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REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 1 ESTUDOS Aspergillus niger e Aspergillus carbonarius produtores de ocratoxina a em alimentos: ocorrência, significado e fatores que afetam a sua presença 3 Aplicação das técnicas de "headspace" estático e cromatografia a gás com detector de massas (cg/ms) para extração e identificação de compostos orgânicos voláteis como contaminantes de alimentos, bebidas e águas 7 INVESTIGAÇÃO DE SURTO Surto de diarréia no município de São Paulo, SP, Março de 2002 14 ESTUDOS A notificação de casos suspeitos de botulismo e a identificação de outras causas – reação adversa ao celecoxib, São Paulo, Brasil – Dezembro de 2002 18 INVESTIGAÇÃO DE SURTO Surto de Hepatite A no município de Campos do Jordão, SP, 2002-2003 21 DADOS ESTATÍSTICOS Botulismo: Casos confirmados notificados ao CVE, segundo local de ocorrência e outras variáveis epidemiológicas, Estado de São Paulo e Brasil, 1997-2003 25 RELATÓRIO DE ATIVIDADES Atividades desenvolvidas pela Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar – DDTHA/CVE-SES/SP, Ano de 2003 26 Publicação bimestral da Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar, Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE). Av. Dr. Arnaldo, 351 – 6º andar – sala 607, São Paulo, SP, CEP 01246-001, Tel. 3081-9804, Fax 11 3066-8258; e-mail:[email protected] REV NET - DTA Online Vol. 4, No. 1, 5 de janeiro de 2004 DTA R R E E V V N N E E T T DIVISÃO DE DOENÇAS DE TRANSMISSÃO HÍDRICA E ALIMENTAR

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REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 1

ESTUDOS Aspergillus niger e Aspergillus carbonarius produtores de ocratoxina a em alimentos:

ocorrência, significado e fatores que afetam a sua presença 3

Aplicação das técnicas de "headspace" estático e cromatografia a gás com detector de massas

(cg/ms) para extração e identificação de compostos orgânicos voláteis como contaminantes de

alimentos, bebidas e águas 7

INVESTIGAÇÃO DE SURTO Surto de diarréia no município de São Paulo, SP, Março de 2002 14

ESTUDOS A notificação de casos suspeitos de botulismo e a identificação de outras causas – reação

adversa ao celecoxib, São Paulo, Brasil – Dezembro de 2002 18

INVESTIGAÇÃO DE SURTO Surto de Hepatite A no município de Campos do Jordão, SP, 2002-2003 21

DADOS ESTATÍSTICOS Botulismo: Casos confirmados notificados ao CVE, segundo local de ocorrência e outras

variáveis epidemiológicas, Estado de São Paulo e Brasil, 1997-2003 25

RELATÓRIO DE ATIVIDADES Atividades desenvolvidas pela Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar –

DDTHA/CVE-SES/SP, Ano de 2003 26

Publicação bimestral da Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar, Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE). Av. Dr. Arnaldo, 351 – 6º andar – sala 607, São Paulo, SP, CEP 01246-001, Tel. 3081-9804, Fax 11 3066-8258; e-mail:[email protected]

REV NET - DTA Online Vol. 4, No. 1, 5 de janeiro de 2004

DTA RREEVV NNEETT

DIVISÃO DE DOENÇAS DE TRANSMISSÃO HÍDRICA E ALIMENTAR

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Acesso eletrônico

Disponível em versão eletrônica para a Internet no site do

CVE:

URL: http://www.cve.saude.sp.gov.br/htm/dta_menu.htm

Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo Centro de Vigilância Epidemiológica Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar Editores Maria Bernadete de Paula Eduardo, Editor Geral São Paulo, São Paulo, BR Alexandre J. da Silva, Editor Associado Internacional Atlanta, Geórgia, USA Jeremy Sobel, Editor Associado Internacional Atlanta, Geórgia, USA Eliseu Alves Waldman, Editor Associado São Paulo, São Paulo, BR Hillegonda Maria Dutilh Novaes, Editor Associado São Paulo, São Paulo, BR Elizabeth Marie Katsuya, Editor Assistente São Paulo, São Paulo, BR Letícia Maria de Campos, Editor Assistente São Paulo, São Paulo, BR Lilian Nunes Schiavon, Editor Assistente São Paulo, São Paulo, BR Maria Lúcia R. de Mello, Editor Assistente São Paulo, São Paulo, BR

A Revista Eletrônica de Epidemiologia das Doenças Transmitidas por Alimentos - REVNET DTA é publicada bimestralmente pela Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar, do Centro de Vigilância Epidemiológica, Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Divulga resultados de pesquisas originais, revisões, discussão de caso (p. ex., investigação de surtos), estatísticas, comentários, notas científicas e outros eventos. É uma revista especializada na área de doenças transmitidas por alimentos e campos relacionados, com ênfase em epidemiologia. Vem sendo publicada desde 2001 (primeiro número em novembro de 2001): nos meses de janeiro, março, maio, julho, setembro e novembro. As opiniões expressadas pelos autores contribuintes à REVNET DTA não refletem necessariamente a opinião da Divisão de Doenças de Transmissão e Alimentar e do Centro de Vigilância Epidemiológica ou das instituições a que pertencem os autores. Envie seu artigo para: [email protected]

e-mail:

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ESTUDOS

Aspergillus niger e Aspergillus carbonarius produtores de ocratoxina a em alimentos: ocorrência, significado e fatores que afetam a sua presença a Marta H. Taniwaki1; Cláudia P. Martins1; Beatriz T. Iamanaka1; Rosangela S. S. F. Leite1; Eduardo Vicente1; Margarete M. Okazaki1 1Instituto de Tecnologia de Alimentos – ITAL, Campinas, SP, Brasil. Fonte financiamento: FAPESP (a) Trabalho apresentado na I Mostra Estadual de Experiências Bem Sucedidas em Vigilância das Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar e Segurança de Alimentos (I EXPO-EPI DTA) e II Simpósio de Segurança Alimentar, em pôster, em 23 e 24 de setembro de 2002, no Centro de Convenções Rebouças, São Paulo, Capital.

Resumo A ocratoxina A tem sido encontrada em vários tipos de alimentos. O conhecimento da distribuição das espécies

toxigênicas nos alimentos é de real importância, porque possibilita fornecer parâmetros para o controle e prevenção da

produção de toxinas pelos fungos. Os objetivos do presente trabalho são: (i) verificar a presença de Aspergillus niger e

Aspergillus carbonarius produtores de ocratoxina em frutas secas, que são os alimentos em que a presença destas

espécies é comum; (ii) verificar a presença de ocratoxina nestes produtos. Setenta e seis amostras de frutas secas

foram analisadas, entre estas: passas de uva escura, passas de uva clara, ameixas pretas, damascos secos, figos

secos e tâmaras. Foi encontrada a presença de A. niger/carbonarius em 2 a 90% das amostras de passas de uva

escura; 2 a 8% das passas de uva clara; 2 a 60% em ameixas pretas; 2 a 38% em figos secos e 6 a 86% em tâmaras.

Uma amostra de passa de uva clara apresentou 18% de infecção por A. flavus e, uma amostra de tâmara apresentou,

além de A. niger/carbonarius, a infecção de 24% de A. ochraceus. Nos testes de toxigenicidade, 100% das cepas de A.

flavus foram produtoras de aflatoxinas B1 e B 2; 50% de A. ochraceus foram produtores de ocratoxina A e 27% de A.

niger/carbonarius foram produtores de ocratoxina A.

Palavras-chave: Toxinas Naturais; Ocratoxina; Aflatoxinas; Segurança de Alimentos.

Introdução

Ocratoxina A (OA) é uma micotoxina nefrotóxica, com potencial carcinogênico e que

tem sido encontrada em vários alimentos. Até recentemente, era conhecido que a produção da

toxina estava restrita às espécies de Penicillium verrucosum, Aspergillus ochraceus e espécies

relacionadas. Entretanto, ultimamente, tem havido relatos de que alguns isolados de

Aspergillus niger e vários isolados de Aspergillus carbonarius são produtores de ocratoxina.

Aspergillus niger e Aspergillus carbonarius, conhecidos como “black aspergilli”, são

encontrados, frequentemente, em alimentos como frutas frescas, vegetais, grãos, cereais e

outros. A. niger tem sido utilizado para a produção de várias enzimas e ácidos orgânicos, em

escala industrial. Pouco se conhece sobre Aspergillus carbonarius e muito provavelmente, este

tem sido confundido com A. niger devido às semelhanças na sua morfologia. Em estudos

realizados com café no laboratório de Microbiologia do ITAL, foi detectada a presença de

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Aspergillus niger e Aspergillus carbonarius produtores de ocratoxina, bem como a presença

desta toxina no café, provenientes de amostras do estado de São Paulo. Este fato é

preocupante, pois a presença de “black aspergilli” em alimentos é comum e não existem

pesquisas no país, investigando a toxigenicidade destas espécies, nos alimentos consumidos

pela população.

A tendência mundial no estabelecimento de limites máximos para ocratoxina A em

alimentos tem sido de 3 a 5 µg/kg, e para alimentos infantis, o limite máximo sugerido é de

1µg/kg. Nestas condições, o presente projeto tem por objetivo, investigar a incidência destas

espécies toxigênicas em frutas secas, bem como a presença de ocratoxina nestes produtos.

Material e Métodos

O trabalho constou de analise de várias frutas secas, como passas, ameixas,

damascos e figos quanto à incidência de Aspergillus niger/carbonarius, A. ochraceus e A.

flavus; teste de cepas de fungos toxigênicos quanto à capacidade de produção de toxinas;

verificação de presença de ocratoxina A nas frutas secas analisadas e em que condições de

atividade de água, temperatura e tempo ocorre o crescimento destas espécies e a produção de

toxina nas frutas secas.

Coleta das amostras As amostras foram coletadas de supermercados, centrais de abastecimentos e

pequenos comércios, no período de 2001 e 2002. Um total de 76 amostras foi analisado até o

momento sendo: 21 passas de uvas escuras, 13 passas de uvas claras, 20 ameixas pretas, 9

damascos secos, 9 figos secos e 4 tâmaras secas.

Avaliação da microbiota fúngica interna As amostras foram desinfetadas superficialmente com 0,4% de solução de hipoclorito

de sódio durante 1 min. A seguir foram plaqueadas diretamente em meio ágar Dicloran Glicerol

18% (DG18) com cloranfenicol. As placas foram incubadas à 25ºC por 5 a 7 dias.

Isolamento e identificação das cepas toxigênicas suspeitas As cepas do gênero Aspergillus foram isoladas em meio ágar Extrato de Malte (MEA),

incubadas por 5 a 7 dias à 25ºC e identificadas de acordo com a chave de classificação de

Klich & Pitt (1), Hocking & Pitt (2).

Teste de produção de ocratoxina A As cepas toxigênicas foram analisadas quanto à produção de ocratoxina A, conforme

metodologia de agar plug (3). Nos testes de agar plug em que a produção da toxina foi fraca ou

negativa, utilizou-se a técnica da extração com clorofórmio. O extrato fúngico foi aplicado em

placas de cromatografia em camada delgada (TLC). A cromatografia foi desenvolvida em

tolueno: acetado de etila: ácido fórmico 90% (5:4:1) e observada sob luz UV de 365nm.

