O MANEJO DA TRANSFERENCIA NA CL NICA DE...
Transcript of O MANEJO DA TRANSFERENCIA NA CL NICA DE...
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
Paula Cristina Estival de Lara
O MANEJO DA TRANSFERÊNCIA NA CLÍNICA DE
ADOLESCENTES.
Curitiba
2010
Paula Cristina Estival de Lara
O MANEJO DA TRANSFERÊNCIA NA CLÍNICA DE
ADOLESCENTES.
Monografia apresentada ao curso de Pós Graduação em Psicologia Clínica – abordagem psicanalítica - da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de especialista.
Orientadora: Prof.ª Ângela Mara Silva Valore.
Curitiba
2010
TERMO DE APROVAÇÃO
Paula Cristina Estival de Lara
O MANEJO DA TRANSFERÊNCIA NA CLÍNICA DE ADOLESCENTE S
Esta monografia foi julgada e aprovada para obtençã o do título de Especialista em Psicologia Clínica – Abordagem Psicanalítica, no curso de pós- graduação em Psicologia Clínica da Universidade Tuiuti do Paraná.
_____________________________________________ Profª. Ângela Mara Silva Valore
Universidade Tuiuti do Paraná - UTP
_______________________________________________ Prof. Dr. Jorge Sesarino
Universidade Tuiuti do Paraná – UTP
Curitiba, outubro de 2010
Aos adolescentes, que com seu
modo de trilhar a vida, continuam a me
inquietar e questionar, enriquecendo
minha experiência clínica.
AGRADECIMENTOS
Especialmente à professora e orientadora Ângela Mara Silva Valore por sua
disponibilidade de horários, dedicação, e paciência na orientação e transmissão de
todo seu conhecimento, que tornou possível a conclusão desta monografia.
Aos professores da pós do núcleo de psicanálise, pela transmissão do
conhecimento.
Às amizades, pelo incentivo, e compreensão de minha ausência em muitos
momentos.
E a todos que de forma direta ou indireta contribuíram para a conclusão
desta monografia.
Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o outro.
(O outro- Adriana Calcanhoto)
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO............................................................................................ 8
2. DESENVOLVIMENTO................................................................................ 9
2.1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA........................................................ 9
2.1.1. Transferência.............................................................................. 9
2.1.2. Adolescência............................................................................. 17
2.2. DISCUSSÃO CLÍNICA.................................................................... 24
3. CONCLUSÃO ............................................................................................ 28
REFERÊNCIAS............................................................................................... 29
RESUMO
O objeto deste trabalho refere-se ao manejo da transferência na clínica de adolescentes, verificando de que forma se apresenta o fenômeno da transferência. As fontes utilizadas são desenvolvidas com base no referencial teórico psicanalítico de Freud, Lacan, e autores contemporâneos, bem como recorte clínico, apresentado para observar o tema em questão articulado com a teoria. É necessário o estudo à medida que a transferência é algo imprescindível para um trabalho de análise, pois inclui no tratamento psicanalítico o psicanalista e o psicanalisante, ainda que não se situem em um mesmo lugar. O manejo da transferência é o modo pelo qual se torna possível trabalhar psicanaliticamente. Na adolescência, pelo modo que o adolescente encara os adultos, as autoridades, os discursos, ele tentará puxar o analista para algumas posições que venham tentar interditar o trabalho analítico, dessa forma o manejo na adolescência, dessa transferência, recai sobre alguns cuidados ao psicanalista.
Palavras-chave: Psicanálise, transferência, adolescência.
1. INTRODUÇÃO
O termo transferência segundo o Dicionário Aurélio, em uma de suas
definições diz ser a ação ou efeito de transferir (-se). A partir dessa definição
superficial, pode-se ainda dizer que a transferência enquanto fenômeno está
presente em todos os relacionamentos, sendo fenômeno humano e universal. Freud
já nos dizia de uma transferência na relação professor-aluno.
Ao longo de sua obra, Freud foi percebendo e desenvolvendo o conceito
desse fenômeno. Lacan inspirado em Freud, também desenvolveu o conceito de
transferência.
Dentro deste contexto, o presente trabalho tratará da parte histórica do
conceito de transferência para a Psicanálise, a partir de Freud, até o
desenvolvimento do conceito por Lacan, passando por conceitos como o de sujeito
suposto saber, bem como da importância das entrevistas preliminares.
