Marco Zero novembro/2010

8

description

Revista Marco Zero novembro/2010

Transcript of Marco Zero novembro/2010

Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010 2Marco Zero

EDITORES:Celina Hamilton Albornoz, Thomaz Guilherme Albornoz Neves e José ArturLesina MontanariPROJETO GRÁFICO : Marco ZeroARTE DA CAPA : JotaeleILUSTRAÇÕES : BetoColabore, opine, participe: [email protected]

COLABORADORES

Enilda Cruz Martins é professora aposentada, participa de um centro de Um-banda. Atualmente é vice-presidente do Centro Cultural Zumbi dos Palmares.Zohra Hanini é muçulmana, Bacharel em Direito.Saúl Ibargoyen é escritor uruguaio, reside no México, possui inúmeras obraspublicadas.Rachel Gutierrez, escritora nascida em Livramento e radicada no Rio de Janei-ro, é autora de diversos livros.

EXPEDIENTE

Marco Zero3 Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010

Todo ser humano por natureza questiona sua origem eseu destino final. O homem é uma criatura que foi dotadacom o poder de raciocínio, algo que o faz superior àsdemais criaturas, e justamente por esse motivo deve seutilizar dele na busca das respostas que tanto o assolam.Mas não é preciso muito para se alcançar a certeza, aoolharmos a nossa volta e refletirmos, de que o universo etudo que o contém é prova de que existe um CriadorSupremo e Sábio que criou, sustentou e proveu tudo anossa volta. A partir do momento em que o homem sabee tem certeza de que não teve influência alguma em suaprópria criação nem na criação dos céus e da terra, pos-sui então uma prova determinante de que houve um Cri-ador que criou tudo na melhor proporção, já que negarisso é, no mínimo, falta de discernimento. Deus criou oser humano e o agraciou com todo o bem e o fez líder naterra, e criou a vida e a morte com o objetivo de testarqual melhor se comporta nesta vida passageira.

O Islam, que significa literalmente paz e submissão aDeus, é um verdadeiro código de vida e não somente umareligião, já que regra todos os passos da vida do ser huma-no ensinando a conduta justa e correta em cada situação,trazendo todas as respostas às perguntas de maneira cla-ra e objetiva fundamentando-se na revelação divina e nãoem conjecturas. Em primeiro lugar, o Islam nos ensina aadoração a Deus como Único Ser digno de adoração eculto, sem parceiros, filhos ou sócios, Deus este que élivre de toda e qualquer imperfeição ou erro e que é total-mente distinto a Sua criação, sendo que nada se asseme-lha a Ele. Também nos ensina a submissão somente a

Em nome de Deus, o Misericordioso, o Misericordiador!Deus e a nenhuma criatura. Ensina-nos a seguir o cami-nho dos profetas e dos virtuosos como verdadeiros exem-plos a serem seguidos, mas não como seres a serem cul-tuados. Ensina-nos que esta vida é passageira e é umteste que acabará com a morte, e que após ela virá ojulgamento de cada ação, seja ela pequena ou grande, oque culminará na decisão final do mais Justo dos justos edo Maior dos misericordiosos, Deus, que julgará cada almae lhe dará a recompensa por suas obras.

Minha escolha em ser muçulmana (submissa a Deus)se deve ao fato principalmente do Islam ser o caminhoensinado por todos os profetas, entre eles Abraão, Moi-sés, Jesus e último dos profetas, Muhamad, que a pazesteja com eles, já que todos ensinaram o monoteísmopuro livre de qualquer idolatria. Foi esta a mensagemque Deus enviou em todos os tempos para a humanida-de, é a obra inata na qual Deus criou a humanidade, é oúnico caminho até Deus, já que este foi o caminho ensi-nado por Ele através dos Seus Mensageiros. Ser muçul-mana é ser consciente de que a submissão a Deus é ocaminho de orgulho e vitória da humanidade, já que sig-nifica se submeter ao Todo-Poderoso e às Suas Leis,enquanto que a submissão aos homens é humilhação eopressão, uma vez que estes são falhos e impotentes.

