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Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Facinter Ano III Número 10 Curitiba, abril de 2011 MARCO ZERO Profissão Perigo O Marco Zero foi às ruas presenciar a dura realidade dos motoboys, que trabalham sob constante pressão e convivem todos os dias com os perigos do trânsito p. 6 e 7 Ícone internacional e com vários prêmios no currículo, a fotógrafa paulistana Nair Benedicto, de 71 anos, esteve em Curiba no mês passado para parcipar de um workshop. Entrevistada na sessão Perfil, ela fala sobre sua grande paixão, a fotografia, e sobre sua produção voltada para as minorias. p. 3 As minorias sob as lentes de Nair Benedicto Elas preferem a melhor idade Os grupos e bailes da terceira idade têm sido cada vez mais procurados pelos idosos que querem deixar a vida sedentária e aumentar o círculo de amigos. p. 5 Ronaldo Freitas Divulgação Divulgação

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Curitiba, abril de 2011 MARCO ZERO 1

Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Facinter • Ano III • Número 10 • Curitiba, abril de 2011

MARCO ZERO

Profissão PerigoO Marco Zero foi às ruas presenciar a dura realidade dos motoboys, que trabalham sob constante pressão e convivem todos os dias com os perigos do trânsito

p. 6 e 7

Ícone internacional e com vários prêmios no currículo, a fotógrafa paulistana Nair Benedicto, de 71 anos, esteve em Curitiba no mês passado para participar de um workshop. Entrevistada na sessão Perfil, ela fala sobre sua grande paixão, a fotografia, e sobre sua produção voltada para as minorias. p. 3

As minoriassob as lentes de NairBenedicto

Elas preferem a melhor idadeOs grupos e bailes da terceira idade têm sido cada vez mais procurados pelos idosos que querem deixar a vida sedentária e aumentar o círculo de amigos. p. 5

Ronaldo Freitas

Divulgação Divulgação

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MARCO ZERO Curitiba, abril de 20112

EDITORIAL

Aos leitores

Expediente

ARTIGO

O jornal Marco Zero é umapublicação feita pelos alunos doCurso de Jornalismo da Faculdade Internacional de Curitiba (Facinter)

Coordenador do Cursode Jornalismo:Tomás BarreirosProfessores Responsáveis:Roberto NicolatoTomás BarreirosEditores:Andrey Takahashi (7º período)Bruno Melo (7º período)Ronaldo Freitas (7º período)Diagramação:André Halmata (7º período)Edno Junior (7º período)Gabriel Sestrem (7º período)Secretário de redação:João Gabriel (7º período)Facinter: Rua do Rosário, 147CEP 80010-110 • Curitiba-PRE-mail: [email protected] Telefones: 2102-7953 e 2102-7954.

Suzayne Machado

Natali Carlini

O atendimento dos vendedores de lojas populares do centro é bom?

“Não, falta treinamento para esses vendedores. Eles agem como se fôssemos obrigados a comprar o produto que nos oferecem.”Jaqueline Santos Barbosa,23 anos, recepcionista

“Sim. Pelo menos nas lojas que costumo frequentar, sou muito bem atendido, por isso, volto sempre às mesmas lojas e procuro sempre o vendedor com o qual já estou familiarizado.”Anderson Gabriel dos Anjos,25 anos, estudante de Enfermagem

“Sim, sou sempre bem atendida. É claro que de vez em quando ocorre de um vendedor ser mal humorado ou não estar em um bom dia, mas são casos isolados .”Samara Correia Sanches,27 anos, professora de línguas

“Não. Normalmente, os vendedores dessas lojas populares tentam empurrar para a gente aquelas mercadorias que estão há muito tempo encalhadas. Acha isso um absurdo.”Orlani Gullack, 20 anos, estudante de Turismo

“Não, pois nessas lojas os vendedores trabalham em grande maioria por comissão, e por isso o atendimento deixa a desejar. Eles não pensam em qualidade, apenas em quantidade de vendas.”Raphael Adônis Meylaver,22 anos, consultor de marketing

“Sim. Não compro muito em lojas populares, mas quando acho algo que me interessa em alguma delas, sou bem atendida.Os vendedores são simpáticos e atenciosos.”Sophie Vadenberg,18 anos, estudante

De mestres a inimigos

Insultos, brigas, agressões, furtos, depredação e impunidade. Es-ses são alguns casos que viraram roti-na na vida dos professores. Hoje,talprofissionalétratadocom descaso. Ordens e regras são pouco respeitadas. Em algumas situ-ações, conseguir manter a disciplina em sala de aula transformou-se em tortura. O respeito que se tinha pelo professornãoémaisomesmo. Antigamente, era comum ouvir histórias de professores que batiam nosalunos,eatualmenteécomumou-vir alunos que batem em professores. Para Maria Garcia, todo docen-te já foiagredidoouconhecealguémque foi. Conta que já ouviu e presen-ciou histórias absurdas, como a de uma colega que teve os freios do carro cortados por alu-nos na própria escola. Segundo o Mi-nistériodaEducação,hámaisde2,3mil registros de casos desse tipo de violência contra professores. Os dados da pesquisa tam-bémapontamquemaisde50%dosprofessoresafirmaram já ter presen-ciado casos de furtos nas escolas onde trabalham. Um em cada dez conhece casos de gangues e de tra-ficantes atuando nas instituições. E30%jáviramalgumtipodearmanasmãos de seus alunos. Por que casos de agressões físicas, ameaças e humilhações a pro-fessores se tornaram tão comuns?

Para alguns professores, esse tipo de situação acontece porque há instituições que protegem demasia-damente o aluno, deixando que ele cometa qualquer tipo de infração sem ser punido. Para a solução desses casos, tramita no Congresso Nacional um projetodelei(6.269/09)quecrimina-liza a agressão contra professores, dirigentes educacionais, orienta-dores e agentes administrativos de escolas. No projeto, a pena prevista é de quatro anos de detenção paraagressão física e de três anos para agressão moral. O projeto alteraria o Código Penal no que se refere ao desacato

ao funcionário público. Caso o aluno agressor seja menor de idade, deverá receber penali-dade estabelecida pelo Estatuto da Criança e

doAdolescente(Lei8.069/90). A violência é proveniente defatores sociais, psicológicos e peda-gógicos. A socialização e o respeito comum têm faltado nos ambientes escolares. Muitos acham que hoje está sendo exigido nas escolas que elas passem aos alunos regras que deveriam ser ensinadas pelos pais, mas enquanto isso não acontece, a solução pode estar em mais investi-mentos na área. Oquetodosqueremérespei-to. Alunos e professores deveriam ser parceiros e não inimigos.