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Análise da atividade de água Com o auxílio do analisador de atividade de água Aqualab (série 3 TE) foi medida a

água livre disponível das frutas secas.

Extração de ocratoxina A nas frutas

A extração e quantificação de ocratoxina A foram efetuadas conforme metodologia de Pittet

et al. (4), utilizando-se colunas de imunoafinidade para limpeza dos extratos e em seguida, análise

por cromatografia liquida de alta eficiência (HPLC).

Resultados e Discussão Incidência de fungos toxigênicos nas amostras

A incidência de fungos toxigênicos produtores de ocratoxina e aflatoxinas B1 e B2, nas

amostras de passas de uva preta, passas de uva clara, ameixas pretas, damascos, figos e

tâmaras, é apresentada na Tabela 1. Em geral, as amostras de passas de uva escura, ameixas

pretas, figos secos e tâmaras apresentaram alta infecção por fungos do grupo

A.niger/carbonarius. A diferenciação destas duas espécies ainda está sendo realizada. Foram

isoladas 502 cepas de fungos potencialmente toxigênicos sendo: 464 cepas do grupo A.

niger/carbonarius, 28 cepas de A. ochraceus e 10 cepas de A. flavus.

Análise de ocratoxina A nas frutas secas

Foram realizados vários testes de extração de ocratoxina A nas frutas secas (Tabela

1), contudo o nível de recuperação até o momento foi de 60-70%, que não é satisfatório. Mais

testes estão sendo realizados, otimizando a metodologia.

Tabela 1 – Percentagem média de infecção por A. ochraceusa, A. niger/carbonariusa e A. flavusb, toxigênicos e não toxigênicos nas amostras de frutas secas que apresentaram contaminação.

Frutas secas Nº de amostras

A. ochraceus

OTA + OTA-

A. niger/carbonarius

OTA+ OTA-

A. flavus AFLA+ AFLA-

Passas de uva escura

21 2 - 4 25 -

Passas de uva clara

13 - - 5 18 -

Ameixas pretas

20 - 7 14 -

Damascos

9 - - -

Figos secos

9 - 10 3 2 -

Tâmaras

4 2 22 34 11 -

a Produtores de ocratoxina A (OTA) ; b Produtores de aflatoxinas B1B2.

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Análise de atividade de água das frutas secas As passas de uva escura apresentaram uma faixa de atividade de água entre 0,549 a 0,722; as

passas de uva clara entre 0,527 a 0,629; as ameixas pretas entre 0,76 a 0,869; os damascos secos

entre 0,680 a 0,742; os figos secos entre 0,618 a 0,751; as tâmaras entre 0,630 a 0,753.

Conclusões

As seguintes conclusões podem ser tiradas deste estudo: a) a ocorrência de fungos do

grupo A. niger/carbonarius produtores de ocratoxina A é comum nas frutas passas de uvas

escuras, ameixas pretas, figos secos e tâmaras; b) os damascos e as uvas passas claras

apresentaram baixa infecção fúngica; c) mais amostras de tâmaras devem ser analisadas por

terem apresentado alto nível de infecção por fungos toxigênicos do grupo A. niger/carbonarius

e A. ochraceus.

Referências bibliográficas

1. Klich MA, Pitt JI. A laboratory guide to common Aspergillus species and their Teleomorphs.

Sydney, Australia: CSIRO Division of Food Science and Technology; 1988.

2. Hocking AD, Pitt JI. Fungi and Food Spoilage. London: Blackie Academic & Professional;

1997.

3. Filtenborg O, Frisvald JC, Svendensen JA. Simple screening method for molds producing

intracellular mycotoxins in pure cultures. Appl. Environm. Microbiol. 1983; 45: 581-585.

4. Pittet A, Tornare D, Huggett A, Viani R. Liquid chromatographic determination of ochratoxin A

in pure and adulterated soluble coffee using an immunoaffinity column cleanup procedure. J.

Agric. Food Chem. 1996; 44: 3564-3569.

Endereço para correspondência: Marta H. Taniwaki; e-mail: [email protected]

INFORMAÇÕES online SOBRE

DOENÇAS DE TRANSMISSÃO HÍDRICA E ALIMENTAR DISPONÍVEIS NO INFORME NET DTA:

http://www.cve.saude.sp.gov.br/htm/dta_menu.htm

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ESTUDOS Aplicação das técnicas de "headspace" estático e cromatografia a gás com detector de massas (cg/ms) para extração e identificação de compostos orgânicos voláteis como contaminantes de alimentos, bebidas e águasa

Sabria Aued-Pimentel1; Miriam Solange Fernandes Caruso1 1Instituto Adolfo Lutz, São Paulo, Brasil. (a) Trabalho apresentado na I Mostra Estadual de Experiências Bem Sucedidas em Vigilância das Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar e Segurança de Alimentos (I EXPO-EPI DTA) e II Simpósio de Segurança Alimentar, em pôster, em 23 e 24 de setembro de 2002, no Centro de Convenções Rebouças, São Paulo, Capital.

Resumo

Certos compostos orgânicos têm grande aplicação industrial como combustíveis, solventes, tintas, etc. Devido às

diferenças de toxicidade e às suas características voláteis podem migrar de embalagens ou outras fontes,

contaminando alimentos, bebidas e águas. O objetivo deste trabalho é apresentar metodologia prática para extração e

identificação de compostos orgânicos voláteis contaminantes. Foram analisadas cinco amostras: duas de água, uma de

refrigerante, uma de pó para preparo de bolo e uma de chocolate, as quais apresentavam características sensoriais

alteradas. A extração dos voláteis foi feita através do auto-amostrador de “head-space” estático. Os compostos do

“head-space” foram injetados no cromatógrafo a gás com detector de massas. As identificações foram feitas por

comparação com os espectros de massa das bibliotecas do equipamento e com os padrões dos possíveis

contaminantes. Nas amostras de água, pó para bolo e refrigerante foram identificados compostos como xileno e

tolueno. No chocolate foi encontrado ciclohexanona (solvente utilizado em resinas vinílicas). A metodologia mostrou-se

rápida e eficaz para avaliação qualitativa da presença de compostos orgânicos voláteis nos produtos em estudo.

Palavras-chave: Contaminantes de alimentos; Embalagens; Compostos Orgânicos Voláteis; Segurança de

Alimentos.

Introdução

Certos compostos orgânicos voláteis como hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos,

álcoois, ésteres, éteres, cetonas, entre outros, têm grande aplicação na indústria como

combustíveis, solventes de resinas, tintas, vernizes, colas, pesticidas. Estes compostos, devido

às suas características voláteis e diferentes graus de toxicidade, podem migrar de embalagens

e de outras fontes, contaminando alimentos, águas e bebidas (1,2,3). São descritas na

literatura diversas técnicas de extração destes compostos, por exemplo: extração com

solventes, concentração em polímeros como Porapak ,emprego de sistema de “headspace”

dinâmico, “purge-and-trap", amostrador automático de “headspace”, para posteriormente serem

separados por cromatografia em fase gasosa (4,5,6,7,8). Na análise de alimentos as técnicas

de "headspace" estão sendo cada vez mais utilizadas como na caracterização de compostos

voláteis responsáveis pelo aroma e sabor (9,5), ou na identificação de compostos indicativos

de alteração dos alimentos, como compostos de oxidação de gorduras (7), além dos

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compostos voláteis contaminantes (4,8). No caso de contaminações com compostos orgânicos

voláteis em quantidades muito pequenas (partes por bilhão ou partes por trilhão), as

metodologias que envolvem concentração dos voláteis com extrações sucessivas destes são

as mais sensíveis (4,6,7).

O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma metodologia prática e rápida,

empregando a associação das técnicas de "headspace" estático (autoamostrador) e

cromatografia em fase gasosa com detetor de massas, para extração e identificação de

compostos orgânicos voláteis como contaminantes de alimentos, bebidas e águas, nos casos

em que a contaminação é perceptível através das alterações das características sensoriais do

produto.

Material e Métodos

Materiais: Foram analisadas cinco amostras: duas águas, um refrigerante, um pó para preparo de

bolo e um chocolate (ovo de páscoa). As amostras foram encaminhadas para análise por

apresentarem cheiro e outras características sensoriais alteradas.

O nível de detecção do método foi avaliado para certos compostos aromáticos voláteis.

Os padrões utilizados foram os seguintes: Benzeno (Merck), Tolueno (Sigma) e Xilenos (orto,

meta e para) (Merck). Partiu-se de uma solução de 1000mg/L de BTX em água

desmineralizada para o preparo de soluções mais diluídas.

Metodologia: Para análise dos compostos voláteis foi empregado um cromatógrafo a gás CG 17-A

com detector de massas GCMS–QP 5000, acoplado a um autoamostrador “head space” HSS-

4A, todos da marca Shimadzu. Todos os aparelhos foram gerenciados pelo software Class-

5000. As amostras foram transferidas para vials de 10 mL, preenchendo metade do volume

destes. O vial contendo cada amostra foi mantido a 90ºC por 15 minutos e a seringa de injeção

aquecida a mesma temperatura pelo aparelho automático de “head-space”. Foi programada a

injeção de 0,8 mL dos voláteis do “head-space” na coluna capilar com uma razão de divisão de

1:8.

Os componentes voláteis foram separados em coluna capilar de sílica fundida

Carbowax 20 M de 30 m, com 0,25 mm de diâmetro interno e 0,25 mm de espessura de filme.

As condições de operação da análise cromatográfica foram as seguintes: temperatura

programada da coluna 50ºC por 5 minutos, velocidade de aquecimento 5ºC /minuto até 160º C

mantido por 5 minutos; temperatura do injetor: 230ºC; Temperatura da interface 240ºC; gás de

arraste: hélio, com fluxo de 1,0 mL/minuto. A corrida com detector de massas foi feita na forma

scan, com tempo de aquisição de 0,60 a 42,0 minutos e corte do solvente em 0,50 minutos.

Faixa de massa: 40,00 a 350,00. Voltagem do filamento: 70 eV; voltagem do detetor: 1,3 KV.

Analisador do tipo quadrupolo. Em paralelo foram feitas análises em amostras com

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características sensoriais próprias de cada produto (padrão), quando disponíveis. Os

compostos foram identificados através de comparação com os espectros de massas das

bibliotecas do equipamento (NIST 12 e NIST 62), e de padrões dos possíveis contaminantes,

quando disponíveis.

Resultados

Na maioria das amostras foram separados diversos compostos orgânicos voláteis. A

Tabela 1 apresenta os prováveis contaminantes de cada amostra. Nas Figuras 1 , 2 , 3 e 4

temos os cromatogramas dos voláteis do “headspace” das amostras analisadas, com alguns

compostos identificados. Também são apresentados os cromatogramas, com os componentes

do “headspace”, de amostras de referência dos produtos. Em uma das amostras de água foram

identificados compostos característicos de gasolina.

Foram identificados hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos (xilenos e tolueno). Na

outra amostra de água os contaminantes identificados foram xilenos e tolueno. Esta amostra foi

coletada em uma caixa d'água, e provavelmente o solvente da resina impermeabilizante usada

naquela caixa, contaminou a água. No pó para preparo de bolo e no refrigerante de cola foram

identificados compostos derivados de petróleo tais como: xilenos (orto, meta e para), tolueno,

alcanos e cicloalcanos.

