Redes de Inovação Tecnológica No Agronegocio

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTU SENSU EM ADMINISTRAÇÃO 

    NIBIA QUEIROZ DE PAULA 

    REDES DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NOAGRONEGÓCIO 

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    NIBIA QUEIROZ DE PAULA 

    REDES DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NO

    AGRONEGÓCIO 

    Dissertação apresentada como requisito parcialà obtenção do grau de Mestre emAdministração.Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.Programa de Pós-Graduação strictu sensu emAdministração.Área de concentração em Gestão doAgronegócio.

    Orientador: Jeovan de Carvalho Figueiredo,Dr.

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    Paula, Nibia Queiroz de.

    Redes de Inovação Tecnológica no Agronegócio/ Nibia Queiroz de Paula – Campo Grande, 2014.

    128 f. Figuras, Tabelas, Quadros.

    Orientador: Jeovan de Carvalho FigueiredoDissertação (Mestrado em Administração) Programa de Pós-Graduação strictu sensu emAdministração. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

    Inclui Bibliografia

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    AGRADECIMENTOS

    Agradeço ao meu orientador, Dr. Jeovan de Carvalho Figueiredo, que contribuiu imensamentepara a conclusão deste trabalho por meio de sua orientação, dedicação e paciência.

    Aos meus pais, Ana e Jonas, e irmãs, Suellen e Lilian, pelo incentivo a aprendizagem,

    inspiração e apoio incondicional, sempre contribuindo para a minha educação e para a minhaformação pessoal.

    Ao meu namorado, Konrad, que me ajudou a terminar esta etapa através de seu apoio, sempreme motivando, sua paciência e seu companheirismo.

    À Universidade Federal de Mato Grosso do Sul por ter me proporcionado mais conhecimentoe aprendizagem e fornecido os recursos necessários para a realização do mestrado.

    Ao corpo docente do Mestrado em Administração da UFMS que tanto contribui para a minhaformação e agregação de conhecimento.

    Ao meu atual chefe, que já foi meu professor na graduação, M.Sc. Paulo Henrique NogueiraBiscola, pelo incentivo e apoio para a realização e conclusão do mestrado, bem como àEmbrapa Gado de Corte pela inspiração e colaboração.

    Às professoras Dra. Denise Barros de Azevedo e Dra. Jislaine de Fátima Guilhermino poraceitarem o convite para participarem da banca, pelas contribuições e sugestões feitas, bem

    como pelos elogios concedidos.

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    RESUMO 

    PAULA, Nibia Queiroz de. Redes de Inovação Tecnológicas no Agronegócio. 128 f.Dissertação (Mestrado em Administração) - Curso de Pós-Graduação em Administração,Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2014.

    Orientador: Jeovan de Carvalho FigueiredoDefesa: 25/03/2014

    O Brasil é um dos maiores produtores de alimentos, fibras e energia renovável no mundo, porisso tem grande importância para a segurança alimentar da população do planeta. Para atingiressa notoriedade no agronegócio, o país tem investido fortemente em Pesquisa,

    Desenvolvimento e Inovação (PD&I) nas últimas quatro décadas. Nesse contexto, a Embrapase destaca no agronegócio por contribuir com o desenvolvimento da inovação no país. Tendoem vista que a inovação impulsiona a competitividade nacional e que a formação de redespromove o surgimento da inovação, este trabalho tem por objetivo compreender os padrões deinteração identificados a partir dos pedidos de patente e das cultivares protegidas da Embrapa.Os dados de patentes e cultivares encontram-se, respectivamente, nas bases de dados doInstituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e Ministério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento (MAPA). Para alcançar o objetivo do trabalho, foram analisados os pedidos de

    patentes e cultivares protegidas da Embrapa por meio da técnica de análise de redes. Alémdisso, procedeu-se a uma análise de correlação e outra de regressão, onde foi verificada arelação entre a estrutura da rede e a geração de inovação. A análise exploratória dos dadosmostrou que a Embrapa tem despendido esforços no sentido de inovar, por meio doscrescentes números de pedidos de patentes e solicitações de proteção de cultivares durante operíodo analisado, de 1980 a 2009 para patentes e de 1998 a 2012 para cultivares. Osresultados indicaram que os padrões de interações voltados para a busca de maior centralidade

    nas redes da Embrapa contribuem para a geração de maiores níveis de inovação.Palavras-chave: Embrapa; Patentes; Cultivares; Análise de Redes.

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    ABSTRACT 

    PAULA, Nibia Queiroz de. Redes de Inovação Tecnológicas no Agronegócio. 128 f.Dissertação (Mestrado em Administração) - Curso de Pós-Graduação em Administração,Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2014.

    Orientador: Jeovan de Carvalho FigueiredoDefesa: 25/03/2014

    Brazil is one of the biggest producers of food, fiber and renewable energy in the world, so thatit is very important for food security of the population of the planet. To achieve this notorietyin agribusiness, the country has invested heavily in research, development and innovation

    (RD&I) in the last four decades. In this context, Embrapa excels in agribusiness bycontributing for the development of innovation in the country. Considering that innovationdrives the national competitiveness and that networking promotes the emergence ofinnovation, this dissertation aims to understand the interaction patterns identified from patentapplication and protected cultivars of Embrapa. Patent’s data and cultivars’ data can be found,respectively, in the databases of the National Institute of Industrial Property (INPI) andMinistry of Agriculture, Livestock and Food Supply (MAPA). In order to meet the objectiveof this essay, the patent applications and protected cultivars of Embrapa were analyzed

    through network analysis technique. Besides, a correlation and a regression analysis werecarried out, where it was verified the relationship between the structure of the network and thegeneration of innovation. The exploratory analysis of the data showed that Embrapa hasexpended efforts to innovate, through the increasing numbers of patent application andcultivars protection requests during the analyzed period, from 1980 to 2009 for patents andfrom 1998 to 2012 for cultivars. The results indicated that the interactions patterns geared tothe pursuit of greater centrality in the networks of Embrapa contribute to the generation of

    greater levels of innovation.Key Words: Embrapa; Patents; Cultivars; Network Analysis.

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    LISTA DE GRÁFICOS 

    Gráfico 1 - PIB do Agronegócio e PIB Brasileiro .................................................................... 15 

    Gráfico 2 - PIB do Agronegócio Brasileiro .............................................................................. 16 

    Gráfico 3 - Evolução da arrecadação para o fundo setorial CT-Agro ...................................... 31 

    Gráfico 4 - Solicitações de proteção de cultivares da Embrapa por quinquênio ...................... 71 

    Gráfico 5 - Parcerias da Embrapa no desenvolvimento de cultivares ...................................... 72 

    Gráfico 6 – Pedidos de patentes realizados por Unidade da Embrapa ..................................... 81 

    Gráfico 7 – Solicitações de proteção de cultivares por Unidades da Embrapa ........................ 92 

    Gráfico 8 – Gráfico de dispersão da relação entre pedidos de patentes e centralidade de grau

    ................................................................................................................................................ 100 

    Gráfico 9 - Gráfico de dispersão da relação entre pedidos de patentes e centralidade de

    intermediação.......................................................................................................................... 101 

    Gráfico 10 - Gráfico de dispersão da relação entre solicitação de proteção de cultivares e

    centralidade de grau ................................................................................................................ 102 

    Gráfico 11 - Gráfico de dispersão da relação entre solicitação de proteção de cultivares e

    centralidade de intermediação ................................................................................................ 102 

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Produção, consumo e exportação dos principais produtos do agronegócio (em

    2013/2014) 22

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    Quadro 10 – Classificação das Unidades Descentralizadas da Embrapa ................................. 61 

    Quadro 11 – Estatística da rede de patentes ............................................................................. 73 

    Quadro 12 – Estatística da rede de cultivares ........................................................................... 75 

    Quadro 13 - Quantidade de pedidos de patente e centralidade das unidades* ......................... 77 

    Quadro 14 - Composição das comunidades da rede organizacional de patentes* ................... 85 

    Quadro 15 - Quantidade de solicitações de proteção de cultivares e centralidade das Unidades

    .................................................................................................................................................. 89 

    Quadro 16 - Composição das comunidades da rede organizacional de cultivares ................... 96 

    Quadro 17 – Identificação de redes de pequeno mundo nas redes de patente ........................ 104 

    Quadro 18 - Identificação de redes de pequeno mundo nas redes de cultivar ........................ 106 

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Sistema Nacional de Inovação ................................................................................. 27 

    Figura 2 - Exemplo de uma rede .............................................................................................. 39 

    Figura 3 - Uma estrutura da comunidade para a rede da figura 2 ............................................ 40 

    Figura 4 – Centralidade de grau da rede organizacional de patentes ....................................... 82 

    Figura 5 - Centralidade de intermediação da rede organizacional de patentes ........................ 83 

    Figura 6 – Comunidades da rede organizacional de patentes ................................................... 84 

    Figura 7 – Centralidade de grau da rede organizacional de cultivares ..................................... 93 

    Figura 8 – Centralidade de intermediação da rede organizacional de cultivares ..................... 94 

    Figura 9 – Comunidades da rede organizacional de cultivares ................................................ 95 

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    Tabela 2 - Classificação Internacional de Patentes (CIP)......................................................... 65 

    Tabela 3 - Modalidades de parceiras em de PD&I ................................................................... 70 

    Tabela 4 - Modalidades de parceiras em de PD&I ................................................................... 72 