“Há mais de 2,3 mil registros de casos

desse tipo de violência contra professores”

“O que todos querem é respeito, Alunos e professores deveriam ser parceiros e não inimigos”

Boca no trombone!

Os motoboys, esses trabalhado-res muitas vezes discriminados e mal vistos pela sociedade, são o tema de nos-sa reportagem principal. Nossa equipe acompanhou a difícil rotina desses so-breviventes do caótico trânsito da capital paranaense.

Enquanto andar de moto para uns é profissão, para outros é um gostoso e divertido hobbie. É assim que funciona para os membros do Moto Clube Socieda-de Secreta, onde aficcionados por motos se reúnem em torno de uma grande paixão.

Já a premiada fotógrafa Nair Benedicto esteve recentemente em Curitiba e fomos conferir algumas boas lembranças e histórias de uma das mais brilhantes artistas brasileiras da atualiade.

A cidade de Curitiba comple-tou 318 anos em março, e nosso ensaio fotográfico do mês trata do lado pouco glamouroso da cidade. Esta edição fala também dos transtornos da Copa do Mundo de futebol para os vizinhos da Arena da Baixada, tem uma boa con-versa sobre arte e uma reportagem sobre a terceira idade que não quer saber de ficar parada. Tudo isso e mais no Marco Zero deste mês de abril.

Boa leitura!

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PERFIL

No último dia 19 de março, esteve em Curitiba um dos grandes nomes da fotogra-

fia nacional, Nair Benedicto. Reconhe-cida e premiada internacionalmente, a fotógrafa veio à capital paranaense para um workshop de uma das mais tradicionais escolas de especialização em fotografia, a Omicron Centro de Fotografia.

No auge de seus 71 anos, sendo 29 como fotógrafa, a paulistana con-cedeu a vários alunos e profissionais da área da fotografia um belo show, compartilhando experiências vividas e demonstrando alguns de seus ensaios e peças do seu portifólio, que são ver-dadeiras obras-primas expostas em museus ou que fazem parte de dife-rentes acervos no Brasil e no exterior.

Nair é casada com o francês Jac-ques Breyton, com quem teve três fi-lhos. Nasceu em São Paulo em 1940 e formou-se em Rádio e Televisão pela Universidade de São Paulo (USP), em 1972, mesmo ano em que começou a atuar como fotógrafa profissional. Foi também produtora de vários do-cumentários audiovisuais para a Alfa Comunicações.

Carreira

Em 1976, Nair criou, junto com outros grandes nomes da fotogra-fia nacional, como Juca Martins, Delfim Martins e Ricardo Malta, a Agên-cia F4, um projeto em-preendedor e pioneiro no mercado, especiali-zado em fotojornalismo. A agência foi motivo de desacordo com os pro-fissionais da área de comunicação na época, principalmente com os sindi-catos de jornalistas, contrários à pro-posta. A agência, no entanto, abriu um novo segmento de mercado e poste-riormente muitas outras vieram.

Nos anos seguintes, Nair foi pro-fessora de Fotojornalismo e membro da Comissão de Organização da Bie-nal da Fotografia em São Paulo. Em 1980, publicou seu primeiro livro, “A Greve do ABC”, e posteriormen-

te, em parceria com Juca Martins, “A Questão do Menor”, ambos pela Edi-tora Caraguatá. Desde 1981, ministra nacionalmente aulas e workshops por várias universidades, como a UFMG, UnB e UECE, e na Infoto da Funarte, entre outras instituições. É diretora, produtora e fotógrafa de documentá-rios como “O prazer é nosso” e “E agora Maria”, entre outros. Em 1988,

fez mais uma publica-ção: “Nair Benedicto - As melhores fotos”, pela editora Sver e Boc-cato.

De 1988 a 1999, Nair foi contratada pela Unicef para fotografar as condições de vida da

mulher e da criança na América La-tina. Tornou-se membro do júri do prêmio Libero Bardaró, em 1990, e também membro do prêmio Casa das Américas, de Havana (Cuba). Em 1991, fundou a N-Imagens, da qual é proprietária e diretora até hoje. De 1991 a 1996, foi curadora da exposi-ção Fragmentos da História do Teatro no Brasil, em Avignon, França.

Nair passou por diversas esperi-ências marcantes exercendo a função

de fotógrafa. Conta que, em viagem pelo interior do Brasil para fotogra-far uma tribo de índios, ao atravessar um grande rio quando acompanhava a tribo que ia para o trabalho na roça, caiu em um poço e perdeu todo seu material, incluido as cameras fotográ-ficas. “Acabei sendo ajudada pelo ca-cique da tribo, que divertiu-se com o acidente”, recorda.

Na mira da câmera de Nair Be-“Fotografo

primeiro para mim, depois para os

outros. A fotografia é um

grande prazer”

Fotógrafa é ícone internacionalPriscila Costa nedicto sempre estiveram temas de

cunho social. A preocupação da fotó-grafa com as minorias tornou-se sua marca no fotojornalismo com caracte-rística poética e sensível aos sofrimen-tos sociais.

Durante a ditadura militar, Nair sofreu represálias e foi censurada também. Além de presa e torturada, teve seu trabalho perseguido por estar constantemente presente em eventos para registrar atividades dos movi-mentos operários da época e mani-festações em geral. “Muitas vezes, tive que esconder até os negativos entre minhas roupas íntimas para não ter meu trabalho confiscado pela polí-cia”, relata.

A fotógrafa viajou pelo interior do país e pelo mundo trabalhando para diversos órgãos e governos. Nair conta com fotos premiadas que tornaram seu nome reconhecido internacionalmen-te. Os contrastes da realidade, as ex-pressões e a beleza da cultura do Brasil, índios, operários, mulheres, menores e homossexuais marginalizados foram alvo da fotógrafa, tudo acompanhado de muita técnica e uma visão extrema-mente artística da fotografia.

Nair Benedicto é sinônimo de excelência na fotografia, grande in-centivadora dos novos profissionais dessa arte que nascem em meio à multimidialidade da foto digital. Nair construiu e deixará um grande legado que constituem um tesouro nacional, orgulho para todos os brasileiros.

