalização, conta com parcerias para o patrocínio

financeiro e ocupação do espaço físico. O público alvo da ação são os familiares

dos alunos inseridos nos projetos da Organização Reviver e as famílias em

situação de vulnerabilidade social.

A pretensão dos cursos é despertar o interesse em desenvolver a arte da culinária

e do artesanato como alternativa de geração de renda. A culinária visa também a

instalar novos hábitos alimentares, para melhorar o padrão de saúde da família,

desenvolver hábitos de higiene no preparo dos alimentos, elevar a autoestima e

melhorar o relacionamento familiar.

2.16 OFICINA DE RECREAÇÃO

Voltada para crianças e pré-adolescentes entre 7 e 12 anos de idade, de ambos os

sexos, a oficina de recreação tem como objetivo tirar as crianças e os adolescentes

das ruas, desenvolver a consciência crítica, promover o interesse coletivo, além de

elevar sua autoestima e autoconfiança.

Nelas, as atividades oferecidas são futsal, a biblioteca ambulante, desenhos e

fantoches, confecção de brinquedos com garrafas pet, resgate das brincadeiras

antigas, como amarelinha, lenço-atrás e cabo-de-guerra.

2.17 ACADEMIA DE MÚSICA

As aulas da academia de música tem a finalidade de aprimorar a concentração, a

disciplina, a criatividade e o equilíbrio físico e emocional.

Seu público alvo são as crianças e jovens entre 8 a 17 anos de idade, de ambos os

sexos. As aulas são de violão, teclado, bateria, contra baixo e guitarra.

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O objetivo principal é utilizar a música como elemento de desenvolvimento pessoal

de transformação e inclusão social, além de propiciar o conhecimento e

aprimoramento nos instrumentos e nas técnicas musicais, visando à harmonia dos

grupos a serem criados, bem como a execução de audições e apresentação de

recitais.

2.18 OFICINA DE DANÇAS

Criada para atender as crianças de 6 a 12 anos de idade, de ambos os sexos, a

oficina de danças desenvolve os cursos de Ballet e Street Dance. Seu objetivo é

evitar que as crianças fiquem nas ruas, promovendo assim, a inclusão social dos

alunos e o desenvolvimento de habilidades específicas, por meio da dança, como

resistência, força, flexibilidade, agilidade, destrezas motoras e comunicação

corporal.

2.19 O RECONHECIMENTO DE UTILIDADE PÚBLICA DA ORGANIZAÇÃO REVIVER. Por meio do Projeto de Lei n.11.331/2009, de autoria do Vereador Paulo Soni, a

Organização Reviver foi declarada de Utilidade Pública para a cidade de Maringá.

Por meio desse reconhecimento, ampliou-se a credibilidade da população sobre as

atividades realizadas e geraram-se outras oportunidades para receber recursos em

função dos trabalhos realizados pela Organização. O reconhecimento motivou

também a vinda de novos voluntários para os trabalhos efetuados e motivou outros

a divulgar e participar financeiramente do projeto.

2.20 PROJETOS FUTUROS A Organização Reviver pretende ampliar significativamente o número de pessoas

atendidas, aumentando também as atividades e demais projetos que possibilitem

contribuir para a transformação dos indivíduos e da sociedade local.

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Contudo, é pequeno o local onde a Organização atende no conjunto habitacional

João de Barro/Santa Felicidade, em Maringá, ao lado da Congregação da

Comunidade Evangélica de Maringá, o que limita a ampliação das atividades.

Dessa forma, há um projeto para a aquisição de um novo espaço para a

construção da sede da Organização Reviver, com área suficiente para atender o

maior número possível de pessoas.

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CAPÍTULO 3 CONCEITOS E ANÁLISES DAS PRÁTICAS SOCIAIS DA IGREJA COMUNIDADE EVANGÉLICA DE MARINGÁ Após descrever as principais práticas sociais, realizadas tanto interna como

externamente, pela Igreja Comunidade Evangélica de Maringá, neste capítulo,

serão abordados temas importantes para a estruturação desta pesquisa, como a

transformação do indivíduo e da sociedade.

Dessa forma, serão mencionados o conceito de pastoral e as críticas ao termo

ministério, a contribuição da educação para a transformação social, os conceitos de

Práxis, a diferença entre Práxis e Prática, a origem e aplicação da Práxis após

Marx. Posteriormente, as práticas sociais da Igreja Comunidade Evangélica de

Maringá serão novamente mencionadas, para a realização da análise, à luz da

Práxis Religiosa.

3.1 A PASTORAL, OS CONCEITOS E AS CRÍTICAS AO TERMO MINISTÉRIO Conforme ensina Silva130, estabeleceu-se ao termo ministério, uma forte crítica,

como categoria abarcante e descritiva das ações eclesiais e por sua íntima relação

com a teologia pastoral anglo-saxônica.

Segundo o autor, na tradição católica, a partir do Vaticano II e de Medellin, a Igreja

Católica Romana, no contexto da América Latina, experimentou uma radical

mudança no seu processo de formação pastoral e no agir da Igreja. A nova ótica se

estabelece a partir da análise da realidade, desenvolvendo um novo instrumental

teológico e uma nova postura pastoral, pela necessidade de uma pastoral que 130 SILVA, G.J. Idéias Fundamentais Para o Estudo da Teologia Prática: Uma Abordagem a

Partir da Questão do Método. São Bernardo do Campo: Estudo de Religião nº 12/1996. p. 207.

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consiga adaptar-se às diversidades e pluralidades culturais e sociais do povo latino

americano.

Dessa forma, conforme Silva, a pastoral deixou de ser um instrumento para manter

a tradição e começou a ter uma dimensão social e política. O agente da pastoral

não está mais preocupado com a manutenção, mas com as possibilidades de

atuação na sociedade, em especial com os menos favorecidos.

Na definição de Libanio131, pastoral é a Igreja em marcha, é o agir da Igreja no

mundo, é a sua face prática.

Castro132 define o termo pastoral no âmbito católico, como a ação do povo de Deus

na comunidade eclesial e principalmente na realidade social. Pastoral é a ação do

povo de Deus na realidade cotidiana, onde, na relação tempo e espaço, o ser

humano se encontra. A preocupação básica da pastoral é a eficácia e a relevância

da fé cristã. Para o autor, a pastoral é também responsável pela inserção do povo

de Deus no espaço público.

Argumenta ainda que pastoral é ação intencional, sistemática e organizada

coletivamente, fruto do esforço missionário da Igreja que busca mudanças,

vislumbrando novos tempos na perspectiva do reino messiânico de Deus. Não se

trata de qualquer tipo de ação; não pode ser vazia de sentidos. É a ação que

instaura o novo. Não é ação isolada, individual e personalizada do pastor ou da

pastora, mas a ação da comunidade da fé, organizada em pastorais específicas,

que atua e colabora na produção de eventos de ação pública.

Castro descreve que, no senso comum das comunidades evangélicas, o conceito

de pastoral tem um forte conteúdo clerical que se relaciona com atividades do

pastor ou da pastora, o que gera certa confusão entre os evangélicos quanto ao

uso do termo pastoral. O autor ressalta ainda que ministério, com certa probabili-

131 LIBANIO, J.B. O que é Pastoral. São Paulo: Editora Brasiliense, 1982. p.11. 132 CASTRO, C.P., op. cit., p.105.

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dade, é a expressão usada pelos evangélicos que mais se aproxima do sentido da

palavra pastoral. Na experiência católica, o termo pastoral tem encontrado maior

ressonância, e a comunidade procura vivenciá-lo de forma mais presente nas

ações pastorais. O termo ministério não traduz a realidade, nem motiva os fiéis que

não compreendem seu significado.Trata-se de uma palavra bonita, porém vazia.

Segundo Silva, no decorrer da história da Igreja, tanto de tradição católica como de

protestante histórica, em dado momento, o termo teologia pastoral foi absolvido

como pastoral ou ministério. Diversas tentativas foram realizadas no sentido de

substituir o termo ministério. Porém, ressalta o autor, que até os esforços liderados

pelo Centro Evangélico Latino-Americano de Estudos Pastorales (Celep) não

obteve êxito.

As Igrejas Evangélicas são resistentes ao termo pastoral e continuam a desen-

volver as suas experiências sempre voltadas para a visão de ministério. O termo

pastoral continua, em muitos círculos, com dificuldade de compreensão, por mero

preconceito ao termo, ou pelo fato de a palavra ser utilizada pela Igreja Católica.

A Comunidade Evangélica de Maringá, neste sentido, tem o mesmo entendimento

da maioria das Igrejas Evangélicas. Prefere denominar as áreas de atuação dentro

e fora da Igreja com o termo ministério. Os fiéis não são contemplados por um

termo mais exato e didático, pois o termo ministério não traz de imediato uma

relação com o seu objetivo central.

