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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE CIÊNCIAS APLICADAS
REDE DE AGROECOLOGIA DA UNICAMP
PROJETO DE EXTENSÃO COMUNITÁRIA
Os sabores e saberes de quem tem o Pé na Roça
Grupo de Educação em Saúde
Proponentes: Profa. Dra. Josely Rimoli
Mestranda em Agroecologia - Suzana M. Alvarez
Graduandas em Nutrição: Bruna Lessa
Carolina Damy Ribeiro
Clarissa Doimo
Fernanda M. Chaves
Gabriela Martins Natalino
Luís Claudio de Jesus
Resumo: Os sabores e saberes de quem tem o Pé na Roça
Esse projeto pretende constituir um Grupo de Educação em Saúde,
enfocando questões referentes a alimentos e saúde, através de trocas de
saberes entre agricultores rurais, urbanos, estudantes de Nutrição e Gestão de
Agronegocio, da Faculdade de Ciências Aplicadas-Unicamp e membros da Rede
de Agroecologia da Unicamp-RAU.
A constituição do grupo vem responder à demanda de mulheres e
homens, agricultores, que participam da Feira de Agricultura Familiar, de
economia solidária e produtos orgânicos, do Projeto Sexta-feira na Estação, na
ação denominada, Pé na Roça. Além da intenção de colaborar na consolidação
da RAU e responder aos pedidos dos agricultores, pretende-se propiciar aos
integrantes do grupo o acesso a um projeto de extensão universitária e realizar
uma experiência pedagógica, de extensão e de pesquisa, nas quais graduandos e
pós-graduandos vivenciem trocas de saberes, com quem produz alimentos.
Com Metodologias Ativas propõe-se a realização de dez encontros no ano de
2012, com oficinas de culinárias e períodos de dispersão, com atividades de
campo, isso é, visitas dos estudantes às hortas urbanas e sítios, além de
atividades pedagógicas de grupos-tarefas de agricultores e sistematização e
registro das experiências.
Um resultado esperado é elaboração de uma cartilha, com conteúdos
escolhidos pelo grupo, para colaborar na difusão de informações sobre alimentos
e saúde, posto que vários agricultores, que trabalham com agroecologia,
possuem estudos e experiências importantes de serem refletidos. A maioria dos
agricultores, com seus saberes populares estão trabalhando em áreas rurais e
em hortas comunitárias urbanas e solicitaram refletir sobre alimentos e saúde.
Pretende-se, também, construir um caderno de receitas, a partir de oficinas de
culinária.
Para colaborar na continuidade de existência do grupo-sujeito, que poderá ser
constituído durante os encontros do grupo de Educação em Saúde, pretende-se
elaborar, com os agricultores, um Plano de Ação para Geração de Renda.
Concomitante ao curso a docente responsável por esse projeto, pretende
oferecer uma disciplina de extensão: EX – Educação em Saúde e Extensão
Comunitária.
Introdução
Esse projeto pretende constituir um Grupo de Educação em
Saúde, enfocando questões referentes a alimentos e saúde, através de
trocas de saberes entre agricultores rurais, urbanos, estudantes de
Nutrição e Gestão de Agronegocio, da Faculdade de Ciências Aplicadas-
Unicamp e membros da Rede de Agroecologia da Unicamp-RAU.
Os pequenos agricultores, além da resistência ao êxodo rural,
enfrentando às dificuldades de acesso a terra e de subsistência, os
baixos apoios das políticas públicas para o plantio, defrontam-se, com a
dificuldade de escoamento da produção.
As experiências de agricultura urbana, também realizadas com
muitos esforços, podem ser tornar uma possibilidade de geração de
renda, de re-significação da relação com o espaço urbano, para
migrantes de regiões agrárias. Assim pode-se demarcar, sinteticamente,
o contexto dos agricultores rurais e urbanos, na região metropolitana de
Campinas-SP.
Nessa região campineira, um grupo de professores, funcionários
e estudantes da Unicamp, agricultores rurais e urbanos e
representantes de várias instituições, que atuam na área do Meio
Ambiente, reuniram-se, com o objetivo de constituir a Rede de
Agroecologia da Unicamp-RAU.
