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SEM LIMITES Entrevista com Ricardo Abramovay: a Rio+20 e as demandas por inovação para a sustentabilidade LOCUS Ambiente da inovação brasileira Descubra como as chamadas Tecnologias Assistivas estão garantindo inclusão, autonomia e qualidade de vida aos portadores de necessidades especiais. Um mercado repleto de oportunidades para empresas inovadoras As conquistas e os desafios do Capital Semente no Brasil, após uma década de operação O que pensam os consumidores? MPEs estão empenhadas em descobrir

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A revista Locus é uma publicação trimestral da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec)

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SEM LIMITES

Entrevista com Ricardo Abramovay: a Rio+20 e as demandas por inovação para a sustentabilidade

LOCUSAmbiente da inovação brasileira

Ano XVII | no 67Junho 2012

Descubra como as chamadas Tecnologias

Assistivas estão garantindo inclusão,

autonomia e qualidade de vida aos portadores de

necessidades especiais. Um mercado repleto

de oportunidades para empresas inovadoras

As conquistas e os desafi os do Capital Semente no Brasil, após uma década de operação

O que pensam os consumidores? MPEs estão empenhadas em descobrir

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SE A EMPRESA SUBSTITUI A MADEIRA USADA NOS FORNOS POR LASCAS

E RESTOS DE MADEIRA, ELA REDUZ OS CUSTOS. 

COM ESSA MUDANÇA, ELA CONSEGUE REDUZIRA EMISSÃO DE CO2 E PASSA A COMERCIALIZAR

CRÉDITOS DE CARBONO NO MERCADO.

COM A VENDA DE CRÉDITOSE A REDUÇÃO DOS CUSTOS,

A EMPRESA LUCRA E PRODUZ MAIS.

E ASSIM, AUMENTA A OFERTAPARA QUEM ESTÁ

CONSTRUINDO UM SONHO DE TIJOLO A TIJOLO.

O nosso trabalho é apoiar o desenvolvimento sustentável da micro e pequena empresa. Porque acreditamos no ciclo de benefícios que o pequeno negócio pode gerar para si mesmo e para todos. É a sustentabilidade saindo do discurso e indo além.

Sebrae. Parceiro oficial da Rio+20. Um planeta de oportunidades.

Quem tem conhecimento vai pra frente | 0800 570 0800 | sebrae.com.br

Este é um caso real: Cerâmica Ituiutaba.

www.rio20sebrae.com.br

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SE A EMPRESA SUBSTITUI A MADEIRA USADA NOS FORNOS POR LASCAS

E RESTOS DE MADEIRA, ELA REDUZ OS CUSTOS. 

COM ESSA MUDANÇA, ELA CONSEGUE REDUZIRA EMISSÃO DE CO2 E PASSA A COMERCIALIZAR

CRÉDITOS DE CARBONO NO MERCADO.

COM A VENDA DE CRÉDITOSE A REDUÇÃO DOS CUSTOS,

A EMPRESA LUCRA E PRODUZ MAIS.

E ASSIM, AUMENTA A OFERTAPARA QUEM ESTÁ

CONSTRUINDO UM SONHO DE TIJOLO A TIJOLO.

O nosso trabalho é apoiar o desenvolvimento sustentável da micro e pequena empresa. Porque acreditamos no ciclo de benefícios que o pequeno negócio pode gerar para si mesmo e para todos. É a sustentabilidade saindo do discurso e indo além.

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Quem tem conhecimento vai pra frente | 0800 570 0800 | sebrae.com.br

Este é um caso real: Cerâmica Ituiutaba.

www.rio20sebrae.com.br

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46OPORTUNIDADE Monitorar o comportamento do cliente está entre os principais segredos de quem deseja vender mais. Com ajuda de MPEs, grandes empresas já descobriram isso

42 GESTÃO Questões jurídicas representam um enorme risco para empreendimentos inovadores. Conheça dicas de especialistas

A revista Locus é uma publicação da Associação Nacional de Enti dades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec)

Conselho EditorialJosealdo Tonholo (presidente)

Carlos Américo PachecoJorge Audy

Marli Elizabeth Ritt er dos SantosMauricio Guedes

Maurício Mendonça

Coordenação e ediçãoDébora Horn

ReportagemBruno Moreschi, Camila Augusto, Daniele Marti ns e Débora Horn

Jornalista responsávelDébora Horn

MTb/SC 02714 JP

Direção de arte: Bruna de Paula

Edição de arte: Hiedo Bati sta

RevisãoVanessa Colla

Foto da capaShutt erstock

PresidenteFrancilene Procópio Garcia

Vice-presidenteJorge Luís Nicolas Audy

DiretoriaGisa Bassalo, Ronaldo Tadêu Pena,

Sérgio Risola e Tony Chierighini

SuperintendênciaSheila Oliveira Pires

ImpressãoEstação Gráfi ca

Tiragem2.000 exemplares

Produção Apoio

EndereçoSCN, quadra 1, bloco C,

Ed. Brasília Trade Center, salas 209/211Brasília/DF - CEP 70711-902

Telefone: (61) 3202-1555E-mail: [email protected]

Website: www.anprotec.org.brAnúncios: (61) 3202-1555

LOCUSAmbiente da inovação brasileira

Ano XVII ∙ Junho 2012 ∙ no 67 ∙ ISSN 1980-3842

ÍNDICE

6ENTREVISTA

Em tempos de Rio+20, o economista brasileiro Ricardo Abramovay alerta: o conceito de inovação precisa ser repensado para a sustentabilidade

10EM MOVIMENTO

Novidades sobre o XXII Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas, além das notícias mais importantes sobre o movimento, de Norte a Sul do Brasil

49 CULTURA Chegam ao Brasil exposições sobre Caravaggio e Modigliani, os italianos que fi zeram da originalidade seu principal diferencial

50 OPINIÃO Mauricio Guedes: a ecologia dos Parques Tecnológicos

28AUTONOMIA E INCLUSÃO SOCIALEmpresas e instituições de pesquisa desenvolvem soluções na área de Tecnologia Assistiva. São produtos e serviços voltados à melhoria da qualidade de vida das pessoas com defi ciência, incapacidades ou mobilidade reduzida. Crescem as oportunidades de fi nanciamento para inserir essas soluções no mercado, abrindo espaço para MPEs inovadoras expandirem seus negócios

23NEGÓCIOS Veículos Aéreos Não-Tripulados despontam como alternati va segura e econômica para uma série de ati vidades, aquecendo um mercado que tende a alcançar US$ 55 bilhões até 2020

18HABITATS Em todo o Brasil, empreendedores estão descobrindo os benefí cios da pré-incubação, um período dedicado à capacitação e ao planejamento do novo negócio

36 INVESTIMENTO Tão jovem quanto as próprias empresas que fi nancia, setor de Capital Semente ainda enfrenta desafi os para se consolidar no Brasil

40 SUCESSO Descubra por que a BUG, empresa graduada pela EsalqTec, entrou para o ranking das mais inovadoras do mundo

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“Dos 24 serviços ecossistêmicos dos quais depende a espécie huma-na, 16 estão fortemente degradados ou caminhando em direção à degradação”. Essa é apenas uma das constatações alarmantes que Ricardo Abramovay, economista da Universidade de São Paulo

(USP), comparti lha com os leitores da Locus nesta edição. Na entrevista que começa na página 6, ele nos leva a refl eti r sobre o papel da inovação na busca, cada vez mais urgente, por novos modos de produzir e consumir. “A capacidade do progresso técnico e das mudanças tecnológicas substi tu-írem os materiais e a energia necessária para mover o sistema econômico não é infi nita”, afi rma Abramovay. Uma discussão perti nente no mês em que o Brasil recebe representantes de todo o mundo para debater o de-senvolvimento sustentável, na Rio+20.

Além de soluções focadas no uso racional dos recursos naturais, a sus-tentabilidade exige avanços sociais. Um deles é a inclusão, tema da repor-tagem de capa desta edição, que busca esclarecer o conceito de Tecno-logia Assisti va, área de conhecimento transversal que tem como objeti vo a inclusão e a autonomia das pessoas com defi ciência, incapacidades ou mobilidade reduzida, uma parcela importante da população – no últi mo censo do Insti tuto Brasileiro de Geografi a e Estatí sti ca (IBGE), 45 milhões de brasileiros declararam ter pelo menos um ti po de defi ciência. A ma-téria, que inicia na página 29, revela como as políti cas públicas voltadas a essa área tornaram-se mais constantes, envolvendo programas de fi nanciamento para o desenvolvimento de produtos e serviços que melhorem a qualidade de vida desse grupo. Nesse contexto, empresas ligadas ao movimento têm se dedicado a inserir essas soluções no mercado e contribuir, assim, para a inclusão de milhões de pessoas.

Por falar no movimento do empreendedorismo inovador, esta edição traz um feliz relato de alguns projetos de pré-incubação desenvolvidos por incubadoras de empresas em diferente regiões do país. Na matéria da Seção Habitats (página 18), insti tuições de Minas Gerais, Ceará, Pará, Distrito Federal, Rio de Janeiro e São Paulo contam os benefí cios dessa modalidade de incubação, que tem agradado aos empre-endedores de primeira viagem. Mais capacitados, eles ingressam na incubadora algum tempo depois, com um negócio mais bem estruturado, focado em metas realistas e com mercado defi nido.

Esse ciclo preparatório pode facilitar a captação de recursos oriundos de Capital Semente, tema da seção Investi mento, que começa na página 36 e traz a análise de especialistas quanto ao momento viven-ciado por esse setor no Brasil. Uma prova de seus benefí cios pode ser conferida na seção Sucesso, página 40, na qual apresentamos a BUG Agentes Biológicos, empresa graduada pela Incubadora de Empresas Agrozootécnicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (EsalqTec), que foi investi da pelo Criatec, fundo de capital semente do BNDES. Em fevereiro deste ano, a revista americana Fast Company - especia-lizada em tecnologia e negócios - divulgou a lista das 50 empresas mais inovadoras do mundo, destacando a BUG em 33º lugar no ranking geral e em 1º no nacional.

É mais uma história para a galeria dos bem sucedidos empreendimentos nascidos em incubadoras e parques tecnológicos, que a Locus não se cansa de mostrar.

Boa leitura!

Conselho Editorial

CARTA AO LEITOR

LOCUSAmbiente da inovação brasileira

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do bem-estarA economia

P O R D A N I E L E M A R T I N S

Neste ano, a Rio+20 coloca o Brasil no centro das

discussões sobre desenvolvimento sustentável. Economia

verde e desigualdades estão na pauta da Conferência

das Nações Unidas. O pesquisador Ricardo Abramovay,

professor titular do departamento de Economia da

FEA-USP e autor do livro recém-lançado “Muito Além

da Economia Verde”, comenta o papel do Brasil nesse

contexto e explica por que é fantasioso imaginar que

esse sistema econômico pode crescer indefinidamente.

Para ele, o Brasil poderia liderar ações de inovação para a

sustentabilidade

Éric

o Hi

ller

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ENTREVISTA > Ricardo Abramovay

LOCUS > Um dos dois temas centrais da Rio +20 é “a economia verde no contexto do de-senvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza”. O senhor costuma dizer que a economia verde não representa um novo pa-radigma. Por quê?Ricardo Abramovay > Cada unidade de valor oferecida ao mercado mundial em 2012 con-tou com 21% menos de emissões de gases de efeito estufa do que essa mesma unidade de valor produzida em 1992, e com 23% a me-nos de materiais. Porém, apesar desse extra-ordinário avanço, as emissões consideradas em termos absolutos, e não relativamente ao valor, aumentaram 39%, enquanto o consu-mo de materiais (considerando apenas bio-massa, combustíveis fósseis e matérias de construção e minérios) aumentou 41% nos últimos 20 anos. O sistema econômico já ul-trapassou barreiras ecossistêmicas (referen-tes ao clima, à biodiversidade e ao ciclo do nitrogênio) de uma maneira extremamente perigosa, o risco agora é tornar a vida social inviável, comprometendo as necessidades básicas das pessoas, tais como alimentação, moradia, educação e saúde.