O termo pastoral, ao contrário da palavra ministério, favorece o entendimento, em

especial do leigo, e colabora para o entendimento de seu significado e objetivo. A

declaração de Clovis Pinto de Castro pode ser mencionada como exemplo de uma

melhor compreensão do termo, quando utiliza-se a palavra pastoral, ao afirmar que

a pastoral é a ação do povo de Deus na realidade cotidiana, onde, na relação

tempo e espaço, o ser humano se encontra133.

133 Ibid., p.105.

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3.2 A CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO PARA A TRANSFORMAÇÃO SOCIAL

Uma das formas de se definir educação é afirmar que trata-se do processo pelo

qual a sociedade forma seus membros a sua imagem e em função de seus

interesses.134Por consequência, a educação é a formação do homem pela

sociedade, ou seja, o processo pelo qual a sociedade atua constantemente sobre o

desenvolvimento do ser humano, no intento de o integrár no modo de ser social

vigente e de o conduzir a aceitar e buscar os fins coletivos.

Álvaro Vieira Pinto135 declara que, no ato do ensino, o educador se defronta com

verdadeiras dificuldades, obstáculos reais, concretos, os quais precisa superar. A

educação é, para o autor, a transmissão de uma consciência a outra, de alguma

coisa que um já possui e o outro ainda não. Não se trata da entrega de um

embrulho de uma pessoa para outra, mas de possibilitar uma modificação no modo

como essa outra pessoa, que é o aluno, está capacitada para receber

embrulhos136. Para o autor, a educação implica uma modificação de personalidade

e é por isso que é difícil de se aprender, porque ela modifica a personalidade do

educador ao mesmo tempo em que vai modificando a do aluno.

Na definição de Vieira Pinto, a função de educar é um atributo da elite social, de

onde derivam seus status de possuidora do saber e da cultura. Nas sociedades em

que não há oportunidades e o poder econômico se acha concentrado, a função de

educar é delegada a um pequeno grupo de indivíduos instruídos e deles se espera

que sirvam aos objetivos de tal sociedade. Nesta sociedade, o educador é

134 PINTO, A. V. Sete Lições sobre Educação de Adultos. São Paulo: Cortez Editora, 1994, 9ª.

Edição, p.29. 135 Ibid., p.21. 136 Ibid., p.22.

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concebido sempre como um funcionário, um servidor e não como um portador de

uma consciência.137

O motor da educação está no interesse da sociedade em aproveitar para seus fins

coletivos (definidos pelas camadas dirigentes), a força do trabalho de cada um de

seus membros. A finalidade da educação precisa ser nacional em sua plena

significação, pois deve ter como objetivo a transformação da nação. Por isso, a

educação tem de ser popular, por sua origem, por seu fim e por seu conteúdo. A

transformação das pessoas é o que constitui a substância da mudança na

realidade da nação.

Vieira Pinto define educação popular como a que dá possibilidade igual para todos,

em qualidade e quantidade, pois a finalidade da educação não se limita à

comunicação do saber formal, científico, técnico, etc. A comunicação é

indispensável para esses saberes; porém, segundo o autor, o que se intenta por

meio da educação é a mudança da condição humana do individuo que adquire o

saber.

Para Paulo Freire, a preocupação com o futuro, é a dimensão utópica da

educação138. Gromme, sobre isso, comenta que Paulo Freire quer dizer com isto

que a educação não deve permitir que a pessoa se molde pelo que já é, mas se

deve levá-la a construir um mundo melhor. Caráter utópico da teoria e prática da

educação, segundo Groome, é tão permanente quanto a própria educação.139

Segundo o autor, o homem educado pela sociedade modifica esta mesma

sociedade como resultado da própria educação que dela recebe. O que permite

refletir e afirmar é que esta verdade pode caminhar tanto para o bem como para o

mal, dependendo de como a sociedade o educou.

137 Ibid., p.48. 138 FREIRE, P. Ação Cultural para a Liberdade. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1981. p 48. 139 GROMME, T. H. Educação Religiosa, Compartilhando Nosso Caso e Visão. São Paulo:

Editora Paulinas, 1985. p.28.

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Contudo, a educação é substantiva e altera o ser do homem, e o homem que

adquire o saber, passa a ver o mundo e a si mesmo de um outro ponto de vista,

tornando-se um elemento transformador de seu mundo. Por isso, para o autor a

finalidade essencial da educação é a razão de que todo movimento educacional

tenha consequências sociais e políticas.140

3.3 A ORIGEM E O CONCEITO DE PRÁXIS NA GRÉCIA ANTIGA Santos Junior141 menciona que o conceito de práxis sofreu alterações e incorporou

contornos que melhor lhe definiram ao longo da história.

A partir da antiguidade grega, a filosofia ignorou e, muitas vezes, reprimiu o mundo

prático, pois a atividade prática era concebida como indigna de um ser humano

livre, pois todo trabalho braçal era realizado pelos escravos. Contudo, segundo

Floristan142, a origem da práxis se encontra nessa filosofia grega clássica, e foi

Aristóteles quem diferenciou práxis (atividade inseparável) de poiésis (ação transi-

tiva). A Práxis é um trabalho humano.

A práxis era definida como atividade imanente, como é a filosofia e a política,

enquanto a poiésis foi conceituada como uma ação transitiva, como a produção

artística ou técnica. Nessa forma de pensar, a práxis é um trabalho humano distinto

da técnica, ou da arte. Diferenciou-se também a práxis como atividade política da

vida teórica, por meio do uso da inteligência. Colocou-se teoria sobre a práxis.

A separação entre teoria e prática foi um trabalho realizado por Platão. Floristan

ressalta que a palavra teoria procede do verbo “teoreo”, que equivale a contemplar.

Donde se associa à contemplação das ideias, é dizer o real que está atrás das

aparências. Neste sentido, a teoria é um privilégio de uma minoria; à maioria das

140 PINTO, A.V. op. cit., p.49. 141 SANTOS JUNIOR, op. cit., p.89. 142 FLORISTAN, C. op. cit., p.173.

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pessoas basta à prática, ou participação na vida comunitária. A poiésis era

reservada aos escravos.

Os escolásticos traduziram a palavra grega práxis por ato, agir, que cedeu lugar ao

termo ação; e poiésis foi traduzida por produto, fazer. A práxis, segundo Aristóteles,

não é meramente a prática.

Conforme afirma Santos Junior, Platão reconhece uma práxis política a partir dos

princípios da teoria. A ideia de práxis na sociedade grega escravista corresponde

aos interesses de uma oligarquia dominante que não tem interesse na transforma-

ção dessa situação, ao contrário, prefere sua manutenção. Dessa forma, a práxis,

nesse período, é uma atividade relacionada à polis, exercida por homens livres, e a

reflexão era um elemento constante na práxis.

Santos Junior afirma que, nos primórdios da Grécia, existiram três atividades

humanas básicas; a práxis, a poiésis e a theoria. A partir disso, a atividade humana

tem sido objeto de estudo e debate entre os estudiosos em torno das diferenças

entre teoria e prática, ação e contemplação.143 O aprimoramento humano ocorria

pela negação de qualquer atividade prática material, separando a teoria, a

contemplação e a prática. Floristan declara que o cristianismo viveu durante anos a

tensão entre a ação e a contemplação, pois durante séculos se viveu apenas a

contemplação.

3.4 O CONCEITO DE PRÁXIS EM MARX

Santos Junior144, ao citar as onze teses de Feuerbach, escritas por Karl Marx em

1845, declara que a décima primeira tese é uma síntese do pensamento marxista: “Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes, a questão é transformá-lo.” 145

143 SANTOS JUNIOR, O.O. op. cit., p.90. 144 Ibid., p.96. 145 MARX, K.; ENGELS, F. op. cit., p.111.

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A tese menciona que qualquer vida social é essencialmente prática e que todos os

mistérios que levam ao misticismo encontram sua solução racional na práxis

humana e na compreensão dessa práxis.

Gruner146, por sua vez, afirma que a famosa décima primeira tese sobre Feuerbach

pode ser tomada, entre outras coisas, como um enunciado de epistemologia

radical, ou como um ultracondensado discurso do método de Marx. Para o autor,

Marx está afirmando que a transformação do mundo é a condição de uma

interpretação correta e objetiva e vice-versa. Dessa forma, a interpretação já é, de

certa forma, uma transformação da realidade que implica sentido amplo, mas

estrito, a um ato político, e não meramente teórico.147 Segundo o autor, é isso que

encerra o conceito de práxis que Marx toma dos antigos gregos. A práxis não é

simplesmente a unidade da teoria e da prática, pois assim a teoria e a prática

seriam duas entidades originais e autônomas, preexistentes, que logo a práxis viria

juntar de alguma forma e com certos propósitos.

