Transferencia de Embrioes

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UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU” EM PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO EM BOVINOS TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÕES EM BOVINOS: REVISÃO DE LITERATURA Mara Emília Noleto de Carvalho Abadia Goiânia, nov. 2006

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UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU” EM PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO EM

BOVINOS

TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÕES

EM BOVINOS: REVISÃO DE LITERATURA

Mara Emília Noleto de Carvalho Abadia

Goiânia, nov. 2006

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ii

MARA EMÍLIA NOLETO DE CARVALHO ABADIA

Aluna do Curso de Especialização “Lato sensu” em

Produção e Reprodução em Bovinos

TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÕES

EM BOVINOS: REVISÃO DE LITERATURA

Trabalho monográfico do curso de pós-

graduação “Lato Sensu” em Produção e

Reprodução em Bovinos apresentado à

Universidade Castelo Branco (UCB) como

requisito parcial para a obtenção do título de

Especialista em Produção e Reprodução em

Bovinos, sob a orientação do Prof. Dr. Luiz

Antônio Franco da Silva.

Goiânia, nov. 2006

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TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÕES

EM BOVINOS: REVISÃO DE LITERATURA

Elaborado por Mara Emília Noleto de Carvalho Abadia

Aluna do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em

Produção e Reprodução em Bovinos

Foi analisado e aprovado com

Grau: .............................

Goiânia,_____ de ___________ de ________.

_______________________________________

Membro

_______________________________________

Membro

_______________________________________

Prof. Dr. LUIZ ANTÔNIO FRANCO DA SILVA

Orientador

Goiânia, nov. 2006

Page 4: Transferencia de Embrioes

iv

Dedico este trabalho a minha

querida filha Ana Clara que com

todo seu amor e carinho me faz a

mãe mais feliz e realizada.

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v

Agradecimentos

A Deus, por ter me dado vida, saúde e força

para alcançar mais esta vitória;

Aos meus pais, que nunca omitiram esforços

para que eu alcançasse meus objetivos;

Ao meu esposo, Luiz Antonio Abadia, pelo

apoio, carinho e incentivo dedicado a mim

por todos estes anos de companheirismo;

Ao colega, veterinário, Alexandre Sardinha

Carvalhêdo, por ter me incentivado a fazer

este curso de especialização;

Ao meu orientador, Prof. Dr. Luiz Antônio

Franco da Silva, que forneceu orientações

seguras, guiando meu caminho e por ter

demonstrado que mesmo depois de vários

anos não deixou de me apoiar;

Aos meus colegas veterinários Maria Ivete

de Moura e Vinícius Rodrigues de Sousa,

pelo apoio, pelas suas idéias construtivas e

comentários durante a preparação deste

trabalho;

A equipe da Embriotec, que direta ou

indiretamente colaborou para realização

deste trabalho.

Page 6: Transferencia de Embrioes

vi

RESUMO

A transferência de embriões é uma biotécnica baseada no princípio da

multiplicação da progênie de fêmeas consideradas superiores dentro de um

rebanho. Fundamenta-se na obtenção de embriões de uma fêmea doadora para

em seguida transferí-los para fêmeas receptoras, com a finalidade de completar o

período de gestação. Avaliando a importância do melhoramento genético do

rebanho esta técnica é a mais acessível e proporciona o melhor aproveitamento

de uma doadora, multiplicando seu material genético. Este trabalho teve como

objetivo fazer uma revisão bibliográfica sobre transferência de embriões em

bovinos, bem como dos aspectos que contribuem para o sucesso da implantação

dessa biotécnica, nas mais diversas propriedades, com diferentes tipos de

manejo. Da mesma forma, foi abordado os fatores que influenciam para que a

técnica implantada tenha continuidade e os resultados sejam satisfatórios.

Page 7: Transferencia de Embrioes

vii

ABSTRACT

The embryo transfer is a biotechnique based on the principle of multiplication of

progeny from the best females among the herd. It is based on the acquisition of

embryos for further transfer to receptor females, with the objective of completing

the pregnancy period. Evaluating the importance of the herd’s genetic

improvement, this technique is the most accessible and gives the best exploration

of the donator cows, leading to the multiplication of its genetic potential. This

review aimed to study the embryo transfer in bovines, as well as the aspects that

contribute for the success of the implantation of this technique, in various farms,

with different kinds of managing. At the same way, the factors that allow the

implanted technique to present consistent results and prosperity were discussed.

Page 8: Transferencia de Embrioes

viii

SUMÁRIO

Página

Resumo...................................................................................................................vi

Abstract...................................................................................................................vii

Lista de figuras........................................................................................................ix

Lista de quadros.......................................................................................................x

1. Introdução............................................................................................................1

2. Revisão de Literatura...........................................................................................2

2.1. Bases fisiológicas do ciclo estral em bovinos..............................................2

2.2. Ciclo estral...................................................................................................3

2.2.1. Fase folicular ou estrogênica............................................................4

2.2.2. Fase luteínica ou progesterônica......................................................6

2.3. Transferência de embriões..........................................................................7

2.3.1. Importância.......................................................................................7

2.3.2. Pré-requisitos para o sucesso da transferência de embriões...........8

2.3.3. Tratamento hormonal das doadoras e receptoras..........................11

2.4. Superovulação das doadoras....................................................................14

2.5. Inseminação das doadoras........................................................................15

2.6. Colheita de embriões.................................................................................16

2.7. Manipulação e avaliação dos embriões.....................................................17

2.8. Técnicas de transferência dos embriões...................................................21

2.9. Diagnóstico de gestação em receptoras...................................................22

2.10. Mão-de-obra especializada.....................................................................23

2.11. Infra-estrutura física.................................................................................24

3. A Transferência de embriões na visão de uma candidata a especialista em

Produção e Reprodução em Bovinos....................................................................25

4. Considerações finais..........................................................................................27

Referências bibliográficas......................................................................................28

Page 9: Transferencia de Embrioes

ix

LISTA DE FIGURAS

Página

Figura 1. Eixo hipotálamo-hipófise-gonadal.............................................................2

Figura 2. Ciclo estral de fêmeas bovinas.................................................................3

Figura 3. Fases de crescimento folicular.................................................................5

Figura 4. Esquema de ciclo estral com duas ondas foliculares e três ondas

foliculares.................................................................................................6

Figura 5. Estágios de desenvolvimento embrionário em bovinos..........................19

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x

LISTA DE QUADROS

Página

Quadro 1. Hormônios utilizados para indução do cio e da ovulação ....................13

Quadro 2. Critérios para avaliação de embriões bovinos..................................... 20

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1 INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas a embriologia dos mamíferos apresentou um

enorme progresso científico especialmente, a espécie bovina. Pesquisas nos

campos celular, molecular e genético promoveram novas oportunidades para o

desenvolvimento tecnológico da pecuária, principalmente, na área de

reprodução. Nesse contexto destaca-se a transferência de embriões (TE),

como uma das mais modernas biotecnologias da reprodução empregadas a

campo (BEM et al., 1995). Portanto, considerando que na natureza, apenas

uma pequena fração do potencial genético e reprodutivo dos animais é

utilizada, essa alternativa tem representado um avanço substancial na

eficiência reprodutiva. No caso dos bovinos, em média, um macho gera entre

15 a 20 produtos por ano, enquanto uma fêmea na maioria das vezes, gera

uma cria por ano, o que corresponde de oito a dez produtos durante toda sua

vida reprodutiva. Acrescenta-se que a TE aliada à inseminação artificial (IA)

permite ganhos genéticos em grande escala nos programas de melhoramento

animal. A seleção é mais rápida e precisa, diminuindo o intervalo entre

gerações pela obtenção de várias crias de doadoras de mérito confirmado

(vacas) ou previsível (novilhas) (COSTA e SILVA, 2004).