Na sua opinião, qual o grau de consciência dos tomadores de decisão econômica quanto ao tema? O que falta para que o discurso se aproxime mais da prática?A consciência existe. Os tomadores de deci-sões das grandes empresas, dos governos e da sociedade civil conhecem os dados, que es-tão disponíveis nos documentos das Nações Unidas e das principais consultorias globais. O problema é que tomar decisões que pos-sam nos encaminhar para outro rumo ferem interesses constituídos que são muito mais poderosos nas negociações globais do que as articulações voltadas às mudanças.

E há uma pressão econômica com relação aos custos que envolvem as mudanças?Existe uma pressão econômica enorme. O relatório da consultoria global KPMG mostra

que se você calcular os custos ambientais não pagos pelas 3 mil maiores empresas do mundo, considerando mudanças climáticas, uso da água e produção de lixo, e imputar um preço dessas três coisas como se tivesse que pagar por elas, o lucro dessas empresas cai-ria pela metade. No setor alimentar, os custos são maiores do que os lucros. Mas é fantasio-so imaginar que dá para continuar fazendo as coisas desse jeito. Nós estamos consumin-do o capital representado pelos ecossistemas e assim impedimos que os serviços prestados por esses ecossistemas possam continuar. Esses serviços são a oferta de água, de um clima minimamente equilibrado, de nitrogê-nio para produzir fertilizantes nitrogenados, entre outros. Dos 24 serviços ecossistêmicos dos quais dependem a espécie humana, 16 estão fortemente degradados ou caminhando em direção o degradação.

Em um artigo recente, o senhor alerta que os documento iniciais da Organização das Na-ções Unidade (ONU) e do Brasil para a Rio+20 cultivam o mito do crescimento econômico perpétuo de forma completamente acrítica. De que forma? O que seria esse mito? Quando o mundo tinha 3 bilhões de habitan-tes era possível imaginar que o sistema eco-nômico poderia se expandir de uma maneira quase infinita. Em um mundo de 7 bilhões de habitantes, onde as fronteiras ecossistêmicas já foram ultrapassadas ou estão prestes a se-rem ultrapassadas, não dá para imaginar que o sistema econômico possa crescer indefini-damente. A capacidade de progresso técnico e das mudanças tecnológicas substituírem os materiais e a energia necessária para mover o sistema econômico não é infinita.

Quais são os principais desafios para que a sociedade evolua em direção à economia ver-de? O principal desafio é encarar o problema das desigualdades. O mundo extrai da superfície terrestre 60 bilhões de toneladas de mate-

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riais, considerando apenas biomasssa, com-bustíveis fósseis e materiais consumidos. Nesse ritmo, em 2030, ao invés de serem 60 bilhões, serão 80, e em 2050, 120. Esses 60 bilhões de toneladas divididos pelos 7 bi-lhões de habitantes representam 9 toneladas de consumo per capita, o que significa que cada habitante da terra anualmente usa para comer, morar, passear, estudar, trabalhar etc. 9 toneladas desses quatro materiais. Porém, um indiano que nascer em 2012 consumirá ao longo da sua vida 4 toneladas, e um ca-nadense e um norte-americano, 25. O maior desafio é conseguir melhorar o uso desses materiais. A distância entre o consumo dos ricos e dos pobres é tão grande - 25 para 4 - que o grande desafio é você promover uma redução da desigualdade sem a qual vai ser impossível continuar avançando na luta contra a pobreza. Na Rio+20, “crescer para quê?” e “crescer para quem?” deveriam ser as questões mais importantes, mas estão com-pletamente ausentes da pauta.

De que forma as empresas poderiam contri-buir para o alcance da economia verde? Esse processo também gera oportunidades de ne-gócios?O nosso grande problema é que as oportuni-dades de negócio da economia do século 20, da economia da destruição, são ainda maio-res do que as oportunidades de negócios da economia verde e de uma economia voltada

para o bem-estar. E a responsabilidade maior evidentemente é das grandes empresas, e elas sabem perfeitamente disso. As peque-nas, médias e microempresas são caudatá-rias, respondem a padrões e a apelos feitos pelas cadeias das quais elas pertencem.

A inovação tecnológica tem sido apontada como uma ferramenta importante da econo-mia verde. Nesse caso, quais seriam as prin-cipais demandas, ou seja, quais problemas as empresas e instituições de pesquisa deveriam se dedicar a resolver? Nós precisamos de sistemas de inovação vol-tados para a sustentabilidade cujo eixo não seja o aumento da produtividade e do capital do trabalho simplesmente, mas cada vez mais o aumento da produtividade dos materiais dos quais depende a produção. Além disso, é necessário que nas medidas governamentais de apoio a certos setores haja sempre uma contrapartida voltada à eficiência no uso de materiais.

Nesse contexto de movimento em direção à economia verde, o próprio conceito de inova-ção deve ser repensado?Tem que ser repensado. A inovação do sécu-lo 20 é uma inovação voltada para melhorar a produtividade do capital e do trabalho, já a do século 21 aproveita os dispositivos pode-rosos da sociedade da informação em rede para melhorar a eficiência do uso dos recur-sos. Isso significa redes elétricas inteligentes, a transformação de cada unidade comercial, industrial ou domiciliar em um centro não apenas consumidor, mas produtor de energia em modalidades descentralizadas. Significa você pensar o uso do espaço a partir de um critério de eficiência e não simplesmente a partir de um critério do que o consumidor re-almente deseja. A inovação não é interessan-te para qualquer coisa. Produzir carros mais velozes aumenta o consumo de combustível e a periculosidade, por exemplo. Precisamos que a inovação e o sistema econômico como

ENTREVISTA > Ricardo Abramovay

“PRECISAMOS QUE A INOVAÇÃO SE VOLTE

DE UMA MANEIRA DIRETA, EXPLÍCITA E

INTENCIONAL PARA OBTER O BEM-ESTAR

DAS SOCIEDADES HUMANAS NO LIMITE DOS

ECOSSISTEMAS”

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um todo se volte de uma maneira direta, ex-plícita e intencional para obter o bem-estar das sociedades humanas no limite dos ecos-sistemas, e não inovar de qualquer jeito e de alguma maneira beneficiar as pessoas por-que vai criar emprego, gerar imposto. Esse raciocínio não pode mais ser feito.

Na sua opinião, as políticas de incentivo à inovação e ao empreendedorismo no Brasil carecem de um foco maior em sustentabili-dade? A Lei do Bem teve algum efeito, ainda que muito precário. O investimento privado em inovação no Brasil cresceu, mas ainda é mui-to baixo. Cresceu nos últimos anos e a minha impressão é que falta foco. Por exemplo, nós precisamos urgentemente de um conjunto de inovações que permitam iniciar o uso susten-tável de produtos e serviços sustentáveis nos biomas do país, na Amazônia, no Cerrado, na Caatinga. Repensar o sistema de mobilidade urbana e metropolitana brasileira também é importante porque está se tornando um caos. Também precisamos de um sistema de inova-ção para a produção alimentar mais eficiente usando cada vez menos fertilizantes.

O senhor vê o Brasil com um país em poten-cial para liderar a pauta de inovação para a sustentabilidade?Certamente. O Brasil tem um setor empre-sarial grande. O país tem recursos naturais privilegiados, é uma potencia hídrica extra-ordinária, tem a maior floresta tropical do planeta, tem cidades dinâmicas, e teria tudo para liderar isso. Mas infelizmente não te-mos lideranças políticas e empresariais que estejam à altura do que é o desafio do desen-volvimento sustentável do século 21.

O senhor acredita em resultados práticos da Rio+20? Ou teremos promessas de solução distantes dos problemas reais do século 21? Alguns resultados poderiam ser alcançados, por exemplo, uma liderança do Brasil junto

ao G77 [grupo de nações em desenvolvimen-to da ONU] no sentido de incorporar exigên-cias socioambientais cada vez maiores no comércio internacional. Isso seria extrema-mente importante. A utilização de mecanis-mos tributários sobre a especulação finan-ceira internacional para subsidiar o combate à pobreza absoluta no mundo também. O compromisso em torno da transparência dos custos empresariais, ou seja, que os custos de funcionamento das empresas e daquilo que é oferecido aos consumidores fossem custos reais e não custos fictícios como são hoje. Hoje a economia mundial subsi-dia muito mais o petróleo do que energias renováveis, uma distorção completamente irracional. Não são resultados abstratos ou simplesmente utópicos, mas eu não tenho a expectativa de que o Brasil seja capaz de exercer uma liderança tão significativa que possa atuar positivamente na obtenção des-ses resultados.

Abramovay: políticas de fomento à inovação devem focar sustentabilidade

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ENTREVISTA > Ricardo Abramovay

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EM MOVIMENTO

NACIONAL

Em sua primeira reunião com o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Raupp – reali-zada no último dia 29 de maio – a presidente da Anprotec, Francilene Garcia, em conjunto com outros di-retores da Associação, solicitou um reposicionamento do Ministério em relação ao Programa Nacional de Apoio às Incubadoras de Empresas e Parques Tecnológicos (PNI), assim como a redefinição de estratégias e o fortalecimento de políticas em prol da consolidação do Sistema Nacional de Parques e Incubadoras. Também participaram da reunião o secretá-

rio executivo do MCTI, Luiz Antonio Elias, e o secretário de Desenvolvi-mento Tecnológico e Inovação do MCTI, Alvaro Prata.

Raupp, que já foi diretor-geral do Parque Tecnológico de São José dos Campos, mostrou-se receptivo às de-mandas. O Ministério avalia a possibi-lidade de lançar ainda este ano novas chamadas, por meio do PNI. Uma nova reunião sobre o Programa está mar-cada para o próximo dia 27 de junho, quando também será lançado o “Es-tudo, Análise e Proposições sobre as Incubadoras de Empresas no Brasil”, projeto - realizado pela Anprotec, em

parceria com o MCTI – que reuniu da-dos sobre as incubadoras e empresas incubadas e graduadas do país. Para Francilene Garcia, a trajetória anterior do ministro qualifica ainda mais a in-teração da Anprotec com o Ministério. “O conhecimento do ministro Raupp acerca de ambientes de inovação per-mitirá que avancemos ainda mais nas políticas em prol do empreendedoris-mo inovador, dando continuidade e complementado as ações de seus an-tecessores”, afirma.

Segundo a presidente da Anprotec, o cenário atual do país favorece o for-talecimento dos ambientes de inova-ção e é necessário que se busque uma interação maior com as ações e estra-tégias do Plano Brasil Maior, política industrial, tecnológica e de comércio exterior do governo Dilma Rousseff. “Precisamos fazer novas leituras sobre ações passadas, preparando o movi-mento de parques e incubadoras para lidar com novos desafios. A Anprotec comemora 25 anos de avanços e te-mos que acelerar o ritmo e conquis-tar espaços. O PNI, pela sua represen-tatividade, será um importante aliado neste processo”, conclui.

Anprotec se reúne com ministro Raupp para tratar de apoio a parques e incubadoras

Representantes dos 44 projetos selecionados na modalidade 1 do Edital Cerne, promovido pelo Sebrae, tiveram seu primeiro encontro no úl-

timo dia 4 de junho, em Brasília (DF). Durante a reunião, eles discutiram os princípios e diretrizes de governança da metodologia Centro de Referência

para Apoio a Novos Empreendimen-tos (Cerne), modelo que começou a ser desenvolvido por Anprotec, com apoio do Sebrae em 2008.

Representantes de incubadoras contempladas pelo Edital Cerne participam de encontro

Ministro Raupp (no centro) registrou as demandas do movimentoDi

vulg

ação

/MCT

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EM MOVIMENTO

NACIONAL

Anprotec lança Prêmio Nacional de Empreendedorismo Inovador 2012

As inscrições para o Prêmio Na-cional de Empreendedorismo Ino-vador 2012 – promovido pela An-protec, em parceria com o Sebrae – já estão abertas. A premiação re-conhece, anualmente, incubadoras de empresas, parques tecnológicos, empresas incubadas e graduadas, além de projetos desenvolvidos por associados da Anprotec.

