O Estado na electrificação portuguesa Final... · ii controle directo sobre os maiores centros...
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Joo Jos Monteiro Figueira
O Estado na electrificao portuguesa: Da Lei de Electrificao do Pas EDP (1945-1976)
2012
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FOTOGRAFIA DA CAPA: Albufeira da Pvoa, na ribeira de Nisa (no concelho de Castelo de
Vide), construda pela Hidro-Elctrica do Alto Alentejo, e entrada ao servio em Fevereiro de
1927.
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Joo Jos Monteiro Figueira
O Estado na electrificao portuguesa:
Da Lei de Electrificao do Pas EDP (1945-1976)
Dissertao de Doutoramento em Estruturas Sociais da Economia e Histria Econmica, apresentada Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra para a obteno do grau de Doutor.
Orientador: Professor Doutor Nuno Joo de Oliveira Valrio, do Instituto Superior de Economia e Gesto, da Universidade Tcnica de Lisboa.
Coimbra, 2012
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RESUMO
Os limites cronolgicos deste trabalho so definidos pela publicao da Lei de Electrificao
do Pas, em Dezembro de 1944, e pela constituio da EDP Electricidade de Portugal, em
Junho de 1976, na sequncia da nacionalizao do sector elctrico no ano anterior.
Aquele diploma legal definiu as bases da electrificao em quase todos os seus aspectos, a
definio do conceito de rede elctrica nacional; as regras para o transporte e grande
distribuio de energia; as regras para a explorao das concesses, para o
estabelecimento de centrais produtoras de linhas de transporte e de grande e pequena
distribuio; a definio dos diversos sistemas e subsistemas tarifrios; e as condies em
que as iniciativas particulares podiam relacionar-se com as redes pblicas de distribuio de
energia.
Na definio do conceito de rede elctrica nacional estava subjacente um novo
entendimento sobre o papel que o Estado deveria ter no sector; at a a sua aco estava
confinada produo de legislao e fiscalizao dos diversos sistemas produtores e do
estabelecimento das redes, com este diploma legal o Estado vai estabelecer as condies
para um aprofundamento desse envolvimento agora alargado assumindo, para o futuro, a
direco do sistema produtor e distribuidor de energia.
Para esse papel vai emparceirar com as grandes empresas elctricas do Pas, na
constituio de companhias elctricas de capitais mistos, para a construo de grandes
aproveitamentos hidro e termoprodutores que aproveitassem recursos nacionais, e no
estabelecimento duma rede nacional de transporte interligando os centros produtores com
os do consumo.
Deste envolvimento do Estado dividido em participaes accionistas em 5 companhias, que
eram as maiores empresas do sector, resultou um extraordinrio aumento de todos os
indicadores importantes no sector at meados dos anos 1970, ao mesmo tempo que reas
ligadas ao seu desenvolvimento estabeleciam condies de afirmao nacional e
internacional. Neste aspecto merecem referncia os engenheiros, que projectavam e
executavam os grandes projectos, as empresas de material, uma rea em que vo
igualmente posicionar-se como significativos produtores e fornecedores, e as grandes
empresas de construo civil do Pas que vo afirmar-se no Pas e no estrangeiro em
grande medida pela experincia ganha nestes empreendimentos.
No final dos anos 1960 o Estado vai dar mais um passo na definio de um modelo capaz
de levar a cabo a concretizao da electrificao do Pas, patrocinando a fuso de todas as
companhias do sector em que era accionista criando, em vez delas, uma outra, a
Companhia Portuguesa de Electricidade (CPE); atravs dela o Estado passou a ter um
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controle directo sobre os maiores centros produtores do Pas juntamente com a rede de
transporte, agora integrados numa mesma entidade.
Outros aspectos em que a aco do Estado foi determinante foram o macio investimento
efectuado neste sector no quadro dos Planos de Fomento, tanto de forma directa como
atravs de organismos e entidades sobre as quais tinha autoridade, particularmente as
Instituies de Previdncia, o Banco de Fomento Nacional e a Caixa Geral de Depsitos, e
ainda as comparticipaes, instrumento atravs do qual a Estado apoiava as iniciativas de
pequena distribuio. Para alm disso o Estado foi estipulando tarifas degressivas,
impondo um novo modelo tarifrio aos concessionrios de quem era fornecedor em alta
tenso, promovendo a gradual harmonizao tarifria.
Cerca de 1970 e como consequncia destas opes assistiu-se concentrao da
produo de energia elctrica numa companhia que representava mais de 90 % da energia
produzida em Portugal por essa poca, para alm de ser a detentora de quase toda a rede
de transporte em alta tenso. Ao mesmo tempo observava-se uma diminuio do nmero de
concessionrios, ou atravs do resgate, da no prorrogao das concesses, ou
concentrao dessas concesses nas referidas Federaes de Municpios, com particular
incidncia no interior Norte e Centro do Pas, e no Sul.
Ao mesmo tempo a distribuio regional a clientes industriais e de algumas concesses,
ficavam ainda a cargo das empresas de maior dimenso e com rea concessionada mais
vasta. Mas estas empresas dependiam completamente da poltica do Estado para o sector,
pois a CPE que os abastecia determinava os preos da energia e os sistemas tarifrios,
ficando-lhes reservado um papel muito circunscrito, salvando a face atravs das
participaes accionistas na CPE que o Estado estimulava, dando-lhes uma aparente
importncia no sector, que efectivamente j no tinham.
Essa aparncia terminaria com a nacionalizao das maiores empresas produtoras e
distribuidoras de energia elctrica do Pas em Abril de 1975 e a posterior constituio da
EDP Electricidade de Portugal, em Junho de 1976. Esta deciso conjugada com uma
outra que determinava que todo o sector elctrico nacional pequenos concessionrios de
produo e de distribuio, Federaes de Municpios, Servios Municipalizados, e outras
entidades com responsabilidades neste sector fossem gradualmente integrados na EDP,
ficando de fora s os sistemas de auto-abastecimento; atravs da EDP o Estado controlaria
todo o estratgico sector elctrico nacional.
Se a prevista integrao das concesses exploradas por pequenas empresas e pelas
Federaes de Municpios foi relativamente fcil, o mesmo no se passou com os Servios
Municipalizados de muitas Cmaras Municipais; estas viam esses Servios como uma
importante fonte de receita e de poder, resistindo integrao, nalguns casos, at ao incio
dos anos 1990.
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Aps cerca de trs dcadas da vigncia da Lei 2 002 todos os indicadores no sector
elctrico apresentavam valores incomparavelmente maiores, quer fossem os da potncia
instalada, da produo de energia elctrica, do consumo per capita, ou os do
aproveitamento dos recursos nacionais na produo de electricidade.
A concentrao do sector elctrico na EDP, culmina o processo de intervencionismo do
Estado que comeou a tomar forma nos anos 1940.
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ABSTRACT
The chronological limits of this work are defined by the publication of the Law of
Electrification of the Country, in December 1944 and by the establishment of the company
EDP Electricidade de Portugal, in June 1976, after the nationalization of the electricity
sector, in the previous year.
That legal statute defined the basis of electrification in almost all aspects, the definition of the
national electrical network concept; the rules for transportation and large energy distribution;
rules for the concessions operations the establishment of production centrals, lines of
transportation and large and small distribution; the definition of the various price systems and
subsystems, and the conditions according to which private initiatives might relate to the
public networks of energy distribution.
In the definition of the concept of national electrical network was implied a new
understanding of what the State role should be in the sector; until then its action was
confined to the production of legislation and supervision of various production systems and
the establishment of networks; with this legal statute the State will establish the conditions to
an increased involvement, assuming, in the future, the leadership of the energy production
and distribution.
To assume this role, the State will establish partnerships with the major electric companies in
the country, invest on the constitution of power companies with mixed capital, for the
construction of large hydroelectric and thermo producers that profited from national
resources and for the establishment a national transportation system, connecting the
production and consumption centers.
The State involvement, divided by shareholdings in five companies, which were the largest
companies in the sector, originated an extraordinary increase of all important indicators in the
sector until the mid-1970s, while areas linked to its development established conditions for
national and international assertion. On this point, it is worth mentioning the engineers, who
projected and executed major projects, the companies which provided materials, an area in
which they will also position themselves as significant producers and suppliers, and major
construction companies in the country that will assert themselves, in Portugal and abroad,
largely by the experience gained in these business ventures.
In the late 1960s, the State will take another step the definition of a model able to carry out
the implementation of the electrification of the country, sponsoring the merger of all
companies in the sector in which the State was a shareholder and creating, instead of those,
a new one - the Companhia Portuguesa de Electricidade (CPE); through it the State had now
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a direct control over the largest production centers in the country, along with the transport
network, now integrated into a single entity.
Other ways in which the State action was decisive was the massive investment made in this
sector, within the framework of the development plans (Planos de Fomento), both directly
and through agencies and entities over which it had authority, specifically the social security
institutions, the Banco de Fomento Nacional and the Caixa Geral de Depsitos, and even the
reimbursements (comparticipaes) an instrument through which the State supported the
initiatives of small distribution. Moreover, the State was stipulating "decreasing scale tariffs",
imposing a new tariff model to retailers who it supplied in high voltage, promoting gradual
tariff harmonization.
Around 1970, and as a consequence of these options, electricity production was
concentrated in a company that represented more than 90% of the energy produced in
Portugal at that time, besides being the owner of almost all the transport network for high
voltage. At the same time a decrease in the number of dealers was observed through
redemption, refusal of time extension of the concessions, or the concentration of these
concessions in the Municipalities Federations (Federaes de Municpios), with a particular
focus on the northern and central interior of the country and in the south.
At the same time the regional distribution to industrial customers and some concessions,
were still in charge of larger companies and larger concession areas. But these companies
depended entirely of the State policy for the sector, as the CPE, that supplied them,
determined energy prices and tariff systems, allowing them a very circumscribed role,
disguised through shareholdings in the CPE, which the State encouraged by giving them an
apparent importance in the sector, which they no longer had.
That appearance ended with the nationalization of the largest producers and distributors of
electricity in the country, in April 1975 and the subsequent establishment of EDP
Electricidade de Portugal, in June 1976. This measure, along with another decision which
determined that the entire national electricity sector small dealers of production and
distribution, Municipalities Federations, Municipal Services, and other agents with
responsibilities in this sector were gradually integrated into EDP, leaving only self-supply
systems appart; through EDP the State would control the entire strategic national electrical
sector.
If the planned integration of concessions operated by small businesses and the
Municipalities Federations was relatively easy, the same didnt happen with the municipal
services in many Municipalities, which saw these services as an important source of revenue
and power, and resisted to the integration, in some cases, until to the beginning of the 1990s.
