Voluntariado: nova forma de participaçom social ou...

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NÚMERO 46 15 DE SETEMBRO A 15 DE OUTUBRO DE 2006 1 Mugia além do Prestige, paradigma de umha desastrosa política municipal Quando nos aproximamos do quarto aniversário do afundamen- to do Prestige, a maré negra que tivo Mugia como centro geográfi- co e mediático nom foi o único castigo que afectou esta vila da Costa da Morte. Outras catástro- fes, bem mais duradouras, conti- nuam a corroer a vida política e social de Mugia, onde a corrup- çom, a especulaçom urbanística e o narcotráfico chegam mesmo a condicionar a política municipal. NOVAS DA GALIZA percorreu umha vila de identidade marin- heira desfigurada agora paisagisti- camente pola especulaçom e o feísmo e socialmente pola corrupçom, ligada em muitas oca- sions às redes da droga. Porém, nom se trata da análise de um mal endémico: Mugia é só o para- digma de umha comarca onde a emigraçom, o desemprego e a precariedade laboral som notó- rios. Nem a conhecida política de subsídios aplicada após a catás- trofe nem a já planificada turisti- ficaçom de luxo comum a outras comarcas costeiras até há pouco ainda virgens vam conseguir tapar esta realidade. Agora, a conserva- çom do património está a mobili- zar umha vizinhança que poderá começar a fazer abalar o actual poder municipal de Mugia. Como a pedra, tardará, mas a política clientelista acabará por abalar. / Pág. 10 Conselharia permitirá aprovaçom dos PGOM inicialmente suspensos / 04 E AINDA... Opinions de Duarte Ferrín, Ugio Caamanho, Valentim R. Fagim, Beatriz Santos, Concha Rousia e Pedro Alonso “A poesia é a irmá pobre da arte, a arte dos pobres, porque apenas com a palavra, um lápis e um papel é possível criar umha obra grandiosa” Elvira Riveiro, escritora PÁGINA 18 A repressom na Galiza dos anos sessenta vista por um protagonista dos oitenta Antom Árias Curto iniciava a actividade política nos ‘anos dourados’ do franquismo / 15 Voluntariado: nova forma de participaçom social ou assistência de umha Administraçom incapaz? As constantes crises ambien- tais que padece a Galiza ten- hem umha contrapartida que há quem veja com certo opti- mismo. Costumam vir acom- panhadas de novos modos de intervençom social, ainda que efémeros, ou polo menos de debate em torno desse inter- vencionismo dos cidadaos e cidadás. Um deles é o volun- tariado, que a Galiza popula- rizou em todo o mundo graças à maré branca que combateu, com maior ou menor acerto, aqueloutra maré negra de há quatro anos. Agora, os incên- dios voltam a pôr o volunta- riado na berlinda: trata-se de mais umha ferramenta de transformaçom social perante a desapariçom do Estado ou apenas de umha forma de assistir umha Administraçom incapaz. Jorge Paços e Raul Asegurado trazem ao NOVAS DA GALIZA um debate já presente na esquerda desde há tempo. Quem considera a acçom voluntária umha nova forma de participaçom social vê nela umha escola de peda- gogia revolucionária em que hiberna um profundo signifi- cado de militáncia. Polo con- trário, quem a considera mera armadilha do poder, prefere a construçom micro- social de umha rede de pode- res alternativos à mera assis- tência do governo do momento. / Pág. 14 NOVAS DA GALIZA VOLTA À ZONA ZERO PARA EXAMINAR AS OUTRAS CATÁSTROFES Jorge Paços e Raul Asegurado trazem-nos um debate já presente na esquerda desde há tempo A LÍMIA PODERÁ ser a seguinte comarca a contar com um centro social impulsionado pola Associaçom Juvenil Aguilhoar / 04 INTENSA CAMPANHA MEDIÁTICA contra o militante independentista Antom Garcia Matos / 05 VIGO CONVERTE-SE NUM campo de experimentaçom eleitoral com três listas nacionalistas / 07 A corrupçom, a especulaçom urbanística e o narcotráfico chegam mesmo a condicionar a política municipal de Mugia

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NÚMERO 46 15 DE SETEMBRO A 15 DE OUTUBRO DE 2006 1 €

Mugia além do Prestige, paradigma deumha desastrosa política municipal

Quando nos aproximamos doquarto aniversário do afundamen-to do Prestige, a maré negra quetivo Mugia como centro geográfi-co e mediático nom foi o únicocastigo que afectou esta vila daCosta da Morte. Outras catástro-fes, bem mais duradouras, conti-nuam a corroer a vida política esocial de Mugia, onde a corrup-çom, a especulaçom urbanísticae o narcotráfico chegam mesmo acondicionar a política municipal.

NOVAS DA GALIZA percorreuumha vila de identidade marin-heira desfigurada agora paisagisti-camente pola especulaçom e ofeísmo e socialmente polacorrupçom, ligada em muitas oca-sions às redes da droga. Porém,nom se trata da análise de ummal endémico: Mugia é só o para-digma de umha comarca onde aemigraçom, o desemprego e aprecariedade laboral som notó-rios. Nem a conhecida política de

subsídios aplicada após a catás-trofe nem a já planificada turisti-ficaçom de luxo comum a outrascomarcas costeiras até há poucoainda virgens vam conseguir taparesta realidade. Agora, a conserva-çom do património está a mobili-zar umha vizinhança que poderácomeçar a fazer abalar o actualpoder municipal de Mugia.Como a pedra, tardará, mas apolítica clientelista acabará porabalar. / Pág. 10

Conselharia permitirá aprovaçom dosPGOM inicialmente suspensos / 04

E AINDA...

Opinions de Duarte Ferrín, Ugio Caamanho,Valentim R. Fagim, Beatriz Santos, ConchaRousia e Pedro Alonso

“A poesia é a irmá pobre da arte, a arte dos pobres, porque apenas com a palavra, um lápis e um papel é possível criar umha obra grandiosa”Elvira Riveiro, escritora PÁGINA 18

A repressom na Galiza dosanos sessenta vista por um protagonista dos oitenta

Antom Árias Curto iniciava a actividade política nos ‘anos dourados’ do franquismo / 15

Voluntariado: nova forma de participaçom social ouassistência de umhaAdministraçom incapaz?

As constantes crises ambien-tais que padece a Galiza ten-hem umha contrapartida quehá quem veja com certo opti-mismo. Costumam vir acom-panhadas de novos modos deintervençom social, ainda queefémeros, ou polo menos dedebate em torno desse inter-vencionismo dos cidadaos ecidadás. Um deles é o volun-tariado, que a Galiza popula-rizou em todo o mundo graçasà maré branca que combateu,com maior ou menor acerto,aqueloutra maré negra de háquatro anos. Agora, os incên-dios voltam a pôr o volunta-riado na berlinda: trata-se demais umha ferramenta detransformaçom social perante

a desapariçom do Estado ouapenas de umha forma deassistir umha Administraçomincapaz. Jorge Paços e RaulAsegurado trazem ao NOVASDA GALIZA um debate jápresente na esquerda desdehá tempo. Quem considera aacçom voluntária umha novaforma de participaçom socialvê nela umha escola de peda-gogia revolucionária em quehiberna um profundo signifi-cado de militáncia. Polo con-trário, quem a consideramera armadilha do poder,prefere a construçom micro-social de umha rede de pode-res alternativos à mera assis-tência do governo domomento. / Pág. 14

NOVAS DA GALIZA VOLTA À ZONA ZERO PARA EXAMINAR AS OUTRAS CATÁSTROFES

Jorge Paços e Raul Asegurado trazem-nos umdebate já presente na esquerda desde há tempo

A LÍMIA PODERÁ ser a seguinte comarca a contarcom um centro social impulsionado polaAssociaçom Juvenil Aguilhoar / 04

INTENSA CAMPANHA MEDIÁTICA contra o militanteindependentista Antom Garcia Matos / 05

VIGO CONVERTE-SE NUM campo de experimentaçomeleitoral com três listas nacionalistas / 07

A corrupçom, a especulaçom urbanística e o narcotráfico chegam mesmo a condicionar a política municipal de Mugia

NOVAS DA GALIZA15 de Setembro a 15 de Outubro de 200602 OPINIOM

O PELOURINHO DO NOVAS

Se tens algumha crítica a fazer, algumfacto a denunciar, ou desejas transmi-tir-nos algumha inquietaçom oumesmo algumha opiniom sobre qual-quer artigo aparecido no NGZ, este éo teu lugar. As cartas enviadas deve-rám ser originais e nom poderámexceder as 30 linhas digitadas a com-putador. É imprescindível que os tex-tos estejam assinados. Em caso con-trário, NOVAS DA GALIZA reserva-se odireito de publicar estas colaboraçons,como também de resumi-las ouestractá-las quando se consideraroportuno. Também poderám ser des-cartadas aquelas cartas que ostenta-rem algum género de desrespeito pes-soal ou promoverem condutas antiso-ciais intoleráveis. Endereço: [email protected]

FALTA DE OBJECTIVIDADENUM DESTAQUE DO NGZ

“Governo nazi-sionistadeIsrael continua com a limpezaétnica no Líbano” foi um man-chete que apareceu no Novasda Galiza anterior. Além desimpatias e antipatias, emminha opiniom, é um títuloque nom condiz com um jor-nal como o Novas e nom deve-ria condizer com qualquer jor-nal seja do teor que for. Parajá, porque o Governo de Israelnom é ‘nazista’ embora podaser muitas outras cousas. Aliás,é umha boa regra de estilo evi-tar os adjectivos qualificativosquando se escreve ensaio oujornalismo. Depois, porque‘limpeza étnica’ som palavrasbem grossas que devem seraplicadas com rigor. O uso des-tes termos fora de contexto

fazem com que se desvirtuem.Um outro manchete podia tersido: ‘Governo israelita escol-he alvos civis no Líbano’. Émenos espectacular, reconhe-ço, mas dá certo.

Valentim R. Fagim

POR UMHA VERDADEIRADEMOCRACIA

À procura de vias democráticaspara nos defendermos dos quedesrespeitam os nossos direi-tos tanto nacionais como indi-viduais, aposto numha coliga-çom de todos os partidosnacionalistas de esquerda,mas deixando fora o BNG, queagora é de direita. Um dosdireitos que nos recusa o

poder é o direito a ter umha‘verdadeira democracia’ quesubstitua a falsa democraciamontada em 1977 polos fran-quistas em colaboraçom comdeterminadas personagens daesquerda. Alguns artigos daConstituiçom de 78 som anti-democráticos (desrespeitamprincípios democráticos fun-damentais ou som origem demanipulaçons). O mesmoacontece com a ‘lei eleitoral’que tanto favorece o PP comoo PSOE. Nas últimas eleiçonsentrárom nas Cortes deEspanha de forma fraudulentauns 50 senadores-deputadosdo PP e outra quantidadesemelhante de senadores-deputados do PSOE, que comumha distribuiçom democráti-ca dos votos nom lhe corres-ponderiam.Além disso, esta lei permite achantagem eleitoral que con-siste em que quando chegam

as eleiçons o PSOE diz: ‘nomvotem nesse partido pequenoporque se o figerem, perderámo seu voto; votem no PSOEpara o PP nom ganhar. E o PPfai igual, mas mudando adirecçom do voto. Esta grandemanipulaçom democrática temumha singela soluçom: estabe-lecer a segunda volta ou umsistema de restos (que é bom emais barato). Asinha temosque exigir a estes dous parti-dos que tenhem o poder aimplantaçom de um autênticosistema democrático.Fora armadilhas e fora mani-pulaçom. É necessária umhareforma a fundo daConstituiçom e de leis comoa eleitoral.

Abelardo Fernández(NÓS-UUnidade Popular)

A ampliaçom do recheio de Bouçasestrangulará a ria de Vigo

Desde os anos sessenta o recheiode Bouças foi invadindo o maraté formar umha península

que já supera o milhom de m2 e avança700 m sobre o mar. A AutoridadePortuária de Vigo pretende agoraampliar este macro-recheio mais 80.500m2 (115 m em direcçom Cangas por700 de longo) para fazer um novo caisdestinado a contentores. Este projectode recheio é publicitado disfarçada-mente como um “sistema misto derecheios e estacas”, mas seriam 85 m derecheio em direcçom Cangas e tam sóuns 30 m de estacas.

Além disso, os práticos de Vigo adver-tem sobre a necessidade de protegereste cais dos fortes ventos que entramdo N e NW e dos movimentos do marmediante um quebra-mar de 100 m emdirecçom Cangas para poderem atracaros navios. Isto faria avançar o recheio deBouças um total de 915 m sobre o marreduzindo a distáncia entre Bouças eCangas a menos de umha milha. Assim,a ria ficaria totalmente estrangulada.Isto repercutiria na dinámica dascorrentes, afectando todos os areeiros,os bancos marisqueiros, os peixes, etoda a ecologia da ria, visto que por umlado diminui o fluxo de entrada daságuas que trazem nutrientes e limpama ria e por outro reduz o fluxo de saídadas águas interiores que levam consigoelementos poluentes e águas doces pro-cedentes dos rios. Sobretudo afectaria a

enseada de Sam Simom, espaço prote-gido, que ao estar no interior da ria temmenor renovaçom das águas.

Para que este cais tenha os 20 m decalado que pretendem conseguir, serápreciso dragar umha área de fundo de140.000 m2 que é de rocha na sua maiorparte. Assim, terám que empregar-seexplosivos, o que afectará toda a vidamarinha nas suas proximidades.

Estas obras teriam outros efeitoscomo a destruiçom da paisagem. Paraalém do efeito do próprio recheio, oarmazenamento de contentores provo-caria umha barreira visual de 10 andaresde altura ao longo do cais, perda de habi-tat marinho, perda de biodiversidade ediminuiçom de produçom primáriadevido à turvaçom provocada polos sóli-dos em suspensom que reduz a fotos-síntese fitoplanctónica e de macro-algas, afectando toda a cadeia trófica.Também provocaria a diminuiçom daconcentraçom de oxigénio e a entrada ea dissoluçom de poluentes no mar. Adegradaçom do ambiente e da nossariqueza paisagística é degradaçom tam-bém da nossa identidade.

Alem disso, Fomento e a AutoridadePortuária preveem fazer um oleodutode 35 km desde o porto seco deSalvaterra até o porto de Vigo conectadocom a rede de oleodutos do Estadoespanhol. Daí a que atraquem petrolei-ros na ria de Vigo há só um passo e porisso necessitam 20 m de calado.

Abel Caballero, presidente daAutoridade Portuária e próximo candi-dato do PSOE à presidência da Cámarade Vigo, diz que necessitam de maisespaço quando a maioria do terreno por-tuário esta infra-utilizado. Estám a con-verter o porto num polígono industrialde empresas que nada tenhem a vercom o mar e num armazém de carros.Dos 10 Km que vam desde Alcabre atéRande nom há um só quilómetro para odesfrute da cidadania, está tudo cheiode instalaçons portuárias amiúde emlamentável estado de abandono e vala-dos em zonas às quais nom é permitidoo acesso.

No Porto insistem desde há trintaanos em que o recheio de Bouças vai tra-zer progresso e vai criar riqueza e postosde trabalho, mas para Bouças e Alcabresó produziu miséria, destruiçom e polui-çom, acabando com um dos melhoresbancos marisqueiros existentes na ria.Bouças era umha tranquila vila marin-heira rodeada de mar, agora é um bairrorodeado por um polígono industrial poloqual passa todo o tráfego de Vigo.Confundem os interesses das grandesempresas com os interesses do povo.Utilizam os recursos naturais de domí-nio público para negócio privado oucomo meio para a especulaçom urbanís-tica já que deitar terra ao mar para con-seguir terreno é muito barato e as con-cessons de espaço portuário às empre-sas som muito caras, eis o negócio espe-culativo. A Autoridade Portuária funcio-na como umha empresa imobiliária.

A praia artificial que nos oferecemcomo rebuçado vai ser outra grave agres-som, já que com as dinámicas existentes

na zona, esta areia, que teria que serreposta aos poucos, seria transferida parao sul e para o oeste, fechando a enseadade Bouças e sepultando as praias natu-rais de Alcabre.

A ria de Vigo é património colectivopara o uso e o lazer de todas e todos oscidadaos e trata-se de um ecossistemaúnico, frágil e que está já muito degrada-do.

Ao destruir o ecossistema marítimoterrestre da ria de Vigo destrói-se oúnico e principal jazigo de recursos demilhares de famílias que com as suasactividades profissionais de pesca,marisqueio, aquicultura, e bateias cons-tituem o núcleo de um conjunto queabrange todos os sectores da economia

tradicional: construçom naval, repara-çom, comercializaçom, transporte,hotelaria e turismo.

O recheio de Bouças já foi declaradoilegal e ambientalmente prejudicial.Obras deste tipo só se fam com o silên-cio, a passividade e a cumplicidade dasautoridades locais nacionais e estatais.

Contra tudo isto e perante a passivi-dade da A.V.V. de Bouças e a Plataformapola defesa da Ria, um grupo de vizin-has e vizinhos tomárom a iniciativa ecom o nome de ‘Bouças Move-te’estám-se a mobilizar enchendo Bouçasde faixas e cartazes, organizando con-centraçons, manifestaçons e outrasacçons que, como dizem, irám endure-cendo-se.

DUARTE FERRIN

NOVAS DA GALIZA15 de Setembro a 15 de Outubro de 2006 03EDITORIAL

Um amigo meu defende queo capitalismo constitui,antes de mais, umha agres-

som antropológica, um dissolventeda condiçom social do ser humano eportanto dos múltiplos matizes eprofundidades que encerra a palavra‘cultura’, tudo em prol da constru-çom de um indivíduo ‘atrincheira-do’ nos seus direitos e as suas possespara o perpétuo combate contra osconcorrentes, através do mercado,e contra as cousas, através do consu-mo. Também me fijo reparar emque os valores morais, afinal, nompassam de reflexos das relaçonssociais, e que em funçom deles éque nos alegramos, entristecemose, às vezes, encolerizamos e suble-vamo-nos.