Escolhi o Islam porque através dele minha vida pas-sou a ter sentido, vivo hoje sabendo o objetivo e a mis-são que possuímos na vida, vivo sabendo que devo ali-mentar minha alma da mesma maneira que alimento meucorpo, vivo sabendo que a dignidade está em seguir asordens de Deus e a depravação e destruição está em

seguir descontroladamente nossos desejos.Como ser humano, o Islam valorizou-me ensinando-

me a virtuosidade, a oração, a caridade, a bondade eobediência aos pais, fazer bem ao próximo, a ter paciên-cia nos momentos de atribulações, a alimentar a almatodos os dias e em todos os momentos aproximando-ado seu Senhor, a purificar a conduta dos vícios e tudoaquilo que lhe leva a destruição, e a buscar em primeirolugar sempre a verdade e a justiça, e saber que a maiordas injustiças é atribuir parceiros a Deus.

Como mulher, o Islam elevou minha posição uma vezque a mulher é valorizada pelo seu intelecto e não peloseu físico. Dá-lhe o direito de preservar seu corpo e serprotegida, através de sua vestimenta e conduta, e terseus direitos garantidos na sociedade sem ter que seexpor como mercancia para alcançar seus direitos devi-dos.

Como muçulmana, o Islam me ensinou que a fé, arecordação de Deus e as boas ações são a senda dosvirtuosos que alcançarão a paz e a verdadeira felicidadenesta vida e a magnífica recompensa da vida eterna noParaíso. Sem dúvida, creio que este é o caminho para sealcançar o triunfo, e é neste caminho que nasci, que vivoe que morrerei, se Deus quiser!

Eis, pois, a religião para toda a humanidade, aberta atodo aquele que queira prestar testemunho de que nãohá divindade digna de adoração, exceto Deus, o Único,e seguir a senda reta.

Zohra Hanini

Manifestações da Fé entre nósQuando começamos com os depoimentos sobre a Fé, no número anterior deste caderno, não tínhamos em mãos a

Dissertação de Licenciatura da santanense Ítala Irene Basile Becker, de 1966, "Alguns Aspectos da Religião numMunicípio da Campanha Riograndense", publicada na forma de ensaio em 1967, na revista da Faculdade de Filosofia,Ciências e Letras de São Leopoldo.

Baseados em Ítala, apresentamos abaixo uma cronologia das várias manifestações religiosas abordadas em seuartigo, cuja íntegra encontra-se no acervo da Biblioteca Cecília Meireles, da Academia Santanense de Letras. Osdados cobrem o período de 1823, quando foi construída a capela original, até o ano de 1962, quando a autora registraa chegada do último grupo religioso desse período. A autora também inclui, como parte das manifestações de religio-sidade em nosso município, a Benzedura, a Crendice e a Superstição.

• Em 1823, Santana do Livramento nasce, segundo a tradição histórica, da construção de uma capela. A vidasocial do município começa pela organização da Paróquia.

• Em 1872, quando se concretiza no espaço nacional a ruptura Igreja-Estado, a maçonaria ganha espaço, insta-lando a segunda loja maçônica do estado em Livramento.

• Em 1876 torna-se cidade, já não mais como uma unidade religiosa.• Em 1909, um novo credo se faz presente, é o protestantismo, representado pela igreja Metodista.• Em 1910, quase em simultaneidade, surge a Igreja Episcopal Brasileira.• Em 1911 aparece oficialmente o espiritismo, sob a denominação de Sociedade Espírita Bezerra de Menezes.• Depois das duas guerras mundiais, acontece a diversificação, surgindo as chamadas religiões americanas:• Em 1938, o Exército da Salvação e a Assembléia de Deus em 1948.• Mais ou menos na mesma época começa a atividade da Umbanda, tendo em 1960 e poucos, mais de 50

terreiros em plena atividade. Em 1965 fundam o Núcleo Local filiado a Confederação Espiritualista de Umbanda doRio Grande do Sul.

• Em 1962 chega a Igreja de Cristo dos Santos dos Últimos dias, os Mórmons.

Os Evangélicos, fenômeno da contemporaneidade, com sua dissidência interpretativa da Bíblia, estão representadosem nossa fronteira em todos os seus segmentos e igrejas, desde que surgiram como fenômeno de massa na década de 80.