Por fim, através desta discussão clínica, verificar-se-á as peculiaridades da
fase da adolescência, que em análise, exigem que o psicanalista esteja atento para
o favorável desenvolvimento do manejo da transferência, qual a sua função e
posição na análise de adolescentes.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1.1 Transferência
A Psicanálise se diferencia de outros métodos, entre outras coisas, pelo
conceito de transferência e pelo uso da associação livre. Essa diferenciação se deu
primeiramente em relação aos métodos sugestivos de Breuer e Charcot. No entanto,
a transferência não foi uma descoberta de Freud, mas sim o seu uso no trabalho
psicanalítico que foi possível a partir do fracasso do método de Breuer.
(STRYCKMAN,1997)
[...] Depois que o trabalho de catarse parecia estar concluído, a moça subitamente desenvolvera uma condição de “amor transferencial”; ele não havia feito a ligação disso com sua doença e então se afastara desalentado. (FREUD, 1925 [1924], p. 33)
No início, quando Breuer apenas relatava sobre o caso de sua paciente
histérica, Freud tinha a impressão de que tudo que ouvia iria contribuir apenas no
sentido da compreensão das neuroses. Entretanto, mais tarde Freud deu uma nova
interpretação com a reconstrução do caso da jovem histérica. Foi mais pelo “acaso”
e em conseqüência do erro de Breuer, que Freud começou a levar a transferência
em questão e relacioná-la com a etiologia sexual das neuroses no tratamento
psicanalítico. (STRYCKMAN, 1997)
No tratamento desse caso, Breuer usou para com a paciente, de um rapport sugestivo muito intenso, que nos poderá servir como um perfeito protótipo do que chamamos hoje de “transferência”. [...] depois de ter aliviado todos os sintomas de sua cliente, Breuer deve ter descoberto por outros indícios a motivação sexual dessa transferência, mas que a natureza universal deste fenômeno inesperado lhe escapou, resultando daí que, como se tivesse sido surpreendido por um “fato inconveniente”, ele tenha interrompido qualquer investigação subseqüente. (FREUD, 1914, p.22)
Stryckman (1997) nos afirma que foi a partir das influências de Charcot,
Breuer e Chroback, que Freud pode observar no tratamento das neuroses a
concepção sexual da transferência. A transferência “sexual” era a transferência de
um saber sexual inconsciente, um saber sobre o objeto e, portanto a transferência
era um fenômeno inconsciente, que atualizava o saber inconsciente.
A transferência para Freud era um processo constituído pela fala e consistia
na transferência do saber inconsciente para a pessoa do analista. O saber
transferido era um saber sobre as coisas insabidas do próprio paciente, produzido
na análise pela rememoração e repetição.
Novas concepções da transferência são desenvolvidas por Freud, em
conseqüência da resistência que por ele é notada de Breuer à transferência de sua
paciente, e também em conseqüência do seu encontro com Fliess e depois da
interpretação dos sonhos.
Strickman afirma que:
A transferência em sua seqüência de abertura é, para Freud, transferência sobre a pessoa do analista, pessoa que se ama e que sabe. O sujeito desloca, transporta, transfere (...), sobre o psicanalista as representações inconscientes, as fantasias, as lembranças infantis, as imagens de sua “série psíquica”. (1997, p. 266)
Na obra Interpretação dos sonhos (1900) aparece pela primeira vez o termo
transferência e seu autor Freud elabora uma nova concepção desta, elucidando que
a mesma é constituída de restos diurnos vazios de sentido, puro material
significante. Os sonhos manifestam uma transferência sobre o analista. Freud
descobre que a transferência não era mais pensável como uma relação
intersubjetiva, e por isso não poderia ser constituída por relação interpessoal e
tampouco por deslocamentos nas representações dos sonhos.
Com Dora, especialmente depois de um primeiro sonho relatado, Freud
(1905) diz seguramente que a transferência se trata da repetição de fatos da
realidade, de fantasias que são substituídas de uma pessoa anterior para o analista.
[...] são reedições, reproduções das moções e fantasias que, durante o avanço da análise, soem despertar-se e tornar-se conscientes, mas com a característica [...] de substituir uma pessoa anterior pela pessoa do médico. (FREUD, 1905 [1901], p.111)
Em A dinâmica da transferência Freud (1912) relaciona a transferência à
forma pela qual o sujeito vive sua vida amorosa. O analisante integraria o analista
em uma de suas séries psíquicas já estabelecidas. Aquilo que é transferido seriam
as idéias, esperanças conscientes do analisante e tudo o que foi recalcado e se
tornou inconsciente.
Sobre a origem das forças impulsionadoras da neurose que provinha da vida
sexual, Freud (1914) a constatou com o surgimento da transferência, que aparecia
em formas de afeição ou hostilidade, em formas sexuais, apesar de não serem
provocadas nem pelo paciente e nem pelo analista.
