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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE CIÊNCIAS APLICADAS REDE DE AGROECOLOGIA DA UNICAMP PROJETO DE EXTENSÃO COMUNITÁRIA Os sabores e saberes de quem tem o Pé na Roça Grupo de Educação em Saúde Proponentes: Profa. Dra. Josely Rimoli Mestranda em Agroecologia - Suzana M. Alvarez Graduandas em Nutrição: Bruna Lessa Carolina Damy Ribeiro Clarissa Doimo Fernanda M. Chaves Gabriela Martins Natalino Luís Claudio de Jesus

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE CIÊNCIAS APLICADAS

REDE DE AGROECOLOGIA DA UNICAMP

PROJETO DE EXTENSÃO COMUNITÁRIA

Os sabores e saberes de quem tem o Pé na Roça

Grupo de Educação em Saúde

Proponentes: Profa. Dra. Josely Rimoli

Mestranda em Agroecologia - Suzana M. Alvarez

Graduandas em Nutrição: Bruna Lessa

Carolina Damy Ribeiro

Clarissa Doimo

Fernanda M. Chaves

Gabriela Martins Natalino

Luís Claudio de Jesus

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Resumo: Os sabores e saberes de quem tem o Pé na Roça

Esse projeto pretende constituir um Grupo de Educação em Saúde,

enfocando questões referentes a alimentos e saúde, através de trocas de

saberes entre agricultores rurais, urbanos, estudantes de Nutrição e Gestão de

Agronegocio, da Faculdade de Ciências Aplicadas-Unicamp e membros da Rede

de Agroecologia da Unicamp-RAU.

A constituição do grupo vem responder à demanda de mulheres e

homens, agricultores, que participam da Feira de Agricultura Familiar, de

economia solidária e produtos orgânicos, do Projeto Sexta-feira na Estação, na

ação denominada, Pé na Roça. Além da intenção de colaborar na consolidação

da RAU e responder aos pedidos dos agricultores, pretende-se propiciar aos

integrantes do grupo o acesso a um projeto de extensão universitária e realizar

uma experiência pedagógica, de extensão e de pesquisa, nas quais graduandos e

pós-graduandos vivenciem trocas de saberes, com quem produz alimentos.

Com Metodologias Ativas propõe-se a realização de dez encontros no ano de

2012, com oficinas de culinárias e períodos de dispersão, com atividades de

campo, isso é, visitas dos estudantes às hortas urbanas e sítios, além de

atividades pedagógicas de grupos-tarefas de agricultores e sistematização e

registro das experiências.

Um resultado esperado é elaboração de uma cartilha, com conteúdos

escolhidos pelo grupo, para colaborar na difusão de informações sobre alimentos

e saúde, posto que vários agricultores, que trabalham com agroecologia,

possuem estudos e experiências importantes de serem refletidos. A maioria dos

agricultores, com seus saberes populares estão trabalhando em áreas rurais e

em hortas comunitárias urbanas e solicitaram refletir sobre alimentos e saúde.

Pretende-se, também, construir um caderno de receitas, a partir de oficinas de

culinária.

Para colaborar na continuidade de existência do grupo-sujeito, que poderá ser

constituído durante os encontros do grupo de Educação em Saúde, pretende-se

elaborar, com os agricultores, um Plano de Ação para Geração de Renda.

Concomitante ao curso a docente responsável por esse projeto, pretende

oferecer uma disciplina de extensão: EX – Educação em Saúde e Extensão

Comunitária.

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Introdução

Esse projeto pretende constituir um Grupo de Educação em

Saúde, enfocando questões referentes a alimentos e saúde, através de

trocas de saberes entre agricultores rurais, urbanos, estudantes de

Nutrição e Gestão de Agronegocio, da Faculdade de Ciências Aplicadas-

Unicamp e membros da Rede de Agroecologia da Unicamp-RAU.

Os pequenos agricultores, além da resistência ao êxodo rural,

enfrentando às dificuldades de acesso a terra e de subsistência, os

baixos apoios das políticas públicas para o plantio, defrontam-se, com a

dificuldade de escoamento da produção.

As experiências de agricultura urbana, também realizadas com

muitos esforços, podem ser tornar uma possibilidade de geração de

renda, de re-significação da relação com o espaço urbano, para

migrantes de regiões agrárias. Assim pode-se demarcar, sinteticamente,

o contexto dos agricultores rurais e urbanos, na região metropolitana de

Campinas-SP.

