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Paula Guimarães O STRESS EM MÉDICOS DA CIDADE DE MAPUTO Universidade Politécnica A POLITÉCNICA MAPUTO 2008

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Paula Guimarães

O STRESS EM MÉDICOS DA CIDADE DE MAPUTO

Universidade Politécnica

A POLITÉCNICA

MAPUTO

2008

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Paula Guimarães

O STRESS EM MÉDICOS DA CIDADE DE MAPUTO

Monografia apresentada à Escola Superior de

Gestão, Ciências e Tecnologias da Universidade

Politécnica, como parte dos requisitos para a

obtenção do grau de Licenciada em Psicologia das

Organizações e do Trabalho.

Tutora: Dra Andrea Folgado Serra

MAPUTO

2008

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Parecer do tutor:

Eu, Andrea Folgado Serra, Tutora da Monografia de Licenciatura da estudante Paula

Guimarães, intitulada “O Stress em Médicos da Cidade de Maputo”, outorgo à mesma a

minha apreciação favorável.

Por estes motivos, considero o presente trabalho de Licenciatura da candidata, apto para

ser submetido à avaliação e defesa pública perante o Júri nomeado para o efeito.

Maputo, 30 de Janeiro de 2008

_________________________

Andrea Folgado Serra

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A meus pais, Ercilio Guimarães e Ana Paula Guimarães, por serem a minha

inspiração, a minha motivação e o meu maior orgulho.

Á minha irmã Ilda Guimarães, por ser o meu exemplo de vida, e a única pessoa que

sabe falar de amor em silêncio e se fazer compreender.

Ao Faizal Remutula, por ter acreditado em mim quando mais precisei.

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AGRADECIMENTOS

Aos Dr. Rómulo Mutembe, Dra. Cristina Santos e Dra. Olívia Ferreira, pelas

indicações, disponibilidade e por me terem recebido tão acolhedoramente.

À Mestre Andrea Serra, que antes de tutora, mostrou-se amiga e colega. Sem

dúvida, a ela endereço o meu maior “Obrigado”, por ter sido incansável e a responsável

pela falta de palavras com que hoje me deparo para descrever a importância que teve todo

o apoio e dedicação que me ofereceu ao longo desta monografia.

Em geral, a todos os médicos da cidade de Maputo, pela disponibilidade,

paciência, acolhimento, atenção e participação. Sem vocês este trabalho não teria sido

realizado.

A todos os que foram meus docentes ao longo do curso de Psicologia nesta

instituição de Ensino Superior, pela oportunidade dada ao meu crescimento pessoal e

profissional.

À Tatiana Sucá, Malaika Barroso, Kátia Denise e Anya Mussagy, pela amizade e

conforto nas horas de fraqueza, vosso apoio é vital para a minha existência.

À minha mãe, Ana Paula Guimarães, ao meu pai, Ercilio Guimarães e à minha

irmã, Ilda Guimarães, pela força e coragem que me oferecem a cada dia. Sem vocês a

realização deste trabalho não teria sido possível.

A Deus, por cada amanhecer em que me permite acordar.

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RESUMO

Este estudo teve como principal objectivo analisar o nível o stress em profissionais de saúde que operam em diversas instituições na cidade de Maputo. A investigação, conduzida junta de uma amostra de 61 médicos, provenientes de oito instituições de saúde da cidade de Maputo, entre hospitais e clínicas, é de natureza descritiva tendo seguido uma abordagem quantitativa baseando-se nos modelos teóricos de Lazarus e Folkman (1984) e Holmes e Rahe (1967). Os resultados do estudo revelam que a amostra de médicos estudada associam o conceito de stress aos principais sintomas psíquicos e fisiológicos desencadeados por este mecanismo de adaptação. Por outro lado, o estudo indica que os médicos apresentam um nível de stress actualmente mais elevado que no passado, tendo os mesmos apontado várias fontes de stress relacionadas com o trabalho em si mesmo, com o contexto laboral e com a relação do sujeito com o trabalho. Outras fontes de stress no trabalho apontadas pelos médicos são as más condições de trabalho, a sobrecarga de trabalho, o baixo salário e a metodologia de trabalho. Palavras-chave: Stress Laboral, Fontes de stress, Escala de Stress, Médicos, Maputo

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Factores desencadeadores do Stress ............................................................................... 6

Figura 2: Stress positivo versus Stress Negativo............................................................................ 7

Figura 3: As três fases do Síndrome Geral de Adaptação.............................................................. 9

Figura 4: Modelo Exigência Controle de Karasek....................................................................... 12

Figura 5: Modelo de stress no trabalho de Cooper e Colaboradores............................................ 14

Figura 6: Burnout - Curva da Função Humana........................................................................... 23

Figura 7: Modelo Teórico de Investigação .................................................................................. 33

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Os 10 agentes mais stressantes para os estudantes do ISPU....................................28

Tabela 2: População de Médicos da Cidade de Maputo ..........................................................36

Tabela 3: Distribuição da Amostra por instituição de Saúde...................................................39

Tabela 4:Distribuição da Amostra por outras instituições de Saúde onde trabalham..............40

Tabela 5: Distribuição da Amostra por Área de Especialidade Médica ..................................41

Tabela 6: Descrição dos factores da Escala de Stress Sócio-Laboral ......................................43

Tabela 7: Percepção da Amostra sobre a palavra “Stress” ......................................................45

Tabela 8: Nível de Stress da Amostra pesquisada ...................................................................46

Tabela 9: Fontes de Stress associadas ao Factor “Trabalho em si mesmo”.............................47

Tabela 10: Fontes de Stress associadas ao Factor “Contexto Laboral” ...................................47

Tabela 11: Fontes de Stress associadas ao Factor “Relação do Sujeito com o Trabalho”.......48

Tabela 12: Percepção de outras fontes de stress pela Amostra pesquisada .............................49

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Distribuição da Amostra por Sexo..........................................................................37

Gráfico 2: Distribuição da Amostra por Faixa Etária ..............................................................37

Gráfico 3: Distribuição da Amostra por Estado Civil..............................................................38

Gráfico 4: Distribuição da Amostra por Nacionalidade...........................................................38

Gráfico 5: Distribuição da Amostra por Nível de Formação...................................................39

Gráfico 6: Distribuição da Amostra por Tempo de Serviço ....................................................40

Gráfico 7: Distribuição da Amostra por Salário Mensal (Em Mtn).........................................42

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ABREVIATURAS

CM Consultórios Médicos

CSO Clínica Sommerschield

ICOR Instituto do Coração

HGM Hospital Geral da Macachava

HMM Hospital Militar de Maputo

MISAU Ministério da Saúde

OMS Organização Mundial da Saúde

SGA Síndroma Geral de Adaptação

SPSS Statistical Package for Social Sciences

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................1

1.1 PROBLEMA DE INVESTIGAÇÃO......................................................................................................1 1.2 JUSTIFICATIVA ..............................................................................................................................3 1.3 OBJECTIVOS..................................................................................................................................4

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ....................................................................................................5

2.1 CONCEITO DE STRESS...................................................................................................................5 2.2 TIPOS DE STRESS...........................................................................................................................7 2.3 MODELOS EXPLICATIVOS DO STRESS............................................................................................8

2.3.1 Sindroma Geral de Adaptação.............................................................................................8 2.3.2 O Modelo de Lazarus e Folkman.......................................................................................10 2.3.3 Modelo de Karasek ............................................................................................................11 2.3.4 O Modelo de Cooper e Colaboradores..............................................................................13

2.4 FACTORES DE VULNERABILIDADE AO STRESS.............................................................................14 2.5 CONDIÇÕES CLÍNICAS RELACIONADAS AO STRESS E AO TRABALHO ...........................................18

2.5.1 Síndrome da Fadiga...........................................................................................................19 2.5.2 Distúrbios de sono .............................................................................................................20 2.5.3 Workaholics .......................................................................................................................21 2.5.4 Depressão ..........................................................................................................................22 2.5.5 Burnout ..............................................................................................................................23

2.6 ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE O STRESS.....................................................................................24 2.7 A GESTÃO DO STRESS.................................................................................................................29

3 MÉTODO .........................................................................................................................................33

3.1 MODELO TEÓRICO DE REFERÊNCIA............................................................................................33 3.2 TIPO DE INVESTIGAÇÃO ..............................................................................................................34 3.3 PARTICIPANTES...........................................................................................................................35 3.4 INTRUMENTOS.............................................................................................................................42 3.5 PROCEDIMENTOS........................................................................................................................43

4 RESULTADOS ................................................................................................................................45

4.1 PERCEPÇÃO SOBRE A PALAVRA STRESS.......................................................................................45 4.2 NÍVEL DE STRESS........................................................................................................................46 4.3 FONTES DE STRESS......................................................................................................................46

5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ...............................................................................................50

6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES....................................................................................................53

REFERÊNCIAS.......................................................................................................................................55

ANEXO 1 – CREDENCIAL APRESENTADA ÀS INSTITUIÇÕES DE SAÚDE ...................................................58 ANEXO 2 – INSTRUMENTO DE PESQUISA...............................................................................................59

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Paula Cristina Amiel Guimarães

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1

1 INTRODUÇÃO

1.1 Problema de Investigação

Nós últimos anos, o stress ocupacional tem sido uma área fundamental de estudo e

investigação devido aos seus “custos” e efeitos, não só a nível individual, como também, a nível

organizacional.

O stress consiste num conjunto de reacções do corpo e da mente, em resposta a variados

estímulos que podem ser de ordem física ou emocional. A expressão “stress” tem sido usada na

sociedade para referir questões de tensão ligeira ou ansiedade. (Guimarães, 2000)

No trabalho, um certo nível de stress é positivo, permitindo um melhor funcionamento,

criando desafios e desejos de superar e de ser reconhecido. Quando sob o controle do individuo,

este stress pode ser positivo, podendo ser responsável por exemplo, pela motivação. (Camara,

Guerra e Rodrigues, 1999)

Porém, quando este stress atinge estágios mais avançados, pode causar sofrimento mental e

físico ao indivíduo (stress negativo), bem como, para o caso das organizações, trazer prejuízos

financeiros, diminuição do desempenho e da produtividade da própria empresa, gastos com os

hospitais visto que este stress negativo causa doenças cardíacas, de pele, gastrointestinais,

distúrbios neurológicos e distúrbios ligados ao sistema imunológico e emocional. (Camara, Guerra

e Rodrigues, 1999)

Lipp e Tanganelli (2002), destacam que diversos estudos têm revelado um alto nível de stress

em determinadas camadas da população, tais como polícias, professores, profissionais bancários e

profissionais de saúde. Neste sentido, a esta última classe de profissionais deve ser dada uma maior

atenção uma vez que existem poucos estudos em Moçambique nesta área de investigação, em

geral, e com incidência neste grupo profissional, em particular.

Os profissionais de saúde têm razões especiais para constituirem um grupo profissional

particularmente afectado pelo stress pois a pressão de terem de lidar com pacientes face-a-face tem

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sido reconhecida, em diversos grupos profissionais, como um aspecto importante na origem da

exaustão emocional e esgotamento. (Melo, Gomes e Cruz, 1997)

Além disso, a vulnerabilidade ao stress nos médicos pode ser exarcebada pelo envolvimento

constante que estes profissionais mantém com situações de deficiência e lesões graves, sofrimento

e dor física e, por vezes, com situações de morte. (Melo, Gomes e Cruz, 1997)

Como salientam Melo, Gomes e Cruz (1997, p.55), “o facto de muitas vezes estes

profissionais terem não só de testemunhar um sofrimento, mas também, que gerir e infligir esse

mesmo sofrimento através de testes e outros procedimentos médicos, torna as suas interacções com

os doentes, completamente diferentes das interacções noutros grupos profissionais.”

No caso concreto de Moçambique, a situação dos profissionais de saúde é ainda mais

precária devido às fragilidades existentes no próprio sistema nacional de saúde. Para além da

enorme responsabilidade social que o médico têm, o número de médicos no país é reduzido

quando comparado à densidade populacional. Isto torna ainda mais desgastante a sua profissão

devido ao número de horas de trabalho e elevado número de pacientes que têm que atender

diariamente.

Por outro lado, existe ainda o problema das condições de trabalho (ambiente físico e falta de

material) que não são adequadas para a realização das suas funções, sendo a área de saúde no país

uma das que mais deixa a desejar, em termos de satisfação, quer dos próprios médicos, assim

como, dos pacientes/utentes.

Sendo os factores acima indicados desmotivadores e causadores de insatisfação, estes são

também, na maior parte das vezes, os responsáveis pelo aparecimento do stress nos profissionais

de saúde. Como reforça Mcintyre (1994), é questionável a melhoria dos cuidados de saúde sem

prestar a devida atenção aos factores organizacionais e sócio-emocionais que afectam os

profissionais de saúde.

Tendo em conta o cenário acima apresentado, o problema que se coloca para o presente

estudo é: Em que medida o stress ocupacional afecta os médicos da cidade de Maputo?

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1.2 Justificativa

A investigação a nível internacional tem evidenciado a ocorrência regular de elevados níveis

de pressão e stress, que parecem ocorrer mais frequentemente em profissionais de saúde que

noutros profissionais. (Melo, Gomes e Cruz, 1997)

Porém, escassos estudos sobre o stress ocupacional em profissionais de saúde, no contexto e

realidade de moçambique, tem sido desenvolvidos, existindo, por isso, uma lacuna sobre a situação

de stress nestes profissionais, no país.

