O Transcendente - No.2

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ANO I - Nº 2 AGOSTO/SETEMBRO - 2007 O Transcendente Av. Hercílio Luz, 1079 Florianópolis SC 88020-001 Fone: (48) 3222-9572 www.otranscendente.com.br PAG 01.indd 1 25/7/2007 18:25:02

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Edição Agosto/Setembro 2007

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ANO I - Nº 2

AGOSTO/SETEMBRO - 2007

O Transcendente • Av. Hercílio Luz, 1079 • Florianópolis • SC • 88020-001 • Fone: (48) 3222-9572 • www.otranscendente.com.br

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02 AGOSTO / SETEMBRO - 2007 APRESENTAÇÃO

Jornal bimestral de Ensino Religioso pertencente ao PIME Registrado no Cartório de Registro Civil de Títulos e

Documentos de Pessoas Jurídicas de Florianópolis sob o nº 13Diretor: Pe. Paulo De Coppi - P.I.M.E.

Jornalista Resp.: Yriam Fávero - Reg. DRT/SC nº 800 - Redatores: Sandro Liesch / Volnei Lazzari Revisor: Mauri Heerdt - Diagramação: Fábio Furtado Leite - Ilustração: Victor Conceição Marketing: Patrícia Hoffelder - Atendimento ao Assinante: Miriângela Paim / Lenir Lazzari e

Ediany F. Gomes da Rosa - Financeiro: Jocimare Gomes da Silva

SEDE: Av. Hercílio Luz, 1079 - Servidão Missão JovemPARA CORRESPONDÊNCIA:

Cx. Postal 3211 / 88010-970 / Florianópolis / SCFONE: (48) 3222-9572 / FAX-AuTOMáTICO: (48) 3222-9967

EndErEço do JornAL “o TrAnSCEndEnTE”:

Ano I - nº 2 - AGoSTo/SETEMBro - 2007

Site: www.otranscendente.com.brE-mail: [email protected]

•Individual:•Assinatura Coletiva (no CUPoM da página 11)•Assinatura de apoio:•Internacional:

ASSInATUrA AnUAL

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res do que suas teorias ou dogmas. Falando dos cristãos, afirmava: “há um abismo entre o Cristo e a vivência dos cristãos!”.

Diz um provérbio árabe: “Perguntaram a uma árvore cheia de frutos: Por que tu não fazes nenhum barulho? Ela respondeu: Os frutos que eu carrego são minha melhor propa-ganda!”.

ABRINDO CAMINHOSApós este entendimento sobre pluralismo religioso

e suas implicâncias, devemos constatar o quanto ain-da estamos longe daquele diálogo e entendimento

inter-religioso que a humanidade almeja. Como não condenar o anti-semitismo,

trágica violação da dignidade humana que manchou a história da humanidade e que ainda persiste? O mesmo senti-mento de condenação devemos sentir pela discriminação contra os muçul-manos e pelos persistentes episódios de intolerância contra as minorias

cristãs em alguns países islâmicos onde os direitos de existência e de cul-

to das religiões não muçulmanas são ainda fortemente limitados.

Mas há também aspectos positivos na evolução deste diálogo. Um exemplo:

Mesmo em Roma, capital do catolicismo, tive a oportunidade de assistir a um maravilhoso espetá-

culo de diálogo inter-religioso e inter-cultural com o Isla-mismo. Tratava-se de um espetáculo de danças místicas, típicas do Sufismo (corrente mística do islã), organizado pela Embaixada Turca, em comemoração aos 800 anos do nascimento de Mevlana Celaleddin Rumi (1207-1273), um dos maiores poetas e filósofos da mística sufi do isla-mismo.

Dogan Adkdur, apresentador do espetáculo, mos-trou como o poeta e místico Rumi, em sua arte sublime, soube nos transportar aos altos cumes dos versos líricos, lá onde o homem volta a encontrar a pureza de seus sentimentos e as belas palavras de um diálogo entre civi-lizações e religiões.

Através do canto, em progressivo aumento de ritmo, com a palma de uma mão dirigida para o alto e com a outra para baixo, as bailarinas se movimentavam como querendo unir o céu e a terra, o finito e o infinito.

Expoentes do mundo da cultura e do diálogo inter-religioso estavam presentes saboreando o espetáculo.

Temos certeza de que O TRANSCENDENTE ajudará os professores de Ensino Religioso a formar uma nova geração capaz de colher o que há de me-lhor, e de extirpar o que há de negativo no mundo religioso e cultural, para que o gênero hu-mano caminhe decididamente para a fra-ternidade e a paz.

QUESTÕES EMERGENTESPerante o aparecimento e o cultivo do pluralis-

mo religioso, as diversas denominações cristãs come-çaram a se perguntar: Qual seria o valor das outras religiões em relação à salvação? Trata-se de uma per-gunta que ocupa e preocupa os teólogos da missão.

Nesta caminhada, que pede abertura, podemos afir-mar que as tendências vigentes e mais fortes são duas: a dos exclusivistas, fechados na superioridade de sua própria religião, e a dos relativistas, para os quais to-das as religiões se equivalem.

Mas cada religião quer crescer, ter mais adeptos e isso se dá através da ação missionária. A maioria das religiões faz isso. Neste novo contexto, qual seria então o lugar da missão?

Num contexto religioso pluralista, a missão, ten-do em conta as novas circunstâncias, é chamada a assumir duas atitudes:• DE RESpEiTO, de reconhecimento das diferen-

ças e das convicções dos outros. Ela deve aconte-cer e manifestar-se numa grande busca de convi-vência pacífica e de abertura à colaboração.

• DE DiálOgO inter-religioso, um diálogo fran-co e sincero, que reconheça diferentes níveis de encontro. Nesta nova situação, é sempre importante que

cada religião mostre e mantenha a riqueza de sua identidade. Isso constitui uma riqueza para todos, pois isso favorece um grande intercâmbio de valores entre todas as expressões religiosas. A esse respeito, Mahatma Ghandi, falando das religiões, costumava dizer que o que vale o testemunho de seus seguido-

tros pluralismos é uma realidade muito impor-tante e exigida no seio de nossa sociedade.

A corrida para as cidades, fazendo surgir uma população urbana mista, assim como o fato recente da globalização, são fenômenos que vieram evidenciando a exigência de se ter uma nova consciência da existência do plura-lismo religioso.

Os fiéis das diversas religiões, vivem lado a lado, trabalham, viajam e observam-se mutu-amente. Notam-se as diferenças: no culto, nos hábitos, nas tradições, nas atitudes éticas e nos valores proclamados, relevando semelhan-ças e diferenças.

Acredita-se que o ser humano seja origi-nário da África, e que, portanto, este conti-nente seja o berço da raça humana. Por isso, precisamos voltar nosso olhar novamente para as nossas origens e re-aprender o quanto é importante a vida comunitá-ria, a solidariedade e tantos outros valores que já esquecemos.

Coloquemo-nos como ouvintes e, como as crianças que estão na capa, aprendamos algo a mais sobre a vida.

O TRANSCENDENTE é um sucesso total. Em poucos meses já superou as 5.000 assinatu-ras. Agradecemos aos professores e as numero-sas Secretarias de Educação dos Estados e das Prefeituras que realizaram as assinaturas para todos os seus professores de ER.

O Jornal O TRANSCENDENTE tem, como único objetivo, ajudar os professores de Ensino Religioso a enriquecer sua formação e suas aulas, apresentando, de forma criativa, o universo reli-gioso nos seus mais diferentes aspectos.

P rezados (as) amigos (as) professores (as)!O jornal O TRANSCENDENTE já está

em sua terceira edição e, com a colabora-ção de muitos, já está movendo os primeiros passos com mais segurança. Neste editorial, em se falando em religiões e culturas, quero acentuar mais um pouco a necessidade de abertura e de dialogo.