After nearly three decades of implementing Law 2 002, all indicators in the electricity sector
had incomparably greater values, whether they were on the installed capacity, the electricity
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production, the consumption per capita or on the exploitation of national resources in
electricity generation.
The concentration of the electricity sector in EDP, culminates the process of the State
intervention, that began to rise in the 1940s.
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APRESENTAO
Esta Tese de Doutoramento , em certa medida, o culminar de anteriores trabalhos
realizados sobre a problemtica da electrificao do Pas, uns de carcter acadmico e
outros produzidos no mbito de investigaes com finalidades diversas, desde meados dos
anos 1990.
O primeiro trabalho realizado sobre esta problemtica foi integrado nas actividades da
APEU - Associao para a Extenso Universitria, da Faculdade de Economia da
Universidade de Coimbra, respondendo a um desafio da CENEL - Electricidade do Centro
(do Grupo EDP), para a produo de um estudo sobre a electrificao do centro do Pas.
Este estudo foi levado a cabo sob a coordenao do Prof. Doutor Jaime Alberto do Couto
Ferreira, da FEUC, e pelo autor, dele vindo resultar a publicao pela EDP Distribuio,
em 2001 de A electrificao do centro de Portugal no sculo vinte.
Ao mesmo tempo, e estando o autor a realizar a Tese de Mestrado em Histria Econmica
e Social, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, escolheu tambm uma
temtica relacionada com o sector elctrico para Dissertao de Mestrado, que seria
defendida em Janeiro de 1999, intitulada Empresa Hidro-Elctrica de Arganil (1927-1978):
contributo para a histria da electrificao da Beira Serra, um trabalho realizado sob a
orientao do Prof. Doutor Jos Maria Amado Mendes, da Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra; trabalho que seria publicado pelo Museu da Electricidade (da
EDP), em 2004, mas ento com o ttulo A Empresa Hidro-Elctrica de Arganil (1927-1978) e
a electrificao dos concelhos de Arganil, Tbua e Oliveira do Hospital.
Decorrente destas experincias tornou-se de certo modo natural a escolha de Dissertao
de Doutoramento de um tema relacionado com o sector elctrico, uma vez que no decorrer
dos anteriores trabalhos de investigao realizados novas questes tinham sido suscitadas;
as respostas j disponveis estavam longe de satisfazer as interrogaes complexas que
este sector apresentava para a sua compreenso sendo que, para o autor, os pontos de
partida para os quais procurou respostas, e no ficou satisfeito com as respostas, foram:
quais os agentes que estiveram envolvidos na produo e distribuio de energia elctrica
em Portugal at constituio da EDP em 1976 ? A outra pergunta colocada foi: de que
forma a aco levada a cabo pelas centenas de entidades com meios, estratgias,
interesses, dinmicas e capacidades distintas umas das outras, definiu a evoluo e
estabelecimento de uma rede elctrica nacional ?
As respostas obtidas levantavam, por sua vez, muitas outras questes novas, desde logo
porque essas respostas eram inconclusivas: primeira quais os agentes ? as fontes
disponveis eram incompletas, contraditrias ou equvocas e, mais importante, nenhuma as
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enumerava claramente quanto sua designao e actividade no sector elctrico; era, por
isso, o primeiro desafio a procurar responder quais os agentes, quando, com que meios
tcnicos e de que forma actuaram no sector elctrico ?
A segunda questo de como que todos aqueles agentes realizaram a rede elctrica
nacional ? encaminhava todas as possibilidades de resposta que apareciam como mais
plausveis, para o papel do Estado como o mais relevante e decisivo nesse processo.
Destas duas questes surgiu a inteno de propor FEUC a realizao de um projecto de
Tese de Doutoramento em Economia, na especialidade de Estruturas Sociais da Economia
e Histria Econmica, subordinado ao tema O Estado realizou a Rede Elctrica Nacional.
A electrificao portuguesa desde a Lei de Electrificao do Pas, que teria como
Orientador o Prof. Doutor Jaime Alberto do Couto Ferreira; este ttulo (provisrio) era
inspirado no usado pelo Eng. Augusto Basto Ferreira do Amaral, O Estado realizar a Rede
Elctrica Nacional, apresentado no I Congresso Nacional de Engenharia, em 19311, porque,
de certa forma, propunha uma ideia feliz que sintetizava uma possibilidade de conceber
um estudo sobre o sector elctrico portugus.
Numa reapreciao feita posteriormente quanto ao ttulo proposto este viria a sofrer
alteraes, da resultando a nova (e final) denominao: O Estado na electrificao
portuguesa: da Lei de Electrificao do Pas EDP (1945-1976).
Algum tempo depois, e dada a gradual complexidade que o tema escolhido apresentava em
vrias matrias, nomeadamente em reas distintas da formao em Histria do autor,
como a Economia e outras, e por sugesto do Orientador, foi entendido como vantajoso
para o desenvolvimento do trabalho de um co-orientador de uma outra rea cientfica,
concretamente de Economia, que traria novas exigncias ao desenvolvimento e ao ritmo do
trabalho e, ao mesmo tempo, novas exigncias metodolgicas, formais e cientficas, ao
Orientando; a sugesto do nome do Prof. Doutor Nuno Joo de Oliveira Valrio, do Instituto
Superior de Economia e Gesto, da Universidade Tcnica de Lisboa, surgiu como a escolha
bvia pelo rigor, qualidade e experincia enquanto Orientador e Investigador, de que o autor
viria a beneficiar da em diante em resultado da sua aceitao em co-orientar a Tese de
Doutoramento.
Anos depois, e decorrente de problemas de sade do Orientador Prof. Doutor Jaime
Ferreira, este deixou as actividades docentes e outras de cariz cientfico ficando, desde a, o
autor a ter como Orientador principal e nico, o Prof. Doutor Nuno Valrio.
Face ao exposto importa deixar registado que o trabalho final produzido pelo autor resulta,
tambm, da influncia que sobre ele tiveram os Profs. Doutores Jos Maria Amado Mendes
e Jaime Alberto do Couto Ferreira, o primeiro que foi o seu Orientador de Tese de Mestrado,
e o segundo o seu primeiro Orientador de Tese de Doutoramento. Aos dois deixo o meu
1 Publicado na Revista da Associao dos Engenheiros Civis Portugueses, n. 676, de Outubro de 1931, pp. 387-390.
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agradecimento pela relevante influncia que tiveram; parte do mrito que o trabalho agora
produzido possa ter tambm a eles devido, a eles devendo o autor o interesse pela
Histria Econmica para o qual orientou a sua actividade enquanto investigador e
docente.
Finalmente deixo o meu agradecimento mais sentido ao Prof. Doutor Nuno Joo de Oliveira
Valrio pela superior orientao que me prestou; se qualidades esta Tese de Doutoramento
poder apresentar, elas dever-se-o ao trabalho minucioso, rigoroso, empenhado e exigente
que o Orientador teve para com o autor, obrigando-o e levando-o a superar-se em algumas
matrias.
Uma palavra final para evocar a memria do meu Pai, uma pequena parte da histria aqui
contada, e minha Me; se h apenas duas dcadas o autor era operrio numa fbrica e se
apresenta agora a provas de Doutoramento, ter-lhe-o dado os valores, a orientao, e a
educao que os melhores Pais podem dar; o filho assim os considera.
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ABREVIATURAS
AAIP Arquivo Associao Industrial Portuguesa
ABESCL Arquivo do Banco Esprito Santo e Comercial de Lisboa
ACMF Arquivo Contemporneo do Ministrio das Finanas
ACP Arquivo Central do Porto
ADL Arquivo Distrital de Lisboa
AES Aliana Elctrica do Sul
AHMC Arquivo Histrico Municipal de Coimbra
AIGTCP Arquivo do Instituto de Gesto da Tesouraria e do Crdito Pblico
AMG Arquivo Municipal de Guimares
BBP Biblioteca do Banco de Portugal
BIRD Banco Internacional para a Reconstruo e Desenvolvimento
BT Baixa tenso
C. Companhia
CAAT Comisso de Acompanhamento e Arbitragem das Transferncias de Instalaes
e Servios de Pequena Distribuio
CAAT/P Comisso de Acompanhamento e Arbitragem das Transferncias de Instalaes
e Servios de Pequena Distribuio / Plenrio
CAAT/R Comisso de Acompanhamento e Arbitragem das Transferncias de Instalaes
e Servios de Pequena Distribuio / Restrito
CEAL Companhia Elctrica do Alentejo e Algarve, SARL
CEB Companhia Elctrica das Beiras
CFOGAH Comisso de Fiscalizao das Obras dos Grandes Aproveitamentos
Hidroelctricos
CHENOP Companhia Hidro-Elctrica do Norte de Portugal
CHEV Companhia Hidro-Elctrica do Varosa
CIPED Comisso de Estudo da Integrao da Pequena Distribuio
CNE Companhia Nacional de Electricidade
CNVE Companhia Nacional de Viao e Electricidade
CP Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses
CPE Companhia Portuguesa de Electricidade
CPIN Companhia Portuguesa de Indstrias Nucleares
CRGE Companhias Reunidas Gs e Electricidade
CV2 Cavalos (= 0,9863 HP)
DGSE Direco-Geral dos Servios Elctricos
DGSHE Direco-Geral dos Servios Hidrulicos e Elctricos
DODC Direco de Distribuio Centro
DODN Direco de Distribuio Norte
DODS Direco de Distribuio Sul
DODT Direco de Distribuio Tejo
ED Elctrica Duriense, Lda
2 Algumas fontes at aos anos 1930 referiam HP em vez de CV passando, desde a, a utilizar apenas esta ltima; para simplificar, embora no seja rigorosamente a mesma coisa, considerou-se para todos os casos a designao CV.