    Tabela 5 - Correlação entre Quantidade de Pedidos de Patentes e Medidas de Centralidade .. 99 

    Tabela 6 - Correlação entre Quantidade de Solicitações de Proteção de Cultivares e Medidas

    de Centralidade ......................................................................................................................... 99 

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    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 

    C&T Ciência e TecnologiaCeplac Comissão Executiva do Plano da Lavoura CacaueiraCIDE Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico

    CIP Classificação Internacional de PatentesCNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e TecnológicoCT-AGRO Fundo Setorial de AgronegóciosEmbrapa Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuáriaFINEP Financiadora de Estudos e ProjetosFIOCRUZ Fundação Oswaldo CruzFNDCT Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

    FUNTTEL Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das TelecomunicaçõesGEE Gases de Efeito EstufaIbama Instituto Nacional de Recursos Naturais e Meio AmbienteIBGE Instituto Brasileiro de Geografia e EstatísticaICT Instituição de Científica e Tecnológica INPI Instituto Nacional da Propriedade IndustrialLabex Laboratórios Virtuais da Embrapa no ExteriorMAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

    MCTI Ministério da Ciência, Tecnologia e InovaçãoOCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento EconômicoOEPAs Organizações Estaduais de Pesquisa AgropecuáriaOMPI Organização Mundial da Propriedade IntelectualONGs Organizações não governamentaisP&D Pesquisa e DesenvolvimentoPD&I Pesquisa, Desenvolvimento e InovaçãoPIB Produto Interno BrutoPlano ABC Agricultura de Baixa Emissão de CarbonoPNMC Política Nacional sobre Mudanças do ClimaSAG Sistemas AgroindustriaisSNI Sistema Nacional de InovaçãoSNPA Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária

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    SUMÁRIO 

    1  INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 15 

    1.1 

    JUSTIFICATIVA ............................................................................................................................ 18 

    1.2  OBJETIVOS ................................................................................................................................. 20 

    2  REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................................... 21 

    2.1  INOVAÇÃO NO AGRONEGÓCIO ..................................................................................................... 21 

    2.1.1  Agronegócio Brasileiro ............................................................................................................. 21 

    2.1.2 

    O Sistema Nacional de Inovação no Agronegócio ................................................................... 24 

    2.1.3  Ambiente Institucional para PD&I ............................................................................................. 29 

    2.2  REDES DE INOVAÇÃO .................................................................................................................. 33 

    2.2.1 

    A Importância das Redes para a Inovação .............................................................................. 33 

    2.2.2 

    Características Estruturais e Relacionais das Redes .............................................................. 34 

    2.2.3 

    Grau médio (Average Degree ) ................................................................................................. 36 

    2.2.4 

    Densidade ................................................................................................................................. 37 

    2.2.5 

    Comunidade ............................................................................................................................. 38 

    2.2.6 

    Centralidade ............................................................................................................................. 41 

    2.2.7 

    Pequenos Mundos (Small Worlds ) ........................................................................................... 44 

    2.3  VISUALIZAÇÃO DE REDES ........................................................................................................... 47 

    3  PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................................ 49 

    3.1  TIPO DE PESQUISA ...................................................................................................................... 49 

    3.2  MATRIZ DE AMARRAÇÃO ............................................................................................................. 50 

    3.3  DADOS DE PESQUISA .................................................................................................................. 51 

    3.4 MÉTODO DE ANÁLISE DE REDES SOCIAIS .................................................................................... 54

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    4.3.2 

    Análise da centralidade das redes de inovação da Embrapa .................................................. 77 

    4.3.3 

    Relação entre inovação e medidas de centralidade ................................................................ 98 

    4.3.4 

    Impacto da centralidade na inovação ..................................................................................... 100 

    4.3.5 

    Identificação da dinâmica de pequeno mundo nas redes de inovação da Embrapa ............. 103 

    5  CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 109 

    5.1 

    LIMITAÇÕES E SUGESTÕES PARA FUTUROS ESTUDOS ................................................................. 113 

    6  BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................... 114 

    APÊNDICE 1 - MODALIDADE DE PARCERIAS DAS PATENTES .................................................. 121 

    APÊNDICE 2 - MODALIDADE DE PARCERIAS DAS CULTIVARES .............................................. 124 

    ANEXO 1 – MAPA DAS UNIDADES DA EMBRAPA NO BRASIL ................................................... 126 

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    1  INTRODUÇÃO

    O Brasil é um dos maiores produtores de alimentos, fibras e energia renovável no

    mundo, por isso acaba tendo grande importância para a segurança alimentar da população do

    planeta.

    O agronegócio no Brasil, que corresponde à soma dos setores produtivos com os de

    processamento do produto final e os de fabricação de insumos, representa mais de um quarto

    do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, como mostra o gráfico 11.

    Gráfico 1 - PIB do Agronegócio e PIB Brasileiro

    1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

    0

    500.000

    1.000.000

    1.500.000

    2.000.000

    2.500.000

    3.000.000

    3.500.000

    4.000.000

    4.500.000

    Ano

       R   $  m   i   l   h   õ  e  s

     

    Legenda: PIB Agronegócio PIB Brasileiro  

    Fonte: CEPEA-USP/CNA (2012).

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    Para Gasques et al (2004), o agronegócio é considerado a cadeia produtiva que

    compreende desde a fabricação de insumos, incluindo a produção nos estabelecimentos

    agropecuários e sua transformação, até o seu consumo. Essa cadeia agrega todos os serviços

    de apoio: pesquisa e assistência técnica, processamento, transporte, comercialização, crédito,

    exportação, serviços portuários, distribuidores, bolsas, industrialização e o consumidor final.

    O valor agregado do complexo agroindustrial percorre, necessariamente, os cinco mercados

    seguintes: suprimentos; produção propriamente dita; processamento; distribuição; e

    consumidor final.

    O PIB do agronegócio com valor elevado mostra a importância econômica que este

    setor representa para o Brasil. O gráfico 2 mostra que os valores do PIB do agronegócio

    brasileiro, ao longo dos anos de 2000 até 2011, apresentaram uma tendência de crescimento.

    Gráfico 2 - PIB do Agronegócio Brasileiro

    2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

    0

    100.000

    200.000

    300.000

    400.000

    500.000

    600.000

    700.000

    800.000

    900.000

    1.000.000

    Ano

       R   $  m   i   l   h   õ  e  s

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    Para atingir esse desempenho no agronegócio, o país tem investido fortemente em

    Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) nas últimas quatro décadas. A criação da

    Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) foi um grande marco desta situação.

    Após seu surgimento no cenário nacional, somado a outros incentivos, o país começou a ter

    um grande aumento de sua produção, tornando-se um dos maiores produtores e exportadores

    mundiais no setor de agronegócios (GOUVEA; KASSICIEH, 2012).

    Organizações como a Embrapa são importantes para o desenvolvimento do

    agronegócio nacional, pois os sistemas agroindustriais2 enfrentam desafios constantes como

    novos regulamentos, mudança nas preferências dos consumidores, novos competidores, novas

    pragas e doenças e problemas com a saúde humana. Assim, várias fontes de conhecimento são

    necessárias para lidar com essas mudanças, que requerem uma rede densa de conexões, pois

    muitos problemas não podem ser resolvidos por um único produtor, necessitando de

    mudanças em diferentes segmentos da cadeia de valor (WORLD BANK, 2006).

    O conhecimento pode provir de organizações públicas de pesquisa, serviços técnicos

    nos setores público e privado, agências de desenvolvimento, bem como de outras empresas ou

    produtores. Portanto, no setor da agricultura contemporânea, a competitividade depende da

    inovação gerada por meio da colaboração. 

    Da mesma forma, Dyer e Nobeoka (2000) enfatizam que a inovação está associada

    com redes, formadas por diferentes agentes. De modo que, pode haver uma cooperação entre

    empresas, outras organizações e instituições para promoverem interações de modo

    colaborativo. Essas interações favorecem o compartilhamento de conhecimentos que podem

    gerar a inovação.

    Seguindo essa lógica, no Brasil existe um sistema de parcerias de pesquisa

    agropecuária denominado Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA) Ele é

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    Além dessas instituições, estão aparecendo nesse contexto consórcios de pesquisa e

    incubadoras de empresas de base tecnológica. Outras instituições já existentes se tornam mais

    atuantes, principalmente quanto ao desenvolvimento e inovação, como as cooperativas e

    outras formas de organização de produtores. As empresas privadas, tanto as nacionais como

    as multinacionais, estão cada vez mais envolvidas com a geração e a transferência de

    tecnologias (EMBRAPA, 2003).

    Historicamente, a PD&I no agronegócio tem sido incentivada pelo governo federal. Os

    marcos recentes deste esforço são a Lei da Inovação, o Fundo Setorial de Agronegócios (CT-

    AGRO) e o Plano ABC.

    A Lei número 10.973, denominada Lei da Inovação, regulamentada pelo Decreto

    5.563, foi criada em 2004 para incentivar e legitimar a inovação, visando facilitar a interação

    entre as universidades, instituições de pesquisa e o setor produtivo. O CT-AGRO foi

    instituído em 2001 com o objetivo de financiar as atividades de pesquisa científica e

    desenvolvimento tecnológico do setor do agronegócio. Já à Agricultura de Baixa Emissão de

    Carbono, conhecida por Plano ABC, com vigência de 2010 a 2020, é um dos planos setoriais

    formulados para impulsionar a redução das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) na

    agricultura.