Apesar de Freud (1912) fazer uma distinção entre dois tipos de
transferência, a positiva e a negativa, Chemama (2005) nos afirma que toda
transferência é composta de aspectos positivos e negativos, e cabe ao analista fazer
a distinção delas.
Ademais, o referido autor afirma que a transferência seria composta por dois
conteúdos, um deles admissível conscientemente e o outro encontrado no
inconsciente. Os conscientes seriam os sentimentos amigáveis, amistosos ou de
hostilidade, e os inconscientes remeteriam às fontes pulsionais.
Sobre a transferência positiva ainda nos explica que ela permite que o
paciente fale mais livremente sobre as coisas que lhe são mais difíceis.
Em relação à transferência negativa, denomina como sendo aquela que tem
em seu conteúdo sentimentos hostis, agressivos, de desconfiança na relação com o
analista.
A transferência, tanto na sua forma positiva como negativa, entra a serviço da resistência; mas nas mãos do médico torna-se o mais poderoso dos instrumentos terapêuticos e desempenha um papel que não pode deixar de ser hipervalorizado na dinâmica do processo de cura. (FREUD apud LAPLANCHE,1998)
“[...] Cada associação isolada, cada ato da pessoa em tratamento tem de
levar em conta a resistência e representa uma conciliação entre as forças que estão
lutando no sentido do restabelecimento e as que se lhe opõem, [...]” (FREUD, 1912,
p.115)
Quando as resistências eram vencidas, Freud (1914) explicou que na
transferência, reações repetitivas levarão o paciente ao despertamento de
lembranças.
Essas eram idéias de Freud sobre a resistência, idéia que manteve na
primeira tópica, após isso o conceito mudou.
Para que o paciente não fique estagnado em uma compulsão à repetição,
Freud (1914) nos ensina sobre o manejo da transferência como sendo o principal
modo de transformar a repetição num motivo para recordar.
Durante a análise, desde que o paciente, que demanda pela mesma,
respeite as condições necessárias para esta, a função do analista, na transferência,
poderá suscitar novos significados transferenciais aos sintomas do paciente,
transformando sua neurose comum em uma neurose de transferência, na qual será
possível o trabalho analítico.
Sobre a neurose de transferência, Freud (1914) elucida que ela é a região
intermediária que permite a intervenção do analista.
A neurose de transferência para Stryckamn (1997) é um sintoma que é
produzido na análise pela fala do paciente, através da sua demanda.
Stryckman (1997) nos explica que Freud influenciou Lacan em sua
concepção dialética da transferência. A idéia de que a transferência envolveria a
relação do sujeito ao seu saber inconsciente fez com que Lacan desenvolvesse o
conceito de Sujeito Suposto Saber.
Sobre esse conceito Chemama (2005) instrui que na procura pela análise o
paciente dirigindo-se ao analista já o coloca em uma dimensão transferencial, está
se dirigindo a alguém a quem supõe um saber. O analista é colocado na posição
daquele que sabe.
Stryckman (1997) esclarece que no início da análise o sujeito demanda algo
que venha aliviar seu sofrimento e supõe ao analista um saber sobre esse
sofrimento e uma resposta para aliviá-lo. O analista, pela sua presença real e pela
sua fala devolve para o sujeito aquilo que lhe foi direcionado, dessa forma o eixo
imaginário inicial de uma análise, é quebrado. A função do analista reenvia ao
analisante a sua própria mensagem invertida, aquilo que escutou devolve enquanto
enigma para o analisante, para que seja simbolizado o imaginário da transferência.
Viana (2007) nos instrui dizendo que quando instalado o sujeito suposto
saber o psicanalista não deve se colocar e responder de uma posição de alguém
que sabe tudo ou de alguém que não sabe nada, mas permitir que o psicanalisante
se questione sobre o seu sintoma.
Maud Mannoni dá uma boa explicação da dimensão imaginária da
transferência:
Testemunha de acusação, confidente, conselheiro, o psicanalista é visto como um juiz, perseguidor ou salvador supremo. Ele é a pessoa a quem nos dirigimos depois dos fracassos, dos dissabores, das ilusões perdidas, aquele a quem queremos agarrar-nos, mas também aquele de quem queremos servir-nos para fomentar querelas pessoais. Ele é, o terceiro e desejamos que tome partido. (2004, p.35)
No entanto Lacan ao contrário de Freud descreve a transferência de um
ponto de vista estrutural.
Ainda para Lacan, segundo Stryckamn (1997) a transferência não é mais
uma atualização sobre a pessoa do analista, de fantasias infantis, emoções, como
dizia Freud, mas sim uma atualização da realidade do inconsciente, atualização esta
que é causada pela presença real do analista.
