Saiba+ - Edição Abril de 2012

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Ano 7 - Nº 93 - Faculdade de Jornalismo - PUC Campinas - 01 a 15 de Abril de 2012 Fernanda Domiciano Localizado em espaçoso terreno da Barão de Itapura, a construção da época de Dom Pedro II exige atenção aos mínimos detalhes O império volta a brilhar Imponente, o prédio localizado na Av. Barão de Itapura passa por merecida restauração SHOWS SAÚDE CIDADES CAPA CULTURA OPINIÃO VEJA A FLEXIBILIZAÇÃO DA VOZ DO BRASIL ESTRANGEIROS EM CAMPINAS OVOS PÁSCOA ALTERNATIVOS ROGER WATERS NO BRASIL PG 2 PG 3 PGs 4 e 5 PG 6 PG 7 PG 8 CONFIRA NA PÁGINA 5

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Ano 7 - Nº 93 - Faculdade de Jornalismo - PUC Campinas - 01 a 15 de Abril de 2012

Fernanda Domiciano

Localizado em espaçoso terreno da Barão de Itapura, a construção da época de Dom Pedro II exige atenção aos mínimos detalhes

O império volta a brilharImponente, o prédio localizado na Av. Barão de Itapura passa por merecida restauração

SHOWSSAÚDECIDADESCAPACULTURAOPINIÃO

VEJA A FLEXIBILIZAÇÃO DA VOZ DO BRASIL

ESTRANGEIROSEM CAMPINAS

OVOS PÁSCOAALTERNATIVOS

ROGER WATERSNO BRASIL

PG 2 PG 3 PGs 4 e 5 PG 6 PG 7 PG 8

CONFIRA NA PÁGINA 5

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2 01 a 14 de abril de 2012

Jornal laboratório produzido por alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC- Campinas, do Centro de Comunicação e Linguagem (CLC).Diretor: Prof. Dr. Rogério E. R. Bazi.Vice-diretora: Profa. Maura Padula.Diretor da Faculdade: Prof. Lindolfo Alexandre de Souza.Tiragem: 2.000 | Impressão: RAC.

Prof. Responsável: Luiz R. Saviani Rey (MTb 13.254)Editores: Erik Nardini e João Solimeo Diagramação: Erik Nardini e João SolimeoReportagens: Clara Carvalho, Fernanda Seben, Fernan-da Domiciano, Guilherme Paiva, João Solimeo Vinícius Gandolphi

Expediente:

Carta ao Leitor

João Solimeo

Pra começo de conversa+ artigoFotografia e SaudosismoErik Nardini Medina

Vivemos em um mundo tecnológico. A tecnologia é base do mundo contem-porâneo. É difícil encon-trar alguém (estabeleço aqui a idade média de 18 anos) que tenha tido con-tato com câmeras analógi-cas. Experimente dar um rolo de filme e uma câmera antiga a alguém. A pessoa provavelmente não saberá como carregar o equipa-mento com a pequena bo-bina de 35mm. Experiên-cia própria. No entanto, ao mesmo tempo em que essas pessoas se encon-tram distantes da foto-grafia analógica, seguem cercadas por sua essên-

Entrou no ar o “Digitais” PUC Campinas, novo espaço da Faculdade de Jornalismo para valo-rizar a proção dos alunos do 4º Ano. Noticiári-os, reportagens, vagas de estágio e muito mais. Acesse: digitaispuccampinas.wordpress.com

Notas

cia graças a aplicativos de edição. Destaque para o tão comentado Instagram, disponível aos usuários de iPhone, que aplica efei-tos nas fotos feitas com o telefone, deixando-as se-melhantes às feitas com filme. Costumo dizer que o Instagram “instraga” as fotos. A Apple luta para trazer uma câmera melhor a cada versão do aparelho e o software aplica filtros que altera as imagens!

Ninguém mais fotogra-fa com filme porque isso se tornou inviável. Foto-grafia digital pressupõe imediatismo, vital para os negócios e essencial para

a sociedade moderna que deseja tudo na hora. É por isso que aplicativos têm atraído fãs aos mon-tes (o Instagram superou a marca de 25 milhões de usuários). Por meio deles ficou fácil trazer de volta o vintage.

É comovente – e gosto-so – olhar para uma foto e viajar no tempo com tons sépia ou preto e bran-co. Agora, se você quiser o real “efeito Instagram”, desembolse cerca de R$ 8 em um rolo de filme, tire aquela velha câmera do fundo do armário e clique. Será fascinante, garanto.www.eriknardini.com

Basta andar

Sentado naquele banco gelado e desconfortável eu espero. O frio congela minhas entranhas. Tenho torcicolo de tanto olhar parao final da rua. Tudo conspira contra mim. Já faz mais de meia hora que estou ali e nada do circu-lar passar e me levar para o conforto de casa. Já pen-sando em desistir, lá vem ele dobrando a esquina. Mal sabia que o pior ainda estava por vir.

Nem sei como conse-gui entrar naquele ônibus. Umas oitenta pessoas se apertavam ali. Ainda es-tava na escadinha da en-trada quando pensei de novo em desistir, mas não tinha mais jeito: atrás de mim o aglomerado já pas-sava de 15 pessoas e mais chegavam correndo. To-dos acabaram entrando, com um pouquinho de violência e muita vontade de chegar em casa. Lem-bro-me de ouvir alguém

Guilherme Paiva

atrás de mim dizer: “Tá no inferno, abraça o ca-peta!” e sair empurrando os outros pra chegar na ro-leta. Resolvi que faria isso também. Nesse mundo quem é devagar não so-brevive! Mudei de opinião assim que um cara de uns dois metros e tanto olhou pra mim quando o empur-rei e disse: “Perdeu a fé na vida, irmão?!” Não, ainda não tinha perdido.