A TE consiste em obter embriões de uma fêmea doadora e transferí-

los para fêmeas receptoras, com a finalidade de completar o período de

gestação. Sua importância básica para a produção animal está na possibilidade

de uma fêmea produzir um número de descendentes muito superiores ao que

seria possível fisiologicamente, durante sua vida reprodutiva (REICHENBACH

et al., 2002). A TE oferece uma série de vantagens para a seleção zootécnica

com conseqüente reflexo sobre a produção animal, tais como: seleção de mães

de touros para inseminação, aumento do número de descendentes de animais

superiores geneticamente, redução do intervalo entre gerações e aumento da

velocidade do melhoramento (ANDRADE et al., 2002).

No intuito de enfatizar a importância dessa renomada biotecnologia

aplicada, sobretudo, à reprodução de bovinos, esse estudo objetivou

descrever, de forma sucinta, as diferentes etapas da TE, bem como os fatores

que contribuem para o sucesso de sua execução. Paralelamente será relatada

a experiência de uma equipe de profissionais que atuam na área.

Page 12: Transferencia de Embrioes

2

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Bases fisiológicas do ciclo estral em bovinos

A fisiologia do ciclo estral é complexa e depende da perfeita

interação entre o sistema nervoso central, sistema endócrino e os órgãos

genitais, útero e ovário (Figura 1). O hipotálamo, estrutura localizada

centralmente na base do cérebro possui núcleos responsáveis pela secreção

de hormônios reguladores de gonadotrofinas (GnRH), os quais são liberados

de forma pulsátil ligando-se, posteriormente aos receptores da hipófise. Por

conseguinte dá-se início a síntese e a liberação, também pulsátil, dos

hormônios de natureza glicoprotéica, denominados hormônio folículo

estimulante (FSH) e hormônio luteinizante (LH) (MORAES et al., 2002;

JAINUDEEN e HAFEZ, 2004a). O FSH secretado pelo lobo anterior da hipófise

promove crescimento folicular e hiperplasia nas células da granulosa e teca

interna nos ovários, enquanto o LH induz a maturação e ovulação dos folículos,

produção de estrógenos pela teca interna e luteinização desta e da granulosa

com desenvolvimento do corpo lúteo (GRUNERT e GREGORY, 1989).

Figura 1 - Eixo hipotálamo-hipófise-gonadal . Fonte: http://www.mcguido.vet.br

HIPOTÁLAMO

HIPÓFISE

P I TU I TÁR I

A A NTER I OR

CIRCULAÇÃO GERAL

CÉLULAS NEUROSECRETORAS

Page 13: Transferencia de Embrioes

3

2.2 Ciclo estral

O ciclo estral (Figura 2) em bovinos apresenta duração média de 21

dias e é definido como o intervalo transcorrido entre dois estros, em que ocorre

uma série de alterações hormonais, morfológicas e comportamentais

(MOREIRA et al., 2002; ALBUQUERQUE et al., 2004; JAINUDEEN e HAFEZ,

2004a). Pode ser dividido em duas fases distintas: a fase folicular ou

estrogênica caracterizada pelo pró-estro e estro culminando com a ovulação e

a fase luteínica ou progesterônica constituída pelo metaestro e diestro

finalizando-se com a luteólise (MACMILLAN e BURKE, 1996; MORAES et al.,

2002; ALBUQUERQUE et al., 2004).

Segundo ALBUQUERQUE et al. (2004), o estro é comumente

denominado de dia zero do ciclo estral. Dura entre 12 e 24 horas na vaca,

variando entre as raças e inicia em sincronia ao pico de LH, resultando em dois

fenômenos independentes: a luteinização das células da granulosa e teca e a

ruptura do folículo ovulatório. Em seguida ocorre a ovulação e posterior

formação do corpo lúteo (MORAES et al., 2002). JAINUDEEN e HAFEZ

(2004a) descreveram que, em se tratando de ovário, esse período é

CICLO ESTRAL

PGF2α

E2

LH

Figura 2 - Ciclo estral em fêmeas bovinas (Adaptado do Manual Prático de

Inseminação Artificial em Tempo Fixo – BIOGENESIS BRASIL, 2004)

Page 14: Transferencia de Embrioes

4

caracterizado pela elevada secreção de estrógeno (E2) dos folículos pré-

ovulatórios.

De acordo com MORAES et al. (2002), os sinais de estro ocorrem

logo antes da ovulação, devido ao aumento de estradiol na circulação. Os

elevados níveis de estrógeno, na fase inicial do estro, sinalizam o hipotálamo

para inibir o feedback negativo estimulando a liberação cíclica de GnRH

(feedback positivo) (ALBUQUERQUE et al., 2004). Nessa fase a fêmea

apresenta vulva edemaciada, mucosa vaginal hiperêmica, descarga de muco

vaginal claro e elástico, inserção da cauda arrepiada, lordose, inquietude, há

formação de grupo de animais e finalmente, quando montada, fica imóvel. Para

MORAES et al. (2002) e ALBUQUERQUE et al. (2004), o sinal mais

característico e confiável da ocorrência do estro é quando a fêmea aceita a

monta sem reagir.

2.2.1 Fase folicular ou estrogênica

Durante o ciclo estral, o crescimento dos folículos ovarianos, em

bovinos, ocorre em um padrão denominado ondas de crescimento folicular.

Normalmente há a emergência de duas ou três ondas (Figura 4) de

crescimento folicular (ADAMS et al., 1992; BO et al., 1994; BINELLI, 2001). De

acordo com MORAES et al. (2002) e ALBUQUERQUE et al. (2004), este

crescimento folicular ocorre sob baixas concentrações plasmática de

progesterona (P4) e alta pulsatibilidade de LH. Uma onda de folículos emerge

entre os dias um e três após o estro. São geralmente em torno de 10 a 50

folículos neste grupo com o tamanho de dois a três milímetros cada. Nos dias

subseqüentes parte desses folículos crescem para quatro a seis milímetros,

sendo que dois a cinco folículos maiores do grupo continuarão a crescer,

enquanto que os outros regridem (MOREIRA et al., 2002). Para DISKIN et al.

(2002), cada onda de crescimento folicular divide-se na fase de recrutamento,

seleção, dominância e atresia ou ovulação (Figura 3).

No momento em que ocorre a lise do corpo lúteo (CL), os níveis de

progesterona declinam favorecendo o aumento transitório das concentrações

plasmáticas de FSH caracterizando assim a fase de recrutamento ou

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5

emergência (ADAMS et al., 1992). Conseqüentemente, ocorre o crescimento

do folículo (MORAES et al., 2002; ALBUQUERQUE et al., 2004) até em torno

do oitavo dia após o estro, com emergência da segunda onda de crescimento

folicular reiniciando o processo (BO et al., 1994; MOREIRA et al., 2002). A taxa

de seleção é semelhante para todos os folículos recrutados, no entanto, na

fase de seleção um folículo passa a apresentar maior taxa de crescimento e

torna-se dominante e outros entram em atresia (GINTHER et al., 2001; DISKIN

et al., 2002). A fase de regressão ocorre após o décimo dia, para fêmeas que

apresentam duas ondas de crescimento folicular, sendo que na existência de

três ondas têm-se o sétimo ao oitavo dia para regressão (SILCOX et al., 1993;

BO et al., 1994).

FIGURA 3 – Fases de crescimento folicular: P4 (progesterona); E2 (estrógeno);

LH (hormônio luteinizante). Fonte: TECNOPEC (2006)

Segundo AUSTIN et al. (2002) o folículo dominante é caracterizado

pelo seu crescimento constante e pela capacidade de produzir estradiol.