Diz o meu amigo: ‘Nom devemospreocupar-nos tanto com as ideiasque se compartilham ou deixam decompartilhar como da identidadede entusiasmos, desejos e ódios,porque som estes que nos levam apercorrer o caminho entre pensa-mento e acçom’. Ele é um homemprático. Entom, pede-me quereconheçamos, de maneira umbocado simplória e para nos enten-dermos, dous grandes subgrupossociais: o dos sujeitos burguesesnascidos na Galiza, e o dos galegosde naçom. Trabalhemos a partir dosegundo para o engrossarmos àcusta do primeiro, e chamemos aisso construçom nacional.

Lembrava isto há uns meses, aotentar compreender as últimas notí-cias do conflito lingüístico na fla-mante democracia do século XXI:empresas de hotelaria que nomatendem um meninho por pedir emgalego, escritórios onde exigem uti-lizar o espanhol, um congresso queapupa conferenciantes galego-falan-tes... histórias que conhecemos por-que os sofredores protagonistas sou-bérom sentir-se suficientementeagredidos e reagírom, algo nom tamhabitual como gostaríamos.

Mas também na percepçom dasagressons existem qualidades.Pergunto-me a que qualidade res-ponde o nosso comportamento típi-co perante as agressons lingüísticas,se a entusiasmos, sujeitos e ódiosde sujeitos burgueses ou entom degalegos. O caso típico de respostaperante a agressom consiste embrandir os direitos individuais e,quando isso nom funciona, denun-ciar publicamente o caso nos meiosde comunicaçom. Defende-se oidioma com os tribunais espan-hóis como garantia final, sim, masdo mesmo modo que outro indiví-duo defende o direito a mudar decompanhia telefónica, em virtu-de do universo dos direitos doconsumidor. Perspectiva que

compromete muito pouco valorese emoçons.

Mas o conflito lingüístico é umconflito cultural, no sentido decomunitário. Reduzido ao padromindividualista é de umha trivialida-de quase ridícula, incapaz de mobi-lizar grandes paixons. Desmantela-da a cultura e substituída polaespectaçom, invadidos todos osámbitos comunitários pola forma dovalor e o Estado, os idiomas só ser-vem para comunicar-se ou promo-ver-se no ‘mercado das línguas’, quetambém som ‘valorizadas’, como aspaisagens ou as cores. As agressonssentem-se apenas à liberdade indi-vidual, e dificilmente a um projectocolectivo ou nacional.

O que aconteceria se um empre-sário acabasse umha entrevista detrabalho comentando: “Ah!, já agora,tem que trabalhar você com as cal-ças baixas?” Umha agressom assim àdignidade chamaria de imediato porumha resposta equivalente que ree-quilibrasse umha situaçom desuposto respeito mútuo desrespei-tada pola declaraçom do patrom, ecom certeza tal resposta seria algomais do que umha conferência deimprensa.

Com o que compromete anossa dignidade individual parecefácil encolerizar; com o que com-promete a nossa dimensomcomunitária, noçom inapreensívelpara a subjectividade burguesa, acousa torna-se mais complexa:defesa perante os media dos nos-sos direitos individuais enquantoos empresários, os hoteleiros ouos congressistas morrem a rir econtinuam a humilhar-nos.

Trata-se de argumentos? Nom,trata-se das relaçons sociais verda-deiramente existentes. Vivemosimersos em relaçons baseadas novalor e mediadas polo Estado, o quenos converte em dependentes,individualistas e autolimitados.Também os nacionalistas.

O meu amigo anda a teimar naabertura laboriosa e paciente deámbitos onde os galegos nos rela-cionemos entre nós e com a Terradesenvolvendo e estimulando des-ejos de solidariedade, compromis-so, amizade, generosidade e inter-nacionalismo, e ao mesmo tempoódios por aquilo que nos dissipa emsujeitos egoístas, solitários e impo-tentes. Este é o sentido de umhavasta reconstruçom cultural inde-pendentista.

Ao meu amigo, nunca lhe exigí-rom que falasse espanhol, mas achoque a sua reacçom seria fulminantee desrespeitaria vários artigos doCódigo Penal. A comunidade paga-ria sem problemas a multa corres-pondente.

Um mar envenenado, um monte erodidopolo lume e umha mocidade que se deba-te entre a emigraçom e umha precarieda-

de galopante; umha populaçom mormente resig-nada que encena a sua visom da política aderindoao pior dos clientelismos; umha política munici-pal encadeada aos subsídios e umha especulaçomligada à droga e ao cimento. A realidade de Mugiapoderia ser o tema de umha sátira hiperbólica oua argumentaçom de tintas recarregadas de umpanfleto combativo. Porém, é a realidade pura edura que NOVAS DA GALIZA traz para os seusleitores e leitoras, a crónica descarnada dessenosso país que tantos colunistas já alcunham demoderno e superador dos atavismos do passado.Esta aproximaçom em pormenor de umha realida-de local costeira bem pode motivar umha refle-xom sobre os poderes locais e a vindoura cita elei-toral que anunciam os meios já com a balbúrdiahabitual. O que se apresenta como ‘festa dademocracia’ parece representar antes os confron-

tos de ‘franquias’ (como definiu recentementeos partidos um reputado colunista) pola capacida-de de gestom de favores. O ámbito local, quedeveria ser o autêntico campo de experimenta-çom de formas diferentes de participaçom popu-lar e gestom das riquezas colectivas, esmorecenumha cerimónia do absurdo sob a sombra dascomissons e as grandes construtoras.Ainda, queremos fugir deliberadamente da apre-sentaçom de umha Costa da Morte enquadradana excepcionalidade e tingida de cores sinistras.Primeiro, porque esta comarca partilha com tan-tas outras da naçom um presente marcado polaliquidaçom violenta das suas bases produtivas eos ditados da irresponsabilidade política. Esegunda – e especialmente – porque esquecerí-amos as valentes minorias críticas que, emMugia ou no conjunto da Galiza, tecem pacien-temente umha realidade bem diferente para darfôlegos aos mais e combater qualquer vocaçomde pessimismo.

A ‘ZONA ZERO’ DA GALIZA

PEPE CARREIRO

EncolerizarUGIO CAAMANHO

As opinions expressas nos artigos nom representam necessariamente a posiçom do periódico. Os artigos som de livre reproduçom respeitando a ortografiae citando procedência. A informaçom continua periodicamente no sítio web www.novasgz.com e no portal www.galizalivre.org

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DESENHO GRÁFICO E MAQUETAÇOM

Miguel Garcia, C.Barros, A. Vidal, X. Árias

FECHO DA EDIÇOM: 15/09/06

INTERNACIONAL

Duarte FerrínNuno Gomes (Portugal)Jon Etxeandia (País Basco)Juanjo Garcia (Países Cataláns)

COLABORAÇONS

Maurício Castro, I. Gomes, D. Loimil,X. Carlos Ánsia, Santiago Alba, Daniel Salgado,Kiko Neves, J.R. Pichel, R. Pinheiro, JosebaIrazola, Asier Rodrigues, Carlos Taibo, IgnacioRamonet, Ramón Chao, Germám Hermida,Celso Á. Cáccamo, João Aveledo, Jorge Paços,Adela Figueroa, Joám Peres, Pedro Alonso,Alexandre F., Joana Pinto, Miguel Burros,Ana Rocha, Luís G. Blasco ‘Foz’, Alberte Pagán

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NOVAS DA GALIZA15 de Setembro a 15 de Outubro de 2006

NOTÍCIAS

04 NOTÍCIAS

Conselharia do Meio Ambiente permitiráaprovaçom de PGOM suspensos

REDACÇOM / Com o propósitode preservar os recursos natu-rais e garantir um desenvolvi-mento sustentável, a denomi-nada Lei de AvaliaçomAmbiental Estratégica, aprova-da no passado mês de Abril porunanimidade polo Parlamentoespanhol, tenta impedir osdanos ao meio ambiente na faseem que as Administraçonsestám a planificar actuaçons emmatéria de infra-estrutura rodo-viária, ferroviária, agrária,pecuária, energética, hidráulicae de urbanismo.

Na Galiza, a Conselharia daPolítica Territorial decidirainterromper a tramitaçom paraa aprovaçom definitiva do PlanoGeral de Ordenaçom Municipal(PGOM) de vários concelhos(Vigo, Cúrtis, Tui, Samos,Tabuadela, e Paderne deAlhariz) até receber o relatóriodo Departamento do MeioAmbiente de avaliaçomambiental para cumprir com anova normativa, que afecta osmunicípios que começárom atramitar o seu PGOM antes deJunho de 2004 e que nomfôrom aprovados antes do dia21 de Julho de 2006.

Mas o conselheiro do MeioAmbiente, Manuel Vázquez,tem decidido saltar esta norma

e avançar de imediato comvários destes projectos paralisa-dos por desrespeitarem a legis-laçom vigente, fundamental-mente em temas ambientais.Assim, os planos urbanísticosde Vigo, Compostela, Oleiros eLugo poderám sair finalmente,embora nom se ajustem à LeiDe Avaliaçom EstratégicaAmbiental, graças a que o con-selheiro decretou a “excepcio-nalidade” que a própria Leicontempla para determinadasocasions.

Para o conselheiro, a aplica-çom rigorosa da lei implicariamais prejuízos dos que a pró-pria lei tenta evitar, ao estaremos planos destes concelhos nafase final de tramitaçom. Destamaneira pensa aplicar aDisposiçom AdicionalTransitória da Lei, que lhe per-mite dar validez às normasurbanísticas, substituindo opreceptivo relatório ambientalpor outro trámite administrati-vo alternativo.

Este propósito foi bem rece-bido pola presidenta da Cámarade Vigo, manifestando que estesubterfúgio permitirá aprovar oPGOM viguês em tempo recor-de. O governo municipal deTui, encabeçado por FernándezRocha, condenado já várias

vezes por delitos urbanísticos,já se apressou a indicar que, porsugestom da Conselharia doMeio Ambiente, esta será tam-bém a via que utilize o seugoverno municipal para conse-guir a aprovaçom do PGOMparalisado, sem ter que reini-ciar o projecto urbanístico.

Planeamentos que nunca acabamPara além dos anteriormentereferidos, outros concelhos ten-hem os seus respectivos PGOMparalisados por diversos moti-vos. É o caso da Estrada, porincompatibilidades com a Leido Solo de 2002. Os entravesque isto implica figérom comque o Conselho da Junta ditas-se umha ordenaçom urbanísticaprovisória que controlasse aconstruçom até a aprovaçomdefinitiva do novo PGOM. Porenquanto nom se concedemlicenças de construçom.

O concelho de Sada, outroque conta com o seu PGOMsuspendido por ordem daJunta, viu como TribunalSuperior de Justiça da Galizarejeitou o seu pedido de parali-saçom cautelar da suspensomditada pola Conselharia no pas-sado Dezembro polas irregulari-dades e incumprimentos detec-tados em matéria urbanística.

Arteijo também estivo namira da Conselharia, ao suspen-der a ordem que regula asmudanças urbanísticas nomunicípio, aprovada polo ante-rior conselheiro Nunes Feijoo,para determinar se procede àsua anulaçom por desrespeitar aLei do Solo.

O presidente da Cámara dePonte Caldelas decidiu conti-nuar aplicando as normas subsi-diárias de 1993 por considerar«extremamente restritivos eproteccionistas» os critérios daConselharia em relaçom aourbanismo. Esta cámara viufrontalmente rejeitado o seuPGOM com deficiências detec-tadas “de especial entidade”por aumento de edificabilida-de. Um caso curioso é o doProjecto do Balneário ao pé dorio Verdujo. Urbanismo impedea sua construçom por nom con-siderar como solo urbano o lotesobre o qual assenta e que oPGOM determinava comourbano na sua totalidade únicae exclusivamente para esse usoconcreto de instalaçons balnea-res. O projecto inicial fora des-enhado pola arquitecta TeresaTáboas, actual conselheira deHabitaçom e Solo, que situou oedifício precisamente nessepolémico lugar.

Usará como pretexto a ‘excepcionalidade’ à Lei de Avaliaçom Ambiental

REDACÇOM / Com o impulsiona-mento da associaçom sócio-cultu-ral limiá Aguilhoar, mais um cen-tro social começa a andar no País.A assembleia que a associaçomtem agendada para o dia 23 deSetembro analisará a viabilidadede que neste Outono se produza ainauguraçom deste novo centrosocial, que deverá “desenvolver edinamizar o movimento social ecultural limiao”. Com este proje-to, o País conta com mais umespaço físico que “servirá deencontro para os sócios deAguilhoar” e ainda para outraspessoas e organizaçons que visamumha defesa coordenada da cultu-ra, a língua e a sociedade destepaís. O propósito do pessoal que opromove é que chegue a contarcom um café-bar, “cujos benefí-cios irám destinados à própriaassociaçom, para satisfazer oseventos que se agendarem”.Ainda, umha sala de actividades,uma mediateca com filmes, docu-mentários galegos ou do resto daLusofonia e umha loja, onde “sedistribuirá material diverso”.Está-se a avaliar a hipótese de queo centro acolha também aulas deteatro e música, para alargar aindamais a variada oferta que preten-de oferecer o centro social limiao.Na associaçom limiá informam-nos que o Centro Social é pro-duto também dos desejos demuitos jovens da comarca queestariam dispostos a colaborar,embora nom fagam parte do pro-jecto da Aguilhoar, já que para agente desta Associaçom o queinteressa é “fazer País... compro-metidamente”.Este projecto une-se e compar-tilha postulados com outroscentros sociais de intenso tra-balho em prol da Galiza, como aGentalha do Pichel, a Fouced'Ouro, a Revolta, Atréu ou aEsmorga... confirmando os seusespaços físicos como coordena-dores de umha vasta ofertasócio-cultural que sobretudo setem sentido neste último lus-tro, mostrando-se como uma rijaalternativa ao discurso oficialimperante na Galiza e à procurade umhas vias de espargimentopróprias. As sócias e sócios daAguilhoar tenhem previstoaprovar o projecto na referidaassembleia do dia 23, envolven-do assim a comarca na “dinámi-ca criativa” que o resto dos cen-tros sociais tenhem levantadopolo País.

AssociaçomAguilhoar abrirácentro social nacomarca da Límia

O PGOM promovido polo actual Governo Municipal de Vigo tem sido respondido na rua com importantes manifestaçons vicinais

NOVAS DA GALIZA15 de Setembro a 15 de Outubro de 2006 05NOTÍCIAS

Descobrimento de material da ResistênciaGalega intensifica campanha mediática decriminalizaçom contra Antom Garcia

REDACÇOM / A capa do diárioLa Razón do passado dia 10 deSetembro iniciava umha cam-panha de linchamento mediá-tico contra o militante inde-pendentista Antom GarciaMatos, denunciando a sualibertaçom pola AudiênciaNacional após ter sido detidoem Compostela durante a cha-mada Operaçom Castinheira,em Novembro de 2005. Apublicaçom sensacionalistaacusava-o de liderar a chamadaResistência Galega, o quelevou à conseguinte irrupçomdo Conselho Geral do PoderJudicial (CGPJ), que decretouumha investigaçom a respeitoda decisom do juiz SantiagoPedraz. Sem existir nenhumasentença firme contra GarciaMatos, que estivera presodesde finais dos anos 80 atémeados dos 90 por pertencerao Exército Guerrilheiro doPovo Galego Ceive (EGPGC),

a prática totalidade dos jornaiscom difusom na Galiza repro-duziam a informaçom acusató-ria distribuída por diferentesagências de imprensa.Conforme as fontes policiais, omilitante encontraria-se emparagem desconhecido desde opassado mês de Julho.A difusom mediática voltou amultiplicar-se e atingiu acomunicaçom social portugue-sa no passado dia 19 deSetembro, com a localizaçompor umhas crianças de 26 bom-bas preparadas para serem uti-lizadas junto a propaganda daResistência Galega num refú-gio florestal de Vieira doMinho. Os media apontáromrapidamente a vinculaçom deAntom G. Matos com a notíciae o caso está a ser investigadopola Polícia Judiciária dePortugal, que lançou à hipóte-se de que a colocaçom domaterial num lugar de fácil

acesso poderia responder a umgolpe com intençom propagan-dística de pessoas integradasno citado movimento ou deoutros grupos.

Denunciam campanhatmediáticoo-jjudicialO organismo anti-repressivoCeivar destacou “o papel polí-tico de primeira ordem quejogam os meios para impedi-rem que prenda um movimen-to sócio-político autodetermi-nista” num comunicado emsolidariedade com o indepen-dentista em que denunciam asupeditaçom das empresasinformativas “ao poder políticoe policial” e o “desrespeitoconstante ao seu imagináriocódigo deontológico”, reser-vando-se a possibilidade deiniciar acçons judiciais. Por suavez, o Movimento polosDireitos Civis criticou que oCGPJ nom acedesse a investi-

gar na altura se as detençonsda Operaçom Castinheiraforam correctas, aduzindo quenom lhe estava permitido, poloque questionam agora a suapotestade para investigar asposteriores libertaçons.A organizaçom juvenil indepen-dentista AMI também estivono alvo dos meios de comunica-çom, sendo assinalada polosmeios mais reaccionários como“braço político” da ResistênciaGalega. Por sua vez, negáromatravés dum comunicado queGarcia Matos fosse integranteda sua formaçom, reiterárom asua condiçom de organizaçompública “sem nada que aga-char” e indicam que a apariçomnas notícias das suas siglas res-ponde a “umha clara vontadede intoxicaçom e difamaçom”por parte dos meios de infor-maçom de massas, aos quaischamam “porta-vozes do poderjudicial e policial”.

Bombas e propaganda fôrom localizadas no concelho português de Vieira do Minho

10-08-06

Mal-eestar vicinal na visita do presi-dente do Estado espanhol a zonasafectadas polos incêndios na Galiza,e concentraçom contra os incêndiosem Compostela.