A partir dos anos 90, portanto bem depois do término do trabalho de Ítala, ganha expressão em nosso meio oIslamismo, instalando sua Mesquita em Livramento, há aproximadamente dez anos atrás.

Enilda Cruz Martins é filha de umbandista, cujo Centro tem mais de sessenta anos. Sua fé vem de suas origens, doexemplo de sua casa, da cultura negra. Com parceiros do vizinho país, desenvolve um trabalho de preservação daconsciência negra. É autora de "Os caminhos do negro...da África à abolição", publicado em 2006.

Um = Deus único, onipresente.Banda = grupo ou banda de Deus.

A Umbanda é a única religião brasileira. Foi cri-ada no quilombo de Palmares por um grupo de ne-gros bantus, indígenas e brancos.

Dos negros recebemos a parte espiritual de seusancestrais. Do índio, seus ancestrais e seu chama-nismo, e dos brancos, a espiritualidade em si e osdogmas da religião católica.

Na Umbanda existe um sacerdócio, pois quemtrabalha na Umbanda tem que ter muito amor e fé.Na Umbanda devemos praticar a caridade em nomede nosso irmão maior Jesus Cristo.

Já passei por várias religiões aqui nesta cidade,já conheci outras doutrinas, mas acabei voltando paraa Umbanda, pois nela todos somos iguais, tratadoscom amor e respeito, mesmo nas adversidades.

Acima de tudo, a Umbanda é cristã e necessáriapara ajudar as pessoas. Nada é cobrado, damos degraça o que de graça recebemos.

Em minha religião não tem proibição para queseus membros conheçam ou freqüentem outras reli-giões, pois conhecer é uma maneira de não fazerjulgamentos preconceituosos das demais.

Enilda Cruz Martins

O que é a Umbanda?

Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010 4Marco Zero

El término frontera (del latín frons, frontis: frente) ad-mite en general dos significados o interpretaciones: la pri-mera muy precisa ("puesta y colocada enfrente") y lasegunda tan precisa como aquélla pero de cuestionablecontenido ("confín o límite de un Estado"). Un Estadonecesita forzosamente un límite; una nación, no. Por esopensamos que una zona fronteriza es más una nación queun encuentro entre dos Estados. Actualmente, en la práctica el término frontera esmanejado más bien como un indicador de separaciones,divisiones, rompimientos, lejanías, y no pocas veces encuanto un obstáculo a traspasar, a derrotar. En la demar-cación de fronteras, a veces violenta o arbitraria, entreEstados y naciones o en la definición de entidades nacio-nales o regionales, suele no tomarse en cuenta -y la His-toria lo comprueba- nada menos que el sustrato culturalde comunidades enteras y hasta sus componentes huma-nos de la mera cotidianidad. Las razones o sinrazonespolíticas, geopolíticas, militares y económicas así lo deci-den y resuelven. Pero, ¿existen fronteras absolutamente fijas, con o sinbardas, con o sin agentes que las preserven, con o sinrigurosos puestos fronterizos, con o sin cazadores de in-migrantes, con o sin acuciosas aduanas, con o sin regla-mentos más o menos flexibles? Y si un río, por ejemplo,forma parte de una frontera, ese río -como el heraclitano-nunca repetirá sus aguas, así como las fronteras tampoconunca se repiten a sí mismas. No hay tal fijeza, porque -esobvio decirlo- las fronteras, en especial las culturales, res-piran, se mueven, se trasladan. Las fronteras, como las arenas del desierto, son ajenasa la quietud. Sucede que soplan las brisas y los vientos ylas tormentas de la Historia, que jamás dejan de soplar, yla aparente inmutabilidad de las marcas fronterizas sevuelve vacilante, insegura, temerosa. Algo parecido cu-ando las fronteras entre castas, clases, familias, clanes,tribus y grupos sociales se rompen o amenazan romperse,porque en verdad estamos rodeados de fronteras ideoló-gicas, de límites materiales, de bardas invisibles, de con-tenciones psicológicas. Estas rápidas reflexiones tienen su explicación, si esque la necesitan, en cuanto al hecho de que otros vientosnos llevaron a vivir, hace años y de los dos lados, a unpunto de la frontera norte de Uruguay: la ciudad de Rive-ra y su junción con Livramento. Fue allí, precisamente, adonde aprendimos a percibir lamovilidad de los límites fronterizos; allí, en el encuentrocontradictorio y solidario a la vez de dos ciudades tansimilares como distintas, aprendí asimismo que las líneasde separación, con sus marcos y sus garitas y sus contro-les aduaneros, no tenían mayor sentido. Porque, como sesabe, se trataba y se trata de una frontera seca y abierta:uno puede cruzarla varias veces al día -a pie o en carro oa caballo o en bicicleta- en ambos sentidos sin que hayaque presentar ningún documento. Cruzar "la línea" es unsuceso cotidiano, al punto de que esa línea imaginaria -pese a sus señales y referentes físicos- parece que se haborrado de la mentalidad fronteriza.