Durante a dominância ocorre à queda das concentrações de FSH e aumento

na produção hormonal de LH, sendo o folículo dependente deste último até que

ocorra a ovulação ou atresia (MORAES et al., 2002; ALBUQUERQUE et al.,

2004). O LH age sobre as células da teca estimulando a produção de

andrógenos que serão convertidos em estrógenos pelas células da granulosa

(ALBUQUERQUE et al., 2004). O aumento de estrógeno promoverá a liberação

Page 16: Transferencia de Embrioes

6

de grandes quantidades de hormônios hipotalâmicos-hipofisários (GnRH-FSH)

em alta freqüência, estimulando o trato reprodutivo a se preparar para sinalizar

as alterações físicas e comportamentais do estro (ALBUQUERQUE et al.,

2004; JAINUDEEN e HAFEZ, 2004a).

A

FIGURA 4 – Esquema do ciclo estral com duas ondas foliculares (A) e três ondas foliculares

(B): P4 (progesterona); E2 (estrógeno); LH (hormônio luteinizante). Fonte:

TECNOPEC (2006)

2.2.2 Fase luteínica ou progesterônica

A fase luteínica é caracterizada pela formação do CL ovariano

resultante do rompimento de um folículo ovulatório e pela presença de maiores

concentrações plasmáticas de progesterona. Condição esta, que leva ao

crescimento e atresia dos folículos ovarianos devido à diminuição da

pulsatibilidade e ausência do pico de LH, ou seja, pulsos de LH com alta

freqüência e baixa amplitude (MORAES et al., 2002; ALBUQUERQUE et al.,

2004).

Conforme BINELLI et al. (2001); MORAES et al. (2002);

ALBUQUERQUE et al. (2004) e JAINUDEEN e HAFEZ (2004a) à medida que

vai ocorrendo a luteinização das células foliculares e formação do corpo lúteo,

as estruturas foliculares, que até então secretavam estrógeno, passam a

secretar progesterona; hormônio este (BO et al., 2000), essencial para a

ciclicidade normal da vaca. Segundo ALBUQUERQUE et al. (2004) nesta fase

a fêmea não aceita mais a monta, o cérvix apresenta-se fechado, o muco

produzido é viscoso e não flui mais pela comissura vulvar. Os autores ainda

A B

Page 17: Transferencia de Embrioes

7

acrescentam que no primeiro e segundo dia do metaestro podem ocorrer

sangramentos uterinos, que se atribui à queda nos níveis de estrógeno. Para

BO et al. (2000) durante a fase de secreção de progesterona ocorrem

aumentos periódicos de FSH, o qual estimula a emergência de ondas

foliculares.

O diestro, que começa no dia seis do ciclo estral, dura entre dez e

14 dias, sendo a fase mais longa do ciclo na vaca. Nesta fase o corpo lúteo

continua a se desenvolver atingindo o máximo de seu crescimento e produção

de progesterona, que impede a onda gonadotrófica de completar a maturação

de folículos presentes no ovário, em função do crescimento folicular pós-

ovulatório, sobrevindo a atresia dos mesmos. O útero continua com sua

musculatura relaxada, o endométrio mostra-se espessado com glândulas

hipertrofiadas. O cérvix permanece fechado com muco denso e viscoso, a

vagina apresenta-se com as mucosas pálidas e secas (ALBUQUERQUE et al.,

2004).

Caso o concepto esteja presente entre os dias 14 e 17 e ocorra

secreção adequada de interferon, não ocorrerá a liberação de prostaglandinas

(PGF2α) e a progesterona continuará a ser secretada para manter a gestação

(ALBUQUERQUE et al., 2004; JAINUDEEN e HAFEZ, 2004a). Caso não haja

fecundação ou a produção de interferon for comprometida nesse período, a

PGF2α será liberada com conseqüente luteólise, liberação e queda dos níveis

plasmáticos de progesterona proporcionando condições favoráveis para um

novo crescimento folicular e ovulação (OKUDA et al., 2002).

O entendimento dos mecanismos básicos sobre a fisiologia da

reprodução e a interação com outros sistemas fornecem embasamento para se

discutir e aplicar os diferentes métodos biotécnicos reprodutivos disponíveis,

dentre os quais destaca-se a transferência de embriões.

2.3 Transferência de embriões

2.3.1 Importância

A TE é uma biotécnica mundialmente difundida e sua importância

básica para a produção animal consiste na possibilidade de uma fêmea

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8

produzir um número de descendentes muito superior ao que seria possível

obter fisiologicamente durante sua vida reprodutiva. Além de contribuir para

ampliar os conhecimentos de fisiologia, patologia e endocrinologia decorrentes

da relação entre embrião, órgãos genitais internos e sistema nervoso central,

equaciona os problemas relativos a ordem genética e sanitária

(REICHENBACH et al., 2002).

2.3.2 Pré-requisitos para o sucesso da transferência de embriões

a) Controle zootécnico

O controle zootécnico é um fator de grande importância e que

necessita de uma criteriosa avaliação durante a seleção das fêmeas doadoras,

devido à influência que exercerão sobre as próximas gerações. Sendo assim,

independente da raça, os animais doadores devem ser portadores de pedigree

e com registro nas respectivas associações de criadores (SIMÃO, 2004).

b) Controle sanitário

O melhoramento animal passa, na maioria das vezes, pela troca de

material genético entre explorações na mesma região ou através da importação

de outras localidades, países ou continentes. A transação de animais vivos

envolve elevados custos nos transportes e grande risco na transmissão de

doenças, podendo estes fatores serem muito reduzidos ou eliminados, através

do transporte os embriões quer frescos, refrigerados ou mesmo congelados

(DOBRINSKY, 2001). No entanto, se não forem aplicadas medidas sanitárias

efetivas, pode constituir-se em um veículo importante na disseminação ou

introdução de doenças inexistentes em outras regiões. O estado sanitário dos

animais deve ser determinado antes que os mesmos sejam levados para o

recinto da central, sendo importante que permaneçam em quarentena para

avaliações clínicas e realização de exames complementares que caracterizem

ausência de doenças infecciosas (COSTA e SILVA, 2004). Como regra geral,

PITUCO (2005), recomendou que os animais adquiridos necessitam passar por

Page 19: Transferencia de Embrioes

9

testes preventivos no local da compra e 40 dias depois, em particular para

brucelose, leptospirose, rinotraqueíte infecciosa bovina, diarréia viral bovina,

campilobacteriose e tricomonose. De acordo com GENOVES (2005), a maioria

das enfermidades que prejudicam a reprodução apresenta sinais e sintomas

parecidos como: perda embrionária precoce, aborto, infertilidade temporária,

aumento do intervalo entre partos, entre outras ocorrências. Com isso, os

exames laboratoriais dão a garantia do diagnóstico preciso.

Além disso, deve-se estabelecer previamente um programa de

vacinação e de controle de parasitas, tanto de doadoras como de receptoras,

para se evitar interferência negativa na produção de embriões bem como no

desenvolvimento das diferentes etapas da técnica de TE, garantindo melhor

eficiência reprodutiva (MAPLETOFT e STOOKEY, 1999; CORTESE, 2004).

Porém PITUCO (2005) salientou ainda que as estratégias de vacinação devem

ser estabelecidas baseando-se no estudo individualizado de cada rebanho e no

risco da introdução do agente. Sobretudo, que a análise custo/benefício deve

ser uma constante na adoção de qualquer medida sanitária.

c) Controle nutricional

Segundo RIGOLON et al. (2000), além do controle zootécnico e

sanitário o estado nutricional e a dieta do animal também contribuem de

maneira significativa para o sucesso da TE pois, tanto a falta quanto o excesso

de energia na dieta afetam negativamente a produção de embriões.