11-08-06

Arqueólogos do Instituto deEstudos Minhoranos encontram emGondomar restos de umha aldeia demais de 5.000 anos de antiguidadenumha zona em que já foram encon-trados úteis de há 200.000 anos.

12-08-06

Morreohomem da Caniça que deraentrada no hospital com queimadu-ras; é a quarta vítima mortal dosincêndios deste Verao.

13-08-06

Setenta fogos activos nos nossosmontes, metade deles sem controlar.

14-08-06

Inaugurado o salom de banda des-enhada ‘Vinhetas desde o Atlántico’.

15-08-06

Científicos chineses inventam unssapatos para invidentes que detec-tam as irregularidades do chao porultrasom e uns óculos que alertamde obstáculos seguindo o métodosensorial dos morcegos.

16-08-06

Mobilizaçons dos operários deMontagens Nerviom que foramdespedidos há já um mês.

17-08-06

A Junta calcula em 77.000 os hecta-res de monte queimados polosincêndios dos últimos doze dias.

18-08-06

Presidentesautárquicosda comarcade Sárria assinalam que Sogamanom está a recolher a totalidade dosresíduos gerados na zona.

19-08-06

Centro social ‘A Fouce de Ouro’

CRONOLOGIA

A destruiçom parcial do escritório de umha construtora em Sigüeiro, nos dias prévios ao 25 de Julho, foi umha das últimas acçons de sabotagem da Resistência Galega

NOVAS DA GALIZA15 de Setembro a 15 de Outubro de 200606 NOTÍCIAS

organiza roteiro para a limpezado rio de Vilhestro. Cámaramunicipal recusa-se a recolhero lixo juntado.

20-08-06

Manifestaçom da Nunca Mais emCompostela, contra os incendiáriose a política florestal.

21-08-06

Comuneiros de Mondariz negamque vaiam ceder gratuitamente àDeputaçom os terrenos para aconstruçom de um circuito develocidade.

22-08-06

Começam as tarefas de exumaçomdos corpos de quatro fuzilados em1936 nas Pontes.

23-08-06

A Junta diz estar disposta a incre-mentar as vagas de recepçom deimigrantes que cheguem àsCanárias.

24-08-06

Governo galego aprova medidas eajudas para paliar os efeitos dosincêndios de Agosto.

25-08-06

Sindicatos agrários convocam mani-festaçom em protesto polo planolácteo para o dia 20 de Setembro naCorunha.

26-08-06

Meio Rural retira dos montes qua-renta animais mortos nos incêndios.

27-08-06

Greenpeace solicita um acordoentre os partidos políticos para serealizar umha política preventivacontra os incêndios efectiva.

28-08-06

Segundo um inquérito daSecretaria Geral da Igualdade,mulheres e homens estám deacordo na corresponsabilidadenas tarefas da casa.

29-08-06

AssociaçomAndreasolicita o empre-go de materias respeitosos com omeio ambiente na construçom.

30-08-06

ADEGA denuncia construçomde umha urbanizaçom afecta-da pola linha de costas e den-tro de um espaço incluído naRede Natura 2000 na praia daFrouxeira, em Val do Vinho.

Central de tratamento de Nostiám nom separalixo que processa desde há mais de um ano

Grupos ambientalistas pedem reforma urgenteda lei de protecçom dos animais

REDACÇOM / Teoricamente, acentral de tratamento de resí-duos de Nostiám, na Corunha,processa o lixo que previamen-te a vizinhança da área metro-politana selecciona nas suascasas, separando os orgánicos eos inorgánicos. Na web munici-pal assegura-se que “quase 550toneladas de resíduos por diaentram nesta central para a suarevalorizaçom”, e que actual-mente se tratam por volta de185.000 toneladas anuais – acapacidade total é de 220.000.Porém, a realidade é outra bemdiferente: desde há um ano emeio, Nostiám envia todos osdespejos para a mesma lixeira.

A razom está num problemasofrido pola planta e que aindahoje está por solucionar. EmMarço de 2005, devido às bai-xas temperaturas registadas,partírom-se alguns dos colecto-res onde fermenta o lixo.O contratempo obrigou Albada– empresa que gere esta cen-tral de triagem – a paralisar ofuncionamento dos biodigesto-res enquanto transcorriam asobras de manutençom. Noentanto, e após ano e meio,essas operaçons nom finalizá-rom e Nostiám envia para alixeira da parte traseira das suasinstalaçons as mais de quin-hentas toneladas diárias de

resíduos que recebe, segundodenunciou o comité de empre-sa de Albada.

Perigo potencialOs representantes dos trabal-hadores também denunciamque o lixo acumulado constituium perigo potencial, já que sese registasse um incêndio, pro-pagaria-se muito rapidamentepor culpa destes despejos. Estasituaçom é tanto mais parado-xal se lembrarmos que no pas-sado mês de Abril a Junta e aCámara Municipal da Corunhaassinaram um acordo para dei-tar em Sogama o lixo deNostiám – circunstáncia que

por enquanto nom se produziu.

Problemas já antigosOs problemas na central deNostiám começaram logodepois da sua inauguraçom, noano 2002, quando um dos con-tentores onde fermenta o lixoestourou, libertando umhas 300toneladas de resíduos.Dous anos mais tarde, emOutubro de 2004, detectaram-se altos níveis de bactérias e defungos no ar – qualificados de"tóxicos" polos sindicatos –,umha circunstáncia que obrigouos operários a pressionarem parase proceder à instalaçom de umsistema de reciclagem aéreo.

REDACÇOM / Há dias os tele-jornais das diferentes emisso-ras de televisom difundiamumhas imagens em que sepodia ver a brutal malheiraque um vizinho de Aguinhodeu a um cam da sua proprie-dade. As imagens foram grava-das por um veterinário, quedenunciou estes factos aoSEPRONA da Guarda Civil nomês de Julho de 2004. AConselharia do Ambiente,com o informe de aquele ser-viço, iniciou um expediente

sancionador que desembocouno mês de Fevereiro de 2005numha multa de 6.000 euros aJuan Lado Palmier por mautrato grave a um animal comresultado de morte. Segundoalguns dos vizinhos deAguinho que apoiam estehomem, todo o acontecidoteria a ver com um conflito delindes entre o agressor e oveterinário, daí o seu apoio aoprimeiro e a cruzada desatadacontra este. Porém, NGZpudo saber que esse conflito

nom é entre o veterinário eJuan Lado, mas entre aquele eoutros vizinhos, pertencentesao ámbito de amizades desteúltimo. Aliás, segundo outrasfontes, na zona onde moramJuan Lado e o veterinário, quesom lindeiros, existiria nosúltimos anos umha notóriaactividade de descarga deestupefacientes com embar-caçons rápidas através depraias próximas. No fechodesta ediçom, tinha sido con-vocada umha manifestaçom

reivindicativa para mudar a leide protecçom dos animais,que nom contempla a inabili-taçom para a custódia ou cui-dado de animais das pessoasque a desrespeitem e paramostrar a solidariedade com oveterinário denunciante.Segundo os colectivos convo-cadores, a Cámara de Ribeira,em que governa o PP, tentouimpedir a realizaçom da mani-festaçom informando desfavo-ravelmente a Subdelegaçomdo Governo da Corunha.

Em Março de 2005 começárom obras de manutençom por enquanto inacabadas

Malheira brutal a um cam em Aguinho desvenda carências legislativas

Nostiám envia para a lixeira da parte traseira das suas instalaçons os resíduos que previamente separárom as e os cidadaos, em vez de os reciclar.

NOVAS DA GALIZA15 de Setembro a 15 de Outubro de 2006 07NOTÍCIAS

31-08-06

Detidoumhomem acusado de cau-sar mais de noventa incêndios emquatro anos.

01-09-06

Incêndio numha indústria químicade Caldas de Reis causa despejoquímico nas águas do Úmia.

02-09-06

Mais de três quilómetros do Úmiapoluídos polos despejos da indústriaquímica alemá instalada em Caldas.

03-09-06

Mais de cem mil vizinhos do Salnêsficam sem água polo corte forçadodo abastecimento derivado da con-taminaçom do Úmia.

04-09-06

Reabertaparaa pesca e para o maris-queio a ria de Arouça depois doencerramento provocado polos des-pejos poluentes da químicaBrenntag.

05-09-06

Vizinhasevizinhos de Baronha apre-sentam no registro da Junta 475 assi-naturas contra a instalaçom de umhainstalaçom de piscicultura de StoltSea Farm na zona.

06-09-06

O Comité de Emergência para aria de Ferrol adverte que se con-tinua para diante o projecto deinstalaçom de umha central deReganosa; os efeitos para o litoralpoderiam ser gravíssimos.

07-09-06

Conselheiro do Meio Ambientecompromete-se a revisar todasas indústrias instaladas pertodos rios para garantir que acon-tecimentos como o do Úmianom se repitam.

08-09-06

Direcçom do PPdeG decideque os seus deputados nom par-ticipem na Comissom de estudoda crise incendiária criada noParlamento.

09-09-06

Concentraçom contra a ampliaçomdo recheio de Bouças, em Vigo, a210.000 metros.

10-09-06

O curso escolar começa com umincremento no número de alunospor primeira vez nos últimos anos.

Apresentada em Vigo candidatura soberanistapara as próximas eleiçons à Cámara municipal

Detenhem dous independentistas por terem pintadosobre simbologia fascista na igreja de Salvaterra

REDACÇOM / Promovida porNÓS-UP, Unidade de EsquerdaGalega, sindicalistas da CIG e ex-militantes do BNG, tem comoobjectivo fundamental conseguirrepresentaçom na Cámara muni-cipal viguesa, por considerar que arepresentaçom nacionalista deesquerda ficou orfa.Trata-se de mais um ensaio deplataforma eleitoral da esquerda,independentista ou estatalista,que pretende abrir um espaço nopanorama de domínio dos trêsgrandes partidos. Nos inícios doVerao, a FPG, o PartidoComunista do Povo Galego eEsquerda Unida tornavampúblico já o seu pacto para as vin-douras eleiçons municipais. Comas siglas CIES, esta aliança entrea esquerda galega e espanholadará a batalha eleitoral em luga-res como a própria cidade deVigo, Cangas ou Lugo, sem que

polo momento se conheça comtodo o detalhe a extensom terri-torial da proposta. À partida,CIES tem em Vigo um lugar deprivilégio para a sua estreia, dadoo perceptível descontentamen-to com a esquerda institucional eo enfraquecimento a que se está aver submetido o BNG desde quetivo lugar o governo de Lois PérezCastrillo. O assentamento da FPGem Cangas – nas passadas elei-çons quase consegue um segundovereador – pode fazer do sul doPaís umha zona de referência paraesta alternativa eleitoral.Quanto a Vigo de Esquerda, anova plataforma pretende nutrir-se dos movimentos sociais e notecido associativo (vicinal, sindi-cal, cultural, juvenil, feminino...)por considerá-lo o verdadeiroagente de transformaçom dasociedade. Na sua apresentaçommanifestou a firme oposiçom ao

PGOM, defendido polo PP e oBNG, bem como o propósito depromover a municipalizaçom econtrolo dos serviços públicos.Consideram que “as instituiçonsmunicipais tenhem o dever deapoiar os interesses dos operá-rios”. Outro dos seus compro-missos é a defesa do ambiente;neste sentido, consideram que“a ria e os espaços naturais domunicípio devem ser protegidosde qualquer agressom, mas tam-bém se deve construir umhacidade ecológica começando porcombater os terríveis níveis decontaminaçom atmosférica eacústica”. No campo da juventu-de, a nova formaçom, que nom sedefine como um partido clássi-co, aposta no financiamento deplanos de inserçom no mundolaboral, pola promoçom de for-mas de lazer alternativo e auto-gerido e por um sistema público

de atendimento para todo o tipode problemas relacionados comas drogas.O primeiro acto de Vigo deEsquerda, convocado logo aseguir à sua constituiçom, foi emhomenagem a Manuel Lago, quecumpre cem anos. Umha ceiaque se celebrou na sede social deArgentinos no Exterior, noCalvário, quijo ser umha mostramais de reconhecimento a estevelho luitador antifascista, filiadoà CNT nos anos 30, que se des-tacou na defesa da cidade deVigo perante as tropas franquis-tas. Detido, confinado na colóniapenitenciária da Ilha de S.Simom, passaria por diversos cár-ceres do Estado, sem renunciarem nenhum momento ao seucompromisso e militáncia, que olevou agora a filiar-se a Vigo deEsquerda no preciso momentode ser constituída.

REDACÇOM / Abraám Alonso ePaulo Porto eram detidos emPonte Areias por agentes daGuarda Civil na tarde do passa-do dia 12 de Setembro, sob aacusaçom de terem pintado decor-de-rosa inscriçons fascistaspresentes na fachada da igrejade Salvaterra de Minho, deterem realizado umha pintadareivindicativa e supostamentede ameaçarem um guarda desegurança, facto que os retalia-

dos negam. Após a detençom,fôrom transferidos para asdependências da Guarda Civilem Ponte Vedra, onde passároma noite. No dia a seguir passá-rom à disposiçom judicial efôrom libertados com acusaçom,depois de terem reconhecido aparticipaçom na acçom dedenúncia enquadrada na cam-panha contra a simbologia fascis-ta na Galiza que desenvolveNÓS-UP desde há meses.

Esta organizaçom independen-tista convocou umha concentra-çom em solidariedade com osactivistas na tarde do dia poste-rior às detençons perante osPaços do Concelho de PonteAreias. Num comunicado emiti-do pola Permanente Nacionalmanifestam que "é necessário continuar com as tarefas de higie-ne democrática" e afirmam que acampanha em curso serve "paradeixar em evidência as graves

carências democráticas dosistema emanado da Consti-tuiçom de 1978".Na mesma comarca fôrom reali-zadas semelhantes acçons dedenúncias contra símbolos dehomenagem ao fascismo nasigrejas de Mondariz-Balneário eMondariz, localidade onde tam-bém pintárom de cor-de-rosaumha cruz em ‘homenagem aoscaídos’ localizada junto do edifí-cio religioso.

Partilhará protagonismo com a Candidatura Integradora da Esquerda Social

O primeiro acto de Vigo de Esquerda foi umha homenagem a Manuel Lago, luitador antifranquista que, com 100 anos, é o militante mais velho da formaçom

NOVAS DA GALIZA15 de Setembro a 15 de Outubro de 200608 INTERNACIONAL

INTERNACIONAL

DUARTE FERRIN / Os EUA, a Françae o Reino Unido, que controlam oConselho de Segurança dasNaçons Unidas, junto com aAlemanha, todos amigos e cúmpli-ces de Israel, decidem enviarCascos Azuis ao Líbano, que esta-rám directamente às suas ordens,entre os quais vam os tragicómicosespanhóis em ‘missom humanitá-ria’ armados até os dentes. Um país soberano, membro daONU, que foi invadido, ocupado edestruído por Israel, agora é inva-dido, de novo, por Cascos Azuis,para controlar as vítimas e a resis-tência que freou a invasom israeli-ta em vez de controlar e desarmaros invasores que provocárom osmassacres e a destruiçom e queainda continuam com a invasom,já que tenhem milhares de solda-dos em território libanês e conti-nua o bloqueio por terra, mar e ar.Além disso, Israel mantém prisio-neiros quatrocentos libaneses,sem que nada se saiba deles.A missom que tenhem é descobrire arrasar toda a rede da logística eestratégia de Hizbullah, cousa quea CIA e o Mossad nom conseguí-rom e que foi a causa fundamentaldo fracasso israelita. Ao mesmotempo, averiguar e descobrirquem som os estrategas, para,aproveitando a impunidade vigen-te dos assassinatos selectivos,encontrar umha rápida soluçom aoproblema.As baixas da ONU ameaçam sernumerosas, pois o terreno é muitoacidentado e difícil e esta semea-do de minas que Israel colocou hádécadas, e ainda as bombas defragmentaçom sem explodir.As vítimas libanesas, durante ainvasom de Israel fôrom 1.281 dasquais só 93 eram combatentes,conseqüência das 177.000 bombasde todo o tipo lançadas por Israel.Além disso, os efeitos da destrui-çom e do bloqueio fôrom fataispara todos os doentes crónicos eagudos e para o resto da popula-

çom. As mortes, no Líbano, aindacontinuam polas bombas de frag-mentaçom, por dificuldades deassistência sanitária e polo empo-brecimento generalizado. Os des-locados libaneses som mais de ummilhom.

