Lusiadas e Mensagem

download Lusiadas e Mensagem

If you can't read please download the document

Transcript of Lusiadas e Mensagem

Introduo

Este trabalho consiste numa comparao parcial entre Os Lusadas, de Lus Vaz de Cames, e A Mensagem, de Fernando Pessoa. Pretendemos mostrar a estrutura de cada obra e encontrar a Histria de Portugal, bem como os Descobrimentos dos Valentes Lusitanos, em cada verso e palavra que os estes grandes autores escreveram, exprimiram, pensaram e sentiram, sobre o excepcional povo que o povo Portugus. Existem semelhanas entre A Mensagem e Os Lusadas. simples dizer que so ambas semelhantes em inteno, como obras de glorificao nacional, mas essa simplicidade camufla uma complexidade enorme. Antnio Quadros, um estudioso de Pessoa, diz que A Mensagem um poema nacional, uma verso moderna, espiritualista e proftica dos Lusadas. Ser realmente? Esperamos responder a essa pergunta, com este trabalho.

Estrutura das obras

Os Lusadas Os Lusadas uma obra escrita por Lus Vaz de Cames, que est dividida em dez Cantos, cada estrofe tem oito versos e cada verso tem dez slabas mtricas, tendo, assim, versos decasslabos. Esta grande epopeia, internamente est dividida em cinco partes: Proposio (I, 1-3), Invocao (I, 4-5), Dedicatria (I, 6-18), Narrao (I, 19; X, 144) e Eplogo (X, 145-156). Os Lusadas, podemos encontrar quatro planos de aco: o plano da viagem, o plano da mitologia, o plano da histria de Portugal e o plano das consideraes do poeta. Em relao ao plano da viagem, a aco central a viagem de Vasco da Gama, As armas e os Bares assinalados/ Que da Ocidental praia Lusitana/ Por mares nunca de antes navegados/ Passaram ainda alm da Taprobana,/ Em perigos e guerras esforados/ Mais do que prometia a fora humana,/ E entre gente remota edificaram/ Novo Reino, que tanto sublimaram;(I,1). Escrevendo mais de meio sculo depois, Lus de Cames tinha j o distanciamento suficiente para perceber a importncia histrica desse acontecimento, devido s alteraes que provocou, tanto em Portugal, como na Europa. Por essa razo considerou a primeira viagem martima ndia como o episdio mais significativo da histria de Portugal.

No entanto, tratava-se de um acontecimento relativamente recente e historicamente documentado. Para manter a ferocidade, o poeta estava obrigado a fazer um relato relativamente objectivo e potencialmente montono, o que constitua um perigo fatal para o seu projecto pico. Da que Cames tenha sentido a necessidade de introduzir um segundo nvel narrativo. No plano mitolgico (conflito entre os deuses pagos), Cames imaginou um conflito entre os deuses pagos: Baco ope-se chegada dos portugueses ndia, pois receia que o seu prestgio seja colocado em segundo plano pela glria dos portugueses, enquanto Vnus, apoiada por Marte, os protege, Quando os Deuses no Olimpo luminoso,/ Onde o governo est da humana gente,/ Se ajuntam em conslio glorioso,/ Sobre as cousas futuras do Oriente.(I,20), O padre Baco ali no consentia/ No que Jpiter disse, conhecendo/ Que esquecero seus feitos no Oriente/ Se l passar a Lusitana gente.(I.30), Os fortes Portugueses que navegam./ Sustentava contra ele Vnus bela,/ Afeioada gente Lusitana/ Por quantas qualidades via nela/ Da antiga, to amada, sua Romana; / Nos fortes coraes, na grande estrela/ Que mostraram na terra Tingitana, / E na lngua, na qual quando imagina,(I,32-33), Mas Marte, que da Deusa sustentava/ Entre todos as partes em porfia, / Ou porque o amor antigo o obrigava, / Ou porque a gente forte o merecia,(I,36). No plano da histria de Portugal, o objectivo de Cames era enaltecer o povo portugus e no apenas um, ou alguns, dos seus representantes mais ilustres. No podia por isso limitar a matria pica viagem de Vasco da Gama. Tinha que introduzir na narrativa todas aquelas figuras e acontecimentos que, no seu conjunto, afirmavam o valor dos portugueses ao longo dos tempos. E f-lo, recorrendo a duas narrativas secundrias, inseridas na narrativa da viagem, cujo narrador o poeta. E para isso f-lo de trs maneiras, primeiro a narrativa de Vasco da Gama ao rei de Melinde, ao chegar a este porto indiano, o rei recebe-o e procura saber quem ele e donde vem. Para lhe responder, Vasco da Gama localiza o reino de Portugal na Europa e conta-lhe a Histria de Portugal at ao reinado de D. Manuel, E tambm as memrias gloriosas/ Daqueles Reis que foram dilatando/ A F, o Imprio, e as terras viciosas/ De frica e de sia andaram devastando,/ E aqueles que por obras valerosas/ Se vo da lei da Morte libertando,/ Cantando espalharei por toda parte,/ Se a tanto me ajudar o engenho e arte.(I,2). Ao chegar a este ponto, conta inclusivamente a sua prpria viagem desde a sada de Lisboa at chegarem ao Oceano ndico, visto que a narrativa principal iniciara-se "in media res", isto quando a armada j se encontrava em frente s costas de Moambique, J no largo Oceano navegavam,(I,19). Em segundo, a narrativa de Paulo da Gama ao Catual. Em Calecut, uma personalidade hindu (Catual) visita o navio de Paulo da Gama,

O Gama e o Catual iam falando (VII,46), que se encontra enfeitado com bandeiras alusivas a figuras histricas portuguesas. O visitante pergunta-lhe o significado daquelas bandeiras, o que d a Paulo da Gama o pretexto para narrar vrios episdios da Histria de Portugal. E por ultimo, as profecias Os acontecimentos posteriores viagem de Vasco da Gama no podiam ser introduzidos na narrativa como factos histricos. Para isso, Cames recorreu a profecias colocadas na boca de Jpiter, Adamastor e Thtis, principalmente. Para finalizar, temos o quarto plano, o plano das consideraes do poeta, normalmente em final de canto, a narrao interrompida para o poeta apresentar reflexes de carcter pessoal sobre assuntos diversos, a propsito dos factos narrados, So os deuses, so as gotas,/ a nuvem a chorar / passos perdidos das rotas / que s eu sei encontrar.. Em suma, podemos dizer que os Lusadas pretendem enaltecer os feitos do povo portugus, e para isso, Lus de Cames escreveu esta obra onde relata toda a Histria de Portugal, com principal destaque, a Viagem de Vasco da Gama a ndia, que ocorreu mais de meio sculo primeiramente ao autor escrever esta obra. Assim com esta obra Lus Vaz de Cames conseguiu engrandecer os feitos hericos dos portugueses.

A Mensagem A Mensagem uma obra composta por trs partes, Braso, Mar Portugus e Encoberto, cada uma destas partes subdivididas em noutras: Braso 5 partes; Mar Portugus 1 parte com 12 poemas e o Encoberto 3 partes. Esta diviso tem um simbolismo e tem como base o facto das profecias se realizarem trs vezes, ainda que de modo diferente e em tempos distintos. Corresponde evoluo do imprio portugus que tal como o ciclo da vida, passa por trs fases: Braso nascimento/fundadores; Mar Portugus vida/realizao e O Encoberto morte/ressurreio. Na primeira parte, o Braso: o princpio da nacionalidade em que fundadores e antepassados criaram a ptria. Em o Ulisses, o smbolo da renovao dos mitos: Ulisses de facto no existiu mas bastou a sua lenda para nos inspirar. A lenda, ao penetrar na realidade, faz o milagre de tornar a vida mundana insignificante. irrelevante que as figuras de quem o poeta se vai ocupar tenham tido ou no existncia histrica, Sem existir nos bastou/Por no ter vindo foi vindo/E nos criou.. O que importa o que elas representam. Da serem figuras incorpreas, que servem para ilustrar o ideal de ser portugus. Em D. Dinis, smbolo da importncia da poesia na construo do Mundo. Pessoa v D. Dinis como o rei capaz de antever o futuro e interpreta isso atravs das suas aces. Ele plantou o pinhal de Leiria, de onde foi retirada a madeira para as caravelas, e falou da voz da terra ansiando pelo mar, ou

