Saiba+ - Edição Março de 2014

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Desde 2006 20 de março de 2014 Restaurantes sobre rodas ganham espaço entre jovens Faculdade de Jornalismo - Puc Campinas Divulgação Carros alegóricos sem reaproveitamento geram riscos em área ferroviária A área da estação ferroviária de Campinas se transformou em depósito para carros ale- góricos utilizados nos carnavais de 2013 e 2014. O abandono gera riscos de perda dos materiais que, deteriorados, não conseguem ser reaproveitados pelas escolas de samba, além de criar entulhos e água parada, potenciais áreas de proliferação do mosquito da dengue. Segundo levantamento da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), as reclamações sobre planos de saúde atingiram 1.003 registros em 2013, contra 840 em 2012, um crescimento de 20%, que envolve todos os 21 convênios que atuam na cidade. Os motivos mais frequentes são a falta de cumprimento de contrato, demora no atendimento e os reajustes nas mensalidades. O presidente do Conselho Municipal de Saúde de Campinas, Paulo Mariante, acredita, porém, que o número de usuários lesados é superior ao registrado pela agência e critica a forma como a ANS admi- nistra as reclamações. Campinas registra 3 reclamações por dia contra planos de saúde A série Campinas 240 Anos resgata aspectos marcantes vividos pela cidade na época do Golpe Militar que completa 50 anos em 2014. O Saiba+ ouviu militantes contrários à ditadura, jornalistas e especialistas em história. 50 anos de um período negro MPF fecha nove rádios em Campinas Rádios não legalizadas dão espaço à liberdade de ex- pressão, mas sofrem interdição pelo Ministério Público por não possuírem concessão de serviço expedida pelo Ministério das Comunicações e licença para operar a ra- diofrequência atribuída pela Anatel. A justificativa para o fechamento, contestada por especialistas, é que elas pre- judicam a atividade de aviões em Viracopos. Número de jornalistas sem vínculo empregatício chega a 61% em agências Pág. 4 Usuários reclamam da falta de opções para aproveitar Passe-Lazer Pág. 6 Pág. 3 Alegorias carnavalescas recém-abandonadas em área da Estação Ferroviária de Campinas Rádio Muda, mantida por alunos da Unicamp, foi fechada Foto: Gabriel Luchetti Foto: Isabelle Granjeiro Foto: Livro Campinas século XX - 100 anos de história Pág. 5 Pág. 6 Demolição do Teatro Municipal Carlos Gomes, em Campinas, no ano de 1965 Pág. 8 Pág. 7

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Desde 2006 20 de março de 2014

Restaurantes sobre rodas ganham espaço entre jovens

Faculdade de Jornalismo - Puc Campinas Div

ulga

ção

Carros alegóricos sem reaproveitamento geram riscos em área ferroviária

A área da estação ferroviária de Campinas se transformou em depósito para carros ale-góricos utilizados nos carnavais de 2013 e 2014. O abandono gera riscos de perda dos materiais que, deteriorados, não conseguem ser reaproveitados pelas escolas de samba, além de criar entulhos e água parada, potenciais áreas de proliferação do mosquito da dengue.

Segundo levantamento da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), as reclamações sobre planos de saúde atingiram 1.003 registros em 2013, contra 840 em 2012, um crescimento de 20%, que envolve todos os 21 convênios que atuam na cidade. Os motivos mais frequentes são a falta de cumprimento de contrato, demora no atendimento e os reajustes nas mensalidades. O presidente do Conselho Municipal de Saúde de Campinas, Paulo Mariante, acredita, porém, que o número de usuários lesados é superior ao registrado pela agência e critica a forma como a ANS admi-nistra as reclamações.

Campinas registra 3 reclamações por dia contra planos de saúde

A série Campinas 240 Anos resgata aspectos marcantes vividos pela cidade na época do Golpe Militar que completa 50 anos em 2014. O Saiba+ ouviu militantes contrários à ditadura, jornalistas e especialistas em história.

50 anos de um período negro

MPF fecha nove rádios em Campinas

Rádios não legalizadas dão espaço à liberdade de ex-pressão, mas sofrem interdição pelo Ministério Público por não possuírem concessão de serviço expedida pelo Ministério das Comunicações e licença para operar a ra-diofrequência atribuída pela Anatel. A justificativa para o fechamento, contestada por especialistas, é que elas pre-judicam a atividade de aviões em Viracopos.

Número de jornalistas sem vínculo empregatício chega a 61% em agências

Pág. 4

Usuários reclamam da falta de opções para

aproveitar Passe-LazerPág. 6

Pág. 3

Alegorias carnavalescas recém-abandonadas em área da Estação Ferroviária de CampinasRádio Muda, mantida por alunos da Unicamp, foi fechada

Foto: Gabriel Luchetti

Foto: Isabelle Granjeiro

Foto: Livro Campinas século XX - 100 anos de história

Pág. 5

Pág. 6

Demolição do Teatro Municipal Carlos Gomes, em Campinas, no ano de 1965

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Página 2 20 de março de 2014 Editorial

CRÔNICA

“Longe de casa, há mais de uma semana...”Beatrice costaEstudantE dE

Jornalismo

Mais algumas garfadas e ela estará pronta para con-versar. Comida de mãe é sempre mais gostosa, todo mundo sabe. As últimas se-manas longe de casa não foram nada fáceis. Lavar e passar as roupas, manter o apartamento limpo e orga-nizado e, ainda por cima, cozinhar a própria comida! É, morar fora de casa com certeza parecia mais fácil quando ela só pensava na li-berdade que teria.

“E o que você tá achando da faculdade, filha?” - inter-pelou a mãe.

“Tá tudo ótimo, mãe”- respondeu.

“Tá conseguindo manter tudo organizado?”

“Tô, mãe, relaxa”.“Olha lá, hein, lembra-

se do que combinamos? Eu vou aparecer lá de surpresa pra ver se tá mesmo”.

“Ai, mãe, tá, tô fazendo tudo direito. Me deixa”- ago-ra num tom irritado. “Vou pro quarto, tá? Preciso des-cansar”.

Irritada, joga seu corpo sobre a cama, exatamente como sua mãe odeia e pensa que precisa mesmo é des-cansar o corpo e a mente. Aí o bicho pega: não consegue desligar. A cabeça fica a mil pensando nas últimas ex-periências e o sentimento é misto demais para conseguir classificá-lo como bom ou ruim. Vira de um lado para o outro, até que o cheirinho de roupa de cama que só nossa casa tem faz com que ador-meça. Num sono tranquilo, sonhos bons preenchem sua cabeça. TRIIIIIM!