De fato, hoje se alargou o conhecimento das muitas e diversas religiões que acom-panharam a história da humanidade, como também de seus valores e de suas implica-ções. Daí começou-se a perceber como o pluralismo religioso - ao lado de tantos ou-

Utilize o CUPOM da página 11 ou o site acima.

Um livro completo e pedagógico que a equipe de “O TRANS-CENDENTE” pre-parou para os pro-fessores de Ensino Religioso de todo o Brasil.

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O ENSINO RELIGIOSO AGOSTO / SETEMBRO - 2007 03

1. Na aNtigüidadeNa Antigüidade, a reflexão sobre Deus era feita

a partir do “cosmos”. Mas, por ser um período muito extenso, temos posturas muito diferentes. Podemos subdividir em 3 períodos:

a) Num primeiro período, tivemos os pré-socrá-ticos, que explicavam Deus como princípio da realidade, isto é, um ser do qual derivam todos os seres. Eis o que dizem alguns desses autores: para Tales de Mileto, este ser é a água; para Ana-ximandro, é o “apeíron”; para Heráclito, é o devir constante; pra Pitágoras, são os números; para Parmênides, é a estabilidade. Para os filósofos da antigüidade grega os seres têm a sua origem num único ser, princípio de tudo.

B) Num segundo período, mudou-se o foco da re-flexão. Os filósofos gregos apelavam para a ordem das coisas existentes, isto é, busca-se um princípio

ordenador. Sócrates acreditava numa in-teligência soberana,

que regulava toda a realidade. Trata-se de

um demiurgo, isto é, que tira as coisas do caos

e põe tudo em ordem. Platão vai além.

Diz que o demiurgo é um Deus e artífice, que tem como mode-

lo o mundo das idéias e cria o mundo sensível. Aris-

tóteles já descobre um Deus transcendente, que não se pode conhecer e nem ele conhecer o

mundo sensível. Mas, o movimento das coisas é ins-pirado em Deus.

C) Num terceiro período, conhecemos o pensa-mento dos neo-platônicos que afirmam a existência de um “nous”, isto é, algo que está na origem de tudo e que tudo acontece a partir dele. A alma está apri-sionada ao corpo humano e precisa retornar para a sua essência, para a sua origem.

2. Na idade MédiaNa Idade Média, Deus é visto a partir da revela-

ção judaico-cristã, não tanto pela razão.Neste período a reflexão filosófica sobre Deus se

resume na defesa do Deus da revelação. Dentre os principais pensadores destacam-se Santo Agostinho (século IV), Santo Anselmo (século 12) e Santo To-más de Aquino (século 15).

Santo agostinho, inspirando-se em Platão e em Plotino, mostra

um Deus onipotente, oniscien-te, trindade, onipresente e en-carnado. Trata-se do Deus da revelação.

Santo anselmo resolve a questão da existência de Deus

através de dois argumentos, o “a priori” e o “a posteriori”.

Santo Tomás, baseando-se em Aristóteles, desen-volve as cinco vias para se provar a existência de Deus: a vida do movimento, da causa, da contingência, dos graus de perfeição e da ordem das coisas.

3. Na ModerNidadeA partir da modernidade Deus é visto a partir do

ser humano. O homem, ser concreto, é o que inte-ressa. O iluminismo decretou o reinado da razão. Só aquilo que a razão entende é possível. Assim, na idade moderna nós vamos encontrar três posições distintas:

a) Os que não acreditam na existência de Deus. Estes têm suas raízes no iluminismo, que pregava a

superioridade da razão sobre a fé. Um dos personagens principais deste período é Feuerbach, para quem Deus é uma projeção huma-na. Além dele, aparece Marx, que dizia ser a religião um meio de manter a classe proletária domi-nada pelo dominante. E S. Freud

O homem não se basta a si mesmo. Des-de as primeiras manifestações de sua atividade intelectual ele constatou o

“totalmente outro”, algo que transcende a contin-gência existencial. Dos mitos às mais diversas indagações do logos ao longo da história, o ho-mem não conseguiu resolver e, sobretudo, eli-minar a idéia de Deus.

Vamos percorrer rapidamente o pensamento da humanidade sobre Deus nos principais perío-dos da história. Para melhor compreensão subdi-vidimos em 3 épocas:

1. Segundo sua experiência e sua fé, o que é Deus ou quem é Deus?

2. Como você se posiciona diante de uma orientação diferente da sua fé?

3. Na sua opinião, o que seria a “tolerância religiosa”?

afirma que a religião e Deus é uma neurose, que tem como causa o complexo de Édipo e o “totem”. F. Nietzche, afirma a morte de Deus e que os cris-tãos já o mataram. Para ele Deus não passa de uma redução da vida, um niilismo. Para Sartre, Deus é uma hipótese inútil, pois o homem não precisa de Deus, o homem se basta, ele constrói sozinho sua existência.

B) Os que acreditam em Deus. Hegel afirma a existência de Deus, não o Deus da revelação ou o Deus da Bíblia, mas o Deus da razão. Sua idéia de Deus é panteísta, pois ele está em todo o sistema e todas as coisas são manifestações dele. S. Kierkegaard afirma a existência de

Deus e que não se pode viver sem ele. M. Scheler afirma que não é Deus que busca o ser humano, mas é o ser humano que busca a Deus. R. Otto desenvol-ve a idéia de que Deus é o sagrado, que todos bus-cam, aquilo que fascina e que causa tremor.

C) Os que não crêem em Deus, afirmando a impossibilidade de conhecê-lo, pois está associado ao saber científico. O que não é experimentado não pode ser provado, nem se pode falar. O grande nome deste pensar é Wittgenstein, que afirma: tudo

o que está além da linguagem é indisível. Deus é aquilo de que não se pode falar, apenas apontar.

1. Estas são algumas afirmações sobre religião. Assinale a que parece ser mais verdadeira:( ) “A religião nasce do medo do ser humano.”( ) “É uma necessidade do ser humano, igual ao afeto, à amizade e ao amor.”( ) “É coisa para mulheres, idosos e crianças.”( ) “Ciência e fé são inconciliáveis.”( ) “Existe desde sempre e faz parte do ser humano.”( ) “É uma dimensão fundamental de cada pessoa.”( ) “É aquilo que liga o ser humano a qualquer coisa maior do que ele.”( ) “É uma questão pessoal.”

2. Para você, o que é religião? 3. Como deve ser vivida a religião?

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04 AGOSTO / SETEMBRO - 2007 CONVERSANDO COM O EDUCADOR

RELAÇÃO DE EXCLUSÃOO modo de produção

capitalista é definido nas relações de dominação e exploração. Com isso, passa a ser central hoje a relação da exclusão.

Com transforma-ções tecnológicas, a maneira de se produzir as coisas, e a maneira de se executar os serviços, sofreram uma transfor-mação profunda.

Dentro deste con-texto, as relações de dominação e exploração da produção capitalista deram lugar à relação de exclu-são, onde as pessoas são simplesmente excluídas do trabalho e, conseqüentemente, da produção.

O neoliberalismo tornou-se causa de exclusão, pois, o desenvolvimento ocasionado pelas novas tec-nologias, gerou a lei da competitividade, o que pres-supõe a liberdade do mercado.

Um dos resultados é o crescimento assusta-dor da brecha entre ricos e pobres, embora que a produtividade mundial, que chega a uma média de 4.200 dólares por pessoa ao ano, ofereça a to-dos a possibilidade de viverem com conforto e dignidade.

É esta má distribuição de renda que dá origem ao quarto mundo, o mundo dos excluídos, da ex-trema pobreza, do analfabetismo, etc.

O SOCIAL NÃO EXISTE MAISNesta política da lógica da exclusão, predomina o

clima de indiferença anti-solidária que transforma, a imensa massa sobrante de seres humanos em objetos descartáveis, sobrevivendo como lixo da história.

O resultado é um forte senso de individualização do social e um endeusamento do individual que aca-ba criando um desemprego planejado e legitimado por teorias psico-sociais.