Na sua forma estrutural, a transferência tem a ver com uma experiência
dialética, onde o discurso produzido pelo sujeito do inconsciente simplesmente com
a presença do analista encaminha a fala, ou seja, a presença real do psicanalista,
presença que faz ato, faz com que haja a dimensão simbólica da transferência,
dimensão de demanda, onde se pode trabalhar psicanaliticamente.
Não há relação entre dois sujeitos na transferência, a transferência separa a
causa do desejo, do lado do analisante, da imagem produzida do analista.
Lacan observa que,
Numa psicanálise, [...], o sujeito propriamente dito constitui-se por um discurso em que a simples presença do psicanalista introduz, antes de qualquer intervenção, a dimensão do diálogo. (1998, p. 215)
O simbólico da transferência só é possível de ser instalado quando for dada
a possibilidade de o sujeito se referir ali em análise, em que é alcançada a partir das
entrevistas preliminares.
Viana (2007) afirma que para se dar início a uma análise, é preciso que o
analista tome uma decisão, decisão de aceitar ou não um sujeito em análise. Para
se poder decidir usa-se das entrevistas iniciais ou preliminares, dispositivo analítico
recomendado por Freud e seguido por Lacan.
Ademais, a autora nos diz que esse período das entrevistas serve de meio
para se escutar a queixa do paciente, para ver se a transferência se estabelecerá,
permitindo que se enuncie uma dimensão de análise pela via de escutar do sujeito
sobre uma atualização do seu mito, concluindo algo sobre uma leitura estrutural.
Há um tempo de compreender, que implica na questão diagnóstica, e de concluir, que é quando o analista toma sua decisão” (QUINET, 2002)
A postura do analista, nesse primeiro momento, na análise, deve ser uma
postura de alguém que escuta, não se preocupando em interpretar tudo
precipitadamente, sendo que quem deve dar sentido à sua fala é o próprio
analisante, mantendo segundo Freud (1912) uma “atenção uniformemente
suspensa”.
“O psicanalista não dá razão nem a retira, sem emitir juízo, escuta.”
(MANNONI, M., 2004, p.10)
Portanto as entrevistas preliminares são dispositivos analíticos essenciais e
decisivos, servem para investigar os motivos que trazem o paciente à consulta, e
essa importância deve ser ainda mais valorizada na idade da adolescência.
2.1.2 Adolescência
Para Carleti (2007) a adolescência é uma fase onde os valores são
colocados à prova, ocorrem confrontos entre aquilo que foi transmitido pelos pais e o
que o adolescente vem experimentando. É também um período de resignificações
de todas as transformações que ocorrem. Transformações referentes ao estatuto, às
mudanças no corpo.
Convém ressaltar ainda o entendimento de Kaufmann,
A adolescência é um só-depois; se não é uma repetição do que se passou na infância, induz uma revivescência de todas as experiências traumáticas precoces. Todas as carências afetivas, as insuficiências de investimento da criança, eventualmente mudas nos primeiros anos, serão reativadas pelo impacto da puberdade e o trabalho da adolescência. (1996, p.8)
Para Chassaing (2004) a adolescência é o cruzamento de caminhos entre o
íntimo e o social, momento em que as possibilidades quanto ao biológico e a
linguagem, o público e o privado vão se reencontrar.
Rassial (1999) propõe hipóteses diagnósticas sobre a adolescência a partir
do Real, do Simbólico e do Imaginário. Para o autor essas três dimensões se
nodulam diferentemente na adolescência.
Dentro deste contexto, o Real na adolescência aparece com a puberdade
fisiológica, ou seja, são as transformações do corpo que vem extrapolar a imagem
pré-concebida. Esse real traz um aspecto catastrófico, aparece como uma doença
ou como um acidente, afeta também a imagem do Outro, que até então são seus
pais, e é sobre tudo isso que o sujeito adolescente vai elaborar suas questões.
Já o registro do Imaginário tem um novo desenvolvimento na adolescência e
aparece para sustentar a mudança na imagem do corpo, e a consistência do Outro,
que era encarnado pelos pais. O que é experienciado aqui é a sensação de que “isto
não passa nunca”.
Ainda, sob a ótica deste autor, a adolescência é o momento em que o
Imaginário “conta para dar sentido à vida, ao preço irremediável à imagem infantil do
corpo.” (1999)
Por último, no registro do Simbólico é que vai ser possível ao adolescente a
aposta da “cura pela palavra”. Aparece uma mudança de posições na adolescência,
há uma prioridade do laço fraterno ao laço parental, ocorre a “saída da família” para
a “entrada no social”, acontece a recolocação dos discursos cotidianos.
Octave Mannoni (2004) complementa que, a adolescência é um período em
que “normalmente” o adolescente se opõe aos pais, aos adultos, às autoridades, à
sociedade. Opõe-se também ao saber que contesta e confronta.