Nair Benedicto: técnica e beleza em trabalhos fotográficos

A foto de 1977 “Tesão no Forró do Mario Zan”, em São Paulo

Nair Benedicto, um dos grandes nomes da fotografia brasileira, ministra aula em CuritibaDivulgação

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TRILHAS DO TEMPO

Leitura no Bondinho

Com 73 anos de história, o Clube de Xadrez de Curi-tiba (CXC) é o segundo

local mais antigo do Brasil onde se pratica esta modalidade. Loca-lizado no centro da cidade, Rua XV de Novembro, 266, 9º andar, Edifício José Loureiro, o CXC é fundamental para o desenvolvi-mento do esporte, sendo consi-derado um celeiro de talentos.

Consequentemente, os me-lhores enxadristas do Brasil já estiveram no Clube, como por exemplo, o Grande Mestre Hen-rique Mecking (Mequinho), me-lhor jogador brasileiro de to-dos os tempos, e que alcançou o posto de terceiro do mundo em 1978, ou também, o Grande Mestre paranaense Jaime Sunye Neto, hepta campeão brasileiro nos anos 70 e 80.

Além disso, o CXC possui uma grande relevância social, como explica o presidente Acyr Rogério Calçado: “fazemos diversas parce-rias com escolas, empresas, já que o xadrez colabora - principalmen-te para as crianças - no desenvol-

Clube de Xadrez de Curitiba completa 73 anos

O Clube de Xadrez de Curitiba oferece várias atividades, com oportunidades para os que desejam participar de competições

Localizado na rua XV de Novembro, esquina com a rua Ébano Pereira, o bondinho, inau-gurado em 27 de outubro de 1973, hoje é usado como biblioteca para adultos e crianças realizarem leitu-ras, sob os cuidados de educadores, como Daniele Cristyne da Costa, 23 anos. O objetivo inicial é fornecer recreação para as crianças através de atividades pedagógicas e artísticas. Quem passa pelo calçadão entre man-hã e tarde vêem o bonde num entra e sai de pessoas a todo momento. A co-zinheira Jackeline Domingues, de 43 anos que passa todos os dias pela XV com sua filha Maryana Domingues, estudante de 12 anos, acha importante que as crianças desenvolvam o hábito de ler, e sempre que sobra um tem-pinho, leva a menina até o bondinho onde funciona a mini-biblioteca. As duas admiram o grande número livros nas prateleiras. Jackeline elogia o espaço reservado no bondinho para a leitura e o fato de poder emprestar os livros. A cozinheira conta também a respeito do aprendizado que isso traz para sua filha e as demais pessoas. É um ótimo incentivo para que ela e outras pes-soas possam se interessar sempre pela leitura. Para Maryana, a leitura leva conhecer vários gêneros, que vão de contos de fadas, aventura e romance até os livros mais técnicos. Para os que gostam de ler e tem interesse podem procurar a Fundação Cultural para obter mais informações de como se cadastrar na biblioteca do Bondinho e se di-vertir com a leitura.

Diego Ramon

vimento do raciocínio lógico, auto conhecimento, respeito às regras, facilitando o convívio social”.

O jogador Ernesto Pereira, frequentador assíduo do CXC, relata os motivos que o fazem ir até o Clube: “o lazer, aproveitan-do momentos agradáveis com os amigos; o treinamento, aprimo-rando o nível através da estrutura que o Clube possui (livros, com-putadores, aulas, palestras) e as competições em si”.

Com eventos semanais, os só-cios contam com atividades cons-tantemente. Em todas as quartas-feiras, palestras para todo o público. Os finais de semana são marca-dos pelo Circuito de Torneios do CXC. Além disso, são produzidos

jantares para os sócios, como por exemplo, a Noite Árabe, o torneio Feijoada, entre outros eventos que contam com representantes de vá-rios estados brasileiros e de outros países, como Cuba e Argentina.

Além das atividades, o piso do CXC é outra atração à parte. Em forma de tabuleiro, passa à impressão que os frequentadores são as peças de um grande jogo de xadrez.

O Clube de Xadrez de Curi-tiba fica aberto de segunda a sábado, das 15h às 22h. Quem estiver interessado em ser sócio, a mensalidade é de R$25,00 e R$10,00 para mulheres e meno-res. Para mais informações aces-se o site: www.cxc.org.br.

William Cruz

DivulgaçãoDivulgação

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Copa causa transtornos no Água Verde Moradores da Rua Buenos Aires irão perder suas casas para a Arena da Baixada ser ampliada

Letícia Ferreira

Curitiba foi escolhida como uma das cidades-sede da Copa do Mundo de 2014, e os jogos

serão realizados na Arena da Baixada, que deve ser ampliado para atender aos padrões exigidos pela Federação Inter-nacional das Associações de Futebol (Fifa). Entre as exigências da entidade, está a criação de um estacionamento para 1.153 automóveis. O complexo ocupará uma área de 161.621 metros quadrados com capacidade para com-portar 41.293 expectadores. A facha-da passará por uma reforma total. A entrada do prédio (onde hoje se loca-lizam uma churrascaria e uma acade-mia de ginástica) será reformulada. A retirada do fosso ao redor do campo e a construção de novos vestiários tam-bém estão confirmadas.

Para essas modificações serem realizadas, os moradores da Rua Bue-nos Aires terão suas casas desapro-priadas. Elas serão demolidas para a ampliação do estádio. A praça diante do estádio será desativada, e em seu lu-gar será construído o estacionamento. Muitos moradores estão indignados por terem que sair de suas residências. “Vou ter que deixar a minha casa por causa de um evento que vai acontecer durante um mês, e a Prefeitura vai nos dar um terreno sabe Deus onde. Moro aqui há mais de trin-ta anos, meu marido quis se mudar antes devido aos transtor-nos em dia de jogos, mas não aceitei sair de uma região central. Acredito que esta área não é apropria-da para a realização desses jogos por ser uma região central. O ideal seria construir outro estádio afastado da cidade, onde ninguém precise sair de sua casa,” diz uma moradora da Rua Buenos Aires que não quis se identifi-car. “Fico feliz que Curitiba vai sediar os jogos, mas é incorreto modificarem tanto o nosso bairro, retirando as pes-soas de suas próprias casas. Moro em um apartamento e tenho a praça como única área verde para passear com meu cachorro, e de acordo com o projeto essa praça não irá mais existir e em seu lugar haverá um estacionamento. A praça é um bem público e vai se tor-nar um bem privado do Atlético Para-

naense. Como fica o nosso direito de cidadão?”, reclama Elizangela Souza, moradora do prédio Crystal Palace.

