Será que qualquer um pode ser “terrorista”? - novas.gal · José viana e daniel r. cao...

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nÚmero 130 15 de outuBro a 15 de novemBro de 2013 2 € periódico galego de informaçom crítica arraianos 22 Conversa com Jose Manuel Sande, co- guionista de Arraianos, um filme que se mergulha no Couto Misto. Umha obra aberta, com os ares das aldeias da raia, que fai reflexionar sobre a tra- diçom e as fronteiras eleiçons em portuGal 13 Os resultados das Eleições Autárqui- cas em Portugal celebradas em setem- bro revelam um rechaço cara as políti- cas do atual governo. Partidos que con- tam com o poder estatal perdem mais de 50 câmaras. N ovas da G ali a “A comunidade é um dos eixos vitais para podermos viver num futuro sem petróleo” manuel casal lOdeirO ativista do coletivo ‘véspera de nada’ pág. 6 alguns exemplos recentes da permissividade com que o reino de espanha trata a violência da extrema-direita / pÁG.20 Será que qualquer um pode ser “terrorista”? após a sentença da audiência nacional Se o Tribunal Supremo decla- rar firme a sentença da Audiên- cia Nacional contra os quatro independentistas, ficará de- monstrada judicialmente a existência dumha “organiza- çom terrorista” na Galiza. Esta suposta estrutura permitiria aos corpos policiais acusar pessoas por “pertença” ou “colabora- çom”, mesmo sem existir infra- çom penal por parte destas. Aliás, todas as leis de exceçom do Código Penal, criadas ad hoc para Euskal Herria, poderiam ser aplicadas na Galiza. / pÁG. 18 Negócio eólico só deixa migalhas no rural desenvolvimento enerGético O desenvolvimento eólico no ru- ral resulta umha atividade lucra- tiva para a iniciativa privada. O governo galego foi pioneiro em elaborar umha regulaçom para o aproveitamento desta energia apostando na sua privatizaçom. As sucessivas normativas impos- sibilitárom a criaçom de instala- çons eólicas comunitárias por parte dos agentes rurais. Tal mo- delo cooperativo-comunitário está estendido por diversos luga- res do mundo. / pÁG. 11 o monte ameaçado Umha história de impunidade incêndios na Galiza: escusas, causas e alternativas O monte galego arde em média anual de 26.000 heta- res anuais, 50% da superfície queimada em incéndios florestais no território ocupado polo estado espanhol. Mas, pese a tópicos, nem todos os lumes se dam no verao nem som um fenômeno recente. A variedade de lugares, formas e causas dos incêndios, dos que a imensa maioria ficam sem explicaçom clara, exige análises que vaiam além de ‘máfias’ ou ‘piromanias’ em abstrato, para as razons estruturais. Entre elas, o abandono do rural, ou a falta de prevençom e condi- çons precárias de trabalho nos serviços públicos con- tra-incêndios. / pÁG. 15-17 opiniom a saúde das mulheres... por lola ferreiro / 3 femen, estratégias de luita mediáticas e cOerência por rocio f raga / 3 dinOsaurO all Over again patricia Janeiro / 28 suplemento central a revista petróglifOs galaicOs A arte rupestre do princípio da era metalúrgicas constitui um dos primeiros conjuntos simbólicos próprios da nossa terra O mestre em chamas Xavier Viana reflexiona sobre o modelo de ensino nos últimos séculos e a relaçom com os costumes e a individualidade flickr xornalcerto

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nÚmero 130 15 de outuBro a 15 de novemBro de 2013 2 €

p e r i ó d i c o g a l e g o d e i n f o r m a ç o m c r í t i c a

arraianos 22Conversa com Jose Manuel Sande, co-guionista de Arraianos, um filme quese mergulha no Couto Misto. Umhaobra aberta, com os ares das aldeiasda raia, que fai reflexionar sobre a tra-diçom e as fronteiras

eleiçons em portuGal 13Os resultados das Eleições Autárqui-cas em Portugal celebradas em setem-bro revelam um rechaço cara as políti-cas do atual governo. Partidos que con-tam com o poder estatal perdem maisde 50 câmaras.

Novas da Gali a

“A comunidade é um dos eixosvitais parapodermos vivernum futurosem petróleo”

manuel casallOdeirOativista do coletivo ‘véspera de nada’pág. 6

alguns exemplos recentes da permissividade com que o reinode espanha trata a violência da extrema-direita / pÁG.20

Será que qualquer umpode ser “terrorista”?

após a sentença da audiência nacional

Se o Tribunal Supremo decla-rar firme a sentença da Audiên-cia Nacional contra os quatroindependentistas, ficará de-monstrada judicialmente aexistência dumha “organiza-çom terrorista” na Galiza. Estasuposta estrutura permitiria aos

corpos policiais acusar pessoaspor “pertença” ou “colabora-çom”, mesmo sem existir infra-çom penal por parte destas.Aliás, todas as leis de exceçomdo Código Penal, criadas ad hoc

para Euskal Herria, poderiamser aplicadas na Galiza. / pÁG. 18

Negócio eólico sódeixa migalhas no rural

desenvolvimento enerGético

O desenvolvimento eólico no ru-ral resulta umha atividade lucra-tiva para a iniciativa privada. Ogoverno galego foi pioneiro emelaborar umha regulaçom parao aproveitamento desta energiaapostando na sua privatizaçom.

As sucessivas normativas impos-sibilitárom a criaçom de instala-çons eólicas comunitárias porparte dos agentes rurais. Tal mo-delo cooperativo-comunitárioestá estendido por diversos luga-res do mundo. / pÁG. 11

o monte ameaçado

Umha história de impunidade

incêndios na Galiza: escusas,causas e alternativas

O monte galego arde em média anual de 26.000 heta-res anuais, 50% da superfície queimada em incéndiosflorestais no território ocupado polo estado espanhol.Mas, pese a tópicos, nem todos os lumes se dam noverao nem som um fenômeno recente. A variedade delugares, formas e causas dos incêndios, dos que a

imensa maioria ficam sem explicaçom clara, exigeanálises que vaiam além de ‘máfias’ ou ‘piromanias’em abstrato, para as razons estruturais. Entre elas, oabandono do rural, ou a falta de prevençom e condi-çons precárias de trabalho nos serviços públicos con-tra-incêndios. / pÁG. 15-17

opiniom

a saúde das mulheres... por lola ferreiro / 3

femen, estratégias de luita mediáticas ecOerência por rocio fraga / 3

dinOsaurO all Over again patricia Janeiro / 28

suplemento central a revista

petróglifOs galaicOsA arte rupestre do princípio da era metalúrgicas constitui umdos primeiros conjuntos simbólicos próprios da nossa terra

O mestre em chamasXavier Viana reflexiona sobre o modelo de ensino nos últimosséculos e a relaçom com os costumes e a individualidade

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02 opiniom Novas da GaliZa 15 de outubro a 15 de novembro de 2013

Se tés algumha crítica a fazer, algum facto a denunciar, ou desejas transmitir-nos algumha in-quietaçom ou mesmo algumha opiniom sobre qualquer artigo aparecido no NGZ, este é o teulugar. As cartas enviadas deverám ser originais e nom poderám exceder as 30 linhas digitadasa computador. É imprescindível que os textos estejam assinados. Em caso contrário, NOVAS DA

GALIZA reserva-se o direito de publicar estas colaboraçons, como também de resumi-las ou ex-tratá-las quando se considerar oportuno. Também poderám ser descartadas aquelas cartasque ostentarem algum género de desrespeito pessoal ou promoverem condutas antisociaisintoleráveis. Endereço: [email protected]

o pelourinho do novas

o slG pede “medidas” contra o javali

É esta carta motivada pola que oSindicato Labrego Galego reme-tia para este Pelourinho no nú-mero anterior, em que se lamen-tava dos danos do javali no mi-lho e pedia “medidas”. Este posi-cionamento do SLG vai na linhadas notícias que vinham apare-cendo em meios como a TVG.

É certo que o javali é umha es-pécie que prospera nestes tem-pos apesar da intensa atividadedo lobby da espingarda. Comcerteza, nem o SLG nem as notí-cias dos média falam sobre ascausas disto. Que se tomem “me-didas” e pronto.

A natureza é um ente em equi-líbrio, e o ser humano, que nomé o topo da cadeia trófica, masum elemento alheio e um agenteestranho e daninho, tem quaseeliminado o encarregado de quea populaçom de javalis se man-tenha equilibrada, o lobo. Poroutra banda, o javali, mesmonestes meses de landres, temmuito a procurar no deserto ver-

de dos montes de eucalipto paratopar um ilhéu de alimento.

Que espécies arbóreas po-voam as massas florestais d@sfiliad@s do SLG? Por que nomse mobilizárom junto do ani-malismo militante quando osquatreiros do Barbança, a Jun-ta e o lobby da espingarda dé-rom conta dos lobos do Bar-bança em 2012?

Que se tomem medidas. Umcalibre 12, pois?

José Dias Cadaveira (ativista ecologista)

contra os priviléGios e salÁrios dos deputados

O salário mínimo interprofissio-nal (SMI) som 645,30 euros/mês,o que significa 21,51 euros/dia.Com este salário, é praticamenteimpossível ter umha vida digna.

Som perto de 300.000 o númerode galegas e galegos no desempre-go, d@s quais umha boa parte nomrecebem nenhum tipo de ajuda.

Os salários da imensa maioriada populaçom tenhem experi-

mentado umha evidente redu-çom, simultánea ao incrementonas horas de trabalho e à paulati-na perda de direitos.

Mais de 150.000 pensionistasna Galiza recebem umha reformaque oscila entre os 150€ e os350€. Quase meio milhom de ga-legas e galegos tenhem umhapensom inferior ao SMI.

A pobreza é umha realidadeque nos retrotrai à década de qua-renta e cinquenta do século XX.

A juventude desesperada polaausência de perspetivas tem queemigrar. Mais de 15.000 anual-mente deixam o País.

Este é, a grandes traços, o pa-norama da situaçom real em quese acha boa parte da populaçomda Galiza.

Nestas circunstáncias, NÓS-Unidade Popular considera des-propositadas as declaraçons deXavier Vence, porta-voz nacionaldo BNG, justificando os quase5.000€ que cobram os 75 deputa-dos e deputadas do Parlamentogalego. Tal declaraçom só contri-bui para reforçar a desafetaçomde cada vez maiores segmentospopulares com a política.

Para NÓS-UP, que @s 75 depu-tad@s cobrem 4.802 euros/mês,

isto é, que em quatro dias rece-bam o equivalente ao SMI, sim é“um problema e um excesso”.

É lógico e natural que o debatedo “Estado da Autonomia” quehoje se inicia no parlamentinhodo Hórreo se realize de costas àprática totalidade dumha popula-çom que, com razom e sentido co-mum, desconfiamos dumha castapolítica cleptocrata e corrupta,com interesses de grupo, alheiosaos da imensa maioria do povotrabalhador galego.

O companheiro Vence errounas suas declaraçons, no que se-melha um “revival” das justifica-çons e práticas da nefasta etapado bipartido.

NÓS-Unidade Popular de-fende, em coerência com a nos-sa defesa de umha verdadeirademocracia participativa, quena Galiza soberana, justa eigualitária pola qual luitamos arepresentaçom popular seráum serviço e um compromissocom a comunidade, e nom umlucrativo privilégio para umhareduzida casta ou aparelho li-gado ao poder.

Direçom Nacional de NÓS-UP

todos os anos a história re-pete-se, o lume aparece eexpom ante a populaçom

galega os trágicos problemas domonte galego. Milheiros de hecta-res queimados som produto diretodo abandono que o rural leva pa-decendo. O êxodo cara as cidades,a reflorestaçom de pinheiros e eu-caliptos, a falta de interesse porparte das administraçons... todaumha mistura explosiva para omonte. As mobilizaçons cidadáspugérom o seu ponto de mira na

política privatizadora que promo-ve a vanguarda neoliberal instala-da na Junta da Galiza e as pessoastrabalhadoras que componhem asbrigadas anti-incêndios denunciá-rom as duras condiçons laborais ea necessidade de um mando úniconas tarefas anti-incêndios. No en-tanto a Junta realiza sobre-salien-tes exercícios de propaganda ne-gando evidências e sem trabalharnas causas que provocam o lume.Enquanto nom se investigam osinteresses especulativos que es-

conde o negócio do lume, a Juntasente-se cómoda com os esporá-dicos titulares sobre detençons depresuntos incendiários que nomachegam soluçom ao problemados incêndios.

Mas a única maneira de que omonte nom prenda lume é cuidan-do-o, dia a dia. Umha tarefa que ahistória do mundo atual está a en-sinar-nos que nom pode cair ex-clusivamente nas maos de admi-nistraçons cada vez mais vincula-das com os interesses da iniciativa

privada. O rural, para estar cuida-do, precisa de vida e de maos queestejam a trabalhar nele, recupe-rando as casas que ficárom aban-donadas logo da apariçom deplantaçons de pinheiros e eucalip-tos, reaprendendo os labores e ossaberes que medrárom a caromdas galegas e galegos. A vida ur-bana ajuda a manter os olhos fe-chados cara as possibilidades defuturo do rural galego. Um ruralque talvez nos próximos temposteremos que ver com outra pers-

petiva. Nestas últimas semanascomeçou o andança de umha ini-ciativa que procura preparar asgentes do país para o provável co-lapso energético que trairá o picodo petróleo que estamos a viver.Trata-se da 'Guía para o descensoenerxético', para a que a Associa-çom Véspera de Nada está atual-mente a procurar financiamentoatravés da web. O caminho que le-va cara a umha recuperaçom dorural é também um caminho dedefesa dos nossos montes.

Cuidar do monte, umha tarefa pendenteeditorial

humor Beto

D. LEGAL: C-1250-02 / As opinions expressas nos artigos nom representam necessariamente a posiçom do periódico. Os artigos som de livre reproduçom respeitando a ortografia e citando procedência.

editOraa.c. minhO media

cOnselhO de redaçOmiván g. riobó, aarón lópez rivas, rubénmelide, Xavier miquel, antia rodríguez gar-cía, raul rios, Xoán r. sampedro, Olga ro-masanta, alonso vidal, paulo vilasenin

secçOnscronologia: iván cuevas / economia:aarón lópez rivas / agro: paulo vilasenine Jéssica rei / mar: afonso dieste / media: Xoán r. sampedro e gustavo luca /além minho: eduardo s. maragoto / povos: José antom ‘muros’ / dito e feito:

Olga romasanta / a denúncia: iván garcía/ cultura: antia rodríguez / desportos: an-jo rua nova, isaac lourido e Xermán vilu-ba / consumir menos, viver melhor: Xanduro / a criança natural: maria álvaresrei / agenda: irene cancelas / a revista:rubén melide / a galiza natural: Joãoaveledo / gastronomia: luzia rgues., sinoseco / língua nacional: valentim r. fagim / criaçom: patricia Janeiro / cinema:Xurxo chirro

desenhO gráficO e maQuetaçOmhilda carvalho, Joám fernandes, manuel pintor, helena irímia

fOtOgrafiaarquivo ngZ, sole rei, galiza independente(gZi-foto), Zélia garcia, Borja toja

administraçOmJosé viana e carlos Barros gonçales

lOgÍstica e puBlicidadeJosé viana e daniel r. cao

audiOvisual: galiza contrainfo

humOr gráficOsuso sanmartin, pestinho, Xosé lois hermo,gonzalo, ruth caramés, pepe carreiro, mincinho, Beto

cOrreçOm lingÜÍsticaXiam naia, f. corredoira, vanessa vila verde,mário herrero, Javier garcia, iván velho

cOlaBOram neste númerOlola ferreiro, rocio fraga, damián copena,samer nachawati rego, andré rodrigues,mariam ferreira golpe, óscar antón pérez,vera-cruz montoto, Ximena gonzález, larasoto, ana Quintiá, sérgio caamanho, OlalhaBarro, patrícia a. Janeiro, Xavier viana,charo lopes, miguel ángel alonso diz, Josédias cadaveira

fechO de ediçOm: 17/10/2013

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n estes dias, logo de as Fe-men entrarem no Parla-mento e mostrarem os

seus peitos, os meios nem sólhes dedicaram portadas e foto-galerias, mas até lhes deu porescuitar os feminismos e as di-versas posturas sobre esse tipode ativismo, em que uns quere-ram ver divisom e nós vemos de-bates enriquecedores.

Pouco tenho que acrescentarcom respeito ao contundente dasaçons das Femen, e acho que atin-gem o objetivo pretendido, sairnos meios hegemónicos adaptan-do umha ferramenta histórica dofeminismo, mostrar o corpo, aoque o sistema demanda para obterrepercussom.

A luta feminista trabalhou sem-pre na linha da provocaçom,usando os corpos das mulherespara reagir ante o uso que o siste-

ma fai deles. Mete-se e procuradecidir sobre eles, marcando câ-nones de beleza, decidindo se va-lem mais do que outros corpos porresponder à utilidade que preten-dem a igreja e outros poderes fác-ticos: ser maes e objetos de desejopara determinados homens. Osprincipais beneficiários do siste-ma heteropatriarcal: homens hé-teros, com verdadeiro poder aqui-sitivo para o consumo e fieis à mo-ral dominante.

O debate, portanto, vai além doobjetivo imediato de incidir naopiniom púb(l)ica com a presençanos meios, legítimo mas vazio seficar só nisso. Os feminismos sem-pre foram movimentos radicais,que pretendem atacar as raízes dosistema, e para isso podemos usarestas ferramentas mas temos queir além, temos que saber que clas-se de sociedade procuramos emarcar objetivos mais ambicio-sos. Isto é, nom só chegar atravésdos meios, senom que a opiniom

pública compreenda que, ademaisde revocar umha reforma de leiconcreta, temos um campo de ba-talha muito mas amplo, que é todoo que isso representa.

Há pouco tivemos este debateem diferentes açons formuladaspolos feminismos galegos, quepretendíamos usar os corpos des-

pidos para visibilizar a violênciasobre os corpos das mulheres co-mo ferramenta repressiva e deguerra. Assim nos despimos porBarillas o ano passado, contra asguerras do golfo alá no 2002, con-tra o desfile das forças armadasespanholas na Corunha, no2005... e assim muitas mas. Em to-das essas açons o debate sobre osobjetivos foram intensos, valori-zando que resultados queríamosobter e sempre, sempre, acompa-nhamos esse tipo de açons de ou-tras que reforçassem que o objeti-vo nom é exclusivamente sairnumha foto-galeria.

A estratégia, portanto, das Fe-men, à margem da sua duvidosaorigem e financiamento, baixo omeu ponto de vista, fica curta.

Ademais da análise da estraté-gia de açons deste tipo, outra daslinhas de debate surgidas estesdias foi a da importância de co-nhecer a origem e estratégias des-te coletivo na sua história ou se

simplesmente é valorizável teremfeito essa açom de apoio à luitacomum contra a lei do aborto deGallardón. Sem dúvida é necessá-rio conhecer a origem e o horizon-te do coletivo, e é inevitável obser-var como atuaram em lugares co-mo o Brasil ou a Tunísia; doutri-nando sobre temas como a prosti-tuiçom, ou a suposta libertaçomdas mulheres muçulmanas de al-guns símbolos da sua identidadecultural -sem contar com elas eprovocando reaçons de rejeiçompolos movimentos feministas des-ses lugares-. Algo que podemosvincular também à nom inclusomdas mulheres que nom temos cor-pos normativos nas suas açons. Éportanto esse o feminismo quepretendemos? É esse o tipo de lui-ta que queremos? Eu aceito usar ocorpo no ativismo, mas sempreque esse corpo seja corpo que pro-voque, e nom precisamente desejode consumo por parte do sistemaheteropatriarcal.

03opiniomNovas da GaliZa 15 de outubro a 15 de novembro de 2013

opiniom

asaúde é o máximo grau debem-estar, físico, psíquicoe social, para além da au-

sência de enfermidade (OMS,1946). Já que logo, inclui a cura-çom das doenças, a prevençom ea promoçom (aumento do bem-estar), e os poderes públicos de-vem garantir o aceso da cidadaniaaos meios necessários para con-segui-la. A construçom da saúdeestá influída polo género e deve-mos falar de dous modelos: omasculino e o feminino. Conside-rar que há um só implica assumircomo universal o masculino e as-sim discriminar a metade da po-pulaçom... e isto é o que ocorre naprática. Nom se consideram asdoenças que nos afetam quase ex-clusivamente, nem os sintomasdiferentes com as que se expres-sam outras; nom se tem em contaque o efeito dos fármacos é dife-rente, e isto promove que nom sediagnostique nem se trate ade-quadamente o que nos afeta...nom é casualidade que o 85% daspessoas tratadas com psico-fár-macos sejam mulheres, com asconsequências que isto implica.

A prevençom nom é diferencia-

da. Nom se tomam medidas pre-ventivas efetivas contra processosque nos afetam com muita maisfrequência, nem se tomam medi-das para previr enfermidadesprofissionais e riscos laborais emesmo se utilizam meios nom su-ficientemente provados para asprevir (vacina VPH).

A promoçom converte-se numexercício de violência estrutural esimbólica na nossa contra. A saú-de identifica-se com a dieta, o gi-násio e a cirurgia estética, no cantode considerar que consiste em ca-pacitar a populaçom para que au-mente o controle sobre a sua pró-

pria saúde e a melhore (...) para is-to, as pessoas devemos ser quemde identificar e realizar as nossasmetas, de satisfazer as nossas ne-

cessidades... (OMS, 1986).No momento atual, com as po-

líticas de “cortes” (ou de assalto?),a situaçom já é inaceitável. A nos-sa situaçom de precariedade eco-nómica e social, com menores sa-lários (22.5%, em 2012), trabalhosa tempo parcial (4 de cada 5 sommulheres), em precário e/ou emcondiçons de risco. A situaçom depobreza (o 70% das pobres sommulheres) e de inseguridade somcausa direta de muitos problemasde saúde (desnutriçom, infeçons,intoxicaçons e envenenamentos,acidentes e doenças laborais, de-pressom, ansiedade, etc.).

Os “cortes” na assistência sani-tária dificultam ou impedem oaceso das mulheres a diagnósti-cos e tratamentos adequados. Is-to, junto ao “copagamento” (ou aestafa?), estendido há poucos diasao 10% do custo de certos medi-camentos hospitalários, propicia-rá em muitos dos casos o abando-no dos ditos tratamentos... isto é,mais sofrimento e mais morte,nomeadamente de muitas mulhe-res, mais pobres e mais abnega-das, que renunciarám (mais um-ha vez) a si próprias por nom gra-varem as suas famílias.

Por outro lado, a diminuiçomde pessoal e de meios (e mesmo ofeche) de serviços de atençom es-pecífica, supom umha gravíssimaameaça para a nossa saúde e anossa vida. Os Centros de Planea-mento Familiar, quase sem recur-sos para a assistência, e muitomenos para promoverem a saúdesexual e reprodutiva. O feche dedispositivos de atençom a mulhe-res em situaçom de maltrato, jáque logo de programas para abor-dagem e para a prevençom daviolência direta. A “reformula-çom” dos centros Quérote, quevai deixar as adolescentes sematendimento. A previsível refor-ma da Lei do aborto, que abocaráas mulheres com menos recursosa arriscar a sua integridade e mes-mo a sua vida.

Em soma, o sistema volta a ga-rantir o nosso mal-estar.

Defendamos a nossa saúde e asnossas vidas!

A saúde das mulheres, cada vez mais maltratadalola ferreiro

Femen, estratégias de luita mediáticas e coerênciarocio fraga

considerar que

há um só modelo

de saúde implica

assumir como

universal o modelo

masculino imposto

a opiniom públicadeve compreenderque ademais de revocar umha reformade lei concreta, temos um campo debatalha muito maisamplo, que é todo oque isso representa

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04 acontece Novas da GaliZa 15 de outubro a 15 de novembro de 2013

NGZ / A mobilizaçom popular con-seguiu paralisar temporariamentedous despejos na cidade da Coru-nha e no concelho de Cabanas, nacomarca do Eume. Em ambos osdous casos os lançamentos nom es-tám definitivamente cancelados,polo que o ativismo social continuaa luitar polo respeito do direito àvivenda destas pessoas afetadas.

Para o dia 7 de outubro estavamarcado o despejo de umha mu-lher residente no concelho de Ca-banas, que comparte vivenda como seu filho assim como com a suamae e a sua irmá. O movimentopopular de Ferrolterra denunciouque este despejo é produto de umcaso de violência machista, pois oex-marido desta mulher vendeufraudulentamente a casa. É preci-so salientar que o ex-marido daafetada está denunciado por qua-tro delitos de violência machista eque o processo leva já mais de umano à espera de julgamento.

O dia 7 a mobilizaçom popularconseguiu paralisar o despejo emCabanas mas ainda fica pendenteumha soluçom definitva para estamulher e a sua família, entre elesum filho menor de idade cuja cus-tódia está em maos da afetada, se-gundo comunicaram familiaresaos meios. Estám a trabalhar na de-fesa das vítimas deste processo de

despejo ativistas de Stop Despejosde Ferrol e Compostela, assim co-mo a Rede de Apoio Múto de Fer-rolterra e a Associaçom Vela-luzcontra a violência machista. Preci-samente este último coletivo con-voca a partir do 15 de outubro um-ha greve de fame para denunciar aindefensom à que se vem submeti-das por parte das administraçon asvítimas de violência machista.