Segundo Rassial (1999) quando o adolescente vai para a análise em um
primeiro momento ele tenta colocar o psicanalista na mesma posição que qualquer
outro adulto, de um adulto que o rejeita e que é incapaz de entendê-lo e entender
sua demanda.
O adolescente questiona, desconfia da capacidade do psicanalista de ouvi-
lo, coloca-o na mesma posição em que colocaria qualquer outro adulto, a quem
contesta e se opõe.
O psicanalista nesse primeiro momento deve deixar que o adolescente diga
do seu sintoma, que pode não vir a ser o mesmo para seus pais, ou para o seu
meio.
O sujeito adolescente pensa de modo sistemático; constrói teorias abstratas,
exige uma lógica sem falhas, censura aqueles que não seguem às premissas que
colocam até o fim. Esse modo de pensar leva o adolescente a tentar colocar o
psicanalista na posição de mestre.
Freqüentemente o adolescente demanda ao psicanalista que lhe dê idéias,
que lhe dê sugestões. Para o adolescente, segundo o seu modo de pensar, o
psicanalista seria aquele que teria resposta para tudo, alguém sem defeitos.
Na concepção de Rassial (1999), o psicanalista deve conter-se em querer
tudo explicar, deve abrir mão de ser tomado como um sujeito que tudo sabe. Ao
invés disso deve propiciar que as questões do adolescente sejam abertas e deixá-
las abertas, deixá-lo com a sua demanda. Dessa forma o sujeito suposto saber é
constituído no analista, através da dimensão imaginária da transferência.
Na visão desse mesmo autor,
o discurso analítico é aquele que convida o sujeito a ultrapassar, através de sua fala, os discursos constitutivos, institucionais e cotidianos, em prol (...) de um discurso que, na própria análise, permanece virtual. (1999, p.83)
Rassial instrui que a abstinência permite à transferência, ser uma alavanca
na análise das determinações simbólicas, e não o que ela é num primeiro tempo, um
obstáculo imaginário. (1999)
Há ainda uma terceira posição, que o adolescente, na transferência, tentará
puxar o analista, à posição de cúmplice. Ao se separar do discurso dos adultos, o
psicanalista corre esse outro risco de ser colocado na posição de cúmplice, pelo
adolescente. Isso pode vir acontecer segundo Rassial quando “ao compadecer-se
sob um modo histérico com a solidão do adolescente, [...], corre o risco de erotizar a
relação analítica” (1999, p.163).
Se por ventura o psicanalista vier narcisicamente aceitar ocupar algumas
dessas posições colocadas pelo adolescente, este é colocado numa posição de
objeto, e há o que pode ser chamado de contratransferência, pois há um inverso de
posições e a estrutura da análise fica perversa, ou como ensina o autor citado
acima, ocorre a erotização da relação analítica.
Como vemos o adolescente sempre vai tentar colocar o analista em alguma
posição que venha interditar a análise, ou levá-la ao seu fracasso, pelo seu modo de
pensar, pelas incertezas que o tomam, pela constante desvalorização dos adultos.
Ainda no entendimento daquele autor, essa contestação não depende se foi
o próprio adolescente quem procurou uma análise ou se o adolescente foi
encaminhado por terceiros.
Octave Mannoni (2004) nos instrui que raríssimas vezes o adolescente
vem por ele mesmo procurar a ajuda da análise. Entretanto, mesmo que a procura
desta análise tenha sido feita por iniciativa dos pais, pode se ter bons resultados.
E ainda, essa autora explica que: quando a oposição aos adultos, às
autoridades, à sociedade, é apresentada por uma criança no momento da
puberdade, o psicanalista pode acolhê-la em análise pela demanda dos pais, mas
quando se trata de um sujeito adolescente, a situação não é mais a mesma e tem-se
um problema delicado.
Um adolescente que tenha entrado em análise pela demanda dos pais pode
denotar uma demissão da parte deles ao procurar o psicanalista, e este pode ser
visto como um traidor ao adolescente, por estar a serviço dos pais.
A respeito desse problema delicado em que os pais acabam procurando o
analista para o adolescente, Rassial (1999) nos instrui que é preciso que a demanda
dos pais seja isolada da demanda do adolescente.
Há ainda outros riscos nesse tipo de análise, em que os pais procuram o
psicanalista para o adolescente. Um seria o risco do psicanalista se envolver no
conflito entre o adolescente e a família, o outro seria dele ser tomado como um
aliado da família ou um defensor do adolescente contra os pais. (MANNONI, O.,
2004)
Ademais para o autor, em se tratando de análises de adolescentes, há as
que podem ser mais favoráveis e sem problemas delicados para o analista, são
aquelas em que o adolescente procura por ele mesmo um psicanalista, sem a
interferência de seus pais e até mesmo sem o consentimento deles.