O projeto para as obras na Arena do Clube Atlético Paranaense dentro das exigências da Fifa, visando à Copa do Mundo de 2014, está em fase de execução, avaliação e orçamento. Em breve, as empresas contratadas finali-zarão os projetos executivos e com-plementares (projetos hidráulico e

elétrico, entre outros), itens essenciais para o orçamento completo da obra. Restam ainda, por parte da Fifa, de-finições quanto às ne-cessidades de telefo-

nia, dados e televisão, que serão infor-madas na reunião no final deste mês, em Brasília, quando então se poderá dar por finalizada a etapa de projetos. A fase inicial de avaliação e orçamento está sendo realizada pelo Departamen-to de Engenharia do Atlético.

Algumas modificações já foram realizadas no estádio, como o recuo das pilastras para a criação de mais 2.200 lugares, possibilitando a visão do campo todo. Segundo a Fifa, em sua última vistoria ao estádio, há fal-ta de visibilidade para assistir aos jo-gos. De todos os estádios avaliados pela Fifa, a Arena é o que necessita de menos modificações. “Temos mais de 70% do previsto concluído, porque já

havia um planejamento para a Copa de 2006 e por isso está sendo reade-quado. São poucas as obras a serem feitas, e a maior delas é a construção do anel de fechamento da Arena,” afirma o gestor do projeto da Copa

erm Cuririba, Luiz de Carvalho, em nota no site da Prefeitura.

Até o fechamento desta matéria, a Prefeitura não havia se pronunciado em relação à retirada dos moradores da Rua Buenos Aires.

“Fico feliz que Curitiba vai sediar os jogos, mas é incorreto modificarem

tanto o nosso bairro”

Projeto final da Arena da Baixada para a Copa do Mundo de 2014

A rua Buenos Aires, que será transformada para a ampliação da Arena da Baixada, estádio do Clube Atlético Paranaense

A praça Afonso Botelho dará lugar à construção do estacionamento da Arena

Letícia Ferreira

Letícia Ferreira

Divulgação

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MARCO ZERO Curitiba, abril de 20116ESPECIAL

Eles são considerados por mui-tos os vilões do trânsito. Ati-tudes como ultrapassagens

bruscas, quebra de retrovisores, da-nos em laterais de automóveis, entre outros, são relacionadas à figura do motoboy. Poucos reconhecem que se trata de um profissional, um assalaria-do que, como tantos outros, trabalha com prazos e têm metas a cumprir.

A diferença é que trafegar sobre uma motocicleta em um trânsito com-plicado, dividindo o espaço com auto-móveis de maior porte e, em muitos casos, com hora marcada para efetuar uma entrega, faz com que esses tra-balhadores extrapolem alguns limites e, consequentemente, coloquem em jogo suas vidas diariamente.

Muitos são os acidentes envolven-do motociclistas em Curitiba. Segun-do dados fornecidos pela assessoria de imprensa do Batalhão de Polícia de Trânsito do Paraná (BPTran), em 2010, foram registrados na cidade 3.110 aci-dentes envolvendo motocicletas, uma

média aproximada de nove acidentes por dia. Ainda segundo o mesmo le-vantamento, foram registradas 41 ví-timas fatais.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Condutores de Veícu-los Motonetas, Motocicletas e Simila-res de Curitiba (Sintramotos), Agenor da Silva Pereira, comenta que os nú-meros relacionados a acidentes envol-vendo motociclistas, na capital para-

naense, não demonstram a realidade dos profissionais motociclistas na ci-dade. “Infelizmente, os dados estatís-ticos repassados por órgãos responsá-veis não especificam qual o tipo dos condutores envolvidos em colisões, e eu tenho certeza que poucos são os profissionais da categoria que se en-volvem em acidentes, pois a maioria já passou por um curso de capacitação para exercer a profissão”, argumenta.

Ainda segundo o líder sindical, a imagem desse trabalhador é margina-lizada, e a ele é atribuída a maioria dos imprevistos relacionados a mo-tocicletas. “Diversos acontecimentos passados envolvendo motoboys, em especial o caso do Maníaco do Par-que, ocorrido na cidade de São Pau-lo na década de 1990, fizeram com que esse profissional ganhasse a fama de marginal, o que não condiz com a realidade, pois se trata de um tra-balhador como outro qualquer e que preza, acima de tudo, pela sua vida”, relata Pereira.

Fabiano Amaral dos Santos (31) conhece bem essa realidade. Casado, pai de dois filhos, há um ano resol-veu ser motofretista para aumentar sua renda, já que ele trabalha como segurança noturno. O profissional comenta que sofreu três acidentes le-ves, mas, em certa ocasião, não teve a mesma sorte. “Eu acredito que o stress, o nervosismo e a distração dos motoristas de automóveis são os principais fatos para a ocorrência de acidentes envolvendo motocicletas.

MOTOBOY, PROFISSÃO PERIGOMotociclistas profissionais buscam espaço e respeito para exercerem sua atividade

Ronaldo Freitas

Ronaldo Freitas

Agenor Pereira: “tenho certeza de que poucos são os profissionais da categoria que se envolvem em acidentes, pois a maioria já passou por um curso de capacitação para exercer a profissão”

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Curitiba, abril de 2011 MARCO ZERO 7

Veja o meu caso: eu estava trafegan-do a uma baixa velocidade, quando do nada um veículo mudou de pista e me atingiu. Devido à colisão, fratu-rei a clavícula e fiquei um bom tempo sem poder trabalhar”.

Ainda segundo o condutor, são raros os casos em que os motoris-tas de automóveis dão preferência a

MOTOBOY, PROFISSÃO PERIGOMotociclistas profissionais buscam espaço e respeito para exercerem sua atividade

Motogirls: o perigo e a delicadeza lado a ladoDaysi Passos

Bruna Escobar ao lado do seu colega de trabalho Fabiano Amaral.

A paixão pelo motociclismo e a sensa-çãode liberdadefizeramcomqueBrunaEscobar(24anos)abdicassedesuaanti-gaprofissão,nodepartamentoadministra-tivo de uma empresa, e seguisse o ofício de “motogirl”. Solteira, mãe de um filho,háquatroanosBruna trafegadiariamen-te pelo centro de Curitiba. “A adrenalina proporcionadapelaprofissãofezcomqueeu optasse por abandonar a monotonia do escritório e ganhasse as ruas fazendo entregas”,comentaamotogirl.Elaafirmaque conhece os perigos do trânsito e se cuida ao extremo para evitar acidentes.