Em 2010, a aprovação de um projeto enviado para o edital do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPQ,
cujo objetivo era a consolidação da RAU, a conquista de uma sede, em
2011, no Centro de Integração Social – CIS Guanabara- Unicamp,
fortaleceram a rede. Para dar continuidade às ações da RAU, foi
implantado o Projeto Sexta-feira na Estação, que se propõe a
desenvolver:
- Feira da agricultura familiar, de economia solidária e de
produtos orgânicos, toda sexta-feira, das 16h às 19hs.
- Matutando - 14h às 17h: debates – reflexões referentes a
agroecologia, saúde e qualidade de vida.
- Trem Bão -18h às 19h: show musical gratuito
- Cine Casa do Lago - 19h às 21h- filmes ligados aos temas de
agroecologia, arte e cultura brasileira.
Viabilizar uma feira, em um espaço público, facilitou o
escoamento da produção. Atualmente, os agricultores, das dez bancas
da feira, estão se constituindo, enquanto um grupo sujeito. Esses
“vendedores”, também vendem produção de outros agricultores, cujas
produções são menores, assim uma rede de solidariedade vai se
instalando.
Novos desafios surgiram, dentre eles destacamos, a dificuldade
de transporte. As mulheres, as famílias que residem nas áreas rurais não
possuem carros e transportar os alimentos em ônibus inter-urbanos
está sendo um empecilho, além do critério de qualidade e da
conservação das hortaliças, por exemplo.
Assim um dos objetivos desse projeto é contribuir com o acesso
desses agricultores, isto é, o “passe escolar” e os aluguéis de perua
“combi”, que pretendemos obter com a aprovação no edital da Preac
viabilizará a vinda dos agricultores, para o grupo de educação em saúde
e trazer seus produtos para serem vendidos na feira. Estratégia a ser
utilizada no período de implementação da Feira Pé na Roça, posto que
se trabalha, com a diretriz de apoiar a autonomia dos agricultores,
visando que no futuro tenham condições financeiras de arcar com o
transporte da produção agrícola.
Outra necessidade apresentada pelos agricultores foi sobre
questões referentes à saúde e aos alimentos. Uma roda de conversa foi
realizada pelos agricultores e integrantes da RAU, dentre eles, a
mestranda, Suzana, que está responsável pelas ações do “Matutando”,
que percebeu a necessidade de aprofundar as reflexões, as trocar de
saberes e viabilizar novos estudos.
Essa demanda foi anunciada a Josely, professora de Saúde
Coletiva, em uma reunião da RAU e demais integrantes a estimularam
para realizar um projeto de extensão. A professora sabendo dos
interesses de um grupo de estudantes da FCA em fazer iniciação
científica propôs aos estudantes à realização desse projeto de extensão,
com a intenção que ele seja “um canteiro de mudas”, isto é, que nesse
processo, as afinidades do que pesquisar aflore em cada estudante.
Cabe esclarecer que as estudantes que estarão integrando esse
projeto, parte residem em Campinas e as demais por ele ser realizado às
sexta-feira, a tarde facilitará seus retornos para as casas de seus pais e o
estudante de Gestão de Agronegócio, estuda à noite e terá condições
temporais de retornar a FCA, para assistir as aulas, no período noturno.
Avaliamos que o contato com os agricultores propiciará aos
estudantes conhecerem realidades sócias distintas das suas e de seus
familiares. Terão a oportunidade de refletir desde o cultivo até o
alimento, enquanto produção de saúde. Pretendemos pesquisar o
porquê das escolhas feitas pelos agricultores do tipo de alimentos que
plantam, seus conhecimentos sobre plantas medicinais, seus hábitos
alimentares, sobre as necessidades de informações sobre a promoção e
prevenção da saúde.
Inspirada na linha da Pesquisa Participante (Brandão, 1983)
pretende-se realizar um diagnóstico dos principais problemas de saúde
do grupo de agricultores e estudar formas de facilitar o acesso dos
agricultores e suas famílias, ao Sistema Único de Saúde.
O estudante de agronegócio realizará um inquérito das
necessidades de informação dos agricultores referentes aos acessos de
apoios financeiros e técnicos.
Considerando o que fora exposto, pode-se constatar que esse
projeto pretende ter uma dimensão de extensão comunitária, uma de
ensino e também de pesquisa.