    Portanto, nota-se o papel fundamental que o agronegócio representa para a economia e

    para o desenvolvimento do Brasil. Além disso, observa-se a relevância das instituições de

    pesquisa e da implementação de políticas públicas para a produção de inovação a partir de

    PD&I. Assim, tendo esse contexto em vista, este estudo mostra sua relevância ao buscar

    contribuir para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro.

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    demanda mais inovações constantemente, o que resulta em necessidade crescente de

    investimentos em pesquisa.

    Os investimentos em inovação, no Brasil, para o setor agrícola têm recebido constantes

    aportes de recursos públicos, sobretudo para o financiamento de P&D para o agronegócio

    nacional (CHAVES, 2010).

    Para Van de Ven (1996), inovação pode ser definida como ideias que são desenvolvidas

    e implementadas. Dessa forma, Spender (1996) afirma que as ideias são criadas por

    indivíduos, mas o conhecimento destes é resultado do contexto social do qual fazem parte,

    onde há interação com outros indivíduos. Assim, as ideias que são geradas por pessoas ou por

    grupos que interagem com mais pessoas tem acesso a mais informação e conhecimento

    quando inovam do que pessoas ou grupos menos conectados (BJÖRK; MAGNUSSON,

    2009). 

    Conforme Malerba e Vonortas (2009), a inovação é um fenômeno decorrente da

    formação de redes. Assim, as redes inter-organizacionais para inovação, ou simplesmente,

    redes de inovação, são redes complexas de relacionamento entre empresas, universidades e

    outras organizações de pesquisa associadas com a geração e compartilhamento de

    conhecimentos relevantes para a inovação tecnológica. Dessa forma, as redes de inovação são

    consideradas uma característica fundamental da economia contemporânea.

    Ao se considerar um ambiente de desenvolvimento tecnológico que envolve uma

    variedade ainda maior de produtos e sistemas de processos, subsistemas e componentes,

    nenhuma empresa sozinha pode dispor de toda a capacidade necessária e de todos os ativos

    complementares a um custo razoável. Portanto, as redes podem servir como um locus para a

    inovação tendo em vista que, a qualquer membro da rede, pode-se prover acesso oportuno a

    conhecimentos externos e a recursos que de outra forma não estariam disponíveis enquanto é

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    Isso acontece por meio de comunidades de práticas que formam, espontaneamente, grupos de

    pessoas para promover o intercâmbio de conhecimentos e, assim, fomentar a inovação. Dessa

    forma, a análise de redes contribui para explorar os aspectos estruturais e relacionais das redes

    sociais dentro de uma organização.

    No agronegócio, estas premissas são essencialmente verdadeiras. De fato, a colaboração

    científica é um elemento crucial para se conseguir resultados em PD&I. Portanto, são de

    grande importância os investimentos em PD&I no agronegócio para que o Brasil possa ser

    competitivo em nível internacional. Além do mais, deve-se considerar que as redes são

    necessárias para que a inovação ocorra, atentando-se para os fatores destacados anteriormente.

    Nesse sentido, a próxima seção apresenta os objetivos desse trabalho.

    1.2  Objetivos

    O objetivo geral do trabalho é analisar os padrões de interação identificados a partir dos

    pedidos de patente e das cultivares protegidas da Embrapa. Para tanto, especificamente,

    pretende-se:

    •  Conhecer o ambiente institucional para pesquisa, desenvolvimento e inovação

    (PD&I) no Brasil;

    •  Identificar os tipos de relações estabelecidas, entre pesquisadores das diferentes

    unidades da Embrapa e seus parceiros, voltadas ao desenvolvimento tecnológico;

    •  Descrever as estruturas das redes de inovação identificadas;

    •  Determinar a relação entre a estrutura da rede e a geração de inovações.

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    2  REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

    2.1  Inovação no Agronegócio

    2.1.1  Agronegócio Brasileiro

    Após a Revolução Industrial, a agricultura passou por transformações estruturais

    enormes, resultantes de inovações tecnológicas na agricultura, com destaque para a Revolução

    Verde3, que surgiu na década de 1960. Ela tem se tornado o atual paradigma, pois a maior

    parte da produção da agricultura mundial utiliza a tecnologia para obter mais ganhos de

    produtividade (EMBRAPA, 2003).

    Como consequência dos maiores ganhos de produtividade das atividades relacionadas

    à agricultura e pecuária tornou-se necessário incorporar um novo conceito na análise dos

    modernos sistemas produtivos de alimentos, bebidas e fibras, traduzido atualmente no termo

    agronegócios.

    A origem do conceito de agronegócio - tradução de agribusiness - surgiu com Davis e

    Goldberg (1957), que o definiram como um sistema de commodities que abrange todos os

    atores envolvidos com a produção, processamento e distribuição de um produto. Assim, esse

    sistema compreende todas as organizações que influenciam a coordenação da sequência de

    etapas do fluxo dos produtos, tais como as organizações governamentais, mercados futuros e

    associações de comércio.

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    funcionamento dos sistemas. Do ambiente organizacional fazem parte as associações,

    informação, pesquisa, finanças, cooperativas e firmas. Quando se fala em ambiente

    institucional, leva-se em conta a cultura, tradições, educação e costumes (ZYLBERSZTAJN,

    2000).

    Considerando que os produtos que os consumidores adquirem são importantes para os

    sistemas agroindustriais é importante mencionar que hoje os principais produtos do

    agronegócio brasileiro são: algodão, arroz, feijão, milho, trigo, soja, café, leite, açúcar, laranja

    e suco de laranja, carnes (bovina, suína e frango), celulose e papel, fumo, e frutas diversas

    (cacau, banana, uva e maça) (DOSSA et al, 2012).

    Graças à alta produtividade desses produtos do agronegócio, o Brasil hoje é

    considerado o segundo maior exportador mundial de alimentos. Mas, esse cenário atual é bem

    diferente do que ocorria na segunda metade do século XX, especificamente no início da

    década de 1960, onde o Brasil caracterizava-se como um grande importador de alimentos

    (CASTELLO BRANCO; VIEIRA, 2008).

    Tendo em vista os principais produtos do agronegócio mencionados, o quadro 1

    apresenta uma projeção para produção, consumo e exportação.

    Quadro 1 - Produção, consumo e exportação dos principais produtos do agronegócio (em2013/2014)

    ProdutoUnidade de

    medidaProdução

    Consumo (miltoneladas)

    Exportação (miltoneladas)

    Importação (miltoneladas)

    Algodão mil toneladas 2.309 1.030 891 -Arroz mil toneladas 13.717 12.955 - 847

    Feijão mil toneladas 3.785 3.695 - 187

    Milho mil toneladas 61.543 50.890 10.624

    T i il l d 5 991 10 638 5 834

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    ProdutoUnidade de

    medidaProdução

    Consumo (miltoneladas)

    Exportação (miltoneladas)

    Importação (miltoneladas)

    Carne Frango mil toneladas 15.043 10.553 4.514 -

    Celulose mil toneladas 15.396 6.531 9.452 -

    Papel mil toneladas 10.711 10.030 2.166 -

    Fumo mil toneladas 1.053 - - -

    Uva mil toneladas 1.525 - - -

    Maça mil toneladas 1.455 - - -

    Banana mil toneladas 667 - - - 

    Fonte: DOSSA et al (2012).

    Por meio do quadro 1 é possível notar que o volume de produção desses produtos do

    agronegócio é imenso e, com exceção de quatro produtos que são importados (arroz, feijão,

    trigo e leite), para a grande maioria dos produtos, o país consegue suprir o consumo interno e

    ainda exportar.

    A liderança do país no agronegócio mundial só se tornou possível por meio de

    investimentos constantes em ciência, tecnologia e inovação. De fato, pesquisa e

    desenvolvimento são o início do longo processo que resulta em inovações. As instituições de

    P&D utilizam da pesquisa básica e aplicada para a produção de novos materiais, produtos ou

    dispositivos, criação de novos sistemas, processos ou serviços, bem como melhorar produtos

    e processos já existentes (ZAWISLAK, 1994).

    No sistema de pesquisa agropecuária brasileiro há a participação do governo

    brasileiro, diretamente, através de três instituições: a Empresa Brasileira de Pesquisa

    Agropecuária (Embrapa ), a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac ) e o

    Instituto Nacional de Recursos Naturais e Meio Ambiente (Ibama). Ainda existem outras

    instituições de fomento sendo as principais o Conselho Nacional de Desenvolvimento

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    Nesta seção foram apresentadas características do agronegócio brasileiro, por meio

    dos principais produtos e instituições, e na próxima sessão o agronegócio nacional será

    abordado tendo em vista o sistema nacional de inovação.

    2.1.2  O Sistema Nacional de Inovação no Agronegócio

    Vale ressaltar que, atualmente, o Brasil apresenta resultados positivos em relação ao

    agronegócio. Isso é fruto da aplicação de recursos em ciência e tecnologia (C&T) desde o

    inicio da década de 1970. Nessa época, o país começou a investir na capacitação, no exterior,

    de professores de universidades e pesquisadores de instituições públicas para que buscassem

    novos conhecimentos e tecnologias. Além disso, houve incentivos nacionais para o aumento

    da quantidade de cursos de pós-graduação oferecidos nas universidades brasileiras, visando à

    formação de pessoal qualificado, e para a aplicação de tecnologias inovadoras na produção

    vegetal e animal (EMBRAPA, 2003). 