Toca o despertador e ela corre se arrumar. É dia de re-ver os amigos da cidade em

RÁPIDAS

Começa campanha de vacina contra o HPVAté o dia 10 de abril, Campinas realiza a cam-panha de vacinação contra o Papiloma Vírus Humano (HPV) em meninas de 11 a 13 anos de idade. A vacina tem como objetivo prevenir as mulheres do câncer de colo de útero e é oferecida nos 63 centros de saúde. A meta é imunizar 25 mil garotas. Para receber a vacina, é preciso apre-sentar o cartão de vacinação e o documento de identidade.

Inscrições abertas para a 6ª ONHB Estão abertas as inscrições até o dia 20 de abril para a 6ª edição da Olimpíada Nacional em His-tória do Brasil (ONHB), promovida por docentes e pós-graduandos de História da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Podem se ins-crever professores de História e alunos do 8° ano do Ensino Fundamental até o 3° ano do Ensino Médio e também alunos do Ensino de Jovens e Adultos (EJA), cursos profissionalizantes e su-pletivos, desde que estejam nas séries citadas ou equivalentes. A primeira etapa ocorre no dia 28 de abril e seguirá pelas próximas cinco semanas. Para participar, basta realizar a inscrição por meio da página http://www.olimpiadadehistoria.com.br em que também consta o regulamento oficial.

CARTA AO LEITOR

Esta edição do Saiba+ é produzida pelos alunos de Jornalismo da turma 42 da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), e traz na série

“Campinas 240 anos”, uma retrospectiva do Golpe Militar de 64, que completa 50 anos em 2014. Já quando os assuntos são empreendedorismo e gastronomia, uma reporta-gem fala sobre os restaurantes sobre rodas, que conquistam cada vez mais espaço e chamam a atenção dos consumidores.

Em relação ao quadro atual do mercado de trabalho, a “Pejotização”, ou seja, a contratação por emissão de notas fiscais referentes à “Pessoa Jurídica”, faz-se muito presente e a reportagem indica quais as vantagens e desvantagens para as empresas e profissionais com este modelo de trabalho.

O transporte na cidade ainda apresenta falhas, e é um dos assuntos abordados. Uma das editorias mostra o caso específico dos alunos do Cotuca, que após terem as aulas transferidas para a Unicamp, pedem melhorias no transporte oferecido, além da falta de planejamento de atividades que justifiquem os propósitos do Passe-Lazer.

Nesta edição, o leitor ainda poderá ficar por dentro de outros assuntos importantes como: o descaso com os carros alegóricos que estão abandonados na estação ferrovi-ária da cidade; o espaço à liberdade de expressão que as rádios livres oferecem, e a apreensão de nove dessas emissoras existentes em Campinas e até mesmo as diferen-ças entre a assistência oferecida pelo SUS e pelos sistemas de saúde particulares, que apresenta dificuldades no atendimento. Boa leitura!

que crescera e botar o papo em dia. Conseguir arranjar a roupa ideal fica ainda mais difícil quando metade do seu guarda-roupa reside noutra cidade.

Quando chega do encon-tro, mais uma novidade: sua mãe já não a espera acorda-da. E isso faz com que ela se sinta vitoriosa por alguns mi-nutos, mas a verdade é que naquela noite era ela quem queria um beijo de boa noite. TRIIIIM!

Já é domingo, dia oficial de ficar com a família e, a partir de agora, dia de voltar para a cidade onde estuda. Começa a arrumar a mala e aquele sentimento confuso aparece de novo. “Por que os finais de semana tem que durar tão pouco?”.

Se visitar o núcleo fa-miliar já não é tarefa sim-ples, imagine enfrentar todo aquele questionamento que só tios e tias são capazes de fazer: “Como está a faculda-de? E os namorados? Nada de aprontar muito, hein?”. Desnecessário. Pelo menos ajuda a ter vontade de ir em-bora, correr para um canto em que seu espaço é respei-tado (ou mais ou menos, se você divide com um amigo).

Beijos e abraços, lá está ela, acenando da janelinha do ônibus. Ainda não conse-gue definir o que sente. Tem saudade, irritação, cansaço, diversão e mais saudade. E novidade. E as coisas de sempre também. O celular dela vibra: duas mensagens:

“Filha, já estamos com saudade. Avise quando che-gar”.

“Amiga, cadê você? Vem logo pra casa, vamos sair hoje?”.

ExpedienteJornal laboratório produzido por alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campi-nas. Centro de Comunicação e Linguagem (CLC): Diretor: Rogério Bazi; Diretora-Ad-junta: Cláudia de Cillo; Diretor da Faculda-de: Lindolfo Alexandre de Souza. Tiragem: 2 mil. Impressão: Gráfica e Editora Z

Professor responsável: Fabiano Ormaneze (Mtb 48.375).

Edição: Gabriela MeneguimEdição de capa: Marcella ContrucciDiagramação: Bárbara Mangieri e Mariana Ignácio

Para os torcedores do Guarani e fãs do futebol, será lançado no dia 27 de março o longa-metra-gem “Bugrinos”, dirigido por Samir Cheida. O filme de 1h45 conta a história do clube por meio de depoimentos dos grandes nomes que passa-ram pelo time, como Dorival, destaque em 1965, João Paulo, o grande ponta-esquerda revelado em 1986, e Amoroso, uma das maiores revelações do clube. O filme será exibido no dia 27 de março e 2 de abril no Museu da Imagem e do Som de Campinas (MIS), às 20h, com entrada gratuita. Já no dia 28 de março, o longa-metragem estará em cartaz no Memorial do Guarani, às 19h. No dia 29 de março, às 18h. No dia 4 de abril, às 19h e no dia 5, será às 17h. Nessas datas, para assistir ao vídeo, será preciso pagar R$ 30,00, com direito a levar para casa uma cópia do filme. Cópias do documentário também podem ser adquiridas na loja do Guarani, no site oficial do time e nas ban-cas de jornal da cidade.

Documentarista lança filme sobre o Guarani

Cena do filme “Bugrinos” com o jogador Amoroso

Foto: Divulgação

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Página 320 de março de 2014 Meio Ambiente

Carros do Carnaval de 2013 não conseguiram ser reaproveitados; água parada e entulho dividem espaço

Gabriel Luchetti

Carcaças de carros de 2013 estão sem destino na estação

Após o desfile nos Amarais, alegorias das escolas foram parar em área de ferrovia, ainda sem previsão de retirada

Estação ferroviária vira cemitério de alegorias

Carcaças de alegorias utilizadas pelas escolas de samba de Campinas em 2013 estão esquecidas, no meio do mato, em terreno atrás da antiga estação fer-roviária. A elas, já se jun-taram também metade dos carros que desfilaram neste ano, transformando o lugar num verdadeiro cemitério. As peças estão sob a chuva, sol, vento e correm o risco de não poderem ser reapro-veitados, além de serem potenciais criadouros de animais peçonhentos e da dengue.