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EDP Electricidade de Portugal
EHEC Empresa Hidro-Elctrica do Coura, Lda
EHESE Empresa Hidro Elctrica da Serra da Estrela
EL Electra del Lima
EML Empresa Mineira do Lena,
Eng. / Engs. Engenheiro / Engenheiros
ET Elctrica Transmontana
ETP Empresa Termoelctrica Portuguesa
FAT Fundo de Apoio Trmico
Fls. Folhas
H Hidrulica
HC Hidro-Elctrica do Ca
HEAA Hidro-Elctrica do Alto Alentejo
HED Hidro-Elctrica do Douro
HEP Hidro-Elctrica Portuguesa
HEZ Hidro-Elctrica do Zzere
HICA Hidro-Elctrica do Cvado
INE Instituto Nacional de Estatstica
IPE Instituto das Participaes do Estado
Kg / Kgs Quilograma / Quilogramas
Km / Kms Quilmetro / Quilmetros
kWh kilowatt-hora
Lda Limitada
LEC Laboratrio de Engenharia Civil
LNEC Laboratrio Nacional de Engenharia Civil
Ltd Limited
ME / ME-AFD Museu da Electricidade / Museu da Electricidade - Arquivo Ferreira Dias
MWh Megawatt-hora (= 1000 kWh)
N. Nossa
n. Nmero
p. / pp. Pgina / Pginas
RNC Repartidor Nacional de Cargas
S. So
S.A. Sociedade Annima
S.M. Servios Municipalizados
S.M.G.E. Servios Municipalizados de Gs e Electricidade
SEOL Sociedade Elctrica do Oeste, Lda
SEUR Sociedade de Electrificao Urbana e Rural
SIPFL Sociedade Industrial de Penteao e Fiao de Ls
T Trmica
Ton. Toneladas
UEP Unio Elctrica Portuguesa
Vol. / Vols. Volume / Volumes
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Introduo
O interesse pela electrificao nos estudos sobre a histria econmica do Pas no decurso
do sculo XX, comummente suscitado pelos resultados que ela produziu na sociedade e
na economia portuguesas, e no tanto pela sua importncia intrnseca, ou seja, a
disponibilizao de energia elctrica considerada importante mas, ao mesmo tempo,
colocada em p de igualdade com outros sectores industriais quando, efectivamente, os
antecede, isto , os desenvolvimentos verificados no sector elctrico antecedem as
transformaes que se vo verificar nas mais diversas actividades, pois so eles que as vo
tornar possveis.
Este trabalho prope uma abordagem que parte destes pressupostos: a electrificao a
gnese do desenvolvimento econmico e industrial do Pas na segunda metade do sculo
XX; foi o Estado que com as suas polticas, e estratgias, e com os meios financeiros que
afectou a este sector realizou a electrificao do Pas. Ou seja, as centenas de agentes com
interesses no sector, tanto os que actuaram na rea da produo como na rea da
distribuio de energia elctrica desempenharam um papel muito secundrio quando
comparado com o desempenhado pelo Estado.
Com a publicao da Lei 2 002, em Dezembro de 1944, o Estado vai definir uma poltica
para o sector acentuando, desde os anos 1940 at aos anos 1970, a electrificao do pas
como uma questo de Estado; para a sua consolidao vai continuar a estabelecer
legislao adequada a esse objectivo, nomeadamente atravs do enquadramento dos
agentes envolvidos no plano geral de electrificao do pas, ao mesmo tempo que vai
revogando direitos adquiridos por privados que constitussem um entrave s polticas de
electrificao e s orientaes que tinha para este sector.
Mas as medidas a que o Estado recorre so ainda mais vastas, procedendo organizao
tcnica dos servios que tutelavam o sector; organizando a formao dos intervenientes
tcnicos neste processo, em que se destacam os engenheiros, e recrutando-os para a sua
realizao; destacando significativas verbas do Oramento de Estado, dos Planos de
Fomento, e de entidades e organismos na rbita da sua dependncia, com destaque para
as Instituies de Previdncia, e das instituies bancrias como a Caixa Geral de
Depsitos e o Banco de Fomento Nacional, para a electrificao nacional, realizando um
enorme esforo financeiro no sector, quando comparado com outros sectores da economia
nacional.
Mas a aco do Estado foi ainda mais vasta com a dinamizao e elaborao de planos
gerais de aproveitamento dos principais recursos hdricos do pas e, seguidamente, com o
assumir da responsabilidade da construo e do estabelecimento das principais infra-
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estruturas de produo e transporte de energia elctrica, daqui resultando uma nova
organizao da rede nacional de produo e de transporte de energia elctrica.
Para levar a cabo estas realizaes tomou a iniciativa de constituir empresas a que
associava os principais interesses privados do sector, e no s, para a concretizao de
projectos que a iniciativa privada muito dificilmente poderia realizar, ou por falta de meios ou
porque os seus interesses particulares e estratgias prprias iam noutros sentidos, ao
mesmo tempo conseguindo envolver os interesses particulares no esforo financeiro e nos
proventos que o sector requeria e gerava, conseguindo assim, e de uma forma geral, a sua
concordncia e colaborao.
Mas estes projectos e realizaes tinham ainda uma outra estratgia subjacente relevante
para o desenvolvimento do Pas, e que era a do aproveitamento dos combustveis
nacionais, tanto o carvo como, e muito principalmente, dos recursos hdricos que, poca
apresentavam ndices de aproveitamento dos mais baixos da Europa, ou seja, Portugal era
um Pas muito dependente da importao de combustveis fsseis pelo perfil das suas
estruturas de produo de energia elctrica, ao mesmo tempo que desaproveitava quase
todas as suas potencialidades no domnio hdrico. Dos anos 1940 em diante este quadro
viria a ser substancialmente alterado obtendo o Pas, com isso, uma acentuada diminuio
das importaes de carvo para este sector e, ao mesmo tempo, um significativo
aproveitamento dos recursos nacionais: a energia elctrica produzida em Portugal, que at
aos anos 1940 era em grande parte obtida custa de combustveis estrangeiros, passaria
nas dcadas seguintes a ter um cunho radicalmente nacional, com a quase totalidade da
energia elctrica produzida no Pas a ser obtida pela utilizao de combustveis nacionais, o
carvo e, principalmente, da gua; o Estado assumia, assim, a electrificao do Pas como
de interesse nacional, deixando os interesses estrangeiros praticamente de fora deste
sector entendido como estratgico.
Mas o papel desempenhado pelo Estado iria ainda mais longe conseguindo o envolvimento
dos agentes econmicos nacionais, desde privados a cooperativos, na realizao da Rede
Elctrica Nacional atravs da atribuio de comparticipaes, por exemplo, com apoios
directos para a electrificao de zonas desfavorecidas.
Ao apoiar a indstria nacional no sentido de esta aproveitar a oportunidade de se
desenvolver e tornar competitiva face ao desafio que a electrificao constitua pelas
exigncias novas que implicava, estimulou a indstria nacional para actividades e produtos
novos ao mesmo tempo que dava ao sector da electricidade um carcter de modernidade
e de vanguarda no processo de industrializao e de desenvolvimento do Pas.
O processo de electrificao exigiu ao Pas um conjunto de dinmicas substancialmente
novas face s realidades at ento vividas em diversos sectores e obrigou ou contribui
mesmo, nalguns casos, para o aparecimento e desenvolvimento de novas formas
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organizativas, disposies legais, entidades, profisses, hbitos, dinmicas populacionais, e
outras novidades.
Este trabalho pretendia, na sua gnese, responder a duas questes em grande medida
suscitadas pela leitura de inmeros autores que a este assunto dedicaram ateno, uns de
forma indirecta, ou seja, no mbito de estudos sobre perodos ou aspectos gerais da
economia portuguesa no sculo XX, contando-se neste grupo autores como Ana Bela
Nunes, Fernando Rosas, Gilberto Gomes, Jaime Reis, Jorge Fernandes Alves, Jos Maria
Amado Mendes, Pedro Lains, Maria Eugnia Mata, Nuno Lus Madureira, ou Nuno Valrio,
entre outros; e ainda outros de forma mais directa, contando-se entre estes autores como
lvaro Ferreira da Silva, Ana Cardoso de Matos, Fernanda Rollo, Joo Maria Brando de
Brito, Jos Manuel Lopes Cordeiro, ou Mrio Mariano, e outros, que produziram inmeros
trabalhos de grande valia cientfica sobre este o sector elctrico contribuindo, desse modo,
para o colocar num relevante patamar como objecto de linhas de investigao e publicao
em Portugal.
Mas a Histria teima constantemente em desafiar os seus admiradores suscitando-lhes
novas dvidas, e ainda mais dvidas aps o repouso nas respostas que possa ter j
encontrado; a esse desafio procura-se corresponder, primeiro pela colocao das perguntas
certas, sendo que aqui, neste trabalho, as duas questes foram:
- quais os agentes que desenvolveram actividades no sector elctrico em Portugal at sua
nacionalizao e consequente constituio da EDP ?
- de que forma a aco levada a cabo por esses agentes definiu a evoluo e
estabelecimento de uma rede elctrica nacional ?
Para a primeira pergunta as melhores respostas disponveis constavam duma importante
fonte de informao sobre o sector elctrico em Portugal, a Estatstica das instalaes
elctricas em Portugal, publicada anualmente desde a referente ao ano de 1928 at aos
anos 1980, e ainda de estatsticas anteriormente publicadas com elementos pontuais e
parciais, fontes estas que serviriam de base fundamental de informao para os estudos
produzidos sobre o sector; porm, o facto que o perodo anterior publicao da
Estatstica continuava a apresentar inmeras lacunas qualitativas e quantitativas quanto aos
agentes envolvidos no sector elctrico do Pas at finais dos anos 1920.
J para a segunda pergunta as respostas eram mais conhecidas e j mais aprofundadas,
tanto pelos inmeros autores que escreveram sobre o sector desde os anos 1930 em diante,
mesmo por muitos daqueles que desempenharam papis relevantes no sector, como foram
os casos dos engenheiros Ezequiel de Campos, Jos Nascimento Ferreira Dias, Paulo de
Barros, ou Ivo Gonalves, entre muitos outros, a quem devemos desde a teorizao at
muitas realizaes levadas a cabo neste sector; como pelos autores mais recentes que
estudaram o sector elctrico a partir daquelas fontes e que, decorrente das inmeras linhas
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de investigao e estudos sobre a economia e a sociedade portugueses do sculo XX,
muito em voga nas ltimas dcadas, puderam analisar, sintetizar e teorizar sobre o processo
de electrificao do Pas ou, pelo menos nalguns casos, identificar problemas, agentes,
polticas, transformaes, tendncias, ou consequncias daquele processo contribuindo,
desse modo, para o aprofundamento do conhecimento e da importncia do sector elctrico
para algumas das transformaes e dinmicas da economia e da sociedade portuguesa da
segunda metade do sculo XX.
Quer num caso quer no outro, no entanto, as muitas respostas que continham deixavam
ainda de fora, pelo menos, duas questes pertinentes para um conhecimento do sector
elctrico da segunda metade do sculo XX: quais os agentes intervenientes no sector
elctrico ?, e que meios que o Estado afectou ao sector, com que significado e com que
resultados ?.