Me afastei o máximo que pude dele, ou seja, alguns centímetros. De-pois de uns 5 minutos tentando me esgueirarpor entre as pessoas cheguei na roleta. E lembrei que ainda não tinha separado o dinheiro. Abro então a mochila, procurominha carteira, pago os R$3e passo para a outra parte do ônibus, onde a situação estava ainda mais crítica que na frente.Um rapaz ouvia música em seu celu-lar – sem fones de ouvido,

claro - enquanto seu com-panheiro de banco acom-panhava cantando em voz alta. Uma outra pessoa co-mia uma daquelas versões genéricas de salgadinhos que dão o cheiro de enxo-fre característico para o inferno que tinhamos ali. Uns vinte minutos de tensão depois, meu ponto de desembarque se aproximava.O problema é que entre mim e a porta dos fundos havia ainda muita gente.

Respirei fundo e, sem olhar pra trás, fui abrindo caminho entre as pessoas. Um “desculpa” daqui, um “licença” de lá e pronto, estava na porta. O ônibus parou e finalmente desci. Quando em terra firme, ajoelhei-me, agradeci por ter sobrevivido e prometi que assim que pudesse compraria um carro, nem que fosse uma Brasília 73 sem as portas. Basta andar que já está bom.

+ crônica

Esta é a primeira edição do Saiba + de 2012, pro-duzida pelos alu-nos do 4º ano de

Jornalismo do período no-turno da PUC-Campinas.

O jornal vem cheio de novidades. Na reportagem de capa, a repórter Fer-nanda Domiciano escreve sobre a restauração de um dos marcos da cidade, o Prédio D. Pedro II, no Instituto Agronômico de Campinas (IAC). O In-stituto vai completar 125 anos em junho de 2012.

Clara Carvalho fala so-bre como os estrangeiros lidam com as dificuldades de comunicação quando chegam a Campinas.

Fernanda Seben e Viní-cius Gandolphi mostram a campanha para a flexibili-zação do horário de trans-missão da Voz do Brasil.

Na página de opinião, o leitor encontra o artigo de Erik Nardini sobre o saudosismo na fotogra-fia, além da crônica bem humorada de Guilherme

Paiva que narra um dia no transporte público de Campinas.

No mês da Páscoa, Kar-ina Pilotto mostra como os diabéticos e alérgicos a chocolate encontram al-ternativas para não passar sem os tradicionais ovos.

Falando em saúde, Re-nata Ananias mostra como os diversos tipos de partos humanizados vêm gan-hando adeptas; a Unicamp já realizou mais de 2500 nascimentos desta ma-neira.

Para finalizar, eu fui a São Paulo conferir o úl-timo show de Roger Wa-ters, “The Wall”, um grito contra o autoritarismo.

O roqueiro de 68 anos mostra que o Rock ai-nda pode ser um veículo poderoso para discutir temas relevantes para a sociedade.

Boa leitura!

Turnê de lançamento da carreira solo de Thiaguinho, ex- Exaltasamba, chega em Campinas. O show acontece no próximo dia 29 às 14 horas, no Campinas Hall. A venda de ingressos conta com um lote promocional para at-ender estudantes e quem quiser doar 1 kg de alimento. Além de Campinas o ingresso pode ser adquirido em outras oito cidades da região, sendo elas Valinhos, Vin-hedo, Sumaré, Indaiatuba, Jundiaí, Americana e Hor-tolândia, ou então pelo site www.seuingresso.net.br

A Expoflora, maior exposição de plantas e flores or-namentais da América Latina realizada anualmente em Holambra, deu início à venda antecipada de in-gressos para a 31ª edição. Os ingressos promocionais com descontos de mais de 50%, são limitados a 5 mil unidades por dia e podem ser adquiridos na Central de Reservas para grupos de, no mínimo, 20 pessoas. O evento acontecerá de 30 de agosto a 23 de setembro. O contato com a Central pode ser feito por telefone (19) 3802-1499 e pelo e-mail [email protected]

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Cultura

Navegar é essencialInternet é palco de divulgação e produção cultural em Campinas

Thaís de Araújo

Com um número cada vez maior de usuários no Brasil e no mundo, a rede internacional de computadores alavanca a divulgação da cultura independente na cidade de Campinas, e uma das plataformas que mais con-tribuem para isso são as redes sociais. Como ex-emplo dessa visibilidade trazida pela internet está o crescimento da populari-dade de projetos artísticos e trabalhos na área da cul-tura, como acontece com o Coletivo Ajuntaê, orga-nização que articula ativi-dades culturais na cidade desde 2010.

A equipe levou no úl-timo mês 4 mil pessoas durante os dias do evento Grito Rock, que reunia m ú s i c a , artes vi-suais e cor-porais e outras fren-tes artísti-cas. O evento foi organizado na cidade e divulgado por seus co-laboradores na internet,

tanto no site do grupo quanto no facebook , twit-ter e outras mídias sociais. Segundo Rafael Gomes da Silva, 23, gestor cultural no Ajuntaê, o público do Coletivo é especialmente vindo da divulgação na web, que tem papel es-sencial na manutenção e existência do Projeto: “Prezamos muito por essa formação de público, e boa parte é formado na internet. Quando temos que fazer a divulgação de um evento, nos reunimos e começamos a bombar as informações nas redes so-cias”, revela Gomes.

Além de servir como meio de divulgação, a web também é meio de produção no Coletivo. Isso porque o Ajuntaê é parte de uma rede muito maior, chamada Fora do

Eixo, espalhada em mais de 100 pontos diferentes do país, de acordo com o próprio site do projeto. Essa rede tem como algu-mas de suas frentes trabal-har em ações com foco em comunicação livre, sus-tentabilidade e políticas culturais. Para que exista uma comunicação efetiva com os outros Coletivos do Fora do Eixo, a inter-net também é primordial. Segundo Ana Carolina de Moraes, 19, e Eliza Man-cuso, 23, produtoras cult-urais no Ajuntaê, o Projeto dificilmente existiria sem a web: “Principalmente se levarmos em conta que o Fora do Eixo teve origem com 4 coletivos muitos distantes: Cuiabá, Uberlândia, Rio Branco e

Londrina. Quatro cidades bem afastadas que se co-nectaram através da in-ternet para potencializar tanto as ações fora do eixo Rio-SP quanto em locais mais isolados.