En Brasil el golpe de Estado ocurrió el 31 de marzo de1964; nosotros vivíamos en ese momento en Sant'Ana doLivramento, abrazada a la uruguaya Rivera. Ciudadesfundadas la primera en 1823 y la segunda en 1862, "paraasegurar la frontera". A consecuencia del golpe de Esta-do, el tráfico y el tránsito en ese punto se volvieron súbita-mente ásperos, dificultosos. La "línea" fronteriza casi trans-parente por el uso histórico, definió de un lado a una dic-tadura de contenido fascista, y del otro confirmó por opo-sición una democracia que pronto demostraría sus debili-dades internas.

Esta información, que se parece a una crónica históri-ca, tiene como objetivo orientar al posible escucha o lec-tor sobre algunas de las condiciones que se presentabanen aquel ámbito fronterizo y que sin duda estimularon ycondicionaron, en definitiva, nuestra escritura narrativa. En verdad, en aquellos años nuestro arribo a unafrontera ya conocida por algunas visitas en época devacaciones, se produjo por razones de mera necesidad.

Significaba ese arribo un cambio casi total en cuanto amodalidad de vida, de códigos sociales, de pensamiento.Dicho cambio se fue procesando con diferentes pausas,de acuerdo con innumerables sucesos de la existenciapersonal y colectiva que no es de necesidad enumerar.Una especie de exilio voluntario. En primer lugar, pudimos ratificar algún hallazgo deaquella fugaz experiencia de visitas anteriores: nuestropaís no era tan homogéneo en lo social, lo religioso, loétnico, lo cultural y lo lingüístico como desde la primariase nos había enseñado. La ideología predominante (aundentro de una propuesta democrático-burguesa), desdetodo el aparato disponible apoyado en el sistema educati-vo, indicaba que Uruguay era un país republicano, de eco-nomía agropecuaria, de lengua española, población blan-ca, religión católica, profundamente influido por Europa -sobre todo Francia- y ¡libre de indios! Pocos negros ha-bía, resultado de haber sido Montevideo en el siglo XVIIIel único puerto autorizado para el ingreso de esclavos afri-canos cuyo destino estaba en otros países. Mercado co-lonial de la negritud más que una plaza donde se necesita-ra un tipo de fuerza de trabajo como el del sistema deplantaciones del Caribe, por ejemplo. Anotamos ahora el haber escuchado en la infancia y laadolescencia, y algo más hacia acá, frases terribles sali-das de integrantes de capas medias y clase alta (genteeducada y de agradables modales), celebrando que enUruguay los indios charrúas y de otras etnias habían sidooficialmente liquidados por la represión estatal en 1832,tema casi traumático en nuestra historia, sobre el que hanescrito admirablemente Acevedo Díaz y Tomás de Ma-tos. ¿Y la negritud?, pues malvivía en los barrios margina-les de la capital y las ciudades o pueblos de provincia, enel campo… y en la frontera, casi cayéndose para el otrolado. "Ahí están bien", escuché una vez en la voz de algui-en, un militar fazendeiro cuyo nombre se me borró. En segundo lugar, pude descubrir (ya van más de cua-tro décadas…) lo que muchos sabían por la mera prácti-ca fronteriza y lo que otros recién comenzaban a exami-nar: que Uruguay no era un país monolingüe. El francésestaba considerado como la lengua por excelencia de la cul-tura. Esto ha cambiado bastante, bajo las presiones globaliza-dotas del capitalismo salvaje aunque el portugués está propu-esto en los programas actuales. Debe recordarse que enciertos momentos de la historia uruguaya, se hablaba portu-gués en casi todo el territorio nacional, y hasta guaraní; elportugués retrocedería con la extensión de la escuela prima-ria desde finales del XIX para permanecer al otro lado de lafrontera con Brasil, ayudando a la confirmación del portuñol;éste se transformó así en una barrera de contención de lavieja lengua imperial. En tercer lugar, me encontré con otro país o, como diríanlos antropólogos, "con el Uruguay profundo". O sea, la diver-sidad o la multiculturalidad ya sugerida en el punto primero,plena de válidas supervivencias e innovaciones culturales. Yen esa diversidad cabía, por encima y por debajo de lasclases sociales, las ideologías, el imaginario social y el colorde la piel, una axiología bien diferenciada: la fronteriza.