Os carros são avaliados em aproximadamente R$ 5 mil cada, e foram confec-cionados com a verba de R$ 84 mil dada a cada uma das agremiações da cidade para o Carnaval de 2014. Como nem todas possuem espaço próprio para abrigar as ale-gorias, elas acabam por ser colocadas no terreno – con-siderado, pela Prefeitura, um lugar provisório.

Até o ano passado, os carros do Carnaval ficavam guardados no Barracão de Lemos, também na antiga estação ferroviária, mas que precisou passar por uma re-forma no telhado.

A proposta era que os carros ficassem por pouco tempo no terreno onde es-tão, somente até o final do conserto. No entanto, a Pre-feitura decidiu abrigar no local os ensaios da Orques-ta Sinfônica. Em abril de 2013, a Prefeitura concedeu um novo barracão, também na estação, com a finalidade de abrigar os carros alegóri-cos, mas até hoje eles conti-nuam abandonados.

Apenas uma das 11 es-colas de samba está com os carros guardados no barra-cão. Quando questionado sobre o motivo que as outras alegorias de 2014 não terem ido direto para o barracão, Edson Jóia, presidente da Liga das Escolas de Samba de Campinas (Lesca), infor-ma que os carros precisam primeiro ser desmontados para depois transportados: “É preciso retirar as escul-turas, guardar e analisar o que vai poder ser reapro-veitado, sem contar as que foram vendidas para outras cidades e só depois que vão

ser levados para o barra-cão”. Sobre o prazo para isso acontecer, o presidente da Lesca afirma que deve ser em breve: “Os carna-valescos estão descansan-do do Carnaval ainda, mas logo vamos ter uma reunião para estabelecer uma data de desmonte da estrutura de todas as alegorias para des-sa forma serem transporta-das até o barracão”.

A respeito do descuido dos carros estarem expostos ao sol e chuva, Jóia disse

que, como faz pouco tempo que estão lá, não há perigo de estragarem: “O Carna-val acabou recentemente, os carros não estão há mui-to tempo expostos ao sol e chuva. É algo recente, en-tão acaba nem danificando as alegorias”. As estruturas mais antigas, utilizadas em 2013, no entanto, já estão em situação que impede o reaproveitamento. A pro-va disso é que nem todas as alegorias de 2013 foram reformadas e utilizadas no desfile deste ano.

O gari Pedro Augusto, que trabalha na limpeza do terreno ferroviário, diz que é um descaso. “O Carnaval terminou e os carros já vol-taram para o terreno junto ao mato alto e entulho, só que, por enquanto, ainda estão novos. Isso é um des-

caso. Se ficarem aqui por muito tempo vão virar des-troços iguais alguns carros do Carnaval de 2013 e não vai ter como serem refor-mados. É um dinheiro gasto que poderia ser reaproveita-do se fosse cuidado de for-ma correta”.

Fantasias e adereços car-navalescos também são en-contrados jogados em meio ao lixo e entulhos que divi-dem espaço com as alego-rias. Muito desses entulhos e até alguns carros alegóri-

cos acumulam água parada de chuvas das últimas se-manas e acabam se tornan-do foco de dengue, o que é um perigo para a população dos arredores.

A Prefeitura de Campi-nas, por meio da assessoria de imprensa, informou que as alegorias são de respon-sabilidade das escolas de samba e que é função de-las fazerem a retirada dos carros alegóricos, já que o barracão destinado a essa fi-nalidade foi entregue ainda no ano passado. Em relação à água parada que se acu-mula, a assessoria diz que a Prefeitura sempre manda grupo da vigilância epide-miológica ao local e, caso encontre algum foco de dengue, as escolas de sam-ba são alertadas para fazer limpeza no local. Sucata e restos podem se tornar criadouros da dengue e insetos

Fotos: Gabriel Luchetti

20 de março de 2014

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Página 4 Mercado

“Muitas vezes o próprio empregado, por medo do desemprego e sofren-do pressão do patrão, não quer reivindicar seus direitos.” Agildo Nogueira

Terceirização já atinge 25% das redaçõesEm agências de comunicação e outros segmentos, número sobe para 61% segundo dados da FenajLuis Fernando Moreira

Para as empresas, um bom negócio. Para os jornalistas, um prejuízo que, talvez, só seja sentido mais à frente, na hora da aposentadoria ou numa necessidade, como um afastamento por doença. O número de jornalistas que trabalham sem carteira assi-nada no País, segundo pes-quisa da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), atinge 25% dos profissionais em re-dações. Já em agências e ou-tros segmentos fora da mídia, esse valor é de 61%. A prática já ganhou até um nome: “pe-jotização”, uma referência ao fato de que a maioria emite notas fiscais pelos serviços prestados, transformando-se em “pessoa jurídica” (PJ).

A vantagem para as em-presas é uma diminuição nos gastos com benefícios tra-balhistas previstos em Con-venção Coletiva de Trabalho, como aviso prévio, FGTS e a sua multa rescisória de 40%, décimo terceiro salário, férias acrescidas de um terço, Des-canso Semanal Remunera-do, entre outros. Para alguns profissionais, no entanto, este tipo de contrato pode ser considerado positivo pela aparência de liberdade e pelo maior valor da hora trabalha-da.

A empresária Luciana Dan-tas, dona de uma agência de comunicação, já trabalhou em uma agência de assesso-ria de imprensa como pessoa jurídica. Segundo ela, tinha consciência das condições do contrato com a empresa. “O grande problema é que exis-tem os vínculos trabalhistas.

Eu estava ciente, mas muita gente não põe tudo na balan-ça”. Mesmo assim, ela afirma que teria optado por um em-prego como CLT se tivesse a chance: “A única vantagem de ser PJ é poder prestar ser-viço para várias empresas ao mesmo tempo. Eu só aceitei pois não tinha outra oferta na época. Certamente optaria pelo CLT, pois os benefícios fizeram falta depois”.

A pressão dos empresários,

que não dão outra opção para o funcionário, também contribui para o fenômeno, afirma o diretor da unida-de campineira do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP), Agildo Nogueira. “É difícil para o sindicato com-bater a pejotização e defender os direitos do trabalhador quando muitas vezes o pró-prio empregado, por medo do desemprego e sofrendo pressão do patrão, não quer

reivindicá-los”.Nogueira afirma ainda que

a sensação de liberdade que esse tipo de relacionamento gera para o empregado é pura ilusão. “É claro que depende de cada caso, pode ser que a empresa faça tudo direiti-nho e os dois fiquem felizes, mas não é o que acontece na maior parte das vezes, pois embora o trabalhador esteja como PJ, ele vive a jornada de trabalho de CLT”.