Nessa região campineira, um grupo de professores, funcionários

e estudantes da Unicamp, agricultores rurais e urbanos e

representantes de várias instituições, que atuam na área do Meio

Ambiente, reuniram-se, com o objetivo de constituir a Rede de

Agroecologia da Unicamp-RAU.

Em 2010, a aprovação de um projeto enviado para o edital do

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPQ,

cujo objetivo era a consolidação da RAU, a conquista de uma sede, em

2011, no Centro de Integração Social – CIS Guanabara- Unicamp,

fortaleceram a rede. Para dar continuidade às ações da RAU, foi

implantado o Projeto Sexta-feira na Estação, que se propõe a

desenvolver:

- Feira da agricultura familiar, de economia solidária e de

produtos orgânicos, toda sexta-feira, das 16h às 19hs.

- Matutando - 14h às 17h: debates – reflexões referentes a

agroecologia, saúde e qualidade de vida.

- Trem Bão -18h às 19h: show musical gratuito

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- Cine Casa do Lago - 19h às 21h- filmes ligados aos temas de

agroecologia, arte e cultura brasileira.

Viabilizar uma feira, em um espaço público, facilitou o

escoamento da produção. Atualmente, os agricultores, das dez bancas

da feira, estão se constituindo, enquanto um grupo sujeito. Esses

“vendedores”, também vendem produção de outros agricultores, cujas

produções são menores, assim uma rede de solidariedade vai se

instalando.

Novos desafios surgiram, dentre eles destacamos, a dificuldade

de transporte. As mulheres, as famílias que residem nas áreas rurais não

possuem carros e transportar os alimentos em ônibus inter-urbanos

está sendo um empecilho, além do critério de qualidade e da

conservação das hortaliças, por exemplo.

Assim um dos objetivos desse projeto é contribuir com o acesso

desses agricultores, isto é, o “passe escolar” e os aluguéis de perua

“combi”, que pretendemos obter com a aprovação no edital da Preac

viabilizará a vinda dos agricultores, para o grupo de educação em saúde

e trazer seus produtos para serem vendidos na feira. Estratégia a ser

utilizada no período de implementação da Feira Pé na Roça, posto que

se trabalha, com a diretriz de apoiar a autonomia dos agricultores,

visando que no futuro tenham condições financeiras de arcar com o

transporte da produção agrícola.

Outra necessidade apresentada pelos agricultores foi sobre

questões referentes à saúde e aos alimentos. Uma roda de conversa foi

realizada pelos agricultores e integrantes da RAU, dentre eles, a

mestranda, Suzana, que está responsável pelas ações do “Matutando”,

que percebeu a necessidade de aprofundar as reflexões, as trocar de

saberes e viabilizar novos estudos.

Essa demanda foi anunciada a Josely, professora de Saúde

Coletiva, em uma reunião da RAU e demais integrantes a estimularam

para realizar um projeto de extensão. A professora sabendo dos

interesses de um grupo de estudantes da FCA em fazer iniciação

científica propôs aos estudantes à realização desse projeto de extensão,

com a intenção que ele seja “um canteiro de mudas”, isto é, que nesse

processo, as afinidades do que pesquisar aflore em cada estudante.

Cabe esclarecer que as estudantes que estarão integrando esse

projeto, parte residem em Campinas e as demais por ele ser realizado às

sexta-feira, a tarde facilitará seus retornos para as casas de seus pais e o

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estudante de Gestão de Agronegócio, estuda à noite e terá condições

temporais de retornar a FCA, para assistir as aulas, no período noturno.

Avaliamos que o contato com os agricultores propiciará aos

estudantes conhecerem realidades sócias distintas das suas e de seus

familiares. Terão a oportunidade de refletir desde o cultivo até o

alimento, enquanto produção de saúde. Pretendemos pesquisar o

porquê das escolhas feitas pelos agricultores do tipo de alimentos que

plantam, seus conhecimentos sobre plantas medicinais, seus hábitos

alimentares, sobre as necessidades de informações sobre a promoção e

prevenção da saúde.

Inspirada na linha da Pesquisa Participante (Brandão, 1983)

pretende-se realizar um diagnóstico dos principais problemas de saúde

do grupo de agricultores e estudar formas de facilitar o acesso dos

agricultores e suas famílias, ao Sistema Único de Saúde.