Porém, Eduardo Gruner afirma que sua lógica é exatamente inversa, porque

sempre há práxis, pois a ação é a condição do conhecimento e vice-versa, pois

ambos polos estão constitutivamente coimplicados, que pode-se diferenciar os

momentos lógicos e não cronológicos nem ontológicos, com sua própria

especificidade e autonomia relativa, mas ambos no interior de um mesmo

movimento, da realidade social.148 Esse movimento, na maior parte das vezes

inconsciente, é o movimento da própria realidade social e histórica. Não se trata

esse movimento nem do puro pensamento teórico, nem da pura ação prática.

146 GRUNER, E. A Teoria Marxista Hoje, Problemas e Perspectivas. São Paulo: Clacso, Editora

Expressão Popular Ltda, 2006. p.103. 147 Ibid., p.104. 148 Ibid., p.104.

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Conforme Gruner, o que a genialidade de Marx fez foi mostrar que esse é o

movimento da realidade, e denunciar que certo pensamento hegemônico, ou

ideologia dominante, tende a ocultar essa unidade profunda, a manter separados

os momentos, promovendo uma divisão social do trabalho, com o objetivo de

legitimar o universo teórico da pura interpretação, como patrimônio do Amo; o

universo prático da pura ação é patrimônio do Escravo.

Nessa lógica, a classe dominante sabe que nem sempre a pura abstração da

teoria, nem o puro ativismo da prática tem realmente consequências materiais

sobre o estado de coisas do mundo, não produzindo o verdadeiro conhecimento da

realidade, no sentido de Marx.

Consoante Gruner, Marx tenta resolver, mediante a introdução da práxis da história

material, como critério básico do complexo conhecimento transformador/transfor

mação conhecedora, o falso dilema entre a ideia sem matéria e a matéria sem

ideia.149 E que a práxis que fundamenta o método de Marx constrói e produz seus

próprios objetos150, e de reconstruir e reproduzir os objetos, que são produtos da

práxis social-histórica em sua complexa totalização.

Dessa forma, Santos Junior descreve que o aporte filosófico moderno sobre a

práxis corresponde a Karl Marx. As ideias surgem da práxis material pela revolução

econômica e social, pela transformação na raiz.151 Descreve também que, para

Marx, o critério da verdade é a práxis da pessoa humana. A práxis é o fundamento

e fim de toda teoria. A partir de Marx, a práxis passa a ser compreendida como

prática social, atividade humana transformadora do mundo, pois não existe

possibilidade de emancipação e supressão das desigualdades entre as classes

sociais sem atitude práxis, porque nem a teoria, nem a prática, nem a existência

social podem libertar o ser humano.

149 Ibid., p.110. 150 Ibid., p.139. Objeto para o autor: o capitalismo, a exploração, a mais valia, a luta de classes,

etc. 151 SANTOS JUNIOR, O.O. op. cit., p.96.

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3.5 O CONCEITO E DIFERENÇAS ENTRE PRÁXIS E PRÁTICA EM VÁZQUEZ Vazquez realiza uma importante colaboração, ao esclarecer a diferença entre a

práxis e a prática, pois há uma tendência em associar os termos como sinônimos, o

que indubitavelmente é um equívoco irreparável.

Com a intenção de trazer luz sobre a associação entre esses termos, o autor, de

forma didática, enfatiza que toda práxis é atividade, mas que nem toda atividade é

práxis152·. Não existe igualdade entre atividade e práxis. Ele define por atividade,

em geral, o ato ou o conjunto de atos em virtude dos quais um sujeito ativo

modifica uma matéria-prima dada. Neste sentido, ato é sinônimo de ação.

Pela generalização, essa caracterização da atividade não especifica o tipo de

agente, quer seja físico, biológico ou humano, nem a natureza da matéria-prima

sobre o qual atua, nem tampouco determina a espécie de atos (físicos, psíquicos

ou sociais) que levam a certa transformação. O resultado da atividade, ou seja, seu

produto, também se dá em diversos níveis, um conceito, uma obra artística ou um

novo sistema social.

Deste amplo sentido, atividade opõe-se à passividade e sua esfera é a da

efetividade, não a do meramente possível. Para o autor, agente é o que age, o que

atua, e não o que tem apenas a possibilidade ou disponibilidade de atuar ou agir,

pois sua atividade não é potencial, mas sim atual. Ocorre que o ato, ou o conjunto

de atos sobre uma matéria, traduz-se em resultado ou produto, que é a própria

matéria já transformada pelo agente.

Para Vazquez, o homem ainda pode ser sujeito das atividades biológicas ou

instintivas. Entretanto, a atividade humana apenas se verifica quando os atos

152 VÁZQUEZ, A. S. Filosofia da Práxis. São Paulo: Clacso, Editora Expressão Popular Ltda,

2007. p. 219.

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dirigidos a um objeto para transformá-lo se iniciam com um resultado ideal, ou com

um fim, e terminam com um resultado ou produto efetivo, real.

A atividade humana tem um caráter consciente em virtude da antecipação do

resultado que se deseja obter pela intervenção da consciência, pelo resultado ideal

e pelo produto real. O resultado real é o que se desejou obter e existia inicialmente

como um ideal.

Dessa forma, Vazquez concebe que a atividade humana se orienta conforme os

fins, e estes só existem por meio do homem, como produtos de sua consciência.

Assim, toda ação verdadeiramente humana exige certa consciência de um fim que

se sujeita ao curso da própria atividade.153

Neste sentido, o fim é a expressão de certa atitude do sujeito diante da realidade.

O fim prefigura idealmente o que ainda não se conseguiu alcançar, mas pelo fato

de traçar fins, o homem nega uma realidade efetiva e afirma outra que ainda não

existe. Logo os fins são produtos da consciência, e por isso a atividade que regem

é consciente.

A atividade da consciência é inseparável da atividade humana, pois se apresenta

como elaboração de fins e produção de conhecimentos em íntima unidade. Se o

homem aceitasse sempre o mundo como ele é, e se, por outro lado, aceitasse

sempre a si próprio em seu estado atual, não sentiria a necessidade de transformar

o mundo nem de transformar-se.154

Vázquez declara que o homem age conhecendo, da mesma maneira que se

conhece agindo. Contudo, a atividade da consciência tem um caráter que o autor

define como teórico, pois não pode conduzir por si a uma transformação da

realidade, natural ou social. A consciência não ultrapassa seu próprio âmbito; sua

153 Ibid., p. 222. 154 Ibid., p.224.

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atividade não se objetiva ou se materializa, por essa razão, são atividades, não são

de modo algum, atividade objetiva, real, não é práxis.155

Segundo o autor, a atividade prática ocorre quando o sujeito age sobre uma

matéria que existe, independentemente de sua consciência e das diferentes

operações ou manipulações exigidas para sua transformação. É o agir sem

reflexão, é o repetitivo. Já a práxis se apresenta como uma atividade material

transformadora e adequada a fins156·. A práxis é ação do homem sobre a matéria e

a criação e, por meio dela, uma nova realidade157. De fora fica a atividade teórica,

que não se materializa, na medida em que é atividade espiritual pura, entretanto

não há práxis como atividade puramente material, sem a produção de fins e

conhecimentos que caracteriza a atividade teórica.

A práxis, segundo Vázquez, pode ser analisada por dois diferentes níveis: a práxis

criadora e a práxis reiterativa. E isso de acordo com a penetração da consciência

do sujeito ativo no processo prático e com o grau de criação ou humanização da

matéria transformadora, destacado no produto de sua atividade prática. Dessa

forma, para determinar o que é práxis, conforme o autor, é necessário delimitar o

mais profundo possível as relações entre teoria e prática.

3.6 O CONCEITO DE PRÁXIS EM CASIANO FLORISTAN

De acordo com Floristan, o cristianismo pode ser e de fato é, interpretado de

muitas maneiras. Para o autor, entender a vida cristã como um trabalhar segundo o

evangelho significa aceitar a práxis como categoria central.

As teologias atuais, direta ou indiretamente práticas, acentuam a referência à

práxis libertadora da pessoa e do mundo, pondo em relevo a atuação reta da Igreja

e dos cristãos, conforme as normas e diretrizes do reino de Deus no presente

155 Ibid., p.225. 156 Ibid., p.237. 157 Ibid., p.265.

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mundo. A partir desse pressuposto, o autor examina Teologia Prática como

Teologia da Práxis da Igreja e examina também qual o sentido que a práxis tem.

Casiano Floristan define o termo práxis como equivalente à ação ou à atividade.

Está ligado ao desenvolvimento do pensamento marxiano na filosofia moderna,

pois, após Marx, a práxis se entende como prática social, como atividade humana

transformadora do mundo. A práxis é atividade conscientemente, dirigida a um fim.

Todavia, o autor argumenta que nem toda atividade ou ação do homem é práxis,

embora toda práxis seja atividade ou ação humana. Atividade humana é ação

consciente, sobre um projeto ou resultado ideal e que finaliza com um resultado

real.