Em relação ao tratamento nas ruas, Brunanãovênenhumavantagememseruma mulher em cima de uma moto, pelo contrário, acha que o fato ainda gera mais preconceito. “Não tenho nenhum tratamen-to especial no trânsito, e mais: sinto que alguns motoristas fazem questão de me fechar com o automóvel. Isso, infelizmente, por puro preconceito, aquela velha história contra mulher no volante”, reclama.

OutroexemploéAnaPaulaGarrete,de23anos,quecomprousuamotoparachegar mais rápido no trabalho. “Ônibus, porexemplo,éestressante,porque temque esperar na fila por muito tempo, ena maioria das vezes a condução está lotada, a pessoa não consegue embar-car e tem de esperar outro com menos gente. Com a moto, a pessoa vai na hora que quer e por onde quer”, justifica.Aoser questionada por que moto em vez de carro para os dias chuvosos, ela explica que atualmente o número de mulheres sobre duas rodas está aumentando, e o mercado de roupas e acessórios femini-noscrescetambém,oquetornapossívelestar bem equipada com estilo, mostran-do sua roupa de chuva cor-de-rosa. “Para Alexsandro Ribeiro

Fotos: Ronaldo Freitas

mim,amotoémaiseconômicadoqueocarro, em todos os sentidos. Dependendo do trânsito, dá para passar pelo meio de dois carros, ultrapassando-os e chegan-do a tempo ao meu destino”, comenta.

AssimcomoBruna,Anatambémre-clama que o preconceito com as mulheres notrânsitoégrande.Muitoshomens“fu-ram” a sua preferência, e caminhoneiros avançam sem dar sinal, como se ela não estivessenocaminho.“Alémdesermu-lher, sou motociclista, e os caminhoneiros odeiam essa combinação”, desabafa.

Há pouco mais de um mês, a garo-ta se envolveu em um acidente com um carro, fraturando gravemente a perna. Já passou por duas cirurgias e talvez preci-se de uma terceira. Está afastada do tra-balho, sem previsão de retorno, tudo vai depender da reação da perna em relação às cirurgias. “Não vejo a hora de minha perna sarar para eu poder voltar a pilotar; gosto muito de sentir o vento no rosto, dá uma sensação de liberdade”, confessa.

Ana Garrete: “Não vejo a hora de minha perna sarar para poder voltar a pilotar.”

Se de um lado os profissionais motociclistas reclamam da falta de respeito dos condutores de auto-móveis, de outro, profissionais do volante apontam os excessos come-tidos por motoboys como a maior causa de acidentes envolvendo am-bos. “O grande problema é que eles (motoboys) não respeitam nada. Ultrapassam em corredores estrei-tos e, na maioria dos casos, ao ve-rificar um sinal amarelo, ao invés de diminuirem a velocidade, aceleram e simplesmente buzinam, como se isso adiantasse algo”, comenta Ola-vo Cardoso (64), taxista há três anos em Curitiba.

O motofretista Vitor dos Santos (20) argumenta que o grande proble-ma para a sua classe profissional é a falta de espaço nos corredores entre

os carros no trânsito da capital para-naense. “Muitos condutores de auto-móveis, em sua maior parte taxistas e motoristas de ônibus, fazem questão de deixar o veículo no meio do corre-dor, fechando o espaço que permite a rápida e segura transição de moto-cicletas”, reclama.

O taxista Jorge Camilo Correia (51), morador de Colombo-PR, que trabalha há 15 anos no centro de Curitiba, cita uma possível solução para a convivência pacífica entre os profissionais do trânsito. “Reconhe-ço que os motofretistas extrapolam em algumas ocasiões, mas nós (taxis-tas) temos que entender a situação, afinal, assim como nós, eles estão tra-balhando e precisam de espaço para trafegar de forma rápida e agilizar seus afazeres”.

Disputa entre profissionais no trânsito

motocicletas. “Eles cruzam a frente de repente, sem sinalizar. Até parece que o pisca é um acessório opcio-nal; se eles precisam mudar de pista, simplesmente mudam. Dá a impres-são de que não interessa se há um motociclista ali ou não, são raros os casos em que há respeito”, desabafa o motofretista.

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Aterceira idade, uma das eta-pas da vida de um indivíduo, começa em que momento?

A cultura e o desenvolvimento da sociedade são determinantes para indicar se uma pessoa está nessa fase. Em países classificados como em desenvolvimento, por exemplo, alguém é considerado de terceira idade a partir dos 60 anos.

Para a geriatria, somente após alcançar 75 anos a pessoa é con-siderada de terceira idade. Não existe um consenso com relação à fronteira que limita a fase pré e pós velhice, nem sobre quais os indícios mais comuns da chegada nessa fase.

Dados do IBGE demonstram que entre 1995 e 1999, no Brasil, o número de pessoas com mais de 60 anos cresceu 14,5%. Com a chegada da terceira idade, alguns problemas de saúde passam a ser mais frequentes, e outros, inco-muns nas fases anteriores, come-çam a aparecer. A osteoporose e o Mal de Alzheimer, por exemplo, são mais suscetíveis de acontecer nessa fase.

Com seus problemas caracterís-ticos, a idade vai chegando, e, então, a pessoa vai se aquietando e se aco-modando, certo? Errado. Pelo menos não é assim para os idosos que fre-quentam os grupos e bailes da tercei-ra idade, ou, como muitos preferem, da melhor idade. É o caso de Amélia Mon-teiro, uma jovem senhora de 74 anos que não se dei-xou abater pela idade e que não tem problema algum em revelar quantos anos tem.

Viúva há 21 anos, com to-dos os filhos criados e que dão à ela total apoio, aposentada e mo-rando sozinha, Amélia encontra companhia e diversão todos os domingos num conhecido clube, no bairro Santa Felicidade, dire-cionado a pessoas de mais idade. Sócia do clube há quatro anos, ela não perde um domingo.

“Eu vou para encontrar os ami-gos, me divertir e dançar. Gosto mui-to de dançar vanerão, bolero e forró. Lá também rola paquera, como na

balada jovem, e os frequentadores não são só pessoas mais velhas, pois todas as idades são bem vindas”, conta Amélia. Ela também frequenta o grupo da terceira idade nas terças e quintas-feiras.