Para expor os elementos que permitissem responder a essas duas questes, e propor
respostas que pudessem aduzir novas leituras de forma sustentada, articulada e objectiva, o
trabalho foi organizado em quatro captulos:
- o primeiro dedicado elaborao de um panorama sobre a electrificao portuguesa at
meados dos anos 1940, concretamente at finais de 1944 por esta data coincidir com a
publicao da Lei 2 002 que, como aqui sustentado, constitui o momento-chave para a
interveno do Estado no sector elctrico, identificando-se os principais recursos nacionais
para o sector no mbito da produo de energia, particularmente os casos do carvo e das
possibilidades hdricas; ainda neste captulo traada a evoluo do sector no campo da
legislao produzida que teve maior relevncia e impacto, identificam-se, enumeram-se e
classificam-se todos os agentes envolvidos no sector elctrico no mbito das redes pblicas
ou seja, no considerando as iniciativas de produo de energia para estrito uso privado ,
por um lado considerando os tipos de entidades privadas intervenientes e, por outro tambm
as iniciativas que tiveram entidades pblicas como protagonistas; finalmente so abordados
ainda neste captulo, os ritmos de expanso da rede elctrica, ou seja, os tempos em que
os agentes acima identificados intervm no sector elctrico optando-se, neste particular, por
tratar e periodizar estes elementos de acordo com as cronologias dos ciclos polticos,
concretamente foram considerados trs perodos at 1944, sendo o primeiro o que decorre
at 1910 o perodo monrquico , o segundo desde 1911 a 1926, correspondente 1.
Repblica, e o terceiro desde 1927 a 1944; contudo, importa referir que esta periodizao
se destina a poder servir outras linhas de investigao para as quais estes dados possam
ter relevncia e, ao mesmo tempo, harmonizar a informao com as cronologias mais
comuns s vrias reas de investigao na histria do sculo XX portugus;
- o segundo captulo, o (largamente) mais extenso de todos, constitui-se como o espao
aonde se analisa a electrificao nacional entre 1945 e 1976, ou seja, precisamente os
-
xix
limites cronolgicos propostos no ttulo; numa primeira parte aprecia-se a Lei 2002 e o seu
impacto imediato e no mdio e longo prazo, bem como algumas das reaces que ela
suscitou; na segunda parte so analisados o papel do Estado, nomeadamente na produo,
no transporte e na distribuio de energia elctrica e, para alm disso, tambm o seu papel
enquanto dinamizador da constituio de companhias elctricas de capitais mistos, e a
forma como organizou o sector do ponto de vista da sua administrao e coordenao; na
terceira parte so identificadas as modalidades de intervencionismo do Estado,
concretamente no mbito das polticas de tarifas e do regime de concesses, incluindo aqui
um subcaptulo em que se procura traar o percurso das maiores empresas elctricas do
Pas e da forma como se articularam entre si e com o Estado, no quadro das polticas
vigentes no sector; numa quarta parte foram analisados os diversos mecanismos de
ordenamento verificados no sector, desde a criao de organismos de cariz regional, at s
revogaes de concesses no mbito dos aproveitamentos hidrulicos; finalmente, numa
quinta parte, aborda-se o culminar da interveno do Estado no sector elctrico em Portugal,
a sua nacionalizao e a consequncia da decorrente, a constituio da EDP; para alm
disso, analisam-se tambm por um lado as mudanas operadas pela nacionalizao no s
nas companhias nacionalizadas mas em todo o sector elctrico portugus e, por outro lado,
tambm a questo das indemnizaes aos titulares de participaes nas companhias
elctricas nacionalizadas, concretamente a sua identificao bem como a respectiva
participao mas, para alm disso, quantificando os montantes indemnizatrios e as
vicissitudes no seu apuramento, destacando-se os casos das mais importantes
participaes estrangeiras nas companhias elctricas nacionalizadas;
- no terceiro captulo, que ao mesmo tempo o mais curto dos quatro que compem este
trabalho, elencam-se e classificam-se os agentes envolvidos na electrificao do Pas no
perodo de 1945 a 1975, ou seja, tal como fora feito para o perodo anterior a 1945 tambm
aqui se identificam, agrupam e classificam tanto as entidades privadas como pblicas
intervenientes na electrificao do Pas;
- finalmente, no quarto captulo, abordam-se aspectos de natureza essencialmente
quantitativa que, grosso modo, podem agrupar-se em duas partes; por um lado os aspectos
financeiros da electrificao, mais concretamente os meios financeiros que o Estado afectou
ao sector desde os anos 1940 at meados dos anos 1970 e, ao mesmo tempo, as suas
distintas origens, significados, aplicaes, e execues; e, por outro lado, numa segunda
parte, procura-se elencar os principais indicadores e as suas respectivas evolues e
significados no perodo aqui considerado por, afinal, resultarem das diversas frentes em que
o Estado actuou, desde a concepo de polticas para o sector, passando pela afectao de
recursos financeiros substanciais, at sua actuao directa.
-
xx
Como fontes para a realizao do plano de trabalhos proposto, aceite e realizado, foram
privilegiadas fontes primrias provenientes de centenas de arquivos do Pas, desde
Cmaras Municipais, estes em maior nmero, mas tambm de Ministrios, do Museu da
Electricidade com o seu importante esplio das companhias nacionalizadas, e no s ,
tambm de largas dezenas de estudos monogrficos aonde se obtinham informaes sobre
casos e experincias mais locais, e ainda em centenas de ttulos de publicaes peridicas
aonde para alm de informaes sobre casos locais se encontravam tambm artigos de
fundo sobre aspectos do sector elctrico.
Para alm dos referidos tiveram ainda uma importncia fundamental os diversos estudos j
publicados sobre o sector no mbito das actividades do Museu da Electricidade, da
Fundao EDP, nomeadamente nas ltimas dcadas e, como atrs referido, muitos outros
estudos vindos a pblico com origem no mundo acadmico e de outras provenincias.
Da conjugao das fontes agora referidas utilizadas como pano de fundo para a realizao
deste trabalho, pretendeu-se sustentar a proposta nela apresentada: foi a aco do Estado,
apontada pela Lei 2 002, de Dezembro de 1944, que realizou a electrificao nacional do
Pas.
-
xxi
NDICE
Resumo i
Abstract v
Apresentao ix
Abreviaturas xiii
Introduo xv
I Panorama da electrificao portuguesa at 1944 1
1.1. Condicionantes e potencialidades dos recursos nacionais 51
1.2. A evoluo do sector elctrico em Portugal 113
1.2.1. A produo legislativa 114
1.2.2. Os agentes envolvidos 127
1.2.2.1. As entidades privadas 128
1.2.2.2. As entidades pblicas 166
1.2.3. Os ritmos de expanso da rede elctrica 188
a) Perodo at 1910 189
b) Perodo de 1911 a 1926 195
c) Perodo de 1927 a 1944 200
II A electrificao nacional desde 1945 a 1976 209
2.1. A Lei n. 2 002 210
2.1.1. A justificao duma Lei 211
2.1.2. O seu impacto no sector elctrico 216
2.2. O papel do Estado 220
2.2.1. A produo 221
2.2.2. O transporte 233
2.2.3. A distribuio 239
2.2.4. As empresas de economia mista 243
2.2.5. Os organismos do sector 262
2.3. O aprofundamento do intervencionismo 270
2.3.1. O sistema tarifrio 270
2.3.1.1. As primeiras frmulas tarifrias 271
2.3.1.2. A actualizao tarifria 274
2.3.1.3. As tarifas aps a Lei 2 002 277
2.3.2. As concesses 285
-
xxii
2.3.2.1. Os aproveitamentos termo e hidroelctricos 285
2.3.2.2. As reas de distribuio 325
2.3.2.2.1. Aliana Elctrica do Sul 325
2.3.2.2.2. Companhia Elctrica do Alentejo e
Algarve 328
2.3.2.2.3. Companhia Elctrica das Beiras 332
2.3.2.2.4. Companhia Hidro-Elctrica do Norte
de Portugal 336
2.3.2.2.5. Companhias Reunidas Gs e
Electricidade 350
2.3.2.2.6. Elctrica Duriense 358
2.3.2.2.7. Empresa Hidro-Elctrica do Coura 361
2.3.2.2.8. Empresa Hidro-Elctrica da Serra da
Estrela 365
2.3.2.2.9. Hidro-Elctrica do Alto Alentejo 372
2.3.2.2.10. Hidro-Elctrica Portuguesa 377
2.3.2.2.11. Sociedade Elctrica do Oeste 384
2.3.2.2.12. Unio Elctrica Portuguesa 388
2.4. O gradual ordenamento do sector elctrico 404
2.4.1. A fuso empresarial 408
2.4.2. Os organismos regionais 411
2.4.3. O resgate das concesses 417
2.4.3.1. O caso do aproveitamento do Mondego 422
2.4.3.2. O caso do aproveitamento do Tejo 435
2.4.3.3. Outros casos de mudana de concessionrios 439
2.5. A nacionalizao do sector elctrico em Portugal 443
2.5.1. A criao da EDP - Electricidade de Portugal 451
2.5.1.1. O relatrio CIPED 455
2.5.2. O Estado como nico agente no sector 466
2.5.3. As indemnizaes 479
2.5.3.1. Os accionistas estrangeiros 488
a) O caso da CRGE 489
b) O caso da UEP 491
III Os agentes envolvidos 495
3.1. As entidades pblicas 496
3.2. As iniciativas privadas 512
-
xxiii
IV Aspectos quantitativos 529
4.1. O Estado enquanto financiador at aos Planos de Fomento 530
4.2. Os Planos de Fomento: financiamento e empreendimentos 535
4.2.1. O financiamento da produo 546
4.2.1.1. Execuo material dos empreendimentos 550
4.2.2. O financiamento da rede de transporte 576
4.2.2.1. Execuo material dos empreendimentos 580
4.2.3. O financiamento das redes de distribuio 589
4.2.3.1. Execuo material dos empreendimentos 594
4.2.3.2. A electrificao rural 600
4.2.4. O financiamento CPE (1969-1975) 605
4.3. O Grmio Nacional dos Industriais de Electricidade: financiamento
e realizaes 607
4.4. A evoluo do sector elctrico desde 1945 a 1976 617
Concluso 703
Bibliografia e Fontes 721
I Bibliografia Geral 721
II Bibliografia Especfica 727
III Bibliografia por Distrito 737
IV Arquivos 747
-
1
I Panorama da electrificao portuguesa at 1944
At finais do sculo XIX as diversas aplicaes da energia elctrica no foram merecedoras de
grande ateno em Portugal, por um lado por elas no serem em grande nmero e, por outro, por
serem circunstanciais e localizadas atraindo mais a ateno enquanto curiosidade cientfica do
que por qualquer outra razo; situao bem diversa daquela que se passava em muitos pases
europeus e da Amrica por esta altura aonde, no caso dos Estados Unidos, j a National Electric
Light Association publicava estatsticas referentes indstria elctrica desde a dcada de 1880, a
Statistical Suplement to the Electric Light and Power in the United States, o que era revelador da
importncia que aquela indstria tinha j naquela sociedade.
