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SEX14JUL Sexta-feira 14 de Julho de 2017 Edição n.º 1 Ano 1 Coordenação: DOMINGOS DOS SANTOS MANUELA GOMES O renascer das terras da Rosa de Porcelana Cuanza-Norte BOM APETITE O funje e acompanhantes à mesa das famílias e restaurantes GASTRONOMIA 24 TILÁPIA Mucoso produz toneladas de cacusso AQUICULTURA 7 PESCA ARTESANAL Berço da maior lagoa do Norte de Angola NGOLOME 8 FACTOS HISTÓRICOS Um povoado que foi a capital provisória da Província Ultramarina MASSANGANO 18 E 19 GESTÃO PARTICIPATIVA Governação aberta e inclusiva GOVERNADOR16 E 17 CRIAÇÃO DE GADO A luta pela povoação bovina PLANALTO DE CAMABATELA 14 NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTE

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SEX14JULSexta-feira

14 de Julho de 2017Edição n.º 1 • Ano 1

Coordenação:DOMINGOS DOS SANTOS

MANUELA GOMES

O renascer das terras da Rosa de Porcelana

Cuanza-Norte

BOM APETITE

O funje eacompanhantesà mesa dasfamílias e

restaurantes

GASTRONOMIA • 24

TILÁPIA

Mucoso produz toneladas de cacusso

AQUICULTURA • 7

PESCA ARTESANAL

Berço da maior lagoa do Norte de Angola

NGOLOME • 8

FACTOS HISTÓRICOSUm povoado

que foi a capitalprovisória da ProvínciaUltramarina

MASSANGANO • 18 E 19

GESTÃO PARTICIPATIVAGovernação aberta

e inclusivaGOVERNADOR• 16 E 17

CRIAÇÃO DE GADOA luta pela povoação bovina

PLANALTO DE CAMABATELA • 14

NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTE

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2 CUANZA-NORTE

Nesta edição

Sexta-feira14 de Julho de 2017

Editorial

O censo realizado há três anos, o primeirodesde a Independência, deu à luz a existênciade 489 mil homens e mulheres a habitaremnos dez municípios que compõem o territóriodo Cuanza-Norte, antigo bastião de NgingaMbandi e de outros soberanos dos entãoreinos do Ndongo e da Matamba. Foi em Massangano, território de Cambambe,que se instalou, no século XVII, o refúgioda primeira colónia portuguesa, fugida deLuanda, quando esta cidade foi ocupadapelos holandeses. Ergueu-se aqui o túmulodo capitão Paulo Dias de Novais, o primeiroedificio de um tribunal em Angola e outrosde interesse da administração da primeirafase da colonização portuguesa no país.

Os rios Kwanza, Lucala, Zenza e Dangicriam aqui e ali lagos e lagoas que propiciama pesca, o turismo e o transporte fluvial. Éem Ambaca que se estende o maior planalto,com todas as condições vegetais e climáticaspara a criação de gado bovino, sendo porisso o centro da organização do Planalto daCamabatela, que acolhe também fazendas,principalmente pecuárias, existentes nasprovíncias de Malanje e do Uíge.

No Cuanza-Norte foi construída, e agoraampliada, a Barragem de Cambambe e, maisrecentemente, lançada a base para a cons-trução da Barragem de Caculo Cabaça, nomédio Kwanza, que vai aumentar a produçãode energia limpa e fomentar o desenvolvi-mento industrial, não somente desta Pro-víncia, mas de todo o território nacional.

Com este e outro potencial abençoadopela valentia dos seus ancestrais, os cuanza-nortenhos viraram-se para as tarefas dereconstrução e criam as condições necessáriaspara o desenvolvimento.

Inegavelmente se reconhece o trabalhobom que se faz na construção de infra-estru-turas para o atendimento das preocupações

sociais e económicas das popualções. Per-fila-se, nesta empreitada, começada em2002, quando se venceu a guerra, a construçãode escolas para a formação educativa e ins-trutiva das crianças e com a criação de uni-dades académicas de nível superior, acapacitação dos adultos para se adapatremaos desafios que se impõem para o futurode Angola.

Por todas as localidades urbanas e emalgumas aldeias os postos vêem-se novoscentros de saúde e hospitais erguidos nestesquinze anos com a aplicação dos fundospúblicos em investimentos que favorecerama aproximação dos serviços de atendimentomédico à população.

Os esforços continuam ainda na construçãode uma rede rodoviária que desimpediu oacesso às comunidades rurais e fez fluir astrocas comerciais entre o campo e a cidadenesta região com grande capacidade produtiva.Muitas destas estradas foram terraplanadaspara permitirem não somente o trânsito dasmercadorias para a população, mas parafacilitarem também a livre circulação depessoas por estas terras que são passagemorbigatória para quem viaja outros pontosde Angola.

As charruas e as alfaiam rasgam as terrasrecentemente desminadas para darem lugarà produção de alimentos para o povo ou àcriação animal. As famílias camponesas,apoiadas pelo Executivo com sementes einstrumentos agrícolas, concorrem em s\arelação com os detentores dos grandesterrenos na produção dos alimentos neces-sários ao consumo, à produção e à estabilidadesocial. Em outras zonas já se vê o ressurgirda produção do café que contribuiu nopassado para o nascimento de muitas destasvilas que fazem parte da grande e bela Pro-víncia do Cuanza-Norte.

O Censo realizado em 2014 revelou a existência de 489 mil habitantes no Cuanza-Norte

3 Mais alunos no sistema de ensino Sete mil crianças inscritas no presente ano lectivo

5 Acesso fácil aos serviços de saúdeCentros e Postos de Saúde perto da população

6 Dieta alimentar de crianças e idosos Produção de algas espirulinas no Ngolome

7 Produção de tilápia Mucoso produz muitas toneladas de pescado por ano

8 Maior lagoa do Norte de Angola Mais de 1.500 pessoas na pesca artesanal

9 Fábrica de tecidos Aposta na redução da importação

10 Fartura na MandiocaSucesso na área cultivada do tubérculo

12 Incentivos para o café Dois milhões de mudas do bago vermelho por ano

14 Planalto de Camabatela A expansão da povoação bovina

15 Fomennto do turismoPlano estratégico para o relançamento

16 José Maria dos Santos Uma governação aberta e inclusiva

18 Factos Históricos Massangano já foi capital de Angola

21 Crescimento anárquico Novos bairros nas montanhas de Ndalatando

22 Pequenos ofíciosO valor e a persistência das antigas profissões

24 Comer bem O funje e acompanhantes muito apreciados

25 Bebidas caseiras O efeito do “Bananal” e “Empurra”

27 Real Ginga O novo clube da Província do Cuanza-Norte

28 Talentos para o futebol Falta de recintos na descoberta de valores

Determinação é o caminhoseguro para o futuro

SEX14JULSexta-feira

14 de Julho de 2017Edição n.º 2 • Ano 1

Coordenação:DOMINGOS DOS SANTOS

MANUELA GOMES

O renascer das terras da Rosa de Porcelana

Cuanza-Norte

BOM APETITE

O funje eacompanhantesà mesa dasfamílias e

restaurantes

GASTRONOMIA • 24

TILÁPIA

Mucoso produz toneladas de cacusso

A

PESCA ARTESANAL

Berço da maior lagoa do Norte de Angola

N

FACTOS HISTÓRICOSUm povoado

que foi a capitalprovisória da ProvínciaUltramarina

MASSANGANO • 18 E 19

GESTÃO PARTICIPATIVAGovernação aberta e

inclusivaG

CRIAÇÃO DE GADOA luta pela povoação bovina

PLANALTO DE CAMABATELA • 14

NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTE

COORDENAÇÃO: Domingos dos Santose Manuela Gomes

PAGINAÇÃO: Valter Vunge, AdéritoManuel e Adilson Santos

PRÉ-IMPRESSÃO E IMPRESSÃO:Edições Novembro-E.P

PROJECTO GRÁFICO: Albino Camana

APOIO: TravelGest, Antonika, LoandaHotel, Risort Kanawa Mussulo, DreamSpace, Hotel Epic Sana, Hotel Ngazeca,Hotel Ritz, Infotur e Viva LuandaRestaurante

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO: António José Ribeiro (presidente)

ADMINISTRADORES EXECUTIVOS: Victor Manuel Branco Silva CarvalhoEduardo João Francisco MinvuMateus Francisco João dos Santos JúniorCatarina Vieira Dias da CunhaAntónio Ferreira GonçalvesCarlos Alberto da Costa Faro Molares D’Abril

ADMINISTRADORES NÃO EXECUTIVOS:Olímpio de Sousa e SilvaEngrácia Manuela Francisco Bernardo

PROPRIEDADE: Edições Novembro, E.P.

SEDE: Rua Rainha Ginga, 12-26 Caixa Postal 1312 - LuandaRedacção: 222 020 174 Telefone geral (PBX): 222 333 344Fax: 222 336 073 Telegramas: Proangolae-mail: [email protected]

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André Brandão

Mais de sete mil novos alunosforam inscritos no Ano Lectivo2017/2018 na Província doCuanza-Norte, revelam dadosda Direcção Provincial da Edu-cação a que o Jornal de Angolateve acesso.

Com a i n s e rção de s tenúmero de alunos no Sistemade Ensino, esta Província pas-sou de 145 mil para 152 milalunos matriculados.

Estes números foram acom-panhados por um intenso tra-ba l ho d e c on s t r u ção ereabilitação de escolas queestão a levar à diminuição,ano após ano, da incidência

de crianças em idade escolarfora do Sistema de Ensino.

No âmbito do Programa deInvestimentos Públicos (PIP),estão inscritos para este anomais projectos de construçãode escolas e o seu apetrecha-mento com bibliotecas e cam-pos multiuso para a práticadesportiva.

No presente Ano Lectivo,foram inseridos na alfabeti-zação mais de 30 mil alunos,que vão dar continuidade aoesforço do Governo Provincialde combate ao analfabetismona Província do Cuanza-Norte.

O Ano Lectivo foi preparadonum ambiente de bastantesrestrições no capítulo finan-ceiro, em virtude dos condi-

cionalismos provocados peladescida acentuada do preçodo petróleo no mercado inter-nacional, mais ainda assim asaulas começaram e prosseguemsem quaisquer restrições, paraque o conhecimento e os valo-res da ética e da moral esti-

mulem as boas práticas con-substanciadas no respeito dasnormas vigentes, em quesobressai a valorização da apti-dão e o mérito dos alunos eprofessores.

Em concreto, 34.951 cida-dãos do Cuanza-Norte fre-quentaram, no ano passado,as aulas de alfabetização. Des-tes, foram aprovados 22.990,com uma cifra de 20.600mulheres, 2.686 das quaisforam classificadas como tendoficando livres do analfabetismo,ao concluírem com êxito oMódulo Três, equivalente à 6ªClasse. No mesmo período,mais de 500 alunos terminaramo Ensino Médio nas escolas deEnsino Geral e Profissional.

3Sexta-feira14 de Julho de 2017

Ogovernador

José Mariados Santos

temprestadoespecial

atenção aoensino

primário

Está a ser reduzido o número de criançasque estãofora dasescolas

A felicidadede estudar é expressana alegria das crianças

Educação

Programa do Governo Provincial de combate ao analfabetismo com resultados positivos

NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTEDOMBELE BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO

NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTE

Mais de sete mil novos alunosinscritos no sistema de ensino

Com a inserção detão elevado número

de alunos noSistema de Ensino,

a Província do Cuanza-Nortepassou de 145 mil

para 152 mil alunos

matriculados

A Escola Politécnica e a Escola Peda-gógica do Cuanza-Norte, abertas em2007 e 2011, respectivamente, têmatraído para Ndalatando dezenasde estudantes provenientes das pro-víncias do Uíge, Cuanza-Sul, Malangee Bengo, Huambo, Huíla, Bié, Cunenee Lunda-Norte.A Escola Superior Politécnica ministralicenciaturas em Informática de Ges-tão, Contabilidade de Gestão, Admi-nistração Pública e Análises Clínicas.Adstrita à Universidade Kimpa Vita,com sede na Província do Uíge, aEscola Superior Politécnica tem2.584 estudantes, 791 dos quaisentraram no presente Ano Lectivo.O Director-Geral da Escola SuperiorPolitécnica, Pedro Vita, precisou quea instituição formou no ano passado46 licenciados nos diferentes cursosque lecciona e até Abril deste anoforam graduados mais 135 estudan-tes. No total, a Escola Superior Poli-técnica do Cuanza-Norte já lançoupara o mercado de trabalho 181licenciados. Já a Escola Superior Pedagógica,que iniciou as actividades em 2007com os cursos de Biologia, Química,Física, Matemática, Português/Francêse Educação de Infância, de 2009 a2013 formou 1.927 bacharéis. Em2016 outorgou diplomas a 500 estu-dantes e em 2017 graduou mais 203estudantes, totalizando 703 licen-ciados desde a sua abertura.Com cerca de 83 professores, sendo32 efectivos, 28 colaboradores e 23funcionários de nacionalidade cubana,a Escola Superior Pedagógica tem aperspectiva de, nos próximos anos,abrir cursos de Geografia e História.

AB

Escolas Superiorabsorvemcentenasde estudantes

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4 CUANZA-NORTE Sexta-feira14 de Julho de 2017

Governo da província do Cuanza-NorteDirecção Provincial da Educação

"Mais infra-estruturas, mais qualidade, mais alunos no sistema de ensino"

A construção e reabilitação de escolas reduz, ano após ano, a incidência de crianças em idade escolar foram do sistema de ensino e valoriza a aptidão e o mérito dos alunos e dos professores. No âmbito do Programa de Investimento Público, estãoinscritos para sector da educação vários projectos de construção de novas escolas e o seu apetrechamento com equipamentosde apoios, como bibliotecas e campos multiusos para prática desportiva.

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Manuel Fontoura

A construção de centros e postosmédicos cada vez mais pertodas comunidades tornou maisfácil o acesso aos serviços desaúde no Cuanza-Norte e redu-ziu de 14 para três quilómetrosa distância percorrida pela popu-lação para receber assistênciamédica, revelou o Director Pro-vincial Interino de Saúde, Mbia-vanga Luvuezo Alves.Apesar dessa redução na dis-

tância percorrida pelos doentesaté aos centros de saúde, Mbia-vanga Luvuezo Alves reconheceque ainda há muito trabalhopor fazer no sentido de levar osserviços de saúde para maisperto da população, mas lembraque a Província beneficiou daconstrução de várias infra-

estruturas entre 1975 e 2017,bem como aumentou o númerode recursos humanos qualifi-cados, equipamentos médicose melhorou a capacidade deintervenção hospitalar. Anteriormente, disse o Direc-

tor, só havia quatro hospitaisem toda a Província e hoje jásão 11, além de duas materni-dades, uma no Município doCazengo e outra no GolungoAlto. “Tínhamos apenas 10 cen-tros de saúde e agora temos 22,assim como passamos de 20postos de saúde para 102 actuais.O número de camas subiu demenos de 200 em 1975 paramais de 1.050 nesta altura”,explicou, recordando que, naaltura da proclamação da Inde-pendência, a Província doCuanza-Norte tinha apenas 73

unidades de saúde. Em termosde recursos humanos, o Cuanza-Norte conta com 101 médicosde várias especialidades, sendo50 angolanos e 51 expatriados. Mbiavanga Luvuezo Alves

explicou que há alguns anosesta Província tinha apenas umtécnico superior de enferma-gem, contando neste momentocom mais de 30, para além de1.194 enfermeiros básicos, namaioria formados na área dediagnóstico e terapêutica.Em 2002, indicou o Director

Interino, a Província dispunhade apenas 35 técnicos de aná-lises clínicas, contra os 90actuais. Já o número de técnicosde apoio hospitalar cresceu de188 para 848. Hoje, o Cuanza-Norte dispõe de 64 analistasclínicos e 800 funcionários deapoio hospitalar, para além deter uma escola para a formaçãode enfermeiros e uma EscolaSuperior Politécnica para a for-mação de técnicos em análisesclínicas e saúde pública.O Hospital Provincial tem

serviços de oftalmologia, otor-rinolaringologia, ortopedia,núcleo de rastreio do cancro,que anteriormente não existiam,para além das especialidadesde estomatologia, imageologia,ginecologia, obstetrícia, medi-cina interna, cirurgia, psicologia,laboratório de análises clínicas,urgências/emergências médicas,ancitosia e outras. “Hoje temos tecnologia para

diagnóstico com TAC, ecografia,aparelhos modernos de análisesclínica, bioquímica, hemato-logia, serologia e tantos outros.Por exemplo, o serviço de radi-

logia era feito de forma manualà base de fixadores e relhadorese hoje é digitalizado”, disse,destacando agora os serviçosde cardiologia, neurologia, psi-quiatria, nefrologia e mamologia. Mbiavanga Luvuezo Alves

mencionou igualmente a exis-tência de serviços de saúdereprodutiva, de testagem eaconselhamento voluntáriasobre o VIH/Sida, que come-çaram a funcionar a partir de2006 e começam a ser implan-tados e consolidados em todaa Província. A maior unidade hospitalar

da Província conta ainda comequipamentos como ecógrafos,incubadoras, electro-cardió-grafos, tocógrafos e monitorespara detenção dos sinais vitaisem todas as camas e, a nível dolaboratório, existe o especto-fotómetro e outros meios

modernos, o lixo hospitalar éincinerado, ao contrário do pas-sado em que era depositadonum buraco feito por trás daprópria unidade hospitalar. O Sector de Saúde do Cuanza-

Norte ostenta igualmente outrosequipamentos novos: cadeiracompleta de estomatologia,equipamentos de otorrinola-ringologia e diantoscopia, quefuncionam com normalidade.O Director Provincial de Saúde

confirmou a existência de dis-pensários em todos os muni-c í p i o s e um sana tó r i o ,localizados no Quilómetro 11,nos arredores da cidade de Nda-latando, para o atendimentodos casos de tuberculose.Até 1975, as principais doenças

da região eram a tripanosso-míase, a malária, a tuberculose,infecções respiratórias agudas,shistosomiase, filaríase, lepra,febre-amare la , var ío la esarampo. Actualmente, são tidascomo doenças infecciosas maisfrequentes a malária, a tuber-culose, diarreicas e respiratóriasagudas, as negligenciadas comoa shistisomiase e a filariose,para além das crónicas não trans-missíveis, com destaque paraas cardiovasculares, como ahipertensão arterial, a diabetes,os traumas por acidente de via-ção, o cancro e as doenças men-tais. “A doença do sono não épreocupante, apesar da Pro-víncia se encontrar numa áreaendémica. O importante é avigilância em capturar as moscase prevenir que não haja doentes.Basta ter um doente numa áreapara a doença se estender a maispessoas”, frisou Mbiavanga.