Mesmo hoje em dia, sem a internet seria im-possível manter o mesmo fluxo de ações que temos em rede”, argumentam. De acordo com elas, como os Coletivos estão espal-hados por todo o Brasil e América Latina, o grande fluxo de trocas acontece pela internet, através de ferramentas como o Google DOCS.

Além de se organizarem internamente através da internet, a rede tem outra função para o grupo, que é a de servir como uma vitrine para encontrar no-vos artistas, como expli-

cam Eliza e Ana Moraes: “Utilizamos a plataforma Toque No Brasil (www.tnb.art) para conhecer o trabalho dessas bandas, ver fotos, release e infor-mações técnicas antes de convidá-las para nossos eventos. Recentemente, durante o Grito Rock, to-das as inscrições de ban-das, seleção e curadoria do festival, foram feitas através do TNB”, revelam.

Durante o último Grito Rock, uma das interven-ções artísticas realizada contou com as mãos do artista Gustavo Bordin, 29 , grafiteiro e publici-tário. Nénão, como é mais conhecido, também revela utilizar a internet como uma grande aliada na di-vulgação de seu trabalho.

“Você pode conhecer o trabalho de um do outro lado do mundo que você jamais teria oportunidade de conhecer se não fosse a internet”, argumenta Né-

não. Ele diz que já rece-beu diversas propostas de trabalho depois de pessoas visitarem seu site, ou até mesmo facebook e flickr; mas frisa a diferença que existe entre os públicos de cada meio. “O face-book é o que se tornou o

meio mais eficaz porque podemos postar em tempo integral, a pessoa vê o que você está fazendo no exa-to momento, é algo muito interativo. Agora o pes-soal que está interessado no trabalho mesmo, para propor convites em work-shops e exposições, geral-mente acessa mais o site. Acredito que fornece um outro tipo de respaldo”, explica.

Além da divulgação de seu trabalho, o artista também diz acreditar que através da aproximação e do esclarecimento trazi-dos pela internet, é muito mais fácil ter acesso a ti-rar dúvidas e se informar sobre novidades da área, além de procurar novos artistas e novas técnicas.

RESISTÊNCIA AO MEIO

Na opinião de Fernando Fragoso, 34 anos, pro-fessor de inglês e artista visual, ainda existe uma resistência por parte de algumas pessoas com re-lação à divulgação de tra-balho artístico na internet. “Há pessoas que resistem a isso com medo que copiem sua obra ou que ela se banalize. Respeito essa visão, mas penso diferente ”, conta Fernan-do. Na opinião dele, a web veio para somar. “O que adianta eu fazer um monte de desenhos se ninguém

nunca os viu? Gosto de di-vidir isso com as pessoas. Faço minhas obras antes de mais nada para mim, mas já pensou que legal se alguém se inspira?Pode acontecer, sei lá... Já fico feliz”, conta. Fernando já trabalhou com jornalismo,

Para Gomes, as redes sociais são estratégicas

fotografia, fazia cober-turas de Rally (inclusive tinha um site sobre isso), e começou a trabalhar com arte por vontade própria, e especialmente pelas cir-cunstâncias da vida, sem fazer nenhum tipo de curso ou passar por uma formação acadêmica em artes. “Nas minhas via-gens pelo mundo, visitei muitos museus, observei muita coisa. Mas meu desenho não tem técnica, pode perceber. Tem cria-tividade, tem irreverên-cia, e esse é meu grande prazer. É um prazer que eu levo a sério”, diz o artista, que segundo ele próprio, deve contar com em mé-dia 500 obras disponíveis para visualização na in-ternet. “ Dos convites que recebo para exposições, a maioria acontece pela in-ternet”, revela.

Fernando explica que gosta muito da praticid-ade da rede, bem como da interação que ela propor-ciona. “ A internet me dá a oportunidade de levar meu trabalho pra onde eu quis-er, e grande parte das pes-soas conheceram meu tra-balho através desse meio. É só fazer direitinho”, diz o artista, que já recebeu através de site e facebook mensagens de pessoas da India e até do Sudão co-mentando sobre o trabal-ho: “ Estou escrevendo a minha história dessa ma-neira. Produzindo e regis-trando, através da internet, minhas produções”, com-pleta Fernando.

Thaís de Araujo

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Capa

Isabel Rodriguez chegou ao Brasil há dois anos achando que ia ar-rasar no português. Ainda na Colômbia, a mestranda em química na Unicamp começou a estudar a nos-sa língua. No princípio, pedia para um amigo que já tinha morado no Brasil ensiná-la. Com o tempo, foi escutando e entenden-do mais as letras da Bossa Nova. A colombiana, de 30 anos, prestou até o CELPE-BRAS (Certifica-do de Proficiência em Lín-gua Portuguesa para Es-trangeiros) antes de vir. Mas avalia que “esse ensi-no formal não me preparou para meu primeiro dia no bandejão[restaurante uni-versitário]: estavam todos falando ao mesmo tempo, muito rápido, eu não en-tendi nada!” Com o con-vívio com colegas nativos, Isabela foi adquirindo ve-locidade, fluidez e ‘pegan-do as gírias’. Hoje ela dá aula particular de espan-hol e acha que o português “de dicionário” que apre-ndeu ajuda muito na hora das explicações.

I GET BY (WITHA LITTLE HELP FROM MY FRIENDS)

Max, 23 anos, é amer-icano e dá aulas de in-glês, além de tocar sax na banda de um colega (brasileiro) que conhe-ceu na época da faculdade (nos Estados Unidos). Ao contrário de Isabela, ele chegou sem nenhum con-hecimento prévio do id-ioma. E, apesar de es-tar aqui há alguns meses, não fala nada de portu-

guês. “Não preciso falar. Todo o meu círculo fala inglês: antes eu morava com outros falantes na-tivos do inglês, trabalho em uma escola de inglês e meus alunos adoram o fato de eu não me comu-nicar na língua deles, pois assim aprendem mais”, afirma o jovem. Ele mora em Barão Geraldo e diz que a maioria das pessoas com quem cruza fala in-glês. “Até na banquinha de pastel a moça consegue me entender”. Mas admite que na região central da cidade é diferente: “Barão é como se fosse uma bol-ha”.