Nalguns pases europeus as indstrias elctricas mereceram desde cedo uma grande ateno,
exemplo disso foi a elaborao de estatsticas regulares sobre os indicadores deste sector
nalguns deles, caso da Inglaterra, aonde era publicada pela Electricity Comisson a Return of
Engineering and Financial Statistics; em Espanha, aonde era publicada a Estadstica de la
industria elctrica, pelo Ministrio do Fomento; em Itlia, aonde o respectivo Conselho Superior de
Obras Pblicas editava anualmente a publicao La produzione di energia electtrica in Italia; em
Frana, aonde era publicada a Revue Gnerale de l`Electricitt; na Alemanha, onde era publicada
a Elektrotechnische Zeitschrift; na Sua, aonde era editada a Statistique des entreprises
lectriques de la Suisse (embora esta publicao apenas inclusse dados referentes s
instalaes de servio pblico e de traco elctrica); ou o caso da estatstica publicada pela
Union Internationale des Producteurs et Distribuiteurs d`Energie Electrique (UIPDEE), entidade
que agrupava diversos pases europeus e que publicava anualmente dados estatsticos sobre a
evoluo das indstrias elctricas nos pases europeus permitindo, com isso, estabelecer
comparaes entre os diversos pases tanto quanto realidade existentes como s diversas
evolues verificadas. Este aspecto, alis, tornava mais explcito e claro o fraco desempenho das
indstrias elctricas em Portugal como, de resto, os responsveis nacionais assumiam amide; no
relatrio introdutrio estatstica portuguesa das instalaes elctricas de 1937, o Eng. Ferreira
Dias referia, tendo por base os dados estatsticos includos na publicao da UIPDEE que, quanto
aos ndices de consumo de energia elctrica, Portugal tinha atrs de si apenas a Litunia e a
Romnia, e talvez a Bulgria que s apresentava dados parciais, por isso no comparveis e
talvez tambm a Albnia, neste caso por no ser mencionada naquela publicao1.
Na Europa, pases como a Frana ou a Sua tinham j importantes estruturas de produo,
transporte e de distribuio de energia elctrica, e mesmo organizaes de carcter pblico ao
nvel dos municpios, por exemplo, e relevantes empresas no sector elctrico, tanto no sector da
comercializao como do fabrico de material para a esta indstria; neste particular merecem
1 Estatstica das instalaes Elctricas em Portugal. Ano de 1937, Lisboa, Imprensa Nacional, 1938, p. X.
-
2
destaque pases como a Alemanha, Sua ou Sucia com importantes empresas fabricantes de
material elctrico a Siemens-Schukertwerke e a AEG (Allgemeine Electricitats-Gesellschaft), da
Alemanha; a Oerlikon (SWO Schweizerische Werkzeugmaschinen Fabrik Oerlikon) e a BBC
(Socit Anonyme Brown Bovery, C.), da Sua; e a Ericsson (Telefonaktiebolaget L. M. Ericsson)
e a ASEA (Allmnna Svenska Elektriska Aktiebolaget), da Sucia que j equipavam muitas das
redes elctricas instaladas pela Europa, entre outras firmas francesas (Lyon et Damphir, Amelin
& Renaud, S. clairage lectric), inglesas (Babcock & Wilcox), italianas (Societ Italiana Ernesto
Breda, Maffei), espanholas (Planas, Flaque & C.), e as americanas General Electric e Thomson
Houston.
Na ltima dcada do sculo XIX comea, gradualmente, a dar-se mais ateno indstria
elctrica e a esboarem-se algumas tentativas de organizao dos elementos que a esta indstria
diziam respeito, em grande medida porque algumas das suas estruturas implicavam o
atravessamento de espaos pblicos e, noutros casos, mesmo particulares, como era o caso das
linhas de transmisso de energia e, noutro mbito, a instalao de linhas e de carris na via pblica
para a circulao de transportes pblicos, caso dos elctricos que foram inaugurados na cidade
do Porto em Setembro de 1895 e, no primeiro ano do sculo XX, em Lisboa, rede inaugurada em
Agosto de 1901.
A par destas aplicaes a energia elctrica comeava a divulgar-se e a alargar o campo das suas
aplicaes, particularmente em muitas indstrias, um pouco por todo o Pas com destaque para a
zona da Covilh e do Vale do Ave, e para diversas indstrias das cidades de Lisboa e do Porto.
No admira, portanto, que com este desenvolvimento as instncias oficiais sentissem a
necessidade de promover a divulgao das realizaes no campo da indstria elctrica em
Portugal.
A partir do segundo semestre de 1901 o Ministrio das Obras Pblicas, Comrcio e Indstria,
atravs da sua 1. Diviso (Fiscalizao das indstrias elctricas), da Inspeco Geral dos
Telgrafos, da Direco Geral dos Correios e Telgrafos, vai promover a publicao dos
despachos relacionados com as indstrias elctricas2; poca eram mais comuns as questes
relacionadas com a traco elctrica que estavam em processo de grande expanso nas cidades
de Lisboa e do Porto, mas logo no decorrer da primeira dcada do sculo XX vo multiplicar-se as
referncias s concesses de explorao de indstrias elctricas visando a iluminao pblica por
meio de energia elctrica e, igualmente relevante para a compreenso da evoluo do sector,
tambm as autorizaes concedidas s instalaes elctricas para uso particular3, embora no
identificasse a sua finalidade de forma expressa.
2 A publicao dos elementos iniciou-se no Boletim Telgrafo-Postal, n. 93, de Setembro de 1901, p. 425; e desde a regularmente at
meados dos anos 1920. 3 A primeira lista de concesses de explorao de indstrias elctricas que abarcava o perodo anterior a 31 de Outubro de 1901
discriminando o objecto da concesso, o respectivo concessionrio e a data do despacho de concesso, foi publicada no Boletim Telgrafo-Postal, n. 94, de Outubro de 1901, p. 514.
-
3
A partir de 1903 essa publicao passa a ser feita de forma um pouco diferente, comeando a
incluir para alm do nome do concessionrio e da respectiva localizao geogrfica, tambm a
natureza da aplicao da energia se era para iluminao, para traco ou para o accionamento
de mquinas e era-lhe atribudo um nmero (que designam como nmero do ttulo); estes
elementos assim apresentados permitem acompanhar de forma mais pormenorizada a evoluo
do nmero de concesses atribudas, o que tem algum interesse, bem como perceber as diversas
aplicaes que so objecto das concesses.
Estes elementos pecam, no entanto, por insuficincia de outros dados que poderiam ser mais
precisos e importantes para perceber o sector elctrico, como por exemplo os elementos tcnicos
destas exploraes nomeadamente as caractersticas dos centros produtores equipamento
instalado na produo e respectiva potncia , dos materiais de transporte, e das caractersticas
da distribuio e dos utilizadores finais, tanto em nmero (de lmpadas, por exemplo) como em
equipamentos e potncia instalada (nas mquinas das fbricas, entre outras). Em suma, esta
estatstica tinha alguma importncia para o conhecimento dos concessionrios e da geografia da
instalao e utilizao da energia elctrica no Pas, mas deixava ainda de fora as caractersticas
mais tcnicas do sector.
Em meados de 1908, emanado da Inspeco Geral dos Telgrafos e Indstrias Elctricas, este
organismo faz publicar uma listagem detalhada de todas as concesses atribudas no mbito das
indstrias elctricas que constavam de registo naquela Inspeco Geral. So publicados trs
mapas, um intitulado Indstrias de traco elctrica (Mapa I); outro Instalaes elctricas de
iluminao ou transporte de fora (cujas linhas atravessam a via pblica) (Mapa II) ou seja,
instalaes pblicas (na sua maioria) ; e o outro Instalaes elctricas de iluminao ou
transporte de fora (cujas linhas no atravessam a via pblica) (Mapa III), ou seja, instalaes
particulares4.
A importncia desta publicao decorre de ser a primeira a incluir dados tcnicos embora alguns
de forma imprecisa5 de forma organizada, referentes indstria elctrica em Portugal; o mapa
referente s indstrias de traco elctrica (Mapa I) inclua os seguintes elementos:
- localidade sendo mencionadas 5 (Lisboa, Porto, Sintra, Vila Nova de Gaia e Coimbra;
- concessionrio respectivamente, Companhia Carris de Ferro de Lisboa, Companhia Carris de
Ferro do Porto (CCFP), Companhia do Caminho de Ferro de Cintra Praia das Mas,
(Companhia de Linha) Coats & Clark, e a Companhia Carris de Ferro de Coimbra;
- data de concesso 1901, 1903, 1904, 1906, e 1907 (respectivamente);
- potncia dos dnamos em quilowatts 2.000, 1.000, 290, da Coats & Clark no era referida por
esta no ter sistema produtor (recebia energia da CCFP), e 140;
4 Boletim Telgrafo-Postal, n. 178, de Outubro de 1908, pp. 659-671. 5 Por exemplo: referida a existncia em Coimbra de um concessionrio na indstria de traco elctrica usado no servio pblico de
transporte de passageiros, e que esse concessionrio seria a Companhia Carris de Ferro de Coimbra; nem esta companhia exist ia ou viria a existir, nem o servio estava a funcionar por esta altura, uma vez que a rede de traco elctrica s foi inaugurada em 1 de Janeiro de 1911, e a entidade responsvel pela sua explorao seria a Cmara Municipal de Coimbra desde o seu incio.
-
4
- sistema (e fins) trolley areo e corrente contnua a 500 volts, para o servio pblico de
transporte de passageiros, para Lisboa, Porto, Sintra e Coimbra (a CCFP, usava uma
tenso de 550 volts); na Coats & Clark a corrente era contnua a 550 volts, e destinava-se
ao servio particular de mercadorias.
Os Mapas II e III tinham (praticamente) os mesmos elementos mas faziam uma sistematizao
geogrfica permitindo, deste modo, uma leitura de conjunto pela primeira vez de caractersticas
tcnicas do sector elctrico em Portugal. Infelizmente muitos dos dados apresentados so
imprecisos pois, para alm de no distinguirem no caso do Mapa II entre redes para
abastecimento pblico e as redes de utilizao particular que apenas usam o espao pblico para
passar com as suas linhas de transporte, apesar de esse dado poder ser determinado na parte em
que refere aos fins a que se destina a energia, de forma mais ou menos precisa, fazem meno
a redes elctricas que ainda no esto em explorao e, noutros casos, omitem outras que
poca j estavam em laborao; por exemplo, referida a Companhia Hidro-Elctrica do Varosa
como concessionria em Lamego e em Peso da Rgua, mas esta companhia s inaugurou estas
redes elctricas em Agosto de 1909 e em Janeiro de 1911, respectivamente; por outro lado, como
referido, havia omisses em concessionrios j a explorarem concesses, como no caso de
Espinho em que referido Emlio del Portal6 como concessionrio, quando existia uma empresa
concessionria a explorar uma rede elctrica naquela vila desde Junho de 1904, a Companhia
Geral de Electricidade, que ali no mencionada.