Assim, o presente estudo poderá trazer importantes achados para esta área de investigação,

bem como, contribuições importantes para a implementação de medidas de gestão do stress

ocupacional em instituições de saúde, com forte impacto na melhoria da prestação de serviços de

atendimento e cuidados médicos.

Por outro lado, a investigação na área do stress ocupacional envolve vários domínios, deste

a análise dos níveis de stress, a identificação das fontes de stress até às estratégias de

enfrentamento de situações stressantes. No âmbito do presente trabalho, serão abordados os dois

primeiros domínios, por se tratar de uma primeira abordagem neste grupo de profissionais.

Pesquisas recentes destacam também os efeitos negativos do stress ocupacional na saúde

física e mental, na satisfação profissional e na produtividade e rendimento dos indivíduos, em

particular, e das organizações, em geral. Com efeito, vários autores tem vindo a considerar não só

a associação entre stress ocupacional e problemas de saúde mental e física, mas também o facto de

o absentismo e o rendimento profissional serem, em grande parte, determinados pelo stress

ocupacional vivenciado pelos trabalhadores. (Melo, Gomes e Cruz, 1997)

Ao identificarem-se as fontes de stress para os profissionais de saúde, contribuições

importantes poderão ser desencadeadas por este estudo para sensibilizar os gestores de instituições

de saúde no país sobre a importância de melhorar a qualidade de vida no trabalho exercido pelos

médicos, já que o mesmo tem um impacto directo sobre os seus pacientes/utentes.

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1.3 Objectivos Objectivo Geral:

• Analisar o stress ocupacional nos médicos da cidade de Maputo.

Objectivos Específicos:

• Identificar e descrever a percepção dos médicos sobre o conceito de stress;

• Identificar e descrever o nível de stress nos médicos;

• Identificar e discriminar as fontes de stress percepcionadas pelos médicos.

Este trabalho encontra-se estruturado em seis capítulos. No primeiro capitulo, é feita a

contextualização do problema de investigação, apresenta-se a justificativa e os objectivos do

estudo. No segundo capitulo, apresenta-se a fundamentação teórica com incidência para os

principais conceitos, modelos teóricos e investigações sobre o stress ocupacional. No terceiro

capítulo aborda-se os métodos, procedimentos e instrumentos adoptados para a realização da

pesquisa. No quarto capítulo apresenta-se os resultados dos estudo. No quinto capítulo, procede-.se

à discussão dos resultados, confrontando a literatura e os principais achados do estudo. Finalmente,

no sexto capítulo, tecem-se as principais conclusões do estudo e apresentam-se algumas sugestões

para futuras investigações nesta linha de pesquisa.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Conceito de Stress

O stress consiste num conjunto de reacções primitivas que preparam o organismo humano

para a luta pela sobrevivência, provocando uma resposta física, constituindo, muitas vezes, fonte

de dificuldades de adaptação e factor de doença. (Comissão Europeia, 2002)

O stress no trabalho pode ser definido como um conjunto de reacções emocionais,

cognitivas, comportamentais e fisiológicas a aspectos adversos e prejudiciais do conteúdo, da

organização e do ambiente de trabalho. É um estado caracterizado por elevados níveis de excitação

e perturbação frequentemente acompanhado de sentimentos de incapacidade. (Comissão Europeia,

2002).

Em relação ao trabalho, várias modificações se manifestam, como a extinção de diversas

ocupações e o surgimento de novas e o aumento da complexidade de profissões mais tradicionais,

exigindo de seus executantes uma maior capacidade de adaptação física e mental.

No actual contexto, claramente se observam sinais de diminuição de qualidade de vida no

trabalho e aumento de incidência de stress, que foi considerado, recentemente, pela Organização

Mundial da Saúde (OMS), como uma epidemia que atinge 20% da população mundial (Ayres,

Brito e Feitosa, 1999).

O stress no trabalho é condicionado pelos grandes problemas ambientais, económicos e

sanitários e, contribui para uma hoste de sofrimento humano, doenças e morte. Provoca ainda

perturbações importantes em termos de produtividade e competitividade. (Comissão Europeia,

2002)

O stress pode ser definido ainda como uma reacção muito complexa, composta de alterações

psicofisiológicas que ocorrem quando o indivíduo é forçado a enfrentar situações que ultrapassem

sua habilidade de enfrentamento. (Lipp e Tanganelli, 2002)

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O que determina se sintomas de stress vão ocorrer, é a capacidade do organismo de atender

às exigências do momento, independentemente destas serem de natureza positiva ou negativa. A

resistência aos desafios enfrentados é também influenciada consideravelmente pelas estratégias de

enfrentamento ou coping, presentes no repertório da pessoa. (Lipp e Tanganelli, 2002)

Pesquisas no mundo inteiro revelam que o stress reduz significativamente o desempenho

pessoal e profissional. Uma empresa com os seus trabalhadores stressados tem baixa performance

e produtividade, no entanto, a falta de stress também é nocivo às organizações. O objectivo está no

ponto de equilíbrio do stress ou stress produtivo. Isto significa que as empresas precisam de

aprender a gerir esse ponto. (Almeida , 2002)

Figura 1: Factores desencadeadores do Stress

Fonte: Almeida (2002)

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2.2 Tipos de Stress

O stress pode ser negativo ou positivo. O stress torna-se negativo (distress) quando dele

podem advir consequências como doenças, mal-estar físico geral, desânimo, e uma grande

variedade de patologias físicas ou mentais e até mesmo a morte. (Comissão Europeia, 2002)

França e Rodrigues (2002) apontam algumas das consequências do distress causadas pelo

trabalho nomeadamente: eclosão de doenças; sobrecarga pessoal e profissional; envelhecimento

precoce; desorganização do projecto de vida e trabalho compulsivo (workaholic).

Porém, pode ser positivo (eustress) se estiver dentro dos limites, ou por outra, se o

conseguirmos o controlar, tornando-se nestes casos um desafio e fonte de motivação. Na ausência

deste controlo pode ser prenúncio de crise o que terá consequências tanto para a nossa saúde como

para a nossa empresa.

Figura 2: Stress positivo versus Stress Negativo

Fonte: França e Rodrigues (2002)

De acordo com França e Rodrigues (2002), alguns dos benefícios que o eustress pode trazer

ao trabalho são:a tensão para competitividade; o revigoramento; o engajamento social e a atitude

empreendedora.

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Saúde e bem-estar podem ser influenciados pelo trabalho quer positiva, quer

negativamente, o trabalho pode fornecer objectivos e sentido à vida. Pode dar-nos identidade, auto-

estima, apoio social e recompensas materiais. É provável que isto aconteça quando as exigências

de trabalho se encontram a um nível óptimo (e não máximo), quando é permitido aos trabalhadores

exercerem um certo grau de autonomia e quando o clima de trabalho é amigável e encorajador. Se

este for o caso, o trabalho pode ser um dos factores que mais promovem saúde ao longo da vida.

No entanto se as condições de trabalho forem caracterizadas pelos atributos opostos, é provável

que venham a causar problemas de saúde, acelerar o seu aparecimento ou despoletar os seus

sintomas. (Comissão Europeia, 2002)

O stress no trabalho pode também influenciar os nossos comportamentos, fazendo com que

alguns de nós comecem a fumar mais ou a comer em demasia, procurar conforto em álcool ou a

correr riscos desnecessários no trabalho ou na condução. Muitos destes comportamentos podem

conduzir à doença ou à morte prematura e o suicídio é um dos muitos exemplos. (Comissão

Europeia, 2002)

2.3 Modelos Explicativos do Stress

Por causa das várias questões relacionadas ao stress, os pesquisadores propuseram modelos

conceituais destinados a integrar as diversas constatações de pesquisas. Existem alguns modelos

que explicam e que marcaram a trajectória conceitual e actual do stress. Em seguida, apresentam-

se alguns destes modelos.

2.3.1 Sindroma Geral de Adaptação

O conceito de Síndrome Geral de Adaptação, foi desenvolvido por Selye como “um

conjunto de respostas inespecíficas que surgem no organismo diante de qualquer situação que exija

da pessoa esforço para adaptação, inclusive psicossociais (França e Rodrigues, 2002, p. 39).

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Conforme França e Rodrigues (2002), este sindroma, consiste em três fases: Reacção de

alarme, Fase da resistência e Fase da exaustão (só nas situações mais graves é que se atinge a

última fase, a da Exaustão):

Figura 3: As três fases do Síndrome Geral de Adaptação1

Fonte: França e Rodrigues (2002)

Reacção de Alarme – é a fase em que o organismo se prepara para a luta ou fuga. Caracteriza-se

pelo aumento da frequência cardíaca; aumento da pressão arterial; aumento da concentração de

glóbulos vermelhos; aumento da concentração de açúcar no sangue; redistribuição de sangue;

aumento da frequência respiratória; dilatação dos brônquios; dilatação da pupila; aumento da

concentração dos glóbulos brancos; ansiedade.

Fase de Resistência – é a fase que se segue á fase de alarme, que acontece, caso o agente stressor

mantenha a sua acção. Caracteriza-se por: aumento do córtex da supra-renal; surgimento de

ulcerações no aparelho digestivo; irritabilidade; insónia; mudanças no humor; diminuição no

desejo sexual e atrofia de algumas estruturas relacionadas à produção de células do sangue.

Fase da Exaustão – é a última fase, que representa muitas vezes a falha dos mecanismos de

adaptação. Há em parte, um retorno à fase de alarme e, posteriormente, se o estímulo stressor

permanecer potente, o organismo pode morrer. Caracteriza-se pelo retorno parcial e breve à

reacção de alarme; falha dos mecanismos de adaptação; esgotamento por sobrecarga fisiológica e,

em casos mais graves, a morte do organismo.

1 Tradução livre da Figura 3: Level of normal resistance (nível de resistência normal); Alarm response (Fase de alarme); Stage of resistance (Fase de resistência); Stage of exhaustion (Fase da exaustão).

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2.3.2 O Modelo de Lazarus e Folkman

Lazarus e Folkman, em 1984, desenvolveram um modelo de stress e coping

(enfrentamento) que se tornou bastante influente. Este modelo enfatiza a função cognitiva do

indivíduo na percepção e interpretação das situações de stress, dentro da concepção de que os

eventos não são stressantes, e sim a forma como são interpretados e a reacção que despertam no

indivíduo.

O conceito subjacente ao modelo é de que “o stress psicológico é uma relação particular

entre a pessoa e o ambiente que é avaliada pela pessoa como onerando ou excedendo seus recursos

e colocando em risco o seu bem-estar” (Lazarus e Folkman, 1984, p. 19).

O modelo de análise leva em conta as seguintes fases, vistas como mediadoras da relação

pessoa-ambiente (Lazarus e Folkman, 1984):

• Avaliação primária – a pessoa examina se, do ponto de vista do seu bem-estar, o

acontecimento é irrelevante, positivo ou stressante.

• Avaliação secundária – é o julgamento relativo ao que pode ser feito (estratégias de

coping).

• Reavaliação – refere-se a uma avaliação modificada, baseada em novas informações

advindas do ambiente e/ou levantadas pela própria pessoa.

• Coping – (enfrentamento), refere-se aos esforços cognitivos e comportamentais, em

constante mudança, de que a pessoa se vale para administrar exigências externas e/ou

específicas, ao avaliar um facto ou evento que excede os recursos que ela detém.

Segundo França e Rodrigues (2002), são vários os factores que influenciam no processo de

avaliação. Eles estão divididos em dois grupos:

• Compromissos: dizem respeito ao que é importante para a pessoa. Quanto maior for o

comprometimento da pessoa com o que está a acontecer, maior vai ser seu compromisso e

poderá influenciar o processo de avaliação. Assim, uma situação poderá conter maior ou

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menor potencial de ameaça ou desafio, na dependência do compromisso que a pessoa

estabelecer com ela. Á medida que a intensidade do compromisso é grande, isto pode

aumentar a vulnerabilidade da pessoa, mas também servir de impulso e ajudá-la a

desenvolver recursos para fazer frente aos obstáculos que possam surgir.

• Crenças: são convicções, premissas que existem nas pessoas sobre as mais diferentes

circunstâncias da realidade. Elas surgem ou estão presentes, em relação à determinada

situação, antes de ela acontecer e influenciam na percepção da pessoa sobre a situação que

está a viver. Porém, nem sempre as pessoas se dão conta da influência de suas próprias

crenças em seus processos de avaliação.

2.3.3 Modelo de Karasek

Robert Karasek, em 1979, publicou um modelo explicativo do stress no contexto laboral,

inicialmente chamado Job Strain (tensão do trabalho) e actualmente é conhecido como Modelo

Exigência-Controle.

A expressão exigência-controle, refere-se aos dois eixos relacionados as características

psicossociais do trabalho, sendo a ideia que está subjacente ao modelo, a de que existe um

“desencontro” entre as condições de trabalho e os trabalhadores individuais: o stress do trabalho é

visto como “as respostas físicas e emocionais prejudiciais que ocorrem quando as exigências do

trabalho não estão em equilíbrio com as capacidades, recursos ou necessidades do trabalhador”

(França e Rodrigues, 2002, p. 420).