O estudante de agronegócio realizará um inquérito das

necessidades de informação dos agricultores referentes aos acessos de

apoios financeiros e técnicos.

Considerando o que fora exposto, pode-se constatar que esse

projeto pretende ter uma dimensão de extensão comunitária, uma de

ensino e também de pesquisa.

Objetivos:

- Responder à demanda feita pelas mulheres agricultoras e

agricultores rurais e urbanos sobre conhecimento dos alimentos, por

eles cultivados, realizando estudos e compartilhar de informações sobre

saúde.

- Realizar uma experiência pedagógica, na qual graduandos de

Nutrição, Gestão de Agronegocio e estudantes de pós-graduação da

Unicamp vivenciem trocas de saberes, com quem produz alimentos.

- Realizar pesquisas para conhecer o perfil dos agricultores, no

que se refere à hábitos alimentares, conhecimento sobre plantas

medicinais, seus problemas de saúde e demandas para apoio financeiro

e técnico.

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- Propiciar a construção de uma conexão entre agricultores,

estudantes, docentes e membros da RAU, como uma das estratégias da

consolidação do Projeto Sexta-feira na Estação, cuja ação é a feira de

produtos agrícolas, “Pé na Roça”.

- Colaborar na aglutinação do grupo dos agricultores e orientar

na elaboração de um Plano de Ação para Geração de Renda e

autonomia, após o término desse projeto de extensão.

Justificativa

Sabemos que a escolaridade é desigual na sociedade brasileira,

que muitos moradores das zonas rurais e das periferias urbanas, tiveram

e ainda têm dificuldades de acesso ao ensino. Assim a realização de um

grupo de Educação em Saúde poderá contribuir para a socialização e

troca de alguns conhecimentos.

Destacamos que o grupo de Educação em Saúde, também, será

um espaço para socializar os saberes dos agricultores e estimular os

aprendizados dos estudantes.

Os estudantes desta universidade, em sua maioria, são oriundos

das classes, média e alta, moram em áreas urbanas, em prédios e

condomínios, que dificultam suas interações com demais realidades

sociais. Porém, é esperado que quando formados, trabalhem no Sistema

Único de Saúde - SUS, o qual prevê acesso universal, ou seja, usuários

das várias classes sociais.

Além do que, para um atendimento de qualidade e humanizado,

a Nutricionista necessita conhecer o cotidiano, a cultura dos usuários e

suas diferentes condições sociais. Esse projeto propiciará às estudantes

do Curso de Nutrição conhecer a área rural, as hortas comunitárias,

bairros periféricos e interações com mulheres e homens, agricultores,

que irão enriquecer seus repertórios interpessoais. O mesmo pode-se

esperar que contribua para a formação do estudante de Gestão em

Agronegocio.

A área de conhecimento da Saúde Coletiva, há décadas destaca

o papel da alimentação na saúde das populações.

Os velhos problemas de Saúde Coletiva, fome e desnutrição,

ainda se fazem atuais, o que justifica realizar um diagnóstico sobre a

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incidência e prevalência de desnutrição, os hábitos alimentares e as

condições de acesso aos alimentos dos agricultores. Principalmente,

colaborar com orientações para crianças e pessoas da terceira idade,

que estão desnutridas, situação tal, que nos foi esclarecido por uma

mulher, agricultora, líder em sua comunidade. Outra justificativa serão

as oportunidades de colaborar nos encaminhamentos para os serviços

de saúde, de acesso mais facilitado. Porém, segundo as primeiras

informações, as citadas desnutrições são devido à falta de alimentos.

É do conhecimento público, as asperezas do trabalho rural, com

baixos incentivos financeiros e poucos apoios técnicos, assim como as

dificuldades de escoar a produção agrícola das pequenas plantações. A

realização de uma feira de produtos agrícolas contribui na venda dos

alimentos, sem atravessadores e com pagamentos à vista, o que dá um

retorno rápido do dinheiro, colaborando para a subsistência das famílias

dos agricultores e a manutenção dos pequenos produtores, que

poderão produzir alimentos, utilizando menos ou nenhum agrotóxicos,

o que irá impactar na saúde dos consumidores.

Justifica-se, ainda esse projeto, pela possibilidade de estabelecer

várias conexões, visando o fortalecimento da Rede de Agroecologia da

Unicamp e de cada grupo sujeito conectado à rede.

