Marco Zero - Moda

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Classe e leveza: modelos vestindo R. Rosner aguardam sua hora de desfilar na passarela da Bienal. A delicadeza das peças recebeu elogios estilo Uma estreia com brilho na SPFW Os bastidores do primeiro (e aclamado) desfile de Rodrigo Rosner na São Paulo Fashion Week, o principal evento da moda da América Latina Por andrezza czech Foto rodrigo schmidt hegava a hora do desfile, mas os vestidos longos estavam curtos, os curtos estavam longos e a todos faltavam bordados. Rodrigo Rosner con- sertava as roupas, mas elas logo reapareciam com proble- mas. Em pânico, o estilista acordou do pesadelo. Olhou no relógio e respirou aliviado. Faltava menos de uma semana para sua estreia no São Paulo Fashion Week (SPFW), prin- cipal evento da moda da América Latina. A pressão era tão grande para o único novo nome da temporada outono-in- verno de 2012 que ele até sonhava com o pior. Na tarde de 20 de janeiro, dia do desfile, Rosner circu- lava pelos bastidores da sala dois do Pavilhão da Bienal sem demonstrar o cansaço de quem havia trabalhado até 1h e às 5h30 já estava de pé no seu ateliê, em Higienópolis. O paulistano, de 33 anos, também estava mais calmo do que C 28 época SãoPaulo fevereiro de 2012 046mzModa.indd 28 23/1/2012 18:56:35

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Estreia Rodrigo Rosner SPFW

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Classee leveza:modelosvestindoR.RosneraguardamsuahoradedesfilarnapassareladaBienal.Adelicadezadaspeças recebeuelogios

personagemestilo

Uma estreiacom brilhona SPFWOsbastidoresdoprimeiro (e aclamado)desfiledeRodrigoRosnernaSãoPauloFashionWeek,oprincipal eventodamodadaAméricaLatina

Por andrezzaczechFotorodrigoschmidt

hegavaahoradodesfile,mas os vestidoslongos estavam curtos,os curtos estavam longos ea todos faltavam bordados. Rodrigo Rosner con-

sertava as roupas, mas elas logo reapareciam com proble-mas. Em pânico, o estilista acordou do pesadelo. Olhou norelógio e respirou aliviado. Faltava menos de uma semanapara sua estreia no São Paulo Fashion Week (SPFW), prin-cipal evento da moda da América Latina. A pressão era tãogrande para o único novo nome da temporada outono-in-verno de 2012 que ele até sonhava com o pior.

Na tarde de 20 de janeiro, dia do desfile, Rosner circu-lava pelos bastidores da sala dois do Pavilhão da Bienalsem demonstrar o cansaço de quem havia trabalhado até1h e às 5h30 já estava de pé no seu ateliê, em Higienópolis.O paulistano,de 33 anos, também estava mais calmo do que

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“Moda festa jáécafonao suficiente. Queromostrar queépossíveltrazê-laparaumpatamarcontemporâneoemenosóbvio”, dizRosner

em seus sonhos, diante das modelos já maquiadas,posicionadas e com as roupas devidamente em or-dem. Às 16h, a top Daiane Conterato abriu a passa-rela com um longo repleto de bordados em cristaistchecos e um grande decote nas costas. Foi o prefe-rido de Costanza Pascolato,uma das maiores autori-dades em estilo do país. “Há uma delicadeza no seutrabalho”,diz Costanza.“Lembra as roupas do séculoXIX, mas trazidas para hoje. Foi um bom início.”

As famílias Pascolato e Rosner se conhecem hádécadas. Gabriella, mãe de Costanza, era amiga doavô de Rosner, dono da fábrica de roupas AtelierParisiense. Ela levava o estilista ainda adolescentea desfiles. Na infância, ele desenhou as primeirasroupas, mas queria ser arquiteto. Por pressão dospais, fez administração. Começou no escritório dafábrica em 1995, mas logo se infiltrou na área de es-tilo. Deu tanto palpite que duas estilistas pediramas contas. “Eu me achava a reencarnação do Dior”,diz.“Não entendia nada e queria tudo do meu jeito.”O pai disse para não se meter ou assumir a coleção.Já como estilista do Atelier, fez cursos de moda naCentral Saint Martin School,em Londres. O destinofaria com que fosse obrigado a cuidar também dolado administrativo, depois da morte do pai. Infeliz,fechou a empresa em 2005. Dois anos depois,nasciaa R. Rosner, de roupas de festa. “O segmento já é ca-fona o suficiente”,diz o estilista.“Quero trazê-lo paraum patamar contemporâneo e menos óbvio.”

Por quatro anos,Rosner integrou a Casa dos Cria-dores, evento semestral que revela novos designers.Mas, para ser avaliado, teve de insistir muito comAndré Hidalgo, idealizador do projeto. “Ele come-çou a chamar atenção pela nova proposta”, diz Hi-dalgo.“Moda festa não precisa ser exagerada. Rosnermostra que pode ser ‘cool’.”O convite para a FashionWeek partiu mais uma vez da iniciativa do própriojovem designer. Foi ele quem mandou seu materialpara a Luminosidade,empresa à frente da semana de

moda. Na metade de dezembro, foi chamado. “Ele tem os fun-damentos dos estilistas da FashionWeek: inovação,criação,dis-tribuição e qualidade”, afirma Paulo Borges, diretor da SPFW.

A ousadia de Rosner ficou clara no primeiro desfile. O esti-lista chamou atenção com a sobreposição de tecidos, o volu-me das mangas e os brilhos dos cristais tchecos, é claro. “Meutrabalho é exuberante,mas sofisticado”,diz.“Não é uma belezaóbvia.” Essa autoconfiança não resistiu à estreia. Pouco antesdo início, a calma já havia dado lugar à busca frenética por im-perfeições. Rosner acompanhou o entra e sai da passarela orabatendo palmas discretas ora roendo as unhas. Ao fim, depoisde agradecer ao público, ele voltou aos camarins para receberos parabéns de parentes e amigos. Estava visivelmente emo-cionado. “Agora só quero dormir”, disse. E o melhor: sem pe-sadelo e com a tranquilidade da missão cumprida.

Final feliz: Rosneragradeceaopúbliconoencerramentododesfile

foto: 1 Ze Takahashi/divulgação

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