5Sexta-feira14 de Julho de 2017

Já é possívelrealizar

consultas defisioterapia

Assistência Médica

Cuanza-Norte conta com mais de 100médicos de diversas especialidades e 1.194 técnicos de diagnóstico

FOTOS: NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTE

Doentes deixam de percorrer longas distâncias

O HospitalProvincial tem

serviços deoftalmologia,

ortopedia, rastreiodo cancro,

estomatologia,imageologia,ginecologia,obstetrícia,

cirurgia, psicologia,

laboratório deanálises clínicas, de bioquímica,hematologia e

serologia

A doença do sono estácontroladacom adistribuiçãodemosquiteiros

O HospitalMunicipal do Cazengoestá melhorapetrechado

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Manuel Fontoura

Um projecto destinado à pro-dução de algas espirulinas foilançado na localidade da Lagoado Ngolome, Município de Cam-bambe, com o propósito dediminuir o défice nutricionaldas crianças e idosos de diversaslocalidades da Província doCuanza-Norte.

O projecto-piloto dispõe jáde infra-estruturas no Ngolome,construídas no âmbito do Pro-grama de InvestimentosPúblicos(PIP), através do Ministério dasPescas, em parceria com oGoverno da Provínc ia doCuanza-Norte.

Segundo o representante daFAO em Angola, MamoudouDiallo, a alga espirulina é umalimento com altíssimo valornutritivo, que é actualmente

utilizado como comida, ali-mento terapêutico e suplementoalimentar.

O funcionário da ONU expli-cou que a espirulina contémproteínas, aminoácidos essen-ciais e vitaminas minerais e é,sem sombra de dúvida, o únicoalimento que tem a concentra-ção mais alta de macro e micronutrientes, que ajudam a fazerface ao défice nutricional decor-rente nas camadas mais vul-neráveis das populações, ascrianças e os idosos.

Para Mamoudou Diallo, aespirulina é um alimento jádesenvolvido nos cincos con-tinentes. Pelo seu valor nutritivoúnico no mundo e ímpar pelorendimento, que o tornou numobjecto de comércio mundial,constitui até uma fonte de divisasvindas da exportação em muitos

países. A Índia é o primeiroexportador deste produto, alémda China, Cuba, México, Israel,Estados Unidos, Burquina Faso,Chade e Ghana.

Angola teve a primeiraexperiência de produção arti-ficial de espirulina, realizadapela primeira vez em 2014, noPerímetro do Kicuxi (Luanda),em teste de pequena escala,para se ver a capacidade deprodução deste produto demaneira artificial. O teste teveresultados conclusivos comgrande qualidade.

O projecto-piloto, segundoDiallo, propõe-se valorizar aprimeira experiência numaescala maior de produção, antesde passar para uma produçãonacional, no âmbito de umfuturo programa da cadeia devalor integrado, numa parceria

público-privada entre os Minis-térios das Pescas, da Saúde, daAgricultura, da Família e Pro-moção da Mulher e organizaçõesnão-governamentais que tra-balham na área da nutrição.

De acordo com o represen-tante da FAO em Angola, com

este projecto o Ministério dasPescas vai aumentar e diversi-ficar de modo sustentável a pro-dução aquícola, incluindo aespirulina, para poder melhorara situação nutricional das crian-ças, que vão ter um estatutomelhor na Lagoa de Ngolome.

Este projecto de cooperaçãonão vem isolado. A FAO vaiacompanhar a construção deuma escola primária e apoiaro perímetro hortícola, contro-lando a transformação dos pro-dutos que vão sair da localidade.

Para além disso, vai ser ins-talada uma cantina escolar paraos alunos, processo englobadono pacote de produção e trans-formação do peixe e espirulina,que não seria possível realizarsem a vontade política do Exe-cutivo levada a cabo pelo Minis-tério das Pescas e a FAO.

A produçãode algas

espirulinaspretende

reforçar anutrição das

crianças

Produção de algas espirulinas

Projecto-piloto dispõe já de infra-estruturas construídas no âmbito do Programa de Investimentos Públicos (PIP)através do Ministério das Pescas, em parceria com o Governo Provincial, e popõe-se valorizar a primeira experiêncianuma escala maior de produção, antes de passar para o nível nacional

NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTE

Idosos e crianças com a dieta melhorada

O Fundo das Naçõespara a Agricultura e

Alimentação vaiacompanhar a

construção de umaescola primária e

apoiar o perímetrohortícola,

controlando atransformação dosprodutos que vãosair do Ngolome

O projectoengloba nopacote deprodução atransformaçãodo peixe eespirulina

6 CUANZA-NORTE Sexta-feira14 de Julho de 2017

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Marcelo Manuel

A segunda fase do projecto de cria-ção de larvas de tilápia na regiãodo Mucoso, que agrega a etapa deengorda e comercialização docacusso, em 18 tanques de trêsmetros cúbicos, está a permitir aprodução anual de 340 toneladasde pescado, além de aglutinaruma fábrica de gelo.

Orçado em quatro milhões dedólares, o projecto, de iniciativado Governo, tem também arma-zéns, zona de biofiltro e máquinaclassificadora de oxigénio. A suacriação teve como propósito oaumento da produção da tilápia,a redução das importações de

pescado, a criação de excedentespara a exportação, a geração deemprego, a diversificação daeconomia e a redução da fomee da pobreza.

Investigação científica Mucoso é um campo fértil para ainvestigação científica que podegalvanizar a luta do Governo emrelação ao combate à fome e paraa diminuição da pobreza. Os estu-dantes das universidades ango-lanas podem encontrar aquicondições para a investigaçãocientífica.

A Direcção do Centro de Lar-vicultura do Mucoso, em parceriacom o Ministério de tutela, estáa trabalhar na identificação de

espécies de peixes nativos poten-ciais para a Piscicultura, na ava-liação de novas fontes para aalimentação do peixe, como ofarelo de soja, a farinha de mas-sango, o farelo de trigo, a farinhade milho e o desperdício do gadoe do peixe.

O Centro do Mucoso foi abertoem Março 2015. Segundo o seuDirector, Evaristo Lourenço, paraa produção anual de dois milhõesde alevinos, o centro usa repro-dutores da tilápia melhoradosgeneticamente através da aplicaçãoda técnica de reversão sexual nafase inicial de cultivo para a obten-ção de machos monossexuais,para além da criação e forneci-mento de ração adequada. Paratal, o Centro dispõe de um Labo-ratório de Larvicultura, tanquessecundários de reversão sexual,viveiros em estufa, viveiros degestão de reprodutores, sistemade captação e bombagem, tanquede decantação, área administrativae residências e tanques secun-dários de alevinagem.

Em 2016, ainstituição entregouaos criadores da Província doCuanza-Norte 24 mil alevinos dequalidade para o fomento, pro-cedeu à formação e capacitaçãosobre demonstração de produçãode alimento alternativo para ospeixes e produziu 650 mil larvase 117 mil alevinos de 15 gramas.

Um dos jovens que conseguiuo primeiro emprego na área deengorda do cacusso, GuilhermeCateve, formado em Biologia, dissesentir-se bem em trabalhar paraa diversificação económica.

FOTOS: NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CAUNZA-NORTE

NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTE

Ministériodas Pescasidentificaespécies de peixesnativosprópriospara aPiscicultura

Aquicultura

Programa de criação de tilápia está orçado em quatro milhões de dólares

Mucoso produz340 toneladas depescado por ano

Os sete membrosda Coope-rativa de Aquicultores do Alto-D o n d o “ S omo s N ó s ”receberam do Ministério dasPescas um barco a remos,com capacidade para 250 qui-los, com objectivo de auxiliaros trabalhos de transporte emanuseio do pescado.De acordo com o presidente

da Cooperativa “Somos Nós”,Paulo Rufino, ele e compa-nheiros desenvolvem a acti-vidade da aquicultura numarepresa natural criada numaantiga zona de escavação deinertes, com uma dimensãode 400 metros quadrados eprofundidade de 15 metros,em tempo de chuva, e seis,no cacimbo.Dos cinco mil alevinos rece-

bidos do Ministério das Pescas,em Junho passado, a lagoaconta agora com mais de50.000 cacussos. Segundo

Rufino, a falta de farinha depeixe é um dos principaisconstrangimentos para a pre-paração da ração artesanalna Cooperativa, que contribuipara a sustentabilidade dosseus membros.“Desde a abertura da nossa

Cooperativa em Junho, nuncamais soubemos o que é passarfome. A nossa represa garante-nos o peixe para a alimentação,para além do dinheiro das ven-das, que permite a compra deoutros meios essenciais paraa nossa vida”, disse o presidenteda Cooperativa. A Cooperativa já vendeu

25.000 cacussos ao preço de500 kwanzas o quilo, mas paraa produção e comercializaçãoem grande escala precisaagora de comprar mais meiosde produção, pelo que é neces-sário um financiamento ban-cário, referiu Paulo Rufino.

Cooperativa “Somos Nós”

Cooperativa de Aquicultores recebeu barcos a remo

7Sexta-feira14 de Julho de 2017

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Manuel FontouraMarcelo Manuel

Ngolome é uma aldeia do Muni-cípio de Cambambe construídaà volta da maior lagoa da regiãonorte de Angola. As mais de 1.500pessoas vivem em feiras e dedi-cam-se à pesca artesanal.

Os habitantes de Ngolomeestão organizados em mais de20 Cooperativas de Pesca. Alagoa tem uma extensão de 14mil metros quadrados e é com-posta por 99 baixas, vulgarmentechamadas braços. Para dar aoshabitantes novas competênciasem pesca, o Governo, em parceriacom o Fundo das Nações Unidaspara a Alimentação e a Agricultura(FAO), está a formar os habitantesde Ngolome em matérias ligadasà pesca artesanal e continental.

É-lhes dada também a pos-sibilidade de participarem nodesenvolvimento do projectosócio produtivo denominadoHorta Comunitária que visa amelhoria da dieta da população,lançado pelo Governo na comu-nidade. A Horta Comunitáriafoi concebida para produzir

peixe, ração do tipo espirulina,soja, milho e moringa. Depoisde formados, os habitantes deNgolome têm a responsabilidadede sustentar esses serviços.

Os cursos básicos de forma-ção de pescadores artesanaiscontemplam a componente depesca que inclui máquinas esegurança ecológica, aquicul-tura, alimentação e tantos outros.Depois de formados, os pesca-dores trabalham nas estufas dealgas espirulinas que o Governoestá a construir na localidade,numa extensão de, aproxima-damente, 200 metros quadrados.

Os projectos permitiram jáa colocação de cerca de 20 milpeixes em processo de engordapara atingirem entre 350 a 400gramas. Depois os peixes pas-sarão para a componente deprocessamento, que pode serfresco, seco ou fumado.

A Horta Comunitária e a Pis-cicultura compõem-se de tan-ques escavados e em gaiolas.No âmbito da aquicultura, serãoinstaladas novas gaiolas, feitoo seu povoamento e lançado oprojecto para a área do cultivode espirulinas. A população d

Ngolome recebeu uma máquinapara a produção de peixe deuma empresa chinesa, noâmbito da responsabilidadesocial da empresa.

O Governo angolano pretendetransformar a comunidade pis-catória da Lagoa deNgolomenuma comunidade com rendi-mento médio, com uma popu-lação próspera, saudável einstruída. A construção de infra-estruturas de apoio à pesca,nomeadamente, o Centro deProcessamento e Beneficia-mento do Pescado já existente,faz parte do objectivo das auto-ridades angolanas, através doMinistério das Pescas. A grandemeta do Ministério das Pescas,

conforme disse a Ministra Vitóriade Barros Neto, é o melhora-mento dos processos de explo-ração e gestão dos recursosaquáticos, promovendo aomesmo tempo mudanças dementalidade e mobilizandovontades para trilhar o caminhoda redução da insegurança ali-mentar e romper o ciclo dapobreza. Para a Ministra, torna-se imperioso incentivar o desen-volvimento das comunidadesribeirinhas de modo integrado,priorizar a extensão e a ani-mação rural, bem como a inves-tigação, a assistência técnica,a formação e promoção doacesso ao crédito financeiro,por forma a garantir sustenta-bilidade aos projectos.

No Ngolome está a ser erguidauma escola de seis salas, paraa melhoria do ensino às criançase mulheres. A unidade escolarvai custar cerca de um milhãode dólares, num financiamentoda FAO. A escola está a ser cons-truída numa área de 550 metrosquadrados e vai albergar 30 alu-nos em cada sala.

O Centro de Formação e Pro-cessamento da região piscatória

do Ngolome, em Cambambe, éapontado pela população e enti-dades tradicionais como a “tábuade salvação” económica daregião, devido à influência quevai ter no aproveitamento eredução das perdas do pescadoapós captura, a par de garantircerca de 320 postos de trabalhosdirectos e indirectos.

A iniciativa consta do pro-grama governamental ligado àdiversificação da economia,financiado pelo Estado angolanoem parceria com a FAO, orçadoem 1,39 milhões de dólares.

Esta acção faz parte do lequede unidades do Pólo de Desen-volvimento de Massangano,que alberga fábricas de trans-formação de produtos agrícolas,têxteis e de fermentação debebidas alcoólicas e refrige-rantes. O complexo foi erguidono âmbito da Estratégia de Mas-sificação e Desenvolvimentoda Pesca Artesanal e Conti-nental desenvolvido pelo Exe-cutivo com o objectivo degarantir as premissas neces-sárias ao combate à fome e àpobreza através do aumento dorendimento familiar.

Foramreduzidasas perdasde pescadoe abertos320 postosde trabalho

Os tanquespara acolocação de 20 milpeixes emprocesso de engorda

Aldeia piscatória

Os habitantes estão organizados em mais de 20 Cooperativas que se dedicam à pesca continental

FOTOS: NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTE

Ngolome tem a maior lagoa do norte de Angola

O centro foiconstruído no

âmbito da estratégiade desenvolvimentoda pesca artesanal,com o objectivo decombater a fome

e a pobreza

8 CUANZA-NORTE Sexta-feira14 de Julho de 2017

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Marcelo Manuel

Angola vai reduzir os custos deimportação de camisolas, camisase tecidos do tipo “jeans”, com aentrada em funcionamento dafábrica têxtil da Satec, em Agosto,na cidade do Dondo, Municípiode Cambambe.

O projecto é de âmbito cen-tral, financiado pelo Governojaponês, no âmbito da coope-ração entre os dois países. Deacordo com o Director dofábrica, Akira Nanao, em Angolajá estão concluídas três empre-sas do género, nomeadamente,

nas províncias de Luanda,Cuanza-Norte e Benguela, comum orçamento geral de milmilhões de dólares.

No caso particular da Satec,segundo Akira Nanao, a fábricavai produzir mensalmente180.000 camisolas, 150.000camisas e 480.000 metros detecidos “jeans”. A empresa vaigerar 1.500 postos de trabalhodirectos nas áreas de operadoresde máquinas, tecelagem, tin-gimento, corte e costura, admi-nistração, cozinha e limpeza,entre outros serviços.

A fábrica está erguida numaárea total de 88.000 metros

quadrados, com áreas para aprodução de malhas de tecidos,armazéns para produtos quí-micos, algodão, roupas, tecidos,casa das caldeiras, área de tra-tamento de água, refeitório comcapacidade de 600 lugares,áreas administrativas e 10 casasde banhos para cada género.

“A energia está a ser supor-tada por sete grupos geradorese a empresa conta com doisfuros hertzianos com capaci-dade de fornecerem 3.000metros cúbicos de água por diae uma creche para 50 criançasque prevê beneficiar os filhosde trabalhadoras e outras pes-soas da comunidade”, diz AkiraNanao. Os trabalhos de reabi-litação e ampliação da empresacomeçaram em Agosto de 2013com a criação e construção dasunidades que compõem a

fábrica e foram concluídos emDezembro de 2015. “Nestemomento, estamos a fazer aformação dos futuros operadoresque vão trabalhar com as máqui-nas. Já concluímos a montagemde toda a maquinaria técnica eacreditamos que em Agostopodemos entregar a fábrica paraa inauguração”, disse Akira.

A primeira fase de formaçãoterminou em finais de Junho,com um total de 600 jovens. Afase posterior arranca em Agostoe vai durar três meses.O der-radeiro turno começa em Janeirode 2018.De acordo com AkiraNanao, os jovens aprendemtécnicas de tecelagem, tingi-mento e confecção do produtofinal. O algodão vem da Gréciae da Índia, mas é intenção doGoverno angolano criar con-dições para que a mataria-prima

seja produzida em Angola. Parasuportar a produção, segundoo Director Akira, são necessáriasanualmente 6.300 toneladasde algodão.

O Jornal de Angola constatouque o primeiro leque de 600jovens em formação vai terenquadramento directo após aconclusão da formação, em fun-ção do grau de aproveitamentode cada um. Alguns podem sercatapultados para formaremoutros no futuro, numa formade valorização dos recursoshumanos nacionais, evitandogastos com a contratação de téc-nicos estrangeiros. Rosa Ernesto,uma operária de 28 anos, disse àreportagem que durante os trêsmeses de formação já aprendeutécnicas de tecelagem, para alémde manusear correctamente aslinhas e máquinas.

O algodãovem da

Grécia e daÍndia, mas éintenção do

Governoangolano

que amatéria-

prima sejaproduzida

no país

A empresavai gerar1.500 postosde trabalhonas áreas detecelagem,tingimento,corte ecostura,entre outrosserviços

Indústria Têxtil

A fábrica vai produzir mensalmente 180 milcamisolas e 480 mil metros de tecidos “jeans”

FOTOS: NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTE

SATEC vai reduzir a importação de roupa

A formação decorre semsobressaltos e os jovensesperam ansiosos a hora decomeçarem a produzir asprimeiras roupas para o mer-cado. A formação é dada portécnicos indianos, italianose portugueses que trabalhamcom rigor e afinco na trans-missão dos conhecimentos.O professor João Carmona,de nacionalidade portu-guesa, formador da área detecidos, trabalha no projectodesde Fevereiro e afirmaque os jovens têm dado omáximo no que toca a apren-dizagem dos conteúdostemáticos. A fábrica de roupa e tecidosSatec é umas das poucasexistentes no continenteafricano e, segundo Car-mona, pela sua estrutura eequipamento moderno,pode ajudar Angola a reduzira importação e contribuirpara a qualidade da indu-mentaria da populaçãonacional. “Os jovens formados nestafábrica devem estar orgu-lhosos por serem escolhidospara o efeito pelo facto dafábrica possuir estrutura etécnicas têxteis recomen-dadas mundialmente”, des-tacou Carmona.O Administrador Municipalde Cambambe, FranciscoManuel Diogo, considera oarranque da Fábrica Satec,ribeirinha da Estrada Nacio-nal Nº 230-A, no sentido deLuanda para Malanje, uma“lufada de ar fresco” para aeconomia da Província doCuanza-Norte e do País emgeral, pelo facto de gerarpostos de trabalho para osjovens e contribuir para adiversificação da economia.