"Tratamos os palestinianos comoanimais": confissons de YehudaShaul, ex-soldado israelita

"Todo é umha loucura: a ocupa-çom, a forma inumana como trata-mos os palestinianos". "E nomvemos os palestinianos como sereshumanos, vemo-los como animais.Entramos-lhes na casa pola noite,acordamo-los, berramos-lhes, asmulheres para cá, os homes paralá, e partimos tudo. Som cousasque nom faríamos aqui, em Israel.E, para o podermos fazer, chega-mos a negar a realidade. É a únicaforma. Criarmos entre nós e a rea-lidade um muro de silêncio". "Se encontrarmos pola noite umpacote suspeito de ser umhabomba, chamamos o primeiro‘mohamed’ que encontramos narua e dizemos-lhe que o abra.Poderíamos chamar um perito queo desactivasse, tardaria dez minu-tos em vir, mas melhor fazer queum palestiniano jogue com a suavida, já que para nós é o mesmo,nom o vemos como um ser huma-no. Eu fazia isso com os meus sol-dados em Hebrom"."E também em Nablus, quandoqueria entrar numha casa, se pen-sava que podia haver umha bombaarmadilhada, chamava um ‘moha-med’ e obrigava-o a abrir a porta. Éparte da rotina do exército: usar ospalestinianos como escudoshumanos"."O mesmo quando estamos numponto de controlo; obrigamo-los aesperar muito mais do necessário,às vezes durante horas, e escolhe-mos um palestiniano qualquerpara lhe darmos umha malheira,

de cada quinze ou vinte que pas-sam, para que o resto tenha medoe esteja tranquilo. Só assim, apesarde sermos quatro ou cinco solda-dos, conseguimos dominá-los,mesmo sendo milhares". "Se entramos em Gaza com o carrode combate e vemos um carronovo, ainda que tenhamos espaçona estrada, passamos por cima. Etambém disparamos aos tanquesde água. Para lhes metermosmedo, para que nos respeitem,porque essa é a lógica que apren-demos os soldados israelitas"."Aliás, somos novos e começamosa desfrutar desse poder, de que aspessoas fagam tudo o que lhesdixeres. É como um videojogo:Um ponto de controlo a meio darota, temos vinte carros à espera, ecom só mover o dedo fam o quenós queremos. Jogamos com eles.Fazemo-los avançar, recuar.Toleamo-los. Temos 18 anos esentimo-nos poderosos". "Algumha gente diz que som casosisolados. As maes dizem: o meufilho, que esta agora no exército ébom, nom fai estas cousas, isto sóo fam os soldados beduins ou osetíopes. Mas nom é certo. Todosas fazemos, porque é a lógica daocupaçom israelita: aterrorizar ospalestinianos"."Os pontos de controlo nom sompara dissuadir os palestinianos deentrarem em Israel, som para quea realidade nom entre em Israel.Porque esta é umha sociedade desoldados, todos passamos poloexército três anos quando somosmoços e logo um mês por ano. Etodos fazemos isso. Por isso existeo muro de silêncio, de negaçom,porque todos somos responsáveise nom o queremos admitir". "Eles som as vítimas, nós os verdu-gos. Mas como verdugos, tambémpagamos um preço. Esta é umhasociedade que nom encara a ver-dade, os seus próprios actos. Éumha sociedade, como conse-qüência, amoralmente doente".

NAÇONS UNIDAS INVADEM LÍBANO

Polémica presença dasFARC no encontro comunista

A ONU vai colaborar com Israel, tentando acabar com HizbullahMIGUEL R. PENAS (EnviadoEspecial) / Em Setembro de 1976realizou-se a primeira ediçom da mel-hor festa que existe em Portugal.Muito tem chovido desde aquela pri-meira Festa do Avante e muitasfôrom as mudanças: mudou o recinto,mudou Portugal, mudou o mundo,mudou o PCP... mas a Festa mantém-se. Avante! é o nome do semanárioque desde há 75 anos publica o PCP.A Festa é a cidade de três dias, a cida-de vermelha, o ponto de partida doano político para o Partido.Mas como é a Festa? Em palavras deJerónimo de Sousa é umha “granderealizaçom política, cultural, huma-na, solidária e internacionalista”. Etem razom. A política impregna tudo,mas nem toda a Festa é política. Háespaço para a gastronomia: cada dis-trital do Partido tem o seu pavilhomcom um ou vários restaurantes. AFesta do Livro, a Festa do Disco e oPavilhom Central som os locais dacultura, das artes e da ciência. Amúsica sempre presente na Festa éprotagonista nos diferentes palcos ecafés-concertos, destacando sobretodos o Palco 25 de Abril. Este ano asactuaçons principais fôrom Xutos &Pontapés, Sérgio Godinho ou os

Gaiteiros de Lisboa.Debates, exposiçons, fóruns, conver-sas, teatro... tudo está presente noAvante. Som três dias em que nomhá tempo para o aborrecimento,sendo umha das zonas mais interes-santes o Espaço Internacional. Alémde actuaçons musicais, debates eactos de solidariedade existem váriospavilhons de organizaçons de diver-sos países. O PCC da Catalunha, oPdCI de Itália, o PCE de Espanha, oPCU do Uruguai, o PCC de Cuba,PDS da Alemanha, o PT do Brasil, oMPLA de Angola... e o BNG daGaliza.Viver a Festa converte-se num actode convívio fraterno e solidário. Masnom só nos três dias de Setembro.Desde Julho mais de 6.000 voluntá-rios trabalham na Atalaia, construindoa Festa. Um recinto de 20 hectaresque é propriedade do PCP. A Atalaia éumha quinta que foi comprada atra-vés de umha campanha nacional defundos. O Partido viu-se obrigado atomar esta decisom após numerososimpedimentos para fazer a Festa emrecintos públicos. Ainda hoje as ten-tativas de boicote som numerosasmas no PCP tencionam continuarcomo mínimo mais 30 anos.

REDACÇOM/ A ediçom deste ano dafesta do Avante estivo marcadapola polémica presença de elemen-tos das FARC no recinto da Atalaia.O embaixador colombiano emLisboa, Plínio Apuleyo Mendoza,pediu explicaçons ao Governo por-tuguês pola assistência ao eventode um grupo classificado como‘terrorista’ pola Uniom Europeia. Jerónimo de Sousa, líder doPartido Comunista Português(PCP), deplorou a iniciativa dodiplomata colombiano, assinalan-do que caberia ao embaixador daColômbia “dar contas das razonsque levam ao assassinato, porexemplo de 70 sindicalistas comu-

nistas, atitudes terroristas contrao movimento sindical”. Para o secretário-geral do PCP, a“questom central” é que o PCPtem “umha concepçom diferentede terrorismo” e criticou a UE, osEUA e o próprio governo portu-guês neste sentido: “pensamosque esta operaçom e esta derivaem relaçom à nossa festa procuraesconder a responsabilidade desteGoverno em relaçom a actos deterrorismo de Estado, designada-mente em relaçom à facilidadecom que permitiu que em territó-rio nacional se cometessem vooscomo os da CIA, transportandoprisioneiros” ilegalmente.

30 anos de Festa do Avante

NOVAS DE ALÉM MINHO

NOVAS DA GALIZA15 de Setembro a 15 de Outubro de 2006 09OPINIOM

Oactual Santuário daBarca foi construídocom as pedras dun paço

em ruínas que se encontrava nazona do peirao velho: o Paço dosCarantonha. Hoje já nom existeo Paço dos Carantonha, comotampouco existe o enlousado daBarca. Existirá, supomos, nochalé dalgum.

O Senhor pensa que Mugialhe pertence por estar nopoder. Mas, estar governandonom dá direito a destruir siste-maticamente aquilo que nomlhe pertence. Mugia é dosMugiáns - de todos e de todas.Dos que votan no PP e dos quenom votan no PP.

O que nos resta por perdermos?Perdemos o enlousado da Barca.Perdemos os contrafortes da nosaigreja paroquial agochados nocemento. Perdemos o Cabo daVila e a Praça da Constituiçombaixo pailanadas supinas.Perdemos a Pedra dos Corvos.Perdemos o arrecendo a sardinha-da nas ruas. Perdemos o encantoselvagem e mágico da Ponta da

Barca, morto por umha "ferida"oportunista e propagandística.Perdemos o porto de Mugia detrásdos paredons do esquecimento,aqueles que nos fam esquecerquem somos e quem queremosser. Perdemos a alegria e o senti-mento de uniom e de orgulho. Depertença a um mesmo colectivo, aum mesmo povo.

Perdemos a nossa identidadecomo povo marinheiro...

Ganhámos especulaçom, feís-mo, pailanada e fame para ofuturo. Sabem os senhores doConcelho o que é turismo dequalidade? O enlousado das ruasde Mugia nom é só pedras: é dopouco que nos resta. Som lousasque contam a nossa história. Por

estas beira-rúas andárom Rosaliade Castro, López Abente,Ramón Caamaño, RivadullaPorta... Senhor Alcalde, se qua-dra tem que aprender a ler pararesponder esta pergunta: Sabeo senhor quem som estas pesso-as? Por estas pedras pisarom osnossos avós. Só pedimos respei-to para o que é de todos. Onde

vam ir parar estas pedras?O progresso nom está em con-

tradiçom com a conservaçom donosso património. Pedimos aoConcelho que faga um exercíciode boa vontade e de humildade.Pedimos-lhe que reconheça queestas ruas nom som suas e querespeite o antigo enlousado dasruas de Mugia.

Em Defesa do Enlousado da Vila Histórica,Património Mugiám

COLECTIVO VIZINHAL. CARTA A ALBERTO BLANCO

PERDEMOS A NOSSA IDENTIDADE COMO POVO MARINHEIRO... GANHÁMOS ESPECULAÇOM, FEÍSMO, PAILANADA E FAME PARA O FUTURO.SABEM OS SENHORES DO CONCELHO O QUE É TURISMO DE QUALIDADE? O ENLOUSADO DAS RUAS DE MUGIA NOM É SÓ PEDRAS:

É DO POUCO QUE NOS RESTA. SOM LOUSAS QUE CONTAM A NOSSA HISTÓRIA.

O progresso nom estáem contradiçom coma conservaçom donosso património.Pedimos ao Concelhoque faga um exercíciode boa vontade e dehumildade. Pedimos-lheque reconheça queestas ruas nom somsuas e que respeiteo antigo enlousado

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NOVAS DA GALIZA15 de Setembro a 15 de Outubro de 200610 A FUNDO

C. BARROS / O planeamento urba-nístico de Mugia, actualmente emfase de exposiçom, mantém as lin-has básicas do projecto inicial.Exceptua-se, no entanto, a anula-çom da edificabilidade na freguesiade Chorente, onde estava previstoconstruir umha grande urbaniza-çom residencial em solo nom deli-mitado beneficiando terrenos queeram na maior parte propriedadeda família da tenente-alcaldeAntonia 'Tucha' MartínezQuintana, umha velha mestra deescola franquista alcunhada popu-larmente como "La Cigüeña".Umha queixa-crime por prevarica-çom e numerosos relatórios desfa-voráveis motivárom a retiradadeste projecto no PGOM, umhaanulaçom que acompanha a paráli-se na construçom do porto despor-tivo que previa contar com duzen-tos pontos de amarraçom e que játem construído o contra-dique.Alberto Blanco, presidente daCámara municipal, viu frustradotambém o projecto da Pescanovaem Torinhám, que, apesar de con-tar com o apoio do PP e o PSOEmunicipais, foi rejeitado pologoverno galego.

Porém, duas grandes urbaniza-çons que mudarám a paisagem dacosta mugiá continuam em vigor.Ainda que o governo municipalfosse obrigado a anular os convé-nios que assinara com a construto-ra Lábaro e os promotores deMugia Grupo Imobiliário -em quemesmo vendia 10% que correspon-de à gestom municipal, os projec-tos dos montes do Vilar e deEnfesto continuam a fazer parte doPlano de Ordenamento, que prevêa construçom de mais de milvivendas entre chalés adossados emoradias de luxo.

A oposiçom municipal conside-ra que os promotores contáromcom informaçom privilegiada naaltura da compra dos terrenos, ori-ginando um "pelotaço urbanísti-co" de grandes dimensons. Nasduas urbanizaçons referidas, oPGOM propom reduzir a linha deprotecçom costeira de 200 a 100metros e aumentar assim a capaci-dade de edificaçom. Em frente,

mais de quatrocentas alegaçõesapresentadas que previsivelmentenom serám tidas em conta e reite-radas queixas da vizinhança e dospartidos, que chegárom à Fiscaliaanticorrupçom e o Valedor doPovo, entre outros organismos.

A promotora madrilena Lábaro,presidida por Julio Mateo Cardiel,dispom de 315.000 metros quadra-dos nos montes do Vilar, onde ten-ciona construir mais de seiscentasvivendas. O preço pago polos terre-nos ascendeu a 3.600.000 euros,parte dos quais fôrom pagos emdinheiro negro, conforme denun-ciam fontes vizinhais próximas dosantigos proprietários.

Mugia Grupo Imobiliário temcomo destino do seu projecto olugar de Enfesto, onde dispom de117.000 metros quadrados, dosquais 66.000 correspondem aocunhado do regedor AlbertoBlanco, José Mª Pose Alvarellos.Com este grupo imobiliário tam-bém mantenhem vínculos o filhoda dita Antonia Martínez,Francisco Ramón García Martínez;

o marido da secretária municipal,Antonio González del Oso, e a irmádo Presidente da Cámara, MªJunquera Blanco, conforme fontesda oposiçom municipal. E segundoconsta de informações que figuramno Registo Mercantil, esta socie-dade experimentou mudanças nasua administraçom no passado mêsde Maio, quando causárom baixa omencionado filho da tenente-alcal-de, assim como o filho do presiden-te da cámara de See, DanielDomínguez Martínez, e o sobrinhode Alberto Blanco, Miguel PoseBlanco, dando entrada a ManuelPereira Martínez, Jesús ÁngelPicallo Santos e Pablo Furelos Dios(dirigente de Promociones PoseAlvarellos SL e de PromocionesCMM Quenxe SL), que compar-tilham a administraçom mancomu-nada com Manuel RodríguezRomero e Ramón Campos Trillo,já na direcçom da empresa desde2005. A sociedade fora constituídaem Janeiro do ano passado, logodepois da assinatura de um convé-nio privilegiado dos proprietários

A FUNDO

O REFORMADO PLANO DE ORDENAMENTO MANTÉM DUAS URBANIZAÇONS AGRESSIVAS E PREVÊ ENCURTAR A LINHA DE PROTECÇOM DA COSTA

Passados quatro anos do afundamento do Prestige, a Costa da Morte continua a ser umhacomarca castigada por vários dos principais desafios que enfrenta o País. A emigraçom éumha constante, o desemprego encoberto e a precariedade laboral som tangíveis, o narcotrá-fico continua a manter poder em várias localidades, enquanto os incêndios mostrárom todaa sua dureza nesta zona cuja paisagem mudará radicalmente se forem avante os projectos

urbanísiticos previstos, que multiplicarám os espaços urbanizáveis para abrir caminho aimensas urbanizaçons de luxo, campos de golfe e portos desportivos. Nas seguintes linhasexaminaremos a situaçom actual de Mugia como paradigma, tanto no ordenamento munici-pal quanto nas práticas clientelares e as manobras irregulares para beneficiar minorias pode-rosas. A chamada zona zero continua a merecer atençom.

O governo de Mugia quer aprovar um plano de ordenamento que favorece directamente umha empresa vinculada ao poder local e umha grande empresa de Madrid

Corrupçom, especulaçom urbanística e narcotráficocondicionam a política municipal de Mugia

Mugia GrupoImobiliário dispomde 117.000 metrosquadrados, dosquais 66.000correspondem aocunhado do regedor.Também mantenhemvínculos o filho deAntonia Martínez,Francisco RamónGarcía Martínez; omarido da secretáriamunicipal, e a irmádo Presidente daCámara, MariaJunquera Blanco

A empresa favorecidafora constituída emJaneiro do ano passado,depois da assinaturade um convénioprivilegiado dosproprietários com aCámara mugiá, queabria caminho àconstruçom de maisde 400 vivendas.Diante das acusaçonsde corrupçom, tantoAlberto Blanco comoAntonia Martínezassegurárom nomconhecerem os vínculosdos seus familiaresdirectos com a sociedade

NOVAS DA GALIZA15 de Setembro a 15 de Outubro de 2006 11A FUNDO

Os incêndios arrasárom importan-tes quantidades de floresta nosconcelhos da Costa da Morte,regiom especialmente afectadapola crise de Agosto. Camarinhas,Vimianço, Carnota, See e Fisterrafôrom as localidades em que olume causou maiores estragos,alcançando vivendas no caso davila de See. É preciso alertar queestes municípios prevém aprovarplanos de ordenamento semel-hantes ao de Mugia e nalgunscasos ainda mais agressivos. Ogoverno galego pretende mitigaresta fúria construtora na revisomdos planos e através de diferentesmecanismos. O qual nom evitará,porém, umha profunda alteraçomda paisagem costeira, dada aquantidade de terrenos compra-dos e a pressom exercida polos osgovernos municipais que procu-ram engrossar as receitas favore-cendo a especulaçom.

Mugia sofreu também incên-dios em Senande (Vilastose),Trasufre e Sujo, cujos vizinhos cri-ticam a atitude do presidente decámara, que apareceu acompanha-do de Protecçom Civil e abando-nou o lugar aduzindo que nomhavia brigadas florestais.

Contudo, fontes consultadasnegam que os lumes em Mugiatenham atingido o grau de destru-çom causada nos concelhos limí-trofes. Censuram o que denomi-nam "alarmismo injustificado" quese propagou através dos meios de

comunicaçom e da intervençomdo poder municipal, que forçou aevacuaçom de três áreas de cam-pismo na freguesia de Lago e detrês restaurantes, quando o lumese encontrava em Vimianço e emCamarinhas, estando o incêndiomais próximo a vinte quilómetrosem linha recta.

A respeito da consciência danecessidade de proteger da flo-resta em Mugia, cumpre salientaro labor dos proprietários dosmontes de Lago (parte nas paró-quias de Leis, Sendom, Merexo ena O) que, por iniciativa própria,organizam guardas nocturnasdesde há quinze anos. Esta ini-ciativa popular começou logodepois das vagas incendiárias definais da década de oitenta.

Protesta-se contra a substituiçom do enlousado tradicional por granito polido, sobretudo na rua Real,que o governo municipal está a perpetrar com ajudas procedentes dos fundos do Prestige

Os incêndios arrasárom importantes quantidades de floresta nos concelhosda Costa da Morte, regiom especialmente afectada pola crise de Agosto

A pegada incendiáriana Costa da Morte

Denunciam "alarmismoinjustificado" emMugia por parte dosmeios e da intervençomdo poder municipal,que forçou a evacuaçomde três áreas decampismo na freguesiade Lago e de trêsrestaurantes, quandoo lume estavaa vinte quilómetros

com a Cámara mugiá, que abriacaminho à construçom de mais de400 vivendas.