EL PORTUÑOL, ¿LENGUA LITERARIA?

Marco Zero5 Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010

Porque esos valores, que funcionan fluidamente en uncontexto físico e ideológico determinado por los avatareshistóricos (organización republicana, dictaduras oligárqui-co-militares, fijación de fronteras, cotizaciones cambiari-as, flujos de mercancías, corrientes mediáticas, drogas,contrabando, free shopps) y por los sistemas religiosos(catolicismo, protestantismo, evangélicos, cultos de ori-gen afro -umbanda, quimbanda, candomblé- y aun indoa-fricano, a más de curanderismo y artes adivinatorias), notienen equivalencia con los predominantes en la capital.En la "gran aldea" o "gran ciudad" todo parece más "civi-lizado", más "moderno", más vinculado con la movida ac-tualidad el mundo, por más que exista una creciente inte-racción entre Montevideo y lo que nosotros bautizamosliterariamente como Rivamento. Y en cuarto lugar, los elementos y factores antes men-cionados nos sugirieron, casi desde el inicio de la radicaci-ón en la frontera, tal vez de una manera secreta, que algonuevo iba a ocurrir con la escritura, y no sólo con ella.Particularmente, la presencia del "portuñol", esa mezcladel portugués del sur brasileño con el español del norte,del este y del sur uruguayos, de la cual se han percibidotres o cuatro variantes en otros tantos sitios fronterizos.Los valiosos trabajos de investigación que sobre este asuntose han efectuado en la Facultad de Humanidades en nu-estro país, nos liberan de un comentario más completo, amás de nuestras limitaciones para examinar tema tan ricoy complejo. Pero digamos que no se trata de una mezclaequilibrada entre dos idiomas, surgida del habla en el sigloXIX -quizá en el XVIII- a consecuencia de las luchasentre los imperios de España, Portugal y Brasil en esazona, sino que el portuñol tiene un mayor componente deportugués que de español. Eso es lógico, como se ha di-cho, pues el portugués llegó a hablarse en casi todo elterritorio de lo que hoy es Uruguay. Al producirse su re-troceso, según se vio, no sólo se mantuvo en el lado fron-terizo uruguayo, sino que, al irse conformando el portuñol,éste se transformó también, reiteramos, en una barrera paraque el portugués no regresara a tierras uruguayas. Sólo algu-nos kilómetros, no más. Pero, hoy mismo, en ciertos departa-mentos hay bolsones de portugués o portuñol, o se le usa conalguna frecuencia en el habla diaria, ya bastante adentro delterritorio nacional. Además, con los nuevos acuerdos comer-ciales, el turismo, los intercambios culturales, los medios decomunicación, el estudio más generalizado, etcétera, el por-tugués va interactuando sin violencia y sin colonizarlos en losespacios actuales, alcanzados por la llamada modernidad. Si aparecen aquí tantas referencias históricas, interpreta-das desde una perspectiva muy personal, es porque en lafrontera tuvimos acceso a la certeza de que éramos ciu-dadanos históricos, pues el hecho de adquirir bastante prác-tica en una lengua o dialecto como el portuñol, nos ubica-ba en una tradición lingüística y escrituraria muy reciente."El río de la historia: en él estamos", pudimos pensar sindemasiada imaginación. Y para tener un sitio en ese ríodebíamos agregarle una cuota de aguas y espumas aúnno definidas. En puridad de verdad, nadie había utilizadoen Uruguay el portuñol como lengua literaria; varios es-critores (José Monegal, Alfredo Gravina, Agustín R. Bi-sio, Enrique Amorim, Paulina Medeiros, Olintho MaríaSimoes y otros) habían apelado a palabras o frases suel-tas de sus personajes, en su mayoría campesinos o gau-chos o peones o habitantes de mínimos pueblos perdidosen medio de poderosas haciendas patriarcales. Pero has-ta ahí.