O aspecto físico da fêmea bovina relata a condição reprodutiva. O

excesso de gordura impede o deslocamento do oócito pela tuba uterina para

ser fecundado e prejudica o desenvolvimento de folículos. Já a deficiência em

reservas não permite a ciclicidade, pela diminuição na produção de hormônios

esteróides e ocasiona índices consideráveis de morte embrionária até 45 dias

após a fecundação (LIMA, 2005). De acordo com FERNANDES (2005) reduz o

desenvolvimento do concepto. Porém, a principal fase na qual a nutrição pode

afetar o desenvolvimento é no início da gestação. O autor ainda salientou que

esse efeito é particularmente delicado até o reconhecimento materno da

gestação, que no bovino ocorre entre 17 e 25 dias após a concepção.

Page 20: Transferencia de Embrioes

10

d) Seleção das doadoras

A seleção das doadoras é um dos pontos críticos da TE, haja vista a

obrigatoriedade de se utilizar animais sem distúrbios reprodutivos, com ciclo

estral regular e em adequado estado nutricional. Antes de iniciar o tratamento

hormonal para induzir a superovulação é recomendável verificar a identificação

correta da doadora e obter uma amostra de sangue para tipificação, necessária

para uma posterior comprovação da descendência. Nesse sentido é necessário

inseminar as doadoras somente com sêmen de touros tipificados

(REICHENBACH et al., 2002).

De acordo com WILLIAMS (2001), a inclusão das doadoras num

programa de TE nunca deve ser inferior aos 60 dias pós-parto e, mesmo assim,

deve ser precedida de rigorosa observação da regularidade de, pelo menos,

dois ciclos estrais consecutivos. Outro aspecto a ser considerado é o bem-estar

das doadoras, porque em situações de estresse não respondem ao tratamento

superovulatório ou fazem de forma muito deficiente. Segundo REICHENBACH

et al. (2002), as novilhas púberes devem ser incluídas num programa de TE

desde que tenham adquirido massa muscular representativa de seu peso

adulto e apresentem desenvolvimento anátomo-fisiológico que permita a

realização dos procedimentos necessários para coleta de embriões. Para

ANDRADE et al. (2002), apesar das novilhas mostrarem reação satisfatória ao

estímulo superovulatório, algumas vezes existe dificuldade de introduzir o

cateter por via transcervical, o que pode comprometer a eficiência da TE em

algumas ocasiões, mesmo assim, a utilização de novilhas em programas de TE

é estimulado porque reduz o intervalo entre gerações e acelera o

melhoramento genético.

e) Seleção das receptoras

As receptoras constituem uma parte fundamental de um programa

de TE porque necessitam levar a gestação a termo. As fêmeas que

apresentam atividade cíclica regular e as primíparas e pluríparas que tenham

parido há mais de 60 dias, que o puerpério tenha decorrido normalmente e que

estejam livres de doenças ou anomalias do trato reprodutivo, podem ser

Page 21: Transferencia de Embrioes

11

selecionadas como receptoras (WILLIAMS, 2001). Para SCARPELLI (2003), o

ideal é que sejam aproveitadas fêmeas oriundas da mesma propriedade em

razão de se conhecer o histórico reprodutivo de cada indivíduo. Todavia, na

necessidade de se comprar fêmeas destinadas a receptoras, deve-se ter a

precaução de adquirir fêmeas com cria ao pé ou novilhas em bom estado de

desenvolvimento corporal e com ciclo estral regular.

Apesar de não ser requerida uma avaliação de qualidade zootécnica

da receptora é fundamental que alguns critérios de seleção sejam adotados,

tais como: possuir porte compatível com a raça do embrião a ser transferido

garantindo uma gestação e parto normal, livre de auxílio obstétrico (ANDRADE

et al., 2002), bem como apresentar boa habilidade materna e rusticidade

(VALENTIM e GOFERT, 2005). Entretanto, a seleção final de uma fêmea como

receptora somente deve ocorrer no dia da transferência do embrião, baseado

nos sinais de estro evidenciados após a sincronização e da avaliação do corpo

lúteo funcional (REICHENBACH et al., 2002).

2.3.3.Tratamento hormonal das doadoras e receptoras

Os hormônios sintéticos têm sido amplamente empregados na

reprodução animal, principalmente na sincronização do estro e no controle da

ovulação. A administração exógena de hormônios naturais tem pouco valor na

maior parte das situações em decorrência da sua meia-vida relativamente

curta. Por outro lado, os hormônios sintéticos apresentam características

químicas e atividade semelhante a de hormônios naturais e interferem no

metabolismo animal, propiciando um melhor desempenho reprodutivo

(TECNOPEC, 2006).

a) Sincronização do ciclo estral das doadoras e receptoras

Face aos novos conhecimentos de dinâmica folicular, conclui-se que

um importante componente aleatório responsável pela variabilidade dos

resultados da superovulação (SOV) nos protocolos clássicos de TE é a

imprevisibilidade do início da onda folicular e do momento da presença ou não

do folículo dominante, uma vez que a fêmea pode apresentar um ciclo de duas

Page 22: Transferencia de Embrioes

12

ou mais ondas. A sincronização do cio e da ovulação em um grupo de fêmeas

permite que se estime o momento do cio com razoável precisão. Isso reduz o

tempo necessário para a detecção do cio e em alguns casos possibilita a

inseminação em tempo fixo (IATF) sem detecção de cio. A IATF é considerada

eficaz quando as fêmeas são sincronizadas dentro de um período de cerca de

24 horas, mas isso raramente é conseguido (TECNOPEC, 2006).

Os métodos de sincronização incluem a administração de um

hormônio natural ou sintético via oral, injeção intramuscular, implante e/ou

através do manejo dos animais, o qual inclui uma adequada nutrição e um

desmame no período mais apropriado. Em um programa de TE, a

sincronização do ciclo estral de um grupo de fêmeas doadoras é indicada

quando se pretende concentrar as colheitas num único dia. Esta prática permite

uma racionalização dos procedimentos e um melhor aproveitamento das

receptoras disponíveis. Para a TE com embriões frescos, além da

sincronização prévia das doadoras é necessário sincronizar o estro das

receptoras com o das doadoras (REICHENBACH et al., 2002).

Segundo VALENTIM e GOFERT (2005), a sincronização de

receptoras é fundamental para o sucesso da TE, sem ela seria necessário um

número elevadíssimo de receptoras para o uso do cio natural. Existem várias

técnicas de controle do ciclo estral para sincronização de receptoras, dos mais

antigos, à base de prostaglandina, aos mais modernos protocolos, que utilizam

o conceito de sincronização do crescimento folicular e da ovulação. De acordo

com MORAES et al. (2002), os dois grandes grupos de produtos, para

sincronização do estro são os progestágenos e as prostaglandinas. Além disso,

são utilizadas também associações hormonais, sendo mais comuns

progestágeno-estrógeno, estrógeno-prostaglandina, progestágeno-estrógeno-

prostaglandina e GnRH ou gonadotrofina coriônica humana (hCG)-

prostaglandina-GnRH ou hCG. Para JAINUDEEN e HAFEZ (2004a), o

tratamento a longo prazo com progestágeno em bovinos não é satisfatório

porque reduz a fertilidade, embora o cio seja bem sincronizado. A seguir no

Quadro 1 encontram-se esquematizados os principais hormônios utilizados

para a sincronização do estro e da ovulação em bovinos.