seja, do desejo de que a aventura ultrapasse a mediocridade. Em D. Sebastio, rei de Portugal, smbolo da loucura audaciosa e aventureira, Sem a loucura que o homem/ Mais que a besta sadia,/ Cadver adiado que procria?. Ora, D. Sebastio, apesar de ter falhado o empreendimento pico, foi em frente, e morreu por uma ideia de grandeza, e essa a ideia que deve persistir, mesmo aps sua morte, Ficou meu ser que houve, no o que h./Minha loucura, outros que a tomem/Com o que nela ia.. Na segunda parte, o Mar Portugus a realizao atravs do mar em que heris com uma grande misso de descobrir foram construtores do grande destino da Nao. Em O Infante, smbolo do Homem universal, que realiza o sonho por vontade divina: ele rene todas as qualidades, virtudes e valores para ser o intermedirio entre os homens e Deus, Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.. Em Mar Portugus, smbolo do sofrimento por que passaram todos os portugueses: a construo de uma supra-nao, de uma Nao mtica implica o sacrifcio do povo, mar salgado, quanto do teu sal/So lgrimas de Portugal!. Em O Mostrengo, smbolo dos obstculos, dos perigos e dos medos que os portugueses tiveram que enfrentar para realizar o seu sonho: revoltado por algum usurpar os seus domnios, O Mostrengo uma alegoria do medo, que tenta impedir os portugueses de completarem o seu destino, Quem que ousou entrar/Nas minhas cavernas que no desvendo, /Meus tectos negros do fim do mundo?. Na terceira parte, O Encoberto, a morte ou fim das energias latentes o novo ciclo que se anuncia que trar a regenerao e instaurar um novo tempo. Em O Quinto Imprio, smbolo da inquietao necessria ao progresso, assim como o sonho: no se pode ficar sentado espera que as coisas aconteam; h que ser ousado, curioso, corajoso e aventureiro; h que estar inquieto e descontente com o que se tem e o que se , Triste de quem vive em casa/Contente com o seu lar/Sem um sonho, no erguer da asa.../Triste de quem feliz!. O Quinto Imprio de Pessoa a mstica certeza do vir a ser pela lio do ter sido, o Portugal-esprito, vivente de cultura e esperana, tanto mais forte quanto a hora da decadncia a estimula. Em Nevoeiro, smbolo da nossa confuso, do estado catico em que nos encontramos, tanto espiritual e emocional como mentalmente: algo ficou consubstanciado, pois temos o desejo de voltarmos a ser o que ramos, (Que nsia distante perto chora?), mas no temos os meios, Nem rei nem lei, nem paz nem guerra.... Com a Mensagem, Fernando Pessoa pretende dar a conhecer aos portugueses os feitos dos seus antepassados e a conquista do Quinto imprio.

A Histria Os Lusadas A narrao d' Os Lusadas desenvolve-se em quatro planos, um dele o Plano da Histria de Portugal, constitudo pelos discurso de Vasco da Gama a Rei de Melinde, e de Paulo da Gama a Catual, bem como, pelas profecias de Jpiter, do Adamastor e de Thtis. No Primeiro Canto, no Conclio dos Deuses (I, 19 a 46), Jpiter afirma, acerca dos Lusos, que eles so antecedentes aos prprios deuses e melhores que os grandes heris do passado histrico conhecido, porque filhos do Fado e do Destino, a que a mitologia est submetida, Eternos moradores do luzente,/Estelfero plo e claro assento,/Se do grande valor da forte gente/De Luso no perdeis o pensamento/Deveis de ter sabido claramente/Como dos Fados grandes certos intento/Que por ela se esqueam os humanos/De Assrios, Persas, Gregos e Romanos. (I, 24). Vasco da Gama o narrador dos Cantos III, IV e V. No Canto III, aps a invocao de Cames a Calope, Agora tu, Calope, me ensina/O que contou ao rei o ilustre Gama;(III,1), Vasco da Gama comea a sua narrativa da Histria de Portugal ao Rei de Melinde. Comea pela situao de Portugal na Espanha e pela Lendria histria de Luso a Viriato (chefe da resistncia dos lusitanos por ocasio da conquista romana da Espanha), Esta foi Lusitnia, derivada/De Luso ou Lisa(III,21), Desta o Pastor nasceu, que no seu nome/Se v que de homem forte os feitos teve,/Cuja fama ningum vir que dome,/Pois a grande de Roma no se atreve(III,22). Segue-se a formao da nacionalidade, histria de D. Henrique que se tornou conde de Portugal em 1095 pelo casamento com a princesa de Leo, Quis o rei castelhano que casado/Com Teresa, sua filha, o conde fosse;/E com ela das terras tomou posse.(III,25), e enumerao dos grandes feitos guerreiros dos Reis da 1Dinastia: D. Afonso Henriques, notvel por suas conquistas, Um rei, por nome Afonso, foi na Espanha/muitos fez perder a vida e a terra(III,23), Quis o famoso Afonso que obras tais/Levassem prmio digno e dons iguais(III,24), onde se destaca tambm episdios de Egas Moniz e da Batalha de Ourique; D. Sancho I; D. Afonso II; D. Sancho II; D. Afonso III; D. Dinis, o Rei humanista, trovador, lavrador, criador da Universidade, plantou pinhal de Leiria, Eis de pois vem Dinis/...Com este o Reino prspero florece(III,96) Fez primeiro Coimbra exercitar-se(III,97), Nobres vilas de novo edificou/ Fortalezas, castelos mui seguros(III,98); D. Afonso IV, onde se destaca episdio da Formosa Maria, No de outra sorte a tmida Maria/Falando est(III,106), e de Ins de Castro, Tu, s tu, puro amor, com fora crua,/Que os coraes humanos tanto obriga(III,119), Estavas, linda Ins, posta em sossego/De teus anos colhendo o doce fruto,/Daquele engano da alma, ledo e cego;(III,120); D. Pedro I, o cruel, o justiceiro, Tirar

Ins ao mundo determina(III,123), No correu muito tempo que a vingana,/No visse Pedro das mortais feridas,/Que, em tomando do Reino a governana,/A tomou dos fugidos homicidas;/Do outro Pedro crussimo os alcana(III,136); D. Fernando, Do justo e duro Pedro nasce o brando Fernando/Que todo o Reino ps em muito aperto. No Canto IV a narrativa de Vasco da Gama prossegue, agora com a Revoluo de 1383-85 (Batalha de Aljubarrota e Nuno lvares Pereira, Mas nunca foi que este erro se sentisse/No forte Dom Nuno lvares(IV,14), Comea-se a travar a incerta guerra:/De ambas as partes se move a primeira ala;/Uns leva a defenso da prpria terra,/Outros a esperana de ganh-la./Logo o grande Pereira, em quem se encerra/Todo o valor, primeiro se assinala:/Derriba e encontra, e a terra, enfim, semeia/Dos que a tanto desejam, sendo alheia.(IV,30)) e a 2Dinastia: D. Joo I, Fundador da dinastia de Avis e vencedor de Aljubarrota, Portugal, Portugal, (alando a mo,/Disse) pelo Rei novo, Dom Joo!(IV,3), D. Duarte; D. Afonso V; D. Joo II e, para finalizar, o reinado de D. Manuel I, reinado em que a Armada de Vasco da Gama parte para a ndia, sob o olhar e palavras profeticamente pessimistas do Velho do Restelo na praia lusitana, Mas um velho, de aspeito venerando/Que ficava nas praias, entre a gente,/Postos em ns os olhos, meneando/Trs vezes a cabea, descontente,/A voz pesada um pouco alevantando,/Que ns no mar ouvimos claramente/Cum saber s de experincias feito,/Tais palavras tirou do experto peito:/ "- glria de mandar, v cobia/Desta vaidade, a quem chamamos Fama!/ fraudulento gosto, que se atia/Ca aura popular, que honra se chama!/Que castigo tamanho e que justia/Fazes no peito vo que muito te ama!/Que mortes, que perigos, que/tormentas,/Que crueldades neles experimentas!(IV,94 e 95). No Canto V, Vasco da Gama prossegue a sua narrativa contando ao rei de Melinde a grande, perigosssima e gloriosa aventura martima em que eles, lusos, se encontram em busca da ndia, a fria de um monstro, no episdio do Gigante Adamastor e as mortes provocadas pelo escorbuto, J a vista, pouco e pouco, se desterra/Daqueles ptrios montes, que ficavam;/Ficava o caro Tejo e a fresca serra/De Sintra, e nela os olhos se alongavam;/Ficava-nos tambm na amada terra/O corao, que as mgoas l deixavam;/E, j despois que toda se escondeu, /No vimos mais, enfim, que mar e cu./Assi fomos abrindo aqueles mares,/Que gerao alga no abriu,/As novas Ilhas vendo e os novos ares.(V, 3 e 4), No acabava, quando a figura/Se nos mostra no ar, robusta e vlida,/De disforme e grandssima estatura;/O rosto carregado, a barba esqulida,/Os olhos encovados, e a postura/Medonha e m e a cor terrena e plida;//Que pareceu sair do mar profundo./Arrepiamse as carnes e o cabelo,/A mi e a todos, s de ouvi-lo e v-lo!/E disse: - gente ousada, mais que quantas/No mundo cometeram grandes cousas,/Tu,