    Nesse contexto surgiu a Embrapa, com a missão de viabilizar soluções para o

    desenvolvimento sustentável do agronegócio por meio da geração, inovação, adaptação e

    transferência de conhecimentos e tecnologias, em benefício da sociedade brasileira. A

    Embrapa, desde a sua criação, tem sido muito importante para o desenvolvimento da inovação

    no país (EMBRAPA, 2013; GOUVEA; KASSICIEH, 2012).

    Ao longo das últimas quatro décadas, essa empresa pública vem transformando a

    agroindústria brasileira, fomentando seu desenvolvimento, e posicionando-a como uma das

    mais inovadoras, produtivas e eficientes do mundo. Isso faz com que Brasil tenha um dos

    mais altos índices de produtividade do mundo. O desempenho do agronegócio no Brasil tem

    id lt d d d f d i i ã d E b O d l i t

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    Dessa maneira, conhecimento é um dos principais recursos para indivíduos e organizações

    realizarem inovações, para serem competitivos.

    De acordo com Barbieri e Simantob (2007), inovações são os resultados obtidos para a

    organização por meio do esforço de transformar ideias. Sendo assim, uma organização

    inovadora se caracteriza por lançar novidades de qualquer tipo, de modo contínuo, obtendo os

    resultados esperados. 

    Independentemente do tipo de inovação, o ponto de partida é uma ideia de inovação

    começando com uma nova visão de um único indivíduo. Para transformar os novos

    conhecimentos na forma de uma ideia em uma inovação, a ideia em questão também tem de

    ser explicitada de modo que o conhecimento possa ser compartilhado com outros membros da

    organização e realizado por meio de ação (BJÖRK; MAGNUSSON, 2009).

    Para Motta (2000), a inovação acontece quando a novidade introduzida faz com que

    alguma tecnologia, habilidade ou prática organizacional seja ultrapassada. No caminho para o

    futuro o sucesso dependerá de novos modelos organizacionais e da satisfação integral das

    pessoas. Além disso, Porter (1990) afirma que a inovação também é um dos meios de

    assegurar a vantagem competitiva.

    De acordo com a OCDE (1997), existem quatro tipos de inovação: inovações de

    produto, inovações de processo, inovações organizacionais e inovações de marketing. As

    inovações de produto se caracterizam por bens e serviços totalmente novos, ou por uma

    melhoria significativa nos produtos que já existem. Já as inovações de processo, possuem a

    mesma lógica da inovação de produto, mas elas são voltadas para métodos de produção e

    distribuição.

    Quanto às inovações organizacionais, correspondem à implantação de métodos

    organizacionais novos tais como alterações nas práticas de negócios ou nas relações externas

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    aprendizagem interativa desses conhecimentos entre as organizações; e instituições que

    governam o funcionamento dessas interações e processos. Nota-se, assim, um sentido social e

    econômico da inovação (CHAVES, 2010).

    Portanto, é grande a importância da interação entre instituições de naturezas diversas

    como universidades, institutos de pesquisas, e empresas para o desenvolvimento de inovações

    (RAPINI; RIGUI, 2006).

    A Embrapa, criada em 26 de abril de 1973, é precursora da pesquisa e

    desenvolvimento agropecuário no Brasil. Além da grande importância para a inovação no

    país, a Embrapa é responsável por coordenar o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária

    (SNPA), que é formado por suas unidades de pesquisa e de serviços, por organizações

    estaduais de pesquisa agropecuária (OEPAS), instituições públicas federais, estaduais,

    universidades, empresas privadas e fundações, que executam pesquisas nas diferentes áreas do

    conhecimento científico de modo cooperado.

    Além de ser a maior empresa de pesquisa agropecuária do Brasil, exercendo suas

    atividades em quase todos os estados do país, trabalhando em seus diversos biomas por meio

    de suas unidades de pesquisa e de serviços e de unidades administrativas, a Embrapa atua

    também na América do Norte, na Europa, na Ásia, na África e na América Latina. Essa

    atuação no exterior acontece por meio dos Laboratórios Virtuais da Embrapa no Exterior, os

    chamados Labex (EMBRAPA, 2013).

    A agricultura brasileira se transformou com o desenvolvimento de tecnologias pelo

    SNPA. Do ano de 1976 a 2011, a área destinada a grãos e sementes oleaginosas aumentou

    43,92%, o incremento na produção foi de 249,56% e os rendimentos cresceram 2,4 vezes. O

    setor da carne apresentou a mesma tendência, pois a produção das carnes bovina, suína e de

    aves aumentou gradativamente de 4 270 mil toneladas métricas em 1978 para 24 673 mil

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    eficiência da agricultura familiar e inserir pequenos produtores no agronegócio, por meio de

    tecnologias e sistemas de produção, assegurando melhoria na sua renda e bem-estar

    (EMBRAPA, 2013).

    Para ilustrar o SNI, discutido nesta seção, apresenta-se a figura 1 na sequência.

    Figura 1 - Sistema Nacional de Inovação

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    tecnologia, conforme o esquema apresentado. Cabe evidenciar, ainda, que a articulação entre

    a Política de C&T e as outras políticas nacionais, de acordo com Ieis et al (2013), seria a

    mola mestra do Estado para a disseminação dos conhecimentos e inovação para as diversas

    instâncias da sociedade. 

    Tendo sido apresentado esse contexto da inovação do agronegócio no Brasil, a seguir é

    apresentado o quadro 2, com as principais marcos nacionais de C&T apresentados neste

    trabalho.

    Quadro 2 - Marcos da área de C&T no agronegócioAno/Período Instituição/Organização Objetivo

    Final da décadade 1950 Revolução Verde Desenvolver variedades de culturas de alto rendimento para ospaíses em desenvolvimento.

    1973 Criação da Embrapa

    Definir um novo modelo brasileiro de pesquisa agropecuária,mediante a introdução, a composição e a estruturação deatividades de caráter técnico-estrutural, administrativo e depesquisa.

    1974Formação maciça de

    pesquisadores

    Implementar um amplo programa de formação, treinamento ecapacitação de pessoal, tanto no exterior quanto no Brasil, a

    partir da criação de cursos de pós-graduação no país, dentro dosistema universitário de pesquisa e pós-graduação.

    1992Organização do Sistema

    Nacional de PesquisaAgropecuária (SNPA)

    Compatibilizar as diretrizes e estratégias de pesquisaagropecuária com as políticas de desenvolvimento do país;favorecer o desenvolvimento de um sistema nacional deplanejamento para pesquisa, acompanhamento e avaliação.

    1997Lei de Proteção de

    CultivaresFortalecer e padronizar os direitos de propriedade intelectual.

    2001CT Agronegócio (Fundo

    Setorial)

    Ampliar os investimentos nas pesquisas de sistemas, técnicas,métodos e processos que propiciem inovação, qualidade eaumento de competitividade na exportação dos produtosagropecuários do Brasil

    2004Rede de Inovação eProspecção para o

    Realizar estudos avançados e apoiar o desenvolvimento

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    A proteção da inovação de produtos e processos tornou-se um instrumento

    imprescindível para as ações estratégicas de empresas de pesquisa, como é o caso da Embrapa

    (CASTELLO BRANCO; VIEIRA, 2008).

    Continuando na mesma linha de inovação no agronegócio, na próxima seção, discute-

    se o ambiente institucional para inovação no país.

    2.1.3  Ambiente Institucional para PD&I

    As instituições, de acordo com North (1991), são imposições concebidas pela

    humanidade que estruturam interações políticas, econômicas e sociais. Elas consistem tanto

    de restrições informais (sanções, tabus, costumes, tradições e códigos de conduta), quanto de

    regras formais (constituições, leis, direitos de propriedade). Ao longo da história, elas foram

    criadas pelos indivíduos para organizar as trocas e reduzir incertezas.

    Juntamente com as demais restrições econômicas, elas definem um conjunto de

    escolhas e, portanto, influenciam os custos de transação e produção e, consequentemente, a

    rentabilidade e a viabilidade de se engajar em uma atividade econômica. Assim, as

    instituições fornecem a estrutura de incentivos de uma economia, de forma que, como essa

    estrutura evolui, ela molda a direção da mudança econômica para o crescimento, estagnação

    ou declínio (NORTH, 1991).

    Historicamente, a PD&I no agronegócio tem sido incentivada pelo governo federal. Os

    marcos recentes deste esforço são a Lei da Inovação, o Fundo Setorial de Agronegócios (CT-

    AGRO) e o Plano ABC. Estas instituições que compõe o ambiente institucional no país, estão

    descritas nos parágrafos seguintes.

    A l i d i ã i ti l iti i ã f i i d 2 d d b d

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    passaram a ser implementados apenas em 1999. Esses fundos foram instituídos para assegurar

    investimentos constantes e robustos na pesquisa científica e tecnológica do Brasil. Eles são

    considerados um mecanismo inovador de fomento ao fortalecimento do sistema de Ciência e

    Tecnologia (C&T) do país (MCTI, 2013). 