É o que confirma a pro-fessora de inglês e por-tuguês para estrangeiros, mestre em Multicultur-alismo, Plurilinguis-mo e Educação Bilingue, Verônica Coelho: “No en-torno da Unicamp, as pes-soas são muito mais sen-síveis linguisticamente, pois estão acostumadas a lidar com estrangeiros, entendem que a língua pode ser falada com dife-rentes sotaques. Longe da universidade, a realidade é outra. Se a pessoa pedir um salgado com sotaque [salllgado, zalgado, sal-gadô, sellgado]o atenden-te dificilmente entenderá, pois para ele só existe a palavra [sau-ga-do]”.Eli-ana Meirelles Vidotto, psicopedagoga e profes-sora especialista de por-tuguês para estrangeiros desde 1995, conta que quem chega ao país sem a menor noção da língua encontra alguns obstácu-los. “Eles têm dificuldade para comprar uma aspi-rina, estacionar na Zona Azul, pegar um ônibus”. A ‘cara de gringo’, porém,

pode ajudar, como ates-ta Max, ruivo de olhos azuis: “Muitas vezes as pessoas vêm me perguntar se preciso de aju-da.”

Eliana divide os estrangeiros em dois grupos: os que vêm para estudar ou trabalhar e os que não estão envolvidos com nenhuma ativi-dade acadêmica ou profissional, como é o caso das mulheres dos executivos que trabalham em multinacionais como a Samsung ou Bosch. “No ambiente de trabalho, eles estão constantemente em contato com a língua, fa-zendo uso do português e trocando com os colegas. O progresso é mais rápi-do. Os europeus são es-pecialmente dedicados”, conta Eliana. De acordo com a pedagoga, quem não tem contatocotidiano com brasileiros procura chamar sempre o mesmo taxista e frequentar o mes-mo restaurante, como for-ma de criar vínculos para entender e praticar a lín-gua.

LINGUAGEM NÃO VERBAL

Quando não se entende o que está sendo dito, en-tram em cena outras in-teligências e estratégias criativas, como a intu-ição e a mímica. Verôni-ca Coelho afirma que “ex-pressar uma necessidade, pedir uma informação, ou

seja, fazer-se en-tender, é uma coisa, falar a língua é out-ra. Por outro lado, quando não se en-tende o que está sendo dito, se ob-serva mais os ges-tos, os olhares, a entonação e volume de voz e os movi-mentos que aconte-cem ao redor. Se os estímulos auditivos e verbais não são inteligíveis, a lin-guagem não verbal ganha mais vida”.

Clara Carvalho

Vaidescêondi?Como os estrangeiros escutam, leem e se comunicam com a cidade

Segundo Eliana Vidotto, os falantes de espan-hol tem mesmo mais facilidade de se comunicar. Porém, para aprender a falar e escrever correta-mente o português, são os alunos em que encon-tra mais dificuldades. “É difícil ‘limpar’ a interfer-ência do espanhol, por ter algumas similaridades com a nossa língua”.

O nicaraguense Caryl Schutze, 20 anos, confir-ma que, às vezes, faz confusão “ Não chego a mis-turar, o que acontece é que, sem perceber, me pego falando espanhol com sotaque brasileiro”, se di-verte o estudante.

CARA DE GRINGO: “As pessoas me olham e falam comigo em inglês”

PORTUNHOL

O estudo anterior à chegada não impede o choque linguístico

Clara Carvalho

Cla

ra C

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O restauro do IMPÉRIO

O Prédio D. Pedro II, símbolo do período impe-rial em Campinas, passa por restauro. O edifício, localizado na área do In-stituto Agronômico (IAC) é reconhecido como um dos cartões postais da ci-dade. A previsão é que para o aniversário de 125 anos do IAC, a ser comemorado em junho de 2012, seus 3.300 m² de fechada estejam restaura-dos. O D. Pedro II foi con-struído em 1888 e passou por reformas e amplia-ções antes de ser tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (CONDE-PACC) e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológi-co, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT). Além da fachada e do tel-

hado, serão recuperados a pintura do muro externo e o calçamento do parque. A obra foi iniciada em 7 de dezembro de 2011. O D. Pedro II foi o primeiro prédio a abrigar a Sede do IAC. O edifício foi ampliado em 1909, com o acrescimento de um se-gundo andar. Atualmente, são feitas pesquisas na área de solo no local.“A última reforma foi

feita em 1968, quando foi remodelada a parte interna, a externa. Esta-mos restaurando o prédio para voltar ao que ele era quando foi tombado”, ex-plica o engenheiro civil, Herbert Faustino, respon-sável pela obra. De acordo

com o historiador da Co-ordenadoria Setorial do Patrimônio Cultural de Campinas, Henrique An-unziata, o restauro é uma intervenção criteriosa e técnica que respeita todas as características da con-strução, como os materi-ais utilizados e a reposição de peças faltantes. “Os critérios para a decisão do restauro se dá pelas situações técnicas, como preservação, conservação e manutenção”, explica.O edifício foi projetado

por Henrique Florence, a pedido do Imperador D. Pedro II. A construção se encaixa no estilo art nou-veau, trazido da Europa pelos barões do café, por apresentar colunas, ador-nos e frisos. O edifício foi construído apenas de cal e areia, sem cimento. Para manter os mesmos materi-ais utilizados em 1888, foi desenvolvida uma pasta de cal especialmente para o restauro. Quatro camadas de tinta foram retiradas até chegar ao tom de amarelo original. Para conseguir a cor exata, extraiu-se um pedaço da parede, levado para análises. A cor ama-rela foi apontada, mas não seu tom exato. Foram fei-tos mais 15 testes até se chegar a cor que será uti-lizada. Para que a intervenção