que por guerras cruas, tais e tantas,/E por trabalhos vos nunca repousas,/Pois os vedados trminos quebrantas/E navegar meus longos mares ousas,/Que eu tanto tempo h j que guardo e tenho,(V, 39 a 41). No Canto VII e VIII, quando portugueses chegam a Calecut, so recebidos calorosamente pelo Catual, que visita a Armada e impressionado com as bandeiras das naus, pede a Paulo da Gama que lhe explique o significado das figuras das bandeiras portuguesas, ao qual, Paulo da Gama refere com alguns episdios da Histria portuguesa, Na primeira figura se detinha/O Catual que vira estar pintada,/Que por divisa um ramo na mo tinha,/A barba branca, longa e penteada:/"Quem era, e por que causa lhe convinha/A divisa, que tem na mo tomada?"/Paulo responde, cuja voz discreta/O Mauritano sbio lhe interpreta. "Estas figuras todas que aparecem,/Bravos em vista e feros nos aspectos/,Mais bravos e mais feros se conhecem,/Pela fama, nas obras e nos feitos:/Antigos so, mas ainda resplandecem/Colo nome, entre os engenhos mais perfeitos./Este que vs Luso, donde a fama/O nosso Reino Lusitnia chama. (VIII, 1 e 2), Ulisses o que faz a santa casa/ deusa que lhe d lngua fecunda,/Que, se l na sia Tria insigne abrasa,/C na Europa Lisboa ingente funda (VII, 5). No Canto X, o poeta termina, lamentando-se pelo seu destino desafortunado de poeta incompreendido por aqueles a quem canta, Vo os anos descendo, e j do Estio/H pouco que passar at o Outono;/A Fortuna me faz o engenho frio,/Do qual j no me jacto nem me abono;/Os desgostos me vo levando ao rio /Do negro esquecimento e eterno sono./Mas tu me d que cumpra, gro rainha/Das Musas, co que quero nao minha!(X,9), Mas eu que falo, humilde, baxo e rudo,/De vs no conhecido nem sonhado?/Da boca dos pequenos sei, contudo,/Que o louvor sai s vezes acabado./Tem me falta na vida honesto estudo,/Com longa experincia misturado,/Nem engenho, que aqui vereis presente,/Cousas que juntas se acham raramente.(X,154), referindo episdios da nossa Histria Lusa, como os de Duarte Pacheco e Ulisses, Isto fazem os Reis quando embebidos/Na aparncia branda que os contenta/Do os prmios, de Aiace merecidos/ lngua v de Ulisses, fraudulenta./Mas vingo-me: que os bens mal repartidos/Por quem s doces sombras apresenta,/Se no os do a sbios cavaleiros,/Do-os logo a avarentos lisonjeiros. (X,24), D. Manuel, Mas tu, de quem ficou to mal pagado/Um tal vassalo, Rei, s nisto inico/Se no s pera dar-lhe honroso estado,/ ele pera dar-te um Reino rico./Enquanto for o mundo rodeado/Dos Apolneos raios, eu te fico/Que ele seja entre a gente ilustre e claro,/E tu nisto culpado por avaro. (X,25),, Ulisses e a morte de Vasco da Gama, Mas aquela fatal necessidade/De quem ningum se exime dos humanos,/Ilustrado co a Rgia dignidade,/Te tirar do mundo e seus enganos./Outro Meneses logo, cuja idade/ maior na prudncia que nos anos,/Governar; e far o ditoso Henrique/Que perptua memria dele fique. (X,54), e incitando o Rei

D. Sebastio a continuar o Braso e a glria dos Portugueses, E no sei por que influxo de Destino/No tem um ledo orgulho e geral gosto,/Que os nimos levanta de contino/A ter pera trabalhos ledo o rosto./Por isso vs, Rei, que por divino/Conselho estais no rgio slio posto,/Olhai que sois (e vede as outras gentes)/Senhor s de vassalos excelentes.(X, 56).

A Mensagem Na obra A Mensagem, Fernando Pessoa escreve Histria de um povo portugus herico e um Rei, que apesar de Mito, constitui o Quinto Imprio, o Imprio Espiritual emergente. A primeira parte da obra, designada por BRASO, expe a situao e Localizao de Portugal na Europa na poca dos Descobrimentos (construo do Imprio portugus) A Europa jaz, posta nos cotovelos:/De Oriente a Ocidente jaz, fitando,/E toldam-lhe romnticos cabelos/Olhos gregos, lembrando. /O cotovelo esquerdo recuado;/O direito em ngulo disposto./Aquele diz Itlia onde pousado;/Este diz Inglaterra onde, afastado,/A mo sustenta, em que se apoia o rosto./Fita, com olhar esfngico e fatal,/O Ocidente, futuro do passado./O rosto com que fita Portugal. (Os Castelos Os Campos), h uma comparao entre o mapa fsico da Europa com figura feminina humana, conta a situao de apoio de Inglaterra para com Portugal e, revela a importncia de Portugal, como sendo rosto da Europa smbolo de humanidade, sonho e mistrio. Nesta Parte I, h referncia ao mito de Ulisses, ligado a nossa capital Lisboa, pois apesar de ele ser um mito, tornou-se um smbolo de incentivo para lusitanos. Pessoa foi ao mtico Ulisses pois no o quis apagar, ao contrrio do que fez Cames aos deuses clssicos e s suas lendas; pelo contrrio, apesar de lenda, deu-lhe o nome de fundador de Portugal e da Europa, O mito o nada que tudo./O mesmo sol que abre os cus/ um mito brilhante e mudo/O corpo morto de Deus,/Vivo e desnudo./Este, que aqui aportou,/Foi por no ser existindo./Sem existir nos bastou./Por no ter vindo foi vindo/E nos criou./Assim a lenda se escorre/A entrar na realidade,/E a fecund-la decorre./Em baixo, a vida, metade/De nada, morre. (Ulisses Os Castelos). Tal como em Os Lusadas, Pessoa refere, tambm, a histria do bravo Viriato. No poema de Pessoa, este descreve-o como destro guerreiro, sofrendo na pele e no corao as injrias da Roma famosa, vencedor invencvel no sujeito humilhao que Roma atormentara ao comandante Pirro, o que atacou Roma com um exrcito de elefantes, atravessando os Alpes (nota-se a ironia do termo primor), Se a alma que sente e faz conhece/S porque lembra o que esqueceu,/Vivemos, raa, porque houvesse/Memria em ns do instinto teu./Nao porque reencarnaste,/Povo porque ressuscitou/Ou tu, ou o