    Os fundos setoriais têm como objetivo apoiar o desenvolvimento e consolidação de

    parcerias entre universidades, centros de pesquisa e desenvolvimento, públicos e privados,

    visando estimular o aumento dos investimentos do setor empresarial em C&T e incentivar o

    desenvolvimento tecnológico dos setores considerados. Além disso, buscam promover a

    geração de conhecimento e inovações que contribuam para a solução dos grandes problemas

    nacionais (MCTI, 2013).

    Ademais, os Fundos têm a finalidade de reduzir as desigualdades regionais através da

    destinação de pelo menos 30% dos recursos para projetos das regiões Norte, Nordeste e

    Centro-Oeste, estimulando o desenvolvimento mais harmônico para o País. Outro propósito

    deles é garantir a expansão e a estabilidade do financiamento para a área e criar um novo

    modelo de gestão, baseado na participação de diversos segmentos da sociedade (governo,

    academia e setor empresarial), na introdução de estratégias de longo prazo, no

    estabelecimento de prioridades e foco nos resultados. 

    Os Fundos Setoriais de Ciência e Tecnologia, são instrumentos de financiamento de

    projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação no País. Existem 16 Fundos Setoriais,

    sendo 14 relativos a setores específicos e dois transversais4  (MCTI, 2013). Os Fundos

    Setoriais são compostos por recursos provenientes de contribuições que recaem sobre o

    resultado da exploração de recursos naturais da União, quota do Imposto sobre Produtos

    Industrializados de certos setores e de Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico

    (CIDE) incidente sobre os valores que remuneram o uso ou aquisição de conhecimentos

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    Dos 16 Fundos existentes, 15 têm seus recursos alocados no Fundo Nacional de

    Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), administrado pela Financiadora de

    Estudos e Projetos (FINEP), sendo a exceção o Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico

    das Telecomunicações (FUNTTEL), gerido pelo Ministério das Comunicações.

    Entre os 16 Fundos está o Fundo Setorial de Agronegócios (CT-AGRO), que foi

    instituído pela Lei nº 10.332, de 19/12/2001, e regulamentado pelo Decreto nº 4.157, de

    12/03/2002. O CT-AGRO é destinado ao financiamento de atividades de pesquisa científica e

    desenvolvimento tecnológico do setor do agronegócio. A prioridade do fundo é incentivar a

    capacitação científica e tecnológica nas áreas de agronomia, veterinária, biotecnologia,

    economia e sociologia agrícola; promover a atualização tecnológica da indústria agropecuária,

    por meio da introdução de novas variedades a fim de reduzir doenças do rebanho e o aumento

    da competitividade do setor; fomentar maiores investimentos na área de biotecnologia

    agrícola tropical e de novas tecnologias (MCTI, 2013).

    Os recursos do CT-AGRO são oriundos de 17,5% da Contribuição de Intervenção no

    Domínio Econômico (CIDE), cuja arrecadação advém da incidência de alíquota de 10% sobre

    a remessa de recursos ao exterior para pagamento de assistência técnica, royalties, serviços

    técnicos especializados ou profissionais.

    O gráfico abaixo apresenta o montante anual de arrecadação para o CT-Agro do ano

    de 2007 até 2011.

    Gráfico 3 - Evolu ão da arrecada ão ara o fundo setorial CT-A ro

    180168,8

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    Pelo gráfico 3, observa-se que o volume de arrecadação foi crescente ao longo dos

    anos, passando de 90,1 milhões de reais em 2007, para 168,8 milhões de reais em 2011.

    Quanto ao Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono), ele se refere ao

    Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de

    uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura. Tal plano surgiu como

    resultado do comprometimento do país em reduzir as emissões de gases de efeito estufa

    (GEE) no setor agropecuário.

    O Plano ABC, com vigência de 2010 a 2020, é um dos planos setoriais formulados

    que tem como objetivo geral impulsionar a redução das emissões de GEE na agricultura, de

    acordo com a Política Nacional sobre Mudanças do Clima (PNMC), para melhorar a

    eficiência no uso de recursos naturais, aumentar a resiliência de sistemas produtivos e de

    comunidades rurais, e possibilitar a mitigação e a adaptação às mudanças climáticas

    (BRASIL, 2010; MAPA, 2013).

    O Plano ABC é constituído por sete programas, sendo seis referentes às tecnologias de

    mitigação, e um último programa com ações de adaptação às mudanças climáticas. De 1 a 7,

    os programas são, respectivamente: Recuperação de Pastagens Degradadas; Integração

    Lavoura-Pecuária-Floresta e Sistemas Agroflorestais; Sistema Plantio Direto; Fixação

    Biológica de Nitrogênio; Florestas Plantadas; Tratamento de Dejetos Animais; Adaptação às

    Mudanças Climáticas. 

    Para atingir seus objetivos, o Plano ABC tem a função de organizar e planejar as ações

    a serem realizadas para a adoção das tecnologias de produção sustentáveis. Para tanto,

    estimam-se recursos na ordem de 197 bilhões de reais, financiados com fontes orçamentárias

    ou por meio de linhas de crédito. O Programa ABC é uma linha de crédito do Plano ABC.

    No final do século XX a hélice tripla composta pelas relações entre universidade

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    setores: resultantes de grupos acadêmicos de pesquisa, laboratórios nacionais e os laboratórios

    de grandes empresas (ETZKOWITZ, LEYDESDORFF, 1995).

    O aumento das interações entre as instituições tem levado à geração de novas

    estruturas dentro de cada uma delas, tais como centros em universidades ou alianças

    estratégicas entre empresas. Essas interações resultam na criação de mecanismos de

    integração entre as esferas na forma de redes, tais como de pesquisadores acadêmicos,

    empresariais e governamentais, além de organizações híbridas, como incubadoras

    (LEYDESDORFF; ETZKOWITZ, 1996).

    Os sistemas de inovação, e as relações entre eles, são visíveis nos níveis

    organizacional, local, regional, nacional e multinacional. As dinâmicas de interação, isto é,

    operações específicas, como mercados e as inovações tecnológicas, são continuamente

    reconstruídas. As dinâmicas e seus níveis também são reconstruídos reflexivamente através

    de discussões e negociação dentro da hélice tripla. Cada sistema pode ser definido e

    redefinido da mesma forma que um projeto de pesquisa é desenhado (ETZKOWITZ,

    LEYDESDORFF, 2000).

    O sistema nacional de inovação, visto sob a perspectiva da hélice tripla, consiste em

    múltiplas redes de inovação, as quais serão discutidas conceitualmente na seção seguinte.

    2.2  Redes de Inovação

    2.2.1  A Importância das Redes para a Inovação

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    Outra característica importante das redes de inovação é que o processo de inovação

    tem caráter interativo e sistêmico, o que faz com que a aprendizagem aconteça em virtude da

    interação. A capacidade de gerar, aplicar e disseminar novos conhecimentos transcende a

    esfera da empresa individual e passa a acontecer por meio da interação constante entre

    empresas e outras organizações e instituições. A formação das redes de inovação pode ser

    motivada também pela redução da incerteza e da complexidade inerentes ao processo de

    inovação, principalmente em relação aos fatores associados com a demanda (ALVES et al.,

    2004; DE PELLEGRIN, 2007).

    É importante notar que, conforme explana Inzelt (2004), uma rede de inovação só

    pode ser criada e existir se as empresas estão focadas na inovação. As redes são, portanto,

    uma forma organizacional adequada para lidar com as complexas interações necessárias para

    o desenvolvimento de novos produtos e processos. O tipo e o nível de interação e

    envolvimento em redes são fortemente influenciados pela capacidade de inovação dos atores

    envolvidos e pela natureza da inovação, traduzida a partir dos aspectos estruturais e

    relacionais, que serão apresentados na subseção seguinte.

    2.2.2  Características Estruturais e Relacionais das Redes

    Para Newman (2003), uma rede é um conjunto de itens, podendo ser chamados de

    vértices ou nós, com conexões entre eles, chamadas arestas ou vínculos. A tais características

    estruturais são ainda agregadas as características dos relacionamentos entre os nós, definindo,

    portanto, um cenário no qual tanto as características estruturais quanto relacionais importarão

    áli d d

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    Definição Representação Conceito

    Laço relacional  Uma linha que conecta dois atores.

    Laço direto  Um laço relacional que indica uma única direção.

    Laço indireto  Um laço relacional que indica duas direções.

    Fonte: Newman (2003). 

    De acordo com Ahuja (2000), a performance de inovação da empresa pode sofrer

    alterações em consequência dos laços diretos e dos laços indiretos. Segundo o autor, os laços

    diretos de um ator podem favorecer o compartilhamento de recursos e conhecimentos. O

    número de ligações diretas que a empresa mantém pode afetar sua produção inovadora

    positivamente, proporcionando três benefícios importantes: a partilha de conhecimentos,

    complementaridade e escala. Quando as empresas colaboram para desenvolver uma

    tecnologia, o conhecimento resultante está disponível para todos os parceiros. Assim, cada

    ator pode, potencialmente, receber uma quantidade maior de conhecimento a partir de um

    projeto colaborativo do que poderia obter a partir de um investimento em pesquisa feito de

    forma independente.

    A colaboração pode permitir às empresas aproveitar economias de especialização sem

    os investimentos anteriores decorrentes de desenvolvimento interno. Ao ter acesso às

    competências desenvolvidas de outras empresas, as empresas podem aumentar a sua própria

    base de conhecimento e, assim, melhorar o seu desempenho em inovação (AHUJA, 2000).