No caso da Corunha o despejoia se efetuar o dia 8 de outubromas a intensa atividade de StopDespejos A Corunha conseguiufrenar o lançamento à espera deumha soluçom para a afetada,

também mulher. Esta pessoa seriadespejada da sua residência antea impossibilidade de seguir pa-gando o aluguer, ao perceber co-mo única renda umha prestaçomde desemprego de 216 euros aomês. Por outra banda, o juiz deinstruçom reconheceu a “especialvulnerabilidade” encontrada nes-te caso sem que os Serviços So-ciais do concelho corunhês nem aConselharia de Trabalho e Bem-Estar dessem passos cara a umhasoluçom. Assim, Stop-Despejosestá a reclamar a aplicaçom doConvénio para a deteçom e ajuda

de pessoas em situaçom de espe-

cial vulnerabilidade ou de risco de

exclusom na Galiza quando este-jam imersas em lançamentos ju-diciais, assinado entre o ConselhoGeral do Poder Judicial, a Federa-çom Galega de Municípios e Pro-víncias e a Junta de Galiza.

Stop Despejos Corunha denun-ciou também que o conselheiroresponsável da área de ServiçosSocias na cidade, Miguel Loren-zo, puido cometer umha infra-çom da Lei de Serviços Sociais daGaliza ao revelar em rolda de im-prensa dados da pessoa afetadaque nom eram relevantes para asoluçom do conflito.

aconteceDuas mobilizaçons percorrérom Compos-tela para exigir à Junta umha política deprevençom contra os lumes. As marchasreivindicárom um serviço de extinçom“único, público e profissionalizado” e umhamaior proteçom para os espaços naturais.

duas manifestaçons contra os incêndios

O centro social Almuinha de Marim ini-ciou umha campanha de avaliaçom douso do galego nos jornais que infor-mam sobre Marim. O resultado foi quetam só duas notícias das 85 analisadas(um 2,35%) estavam na língua própria.

o GaleGo nom tem sítio nos jornais de marim

10.09.2013 / Morre um rapaz de18 anos em Monforte atropela-do por um Álvia num passo anível com barreiras.

11.09.2013 / Plataforma Galegaem Defesa do Ensino Públicoconcentra-se na Conselharia daEducaçom para denunciar cor-tes e exigir a retirada da LOMCE.

13.09.2013 / F.D.B. morre tráscair-lhe umha árvore em cimaenquanto trabalhava num mon-te da Veiga (Eu-Návia).

14.09.2013 / Vizinho de Verim, de-tido pola polícia trás confessaro estrangulamento da sua exparelha, M.F.M.S., de 52 anos.

15.09.2013 / BNG reúne emCompostela umhas oito mil pes-soas numha manifestaçom emdefesa da soberania nacional.

16.09.2013 / Novos lumes emcontentores e pontos limposda Corunha no quadro da gre-ve dos trabalhadores e traba-lhadoras de Nostián.

17.09.2013 / AMPA do IES Bergi-dum Flavium de Cacabelos de-nuncia a eliminaçom do galegocomo matéria optativa.

18.09.2013 / Responsáveis deADIF começam a declarar co-mo imputados no juízo do aci-dente de trem de Angrois, des-carregando toda a responsabi-lidade sobre o maquinista.

20.09.2013 / Um cento de maris-queiros concentram-se frente àConselharia de Meio Rural e

Marinho para reclamarem umprocesso de regularizaçom deembarcaçons adaptado à reali-dade galega.

21.09.2013 / Comuneiros deGuizám (Mos) manifestam-sena terminal de Peinador paraexigir a Aena que negocie o pa-gamento de 7,8 milhons polosterrenos da sua propriedade.

22.09.2013 / Conselheiro deEducaçom Jesús Vázquez asse-gura no jornal El País que “os

que se oponhem ao decreto dogalego nom som democratas eapoiam a grupos terroristas”.

24.09.2013 / Deputaçom de Lugocondena o franquismo e pedeque a exaltaçom do fascismoseja delito. Votam a favor oPSdeG e BNG e em contra o PP.

25.09.2013 / Estudantes da es-cola de Restauraçom de PonteVedra fecham-se no centro pa-ra reclamar a conversom dosestudos num grau.

cronoloGia

A pressom popular consegue deterdespejos em Cabanas e na Corunha

movimentos sociais continuam a luitar polo direito a vivenda das pessoas afetadas

campanhasolidária com a presa galeganoelia coteloNGZ / O coletivo anarquista Li-berdade Noelia Cotelo cha-mou a mostrar faixas de apoioà presa galega Noelia Coteloo dia 20 de outubro. Esta presativo um novo julgamento opassado dia 2 deste mês naAudiência Provincial de A Co-runha, mas segundo informaa revista on-line Abordaxe(http://abordaxerevista.blogs-

pot.com.es) este nom chegoua celebrar-se “porque Noelianom podia ter-se em pé”, che-gando-se a um acordo de 9meses mais de condena.

Noelia Cotelo leva 5 anos emprisom baixo regime FIES.Durante o seu encerro na cár-cere espanhola de Brieva, emÁvila, foi vítima de agressonssexuais por parte dos seus car-cereiros, abusos que denun-ciou. Segundo figérom públicoas redes de apoio a esta presaem luita, essas denúncias cus-tárom-lhe umhas condiçonsainda mais duras dentro daprisom. Após estes feitos foideslocada ao Centro Peniten-ciário de Albolote, em Grana-da, a mais de 1.000 quilóme-tros da Galiza. Segundo infor-ma um manifesto solidáriocom Noelia Cotelo, no mês demaio começou umha greve defame por diversos abusos queestava a padecer nesta prisom.

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05aconteceNovas da GaliZa 15 de outubro a 15 de novembro de 2013

Centos de mulheres marchárom por Compostela paradefenderem o direito a um aborto livre e gratuito. A Pla-taforma Galega polo Direito ao Aborto, convocante damanifestaçom, alerta de que o ministro Gallardón pre-tende eliminar com a sua reforma da lei atual o direitodas mulheres a decidirem sobre os seus próprios corpos.

“por um aBorto leGal, seGuro e Gratuito”

Miles de estafados polas preferentes aproveitarom a festado Sam Froilám, em Lugo, para exigir que se reabra a viada arbitragem. Os aforradores, chegados de toda Galiza,reclamárom a devoluçom dos 600 milhons de euros queainda tenhem as extintas caixas de aforro e portárom fai-xas contra os governos da Junta e do Estado.

afetados polas preferentes manifestam-se no sam froilÁm

26.09.2013 / Vizinhança de Ber-gondo acode à Casa do Conce-lho para protestar polo projetode depuradora em Gandário.

27.09.2013 / Quase 500 vizinhosexigem com umha marcha pro-teçom para o Monte Pindo.

28.09.2013 / Centos de pessoasmanifestam-se em Compostelaem defesa do aborto livre egratuito. A capital galega aco-lhe também umha manifesta-çom contra a LOMCE.

29.09.2013 / Manifestaçom emSantiago reclama um serviçoúnico de extinçom de incêndiose mais meios contra o lume.

30.09.2013 / Anuncia-se a iden-tificaçom dos restos de ManuelRamón Souto Lestón, militantedo PRT, nascido em Cee, se-questrado pola ditadura argen-tina em 1976.

01.10.2013 / Conde Roa, ex al-calde de Santiago é condenadoa dous anos de prisom e

582.000 euros de multa porfraude a Fazenda.

02.10.2013 / Pessoas afetadaspolas preferentes concentram-se diante do Paço de Justiçade Ourense.

03.10.2013 / Julgado de instru-çom 1 de Riba d’Ávia emite au-to de processamento contra odelegado da Junta em Ouren-se, Rogélio Martínez, por irre-gularidades na gestom de fun-dos europeus.

04.10.2013 / Centos de pessoasmanifestam-se em Marim con-tra o acordo que expulsou àfrota das águas de Mauritánia.

05.10.2013 / Mais de 5000 prefe-rentistas protestam na Ronda daMuralha de Lugo para reclama-rem a devoluçom dos aforros.

06.10.2013 / Umhas mil pes-soas manifestam-se em Com-postela por umha nova políticaflorestal, convocados pola As-sociaçom Monte Pindo.

07.10.2013 / Morre J.V.S., pedrei-ro de 45 anos ao cair dumha al-tura de 5 metros em Guilhamil.

08.10.2013 / Stop Despejosconsegue paralisar polo mo-mento o despejo de Elizabeth,umha vizinha enferma e comtrês filhos menores do bairrodo Castrilhom, na Corunha.

09.10.2013 / Produzem-se en-frentamentos entre manteiros epolícias locais e nacionais nasfestas de Sam Froilám.

cronoloGia

NGZ / Celebrou-se na semana do15 de setembro o julgamentocontra o sindicalista de CCOOMessaoud El-Omari, e três cúm-plices numha máfia de explora-çom denunciada por mais decinquenta trabalhadores e traba-lhadoras originários de Marro-cos -onde também tem a sua ori-gem El-Omari- em 2009. Comoo NOVAS DA GALIZA (nos nú-meros 86 e 91) recolhia na altu-ra, os trabalhadores exploradoseram recrutados na regiom mar-roquina de Agadir, onde deviamenfrentar um pagamento dequantidades que chegavam aos10.000 euros. Durante o julga-

mento, trabalhadores assegura-vam que era o sogro de El-Omarie outros 'cobradores' que se des-locavam periodicamente ao paísafricano para fazerem os cobros.Várias das pessoas vítimas damáfia tiveram, inclusive, queresponder com as próprias vi-vendas familiares.

Logo de chegados, El-Omariera presumivelmente o encarre-gado de gerir a máscara de lega-lidade para as empresas a explo-rarem os trabalhadores. Atravésdo seu posto no Centro de Infor-maçom para Trabalhadores Es-trangeiros (CITE) de ComissonsObreiras, o sindicalista arranja-

va contratos e vistos, segundodeclaraçons de algumhas das ví-timas, que mesmo assinalam te-rem realizado gestons no gabi-nete do local sindical.

Condiçons de semi-escravaturaAs condiçons laborais com asque os trabalhadores topavamao aterrarem na Galiza eramdiametralmente opostas às pro-metidas por El-Omari. Frenteaos 2.000 euros prometidos, arealidade eram salários que porvezes só alcançavam os 500 eu-ros mensais, sem alta na Seguri-dade Social. Ainda que este es-tremo, como o dos salários, va-

riava segundo a empresa em quefinalmente remataram os traba-lhadores, o habitual era que vi-vessem em vivendas ultra-lota-das que nos piores casos care-ciam de aquecimento ou águaquente. As jornadas laborais nospiores casos passavam das dozehoras diárias durante seis dias àsemana.

Segundo os testemunhos dal-guns dos 13 trabalhadores, eramo próprio El-Omari ou HadaouiKayrou, outro dos imputados,que se encarregavam de reco-lher os trabalhadores no aero-porto e levá-los até as empresasonde deviam trabalhar.

Pendente de sentença o julgamentocontra exploradores de migrantes

acusam sindicalista de ccoo messaoud el-omari e três cÚmplices numha mÁfia

NGZ / Na última fim de semanade setembro e a pesar das com-plicadas condiçons meteorológi-cas tivo lugar a IV Limpeza Si-multánea do Projeto Rios numtotal de 37 concelhos, contandocom a participaçom de centos depessoas voluntárias. Segundo in-dicam na organizaçom, nestaocasiom retirárom-se perto de 10toneladas de resíduos. Entre osmais frequentes encontram-seplásticos como garrafas ou sacasmas tampouco faltárom peças deautomóveis ou eletrodomésticos.Na web do Projeto Rios lembra-se que a finalidade desta iniciati-va nom é apenas limpar umhavez ao anos as águas do país, se-nom “cuidar os nossos rios econsciencializar à sociedade deque estejam bem conservados”.

Os rios dos quais mais resí-duos fôrom rertirados som oVea, no concelho da Estrada,com uns 2.000 quilogramas, eas concas do Zamáns e o Mi-nhor em Gondomar, com 1.800quilogramas. É também de sa-lientar que nesta iniciativa par-ticipárom nom só coletivos emdefesa do ambiente, senomtambém associaçons desporti-vas, culturais, vicinais e mesmoalguns concelhos.

limpezasimultánea de rios retira 10 toneladas de resíduos

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06 acontece Novas da GaliZa 15 de outubro a 15 de novembro de 2013

A fotografia de Ester Quintana, a mulher que perdeu umolho por mor dum disparo com balas de goma dos MossosD´Esquadra, foi empregada por Citröen para um cartazdumha campanha de prevençom de riscos laborais. Aimagem, que Quintana fixo para denunciar esta arma po-licial, foi retirada pola empresa ao nom ter autorizaçom.

citröen usa a foto dumha aGredida na sua puBlicidade

O grupo Imán de Vigo realizou umha performance o pas-sado 3 de outubro para reivindicar a reapertura do pro-grama Sereos do Casco Velho em Elduayen ou num localpróximo. O feche do seu local por parte do Concelho deVigo obrigou a desenvolver a sua atividade de assistênciasocial num veículo nas ruas da cidade.

performance em viGo pola reapertura de ‘sereos’

Tem-se afirmado que nom háumha outra energia que seja ca-paz de substituir ao 100% o pe-tróleo. Que alternativas se po-dem construir para os diferentesusos do petróleo?É certo, nom há energia que emqualidade e quantidade e no tem-po que nos queda poda substituiro petróleo. Assim que a alternativaem muitos casos será prescindirde muitos desses usos. É dizer, pa-ra as necessidades básicas pode-mos apanhar-nos com alternativasrenováveis, nom sem considerá-veis custos e dificuldades de adap-taçom, mas para moitas outras 'ne-cessidades' criadas pola sociedadecapitalista de consumo, simples-mente vamos ter que passar semelas. A alternativa é prescindir damaior parte do consumo atual, tal-vez um 80 ou 90%, e limitar-nos aoque podamos obter mediante osrecursos naturais locais. Por issoinsistimos tanto em que o futuro élocal e, principalmente, rural.

Quais som os passos para fazerreal umha Galiza sem petróleo? O primeiro passo é a conscien-ciaçom individual e social. Háque ser conscientes de que a mu-dança é iniludível e que quantomais tardemos estaremos empiores condiçons. Depois há quecomeçar a visualizar como que-remos que seja essa Galiza pós-petróleo e pós-industrial. Os pri-meiros passos podem ir nessa di-reçom de adaptaçom mental edepois há que apoiar-se nas nos-sas redes sociais, na comunida-de, para passarmos ao terrenoprático. Se essa comunidadenom existe onde vivemos ou estámui danada devemos reconstrui-la sem demora.

O futuro passa por unha redu-çom drástica no nosso consumounida à um renascimento das co-munidades humanas a nível lo-cal. Também haverá umha mu-dança psico-social muito impor-tante e deveremos construir um-ha nova cultura e umha nova éti-ca associadas à comunidade e aumhas relaçons perduráveis en-tre as pessoas e com a naturezada que fazemos parte insepará-vel. Falamos de recuperarmos a

resiliência comunitária e comoespécie, algo que nos roubou aindustrializaçom.

De sair adiante a Guia falades deelaborar comunidades de leito-res em diversos pontos da Gali-za. Por que considerades isto ne-cessário e que mecanismos po-redes em marcha para impulsaressas comunidades?Isto é algo mui importante. Se háum livro que queira mudar radi-calmente a vida das pessoas é es-te. Nom podemos fazer unica-mente umha mudança interior, li-mitar-nos a ler um livro e aplicarcertos ajustes ao nosso modo deviver e consumir. A mudança temque ser radical mas também co-munitária porque a comunidadeé um dos eixos vitais para viver-mos sem petróleo. Assim é que

tentaremos botar a andar encon-tros locais com os leitores por to-do o país, para promover que agente se comece a auto-organi-zar, e um foro em Internet paracomplementar estes encontros.

O livro será só um começo, masa mudança tenhem que a prota-gonizar as próprias pessoas quese consciencializem de que nompodemos aguardar mais e que de-vemos começar a mudar o paísdesde baixo em clave de decres-cimento, de auto-gestom e auto-suficiência, e de reconstruçomdas comunidades. O ideal seráque depois cada grupo local lide-re a transiçom à vida sem petró-leo de umha maneira própria eadaptada às características doseu lugar.

Nessa sociedade pós-petróleotambém haveria que prestaratençom à questom da forma-çom e à adquisiçom de conheci-mentos. Até que ponto haveriaque romper com os conhecimen-tos que temos adquiridos na so-ciedade atual? Em que tipo desaberes haveria que se centrar?Se olhares para os programaseducativos, as aulas de qualquer

nível, achas que dam por descon-tado que o mundo industrial vaiseguir existindo para sempre.Mas nom é assim, e muitos mi-lhons de pessoas vam quedarcom uns conhecimentos obsole-tos e inúteis. E nom só isso, se-nom que a própria concepçom daeducaçom teria que ser modifica-da, pois precisamos dumha novacultura baseada em valores total-mente diferentes: isto também oabordamos em detalhe na Guia. É preciso conservarmos, transmi-tirmos e atualizarmos em chavede utilidade prática muitos dossaberes tradicionais do nosso po-vo, que som os que nos permiti-rom sobreviver com os recursosque há aqui durante milheiros deanos. Claro que nom poderemosvolver ter exactamente aquela so-ciedade, porque em muitos aspe-tos nom é factível umha voltaatrás, e por isso haverá que atua-lizar muito desse conhecimento ecombiná-lo seguramente com al-gumhas ideias novas, como porexemplo a permacultura ou a ar-quitectura bioclimática.

Existem já outras guias para adiminuiçom energética polomundo adiante? Pode inserir-seesta iniciativa num movimentode carácter mais global?Existem cousas análogas. Te-mos o vigoroso movimento das'Transition Towns' que produzmaterial muito interessante etambém cada vez mais gover-nos locais que aprovam planosde adaptaçom à reduçom ener-gética. É um movimento centra-do polo de agora em países co-mo Reino Unido e EE.UU, masnos mapas que vam recolhendoestas iniciativas em Internet po-demos ir vendo que cada anoque passa surgem mais e maisprojetos por todo o mundo.

Sem dúvida há um movimen-to de carácter mundial que seexpressa em variadas iniciati-vas: a chamada transiçom pós-petróleo, as cidades lentas, omovimento pola relocalizaçome a alimentaçom local, o decres-cimento, o conceito indígena dobom viver... todo isto caminhacara à mudança de civilizaçomque precisamos. A própria di-versidade de movimentos revelaque cada sociedade deverá bus-car a sua via particular para avida pós-petróleo.

“é preciso atualizarmos muitos dossaberes tradicionais do nosso povo”

entrevista a manuel casal lodeiro, ativista de 'véspera de nada'

AARÓN L. RIVAS / A associaçomVéspera de Nada lançou nasúltimas semanas umha cam-panha de financiamento cole-tivo no portal web Verkamipara editar a 'Guía para o des-censo enerxético', umha obraque procura dar as chavespara conseguir umha Galizasem petróleo. Perante o atual'peak oil' e as suas conse-quências, este trabalho pre-tende criar comunidades deleitores que se encarreguemde dar um passo adiante eimpulsarem essa transiçomcara a umha nova sociedadeafastada dos hábitos de con-sumo atuais. Manuel CasalLodeiro, ativo membro deVéspera de Nada, adverte deque com a queda do petróleocairá também a religiom docrescimento contínuo e ex-pom o que é necessário paraumha mudança no modeloenergético.

“O futuro passa porumha reduçom

drástica no consumoe umha nova ética”

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07aconteceNovas da GaliZa 15 de outubro a 15 de novembro de 2013

Durante o debate de estado da autonomia, o pre-sidente da Junta Alberte Núñez Feijóo anunciouque se denegou o projeto de mina de ouro em Cor-coesto. O chefe do executivo autonómico atribuiesta decisom a que “o projeto carece de insolvên-cia financeira e técnica”.

junta cancela projeto de mina em corcoesto

Sete edis do PP de Compostela fôrom imputados porprevaricaçom ao decidirem numha Junta de governomunicipal pagar a defesa jurídica de Adrián Varela, con-celheiro de Desportos imputado na Operaçom Poké-mon. Após isto, 10 dos 13 edis do PP compostelám seencontram imputados em diversos processos judiciais.

Governo de compostela imputado por prevaricaçom

R.R. / Resta quase um ano paraas eleiçons ao Parlamento Euro-peu, que se celebrarám entre o22 e o 25 de maio de 2014, masos diferentes partidos galegoscomeçárom a trabalhar comtempo na política de alianças.Através de conversas como aque mantivérom os porta-vozesnacionais do BNG e Anova, Xa-vier Vence e Xosé Manuel Beiras(respetivamente) e, através tam-bém de comunicados, os dife-rentes partidos fôrom fazendopúblicas as suas estratégias elei-torais. Polo de agora, nom há ne-nhum acordo que faga prever ainclusom do nacionalismo gale-go numha mesma candidatura.

Papel de EUO único ponto de friçom feito pú-blico até a data entre Anova eBNG é o papel que estaria cha-mada a desenvolver EsquerdaUnida (EU) na eventual coaliga-çom. Por umha banda, Anovaaposta em, num primeiro mo-mento, conformar umha “frenteampla nom excludente” a nívelgalego, que aglutinasse tanto aforças nacionalistas como aaquelas que, “sem serem nacio-nalistas, defendam o direito deauto-determinaçom e o prati-quem” -em alusom a EU- para;num segundo momento, confor-mar umha aliança com as “for-ças políticas rupturistas” de ou-tras naçons do Estado. A propos-ta de Anova é que os comícios

nom sejam “umhas eleiçons or-dinárias”, senom umhas que sir-vam de “plebiscito do regime” oude “ensaio geral da quebra de-mocrática”.

Por outra banda, o BNG ratifi-cou no seu Conselho Nacional do6 de Setembro a decisom de pro-curar umha “coaligaçom unitáriagalega nacionalista de esquerdas”para depois, dado que a circuscri-çom para estes comícios é estatal,conformar umha “gram coaliga-çom com as demais forças nacio-nalistas de esquerdas das demaisnaçons sem estado existentes noEstado espanhol”. Tanto Esquer-da Unida como a federaçom esta-tal Izquierda Unida ficariam foradesta coaligaçom nacionalista.“Como sabes”, escrevia-lhe Vencea Beiras numha missiva pública,“nenhumha força nacionalista deesquerdas basca ou catalá -nem

nenhumha outra força naciona-lista em geral- vai ir em coaliga-çom com forças estatais, algo emque coincidimos no BNG”.

Se nenhumha das duas forçasmuda a sua proposta inicial defórmula de coaligaçom, o voto na-cionalista ficará dividido nas ur-nas em 2014. Restaria saber comomaterializariam Anova e o BNGas alianças com outros partidosdo Estado de nom sair primeiroadiante a coaligaçom galega.

Forças extra-parlamentaresPor sua vez, tanto Nós-UnidadePopular (Nós-UP) como Com-promiso por Galicia (CxG), ma-nifestárom a sua vontade por lo-grar umha candidatura “genui-namente galega”, rejeitando emambos casos a inclusom de EUna coaligaçom e situando-se,portanto, mais próximos à posi-

çom do Bloco que à de Anova.Pola sua banda, Nós-UP alega a“inviabilidade” de conformar acandidatura galega à decisomde Anova de aceitar a EU e tam-bém a que o BNG, “sem a pre-sença de Anova, descarta criarumha candidatura galega aoParlamento Europeu”. Peranteisso, nom descarta a possibili-dade de fazer parte dumha coa-ligaçom com forças “de liberta-çom nacional” e “contrárias aoparadigma espanhol” doutrosterritórios do Estado.

No seu caso, CxG insta a Anovae BNG a “pôr-se de acordo” paracriarem a candidatura galega e,em boca do seu secretário geralXoán Bascuas, julga que ambasformaçons estám a jogar “ao gatoe ao rato” e acusa-os de nom te-rem nos seus planos a formaçomdumha “candidatura de País”.

Alianças dos partidos dificulta auniom nacionalista nas europeias

eleiçons ao parlamento europeu celeBrarÁm-se em maio de 2014

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NGZ / O alcalde do concelho deBaltar, na comarca da Límia, JoseAntonio Feijóo enfrentou-se o pas-sado 7 de outubro a um juízo penalacusado de quatro delitos de coa-çons por parte da Fiscalia. Os fei-tos remontam-se às eleiçons mu-nicipais de 2011, cujos resultadosconcedérom sete edis ao PP e dousao PSdeG, quando, segundo asacusaçons, este alcalde realizouameaças e mesmo perseguiu a mi-litantes do PSdeG que estavam aelaborar umha listagem municipalpara os devanditos comícios. AFiscalia pede para Feijóo o paga-mento de umha multa de arredorde 11.000 euros enquanto a acusa-çom particular do PSdeG engadeoutros quatro delitos de ameaçase um de malversaçom de fundospúblicos, elevando a petiçom decondena a 24 anos de prisom.