Para Karasek (1979), citado por França e Rodrigues (2002), o modelo exigência – controle

prevê que os trabalhadores que se defrontam com alta sobrecarga de exigências (ou pressões

psicológicas), combinada com um baixo controle de trabalho (baixa latitude decisória) correm

maior risco de apresentar problemas de saúde física e mental decorrente do stress (vide figura 4).

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Figura 4: Modelo Exigência Controle de Karasek

Baixa Tensão

Alta Tensão

Activo

Passivo

Baixa

LatitudeLatitudeDecisDecisóóriaria

Baixa

Alta

Alta

NNíívelvel dedeLatitude Latitude (Diagonal A)(Diagonal A)

NNíívelvel dedeTensTensãão o (Diagonal B)(Diagonal B)

Exigências do Trabalho

Fonte: França e Rodrigues (2002)

Inicialmente, nos seus estudos, Karasek apenas incluiu as dimensões exigências do trabalho e

e latitude decisória, contudo, mais tarde, o autor introduziu uma terceira dimensão a qual designou

de “suporte social” dimensão esta representada pela natureza das relações interpessoais entre o

trabalhador, os seus colegas e os seus superiores hierárquicos, constituindo um factor protector do

stress, quando tais relações são caracterizadas como sendo de apoio (França e Rodrigues, 2002).

Este modelo possibilita uma análise do risco de os trabalhadores desenvolverem stress e

certas doenças ou distúrbios a ele relacionados, além da motivação, satisfação no trabalho e o grau

de activação dos trabalhadores.

Baker e Karasek (2000), citados por França e Rodrigues (2002) apontam como principais

fontes de stress:

• Exigências de tempo, estrutura temporal do trabalho e ritmo: horas extras,

trabalho em turnos, trabalho ao ritmo de máquina, pagamento por produção.

• Estrutura das tarefas: falta de controlo, subutilização das capacidades.

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• Condições físicas: desagradáveis, ameaça de riscos físicos ou tóxicos, riscos

ergonómicos.

• Organização do trabalho: ambiguidade do papel, conflito e papel, competição e

rivalidade.

• Extra-organizacionais: factores relacionados à comunidade, insegurança no emprego,

preocupações com a carreira.

• Fontes extratrabalho: pessoas, família, relacionados à comunidade.

Por outro lado, os mesmos autores indicam os vários tipos de consequências decorrentes dos

estágios de stress, nomeadamente:

• Fisiológicas

De curto prazo: catecolaminas, cortisol, aumentos de pressão arterial;

De longo prazo: hipertensão, doenças cardíacas, úlceras, asma.

• Psicológicas (cognitivas e afectivas)

De curto prazo: ansiedade, insatisfação, doença psicogênica de massa;

De longo prazo: depressão, burnout, distúrbios mentais.

• Comportamentais

De curto prazo: no trabalho (absentismo, produtividade e participação), na comunidade

(redução de amizades e de participação).

De longo prazo: “desesperança aprendida”.

2.3.4 O Modelo de Cooper e Colaboradores

Cooper e diversos colaboradores criaram um modelo teórico que procura integrar as

diferentes colaborações que vieram sendo dadas aos estudos de stress, tendo em vista o ambiente

laboral. O stress é visto por estes pesquisadores como qualquer força que conduz um factor

psicológico ou físico além do seu limite de estabilidade, produzindo uma tensão (strain) no

indivíduo. (Melo, Gomes e Cruz, 1997)

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Segundo este modelo, os seus autores consideram os factores ambientais (que envolvem

acontecimentos domésticos, do trabalho e da vida pessoal das pessoas) e factores individuais (que

envolvem características de personalidade, atitudes, e indicadores demográficos) como

desencadeadores de estados de stress, que requerem estratégias de enfrentamento por parte dos

indivíduos para a sua interrupção (vide figura 5).

Figura 5: Modelo de stress no trabalho de Cooper e Colaboradores

Ambiente Laboral

Stress Ocupacional Tensão (strain)

Categorias Ambientais

• Personalidade • FactoresIntrínsecos ao Trabalho

• Relacionamentosno Trabalho

• Papel naOrganização

• Desenvolvimentona Carreira

• Estrutura e ClimaOrganizacionais

Indivíduo

Factores AmbientaisFactores Individuais

• AcontecimentosDomésticos

• Acontecimentosdo Trabalho

• Vida Pessoal

• Atitudes

• IndicadoresDemográficos

Vulnerabilidade Individual

Eventosda Vida

SuporteSocial

Personalidade Locus de Controle

Fonte: Adaptado de França e Rodrigues (2002)

2.4 Factores de vulnerabilidade ao Stress

Um estudo desenvolvido por Holmes e Rahe, em 1967, mostra que existem determinados

acontecimentos ou situações que produzem alterações ou mudanças significativas na vida das

pessoas, como a morte de um familiar, a perda de um emprego ou a aquisição de um novo cargo, o

casamento ou a separação de um casal, o nascimento de um filho, entre outras. (Labrador, 1992)

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De acordo com estes autores, estas situações, que implicam mudanças, podendo envolver,

tanto aspectos negativos, como positivos, geram stress nas pessoas, em maior ou menor grau, pois

exigem do organismo uma adaptação intensa. (Labrador, 1992; Melgosa, 1997)

Para além destes agentes stressantes, os quais Labrador (1992) designa de acontecimentos

vitais intensos e extraordinarios e a que todas as pessoas, em algum momento das suas vidas, se

veêm submetidas, existem os pequenos problemas ou aborrecimentos do dia a dia, que podem

constituir as fontes mais significativas de stress, conforme assinalam Lazarus e Folkman (1984).

Para Lazarus e Folkman (1984) estes agentes stressantes da vida quotidiana, de menor

intensidade, emergem das exigências relacionadas com os papéis que as pessoas desempenham na

sociedade, no âmbito do trabalho, dos assuntos familiares, das questões económicas e no âmbito

das relações sociais ou interpessoais. Este autor considera, ainda, que estes stressantes diários são

mais susceptíveis de produzir um elevado nível de stress nas pessoas, comparando-os com

acontecimentos intensos e extraordinários.

A incidência permanente e de grande intensidade, tanto dos acontecimentos vitais intensos

e dos pequenos problemas do cotidiano, desencadeiam, segundo Labrador (1992), situações

crónicas de stress.

As mudanças sociais afectam, também, os indivíduos, como defende Stora (1990),

apontando vários factores, como industrialização, urbanização, rápidas mudanças económicas,

incertezas políticas, que podem fragilizar os indivíduos e aumentar o nível de stress.

Qualquer um de nós está sujeito ao stress, existem porém alguns factores que contribuem

para a maior exposição ao stress. Marques et al. (2003), citam duas características que influenciam

a vulnerabilidade pessoal face às pressões: o locus de controlo e o tipo de personalidade. Estes

autores afirma que o locus de controlo interno consiste na causalidade dada pelo indivíduo aos

acontecimentos ao seu redor, que pode ser interna ou externa. O primeiro ocorre quando a pessoa

acredita ser o responsável pelo que acontece em sua volta. Por sua vez, o indivíduo com locus de

controlo externo, julga-se incapaz de alterar o meio, responsabilizando o destino ou a sorte pelos

acontecimentos.

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Alguns determinantes deste risco acrescido são comportamentos do “TIPO A” (hostil) - que

têm capacidade de adaptação inadequada, viver e trabalhar em condições socioeconómicas

desfavorecidas e falta de apoio social.

As características pessoais são importantes determinantes dos níveis de stress

experimentados por uma pessoa. Nesse sentido, não são propriamente os stressores que

determinam se o impacto será grande ou pequeno, mas sim a vulnerabilidade individual ás

pressões que, por sua vez, encontra-se atrelada a estrutura psicofísica de cada um. (Marques et al.,

2003).

Por outro lado, conforme Labrador (1992) e França e Rodrigues (2002), existem alguns

aspectos do quotidiano que podem levar as pessoas a percepcionar situações de stress,

nomeadamente:

• Novidade da situação - Uma situação nova mais facilmente será identificada como

potencialmente stressante se for associada com um acontecimento anterior que gerou

ameaça e/ou dano. Pode ser difícil de trabalhar com a novidade pelo pouco conhecimento

que se tem dela, o que poderá despertar na pessoa um grau variável de incerteza e temor.

• Possibilidade de predizer o acontecimento - Á medida que as pessoas são preparadas

para receber uma notícia dolorosa ou viver uma situação que lhes causará aversão, suas

respostas ao stress são menos intensas e o inverso é verdadeiro.

• Incerteza do acontecimento - Quanto maior for a incerteza sobre se determinado evento

significativo vai ocorrer ou não, maior será a capacidade dele em gerar um sentimento de

ameaça; constitui um dos factores mais potentes para impedir uma adaptação adequada e

pode conduzir à imobilidade. Quanto maior for a incerteza, maior a possibilidade de gerar

sentimentos e condutas conflituosas.

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• Iminência do acontecimento - Quanto mais próximo do evento estamos em termos de

tempo, maior será o impacto desse aspecto no processo de avaliação, e consequentemente,

mais intensa poderá ser a resposta ao stress.

• Duração do episódio stressante - Quando o episódio stressante é muito longo, as

consequências sobre o organismo podem ser mais intensas, levando ao desgaste

progressivo e ás vezes, ao esgotamento, o que evidentemente compromete a performance

da pessoa.

• Incerteza sobre quando vai acontecer o evento - Quando o acontecimento é ameaçador,

está muito relacionado com o factor desconhecimento e iminência temporal do

acontecimento.

• Ambiguidade - As situações em que a pessoa não dispõe de informações suficientes para

avaliar o evento de forma adequada. Neste caso, surgem dúvidas sobre como e quando

actuar. Quanto maior a ambiguidade, maior será a tendência em decidir, tendo como base

aspectos de sua personalidade e não dos factos exactos ou da realidade.

O stress é provocado por um desajuste entre nós próprios e o nosso trabalho, por conflitos

entre as nossas funções no trabalho e fora dele e por não possuirmos um grau razoável de controlo

sobre o nosso trabalho e a nossa vida. O stress no trabalho pode ser causado por vários factores,

segundo a Comissão Europeia (2002):

• Carga de trabalho excessiva ou deficitária;

• Tempo insuficiente para completar o trabalho a nosso próprio contento e ao de outros;

• Falta de uma descrição inequívoca das tarefas a realizar ou de uma cadeia de comando;

• Falta de reconhecimento ou recompensa por um bom desempenho profissional;

• Falta de oportunidades para expressar queixas;

• Muitas responsabilidades mas pouca autoridade ou capacidade para tomar decisões;

• Falta de cooperação ou apoio de superiores, colegas ou subordinados;

• Falta de controlo, ou orgulho, relativamente ao produto resultante do nosso trabalho;

• Insegurança no emprego e rotatividade excessiva;

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• Exposição a preconceitos relativos á idade, sexo, raça, etnia ou religião;

• Exposição a violência, ameaças ou assédio;

• Condições físicas de trabalho incómodas ou perigosas;

• Falta de oportunidade para utilizar efectivamente talentos, ou capacidades pessoais;

• Possibilidade de um pequeno erro ou falta de atenção momentânea terem consequências

graves ou desastrosas;

• Qualquer combinação dos factores supra mencionados.

2.5 Condições Clínicas relacionadas ao Stress e ao Trabalho

Quando se trabalha, o corpo vai se modelando às exigências e necessidades mentais, físicas e

de relacionamento de cada função. Compreender as nossas manifestações como reacções desse

modo de viver, especialmente, dentro do trabalho, é o primeiro passo para conhecer nossas

necessidades como pessoa e os limites entre capacitação, exigência de esforço físico e mental e

realização. (França e Rodrigues, 2002)

Algumas das condições clínicas que podem estar relacionadas ao stress e ao trabalho são, na

perspectiva de França e Rodrigues (2002), entre outras:

• Somatizações: são sensações e distúrbios físicos com forte carga emocional e afectiva.

• Fadiga: desgaste de energia física ou mental que pode ser recuperada através de

repouso, alimentação ou orientação clínica específica.

• Depressão: é uma combinação de sintomas, em que prevalece a falta de ânimo, a

descrença pela vida e uma profunda sensação de abandono e solidão.

• Síndrome do pânico: estado de medo intenso, repentino, acompanhado de imobilidade,

sudorese e comportamento arredio.

• Síndrome de burnout: estado de exaustão total decorrente de esforço continuo e

excessivo.

• Síndrome do desamparo: medo continuo de perda do emprego, acompanhado de

sentimento de perseguição e queda de auto-confiança.

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Conforme aponta a Comissão Europeia (2002), o indivíduo que padece de stress pode

apresentar as seguintes reacções fisiológicas:

• Tensão arterial alta;

• Aumento ou irregularidade da frequência cardíaca;

• Tensão muscular com dores subsequentes no pescoço, cabeça e ombros;

• Ansiedade;

• Perturbações depressivas;

• Sensação de boca e garganta secas ou azia devido à produção excessiva de sucos

gástricos.

Todas estas reacções ao stress podem nos fazer sofrer, adoecer ou até mesmo morrer, devido

a doenças cardiovasculares ou cancro (resultante de fumar demais, ingestão de alimentos

demasiado gordos e de falta de fibras alimentares), como defende a Comissão Europeia (2002).