    Por sua vez, laços indiretos não implicam em benefícios formais de compartilhamento

    d d f h i t A tê it l

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    competitivos dos seus laços relacionais na rede do que outros. As medidas específicas

    associadas a esta análise são apresentadas nas próximas subseções. 

    2.2.3  Grau médio ( Average Degree)

    Jackson (2008) e Barabási (2012) definem o grau de um ator como o número de

    conexões que ele tem com outros atores. De forma semelhante, para Ahuja (2000), o grau

    corresponde ao número de laços que um ator possui, sendo que o grau de conectividade entre

    os parceiros de uma empresa influencia tanto o compartilhamento de recursos quanto o acesso

    às novas informações.

    Barabási (2012) apresentada uma fórmula matemática para identificar o número total

    de conexões em redes indiretas (L), que pode ser expresso pela soma dos graus dos atores:

    Onde:

     L representa o número total de vínculos entre os atores; 

    K i representa o grau do ator i em uma rede; 

     N representa o número de atores, que corresponde ao tamanho da rede.

    A partir da fórmula anterior, que permite calcular o grau de um ator, é possível

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    Nesta subseção foi apresentada a definição de grau e de grau médio, que consideram

    as conexões que os atores possuem, o que contribui para a definição de densidade,

    apresentada em seguida.

    2.2.4  Densidade

    A densidade de uma relação não orientada, ou seja, de uma rede indireta, é definida

    como a proporção do número de relações existentes em relação ao número total de relações

    possíveis entre os atores da rede (KNOKE; KUKLINSKI, 1982; STEINER, 2006; HATALA,

    2006; JACKSON, 2008).

    Knoke e Kuklinski (1982) apresentaram a seguinte equação:

    Onde:

    K  representa a rede;

     N  refere-se ao número de atores de uma rede;

    i e j representam atores em uma rede.

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    do ator-chave, em que este é um ator estruturalmente autônomo que possui fendas estruturais5 

    entre os atores nos quais ele está ligado, mas não possui fendas estruturais entre ele e os

    outros atores.

    De acordo com Kogut e Walker (2001), uma rede pouco conectada não é desejável

    para o fluxo de recursos e informação, mas em ambientes de alta densidade de

    relacionamentos, seu conteúdo torna-se cada vez mais redundante. Assim, relacionamentos

    estabelecidos fora do grupo coeso favorecem o acesso a outras fontes de recursos e

    informação, possibilitando a criação de novas formas de conhecimento. Esses grupos coesos

    referem-se a comunidades, cujo conceito é apresentado na sequência. 

    2.2.5  Comunidade

    O primeiro trabalho que analisou a estrutura de comunidades de uma rede foi feito por

    Weiss e Jacobson em 1955, onde descreveram uma metodologia para a determinação da

    estrutura de uma organização complexa. A partir de então, uma comunidade passou a ser

    definida como um grupo coeso de atores que estão mais densamente conectados uns aos

    outros do que a atores em outras comunidades (PORTER; ONNELA; MUCHA, 2009;

    NEWMAN, 2003).

    Para Fortunato (2010), comunidades, também chamadas de clusters ou módulos, são

    grupos de atores que provavelmente compartilham propriedades comuns e/ou desempenham

    funções semelhantes dentro do grafo6. Do mesmo modo, para Jackson (2008) uma

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    Esta noção de equivalência define a classe equivalente de atores, de forma que seja

    possível dividir o conjunto de atores em um conjunto de atores equivalentes. O agrupamento

    de atores em classes equivalentes é chamado de estrutura da comunidade, onde agrupa-se o

    conjunto de atores em comunidades separadas.

    Para ilustrar o conceito, a figura 2 exemplifica uma rede:

    Figura 2 - Exemplo de uma rede

    Fonte: Jackson (2008).

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    Figura 3 - Uma estrutura da comunidade para a rede da figura 2

    Fonte: Jackson (2008)

    Busca-se, com a detecção de comunidades em grafos, identificar os módulos e,

    possivelmente, a sua organização hierárquica, usando apenas a informação codificada na

    topologia do grafo. Assim, a detecção de comunidades requer a partição de uma rede em

    comunidades de atores densamente conectados, com os atores pertencentes a diferentescomunidades esparsamente conectadas (BLONDEL et al., 2008).

    Newman (2003) assegura que encontrar e analisar as comunidades pode fornecer ajuda

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    identificação demográfica de componentes da rede e a função de processos dinâmicos que

    operam em redes, como a propagação de doenças e opiniões (FORTUNATO, 2010).

    Sendo essas as características das comunidades, na próxima seção será mostrado o

    conceito de centralidade.

    2.2.6  Centralidade

    Burt (1992) afirma que atores que ocupam uma posição central possuem um capital

    social maior do que os outros membros da rede. Isso acontece em virtude desses atores

    poderem exercer domínio sobre as relações dos outros, tirar vantagem por saberem de algo

    que os outros não sabem, e mobilizar outros indivíduos sem intervenções dos outros atores.

    Assim, informações sobre o quanto um ator é central podem ser muito importantes,

    bem como, noções que de alguma forma capturam a posição de um ator em uma rede podem

    ser úteis. A centralidade, conforme relata Jackson (2008), é uma medida micro que permite

    comparar atores e dizer algo sobre como determinado ator se relaciona com a rede inteira.Para Steiner (2006), a centralidade, que caracteriza a posição relativa dos atores em uma rede,

    é mais elevada à medida que o ator possui um número maior de conexões com outros atores.

    Muitas medidas diferentes de centralidade têm sido desenvolvidas e cada uma delas tende a

    identificar diferentes aspectos do conceito. Neste trabalho serão utilizadas duas medidas de

    centralidade: Centralidade de Grau ( Degree Centrality) e Centralidade de Intermediação( Betweenness Centrality).

    A centralidade de grau consiste no quanto um ator está conectado. A medida de

    t lid d t i di id l f d t d( ) é btid l

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    Onde,

    ni representa um ator

    d(ni) corresponde ao grau do ator;

    n refere-se ao número de atores de uma rede;

     xi+ representa o grau de um ator

    ∑ xij é uma notação de matriz, que corresponde ao grau de um ator.

    Portanto, a centralidade de grau é igual ao grau de um ator.

    Para Wasserman e Faust (1994), um ator com um alto grau de centralidade representaonde a ação acontece na rede. Um ator com um elevado grau está em contato direto ou é

    adjacente a muitos outros atores. Por isso, este ator deve ser reconhecido como um grande

    canal de informação relacional. De fato, ele é uma peça fundamental na rede e ocupa uma

    localização central. Por outro lado, se o ator está completamente isolado (d(ni) = 0), logo, a

    remoção desse ator da rede não tem efeito sobre as relações que estão presentes.Segundo Yan e Ding (2009), atores com um grau maior de centralidade tendem a ter

    uma maior capacidade de influenciar os outros. Já Tsai (2001) afirma que a centralidade do

    grau é importante também no sentido de influenciar positivamente o desempenho da

    inovação.

    Para Hansen, Shneiderman e Smith (2011), a centralidade de grau é uma simplescontagem do número total de conexões ligadas a um ator, podendo ser considerada como uma

    espécie de medida de popularidade, mas é uma medida bruta que não reconhece a diferença

    entre quantidade e qualidade Os autores exemplificam que essa medida não faz a distinção

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    dois atores), o que implica que, para ter uma grande centralidade de intermediação, o ator

    deve estar entre muitos dos atores através de suas geodésicas.

    Wasserman e Faust (1994) concluíram que ter maior centralidade de intermediação

    possibilita mais controle sobre o fluxo de informações, ou mesmo, mais controle da interação

    entre atores. Everett e Borgatti (2005) compartilham da mesma suposição, acrescentando que

    um maior grau de centralidade está relacionado positivamente com capital social.

    Para Yin et at (2006), indivíduos com alta centralidade de intermediação em uma rede

    são os pivôs do fluxo de conhecimento, que é crítico para o desenvolvimento de novos

    produtos ou ideias inovadora.

    A equação que calcula centralidade de intermediação de um ator, apresentada por

    Jackson (2008), é a seguinte.

    Onde:

    Pi(kj) - denota o número de geodésicas (caminhos mais curtos) entre k  e  j em que i se

    encontra;

    P(kj) – é o número total de geodésicas entre k  e j;

    De acordo com Jackson (2008), a centralidade de intermediação assume valores entre

    0 e 1. Quanto mais próximo de 1 a centralidade de intermediação do ator i  for, ele se

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    entre dois atores. Onde quer que dois ou mais grupos não consigam se conectar, pode-se

    argumentar que há uma fenda estrutural, uma lacuna que falta à espera de ser preenchida.

    Nesta subseção foi apresentada uma medida de posição dos atores na rede, que analisa

    os atores individualmente, já na próxima subseção é apresentada a definição de pequenos

    mundos, que caracteriza a topologia da rede como um todo. 

    2.2.7  Pequenos Mundos (Small Worlds)

    Um pequeno mundo é uma rede em que muitos grupos densos de atores são gerados

    por relacionamentos que atuam como canais de controle e informação. Assim, apesar da baixa

    densidade total das relações, os membros de uma rede estão ligados entre si através de grupospor meio de um pequeno número de intermediários. De fato, essa observação é fundamental

    para uma ampla gama de modelos sociológicos, como a associação de capital social com as

    redes fechadas de Coleman (1994), a teoria dos laços fracos de Granovetter (1973), e das

    fendas estruturais proposta por Burt (1992).