De acordo com os dados apresentados nos Mapas II e III, e analisando conjuntamente os dados
neles contidos podem retirar-se as seguintes concluses: existiam 1187 instalaes elctricas no
territrio continental, das quais apenas 26 eram pblicas sendo as restantes 92 de natureza
particular.
As 26 instalaes pblicas estavam dispersas por 13 distritos do Pas, sendo que os distritos de
Beja, Bragana, Coimbra, Faro e Setbal8 no possuam qualquer instalao deste tipo. Estas
instalaes estavam distribudas pelo distrito da Guarda com 4 instalaes9; seguia-se o distrito de
Vila Real com 310; nos distritos de Braga, Castelo Branco, vora, Leiria, Lisboa, Portalegre e Porto
e Viseu, 2 em cada11; e nos distritos de Aveiro, Santarm e Viana do Castelo, apenas 1 em cada12.
6 Este empresrio galego (talvez ligado importante indstria de conservas a existente) tinha feito parte de comisses de iniciativa
constitudas em Espinho no final do sculo XIX e nos primeiros anos do sculo XX, que instalavam uma pequena rede pblica de iluminao durante a poca balnear, nas ruas prximas da praia, mas apenas de carcter efmero funcionava apenas durante algumas horas noite para iluminar as ruas mais frequentadas pelos veraneantes na poca estival.
7 Estes dados so analisados partindo do pressuposto de uma efectiva validade; como atrs foi referido alguns destes dados so imprecisos e, noutros casos, incorrectos, mas ainda assim so analisados de acordo com a sua apresentao.
8 Por facilidade de anlise da distribuio geogrfica das instalaes elctricas existentes considera-se aqui o distrito de Setbal com os concelhos que actualmente o compem que, poca, ainda no tinha sido criado; apenas o viria a ser em 1926.
9 Nos concelhos de Almeida, Gouveia, Guarda e Figueira de Castelo Rodrigo/Pinhel nestes dois era a mesma empresa concessionria embora seja referida a Granados & Comandita, esta usava j a designao Internacional (A) nos dois concelhos.
10 Nos concelhos de Chaves, Peso da Rgua (neste caso com a reserva j atrs referida) e em Vila Real. 11 Nos concelhos de Braga e Guimares; Castelo Branco e Fundo; vora e Reguengos de Monsaraz; Alcobaa e Caldas da Rainha;
Lisboa e Sintra; Elvas e Portalegre; Porto e Matosinhos; e Lamego (neste caso com a reserva j atrs referida) e Viseu, respectivamente.
12 Respectivamente nos concelhos de Espinho, Tomar e Valena.
-
5
Quanto s 92 instalaes particulares elas estavam distribudas por 15 distritos, sendo que
Bragana, Leiria, Portalegre e Viana do Castelo no tinham nenhuma deste tipo. Apesar da sua
disperso geogrfica e do seu elevado nmero, o seu significado era substancialmente distinto,
pois s o distrito do Porto tinha 35 instalaes particulares, seguindo-se os distritos de Lisboa e o
de Braga com 13 cada13; s no concelho do Porto estavam concentradas 2914 (das 35) instalaes
particulares do distrito, estando as 6 restantes em Matosinhos (3), em Vila Nova de Gaia (2) e em
Santo Tirso (1)15.
Nos anos seguintes a publicao de elementos relativos concesso de licenas para a
explorao de indstrias elctricas feita de forma regular mas, e ao invs daquilo que tinha
esporadicamente acontecido, no foi objecto de tratamento de sistematizao ou at de incluso
de elementos tcnicos relevantes, como os relativos aos equipamentos e outros j atrs referidos;
at meados da dcada de 1910 no se dispe de elementos organizados sobre a evoluo do
sector ou, sequer, sobre os agentes nele envolvidos.
Em finais de 1918 foi publicado um novo trabalho inventariando a indstria da electricidade em
Portugal, na parte referente produo destinada ao fornecimento de energia elctrica em redes
pblicas16. Os dados apresentados eram referentes ao 2. semestre do ano anterior e tinham sido
disponibilizados pelas prprias empresas e outras entidades que exploravam redes elctricas
pblicas exceptuando-se, contudo, as redes de traco elctrica que, poca, existiam em
Lisboa, no Porto, em Sintra, em Braga e em Coimbra. O estudo apontava para a existncia de 39
centrais de servio pblico, e agrupava essas instalaes de produo em trs grupos17:
1 centrais hidroelctricas (12) distribudos pelos concelhos de Amarante, Baio, Celorico da
Beira, Chaves, Fafe, Felgueiras, Gis, Lamego, Seia, Vila Nova de Cerveira, Vila Real e
Viseu;
13
No distrito de Lisboa, nas firmas (6): Companhia Unio Fabril; Ultremann; J. A. Santos & C.; Henry Bachofen & C. (Pvoa de Santa
Iria); Alexandre Dinis & C.; Companhia Nacional de Moagem (Sacavm, Loures); e em particulares (7): Jlia Fanny da Silva, para iluminao do estabelecimento denominado Prola da China; do Conde Burnay, para a iluminao do seu palcio na Junqueira; do Club de Caadores, para iluminao do Club; da Penitenciria de Lisboa, para a iluminao dos seus edifcios; Real Casa Pia, para a iluminao do seu edifcio; e a Cooperativa Militar, para iluminao e funcionamento de um motor; Joo de Brito, para iluminao da sua fbrica de moagem e fornecimento de fora motriz. No distrito de Braga, nas firmas (9): Carreira & Falco (Cabeceiras de Basto); Sampaio Ferreira & C. (Riba de Ave, Vila Nova de Famalico); Companhia de Fiao e Tecidos de Guimares e Antnio da Costa Guimares & C. (Guimares); I. Salort & C., Teotnio Lopes Monteiro & C. (Barcelos); Sousa Jnior & Coelho, Afonso & Almeida, e Antunes Guimares, Martins & C. (Braga); e em outros particulares (4): Emlio Biel (nas Caldas do Gerez, Terras do Bouro); a Real Confraria do Bom Jesus (no Bom Jesus, Braga); Joo Cardoso da Costa Guimares (Braga); e Manuel Gomes Dias (Barcelos).
14 Nas firmas (14): Monteiro & Dias; Jos Anastcio Pereira de Abreu & Moreira Gusmo & C.; Carlos Tavares & Ribeiro; Viva de Joaquim de Almeida & Filhos; Harkey Summer & C.; Silva & Cosens; Barreto & Marques; Manuel Rodrigues & C.; Vieira & Bastos; Augusto Machado & Filhos; Matos & Quintans; J. A. da Silva Guimares, Genro & Filhos; Empresa Industrial de Curtumes; e Villela & C.; nos particulares (14): Eugnio Leon Reynaud; Manuel Ribeiro da Silva; J. F. Barbosa Gouveia; Manuel Pinto da Fonseca; Joo Baptista de Lima Jnior; Jos Ferreira Pinhanos Jnior; Jos Carneiro da Fonseca Mello; Joaquim Arantes Pereira; Antnio Carneiro da Fonseca Mello; Ricardo Rodrigues dos Santos; Maria Lopes Rios de Castro; Lus Couto dos Santos; e Jos da Rocha Brito; Manuel Milano Sanches; e ainda (1) na Associao Comercial.
15 Em Matosinhos na Empresa Fabril do Norte, no Teatro Constantino Nery, e a da Companhia Carris de Ferro do Porto; em Vila Nova de Gaia na Valente Costa & C., e a outra na Praia da Granja, na propriedade de Antnio da Rocha Leo; e em Santo Tirso nas instalaes da Fbrica de Tecidos de Negrelos, em S. Tom de Negrelos.
16 Maximiano Apolinrio, A indstria da energia elctrica em Portugal, in Revista de Obras Pblicas e Minas n. 583-588, de Julho-Dezembro de 1918, pp. 103-113.
17 Este estudo apresentava ainda elementos sobre as centrais existentes nos Aores e na Madeira; como no esto no mbito deste trabalho no so aqui consideradas.
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2 centrais elctricas mistas (6) que inclua as centrais que dispunham de equipamentos tanto
para produo trmica como hidrulica, e que estavam localizadas nos concelhos de
Castanheira de Pra, Gouveia, Guarda, Leiria, Santo Tirso e Tomar;
3 e centrais elctricas que empregavam motores trmicos (21) localizadas nos concelhos de
Abrantes, Braga, Caldas da Rainha, Castelo Branco, Elvas, Espinho, vora, Faro, Fundo,
Guimares, Lisboa, Loul, Montemor-o-Novo, Ovar, Penafiel, Portalegre, Porto,
Reguengos de Monsaraz, Tavira, Torres Vedras e Trancoso.
O estudo destacava ainda algumas centrais hidroelctricas no que respeitava sua capacidade: a
da Jordo, Costa & C., Lda (Empresa Hidro-Elctrica do Corvete) (Guimares e Felgueiras), com
900 CV; da Empresa Hidro-Elctrica do Varosa (Lamego e Peso da Rgua), com 300 CV; da
Empresa Hidro-Elctrica da Serra da Estrela (Seia), com 580 CV; da Empresa Hidro-Elctrica do
Coura, Lda (Caminha), com 160 CV; de Emlio Biel18 (em Vila Real), com 150 CV; da Elctrica
Visiense (A), tambm com 150 CV; da Electricidade e Moagem de Chaves, Lda, com 145 CV; e
da Cmara Municipal de Amarante, com 120 CV; valores parciais para um total de 1.865 CV
instalados em centrais hidroelctricas. J no grupo das centrais mistas o destaque ia para as
centrais da Manuel Mendes Godinho & Filhos (Tomar), com 133 CV, e para a Empresa da Luz
Elctrica da Guarda, com 110 CV; quando o total da potncia instalada neste tipo de centrais era
apenas de 470 CV.
Quanto s centrais trmicas o realce ia para a central Tejo da Companhias Reunidas Gs e
Electricidade (6.500 CV), e para a Sociedade Energia Elctrica do Porto19 (com cerca de 2.516 CV
instalados); este tipo de centrais tinha um total instalado de 10.801 CV. No total este estudo
apontava para a existncia duma capacidade produtiva instalada de 13.136 CV, em territrio
continental, no que respeitava a equipamentos destinadas a abastecer redes pblicas de
distribuio de energia elctrica.