Diante das acusaçons decorrupçom, tanto Alberto Blancocomo Antonia Martínez assegu-rárom nom conhecer os vínculosdos seus familiares directos coma sociedade Mugia GrupoImobiliário. Bem outra, porém,é a voz do povo, tal como semanifestou nas engenhosascoplas do passado Entruidonesta localidade da Costa daMorte: "O vosso senhor alcalde /quando foi assinar o 'plam' / nomconheceu o sobrinho / o cunhadonem a 'irmán' (...) Dona Antonia'La Cigüeña' / pujo-se no mesmolio / que um promotor era o filho/ e tampouco o 'conocio'".

Actualmente estám a ocorrermobilizaçons da vizinhança dareduzida vila histórica. Protesta-se contra a substituiçom doenlousado tradicional por granitopolido, sobretudo na Rua Real,que o governo municipal está aperpetrar com ajudas proceden-tes dos fundos do Prestige. Osvizinhos andam a recolher assina-turas e a organizar concentraçõesnas obras para reclamarem a con-servaçom do património e adetençom dos projectos deAlberto Blanco que, de formasemelhante, trocou o enlousadohistórico da área da Virgem daBarca, demoliu a antiga lonja eseparou a zona pesqueira do novopasseio marítimo.

E, entretanto, várias freguesiascontinuam a sofrer carências noabastecimento de água e no sane-amento. Tais deficiências somevocadas polos sectores que seoponhem às novas urbanizaçonsprevistas, que praticamenteduplicarám a edificabilidade naúnica comarca costeira que está aperder habitantes.

AlbertoBlanco,defesordaPescanovaLogo desde que foi anunciado,o projecto de macro-piscifacto-ria de rodobalho em CaboTourinhám, Mugia, foi defendi-do com ênfase polo presidente

de Cámara Alberto Blanco e poloPSOE, encabeçado por FélixPorto. A iniciativa da Pescanova,de elevado impacto ambiental epaisagístico foi finalmente anu-lada polo governo galego, quelhe prevê umha nova localiza-çom previsivelmente emRibadeu, enquanto a multina-cional tem os olhos virados paraPortugal, país que dispom deáreas costeiras qualificadas paraa actividade aquícola e queprevê acolher a maior indústriadestas características que con-hece a sua costa, produzindomais peixe do que a soma dasmais de mil piscifactorias exis-tentes o sul do Minho.

A polémica em Mugia come-çou logo com a compra dos terre-nos. Alberto Blanco medioujunto dos vizinhos nesta aquisi-çom e conseguiu que estes ven-dessem cada metro quadrado de

solo por 1 euro, advertindo-osque, se nom cedessem, viriam aperder dinheiro. No entanto, ascifras nom encaixam na relaçomentre o preço de venda e o mon-tante que a empresa diz terpago: fôrom comprados 360.000metros quadrados por um mil-hom de euros, de maneira que,tendo em base o preço que afir-mam ter acordado os vendedo-res, faltariam 640.000 euros.Esta irregularidade foi denuncia-da polo grupo do BNG numpleno municipal .

A campanha promocional diri-gida polo PP mobilizou vizinhose vizinhas em defesa de um pro-jecto que prometia 450 postos detrabalho, mas que ia ficar em só35 justificados, na maior partepara pessoal especializado. Ogoverno local pagou autocarrospara umha manifestaçom a queconvocou também os assistentesà 'Festa dos Nossos Maiores' rea-lizada no dia anterior. Pessoal doconcelho anunciou com altifalan-tes os actos de protesto e promo-veu umha campanha de recolhade assinaturas para pressionar ogoverno, embora o executivogalego ainda nom tenha recebidoestes documentos. Fontes críti-cas apontam, conforme aos seusindícios, que as assinaturasforom dar às maos da Pescanovacomo mostra de adesom popular.

O acatamento da decisom ins-titucional por parte da multina-cional responderia ao propósitode manter o subsídio concedidopola UE num valor de18.000.000 de euros, necessá-rios para continuar os seus pro-jectos expansivos.

A planeada piscifactoria foraviabilizada polas manobras deLópez Veiga, ex-conselheiro daPesca que mantém ligações coma Pescanova através de familiaresdirectos. Naquela altura, o con-selheiro criara um plano sectorial'ad hoc' para as necessidades daempresa, possibilitando assim alocalizaçom da indústria no espa-ço natural de necessária protec-çom em Tourinhám.

Várias freguesiascontinuam asofrer carênciasno abastecimentode água e nosaneamento.Tais deficiênciassom evocadaspolos sectoresque se oponhemàs novasurbanizaçonsprevistas, quepraticamenteduplicarám aedificabilidadena única comarcacosteira queestá a perderhabitantes

NOVAS DA GALIZA15 de Setembro a 15 de Outubro de 200612 A FUNDO

A presença e o poder do narcotráficoPP E PSOE ACUSADOS DE FAVORECEREM O BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS

Mugia é a excepçom sócio-labo-ral da comarca, com 44% das pes-soas a trabalhar no sector primá-rio. A tendência crescente daárea está no sector serviços, queocupa 40% da populaçom activa.Quanto à qualidade do empre-go, conforme à 'EPA' (Inquéritode Populaçom Activa), estima-seque mais de 50% das contrata-çons som eventuais. No caso dasmulheres, a precariedade no tra-balho ultrapassa 60%. Estes fac-tores traduzem-se nas elevadastaxas de emigraçom juvenil, queconforme estimativas estatísti-cas, atingem metade da mocida-de trabalhadora da comarca.

O envelhecimento populacio-nal supera a média galega emdez dos dezasseis concelhos dacomarca, com cifras semelhan-tes às das vilas e aldeias de Lugoe Ourense, onde mais da quartaparte dos habitantes tenhemmais de 65 anos. Os índices denatalidade som baixos e a taxade mortalidade manifesta-se

preocupante, já que ultrapassa amédia nacional na maior partedas localidades.

Quanto à situaçom da tradicio-nal frota pesqueira, que aindarepresenta por volta de 8,5% dototal da Galiza e em que predomi-na a pesca de baixura, está a ficarprejudicada polo envelhecimen-to da populaçom, com elevadospedidos de desmantelamentoderivados dos crescentes custosda actividade e da reduçom dascapturas. A maior parte dosmarinheiros em activo tenhemmais de 45 anos, o que torna difí-cil a renovaçom generacional.

Outro dos fenómenos preocu-pantes da comarca, sobretudo deMugia, é o consumo de heroínaem sectores da juventude.Conforme manifestações devizinhos da vila, boa parte dos quevoltárom ao 'cavalo' e dos novosconsumidores som trabalhadoresligados ao mar que estivérommeses a cobrar os subsídios deri-vados da catástrofe do Prestige.

O envelhecimento populacional supera a média galega em dez dos dezasseisconcelhos, com cifras semelhantes às das vilas e aldeias de Lugo e Ourense

Umha comarcaenvelhecida e emigrante

Mugia conhece as actividades detráfico ilegal de mercadorias desde aentrada de contrabando de tabacoaté a irrupçom de Laureano Oubiña,que tinha a costa de Mugia comolugar de preferência para introduzirdrogas, contando com a colabora-çom da Guarda Civil. Mas tambémexistem importantes grupos de nar-cotraficantes autóctones. Entre osquais, é de salientar o chamado clamdos 'Lulus', encabeçado, conformeconsta das investigaçons judiciais,polos irmaos Andrés e FernandoGarcía Gesto, marinheiros de pro-fissom que foram parcialmente pen-horados e condenados em 1996 aquatro anos de cadeia e 75 milhõesde pesetas de multa por branquea-mento de dinheiro procedente donarcotráfico. Noutras ocasiões foramdetidos sem que afinal se desse pro-vado a sua participaçom em opera-çons de tráfico de drogas. Segundo oinspector da Fazenda em excedên-cia Luis Rubi, os 'Lulus' disponhemde um paço, várias motos aquáticas,um Porsche e importantes receitasem florins holandeses. E, conformeos rumores das ruas de Mugia, conti-nuam a comprar e construir grandescasas em várias localidades, bemcomo montes e terrenos.

A captura do 'Chad Band', emNovembro de 2001, levou à deten-çom de Andrés García Gesto sob aacusaçom de ser o responsável poloaluguer de um imóvel para alojar os3.000 quilos de haxixe que transporta-va o barco. No entanto, em Fevereirode 2005 a Audiência Nacional espan-hola declarava nulo o primeiro macro-julgamento do magistrado JoséAntonio Vázquez Taín, na altura titu-

lar Tribunal de Primeira Instáncianúmero 1 de Vila García de Arouça,por "falta de competência objectiva"e irregularidades, o que motivou aanulaçom de boa parte das provas edo processo, ficando desta maneiraabsolvidos 11 dos 17 arguidos. Entreeles estavam os agentes do Serviçode Vigiláncia Aduaneira (SVA)Antonio Núñez Saavedra, JoséManuel Irijoa e Pedro Varela, bemcomo o brigada da Guarda Civil JoséCarlos Casal Maseda. Porém, a irrup-çom do Tribunal Supremo espanholno passado mês de Junho forçou aproferir umha nova sentença, quereabriu o processo que iniciara Taín,para o qual se deverám ter em contaas provas prévias produzidas tantopola acusaçom como pola defesa, eque segundo fontes consultadas poresta publicaçom poderám ratificarpráticas irregulares sistemáticas quevem utilizando o SVA.

O narcotráfico maneja umhaimportante rede na localidade, quepor vezes chega a condicionar aactuaçom dos principais partidos dogoverno municipal. Vários vizinhosdenunciaram estas influências, queficaram patentes na requalificaçomdos terrenos para o restaurante DonaRita, que antes eram de protecçomagrícola. Localizado na freguesia dePassantes, o restaurante foi construí-do no ano 2000 e iniciou a actividadesem licença municipal. Umha polé-mica decisom plenária apoiada poloPP e o PSOE em 2001 aprovavaumha modificaçom pontual no pla-neamento da freguesia que requalifi-cava o solo onde se encontra o restau-rante, legalizando assim o estabeleci-mento hostaleiro relacionado com o

clam dos 'Lulus', em propriedade deDolores Deibe Carrera, a esposa dodito Andrés García Gesto. Este factofoi denunciado umha e outra vez polavizinhança de Passantes e polaFederaçom Galega de Associaçons deAjuda ao Drogodependente(FEGAD). Apesar de que foi emitidaposteriormente umha ordem defechamento no mesmo ano, o restau-rante continuou a actividade seminterrupçom. A este respeito, a presi-denta do organismo 'Costa da Vida'de Fisterra manifestava sem medoque "os que se enriquecem à custa dadroga estám apoiados polo poder",nom só do concelho.

O escándalo voltou aos meios decomunicaçom em 2005, quando overeador mugiám do PP ManuelFandiño entava a celebrar o seu ban-quete de casamento no polémico res-taurante convidando os seus compan-heiros de partido representados naCámara municipal. Os colectivosantidroga respondêrom com a maiorcontundência. Assim, o presidente daassociaçom 'Vieiro' de Carvalho mos-trava-se indignado perante a atitudede Alberto Blanco e acusava a corpo-raçom local de colaborar no branquea-mento de dinheiro. As coplas doEntruido do passado ano nom pou-párom o Fandiño, a quem vinculavamao narcotráfico ao mesmo tempo quedenunciavam o salário que lhe conce-dera o Presidente da Cámara:"Também lhe pujo um salário / ao seuilustre companheiro / que compaginaa política / com o choio de 'panadei-ro'". A polémica nom abrandou, comvários processos em curso nos tribu-nais e um governo municipal quenom dá mostras de fraqueza.

Um vereador do PP celebrava no ano passado o banquete de casamento no Restaurante Dona Rita, vinculado notoriamenteao chamado clam dos ‘Lulus’. O edifício, antes em solo agrícola, foi requalificado para permitir a sua legalizaçom

A REALIDADE DA COSTA DA MORTE

NOVAS DA GALIZA15 de Setembro a 15 de Outubro de 2006 13ANÁLISE

Na Páscoa de 2005, mentres oderradeiro governo do Fragaorava num mosteiro, os

lumes calcinavam o interior do País.O PP sentia-se perseguido e RomayBeccaría propagava a tese da tramaincendiária com móbil político. Trêsou quatro meses depois, era o BNG asentir-se assediado. Em lugaresremotos do mundo, desde aIndonésia à Tasmánia, passando poloLaos ou a Camboja, cortam-se ouincendian-se florestas autóctonespara se plantarem eucaliptos que,umha vez colheitados, vam dar para aindústria celulósica. Na nossa terra,também se cortárom e ainda se cor-tam carvalheiras para se plantaremeucaliptos. E muitos desses eucalip-tos acabam por arder. Existirá umhabase diferente, independente damotivaçom política, mas que puides-se circunstancialmente actuar emcumplicidade com actores políticosnumha mesma acçom incendiária?

Os incéndios deste Verao nom vanpôr em risco a existéncia do eucalipto.Muitas das árvores maduras queima-das já estám a gomar. O empobreci-mento do solo depois de arder e após alavagem das chuvas tampouco vaiextingui-lo. Ao contrário, evitará aincorporaçom a esses montes, noplano produtivo, das espécies flores-tais autóctones, mais exigentes.Porém, umha mudança radical da polí-tica florestal bem pode pôr em perigoa domináncia dos eucaliptos no montegalego. Isso, juntamente com a ánsiaque tem a direita clientelar por recu-perar o poder poderia traduzir-se naexisténcia dum elevado risco deincéndio, mais ainda que o própriovento do nordés. Mas ainda há mais:

A presença de indústrias celulósi-cas baseadas no eucalipto tem comoefeitos colaterais a eucaliptizaçomdo território e a perversom do merca-do da madeira. E esta última realida-de é contagiosa e afecta tambémoutras indústrias da trituraçom damadeira. Parece ficar provada a rela-çom entre o aumento de superfíciearborizada queimada e o subseguin-te crescimento da actividade decorta e comercializaçom de impor-tantes volumes de madeira.Igualmente, nom é demasiado difícilverificar como a esta actividadesegue a incorporaçom maciça destamadeira aos stocks armazenados nosparques das celuloses e outrasempresas de desintegraçom. Comorepercute isto no exercício económi-co anual destas empresas tampoucoé difícil de imaginar. No caso dasceluloses, ao se abaratar o custe damatéria-prima, é máis doado resistiras épocas de depreciaçom da pasta.Para ilustrarmos isto basta reproduzir

umha frase aparecida recentementeem 'La Voz de Galicia' (20-VIII-06):"As árvores queimadas ou semiquei-madas neste Verao na Galiza tenhemum preço de mercado de entre 20 e30 milhões de euros, segundo os cál-culos da indústria florestal galega.Sem queimar, as mesmas árvorescomercializariam-se em primeiravenda a 164 milhões". E acrescen-tam na mesma reportagem: "(... ) ostoros afectados polas lapas nom sóbaixan de valor, como ainda fam cairo mercado da madeira verde, des-cendo os prezos de venda funda-mentalmente de eucaliptos e pin-heiros galegos". Alguns dias maistarde, este meio reproduz umhasmaniferstrações de fontes da própriaindústria florestal que afirmam que95% da madeira queimada vale parao fabrico de taboleiro aglomerado oupasta de celulose. Como pode rela-cionar-se este lucro económico indi-recto com a actividade normal deindústrias como as celuloses? Aseguir tentaremos explicá-lo.

Nom é nada novo a existéncia deciclos de alta e queda nos prezos dosdiversos tipos de celulose. As pró-prias memórias destas empresas des-crevem esta realidade. Assi, aCMPC, a principal empresa daindústria celulósica do Chile, na suamemória de 2005 expom: "As eco-nomias de escala som um elementocaracterístico desta indústria. Paraaproveitá-las, as empresas devemconstruir plantas de grande capaci-

dade (...). O preço de mercado apre-senta ciclos gerados pola interacçomentre o nível de actividade económi-ca e as variações da oferta, quer polaadiçom de nova capacidade, quer porvariações na estrutura de custes,derivadas entre outros, das flutuaçõ-es cambiárias" A respeito destaambiência em constante mudançacíclica, há indícios no mercado queindicam quando os preços vam aca-bar de descer ou quando deixarámde ascender. Em certo modo, é pos-sível prever como evoluirá o mercado

e, portanto, implementar estratégiasde amortecimento de possíveis efei-tos negativos. Um dos mecanismoscom que opera a ENCE é o progra-ma de coberturas do risco de cámbio,que vem sendo umha espécie deseguro que neutraliza os efeitosnegativos que no mercado podesupor umha excessiva debilidade dodólar face ao euro. Mas isto só blindaos interesses da empresa perante umdos factores, de entre vários, queafectam a evoluçom dos preços dacelulose. Quando estes baixam poloaumento da oferta, devido à incorpo-raçom de nova capacidade (novasfactorias a produzirem), a estratégiamais interessante é ter um bom col-chom de matéria-prima em stock, sepossível arranjada a mui baixo preço,que permita à pasta fabricada conti-nuar sendo competitiva, dentro dunsector cada vez mais complexo eonde as empresas produtoras sud-americanas estám a ter cada vez maisprotagonismo. A estratégia da formi-ga é a de amorear alimento na épocada bonança, para desfrutar delequando a cousa se pom mui mal. Poisisto pode ser aplicável às celuloses:mercar madeira barata e incrementaros stocks quando melhor se vender apasta de celulosa, e tirar dessa maté-ria prima quando os preços da pastaestiverem deprimidos. há um factoque indiciaria a veracidade destainterpretaçom. A coincidéncia emcurtos lapsos de tempo nas estatísti-cas das celuloses a que tivemos aces-

so, de vários indicadores: 1. alta dospreços da pasta de celulose; 2. cresci-mento da superfície arvorada quei-mada; 3. incremento das cortas demadeira; 4. aumento dos stocks demadeira das celuloses; 5. baixa dospreços da pasta. Os dous primeirosfactores costumam ser simultáneos,mentres que os dous seguintesteriam um retraso de alguns meses eo último, ainda que de forma variá-vel, poderia aparecer no decurso devários meses mais.