    Enquanto os laços fracos ligam atores de small worlds, os laços fortes se caracterizampela união de atores similares em grupos pequenos. Os laços fracos geram alienação, mas são

    indispensáveis para a geração de oportunidades e integração social. Por outro lado, os laços

    fortes unem atores próximos, mas faz a separação entre pequenos grupos (GRANOVETTER,

    1973).

    Para Granovetter (op. cit.), são as relações fracas que importam para a expansão e aforça das redes, uma vez que se dois indivíduos tiverem relações fortes há maior possibilidade

    de haver uma superposição em suas relações, e a rede, como um todo, torna-se relativamente

    li it d A i ã l õ f d li it d d t d

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    de acordo com Burt (2004), os atores que estão mais próximos às fendas na estrutura social

    têm acesso antecipado a uma maior variedade de informações, estão mais habituados a formas

    alternativas de pensar e agir, além de terem mais chance de fazer a interlocução entre os

    grupos. Assim, as formas alternativas de pensar e agir possibilitam maiores opções para

    escolhas e sínteses, que geram novas ideias.

    A ideia de pequenos mundos foi formalizada por Watts e Strogatz (1998), quesugeriram que o fenômeno do mundo pequeno ocorre quando os atores em uma rede esparsa

    são altamente agrupados, mas ao mesmo tempo estão ligados a atores externos fora de seus

    grupos por um pequeno número de intermediários.

    As redes de pequeno mundo são uma analogia ao fenômeno popularmente conhecido

    como seis graus de separação7. De modo geral, as redes se caracterizam por uma topologia deconexão entre atores que pode variar de completamente regular a completamente aleatória.

    Assim, muitas redes biológicas, tecnológicas e sociais se encontram em algum lugar entre

    esses dois extremos. Nesse caso, quando esses sistemas são altamente agrupados e possuem a

    mesma característica da distância dos grafos aleatórios, são denominadas redes de pequeno

    mundo (WATSS; STROGATS, 1998).Para Watts e Strogatz (op. cit.), o fenômeno do mundo pequeno ocorre quando os

    atores em uma rede esparsa são altamente agrupados, mas ao mesmo tempo estão ligados a

    atores externos por um pequeno número de intermediários. Assim, os autores afirmam que ao

    contrário de redes aleatórias, que se caracterizam pela distância entre os nós aumentarem cada

    vez mais com o tamanho de uma rede, eles apresentam pouca variância na distância média.Assim, uma rede de pequeno mundo surge quando as seguintes condições são

    atendidas: densidade baixa; atores com alto grau de coeficiente de agrupamento local;

    distância média baixa Essas duas medidas de avaliação de pequenos mundos foram

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    totalmente conectada). Cv é, assim, uma fração desse máximo que é realizado na vizinhança

    real do v, e CC é esta fração média de todos os atores no grafo. Equivalentemente, CC pode

    ser considerado como a probabilidade de que dois atores (u, v) podem ser ligados, uma vez

    que cada um está também ligado a um "amigo comum" (w) (WATTS, 1999).

    Por sua vez, a medida de distância média (PL) é a média do número de atores que

    devem ser atravessados no caminho mais curto entre quaisquer dois pares de atores no grafo(WATTS, 1999).

    De acordo com Kogut e Walker (2001), as redes de pequeno mundo apresentam mais

    ordem e estabilidade do que as redes esparsas. Existe, assim, a estabilidade estrutural em

    pequenos mundos, apesar da baixa densidade, mesmo quando um número substancial de

    caminhos é alterado. A durabilidade inerente à própria estrutura da rede pode ter umapropriedade estabilizadora forte, como atores podem prever as restrições estruturais sobre

    suas ações.

    Nos pequenos mundos existem elementos que proporcionam a durabilidade tanto das

    estruturas de relacionamento como de instituições, conforme afirma Martins (2009). Além

    disso, os pequenos mundos se caracterizam por ligações com outras áreas, nas quais ainformação não é redundante, mas também existe um nível de coesão adequado para que as

    atividades se tornem familiares entre os atores (UZZI; SPIRO, 2005).

    Com relação ao conceito de capital social, ele foi explorado anteriormente por Bourdieu

    (1985), Burt (1992) e Putnam (1995). Bourdieu (1985) conceituou o capital social como a

    soma dos recursos resultantes de uma rede de relações de conhecimento mútuo. Emdecorrência da interação entre o indivíduo e a estrutura, os recursos são empregados pelos

    indivíduos dentro da hierarquia social.

    Para Putnam (1995) o capital social é compreendido como uma qualidade de grupos

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    2.3  Visualização de Redes

    As primeiras iniciativas de visualização de redes ocorreram no campo de análise de

    redes sociais. Uma rede social é um conjunto de pessoas ou grupos de pessoas com algumpadrão de contato ou interações entre elas. Alguns exemplos de redes estudadas no passado

    são relacionados aos seguintes padrões: amizade entre indivíduos, negócios relacionados entre

    empresas, casamentos entre famílias. Newman (2003) cita alguns exemplos de trabalhos mais

    recentes sobre redes sociais, os quais estão relacionados com os seguintes assuntos: padrões

    de amizades entre grupos pequenos, círculos sociais de mulheres, estudos sobre comunidadesde negócios, padrões de contatos sexuais, entre outros.

    De acordo com Freeman (1984), a metodologia da análise de redes em sua essência é

    multidisciplinar, tendo seu conceito sido desenvolvido na área da sociologia, psicologia social

    e antropologia, com contribuições ainda dos campos de matemática, estatística e computação.

    Estudos de redes sociais usualmente tratam de questões como centralidade (em que osatores são melhores conectados a outros ou tem maior influência), e conectividade (se e como

    indivíduos são conectados a um outro pela rede).

    Para Wasserman e Faust (1994), a representação visual de dados que um grafo permite

    aos pesquisadores descobrir padrões que de outra forma não poderiam ser detectados. Uma

    forma alternativa de representar e resumir os dados de uma rede são as matrizes. Elas contêmexatamente as mesmas informações de um grafo, mas são mais úteis para computação.

    Assim, Wasserman e Faust (1994) ressaltam que uma das formas mais úteis de se

    visualizar uma rede é por meio de um grafo que consiste em atores e conexões Os autores

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    lugar, a teoria dos grafos possibilita fazer operações matemáticas e gerar ideias com que

    muitas dessas propriedades podem ser quantificados e medidas. Por último, dado este

    vocabulário e essa matemática, a teoria dos grafos permite provar teoremas sobre gráficos, e,

    portanto, sobre as representações da estrutura social.

    Algumas denominações de grafos são apresentadas na sequência. Um grafo é simples

    quando não há loops8  e não inclui mais que uma conexão entre um par de atores. Um grafotrivial contém apenas um ator. Um grafo que contém mais de um nó, mas não apresenta

    conexões é vazio. De acordo com Wasserman e Faust (1994), grafos triviais e vazios são de

    pouco interesse para análises.

    Para Wasserman e Faust (1994), as redes sociais podem ser estudadas em vários

    níveis: o ator, par ou díade, triplos ou tríade, subgrupo, e o grupo como um todo. Em termosda teoria dos grafos, estes níveis correspondem a diferentes subgrafos. Muitos métodos de

    rede social consideram subgrafos contidas em um gráfico. Por exemplo, díades e tríades são

    pequenos subgrafos.

    Tendo sido apresentadas características da visualização de redes, encerra-se aqui o

    capítulo da revisão bibliográfica, e no próximo são apresentados os procedimentosmetodológicos.

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    3  PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

    3.1  Tipo de pesquisa

    Esta pesquisa apresenta um caráter exploratório-descritivo, pois as pesquisas

    exploratórias buscam explicitar e possibilitar maior entendimento de um determinado

    problema. De acordo com Vergara (1998), a pesquisa exploratória é adequada para o assunto

    abordado, uma vez que se trata de uma área em que os conhecimentos acumulados são

    incipientes para a tomada de decisão. Já o caráter descritivo tem por finalidade expor

    características de determinada população ou fenômeno, como pode ser observado ao se

    descrever as comunidades e outras características da rede de patentes e de cultivares. 

    Além disso, trata-se de uma pesquisa de natureza quantitativa, onde foram utilizados

    dados secundários. A pesquisa quantitativa, de acordo com Godoy (1995), considera que tudo

    pode ser quantificavel. Dessa forma, as informações podem ser transformadas em número e

    informações para classificá-las e analisá-las. Para tanto, é necessário o uso de métodos e

    técnicas estatísticas.

    Na técnica quantitativa,  o investigador usa principalmente alegações pós-positivistas

    para desenvolvimento de conhecimento tais como raciocínio de causa e efeito, redução de

    variáveis específicas e hipóteses e questões, uso de mensuração e observação e teste de

    teorias. Além disso, adota estratégias de investigação como experimentos, levantamentos e

    coleta de dados, instrumentos predeterminados que geram dados estatísticos (CRESWELL,

    2007).

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    na próxima subseção será apresentado o detalhamento das opções metodológicas através deuma matriz de amarração.

    3.2  Matriz de amarração

    Como elemento facilitador, o quadro 4 foi elaborado com uma matriz de amarração da

    pesquisa (TELLES, 2001). Essa matriz permitiu sintetizar este trabalho de forma a possibilitar

    relacionar os seus objetivos com os respectivos procedimentos metodológicos adotados. Além

    disso, há uma correspondência desses com as análises dos dados realizadas, bem como com as

    ferramentas utilizadas.