Os candidatos devem se inscre-ver até o próximo dia 6 de julho, preenchendo o formulário dispo-nível no site da Anprotec (www.anprotec.org.br). Ao todo, seis cate-gorias serão premiadas: Incubadora de empresas orientadas para a ge-

ração e uso intenso de tecnologias; Incubadora orientada para o desen-volvimento local e setorial; Parque Tecnológico; Projeto de promoção da cultura do empreendedorismo inovador; Empresa Incubada e Em-presa graduada.

Os vencedores ganharão troféus, passagens nacionais ou internacionais para participar de viagem de estudos ou negócios e prêmio em dinheiro que varia R$ 5mil a R$ 15 mil, depen-dendo da categoria. Os critérios de avaliação dos candidatos levarão em conta fatores como visão de futuro, responsabilidade social e ética, va-lorização das pessoas, abordagem

por processos, foco nos resultados, inovação, aprendizado organizacio-nal e visão sistêmica.

A divulgação dos vencedores e a cerimônia de entrega dos prêmios ocorrerão no dia 20 de setembro de 2012, no Jantar de Encerramen-to do XXII Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubado-ras de Empresas, que será realiza-do em Foz do Iguaçu (PR), entre 17 e 21 de setembro.

O regulamento completo do Prêmio – com detalhes sobre as inscrições, etapas, categorias e avaliação – está disponível no site da Anprotec.

Estão abertas as inscrições para o XXII Seminário Nacional de Par-ques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas e XX Workshop An-protec. Promovido por Anprotec e Sebrae, o evento será realizado entre os dias 17 e 21 de setembro

deste ano, em Foz do Iguaçu (PR). O valor das inscrições varia de R$ 114,00 a R$ 2.223,00, dependendo do número de atividades em que o participante se inscrever e da data em que a inscrição será efetuada – há descontos até 31 de julho.

As inscrições podem ser realiza-das pelo site www.seminarionacio-nal.com.br. A expectativa é que o Seminário reúna cerca de 800 pes-soas. Neste ano, o evento apresenta como tema “Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas: Reve-lando e Integrando Novas Rotas de Desenvolvimento”. Serão realizados minicursos, workshops, sessões ple-nárias, sessões técnicas paralelas e o encontro da Rede de Incubado-ras de Desenvolvimento Inclusivo. A programação inclui a realização do 1º Seed Forum Nacional - or-ganizado pela Finep. O evento tem como organizadores locais o Parque Tecnológico Itaipu (PTI), a Usina Hi-drelétrica Itaipu Binacional e a Rede Paranaense de Tecnologia e Inova-ção (Reparte).

Parque Tecnológico Itaipu é um dos organizadores locais do evento

Abertas as inscrições para XXII Seminário Nacional

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lgaç

ão

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Um catálogo elaborado pelo Fó-rum Nacional de Gestores de Inova-ção e Transferência de Tecnologia (Fortec), em parceria com a Anprotec e outras instituições, reúne, em 15 categorias, tecnologias verdes e ne-

gócios sustentáveis produzidos em Instituições de Ciência e Tecnologia, startups e empresas inovadoras em geral. No documento. disponível no site da Anprotec, estão listados mais de 30 negócios sustentáveis.

NACIONAL

EM MOVIMENTO

A Financiadora de Estudos e Pro-jetos (Finep) recebe até 16 de agosto inscrições para o Prêmio Finep de Inovação, que completa 15 anos em 2012. A edição deste ano traz uma série de mudanças. A principal é que o prêmio será em dinheiro: serão dis-ponibilizados de R$ 100 mil a R$ 600 mil aos primeiros colocados regionais e nacionais de cada categoria, o que totalizará em R$ 9 milhões. Até o ano passado, a Finep concedia recursos não reembolsáveis como prêmio e a liberação do dinheiro ficava condicio-nada à apresentação de um projeto de ciência, tecnologia e inovação.

O prêmio de 2012 também contará com duas novas categorias direciona-das a empresas: Tecnologia Assistiva e Inovação Sustentável. A primeira con-templará produtos e processos que promovam a autonomia, independên-

cia, qualidade de vida e inclusão social de pessoas com deficiência, incapa-cidades ou mobilidade reduzida. Já a segunda reconhecerá iniciativas que tenham integrado sustentabilidade ao sistema de pesquisa, desenvolvimento e comercialização, pelo viés financeiro, social e ambiental.

Essas novas categorias se juntam às sete já existentes até então: Micro e Pequena Empresa; Média Empresa; Grande Empresa (apenas na etapa na-cional); Instituição de Ciência e Tecno-logia; Tecnologia Social; Inventor Ino-vador e Inovar Fundos - esta também restrita à etapa nacional e dividida em três subcategorias: Governança, Equi-pe e Operação.

Podem concorrer ao Prêmio Finep empresas ou Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs), públicas ou priva-das, Organizações da Sociedade Civil

de Interesse Público (OSCIPs) e Orga-nizações Não Governamentais (ONGs) com sede no País e que tenham a inovação como elemento relevante em suas estratégias de atuação. Na categoria Inventor Inovador, podem concorrer pessoas físicas que tenham patentes concedidas pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) e cujo objeto de proteção já esteja sendo comercializado. Na cate-

goria Inovar Fundos, por sua vez, con-correm empresas gestoras de fundos de capital semente, venture capital e private equity constituídos há, no mí-nimo, dois anos.

O Prêmio Finep é um dos mais importantes instrumentos de estímu-lo à inovação no País. Desde 1998, já premiou mais de 500 empresas, instituições e pessoas físicas. No ano passado, duas empresas – Reason Tec-nologia, de Florianópolis, e Scitech, de Goiânia – que possuem relação com o movimento de empreendedorismo inovador ganharam o prêmio nas ca-tegorias nacionais Micro e Pequena Empresa e Média Empresa, respec-tivamente. Nas categorias regionais, também foram premiadas empresas incubadas e graduadas, como a Bio-clone, do Ceará, e a Amazon Dreams, do Pará.

Finep recebe inscrições para Prêmio de Inovação

Catálogo reúne tecnologias verdes e negócios sustentáveis

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NORTE

Fapeam lança Programa de Apoio a Incubadoras

A Fundação de Amparo à Pesqui-sa do Estado do Amazonas (Fapeam) lançou no dia 15 de maio a 1ª Edição do Programa de Apoio a Incubadoras (Pró-Incubadoras), em parceria com a Secretaria de Estado de Ciência e Tec-nologia (Sect-AM). O Programa faz parte do Plano de Ação 2012/2013 da Fapeam e tem como objetivo ala-vancar negócios inovadores no esta-do, utilizando as incubadoras como estratégia. O lançamento ocorreu durante o 5º Fórum de Inovação do Estado do Amazonas.

O edital disponibiliza de R$ 1,7 milhão e financiará propostas que busquem fortalecer as incubadoras já existentes no Amazonas, assim

como promover a criação e implan-tação de novas incubadoras e de redes de incubadoras. A apresen-tação de propostas deve ser feita até 13 de julho. “O fortalecimento das incubadoras existentes, de for-ma a torná-las autossustentáveis e o próprio processo de criação de novas incubadoras, tem sido pauta de discussão do governo e apontado como alternativa de extrema impor-tância para o desenvolvimento da região”, disse a diretora-presidente da Fapeam, Maria Olívia, durante o lançamento.

Atualmente, o Amazonas pos-sui oito incubadoras instaladas na capital, Manaus, número que, de

acordo com Maria Olívia, ainda é pequeno. “Queremos potencializar esse espaço de empreendedorismo no Estado não só pra alavancar o empreendedorismo, mas princi-palmente para gerar negócios ino-vadores, haja vista o potencial do Amazonas com insumos regionais e matérias-primas que precisam ser industrializadas e comercializa-das”, disse.

A superintendente executiva da Anprotec, Sheila Oliveira Pires, esteve presente no evento e pales-trou sobre o tema A Importância das Incubadoras de Empresas de Base tecnológica para o Desenvol-vimento Regional.

O governo do Pará vai investir R$ 30 milhões na criação do Parafar-ma, um centro de pesquisa de medi-camentos genéricos, a ser instalado no Parque de Ciência e Tecnologia Guamá (PCT Guamá). O objetivo é que

no futuro o parque abrigue um núcleo biotecnológico voltado à pesquisa e ao desenvolvimento de biofármacos. A implantação do centro foi discutida em reunião realizada no último dia 26 de maio. Para o secretário adjunto de

Estado de Ciência, Tecnologia e Ino-vação, Alberto Arruda, a expectativa é que o Pará possa se tornar, a lon-go prazo, uma referência no estudo e desenvolvimento de biossimilares, que são genéricos de medicamentos baseados em organismos vivos (prote-ínas), a partir da criação de novas ver-sões de biofármacos existentes, cujas patentes já expiraram. “A perspectiva é criarmos um centro de inteligência na área, com emprego e mão de obra especializada local e geração de renda a partir dos royalties decorrentes dos direitos de propriedade intelectual e comercialização desses medicamen-tos”, disse. Além do Parafarma, o PCT Guamá abrigará diversos laboratórios ligados à área de biotecnologia.

PCT Guamá, em Belém, abrigará Parafarma

Estado do Pará investirá R$ 30 milhões em centro de biofármacos no PCT Guamá

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NORDESTE

Recife abrigará a primeira acele-radora de empreendimentos inova-dores do Nordeste. Batizada de Ar-mazém da Criatividade, a iniciativa é fruto do convênio assinado em 21 de maio entre o Governo de Pernambu-co e o Porto Digital, onde o prédio da aceleradora será instalado. O espaço será composto por um ambiente co-laborativo, uma aceleradora de em-presas com estações de trabalho, sa-las de reunião e um mini-auditório. Também haverá um portal de desen-volvimento de soluções tecnológicas no local.

As empresas interessadas em fazer parte do programa terão que passar por um processo seletivo. Os projetos aprovados participarão de um ciclo de aceleração de cinco

meses, que será concluído com um evento de apresentação das startups a potenciais investidores. Durante esse processo também está prevista a realização de Desafios Empresa-riais.

As primeiras startups devem se instalar no local no segundo semes-tre deste ano. Os projetos selecio-nados para o programa já contarão, desde o início, com recursos de ca-pital semente de até R$ 40 mil, para ajudar no início da operação do empreendimento. O financiamento será realizado pelo empresário Car-los Francisco Ribeiro Jereissati, CEO da Jereissati Participações e sócio da Oi. O executivo tem a expecta-tiva de se tornar sócio de algumas empresas aceleradas.

A ideia de criação da aceleradora surgiu a partir de discussões rea-lizadas no Instituto Talento Brasil, que encomendou à consultoria McKinsey um estudo de mapea-mento das regiões com potencial de investimentos na área de Tec-nologia de Informação e Comu-nicação (TIC). O Porto Digital foi apontado como uma das regiões propícias para esse tipo de aporte financeiro.

Porto Digital sediará primeira aceleradora de empresas do Nordeste

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Governador de Pernambuco, Eduardo Campos, lançou a primeira aceleradora de empreendimentos inovadores do Nordeste

Fortaleza sediará a quarta edição do Encontro Regional de Incubadoras (Erine), que faz par-te dos encontros realizados em todo o país pela Anprotec e pelo

Sebrae. O evento – que ocorrerá em conjunto com o III Seminário de Incubadoras de Empresas no Ceará – acontecerá entre os dias 27 e 29 de junho. O tema será

Incubadora de Empresas – Pla-taforma do Empreendedorismo Inovador. Mais informações po-dem ser obtidas no site: www.erine.ric.org.br.

Fortaleza receberá encontro regional de incubadoras

A primeira incubadora de em-presas da Universidade Estadual do Ceará (UECE), chamada Incubauece, e uma Unidade de Pesquisa Trans-ferência Biotecnológica (UPTBI) co-meçaram a funcionar, no último dia 7 de maio, no campus da UECE no município de Itaperi (CE). A cerimô-nia de inauguração marcou o início das atividades do Parque Tecnológi-co da Universidade.