de que eras a haste /Assim se Portugal formou. /Teu ser como aquela fria/Luz que precede a madrugada,/E j o ir a haver o dia/Na antemanh, confuso nada. (Viriato Os Castelos). Fernando Pessoa tambm escreve sobre Conde D. Henrique, fala do facto de este se ter visto desorientado perante o enorme problema que era consolidar Condado Portucalense perante os Mouros (e por ter sido o primeiro a principiar os Descobrimentos), bem como de D. Afonso Henriques, como sendo a Fora, o Exemplo e a nossa bno, Todo comeo involuntrio./Deus o agente,/O heri a si assiste, vrio/E inconsciente./ espada em tuas mos achada/Teu olhar desce./Que farei eu com esta espada?(O Conde D. Henrique Os Castelos), Pai, foste cavaleiro./Hoje a viglia nossa./D-nos o exemplo inteiro/E a tua inteira fora!/D, contra a hora em que, errada,/Novos infiis venam,/A bno como espada,/A espada como bno! (D. Afonso Henriques Os Castelos). Em A Mensagem, D. Dinis salientado como O Poeta, O Lavrador, O Rei, O Elogio cultura como sendo o caminho para o to ambicionado Quinto Imprio. O poema D. Dinis um Cantar de Amigo e profetiza a epopeia martima, Na noite escreve um seu Cantar de Amigo/O plantador de naus a haver,/E ouve um silncio mrmuro consigo:/ o rumor dos pinhais que, como um trigo/De Imprio, ondulam sem se poder ver./Arroio, esse cantar, jovem e puro,/Busca o oceano por achar;/E a fala dos pinhais, marulho obscuro,/ o som presente desse mar futuro,/ a voz da terra ansiando pelo mar. (D. Dinis Os Castelos). Em D. Joo, o primeiro, Pessoa mostra que D. Joo e sua esposa D. Filipa de Lencastre foram a origem da gerao de Avis (infantes) e D. Joo foi Mestre sem saber, defensor do Templo sagrado da Ptria e a eterna chama de Portugal, O homem e a hora so um s/Quando Deus faz e a histria feita./O mais carne, cujo p/A terra espreita./Mestre, sem o saber, do Templo/Que Portugal foi feito ser,/Que houveste a glria e deste o exemplo/De o defender, /Teu nome, eleito em sua fama,/, na ara da nossa alma interna,/A que repele, eterna chama,/A sombra eterna. (D. Joo, o primeiro Os Castelos), Que enigma havia em teu seio/Que s gnios concebia?/Que arcanjo teus sonhos veio/Velar, maternos, um dia? /Volve a ns teu rosto srio,/Princesa do Santo Gral,/Humano ventre do Imprio, /Madrinha de Portugal! (D. Filipa de Lencastre Os Castelos). H uma referencia a D. Duarte, O Eloquente, homem de letras, deixou de lado guerra e dedicou-se cultura e cumpriu de corpo e alma o destino da governao, Meu dever fez-me, como Deus ao mundo./A regra de ser Rei almou meu ser,/Em dia e letra escrupuloso e fundo. /Firme em minha tristeza, tal vivi./Cumpri contra o Destino o meu dever./Inutilmente? No, porque o cumpri. (D. Duarte, rei de Portugal As Quinas).

No poema D. Fernando, o infante de Portugal, o tema a honra/dever, desgraa/priso, aceitao do martrio e f, Deu-me Deus o seu gldio porque eu faa/A sua santa guerra./Sagrou-me seu em honra e em desgraa,/s horas em que um frio vento passa/Por sobre a fria terra. /Psme as mos sobre os ombros e doirou-me/A fronte com o olhar;/E esta febre de Alm, que me consome,/E este querer grandeza so seu nome/Dentro em mim a vibrar. /E eu vou, e a luz do gldio erguido d/Em minha face calma./Cheio de Deus, no temo o que vir,/Pois, venha o que vier, nunca ser/Maior do que a minha alma. (D. Fernando, o infante de Portugal As Quinas). Pessoa, nesta primeira parte, fala de D. Sebastio, fazendo um elogio loucura, como sendo esse o nico caminho para o Quinto Imprio. D. Sebastio representa o mito que esperana, que a ambio, que loucura, pois sem loucura/sonho/paixo, no valeria viver,Louco, sim, louco, porque quis grandeza/Qual a Sorte a no d./No coube em mim minha certeza;/Por isso onde o areal est/Ficou meu ser que houve, no o que h./Minha loucura, outros que me a tomem/Com o que nela ia./Sem a loucura que o homem/Mais que a besta sadia,/Cadver adiado que procria? (D. Sebastio, rei de Portugal As Quinas). Ao terminar a Parte I, Pessoa mostra que Portugal tinha uma marca nobre, um Braso, uma Histria, um mito, uma cultura e um sonho, logo, estavam prontos para ir para o Mar Portugus. Na Parte II, MAR PORTUGUS, no poema Ascenso de Vasco da Gama, h um louvor ao povo portugus, nomeadamente a Vasco da Gama, personalidade to distinta na nossa Histria, Os Deuses da tormenta e os gigantes da terra/Suspendem de repente o dio da sua guerra/E pasmam. Pelo vale onde se ascende aos cus/Surge um silncio, e vai, da nvoa ondeando os vus/Primeiro um movimento e depois um assombro/Ladeiam-no, ao durar, os medos, ombro a ombro,/E ao longe o rastro ruge em nuvens e clares./ Em baixo, onde a terra , o pastor gela, e a flauta/Cai-lhe, e em xtase v, luz de mil troves,/O cu abrir o abismo alma do Argonauta. (Ascenso de Vasco da Gama). Nesta segunda parte, o poema mais clebre, o que condensa a (futura) glria dos Lusitanos que marcar para sempre a Histria dos portugueses: ao sangue, as lgrimas das mes e mulheres, o medo, a esperana, o mar salgado e a coragem, aqui no h glria nem derrota, apenas o inicio do caminho doloroso, mar salgado, quanto do teu sal/So lgrimas de Portugal!/Por te cruzarmos, quantas mes choraram,/Quantos filhos em vo rezaram!/Quantas noivas ficaram por casar/Para que fosses nosso, mar!/Valeu a pena? Tudo vale a pena/Se a alma no pequena./Quem quer passar alm do Bojador/Tem que passar alm da dor./Deus ao mar o perigo e

o abismo deu,/Mas nele que espelhou o cu. (Mar Portugus). Na Parte III, O ENCOBERTO, Fernando Pessoa mostra a situao de um Portugal bem diferente do do incio da obra, revela-se uma nao mais imperfeita, em crise poltica, em crise de idade, em crises de valores. O poema Nevoeiro, um cumprimento com dois contedos/sentidos: escurido e noite, esperana e sonho (ligados lenda do regresso de D. Sebastio numa manh de Nevoeiro). O pas est mal, mas h esperana, e esta a Hora! para voltar ao inicio, ao Braso, glria, comeando o Quinto Imprio, Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,/Define com perfil e ser/Este fulgor bao da terra/Que Portugal a entristecer/Brilho sem luz e sem arder,/Como o que o fogo-ftuo encerra./ Ningum sabe que coisa quer./Ningum conhece que alma tem,/Numa o que mal numa o que bem/.(Que nsia distante perto chora?)/Tudo incerto e derradeiro./Tudo disperso, nada inteiro./ Portugal, hoje s nevoeiro... / a hora!/ Valete, Fratres. (Nevoeiro).

Descobrimentos Os Descobrimentos constituram, simultaneamente, uma das causas e consequncias do Renascimento, dada a nsia do Homem de conhecer o mundo e por este proclamar o seu conhecimento. As grandes descobertas martimas obrigaram a novos mtodos de investigao cientfica, fundamentados na observao directa e na experimentao. Os avanos da tcnica, com a construo de embarcaes e o aperfeioamento de instrumentos nuticos permitem ao homem, crer que pode dominar a natureza e o mundo. A descoberta do caminho martimo para a ndia proporcionou o proximidade com outros povos (seus costumes e saberes), faunas e floras, at ento desconhecidos. Portugal, nesta poca, tornou-se um dos pases mais relevantes da Europa, sendo vrios os seus contributos para o crescimento cientfico da humanidade, nomeadamente na botnica / medicina, astronomia; cartografia; matemtica; geografia e antropologia

Os Lusadas Na obra Os Lusadas, relatam-se vrios episdios da Histria de Portugal, a Viagem da Armada de Vasco da Gama, bem como as conquistas deste grande povo, que so relatadas em diversos momentos da obra.