O jornalista Marcelo Furta-do já trabalhou como pessoa jurídica para uma agência de comunicação, e afirma que embora soubesse das condi-ções do contrato com a em-presa, não tinha noção de que as exigências que sofria eram irregulares. “Se eu soubesse

dos meus direitos na época, poderia me defender melhor na justiça. Eu tinha medo de largar o emprego e por isso não reclamava.”

Vantagens e perigosDe acordo com o conta-

dor Antônio Alves, o salário do profissional que trabalha como PJ deve ser de 20% a 30% maior que o salário do profissional com carteira as-sinada para compensar a au-sência de todos os benefícios. A tabela ao lado mostra uma simulação em que as diferen-ças podem ser avaliadas para o empregador e o empregado.

Nada disso importa, no entanto, se o trabalhador for contratado como PJ e estiver cumprindo a jornada de um CLT. É o que explica o advo-gado trabalhista Denis Pedro-so: “Todo trabalho realizado de forma pessoal, subordina-da, contínua e que gera gastos é um vínculo empregatício e, mesmo que por intermédio de uma pessoa jurídica, esta-remos diante de um contrato de trabalho regido pela CLT”.

Neste caso, o especialista em direito do trabalho expli-ca que a prática é considerada ilícita e, portanto, imoral, o que prejudica tanto o empre-gador, quanto o empregado.

Portanto, quando dentro das normas legais, o contrato PJ oferece ganhos imediatos e maiores no curto prazo. Já o CLT, embora não resulte em ganhos imediatos tão atraen-tes, oferece mais segurança ao trabalhador pelos benefícios trabalhistas e da contagem obrigatória do tempo de ser-viço perante a Previdência Social.

Para Denis Pedroso, o ce-nário ideal seria “a prestação dos serviços para diversos tomadores, de forma diversi-ficada e pulverizada, em que a rescisão de uma relação jurí-dica não afetasse o equilíbrio financeiro do prestador”.

Pejotização e terceirização trazem exigências diferentes

Funcionários podem ser responsabilidade de outra empresaÉ importante não confun-

dir o fenômeno da “pejoti-zação” com a prática de ter-ceirização da atividade-fim. A “pejotização” acontece quando a pessoa não empre-gada que prestou um serviço continua prestando o mes-mo serviço sob a fachada de “pessoa jurídica”, ou seja, como se fosse uma empresa. Já a terceirização é caracte-rizada pela contratação de terceiros para realizar a ati-

vidade base de uma empresa.Por exemplo, hoje, uma

agência bancária pode ter-ceirizar um serviço de lim-peza para trabalhar em sua sede, no entanto, não pode fazer o mesmo com um pro-fissional especializado na ati-vidade-fim da empresa, ou seja, um bancário. Caso pu-desse, seria uma forma de di-minuir os custos da empresa ao substituir a contratação de uma pessoa. Um projeto

de lei, de autoria do deputa-do Sandro Mabel (PL/GO) visa permitir essa prática, e vem sendo combatido pelo Sindicato dos Jornalistas e pela Fenaj, que, no ano pas-sado, apoiaram manifesta-ções contra a aprovação do projeto. O projeto foi retira-do da pauta de votação da Câmara dos Deputados, mas não arquivado, o que signifi-ca que pode voltar à pauta a qualquer momento.

20 de março de 2014

veja a diferença entre ser pj e clt

Page 5: Saiba+ - Edição Março de 2014

Página 5 Saúde20 de março de 2014 20 de março de 2014

Entre 2012 e o ano passado, crescimento das reclamações atingiu 20% segundo ANSArthur Menicucci

Campinas registra, em média, três reclamações por dia contra planos de saúde, segundo levantamento feito, a pedido do jornal Saiba +, pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). O balanço indica, ainda, que o número de queixas regis-tradas em 2013 na cidade aumentou 20% em relação ao ano anterior, 2012. Foram 1003 reclamações ao longo do ano passado contra 840 em 2012. A agência regis-trou cerca de 85 protestos por mês em 2013.

A cobertura dos planos de saúde é o tema com maior número de reclamações, se-gundo a ANS. No ano pas-sado, foram registradas 709 queixas. O descumprimento do contrato e regulamentos teve 220 reclamações, se-guido por mensalidade e re-ajustes, com 69. Ao todo, 21 planos de saúde estão regis-trados em Campinas, segun-do levantamento do Procon.

Com o aumento no nú-mero de queixas, a ANS passou a, além de receber as denúncias, mediar os con-flitos entre os pacientes e as operadoras de saúde.

Segundo a agência, des-de 19 de março deste ano, as reclamações de beneficiários sobre reajustes indevidos, quebra de contratos, rescisão unilateral de contrato e alte-ração de rede credenciada são acatadas pela agência e é

dado um prazo para que os planos de saúde resolvam.

“Ao serem notificadas eletronicamente pela ANS sobre a queixa do benefi-ciário, as operadoras deve-rão resolver o problema do consumidor em até dez dias úteis, contados a partir do primeiro dia após o recebi-mento da aviso”, explicou,

em nota, o órgão.Para o presidente do Con-

selho Municipal de Saúde, Paulo Mariante, o número de reclamações registradas pela ANS não reflete o total de pessoas afetadas. “É pro-vável que o número real seja maior, uma vez que ouvimos de muitas pessoas usuárias de planos de saúde que os serviços de atendimento ao cliente têm pouca resolutivi-dade”, afirmou.

Mariante critica, ainda, a forma como a agência é diri-gida. “ANS sequer tem uma estrutura adequada para tais fiscalizações, e o que é pior, tem dirigentes com relações pouco transparentes com estes mesmos planos de saú-de”. Segundo ele, “isso tudo acaba resultando em pouca eficácia neste trabalho de fis-calização”.

O aposentado Verneles Alves da Silva, de 69 anos, está há um ano e seis meses aguardando a liberação para fazer uma cirurgia de caró-tida após sofrer um aciden-te vascular cerebral (AVC) em novembro de 2012. O usuário do plano do Hospi-tal Beneficência Portuguesa teve de utilizar o serviço do Hospital da Unicamp para conseguir tratamento.

A mulher do aposentado, Cleusa Salin Alves da Silva, 67 anos, critica a falta de atenção que o marido rece-beu e relata que em nenhum momento deixou de reivin-

dicar os direitos. “Depois que ele [Verneles] passou pelos exames e o médico pediu a cirurgia de emergên-cia, fiquei em cima do plano, diariamente, para que ela fosse marcada”, explicou.