Um dos elementos mais esclarecedores quanto ao significado da energia elctrica na vida
econmica do Pas o da percentagem de utilizao da energia elctrica face populao da
rea aonde estava implantada a central fornecedora.
Os ndices de utilizao eram (naturalmente) mais elevados nas zonas abastecidas por centrais
hidroelctricas e tendencialmente inferiores nos restantes (ver Quadro I-1), mas mesmo estes
eram de uma insignificncia chocante:
18 J falecido; tendo a Cmara Municipal assumido a explorao da central no rio Corgo anos antes. 19
Esta indicao incorrecta; desde meados de Novembro de 1917 esta central era explorada pela Cmara Municipal do Porto, em resultado do resgate e decorrente municipalizao deste servio; sobre este assunto ver Ana Cardoso de Matos (Coordenadora); Ftima Mendes; Fernando Faria O Porto e a electricidade, Lisboa, EDP - Museu da Electricidade, 2003, pp. 95-102.
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Quadro I-1: Consumo de energia elctrica (1917)
Apesar de estes nmeros reflectirem bem aquilo que seria o sector elctrico no Pas no final da
dcada de 1910, apontava-se-lhe um futuro promissor por ter a impulsion-la factores dos que
mais acentua[va]m as modernas civilizaes porque as aplicaes da electricidade so fontes de
luz e de fora motriz; e desta depende o laborar das fbricas, de onde todos os produtos saem e
as melhores e mais rpidas formas de transporte. Era at indicado o caminho a seguir tendo em
vista o aumento da capacidade produtiva e, consequentemente, da energia disponvel para
consumo domstico e para aplicao s actividades industriais: o aproveitamento das quedas de
guas que, segundo o autor, tinha poca uma utilizao que representava apenas uma fraco
moderada da riqueza que possumos.
Este optimismo em relao ao desenvolvimento desta indstria era ainda justificado pelo grande
desenvolvimento e aperfeioamento na construo de mquinas e aparelhos elctricos,
melhorando no s as condies do seu custo como as do seu efeito til como, por exemplo,
lmpadas mais econmicas e duradouras e fios que optimizassem o transporte de energia para
grandes distncias, nomeadamente atravs da diminuio das perdas. Estes progressos
acabariam por se sobrepor falta de suficiente educao industrial no Pas, responsvel pelo
subaproveitamento desta forma de energia, tanto na produo como nas suas aplicaes.
Nos anos seguintes tornou a no haver elementos sistematizados sobre a indstria elctrica em
Portugal disponveis para anlise at que, em meados de 1923, foi publicada uma smula das
instalaes de distribuio e potncia instalada destinada produo de energia elctrica para
consumo em redes pblicas20. Os dados nela coligidos so pouco pormenorizados mas, ainda
assim, permitem determinar um significativo aumento no nmero de agentes que exploravam
redes pblicas de distribuio de energia elctrica que, face aos anteriores dados disponveis
referentes a 1917, tinham passado de 39 valor referente ao nmero de entidades que
exploravam centrais produtoras mas que eram, ao mesmo tempo, tambm distribuidoras para
20 A energia elctrica em Portugal. Redes de distribuio e respectivas potncias, in Revista de Obras Pblicas e Minas, n. 626, de
Julho de 1923, p. 71.
Localidade Consumo (kWh/100 hab.)
Amarante 6,4
Felgueiras e Guimares 5,0
Leiria 2,1
Guarda 1,9
Lisboa (e marginal para Cascais) 1,4
vora 1,4
Porto 1,3
Viseu 1,3
Vila Real 1,3
Tavira 1,0
Castelo Branco 0,9
Braga 0,8
Faro 0,7
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64 seis anos depois, considerando apenas as que actuavam no territrio continental, tal como no
primeiro caso21.
Mas a evoluo mais expressiva verificada face a 1917 dizia respeito potncia instalada, que era
de 13.136 CV naquela data, como atrs referido, e atingia os 30.423 CV em meados de 1923;
este valor , no entanto, algo enganador, uma vez que no primeiro caso a inventariao de
centros produtores tinha deixado de fora as centrais produtoras das empresas e entidades
dedicadas traco elctrica casos da Companhia Carris de Ferro de Lisboa, da Companhia
Carris de Ferro do Porto, da Companhia Sintra-Atlntico e da Cmara Municipal de Coimbra e, ao
mesmo tempo, tinha includo (incompreensivelmente) a Cmara Municipal de Braga, que tambm
explorava uma rede de traco elctrica, embora neste caso o fizesse a par da explorao de uma
rede pblica para iluminao , enquanto em 1923 so tambm consideradas todas as centrais
produtoras que tinham como finalidade expressa a traco elctrica; essa diferena de critrio
explica grandemente a discrepncia dos valores22, que ainda mais evidente se for tido em conta
que todas as centrais que tinham como finalidade principal o abastecimento a redes de traco
elctrica j estavam em laborao aquando da elaborao do estudo de 1917.
Deve ser ainda assinalada uma outra novidade, a incluso da empresa Granados & Comandita23,
distribuidora que operava em Figueira de Castelo Rodrigo, e que recebia a energia a partir de
Espanha mas, ao mesmo tempo, era omissa quanto a casos semelhantes como, por exemplo, a
Leiras & Comesna (Sociedade Electricista de Tuy) que era concessionria em Valena e recebia
a energia desde a cidade espanhola de Tuy desde 1903.
Pelo exposto fica evidente a grande impreciso, ou mesmo desconhecimento, sobre as
caractersticas do sector elctrico nacional. Embora faa meno a dados de alguma relevncia
estes so praticamente inteis por lhes faltarem outros com os quais possam ser articulados;
nomeadamente quanto produo, ao consumo e ao nmero e tipo de consumidores ligados s
diversas redes elctricas existentes.
No decorrer da dcada de 1920 a importncia das diversas questes relacionadas com a indstria
elctrica apontavam j para um redobrar e crescente ateno para este sector, embora a
focalizao para os seus problemas fosse em reas um pouco diferentes daquelas que poderiam,
21 A lista de agentes referidos neste documento tem inmeras imprecises, pelo que o nmero apresentado j resultado da correco
(possvel) dos dados nele apontados, por exemplo, so referidas como se de empresas distintas se tratassem a Electro Indstria do Norte (EIN) referida como Electro Indstria do Norte (A), Electro Indstria do Norte, Sociedade Electro-Indstria do Norte, e Sociedade A Electro Indstria do Norte , e a J. Valverde & Compania, que aparece com esta exacta designao e tambm apenas como J. Valverde. ainda referida a Cmara Municipal de So Pedro do Sul como entidade distribuidora; na realidade esta entidade tinha uma pequena central trmica instalada para apoio s instalaes termais que explorava a alguns quilmetros daquela vila, e que funcionava apenas com carcter temporrio durante o Vero sendo, por isso, desajustada a sua incluso nesta listagem (ainda assim foi considerada no nmero referido 64).
22 As centrais para a produo de energia aplicada traco elctrica tinham as potncias seguintes: Companhia Carris de Ferro de Lisboa, 3.410 CV; Companhia Carris de Ferro do Porto, 1.455 CV; Companhia Sintra-Atlntico, 614 CV; e Cmara Municipal de Coimbra, 370 CV; totalizando os 5.839 CV. No caso destas duas ltimas Companhia Sintra-Atlntico e Cmara Municipal de Coimbra o erro era ainda maior, uma vez que estas duas entidades exploravam redes de traco elctrica mas, ao mesmo tempo, forneciam tambm a clientes particulares e industriais e a redes pblicas de iluminao, pelo que os valores anteriormente referidos so muito imprecisos; referida a Cmara Municipal de Beja que s inaugurou a sua rede elctrica em Julho de 1926(!).
23 Em rigor a sociedade no tinha aquela designao; tinha sido efectivamente constituda com aquela denominao em Abril de 1901, mas nos anos 1920 j usava a de Internacional (A), que adoptara em Julho de 1907 e, por esta altura, era tambm concessionria da rede elctrica em Pinhel, facto que no era referido neste estudo.
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primeira vista, ser as grandes preocupaes, nomeadamente a produo, o transporte e o
consumo de energia elctrica; que nesta dcada vo realizar-se quatro eventos denominados
Congresso da Electricidade mas neles vo-se privilegiar as abordagens a muitos assuntos
laterais ao problema da electrificao do Pas e, pontualmente, aspectos sobre o desenvolvimento
desta indstria.
No 1. Congresso da Electricidade realizado em Lisboa entre 16 e 18 de Maro de 1923 foram
apresentadas comunicaes sobre TSF (telefonia sem fios), bssolas, pessoal electricista,
sobre a criao de um Instituto Fsico-Tcnico e, j mais directamente relacionadas com os
problemas da electrificao do Pas, sobre tarifas, material elctrico e sobre a questo
hidroelctrica24.
O 2. Congresso da Electricidade realizou-se no Porto entre 31 de Agosto e 4 de Setembro de
1924 e, alguns dos trabalhos nele apresentados so j de outra relevncia para o
desenvolvimento da electrificao do Pas; merece destaque a comunicao apresentada pelo
Eng. Ezequiel de Campos, intitulada A interveno do Estado na produo e transporte da
electricidade para a regio industrial do Porto25, estudo que, embora de forma parcial, abordava j
duas das questes mais prementes para o sector, o papel do Estado e o abastecimento de
energia a uma regio fortemente industrializada; e a comunicao apresentada pelo Eng. Albano
do Carmo Sarmento, com o ttulo A necessidade da organizao em electricidade26.
Trs anos depois, em Novembro de 1926, realizou-se em Coimbra o 3. Congresso da
Electricidade e, neste sim, pode considerar-se que as questes mais relevantes para o sector
elctrico em Portugal foram j abordadas de forma ampla, sendo disso testemunha as mais de
duas dezenas de comunicaes nele apresentadas, entre as quais: trs sobre os carves, duas
apresentadas pelo Eng. Augusto Farinas de Almeida, Breve notcia sobre as minas de carvo de
S. Pedro da Cova, e A combusto de carves pobres sobre grelhas com insuflao de vapor, e
a outra pelo Eng. Toms Croft de Moura, A grelha mecnica especial sistema Babcock & Wilcox
para o aproveitamento dos carves nacionais ; uma sobre as taxas no transporte do carvo,
apresentada por Antnio Fernandes Leito, Comunicao sobre as taxas de transporte de carvo
em caminho de ferro; uma sobre a produo de energia, apresentada Eng. Manuel Roldan y
Pego, Aproveitamento da energia; trs sobre as aplicaes da electricidade, uma pelo Eng.