O binômio dialético teoria-praxis se estabelece mediante uma relação entre um

modo de pensar e a forma de atuar. A cabeça (as ideias) trabalha tanto como as

mãos (a prática).Teoria e práxis se incluem mutuamente; esta mútua implicação

permite que se fale de teoria da práxis e de práxis da teoria. Segundo Casiano

Floristan, quando se acentua excessivamente a práxis em detrimento da teoria,

cai-se no pragmatismo; e quando se acentua exageradamente a teoria em

depreciação da práxis, chega-se ao idealismo. Por isso o autor afirma que em

nenhum caso deve-se separar a teoria e a prática, nem tão pouco elas devem se

afrontar. Entre teoria e prática, há uma relação dialética, permanente dinâmica, às

vezes problemática, mas isso deve-se resolver em forma de sínteses ou em modo

de superação .

A consciência ordinária (comum, em estado normal) de tipo imediato, particular e

individualista percebe a atividade prática, ou o prático, como ação espontânea e

repetitiva do cotidiano. Não acredita que necessita de alguma explicação teórica.

Não é consciente da quantidade de prejuízos, hábitos mentais e referências

comuns, que a bloqueiam, para examinar a fundo esse tipo de atividade prática. O

homem prático rechaça qualquer teoria. Não admite que o melhor remédio à uma

prática ruim é uma boa teoria .

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A consciência ordinária do homem (sem reflexão) tem crescido historicamente até

se transformar em consciência crítica, ao menos em certo setor humano. O

caminho tem sido dialético e problemático, mediante um processo de luta de um

grupo social dominado contra a classe social dominante. Casiano Floristan entende

que, a partir de certas contribuições de Marx, completadas com outras correntes

pragmáticas ou existencialistas, a práxis passou a ser mudança social e

compromisso militante, transformação de estruturas e atitudes críticas, renovação

do sistema e emancipação pessoal. Não é mera prática, repetição ou

inalterabilidade.

A práxis é um ato do homem total, produzindo efeitos totais, em todas, as áreas ao

mesmo tempo. Contudo, o autor afirma que uma práxis capaz de criar um homem

novo e de modificar a ação humana radicalmente em todas as áreas não existe.

Ocorrem somente práxis parciais, com efeitos parciais.158

Segundo Casiano Floristan, as características da práxis podem ser descritas como:

ação criadora e não meramente reiterativa; ação reflexiva e não exclusivamente

espontânea ; ação libertadora e de modo nenhum alienante; ação radical e não

meramente reformista.

3.6.1 PRÁXIS COMO AÇÃO CRIADORA E NÃO MERAMENTE REITERATIVA

Para que a práxis seja ação criadora é necessário um certo grau, de consciência

crítica no agente que atua e determinado nível de criatividade que se reflita no

criado. A práxis é criadora e inovadora frente a novas realidades ou novas

situações. Para o homem, não basta repetir ou imitar o resultado, mas inventar,

criar.

158 FLORISTAN, C. op. cit., p.179.

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3.6.2 PRÁXIS COMO AÇÃO REFLEXIVA E NÃO EXCLUSIVAMENTE ESPONTÂNEA

A práxis criadora exige uma elevada atividade de consciência crítica. Para superar

o nível espontâneo da prática é necessário um alto grau de reflexão. É preciso ser

critico: saber o que se busca e onde encontrá-lo. Por isso, a transformação sobre

muitos aspectos não poderá ser, às vezes, nem muito rápida, nem tão radical como

se deseja.

3.6.3 A PRÁXIS COMO AÇÃO LIBERTADORA E DE MODO NENHUM ALIENANTE

A ação humana é práxis na medida em que se molda a um projeto de libertação. O

fim de toda atividade prática, ou de toda práxis é a transformação real do mundo

natural ou social, cuja realidade deve ser uma nova realidade, mais humana e mais

livre.

3.6.4 A PRÁXIS COMO AÇÃO RADICAL E NÃO MERAMENTE REFORMISTA

A práxis intenta transformar a organização e a direção da sociedade, modificando

as relações econômicas, políticas e sociais. Como a sociedade está dividida em

classes sociais, nasce a luta de classes entre si, e daí emerge a atividade política.

A práxis política alcança sua forma mais elevada na práxis radical, pois intenta

transformar pela raiz as bases econômicas e sociais em que se assenta o poder

das classes dominantes, para construir uma nova sociedade.

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3.7 A ANÁLISE DAS PRÁTICAS SOCIAIS DA COMUNIDADE EVANGÉLICA DE MARINGÁ À LUZ DA PRÁXIS RELIGIOSA Com o intuito de conhecer a Comunidade Evangélica de Maringá, para posterior

análise de suas práticas sociais, inicialmente foram descritas informações sobre a

cidade onde a Igreja está estabelecida, sua história e algumas características atuais.

Na continuidade da pesquisa, foram narrados os fatos que antecederam o

surgimento da Comunidade Evangélica de Maringá, a história da fundadora e a

fundação da Igreja. Posteriormente foram descritas as características quanto à

teologia da Igreja e algumas peculiaridades sobre a sua forma de interagir com seus

fiéis, inclusive por não valorizar os pedidos de dízimos e ofertas em seus cultos,

apesar de ser uma Igreja neopentecostal. Foram descritas também as práticas

sociais internas e externas, realizadas pela Igreja Comunidade Evangélica de

Maringá, e narrados de forma concisa alguns conceitos sobre práxis.

Desta maneira, fundamentados no conceito de práxis, descritos anteriormente, de

modo sucinto, serão novamente mencionadas às práticas sociais da Comunidade

Evangélica de Maringá, para a análise pretendida.

O objetivo é identificar se, por meio destas práticas, estão ocorrendo ações que

levam o indivíduo, para além do assistencialismo ou do proselitismo, colaborando

com o rompimento da condição de oprimido ou excluído, promovendo-o para uma

transformação social, por meio da colaboração da práxis religiosa dessa Igreja, com

base nos referenciais teóricos e nas observações do pesquisador.

A práxis religiosa se encarrega de estudar o fenômeno religioso, de analisar o

processo de ações que ocorrem dentro dos grupos e na sociedade. Neste sentido, a

práxis religiosa não pode ser confundida com o pastorado, que se refere ás funções

específicas do pastor e ao exercício dos atos relacionados às pessoas reconhecidas

para essa função. Da mesma forma, a práxis religiosa não pode ser confundida com

o exercício do testemunho de serviço da comunidade, ou seja, com a pastoral.

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Para a análise, buscaremos identificar as principais características da práxis como:

a) ação criadora e não meramente reiterativa, inovadora, frente a novas realidades

ou novas necessidades; b) ação reflexiva e não exclusivamente espontânea, para

superar o nível espontâneo da prática, através de um alto grau de reflexão e senso

crítico: saber o que se busca e onde encontrá-lo; c) ação libertadora e de modo

nenhum alienante, pois o objetivo de toda práxis é a transformação real do mundo

natural ou social, cuja realidade deve ser uma nova realidade, mais humana e mais

livre; d) ação radical e não meramente reformista, transformando a organização e a

direção da sociedade, modificando as relações econômicas, políticas e sociais pela

raiz das bases econômicas e sociais, para construção de uma nova sociedade.

Como ponto de partida, analisaremos a divulgação pública dos números de

telefones dos pastores e líderes de Ministérios da Comunidade Evangélica de

Maringá.

Por acreditarem que os braços humanos do amor de Deus159 se manifestam por

meio dos seus pastores e líderes, e que os ministérios são um serviço para aqueles

que necessitam de ajuda, independentemente de serem membros ou não, a Igreja

divulga pubicamente o número do telefone de todos os pastores e líderes da Igreja,

para ajuda em caso de necessidade.

Ao que se sabe, a tendência das Igrejas neopentecostais é priorizar os cultos (a

multidão) e não valorizar o atendimento pessoal ao fiel. Dessa forma, nota-se que

houve uma reflexão da Comunidade Evangélica de Maringá sobre a necessidade de

fornecer um meio rápido e eficiente de comunicação entre os líderes e as pessoas

necessitadas para proporcionar acolhimento, amparo e aconselhamento.

Essa atitude da Igreja gera benefícios principalmente para os fiéis, que são os que

de fato mais buscam ajuda. Trata-se de um socorro ou assistência imediata

importantes, pois podem fazer diferença em algumas situações extremas como em

159 Texto extraído da Bíblia, no livro do profeta Oseías capítulo 11, versículo 4, Edição

Contemporânea, 1990, Editora Vida Sagrada.

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casos de amparo às famílias enlutadas, famílias ou casais em crises entre outras

tantas. São atitudes que se esperam de uma instituição religiosa. Contudo não há

práxis as atividades realizadas são assistencialistas, pois, segundo Casiano

Floristan, atividades como essas mencionadas não levam a transformações. Não é

possível identificar, por essas práticas, as características da práxis como ação

criadora, reflexiva (não-espontânea), libertadora e radical.