Visto isto, e tal como acontececom os lumes que escondem espe-culaçom imobiliária ("Nom haverámais Aldeasnovas" dixo Touriño),nom é difícil arranjar na nossa terraalgumha personagem marginal dis-posta a todo, de entre o inframundoque apoia a quem está em melhorposiçom dentro da rede clientelar.Porque, infelizmente, a nossa cultu-ra política é primitiva e entendemosa participaçom pública como umacto interessado destinado à acumu-laçom de capital, algo em que sommestres muitos dos que se acobil-ham sob o vóo da gaivota. Basta citarnomes como Nené Barral, ex-alcal-de de Riba d'Úmia, acusado de blan-queamento de dinheiro do narcotrá-fico. Portanto, é ingénuo pensarmosque obedeça a um acaso o feito de asvagas mais catastróficas de incén-dios ocorrerem quando a cavernapopular perde o poder. É, simples-mente, um factor de risco acrescen-tado aos já existentes.

É ingénuopensarmos que

obedeça a umacaso o feito de as

vagas maiscatastróficasde incéndios

ocorrerem quandoa caverna popular

perde o poder.É, simplesmente,um factor de risco

acrescentado aos jáexistentes

Celuloses, madeira queimadae intencionalidade políticaPor PEDRO ALONSO

LUMES E POLÍTICA FLORESTAL (II)

Madeira queimada no ano 2005 armazenada nas instalaçons das Celuloses da Beira Industrial (CELBI) em Aveiro (Portugal)

NOVAS DA GALIZA15 de Setembro a 15 de Outubro de 200614 VOZES

Que entendemos por voluntariado?Segundo a lei, o voluntariado direspeito áquelas pessoas que, para

além dos seus próprios deveres profissio-nais, dedicam parte do seu tempo a reali-zar actividades em favor dos demais demodo contínuo e desinteressado.

Nom deveriamos partilhar aquela críticasimplista conforme a qual o voluntariadoseria umha sorte de 'política de remendos'perante o avanço neoliberal. Teremos queabordar cuidadosamente duas questões:

Sobre o siginificado profundo de mili-táncia. Podemos pensar que toda acçomindividual levada a cabo fora de organiza-ções políticas ou sindicais é umha acçomvoluntária. Deste jeito, a militáncia activa,criadora e revolucionária que se fai a partirde organizações sem ánimo de lucro, osmovimentos sociais, as ONGs, podendecerto ser respostas válidas ao sistemaneoliberal. Também o achegamento e otrabalho com as classes mais marginais dasociedade som acções de militáncia pro-funda que muitas vezes escasseiam nasorganizações políticas e sindicais conven-cionais. A participaçom em diferentesacções de voluntariado também pode valercomo escola de aprendizagem para umposterior amadurecimento e conversom aumha militáncia total e a tempo completo- nom momentánea como semelha salien-tar a legislaçom.

Sobre as novas formas de participaçomsocial. Hoje o impulsor do avanço da socie-dade, no sentido mais solidário da palavra,nom o encarna o proletariado, a classe ope-rária manual, mas um colectivo heterogé-neo, plural e diverso (nalgum caso mesmocontraditório), que converge na preten-som dum ideal alternativo de sociedade.Muitas vezes nom mui claramente defini-

do, mas si convergente na oposiçom ao sis-tema de dominaçom e injustiça que seespalha polo mundo.

Portanto, assume umha acçom acordecom a sua natureza plural. Nom há umhaúnica teoria analítica válida, nom há umhaúnica acçom social válida, etc..., mas repre-senta umha pluralidade de métodos, umhaheterodoxia de pensamento e umha hete-rogenia de acções tam ampla e vasta comoos elementos aos quais tenta dar resposta.

Assi, as novas relações entre movimen-tos sociais e organizações políticas já nomsom relações de submissom ou de apadrin-hamento, mas som relaões em plano deigualdade destinadas a ocupar diferentesesferas do poder -um poder que hoje emdia nom se concentra num único espaçosocial.

O voluntariado merece críticas, até durascríticas, mas convém que a partir dos posi-cionamentos mais lúcidos da esquerda, lan-cemos umha mao aberta disposta à semen-teira. O voluntariado pode ser escola depedagogia revolucionária, assi devemostratá-la, nom destruí-lo mas si defini-lo.

Raúl Asegurado, membro da Associaçompara um Interesse Solidário 'O Peto'

VOZES

O voluntariado em debate

REDACÇOM / A recente crise incendiária trouxo de novo à tona da actualidadeo debate que surgira nos dias da maré negra: é o voluntariado mais umhaferramenta de transformaçom social diante da demissom do Estado ou,

por contra, estará-sse a fazer um trabalho que é responsabilidade daadministraçom? Contrapomos duas opinions enfrentadas para alimentarum debate imprescindível.

CONTRASTAMOS OPINIONS EM RELAÇOM ÀS FORMAS DE AUTOORGANIZAÇOM SOCIAL

Apartado 24034 - 28080 - Madrid

As crises do Prestige, o lume ou asvagas migratórias põem de rele-vo, em graus diversos, as impo-

tências da política. O capitalismo, como'mago que nom controla as forças quedesatou' pede auxílio à beneficência dasociedade civil. Também a velha políti-ca emancipadora, órfã de resultados ede fórmulas, manifesta a sua crise prati-cando o transformismo sem muita con-viçom: novos voluntários face a velhosmilitantes, subsídios generosos face arecursos próprios, promoçom assisten-cial face a vontade de ruptura. A crise doEstado e a crise da esquerda produzemesta fusom estúpida: lá onde o poder setorna reformista para mitigar as desfei-tas que consente, a sociedade civiltorna-se estatista para socorrer os espe-cialistas impotentes.

Nesta Galiza já em ruínas, tudo passapor superar simultaneamente as noçonsde política e voluntariado assistencial. Aactividade militante como exercício rei-vindicativo em relaçom positiva aoEstado esfarela-se a olhos vistos. NaSuécia, os socialdemocratas retiram-seda arena institucional confessando quenom 'ficou outra' que debassar o Estado-providência, enquanto os seus irmãosgémeos neoliberais apanham o leme paramanter umhas poucas conquistas sociais.A fusom de identidades é tal que a velhaesquerda radical, noutrora ainda dedica-da a um proveitoso aguilhoar do refor-mismo governante, posta-se desampara-da em um solilóquio deprimente.

Contra a desinteressada 'assistência aum poder', alvisca-se no fim do túnel aconstruçom microsocial de umha redede poderes. Um novo voluntariado ouumha nova militáncia nacionalista como

desdobramento plurifuncional de'modos de fazer' (no ensino, no lezer, natecnologia, nos ofícios) e nom como ape-laçom obsessiva à surdeira do Estado. Setemos que enfrentar-nos com as própriasmãos às desfeitas que aí vêm, será semnos esquecermos de espalhar aos quatroventos a imundícia de quem nos fazmão-de-obra pára-institucional ou clien-tela eleitoral. Umha futura 'Galizavoluntária' tem que exercer a críticaimpiedosa até dizer com a prática aEspanha: "nom vos precisamos".

Jorge Paços Meirol

O voluntariado, umhanecessidade para hoje

Armadilhas do voluntariadoe armadilhas da política

O VOLUNTARIADO MERECE

CRÍTICAS, ATÉ DURAS

CRÍTICAS, MAS CONVÉM

QUE A PARTIR DOS

POSICIONAMENTOS MAIS

LÚCIDOS DA ESQUERDA,LANCEMOS UMHA MAO ABERTA

DISPOSTA À SEMENTEIRA

ALVISCA-SE NO FIM DO

TÚNEL A CONSTRUÇOM

MICROSOCIAL DE UMHA

REDE DE PODERES. NOVO

VOLUNTARIADO OU NOVA

MILITÁNCIA NACIONALISTA

COMO DESDOBRAMENTO

PLURIFUNCIONAL DE

'MODOS DE FAZER' E NOM

COMO APELAÇOM OBSESSIVA

À SURDEIRA DO ESTADO.UMHA FUTURA 'GALIZA

VOLUNTÁRIA' TEM QUE

EXERCER A CRÍTICA

IMPIEDOSA ATÉ DIZER

COM A PRÁTICA A ESPANHA:"NOM VOS PRECISAMOS"

NOVAS DA GALIZA15 de Setembro a 15 de Outubro de 2006 15HISTÓRIA

Naquela década de '60,quando alguns cursámosestudos secundários

baseados nos 'PrincipiosFundamentales del Movimiento'.No triunfalismo da Hispanidade,ou a legitimidade sobre a coloni-zaçom da América do Sul polosReis Católicos e os seus continua-dores. Nos exercícios espirituaisda Santa Igreja Católica,Apostólica e Romana. Quando oGeneral Mola, Sanjurjo, MillánAstray e García Lobato eran triun-fadores. Quando pensar no sexoera pecado. Quando se as mulhe-res vestiam saia resultava lascivo eprovocador. Quando masturbar-seera pecado.

Aqueles anos '60 da emigraçomgalega para a Suíça, Alemanha eFrança, onde comprovámos asdiferenças na alimentaçom, noshábitos, na ética... Numha Europaque começava nos Pirinéus ("oresto era África"), que estava arecuperar-se da Segunda GuerraMundial.

Aqueles '60 em que Cuba e aAlgéria estavam constantementenas ondas e a 1ª Declaraçom daHavana, que chegávamos amemorizar.

Aqueles anos '60 quando o pro-grama do PCE de 'Greve GeralPolítica' e 'ReconciliaçomNacional' ondavam pola Pirenaica.

Quando a luita individual polaemancipaçom começava alá polos17, 18 ou 19 anos.

Quando falávamos da possibilida-de da Revoluçom, da ReformaAgrária, do "a cada quem conforme àssuas necessidades e de cada quemconforme às suas possibilidades".

Aqueles '60 em que para viver-mos em parelha (polo menos nasvilas e no rural) tínhamos quecasar pola Igreja.

Quando pensávamos em altonas possibilidades reais da ditadu-ra do proletariado, socialismo ecomunismo.

Aqueles anos em que os 10 pon-tos da UPG começavam a divul-gar-se entre minorias essencial-mente culturais e estudantis.

Quando Luís Cília cantava con-tra Salazar, contra a guerra colo-nial portuguesa, e a sua mensa-gem nos fazia vibrar o coraçom.

Quando a 'Longa Noite dePedra' ou 'Memorias dun NenoLabrego' eram livros queridos enom fáceis de atopar.

Aqueles anos '60 em que a eco-nomia do Estado espanhol inicia-va umha lenta recuperaçom e osplanos adoptados impulsionavamo progressivo desenvolvimentoda nossa economia, fazendo des-cer a miséria dos anos quarentae cinquenta.

Aqueles '60 em que a diferençaentre a mocidade urbana, vilega erural eram mais agudas que asactuais em todos os ámbitos e osintercámbios culturais, desloca-mentos e meios de transporteeram escassos, ou praticamenteinexistentes para a maioria damocidade galega.

Aqueles anos em que quem tín-hamos rádio andávamos movendoconstantemente os comandosprocurando a BBC, Radio FranceInternacional, Rádio Moscova e aPirenaica ou R.E. Independente.

Aqueles '60 em que ainda ecoa-vam as palavras "os atracadores"ou "os do monte" referindo-se aosex-guerrilheiros 'O Piloto' e Mário'O Langulho', que subsistiammiseravelmente, como podiam.

Aqueles anos das greves minei-ras nas Astúries, que tanto nos

marcárom a alguns. Foi emMieres, 1964, quando se inicia omeu "expediente de rebeldía", elogo em Xixom, onde o comissá-rio-chefe Ramos executava polasnoites as torturas tratando deobter informaçom acerca dos nos-sos enlaces, responsáveis...

Naqueles '60 os que fóramospresos pola Brigada Político-Socialantes de cumprirmos o ServiçoMilitar Obrigatório éramos deste-rrados nos piores destacamentosmilitares e afastados dum "desti-no" normal. Seguem a nossa capa-cidade. "Tocou-me" a Companhiade Esquadra V de Escaladores deCandanchu, na mesma fronteiracom a França e já nom voltei a terpassaporte desde 1964 até 1976.

Aqueles anos '60 do medo con-génito dos nascidos nos '30 e nos'40, quando nom se devia falar emalto sobre "certos temas", quandoas gentes represaliadas, luitado-ras, apenas nos contavam nadasobre o seu passado, as suasideias, a sua doutrina. Aquelageraçom anterior tinha o seugueto, o seu clam, e fora delequase nom falava nem contava a

sua luita contra o regime fran-quista. Sem generalizar, os quenascemos nas vilas apenas lhesescuitamos narrar a sua luita aosrepublicanos socialistas, comunis-tas ou anarquistas. O medo àsrepresálias, à delaçom... estavaimplícito nos seus hábitos e cos-tumes. A incomunicaçom genera-cional nas vilas era umha constan-te. Foi depois da morte do militarsublevado Francisco Franco quuecertos tabus de comunicaçomgeneracional fôrom desaparecen-do lenta e pausadamente, persis-tindo ainda em muitos casos.

Naqueles anos, no rural e nasvilas eram muitos os que iam amissa aos domingos para aparen-tar apagar o seu passado e esque-cer a sua luita antifranquista dian-te da Guarda Civil, as instituiçonsdo 'Movimiento Nacional', osfalangistas, os cregos, as monjas...

Aqueles anos em que o álcool eo tabaco eram um jeito de fazer-se'homens' e as copas de Veterano,Osborne, a chisca ou os campanosde tinto do país eram hábitos deconsumo popular. Com 16, 17,18... ano, aos domingos e em cer-

tos dias fazia-se constante.Aqueles sessenta em que tan-

tos tivemos a primeira experiênciasexual com umha mulher nos bai-rros chineses -chamava-se aRinconada e a Ferreria em Lugoou a Florida em Monforte. Haviaque ter cuidado de nom apanharmuitas 'purgaçons' ou outrasdoenças venéreas.

Naqueles anos a missa dosdomingos às 12 era o mais habitual,e depois, a tomar os vinhos antes dojantar do domingo, até onde o corpoe mais o peto aguentassem.

Foi no ano '67 quando fomosprocessados polo Tribunal deOrdem Pública (TOP) obreiros eestudantes residentes naCorunha: Maximino CacheiroVarela (Professor no CUVI), XanMaría Castro Paz (actual secretá-rio geral das ComissõesObreiras), Fernando, Manolo eGonzalo Porto, Luís Alonso Álva-rez (historiador), ManuelLourenzo (dramaturgo), JoséLuis Cordero (professor),Enrique (empregado), Chao(empregado), 'O Panadeiro' emais o que escreve. Condenárom-nos a quatro anos a uns e a dous aoutros por associaçom ilícita epropaganda ilegal. Depois veu oexílio por muitos anos paraMaximino Cacheiro Varela e paraManolo e Fernando Porto.

Foi em finais de 1968, estandocondenados polo TOP e penden-tes de um recurso perante oTribunal Supremo quando com umpassaporte ilegal fomos à constitui-çom ou fundaçom do PartidoComunista da Galiza nos subúrbiosde Paris Santiago Álvarez, RafaelPillado, Anxo Guerreiro, CarlosBarros Guimeráns, Ferreiro, Santose outros. Logo voltamos a juntar-nos os fundadores numha garagemde Ferrol e depois num paço dasredondezas de Ourense.Descobrimos Celso Emílio Ferreiro,Kafka e Neira Vilas, porque os nos-sos no-lo recomendavam.

Foi assim como alguns vivemosaqueles anos sessenta, em que arepressom e a perseguiçom faziamparte do nosso ser. Depois vinhê-rom os julgamentos do TOP trásas greves do '72 em Ferrol e Vigo,recolhidas com maior detalhe nolivro 'História do PC na Galiza(1920-1968)' de Vítor ManuelSantidrián, publicado polas'Ediciós do Castro'.

HISTÓRIA

Fazendo Memória Histórica:a Repressom na Galiza dos Anos SessentaPOR ANTOM ÁRIAS CURTO

NAQUELES '60 OS QUE

FÓRAMOS PRESOS POLA

BRIGADA POLÍTICO--SOCIAL ANTES DE

CUMPRIRMOS O

SERVIÇO MILITAR

OBRIGATÓRIO ÉRAMOS

DESTERRADOS NOS

PIORESDESTACAMENTOS

E AFASTADOS DUM

"DESTINO" NORMAL.AQUELES ANOS '60 DO

MEDO CONGÉNITO DOS

NASCIDOS NOS '30 E

NOS '40, QUANDO NOM

SE DEVIA FALAR EM

ALTO SOBRE "CERTOS

TEMAS". AS GENTES

REPRESALIADAS, APENAS

NOS CONTAVAM NADA

SOBRE O SEU PASSADO

Muitos iam à missa para apagarem o seu passado diante da Guarda Civil

NOVAS DA GALIZA15 de Setembro a 15 de Outubro de 200616 CULTURA

CULTURA

REDACÇOM / A cidade transmon-

tana de Bragança vai acolher de 2

a 4 de Outubro o V Colóquio

Anual da Lusofonia, que como

novidade vai estar dedicado na

íntegra ao nosso país. Assim,

todas as comunicaçons apresen-

tatas estarám subordinadas ao

título «Do reino da Galiza até os

nossos dias: a língua portuguesa

na Galiza».

Iniciados no Porto em 2001,

estes colóquios som a única rea-

lizaçom de carácter anual para

"levar por diante umha tarefa

que vários órgaos internacionais

e nacionais (portugueses) nom

conseguírom: a de juntar todos

os luso-falantes qualquer que

seja o país onde vivem ou a sua

nacionalidade em torno desse

desiderato", assegura a organiza-

çom.

Haverá dous grandes temas a

debater no colóquio. O primeiro

deles, a traduçom, contará com

até seis comunicadores, que tra-

tarám a vertente geral desta dis-

ciplina, como também o seu

interesse em países como a

Galiza onde a língua própria se

vê minorizada face a umha lín-

gua estrangeira.