Verneles da Silva estava em Santos (SP) quando so-freu o AVC. Ao ser socorri-

do pela mulher, o aposenta-do foi encaminhado para o Hospital Ana Costa, na cida-de do litoral. “Por termos um plano que cobre atendimento em todo o país, achamos que ele iria ficar internado em Santos, mas fomos avisados que teria de ser transferido”, relatou Cleusa.

Ao vir para Campinas, Silva ficou cinco dias in-ternado no Hospital Metro-politano, que atende con-veniados do Beneficência Portuguesa. Segundo a mu-lher do paciente, foi solicita-da uma cirurgia de emergên-cia. “Depois da internação, o médico que o atendeu fez os exames e pediu uma cirurgia de emergência. Nunca ima-ginamos que iria demorar tanto.”

De acordo com Cleusa, após aproximadamente um mês, em janeiro de 2013, a família foi buscar ajuda no Hospital da Unicamp. “Fi-

“Tivemos a sorte de conseguir que o tratamento dele fosse feito de outra forma, mas e os que não têm essa opção?” Cleusa Salin Alves

zemos os exames lá e eles agendaram a cirurgia, nem acreditamos”. Segundo ela, em agosto o marido foi ope-rado.

Refém do descaso“Fico imaginando quem

não consegue arrumar uma ajuda extra e depende ex-clusivamente dos planos de saúde”, disse a mulher do pa-ciente. Segundo ela, buscar a Unicamp foi o que resolveu o problema de saúde do ma-rido. “Nós tivemos a sorte de conseguir que o tratamento dele fosse feito de outra for-ma, mas e os que não têm essa opção?”, refletiu.

Segundo ela, o pedido de cirurgia pelo convênio ainda não foi liberado. “Sempre que vou ao hospital, vejo se o pedido foi respondido. A única resposta que recebo, há mais de um ano, é que temos que aguardar”.

A assessoria do Hospi-

tal Beneficência Portuguesa de Campinas não informou quais os prazos para agenda-mento de cirurgias de emer-gência e nem se posicionou sobre o caso do paciente Verneles da Silva.

O que fazer?A recomendação da Or-

dem dos Advogados do Bra-sil (OAB), em casos seme-lhantes, é que o usuário que for lesado por algum proce-dimento da operadora do pla-no deve oficializar a situação junto ao plano de saúde, in-formando o médico, a clínica e a data.

Se não houver retorno, o segundo passo é informar a ANS, por meio de telefone ou e-mail, incluindo a oficia-lização enviada ao plano. Em casos de urgência, a OAB orienta o conveniado a pro-curar um advogado que atue na área e entrar com medida na Justiça para ser atendido.

Planos de saúde recebem 3 queixas/dia

Verneles e mulher, Cleusa; o aposentado procurou o serviço público no lugar do convênio

Fotos: Larissa Alves

Page 6: Saiba+ - Edição Março de 2014

Página 6 Cotidiano

Falta opção de destino para usar Passe-LazerDurante dois domingos do mês, usuário do transporte público paga metade da passagem, mas faltam alternativas para se divertirFelipe Cifarelli

Os campineiros passam a ter desconto de 50% no va-lor da passagem de ônibus em dois domingos do mês. O benefício recebeu o nome de Passe-Lazer, mas os usuários reclamam da falta de destino.

“São poucas as opções de lazer em Campinas, princi-palmente quando falamos em áreas, espaço, convívio”, ressalta o geógrafo Tobias de Oliveira, de 26 anos. “Os espaços de convívio não são mais priorizados em políticas públicas munici-pais e estaduais, dão lugar a precarização dessas áreas”.

“Não adianta dar a passa-gem na metade do preço se não tem pra onde ir”, diz a emprega doméstica Fátima da Silva, de 47 anos. “Te-mos que visitar o bondinho da Lagoa do Taquaral todos os domingos?”, pergunta,

fazendo referência ao car-taz-divulgação do programa Passe-Lazer, espalhado pe-los ônibus e terminais. No cartaz, a Prefeitura dá uma dica: “Aproveite o Passe Lazer duas vezes neste mês para visitar importantes pon-tos turísticos da nossa cidade e curtir o tradicional passeio de Bondinho na Lagoa do Taquaral”. No entanto, ape-nas dois dos três veículos estão em funcionamento.

Segundo a Secretaria de Cultura da Prefeitura de Cam-pinas, um dos bondes está em finalização de reforma para entrar em circulação. Ainda segundo o órgão, “as ativi-dades de lazer são muitas em Campinas: a população pode usufruir de parques, museus, teatros, atrações gratuitas que podem eventualmen-te acontecer no município, tudo isso disponível no portal

online da prefeitura”, infor-ma nota enviada ao Saiba+.

“Áreas como praças, praças de esportes, bibliotecas públi-cas, atividades culturais, entre outras são abandonadas, e as poucas que existem não pos-suem acesso aos cidadãos”, replica Oliveira. Para Fátima, as atividades culturais nem sequer existem. “Nada é di-vulgado. Eu, que não tenho muito o costume de usar a internet, fico completamente por fora”, desabafa. Segun-do a Empresa Municipal de Desenvolvimento de Cam-pinas (Emdec), responsável pelo Passe Lazer, há um es-forço entre as secretarias mu-nicipais para que haja uma sincronia entre os eventos realizados pela administra-ção e os dias do benefício.

De acordo com a Emdec, outro ponto importante do projeto Passe-Lazer é esti-

mular o uso do transporte público coletivo na cidade de modo geral, inclusive, durante os dias em que ele não é válido. O desconto deve ser estendido a todos os domingos do mês até o final da atual administração.

Para Tobias, o programa es-timula o uso dos ônibus ape-nas no domingo. “Em relação à utilização do transporte pú-blico durante a semana e na jornada de trabalho, tenho certeza que não influenciará no estimulo ao uso do trans-porte público durante a sema-na. Isso não acontece”, diz.

Fátima acredita que o ver-dadeiro estímulo seria uma melhoria no transporte pú-blico em geral. “O maior es-tímulo seriam ônibus melho-res, que passassem com mais frequência”, diz. Já Tobias admite que não deixaria de usar o carro nos dias do Pas-

se-Lazer. “Trocaria apenas se houvesse passe livre e mais horário de ônibus próximo a minha casa e aos lugares que convivo aos domingos”.

SubsídiosDe acordo com a Associa-

ção das Empresas de Trans-porte Público de Campinas (Transurc), o projeto Passe-Lazer não é custeado com o subsídio que a Prefeitura repassa às empresas respon-sáveis pelos ônibus. O valor atual do subsídio é de R$ 71 milhões, praticamente o do-bro dos R$ 36 milhões pagos até o ano passado, quando, em agosto, o valor foi reajustado.