em bens tombados acon-teça, é necessário que um projeto de restauro seja aprovado pelo CONDE-PACC. De acordo com o órgão, fiscais e técnicos

acompanham a execução das obras. Qualquer ci-dadão pode denunciar a demolição ou obras ir-regulares em bens protegi-dos, através da Prefeitura Municipal. Campinas conta com 118

processos de tombamen-tos e 79 processos de es-tudos de tombamentos. Anunziata explica que cada processo pode conter mais que um patrimônio tombado. “O processo de estudo de tombamento dos Edifícios Verticais em estilo Art Déco/ Conjunto Arquitetônico, contém 15 edificações”, exemplifica. Um total de 28 proces-sos de tombamento ti-veram projeto de restauro aprovados e executados pelo CONDEPACC, des-de 1987, ano de funda-ção do órgão. “Campinas tem grande quantidade de patrimônios porque

foi relevante nos últi-mos 200 anos, seja pela sua história, economia ou importância regional. Onde temos concentra-ção de cultura, recursos e pessoas, é natural que se tenha muitos bens culturas e materiais a serem tomba-dos”, explica Marcos To-gnon, professor doutor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), na área de História da Arte.

ESTAÇÃO CULTURA CORRIA RISCO DE

INCÊNDIO

Outro tradicional pat-rimônio público tombado pelo CONDEPACC foi restaurado recentemente. Na Estação Cultura Pre-feito Antonio da Costa Santos, inaugurada em 1872, foi feito obras es-truturais, como a recupe-ração do telhado, reforma da rede hidráulica e ban-heiros, revisão da rede elétrica, recuperação de pisos e janelas, padroniza-ção das pinturas internas e descupinização parcial do prédio. O restauro parcial foi feito pela Campinas Decor, em parceria com a Prefeitura de Campinas, em 2011. De acordo com o engen-

heiro civil, Herbert Faus-tino, responsável pela obra, a Estação estava abandonada. “A Estação é uma criança sem pai e mãe. Depois que deixou

de ser da Ferrovia Paulista (Fepasa), passou para a União e parou de funcio-nar. Existia até mesmo ris-co de incêndio”, explica.Luiz da Conceição, bar-

beiro e dono do Salão Internacional, localizado dentro da Estação, desde 1956, foi um dos únicos que tentou preservar o patrimônio. “Aqui ficou abandonado por muito tempo, só quando o Tonin-ho (Antonio da Costa San-tos) foi eleito prefeito que as coisas começaram a melhorar. Ele trouxe para cá a Secretaria da Cultura e deu vida para o lugar”. Para o professor da Uni-

camp, Marcos Tognon, o poder público pouco tem feito para a preservação dos patrimônios. “Al-guns são bem preservados como a Escola de Cade-tes, mas outros se encon-tram na agonia, como os monumentos, praças, ave-nidas e a própria Estação Cultura”, afirma. O historiador Henrique

Anunziata, diz que Campi-nas foi a primeira cidade do interior do País a ter um órgão de preservação municipal. “O Brasil não tem política de preserva-ção, estamos distantes se compararmos a Europa e a América do Norte, mas, dentro das nossas limita-ções, Campinas é pioneira em atitudes preservacioni-stas locais”, afirma.

Arquivo IAC

Fernanda Domiciano

O velho Prédio D. Pedro II se renova em comemoração aos 125 anos do IAC Fernanda Domiciano

A restauração deve ser concluída até junho, no aniversário de 125 anos do IAC

Construído em 1888, D. Pedro II foi o primeiro prédio a abrigar o Instituto Agronômico de Campinas

Capa

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Para acabar com a “interferência” do EstadoCidade

“A Voz do Brasil é o ul-timo entulho da Ditadura Vargas”, nas palavras do presidente da Associação Paulista das Emissoras de Rádio e TV do Estado de São Paulo (AESP), Ro-drigo Neves.A luta pela extinção ou a transmissão em horários alternativos do programa de rádio mais antigo em circula-ção na história do país, a “Voz do Brasil”,não é nova, mas toma propor-ção maior a cada dia, com campanhas recentes da Jovem Pan, da Band News e da própria Associação das Emissoras de Rádio e TV de São Paulo (AESP).As emissoras brigam pela não obrigatoriedade de transmitir o programa ofi-cial no horário estipulado (das 19h às20h) ou ainda pela extinção do mesmo. A luta continua entre os papeis judiciais e na voz dos jornalistas e locutores que desejam o fim da im-posição que remonta os tempos da ditadura.

Há muito tempo, diz-ia-se da pessoa que não tinha muito compromisso com a vida estar “Nem aí pra Hora do Brasil”. A expressão é de antes de 1971, data em que o presi-dente Emílio Garrastazu Médici mudou o nome do programa de rádio do gov-erno para “Voz do Brasil”, que permanece até hoje. Transmitido das 19 às 20h todos os dias exceto sába-dos, domingos e feriados, para descontentamento de uns e frustração de out-ros, a “Voz” cala os rádios num dos momentos mais importantes do dia.

Entre os que queriam – e poderiam – estar nem aí pra Voz do Brasil, está ojornalista formado pela PUC-Campinas e fun-cionário público da Prefei-tura de Jaguariúna, onde atua, desde 1997, como locutor apresentador-noti-ciarista da Rádio Educati-va Municipal Estrela FM, Bruno Giannini, que tam-bém se reveza com out-ros funcionários da rádio para colocar o programa

estatal no ar. O horário de trabalho de Bruno vai das 13h ás 17h. A “Voz do Brasil” é transmitido sempre às 19h, como já dito. Não é por culpa de um “chefe maldoso” ou de uma “carga horária mas-sacrante” que o locutor tem que comparecer ao estúdio para transmitir os 25 minutos reservados ao poder executivo e os out-ros 35 dados ao legislativo e judiciário. O jornalista de formação faz isso porque, como muitos não concor-dam, ninguém pode soltar a “voz” em outra hora.