Com isso, um restrito número de pessoas são responsáveis por uma situação econômica adver-sa e injusta, na qual o social não existe. Onde a

ética fica apenas na dimensão do individualis-mo, surge uma micro-ética em detrimento

da necessidade de uma macro-ética. Além da exclusão social, existe a

exclusão dos saberes, pois o conhe-cimento científico mostra descon-

fiança pelo conhecimen-to espontâneo das pesso-as comuns.

O menosprezo pelos saberes populares escon-de uma discriminação, uma tentativa de exclu-são ou, pelo menos, a supressão de um deter-minado tipo de saber.

Enquanto o saber aca-dêmico ou institucional for hegemônico, dificil-mente poderá se falar de

uma sociedade verdadeiramente democrática e pluralista, tanto do ponto de vista político como cultural e econômico.

CAMINHOS HUMANIZANTESNa visão neoliberal, não há espaço para o social

nas ações do Estado, pois o ser humano é definido como indivíduo, alguém que é um e que não tem nada a ver com os outros. Dessa forma, a pessoa tor-na-se a única responsável pelo seu êxito ou fracasso. Quem vence é aprovado e aceito no sistema, e quem é vencido é excluído.

Esta é a lógica que dá origem ao quarto mundo, o mundo dos excluídos. Portanto, são necessários novos caminhos e atitudes novas, mais humanizan-tes e éticas, que conduzam a novas relações baseadas no respeito pela diversidade e que

sejam pluralistas, democráticas, inclusivas e participativas.

Lá vai ele. Como um saco plástico, des-ses de supermercado. Levado pelo ven-

to e pela poeira, alça vôo, a alguns metros acima do calçamento da via pública, como um pássaro inanimado. Sobe, desce, dá pi-ruetas e cambalhotas. Sempre na mesma direção. Sempre no mesmo sentido, ou na falta de sentido - e de rumo. O homem vazio é aquele saco plástico.

Lá vai o homem vazio caminhando seus próprios (des)caminhos, cumprindo seus dias. Lá vai ele, completamente vazio: ape-nas pele, ossos e vísceras. Segue inerte, sem sentido e rumo, movido pelo acaso ou pelos ventos, tal qual o saco plástico da nos-sa metáfora.

Segue. Alheio ao cantar e ao colorido dos pássaros. Alheio à lua cheia; ao pôr-do-sol. Alheio à vida. Alheio ao amor. Alheio a tudo que é essencial. Vazio de idéias, de sentimentos. Vazio de caráter. Como que destituído de animo, de emoções.

O homem vazio está em todos os caminhos e lugares. Está no Congresso. Está no executivo estadual e municipal - mas também pode chegar um dia ao executivo federal. Pode ser até mesmo o prefeito da maior cidade de seu país. Pode ser um governador de Estado, um senador, um deputado; um vereador.

O homem vazio está também nas empresas pú-blicas e privadas. Geralmente ocupa cargos de chefia, tornando vazia e atormentada a vida de seus funcionários.

O homem vazio também está nas reda-ções de jornais e revistas; na internet. Está nas escolas! Sim, dezenas, centenas de ho-mens vazios estão, nesse preciso instante, nas salas de aula, ensinando nossas crianças e jovens a serem, como eles, vazios. Homens vazios estão nas faculdades formando pro-fessores, engenheiros, médicos, jornalistas vazios.

É preciso que identifiquemos e nos livre-mos dos homens vazios - ou que, pelo menos, aprendamos a reduzi-los à sua real dimensão. É preciso colocar o necessário “enchimento” nos homens para que estes deixem de ser vazios. É preciso cuidar do homem para que deixe de vagar, vazio, ao sabor do acaso.

Adaptação de um texto publicadono site Agência Carta Maior

www.cartamaior.com.brPor: Lula Miranda, poeta e cronista.

[email protected]

O conceito de relação precisa ser aborda-do e fundamentado numa perspectiva histórico-crítica, privilegiando os as-

pectos psico-sociais e, principalmente, os aspec-tos dialéticos e críticos.

São as relações que se estabelecem que de-finem um grupo como tal, e estas foram fir-mando entre as pessoas e os bens desde a pré-história, passando pela Revolução Industrial, até os nossos dias, tempo histórico marcado pela presença constante da tecnologia digital.

Acesse o sitee veja outras reflexões de Jorge Schemes www.jorge-schemes.blogspot.com

1. Estão de acordo com o exposto neste artigo?2. Qual a missão da escola na constru-ção de uma sociedade, pluralista, demo-crática, inclusiva e participativa?

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UNIVERSO RELIGIOSO05 AGOSTO / SETEMBRO - 2007

Muenda: Antes de começar, gostaria de dizer-lhes que nas expressões religiosas africanas não há céu e terra, tudo é uma coisa só, tudo faz parte deste mun-do, deste cosmos criado. Existe, sim, Òrum, mundo invisível e, Àiyé, mundo visível. Neles estão todos os nossos ancestrais, aqueles que deram origem a nossa história e tradições. Não há divisões, não há fragmentos, pois nós somos uma totalidade.

Vocês não conseguirão conceber as religiões africanas sem a festa, sem comunhão, sem a dança, o canto, o gesto, sem o corpo, e, sobretudo, sem comida farta para os seus filhos e filhas e sem a par-tilha. A religião dos Orixás é a religião da festa. É a religião onde seus filhos e filhas se juntam com todos os seus irmãos, mesmo que sejam de outras religiões, para cantar, dançar e brindar à vida.

O mitO da CRiaÇÃOVou contar agora para vocês um dos mitos da

criação presente nas religiões africanas que, por se-rem os mais antigos da humanidade, eles se encon-tram em várias outras religiões. Vamos ao conto:

Certo dia Olorum, o Senhor Supremo, resolveu criar o universo. Para isso, cada Orixá pegou alguma coisa para ajudá-lo. Ogun: O Senhor do ferro. Ele pegou o ferro e com ele criou os utensílios, as ferramentas para a agricultura e a espada para se defender. É ele o dono da música, do ritmo. Ele é também o orixá da solidão, aquele que inicia os jovens na guerra, na agricultura, na luta e também no amor. OXÓSSI: Senhor da caça. Ele pegou o arco e a fle-cha, para que pudesse entrar na mata, e lá caçar para prover à sua comunidade. OSSAIM: Senhor das folhas. Foi ele quem pegou as folhas com as quais sabia fazer todos os remédios e todas as poções mágicas para curar as pessoas. OXuM: Mãe das águas doces. Ele se encarregou de cuidar das crianças e de preservar as águas, sem as quais os ho-mens e as mulheres não poderiam viver. YEMAnJÁ: A grande mãe das águas salgadas. Ela pegou as águas do mar, com as quais os homens e as mulheres poderiam correr o risco de encontrar a sua praia.

XAngÔ: O Senhor do raio. Ele pegou a justiça, o machado de duas pedras, com o qual ele julgava de uma maneira absolutamente tranqüila, firme e forte.

Neste evento também estava presente Iansã, a Se-nhora dos ventos e das tempestades, a transgressora que desafia todas as formas de vida. Estava também o Oxumarê, o Senhor da trans-formação, o belo arco-íris.

O mitO da CRiaÇÃOdO hOmem e da

mulheRMas os orixás, sentindo que

faltavam o homem e a mulher, resolveram criá-los. Cada orixá trouxe para Olorum uma parte daquilo que escolheu, mas era impossível criar o homem com essas partes. Lembraram-se então da lama que era produzida da dan-ça da água com o ar. Mas essa lama não se deixava tocar. Chorava, e os orixás tinham medo ou dó de tocar nessa lama.

Um dia, porém, chegou Iku, a morte, que não teve a menor pena da lama e disse para Olorum: “eu arranco um pedaço dessa lama e, com ela, você moldará o homem e a mulher”. Olorum concordou. Iku arrancou um pedaço da lama que chorava e ge-mia. Mas ela (Iku) não se comoveu e, entregando para Olorum o peda-ço, chamou-o de Orixalá.