Antnio Belo, Memria sobre a electrificao do caminho de ferro Caes do Sodr Cascaes,
outra pelo Eng. Gustavo A. Perez, A electricidade ao servio das indstrias qumicas modernas,
e a outra pelo Eng. Jos Osrio da Rocha e Melo, Notas sobre instalaes elctricas nas fbricas
24 Foram apresentadas duas comunicaes sobre tarifas, uma pelo Major Carvalho e outra pelo Eng. Ezequiel de Campos, mas nenhuma foi publicada desconhecendo-se, por isso, o seu contedo; Duarte Rodrigues apresentou uma comunicao intitulada Material elctrico, tambm no foi publicada; e Ferreira da Silva apresentou a comunicao Questo hidroelctrica, que tambm no foi publicada. Alguns jornais que noticiaram este evento apenas mencionam aspectos gerais das comunicaes dos seus autores, pelo que no possvel fazer uma apreciao do seu contedo; destes autores apenas o Eng. Ezequiel de Campos viria a ter um importante protagonismo no sector sendo, por isso, possvel avaliar o seu pensamento sobre o sector.
25 Ezequiel de Campos, A interveno do Estado na produo e transporte da electricidade para a regio industrial do Porto, Porto,
Tipografia Sequeira, 1924. 26 Albano do Carmo Sarmento, A necessidade da organizao em electricidade, Porto, Tipografia Sequeira, 1924.
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de cimento; uma sobre poltica energtica, Eng. Ezequiel de Campos, O problema da
electricidade para a regio atlntica de Portugal; trs sobre questes relacionadas com o
transporte de energia, duas pelo Capito-de-Fragata Leon Fesch, Nota sobre o clculo das
tenses de instalao dos condutores areos em Portugal, e Nota sobre o clculo rpido das
tenses de corona das linhas trifsicas, e a outra pelo Eng. Fernando Moreira de S, O cimento
armado nas suas aplicaes electricidade; e trs sobre questes tcnico-administrativas e
econmicas, uma apresentada pelo Eng. Augusto Pereira da Silva Lopo, Algumas consideraes
de ordem econmica e financeira em relao com os aproveitamentos hidro e termo-elctricos, e
as outras duas pelo Eng. Carlos J. Michalis de Vasconcelos, A Associao Electrotcnica
Portuguesa, e A autonomia dos Servios Municipalizados27.
Entre 11 e 13 de Abril de 1930 realizou-se em Braga o 4. Congresso da Electricidade que seria
tambm o ltimo e, tendo em conta as (poucas) comunicaes conhecidas so evidentes as
questes dominantes no que respeita ao sector elctrico por esta altura, os carves e as
questes financeiras na explorao de servios elctricos pelas Cmaras Municipais (ou pelos
seus Servios Municipalizados). Sobre os carves destacam-se as comunicaes do Eng.
Augusto Farinas de Almeida, As antracites do Norte e o problema elctrico portugus, as duas
apresentadas por Manuel Martins da Rocha, Carves nacionais, regulamentaes da
obrigatoriedade do seu consumo e Linhites da regio das Caldas da Rainha e Rio Maior; e
ainda a apresentada pelo Eng. Carlos J. Michalis de Vasconcelos, Carves nacionais. J no
mbito da administrao tcnica e econmica dos servios elctricos refira-se a comunicao
apresentada pelo (totalista em presenas nestes congressos) Eng. Ezequiel de Campos, intitulada
Os encargos municipais dos Servios Municipalizados de Electricidade28.
Se as fontes at agora referidas do uma panormica sobre a evoluo do sector elctrico
portugus desde finais do sculo XIX at meados dos anos 1920, e as iniciativas de cariz terico
como os Congressos da Electricidade expressavam as preocupaes mais prementes para os
agentes com ele mais directamente relacionados, uma nova iniciativa proposta no decorrer da
27
Augusto Farinas de Almeida, A combusto de carves pobres sobre grelhas com insuflao de vapor, Porto, Tipografia Porto Mdico,
1926; Toms Croft de Moura, A grelha mecnica especial sistema Babcock & Wilcox para o aproveitamento dos carves nacionais e os resultados obtidos em marca industrial, Porto, Tipografia Porto Mdico, 1926; Manuel Roldan y Pego, Aproveitamento da energia, Porto, Tipografia Porto Mdico, 1926; Antnio Belo, Memria sobre a electrificao do caminho de ferro Caes do Sodr - Cascaes, Porto, Companhia Portuguesa Editora, s. d.; Jos Osrio da Rocha e Melo, Notas sobre instalaes elctricas nas fbricas de cimento, Porto, Tipografia Porto Mdico, 1926; Ezequiel de Campos, O problema da electricidade para a regio atlntica de Portugal, Porto, Oficinas de O Comrcio do Porto, 1926; Leon Fesch, Nota sobre o clculo das tenses de instalao dos condutores areos em Portugal, Porto, Tipografia Porto Mdico, 1926 (texto em Francs), e Nota sobre o clculo rpido das tenses de corona das linhas trifsicas, Porto, Tipografia Porto Mdico, 1926 (texto em Francs); Fernando Moreira de S, O cimento armado nas suas aplicaes electricidade, Porto, Tipografia Porto Mdico, 1926; Augusto Pereira da Silva Lopo, Algumas consideraes de ordem econmica e financeira em relao com os aproveitamentos hidro e termo-elctricos, Lisboa, Sociedade Nacional de Tipografia, 1926; e Carlos J. Michalis de Vasconcelos, A Associao Electrotcnica Portuguesa, Porto, Tipografia Porto Mdico, 1926. Os textos de Augusto Farinas de Almeida, Breve notcia sobre as minas de carvo de S. Pedro da Cova, de Antnio Fernandes Leito, Comunicao sobre as taxas de transporte de carvo em caminho de ferro, de Gustavo A. Perez, A electricidade ao servio das indstrias qumicas modernas, e de Carlos J. Michalis de Vasconcelos, A autonomia dos Servios Municipalizados, no foram localizados apesar de haver referncia sua publicao.
28 Augusto Farinas de Almeida, As antracites do Norte e o problema elctrico portugus, Braga, Tip. da Oficina S. Jos, 1930; Carlos J. Michalis de Vasconcelos, Carves nacionais, Braga, Tipografia Oficina de So Jos, 1930; Ezequiel de Campos, Os encargos municipais dos Servios Municipalizados de Electricidade, Braga, Tipografia Oficina de So Jos, 1930. As duas comunicaes apresentadas por Manuel Martins da Rocha, Carves nacionais, regulamentaes da obrigatoriedade do seu consumo, e Linhites da regio das Caldas da Rainha e Rio Maior, no foram localizadas apesar de (muito provavelmente) terem sido publicadas.
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segunda metade dos anos 1920 vai colocar o entendimento, a anlise, as propostas e solues
para os problemas do sector elctrico num patamar completamente novo. Em Agosto de 1927
procedeu-se abertura de um concurso entre os engenheiros electrotcnicos portugueses para
que apresentassem ante-projectos de uma rede elctrica nacional e das linhas de transporte29, j
anteriormente estipuladas e definidas na Base XVI da Lei dos Aproveitamentos Hidrulicos30, de
Outubro de 1926, e que continha cinco disposies especficas a serem analisadas quanto
viabilidade tcnica e econmica das linhas de transporte e de distribuio de energia elctrica
seguintes:
1) uma linha que abastecesse preferencialmente Lisboa e arredores com a energia que
fosse produzida nas regies carbonferas do centro do Pas, ou pelos
aproveitamentos hidroelctricas desta mesma regio, podendo este abastecimento
estender-se a Coimbra;
2) duas linhas para abastecer a cidade do Porto e seus arredores a partir de
aproveitamentos hidroelctricos do Norte e/ou da bacia do rio Douro, ou
eventualmente nas zonas carbonferas da regio, podendo essas linhas estender-
se at s cidades de Aveiro e de Coimbra;
3) linhas para abastecimento da zona Sul do Pas a partir dos aproveitamentos
hidroelctricos previstos para o rio Guadiana;
4) linhas que interligassem os sistemas anteriormente referidos entre si;
5) e o estabelecimento de redes de distribuio nas regies consumidoras prximas das
linhas anteriormente referidas, como o Minho Litoral, o Vale do Ave, Porto e
arredores, Baixo Mondego e Baixo Vouga, Estremadura (litoral e interior), Lisboa e
arredores, regies mineiras do Sul e o Litoral Algarvio.
O propsito do concurso era o de aproveitar a experincia de engenheiros que estivessem
familiarizados com os problemas do sector, nomeadamente nas questes da produo e da
distribuio e consequentemente conhecedores dos recursos e das necessidades das regies
aonde desenvolviam o seu trabalho31, permitindo-lhes justificar as suas propostas para o sector ao
mesmo tempo que se obtinham contributos para encontrar as melhores solues para um dos
mais instantes problemas nacionais 32 ; comeou por ser estabelecido como prazo para a
apresentao dos trabalhos a data de 25 de Janeiro de 1928, posteriormente prorrogado at 31
29 Decreto n. 14 166, de 25 de Agosto de 1927, emanado da Administrao Geral dos Servios Hidrulicos, do Ministrio do Comrcio
e Comunicaes, e publicado no Dirio do Governo, n. 187 (I Srie), de 27 de Agosto de 1927, pp. 1718-1719. 30 Decreto n. 12 559, de 20 de Outubro de 1926, emanado da Repartio dos Servios Fluviais e Martimos, da Administrao Geral
dos Servios Hidrulicos do Ministrio do Comrcio e Comunicaes, e publicado no Dirio de Governo, n. 240 (I Srie), de 27 de Outubro de 1926, pp. 1713-1716.
31 Deve referir-se que a esta apreciao estava subjacente a conscincia de que os engenheiros destinatrios deste concurso estariam ligados a empresas do sector e, por via disso, teriam uma experincia, entendimento e propostas, decorrentes dessa condio; o que de facto se veio a verificar.
32 Revista da Associao dos Engenheiros Civis Portugueses, n. 661, de Julho de 1930, pp. 209-223.
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de Maio desse mesmo ano33. Viriam a concorrer quatro projectos, trs individuais e o outro
apresentado por dois engenheiros, respectivamente, Ezequiel de Campos, Frederico Jorge Oom,
Manuel da Silva, e Jos Bernardo Forte Corte-Real / Jos Correia Botelho de Castelo Branco.
O programa estabelecido pelo concurso no estabelecia preferncias quanto s fontes de energia
deverem ser de origem hdrica ou trmica, apenas apontava a necessida