No grupo, ela realiza ativida-des voltadas para a qualidade de vida dos idosos, como aulas de ginástica, aulas de costura e pales-tras com dicas de alimentação, en-tre outras. “Com o grupo, fazemos passeios e viajamos. No mês pas-sado, fomos para praia, fizemos ginástica de frente para o mar, foi

muito bom’’, diz.A professora de

Educação Física Neiry Gasparin, responsável pelas aulas de ginásti-cas dos idosos, fala so-bre as reuniões do gru-

po: “Aqui, tentamos integrá-los e mostrar que não é porque têm mais idade que não podem mais se exercitar. Claro que realizamos ati-vidades de acordo com a condição física de cada um, mas o objetivo é não deixar ninguém parado’’.

Questionada sobre a importân-cia do grupo de idosos em sua vida, Amélia diz que é isso que a mantém na ativa e que a faz pensar que ain-da tem “muita lenha para queimar’’. Ela afirma que nunca é tarde demais para aproveitar a vida e que todos deveriam participar dos bailes e das

Terceira idade não, melhor idadeÉ assim que eles preferem definir a fase da vida em que a ordem é aproveitar

Simone Leal

O mercado está de olho na ter-ceira idade. Segundo pesquisa feita pela empresa de pesquisas GFK, o público mais maduro possui um potencial de consumo em torno de R$ 7,5 bilhões, o dobro da média nacional. Cerca de 19 milhões de pessoas acima de 65 anos de idade fazem parte da população brasi-leira, segundo dados de 2009 do IBGE. Muitas empresas deixaram de ignorar esses consumidores.

A dona de casa Lair Rossi Onosho-visky, 65 anos, diz que é muito difícil achar roupas adequadas e prontas de acordo com seu tamanho. Elas existem, mas, os valores são altos. “Estou sem-pre ligada nas roupas que são lançadas e são tendência. Porém, financeiramente, você tem que ter uma boa renda, pois os custos são de matar”, declara, lem-brando que o que não pode faltar em seu guarda-roupa são blusas tubinho e acessórios. “Não abro mão de terninho para o inverno e tecidos feitos de algo-dão para o verão, pois são muito con-fortáveis e deixam um ar de elegância. E nada de tons escuros, pois gosto de co-loridos para compor o visual”, explica.

A também dona de casa, Maria Aparecida, 66 anos, diz que está faltan-do atenção para que seja vista a moda na terceira idade. “É muito difícil encon-trar um padrão adequado. O mercado não presta muita atenção, e os modelos e cortes deixam muito a desejar. Muitos modelos bonitos que são lançados são

difíceis de encontrar”, reclamaO que ela mais gosta no mundo

fashion são os acessórios que dão um toque bem diferente. Gosta muito dos sapatos altos e de bicos finos, que acha elegantes, mas não pode usá-los como antigamente. Também curte os clogs, mas está procurando um modelo de salto um pouco menor. “Terninho, ves-tidos fresquinhos e estampados são es-senciais, não abro mão deles”, afirma.

A costureira Lilian Bitdinger, de 62 anos, possui uma confecção cujo maior público está entre as pessoas acima de 60 anos e as que estão acima do peso. Ela tem muitas consumidoras e recebe várias cópias de modelos de roupas. In-forma que a maioria das senhoras chega com a mesma reclamação sobre a difi-culdade de achar roupas com um bom caimento. “As minhas clientes sempre reclamam que as lojas são mais voltadas para os jovens, aquelas com corpinhos lindos e perfeitos, e acabam as esque-cendo”, conta a costureira.

A vantagem de quem fabrica rou-pas por encomenda, conta ela, é que sua gama de clientes aumenta e, em conse-quência, o lucro também. As épocas em que o fluxo aumenta são sempre as mudanças de estação e, é claro, dezem-bro quando o Natal se aproxima, pois muitas jovens vão encomendar roupas para suas mães. “Fabrico aqui mesmo as roupas que uso. Como consumidora, também enfrento dificuldade em achar peças e lojas que conheçam o perfil do público mais velho”, lamenta.

Moda para os idososClaudiane dos Santos

Grupo da terceira idade passeia pelo litoral paranaense: a ordem é curtir e relaxar

“Eu vou para encontrar os amigos, me

divertir e dançar” Amélia Monteiro

Divulgação

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Curitiba, abril de 2011 MARCO ZERO 9

Paixão sobre duas rodasPara muitos, o motociclismo é, além de hobby, um estilo de vida

Juliana Morelli

“A cada encontro, novos ami-gos”. Esse é o lema que reúne mi-lhares de pessoas em Curitiba com uma mesma paixão: o motociclismo. Sem limite de idade, sem prazo de validade, sem preconceito e sem dis-tinção: é dessa forma que homens e mulheres de todas as idades optam pelas motos como meio de trans-porte e diversão.

Os encontros geralmente acontecem nos motoclubes, que hoje já são mais de 138 espalha-dos por toda a cidade. Ao som do bom e velho rock’n roll e muito ronco de motor, os destemidos motociclistas contam suas expe-riências de viagens pelas estradas do Brasil, que às vezes ultrapassam as fronteiras.

Para Renan Meirelles, 25 anos, presidente e fundador do Moto Clube Sociedade Secreta de Curi-tiba, o motociclismo não é um ho-bby e nem um esporte, “é um estilo de vida. Sair nas estradas pilotando uma moto é uma forma de esquecer os problemas e extravasar”.

O Sociedade Secreta existe há sete anos e conta com 21 membros. O presidente afirma que para fazer parte e se manter no clube os mo-tociclistas devem “ser aceitos pelos demais”. Eles se tornam “PPs”, que são os prepostos, nome dado a to-dos os novatos que querem fazer parte do clube.

Os aspirantes desempenham algumas atividades estipuladas pe-los membros e cumprem o regi-mento interno da entidade. O es-tatuto interno preza pelo zelo e a boa convivência dos integrantes, diz Meirelles.

A vez delas

Quem pensa que lugar de mu-lher é pilotando um fogão está completamente enganado. Em 2010, 57% das Carteira Nacionais de Habilitação (CNHs) da catego-ria “A” emitidas pelo Detran do Paraná foram para mulheres. Em

SERVIÇO

Moto clube Sociedade Secreta

Presidente: Renan Meireles

Reuniões: Toda 2ª sexta-feira de cada mês, a partir das 19h.