Trás conhecer-se as imputaçonsàs que Feijóo se véu submetido oPPdeG anunciara a abertura deum expediente contra o regedormas este decidiu abandonar a mi-litância. Porém, José Antonio Fei-jóo continua na alcaldia de Baltare também no Governo da Deputa-çom Provincial encabeçada porJosé Manuel Baltar Blanco. Poroutra parte, o jornal espanhol El

País informava que Jose AntonioFeijóo estava também vinculado aseis empresas construtoras da co-marca da Límia e que chegou a au-torizar obras sem licença a com-panhias dos seus sócios.

julgam alcaldede Baltar por coaçons a militantes do psdeG

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08 acontece Novas da GaliZa 15 de outubro a 15 de novembro de 2013

O sindicato CNT vem de denunciar que a Universidadede Santiago de Compostela através da sua empresaUnixest realiza contratos temporais em fraude de lei“que em realidade deveriam sem indefinidos”. Do mes-mo modo, denunciam-se incumprimentos na concilia-çom da vida familiar e laboral.

cnt denÚncia usc por “contrataçom fraudulenta”

A Polícia Nacional, por ordem de um auto da AudiênciaNacional, irrompeu no recebimento na cidade da Corunhaàs ex-presas políticas Aurora Cayetano e Iolanda Fernán-dez, liberadas trás passar 11 anos em prisom pola sua per-tença ao PCE(r). Dúzias de pessoas solidárias estivérompresentes neste ato a pesar do acosso policial.

reprimem receBimento de presas políticas na corunha

NGZ / Primeiro foi o alcalde deRiotorto, Federico Gutiérrez(BNG), que anunciou que o con-celho se fará cargo dos custosque tenham que afrontar os seusvizinhos e vizinhas polo 'copaga-mento' farmacêutico; e pronto se-guírom anúncios na mesma linhade outros como José Luis Raposo(PSOE), alcaide de Pedrafita doCebreiro, ou Severino Rodríguez(BNG), alcalde de Monforte. Aestratégia consiste em fazer fron-te desde os concelhos aos cortesdo Governo, dentro das compe-tências municipais e da capaci-dade orçamentária de cada vila.

A resoluçom aprovada poloGoverno espanhol o 10 de setem-bro elimina a gratuitidade demais de 157 prestaçons farmaco-lógicas utilizadas para patologiascoma o cancro, a hepatite C ou aesclerose múltipla. O alcaide deRiotorto explicou aos meios que

o objetivo da medida é impedirque os enfermos “abandonemtratamentos vitais por razonseconómicas”. A ideia, em Riotor-to e Pedrafita do Cebreiro, é esta-belecer um barema de ajudas se-gundo as rendas, mas tentandoque a gratuitidade atinja a maio-ria dos vizinhos.

Pola sua banda, Severino Ro-dríguez, alcalde de Monforte,anunciou que nos orçamentos de2014 incluirám umha partida pa-ra afrontar situaçons de exclu-som social motivadas pola políti-ca de cortes do PP. Ainda que semostra favorável ao modelo deRiotorto, pontualiza que cadaconcelho terá que valorar a for-ma de afrontar a situaçom segun-do as suas possibilidades e queas Administraçons locais nompodem resolver todos os proble-mas gerados polos cortes da Jun-ta e do Governo.

Riotorto abre a via de resposta municipalcontra o ‘copagamento’

NGZ / Lugo e Redondela acolhe-ram, durante a fim de semana de12 e 13 de outubro, diversas jor-nadas de reivindicaçom e memó-ria com motivo da celebraçom doDia da Galiza Combatente. Desde2001 o independentismo reme-mora em 11 de outubro casos deluitadoras e luitadores e de proje-tos coletivos de luita. Coincidecom a morte em 11 de outubro de1990 de Lola Castro e José Vilar,militantes do Exército Guerrilhei-ro do Povo Galego Ceive, ao ex-plotar-lhes um artefato que por-tavam durante umha campanhado EGPGC contra os interessesdo narcotráfico na Galiza.

'A mocidade nom se vende'A Assembleia da Mocidade Inde-pendentista lembrou em Lugo,baixo o lema 'Arredistas sempre:Independência', a visom do arre-dismo de pre-guerra na emigra-çom. Com o exemplo do ComitéRevolucionário Arredista Galegoda Havana e do seu militante FucoGomes, originário de Bezerreá, aorganizaçom juvenil puxo ênfasedurante a apresentaçom dum dos-sier dedicado ao CRAG na vonta-de de “visibilizar frente aos perso-nalismos que as lutas sempre asfam coletivos, nom indivíduos”.

Antes da manifestaçom e con-certo que fechárom a jornada, aAMI deu a conhecer a publicaçomdo livro A mocidade nom se vende.

Relatos de intentos de infiltraçom

policial no independentismo. Nes-ta publicaçom a organizaçom for-nece um estudo sobre as estraté-gias de guerra suja dos estados

contra os movimentos em diver-sas partes do mundo. Logo de ana-lisar o que se sabe das estruturas'anti-terrorista' espanholas, a pu-blicaçom recolhe seis relatos demilitantes que sofrêrom tentativasde aproximaçom por parte de cor-pos repressivos com ofertas paraconverterem-se em informadoresao serviço deles. Segundo umhamilitante da organizaçom sinalavana apresentaçom, o livro publica-se “com duas razons: umha, co-nhecermos qual é a estrutura comque o estado persegue o indepen-dentismo na Galiza o tipo de táti-cas e presons que podem empre-gar, para que quem se ver nesta si-tuaçom nom se atope sem referên-cias; a outra, como prova do que otítulo diz, que a mocidade nom sevende e rechaça em firme colabo-rar com o inimigo”.

Nós-UP lembra Maria AraujoRedondela foi o lugar escolhidopor Nós-Unidade Popular para ce-lebrar a homenagem a MariaAraújo, militante comunista gale-go-cubana que em distintas etapas

militou na Galiza e mais na ilha ca-ribenha, e fixo parte das guerrilhascontra o regime franquista e du-rante a revoluçom cubana.

A organizaçom do independen-tismo contou no seu ato com in-tervençons de Eva Cortinhas, emnome de Briga, e de Gustavo Lucano nome da Associaçom de Ami-zade Galego-Cubana e FranciscoVillamil. Este último destacou ahistória de relaçons intensas en-tre a Galiza e Cuba, e em especiala longa listagem de galegas e ga-legos combatentes na ilha.

O ato foi fechado com o discur-so de Rebeca Bravo, porta-voz na-cional de Nós-UP. Esta destacouos exemplos de Ernesto Guevarado general vietnamita Giap e maisdo militante galego Manolo Soto,falecido no passado inverno.

Bravo destacou a necessidade,frente os avanços de “Espanha, oCapital e o Patriarcado”, dumha“ofensiva obreira, nacional, femi-nista e popular”, para a que cumpre“desenvolver mais espaços de uni-dade de açom” e “acelerar a conso-lidaçom” da esquerda patriótica.

Independentismo comemora Dia da Galiza Combatente

ami e nos-up moBilizÁrom-se em luGo e redondela

suBsidiarÁ Gastos farmacêuticos

Homenagem comarcal de noS-UP a lolacastro em Valdovinho / DiÁrioliBerDaDe

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09aconteceNovas da GaliZa 15 de outubro a 15 de novembro de 2013

crónica GrÁficano 12 do outubro ativistas da plataforma Galiza pola Soberaniamostrárom faixas e simbologia nacional em pontos simbólicos do país / DiarioliBerDaDe

a agrupaçom de Montanha Águas limpas realizou o seu Vi acampamentode montanha na Serra do courel, comroteiros e palestras / aGrUPaÇoM De MontanHa 'ÁGUaS liMPaS'

a Marcha polo emprego da ciG percorreudiversas comarcas ao longo do país. na imagem, a segunda jornada de mobilizaçom no seu passo por Vigo / ciG

centos de pessoas percorrérom oMonte Pindo, em carnota, após sercalcinado polos incêndios / MontePinDo ParQUe natUral

Desporto e convívio entre os movimentossociais tivérom lugar em alhariz, que acolheu as iii olímpiadas PopularesGaliZacontrainfo

o setor naval de trasancos voltousair à rua exigindo carga de trabalho e denunciando as “mentiras” dos governos galego e espanholDiarioliBerDaDe

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10 acontece Novas da GaliZa 15 de outubro a 15 de novembro de 2013

aGro

P.V. / O cruel desperdício de alimen-tos, além de colaborar para a fomee para a desigualdade social, podeser considerado como o terceiroemissor de carbono do mundo,atrás apenas da China e dos EUA.A conclusom foi obtida num rela-tório produzido pola Organizaçomdas Naçons Unidas para Agricul-tura e Alimentaçom (FAO), que es-tima que os alimentos jogados foraemitam cerca de 3,3 bilhons de to-neladas de CO2 todos os anos.

Comida no lixoNo passado mês de Setembro, uminforme da FAO tirava dados re-veladores das consequências queacarreta a moderna forma de dis-tribuiçom dos alimentos. Todos osanos, perto dum terço de todos osalimentos para consumo humano,aproximadamente de 1,3 bilhonsde toneladas, é desperdiçado, jun-tamente com toda a energia, águae produtos químicos necessáriospara produzi-la e descartá-la.

Quase 30% das terras agrícolasdo mundo, e um volume de águaequivalente ao vazamento anualdo rio Volga, som usadas em vam.Segundo o informe, a maior partedos desperdícios som produzidospor grupos de consumidores quecompram muito mais do que po-dem consumir e rematam por jo-gar os restos ao lixo.

Se fossem contabilizados emtermos monetários, a FAO estimaque o custo do desperdício de ali-mentos, excluindo os peixes e fru-tos do mar, é de 750 bilhons de dó-lares por ano, com base em preçosde produçom.

A média de quilos que som des-perdiçados ao ano na Europa é de300 por habitante.

Danos para o ambienteAlém do incalculável dano moralque geram as sociedades que jo-gam seus alimentos ao lixo, aquestom meio-ambiental aparececomo alvo central na denúnciaque emite a FAO. 3.300 milhonsde toneladas de CO2 som produ-zidos cada ano.

O desperdício de alimentos con-some cerca de 250 quilómetros cú-bicos de água e ocupa cerca de 1,4bilhom de hectares- grande parte

de habitat natural transformadopara tornar-se arável. De seguiresta tendência, será preciso ace-der maiores porçons de bosques eflorestas para aumentar a superfí-cie arável. Se ao contrário se luitapor reduzir o desperdiço, esta si-tuaçom pode tornar-se à inversaao nom depender da necessidadede aceder a novos territórios paraa agricultura.

Melhoras precisasO informe indica que o desperdí-cio de alimentos se topa concen-trado em espaços diversos segun-do seja o país da análise. Nos paí-ses em vias de desenvolvimentodam-se grandes perdas nos culti-vos e na produçom. À contra, nospaíses com ingressos meios e al-tos, que representam o 31% e 39%do desperdício, as perdas concen-tram-se na venda ao consumidorfinal e na distribuiçom. No casode regions com baixos ingressos,as perdas neste nível só som deentre o 4% e o 16%.

A voltas com as soluçons As soluçons propostas constamde multidons de frontes abertas.Porém a defesa dumha agricultu-ra de proximidade com redes dedistribuiçom locais e de confiançaparece ser a aposta que mais pos-sibilidades tem de ter êxito.

Desperdício de alimentos,terceiro maior produtor deCO2 após a China e os EUA

mar

Mauritánia, maisum pontapé paraa frota galega

A.DIESTE / A expulsom de umhavintena de barcos galegos doporto pesqueiro de Mauritániagraças a um convénio da UEvolve situar em primeira linha adiminuçom da presença da fro-ta pesqueira de altura da Galizanalguns dos seus lugares de tra-balho tradicionais (e é que, emnom poucas ocasions, fôromdescobertos polos galegos).Grande Sole, Marrocos, Mo-çambique... som exemplos dife-rentes quanto a causas, mascoincidentes no resultado.Cumpre assinalar que o postodos buques galegos vai ser ocu-pado por barcos doutros esta-dos, nom polos mauritanos.

Em 1986, ano de entrada doEstado espanhol na Uniom, uns300 barcos tinham autorizaçompara trabalharem no GrandeSole. Os diferentes planos deorientaçom plurianual, comoassinala González Laxe em La

actividad pesquera mundial, re-ducírom progressivamente essacifra até nom ser mais de 190em 2005 e, hoje em dia, escas-samente chegar ao cento de bu-ques. Desde a federaçom deMar da CIG tem-se salientadoque em muitos de aqueles por-tos pesqueiros dos quais tivoque sair a frota galega “o seu sí-tio foi ocupado por outra, poloque nom se justifica em termos

de sustentabilidade”.Atualmente na Galiza há 96

barcos pesqueiros comunitários(51 de palangre de fundo e 45de arraste); em 2005, eram 144.Em pouco mais de um lustro, opaís perdeu um terço desta fro-ta. González Laxe assinala quedesde meados da década dosanos 90 reduziu-se a frota de al-tura e grande altura, pois dé-rom-se de baixa mais de100.000 toneladas de registobruto (boa parte delas, com odesmantelamento como final docaminho).

Num estudo que analisa osanos de 1986 a 2002 compro-va-se como Dinamarca passoude receber do 21 ao 42% dos di-reitos de pesca. Em troca, o Es-tado espanhol passou do 7,4 ao5 por cento. Nestes anos, semdúvida, resultou prejudicada afrota galega.

a faO evidencia o grande problema dadistribuiçom moderna dos alimentos

na ue cada pessoadesperdiça 300 kgde comida ao ano

a frota galega tivo que abandonar portospesqueiros por mor de convénios, negociaçons e acordos comunitários com interesses alheios

na galiza há 96 barcos pesqueiros

comunitários

em apenas um lustroperdeu-se um terço

da frota nacional

reduzir desperdícios evitaria ter que aumentar produçom de alimentos um 60%

‘lixo’ alimentar ocupa perto de 1,4bilhons de hectares

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DAMIÁN COPENA / Desde finais dosanos noventa temos assistido naGaliza a um grande desenvolvi-mento da energia eólica. Namaior parte dos cumes dos mon-tes galegos os aerogeradoresemergem dominando a paisageme o território. Certamente, empoucos anos tenhem-se instaladomais de 4.000 aero geradores, querepresentam umha potência pró-xima aos 3.300 MW. Esta ativida-de, que se desenvolve quase nasua totalidade no rural galego eque está incluída dentro das pro-duçons do regime especial, contacom incentivos retributivos porparte do Estado, resultando muitolucrativa para as empresas pro-motoras eólicas.

O modelo de desenvolvimentoeólico na Galiza de hojeO governo galego foi pioneiro noEstado à hora de desenvolver nor-mativa específica que regulasse oaproveitamento eólico. A Juntaaprovou o primeiro Decreto Eóli-co no ano 1995 e com ele apostoupor um modelo privatizador, emque unhas poucas empresas serepartiam o território mediante afigura dos planos eólicos estraté-gicos em que se lhe designavamumha serie de áreas eólicas a es-tas promotoras eólicas. Fruitodeste Decreto e das normas pos-teriores, Galiza converteu-senumha potência eólica a nívelmundial, contando nestes mo-mentos com a maior intensifica-çom eólica do Estado, tanto emaerogeradores por unidade de su-perfície como em potência porunidade de superfície.

Desde o primeiro Decreto de1995 até a atual Lei 8/2009 as dis-tintas normativas impossibilitá-rom a criaçom de instalaçons eó-licas comunitárias por parte dosagentes rurais. O modelo coope-rativo-comunitário em que auniom de proprietários dos terre-nos, labregas e labregos e agentessociais desenvolvem parques eóli-cos está estendido por muitos lu-gares do mundo como Dinamar-ca, Gales e mesmo América doNorte. Pola contra, no territóriogalego regulou-se para promoverum desenvolvimento que giraraem torno a grandes empresas. Es-te modelo, que tivo do ponto devista da potência instalada um evi-

dente êxito, motivou pola contraumha escassa incidência no trans-lado de rendas ao mundo rural. Omarco regulador desenhado tam-bém possibilita a existência deconflitos sociais e ambientais.

As consequências económicasdos eólicos no mundo ruralOs grandes esquecidos na legisla-çom galega, a pesar dos tímidosavanços experimentados nas últi-mas normas eólicas, som os pro-prietários dos terrenos onde as-sentam os parques eólicos. Osproprietários nom podem fazerparte do denominado negócio eó-lico e nom contam com capacida-de de decisom sobre a instalaçomdos aerogeradores nos seus mon-tes. Além disso, a consideraçomda produçom eólica como ativi-dade de utilidade pública permitea possibilidade da expropriaçomdos terrenos necessários para odesenvolvimento dos parques eó-licos. Até o Decreto do ano 2008as empresas nem sequer tinhamque justificar o início de um pro-cesso expropriador dos terrenosprivados e mesmo se tenhem ex-propriado montes vizinhais paraa implantaçom de aerogeradores.Esta situaçom exerceu de autên-tica espada de Damocles para osproprietários e possibilitou queassinassem acordos económicosque se podem considerar, quandomenos, como irrisórios. Por outra

banda, em quase todos os proces-sos eólicos existe umha grandeassimetria no tocante à informa-çom (conhecimento da legisla-çom, marco retributivo, horas deproduçom, etc.) que manejam osproprietários dos terrenos ruraise as empresas eólicas. As promo-toras eólicas contam com exper-tos negociadores que se transla-dam às aldeias rurais com a fina-lidade de conseguir os terrenos omais baratos possível. Em geral,com honrosas excepçons, até o deagora as propriedades privadas evizinhais quase nom obtiveramajudas das administraçons e dasentidades sociais e tivérom quese defender com as poucas armasdas que dispunham.

Com estes antecedentes nomsurpreende que as rendas que sederivam da produçom de energiaeólica para os proprietários ruraissejam geralmente escassas. Di-versos trabalhos indicam que es-

tas rendas equivalem de média aentre o 1 e o 1,5% da faturaçomdos parques eólicos galegos. Apesares deste escasso fluxo de in-gressos provenientes da eólica,existem interessantes iniciativasrurais que se desenvolveram emmontes vizinhais como o de Zo-bra (Lalim) ou Cabeiras (Arbo)graças ao aluguer dos terrenos, oque nos indica que um maior flu-xo de rendas poderia ter um im-pacto positivo para a dinamiza-çom dos espaços rurais.

Cumpre salientar que a ativida-de eólica desenvolve-se no rural,um rural que conta com muitasproblemáticas que o fam esmore-cer pouco a pouco. O número deexploraçons e o emprego agrárionom deixam de reduzir-se e oabandono dos núcleos e dos re-cursos nom deixa, desgraçada-mente, de crescer. É muito possí-vel que umha diferente legisla-çom eólica, que tiver como pre-missas o desenvolvimento comu-nitário e que artelhá-se aproduçom eólica desde abaixo ecom a participaçom dos diferen-tes agentes sociais à hora de pla-nificar territorialmente a produ-çom eólica, teria contribuído aofreno das tendências existentesno rural e evitado múltiples pro-blemáticas ambientais derivadasdos parques eólicos. Efetivamen-te, o desenvolvimento eólico temproduzido importantes afeçons a

espaços incluídos dentro da RedeNatura 2000, existindo mais de 50parques eólicos que afetam a lu-gares de interesse comunitário,sendo o caso mais destacável o daSerra do Xistral.

A energia eólica na atualidadeNos últimos anos tem-se produzi-do umha parada no desenvolvi-mento eólico na Galiza. Desde oano 2008 quase nom há novasinstalaçons eólicas. Contudo,existem muitos parques eólicosque se encontram em tramitaçomna atualidade, tanto parques eóli-cos derivados dos decretos ante-riores como, principalmente, ins-talaçons admitidas a trâmite como denominado concurso eólico.

O marco retributivo tem muda-do recentemente, mais tamém atecnologia eólica tem avançadomuito. Os aero geradores de 0,3MW que se instalavam no Bar-bança no ano 1998 pouco tenhemque ver com os de 3 MW que seacabam de pôr em funcionamen-to no mesmo lugar há escassosmeses. Deste jeito, os atuais aero-geradores que se projetam na Ga-liza podem atingir os 175 metrosde altura em ponta de pá.

Também é necessário salientarcomo nos processos atuais existeumha crescente implicaçom porparte das proprietárias, tanto pa-ra conseguir preços justos poloaluguer dos seus terrenos nos no-vos parques eólicos, como paracolaborar e mesmo encabeçaroposiçons a projetos de parquesque racham com o funcionamen-to e com as finalidades das Co-munidades. Exemplos atuais co-mo o do Galinheiro, o Morraço ououtros conflitos socioeconómicose ambientais existentes nestesmomentos na Galiza indicam-nosque a sociedade civil e os proprie-tários dos terrenos nom vam per-mitir mais abusos.

Sem lugar a dúvidas o contextoatual deveria de ser aproveitadopara mudar a legislaçom eólicagalega, definindo um novo marcoem que se fomentasse um modelocooperativo-comunitário de de-senvolvimento eólico e em que sedefinisse unha nova planificaçomterritorial, respeitosa com o meionatural, que florescesse mediantea participaçom dos distintosagentes sociais da Galiza.

11acontece

Junta aprovou o primeiro decreto eólico em1995, apostando por um modelo privatizadoreconomia

O negócio do vento no mundo rural

Novas da GaliZa 15 de outubro a 15 de novembro de 2013

Os grandes esquecidossom os propietários

dos terrenos

existem muitos parques eólicos em tramitaçom

as distintas normativas impossiBilitÁrom a criaçom de instalaçons eólicas comunitÁrias

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12 internacional Novas da GaliZa 15 de outubro a 15 de novembro de 2013

O sírio-galego samer nachawati rego expom a sua visom sobre o atual conflito neste país árabe a terra treme

SAMER NACHAWATI REGO / Paracompreendermos o conflito quevive a Síria desde já há quasedous anos e meio, é necessárioentendermos as causas que levá-rom o país à situaçom atual. Esta-mos num território com um regi-me totalitário desde o ano 1963,data em que o partido Baath as-sumiu o poder mediante um gol-pe de estado, derrogando assim ademocracia vigente na Síria na-quela altura. Dito partido, lidera-do pola família Assad, impujo umdoutrinamento sectário e ideoló-gico, que passava por eliminar aoposiçom política e religiosa. Ins-taurou-se um estado de excep-çom indefinido, que proibia reu-nions nocturnas e expressar-se li-vremente, entre muitos outrosdos direitos fundamentais. As tor-turas e o desprezo à vida da cida-dania fôrom e continuam sendouns dos pilares básicos desta tira-nia. Desde mui cedo, o governodos Assad afiançou umha fortealiança com a Rússia que perduraa dia de hoje e que está resultan-do chave para a sua supervivên-cia. Baixo lemas como “Ou Assadou ninguém” crescêrom geraçonsinteiras de rapazes e rapazas quetinham bem aprendido que ime-diatamente depois de Deus estavaal-Assad pai, e a continuaçom, al-Assad filho.

De nom ser polo financiamentoeconómico e de armas russo, o re-gime sírio teria caído em maos darevoluçom há já muito tempo. Aobsessom de Bashar al-Assaddesde que começou o conflito foisempre a de levá-lo cara a luitassectárias, onde o levantamentopopular fique assolapado porconflitos religiosos e étnicos. In-

vocando umha falsa conspiraçominternacional, a ditadura síriaconseguiu que umha revoluçompopular contra umha ditadura an-corada no poder desde há mais de40 anos derivara num conflito aescala mundial, onde as maiorespotencias jogam o seu papel.

Na Síria o governo nom é islâ-mico, o presidente nom leva bar-ba e quase se poderia considerarum regime laico, ainda que a po-pulaçom nom o seja. Por todo is-to, nom falta quem diga que o go-verno de Assad é de cariz socia-lista, mas isto deveria considerar-se como um insulto ao próprio so-cialismo, posto que oempobrecimento do povo sírioapenas é equiparável ao enrique-cimento dos seus governantes. Édoado também nestes dias topar-se com quem di que é melhor umregime laico que um possível fu-turo governo islâmico, mas de se-

guro que a gente que se atreve afazer este tipo de afirmaçons nomviveu a realidade síria. O terrorleva instaurado neste país maisde 40 anos, em cada saída à rua,em cada compra, passeio, absolu-tamente todo o que se figesse naSíria passava pola possibilidadede que um lacaio do regime, pormera diversom, decidira roubar-te, seqüestrar-te ou golpear-te atéa morte.