Em nota, a Emdec infor-mou que o Passe-Lazer é um benefício que não é cus-teado pelo dinheiro públi-co e existe para incentivar o uso do transporte públi-co coletivo aos domingos.

MP fecha 9 rádios não legalizadas na cidadeAlegação, que causa controvérsia, é que emissoras teriam atrapalhado 23 pousos e decolagens no Aeroporto de Viracopos Isabelle Grangeiro

Nove rádios não legalizadas de baixa potência foram alvo de buscas e apreensões feitas pelo Ministério Público em Campinas no mês de fevereiro, entre elas está a Rádio Muda, mantida por estudantes da Uni-versidade Estadual de Cam-pinas (Unicamp), há 30 anos.

As emissoras não possuem a concessão do Ministério das Comunicações e licença para operar a radiofrequência atribuída pela Agência Na-cional de Telecomunicações (Anatel). O alcance de seu si-nal é restrito e usam espaços vazios do dial para ir ao ar.

Segundo a nota de esclare-cimento do Ministério Públi-co Federal havia, até o fim de fevereiro, 23 Relatórios de Pe-rigo feitos por pilotos de avia-ção comercial sobre a interfe-rência de sinais de rádios não legalizadas, durante pousos e decolagens no Aeroporto In-ternacional de Viracopos. Essa é a justificativa oficial para as apreensões dos aparelhos e o fechamento das rádios.

“O Ministério Público está levando o juiz ao erro com es-sas afirmações de que podem, ou poderiam causar danos, que é o que poderia legitimar uma ação judicial, e na rea-

lidade não há nenhum laudo pericial, algum documento seja da própria Anatel ou da Infraero que aponte a materia-lidade de rádio interferência. O fechamento das rádios é uma questão política, não técnica”, afirma Jerry de Oliveira, mem-bro do Movimento das Rá-dios Comunitárias Brasileiras.

Nos últimos 15 anos foram protocoladas 600 concessões de rádios comunitárias em toda Região Administrativa de Cam-pinas que compreende 98 mu-nicípios, mas apenas 64 foram autorizadas. Para Oliveira, a não autorização se dá devido ao des-caso do Estado. “O Ministério das Comunicações tem apenas cinco funcionários pra cuidar de todas as rádios do Brasil. Então, a maioria entra no ar irregular-mente porque não consegue ver uma perspectiva em curto ou médio prazo para que essas outorgas sejam autorizadas.”

A demora do Ministério fere a legislação. “A lei é bem clara: um pedido de qualquer solicitação para o Estado deve ser respondi-do em 180 dias. Existem rádios que estão aguardando há mais de 10 anos. Não há uma política do estado em relação à garantia da liberdade de expressão e o funcionamento dessas rádios. A rigorosidade do processo de

outorga faz com que muitas pessoas fiquem desacreditadas em buscar essa concessão.”

A criminalização das rádios não legalizadas de baixa po-tência é regulamentada pelo Código Brasileiro de Teleco-municações que prevê multa e detenção para quem montar um rádio de forma ilegal. As leis estabelecidas pelo Mi-nistério da Comunicação não se adaptam com alguns trata-dos internacionais, aos quais o Brasil é signatário, como o da liberdade da expressão e o tradado do São José da Cos-ta Rica, que diz que não deve haver controle de cerceamento da liberdade de expressão por meio do cerceamento das cor-rentes eletromagnéticas. “O fechamento das rádios é uma tentativa do Estado de limi-tar a liberdade de expressão, então nós entendemos como legítima, essas emissoras fun-cionarem sem a autorização tendo em vista a burocracia do Estado em conceder as con-cessões”, argumenta Oliveira.

Embora o Ministério Pú-blico Federal atribua o fecha-mento das rádios a um suposto perigo para a comunicação com aeronaves, o Serviço Regional de Proteção ao Vôo de São Paulo, afirma que

desconhece a existência dos 23 registros de interferência.

Segundo Jerry de Oliveira, a interferência das rádios de baixa potência não legalizadas no pouso e decolagem de avi-ões não é recorrente, porque atualmente as emissoras usam o dispositivo chamado Pha-se-Locked Loop (PLL), que faz com que as frequências sejam fixas, sem a condição de fugir da frequência original.

O engenheiro de Sistemas e Soluções da Diretoria de Re-des Convergentes do Centro de Pesquisa e Desenvolvi-mento em Telecomunicações (CPqD), Carlos Henrique Rodrigues de Oliveira, afirma que, mesmo com o disposi-tivo PLL, ainda é possível a

ocorrência de interferência das rádios. “PLL é um dispo-sitivo eletrônico utilizado para proporcionar estabilidade e controle digital da frequência. A interferência ocasionada por emissoras não autorizadas ocorre em função da emissão fora da faixa de frequências”, explica. De acordo com o en-genheiro, isso normalmente ocorre porque são utilizados equipamentos de baixa qua-lidade, que não passaram por testes de certificação e não fo-ram homologados pela Anatel.

Sobre a demora para regu-larizar rádios e pedidos de concessão, o Ministério das Comunicações não se ma-nifestou sobre o assunto até o fechamento desta edição.

Rádio Muda foi apreendida dia 23/02 após resistência de estudantes

Foto: Isabelle Grangeiro

Transporte

20 de março de 2014

Page 7: Saiba+ - Edição Março de 2014

Página 7Gastronomia

Catharine Trepichio

Food Trucks são nova opção de investimento

Alunos pedem melhorias em transporteAulas do Cotuca ocorrem agora na Unicamp, mas quantidade de ônibus não são suficientes Beatriz Pusso

Spiro Giro: tipo de restaurante pretende atrair consumidores jovens

Foto: Cathatine Trepichio

Alternativa é bem aceita por estudantes, pelo preço baixo e pela qualidade de restaurantes em ambientes públicos descolados

Uma nova opção de fast food nas ruas de Campinas já atrai um grande número de jovens, acostumados a refei-ções em lugares animados e baratos. São os food trucks, tradicionais em vários países do Exterior, mas que ain-da são novidades no Brasil. São trailers que, em vez de lanches como o conhecido cachorro quente, especiali-zaram-se em comidas mais sofisticadas e com qualidade.

Esses veículos customiza-dos começaram a aparecer, inicialmente, em metrópoles dos Estados Unidos e Eu-ropa, após a crise econômi-ca de 2008, quando jovens chefs e empreendedores re-solveram apostar no ramo. Hoje, esse tipo de empreen-dimento já faz parte do dia a dia dos moradores e, segun-do a Associação Nacional de Restaurantes dos Estados Unidos, arrecadou no ano de 2013, mais de 68 milhões de dólares.