Todavia, uma análise só é legitima quando o sujeito se autoriza por si
mesmo, pois como explica Rassial (1999, p.171) “[...] se há autorização ela não
pode provir do outro.”
Ainda, a análise de adolescente não se trata de uma cura analítica no
sentido estrito da palavra cura, em psicanálise, de fazer cair um sintoma, pois o
adolescente está ainda se apropriando desse sintoma que é o que garante seu ser.
Pelo contrário, o discurso analítico permitirá que o adolescente recoloque o sintoma
numa relação com a língua, pela ordem simbólica provida do lado do Outro.
O sintoma que é produzido na adolescência denota um final e um começo.
Final de um processo e a entrada na vida adulta. “[...] momento em que o
significante se confessa enganador e o simbólico frágil”. (RASSIAL, 1999, p. 208)
Esse autor ainda afirma que o psicanalista deve manter-se em sua solidão,
que afeta seu ato. O ato do psicanalista não deve estar ligado a nenhuma demanda
externa, a nenhuma exigência da sociedade ou de terceiros, contudo ele deve
manter-se em sua solidão, não a que afeta o seu ser, mas a que afeta o seu ato.
Em seu papel, tem de autorizar o seu paciente a desvendar o fantasma que
funda seu desejo deixando agir um desejo que não capta outra coisa senão as
palavras.
Mas em se tratando de análises de adolescentes, esse mesmo autor nos
instrui que o que deve ser priorizado são as desconstruções das figuras imaginárias
do Outro para só após isso ser possível a análise do fantasma.
É na adolescência que acontece o “desmoronamento da consistência
parental imaginária do Outro”, e com a mudança da imagem do corpo, há a
reformulação de sua posição, onde o Outro e o objeto recebem novo valor psíquico.
(1999, p.49)
A promessa da análise de adolescentes é bem limitada; o que pode ser
mudado é a possibilidade do ato exceder o fantasma de um novo jeito, que não a
passagem ao ato psicótica, e que o sujeito envolva-se no seu desejo.
Ademais, nessa relação do psicanalista com o adolescente, para que
realmente aconteça o início da cura analítica, ainda que com objetivo e prioridades
diferentes da análise de adultos, é preciso que o psicanalista não economize na
análise das transferências imaginárias para ser possível a transferência simbólica,
que permitirá ao sujeito adolescente se engajar no processo analítico enquanto
sujeito do seu desejo.
Por fim, explica que a temporalidade para o adolescente é diferente, o tempo
é regido por uma lógica ligada à apropriação do sintoma, ordenado pela repetição,
reprodução e invenção. Quando finalmente o adolescente se apropria do seu
sintoma e isso realmente acontece, marca-se o fim da adolescência, enquanto
período de funcionamento psíquico.
E mais, Rassial afirma que, “[...] o analista seria aquele que permitiria ao
adolescente não se tornar um adulto normal”. (1999, p.172).
2.2. DISCUSSÃO CLÍNICA
Mariana, 17 anos procura o atendimento incentivada pela tia, a quem se
refere como amiga, a quem conta e confia seus questionamentos e pensamentos. É
essa tia quem paga suas sessões e que durante algumas entrevistas iniciais estava
sempre presente no discurso de Mariana como aquela que lhe dizia o que fazer:
“minha tia disse que, minha tia disse para...”. Até a segunda entrevista inicial a tia a
acompanha até o consultório e permanece na sala de espera, após isso, Mariana já
vem sozinha.
Os pais de Mariana, segundo ela mesma, não sabem de sua procura pelo
atendimento. Acham besteira procurar ajuda de uma psicóloga.
A queixa inicial de Mariana recai sobre sua vida ser um paradoxo, sobre o
fato de seus pais terem lhe imposto uma religião. Queixa-se também de se sentir
frustrada por ver seus pais falaram de um jeito correto de viver, mas que eles
mesmos não vivem.
Quando questionada pela psicóloga do que espera do atendimento, Mariana
disse esperar encontrar uma amiga, com quem pudesse conversar. Nesse momento,
a psicóloga deveria ter questionado sobre esse significante: amiga, ao invés disso
aceitou tacitamente. A dimensão imaginária da transferência ocorreu e esta não foi
simbolizada.
O risco de que tanto nos advertiu Rassial (1999) foi vivenciado, o risco de
perverter a relação, risco de uma contratransferência. Houve uma inclinação de ir
contra a transferência, ou de simplesmente ignorá-la em sua presença.