A UPTBI é uma iniciativa de pro-fessores e pesquisadores vincula-dos ao Laboratório de Manipulação de Oócitos e Folículos Ovarianos Pré-antrais (Lamofopa) e ao Núcleo Integrado de Biotecnologia (NIB) da Universidade. A criação da uni-dade recebeu apoio da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvol-vimento Científico e Tecnológico (FUNCAP).

A Unidade será um mecanismo para estabelecer a relação direta en-tre a UECE e o setor produtivo públi-co ou privado. O objetivo é facilitar e promover a transferência de biotec-nologias geradas na Universidade. A UPTBI é composta por seis laborató-rios, onde empresas poderão desen-volver e explorar produtos, além de serviços de alta tecnologia.

Universidade Estadual do Ceará ganha incubadora

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CENTRO-OESTE

A prefeitura de Campo Grande (MS) publicou, no último dia 24 de maio, o decreto de criação da Incuba-dora Tecnológica da cidade, que terá como objetivo dar suporte a empre-endimentos nascentes de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) voltados ao desenvolvimento de solu-ções para problemas dos setores pro-dutivos de Mato Grosso do Sul.

O processo seletivo das empresas será estabelecido por meio de edital

específico, a ser publicado pela pre-feitura. A Incubadora será coordena-da pela Unidade Especial de Criação da Secretaria Municipal de Governo e Relações Institucionais (Segov), nú-cleo responsável pela política de ino-vação do município.

Essa Unidade Especial também foi criada recentemente, tendo como atribuições coordenar os trabalhos desenvolvidos pela In-cubadora; zelar pela implantação,

manutenção e desenvolvimento da política institucional de inovação; apoiar e assessorar iniciativas de fortalecimento do sistema de inova-ção no âmbito local, além de incen-tivar a formação de parcerias com instituições públicas ou privadas, locais, nacionais ou estrangeiras, visando à obtenção de inovação que viabilize a geração e o desenvolvi-mento de empresas de base tecno-lógicas em Campo Grande.

Campo Grande cria incubadora de empresas de base tecnológica

O Centro de Apoio ao Desen-volvimento Tecnológico da Uni-versidade de Brasília (CDT/UnB), em parceria com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Co-mércio Exterior (MDIC), deu início, no último mês de maio, a um ci-

clo regional de oficinas e debates que irá subsidiar a elaboração da Política Nacional de Empreende-dorismo. A primeira oficina ocor-reu em São Paulo (SP), no dia 24 de maio. Participaram do debate cerca de 40 especialistas de uni-

versidades, governo e indústria, além de empresários e instituições especializadas no estímulo e apoio ao empreendedor brasileiro, para discutir sobre os principais desa-fios e obstáculos encontrados pe-los empreendedores.

As oficinas e palestras continu-arão durante o mês de junho, em Belém (PA), Goiânia(GO), Belo Ho-rizonte (MG), Salvador (BA) e Por-to Alegre (RS). A consolidação das propostas discutidas nas oficinas se dará no dia 26 de junho, com a validação das diretrizes para a Política Nacional de Empreendedo-rismo, durante o Seminário Inter-nacional sobre o tema, com a parti-cipação de especialistas do Brasil e de outros países.

Informações sobre a Política podem ser obtidas por meio dos telefones (61) 2027-7095 e 2027-7093 ou pelo e-mail [email protected].

CDT/UnB realiza oficinas para formular Política de Empreendedorismo

Primeira reunião do ciclo de oficinas ocorreu em São Paulo, no dia 24 de maio deste ano

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SUDESTE

O primeiro edifício institucio-nal do Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC), em Minas Gerais, foi inaugurado no último dia 16 de maio. Com 7,5 mil m² de área, o prédio já abriga 16 em-presas, a Diretoria Executiva do Parque, um mini-auditório, quatro salas de reunião, 88 vagas de esta-

cionamento e uma cafeteria.A obra do prédio custou cerca

de R$ 28 milhões e foi financiada pelo Governo de Minas Gerais. O terreno foi cedido, em regime de comodato, pela Universidade Fe-deral de Minas Gerais (UFMG). A Financiadora de Estudos e Proje-tos (Finep) também investiu R$ 2,5 milhões na rede de telefonia e dados. Cerca de R$ 7 milhões fo-ram investidos pela prefeitura de Belo Horizonte na infraestrutura viária do Parque. Ao todo, os in-vestimentos totalizam R$ 65 mi-lhões.

O BH-TEC está implantado em um terreno de 535 mil metros quadrados, dos quais 350 mil são áreas de preservação ambiental. A

completa implantação do BH-TEC demandará, nos próximos anos, investimentos de cerca de R$ 600 milhões. O Parque será implanta-do em etapas e a intenção é que sua estrutura imobiliária seja fi-nanciada, principalmente, por investidores privados, que serão selecionados a partir de licitação.

Quando as obras forem finali-zadas, o Parque terá capacidade para abrigar até 200 empreendi-mentos. Selecionadas por meio de uma chamada pública, as 16 empresas já instaladas no Parque atuam nos setores de tecnologias da informação e de comunicação, biotecnologia, aeronáutica, auto-mação industrial, meio ambiente, eletrônica e consultoria/gestão.

Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC) entra em operação

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Inauguração do BH-TEC: investimento inicial de R$ 65 milhões

A Fundação de Amparo à Pes-quisa do Estado do Rio de Janeiro recebe, até 26 de julho, projetos de apoio a incubadoras de empresas de base tecnológica sediadas no es-tado. O edital oferece recursos da

ordem de R$ 3 milhões e cada pro-posta pode solicitar até R$ 300 mil.

Os recursos visam a apoiar a infraestrutura física e administra-tiva de incubadoras de empresas de base tecnológica em operação

no estado do Rio de Janeiro, prin-cipalmente daquelas sediadas em Instituições de Ciência e Tecnolo-gia. Mais informações sobre o edital estão disponíveis no site da Faperj (www.faperj.br).

A Incubadora de Empresas de Base Tecnológica (IEBT), uma das unidades integrantes do Centro Tecnológico de Desenvolvimento Regional de Viçosa (Centev/UFV), foi destaque em estu-do produzido pelo infoDev, órgão vin-culado ao Banco Mundial. Publicado em abril deste ano, o estudo analisou dez incubadoras de países em desen-volvimento, com o intuito de destacar

as boas práticas de incubação voltada ao agronegócio.

No estudo, a incubadora é descri-ta como um sistema muito efetivo de suporte a professores universitários e estudantes que pretendem desenvol-ver empreendimentos bem-sucedidos na área de agronegócios e empresas de alta tecnologia. “O Centev/UFV desenvolveu um novo modelo de co-

mercialização da pesquisa em agri-cultura no Brasil e vem cultivando sucessos como uma empresa de bio-tecnologia [Rizoflora Biotecnologia] que é especializada em fungos que protegem plantas de parasitóides e nematóides, um produto que pode ajudar a reduzir as perdas anuais de R$ 100 bilhões da agricultura mundial”.

Faperj lança edital de apoio a incubadoras

Incubadora do Centev/UFV é destaque em estudo do infoDev

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SUL

A Lei Municipal de Inovação de Florianópolis (SC) foi aprovada no úl-timo dia 17 de abril, por unanimidade. O texto prevê a criação de um Fundo Municipal de Inovação e de progra-mas de incentivo à capacitação, inclu-são digital e projetos inovadores.

De acordo com estimativas para o orçamento de 2013, as empresas e

instituições de pesquisa poderão con-tar com até R$ 15 milhões para in-vestimento em iniciativas inovadoras, provenientes do Fundo recém-criado. “A Lei é a consolidação do proje-to de construção de Florianópolis como a Capital da Inovação. Com ela, a cidade terá uma importante oportunidade para aplicar o co-

nhecimento gerado aqui no cres-cimento econômico sustentável do município, revertendo o ciclo de desenvolvimento para um modelo que respeita o meio ambiente e as pessoas”, disse o secretário de Ciên-cia, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico Sustentável, Carlos Ro-berto De Rolt.

Câmara de Florianópolis aprova Lei de Inovação do município

A Secretaria da Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico do Rio Grande do Sul liberou cerca de R$ 4 milhões a cinco Parques Tecnoló-gicos do estado conveniados ao Pro-grama Gaúcho de Parque Científicos e Tecnológicos (PGtec).

O Parque Científico e Tecnológico do Mar (Oceantec) receberá R$ 931 mil para sua implantação, na cidade de Rio Grande. O projeto tem como objetivo fortalecer o empreendedo-

rismo na região Sul, potencializando empresas que tenham foco no Mar e criar condições locais para o desen-volvimento econômico, social e tec-nológico sustentável. O valor total do projeto do Parque é de cerca de R$ 4,8 milhões.

Já o Parque Tecnológico da PUCRS (Tecnopuc) recebeu R$ 1 milhão para a execução do proje-to Global Tecnopuc, que pretende qualificar empresas, empresários e

gestores do Parque para atuarem no mercado internacional.

O TecnoUnisc, de Santa Cruz do Sul, investirá R$ 624 mil no desen-volvimento de produtos e proces-sos oleoquímicos e biotecnológicos. O objetivo final é a construção de um Centro de Excelência em Pro-dutos e Processos Oleoquímicos e Biotecnológicos, buscando atender necessidades de empresas sediadas no Parque e as particularidades eco-nômicas da região. O valor total do projeto é de cerca de R$ 1,6 milhão.

O Parque do Vale do Caí, da Universidade de Caxias do Sul, re-ceberá R$ 530 mil para realizar a adequação de espaço físico para instalação do laboratório de Tec-nologia Cerâmica e para o desen-volvimento de pavimento cerâmico não esmaltado e telha cerâmica extrudada. O Parque fica localizado no município de Bom Princípio, na Serra Gaúcha. Já o Parque Científi-co e Tecnológico do Planalto Mé-dio, em Passo Fundo, receberá R$ 924 mil para sua implantação.

Secretaria do Rio Grande do Sul libera R$ 4 milhões a Parques Tecnológicos

Tecnopuc, de Porto Alegre, foi um dos cinco parques contemplados e recebeu R$ 1 milhão

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Pré-incubação ajuda novos empreendimentos a ingressarem no mercado com mais competitividade. Capacitação

de empresários e suporte constante da incubadora são fundamentais ao processo

Ciclo preparatório

HABITATS

A bióloga Ethel Peternelli e outros cinco pesquisadores do Programa de Pós-Gra-duação em Entomologia da Universidade Federal de Viçosa (UFV) decidiram partici-par, no ano passado, do processo seletivo da Incubadora de Empresas de Base Tec-nológica (IEBT) do Centro Tecnológico de Desenvolvimento Regional de Viçosa (Cen-tev). A ideia era criar uma empresa que desenvolvesse serviços inovadores para a suinocultura. A proposta foi aceita, mas, em vez de ingressar diretamente na incu-

badora, o projeto está passando por uma fase preparatória desde janeiro deste ano: a pré-incubação.

Os novos empreendedores estão entu-siasmados com o processo. “Nós, sócios, éramos do mesmo laboratório da UFV e ti-vemos a ideia do projeto. Queríamos sair da área acadêmica para a empresarial ou fazer uma interface entre elas. Mas não fazíamos a mínima ideia do que era um plano de ne-gócios”, explica Ethel. Na pré-incubação, ela e seus sócios estão recebendo consultoria

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HABITATS

em diversas áreas, como jurídica e adminis-trativa, para estruturar a empresa, que se chama Pygs. “Vimos que só a ideia não é su-ficiente. Precisamos de todo esse apoio para saber como formar a empresa e se nosso negócio é viável. Nosso principal objetivo agora é passar por essa etapa e entrar na incubação”, afirma.