Este fue, sin duda, el más grande desafío que me pro-puse como narrador. Sin embargo, para pasar del hablaportuñolesca a la escritura creativa, se necesitó un tiem-po de maduración, reflexión, estudio más amplio e infor-mal del portugués y lecturas de poetas, narradores y en-sayistas muy admirables, que en Brasil abundan. Mien-tras, continuaba escribiendo poesía, mejor dicho, poemas,pero sin que el portuñol se engarzara a esa producción;poemas que publicaba en Montevideo, aunque tambiénen revistas brasileñas y argentinas. Mientras hacía eso ytrabajaba en varios y diferenciados oficios, logré aden-trarme en muchos rincones fronterizos. Otros rincones de frontera fueron los cabarets, los an-tros de varias categorías, las canchas de básquetbol, lospequeños estadios de fútbol, los bares, los "terreiros" delculto umbanda, las viviendas precarias en los barrios másempobrecidos, los clubes políticos en los que se gestabanlas luchas locales, los cuarteles en donde "los sospecho-sos de comunistas" o sindicalistas o empleados de la ban-ca debíamos presentarnos cada tanto cuando la etapa pre-dictatorial (era dura la vigilancia en ambos lados de lafrontera), las parroquias adonde me reunía a tomar unascañas con un par de curas amigos; el ámbito de la en-señanza oficial, pues yo daba clases de letras hispanoa-mericanas en secundaria y preparatoria (Carlos Reyles,Garcilaso, José Hernández, Rulfo y Carpentier, entre otrosautores) a alumnos de ambos lados… Muchos rincones,pues, y siempre el portuñol volando y llegando y desvane-ciéndose y reapareciendo… Era curioso, y hasta algo per-turbador, por ejemplo, escuchar a un alumno leer un so-neto de Lope de Vega o un parlamento de Pedro Pá-ramo con aquel acento y aquella dicción de fronteraque se adhirieron para siempre a mis oídos. Y que, por la mera oralidad que aún no me aban-dona, pasaron a mi escritura narrativa. El resultadofue una serie de cuentos redactados luego de mi re-greso a Montevideo (el inicial se publicó en el diarioEl Popular), y la primera novela empezada en esaciudad, 1974, y terminada y publicada en México,en 1982, ya en el exilio. Luego vinieron otros textos,escritos aquí y allá, al ritmo de viajes y nuevas resi-

Saúl Ibargoyen

dencias, hasta agrupar una saga de cinco novelas yun volumen de cuentos de 400 páginas, a más dealgunos relatos sueltos. Mi primer volumen de cuen-tos Fronteras de Joaquim Coluna fue finalista en elPremio Casa de las Américas, La Habana, 1973.Tres de esos relatos fueron traducidos al francés, alpolaco y al croata. Sin embargo, un hecho que transformó mi noci-ón de escritura (nuevo uso del significante, nuevaelaboración y percepción del significado) y aun deciudadano de muchas banderas, resultó sin duda deque al abrirme al portuñol, me abrí luego a las mara-villas lingüísticas del español de América, en vivo yen directo. Nicaragüismos, cubanismos, colombia-nismos, chilenismos, mexicanismos, guanaquismos,chapinismos, paraguayismos, chicanismos, etcétera,se abrazaron al portuñol, tal vez para siempre… Este trabajo así históricamente acumulado, re-presentó un cuestionamiento del propio idioma ma-terno, del desarrollo histórico y cultural del país y dela propia ubicación en una realidad asombrosamentecambiante, aunque no menos injusta y desgarrado-ra. Realidad que para mí confirman aquellas fron-teras respiradas junto con tantas personas y perso-najes, y que se han identificado a su vez con lasincontables fronteras culturales que, a partir sobretodo de México y Cuba, me enseñaron a percibir elcosmos latinoamericano como una multiplicada ycolorida bandera que nuestros pueblos tejen día condía. Espero que las esquivas musas me permitanagregar algo más de mi trabajo literario fronterizo aeste insoslayable esfuerzo incluyente, colectivo y li-berador.