Durante o período de entrevistas Mariana conta sobre suas aventuras
amorosas. Relata sobre beijos triplos, com amigos gays. Diz também estar
namorando de “mentirinha”, sendo ela lésbica e o namorado gay. Diz não gostar de
meninos, e inventou o namoro falso para sua mãe parar de “enchê-la” para arranjar
namorado. A respeito de sua sexualidade, a psicóloga pergunta se Mariana acha
que a pode escolher e esta responde que não sabe, pois nunca tinha pensado nisso.
Entretanto, rindo diz que acha que pode.
Mariana fazia coisas para a mãe ver. Aos 12 anos diz ter fumado pela
primeira vez, esperando que a mãe a pegasse fumando. Aos 13 anos diz ter perdido
a virgindade em um carro no pátio da escola, na tentativa que a mãe a visse. Aos
14 anos diz ter tido sua primeira namorada. Após essas tentativas frustradas, fez
algo maior, diz ter tentado suicídio.
Escrevia tudo o que fazia em um diário e tinha como plano, ao terminar de
escrever, se matar. Contudo, afirma na ocasião que ao falar nisso, tudo pareceu
sem sentido. Conta que em um determinado dia deixou sua mochila aberta em seu
quarto, enquanto dormia no sofá da sala. O pai pega seu pendrive, onde tinham
vídeos com a namorada da ocasião. Foi nesse momento, segundo Mariana que
seus pais souberam de tudo o que ela tinha feito, e que confessou tudo o que fez.
Na sessão seguinte disse que não pensava mais em se relacionar com
meninas, porque tinha escolhido mudar.
Esses acting-outs não foram simbolizados na transferência.
Sobre o suicídio diz ter tomado 120 comprimidos do seu anticonvulsivante, e
que por conta desses comprimidos diz ter abortado.
Em relação ao aborto, aos 16 anos afirmou ter engravidado de um professor
e então abortado por conta da grande quantidade de remédios que tinha ingerido.
A respeito das convulsões, diz ter desde os 3 anos de idade, aos 13 anos foi
ao neurologista que lhe receitou remédio. Ainda durante o período de entrevistas diz
ter tido nova convulsão. Fez exames neurológicos e nenhuma lesão foi detectada.
Relata lembrar-se de algumas vezes ter forçado desmaios e que depois desmaiava
de verdade, lembra-se que sua avó também fingia desmaiar.
Na semana em que aconteceria a 17ª entrevista, a tia de Mariana telefona
para a psicóloga, alegando querer saber como iam os atendimentos e se Mariana
estava freqüentando e fazendo os pagamentos. A psicóloga diz à tia que nada lhe
será dito sobre os atendimentos a Mariana, mas sim, que ela estava vindo ao
consultório. Na sessão com Mariana, é contado pela psicóloga que sua tia havia
telefonado e perguntado se ela estava vindo para os atendimentos e se estava
fazendo os pagamentos. Mariana ficou surpresa e chorou. Conta que, espera
sinceramente, que essa atitude da tia tenha partido de seus pais, e não da própria
tia, em quem mais confiava e que segundo Mariana, era a única que via sua
mudança. Diz não saber o porquê do telefonema e se pergunta quando os pais irão
acreditar nela.
Mariana continua indo aos atendimentos, há mais de um ano desde a data
inicial da análise. As questões sobre sua sexualidade não foram mais faladas, porém
as relacionadas ao comportamento do seu pai e de sua mãe, e de sua relação com
eles, tomam conta das falas de Mariana.
Faltou em algumas sessões - umas justificando esquecimento, outras por
conta dos pagamentos, por não ter dinheiro para pagar a sessão - mas retornava na
semana seguinte. E outras vezes foram necessárias que a própria psicóloga fizesse
contato telefônico.
Após a última falta de Mariana, em fevereiro de 2010, esta não entrou em
contato e nem retornou na semana seguinte. A psicóloga também não o fez,
deixando desconhecido o motivo que levou Mariana a não voltar.
Em relação ao recorte clínico apresentado, pode-se dizer que não houve um
manejo da transferência, do jeito esperado, na adolescência.
Rassial (1999) nos alerta que o psicanalista deve ter uma atitude profissional
sustentada pela análise e pela supervisão. O caso em questão estava sendo levado
em supervisão, mas a análise da psicóloga estava no começo, e muitas das
questões levantadas pela paciente, passaram sem serem significadas, o que fez
com que a escuta da psicóloga estivesse muito prejudicada. Muito foi ouvido, e
pouco foi escutado.
3. CONCLUSÃO
A presente monografia procurou demonstrar a imprescindibilidade do
manejo da transferência no trabalho psicanalítico.