Objetivos:
- Responder à demanda feita pelas mulheres agricultoras e
agricultores rurais e urbanos sobre conhecimento dos alimentos, por
eles cultivados, realizando estudos e compartilhar de informações sobre
saúde.
- Realizar uma experiência pedagógica, na qual graduandos de
Nutrição, Gestão de Agronegocio e estudantes de pós-graduação da
Unicamp vivenciem trocas de saberes, com quem produz alimentos.
- Realizar pesquisas para conhecer o perfil dos agricultores, no
que se refere à hábitos alimentares, conhecimento sobre plantas
medicinais, seus problemas de saúde e demandas para apoio financeiro
e técnico.
- Propiciar a construção de uma conexão entre agricultores,
estudantes, docentes e membros da RAU, como uma das estratégias da
consolidação do Projeto Sexta-feira na Estação, cuja ação é a feira de
produtos agrícolas, “Pé na Roça”.
- Colaborar na aglutinação do grupo dos agricultores e orientar
na elaboração de um Plano de Ação para Geração de Renda e
autonomia, após o término desse projeto de extensão.
Justificativa
Sabemos que a escolaridade é desigual na sociedade brasileira,
que muitos moradores das zonas rurais e das periferias urbanas, tiveram
e ainda têm dificuldades de acesso ao ensino. Assim a realização de um
grupo de Educação em Saúde poderá contribuir para a socialização e
troca de alguns conhecimentos.
Destacamos que o grupo de Educação em Saúde, também, será
um espaço para socializar os saberes dos agricultores e estimular os
aprendizados dos estudantes.
Os estudantes desta universidade, em sua maioria, são oriundos
das classes, média e alta, moram em áreas urbanas, em prédios e
condomínios, que dificultam suas interações com demais realidades
sociais. Porém, é esperado que quando formados, trabalhem no Sistema
Único de Saúde - SUS, o qual prevê acesso universal, ou seja, usuários
das várias classes sociais.
Além do que, para um atendimento de qualidade e humanizado,
a Nutricionista necessita conhecer o cotidiano, a cultura dos usuários e
suas diferentes condições sociais. Esse projeto propiciará às estudantes
do Curso de Nutrição conhecer a área rural, as hortas comunitárias,
bairros periféricos e interações com mulheres e homens, agricultores,
que irão enriquecer seus repertórios interpessoais. O mesmo pode-se
esperar que contribua para a formação do estudante de Gestão em
Agronegocio.
A área de conhecimento da Saúde Coletiva, há décadas destaca
o papel da alimentação na saúde das populações.
Os velhos problemas de Saúde Coletiva, fome e desnutrição,
ainda se fazem atuais, o que justifica realizar um diagnóstico sobre a
incidência e prevalência de desnutrição, os hábitos alimentares e as
condições de acesso aos alimentos dos agricultores. Principalmente,
colaborar com orientações para crianças e pessoas da terceira idade,
que estão desnutridas, situação tal, que nos foi esclarecido por uma
mulher, agricultora, líder em sua comunidade. Outra justificativa serão
as oportunidades de colaborar nos encaminhamentos para os serviços
de saúde, de acesso mais facilitado. Porém, segundo as primeiras
informações, as citadas desnutrições são devido à falta de alimentos.
É do conhecimento público, as asperezas do trabalho rural, com
baixos incentivos financeiros e poucos apoios técnicos, assim como as
dificuldades de escoar a produção agrícola das pequenas plantações. A
realização de uma feira de produtos agrícolas contribui na venda dos
alimentos, sem atravessadores e com pagamentos à vista, o que dá um
retorno rápido do dinheiro, colaborando para a subsistência das famílias
dos agricultores e a manutenção dos pequenos produtores, que
poderão produzir alimentos, utilizando menos ou nenhum agrotóxicos,
o que irá impactar na saúde dos consumidores.
Justifica-se, ainda esse projeto, pela possibilidade de estabelecer
várias conexões, visando o fortalecimento da Rede de Agroecologia da
Unicamp e de cada grupo sujeito conectado à rede.
METODOLOGIA
O projeto Os sabores e saberes de quem tem o Pé na Roça –
Grupo de Educação em saúde se insere no campo da Educação em
Saúde.