METODOLOGIA

O projeto Os sabores e saberes de quem tem o Pé na Roça –

Grupo de Educação em saúde se insere no campo da Educação em

Saúde.

Segundo contatos realizados para a proposição desse projeto

com agricultores-referências, espera-se que o Grupo de Educação em

Saúde, tenha a participação de cinqüenta agricultores.

Com Metodologias Ativas propõe-se a realização de dez

encontros, a serem realizadas no ano de 2012, com oficinas de

culinárias e períodos de dispersão, com atividades de campo, isso é,

visitas dos estudantes às hortas urbanas e sítios, nos meses de fevereiro

e julho, além de atividades pedagógicas de grupos-tarefas de

agricultores.

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Pretende-se construir um caderno de receitas, a partir de

oficinas de culinária, com a intenção de valorizar a arte culinária das

mulheres agriculturas, respeitar e valorizar seus conhecimentos. Esse

caderno de receitas pode ser compreendido como uma forma mais

lúdica e participativa, de se fazer a sistematização e o registro de parte

das reflexões dos participantes do Grupo de Educação em Saúde.

Observar as oficinas de culinária pode possibilitar que as

estudantes de Nutrição aprendam algumas receitas, o que contribuirá

em sua atuação enquanto profissional, pois como orientar, respeitando

os limites financeiros e os hábitos dos clientes, se elas mesmas, não

sabem cozinhar.

A realização do levantamento dos problemas de saúde se fará

através de entrevistas semi-estruturadas. Como forma de dar retorno

aos agricultores e familiares perante seus problemas de saúde,

pretende-se a elaboração de uma cartilha com orientações para a

promoção da saúde e sobre alimentos.

Esclarecemos que a Rede de Agroecologia da Unicamp é

constituída por profissionais de vários campos de conhecimento e na

medida em que as necessidades de orientações forem sendo

apresentadas pelos agricultores e estudantes, solicitaremos

contribuições aos colegas, assim como professores não ligados à RAU.

Porém cabe destacar que há profissionais nutricionistas na RAU e as

mesmas poderão dar contribuições mais específicas para as estudantes

de Nutrição.

Embasado nas contribuições do Planejamento Estratégico

Situacional – PES (Matus, 1989) pretende-se elaborar um Plano de Ação

para Geração de Renda, para contribuir na continuidade de ação, do

grupo de agricultores.

Concomitante a realização do Grupo de Educação em Saúde, a

docente responsável por esse projeto, pretende oferecer uma disciplina

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de extensão: EX – Educação em Saúde e Extensão Comunitária, para as

estudantes vinculadas a esse projeto e demais graduandos interessados.

O projeto de extensão: Sabores e Saberes de quem tem o Pé na Roça, tem

a pretensão de experenciar as três dimensões da Extensão Comunitária, em sua

integralidade.

A dimensão do Ensino será o eixo orientador, tendo o lócus do

Grupo de Educação em Saúde, a possibilidade do encontro, das trocas de

saberes, do se reconhecer enquanto um grupo sujeito. Agricultores, estudantes e

membros da Rede de Agroecologia, tecendo a rede, nas Rodas de Conversa, nas

atividades pedagógicas diversificadas, pela utilização das Metodologias Ativas

(Freire-1979, Moreno,1984).

Será utilizada a abordagem grupal, o contrato do grupo de

educação em saúde, técnicas psicodramáticas, para colaborar na constituição

dos vínculos pedagógicos; se fará o levantamento das expectativas e

necessidades dos agricultores e do grupo (Maturana,1998); manejo e cuidado

com a relação do grupo (Freire, M. 1984). Com as técnicas de Problematização

(Bordenave,2000), somando em alguns encontros, com a metodologia do

Planejamento Estratégico Situacional (Matus,1989), visando a pesquisa-

participante (Brandão,2006). Durante os encontros propõe-se escrever as

memórias do grupo de Educação em Saúde e nas visitas utilizar os cadernos de

campo.

Faz-se necessário diferenciar essa proposta de Grupo Educativo, dos cursos

de capacitações, “cujas concepções e metodologias, muitas vezes, determinam

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que esses 'funcionem' como transmissores de informações” (Rimoli, 2003) e não

como um grupo, cujos participantes trazem seus conhecimentos, dificuldades,

desejos, conflitos, problemas e disputas, compartilhando-os e interagindo, com

suas diferentes subjetividades, em espaço protegido de Grupo Educativo (Freire-

1983, Guattari-1993, Foucaul- 1992, Santos, B. 1994).