No entanto, embora pos-sa parecer, a preocupação de Bruno não é egoísta. Ele pensa em cidades maiores que Jaguariúna, onde uma fileira de cinco carros já pode ser considerada um “engarrafamento”. “Eu acho o horário inconveni-ente, principalmente nas grandes metrópoles onde as emissoras poderiam utilizar o período das 19h às 20h para passar infor-mações sobre o trânsito, muitas vezes caótico. As pessoas em São Paulo, por exemplo, ficam presas em seus carros, enfrentando congestionamentos mon-struosos, sem saber as melhores alternativas para driblar o problema, já que a ‘Voz do Brasil’ entra no pior horário existente para uma cidade grande”, reve-la Bruno.

Além de Bruno, o presi-dente da Associação das Emissoras de Rádio e TV do Estado de São Paulo (AESP), Rodrigo Neves, diz que mais que incon-veniente, a transmissão da “Voz” é “Incoerente com os anseios da população como um todo. Acho que o Governo Federal pode-ria por iniciativa própria decretar o fim deste en-tulho autoritário e ofe-recer através da Radio-bras blocos de notícias não obrigatório, cabendo as emissoras individual-mente colocar ou não no ar”, indica Rodrigo Neves.

Além dos problemas apresentados, um docu-mento redigido pelo ad-vogado do Sindicato das Emissoras de Rádio e TV do Estado de São Paulo(SERTESP), Ru-bens Augusto Camargo de Moraes, dizia, a princípio, que o fato de o horário em que o programa deve ser

transmitido é fixo, cer-ceia, entre outras coisas, a liberdade de expressão, ao “constituir embaraço à plena liberdade de in-formação jornalística”. O pedido de suspensão ou alteração de horário de transmissão da produção estatal é de 2009 e, como já se deve suspeitar, não foi aceito pelo Ministério Público. No mesmo ano, a União contestou o escrito de Rubens, dizendo que o tal “embaraço” não proce-dia, uma vez que, das 24 horas do dia, apenas uma era utilizada para a trans-missão do programa que adentra os lares brasileiros desde os imemoráveis tempos da ditadura de Var-gas.

E já que estamos falando de ditadura, o programa resistiu a duas. A última, como já se deve saber, foi a que tirou os direitos de muitos – inclusive dos jor-nalistas – à liberdade de expressão.

No primeiro documento do SERTESP, Rubens se permite uma licença poé-tica ao escrever que “O Brasil está respirando no-vos ares. Há liberdade. Há democracia pairando em nossos céus. Nenhum limite, nenhuma restrição, nenhum temor há que im-pedir a livre manifestação de liberdade de imprensa, em detrimento de nosso povo.

A imposição, a ditadura, a opressão são já valores erradicados de nosso or-denamento jurídico e do

pensamento livre de nossa população”. Para Natália Pasquini Moretti, que re-digiu a contestação feita por parte da União, a fra-se de Rubens parece não fazer sentido, e sua última sentença ainda parece fora de esquadro.

Ou parecia, o programa, desde então, passou por uma reformulação. De acordo com a assessoria Empresa Brasil de Comu-nicação (EBC), que pro-duz os primeiros 25 minu-tos da “Voz do Brasil”, o objetivo agora é prestar serviço, diferente do que se fazia no passado, quan-do as matérias tinham en-foques mais institucionais: “Atualmente, a orientação geral é cobrir o dia a dia do governo federal, levan-do aos ouvintes informa-ções sobre as atividades da Presidência da República e sobre os principais fatos ocorridos no Poder Execu-tivo tendo como foco o in-teresse do cidadão e da ci-dadã brasileira. O objetivo é manter um canal direto de comunicação do Gov-erno Federal com todos os brasileiros, informando-os sobre as principais ações e serviços prestados pelos órgãos públicos federais”.

Mesmo assim, Neves sabe que a transmissão obrigatória na entrada da noite podia até fazer sen-tido e ter audiência e inter-esse no começo do século passado. “Na década de 40 e sobre um regime forte, não democrático, o país tinha uma pequena popu-

lação, sem os problemas de hoje como trânsito, vio-lência, intempéries.

Não faz sentido em ple-no século 21 a população ser obrigada a ouvir um programa oficial. A AESP coordena uma campanha para que a votação da flex-ibilização do horário seja votada ainda no primeiro semestre do ano. Qualquer cidadão também pode participar enviando um e-mail para o deputado Fed-eral de sua região”, lembra o presidente da AESP.

O desejo das rádios também é que a decisão saia o quanto antes. A Jo-vem Pansolta diariamente comentários e matérias contra a obrigatoriedade septuagenária. Numa des-sas, o jurista Carlos Ely Eluf foi fonte e chegou a afirmar que “como outros brasileiros, também desli-ga o rádio quando começa a ‘Voz do Brasil’” e que não há nada de democráti-co em obrigar que ele seja exibido.

A querela judicial en-tre a SERTESP (sindicato cuja Jovem Pan é afili-ada) e a União rendeu por pelo menos três anos. No dia 15 de março foi pub-licado no site do sindicato a notícia da conquista da flexibilização do horário da Voz do Brasil para as emissoras associadas. A informação, no entanto, não deve ser comemorada com tanta expressividade, já que ainda cabe recurso sobre a decisão.

Fernanda Seben

Rádios paulistas continuam na briga para acabar com obrigatoriedade da “Voz do Brasil”

“Acho o horário inconveniente” diz o locutor Bruno Giannini, sobre a Voz do Brasil

Fernanda SebenVinícius Gandolphi

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701 a 14 de abril de 2012

Em uma época em que os partos são feitos com alto índice de medical-ização e anestesia, algu-mas mulheres optam por técnicas alternativas, os chamados partos human-izados; eles proporcionam à gestante maior autono-mia na escolha do tipo do parto e o modo como este será efetuado. Entre os realizados de

forma mais antiga aos mais exóticos, estão os partos de Laboyer, parto de cócoras e o populariza-do parto na água feito em banheira com a tempera-tura entre 36ºC a 37ºC. A estudante de jornalismo Patrícia Lopes decidiu que faria parto na água após ler o relato de uma colega e, contrariando a opinião de muitos, se manteve firme em sua decisão. “Não tive

Parto humanizado: Saudável e sem traumasTécnicas populares como o parto na água e o parto de cócoras evitam aplica-ção de anestesia e dimin-uem os impactos na mãe e no bebê

medo em relação à dor, li muito sobre e estava pre-parada para o que viria. E o que me levou a escolha desse parto foi, princi-palmente, a liberdade em relação a parir. Eu estive ativa em todo o trabalho de parto. Eu quem decidia como queria ficar,o que era bom e o que não era e todo procedimento feito na minha filha aconteceu na minha frente”.