Page 23: Transferencia de Embrioes

13

Quadro 1 - Hormônios utilizados para a indução do cio e da ovulação

Tipo de Hormônio Método de administração Atividade biológica Gonadotrofinas eCG ou PMSG Injeção única Mimetiza o FSH e estimula o

crescimento folicular; meia vida longa

FSH Injeção única / múltipla Estimula o crescimento folicular; meia-vida curta

hCG Injeção única Mimetiza o LH e induz a ovulação

Agonista do Hormônio Liberador de Gonadotroginas aGnRH-buserilim Injeção única Induz a liberação de LH e

FSH da hipófise anterior; recrutamento e seleção do novo folículo dominante

Progestágenos Progesterona Injeções múltiplas Inibe a ovulação suprindo a

secreção de LH; mimetiza a ação do CL

Progestágenos sintéticos* Oral, implante subcutâneo, pessário/dispositivo intravaginal

Inibe a ovulação suprimindo a secreção de LH; mimetiza a ação do CL

Estrógenos Conjugados estradiol**

Injeção, implante Induz regressão prematura do CL e intensifica a resposta aos progestágenos

Prostaglandinas PGF2α

ou análogos sintéticos

Injeção Induz a regressão do CL durante fases responsivas

*Exemplos: preparaçãoes orais incluem Norgestomet, medroxiacetato de progesterona (MAP), acetato de melengestrol (MGA), acetato de fluorogestona (FGA, Cronolone) e Altrenogest; dispositivos intravaginais incluem dispositivo intravaginal liberador de progesterona (PRID), dispositivo interno de liberação controloda de droga (CIDR); esponjas intravaginais incluem MAP e FGA. **Exemplos incluem valeriato de estradiol, benzoato de estradiol, e cipionato de estradiol. (Fonte: JANUDEEN et al., 2004)

De acordo com JAINUDEEN et al. (2004), a sincronização do cio

tanto das doadoras quanto das receptoras, pode ser obtida através de uma ou

duas administrações de prostaglandina. No caso de duas aplicações, estas

devem ser efetuadas a intervalo de 11 – 14 dias em fêmeas que apresentam

ciclo estral regular. Porém, ANDRADE et al. (2002) relataram que a vantagem

de utilizar dispositivos intravaginais ou implantes auriculares para a

sincronização do estro de doadoras e receptoras, consiste na possibilidade do

tratamento superovulatório ter início independentemente da fase do ciclo estral.

Page 24: Transferencia de Embrioes

14

2.4 Superovulação das doadoras

O sucesso dos programas da transferência de embriões depende

em grande parte da eficiência da superovulação, que representa um fator

limitante devido à ampla variedade na resposta ao tratamento. A resposta

superovulatória está diretamente relacionada com a população de folículos

presentes no ovário e com a resposta destes ao estímulo das gonadotrofinas

exógenas (NEVES e MARQUES JÚNIOR, 2004). Segundo WITBANK (2002),

tanto os fatores intrínsecos como os extrínsecos influenciam na variabilidade

da resposta superovulatória em bovinos. Dentre os fatores fisiológicos, o

folículo dominante funcional pode exercer um efeito negativo na resposta e

diminuir o número de embriões coletados. Dos fatores extrínsecos, subnutrição

e lactação podem exercer um efeito prejudicial na secreção pulsátil de LH e no

desenvolvimento folicular.

Programas atuais de superovulação (SOV) utilizam a técnica de

sincronização da onda folicular, para iniciar a SOV no melhor momento

possível, isto é, no início do desenvolvimento dos folículos (TECNOPEC,

2006). Aplicações de FSH exógeno ou gonadotrofina coriônica equina (eCG)

são amplamente utilizados em programas de ovulação múltipla/transferência de

embriões. Geralmente, injeções subcutâneas ou intra-musculares de eCG ou

FSH estimulam o crescimento de folículos adicionais, os quais ovulam

espontaneamente sem a necessidade de LH ou hCG. Como o FSH tem uma

meia-vida mais curta que o eCG, geralmente é necessário dividir a dose total e

injetar com intervalos de 12 horas ao longo de três a quatro dias, tempo

necessário para que os níveis séricos dessa gonadotrofina sejam mantidos

para permitir a ação superovulatória desejada (JAINUDEEN et al., 2004).

A maioria dos protocolos de superovulação empregando FSH indica

oito aplicações em doses decrescentes por via intramuscular. No quarto dia do

tratamento, pela manhã, é necessário administrar PGF2α visando regredir o

corpo lúteo cíclico e uma segunda dose é aplicada ao anoitecer, sendo que as

doadoras evidenciam estro, em média 48 a 72 horas depois da aplicação. Nas

doadoras sincronizadas com dispositivos intravaginais ou auriculares, os

mesmos devem ser retirados no quarto dia do tratamento do FSH pela manhã,

sendo recomendada à aplicação concomitante de PGF2α, para um melhor

Page 25: Transferencia de Embrioes

15

efeito de sincronização. Nesse caso as doadoras mostram sinais de estro em

média 12 horas antes, ou seja, 36 a 60 horas após a retirada do implante e

administração de PGF2α (REICHENBACH et al., 2002).

Durante a década passada, a PGF2α e seu análogo cloprostenol

deram uma importante contribuição para estimular a superovulação em

bovinos. Pois, não apenas permitiu maior flexibilidade para a escolha do

momento mais adequado para a SOV, como também é um excelente

tratamento para produzir grande número de embriões normais. No entanto em

bovinos, o momento ótimo para o tratamento superovulatório é entre os dias

oito e 12 do ciclo estral, sendo que a maioria das doadoras entrará no cio de

dois a três dias (48 a 72 horas) após a injeção de PGF2α (JAINUDEEN et al.,

2004).

Segundo ANDRADE et al. (2002), as fêmeas doadoras podem ser

sucessivamente superovuladas com protocolos que envolvam dispositivos

intravaginais ou implantes auriculares para a sincronização do estro, o

importante é que o intervalo entre duas superovulações consecutivas deve ser

de, no mínimo, cinco semanas. Geralmente, as doadoras respondem de

maneira similar ao primeiro, segundo e terceiro tratamento superovulatório. A

resposta a tratamentos subseqüentes, no entanto, é menor em algumas

fêmeas, provavelmente, devido à redução de anticorpos contra gonadotrofinas,

que são hormônios protéicos. Para JAINUDEEN et al. (2004) isso pode ser

evitado até certo ponto aumentando-se o intervalo entre tratamentos hormonais

e usando gonadotrofinas derivadas da mesma espécie que está sendo tratada.

2.5 Inseminação das doadoras

Não existem padrões de qualidade de sêmen para uso em TE, por

isso em muitos programas com doadoras problemas utilizam-se no mínimo

duas doses por inseminação, a cada 12 horas, num total de três inseminações

(ASBIA, 2006). Segundo REICHENBACH et al. (2002), as doadoras são

inseminadas duas a três vezes conforme os sinais aparentes de estro, sendo a

primeira inseminação realizada imediatamente após os primeiros indícios e as

demais em intervalos de, aproximadamente, 12 horas. Aquelas fêmeas que

Page 26: Transferencia de Embrioes

16

não expressarem os sinais de estro devem ser também inseminadas,

preferencialmente, após 48 e 60 horas da aplicação de PGF2α ou 36 e 48 horas

depois da retirada do dispositivo intravaginal ou implante auricular.

2.6 Colheita de embriões

Historicamente, os embriões eram coletados de ovidutos ou úteros

de doadoras após o abate ou cirurgia. Desde 1976, a recuperação transcervical

de embriões de vaca, búfula e égua é rotineiramente praticada. Para muitas

aplicações, as técnicas não-cirúrgicas de colheita de embriões são desejáveis,

uma vez que as técnicas cirúrgicas invariavelmente levam à formação de

aderências, além disso, há menor risco de vida e de saúde para a doadora com

métodos não-cirúrgicos (JAINUDEEN et at., 2004). Segundo REICHENBACH

et al (2002), a colheita de embriões é feita, preferencialmente, entre o sexto e

oitavo dia após a primeira inseminação das doadoras. Nesse período, os

embriões encontram-se flutuando, no lúmen da ponta dos cornos uterinos. Isso

permite sua captação através da técnica de lavagem dos cornos uterinos.