Na amostra de chocolate foi identificada uma cetona, ciclohexanona, que é um solvente

utilizado em resinas naturais, vinílicas entre outros. Foi feita análise, nas mesmas condições,

em uma amostra de chocolate do mesmo lote que apresentava odor característico. Foi

realizada a análise do “headspace” do artefato de plástico (brinquedo) que estava dentro do

ovo de páscoa de referência. Esta análise foi feita com aquecimento em estufa do boneco e os

voláteis do "headspace", injetados no cromatógrafo a gás com seringa gastight. Verificou-se a

presença de tolueno, xilenos e ciclohexanona. A contaminação do chocolate provavelmente

ocorreu a partir do artefato de material plástico, que estava dentro do ovo de páscoa, que deve

ter sofrido aquecimento possibilitando a migração daquele solvente para o produto.

Os compostos orgânicos voláteis aromáticos como tolueno, xilenos e principalmente o

benzeno, apresentam elevada toxicidade e quando inalados ou ingeridos podem causar

severos danos aos sistemas respiratório, digestivo e nervoso, além do benzeno apresentar

propriedades carcinogênicas comprovadas (1,2,3). O tolueno e os xilenos foram os compostos

mais encontrados nas amostras analisadas. O benzeno aparece sempre como contaminante

dos compostos acima citados.

Nas condições empregadas na análise o benzeno é eluído antes do tolueno e xilenos e

pode ter sido encoberto pelos outros compostos que saem no início da separação. Para estes

compostos foi avaliado o limite de detecção do método.

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Na avaliação foram monitorados os fragmentos de massa mais abundantes de cada

composto, isto é, para o benzeno m/z = 78, para o tolueno e os xilenos m/z = 91. O limite de

detecção nas condições empregadas no método foi de 500 ppb de BTX em água,

Tabela 1 - Compostos voláteis identificados na análise do “headspace” das amostras com odor alterado* AMOSTRA Água 1 Água 2 Refrigerante de

Cola Pó para o preparo de bolo

Chocolate (Ovo de Páscoa)

COMPOSTOS VOLÁTEIS IDENTIFICADOS*

Hidrocarbonetos alifáticos Hidrocarbonetos aromáticos: xileno, benzeno, tolueno, etilbenzeno, trimetilbenzeno

Xileno Tolueno

Xileno Tolueno Etilbenzeno Trimetilbenzeno

n-Hexano Metilciclopentano Tolueno

Ciclohexanona

* Estes compostos foram identificados por comparação com os espectros de massa das bibliotecas NIST 62 e NIST 12 (índice de similaridade), ou com os de padrões analisados nas mesmas condições cromatográficas das amostras.

Figura 1 – Cromatograma com alguns compostos identificados do “head-space” de: A) Amostra de água com cheiro alterado: 2) 1- Octene 4) Decano/2-metl decano 7) Tolueno 10)11)12) Xilenos 15) Etil benzeno 17) Propil benzeno 18)20)21)23) Trimetil benzeno/1 etil-2metil benzeno; B) Amostra de água com cheiro alterado: 2) Etanol 4) Tolueno 8)9) Xilenos 13)Etilbenzeno

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Figura 2 – Cromatogramas com alguns compostos identificados do “head-space” de: A) Amostra de refrigerante de cola com cheiro alterado: 6), 7), e 8) Xilenos; 9) Etilbenzeno; 10), 11) e 12) Trimetilbenzeno/Etilbenzeno. B) Amostra de refrigerante de cola padrão: 3) Beta-mircene; 5) D-Limoneno; 7) 4-Carene; 8) Alfa terpineol

Figura 3 – Cromatograma com alguns compostos identificados do “head-space” de: Amostra de pó para o preparo de bolo, com cheiro alterado: 2) n-Hexano; 3) Metilciclopentano/ etilciclobutano; 8) Tolueno

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Conclusões

A metodologia apresentada mostrou-se rápida, pois, em uma única etapa foram

extraídos os voláteis dos produtos. Economizou-se tempo, não foram empregados outros

equipamentos ou solventes para extração, evitou-se muita manipulação da amostra, o que

poderia acarretar perda dos compostos voláteis. O método foi eficiente para uma avaliação

Figura 4 – Principais compostos identificados do “head-space” de: A) Amostra de chocolate (ovo de Páscoa) com características sensoriais alteradas: 3) Ciclohexanona. B) Amostra de artefato de plástico contido no chocolate (ovo de páscoa de referência; 2) Tolueno; 3) e 4) Xileno; 6) Ciclohexanona. C) Amostra de chocolate (ovo de Páscoa) com características sensoriais próprias – referência.

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qualitativa da presença de compostos orgânicos voláteis em amostras sólidas e líquidas dos

produtos em estudo.

No caso dos compostos aromáticos como benzeno, tolueno e xilenos o limite de

detecção foi de 500 ppm da mistura de BTX em água. Na maioria dos casos, as amostras com

alterações foram enviadas pela Polícia ou Vigilância Sanitária, por terem causado ou poderem

causar algum dano a saúde do consumidor. A rápida identificação dos compostos tóxicos

encontrados nos alimentos, bebidas e águas, agiliza as providências a tomar em cada caso e,

principalmente, a definição dos tratamentos a serem adotados, no caso de intoxicações.

Referências bibliográficas

1. Budavari S.The Merck Index. An Encyclopedia of Chemicals, Drugs and Biological. 11th

edition. N.J - USA: Merck & Co; 1989, p.166, 426 , 1501,1590.

2. Larini L, Salgado PET. Compostos voláteis. In: Larini L. Toxicologia. 1º ed. Editora Mannoli,

1987. Cap..4, p 79-119.

3. Mik G. VOCs and occupational health. In: Bloemen HJTh., Burn J. Chemistry and analysis of

volatile organic compounds in the environment. U.K.: Chapman & Hall, 1993. Cap 7, p.268-280.

4. Gobato EAAF, Lanças FM. Comparação entre injeção na coluna ("on-column") e

"headspace" dinâmico na determinação de benzeno, tolueno e xilenos (BTX) em amostras de

água. Quim. Nova 2001; 24(2):176-179.

5. Janzanntti SN, Franco MRB, Lanças FM. Identificação de compostos voláteis de maça (Malu

domestica) cultivar Fuji, por cromatografia gasosa-espectrometria de massas. Ciênc.

Tecnol.Aliment. 2000; 20 (2): 164-171.

6. Kolb B, Ettre LS. Static headspace – gas chromatography theory and practice. N.Y.: Wiley-

VCH; 1997. 298 p.

7. Thompson DW. Determination of volatile organic contaminants in bulk oils (edible, injetable,

and other internal medicinal) by purge and trap gas chromatography/mass spectrometry.

J.A.O.A.C Int. 1994; 77(3):647-54.

8. Warner K, Elson T. AOCS collaborative study on sensory and volatile compound analyses of

vegetable oils. J. Am. Oil Chem. Soc. 1996; 73 (2): 157-166.

9. Amstalden LC, Leite F, Menezes HC. Identificação de voláteis de café através de

cromatografia gasosa de alta resolução/espectrometria de massas empregando um amostrador

automático de “headspace”. Ciênc.Tecnol.Aliment. 2001; 21(1):123-128.

Endereço para correspondência: Sabria Aued-Pimentel; e-mail: [email protected]

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REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 14

INVESTIGAÇÃO DE SURTO

Surto de diarréia no município de São Paulo, SP, Março de 2002*

Luciana Yonamine1 1Programa de Aprimoramento Profissional em Vigilância das Doenças de Transmissão Hídrica

e Alimentar – DDTHA/CVE

(*) Avaliação e comentários realizados pelo autor com base no Relatório de Investigação das

equipes de vigilância do município de São Paulo, enviado à DDTHA/CVE.

Resumo Produtos de origem animal, consumidos crus ou mal cozidos, são alimentos freqüentemente associados a surtos de

diarréia. Este informe resume os achados de uma investigação de um surto de diarréia envolvendo 29 pessoas, 26

delas doentes (Taxa de Ataque = 89,6%), ocorrido em 23.03.2002, no município de São Paulo, associado a um bolo

confeccionado com claras cruas.

Palavras-chave: Surtos de Doenças Transmitidas por Alimentos; Salmonella; Segurança de Alimentos.

Introdução Em 1 de abril de 2002, o Departamento de Inspeção Municipal de Alimentos, da

Secretaria Municipal de Abastecimento - DIMA/SEMAB, do município de São Paulo, notificou à

Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar – DDTHA, um surto de diarréia

envolvendo 29 pessoas, das quais 26 adoeceram, ocorrido em 23.03.02, semana

epidemiológica 14 (SE 14). O alimento suspeito eram dois bolos feitos com clara de ovos

adquiridos de uma doceria no município de São Paulo, um servido em uma festa realizada em

uma pizzaria no bairro do Cambuci, São Paulo, e o outro, servido em festa no local de trabalho

de um dos participantes, também no município de São Paulo.

Por ocasião desta comunicação, o DIMA/SEMAB realizou vistoria no local de produção

do bolo, observando condições inadequadas de higiene. Não colheu amostras do alimento,

pois não havia sobras do bolo. Foi coletada amostra dos ovos (matéria – prima) da empresa

que os fornece para a doceria para a realização de exames laboratoriais. Foi realizado também

inquérito epidemiológico entrevistando-se os doentes do surto. Este resumo tem como objetivo

divulgar os achados desta investigação, bem como, comentar as dificuldades e lacunas,

freqüentemente enfrentadas em investigações desta natureza. É finalidade também,

sistematizar os achados com vistas a divulgar a metodologia de investigação e incentivar as

equipes locais a enviarem seus comentários sobre suas investigações.

Métodos Este trabalho é um resumo feito a partir da análise do relatório final enviado pela

equipe de vigilância da DIMA/SEMAB do município de São Paulo, SP, e da discussão de casos

com a equipe que investigou o surto.

Page 15: revp04_vol4n1

REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 15

Resultados e Discussão O DIMA/SEMAB constatou que os bolos feitos com claras de ovos foram oferecidos no

dia 23.03.2002, à noite, em duas festas com 29 pessoas participantes no total. No primeiro

evento, ocorrido na pizzaria localizada no bairro do Cambuci, São Paulo, os alimentos

envolvidos foram o bolo e pizza. Já no segundo evento, realizado em comemoração a um

aniversário no serviço, somente o bolo foi consumido. Das 29 pessoas envolvidas, 26

adoeceram [Taxa de Ataque (TA) = 89,6%]. Todas as 29 pessoas foram entrevistadas.

Com base nos dados enviados verifica-se a seguinte distribuição dos pacientes

segundo os sintomas apresentados (Tabela 1):

Tabela 1 - Distribuição dos pacientes segundo os sintomas apresentados, surto de diarréia no

município de São Paulo, março de 2002

Sintomas Número % Diarréia 25 96,1

Cólica e dor abdominal 14 53,8 Febre 17 65,4

Mal estar 16 61,5 Vômitos 15 57,7 Cefaléia 18 69,2 Náuseas 14 53,8

Dor muscular 18 69,2 Dor de estômago 16 61,5

Meteorismo 14 53,8

Fonte: DIMA/SEMAB (Formulário 5 - Relatório de Investigação de Surto de DTA)

O período mediano de incubação foi de 36 horas, variando de 11 a 84 horas.

A distribuição dos casos segundo a faixa etária foi a seguinte (Tabela 2):

Tabela 2 – Distribuição dos casos segundo a faixa etária e Coeficientes de Incidência

FAIXA ETÁRIA N º CASOS % N º COMENSAIS

COEF. INC.

(%) < 1 ano 0 0,0 0 0,0

5 a 9 anos 0 0,0 0 0,0 10 a 19 anos 2 7,7 2 100,0 20 a 49 anos 19 73,1 22 86,4 50 a e mais 5 19,2 5 100,0

Total 26 100,0 29 89,6

Fonte: DIMA/SEMAB (Formulário 02 CVE - Inquérito Coletivo de Surto de DTA)

A distribuição dos casos segundo o sexo foi a seguinte (Tabela 3):

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REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 16

Tabela 3 – Distribuição dos casos segundo o sexo e Coeficientes de Incidência

Fonte: DIMA/SEMAB (Formulário 02 CVE - Inquérito Coletivo de Surto de DTA)

Todos os participantes consumiram o bolo. Neste episódio, não foi possível coletar

amostras de fezes dos doentes.

Foi realizada uma inspeção no estabelecimento comercial que vendeu o bolo de clara

de ovos, e segundo os relatórios da vigilância, o local de produção apresentava condições de

higiene insatisfatórias, sem lavatório próprio para a lavagem e desinfecção das mãos.

Observou-se que os alimentos processados, como salgadinhos, permaneciam em temperatura

ambiente na área de vendas sem o devido aquecimento ou refrigeração. Foram coletadas

amostras de fezes dos funcionários da doceria, encontrando-se Enterobacter, Klebsiella sp,

Proteus sp., Giárdia sp e Iodamoeba bustchli . O exame microbiológico de ovos “in natura“ de

amostras colhidas da granja fornecedora foi negativo para Salmonella sp.

No relatório final o bolo com clara de ovos, sem identificação do patógeno envolvido, foi

considerado a causa provável do surto de diarréia.

Conclusões e comentários

Considera-se um surto de origem alimentar, quando dois ou mais casos de doença

semelhante, estão relacionados entre si no tempo e no espaço, e são devido a uma exposição

comum, isto é, ingeriram um alimento comum, suspeito de conter microorganismos

patogênicos, toxinas ou venenos.

A notificação tardia é um dos obstáculos ao levantamento de dados mais precisos

sobre produtos consumidos, e principalmente, porque dificulta a coleta de amostras clínicas de

pacientes em tempo oportuno para a detecção do agente etiológico responsável pelo surto.

Outro importante problema é a não solicitação de coproculturas pelos médicos aos seus

pacientes, quando ainda internados e com história alimentar comum, participantes de surto, o

que indica a necessidade de conscientização dos médicos em relação às doenças transmitidas

por alimentos.

O alimento suspeito nesse surto era um bolo feito com claras cruas, provavelmente

contaminadas com Salmonella Enteritidis (SE), agente causador compatível com o quadro

clínico encontrado entre os pacientes. Porém, não foram coletadas amostras de fezes de

pacientes e nem foi possível a análise de sobras do bolo.

SEXO N º CASOS % N º COMENSAIS

COEF. INC.

% Feminino 20 76,9 22 91,0 Masculino 6 23,1 7 86,0

Total 26 100,0 29 89,6

Page 17: revp04_vol4n1

REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 17

A prevalência de SE em ovos é extremamente baixa (1/20 mil ovos), tornando-se difícil

sua identificação quando um número pequeno de ovos é analisado, lembrando-se ainda que os

ovos analisados não são os utilizados no preparo.

Define-se como critério de confirmação de etiologia por testes laboratoriais, na

literatura internacional, para surtos provocados por Salmonella, o isolamento de organismo do

mesmo sorotipo em espécimes clínicas de dois ou mais doentes ou o isolamento do organismo

no alimento epidemiologicamente implicado. Ainda que o quadro clínico e período de

incubação sejam compatíveis com o provocado pela referida bactéria, e hemogramas de outros

pacientes indicarem infecção bacteriana, a síndrome clínica e o período de incubação não são

critérios suficientes para a confirmação de determinados agentes.

Este tem sido um grande problema que dificulta o esclarecimento de surtos quanto a

sua etiologia - a falta de coleta ou a coleta de um número pequeno de amostras de fezes dos

participantes de um surto. Recomenda-se que sejam coletadas amostras de, no mínimo, 10

pessoas doentes, envolvidas no surto para os testes bacterianos.

Não foi feito um estudo epidemiológico com rigor, por ex., um estudo de coorte, que

permitisse identificar os vários fatores de risco, isto é, todas as exposições a que esse grupo de

pessoas se submeteu. A hipótese mais provável, o bolo de clara crua, não foi efetivamente

testada ovos como o alimento causador do surto.

A investigação epidemiológica em questão, apesar de lacunas e da dificuldade em se

estabelecer concretamente o diagnóstico etiológico, chama a atenção para os produtos feitos

com ovos crus, para o perigo de hábitos e culinárias que utilizam produtos de origem animal

sem cozimento, e para a necessidade de maior conscientização dos médicos em relação à

importância da coleta de exames e da notificação imediata à vigilância epidemiológica quando

da ocorrência de surtos devido a alimentos.

Caso você queira acrescentar ou corrigir algum dado sobre este surto ou comentar

aspectos deles escreva para [email protected], indicando no e-mail, em Assunto:

“Comentários para o REV NET DTA“.

Bibliografia consultada

1. CDC. Recommendations for Collection of Laboratory Specimens Associated with Outbreaks

of Gastroenteritis. MMWR, 39(RR-14);1-13, Oct. 26, 1990. Available at

http://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/001829.htm

2. CDC. Appendix B - Guidelines for Confirmation for Foodborne Disease Outbreaks. MMWR,

45(SS-5);58-66, Oct. 25 1996. Available at

http://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/0044239.htm

3. CVE. Informe Net DTA - surtos de DTA de 1995 a 2001. DDTHA/CVE/SES-SP. São Paulo,

Brasil, 2002. Disponível em http://www.cve.saude.sp.gov.br , em doenças transmitidas por

alimentos, dados estatísticos.

Endereço para correspondência: [email protected]

Page 18: revp04_vol4n1

REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 18

COMUNICAÇÃO

A notificação de casos suspeitos de botulismo e a identificação de outras causas – reação adversa ao celecoxib, São Paulo, Brasil – Dezembro de 2002

Maria Bernadete de Paula Eduardo1; Monica T. R. Conde2

1Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar, Centro de Vigilância Epidemiológica

Secretaria de Estado da Saúde, São Paulo, Brasil; 2Centro de Controle de Doenças, Secretaria

Municipal de Saúde de São Paulo, São Paulo, Brasil.

Resumo A ênfase na vigilância de doenças de transmissão alimentar permite identificar outras causas, neste caso, reação

adversa a medicamentos. Este resumo tem como objetivo o relato de um caso notificado primeiramente como suspeita

de botulismo, confirmando-se posteriormente tratar-se de reação adversa ao celecoxib, o primeiro registro de reação

adversa com sintomas neurológicos por esse medicamento no estado de São Paulo.

O programa de vigilância do botulismo no estado de São Paulo vem sendo priorizado

entre a vigilância das doenças transmitidas por alimentos. Foram promovidos nestes dois

últimos anos vários treinamentos para médicos neurologistas, clínicos e outras especialidades,

bem como elaborado material técnico e educativo para melhorar o diagnóstico e aumentar a

taxa de notificação de paralisias flácidas, como forma de identificar o botulismo.

Desde 1999, um total de 44 casos suspeitos de botulismo, de vários Estados do Brasil,

foi notificado ao Centro de Referência do Botulismo (CR BOT); destes, 14 foram confirmados

(32%). Os demais diagnósticos, descartados para botulismo, foram: quatro intoxicações por

organofosforados, um por desordens neurovegetativas, uma miocardite, seis Síndromes de

Guillain Barré (uma delas, Síndrome de Müller Fisher), uma reação adversa à metoclopramida,

um acidente vascular cerebral, uma myastenia gravis, dois por intoxicação com óleo de rícino

(droga popular para constipação intestinal), uma paralisia de Bell, um comensal de surto de

botulismo sem sintomas e 11 sem diagnóstico elucidado.

Este informe resume os achados da investigação de um caso notificado com suspeito

de botulismo, com paralisia flácida de nervos cranianos, descendente e simétrica, ocorrido no

município de Barueri, SP, e internado em hospital do município de São Paulo, identificado na

investigação epidemiológica como uma reação adversa ao medicamento celecoxib,

representando o primeiro registro de reação adversa deste medicamento com sintomas

neurológicos, notificado e investigado no estado de São Paulo, Brasil.

Page 19: revp04_vol4n1

REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 19

A investigação

Em 30 de dezembro de 2002, um paciente de 56 anos de idade, sexo masculino, com

início de sintomas em 27 de dezembro foi internado em um hospital na cidade de São Paulo

com ptose palpebral bilateral, disfagia, disartria, midríase, flacidez de pescoço, dispnéia,

paralisia flácida de membros superiores e inferiores progredindo em cerca de sete horas após

a admissão ao hospital para insuficiência respiratória e parada cardíaca, necessitando de

ventilação mecânica.

As hipóteses diagnósticas iniciais foram polirradiculoneurite, intoxicação por

organofosforados, neuropatia diftérica, myastenia gravis, botulismo, distúrbio hidro-eletrolítico,

encefalomielite aguda e acidente vascular cerebral. Testes com prostigmine para myastenia

gravis foi negativo; fluido cerebrospinal: proteina total 39 mg/dl; células 1/mm3; ressonância

magnética normal; testes de dosagem de colinesterase mostraram níveis baixos fazendo os

médicos pensarem em intoxicação por organofosforados.

O botulismo foi aventado no segundo dia de início dos sintomas quando o hospital

notificou a suspeita ao CR BOT requerendo orientações quanto à aplicação da antitoxina

botulínica e para coleta de espécimes clínicas para os testes laboratoriais específicos.

Amostras de soro e fluido gástrico do paciente foram coletadas em 30 de novembro e enviadas

ao Instituto Adolfo Lutz.

O paciente relatava diarréia intermitente há 15 dias, a qual agravou em 25 de

dezembro, depois da ingestão de um tender assado na ceia de Natal. Uma de suas filhas tinha

apresentado também diarréia neste período. O paciente ingeria, com freqüência, presunto,

salsichas e conservas de vários tipos, fazendo suas refeições fora de casa devido à sua

profissão. Tinha antecedentes de Síndrome de Guillain Barré quatro anos atrás e hipertensão

arterial.

A vigilância epidemiológica durante a investigação no hospital constatou por meio de

informação do medico assistente que durante a entubação foi observado edema de glote

intenso o qual impedia a introdução do tubo, tendo sido necessária uma traqueotomia. Diante

dos sinais de anafilaxia - edema de glote, a aplicação do soro antibotulínico foi contraindicada,

antes mesmo do resultado dos testes específicos.

Os resultados dos testes foram negativos para botulismo, assim como negativos os

resultados de outros testes para a identificação de causas infecciosas do quadro de Guillain

Barre. Informações prestadas pela família de que o paciente havia iniciado tratamento com

celecoxib, três dias antes do início dos sintomas neurológicos apresentados, levaram à

hipótese de reação adversa medicamentosa.

Recebeu como tratamento: plasmaférese, drogas vasoativas, ventilação mecânica e

todo suporte necessário a um paciente de UTI.

Todas as hipóteses diagnósticas foram exaustivamente investigadas pelo hospital

estabelecendo-se como diagnóstico final - Polirradiculoneurite/Síndrome de Guillain Barré por

reação ao celecoxib. O paciente permaneceu internado por 47 dias até receber a alta.

Page 20: revp04_vol4n1

REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 20

Em 02.01.03, a DDTHA/CVE notificou os órgãos de vigilância sanitária estadual

(CEATOX/CVS) e federal (ANVISA) sobre o episódio. Tais órgãos relataram que não havia

registros de acidentes associados ao medicamento, no estado de São Paulo e em todo o

Brasil.

A ANVISA nos enviou relatório do Centro de Monitoramento de Medicamentos da OMS

com o registro de 14.963 notificações de acidentes associados ao celecoxib, no período de

1997 a 2001, inclusive sintomas neurológicos e anafilaxia semelhantes aos apresentados pelo

paciente.

Conclusões

Reações adversas a medicamentos devem ser pensadas como hipóteses diagnósticas

em quadros neurológicos semelhantes a botulismo ou outras doenças alimentares. O objetivo

deste informe foi também o de alertar os médicos sobre essas reações relacionadas ao uso do

celecoxib, bem descritas na lista da Organização Mundial de Saúde, e não estão mencionadas

na bula brasileira.

Bibliografia consultada 1. Organização Mundial da Saúde (OMS). Centro de Monitoramento de Medicamentos.

Relatório de Reações Adversas – Notificações do Celecoxib, 1997-2001 (documento técnico).

Genebra: OMS; 2001.

2. GD Searle & CO. CELEBREX. (bula), 2003.

3. Pharmacia/Pfizer. CELEBRA.(bula), 2003.

4. Centro de Vigilância Epidemiológica. Manual de Botulismo – Orientações para Profissionais

de Saúde. São Paulo: Secretaria de Estado da Saúde; 2002.

____________________________________________________________________________

Política Editorial

A Revista Eletrônica de Epidemiologia das Doenças Transmitidas por Alimentos - REVNET DTA tem como

objetivo promover o desenvolvimento e a divulgação de estudos e a compreensão de fatores envolvidos na

transmissão de doenças veiculadas por alimentos e, assim, contribuir para sua prevenção, redução ou eliminação.

Com um escopo voltado para a epidemiologia, vigilância e clínica das doenças infecciosas veiculadas por alimentos

(incluída a água), são aceitas as contribuições de profissionais de saúde pública, da economia, demografia, ciências

sociais e outras disciplinas, da universidade, da área médica, da indústria e comércio, etc.. Dúvidas sobre a adequação

de artigos propostos podem ser dirimidas junto ao Editor nos telefones 55 11 3081-9804, 55 11 3066-8258 (Fax) ou por

e-mail: [email protected].

A Revista Eletrônica de Epidemiologia das Doenças Transmitidas por Alimentos - REVNET DTA é publicada em

português e inglês e destaca os seguintes tipos de artigos: resultados de estudos/pesquisas de natureza empírica,

observacional, experimental ou conceitual, revisões históricas e políticas, discussão de casos (p. ex., investigação de

surtos), estatísticas epidemiológicas, comentários, notas científicas e outros eventos. Propósitos e requisitos para cada

tipo de artigo seguem descritos, em detalhe, abaixo. Informações sobre a aceitação e publicação serão enviadas por

fax aos autores, tão breve quanto sejam resolvidas e editadas.

Page 21: revp04_vol4n1

REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 21

INVESTIGAÇÃO DE SURTO Surto de Hepatite A no município de Campos do Jordão, SP, 2002-2003 Maria Lúcia Vieira da Silva César1; Nídia Pimenta Bassit2

1Programa de Aprimoramento Profissional em Epidemiologia das Doenças Transmitidas por Alimentos, convênio FUNDAP/CVE-SES/SP, São Paulo, SP, Brasil; 2Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar, Centro de Vigilância Epidemiológica, Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, SP, Brasil.

Resumo

A hepatite A é uma doença de início abrupto caracterizada por febre, mal estar, anorexia, náusea, desconforto

abdominal com aparecimento de icterícia em poucos dias. Muitas infecções são assintomáticas, anictéricas ou leves,

especialmente em crianças, e diagnosticadas apenas por testes laboratoriais. Transmitida por via fecal-oral, a doença é

distribuída largamente em todo o mundo, e sua ocorrência pode ser esporádica ou epidêmica, com a tendência a ciclos

recorrentes. Em países em desenvolvimento, os adultos são usualmente imunes, pois foram acometidos na infância,

expostos às precárias condições de saneamento, com quadros, em geral assintomáticos Com a melhoria de medidas

sanitárias em muitas partes do mundo, observou-se que os adultos jovens tornaram-se suscetíveis e o número de

surtos vem aumentando. A transmissão da doença em crianças que freqüentam creches tem sido comum e, a partir

delas, ocorre transmissão para seus contatos domiciliares. As epidemias evoluem, em geral, lentamente, em regiões

desenvolvidas, envolvendo grandes áreas geográficas e persistindo por muitos meses. Este informe tem por objetivo

resumir os achados da investigação dos casos de hepatite A identificados em Campos do Jordão, SP, relacionados a

um surto associado ao consumo de água contaminada proveniente de minas e fontes.

Palavras-chave: Hepatite A; Surto de Hepatite A; Vigilância Epidemiológica.

Introdução

A hepatite A é uma doença de início abrupto caracterizada por febre, mal estar,

anorexia, náusea, desconforto abdominal com aparecimento de icterícia em poucos dias. O

quadro pode ser leve, com duração de 1 a 2 semanas, ou mais grave, podendo, ainda que

mais raro, durar meses. A convalescença pode ser prolongada. A gravidade da doença, em

geral, está relacionada à idade mais avançada, porém, frequentemente o curso é benigno, sem

seqüelas ou recorrências. Muitas infecções são assintomáticas, anictéricas ou leves,

especialmente em crianças, e diagnosticadas apenas por testes laboratoriais. Indivíduos com

hepatopatias crônicas apresentam maior risco de desenvolvimento de hepatite fulminante (1).

A hepatite A é causada por um vírus RNA, de 27 nm de diâmetro; possui um único

sorotipo, sendo classificado como Hepatovirus e membro da família Picornaviridae. Transmitida

por via fecal-oral, a doença é distribuída largamente em todo o mundo, e sua ocorrência pode

ser esporádica ou epidêmica, com a tendência a ciclos recorrentes. Em países em

desenvolvimento, os adultos são usualmente imunes, pois foram acometidos na infância,

expostos às precárias condições de saneamento, com quadros, em geral assintomáticos (1).

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REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 22

Com a melhoria de medidas sanitárias em muitas partes do mundo, observou-se que

os adultos jovens tornaram-se suscetíveis e o número de surtos vem aumentando. A

transmissão da doença em crianças que freqüentam creches tem sido comum e, a partir delas,

ocorre transmissão para seus contatos domiciliares. As epidemias evoluem, em geral,

lentamente, em regiões desenvolvidas, envolvendo grandes áreas geográficas e persistindo

por muitos meses (1,2).

Viajantes de áreas de baixa circulação do vírus podem se infectar quando vão para

áreas onde a doença é endêmica. Epidemias por fonte comum podem evoluir explosivamente.

Mais recentemente, observam-se surtos freqüentes em comunidades abertas, sendo a água,

ou alimentos contaminados por manipuladores, as principais fontes de transmissão (1,2).

Durante o ano de 2002, a Vigilância Epidemiológica do município de Campos do

Jordão, SP, identificou uma elevação do número de casos de hepatite A, o que a levou a

monitorar e investigar a razão desse aumento. O surto provavelmente iniciou em 8 de março de

2002 (primeiro caso identificado) e terminou em 22 de setembro de 2003 (último caso

registrado), perfazendo um total de 284 casos, 112 ocorridos em 2002 e 172 no ano de 2003.

Campos do Jordão é uma cidade turística, montanhosa, de clima frio, localizada no

estado de São Paulo, a 167 km da capital São Paulo, com uma população residente em torno

de 46.000 habitantes (Fonte IBGE: 2002 e 2003). Em temporada de férias e feriados

prolongados a população aumenta sobremaneira. Este informe tem por objetivo resumir os

achados da investigação dos casos de hepatite A identificados em Campos do Jordão, SP,

relacionados a um surto associado ao consumo de água contaminada proveniente de minas e

fontes.

Métodos

Este trabalho foi realizado com base na análise, sistematização e reagrupamento dos

dados de relatórios de investigação das equipes de vigilância epidemiológica do município de

Campos de Jordão e da Regional de Saúde DIR 24 – Taubaté. Os casos identificados por

testes laboratoriais (sorologia e exames bioquímicos) e clínica compatível foram entrevistados

pela equipe local de vigilância epidemiológica com vistas a identificar uma fonte comum de

transmissão entre eles.

Resultados e Discussão

O surto, provavelmente, iniciou-se em 8 de março de 2002, com o aparecimento da

doença em um rapaz de 21 anos, e se encerrou com o último caso registrado na cidade em 22

de setembro de 2003, perfazendo um total de 284 casos, 112 no ano de 2002 (Taxa de

incidência = 24,5/10 mil habitantes) e 172 no ano de 2003 (Taxa de incidência = 37/10 mil

Page 23: revp04_vol4n1

REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 23

habitantes), dos quais, 131 (46%) foram confirmados por sorologia, e os demais por exames

bioquímicos e clínica compatível. A maior elevação de casos pode ser observada entre o mês

de novembro de 2002 e março de 2003, correspondendo a 63% dos casos (Figura 1).

05

101520253035404550

Jan

MarMaio Ju

lSet Nov Ja

nMar

Maio Jul

Set Nov

Mês de Ocorrência

Núm

ero

de C

asos

As faixas etárias mais acometidas foram as de 5 a 9 anos e de 1 a 4 anos de idade

(Figura 2), representando 67% do total de casos; 51% eram do sexo feminino.

0

5

10

15

20

25

30

< 1a 1 - 4a 5 - 9a 10 -14a

15 -19a

20 -24a

25 -29a

30 -34a

35 -39a

40 -64a

Anos de idade

Cas

os p

or a

no d

e id

ade

Os bairros de residência com a maior concentração de casos foram: Vila Albertina, Vila

Santo Antonio, Vila Sodipe e Monte Carlo, os quatros juntos representando 45% de todos os

casos no ano de 2003; observou-se, contudo, registro de casos em 46 bairros do município.

Figura 1 – Curva epidêmica: Surto de Hepatite A no município de Campos de Jordão, 2002-2003 (N= 284 casos)

Figura 2 – Histograma de distribuição dos casos do surto de Hepatite A por ano de idade, Campos do Jordão, 2002-2003

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REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 24

No ano de 2002, 20 estabelecimentos de convivência ou de estudo de crianças,

creches e escolas, apresentaram casos. Destaca-se a creche do bairro de Vila Santa Cruz,

com 31 casos, correspondendo a 28% de todos os casos registrados no ano de 2002, com

surto iniciado em 14/10/2002 e término em 16/1/2003 (mais 2 casos).

No ano de 2003, 46 locais de convivência e estudo registraram casos, 10 deles com o

início da doença no ano de 2002. As maiores proporções de casos foram apresentadas por

creches ou escolas nos bairros de Fracalanza (5% do total de casos) e de Vila Sodipe (4% do

total).

Dos fatores de risco identificados, comuns entre os doentes, destaca-se o consumo de

água de minas e fontes, pelos moradores e por várias creches de bairros com nível sócio-

econômico mais baixo.

Segundo a vigilância sanitária, como conclusão de suas inspeções ambientais, trata-se

de problema de saúde pública, mais especificamente de saneamento, uma vez que havia

descarga de esgoto não tratado no rio Capivari, que corta a cidade, contribuindo para a

contaminação dessas minas e fontes.

Essa constatação levou à hipótese de que o surto teria se iniciado a partir do consumo

de água de minas e fontes contaminadas. Por sua vez, a curva epidêmica do surto sugere

também uma infecção propagada, isto é, uma via de transmissão pessoa-a-pessoa

contribuindo dessa forma, para a manutenção do surto por tempo prolongado. Não foi feito um

estudo de caso-controle para comprovação dessas hipóteses e elucidação epidemiológica dos

fatores de risco envolvidos no surto.

Conclusões

A investigação epidemiológica mostrou que a elevação de casos de Hepatite A no

município de Campos do Jordão foi de fato um surto, afetando, principalmente, crianças em

creches e escolas. Responsáveis pela Prefeitura de Campos do Jordão e órgãos estaduais de

saneamento e meio ambiente, em conjunto com as vigilâncias local e regional, mobilizaram-se

para a realização de análises das águas e medidas para solução dos problemas,

principalmente, quanto à extensão da rede de esgoto e identificação de estabelecimentos que

jogam dejetos nos rios.

Medidas imediatas como profilaxia da doença, por meio da administração de

imunoglobulina em todos os comunicantes dos casos, foram recomendadas para controlar e

prevenir novos casos, bem como, foi proposto vacinação contra a doença em locais onde as

ações de saneamento exigissem maior tempo para implantação. Orientações e educação

sanitária junto à população, creches e escolas foram desencadeadas com vistas a impedir o

consumo de água de minas e fontes contaminadas e sobre as formas de prevenção em geral

da doença.

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REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 25

Referências bibliográficas 1. Abram S. Benenson (Editor). Control of Communicable Diseases Manual. 16 th Edition,

Washington DC: American Public Health Association; 1995.

2. CVE. Informe Net DTA – Hepatite A. DDTHA/CVE/SES-SP. São Paulo, Brasil, 2002.

Disponível em http://www.cve.saude.sp.gov.br , em doenças transmitidas por alimentos,

doenças.

3. FDA/CFSAN Bad Bug Book – Hepatitis A. Internet http://www.fda.gov

4. Focaccia R. Hepatites Virais. In: Veronesi, R. & Focaccia R. Tratado de Infectologia.

São Paulo: Ed. Atheneu; 1996, p. 286-288.

5. Bell BP, Margolis HS. Hepatitis A vaccine for secondary hepatitis infection

(correspondence). The Lancet 1999; 354:341.

6. Beutels P, Van Damme P. Hepatitis A vaccine for secondary hepatitis infection

(correspondence). The Lancet 1999; 354:340-341.

DADOS ESTATÍSTICOS Botulismo - Casos confirmados notificados ao CVE, segundo local de ocorrência e outras variáveis epidemiológicas, Estado de São Paulo e Brasil, 1997-2003 Nº Idade Sexo Local de UF Data Aplic. Diagnóstico Tipo Alimento EvoluçãoOrd. Ocorrência Início Anti- Final de Suspeito Do Sintomas toxina Toxina Implicado Caso

1 21ª. F Santos SP 16/2/1997 Sim Botulismo A Conserva Palmito Ind. Alta

2 43ª. F São Paulo SP 27/10/1998 Sim Botulismo A Conserva Palmito Ind. Alta

3 16ª. F Mogi das Cruzes SP 24/3/1999 Sim Botulismo A Conserva Palmito Ind. Alta

4 31ª. M Goiânia GO 19/4/1999 Sim Botulismo (Clínica compatível) Negativo

Hamburguer milho e picles Óbito

5 32ª. M Goiânia GO 4/12/2000 Sim Botulismo (Clínica compatível) Negativo

Jurubeba em conserva Alta

6 20ª. M São Paulo SP 3/2/2001 Sim Botulismo Não Identif.

Refeições comerciais fora de casa Alta

7 15ª. F Goiânia GO 20/9/2001 Não Botulismo (Cínica compatível) Negativo

Carne suína e jurubeba (?) Alta

8 14ª. F Goiânia GO 5/9/2001 Sim Botulismo (Clínica compatível) Negativo

Carne suína e jurubeba (?) Alta

9 36ª. F Goiânia GO 5/9/2001 Não Botulismo (Clínica compatível) Negativo

Carne suína e jurubeba (?) Alta

10 14ª. M Campinápolis MT 6/2/2002 Não Botulismo A Carne de porco em conserv caseira Alta

11 14ª. F Campinápolis MT 6/2/2002 Não Botulismo A Carne de porco em conserv caseira Alta

12 7a. M Campinápolis MT 6/2/2002 Não Botulismo A Carne de porco em conserv caseira Óbito

13 8a. F Campinápolis MT 6/2/2002 Não Botulismo A Carne de porco em conserv caseira Óbito

14 63ª. M Tinguá CE 10/6/2002 Não Botulismo A Patê de fígado caseiro Alta

15 9a. M São Paulo SP 19/9/2002 Sim Botulismo por ferimento A Não Alta

16 39ª. M Belo Horizonte MG 13/10/2002 Sim Botulismo A

Vários (palmito, cogumelos, embutidos) Alta

17 6a. M Feira de Santana BA 23/2/2003 Não Botulismo leve A e B Embutidos (chouriço e mortadela ind.) Alta

18 NI M Feira de Santana BA 4/2/2003 Não Botulismo (Clínica compatível) NR

Embutidos (chouriço e mortadela ind.) Óbito

Fontes: CR BOT/Central CVE; DDTHA/CVE; IAL/SES-SP

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RELATÓRIO DE ATIVIDADES Atividades desenvolvidas pela Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar – DDTHA/CVE-SES/SP, Ano de 2003

Missão

Promover a saúde através da prevenção e controle de doenças/agravos transmitidos

por água e alimentos (Doenças Diarréicas e demais síndromes) sob notificação obrigatória,

exercendo a vigilância e construindo sua epidemiologia para o desencadeando de medidas, em

ações colaborativas e integradas a diversas instituições de interesse na área como vigilância

da água e de alimentos, e do meio ambiente, bem como com a assistência médica (ações

programáticas de atendimento à doença e grupos populacionais).

Produto

Redução das doenças/agravos e controle dos fatores de riscos visando promover a

segurança de alimentos e de água e/ou outras vias envolvidas na transmissão.

Áreas de atuação

•Quem é a Divisão:

– uma equipe multidisciplinar com formação em epidemiologia com o objetivo de

coordenar as atividades de pesquisa e vigilância das doenças que conta com uma equipe

fixa de 6 médicos, 2 enfermeiros e 1 auxiliar administrativo. Conta também uma equipe

flutuante de 3 a 5 estagiários de medicina, medicina veterinária e outras áreas afins,

provenientes de cursos de especialização, aprimoramento profissional em Epidemiologia

das Doenças Transmitidas por Alimentos/Água e Residências Médicas de Medicina

(Preventiva, Pediatria, Infectologia e outras áreas de interesse).

•Sistemas de informação:

Está sob a responsabilidade desta Divisão a coordenação do Sistema de Vigilância das

Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar, composto de 4 sub-sistemas, conforme abaixo:

1. Monitorização de Doenças Diarréicas Agudas: sistema implantado em unidades

sentinelas do estado de São Paulo, desde 1999, com vistas à prevenção e detecção precoce

de surtos. Trata-se de um sistema de alerta de epidemias e surtos, principalmente para o

controle de doenças de alto potencial de alastramento (p. ex., Cólera).

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2. Investigação de Surtos de Doenças Transmitidas por Água e Alimentos: com

base na notificação de casos envolvidos em surtos, feita por médicos, hospitais, laboratórios,

população, etc., permite conhecer, através da investigação epidemiológica os fatores

envolvidos na transmissão, o comportamento do agente etiológico e indicadores para o

controle de prática inadequadas envolvidas na cadeia de produção alimentar e da água e

outros fatores de risco à saúde da população.

3. Doenças Especiais de Notificação Compulsória: vigilância do Botulismo

(referência técnica para todo o Brasil), Cólera, Doença de Creutzfeldt-Jakob - DCJ (como alerta

para a variante da DCJ - vDCJ), Esquistossomose (incorporada recentemente), Febre Tifóide,

Paralisia Flácida Aguda/Polio, Síndrome Hemolítico-Urêmica (modelo piloto nacional e

internacional).

4. Vigilância Ativa - busca ativa de casos em laboratório e inquéritos epidemiológicos,

realizada através de inquéritos e pesquisas pontuais, bem como, do estudo de

genotipos/subtipos de patógenos (biologia e epidemiologia molecular) para aumentar a

capacidade de detecção de surtos onde a investigação epidemiológica clássica não conseguiu

estabelecer a relação entre os casos.

Um monitoramento ambiental realizado pela CETESB está integrado às atividades

destes subsistemas, através da análise ambiental dos seguintes patógenos: Vibrio cholerae,

Poliovírus e outros enterovírus e parasitas (Cryptosporidium e Giardia).

•Principais ações de Vigilância Epidemiológica desenvolvidas: No ano de 2003 foram realizadas as seguintes principais atividades:

1. Monitorização da Doença Diarréica Aguda/Vigilância da Diarréia: programa

implantado em 20 das 24 Regionais de Saúde (DIR) e seus respectivos municípios (quase 500

municípios ao todo) permitiu o monitoramento, de janeiro 2003 até o presente, de cerca de 300

mil casos de doença diarréica aguda e o conhecimento de seu perfil da diarréia, com detecção

precoce de surtos - cerca de 40% do total de surtos no estado, foram detectados pelo

programa de MDDA. Várias ações vem sendo desencadeadas a partir da análise semanal dos

gráficos de tendência da doença, sendo que em algumas regiões, houve a participação direta

da equipe técnica investigando surtos detectados através da MDDA (ex. DIR III - investigação

do tipo caso-controle nos municípios de Assis, Palmital, Paraguaçu Paulista e orientações para

os demais municípios com picos epidêmicos de diarréia). Implementação da Vigilância da

Diarréia Sanguinolenta dentro do Programa de MDDA com a notificação de cerca de 500

casos.

2. Na Vigilância de Surtos de Doenças Transmitidas por Água e Alimentos: assessoria técnica a municípios e DIRs para melhoria das investigações de surtos de doenças

transmitidas por água e alimentos, objetivando a melhoria de notificação e maior precisão na

metodologia de investigação. Foram registrados no ano de 2003 (dados ainda preliminares)

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148 surtos com cerca de 4500 casos (140 de diarréia de várias etiologias, incluídos os de

Rotavírus, e 8 por Hepatite A). Entre os surtos, 141 estão encerrados (relatórios enviados com

medidas tomadas), 40,4% por meio de confirmação laboratorial e 59,6% por critério clínico-

epidemiológico. Rastreamentos são feitos periodicamente e principalmente em laboratórios

públicos e nos IALs, visando a detecção de outros surtos, eventualmente não notificados pelos

municípios ou pelos laboratórios. Estes rastreamentos permitiram aumentar, nos anos

anteriores, em mais 50% o número de surtos no sistema. Em ações conjuntas com a vigilância

sanitária (CVS, ANVISA), e outros órgãos do governo como CETESB, SABESP, Agricultura, e

com os próprios municípios, medidas foram tomadas, em função das causas detectadas, como

ações de melhoria de saneamento (p. ex. esgoto em Campos do Jordão, ou da água em vários

municípios, melhoria de procedimentos nas creches, elaboração em andamento de nova

legislação para os ovos - prevenção da doença por Salmonella Enteritidis, com participação na

emissão de sugestões técnicas junto ao Codex Alimentarius Internacional, etc.). Presença em

campo da equipe central em investigação de surtos na região de Assis, investigação de surto

no CVS e participação em vários eventos.

3. Na Vigilância das Doenças Especiais de Notificação Compulsória: - Botulismo: atendimento a todo o Brasil no recebimento de notificações de casos

suspeitos, orientações técnicas, e discussão de caso.

- Cólera - nenhum caso registrado.

- Esquistossomose – reorganização do programa que estava sob a coordenação da

SUCEN, tendo sido passada a esta Divisão a responsabilidade pela vigilância epidemiológica

da doença.

- Febre Tifóide - doença sob controle (casos esporádicos – em média 5 a 7 casos/ano).

- Paralisia Flácida Aguda: meta alcançada nos indicadores de vigilância, tendo sido

investigados/supervisionados diretamente pela Divisão, 112 casos notificados - 1,12/100 mil

habitantes < 15 anos (parâmetro acima da média estabelecida pela OPAS).

- Síndrome Hemolítico-Urêmica (SHU) e Creutzfeldt-Jakob (DCJ e vDCJ) -

implementação dos sistemas de vigilância para aumento da notificação. Estudos realizados na

base de dados AIH e Mortalidade SEADE (a partir de 1998) mostram uma incidência das

doenças de cerca de 11 casos/ano para a SHU e de 6 óbitos/ano para a SHU. Estudos na base

da AIH e Mortalidade SEADE indicam para a DCJ uma incidência de 5 a 7 casos/ano para o

estado de São Paulo. Os casos notificados são, em sua maioria, provenientes de Hospitais

Universitários.

4. Na Vigilância Ativa - conclusão e publicação do Manual de Vigilância Ativa e

elaboração de novos inquéritos para o desenvolvimento em 2004. Trabalhos conjuntos visando

a implementação dos testes de Pulsed-Field no IAL que contribuíram, no ano de 2003, para o

desvendamento de surto por E. coli O157:H7 em Campinas, no ano anterior. Trabalho em

desenvolvimento em mais uma área sentinela - a cidade de Guarulhos. Rastreamento em

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REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 29

laboratórios públicos para detecção de surtos não notificados e rastreamentos pontuais em

laboratórios particulares para complementação de dados de determinados surtos.

•Treinamentos, capacitações, reuniões técnicas e eventos

- Reciclagem de regionais de saúde e municípios (DIR III Mogi das Cruzes e

Guarulhos, DIR V Osasco e Barueri, DIR VI Araçatuba e Andradina e Tupã, DIR XI Botucatu e

Botucatu, DIR XII Campinas e Campinas, DIR XIII Franca e Franca, DIR XIV Marília e Marília,

DIR XVII Registro, DIR 21 São José dos Campos e São José dos Campos, DIR 23 Sorocaba e

Sorocaba, DIR 24 Taubaté e Taubaté) para aprimoramento da metodologia em investigação de

surtos e MDDA (reciclagem realizada com base na avaliação de problemas nos subsistemas).

- Participação no Curso de Atualização em Doenças Transmitidas por Alimentos

organizado pelo Município de São Paulo e ministrado pela equipe desta Divisão.

- Desenvolvimento/Supervisão do III Curso de Aprimoramento Profissional em

Epidemiologia das Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar para 3 estagiários

FUNDAP/SES (2 médicos veterinários e 1 biólogo) e 4 médicos residentes (2 de Medicina

Preventiva e de Infectologia) e 1 de Medicina Veterinária (estágios integrados a programas

curriculares das universidades ou voluntários) que permanecem junto à Divisão em programa

semelhante ao de residência médica.

- Participação na equipe de coordenação e elaboração do Projeto EPI SUS SP, para

desenvolvimento de curso de especialização/mestrado em Epidemiologia, integrado ao

programa nacional EPI SUS - SVS/MS, e convênio CDC e Faculdade de Saúde Pública/USP, a

ser desenvolvido no ano de 2004.

- Participação em seminários desenvolvidos por associações ligadas à Nutrição e

Gastronomia e por instituto de desenvolvimento de tecnologias de alimentos (ITAL) e outros,

com o objetivo de divulgar os sistemas e dados, e melhorar a integração entre programas nos

diversos âmbitos da sociedade e governo para a prevenção das DTA e para aumentar a

segurança de alimentos.

- Participação em Seminário Nacional promovido pela SVS/MS como referência para as

atividades de implantação da Vigilância Ativa da Síndrome Hemolítico-Urêmica em nível

nacional.

- Participação no curso de aprimoramento de auditores AIH desenvolvido pelo

CPS/SES-SP ministrando a aula de Epidemiologia Descritiva e Analítica para melhorar a

integração entre as ações de auditoria e vigilância epidemiológica da área.

- Participação em Seminário organizado pela DIR V para seus municípios para

sensibilização de Hospitais, Unidades de Saúde, Laboratórios e outros serviços de saúde na

região para a doença diarréica, suas fontes de transmissão, sistemas de informação, dentre

outros aspectos.

- Participação em Seminários e reuniões técnicas organizados pelo município de

Guarulhos para sensibilização de Hospitais, Unidades de Saúde, Laboratórios e outros serviços

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de saúde para a doença diarréica, suas fontes de transmissão, sistemas de informação, dentre

outros aspectos, com o início da implantação do sistema de Vigilância Ativa - rastreamento de

patógenos emergentes relacionados à DTA.

- Participação no I Congresso Latino-Americano de Higienistas de Alimentos e VII

Congresso Brasileiro de Higienistas de Alimentos, com apresentação de trabalho premiado

"Características dos surtos de doenças transmitidas por alimentos associados a restaurantes

no estado de São Paulo, 1999 a 2002", e mais 2 posters (Botulismo no Brasil; Investigação da

E. coli O157:H7 em Campinas) , Belo Horizonte, abril de 2003.

- Participação nas reuniões técnicas do CVE com o GTVE/Regionais para

apresentação de dados de MDDA, Surtos de DTA associados a restaurantes,

Esquistossomose e Surtos de DTA na Região de Assis.

- Participação no programa de Pós-Graduação da CIP, ministrando a aula sobre

Vigilância das Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar.

- Participação no Seminário sobre Qualidade das Águas e Cryptosporidium, promovido

pela SAMA/CVS.

- Participação no Seminário Nacional sobre a Qualidade da Água - implementação da

Portaria 1469/2000.

- Reuniões técnicas com o CVS (SAMA e DITEP/Alimentos) e IAL para melhorar a

integração de ações e programas desenvolvidos.

- Reuniões técnicas com municípios, equipes de vigilância e estagiários para

apresentação e discussão de surtos, testes de material didático para treinamento, discussão de

problemas, apresentação de metodologias em epidemiologia e outros, dentro do programa de

aprimoramento profissional em VE DTA.

- Reuniões da Comissão Estadual de Combate e Prevenção da Cólera e Demais

Doenças Transmitidas por Água e Alimentos para discussão da Hepatite A, Salmonella

Enteritidis, Cólera e MDDA.

•Programas e interfaces com a assistência

- Interfaces com o Programa da Saúde da Criança e Saúde da Família, em nível local,

para o desenvolvimento da MDDA. Integração com a CMB para garantia da distribuição de

hipoclorito de sódio aos municípios.

- Integração com a rede hospitalar para a garantia das notificações de Botulismo, DCJ

e SHU.

- Investigação de óbitos relacionados à DTA em Hospitais.

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•Projetos e produção científica, publicações

- Aprimoramento do site de doenças transmitidas por alimentos, com ampliação dos

informes técnicos, dados estatísticos e artigos sobre as principais doenças transmitidas por

alimentos.

- Publicação na Revista de Higiene Alimentar de 3 trabalhos - "O botulismo no Brasil e

o trabalho desenvolvido pelo Centro de Referência do Botulismo", "Características dos surtos

de doenças transmitidas por alimentos associados a restaurantes no estado de São Paulo,

1999-2002" e "Investigação Epidemiológica de Infecções por Escherichia coli O157:H7,

Campinas, São Paulo", apresentados no I Congresso Latino-Americano de Higienistas de

Alimentos, abril de 2003.

- Divulgação de Informes Técnicos no Jornal do CRM sobre Cólera e Rotavírus.

- Participação em entrevistas para a Grande Imprensa e Revistas sobre Doenças

Transmitidas por Alimentos e restaurantes Self-Service, Cólera e água de lastro, Rotavírus,

Botulismo, Salmonella Enteritidis, Surtos de DTA em residências e em outras entrevistas com o

objetivo de divulgar aos consumidores e/ou manipuladores de alimentos, noções de higiene e

prevenção e de aumentar a notificação, divulgar dados e o trabalho desenvolvido para a

promoção de saúde da população.

- Artigo em desenvolvimento sobre diarréia em creche e a primeira genotipagem de

Cryptosporidium, em conjunto com o Hospital das Clínicas/FMUSP e CDC/Atlanta.

- Inscrição de 5 trabalhos no International Conference on Emerging Infectious Disease,

2004, a ser realizado em fevereiro/março de 2004.

- Elaboração dos seguintes projetos (produtos do trabalho junto aos estagiários) para

campo em 2004: "Avaliação de programa experimental de vigilância ativa em determinados

municípios", "Salmonelloses e seqüelas crônicas", "Diarréia e fatores de risco em determinadas

populações", "Diarréia sanguinolenta e alimentos", "Cryptosporidium e Água de Abastecimento

Público" (este será desenvolvido em conjunto com CETESB e SAMA/CVS), e "Circulação de

Genotipos do Cryptosporidium".

- Participação na coordenação e elaboração da "Pesquisa de incidência do Rotavírus

em menores de 5 anos", a ser desenvolvida no Municípios de Rio Claro e Guarulhos, com

apoio da GSK (Projeto em desenvolvimento).

Relatório elaborado em 12 de dezembro de 2003.

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____________________________________________________________________________ Instruções aos autores

A Revista Eletrônica de Epidemiologia das Doenças Transmitidas por Alimentos - REVNET DTA adota normas

do Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas, publicadas no New England Journal of Medicine

1997;336:309-16 e na Revista Panamericana de Salud Publica 1998;3:188-96, documentos que devem ser consultados

para informações mais detalhadas sobre o preparo de manuscritos.

Os manuscritos devem ser endereçados exclusivamente à REVNET DTA. Não serão aceitos textos (incluídas, figuras

ou tabelas) apresentados simultaneamente a outras revistas, com exceção de resumos ou registros preliminarmente

publicados em encontros científicos ou eventos similares.

Preparação do manuscrito: os artigos serão aceitos em português e inglês. Para o processamento de palavras utilizar

o MS Word. Inicie cada seção em uma nova página e nesta ordem: página do título, resumo/abstract, palavras-chave,

texto, agradecimentos, breve currículo do autor principal, referências, tabelas, figuras e apêndices. Os originais

deverão ser apresentados em espaço duplo, fonte Times New Roman, tamanho 12, em 3 vias impressas e uma cópia

em disquete 3,5 " e remetidos para o endereço da Revista - Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e

Alimentar/CVE SP - Av. Dr. Arnaldo, 351 - 6º andar - sala 607, São Paulo, SP, CEP 01246-000. O arquivo do texto em

MS Word, acompanhado de figuras e tabelas (quando for o caso), pode ser enviado por e-mail como arquivo anexado

para: [email protected]).

Na página de rosto devem constar título completo e título corrido do artigo, em português e inglês, nome (s) por

extenso dos autores e graduação, nome da (s) respectiva (s) instituição (ões), com endereço completo de todos os

autores (inclusive, telefone, fax e e-mail). Indicar para qual autor as correspondências devem ser enviadas. Incluir o

nome da instituição financiadora, caso o projeto tenha recebido subsídios. A inclusão de nomes de autores

imediatamente abaixo do título de artigos é limitada a 12; acima deste número, os autores devem ser listados no

rodapé da primeira página.

Os resumos em português e inglês e as palavras-chave e título não são contados no total de palavras do texto. Os

tamanhos do resumo e do corpo do texto estão especificados em cada tipo de artigo.

Incluir até no máximo 10 palavras-chave, nos idiomas português e inglês, de acordo com os termos listados no

"Medical Subject Heading Index Medicus".

Para as referências bibliográficas utilize algarismos arábicos, em numeração consecutiva de ordem de aparecimento

(incluindo texto, figuras e tabelas). A listagem final dos autores deve seguir a ordem numérica do texto, ignorando a

ordem alfabética de autores. Liste até os primeiros seis autores; quando ultrapassar este número utilize a expressão et

al. Comunicações pessoais, trabalhos inéditos, dados não publicados ou trabalhos em andamento, se citados, devem

constar apenas do texto e entre parêntesis. Não cite referências no resumo/abstract. Não use notas de rodapé para

referências. A precisão das referências listadas e a correta citação do texto são de responsabilidade do autor do

manuscrito.

Consulte o documento "List of Journals Indexed in Index Medicus" para abreviações aceitas; caso o jornal não esteja

listado, escreva o título por extenso. Devem ser observadas rigidamente as regras de nomenclatura zoológica e

botânica e outras abreviaturas e convenções adotadas em disciplinas especializadas.

As tabelas e figuras devem ser criadas dentro do MS Word e devidamente numeradas, consecutivamente com

números arábicos, na ordem em que são mencionadas no texto. Fotografias, tabelas e gráficos, devem ser enviados

em páginas separadas, e ter padrões de boa qualidade que permitam sua reprodução em outras dimensões. Figuras

que apresentam os mesmos dados de tabelas não serão publicadas. Nas legendas de figuras, os símbolos, flechas,

números, letras e outros sinais devem ser identificados e seus significados devem ser claros. Para figuras tomadas de

outras publicações, os autores devem obter permissão por escrito para reproduzi-las. Estas autorizações devem

acompanhar os manuscritos apresentados para publicação.

Para a apresentação do manuscrito inclua uma carta indicando a categoria de artigo em que pleiteia a publicação

(pesquisa observacional, conceitual, revisão histórica, notas científicas, etc.).

Os artigos devem ser apresentados em português, acompanhados, preferencialmente, de uma versão completa em

inglês.

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Agradecimentos às contribuições de pessoas que colaboraram intelectualmente para o trabalho, revisão crítica da

pesquisa envolvida, coleta de dados e outros que não se incluem como autores, devem aparecer na seção

Agradecimentos. É necessário informar que estas pessoas expressaram seu consentimento para esse tipo de citação.

Agradecimentos às instituições financiadoras e ou que forneceram outro tipo de suporte podem ser incluídos nesta

seção.

Tipos de artigos Estudos/Pesquisa: artigos sobre resultados de estudos/pesquisas de natureza empírica, observacional, experimental

ou conceitual, devem ter de 1.500 até no máximo 3.500 palavras, incluídas as referências, que não devem exceder a

40. Recomenda-se o uso de subtítulos no corpo principal do texto, assim como ilustrações, gráficos, tabelas e

fotografias. O Resumo/Abstract deve ter no mínimo 150 e no máximo 250 palavras.

Revisão histórica e política: revisões históricas e políticas abrangendo políticas de saúde, programas e sistemas de

vigilância, devem ter no máximo 5.000 palavras, incluídas as referências, que não devem exceder a 50. Recomenda-se

o uso de subtítulos no corpo principal do texto, assim como ilustrações, gráficos, tabelas e fotografias. O

Resumo/Abstract deve ter no mínimo 150 e no máximo 250 palavras.

Discussão de caso: apresentação de investigação epidemiológica ou de outras ações programáticas desenvolvidas

para o controle e prevenção das doenças transmitidas por alimentos e segurança de alimentos, com discussão crítica

dos resultados, limitações, medidas tomadas e outras recomendações (p. ex., discussão de investigação de surto;

programas de monitorização da doença diarréica aguda, ações de saneamento e meio ambiente, ações de vigilância

sanitária, regulamentos introduzidos, programas educativos, etc.). Deve ter de 2.000 até no máximo 3.500 palavras,

incluídas as referências, que não devem exceder a 40. Recomenda-se o uso de subtítulos no corpo principal do texto,

assim como ilustrações, gráficos, tabelas e fotografias. O Resumo/Abstract deve ter no mínimo 150 e no máximo 250

palavras.

Estatísticas: apresentação e discussão sumária de estatísticas epidemiológicas de relevância no controle da doenças

transmitidas por alimentos e de ações relacionadas.

Comentários: apresentação de notificações ou achados de estudos e/ou investigações epidemiológicas ou outras

ações programáticas na área, submetendo-se à discussão e comentários feitos pelos editores ou especialistas

convidados. Devem ter no máximo 1.000 palavras.

Notas científicas/cartas: apresentação de dados preliminares ou comentários sobre artigos publicados. Devem ter no

máximo 1.000 palavras e não comportam subdivisões em seções, nem figuras ou tabelas. Referências (não mais que

10) podem ser incluídas.

Eventos: aceitam-se divulgações de eventos científicos como simpósios, conferências, congressos e similares, bem

como, sumários de conferências, propósitos de encontros, anais, etc., relacionados às doenças transmitidas por

alimentos e à segurança de alimentos. Informações complementares

Estrutura do artigo: os artigos devem seguir a estrutura convencional: introdução, material e métodos, resultados e

discussão, embora outros formatos, de acordo com a temática, possam ser aceitos. A introdução deve ser curta,

definindo o problema estudado, declarando brevemente a importância do trabalho e salientando suas contribuições ao

conhecimento técnico-científico do tema em questão. Os métodos empregados, a população de estudo, as fontes de

dados e o critério de seleção, entre outros, devem ser descritos clara e completamente, e de forma concisa. Em

resultados, limitar-se à descrição dos resultados alcançados, sem incluir comparações ou interpretações. O texto deve

ser complementar e não repetitivo do que está descrito em tabelas e figuras. Na discussão, além de acrescentar as

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REVNET DTA. VOL. 4, No. 1, Janeiro 2004 34

limitações do estudo, devem ser apresentadas as comparações com outros achados na literatura, a interpretação dos

autores, suas conclusões e perspectivas para estudos e futuras pesquisas.

Autoria: o conceito de autoria é baseado na substancial contribuição de cada uma das pessoas listadas como autores,

relacionados com o conceito do projeto de pesquisa, analises e interpretação de dados, revisão crítica e escrita.

Manuscritos com mais de seis autores devem ser acompanhados por uma declaração especificando a contribuição de

cada um. Nomes que não cabem dentro desses critérios devem figurar em Agradecimentos. Critérios para aceitação do manuscrito: os manuscritos submetidos à revista REVNET DTA que estiverem de

acordo com as "instruções aos autores" e que estão em acordo com a política editorial serão enviados, para seleção

prévia, aos editores associados e/ou editores revisores. Cada manuscrito será submetido a três referências de

reconhecida competência no respectivo campo. O anonimato é garantido no processo de julgamento. A decisão com

respeito a aceitação é tomada pelo corpo editorial. Cópias com opiniões ou sugestões feitas pelos editores

associados/revisores serão enviadas aos autores, visando-se a troca de idéias e o aprimoramento do artigo, caso seja

necessário. Em cada artigo serão indicadas as datas do processo de arbitragem, incluindo-se as datas de recepção e

aprovação.

Manuscritos rejeitados: manuscritos que não forem aceitos não retornarão, a menos, que sejam reformulados por

seus autores e re-apresentados, iniciando-se um novo processo. Nós encorajamos todos a participar da revista e

estamos à disposição dos autores para esclarecer os critérios de publicação.

Manuscritos aceitos: cada manuscrito aceito ou condicionalmente aceito, com sugestões de alterações, voltará para o

autor para aprovação das alterações que podem ter sido feitas para a necessária compatibilização ao processo de

edição e estilo do jornal.

Princípios éticos: quando as pesquisas/estudos envolvem seres humanos, a publicação de artigos com seus

resultados está condicionada ao cumprimento dos princípios éticos internacionais e da legislação nacional vigente. Tais

artigos deverão conter uma clara afirmação deste cumprimento, incluída na seção de material e métodos do artigo.

Uma carta indicando o cumprimento integral dos princípios éticos e da legislação vigente, devidamente assinada por

todos os autores, assim como, uma cópia de sua aprovação junto à Comissão de Ética deve ser enviada junto com o

artigo.

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Revista Eletrônica de Epidemiologia das Doenças Transmitidas por Alimentos Política de Correções: A Revista Eletrônica de Epidemiologia das Doenças Transmitidas por Alimentos almeja divulgar seus artigos sem erros. Caso algum erro ainda persista quando já disponível eletronicamente, seu corpo editorial:

1. Realiza as correções o mais rápido possível assim que toma conhecimento dos erros; 2. Publica as correções online no artigo divulgando uma nota de que o mesmo foi

corrigido, assim como, a data da correção. Para outras informações sobre correções, envie e-mail para [email protected] _______________________________________________________________________________________________