As rodas de conversa serão muito utilizadas, pois relembrando

Walter Benjamin (1991), que destacou a importância das narrativas, das

conversas entre pessoas de faixas etárias e vivencias diferentes.

No projeto Sabores e Saberes de quem tem o Pé na Roça, a

dimensão da Extensão Comunitária, se dará ao colaborar com Projeto Sexta-

feira na Estação, onde se realiza a feira de produtos orgânicos, quando se abre

um espaço público, da Unicamp, para receber a comunidade, agricultores e

consumidores, sendo que tais ações valorizando a missão da Estação

Guanabara – o Centro de Integração Social.

A proposta de colaborar com a constituição de um grupo sujeito,

que vivenciará uma grupalidade, o qual pode perceber sua potência e continuar

em seus esforços, por uma vida digna, com nos ensinou Spinoza (2008), que os

esforços estão nos meandros dos processos sociais, na luta pela ética e justiça

social.

Na America Latina temos uma tradição em Educação Popular em

Saúde, a qual foi sendo construída, no bojo de vários movimentos sociais, tendo

Paulo Freire, Toro e Bordenave, dentre outros como referências. Cabe salientar

que esses autores e diversos atores dos movimentos sociais, sempre defenderam

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o não paternalismo, buscaram estratégias de participação popular, visando a

“Pedagogia da Libertação e da Autonomia” (Freire, 1998, 2001).

Outra dobra dessa interação extensionista se dará quando os

estudantes, professora e demais membros da RAU forem para e com as

comunidades, visitar suas hortas comunitárias e principalmente quando se

realizarem as viagens para as áreas rurais, realizar o “trabalho de campo”,

observação participante, para precisar os diagnósticos de saúde e as condições

sócio-ambientais.

Trabalhamos com a expectativa (Deleuze,1992) de que seja uma

experiência que nos toque (Larrosa,2002), mobilizando e produzindo reflexões

sobre as desigualdades sociais (Barata, 2006) e as determinações sociais do

processo saúde-doença (Breilh, 1990).

No Brasil, as experiências do ensinar Saúde Pública, no espaço inter-

institucional da Extensão Comunitária, universidade e comunidades e ou grupos

sociais, tem registros desde a década de 1960. Lembramos as grandes

contribuições que Vicente Vitor Valla, médico e docente da Universidade

Estadual do Rio de Janeiro nos legou, que somamos as suas contribuições as de

seus parceiros Vasconcelos (1997,2001) e Smeke (2001,2009), que destacamos

dentre os preciosos educadores-pesquisadores-sanitaristas brasileiros.

Na primeira gestão do Presidente Luís Inácio da Silva, de 2002 à

2006, no Ministério da Saúde foi implantado o Departamento de Apoio à Gestão

Participativa, tendo em seu organograma a Coordenação Geral de Apoio à

Educação Popular e à Mobilização Social. Na XII Conferência Nacional de Saúde,

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em 2008, o então Coordenador da Educação Popular, José Ivo dos Santos

Pedrosa, relembrou as disparidades sócio-regionais brasileiras e solicitou que as

universidades investissem e valorizassem os projetos de extensão comunitária,

visando somar esforços e qualificar o ensino dos profissionais de saúde.

Na direção solicitada no parágrafo anterior, pretende-se que no

processo de formação dos nossos estudantes que participarão desse projeto, a

dimensão da Pesquisa, também esteja presente, visando contribuir na formação

dos estudantes, através da realização dos projetos de iniciação científica.

Propõe-se pesquisar, na linha das pesquisas qualitativas, utilizando

categorias das Ciências Sociais e Humanas, pois se sabe que o alimento, a

alimentação, o comer, o nutrir estão impregnados de sentidos e significados.

(Bourdieu ,2003e Carvalho e Madel Luz,2011). Esclarecemos que iremos solicitar

parceria para as nutricionistas da RAU, quando se tratar de conceitos e temas

referentes ou campo da Nutrição.

Respaldamos nossa proposta metodológica, em Minayo (2004), que ao

refletir sobre pesquisa qualitativa argumenta que essas são “[...] capazes de

incorporar a questão do significado e da intencionalidade como inerentes aos

atos, às relações, e às estruturas sociais, sendo essas últimas tomadas tanto no

seu advento quanto na sua transformação, como construções humanas

significativas”.