O segundo grande tema, cha-

mado genericamente ‘Galiza’,

tentará desvendar ao público

português qual é a situaçom da

nossa língua no seu país de ori-

gem fazendo um percurso por

alguns dos ámbitos mais salien-

táveis. Entre as 25 comunica-

çons que serám apresentadas

salientamos que o compositor

Rudesindo Soutelo falará do

Corpus Musicum Galleciae, José

Luís do Pico fará umha introdu-

çom ao folclore galego-portu-

guês, Carlos Figueiras tratará a

situaçom lingüística no sistema

educacional, o lexicógrafo Isaac

Alonso Estraviz apresentará a

versom electrónica do seu popu-

laríssimo dicionário (http://estra-

viz.agal-gz.org), Héctor Canto

apresentará a Plataforma para a

Recepção das Televisões

Portuguesas na Galiza

(http://www.agal-gz.org/portugali-

za/tvsptnagaliza) e Teresa Carro

dará conta das actividades do

Movimento Defesa da Língua na

promoçom do nosso idioma.

Presença desta publicaçom

O NOVAS DA GALIZA também

participará neste evento com

umha comunicaçom sobre a

situaçom do jornalismo em gale-

go-português feito na Galiza.

Com a sua participaçom, este

periódico quer denunciar por

umha parte os obstáculos que

som impostos ao exercício do jor-

nalismo no nosso idioma e pola

outra, a marginalizaçom da lín-

gua galega num ámbito tam

decisivo como os meios de

comunicaçom. Na comunicaçom

enviada, o NOVAS DA GALIZA pre-

tende deixar claro que nom alin-

ha com estas práticas, como tam-

bém rejeita o servilismo de boa

parte dos meios de comunica-

çom no que diz respeito às aju-

das públicas, que implicam

umha dependência que muitas

vezes vai para além da estrutura

económica e empresarial.

No País Basco, a okupaçom,

sendo o primeiro que lembramos

ao falarmos de gaztetxes, fica

num segundo plano, pois na

maioria dos casos toma-se como

umha alternativa. Em muitas

ocasions produz-se umha

solicitude prévia aos poderes

públicos para requisitar os locais

autogeridos. Ao mesmo tempo,

tampouco se podem desestimar

um grande número de ‘gazte

asanbladas’ que nom tenhem

mais possibilidades para além da

okupaçom.

O que se pretende é que exista

um por bairro nas cidades ou um

em cada vila. Isto é assim porque

som considerados lugares de

encontro para a juventude activa

da localidade em questom, e nom

se concebe o facto de num só

bairro ou vila existirem vários

separados. A outra premissa é a

autogestom como pilar

fundamental.

Tanto nos gaztetxes

autogeridos okupados como nos

que nom o som, encontram-se as

mesmas reivindicaçons e

problemas que no resto do

Estado: a especulaçom e a cultura

‘alternativa’ unidas às temáticas

próprias segundo os colectivos

que compugerem a assembleia e

as realidades contextuais em que

se encontrar o gaztetxe.

Sobre estas temáticas, e como

particularidade em relaçom à

forma em que se lançam as

reivindicaçons na Catalunha (por

exemplo), aprecia-se um menor

peso da temática da habitaçom

face à dos espaços de

sociabilidade. De facto, com

contadas excepçons, ambos os

tipos de okupaçom ficam muito

diferenciados: a cultura

alternativa bebe muito da cultura

popular.

Os gaztetxes som algo mais do

que centros de lazer ‘alternativo’,

som formas de organizaçom

política e social, horizontais,

críticas e transformadoras. Por

esta razom e porque som vistas

como perigosas, recebêrom dos

concelhos, sobretudo através da

imprensa hegemónica, fortes

ataques.

Da mesma maneira que noutros

lugares do Estado em que há

grandes concentraçons de centros

sociais, a ideia foi a de se unir para

criar mais força, comunicar-se e

trocar experiências. Estas redes,

configuradas mediante grandes

assembleias ou através da

Internet (portais de contra-

informaçom ou páginas web), som

a melhor fachada, nom apenas dos

próprios gaztetxes, mas dos

colectivos que som agrupados à

sua volta. Pretendem-se criar

dinámicas próprias fora dos

círculos institucionais, tutelados

e controlados, que tampouco

exibem o mais mínimo interesse

em ter em conta as suas

reivindicaçons, concentrando-se

unicamente no tema do lazer

como ponto central das suas

políticas.

Relaçom com a Administraçom

Vem-se questionando a

legitimidade ou nom que tem um

gaztetxe cedido ou regulado pola

Administraçom em relaçom a um

okupado. Em geral, prima a

liberdade de cada ‘gazte

asanblada’ para decidir se negocia

ou nom com a Cámara Municipal

ou se trabalha num local da

propriedade desta. Com esta

liberdade e assegurando uns

mínimos ideológicos, entre eles a

autogestom, muitos centros

cívicos institucionais som

considerados ‘gaztetxes’. No

sentido contrário, existem

também centros denominados

assim pola Administraçom, mas

nom som reconhecidos como

‘gaztetxes’ polo movimento.

Contudo, nenhuma destas

opçons fica isenta de sofrer

ataques por parte da

Administraçom ou de devirem

centros nom autogeridos. Por

regra geral, os gaztetxes acabam

por ser despejados,

maioritariamente de forma

violenta, mas a sua essência nom

acaba: as ‘gazte asanbladas’

continuam na sua luita por

conseguirem um novo espaço

autogerido, e mantenhem as

actividades e toda esta filosofia de

vida. A repressom aos gaztetxes

nom diminui as forças do

movimento. Nom o figérom em

1996 ao se penalizar como delito a

okupaçom, e é difícil que o

consigam agora, antes polo

contrário: os ataques reforçam por

um lado a ideia de que se trata de

umha reivindicaçom justa e

legítima, e por outro lado,

reforçam os laços e as redes tanto

dentro como fora do movimento.

Belar Gaiztoik ezta galtzen (‘a erva

ruim nunca morre’) ou, como se

diz no gaztetxe de Idiazabal, “um

despejo nom deixa um vazio, mas

um rasto ou um pouso; tampouco

o fai o passo do tempo ou da

idade, porque outros tomarám o

relevo”.

Izan zirelako gara, eta garelako

izango dira (provérbio popular

basco: ‘somos porque fôrom e

serám porque somos’)

* Carlos Jaca é licenciado em

Ciências Políticas.

Bragança celebraVColóquio Anual da

Lusofonia dedicado naíntegra à Galiza

Gaztetxes, iniciativa cultural do

movimento okupa no País Basco

Actividade de lazer num gaztetxe

CARLOS JACA / Os gaztetxes surgem no País Basco nos

primeiros anos da década de 80 com as ‘gazte asanbladas’,

num contexto de participaçom popular e de vontade de

fazer cousas. Nos momentos iniciais, os gaztetxes nascem

das necessidades de reuniom das ‘gazte asanbladas’ para

criarem rádios livres, realizarem fanzines, concertos, etc.

NGZ participará com umhacomunicaçom sobre o jornalismo em

galego-português no nosso país

NOVAS DA GALIZA15 de Setembro a 15 de Outubro de 2006 17CULTURA

Nos alvores do s. XX as teorias

de S. Freud som a base

principal de posteriores

reflexons pseudo-sexológicas.

Em efeito, gostam ao modelo

médico. Porém, Havelock Ellis

(1859-1939) será, mais do que

Freud, um sexólogo imprescin-

dível para entendermos muitas

questons da 'modernidade'.

Ellis comparte com Freud a

responsabilidade intelectual da

'contra-revoluçom sexual'

(Keith Millet). Nunca criticou

abertamente a psicanálise, mas

do estudo da sua obra extraem-

se objecçons a teorias

freudianas como a sexualidade

das crianças/'polimorfos perver-

sos' (interpretada a partir de

'umha perspectiva de

aberraçom adulta por parte da

psicanálise') ou o 'complexo de

Edipo' (frente à 'normalizaçom

das relaçons estreitas mae-

filho').

A extensa obra de Ellis,

Studies in the Psychology of Sex (7

vol.) fijo tremer a comunidade

científica da sociedade

victoriana. Este corpus é

pioneiro em formula-çons tais

como: o carácter quotidiano e

universal do 'auto-erotismo'; o

reconhecimento e dignificaçom

da homossexuali-dade como

desejo nom patológico; a

complementari-dade e nom

contraposiçom da

homossexualidade-heterosse-

xualidade; a diferenciaçom

sexual como umha questom de

grau; a legitimaçom das

prácticas sexuais tabu através

da sua íntima relaçom com a

sexualidade 'normal'...

Ellis considera que, entre os

sexos, se dam mais valores

cultiváveis que problemas

tratáveis. Era defensor da

monogamia, mas nem por isso

partidário da regulaçom oficial

das relaçons, preferentemente

abertas (nos 25 anos de

matrimonio com Edith Lees,

ambos tivérom outras relaçons -

ela na maior parte lésbicas -- e

nem sempre partilhárom

morada).

Inovadora foi a proposta de

um "financiamento sistemático

da maternidade", e da

possibilidade de descansos

durante a menstruaçom.

Revolucionárias som na altura

as suas teses sobre a mulher

como "sujeito desejador" e a

descriçom de zonas erógenas no

corpo para além dos genitais.

Esta vai por despedida

A que nom quigesse dare

Inda queda chiculate

Mas eu tenho que marchare

A CONJUGAR O VERBO SEXUAR

BEATRIZ SANTOS

HAVELOCK ELLIS:

o optimismo sexualJOÃO AVELEDO

«Temporada da castanha

que por Setembro arreganha»

Como diz o adágio popular,

chegados os primeiros dias do

Outono começam a abrir os

ouriços nos soutos. Chama-se

soutos às florestas de castanheiros

e soutos mansos àqueles

destinados à produção de

castanhas.

O castanheiro-europeu (Casta-

nea sativa) não é uma árvore

autóctone, mas perfeitamente

naturalizada nos nossos

ecossistemas. Tudo parece indicar

que foram os romanos que

estenderam o seu cultivo pola

Europa a partir da Ásia Menor.

Antigamente, as castanhas eram

básicas na dieta galega; logo foram

substituídas polas batatas e daí a

denominação de ‘castanhas da

terra’ que algures ainda se lhes dá.

Não é de estranhar, pois, a sua

grande presença na cultura

popular: magustos, sequeiros,

receitas de cozinha, cantigas...

Os nossos soutos foram

dizimados por duas pragas, a tinta

e o cancro americano. Para as

tentar combater, foi hibridado o

castanheiro-europeu com o

japonês (C. crenata) e ainda que

os resultados obtidos não fossem

os melhores, estes híbridos

espalharam-se por todo o País,

sem que qualquer responsável se

tivesse perguntado polos efeitos,

se os houver, no património

genético dos nossos soutos

tradicionais.

Porém, conservamos ainda

importantes soutos. O de Cata-

Sós (Lalim), declarado monu-

mento natural, tem os exemplares

mais altos da Europa com 30 m de

altura. Mas existem por todo o

País castanheiros que polo seu

magnífico porte seriam dignos de

tal título, como o de Armariz

(Nogueira de Ramuim) de 16 m

de circunferência ou o dos

Pombarinhos (Maceda de Trives),

que dizem milenário.

Infelizmente, outros foram

cortados, como o de Folgueira

(Baralha), do qual se conserva

uma fotografia em que aparece

um homem com um carro do País

no seu interior, segundo os

vizinhos, porque dava demasiada

sombra...

Agora que a Galiza acabou de

sofrer uma nova vaga de incêndios,

achamos necessário lembrar que

os soutos ardem mal, que os

caducifólios em geral ardem mal e

que, portanto, constituem

magníficas barreiras naturais

frente ao lume.

Fica dito.

A GALIZA NATURAL

Dos soutos em tempos de lumes

REDACÇOM / Falamos do Centro

Social A Tiradoura. Som mais de

duas dúzias de sócios, muito acti-

vos, nacionalistas e de esquerda,

imaginativos e – evidentemente

– jovens. Abrírom num prédio

abandonado em Reboredo

(Cangas) mais um centro social

dos muitos que germinam no

País. As obras, realizadas com o

clássico trabalho voluntário e

aproveitando-se das habilidades

profissionais dos próprios mem-

bros, servírom de primeiro exer-

cício de companheirismo.

Desde o ano 2003 venhem

mantendo umha actividade

sustida na conhecida vila do

Morraço: dando cabimento a

concertos de grupos novos,

organizando palestras e grupos

de debate, comemorando o Dia

da Pátria, leccionando cursos de

diferentes instrumentos ou

montando exposiçons. A mais

recente, relacionada com o ‘ano

da memória’, levou a Cangas

imagens da repressom de 36, e

ligando com este intuito

recuperador preparam para este

mês a homenagem de quem fora o

presidente republicano da

Cámara da própria vila,

assassinado polos fascistas.

Um sítio web de recente

criaçom – www.atiradoura.tk –

informa pontualmente das

actividades da associaçom e da

sua relaçom com projectos irmaos,

como pode ser o mais recente

centro social A Formiga, aberto na

vizinha vila de Redondela.

Novo espaço alternativo floresce no Morraço

Há umha rota para caminhadas polo souto de Cata-Sós

NOVAS DA GALIZA15 de Setembro a 15 de Outubro de 200618 E TAMBÉM...

A tua infáncia está ligada à

terra, às lavouras do campo. Ficou

algo desse mundo na tua poesia?

Eu creio que sim. Daquela,

levar os animais pastar, colher a

erva, era algo natural em que

havia que ajudar. Sobretudo orgul-

ho-me especialmente de ter

aprendido nessa época os nomes

das aves, das plantas e ervas da

boca da minha família e na minha

língua. Algo disso acho que apare-

ce nos meus textos: a língua pri-

migénia, da natureza, das cousas

que me rodeiam, dos acidentes

geográficos, das plantas... Isso fica

um pouco desde a minha infáncia.

Ali tem a sua origem.

Quando pensas que poderias

publicar?

Sempre fui reticente a enviar

algo a certames ou a tentar publi-

car. Também é que nom tinha

relaçom com pessoas que escre-

vessem, do mundo poético ou de

algumha revista. Nem na minha

época universitária. Dedicava-me

fundamentalmente a estudar por-

que a minha meta era aprovar para

manter a bolsa de estudos, que

era o que me permitia estar ali.

Mas, bom, eu durante muito

tempo ia escrevendo e guardando.

Depois relia e rasgava o escrito.

Sempre ao reler vejo pior o que

tenho escrito. O meu sempre foi

um processo constante de ir

limando, aperfeiçoando, trabal-

hando as palavras...

Mas aqui publicar nom é fácil...

Certo. Há muita gente que

escreve maravilhosamente, madu-

ra, com grande manejo da lingua-

gem, mas que nom tem nada

publicado. Porque nom tem

ganho prémios nem tem amiza-

des. Hoje em dia a maneira mais

fácil de publicar é ser já um autor

consagrado ou ter ganho um pré-

mio. Quem é novo e nom entra no

mundinho cultural literário, na

fogueiras das vaidades, tem-no

muito difícil. Para quem se afastar

um bocado do cánone estético em

vigor ou escrever ‘diferente’, para

quem se avançar aos tempos, as

dificuldades aumentam.

Viver da literatura...

Nada. Nom se pode pretender

nada, economicamente. A mim,

daria-me certo pudor viver do que

escrevo. Mas também é certo que

a poesia está depreciada. O trabal-

ho do escritor é tam artístico

como o dos músicos, pintores ou

actores. Mas a poesia, a literatura

em geral, é algo assim como a arte

dos pobres. E eis a sua grandiosi-

dade, porque apenas com a pala-

vra, um lápis e um papel é possí-

vel criar umha obra como a cate-

dral de Compostela. Mas, nom se

valoriza suficientemente. Talvez a

nível de prestígio, mas nom eco-

nomicamente. Pensa, por exem-

plo, num festival do tipo do da

Poesia no Condado: enquanto os

grupos musicais, artistas e apre-

sentadores som pagos polo seu

trabalho, os poetas nom.

Fala-nnos um bocado do teu pro-

cesso criativo.

Necessito para trabalhar de

umha absoluta solidom.

Normalmente quando estou em

plena pulsom criativa – que pode

durar um dia ou umha semana, ou

quinze dias – a concentraçom no

trabalho prima sobre qualquer

outra ocupaçom . Preciso de con-

centrar-me totalmente no que

está a nascer. Nom existo para

mais nada. Ou o demais nom exis-

te. Podo estar horas com umha

palavra ou um verso. A fazer e

refazer. Debaixo de umha apa-

riência simples há um trabalho

quase de ourives...

E o teu espaço de escritora?

Tenho umha biblioteca no faia-

do. O lugar de trabalho está sem-

pre perfeitamente descolocado,

livros polo chao, apontamentos

desarrumados, quatro linhas em

folhas diferentes, ideias a lápis

nas margens, leituras pola cama...

tudo muito anárquico. Tenho

inclusive escrito nos recibos que

devolvem os caixas automáticos

quando umha pessoa vai levantar

dinheiro. E também directamen-

te no computador, cada vez mais...

E participas em recitais em

defesa de muitas causas....

Sempre que me chamam para

contribuir para algo que considero

de justiça, lá vou. Considero que a

poesia nom tem que ser necessa-

riamente comprometida, mas o

poeta sim. A poesia é arte, mas a

atitude do intelectual ou do artis-

ta nom pode ser ambígua, morna,

apolítica. A pessoa apolítica é a

que sempre se mostra complacen-

te com o poder. A mim o que

acontece no mundo, o que acon-

tece aqui mesmo, nom me pode

ser indiferente. Se o que eu diga

publicamente, por ser minima-

mente conhecida, pode influir em

alguém e contribuir para a trans-

formaçom de qualquer cousa, será

positivo.

Como encaras o de recitar os

teus versos em público?

Suponho que como os actores

antes de entrarem em cena,

tenho umha taquicardia e penso

que vou morrer. Mal começo com

o primeiro verso, vai-se embora

todo o medo e desfruto do

momento. Mas nom todos os reci-

tais som iguais. O poeta agradece

o público entregue que encontra-

mos em muitos actos. Noutros

casos parece como mais ausente,

como à espera de algúm outro

acto posterior.