Deste modo, praticamente todos os aspectos de saúde e doença no trabalho podem ser

influenciados. Esta situação pode ser provocada por uma má interpretação emocional e/ou

cognitivas das condições de trabalho que podem ser encaradas como “ameaças”, o que pode levar

a uma variedade de perturbações, doenças e quebra de produtividade. (Comissão Europeia, 2002).

2.5.1 Síndrome da Fadiga

A fadiga pode ser definida como estado físico e mental, resultante de esforço prolongado ou

repetido que terá repercussões sobre vários sistemas do organismo, provocando múltiplas

alterações de funções, que conduz a uma diminuição de performance no trabalho, tanto

quantitativa quanto qualitativa, em graus variáveis, e também ao absentismo do trabalho e a uma

série de distúrbios psicológicos, familiares e sociais. (França e Rodrigues, 2002)

Segundo França e Rodrigues (2002), as principais características desta síndrome são:

• Cansaço e fadiga constante;

• Exaustão, esgotamento e fraqueza;

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• Dores musculares e nas articulações, tonturas, dor de cabeça, perturbações de sono,

alterações digestivas;

• Sudorese, aceleração da frequência do pulso, dos batimentos cardíacos e da respiração,

sensação de falta de ar, palidez ou vermelhidão, diminuição da libido.

Para os autores acima, esta síndrome também desencadeia reacções depressivas leves

caracterizadas por:

• Diminuição do prazer naquilo que faz, pouco interesse pela vida, pelo trabalho, por

desportos, pela vida social, etc;

• Afastamento de parentes e amigos, isolamento;

• Desmotivação, falta de vontade, desatenção, desligamento de tudo;

• Irritação ou desânimo fácil e por vezes intenso, aborrece-se com facilidade;

• Menor interesse sexual e/ou prazer na relação sexual;

• Menor energia, introversão;

• Sensação de peso nos ombros;

• Dificuldade em tomar decisões;

• Diminuição da capacidade de concentração;

• Comprometimento da memória.

A síndrome da fadiga tem como causa, as situações que provocam um estado de tensão

crónica, principalmente naquelas situações em que não há uma sintonia entre a motivação, o

esforço envolvido na tarefa e as funções orgânicas, principalmente as vegetativas. (França e

Rodrigues, 2002)

2.5.2 Distúrbios de sono

Os disúrbios de sono são talvez alguns dos sintomas mais comuns que uma pessoa pode

apresentar quando passa por uma situação que exige dela esforço. Segundo França e Rodrigues

(2002), actualmente estes distúrbios são divididos da seguinte forma:

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• Dificuldade em iniciar ou manter o sono, comumente chamada de insónia - muitas

vezes ela é transitória, relacionada com um momento stressante que se esteja a viver;

nesse caso, ela desaparece espontaneamente, logo que haja uma adaptação à situação,

como no eustress, ou quando o problema desaparece, ou ainda, quando é solucionado.

• Sonolência excessiva – causas comuns de distúrbio de sonolência excessiva são as

chamadas apneias de sono, que se caracterizam por interrupções na respiração durante o

sono. Porém, como os despertares são muito breves, a pessoa não se recorda deles pela

manhã e não tem consciência do seu distúrbio de sono. As pessoas que apresentam

apneia do sono costumam ter sonolência durante o dia, que pode ser constante,

chegando inclusive ao ponto de dormir no trabalho.

• Distúrbios do padrão sono-vigilia – estes distúrbios são comuns nos trabalhadores em

turnos, que são submetidos a mudanças constantes, abruptas e involuntárias do padrão

sono e vigília. Em consequência disso, aumenta o desgaste individual dos trabalhadores

em relação ao trabalho, o rendimento fica prejudicado, surgem dificuldades para

conciliar e manter o sono, sentem-se cansados e sonolentos quando estão acordados, o

que interfere na vida familiar e social.

• Parasonias – neste grupo está incluída uma série de distúrbios como: sonambulismo,

terror nocturno, determinado tipo de enxaqueca, bruxismo (ou ranger de dentes

nocturno, que é muito mais intenso em situações de distress).

2.5.3 Workaholics

O termo em inglês “workaholic”, é hoje conhecido e utilizado universalmente e refere-se às

pessoas que são “viciadas”, dependentes do trabalho. Praticamente não sabem e não conseguem

fazer outra coisa na vida a não ser trabalhar e, quando chega o final da semana, ou férias, em que,

usualmente, são obrigadas pela empresa a tirá-las. (França e Rodrigues, 2002)

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Os “workaholics” apresentam ainda dificuldades em conviver com a família, com o lazer e

a vida social, mostrando-se irritadiços e alguns chegam a desenvolver manifestações depressivas,

em geral, porque carregam dentro de si um nível de ansiedade muito intenso e “acostumaram-se” a

lidar com o stress, utilizando o trabalho como válvula de escape. Muitas dessas pessoas

apresentam o denominado padrão Tipo A de personalidade. (França e Rodrigues, 2002)

2.5.4 Depressão

Momentos de tristeza são reacções comuns a qualquer pessoa e podem emergir em situações

quotidianas que são desencadeadas por situações de perda, de luto e decepções importantes.

Segundo Fraça e Rodrigues (2002), a depressão apresenta vários sintomas de intensidade variável,

nomeadamente:

• Redução do nível de energia;

• Perda de interesse;

• Dificuldade em iniciar actividades, principalmente de manhã;

• Diminuição do apetite ou aumento da ingestão de alimentos;

• Perda ou ganho de peso;

• Insónia inicial ou acordar precoce;

• Hipersónia durante o dia;

• Preocupação maior que o habitual;

• Dificuldade em tomar decisões;

• Sentimento de desespero;

• Pessimismo;

• Diminuição do prazer nas actividades em geral;

• Diminuição da libido;

• Afastamento das actividades sociais;

• Irritabilidade;

• Diminuição da auto-estima;

• Ideias negativas sobre si mesmo;

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• Crises de choro;

• Angústia;

• Lentificação dos movimentos e/ou dos pensamentos;

• Pensamento de que a morte seria uma alivio ou solução;

• Ideias ou planos de suicídio;

• Incremento de preocupação com a saúde.

2.5.5 Burnout

O sindroma de burnout, seria a resposta emocional a situações de stress crónico em função de

relações intensas – em situações de trabalho – com outras pessoas ou profissionais que apresentam

grandes expectativas em relação a seus desenvolvimentos profissionais e dedicação à sua

profissão, no entanto, em função de diferentes obstáculos, não alcançaram o retorno esperado.

(França e Rodrigues, 2002)

Figura 6: Burnout - Curva da Função Humana

Fonte: França e Rodrigues (2002)

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O burnout instala-se insidiosamente. É um estado que vai corroendo progressivamente a

relação do sujeito com sua actividade profissional. De acordo com França e Rodrigues (2002) o

burnout é caracterizado por três aspectos básicos:

• Exaustão emocional – diante da intensa carga emocional que o contacto frequente e

intenso com pessoas impõe, principalmente com aquelas que vivem situações de

sofrimento, o indivíduo pode desenvolver exaustão emocional. O profissional sente-se

esgotado, com pouca energia para fazer frente ao dia seguinte de trabalho, e a

impressão que ele tem é que não terá como recuperar essas energias. Esse estado

costuma deixar os profissionais pouco tolerantes, facilmente irritáveis, “nervosos”,

“amargos”, no ambiente de trabalho e até mesmo fora dele, com família e amigos.

• Despersonalização – é o desenvolvimento do distanciamento emocional que se

exacerba, como frieza, indiferença diante das necessidades dos outros, insensibilidade

e postura desumanizada. O contacto com as pessoas será apenas tolerado, e a atitude

em geral será de intolerância, irritabilidade, ansiedade.

• Redução da realização pessoal e profissional – diante de tal deterioração da qualidade

da actividade, a realização profissional e pessoal ficam extremamente comprometidas.

Com o incremento da exaustão emocional e da despersonalização e todas suas

consequências, não é raro um senso de inadequação e o sentimento de que se têm

cometido falhas, com seus ideais, normas, conceitos. Como consequência surge queda

da auto-estima, que pode chegar á depressão.

2.6 Estudos e Pesquisas sobre o Stress

Melo, Gomes e Cruz (1997) analisaram o stress ocupacional num grupo constituído por

120 profissionais da saúde e do ensino, dos quais 40 médicos, 40 enfermeiros e 40 professores

universitários. Os resultados deste estudo apontaram como principais fontes de stress

percepcionadas pela amostra: o clima e a estrutura organizacional, a carreira e a realização

profissional e o papel das chefias. Por outro lado, o estudo apontou que os profissionais de saúde

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apresentaram níveis significativamente mais elevados de pressão e stress no trabalho

comparativamente aos professores universitários, particularmente, no que se refere aos factores

relacionamento com as chefias e carreira e realização.

Lautert, Chaves e Moura (1999) investigaram as fontes geradoras de stress na actividade

gerencial do enfermeiro que trabalha no hospital e as principais alterações que o stress pode

acarretar sobre a saúde desse profissional. Dos participantes do estudo, 48% apresentaram sinais de

stress e a sobrecarga de trabalho foi a fonte que determinou a maior estimativa de risco relativo de

estress. Em relação aos sintomas de stress, as alterações cardiovasculares foram as que tiveram

maior incidência nos auto-relatos. No entanto, as alterações gastrintestinais estiveram relacionadas

com um risco maior para stress. O gerenciamento de pessoal foi a fonte de estresse que apresentou

maior número de correlações significativas com os sintomas de stress. Por outro lado, as alterações

imunitárias foram as que mais se correlacionaram com as fontes de stress. Os resultados deste

estudo sugerem que o stress gerado pela actividade gerencial do enfermeiro desencadeia alterações

na saúde.

Ayres, Brito e Feitosa (1999) procuraram identificar as fontes de stress em docentes

universitários com cargos de chefia intermediária e as estratégias defensivas por eles utilizadas. A

pesquisa desenvolveu-se numa universidade pública no Brasil abrangendo uma amostra de 50%

dos ocupantes de cada cargo de chefia intermediária (Diretores e Diretores Adjuntos de Centro;

Chefes e Subchefes de Departamento; e Coordenadores e Subcoordenadores de Curso), totalizando

35 participantes. Os resultados apontam os itens relativos à rede de comunicações, ao

relacionamento com colegas e com os alunos, como os factores de maior potencial de stress. E

destacam os Diretores Adjuntos de Centro como o cargo com maiores índices de fontes de stress.

Entre as estratégias defensivas, as mais utilizadas são a expressão dos sentimentos e a busca de

suporte social, sendo os Diretores de Centro os que mais as utilizam.

Souza (2001) realizou um pesquisa para analisar a QVT em 200 professores universitários

em fase de mestrado, tendo concluído que 100% da população não possuía qualidade de vida ideal,

demonstrando várias falhas em vários aspectos, deixando claro o desequilíbrio entre as

necessidades psico-fisiológicas, assim como 88% apresenta níveis de stress elevado e 12% níveis

de stress tolerável.

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No Brasil, um estudo desenvolvido por Motter (2001) com médicos de diversas

especialidades do Hospital Geral de Curitiba revelou 36,5% da população estudada com stress,

23% com diferentes níveis de depressão e somente 3,9% dos médicos com boa qualidade de vida,

ou seja, com sucesso afectivo, social, profissional e de saúde.

Stacciarini e Tróccoli (2001) desenvolveram uma investigação exploratória para

compreender o stress em diferentes ocupações do profissional enfermeiro, tendo como objectivo

analisar o que é stress para o enfermeiro, identificar os elementos stressantes em diferentes

actividades ocupacionais deste profissional e averiguar se a actividade ocupacional exercida pelo

enfermeiro, é percebida como stressante. A amostra abrangeu três grupos de enfermeiros

(assistentes, gestores e docentes) inseridos no serviço público da cidade de Brasília e os dados

foram colectados através de entrevistas individuais semi-estruturadas. Os resultados da

investigação apontaram para o facto de não existir uma clareza sobre o conceito de stress entre

estes profissionais, mas os mesmos indicaram como principais fontes de stress: factores intrínsecos

ao trabalho, relações no trabalho, papéis stressantes e estrutura organizacional.

Lipp e Tanganelli (2002) analisaram o stress e qualidade de vida em profissionais

magistrados da justiça do trabalho no Brasil, procurando identificar diferenças entre homens e

mulheres. O estudo permitiu averiguar o stress ocupacional de Magistrados da Justiça do Trabalho,

níveis de qualidade de vida, fontes de stress e estratégias de enfrentamento. Os dados colectados

permitiram concluir que 71% dos juízes apresentaram sintomas de stress, havendo maior

incidência nas mulheres e que a qualidade de vida dos magistrados estava comprometida nas áreas

social, afectiva, profissional e de saúde.

Christophoro e Waidman (2002) desenvolveram um estudo exploratório descritivo, de

natureza qualitativa, numa amostra de 30 enfermeiros, docentes universitários, no Brasil com o

objectivo de verificar a relação das condições de trabalho com a presença do estresse ocupacional,

quando o profissional é submetido a uma rotina constante. Os dados mostraram que a maioria dos

enfermeiros relataram estresse e atribuíram-no a várias razões: às condições de trabalho, à dupla ou

tripla jornada, às questões financeiras e às pressões do trabalho como pós-graduação,

competitividade e relacionamento interpessoal conflitante.