Antes da colheita, a resposta ovariana ao estímulo superovulatório

pode ser avaliada por palpação retal. Com o animal em posição quadrupedal

faz-se, previamente, a tricotomia e antissepsia com álcool iodado, no espaço

intervertebral, entre a última vértebra sacral e a primeira coccígea. Local este,

onde se procede à anestesia peridural baixa, utilizando-se quatro a seis

mililitros de lidocaína a 2%. Posteriormente realiza-se higienização ao redor da

vulva, ânus e inserção da cauda, com água, escova e sabão seguida de

antissepsia com solução de álcool etílico e iodado a 10% (GAMBARINI, 2004).

Segundo JAINUDEEN et al. (2004), no método transcervical de

colheita de embriões, o catéter de Foley com o mandril no seu interior é guiado

através do cérvix por manipulação retal. O cateter pode ser posicionado no

corpo uterino ou em um dos cornos. Os autores ressaltaram que em sua

maioria os profissionais preferem lavar cada corno separadamente. De acordo

com GAMBARINI (2004), após o posicionamento da sonda em um dos cornos,

o balão é inflado injetando-se dez a 20 ml de ar, quantidade suficiente para

Page 27: Transferencia de Embrioes

17

fechar a abertura cervical e fixar a sonda. Por conseguinte, o mandril é retirado

e inicia-se a coleta dos embriões através da lavagem uterina.

A lavagem uterina transcervical pode ser feita através de duas

maneiras: a primeira é pelo sistema aberto de coleta, em que a lavagem é

efetuada em frações de 40 a 50 ml de solução salina tampão-fosfato (PBS),

com o auxílio de uma seringa descartável acoplada diretamente ao cateter

posicionado no corno uterino. Quando obtidas essas frações são depositadas

em um recipiente, geralmente de vidro graduado, com capacidade para 500 a

1000 ml; a outra maneira é pelo sistema fechado de coleta, que difere do

anterior por impedir que o PBS entre em contato com o ambiente exterior.

Neste método, o meio de lavagem introduzido no corno uterino é recolhido

através de um sistema composto por dois tubos de plástico flexíveis, sendo que

um é o recipiente contendo o meio de coleta e o outro, um filtro para a

obtenção dos embriões. Esse meio de coleta deve fluir por gravidade através

do tubo acoplado ao recipiente, bem como através do cateter em direção ao

corno uterino, sendo necessário que o recipiente seja posicionado cerca de um

metro acima da garupa do animal. Após a lavagem do corno uterino, o meio de

coleta retorna através do outro tubo plástico para o filtro acoplado nesse tubo

retendo os embriões juntamente com dez a 30 ml do meio de lavagem

(REICHENBACH et al. 2002).

Para GAMBARINI (2004), várias lavagens dos cornos uterinos são

feitas, geralmente perfazendo um volume total de dois litros do meio de

lavagem. Após a lavagem, o balão é desinflado e a sonda é retirada. Ao

término de cada coleta recomenda-se a aplicação de PGF2 para se evitar

gestação indesejada.

2.7 Manipulação e avaliação dos embriões

Os embriões não devem ser deixados no meio original de coleta por

tempo mais longo que o necessário, 20 a 30 minutos, uma vez que podem

existir substâncias presentes no líquido de lavagem uterina que podem inibir o

seu desenvolvimento (MAPLETOFT e STOOKEY, 1999).

Page 28: Transferencia de Embrioes

18

O filtro coletor deve ser lavado por jatos de PBS provenientes de

uma agulha acoplada a uma seringa de 20 ml até ficar limpo e livre de muco na

tela filtrante. O conteúdo do filtro é então transferido para uma placa de Petri

com diâmetro de 12 cm (GAMBARINI, 2004). Deve ser usado um conjunto

separado de placas e pipetas para manipular os embriões de cada doadora,

para prevenir a contaminação e uma mistura inadvertida dos embriões. A

identificação cuidadosa das placas e pipetas ajudará a assegurar que esta

individualização seja mantida (MAPLETOFT e STOOKEY, 1999).

Segundo REICHENBACH et al. (2002), a busca dos embriões é

efetuada sob estereomicroscópio com aumento de 50 a 80 vezes e com auxílio

de uma micropipeta de vidro, os embriões encontrados vão sendo transferidos

para placa de Petri com diâmetro de 3,5 cm contendo o PBS acrescido de 10 a

20% de soro fetal bovino (SFB) ou BSA (Bovine Serum Albumin, 200 mg/50 ml

de PBS), para posteriormente serem separados em viáveis e não viáveis. De

acordo com BEM et al. (1995) e GAMBARINI (2004), as estruturas viáveis são:

mórula (Mo), mórula compacta (Mc), blastocisto inicial (Bi), blastocisto (BL),

blastocisto expandido (Bx), blastocisto eclodido (Be) (Figura 5). Essa

classificação depende do grau de desenvolvimento que o embrião apresenta

no dia da coleta.

Page 29: Transferencia de Embrioes

19

Figura 5 – Estágios de desenvolvimento embrionário em bovinos, considerando-se

os códigos recomendados pela Sociedade Internacional de

Transferência de Embriões (IETS) (1998). Código 1: célula (dia 1) -

Pró núcleos feminino e masculino (zigoto); Código 2: 2 células (dia 2);

Código 2: 4 células (dia 3); Código 3: Mórula inicial (dia 4-5) -13 a

mais de 32 blastômeros - até 16 células consegue-se boa separação

mecânica; Código 4: Mórula (dia 6); Código 5: Blastocisto inicial (dia

7): Código 6: Blastocisto (dia -7-8): Código 7: Blastocisto expandido

(dia 8-9); Código 8: Blastocisto eclodido (dia 9); Código 9: Blastocisto

eclodido/expandido (dia 9-10). Fonte: http://www.mcguido.vet.br

Na avaliação individual dos embriões, representado no Quadro 2,

são várias as características a serem observadas, tais como: tamanho, forma,

cor, homogeneidade do citoplasma, forma e integridade da membrana

Page 30: Transferencia de Embrioes

20

pelúcida, tamanho e presença de células no espaço perivitelíneo (E.P.V.) e

presença de vesículas (BEM et al., 1995; ROBERTSON e NELSON, 1999).

Quadro 2 - Critérios para avaliação de embriões bovinos segundo os parâmetros de qualidade

propostos pela IETS (1998)

Código da

IETS

Avaliação Principais Características Morfológicas

1 Excelente ou Bom

' Estádio de desenvolvimento corresponde ao esperado; ' Massa embrionária simétrica e esférica com blastômeros individuais que são uniformes em tamanho, cor e densidade;

' Forma regular, a ZP não deve apresentar superfície côncava ou plana, deve lisa, preferencialmente intacta, especialmente se o embrião é destinado a exportação;

' Células extrusadas da massa celular do embrião compreendem menos de 15% do material celular total.

2 Regular ' Estádio de desenvolvimento corresponde ao esperado; ' Forma regular, ZP intacta ou não, irregularidades moderadas na forma geral da massa embrionária ou no tamanho, cor e densidade das células individuais;

' Células extrusadas da massa celular do embrião compreendem mais de 15% do material celular total;

' Pelo menos 50% das células compõem uma massa embrionária viável, intacta.

3 Pobre ' Estádio de desenvolvimento não corresponde ao esperado; ' Irregularidades maiores na forma geral da massa embrionária ou no tamanho, cor e densidade das células individuais;

' Menos de 75% das células degeneradas; ' Pelo menos 25% das células compõem uma massa embrionária viável, intacta.

4 Morto ou degenerado

' Estádio de desenvolvimento não corresponde ao esperado, embrião em degeneração;

' Massa embrionária de menos de 25% de todo material celular presente no interior da ZP;

' Oócitos ou estruturas unicelulares degeneradas. (Fonte: REICHENBACH et al., 2002).