No Canto I h um louvor do prprio poeta ao povo portugus e suas conquistas muito antigas, E tambm as memrias gloriosas/Daqueles Reis, que foram dilatando/A F, o Imprio, e as terras viciosas/De frica e de sia andaram devastando;/E aqueles, que por obras valerosas/Se vo da lei da morte libertando;/Cantando espalharei por toda parte,/Se a tanto me ajudar o engenho e arte.(I,2 imprio Portugus na sia), Cessem do sbio Grego e do Troiano/As navegaes grandes que fizeram;/Cale-se de Alexandro e de Trajano/A fama das vitrias que tiveram;/Que eu canto o peito ilustre Lusitano(I,3), Ouvi, que no vereis com vs faanhas,/Fantsticas, fingidas, mentirosas,/Louvar os vossos, como nas estranhas/Musas, de engrandecer-se desejosas:/As verdadeiras vossas so tamanhas,/Que excedem as sonhadas, fabulosas;/Que excedem Rodamonte, e o vo Rugeiro,/E Orlando, inda que fora verdadeiro,(I,11), "J lhe foi (bem o vistes) concedido/Cum poder to singelo e to pequeno,/Tomar ao Mouro forte e guarnecido/Toda a terra, que rega o Tejo ameno:/Pois contra o Castelhano to temido,/Sempre alcanou favor do Cu sereno./Assim que sempre, enfim, com fama e glria,/Teve os trofus pendentes da vitria.(I,25 Mouros e Castelhanos). Na narrao de Vasco da Gama sobre Histria de Portugal, aparecem algumas conquistas. A conquista de Viriato desta pequena terra que no futuro seria Portugal, Eis aqui, quase cume da cabea/De Europa toda, o Reino Lusitano,/Onde a terra se acaba e o mar comea,/E onde Febo repousa no Oceano./Este quis o Cu justo que floresa/Nas armas contra o torpe Mauritano,/Deitando-o de si fora, e l na ardente/frica estar quieto o no consente.(III,20), Esta a ditosa ptria minha amada,/A qual se o Cu me d que eu sem perigo/Torne, com esta empresa j acabada,/Acabe-se esta luz ali comigo./Esta foi Lusitnia, derivada/De Luso, ou Lisa, que de Baco antigo/Filhos foram, parece, ou companheiros,/E nela ento os ncolas primeiros.(III,21), Desta o pastor nasceu, que no seu nome,/Se v que de homem forte os feitos teve;/Cuja fama ningum vir que dome,/Pois a grande de Roma no se atreve./Esta, o velho que os filhos prprios come/Por decreto do Cu, ligeiro e leve,/Veio a fazer no mundo tanta parte,/Criando-a Reino ilustre; e foi desta arte:(III,22), Assim o Gentio diz. Responde o Gama:/ "Este que vs, pastor j foi de gado;/Viriato sabemos que se chama,/Destro na lana mais que no cajado;/Injuriada tem de Roma a fama,/Vencedor invencvel afamado;/No tem com ele, no, nem ter puderam/O primor que com Pirro j tiveram.(VIII,6 narrao de Paulo Gama a Catual). Ainda no canto III e IV, Gama narra episdios dos nossos Reis da 1 Dinastia, nomeadamente, a conquista de Ceuta, considerada como o incio da expanso portuguesa, incio de Os Descobrimentos, (conquista relativamente fcil, organizada por D. Joo I, em 1415) a aventura ultramarina ganharia grande impulso atravs da aco do Infante D. Henrique, o seu grande impulsionador, "Este, depois que contra os descendentes/Da escrava Agar

vitrias grandes teve,/Ganhando muitas terras adjacentes(III,26), No sofre o peito forte, usado guerra,/No ter amigo j a quem faa dano;/E assim no tendo a quem vencer na terra,/Vai cometer as ondas do Oceano./Este o primeiro Rei que se desterra/Da Ptria, por fazer que o Africano/Conhea, pelas armas, quanto excede/A lei de Cristo lei de Mafamede., Eis mil nadantes aves pelo argento/Da furiosa Tethys inquieta/Abrindo as pandas asas vo ao vento,/Para onde Alcides ps a extrema meta./O monte Abila e o nobre fundamento/De Ceita toma, e o torpe Mahometa/Deita fora, e segura toda Espanha/Da Juliana, m, e desleal manha.(IV, 48 e 49); as batalhas de D. Afonso Henriques contra os Mouros na conquista do territrio Luso, Mas j o Prncipe Afonso aparelhava/O Lusitano exrcito ditoso,/Contra o Mouro que as terras habitava/Dalm do claro Tejo deleitoso;/J no campo de Ourique se assentava/O arraial soberbo e belicoso,/Defronte do inimigo Sarraceno,/Posto que em fora e gente to pequeno.(III,42); a tomada de Lisboa, "E tu, nobre Lisboa, que no Mundo/Facilmente das outras s princesa,/Que edificada foste do facundo,/Por cujo engano foi Dardnia acesa;/Tu, a quem obedece o mar profundo,/Obedeceste fora Portuguesa,/Ajudada tambm da forte armada,/Que das Boreais partes foi mandada,"Cinco vezes a Lua se escondera,/E outras tantas mostrara cheio o rosto,/Quando a cidade entrada se rendera/Ao duro cerco, que lhe estava posto./Foi a batalha to sanguina e fera,/Quanto obrigava o firme pressuposto/De vencedores speros e ousados,/E de vencidos j desesperados. (III, 57 e 59), "Ulisses o que faz a santa casa/A Deusa, que lhe d lngua facunda;/Que, se l na sia Tria insigne abrasa,/C na Europa Lisboa ingente funda."/ "Quem ser estoutro c, que o campo arrasa/De mortos, com presena furibunda?/Grandes batalhas tem desbaratadas,/Que as guias nas bandeiras tem pintadas."(VIII,5 narrao de Paulo Gama Catual); a explorao de frica (Alccer Ceguer, entre Tnger e Ceuta, foi ocupada em 1458; Tnger, cidade no norte de frica, pertencente a Marrocos, em 1471 com a tomada de Arzila, os habitantes de Tnger compreendendo que o objectivo final dos lusos era a tomada da sua cidade, abandonaram-na; Senegal e Cabo Verde, Serra Leoa. Cabo das Palmas. Ilha de So Tom; Congo, Rio Zaire, Equador) Este pde colher as mas de ouro,/Que somente o Tirntio colher pde:/Do jugo que lhe ps, o bravo Mouro/A cerviz inda agora no sacode./Na fronte a palma leva e o verde louro/Das vitrias do Brbaro, que acode/A defender Alccer, forte vila,/Tngere populoso e a dura Arzila.(IV, 55), "Passamos o limite aonde chega/O Sol, que para o Norte os carros guia,/Onde jazem os povos a quem nega/O filho de Climene a cor do dia./Aqui gentes estranhas lava e rega/Do negro Sanag a corrente fria,/Onde o Cabo Arsinrio o nome perde,/Chamando-se dos nossos Cabo Verde.(V,7), Sempre enfim para o Austro a aguda proa/No grandssimo glfo nos metemos,/Deixando a serra asprrima Leoa,/Co'o cabo a quem das Palmas nome demos./O grande rio, onde batendo soa/O mar nas praias notas que ali temos,/Ficou, com a Ilha ilustre que tomou/O nome dum que o lado a Deus tocou.(V,12), "Ali o mui

grande reino est de Congo,/Por ns j convertido f de Cristo,/Por onde o Zaire passa, claro e longo,/Rio pelos antigos nunca visto./Por este largo mar enfim me alongo/Do conhecido plo de Calisto,/Tendo o trmino ardente j passado,/Onde o meio do mundo limitado. (V,13). No episdio das profecias do Velho do Restelo, este repreende os portugueses pela sua ambio e ganncia por conquistas e novas descobertas quando j tm tantas, "No tens junto contigo o Ismaelita,/Com quem sempre ters guerras sobejas?/No segue ele do Arbio a lei maldita,/Se tu pela de Cristo s pelejas?/No tem cidades mil, terra infinita,/Se terras e riqueza mais desejas?/No ele por armas esforado,/Se queres por vitrias ser louvado?, "Deixas criar s portas o inimigo,/Por ires buscar outro de to longe,/Por quem se despovoe o Reino antigo,/Se enfraquea e se v deitando a longe?/Buscas o incerto e incgnito perigo/Por que a fama te exalte e te lisonge,/Chamando-te senhor, com larga cpia,/Da ndia, Prsia, Arbia e de Etipia?, " maldito o primeiro que no mundo/Nas ondas velas ps em seco lenho,/Dino da eterna pena do profundo,/Se justa a justa lei, que sigo e tenho!/Nunca juzo algum alto e profundo,/Nem ctara sonora, ou vivo engenho,/Te d por isso fama nem memria,/Mas contigo se acabe o nome e glria.(IV, 100 a 102). No plano da viagem dos portugueses, Armada de Vasco da Gama passa por terras Lusas e relembra conquistas passadas (Madeira, Ilhas Canrias),"Passamos a grande Ilha da Madeira,/Que do muito arvoredo assim se chama,/Das que ns povoamos, a primeira,/Mais clebre por nome que por fama:/Mas nem por ser do mundo a derradeira/Se lhe aventajam quantas Vnus ama,/Antes, sendo esta sua, se esquecera/De Cipro, Gnido, Pafos e Citera. (V,5). Passadas tendo j as Canrias ilhas,/Que tiveram por nome Fortunadas,/Entramos, navegando, pelas filhas/Do velho Hesprio, Hesprides chamadas;/Terras por onde novas maravilhas/Andaram vendo j nossas armadas./Ali tomamos porto com bom vento,/Por tomarmos da terra mantimento.(V,8). Ainda no Canto V, a to temerosa e ansiosa aventura: o Cabo das Tormentas, que depois de ultrapassado pelos portugueses, tornou-se o Cabo da Boa Esperana (por chegarem ndia), "To temerosa vinha e carregada,/Que ps nos coraes um grande medo;/Bramindo o negro mar, de longe brada/Como se desse em vo nalgum rochedo./ " Potestade, disse, sublimada!/Que ameao divino, ou que segredo/Este clima e este mar nos apresenta,/Que mor cousa parece que tormenta?"(V,38), "E disse: " gente ousada, mais que quantas/No mundo cometeram grandes cousas,/Tu, que por guerras cruas, tais e tantas,/E por trabalhos vos nunca repousas,/Pois os vedados trminos quebrantas,/E navegar meus longos mares ousas,/Que eu tanto tempo h j que guardo e tenho,/Nunca arados d'estranho ou prprio lenho:(V,41). Eu sou aquele oculto e grande Cabo,/A quem chamais vs