Contodo, na Rússia segue reco-nhecendo a sua férrea aliançacom um sistema arcaico que de-fende a soberania dumha soa fa-mília sobre todo um país. Mas nin-

guém protesta. Em mais de dousanos de financiamento militar eajuda económica, nom se convo-cárom manifestaçons e ninguémse alarmou pola intervençom im-perialista russa. Tam só no mo-mento em que EE.UU decidiu fa-zer famoso o conflito, o mundocomeçou a mirar cara à Síria. En-tom os socialistas mais simplistascomeçárom a escandalizar-se e aatacar a possível intervençom. In-tervençom que, de fazer-se bem,teria como objetivo golpear e de-bilitar o aparelho militar de As-sad. Mas parece ser que mais um-ha vez, enquanto o povo sírio é di-famado e a populaçom civil mas-sacrada, a Rússia e EE.UU jogama fazer acordos de paz, enganan-do o mundo como se firmar umacordo internacional fosse a re-matar com a tragédia síria. Jánom haverá intervençom, aquelesque protestárom e convocárom

manifestaçons podem estar tran-quilos, mas os sírios nom deixa-rám de morrer. Parece ser que apopulaçom mundial assumiu co-mo normal que o regime genocidade Assad acabe com a populaçomde todas as maneiras possíveismenos com as armas químicas,posto que assim o decidiu BarackObama no seu dia.

Com todo isto, Israel, a grandebeneficiária da situaçom, fomen-ta desde a sombra umha guerracivil indefinida que deixe o paísdestruído, conseguindo assimque um dos seus inimigos históri-cos se destrua a si próprio. Demomento a nenhumha das potên-cias mundiais lhes compensa quea guerra finalize, a Rússia eEE.UU botam um pulso tomandoa geografia síria como tabuleiro,de um jeito semelhante ao queocorreu no Vietnam. Israel vaiquedando sem inimigos, comEgipto, Síria e Líbia sumidos nassuas próprias crises internas.Irám nom pode permitir que As-sad caia, posto que é o único alia-do que tem na zona. Sem Assad,Irám queda soa em Oriente meio,e sem Irám desaparecerá rapida-mente Hizbulá, a guerrilha liba-nesa que manda extra-oficial-mente no país.

Ocidente tem que perceber quenada se vai solucionar enquantose permita que certos países con-tinuem alimentando o regime.Nom há só dous bandos. A cousanom é ser imperialista ou anti-imperialista. Nom por estar emcontra do imperialismo ianque setem que estar a favor de unha di-tadura totalitária que se declarainimiga de ocidente. As cousassom muito mais complexas.

conflito na síria: umha encruzilhada paraa solidariedade da esquerda internacional

o Governo dos assad afiançou umha forte aliança com a rÚssia que ainda perdura

só quando eeuu o decidiu, o mundo

mirou cara à síria

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13internacionalNovas da GaliZa 15 de outubro a 15 de novembro de 2013

Os resultados representam umha condenação das políticas deste governoalém minho

JOSÉ A. ‘MUROS’ / No anterior nú-mero do NOVAS DA GALIZA falamosdos habitantes originários do Sulque se mantivérom livres das inva-sons árias acontecidas na idade debronze e ferro no centro norte daÍndia. Agora toca falar de aquelesque vírom condicionados e cerca-dos por esta e outras civilizaçonsposteriores (Islam, civilzaçons cris-tiá europeia, chinesa....) que per-manecêrom como filhos da terraem permanente resistência contraaqueles invasores que pretendé-rom sempre o seu extermínio e as-similaçom, estamos a falar dos Adi-vasi. As distintas tribos do subcon-tinente indostano que mantenhemnos seus territórios ancestrais assuas próprias línguas, crenças, es-trutura económica, e um auto-go-verno que foi hegemónico juntocom a resistência aos invasoresfossem ários, mongóis, persas, chi-

neses, portugueses ou francesesaté o período colonial britânico.

As populaçons Adivasi som um8,6% dos habitantes da Uniom Ín-dia, sendo o estado com maior nú-mero de aborígenes (uns cem mi-lhons) do Mundo, pertencem a va-riadas famílias de povos e línguasque habitam a terra desde há maisde cinco mil anos: dravidas nomsurenhos (gondi, kui, kuruj, bra-hui-estes em Paquistám-, kolami,malto....), tibeto-birnamas (nordes-te) e Munda. Presentes em todo oIndostám e ilhas Andamam e Ni-cobar concentram-se, nomeada-mente, em dous cinturons popula-cionais, o do nordeste que recolhepovos aborígenes desde Bangla eAssam até a fronteira de Birnamia,e o do centro-sul da índia nos terri-tórios montanheses dos estados deChhattigarh, Orissa, Madhya Pra-desh, Jhardland onde tenhem de

fazer frente permanentemente aosdesejos de elites cobiçosas que osrodeiam e pretendem exterminá-los e espoliá-los com a ajuda dosestados e da Uniom Índia. Preten-dem as suas terras, os seus bos-ques e montanhas, os minerais,madeira, medicamentos e águaque nelas há; nom aceitam que es-tas gentes rejeitassem e resistam acivilizaçom hindu e o ImpérioMongol (introdutor do Islam no In-dostám) e aos seus descendentesos atuais estados de Índia e Pakis-tám. Nom soportam a ideia de queos avidasis rejeitem ser tratadoscoma escravos, que foi o negrodestino daqueles que aceitárom asubmissom e a incorporaçom à Ín-dia ária: os dalit, conhecidos nou-trora coma intocáveis ou as outrasraças baixas em que se divide a po-pulaçom hindu.

Os integrismos que excluem e

marginam os filhos da terra, reli-giosos ou desenvolvimentistas,utilizam todos o possível para sub-metê-los e assimilá-los ao estado,invocam deuses e formas de vida,patrioterismos e desenvolvimen-tismos vários, tentam impor viamilitar e policial a sua pax a povosexistentes a estes estados ou as ci-vilizaçons das que reclamam serherdeiros, envenena com o seuódio e preconceitos a umha classemedia tendente ao argumento dopoderoso. O objetivo destas elitesé o mantimento dum status quo

que exclui tanto com os avidasique se organizam e vertebram aresistência e proteçom das suasterras comunais e populaçons, co-mo com as populaçons dalits (16%da populaçom) e de castas baixasque se erguem contra os cobiço-sos proprietários e oligarcas exi-gindo reforma agrária, justiça so-

cial e poder popular, levantando-se por estas reclamaçons em todaa Uniom Índia e tomando-a defacto. Estes levantamentos, estaauto-defesa contra a injustiçanom som novos numha Índia on-de as elites sejam ocidentalizadasou falsamente piedosas tratavame tratam os pobres e nom assimi-lados coma objetos, muitas das re-belions contra este estado de cou-sas e pola emancipaçom das co-munidades populares e adivasidos anos 70 para aqui organiza-rem-se ao redor do movimentonaxalita. Este movimento, comorigens num maoismo popular, éde facto aglutinante de muitas dasluitas pola terra para o povo, polaliberdade e o direito a decidir dospovos indígenas, as mulheres, osoprimidos... baixo o seu guarda-chuvas e ajuda mútua organizam-se e sostenhem-se muitas iniciati-vas e auto-defesas populares quetentam rematar com as velhas in-justiças e ser donos de si.

as populaçons adivasi som um 8,6% dos habitantes da uniom Índiapovos

Adivasi, dalit e levantamentos naxalitas

ANDRÉ RODRIGUES / Os resulta-dos das Eleições Autárquicas dopassado dia 29 de Setembro emPortugal representam, entre vá-rios outros factores, uma conde-nação inequívoca das políticasdeste governo. Isso parece-nos in-desmentível. Os argumentos deque estas “não são eleições legis-lativas”, porque neste caso as pes-soas votam “em determinadoscandidatos” que por alguma razão“merecem a sua confiança”, e nãofundamentalmente em “funçãodos partidos” deve ser considera-do, mas parece-nos longe de serum factor essencial. Tal como aideia das “más escolhas” por partedo PSD. O essencial, estamos emcrer, é que o povo português deuum rotundo NÃO a esta políticacriminosa, que não resolve ne-nhum dos problemas do país eagrava os essenciais, lançandoum cada vez maior número depessoas na pobreza desamparadae sem esperança.

Num blogue que já tivemos a

ocasião de recomendar nesteespaço, o 5dias, o blogger Fran-cisco faz uma análise destes re-sultados que, por nos parecerbastante acertada, aqui citamoslargamente:

"O PSD e o governo sofrem umaderrota histórica em toda a linha.Perderam mais de 50 câmaras, obalanço entre o que ganharam eperderam é de menos 33 presi-dências de câmara. O PSD não ob-tém um mau resultado, obtém o

PIOR resultado da sua história …O governo perde a liderança daAssociação Nacional de Municí-pios (ANM) e a hegemonia quedetinha sobre os órgãos de sobe-rania eleitos."

Concordamos também as opi-niões expressas ibidem relativa-mente ao PS e à CDU: "O PSvence mas não convence … ven-ce em votos (mesmo somando osresultados do PSD e suas coliga-ções com o CDS) e em manda-

tos. Conquista também o maiornúmero de câmaras da sua his-tória. … Mas mesmo assim pare-ce não convencer, é que existemvárias perdas simbólicas rele-vantes e a magnitude da vitóriaé inferior à magnitude do desca-labro do PSD".

Porque razão isto se verifica?Cremos que os resultados obtidospela CDU – Coligação Democráti-ca Unitária (PCP/Verdes) ajudama explica-lo. "… A CDU/PCP foi aúnica força partidária que obtevemais votos em 2013 que em 2009,ganhou votos, Câmaras, manda-tos, etc." De facto, e ao contráriodo que muitos afirmaram, "estanão foi apenas uma vitória noAlentejo e na região de Lisboa. Naverdade a maior subida em votosda CDU foi no Norte … Sublinhoa relevância da reconquista deLoures, um concelho com mais deduzentos mil habitantes adjacenteà capital. … parece-me que sóuma organização com um profun-do conhecimento do que se passa

no terreno seria capaz de conse-guir farejar esta oportunidade."

Concordamos, pois, com esteautor, quando conclui, relativa-mente aos resultados obtidos pe-la CDU, que "O PCP consegue as-sim concentrar muito do descon-tentamento com o Governo e oPS troikista. Mas se (…) conse-gue fazer isso não é por acaso. OPCP conseguiu ao longo dos últi-mos anos efectuar uma renova-ção de quadros significativa,houve um rejuvenescimento nabase fomentado a partir do topo,basta olhar para actual bancadaparlamentar do PCP e para mui-tos dos candidatos que apresen-tou, a começar pela capital".

O descontentamento, por partedos portugueses, com esta políticaé claro, mas a urgência de mandareste governo para a rua, dissolvera Assembleia e convocar eleiçõesantecipadas não é, hoje, menor.Esse objectivo só a luta organiza-da e a unidade poderão consegui-lo. Isso passa pela jornada de lutado próximo dia 19, que nos levaráa marchar sobre as pontes de Lis-boa e Porto (25 de Abril e Infante),e na qual será indispensável mar-carmos presença.

Url para o texto do blog 5dias:

http://5dias.wordpress.com/2013/10/07/el

eicoes-autarquicas-as-suas-consequen-

cias-e-o-diagnostico-que-permite-da-si-

tuacao-politico-social/

a cdu/pcp foi a Única força partidÁria que oBteve mais votos

eleições autárquicas 2013 em portugal: alguns apontamentos

PreSiDÊnciaS De cÂMara

PSD PS PCP CDS Ind. Outros Total

2013 106 150 34 5 13 0 308

2009 139 132 28 1 7 1 308

2005 158 109 32 1 7 1 308

2001 159 113 28 3 1 4 308

1997 127 128 41 8 - 1 305

1993 116 127 49 13 - 0 305

1989 114 120 50 20 - 1 305

1985 149 79 47 27 - 3 305

1982 137 84 55 27 - 2 305

1979 174 60 50 20 - 1 305

1976 115 115 37 36 - 1 304

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14 dito e feito Novas da GaliZa 15 de outubro a 15 de novembro de 2013

dito e feito

o tecido associativo continua a traBalhar pese ao cese das ajudas municipais

OLGA ROMASANTA / De Palavea aMonte Alto, da Sardinheira aSam Cristovo: a cidade dosbairros começa curso, e fai-nocom força. Os espaços alterna-tivos da cultura corunhesaaquecem os fornos para umhanova fornada de aulas, confe-rências, concertos, recitais,apresentaçons e obradoiros.As ánsias centralizadoras donovo governo municipal aca-bárom com as ajudas às enti-dades que trabalham em prolda cultura de base, mas nomconseguírom coutar os fôle-gos de todo um tecido associa-tivo decidido a ofertar umhaprogramaçom democrática ede qualidade. À margem doque tentam vender as institui-çons, existe outra Corunha, eestá mais viva que nunca.

O CSO Palavea e o CS GomesGaioso som dous dos agentes cul-turais mais ativos neste outono.Os conflitos imobiliários nom es-tám a impedir que o centro socialocupado continue com a sua pro-gramaçom habitual, em que in-cluem roteiros de caminhadas, au-las de Hatha Ioga, e reciclagem in-formática, para além de concertose outras atividades pontuais. O lo-cal de Monte Alto, por sua parte,apresentou umha amplíssimaoferta formativa que vai desde asaulas de idiomas até o canto tradi-cional, passando pola massagemrelaxante, o solfejo, a fotografia, aediçom digital ou o xadrez.

Espaços para a memóriaAssociaçons centradas na recupe-raçom da cultura tradicional co-mo Donaire ou Xacarandaina somtambém importantes motores dedinamizaçom para a cidade. Paraalém dos trabalhos pola difusomdo património imaterial e das au-las de baile e música tradicionais,esta última entidade oferece aindaatividades variadas, tais como de-senho, pastel, aquarela, bailes desalom, ginástica de manutençom,encaixe de bolilhos ou guitarra.

O local da associaçom culturalAlexandre Bóveda é outro desseshistóricos espaços para a difu-som da tradiçom na cidade, eneste caso também para a memó-ria histórica. Combinam a ofertade aulas de baile tradicional,pandeireta e acordeom com as deteatro, ademais de programarem

apresentaçons de livros e proje-çons em que a identidade e o re-cordo som peças chave.

Onde as artes som de toda a gentePorém, o leque cultural é aindamais amplo. Existem outros espa-ços centrados na difusom das artescénicas, como o local da companhiaManicómicos, que anuncia ener-gias anovadas e umha intensa for-maçom teatral e circense para to-dos os públicos. Nesta linha, cum-pre também salientar o trabalho dedinamizaçom cultural do espaçomais novo da cidade: a Casa Toma-da. Como as próprias impulsorasassinalam, trata-se dum espaço deintervençom artística, autogerido esustentável, dentro da estaçom decomboio de Sam Cristovo. Ofere-cem atividades de lazer criativo vin-culadas às diferentes artes, assimcomo palestras de formaçom e pro-jeçons de cinema alternativo.

Estes espaços, junto com outroslocais privados mas de muito inte-resse para a vida cultural da cidade,

como o Café da Guiné ou a Casa daFarinha, conseguírom criar um ver-dadeiro circuito de arte e formaçomà margem dos círculos institucio-nais, assim como longe dos crité-rios consumistas e comerciais. O re-sultado: aulas a transbordar e muitoonde escolher cada semana. Apesardos cortes, da crise e das destruti-vas estratégias do Concelho.

A outra cultura da outra Corunha

entrevista a Xosé lois seiXo, vice-presidente da associaçom vicinal de monte alto

“As propostas culturais institucionais partem dum conceito de povo colonizado”Com que atividades contadespara este novo curso?Neste outono continuamos comatividades permanentes, como aEscola de Gaita, através da qualestamos tentando criar um grupode gaitas próprio da associaçom.Aliás, mantemos aulas que tivé-rom muito sucesso entre a vizi-nhança como as de informática eincorporamos ainda outras, co-mo a de Português. Junto com oClube do Mar, imos programartambém um curso de defesa pes-soal, sobretodo para mulheres.Para além disto, programaremostambém apresentaçons de livros,CDs, e outras conferências, quetenhem servido nos últimos anospara dinamizar um pouco a vida

do bairro. Contaremos tambémcom palestras do CHUAC, desti-nadas a pais e maes novas quequeiram conhecer a evoluçom fí-sica e psicológica das crianças,assim como sessons para pessoasidosas e outras que nos informemdos nossos direitos como usuá-rios do sistema público de saúde.

Sodes umha das associaçonsque leva mais anos a trabalharna Corunha. Percebestes mu-danças nestes anos?Há uns anos notamos umha bai-xa do número de pessoas sóciasporque muita gente tivo queabandonar o bairro e as pessoasde idade fôrom falecendo. Porém,agora o que percebemos é umha

incorporaçom importantíssimade gente moça que quer apoiar aassociaçom e ajudar à manuten-çom da Biblioteca. Somos porvolta de 750 sócios/as, e é graçasa estas pessoas que podemos tereste espaço de encontro socialaberto hoje. O que nom mudou éque continuamos sendo umhareferência para as pessoas quequerem denunciar as problemáti-cas da zona ou mergulhar na vidacultural do bairro.

Como avalias a situaçom cultural da cidade?O governo atual chegou com um-ha clara atitude de fagocitar todaa atividade cultural. Cortou aju-das a qualquer atividade cultural

e às próprias associaçom vizi-nhais. As propostas institucionaispartem dum conceito de coloni-zados, de país dependente: valo-rizam o de fora e todo está em es-panhol. A estas alturas do anoacordou-lhes convocar umhassubvençons para associaçons,mas é mui tarde e nom tenhemdemasiado critério. Isto o queprovoca é que, onde antes se ofer-tava atividade gratuita, agora agente tenha que pagar, e isto é umverdadeiro problema para umhacultura que pretende ser acessí-vel para todo a gente. As associa-çons temos que buscar mais a vi-da, mas o que fica claro é que naCorunha há muito movimentoapesar das instituiçons.

a ‘ocupa’ de palaveafunciona apesar dosconflitos imobiliários

existe um circuíto de arte e formaçomfora das instituiçons

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15a fundoNovas da GaliZa 15 de outubro a 15 de novembro de 2013

a fundo mariam ferreira e óscar a. pérez, expertos do âmbito florestal, analisam o fenómeno dos incêndios

MARIAM FERREIRA GOLPE E ÓSCAR

ANTÓN PÉREZ / Arde a Galiza.Umha e outra vez. Cada fim deverao um ronsel de novas so-bre lume no monte batem-nosde frente no jornal, na rádio,na Internet,... Porém, a Galizaarde muito e nom só no verao.26.000 hectares em médiaanual, o que representa, ade-mais, 50% dos incêndios flo-restais do conjunto do Estadoespanhol. O dado é estarrece-dor. No entanto, para além dapura lamentaçom pola sorteque corremos, evidencia quepadecemos um problema dedifícil soluçom. A elevada va-riabilidade de lugares, formase causas dos incêncios deixabem patente que estamosdiante dum problema estrutu-ral, como podem ser os aci-dentes de tránsito ou a sinis-tralidade laboral. E que, comocostuma acontecer nestescasos, poucas som as ideiaspara o remediar.

Pese a que se fala muito dos in-cêndios florestais e da sua causa-lidade, a nível geral prevalecemos tópicos com que se pretendedar respostas e que, como tais,nom fam mais que desviar a aten-çom para assuntos que em muitoscasos som irrelevantes para ofe-recer umha explicaçom fiável. Ocerto é que, depois de muitosanos de responder à atividade in-cendiária sempre da mesma ma-neira e com escassos ou nulosavanços, cumpriria perguntar-secriticamente que é o que falha epor que nom se estám a pôr as so-luçons adequadas acima da mesa.Com a ladainha da delinquência,o governo da Junta da Galiza nomfai mais do que tentar ocultar asua inoperáncia neste problemae, na maioria das ocasions, só re-pete consignas dirigidas a umhapopulaçom a que presumem ig-norante e que diante dumha si-tuaçom de emergência, requerrespostas rápidas, por irreais ouaventuradas que pareçam. Se aAdministraçom galega tem umregisto onde se sequenciam tem-poral e espacialmente os incên-dios florestais, onde se guardamdados sobre o perímetro, a super-fície e os danos causados, por queé tam difícil aceder a estas infor-maçons? Por que nom se elabo-ram planos de prevençom que te-

nham em conta estas sequênciaspara atalhar a problemática?

Estando em presença dum pro-blema estrutural como o dos in-cêndios florestais e tomando emconta a evoluçom que sofreramos incêndios nos últimos 25 anos,dá nas vistas como, aparte de fa-lar de delinquência, de inventartramas que ameaçam as institui-çons, a Administraçom galegapouco fai por mudar umha estra-tégia que cada ano medra maisem dotaçom económica mas nomem eficácia. Por volta de vinte ecinco anos aplicando a mesma re-ceita, está visto que o investimen-to em extinçom nom resolve oproblema. Se com todo o que setem gasto a área queimada nomse reduz, nom será hora de se mu-dar de políticas?

Há já tempos que se demons-trou que os incêndios florestaisna Galiza tenhem umha compo-nente histórica que as institui-çons políticas insistem em passarpor alto. Desde umha ferramentade trabalho a um instrumento derebeliom contra a usurpaçom domonte por parte do Estado fran-quista, passando polas mais va-riadas formas de conflito social, olume constitui um convidado ha-bitual no monte galego. Aindaque, evidentemente, nom da for-ma tam brutal e descontroladacomo na atualidade. O esvazia-mento do rural, um despovoa-mento que desvendou umha re-

conversom em toda a regra do te-cido produtivo da Galiza, contri-bui de modo definitivo para queos incêncios se propaguem semcontrolo. A equaçom é simples:Abandono + elevado crescimentoda biomassa (na Galiza é maiordo que no resto da Europa) damcomo resultado incêndios comumha virulência e propagaçomelevadíssimas.

Dá nas vistas tanta insistênciaem falar de delinquentes queprendem lume, sem procurarnengumha outra explicaçom,converte a totalidade das pessoasque participam na vida rural emsuspeitas de incendiárias. Podeser também umha estratégia. Co-mo se fijo com o terrorismo, apro-veitando as diversas manifesta-çons sobre o dano causado, joga-se com slogans procurando, emparte, que a gente se sinta amea-çada, desta vez polo lume, bus-cando o voto afirmativo ao endu-recimento penal que pouco ou na-da ajuda a atalhar o problema. Aomesmo tempo, denota umha ma-neira de evadir as responsabilida-des, entre outras, como a de or-denar os usos do território e em

fazer cumprir as próprias leis deque a Administraçom dispom pa-ra prevenir e controlar as proba-bilidades de desastre diante decatástrofes como os incêndios.

Por que arde o monte?Assumindo, portanto, a tese deque estamos diante dum proble-ma estrutural, falar de causas dosincêndios florestais torna-se um-ha tarefa árdua. Para qualqueranálise séria dum fenómeno co-mo este convém agrupar (pôr 'eti-quetas') que ajudem a distinguirdiferentes faces do problema.Evidentemente o monte arde por-que há lume. Mas o lume pode serfortuito ou intencionado.

Imos denominar lume 'fortuito'aquele que ocorre por causas na-turais: geralmente faíscas deriva-das de linhas elétricas, transfor-madores, raios, vidros, beatas,... Apercentagem destes incêndios naGaliza representa, aproximada-mente, 5-6% dos incêndios anuais.

Denominamos lume 'intencio-nado' aquele que precisa da maohumana para ocorrer. Dentrodeste podemos distinguir doussubtipos: O 'negligente' que acon-tece normalmente por despistes,porque escapa um lume dumhaqueima controlada, por umhamaquinaria que nom conta comos dispositivos anti-lapas,... e o'provocado', que é aquele incên-dio que precisa dumha mao que oprenda e o alimente, com o intuito

de fazer mais ou menos dano.Quando falamos do incêndio pro-vocado estamos a falar de aproxi-madamente 90% dos incêndiosque ocorrem na Galiza.

Sendo maioria os incêndiosprovocados pola mao humana, aAdministraçom galega porfia emdenominar de modo vago 'incen-diários' aquelas pessoas que in-tencionadamente prendem lume.De modo habitual e também pro-vavelmente interessado, os res-ponsáveis pola Junta da Galizacostumam chamar pirómano e in-cendiário indistintamente à pes-soa que prende lume. Este proce-der nom é mais que umha lamen-tável evasom de responsabilida-des. Um pirómano é umha pessoaque padece umha patologia clíni-ca que lhe fai desfrutar do espetá-culo incendiário. Estatisticamen-te os pirómanos na Galiza repre-sentam aproximadamente 5%dos incêndios totais, com o qualestamos dentro da média dos paí-ses circundantes e nom somos, aComunidade Galega, essencial-mente pirómanos.

Se excluímos entom os incên-dios 'fortuitos', os 'negligentes' eas patologias, ainda nos ficam85% dos incêndios sem explicar,e é aqui onde mediante as suasdeclaraçons, as/os responsáveisinstitucionais da política agráriada Galiza, denotam, por umhabanda, que nom sabem como ata-lhar o problema e pola outra, oque é bem mais grave, que nomtenhem a mais mínima vontadede o combater.