Iku, pegando a lama, mol-dou o corpo do homem e da mulher, soprou o seu hálito e eles vieram à vida. Assim foram feitos o homem e a mulher.

Mas como a lama ainda chorava, o generoso Olo-

rum, fez um acordo com a lama de que um dia, com a morte, devolveria o seu sopro e, conseqüentemente,

devolveria à lama o que havia arrancado para criar o homem e a mulher.

Muenda: Certo dia Olorum co-meçou a movimentar-se e criou o ar, a água e, da dança entre a água e o ar, criou-se uma fusão da qual surgiu a lama. Encantado, conti-nuou dançando e, da lama, surgiu uma bolha vermelha. Ele soprou nela o seu espírito e o seu hálito deu-lhe vida.

Dessa relação apaixona-da surge o primeiro ser viven-

te: Exu, a força vital, o ser vivente, individual, princípio de todas as coisas criadas. O articulador entre um mundo espiritual e carnal. Após Exu vieram os outros Orixás. Eles são forças cósmicas que surgem na natureza, a fazem ficar bela e estar em comunhão com os homens e as mulheres.

ProPosta de trabalho:Com uma bateria de perguntas, elabora-

das pelo professor sobre o texto estudado, di-vidir a turma de alunos (as) em dois grupos.

Eles passarão a competir num jogo de perguntas e respostas usando a metodologia de sorteio de pergunta e de aluno que res-ponderá pelo seu grupo.

Um acerto equivale a um bônus de 10 pontos e, um erro, a perda de 5 pontos.

Geninho: Olá amigos, tudo bem com vocês?!

Nesta edição apresento para vocês o meu amigo Muenda. Vamos prestar muita atenção ao que ele vai nos contar sobre as religiões dos africanos.

O mitO da imORtalidadeEm um determinado momento, o mundo esta-

va quase lotado de idosos, jovens, e nada mais. Os jovens revoltaram-se e se dirigiram para

Olorum dizendo que os idosos não os deixavam fazer nada e dominavam o

mundo. O Senhor Supremo disse que

estava cansado disso. Novamente é Iku quem resolve o novo enig-ma. Após ter falado com Olorum, resolvem o problema fazendo cho-ver sobre a terra por dias e noites. O mundo foi se enchendo de água e os jovens foram subindo nas maiores árvores, enquanto os ido-sos, não conseguindo subir nelas, acabaram morrendo afogados.

Após aquele dia, aconteceu uma grande festa na terra porque a imortalidade havia acabado. É por

isso que, na tradição africana, o tempo segue o seu ritmo: o velho morre para dar oportunidade ao jo-vem que vem.

Geninho: Como viram, as religiões afri-canas nos ensinam que, para conquis-

tarmos a nossa ancestralidade, te-mos que construir o nosso bom

caráter em consonância com Deus, comigo, com o outro, com a natureza e com a co-munidade. Se não tivermos esta relação, acabamos dimi-nuindo o tempo que temos para viver.

A construção do bom caráter é aquilo que me possi-

bilita receber toda a força vital que nos é oferecida por Olorum. A vida foi feita para ser vivida

abundantemente. É isso que a religião dos Orixás nos ensina. Olo-rum quer que sejamos capazes de viver bem a nossa vida.

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ESPIRITUALIDADES AGOSTO / SETEMBRO - 2007 06

As mãos de Mohammed Ba dan-çam ágeis e velozes na pele de seu tam-bor dando vida a um ritmo ancestral que mexe com o corpo e os sentimen-tos, transportando-os num mundo di-ferente e misterioso.

De fato, na cultura negro-africana, a música não é parte da vida, mas é a própria vida.

Nossa amiga Isabel, que esteve visi-

tando o continente africano e, observou

de perto suas culturas e suas tradições, nos

fala da im-portância do

som do tambor na vida daqueles povos.

O SENEGALÊS MOHAMMED BA explica-me: “O africano vê a si mesmo como sendo uma pérola que é impor-tante na medida em que faz parte de um colar.

No nosso caso, o colar não é composto somente da comu-nidade humana, mas também dos espíritos que a cercam, os espíritos das árvores, dos peixes, dos minerais, das entidades que formam as forças da natureza. É através dos ritmos dos nossos

tambores que nós entramos em sintonia com os espíritos que nos circundam”.

ISABEL: Espíritos? Quem são eles? Eles dão medo na gente?

“Absolutamente, pois nós africanos damos pouca im-portância à morte, considerando-a algo natural. No ima-

ginário africano, o homem não morre, somente viaja. Em cada objeto, planta ou animal da natureza encontramos

os espíritos dos nossos antepassados que continuam nos vigiando e nos punindo toda vez que não respeitamos as tradições”.

ISABEL: Entendi! São espíritos que não fa-lam, que ninguém vê,

mas que observam e es-cutam.

BA: “E isso mesmo. A única maneira que temos para entrar

em contato com eles é o tambor que, além de um instrumento musical, é

também um telefone que nos permite co-municar diretamente com os antepassados através de ritos propiciatórios. A única nossa certeza é que a vida não se conclui com a morte, mas que a morte faz parte da vida. Eis por que nós não choramos

pela morte de um ente querido, ao contrário, a celebramos e festejamos.

O africano nunca se sente sozinho! Toda vez que você toca ritmicamente o seu tambor, você tem certeza de que seus antepassados o escutam. E mais você tocar, mais eles escu-tam. Tenho certeza de que, neste exato momento em que estou lhe falando, meus antepassados estão me escutando. Espero que eles aprovem aquilo que digo e faço”.

Bauan: Ritmo para pedir a chuva.Lamba: Ritmo das mulheres no momento da semeadura.Labam: Ritmo usado após a primeira noite de matrimônio.Balanta: Ritmo dos caçadores que pedem a proteção dos espíritos.Tatulaobe: Ritmo que expressa a felicidade após uma boa colheita.Dundumba: Ritmo que festeja a passagem à idade adulta.

SUA ORIGEMOs escravos africanos, que foram trazidos ao Brasil, trouxeram consigo suas

religiosidades e seus ritos. Estas expressões religiosas, desde a chegada às terras brasileiras, sobrevivem graças ao sincretismo que se deu entre elas, o catolicismo e o espiritismo. Esta amalgamação de crenças e rituais é tão evidente que já não as chamamos de religiões “africanas” e sim religiões “afro-brasileiras”.

A FORÇA DO SINCRETISMOO continente africano era dividido em duas partes: o norte, de culturas suda-

nesas e o sul chamados de bantos.Dos negros sudaneses, as culturas que mais se enraizaram no Brasil

foram a nagô e a gêge, provenientes da Nigéria e do Daomé. Coube à cultura nagô (iorubana) a hegemonia em todo o Brasil, de norte a Sul.

O referido sincretismo ganhou muita ênfase no Brasil, devido à pre-cariedade das senzalas, onde negros de diversas culturas viviam lado a lado, favorecendo o sincretismo entre as próprias religiões africanas.

Durante o período colonial e imperial, o catolicismo reinava como religião oficial (1500 a 1889) e as manifestações exteriores das demais religiões, inclusive as práticas dos negros, foram abafadas. Indiretamente, por um mecanismo de defesa, este fato possibili-tou aos negros a manutenção dos cultos e rituais, ocultando seus deuses, mas dando a eles mesmos nomes de santos católicos. Com tal subterfú-gio, respeitavam a lei vigente e continuavam cultuando seus deuses africanos.

EXEMPLOS CONCRETOSO processo era simples, transferia-se aos santos católicos com especificações

idênticas aos dos Orixás. Xangô foi sincretizado com São Jerônimo, Iansã com Santa Bárbara, Ogum com São Jorge e assim por diante.

Entre os sudaneses se cultuavam os orixás (entidades sobrenaturais, interme-diários entre os homens e Olorun, o deus maior e superior a todos). Já entre os bantos do Sul se veneram os espíritos ancestrais, de pessoas humanas que vive-ram efetivamente.