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Murta e Tróccoli (2004) conduziram um estudo para identificar fontes de satisfação e

insatisfação para com um programa de gestão do stress ocupacional baseado no modelo cognitivo-

comportamental. Duzentos e dez trabalhadores de um hospital participaram de 24 sessões dirigidas

ao desenvolvimento de estratégias individuais de enfrentamento do stress, através de vivências,

ensaio comportamental, relaxamento, reestruturação cognitiva, solução de problemas e auto-

monitoramento. Os relatos verbais dos participantes foram registrados ao fim de cada sessão e

submetidos a análise de conteúdo. As principais fontes de satisfação foram em relação a: técnicas e

instrumentos usados, temas discutidos, suporte social, aprendizagem de habilidades sociais,

sentimentos agradáveis e desenvolvimento de habilidades de solução de problemas. A principal

fonte de insatisfação foi relativa à curta duração das sessões. A análise qualitativa do programa

revelou um processo terapêutico potencialmente favorecedor de impacto positivo sobre a saúde, o

que poderá ser verificado em estudos futuros.

Em Moçambique, os poucos estudos já efectuados no âmbito do stress ocupacional trazem

também algumas contribuições importantes. Búfalo (2001), por exemplo, estudou o impacto

psicológico dos processos de privatização em três Hoteis da cidade de Maputo tendo descoberto

que os trabalhadores que passaram por estes processos de mudança organizacional apresentaram

sinais de stress, ansiedade e depressão.

Serra (2002) estudou o stress numa amostra de estudantes do ISPU em Maputo e verificou

que os níveis mais elevados de stress foram detectados em estudantes trabalhadores, do sexo

feminino, casados, com filhos, com idade superior a 35 anos e que frequentam o turno Pós-

Laboral, tendo 70% dos estudantes apontado o excesso de trabalho como um dos agentes mais

stressantes. Assim, por ordem decrescente de percentagens, foram identificados os dez agentes

consideradas mais stressantes pelos estudantes do ISPU, como resume na tabela a seguir.

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Tabela 1: Os 10 agentes mais stressantes para os estudantes do ISPU

Agentes stressantes %

1º Época de exames e testes 92,7

2º Subida constante do custo de vida 82,3

3º Problemas económicos pessoais ou familiares 78,5

4º Primeiro emprego 72,3

5º Situação sócio-política do país 71,7

6º Morte de algum amigo/a ou pessoa querida 71,5

7º Preocupação com a pontualidade 71,2

8º Excesso de trabalho 70,4

9º Insegurança pública 69

10º Estudos e/ou futuro dos filhos ou familiares próximos 68,5

Fonte: Serra (2002)

Uma pesquisa desenvolvida por Costa (2006) com uma amostra de operários e trabalhadores

administrativos da Fábrica Fasol Lda., em Moçambique, concluiu que características relacionadas

com Requisitos de Trabalho, Discriminação de Tarefas, Condições de Emprego, Autoridade

Decisória e Apoio de Chefes e Colegas constituem factores de stress ocupacional, percepcionados

pelos trabalhadores da Fasol. A pesquisa também apurou que a percepção dos diversos factores de

stress ocupacional por parte dos trabalhadores daquela fábrica varia em função das variáveis sócio-

demográficas: sexo, idade, anos de serviços e turno de trabalho.

Torres (2006) analisou os factores de stress ocupacional no universo de profissionais de

enfermagem que lidam com pacientes com HIV/SIDA, num Hospital-Dia da cidade de Maputo

onde concluiu que os profissionais daquela unidade apresentam níveis de stress elevados quando

confrontados com alguns factores intra/entre-pessoais e externos tais como: medo de contágio do

HIV, pressão de tempo, sobrecarga de trabalho e lidar com mulheres seropositivas, crianças sem

pais e jovens à beira da morte.

Raimundo (2006) analisou este fenómeno numa amostra de 101 profissionais de sete

instituições do sector bancário localizadas na cidade de Maputo. O estudo concluiu que os

profissionais bancários apresentaram maiores índices de vulnerabilidade ao stress quando

comparados ao grupo de controle constituído por 99 profissionais de outros sectores de actividade.

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De acordo com este estudo, as características psicossociais do ambiente de trabalho que mais

contribuem para a vulnerabilidade ao stress dos profissionais bancários pesquisados foram,

nomeadamente: 1) os níveis de exigência ou requisitos do seu trabalho, em particular os requisitos

de tempo e velocidade inerentes á realização do seu trabalho e 2) o nível de controle que os

mesmos possuem sobre o seu trabalho, concretamente os factores relativos ao fraco uso e

desenvolvimento das suas habilidades, á fraca exploração das suas capacidades de iniciativa, á

repetitividade das suas tarefas e á fraca autonomia/autoridade na tomada de decisões relativas ao

seu próprio processo de trabalho.

2.7 A Gestão do Stress

O modo como a pessoa lida com as circunstâncias geradoras de stress exerce grande

influência sobre a sua saúde, modulando a gravidade do stress resultante. O trabalhador poderá ter

sua saúde protegida ao adoptar comportamentos de enfrentamento adequados que amenizem o

impacto psicológico e somático do stress. (Murta e Troccoli, 2004)

O uso de estratégias de enfrentamento saudáveis aumenta em frequência e intensidade

estados emocionais positivos, como tranquilidade, esperança ou bem-estar. Estes sentimentos

interferem directa e indirectamente na saúde física por facilitar o bom funcionamento do sistema

imune, favorecer comportamentos de saúde e potencializar relações interpessoais gratificantes

(Murta e Troccoli, 2004).

Enfrentamento, é o conjunto de esforços que uma pessoa desenvolve para gerir ou lidar com

as solicitações externas ou internas que são avaliadas por ela como excessivas ou acima das suas

possibilidades. (França e Rodrigues, 2002)

Pode-se ver o enfrentamento como uma estratégia da pessoa, não necessariamente

consciente, para obter o maior número de informações sobre o que está a acontecer e as condições

internas (psíquicas) para o processamento e manejo dessas informações: esse recurso constitui um

reforço para manter-se em condições de agir e, assim, diminuir a resposta de distress; dessa forma,

ajuda a manter o equilíbrio do organismo. (França e Rodrigues, 2002)

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Ele diz respeito ao que o indivíduo realmente pensa e sente, o que faz ou o que faria em

determinadas condições. Tanto as pessoas como as organizações necessitam para seu

funcionamento de um certo grau de stress. No entanto, se a pressão sobre elas é muito intensa ou o

oposto, o resultado é que teremos um desempenho insuficiente. (França e Rodrigues, 2002)

As acções para reduzir o stress no trabalho não precisam de ser complicadas, dispendiosas

nem consumir demasiado tempo. Uma das abordagens mais razoáveis e de baixo custo é o controlo

interno. Este é um processo auto-regulador levado a cabo em estreita colaboração entre todos os

intervenientes. Pode ser coordenado por um inspector de trabalho, enfermeiro da área de saúde

pública ou profissional, assistente social, fisioterapeuta ou um responsável dos recursos humanos.

(Comissão Europeia, 2002)

Para identificar o stress no trabalho, suas causas e consequências, há que vigiar a nossa

realização profissional, as condições de trabalho, os termos contratuais, as relações sociais no

trabalho, a saúde, o bem-estar, e a produtividade. (Comissão Europeia, 2002).

De acordo com a Comissão Europeia (2002), o processo de gestão e controle do stress no

contexto laboral envolve os seguintes passos:

1º passo: identificar a incidência, a prevalência, a gravidade e as tendências das exposições aos

factores de stress no trabalho, suas causas e consequências para a saúde.

2º passo: as características de tais exposições que se reflectem na realização profissional, na

organização e nas condições de trabalho são analisadas em função dos resultados obtidos.

3º passo: os intervenientes esboçam um pacote integrado de intervenções e aplicam-no por forma a

evitar o stress no trabalho e a promover o bem-estar e a produtividade combinando, de

preferência, abordagens descendentes e ascendentes (top-down e botton-up).

Os resultados a curto e longo prazo de tais intervenções necessitam então de ser avaliados em

termos de: exposições a factores de stress; reacções de stress; incidência e prevalência de uma

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saúde deficiente; indicadores de bem-estar; produtividade em relação à qualidade e quantidade de

bens ou serviços e os custos e benefícios em termos económicos. (Comissão Europeia, 2002)

Caso as intervenções se revelem infrutíferas, os intervenientes podem querer reconsiderar o

que deve ser feito e como, quando, por quem e para quem. Se de uma forma geral forem positivos,

podem querer continuar ou aumentar os seus esforços seguindo linhas semelhantes. Se o fizerem

numa perspectiva de longo prazo, o local de trabalho torna-se um exemplo de aprendizagem

organizacional. (Comissão Europeia , 2002)

As experiências decorrentes de tais intervenções são, regra geral, muito positivas não só para

os trabalhadores em termos de stress, saúde, bem-estar mas também para o funcionamento e

sucesso de empresas e para a comunidade. (Comissão Europeia, 2002)

Segundo a Comissão Europeia (2002), o stress no trabalho pode ser prevenido através de:

• Redefinição de funções (por exemplo, associando os trabalhadores á tomada de

decisões e evitando o excesso ou défice de trabalho);

• Melhoria do apoio social;

• Promoção de uma recompensa razoável pelo esforço despendido;

• Ajuste de condições físicas de trabalho às capacidades, necessidades e expectativas

razoáveis dos trabalhadores.

O trabalhador e a sua empresa devem aprender a administrar o stress, pois este tema é mais

que uma possibilidade de aumentar lucros e benefícios. É, acima e antes de mais nada, um aviso,

uma oportunidade para viver melhor e prosperar nos negócios com longevidade, (Almeida, 2002).

De acordo com a Comissão Europeia (2002), uma melhoria nas condições que conduzem ao

aparecimento de stress nos locais de trabalho pode se conseguir, através de alterações

organizacionais bastante simples como:

• Conceder ao trabalhador o tempo necessário para realizar de uma forma satisfatória o

seu trabalho;

• Permitir o repouso após especialmente exigentes física e mentalmente;

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• Fornecer ao trabalhador uma descrição clara das suas funções;

• Permitir ao trabalhador tomar parte nas decisões ou acções que afectem o seu trabalho;

• Recompensar o trabalhador pelo bom desempenho das suas funções;

• Certificar-se que as tarefas são compatíveis com as capacidades e recursos do

trabalhador;

• Criar oportunidades para a interacção social, incluindo o apoio emocional e social e a

ajuda entre colegas de trabalho;

• Estabelecer formas de o trabalhador darem voz ás suas queixas e considerá-las séria e

prontamente;

• Harmonizar a responsabilidade e autoridade do trabalhador;

• Clarificar os objectivos e valores da empresa e, sempre que possível, adaptá-los aos

objectivos e valores do trabalhador;

• Promover o controlo e o orgulho do trabalhador relativamente ao produto final do seu

trabalho; definir tarefas que dêem significado, estímulo, sentimento de realização e uma

oportunidade para utilizar suas competências;

• Fomentar a tolerância, a segurança e a justiça no local de trabalho;

• Evitar ambiguidade em questões de segurança do emprego e progressão na carreira;

• Promover a aprendizagem ao longo da vida e a empregabilidade;

• Eliminar exposições físicas e prejudiciais;

• Identificar fracassos, sucessos e respectivas causas e consequências em acções passadas

e futuras a favor da saúde no local de trabalho; aprender a evitar fracassos e a promover

os sucessos através de uma melhoria gradual do ambiente e da saúde ocupacional

(controlo interno).

Todo este processo de medidas que podem ser tomadas pela organização como meio de

diminuir o stress no seio da organização, podem ser válidas a longo prazo.

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33

3 MÉTODO 3.1 Modelo Teórico de Referência

A preocupação em encontrar um modelo teórico que apoiasse esta investigação esteve

presente deste o início do trabalho. Neste sentido, e tendo em conta os objectivos deste estudo,

optou-se por seguir os modelos e linhas de investigação de Holmes e Rahe (1967) e Lazarus e

Folkman (1984), já apresentados no capítulo da fundamentação teórica.

Figura 7: Modelo Teórico de Investigação

Indivíduo

ContextoCaracteristicas

anbientaisFontes de Stress

Avaliação

CaracterísticasIndividuais

Stresspositivo

ounegativo

Fonte: Adaptado dos Modelos de Holmes e Rahe (1967) e Lazarus e Folkman (1984)

Como se esquematiza na figura 7, acima, os pressupostos dos referidos modelos de

referência estipulam que ao longo do ciclo vital dão-se abundantemente actividades, desempenho

de papeís, vivências de sucessos, experiências, situações que desencadeiam stress, ansiedade,

nervosismo, tensão e outros sintomas nos indivíduos. Mas, nem todos os agentes potencialmente

stressantes estão presentes na vida de cada indivíduo e nem afectam-no da mesma maneira. Ao

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contrário, a resposta ao stress é diferencial, depende dos agentes potencialmente stressantes, do

contexto e das características ambientais, mas também, da reacção e capacidade de enfrentamento

por parte do indivíduo. (Seara e Robles, 1996)

A partir de um planeamento cognitivo o indivíduo faz uma avaliação cognitiva dos

acontecimentos stressantes e também de si frente aos mesmos. Contudo, o sucesso pode ser

relevante ou vital, a sua resposta pode ser adequada se o indivíduo conta com uma estratégia de

enfrentamento adequada. Na vivência do stress, supostamente, é fundamental o planeamento

cognitivo (de si mesmo e do contexto), mas também o é a afectividade-emocional de como se vive

tal sucesso vital. (Seara e Robles, 1996)

3.2 Tipo de Investigação

O presente estudo constitui uma pesquisa do tipo descritiva que, segundo Oliveira (2001),

são pesquisas que permitem identificar as diferentes formas dos fenómenos, sua ordenação e

classificação e ainda analisar o papel das variáveis que eventualmente influenciam num

determinado fenómeno.