Ao analisar as reuniões de células ou grupos familiares, constatou-se que são

realizadas na residência de um dos participantes e, por sua característica informal,

as pessoas são facilmente inseridas no grupo e sentem-se acolhidas e pertencentes

a ele.

A Comunidade Evangélica de Maringá afirma que o líder de célula, ao “cuidar de

perto” dos seus membros, com visitas, aconselhamento e ensinando aos

participantes, por meio do ensino religioso, a viverem de acordo com os padrões

cristãos, provocam mudanças nos comportamentos. Vale lembrar que são

orientados e ajudados a deixar de consumir drogas, cigarros, ingerir bebidas

alcoólicas em demasia, a deixar o alcoolismo, a violência doméstica e o sexo

promíscuo, entre outros.

A Igreja afirma que, em conformidade com os conceitos bíblicos, os maridos são

ensinados sobre seu papel de marido; e o mesmo acontece com a esposa e com a

educação dos filhos. Também são abordados os problemas gerados pelo

desemprego e os oriundos do cotidiano.

Apesar de a célula também ter o propósito de trazer crescimento à Igreja, o individuo

é conduzido a uma nova condição ele passa por transformações. Existe práxis e não

se trata apenas de mera prática, pois, ao contrário do culto, em que o fiel é apenas

ouvinte, nessas reuniões as pessoas interrompem o líder, discordam, refletem,

trocam experiências, ensinam e aprendem.

Ao avaliar o atendimento psicológico da Comunidade Evangélica de Maringá,

constatou-se que esta atividade auxilia e colabora na restauração de traumas e

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demais problemas emocionais dos seus fiéis. De fato, a ajuda psicológica está

solidifica como ciência e como uma importante ferramenta para ajuda do indivíduo.

Apesar de se tratar de uma Igreja que enfatiza a batalha espiritual e,

consequentemente, creditar aos demônios a responsabilidade pelas mazelas

pessoais e sociais, a disponibilidade do atendimento psicológico, ainda que limitado

para os fiéis dessa Igreja, ao que parece, é um avanço por se tratar de uma

denominação neopentecostal.

No tratamento psicológico, durante todo o processo, há dinamismo, reflexão e

transformação. Há práxis, porque por meio destas práticas ocorrem contribuições

importantes para superações e mudanças de atitudes e comportamentos dos

indivíduos. O psicólogo coopera na restauração do equilíbrio mental deles. A partir

desse equilíbrio adquirido, essas pessoas tornam-se aptas novamente para uma

vida saudável e são capazes de se relacionar e realizar suas atividades do dia-a-dia.

Quanto às práticas dessa Igreja relacionadas à família, em especial aos casais,

inclusive aqueles em que um, ou os dois cônjuges, estão no segundo casamento160,

são notoriamente, depois da pregação do evangelho, o maior alvo desta Igreja. Por

meio do ensino religioso, essa Igreja afirma procurar motivar todos os casais a

participarem do curso Casados para Sempre, porque acreditam que este os

capacitam a construírem e usufruírem da plenitude do relacionamento conjugal.

Os casais que estão enfrentando conflitos conjugais ou problemas no

relacionamento familiar recebem ajuda e esperança. Há práxis, pois, à medida que

os participantes do curso procuram ajuda, os líderes, por meio do diálogo, de

atividades diversas e variadas, colaboram com ações refletidas e adequadas a

finalidades na busca das soluções transformadoras, de acordo com a necessidade

de cada caso. Contudo, a propaganda referente aos resultados dos cursos que a

Igreja realiza são extremamente exagerados, mas ainda assim há uma contribuição

160 A Comunidade Evangélica de Maringá, não oficializa o segundo casamento, mas recebe as

pessoas que já estavam casadas anteriormente.

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significativa que reflete em mudanças satisfatórias para os casais e, consequen-

temente, para suas famílias.

Ao analisar o outro curso, denominado “Pais para toda Vida”, constatou-se que a

Comunidade Evangélica de Maringá obtém êxito parcial, mas significativo na

orientação e conscientização da responsabilidade dos pais perante seus filhos. Os

pais são orientados e treinados a educarem seus filhos a obedecerem aos pais, aos

idosos, às autoridades, ao próximo e a se tornem cidadãos exemplares. Trata-se de

um ideal que não é possível alcançar plenamente. Apesar de ser um ensino

religioso, há contribuição na identificação e solução de problemas e sobre a

importância da educação na formação de novos cidadãos. Não se trata apenas de

prática. Há práxis com diálogo, reflexão e ações inovadoras frente às novas e

complexas realidades e necessidades dos pais na educação de seus filhos. Entre o curso Pais para toda vida e o Ministério Infantil há várias diferenças. No

primeiro, são os pais quem aplicam os ensinamentos aos seus filhos, e, no

Ministério Infantil, além da faixa etária estar limitada até os 12 anos, são os

professores que ensinam diretamente as crianças. As crianças que participam

desse ministério têm entre 18 meses e 12 anos de idade e são agrupados por

faixa etária. Entre 18 meses e 3 anos, entre 4 e 6 anos, entre 7 e 8 anos, e, por

último, entre 9 e 12 anos. A Igreja afirma que o alvo desse ministério é ensinar as

crianças a pensarem, mediante as perguntas: O quê? Por quê? Como? Onde?

Quando? Por quem? Neste ministério, há prática de transmissão dos valores

religiosos dessa Igreja, não há práxis.

Ao avaliar o Ministério de adolescentes, constatou-se que há orientação e

incentivo à participação dos juvenis nos discipulados. Por meio do ensino

religioso, a Igreja consegue, ainda que não em sua totalidade, criar nos

adolescentes um comportamento, definido pela instituição, como sendo o

compromisso do adolescente com Deus e com os padrões religiosos da

denominação, o que influencia também outras pessoas.

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As atividades são semanais. Há o chamado culto teen, em que não há diálogo a

mensagem dos cultos não é discutida com os adolescentes. Entretanto, nas

reuniões das células (reuniões em grupos pequenos), repete-se o mesmo formato

das células dos adultos, ou seja, o líder também é orientado a “cuidar de perto” dos

adolescentes, abordando assuntos de interesse dos participantes. Nessas reuniões,

há dialogo, pois, durantes as reuniões, o líder é interrompido e questionado, ensina-

se e aprende-se sobre a realidade do universo dos adolescentes, ocorrem

mudanças de comportamentos tanto do líder quanto dos adolescentes.

Há ainda o curso de formação de líderes e ensaio da banda teen, para aqueles

com vocação musical. São realizadas algumas atividades anuais como os

acampamentos, evangelismos, intercâmbios com outros grupos e tardes espor-

tivas e recreativas, como gincanas e arborismo, que são atividades de lazer.

A Comunidade Evangélica de Maringá afirma que os adolescentes adquirem

consciência sobre a responsabilidade dos seus atos e assumem uma postura de

vida comedida. São consequentemente, mais educados e procuram respeitar os

pais, professores e autoridades. Com raras exceções, não fumam, não ingerem

bebidas alcoólicas, não usam drogas, não se envolvem com o crime e com a

violência.

Nesse ministério, há práxis somente nas reuniões de células dos adolescentes,

nos quais se constatou reflexão, senso crítico e adequações a finalidades,

possibilitando buscar e encontrar as orientações, aconselhamento, identidade e

transformações para a construção de uma nova realidade para esses

adolescentes. Nas demais atividades deste ministério, há somente prática.

Ao analisar o Ministério de Jovens, constatou-se que as atividades são uma

continuidade das atividades do Ministério de adolescentes. Os jovens que

ultrapassaram a faixa etária do ministério de adolescentes, ou jovens que se

converteram com dezoito anos ou mais, são incluídos nesse ministério. Suas prá-

ticas reforçam e ampliam o ensino religioso, com o propósito de que os jovens

tenham compromisso com Deus, com a Igreja, com a família, com o namoro, com

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o noivado e com o casamento, motivando-os e preparando-os a constituírem um

casamento sadio e uma família bem sucedida. Há ainda ênfase sobre

necessidade de estudar e se preparar profissionalmente para trabalhar, além de

palestras sobre dúvidas e problemas específicos da juventude.

Com raríssimas exceções, a grande maioria dos jovens da Igreja seguem as

normas da denominação, pois são orientados a dar bom testemunho de

comportamento. São conscientizados também, ainda que de forma tímida, a

ajudarem os excluídos.

As atividades desse ministério são realizadas nos cultos e em pequenos grupos (as

células). Ns reuniões das células (reuniões em grupos pequenos), repete-se o

mesmo formato das células dos adultos e dos adolescentes, ou seja, o líder também

é orientado a estar próximo e ser acessível aos jovens, abordando assuntos de

interesse dos participantes. São nessas reuniões que os diálogos e as reflexões

acontecem. Há liberdade durantes as reuniões para perguntas e respostas, o líder e

os participantes ensinam e aprendem uns com os outros, e as transformações

acontecem.