Em Campinas, o precur-sor do parto de cócoras, Hugo Sabatino, já real-izou na Unicamp mais de 2.500 nascimentos dessa maneira. Segundo ele, a sociedade enxerga este tipo de parto com precon-ceito por ser de origem indígena, mas explica que o procedimento facilita a saída do bebê.

“Há preparação para que a gestante se acostume com a posição, além de uma cadeira especial de-senvolvida pelo Dr. Jail-son Sanches que foi uti-lizada há mais de 30 anos por sua esposa Rubia Mi-tiko Fucuda.

Foi o primeiro parto de cócoras em Campinas. A técnica judiciária Patrícia

Sousa, após uma experiên-cia traumática em um parto normal, optou em sua se-gunda gesta-ção pelo parto de cócoras. "Na época eu tinha acaba-do de mudar para Campi-nas e não pos-suía plano de saúde, então fiquei saben-do que a Uni-camp oferecia o parto de có-coras e que o atendimento era ótimo.

O parto foi feito na cadeira específica e durou uma hora e meia. Além da vantagem da posição, era permitida a entrada de acompanhante e até música ambiente”.

Octavio Filho, docente e gestor da área gineco-logia/obstetrícia do Hos-pital e Maternidade Celso Pierro, atenta sobre os cuidados na realização de partos alternativos.

“Não há nenhum riscco

em partos humanizados. Por exemplo, o parto na água facilita a dilatação e ameniza a dor, mas qual-quer procedimento deve ser realizado em hospi-tais e com equipe médica para que seja possível o atendimento em caso de emergência”. Octavio também informa que o Hospital e Maternidade Celso Pierro, em parce-

Renata Ananias

NATURAL: Laura, filha de Patrícia, nasceu em parto na água

Arquivo pessoal

É difícil resistir aos praz-eres do chocolate, o doce mais cobiçado do mês da Páscoa. Isso porque ele estimula a liberação de hormônios que causam a sensação de bem-estar no organismo, chamados endorfina. “Os chocolates com mais de 55% de cacau possuem substâncias anti-oxidantes que auxiliam na prevenção de doenças cardiovasculares e estim-ulam o triptofano, o qual influencia na produção de serotonina, neurotrans-

missor que atua na sensa-ção de felicidade”, expli-ca a nutricionista Liliane Cristina Camuzzo Ortiz Monteiro. Além disso, de acordo com a nutri-cionista clínica Carolina Chuichmam R. dos An-jos, trabalhos científicos recentes demonstraram que a gordura saturada do chocolate é convertida em um tipo de ácido graxo que impede o aumento do colesterol no sangue. Mesmo com muitos bene-fícios, nem todos podem

consumi-lo. Existem di-versos casos de pessoas que apresentam intolerân-cia ao chocolate. Quan-do criança, a estudante Flávia Mendes descobriu que possuía uma alergia rara ao doce. “Desde os 12 anos não como choco-late. Se eu comer, de um dia para outro, meu corpo apresenta vemelhidão, manchas, bolinhas, e in-clusive muitas e muitas es-pinhas. Fiz alguns exames mas não foi identificado o ingrediente que causa. Não posso comer nenhum tipo de chocolate nem de-rivados”, conta. A nutri-cionista Liliane comenta sobre essa rara alergia. “Essa reação é bastante comum em pessoas que possuem alergia principal-mente à proteína presente no chocolate. É aconsel-hável não comer mesmo”. Outra exceção entre os adeptos do chocolate são as pessoas com diabetes. Por possuir um alto índice glicêmico, deve ser evi-tado por quem apresenta a doença. Mas para estes casos, também já existe uma solução: o chocolate

Diet. “ Para os diabéticos, os glicídios são substituí-dos por adoçantes artifici-ais. Mas é preciso tomar cuidado, pois este é mais calórico que os chocolates comuns”, explica Liliane.

Carolina destaca que o chocolate com mais ca-cau é a melhor opção para quem apresenta problemas de saúde. “O chocolate diet é muito gorduroso.É preferível optar pelos com 70% de cacau, pois têm pouco açúcar e menos gordura em comparação aos dietéticos. Quanto mais cacau, menos açú-car”, destaca Carolina.

E ainda existem casos de quem escolhe viver sem chocolate não por uma questão de saúde, e sim, por um ideal. Caio Feliciano adotou o estilo de vida Vegan, vegetaria-no que não consome ne-nhum alimento de origem animal. “Há seis meses não consumo chocolate, por uma questão ética. Só como chocolate sem lac-tose ou meio amargo. Não chega a ser tão doce como o chocolate ao leite, mas eu acho tão bom quanto.

Com a chegada da páscoa, bastante gente faz ovo de chocolate vegan caseiro, inclusive recheados com trufa! Acredito que de-vemos pensar mais antes de consumir um animal ou o que vem dele”, defende.

O doce foi adaptado para cada situação, para ninguém ficar sem

Karina Pilotto

Esta é uma opção para quem tem intolerância à lactose, alergia a cacau ou é diabético. O chocolate de alfarroba, fruta semel-hante ao cacau, não con-tém cafeína e teobromina, e possui uma semente rica em vitaminas e minerais. “Enquanto o cacau possui até 23% de gordura e 5% de açúcar, a alfarroba tem 0,7% de gordura e alto teor de açúcares naturais, de 38% a 45%”, explica a nutricionista clínica Caro-lina Chuichmam R. dos Anjos. As receitas feitas com a fruta não possuem glúten, leite, ovos, soja ou adoçantes artificiais, e po-dem ser encontrados em lojas de produtos naturais.