A história da Pygs é exemplo de uma estratégia que vem sendo adotada por vá-rias incubadoras do Brasil nos últimos anos. Projetos inovadores que, apesar de terem potencial de sucesso, não possuem estudos de viabilidade e plano de negócios, agora tendem a passar por um período de pré-in-cubação. De acordo com a pesquisa Estudo, Análise e Proposições sobre as Incubado-ras de Empresas no Brasil – realizada pela Anprotec em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em 2011 – cresce, no país, o número de pro-jetos pré-incubados. Estima-se que sejam cerca de 270, atualmente, no Brasil.

A incubadora do Centev oferece a mo-dalidade desde 2006. O programa surgiu a partir da percepção de que alguns empre-endedores que procuravam a IEBT preci-savam ser mais bem preparados antes de

entrar na incubadora e realizar um estudo mais amplo de viabilidade técnica, econômi-ca e comercial do negócio. Hoje, a incuba-dora possui cinco projetos pré-incubados, dentre os quais está a Pygs. Por um pra-zo de seis meses, os empreendedores têm acesso a local de trabalho, computador com acesso à internet, salas para reunião e trei-namento e secretaria, telefone e recepção compartilhados. Além disso, o programa oferece orientação para o acesso aos labo-ratórios, linhas de pesquisa e banco de da-dos da UFV e o apoio de diversos tipos de assessoria ofertados pela incubadora.

A multincubadora do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Universi-dade de Brasília (CDT/UnB) foi uma das pri-meiras do país a oferecer a modalidade de pré-incubação, no final da década de 1990. No Centro, os novos empreendedores têm acesso ao chamado Hotel de Projetos. “O objetivo de uma incubadora é minimizar o insucesso de empreendimentos, mas, para isso, é preciso haver mecanismos que com-provem a viabilidade desses projetos. E isso ocorre no âmbito da pré-incubação”, explica o gerente da incubadora, Higor Santana.

A pré-incubação, de acordo com Santana,

Incubadora do Centev: pré-incubação prepara empreendedores

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também minimiza os custos de empreende-dores que estão iniciando o desenvolvimen-to de uma ideia. “O CDT exige, na incuba-ção, que a empresa esteja formalizada. Mas na pré-incubação, não. A empresa formali-zada possui custos inerentes e se o projeto é incipiente, formalizar significa penalizar o empreendedor, já que ele precisará ter CNPJ, estrutura, contador etc. É um custo que não vai ser pago pelo próprio negócio. A ideia, então, é que as empresas entrem na incubadora gerando receita”, explica.

O tempo idealDurante a pré-incubação no CDT/UnB,

além de ser analisada a viabilidade dos projetos, os empreendedores passam por uma série de capacitações. “Sabemos que o sucesso de uma empresa não depende apenas da estratégia e do produto, mas, principalmente, da capacidade e da atitude empreendedora das pessoas envolvidas no projeto. A pré-incubação é o momento de trabalhar esse perfil nos novos empresá-rios”, destaca Santana.

Como a multincubadora também abriga, junto a empresas de base tecnológica, co-

operativas e projetos culturais, outro foco da pré-incubação é desenvolver caracterís-ticas como associativismo e cooperativismo nos empreendedores dessas áreas. “Muitas vezes o projeto não nasce com base no as-sociativismo e cooperativismo, mas a partir de uma oportunidade que surgiu. Então, nos casos em que não vemos durante a seleção a transparência desses princípios, optamos por colocá-los na pré-incubação”, explica Santana.

No CDT/UnB as empresas têm o prazo máximo de um ano para ficar na pré-incubação. Esse tempo, de acordo com Higor Santana, é suficiente para a maioria dos projetos. No entanto, para os que têm um processo de maturação mais longo, como os da área de Biotec-nologia, a incubadora oferece outros ti-pos de serviço. “No caso desses projetos, que às vezes precisam de até cinco anos para se desenvolver, os empreendedores podem utilizar outros serviços do CDT, focados no desenvolvimento do produto, como a gerência de projetos e o Disque Tecnologia”, afirma Higor. Assim, quando os empreendedores conseguem finalizar

A incubadora Supera, de Ribeirão Preto (SP): mais

tempo para a pré-incubação

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o produto no período de 12 meses, é o momento de procurar a incubadora.

Mas o tempo de pré-incubação varia de acordo com a natureza das incubado-ras e dos negócios que abrigam. Foi por ter como principal público-alvo empre-sas da área de Saúde e Biotecnologia que a incubadora Supera, de Ribeirão Preto (SP), optou por um prazo mais longo de preparação dos empreendimentos. A ins-tituição oferece, atualmente, duas etapas que antecedem a incubação: o Hotel de Projetos e a pré-incubação. “Percebemos que projetos nessa área exigiam uma permanência maior no ambiente da incu-badora. Esses serviços surgiram, de certa forma, pra resolvermos essa dificuldade e tornarmos a orientação aos projetos

mais efetiva”, explica o gerente da incu-badora, Eduardo Gardes Cicconi.

O Hotel de Projetos da Supera tem como foco o desenvolvimento do plano de negócios e dura até um ano. “Nós re-cebíamos muitos empreendedores sem planos estruturados que procuravam a incubação. Por diversas vezes tenta-mos auxiliá-los. Mas o contato acabava se perdendo”, explica Cicconi. Já a pré--incubação, na Supera, visa possibilitar a estruturação do negócio por um prazo de três anos, no máximo. Para Cicconi, a implantação de serviços que antecedem a incubação ajudou a estruturar a Supe-ra. “É uma cadeia de desenvolvimento. A empresa precisa passar por ela antes de ter um espaço individualizado na incuba-

Desde 2009, algumas unidades da Embrapa oferecem, como parte do Proeta (Programa de Apoio ao Desenvol-vimento de Novas Empresas de Base Tecnológica Agropecuária e Transferência de Tecnologia), uma forma diferente de pré-incubação, que visa facilitar a transferência de tecnologia. Por meio dessa modalidade, a Embrapa oferece, através de um edital, tecnologias disponíveis que tenham potencial para viabilizar a criação de negócios. Os empreen-dedores interessados escolhem a tecnologia que querem desenvolver e passam até quatro meses em uma incubadora desenvolvendo o plano de negócios da futura empresa e recebendo auxílio técnico de pesquisadores da Embrapa.

O projeto é oferecido por meio de parcerias entre a Embrapa e incubadoras de empresas já existentes. Este ano, a Embrapa Agroindústria de Alimentos, em conjunto com a Incubadora de Empresas de Base Tecnológica em Agronegó-cios da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ineagro), ofereceu vagas de pré-incubação. Ao todo, sete empreende-dores se candidataram e estão desenvolvendo planos de negócios com estratégias de produção e comercialização das seis tecnologias oferecidas no edital. “O objetivo desse projeto é fazer aquilo a que a Embrapa se propõe: implantar tecnologias que possam auxiliar no desenvolvimento da agricultura”, explica o coordenador da iniciativa na Embrapa Agroindústria de Alimentos, Marcos Maia.

A escolha das tecnologias a serem oferecidas é feita com base em critérios como simplicidade e caráter inovador. “Escolhemos tecnologias consideradas mais simples, ou seja, que não demandem tanto conhecimento técnico por parte dos empreendedores interessados e equipamentos”, explica Maia. Além disso, segundo ele, precisam ser tec-nologias que possam ser desenvolvidas em um espaço de tempo curto, já que o prazo máximo de pré-incubação dos projetos é de quatro meses. “Acreditamos que esse tempo seja suficiente para que os empreendedores, contando com o apoio dos pesquisadores da Embrapa, desenvolvam seus planos de negócio.”

A ideia é que, após passarem pelo processo de pré-incubação, os empreendedores criem suas empresas e entrem na incubação física da Ineagro. Os melhores planos de negócio desenvolvidos serão incubados por até dois anos.

_EMBRAPA: PRÉ-INCUBAÇÃO PARA TRANSFERIR TECNOLOGIA

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dora. Na Supera, para fazer a transição entre as fases, acompanhamos mensal-mente os projetos e utilizamos indicado-res para realizar diagnósticos”. Hoje, a in-cubadora possui quatro iniciativas no Hotel de Projetos e cinco na pré-incubação.

Diferentemente da Supera, a Rede de Incubadora de Tecnologia da Universida-de do Estado do Pará (Ritu/Uepa) oferece um período curto de pré-incubação: três meses, com possibilidade de renovação. “A pré-incubação, nesse caso, é destinada a empreendedores que ainda não elabo-raram seus planos de negócios”, explica a gerente da incubadora, Nair Sena.

Empreendedorismo acadêmicoEm alguns ambientes de inovação, a

pré-incubação aparece como uma ferra-menta de incentivo ao empreendedorismo na universidade. Em Juiz de Fora (MG), o Centro Regional de Inovação e Trans-ferência de Tecnologia (Critt) oferece a modalidade desde 2009, exclusivamente a pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora, enquanto a incubação é aberta ao público em geral. “Recebíamos muita demanda de estudantes e profes-sores para testar a viabilidade comercial de projetos de pesquisa básica. Por isso criamos o serviço”, explica o responsável pela pré-incubação, Leonardo Frossard.

A recém-inaugurada Incubadora de Empresas da Universidade Estadual do Ceará (Incubauece) também foca nos pes-quisadores da Universidade. No primeiro processo seletivo da incubadora, realiza-do no ano passado, quatro projetos foram selecionados para a pré-incubação e um para a incubação. “O foco são, principal-mente, os alunos de doutorado. Tanto que, do total, apenas um projeto veio de fora da Universidade. A ideia é que pes-quisadores que já têm pesquisa em fase avançada possam transformá-las em ne-gócio na pré-incubação”, afirma a coor-

denadora executiva da incubadora, Maria José Barbosa.

MudançasO CDT/UnB é uma das únicas incuba-

doras do país onde o número de projetos pré-incubados supera o de incubados. São 16 no Hotel de Projetos e 12 na incubação, sendo que seis se graduaram recentemente. “A ideia é a do funil. Quanto mais pré-incu-bados melhor, já que aumenta a possibili-dade de que projetos saiam com potencial de sucesso. O objetivo é que todos sigam para incubação, mas sabemos que isso não acontece por vários motivos. Hoje, ocorre a passagem de cerca de 30 a 40% dos proje-tos”, afirma Higor Santana.

Com mais de dez anos de experiência com a modalidade, o Centro realizou mu-danças na pré-incubação nos últimos anos. “Mudamos a infraestrutura oferecida. An-tes, era parecida com a de uma empresa in-cubada, mas percebemos que o espaço era subutilizado e criamos a sala compartilha-da”, afirma Santana. “Começamos a traba-lhar, também, a questão do perfil do empre-endedor, não só o modelo de negócios. Isso foi crucial, porque um projeto hoje pode não dar certo, mas se o empreendedor for bem orientado, ele vai ter outra ideia e vai retornar em outra oportunidade”.

Para Santana, o crescimento da oferta de pré-incubação em ambientes de inovação é fruto da experiência das incubadoras. “Os gerentes de incubadoras começaram a ver que ocorreram e ainda ocorrem grandes perdas dentro do processo de incubação, às vezes devido a um processo de seleção muito rápido. Por isso, hoje há uma tendên-cia a só colocar projetos na incubadora a partir de uma análise aprofundada”, ana-lisa. A pré-incubação assim, torna-se uma extensão do processo seleção, pela qual desenvolvem-se empreendimentos inova-dores mais preparados para ingressar no mercado. L

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Inovação no arMercado de Veículos Aéreos Não Tripulados está em expansão

no Brasil, abrindo espaço para empresas incubadas e graduadas desenvolverem novos produtos e serviços

Para vigiar os passos de Osama Bin Laden em seu esconderijo no Paquistão, os Estados Unidos utilizaram um avião não tripulado cha-mado RQ-170 – que possui um dos menores coeficientes de detecção por radar – antes de capturá-lo, em maio do ano passado. No final de 2011, quando Muamar Kadafi, ex-presidente da Líbia, tentava fugir, seu comboio também foi interceptado por um míssil disparado por um uma aeronave não tripulada.