A metodologia proposta, Pesquisa Participante (Brandão, 1983,

2006), supõe que a produção de conhecimentos em si ocorra de forma

processual e em conjunto, pesquisadores, estudantes, comunidade e nos

territórios geopolíticos (Santos, 2000). Assim com Brandão escreveu em 1983:

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“sujeitos de um mesmo trabalho comum, ainda que com situações e tarefas

diferentes”.

Enquanto proponente desse projeto de extensão devo esclarecer

que venho utilizando esses referenciais nas minhas pesquisas e constatei que

são potentes, viáveis e democráticos.

“O planejamento da pesquisa e seu desenvolvimento, inclusive do

trabalho de campo, igualmente, se efetivam nesse movimento de conformação e

num permanente diálogo entre todas as partes e pessoas envolvidas. Outra

característica da pesquisa participante, é que ela não é apenas um momento

único de um processo, mas acontece em diferentes etapas do próprio processo de

construção de saberes, de ações sociais e de avaliações do trabalho realizado”.

(Rimoli, 2009).

A proposta desse projeto de extensão prevê a duração de um ano

para a realização do Grupo Educativo e do diagnóstico dos problemas de saúde

dos agricultores e deseja-se que se prorrogue até o ano de 2013, para pesquisar

os hábitos alimentares, o uso de plantas medicinais e os temas escolhidos pelos

agricultores.

Para a difusão e disseminação, do conhecimento serão elaborados

instrumentos de registro de acompanhamento dos grupos de famílias dos

agricultores, dos encontros dos Grupos Educativos e relatórios das visitas aos

campos. Pretende-se ainda a constituição de grupos de estudos e produção de

textos.

Pretendemos, também, trabalhar com o conceito importante para

essa pesquisa-ação, que é o de rede social, que vem sendo utilizado há décadas

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nas áreas sociais (Dabas, 2006), e nas pesquisas de políticas públicas da saúde, da

educação e nesse projeto, pretende-se somar o campo da Agroecologia.

Para análise dos Grupos Educativos e dos resultados do projeto

propomos realizar uma avaliação de quarta geração, da qual participarão todos

os grupos de interesse: agricultores, familiares, estudantes, professores,

membros da RAU, consumidores, profissionais da Estação Guanabara.

Para que a disseminação dos resultados obtidos possa ocorrer, propomos a

elaboração de uma cartilha, de um vídeo, sem edição de imagens, para não

encarecer o projeto e do Caderno de Receitas, para valorizar o saber das

agricultoras.

Resultados esperados:

- Grupo de agricultores constituído e fortalecido. - Realizado trocas de saberes

sobre alimentos e saúde.

- Aumento nas vendas dos produtos agrícolas, colaborando no orçamento dos

agricultores.

- Elaborado Plano de Ação para Geração de Renda.

- Avaliado que ocorreu aprendizado das Metodologias Ativas e condução de

Grupos Educativos, pelos estudantes da Unicamp.

- Realizado diagnóstico de problemas de saúde dos agricultores.

- Elaborado projetos de iniciação científica, cartilha, caderno de receitas, artigos

científicos e vídeo.

- Colaborado para o fortalecimento do Projeto Sexta-feira na Estação e a feira de

produtos orgânicos e da Rede de Agroecologia .

- Realizada a Disciplina de Extensão: Educação em Saúde e extensão comunitária.

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Orçamento

Descrição dos itens Valor unitário Valor Total

Ingredientes para as

oficinas de culinária

R$ 100,00 por encontro

/ para 50 participantes

R$1.000,00

Passes de ônibus

urbanos - Campinas

R$ 2,85 X 2 ( ida e volta)

X 30 participantes

X 10 encontros

R$655,00

Aluguel de perua combi R$120,00 X 2 (ida e

volta) x 10 encontros x

3 comunidades.(Mogi-

Mirim, Sumaré e

Joaquim Egídio – área

rural)

R$7.200,00

Material de escritório 10 pacotes de papel

sulfite, R$130,00

2 Tonner, Jogos de

Canetas esferográficas,

1 pen drive, cartolinas,

tubo de cola, cadernos,

tesouras, etc.

R$600,00

R$730,00

Combustível Ida para as áreas rurais R$415,00

Total R$10.00,00

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