Dentro dessa percentagem tamelevada de incêndios provocados,cabe infinidade de causas: umconflito por um caminho, por um-ha linde, o denominado conflitointermodal (que se dá entre dife-rentes usos ou aproveitamentosdumha superfície), umha vingan-ça, umha forma de afastar o ma-tagal das zonas aproveitáveis,...Todas válidas e nengumha preva-lente sobre as demais. E nom se

Continua na página seguinte

só um 5% dos lumesestám provocados

por pirómanos

O 50% dos incêndiosdo estado tenhem

lugar na galiza

mariam ferreira e óscar a. pérez, eXpertos do âmBito florestal, analisam o fenómeno dos incêndios

Arde a Galiza: algumhas consideraçons

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16 a fundo Novas da GaliZa 15 de outubro a 15 de novembro de 2013

VERA-CRUZ MONTOTO / “Agradece-mos o esforço obstinado dosmeios contra-incêndios porminimizar esta catástrofe, pon-do mesmo em risco as suas vi-das para fazerem todo o possí-vel por salvar o espaço naturale os domicílios da nossa vizi-nhança”. Com estas palavrasde reconhecimento, a Associa-çom Monte Pindo Parque Na-tural aludia às brigadas flores-tais num comunicado emitidono dia seguinte do catastróficoincêndio que arrasou quase2.500 hectares de vida e de so-nhos no passado 11 de setem-bro. Falamos com um brigadis-ta galego, que nom quer reve-lar a sua identidade por temora represálias, sobre as condi-çons de trabalho em que secontextualiza este “esforçoobstinado”, e analisamos dedentro umha das dinámicasespeculativas mais criminal-mente enquistada no nossopaís: os incêndios provocados.

Umha das principais críticas quese fai da gestom da luita contra osincêndios na Galiza é que, dada amultiplicidade de empresas e or-ganismos públicos que participamnas tarefas de extinçom, é difícil

levar adiante unha açom verdadei-ramente coordenada. Como e porque se chegou a esta situaçom?Quando no ano 2009 chegou o PP,dizia que ia acabar com o “chirin-guito” do Seaga. Mas acabou pormanter o Seaga, por meter a Trag-sa, por privatizar as brigadas heli-transportadas através da empresaNatutecnia e, agora, por voltar aomodelo clientelar das brigadascontratadas através dos conce-lhos. A estas empresas haveriaque acrescentar-lhes as brigadas

fixas da Junta, os militares daUME (Unidade Militar de Emer-gências), Proteçom Civil e até osbombeiros. Num mesmo incêndiopodemos coincidir todos essesmeios fazendo o mesmo mas emcondiçons laborais diferentes. Oque verdadeiramente fai falta éum operativo único, público e pro-fissionalizado.

Com tanta instabilidade, qual foi logo a evoluçom destas condiçons laborais?

Em 2007 pola Junta cobrava-seuns 1.200 euros. Quando nos pas-sárom a maioria de nós para oSeaga, empresa de capital públicocriada polo bipartido, piorárom asnossas condiçons tanto laboraiscomo salariais. Quando tocou bai-

xar o salário aos funcionários, anós voltárom-no-lo a baixar. Aspessoas que trabalham para aTragsa ainda cobram menos e oscontratados polos concelhos es-cassamente chegam aos 800€.Podemos chegar a fazer até 12 ho-ras de trabalho diárias. Mas essasquatro horas de mais nom se pa-gam, compensam-se com dias li-vres sempre contabilizados à bai-xa; de maneira que acabamos porfazer horas pola cara. Eu tenhofeito dias de até 16 horas e haveráquem faga mais.

Mas com jornadas tam longas,estades em condiçons de vos enfrontar ao lume?Os excessos de horas implicamum perigo direto para os própriosbrigadistas. A mim tenhem-me

entrevista a um BriGadista anónimo do serviço de eXtinçom de incêndios

“Quando apagar lumes é um negócio,prendê-los também fai parte da trama”

“fai falha um operativoúnico, público e

profissionalizado”

“podemos chegar a fazer até doze

horas diárias”

“ao passar para aseaga piorárom asnossas condiçons”

Vem da página anterior

torna necessário recorrer à teoriada conspiraçom e deitar a culpa aavionetas que prendem lume ou acarros que de noite atiram bom-bas incendiárias enquanto pas-sam pola beira dum monte. Bas-tam as causas habituais e é im-prescindível nom se afastar muitodelas para saber onde buscar.

As consequências dos incêndios no monteA principal consequência dos in-cêndios florestais é a perda natu-ral que traz consigo. Todo o quese queima tarda muitíssimo tempoem regenerar-se. Pese a que o lu-me foi um instrumento empreguena cultura agrária tradicional ga-lega, este era manejado com cui-dado. Os seus benefícios consis-tiam na fixaçom de matéria orgá-nica, prévia mineralizaçom força-da que ocasionava o lume, e na in-corporaçom no solo de compostosquimicamente ativos procedentesdas cinzas. Contodo, o montequeimava-se em ciclos muito am-

plos. No Sistema Agrário Tradi-cional Galego se umha zona se re-novava mediante queima nom vol-tava a ser queimada até quinze,vinte ou trinta anos mais tarde.

Nengum dos incêndios dos últi-mos anos se realizou para melho-rar o solo ou os cultivos. E o seuemprego também nom se inscreveem nengum ciclo produtivo. Umincêndio florestal na atualidade éum problema ambiental e produ-tivo muito grave. A consequênciamais imediata é a perda de solo.Alguns investigadores da Univer-sidade de Santiago demonstráromque, em média, podem perder-se20 toneladas de solo por hectaredepois da passagem do lume.

Outra das consequências é a li-beraçom de dióxido de carbono naatmosfera, incidindo negativa-

mente nos fenómenos de aqueci-mento global e efeito estufa. Asplantas em geral e as árvores emparticular som consideradas su-midoiros de carbono, ou seja,aproveitam o dióxido de carbonodo ar e incorporam-no ao seu cres-cimento. O lume é umha reaçomexotérmica que traz consigo a oxi-daçom da matéria orgánica com aliberaçom de dióxido de carbono.O mesmo dióxido de carbono quea árvore fixara previamente e quevolta ao meio natural, dum modo,ademais, poluente e tóxico.

Um incêndio florestal interfere

no ciclo hidrológico, alterando acapacidade de interceptaçom e fil-traçom da água para o solo. A reti-rada da camada vegetal ocasionaum aumento de enxurradas quedeteriora os aquíferos e cursos deágua, ao mesmo tempo que pro-voca o incremento da erosom.

Finalmente, um incêndio flores-tal deteriora o património, em sen-tido amplo. Os montes galegoscomponhem-se, ainda hoje, de de-monstraçons da sua alta humani-zaçom. A ausência de florestas na-turais na prática totalidade do ter-ritório galego, di-nos que o monte

era umha superfície altamente tra-balhada. Além disso, o monte con-tém a biodiversidade, tanto de flo-ra como de fauna, umha biodiver-sidade já de por si necessitada deproteçom e que é seriamenteameaçada polos incêndios flores-tais. Por outra parte, nos montesgalegos existem ainda variadíssi-mos elementos que paga a penavalorizar e conservar. Um petró-glifo ou qualquer outra manifes-taçom de arte rupestre, um moi-nho, umha alvariça, um sequeirode castanhas, constituem algunsexemplos do património culturalque ainda resistem no monte ga-lego. A passagem das chamas de-teriora e pode mesmo apagar es-tes elementos que constituem um-ha parte muito importante do nos-so acervo cultural.

Algumhas propostas de futuroAs medidas políticas atuais de-monstrárom-se ineficazes: anoapós ano, repetem-se as estatísti-cas incendiárias com muito escas-sas variaçons. O serviço de extin-çom de incêndios conta com 90

as estatísticas damconta da ineficiência

das políticas da Junta

rosa Quintana, conselheira de Meio rural: “a dia de hoje a ninguém nestasociedade se lhe escapa que o monte arde porque se lhe prende lume”

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17a fundoNovas da GaliZa 15 de outubro a 15 de novembro de 2013

mandado a um incêndio nos últi-mos vinte minutos da quenda, de-pois de levar oito horas desbro-çando. Muitas vezes fazemos ho-ras de mais porque se gerem malas cousas. Por exemplo, quandomandam brigadas dumha provín-cia a outra, o tempo de desloca-mento incrementa as horas e osriscos laborais. Também se dei-xam quadrilhas fazendo horas ex-tras enquanto outras estám para-das ou desbroçando. No ano 2011,de maneira dissimulada, o Seagareduziu as quadrilhas. Passáromde 5 para 4 pessoas, reduzírom opessoal mas aparentando mantero mesmo dispositivo.

Depois de tantos milheiros dehectares queimados, é óbvio quesom vários os motivos polos quese lhe prende lume ao monte.Que aspetos salientarias?É difícil falar das causas dos in-cêndios intencionados, que som aimensa maioria, porque ademaisdos usos tradicionais, as vingan-ças e os lumes ocasionados por pi-rados, existe umha grande varie-dade de interesses económicos li-gados aos mesmos. Desde paraadquirir terrenos ou requalifica-çons urbanísticas - que fôrom li-mitadas por lei no seu dia, masque agora o PP pretende resgatar-, passando polos interesses de in-termediários da madeira - que pa-gam à baixa madeira queimada,

quando ainda nom perdeu peso,para a venderem às celuloses -; atéos benefícios diretos derivados daindústria dos incêndios, com cadavez mais empresas ligadas aos tra-balhos de extinçom, recuperaçome repovoamento de zonas queima-das. Também se tem falado de for-çar a colocaçom de parques eóli-cos, da produçom de biomassa,dos caçadores ou mesmo de usaros incêndios como jeito de influirnas campanhas políticas. Lamen-tavelmente o lume é muitas vezesum grande negócio.

E dos artefactos incendiários compequenos paraquedas que se te-nhem encontrado nalgunhas lei-ras, que se fala nas brigadas?Nunca vim artefactos deste tipomas sim sentim falar deles. É sus-peito que quase nunca se publiquenada ao respeito. Pode que nomse poda comprovar quem prendeu

o lume, mas sim a quem beneficia.Antes, a própria Junta falava detramas organizadas mas agora pa-rece que preferem falar de piró-manos isolados. Logo detenhempobres velhos aos que se lhes es-capou unha queima e conseguemum titular mediático para darunha falsa sensaçom de seguran-ça. A maioria de detençons sompor negligência. Nom se está de-tendo os verdadeiros responsá-veis, mas ao Governo interessam-lhe as fotos e os grandes titularesainda que seja à custa de pobresdesgraçados.

Umha hora de helicóptero anti-incêndios custa à Junta aproxi-madamente 6.000€. A de hi-droaviom mais de 4.000... Emque medida a privatizaçom daluita contra os incêndios propi-cia os lumes intencionados?Nom podo afirmar nada, mas nom

me estranharia que as empresascontratadas para a extinçom tives-sem algo que ver no incrementodos incêndios. Se apagar lumes éum negócio, prendê-los também.E quem mais cobram som preci-samente as empresas ligadas aosmeios aéreos.

Se é certo o dos artefactos in-cendiários, é evidente que esse ti-po de meios nom estám ao alcancede qualquer. Repito que nom te-nho prova de nada, mas os lucrosdestas empresas dependem do nú-mero de incêndios que haja, poisao final isso determina os seus fu-turos contratos.

Nom há incêndio televisado sema correspondente imagem daágua caindo da avioneta...Na minha opiniom o número demeios aéreos na Galiza é exagera-do. Som necessários, mas pensoque somos um dos países do mun-do com mais meios aéreos anti-in-cêndios e nom porque necessite-mos tantos, mas porque som osmais mediáticos. Quando eu tra-balhava nas brigadas helitrans-portadas tenhem-nos mandado aincêndios onde nom fazíamos fal-ta, só para saírmos nas fotos.

Os meios aéreos nom som efi-cientes para os incêndios notur-nos e, ademais, onde verdadeira-mente se apagam os lumes é emterra. Muitas vezes quando esta-mos em terra temos que parar aorematar a água das motobombase aguardar de braços cruzados atéque chegue outra. Talvez seriamais importante contar com maismeios neste sentido.

A gestom das quadrilhas heli-transportadas até há pouco erapública, mas agora som geridaspola Natutecnia. Junto com aInaer, a empresa que aluga os he-licópteros, conseguírom a conces-som para dous anos por um mi-lhom de euros num processo opa-co e cheio de irregularidades.

Continua sendo a prevençomumha matéria pendente?Sim. Infelizmente, é mais mediáti-co apagar que prevenir. Antes fa-ziam-se contrataçons no invernopara limpar pistas, mas neste anoobrigam-nos a fazê-lo ao mesmotempo que a campanha de incên-dios porque as ajudas da UE vamvinculadas a que cada quadrilhalimpe 5 hectares. Apesar de quepor cada 5 hectares a Administra-çom recebe 20.000€, esta tarefanom vém recolhida nos contratosnem se repercute no salário.

Para cumprir este condicionan-te europeu, neste ano obrigárom-nos a desbroçar no verao. Haveriaque fazê-lo no inverno, já que noverao os restos que deixamos po-dem funcionar como combustível.Ademais, desbroçando durante acampanha terminamos em outu-bro e quando começa o seguinteverao já cresceu todo outra vez.

“ao governo interessam-lhe osgrandes titulares”

milhons de euros anuais de orça-mento. Porém, as políticas tenden-tes a elaborar alternativas preven-tivas e produtivas disponhem demuito menos orçamento. E o graude cumprimento das medidas le-gislativas desenhadas para a pre-vençom é escasso, começando po-la própria Administraçom.

Muito se tem falado nestes diasdo ordenamento territorial. Trata-se, sim, dum instrumento necessá-rio. Mas há que dotá-lo de conteú-do. Ordenar o território é fugir aoatual status de abandono, mastambém questionar-se e reformaras estruturas fundiárias (da pro-priedade). Ordenar o território im-plica reformular o modelo agráriode desenvolvimento, classificar assuperfícies em funçom dos usosque queiramos dar-lhes, investigarsobre alternativas que podem aju-dar na prevençom de incêndios,dotar de infraestruturas, formulare desenvolver oportunidades deproduçom e trabalho para a genteque vive no rural, inventariar e va-lorizar os elementos patrimoniais.

A nível particular é preciso or-

denar o monte. Corrigir o abando-no. Dotar-se de instrumentos degestom que implementem medi-das de uso e aproveitamento dassuperfícies florestais. Um monteordenado conta com infraestrutu-ras e planeamento silvícola, assimcomo com um plano de preven-çom e defesa contra os incêndiosque reduz o impacto negativo daschamas. Um monte ordenado éum monte que se valoriza, poisconta com umha demarcaçom deusos e de aproveitamentos quepermitem planificar de antemao oque se pretende obter, as medidas

necessárias para levá-lo a cabo e aestimativa temporal para a conse-cuçom dos rendimentos. O montegalego nom só é madeira para atrituraçom ou a massa de papel.Nom deverám ser empresas comesta finalidade as que desenhem apolítica florestal da Galiza.

É muito importante traçar pla-nos alternativos de aproveitamen-to do monte, projetos piloto comque demonstrar às pessoas que omonte é um lugar atraente ondetrabalhar e desenvolver iniciativasque nom tenhem por que ser todasprodutivas, senom que muitas de-las podem inserir-se nas funciona-lidades sociais e ambientais.

E ainda reformular as medidasque tenhem por objeto proteger lu-gares emblemáticos. Umha figurade proteçom nom deve converterumha superfície num museu. Aoinvés, é importante que conte comos usos históricos e habituais dolugar onde se assinala. O próprioordenamento das culturas tradi-cionais, demanda por si só um ins-trumento de proteçom. É precisoque a gente que vive dentro dumhazona declarada de especial prote-çom desfrute da possibilidade detrabalhar e viver dentro desta figu-ra. A melhor forma de conservar opatrimónio é usando-o.

Por último, convém nom esque-cer-se da sensibilizaçom social so-bre o problema dos incêndios flo-

restais. A conservaçom dos espa-ços naturais, o desenvolvimentodo meio rural é umha questomque compete à sociedade. E estadeve possuir consciência do valorglobal que tem o monte, nom só ovalor económico. Nem tambémlembrar-se do monte exclusiva-mente quando arde. Os incêndiosproduzem-se, em grande parte de-vido ao abandono. Mas o abando-no nom é responsabilidade só dorural. Umha sociedade que vive decostas a este, é umha sociedade ir-responsável. Portanto, é um laborpartilhado por todas/os velar por-que o meio rural nom desapareçae preocupar-se dos problemas co-mo os incêndios florestais nom sóuns dias em agosto, quando o fu-me tinge de preto algo mais que océu das praias.

Mariam Ferreira Golpe é técnica

florestal e Óscar Antón Pérez

é engenheiro-técnico agrícola.

NOTA: A ortografia do texto, cujo original

seguiam as normas ILG-RAG, foi adapta-

da com a autorizaçom do autor e a autora.

“desbroça-se no verao para cobrar

ajudas da ue”

“O número de meios aéreos na

galiza é exagerado”

a extinçom contacom 90 milhons de euros anuais

Be

to

Membro da Unidade Militar de emergências(UMe) do exército espanhol

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18 a eXame Novas da GaliZa 15 de outubro a 15 de novembro de 2013

a sentença da audiência nacional abre a porta a aplicaçom de toda a legislaçom de exceçom em matéria “antiterrorista”a eXame

RAUL RIOS / Os advogados da defe-sa dos quatro condenados acabamde anunciar que interporám umrecurso de cassaçom junto do Tri-bunal Supremo (TS) para pedir anulidade do julgamento, ao enten-derem que foi violado o direito àdefesa dos acusados. No caso de oTS nom aceitar o referido recurso,a sentença passará a ser firme,com o que ficaria demonstrada ju-dicialmente a existência da 'Resis-tência Galega'. Para que se crie ju-risprudência, ainda teria que seproduzir umha outra sentença fir-me provando a existência dumhaorganizaçom terrorista na Galiza(duas no total); isto é, outra sen-tença que condene outros acusa-dos por "pertença a organizaçomterrorista", que seja recorrida noTS, e que esse recurso seja nova-mente rejeitado.

CriminalizaçomDaquela, quem poderia ser acusa-do de terrorismo se fosse declara-da firme a sentença? Responder aesta pergunta nom é simples. Fer-nando Blanco, da Esculca (Obser-vatório para a Defesa dos Direitose Liberdades), explica que o artigo576 do Código Penal espanhol es-tabelece umha definiçom "amplís-sima" de colaboraçom com estesgrupos. "É um artigo em forma denumerus apertus, de lista aberta,que sanciona com graves penasumha série de atividades que con-sidera de cooperaçom com o ter-rorismo"; o que, em palavras dolegalista, permitiria "senom a con-denaçom, a mui facil criminaliza-çom por qualquer atividade mes-mo puramente ideológica que seconsidere de apoio a essa fantas-mal organizaçom terrorista". Or-ganizaçons de apoio a pessoaspresas ou de denúncia da tortura,exemplifica, poderiam a dada al-tura ser criminalizadas.

Nom é necessário realizar um-ha atividade constitutiva de "infra-çom penal" para ser condenadopor "colaboraçom" ou "integraçomem organizaçom terrorista". Asentença da Audiência Nacional(AN) deixa-o claro: "A pertença

[…] nom significa necessariamen-te a participaçom nos atos violen-tos característicos desta classe dedelinquência", pois é possívelapreciar tal pertença, segundo otexto da AN, "quando se desenvol-vem outras funçons diferentes,como consequência da reparti-çom de tarefas própria de qual-quer organizaçom".

Relatórios policiaisSe nom é necessário cometerqualquer ato violento nem mes-mo ilegal, de que depende queumha organizaçom ou pessoaseja acusada de terrorismo? "Es-tamos numha matéria em que osrelatórios dos corpos de segu-rança som considerados comoprovas periciais", explica Fer-nando Blanco. "Serám estes rela-tórios que iniciem procedimen-tos assinalando organizaçonspor feitos que podem ser pura-mente legais, mas que essas fon-tes entendem que vam encami-nhados a umha ajuda de qual-quer género [à "organizaçom ter-rorista"]", o que levaria à suspen-som cautelar ou definitiva dasatividades do coletivo que for.

Tanto Fernando Blanco comoBorxa Colmenero, advogado dadefesa, concordam em que a deci-som de acusar umha determinadaorganizaçom ou pessoa fica nasmaos da "arbitrariedade" dos cor-pos de segurança espanhóis. Ofacto de considerar provada judi-cialmente a existência da 'Resis-tência Galega', permite aos pode-res do Estado contarem com um-ha “estrutura terrorista” em queimplicar, através de eventuais re-latórios policiais, tanto organiza-çons como indivíduos ainda care-cendo de provas materiais de co-missom de delito. “Poderiam levaradiante atuaçons judiciais contra

aquelas pessoas com responsabi-lidades orgánicas nos diversos co-letivos, partidos políticos ou asso-ciaçons, segundo entendem asforças policiais que “complemen-tam” a suposta estratégia de sub-versom da ordem constitucional”,opina Colmenero.

A diferença entre a acusaçomde "pertença" ou "colaboraçomcom organizaçom terrorista", paraas quais se contemplam penas di-ferentes, também depende do cri-tério dos informes policiais. Paraser acusada de pertença, umhapessoa ou umha organizaçom temque fazer parte do "organigramada banda" debulhado polos corposde segurança do Estado, enquantopara ser acusada de colaboraçombasta simplesmente, valha a re-dundáncia, “colaborar” com ossupostos fins da organizaçom,ainda sendo de forma alheia à ale-gada estrutura da mesma. Os finsou elemento tendencial que esta-belece o Código Penal espanhol

para definir umha "organizaçomterrorista" é a "subversom da or-dem constitucional". "Isto é peri-goso", explica Fernando Blanco,"porque permite aproximar con-ceitos ideológicos que proponhamsistemas alternativos à ordemconstituída a atuaçons finalistica-mente coincidentes com o queeles considerarem ser terrorismo".Isto é, permite criminalizar coleti-vos pola sua ideologia –contráriaà ordem constitucional atual–com independência de comete-rem ou nom algumha acçom jul-gada delito.

Anos de cadeiaAs sançons para as pessoas assi-naladas polos relatórios policiaispodem ser, segundo o Código Pe-nal, dentre oito a quinze anos decadeia, no caso de “dirigentes” ou“promotores”, e de seis a catorzeanos, no caso de “membros da or-ganizaçom”. Além disto, caberiaacrescentar as possíveis multas eanos de inabilitaçom. No caso da-queles que os corpos policiais as-sinalem como “colaboradores”, apena de prisom poderia ir desdeos cinco até os dez anos.

Que se dê este cenário nom éseguro, mas sim possível. Nom

se pode adiantar se a sentençaserá definitiva até que o TribunalSupremo espanhol se pronunciesobre o recurso apresentado. Is-to poderia demorar até a primei-ra parte do ano 2014, segundoexplicam fontes da defesa, já queé possível que haja um outro jul-gamento de cidadaos galegosque sejam também acusados de“terrorismo”, polo que os magis-trados poderiam aguardar pararesolver ambos os recursos jun-tos -no caso de existir recurso dadefesa também neste segundojulgamento-. Ainda menos se po-de adiantar, se for ratificada asentença polo TS, quais vam seras consequências para os ativis-tas dos movimentos sociais pró-ximos ao nacionalismo. O que éseguro é que essas consequên-cias nom dependerám necessa-riamente de delitos concretos,mas das teorias descritas emeventuais relatórios policiaisconsiderados provas periciais eque, por sua vez, dependerámdos interesses políticos do Esta-do. Um Estado que, após os tri-bunais “provarem” a existênciadumha “organizaçom terrorista”na Galiza, terá via livre para cri-minalizar um pais inteiro.

os relatórios policiais som considerados provas para acusar alGuém por “pertença” ou “colaBoraçom”

Quem pode ser terrorista?

as condenas por “terrorismo” vam dos 5aos 15 anos de prisom

“a ‘pertença’ nom implica participar de atos violentos”

A sentença da Audiência Nacional que condena por "participaçom em organiza-çom terrorista" quatro cidadaos galegos considera provada pola primeira vez aexistência dumha dita "organizaçom terrorista" na Galiza, que se denominaria 'Re-sistência Galega'. O total das penas ascende a 56 anos de prisom, somando outrasacusaçons. Caso a sentença seja firme, em que situaçom jurídica ficaria o movi-

mento social? Que associaçons ou pessoas se poderiam ver acusadas por terro-rismo? Que atividades? O cenário, segundo apontam fontes da defesa legal dosacusados, seria similar ao que ainda existe em Euskal Herria, podendo ser aplicadatoda a legislaçom de exceçom em matéria "antiterrorista" contemplada no CódigoPenal espanhol tanto a pessoas como a partidos ou coletivos de qualquer tipo.

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19palestraNovas da GaliZa 15 de outubro a 15 de novembro de 2013

palestra Qual é o lugar dos homens na luita feminista?

Nos últimos tempos vimos questio-nando-nos e refletindo bastante so-bre qual deve ser o lugar dos homens

na luita feminista. Estou convencida de queisto responde à necessidade de articular ocrescente interesse dos companheiros naluita e que o próprio facto de estarmos a dareste debate é um enorme passo no fortaleci-mento do movimento.