A estratégia utilizada para a condução da pesquisa baseou-se na combinação de uma

abordagem abordagem qualitativa e quantitativa. A abordagem qualitativa consiste numa

tentativa de compreensão detalhada dos significados e características situacionais apresentadas

pela população em estudo. (Richardson e Colaboradores, 1999) A abordagem quantitativa,

conforme o próprio nome indica, tem como objectivo quantificar opiniões e dados na formas de

colecta de informações, assim, como também, na adopção de técnicas estatísticas. (Oliveira,

2001)

Para a colecta de dados importantes para o estudo, recorreu-se ao uso de diversas técnicas

como: a pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental e o questionário. Segundo Oliveira (2001,

p.119), a pesquisa bibliográfica visa “conhecer as diferentes formas de contribuição científica que

se realizam sobre determinado assunto ou fenómeno”. De acordo com Gil (1996) este tipo de

técnica de pesquisa apresenta a vantagem de possibilitar ao investigador cobrir uma série de

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fenómenos muito mais ampla do que aquela que podia pesquisar directamente. No âmbito do

presente estudo, a pesquisa bibliográfica consistiu na análise de obras científicas, artigos

científicos e teses académicas quer em formato impresso, quer em formato electrónico.

Na perspectiva de Marconi e Lakatos (2002), a pesquisa documental consiste na análise de

fontes primárias na forma de documentos escritos ou não. No âmbito do presente estudo, a

pesquisa documental fui útil para colectar informação sobre a instituição objecto da pesquisa.

O recurso ao uso do questionário de auto-preenchimento como técnica de colecta de dados

deveu-se às diferentes vantagens da sua utilização conforme apresentam Richardson e

Colaboradores (1999):

• Permite obter informações de um grande número de indivíduos simultaneamente ou em

tempo relativamente curto;

• No caso do questionário anónimo, as pessoas podem sentir-se com maior liberdade para

expressarem as suas opiniões;

• O facto da população alvo ter tempo suficiente para responder ao questionário pode

proporcionar respostas mais reflectidas que as obtidas numa primeira aproximação ao tema

pesquisado;

• A tabulação e posterior análise estatística dos dados podem ser feitas com maior facilidade

e rapidez que outros instrumentos (como a entrevista, por exemplo).

Ribeiro (1999) considera que os instrumentos de auto-preenchimento na ausência do

pesquisador, caso particular do presente estudo, não produzem resultados diferentes em amostras

da mesma população que respondem na presença do pesquisador ou em casa com devolução

posterior.

3.3 Participantes

Foi definida como população deste estudo todos os médicos da cidade de Maputo. Para

efeitos de conhecimento do real número de médicos existentes na referida cidade, contactou-se o

Ministério da Saúde (MISAU), tendo aquele órgão informado, através do Sistema de Informação

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de Saúde da existência de 316 médicos em toda a cidade, sendo que destes, 195 trabalham no

Hospital Central de Maputo (HCM), 67 no MISAU, não deixando por outro lado de exercer a sua

profissão de médicos, e 54 destes exercem a sua profissão, como efectivos, nas demais clínicas

existentes na cidade de Maputo (vide tabela 2).

Tabela 2: População de Médicos da Cidade de Maputo

Maputo

Cidade

Hospital Central de

Maputo

Órgãos Centrais

Médicos Hospitalares 14 95 18

Médicos Generalistas 39 99 45

Médicos Especialistas 1 1 4

Total 54 195 67

Fonte: Sistema de Informação de Saúde do MISAU (2007)

Segundo Ribeiro (1999), duas estratégias podem ser adoptadas, quando se pretende colectar

informações acerca de uma população ou universo: colectar informações de toda a população,

processo designado por censo, ou colectar informação de uma amostra representativa dessa

população.

Na âmbito deste estudo, recorreu-se ao uso da segunda estratégia, onde se procurou

selecionar uma amostra intencional da população estudada pelo facto de constitui uma estratégia

que permite reduzir custos de deslocação, permite também, colectar dados num curto espaço de

tempo e, ao mesmo tempo, obter-se dados mais abrangentes, conforme defende Ribeiro (1999).

A amostra intencional, consiste num tipo de amostra não-probabilística em que a escolha dos

elementos amostrais não obedeceu a nenhum critério estatístico, seguindo apenas a conveniência

ou julgamento. Este tipo de amostra tem como limitação o facto de não garantir a

representatividade da população e nem é capaz de calcular os erros de amostragem. (McDaniel e

Gates, 2003)

Por outro lado, relativamente à amostra intencional, Jesuíno (1986), argumenta ser uma

solução eficaz pois quando se trabalha com grupos reais, nomeadamente nos domínios da ciência

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comportamental, torna-se difícil, senão mesmo impossível, na maior parte das situações o recurso

à aleatorização.

Assim, a amostra seleccionada para o presente estudo foi constituída por 61 médicos, na sua

maioria do sexo masculino (vide gráfico 1).

Gráfico 1: Distribuição da Amostra por Sexo

Feminino49,18%Masculino 50,82%

Fonte: Instrumento de Pesquisa

No que diz respeito à faixa etária, como se pode observar no gráfico 2, abaixo, a maior parte

dos médicos participantes desta pesquisa compreendiam idades entre 26 e 35 anos.

Gráfico 2: Distribuição da Amostra por Faixa Etária

Até 25 anosAté 25 anosAté 25 anosAté 25 anos 1,64%1,64%1,64%1,64%

26 a 35 anos26 a 35 anos26 a 35 anos26 a 35 anos37,70%37,70%37,70%37,70%

36 a 45 anos36 a 45 anos36 a 45 anos36 a 45 anos

34,43%34,43%34,43%34,43%

46 a 55 anos46 a 55 anos46 a 55 anos46 a 55 anos

14,75%14,75%14,75%14,75%

56 a 65 anos56 a 65 anos56 a 65 anos56 a 65 anos

11,48%11,48%11,48%11,48%

Fonte: Instrumento de Pesquisa

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Quanto ao estado civíl, 68,9% dos médicos que fizeram parte da amostra deste estudo eram

casados (vide gráfico 3).

Gráfico 3: Distribuição da Amostra por Estado Civil

Casado

68,85%

Solteiro22,95%

Divorciado 4,92%Outro

3,28%

Fonte: Instrumento de Pesquisa

Em relação à nacionalidade, 90,16% da amostra de médicos no âmbito deste estudo eram de

nacionalidade moçambicana, sendo que a percentagem remanescente, de nacionalidade cubana e

portuguesa (vide gráfico 4).

Gráfico 4: Distribuição da Amostra por Nacionalidade

Moçambicana

90,16%

Portuguesa 1,64%

Cubana8,20%

Fonte: Instrumento de Pesquisa

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Dos 61 médicos que representam a amostra deste estudo, um pouco menos que a metade

deste número, possui formação superior correspondente à Licenciatura e apenas 10% têm

concluído o Doutoramento (vide gráfico 5).

Gráfico 5: Distribuição da Amostra por Nível de Formação

Bacharelato 8,33%

Licenciatura

46,67%

Pós-Graduação

15,00%

Mestrado20,00%

Doutoramento 10,00%

Fonte: Instrumento de Pesquisa

Constatou-se que grande número dos médicos da cidade de Maputo, trabalham em mais de

uma instituição. Segundo os dados recolhidos, como instituição principal, os médicos apontam o

Hospital Central de Maputo (HCM), onde se encontra a maior percentagem de médicos (60,7%),

seguindo o Hospital José Macamo (HJM), entre outros hospitais e instituições de saúde (vide

tabela 3).

Tabela 3: Distribuição da Amostra por instituição de Saúde

Frequency Percent Valid Percent Cumulative

Percent CM 3 4,9 4,9 4,9 HCM 37 60,7 60,7 65,6 HGM 1 1,6 1,6 67,2 HJM 6 9,8 9,8 77,0 HMM 4 6,6 6,6 83,6 ICOR 2 3,3 3,3 86,9 MISAU 8 13,1 13,1 100,0

Valid

Total 61 100,0 100,0

Fonte: Instrumento de Pesquisa

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Dos 61 médicos que composeram a amostra deste estudo, 5 deles, para além do seu local

permanente de trabalho, exercem também a sua profissão na Clínica Sommerschield (CSO),

conforme se observa na tabela abaixo.

Tabela 4:Distribuição da Amostra por outras instituições de Saúde onde trabalham

Frequency Percent Valid Percent Cumulative

Percent CSO 5 8,2 8,2 8,2 N/A 56 91,8 91,8 100,0

Valid

Total 61 100,0 100,0

Fonte: Instrumento de Pesquisa

De acordo com o gráfico 6, a maior parte dos médicos que fizeram parte da amostra desta

pesquisa, exerce a sua profissão à mais de 15 anos, seguindo-se os que começaram a exercer à

pouco tempo, que têm até 2 anos de serviço.

Gráfico 6: Distribuição da Amostra por Tempo de Serviço

Até 2 anos

21,31%

2 a 5 anos16,39%

5 a 10 anos

16,39%

10 a 15 anos

13,11%

Mais de 15 anos

32,79%

Fonte: Instrumento de Pesquisa

No que diz respeito à área da especialidade em que estes médicos que representam a amostra

trabalham, constatou-se que a maioria trabalha em clínica geral, o que segundo a tabela 5, abaixo,

corresponde a 14.8 %.

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Tabela 5: Distribuição da Amostra por Área de Especialidade Médica

Área de Especialidade Frequência Percentagem (%)

Anestesiologia 1 1,6

Cardiologia 2 3,3

Cirugia 7 11,6

Clínica Geral 14 23

Estomatologia 1 1,6

Ginecologia 3 4,9

Medicina Interna 3 4,9

Medicina Legal 4 6,6

Microbiologia 2 3,3

Neurologia 1 1,6

Obstétricia 1 1,6

Ortopedia 2 3,3

Otorrino 2 3,3

Pediatria 6 9,8

Pneumologia 1 1,6

Saúde Oral 2 3,3

Saúde Preventiva 1 1,6

Saúde Pública 6 9,8

Traumatologia 2 3,3

TOTAL 61 100

Fonte: Instrumento de Pesquisa

Por outro lado, o gráfico 7, abaixo, ilustra a distribuição da faixas salariais aufereridos pelos

médicos, podendo-se verificar que 44,26% da amostra aufere salários entre 5 a 15 mil Mtn,

enquanto que 29,51% aufere salários entre 16 a 26 mil Mtn.

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Gráfico 7: Distribuição da Amostra por Salário Mensal (Em Mtn)

Ate 5 Mil 1,64%

De 5 a 15 Mil44,26%

De 16 a 26 Mil

29,51%

N/R

24,59%

Fonte: Instrumento de Pesquisa

3.4 Intrumentos

Para a colecta dos dados de forma a responder aos objectivos do presente estudo, foi

elaborado um questionário dividido em três partes. A primeira parte visou colectar dados sócio-

demográficos para a caracterização do perfil dos médicos integrantes da pesquisa.

A segunda parte do questionário contempla duas questões abertas que permitiram analisar a

percepção da amostra de médicos sobre o conceito e fontes de stress laboral.

A terceira parte do questionário é constituída por uma escala de stress Sócio-laboral, da

autoria de Seara e Robles (1996) e traduzida e adaptada ao contexto moçambicano pela Mestre

Andrea Serra2. A escala foi disponibilizada pelo Laboratório de Psicologia da Universidade

Politécnica, tem como principal função o estudo do stress no âmbito laboral e é dirigida à

população que está a trabalhar por conta própria compreendida entre as idades de 20 a 60 anos.

Esta escala apresenta 50 itens, agrupados em três factores básicos, que possibilitaram a

validade deste teste, com base na análise factorial, conforme se apresenta na tabela 6, abaixo.

2 Docente do Curso de Psicologia da Universidade Politécnica e orientadora do presente trabalho de investigação.

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Tabela 6: Descrição dos factores da Escala de Stress Sócio-Laboral

Factor Designação Descrição Itens

Factor I Trabalho em si

mesmo

Integra as tarefas e funções

que o sujeito tem que

realizar

14, 15, 16, 17, 22, 23, 26, 30, 33,

36, 37, 39

Factor II Contexto laboral Entende-se como factor

relativo às condições

ambientais de trabalho

8, 9, 11, 13, 18, 19, 20, 21, 24,

25, 27, 28, 29, 32, 41, 42

Factor III Relação do

sujeito com o

trabalho

Está vinculado à

problemático de si próprio

com o trabalho

1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 10, 12, 31, 34,

35, 38, 40, 43, 44, 45, 46, 47, 48,

49, 50

Fonte: Seara e Robles (1996)

Desta escala obtêm-se, de forma directa, três tipos de pontuações:

• Presença (Sim) ou Ausência (Não) do acontecimento stressante na vida do sujeito.