Em Benguela, (Angola), sabe-se que existia o culto “orodere”, semelhante ao “espiritismo”, por isso também foi fácil aos negros de origem banto amoldarem-se às práticas espíritas que se desenvolveram no Brasil. Dessa diferença entre os cul-tos sudaneses e bantos derivou uma diferenciação nas religiões afro-brasileiras. De um lado temos o Xangô em Pernambuco, o Candomblé na Bahia e o Batuque no Rio grande do Sul, todos eles com origem sudanesa.

Estas diversas designações são apenas rótulos regionais para um mesmo conteúdo. De outro lado, por parte das cultu-ras bantas, à mercê de um grande sincretismo, nasceram todas as casas chamadas de “umbanda”, criando no Brasil uma nova religião, nas quais são cultuados, além de orixás e dos espíritos ancestrais, os “espíritos-guias”, assim denominados por influ-ência espírita.

NEGROS E INDÍGENASNo Brasil, as misturas se acentuaram juntando-se também as

tradições e as crenças dos nativos americanos. Este sincretismo das religiões negras com elementos das culturas indígenas deu origem a um novo tipo de culto: o “candomblé de caboclo”, onde são cultuados os orixás africanos junta-mente com os deuses indígenas.

Nos cultos sudaneses são usados línguas africanas, principalmente o nagô e o gêge. Já nas casas de umbanda e caboclo, domina o português, misturado a palavras africanas e expressões em tupi.

Texto adaptado da sociedade Ilê Oxum Docô

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07 AGOSTO / SETEMBRO - 2007 RITOS E VIDA

Anúncio dA morte O som do tambor é entendido à distância e

cada aldeão deixa imediatamente seus afazeres, mesmo estando na roça, para participar do anún-cio da partida de um dos seus, para a aldeia dos antepassados.

Somente depois que a notícia é dada, todos os presentes, do menor ao maior, para manifestar seus senti-mentos de pesar, terão que chorar um pouco. Em seguida, um ancião conso-la a todos e juntos vão para a casa do falecido.

Os anciãos, chegando lá, tomarão as decisões mais urgentes para o bom andamento do funeral: Quem vai la-var o cadáver? Quem vai cavar a cova fúnebre? Qual a religião que ele pra-ticava? (para que sua crença seja res-peitada)

Quem organiza a dança fúnebre? Quem vai dar a notícia nas outras al-deias vizinhas?

Essa última função era reservada ao chefe e seus notáveis, pois o chefe é o guardião da tradição e o responsável pelos aldeões.

eXPoSiÇÃo do mortoDepois de lavado o corpo do defunto, ele é

exposto para a visitação dos aldeões. Não existe uma regra única para a exposição do cadáver, isso depende do status social do falecido ou do

que ele mais gostava em vida. Se o falecido for um chefe, ele será revestido

de toda a sua indumentária tradicional e contará com a presença de suas serventes, que passarão o tempo todo espantando as moscas e insetos que se aventurarem a pousar sobre o corpo.

No caso de uma moça bonita, depois de bem vestida e ornamentada com bijus, será exposta sen-tada numa cadeira, com as costas apoiadas no muro da parede, os olhos abertos e as mãos apoiadas sobre os joelhos. Dessa forma, os visitadores ainda poderão admirar a sua beleza.

Nesta postura, acredi-tam que ela se alegrará com o espetáculo da dança que será feito em sua honra.

Quando o falecido é um rapaz que gostava de jogar futebol, terá ao seu lado uma bola, um api-to... e seus colegas lhe prestarão uma homena-gem, como se estivessem jogando uma partida de futebol.

SePULtAmentoAntes do momento do enterro, muitas pes-

soas trazem uma peça de pano, às vezes de quali-

dade, para oferecer ao defunto, com o qual será embrulhado. Segundo a crença, estes tecidos se-rão apresentados aos seus antepassados que es-tão na outra vida, dizendo-lhes: “Veja o que meus parentes e amigos me ofereceram, eles foram generosos para comigo”.

Os antepassados, desta forma, continuarão a abençoar e proteger aquela aldeia e todos os seus habitantes. As pessoas oferecem também animais domésticos, para serem sacrificados em sua honra ou oferecidos aos visitantes.

Nada daquilo que foi doado poderá ser guar-dado, tudo deve ser oferecido em sacrifício ou utilizado nos dias que sucederão à cerimônia fú-nebre. O termômetro, para determinar a quanto uma pessoa foi amada em sua vida terrena, é me-dido pelos dons e pela solenidade da cerimônia fúnebre (dança, música, comida, bebida, partici-pantes...).

AdeUS Ao deFUntoUm ancião enche uma cabaça com vinho de

palma e derrama o conteúdo no fundo da cova, invocando os antepassados dizendo: “venham, eis aqui o vosso vinho, bebam e protejam todos os habitantes da aldeia”.

Posteriormente, colocam o defunto na cova e, antes de cobri-la com terra, outro ancião se

aproxima e, em nome dos aldeões, dá o “último adeus” ao falecido. Segundo a crença, este é o momento exato em que o espírito do falecido se desintegra do corpo e parte para a aldeia dos antepassados.

O ancião, então, diz em voz alta: “Nós te damos o nosso até logo, ignoramos quem te matou. Se foi o firma-mento (divindade local) que te

chamou, vai em paz; todavia se foi um inimigo, mata-o e leva-o contigo.”

Em seguida, começa-se a cobrir de terra a cova, começando de maneira superficial, porque é esta primeira camada de terra rasa que estará em contato com o cadáver. E, como a terra (divindade local) ouviu o derradeiro adeus feito pelo ancião e viu todas as suas ações, logo relatará ao defunto

toda a verdade. Dizem os anciãos: “em vida pode-se

enganar os outros, mas com a morte tudo se es-clarece, não há mais mistério para o falecido”.

Para concluir este ritual, os an-ciãos e os coveiros se reúnem em torno da cova para beber o resto do vinho de palma.

Na entrada da aldeia, acendem uma fogueira e passam pelas chamas de fogo os instrumentos de trabalho a fim de purificá-los dos vestígios da morte.

O rito fúnebre não se encerra com o sepultamento. As cerimô-nias vão se estender ainda por mais três dias para as mulheres e quatro dias

para os homens.

“Ouça no vento o soluço do arbusto: É o sopro dos antepassados. Nossos mortos não partiram, estão na densa sombra. Os mor-tos não estão sob a terra. Estão na árvore que se agita, na madeira que geme, estão na água que flui, na água que dorme, estão na cabana, na multidão; os mortos não morre-ram... Nossos mortos não partiram: estão no ventre da mulher, no vagido do bebê e no tronco que queima. Os mortos não estão sob a terra: estão no fogo que se apaga, nas plantas que choram, na rocha que geme, es-tão na floresta, estão na casa, nossos mortos não morreram”.

Birago Diop, poeta africano.

Na cultura africana, o morrer com ida-de avançada e ter

um funeral digno são sinônimos de uma boa morte. Em vista disso, muitas pessoas preparam de antemão o seu próprio funeral, guar-dando dinheiro e encarregando pessoas para pre-pararem a cerimônia fúnebre.

A morte de um membro da tribo não interes-sa somente à sua família ou ao grupo de parentes e amigos, mas envolve todos os aldeões. Por isso, quando morre um membro na aldeia, a família não pode publicar a sua morte ou manifestar seu sen-timento de desconsolo antes que a notícia seja comunicada ao chefe da aldeia. Será ele que, em seguida, dará ordens ao tocador de tambor para que convoque a população na praça pública, de-baixo de uma árvore, lugar do anúncio oficial de qualquer notícia importante.

1. Após a leitura atenta do texto que mostra o rito fúnebre da tribo Baulé, montem,

em grupos, uma tabela mostrando as diferenças, num paralelo, entre o que acontece na tribo Baulé e

na sua família, comunidade, cidade ou região, desde os procedimentos de avisos, sentimentos, rituais e sepultamento.2. Na tribo Baulé, para ter uma boa morte, é necessário, dentre outras, alcançar uma idade bastante avançada.