Mão-de-obraqualificada

9Sexta-feira14 de Julho de 2017

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Manuel Fontoura

Há mais de 10 anos que os níveisde produção da mandioca naProvíncia do Cuanza-Nortetêm sido animadores, ultra-passando os 100 por cento deprodutividade.

Segundo dados do Departa-mento Provincial do Institutode Desenvolvimento Agrário doCuanza-Norte, a mandioca é aprincipal cultura de base destaProvíncia e ocupa 55 por centoda área cultivada, seguida dacultura do milho.

É a partir da transformaçãoda mandioca em fuba que resultao funje de bombó, o principalalimento consumido no norte

de Angola. Segundo o Institutode Desenvolvimento Agrário,esta Província há muito quedeixou de ter problemas coma mandioca, tendo apenas cons-trangimentos na cadeia decomercialização.

Em relação ao aprovisio-namento e distribuição defactores de produção, o IDArecebeu e distribuiu, duranteo ano passado, 10 toneladasde sementes de milho e algu-mas estacas de mandioca,perspectivando-se maioresníveis de produção nos pró-ximos anos.

Processamento Ao contrário das dezenas depequenas fábricas (moínhos),

espalhadas um pouco por todosos bairros da periferia da cidadede Ndalatando, muitos cidadãosainda preservam o hábito demoer tanto o milho como obombó no pilão de casa paraproduzirem a fuba.

Antes disso, o processo émais ou menos longo.

Por exemplo, a mandioca,de acordo com o camponês Mar-colino André Filipe, 54 anos deidade, começa com a plantaçãodas estacas na terra e ao fim deseis, ou mesmo um ano, depen-dendo da espécie do produto,a raiz da mandioqueira estápronta para ser consumida. Elapode ser comida crua, assada,cozida, frita ou mesmo mace-rada em água, até dois a três

dias, para ser transformadaem bombó. Segundo MarcolinoAndré Filipe, o bombó podeigualmente ser assado, frito,ou moído e transformado emfuba para de seguida ser usadona preparação do funje, comojá referido.

Já o processo de produçãoda fuba de milho é um tanto ouquanto diferente. MarcolinoFilipe recordou que o milhofica mais tempo na água, maisou menos cinco dias e depoispassa um tempinho ao sol, semdeixar secar muito. É moídopara retirar a casca do bago esó depois volta ao sol para secarintegralmente, seguindo-se,depois deste estágio, o processode transformação em fuba.

A mandiocaé a principalcultura daProvínciacom mais de55 por centode áreacultivada

Outrosprodutosagrícolascomeçam a registarsafras

DirectorProvincial da

Agricultura,Humberto

Mesquita

Boas colheitas

O processo de plantação do turbéculo é longo e começa com o cultivo das estacas na terra. Ao fim de seis meses ouum ano, dependendo da espécie, a raiz da mandioqueira está pronta para ser consumida crua, assada, cozida, frita,ou mesmo macerada em água para ser transformada em bombó

FOTOS: NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTE

Grande fartura na produção de mandioca

O Cuanza-Norte hámuito deixou de terproblemas com amandioca, tendo

apenasconstrangimentosna sua cadeia dedistribuição e

comercialização,numa altura em queforam distribuídas

cerca de 10toneladas de

sementes de milhoe algumas estacasde mandicoca paramaiores níveis de

produção

10 CUANZA-NORTE Sexta-feira14 de Julho de 2017

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11Sexta-feira14 de Julho de 2017

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Marcelo Manuel

Ernesto Macongo é natural e resi-dente na comuna da Cerca, ondeexerce a actividade agrícola desdea sua juventude num pedaço deterra com 360 hectares, no qualcultiva milho, ginguba e citrinos,mas é naprodução de café queestá a sua grande paixão.Hoje, com 78 anos, está preo-

cupado pelo facto de os filhos enetos que residem em Luandase desinteressarem dos anseiosdo patriarca em relação ao cultivodo bago vermelho na Cerca, noMunicípio do Golungo-Alto.ParaMacongo, a terra da Cerca é boapara a lavoura, apesar da falta

de meios para o escoamento,agravado pelo mau estado deconservação das vias de acessoque ligam a comuna aos mer-cados de Ndalatando, Golungo-Alto e Luanda, associada aoproblema dos elefantes, quedevoram uma boa parte da pro-dução,à excepção do café e dolimão.Durante a colheita passada,

o agricultor vendeu 5.820 quilosde café, a par de outras quanti-dades de laranja, limão, bananae hortaliças. Este ano prevê dupli-car a produção.Segundo o chefe do Depar-

tamento do Café do Cuanza-Norte, José da Costa Neto,aProvíncia do Cuanza-Norte conta

com 1.231 produtores, 666 dosquais exercem a actividade cafeí-cola de forma directa. Duranteo ano agrícola de 2015/2016,houve uma produção de 950toneladas.As zonas de maiorprodução situam-se nos muni-cípios de Golungo-Alto, Cazengoe Ambaca.

Aumento da produção As fronteiras dos municípios deSamba-Caju e Lucala abarcamum projecto que visa a produçãoanual de duas mil milhões demudas de plantas de café melho-rado, com o propósito de elevaros níveis de produção cafeícolanas províncias de Malanje, Uígee Cuanza-Norte.

A intenção da criação desteempreendimento pelo InstitutoNacional do Café (INCA), segundoo seu director, João Ferreira Neto,é produzir em média, daqui aquatro anos, 30.000 toneladasde café por ano, ao contrário dasoito mil actuais.Engenheiro agrónomo, Fer-

reira Neto sublinhou que asuaequipa desenvolve no municípiode Cazengo um projecto desti-nado a assegurara preservaçãodo “café Cazengo”, uma espéciedo café robusta, através de umprocesso investigação e repro-dução da espécie, cujos canteirosestão a ser desenvolvidos noCentro de Investigação Agronó-mica do Quilombo.

O responsável revelou que oGoverno Central está a intervirjunto da banca nacional com opropósito de criar condições definanciamento para os cafeicul-tores, cuja modalidade de paga-men to s e j a em c ré d i t ocampanha.“Queremos que osagricultores beneficiem de créditorápido e eficiente, por forma aaumentarmos as zonas de pro-dução e depois estes pagarem odinheiro de empréstimo de formarazoável”, disse o engenheiro.João Ferreira Neto destacou que

em 2016Angola teve uma produçãode oito mil toneladas de cafécomercial, mil das quais foram jáexportadas. Em todo o país, existemmais 50 mil cafeicultores.

12 CUANZA-NORTE Sexta-feira14 de Julho de 2017

Bago vermelho

Os municípios de Samba-Caju e Lucala abarcam um projecto que visa a produção anual de dois milhões de mudas deplanta melhoradas com o propósito de elevar os níveis do cultivo do bago vermelho nas províncias de Malanje, Uíge eCuanza-Norte e produzir em média 30 mil toneladas por ano ao contrário das oito mil actuais

Incentivo ao aumento da produção do café

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Em relação aos preços prati-cados para a venda do café, queronda os 500 kwanzas o quilo, oresponsável considerou não esta-rem de acordo com o recomendadopelos mercados internacionais,mas estão em linha com os preçosactuais da venda de divisas, o que,em sua opinião, garante um certoequilíbrio económico na valori-zação do produto.

A falta de meios e condiçõesadequados nos campos agrícolassão apontados por João FerreiraNeto como principais condicio-nantes da inserção de um maiornúmero de jovens no sector agrá-rio. Por isso, ele entende que énecessário a elaboração de pro-gramas viáveis para a captaçãodesta franja para o campo, dando-lhes a oportunidade de criarempor si próprio as condições eadquirindo, através do trabalho,a dignidade pessoal e a saúde eo bem-estar para a sua família.

Mercado mundialA administração da marca “CaféCazengo” pretende de formapaulatina atingir outros mercadosdo mundo, levando para a mesados cidadãos americanos, ondejá faz morada desde o ano pas-

sado, mas também para outrospontos da Europa, e não só, esseproduto de consumo.

De acordo com o administra-dor da Empresa Café Cazengo,José Gonçalves, a sua meta é

alcançar os grandes mercadosmundiais e exploraroutros espa-ços, como é o caso do café dechávena, para além da aberturade bares nos Estados Unidos daAmérica, para que a marca sejapreparada e degustada pelo maiornúmero de pessoas.

José Gonçalves afirmou queo café Cazengo foi bem recebidonos EUA, por ser um produtonovo e saído de África, pelo queneste momento está a ser comer-

cializado em mais de 300 lojasnos Estados Unidos da América.

“A história do município doQuiculungo também foi contadapor lá. Sem sombra de dúvidas,isso fez com que atraísse aindamais admiradores e apreciadoresdesta marca, para além da mon-tagem de spots publicitários quetêm promovido cada vez mais aconquista dos espaços ameri-canos”, disse José Gonçalves.

O empresário explicou quedurante o ano passado a suaempresa iniciou um processo deincentivo à produção do cafécom a distribuição de instru-mentos agrícolas e o financia-mento aos cafeicultores de todaa província, com o objectivo doaumento da produção . Emseguida, houve o momento dacompra e reco lha do ca fé .Durante aproximadamente trêsmeses, começou a ser comer-cializado o café a um valor de200 kwanzas por quilograma,contra os anteriores 60 kwanzas.Um aumento do preço do pro-duto conduziu a um incentivogeral dos produtores.

“Há alguns anos, quando nãohavia incentivo, o preço do caféera de 60 kwanzas por quilo.

Mas hoje o quilo já está a sercomercializado a 200 kwanzas.Isto significa que já há maisincentivo e mais gente a produzir.As pessoas tinham na menteque, como o café tem a colheitauma vez no ano e os preços quese praticavam eram baixos, pre-feriam cultivar produtos comoo milho, a mandioca e o amen-doim”, disse o administrador daCafé Cazengo.

Café CazengoCom um investimento na ordemde um milhão de dólares, aFábrica Café Cazengo, localizadana sede do Município de Qui-culungo, cerca de 140 quilóme-tros de Ndalatando, tem umamáquina de descasque comcapacidade de cinco toneladaspor dia, outra de torrefacção,para quatro toneladas diárias,equivalente a 70 quilos em cada15 minutos de funcionamento.São empacotados dois mil pacotesde 100 gramas de café torradomoído e em grão por dia.

De acordo com José Gonçalves,há um ano o café Cazengo eracomercializado nos mercadosparalelos de Luanda, mas hojea distribuição foi alargada e já é

possível encontrá-lo nos super-mercados “Bem-Me-Quer”,“Shoprite” e “Alimenta Angola”.

Durante o ano passado ,segundo José Gonçalves, foi possívelrecolher cerca de 300 toneladasde café em quase todos os muni-cípios da Província do Cuanza-Norte que estavam nas mãos doscafeicultores da região, para alémde uma boa parte nas provínciasdo Bengo e do Cuanza-Sul.

O produto final é comercia-lizado nos supermercados aopreço de 1.090 kwanzas o pacotede 100 gramas, seja ele moídoou em grão. A fazenda adstritaà marca Cazengo é de 680 hec-tares e emprega, para além dopessoal da fábrica, um total de25 trabalhadores, na maioriacontratados localmente.

A política de incentivo à pro-dução, segundo o responsável,assenta no crédito. Com issofoipossível criar uma Loja doCafeicultor, onde produtoresdo bago vermelho procuramcatanas, enxadas, adubos, fer-tilizantes, bens alimentares edinheiro a crédito que depoisé reembolsado com o café. Asquantidades dependem do valorda produção de cada um.

NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTE

Com uminvestimento

na ordem de um milhão

de dólares, a fábrica Café

Cazengo, tem uma máquinade descasque com

capacidade de cincotoneladas por dia

13Sexta-feira14 de Julho de 2017

FOTOS: NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTE

O bago vermelho pronto para a comercialização

Cafeicultores aprimoram técnicas de gestão e produção

Por dia são torreficados 70 quilos de café Cazengo

A tradição do café angolano é bastanteantiga. Desde o século XIX, a região nordestede Angola é famosa pelo rico solo e altitudesideais para a produção do melhor café do tiporobusta do mundo. O café é produzido na Pro-víncia do Cuanza-Norte nos municípios deCazengo, Banga, Quiculungo, Bolongongo,Ambaca, Golungo-Alto e noutras localidades.

Recentemente, mais de 200 líderes deCooperativas e Associações produtoras dos10 municípios da província foram habilita-dosem técnicas modernas de aperfeiçoa-mento da qualidade e dos métodos degestão da produção do café. A formaçãoteve como objectivo dotar os cafeicultoresde técnicas de mecanização, qualidade docafé e gestão de “stocks”,para que a provínciaretorne aos níveis de produção em quan-tidade e qualidade que sirvam para exportaro produto e manter a região como uns dosmaiores produtores de Angola.

O café assumiu um peso significativo naAngola colonial. No âmbito do programa deaceleração da diversificação da economia,as autoridades estão agora determinadasem recuperar a produção em condições demaior justiça laboral e social. O aumento daprodutividade do café passa tanto pela capa-citação dos cafeicultores como pela melhoriada qualidade de vida das comunidades.

Em 1970 a superfície total das plantaçõesde café estava estimada em 596 mil hectares.Deste número, 64,3 por cento correspondiaa empresas comerciais, enquanto as empresasfamiliares ocupavam uma área de 35,7 porcento.A superfície média por exploração dosector comercial era de 164 hectares,enquanto no sector familiar era apenas de0,79. Durante o período colonial, o sectorcolocou Angola entre os principais produtoresmundiais, com uma produção anual de cercade 200 mil toneladas.

Depois da Independência Nacional, nadécada de 80 do século passado, a Provínciado Cuanza-Norteesteve entre asmaioresprodutoras de café, depois do Uíge eCuanza-Sul. atractiva e rentável.Dada aimportância do café no desenvolvimentodo país e na obtenção de receitas para adiversificação da economia, o Executivoangolano traçou um plano estratégico parao aumento da produção de café e a revi-talização da indústria cafeícola.

Velha tradição

ErnestoMacongocolheu nacampanhaagrícolapassada5.820 quilosde café

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Silvino Fortunato

O Estadoangolano trava, há anos,uma incessante luta pelo povoa-mento de gado bovino no Planaltode Camabatela, com o propósitode produzir carne para o mercadointerno e externo, assim comofomentar o emprego. Para isso,já foram idealizados vários pro-jectos e programas que, em abonoda verdade, ainda não surtiramos êxitos desejados.

Este planalto abrange umamplo espaço geográfico quecompreende as províncias doUíge, Malanje e Cuanza-Norte.Acolhe mais de 280 fazendaspecuárias, repartidas pelo 12municípios que compõem o Pla-nalto de Camabatela.

A maioria destas fazendasencontra-se inactiva. As poucasque funcionam estão integradasnuma associação que os titularesdenominaram Cooplaca - Coo-perativa do Planalto de Cama-batela.

Os criadores lutam no sentidode obterem financiamento doEstado para as suas actividadese tratamento sanitário dos ani-mais, entre outros propósitos.

O Planalto tem condições cli-máticas e de solos excelentes

para a criação do gado bovino, enão só, que podem ser compa-radas aos melhores parques decriação de gado no mundo.

Talvez por isso é que, na épocacolonial, a população bovinativesse atingido em, 1974, a cifrade mais de 100 mil cabeças.

Agora, o Estado assume nova-mente o desafio de colocar maiscabeças de bovinos, numa pri-meira fase, para dinamizar osprodutores.

Marcos Luís, um dos respon-sáveis do planalto, estima exis-tirem mais de 18.000 cabeças degado, predominantemente dotipo nelor, brama, cimental egentia ou autóctone, para alémde caprino, equino e aves diversas.

O Administrador Municipalde Camabatela, José FranciscoRank Franque, indicou existiremno seu território 73 fazendas ope-racionais e 25 inoperantes. Nelas,há 11.400 cabeças de gado,número que considera insufi-ciente para o arranque da pro-dução e comercialização de carnebovina e seus derivados.

A escassa população bovinaestará na base da não aberturado matadouro que foi construídoe equipado com meios modernos.Ele foi construído a dois quiló-metros da vila de Camabatela. O

empreendimento tem uma capa-cidade de abate diária de 120cabeças. Ainda no Município, foiconstruída uma dependência queserve de aglomeração e trânsitodo gado, antes do seu abate.

Ora, deduzindo a populaçãoanimal existente e a capacidadede abate, tinham de ser mortos

43.800 animais por ano, númerode longe superior à populaçãogeral existente em todo o Planaltode Camabatela.

Para fazer funcionar o mata-douro, foram recrutados e for-mados vá r io s j ovens , queaguardam pelo arranque doempreendimento. O matadouro

garante até 75 postos de trabalhodirectos. O Governo Provincialdo Cuanza-Norte aprovou recen-temente o Plano de Desenvolvi-mento da Província Reajustado,que inclui o sector agropecuáriocomo um dos eixos fundamentais.Prevê também políticas de buscade parcerias no estrangeiro, visandoa transferência de conhecimentose de potenciação financeira parao desenvolvimento de vários pro-jectos ligados ao sector.

Essas iniciativas institucionaisdo Estado são aplaudidas. masalguns entendeidos defendem arestituição ao Estado de fazendasinoperantes ou mesmo abando-nadas. A entrega dos títulos deterras para a criação de gado seriaantecedida da verificação dopoder económico do candidatopara a actividade pecuária. Navisão destes analistas, muitasparcelas entregues servem apenasde lugares de recreio dos seusproprietários, uma realidade quevai em contramão com os pro-pósitos do Estado.

Inúmeros cidadãos possuidoresdestas parcelas não vivem ouacompanham a actividade diáriada vida animal, limitam-se areceber relatórios dos seus tra-balhadores, o que não basta paraeste exercício.

Para se atingir os propósitosde desenvolvimento agrope-cuários, há que se criar umaclasse que se dedique somenteà vida agrícola, ou seja, umempresariado agrícola fortefinanceiramente e afastado dadupla tarefa de governação oupolítica do exercício do empre-sariado deste ramo.