LÍNGUA NACIONAL

1. Para afugentar os porcos; 2. Comité Revolucionário Arredista Galego; 3.

Uruguai; 4. 26; 5. José Bonaparte; 6. 1%

DESCOBRE O QUE SABES... por Salva Gomes

1. Para que é usada a expressom “coché!”

-Para afugentar os porcos

-Para chamar os porcos

-Para apanhar um taxi no Brasil

2. Onde se encontram as primeiras

teses feministas do independentismo

galego?

-Sociedade Nacionalista Pondal

-Comité Revolucionário Arredista Galego

-Federaçom de Mocidades Galeguistas

3. Que país tivo educaçom laica e gra-

tuita antes que Inglaterra, voto femini-

no antes que França e jornadas laborais

de oito horas antes que os EUA?

-Uruguai -Argentina -México

4. Com que anos morreu num confron-

to armado com a polícia espanhola em

Ferrol Ramom Reboiras Noia, Moncho,

trabalhador e exemplar patriota?

-25 -26 -27

5. Depois de se fazer com ele, quem

vendeu o Códice do Beato do Mosteiro

de Sto. Domingo de Silos?

-José Bonaparte

-Manuel Fraga

-Francis Drake

6. A que percentagem chega a recicla-

gem de pilhas no Estado espanhol?

-1% -5% -9%

Soluçons :

Elvira Riveiro também dá aulas de cerámica aos internos do cárcere da Lama

“Na universidade as teses

deveriam ser escritas em espanhol

ou num galego susceptível de ser

entendido, sem problemas, por um

espanhol-falante”. Estas palavras

fôrom proferidas, em espanhol,

polo júri de umha tese de

doutoramento redigida em

‘português’ e resume, como

poucos textos, o que o statu

quo reserva para o ‘galego’: a

dialectalizaçom. Porque,

afinal, só um dialecto se

aprende numha semana como

fijo em 1993 o jornalista

espanhol Campo Vidal para

gerir o debate eleitoral entre

Fraga e Presedo. E, pessoal,

quando umha variedade é

aprendida a partir de umha

outra no prazo de umha

semana, aquela só tem um

nome: dialecto.

É um facto que a populaçom

galega, em massa, fomos e

somos alfabetizados e

sociabilizados em espanhol.

Isto fai com que as falas

galegas estejam, já nom só

hibridizadas mas enquadradas

nas coordenadas do espanhol.

Aliás, a maioria dos discursos,

falados e escritos, elaborados

na Galiza som construídos a

partir desse modelo de língua,

salpimentado melhor ou pior

de galeguidade.

Neste terreno as elites

nacionais galegas nom se

tenhem destacado nem por

umha abordagem profunda

nem por umha prática

conseqüente. E umha elite

que pretende contestar o statu

quo tem que mostrar um

comportamento e umha via

original. Nom sendo assim,

constatam que só aspiram a um

pouco de sombra. Porque a

questom nom é que a nossa

Língua tenha que ser difícil

mas que tem de sê-Lo.

O Galego tem que ser difícil

VALENTIM R. FAGIM

ALONSO VIDAL / A voz personalíssima de Elvira Riveiro

está a ser para a crítica um “latejo sincero e valente do sen-

timento”. Poesia experimental, relatos, cerámica... Com

dous livros publicados, Andar ao leu e Arxilosa, já gan-

hou um lugar destacado no espaço literário do qual for-

mam parte umha novíssima geraçom de bons escritores e

escritoras. Confessa-se introvertida, mas poderemos encon-

trá-la recitando os seus poemas em qualquer acto solidário

ou reivindicativo. Porque – afirma – a atitude da artista

nom pode ser ambígua.

MARIA LABARTA / Ingredientes

(8 p):75 g de manjericom, 50 g

de queijo de parmesao (ou 25 g

de parmesao e 25 de pecorino),

50 g de pinhons, 10 colheres de

azeite virgem extra, 1 dente de

alho, 1 anchova e 1 pitada de sal

Preparaçom: Lava o manjeri-

com e separa as folhas do

rebento. Seca bem somente as

folhas e coloca-as num reci-

piente. Adiciona o azeite até

cobrir o manjericom. Passa a mistu-

ra polo espremedor. Junta-lhe os

pinhons e o queijo cortado em

pedaços pequenos. Acrescenta o

alho e a anchova e tempera com

sal. Bate tudo na batedeira na velo-

cidade mínima e já está pronto.

Podes misturar com diferentes

massas: esparguetes, cotovelinhos,

mafaldine, macarrom, gnocchi…

Se quigeres guardar no frigorífico,

cobre-o com mais azeite.

ARROZ COM CHÍCHAROS

Pesto

ENTRE LINHAS

“A poesia nom tem porque ser

comprometida, mas quem escreve sim”

Elvira Riveiro, escritora

ANJO RUA NOVA F. / Umha vez queestá para acabar a presente tempo-rada de triatlo, convém fazermosum balanço da mesma. Ora bem,nom centraremos a análise na elitedeste desporto, representada poratletas como Iván Raña, XavierGómez Noia ou Pilar Hidalgo.Olharemos para as jovens promes-sas que estám a começar, hoje emdia, a apontar maneiras de campe-ons, e visualizaremos as dificulda-des com que se encontram parapoderem treinar a diário.

A prática de um desporto decompetiçom é inerente a dispor deum mínimo de material desportivo,infra-estructuras e assessoramentotécnico. O triatlo implica dificulda-des acrescidas por ser um desportocomposto de três disciplinas: nata-çom, ciclismo e corrida a pé, poloque som reduzidos os espaços detreinamento. Umha soluçom paraisto foi dada a nível local, quandosurgírom clubes de triatlo, nascidoscomo um grupo de pais e maes detriatletas, que se juntárom paraorganizarem competiçons e reivin-dicarem instalaçons e apoio.

Outra iniciativa foi o CGPD dePonte Vedra (Centro Galego dePlanificaçom Desportiva), centrodedicado à formaçom integral dedesportistas, em que som compati-bilizados estudos e treinos, e cria-do com a pretensom de dar respos-ta às carências de infra-estructu-ras, formaçom e apoio. Ora bem,alguns dos e das triatletas maisrepresentativas desta nova gera-çom, como Adrián Vázquez,Alberte Trillo, Anton e IagoRuanova, Alfredo Freire, DavidPita, Saleta Castro, Aida Valiño,Sara Velo ou Tamara Fraga, quenom superam os vinte anos de

idade, nom pudérom ser prepara-dos no CGPD de Ponte Vedra.Privados do centro, veem-se obri-gados a treinar nas suas cidades ouvilas natais.

Isto é um grave inconvenientepara quando está a ser procuradoalgo mais do que divertir-se com odesporto. O problema de muitos emuitas triatletas do País que nompodem aceder ao CGPD, focadoprincipalmente em crianças deentre 14 e 18 anos (ainda que ofe-reça bolsas para alunado externo),som motivados por várias razons:às vezes, a negativa familiar de dei-xarem a criança sair do domicíliopara irem ao CGPD é um obstácu-lo; outras vezes, o inconveniente éque o centro nom oferece para oensino secundário todas as vias deestudo que som possíveis noutroscentros, produzindo o descarte demuitos e muitas candidatas a for-

marem parte do CGPD. Mas há quem, ao tomar a deci-

som, obtendo a autorizaçom dostutores, se encontra com um cen-tro, gerido pola Secretaria Geralpara o Desporto da Junta da Galiza,que fica pequeno, e os requeri-mentos ultrapassam o número debolsas oferecidas. Assim, a cribacontinua, e muitos triatletas gale-gos nom podem aceder a umhamelhor preparaçom; mas o que éverdadeiramente irritável doCGPD é que recentemente, tria-tletas galegos nom obtivessemvaga para ser outorgada a desportis-tas espanhóis, crianças que com obeneplácito da Fegatri (FederaçomGalega de Triatlo) e a colaboraçome respaldo do clube de triatloCidade de Lugo-Fluvial, recebembolsa. Inclusive neste vindourocurso académico está planificada arecepçom de dous valencianos.

A actual política da FegatriPerante estes factos, pergunta-mo-nos até que ponto é justificá-vel rejeitar e/ou expulsar galegospara serem admitidos jovensestrangeiros, ainda que compitamnum clube do País. Poderámesgrimir-se argumentos em prolda actual política da Fegatri noCGPD, mas o que nom deve ficardespercebido é que estas deci-sons nom só servem para serempromocionados desportistasalheios com o dinheiro de todosnós; além disso, fecham-se as por-tas, na própria Galiza, a futuraspromessas do País.

Com isto nom se ajuda ao aper-feiçoamento desportivo, mas corta-se a especializaçom técnica dosdesportistas da Galiza desde osseus inícios (objectivos estabeleci-dos para o CGPD). Assim, o des-porto de base fica a perder e por-tanto é debilitado, embora deva sero pilar central sobre o que se sus-tentem as selecçons galegas, edesta maneira tampouco se lograque o desporto na Galiza seja umcanal de expressom do nosso povo,ao nos vermos privados de poderdefender o País em todas as com-petiçons internacionais.

Desonra ver este panorama,sobretudo quando o triatlo éainda um desporto novo, contacom poucos anos de existência, eé minoritário (medindo o número

de licenças e seguidores).Condenado, como um de tantosoutros desportos minoritários,pola actual visom do desportocomo negócio ou simples espec-táculo, e o escasso apoio institu-cional, isto traduz-se, por conse-guinte, a que nom se aumentem emelhorem as instalaçons despor-tivas necesárias para a prática dotriatlo (piscinas, estádios de atle-tismo e ciclovias suficientes nasestradas para treinar o ciclismo).

Também em relaçom a istoencontramos umha deficiente cons-ciência cidadá para com os triatletas,e em geral para com os desportistasminoritários, que deriva em incom-preensom e banalizaçom do trabalhoe esforço realizado dia após dia porestes desportistas; comportamentosque se traduzem em protestos vee-mentes quando, por exemplo, édetido o tránsito rodoviário de umhaestrada para se realizar umha corrida.

A pesar disto, é tangível o cresci-mento deste desporto, já que, anoapós ano, aumenta o número detriatletas e clubes na Galiza. É sópena ver esta situaçom de escassaajuda e apoio institucional, porqueos resultados nos campionatosdemonstram claramente o enormetalento e potencial que guardam aspernas e braços dos nossos triatle-tas, que confirmárom em multiplasocasions que no triatlo a Galiza éumha potência mundial.

NOVAS DA GALIZA15 de Setembro a 15 de Outubro de 2006 19DESPORTOS

DESPORTOS

Muito talento, escassas instalaçonse pouca ajuda institucional

TRIATLO GALEGO 2006

O triatlo é um desporto composto de três disciplinas: nataçom, ciclismo e corrida a pé

Alguns dos e dastriatletas maisrepresentativasdesta nova geraçom,que nom superamos vinte anos, nompudérom serpreparados emPonte Vedra. Privadosdo centro, veem-seobrigados a treinarnas suas cidades ouvilas natais

Jovens promessas que estám a começar, hoje em dia,a apontar maneiras de campeons com as iniciativas anível local, os clubes de triatlo, que se juntárom para

organizarem competiçons ou o CGPD de Ponte Vedra(Centro Galego de Planificaçom Desportiva). Alguns dose das triatletas mais representativas desta nova geraçom

som Adrián Vázquez, Alberte Trillo, Anton e IagoRuanova, Alfredo Freire, David Pita, Saleta Castro, AidaValiño, Sara Velo ou Tamara Fraga.

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OPINIOM 2EDITORIAL 3NOTÍCIAS 4INTERNACIONAL 8

A FUNDO 10ANÁLISE 13CULTURA 16DESPORTOS 19

A ninguém surpreende aimportância que tem sidoatribuída aos rituais de algunspovos da América pré-colom-bina que incluíam os sacrifí-cios humanos.

O uso destes ritos encontra-va-se tão estendido que nemcivilizações tão sofisticadascomo a maia ou a astecafugiam a estas práticas.

Este rasgo cultural foi usadopelos europeus como pretextopara justificar o genocídiodestes povos.

Durante a chamada conquis-ta tanto soldados como evan-gelizadores usaram a existên-cia destes sacrifícios para apre-sentarem os indígenas comoselvagens aos quais poder mas-sacrar; hoje sabemos que onúmero destes sacrifícios foiexagerado muito.

Para entendermos estesritos devemos considerar quea sua função para a sociedadeem que se praticavam deviaser importante ou não teriamsubsistido ao longo de tantotempo; mas essa função nãoera uniforme, umas vezes pro-curava a purificação, outras aexpiação de culpas, e outrasera simplesmente uma formade aterrorizar outros povos; éde supor, dada a resistência dorito a desaparecer, que estasfunções deviam ser importan-tes, e difíceis de atingir poroutros meios.

A mais de uma pessoa podeque surpreenda saber que, naactualidade, no continenteamericano continuam a serpraticados sacrifícios huma-nos. Ora bem, com algumasdiferenças importantes, hojeem dia a pessoa é medicamen-te atendida antes do início doritual; e os métodos tambémforam melhorando... ondeantes se usava uma faca deobsidiana, hoje usa-se umainjecção letal, ou uma cómodacadeira eléctrica.

“A crueldade animal nom é a apariçom pontual denotícias, mas a sua presença continuada no dia-a-dia”

- DDepois da emissom das ima-gens do vizinho de Aguinho amalhar nos seus cans, muitosjornais centrárom o seu discursono deterioro da imagem daGaliza e dos galegos que as mes-mas podiam causar, deixandobastante de lado o facto em sido mau trato. Tu como o vês?- Lamentavelmente reflecte aconsideraçom generalizada que vêo mau trato ao animal como umhafalta menor. O mau trato a animaisnom humanos é um facto quoti-diano na nossa vida, tam assimila-do que só imagens como as quevemos nos telejornais destes diasparecem despertar umha reac-çom. Estamos afeitos a funcionar-mos socialmente através deimpulsos mais ou menos provoca-do e com muito pouca reflexom.Só temos que olhar ao nosso redorpara vermos um completo catálo-go de crueldades que vam das tou-radas até os zoos, aquários e circosnos quais assistimos à visom deespécies tiradas do seu habitat eforçadas a viverem em condiçons

aberrantes para a sua natureza sópara proporcionarem o lazer deoutro animal como é o ser huma-no. O mercado de espécies exóti-cas e nom tam exóticas oferecenumerosos exemplos de mautrato. Também os medicamentose os cosméticos que empregamossom em grande parte testados emanimais. E nom podemos deixarde mencionar um dos ámbitosonde a crueldade animal adquire acondiçom de sistema: a produçompecuária industrial. Vacas, galin-has ou frangos sofrem condiçonsde extrema crueldade: abarrota-mento, envenenamento com baseem antibióticos ou hormonas docrescimento, castraçons brutais eimobilidade para serem finalmen-te sacrificados mediante umhadescarga eléctrica que em muitoscasos nom os mata antes de seremintroduzidos na cadeia de despe-daçamento, polo que ainda estámvivos quando os começan a cortar.A crueldade animal nom é só aperiódica apariçom de notíciascomo a destes dias, mas também

está presente de maneira conti-nuada na nossa vida quotidiana.Cumpre olharmos para nós mes-mos, reflexionarmos e incorporar-mos práticas na nossa vida diáriaque permitam eliminar o mautrato a animais, tanto humanoscomo nom humanos.

- QQuanto aos incêndios, quaispensas que fôrom os principaisproblemas da vaga deste Verao?- O principal problema é a des-truiçom de umha percentagemmuito importante da nossa massaflorestal e a perda de vidas. A vagade incêndios foi intensa masmenos excepcional do que indi-cam as Administraçons. Na pri-meira quinzena de Agosto de1998 houvo mais fogos que nesteano, tanto no conjunto do País(2.374 face a 2.055), como na pro-víncia de Ponte Vedra (825 face a641). Acontece que ocorrêromduas circunstáncias excepcionaisque marcárom esta vaga de fogos:muitos ameaçárom casas, o quefijo concentrar os esforços em pro-tegê-las em detrimento da extin-çom propriamente dita, e umhamaior transparência informativapor parte da Junta junto com apresença dos fogos nas zonas maispovoadas deu lugar a umha gran-de visibilidade pública e mediáti-

ca, acrescentando assim a sensa-çom de emergência.

- QQual pensas que deveria ser areacçom para o futuro por parteda Administraçom?- Em primeiro lugar estabelecermedidas urgentes que evitem aperda de solo nas zonas incendia-das, que pode ser acentuada comas chuvas do Outono. O certo éque o monte continua a receberpouca atençom e recursos dasAdministraçons. Dous exem-plos: a verba consignada este anonos orçamentos da Junta para aju-das ao sector privado em matériade prevençom de incêndios é de1.200.000 euros, o que equivaleao investimento na melhoria dedous quilómetros de umha estra-da licitada o mês passado. Osconvénios assinados este ano polaConselharia do Meio Rural pararoças incidírom apenas sobre14.000 ha, face a umha superficiedeclarada de especial risco deincêndios de 391.549 ha. É preci-so mudar totalmente a óptica dagestom florestal, apostando navariedade de espécies em mosai-co, abandonando o monocultivointensivo de pinheiros e eucalip-tos e diversificando usos domonte que permitam revalorizara sua conservaçom.

SOLE REI / Num tempo em que as próprias práticas diárias da maiorparte das pessoas, assim como outras que nom o som tanto, e a estru-tura socioeconómica de que fazemos parte nos obrigam a olhar comespecial preocupaçom a envolvente que habitamos e a nos preguntar-mos para onde é que estamos indo, conversamos com Xan Duro, coor-denador geral da associaçom ambientalista Verdegaia.

XAN DURO COORDENADOR GERAL DE VERDEGAIA

CONCHA ROUSSIA

Sacrifícioshumanos