Conforme relataram BEM et al. (1995), a avaliação morfológica dos

embriões ou a classificação embrionária estabelece padrões morfológicos que

julgam a forma, porém não a vida do embrião. Somente a prática e o manuseio

diário com embriões é que dá ao técnico o discernimento da real qualidade do

embrião.

Embriões considerados viáveis, classificados entre um e três devem

ser lavados dez vezes no meio de cultivo visando impedir uma transmissão de

agentes infecciosos. Os banhos podem ser realizados em dez placas de Petri

com diâmetro de 35mm ou em placas multi-cavas utilizando um micropipetador

e pipetas de vidro descartáveis de 20µl, as quais são substituídas entre cada

lavagem do embrião (REICHENBACH et al., 2002).

Page 31: Transferencia de Embrioes

21

Segundo STRINGFELLOW (1999), existe alguns requerimentos

essenciais para lavagem adequada dos embriões, tais como: lavar juntos

apenas embriões de uma doadora; lavar de uma só vez dez ou menos

embriões; lavar somente embriões com zona pelúcida intacta; lavar apenas

embriões isentos de material aderente; mínimo de dez lavagens; usar uma

nova micropipeta estéril cada vez que os embriões são passados de um banho

para outro. Além disso, ANDRADE et al. (2002) relataram que para embriões

com fins de exportação são necessários submetê-los a tratamento com tripsina,

pois esta (MEDVECZKY et. al., 1996), possui atividade proteolítica sob os

agentes patogênicos que se alojarem na zona pelúcida (ZP). Inicialmente, os

embriões são lavados três a cinco vezes no meio de cultivo para em seguida

serem lavados em duas alíquotas contendo tripsina, por um tempo de 60 a 90

segundos, para depois serem novamente lavados por cinco vezes no meio de

cultivo.

2.8 Técnicas de Transferência de embriões

Antes da transferência, o embrião precisa ser acomodado no centro

de uma palheta de 0,25 ml, contendo meio de cultivo. O envasamento na

palheta é feito de tal forma que uma coluna central contendo o embrião

encontra-se separada das colunas nas extremidades por duas colunas de ar.

As palhetas precisam ser devidamente identificadas para se evitar equívocos

no momento da transferência. Somente embriões de graus um e três devem

ser transferidos para as receptoras (REICHENBACH et al., 2002).

A transferência de embriões pode ser feita cirurgicamente,

laparoscopicamente e não cirúrgica. Embora alguns profissionais atinjam

índices de prenhez mais elevados com transferências cirúrgicas em bovinos

são necessárias melhores instalações, melhor treinamento e exige mais tempo

que a transferência não cirúrgica. Sobretudo, a transferência não cirúrgica é

mais adaptada para uso em fazendas e tem se tornado quase tão simples de

executar como a inseminação artificial (MAPLETOFT e STOOKEY, 1998).

Segundo JAINUDEEN et al. (2004), nos primórdios da TE, os embriões eram

transferidos por laparotomia sob anestesia geral ou local. Entretanto, desde

Page 32: Transferencia de Embrioes

22

1978, essa técnica cirúrgica vem sendo substituída pela via transcervical. Para

REICHENBACH et al. (2002), a transferência deve ser feita, de preferência, por

via transcervical, todavia nada impede que seja realizada por meio de cirurgia

no flanco.

As receptoras selecionadas com base na estrutura do corpo lúteo

cíclico e nas anotações da qualidade e intensidade do estro, devem ser

submetidas à anestesia peridural baixa com três a quatro mililitros de

anestésico local à base de lidocaína a 2% (ANDRADE et al., 2002). A dose da

anestesia local é ajustada para assegurar que a fêmea permaneça de pé ao

longo da TE (JAINUDEEN et al., 2004). Após anestesia realiza-se higienização

ao redor da vulva, ânus e inserção da cauda, com água e sabão, com posterior

anti-sepsia utilizando álcool iodado a 10% e álcool etílico (GAMBARINI, 2004).

A TE propriamente dita, também conhecida como inovulação, é semelhante ao

adotado para a IA (ANDRADE et al., 2002). Sob condições assépticas, a

palheta contendo o embrião é encaixada em um aplicador (inovulador)

revestida por uma bainha estéril; em seguida é introduzida via transcervical e

por manipulação retal é guiada até o corno uterino ipsilateral do corpo lúteo

cíclico, onde finalmente o líquido contendo o embrião é depositado

(JAINUDEEN et al., 2004).

2.9 Diagnóstico de gestação em receptoras

A vantagem da identificação precoce de gestação consiste na

possibilidade de utilizar o rebanho de receptoras de forma mais racional, o que

permite o aproveitamento intensivo das receptoras em programas sucessivos

de TE. Um rigoroso controle do ciclo estral das receptoras nas duas primeiras

semanas após a TE, na expectativa de identificar aquelas que não

conceberam, principalmente, entre 13 e 15 dias, período no qual a

possibilidade de um eventual retorno ao estro é muito grande, destaca-se para

(REICHENBACH et al, 2002) como uma das importantes práticas de manejo.

Porém, JAINUDEEN e HAFEZ (2004b) ressaltaram que a ausência de cio após

cobertura ou IA é amplamente utilizada como indicativo de prenhez, mas a

confiabilidade desse método depende da eficiência na detecção de cio. Os

Page 33: Transferencia de Embrioes

23

métodos clínicos de diagnóstico de gestação dependem da detecção do

concepto – feto, membranas e líquidos fetais. Esses métodos incluem o exame

retal e as técnicas de ultra-sonografia. O exame retal é um método em que o

útero é palpado diretamente através da parede retal para detectar o aumento

uterino que ocorre durante a gestação, assim como o feto e as membranas

fetais.

De acordo com NEVES et al. (2002), o diagnóstico de gestação por

palpação retal é um método seguro, que não oferece risco para a integridade

da vaca e para a viabilidade do feto quando realizada por profissional

habilitado, sendo considerado o método mais prático e preciso para o

diagnóstico de gestação em fêmeas bovinas, desde que realizado após 45 – 50

dias de pós-serviço, dependendo da capacidade do examinador.

O método de ultra-sonografia ou ecografia é um método de

diagnóstico para exploração de estruturas, através da emissão de ultra-som e

captação de ecos, e ainda permite a avaliação do tamanho, da forma, da

localização e da consistência de órgãos em funcionamento ou o monitoramento

de suas funções e o registro de imagens para ser utilizado em atestados em ou

laudos clínicos. A não especificidade de muitas alterações observadas, muitas

vezes impede um diagnóstico preciso e imediato. Para obtenção de imagens

precisas, há necessidade de uma perfeita interação entre o homem, a máquina

e o paciente (NEVES et al., 2002). Contudo, REICHENBACH et al. (2002)

afirmaram que o método mais simples de avaliar o sucesso da TE é através do

diagnóstico de gestação por exame ginecológico, incluindo a palpação retal e a

ultra-sonografia, geralmente, quatro a cinco semanas após a TE, ou seja 35 a

42 dias de gestação.

2.10 Mão-de-obra especializada

A eficiência da TE depende da adoção de práticas de manejo

adequadas que contemplem um rigoroso controle do ciclo estral do rebanho de

doadoras e das receptoras, o qual inclui uma observação diária do estro, pelo

menos, durante dois períodos, pela manhã e à tarde. Ressalte-se ainda que

cada grupo de receptoras deve ser observado, no mínimo, 20 minutos e todos

Page 34: Transferencia de Embrioes

24

o dados devem ser anotados em formulários apropriados por pessoa habilitada.