A luita feminista é a mais revolucionáriadas que podemos empreender, porque nomsó persegue mudar as condiçons materiaisda vida das pessoas, as relaçons de poder ouo sistema sociopolítico. A luita feministapom em causa o conjunto da sociedade emque vivemos, capitalista e patriarcal, e dis-pom para umha luita política que passa pordesconstruir e desaprender todo o que cre-mos ser para nos construirmos doutra ma-neira, a nós, ao nosso entorno e às nossasrelaçons. As mulheres, protagonistas da luitapola nossa emancipaçom organizamo-nos,tecemos alianças e criamos espaços própriosde auto-organizaçom. Num contexto em quesomos permanentemente agredidas, polosistema económico, polos meios de comuni-caçom social, polas leis, polos estereótipos,pola linguagem sexista, pola violência estru-tural e pola violência verbal e física defende-mos esses espaços nom só por ser a conquis-ta da nossa auto-organizaçom como movi-mento mas também porque som espaços desegurança construídos à base de confiança,afinidades e sororidade em que podemos fu-gir às lógicas que operam na sociedade esentirmo-nos mais livres.

Mulheres e homens recebemos diferenteeducaçom e a sociedade situa-nos em posi-çons diferentes em funçom dos roles quenos atribui, e a partir dessas posiçons esta-belecemos as nossas relaçons. Por isso, oscomportamentos mudam em espaços nommistos e por isso continuam a ser necessá-rios. Som umha forma de resistência quenem sempre estamos dispostas a negociarcom os companheiros de luita, porque con-tinuamos a viver e a sentir a necessidade

dessa segurança. Demasiadas vezes o deba-te sobre a participaçom dos homens no mo-vimento feminista acaba por questionar es-ses espaços e em lugar de falarmos sobre anecessidade de criar novas alianças e estra-tégias de participaçom conjunta, as feminis-tas vemo-nos obrigadas a defender a auto-organizaçom do movimento.

Existem grupos de companheiros que tra-balham no feminismo dumha perspetiva ne-cessariamente diferente à das mulheres, polaposiçom social que ocupam, pondo em causao rol que o sistema patriarcal lhes atribui, tra-balhando sobre as masculinidades, sobre osestereótipos, sobre o género. Começam a pôrem comum o que as mulheres levamos déca-das fazendo: analisar a lógica patriarcal queopera a todos os níveis sobre nós e subvertê-la. Da partilha que figermos das nossas res-petivas análises, virám umha análise comume estratégias partilhadas.

A luita feminista nom é fácil, as mulheressabemo-lo bem, os espaços comuns terámque ser umha conquista e vam requerer umforte trabalho por parte de quem esteja dis-posto a juntar-se a ela. Mas enquanto forempostos em causa os espaços nom mistos, osmotivos para a sua existência continuarámpresentes. Que nom cedamos os nossos es-paços próprios nom significa que nom traba-lhemos em novos espaços mistos em queavançar na luita feminista sem renunciar anada mas avaliando coletivamente se quere-mos ou nom começar a revisar o sujeito polí-tico em base ao qual levamos décadas encon-trando-nos e luitando as mulheres, exploran-do a potência que essa redefiniçom pode terpara somar mais e mais companheir@s à lui-ta. A umha luita que iniciamos e lideramosas mulheres mas que tem que ser de tod@s.

Pola autoorganizaçomda luita feminista

Ximena González

Parece ser que hoje se entendecomo verdade universal quetodas as pessoas som bem-vin-

das ao movimento feminista, mas narealidade é difícil chegar a um con-senso a respeito da "quantidade" devoz que deve ser permitida aos ho-mens no feminismo.

De partida, poderíamos julgar que apresença masculina em ambientes fe-ministas pode ser bastante positiva,mas considero que, para os homenspoderem participar da luita feministaao nosso lado, é imprescindivel atransformaçom masculina, e esta nompassa porque um dia saiam atrás dum-ha faixa polos nossos direitos, nempor darem um tom mais grave aosnossos berros nos alto-falantes.

Acredito, defendo e trabalho naaliança entre homens e mulheres paraumha mudança social, mas nem porisso deixo de ter em consideraçomque vivemos inseridas num sistemapatriarco-capitalista -sistema no qualas mulheres somos socializadas paranos sentirmos inferiores e constante-mente desimportantes, enquanto oshomens som educados para se senti-rem qualificados e merecedores por"direito". Eles sentem-se livres e am-parados por esta sociedade para ridi-cularizar ou deslegitimar e esta reali-dade acaba por instaurar como normaa intimidaçom masculina-patriarcal,intimidaçom que o feminismo leva dé-cadas a combater.

Neste ponto do debate, sempre es-cuito fortes vozes a relatarem casosindividuais de homens que conseguí-rom escapar à misoginia social, do se-xismo, do machismo e em geral de to-da a alienaçom genérica a que fôromsubmetidos desde o seu nascimento.Realmente, quero acreditar, mas aindaassim, pensar individualmente nomresolve um problema social que temos seus alicerces na opressom de um

género polo outro. As mulheres necessitamos apoiar-

nos mutuamente, necessitamosaprender a berrar e a nom ter vergo-nha das nossas ideias.

A contribuiçom masculina nom de-ve ser a da sua participaçom e, portan-to, protagonismo nos espaços de de-bate e de luita das mulheres; deve irna coragem de levantarem a voz paradebater em espaços masculinos ondeo machismo é constantemente refor-çado ou reproduzido. Aí, onde as mu-lheres temos mais dificuldade de nosfazermos ouvir, é que os homens de-vem debater e atuar; porque, quandoa sua participaçom se baseia em que-rerem pautar o movimento, é quaseimpossível continuarmos a ver o ho-mem como aliado, pois todo se tornademasiado semelhante à sociedadeque nos rodeia, a esta sociedade ondeeles falam e nós acatamos.

Nom estou a fazer um apelo à de-sídia e ao desinteresse nas luitas fe-ministas, e sim a um verdadeirocontributo masculino para com estemovimento. Assim sendo... Bem-vindos aliados!

a luita liderada polas mulheres tem que ser de todas e de todos

Sem ter vergonhados nossos berros

Lara Soto

para os homens participar da luita feminista resulta imprescindível a transformaçom masculina

nom fago um apelo ao desinteresse nas luitas feministas

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20 em anÁlise Novas da GaliZa 15 de outubro a 15 de novembro de 2013

em anÁlise

ANA QUINTIÁ / É possível afirmarsem medo a trabucar-se que nun-ca nas últimas décadas a extrema-direita tivo a presença pública,nem no quantitativo nem, já ago-ra, quanto à apariçom como algovivo, de que goçou no último mês.Desde o ataque orquestrado polaplataforma fascista 'La España enMarcha' numha delegaçom da Ge-neralitat catalá em Madrid, a im-prensa comercial e sistémica tem-se feito porta-voz dumha certaalerta social, que se teria ligadologo das 'impactantes' imagens.Mais umha vez, na esteira dos ca-beçalhos dos jornais, o estadoanuncia estar a 'valorizar' a 'possí-vel' ilegalizaçom de algum dosgrupúsculos em que a extrema-di-reita espanhola se organiza. 'Aber-tas as diligências' pola procurado-ria, a progressia mais legalista einstitucionalista fica contente, ede volta ao poder se pode, permi-tirá apagar o foco da atençom me-diática. Logo, via livre para voltarao carreiro habitual e mais cincoou dez anos de invisibilidade daviolência fascista, mas impunida-de para os seus autores.

Impensável seria qualquer umoutro agir por parte dum estado, oReino da Espanha, que ainda é ho-je o dia em que, para além de man-ter fechado e a escuras o assassi-nato em massa simultáneo e pos-terior à guerra de 1936-39, conti-nua a brindar proteçom e exquisitotratamento para os seus mercená-rios frente à justiça própria e forá-nea. O caso mais recente e exage-rado, o dumha Procuradoria do Es-tado espanhola que se posicionacontra a extradiçom à Argentinade dous torturadores contra os queum julgado do estado americanocursou ordem internacional debusca e captura. Acusados de cri-mes contra a humanidade duranteos últimos anos do regime fran-quista e os da chamada 'Transi-çom', os dous agentes espanhóis -um 'guardia civil' e um polícia daBrigada Político-Social- que conti-nuam vivos dos quatro reclamadospola justiça argentina goçam ago-ra, após décadas em que pudéromcontinuar a ascender nos corpos

armados sem entraves, dum últi-mo favor protector por parte dopoder ao que serviram.

Franquismo, constitucionalidade:mesmo estado, mesma violênciaA linha de impunidade para os la-caios mais brutais da 'razom deestado' é longa e sem fissuras.Nom podemos considerar casua-lidade o jeito em que nas últimassemanas viamos posta em cenatambém a eficácia dos mecanis-mos de reinserçom da política pe-nitenciária para determinadospresos. Neste outono o general daGuardia Civil espanhola Rodrí-guez Galindo, chefe na 'rede ver-de' dos GAL, recebia a notícia dese atopar já em liberdade provisó-ria. O militar, um dos rostos des-tacados do terrorismo de estadoespanhol contra a esquerda'abertzale', fora condenado noano 2001 a setenta e cinco anosde cadeia polos sequestros, tortu-ras e assassinatos dos militantesde Joxean Lasa e Joxi Zabala.Torturas e assassinatos ocorridos,a olhos da justiça espanhola, co-mo um 'delito convencional'. Opapel estrutural do quartel de In-txaurrondo dirigido por Galindonesses e outros crimes nem sónom piora a condena, mas é polacontra a razom efetiva de que abrutalidade do militar e seus su-

bordinados lhe custasse só quatroanos de cadeia e um leve terceirodegrau penitenciário desde 2004.

E mais um caso aberrante é oconhecido após do ataque à livra-ria catalá Blanquerna na capitalespanhola coincidindo com umato institucional pola Diada. Ape-nas dias depois, tinha-se conheci-mento de que um dos atacantes,curmam do ministro espanhol deDefesa e concunhado da secretá-ria-geral do Centro Nacional deInteligencia, achou a mesma boafortuna. Condenado em 2006 jun-to outros três fascistas por acumu-larem explosivos e pistolas paraatacarem auto-carros de familia-res de presos políticos bascos, se-gundo afirmaram, Iñigo Pérez deHerrasti Urquijo e a sua equipadesfrutam há já um tempo de li-berdade. Como ele, Pedro PabloPeña, militante também e porta-voz da organizaçom Alianza Na-cional e que poucos dias depoisafirmava em televisom que “se éprecisa la luita armada, luita ar-

mada. Nom vai cindir-se um terri-tório espanhol da Espanha semhaver sangue”. Tiver quanto tiverde certa a ameaça, é mais umexemplo claro da sensaçom deimpunidade com a que a extrema-direita se move e de quanto à von-tade se sentem frente ao aparelhopolicial-judicial espanhol.

Acumulaçom de ‘anedotas’No entanto, na Galiza, onde a pre-sença da extrema-direita militan-te e externa ao Partido Populartem sido historicamente residual,tenhem sido cargos eleitos dessepartido os encarregados de, talcomo desde esse sector costu-mam dizer, 'abrir feridas'. Já nocomeço de agosto era o alcalde deBaralha, Manuel González Ca-pón, o que sentenciava sobre as eos assassinados polo régime na-cional-católico que “os que foramcondenados a morte seria porqueo mereciam”. A polémica lançadaaos média, nem só de ámbito ga-lego, mas de todo o estado, manti-vo-se ao longo do mês do verám,e até começos de setembro, comas petiçons de demissom a chove-rem desde os partidos 'progressis-tas' e de esquerda até diversos co-letivos pola recuperaçom da me-mória histórica e polo julgamentodos crimes contra a humanidadedo franquismo.

O caso é que a cúpula do Parti-do Popular, apesar de condenasformais do franquismo e postasem questom das palavras do seufiliado, nem desautorizou nem re-tirou do cargo a este. E ao carrosubia-se em setembro Senén Pou-sa, alcalde de Beade, que fachen-deava em entrevista de que “nin-guém no Partido Popular me re-criminou nunca por honrar o fran-quismo”. O político é um velho co-nhecido dos movimentospopulares galegos, e em especialdo independentismo que duranteanos boicotou os serviços religio-sos católicos no 20 de novembroem homenagem ao ditador Fran-cisco Franco que Pousa organiza-va para fascistas chegados de todoo território ocupado por Espanha.

Mais umha vez, as respostas dedistintos mandatários do PartidoPopular flutuavam entre umha tí-bia 'incomprensom', 'desacordo'ou a reduçom dos pronunciamen-tos fascistas dum dos seus caci-ques na comarca do Ribeiro a“unha decisom pessoal”, em pala-vras de Alfonso Rueda. O própriosecretário-geral do PP na Comu-nidade Autónoma Galega eraquem ainda de amosar umha vira-volta dialéctica mais arriscada. Asabotagem bombista contra o edi-fício da câmara municipal de Bea-de na madrugada do passado 7 deoutubro “nom tem a ver em abso-luto”, para Rueda, com o conti-nuado exercício de justificaçom eexaltaçom do masacre e regimefascista de que levam décadas afazer gala membros do seu parti-do. Mais umha vez, ouvidos sur-dos para as exigências de justiça.

novos e velhos franquistas lançam proclamas violentas sem reparo alGum

Três imagens da impunidade fascista

torturadores policiaisde distintas etapas

tenhem recebido tratoesquisito dos tribunais

A posta em questom pública das práticas de tortura e assassinatos de estadodurante a ditadura fascista espanhola vem experimentando um ressalto nosúltimos messes. Pronunciamentos fascistas de cargos eleitos do Partido Po-pular, ambigüidade quando nom suporte por parte das cúpulas do mesmo,agressons fascistas a plena luz do dia... tenhem posto o nacionalismo espa-

nhol de extrema-direita diante dos focos televisivos e nas manchetes dos jor-nais estatais. As feridas fechadas em falso com o pacto entre elites da 'Tran-siçom' supuram mais ao tempo que as costuras -o consenso sobre a monar-quia, os corpos policiais ou o 'estado de autonomias'- desse acordo parecemabrir mais do que nunca o tinham feito desde 78.

pp trata de ‘pessoais’as inclinaçons

fascistas de militantes

a imprensa simulasurpresa diante

da ‘nova’ realidade

a casa consistorial de Beade, governada desde o franquismo polo fascista declarado Senén Pousa ficou inutilizável tras a deflagraçom dum artefato explosivo

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21crónica GrÁficaNovas da GaliZa 15 de outubro a 15 de novembro de 2013

media

XOÁN R. SAMPEDRO / A ‘Contrapoder.info’é umha revista de interpretaçom e aná-lise com prisma soberanista e socialis-ta que já tem 10 meses de vida. Nesteqüestionário o seu coletivo editorialanalisa algumhas das escolhas de mé-todo e de conceito.

Como e com que objetivos surge o projeto da Contrapoder?A Contrapoder nasce como um projetocomunicativo digital, com o objetivo deajudar a desenvolver o discurso sobera-nista e socialista no País. A finalidade éfazermo-lo de modo aberto, deixando àmargem as disputas puramente partidis-tas e centrando-nos nas qüestons de fun-do nessas coordenadas: marxismo e so-berania nacional. Trata-se de realizarumha interpretaçom do contexto, forne-cendo análises e ferramentas que aju-dem a ultrapassar o habitual relato jor-nalístico dos média maciços, tam alheioaos nossos interesses. Para nós, a comu-nicaçom necessita ser popular e militan-te, no sentido de contribuir para gerarcontrapoder “de e desde” os movimentospopulares, e nom só “por cima” deles. Eiso nosso objetivo.

Como se conforma e funciona o coleti-vo editorial de Contrapoder.info?Funcionamos horizontalmente, com divi-som de tarefas, mas ao mesmo tempotentamos tomar coletivamente as deci-sons que afetam o meio. Isso é possívelgraças à internet, que nos permite ir tra-balhando, tendo em conta as limitaçonsque temos polos nossos trabalhos e polasnossas militâncias, com o que isso signi-fica quanto à disponibilidade e quanto àdificuldade para darmos continuidadeao projeto da forma de que gostaríamos. Quanto ao material, fazemos uma plani-ficaçom semanal de conteúdos e sobreisso vamos adicionando opiniom de co-laboradoras e outros artigos exigidos po-la atualidade. Ademais, incorporamostambém traduçons e compilaçons, ativi-dade editorial também nas redes sociaise até, ainda que em menor medida, dese-nho de propaganda visual.

A vossa aposta nasce à partida comorevista digital, e nom como portal denotícias. Que vantagens e desvanta-gens tivestes em consideraçom para es-colher um formato e nom outro?A vantagem é que o formato revista nospermite desenvolver os temas com maisvagar, e tomar tempo para analisar a si-tuaçom, em lugar de apenas noticiar osacontecimentos. O cerne da qüestom es-

tá na capacidade de interpretar o quadroem que se dam os acontecimentos e rela-cioná-los dialeticamente com processossocioeconómicos e históricos, à procuradas contradiçons, e isto é muito maissimples de fazer num formato como oque escolhemos. O trabalho jornalísticoprimário, mais “de campo”, por assim di-zer, já está a ser feito por organizaçons emovimentos populares através doutrosórgaos comunicativos, que nom aspira-mos a substituir em caso nenhum. Doutra parte, é certo que existe satura-çom mediática e bombardeamento con-tínuo de novas. O Contrapoder nasce li-gado a conjunturas e processos, fugindodessa lógica do “consumo” de informa-çom. A incidência social é menor com es-te formato, mas responde a outro tipo deleitura, que é o que procuramos.

Nascedes na rede, mas vedes que ficaalgum espaço e algumha funçom paraas ediçons físicas na informaçom? Polavossa parte, pensastes ou pensades nal-gumha publicaçom em papel (dossiês,compilaçons periódicas...) que comple-mente o digital? O futuro é dos meios digitais, sem dúvi-da. Mas é claro que há espaço para asediçons em papel, porque esse futuroainda nom se totalizou e é mui difícil quevenha a anular completamente o formatopapel. Ainda mais: em muitas partes domundo continua sendo pouco habitual ainternet, e por isso a imprensa militantecontinua a ser maioritariamente em pa-pel. O mesmo acontece com determina-das camadas da nossa populaçom. Porisso, da nossa parte também avaliamos a

possibilidade de algum tipo de ediçom fí-sica. Mas somos um meio no seu primei-ro ano de vida. Necessitamos tempo paranos consolidar antes de assumir outrosdesafios.

É curioso, numha época em que até mé-dia empresariais tradicionais tendem aisso, nom dispordes de um espaço paraa publicaçom das leitoras e leitores. Oque vos levou a descartar esse modelo?Há outros mecanismos que vos tenhamem contacto com a audiência?As leitoras podem participar no projetoatravés dos seus comentários nos arti-gos, mas hoje esse tipo de participaçomfai-se fundamentalmente nas redes so-ciais, que criam uma “ilusom de partici-paçom” que se autolegitima mediante in-quéritos, comentários, “likes”, etc., en-quanto a realidade é que a comunicaçomestá cada dia mais monopolizada e os de-bates na internet raramente vam além decontraposiçons destrutivas de ideias on-de nada sai em limpo. Por isso, nom des-cartamos um modelo de participaçommais intenso através da secçom de opi-niom ou doutras. Mas, como na perguntaanterior, necessitamos tempo para nosconsolidar antes de ir além.

Que análise fazedes do panorama dosmédia galegos? E nomeadamente dosmédia 'críticos', 'alternativos',... os nomsistémicos.É claro que tudo pode ser melhorado, masachamos que há uma boa percentagemde média nom sistémicos, desde o próprioNOVAS DA GALIZA a rádios comunitárias,blogues especializados, etc. Outra cousaé que as alternativas tenham um públicoreduzido, comparativamente às grandescorporaçons, que respondem a outros in-teresses, ou que tenham tendência a imi-tar os códigos dos média convencionais,pouco úteis do ponto de vista de classe.Isso explica em grande parte a situaçomsocial que temos acima da mesa.

entrevista ao coletivo editorial do diGital 'contrapoder.info'

“O objetivo é contribuir para criar contrapoder a partir dos movimentos”

notas de rodapé

anova proprietária da FENOSA, as Águas deBarcelona, já transferiu os arquivos da em-

presa fundada por Pedro Barrié no ano 1943 pa-ra os seus arquivos em Sabadell. Que importamos resultados das sondagens geológicas e pro-vas sísmicas realizadas ao longo de quase todasas bacias fluviais da Galiza pola FENOSA? Somumha informaçom que pertence por direito aoPaís, paga polos sacrifício dos seus rios e polosrecibos da luz recrescidos em 50% pola Ditadu-ra para financiar os encoros. Som um mapageológico e mineiro de alto valor. Semelhanterecolha de informaçons para umha empresa in-teressada na exploraçom mineira e em particu-lar na fratura hidráulica poderia ter um preçomais alto que a empresa recém-adquirida.

Umha sentença do Tribunal de primeira ins-tancia número 2 da Corunha proíbe aos

bancos a venda de depósitos de aforro prefe-renciais. A decisom judicial poderá ser de gran-de valor para o futuro, sobretodo quando escui-tamos a alguns teóricos do aforro privatizadodefender as preferenciais rapinadas como "umbom produto”.

osaqueio das contas dos aforradores nonera delito antes deste marco legislativo.

Custa crer que umha sentença de tam trans-cendente nom mereça apenas atençom dosmeios galegos, se consideramos a moreia demanifestantes que buscam cada dia algumhanotícia dos seus fundos roubados.

‘the Economist’ publica um relatório sobrea ruína total da Líbia que antes da invasom

de 2011 tinha saúde pública, ensino e serviçossuperiores a muitos países da UE. As bolsas pú-blicas para o ensino superior deixavam cativasas da poderosa França que resolveu bombardeara Líbia para lhe melhorar a vida.

De onde zarpam os barcos que naufragam in-termitentemente na beira de Lampedusa?

Da costa da Líbia. O dado apareceu nalguns in-formativos galegos depois que começárom aaboiar cadáveres de nenos no mar da Sicília. Nossucessivos alterárom o nome da Líbia polo da Eri-treia e Somália. A informaçom dos média que nosatingem diretamente fia-se das agências france-sas e italianas. Outros sistemas de informaçomdim que se trata dumha debandada da Líbia.

omesmo The Economist diz que o êxodo lí-bio non fijo mais que começar. As que fo-

gem com as suas famílias da miséria e do mato-nismo das patrulhas da Líbia, nom poderiamescolher o Egipto, Tunísia nem a fronteira sul,com o Chade e o Sudám em guerra.

Tesouro geológicoe mineiro da Fenosa, transferidopara Sabadell

“a comunicaçom está monopolizada apesar da

‘ilusom’ das redes sociais”

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22 cultura Novas da GaliZa 15 de outubro a 15 de novembro de 2013

cultura “O filme quer contar, em imagens cotiás e diálogos representados,todas as dimensons da galiza e do portugal que ainda existem”

“Queríamos abordar as fronteiras, também entretradiçom e modernidade, fiçom e nom-fiçom”

conversa com jose manuel sande, co-Guionista de ‘arraianos’

Contades que a primeira ideiaera fazer algo sobre a história do Couto Misto.Começou sendo um projeto muiaberto, mas localizado no CoutoMisto. Isso tínhamo-lo claro. Ha-via ganas de saber o que se passoulá, porque é quase umha anomaliahistórica. Na ideia primeira jápensávamos em misturar ficçome documental, adaptar um texto,trabalhar com atores nom profis-sionais, com a musicalidade doidioma, passar a fronteira paraPortugal... É dizer, havia toda um-ha série de requisitos, mas afinal,está mal que assim o diga, no ter-reno a realidade foi decepcionan-te. Soubemos que a história escri-ta era demasiado oficialista, quefoi contada polos prebostes do lu-gar. Mas ficamos com a primeiraideia em abstrato, para levá-la àsrealidades que queríamos tratar:do Couto Misto ficamos com a zo-na, com a Raia, e com a teima deser nós os primeiros leitores dumtexto, nom tanto fazê-lo nós comotentar adaptá-lo. Aí começamos aver outras possibilidades.

Mas foi um longo processo de cinco anos...Começamos em 2007, quando re-cebemos umha primeira ajuda pa-ra desenvolver o projeto. Primeirohouvo um processo de investiga-çom de meses em que, orientadospor Xosé María Dobarro, lemosumha série de obras vinculadascom a zona: Ferrín, Dieste, Caste-lao, Varela Buxán... Num primeiromomento eu era o guionista e EloyEnciso o produtor. Depois, avança-do o processo, fum delegando aproduçom, e Eloy terminou sendorealizador e co-guionista. Fôrommeses de muitas viagens, entretan-to íamos pensando na ideia dafronteira em si, e descobrimos aobra de Jenaro Marinhas del Valle.Já desde o começo enganchamosmais com as suas obras e nomea-damente com O Bosque, de mea-

dos dos anos 60, mas publicada em77. Ansiedades, retranca, umha es-pera desesperada... liga com o tea-tro que figérom outros autores eu-ropeus no século XX, é como umEsperando a Godot à galega. Nestemomento, nós figemos um primei-ro texto, refundindo os aspetos daobra que mais interessavam.