14 CUANZA-NORTE Sexta-feira14 de Julho de 2017

NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTE

PAULO MULAZA | EDIÇÕES NOVEMBRO NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTE

Estima-seque existamno Planaltomais de 18mil cabeçasde gado de diversasraças

O matadourotem

capacidade deabate diário

de 120cabeças

A criação degado requergrandecapacidadefinanceira

Planalto de Camabatela

O objectivo é produzir carne para o consumo interno e para aexportação e criar mais postos de trabalho

A aposta na carne bovina

A actividade pecuária requerconhecimento e acompanha-mento permanente. O veterinário, Marcos Luís,indica haver normas específicaspara o transporte do gado deuma região para a outra assimcomo para a observação clínicapermanente dos animais. O desconhecimento destas edoutras normas por parte demuitos fazendeiros contribui,fundamentalmente, para a eclo-são do surto de doenças e aimprodutividade, assim comoa morte no seio dos animais. Uma questão que preocupa

a classe veterinária é o factode muitos criadores compraremgado fora de Angola, sem a cer-tificação do seu estado desaúde. “Muito deste gado adquirido

fora é doente. Quando é colo-cado junto dos outros, propagadoenças infectando outros”,diz o veterinário.Algum gado chega a Angola

já velho e sem capacidade dereprodução.O estatuto da Cooplaca exige

que cada fazenda com mais de50 cabeças deve contratar umtécnico veterinário, para regu-larizar a assistência técnica. Entretanto, as dificuldades

financeiras que os fazendeirosenfrentam, segundo MarcosLuís, contribuem para o abran-damento da contratação dosreferidos técnicos. Alguma assistência para os

incapazes é garantida por ummédico veterinário e três téc-nicos médios desta Cooperativado Planalto de Camabatela. O tratamento é feito à base

de penincilina, estreptomicinae esoxitetraciclina, encontradasa nível do Município de Cama-batela, a partir da farmácia daprópria Cooplaca. Depois do fim do conflito

armado, em 2002, vários foramos programas do Governo ango-lano de incentivo à reproduçãobovina no Planalto de Cama-batela, passando desde a cedên-c i a de fa zendas a novosproprietários ao fornecimentode cabeça de gado. O planaltocontinua quase vazio e à esperado espírito empreendedor demais angolanos.

Assistênciaanimal

O planalto abrangeum amplo espaçogeográfico quecompreende as

províncias do Uíge,Malanje e Cuanza-Norte e acolhe maisde 280 fazendas

pecuárias,repartidos entre os12 municípios que

compõem oPlanalto deCamabatela

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André Brandão

O Plano Estratégico Reajustadodo Turismo do Governo da Provínciado Cuanza-Norte tem em destaqueprojectos para o relançamento edesenvolvimentodeste importantesector, atraindo outros serviços ecada vez mais investimentos.

Um total de 24 representantesde agências de viagens, operadoresturísticos, seguradoras e outrosempresários manifestaram o inte-resse em ajudar o Governo daProvíncia do Cuanza-Norte adivulgar as imagens das principaisáreas turísticas da província.

O Governo Provincial pretendedar apoio a qualquer empresainteressada em massificar o

turismo na província, considerandoque no Cuanza-Norte existemmuitos pontos turísticos. O Monu-mento de Massangano, a Barragemde Cambambe, a Horta Botânicado Quilombo, as Grutas do Zangae Cacolombolo, nos municípiosde Cazengo e Lucala, as Rápidasdo Lucala são apenas algumas dasatracções turísticas da região.

O Vice-Governador Provincialdo Cuanza-Norte para o SectorEconómico, Henrique de Sousa,salientou há dias que o turismo noCuanza-Norte faz parte dos eixosfundamentais de desenvolvimentoda região, pelo que solicitou aosempresários e agências de turismoque ajudem o Governo Provinciala expandir este importante sector.Por sua vez, a presidente da Asso-

ciação das Agências de Viagense Operadores Turísticos de Angola(AAVOTA), Catarina de Oliveira,sublinhou que a AAVOTA tem deconhecer os pontos turísticos jádesenvolvidos, as comunidades,os hábitos e costumes regionais,bem como a real situação das viasde acesso a esses locais para poderparticipar no esforço de arranquedo turismo. Catarina de Oliveiraafirmou que a Província doCuanza-Norte tem pontos turís-ticos que vão desde a sua humilde

e acolhedora população aos seusbelíssimos postais turísticos quecomportam rios, praias, lagos,flora, fauna e instalações hoteleirase restaurantes, com muitas van-tagens, sendo possível chegar aelas por via terrestre, ferroviáriae até aérea.

Em Ndalatando, a responsávelaproveitou para negociar com oshotéis e restaurantes uma gamade serviços e aspectos relacionadoscom os preços praticados, factoresfundamentais para o progressodesta actividade económica.

FOTOS: NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTE

As Rápidasdo lucala

são umbonito

destinoturístico

A lagoa do Ngolomeé outraatracçãoturística de granderelevo

CentroTurístico doQuilombo é dos locaismaisvisitados deNdalatando

Plano Estratégico do Turismo

Governo do Cuanza-Norte tem um PlanoEstratégico para o relançamento do sector

Operadoresturísticos querem investir

O Centro Turístico do Qui-lombo está localizado a Sulda cidade de Ndalatando. Umafileira de palmeiras plantadaslado a lado embeleza a finaestrada asfaltada que começana esquina da Paróquia deSão João Baptista da IgrejaCatólica e termina no Centrode Investigação Agronómica.

Os saltos dos esquilos e ochilrear dos pássaros acom-panham a marcha das pessoasque seguem em busca do abun-dante oxigénio do Quilombo.Um limitado desvio dá acessoa dois tanques de piscicultura,que recebem a água do Muem-beji, o rio que talha a meio acidade de Ndalatando.

Um pouco mais a frenteestão os espaços dedicadosà experimentação e multipli-cação das plantações do café.Aqui a viatura é obrigatoria-mente impedida de entrar. Outente tem de pagar uma taxade acesso. “Chefe, é para con-tribuir para o pagamento dosguardas”, vem sempre sorri-dente o fiscal. Acesso livre.As palmeiras dão agora lugara um conjunto de borracheirasque dão bastante sombra àestrada, deixando fina visãopara a observação do edifício,agora requalificado, da escolaque formava os regentes agrí-colas que eram depois dis-persados pelo território parao estudo e desenvolvimentodas plantas. Ainda não se sabe

se vai continuar ou não como mesmo propósito, mas jáestá reabilitada.

A estrada continua a descersempre curvilínea. Um con-junto de bambu, que protegeo rio Muembeje, dá as boas-vindas a quem por ele passa.A abundante e altíssima cana-da-índia mantém-se perfiladaaté ao Centro de Experimen-tação. Aqui as plantas, prin-cipalmente ornamentais, estãoorganizadas em canteiros. Arosa de porcelana, eternamentecantada pelos homens dasartes, encontra-se em maioria.Ninguém quer sair sem um“bouquet” de flores compostopor rosas de porcelana, bicosde papagaio e outras.

É uma área extraordinária,na opinião do português Hen-rique Simões, um turista queo Jornal de Angola encontroua saborear o aromático climado Jardim Botânico do Qui-lombo. Henrique Simões con-s i d e ra t e r o j a r d i m u mpotencial para a oferta de con-dições de ecoturismo. “O Qui-l o m b o t e m u m a p a r t eecológica gratificante e é umaboa zona de lazer”, diz Hen-rique, embora defenda queo local precisa de melhoriase arranjos dos espaços florais.“Creio que devia ter uma aber-tura mais para o lado doturismo, principalmente noque diz respeito à realizaçãode visitas guiadas.”

A beleza do Quilombo

O turismo noCuanza-Norte faz

parte dos eixosfundamentais de

desolvimento da província, por

isso urge anecessidade dosempresários e as

agências de turismoajudarem a

expandir o sector

15Sexta-feira14 de Julho de 2017

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Domingos dos Santos

O Senhor Governador foinomeado para o cargo háum ano e três meses. Qualé avaliação que faz da suagestão?Uma avaliação positiva. Anossa actuação tem incididona mobilização de vontadese de acções. Temos impri-mido um estilo de gover-nação aberta e inclusiva,onde todos que têm algumacoisa a dizer ou a fazer têmespaço para afirmar a suaparticipação no processode lançamento das basesessenciais que levarão aProvíncia ao desenvolvi-mento sustentável.

Encontrou muito trabalhopor fazer?Há sempre muito trabalhopara fazer. Logo no iníciode funções direccionámostoda a atenção para a ela-boração do Programa deDesenvolvimento Estraté-gico Reajustado da Provín-c i a , fi xando-o numparadigma constituído portrês eixos, nomeadamente:a Agricultura, massificaçãoda produção agrícola fami-liar e industrial visando aarrecadação de excedentespara estímulo ao sector daagro-indústria, a Explora-ção Mineira e o Turismo,que comporta a compo-nente rural, acoplando osaspectos histórico-cultu-

rais, pela riqueza históricada Província, cheia demonumentos e sítios, con-tos, rituais e as incidênciasdo tráfico de escravos pelocorredor do Kwanza e acomponente religiosa,cujos símbolos datam doséculo XVI, sobretudo noMunicípio de Cambambe,na velha cidade do Dondoe na Comuna de Massan-gano, só para citar estesexemplos.

Quais são as principais prio-ridades do seu Governo?Sabemos o contexto em quese desenrola a governaçãonos últimos dois anos emeio. Está sujeita a umacrise financeira desde asegunda metade do ano20 1 4 . Po r t an to , numambiente de parcos recur-sos, a nossa intervençãotem sido de trabalho pre-paratório para passarmosà fase seguinte, que é a daprodução em grande escala.Para isso, temos incentivadoos camponeses individuais,familiares e os organizadosem Cooperativas e em Asso-ciações, bem como aoempresariado, para semunirem das melhores téc-nicas e das melhores prá-ticas com vista ao aumentoda quantidade e qualidadeda produção. Temos emcarteira a constituição debrigadas de mecanizaçãoagrícola para a preparaçãode terras e campos agrícolas,

com o fim de ajudar a alar-gar os campos de cultivo,poupando-se tempo eesforço aos camponeses.Por outro lado, interviemosdirectamente no melhora-mento da imagem das cida-des, vilas e bairros. Estatarefa advém do melhora-mento das vias de acesso,com a recuperação dosespaços verdes, jardins, erecintos polidesportivos, apintura das habitações, omelhoramento do sanea-mento básico, o aumento

da oferta de água potávele de energia eléctrica. Nestesdois últimos capítulos, háclaramente hoje uma reco-nhecida expansão territorialno que concerne ao abas-tecimento destes dois fac-tores essenciais da vida e,

com isso, há mais cidadãosa consumir água em per-feitas condições de segu-rança em termos de saúdee a acederem à energia eléc-trica, quer de iluminaçãopública quer domiciliária.Por outro lado, interviemosna organização e reforçoinstitucional das dinâmicassociais e comunitárias. Hoje,os cidadãos organizadosdetêm mais espaço paraintervir e fazer valer os seusanseios, dentro dos padrõesda legalidade e da linhagovernativa.

Quais são os resultadosalcançados nos sectores daEducação e da Saúde?Um dos resultados é que oMunicípio de Ambaca vaiser a primeira zona do paísa ser considerada fora doanalfabetismo, com níveisabaixo dos quatro por cento.Estamos aí na ordem dos1,7 por cento. Fizemos umdiagnóstico mais amploquanto possível de todosos sectores da vida doCuanza-Norte. Com istopassámos a compreenderas vantagens e as fraquezas.E com os respectivos agen-tes traçámos linhas deorientação precisas quevisaram a capacidade detirar o máximo proveito dasvantagens e, em muitoscasos, criar estímulos parao avanço e consolidaçãodas capacidades instaladas.Examinámos as fraquezas

e produzimos os paradig-mas de correcção. Isto levoua que, no plano dos recursoshumanos, levássemos acabo a movimentação dequadros, num processo dereconversão e/ou substi-tuição. Era necessário elevaro moral e estimular com-petências adormecidas.Hoje há resultados palpá-ve i s , como um maiorempenho na Educação, aredução drástica do fenó-meno “crianças fora do sis-tema de ensino”, reduçãodrástica para fasquias resi-duais do analfabetismo,sendo que, para isso, maiscrianças, jovens e até adul-tos foram absorvidos pelosistema de ensino e apren-dizagem. Ao mesmo tempo,acelerámos a conclusão dealgumas infra-estruturasescolares, até então para-lisadas, colocando-as aoserviço dos utentes. Ou seja,alargámos o parque escolarcom o incremento de novassalas de aula. No sector daSaúde, com a incidênciano me lhoramento dosaneamento básico, debe-lámos algumas doenças,cujos vectores são a acu-mu lação de re s í duo sdomésticos. Flexibilizámoso acesso aos cuidados desaúde, reorganizámos osserviços, mobilizando asunidades hospitalares,incluindo as de referência,como o Hospital ProvincialDr. António Agostinho Neto,

em Ndalatando, que nãotinha um sistema de águacorrente, e motivámos orespectivo pessoal, a todosos níveis. Esta acção teveum efeito directo, que foia redução da taxa de ocor-rência de mortes intra-hos-pitalares. Em conclusão,c om pouco ou q ua s enenhum dinheiro, conse-guimos maximizar os resul-tados no sector da saúde,em benefício dos utentes,que são as populações.

Quais são as principaisnecessidades destes doissectores?Os sectores da Educação eda Saúde precisam semprede mais investimento, emmuitos casos em infra-estruturas e , no que émesmo mais decisivo paranós, na problemática dosrecursos humanos, paraque se dimensionem eadaptem os serviços e arespectiva prestação aosutentes ao nível da procura,que está sempre sujeita àpressão demográfica. Hásempre mais crianças aingressar no sistema deEnsino e mais cidadãos aprecisar de cuidados desaúde. Tivemos, ao mesmotempo, de massificar osmecanismos de sensibili-zação e educação das popu-lações nas comunidadespara atitudes pro-activasface às dinâmicas que nelasse geram, como a partici-

16 CUANZA-NORTE Sexta-feira14 de Julho de 2017

Governador José Maria

“Temos primadopor um estilo

de governaçãoaberto e inclusivo”Com o lema “O Renascer da Esperança”, o Cuanza-Norte tem na agricultura, naexploração mineira e no turismo os eixosestratégicos do desenvolvimento. O Governa-dor da Província, José Maria dos Santos,prima por uma governação aberta e inclusivaque tem permitido alcançar resultadospositivos mesmo com pouco recursos.

“Hoje háresultadospalpáveis

na Educação com a redução

drástica dofenómeno

criança fora doSistema de Ensino”

DOMBELE BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO

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pação regular em campa-nhas direccionadas de lim-peza, o uso do mosquiteiro,na luta contra o paludismo,as práticas higiénicas deforma a diminuirmos a inci-dência de doenças diarréi-cas e práticas responsáveisque visam a prevenção dedoenças sexualmentetransmissíveis, etc.

O Cuanza-Norte possui umadas principais barragens dopaís , que é Cambambe, quefornece energia a Luanda.A Província não tem proble-mas de energia eléctrica? O Cuanza-Norte está a fazero melhor aproveitamentopossível deste bem essencialda vida moderna. Temosseis das 10 sedes municipaiscom iluminação eléctricaproveniente do sistemacombinado das barragensdo Médio Kwanza. Nestemomento, estamos a cons-truir as linhas de transportepara as sedes municipaisde Quiculungo e depoispara Banga e Bolongongo.Nos municípios que já dis-põem de energia eléctrica,começámos por intervir ea melhorar as redes de dis-tribuição nas cidades e vilas.Com isso, temos sistemasde iluminação pública maiseficazes e estamos a alargaro acesso aos domicílios.Por outro lado, a nossaorientação é expandir, cadavez mais, o consumo paraterritórios mais afastados,

para as periferias. Esta éuma orientação baixada àsAdministrações Municipaise é uma meta que está a seralcançada paulatinamente.Basta vermos hoje a cidadede Ndalatando e os seusbairros periféricos. Ndala-tando é das cidades maisiluminadas, salvem-se ascomparações em termosde dimensão. É um exemploque está a ser expandidopara as outras sedes muni-cipais, vilas e bairros.

Como está o abastecimentode água?Como sublinhei, procede-mos à expansão do con-sumo de água potável pelaacção de recuperação desistemas de captação, tra-tamento e distribuição deágua até há pouco tempo

inoperantes por avariasdiversas. Recuperámos cha-farizes e a água voltou ajorrar em várias localidadesde toda a Província. Por-tanto, neste capítulo, queé aliás uma das grandesapostas da nossa acção,consubstanciada na melho-ria constante da qualidadede vida das populações,temos a registar ganhosrelevantes. Entretanto, nãovamos cruzar os braços.Pelo contrário, vamos apro-veitar o alento e continuara levar estes e outros ser-viços sociais às nossaspopulações.

As estradas continuam a serum problema?As estradas constituem umverdadeiro “calcanhar deaquiles” para o alavancarsimétrico do desenvolvi-mento das nossas locali-dades. As ligações com osmunicípios do norte da Pro-víncia estão muito condi-cionadas ao factor “mauestado das estradas”. Se,por um lado, os municípiosde Cazengo, Golungo Alto,Cambambe, Lucala, SambaCajú e Ambaca têm as estra-das de ligação asfaltadas eem boas condições de tran-sitabilidade, as populaçõesdos municípios de Ngon-guembo, Banga, Quicu-lungo e Bolongongo sofremos efeitos de uma circulaçãorodoviária deficiente oume smo s o f r i d a , c om

impacto negativo sobre osprogramas a eles afectos esobre as suas aspirações dedesenvolvimento. No iníciodo nosso mandato, dentrodas limitações financeirasactuais, procurámos repararos acessos às grandes zonasde cultivo em Cambambe,Lucala, Cazengo e Ambaca.Foram intervenções em ter-raplanagem, que continuama ser feitas e que de algumamaneira têm aproximadoas zonas de produção aoscentros de consumo. Masesta acção não atingiu adimensão desejada. É pre-ciso muito mais. Mas, comodisse, condicionados pelafalta de meios financeiros,não podemos fazê-lo naamplitude desejada e coma rapidez que se impõe.Mesmo assim, algumasacções vão sendo levadasa cabo e alguns acessos vãosendo desobstruídos. Comisso, vamos colhendoganhos significativos e nestamedida vamos alterando,sobremaneira, a qualidadede vida das populações.

Esta Província é potencial-mente agrícola. Quais sãoos resultados na produçãoagrícola?A agricultura é, como disse,um dos três factores essen-ciais recenseados no Pro-grama de Desenvolvimentoda Província. Há bons resul-tados na agricultura fami-liar, cooperativas e de cariz

associativo. Queremos darmaior força à agriculturaempresarial. Para isso, oGoverno assegura as con-dições ideais e o total apoio.O Programa de Desenvol-vimento Estratégico Rea-justado inscreveu o projectode estabelecimento degrandes fazendas de pro-dução intensiva para sus-tentar a futura a gro-indústria.Temos água abundante doscaudais constantes dos rios,energia eléctrica estável e adisponibilidade de terraspara investimentos nodomínio da agricultura,desde que apareçam pro-jectos sólidos e credíveis.De ixe-me sub l inhar ,entretanto, o sucesso docultivo da mandioca, quevai já acumulando algumexcedente. Isto demonstrao entusiasmo dos produ-tores, a par das condiçõesideais de produção deste

elemento essencial da dietadas nossas famílias.

Como está o repovoamentoanimal do Planalto de Cama-batela?Quanto à problemática dorepovoamento animal doPlanalto de Camabatela,devo dizer que é da tutelado Ministério da Agricul-tura, que procedeu aolevantamento das neces-sidades de todo processo eo programa está em curso.