Segundo contatos realizados para a proposição desse projeto
com agricultores-referências, espera-se que o Grupo de Educação em
Saúde, tenha a participação de cinqüenta agricultores.
Com Metodologias Ativas propõe-se a realização de dez
encontros, a serem realizadas no ano de 2012, com oficinas de
culinárias e períodos de dispersão, com atividades de campo, isso é,
visitas dos estudantes às hortas urbanas e sítios, nos meses de fevereiro
e julho, além de atividades pedagógicas de grupos-tarefas de
agricultores.
Pretende-se construir um caderno de receitas, a partir de
oficinas de culinária, com a intenção de valorizar a arte culinária das
mulheres agriculturas, respeitar e valorizar seus conhecimentos. Esse
caderno de receitas pode ser compreendido como uma forma mais
lúdica e participativa, de se fazer a sistematização e o registro de parte
das reflexões dos participantes do Grupo de Educação em Saúde.
Observar as oficinas de culinária pode possibilitar que as
estudantes de Nutrição aprendam algumas receitas, o que contribuirá
em sua atuação enquanto profissional, pois como orientar, respeitando
os limites financeiros e os hábitos dos clientes, se elas mesmas, não
sabem cozinhar.
A realização do levantamento dos problemas de saúde se fará
através de entrevistas semi-estruturadas. Como forma de dar retorno
aos agricultores e familiares perante seus problemas de saúde,
pretende-se a elaboração de uma cartilha com orientações para a
promoção da saúde e sobre alimentos.
Esclarecemos que a Rede de Agroecologia da Unicamp é
constituída por profissionais de vários campos de conhecimento e na
medida em que as necessidades de orientações forem sendo
apresentadas pelos agricultores e estudantes, solicitaremos
contribuições aos colegas, assim como professores não ligados à RAU.
Porém cabe destacar que há profissionais nutricionistas na RAU e as
mesmas poderão dar contribuições mais específicas para as estudantes
de Nutrição.
Embasado nas contribuições do Planejamento Estratégico
Situacional – PES (Matus, 1989) pretende-se elaborar um Plano de Ação
para Geração de Renda, para contribuir na continuidade de ação, do
grupo de agricultores.
Concomitante a realização do Grupo de Educação em Saúde, a
docente responsável por esse projeto, pretende oferecer uma disciplina
de extensão: EX – Educação em Saúde e Extensão Comunitária, para as
estudantes vinculadas a esse projeto e demais graduandos interessados.
O projeto de extensão: Sabores e Saberes de quem tem o Pé na Roça, tem
a pretensão de experenciar as três dimensões da Extensão Comunitária, em sua
integralidade.
A dimensão do Ensino será o eixo orientador, tendo o lócus do
Grupo de Educação em Saúde, a possibilidade do encontro, das trocas de
saberes, do se reconhecer enquanto um grupo sujeito. Agricultores, estudantes e
membros da Rede de Agroecologia, tecendo a rede, nas Rodas de Conversa, nas
atividades pedagógicas diversificadas, pela utilização das Metodologias Ativas
(Freire-1979, Moreno,1984).
Será utilizada a abordagem grupal, o contrato do grupo de
educação em saúde, técnicas psicodramáticas, para colaborar na constituição
dos vínculos pedagógicos; se fará o levantamento das expectativas e
necessidades dos agricultores e do grupo (Maturana,1998); manejo e cuidado
com a relação do grupo (Freire, M. 1984). Com as técnicas de Problematização
(Bordenave,2000), somando em alguns encontros, com a metodologia do
Planejamento Estratégico Situacional (Matus,1989), visando a pesquisa-
participante (Brandão,2006). Durante os encontros propõe-se escrever as
memórias do grupo de Educação em Saúde e nas visitas utilizar os cadernos de
campo.
Faz-se necessário diferenciar essa proposta de Grupo Educativo, dos cursos
de capacitações, “cujas concepções e metodologias, muitas vezes, determinam
que esses 'funcionem' como transmissores de informações” (Rimoli, 2003) e não
como um grupo, cujos participantes trazem seus conhecimentos, dificuldades,
desejos, conflitos, problemas e disputas, compartilhando-os e interagindo, com
suas diferentes subjetividades, em espaço protegido de Grupo Educativo (Freire-
1983, Guattari-1993, Foucaul- 1992, Santos, B. 1994).