Diante das complexas necessidades desses jovens, há práxis, por meio das

reuniões de células, nas quais são criadas ações diversas, utilizando o senso

crítico para reflexão e transformação desses indivíduos, que são ainda motivados

a se tornarem cidadãos conscientes e prósperos.

Ao avaliar o Ministério homens e mulheres de negócios, constatou-se que as

reuniões, além de motivacionais, são educativas, fortalecem o empreendedorismo,

abordam temas sobre administração. Há ainda testemunhos de empresários e

profissionais liberais que conseguiram resultados satisfatórios com o que aprende-

ram. O objetivo desse ministério é auxiliar os participantes a alcançarem

prosperidade nos seus empreendimentos e nas demais áreas de suas vidas.

Contudo, trata-se de uma atividade rotineira, não se identificam nessas atividades,

as características da práxis como: uma ação criadora, reflexiva (não espontânea),

libertadora e radical.

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Ao avaliar a ação da Comunidade Evangélica de Maringá, de instalar suas

congregações em bairros específicos, principalmente nos bairros João de Barro e

Santa Felicidade161 constatou-se a preocupação dessa Igreja em buscar práticas

que colaborem para a solução dos diversos problemas sociais em alguns dos bairros

da cidade.

O intuito desta ação foi acentuar as atividades religiosas da Igreja, de acordo com a

realidade desses bairros, e oferecer amparo espiritual, educação religiosa e

aconselhamento pastoral às famílias desses bairros, amenizando os diversos

problemas sociais ali encontrados, entre os quais estão o desemprego, crimes,

consumo excessivo de álcool, consumo e tráfico de drogas, violência doméstica,

entre outros.

Contudo, não é possível, apenas com as pregações, aconselhamento pastoral e

assistencialismo, reverter aquela realidade a uma transformação libertadora e

alcançar uma realidade mais humana. Não há práxis; neste contexto, a pregação

está associada apenas à teoria. Não se identificam por essas atividades as

características da práxis como ação criadora, reflexiva, libertadora e radical.

Ao analisar o conceito de missão da Comunidade Evangélica de Maringá, verifica-se

que está incluso em sua definição o amor e o compromisso com o próximo.

Nossa missão é a pregação do evangelho e a capacitação do homem para a vida plena conferida por Cristo. Queremos que cada membro da Comunidade seja um ministro de Deus, cheio de fé, santidade, amor e compromisso com Deus e com o próximo.162

Entretanto, como na maioria das denominações evangélicas, a pregação do

evangelho é a tarefa e a função primordial da Igreja. Nesse entendimento, apenas a

161 Essa Congregação está instalada na divisa dos dois bairros. 162 Informação obtida por meio do site da Comunidade Evangélica de Maringá, em 30.06.2010.

http://www.comunidade.org.br/index.php.

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declaração que existe a preocupação com o próximo não se caracteriza como

práxis. Trata-se de uma teoria, a teoria dessa Igreja.

Sem atividades e ajustes adequados frente às diversas necessidades, com reflexão

e senso crítico, focados na transformação real do mundo natural ou social não há

práxis.

Ao analisar a Organização Reviver, constatou-se que a Comunidade Evangélica de

Maringá conseguiu resolver um dos grandes desafios para uma instituição religiosa;

romper com o assistencialismo. A Organização Reviver, por meio de ações

participativas e educativas, privilegia o indivíduo na busca de soluções dos

problemas sociais, ao contrário da Igreja que, por sua própria natureza, prioriza as

atividades espirituais. Com essa Organização as práticas sociais se tornaram mais

efetivas; primeiro por separar as atividades religiosas das demais ações sociais, e,

segundo, por valorizar as soluções de acordo com a realidade do próprio bairro.

Marciano Kappaun afirma que os serviços oferecidos à população, por intermédio

das Organizações Não Governamentais (ONGs), são mais eficientes até do que

aqueles oferecidos pelo próprio Estado, quando este atua de forma insuficiente163. A

Organização Reviver, por meio do seu Projeto Reviver, ainda que de forma limitada,

diante da vastidão dos problemas sociais, oferece ações voltadas às crianças, aos

adolescentes e a seus familiares. Promove a inclusão social das crianças e

adolescentes em situação de risco; oferece cursos como novas alternativas à

geração de renda das famílias; resgatando a dignidade pessoal, elevando a

autoestima e a autoconfiança, fortalecendo e preservando as famílias, orientando-as

na solução dos conflitos pessoais e familiares.

As principais atividades que o Projeto Reviver desenvolve são programas de

orientação e apoio às famílias, cursos de culinária e artesanato, oficina de

recreação, academia de música e oficina de danças.

163 KAPPAUN, M. op. cit., p.22.

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Por meio do Projeto de Lei Municipal n.11.331/2009, a Organização Reviver, criada

pela Comunidade Evangélica de Maringá, foi declarada de Utilidade Pública, como

reconhecimento pelas contribuições aos bairros carentes da cidade.

Há práxis nas atividades da Organização Reviver, com reflexões, ações diversas e

inovadoras na busca de soluções frente a cada nova necessidade, procurando

oferecer às pessoas condições para transformações sociais, a fim que tenham uma

nova realidade de vida, mais livre e humana pela transformação social.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa concluiu seu objetivo principal de analisar as práticas

realizadas pela Igreja Comunidade Evangélica de Maringá, para comprovar se as

ações por ela realizadas promovem transformações nos indivíduos, ou se estão

limitadas apenas a atividades rotineiras, que não caracterizam a ação da práxis e,

consequentemente as mudanças dos necessitados à uma condição social

mínima, digna a qualquer ser humano.

O trabalho concluiu que por meio da práxis, compreendida como atividade social,

é possível alterar a triste realidade dos pobres e excluídos para uma condição

humana e, por isso, não pode ser ignorada ou desprezada. Deve, ao contrário,

ser o foco para o êxito de todas as ações realizadas neste sentido.

A investigação demonstrou que não é possível diminuir as desigualdades sociais

sem atitude práxis, pois apenas teorias ou somente práticas, por melhor

intencionadas que sejam, não têm condições para alterar e transformar a cruel

realidade daqueles que são vítimas do atual e injusto sistema social.

Na análise realizada, a práxis religiosa foi utilizada na tarefa de entender o

fenômeno religioso decorrente das práticas da Igreja Comunidade Evangélica de

Maringá. As diversas áreas de atividades referidas são as realizadas pelos

ministérios dessa Igreja, como também as ações realizadas pela Organização

Reviver.

Como todas as demais Igrejas Evangélicas, a Comunidade Evangélica de

Maringá afirma estar fundamentada na mensagem bíblica. Assim, respaldado

pelos referenciais teóricos para a pesquisa, foi possível realizar a observação

minuciosa e atenta sobre as práticas que essa Igreja realiza. Casiano Floristan

afirma que, pela Bíblia, a práxis é a obra ou ação produzida pelo ser humano,

com uma determinada conduta e perspectiva religiosa.

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Pelos relatos bíblicos, o autor menciona duas práxis: na primeira, um povo

oprimido pelo Faraó obtém a liberdade; na segunda, Jesus penetra estratégica-

mente nos conflitos, optando pelos pobres e pela libertação salvadora do povo

(FLORISTAN, 1993, p. 182 e 183). A vida e os atos de Jesus foram práxis; a ação

de Jesus para os crentes foi salvadora, traduzindo a realização das obras de

Deus.

O sujeito da práxis histórica é o povo pobre e sem posses, que por ser ao mesmo

tempo povo cristão, seu direito a pensar se converte na reflexão teológica. Com

essa compreensão, o objeto da práxis histórica é a libertação. Trata-se da

transformação da história para destruir um sistema injusto baseado no pecado

como antirreino para criar uma sociedade mais humana e justa, com base na

justiça do reino de Deus.

Entretanto, apesar do expressivo número de Igreja Evangélicas em Maringá,

constata-se que apenas uma minoria dessas Igrejas está empenhada em contribuir

para a libertação e transformação social das pessoas. De maneira geral, as Igrejas

Evangélicas têm como foco principal a preocupação com a mensagem de salvação e

a libertação da alma. Há valorização do espiritual, mas menosprezo pelo físico.

O pesquisador constatou, por meio de suas observações pessoais, que a Igreja

Comunidade Evangélica de Maringá é reconhecida como uma das mais importantes

e respeitadas Igrejas Evangélicas na cidade onde está situada. Vale ressaltar que

sua Organização Reviver foi reconhecida e declarada pelo Poder Legislativo de

Maringá, por meio de um Projeto de Lei da Câmara Municipal de Vereadores, como

de Utilidade Pública para o município.

Apesar disso, as ações sociais não são tão abrangentes como se esperava

inicialmente, pois o grande alvo dessa Igreja continua sendo a pregação do

Evangelho e a salvação das almas em detrimento das questões sociais. Certamente

essa Igreja, como a maioria das demais Igrejas Evangélicas, ainda está sob certa

influência do pentecostalismo, que transferia para o porvir, seja após a morte, ou

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seja após a volta de Jesus, o momento para as transformações e abolição das

injustiças sociais.