Os matadouros que foramconstruídos há alguns anosjá começaram a ser explo-rados?A exploração do grandematadouro de Camabatelaespera por melhores dias.É preciso que se registeuma produção aceitável,que deverá acomodar ascapacidades de abate e pro-dução de carne.

“Temos seis das dezsede municipaiscom iluminação

eléctricaprovenientedo sistema

combinado dasbarragens do

Médio Kwanza”

17Sexta-feira14 de Julho de 2017

JOSÉ MARIA FERRAZDOS SANTOS

FormaçãoLicenciatura em

Direito naFaculdade de

Direito daUniversidade

Agostinho Neto

Funções Exercidas Deputado

à Assembleia do Povo, dirigente

da JMPLA,coordenador

da Organização-Não Governamental“Causa Solidária”,

conselheiro doPresidente

da República, vice-governador

do Cuando-Cubango

e governador da província de Luanda

P E R F I L

1,7 Por cento de analfabetismo 4 Mil crianças sem estudar

6 Dos dez municípios têm energia

Números reais

As Pescas são também umaprioridade?As pescas constituem umadas prioridades cimeiras dapromoção do desenvolvi-mento da Província. Existeuma significativa comunidadepiscatória em Cambambe eeste Município conta com doiscentros de apoio ao fomentoda piscicultura, nomeada-mente, os centros de larvi-cultura de Mucoso e o deNgolome, aliadas ao opti-mismo dos pequenos empre-sários, que acreditam nasvantagens empresariais dosector das pescas. É um sectorque pelas suas potencialidadesajudará, com certeza, ao com-bate à pobreza e vai fomentara produção de riqueza no seiodas famílias. Assistimos, háalguns dias, aos resultadosda actividade aquícola noMunicípio de Cambambe,onde foi posta, no circuito decomercialização e consumo,imensa quantidade de peixecacusso.

Quais são os programas queo Governo do Cuanza-Nortetem pa ra a l a van ca r oTurismo?O Turismo é outro pilar eleitopara o desenvolvimento doCuanza-Norte. O Governo Pro-vincial está a fazer o trabalhode casa, ou seja, tem o POT,o Programa Operativo do

Turismo e com ele já começoua recensear as potenciaiszonas turísticas que são muitase promissoras. O Governofixou a sua intervenção inicialno Município de Cambambe,pelas suas característicassocio-históricas e culturais.Orientou as áreas que inter-vêm na organização e fomentodo sector a elaborarem umroteiro turístico de cariz infor-mativo completo. Vai ser ela-borado um portfólio sobre oTurismo na Província que vaiajudar a promover os monu-mentos e sítios. A história, acultura, a gastronomia, etc.Por outro lado, vamos orga-nizar feiras temáticas muni-c ipa i s pa ra p romover afloricultura, a gastronomia,os usos e costumes, as pai-sagens naturais, bem comoas oportunidades de negóciono Sector do Turismo.

Como está a execução doPrograma Nacional de Urba-nismo e Habitação com aconstrução dos 200 fogospor cada município?O Programa de Construçãodos 200 Fogos está concluídona maior parte das sedesmunicipais. Na maior partedos casos já devidamentehabitados, apetrechados comos serviços sociais básicos,com água canalizada e energiaeléctrica. Este programa não

chega, entretanto, para darresposta às necessidades habi-tacionais das populações.Estamos à espera do lança-mento da primeira pedra daedificação da Centralidadede Ndalatando. A nossa cidadeé das poucas do país em quenão foi edificada qualquerCentralidade e o povo esperaansioso pela construção destainfra-estrutura social paraassim atenuarmos a pressãoda procura da casa própria econdigna.

Quais são os programas exis-tentes para a juventude epara a mulher rural?Para a juventude estão emcurso vários programas quev i s am o d e s p o n t a r d oempreendedorismo. O pro-grama Projovem visa financiarprojectos de jovens com ida-des compreendidas entre os18 e os 40 anos nas áreas dahotelaria e turismo, a agro-pecuária, serviços e inovaçãono sector das tecnologias deinformação e, ainda, de peque-nas indústrias como panifi-cadoras, serralharia, etc. Égerido pelo Banco de Comér-cio e Indústria (BCI) e, umavez que os jovens manifesteminteresse, podem encontraraconselhamento no bancoou ainda no INAPEM, sobre-tudo na questão da certifica-ç ã o d e emp r e s a s e

treinamento técnico. Entre-tanto, dentro do reforço ins-titucional, privilegiamos arelação com associações orga-nizadas, dando segurança econforto, por exemplo, à asso-ciação de motoqueiros, querecebem formação e compe-tências direccionadas parauma condução regrada, a lega-lização da actividade e dasrespectivas motos. Relativa-mente à mulher rural, o prin-cípio geral seguido é doesbatimento de quaisquerformas de discriminação nogénero, permitindo à mulher,de um modo geral, o acessoàs oportunidades em igual-dade de circunstâncias queos homens. No contexto rural,estamos a incentivar a adesãoa programas como a “HortaFamiliar”, que incide na cons-tituição de Cooperativas Agrí-colas e o projecto “AgriculturaFamiliar”, que é uma das com-ponentes da arquitectura dodesenvolvimento da Província,com a massificação da agri-cultura para criar excedentespara que as famílias comecema criar riqueza pela transacçãodos bens produzidos.

A indústria no Cuanza-Nortecomeça a ressurgir?De algum modo, a indústrianesta Província começa a res-surgir. Há sinais optimistasno Município de Cambambe

com a reactivação da indústriatêxtil, por exemplo. Sabemosda vitalidade da CervejeiraEKA. Cambambe é o berço dabarragem do mesmo nome.Há outros projectos no ramoda indústria transformadora,de dendém em óleo de palma,de mandioca em fuba e fari-nha, na aquicultura - há pro-dução de alevinos para aprodução da t i lápia , docacusso. Estamos a criar PólosIndustriais para o fomentode indústrias, além de Cam-bambe, também no Municípiode Lucala, onde já se registaa implantação da fábrica demateriais de plásticos e estáem edificação a fábrica detintas, etc. Em Ndalatandohá a produção de águas e noGolungo Alto a fábrica de óleode palma. Assinalemos que,como factor de sustentaçãoindustrial, esta Província bene-ficia de fornecimento de ener-g i a e l é c t r i c a d e modopermanente. É um forneci-mento estável, não sujeito acortes constantes e de boaqualidade. Em resumo, temosfactores de excelência paraacolher projectos fiáveis dosector da agro-indústria, pelaabundância de energia eléc-trica e de água, e ainda a mão-de-obra jovem e entusiasta,que não se cansa na buscade qualificação e conheci-mento.

Os projectos no domínio das pescas começam a dar bons resultados

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18 CUANZA-NORTE Sexta-feira14 de Julho de 2017

Manuel Fontoura

A implantação e a consolidaçãodo sistema colonial pelo interiorde Angola, sobretudo entre osséculos XVI e XVII, tiveramcomo premissa a captura deescravos. Os portugueses tor-naram extensivo o tráfico a suldo então Reino do Kongo, atin-gindo o Reino do Ndongo.O rio Kwanza tornara-se o

principal eixo de penetração colo-nial para o interior de Angola. Nazona ribeirinha, inicialmenteocupada pela população africana,foram fixados vários núcleos colo-niais fortificados, que permitirammanter uma sólida rede de pre-sídios e o controlo das feiras dapopulação africana, articulando-as (para o seu interesse) com arede de tráfico atlântico.O avanço de pombeiros e

funantes em direcção às feirasafricanas permitiu a fixação dapopulação europeia e a criaçãodos presídios de Massangano(1583), Cambambe (1602),Dondo (1583) e Muxima (1589),entre outros.

Inicialmente, a comunicaçãoe o transporte de mercadoriaeram garantidos por caravanas,sustentadas depois pela fluviale, só mais tarde, pelo caminho-de-ferro. Apesar de ser nítida apresença de uma herança de ori-gem ou influência colonial por-tuguesa, constituída basicamentepor fortes, igrejas e casas decomércio, não passa desperce-bido um outro manancial ligadoà cultura material e imaterialdos povos que se fixaram e movi-mentaram nesta região desdeépocas muito recuadas.Alias, até mesmo aqueles

monumentos ligados à presençaou à administração portuguesa,por ironia da história, hoje repre-sentam a tenaz e heróica resistênciados soberanos e da populaçãoautóctone, ao implante do regimecolonial: Ngola Kiluanji, NzingaMbandi, Ngola Mbandi, Soba Kam-bambi e outros são apenas algunsnomes que permitem recordar atenacidade dos soberanos e dapopulação em diferentes períodose circunstâncias. As fortalezas, igrejas e casas

de comércio associam-se a um

dos mais antigos empreendi-mentos. A antiga fábrica de fun-dição de ferro de Nova Oeirasque, embora deslocada da zonaribeirinha do Kwanza é, semdúvidas, um valioso patrimóniohistórico e arqueológico/indus-trial. A preservação, conservaçãoe valorização desse patrimónioé sem dúvidas a melhor formade homenagear essas figuras ede garantir a identidade culturalnacional.

DondoA velha cidade do Dondo, sededo Município de Cambambe, estásituada a cerca de 200 quilómetrosde Luanda, posicionando-se namargem direita do Kwanza e bemperto do limite do curso navegáveldo rio. Foi elevada a essa categoriaa 29 de Maio de 1973.Reza a história que Paulo Dias

de Novais foi parar lá por voltade 1583, quando iniciava a suacaminhada através das águas doKwanza, ao subir rumo à desco-berta das lendárias minas de pratade Cambambe e de uma famosafeira (Dondo), que, na época, jáocupava um espaço vital para a

economia dos mbundos, assimcomo para a população dos ter-ritórios vizinhos.

O Dondo que nasceu sob osigno do comércio tornar-se-iauma das mais belas estruturasurbanas de toda Angola nos sécu-los XVIII e XIX. O casario, cons-truído essencialmente de pedra,barro e cal, ficou entre secularese frondosas árvores (acáciasrubras), em passeios feitos delaje e as suas praças iluminadaspor candeeiros de cobre e belosefeitos escultóricos. Predomina-vam e ainda subsistem as típicas

casas térreas e sobrados comtelhados de cerâmica portuguesa(algumas substituídas por chapasde zinco onduladas).Destacam-se do seu aglome-

rado o edifício da antiga câmaramunicipal, o mercado municipal,o emblemático edifício como asruínas do antigo Hotel Kwanza,a Casa Leão, a correnteza de casastípicas da rua da Kapakala, a gra-ciosa estação do caminho-de-ferro, o cemitério à porta da vila,o sitio de embarcação, o hospitale tantos outros.O Centro Histórico da cidade

do Dondo, classificado em 2013,integra edificações do séculoXVII, XIX e XX, com caracterís-ticas da sua principal actividadeno passado. O casario foi cons-truído essencialmente de pedra,barro e cal, o qual não podemosdivisar hoje, as típicas casas tér-reas e alguns sobrados que seencontram entre as velhas e fron-dosas acácias que lhe dão umabeleza invulgar.O Dondo constitui ainda hoje

um património edificado e pai-sagístico de grande importânciano contexto nacional. O seu

Um passado de lutas e conquistas

Paulo Dias de Novais só em 1583 se fixou na povoação depois de sucessivos confrontos com os soberanos africanos apoiadospela população e para comemorar a vitória portuguesa mandou construir uma igreja dedicada à Nossa Senhora de Vitória

Histórias de Massangano que o tempo não apaga

O centro históricoda cidade do

Dondo, classificadoem 2013, integraedificações dos

séculos XVII, XIX eXX, com

características dasua principalactividade no

passado

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FOTOS: NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTE

19Sexta-feira14 de Julho de 2017

potencial arquitectónico coincidecom a beleza extraordinária dapaisagem natural.

Massangano Só depois de sucessivos confrontoscom os soberanos africanos,apoiados pela sua população,pôde Paulo Dias de Novais, em1583, fixar-se em Massangano.

Para comemorar a vitória lusi-tana, Paulo Dias de Novais man-dou construir uma igreja dedicadaà Nossa Senhora de Vitória.Masanganu (que significa zonade confluência de rios) passaraa chamar-se “Vitória” em regozijopela sua posição vantajosa emrelação às autoridades africanasque não aceitaram a ocupaçãopacífica do território. Vitória cor-responderia então a um votocumprido.

Luís Serrão deu continuidadeao projecto de colonização emMassangano, depois da morte dePaulo Dias de Novais em 1589. Acapital da então colónia de Angola,acabaria por ser transferida paraMassangano no período em queLuanda fora ocupada pelos holan-deses (1641-1648).

Os portugueses refugiaram-se em Masangano por sete anose a tornaram seu baluarte. Asautoridades coloniais e ecle-siásticas da época tornaramainda Masangano no “empórioda fé cristã.”

Além da igreja, foi construídauma fortaleza sob a mesma invo-cação, assim como várias outrasconstruções, permitindo a povoa-ção primitiva ganhar o foral de

vila. A generalidade dessas cons-truções, tais como, câmara muni-cipal, tribunal, cadeias, casa dogovernador, porto, Igreja da Mise-ricórdia, Mercado dos Escravose outros chegaram aos nossosdias já em ruínas. Mas, mesmoassim, não deixam de representarum rico espólio a preservar evalorizar no contexto do patri-mónio cultural angolano.

CambambeAs histórias e os murmúrios sobreas fabulosas minas de prata amontante do rio Kwanza para láda Muxima e Massangano esti-mularam o envio de expediçõesem demanda a Cambambe.Manuel Cerveira Pereira ao tersido investido da responsabilidadedas explorações iniciais nadaencontrou. Persistia, porém, afama das minas de boca em bocaaté ao litoral, e deste através das

caravelas até às cortes de Lisboae Madrid. Insistindo, CerveiraPereira enfrentou a resistênciacolocada pelo soba Kafuxi e abrecaminho à grande expedição quesomente em 1602 alcançariaCambambe. Em 1604, exploradasas colinas e outeiros sobranceirosao rio Kwanza, foi fundada a for-taleza para garantir segurança aopresídio ali criado. Baltazar Rebeloterá sido o grande impulsionadorpara a sua construção.Seguiu-se a construção de umaigreja dedicada à Nossa Senhorade Rosário em 1991, no interiordo recinto da fortificação, assimcomo outras edificações na suaparte exterior destinadas aoarmazenamento, administração,paços municipal, açougue,cadeias e outras. Cambambeacabara em decadência em vir-tude da mudança do conselhopara o Dondo.

Massanganofoi a capital

da entãoColónia de

Angola na altura em

que Luandafoi ocupada

pelosholandeses

Estudosestão a serfeitos para melhorconhecerMassangano

Ruínas da antigafortaleza deMassangano

O historial da Nova Oeiras estáintrinsecamente ligado à produçãode ferro, a partir da exploração eprática dos mineiros africanos doLuinha, tema muito caro do entãogovernador Sousa Coutinho quefoi o grande impulsionador daconstrução naquele local de umafábrica de fundição de ferro apartir de 1765.

O processo inicial era de fun-dição e forja, inicialmente, porferreiros recrutados no interior ehabilitados a praticar. Não tardoufazer acontecer a abertura da RealFábrica de Ferro, situada na con-fluência entre os rios Lucala e Lui-nha, tendo as obras iniciado em1768 e sido concluídas em 1772.

O nome dado à fábrica tambémfoi dado à povoação que era formadasobretudo pela mão-de-obra apli-cada. Além dessa fábrica, existiam

no local edifícios públicos, igrejas,feitoria e outras que compunhama vila que Sousa Coutinho passoua denominar de Nova Oeiras queacabariam por desaparecer depoisde a fábrica tornar-se inactiva.

As ruínas da Real Fábrica deferro estão hoje envolvidas numafloresta. Porém, restam muitosvestígios desse antigo empreen-dimento, dois longos troços deum dique e o aqueduto que per-mitiam funcionar o sistema mecâ-nico e hidráulico, assim como ovelho forno de fundição.

O resto acabou por desaparecer.Em 1925, as ruínas foram revisi-tadas e classificadas como patri-mónio cultural nacional. Em 1972,começaram os trabalhos de con-servação e consolidação paramanter as ruínas, facto que con-tinua até os dias actuais.

O historial de Nova Oeiras

1583 Conquista de Massangano

1602 A expedição chega a Cambambe

1991 Construção da Igreja do Rosário

Datas históricas de Massangano

Muitos são os turistas visitam aquele local imporrtante da nossa história

FOTOS: NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTE

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20 CUANZA-NORTE Sexta-feira14 de Julho de 2017

Governo da província do Cuanza-NorteDirecção Provincial do Comércio e Hotelaria e Turismo

O centro turístico do Quilombo, localizado à Sul da cidade de Nda-

latando, constitui um dos principais pontos turístico é uma fileira de

palmeiras plantadas lado a lado que embeleza a fina estrada as-

faltada, que começa na esquina da paróquia São João Baptista da

Igreja Católica e termina no Centro de Investigação Agronómica.

Os saltos dos esquilos e o chilrear dos pássaros acompanham a

marcha das pessoas que seguem em busca do abundante oxigénio

do Quilombo. Um limitado desvio da acesso a dois tanques de pis-

cicultura, que recebe a água do Muembeji, o rio que talha a meio

a cidade de Ndalatando. Um pouco mais para frente estão os es-

paços dedicados a experimentação e multiplicação das plantações

do café.

A visão da Direcção do Comércio e Hotelaria e Turismo é desen-

volver o sector focado no aumento da hospedagem, restauração

das infra-estruturas e qualidade de serviço prestado.

Para o efeito deve haver competitividade entre os operadores e a

introdução de novas ideias criativas, para o melhoramento dos ser-

viços turísticos bem como para a obtenção de lucros e reduzir os

custos.

O Plano estratégico reajustado do Turismo do governo da província do Cuanza-Norte identificou mais de 30 áreas para relançar e

desenvolver este importante sector na sua verdadeira essência, atraindo outros serviços e cada vez mais investimentos.

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21Sexta-feira14 de Julho de 2017

Manuel Fontoura

Centenas de moradores quese encontram a viver em zonasmontanhosas nas imediaçõesdos bairros da Comarca, Imbon-deiros e Sassa, arredores dacidade de Ndalatando, pediramaos órgãos do Governo da Pro-víncia do Cuanza-Norte terrenosem áreas mais seguras para fixa-rem as suas residências.

Numa ronda der reportagema esses locais é possível notaro grau de dificuldades que osmoradores das zonhas monta-nhosas enfrentam.

Por falta de condições finan-ceiras para adquirirem terrenosem áreas mais seguras, muitaspessoas escavaram as monta-nhas com o intuito de construí-rem residências familiares,algumas localizadas em sítiosmuito altos.

Apesar de estarem a viver

todos os dias no sobe e desce,a única coisa que agora preocupaMargarida João dos Santos, de26 anos de idade, moradora dasmontanha s do Ba i r ro d aComarca, é o facto de o bairronão dispor de água potável pertodo local, porque a “questãohabitação” foi já ultrapassada,depois de construir há mais detrês anos a sua casa feita dematerial precário onde vivecom os três filhos.