• Presença de agentes stressantes no passado (P) e actualmente (A);

• Intensidade com que tais agentes stressantes foram vivenciados pelos sujeitos (Nada: 0,

Um pouco:1, Muito:2, Muitíssimo:3).

Para tal, obtêm-se os valores parciais de intensidade em A e P, multiplicando o número de

respostas marcadas como positivas (nº de sim) pela respectiva intensidade (1, 2, ou 3) e, por fim,

somando esses pontos para A e o mesmo para P. A pontuação total directa obtém-se, somando os

valores parciais de A e P. (Seara e Robles, 1996)

3.5 Procedimentos

A presente pesquisa decorreu em várias fases. Numa primeira fase, após a formulação do

problema e objectivos de investigação, procedeu-se à revisão bibliográfica para sustentar a

pesquisa de campo.

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Numa segunda fase, decorreu a preparação para a pesquisa de campo que incluiu a

solicitação à Universidade de credenciais dirigidas às diversas instituições de saúde existentes na

cidade de Maputo, para efeitos de apresentação da pesquisadora junto das mesmas solicitando a

sua colaboração na pesquisa de campo.

A terceira fase ocorreu após a pesquisadora ter em sua posse as credenciais para se

apresentar junto das diversas instituições de saúde e o formato final do instrumento de pesquisa

para a colecta de dados junto à amostra de médicos. Nesta fase, a pesquisadora dirigiu-se às

diversas instituições de saúde, solicitando a colaboração

No momento do contacto com os trabalhadores, a investigadora começava por se apresentar,

depois explicar o propósito do estudo e, finalmente, solicitava a colaboração dos mesmos no

preenchimento do instrumento de pesquisa, tendo sido definido um prazo de 15 dias para a

devolução do instrumento. No entanto, este prazo teve que ser estendido uma vez que muitos dos

trabalhadores só devolveram o instrumento preenchido passado um vez da data da sua distribuição.

Devolvidos todos os instrumentos de pesquisa devidamente preenchidos pelos trabalhadores,

passou-se à fase de tratamento dos dados utilizando-se o Pacote Estatístico para Ciências Sociais

(SPSS).

Para o efeito, foi criada uma base de dados, onde, primeiro, foram categorizadas as variáveis

que se pretendiam analisar e, posteriormente, codificadas em números, dado as exigências do

programa a utilizar. Terminada a categorização e codificação das variáveis, os dados foram, então,

processados na referida base de dados, para se proceder à análise estatística dos mesmos.

Para a realização da análise estatística dos dados no SPSS recorreu ao uso de gráficos de

percentagens e tabelas de frequência e o cálculo de médias para analisar o nível de stress da

amostra estudada.

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4 RESULTADOS 4.1 Percepção sobre a palavra stress

Para responder ao primeiro objectivo do presente estudo, procedeu-se à análise de

frequências das respostas obtidas da amostra de médicos sobre a sua percepção da palavra

“Stress”. Conforme se apresenta na tabela 7, abaixo, os médicos associassam o conceito de stress a

aspectos psíquicos, com maior incidência para a ansiedade, tensão, fadiga mental, pressão e

preocupação, aspectos fisiológicos, particularmente, o cansaço e a insónia e outros aspectos como

o baixo salário.

Tabela 7: Percepção da Amostra sobre a palavra “Stress”

Aspectos Psiquicos Frequência

Aspectos Fisiológicos

Frequência

Outros Aspectos

Frequência

Agitação 2 Anorexia 1 Baixo Salário 2

Angústia 2 Cansaço 10 Perda 1

Ansiedade 25 Cefaleias 1

Depressão 6 Doente Grave 1

Desmotivação 1 Morte 1

Fadiga Mental 12 Insónia 5

Falta de Concentração 5

Frustação 5

Responsabilidade 1

Insegurança 1

Pressão 12

Irritabilidade 6

Inquietação 9

Medo 2

Trauma 1

Preocupação 12

Raiva 1

Saturação 1

Tensão 13

Fonte: Instrumento de Pesquisa

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4.2 Nível de Stress

Para responder ao segundo objectivo do presente estudo, procedeu-se ao cálculo das médias

das pontuações parciais e global obtidas através da aplicação da escala de stress laboral à amostra

de médicos.

Como pode ser visto na tabela 8, que se segue, os médicos da cidade de Maputo, de uma

maneira geral, encontram-se mais estressados actualmente do que o que o foram no passado, sendo

o nível de stress global médio de 43,07 pontos.

Tabela 8: Nível de Stress da Amostra pesquisada

N Minimum Maximum Mean Std. Deviation Nível de Stress actual 61 0 122 35,70 27,149 Nível de Stress no passado 61 0 40 7,36 7,912

Nível de Stress global 61 0 131 43,07 27,670 Valid N (listwise) 61

Fonte: Instrumento de Pesquisa 4.3 Fontes de stress

Para responder ao terceiro objectivo deste estudo, procedeu-se à análise das frequências das

fontes de stress apontadas pelos médicos para cada um dos factores em estudo, nomeadamente:

fontes de stress relacionadas com o trabalho em si mesmo, fontes de stress relacionadas com o

contexto laboral e fontes de stress associadas à relação do sujeito com o trabalho.

Relativamente às fontes de stress associadas ao factor “trabalho em si mesmo”, a amostra de

médicos apontou, em maior percentagem, a sobrecarga de tarefas e funções laborais, as limitações

de tempo para realizar o trabalho, o facto de não poderem realizar o seu trabalho como gostariam e

ainda o ritmo de trabalho (vide tabela 9) .

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Tabela 9: Fontes de Stress associadas ao Factor “Trabalho em si mesmo”

Item Fontes de Stress relacionadas com o Factor I

(Trabalho em si mesmo) %

14 Sobrecarga de tarefas e funções laborais 78,70% 26 Limitações de tempo para realizar o trabalho 65,60% 30 Não poder realizar o seu trabalho como gostaria de fazê-lo 57,40% 17 Ritmo de trabalho 57,40% 16 Horário de trabalho ou mudança do mesmo 50,80% 23 Tomada constante de decisões importantes 50,80% 22 Responsabilidade laboral excessiva 49,20% 36 Mudar de local de residência ou cidade pelo trabalho 29,50% 15 Tipo de trabalho (pelo facto de ser pouco motivador) 26,20% 33 Trabalhar em algo para o qual não está preparado 21,30% 37 Mudar de posto de trabalho 21,30% 39 Viajar com frequência por razões laborais 21,30%

Fonte: Instrumento de Pesquisa

Para a maioria dos médicos participantes neste estudo, as fontes de stress associadas ao

contexto laboral são, essencialmente, a subida constante do custo de vida, a falta de factores

aliciantes no trabalho, a desorganização do trabalho, a competitividade laboral e a falta de

reconhecimento do seu trabalho (vide tabela 10).

Tabela 10: Fontes de Stress associadas ao Factor “Contexto Laboral”

Item Fontes de Stress relacionadas com o Factor II

(Contexto Laboral) %

9 Subida constante do custo de vida 86,90% 24 Falta de factores aliciantes no trabalho 65,60% 19 Desorganização do trabalho 59,00% 8 Competitividade laboral 52,50% 42 Falta de reconhecimento do seu trabalho 52,50% 13 Relações com os colegas, chefes ou subordinados 47,50% 18 Ambiente físico do seu trabalho 44,70% 21 Interrupção constante do ritmo de trabalho 44,30% 25 Trabalhar para um público exigente 42,60% 11 Dívidas, empréstimos e hipotécas 42,60% 27 Poucas possibilidades de promoção laboral 42,60% 20 Que supervisionem constantemente o seu trabalho 32,80% 32 Insegurança no posto de trabalho 32,80% 28 Receber críticas constantes de chefes e colegas 31,10% 29 Existência de "Padrinhos" no seu trabalho 29,50% 41 Perda de autoridade 23,00%

Fonte: Instrumento de Pesquisa

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Grande parte da amostra de médicos deste estudo apontou, como principais fontes de stress,

no âmbito da relação do sujeito com o trabalho, a baixa remuneração ou diminuição de

vencimentos, a situação económica própria ou da familia, ter que pagar impostos ou rendas,

depender de um carro ou outro meio para ir trabalhar, o seu futuro profissional, a etapa de

preparação profissional e a etapa de regresso de férias e reinício do trabalho (vide tabela 11).

Tabela 11: Fontes de Stress associadas ao Factor “Relação do Sujeito com o Trabalho”

Item Fontes de Stress relacionadas com o Factor III

(Relação do sujeito com o trabalho) %

31 Baixa remuneração ou diminuição de vencimentos 78,70% 10 Situação económica própria ou da familia. 72,10% 47 Ter que pagar impostos ou rendas. 60,70% 34 Depender de um carro ou outro meio para ir trabalha r. 57,40% 46 Seu futuro profissional. 57,40% 4 Etapa de preparação profissional. 54,10% 49 Etapa de regresso de férias e reinício do trabalho. 54,10% 12 Chegar tarde ao trabalho, reuniões ou entrevistas. 45,90% 43 Não ter conseguido atingir os objectivos propostos. 41,00% 35 Viver longe da familia. 39,30% 45 Êxito profissional alcançado. 37,70% 7 Apresentar-se a exames e/ou testes de selecção laboral. 34,40% 48 Etapa de preparação de férias. 34,40% 44 Fracasso profissional. 24,60% 6 Apresentar-se a uma entrevista de selecção. 26,20% 50 Proximidade da reforma. 23,00% 5 Fazer o serviço militar. 18,00% 40 Implicação ou influência negativa da familia no seu trabalho. 18,00% 1 Periodo de procura do primeiro emprego. 16,40% 3 Estar desempregado. 16,40% 38 Periodo de ausência no trabalho por motivos de doença. 16,40% 2 Situação de emprego eventual ou temporário. 14,80%

Fonte: Instrumento de Pesquisa

Outras fontes de stress, segundo a percepção dos médicos, que os resultados deste estudo

indicam são, entre outras, as más condições de trabalho, a sobrecarga de trabalho, o baixo salário e

a metodologia de trabalho (vide tabela 12).

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Tabela 12: Percepção de outras fontes de stress pela Amostra pesquisada

Fontes de Stress Gerais Frequência

Crime 1 Falta de Reconhecimento 4 Más condições de trabalho 34 Metodologia de trabalho 14 Pobreza 2 Salário Baixo 17 Sobrecarga de trabalho 35 Trabalhar em vários sitios 11

Fonte: Instrumento de Pesquisa

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5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Os resultados do presente estudo revelam que para os médicos, o sinónimo de stress significa

essencialmente, ansiedade, tensão, fadiga mental, pressão e preocupação entre outros aspectos de

carácter psicológico. No entanto, também associassam o termo a aspectos fisiológicos como

cansaço e insónia e outros aspectos como baixo salário.

De facto, todos os termos indicados pelos médicos como sinónimo da palavra stress

relacionam-se com os sintomas associados a estados de stress, conforme aponta a literatura de

especialidade. A ansiedade, o cansaço e a insónia são apontados por França e Rodrigues (2002)

como alguns dos sintomas mais comuns que os indivíduos apresentam quando são submetidos a

situações que exigem grande esforço ou tensão.

Particularmente o cansaço como resultado de um esforço prolongado do organismo gera

diversas alterações de funções afectando, consequentemente, o desempenho do indivíduo no

decurso da sua actividade laboral e uma série de perturbações psicológicas, familiares e sociais.

(França e Rodrigues, 2002)

Como resultado deste estudo, também foi possível verificar que actualmente a amostra de

médicos pesquisada apresenta índices de stress mais elevados que no passado. Estes achados são

compatíveis com os estudos desenvolvidos por Melo, Gomes e Cruz (1997), Motter (2001),

Christophoro e Waidman (2002) e Torres (2006), todos eles desenvolvidos junto a amostras de

profissionais de saúde.

De facto, a vulnerabilidade ao stress por parte de profissionais de saúde, tem sido apontada

frequentemente na literatura e, no caso concreto do contexto moçambicano, além do estudo de

Torres (2006) realizado junto a profissionais de enfermagem do Hospital-Dia da cidade de

Maputo, o presente estudo demonstra que esta tendência também parece prevalecer, pese embora

sejam necessários estudos mais aprofundados e representativos para comprovar esta tendência.

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Os médicos pesquisados também apontaram várias fontes de stress a que estão sujeitos. Das

fontes de stress associadas ao factor “trabalho em si mesmo”, as mais citadas foram a sobrecarga

de tarefas e funções laborais, as limitações de tempo para realizar o trabalho, o facto de não

poderem realizar o seu trabalho como gostariam e ainda o ritmo de trabalho.

A sobrecarga de trabalho é uma das fontes de stress apontada nos estudos de Lautert, Chaves

e Moura (1999), Torres (2006) e Raimundo (2006). Por outro lado, à semelhança deste estudo,

Raimundo (2006), concluiu no seu estudo que o ritmo de trabalho contitui uma das características

do trabalho associadas ao risco de stress.

Não realizar o trabalho como se gostaria, ou seja, não ter autonomia ou autoridade para

decidir sobre como realizar o trabalho é, também, tal como se verifica neste estudo, um dos

factores psicossociais do ambiente de trabalho que desencadeiam situações de stress, comprovados

nos estudos de Costa (2006) e Raimundo (2006).