Chamados em inglês de UAV (Unmaned Aerial Vehicle) ou drones, esses veículos hoje representam cerca de 30% da frota militar ame-ricana. Em 2005, esse número era de apenas

5%, de acordo com dados publicados no ano passado pela consultoria Teal Group. O uso civil desses aviões também aumenta. A expectativa é que o mercado mundial do setor cresça 155% até 2020, alcançando um faturamento de US$ 55 bilhões.

Assim como nos Estados Unidos, o Brasil possui um mercado promissor para os UAV, que aqui são conhecidos como Vants (Veícu-los Aéreos Não Tripulados). Desde a década de 2000, cresce o número de empresas nacionais dedicadas a fabricar essas aeronaves e seus componentes. Muitas delas estão localizadas em incubadoras de empresas e parques tec-

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NEGÓCIOS

nológicos. “O Brasil é um país com tradição aeronáutica. Temos a segunda maior frota de aviação geral do mundo, a terceira maior fabricante de aeronaves, duas empresas fabri-cantes de aeronaves leves, fabricantes de ae-ronaves desportivas e uma comunidade extra-ordinária de aeromodelistas. Por que não ser líder na aviação não tripulada?”, questiona Nei Brasil, presidente e sócio-fundador da Flight Technologies.

A empresa é uma das que está aproveitan-do o crescimento do uso de Vants no país. Fun-dada em 2005, foi o primeiro empreendimen-to a ser apoiado pela Incubadora Aeronáutica (Incubaero), localizada em São José dos Cam-pos (SP), e é focada no desenvolvimento de sistemas aviônicos e de inteligência, comando e controle baseados em Veículos Aéreos Não Tripulados. Neste ano, a empresa venceu uma licitação para desenvolver tecnologias avança-das de decolagem e pouso automáticos para a

Aeronáutica, um contrato de R$ 1,3 milhão.A Incubaero, onde nasceu a Flight Tech-

nologies, também já graduou outras duas empresas que atuam no ramo: a Gyrofly e a Embravant. A Xmobots, uma das principais do setor, foi incubada no Centro de Inovação, Em-preededorismo e Tecnologia (Cietec), da USP. A gaúcha Skydrones, por sua vez, surgiu na incubadora Unitec, do Parque Tecnológico da Unisinos, em São Leopoldo. Dentro do Porto Digital, em Recife, o Centro de Estudos e Sis-temas Avançados do Recife (C.E.S.A.R) realiza pesquisas na área. No país, também há outras empresas dedicadas ao desenvolvimento de Vants.

O motivo para o crescimento tão acelera-do, desde os anos 2000, foi, principalmente, o avanço tecnológico e a popularização de sen-sores e microcontroladores, essenciais ao fun-cionamento dos Vants. “Quem tem um tablet ou smartphone vê que o aparelho identifica quando está sendo inclinado ou girado. É por-que possui sensores capazes de notar isso. No momento em que esses sensores se populari-zaram e passaram a ser produzidos em massa, caiu muito o preço, o que facilita o desenvol-vimento de Veículos Aéreos Não Tripulados”, explica Ulf Bogdawa, fundador da Skydrones.

Formado em Engenharia de Automação, Bogdawa decidiu criar a empresa devido a um antigo hobby e por vislumbrar uma oportu-nidade de mercado. “Vi que a tecnologia es-tava avançando e que estava propiciando a

O Veículo Aéreo Não Tripulado é uma aeronave sem piloto a bordo. Conheça alguns tipos de Vants:

• Micro: Pesam cerca de cinco quilos e chegam a voar durante uma hora.

• Mini: Tem de 25 a 150 quilos e possibilidade de voar até duas horas.

• Curto Alcance: Pesam de 50 a 250 quilos e têm capacidade de voo de três a seis horas.

• Médio Alcance: Com 150 a 500 quilos, possuem duração de voo de seis a dez horas.

Fonte: Unmaned Vehicle Systems International Association

_CARACTERÍSTICAS DOS VANTS

Vant produzido pela Skydrones, graduada pela

incubadora Unitec

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entrada nessa área”, afirma. Hoje a Skydrones desenvolve aeronaves conhecidas como Mi-cro Vants. Os modelos da empresa possuem asas rotativas e são ideias para a realização de imagens aéreas.

Mais baratos e segurosAlém do desenvolvimento da tecnologia

em si, outras vantagens oferecidas pelos Vants contribuíram para a disseminação des-ses veículos pelo mundo. Eles são mais bara-tos, seguros, eficientes para realizar imagens,

e substituem, nas operações, aeronaves que antes teriam que ser tripuladas, como heli-cópteros.

Em Recife, o C.E.S.A.R desenvolve pes-quisas sobre Vants semiautônomos, que são usados pela Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf). A empresa está começando a substituir o uso de helicópte-ros nas operações de inspeção das redes de transmissão de energia elétrica. “A inspeção das linhas de transmissão com helicópteros pilotados é uma operação de alto risco. O custo é altíssimo e é preciso que haja uma equipe no veículo para realizar as filma-gens. Os Vants surgem, nesse contexto, como uma solução para amenizar esse risco e diminuir, também, o custo desse tipo de operação”, explica Sérgio Cavalcante, atual CEO do C.E.S.A.R.

Cavalcante destaca, também, que as ope-rações realizadas com Vants são mais ágeis e que a qualidade das imagens obtidas é superior. “É mais rápido colocar um Vant em ação do que acionar uma equipe com um helicóptero. Além disso, as imagens ficam me-

Apesar de o crescimento do mercado de Vants ter começado há cerca de dez anos, as pesquisas sobre esses veícu-los tiveram início, no Brasil, ainda na década de 1980, no Centro Técnico Aeroespacial (CTA). O projeto Acauã, como era chamado, foi iniciado em 1984 e tinha como um de seus objetivos criar um banco de ensaios para desenvolvimen-to de sistemas de controle e telemetria para futuros alvos aéreos manobráveis. O projeto, no entanto, foi interrompido em 1988 por falta de recursos.

A pesquisa foi retomada em 2005, por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que destinou R$ 9 mi-lhões do Fundo Setorial ao projeto. O objetivo era o desenvolvimento de um Sistema de Navegação e Controle para Vant que possibilitasse a sua adequação em diferentes plataformas de voo, com ênfase em missões de reconhecimen-to. Os antigos modelos de Vants, da década de 1980, foram reutilizados.

O projeto foi desenvolvido em parceria com a empresa Avibras Indústria Aeroespacial, o Centro Tecnológico do Exército e o IpqM (Instituto de Pesquisas da Marinha). A Avibras ajudou no desenvolvimento do sistema de navegação e controle da aeronave, e, ao final do projeto, ficou com a tecnologia.

Em 2011, a Finep quadruplicou o investimento na área de Defesa. A oferta de crédito para as empresas do setor atingiu a marca de R$ 1 bilhão, o que corresponde a quase um terço de todos os contratos firmados pela Financiadora.

_PESQUISAS COMEÇARAM NA DÉCADA DE 1980

Ausência de tripulação reduz riscos em operações

perigosas

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lhores. Se um helicóptero sai da posição, ele tem que voltar para a mesma posição e ali-nhamento. O Vant realiza isso com facilidade”, afirma. As pesquisas do C.E.S.A.R. começaram a ser desenvolvidas em 2005. Atualmente, o projeto está entrando em sua segunda fase, que vai buscar aumentar a nacionalização dos componentes do sistema. O Vant utilizado é importado.

Na área de Defesa, as vantagens ofereci-das pelos Vants são as mesmas. Por não se-rem tripulados, não há perigo de ocorrerem baixas em operações perigosas. Na Estratégia Nacional de Defesa, instituída pelo decreto nº 6.703 de 2008, são apontadas três diretrizes estratégicas para a Força Aérea. Uma delas é o avanço nos programas de Vants, primeiro de vigilância e depois de combate. “Os veículos não tripulados poderão vir a ser meios cen-trais, não meramente acessórios, do combate aéreo, além de facultar patamar mais exigente de precisão no monitoramento/controle do território nacional. A Força Aérea absorverá as implicações desse meio de vigilância e de combate para sua orientação tática e estraté-gica”, diz o decreto.

Aplicação civil Os Vants surgiram para uso militar, mas

é cada vez maior o uso desses veículos para fins civis, como demonstra o caso da Com-panhia Hidroelétrica do São Francisco. Na agricultura, por exemplo, as câmeras de alta definição termais e multiespectrais e os sen-sores de Vants permitem a realização de le-vantamentos aerofotogramétricos. Na análise ambiental, o uso de Vants possibilita a obten-ção de imagens precisas de áreas desmatadas e derramamento de petróleo, entre outras situações.

A AGX, localizada no cluster de São Carlos, no interior de São Paulo, foi fundada no início da década de 2000 a partir de um projeto de agricultura e colocou no mercado, em 2011, o Vant mais barato do Brasil, o Tiriba, que custa entre R$ 30 mil a 60 mil e foi desen-volvido em parceria com o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Sistemas Embar-cados Críticos (INCT-SEC). “O segredo é a na-cionalização da tecnologia”, garante Adriano Kancelkis, presidente da AGX.

A empresa possui uma parceria, na área de pesquisa e desenvolvimento, com a Xmo-bots, empreendimento graduado pelo Cietec, de São Paulo, e, além de desenvolver três mo-delos de Vant e seus componentes, atua na realização de imagens aéreas georreferencia-das, com a análise qualitativa e quantitativa

• Alvo móvel ou isca: Vant utilizado para atrair fogo amigo ou inimigo. Reconhecimento e monitoramento: São usados para suporte tático de inteligência no campo de batalha. Eles obtêm dados de uma forma mais eficiente e a uma distância mais próxima que o satélite. Na área civil possibilitam a vigilância de áreas ou estruturas e podem ser usados em operações de salvamento.

• Combate: São utilizados em missões em que o risco para um piloto humano é muito alto.

• Logística: Transporte de carga aérea.

• Pesquisa e Desenvolvimento: Vants equipados com equipamentos de medição para desenvolvimento de testes científicos ou de engenharia.

Fonte: Xmobots

_OS DIFERENTES USOS DOS VANTS

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das imagens e processamento das imagens. A Gyrofly Innovations, localizada em São

José dos Campos e graduada pela Incubaero, também aposta no uso civil de seus Vants, que são de modelo Mini. Uma das ideias é que eles possam ser utilizados na Copa do Mundo 2014. “Está havendo discussões nos órgãos responsáveis. O uso de Vants seria uma parte da solução de segurança da Copa, principal-mente dos Mini, pelo seu tamanho e peso. Com pouco treinamento é possível manuseá--los”, explica Gustavo Penedo, um dos sócios--fundadores da empresa.

DesafioO uso de Vants em locais habitados é res-

trito. Ainda não existe regulamentação especí-fica sobre isso publicada pela Agência Nacio-nal de Aviação Civil (Anac). No momento, as operações com Veículos Não Tripulados estão condicionadas à reserva de um determinado espaço aéreo e de acordos operacionais e pro-cedimentos específicos.

A Anac está acompanhando o cenário in-ternacional para desenvolver a regulamenta-ção. Por enquanto, são aplicadas as regras já existentes. Há apenas uma publicação do De-partamento de Controle do Espaço Aéreo (DE-CEA). Intitulada Veículos Aéreos Não Tripula-dos, a AIC-N 21/10, apresenta as informações necessárias para o acesso de Veículos Aéreos Não Tripulados ao espaço aéreo brasileiro.

De acordo com Ulf Bogdawa, da Skydro-nes, o país costuma seguir a legislação inter-nacional nessa área. “O Brasil segue muito legislação dos Estados Unidos e lá, recente-mente, elaboraram uma lei regulando uso de Micro Vants, então há expectativa de que isso seja seguido também no Brasil”, disse.