Por outro lado, o neopentecostalismo e a teologia da prosperidade contribuíram de

forma decisiva para a nova forma de pensar sobre essa questão. Todavia, apesar da

introdução sobre o direito de desfrutar dos “deleites materiais” e avalizando a busca

por uma melhor condição social, a contribuição do neopentecostalismo atinge

somente aqueles que já têm, ao menos, certa capacidade para gerar sua própria

transformação.

Lamentavelmente, em alguns meios neopentecostais, há a divulgação que se um

indivíduo evangélico não prospera financeiramente, a causa está na sua falta de fé

ou em algum pecado cometido. Dessa forma, aqueles que não possuem nenhuma

possibilidade para, sozinhos, transformar sua realidade social, continuam como

antes, carentes de tudo e de todos. E alguns neopentecostais pobres creem que o

problema pela sua miséria é sua falta de fé ou pecado.

Indubitavelmente, seja pelo desconhecimento, ou por negligência, a ênfase apenas

na salvação da alma reduz a participação e contribuição das Igrejas Evangélicas,

não apenas na cidade de Maringá, como em todo o país, na transformação e

libertação social dos indivíduos carentes de nossa sociedade.

As Igrejas Evangélicas têm, pela sua mensagem, mandamentos bíblicos e exemplos

de vida e práxis de Jesus, que lhes dão considerável potencial e condições para

contribuir de forma significativa, por meio da práxis religiosa, para a libertação e

transformação social dos indivíduos. Infelizmente, essa capacidade de transfor-

mação e libertação pela mensagem bíblica está adormecida, mas carece ser

despertada, em razão da crescente necessidade observada principalmente nas

grandes cidades.

Conforme declara Clovis Pinto de Castro, o cotidiano das cidades, especialmente

dos grandes centros urbanos, clama pela presença do sagrado e por uma presença

mais solidária dos cristãos. As pessoas em geral, homens, mulheres, crianças,

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jovens ou idosos, pertencentes às diversas classes sociais, estão experimentando o

dia-a-dia das cidades, marcado pela violência generalizada, pelo medo, pela miséria

humana, pela solidão, pelo stress, pela depressão e por tantas outras marcas que

comprovam a incapacidade do ser humano em construir cidades onde possa viver

sua humanidade de forma mais plena. São espaços desumanos (CASTRO, 1996,

p.98).

Não há dúvidas de que a sociedade carece de alternativas para amenizar as

desigualdades e os diversos problemas sociais. Não basta apenas criticar o Estado

e apontar suas falhas. Faz-se necessário a contribuição de todos para uma

sociedade mais justa e mais humana. O Estado não consegue suprir as diversas e

complexas necessidades para o equilíbrio, o desenvolvimento e a manutenção de

um sistema social equilibrado. As Igrejas Evangélicas podem e devem por meio da

sua práxis religiosa, dar sua contribuição à sociedade.

A transformação das pessoas e da sociedade deve ter como visão o indivíduo como

um todo integral. Segundo Leonardo Boff (BOFF, 1961, p.31), uma Igreja só pode se

considerar adulta quando dispõe de uma reflexão séria que acompanha suas

práticas. Neste sentido, enquanto não ocorrer contribuição de forma significativa das

Igrejas Evangélicas, elas não podem se considerar maduras. A teoria deve estar

acompanhada por suas obras, não deve prevalecer apenas a fé e a oração. Aos

cristãos convém ter ação, ter práxis, a exemplo de Jesus, líder e exemplo máximo

dos cristãos.

O pesquisador constatou que a palavra práxis é desconhecida quase que em sua

totalidade entre as pessoas e os pastores consultados informalmente. Os poucos

que afirmaram conhecer a palavra práxis a confundiram e, erroneamente,

interpretaram-na como sinônimo de prática. Dessa constatação ocorreu a

necessidade, ao longo da pesquisa, de esclarecer o que é práxis e a diferença

entre práxis e prática. Esse esclarecimento se tornou pertinente para o propósito

de proporcionar ao leitor parâmetros para a compreensão da importância da

práxis, além de possibilitar a análise das Práticas Sociais da Comunidade

Evangélica de Maringá, à luz da Práxis Religiosa.

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A práxis religiosa examina minuciosamente o fenômeno religioso na sociedade e nas

diversas manifestações, preocupando-se em estudar esse fenômeno religioso como

processo de ações que estão ocorrendo nos grupos e na sociedade. O fenômeno é

ligado à sensação, em especial ao sujeito religioso, e está relacionado à maneira de

ser e ver os acontecimentos da vida, respondendo às necessidades ocasionais ou

de interesse pessoal ou de grupos, para agir de acordo com as necessidades

detectadas.

A percepção da realidade, o diálogo e a reflexão fornecem condições para a

aplicação da práxis religiosa ao entender o fenômeno e, assim, proporcionar as

condições para as transformações necessárias. Dessa forma há uma relação direta

da práxis religiosa com a sociedade, ao participar com a sociedade para capacitar e

promover a atividade humana, no sentido de transformar e construir uma sociedade

mais humana, justa e solidária.

A práxis religiosa deve direcionar as atitudes das Igrejas Evangélicas em como

construir o saber, com os sujeitos que participam do cotidiano que envolve a

sociedade. A Teologia, por sua vez, contribui ao estudar e subsidiar a práxis da

Igreja, tendo a tarefa de oferecer a teoria dessa práxis, contribuindo na identificação

e construção de estratégias que tornem eficaz a ação da Igreja. Por meio da práxis,

a Igreja foca sua atividades na cidade dentro de um contexto social específico.

Diante da realidade do dia-a-dia das grandes cidades, a pastoral urbana, descreve

Geoval Jacinto da Silva (SILVA, 2008, p.15), tem como objetivo bíblico, teológico e

pastoral a criação de sinais de esperança em situações de desesperança. A pastoral

urbana não pode separar-se do símbolo de esperança. A Igreja não pode se limitar

apenas ao seu idealismo teológico. Há necessidade de auscultar cientificamente a

realidade; entender o que acontece, para saber como transformar. Neste sentido, a

contribuição da práxis religiosa é uma necessidade diante da realidade e do

cotidiano das cidades.

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Casiano Floristan alerta para o fato de que Jesus não propôs nenhum modelo

concreto revolucionário de práxis, mas, por meio de seus discípulos, foram

mostrados atos que incidem na realidade para transformá-la e libertá-la. Se a

Igreja como comunhão ou comunidade de crentes se distancia da práxis, viverá

fora do mundo, da história, e do futuro e, a não ser que admita a práxis, deixará

de ser Igreja (FLORISTAN, 1993, p.184). Pela perspectiva neotestamentária, o

autor afirma que verdadeiro cristão é o que pratica ou faz, e não quem diz, mas

não faz. O verdadeiro cristão é quem pratica o amor, na medida em que o amor

substitui as relações sociais, mediante ações e práxis realmente humanas.

Nesse contexto, por meio da revelação bíblica, a fé e a práxis aparecem unidas: a

ortodoxia, o reto pensar, cumpre-se na ortopraxis, no seu modo de atuar. Ambas

têm a mesma importância, a práxis da esperança e do amor constitui um

momento interno e essencial da fé.

Quem afirma ser cristão, mas não pratica o amor mediante ações sociais e práxis

humana, conforme a práxis de Jesus, é fariseu, declara Casiano Floristan

(FLORISTAN, 1993, p.186). Nesse contexto, o fariseu representa o cinismo

religioso do cristão, o que leva a conclusão que, se há, conforme mencionado,

cristãos que são fariseus, também há Igrejas que pregam, mas não fazem o que

ensinam. O autor enfatiza que fazer equivale na tradição judaica, “a praticar a

justiça” de Deus. E “crer” significa levar a cabo ou realizar a verdade que é a fé.

Se a fé e a teologia não estão produzindo práxis e se limitam a interpretações

teóricas, elas estão em desacordo com a missão de Deus. Geoval Jacinto da

Silva ensina que, tanto no Antigo como no Novo Testamento, a práxis da Igreja

Primitiva está de acordo com o exercício da ação de Deus no mundo, mediante

pessoas fielmente comprometidas, capazes de exercer uma práxis

transformadora e não meramente uma prática repetitiva. Jesus foi contra as

autoridades do seu tempo porque a religião oficial estava a serviço de ações

repetitivas e orações largas, sem qualquer objetivo de mudança de vida (SILVA,

2009, p. 23).