Os achados desta pesquisa também apontam que os médicos indicaram como principais

fontes de stress associadas ao contexto laboral, a subida constante do custo de vida, a falta de

factores aliciantes no trabalho, a desorganização do trabalho, a competitividade laboral e a falta de

reconhecimento do seu trabalho.

A competitividade laboral, assim como neste estudo, constituiu também uma das principais

fontes de stress no trabalho apontadas por enfermeiros brasileiros, no estudo desenvolvido por

Christophoro e Waidman (2002).

No entanto, conforme mencionado na fundamentação teórica deste trabalho, na perspectiva

de Lazarus e Folkman (1984) as fontes de stress mais significativas e mais susceptíveis de gerar

stress nos indivíduos são as relacionadas com os papéis desempenhados quer a nível laboral, quer a

nível social, económico e familiar.

Esta perspectiva pode justificar o facto da maior parte dos médicos pesquisados indicarem

como principais fontes de stress no âmbito da relação do sujeito com o trabalho, a baixa

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remuneração ou diminuição de vencimentos, a situação económica própria ou da familia, ter que

pagar impostos ou rendas, depender de um carro ou outro meio para ir trabalhar, o seu futuro

profissional, a etapa de preparação profissional e a etapa de regresso de férias e reinício do

trabalho.

Estes achados não são surpreendentes no contexto moçambicano já que Serra (2002), na sua

pesquisa com estudantes trabalhadores da cidade de Maputo, também detectou que a subida

constante do custo de vida e os problemas económicos pessoais ou familiares constituiam fontes de

stress para a amostra estudada.

Factores relacionados com o futuro profissional, nomeadamente a carreira e realização

profissional também foram identificados como associados ao stress laboral nos estudos

desenvolvidos por Christophoro e Waidman (2002) e Melo, Gomes e Cruz (1997).

Outras fontes de stress, segundo a percepção dos médicos, que os resultados deste estudo

indicam são, entre outras, as más condições de trabalho, a sobrecarga de trabalho, o baixo salário e

a metodologia de trabalho.

Condições de trabalho e questões financeiras foram relatadas por profissionais de saúde

como fontes de stress na investigação conduzida por Christophoro e Waidman (2002). Por outro

lado, enquanto que no estudo de Serra (2002) 70% da amostra estudada apontou o excesso de

trabalho como uma das principais causas do stress, na investigação conduzida por Lautert, Chaves

e Moura (1999) a sobrecarga de trabalho foi a fonte que determinou a maior estimativa de risco

relativo de stress em profissionais de saúde.

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6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES

Face aos principais objectivos definidos para o presente estudo e tendo em conta os resultados

encontrados, pode-se concluir que os médicos da amostra pesquisada:

• Associam o conceito de stress aos principais sintomas psíquicos e fisiológicos que

o organizmo humano manifesta quando se encontra sobre tensão, nomeadamente:

ansiedade, tensão, fadiga mental, pressão, preocupação, cansaço e insónia;

• Apresentam um nível de stress actualmente mais elevado que no passado;

• Indicam como principais fontes de stress associadas ao factor “trabalho em si

mesmo”, a sobrecarga de tarefas e funções laborais, as limitações de tempo para

realizar o trabalho, o facto de não poderem realizar o seu trabalho como gostariam

e ainda o ritmo de trabalho;

• Relatam como principais fontes de stress associadas ao contexto laboral, a subida

constante do custo de vida, a falta de factores aliciantes no trabalho, a

desorganização do trabalho, a competitividade laboral e a falta de reconhecimento

do seu trabalho;

• Descrevem como principais fontes de stress, no âmbito da relação do sujeito com

o trabalho, a baixa remuneração ou diminuição de vencimentos, a situação

económica própria ou da familia, ter que pagar impostos ou rendas, depender de

um carro ou outro meio para ir trabalhar, o seu futuro profissional, a etapa de

preparação profissional e a etapa de regresso de férias e reinício do trabalho;

• Percepcionam ainda outras fontes de stress no trabalho, nomeadamente: as más

condições de trabalho, a sobrecarga de trabalho, o baixo salário e a metodologia

de trabalho.

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Diante das conclusões acima apresentadas, é pertinente deixar algumas sugestões para

futuros investigares com interesse nesta linha de investigação do stress ocupacional:

• A réplica deste estudo para uma população mais representativa e extensiva a

outras províncias do país por forma a poder-se comprovar a vulnerabilidade do

stress dos médicos no contexto moçambicano e efectuar comparações por zonas

geográficas;

• O estudo das estratégias de enfrentamento do stress na população de médicos, no

contexto moçambicano;

• O estudo comparativo dos níveis de stress entre médicos que exercem a sua

profissão em apenas uma instituição de saúde e aqueles que exercem em mais de

uma instituição.

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ANEXO 1 – Credencial apresentada às instituições de Saúde

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ANEXO 2 – Instrumento de Pesquisa

QUESTIONÁRIO

O presente questionário destina-se à colecta de dados com vista a analisar o fenómeno do Stress em Médicos provenientes de diversas instituições de saúde da Cidade de Maputo. Socilita-se a sua colaboração no preenchimento deste instrumento, seguindo as referidas instruções. Garante-se o anonimato.

PARTE I

DADOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS

Responda às questões que se seguem, preenchendo os espaços em branco ou colocando um X na opção que melhor caracterize a sua situação. A. Sexo:

Masculino Feminino B. Idade: ______ anos C. Estado Civil:

Casado Solteiro Viúvo Divorciado Outro D. Nacionalidade:

Moçambicana Espanhola Fracesa Portuguesa Alemã Inglesa

Brasileira Americana Outra Indique: _____________________________ E. Nível de formação concluído:

Primário Bacharelato Pós-Graduação Doutoramento Secundário Licenciatura Mestrado

F. Instituição(s) onde exerce a profissão de Médico: __________________________________ G. Há quanto tempo em que exerce a profissão de Médico:

Até 2 anos De 2 a 5 anos De 5 a 10 anos De 10 a 15 anos Mais de 15 anos H. Área de especialidade em que trabalha: ___________________________________________________________ I. Salário Mensal (em Mtn): __________________________

PARTE II

PERCEPÇÃO SOBRE O CONCEITO E FONTES DE STRESS

A. Indique algumas palavras que, na sua percepção, são sinónimas da palavra “Stress”.

_____________________________ _____________________________ _____________________________ _____________________________ _____________________________ _____________________________ _____________________________

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B. Na sua percepção, que aspectos, situações ou eventos, constituiem fontes de stress para si e que interferem negativamente no seu dia-a-dia de trabalho médico.

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

PARTE III

ESCALA DE STRESS

INSTRUÇÕES

Na página a seguir a esta irá encontrar uma série de frases relacionadas com acontecimentos importantes,

situações de ansiedade, momentos tensos, de nervosismo, de inquietude, de frustração, etc.

Para cada uma das referidas frases, você deve decidir se algum desses acontecimentos esteve ou está

presente na sua vida. Para isso, na folha de respostas que se encontra na página à seguir à série de frases,

marcará com um círculo no SIM, sempre que um dos acontecimentos se tenha produzido na sua vida; caso

contrário, marcará com um círculo no NÃO.

Sempre que tiver assinalado SIM, na folha de respostas, deverá também assinalar em que medida é que tal

acontecimento o afectou. Para isso, marcará primeiro com um círculo no número que você considere que

melhor representa a intensidade com que tal acontecimento o afectou, sabendo que 0 significa nada, 1 um

pouco, 2 muito e 3 muitíssimo.

Em segundo lugar, deve também indicar na mesma folha de respostas se, todavia, o referido acontecimento

está a afectá-lo actualmente, colocando um círculo na letra A ou se o afectou no passado e deixou de afectá-

lo, colocando um círculo na letra P.

ESPERE, NÃO VIRE ANTES DE LER AS INSTRUÇÕES QUE VÊM NESTA PÁGINA

NÃO ESCREVA NADA NESTA PÁGINA.

Exemplo: “Castigo não merecido” SIM NÃO 0 1 2 3 A P

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Por favor, leia com atenção cada uma das frases e assinale a sua resposta na folha de

respostas na página a seguir a esta.

1. Período de procura do primeiro emprego.

2. Situação de emprego eventual ou temporário.

3. Estar desempregado.

4. Etapa de preparação profissional.

5. Fazer o serviço militar.

6. Apresentar-se a uma entrevista de selecção.

7. Apresentar-se a exames e/ou testes de selecção

laboral.

8. Competitividade laboral.

9. Subida constante do custo de vida.

10. Situação económica própria ou da família.

11. Dívidas, empréstimos e hipotecas.

12. Chegar tarde ao trabalho, reuniões ou entrevistas.

13. Relações com os colegas, chefes ou subordinados.

14. Sobrecarga de tarefas e funções laborais.

15. Tipo de trabalho (pelo facto de ser pouco motivador).

16. Horário de trabalho ou mudança do mesmo.

17. Ritmo de trabalho.

18. Ambiente físico do seu trabalho.

19. Desorganização do trabalho.

20. Que supervisionem constantemente o seu trabalho.

21. Interrupção constante do ritmo de trabalho.

22. Responsabilidade laboral excessiva.

23. Tomada constante de decisões importantes

24. Falta de factores aliciantes no trabalho.

25. Trabalhar para um público exigente.

26. Limitações de tempo para realizar o trabalho.

27. Poucas possibilidades de promoção laboral.

28. Receber críticas constantes de chefes e colegas.

29. Existência de “padrinhos” no seu trabalho.

30. Não poder realizar o seu trabalho como gostaria de

fazê-lo.

31. Baixa remuneração ou diminuição de vencimentos.

32. Insegurança no posto de trabalho.

33. Trabalhar em algo para o qual não está preparado.

34. Depender de um carro ou outro meio para ir trabalhar.

35. Viver longe da família.

36. Mudar de local de residência ou cidade pelo trabalho.

37. Mudar de posto de trabalho.

38. Período de ausência no trabalho por motivos de

doença.

39. Viajar com frequência por razões laborais.

40. Implicação ou influência negativa da família no seu

trabalho.

41. Perda de autoridade.

42. Falta de reconhecimento do seu trabalho.

43. Não ter conseguido atingir os objectivos propostos.

44. Fracasso profissional.

45. Êxito profissional alcançado.

46. Seu futuro profissional.

47. Ter que pagar impostos ou rendas.

48. Etapa de preparação de férias.

49. Etapa de regresso de férias e reinício do trabalho.

50. Proximidade da reforma.

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FOLHA DE RESPOSTAS

Compreende que o número da fila na tabela abaixo onde anota a sua resposta coincide com o do enunciado da página anterior.

SIM NÃO Intensidade Tempo SIM NÃO Intensidade Tempo 1 SIM NÃO 0 1 2 3 A P 26 SIM NÃO 0 1 2 3 A P

2 SIM NÃO 0 1 2 3 A P 27 SIM NÃO 0 1 2 3 A P

3 SIM NÃO 0 1 2 3 A P 28 SIM NÃO 0 1 2 3 A P

4 SIM NÃO 0 1 2 3 A P 29 SIM NÃO 0 1 2 3 A P

5 SIM NÃO 0 1 2 3 A P 30 SIM NÃO 0 1 2 3 A P

6 SIM NÃO 0 1 2 3 A P 31 SIM NÃO 0 1 2 3 A P

7 SIM NÃO 0 1 2 3 A P 32 SIM NÃO 0 1 2 3 A P

8 SIM NÃO 0 1 2 3 A P 33 SIM NÃO 0 1 2 3 A P

9 SIM NÃO 0 1 2 3 A P 34 SIM NÃO 0 1 2 3 A P

10 SIM NÃO 0 1 2 3 A P 35 SIM NÃO 0 1 2 3 A P

11 SIM NÃO 0 1 2 3 A P 36 SIM NÃO 0 1 2 3 A P

12 SIM NÃO 0 1 2 3 A P 37 SIM NÃO 0 1 2 3 A P

12 SIM NÃO 0 1 2 3 A P 38 SIM NÃO 0 1 2 3 A P

14 SIM NÃO 0 1 2 3 A P 39 SIM NÃO 0 1 2 3 A P

15 SIM NÃO 0 1 2 3 A P 40 SIM NÃO 0 1 2 3 A P

16 SIM NÃO 0 1 2 3 A P 41 SIM NÃO 0 1 2 3 A P

17 SIM NÃO 0 1 2 3 A P 42 SIM NÃO 0 1 2 3 A P

18 SIM NÃO 0 1 2 3 A P 43 SIM NÃO 0 1 2 3 A P

19 SIM NÃO 0 1 2 3 A P 44 SIM NÃO 0 1 2 3 A P

20 SIM NÃO 0 1 2 3 A P 45 SIM NÃO 0 1 2 3 A P

21 SIM NÃO 0 1 2 3 A P 46 SIM NÃO 0 1 2 3 A P

22 SIM NÃO 0 1 2 3 A P 47 SIM NÃO 0 1 2 3 A P

23 SIM NÃO 0 1 2 3 A P 48 SIM NÃO 0 1 2 3 A P

24 SIM NÃO 0 1 2 3 A P 49 SIM NÃO 0 1 2 3 A P

25 SIM NÃO 0 1 2 3 A P 50 SIM NÃO 0 1 2 3 A P

Nº de SIM Pontuações em Intensidade Em A = A = Total = Total = Centil = Em P = P =

Exemplo: “Castigo não merecido” SIM NÃO 0 1 2 3 A P

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