Em nosso país, muitos jovens perdem a vida precocemente.

A) Como é que geralmente isso acontece?B) Disserte sobre a perda de vidas jovens

em nosso país.

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ATUALIDADES AGOSTO / SETEMBRO - 2007 08

O motivo da pergunta era uma reportagem que passava na televisão sobre a miséria extremada em Darfur, região no sudoeste do Sudão. As imagens mostravam milhares de refugiados que viviam em penúria absoluta. As Nações Unidas falam em tra-gédia sem precedentes na história recente da huma-nidade.

A tragédia em Darfur é uma combinação de três fatores: guerra civil, ação de milícia islâmica e seca. Há décadas, o Sudão está em guerra civil que envolve o sul, de maioria negra e cristã, con-tra o norte, de pele mais clara e majoritariamente islâmica.

Uma dUra realidadeEm se tratando da minha África, continuei falan-

do para o barbeiro. A reportagem podia estar focada na Somália e em pelo menos outros cinco países sem muita diferença.

Os motivos podem ser resumidos em três: indefi-nições étnicas ou tribais, disputas políticas, de cunho ideológico ou religioso, e ambições econômicas.

No campo da economia, a África é o continente mais atrasado de todos. Os indicadores vitais e eco-nômicos são os piores do mundo. Um grande jornal da França chegou a escrever que se a África desapa-recesse do mapa, não teria grande impacto negativo na economia mundial. Apesar do exagero, a asserção tem ainda um fundo de verdade. O peso da África, na economia mundial, fica em torno de 2,5 %. Uma insignificância para a sua pujança natural em termos de minérios, fauna e flora.

Somado a isso, há problemas como corrupção e desmandos na administração pública e de fuga de cérebros para a Europa, América do Norte e Aus-trália. Além, é claro, da AIDS (SIDA), que já é uma endemia em alguns países. A AIDS só veio agravar a situação da saúde pública que já era crítica por causa de outras doenças crônicas como a malária, a tuber-culose, a febre amarela e a hanseníase. Vista de longe e por fora, a África é uma verdadeira tragédia!

“Se é tão ruim assim, por que você vai voltar pra lá?”, indagou o barbeiro ainda mais espantado, e não com a situação da África. O espanto dele estava na minha insistência em querer voltar para uma região tão em-pobrecida, quando tudo parece ir bem comigo aqui no sul do Brasil, região relativamente desenvolvida.

África: sUcessos e fracassos A África não é só miséria. Há aldeias e subúrbios

miseráveis, mas há também cidades grandes e agradá-veis para se viver; há fome e doenças crônicas, mas há também fartura.

Isso significa que cada um dos 53 países independentes do continente é uma história particular de fracas-sos e de sucessos. Alguns se envol-veram em guerras civis e outros experimentaram golpes de estado; a maioria deles é miserável, outros são medianamente desenvolvidos.

A África do Sul pode ser equipa-rada ao Brasil em infra-estruturas e indicadores eco-nômicos. Se a Somália e o Sudão são dois exemplos de calamidade, países como Botswana e Cabo Ver-de são exemplos de sucesso. Botswana, por exem-plo, nunca experimentou guerra civil e nem golpe de Estado, sempre houve eleições multipartidárias e democráticas; não tem dívida externa e cresce a média de 10% ao ano de uma década para cá.

a África ricaA África é um continente de grandes potenciali-

dades a serem dinamizadas pelos próprios afri-canos, como disse o ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, por ocasião da chegada do século XXI.

Dados das Nações Unidas corroboram as palavras de Mandela, ao apontarem que a Áfri-ca detém 8% de todas as reservas mundiais de petróleo, 27% de bauxita, 29% do urânio, 50% do ouro e diamante e 75% do fosfato, bem como considerável porcentagem de gás natural, co-bre, ferro, manganês, cromo, cobalto e titânio. Diga-se também que a África é a maior reserva natural de fauna. Onde mais no mundo se pode encontrar em seu habitat grandes animais como girafas, elefantes, leões, zebras, hipopótamos e

antílopes? Tirando a Amazônia, onde mais se pode encontrar florestas tropicais frondosas, ha-bitat de biodiversidade e fonte de renda para a população?

O que falta, como observou o atual presidente sul africano, Thabo Mbeki, é a disseminação da nova mentalidade sobre a África. Ou seja, a nova geração de líderes africanos defende o princípio de que as riquezas naturais da África não sejam usadas como moeda de barganha no mercado mundial. Nada de apenas pedir esmola. Essa tem sido a postura da nova África do Sul. “Nós temos recursos e mão de obra, vocês têm dinheiro e tecnologia. Então, vamos negociar e proceder à troca como dois protagonistas”.

Em termos do comércio internacional, empre-sas dos Estados Unidos tiveram retorno médio de 30% dos investimentos feitos no continente africa-no na década de 1990, maior que em qualquer parte do mundo.

A própria China, percebendo as potencialidades da África, tem investido nos últimos cinco anos bilhões de dólares em infra-estruturas (habitação, energia e transportes) e mineração.

a África para os africanos

O que irá acontecer depende-rá do engajamento dos próprios africanos na dinamização das economias, no combate à cor-rupção, ao desperdício e à má ad-ministração. Vai depender tam-bém da ação da sociedade civil fora da alçada governamental e do encaminhamento dado às aju-das (ainda) recebidas de africanos na diáspora e de organizações so-ciais amigas.

Para concluir, eu disse mais ao barbeiro: Ape-sar de me sentir bem aqui no Brasil, eu ficaria melhor no meu continente por dois motivos:1) A terra da gente não se troca a não ser por incumbências missionárias, profissionais ou situ-ações similares;2) A África precisa muito mais de mim (e de to-dos os seus filhos na diáspora) do que o Brasil. Aqui eu sou apenas mais um. Lá na minha terra, eu sou um entre poucos especialistas. Se existe tragédia em Darfur, a culpa é também minha. O meu distanciamento soma-se ao de milhões de ou-tros africanos. Tenho meus problemas, mas as necessidades da África transcen-dem as minhas razões pessoais.

Realizar, em grupos, uma pesquisa sobre o continente africano:

• Desenvolvimento social,• Saúde,• Religiosidade.

Apresentar os resultados para a turma.

Em meados de junho, um barbeiro tomou a liberdade de me perguntar, meio constrangi-do, se “a África é aquilo mesmo que aparece

na televisão”. Eu respondi que era tudo verdade. Foi um espanto! Mas, por educação, ele conti-nuou a lidar com o meu cabelo, em silêncio, talvez esperando mais palavras minhas. E elas vieram.

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NOSSO COMPROMISSO AGOSTO/SETEMBRO - 2007 09

País dominado pelos romanos cujo presidente atual é Kadafi.

O país detém o pior indíce de desenvolvimento humano.

O país que contém o lago Chade.

É a terra dos antigos Faraós e das pirâmides.

É o maior país da África. Sua capital é Cartum.

Limita-se ao norte com o Chade e o Sudão .

País da bíblica Rainha de Sabá.

O país africano com o maior índice de desnutrição (75%).

Os atletas destes país destacam-se nas provas de corrida.

Localizado ao norte do lago Vitória, o maior da África.

A guerra entre Tutsis e Hutus exterminou 11% da população.

Neste país encontra-se a nascente do rio Nilo.

Este país possui muitos parques e reservas ambientais.

A maioria da população pratica religiões tradicionais africanas.

Sua capital é Harare. Nele estão as famosas Quedas Vitória.

Sua capital é Maputo. Neste país, fala-se o Português.

A mineração é responsável por 70% das exportações.É um país desértico. Nele, encontram-se os desertos de Namibe e Kalahari.O Português é a Língua oficial. A capital é Luanda.Já foi conhecido por Zaire.