E houvo várias rodagens. Como foi este processo?Esta foi outra das particularidadesdo projeto. A primeira rodagemfoi mais teatral, já que desde oprincípio tínhamos presente quequeríamos a representaçom daobra, mas ligada com o quotidia-no. Finalmente, da parte da repre-sentaçom, do trabalho atoral, nofilme final ficárom apenas quatroou cinco partes da obra, que apa-recem ligadas à vida real dos ato-res e do seu âmbito. Parecia-nosque o filme, igual que abordava afronteira em si, devia refletir asfronteiras que há entre tradiçom emodernidade, e entre fiçom e nomfiçom. Buscamos dar-lhe umhacomplexidade e certa pessoalida-de, mas que resultasse natural.Obviamente o documental era oreal, mas interessava que a repre-sentaçom fosse deliberadamenteartificial, que os atores trabalhas-sem com distanciamento. O reci-tado foi inspirando no trabalho deStraub-Huillet, ou do portuguêsPedro Costa, adaptadores de tex-tos que costumam dar ao distan-ciamento umha importáncia enor-me: a palavra é o primeiro, e oator, ainda que hierático, transmi-te o que realmente se quer comu-nicar. Podia ser difícil, porque po-dia supor estranheza para espec-tador: misturar a palavra repre-sentada com a vida quotidiana dosatores. Assim foi a primeira roda-gem, que penso que tivo como 20montagens.

E tínhades mais ajudas, paraalém dessa primeira?

Depois entrou umha nova produ-tora e fijo-se umha segunda roda-gem, mais orientada à parte docu-mental. Desta fica muito materialfora. Ao ser um processo longo,há muito que descartar (e que, emgrande medida, pode ser visto noDVD do filme), há material novo,e, ao mesmo tempo, voltam-se ro-dar algumhas cenas com texto.

Todo foi feito por atores nomprofissionais...Sim, toda a gente que sai no filmesom atores nom profissionais, emesmo gente que nom atua. Amaior parte procede de grupos deteatro amador da comarca. Genteidosa, quase todas mulheres, semexperiência prévia. Ensaiou-seperto de um ano com eles e elas, etrabalhárom mui bem.

Há duas mulheres, as que estámperdidas no bosque, que fam umtrabalho espetacular.Sim, esse momento é genial. Averdade é que o aspeto estético foi

mui cuidado, e tivemos um diretorde fotografia, Mauro Herce, quepara mim é um crack.

Também está mui cuidado osom, que é 50% do filme, algoque nom é habitual.É certo que há um trabalho estéti-co considerável: a névoa, a escuri-dom, o jogo com os elementos: olume, os aerogeradores... Há um-ha cena em que voltamos da vidana aldeia aos aerogeradores, quepara mim poderia ser o final do fil-me, porque esse regresso do quo-tidiano interessa-me menos. É cu-rioso como cada pessoa fijo assuas interpretaçons. Há gente quenos perguntou se estava rodadana Guerra Civil, porque havia eó-licos. Nom sei onde vírom isso,mas nós buscamos a atemporali-dade, a abstraçom: nemgumhaépoca. Afinal há esse giro para oseólicos, e parece que há um saltode tempo, mas realmente há umsalto de dimensons. Está a ideiado bosque como lugar de encerro

-que pode representar todas as di-mensons que queiramos: um país,um espaço concreto-, e está aideia do quotidiano.

Falavas de que a reaçom da gen-te, por vezes, deixa-te estranha-do. Que respostas encontrastes?Eu também pensava que talvezfosse um filme raro, mas simples-mente é isso, diferente do que es-tamos acostumados. Ao começo,ia aos passes -o filme passou-senas salas de cinema e, ao mesmotempo, em plataformas de descar-ga na Rede-, e aos festivais, comreparo, desconfiança, pensandoque havia que explicar o filme umpouquinho porque podia resultarinacessível. Mas encontrei-mecom o contrário. A gente gostavamais do que eu esperava. Mesmonos festivais, notei certo triunfodo exotismo: a gente percebia queestava a assistir à representaçomde costumes desaparecidos, a umlugar no fim do mundo, algo quejá nom existe. Quando, na realida-de, existem em quase todas aspartes estas formas de vida, quenom som tam remotas, nem tamparticulares. O filme debutou emLocarno, na Suíça, e ali foi muibem recebido. Houvo muitas per-cepçons, mais à gente chegava-lhe sobretodo a parte abstrata,misteriosa, telúrica. As reaçonseram diferentes conforme à pro-ximidade que pudesse haver coma terra e com o projeto. Mas, cu-riosamente, nunca notamos umdesdém, desprezo ou estranhezafora de aqui, ao contrário. O filmefoi acolhido de forma simpática,próxima, e isto permitiu que fun-cionasse melhor. Essa boa recep-çom se calhar estivo motivada emque o filme facilita olhadas alheias.Nom acho que isto do exotismovisto como umha olhada sobre al-go que desconheces, ou que miti-ficas, ao que lhe das voltas, sejaalgo bom de todo, mas, por outrolado, favoreceu o filme.

A.R.G. / Cada pessoa vê nos filmes o que quer ver, ou o que estava preparado pa-ra ver. Eu em ‘Arraianos’, um dos filmes de que mais gostei em muito tempo, vima minha avó Toña. O seu pano na cabeça nos panos das cabeças das mulheresdo filme; os seus dedos gordos nos dedos gordos das mulheres; os seus bra-ços tirando dos xatos nascidos... Rim e mais chorei, e suponho que nom se es-perava que figesse isso. Falando do processo com o seu guionista, José ManuelSande, soubem que o filme puido ser muitos filmes diferentes. A primeira mon-

tagem vinha imbuída de prosa, filosofia, política, história... talvez mais poéticapara que esta terceira em que se volta misturar, doutro jeito, o quotidiano com arepresentaçom. Atores nom profissionais fam a sua vida, nas aldeias da raia,enquanto filosofam sobre os processos vitais... É um filme que de tanto mudar,durante cinco anos, colheu vida própria, e isso “é chulo”, conta Sande. Afinal éumha obra aberta, nom unívoca, na qual eu nom deixei de ver a Toña, talvez por-que é umha das pessoas mais importantes da vida.

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23culturaNovas da GaliZa 15 de outubro a 15 de novembro de 2013

Destroem parte do castro de Aigas com corta-fogosREDAÇOM / Os cortalumes des-tinados à prevençom de lumesdestruírom no início do veraoumha significativa parte do cas-tro das Aigas, um assentamentosituado numha rocha em plenosAncares, em Návia de Suarna.O achado foi localizado polo in-vestigador Xabier Moure, quemdocumentou como os cortalu-

mes destruírom parte do siste-ma defensivo e do interior destepequeno castro de montanha.Assim é denunciado no sitehttp://onosopatrimonio.blogs-pot.com.es, onde fôrom publi-cadas estas imagens, que ache-gamos ao pé da notícia, em quese pode observar a desfeita pro-duzida polas máquinas.

A frota de embarcaçonstradicionais de Arouçapode desaparecerREDAÇOM / A falta de um espaçopara guardar a frota de embarca-çons tradicionais que possui a As-sociaçom Cultural Dorna, da Ilhade Arouça, está a pôr em risco dedesaparecimento este importantepatrimónio marítimo. Segundodenúncia o coletivo, de ficar a in-tempérie, as 53 peças desta cole-çom podem ficar irremediavel-mente danadas este Inverno.

A associaçom assinala também

que o estado ruinoso da nave queaté o momento lhes cediam gra-tuitamente para guardar este ma-terial deixou-nos sem alternativa.Ainda que para 2015 a Deputa-çom de Pontevedra anunciou ocomeço de um edifício de usosnáuticos que pode servir para es-te fim, de Dorna alertam de que ainstalaçom pode chegar tarde de-mais para estas peças de patri-mónio.

Fran Bueno ganha o Castelao de BDREDAÇOM / A VIII Ediçom doPrêmio Castelao de Banda Dese-nhada, que convoca a Deputa-çom da Corunha, foi para um ve-terano da novena arte galega.Fran Bueno (Compostela, 1967),que já tem publicadas diferentesobras no estado espanhol e nosEUA, conseguiu o galardom poloseu trabalho Catálogo oneroso

de beleza gratuita, com o qualdestacou entre seis candidatos.

O júri, composto por Migue-lanxo Prado, Ángel de la Calle

e Carlos Portela, destacou a"capacidade estilística impecá-vel e a variedade de recursosgráficos" assim como "a perfei-çom técnica e o desenvolvi-mento das possibilidades ex-pressivas da historieta".

Bueno verá a sua obra pu-blicada e umha exposiçom iti-nerante sobre este trabalho,para além de receber 6.500euros do prêmio. O júri desta-cou também o trabalho fina-lista, O mistério do Pico Sa-

cro, de Rafael Saldaña. Bueno apanha o relevo de

Iván Suárez e Ignacio Vilariño,últimos galardoados com aobra Titoán. Na listagem de an-teriores premiados também fi-guram Brais Rodríguez -A man

do diaño-; Daniel Montero -

Sen mirar atrás-; Mariano Ca-sas -Mensaxes-; Jacobo Fer-nández -Aventuras de Caca-

huequi-; Antonio Seijas -Un ho-

me feliz-; e David Trepei -Onde

ninguén pode chegar-.

REDAÇOM / Doze criadores ecriadoras obtivérom benefíciodas ajudas para o desenvolvi-mento e promoçom do talentoaudiovisual galego que acaba depublicar a Agência Galega dasIndústrias Culturais na sua web. Som seis os projetos de escritaindividual de guiom que obtivé-

rom 5.000 euros cada um e queapoiaram os trabalhos de LoisPatiño, Sandra Sánchez, AlbertoGarcía, Hugo Amoedo, Juan Ra-món Galiñanes e Francisco Car-ballal. Na modalidade de curtametragens, obtiveram umha aju-da de 6.000 euros Xacio Rodrí-guez, Xurxo González, Eloy Do-

mínguez, Olaia Sendón, MaríaBelém Montero e Pablo Millánpara os seus novos projetos.

Trata-se dumhas ajudas muidemandadas polos criadoresdo audiovisual, porque lhespermitem desenvolver um pro-jeto próprio sem que medeieumha produtora.

AGADIC resolve ajudas ao talento

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24 desportos Novas da GaliZa 15 de outubro a 15 de novembro de 2013

d desp

orto

scomeçou a liGa Gallaecia

O montanheiro viguês Sechu Lópezconseguiu o seu terceiro 8.000 ao che-gar à cima Shisha Pangma de 8.027 m,no Tibete, numha subida marcada po-los fortes ventos e a neve. Dedicou a as-censom ao galego Abel Alonso, falecidono verao escalando o Gasherbrum.

sechu lópez coroa o shisha panGma

Com motivo das festas do Sam Froilaminiciou-se em Lugo a Liga Gallaecia deequipas mistas de futebol gaélico. Nestaprimeira jornada a Suévia de Composte-la venceu à Cascarilha da Corunha, en-quanto os Torques de Lugoslávia derro-tavam às Afiadoras de Ourense.

SÉRGIO CAAMANHO / Com a che-gada do outono começa a novatemporada da Liga Nacional deBilharda, e as conferências quefam parte dela preparam-se para,mais umha vez, rematarmos esteprojeto com sucesso. O projeto jácaminha para a década e a ser-pente multicor da LNB vai esten-do-se polo País adiante.

A LNB sempre se caracterizoumais polo fazer que polo falar,sem grandes assembleias, nemgrandes vozes levantou-se a ligae a organizaçom de toda umhaestrutura social e cultural à suavolta, gente que apostou na bil-harda e isso implicou um mododiferente de entender a vida. Co-

mo exemplo disto está o projetomusical Ex-Tensión Agraria,com centro neurálgico na mecada bilharda (Bretonha), que pujoem comum as inquietudes musi-cais de vários bilhardeiros queacabárom impulsionando o pro-jeto para, atualmente, estarem

na boca de todos e todas comotriunfadora do concurso de ban-das emergentes para o Castan-hazo Rock de Chantada. Outroexemplo também é a plataformapola soberania alimentar Carne-lao que, seguindo a filosofia bil-hardeira, aposta na soberania

alimentar e desportiva.Nesta temporada resurge a

Conferência Sul que, depois denom passar o seu melhor ano atemporada passada devido à irre-gularidade no calendário, come-çou este 12 de outubro em Bueue preparou já um almanaque com

os primeiros 4 abertos da tempo-rada neste 2014 (9 Nov Vigo, 30Nov Cangas, 14 Dez Mos). Apósumhas pequenas modificaçonsno formato desportivo espera-serecuperar toda a vitalidade destaconferência que já irrompeu nasredes sociais através do facebookLNB Conferencia Sul.

Na Conferência Sul também seestá a preparar o que poderia sera entrada da bilharda na univer-sidade de Vigo, pois a experiênciana festividade de Sam Teleco foibrutal, este desporto levantoupaixons entre o estudantado ehouvo novas fichagens de váriospalanadores e palanadoras paraa Liga Nacional.

ISMAEL SABORIDO / No ano 2008,Cabo da Cruz rematava a tempo-rada na novena posiçom da LigaACT com mais de vinte pontos devantagem sobre as duas tripula-çons que ocupárom as últimas po-siçons. Desportivamente merecia,quando menos, continuar um anomais na máxima categoria, masum cúmulo de circunstancias pro-vocou “umha situaçom de desgas-te físico e emocional que desem-bocou na mudança de diretiva eabandono dumha parte importan-te do plantel de remeiros” o queobrigou ao clube arouçano a re-nunciar à sua praça e baixar à ligagalega. Deu um passo atrás, im-prescindível para colher pulo. Nocomunicado que no seu momentoemitiu o clube, deixava claras assuas prioridades: a canteira.

“A trainha nom conta com um-ha tripulaçom suficientementeampla como para afrontar umhacompetiçom tam exigente como aLiga San Miguel, polo que se optapor participar na Liga Noroeste deTrainhas e continuar a trabalharcom as categorias inferiores e for-mando assim, nom só remeiros eremeiras, mas também umha mo-cidade sá, responsável, compro-metida e com valores, desenvol-vendo deste modo o compromisso

social que corresponde a umhaentidade desportiva das nossascaracterísticas”.

Liga GalegaDesde entom, os sucessos nas ca-tegorias inferiores fôrom suceden-do-se e hoje, cinco anos depois deque renunciasse à sua praça, atrainha galega volta ter umha tri-pulaçom quase integramente dacanteira. Vai umha nota para osnom iniciados: com o fim de man-ter uns cupos mínimos, a liga ACTclassifica aos remeiros em “pró-prios” e “nom próprios”, e os pri-

meiros divide-os entre “canteiráns”e “nom canteiráns”. Para ser can-teirám dum determinado clube,compre ter iniciado a prática do re-

mo nesse clube ou ter militado nas

categorias inferiores durante um

período mínimo de três tempora-

das. Todos os remeiros do Cabo de

Cruz, exceto um, som canteiráns.E com esta filosofia, chegam ao

mês de junho com o objetivo demelhorar o quarto posto do anoanterior, apesar de que nas apos-tas aparecem na quarta, e inclusi-ve quinta posiçom da liga, por trásde Samertolameu de Meira, Cha-pela e Amegrove, três seleçons doremo galego. Contra todo prog-nóstico, arrancam com um segun-do posto na regata de Sam Genjo,e chegam a ir líderes, depois devencer na bandeira d´Ogrobe.Com o passo das jornadas, vaicaindo algumha bandeira mais e

afiançam-se na segunda praça daclassificaçom geral, posto que vamconservar até a última jornada.

Play-off de AscensoSamertolameu de Meira, campeoada liga galega e Cabo da Cruz se-gunda classificada, acudírom aoplay-off de ascenso à liga ACT rea-lizado em águas bascas. As embar-caçons galegas tinham que enfren-tar-se a Zierbena e Lekitarra, repre-sentantes da ARC (Associaçom deRemo do Cantábrico) e a Zumaia,que tratava de salvar a categoria.

A embarcaçom de Boiro apare-cia no último lugar em todas asapostas, mas no sábado, na regatade Bermeo, numha tarde de muitovento e com um mar mui compli-cado, já rompeu todos os prognós-ticos ao acabar segunda, só portrás de Zierbena. Deste modo,afrontaria a segunda jornada comumha pequena margem de setesegundos sobre os seus persegui-dores. No domingo, com umhascondiçons completamente dife-rentes às da véspera, mar em cal-ma e sem apenas vento, chegou-lhes ficar por diante de Zumaiapara manter a segunda das pra-ças, o que lhes deu o acesso à má-xima categoria. Umha filosofiadesportiva que merecia justiça.

Nova temporada, novos projetos, mesmos objetivos

Cinco anos depois, Cabo da Cruz vai acompanhar Tirán na elite das trainhas

todos os remeiroscom que compite

cabo de cruz, excetoum, som canteiráns

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25desportosNovas da GaliZa 15 de outubro a 15 de novembro de 2013

Como está a mudar o triatlo?Muito, e em muitos aspetos.Quando comecei no ano 2001 eraum desporto desconhecido, ondemesmo tínhamos que explicar emque consistia; hoje é um desportoque está na moda no ámbito po-pular e no que Javier Gómez con-seguiu umha medalha olímpica. Amaior mudança é a sua populari-zaçom, mas isso também fijo quenasceram muitos negócios comele, sobretodo na organizaçom deprovas, que se levam a grandemaioria do dinheiro que há nonosso desporto. Por isso e polo nu-lo interesse da Fetri (FederaçomEspanhola de Triatlo) polos des-portistas, incrivelmente os triatle-tas estamos pior economicamenteagora que há dez anos, quandohavia vários milheiros menos departicipantes nas provas.

Que che ofereceu o desporto?O desporto inculcou-me muitosvalores positivos, que servem parao desporto e que som válidos paraa vida também. Qualidades comoo esforço, a constáncia, a supera-çom pessoal, a convivência e o tra-balho em equipa som valores queo desporto me ensinou. Além dis-so, permitiu-me relacionar-mecom gente doutras culturas, con-hecer novas ideias, povos e reali-dades nacionais que me ajudáromna minha formaçom pessoal. Mas,sobretodo, destacaria que com otriatlo aprendim que com trabalhoe ilusom é possível conseguir qual-quer meta que nos proponhamos.

Que valorizaçom fas da tempo-rada 2013?Muito positiva. Comecei o anocom a ilusom de continuar a cres-cer e autopressionando-me parasubir outro degrau e ver-me lutan-do com os melhores do mundo. OSubcampeonato de Espanha deTriatlo Elite 2013 confirma que oresultado do ano passado (15º) foium mal dia, levo quatro anos fi-cando entre os sete melhores tria-tletas do Estado, e por duas vezessubcampeom. E a nível interna-cional os cortes da Fetri deixá-rom-me numha situaçom mui pre-cária, tivem que sufragar qual-quer competiçom internacional.Só puidem competir em duas pro-vas da Taça do Mundo, em Hua-tulco (México), onde fui 6º, e naTaça de Alacant, onde acabei 12º,em ambas as provas competimcom alguns dos melhores triatle-tas do mundo e muitos olímpicos.

Como influi a crise no triatlo e no teu caso concreto?Som otimista por natureza, mas

sinceramente custa-me ver algumfarol que poida iluminar a situa-çom negra em que estamos. A Fe-tri nom paga nengumha prova ex-ceto o Campeonato de Europa e aFinal do Campeonato do Mundo.Isso quer dizer que os gastos deri-vados da participaçom em qual-quer Taça Continental, Taça doMundo ou as restantes provas doMundial tenhem que ser sufraga-das integramente por cada des-portista. Isto implica que se está aelitizar o triatlo, pois só vam podertentar luitar polo ciclo olímpico e,portanto, por aceder aos JogosOlímpicos os atletas que consi-gam um forte patrocinador priva-do que cubra os gastos da viagem,hotel, dietas e inscriçom. Assim édifícil poder competir em igualda-de de condiçons com outros tria-tletas e mesmo com outros paísesque sim que apostam decidida-mente nos seus atletas.

Denunciaste publicamente ainexistência de ajudas para ose as triatletas e os elevados sa-

lários que recebem os diretivosda Fetri, por que? Eu só nom podo mudar as cou-sas, mas quero que se saiba co-mo está a situaçom, quero de-nunciar que agora mesmo osúnicos profissionais do nossodesporto som os federativos, ostriatletas estamos condenados aser desportistas amadores, nomprofissionais. A Federaçom Es-panhola de Triatlo conta nesteano com três pessoas que co-bram 66.000€ e os desportistastemos que pôr dinheiro do nossopeto para podermos competir.

Que novos reptos tés no triatlopara o futuro mais próximo?O principal repto que tenho ago-ra mesmo na mente é conseguirum projeto desportivo que mepermita luitar pelas Olimpíadasde Rio de Janeiro. Isto implicaque para fazer frente aos trêsanos que dura o ciclo olímpicopreciso atingir umha estabilida-de e segurança económica queagora nom tenho. Esta tempora-da tivem que competir até em 7equipas em 4 países diferentespara poder conseguir recursoseconómicos com os que sufragaras minhas participaçons em 2provas da Taça do Mundo, mas

isto nom é suficiente para alcan-çar o meu sonho de poder serprofissional do triatlo.

É Galiza potência mundial emtriatlo?Totalmente. É quase impossívelrepetir campeons extraordinárioscomo Raña e Gómez Noya, maspor detrás sempre há gente empu-rrando com ilusom e trabalhandoduro. O exemplo e a cercania dosdous campeons mundiais é, semdúvida, a grande razom de que aGaliza seja umha potência.

Gostarias de competir interna-cionalmente com Galiza? Atual-mente isto nom é possível, maspoderíamos verte competir comoutro país?Claro que gostaria. De facto con-sidero-me afortunado de tercompetido com as cores da Sele-çom Galega de Triatlo interna-cionalmente, quando a Federa-çom Galega de Triatlo puido fa-zê-lo e atingiu os recursos neces-sários. Tal como está a situaçom,tenho claro que nom vou conti-nuar a representar a Espanha.Nom quero representar alguémque se está a aproveitar do nossoesforço e da nossa ilusom. Voutrabalhar por conseguir o apoiode algum país que me ajude amedrar a nível desportivo e pes-soal e com o que luitar para ir aRio em 2016. Se nom consigo es-te apoio, o mais provável é quetenha que abandonar o desporto,porque nom podo viver dele.

O decatleta galego David Gómez revelou as penosascondiçons em que os atletas da comarca viguesa te-nhem que treinar e o alto grau de risco de lesons queimplica. Foxo de salto sem areia, vestiários com umida-des e roedores ou máquinas obsoletas e oxidadas somalgumhas das eivas que denúncia o duas vezes olímpicoe subcampeom mundial de decatlo.

david Gómez denuncia o aBandono do estÁdio de Balaidos

No fim de semana de 28 e 29 de setembro decorrêrom na vi-la de Alhariz as Olimpíadas Populares Galegas do ano 2013.Participárom 16 equipas e cerca de duzentos atletas, numambiente mais lúdico do que competitivo. Na classificaçomfinal a vitória correspondeu ao CS Aguilhoar com 12 pontos,seguidos das Afiadoras, com 9, e o empate entre a SC AsDuas e o LS Faisca, com 8 pontos cada equipa.

sucesso das iii olimpíadas populares GaleGas

“Os únicos profissionais do triatlo som os federativos”

“nom vou continuara representar a

espanha no triatlo”

A.R.N. /Galiza é potência mundial em triatlo. Sem dúvida ajudárom os êxitosdos dous campeons mundiais da terra, Iván Raña e Javi Gómez. Mas portrás deles há umha nova geraçom de triatletas galegos e galegas que pedempasso, demonstrando nas competiçons que tenhem nível para estar com osmelhores especialistas do mundo; mas nom sempre podem fazê-lo: ausên-cia de apoios públicos, falta de apoios económicos privados e sponsors,

injustas decissons federativas impedem aos nossos desportistas conti-nuarem a progressar e chegar a ser profissionais do triatlo. Um deles é An-tón Ruanova (Compostela, 1986), um pluriempregado do desporto (estatemporada milita até em 7 equipas) entre cujos méritos destacam o 6º lugarna Taça do Mundo de México e dous subcampeonatos estatais de triatlo em2010 e 2013, sem esquecer a sua licenciatura em Económicas.

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26 tempos livres Novas da GaliZa 15 de outubro a 15 de novembro de 2013

MARIA ÁLVARES E OLALHA BA-RRO/ Na sociedade em vivemos aeducaçom das crianças é um temahabitual e recorrente. Nos meiossom frequentes as novas sobreeducaçom e mesmo há debates etertúlias sobre como tem de ser acorreta educaçom das nossas fi-lhas (normalmente com escassorigor e abundante demagogia) emprogramas de radio e televisom,nos últimos anos mesmo tem ha-vido shows televisivos onde agrande super nany o o irmaomaior solucionam os problemasde pais angustiados polos seus in-domáveis filhos. Nas livrarias e bi-bliotecas nom é estranho encon-trar seçons de livros dedicados aelaborar diferentes metodologiaspara tratar de conseguir que asnossas filhas aceitem as normasque nós as adultas lhe“marca-mos”Nas escolas e nos liceus osprofessores, diretores, chefes deestudos e encarregados do come-dor livram batalhas com os paispara educarem conjuntamente. Eos políticos reagem ante este pro-blema com leis que dotam o pro-fessorado de maior autoridade ouendurecendo o código penal paraos menores infratores.