Um dos pioneiros em tra-zer os food trucks para Cam-pinas é Lucas Gaio Silveira, proprietário da kebaberia Spiro Giro. Com o propósi-to de ter um restaurante que

pudesse se deslocar para di-versos locais e apresentar seu produto para públicos dife-rentes, Gaio afirma ter feito um pequeno investimento, comparado ao que gastaria com um restaurante de pe-queno porte num endereço fixo.

Fabricio Pessato, professor de Economia, explica que o aspecto positivo desse tipo de negócio é o pequeno in-vestimento (veja quadro nes-ta página). “Embora o fatura-mento tenda a ser menor em termos absolutos, como os custos tendem a ser mais bai-xos, a lucratividade pode ser proporcionalmente maior. A rentabilidade, ou seja, a com-paração entre o valor investi-do e os lucros obtidos, tam-bém pode ser maior.”

Ao contrário de restau-rantes comuns, o cardápio dos food trucks deve ser re-duzido. Desse modo, os ali-mentos não são estocados, dinamizando o atendimento e, por fim, podendo haver a elaboração de um prato com muito mais qualidade ao cliente.

A relação com os clientes também é um aspecto posi-tivo neste tipo de negócio:

é muito mais informal, pró-xima e cuidadosa. Assim, os próprios clientes viram pro-pagandistas do serviço.

Rodrigo de Oliveira, estu-dante de engenharia mecâni-ca da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), afirma que frequenta os food trucks por preferir o atendi-mento especial, pela localiza-ção e a música diferenciada. “Acredito que o preço que pago compensa pela comida e pelo serviço oferecido.”

Contudo, todo o cuidado é pouco quando se trata de ali-mentação. Para que os trai-lers possam estar nas ruas, é necessáriaa apresentação de todos os documentos reque-ridos, um alvará da Vigilân-cia Sanitária e a aprovação da Secretária de Saúde do Município, como afirma a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Ur-banismo de Campinas.

Há seis meses no mercado, o retorno da kebaberia Spiro Giro agrada o proprietário que conta com o auxílio de dois funcionários. “Já temos um bom retorno até o mo-mento, e pensamos em um segundo trailer ainda para esse ano”, explica.

Após a interdição do prédio do Colégio Técnico de Campi-nas (Cotuca), localizado na Rua Culto à Ciência, no Centro, no dia 13 de fevereiro, os quase 2 mil alunos foram transferidos para o campus da Universida-de Estadual de Campinas (Uni-camp), em Barão Geraldo.

A mudança divide opiniões. Os alunos concordam que o prédio-sede do colégio estava deteriorado: “Em um dia de chuva, o forro do teto ficou cheio de água e não aguentou – desabou na biblioteca. Por sor-te não atingiu o acervo”, relata Christian Sousa, integrante do grêmio estudantil do colégio.

Por outro lado, a mudança para o campus de Barão Geral-do tornou difícil o acesso dos alunos às aulas. A reitoria da Unicamp oferece ônibus freta-dos, que saem da antiga sede e levam os alunos ao campus. O problema, segundo relatam

os estudantes, é que a quanti-dade não tem sido suficiente: “Todos ficaram indignados com a quantidade de ônibus e horários que eles ofereceram, porque alguns acabam saindo lotados. A estrutura aqui no campus pode até ser melhor que a do outro prédio, mas pra chegar até aqui nós tivemos que mudar nossos horários de uma hora para outra para con-seguirmos cumprir os com-

promissos acadêmicos”, explica a estudante do segundo ano do curso de técnico de enferma-gem, Larissa Loyola.

Como os ônibus fretados do colégio levam os alunos do dis-trito de Barão Geraldo de volta à Rua Culto à Ciência, a demo-ra para conseguir voltar para a casa tem sido incômoda para quem passa o dia todo no co-légio, como afirma o estudante do curso técnico de alimentos,

Gabriel Visintini. “Mudou de-mais a situação. Saindo todo dia às 5 horas da manhã de casa e chegando às 8h da noi-te, como os alunos fazem pra estudar, manter as tarefas em dia? Tudo isso está sendo pre-judicado.”

Segundo a diretora geral do Cotuca, Teresa Celina Meloni Rosa, o colégio não tem como tomar outras providências em relação à quantidade de ônibus.

“A situação não está fácil, mas é o que pode ser feito.”

Ela ainda informou que o colégio, juntamente com a pró-reitoria da Unicamp, está bus-cando outro imóvel, mais perto do centro da cidade. “Há fortes indícios de que seja o prédio do antigo Anglo Taquaral, mas es-tamos estudando ainda.”

Apesar dos problemas atuais com o transporte fretado, no dia 28 de fevereiro o grêmio estudantil convocou uma as-sembleia e protocolou um do-cumento, no qual reivindicava a permanência dos ônibus fre-tados, independente do prédio escolhido pela direção para a mudança de sede.

A diretora discorda do pe-dido: “Não é obrigação do colégio oferecer ônibus freta-dos aos alunos. Acho que eles deveriam pedir o aumento do número de bolsas de auxílio-transporte. Eu espero que eles reivindiquem a coisa certa”.

Educação

Alunos do Cotuca competem por lugar em ônibus fretado, que sai da Unicamp de volta para o colégio

Foto: Isabelle Grangeiro

20 de março de 2014

Foto: Mariana Ignácio

Fonte: Fabrício Pessaio

Page 8: Saiba+ - Edição Março de 2014

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1964: A ditadura militar em CampinasReflexos envolvem repressão às redações, ações públicas injustificadas e crescimento desordenado da cidade

Campinas 240

“Que a memória sirva para consolidar o repúdio do povo campineiro a qualquer ideia de golpe militar” Paulo Mariante

Foto: Coleção V-8 / Centro de Memória Unicamp

31 de março de 1964. Há 50 anos, começava no Brasil um período marca-do pela falta de liberdade e pela obscuridade: a dita-dura militar. Durante 21 anos, o regime instaurou no país uma série de atos autoritários, repressões e censuras que mudaram a vida de milhares de pes-soas. Os governos que se seguiram tentariam mas-carar a repressão por meio da censura, do controle dos meios de comunicação e por venderem uma imagem de desenvolvimento, por meio de obras de grandes proporções, como é o caso da Rodovia Transamazôni-ca. Em Campinas, apoiada pelo então prefeito Ruy Novaes (1924-2000), a di-tadura também trouxe, sob a justificativa do progresso, um crescimento desordena-do que hoje se expressa em problemas urbanos e de in-fraestrutura. Isso se explica porque não houve, na épo-ca, um plano urbanístico na cidade. Se de um lado o de-senvolvimento da Univer-sidade Estadual de Cam-pinas (Unicamp) e o título de Pontifícia dado à então Universidade Católica re-presentam um crescimento, por outro a demolição do Teatro Municipal é assunto controverso até hoje.