As rodas de conversa serão muito utilizadas, pois relembrando
Walter Benjamin (1991), que destacou a importância das narrativas, das
conversas entre pessoas de faixas etárias e vivencias diferentes.
No projeto Sabores e Saberes de quem tem o Pé na Roça, a
dimensão da Extensão Comunitária, se dará ao colaborar com Projeto Sexta-
feira na Estação, onde se realiza a feira de produtos orgânicos, quando se abre
um espaço público, da Unicamp, para receber a comunidade, agricultores e
consumidores, sendo que tais ações valorizando a missão da Estação
Guanabara – o Centro de Integração Social.
A proposta de colaborar com a constituição de um grupo sujeito,
que vivenciará uma grupalidade, o qual pode perceber sua potência e continuar
em seus esforços, por uma vida digna, com nos ensinou Spinoza (2008), que os
esforços estão nos meandros dos processos sociais, na luta pela ética e justiça
social.
Na America Latina temos uma tradição em Educação Popular em
Saúde, a qual foi sendo construída, no bojo de vários movimentos sociais, tendo
Paulo Freire, Toro e Bordenave, dentre outros como referências. Cabe salientar
que esses autores e diversos atores dos movimentos sociais, sempre defenderam
o não paternalismo, buscaram estratégias de participação popular, visando a
“Pedagogia da Libertação e da Autonomia” (Freire, 1998, 2001).
Outra dobra dessa interação extensionista se dará quando os
estudantes, professora e demais membros da RAU forem para e com as
comunidades, visitar suas hortas comunitárias e principalmente quando se
realizarem as viagens para as áreas rurais, realizar o “trabalho de campo”,
observação participante, para precisar os diagnósticos de saúde e as condições
sócio-ambientais.
Trabalhamos com a expectativa (Deleuze,1992) de que seja uma
experiência que nos toque (Larrosa,2002), mobilizando e produzindo reflexões
sobre as desigualdades sociais (Barata, 2006) e as determinações sociais do
processo saúde-doença (Breilh, 1990).
No Brasil, as experiências do ensinar Saúde Pública, no espaço inter-
institucional da Extensão Comunitária, universidade e comunidades e ou grupos
sociais, tem registros desde a década de 1960. Lembramos as grandes
contribuições que Vicente Vitor Valla, médico e docente da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro nos legou, que somamos as suas contribuições as de
seus parceiros Vasconcelos (1997,2001) e Smeke (2001,2009), que destacamos
dentre os preciosos educadores-pesquisadores-sanitaristas brasileiros.
Na primeira gestão do Presidente Luís Inácio da Silva, de 2002 à
2006, no Ministério da Saúde foi implantado o Departamento de Apoio à Gestão
Participativa, tendo em seu organograma a Coordenação Geral de Apoio à
Educação Popular e à Mobilização Social. Na XII Conferência Nacional de Saúde,
em 2008, o então Coordenador da Educação Popular, José Ivo dos Santos
Pedrosa, relembrou as disparidades sócio-regionais brasileiras e solicitou que as
universidades investissem e valorizassem os projetos de extensão comunitária,
visando somar esforços e qualificar o ensino dos profissionais de saúde.
Na direção solicitada no parágrafo anterior, pretende-se que no
processo de formação dos nossos estudantes que participarão desse projeto, a
dimensão da Pesquisa, também esteja presente, visando contribuir na formação
dos estudantes, através da realização dos projetos de iniciação científica.
Propõe-se pesquisar, na linha das pesquisas qualitativas, utilizando
categorias das Ciências Sociais e Humanas, pois se sabe que o alimento, a
alimentação, o comer, o nutrir estão impregnados de sentidos e significados.
(Bourdieu ,2003e Carvalho e Madel Luz,2011). Esclarecemos que iremos solicitar
parceria para as nutricionistas da RAU, quando se tratar de conceitos e temas
referentes ou campo da Nutrição.
Respaldamos nossa proposta metodológica, em Minayo (2004), que ao
refletir sobre pesquisa qualitativa argumenta que essas são “[...] capazes de
incorporar a questão do significado e da intencionalidade como inerentes aos
atos, às relações, e às estruturas sociais, sendo essas últimas tomadas tanto no
seu advento quanto na sua transformação, como construções humanas
significativas”.