Endreço: Cleide Lurk, nº 85, Boa Vista

Telefone: (41) 9944-1614

Na internet:www.sociedadesecreta.com.br

comparação com 2009, houve um crescimento de 7%.

Elas literalmente deixam as garupas e assumem o controle dos guidões sobre duas rodas. Prova viva dessa revolução chama-se Sandra Marchesi, a Sandrinha, 50 anos, funcionária aposentada da Caixa Econômica Federal, louca por motos. Uma de suas aventuras foi pilotar a sua Shadow 600 por 1.340 quilômetros, até o Chile.

A viagem levou 18 dias e con-tava com apenas ela de mulher dentre os demais motociclistas do grupo. “O que eu gosto mesmo é de ro-lar o cabo”, afirma. O termo, usado entre os motociclistas, significa acelerar o motor, ou correr. “Já dormi em posto de gasolina, em estação de esqui e albergue. Histó-ria para contar é o que não me falta. Sou completamente apaixonada”, afirma a motociclista.

Já Fátima Machado da Cos-

Divulgação

Integrantes do Moto Clube Sociedade Secreta durante um de seus encontros mensais

ta, 40 anos, mais conhecida como Fatty, motociclista e fundadora do moto clube feminino Rodas de Aço, transmitiu seu gosto por mo-tos para Carla, sua filha de 17 anos. Em cima da sua moto CBR 600 cilindradas, mãe e filha viajam jun-tas. “Assim que eu fizer 18 anos, vou ter a minha moto”, diz Carla.

Feminilidade

Pesquisas realizadas recentemen-te pela Associação Brasileira dos Fa-bricantes de Motocicletas (Abraciclo)

sobre o perfil dos con-sumidores indicam que 25% dos comprado-res de motocicletas no Brasil são mulheres.

Elas estão desfa-zendo a ideia de que “moto é coisa de ho-

mem”. As mulheres assumem que são capazes de pilotar uma moto sem perder a feminilidade, integram grupos de motociclistas até então compostos somente por homens e

COMPORTAMENTO

As mulheres assumem que são capazes de pilotar

uma moto sem perder a feminilidade

desfrutam das aventuras possibili-tadas pelas novas experiências.

Para quem gosta de fazer novos amigos e se enquadra no grupo de pessoas que são loucas por aventura, vento na cara e muita adrenalina no sangue, vale a dica: filiar-se ao moto clube mais próximo. Com certeza, seus finais de semana não serão mais os mesmos.

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CULTURA

Os mistérios da imaginação A arte pode ser encontrada em inúmeras e variadas manifestações individuais e coletivas

André Vinícius

Oque é arte para você? Tal-vez teatro, cinema, tele-visão? Ou talvez prefira

pinturas de Dali ou esculturas de Rodin... Quem sabe uma apresenta-ção de ópera, como “La Traviata”, de Giuseppe Verdi? No campo da música, você talvez pense que nada é melhor que rock and roll, blues e soul. Se acaso primar pela brasili-dade, suas opções circulariam entre o samba, a bossa e o chorinho.

E há quem aponte o tango, dos vizinhos argentinos. Você pode ainda ter tendências kitsch, termo consagrado nos anos 1930 pe-los pensadores Theodor Adorno, Hermann Broch e Clement Gre-enberg, que definiram a expressão como movimento opositor à arte moderna e de vanguarda. Em ou-tras palavras, arte considerada de “gosto duvidoso”, como madeira pintada de forma a se parecer com mármore ou o mictório de Marcel Duchamp.

Segundo a professora Cristina Costa, autora do livro “Questões de Arte: a natureza do belo, da percepção e do prazer estético”, o imaginário popular crê que apenas quadros e esculturas presentes em museus ou música erudita podem ser considerados obras de arte.

De acordo com a diretora do Museu de Arte Contem-porânea do Paraná (MAC) e da Casa Andrade Muricy, Lenora Pedroso, a arte é uma necessi-dade de expressar as emoções e ques-tionar a vida, acompanhando o ser humano desde sempre. Sobre o suposto caráter erudito da arte, ela crê que está intimamente re-lacionado à educação. “No nosso país, a educação é mais elitista do que a cultura. É através do ensino que se mostram as possibilidades de apreciar a cultura, em um tea-

O que é arte para você?

Lenora Cardoso, diretora do Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC)

“Qualquer coisa que seja inspirado-ra. A perfeição do sol, das nuvens, montanhas. A arte da natureza.”Jean Müller Linazzi,27 anos, guarda municipal.

“Arte pra mim é toda e qualquer manifestação individual ou cole-tiva que tenha intenção de tornar públicos aspectos culturais, de pensamento, gosto ou opinião que sejam materializados em algum tipo de material, seja ele concreto ou abstrato. Tem que ser algo que agrade, que faça parte do mundo da pessoa”.Ricardo Tesseroli,29 anos, jornalista

“Expressão involuntária de um sentimento. Como diz o Milton Na-scimento, todo artista está onde o povo está. Para mim, a grande arte é a expressão de ajuda, porque é a arte do coração”.Esther Alexandra, 40 anos,assistente de faturamento

tro, ou museu”, diz Lenora, que enfatiza que ir a um museu deve ser tão prazeroso quanto ir ao shopping, por exemplo.

O conceito de bonito é muito intrincado e pessoal. Para Lenora Pedroso, “é uma definição a que não chegaremos nunca. O que pode ser bonito para mim pode não ser para você”.

Sobre o kitsch, a diretora do MAC vê como uma “crí-tica ao luxo. É um objeto do dia a dia que causaria estra-nhamento enquan-to obra de arte, mas que de repente é utilizado como

tal, numa inversão de valores”.Sobre a suposta banalização

da arte que seria uma consequ-ência disso, Lenora crê que a re-presentação de obras em objetos pode mesmo auxiliar a indústria do turismo. “O turista deseja le-var uma lembrança do lugar que visitou”, justifica.

O grafite

Curitiba e várias outras ci-dades pelo Brasil e pelo mundo estão repletas de desenhos. Co-nhecidos como grafite (do italia-no graffiti, plural de graffito), são normalmente aplicados em pare-des e muros. Muitos chamam a atenção pelas cores fortes e pela temática apresentada, como as mazelas sociais. Para o grafiteiro Thiago Cesar Gava Telles, conhe-cido como Thiago Syen, isso não é, necessariamente, questão de inspiração. “Meus trabalhos são resultados de pesquisa e vivên-cias pessoais”, conta.