Os três compartimentos maisou menos folgados, que se encai-xam na modéstia da casa, nãoquebraram a expectativa e Mar-garida dos Santos e ela orgu-lha-se disso.

“A minha família e eu vivía-mos antes numa casa alugadanum outro bairro, e era difícilpagar todos os meses a renda.Era um problema e por issodecidimos construir aquimesmo, não sendo uma áreasegura”. Margarida João dos

Santos conta que, durante aestadia na casa de aluguer, cercade quatro anos, ela, o esposo eos filhos passaram por momen-tos difíceis.

“Deixar o bairro onde cres-cemos para outro estranho foi

difícil. Por outro lado, não podía-mos mudar nada na casa”, con-fessou a jovem mulher, deixandotransparecer um ar de alívio.

Para ela, viver neste novo

lugar requer cuidados redobra-dos, principalmente para comas crianças, e ela conta que háalguns meses a sua filha de trêsanos de idade caiu de uma alturade quase três metros e fracturouo braço, mas que agora está apassar bem.

A reportagem do Jornal deAngola foi recebida com alegriapelos moradores, muitos dosquais perguntavam se eramosdo Governo e se estávamos alipara cadastrá-los no sentido deos realojar em áreas mais segu-ras. A equipa do Jornal de Angolaprontamente explicou o porquêda sua presença no local e osmoradores decidiram colabo-rar.

Pedro da Fonseca Sobral, de75 anos, pedreiro aposentadoe pai de cinco filhos, predis-pôs-se a apresentar o bairro ànossa reportagem. Os vizinhosque se aperceberam da nossapresença, apreciaram o diálogo

com bastante atenção. Tal comoMargarida dos Santos, Pedro daFonseca Sobral, Teresa Rafaele Benjamim António, apesar desatisfeitos com a vida que levamnaquele bairro, estão preocu-pados porque o bairro não temruas para além de becos, ascasas são na sua maioria decarácter precário e não há águacanalizada no bairro.

Em muitos pontos já se con-tam desníveis que não tardavão tornar-se autênticos buracospara piorar a situação. Para che-gar até às casas situadas nomorro tem que haver esforço.Não é fácil transportar baldes,banheiras e bidões de água àcabeça a uma distância de quatroquilómetros do local onde seencontra o precioso líquido.

Outro problema, segundo osmoradores, tem a ver com otransporte de mercadorias debaixo do morro para as resi-dências.

Viver nestessítios requercuidadosredobrados

MuitosMoradoressolicitaramterrenos emáreas maisseguras paraconstruíremas casas

Crescimento desordenado

Por falta de condições financeiras para adquirir terrenos em áreas mais seguras, muitoscidadãos são obrigados a escavar parte das montanhas para construirem as suas casas

NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTE

DOMBELE BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO

Novos bairros surgem nos morros de Ndalantando

Para chegar as casassituadas no morrotem que ter peito.

Não é fáciltransportar baldes,banheiras e bidõesde água à cabeça epercorrer quatro

quilómetros desde olocal onde acarreta

a água até a casa

Fazer chegarà montanha os mate-riais de construção das casas, ocimento, ferrs, areia, blocos e outrosartigos, é complicado. Para isso,o morador paga 250 kwanzas porcada saco de cimento transportadoà cabeça de um roboteiro, 50 kwan-zas por bloco e cerca de 50 milkwanzas a carrada de areia. Estesgastos seriam evitados caso a cons-trução fosse feita pelas pessoasnuma área com acesso privilegiado.

Os pequenos espaços vagos,que podem ser aproveitados paraos quintais, estão desaproveitadosporque as casas não têm vedação.Sobre eles assentam papéis,sacos, papelão, latas e garrafasque vagueiam pelos becos aper-tados. Não escapa o lixo domés-tico, porque não há meios parao tirar da montanha.

As dificuldadespara construir

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22 CUANZA NORTE Sexta-feira14 de Julho de 2017

Manuel Fontoura

Pequenamais com vários ofícios,a cooperativa Marien Nguabi,situada na Rua Direita de Ndala-tando, tem alfaiates, artesãos,sapateiros, barbeiros, técnicos deinformática e rádio. São homensque dedicam as suas vidas a essasprofissões para o sustento dasfamílias. A falta de crédito bancárioàs pequenas e médias empresasé uma das causas da fraca produçãodas várias profissões desenvolvidasna cooperativa.

“Vontade de fazermos maisnão nos falta, mas não temos poronde começar. O material quetemos é insuficiente e adquiridocom muito esforço”, lamentouo sapateiro Infeliz João José.

De 62 anos, Infeliz José inicioua sua profissão em 1974 e filiou-se ao grupo em 1976. Tem 12 filhose vive do trabalho que faz. Explicaque há anos, a sua cooperativavem solicitando crédito dos ban-cos, mas até agora esse esforçofoi inútil. “Pretendemos pelomenos 10 mil dólares. Caso odinheiro seja disponibilizado,

deixaria apenas de consertarsapatos e passaria a fabricar tam-bém”, disse.

Segundo ele, a falta de valores,impossibilita a compra de solassecas e de borracha, capas dehomem e mulher, cabedal comdiferentes cores e qualidades,fivelas, botões rápidos, vazadores,ilhoses, armas de ferro, fresa,pé-de-ferro e furadores para oscintos, bem como protectoresde sapatos.

Para Jerónimo Sebastião, outrosapateiro de 65 anos e pai de oitofilhos, o material é na sua maioriaadquirido em Luanda e os preçosvariam entre quatro mil kwanzas,a caixa de fivelas de calçado com-posta por 400 unidades, e 45 milkwanzas, o custo de cerca de doismetros de cabedal e material paraa feitura de solas. Explica quetais materiais custam o dobro dopreço em Ndalatando.

Apesar das dificuldades, quevão desde a falta de matéria-prima e condições de trabalho,dívidas dos clientes, os cincomestres da sapataria conseguemcoser, colar, colocar novas solasou mesmo furar um cinto.

A aplicação de solas secas custaactualmente 500 kwanzas e a solade borracha, 2.000. A costura variaentre 500 a 900 kwanzas. Já a colo-cação de fivela, botão rápido eilhose, custa 250 kwanzas.

Desde a abertura da sapataria,as únicas máquinas com que tra-balham são as de pedal que ser-vem para coser os sapatos. Hojeestão avariadas e a solução é asubstituição. Pelo reduzido

número de clientes, os ganhosdiários vão de 5.000 a 8.000kwanzas, por vezes até menos.Os profissionais disseram à repor-tagem do Jornal de Angola, que

a arte pode desaparecer. Os jovensdesprezam a mesma e conside-ram-na uma profissão para osvelhos e deficientes.

“Eles querem apenas terdinheiro o mais rápido possível,não gostam de aprender nenhumofício e não suportam esperar osalário no fim do mês”, disse umsapateiro de profissão. Por outrolado, há aqueles que não se dãoao trabalho de remendar umsapato ou colocar uma nova sola,tendo como preferência a comprade outro novo.

Uma vida de costura A secção de alfaiataria tem apenascinco profissionais. O mestre JoãoTambi é o mais velho de todos.Tem 72 anos, quase todos dedi-cados à costura de roupas. Apesarda idade, as mãos e os pés aindaestão à altura das exigências damáquina de costura. O mais velhopouco fala, mas faz questão dedizer que trabalha como costu-reiro, desde o tempo colonial.

Celestino Tito já foi mais recep-tivo. Com 50 anos, o costureirodisse que aprendeu a profissãodesde a sua adolescência no

município do Quiculungo e tra-balhava por conta própria e orendimento era maior. Satisfeitocom a profissão que escolheu,Celestino Tito dá graças porquehoje tem uma casa e os filhosestão na escola.

Aprender a profissão, comodisse, é preciso algum dom, gostare ter muita paciência. Os bonsresultados passam pelo manu-seamento da máquina de costura,montar e desmontar, o corte per-feito e a costura. A máquina, atesoura, lâmina, agulhas, bobines,canelas, o giz e esferográfica sãoos instrumentos indispensáveispara costurar ou remendar umcalção, uma calça ou um vestido.

Celestino Tito trabalha comuma máquina manual. A prefe-rência é a eléctrica que possibilitaos bordados. E também por umaquestão de segurança. E quandofalta o giz para marcar o tecido,usa o sabão. “Os apoios são bem-vindos”, disse.

A procura pelos serviços dealfaiataria é pouca. Por dia, Celes-tino Tito pode receber quatropedidos e levar para casa doismil kwanzas. A época do Carnaval

Antigas Profissões

A falta de crédito bancário às pequenas e médias empresas é uma das causas da fraca produção das várias profissõesdesenvolvidas na cooperativa Marien Nguabi

O valor e a persistência dos pequenos ofícios

Aprender aprofissão requer

algum dom, gosto epaciência e os bonsresultados passam

pelomanuseamento da

máquina decostura, montar e

desmontar, o corteperfeito e a costura

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FOTOS: NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTE

NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTE

23Sexta-feira14 de Julho de 2017

é a mais afortunada. Todos pro-curam um traje para desfilar.

Viver do artesanatoMbambi Sebastião tem 34 anose não teve oportunidades parater uma formação académicasólida que lhe permitisse umemprego na função pública. Aos17 anos o jovem natural do muni-cípio da Damba, na província doUíge, começou a aprender o arte-sanato na República Democráticado Congo em 1999, onde tevecomo mestres cidadãos da Repú-blica Centro Africana, que tam-bém tinham ido para lá à procurade tranquilidade e oportunidadesde negócio na terra de PatriceLumumba.

Depois de apto para o ofício,regressou a Angola em 2006 e fixouresidência em Luanda onde asdificuldades de adaptação às formas

de angariação de receitas, para osustento eram imensas. Optou porinstalar-se na cidade de Ndalatandoonde reside desde 2009 e criouuma pequena oficina, onde como seu ajudante fabricam mobílias,artefactos para adornos de resi-dências e outros equipamentos àbase de junco e makoko, tiras depaus flexíveis para formar e ataras molduras dos equipamentos.

Na sua pequena oficina deartesanato, Mbambi Sebastiãofaz cadeirões, bancos, candeeiroseléctricos, baús, livreiros, fruteiras,alcofas, berços bem como outrosmobiliários e artefactos. Para aconfecção dos mesmos usa alémdo junco e do makoko, a esponjade espuma, madeira, pregos, teci-dos, vernizes, cola e tinta paracolorir os mesmos.

Lamentou a falta de clientese espaços de vendas na região

como principais factores queconcorrem para que a pequenaoficina não evolua para uma microou pequena empresa e que tenhamais rendimentos para melhorara sua condição de vida. Ele temmulher, três filhos e vive numaresidência arrendada.

Revelou que as receitas quearrecada mensalmente não sãosuficientes para a cobertura dasnecessidades básicas da famíliae há meses que o que vende nãochega a totalizar 50 mil kwanzaspor isso não consegue fazer pou-panças para poder investir futu-ramente para o crescimento daactividade que desenvolve.

“Continuamos persistentesnesta actividade porque é o nossoúnico ganha-pão”. Recebeu umkit de ferramentas da direcçãoprovincial da assistência e rein-serção social. Mas ainda assim,necessitamos de mais apoios dosbancos, pessoas singulares ecolectivas para elevar o nível dasua produção e conquistar maismercados, clientes e rentabilizarainda mais o seu negócio.

Para o fabrico dos mobiliáriose outros artefactos, MbambiSebastião adquire as principaismatérias-primas, o junco e omakoko, nos municípios deAmbaca, Bolongongo e Quicu-lungo. Vende o jogo de cadeirõesfeitos de junco e makoko a umpreço que varia entre 40 mil e 50mil kwanzas, as cadeiras demadeira, esponja de espuma etecido a 70 mil kwanzas, o baúpor 10 mil, a fruteira e livreirospor três mil kwanzas.

Sapateiroslamentam a

falta dematerial queé adquiridocom muito

esforço

MbambiSebastiãoaprendeu aprofissão demarceneironaRepúblicaDemocráticado Congo

MestreTambi temdedicado osseus 72 anosde vida à costura de roupas

A profissão de marceneiro estáa desaparecer na cidade de Nda-latando, devido à pouca adesãopor parte da juventude. A falta dematéria-prima de qualidade e opouco interesse das pessoas nacompra de mobiliários e similaresfeitos pelos marceneiros locais.

Numa ronda efectuada pelaequipa de reportagem do Jornalde Angola, numa das três queexistem naquela cidade constatouhaver poucas marcenarias e car-pintarias, e segundo apurou, asúnicas oficinas de marcenariacorrem o risco de desaparecertotalmente.

Em conversa com o marceneiro,

carpinteiro e camponês, VascoFrias disse que é marceneiro ecarpinteiro desde os 14 anos. Foio pai que o ensinou. Lamentou ofacto de os jovens não aderiremà profissão de carpinteiro e demarceneiro.

Nesta altura Vasco de 63 anosestá a instruir três jovens, umdeles é seu filho de 32 anos deidade.

Vasco Frias afirmou que nosanos 80 a 90 havia muitas oficinaisde marcenaria e de carpintariaem vários pontos da cidade e nin-guém mostrava interesse em com-p r a r mob i l i á r i o v i n d o d oestrangeiro.

Os dias difíceis da marcenaria

10 Mil dólares pedidos em crédito

72 Anos dedicados à alfaiataria

45 Mil kwanzas o preço do cabedal

1.976 Ano de entrada na Cooperativa

2009 Instala-se em Ndalatando

Velhas profissões em númerosJovens

encontraramna serralhariaa sua vocação

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Manuel FontouraMarcelo Manuel

Pratos com sabores diferentespodem ser degustados um poucopor toda a Província do Cuanza-Norte, embora o funje predo-mine à mesa da maioria dasfamílias e restaurantes existentesnesta região.

A província do Cuanza-Norteestá dividida em duas regiões,sendo a área do quimbundo cons-tituída por Lucala, Samba Cajú,Ambaca, Golungo Alto e Ngon-guembo, e a sub-região dihungocomposta por três municípioslocalizados a Norte, nomeada-mente, Banga, Quiculungo eBolongongo, onde as ervas sãopreparadas com a muamba dedendém e com óleo de palma.

Segundo dados bibliográficos,na região do Quimbundo o funjede bombó acompanhado dequizaca de muamba de dendémou óleo de palma, o feijão de

óleo de palma, a jimboa e acarne seca são os pratos maisapreciados. Nos municípios pla-nálticos de Lucala, Samba Cajúe Ambaca, o mesmo tipo deerva é preparado com muambade ginguba, acompanhadoessencialmente de funje debombó e maruvo de bordão.

Já no Golungo Alto e Ngon-guembo, onde se cultivam muitasespécies de banana, o chamadoaluente, vulgarmente chamado“caporroto”, é também indis-pensável. Os mahungos, quecongregam os municípios deBolongongo, Banga e Quiculungo,que se expressam na línguadihungo, têm o funje como umdos principais pratos.

Dificilmente as populaçõesdesta região da Província doCuanza-Norte oferecem a umvisitante frango e peixe conge-lado, assim como a carne impor-tada. Àchegada de alguém, vãoà caça e trazem perdizes, veados,javalis, kiombos, pacas ou seixas,

para poderem receber o visitantecom dignidade.A chamadakifula, conhecido como molhosujo, feito com as ervas encon-tradas nos intestinos do próprioanimal abatido (seixa, paca eveado), é também um pratotípico da região indispensável,uma vez que estes animaiscomem um tipo de alimentomaioritariamente composto deervas.Outras variedades de pra-tos típicos apreciados nestasparagens, como o gafanhoto depalmeira, chamado “mahoho”na língua quimbundo, ou “jis-sombe”, assim conhecido emAmbaca, Samba Cajú e Bolon-gongo, para além da “jinvue”,um bicho peludo parecido comcabiocoto, o cogumelo, a mutetacom carne ou peixe seco e agalinha caseira, são igualmentepratos indispensáveis nestasregiões, também frequentesnestas paragens.

No Dondo, por exemplo,podemos encontrar o calulú, o

bagre fumado e fresco, o mufetede cacusso com banana-pão,mandioca ou batata-doce. Orato do mato, conhecido por“ngone” ou “puku” em quim-bundo, é igualmente apreciadoem muitas regiões do Cuanza-Norte, tal como a carne de jiboia,macaco, a jinguna, o grilo e ocatato, que são aperitivos oumesmo tidos como refeiçãoprincipal acompanhados, obvia-mente, de funje. Potencialmenteagrícola, todos os produtos cul-tivados nesta região, mandioca,milho, ginguba, feijão, abóbora,macunde, banana, batata-docee outros, para além das dife-rentes espécies de hortícolas,são apreciados pela população.

As pessoas que visitam oCuanza-Norte, particularmentenos finais de semana, mesmopara os passageiros que pre-tendem deslocar-se de Luandapara o Sul do País, Norte e Lestepassando pelo Município de

Cambambe, encontram distintospratos nas localidades de Cas-sualala, Maria Teresa, Dondo eDange ya Menha.

As variedades de pratos sãoigualmente confeccionadas emalguns restaurantes de Ndala-tando, no Mercado de Catomee no Município do Lucala. Naausência de um gastrónomo daregião, a nossa reportagem con-tactou distintos chefes de cozi-nha de alguns restaurantes ebares de Ndalatando que falaramdos ingredientes e da formacomo confeccionam os dife-rentes pratos da região.

Marginal do DondoA Feira de Gastronomia e Arte-sanato localizada na Marginalda cidade do Dondo é um espaçoque congrega pessoas de váriosestratos sociais. Aqui, a vendade pratos típicos e artefactos demoda, olaria e cestaria feitoscom utensílios locais, garanteo sustento de várias famílias.

Dona Lú, como é carinhosa-mente conhecida pelos seusclientes, trabalha na Marginaldo Dondo, como vendedora decomida há mais de 10 anos. Elaaponta o cacusso grelhado comfeijão de óleo de palma e batata-doce e salada de tomate e funjecom carne fresca ou seca decaça como os pratos mais pro-curados na sua barraca.