A metodologia proposta, Pesquisa Participante (Brandão, 1983,
2006), supõe que a produção de conhecimentos em si ocorra de forma
processual e em conjunto, pesquisadores, estudantes, comunidade e nos
territórios geopolíticos (Santos, 2000). Assim com Brandão escreveu em 1983:
“sujeitos de um mesmo trabalho comum, ainda que com situações e tarefas
diferentes”.
Enquanto proponente desse projeto de extensão devo esclarecer
que venho utilizando esses referenciais nas minhas pesquisas e constatei que
são potentes, viáveis e democráticos.
“O planejamento da pesquisa e seu desenvolvimento, inclusive do
trabalho de campo, igualmente, se efetivam nesse movimento de conformação e
num permanente diálogo entre todas as partes e pessoas envolvidas. Outra
característica da pesquisa participante, é que ela não é apenas um momento
único de um processo, mas acontece em diferentes etapas do próprio processo de
construção de saberes, de ações sociais e de avaliações do trabalho realizado”.
(Rimoli, 2009).
A proposta desse projeto de extensão prevê a duração de um ano
para a realização do Grupo Educativo e do diagnóstico dos problemas de saúde
dos agricultores e deseja-se que se prorrogue até o ano de 2013, para pesquisar
os hábitos alimentares, o uso de plantas medicinais e os temas escolhidos pelos
agricultores.
Para a difusão e disseminação, do conhecimento serão elaborados
instrumentos de registro de acompanhamento dos grupos de famílias dos
agricultores, dos encontros dos Grupos Educativos e relatórios das visitas aos
campos. Pretende-se ainda a constituição de grupos de estudos e produção de
textos.
Pretendemos, também, trabalhar com o conceito importante para
essa pesquisa-ação, que é o de rede social, que vem sendo utilizado há décadas
nas áreas sociais (Dabas, 2006), e nas pesquisas de políticas públicas da saúde, da
educação e nesse projeto, pretende-se somar o campo da Agroecologia.
Para análise dos Grupos Educativos e dos resultados do projeto
propomos realizar uma avaliação de quarta geração, da qual participarão todos
os grupos de interesse: agricultores, familiares, estudantes, professores,
membros da RAU, consumidores, profissionais da Estação Guanabara.
Para que a disseminação dos resultados obtidos possa ocorrer, propomos a
elaboração de uma cartilha, de um vídeo, sem edição de imagens, para não
encarecer o projeto e do Caderno de Receitas, para valorizar o saber das
agricultoras.
Resultados esperados:
- Grupo de agricultores constituído e fortalecido. - Realizado trocas de saberes
sobre alimentos e saúde.
- Aumento nas vendas dos produtos agrícolas, colaborando no orçamento dos
agricultores.
- Elaborado Plano de Ação para Geração de Renda.
- Avaliado que ocorreu aprendizado das Metodologias Ativas e condução de
Grupos Educativos, pelos estudantes da Unicamp.
- Realizado diagnóstico de problemas de saúde dos agricultores.
- Elaborado projetos de iniciação científica, cartilha, caderno de receitas, artigos
científicos e vídeo.
- Colaborado para o fortalecimento do Projeto Sexta-feira na Estação e a feira de
produtos orgânicos e da Rede de Agroecologia .
- Realizada a Disciplina de Extensão: Educação em Saúde e extensão comunitária.
Orçamento
Descrição dos itens Valor unitário Valor Total
Ingredientes para as
oficinas de culinária
R$ 100,00 por encontro
/ para 50 participantes
R$1.000,00
Passes de ônibus
urbanos - Campinas
R$ 2,85 X 2 ( ida e volta)
X 30 participantes
X 10 encontros
R$655,00
Aluguel de perua combi R$120,00 X 2 (ida e
volta) x 10 encontros x
3 comunidades.(Mogi-
Mirim, Sumaré e
Joaquim Egídio – área
rural)
R$7.200,00
Material de escritório 10 pacotes de papel
sulfite, R$130,00
2 Tonner, Jogos de
Canetas esferográficas,
1 pen drive, cartolinas,
tubo de cola, cadernos,
tesouras, etc.
R$600,00
R$730,00
Combustível Ida para as áreas rurais R$415,00
Total R$10.00,00
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