Os Índios do Brasil e o seu dia a dia na capital

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Os indígenas do Brasil e o seu dia a dia na capital

Foto: Cimi

Essa semana, do dia 30 de setembro ao dia 05 de outubro, uma grande mobilização nacional

em prol da cause indígena está sendo realizada. A convocação inicial ocorreu pelo Movimento

Indígena Nacional, e rapidamente ganhou o apoio de diversos grupos e instituições, incluindo

comunidades quilombolas, defensores dos direitos humanos, ambientalistas e outros

movimentos sociais.

Alguns não conseguem perceber o quão crucial é a questão da terra, ou como a mobilização

indígena está diretamente ligada à nossa vida cotidiana na capital. Vou tentar resumir ao

máximo a questão, e no final do texto passo alguns links para quem quiser estudar melhor a

situação.

A bancada ruralista é hoje uma das mais poderosas no congresso nacional, e o setor do

agronegócio, como um dos mais lucrativos e expansivos do país, deseja a obtenção de novos

territórios para suas atividades. Contudo, o direito à terra, previsto na constituição federal, dos

indígenas, quilombolas, povoados tradicionais e agricultores familiares são um obstáculo para

isso.

O que eles propõem é que seja alterada a constituição, de uma forma que deixaria a

demarcação das terras indígenas, a criação de unidades de conservação ambiental, titulação

de quilombos e os incentivos ao pequeno produtor agrícola, seriamente ameaçados.

Os representantes do agronegócio usam a perversa justificativa que esse setor gera emprego,

alimentos e desenvolvimento para o Brasil. Contudo essa mentira vai por água abaixo com os

dados divulgados pelo IBGE, pela ONU e pelo próprio Ministério do Desenvolvimento Agrário

do Brasil.

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Vamos lá, os principais alimentos consumidos no Brasil, que fazem parte da cesta básica, vem

da agricultura familiar, incluindo, 87% da produção nacional de mandioca, 70% da produção

de feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz, 21% do trigo e, na pecuária, 58% do leite,

59% do plantel de suínos, 50% das aves e 30% dos bovinos.

A agricultura familiar emprega 75% da mão de obra no campo, sendo que ela ocupa apenas

24% das áreas cultivadas no Brasil. Ou seja; Se compararmos a agricultura familiar ao

agronegócio podemos perceber que a agricultura familiar produz mais alimentos em menos

espaço, emprega mais pessoas e gera mais renda. Segundo a própria ONU, a segurança

alimentar da América latina depende da agricultura familiar.

Com essas informações fica claro que não precisamos acabar com o direito à terra dos índios

ou de qualquer outro povo, e muito menos acabar com as áreas de preservação para produzir

alimentos e emprego no campo.

O agronegócio produz principalmente grãos para exportação. Esses grãos saem do Brasil, e os

beneficiados são apenas os grandes donos de terra. E que não satisfeitos com toda sua fortuna

desejam criar mecanismos legais para roubar a terra de povos que já estão tendo suas terras

roubadas à séculos.

O Conselho Indigenista Missionário, ou CIMI, uma das principais organizações que monitoram

a questão indígena no Brasil, aponta um crescimento de 237% nos casos de violência contra

indígenas, que engloba ameaças de morte, homicídios, tentativas de assassinato, racismo,

lesões corporal e violência sexual. 60 Indígenas foram assassinados, por questões ligadas à

terra, apenas no ano passado. 563 nos últimos dez anos. O massacre no campo é de interesse

dos grandes proprietários de terra, que produzem principalmente produtos de exportação e

embolsam todo o dinheiro.

Segundo o presidente do Cimi, dom Erwin Kräutler, a repetição e o aumento da violência

contra a população indígena podem ser atribuídos à “omissão por parte dos estados” na

demarcação das áreas indígenas, provocando atraso no processo.

Se eles fizerem ser aprovadas as alterações na constituição não é apenas os indígenas que

estarão em risco. A agricultura familiar, que produz a maior parte dos nossos alimentos, gera

75% do emprego no campo e ocupa apenas 24% da área do cultivo no Brasil também entra na

mira, pois esse mesmo mecanismo que irá tirar as terras dos índios também servirá para tirar a

terra dos quilombolas e dos pequenos produtores rurais.

Portanto ai está o elo de ligação entre os índios e o seu cotidiano. A mesma arma que a

bancada ruralista está criando para tirar as terras dos indígenas será utilizada para tirar as

terras dos quilombolas e do pequeno produtor rural, principal produtor dos alimentos que

você come todo dia.

Fontes:

Agricultura Familiar no Brasil

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http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias?view=noticia&id=1&busca=1&idnoticia=1466

http://www.mda.gov.br/portal/noticias/item?item_id=3594546

https://www.fao.org.br/afcpsaALC.asp

Violência contra Indígenas no Brasil

http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-06-27/cimi-aponta-crescimento-de-237-na-

violencia-contra-os-indios

Artifícios criados pela bancada ruralista para roubar o direito à terra

PEC 215/2000

PORTARIA 419/2011

PORTARIA 303 /2012

PLP 227/2012

PEC 237/2013

Decreto 7957/2013