    Quadro 4 - Matriz de amarração da pesquisaObjetivos de Pesquisa Procedimento

    MetodológicoAnálise de Dados Ferramenta

    Geral EspecíficosAnalisar ospadrões deinteraçãoidentificados apartir dos

    pedidos depatente e dascultivaresprotegidas daEmbrapa.

    Conhecer o ambienteinstitucional para pesquisa,desenvolvimento einovação (PD&I) noBrasil.

    Revisãobibliográfica

    - -

    Identificar os tipos derelações estabelecidas,entre pesquisadores dasdiferentes unidades daEmbrapa e seus parceiros,voltadas aodesenvolvimentotecnológico.

    Consulta de dadossecundários nasbases do MAPA,INPI, PlataformaLattes.

    Análise exploratóriados dados: patentes ecultivares.

    Excel

    Descrever as estruturas das

    redes de inovaçãoidentificadas.

    Análise de redes

    sociais.

    - Composição das redes

    de inovação daEmbrapa;- Análise dacentralidade das redesde inovação daEmbrapa;

    Gephi

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    conhecer o ambiente institucional para pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) noBrasil, ele foi atendimento por meio da revisão bibliográfica, realizada no capítulo 2.

    Quanto ao segundo objetivo específico de identificar os tipos de relações

    estabelecidas, entre pesquisadores das diferentes unidades da Embrapa e seus parceiros,

    voltadas ao desenvolvimento tecnológico, nota-se que ele foi atingido por meio da análise

    exploratória de patentes e cultivares apresentada na subseção 4.2. Para tanto, utilizou-se comoprocedimento metodológico uma consulta de dados secundários nas bases do MAPA, INPI e

    Plataforma Lattes. A partir dessas bases foram extraídas informações relativas a solicitações

    de cultivares, pedidos de patentes e vinculação dos melhoristas e inventores com as unidades

    da Embrapa.

    Para atingir ao objetivo de descrever as estruturas das redes de inovação identificadas,procedeu-se a uma análise de redes sociais, por meio do software Gephi, em três etapas, sendo

    elas: a) identificação da composição das redes de inovação da Embrapa; b) análise da

    centralidade das redes de inovação da Embrapa; e c) identificação da dinâmica de pequeno

    mundo nas redes de inovação da Embrapa.

    Com relação ao último objetivo específico de determinar a relação entre a estrutura darede e a geração de inovação, adotou-se a análise estatística de correlação e a de regressão que

    permitiram, utilizando o software Minitab, fazer as seguintes análises de dados: relação entre

    inovação e medidas de centralidade e impacto da centralidade na inovação.

    A matriz de amarração permitiu uma visualização geral do trabalho, com isso, a partir

    da próxima subseção há descrições mais detalhadas do procedimento metodológico adotado.

    3.3  Dados de Pesquisa

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    A OMPI (2014) define patente como um direito exclusivo garantido para a inovação,seja de um produto ou processo que promove um novo jeito de fazer alguma coisa, ou seja

    através de uma nova solução técnica para um problema.

    As patentes indicam a existência da inovação. De acordo com a OCDE (1997), elas são

    indicadores de C&T fundamentais para a mensuração da inovação. Assim, os dados de

    patentes, tanto as solicitações como as concessões, correspondem a um resultadointermediário da atividade de inovação, além de serem um indicativo da capacidade inovadora

    da empresa.

    Por sua vez, a cultivar é uma modalidade de propriedade intelectual, correspondendo a

    uma nova variedade de planta de diferentes espécies e gêneros vegetais que é destinada à

    produção agrícola. As cultivares são procedentes de programas de melhoramento vegetalrealizados por instituições de pesquisa públicas e privadas que, geralmente, são gerenciados

    por indústrias de sementes ou empresas a elas associadas, além de cooperativas (BRASIL,

    2011).

    As especificidades associadas tanto às patentes quantos às cultivares são mostradas no

    quadro 5.

    Quadro 5 - Associação entre as variáveis de patente e cultivaresCategoria Patente Cultivar

    Requisitos

    a) novidade;b) aplicação industrial;

    c) atividade inventiva;d) suficiência descritiva.

    a) novidade;b) distinguibilidade;c) homogeneidade;

    d) estabilidade;e) denominação própria.

    Instrumento legal Carta de patente Certificado de proteção de cultivares

    Fonte INPI SNPC/MAPA

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    dados de cultivares, CultivarWeb, sendo disponibilizada pelo Serviço Nacional de Proteção deCultivares (SNPC), ligado ao MAPA. Ambas as bases são de livre acesso.

    Há uma correspondência entre as informações disponibilizadas nas duas bases de

    dados. Dessa forma, a tabela 1 apresenta a correlação entre as variáveis das duas bases de

    dados que serão analisadas:

    Tabela 1 - Correspondência das variáveis analisadasBase de dados de patente (INPI) Base de dados de cultivares (SNPC/MAPA)

    Data do depósito Data de início da proteção

    Nome do depositante Titular

    Nome do inventor Melhorista

    Área do conhecimento Grupo de cultivo

    Situação do pedido Situação 

    Fonte: Dados da pesquisa.

    Uma vez levantados os dados associados às variáveis “nome do inventor” e“melhorista”, foram coletados também os dados referentes à vinculação institucional dos

    indivíduos observados em relação às unidades da Embrapa. Pois, nessas bases de dados não

    são identificadas as unidades da Embrapa como depositantes ou titulares, apenas aparece o

    nome Embrapa, já que os pedidos de patentes e solicitações de cultivares são centralizadas na

    sede da Embrapa, em Brasília.

    Como mecanismo de busca semântica para ambas as bases de dados, e-Patentes e

    CultivarWeb, foi digitada a palavra-chave “Embrapa”. Assim, os resultados compreenderam

    todas as solicitações de proteção de cultivares e todos os pedidos de patentes realizados pela

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    A identificação do vínculo institucional entre inventores e melhoristas e suasrespectivas unidades da Embrapa foi realizada por meio de uma consulta na base de dados de

    currículos do Lattes. Buscou-se padronizar os dados com os nomes das unidades ao retirá-los

    de uma página específica do site da Embrapa, cujo link é

    , consultado em outubro de

    2013.No total, foram levantados 282 pedidos de patentes e 442 solicitações de proteção de

    cultivares da Embrapa, entre junho e julho de 2013. Essa quantidade de observações resultou

    das buscas que foram realizadas nas bases do INPI e MAPA, de onde retirou-se informações

    de todas as patentes e cultivares protegidas que estavam em nome da Embrapa até aquele

    momento.Depois de um refinamento e por questões metodológicas, o fator temporal foi levado

    em consideração, ou seja, décadas para patentes (1980-1989, 1990-1999 e 2000-2009) e

    quinquênios para cultivares (1998-2002, 2003-2007, 2008-2012). Assim, dados que não

    faziam parte do período de análise foram excluídos, bem como dados com informações

    faltantes. No caso de patentes, isso foi frequente quando o pedido de patentes encontrava-seem sigilo. No caso de cultivares, algumas observações foram excluídas em função da

    inexistência de informações referentes a melhoristas ou às unidades de vínculos dos

    melhoristas.

    Tendo por base esses critérios de exclusão, foram analisados, no total, 222 pedidos de

    patentes e 415 solicitações de proteção de cultivares. Com esses dados, foi possível identificaro número de atores de cada rede, quais sejam: 69 da rede organizacional de patentes; 46 da

    rede organizacional de cultivares, 349 da rede de inventores e 348 da rede de melhoristas. A

    partir desses dados realizou se a análise de redes sociais cujo procedimento apresenta se na

  • 8/19/2019 Redes de Inovação Tecnológica No Agronegocio

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    A abordagem de análise de redes, de acordo com Salmon et al. (2012), envolve o usode redes para descrever informações ou conceitos implícitos de consciência e de relações

    entre os atores.

    Neste trabalho, a análise de redes sociais foi realizada por meio do software livre

    Gephi, versão 0.8.1, que possibilita a exploração e manipulação de redes e gráficos. Sua

    arquitetura é flexível e multitarefa, o que permite trabalhar com conjuntos de dadoscomplexos e produzir resultados visuais valiosos. Ele fornece acesso fácil e amplo aos dados

    de rede e permite a espacialização, filtragem, navegação, manipulação e agrupamento,

    possibilitando uma visualização dinâmica das redes. O software fornece resultados métricos

    para as medidas que foram utilizadas neste trabalho, a saber: número de atores, número de

    laços relacionais, grau médio, densidade, coeficiente de agrupamento e mundos pequenos(BASTIAN; HEYMANN; JACOMY; 2009).

    Além desses resultados métricos, por meio do Gephi foi verificada a centralidade de

    grau e de intermediação das redes de patentes e cultivares. O quadro 6 resume as medidas de

    centralidade adotadas.

    Quadro 6 - Quadro resumo das medidas de centralidadeMedida de centralidade Definição Intervalo do resultado

    Centralidade de GrauNúmero de relações que são incidentesem um ator.

    De 0 a n – 1 (Onde n representa o totalde atores em uma rede)

    Centralidade deIntermediação

    Frequência com um ator aparece emcaminhos mais curtos entre os at