(Texto leído en la Biblioteca Nacional, Montevideo, con ocasión derecibir el autor su nombramiento como miembro de la Academia Naci-onal de Letras de Uruguay, el 17 de diciembre de 2008. Se publica convarios cambios posteriores a su lectura, resumidos para esta publica-ción, que no alteran el sentido de la propuesta.)

Una multiplicada y colorida banderaque nuestros pueblos tejen dia con dia!

Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010 6Marco Zero

Observando o tumultuado mundo de hoje, os inú-meros exemplos em nosso viver, fico impressiona-do como o ser humano é imperfeito. Uma dessasimperfeições é o EGOÍSMO, que em menor oumaior grau, todos possuem, por isso vou me referirespecificamente aos que chegam ao extremo denão sentirem nenhuma consideração pelos outros.A insensibilidade é o resultado desse viver imper-

feito no trato, na palavra, na convivência, anulandotodo tipo de sentimento bondoso. O ato egoísta res-tringe o universo das pessoas, e em grande partediminui a percepção do seu entorno, a preocupa-ção com os outros. Os egoístas se enaltecem, seatribuem mérito alheio ou superestimam sua con-tribuição pessoal. Alegram-se com o fracasso dosoutros e são aproveitadores. O egoísmo torna aspessoas mal educadas, desdenhosas, grosseiras,egocêntricas. Erguem a "espada do poder" e ex-clamam: "eu por mim mesma, eu tenho a força!".Os egoístas privam as pessoas de elogio e reco-

nhecimento quando passam por elas e não as no-tam. Em alguns casos, é a riqueza ou a posiçãosocial que os fazem agir dessa maneira. Concordoque é importante ter dinheiro para suprir nossasnecessidades, mas, além disso, o dinheiro tem pou-co a ver com a verdadeira felicidade. Geralmenteo trabalho e o sacrifício por um propósito digno dãomaior satisfação.O comportamento egoísta leva às piores situações,

como agir grosseiramente, falar asperamente, ti-rando a pessoa de seu caminho. Leva-a ao pontode não sentir afeto, humildade, misericórdia, since-ridade. Os egoístas usam as pessoas, mas não asamam.São como as águas do mar Morto, estagnadas,

adormecidas, salgadas, inúteis e que matam. Cons-troem uma vida amarga, chamando para si a infeli-cidade.Porém, para tudo existe um remédio, um antídoto.

Neste caso, são os atributos da humildade e do al-truísmo: amor ao próximo, filantropia.A humildade é mansidão, conhecimento perfeito

do que realmente somos, de como podemos ajudarao próximo, sem fantasiar qualidades que não te-mos. É posição do espírito, virtude, saber o que sepode, sem precisar manifestar para os outros.O altruísta é o que se oferece com generosidade

sem esperar recompensa. O que sabe partilhar abreas portas à felicidade. Há um provérbio que diz: "...sábio é aquele que é humilde; tolo é o soberbo".Concluo: queixo levantado e olhar altivo destroem

os mais nobres sentimentos do ser humano, poiscada um recebe o que dá. Os generosos que amamao próximo, com esse espírito vivem e fazem viver.Somos como "pedra bruta", devemos talhar e mol-dar nossas arestas para alcançar a perfeição. Comobarro na mão do oleiro, que o transforma num belovaso.

Victor Hugo VargasCadeira nº 30

Jorge Luis Borges,

certa vez teria afirmado

que uma forma de felicidade

é a leitura.

José Mindlin,

disse em uma ocasião

que num mundo onde

o livro deixasse de existir

ele não gostaria de viver.