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Somente por meio da práxis no mundo se encontra Deus como realidade última

do mundo, já que Deus se faz presente no homem, em especial no oprimido que

anseia por uma libertação e que se dispõe a consegui-la. Desta forma, questiona-

se por que as Igrejas Evangélicas não se atentam para a práxis religiosa ou

atentam mal, pois há inúmeras possibilidades de contribuição. Os evangelhos

mostram Jesus preocupado com as diversas necessidades das pessoas, ele foi

além da salvação da alma. Em sua missão, preocupou-se e em cooperar para a

solução dos problemas físicos e emocionais das pessoas e reprovou e denunciou

as injustiças sociais que eram praticadas.

Para Geoval Jacinto da Silva, o conceito bíblico de missão deve estar relacionado

com uma práxis cristã transformadora. A missão não é estática, mas dinâmica.

Cabe, portanto, à Igreja possibilitar a missão de Deus de maneira que ela não

tenha um fim em si mesma, mas sua ação seja permanente, sendo vista por meio

dos diversos serviços que a Igreja presta às pessoas envolvidas na sociedade e

na vida dos que, pelo sistema injusto em que a sociedade está arquitetada, não

têm possibilidade de alcançar melhores condições de vida (SILVA, 2009, p.19).

Segundo o autor, deve-se entender que, teológica e pastoralmente, e na

dimensão da práxis cristã, a missão de Deus é maior do que a missão da Igreja,

ou do que as missões das Igrejas. Enquanto as denominações religiosas fizerem

missões com o objetivo de implantar Igrejas e salvar almas, não estarão

participando efetivamente da missão de Deus, que é única e tem como finalidade

a plenitude da promessa do Reino de Deus: a vida, a justiça e o amor (SILVA,

2009, p.74).

Para Casiano Floristan, o problema crucial da humanidade deve ser visto pela

Igreja em conformidade com os requisitos do reino de Deus e a sua justiça.

Obviamente, a Igreja não tem soluções técnicas a oferecer para os problemas da

sociedade, nem sua doutrina social é uma terceira via entre o capitalismo e

coletivismo. Mas a palavra da Igreja, derivada de sua missão de evangelização e

libertação, pode orientar a fé dos crentes, dando à vida sentido transcendente à

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capacidade de juízo, discernimento crítico e à dimensão da conduta moral

evangélica a partir da opção pelos pobres (FLORISTAN, 1993, p.713).

A mensagem e as ações dos cristãos e das Igrejas não podem se limitar apenas à

salvação da alma, faz-se necessário uma práxis que vá além do amor e da

fraternidade, para transformar o indivíduo e a própria sociedade. Para que

aconteça a transformação da realidade, principalmente nas grandes cidades, a

práxis da Igreja também necessita contar com a contribuição fundamental da

práxis educacional, para o início das transformações do indivíduo, para sua maior

participação na esfera pública e nas atividades que possibilitem seu crescimento

e progresso social e humano.

As primeiras descobertas deste trabalho apontaram pistas para futuras pesquisas.

Os autores Paul Freston e Ricardo Mariano argumentam que o pentecostalismo

brasileiro deve ser estudado a partir de três ondas. Nessa direção, constatou-se,

ao longo desta pesquisa, que salvo mudanças, em sua trajetória, o neopente-

costalismo brasileiro também deverá, em breve, ser classificado para estudo em

três categorias distintas: Neopentecostalismo Conservador, Neopentecostalismo

Moderado e Neopentecostalismo Radical.

A descoberta ocorreu durante a tarefa de compreender se a Igreja Comunidade

Evangélica de Maringá, se tratava de uma Igreja Pentecostal ou Neopentecostal.

A pesquisa constatou uma distinção significativa entre as Igrejas

Neopentecostais, pois um número expressivo de denominações evangélicas,

apesar de serem neopentecostais, são contrárias a várias práticas e discursos

das Igrejas neopentecostais citadas pela a maioria dos autores, como as mais

representativas do fenômeno neopentecostal; a Universal do Reino de Deus, a

Internacional da Graça de Deus e a Renascer em Cristo.

Dessa forma, a pesquisa sugere que uma Igreja Evangélica, com características

próximas à da Comunidade Evangélica de Maringá, deve ser identificada como

Neopentecostal Conservadora. Por outro lado, Igrejas com o perfil da

Comunidade Sara a Nossa Terra e Comunidade da Graça devem ser

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classificadas como Igrejas Neopentecostais Moderadas, e Igrejas com

características agressivas, como as Igrejas, Universal do Reino de Deus, a

Internacional da Graça e a Renascer em Cristo, devem ser classificadas como

Neopepentecostais Radicais.

A classificação da Igreja como conservadora, moderada ou radical dependerá do

nível de aprofundamento da denominação com as práticas do fenômeno, ou seja,

do Neopentecostalismo.

A pesquisa também apontou, em concordância absoluta com outros autores, que,

ao contrário do que sugere a palavra pastoral, o termo Ministério, utilizado para

definir os “departamentos” da maioria das Igrejas Evangélicas, é inadequado e

remete inconscientemente a uma associação e confusão com os Ministérios do

Governo Federal (Ministério do Trabalho, da Educação, entre outros). Seria

coerente substituir o termo ministério por pastoral.

A análise das práticas da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá se deparou

entre dois extremos: por um lado, as práticas de seus ministérios e a criação da

Organização Reviver lhe dá status no meio evangélico de Maringá, de Igreja

engajada nas causas sociais; por outro lado, quando aplicadas as ferramentas

fornecidas pelos referenciais teóricos, a confrontação demonstrou que parte das

práticas dessa Igreja não se caracterizam como práxis, pois são atividades

rotineiras sem reflexão, incapazes de alterar a realidade social. Dessa maneira,

esse status não se sustenta; as ações são dignas de mérito, mas pequenas

diante do poderio financeiro e da qualificação profissional das pessoas que

frequentam essa Igreja.

As pistas que a pesquisa se propõe a apontar têm a pretensão apenas de indicar

caminhos para a ampliação da práxis dessa Igreja, não se trata de críticas.

Inicialmente, os membros da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá devem

ser motivados a demonstrar a fé acompanhada pelas obras, devem continuar a

incentivar a oração, mas também a ação, seguindo o modelo bíblico. Uma outra

direção a ser apontada são as atividades dos ministérios da Igreja, que devem ser

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incentivados a dialogar e refletir em conjunto com outros ministérios da própria

Igreja. Como exemplo de trabalho em conjunto com os ministérios da própria

Igreja, a Organização Reviver poderia realizar treinamento profissional para a

população que procura emprego, orientada pelo Ministério Homens e Mulheres de

negócios que, por estarem atuantes no comércio e negócios da cidade, sabem

exatamente em que áreas os novos profissionais devem ser treinados. Haveria o

treinamento de um lado e o encaminhamento de emprego pelo outro ministério.

Outro exemplo são os ministérios que administram as células. Eles devem

dialogar e contar com a colaboração do ministério de atendimento psicológico,

para melhor entenderem como ajudar os participantes das células. O que se

observou durante a pesquisa foi que cada líder de célula está inicialmente focado

no ensino bíblico, e a práxis acontece de forma tímida, em razão da falta de

treinamento desses lideres.

Os psicólogos podem ajudar os lideres de célula a compreender e ajudar nas

principais necessidades observadas nos atendimentos desses profissionais em

consultório e fornecer ferramentas para a melhor atuação desses líderes. Dessa

maneira, sem abrir mão do ensino bíblico, os temas bíblicos podem ser

canalizados, focando nos temas sugeridos. Os pastores que realizam aconselha-

mento, também devem contribuir com a experiência adquirida por meio dos acon-

selhamentos pastorais.

Com diálogo entre os ministérios dessa Igreja, a reflexão e a diversidade de

atividades variadas e adequadas, buscando fins específicos, de acordo com cada

necessidade, resultará em uma melhor e maior contribuição da práxis religiosa

dessa Igreja. Contudo, apesar de se ter em vista que não é possível por meio da

práxis, criar um homem novo e de modificar a ação humana radicalmente em

todas as áreas, não se deve por isso ignorar a práxis.

O que se constatou, na análise das práticas sociais da Comunidade Evangélica de

Maringá, é que, apesar das inúmeras atividades desta Igreja, não obstante todas

estarem idealizadas por bons ideais, apenas em algumas há práxis. As atividades

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embora bem intencionadas, em sua maioria são rotineiras, o que gera um

assistencialismo infértil, incapaz de promover atividade humana transformadora.

A pesquisa também demonstrou tratar-se de um fenômeno muito complexo, o que

impossibilitou penetrar no âmago do fenômeno, como se esperava inicialmente.

Mostrou-se ainda, demasiadamente complexo medir ou comprovar, a profundida-

de das mudanças e o tempo necessário para que os frutos da práxis religiosa

contribua para as transformações de cada indivíduo. O tema é complexo e

merece contínua atenção por parte dos pesquisadores.

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ANEXOS

A - Declaração de Utilidade Pública da Organização Reviver.

B - Depoimento da Fundadora e Presidente da Igreja Comunidade Evangélica de

Maringá – Paraná.