outros Tormentrio,/Que nunca a Ptolomeu, Pompnio, Estrabo,/Plnio, e quantos passaram, fui notrio./Aqui toda a Africana costa acabo/Neste meu nunca visto Promontrio,/Que para o Plo Antarctico se estende,/A quem vossa ousadia tanto ofende.(V,50), "Assim contava, e com um medonho choro/Sbito diante os olhos se apartou;/Desfez-se a nuvem negra, e com um sonoro/Bramido muito longe o mar soou./Eu, levantando as mos ao santo coro/Dos anjos, que to longe nos guiou,/A Deus pedi que removesse os duros/Casos, que Adamastor contou futuros.(V,60). No Canto VII, na primeira estrofe, a frota portuguesa chega finalmente a Calecute, to desejada ndia, a 20 de Maio de 1498, estabelecendo assim o Caminho Martimo para a ndia, J se viam chegados junto terra,/Que desejada j de tantos fora,/Que entre as correntes Indicas se encerra,/E o Ganges, que no cu terreno mora./Ora, sus, gente forte, que na guerra/Quereis levar a palma vencedora,/J sois chegados, j tendes diante/A terra de riquezas abundante., "Deus por certo vos traz, porque pretende/Algum servio seu por vs obrado;/Por isso s vos guia, e vos defende/Dos inimigos, do mar, do vento irado./Sabei que estais na ndia, onde se estende/Diverso povo, rico e prosperado/De ouro luzente e fina pedraria,/Cheiro suave, ardente especiaria.(VII,31), Cantava a bela Deusa que viriam/Do Tejo, pelo mar que o Gama abrira,/Armadas que as ribeiras venceriam/Por onde o Oceano ndico suspira;/E que os Gentios Reis que no dariam/A cerviz sua ao jugo, o ferro e ira/Provariam do brao duro e forte,/At render-se a ele ou logo morte. (X, 10 Cames valoriza grandes feitos dos portugueses).

A Mensagem Na obra A Mensagem, alm dos mitos, lendas e sonhos, Pessoa tambm descreve episdios essenciais da nossa Histria, nomeadamente algumas conquistas e descobertas dos lusitanos, que contriburam para formao do Imprio Portugus e o to desejado Quinto Imprio. No Poema, Nuno lvares Pereira, Pessoa associa fama de D. Joo aurola que era Nuno lvares Pereira para Portugal, este era o Messias, o heri, a figura da Batalha de Aljubarrota, o santo singular, onde se rev a Ptria; este poema pode ser interpretado como uma glorificao terminada em prece (Ergue a luz da tua espada/Para a estrada se ver!), para que os portugueses sejam guiados por Nuno Pereira e sigam o seu Destino, para que sejam to vitoriosos quanto o Rei Artur e a sua espada sagrada, Que aurola te cerca?/ a espada que, volteando,/Faz que o ar alto perca/Seu azul negro e brando./Mas que espada que, erguida,/Faz esse halo no cu?/ Excalibur, a ungida,/Que o Rei Artur te deu./Sperana consumada,/S. Portugal em

ser,/Ergue a luz da tua espada/Para a estrada se ver!. Fernando Pessoa abre a segunda parte da obra com uma viagem inicitica que permite a realizao do sonho (espiritual, cultural e fsico), com uma perspectiva de algo desconhecido, longe, nublado, fantasmagrico (Nevoeiro), mas que o sonho, o desejo, a esperana, a vontade faz com que lutemos contra a neblina e sigamos em frente, com f, alma e sonho de realizao, como Diogo Co fez (Padro). Este lembrado por ter dado o primeiro passo para abrir o horizonte do sul e, assim, dobrar o Cabo Bojador, tornando-se um momento de descoberta de um caminho martimo, de jbilo, de conhecimento do diferente, desconhecido, mar anterior a ns, teus medos/Tinham coral e praias e arvoredos./Desvendadas a noite e a cerrao,/As tormentas passadas e o mistrio,/Abria em flor o Longe, e o Sul sidrio/Splendia sobre as naus da iniciao./Linha severa da longnqua costa /Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta/Em rvores onde o Longe nada tinha;/Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:/E, no desembarcar, h aves, flores,/Onde era s, de longe a abstracta linha. /O sonho ver as formas invisveis/Da distncia imprecisa, e, com sensveis/Movimentos da esprana e da vontade,/Buscar na linha fria do horizonte/A rvore, a praia, a flor, a ave, a fonte/Os beijos merecidos da Verdade. (Horizonte); O esforo grande e o homem pequeno./Eu, Diogo Co, navegador, deixei/Este padro ao p do areal moreno/E para diante naveguei./A alma divina e a obra imperfeita./Este padro sinala ao vento e aos cus/Que, da obra ousada, minha a parte feita:/O por-fazer s com Deus./E ao imenso e possvel oceano/Ensinam estas Quinas, que aqui vs,/Que o mar com fim ser grego ou romano:/O mar sem fim portugus./E a Cruz ao alto diz que o que me h na alma/E faz a febre em mim de navegar/S encontrar de Deus na eterna calma/O porto sempre por achar. (Padro). Bartolomeu Dias o smbolo da passagem do Cabo das Tormentas (posterior Cabo da Boa Esperana), enfrentou o desconhecido e elaborou o novo atlas, uma vez que foi ele que dobrou o to pavoroso cabo, que nos deu acesso a um novo caminho, mais fcil, para um novo mundo. Assim, o assombrado Cabo foi desvendado e j ningum o temeu, Jaz aqui, na pequena praia extrema,O Capito do Fim. Dobrado o Assombro,O mar o mesmo: J ningum o tema!Atlas, mostra alto o mundo no seu ombro.( Epitfio de Bartolomeu Dias). Este cabo est ligado ao Mostrengo, o smbolo do poder de realizao e luta dos portugueses, O mostrengo que est no fim do mar/Na noite de breu ergueu-se a voar;/ roda da nau voou trs vezes,/Voou trs vezes a chiar,/E disse: Quem que ousou entrar/Nas minhas cavernas que no desvendo,/Meus tectos negros do fim do mundo?/E o homem do leme disse, tremendo:/EI-Rei D. Joo Segundo!/ De quem so as velas onde me roo?/De quem as quilhas que vejo e ouo?/Disse o mostrengo, e rodou trs vezes,/Trs vezes rodou imundo e grosso,/Quem vem poder o que s eu