Ambos tinham convicção

de que uma das metáforas

possíveis para a Eternidade,

é uma biblioteca sem fim.

O egoísmo

Do livro “Novas Especulações Sobre A Criação & Os Golens”, a serpublicado em breve.

José Ronaldo Viega AlvesCadeira n°21

DA

S M

ET

ÁF

OR

AS

Marco Zero7 Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010

nós

entre

Patrimônio Cultural é o conjunto de bensculturais, materiais e imateriais que possu-em valor histórico, artístico, científico ou as-sociativo e que definem, em diferentes es-calas, a identidade de uma comunidade, umEstado ou uma Nação e que devem ser pre-servados como legado às futuras gerações.

De acordo com o Instituto do PatrimônioHistórico e Artístico Nacional - IPHAN, oPatrimônio Cultural é classificado em cate-gorias:

Patrimônio Natural, Patrimônio Edifica-do, Patrimônio Urbanístico.

Patrimônio Imaterial ou Intangível: ma-nifestações de natureza imaterial que cons-tituem importantes referências culturais e serelacionam à identidade, à maneira e à açãodos grupos sociais.

Patrimônio Documental: formado pelosdocumentos que constituem o acervo histó-rico e fontes de comprovação de fatos his-tóricos e memoráveis.

Dos bens culturais produzidos pela huma-nidade, a arquitetura é um dos que mais sedestaca na formação da memória histórica,na identidade de uma sociedade, estando im-pregnada de sentimentos de acontecimen-tos novos e antigos, sendo que sua históriapoderá, às vezes, transformá-la em monu-mento.Patrimônio cultural é toda criação huma-

na, carregada dos valores e sentidos própri-os de cada sociedade. Os prédios, como for-mas de comunicação não verbal, possibili-tam a leitura de parte da história de umasociedade. Ainda hoje, percebe-se a aliena-ção da maioria da população em relação aopatrimônio histórico.Segundo Funari, a política de patrimônio

preservou a casa grande, as igrejas barro-cas, os fortes militares, as câmaras e cadei-as como referências para a construção de

Cecília Siqueira AmaralCadeira nº27

nossa identidade histórica e cultural, relegandoao esquecimento as senzalas, as favelas, osbairros operários. Para Byrne, é comum queos grupos dominantes usem seu poder parapromover seu próprio patrimônio, ao forjaruma identidade nacional à sua própria ima-gem, fazendo com que o povo não se interes-se com a proteção cultural, vendo-a como umproblema que não é seu.Os velhos prédios, as praças, além da pre-

sença da história, dão um sentimento de se-gurança e afetividade familiar e também asensação de estarmos ligados a gerações pas-sadas.José Isola Filho contava que seu pai, enge-

nheiro auxiliar do Dr. César Tettamanzi naPrefeitura Municipal, idealizou a Praça Ge-neral Flores da Cunha, popularmente conhe-cida como Praça dos Cachorros, inspirado no"rosedal" de Palermo- Argentina.Tendo estudado engenharia na Faculdade de

La Plata, com frequência ia a Buenos Aires,onde se abastecia de livros e material para aPrefeitura, adquiridos com seus próprios re-cursos.Apaixonado por Márgara, sua esposa, pro-

meteu-lhe construir um "rosedal" para que osturistas pudessem dizer: "Que lugar lindo!".De seu amor por Márgara e pela sua cida-

de, surgiu a praça. As "roseritas" - balaioscom rosas, vieram de Buenos Aires junto comos cachorros que passaram a emoldurar o lu-gar.Lugar construído como prova de amor para

sua amada: palmeiras, um jardim, um cara-manchão coberto de rosas, uma pequena fon-te de água, bancos que acolhiam os casaisenamorados e os turistas que por ali passa-vam.Hoje, um patrimônio relegado, carregado de

história e sentimentos que, acredito, voltaráa acolher os enamorados, a orgulhar os san-tanenses e a encantar os visitantes.

PATR

IMÔ

NIO

CU

LTU

RA

L

“Hoje, um patrimônio relegado, carregadode história e sentimentos que, acredito,

voltará a acolher os enamorados, a orgulharos santanenses e a encantar os visitantes.”

Praça dos Cachorros