História e Desventura: o 3º Programa Nacional de Direitos Humanos [Sérgio Adorno]
Simbolismo · O louco da loucura mais suprema. A Terra é sempre a tua negra algema, Prende-te nela...
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Simbolismo
Contexto cultural
• Os ismos – Doutrinas ideológicas do século XIX:
– Determinismo
– Positivismo
– Socialismo
– Darwinismo social
• São essas pseudociências suficientes para explicar o humano?
Contexto filosófico
• Henri Bergson: Intuicionismo• “eu profundo” não cabe no nível da palavra
• Schopenhauer:
– a vontade é cega e inconsciente;
– a existência é dolorosa: “viver é sofrer”
O que fazer?
• Para coisas novas, “palavras” novas!
• Busca de uma nova linguagem
• Assimilação da existência do “eu”
• Busca de expressar esse eu por vias indiretas
Teoria das correspondências
• Criada por Charles Baudelaire
• Aproximação das realidades físicas e metafísicas:
– SINESTESIA: a mistura dos sentidos como gatilho para a evocação do eu profundo
Charles Baudelaire: o inventor damodernidade
“A Modernidade é o transitório, o efêmero, o contingente, é a metade da arte, sendo a outra metade o eterno e o imutável.
[...]
Ele [Constantin Guy] buscou por toda a parte a beleza passageira e fugaz da vida presente, o caráter daquilo que o leitor nos permitiu chamar de Modernidade. Freqüentemente estranho, violento e excessivo, mas sempre poético, ele soube concentrar em seus desenhos o sabor amargo ou capitoso do vinho da vida.”
Charles Baudelaire
Constantin Guys, o “pintor da vida moderna”, para Baudelaire
Constantin Guys, o “pintor da vida moderna”, para Baudelaire
Constantin Guys, o “pintor da vida moderna”, para Baudelaire
Constantin Guys, o “pintor da vida moderna”, para Baudelaire
CORRESPONDÊNCIAS
A natureza é um templo onde vivos pilaresDeixam filtrar não raro insólitos enredos;O homem o cruza em meio a um bosque de segredosQue ali o espreitam com seus olhos familiares.
Como ecos longos que à distância se matizamNuma vertiginosa e lúgubre unidade,Tão vasta quanto a noite e quanto a claridade,Os sons, as cores e os perfumes se harmonizam.
Há aromas frescos como a carne dos infantes,Doces como o oboé, verdes como a campina,E outros, já dissolutos, ricos e triunfantes,
Com a fluidez daquilo que jamais termina,Como o almíscar, o incenso e as resinas do Oriente,Que a glória exaltam dos sentidos e da mente.
Charles Baudelaire (trad. Ivan Junqueia)
O Albatroz (Baudelaire, trad. Delfim Guimarães)
Às vezes no alto mar, distrai-se a marinhagem
Na caça do albatroz, ave enorme e voraz,
Que segue pelo azul a embarcação em viagem,
Num vôo triunfal, numa carreira audaz.
Mas quando o albatroz se vê preso, estendido
Nas tábuas do convés, — pobre rei destronado!
Que pena que ele faz, humilde e constrangido,
As asas imperiais caídas para o lado!
Dominador do espaço, eis perdido o seu nimbo!
Era grande e gentil, ei-lo o grotesco verme!...
Chega-lhe um ao bico o fogo do cachimbo,
Mutila um outro a pata ao voador inerme.
O Poeta é semelhante a essa águia marinha
Que desdenha da seta, e afronta os vendavais;
Exilado na terra, entre a plebe escarninha,
Não o deixam andar as asas colossais!
AEIOU – As vogais de Arthur Rimbaud
A – Órgão – Negro – Glória, Tumulto
E – Harpa – Branco - Serenidade
I – Violino – Azul – Paixão – Súplica agúda
O – Metais – Vermelho – Soberania
U – Flauta – Amarelo – Ingenuidade, sorriso
A E I O U (Alphonsus de Guimaraens)
Manhã de primavera. Quem não pensa
Em doce amor, e quem não amará?
Começo a vida. A luz do céu é imensa...
A adolescência é toda sonhos. A.
O luar erra nas almas. Continua
O mesmo sonho de oiro, a mesma fé.
Olhos que vemos sob a luz da lua...
A mocidade é toda lírios. E.
Descamba o sol nas púrpuras do ocaso
As rosas morrem. Como é triste aqui!
O fado incerto, os vendavais do acaso...
Marulha o pranto pelas faces. I.
A noite tomba. O outono chega. As flores
Penderam murchas. Tudo, tudo é pó.
Não mais beijos de amor, não mais amores...
Ó sons de sinos a finados! O.
Abre-se a cova. Lutelenta e lenta,
A morte vem. Consoladora és tu!
Sudários rotos na mansão poeirenta...
Crânios e tíbias de defunto. U.
Características
• Negação do positivismo
• Caráter anti-moderno
• Busca do “eu profundo” e inconsciente
• Misticismo, espiritualismo, subjetivismo intenso, ocultismo...
• Aproximação com a música (poema = partitura)
• Teoria das correspondências (sinestesia)
• Experimentação da palavra (neologismos)
• Sinestesia:
“Nasce a manhã, a luz tem cheiro... Ei-la que assoma
Pelo ar sutil... Tem cheiro a luz, a manhã nasce...
Oh sonora audição colorida do aroma!”
A.G.
• Musicalidade
Aliteração e assonâncias:
“Vozes veladas, veludosas vozes
Volúpias dos violões, vozes veladas”
C.S.
• As maiúsculas alegorizantes:
Tu és o louco da imortal loucura,
O louco da loucura mais suprema.
A Terra é sempre a tua negra algema,
Prende-te nela a extrema Desventura.
C.S.
Em comum com o parnasianismo:
• preocupação formal
• alheamento da vida
(torre de marfim)
Autores no BrasilCruz e Souza (1861-1898)
• Filho de escravos, seus pais foram alforriados e foi adotado pelo senhor.
• Teve a melhor disponível no Brasil colônia (foi aluno do naturalista alemão Fritz Muller na disciplina de ciências da natureza.
• Foi recusado para o cargo de Promotor nacidade de Laguna, devido à cor de sua pele.
Características
• Poesia de influência parnasiana e baudelairiana
• Concepção trágica da vida
• Alta concepção acerca do “ser” poeta (Poeta = Assinalado)
• Cosmovisão: aproxima-se do Barroco:
– homem: ser oprimido entre o mundano e o cósmico
Características
• Temas:
– A negritude
– A obsessão do branco
– A concepção da vida como tragédia
– O fazer poético
– O ser poeta
– O sensualismo
O Assinalado
Tu és o louco da imortal loucura,
O louco da loucura mais suprema.
A Terra é sempre a tua negra algema,
Prende-te nela a extrema Desventura.
Mas essa mesma algema de amargura,
Mas essa mesma Desventura extrema
Faz que tu'alma suplicando gema
E rebente em estrelas de ternura.
Tu és o Poeta, o grande Assinalado
Que povoas o mundo despovoado,
De belezas etrenas, pouco a pouco...
Na Natureza prodigiosa e rica
Toda a audácia dos nervos justifica
Os teus espasmos imortais de louco!
Acrobata da Dor
Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.
Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
salta, gavroche, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta ...
Pedem-se bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
nessas macabras piruetas d'aço...
E embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço.