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2 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Euzébio Jorge Silveira de Sousa As mudanças tecnológicas e o desemprego SÃO PAULO 2013

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Euzébio Jorge Silveira de Sousa

As mudanças tecnológicas e o desemprego

SÃO PAULO

2013

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Euzébio Jorge Silveira de Sousa

As mudanças tecnológicas e o desemprego

MESTRADO EM ECONOMIA POLÍTICA

Dissertação apresentada à Banca

Examinadora da Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo, como exigência parcial

para obtenção do título de MESTRE em

Economia Política, sob a orientação do Prof.

Dr. Ladislau Dowbor.

SÃO PAULO

2013

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Banca Examinadora

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RESUMO

A mudança tecnológica é uma variável chave no processo de acumulação

capitalista. A cada grande transformação das forças produtivas ocorrem mudanças

qualitativas e quantitativas da inserção do homem na produção. Desde antes da

primeira revolução industrial existe a polêmica se o avanço tecnológico cria ou não

desemprego estrutural, este debate perpassou pela economia clássica, estando

presente até os dias de hoje, sobretudo nos pensamentos estruturalista e neo-

schumpeteriano. Neste trabalho, analisamos as três grandes transformações

tecnológicas do capitalismo, para verificar se tais mudanças são responsáveis por

substanciais modificações nos níveis de desemprego. Verificamos que o

desemprego proveniente do progresso tecnológico assume um caráter cíclico, mas

também obedece a variáveis não econômicas. Foram detectados diferentes arranjos

institucionais e níveis de desemprego no mesmo padrão tecnológico, sugerindo

assim que o elevado nível de desemprego, com baixo crescimento e produtividade -

verificado no pós-fordismo - pode ser causado por fatores que transcendem às

novas tecnologias. Ao analisar a economia brasileira na nova economia verificou-se

que os setores tradicionais geram mais empregos e crescimento no Brasil, mas que

não são capazes de sustentar esta expansão no médio e longo prazo por possuírem

baixa produtividade e vantagens competitivas. Os setores de maior dinamismo e

conteúdo tecnológico tendem a gerar mais empregos indiretos e por efeito renda,

irradia seus avanços tecnológicos em outros setores da economia, possibilitando

mais investimentos e geração de empregos.

Palavras Chave: desemprego tecnológico; inovação tecnológica; mudança institucional; padrão de acumulação e pós-fordismo.

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ABSTRACT

Technological change is a key variable in the inherent accumulation process of the

capitalism system. Every major transformation leads to qualitative and quantitative

changes in the way the labor force is inserted on the production process. Even

before the first industrial revolution there is controversy whether or not technological

advancement creates structural unemployment, this debate pervaded by classical

economics, still present today among structuralists and neo-Schumpeterian

economists. In this paper, we analyzed the three major technological transformations

of capitalism system, and if such changes are responsible for substantial changes on

the employment levels. We identified that unemployment arising from technological

progress assumes a cyclical character, but also follows non-economic variables.

There were found different institutional arrangements and unemployment levels for

similar technological standards, thus suggesting that the high level of unemployment,

with low growth and productivity - seen in the post-Fordism - can be caused by

factors that transcend the new technologies. By analyzing the new economic

environment in Brazil, it was found that the traditional sectors generate more jobs

and growth to the country, but are unable to sustain this growth in the medium and

long term due to low productivity and competitive advantage. The most dynamic and

technological sectors tend to generate more indirect jobs and by the income effect,

diverges its technological advances to other sectors of the economy, allowing more

investments and job generation.

Key-words: technological unemployment, technological innovation, institutional

change; accumulation patterns and post-Fordism.

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Lista de Tabelas

TABELA 2.1 - CRESCIMENTO DO NÚMERO DE TEARES MECÂNICOS NA GRÃ-

BRETANHA - 1813 - 1850......................................................................................... 45

TABELA 2.2 - TAXA DE CRESCIMENTO DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL DO REINO

UNIDO — 1800-1869 ................................................................................................ 46

TABELA 2.3 - HORAS TRABALHADAS POR PESSOA/ANO - 1870-1986 .............. 67

TABELA 2.4 - COMPARAÇÃO ENTRE EVOLUÇÃO DA PRODUTIVIDADE E DOS

SALÁRIOS HORÁRIOS REAIS NA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO ............... 68

TABELA 3.1 - TAXAS MÉDIAS ANUAIS DE VARIAÇÃO DAS PRINCIPAIS

VARIÁVEIS DE PRODUTIVIDADE E EMPREGO EUA E UNIÃO EUROPÉIA – 1960-

1999 .......................................................................................................................... 76

TABELA 3.2 - EVOLUÇÃO DA TAXA DE SINDICALIZAÇÃO 1970-1990 ................ 88

TABELA 4.2 - GERAÇÃO DE EMPREGO E DE CRESCIMENTO E IMPORTAÇÃO

DOS SETORES DA ECONOMIA BRASILEIRA ...................................................... 109

TABELA 4.3 - EMPREGOS GERADOS POR AUMENTO DE PRODUÇÃO DE R$ 10

MILHÕES (PREÇOS MÉDIOS DE 2003) ................................................................ 115

TABELA 4.4 - TABELA DE EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO E DO EMPREGO ENTRE

2001 E 2002 ............................................................................................................ 119

TABELA 4.5 – ESTIMATIVA DOS EMPREGOS GERADOS NA AGROPECUÁRIA,

INDÚSTRIA E SERVIÇOS EM 2007, EM RESPOSTA A AUMENTOS NA

PRODUÇÃO DE R$ 10 MILHÕES .......................................................................... 123

TABELA 4.6 – PRODUTIVIDADE DO TRABALHO NA ECONOMIA BRASILEIRA EM

2003 (EM R$ MILHARES POR TRABALHADOR) .................................................. 127

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Lista de Gráficos

GRÁFICO 4.1 – INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO ........................................... 101

GRÁFICO 4.2 – INDÚSTRIA DE METALURGIA ..................................................... 101

GRÁFICO 4.3 – INDÚSTRIA MECÂNICA ............................................................... 102

GRÁFICO 4.4 – INDÚSTRIA DE MATERIAL ELÉTRICO E DE COMUNICAÇÕES

................................................................................................................................ 102

GRÁFICO 4.5 – INDÚSTRIA DE MATERIAL DE TRANSPORTE ........................... 103

GRÁFICO 4.6 –MADEIRA ....................................................................................... 103

GRÁFICO 4.7 - MOBILIÁRIO .................................................................................. 104

GRÁFICO 4.8 – INDÚSTRIA DE PAPEL E PAPELÃO ........................................... 104

GRÁFICO 4.9 – INDÚSTRIA QUÍMICA .................................................................. 105

GRÁFICO 4.10 – INDÚSTRIA FARMACÊUTICA .................................................... 105

GRÁFICO 4.11 – INDÚSTRIA TÊXTIL .................................................................... 106

GRÁFICO 4.12 – INDÚSTRIA DE PRODUTOS ALIMENTARES ........................... 106

GRÁFICO 4.14 - CRESCIMENTO ECONÔMICO X GERAÇÃO DE EMPREGO .... 111

GRÁFICO 4.15 - GRÁFICO DE EMPREGOS GERADOS POR AUMENTO DE

PRODUÇÃO DE R$ 10 MILHÕES .......................................................................... 116

GRÁFICO 4.16 - VARIAÇÃO DA PRODUTIVIDADE SETORIAL ENTRE 2001 E

2002 ........................................................................................................................ 120

GRÁFICO 4.17 – ESTIMATIVA DOS EMPREGOS GERADOS NA ECONOMIA

BRASILEIRA EM 2007, ........................................................................................... 124

GRÁFICO 4.18 – PRODUTIVIDADE DO TRABALHO (VALOR

ADICIONADO/PESSOAL OCUPADO NA AGROPECUÁRIA, INDÚSTRIA E

SERVIÇOS EM 1994 E 2003 .................................................................................. 126

GRÁFICO 4.19 – DINÂMICA DO VALOR ADICIONADO, EMPREGO E

PRODUTIVIDADE NA ECONOMIA BRASILEIRA (1994-2003) .............................. 129

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Lista de quadro

QUADRO 1.1 - ONDAS LONGAS OU CICLOS ECONÔMICOS COM (COM BASE

EM SCHUMPETER) .................................................................................................. 32

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Sumário

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10 1. DESEMPREGO TECNOLÓGICO E AS DIFERENTES VISÕES TEÓRICAS .... 15

1.1. Ricardo ......................................................................................................... 15

1.2. Marx .............................................................................................................. 20

1.3. Schumpeter .................................................................................................. 30

1.4. Neo-schumpeterianos ................................................................................... 34

1.5. Teoria da Regulação .................................................................................... 38

2. O DESEMPREGO E AS MUDANÇAS TECNOLÓGICAS .................................. 41

2.1. A maquinaria e a Primeira Revolução Industrial ........................................... 41

2.2. O Emprego no Período da Primeira Revolução Industrial ............................ 43

Ã-BRETANHA - 1813 - 1850 ..................................................................................... 45

2.3. O emprego na primeira fase da revolução industrial .................................... 47

2.4. A luta do homem contra as máquinas e o movimento Luddita ..................... 50

2.5. Tratamento dado ao desemprego no século XIX ......................................... 53

2.6. A crise de mudança da Primeira Revolução Industrial e a transição para

outro padrão de acumulação. .................................................................................... 56

2.7. Inovações organizacionais. .......................................................................... 57

2.8. Segunda Revolução Industrial e seus diferentes impactos no nível de

emprego .................................................................................................................... 60

2.8.1. Primeira fase da segunda revolução industrial (1898 – 1945) ...................... 61

2.8.2. Segunda fase - pós-guerra a meados de 1970 ............................................ 65

3. A TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, DESEMPREGO TECNOLÓGICO E SUPERAÇÃO DO FORDISMO ................................................................................. 70

3.1. Inovações tecnológicas e organizacionais poupadora de trabalho e a

produtividade ............................................................................................................. 73

3.2. O desemprego e a formação no pós-fordismo ............................................. 81

3.3. O desemprego e a tecnologia no pós-fordismo ............................................ 83

3.4. A flexibilização do trabalho e os sindicatos .................................................. 86

4. O DESEMPREGO TECNOLÓGICO NO BRASIL E O IMPACTO DA PRODUTIVIDADE ..................................................................................................... 92

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4.1. Abertura comercial da década de 90: Emprego, produção e produtividade . 92

4.2. O Brasil na nova economia ........................................................................... 94

4.3. Variação do nível de emprego, produtividade e abertura comercial ............. 98

4.4. Ocupação versus elevação da produção na abertura comercial ................ 100

4.5. Emprego e produtividade na década de 90, período de abertura Comercial.

1074.6.Análise empírica de 2001 a 2002 do Modelo de Geração de

Emprego. ................................................................................................................. 113

4.7. Análise setorial de 1994 a 2006 com modelo dinâmico e retornos não

constantes no modelo de geração de emprego. ..................................................... 121

4.8. Elevação de emprego com aumento da demanda por ganhos de

produtividade: Ajuste do tipo Crescimento. ............................................................. 131

4.9. Emprego, crescimento, produtividade e política pública ............................. 133

CONCLUSÃO .......................................................................................................... 136 Bibliografia............................................................................................................... 143

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INTRODUÇÃO

A idéia de que o progresso técnico gerava algum nível de desemprego estrutural

está presente na economia desde antes da primeira revolução industrial. No início

do século XVIII documentos dos mercantilistas já apontavam alternativas para

resolver o problema do desemprego. No livro “A Riqueza das Nações” – que

revolucionou a pensamento econômico – o pai da economia moderna, Adam Smith,

apontava que a demanda por assalariados só cresce quando cresce a riqueza de

uma nação, sem a elevação de tal riqueza seria impossível o crescimento da

demanda por assalariados. O avanço tecnológico, ao elevar a produção, elevaria a

riqueza, e esta, por sua vez, a demanda por trabalho. David Ricardo negou o

impacto negativo das tecnologias no nível de emprego até a última edição de seu

livro “Princípios da economia política e tributária”. Na terceira edição, Ricardo

concordou que a implementação da maquinaria era nociva aos trabalhadores e a

luta destes contra as máquinas eram justificáveis.

Marx, ao tratar do progresso tecnológico e seu impacto na demanda por

trabalho, identifica que o avanço da maquinaria na primeira revolução industrial

destruiu diversos postos de trabalho, ainda que diversos outros tenham sido criados,

além de provocar grande elevação da composição orgânica de capital. Mas o autor,

que atribui grande importância ao progresso tecnológico como sendo uma variável

fundamental para o avanço das forças produtivas, constata que o quem oprime o

trabalhador não é máquina e, sim, o dono dos meios de produção. Ainda que

movimentos, como o Luddita, tenham contribuído para organização dos

trabalhadores, era a lógica da acumulação capitalista que gerava a substituição do

trabalhador pela máquina. A tecnologia contribuía na criação de um exército

industrial de reserva que mantém estabilidade no processo de extração de mais-

valia. Marx identificou que o capitalismo não é um sistema que tende ao equilíbrio, é

um sistema que busca constante expansão. A expansão capitalista não pode

esbarrar em empecilhos tecnológicos, orgânicos, políticos, ou sociais.

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Outra importante contribuição de Marx para entendimento da relação entre

tecnologia e emprego foi a constatação de que a dinâmica de acumulação não se

guia apenas por variáveis econômicas. Os regulacionistas assimilam este

entendimento e incluem os elementos institucionais como variável determinante na

lógica de acumulação, se sobrepondo muitas vezes aos fatores tecnológicos. Os

elementos institucionais também são analisados pelo pensamento neo-

schumperiano, que resgata o pensamento de Schumpeter para explicar a dinâmica

econômica, a partir dos longos ciclos tecnológicos, o que ele chama de paradigma

tecno-econômico. Ainda que Schumpeter não tenha dado grande atenção ao

impacto da tecnologia nos níveis de emprego, seu entendimento do progresso

tecnológico, como um processo de destruição criativa, fortaleceu a teoria da

compensação1.

Mas a principal contribuição proveniente do pensamento Schumpeteriano que

analisaremos no presente trabalho é o caráter cíclico do desemprego estrutural. O

desemprego proveniente das automações ou implementação de novas tecnologias

tende a ser reduzido ou inexistente no período de boom, no qual se elevam os

investimentos nas novas tecnologias. O desemprego tende a crescer no período em

que as tecnologias já se estabeleceram e as empresas tendem realizar inovações

organizacionais, tais inovações assumem um caráter poupador de trabalho, em um

período de menores investimentos. Contextualizando historicamente, verificamos se

este mecanismo de criação e destruição de empregos ocorre com regularidade nos

três paradigmas tecnológicos analisados. Tanto os regulacionistas quanto os neo-

schumpeterianos crêem em elementos institucionais para determinação do padrão

de acumulação, ainda que o primeiro atribua maior importância a este fator que o

segundo, os dois acreditam ser necessário observar historicamente a relação do

progresso tecnológico para entender a variação do nível de emprego.

1 A teoria da compensação afirma que para cada importante mudança tecnológica que destrói

postos de trabalho, verifica-se o surgimento de outros postos, dado a criação de outras cadeias produtivas, produtos e mercados.

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O declínio do fordismo, o surgimento de novas tecnologias e o desarranjo

institucional verificado na década de 1970 reacende diversos debates sobre a

relação entre tecnologia e emprego. A capacidade que as novas tecnologias têm de

economizar trabalho e elevar a eficiência apontou para a possibilidade de uma

relação direta entre progresso tecnológico e o fim do pleno emprego. Inovações

organizacionais foram maximizadas pela capacidade de processamento de dados e

controles de processos em resultados provenientes das tecnologias da informação e

comunicação (TIC). Associado a isso foi verificado grande desregulamentação do

trabalho e intensificação da terceirização. A globalização financeira, a estrutura de

marcado desregulamentada e altamente concentrada, com grande concorrência

global, proporcionou um ambiente internacional com um arranjo institucional

bastante distinto do fordista.

O fordismo representou um período que conjugava tecnologias rígidas, com

grande capacidade de ganhos de escala e um ambiente institucional que possibilitou

elevados níveis de emprego, ampliação de demanda, muitos estímulos para investir.

O pós-fordismo, por sua vez, não só modificou profundamente o padrão tecnológico,

como o institucional. O regime de demanda fordista foi destruído e da segunda crise

do petróleo em diante foi registrado baixo crescimento, elevado desemprego e baixa

produtividade.

O progresso tecnológico no capitalismo historicamente ocorreu para reduzir

trabalho vivo e elevar trabalho morto, com isso livrar o detentor dos meios de

produção da penúria de ter que conviver com a insegurança e instabilidade da força

de trabalho. A primeira revolução industrial ocorreu abstraindo do trabalhador a

destreza do artesão em produzir a mercadoria. A divisão do trabalho não só elevou a

rapidez do trabalho, como simplificou as complexas operações para criação de um

produto, possibilitando que um trabalhador sem profundos conhecimentos pudesse

inserir-se no processo produtivo, no mercado de trabalho. A simplificação da fábrica

possibilitou ao trabalhador sem grandes qualificações vender sua força de trabalho,

assim como fizeram sua esposa e filhos. As máquinas da primeira revolução

industrial foram máquinas ferramentas, que simplificavam, rotinizavam e

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automatizavam as parcelas mais complexas do trabalho, restando ao homem a

tarefa de força motriz.

Paradoxalmente, as máquinas do mundo contemporâneo requerem

trabalhadores qualificados, polivalentes, com capacidade de resolver problemas. As

novas tecnologias flexíveis como as TIC e a robótica são máquinas que se adequam

a diferentes tarefas e volumes de produção. Se as máquinas da primeira revolução

industrial simplificavam trabalho para possibilitar a absorção de mais força de

trabalho, para maior acumulação de capital, as novas máquinas marginalizam os

despreparados tecnologicamente. Ainda que o capitalismo tenha seu centro nas

novas tecnologias e relações de produção, este tem capacidade de conviver e

interagir com relações de produção rudimentares, similares ao feudalismo ou ao

escravismo. Mas o pós-fordismo nos impõe novas reflexões sobre a relação dos

homens com as máquinas: será que as novas tecnologias são avessas ao pleno

emprego, ou existe elementos não tecnológicos e econômicos que definem o nível

de desemprego? Como a sociedade lidará com um padrão tecnológico que

demanda muito menos horas de trabalho para atender as suas necessidades

materiais? Com desemprego ou com menos trabalho? Como foi encarada cada uma

das grandes mudanças tecnológicas do capitalismo com relação à variação do nível

de emprego?

Com o objetivo de responder tais questões, o presente trabalho buscará analisar

historicamente os impactos das mudanças tecnológicas no desemprego. No primeiro

capítulo será apresentado o posicionamento das principais correntes teóricas quanto

ao desemprego tecnológico. No segundo capítulo serão analisados a primeira e

segunda revolução industrial e como elementos tecnológicos e institucionais

provocaram diferentes efeitos na demanda por trabalho. No terceiro capitulo,

analisaremos a terceira revolução industrial ou pós-fordismo e também serão

verificados os impactos da produtividade e das inovações tecnológicas e

organizacionais no nível de desemprego do centro do capitalismo. No quarto

capítulo analisaremos a inserção do Brasil na nova economia, utilizando o modelo

de geração de empregos em uma análise setorial da economia, verificaremos quais

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setores exercem maiores impactos na geração de empregos, crescimento e

produtividade dado seu conteúdo tecnológico.

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1. DESEMPREGO TECNOLÓGICO E AS DIFERENTES VISÕES

TEÓRICAS

1.1. Ricardo

Para Cardoso e Guedes (1999, p. 29 e 30) Ricardo inaugura o conceito de

desemprego tecnológico na economia clássica. David Ricardo volta-se a

compreender a importância da renda das classes na Renda total e sugere que desta

relação se explica o processo de crescimento econômico.

Ricardo, ao analisar a relação entre produção e consumo, identifica a taxa de

lucro como elemento determinante no processo de crescimento econômico. Desta

forma, a elevação de renda da terra pode colocar obstáculos insuperáveis ao

crescimento. A necessidade de se utilizar terras menos férteis, dado que tal fator de

produção é finito, tende a elevar o valor de renda nas terras mais férteis e elevar o

percentual do salário sobre o produto total nas terras menos férteis, visto que para

estas garantirem a produção, é necessário maior número de horas de trabalho.

Ricardo aponta duas saídas para tal dilema: elevar a produtividade, ou recorrer

ao comércio exterior por meio das vantagens comparativas, que poderiam garantir

maiores ganhos produzindo bens mais compatíveis com sua estrutura produtivas e

recursos naturais.

Mesmo com todos os conflitos sociais gerados pela implementação da

maquinaria e seus avanços – com trabalhadores materializando sua revolta contra

os detentores do capital, por meio da destruição de máquinas – o debate sobre a

existência de desemprego tecnológico entre os teóricos eram inconclusivo e sem a

menor possibilidade de consenso. Davi Ricardo se opôs por muito tempo à

possibilidade de existência de um desemprego causado pela “maquinaria

aperfeiçoada” (COUTO, FREITAS e COUTO, 2009).

Na primeira edição de o “Princípios da economia política e tributária”, Ricardo

sugere que os ganhos de produtividade, com implementação da maquinaria, seriam

benéficos para todos os setores da economia. O autor apresentou em seu “Ensaio

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sobre a influência do baixo preço do trigo sobre os lucros do capital, mostrando a

inconveniência de restrições à importação” (COUTO, FREITAS e COUTO, 2009, p.

7) que com os avanços da produtividade, provenientes da maquinaria, o salário real

do trabalhador se elevaria, assim sendo benéfico para a classe trabalhadora o

avanço tecnológico.

Os debates sobre a desocupação da força de trabalho promovida pelos avanços

técnicos e tecnológicos tomam maiores proporções, quando John Barton, um

importante engenheiro inglês, passa a defender que a maquinaria moderna era

negativa aos trabalhadores por gerar desemprego. Ricardo, ainda relutante quanto à

existência do desemprego tecnológico, escreve uma carta a Barton em 20 de abril

de 1917, questionando suas posições. Porém Ricardo, cauteloso, não trata do

assunto na primeira edição de seu célebre livro “Princípios de economia política e

tributação” ainda em 1817.

Provavelmente por estimulado pela carta de Ricardo, Barton publica no mesmo

ano um folheto intitulado “Observações sobre as condições das classes

trabalhadoras” que defende os malefícios que a maquinaria moderna trazia aos

trabalhadores com os seguintes argumentos:

A demanda de trabalho depende do aumento do capital circulante e não do capital fixo. Se fosse verdade que a proporção entre essas duas espécies de capital permanecesse constante todo o tempo e em todos os países, então se poderia dizer que o número de trabalhadores empregados seria proporcional à riqueza do Estado. Mas isso não parece ser provável. À medida que as técnicas se desenvolvem e a civilização se generaliza, o capital fixo é cada vez maior em relação ao capital circulante. O montante de capital fixo empregado na produção de uma peça de musselina inglesa é pelo menos cem ou mesmo mil vezes maior do que o empregado na produção de uma peça similar de musselina na Índia. E a proporção de capital circulante empregado é mil vezes menor. É fácil perceber que, sob determinadas circunstâncias, se pode agregar ao capital fixo a totalidade da poupança anual de um povo trabalhador, o que não produziria nenhum efeito para aumentar a demanda de trabalhadores (COUTO, FREITAS e COUTO, 2009, p.7).

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Mas os argumentos de Barton ainda não foram suficientes para convencer

Ricardo sobre os malefícios da maquinaria para trabalhadores e o autor publica a

segunda edição de seu mais importante trabalho, sem o aceitar o desemprego

tecnológico.

John Ramsay McCulloch escreve em 1820 uma resenha do panfleto de Barton,

afirmando que para a elevação de capital fixo gerar elevação de emprego e salário,

seria necessário que o capital circulante crescesse em proporções consideráveis,

caso contrário o efeito seria inverso, gerando queda de salários e redução de postos

de trabalho.

Ricardo rapidamente se opõe, convencendo o amigo que a “maquinaria nunca

reduz a demanda de trabalho (...) nunca é a causa de uma queda do preço do

trabalho, mas o efeito de sua elevação” (RICARDO citado por SRAFFA, 1982, p.32

apud COUTO, FREITAS e COUTO, 2009). Ricardo convence McCulloch de tal

posição, que perde sua crença no desemprego tecnológico e escreve um artigo em

1821, declarando suas novas posições.

Ricardo só passa a rever suas posições sobre o desemprego tecnológico

quando, por sugestão de McCulloch, passa meses pesquisando o Livro de Malthus.

Ironicamente, Ricardo, que convencera McCulloch da inexistência do desemprego

tecnológico, descobre fundamentos para existência no mesmo em uma análise

sugerida pelo próprio McCulloch. As notas de Ricardo quanto ao Livro de Malthus

foram escritas em 1820, mas publicadas apenas em 1829.

As notas que demonstram a mudanças de opinião de Ricardo quanto aos efeitos

maléficos da maquinaria aos trabalhadores são 149 e 153. A Primeira afirma que a

produção é uma combinação de capital fixo e capital circulante, mas apenas o

capital circulante corresponde à demanda de trabalho, uma vez que é este que paga

os salários. Ricardo apresenta que o capitalista utilizará a combinação mais lucrativa

entre salários e máquinas. Apresenta ainda um exemplo hipotético em que afirma a

possibilidade de cavalos tomarem os postos de trabalho dos trabalhadores. Se esta

hipótese impacta o mercado de trabalho, a aplicação da maquinaria moderna

também o faria.

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McCulloch, que só ficara sabendo das mudanças de posições de Ricardo em

1921 com a publicação da terceira edição do livro de Ricardo, demonstra-se

desapontado por Ricardo não citar o seu artigo, que concordava com as idéias de

Barton. McCulloch chega a dizer que se as posições de Ricardo estavam corretas, a

lei contra os Ludditas na Inglaterra era uma vergonha ao código Inglês. Ricardo,

respondeu a McCullonch em uma carta de 18 de junho de 1821, que o desemprego

tecnológico é tão demonstrável quanto “qualquer das correspondentes à geometria”.

Na terceira edição do citado livro, Ricardo acrescenta o capítulo XXXI sobre a

maquinaria, em que afirma que a máquina toma lugar do trabalhador e o autor passa

a considerar pertinente a luta dos trabalhadores contra a automatização da produção

(CARDOSO e GUEDES, 1999). Ricardo afirma que depois de reflexões, havia

chegado a outras conclusões sobre a maquinaria e que ainda que não existisse

nenhum trabalho publicado que merecesse retratação, o autor crê que deve alertar

de que sustentou posições que passou a ver como errôneas.

Ricardo diz que acreditava que a maquinaria tornava a terra mais produtiva,

trazendo benefícios para o proprietário da terra e para os trabalhadores, uma vez

que no momento que o trabalhador fosse substituído por uma máquina, este seria

empregado em outro setor da economia, onde seria mais útil para a sociedade. O

autor defendia, ainda, que o capital circulante que deixava de ser empregado nos

salários dos trabalhadores não deixava de existir, era apenas redirecionado. Assim,

se a elevação da produtividade e dos lucros empurrasse para a elevação dos

investimentos, o desemprego não surgiria.

Para explicar sua mudança de opinião, o autor utiliza o exemplo dos rendimentos

líquidos de um país e sugere que uma nação pode elevar sua produção (seus

rendimentos líquidos) sem elevar o nível de salários, podendo ainda elevar a

população excedente. E, com isso, elevar o desemprego e piorar a condição de vida

dos trabalhadores. Elencando mais um elemento, apresenta que a redução do

número de trabalhadores também diminui a demanda por bens de consumo dos

trabalhadores, podendo causar ainda mais desemprego. Ricardo utiliza o exemplo

da produção agrícola dos Estados Unidos, que apresentava elevado nível de capital

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circulante, dado os baixos níveis de salários. O contrário se verificava na Inglaterra,

onde os elevados salários eram estimulados cada vez mais pela inserção da nova

maquinaria poupadora de força de trabalho.

Para garantir a defesa da maquinaria, Ricardo afirma que se o processo de

automatização não se realizar por uma definição do Estado, existe uma tendência de

o processo ocorrer em outro país, agravando ainda mais a insuficiência de emprego,

dado a fuga de capitais (GUEDES E CARDOSO, 1999). Para o autor, a

implementação do progresso tecnológico era inevitável e existia ainda a

possibilidade da tecnologia gerar emprego em novos setores, a exemplo indústria de

construção de máquinas. Ricardo chega a afirmar que não existe máquina que

funcione sem a interferência do homem. Para ele, tentar reter os avanços do

progresso poderia significar a expulsão dos capitais para países mais liberalizados,

ou seja, o autor já constatava que a elevação dos investimentos era fundamental

para garantir a manutenção do nível de emprego.

Couto, Freitas e Couto (2009) apresentam três conclusões do estudo de Ricardo

que são bastante elucidativas:

1) a introdução de nova maquinaria reduz a quantidade de mão de obra necessária à produção, podendo gerar o fenômeno do desemprego tecnológico; 2) no entanto, dependendo do volume de novos investimentos, os demitidos pela introdução da maquinaria poderiam encontrar emprego em outras empresas, não ocorrendo o fenômeno do desemprego tecnológico; 3) a introdução de nova maquinaria nunca deveria deixar de ser incentivada ou proibida, pois o capitalista poderia transferir seus investimentos para outro país, não gerando nenhum trabalho no país que proibiu seu emprego. (COUTO, FREITAS, COUTO, 2009, p.10)

Hicks sugere que faltou um modelo aritmético para uma melhor compreensão da

visão de Ricardo sobre a maquinaria e o que ocorreria no longo prazo se o

trabalhador fosse substituído pela máquina. Ao propor um modelo, Hicks inclui as

variáveis: estoque inicial de máquinas, produção, nível de emprego e desgaste da

máquina. Hicks utiliza o modelo aritmético para fazer as seguintes conclusões sobre

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a elaboração de Ricardo: uma inovação tecnológica teria o papel de poupar força de

trabalho, elevaria o lucro do empresário, permitindo que o dono da fábrica elevasse

sua poupança e por conseqüência os investimentos. No primeiro momento se

verificaria uma elevação do desemprego, mas depois, com a expansão da produção,

o nível de emprego se elevaria a um patamar superior ao verificado antes da nova

tecnologia.

Com seu modelo, Hicks apresenta que o desemprego apontado por Ricardo,

proveniente da elevação das tecnologias, teria um efeito transitório. O capital gerado

pela nova tecnologia trataria de eliminar o desemprego e levar a economia a

patamares superiores em termos de nível de produção e de emprego.

1.2. Marx

Marx, em seu mais importante trabalho, “O Capital”, publicado em 1867,

cinqüenta anos depois de Ricardo publicar “Princípios de economia política e

tributação”, dedicou o importante capítulo XIII ao entendimento da maquinaria. Marx,

conhecedor dos dilemas vividos por Ricardo quanto à aceitação do desemprego

tecnológico, resgata o compromisso de Ricardo com a ciência e com a verdade.

A constatação de Marx ao relatar as lutas dos trabalhadores contra as máquinas,

é que o carrasco do trabalhador não é a máquina. Esta é apenas o meio pelo qual o

detentor do capital tem de garantir o processo de dominação do trabalhador e

extração de mais-valia. O responsável pelo martírio do trabalhador era o capitalismo,

que transforma as ferramentas do artesão em máquinas e leva as máquinas a

tomarem o lugar dos trabalhadores. O autor ainda afirma que demorou até os

trabalhadores se organizarem contra o capitalista, ao invés de lutarem contra os

meios de produção. Os avanços da maquinaria significavam avanços do homem

contra suas limitações naturais e físicas.

Marx verificou que o progresso da luta dos trabalhadores e a conquista de

redução da jornada de trabalho, também consolidaram avanços na implementação

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da maquinaria. Em 1832, por pressão dos trabalhadores, a jornada de trabalho foi

limitada em 12 horas diárias. Em 1847, já foi reduzida para 10 horas nas fábricas de

linho, seda, lã e algodão, como estímulo à implementação da maquinaria.

Observando dados de meados do século XIX, Marx verificou que mesmo com a

queda de postos de trabalho, a expansão da maquinaria tinha elevado muito a

produtividade das fábricas inglesas, levando o autor a crer que não existia forma

mais eficiente de aumentar a produtividade. Porém, Marx também descreve as

conseqüências promovidas pela maquinaria no capitalismo:

Assim que o manejo da ferramenta passa à máquina, extingue-se com o valor de uso, o valor de troca da força de trabalho. O trabalhador torna-se invendável, como papel-moeda posto fora de circulação. A parte da classe trabalhadora que a maquinaria transforma em população supérflua, isto é, não mais imediatamente necessária para a autovalorização do capital, sucumbe, por um lado, na luta desigual da velha empresa artesanal e manufatureira contra a mecanizada, inunda, por outro lado, todos os ramos mais acessíveis da indústria, abarrota o mercado de trabalho e reduz, por isso, o preço da força de trabalho abaixo de seu valor. Para os trabalhadores pauperizados, deve ser grande consolo acreditar, por um lado, que seu sofrimento seja apenas temporário, por outro, que a maquinaria só se apodere paulatinamente de todo um setor de produção, ficando reduzida a dimensão e a intensidade de seu efeito destruidor. Um consolo bate o outro. Onde a máquina se apodera paulatinamente de um setor da produção, produz miséria crônica nas camadas de trabalhadores que concorrem com ela. Onde a transição é rápida, seus efeitos são maciços e agudos. A história mundial não oferece nenhum espetáculo mais horrendo do que a progressiva extinção dos tecelões manuais de algodão ingleses, arrastando-se por décadas e consumando-se finalmente em 1838. Muitos deles morreram de fome, muitos vegetaram com suas famílias a 2,5 pence por dia (MARX, 2003).

Marx faz uma descrição bastante rica dos dissabores promovidos pela

maquinaria no século XIX. Por mais inadequada que possa ser a luta dos

trabalhadores contra os meios de produção, fetichizando a máquina e a tecnologia,

dado o martírio a que o trabalhador é submetido com os ciclos de inovações

tecnológicas, é compreensível sua revolta com algo que este supõe materializar sua

condição de peça substituível. O autor afirma não acreditar na transitividade dos

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malefícios causados ao trabalhador. “O meio de trabalho mata o trabalhador”

(COUTO, FREITA, COUTO, 2009)

Estas afirmações se fundam no fato de Marx não acreditar na hipótese da

libertação de capital. Para Marx, o capital variável que é deslocado não fica

disponível, ele apenas é transferido da condição de capital variável, na forma de

salários, para se transformar em capital constante, na forma de máquina. O autor

acreditava na possibilidade de o trabalhador ser ocupado em outro segmento, mas

este investimento só será possível pela ação de outro capital. E quanto à criação de

emprego nos setores de construção de bens de produção, Marx apresenta que

tende a ser um segmento com elevada composição orgânica de capital.

A quantidade socialmente necessária de trabalho é uma referência que está

diretamente associada ao estágio de desenvolvimento das forças produtivas.

Certamente que o tempo que se leva para produzir uma porta de madeira nos dias

de hoje é radicalmente distinto do tempo que era necessário há cem anos. Isso em

decorrência do desenvolvimento das ferramentas e da forma de organizar a

produção. Isso não quer dizer que não existam, ainda hoje, formas rudimentares de

produção de portas, mas se esta se configurar como mercadoria, o valor dela será o

de uma porta produzida com as ferramentas dos dias atuais e com a habilidade e

eficiência média de um trabalhador dos dias atuais.

Desta forma a elevação de produtividade reduz a quantidade de valor por

unidade de mercadoria, ainda que torne o trabalho concreto uma fonte mais rica de

valor de uso. Esta constatação nos leva refletir sobre os elementos que estimulam

um capitalista a buscar elevação de sua produtividade, sabendo que a elevação da

produtividade média reduz o valor da mercadoria.

Podemos analisar o crescimento de produtividade de ao menos duas formas. As

diferenças de produtividade de capitalistas do mesmo setor da economia e as

diferenças de produtividade entre setores distintos da economia.

A mercadoria é produzida privadamente e a quantidade de trabalho socialmente

necessária é estabelecida de forma média, com uma tecnologia média e com

habilidades médias dos trabalhadores, assim pode existir produção com níveis de

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produtividade abaixo da média e outras acima da média. Quando nos referimos a

capitalistas do mesmo setor da economia, fica evidente que este busca ter uma

produtividade acima da média de seu setor. Isso pode lhe render um aumento de

mais-valia extra, segundo Marx. Esta mais-valia se dá porque a produtividade acima

da média torna as horas de trabalho de seus trabalhadores uma fonte mais rica de

valor, desta vez não só de valor de troca. Este processo não é diferente para o

capitalista com produtividade abaixo da média, o trabalho deste é uma fonte menos

rica de produção de valor.

Quando tratamos diferenças de produtividade, em setores distintos da economia

capitalista, este fenômeno se comporta de forma distinta da anteriormente

mencionada. A taxa de lucro dos diversos setores é rateada entre estes, não

garantindo uma mais-valia excepcional para um ou para outro setor da economia.

Este processo se dá pela necessidade de funcionamento dos diversos setores. A

escolha de investimento capitalista é privada, se um setor da economia tivesse

lucros completamente distintos dos outros, provavelmente todo o capital se

deslocaria para o setor de maiores ganhos, impossibilitando o funcionamento da

economia capitalista.

Assim, o duplo caráter do trabalho se desdobra em uma série de dualidades na

economia política de Marx, como: a dualidade da mercadoria (possuidora de valor

de uso e valor de troca), da riqueza (material e abstrata) e dos avanços técnicos

(expresso nos conflitos dialéticos do desenvolvimento das forças produtivas com as

relações de produção).

Fica evidente na análise de Marx que o desenvolvimento da tecnologia, dado a

lógica de valorização do capital, leva a economia capitalista a irracionalidades

quanto ao processo produtivo e de troca (BORGES NETO, 2010)

Os avanços técnicos promovidos por concorrência privada dos capitalistas levam

a produção a uma elevação de composição técnica do capital, e ainda que com

controvérsias, este promove a elevação de composição orgânica do capital.

Ampliando a utilização de máquinas e reduzindo a utilização da força de trabalho,

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elevando o trabalho morto e reduzindo o trabalho vivo, capaz de transferir e gerar

valor.

Este processo leva a economia capitalista a elevar a produção de riqueza

material em um nível nunca visto anteriormente, sem necessariamente elevar a

criação de valor. Dado que a meta do capital é valorizar-se, este processo

contraditório cria distorções na lógica econômica e distâncias monumentais entre a

criação de valor e valor de uso, entre a capacidade de o trabalhador criar riqueza

material e riqueza abstrata.

Segundo Marx,

O roubo do tempo de trabalho alheio, sobre o qual se funda a riqueza atual, aparece como uma base miserável comparado com este fundamento, criado pela própria grande indústria. Tão pronto como o trabalho em sua forma imediata deixou de ser a grande fonte da riqueza, o tempo de trabalho deixa, e tem que deixar, de ser sua medida e, portanto, o valor de troca deixa de ser a medida do valor de uso (Marx 1972 [1857-58], p. 227-230 apud BORGES NETO, 2010)

A elevação da produtividade não cria condições para o capital ampliar sua forma

homogênea de valorização. Tendo assim que buscar a centralização de capital para

tentar reduzir a tendência decrescente de taxa de lucro, que expressa um caso

específico do fenômeno descrito no trecho acima no Grundrisse de Marx.

É com base nesta dimensão do trabalho que a dinâmica capitalista se realiza,

com base em uma substância homogênea capaz de permitir trocas entre qualquer

mercadoria baseada apenas na quantidade de trabalho socialmente necessário para

produzir cada mercadoria e o que é mais importante, capaz de criar riqueza abstrata,

a riqueza perseguida por todos os detentores de capital. Assim, a mais-valia é

possível por que o capitalista contrata o trabalhador lhe oferecendo pagamento pelo

valor de troca de sua força de trabalho, mas usufrui do valor de uso da mesma. Em

condições normais, o trabalhador produz o valor de troca de sua força de trabalho

(seu salário) em apenas uma parcela do tempo que aluga ao empregador. Todo o

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trabalho empregado para além do que valor de seu salário é apropriado pelo

capitalista como mais-valia.

É na busca de valorização de seus capitais, na valorização do valor que os

capitalistas de todo o mundo buscam acelerar o processo de rotação de capital,

processo de transformar o capital em mercadoria força de trabalho e meios de

produção para utilizar o valor de uso da força de trabalho para gerar mais-valia.

O capitalista ampliará seu capital quão mais rápido puder realizar a rotação do

mesmo. Esta transformação de capital em mercadoria e mercadoria em mais

dinheiro eleva a velocidade de acordo com a capacidade de aumentar a composição

orgânica do capital, ou seja, elevação do trabalho morto frente ao trabalho vivo.

A substituição do trabalhador por máquina só é justificada para garantir uma

maior reprodução de mais-valia, mas este processo pode assumir três flancos de

atuação. Primeiro, pelo desejo de elevar a velocidade do giro de seu capital, para

assim valorizá-lo mais rapidamente, como foi mencionado. Segundo, pela

necessidade de produzir mais-valia sem estar ancorado nas vicissitudes,

inconstâncias e desejos reivindicatórios, liberando o capitalista da penúria de ter que

compartilhar parte de seus lucros. Este fator também impõe que o capitalismo tenha

de produzir desemprego para garantir níveis aceitáveis de estabilidade política aos

empregadores. O pleno emprego é refutado pela classe detentora de capital por que

o desemprego tem um papel disciplinador, favorecendo os lucros frente aos salários,

no conflito capital-trabalho. E, por último, pelo desejo de se apropriar de um tipo

bastante peculiar de mais-valia, a chamada mais-valia extraordinária. Esta

modalidade de mais-valia é para Marx o elemento dinamizador do avanço das forças

produtivas no capitalismo.

A mais-valia extra é a mais-valia apropriada pelo capitalista que garante um

processo de inovação em seu processo produtivo. Como as mercadorias para Marx

são vendidas pela quantidade de trabalho socialmente necessário, com base em

uma dada tecnologia e uma velocidade média de trabalho, qualquer processo que

acelere a produção para um patamar mais eficiente que a media, lhe garante um

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ganho de mais-valia extraordinária, enquanto esta inovação não for generalizada em

determinado segmento da economia.

A necessidade de elevar a composição orgânica do capital cria uma contradição

fundamental no seio do sistema segundo Marx. Dado que o único trabalho que cria

valor é o trabalho vivo, criado pela força de trabalho, a elevação da composição

orgânica do capital permite a elevação da eficiência, elevação da riqueza real, mas

não a criação do valor almejada pelos detentores de capital, que é a riqueza

abstrata, destas que o capitalista pode converter em qualquer bem material

comercializável. A disputa intercapitalista acelera do processo de desenvolvimento

das forças produtivas, com implementação de inovações tecnológicas e

organizacionais, de forma que economize trabalho e tempo de produção.

A busca de um capitalista em reduzir o tempo de trabalho para produzir uma

mercadoria abaixo do tempo médio de seus concorrentes promove fenômenos

curiosos no desenvolvimento da economia capitalista. Quando esta inovação, seja

tecnológica, ou organizacional, encontra-se concentrada apenas em sua fábrica,

este capitalista ganha a mais-valia extraordinária, dado que produz com mais

eficiência a quantidade socialmente necessária, determinada para a produção de tal

mercadoria. Quando esta inovação se generaliza no trabalho concreto de todos os

concorrentes, a quantidade socialmente necessária de trabalho se desloca para este

novo nível mais eficiente. Mas se esta inovação reduzir de forma generalizada a

quantidade de trabalho no departamento de bens de consumo dos trabalhadores

cria-se outra modalidade de mais-valia, a mais-valia relativa.

A mais-valia relativa é proveniente da redução do preço da cesta de consumo do

trabalhador. Como o trabalhador recebe o equivalente ao valor de troca de sua força

de trabalho, que corresponde ao valor de sua cesta de consumo, socialmente e

historicamente atualizada, a redução do valor desta cesta, promove a perda de

importância relativa do salário frente ao lucro, podendo garantir ao capitalista

maiores lucros.

A disputa intercapitalista por elevar sua capacidade de produzir riqueza abstrata

o empurra a elevar de forma indeterminada o trabalho morto frente ao trabalho vivo

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na produção, isso para garantir que sua produção transcenda a eficiência média da

produção de tais mercadorias. Buscando a mais-valia extraordinária, os capitalistas

adquirem muitas vezes a mais-valia relativa, porém, tal mecanismo, segundo Marx,

preda a capacidade do capitalista elevar as taxas de mais-valia, causando inclusive

uma tendência de declínio das taxas de lucro.

Para Marx, a queda tendencial da taxa de lucro é o processo de perda de

capacidade de produzir riqueza abstrata, valores de troca, de garantir o processo de

valorização do capital. Seria inapropriado sugerir que a sociedade capitalista tenda à

redução de sua capacidade produtiva. Analisando o capitalismo mesmo de forma

superficial, se verificará que este sistema tem se demonstrado um sistema da

fartura, de abundâncias, de excesso e de desperdício. Ainda que conviva com

profundas desigualdades, com miséria, com fome, com grande concentração de

renda, a riqueza concreta e a produção de valores de uso estão abundantemente

presentes em tal sociedade. A queda da taxa de lucro tende a gerar crises, por

reduzir investimentos, gerar desemprego e a pressionar a redução de salários.

O que Marx traz no capital, já ensaiado no Grundrisse é que o capitalismo não

desenvolve tecnologias para melhorar as condições de trabalho dos trabalhadores,

não produz tecnologias baseadas nas leis de mercado para reduzir a pobreza e a

miséria, ele o faz para elevar sua capacidade de produzir valores de troca. E a cada

momento que um capitalista inova em sua forma de produzir, gastando menos

tempo social de trabalho, este se apropria de uma valorização do valor diferente dos

outros capitalistas, mas quando esta inovação se difunde na produção, a

apropriação de mais-valia volta a ocorrer de forma equivalente para todos

capitalistas, porém com uma peculiaridade, demandando menos horas de trabalho.

A redução de trabalho necessário para produzir uma mercadoria também

representa a redução de valor de tal mercadoria no processo de rotação do capital.

A tecnologia criada que elevou a mais-valia de um determinado capitalista, quando

difundida na cadeia produtiva da respectiva mercadoria, provoca provável redução

de preço e da capacidade do detentor do capital apropriar-se de riqueza abstrata.

Para que o capitalista consiga retomar sua vantagem frente aos seus concorrentes,

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precisa imprimir outro avanço tecnológico, utilizando-se do que Schumpeter

chamaria de monopólio temporário. O capitalista passaria mais um período

apropriando-se da mais-valia extraordinária, com elevação da composição orgânica

do capital, elevando assim o trabalho passado, cristalizado em meios de produção, e

reduzindo a força de trabalho criadora de valor.

O caráter endógeno do desemprego no capitalismo é um elemento fundamental

no processo de funcionamento e reprodução do sistema. Para fundar suas bases, o

capitalismo impôs o trabalho nos moldes da revolução industrial por meio de intensa

violência física, cultural e moral. No processo de acumulação primitiva, o sistema

precisou mudar radicalmente a lógica de trabalho feudal, baseada no trabalho no

campo – que obedecia a dinâmica natural das estações do ano – e em um conjunto

de obrigações do servo, o qual não almejava ascender a senhor. A lógica feudal

mencionada é contrária à produção de mercadoria, produção de riqueza abstrata.

Como já mencionamos, os trabalhadores foram atraídos para as cidades e

condicionados ao trabalho industrial, por salários relativamente maiores do que os

do campo, situação que não perdurou. Consolidado o estabelecimento de relações

capitalistas de produção, os detentores do Capital precisavam elevar seu poder

político e econômico e, segundo Kalecki (1977, p.54-55), certo nível de desemprego

é fundamental para a manutenção da disciplina na fábrica e da estabilidade política.

O autor chega ao extremo de afirmar que o capitalista prefere estes fatores ao lucro.

Kalecki (1977) lembra que o pleno emprego poderia retirar o caráter disciplinar

das demissões, podendo causar uma elevação no nível de confiança dos

trabalhadores, que estariam mais suscetíveis a questionar poder patronal. O autor

defende ainda que é provável que os lucros em um quadro de pleno emprego sejam

maiores, ainda que o os salários crescessem em um ambiente de elevado poder de

barganha do trabalhador. Mas Kalecki apresenta que os aumentos dos salários

estavam mais propensos a elevar preços do que a reduzir os lucros.

O ambiente de pleno emprego descrito por Kalecki sugere ainda que a elevação

do poder de barganha dos trabalhadores os colocaria em processos crescentes de

elevação da radicalidade nas greves, podendo colocar em xeque o próprio sistema.

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Para o autor, certo nível de desemprego é inerente do sistema e a tecnologia

produzida por este sistema tende a obedecer tal lógica.

A dimensão tecnológica do exército de reserva repousa na necessidade que o

capitalista tem de se livrar das vicissitudes do trabalho do homem, trabalho repleto

de incertezas e imprevisibilidades. O detentor do capital tem que se livrar do trabalho

humano, repleto de reivindicações e desejos de melhoria das condições de trabalho.

Assim, a elevação da composição orgânica do capital, a elevação do trabalho morto

frente ao vivo e a automatização da produção, servem ao capitalista de duas formas:

no primeiro momento da inovação, funciona como um instrumento para a

apropriação de mais-valia extra, quando esta inovação (que eleva a mecanização da

fábrica) se difunde de forma relativamente uniforme na produção. Além disso, o

trabalho vivo é reduzido na produção como um todo, “livrando” cada fez mais os

capitalistas do poder de barganha dos trabalhadores. A elevação do trabalho morto

na produção garante a criação de um exército de reserva, formado por

desempregados que devem estar aptos para assumir os postos de trabalho sempre

que os trabalhadores colocarem o poder do capital em xeque em seus postos de

trabalho.

A estratégia de impedir obsolescência e reduzir o poder de barganha do

trabalhador está respaldada em impedir que os trabalhadores se vejam como classe,

que compartilhem entre si os mesmos dilemas e dificuldades. A estratégia de utilizar

o desemprego como ameaça só se faz eficiente se os trabalhadores não agirem

conjuntamente. Esta constatação se faz presente em inovações organizacionais, nas

quais as empresas criam diversas diferenciações entre trabalhadores de um mesmo

setor e em alguns casos da mesma função. As distinções entre trabalhadores

expressa outra forma de garantir um elevado nível de controle e estabilidade aos

capitalistas, potencializando a tensão que é causada pela elevação do nível de

desemprego.

Marx ressalta a dimensão da tecnologia na produção de um exército industrial de

reserva, elemento fundamental para a estabilidade do capitalismo e reprodução de

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suas bases. Couto, Freitas e Couto (2009) apresentam uma síntese bastante

relevante para Marx:

de acordo com as idéias de Marx, que a maquinaria era, em parte, responsável pelo desemprego, mas que novos investimentos poderiam absorver os trabalhadores demitidos. Marx não apontou com clareza, mas demonstrou que sabia que o desemprego dependeria da velocidade de crescimento de quatro variáveis: 1) o avanço tecnológico; 2) o crescimento populacional; 3) a taxa de acumulação de capital (ou novos investimentos); 4) e a redução da jornada de trabalho (COUTO, FREITAS e COUTO, 2009, p. 13).

Os autores ainda apresentam que a elevação da composição orgânica e o

aumento populacional são duas forças que impulsionam o desemprego, enquanto a

elevação dos investimentos e a redução da jornada de trabalho promovem a

elevação do nível de ocupação. Observando a variação do nível de emprego durante

o século XX, os autores sugerem que os elementos geradores de empregos tem se

apresentado com maior relevância e energia.

1.3. Schumpeter

Schumpeter foi um dos mais importantes economistas do século XX. Escolheu a

analisar a economia a partir de um horizonte que transcende o curto prazo e com

isso vislumbrou uma economia diferente dos equilíbrios neoclássicos. Para ele os

equilíbrios tendem a se modificar à medida que se modificam determinados padrões.

O progresso econômico para o autor se dá de forma descontínua porque

obedece a ciclos e está vinculado a determinado paradigma tecnológico, que

corresponde a um conjunto de tecnologias que influencia a economia capitalista.

Estes paradigmas determinam tecnologia, produtos, matérias primas, forma

organizacional, etc. Cada vez que estes ciclos estão em expansão, se verifica um

processo de crescimento econômica com mais investimentos, elevação do nível de

empregos, surgimento de tecnologias convergente com tal paradigma e certo

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rearranjo institucional. As crises se verificam quando tal paradigma é incapaz de

atribuir o dinamismo que a economia capitalista necessita, com as taxas de lucro

almejadas pelos proprietários dos meios de produção. A busca de um equilíbrio e a

acomodação da expansão anterior tendem a constituir uma das faces das crises

capitalistas. Schumpeter (1997) apresenta abaixo o caráter cíclico da acumulação

capitalista, afirmando que:

a natureza econômica da depressão reside na difusão das conquistas do boom por todo o sistema econômico, por meio do mecanismo da luta pelo equilíbrio; e que somente reações temporárias, que apenas em parte são necessárias ao sistema, é que obscurecem esse traço fundamental e produzem o clima expresso pela palavra depressão. (SCHUMPETER, 1997, p. 233)

Valendo-se do estudo estatístico de Kondratiev, Schumpeter sustenta sua

construção teórica em sólida base empírica. Kondratiev, após observar

estatisticamente períodos de ascensão de declínio da economia mundial, percebe

que os padrões se modificam a cada 50 a 60 anos e os ciclos menores,

denominados “Juglar”, variam de 8 a 10 anos. Schumpeter identifica que estes ciclos

estão associados a mudanças da base técnica de cada ciclo.

Rattner (1988) identifica nos ciclos a decolagem, a prosperidade, a recessão e a

depressão, como segue no quadro abaixo.

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QUADRO 1.1 - Ondas longas ou ciclos econômicos com (com base em Schumpeter)

FASES DECOLAGEM EXPANSÃO RECESSÃO DEPRESSÃO

CICLOS A B C D

1o 1770-1785 1786-1800 1801-1813 1814-1827

2o 1828-1842 1843-1857 1858-1869 1870-1885

3o 1886-1897 1898-1911 1912-1925 1926-1937

4o 1938-1952 1953-1973 1974-1985 1986...

FONTE: CARDOS E GUEDES (1999, p. 46)

Quando o empresário Schumpeteriano introduz uma inovação assimilada pelo

mercado, este empresário desfrutará por certo tempo do um lucro chamado por

Schumpeter de extraordinário, que não diferente de Marx, é o prêmio recebido pelos

inovadores, impulsionadores do progresso capitalista. Este desfrutará de tais

benefícios por certo tempo, até que perca seus benefícios por fatores institucionais,

como o fim de uma patente, ou econômicos, como a criação de outra inovação que

supere a vigente.

Tendo a inovação tecnológica como o motor de desenvolvimento capitalista,

Joseph Schumpeter atribui grande importância aos empresários, responsáveis por

garantir a implementação e difusão da invenção na sociedade. O que chamou de

“empresário schumpeteriano” é o empreendedor, capaz de difundir a invenção pela

economia, gerando ondas de desenvolvimento e inovação.

O autor faz uma diferenciação bastante relevante entre grande inovação e

pequena inovação. Pequena inovação é aquela que eleva a produtividade sem

causar rompimento com o padrão de desenvolvimento vigente até então. A grande

inovação é a que gera diversas outras inovações periféricas, derivadas da primeira.

Esta deve possuir elemento que permita se difundir por toda a economia, causando

mudanças no nível de produtividade, mas também em formas de produzir matérias

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primas, padrões de acumulação. Este tipo de inovação ainda promove o que

Schumpeter chama de destruição criativa, elemento fundamental na construção do

entendimento do autor sobre o desenvolvimento capitalista e as possibilidades de

criação de desemprego no processo de inovação tecnológica.

Schumpeter não se debruçou com afinco sobre o debate do desemprego

tecnológico. Para ele, esta modalidade de desemprego é verificada não só quando

existe mudança técnica, mas também quando se verifica mudanças organizacionais

ou outras. Como as mudanças tecnológicas são um condutor do progresso no atual

sistema, ele acreditava que mesmo inovações de outra natureza, que não

tecnológicas, são derivadas de mudanças tecnológicas. Certamente, o fordismo não

seria possível sem os diversos progressos tecnológicos verificados nas revoluções

industriais, é impensável a organização fabril sem a existência da esteira, para

simplificar e rotinizar o trabalho.

Schumpeter não acreditava na dicotomia criada entre desemprego cíclico e

desemprego tecnológico. Utilizando os ciclos de longa duração de Kondratiev,

constata que as mudanças tecnológicas promovem ciclos de expansão e depressão

da economia. O declínio é causado pela saturação de um determinado padrão

técnico, e com isso, verifica-se elevação do desemprego. Mas este desemprego,

para Schumpeter, será inevitavelmente superado pela dinâmica capitalista, que

promoverá novas inovações e oportunidades de investimentos. Este processo

gerará elevação dos investimentos nas novas tecnologias, com elevação de crédito,

vigor econômico e criação de novas cadeias produtivas.

À medida que os investimentos na nova tecnologia amadurecem, as economias

de escalas chegam aos extremos e existe pressão pela manutenção dos lucros. O

nível de emprego tende a parar de crescer e investe-se em tecnologias poupadoras

de força de trabalho.

Em “Teoria do desenvolvimento Econômico”, Schumpeter (2007, p. 233) afirma

que não existe uma dicotomia entre em o caráter cíclico e tecnológico do

desemprego. Tanto o lucro extraordinário, quanto o desemprego tecnológico são

efêmeros e não devem ser considerados permanentes. Se o desemprego

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tecnológico é criado por ciclos e superado em ciclos, seria incongruente não

considerar o desemprego tecnológico como cíclico. Na medida em que as

inovações criam tecnologias poupadoras de força de trabalho, estas geram outros

postos de trabalho em outra indústria ou ramo da economia.

No momento do boom por elevação dos investimentos se verifica um aumento

da produção, do nível de emprego e dos salários. O boom se expressa em

tecnologias poupadoras de trabalho, mas não necessariamente cria desemprego,

dado o processo de expansão da economia. Ainda que as tecnologias poupadoras

de emprego gerassem algum nível de desemprego, este seria transitório, uma vez

que a elevação dos lucros provocaria expansão dos investimentos. (SCHUMPETER,

2007)

Segundo Freeman et alii (1982, p. 27 apud TOYOSHIMA), Schumpeter não

contava com a elevação do nível geral de desemprego. Para ele, ocorreria uma

transferência dos empregos de um setor da economia para outro, ou seja, a

destruição em um setor e a criação em outro. O alto nível de desemprego não se

daria por progressos técnicos, ou baixo nível de geração de empregos, mas sim por

fenômenos transitórios e presentes em períodos de crise, como falta de demanda

efetiva e indisposição do empresário em investir.

O desemprego tecnológico não foi o alvo central de análise de Schumpeter. Para

ele esta modalidade de desemprego faz parte do processo de acumulação

capitalista em períodos de expansão da economia e tende a desaparecer, sendo

que em momentos de crise os índices de desemprego se elevam. Assim, este

desemprego tem um caráter transitório como os outros fatores cíclicos do modo de

produção capitalista.

1.4. Neo-schumpeterianos

Os teóricos chamados de neo-schumpeterianos resgatam a contribuição teórica

de Schumpeter para compreender a relação entre ciclos econômicos e inovações

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tecnológicas, mas acrescentam outros elementos à visão de Schumpeter. Utilizam-

se de elementos da teoria pós-keynesiana como as expectativas, partindo do

pressuposto que a incerteza tem um papel fundamental no ímpeto do empresário

inovador realizar investimentos em novas tecnologias. Os neo-schumpeterianos

estabelecem um bom diálogo com a teoria regulacionista, uma vez que acreditam

que as mudanças institucionais são elementos fundamentais tanto no processo de

desenvolvimento econômico, como no desenvolvimento de novas tecnologias.

Os autores neo-schumpeterianos assimilam o conceito de ciclos longos para

caracterizar determinada fase da economia capitalista e como se realiza o processo

de acumulação. Acreditam que nos ciclos verificam-se “tempestades periódicas de

destruição criativa que representam revoluções tecnológicas que promovem saltos

quantitativos na produtividade industrial” (PAMPLONA, 2001, p. 42).

. Utilizam-se do conceito de paradigma tecno-econômico para estabelecer uma

determinada inter-relação de elementos técnicos, gerenciais, materiais, de produtos

e etc. Estes estabelecem um determinado padrão de funcionamento da economia. O

padrão está ancorado em um conjunto de tecnologias que se consolidaram com a

superação no ciclo anterior; o processo de consolidação de tal ciclo ocorre com

incorporação de algumas inovações que se desdobram em grande parte da

economia e produzem um efeito em cadeia, gerador de outras inovações menores.

O paradigma tecno-econômico também está ancorado em um determinado padrão

institucional, que influencia e é influenciado pelas tecnologias, formas

organizacionais de produção, etc.

Para os teóricos em questão, o desemprego tecnológico não segue um padrão

universal em todos os ciclos de acumulação. Em cada momento histórico se

verificou uma relação distinta entre tecnologia e emprego. Estes autores acreditam

ser impossível isolar os elementos estruturais dos elementos conjunturais no que diz

respeito à definição do nível de emprego. Desta forma, não é possível abstrair o

desemprego tecnológico dos elementos da conjuntura macro econômica, mudanças

institucionais ou mesmo alterações organizacionais na economia, dado a inter-

relação de tais variáveis (CARDOSO e GUEDES, 1999).

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Uma mudança tecnológica pode, por exemplo, exercer ao menos duas

tendências no nível de emprego da economia. Se por um lado uma importante

inovação tecnológica eleva o nível de investimento, e portanto tende a elevar o nível

de emprego, por outro lado, como se verifica na maior parte dos casos, as inovações

tecnológicas tendem a ser poupadoras de mão de obra. Para identificar se tal

padrão tende a gerar desemprego tecnológico ou não, vai depender de fatores

institucionais, organizacionais e etc.

Uma importante constatação feita por Freeman et alii (1982, p. 75-80) é que um

mesmo padrão tecnológico tende gerar diferentes efeitos no nível de ocupação, em

cada estágio do ciclo. Esta constatação remete mais uma vez à natureza cíclica do

desemprego, presente nos apontamentos de Schumpeter. No início da

implementação de um determinado padrão tecnológico, a elevação dos lucros tende

a gerar mais investimentos e com isso se eleva o nível de empregos e salários.

Neste período, há possibilidades de investimentos conduzirem a economia ao

crescimento econômico. Com o avançar do ciclo, o paradigma se estabiliza e

verifica-se a existência de uma tendência à elevação da concorrência

intercapitalista, que reduz os lucros para lucros normais, diminuindo a incidência de

lucros extraordinários. Neste processo, as inovações tendem a ser mais na esfera

organizacional e não de produtos, são poupadoras de força de trabalho e contribuem

com a geração de desemprego em tal fase do ciclo de acumulação. As inovações

organizacionais estão voltadas, no geral, para racionalizar o processo produtivo, no

intuito de poupar força de trabalho.

Os elementos conjunturais da economia são fundamentais na definição do nível

de emprego. A escassez de investimentos tende a gerar baixo crescimento e

elevado desemprego. Este fator pode estar ligado ao padrão tecnológico, pois se o

paradigma requer uma utilização intensiva de capital, são necessárias quantidades

ainda maiores de investimentos para gerar a demanda por uma unidade de trabalho.

A elevação dos investimentos ainda assim pode não impactar o nível de emprego.

Segundo Clark (1987, p. 107) os casos são: investimentos em racionalização da

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produção, ao invés de investimentos em expansão e investimento em reposição de

capital fixo.

O elemento institucional também é fundamental na definição do nível de

emprego, uma vez que a legislação trabalhista, o poder de barganha do sindicato, a

existências de um determinado monopólio, ou determinada cultura, estabelecem

inflexibilidades no nível de emprego, salário, ou tipo de ocupação. Mesmo que

houvesse possibilidade técnica para uma produção que gerasse maior nível de

emprego, haveria resistência a mudanças, enquanto não se alterasse tal padrão

institucional.

Para os neo-schumpeterianos os problemas de desemprego são enfrentados

com políticas públicas de ordem fiscal e monetária, estimulando a geração de

crescimento e emprego. Para tal linha teórica, é necessário verificar no atual

paradigma tecno-econômico onde estão as maiores oportunidades de crescimento

com geração de empregos. Eles defendem que são necessários investimentos em

setores dinâmicos, que geram possibilidades de novos investimentos para geração

de emprego e crescimento também no longo prazo. A busca do pleno-emprego é um

elemento central para os neo-schumpeterianos. Toyoshima apresenta os principais

pontos que relacionam o nível de emprego com tecnologia na visão neo-

schumpeteriana.

1) tal impacto só pode ser estudado a partir de uma análise global do processo de acumulação capitalista; 2) esse processo deve ser estudado do ponto de vista dinâmico, dando importância não aos aspectos estáticos relacionados ao equilíbrio e à permanência nele, mas como as mudanças ocorrem e como elas influenciam a acumulação de capital; 3) desse ponto de vista, o progresso técnico é fundamental para explicar a dinâmica capitalista; 4) a economia evolui através de grandes ciclos relacionados a determinado paradigma "tecno-econômico"; 5) cada ciclo longo se caracteriza pela predominância de um conjunto de novas tecnologias que alteram toda a estrutura da economia; 6) cada ciclo longo tem características próprias, portanto o efeito da tecnologia sobre o emprego deve ser analisado segundo as especificidades da técnica, do padrão organizacional, do ambiente global da economia e das instituições de cada período; 7) a história, assim, é fundamental para caracterizar cada período, uma vez que as configurações passadas acabam por delimitar o escopo

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das configurações futuras; 8) os impactos da tecnologia sobre o nível de emprego dependem não só do tipo das inovações tecnológicas, mas da fase do ciclo em que a economia se encontra; 9) no mundo real existem diversas inflexibilidades técnicas e institucionais que impedem que a economia caminhe inequivocamente para um equilíbrio de pleno-emprego; e 10) em razão disso, as políticas públicas cumprem papel fundamental na geração de emprego. (TOYOSHIMA, 1997, p. 34)

1.5. Teoria da Regulação

A teoria regulacionista, ou neomarxista, apresenta considerável similaridade à

neo-schumpeteriana. As duas visões consideram os avanços tecnológicos e as

mudanças institucionais elementos centrais para a compreensão do processo de

desenvolvimento capitalista. O que distingue uma da outra é fundamentalmente a

importância que cada um dá às variáveis institucionais e tecnológicas. Para os neo-

schumpeterianos os elementos tecnológicos tem maior protagonismo no processo

de desenvolvimento capitalista, já para os regulacionistas as instituições são

elemento de maior relevância. Para a escola da regulação, o emprego pode sofrer

modificações qualitativas e quantitativas sem ocorrerem modificações substanciais

na tecnologia, apenas por readequação dos elementos institucionais.

A escola em questão possui forte influencia da visão de Marx quanto à

importância das relações sociais no desenvolvimento da sociedade capitalista. Boyer

(1988, 1990) apresenta que na visão regulacionista o processo de desenvolvimento

do sistema cria periodicamente obstáculos à continuidade de acumulação capitalista,

culminando assim nas crises. Com as devidas readequações das instituições, pode-

se trazer estabilidade ao sistema com o objetivo de desobstruir o processo de

acumulação. Estes mecanismos são conhecidos como regulação. A regulação

medeia fatores econômicos com não econômicos a fim de estabilizar, ainda que

temporariamente, o processo de acumulação. Como isso, se busca regular política

monetária, concorrências, relações salariais e comércio internacional.

Por herança da escola marxista, os regulacionistas atribuem muito valor ao

processo histórico de desenvolvimento da sociedade. As melhores formas de regular

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determinadas instituições variam de acordo com o momento histórico e suas

instituições. A melhor configuração de regulação das relações salariais não são as

mesmas no começo do século XX e no início do século XXI. A cultura do povo, a

legislação, as tecnologias e o padrão de acumulação capitalista são bem distintos de

um período para o outro e requerem diferentes formas de regulação para gerarem

os benefícios sociais possíveis. Para os neomarxistas, o futuro não está

predeterminado, o progresso ocorre em um ambiente de múltiplas possibilidades, o

desenvolvimento surgirá como fruto do conflito dialético de diversas variáveis

(PAMPLONA, 2001).

Uma importante distinção entre os regulacionistas e os neo-schumpeterianos é a

utilização de ondas longas para explicar o progresso capitalista. Os regulacionistas

não creem em uma ligação tão direta entre o boom e crises com as mudanças

tecnológicas. Esta vinculação obrigatória aponta para certo determinismo

tecnológico, que perde capacidade de explicar a realidade. Em muitos momentos na

história se verificam crises que não estão vinculadas a mudanças no regime de

acumulação.

O exemplo levantado por TOYOSHIMA (1997, p. 37) foi o estabelecimento do

fordismo. No pós-segunda guerra não se verificaram mudanças no regime de

acumulação, mas existe uma crise na relação em entre a capacidade produtiva e a

demanda. Com regulação nas relações salariais, foi possível incluir os trabalhadores

na gama de consumidores, com isso ampliou-se o mercado, elevaram-se a

produção e os lucros, incentivou-se novos investimentos e provocou-se um ciclo

virtuoso de desenvolvimento (PAMPLONA, 2001). Isso não significa que as

mudanças tecnológicas não possam desencadear crises no padrão de acumulação.

Para os regulacionistas, as crises mais graves se verificam nas mudanças de

paradigma tecnológico, uma vez que estas mudanças requerem outras formas de

articular as produção, altera relações salariais, relacionam-se com necessidades da

sociedade, etc..

Assim, as diferenças fundamentais dos regulacionistas para os neo-

schumpeterianos estão na aceitação das ondas longas e por conseqüência na

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importância que cada escola atribui à tecnologia e aos fatores institucionais. De

acordo com a escola regulacionista, a variação de emprego está mais relacionada a

rearranjos institucionais que tecnológicos. Uma grande modificação tecnológica

tende a causar impactos transitórios no nível de emprego, mas à medida que ocorre

uma rearticulação entre as instituições, os impactos tendem a ser mitigados pelas

modificações nas legislações, na ação dos trabalhadores e nas demandas sociais.

A análise regulacionista está fortemente influenciada pela visão marxista com

relação aos avanços do modo de acumulação capitalista e possui grande

interlocução com a visão neo-schumpeteriana. O que marca a escola regulacionista

é descartar o equilíbrio de mercado para entender o desenvolvimento econômico, a

partir da constatação de que a sociedade e a economia se comportam de formas

distintas dependendo do momento histórico e da região do mundo. O progresso

tecnológico é importante para entender o estágio de acumulação, mas os arranjos

institucionais são mais importantes na definição de dinâmica do sistema e as

relações sociais são fundamentais para entender a forma de desenvolvimento da

sociedade (TOYOSHIMA, 1997).

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2. O DESEMPREGO E AS MUDANÇAS TECNOLÓGICAS

2.1. A maquinaria e a Primeira Revolução Industrial

Em “O Capital”, quando Marx (2003) cita John Stuart Mill no capítulo sobre a

maquinaria, ele o faz com o intuito de expor a obviedade concluída por Mill. Para

Marx, o processo de avanços das forças produtivas não pode ser outro, que não,

baratear a mercadoria, reduzindo o tempo de trabalho pago ao trabalhador e,

consequentemente, ampliando o trabalho não pago.

No citado capítulo, o autor expõe a visão simplista de economistas, matemáticos

e mecânicos quanto à definição de ferramenta e de máquina. Sugerem estes que a

máquina é uma ferramenta complexa e a ferramenta é uma máquina simples. Para

Marx, tal definição não tem utilidade do ponto de vista da análise econômica e

requer profundidade de análise, transcendendo a aparência do processo de

progresso tecnológico e, por consequência, dos avanços das forças produtivas.

Outra distinção também citada pelo autor entre máquina e ferramenta está no

elemento determinante da força motriz da máquina. Se esta é movida por força

humana, é classificado como ferramenta, se “por uma força natural, diversa a do

homem como força animal, força da água, a do vento e etc” (Marx, 2003, p. 428)

deve ser classificado como máquina. Tal definição é incoerente na visão do autor,

visto que se assim o fosse, aceitar-se-ia que a criação das máquinas precede aos

ofícios manuais, uma vez que a aplicação de força animal pelos homens é uma das

mais antigas invenções da humanidade.

Para uma distinção adequada entre máquina e ferramenta, Marx sugere uma

análise mais atenta ao funcionamento da máquina e de seu processo de

desenvolvimento. O autor define as três partes fundamentais na composição de uma

máquina, que são: o motor que produz a força motriz do mecanismo, através de

vapor, rodas d’água, força animal, vento, ou até mesmo força humana; a

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transmissão, que é o mecanismo que converte o movimento gerado pelo motor para

um movimento adequado à máquina-ferramenta – este elemento é formado por

engrenagens, cordas, rodas dentadas, barras, cabos e outras formas de transmitir a

força do motor –; e por último o autor descreve a máquina-ferramenta, que é o

mecanismo que “se apodera do objeto do trabalho e o transforma de acordo com o

fim desejado” (Marx, 2003, p.429). Para Marx, as inovações nas máquinas-

ferramentas permitiram a revolução industrial do século XVIII, visto que a máquina-

ferramenta que é capaz de “transformar um ofício ou manufatura em exploração

mecanizada”.

Assim, Marx atribui as transformações observadas no modo de produção

capitalista aos avanços da máquina-ferramenta. Tais avanços automatizaram o

ofício que a manufatura fracionou, racionalizou e cujas operações simplificou. A

máquina-ferramenta possibilitou os avanços na produção superando os limites

orgânicos do homem, que restringe a quantidade de ferramentas que poderiam ser

operadas pelo trabalhador2.

Marx lembra que na Alemanha tentou-se colocar um fiandeiro para fiar com as

duas mãos e com os dois pés, mas não deu certo. Depois se tentou por meio de um

pedal que os fiandeiros fiassem com dois fusos. Mas, segundo Marx, “encontrar

fiandeiros que conseguisse realizar tal procedimento, era tão raro quanto homem de

duas cabeças” (MARX, 2003). Depois, a máquina de fiar de Jerry, logo no começo,

já fiava de 12 a 18 fusos. Assim, é demonstrado que a revolução industrial direciona-

se inicialmente à emancipação da máquina no que diz respeito à construção da

mercadoria, relegando ao homem o papel de força motriz.

Com o avanço da máquina-ferramenta, as máquinas passam o operar

mecanismos cada vez maiores, operando mais ferramentas simultaneamente. Este

processo requer uma uniformidade que o homem não é capaz. Com a expansão da

2 Vale lembrar que a produção de mercadorias demanda uma produção uniformizada, com processos semelhantes, com tempo de produção comparável, para assim permitir a criação de valores de troca.

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revolução industrial e com o crescimento das máquinas, uma força motriz muito

superior a do homem é necessária para colocar em movimento máquinas de

tamanhos colossais. Impõe-se, assim, uma inversão, em que o homem assume o

papel de força motriz do processo de produção. Isso só foi possível porque houve

diversos avanços tecnológicos e foram descobertas novas matérias-primas, como o

aço.

Constata-se, assim, que o processo de mecanização da revolução industrial

absorve do processo produtivo não o trabalho meramente braçal, exercido ora por

um animal, ora por um moinho de vento, ora pelo homem. A maquinaria assume o

manuseio da ferramenta, que possuía um nível de complexidade muito elevado,

quando operado por artesãos do feudalismo ou do pré-capitalismo, mas com o

processo de divisão social do trabalho, permitiu-se um elevado nível de simplificação

na produção, dividindo o trabalho em diversos processos relativamente uniformes e

reproduzíveis por uma máquina. Mas esta máquina que abstrai as sutilezas do

homem, também permite a superação dos limites orgânicos ligados à velocidade,

força e quantidade de ferramentas operadas pelas mãos humanas (ROSEMBERG,

2006).

A observação de Mill quanto ao propósito dos avanços da maquinaria se

demonstra quase tautológico. A máquina veio atender o papel de elevar a mais-valia

e, por sua vez, a taxa de lucro do dono do capital. A maquinaria possibilita ao capital

se valorizar sem limitações orgânicas e subjetivas provenientes do homem, afinal, a

elevação da velocidade na produção é também a possibilidade da redução do tempo

necessário para rotação do capital.

2.2. O Emprego no Período da Primeira Revolução Industrial

A primeira revolução industrial foi um dos períodos de maior transformação

produtiva na história da humanidade. A sociedade, que frequentemente se deparava

com crises de subprodução, caminha para o um estágio das forças produtivas em

que conviveria com crises de superprodução. A primeira revolução industrial foi

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conduzida pelo setor têxtil, indústria de máquina-ferramenta, metalurgia, introdução

da máquina a vapor e, de certa forma, a indústria química na Inglaterra no final do

século XVIII. Esta fase do capitalismo foi marcada por uma revolução nos

transportes também associada aos avanços na exploração do carvão mineral. Um

conjunto de outras inovações de menor relevância foi responsável para o salutar

ganho de produtividade, consolidando assim a transição da manufatura para a

produção fabril.

No período analisado, as relações de trabalho foram radicalmente

transformadas. Os trabalhadores conviveram com profundas mudanças na forma de

organizar a produção, uma vez que se estabelecia maior divisão do trabalho,

diferentes relações hierárquicas, passaram a ter que vender sua força de trabalho a

um capitalista e conviver com um ritmo de trabalho regido pela máquina,

diferentemente do verificado na manufatura. A criação das fábricas conduzem os

trabalhadores para longe de suas residências, gerando migrações para as cidades,

onde passaram também a fazer parte de um mercado de trabalho que se modificava

por fatores cíclicos, sazonais e de progresso tecnológico, deixando os trabalhadores

a mercê das variações do nível de emprego.

A revolução industrial só poderia ocorrer se houvesse uma oferta de força de

trabalho que permitisse tal ritmo de acumulação. Marx (2003, p. 825 – 830), ao tratar

da acumulação primitiva, afirma que o processo de expulsão dos camponeses do

campo, iniciada séculos antes na Inglaterra, permitiu a liberação de força de trabalho

suficiente para dar vazão à expansão do sistema fabril inglês. Já Landes (1994, p.

121), não crê na redução da força de trabalho no campo. Para ele, depois de

demarcação de terras na Inglaterra verificou-se uma elevação da demanda por

trabalho agrícola. Ele argumenta que só ocorreu elevação substancial no nível de

ocupação fabril em meados do século XVIII com a imigração dos irlandeses e

escoceses, com a liberação de força de trabalho promovida pela mecanização do

setor têxtil e com a elevação da população inglesa. O autor sugere ainda que a

ampliação da força de trabalho nas fábricas só foi possível com a incorporação de

crianças e mulheres. Segundo Landes, no início da revolução industrial, a

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insuficiência de força de trabalho contribuiu para a elevação da maquinaria, porém, a

expansão das fábricas só foi possível pela elevação da oferta de trabalho no século

seguinte.

A acumulação de capital, tanto na Inglaterra quanto na Europa, se expandiu a

pleno vapor. A formação líquida de capital na Inglaterra saiu de 5% a 6% para 7% a

8% nas últimas décadas, chegando a meados do século XIX a uma taxa de 10% de

formação liquida de capital. A expansão da indústria têxtil também demonstra as

extraordinárias taxas de expansão da economia inglesa na primeira revolução

industrial. O emprego industrial “passou de 100 mil trabalhadores, em 1770, para

350 mil empregados, em 1800, assim como o aumento da produção de 4 milhões de

libras de algodão, em 1770, para 300 milhões, em 1833” (POCHMANN, 2005, p.

238).

A baixa intensidade de capital e tecnologia permitia uma rápida expansão da

indústria têxtil no período em questão. Marx aponta uma redução dos teares a vapor

em 1861-1968 em uma determinada região, porém mesmo com esta redução, foi

verificada uma expressiva elevação da produção, dado os ganhos de produtividade

impressos pelas novas máquinas. Landes (1994, p.91) aponta que houve uma

elevação expressiva no número de teares mecânicos na Grã-Bretanha como é

possível observar na tabela abaixo.

TABELA 2.1 - CRESCIMENTO DO NÚMERO DE TEARES MECÂNICOS NA GRÃ-BRETANHA - 1813 - 1850

Teares Ano

2.400 1813

14.150 1820

55.500 1829

100.000 1833

250.000 1850

FONTE: TABELA ELABORADA COM DADOS DE LANDES (1994)

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Os investimentos na indústria ocorreram em todos os setores que englobavam

tal fase de acumulação. A produção de “ferro-gusa, por exemplo, foi de 17.350

toneladas em 1740, 68.300 em I 788. 258.206 em 1806, 58!.367 em 1825, 1.248.781

em 1839 e 2.701.000 em 1852” (TOYOSHIMA, 1997, p 45). A Rede ferroviária saiu

cresceu quase cinco vezes de 1850 a 1870. A produção de sabão cresce 75% de

1820 a 1835 (LANDES, 1994). É possível identificar na tabela abaixo a taxa de

crescimento industrial no Reino Unido no século XIX.

TABELA 2.2 - TAXA DE CRESCIMENTO DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL DO REINO UNIDO — 1800-1869

ANOS %

1800/09-1810/19 22,9

1805/14 - 1815/24 29,5

1810/19- 1820/29 38,6

1815/24- 1825/34 45,2

1820/29- 1830/39 47,2

1825/34 - 1835/44 410

1830/39 - 1940149 37,4

1835/44 - 1845/54 38,7

1840/49- 1850/59 39,3

1845/54- 1855/64 33.2

1850/59 - 1860/69 27,8 FONTE: Deane e Cole (1962, p. 297).

Marx, ciente da importância da elevação dos lucros no período analisado para

manter as altas taxas de investimento, fez o levantamento da expansão dos lucros

de 1853 a 1864. Em apenas 11 anos o autor verificou 50,47% de elevação dos

lucros. Estes lucros consistiam em 84,76% nas pedreiras, “das minas 68,85%, das

fundições 39,92%, da pesca 57,37%, das usinas de gás 126,02% e das ferrovias

83,29%” (MARX, 2003, p. 753).

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2.3. O emprego na primeira fase da revolução industrial

A expansão da indústria têxtil irradiou dinamismo para grande parte da

economia. Os progressos técnicos se reproduziram em outros ramos da indústria,

impulsionando outros processos menores de inovação de menor relevância. A

inovação em determinado setor impunha ganhos de produtividade a outros, para

possibilitar a continuidade de expansão. A elevação da riqueza e da demanda

viabilizou a criação de diversos outros ramos de produção com um vasto campo de

possibilidades de investimentos.

Ainda que a implementação da maquinaria tenha contribuído para uma elevação

da produtividade do trabalho, reduzindo a quantidade de horas de trabalho por uma

unidade de produto, a elevação dos investimentos, a ampliação do mercado e a

criação de ramos de atuação na economia permitiram uma elevação no nível geral

de empregos. Landes (1994) apresenta que existem outros fatores para o elevado

nível de ocupação e que não estão diretamente associados à indústria. Segundo ele,

um dos motivos é o fato da transição das oficinas doméstica para a indústria não ter

ocorrido de imediato em toda a economia. Além disso, o crescimento populacional

também gerou expansão da demanda por diferentes bens e serviços e se verificou a

criação de diversas outras ocupações domésticas.

Como já foi observado, mesmo com o aumento da produtividade do trabalho, o

nível do emprego crescia por conta da elevação da produção, da demanda e dos

investimentos. Em meados do século XIX, o setor têxtil expandiu 67% dos postos de

trabalho em aproximadamente 15 anos (LANDES, 1994, p. 126). Marx confirmava a

expressiva elevação da ocupação na indústria têxtil inglesa. “Em 1835 havia 354.684

trabalhadoras em fábricas têxteis em geral - de lã, de algodão, de linho e de seda -,

enquanto em 1861 só os tecelões em teares a vapor somavam 230.654 pessoas”

(TOYOSHIMA, 1997, p. 48). Assim mesmo, a expansão extraordinária vivida pelos

ramos tradicionais da economia inglesa do século XIX estava relacionada à

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expansão da indústria revolucionária, uma vez que a elevação da riqueza destas

expandiu demanda por todos os tipos de bens e serviços.

A primeira revolução industrial foi fortemente concentrada na Inglaterra, pois no

século XIX a maior parte da ocupação na Europa concentrava-se na agricultura. A

Alemanha demorou 25 anos a mais que a Inglaterra para atingir a mesma relação

entre trabalhadores agrícolas e operários. A expansão da revolução industrial

ocorreu com menos intensidade na Europa (com exceção da Inglaterra) pela

dispersão da indústria no interior dos países. Como a produção ainda estava ligada

à energia hidráulica e a matérias-primas locais, era difícil a sua saída das regiões

rurais, a assimilação de algumas inovações e a ampliação da produção por meio de

ganhos de escala.

O padrão de acumulação se modificou com a implementação de uma inovação

radical. Esta inovação se expandiu por uma trajetória tecnológica gerando novas

inovações menores e por sua vez aperfeiçoando e criando produtos. A

disponibilidade de tal tecnologia possibilitou a expansão da demanda e criou

necessidades de consumo que inexistiam nos padrões dos séculos XVIII e XIX. Com

a consolidação do padrão tecno-econômico e com estabilização a níveis normais de

investimentos, abre-se espaço para inovações no campo organizacional, que na

prática consiste em uma elevação de produtividade poupadora de força de trabalho.

A elevação da produtividade em meados XIX promoveu uma considerável

eliminação de postos de trabalho. Marx (2003) revela que entre 1861 e 1868 ocorreu

a diminuição de mais de 1,5 milhões de postos de trabalho, mantendo no setor

apenas 3% dos empregos para uma produção superior à verificada em meados do

século XIX. Nas fábricas de seda os fusos tiveram um aumento de 27%, enquanto o

número de trabalhadores foi reduzido em 7% entre 1856 e 1962.

O período da primeira revolução industrial foi marcado por inovações

poupadoras de força de trabalho, assim, as mudanças tecnológicas foram

responsáveis pelo fechamento de muitos postos de trabalho. Dobb (1977, p. 339)

constatou que independente do nível de salários, as tecnologias na primeira

revolução industrial buscava poupar trabalho na produção. Porém, ainda que tenha

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havido elevação da produtividade do trabalho, reduzindo os postos de trabalho, o

desemprego verificado no período em questão não assumiu um caráter permanente.

A economia européia que vira crises causadas por guerras ou pestes, passa a

conviver com crises e booms provenientes do caráter cíclico da acumulação

capitalista. O caráter cíclico do processo de acumulação foi analisado por diversos

autores, estabelecendo critérios distintos para a demarcação de um ciclo ou outro.

[Para Marx] excetuando-se os anos iniciais que vão de1770 a 1815, em que a indústria praticamente só experimentou prosperidade, o período posterior (1816 a 1861) foi marcado por intervalos curtos (às vezes de 1 ano) de depressão e de boom. Hobsbawn (1982, p. 56), por sua vez, apenas assinala alguns intervalos curtos e espaçados de crise e de prosperidade na vida econômica inglesa, durante a primeira metade do século XIX. Landes (1994, p. 241) divide o período em intervalos grandes de deflação e de inflação, que estariam associados, de maneira geral, a anos de estagnação e de prosperidade, respectivamente. Freeman & Perez (1988, p. 50), utilizando em seu enfoque analítico o conceito de ondas longas, identificam dois ciclos de Kondratieff no período – 1770/1780 a 1830/1840 e 1830/1840 a 1880/1890. De comum acordo entre todos os autores, a delimitação do período de grande depressão, que vai de 1873 a 1896, pode ser considerado como um divisor de águas entre a Primeira e a Segunda Revolução Industrial (TOYOSHIMA, 1997, p.50).

Independente da definição de parâmetros para os ciclos, entre os autores

pesquisados é consenso que a economia viveu fortes flutuações entre depressões e

booms e destas flutuações se verificaram grandes variações no nível de emprego.

Dobb (1977, p. 369 e 373) apresenta que de 1873 (final do período de grande

prosperidade) para 1979 o desemprego cresceu 10 vezes, como consequencia dos

seis anos de crise na Inglaterra. Garraty (1978, p. 86-8) registra que no ano de 1829,

em uma população de um milhão de pessoas de uma determinada região do norte

da França, 163 mil recebiam assistência pública, estando 44 mil desempregadas.

Nos períodos de crise cíclicas no século XIX, diversos são os relatos de demissões

em massa motivadas pelo avanço da maquinaria. Diversas formas de assistência

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também foram experimentadas para arrefecer os malefícios gerados pelas crises.

Seria inevitável não remeter à maquinaria a responsabilidade pelo martírio vivido

pela classe trabalhadora, deslocada constantemente de sua posição na produção

para outro setor ou função relativamente desconhecida. Diversos movimentos se

rebelaram contra os avanços da maquinaria, elegendo esta como a algoz

destruidora de seu ganha-pão.

2.4. A luta do homem contra as máquinas e o movimento Luddita

Para Cardoso e Guedes (1999, p. 28), a revolução industrial criou uma massa de

proletariados atraídos para as cidades por salários maiores do que os do setor

agrícola. Quadro que se reverteu com a elevação da oferta de mão de obra nas

cidades, aumentando o índice de desemprego e derrubando os salários para níveis

bastante baixos.

A análise que Marx faz sobre os avanços das forças produtivas por

consequência dos avanços tecnológicos antecede as preocupações dos

economistas clássicos com o desemprego tecnológico. Em “O Capital” o autor cita

Aristóteles, que sugeriu o seguinte:

“Se cada ferramenta, obedecendo às ordens ou mesmo pressentindo-as, pudesse realizar a obra que lhe coubesse, como os engenhos de Dédalo que se movimentavam por si mesmos, ou as trípodes de Hefaísto que iam por si mesmas ao trabalho sagrado, se as lançadeiras tecessem por si mesmas, não seriam, então, necessários auxiliares para o mestre-artesão nem escravos para o senhor” (MARX, 2003).

Suposição demasiadamente otimista, sobretudo em se tratando da sociedade da

mercadoria. Os dispositivos sociais que impulsionam o progresso técnico ou

tecnológico são adequados para cada momento histórico e para cada conjunto de

relações de produção. No capitalismo, a disputa entre capitalistas, a busca de mais-

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valia extraordinária, a produção de mercadoria, o desejo (e necessidade) de

valorização do capital, promovem processos colossais de elevação de produtividade

e produção de riqueza concreta, real. Porém, diferente do que esperavam

Aristóteles, Ricardo (em uma parte de sua obra) ou mesmo Keynes, em seus

momentos de maior otimismo, o progresso tecnológico fundado nos marcos do atual

sistema promove a desocupação da força de trabalho.

O condicionamento do homem ao trabalho industrial se deu baseado em

violência física, cultural e social, como Marx (2003) apresenta no capítulo

“Acumulação Primitiva”. A grande invenção do capitalismo, a fábrica, “democratizou”

o processo de produção, com a simplificação do trabalho em partes repetitivas, o

que permitiu que mesmo um homem sem muita destreza ou preparo trabalhasse na

indústria. Com os avanços da maquinaria, sobretudo na máquina-motriz, foi possível

introduzir também mulheres e crianças na produção, visto que não seria mais

necessária grande força física.

A inclusão da esposa e do filho do trabalhador (ainda que com salários ainda

mais baixos que o dele) no processo produtivo impôs a necessidade de todos os

entes da família garantirem a subsistência e reprodução da força de trabalho e

também gerou maiores tensões na demanda por trabalho. Este processo torna o

desemprego gerado por tecnologias poupadoras de mão de obra ainda mais

impactante no seio da família do trabalhador.

O progresso capitalista está repleto de mudanças tecnológicas que promoveram

desocupação da força de trabalho. Por mais polêmica que pudesse ser a

possibilidade de existência de desemprego tecnológico entre os economistas

clássicos, foram verificadas diversas movimentações de trabalhadores desde o

século XVIII lutando contra o desemprego gerado pelos avanços técnicos e

tecnológicos.

O desenvolvimento da indústria na Europa foi bastante conturbado, com revoltas

violentas de trabalhares que viam seus postos de trabalho serem liquidados por

assimilações de máquinas na produção.

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reações agressivas dos operários contra as novas máquinas em vários países da Europa (Inglaterra, Alemanha, França, Bélgica e Itália) nos anos de 1718, 1724, 1726, 1728, 1740, 1765 e 1802. Três máquinas impulsionaram as revoltas dos trabalhadores: a máquina de fiar automática (1764), a máquina de fiar hidráulica (1769) e a máquina híbrida (1779). Denis (1978) e Smiles (2004) relataram a destruição de várias fábricas na Inglaterra, no ano de 1779, nos condados de Lancaster, Hargreaves, Arkwright e Kay (COUTO, FREITAS E COUTO, 2009, p. 6)

No período citado acima, em meio a diversos levantes de trabalhadores

revoltados com o desemprego gerado pelos avanços técnicos, surge um homem que

viria marcar o movimento operário na Europa. Ned Ludd invade um fábrica no

Leicestershire, na Inglaterra, e destrói uma máquina de tricotar meias. Já em março

de 1812, em Huddersfield, um homem que utiliza pseudônimo de “General Ludd”

escreve uma carta, afirmando que quebrará as máquinas de um industrial. Estes

fatos abrem caminho para movimento de trabalhadores denominado movimento

Luddita. Tal movimento se expande pela Inglaterra, inspirando revoltas de

trabalhadores que viam as máquinas como os geradores do mal que lhes assolava.

Cada vez surgiam mais Generais Ludd que, dependendo do condado, reuniam de

três a oito mil trabalhadores.

O movimento Luddita toma tamanha relevância e organização na Europa que o

parlamento inglês aprova a Lei Frame Braking Act, que estabelece pena de morte

para os trabalhadores envolvidos com a destruição de máquinas. Naquele mesmo

ano, o movimento Luddita do condado de York invadiu uma fábrica e destruiu

máquinas do industrial William Cartwright. Sessenta e quatro trabalhadores foram

julgados e 13 sofreram a pena capital. Com isso o movimento arrefeceu na

Inglaterra, mas teve seu fim após o incidente ocorrido no dia 16 de agosto de 1819,

quando uma multidão que somava entre 60 a 80 mil trabalhadores se reuniu no

parque de Saunt-Peter Field, Manchester, por melhores condições de trabalho. “A

cavalaria do exército inglês disparou em direção à multidão ocasionando 15 mortes

e centenas de feridos. Esta tragédia ficou conhecida como 'O massacre de

Peterloo'.” (COUTO, FREITAS E COUTO, 2009, p. 7).

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2.5. Tratamento dado ao desemprego no século XIX

A elevação do nível de desemprego verificado em momentos de elevação de

produtividade, em especial em períodos de crise, levou diversos pesquisadores a

procurar os verdadeiros motivos do desemprego. As organizações de trabalhadores

atacando as máquinas e os capitalistas certamente foram peça chave para o

entendimento de que o trabalhador não é o responsável pelo desemprego. O cerne

da discussão estava em torno de identificar se era possível ou não o pleno emprego

e que ação o Estado deveria ter frente ao desemprego. A ideia clássica de que o

desemprego era natural e que se regularia naturalmente pelo equilíbrio de mercado

era o principal argumento contra a interferência do Estado no combate ao fenômeno.

O argumento clássico contra a atuação do Estado agiu contra a lei dos pobres na

Inglaterra, que consistia em uma política pública de combate à miséria (GARRATY,

1978, p 79-83).

Durante o período da revolução francesa foi instituído um governo revolucionário

que assumiu para si o desafio de extinção da mendicância. A conclusão do comitê

criado para tal tarefa foi de que a pobreza era fruto do desemprego gerado pela

implementação da manufatura. Muitas vozes se levantaram contra a visão clássica

de leis naturais. Os cooperativistas que não acreditavam na concorrência como

geradora de bem estar para a sociedade, acreditavam ser possível um espécie de

coalizão entre trabalhadores e capitalistas para combater o desemprego gerado pela

implementação da maquinaria. Acreditavam ser capazes de criar colônias, mas

fracassaram. Existiu, ainda, a ação dos sindicatos que não acreditavam na lei

natural, mas que voltaram suas ações para a melhoria de vida dos que estavam

empregados e para as campanhas por elevação dos salários.

Em suma, pouco foi feito para se combater o desemprego involuntário. As mais

importantes ações para combater o desemprego na Inglaterra só foram verificadas

após primeira grande depressão, porém os trabalhadores perceberam que mesmo

com seu baixo nível de organização, em função da baixa homogeneidade das

categorias, poderiam imprimir conquistas para sua classe, registrando inclusive

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redução da jornada de trabalho. As pressões dos trabalhadores forçaram a

regulamentação da jornada de trabalho, com o intuito de reduzir sobretudo a jornada

de crianças e mulheres, que em algumas regiões trabalhavam mais de 13 horas por

dia. Durante a década de 1810 diversos atos Parlamentares reduziram a jornada

para 10 horas diárias, porém a não obrigatoriedade fez com que a regulamentação

não fosse cumprida. Em 1833 uma lei proíbe o trabalho para crianças menores de 9

anos na indústria têxtil, limita para 8 horas de trabalho para as crianças de 9 a 13

anos e no máximo 12 horas diárias para jovens de 13 a 18 anos. E 1844 uma lei

imita a jornada diária das mulheres em 12 horas e das crianças para 6,5 horas

diárias. Apenas 1847 e 1848 foram promulgadas leis fabris que transformavam a

jornada de trabalho da indústria têxtil, equivalendo-a às de outras categorias, ou

seja, reduzindo a jornada de trabalho de adolescentes de mulheres para 11 horas

diárias e depois para 10 horas.

Mesmo com o esforço para regulamentar a jornada de trabalho, ainda era latente

a inconsistência das regulamentações. As pressões por elevação da produtividade

fizeram a jornada de trabalho se elevar de 10 horas diárias durante o século XVIII

para 12 horas no século XIX, ainda que em algumas regiões tenha se verificado a

elevação para 13,5 horas de trabalho por dia no mesmo período. O processo de

acumulação ocorria a pleno vapor, a elevação dos lucros pressionava maiores

investimentos e ampliação da produção e da produtividade. Os trabalhadores, além

de sofrer com as flutuações do mercado de trabalho, com os deslocamentos de

função da nova aplicação da maquinaria, também sofriam com a elevação da mais-

valia absoluta. A expansão extraordinária da indústria do século XVIII e XIX requeria

mais força de trabalho para garantir a acumulação, mesmo ampliando a

produtividade do trabalho com aplicação da maquinaria na busca por mais-valia

extraordinária. A mais-valia absoluta também se elevava por meio da ampliação da

jornada de trabalho de crianças, mulheres, adolescentes e homens. A indústria

geradora de maior pressão por elevação na jornada de trabalho era aquela que

estava no epicentro da revolução industrial, a marca da modernidade no período em

questão.

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A luta pela redução da jornada de trabalho se expandiu conforme os

trabalhadores foram adquirindo consciência de seu poder no processo produtivo e

social da época, mas também – em que pese a visão clássica da naturalidade do

desemprego –, foi constatado que a redução da jornada poderia contribuir na

elevação do nível de emprego, ainda que esta redução não ocorresse de forma

homogênea em todas as categorias e segmentos da sociedade do século XIX.

As mudanças ocorridas com a primeira revolução industrial foram percebidas em

diferentes dimensões pelos trabalhadores. Estes foram deslocados de onde viviam

para outras regiões ou cidades. Passaram a executar funções que desconheciam,

precisando, assim, passar por qualificação. Ainda que a maquinaria impusesse um

trabalho mais dividido, simplificado e rotinizado, o trabalhador precisou aprender

outra natureza de tarefas e conviver com outro nível de desgaste físico em sua

execução. Apesar da elevação da renda per capita em grande parte da Europa, da

elevação da produtividade nas indústrias revolucionárias e em grande parte das

tradicionais e da elevação da jornada de trabalho, o trabalhador continuava a viver

na pobreza.

Ainda que a implementação da maquinaria tenha elevado radicalmente a

produtividade do trabalho em diversos segmentos, destruindo muitos postos de

trabalho, as possibilidades de investimentos e altos lucros mantiveram altos os

níveis de emprego. Ainda que os trabalhadores tivessem convivido com diversos

momentos de desemprego transitório ou friccional, a economia de horas de trabalho

na produção não parece ter criado desemprego tecnológico, ou estrutural. Para além

das variáveis econômicas de redução do desemprego, foram verificados elementos

institucionais para tentar reduzir a violência causada pelas crises cíclicas no tocante

ao nível de ocupação. Isso porque as ações mais consistentes de combate ao

desemprego só foram implementadas no período de maior depressão no final do

século XIX.

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2.6. A crise de mudança da Primeira Revolução Industrial e a transição para outro padrão de acumulação.

A crise de 1873-1896 evidenciou uma mudança substancial no padrão de

acumulação capitalista que promoveu a primeira revolução industrial. Ainda que

existam divergências pontuais sobre a data e como denominar o ciclo de

acumulação, para todos os autores que vislumbram um horizonte de longo prazo em

ciclos, este período corresponde a um processo de mudanças profundas na

estrutura do capitalismo. Verificou-se a mudança de mercado nos Estados Unidos e

Alemanha de concorrencial para monopolista, a retomada do protecionismo na

Inglaterra e a descentralização da indústria agora contando com setores estratégicos

sendo protagonizados pela Alemanha e pelos Estados Unidos.

A crise também evidenciava uma mudança das indústrias geradoras de dinâmica

no sistema, o que culminou com a saída da Inglaterra da condição epicentro do

progresso industrial no mundo. A indústria têxtil perde espaço em dinamismo para

outros bens de consumo duráveis; o motor a vapor e as linhas férreas dão lugar para

o motor a combustão interna, a energia elétrica e o petróleo. Verifica-se a expansão

de diversos novos setores, como a químico-orgânica, e suas cadeias produtivas.

As causas da crise também não são consensuais. Para Schumpeter foi:

insuficiência de demanda de meios de produção, ocasionando elevação do preço

destes, excesso de oferta de bens de consumo, como conseqüência do elevado

nível de investimento do período anterior, e a redução dos investimentos, dado o

grande endividamento dos empresários. Para Dobb (1977), não se tratava apenas

de uma crise, mas de uma depressão, devido à “concorrência desenfreada” que

gerou redução recorde de preços.

A elevação da produtividade com a implementação da maquinaria e com as

diversas outras transformações tecnológicas promoveram uma grande redução na

quantidade de horas de trabalho por unidade de produto. Os elevados lucros

provenientes de uma baixa relação capital/trabalho promoveram não só ganho de

produtividade, mas também espetacular elevação da produção inundando o

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mercado com produtos. Com a produção se expandindo a taxas maiores que a

expansão da demanda, a queda nos preços foi avassaladora. Em 23 anos verificou-

se redução de preços de quase 50% na indústria têxtil, motor do padrão de

acumulação na primeira revolução.

Outro elemento importante na redução dos investimentos foi as elevação do

níveis de salários verificados. De 1860 até 1874 os trabalhadores tinham acumulado

uma elevação real de 38% (Dobb, 1977), aumento pouco expressivo perto dos

ganhos de produtividade dos empresários, mas que teve um impacto considerável

em função da redução dos preços das mercadorias. Fatores como a elevação do

preço da força de trabalho, a redução do preço dos produtos e o crescimento da

oferta a taxas maiores que o aumento da demanda reduziram inevitavelmente os

lucros, levando os capitalistas a terem menos estímulos para investir em expansão.

Este conjunto de fatores levou a nova economia industrial à mais grave depressão

vivida desde então.

2.7. Inovações organizacionais.

A crise apontou para o esgotamento do padrão explorado na primeira revolução

industrial. O processo concorrencial de pequenas firmas relativamente ineficientes

era superado pelo estabelecimento de firmas maiores e com tendência à

oligopolização do mercado. A redução dos lucros, pela elevação dos salários e

redução dos preços, demonstrou a incapacidade do padrão tecnológico sustentar

uma contínua expansão da economia, assim, um conjunto de inovações, agora

organizacionais, passam a ser implementadas nas firmas com o objetivo de tentar

manter os lucros elevados. A assimetria entre as empresas no início da primeira

revolução industrial escondeu a baixa produtividade do trabalhador.

Para Schumpeter, a existência do boom pressupõe a existência de uma crise,

não necessariamente uma depressão. Ele defende que em um processo de

expansão de uma base técnica estimula investimentos nos mais diversos ramos da

produção. O boom provoca elevação da produção com aumento da produtividade e

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no geral com crescimento do nível de emprego. Mas quando um padrão se

estabiliza, existe uma tendência à redução dos investimentos. Com o maior

conhecimento da tecnologia estabelecida e com a trajetória da tecnologia mais

definida, a concorrência se acirra e as empresas tendem a investir mais em

inovações organizacionais.

As inovações organizacionais estão voltadas para elevação de eficiência

produtiva com redução da quantidade de trabalho por unidade de produto. As

inovações organizacionais verificadas no final do século XIX só foram possíveis por

causa dos avanços tecnológicos impressos pela maquinaria, a centralização de

capitais e a redução dos lucros dos empresários, que fariam de tudo para valorizar

seu capital. De um operário chamado Frederick W. Taylor surge a mais importante

inovação organizacional do capitalismo.

Utilizando métodos científicos cartesianos, Taylor criou o que foi chamado de

administração científica, que consiste em planejar a produção, com estabelecimento

de tempo de construção e supervisão rígida sobre cada parcela da produção. Foi

também Taylor que instituiu o pagamento por peça construída, com o intuído de

elevar a velocidade do trabalhador na produção e reduzir as perdas dos empresários

nos casos de baixa eficiência do trabalhador. No período em questão, os elementos

tecnológicos responsáveis pelos ganhos de produtividade foram: melhores matérias

primas, máquinas e equipamentos mais eficientes e intensiva utilização de energia.

Do ponto de vista organizacional, a inovação consistiu na implementação da

administração científica, com melhoria no design das plantas produtivas.

Landes (1994, p. 349) traz importantes conclusões sobre a superação em muitos

setores da Alemanha frente à Inglaterra. Para gerar inovações tecnológicas e

organizacionais era necessário mais que conhecer o processo produtivo, era

necessária uma educação básica e técnica para o trabalhador atuar na indústria e

para continuar na fronteira de inovação do padrão tecno-econômico vigente. Para

isso, era necessário conhecimento científico nos campos da física e da química, e

com isso ser capaz de vislumbrar o leque de possibilidades de investimentos e de

ganhos de produtividade. A Alemanha superou a Inglaterra em vários setores da

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economia, investindo muito mais em formação e qualificação. Tal formação foi

responsável por preparar os alemães para implementarem diversas inovações

pontuais, mesmo em invenções que partiram de outros países, lhe rendendo

importantes ganhos de produtividade. O crescimento econômico vivido pela

Alemanha lhe rendeu elevada taxa de emprego, tendo que recorrer à força de

trabalho da Prússia Oriental e Pomerânia para garantir sua expansão econômica.

O nível de desemprego foi exaustivamente analisado no período da depressão

do final do século XIX. Ainda que prevalecesse a idéia clássica de tratar o

desemprego como algo natural, a persistência do desemprego durante a crise levou

ao questionamento sobre o desemprego involuntário. A aceitação de que existiam

pessoas querendo trabalhar, mas não havia emprego levou países como a

Alemanha, Estados Unidos, Holanda, Suíça, Bélgica, Grã-Bretanha e França a

construírem campos de trabalho para desempregados, o que não funcionou.

Embora a redução da jornada de trabalho tenda a reduzir o nível de

desemprego, as maiores conquistas dos sindicatos na redução da jornada foram nos

períodos de maior nível de ocupação, inclusive convivendo com elevação da jornada

nos períodos de elevado desemprego. É evidente que a redução da jornada de

trabalho ao passo que melhora pontualmente a vida do trabalhador, tende a reduzir

marginalmente o lucro do capitalista. Sendo assim, Marx está certo ao afirmar que a

elevação do nível de desemprego reduz o poder de barganha do trabalhador,

permitindo assim que se eleve o nível de exploração. Na Europa, no período mais

grave da crise, foi elevada a jornada de trabalho, levando a um agravamento do

desemprego, situação revertida no período de boom do ciclo posterior.

“Entre 1870 e 1890, as horas trabalhadas por pessoa, por ano, foi reduzida: na França, de 2.945 horas para 2.770; na Alemanha, de 2.941 para 2.765; no Japão, de 2.945 para 2.770; na Holanda, de 2.964 para 2.789; e nos EUA, de 2.964 para 2.789 horas” (TOYOSHIMA, 1997)

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2.8. Segunda Revolução Industrial e seus diferentes impactos no nível de emprego

A segunda revolução industrial se consolida a partir da grande depressão

vivenciada no final do século XIX. As mudanças dos setores dinâmicos foram

marcas de superação da primeira revolução industrial, que se estabelecera na

Inglaterra em meio a profundas transformações na indústria têxtil, processo que

irradiou inovações e dinamismo para diversos outros setores da economia. A

segunda revolução industrial funda-se na seguinte base institucional: crescimento do

Estado na economia com aumento do protecionismo e elevação dos ganhos de

escala com maior concentração de capital. As bases tecnológicas são: avanços do

motor a combustão interna, petróleo, energia elétrica, bens de consumo duráveis e a

química orgânica e sintética.

Esta mudança de padrões abriu um leque de diversos outros produtos e cadeias

produtivas que transcendia o padrão de acumulação anterior. As pesquisas nos

ramos da física e da química se expandiram para construir motores mais eficientes e

matérias-primas e insumos de melhor qualidade, abrindo possibilidade para o

surgimento de diversos outros produtos industriais, fruto do novo padrão tecno-

econômico.

Um curioso fenômeno verificado no ciclo de acumulação em questão é que este

é divido em dois períodos distintos, dentro de um único paradigma tecnológico. O

primeiro período data de 1896, boom ocorrido pós-depressão no final do século XIX,

se estendendo até a Segunda Guerra. O segundo período se estende da Segunda

Guerra até meados da década de 1970, com a segunda crise do petróleo. O que

chama atenção em tal divisão de ciclos é que a primeira fase foi marcada por duas

guerras e pelo período em que o desemprego mais assolou a classe trabalhadora

nos países centrais, enquanto o segundo foi conhecido como “era de ouro do

capitalismo”. A constatação de crises e booms desconectados de mudanças

tecnológicas fortalece o argumento regulacionista, que afirma não existir ligação

automática entre mudança dos ciclos de acumulação com mudanças de tecnologia.

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Acreditar em tal conexão automática é subestimar a relação dialética das variáveis

institucionais, investindo em um determinismo tecnológico de menor generalidade e

poder explicativo.

2.8.1. Primeira fase da segunda revolução industrial (1898 – 1945)

A primeira fase da segunda revolução foi marcada por grandes flutuações no

mercado de trabalho. As mudanças tecnológicas e organizacionais com a

administração científica da produção elevaram bastante a eficiência do trabalhador,

incrementando muito a produtividade das empresas e reduzindo muitos postos de

trabalho no início do século XX.

Com o avanço tecnológico e mudanças das indústrias dinamizadoras do

progresso industrial, a Inglaterra perde a centralidade do progresso capitalista para

os Estados Unidos e a Alemanha. As indústrias tradicionais no século XX eram mais

importantes para expansão econômica da Inglaterra que setores dinâmicos do

paradigma tecnológico de então. As taxas de investimentos se reduziram depois de

muitos anos de crescimento estável, chegando a uma formação bruta de capital na

década de 1930 de 2,6%. O nível de desemprego atingiu 1 milhão de pessoas, não

ficando abaixo de 9% depois de 1921 (LANDES, 1994, p. 378).

Mesmo a Alemanha, que se transformou em um dos pólos dinâmicos da

segunda revolução industrial, amargou elevadas taxas de flutuação do desemprego.

O elevado crescimento da economia alemã, proveniente do novo paradigma

tecnológico, propiciou a este país elevada taxa de investimentos na década de 1920,

mas não o privou de um desemprego que variou de 7 a 18% (LANDES, 1994).

O crescimento do desemprego, com altas taxas de variação durante a década de

30, foi verificada com mais impacto nos países que assimilaram o padrão tecno-

econômico da segunda revolução industrial. As economias europeias que já tinham

experimentado a aplicação da maquinaria do século XVIII e XIX, em razão da

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depressão do final do século XIX conheciam formas de elevar a produtividade e

como ganhar mercado e elevar os lucros. Se no declínio da primeira revolução

industrial a palavra de ordem já era elevar a produtividade do trabalho com

inovações organizacionais, reduzindo a quantidade de trabalho por mercadoria; a

administração científica associada à nova estrutura de mercado e ao novo padrão

tecnológico possibilitou extraordinários ganhos de produtividade. Tais ganhos

estavam assentados na elevação de eficiência do trabalho e na redução de postos

de trabalho, gerando grande desemprego tecnológico.

Se é possível identificar que até aquele momento havia forte relação entre

elevação da produção e geração de emprego, o novo paradigma tecnológico e seu

arranjo institucional produziu efeito contrário. A tendência de elevação da produção

com elevação do nível de emprego não perdurou, dado o crescimento da

produtividade promovida pelas inovações organizacionais como a administração

cientifica, a mudança de layout das fábricas e as novas matérias-primas. Estes

fatores, associados à nova estrutura de mercado – mais concentrado e com maior

concorrência – e ao declínio da demanda, não sustentaram o nível de emprego.

A produção industrial nos Estados Unidos foi a que mais registrou ganhos de

produtividade e, portanto, economia de força de trabalho. Um dos epicentros no

novo padrão de acumulação e lugar de origem da administração científica, os

Estados Unidos impulsionaram sua produção com máquinas mais eficientes,

inovações organizacionais – como a linha de montagem – e barateamento de seus

produtos para ganhar mercado. Isso foi conseguido economizando em energia e em

força de trabalho. Os Estados Unidos registraram índices muito positivos:

Enorme aumento de produtividade do trabalho - cerca de 43% entre 1919 e 1929 e de 24% entre 1929 e 1933 -, fazendo com que a produção física, entre 1923 e 1929, aumentasse 13%, e o número de assalariados se reduzisse de 7% a 8% [...] Ford em 1921, que reduziu o número de empregados, para a montagem de um automóvel diário, de 16 para 9. A mecanização da empresa Bourville, entre 1926 e 1929, também desempregou 27% de seus 10.000 operários. (TOYOSHIMA, 1994, p. 69)

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A elevação da produtividade do trabalho foi verificada em toda indústria moderna

do início do século XX. Mesmo a Inglaterra, que não acompanhou os Estados

Unidos e a Alemanha no novo paradigma tecno-econômico, registrou mais de 20%

de ganhos de produtividade de 1924 a 1934.

A Alemanha, que vinha em larga expansão econômica desde o final do século

XIX, utiliza sua superioridade técnica – conquistada, entre outras coisas, pelo seu

sistema educacional – para expandir sua capacidade instalada. Os fornos alemães

que produziam 60% da capacidade dos fornos ingleses, em 1910 passam produzir

60% a mais que os fornos ingleses (LANDES, 1994). Com sua extraordinária

expansão da indústria pesada, a Alemanha promoveu a concentração de sua

indústria, melhorando seus métodos organizacionais e registrando ganhos de

escala.

A elevação da produtividade em todo o sistema fabril do centro do capitalismo,

com ênfase para Estados Unidos e Alemanha, foi construída com a concentração

das empresas, com diversas inovações organizacionais e com economia de força de

trabalho. Ainda que se registrasse uma flutuação considerável no nível de emprego,

existiu certo patamar de desemprego que persistiu por muito tempo, o que indicava

desemprego proveniente dos avanços tecnológicos de redução de custos, do

aumento da eficiência do trabalho e da economia de energia e de mão de obra,

indicando assim a existência de desemprego tecnológico.

O desemprego persistente nas principais economias do mundo levou a

modificações institucionais importantes. A elevação do desemprego entre pessoas

que estavam dispostas a trabalhar por qualquer salário em meio à grande crise

alterou a concepção de governos e pesquisadores. A visão clássica de naturalidade

do desemprego foi sendo superada, uma vez que o nível de desemprego subia e a

resposta econômica dada pelos empresários para a crise levava ao aprofundamento

da mesma, com redução de investimentos e inovações poupadoras de trabalho.

Mesmo apontamentos de que o desemprego era reflexo de inflexibilidade de

mercado de trabalho, apresentada por economistas respeitados como Robbins e

Pigou, não se sustentaram com a crise de 1929.

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O Estado passa a modificar sua concepção quanto ao desemprego e avança na

ideia de que era necessário algum tipo de amparo ao desempregado e na ideia de

que o desemprego não era natural e que poderia ser controlado com políticas

públicas. O amparo ao desempregado se consolidou com a instituição do seguro

desemprego, em primeiro lugar na Inglaterra, em 1911, e depois se espalhando para

os outros países. O controle do desemprego surgiu de economistas com visão

distinta as dos clássicos com Irving Fisher, Vesley Clair Mitchell, Ralph Hawtrey e

John Maynard Keynes que acreditavam que a redução da taxa de juros em

momentos de crise e sua elevação em momentos de booms poderiam agir de forma

anticíclica, contendo grandes flutuações do nível de emprego.

A aceitação do desemprego como um problema social e não um problema do

trabalhador, ou mesmo uma realidade econômica imutável, permitiu um conjunto de

políticas públicas de combate ao desemprego e seus impactos na vida da

população. Foi verificado um elevado número de estudos sobre o desemprego,

sobre quem era a população atingida e qual era seu grau de variação. Estes estudos

contribuíram para balizar que tipo de ações deveriam ser tomadas para reduzir seu

impacto. Ainda que a variação da taxa de juros pudesse elevar os investimentos e o

nível de emprego, em momentos de crise os empresários agem de forma distinta

dos períodos normais, assim, a elevação do crédito sem elevação da demanda

efetiva é insuficiente para devolver os estímulos à expansão da produção. E em

algumas situações a elevação do crédito pode resultar em uma elevação da

composição orgânica de capital, não alterando o nível de emprego.

Para elevar o nível de ocupação em ambiente de muita incerteza e armadilha de

liquidez, os países centrais realizaram contratação de milhões de pessoas para

realizar serviços públicos. Nos Estados Unidos, o New Deal empregou em serviços

públicos mais de US$ 3 bilhões para empregar de 25 a 30% dos desempregados em

1933. Ações semelhantes foram verificadas na Alemanha, Suíça e França.

A segunda revolução tecnológica, no período até a Segunda Guerra, foi marcada

por elevados níveis de desemprego tecnológico. A lógica de expansão da economia

em tal padrão tecno-econômico foi tão nociva para o nível de emprego, que obrigou

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o Estado e outras instituições a modificar sua compreensão sobre o desemprego. Os

sinais econômicos só levavam para o agravamento da crise com racionalização da

produção e economia de força de trabalho. Quanto maior era o salto de

produtividade registrado em tal paradigma tecno-econômico, maior era a penúria dos

que dependiam da venda de sua força de trabalho para subsistir. A impossibilidade

lógica de continuar tal ciclo vicioso de elevação da produtividade com redução dos

postos de trabalho levou a uma profunda mudança institucional. O Estado passa a

manter políticas permanentes de redução da flutuação do nível de desemprego nos

países de centro do capitalismo. Antes do fnal da Segunda Guerra mundial governos

como os da Inglaterra, Canadá, Estados Unidos e Austrália assumiram publicamente

que o combate ao desemprego era um compromisso de Estado, não só vicissitudes

do mercado. As idéias de Keynes mudavam o mundo.

2.8.2. Segunda fase - pós-guerra a meados de 1970

Pós-segunda guerra o capitalismo se reorganizou com base em preceitos

keynesianos de organização produtiva e institucional. Contrariando o conceito

neoclássico de dinâmica econômica, a crise capitalista demonstrou que existia um

desemprego que não era voluntário nem friccional. O elevado desemprego

involuntário demonstrou que Keynes estava correto ao afirmar que não era a oferta

que determinava e demanda e sim o contrário.

Com as transformações produtivas criadas pela revolução técnica da indústria

automobilística, indústria química, eletrodomésticos, motor a combustão interna,

aviões e tratores, o capitalismo se expandiu a pleno vapor. Os elevados níveis de

desemprego provocados pelos sucessivos ganhos de produtividade deram lugar a

um período, no pós-Segunda Guerra, com elevado nível de emprego, com

crescimento constante da produtividade. Este fenômeno foi possível por um arranjo

institucional que conjugava ampliação de emprego público e privado, com ampliação

da demanda efetiva através da inclusão dos trabalhadores no mercado consumidor.

Os ganhos de produtividade criavam um ciclo vicioso inovações tecnológicas e

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organizacionais poupadoras de trabalho e geradoras de desemprego. No período

áureo do capitalismo, com o Estado compromissado em manter elevados níveis de

emprego e ganhos de produtividade, foi possível inclusão dos trabalhadores em

altos níveis de consumo.

A intensificação da administração cientifica, com maior sincronização dos

processos produtivos e expansão da energia elétrica na indústria, gerou elevados

ganhos de produtividade. A maior integração da produção permitiu a elevação da

produtividade do trabalhador em cada processo, verificando os gargalos e

vinculando o trabalhador com mais rigidez no processo produtivo. No período em

questão foram implementadas inovações tecnológicas e organizacionais, que só

seriam possíveis em uma indústria concentrada e com elevados ganhos de escala.

A ampliação da produção com redução dos custos unitários só se justificaria em um

ambiente de demanda crescente.

O Estado agia na economia não só como indutor do desenvolvimento, mas

também como produtor de bens e serviços e gerador e emprego. O chamado

welfare state foi marcado pela ampliação do serviço público em diversos países,

como descreve Toyoshima:

Nos EUA o crescimento do emprego público foi maior entre 1960 e 1968 e, no Japão, entre 1968 e 1973. Como conseqüência houve o aumento da participação da administração pública no emprego total. Na Alemanha, por exemplo, tal participação se elevou de 8,0% em 1960 para I 3,0% em 1974; na Suécia, de 12,8% em 1960 para 24,8% em 1974; e nos EUA, de 14,7% para 16,1% nesses mesmos anos. De forma geral, a parcela do emprego público estava acima de 10% em diversos países desenvolvidos em 1974, chegando a quase 20% no caso da Inglaterra. A exceção era o Japão, onde essa taxa era de apenas 6,3% em 1974 (TOYOSHIMA, 1997, p. 76)

Entretanto, a manutenção dos elevados níveis de emprego da era de ouro do

capitalismo não se sustentou apenas com a geração de empregos públicos. O

século XX assistiu a uma acentuada redução das jornadas de trabalho, que

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contrabalançava os elevados ganhos de produtividade provenientes de inovações

organizacionais e tecnológicas poupadoras de força de trabalho.

TABELA 2.3 - HORAS TRABALHADAS POR PESSOA/ANO - 1870-1986

ANO F R A N Ç A A L E M A N H A J A P Ã O H O L A N D A REINO

UNIDO EUA

1870 2.945 2.941 2.945 2.964 2.984 2.964 1890 2.770 2.765 2.770 2.789 2.807 2.789 1913 2.588 2.584 2.588 2.605 2.624 2.605 1929 2.297 2.284 2.364 2.260 2.286 2.342 1938 1.848 2.316 2.391 2.244 2.267 2.062 1950 1.989 2.316 2.289 2.208 1.958 1.867 1960 1.948 2.081 2.430 2.214 1.877 1.835 1973 1.771 1.804 2.195 1.805 1.688 1.754 1986 1.533 1.627 2.099 1.555 1.518 1.683

FONTE: TOYOSHIMA (1997, p. 78).

O arranjo institucional que trazia estabilidade ao fordismo colocava ao Estado de

bem estar social a tarefa de manter elevados os níveis de emprego e renda dos

trabalhadores. Além de reduzir a jornada de trabalho durante o século XX, foi

constituído um conjunto de seguridade aos trabalhadores que lhes permitiu estarem

seguros para consumir e fazer a roda girar. O padrão de acumulação do pós-guerra

garantiu barateamento de bens de consumo duráveis, por meio do crescimento da

produtividade, e aumentou a renda em função do elevado nível de emprego.

O fordismo foi marcado por um arranjo macroeconômico que possibilitou uma

extraordinária acumulação de capital. Ele permitiu um elevado ganho de

produtividade dividindo as partes do processo produtivo em tarefas simples, que

possuíam baixa necessidade de qualificação e que tornavam o processo livre das

vicissitudes e subjetividades do homem. Isso levou a produção a adquirir agilidade,

uniformidade e ganhos de escala. Os ganhos de escala permitiram aos capitalistas

elevarem seus lucros e repassarem aos trabalhadores uma parte dos ganhos de

produtividade em salários, como podemos observar na tabela abaixo (Pamplona,

2001).

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TABELA 2.4 - Comparação entre evolução da produtividade e dos salários horários reais na indústria de transformação

Taxa de variação média anual por período (em %) 1964/1973 e 1983-1992

Países Produtividade (*) (A) Salário horário real (B) A/B (**) 1964/1973 1983/199

2 1964/1973 1983/199

2 1964/1973 1983/199

2 EUA 3.6 2.8 1.3 0.3 2.8 8.2 Alemanha 4.0 2.4 4.8 2.7 0.8 0.9

França 5.5 2.6 4.8 1.4 1.1 1.9 Itália 5.1 2.6 6.2 1.1 0.8 2.4

Reino Unido 4.2 3.6 2.9 2.5 1.4 1.5 Fonte: Mattos (2001) (*) taxa de salário horário nominal na indústria de transformação (**) relação entre ganhos em produtividade e aumentos salariais reais por período considerado

A elevação dos salários foi fundamental para o estabelecimento de paradigma

tecnológico, afinal, o incremento da produção capitalista só se manteria se houvesse

uma acentuada elevação na demanda por estes produtos. As trabalhadoras das

fábricas poderiam usar as meias de ceda da rainha Vitória, graças aos elevados

ganhos de produtividade impostos pela transformação técnica do fordismo. Assim,

no período de ouro do fordismo, o sistema foi marcado pela elevação da

produtividade, com simplificação do trabalho, baixa qualificação dos trabalhadores,

elevação dos lucros e finalmente aumento dos salários, tendo por consequência o

crescimento da demanda por bens de consumo duráveis (em virtude da inclusão dos

trabalhadores no mercado consumidor). Outras importantes consequências deste

processo foram: a consolidação de grandes empresas rígidas, com ganhos de

escala, fábricas com organização altamente hierarquizada e trabalho rotinizado.

O paradigma tecno-econômico, que antes da Segunda Guerra promoveu

expansão da produtividade, elevação da capacidade produtiva e um conjunto de

inovações tecnológicas e organizacionais que geraram elevação do nível de

desemprego, provoca uma reestruturação institucional no modelo de acumulação no

período pós-guerra. O desemprego tecnológico promovido pelos ganhos de

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produtividade e elevação da eficiência do trabalhador foi superado por meio de

fatores institucionais, impulsionados por tensões causadas pela exclusão social

proveniente do desemprego. . O que chama atenção no estudo a respeito do

desemprego tecnológico na segunda revolução industrial é que fica mais clara a

percepção de que não existe tecnologia que, a priori, gere desemprego estrutural. A

análise do processo histórico verificada nos itens anteriores permite concluir que: o

desemprego prolongado é gerado por uma tecnologia poupadora de força de

trabalho associada a um arranjo institucional conivente com altas taxas de

desemprego.

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3. A TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, DESEMPREGO

TECNOLÓGICO E SUPERAÇÃO DO FORDISMO

A década de 1970 marcou a finalização de um áureo processo de acumulação

capitalista. Do pós-guerra até a segunda crise do petróleo (1973) verifica-se uma

articulação tecnológica, organizacional, econômica e institucional que permitiu um

extraordinário crescimento da capacidade produtiva do capitalismo, com expansão

da produção e elevados níveis de emprego. As grandes empresas, com muitos

funcionários e alta produtividade, vivenciaram aumento de lucros e promoveram

incremento também nos salários, o que impulsionou a ampliação da demanda, à

medida que os trabalhadores foram incluídos no mercado de consumo de bens

duráveis. Ainda que no fordismo ocorresse redução de preços promovida pela

elevação da produtividade das grandes fábricas rígidas, os elevados lucros eram

garantidos pelos elevados ganhos de escala e crescente demanda dos

trabalhadores.

O fim do fordismo se deu com a crise do petróleo de 1973. A Organização dos

Países Produtores de Petróleo (OPEP) eleva o preço de petróleo a níveis

insustentáveis, trazendo instabilidade, inflação sem crescimento e baixa oferta do

combustível do capitalismo do século XX, o petróleo. O arranjo econômico e

institucional do pós-guerra começa então a ruir3.

3 Foi constituído um consenso quanto à mudança de paradigma tecnológico, porém tal consenso não existe em relação à profundidade das mudanças tecnológicas e institucionais, assim, há diferentes denominações para este período: “terceira revolução tecnológica”, “quinto Kondtratiev”, ou ainda “era pós-coletiva”. Os neo-schumpeterianos chamam este processo de pós-fordismo e creem que tal período se configura como uma terceira revolução industrial. Já os regulacionistas indagam se o período vivido pelo capitalismo mundial se configura como uma superação do fordismo, ou se apenas uma face deste, podendo assim ser chamado de “neo-fordismo”, ou “depois do fordismo”, ou mesmo “pós-fordismo”(MATTOSO, 1993). É presente também o questionamento se o novo paradigma tecnológico pode ser considerado um revolução industrial, uma vez que elementos centrais do padrão tecno-econômico anterior se mantêm (TAVARES, 1992). Independente do nome, faz-se necessária uma melhor compreensão deste novo momento do capitalismo e de quais serão as suas implicações

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A crise do fordismo foi expressa pela elevação dos juros no mundo, por dívidas

públicas crescentes para manter o Estado de bem estar social, pela redução da

poupança e nível de crescimento das economias nacionais. Outra característica

presente é a redução da produtividade do trabalhador. Os países industrializados

passam a conviver com inflação e baixa taxa de crescimento.

Alguns dos motivos apresentados para o fim padrão de acumulação fordista são:

i) Internacionalização produtiva e financeira do capitalismo. Para se manter a lógica

keynesiana de investimentos públicos e aquecer a dinâmica econômica, é

necessário que os investimentos públicos gerem elevação da receita do governo, a

posteriori com retornos tributários. Entretanto, no momento em que ocorre a

internacionalização do comércio mundial, o governo perde capacidade de tributar

para retomar o ciclo virtuoso de desenvolvimento. ii) O acirramento da concorrência

mundial, uma consequência da internacionalização produtiva e financeira, contribuiu

para a crise do fordismo. iii) Resistência do trabalhador em exercer funções de

caráter rotinizado, extenuante, altamente hierarquizado e com longas horas de

trabalho repetitivo (PAMPLONA, 2001).

No final da década de 1960, a reconstrução dos países atingidos pela Segunda

Guerra e o comércio internacional passam por consideráveis mudanças. A Europa e

o Japão constroem seu próprio mercado e os países periféricos que passaram por

processos de substituição de importações passam a fazer parte do comércio

internacional. A periferia da América latina e os chamados tigres asiáticos ingressam

no comércio internacional sem que seus trabalhadores tenham a garantia do

conjunto de direitos acumulados pelos trabalhadores dos Estados Unidos e de

países da Europa (HARVEY, 1994).

A estrutura rígida do modelo fordista requeria elevadas taxas de investimento em

um mundo onde os países centrais já haviam atendido às necessidades básicas e

de bens duráveis de seus trabalhadores. O endividamento público e a pressão

no nível de empregos e na qualidade de vida da população mundial. (PAMPLONA, 2001, p.45)

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inflacionária nos Estados Unidos era latente dado o volume de moeda emitida para

manter o Estado de bem estar social. O mundo se modificava e o consenso

keynesiano não era capaz de manter o crescimento das economias centrais, com

baixo desemprego e elevadas taxas de crescimento e produtividade.

Um novo arranjo institucional desarticula o padrão fordista. As modificações

foram substanciais nos países centrais do capitalismo. Para manter o processo de

acumulação, várias medidas foram tomadas e Harvey (1994) as denominou de

acumulação flexível. Para manter os lucros, o padrão de acumulação utilizou um

conjunto de inovações tecnológicas e organizacionais flexíveis, estas tecnologias

permitiram elevado nível de automação de processos produtivos e apontaram para

um conjunto de outros produtos que abriram uma série de novos mercados.

Verificou-se uma considerável mudança nas estruturas do mercado mundial com um

conjunto de fusões e envio de plantas produtivas para países com relações de

trabalho menos regulamentadas.

A redução da produtividade reduz os lucros e investimentos e por sua vez os

níveis dos salários. Soma-se a isso a mudança de padrão de consumo do

trabalhador. O Trabalhador do pós-fordismo –ao menos do centro do capitalismo - já

possui grande parte de suas necessidades de consumo atendidas. Ele tem agora

acesso aos bens de consumo duráveis e almeja a customização e personalização

de seus produtos. Estas mudanças estão associadas a mudanças no paradigma

tecno-econômico provido por materiais como cerâmica, a fibra ótica, e inovações

como microprocessadores, computadores pessoais, equipamentos de

telecomunicações, biotecnologia, robótica e programas de computadores que dão

flexibilidade para os processos produtivos.

A marca do pós-fordismo é a flexibilidade provida pelas tecnologias que

garantem ganhos de escala sem a rigidez do fordismo. O desenvolvimento e

descobrimento de novas matérias-primas e fontes energéticas contribuem para a

redução de custos em processos distintos dos utilizados no padrão anterior. A busca

de eficiência energética é colocada como uma meta, tornando-se um contraponto à

sociedade do petróleo e da elevada potência. A busca de critérios mais rígidos de

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qualidade com baixo custo se apresenta como contraposição à mera busca de

redução de custos em produção de escala. Coutinho (1992, p. 71) ao analisar a

terceira revolução industrial e tecnológica sugere que o novo paradigma aponta

para:

1) o peso crescente do complexo eletrônico; 2) um novo paradigma de produção industrial - a automação integrada flexível; 3) revolução nos processos de trabalho; 4) transformação das estruturas e estratégias empresariais; 5) as novas bases da competitividade; 6) a globalização como aprofundamento da internacionalização; e (7) as alianças tecnológicas como nova forma de competição.

3.1. Inovações tecnológicas e organizacionais poupadora de trabalho e a produtividade

O novo paradigma tecnológico imprimiu profundas mudanças à produção no

mundo. O fordismo, marcado pelos elevados ganhos de escala – possíveis pela

crescente demanda oriunda da inclusão dos trabalhadores no mercado consumidor

–, foi superado por tecnologias flexíveis que permitem ganhos de escala e escopo,

mesmo em baixa produção. A marca da flexibilidade da nova economia se deu

sobretudo pelos avanços nas tecnologias de informação e comunicação (TIC). O

avanço das TICs em um mercado mundializado de grande concorrência

internacional impôs ganhos de produtividade através de inovações organizacionais

altamente poupadoras de força de trabalho. Se o fordismo permitiu a utilização da

ciência para elevar a produtividade da indústria, o pós-fordismo aprofundou tal

tendência, maximizada pela crescente capacidade de processamento de dados e

acompanhamento de processos e resultados.

Tigre (2006) apresenta algumas das mais importantes inovações organizacionais

do pós-fordismo. O Just-in-time consiste em uma importante inovação

organizacional, com o fim de reduzir o tempo de produção e promover uma melhor

utilização dos insumos produtivos, com redução de desperdícios. Esta inovação é

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marcada pela elevação da capacidade de estimar demanda, uma vez que este

método de gestão visa o estoque Zero. O Just-in-time busca uma redução o capital

de giro, pois o capital parado no estoque pode ser mais bem aplicado no mercado

financeiro.

A inovação organizacional Controle da Qualidade Total (CQT) consiste em

melhorar processos e resultados, por meio de utilização de controle estatístico de

processos (CEP). Esta filosofia também busca envolver todos os participantes do

processo produtivo na identificação de gargalos e processos desnecessários e que

geram maiores custos operacionais. A inovação de Célula de produção consiste em

agrupar as máquinas e pessoas como pequenas fábricas, ou núcleo flexível de

produção, em que são capazes de realizar toda construção de um produto. Esta

modalidade se difere muito do formato fordista, por não agrupar as máquinas por

tipos semelhantes de funções, possibilitando redução de custos de deslocamento de

insumos e produtos. A célula de produção também permite ao empregador

estabelecer metas para a célula, obrigando os trabalhadores a supervisionarem uns

aos outros para atingirem as metas, elevando a produtividade e por meio da disputa

entre trabalhadores.

A inovação chamada Reengenharia de Processos de Negócios se refere a uma

radical reformulação em todos os processos de uma estrutura produtiva. Visa-se

com este, reduzir atividades e processo improdutivos, partindo do pressuposto de

que nenhum processo é imprescindível. Questionando a estrutura e determinadas

relações de poder na empresa, normalmente ocasiona grande número de demissões

quando é implementada.

As inovações organizacionais mencionadas só foram possíveis pela

consolidação do novo paradigma tecnológico. Os avanços dos microprocessadores,

computadores pessoais, equipamentos de telecomunicações, entre outros,

possibilitaram o aumento do controle da produção e elevação da rapidez e eficiência

no processamento de dados, permitindo o acompanhamento de toda a cadeia

produtiva. Os ganhos de produtividade verificados foram possíveis pelos avanços na

administração científica que já utilizava alguns métodos semelhantes, associada a

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tecnologias que permitiram a flexibilização de controle de processos, buscando

elevar os controles sobre resultados. A busca por reduzir estoque, estimar demanda,

reduzir processos e elevar a disputa entre trabalhadores se justificam pela meta de

elevar a produtividade e economizar trabalho para elevar os lucros.

Os ganhos de produtividade foram revertidos em redução do nível de emprego

por se tratar de inovações poupadoras de trabalho. Porém os ganhos de

produtividade a priori reduzem a quantidade de trabalho necessário para produzir

uma mercadoria, não necessariamente está associado à extinção definitiva de

postos de trabalho. Tais fenômenos só seriam inevitáveis em um universo estático

onde as relações sociais e as instituições não exercessem papel algum frente ao

desenvolvimento das forças produtivas. A redução de quantidade de horas de

trabalho para atender as necessidades materiais da sociedade pode ser revertida,

por exemplo, em redução da jornada de trabalho, maior tempo livre, adiamento da

entrada do jovem no mercado de trabalho e elevação de horas não trabalhadas e

empregadas em qualificação e formação. Os progressos tecnológicos e

organizacionais ocorrem porque há investimentos da sociedade em formação,

desenvolvimento em ciência, tecnologias e etc. Mattoso (2000) afirma que em um

ambiente de concentração e centralização de capitais, hegemonia do capital

financeiro e mundialização crescente, existem pressões maiores para que os ganhos

de produtividade se revertam em elevação do desemprego. Porém analisando a

tabela 3.1 pode ser verificado que em momentos de elevação da produtividade, com

um arranjo institucional a favor da elevação do nível de emprego, a redução da

quantidade de trabalho para produção de uma unidade de mercadoria não afetou

negativamente o nível de ocupação.

A adequação de um padrão tecno-econômico a outro ciclo virtuoso de

desenvolvimento está diretamente ligada à capacidade de um arranjo institucional

que permita ampliação de mercado, o que gera demanda efetiva. Mattoso (2000)

demonstra que a variação de produtividade é importante para se compreender a

flutuação do nível de emprego, porém mais importante que a produtividade é

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verificar a elevação da produção, uma vez que esta só ocorre quando há expectativa

de demanda e com isso geração de empregos e consumo.

Quando verificamos a tabela 3.1, percebemos que no período de 1960-1973 os

Estados Unidos contavam com uma Taxa de Variação Média Anual de produtividade

de 2,63%, com a variação média de emprego na 1,94%, variação média do

desemprego em 4,94% e variação do produto na casa dos 4,31%. Quando

verificamos o período posterior (1974-1983), verificamos uma variação de

produtividade bem menor (0,61%), com uma variação do emprego menor, em

1,67%, a variação do desemprego maior, na casa dos 7,48%, e variação do produto

em 2,06%. A análise ocorre em dois períodos com distintos arranjos institucionais, e

diferentes políticas públicas para geração de emprego. Quando observamos a

realidade a União Européia verifica-se tal tendência ainda mais acentuada, contando

com variação negativa no emprego no período de 1973-83.

TABELA 3.1 - Taxas Médias Anuais de Variação das Principais Variáveis de Produtividade e Emprego EUA e União Européia – 1960-1999

Anos Emprego Total Emprego Público Produto Produtividade Horária Tempo de Trabalho Desemprego

EUA

1960-1973 1974-1983 1984-1999

União Européia 1960-1973 1974-1983

1984-1999 (3)

1,94 1,67 1,74

0,29 -0,03 0,54

3,92 1,46 1,49

3,52 2,32 0,71

4,31 2,06 2,94

5,08 2,05 2,38

2,63 0,61 0,93

5,65 3,11 2,07

-0,30 -0,23 0,26

-0,83 -1,00 -0,02

4,94 7,48 6,07

2,43 5,70 10,82

FONTE: MATTOSO (2000, p. 118)

Se o desemprego tecnológico surge com implementação de tecnologias

poupadoras de trabalho em uma proporção em que os investimentos em novas

cadeias produtivas, novos produtos e novos mercados são insuficientes para repor

os postos destruídos, a produtividade parece ser uma importante variável a ser

analisada, sobretudo quando comparados diferentes períodos históricos,

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considerando mudanças no padrão de acumulação com destaque para variáveis

como emprego e crescimento.

A observação do paradoxo da produtividade, ainda que não traga todas as

respostas sobre a relação entre tecnologia e emprego, nos permite descartar

relações deterministas. A existência do paradoxo é um indício de que não existem

elementos empíricos para afirmar que o novo padrão tecnológico eleva

substancialmente a produtividade. Se a marca do novo padrão tecnológico é a

flexibilidade das novas máquinas e ferramentas, os microprocessadores, os

computadores pessoais, a multiplicidade de softwares e a internet foram peças-

chave na implementação do novo padrão. Em contraposição às máquinas fordistas

rígidas e grandes, as tecnologias da informação e comunicação permitiram a

execução de um conjunto de tarefas com um número muito menor de máquinas e

operadores. É incontável o número de trabalhadores que foram deslocados de suas

funções, ou descartados de determinado processo produtivo proveniente do

progresso tecnológico pós-fordista. Tais inovações sugerem redução do número de

horas e elevação de eficiências para executar tarefas. O computador pessoal elevou

a eficiências e a rapidez para editar um texto, para construir uma planilha ou gráfico,

para cruzar dados de diferentes setores de uma empresa, para enviar informações

para o outro lado do planeta, etc. A necessidade de implementar tecnologias da

informação são tão nodais para adquirir vantagens competitivas, quanto para não

ser expulso de um mercado por atraso tecnológico e isso justifica os elevados

investimento que as principais economias realizaram neste segmento.

Segundo o departamento de comércio americano (Department of Commerece 1998, 1999, 2000) a soma de todos os investimentos em computadores nos Estados Unidos, de 1960 a 1998 é de 500 bilhões de dólares (dólar de 1996); em software gastou-se um trilhão de dólares (dólar de 1996) e em comunicações, outros um trilhão de dólares. Estes números não dizem muito pois tanto software quanto computadores são substituídos. Se contarmos a desvalorização, etc. o valor acumulado em 1998 dos bens de computadores nos EUA era de 228 bilhões de dólares (em dólares de 1996), e em software, 250 bilhões de dólares (WAINER, 2002, p. 1)

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Os vultosos investimentos em tecnologias da informação verificados, não só nos

Estados Unidos como em todos os países do centro do capitalismo, não

estabeleceram relação positiva com o crescimento da produtividade segundo

diversos estudos econométricos e estatísticos, implementados por diferentes

pesquisadores e em áreas de pesquisa diversas. Pesquisadores como Stephen

Roach (economista chefe do banco Morgan Stanley), Martin Baily (economista do

Brookings Institute), Paul Attewell (sociólogo na New York University), Thomas

Landauer (cientista cognitivo na Universidade do Colorado), Paul Strassmann

(consultor e ex-diretor de informática do departamento de defesa Americano) e

importantes instituições como a Organização para a Cooperação e

Desenvolvimento Econômico (OCDE) e Organização Internacional do Trabalho (OIT)

analisaram a contradição entre tecnologias mais avançadas e a não elevação da

produtividade e confirmaram a existência do paradoxo da produtividade. O primeiro

a sugerir tal contradição foi o renomado economista Robert Solow em 1987, ao

verificar que a difusão dos computadores não se revertia em elevação das

estatísticas de produtividade (WAINER, 2002) e, desta forma, o paradoxo da

produtividade também ficou conhecido como o paradoxo de Solow.

Diversos trabalhos tentam identificar a origem da contradição entre progresso

tecnológico e redução das taxas de produtividade verificadas na “Nova Economia”.

Um eixo de análise aponta para elementos metodológicos, partindo da elevação de

importância relativa do setor de serviços, que levaria a uma redução na

produtividade geral, dado as menores taxas históricas de produtividade do setor. A

tendência ao crescimento de importância do setor de serviços se explica pelo

processo de terceirização, proveniente também da maior capacidade de controle de

processos e resultados, possível pela existência das novas tecnologias de

informação e comunicação (TIC). Associado a esta constatação há o argumento de

que haveria dificuldade de se medir a produtividade do setor de serviços, uma vez

que os indicadores de produtividade possuíam uma forte tendência industrialista. A

vulnerabilidade deste argumento está na queda das taxas de produtividade na

indústria de manufatura, que indica uma redução da produtividade de todos os

setores, não só do setor e serviços. Outro aspecto importante é a relação entre

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produtividade e emprego, pois se a redução do nível de produtividade fosse apenas

de ordem metodológica, não se verificaria redução do nível de emprego, dado que o

setor de serviços tende ser mais intensivo em trabalho que a indústria (PETIT, 1995;

MATTOSO, 2000; WAINER, 2002).

Um segundo eixo indica que a redução da produtividade está no campo

tecnológico. Acreditam que quando ocorre uma mudança de paradigma tecnológico

é necessário um tempo até que surja um conjunto de inovações que constitua um

sistema coerente e de elevada eficiência. Estudos estatísticos no campo da “nova

teoria do crescimento” apontam para uma correlação estatisticamente considerável

entre produtividade e investimentos em infraestrutura, capital físico, educação,

pesquisa e desenvolvimento. Ainda no eixo tecnológico, está hipótese de que o pós-

fordismo possui menores taxas de produtividade, porque no fordismo os países

europeus e o Japão obtiveram excepcionalmente elevadas taxas de produtividade,

por copiar a tecnologia dos EUA e não criando novas tecnologias. Este argumento

perde consistências ao se verificar que as taxas de crescimento de produtividade

dos Estados Unidos são atualmente menores que as do fordismo e os ganhos de

produtividade da Europa, sobretudo França e Alemanha continuam maiores que as

dos Estados Unidos mesmo no pós-fordismo.

O terceiro eixo de analise identifica que a queda da produtividade estaria ligada a

fatores econômicos, tecnológicos, mas sobretudo institucionais. Levando em

consideração o novo regime de acumulação, este aponta para uma nova

determinação da produtividade do trabalho, onde a estrutura de mercado e

elementos de demanda também estabelecem o nível da produtividade. Assim, a

concorrência intercapitalista em escala mundial, guiada pelos ditames do capital

financeiro, apontaria para um novo regime de acumulação, avesso ao pleno

emprego e à expansão da demanda. Este processo privilegiaria uma redução da

elasticidade da demanda relativa dos preços, que levaria a um rompimento com o

ciclo virtuoso de desenvolvimento fordista e levaria a redução de renda,

produtividade, demanda e emprego. Desta forma, este eixo de análise sugere que a

redução de produtividade ocorre pelo novo regime de demanda, promovido pela

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mudança do nível de especialização, concorrência internacional, redistribuição dos

mercados e etc. O novo regime de demanda pode ser considerado um regime de

transição entre regime que privilegiava o setor produtivo da economia para o pós-

fordismo, que atua sob dominância financeira. Tal regime – de predominância do

capital financeiro – tende a absorver capital na economia mundial, que antes era

direcionado ao setor produtivo da economia.

Para a Nova Economia garantir elevação da produtividade, será necessário não

apenas inovações tecnológicas ou organizacionais que economizem trabalho, é

necessário que se reconstrua um regime de regulação que estabeleça uma

demanda crescente, que estimule os investimentos e a realização da produção. A

produtividade do trabalho é uma relação entre produção e emprego, assim, para que

a produtividade cresça sob o novo padrão tecnológico, é necessário que o novo

padrão seja desafiado por demanda crescente e mercados em expansão. O nível de

emprego se dará a partir das necessidades de ampliação da produção e da

capacidade do mercado de absorvê-la.

Outro elemento que reforça a não exclusividade das variáveis tecnológicas na

determinação do emprego é a manutenção, ou até ampliação da elasticidade

emprego do crescimento econômico (PADALINO E VIVARELLI, 1997). A

elasticidade emprego do crescimento relaciona quanto emprego é gerado por

unidade de crescimento econômico. O resultado apresentado pela OIT (1997, p.20)

é que, se no período de 1960-73 foram necessários 2,3% de crescimento para os

Estados Unidos começarem a gerar empregos, no intervalo de 1974-95 foi

necessário penas 0,7% de crescimento. A União Européia que precisava de 4,5% na

era de ouro do capitalismo, precisava apenas 1,9% de crescimento para gerar

emprego de 1974-95. Estes dados contrariam o senso comum, ao demonstrar que

por mais automação que o novo padrão tecnológico gere, as novas tecnologias não

são avessas a elevados níveis de emprego.

Desta forma, o paradoxo da produtividade só expressa um características do

novo regime de acumulação. Como foi observado no paradoxo, o período

compreendido como pós-fordismo, além de apontar para profundas modificações

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tecnológicas, também expressou baixas taxas de crescimento e baixos níveis de

emprego. Os baixos níveis de produtividade não se reverteram em elevados níveis

de emprego, refutando uma relação automática entre desemprego tecnológico e

elevação de produtividade. Ainda que a elevação de produtividade assuma

dimensões distintas em períodos diferentes do ciclo econômico, apenas a tecnologia

e os determinantes econômicos são insuficientes para estabelecer o nível de

emprego nos ciclos de acumulação capitalista. Em suma, é necessário observar

elementos institucionais para compreender como o atual regime de acumulação age

em relação à produtividade, crescimento e principalmente sobre o nível de emprego.

3.2. O desemprego e a formação no pós-fordismo

A sociedade pós-fordista é fortemente marcada pela rapidez da criação e difusão

de tecnologias. Pochmann (2005) chama atenção para novas cadeias produtivas,

associadas a mudanças de base técnica e alteração da divisão do trabalho. Ele

aponta para a criação de dois blocos de países responsáveis por parcelas distintas

do processo produtivo. Um deles, responsável pelas atividades produtivas de

“concepção do produto, definição do design, marketing, comercialização,

administração, pesquisa, tecnologia e aplicação das finanças empresariais”. Este

bloco requer que o país possua maior formação e elevados investimentos em

ciência e tecnologia. Por serem atividades de serviços qualificados, requerem maior

grau de instrução e tendem a produzir bens que não disputam com o mercado

internacional e tendem, ainda, a remunerar melhor a força de trabalho. O autor

afirma que os países com maiores investimentos em ciência, tecnologia e inovação

modificaram sua participação no comércio internacional em produtos com elevado

ou médio conteúdo tecnológico de 33% para 54%, e reduziram sua participação em

produtos com baixo conteúdo tecnológico de 55% para 31%.

Quanto ao outro bloco de países, o autor aponta que, apesar de maior

participação relativa nos empregos totais, estes países têm sua produção voltada

para produtos da indústria tradicional, com baixo conteúdo tecnológico e menor

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poder dinamizador e de oportunidades de investimentos. Boa parte dos produtos de

exportação destes países podem ser considerados commodities, com baixo valor

unitário e baixa complexidade, gerando menos empregos indiretos e com menor

efeito na renda4. Harvey (1994), alerta que o fato do capitalismo transcender para

outro paradigma tecno-econômico não o impede de conviver com contradições,

assimetrias e anacronismos característicos de modelos anteriores ao vigente5. No

caso tratado por Pochmann (2005), os países produtores de mercadorias com baixo

conteúdo tecnológico envolvem força de trabalho com baixa formação, maior

flexibilidade e desregulamentação do trabalho. O trabalho -tendo como ferramenta

estas tecnologias - assumem uma feição mais taylorizada e concentram mais na

distribuição e montagem de produtos.

A divisão entre os dois blocos de países passa por constantes readequações,

sobretudo com a reorganização do capital provocada pela a crise de 2008. O autor

apresenta que os países produtores de mercadorias intensivas em tecnologia,

tendem a concentrar 70% de sua força de trabalho nos setores menos expostos à

concorrência internacional. Já nos países com indústrias menos sofisticadas

empregam apenas 30% nestes setores menos expostos. Outra conclusão de grande

relevância é a importância que o novo padrão de acumulação atribui à qualificação

da força de trabalho e à produção e difusão de ciência e tecnologia. Se é verdade

que o capitalismo permite a conjugação de diferentes padrões de acumulação, é

provável que os setores, países, regiões, ou segmentos sociais que estiverem

vinculados a padrões tecno-econômicos considerados como superados, tendam a

ficar à margem do processo de acumulação, não tendo acesso ao que seriam as

benesses deste dito progresso. Porém os que entenderem o funcionamento do novo

padrão, preparando-se para fazer as escolhas corretas frentes ao leque de

4 Veremos as características de setores com maior capacidade de geração de emprego no capítulo 3.

5 O capitalismo avança na história construindo situações anacrônicas, onde são conjugados padrões pós-fordistas, com fordistas e em alguns casos pré-industrial.

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possibilidades apresentadas por elas, tendem não só a estar no centro da dinâmica,

como a constituir capacidade para conduzir parcela do progresso.

Fica latente a importância atribuída à formação no atual paradigma, também

chamado de sociedade do conhecimento. Em todas as mudanças de padrão

tecnológico, os que estavam mais bem preparados para assimilar o novo padrão

conseguiram um reposicionamento de destaque na dinâmica de acumulação. A

Alemanha, com seus elevados investimentos em formação técnica e

desenvolvimento de inovações no começo do século XX, foi uma das protagonistas

da segunda revolução industrial à frente inclusive do país epicentro da primeira

revolução industrial, a Inglaterra.

3.3. O desemprego e a tecnologia no pós-fordismo

Os diferentes níveis de formação modificam no pós-fordismo também a situação

de vulnerabilidade do trabalhador frente ao desemprego tecnológico. Se o nível de

conteúdo tecnológico da produção de um país ou de um setor da indústria provoca

uma distinção qualitativa entre países e setores, a capacidade de um trabalhador

assimilar determinados conhecimentos ou conjunto de tecnologias o inclui em

condições desiguais no mercado de trabalho.

O impacto quantitativo e qualitativo da produtividade no emprego, depende não

só das tecnologias, como também de fatores institucionais e estruturais de cada

país. Quando tratamos da variação do nível de emprego em comparação com a

variação do nível de produto, verificamos que alguns segmentos da indústria estão

suscetíveis a maior flutuação do emprego que outras. A constatação se dá por

questões tecnológicas, econômicas e institucionais.

As indústrias com maior sofisticação e conteúdo tecnológico tendem a ter um

nível de desemprego com menor flutuação. Isso se dá por que os setores da

indústria que requerem maior qualificação não podem demitir seus trabalhadores de

forma tão flexível, acompanhando a variação do produto, afinal, caso esta indústria

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tenha que recontratar trabalhadores, corre o risco de não encontrar mão-de-obra

disponível com as devidas qualificações para assumir os postos de trabalho; e pode

não haver tempo hábil para qualificar um profissional em processos muito

específicos. Assim, há maior estabilidade do nível de emprego em indústrias como a

mecânica, de material elétrico e de comunicações, por exemplo (NASSIF, SANTOS

E PEREIRA, 2008).

Quando observamos a variação de empregos e sua relação com os diferentes

níveis de formação dos trabalhadores, verificamos efeitos estruturais no mercado de

trabalho. Os trabalhadores com baixa qualificação tendem a ocupar vagas de

trabalho na indústria tradicional que, por sua vez, é a que acumula menor ônus em

demitir trabalhadores em momentos de declínio da demanda, justamente por utilizar

força de trabalho com baixa qualificação e maior disponibilidade no mercado. Tais

trabalhadores em geral estão menos preparados para transformações tecnológicas

em sua categoria profissional e com isso são os maiores penalizados com as

modificações tecnológicas, que tendem a fechar seu posto de trabalho, sem lhe abrir

outra vaga com os mesmos rendimentos e status social similar.

Este trabalhador pouco qualificado é o trabalhador descrito por Marx (2003) ao

retratar os desvalidos da implementação dos teares mecânicos na revolução

industrial. Ao serem substituídos por uma inovação tecnológica, tendem encontrar

trabalhos precarizados, com rendimentos abaixo dos que possuíam na indústria e

muitas vezes sem vínculos formais ou direitos trabalhistas. Provavelmente, este

trabalhador não entrará nas estatísticas de desempregado, por possuir alguma

renda que lhe permita continuar vivendo – com dignidade ou não. Quando constata

sua desatualização tecnológica, este trabalhador tende a não buscar empregos que

lhe demandem operar equipamentos contemporâneos, demonstrando sua

incapacidade de reagir frente ao mundo moderno, do qual não se sente parte

(Dowbor, 2002).

Os trabalhadores com elevada qualificação, cada fez mais presentes no

capitalismo contemporâneo, sobretudo nos países centrais, tendem a ocupar postos

de trabalho menos voláteis, passando por um processo ainda maior de qualificação

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e em grande parte das vezes financiado pela própria empresa. Este trabalhador já

possui considerável familiaridade com as tecnologias contemporâneas, lhe

permitindo concatenar e articular novas ferramentas de trabalho para render ainda

maior produtividade, justificando sua presença no posto ocupado. O trabalhador

qualificado, típico no pós-fordismo, possui as qualificações para operar as máquinas-

ferramentas do mundo atual, máquinas mais versáteis e flexíveis, altamente

produtivas mesmo em pequenas quantidades. Com tais qualificações, este

trabalhador está mais preparado para as novas mudanças tecnológicas. Sendo

obrigado a concatenar diversas informações, este pode perceber as tendências de

modificações tecnológicas e buscar novas qualificações para não ser descartado.

Desta forma, o desemprego tecnológico não possui impacto homogêneo nem

entre os setores da indústria, nem entre os trabalhadores com diferentes

qualificações. Trabalhadores qualificados já foram no decorrer a história do

capitalismo mundial substituídos por inovações organizacionais e tecnológicas, mas

estes no geral são reinseridos no mercado de trabalho rápido e em melhores

condições que os trabalhadores de funções demasiadamente simples.

Para Schumpeter e os neo-schumpeterianos o desemprego tecnológico possui a

dimensão e estrutural e cíclica ao mesmo tempo. Estes defendem que no período de

boom as inovações tecnológicas tendem a gerar elevação da atividade econômica e

do nível de emprego pela abertura das possibilidades de investimento, porém nos

momentos de declínio, as empresas tendem a investir em inovações organizacionais

que visam economia de trabalho, gerando desemprego tecnológico.

A teoria da compensação, que sugere que os empregos destruídos em um setor

da economia por uma inovação tecnológica, tendem a ser repostos em outro setor

por criação de outras cadeias produtivas, só se justifica com as devidas

implementações de políticas industriais, políticas públicas e um adequado arranjo

institucional. Os processos de reestruturação industrial, com atualização da

economia para os novos padrões pós-fordistas, requerem não só sinais de mercado,

ou tendências tecnológicas, é necessário também planejamento de Estado. “Ganhos

de produtividade” com redução de custos por meio de precarização de trabalho não

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são sustentáveis no longo prazo, nem parecem consonantes com um mundo

moderno do ponto de vista tecnológico e social (VIVARELLI, 1995).

3.4. A flexibilização do trabalho e os sindicatos

Desde os anos 1970 verifica-se elevação dos níveis de empregos Part-time e

outras formas “alternativas” de emprego. Esta redução do vínculo da empresa com o

funcionário permite maior flutuação da quantidade de horas contratadas e redução

de custos com direitos trabalhistas. Outra alternativa de arranjo de produção

viabilizado pelo pós-fordismo é a contratação de poucos funcionários com elevada

qualificação, capazes de substituir um número muito maior de funcionários com

menor grau de instrução.

As tecnologias flexíveis possibilitaram elevados ganhos de escopo através de

inovações organizacionais e do processo de subcontratação. A subcontratação de

empresas menores foi possível ante o novo padrão tecnológico, que criou empresas

mais flexíveis e com elevada capacidade de monitoramento de processos e

resultados. O que no fordismo era executado no interior da empresa, no padrão de

acumulação flexível passa a ser terceirizado (DOWBOR, 2002). Em alguns casos, a

empresa principal não administra parcela alguma do processo produtivo, ficando

responsável apenas pelo fornecimento da marca e das estratégias de mercado. Este

funcionamento tem a vantagem de reduzir custos de direitos trabalhistas e outros

tipos de responsabilidade com a produção. Não é raro que determinado processo

transferido para uma empresa contratada, como limpeza, por exemplo, seja

executado pelo mesmo trabalhador que foi demitido pela contratante. A empresa de

serviços de limpeza recontrata o trabalhador em formato de contratos de menor

estabilidade e/ou elevada precariedade.

A ocupação por conta própria pode ser apenas formal. Uma única empresa grande necessita muitas vezes dos serviços em tempo completo de uma

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equipe profissional, seja de contabilidade, de vigilância, de fornecimento de refeições, de seleção de executivos, de pesquisa de mercado, etc. Outrora, a empresa empregava a equipe. Hoje, ela prefere que a equipe se constitua em pequena firma independente e lhe preste os serviços. Para a empresa cliente a vantagem está na flexibilidade do novo relacionamento e também no menor custo do trabalho, pois ela deixa de pagar o tempo morto, quando a equipe não tem o que fazer, e as horas extras, quando a urgência da tarefa impõe trabalho além da jornada normal. Os profissionais que passam a trabalhar “por conta própria” ganham a possibilidade (teórica) de atender a outros clientes, mas correm o risco de que “o” cliente se volte para outro fornecedor. Em suma: o ex-empregador ganha graus novos de liberdade, os ex-empregados perdem a segurança que tinham (SINGER, 1996, p.9).

Singer (1996) expõe como a terceira revolução industrial empurra o trabalhador a

condições de trabalho de maior insegurança, liberando o empregador e expondo o

trabalhador às vicissitudes do trabalho desregulamentado. O autor expõe, ainda, que

a flexibilização e a terceirização levam algumas empresas a estimular seus

funcionários a criarem firmas que lhes prestem serviços, ao invés de mantê-los como

funcionários. Embora a nova configuração do mercado imponha novos desafios ao

trabalhador, estimulando profissionais polivalentes e com maior autonomia

(COUTINHO, 1992) – em contraposição ao trabalho alienante do fordismo –, os

desafios apresentados em um ambiente de desregulamentação de trabalho,

elevação do nível de desemprego e substituição dos homens pelas máquinas só

elevam o grau de insegurança quanto ao futuro do trabalhador.

Mattoso (1993, p.120) aponta que há descontentamento, por parte do

trabalhador, com a ocupação de postos de trabalho part-time. Na década de 1970,

34% dos que ocupavam vagas de trabalho em part-time o faziam de forma

involuntária. Na década de 1980, o número subiu para 43%. A leitura destes dados

permite concluir que a redução da estabilidade no trabalho e a prática de formas

alternativas de emprego não apontam para maior satisfação dos trabalhadores em

relação ao mercado de trabalho.

A elevação do desemprego associada ao processo de subcontratação em

estruturas produtivas menores enfraqueceu os sindicatos e com isso gerou uma

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piora nas condições de trabalho. Em meio à tendência crescente de desemprego

verificada no novo paradigma tecno-econômico, foram resgatadas opiniões

superadas desde o início do século XX, como a ideia de que o desemprego é natural

e causado pela inflexibilidade do mercado de trabalho e dos níveis de salários. As

contradições observadas no desenvolvimento fordista foram reputadas à

incapacidade dos trabalhadores elevarem a produtividade e reduzirem a

competitividade das empresas no novo padrão tecnológico. “Em nome da

competitividade internacional o capital busca reestruturar-se movendo-se contra o

trabalho organizado” (MATTOSO, 1993, p. 112). Verifica-se substancial refluxo do

movimento sindical, com a desestruturação da classe trabalhadora típica do padrão

fordista. Dados demonstram que desde a década de 1980 a sindicalização vem

decrescendo nos Estados Unidos, na França, na Itália e na Inglaterra. Os Estados

Unidos, a França e o Japão tinham registrado tal declínio desde a década de 1970.

TABELA 3.2 - Evolução da taxa de sindicalização 1970-1990

Países 1970 1980 1990

França 22,3 17,5 9,8 Itália 36,3 49,3 38,8 Alemanha 33,0 35,6 32,9 Inglaterra 44,8 50,4 39,2

Fonte: Mattos (2001)

A elevação do desemprego, a terceirização e o estabelecimento de relações de

trabalho alternativas imprimiu, sobretudo nos países centrais, substancial

desestruturação das organizações de representação dos trabalhadores e

retrocessos em direitos há muito adquiridos. As “revigoradas forças produtivas têm

ampliado a fragmentação e a desestruturação do trabalho e acentuado a paralisia

política e o defensismo estratégico do movimento Sindical”.

A desestruturação das entidades de representação vem associada a retrocessos

na principal bandeira do movimento sindical desde o início da organização dos

trabalhadores, a redução da jornada de trabalho. Com o argumento da falta de

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competitividade e excessiva rigidez do mercado de trabalho, as horas de trabalho

foram formalmente e informalmente elevadas. Nas modalidades de trabalho

alternativas como home office e part-time e remuneração por desempenho, passa a

ser comum a jornada de trabalho ultrapassar 12 ou 13 horas diárias, aproximando-a

das jornadas praticadas no período da primeira revolução industrial.

A elevação dos níveis de desemprego nos países centrais a partir da década de

1970 indica que novo padrão tecnológico associado à destruição do arranjo

institucional fordista gerou desemprego tecnológico. O desemprego tecnológico que

tem persistido nos países centrais e a desestruturação do poder dos sindicatos tem

promovido constantes desregulamentações do trabalho, estimulando formas de

emprego precarizadas, sem as devidas seguridades e muitas vezes com contratos

temporários. É importante salientar que a terceirização expressa uma das formas

mais perversas desregulamentação do trabalho, uma vez que os trabalhadores que

outrora faziam parte da empresa principal passam a fazer parte de empresa

terceirizada, o que lhes dá menos possibilidade de mobilidade de cargo, por não

estabelecer vínculos duradouros em tais estruturas e por não terem acesso aos

direitos conquistados pela categoria da firma principal.

É importante perceber este vínculo entre o desemprego tecnológico e a

desregulamentação do trabalho, porque outras modalidades de desemprego menos

persistentes não constroem condições objetivas para pressionar tanto os direitos dos

trabalhadores. A pressão pela elevação dos lucros por meio de redução de salário

só é possível com a redução considerável do poder de barganha do trabalhador, que

consiste na capacidade direta deste interferir no processo de acumulação. Quando o

desemprego tem o caráter friccional, ainda que possua grande flutuação, os

trabalhadores ainda têm condições de se mobilizar pela manutenção de seus

direitos. Mas quando um padrão tecnológico imprime constantes ganhos de

produtividade com inovações organizacionais poupadoras e desarticuladoras das

organizações dos trabalhadores, estes perdem a capacidade de sustentar seus

direitos.

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A priori, todas as revoluções tecnológicas surgiram para economizar trabalho

humano, grande parte das inovações tecnológicas e organizacionais buscam

produzir mais produtos com menos força de trabalho. O argumento de que o

desemprego da fase atual do capitalismo é inerente ao novo padrão tecnológico e

que não há o que fazer não condiz com as experiências históricas do capitalismo.

No atual estágio de avanço das forças produtivas – devido, em especial, à enorme

eficiência das máquinas flexíveis –, é evidente que não se faz necessária a mesma

quantidades de horas de trabalho utilizada no fordismo para atender às

necessidades materiais da sociedade. Reduzir a jornada de trabalho seria um

importante instrumento – ainda que provavelmente insuficiente – para aumentar o

nível de emprego nos países, ao passo que poderia resultar também em melhoria da

qualidade de vida dos trabalhadores.

Outro movimento que poderia reduzir os índices de desemprego seria promover

políticas com o objetivo de protelar a entrada do jovem no mercado de trabalho. Tal

medida pode ser construída também no sentido de elevar o nível de formação dos

trabalhadores, que cumpriria o duplo papel de lhes possibilitar melhor inserção no

mundo do trabalho e atende a uma demanda do mercado contemporâneo, que tem

como uma de suas características importantes um processo de produção de

mercadorias com interface cada vez maior com a produção científica. No pós-

fordismo, a bioengenharia, os microprocessadores, as nanotecnologias, as

tecnologias de comunicação e informação são áreas de grande potencial de

expansão e só o serão em países capazes de transformar invenções em inovações

com potencial de difusão. Se a Alemanha superou a Inglaterra na transição da

primeira para a segunda revolução industrial por investir em formação e pesquisa, as

tecnologias da nova economia requerem investimentos ainda maiores, tanto para

preparar o trabalhador para sua inserção no mercado, quanto para vislumbrar o

leque de possibilidades e de crescimento da nova economia.

Harvey (1994) acredita que, com o fim do fordismo, o sistema precisou rearticular

suas bases para garantir o processo de acumulação. Ele argumenta que, se a

extração da mais valia absoluta se realiza pela elevação da taxa de exploração do

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trabalhador, com o conjunto de inovações organizacionais verificados no pós-

fordismo e com a busca de regiões do mundo com o trabalho menos regulamentado,

o capitalismo tem garantido elevada taxas de mais-valia absoluta. Mas o autor

também chama a atenção para a capacidade do capitalismo contemporâneo se

apropriar de elevadas taxas de mais-valia relativa, uma vez que os elevados ganhos

de produtividade tem reduzido o custo de produção da cesta de consumo do

trabalhador – ainda que esta cesta tenha se expandido com a necessidade de

inclusão de mercadorias do mundo contemporâneo. As novas tecnologias ainda

permitem que os capitalistas mais inovadores absorvam a mais-valia extraordinária,

comum nos momentos de expansão do padrão tecnológico.

A experiência da segunda revolução industrial rendeu ao mundo ensinamentos

valiosos. Um padrão tecnológico guiado pelas leis de mercado tende a elevar por um

período a capacidade de acumulação capitalista, mas as próprias decisões

econômicas guiadas pelo desejo de lucro tendem a levar o paradigma tecno-

econômico a contradições insolúveis. É possível apreender, a partir da análise da

experiência do fordismo, que se não houver um arranjo institucional que imponha

medidas benéficas ao conjunto da sociedade (como medidas que combatam o

desemprego), mesmo os fatores econômicos deixam de dar os resultados almejados

e as engrenagens da acumulação capitalista podem parar.

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4. O DESEMPREGO TECNOLÓGICO NO BRASIL E O IMPACTO DA

PRODUTIVIDADE

4.1. Abertura comercial da década de 90: Emprego, produção e produtividade

A economia brasileira foi marcada no início da década de 90 pela abertura

comercial, estimulada pela implementação do consenso de Washington, que

defendia, ao menos retoricamente, a liberalização das economias. Este processo foi

fundamentalmente assimilado pelos países não definidores da dinâmica do

capitalismo mundial.

Segundo Baltar & Henrique (1994, p. 605-18), o processo de liberalização da

economia brasileira, implementado com o objetivo de expor a economia do Brasil ao

mercado externo para provocar ganhos de produtividade e elevação da

competitividade do país, provocou mudanças estruturais no nível de emprego

semelhantes às que ocorreram nos países desenvolvidos. Porém as mudanças

ocorridas em países com estruturas semelhantes às do Brasil são muito mais

nocivas, uma vez que os países periféricos não estruturaram um Estado de bem

estar social para amenizar os efeitos do desemprego e da concentração de renda

resultantes desse processo.

Uma política de modernização e sofisticação da economia requereria a

ampliação da capacidade de produção de bens mais sofisticados, voltados a atender

as camadas mais ricas da população, que tendem a reproduzir o padrão de

consumo de países centrais. Todavia, provavelmente tal modernização seria

insuficiente para dar resposta aos dilemas da economia brasileira. Parece mais

factível supor que a ampliação da produção de bens de consumo básico, voltada

para atender o mercado interno, contribuiria de forma mais significativa com a

geração de empregos e a distribuição de renda.

Com a abertura comercial é bastante improvável algum tipo de crescimento

sustentável sem considerar o mercado externo. Torna-se inevitável, portanto, que se

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estruture a economia imprimindo ganhos de produtividade e que se busque aquilo

que Porter (1990, p. 62) chamou de vantagens de ordem superior, que consiste

prioritariamente em capacitação tecnológica.

O próprio mercado interno pode ser um elemento chave para impulsionar a

robustez e sofisticação de uma indústria. Políticas que promovam elevação

significativa da demanda interna podem ajudar no processo de redução dos conflitos

distributivos e propiciar ampliação da capacidade instalada, permitindo ganhos de

escala. Com a ampliação do mercado interno, a tendência é que os consumidores

se tornem mais exigentes, provocando um upgrading da indústria do país e

preparando-a para possível concorrência externa, por meio da elevação da

produtividade.

O processo descrito acima se distingue do defendido pela visão neoclássica de

elevação de produtividade, uma vez que esta corrente teórica trata a elevação de

produtividade como consequência da exposição de economia ao mercado

internacional – ainda que a economia doméstica não esteja preparada, dada a

assimetria das economias mundiais.

Porter (1993, p. 103-18) acredita que a qualidade da demanda interna é mais

importante do que a quantidade no que diz respeito às vantagens competitivas,

dado que a qualidade da demanda interfere diretamente na sofisticação da indústria,

podendo gerar eficiência dinâmica, que produz resultados de médio e de longo

prazo, diferente da eficiência estática, que proporciona resultados apenas de curto

prazo.

Na década de 1990 o Brasil já contava com um expressivo mercado externo e

com um dos maiores mercados potenciais do mundo, porém com uma estrutura de

mercado incapaz de provocar melhorias substanciais na indústria, uma vez que,

diante da concentração de renda, a demanda por produtos mais elaborados estava

restrito a uma parcela muito pequena da população.

Toyoshima (1997) acredita que um crescimento sólido e de longo prazo,

respaldado em distribuição de renda e elevação das taxas de ocupação, está ligado

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a investimentos dirigidos a setores dinâmicos da economia, capazes de gerar

inovações tecnológicas e propiciar à economia brasileira eficiência dinâmica.

A autora sugere a existência de um trade-off entre eficiência dinâmica e

eficiência estática. Este se justifica, uma vez que para buscar eficiência dinâmica é

necessário negar os sinais de mercado e optar, ao menos o curto prazo, por

escolhas ineficientes. Setores, como os de telecomunicações, requerem elevados

investimentos em desenvolvimentos de novas tecnologias, pois abrem uma extensa

cadeia produtiva e tende a gerar ganhos de produtividade diretos e indiretos em

diversos outros setores da economia. Por outro lado, o crescimento de tal setor,

além de ser poupador de mão-de-obra, tende a irradiar redução de força de trabalho

em diversos outros setores. O setor citado como exemplo de eficiência estática é o

setor agrícola, pois ainda que possua uma relativa limitação de capacidade de

inovar, tende a ser um setor intensivo em força de trabalho (que conta muitas vezes

com trabalhos degradantes).

Dosi (1988, p. 130) apresenta três tipos de ajustamentos para uma economia no

tocante a políticas de investimentos industriais. I) Ajustamento ricardiano, que se

baseia nos sinais de mercado; II) o ajustamento de crescimento, que se refere a

política de elevação da demanda efetiva, com políticas macroeconômicas

Keynesianas e III) ajustamento Schumpeteriano, que está ligado a políticas de

capacitação tecnológica para produzir bens com maior valor agregado.

4.2. O Brasil na nova economia

Ao debater a inclusão do Brasil na chamada nova economia, Pochmann (2005)

apresenta dados importantes sobre a indústria de tecnologia de informação e

comunicação (ITIC) e identifica a perda de importância da indústria brasileira na

economia mundial.

Pochmann (2005) traz à tona dados sobre esse cenário: de 1950 a 1980, o Brasil

conviveu com taxas de expansão do produto na casa de 7%, mas a partir de 1980

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passou a registrar taxas de crescimento na casa de 2,1%, pouco acima do

crescimento demográfico, mas abaixo da média mundial. O autor ressalta que o

Brasil sai da participação de 0,7% em 1950 da renda mundial para 3,5% em 1980.

Em 1999 o Brasil poderia representar 5,1% da renda mundial, segundo projeções,

mas retroagiu para 2,8 no final da década de 90. A renda per capita do Brasil em

1930 era de 24% da renda per capita dos países do centro do capitalismo, e em

1980 era de 36,1%. Seguindo a tendência, em 2000 seria de 42%, mas registrou

apenas 27% no ano de 1999, demonstrando assim um rompimento na tendência de

crescimento e dinamismo da economia brasileira.

Quanto à importância da ocupação da indústria brasileira, em 1930 os empregos

na indústria no Brasil representavam 0,8% de ocupação na indústria mundial. Os

empregos industriais representavam 7,6% de todos os empregos no Brasil. Em 1980

os empregos industriais brasileiros representavam 20% da ocupação total e o Brasil

detinha 4% dos empregos na indústria no mundo. Em 1999, o Brasil retroage para

números da década de 40: passa a deter apenas 3,1% dos empregos industriais no

mundo e os empregos na indústria de transformação passam a representar apenas

12% da ocupação no país. O que foi verificado foi uma elevação do nível de

emprego não qualificado e uma redução dos empregos qualificados no período de

1990 a 1998.

Com a intenção de reverter os atrasos do Brasil em sua dinâmica de

desenvolvimento, foi utilizada a metodologia do censo Norte-Americano (NAIC) para

mapear as oportunidades do país se inserir na indústria de tecnologia de informação

e comunicação com base em 4 pilares fundamentais, que representavam os

seguintes sub-setores: “1) indústrias que produzem computadores e equipamentos

(hardware); 2) indústrias de comunicação e de equipamentos; 3) serviços de

computação (software); e 4) serviços de comunicação.” (POCHMANN, 2005, p.

249). A centralidade do setor da ITIC fez com que este chegasse a representar 2,7%

do PIB brasileiro no final da década de 1980, porém com a reestruturação vivida

pela indústria brasileira com a abertura comercial, o setor chega ao final da década

seguinte com um decréscimo de importância, correspondendo, agora, a 2,1% do PIB

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nacional. No mesmo período ocorreu uma queda de 22% no número de empregos

na ITIC – isso correspondeu à perda de 174 mil empregos em 10 anos.

O autor demonstra que o setor da ITIC vinculado à indústria teve uma perda

significativa frente ao setor da ITIC vinculado a serviço. Dos postos de empregos

industriais perdidos entre 1989 e 1999 na ITIC, 85% foram na indústria de

comunicação e equipamentos, 15% foi indústria de informática e equipamentos. Dos

postos criados, 53% foram em serviço de comunicação e 47% em serviço de

informática.

Com a redução da importância do setor industrial na ITIC no Brasil, se verifica

um processo de crescimento das indústrias maquiladoras, que são as indústrias de

montagem de equipamentos com peças importadas. Esta inversão leva a uma

simplificação da indústria, uma vez que não se desenvolvem tecnologias

internamente, e leva a uma redução de salários, visto que este é um elemento

fundamental na competitividade no comércio internacional. Este processo levou o

Brasil a acumular déficits na balança comercial dado à necessidade de importar

tecnologia. Em 1989, o Brasil tinha um déficit de 0,1 bilhões de dólares na indústria

de comunicação e equipamento, em 1999 passou de 3 bilhões de dólares. No setor

industrial de informática e equipamentos saiu de 0,177 bilhões de dólares, para 2

bilhões no mesmo período.

Mesmo com o setor da ITIC representando um grande problema na balança

comercial brasileira, face ao coeficiente de importação das tecnologias de

informação e comunicação, foi registrado no período em questão um decréscimo

nos investimentos em pesquisa e desenvolvimento do setor, enquanto seria

pertinente, ampliar a pesquisa onde há déficit de conhecimento tecnológico.

No tocante aos salários, podemos verificar que durante a década de 1990 os

salários representaram 66% dos valores praticados na década de 1980. A maior

parte das ocupações criadas na década de 90 se concentrava em ocupações de

baixa qualificação e elevada precarização do trabalho. Segundo Pochmann (2005),

as ocupações criadas na década de 1990 foram: 23% emprego doméstico, 15%

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ocupação de vendedor, 10% construção civil, 8% serviço de asseio de conservação

e 6% serviço de segurança.

A criação de empregos menos qualificados na década de 90 derruba por terra o

argumento de que o desemprego existe por baixa qualificação dos trabalhadores. Se

por um lado este apontamento surge em muitos momentos para responsabilizar o

trabalhador pelo conjunto de desarranjos econômicos que geram elevado nível de

desemprego; o argumento do descompasso entre qualificação e oferta de trabalho

só se justificaria em uma economia em processo de elevação de seu conteúdo

tecnológico, com largos investimentos em setores dinâmicos da economia, situação

oposta à realidade do Brasil na década de 1990.

Sem subestimar o papel fundamental da educação para o desenvolvimento

social, político, cultural e econômico de um país, o problema do desemprego na

década de 1990 residia em fatores mais amplos do que a mera qualificação dos

trabalhadores. Ainda que o desemprego na década de 90 tenha subido 620% entre

pessoas com mais de oito anos de instrução e 189% entres pessoas com menos de

oito anos, os dados de redução de importância nos setores estratégicos, com maior

conteúdo tecnológico, parecem responder a esta disparidade na elevação do

desemprego.

Em suma, o ingresso do Brasil na nova economia, baseado em investimentos na

Indústria de tecnologia de informação e comunicação, sofreu fortes retrocessos na

década de 1990, chegando a reproduzir números semelhantes aos de meados do

século XX na economia do país. Este processo pode ser entendido como resultado

da conjuntura econômica mundial, pela implementação das diretrizes presentes no

consenso de Washington, mas deve-se ter em mente que o processo de abertura

comercial, impondo ajustes do tipo ricardiano, empurrou a economia brasileira à

priorização da indústria tradicional, sem projetos consistentes de investimentos em

setores estratégicos.

Enquanto na década de 1990 os Estados Unidos expandiram a importância da

ITIC de 5,8% para 8,3% de participação relativa no PIB – o que rendeu uma

elevação de 1,6 milhões de empregos qualificados, ou, 48,6% nos empregos do

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setor – no Brasil, no mesmo período, tal indústria perdeu 0,6% de importância

relativa no PIB e reduziu 18,9% dos empregos.

Como poderemos constatar à frente, a perda de importância relativa de setores

dinâmicos, com maior capacidade de inovar, provoca problemas estruturais na

geração de emprego, produtividade e crescimento da economia. O processo de

abertura comercial seria inevitável em um mundo globalizado, mas a forma com que

a economia é exposta ao mercado mundial pode determinar suas estruturas em

longo prazo.

Investimentos em setores estratégicos requerem mais dos que sinais de

mercado, requerem políticas públicas com vistas ao crescimento, elevação de

produtividade, geração de empregos de qualidade. A tecnologia não pode ser vista

como commodities. Uma vez que se caracteriza como bem não comercializável, os

investimentos em setores intensivos de tecnologia dependem de arranjos

institucionais, universidades, centros de pesquisa, recursos públicos e estratégia de

médio e longo prazos.

4.3. Variação do nível de emprego, produtividade e abertura comercial

No Brasil, no inicio da década de 1990, as indústrias com maior potencial

inovador e dinâmico eram: complexos eletrônicos, metal-mecânico e químico,

indústria automobilística e instrumentos de precisão. Os setores mais dinâmicos

também são os que possibilitam maior potencial de investimentos e sofisticação da

indústria. Ainda que tais setores não sejam grandes geradores de empregos,

tendem a gerar inovações poupadoras de trabalho e, portanto, são fundamentais no

processo de construção de vantagens competitivas. Países capazes de gerar

eficiência dinâmica seriam bem sucedidos no processo de reestruturação industrial

e, segundo Nassif, Santos e Pereira (2008), este processo requer um ajuste do tipo

Schumpeteriano.

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Para ilustrar a substancial transformação ocorrida na estrutura da indústria

brasileira, Toyoshima (1997) apresenta dados de como a indústria brasileira sofria

com baixa competitividade em quase todo o setor industrial.

Depois de o investimento em capacidade produtiva atingir um nível mínimo no último trimestre de 1992, de 13,4% do PIB, no ano de 1995 chegou a 18,7% do PIB, Grande parte destes investimentos foi com importação de maquinaria e equipamentos, ressaltando-se que as importações de bens de capital aumentaram 48% em 1993, 43% em 1994 e 58% em 1995, Paralelamente, o investimento direto externo cresceu de US$ 877 milhões em 1993 para mais de US$ 2,2 bilhões em 1994. Como resultado da reestruturação industrial no país, a produtividade da mão de obra na indústria aumentou 56% de 1990 a 1994, sobretudo nos setores de material elétrico e de comunicações (60,1%), bebidas (52,2%), material de transporte (50,7%), fumo (49,3%), papel e celulose (47,1%) e mecânica (46,5%), As indústrias cuja produtividade cresceu menos foram: farmacêutica (0,5%), de vestuário e calçados (13,2%) e de plásticos (19,0%) (PINHEIRO, 1995).

Os dados acima demonstram uma elevação substancial de produtividade que,

entretanto, não se relaciona com um crescimento de maturidade tecnológica da

indústria brasileira, uma vez que grande parte deste incremento se deu com

importação de maquinaria e equipamentos. A importação de bens de capital chegou

a crescer 58% em 1995.

A mudança da estrutura industrial atingiu frontalmente o nível de emprego, uma

vez que as indústrias que oferecem maiores oportunidades de emprego foram as

mais impactadas com a queda no nível de ocupação. O trade-off entre modernidade

e emprego parece se confirmar, dado que as industrias tradicionais, intensivas em

utilização de mão de obra, não são capazes de garantir o crescimento de longo

prazo e as indústrias dinâmicas, que contribuem pouco na geração de emprego,

parecem ser as responsáveis pela expansão do crescimento e geração de empregos

– que inclusive tendem a ser melhores – no longo prazo.

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4.4. Ocupação versus elevação da produção na abertura comercial

Uma análise da abertura comercial da década de 1990 no Brasil permite

identificar uma variação substancial na produtividade do trabalho e uma modificação

salutar no mercado de trabalho. As mudanças estruturais do capitalismo mundial

provocadas pelo surgimento de novas tecnologias, o novo dimensionamento da

indústria brasileira e a redução da atividade econômica derivada, dificultavam a

identificação dos impactos da elevação da produtividade e no nível de ocupação no

Brasil. Toyoshima (1997, p124-134) trouxe em sua tese dados empíricos bastante

esclarecedores quanto à influência da produtividade no nível de emprego nos

diferentes setores da economia brasileira. A autora, corroborando com os objetivos

de seu trabalho, buscou identificar empiricamente como a abertura comercial da

década de 90 influenciou produtividade e emprego, desta forma fez um recorte de

sua análise com dados de Jan/1991 a Julho/1995.

Para verificar se a tendências de redução do número de trabalhadores por

unidade de produto no Brasil seguia a mesma tendências dos países da Europa

Ocidental, construiu gráficos com índice de produção e dados de emprego de 1991 a

1995, todos obtidos no IBGE. Vejamos quais foram os resultados encontrados em tal

pesquisa de Toyoshima (1997, p. 126 – 132):

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GRÁFICO GRÁFICO 4.1 – Indústria de Transformação

GRÁFICO 4.2 – Indústria de Metalurgi

101

Indústria de Transformação

Metalurgi a

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GRÁFICO 4.3 – Indústria Mecânica

GRÁFICO 4.4 – Indústria de Material elétrico e de comunicações

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GRÁFICO 4.5 – Indústria de material de transporte

GRÁFICO 4.6 –Madeira

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GRÁFICO 4.7 - Mobiliário

GRÁFICO 4.8 – Indústria de Papel e Papelão

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GRÁFICO 4.9 – Indústria Química

GRÁFICO 4.10 – Indústria farmacêutica

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GRÁFICO 4.11 – Indústria Têxtil

GRÁFICO 4.12 – Indústria de produtos alimentares

FONTE: TOYOSHIMA (1997, p. 126 – 132)

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No período analisado, pode ser claramente observado um processo de elevação

da produção, com a manutenção ou mesmo redução do nível de ocupação na

indústria. Pode ser observado que a elevação de produção por trabalhador cresce

de acordo com os diferentes níveis de produtividade e dinâmica de cada indústria. A

autora chama atenção para o fato de que os setores que registraram maior elevação

de produtividade foram os das indústrias com maior capacidade de desenvolver

eficiência dinâmica, ou seja, com maior capacidade promover inovações

tecnológicas.

Os dados também demonstram maior instabilidade no nível de emprego e

produção nos setores mais tradicionais da indústria. Este fenômeno se dá pelo fato

dos setores mais tradicionais serem menos intensivos em tecnologia e, desta forma,

utilizarem força de trabalho menos qualificada. Com isso, a indústria pode variar o

número de ocupações no setor, em consonância com a variação de produção, sem

contrair maiores prejuízos caso tenham que repor os postos de trabalho.

O que ficou evidente nos dados apresentados é que a abertura comercial

observada no período de 1991 a 1995 elevou a produção por pessoa ocupada,

porém a redução do nível de emprego e a elevação da produtividade não ocorreram

de forma homogênea em toda a indústria. Os setores mais dinâmicos da indústria –

como a indústria mecânica e de material de transporte – elevaram a produtividade e

mantiveram o nível de emprego ao patamar de jan/1991 com uma significativa

elevação da produção. Os setores tradicionais da economia, detentores de menor

dinamismo, sofrerem com maior redução do emprego, maior oscilação da produção

e menor ganho de produtividade.

4.5. Emprego e produtividade na década de 90, período de abertura Comercial.

Como foram verificados nos levantamentos empíricos anteriores, existe certa

regularidade distinta na variação de emprego e produto de setores tradicionais, para

setores mais dinâmicos da economia. Identificar esta regularidade é fundamental

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para definir uma estratégia de ajuste na indústria, considerando os objetivos de

geração de emprego e crescimento do produto. Toyoshima (1997) traz à tona o

trabalho de Najberg & Vieira (1996), que busca relacionar 41 setores da economia

com seu potencial de geração de emprego e geração de crescimento da economia,

utilizando a metodologia da matriz insumo-produto. Na tabela baixo foi utilizado o

Modelo de Geração de Empregos do BNDES que estabelece as seguintes

definições sobre as variáveis analisadas:

a) Emprego direto: Corresponde à mão de obra adicional requerida pelo setor onde se observa o aumento de produção. Por exemplo, um aumento de demanda por vestuário impulsionará as empresas do setor a aumentarem sua produção, de forma a atender esse aumento de procura, contratando novos trabalhadores. No caso específico do emprego direto, portanto, haverá variação no nível de emprego no setor onde ocorreu o aumento de demanda.b) Emprego indireto: Corresponde aos postos de trabalho que surgem nos setores que compõem a cadeia produtiva, já que a produção de um bem final estimula a produção de todos os insumos necessários à sua produção. No exemplo anterior, para que sejam fabricadas roupas adicionais, é necessária a produção de fios e algodão, entre outros produtos, estimulando a indústria têxtil e a agricultura e gerando novos postos de trabalho nesses setores. Desse modo, um aumento de demanda em um setor específico (no caso Vestuário) provoca um aumento de produção não apenas do setor, mas ao longo de toda a cadeia produtiva.c) Emprego efeito-renda: Obtido a partir da transformação da renda dos trabalhadores e empresários em consumo. Parte da receita das empresas auferida em decorrência da venda de seus produtos se transforma, através do pagamento de salários ou do recebimento de dividendos, em renda dos trabalhadores e dos empresários. Ambos gastam parcela de sua renda adquirindo bens e serviços diversos, segundo seu perfil de consumo, estimulando a produção de um conjunto de setores e realimentando o processo de geração de emprego. No exemplo anterior, um aumento da demanda de vestuário gera empregos diretos no próprio setor e indiretos na indústria têxtil e na agropecuária, por exemplo, que fornecem parte dos insumos necessários para a produção das novas roupas. Esses trabalhadores adicionais, ao receberem seus salários, gastam uma parte de sua renda em consumo, comprando alimentos, consumindo serviços diversos, como restaurantes ou cinemas, e inclusive comprando roupas, o que aumenta ainda mais a demanda e os empregos no setor (Najberg e Pereira, 2004, p 1).

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TABELA 4.1 - GERAÇÃO DE EMPREGO E DE CRESCIMENTO E IMPORTAÇÃO DOS SETORES DA ECONOMIA BRASILEIRA

Código Setores Emprego (ordem)

Setors- chave

Import. (Ordem) Direto Indireto Efeito-

Renda Total

1 Vestuário 1 15 8 1 Sim 33 2 Agropecuária 2 14 9 2 Sim 34 3 Madeira e mobiliário 4 8 10 3 Sim 30 4 Calçados 5 9 30 4 Sim 12 5 Comércio 3 36 7 5 Não 36 6 Abate de animais 27 1 13 6 Sim 37 7 Indústria do café 28 2 12 7 Sim 40 8 Outros prod. aliment. 8 7 27 8 Sim 14 9 Ind. Laticínios 35 3 15 9 Sim 32 10 Benef. Prod. Vegetais 23 5 25 10 Sim 10 11 Óleos vegetais 40 4 19 11 Sim 16 12 Administração pública 6 35 3 12 Não 35 13 Açúcar 25 6 16 13 Sim 27 14 Serv.Prest. À família 7 17 26 14 Não 28 15 Min. Não-Metálicos 11 20 17 15 Sim 23 16 Elementos Químicos 41 34 41 16 Sim 13 17 Construção civil 9 23 33 17 Não 31 18 Têxtil 17 12 22 18 Sim 18 19 Extrativa mineral 10 27 18 19 Não 21 20 Outros metalúrgicos 13 21 20 20 Sim 22 21 Indústrias diversas 15 25 11 21 Não 26 22 Cel. Papel 21 11 21 22 Sim 15 23 Transportes 12 32 39 23 Não 5 24 Serv.Prest.à empresa 14 37 4 24 Sim 40 25 Peças e out. veículos 19 19 29 25 Sim 11 26 Siderurgia 38 13 34 26 Sim 9 27 Autom. Cam. E. onibus 32 16 31 27 Sim 16 28 Borracha 22 22 36 28 Sim 8 29 Artigos plásticos 16 33 28 29 Não 20 30 Máquinas e equipamentos 30 28 14 30 Sim 19 31 Fannac. E veterinária 29 18 35 31 Não 3 32 Material elétrico 31 24 24 32 Não 17 33 Comunicações 18 39 24 33 Não 25 34 Quúnicos diversos 20 29 24 34 Não 4 35 Petróleo e gás 39 31 24 35 Não 24 36 Inst. Financeiras 26 41 24 36 Não 39 37 Metal. Não-ferrosos 36 26 24 37 Sim 6 38 Aluguel de imóveis 37 40 24 38 Não 41 39 Equip. eletrônicos 34 30 24 39 Não 2 40 Serv.lnd. Util 33 38 24 40 Não 7 41 Refino de petróleo 41 34 24 41 Sim 1

FONTE: Najberg e Vieira (1996)

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110

No trabalho as autoras demonstram que os nove setores que mais geram

crescimento estão ente os 12 que mais geram empregos. Também fica claro que os

setores tradicionais também necessitam de pouca importação para ampliar a

produção. Com o objetivo de demonstrar em que posição os setores se encontram

no que diz respeito à geração de emprego e crescimento econômico, as autoras

disponibilizam um gráfico que faz uma divisão dos setores em quatro quadrantes

que estabelecem os setores que estão acima e abaixo da média de geração de

emprego e crescimento.

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GRÁFICO 4

FONTE: a) Toyoshima (1997) b) Com dados de

4.13 - CRESCIMENTO ECONÔMICO X GERAÇÃO DE EMPREGO

FONTE: a) Toyoshima (1997) Com dados de Najberg & Vieira (1996)

111

GERAÇÃO DE

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112

As autoras fazem os seguintes esclarecimentos quanto ao gráfico:

A linha vertical no centro representa a média dos setores em termos de geração de crescimento econômico e a linha horizontal, a média dos setores em termos geração de emprego. Assim, no Quadrante I encontram-se os setores que estão acima da média em relação à geração de emprego, mas abaixo da média quanto a ser importante impulsionador do crescimento econômico. Nele estão compreendidos a agropecuária, o comércio, os serviços prestados à família e a administração pública. No Quadrante lI se encontram aqueles setores que estão acima da média quanto àqueles dois fatores. São eles: de vestuário, madeira e mobiliário, calçados, abate de animais, industrialização de café, outros produtos alimentícios, laticínios, produtos vegetais, óleos vegetais e açúcar. Observa-se, assim, que se encontram neste quadrante somente as indústrias tradicionais. No Quadrante III estão aqueles setores que estão abaixo da média nos dois fatores. São eles: extrativa mineral, petróleo e gás, refino de petróleo, equipamentos eletrônicos, químicos diversos, farmacêutica e veterinária, artigos plásticos, indústrias diversas, serviço industrial de utilidade pública, transportes, comunicações, instituições financeiras, serviços prestados à empresa e aluguel de imóveis. No Quadrante IV se encontram os setores que são impulsionadores do crescimento, mas que geram emprego abaixo da média dos setores, como o siderúrgico, metalúrgico, de automóveis, caminhões e ônibus, de autopeças, de máquinas e equipamentos, de material elétrico, de celulose, papel e gráfica, de borracha, de elementos químicos e têxteis. Por fim, o setor de construção civil e o de minerais não metálicos se encontram na média em termos de geração de emprego, mas o primeiro está abaixo da média quanto ao fator crescimento econômico e o segundo, acima da média (TOYOSHIMA, 1997, p 139).

No gráfico podemos perceber como os setores tradicionais possuem uma

elevada importância no que diz respeito à geração de emprego e impulso ao

crescimento econômico. Os setores tradicionais encontram-se na economia

brasileira no quadrante II, estando assim acima da média de geração de emprego e

crescimento. Dada a estrutura da economia brasileira, os setores mais dinâmicos

estão não só abaixo da média na geração de emprego, como também abaixo na

variável de crescimento. Podemos observar ainda que nos setores tradicionais

concentram-se nos gastos da população mais pobre, uma vez que 55% dos gastos

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113

desta população estão nos setores de alimentos bebidas e vestuários

(TOYOSCHIMA, 1997).

A pesquisa de Najberg e Vieira (1996) nos permite entender a estrutura da

indústria em um momento chave para a economia brasileira, momento de abertura

comercial e exposição ao mercado mundial, estando o Brasil com uma indústria

ainda não madura em termos de produtividade.

4.6. Análise empírica de 2001 a 2002 do Modelo de Geração de Emprego.

No trabalho Najberg e Pereira (2004) foram analisadas as variáveis: geração de

emprego, elevação da produção, variação da produtividade e efeito renda, utilizando

o Modelo de Geração de Empregos do BNDES (MGE). O trabalho citado busca uma

analise dinâmica do reposicionamento dos setores da indústria brasileira com dados

de 2001 e 2002 do IBGE. Ainda que o período observado seja demasiadamente

curto, a relevância do trabalho Najberg e Pereira (2004) reside no fato de Najberg ter

participado 8 anos depois de um trabalho reproduzindo uma metodologia

semelhante a observada no trabalho Najberg & Vieira (1996). O debate apresentado

em 1996 esteve fortemente influenciado pelo processo e abertura comercial do

Brasil e grande parte das discussões residia em identificar se a abertura comercial

era geradora ou destruidora de empregos no país e quais seriam os efeitos da

variação de produtividade na estrutura da indústria brasileira. No trabalho Abertura

comercial criando ou exportando empregos de Moreira e Najberg (1997), que não

trataremos com profundidade, foi utilizado instrumental empírico para afirmar que

abertura comercial destrói empregos e leva o Brasil a uma especialização em

setores da indústria pouco intensivos em tecnologia no curto prazo, mas tende a

ocorrer uma mudança substancial em médio e longo prazo, com geração de mais e

melhores empregos e com elevação de tecnologia, mesmo em setores mais

tradicionais.

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114

Assim, analisaremos os dados do trabalho de Najberg e Pereira (2004) para

observar se ocorreu um reposicionamento dos setores da indústria no período

imediatamente posterior ao processo de abertura comercial ocorrido na década de

1990. Com isso, pavimentaremos o caminho para uma análise do trabalho de Nassif,

Santos e Pereira (2008), que realiza um estudo de mais fôlego, com um horizonte de

tempo mais largo e conclusões teóricas mais substanciais.

O Modelo de Geração de Emprego do BNDES analisado por Najberg e Pereira

(2004) é um modelo que permite verificar o potencial de geração de empregos

diretos, indiretos e efeito renda, diante de um aumento de 10 milhões na produção

dos diferentes setores da economia, conforme a tabela abaixo. O modelo utilizado

no artigo em questão pressupõe retornos constantes de escala, o que gera uma

limitação para o modelo, mas não descarta seus resultados. A coluna de Rank

apresenta em ordem decrescente em que posição a variável analisada está em

números de empregos gerados. Para facilitar a visualização dos dados, colocamo-

nos na ordem decrescente de geração de empregos totais, como se pode observar

na tabela abaixo:

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TABELA 4.2 - Empregos Gerados por Aumento de Produção de R$ 10 milhões (preços médios de 2003)

SETOR EMPREGO

Diretos Rank Indiretos Rank EFEITO- RENDA Rank TOTAL Rank

SERV. PREST. À FAMÍLIA 665 1 104 25 311 4 1080 1 ARTIGOS DO VESTUÁRIO 613 2 136 13 250 25 1000 2 AGROPECUÁRIA 393 4 131 15 303 7 828 3 COMÉRCIO 449 3 84 31 278 15 810 4 MADEIRA E MOBILIÁRIO 293 6 219 8 294 8 805 5 INDÚSTRIA DO CAFÉ 41 23 356 2 323 3 719 6 FABRICAÇÃO CALÇADOS 246 7 174 10 290 9 711 7 FABRICAÇÃO DE AÇÚCAR 32 29 307 6 337 1 677 8 ABATE DE ANIMAIS 36 27 358 1 270 18 664 9 PREST. SERV. À EMPRESA 293 5 63 37 288 12 645 10 BENEF. PROD. VEGETAIS 58 20 327 4 259 23 643 11 FAB. ÓLEOS VEGETAIS 8 40 350 3 284 13 642 12 INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS 29 30 326 5 267 19 621 13 OUTROS PROD. ALIMENT. 82 16 238 7 252 24 572 14 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 165 10 98 27 290 10 553 15 TRANSPORTES 219 8 96 29 237 29 551 16 CONSTRUÇÃO CIVIL 176 9 83 33 271 16 530 17 INDÚSTRIAS DIVERSAS 124 11 126 16 250 26 501 18 ELEMENTOS QUIMICOS 14 37 188 9 289 11 491 19 CELULOSE, PAPEL E GRÁF. 59 19 155 11 271 17 485 20 EXTRAT. MINERAL 90 14 126 17 266 20 481 21 MINERAL Ñ METÁLICO 99 12 117 20 261 21 477 22 OUTROS METALÚRGICOS 98 13 109 22 244 27 451 23 INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS 47 21 80 35 310 5 437 24 PETRÓLEO E GÁS 9 38 84 30 329 2 422 25 MÁQUINAS E EQUIP. 62 17 80 34 278 14 420 26 SIDERURGIA 8 39 135 14 259 22 402 27 PEÇAS E OUT. VEÍCULOS 37 26 117 21 234 30 387 28 IND. TÊXTIL 62 18 144 12 176 41 382 29 FARMAC. E VETERINÁRIA 38 24 117 19 222 33 377 30 MATERIAL ELÉTRICO 37 25 121 18 213 34 371 31 ARTIGOS PLÁSTICOS 88 15 68 36 206 38 362 32 IND. DA BORRACHA 23 32 108 23 229 31 360 33 QUÍMICOS DIVERSOS 26 31 99 26 213 35 339 34 EQUIP. ELETRÔNICOS 41 22 83 32 208 36 332 35 ALUGUEL DE IMÓVEIS 15 36 10 41 307 6 331 36 AUTOM./CAM/ONIBUS 16 35 108 24 203 39 326 37 METALURG. Ñ FERROSOS 18 34 97 28 202 40 316 38 COMUNICAÇÕES 33 28 45 39 227 32 305 39 S.I.U.P. 21 33 41 40 238 28 299 40 REFINO DO PETRÓLEO 2 41 62 38 208 37 271 41 FONTE: NAJBERG E PEREIRA, 2004, DADOS DO Modelo de geração de Empregos – BNDES

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GRÁFICO 4.14 - Gráfico de Empregos Gerados por Aumento de Produção de

R$ 10 milhões (preços médios de 2003)

FONTE: a) Modelo de geração de Empregos – BNDES b) Elaboração própria a partir da matriz insumo-produto de 1990 do IBGE e da tabela de NAJBERG E PEREIRA, 2004,

0 100 200 300 400 500 600 700

IND. TÊXTIL

AUTOM./CAM/ONIBUS

EQUIP. ELETRÔNICOS

MATERIAL ELÉTRICO

FARMAC. E VETERINÁRIA

IND. DA BORRACHA

TRANSPORTES

OUTROS METALÚRGICOS

INDÚSTRIAS DIVERSAS

BENEF. PROD. VEGETAIS

MINERAL Ñ METÁLICO

INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

CONSTRUÇÃO CIVIL

COMÉRCIO

FAB. ÓLEOS VEGETAIS

ELEMENTOS QUIMICOS

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

AGROPECUÁRIA

INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

INDÚSTRIA DO CAFÉ

FABRICAÇÃO DE AÇÚCAR

EFEITO-RENDA

Indiretos

Diretos

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117

Com base no modelo de geração de empregos do BNDES podemos visualizar

que o aumento de R$ 10 milhões nos diferentes setores da economia, provocavam

efeitos distintos nos tipos de empregos gerados entre os setores analisados. É

possível constatar, a partir da análise dos dados observados na tabela 4.2, que o

setor que mais gera empregos, na somatória das três categorias analisadas, é o

setor de serviços prestados à família, com geração de 1.080 postos, seguido por

artigos de vestuário, com geração total de 1.000 vagas de emprego. Em seguida,

com pouco mais de 800 postos, vem agropecuária, comércio e madeira e mobiliário.

Os piores colocados quando verificamos a soma total dos empregos gerados em

tal metodologia são respectivamente refino de petróleo, serviço industrial de utilidade

pública (S.I.U.P), comunicações e metalurgia de não ferrosos. Uma possível

explicação para a baixa geração de emprego total em tais setores é que estes são

os mais dinâmicos da economia e contam com uma elevada concentração de

capital, assim, tendem a ser menos impactados por uma elevação de receita,

quando comparados a setores menos intensivos em capital.

Quando analisamos a mesma tabela com base na geração de empregos diretos,

os cinco mais bem colocados são os mesmos setores dos maiores geradores totais

de emprego, porém o quadro se modifica quando analisamos os piores geradores de

empregos diretos. São estes, na ordem: Refino de petróleo, Siderurgia, fabricação

de óleos vegetais, petróleo e gás e elementos químicos. Os setores que geram

menos empregos diretos são os setores de maior intensidade tecnológica.

Quando fazemos uma análise com base nas colunas de efeito-renda e geração

de empregos indiretos, verificamos uma maior dispersão na geração de empregos

entre setores dinâmicos e tradicionais. Isso ocorre porque, apesar dos setores

tradicionais serem mais intensivos em mão de obra, os setores mais dinâmicos tem

uma cadeia produtiva mais complexa, o que provoca um efeito de irradiação mais

longo na economia como um todo.

No trabalho de Najberg e Pereira (2004), a exemplo do trabalho de Najberg &

Vieira (1996), não basta a identificação dos setores com maior capacidade de

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geração de emprego, uma vez que, se esta geração não estiver ligada com uma

elevação de produtividade, tal geração de emprego tende a não ser sustentável no

longo prazo em uma economia globalizada. Um estudo que vise contribuir na

elaboração de eficientes políticas de geração de emprego, deve considerar também

os recorrentes casos de empregos de baixa qualidade, baixa remuneração e

elevada informalidade que se apresentam em boa parte dos casos na indústria

tradicional.

Najberg e Pereira (2004) apresentam uma tabela dinâmica que mede o avanço

da produtividade no período analisado:

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119

TABELA 4.3 - Tabela de evolução da Produção e do Emprego entre 2001 e 2002

FONTE : NAJBERG E PEREIRA, 2004,

Para uma melhor visualização do potencial dos diversos setores quanto a sua

capacidade de geração de crescimento e emprego, o trabalho de Najberg e Pereira

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(2004) apresentou um gráfico de quatro quadrantes para analisar as variáveis. A

novidade que o gráfico abaixo trás é uma reta diagonal que estabelece o

desempenho dos setores quanto a sua produtividade:

GRÁFICO 4.15 - Variação da produtividade setorial entre 2001 e 2002

FONTE: NAJBERG E PEREIRA, 2004,

Quando verificamos a dispersão dos setores no gráfico, podemos tirar algumas

conclusões salutares quanto à capacidade de geração de emprego. Mais do que

verificar a quantidade de empregos criados, é necessário identificar quantos destes

empregos estão em setores que tendem a ampliar sua capacidade produtiva e

quantos destes podem abrir novas oportunidades de investimentos com ampliação

ou diversificação da cadeia produtiva.

Dos setores com maior capacidade de geração de empregos totais ou diretos

verificou-se que apenas o setor de Agropecuário contou com elevação da

produtividade em 3,1%. O setor com maior capacidade de gerar empregos no

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121

período analisado, que é o de serviço prestado à família, contou com uma redução

de 2,7% na produtividade, seguido pelo de artigos de vestuário, com uma grande

redução de produtividade de 7,9%. O setor do comércio sofreu queda de 5,1% de

produtividade e o de Madeira e mobiliário redução de 4,4% de produtividade.

Dentre os setores com menor capacidade de geração de emprego no período

analisado, temos o Refino de Petróleo com queda de 3,3% de produtividade; o setor

de utilidade Pública, que contou com um ganho de produtividade na casa de 0,7%;

seguido pelo terceiro pior em geração de empregos e o segundo melhor em

produtividade, que é o setor de Comunicações com 9,8% de produtividade. Em

seguida, o setor de Metalurgia de não Ferrosos, com perda de 2,9% de

produtividade e o setor automotivo que não ganhou nem perdeu produtividade no

período analisado.

A definição utilizada para elevação da produtividade é dada pela redução

quantidade de trabalhadores para produção de determinada quantidade de produto.

Naturalmente um setor que reduz a produtividade tende a utilizar mais força de

trabalho, porém a redução da produtividade deve causar uma redução de

competitividade, elevação de preço e possível redução de demanda no longo e

médio prazo.

Como os dados utilizados neste trabalho são de um período relativamente curto,

é difícil diferenciar tendências estruturais de tendências conjunturais, porém este nos

permite identificar setores de maior ou menor instabilidade quanto ao crescimento e

geração de empregos.

4.7. Análise setorial de 1994 a 2006 com modelo dinâmico e retornos não constantes no modelo de geração de emprego.

O trabalho de Nassif, Santos e Pereira (2008) traz uma análise empírica da

indústria brasileira, considerando um período mais longo que os estudos

anteriormente citados. Este trabalho nos permite de verificar se existem mudanças

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substanciais na estrutura industrial brasileira do período da abertura comercial a

meados da década de 2000. Tal análise ganha relevância dado a mudança de

discurso político quanto a relação entre Estado e mercado na transição dos

governos Fernando Henrique Cardoso para os governos Luiz Inácio da Silva. Se a

abertura comercial ocorreu principalmente durante os governos Fernando Collor e

Fernando Henrique Cardoso e estes foram marcados por um discurso de

liberalização comercial, redução do Estado na economia e privatização, nos

governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, o discurso foi – no caso do

governo Dilma é – pautado por um Estado indutor da economia, com política

industrial e programas sociais voltados para geração de emprego e renda.

O estudo de Nassif, Santos e Pereira (2008) não nos permite apontar

solidamente tendências de longo prazo, mas nos permite verificar se ocorreram

mudanças substanciais na estrutura industrial brasileira e identificar se os setores

que ganharam maior relevância foram os maiores geradores de emprego, de

crescimento, ou de produtividade.

O estudo utiliza o novo modelo de geração de emprego do BNDES, reformulado

pelo Grupo de Indústria e Competitividade do Instituto de Economia da Universidade

Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O novo modelo possibilita atualizar a matriz

insumo-produto e imprime uma sofisticação frente aos anteriores, uma vez que

flexibiliza a hipótese de que todos os setores obtêm retornos constantes de escala.

O novo modelo utilizada a desagregação da economia em 42 setores,

estabelecendo 3 esferas de produção econômica que são: agropecuária, industrias e

serviços.

Iniciando pelos grandes agregados setoriais, para um aumento simultâneo de demanda de R$ 10 milhões em cada setor, a agropecuária lidera o ranking quanto à capacidade potencial de gerar empregos (total de 1.054), seguida pelo setor de serviços (744) e pela indústria (619). Numa análise um pouco menos agregada, dos cinco segmentos com maior potencial gerador de mão de obra na economia brasileira, quatro estão situados no setor de serviços: os serviços prEstados às famílias (1º no ranking), o comércio (3º), os serviços prEstados às empresas (4º) e a administração

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123

pública (5º). A agropecuária fica com a segunda colocação (NASSIF, SANTOS e PEREIRA, 2008, p. 162).

TABELA 4.4 – Estimativa dos empregos gerados na agropecuária, indústria e serviços em 2007, em resposta a aumentos na produção de R$ 10 milhões

(A preços médios do ano)

FONTE: Nassif, Santos e Pereira (2008)

Quando a análise se dá por setores mais agregados (como foi apresentado na

tabela 4.4), verifica-se que o setor de serviços ocupa do primeiro ao sexto lugar, com

exceção apenas do segundo lugar, que é ocupado pelo setor agropecuário. A

indústria só aparece no sétimo lugar, com a indústria de transformação, com

potencial de geração de 638 empregos totais.