Segundo dados da Prefei-tura, durante as décadas de 60 e 70 o crescimento na cidade ultrapassou os 5%. Entretanto, a maneira in-tensa e desordenada como aconteceu, gerou, além

dos problemas urbanos e de infraestrutura, grandes problemas de saneamento básico, elevados custos so-ciais e comprometimento ao meio ambiente. “A cida-de paga hoje o preço do au-toritarismo, da repressão e da restrição à participação da população nas decisões

Larissa Alves públicas que caracteriza-ram a ditadura militar”, ressalta o sociólogo e pro-fessor da Unicamp, Alvaro Bianchi.

RepressãoApesar de não haver um

número exato de vítimas da ditadura em Campinas, quem viveu esse período tem facilidade para asso-ciar histórias de conheci-dos à tortura e à repres-são. O sociólogo Arnaldo Lemos Filho conta que o delegado do Departamen-to de Ordem e Política So-cial (Dops), Sérgio Fleury (1933-1979), famoso por seus atos violentos em re-lação aos procurados pela ditadura, veio à cidade procurar um funcionário do Supletivo Evolução, co-nhecido como Xandão. Na época, Lemos era diretor da instituição e comenta que a princípio não reco-nheceu o delegado. “Pedi para outro funcionário do colégio ir avisar o Xandão para não aparecer na esco-la. Só depois descobrimos que, na verdade, Fleury estava atrás do irmão do funcionário, que era mili-tante”, relata o sociólogo.

Sendo campineiros de nascença ou só de passa-gem, o fato é que muitas pessoas foram presas ou sofreram algum tipo de re-pressão na época. É o caso de Ricardo Zarattini, de-putado federal em 2004 e militante do PT. Zarattini iniciou sua militância no movimento estudantil se-cundarista do colégio Culto

à Ciência e foi um dos res-gatados do avião Hércules 56 em 1969, em troca do embaixador Charles Burke Elbrick (1908 - 1983).

O sequestro de Elbrick foi organizado pelo grupo Dissidência do Guanabara (DI-GB) e tinha por obje-tivo chamar a atenção do

mundo sobre a situação de repressão vivida no Brasil durante a ditadura. Em tro-ca do embaixador, o DI-GB que era composto por no-mes como Fernando Gabei-ra, Franklin Martins e Vera Sílvia Magalhães, entre ou-tros, exigiu a liberdade de 15 presos políticos, levados ao México pelo avião Hér-cules 56 da FAB.

Robeni Baptista da Cos-ta, na época estudante de linguística da Unicamp e presa aos 24 anos de 1971 a 1973, Tarcísio Malta Si-grist, professor aposenta-do que foi preso de 1970 a 1971 aos 22 anos e tortura-do no DOPS pelo delegado Fleury, e Roseli Bianco, militante da oposição sin-dical no final da década de 1970, presa em 1969 pelo Exército de Campinas, e que teve que se mudar da cidade para conseguir um novo emprego, são alguns dos outros nomes englo-bam a lista de pessoas que viviam em Campinas na época e foram torturados. Torturas como a cadeira de dragão, em que os acu-sados eram sentados em cadeiras molhadas e rece-biam choques, eram só al-gumas das práticas às quais os presos políticos eram submetidos. “Esse ativis-mo estudantil transformou a cidade em um importante centro político e um ponto de referência para os mo-vimentos sociais que ainda hoje exerce sua influência”,

avalia Bianchi.Romeu Santini, na época

presidente da Câmara de Campinas, também sentiu os abusos do período. Em 1970, Santini assumiu a re-dação do Diário do Povo e relata que o governo pres-sionava para saber a exis-tência de comunistas na re-dação. “Para tudo o que foi publicado em reportagens ou editoriais atingindo o governo, eu era chamado ao Exército, pressionado a dizer o porquê das publica-ções, se havia na redação algum comunista ou se al-gum comunista estava me pressionando ou inspiran-do a escrever aquele tex-to”, conta. Apesar de não ter sofrido torturas físicas, Romeu foi vítima da arbi-trariedade e imposições do regime. “Eu sentia que as mãos daquele militar que me ouvia, me pressionava, ameaçava, estavam no po-der. Os encontros aconte-ciam depois do assassinato do jornalista Vladimir Her-zog”. Os militares também fizeram um levantamento da vida de Santini e enca-minharam ao DOI CODI. Romeu, no entanto, nunca foi chamado a prestar de-poimentos.

Se de um lado os mo-vimentos estudantis e os sindicatos representavam a parcela da cidade que se opunha ao regime au-toritário, do outro o então prefeito Ruy Novaes decla-rou total apoio à ditadura.

Junto com a Câmara, aju-dou a organizar a Marcha com Deus pela Família e pela Liberdade, que reu-niu cerca de 70 mil pessoas em 7 de abril de 1964. Ao mesmo tempo da passeata, locais utilizados pelos co-munistas eram revistados e líderes sindicais eram presos. Em contrapartida à Marcha com Deus pela Fa-mília e pela Liberdade, em maio de 1967 realizou-se em Campinas a Conferên-cia Estadual do Partido Co-munista, reunindo mais de trinta membros do partido.

Ainda durante o governo de Novaes, o prêmio de ci-dadão campineiro foi dado a Jarbas Passarinho, nome influente entre os militares por ter participado da arti-culação do golpe de 64 e ter sido Ministro da educação, mas cuja única relação com Campinas era um irmão que aqui morava.

Comissão da VerdadeEm busca das histórias

e registros da época é que surgiu em 6 de agosto de 2012, a Comissão Munici-pal da Verdade, Memória e Justiça de Campinas, atu-almente composta por sete membros. De acordo com o presidente da comissão, Paulo Mariante, a maioria da população campineira desconhece o que acon-teceu na cidade durante a ditadura. “Que a memória sirva para consolidar o re-púdio do povo campineiro a qualquer ideia de golpe militar, além de saber que personagens que ainda es-tão vivos e já atuavam na cena política de Campinas na época, e hoje se afirmam “democratas”, foram entu-siasmados apoiadores dos golpistas”, ressalta Marian-te.

Ainda segundo o pre-sidente, mais do que um resgate dessas histórias, a comissão pretende dar maior institucionalidade à Comissão para que ela se constitua como uma política de estado no Município. “Não preten-demos encerrar nossos trabalhos dentro dos li-mites e prazos estabele-cidos pela legislação que instituiu a Comissão”, relata.

Marcha das Famílias por Deus e pela liberdade realizada em 7 de abril de 1964

20 de março de 2014