24 CUANZA-NORTE Sexta-feira14 de Julho de 2017

A venda de pratos

típicosgarante

sustento amuitas

famílas

Marginal do Dondo é paragemobrigatóriapara quemviaja deLuanda parao Sul do país

Gastronomia

O funje de bombó acompanhado com a quizaca feita de muamba de dendém ou óleo de palma incluindo o feijão e a carne seca são os pratos mais apreciados

FOTOS: NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTE

Os pratos típicos da terra

Numa incursão feita emalguns restaurantes, barracas eresidências que comercializamcomes e bebes, os frequentadoresdisseram o que comem. No dizerdo jovem Inácio Pedro, 30 anos,na necessidade de se alimentarem casa ou noutro local, sempreopta pelo funje de bombó.Embora prefira este alimentono período do dia, não o dispensaa qualquer hora desde que sejabem acompanhado com molhode carne seca, feijão ou quizaca. A funcionária pública Maria

Seabra, 26 anos, outra aprecia-dora de bom funje de bombó,de preferência acompanhadode calulú, conta que não con-segue ficar um dia inteiro semcomer este alimento. Para ela, o funje de bombó

ou de milho não pode deixar defazer parte da dieta alimentarda sua família. “Este alimento é o mais apre-

ciado entre os membros da minhafamília. Herdei isso dos meuspais e avós e hoje os meus doisfilhos, de seis e dois anos, jáestão acostumados a estacomida”, diz Maria Seabra.O mais velho Simão Bento

Manuel, 63 anos, conta quedesde há muitos anos sempreacompanhou a vida das pessoasque o rodeiam e dificilmenteencontra alguém que não se ali-mente de funje. O funje, destaca Simão

Manuel, faz parte da dieta damaioria das famílias desta Pro-víncia e “muitas vezes não pre-cisamos de grandes molhos”para o fazer chegar a mesa.

O funge de bombó

A poulação doCuanza-Norte

dificilmente oferecea um visitantefrango e peixe

congelado, assimcomo carneimportada

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André Brandão

Local de gente pobre e compouca esperança de uma vidamelhor, o Bairro das Mahambas,nos arredores de Ndalatando,transformou-se no refúgio deconsumidores de bebidas casei-ras. Num ambiente em que oálcool convive pacificamentecom a violência e a prostituição,homens e mulheres das maisvariadas idades afogam des-preocupadamente as mágoasna bebida. Para eles, sem o estí-mulo da bebida nada faz sentido.Tem sido assim todos os dias.

Apesar da pouca idade, PaivaManuel é o que se pode consi-derar um veterano no consumo

do “Bananal” e do “Empurra”,duas bebidas caseiras muitoconsumidas na cidade de Nda-latando. Aos 17 anos, dois dosquais envolvido no mundo dasbebidas caseiras, conta queentrou por influência de amigose que as tentativas feitas paraabandonar o vício revelaram-se infrutíferas. Para ele, enfrentaras dificuldades da vida sem umagota de álcool passou a ser umamiragem, porque isso faz-lhefalta, para se sentir estimuladoe enfrentar as barreiras da vida.

“Mais velho, não vou men-tir que eu bebo de verdade,mas também estudo e nãofalto ao respeito a ninguém.Só que já nem sempre vou àescola, porque na maior partes

das vezes não estou em con-dições”, confessa.

O rosto pálido e o corpomagro de Paiva Manuel nãoescondem as marcas do sofri-mento de quem vive perma-nentemente mergulhado noálcool e tem no quintal da “TiaInês” o ponto de encontro.

Paiva Manuel faz uma pausana bebida e lembra com saudadeo tempo em que era “livre” esonhava ser um cantor famoso,à semelhança de Bruno M eAfroman, para si duas grandesreferências da música angolana.Embora esteja a navegar numcaminho turbulento acreditaque a esperança é a última amorrer e que o futuro a Deuspertence.

“Sei que muita gente não meleva a sério, mas tenho algumasletras que apelam para ummundo com amor, perdão etolerância entre todos”, diz, aomesmo tempo que cantarola orefrão da música inédita.

Em função do entra e sai deconsumidores, estima-se que,diariamente, o quintal da “TiaInês” recebe a visita de 50 a 60clientes, imbuídos de um deno-minador comum: o consumodesregrado da aguardente“Bananal” e “Empurra”. É ocaso de Osvaldo Domingos, 27anos. Passava das 11 horas damanhã e tinha já na mão direitao terceiro copo de “Bananal”,a sua “mais que tudo”. “Tenhopreferência, mas na hora doaperto, tudo vale e misturastambém é um dos meus pontosfortes”, garante.

À nossa reportagem, confessaque se tiver dinheiro no bolso

ninguém o trava, porque não épessoa de cerimónias. Além deculpar as frustrações da vidada relação de intimidade quemantém com a bebida alcoólica,admite que bebe para espantar

os males do quotidiano.Alcoólatra há mais de quatro

anos, Osvaldo Domingos revelaque por causa do “Bananal” jáenfrentou situações que quaseo levaramà morte. Destaca odia em que, depois de uma tardede bebedeira, foi levado para ohospital onde chegou a perma-necer um mês em coma.

O consumo de bebidas casei-ras no bairro das Mahambasnão se limita aos homens. MariaJosé é exemplo disto. Lúcidamas envergonhada, confessaque já tentou de tudo para aban-donar o vício, e que não temsido fácil. Separada do marido,com seis filhos para criar, con-

fessa que se entrega à bebidasempre que tem necessidadede estímulo e “para alegrar acabeça”.“Sou camponesa, aminha vida não é fácil, masfazer o quê se eu não consigome manter”, diz Maria José.

Consumo moderado O “Bananal” tornou-se umabebida escassa e com um preçomais alto em relação à aguar-dente “Empurra” devido àescassez da banana. Habitual-mente, os produtores do “Bana-nal” adquiriam os cachos debanana nos sectores de Zavula,Kissecula, Binda e Kamassai,onde ao longo dos tempos aspragas devastaram as planta-ções.

O que mais se gasta na pro-dução da aguardente caseira éa lenha. Mendes Manuel compraa lenha com que aquece os tam-bores na Comuna da Canhoca,a 34 quilómetros da cidade deNdalatando. “É preciso algumatécnica, e truques. Mas, o fun-damental é ser paciente paraque a bebida saia nos ‘trinques’”,diz Manuel. O negócio não é tãorentável. Por vezes gasta maisa produzir do que ganha.

A produção de aguardentecaseira em Ndalatando é legal.A pequena fábrica de Mendes,com três tambores, tem licença.A venda é a grosso, em garra-fões de 15 litros. Cada garrafãocusta 1.400 kwanzas. “Aosmais jovens, peço que consu-mam com moderação, poisverifica-se que eles já se incli-nam para o consumo exageradode bebidas alcoólicas”, notaMendes Manuel.

A produçãode bebidascaseiras éconsideradolegal nacidade deNdalatando

“Bananal” e “Empurra”

Homens e mulheres afogam mágoas numambiente em que o álcool convive com aviolência e a prostituição

FOTOS: NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTE

Os perdidos no mundo amargodas bebidas

Muitos são os consumidoresque consideram o mundo doalcoolismo de difícil saída. Ovício é tão contagiante queobriga as pessoas a uma lutadesenfreada para saírem dele.A vontade existe, mas nemsempre é suficiente, alegaJaneiro Victor, 20 anos. O jovemconsumidor de “Caporroto”desde os 16, não esconde odesejo de abandonar o “copo”,pois está consciente dos pre-juízos que a bebida caseiraprovoca para a saúde humana.“Por ser uma bebida muitoforte, o ‘Capuca’ exige boa ali-mentação, descanso e con-sumo moderado”, diz Victor. Janeiro Victor realça que,

para se sentir estimulado,precisa de beber uma garrafapequena,que custa 150 kwan-zas. Janeiro quer fazer jus aomês que lhe deu o nome, porisso marcou para Janeiro desteano a concretização de umdesafio: “deixar de beber‘Capuca’ e abraçar os estudosque nutre desde a tenra idade,ser enfermeiro”. “Bananal” e “Empurra”

são nomes que se diferenciamda aguardente, uma feita combanana, a outra com açúcar.Bebidas destiladas em moldestradicionais. O“Bananal” é amais apreciado e custa maisc a r o p e l o s e u go s t o , a“Empurra” a mais produzida

e mais quente. Mendes Manuelfaz “Capuca” há 15 anos.Começou com o “Bananal”,aguardentefeita com banana,mas devido à fraca produçãoda fruta hoje só fabrica o“Empurra”, cujas matérias-primas são o açúcar, a águae o fermento. Com 25 quilosde açúcar, um pacote de fer-mento e no máximo 60 litrosde água, Mendes Manuel con-segue produzir 20 litros deaguardente por tambor nasua fábrica no bairro dasMa-hambas, de Ndalatando. A mistura é conservada

num tambor de 200 litrosdurante oito a dez dias. Depoissegue-se o processo de des-tilação, que dá o produto final.Todos os ingredientes devemter a medida para uma aguar-dente bem quente. O “Caporroto” de banana

(“Bananal”) consome maisde 20 cachos de bananamadura. Descasca-se a fruta,que é posta num recipiente(tambor) para a fermentação,permanecendo cerca de oitoa 10 dias. O mesmo tempo que leva

a produzir a aguardente comaçúcar. Segue-se o processode destilação que resulta embebida com graus muito ele-vados, apreciada por váriaspessoas que dizem ser umadas melhores da região.

Entrada sem saída

O “Bananal”tornou-se umabebida escassa e

preço mais alto emrelação à

aguardente“Empurra”, devidoà falta de banana.Habitualmente osprodutores do“Bananal”

adquiriam oscachos de bananano Zavula, onde aspragas devastaram

as plantações

25Sexta-feira14 de Julho de 2017

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26 CUANZA-NORTE Sexta-feira14 de Julho de 2017

GOVERNO DA PROVÍNCIA DO CUANZA- NORTE

DIRECÇÃO PROVINCIAL DA ENERGIA E ÁGUAS

A barragem de Cambambe já produz os 960 MW de energia coma entrada em funcionamento da segunda central. A entrada emfuncionamento das duas centrais vai permitir o fornecimento deenergia às regiões Norte, Leste, Sul e Centro do país. A barragemtem agora cerca do dobro da actual capacidade da Barragem deCapanda, em Malanje.

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27Sexta-feira14 de Julho de 2017

Marcelo Manuel

A Província do Cuanza Norteconta desde Março último comuma nova agremiação despor-tiva: o Real Ginga Sport. O clubefoi criado por um grupo deempresários nacionais e temcomo objectivo disputar o Pro-vincial de Futebol e na segundadivisão lutar para aceder ao Gira-bola no próximo ano.

Contam entre as prioridadesda agremiação de Ndalatandoo desenvolvimento de outrasactividades desportivas na cir-cunscrição, promover iniciativasde ocupação dos tempos livresda juventude e agregar outrosvalores que garantam a recreaçãoe o espírito de união.

Durante a assembleia geralque consagrou o clube, foramaprovados o estatuto reguladordo Real Ginga e a eleição dosmembros dos órgãos sociais. Oelenco tem como presidente daMesa da Assembleia Geral, JoséGrilo, e José Armando Neto, comoo seu presidente de direcção.

De acordo com FernandoCatumbila, coordenador dacomissão constituinte, o Club

Real Ginga Sport do CuanzaNorte vai funcionar com umvice-presidente da mesa daassembleia, para além do seusecretário-geral. Avançou que,para além do presidente dedirecção, existem oito vice-presidentes que funcionam naárea geral, futebol, contabilidadee finanças, eventos sociais, pro-jectos, comunicação e imagem,relações internacionais e outrasmodalidades.

O Conselho Fiscal é compostopor três membros, chefiadospor Martinho Caldas, enquantoo Conselho Jurídico está sob atutela de Elias Malungo, coad-juvado por dois vogais. Fazemainda parte dos órgãos sociaisseis membros honorários comoé o caso de Sebastião Martins,Joana Lina, Cris Gunza, PintoConto, Ganga Júnior e EugénioLaborinho.

O presidente do clube, JoséArmando Neto, avançou que osatletas do clube passam a vestir,durante as competições, cami-solas brancas com gola preta,calções pretos e meias brancas,enquanto o uniforme secundáriotem o azul e branco com pig-mentação predominante. A sede

social do clube está em Ndala-tando, no município de Cazengo,cidade de Ndalatando.

A agremiação tem três classesde sócios, sendo 36 na qualidadede fundadores, as outras sãocontribuintes, admitidos e hono-rários, tidos como pessoas depoder económico de destaqueque desejam colaborar com oclube na doação de quantiassignificativas, sem obrigaçãode bonificação mensal.

Armando Neto frisou que oseu pelouro trabalha actual-mente nos trâmites de caracterorganizativo, criação das basestécnicas e materiais para a sus-tentação financeira. Fez saber

que as prioridades do clubeestão viradas para o campeonatoprovincial de futebol que come-çou em Abril próximo e o objec-tivo, caso vença, é entrar paraa II Divisão com o objectivo deatingir a fina flor do futebolnacional, vulgo “Girabola Zap”.Adiantou que já estão contra-tados 18 atletas que trabalhamem Luanda em campos empres-tados, enquanto decorrem asnegociações com as entidadesque tutelam a gestão do Estádiomunicipal dos “Dinizes”, emNdalatando.

Sublinhou que das acçõesconcretas constam a criação dasede em Ndalatando e a estru-turação de uma política de mar-keting para a angariação decontribuições, joias, venda deequipamentos, para além dosmembros honorários com umcerto poder económico que jácomeçaram a garantir a susten-tabilidade orçamental da equipa.

Questionado sobre a expan-são das outras modalidades des-portivas o presidente do RealGinga Sport, José Armando Neto,realçou que a massificação des-tas vai decorrer de forma pau-latina em função da situação

de sustentabilidade e auto-afir-mação do grémio. As primeirasdeclarações do técnico do RealGinga Sport. O técnico do RealGinga Sport, Oliveira Baba, nasua primeira declaração àimprensa, disse que a assumpçãodas responsabi l idades nocomando técnico do novo clubede Ndalatando é um dos seusmaiores desafios enquanto trei-nador, visto ser uma equipa nova,com vários passos a dar paraseguir em frente.

O técnico que já orientou aformação do Kabuscorp doPalanca e outras do Congo Demo-crático revelou que actualmentetrabalha na realização de treinoscom os 18 atletas disponíveis,quatro vezes por semana.

Disse que os jogadores exis-tentes têm qualidades para ven-c e r o s q u a t ro j o go s d ocampeonato provincial de fute-bol, aspirando assim uma pos-sível participação da sua equipaà segunda divisão. “As condi-ções que encontrei são própriasde um clube embrionário, mas,como se sabe, um técnico defutebol tem de fazer milagres,quando quer ver uma equipaa progredir”, disse Baba.

Real Ginga Sport

A agremiação foi criada por um grupo de empresários nacionais e tem com prioridades o desenvolvimento deoutras actividades que promovam e ocupam os tempos livres da juventude e agregar outros valores quegarantam a recreação e o espírito de união

FOTOS: EDIÇÕES NOVEMBRO

Cuanza-Norte tem novo clube de futebol

Já foramcontratados

18 atletas quedisputam o

CampeonatoProvincial e, emcaso de vitória,entrar para a II

Divisão e depoispara o Girabola Zap

Este elencoquer colocaro emblema adisputar oCampeonatoNacional deFutebol da PrimeiraDivisão

Órgãossociais do clubetomaramposse no mês de Março

JoséArmandoNeto foieleito

Presidentede Direcção

do RealGinga

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André Brandão

A falta de espaços desportivospara a prática de futebol emNdalatando foi apontada pelospromotores da modalidade comofactor que dificulta o surgimentode novos talentos na região.Apesar disso, prometem nãodeixar morrer o desporto dasmultidões na terra da rosa deporcelana.

Nos bairros periféricos de Nda-latando, estão a evoluir váriasequipas infantis. Entre os jovensatletas, há craques e há quemtenha menos jeito. Mas umacaracterística é comum a todos:a vontade férrea de jogar futebol.

É o caso do Recreativo da Possee do Recreativo da Carreira deTiro que, mesmo sem apoios, têmdezenas de crianças a praticar odesporto rei. Destas escolasimprovisadas têm surgido grandestalentos.

Estes acabam por se perder,por falta de estruturas desportivas.Os mais críticos vão mais longe:o Cuanza Norte tem grande déficede dirigentes desportivos. Umproblema que afecta outras regiõesdo país! Jonas da Costa, 14 anos,faz parte da equipa do Recreativoda Posse.

Ele conta que joga futebol porinfluência do pai, que em temposidos foi um exímio praticante damodalidade. O Cuanza Norte deu

a Angola grandes jogadores comoBalsa, Cardeal, Viriato, ManuelSilva e muitos outros. Jonas actuano Recreativo da Posse há seisanos. Começou a jogar futebolantes de ir para a escola.

Quando lhe pedimos para sedefinir como atleta, ele disse comorgulho: “sou um jogador poli-valente”. Mas rende mais como“médio distribuidor.” Menino depernas arqueadas e com fluidezna expressão, Jonas da Costa temcomo ídolos o futebolista DjalmaCampos, actualmente a actuarnuma das formações da primeiradivisão da Turquia, e Garret Bale,do Real Madrid.

Jonas da Costa disse ao Jornalde Angola que a falta de apoios

e de espaços apropriados nãoinibe a sua vontade de ir atrás dosonho de tornar-se, no futuro,um futebolista profissional, paraintegrar equipas de renome comoo Real Madrid ou o Barcelona.Pode faltar espaços desportivos,equipamentos, técnicos e apoios.Mas se é para sonhar, que o sonhochegue tão alto como os grandesclubes do mundo.

“Gosto muito de futebol. Vouempenhar-me para concretizaro meu sonho de jogar num grandeclube mundial, mas quero come-çar a minha carreira no Girabola”,disse o “médio distribuidor” nofim de uma sessão de treino sobas ordens do timoneiro TomásAntónio Salvador, no Campo dos

Ossos. O “mister” do Recreativoda Posse explica à nossa repor-tagem por que baptizaram o“pelado” onde treinam com umadesignação insólita: “Aqui aoLado Fica o Cemitério”.

Recreativo da Carreira Marcelino António, 17 anos, éoutro adolescente que pretendeser, num futuro breve, um craquedo futebol nacional. Há quatroanos no Recreativo da Carreira,Marcelino António é contagiadopela magia do futebol praticadopelo argentino Leonel Messi e odo português Cristiano Ronaldo.Garante que um dia vai ser iguala eles. Pensa melhor e acha quevai mesmo fazer dos grandes cra-

28 Sexta-feira14 de Julho de 2017

Futebol

Nos bairros periféricos da cidade de Ndalatando existem equipas infantis que mostram jovens habilidosos com vontade de jogar a bola e que acabam por se perder devido a inexistência de recintos desportivos adequados

Mais campos para a descoberta de talentos

CUANZA-NORTE

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FOTOS: NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTE FOTOS: NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTE

29Sexta-feira14 de Julho de 2017

ques mundiais, futebolistas vul-gares. Ninguém vai superar a artede Marcelino. O adolescenteaconselha os colegas a seguiremo seu exemplo, pois consideraque o desporto além ser umaactividade com benefícios eco-nómicos, também contribui parao desenvolvimento físico e mentaldos praticantes. “Praticar qualquertipo de desporto é bom para asaúde das pessoas, por isso queroaconselhar os rapazes da minhaidade a jogarem o futebol e faze-rem muito exercício físico”, disseMarcelino António, estudante doensino médio.