Para Nei Brasil, da Flight Technologies, o tema caminha de maneira consistente na Anac, apesar de deixar a indústria preocupa-da. “O grande desafio é que a Anac, junto com a indústria, precisa ter condições de trabalhar em conjunto para se antecipar às tendências do mercado e transformar o país em um dos

líderes do setor no mundo”, analisa.A Xmobots, graduada pelo Cietec, iniciou

em maio de 2010 um processo para conse-guir um Certificado de Autorização de Voo Experimental (CAVE), da Anac, para o Vant modelo Apoena 1000. Com essa certificação, a empresa só poderá realizar operações com propósitos de Pesquisa e Desenvolvimento. “Iniciamos o processo em maio de 2010, fize-mos varios refinamentos do projeto a pedido da ANAC e desenvolvemos uma série de do-cumentações que a regulamentação exige”, explica Giovani Amianti, sócio-diretor da em-presa. A Xmobots foi a primeira a operar um Vant na Amazônia, em 2010, para realizar monitoramento da área onde será a Usina Hi-drelétrica de Jirau, que está em construção no Rio Madeira, em Rondônia.

No Brasil, várias empresas estrangeiras já atuam no fornecimento de Vants. Elas são, principalmente, de Israel e dos Estados Uni-dos, países que já possuem pesquisas avança-das na área. A Polícia Federal, por exemplo, comprou dois Vants produzidos em Israel para utilizar em suas operações de fronteira. O Governo ainda teria intenção de comprar mais aeronaves para o uso durante a Copa do Mundo e as Olimpíadas.

Vant da Xmobots, empresa graduada pelo Cietec: a primeira a operar um Vant na Amazônia

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Tecnologias para inclusão

Proporcionar autonomia a pessoas com deficiência, incapacidade ou mobilidade

reduzida. Essa é a meta de diversas empresas que desenvolvem as chamadas

Tecnologias Assistivas, um mercado repleto de oportunidades para inovação. Na última

década, o Brasil tem buscado deixar a posição de importador para nacionalizar soluções que podem garantir mais qualidade de vida a cerca

de 45 milhões de brasileiros

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Na década de 1990, os ir-mãos Claudio e Renato Sindicic decidiram trazer uma novidade ao país. Renato, que é surdo e trabalha como professor uni-versitário nos Estados Unidos, conheceu, lá, diversas tecnolo-gias na área de acessibilidade que ainda não existiam no Bra-sil. Percebendo essa lacuna, os irmãos fundaram, em 1996, a Koller & Sindicic, uma empre-sa especializada em soluções de comunicação para a comu-nidade surda. No início, todos os equipamentos eram impor-tados dos Estados Unidos. De-pois, o empreendimento pas-sou a investir em Pesquisa e Desenvolvimento, permitindo que os telefones e outras solu-ções fossem nacionalizados.

Muitos empreendimentos da área de Tecnologia Assistiva começaram da mesma forma que a Koller & Sindicic: foram criados por pessoas que pos-suíam alguma relação pessoal com pessoas deficientes. Esse era, até pouco tempo atrás, um dos principais incentivos para o surgimento desse tipo de

negócio. Ainda eram escassas as iniciativas de investimento para a formação de empresas e desenvolvimento de pesquisas nessa área. O país depende, até hoje, de tecnologias importa-das. Desde a década de 2000, no entanto, esse cenário está mudando e a área de Tecno-logia Assistiva começou a ga-nhar espaço no Brasil.

Sem limitesNo final do ano passado, o

Governo Federal lançou o Pla-no Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, cha-mado “Viver Sem Limite”, que tem como uma de suas dire-trizes a promoção do acesso, do desenvolvimento e da ino-vação em Tecnologia Assisti-va. Por meio desse programa, serão disponibilizados, através da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), até 2014, R$ 150 milhões a empresas que desenvolvem produtos na área, via financiamento não re-embolsável, crédito subsidiado e subvenção econômica (Veja Box na página 35).

A Finep já vinha lançando editais de apoio ao desenvolvi-mento desse tipo de tecnologia desde 2005. O último - que está na sua segunda etapa de seleção - habilitou 52 propos-tas, em sua primeira fase. O resultado dos projetos selecio-nados está previsto para ser divulgado em julho. O Prêmio Finep de Inovação também in-cluiu, neste ano, uma categoria específica para empresas de Tecnologia Assistiva.

Ações de financiamento também estão sendo realiza-das nos estados. Em abril des-te ano, pela primeira vez, uma instituição estadual lançou um edital específico voltado ao de-senvolvimento de Tecnologia Assistiva. A Fundação de Am-paro à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) vai dispo-nibilizar R$ 2,5 milhões a pes-quisadores e inventores que desenvolvam projetos na área. O Governo de Minas Gerais também está investindo R$ 650 mil na criação de um Cen-tro de Tecnologia Assistiva da Rede Apae, projeto que inclui

O Censo 2010, realizado pelo IBGE, avaliou o número de pessoas com deficiência no país, classificando-as em qua-tro tipos: visual, auditiva, mental e motora. Mais de 45 milhões de brasileiros declararam, na pesquisa, ter pelo menos algum tipo de deficiência, o que representa 23,92% da população. Desse total, cerca de 17,7 mil, representando 6,7% da população total, afirmaram ter alguma deficiência severa.

A deficiência visual severa foi a que apresentou maior incidência sobre a população: 3,5% das pessoas declararam possuir grande dificuldade ou nenhuma capacidade de enxergar. Já a deficiência motora severa atinge 2,3% das pes-soas, a deficiência auditiva severa, 1,1%, enquanto a deficiência mental, 1,4%.

Fonte: Censo Demográfico 2010 – Resultados Preliminares da Amostra

_45 MILHÕES DE BRASILEIROS

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a fundação de uma incubadora de empresas. “Desde 2005, é notório o avanço do desenvol-vimento da Tecnologia Assis-tiva. A partir desse ano come-çaram a surgir várias políticas. A Tecnologia Assistiva passou a ser uma prioridade”, afirma Jesus Delgado, coordenador de projetos do Instituto de Tecnologia Social (ITS Brasil), entidade que já realizou duas pesquisas para o Ministério de Ciência, Tecnologia e Ino-vação (MCTI) sobre a área de Tecnologia Assistiva no país. “Sempre existiu Tecnologia As-sistiva no Brasil, mas não havia políticas públicas constantes. Elas eram mais pontuais. Hoje isso mudou, estão sendo ado-tados novos conceitos e está ocorrendo uma superação da-quele antigo modelo médico de atendimento à pessoa com deficiência”, destaca.

Novo conceitoO próprio conceito de Tec-

nologia Assistiva é recente no Brasil. Antes, eram utilizados, principalmente, termos como Ajudas Técnicas, Tecnologias de Apoio e Tecnologias de Re-abilitação, entre outros. Esses nomes ainda são usados, mas o conceito de Tecnologia As-sistiva possui um significado diferente, mais abrangente. De acordo com o Comitê de Ajudas Técnicas, do Governo Federal, o termo significa “uma área do conhecimento, de ca-racterística interdisciplinar, que engloba produtos, recur-sos, metodologias, estratégias,

práticas e serviços que objeti-vam promover a funcionalida-de, relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social”.

O conceito abrange não apenas produtos, mas tam-bém outros tipos de solução, e está voltado tanto a pessoas com deficiência quanto a pes-soas que possuam mobilidade reduzida, como idosos, por exemplo. As palavras-chave do termo Tecnologia Assistiva são: autonomia e inclusão so-cial. Não basta apenas auxiliar a pessoa na recuperação de movimentos diminuídos. É pre-ciso que a tecnologia possibili-te que ela se torne mais autô-noma. “A Tecnologia Assistiva é uma área de conhecimento transversal. Ela se define pela sua finalidade”, explica Delga-do. Devido a essa característi-ca, segundo ele, é difícil encon-trar dados específicos sobre o

setor. “A Tecnologia Assistiva pode ser parte da Engenharia Mecânica, Ciências da Compu-tação, Fisioterapia etc. Não é um setor econômico diferen-ciado na cadeia produtiva”, afirma.

Não há dados oficiais sobre o número de empresas que de-senvolvem produtos na área de Tecnologia Assistiva existentes no Brasil. No estudo realizado pelo ITS Brasil entre 2005 e 2006, das 168 instituições que afirmaram realizar pesquisas na área, apenas 8,2% eram em-presas, ou seja, menos de 15. A Associação Brasileira de Tec-nologia Assistiva (Abteca) lista em seu site 14 associados.

O número de propostas recebidas por editais de fo-mento a pesquisas na área, no entanto, mostra que o número de empresas que desenvolve soluções nesse sentido é bem maior. No último edital da Fi-nep, 182 empresas enviaram projetos, o que representou uma demanda de R$ 409 mi-lhões. Desses empreendimen-

Telefone para surdos produzido pela Koller & Sindicic , que foi incubada no Cietec, de São Paulo (SP)

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tos, 77,4% eram de médio ou pequeno porte. “Um dos moti-vos para a maioria das propos-tas serem de empresas peque-nas deve ser decorrência do fato de que muitos produtos de Tecnologia Assistiva não possuem uma grande escala de produção”, explica Patrícia Retz, chefe do Departamento de Tecnologias Sociais da Fi-nep.

A Fapeam, do Amazonas, também tem a expectativa de receber cerca de 100 pro-postas de empresas, pesqui-

sadores e inventores para o edital de Tecnologia Assisti-va. “Pelo volume de recursos disponibilizados para este edital, R$ 2,5 milhões - sen-do que os projetos poderão solicitar de acordo com a modalidade, até R$ 300 mil - estamos projetando contratar cerca de 15 projetos propos-tos por pesquisadores e in-ventores. A demanda deve ser bem maior, espera-se receber cerca de 100 propostas. Essa procura será, certamente, um decisivo indicador a ser consi-derado quando eventualmente viermos a lançar uma nova chamada pública”, afirma a diretora-presidente da Funda-ção, Maria Olívia de Albuquer-que Simão.

Falta inovaçãoA maioria das instituições

que desenvolvem Tecnologia Assistiva no país, segundo da-dos do ITS Brasil, são as Ins-tituições de Ensino Superior e Tecnológico (54,9%), além de instituições privadas sem fins

lucrativos. A pesquisa do Insti-tuto mostrou, no entanto, que muitas pesquisas não estão chegando ao usuário final. A dificuldade para a comerciali-zação, segundo as instituições, estaria na falta de financia-mento e de pessoas especiali-zadas para realizar esse tipo de operação.

Para solucionar esse pro-blema, a pesquisa do ITS Bra-sil apontou a necessidade de políticas de incentivo e auxí-lio para o desenvolvimento dos produtos e recomendou a criação de um Programa de Incubação, para fazer com eles sejam comercializados. “Esse é um problema de todas as tec-nologias. É preciso contemplar o ciclo de inovação como um todo. Há uma dificuldade na interação do setor acadêmico com o empresarial”, analisa Je-sus Delgado, do ITS Brasil.

Uma iniciativa desse tipo está ocorrendo em Minas Ge-rais. O Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), por meio de seu Núcleo de Empre-endedorismo, está coordenan-do a criação de uma incuba-dora de empresas, na cidade de Pará de Minas, voltada a projetos de Tecnologia Assis-tiva. A iniciativa tem apoio da Secretaria de Ciência, Tecnolo-gia e Ensino Superior de Minas Gerais e da Prefeitura do mu-nicípio onde vai ser instalada a incubadora.

O Inatel também abriga o Centro de Desenvolvimento e Transferência de Tecnologias Assistivas de Minas Gerais.

Maria Olívia, da Fapeam: edital

contempla soluções focadas

em Tecnologia Assistiva

Curso de Engenharia Biomédica

do Inatel desenvolve

estudos na área

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“Desde 2003 o Inatel possui um curso de Engenharia Bio-médica e já desenvolvia estu-dos na área de Tecnologia As-sistiva. Por isso, o Governo de Minas Gerais, em sintonia com o Governo Federal, nos identi-ficou como parceiro. Ele quer que as pesquisas cheguem ao mercado”, afirma o coorde-nador do curso de graduação em Engenharia Biomédica do Instituto, Fabiano Valias de Carvalho.