Syen também revela não acre-ditar em diferenças entre grafite e pichação, que é a assinatura estili-zada em muros, ônibus e elementos do patrimônio urbano: “Falando de imagem, não vejo diferença, são formas de desenhar ou pintar em diferentes suportes, só que o grafite foi aceito pela mídia, e a pichação, não. Por isso, o grafite é mais aceito pela sociedade”, conta o grafiteiro.

André Vinícius

“Ir a um museu deve ser tão

prazeroso quanto ir a um shopping, por

exemplo”

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Mendigo qualificadoTÁ NA WEB

Zangief Kid, o herói antibul-lyng?

Bombou na redeno último mês o vídeo em que um jovem de 16 anos, Casey Heynes, revida os ataques de Richard Gale, de mesma idade, ambos estudan-tes de uma es-cola australiana. Se foi um caso de bullyng ou não, o leitor pode julgar lendo reportagens sobre o assunto ou assistindo às entrevistas concedida por Casey à TV australiana no programa A Current Affair, e de Gale ao Today Tonight. Aforajulgamentos,ofatoéqueovídeo,editadodediversasmaneiras,sendo que em uma Casey vira o personagem de HQ Hulk, ganhou reper-cussão mundial. Conhecido em toda a web sob a alcunha de Zangief Kid, emalusãoaopersonagemsoviéticodoaclamado jogodevideogames

Street Fighter, que desfere em seus oponentes um golpe similar ao do garotonovídeo,CaseyHeyneschegouaprotagonizaratéumjogonanet,intituladoZanguifKidGame,quepodeseracessadoemhttp://www.zangiefkidthegame.com/.

Smutley, o gato promíscuoPorprecauçãooupornãoseroperfildoconsumidorbrasileiro,humoremcampanhapublicitáriapelaprevençãocontraaAidsnãoécomumnoBrasil.Noentanto,nãoéoqueocorreemoutrospaíses,comonaFrança, em que a Aides, ONG que luta pela prevenção contra a Aids, lançou a campanha “Proteja-se”, que conta com uma animação em preto e branco, ao estilo dos desenhos animados antigos, em que um gato bonachão chamado Smutley pratica sexo sem proteção com vários ani-mais. Criado pela agência californiana Goodby, Silverstein & Partners, a animação do gato promíscuo, que lembra o louco personagem Fritz The Cat, desenhado pelo cartunista Robert Crumb, demonstra um exemplo a nãoserseguido.Afinal,diferentedogatoSmutley,conformeditaasapi-ência popular, temos apenas uma vida. Fica a dica: proteja-se.

Um blog milionário

Éapenasumprojeto,masjádeureboliço.AcantorabaianaMariaBethânia

Divulgação

Com licença. Será que o senhor teria algum trocado para me dar?

Não, infelizmente.Nem uma moedinha?Nada.Então tá. O senhor tem um bocado

decoisasaí,né?Por que o senhor quer saber?Calma. Não pretendo assaltá-lo. Só

estava perguntando, curiosidade ape-nas.EsseDVDaí,quefilmeé?

Rambo.Virgem! Já assisti.Já,é?Gostou?Não. Meio inconsistente. Não gosto

dessesfilmesemqueacadadoisminu-tosexplodealgoouempalamalguém.Violência gratuita. Além do que, issoaí émentirada feia.Assisti umessesdias, gostei muito: Terra das sombras.

Sei. Meio meloso. É com aquele cara, oAntônio...Antônioumaova,comtodoorespei-

to. Antônio é o Banderas. É AnthonyHopkins.Muito bonito, o filme. Gosteide outro também, com o Roman Po-lanski.

Não o conheço.Pois é. Nem todos gostam de um

bomfilme.Eesseslivrosaí?É. Gosto muito de ler.Isso faz mal.O quê, ler? Não. Esse tipo de literatura aí. Se

équepossaserchamadodeliteratu-ra.BoméEça,Machado,Drummond,Balzac, Zola, Dante, Goethe. Ow!Lindo Werther.Puxa!Masvocênãoémendigo?E daí? Tenho que ser ignorante para

CRÔNICA

Alexsandro Teixeira Ribeiro

ser mendigo. Que tem a ver o meu grau intelectual com a minha posição social? Mon Dieu!Falafrancês,é.Ja, Freund.Alemão?Si señor.Espanholtambém,é?Yes, mister. That’s good.Puxa, só o que me faltava. Um men-

digo poliglota!Pois é. Neste mundo globalizado,

expressar-seemumalínguaapenasémuito arriscado.

Vai dizer agora que entende de ar-tes.Umpouquinho.Aarteéaalmado

ser humano. Aquela pintura ali, na capadaquelarevista,porexemplo,ébarroca.

Picasso?Cacete! Claro que não! É Caravag-

gio.Picassoécubista.Bem,eessejor-nal aí, posso?

Ow! Claro, já o li.Agora sim. Esta foi uma ótima es-

colha.Poisé,estejornalabordanotíciasde

umaformaespetacularné?Quenada.Esteperiódicoéumapor-

caria.Ué?Entãoporquediabosdisse-me

que foi uma ótima escolha.Équeatexturadestepapeléótima

para me cobrir, mantem o calor. Agora, se me der licença, está na hora do meu cochilo. E, estrategicamente falando, este banco é omelhor da cidade.Ali-ás, não sei se já perguntei ao senhor, mas... tem algum trocado aí?

Alexsandro Teixeira Ribeiro

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MARCO ZERO Curitiba, abril de 201112ENSAIO FOTOGRÁFICO

Textos e fotos deAndressa Maltaca

A realidade subentendida

A capital paranaense, que completou 318 anos, conta com muitas histórias, diversas culturas e pessoas vindas de inúmeras regiões. Quan-

tas vezes você já cruzou com um morador de rua ou um mendigo pela cidade? Quantas vezes paramos para ob-servar qual é o cotidiano dessas pessoas? Ou algo mais simples: quantas vezes vemos essas pessoas com um olhar que não seja de pena? Os moradores de rua estão presentes em quase todos os locais. São de diferentes lugares e idades, são pessoas que fazem parte da cidade em que vivemos. Na grande maioria das vezes, são cha-mados de pobres! Será? Ou somos nós que estamos nos tornando uma sociedade pobre, uma sociedade que olha sem querer olhar, vendo que uns mendigam por comida, outros por dinheiro ou apenas para obterem a atenção daqueles que justamente não querem enxergá-los?