O sucesso de um programa de TE implantado em uma propriedade rural, em

que se encontram trabalhando diferentes indivíduos e com grau de instrução

diferenciado está intensamente relacionado à capacidade de interação da

equipe, sobretudo, no que diz respeito à utilização de uma linguagem de fácil

entendimento. Acrescenta-se a isso, a habilidade do profissional na aplicação

da técnica e de pessoas capacitadas em administrar a propriedade

(REICHENBACH et al., 2002).

2.11 Infra-estrutura física

Segundo MAPLETOFT e STOOKEY (1999), os procedimentos de

TE podem ser bem sucedidos tanto em uma fazenda como em uma central,

porém as instalações requeridas diferem para cada uma destas duas

situações. Os programas realizados em uma fazenda têm várias vantagens.

Permitem o envolvimento direto do proprietário, a manutenção dos animais na

propriedade pode promover vendas e também há redução de custos. Já os

programas conduzidos em uma central têm como vantagem, a garantia de

todos os procedimentos estarem sob responsabilidade e controle direto do(s)

técnico(s) da empresa .

As instalações na fazenda devem ser adequadas para manejar e

alojar os animais sem o mínimo de estresse e risco de ferimentos, tanto para

os animais quanto para as pessoas que irão manejá-los. É essencial que se

tenha um tronco com brete, preferencialmente, coberto e um número suficiente

de currais de apartação. As instalações em uma central devem ser limpas e

tomar precauções sanitárias para assegurar que a saúde dos animais não seja

prejudicada pela movimentação contínua de gado que é comum nesse sistema

(MAPLETOFT e STOOKEY, 1999).

De acordo com SCHIEWE (1999), embora muitos fatores genéticos

e ambientais influenciem no sucesso da transeferência do embrião, a sanidade

básica do laboratório e práticas de controle de qualidade são essenciais para a

produção dos mesmos. O ideal é que o laboratório seja destinado somente

para procedimentos de manipulação de embriões e com o acesso limitado aos

Page 35: Transferencia de Embrioes

25

membros regulares da unidade de TE, para reduzir fontes externas de

contaminação. Segundo MAPLETOFT e STOOKEY (1999), o laboratório de

processamento deve ser bem planejado e equipado, separado de animais e

outras áreas “sujas”, ser construído com materiais que permitam limpeza

efetiva e desinfecção. As portas e janelas devem ser mantidas fechadas e

vedadas, especialmente quando os embriões estão sendo manipulados.

3 A TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÕES NA VISÃO DE UMA CANDIDATA A

ESPECIALISTA EM PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO EM BOVINOS: Mara

Emília Noleto de Carvalho Abadia, veterinária e proprietária da empresa

Embriotec Reprodução Animal Ltda.

Tendo trabalhado com TE em bovinos nos últimos dez anos, além

de adquirir experiência foi possível relacionar todo processo com inúmeros

fatores que podem interferir no sucesso dessa prática. Primeiramente é

necessário avaliar o custo/beneficio, pois, o processo ainda é relativamente

oneroso, considerando a realidade dos criatórios brasileiros. Um outro aspecto

está relacionado com a mão-de-obra que, quando inadequada, pode colocar

em risco todo o programa, sendo que na maioria das propriedades rurais há

uma certa carência de mão-de-obra para auxiliar no desenvolvimento dessa

técnica. Por esse motivo aumenta o trabalho e conseqüentemente o custo do

procedimento. Ressalte-se que, apesar do sucesso dessa biotecnologia, muitos

criadores não conseguem entender a dimensão e os benefícios dessa prática.

Portanto, se considerarmos que a grande maioria dos criadores não conta com

assistência veterinária, não é rotina a realização de exames ginecológicos das

fêmeas e de uma maneira geral ainda usa a monta natural, a introdução da TE

ainda fica distante da realidade desses criatórios.

Apesar das várias dificuldades enfrentadas na implantação e

execução da TE ultimamente a procura pela área, por médicos veterinários

recém-formados tem aumentado, quase que em progressão geométrica.

Entretanto, poucos profissionais se preocupam em adquirir os conhecimentos

básicos de reprodução como fisiologia, patologia e a relação da reprodução

com a nutrição. Sem esses conhecimentos acabam tendo dificuldades no

Page 36: Transferencia de Embrioes

26

trabalho e não obtêm resultados satisfatórios, por falha em algum ponto do

programa. Sendo assim, não conseguem se manter no mercado de trabalho,

tendo em vista que a cobrança dos proprietários por ótimos resultados é muito

grande.

Nesse contexto entende-se que além dos aspectos relacionados

com a fisiologia do ciclo estral, do conhecimento das técnicas de transferência

de embriões, dos pré-requisitos que influenciam no sucesso do procedimento

como controle zootécnico, controle sanitário, controle nutricional, seleção das

doadoras e receptoras, existe a necessidade de conhecer procedimentos de

sincronização do cio, colheita de embriões, manipulação e avaliação dos

embriões, dentre outros. Consciente da importância de se prepararem

inicialmente para entrar nesta área, os profissionais que exercem seus

trabalhos na Embriotec iniciaram suas atividades fazendo estágios, cursos e

especializações nas áreas de biotecnologias da reprodução. Um outro aspecto

importantíssimo e que certamente tem contribuído para o sucesso da

Embriotec é que os seus proprietários antes de construírem sua própria sede

trabalharam para empresas particulares, podendo, neste período, adquirirem

bastante experiência prática e verificarem as deficiências a serem supridas,

montando assim uma equipe habilitada para ganhar posição no mercado de

trabalho.

A Embriotec Reprodução Animal Ltda está localizada a sete

quilômetros da Br153 km18, na zona rural no município de Anápolis – Goiás. É

uma empresa que há sete anos presta serviços na área de Coleta de Sêmen e

Transferência de Embriões em toda região Centro-Oeste. Os sócios

proprietários e veterinários Alexandre Sardinha Carvalhêdo, Luiz Antonio

Abadia e Mara Emília Noleto de Carvalho Abadia investem constantemente na

compra de equipamentos de última geração e em cursos de aperfeiçoamento.

A estrutura da Central é adaptada às necessidades dos animais, há locais

específicos para doadoras em coleta, receptoras e touros. Os animais passam

por um rígido controle sanitário, além de se submeterem a avaliações

necessárias para o sucesso da reprodução. Os clientes são tratados de forma

personalizada. E os funcionários, os grandes responsáveis pela execução dos

serviços, têm como meta o cumprimento da missão institucional: ”Melhorar

Page 37: Transferencia de Embrioes

27

Geneticamente o rebanho brasileiro, introduzindo novas tecnologias a preços

compatíveis com a realidade de cada produtor”.

Preocupados com o futuro dos profissionais que atuam na área de

TE, a Embriotec recebe anualmente inúmeros estagiários de diferentes

Instituições de ensino, oferecendo lhes treinamento na área de reprodução. É

com esse pensamento que seus profissionais esperam auxiliar essas

Instituições a colocar no mercado, profissionais capacitados, minimizando

sobremaneira o insucesso do trabalho que será realizado no futuro.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho abordaram-se os inúmeros benefícios que a técnica

de transferência de embriões pode atribuir ao rebanho bovino, em especial, aos

animais de alto valor zootécnico, possibilitando uma melhora expressiva na

produtividade e preservando a fertilidade dos animais tratados. Em vista disso,

sua utilização está em franca expansão, já sendo adotada pelos melhores

profissionais da área. Entretanto, trata-se de uma técnica complexa e que

requer experiência e habilidade profissional para viabilizar sua execução,

tornando-se indispensável à qualificação dos técnicos em reprodução animal

que almejem adentrar nesse campo tão promissor da biotecnologia. Nesta

perspectiva o cenário mundial evoluiu para um patamar em que apenas os

criadores com alta produtividade permanecerão de forma competitiva no

mercado, pois os que não atingirem níveis adequados de qualidade serão

automaticamente marginalizados do processo produtivo.

Page 38: Transferencia de Embrioes

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