Futuro da NaçãoTreinador do Recreativo da Possee grande impulsionador do desen-volvimento do futebol infantilem Ndalatando, Tomás AntónioSalvador garante que a provínciafoi abençoada com muitos talen-tos no futebol, mas lamenta ainexistência de apoios e o marde dificuldades em que os clubesestão mergulhados. “Tenho acerteza de que estas crianças sãoo futuro desportivo da Nação,mas muitos dirigentes desportivos

ignoram-nos”, disse. TomásAntónio Salvador diz que no clubefalta de tudo: camisolas e calções,bolas e chuteiras. Afinal, só existea vontade e o talento dos miúdos.O técnico dirige uma equipa cheia

de crianças promissoras, que,mesmo diante das adversidades,manifestam força de vontade.Dono de um espírito vencedor,Salvador encara as desistênciasque volta e meia surgem comoautênticas derrotas.

O jovem treinador, ao longodos seis anos de existência doRecreativo da Posse, tem vindoa enfrentar inúmeras dificuldades.Não faltam promessas, mas nuncasão concretizadas. Apesar dasadversidades, ele tem uma cer-teza: “não vou deixar morrer oprojecto.” Nos últimos tempos,surgiu uma luz no fundo do túnel:o clube teve um apoio através daFundação Lwini.

Pode ser o princípio da con-cretização do sonho desportivoque os dirigentes, técnicos e atle-tas do clube há muito acalentam.“Outra dificuldade que enfren-tamos tem sido a utilização doCampo de Futebol dos Ossos,que, em determinadas alturas,está indisponível. Se chove, alama é tanta que os atletas nãoconseguem treinar”, disse.

Olívio dos Santos, coordena-dor da equipa infantil do Recrea-tivo da Carreira, está à frentedos destinos do clube há dezanos. Hoje, o grupo tem 30 crian-ças. Mas já perdeu a conta àsvezes que bateu à porta dosempresários locais em busca deapoios, mas sem sucesso.

O Porcelana é hoje o emblema mais representativo do Cuanza-Norte

Equipas séniores podem buscar novos atletas nos bairros da cidade

São váriasas formas de manifestaro gosto pelo futebol. Uns são pra-ticantes e outros apenas aprecia-dores. Outros ainda fazem partedo mundo do futebol como “artistas”na arte de promover os jogos. É ocaso de Wilson Joaquim que encon-trou nos relatos uma maneira deestar no futebol. Apesar de terapenas 15 anos, Wilson Joaquimtem uma voz muito radiofónica.Sabe o que é um relato e faz simu-lações excelentes.

Há profissionais que, se o ouvis-sem, ficariam cheios de inveja. Nojogo que opôs as equipas do Recrea-tivo da Posse e a equipa do rival daCarreira, no Campo dos Ossos, elemostrou a sua classe de narradordesportivo. No bairro das Mahambas,todos conhecem o seu trabalho.

O miúdo tem força e talento, sóprecisa de uma oportunidade. Umagarrafa de plástico faz de microfone.Os amigos zombam dele, mas con-tinua imperturbável na narração.

Um campo “careca” é o palcodos jogos dos infantis. As balizassem redes e os dois bancos de suplen-tes foram construídos com bambu.É um “estádio” diferente e primapela criatividade. Até no nome.

Por enquanto, Wilson Joaquimsó faz relatos dos jogos de rua.Muitas vezes, ele grita que há falta,mesmo antes de o árbitro apitar. Àreportagem do Jornal de Angola,contou que foi jogador do Recreativoda Carreira e do 1º de Agosto (ama-dores), mas o seu clube de coração

é o Petro Atlético de Luanda. Wilsonrevelou que desistiu de jogar no“1º de Agosto” quando soube quetinha de usar a camisola igual à dosmilitares. Achou que era uma traiçãoao seu Petro do coração. E o ado-lescente de 15 anos tomou umadecisão firme: “enquanto em Nda-latando não houver uma réplica doPetro, não jogo futebol!” Para mataro vício, faz relatos dos jogos. A fan-tasia é o melhor da adolescência.

Uma escola no campoUm dos campos de futebol mais

populares de Ndalatando, situadono bairro Kipata, desapareceu paradar lugar a uma escola primária de30 salas, já em execução.

O facto provocou um sentimentode tristeza no seio dos amantes defutebol. Para tranquilizar os amantesda bola, o governo provincial fezum novo campo com as mesmasdimensões no bairro de Catome deBaixo, para além da construção deuma pista de motocross, bem pró-ximo do recinto.

Muitos são os praticantes defutebol em Ndalatando. Mas todosse debatem com a falta de maisespaços desportivos. O Estádio dosDinizes, por ser o único que acolhejogos oficiais, não está disponívelpara os infantis e amadores. OCuanza Norte tem um clube emcada bairro, aldeia, vila ou cidade.Mas os clubes amadores lutam comgrandes carências. A maior partenem sequer tem equipamento.

Relato improvisado

Qualquerlugar servepara aprática do futebol

Jovens quesonham um dia

representarum grandeclube do

CampeonatoNacional

O gosto pelo futebolgarante oempenhodos garotosdurante ostreinosrealizadosno pelado

O Recreativo doPosse tem sido o

grandeimpulsionador

do desenvolvimentodo futebol infantil

em Ndalatando,mas está

mergulhado num mar de

dificuldades que oimpedem de formar

novos jogadorespara o futebol

nacional

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Isidoro Natalício

Cinco períodos marcam o Desportona província do Cuanza-Nortedesde a conquista da indepen-dência nacional, em 1975 desig-nadamente, frequência de jogosamistosos em futebol, promoçãodo Desporto Escolar, época decompetições, decadência e relan-çamento.

No futebol, partidas amigáveiseram realidade em todas as loca-lidades. Em Ndalatando, porexemplo o vazio deixado peloGrupo Desportivo Dinizes deSalazar (actual N’Dalatando),assíduo no campeonato da entãoprovíncia de Angola, preencheu-se com as equipas do Indepen-dência Futebol Club e NgolaMbandi a partir de 1977.

Ngola Mbandi e Independênciajogavam entre si e depois contraformações de outros municípios

como os Grupos Desportivos eRecreativos da Banga, Quiculungo,Camabatela, e Futebol Club doGolungo-alto.

Enfrentavam adversários comoNgola Kiluangi-kia-Samba,Cacuso (Malange), Waco-cungo(Cuanza-sul) , Paviterra deLuanda, Maquela do Zombo(Uíge), dentre outros. Provavel-mente, o desaparecimento doIndependência e a mudança denome de Ngola Mbandi para Dia-bos Negros acontecem em 1981

Diabos Negros foram aoHuambo vencer o torneio inter-provincial “Agricultura”. Destaquenesse período a Gualter Inglêsque coordenava a massificação.

Nos municípios a Norte da pro-víncia havia entre 1982 e 86 inter-câmbios regional entre equipasde Quiculungo, Bolongongo,Banga, Samba-Cajú e Ambaca,no dizer do promotor da activi-

dade, Adolfo Aparício. “ Foi assimque se começou a promover ofutebol organizado entre os anos1977 e 1980”, disse Adão Bastos,um dos colaboradores da equipado Independência.

Aos amigáveis em futeboljunta-se no princípio da décadade 80 o início da prática do ande-bol, basquetebol, voleibol e atle-tismo no único instituto médio(de educação comandante Bene-dito) e escola secundária SamoraMachel, em Ndalatando.

A memória recorda profes-sores de educação física comoo finado Sebastião Sobrinho,Moreno e Gaspar, pioneiros doprojecto que resultou em par-ticipações nos campeonatosnacionais escolares.

Fase da competiçãoAs competições oficiais iniciamno futebol com a realização de

um torneio participado por equi-pas de Ndalatando, Cambambe,Golungo-alto e Ambaca para apu-rar o representante da provínciaà primeira edição do Girabola,Sagrando-se vencedor os DiabosNegros de Ndalatando, segundoJorge Pereira, presidente da Asso-ciação de Futebol.

Torneios com cariz competitivoaconteceram entre 1980 e 82,com a participação do FutebolClube do Golungo-alto, Inde-pendência e Diabos Negros(ambos Ndalatando), pelos Gru-pos Desportivos, Recreativos eCulturais de Ambaca e Banga.

Impulsionados pela decisão doGoverno que orientava as insti-tuições e empresas públicas apatrocinarem equipas começamem 1983, os provinciais sénior ejúnior sob égide da AssociaçãoProvincial de Futebol, trazendonovidades em termos de equipas.

Assim, Dínamo (que absorveuos atletas dos Diabos Negros quese extinguiu em 1981), Inter, Suru-kuku, Mintec (Ndalatando),

Cuanza-Têxtil, Eka, Desportivode Cambambe e Vinelo (Cam-bambe) , Futebo l C lube doGolungo-alto e Victória de Cama-batela (ex-Desportivo e Recreativo)jogavam entre si, no sistema detodos contra todos, a duas voltas.

Equipas dos municípios deLucala, Samba-Cajú, Quiculungoe Bolongongo entram em cena,entre 2013 e 2014.

Os campeões do Cuanza-Norte em seniores participaramsempre dos torneios de apura-mentos ao Girabola e o sucessoveio a acontecer em 1989 coma ascensão do Grupo Desportivoe Recreativo da Eka, ao cam-peonato nacional de futebol,nove anos após a sua fundação.

O vice-presidente do Des-portivo, na ocasião, GonçalvesManuel, disse que a melhor clas-sificação da Eka na prova foi aterceira posição (entre 1990 e1991) fruto, entre outros, do “rico”plantel que possuía, em que des-filavam atletas como Mané, FelipeNzanza, Rabolé e Zé Gordo.

No dizer do responsável, a Eka(três vezes campeã provincial)desiste do Girabola em 1996 e aseguir extingue-se por falta dedinheiro, pois a direcção que naaltura acabava de assumir a gestãoda fábrica de cerveja EKA nãopôde manter o patrocínio ao clube.

O futebol do Cuanza-Nortevolta à ribalta, com participaçõesem duas edições intercaladas,do Porcelana Futebol Clube deCazengo ao Girabola entre osanos 2013 e 2016. Quem trouxeao Cuanza-Norte o primeiro título

30 CUANZA-NORTE Sexta-feira14 de Julho de 2017

Desporto

Quem trouxe à província o primeiro título de campeão nacional foi ociclismo através do Desportivo da Eka entre 1986/87

O percurso desde a independência nacional

Os campeões doCuanza-Norte em

senioresparticiparam

sempre dos torneiosde apuramento ao

Girabola e o sucessoveio acontecer em1989 com ascensão

do GrupoDesportivo da Eka

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de campeão nacional foi o ciclismoatravés do Desportivo da Ekaentre 1986/87.

Outros sucessosO judo é a modalidade que maisconsagrações traz. Iniciou-seem 2006, com 28 atletas no ClubeRanger de Ndalatando e três anosdepois a agremiação sagrou-secampeã nacional em juvenis ejuniores, ao arrebatar 12 meda-lhas de ouro, prata e bronze,segundo o presidente da Asso-ciação da modalidade.

“Em 2011 voltamos a ser cam-peões nacionais nos 60 quilosem juvenis e 66 em juniores,no ano antepassado campeõespor equipas em seniores e noano passado, lamentavelmentenão medalhamos”, disse LuísJoão “Ginolá”.

Assinala também os segundoslugares nos nacionais em juniorese seniores, em 2014 no Lubango.Na óptica do presidente LuísGinolá, as dificuldades socioe-conómicas no seio dos atletas

são o maior entrave à promoçãodo judo ao nível sénior.

Disse que existem na regiãocerca de 800 praticantes entremasculinos e femininos espa-lhados pelos municípios deCazengo, Cambambe, Samba-Cajú, Lucala, Golungo-Alto eQuiculungo.

O desporto adaptado começouentre 2005/2008 e rapidamenteimpôs-se no contexto nacional.Por exemplo na categoria dosportadores de deficiência nosmembros, os atletas locais con-quistaram sempre medalhas deouro, prata e bronze no triciclomanual.

Os deficientes visuais parciaisobtiveram duas medalhas de pratae três de bronze, no Huambo.Destaque também para o segundolugar no “nacional” de basque-tebol em cadeiras de rodas rea-lizado em 2015, em Moçâmedes.

O presidente da Associaçãoprovincial dos Desportos adap-tados, Miguel Clemente “Bobó”,disse que existem no Cuanza-Norte 50 para-olímpicos que pra-ticam atletismo, basquetebol,natação e futebol.

Depois do futebol, o andebolteve os campeonatos provinciaismais competitivos e participaçõesregulares, em certas provas nacio-nais. Referência aos nacionaisescolares quando conquistou oprimeiro lugar em masculinos,em 2001 no Sumbe, segundo lugar(femininos) e terceiro em mas-culinos, em 2008 no Bié.

O Atletismo tem frequênciana S.Silvestre, até 2013 em corta-

matos nacionais e no contextolocal corria-se para saudar efe-mérides. Francisco André “Chi-nho” começou a correr em 1980,terminou em 2000 e era nome ater em conta. “Éramos 30 prati-cantes, privilegiávamos os 100,200 metros, fundo, estrada eme i o - fundo , em c i rcu i tofechado”, disse.

Embora sem títulos por equi-pas, o boxe destaca-se em con-quistas individuais. Carlos Luís(48, 58 Kg), Muende Tuite Fer-dinan (75, 81 kg), ambos dosDínamos de NDalatando e ChicoAmaro (51, 54 quilos), do Interforam campeões nacionais nadécada de 80 e princípios de 90.

Modalidades como xadrez,Karaté-do, basquetebol, ginástica,ténis de mesa e futsal semprecoexistiram, mas sem conhece-rem desempenhos assinaláveis.

Galeria de honraEntre 1987 e 1992 vários atletasque actuavam em equipas locais

lograram vestir as camisolas deselecções nacionais. Apontam-se no judo, Hélder Camilo comotécnico nacional e Araite Sebastião(Ranger de N’Dalatando), detentorda medalha de prata nos últimosjogos da SADC, hoje Região 5 daUnião Africana.

Chico Amaro, Carlos Luís eMuende Tuite Ferdinan foramconvocados no boxe, CarlosAraú jo , Jus t in iano Araú jo(ciclismo), Mané e Felipe Nzanza(Eka), no futebol.

Para as pré-seleções eviden-ciam-se os judocas do Rangers,José Miguel (menos 73 quilos),Elísio Domingos (menos de 66),Nascimento Dombaxi (menos 81quilos), paralímpicos Carlos Alberto(Cambambe), em natação (2013)e o guarda-redes dos Diabos Negros,Maquiesse António (1980-81).

Decadência do DesportoPor volta de 1990/91 as instituiçõescessam os apoios às agremiaçõesdesportivas, sendo excepção o

da Aproveitamento Hidroeléctricode Cambambe ao Recreativo como mesmo nome até 2014, apro-ximadamente.

Assim, ganhou corpo a falta definanciamento, patrocínios, queresultou na insuficiência de mate-rial desportivo, alimentação, redu-ção do número de clubes, atletas,falta de sedes sociais para Asso-ciações e núcleos provinciais.

Associou-se a isso a guerra esuas consequências, ausênciade competições nos escalões deformação, empirismo nos pro-cessos de treinamento, falta deformação de técnicos, dirigentesdesportivos e escassez de pro-fessores de educação física.

Esses factores conjugados pro-vocaram a derrocada do Desportono Cuanza-Norte. Para redina-mizar a prática de certas moda-lidades como o andebol algumasiniciativas aconteceram, como arealização do nacional juvenilfeminino, em Janeiro de 2001, emN’Dalatando, mas nada mudou.

NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTE

Em 1990, asinstituições cessam

os apoios àsagremiações

desportivas, sendoexcepção o

AproveitamentoHidroeléctrico deCambambe ao

Recreativo local até2014

31Sexta-feira14 de Julho de 2017

FOTOS: NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTE

Os atletasportadores dedificiência jáconquistarammedalhas deouro, prata ebronze

O judo é uma das modalidades que maisconsagrações conquistou a nível nacional nascategorias de juvenis e juniores

Presidente da Associação dos Desportos Adaptados

Há fraca cobertura de infraes-truturas desportivas nas comu-nidades. Ressente-se a ausênciade regulamentação da gestão euso das mesmas, de planeamentointegrado de manutenção e suasustentabilidade. Porém, avan-çam-se algumas excepções comoa construção em Cambambe do

campo para futebol-7. Reparaçãodo campo pelado de futebol na vilade Camabatela e edificação deoutro no Lucala.

Em NDalatando e suportado peloGoverno, aplicou-se relva natural,repararam-se os balneários e tribunado estádio Fernando Dinis (privado)e no pavilhão José Eduardo dos Santos

(Ex-Lusitanos), reabilitaram-se em2012 a iluminação, tecto, WC e o piso.Construiu-se uma quadra de jogo emelhorou-se outra. As duas defronteao internato do Instituto de Saúde.Tais equipamentos e os dos demaismunicípios clamam por manutenção,com realce ao campo de futebol epista de Atletismo do Ex-Lusitano.

Fraca cobertura de infra-estrutura desportivas

Em Novembro de 2014, o Governo Provincialdo Cuanza-Norte, através da sua Direcçãoda Juventude e Desportos concebeu umPlano de Desenvolvimento Estratégico doDesporto para o período 2015/2017.

O objectivo era definir a política provincialdo Desporto, o seu financiamento, moda-lidades a priorizar, programa de desenvol-vimento e promoção para potencializar asvilas, aldeias, comunas com equipamentosdesportivos para eventos afins e de lazer.

Apoio ao Desporto de recreação, altacompetição e reforço da capacidade de orga-nização na realização de competições eeventos regionais e nacionais. É no últimoano de vigência do plano em causa que sevê uma “luz no fundo do túnel”.

Está em curso, em NDalatando o “Pro-cuanza”, projecto de ensino e aprendizagemde modalidades como basquetebol, andebol,futsal e voleibol. Só no basquetebol estãoengajados mais de 50 aprendizes de dife-rentes faixas etárias e treinam em todosos períodos do dia.

Coordenado pelo técnico José CarlosGuimarães e financiado pelo Governo doCuanza-Norte, a iniciativa estender-se-á a Cambambe, Lucala, Golungo-Alto,Ambaca e Samba Cajú e prevê em seismeses, colocar jovens a jogar correcta-mente.

Na perspectiva de manter viva a moda-lidade, o presidente da Associação de Judoprojecta entregar os clubes a empresas epessoas com capacidade financeira, formaçãode dirigentes, técnicos, juízes de mesa,aumento da competição interna e fiscalizaçãodos métodos de treinamento.

Alguns entusiastas procuram dar vidaao xadrez e ao boxe, realizando sessões detreinamento (boxe) e maratonas (xadrez)para saudar datas festivas.

Futuro do Desporto

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32 CUANZA-NORTE Sexta-feira14 de Julho de 2017