Sua capital é Brazzaville. Um país vizinho tem o nome parecido.É chamado pelos Alemães de Kamerun.Este país é o 9º mais populoso do mundo. Neste país havia portos costeiros para o tráfico de escravos. Dali foram trazidos muitos escravos para o Brasil. A língua oficial é o Françês.Afro-brasileiros formaram ali uma comunidade chamada Tabom. Ouagadougou é a sua capital.

É o maior exportador de cacau do mundo.

Bamako é a sua capital.

Foi o último país a abolir a escravidão.

O Marrocos ainda o considera parte do seu território.É o país africano mais próximo da Espanha.O povo berbere habita este país ao menos desde 10.000 a.C.

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Região onde acontece oRali Dakar

O Islamismo é pro-fessado pela maioria

da população

Terra dosFaraós

Região das sa-vanas e reservas

ambientais

CHEGADA

Região de alto índice de mortali-

dade infantil

África do SulPróxima sede da Copa do Mundo de Futebol

Solidariedade nomundo ocidental

No mundo ocidental fala-se muito em cooperação Norte / Sul (pa-íses ricos / pobres). Isto gera muita humilhação e dependência de um lado e soberba e arrogância do outro.

Entretanto, sabemos que, as doações feitas pelos países ricos do ocidente aos países pobres africanos, é fruto da exploração e especu-lação na compra das matérias primas produzidas no continente africano.

Portanto, não é uma doação, mas a devolução do que lhes foi retirado através de uma transação comercial injusta.

Solidariedade na cultura africana(tribo Baulé)

Acredito que a melhor e mais eficaz cooperação se dá entre os países pobres (Sul / Sul), porque “pobre com pobre não dá miserável, dá solidariedade”. Esta é a palavra-

chave que norteia a vida quotidiana nas aldeias africanas, seja em nível material, espiritual, no sofrimento ou no luto.

Nas aldeias, o povo vive do trabalho na roça (todos têm um pedaço de terra para plantar), desenvolvendo uma cultura de subsistência. Ninguém tem o direito de guardar somente para si mesmo ou sua família os frutos da colheita. Em caso de necessidade, partilha-se com os outros aldeãos o pouco que colhem. Logo, quando há fome, é sinal de que ninguém tem mais nada em sua casa.

É comum convidar alguém para comer junto: quando algumas pessoas estão sentadas debaixo de uma árvore para o almoço e passa alguém em frente, logo é chamado para comer junto. Mesmo que seja

somente para responder positivamente ao convite. Na tribo Baulé, usa-se a seguinte expressão para convidar alguém

para almoçar: “a nossa mão está dentro da marmita”. O outro responde: “a minha também”. Em seguida, lava as mãos (comem com as mãos), agradece e vai embora.

Em nível espiritual, também há uma grande solidariedade que ultrapassa a aldeia dos vivos e entra em comunhão com a “aldeia dos

antepassados”. Há alguns sacrifícios (oferenda às divindades) que são coletivos, isso em vista de conseguirem das divindades o bem estar e a harmonia para todos os habitantes da aldeia.

Na cultura africana, esta solidariedade é vivida mais intensamente quando há casos de sofrimento, doença ou de luto. Quando o dia amanhece, antes de se dirigirem às suas ocupações, os chefes de família vão de casa em casa, saudando os moradores para constatar se não há alguém doente. Somente depois irão cuidar das suas ocupações pessoais e familiares.

Antonio Nunes (Sacerdote Católico - Pime)

O professor poderá utilizar este jogo para conhecer mais a África. Antes de jogar, os alunos deverão estudar atentamente o mapa do continente africa-no: as regiões, curiosidades e, especialmente, a localização geográfica de cada país. Material: um dado e algo que identifique cada equipe (ex: feijão, sementes, etc.) e um mapa-múndi. Forma de jogar: Divide-se a turma em pequenas equipes. Cada equipe deverá conduzir o Geninho pelo caminho até a Ilha de Madagascar. Conforme o número obtido no jogo do dado, ler as informações e as curiosidades correspondentes à “placa” . Um representante da equipe

terá 10 segundos para ir até o mapa-mundi (pendurado numa parede) e descobrir o país correspondente. Caso não consiga ou erre, a equipe fica “uma jogada fora”. Acertando, joga-se novamente.

Fica a critério do professor o prêmio para a equipe que chegar pri-meiro a Madagascar.

Em caso de dúvidas, veja as respostas na página 12.

A s imagens que os meios de comunicação do Brasil apresentam so-bre a África geralmente são negativas, pejorativas e pessimis-tas. Elas representam apenas uma parte da realidade da cul-

tura africana. Em síntese, apresento a outra parte desta realidade, relatando apenas alguns valores da cultura africana, que vivenciei durante 19 anos de presença nas aldeias da tribo Baulé, na Costa do Marfim.

Pobre com pobre, não

dá miserável, dá solidariedade!

A região mais próxima da

Ásia

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10 AGOSTO / SETEMBRO - 2007 DINAMIZANDO

ObjetivO: Na vida comunitária os africa-nos encontram sua força.

O objetivo da dinâmica é mostrar aos alunos que a partilha, o compromisso com o outro e a

solidariedade os torna fortes.

Material: Um feixe de 16 varinhas (podem-se usar palitos de churrasco)

COMO Fazer: 1. Pedir que um dos participantes pegue uma das

varinhas e a quebre. (o que fará facilmente).

2. Pedir que outro participante quebre cinco va-rinhas juntas num só feixe (será um pouco mais difí-cil).

3. Pedir que outro participante quebre todas as vari-nhas que restaram. Caso não conseguir, poderá cha-

mar outra pessoa para ajudá-lo.

4. Pedir que todos os participantes falem sobre o que observaram e refletir sobre as implicações em nossas vidas.

5. terminar com uma reflexão sobre a importância de agirmos unidos.

ObjetivOs: Obter informações sobre os pro-blemas e a realidade dos afro-descendentes brasi-leiros. Desenvolver o senso crítico sobre a situa-

ção deles dentro do contexto nacional.

COMO Fazer:1. Preparar um roteiro de pesquisa ou uma série de perguntas sobre algum

aspecto do objeto de estudo, no caso, a situação dos afro-brasileiros (edu-cação, religião, política, violência, etc).

ObjetivO: Demonstrar a importância da solidariedade e da ajuda mútua. Material: 4 pedaços de madeira (sarrafos) com aproximadamente 2 metros de comprimento; 4 bombons iguais; 8 fitas ou pedaços de barbante resistente. MetODOlOGia: Solicitar a participação de 4 pessoas do grupo. Com os pedaços de madeiras e as fitas, amarrá-los nas costas de cada pessoa de forma que os braços de cada participante fiquem totalmente abertos e amarrados em um dos pedaços da madeira.

ao sinal, cada participante deverá desembrulhar e saborear o bombom que esta-rá em uma mesinha à sua frente. Com a dificuldade que há, devido a não possibili-dade de “trabalhar” com as mãos ou uma mão mais a boca, por estarem amarrados, encontrarão sérias dificuldades para concretizar a tarefa (comer o bombom).

Depois de um determinado tempo, o professor finalizará a atividade, lem-brando que bastaria ter havido inter-ajuda, utilizando a colaboração de uma das mãos do seu “companheiro de atividade”.

Caso haja a reação dos não participantes, o professor poderá chamar a atenção que nada impedia de que os “espectadores” ajudassem os participantes a desenvolver a atividade.

2. Dividir a turma em pequenos grupos. Cada gru-po recebe uma cópia do roteiro da pesquisa, que deverá ser respondido durante a semana, através de entrevistas, jornais, revistas, TV, fotografias, etc.

3. Na aula seguinte, cada grupo apresenta a sín-tese para a turma e abre-se para um debate, enriquecido com fatos e acontecimentos, a fim de descobrir as causas dos problemas. Em seguida, buscar alternativas para melho-rar a situação dos nossos concidadãos afro-brasileiros.

Propostas inteli-gentes para escolas, grupos e comunidades

Você já participou de uma aula, palestra, en-contro, reunião... e ficou com aquela sensação de monotonia, de falta de par-ticipação, de pouca criativi-dade? Pois bem, com este livro de dinâmicas tudo isso pode mudar.