CHOCOLATEALTERNATIVO

ria com a Rede Cegonha do SUS, vai oferecer em breve o parto humaniza-do com sala ambientada e presença de acompan-hante durante todo o pro-cesso de parto.

Chocolate para as exceçõesSaúde

Karina Pilotto

O Ginecologista sempre tem a resposta. Converse e planeje-se sempre!

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801 a 14 de abril de 2012

Variedades

O MURO DO ROCKRoger Waters reconstrói seu “The Wall” e encanta os fãs da música

João Solimeotexto e fotos

TIJOLO POR TIJOLO

Está tudo lá: o muro gi-gantesco, construído blo-co a bloco em frente à pla-teia; o quarto de hotel que sai de dentro da parede; os fantoches de 9 metros de altura; o avião que so-brevoa a plateia e explode no palco; a música es-tonteante do Pink Floyd. Tudo. “Roger Waters -The Wall”, apresentado no estádio do Morumbi, em São Paulo no último dia 1º de Abril, é quase tudo o que um fã do Pink Floyd poderia esperar. Duas críticas podem ser feitas: a ausência do guitarrista David Gilmour é percep-tível, sua guitarra e sua voz fazem falta; a segunda crítica, se é que pode ser feita, é o excesso de per-feccionismo de Waters na execução de sua obra-pri-ma. The Wall é um show programado nos mínimos detalhes.

DRAMA PESSOAL

Não é para menos. Um muro com impression-antes 137 metros de largu-ra e onze de altura separa a plateia da banda de Roger Waters, 68 anos, baixista e ex-integrante do grupo britânico Pink Floyd, do qual foi um dos funda-dores. Waters saiu do gru-po no início dos anos 80 após muitas brigas com o guitarrista David Gilm-our, o baterista Nick Ma-son e o tecladista Richard Wright. Principal força criativa da banda, Roger Waters se tornou cada vez mais difícil de conviver e sua relação com a pla-teia também não era boa. Em um show em Mon-treal, Canadá, em 1977, o baixista cuspiu no rosto de um fã alucinado, que gritava na primeira fila. Assustado com o próprio comportamento, Waters fez uma auto análise e concebeu a ideia de “The Wall”, um muro que seria construído entre a banda e a plateia em pleno show ao vivo, simbolizando a impessoalidade que ele sentia nos shows de rock. A este conceito Waters so-mou elementos da própria

vida, como a morte do pai na Itália durante a II Guer-ra Mundial e o divórcio da esposa. Para completar, usou parte da história de Syd Barrett, garoto prodí-gio com quem, nos anos 60, havia fundado o Pink Floyd. Barrett não conse-guiu lidar com o sucesso e, consumidor compul-sivo de drogas alucinóge-nas, perdeu o contato com a realidade e foi afastado do Pink Floyd após o pri-meiro disco da banda.Mas os tempos muda-

ram. Com quase 70 anos,

Waters é hoje bem mais amigável. Apresentando uma vitalidade invejável, ele incitou a plateia, soltou sorrisos e falou em portu-guês para as milhares de pessoas que o assistiam no estádio do Morumbi. Ironicamente, justo no momento em que prestava homenagem ao brasileiro Jean Charles de Menezes, morto por engano pela polícia britânica, polici-ais expulsavam, à força, um grupo de fãs que havia invadido uma área restrita do gramado do Morumbi.

Foi um dos poucos fa-tos não programados do show. Nove projetores de alta definição lançam ima-gens impactantes sobre a imensa parede branca. Waters atualizou as ani-mações produzidas pelo cartunista Gerald Scarfe para os show originais da década de 80, tornando-as tridimensionais. Além dis-so, há um sem número de símbolos que remetem ao capitalismo (palavra es-crita no muro com a mes-ma grafia da Coca-Cola) e sobram críticas para todos

os lados. O conceito ini-cial, referente à II Guerra Mundial, foi atualizado; os gigantescos bombar-deios mostrados na músi-ca “Goodbye Blue Sky” agora não despejam bom-bas, mas símbolos como cifrões, estrelas de Davi judaicas, luas islâmicas e logotipos da Mercedes-Benz e da Shell (vaiada pela plateia por causa dos recentes vazamentos na região do pré-sal). Assim, o The Wall de Waters não é simplesmente um show saudosista glorificando um álbum com 33 anos de idade, mas uma con-tundente crítica ao mundo moderno.

DINOSSAURO MODERNO

A plateia cantou em un-íssono o hino do álbum, “Another Brick in the Wall part 2” (com o fa-moso refrão “We don´t need no education”), mas a canção mais espe-tacular continua sendo “Confortably Numb”, ex-ecutada por dois guitar-ristas, Robbie Wyckoff e Dave Kilminster (na falta de David Gilmour), em que as projeções trans-formam o muro em uma grande tela psicodélica. Não é um show para lei-gos. O conceito do álbum duplo, transformado em filme por Alan Parker em 1982, ainda é um enigma para muitos fãs casuais da banda. Há certo ex-agero na terça parte final do show, quando Waters (ou seu alter ego “Pink”) se transforma em um as-tro do rock que se com-porta como um ditador em um show massacrante de rock. Os famosos martelos cruzados (que remetem à suástica nazista) marcham pela tela de 137 metros de forma ameaçadora, para delírio da plateia. Tudo culmina quando o muro, literalmente, vem abaixo no final da apresentação de mais de duas horas. Nesta era de bandas pop sem nenhuma profundi-dade, Roger Waters e seu muro soam como o canto de um dinossauro em ex-tinção. No que depend-er dos milhares de fãs, porém, o Rock continua atual e poderoso como nunca.

Roger Waters, aos 68, continua moderno e atual

O muro montado. Crítica ao totalitarismo

Vítimas da intolerância. Fotos de mortos nas guerras do mundo foram enviados por fãs