Por todo o visto pode-se dizer que este manejo trata-se do analista não
aceitar, nem rejeitar a demanda do paciente, mas colocar este para “trabalhar”,
fazendo com que ele fale sobre a mesma. Todavia, acolhendo a demanda, produz-
se a transferência.
Importante ressaltar que é através da transferência que o inconsciente
aparecerá, e sem ela não há análise.
No que tange a adolescência, fase em que o adolescente se opõe aos
pais, à autoridade, ao saber, o psicanalista é convocado a não recuar da abstinência
de seu ato, mas de estar atento para as posições em que esse adolescente tentará
colocá-lo, com o intuito de tentar interditar o trabalho analítico.
Por fim, toda a questão do manejo da transferência na clínica de
adolescentes trata-se de que o analista leve a sério sua análise pessoal, sua
supervisão, pois quanto mais este é analisado, mais ele sente a transferência, não
indo às vias de fato.
4. REFERÊNCIAS
CARLETI, P.C. A Lei paterna como tratamento possível do adolescente em
conflito com a lei. In: BASTOS, R.; ÂNGELO, D.; COLNAGO, V. Adolescência,
violência e a lei. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2007. p.243-256.
CHASSAING, J. L. “Mais tarde” é agora! In: Corrêa, A. I. (org.) Mais tarde...é
agora! 2 ed. Salvador: Ágalma, 2004. p. 37-45.
CHEMAMA, R. Dicionário de Psicanálise. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
DICIONÁRIO AURÉLIO DA LÍNGUA PORTUGUESA. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1993.
FREUD, S. A Interpretação dos Sonhos (1900). Obras psicológicas de Sigmund
Freud: Edição Standard Brasileira, Vol. IV. Rio de Janeiro: Imago, 2006.
FREUD, S. Fragmento da análise de um caso de histeria (1905[1901]). In: __- Um
caso de Histeria, Três ensaios sobre a sexualidade e outros trabalhos. (1901 -
1905). Obras psicológicas de Sigmund Freud: Edição Standard Brasileira, Vol. VII.
Rio de Janeiro: Imago, 2006. p. 19-116.
FREUD, S. A dinâmica da transferência (1912). In: __ - O caso Schereber, Artigos
sobre técnica e outros trabalhos (1911 -1913). Obras psicológicas de Sigmund
Freud: Edição Standard Brasileira, Vol. XII. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p.111 -
119.
FREUD, S. Observações sobre o amor transferencial (novas recomendações
sobre a técnica da psicanálise III) (1915 [1914]). In: __ - O caso Schereber,
Artigos sobre técnica e outros trabalhos (1911 -1913). Obras psicológicas de
Sigmund Freud: Edição Standard Brasileira, Vol. XII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
p. 175 - 188.
FREUD, S. Recordar, repetir e elaborar (novas recomendações sobre a técnica
da psicanálise II) (1914). In:__ - O caso Schereber, Artigos sobre técnica e outros
trabalhos (1911 -1913). Obras psicológicas de Sigmund Freud: Edição Standard
Brasileira, Vol. XII. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p.163-171.
FREUD, S. A História do Movimento Psicanalítico (1914). In:__ A História do
movimento psicanalítico, artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos. (1914-
1916). Obras psicológicas de Sigmund Freud: Edição Standard Brasileira, Vol.
XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p.18-73.
FREUD, S. Um Estudo autobiográfico (1925 [1924]). In:__Um Estudo
autobiográfico. Inibições, sintomas e ansiedade. A questão da análise leiga e
outros trabalhos. (1925-1926). Obras psicológicas de Sigmund Freud: Edição
Standard Brasileira, Vol. XX. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p.15-78.
KAUFMANN, P. Dicionário de psicanálise: o legado de Freud e Lacan. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1996.
LACAN, J. O seminário, livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
LAPLANCHE, J. Vocabulário de Psicanálise. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes,
1998.
MANNONI, M. A primeira entrevista em psicanálise. 2 ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2004.
MANNONI, O. A adolescência é analisável? In: Corrêa, A. I. (org.) Mais tarde...é
agora! 2 ed. Salvador: Ágalma, 2004. p.19-34.
QUINET, A. As 4 + 1 condições da análise. 9 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2002.
RASSIAL, J.J. O Adolescente e o Psicanalista. Rio de Janeiro: Companhia de
Freud, 1999.
STRYCKMAN, N. Historicidade do conceito de transferência. In:__- Dicionário de
psicanálise: Freud & Lacan. Salvador, BA: Ágalma, 1997, p. 259 – 305.
VIANA, C. A. T. Entrevistas Preliminares. Científico, Salvador, v. 2, Ano 7, p.314,
julho-dezembro, 2007.