Educar com novos métodos e com novo entusiasmo não exige coisas muito complicadas. O essencial é trabalhar com envolvimento e comprometimento. Isso exige varie-dade de dinâmicas com objetivos claros e com fácil aplicação..

Este livro é, por isso, uma verdadeira primorosidade. Temos certeza de que você se surpreenderá com a qualidade das dinâmi-cas aqui apresentadas.

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SABEDORIA / ASSINATURAS AGOSTO / SETEMBRO - 2007 11

A casinha de uma escola rural era aquecida por um velho e bojudo forno a carvão. Um garotinho tinha a função de ir mais cedo à escola todos os dias, para acender o fogo e aquecer o recinto antes que a professora

e seus colegas chegassem.Certa manhã, eles chegaram e encontraram a escola engolida pelas chamas.

Retiraram o garotinho inconsciente do prédio em chamas, mais morto do que vivo. Tinha queimaduras profundas na parte inferior do corpo e foi levado para o hospital do município vizinho.

De seu leito, o semi-consciente e pavorosamente queimado garotinho ouviu ao longe o médico que conversava com sua mãe. O médico dizia a ela que seu filho seguramente morreria - o que na realidade, até seria melhor - pois o terrível fogo devastara a parte inferior de seu corpo.

Porém, o bravo garotinho não queria morrer. Ele se con-venceu de que sobreviveria. De alguma maneira, ele realmente sobreviveu. Quando o risco de morte havia passado, ele nova-mente ouviu o médico e sua mãe falando baixinho. A mãe foi in-formada de que, uma vez que o fogo destruíra tantos músculos na parte inferior de seu corpo, quase que teria sido melhor que ele tivesse morrido, já que estava condenado a ser eternamente inválido e não fazer uso algum de seus membros inferiores.

O bravo garotinho, mais uma vez, tomou uma decisão. Não seria inválido. Ele andaria. Mas, infelizmente, da cintura para baixo, ele não tinha nenhuma capacidade motora. Suas per-nas finas pendiam inertes, quase sem vida.

Finalmente, ele teve alta do hospital. Todos os dias sua mãe massageava suas perninhas, mas não

havia sensação, controle, nada. Ainda assim, sua determinação de andar era mais forte do que nunca.

Quando ele não estava na cama, estava confinado a uma cadeira de rodas. Num dia ensolarado, sua mãe o conduziu até o quintal para tomar um pouco de ar fresco. Neste dia, ao invés de ficar sentado na cadeira, ele se jogou no chão. Arrastou-se pela grama, puxando as pernas atrás de si.

Arrastou-se até a cerca de estacas brancas que limitava o terreno. Com grande esforço, levantou-se apoiando-se na cerca. E então, estaca por estaca,

começou a arrastar-se ao longo da cerca, decidido a andar. Começou a fazer isso todos os dias até que um caminho se formou ao lado da cerca, e em volta de todo o quintal. Não

havia nada que ele desejasse mais do que dar vida àquelas pernas.

Finalmente, com as massagens diárias, com sua persistência de ferro e com sua resoluta determinação, ele foi capaz de ficar

em pé, depois de andar mancando, e então, de andar sozinho. Mais tarde, de correr.

Começou a caminhar para a escola, depois passou a correr para a escola, e a correr, pura e simplesmente, pela alegria de

correr. Na faculdade, integrou o time de corrida com obstáculos.

Depois, no Madison Square Garden, aquele rapaz sem esperanças de sobreviver, que seguramente não andaria nunca mais, e que jamais poderia esperar correr - aquele rapaz determinado, o Dr. Glenn Cunningham, foi o corredor mais rápido do mundo na corrida de uma milha!

Burt Dubin

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12 AGOSTO / SETEMBRO - 2007 TESTEMUNHOS

“Descobrindo a África”. Respostas: 1. Botswana; 2. Namíbia; 3. Angola; 4. Rep. Democrática do Congo; 5. República do Congo; 6. Camarões; 7. Nigéria; 8. Benin; 9. Gana; 10. Burkina Faso; 11. Costa do Marfim; 12. Mali; 13. Mauritânia; 14. Saara Ocidental; 15. Marrocos; 16. Argélia; 17. Líbia; 18. Níger; 19. Chade; 20. Egito; 21. Sudão; 22. República Centro-Africana; 23. Etiópia; 24. Somália; 25. Quênia; 26. Uganda; 27. Ruanda; 28. Burundi; 29. Tanzânia; 30. Zâmbia; 31. Zimbabue; 32. Moçambique.

O mundo em que sonho viver é um mundo de

paz, com muita alegria. Muitas crianças brincando, sem fome e junto das suas famílias. Gostaria de ver as florestas

sem queimadas, com muitos animais e plantas... Nas cidades, que a violência não tomasse conta, e que as pessoas aju-

dassem a preservar a natureza e conservar a água para que não falte no futuro.

Além da preservação da natureza, temos que aprender a respeitar nos-sos irmãos e pedir que Deus olhe por nós, para que nós, crianças, um dia possamos mudar as coisas ruins que acontecem no mundo.

O mundo em que sonho viver é aquele que, com certeza, vai agradar a todos porque vai reinar a paz, a alegria e a natureza vai deixar a feli-cidade brilhar.

A esperança de um mundo melhor nos leva a pensar e a agir dife-rente, acreditando que tudo é possível quando acreditamos em nossos sonhos.

Aluna: Maria Beatriz, 9 anosProfessora: Maria de Lourdes Martins Só

Escola Estadual Boa Esperança, Curvelândia – MT

O mundo em que estamos vivendo está fora de ordem. As pes-soas andam estressadas. Está cheio de marginais em todas as

esquinas, principalmente nas cidades maiores. A poluição é tanta que está causando cada vez mais doenças e terminando com a natureza.

O mundo seria bem melhor se as pessoas soubessem respei-tar mais quem está ao seu redor, independente da cor, religião e raça, etc. Se as pessoas se interessassem mais em pro-

curar empregos para fazer algo que realmente gostassem de fazer... Se elas percebessem que poluir não faz bem para ninguém...

O mundo em que eu gostaria de viver só existe em sonho mesmo. Seria aquele mundo calmo, com respeito, sem violência. Aquele mundo em que eu me sentaria no alto de um morro e de lá visse muitas árvores, as pessoas convivendo em harmonia, aquele mundo que eu ficaria em silêncio e ouviria os pássaros cantando como se fosse uma festa, um mundo com muitas florestas, com animais de todas as espécies, mas esse mundo só seria possível se Deus o fizesse de novo.

Já que não temos como reverter esse mundo caótico em que vivemos, talvez as pessoas consigam abrir os olhos e pelo menos tentar preservar as coisas boas que ainda existem por aqui.

Sandra Izabel Rigodanzo - Alto Alegre - RS

Participar deste desafio é muito fácil. Basta nos enviar uma redação, poesia ou desenho que aborde a temática: “Os filhos da África no BRASIL”. Os professores poderão incentivar os seus alunos e até mesmo toda a escola a participar deste desafio e, assim, concorrer a prêmios.

AS 10 ESCOLAS QUE MAIS PARTICIPARAM NO DESAFIO“O MUNDO EM QUE SONHO VIVER”,

EM BREVE, RECEBERÃO UM LIVRO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO. • As contribuições já estão disponíveis na INTERNET: www.otranscendente.com.br •

A partilha enriqueceLançamos uma grande proposta a todos os professores e escolas: enviem-nos suas melhores histórias (contos) e dinâmicas.

Este material, com a devida autorização, poderá ser publicado no jornal e, futuramente, fará parte do nosso próximo livro de dinâmicas e de histórias. Quem nos enviar o maior número de histórias ou dinâmicas receberá:

• 1º A nossa Coleção Educação. • 2º 03 Livros da mesma à escolha.• 3º 03 Camisetas da Paz.

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