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GRÁFICO 4.16 – Estimativa dos empregos gerados na economia brasileiraem resposta a aumentos de produção de R$ 10 milhões

FONTE: Nassif, Santos e Pereira (2008)

O estudo nos mostra que o novo modelo de geração de empregos com dados de

2007 e com uma metodologia mais sofisticada també

tradicionais como maiores geradores de emprego totais e diretos. O primeiro

colocado em geração de emprego totais é um setor da indústria tradicional que,

segundo o modelo com 42 setores

serviços prestados à família, com 1.261 empregos gerados e, logo após, vem o setor

de agropecuária, com geração de 1.054 empregos

milhões na produção do respectivo setor

em geração de emprego são setores da indústria de transformação, que são os

setores mais intensivos em tecnologia e possuidores de maior capacidade de

inovação.

Estimativa dos empregos gerados na economia brasileiraem resposta a aumentos de produção de R$ 10 milhões (A preços médios do ano)

Nassif, Santos e Pereira (2008)

O estudo nos mostra que o novo modelo de geração de empregos com dados de

2007 e com uma metodologia mais sofisticada também apresenta os setores

tradicionais como maiores geradores de emprego totais e diretos. O primeiro

colocado em geração de emprego totais é um setor da indústria tradicional que,

segundo o modelo com 42 setores geraria 1.496 empregos, seguido pelo setor de

serviços prestados à família, com 1.261 empregos gerados e, logo após, vem o setor

de agropecuária, com geração de 1.054 empregos dado um acréscimo de 10

milhões na produção do respectivo setor. Vale ressaltar que os 13 piores colocados

go são setores da indústria de transformação, que são os

setores mais intensivos em tecnologia e possuidores de maior capacidade de

124

Estimativa dos empregos gerados na economia brasileira em 2007, (A preços médios do ano)

O estudo nos mostra que o novo modelo de geração de empregos com dados de

m apresenta os setores

tradicionais como maiores geradores de emprego totais e diretos. O primeiro

colocado em geração de emprego totais é um setor da indústria tradicional que,

geraria 1.496 empregos, seguido pelo setor de

serviços prestados à família, com 1.261 empregos gerados e, logo após, vem o setor

dado um acréscimo de 10

. Vale ressaltar que os 13 piores colocados

go são setores da indústria de transformação, que são os

setores mais intensivos em tecnologia e possuidores de maior capacidade de

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125

Como já foi tratado anteriormente, a análise dos setores sem considerar a

dinamicidade de setor com base na variação de produtividade é incapaz apontar

para uma política industrial eficiente. Vejamos os gráficos abaixo, que relacionam a

variação da produtividade entre os anos de 1994 e 2003:

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126

GRÁFICO 4.17 – Produtividade do trabalho (valor adicionado/pessoal ocupado na agropecuária, indústria e serviços em 1994 e 2003

(em R$ milhares constantes de 2003)

FONTE: Nassif, Santos e Pereira (2008)

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127

TABELA 4.5 – Produtividade do trabalho na Economia Brasileira em 2003 (em R$ milhares por trabalhador)

FONTE: Nassif, Santos e Pereira (2008)

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128

Como era de se esperar, os segmentos com maiores índices de produtividade

são os mais intensivos em tecnologia. Esta observação é relevante, pois se choca

com a constatação anterior sobre a geração de emprego e crescimento. Quando

verificamos o gráfico que confronta os dados de produtividade de 1994 com 2003,

verificamos que no setor industrial se concentra mais da metade da produtividade da

economia brasileira. Nos dados de 1994 a indústria representava 52% da

produtividade total da economia, em 2003 a importância da produtividade da

indústria cresceu para 56%. Tanto o setor de serviços quanto o de agropecuária

tiveram redução de produtividade entre 1994 e 2003.

Os setores com maior produtividade segundo a tabela acima foram os de

utilidade pública, que em sua maioria representam monopólios naturais como

produção e distribuição e energia elétrica, água, gás e saneamento básico. Estes

dados sugerem que os sinais de mercado são importantes para elevação da

produtividade, mas em hipótese alguma são suficientes para uma escalada

permanente e duradoura de produtividade.

A tabela aponta que os setores com maior capacidade de geração de emprego,

mesmo com os dados de 1994 a 2003, são os piores colocados quanto à

produtividade, com isso tendem não sustentar crescimento e geração de emprego

no longo prazo. Os melhores colocados em crescimento de produtividade são

intensivos em capital e englobam setores com alta e média intensidade de

tecnologia.

Podemos observar no gráfico abaixo as supostas dicotomias de

crescimento/emprego e produtividade. A exemplo do trabalho de Najberg e Pereira

(2004), o gráfico abaixo capta a dispersão dos setores da economia entre geração

de emprego, crescimento econômico e produtividade. O gráfico expressa dados

dinâmicos de 1994 a 2003, assim demonstra a variação do crescimento, ocupação e

produtividade.

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129

GRÁFICO 4.18 – Dinâmica do Valor adicionado, emprego e produtividade na Economia Brasileira (1994-2003)

FONTE: a) Nassif, Santos e Pereira (2008)

b) Dados do IBGE

O gráfico acima nos traz informações de grande relevância para os objetivos

desta análise, uma vez que confronta a estrutura produtiva brasileira de dois

períodos distintos. A distinção entre os dois momentos analisados estão no campo

político, uma vez que o discurso voltado à liberdade do mercado passa a se voltar

para ações de Estado, a outra distinção reside nas profundas transformações

tecnológicas presenciadas no mundo, em um curto espaço de tempo.

Ainda que não se possam fazer constatações seguras de tendências de longo

prazo, em um gráfico dinâmico podemos verificar não só a estrutura atual da

indústria, mas também em que direção caminha a economia brasileira no tocante à

geração de emprego, crescimento e produtividade. De certa forma, ainda que o

Brasil não seja um país definidor da dinâmica do capitalismo mundial e não tenha

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130

uma indústria marcada pela inovação, em um ambiente de concorrência mundial,

entender as tendências da estrutura produtiva brasileira também é dar passos para

entender as estruturas produtivas do capitalismo contemporâneo.

No que diz respeito a geração de emprego e crescimento, o ideal é que todos os

setores ocupem o quadrante superior direito, que corresponde a um crescimento

elevado, com elevada geração de emprego. Mas se pensarmos em evolução da

indústria, com progresso tecnológico, competitividade e sustentação de crescimento

e emprego no longo prazo, é necessário que os setores estratégicos estejam no

quadrante superior direito, mas acima da reta inclinada, que indica a produtividade

acima da média da economia.

O que podemos verificar no gráfico dinâmico é que o setor que conseguiu maior

produtividade com geração de empregos foi o de Extração de Petróleo e Gás

Natural, Carvão e Outros Combustíveis. Com taxa de produtividade, em 2003, de R$

736,8 mil por trabalhador, este setor esteve como o mais bem colocado em todas as

variáveis. Em seguida veio o setor de Comunicações, com R$ 163,6 mil por

trabalhador de produtividade em 2003. O setor de vestuário aparece em seguida,

nos quesitos produtividade e geração de emprego. O setor de Fabricação e

Manutenção de Máquinas e Tratores não se destacou tanto em geração de

crescimento, mas atingiu a mesmo marca que o setor de comunicações na geração

de emprego, estando ainda acima da produtividade média. Na lista dos setores que

mais geraram empregos com crescimento de produtividade vem administração

pública; papel e gráfica e aluguel de imóveis. Quando observamos os setores que

contribuíram mais com crescimento e com produtividade acima da média,

verificamos o setor da indústria do açúcar, que apresentou produtividade, em 2003,

na marca de R$ 88,6 mil por trabalhador; em seguida vem a indústria do café, com

R$ 56,9 mil por trabalhador; siderurgia, com R$ 278,6 mil por trabalhador em 2003;

Fabricação e Refino de Óleos Vegetais e de Gorduras para Alimentação, e ainda o

setor de químicos diversos.

O que podemos constatar em tal analise dinâmica é que mesmo os setores

tradicionais intensivos em trabalho tendem a absorver menos trabalhadores por

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131

unidade de produto em função do progresso tecnológico. O gráfico demonstra que

independente de estarmos verificando crescimento/produtividade ou

emprego/produtividade, os setores que aparecem melhor localizados são os mais

dinâmicos, que registram maiores saldos em progresso tecnológico. Assim se é

possível apontar para alguma tendência no que diz respeito a crescimento, geração

de emprego e variação de produtividade é que, ainda que os setores tradicionais se

posicionem como maiores geradores de emprego e crescimento em números

absolutos e em curto prazo, os setores mais dinâmicos, com maior conteúdo

tecnológico possuem uma taxa de crescimento, nas três variáveis, maior que os

setores tradicionais e com maior potencial à sustentabilidade.

4.8. Elevação de emprego com aumento da demanda por ganhos de produtividade: Ajuste do tipo Crescimento.

A elevação da produtividade do trabalho expressa um processo de

racionalização da produção, uma vez que, é necessário menos tempo de trabalho

para produzir uma unidade de mercadoria. A elevação da produtividade tende a

gerar redução de preço e elevação de demanda. Se a racionalização do trabalho

gerar expansão econômica e empregos, a depender do nível da expansão, não

haverá desemprego tecnológico. Isso por um fator evidente, de que só existe

desemprego tecnológico se houver desemprego (Belculfiné, Oliveira, 2004).

A ampliação de demanda, seja por quantidade ou qualidade de produtos, pode

ocasionar uma elevação da necessidade de produção e, com isso, mesmo com uma

força de trabalho com maior produtividade, é necessário que se eleve o número dos

postos de trabalho.

Evidentemente, a geração de emprego varia de acordo com as estruturas de

cada economia. Uma economia com elevado nível de desigualdade como a

brasileira, co-existe com uma demanda reprimida por bens básicos, dado a

inexistência de renda. Ao baratear alguns produtos, a elevação da produtividade

expande a possibilidade de consumo destes, elevando a demanda efetiva pela sua

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produção, gerando também maior demanda por trabalho. Porém, quando esta

demanda se restringe a bens básicos, a limitação deste tipo de geração de emprego

encontra-se na quantidade de pessoas que estavam cerceadas do acesso a esta

categoria de bens.

Ocorre que o tipo de crescimento é limitado à medida que tal economia faça

movimentos no sentido de reduzir a concentração de renda, promovendo a inclusão

daqueles antes excluídos do mercado de consumo. Isso indica que economias que

já atenderam as necessidades básicas de sua população tenha pouca capacidade

de gerar postos de trabalho com esta estratégia.

Quando tratamos de elevação de nível de emprego, derivada da redução de

preço, com ganhos da produtividade e elevação da demanda por produtos mais

sofisticados, as limitações são menores. Algumas das justificativas são: i) A

elasticidade preço de bens mais elaborados é maior. O consumidor médio tem a

plena ciência de quanto, que tipo e quando deve consumir de arroz e provavelmente

não descobrirá outra modalidade de utilização de tal produto, distinta das que ele

utiliza. Porém o uso de equipamentos sofisticados como um tablet ainda está se

inserindo em sua vida, com cada vez mais ramificações de utilização em seu dia-a-

dia. ii) Existência de maior diferenciação de produtos. O fato de o consumidor

possuir um notebook não o impede de desejar adquirir outro com maior capacidade,

ou diferente configuração. Este poderá ainda adquirir produtos análogos, que até o

momento possuem as mesmas funcionalidades, mas outras facilidades, como por

exemplo, um tablet. iii) Maior efeito renda e maior irradiação de inovações em outros

setores da economia. Produtos mais sofisticados tendem a possuir uma cadeia

produtiva maior que aqueles não complexos, a exemplo da extensa cadeia produtiva

de um carro com computador de bordo e comparação com um produto alimentício. A

sofisticação e ganhos de produtividade de um carro moderno tende a se espalhar

em grande parte de sua cadeia produtiva, de modo que mesmo setores menos

eficientes tendem a absorver ganhos de produtividade, para impedir gargalos no

processo produtivo. Com cadeias produtivas mais complexas e extensas, tende-se a

gerar mais emprego e mais renda e, como consequência, maior demanda. iv) A

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gama de consumidores que não detem tal produto é maior e os que detem estão

dispostos adquirir outro bem com pouca modificação real. Este ponto é o que

permite que os ganhos de produtividade do trabalho, com redução de preço e

elevação da demanda, atinjam países que já enfrentaram o dilema da exclusão

social. Um exemplo seria o carro elétrico: ainda que grande parte de uma população

possua um carro com motor a combustão interna, a elevação da produtividade em

tal setor, com expressiva redução de custo, pode se somar a elementos

institucionais, como redução dos impactos ambientais, para provocar expressiva

mudança na frota de um país. A inversão da frota para carros elétricos poderia

utilizar a capacidade instalada, criar elevação da demanda, atender demandas

sócio-ambientais e gerar empregos.

4.9. Emprego, crescimento, produtividade e política pública

Segundo Nassif, Santos e Pereira (2008), as políticas públicas estão voltadas

para quatro eixos estratégicos para a economia brasileira. Estes seriam

capacidade produtiva (aí envolvendo reestruturação industrial propriamente dita, investimentos fixos e reestruturação societária em setores sujeitos a retornos crescentes de escala), inovação, infra-estrutura e desenvolvimento regional (NASSIF, SANTOS E PEREIRA, 2008, p. 168-169).

Tais investimentos estão em consonância com as constatações empíricas e

teóricas de que é necessária uma reformulação da estrutura industrial brasileira,

atribuindo maior protagonismo aos setores mais dinâmicos e com maior conteúdo

tecnológico, para permitir um crescimento sustentável de longo prazo.

A constatação de quais os setores merecem maior atenção das políticas públicas

é relevante, não só pela sua capacidade de gerar crescimento e emprego no curto

prazo, mas deve ser observado quais os setores tendem a elevar sua relevância no

médio e longo prazos, tornando-se importantes geradores de empregos de melhor

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134

qualidade. Em um processo de reformulação da indústria, seria conveniente priorizar

investimentos em setores que hoje possuem baixa produtividade, mas com elevada

necessidade de força de trabalho – para manter altos os níveis de emprego –,

concomitante a investimentos em setores estratégicos, que em geral são os mais

dinâmicos.

A escolha por investimentos em setores com baixa capacidade de geração de

empregos e crescimento é difícil e tende a acarretar elevado custo político. Ajustes

do tipo schumpeterianos são difíceis porque muitas vezes negam sinais de mercado

e vantagens comparativas, para apontar para investimentos em setores que

possuem baixa competitividade. Em contraposição, quando há condições

necessárias para um segmento adquirir competitividade, este tende a receber um

considerável fluxo de recursos, podendo contribuir para a expansão de outros

setores ou cadeias produtivas.

Um bom exemplo foi a estruturação da cadeia produtiva do etanol no Brasil, que

iniciou sua estruturação no período da segunda crise do petróleo (1973), quando

existia capacidade ociosa nas usinas de cana-de-açúcar. Faltava segurança de um

mercado que justificasse todos os investimentos necessários para o

desenvolvimento do setor sucroalcooleiro. Com investimentos públicos, incentivos

fiscais e um arranjo com os empresários do setor, foi possível consolidar uma cadeia

produtiva fortemente competitiva no mundo, com elevada geração de empregos, que

registra constantes ganhos de produtividade e hoje é um dos setores que agregam

mais tecnologia no Brasil.

Os autores lembram que investimentos em setores dinâmicos se justificam por

que os setores com baixa produtividade tendem a transferir recursos para os de alta

produtividade. Além disso, os setores de baixa produtividade tendem a pagar

salários menores, por obterem retornos também mais tímidos; com isso tendem a

reduzir o efeito-renda, limitando inclusive a capacidade de se expandirem outros

setores da economia. (Murphy, Shleifer e Vishny, 1989 apud Nassif, Santos e

Pereira, 2008). Como já foi citado neste trabalho, setores com maior produtividade e

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dinâmica tendem a difundir tecnologia em outros setores, levando a economia a

outros patamares de complexidade.

O desenvolvimento de pesquisa científica também abre perspectivas quanto aos

caminhos que podem e devem ser seguidos na estruturação de uma indústria

competitiva, eficiente, mas que não seja promotora de exclusão social e

concentração de renda. Uma indústria alicerçada em setores tradicionais talvez não

tenha fôlego para um crescimento robusto e de longo prazo. Setores mais dinâmicos

da indústria tendem a crescer e ganhar importância diante do leque de

possibilidades de investimentos. Um ajuste do tipo Schumpeteriano em um setor

tradicional só poderia ocorrer se surgisse a possibilidade de inovações radicais em

tal setor. Um bom exemplo seria o amadurecimento da bioengenharia, que poderia

criar oportunidade de investimentos no setor agroindustrial, com possibilidade de

expressivos ganhos de produtividade e possível melhora na qualidade de empregos

no setor, promovendo empregos com melhor qualificação e em maior quantidade.

Ainda que se optasse por expandir tecnologicamente os setores tradicionais, são

fundamentais ao desenvolvimento tecnológico de um país no presente contexto

econômico mundial investimentos e expansão de setores dinâmicos, como setor de

materiais elétricos, o de comunicação ou o setor de máquinas e equipamentos. Tais

investimentos tendem a gerar aumento de produtividade nos setores tradicionais e

agregar vantagens competitivas às indústrias ligadas a esses setores no comércio

internacional.

Importantes conclusões que podem ser tiradas dos estudos empíricos sobre a

análise da produtividade do trabalho e a geração de emprego é que investimentos

que deem sustentação de longo prazo ao crescimento econômico, com ganhos de

produtividade e geração de mais e melhores empregos, requerem ajustes do tipo

Schumpeteriano, onde nem sempre será respeitado o sinal de mercado de curto

prazo. A interferência do Estado, seja estimulando investimentos em setores

estratégicos, seja implementando políticas públicas para reduzir impacto das novas

tecnologias, é fator nodal para o desenvolvimento econômico e social do Brasil.

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136

CONCLUSÃO

A análise histórica das mudanças tecnológicas permite concluir que tais

mudanças não apresentam relação mecânica com o nível de emprego. Ao observar

a implantação dos diferentes padrões tecnológicos, foi verificado que, em cada

profunda transformação tecno-econômica, elementos não econômicos foram

determinantes para se estabelecer a flutuação do nível de emprego. A primeira

revolução industrial promoveu grande elevação do nível de ocupação, embora a

implementação da maquinaria registrasse elevados ganhos de produtividade e

economia de força de trabalho. Este paradigma tecno-econômico revolucionou o

mercado de trabalho, utilizando trabalhadores que paulatinamente abandonavam o

campo para fazer parte do grande exército industrial que garantiu profunda mudança

das forças produtivas. A elevação do nível de emprego promovia elevação da renda

e, por sua vez, da demanda. O crescimento da demanda elevava os lucros e

estimulava novos investimentos, que demandavam mais força de trabalho. Cada vez

que o processo de acumulação de capital esbarrava na insuficiência de força de

trabalho, ocorriam pressões para novas inovações tecnológicas e organizacionais,

no sentido de impedir limites estruturais ou orgânicos à acumulação capitalista.

Foi verificado que o desemprego passa a existir na transição da primeira para

segunda revolução industrial, corroborando com a visão schumpeteriana de que no

período de boom do ciclo econômico verificam-se altos níveis de emprego, em

função dos elevados investimentos nas novas tecnologias. Mas no período de

declínio, no qual o padrão tecnológico já está estabelecido, a disputa intercapitalista

tende a reduzir os lucros extraordinários provenientes de inovações tecnológicas e

passa-se a investir em inovações organizacionais, que apontam para a economia de

força de trabalho e a elevação do desemprego. Este fenômeno foi verificado na

depressão no final do século XIX, período de transição da primeira para a segunda

revolução industrial. A depressão ocorreu por conseqüência do período de expansão

da demanda e dos investimentos do período anterior. No momento em que não

havia mais condições de ampliar mercados e investimentos no declinante paradigma

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tecno-econômico, o desemprego se elevou, acentuando a insuficiência de demanda.

Os ganhos de produtividade provenientes da primeira revolução industrial, associado

à disputa intercapitalista, provocaram uma grande queda nos preços e, por

consequência, nos lucros. A elevação dos salários durante o período de maior

expansão da acumulação também contribui para achatar os lucros, desestimulando

os empresários a realizarem mais investimentos, uma vez que ainda carregavam o

endividamento do período anterior. Desta forma, na transição da primeira para a

segunda revolução industrial, constatou-se a incidência de desemprego tecnológico.

A flutuação do desemprego durante a segunda revolução industrial rendeu

ensinamentos fundamentais para o entendimento da dinâmica da mudança

tecnológica e sua relação com o desemprego. As transformações tecnológicas

mudaram profundamente o padrão da acumulação: a produtividade aumentou, o

epicentro da dinâmica capitalista foi alterado e um conjunto de outros produtos e

indústrias foram incorporados. Mas, diante das mudanças organizacionais

verificadas no período anterior, a estrutura de mercado mais concentrada, a

economia da força de trabalho promovida pelas novas tecnologias e outros

elementos institucionais mantiveram o desemprego elevado. Ainda que as ideias dos

economistas clássicos apresentassem o desemprego como uma vicissitude do

mercado, que o próprio mercado resolveria, a elevação do desemprego conduziu a

importantes mudanças na compreensão da sociedade quanto ao nível de ocupação.

O desemprego persistente consolidou a ideia de um desemprego involuntário, ou

seja, o trabalhador não é o responsável por não ter para quem vender sua força de

trabalho.

Com a crise de 1929, a grande desestruturação do processo de acumulação

capitalista e expansão da União Soviética, ideias keynesianas passam a ser

implementadas nos principais países capitalistas. O desemprego passa a ser

combatido com políticas de Estado de forma direta e indireta. Além de o poder

público atuar no setor produtivo da economia, também realizava elevados níveis de

contratações para manter a demanda efetiva. Após a segunda guerra, os países do

capitalismo central consolidaram o Estado de bem estar social, que conjugava o

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138

mesmo padrão tecnológico a elevados níveis de emprego, incluindo os

trabalhadores em alto consumo para manter demanda crescente, promovendo

período de altos lucros, salários e produtividade.

O que deve ser considerado na análise da segunda revolução industrial é que o

mesmo padrão tecnológico promoveu diferentes níveis de emprego. A elevação da

intolerância da sociedade com o desemprego e a aceitação deste como problema de

Estado, evidenciou como os ganhos de produtividade e tecnologias poupadoras de

força de trabalho poderiam ser compatíveis com o pleno emprego. Contrariando

economistas neoclássicos, que viam a ação do Estado e dos sindicatos como

fatores de desequilíbrio que atrapalhavam a expansão da economia, o pleno

emprego na “era de ouro do capitalismo” só foi possível pelo elevado poder de

negociação dos sindicatos, que conquistaram reduções nas jornadas de trabalho e

muitas contratações por parte do Estado.

O atual padrão tecno-econômico apresenta grandes mudanças tecnológicas,

econômicas e institucionais com relação ao fordismo. O pós-fordismo veio à tona

com máquinas mais versáteis e flexíveis, que não demandam produção em larga

escala para garantir redução de custos. A fibra ótica, os microprocessadores,

computadores pessoais, equipamentos de telecomunicações, biotecnologia, robótica

e programas de computadores permitiram elevada automação do processo

produtivo, com um mesmo trabalhador realizando um número muito maior de

tarefas.

As tecnologias que emergiram no novo padrão permitem maior controle do

processo produtivo, favorecendo maior racionalização da produção, com inovações

organizacionais e externalizando parte da produção por meio de terceirizações. O

novo padrão tecno-econômico requer trabalhadores de alta qualificação e

polivalência, capazes de se adequar às constantes transformações que a tecnologia

impõe ao processo produtivo. Os trabalhadores que não possuírem a devida

qualificação tendem a ser expelidos para a crescente informalidade, ou conviver com

grande insegurança, na eminência de serem substituídos por alguma automação de

processo. O mesmo vale para uma divisão entre países ou setores com alta ou

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baixa intensidade tecnológica, os que estiverem à margem do progresso tecnológico

não compartilharão das benesses do pós-fordismo.

Ainda que o atual ciclo de acumulação apresente tecnologias poupadoras de

trabalho, a observação histórica do capitalismo refuta a incompatibilidade do atual

paradigma tecno-econômico com o pleno emprego. O pós-fordismo não apresenta

apenas baixo nível de emprego, apresenta também baixa produtividade e baixo nível

de crescimento nos países centrais. O paradoxo da produtividade excluiu qualquer

relação mecânica entre progresso técnico e elevação do desemprego, uma vez que

se constata produtividade menor do que a verificada no fordismo, mas com maiores

índices de desemprego. A maior elasticidade emprego crescimento econômico

também aponta que o novo padrão não mantém elevado desemprego por manter

tecnologias avessas ao pleno emprego, mas porque um regime de

desregulamentação do trabalho com disputa intercapitalista em escala global,

orientado pela dinâmica do capital financeiro, não favorece o emprego e a demanda.

A teoria da compensação sugere que os empregos destruídos com a difusão de

tecnologias poupadoras de trabalho são repostas com o surgimento de novos

produtos, cadeias produtivas, matérias-primas ou mercados. Esta reposição não

segue uma regularidade nos três paradigmas tecnológicos analisados, apontando

que mesmo o mecanismo de compensação depende de fatores institucionais. No

pós-fordismo, a compensação dos empregos destruídos é verificada entre os

trabalhadores com elevada qualificação e desenvoltura para operar as novas

máquinas. Aos trabalhadores despreparados para nova economia, restaram os

setores menos dinâmicos, com maior flutuação do nível de emprego ou mesmo a

informalidade.

Não restam dúvidas de que o atual estágio das forças produtivas demandam

muito menos horas de trabalho para atender às necessidades materiais da

sociedade contemporânea. Estabelecer se os avanços tecnológicos e

organizacionais se reverterão em desemprego, em redução de jornada de trabalho,

em adiamento da entrada do jovem no mercado de trabalho ou na elevação das

horas não trabalhadas, convertidas em maior qualificação, depende não só de

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variáveis econômicas, mas também institucionais. A sociedade terá que definir se

conviverá com o desemprego, em um regime de baixa demanda ou se conjugará as

tecnologias da nova economia com um novo tipo de pleno emprego.

Ao analisar os efeitos da nova economia no Brasil, verificamos que os impactos

do pós-fordismo nas economias não definidoras da dinâmica mundial é maior que

nas economias centrais. Isso ocorre por que os países centrais consolidaram um

Estado de bem estar social durante o fordismo, que reduz os impactos do

desemprego verificado da década de 1970 em diante. Semelhante ao verificado em

outras mudanças de paradigmas tecno-econômicos, os países que conseguiram

direcionar sua economia para os setores de maior relevância no novo padrão

tecnológico obtiveram maiores vantagens competitivas na concorrência mundial.

Ainda que o novo padrão de acumulação tenha reduzido o nível de emprego e

crescimento em todo o mundo, a nova divisão internacional do trabalho aponta para

maiores prejuízos para os países menos intensivos em tecnologia.

No presente trabalho, verificamos que dentro do novo paradigma tecno-

econômico o Brasil rompeu com a tendência de expansão e crescimento da

importância relativa de sua economia no mundo. Na década de 1990 verificou-se

uma redução do número de empregos na indústria do país em uma proporção maior

do que a da média do mundo, indicando uma expansão da economia brasileira em

setores detentores de menor dinamismo, redução de empregos mais qualificados e

crescimento de empregos menos qualificados. Contrariando a tendência verificada

nos Estados Unidos, onde a expansão da indústria de tecnologia de informação e

comunicação (ITIC) elevou em 2,5% sua participação no PIB e criou 1,6 milhões de

empregos na década de 1990, já no Brasil o setor da ITIC perdeu 0,6% de

importância no PIB e promoveu uma redução de 18,9% de empregos no setor.

Foi verificado em uma análise setorial da economia que os setores com maior

capacidade de geração de emprego e crescimento no curto prazo são tradicionais,

intensivos em força de trabalho e com menor utilização de tecnologia. Porém,

constatou-se, ao cruzar os dados de produtividade e nível de emprego, que os

setores tradicionais convivem com maior flutuação do nível de emprego e menor

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141

produtividade. A flutuação é maior porque os setores tradicionais utilizam força de

trabalho com menor qualificação, possibilitando demissões e recontratações com

menores ônus à produção. Verificou-se também que setores tradicionais possuem

maior capacidade de geração de empregos diretos, dado o aumento de R$ 10

milhões de receita, porém isso não se verifica quando se observa a geração de

empregos indiretos ou efeito-renda. Nos setores mais dinâmicos e com maior

conteúdo tecnológico, verifica-se uma menor flutuação do nível de empregos, visto

que emprega força de trabalho mais qualificada. Estes setores são menos sensíveis

à geração de emprego direto, pela elevação dos mesmos R$ 10 milhões, porém

tendem a gerar mais empregos indiretos e por efeito-renda e também por possuírem

cadeias produtivas maiores e mais complexas.

Ainda que os setores tradicionais gerem mais empregos diretos e crescimento no

curto prazo, verificamos que tais setores não são capazes de sustentar o

crescimento e a expansão no longo prazo. Em uma economia globalizada é

necessário adquirir vantagens competitivas dinâmicas por meio de progresso

tecnológico. Assim, o processo de expansão econômica não deve ocorrer apenas

por sinais de mercado; ajustes do tipo schumpeteriano, muitas vezes, ocorrem em

setores, ou indústrias ineficientes, mas que possuem importância estratégica para a

expansão de diversos outros setores. Os setores mais dinâmicos e com maior

conteúdo tecnológico, como a ITIC, tendem a gerar menos empregos diretos, mas

possuem elevada produtividade e geram mudanças qualitativas em diversos outros

setores da economia brasileira. A expansão de setores intensivos em tecnologia

tende a elevar a eficiência e competitividade em outros setores que utilizam

progresso desta tecnologia para melhorar seu processo produtivo.

Como verificamos ao analisar o processo de abertura econômica brasileira, não

basta a exposição da economia à disputa intercapitalista em escala global para se

atingir elevadas taxas de crescimento, emprego e produtividade. São necessárias

políticas públicas e planejamento para elevar a qualificação da força de trabalho e

apontar para investimentos em setores estratégicos para o desenvolvimento da

economia. No pós-fordismo, as novas tecnologias flexíveis requerem elevados

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investimentos em pesquisa e desenvolvimento e tais investimentos não só

estabelecerão as taxas de crescimento e de produtividade, como também o nível e

qualidade dos empregos que serão gerados. Se o novo padrão tecnológico não é

avesso ao pleno emprego, a busca por elevadas taxas de emprego por meio de

investimento em setores com elevado conteúdo tecnológico pode contribuir para a

reconstrução de um regime de demanda que estimule investimentos e amplie

vantagens competitivas dinâmicas na economia brasileira.

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