Assim as cousas, parece que ascrianças de hoje em dia som re-beldes, mal-educadas, teimosas erespondonas (ou nas suas varian-tes mais extremas: tiranas,“gros-seiras”, atrevidas ou feras indo-máveis). Tenhem raivas passa-

geiras, birras, contestam, deso-bedecem, insultam e batem. Nomfam os deveres, nom estudam,suspendem e agridem os profes-sores. E nos as adultas nom so-mos capazes de levá-los polo ca-minho adequado. Estes pais somqualificados de brandos, manipu-láveis, dialogantes em excesso...

Para tratar de dar soluçom aestes problemas aparece um nú-mero nada desdenhável de ex-pertos na matéria, como psicólo-gos, pedagogos ou super-nanysque, de umha ou outra maneira,tratam de acertar com a fórmulamagistral para levar os meninose os adolescentes ao rego.

Mas ás vezes é necessário um-ha simples mudança de mentali-dade e repensarmos se aplicaría-mos essas mesmas regras entreadultas. Nas nossas relaçons pes-soais com amigas, parelhas oucolegas do trabalho, aceitaríamossermos submissas ou deixaría-mos que nos “domesticassem”as-sim? A resposta é tam simplesque aterra. Muitas vezes, na em-patia está a chave.

No entanto, por que é tam aceitesocialmente a ideia de que as nos-sas crianças devem obedecer sem-pre que queiramos que o façam?

No momento em que nos torna-mos maes vamos descobrindo ummundo novo que permanece invisí-vel nas nossas sociedades: a violên-cia contra as crianças. Invisível,muitas vezes subtil e sempre aceite.

Os entendidos comentadoresjustificam umha criança autoritá-ria e violenta partindo do princí-pio: “qualquer tempo passado foimelhor”, ainda que fossem cria-dos no franquismo e com maustratos, e utilizando estereótiposdo tipo: “o problema é que hojeestám mui consentidos”ou“te-nhem de todo” que, muitas vezes,só respondem a umha idealiza-çom da infáncia.

As crianças de agora nom es-tám mui consentidas, de facto aprimeira palavra que costumamdizer é NOM, isso é porque o ou-vem tantas vezes que pensamque é preciso dizer NOM para

SER. Tenhem de todo? Que é oque tenhem? Oito horas de cre-che com desconhecidas estressa-das? Duas horas de televisom?Um Ipad? Que é o que precisaumha criança?

Muitas maes e pais sentem queé mui duro ser tam autoritáriascom as suas crianças e nom es-tám mui certas de como “devem”fazer, e o mercado elabora todaumha bateria de teorias sensa-cionalistas que som difundidasatravés de toda umha maquinariapublicitária, desde a maltratado-ra super nany que dá soluçonspara filhos indomáveis (sic) atéumha nutrida bibliografia de mé-todos de maltrato infantil, “Comofazer que durmam, caguem, co-mam, falem, brinquem onde equando as adultas querem”.

A continuaçom lógica desta ca-deia de violência é a escola, de-pois a fábrica e, se algumha ove-lha negra ainda tiver vontade dedissentir e de dizer“eu tenho dig-nidade”, a represom. É um mes-mo caminho, umha mesma ideo-logia. Quando pensamos em cas-tigar as nossas crianças, pense-mos em repressom, em justiçapunitiva e nom comunitária.

Cada geraçom pensa que a ge-raçom seguinte é mais rebelde,mal-educada e respondona.Numha sociedade que costumaser competitiva e individualistanom som frequentes os elogios.Medramos e fazemos medrarsem palavras de reconhecimento,sempre há algo que corrigir algoque poder melhorar.

E o que é pior ainda, nunca há

autocrítica com nós mesmas,com as maes, com os pais, nuncahá crítica da sociedade em quecrescemos. A ideia é tornar cul-páveis as vítimas.

As crianças nom som alheiasao meio onde vivem. Quando in-sultam e agridem é porque sesentem agredidas ou insultadas.Alguém escuta o que necessi-tam? Nom por serem mais baixi-nhas som menos pessoas. Tam-bém tenhem desejos, necessida-des e frustraçons.

Muitos pais e maes passamanos dando ordens e depois acu-sam as suas filhas de serem um-has tiranas. Muitos pais e maespassam anos ignorando as neces-sidades das suas filhas (porqueos expertos aconselhárom-lhesque seria o melhor para elas, e omais produtivo para o mercado,of course) e depois querem quesuas filhas lhes contem todo.Muitos pais e maes, sem querer,oferecem ausência e desprezo edepois sentem-se insultadas.Muitos pais e maes apenas valo-rizam as suas filhas polos seusméritos e depois queixam-se deque nom tenhem valores.

A transformaçom da sociedadecomeça desde os alicerces. Olharpara as nossas filhas com olhos em-páticos e nom com olhos que pro-curam submeter, como nos olhá-rom a nós, é semente de futuro.

O submetimento começa noberço. Mudemos os barrotes doberço, teçamos lençois de amor erespeito mútuo.

Imaginai, em lugar de pós-mo-dernidade líquida, áncoras sólidas.

tempos livres

educaçom versus violência

entrelinhas 'historia de Galicia', de anselmo lópez carreira

criança natural

RAUL RIOS / Todos lembramos osmapas dos livros de texto em queo território da Galiza atual apare-cia indistintamente como partedum 'Reino de Leom' ou dum 'Rei-no de Asturias', ou também comoera diluído entre a cor que indica-va o “domínio muçulmano” apóso ano 711. Para os estudantes dasgeraçons mais novas, a Históriada Galiza era só um apêndice deduas páginas ao remate de cadatema de História de Espanha, semligaçom entre um capítulo e outroe sempre apresentando os acon-tecimentos históricos como sim-ples especificidades regionais dedeterminado período espanhol.

Com a sua 'Historia de Galicia'

(Xerais), o professor Anselmo Ló-pez Carreira (Vigo, 1951) continuaa combater o esquecimento a quenos condena o sistema educativogalego. Quem já o ouvira falar nal-gumha das suas palestras ou leraalgum dos seus muitos livros jáconhece a sua grande capacidadepara comunicar conteúdos com-plexos de forma singela e amena aqualquer tipo de público. Com acapacidade analítica que o carac-teriza, López Carreira vai debul-hando a história galega tecendoum relato que abrange e relacionaos diferentes períodos ou aconte-cimentos concretos.

As histórias nacionais nascemcom o projeto do Estado-naçom

decimonónico na Europa em quese pretende fundir ambos concei-tos. O papel da História neste pro-jeto político consiste, pois, em en-contrar umha justificaçom num

passado remoto e comum para opresente Estado em construçom.O método científico importa me-nos que o programa político-ideo-lógico que a História está chama-da a legitimar. Espanha nom é um-ha exceçom e, para que a historio-grafia espanhola cumpra esta fun-çom, houvo (há) que silenciar ashistórias das naçons sem estadoque chocam com o discurso oficial-histórias que, cumpre sublinhar,também nascem com a intençomde justificar a necessidade de um-ha estrutura política própria-.

Para rachar com os mitos que ahistoriografia espanhola foi intro-duzindo na sociedade, o autor de'O reino medieval de Galicia' es-

creve mais umha obra com umhaclara intençom de divulgaçom. Oesforço de síntese -o livro nomchega às 300 páginas-; as fotogra-fias, gráficos e mapas -cuja quali-dade nom se vê prejudicada polaausência de cor- e, por último; oestilo didático do autor, fam de'Historia de Galicia' um excelentemanual para o leitor que se queirainiciar na história do país, mastambém para quem, já iniciado,deseje saber mais e contar comumha visom integral do nossopassado. Umha obra, enfim, quevai continuar a ser necessáriaquando os livros escolares dei-xem atrás os mitos da historio-grafia decimonónica espanhola.

por que é tam aceiteque as crianças devem

obedecer sempre?

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27tempos livresNovas da GaliZa 15 de outubro a 15 de novembro de 2013

que fazer

17.10.2013 / APRESENTAÇOMDE A FAZAÑA DA LIBERDA-DE, DE SENÉM OUTEIRO /21:00 no Casino (Rua TomásMaría Mosquera, 6). CARVALHINHODocumentário biográfico sobreAlexandre Bóveda. O ato vaicontar com o realizador.

18.10.2013 / 'FRANKENS-TEIN: A CONSTRUÇOM DACLASE TRABALHADORA',POR ÁLVARO OTERO / 18:00/ XTREAMING, POR A. ARGI-BAI E M. OTXOTEKO / 20:30em Almaciga(s) (Travessados Basquinhos, 14). COMPOSTELANo Ciclo Escrita(s) 2013 - Mar-cos de guerra - II.

18.10.2013 / CURSO DE TAN-GO QUEER / 20:00 na Livra-ria Lila de Lilith (Rua Traves-sa, 7). COMPOSTELADinamiza María Ángeles Igle-sias, professora de Tango.

18.10.2013 / CONCERTO DEDAVIDE SALVADO DUO /20:30 no Auditório Municipal(Rua Autores da Rianxeira,s/n - Parque Galicia). RIANJONo ciclo Rede de Música Sol-tas. Entrada 5 euros.

18 e 19.10.2013 / JORNADADE RECUPERAÇOM DECHARCAS NOS ANCARES /Todo o dia. VILA-FRANCA DO BERZOVoluntariado ambiental para arecuperaçom e construçom decharcas. Organiza Adega. Maisinformaçom em:http://www.charcasconvida.org.

19.10.2013 / INAUGURAÇOMDA EXPOSIÇOM DO III EN-CONTRO ‘ENARBORAR OBOSQUE’ / 19:00 no Fórum(Rua do Xílgaro - Bairro daMilagrosa). CARVALHOMostra de artes plásticas, poe-sia e audiovisual.

19.10.2013 / ATUAÇOM DETHE DELIGTHFUL COMPA-NION / 20:00 na Sala Nobredo Museo Massó (Rua Mon-tero Rios, s/n). BUEUNo Festival Espazos Sonoros.

19.10.2013 / ATELIER 'FEMI-NISMO EM REDE: TWITTERPARA A AÇOM FEMINISTA' /21:30 na Casa das Mulheres(Rua Romil). VIGOOrganiza Mulheres Nacionalis-tas Galegas. De manhá vai ha-ver um atelier sobre 'Como lia-la em twitter?', por Paula Rios,e a partir das 17:00 umha mesade experiências de twitteirasfeministas.

19.10.2013 / NOITES DE TRI-VIAL / 22:00 no C.S. GomesGaioso (Rua Marconi, 9 -Monte Alto). CORUNHATodos os sábados.

19, 20 e 27.10.2013 / ATELIERDE INICIAÇOM AO PANDEI-RO DE MAM / 17:30 na Casada Escola de Couso. ESTRADAImparte Xermán Muíños. Hámais informaçom no telefone625 178 362. Organiza As No-sas Músicas.

22.10.2013 / PROJEÇOM DEYENTL, DE BARBRA STREI-SAND / 19:30 no Ateneu Fe-rrolano (Rua Madalena, 202-204). FERROLSinalado como o primeiro fil-me realizado, produzido e in-terpretado por umha mulher,será projetado no 'Ciclo dedica-do a mulheres realizadoras'.

22.10.2013 / CURSO DE LÍN-

GUA PARA GALEGOS / 20:30no Ateneu (Avenida de LaHabana, 25). OURENSEOrganiza Desperta do Teu So-no junto com o Ateneu. Todasas terças e quintas-feiras.

23.10.2013 / PROJEÇOM DEO EXÉRCITO ESPIDO DOEMPERADOR SEGUE AMARCHAR, DE KAZUO HA-RA / 21:30 no C.S. O Pichel(Rua Santa Clara, 21). COMPOSTELAOrganiza o Cineclube de Com-postela. VOSG.

25.10.2013 / CURSO DE DAN-ÇA ORIENTAL / 19:00 na Li-vraria Lila de Lilith (Rua Tra-vessa, 7). COMPOSTELADinamiza Maica Sánchez, bai-

larina da companhia As Feiti-ceiras. Continua os dias 8 e 15de novembro à mesma hora.

25.10.2013 / CONCENTRA-ÇONS POLA LIBERDADEDOS PRESOS INDEPENDEN-TISTAS / 20:30. BURELA, FE-RROL, PONTE VEDRA, COM-POSTELA, CORUNHA, LUGO,OURENSE e VIGOConvocatórias certas emhttp://www.ceivar.org/.

25 e 26.10.2013 / ATELIER DEESCRITURA CRIATIVA /19:00 na Biblioteca PúblicaCastelao (Praça de RafaelDieste, s/n). RIANJOConduzido polo escritor moçam-bicano Cremildo Bahule. No sába-do de manhá, a partir das 11:00.

26.10.2013 / FRED MARTINSE UGIA PEDREIRA EM CON-CERTO / 20:30 no AuditórioMunicipal Ilduara (AMIC). CELA NOVANo ciclo Rede de Música Sol-tas. Entrada 5 euros.

26.10.2013 / CONCERTO DEARIEL NINAS / 20:30 na Ca-fetaria Camper (Rua EmiliaPardo Bazán, 4). ALHARIZDentro do ciclo ‘Música conRisco’.

27.10.2013 / VII CONCURSODE MÚSICA TRADICIONAL /18:00 no Local Social deLuou. TEIOConcurso de Quartetos Tradi-cionais. Organiza A Mámoa.

27.10.2013 / CONCERTO DEMÚSICA ACORDADA / 20:00na Igreja de Sam Rosendo.CELA NOVANo Festival Espazos Sonoros.

30.10.2013 / PROJEÇOM DEA NOITE E A CIDADE, DE JU-LES DASSIN / 21:30 no C.S.O Pichel (Rua Santa Clara,21). COMPOSTELAOrganiza o Cineclube de Com-postela. VOSG.

31.10.2013 / REPRESENTA-ÇOM DE 'C'EST LA VIE', DEMATRIOSHKA TEATRO /20:30 no Auditório Municipal(Rua da Canle, 2). OURENSE

02.11.2013 / FESTIVAL ‘CAS-TAÑAZO ROCK 2013’ / 17:00no Mercado Gandeiro. CHAN-TADAAtuam Lendakaris Muertos,Che Sudaka, Bongo Botrak,Dakidarría, Nao, e a ganhadorado concurso de bandas. Tam-bém vai haver os Jogos Bravús,atividades para crianças, ma-gusto, mercadinho, aberto debilharda, concurso de canto detaberna... Mais informaçom emhttp://castanhazo.com/.

05.11.2013 / CLUBE DE LEI-TURA / 19:30 no Ateneu Fe-rrolano (Rua Madalena, 202-204). FERROLTodas as primeiras terças-fei-ras de cada mês.

09.11.2013 / FESTIVAL ‘SANMARTIÑO CANÍBAL’ / À tardeem Loseiro. SÁRRIAOrganiza A.C. Os Gorriós.

16.11.2013 / FESTIVAL ‘VEN-TO ROCK’ / À tarde em Vento-sela. REDONDELAEntre os grupos que atuam estáo ganhador do ‘Concurso deBandas Locais’.

línguas e instrumentos tradicionais centram aoferta de cursos dos centros sociaisvários centros sociais apresentá-rom nova programaçom de cursospara 2013-2014. as aulas de lín-guas e de música e dança tradi-cionais protagonizam a oferta.O luguês mádia leva (rua serrados ancares, 18) oferece cursosde gaita, pandeireta, pilates e per-cussom tradicional, além de aulasde reforço escolar para primária.

no centro social lume (rua rei-señor, 7), de vigo, a oferta contacom pandeireta, gaita, baile tradi-cional, defensa pessoal e inicia-çom à informática.a gentalha do pichel (rua santaclara, 21), em compostela, clas-sifica a sua oferta nos horários demanhá (gaita, tamboril, dança,canto e pandeireta e taichi) e tarde

(dança, gaita, música para peto,baixo, canto, guitarra, coro, teatro,pilates, fotografia, conversa em in-glês, língua catalá, árabe, portu-guês, francês...).por sua parte, o gomes gaioso(rua marconi, 9), na corunha tenaulas de fotografia e ediçom digi-tal, massagem relaxante, música,xadrez e várias línguas.

roteiro de amal por Oscosa agrupaçom de montanhaáguas limpas (amal) organizaum roteiro pola terra de Oscos,na zona do eu-návia. será no fimde semana do 1, 2 e 3 de no-vembro. a dificuldade do percur-so é meia-baixa. a zona ronda os600 metros de altitude, com um

máximo de 950 m. vai haver dis-ponível um lugar coberto, no con-celho de santalha; igualmenterecomendam levar isolante parao chao e saco de dormir.há mais informaçom no bloguede amal: http://www.aguaslim-pas.blogspot.com/.

a exposiçom itinerante ‘carra-bouxo non publicados’, que co-memora os 30 anos de vidadesta personagem de Xosé lois,vai estar em compostela até ofim do ano. O primeiro dos es-paços onde vai poder ser visita-da é o centro sociocultural dasfontinhas (rua de Berlim, 13),até o dia 18 de outubro. proxi-mamente a a. c. O galo e a as-sociaçom solfa, organizadorasda mostra, vam anunciar assuas próximas localizaçons.

‘carrabouxo’chega acompostela

eXposiçom

começam em vÁrias localidades

em novemBro

ENVIA CONVOCATÓRIAS aocorreio [email protected] do dia 12 de cada mês.

Anuncia os teus atosno NOVAS DA GALIZA.

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Novas da Gali a apartado 39 (15701) cOmpOstela tel. 692 060 607 [email protected]

“Penso que se da Terceira

Guerra Mundial vai sair al-

gumha cançom, devería-

mos começar a escrevê-la

já agora”

tom lehrer, 1965

assim é como eu o vejo.após todos os lumes, to-

dos, vinhérom os lodos.Botárom-se a perder o

delicado ecossistema, osareais, os bancos maris-queiros, as rias amenhecê-rom cobertas de cinza en-quanto o cianeto envenena-va os mananciais.

chegou outro petroleiro.sem protocolos de evacua-çom, afundiu no mar, e asbarreiras continuavam fe-chadas num armazém acentos de quilómetros. todovoltou ser negro.

fechárom os hospitais.Os velhos e os enfermosesmoreciam em edifíciosabandonados, e ninguémsabia que fazer com eles,mas todos pensárom quenom importava muitosempre que nom estive-rem à vista.

depois foi o desgelo, oscorrimentos de terras, ostremores, o inverno nuclear.a fome por riba da fome.

Os migrantes já nom tin-ham onde migrar, viráromzombies. comêrom-se unsaos outros. Outros poucosresistiam abrigados trás osseus valos de quatro metros,com filas e filas de legioná-rios entre eles e o caos.

véu a terceira guerramundial, mas nom véu deforma horizontal, paísescontra países, mas de ribapara baixo, como vinhamsendo organizadas as gue-rras desde havia mais demeio século. Os exércitosmatárom os pobres e esma-gárom a dissidência en-quanto os televisores passa-vam programaçom pré-gra-vada. após a terceira guerramundial véu a quarta, e de-pois a quinta e a sexta.

deste lado da barreiranom havia onde enterrar osmortos e tampouco haviaquem o figesse.

rematou o mundo, e ocapitalismo continuavaintacto.

patricia a. Janeiro

dinosauro allover aGain

Fala-nos um pouco dos teus co-meços, do que levas feito desdeentom e dos projetos que tés namente para o futuro.Nos meus inícios como vocalistafigem parte dum grupo chamadoPalavra Maestra, junto com outrostrês integrantes. Para mim, resul-tou ser umha “escola” muito im-portante, como pessoa e como vo-calista. Desde 2005 continuo como projeto de Furnier, do qual pode-des encontrar mais informaçom ea discografia íntegra para desca-rregardes debalde em furnier-blog.blogspot.com.

Agora estou a trabalhar no ter-ceiro disco, o meu primeiro de lon-ga duraçom, e espero apresentá-lo logo. Também, e para além dotrabalho ativo no HHA, colaborocom outra muita gente que nomtem a ver com o hip hop, mas quepartilha uns métodos e perspeti-vas iguais ou similares aos meus.

Pertences ao HHA. Poderias fa-lar-nos um pouco da natureza docoletivo, de quem o integra e dequais som os propósitos?O HipHopAteneu é um coletivoque emprega o hip hop como ca-nal de criatividade, expressivida-de e ferramenta de transforma-çom social com umha perspetivaautogestionária e totalmente anti-comercial. Rejeitamos todo o tipode instituiçons, assim como osseus subsídios. Encontramos onosso circuito nos centros sociais,casas okupas, associaçons de vi-zinhas, rádios livres, meios con-tra-informativos e distribuidorasnom comerciais. Pretendemos in-cidir no nosso entorno de maneiraconstrutiva, horizontal e antago-nista. Poderia-se dizer que somosumha comunidade hip hop de vidapartilhada com um funcionamen-to libertário. O HHA nasceu noano 2000, e desde entom nom pa-ramos de organizar eventos (con-certos, ateliers, jams, exibiçons...),editar fanzines e fazer vandalis-mo, rap e graffiti. Nom queremosviver do hip hop, mais bem vivercom ele e empregá-lo como sus-tento de desenvolvimento e ferra-menta de transformaçom social

nas nossas vidas. Seja como for,este projeto precisaria de umhaentrevista aparte, para a qual con-vidamos o NOVAS DA GALIZA.

Costuma-se dizer que o rap é umgénero musical em que predo-mina o machismo, e que em oca-sions promove valores negati-vos. Que dirias a isto?O que cumpre entender é que, co-mo toda expressom proletária, ohip hop tem reproduzido as con-tradiçons e misérias próprias des-ta classe social. É sabido que oprocesso de assimilaçom do hiphop e doutras culturas por partedo capitalismo foi muito profundo,criando umha estética para o mer-cado das identidades. Porém, portrás da imagem do hip hop mono-polizada polos meios de comuni-caçom do sistema, existe o hip hop

subversivo, umha realidade que anível global nom é minoritária. Ohip hop é um meio de expressomque goza dumha grande universa-lizaçom e que racha com os seussupostos sociológicos. A genteapropria-se dele e adapta-o àssuas próprias perspetivas de luitae de vida. Como movimento cultu-ral, deixou-nos umha herançacom umha carga revolucionária,subjazente a dia de hoje, e umhascanles de expressom inéditas queencontram na rua a sua evoluçom.

Costumas empregar o castelha-no nas tuas composiçons. Aque é devido isto? Como vês a questom linguística no que a ti respeita?O uso do castelhano no meu raptem relaçom com o facto de ser alíngua que aprendim de pequeno:

o castelhano é a minha línguamaterna. Se desse repentinamen-te o passo para o emprego do ga-lego, sem um processo prévio pa-ra dominar a fala (cousa que es-tou a fazer), a perda de qualidadedas minhas líricas seria óbvia.Ainda com essas, e chegados aoponto de me exprimir 100% emgalego na fala e na escrita, conti-nuaria a parecer-me correto oemprego do castelhano na músi-ca por parte de alguém que falargalego. Existem muitos exemplosde bandas assim ao longo do ma-pa, bandas comprometidas com acausa soberanista do país ao qualpertencem. Fai pouco mais dumano estivem em Durango numconcerto em solidariedade comos presos independentistas e des-frutei de muitas delas.

Parece-che que o rap pode serumha ferramenta para mudar oatual estado das cousas?Sem dúvida. O hip hop pode re-sultar um autêntico ataque ao pa-radigma cultural capitalista. A ex-propriaçom artística por meio dosampler supom umha clara ruptu-ra com a propriedade inteletual ecom os artistas como rol especia-lizado. Também o graffiti repre-senta umha ruptura com a merca-doria, encontrando o seu desen-volvimento na rua e observandoesta como um papel em brancopronto para ser enchido de corese conteúdos. Por nom falar do po-tente mecanismo de contrainfor-maçom, expressom e comunica-çom que supom o rap a dia de ho-je. Também é salientável o papelhistórico que jogou o hip hop co-mo instrumento de rearticulaçomem comunidades com realidadesvitais e culturais muito diversas,desde o chocó colombiano até ascomunidades mapuches, passan-do polas banlieues francesas echegando aos subúrbios de NovaIorque, por nomear apenas al-guns exemplos. Aliás, o hip hoptem um papel importantíssimo naformaçom do temperamento vitaldas pessoas e alimenta o lume dasrevoltas, como aconteceu naFrança ou na Grécia.

O hip hop alimenta o lume das revoltas,como aconteceu na França ou na Grécia

RUBÉN MELIDE / Os amantes do 4x4 dos bairros e da peri-feria rururbana de Compostela conhecem bem este to-do-o-terreno do bombo e a caixa. Por cima do cimentoda Pontepedrinha ou sobre a lama das aldeias da Amaía,o nosso entrevistado leva emitindo grandes concentra-

çons de raiva e sonhos à atmosfera desde o parto doterceiro milénio. Já vam alá muitos cenários e muitascircunstáncias vitais. Em 2013 o caminho continua, eparece que vai ser empinado, mas o motor é potente. ONOVAS DA GALIZA conversa com Furnier.

furnier, cantante de rap e memBro do hiphopateneu