posso,/Que moro onde nunca ningum me visse/E escorro os medos do mar sem fundo?/E o homem do leme tremeu, e disse:/EI-Rei D. Joo Segundo! Trs vezes do leme as mos ergueu,/Trs vezes ao leme as reprendeu,/E disse no fim de tremer trs vezes:/Aqui ao leme sou mais do que eu:/Sou um Povo que quer o mar que teu;/E mais que o mostrengo, que me a alma teme/E roda nas trevas do fim do mundo,/Manda a vontade que me ata ao leme,/De El-Rei D. Joo Segundo! (O Mostrengo). A obra de Fernando Pessoa existe uma ligao entre o Acto e o Destino, o Acaso e a Vontade, uma vez que Portugal teve a ousadia e o conhecimento, a alma divina e o meio para enfrentar horizontes. Esta alma divina originou a ousadia para descobrir o mar sem fim em contraste com o mar limitado (Mediterrneo dos Gregos e Romanos), Com duas mos o Ato e o Destino /Desvendamos. No mesmo gesto, ao cu/Uma ergue o facho trmulo e divino/E a outra afasta o vu./Fosse a honra que haver ou a que havia/A mo que ao Ocidente o vu rasgou,/Foi alma a Cincia e corpo a Ousadia/Da mo que desvendou./Fosse Acaso, ou Vontade, ou Temporal/A mo que ergueu o facho que luziu,/Foi Deus a alma e o corpo Portuga/lDa mo que o conduziu. (O Ocidente). Como no podia deixar de ser, o Sebastianismo dos tema centrais. A partida de El.Rei D. Sebastio provoca uma grande variedade de emoes e arca com o mistrio e o desejo de realizao do sonho/misso impossvel em prol do Imprio, bem como a conscincia dos perigos e das possveis iluses e incertezas. A conquista mais desejada ser o regressos deste Rei, que representa toda liberdade, f, unio, fora e certezas de que o povo precisa, ou seja, o Quinto Imprio, Levando a bordo El-Rei DE. Sebastio,/E erguendo, como um nome, alto o pendo/Do Imprio,/Foi-se a ltima nau, ao sol aziago/Erma, e entre choros de nsia e de pressago/Mistrio./ No voltou mais. A que ilha indescoberta/Aportou? Voltar da sorte incerta/Que teve?/Deus guarda o corpo e a forma do futuro,/Mas Sua luz projecta-o, sonho escuro/E breve. Ah, quanto mais ao povo a alma falta,/Mais a minha alma atlntica se exalta/E entorna,/E em mim, num mar que no tem tempo ou espao/,Vejo entre a serrao teu vulto bao/Que torna. No sei a hora, mas sei que h a hora,/Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora/Mistrio./Surges ao sol em mim, e a nvoa finda:/A mesma, e trazes o pendo ainda/Do Imprio. (A ltima Nau).

Pensamentos do poeta Os Lusadas

No Canto I Quem l vem traz escurido/Ventre de nuvem de chuva;/Monstro morto, podrido,/O mistrio em cada curva. Quem navega assim, merc dos caprichos da Natureza, descobre que o homem, por mais que se queira fazer gigante, no passa de um pequeno gro de p na imensido deste planeta: ora o vento abrandava e as naus paravam; ora o vento enfurecia e as naus rangiam de dor quase a partirem-se; e vinham tempestades e doenas e todos os perigos que seguem como sombras quase sempre as aventuras. Pior do que tudo era no se saber ao certo para onde se ia. A partir da estrofe quarta, o poeta dirige-se s ninfas que habitam o rio Tejo. A fim de lhes pedir inspirao; necessita do seu auxlio para fazer poesia pica, j que at aqui usou apenas a doura e a sensibilidade para a poesia lrica. Depois de o elogiar, o poeta pede a D. Sebastio que se digne a baixar os olhos para o seu poema. No o escreve movido pelo desejo de dinheiro ou de honrarias; apenas pretender de ser conhecido como algum que cantou os feitos dos heris da sua terra. Porque os portugueses so de tal forma extraordinrios e cheios de valor que decerto mais importante ser rei de Portugal do que do mundo inteiro. Este primeiro canto acaba com uma belssima estrofe em que o poeta d largas aos seus sentimentos acerca das falsidades da vida; tanta desgraa nos temporais terrveis do mar, tanta luta em terra, tanto engano e tanta mentira! Onde haver segurana para o homem, pobre ser desamparado e fraco perante os perigos imensos que o cercam? Queimou o sagrado templo de Diana, /Do sutil Tesifnio fabricado, /Herstrato, por ser da gente humana/ Conhecido no mundo e nomeado. /Se tambm com tais obras nos engana/O desejo de um nome aventajado, /Mais razo h que queira eterna glria/Quem faz obras to dinas de memria.. No Canto III, a narrativa leva-nos pelo conhecimento do povo que somos, das glrias que fomos, dos sonhos que nos levaram a partir para o Mundo. Na primeira estrofe, Cames no pode deixar de tecer as suas prprias consideraes sobre o drama: e o amor expressamente identificado como nico culpado do crime. Ins toma a figura de mrtir vitimada em sacrifcio de amor. Depois, e segundo a ordem da tragdia clssica, Cames faz a descrio da felicidade da jovem, vivendo em funo do homem que ama, como o seu nome escrito no peito, Inspira imortal canto e voz divina/Neste peito mortal, que tanto te ama. /Assi o claro inventor da Medicina, /De quem Orfeu pariste, linda Dama, /Nunca por Dafne, Clcie ou Leucotoe,/Te negue o amor devido, como soe.. O que Cames aponta como mais chocante a brutalidade, a ferocidade daqueles homens sem bondade perante a figura feminina doce, fraca, indefesa, que no esboa um gesto para fugir, que

apenas conta com as lgrimas e as palavras para se defender e que se entrega, com a maior docilidade, aos carrascos. No Canto IV, Nuno lvares Pereira diz ao povo e aos soldados que descendem de grandes homens e que tero de ser grandes como os seus antecessores. Que lutem por aquilo em que acreditam. No Canto V, o rei diz a Vasco da Gama que saudade a melhor palavra para descrever o que sentiram quando saram de Lisboa. Ficou para trs aquele Portugal que amam ainda mais quando se distanciam. No Canto VI, neste canto que Cames aplica os seus melhores dotes de oratria. Defende um ataque em forma aos portugueses: a manifestao da evidncia do perigo, a perda das honras, dos ttulos, o desespero das lgrimas, para convencer os deuses dos seus intentos. No Canto VII, longa viagem, viagem longa. O que , afinal, uma viagem? Um ir sem saber se o que imaginmos existe? Um ficar em quem nos ama e no que amamos? A ndia estava prxima. Miragem? No percas o nimo. Vai. Segue o teu sonho. Acredita em ti e acredita depois no que poders colher se fores tu a tua meta. Avana contigo, dentro de ti, a riqueza que te espera pode ser, ser talvez, a imagem nova que de ti recolheres ao ser, Ora sus, gente forte, que na garra/Quereis levar a palma vencedora:/J sois chegados, j tendes diante/A terra de riqueza abundante!. Se Deus existe no ser um deus de mortos, um deus qualquer, mas aquele que descobre entre os vivos os que mais merecem a sua distino. Os Portugueses no sero a prova de que Deus existe? De acordo com a opinio de Cames, os portugueses esto acima de todos os outros: um povo valente e ilimitado. A narrativa que os portugueses fazem a Monaide, e a que este reproduz aos seus, d-lhes uma dimenso de homens tocados pelos deuses e pelas graas divinas. No Canto VIII, Catual e os seus estavam deveras admirados. Ouviam em respeito o que Paulo da Gama lhes dizia, e, mais do que o medo de enfrentarem homens to valorosos, nutriam um sentimento maior, de admirao pelos portugueses. Vasco da Gama pensou: combater a violncia com mais violncia s gera violncia. Por ltimo, no Canto X, uma folia. Alias, deve ser sempre assim o amor: coisa

de confiar, de brincar, de prazer dado e recebido, de sonhos, de fantasias, de jogos e danas, musicas, partilhas. Mesmo espreitando por detrs da cortina indiscreta, no h nada para contar, no se vai dar pormenores, eles l estiveram como quiseram, triste sorte a de no poder ficar, talvez assim para sempre, pois h sempre o dever primeiro e o prazer fica sempre na causa das tarefas, isso sabido. Talvez, Cames, que tanto se emocionou com encantos de damas, com amores, namoros e folguedos destes, ficou com uma pontinha de inveja. tempo de nova invocao, o poeta chama por Calope, fonte inspiradora, roga-lhe ajuda em tempo to difcil. Aqui minha Calope te invoco/Neste trabalho extremo por que em pago/Me tornes do que escrevo e vo pretendo/O gosto de escrever que vou perdendo..

A Mensagem No braso II, em Os Castelos, no poema Ulisses, na ltima estrofe, a passagem do nada ao tudo: a lenda vem (escorre) de cima; ao entrar na realidade, fecunda-a fazendo o milagre de tornar irrelevante a vida c de baixo, dita do mundo real, objectivo: Em baixo, a vida, metade/De nada, morre. S readquire vida aquilo que o mito/nada tudo fecunda e o processo no do passado, mas intemporal de onde os tempos verbais de presente. irrelevante, parece dizer Pessoa desde este poema, que as figuras de que vai ocupar-se, os heris fundadores, tenham tido ou no existncia histrica o que importa que todos eles tenham funcionado com a fora do mito, que, no existindo, tudo. Em D. Dinis, Pessoa vai ver D. Dinis como o rei capaz de antever futuros, justamente porque poeta visionrio, em cujo cantar de amigo se fundem um rumor a fala dos pinhais e o mar futuro. Por isso ele visto como plantador de naus a haver, as naus/cantar de amigo, que desvendaro, no futuro que ele sonha, o oceano por achar (que a Europa e Portugal fitam, com olhar esfngico e fatal, como sabamos j). No poema, os pinhais plantados pelo rei poeta visionrio so um trigo de imprio e ondulam sem se poder ver (porque futuros s acessveis aos sonhadores); a fala dos pinhais , assim, o som presente desse mar futuro/ a voz da terra ansiando pelo mar. No Braso parte III, em as Quinas, no poema D. Fernando, Infante de PortugalUma vez recebida a marca divina o seu gldio num presente disfrico, definido como horas em que um frio vento passa/Por sobre a fria

terra , as consequncias da aco divina sobre o Eu fazem-se sentir: doirou-me a fronte e a inquietao: febre de Alm, querer grandeza. Em D. Sebastio, Rei de Portugal, onde Fernando Pessoa diz: Sem a loucura que o homem/Mais que a besta sadia,/Cadver adiado que procria?,este final soberbo, que define a loucura, o sonho, como que distingue o homem da besta sadia, cadver adiado que procria, d o tom ltimo Mensagem pessoana: o louvor da loucura que distingue o homem do animal e o faz ir em frente, haja o que houver na busca da realizao do sonho. Na realidade, perante o poder mobilizador do sonho loucura, a morte no passa de contingncia fsica; tal divina loucura fonte de energia que leva o homem a ser mais do que , na sua contingncia fsica, feita de fraqueza, de bichos da terra e a morte muito pouco e no , de facto, o que pode impedir que o sonho prossiga noutras mos. E a Histria, essa, resultar, vlo-emos mais adiante, da vontade de Deus e do sonho do Homem. Em Mar Portugus, no poema O Infante, onde Pessoa nos diz: Quem te sagrou criou-te portugus./Do mar e ns em ti nos deu sinal./Cumpriu-se o Mar, e o Imprio se desfez./Senhor, falta cumprir-se Portugal!, esta quadra (terceira) representa, j, uma segunda parte, um momento de sntese e reflexo. Quem (Deus) te (homem) sagrou, sagrou-te portugus para reflectir o significado histrico: Do mar e ns em ti nos deu sinal e aqui retoma-se a ideia do sinal, signo, bandeira j presente no poema D. Fernando Cumpriu-se o mar (resultado do sonho do Infante e da vontade divina). E, bruscamente, em corte repentino, a passagem para o presente e o Imprio se desfez j a tristeza, o nevoeiro a ensombrar os nossos dias. No horizonte, o desvendar da noite, do mistrio, o passar das tormentas, o descobrir, por detrs do Longe (metfora do Desconhecido), quase invisvel (s visvel aos sonhadores, sagrados por Deus), a Natureza mais luxuriante, no aproximar das naus l, na mtica ilha de Vnus ou nsua divina e a receber os beijos merecidos da Verdade. Heri, afinal, aquele que v o invisvel e o atinge, vencendo o desconhecido e os medos, e recebendo o prmio de uma ilha toda ela de sonho, talvez, mas, a Verdade. Em o Mostrengo, trata-se de retomar a alegoria presente no Adamastor (Cames) o Mostrengo que assusta e ameaa os navegadores (neste poema o homem do leme ao servio de D. Joo II) e que vencido pelo frgil bicho da terra to pequeno, que se diz vontade de um povo que quer o mar que o monstro diz ser seu. No poema Mar Portugus, na primeira estrofe, este poema apresenta o que de sofrimento custou, a quem ficava em terra. A conquista do mar, cujas

guas salgadas so lgrimas de Portugal. Na segunda estrofe, o balano: ter mesmo valido a pena? Pessoa responde que sim, porque tudo vale a pena se a alma no pequena. Toda a vitria implica passar alm da dor. Em A ltima Nau, este poema mais um dos consagrados a D. Sebastio e ao sonho com que ele se foi, a bordo dA ltima nau a que no voltou mais, a que ningum sabe se atingiu uma ilha indescoberta ou se voltar algum dia. O sonho sonhado pelos seus marinheiros ficou interrompido, mas, diz o poeta, Deus, que guarda o corpo e a forma do futuro, pode project-lo, sonho escuro/e breve. O poeta, capaz ainda de sonhar futuros, consegue ver, diz, entre a serrao, o vulto bao do Rei que torna. Ele, poeta do presente, do sc. XX, sabe que h a hora (ainda que no saiba quando, exactamente) do regresso de D. Sebastio/ sonho por cumprir. Assim se repita o ciclo: Deus volte a querer e o homem volte a sonhar. para a que aponta o ltimo poema de Mar Portugus. No poema Prece, um poema em que se reflecte sobre o presente luz do passado. O passado foi a tormenta, a vontade, e deixou-nos, como herana, o mar universal e a saudade. O presente, esse, diz Pessoa, Senhor, a noite veio e a alma vil, mas diz tambm na segunda estrofe, h lugar para alguma esperana: mas a chama, que a vida em ns criou,/se ainda h vida, ainda no finda. Ela estar, porventura, oculta em cinzas, mas pode ser erguida pela mo do vento. Por isso, a prece: que Deus volte a querer dar o sopro, a aragem ou desgraa ou nsia , capaz de nos reerguer, para que outra vez conquistemos a Distncia/Do mar ou outra, mas que seja nossa!. Na terceira e ltima parte da mensagem O Encoberto I, na parte dOs Smbolos, no poema O Quinto Imprio, trata-se de um poema que afirma uma filosofia sobre o homem e o viver. Para o poeta, a nica coisa que faz sentido na vida o sonho Triste de quem vive em casa/Contente com o seu lar/Sem que um sonho, no erguer de asa,/Faa at mais rubra a brasa/Da lareira a abandonar. Ou seja: sem o sonho, capaz de remover montanhas, a vida triste, ainda que no conforto sensato do lar, Eras sobre eras se somem/No tempo que em eras vem./Ser descontente ser homem./Que as foras cegas se domem/Pela viso que a alma tem!. A histria faz-se de descontentes, e ser descontente, como diz, prprio do homem, capaz de ter como fora condutora a viso que a alma tem. Na terceira parte do O Encoberto, na parte de Os Tempos, no poema a Noite, Pessoa conta a histria nos dois primeiros momentos do poema e extrai a concluso no ltimo: os dois irmos (Gaspar e Miguel) so agora os

irmos-smbolos do nosso nome: o Poder e o Renome que so, j, passado. Compete-nos a ns ir busc-los, libertando-nos desta vil/Nossa priso servil. S que, tal como outrora, o Rei no dera licena de partir ao terceiro dos irmos, tambm agora Deus no d licena que partamos. No ltimo poema dA Mensagem, o Nevoeiro, o poema aponta para um tom geral de disforia, de tristeza e melancolia, marcado por palavras e expresses de negatividade, caracterizando uma situao de crise a vrios nveis: poltico: Nem rei nem lei, nem paz nem guerra; crise de identidade, tambm: este fulgor bao da terra/Que Portugal e entristecer/Brilho sem luz e sem arder/Como o que o fogo-ftuo encerra; crise de valores morais, da alma: Ningum sabe que coisa quer,/Ningum conhece que alma tem,/Nem o que mal, nem o que bem. a Hora!, mas de qu? Pessoa no o diz, mas todo o livro o significa: a Hora de partir, de novamente conquistarmos a Distncia/Do mar ou outra, mas que seja nossa! (poema Prece), de assumirmos o sonho, cumprindo o nosso destino assim a Obra nascer de novo, como em Mar Portugus e poderemos viver a verdade/que morreu D. Sebastio.

Concluso No final deste trabalho chegamos concluso que A Mensagem no um poema nacional, uma verso moderna, espiritualista e proftica dos Lusadas. O que seria uma exaltao de valores nacionais converteu-se numa exortao renovadora e corajosa a D. Sebastio (vivo Lusadas ou como mito Mensagem). Os Lusadas foram dedicados a um povo guerreiro e a um Rei aventureiro, em A Mensagem, esse mesmo Rei est humilhado e despido de coisas humanas, por isso, consideramos que toda a Histria, toda alegria, toda emoo, toda aventura e toda glria descrita, em Os Lusadas constitui uma esperana e em A Mensagem, um sonho, uma utopia, Sem a loucura que o homem/mais que a besta sadia,/cadver adiado que procria?(Mensagem). Como Prado Coelho afirmou, Em contraste com o realismo dOs Lusadas () a Mensagem reage pela altiva rejeio a um Real oco, absurdo, intolervel, propondo-nos em seu lugar a nica coisa que vale a pena: o imaginrio.