Outras iniciativas que bus-cam divulgar as pesquisas das universidades e facilitar a transferência de tecnologias são os catálogos de produtos de Tecnologia Assistiva. No final do ano passado, o Fó-rum Nacional de Gestores de Inovação e Transferência de Tecnologia (Fortec) lançou um documento com uma lista de 77 tecnologias assistivas de-senvolvidas por entidades de C&T de todo o país e que estão disponíveis para serem trans-feridas ao setor empresarial. O catálogo foi elaborado em par-ceria Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Go-verno do Estado de São Paulo.

Existe também, disponível na internet, o Catálogo Nacio-nal de Produtos de Tecnolo-gia Assistiva, elaborado MCTI em conjunto com o ITS Bra-sil. Nele, estão listados 1.168 produtos que são comercia-lizados por empresa do país. As tecnologias são separadas, no site, em cinco tipos de de-ficiência (auditiva, intelectu-al, visual, física e múltipla).

Há também uma seção para idosos.

Nas incubadorasDevido ao espaço que a

Tecnologia Assistiva vem ga-nhando, muitas empresas de base tecnológica estão apro-veitando a oportunidade para desenvolver produtos na área e se inserir nesse mercado, ainda novo e sem muita con-corrência. Graduada há cerca de um ano pela Incubadora de Empresas de Base Tecnológi-ca da Universidade Federal da Bahia (INOVAPoli) e residen-te, desde o início de 2012, no Parque Tecnológico da Bahia, a NN Solutions foi fundada em 2009 e produz soluções para cegos. “Tínhamos um cenário muito favorável para inovação tecnológica dentro da empresa e, por outro lado, um mercado ainda muito pouco explorado”, explica Acbal Achy, diretor de negócios da empresa.

Os sócios da NN Solutions submeteram um projeto cha-mado Scanner Leitor Portátil (SLEP) ao edital PAPPE, geren-ciado pela Fundação de Am-paro à Pesquisa do Estado da Bahia, e venceram. “De 2009 para 2012, o Governo Federal enxergou a necessidade de se investir mais em acessibilida-de, no que tange a fabricação dos produtos nacionais, e já lançou dois editais de fomento a P&D com o tema direto de Tecnologias Assistivas”, afirma Achy.

O SLEP começou a ser co-mercializado no ano passado

pela NN Solutions. Ele é um software que fornece acesso, a cegos, a textos não impressos em Braille, por meio de dis-positivos móveis. O programa captura uma imagem do texto através da câmera do celular, reconhece as letras presentes na imagem e, em alguns segun-dos, lê o texto para o usuário por meio de voz sintetizada. “Devido ao custo elevado de impressão e da popularização de Softwares de Leitura e Au-diobooks, o Braille restringiu se a uma pequena fatia da in-formação impressa no Brasil”, explica Acbal. A licença do sof-tware está sendo vendida, atu-almente, por R$ 300.

Especializada no desenvol-vimento de sistemas compu-tacionais para processamento de linguagem humana, a Cone-xum, graduada pelo Centro de Empreendimentos do Instituto de Informática (CEI), da Univer-sidade Federal do Rio Grande do Sul, também desenvolve so-luções na área de Tecnologia Assistiva. “Nossa empresa foi

Carvalho, do Inatel: Instituto coordena criação de uma incubadora de empresas para projetos na área

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concebida para desenvolver software para tratamento da linguagem humana e sua co-municação através de qualquer mídia. Dependendo do software desenvolvido, temos que levar em conta se o usuário é cego, surdo, portador de limitações motoras etc. Assim, temos em vista o usuário final, seja ele portador ou não de deficiências, o que deve ser avaliado confor-me o objetivo de cada projeto”, explica Daniel Muller, diretor da empresa. A Conexum foi uma das habilitadas no edital da Fi-nep deste ano. A empresa sub-meteu à Financiadora uma tec-nologia de interface de voz para cegos, que poderá auxiliá-los no gerenciamento de dispositivos.

Em Recife, a empresa Brava Autonomia, residente no Porto Digital, desenvolve o Fone Fácil,

um sistema que possibilita que portadores de deficiência audi-tiva se comuniquem através de smartphones. “O smartphone tem um cliente instalado que, quando o surdo faz uma cha-mada, desconecta a chamada de voz e faz uma chamada de dados para um dos nossos servidores. Esse servidor estabelece, atra-vés da rede pública de telefonia, uma conexão vocal com o falan-te. Quando o surdo digita men-sagem, o servidor codifica em voz e, a partir desse momento, é transmitido ao falante o texto em formato de voz”, explica Bo-ris Wolfenson, gerente executi-vo da empresa.

SoluçõesUm dos principais desafios

no desenvolvimento do siste-ma, segundo Wolfenson, é a tecnologia de reconhecimen-to de voz, que decodifica as expressões vocais de um dos interlocutores da conversa em mensagem de texto para o surdo. “Esse está sendo um dos nossos principais proble-mas. Quando você usa rede pública de telefonia, a quali-dade do áudio cai e isso atra-palha também”, explica. Uma das soluções encontradas para contornar o problema é que o surdo, quando decide realizar uma chamada, opta pelo tipo de conversa que pretende ter. “Quando ele avisa que a liga-ção e é para marcar um encon-tro, pedir uma pizza ou chamar o SAMU, por exemplo, o siste-ma se concentra em palavras determinadas.”

O Fone Fácil ainda está em laboratório e, atualmente, apenas 50 usuários utilizam o sistema. Mas, a partir de julho, mais de 500 surdos de Recife poderão ter acesso à tecnolo-gia, graças a um convênio en-tre a Brava, por meio do Softe-xRecife (Centro de Excelência em Tecnologia de Software do Recife), com o Governo de Pernambuco. A Brava está de-senvolvendo, também, outras soluções na área de Tecnologia Assistiva, como um projeto de tradução de áudio para Libras e um dispositivo de segurança, que alertará o surdo sobre a ocorrência de eventos sonoros importantes, como desaba-mentos, e indicará a direção em que ocorreu o evento, para que ele possa se situar e con-seguir saber como agir. Este último projeto foi submetido ao edital Finep 2011.

Assim como a empresa per-nambucana, a Koller & Sindi-cic, dos irmãos Sindic, produz soluções de comunicação via telefone para surdos. A empresa estabeleceu uma parceria com o Centro de Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) e, em 2003, tornou-se incubada no Centro de Inovação, Empreen-dedorismo e Tecnologia (Cietec), da Universidade de São Paulo. Lá, a Koller residiu por três anos, até inaugurar sua fábrica na cidade de Santo Amaro, em São Paulo. “Naquela época, não existia investimento no Brasil na área de Tecnologia Assisti-va. Então, a Koller procurou a incubadora pelo suporte que

Software criado pela

NN Solutions fornece acesso,

a cegos, a textos não impressos

em Braille

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Brava está testando Fone Fácil com 50 usuários

ela podia oferecer”, explica Wlamir Carvalho, do Departa-mento de Acessibilidade e In-clusão Social da empresa.

Os telefones e outras solu-ções para surdos desenvolvi-dos pela Koller & Sindicic são diferentes dos da Brava. Os equipamentos são parecidos com uma máquina de escre-ver. A mensagem, escrita pelo surdo, é transmitida para uma central de atendimento. Lá, operadores leem a mensagem e a transmitem para o outro interlocutor. Depois, digitam a resposta para o surdo. É ne-

cessário haver uma interme-diação. As soluções da Koller são destinadas, principalmente, a empresas, bancos, órgãos pú-blicos e call centers. Em 2004, a empresa lançou o primeiro te-lefone público para surdos com tecnologia nacional.

Na lista de clientes estão Ele-tropaulo, Banco do Brasil, Itaú, Claro, Embratel, Sadia, Tam e Universidade de São Paulo, en-tre outros. A empresa também desenvolve projetos especiais de acessibilidade para hotéis, bancos, redes varejistas e postos de rodovia. Segundo

Carvalho, os bons resultados são reflexo do investimento em P&D, que corresponde a, no mínimo, 15% do fatura-mento anual.

Seguindo o Plano Viver Sem Limite, a Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação 2012-2015 instituiu o Programa de Inovação em Tecnologia Assistiva, que deve destinar, até 2014, R$ 150 milhões a projetos que tenham como objetivo melhorar a qualidade de vida de pessoas com deficiência. Desse total, R$ 60 milhões serão a fundo perdido (ou seja, o dinheiro não precisará ser devolvido) e R$ 90 milhões em crédito facilitado a empresas. Este ano, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) já lançou uma chamada pública de R$ 20 milhões voltada ao desenvol-vimento dessas tecnologias e recebeu 182 propostas empresas, o que representou uma demanda de R$ 409 milhões em investimentos.

Como parte do Programa de Inovação, também foi criado, em Campinas, um Centro Nacional de Referência em Tecnologia Assistiva (CNRTA), que está sendo instalado no Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer. Um dos papéis dessa nova instituição será o de articular a agenda de pesquisa e inovação de uma rede de Núcleos Interdisci-plinares de Tecnologia Assistiva, os quais estão sendo formados em universidades do país, além de estabelecer uma ponte entre o mercado e as demandas das pessoas com deficiência.

O MCTI pretende repassar anualmente R$ 1 milhão para o custeio dos trabalhos do CNRTA, além de R$ 500 mil para cada Núcleo organizado em universidade. A verba é vinculada ao Plano Nacional Viver sem Limite, coordenado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos.

O novo Programa também estabeleceu uma linha de microcrédito, voltada a pessoas com deficiência de baixa ren-da, para aquisição de produtos de Tecnologias Assistivas, no valor de até R$ 25 mil, com juros de 0,64% ao mês. Essa taxa com subvenção econômica será ofertada pelo Banco do Brasil, com carência de até 180 dias e prazo máximo de 60 meses. Diversos produtos e equipamentos de Tecnologias Assistivas terão, também, redução de impostos federais.

O último Plano de Ação do MCTI, o de 2007-2010, já trazia metas mais modestas para a área de Tecnologia Assis-tiva: o apoio, até 2010, de pelo menos 80 projetos de Pesquisa em Desenvolvimento na área e a criação do Centro de Referência em Tecnologia Assistiva, que foi instituído, efetivamente, neste ano.

_PROGRAMA DE INOVAÇÃO EM TECNOLOGIA ASSISTIVA

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INVESTIMENTO

Recente no Brasil, setor de capital semente está em expansão, mas ainda precisa atrair mais investidores.

Consolidação é essencial ao fortalecimento da cadeia do capital empreendedor no país

Um elo fundamental

Desde que entrou no ar, no final de 2007, até agosto do ano passado, quan-do encerrou seu período de investimen-to, o site do fundo de Capital Semente Criatec - fundado pelo Banco Nacional do Desenvolvimento (Bndes) e gerido pela Antera Gestão de Recursos e Grupo Instituto Inovação – recebeu cerca de 1,8 mil projetos de empreendedores. Desse total, 36 foram investidos com aportes de R$ 1,5 milhão. “Quando iniciamos o fundo, não tínhamos a expectativa de re-

ceber toda essa demanda. Existe muita necessidade de Capital Semente no país”, afirma Robert Binder, sócio da Antera e coordenador do comitê de empreende-dorismo inovação e capital semente da Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital (Abvcap).

O número de propostas recebidas pelo Criatec é um indicador do espaço que ainda existe para o Capital Semente no Brasil. Tão jovem quanto as próprias empresas que financia, esse setor come-

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INVESTIMENTO

çou a se desenvolver a partir da década de 2000 no país e ainda enfrenta desa-fios para se consolidar. De acordo com especialistas, existem lacunas na cadeia de capital de risco que precisam ser pre-enchidas. Também é preciso atrair mais investidores privados para o Seed Money e ainda não foi formado um track record: um histórico de desempenho das empre-sas investidas por capital semente.

Não existe um marco inicial do nas-cimento da indústria de Seed Money no país. Mas foi por volta da década de 2000 que fundos especializados na área começaram a aparecer: a mineira FIR Ca-pital, por exemplo, começou a operar em 1999, com foco nesse tipo de capital. Em 2005, surgiram a Antera, de Binder, e a também mineira Confrapar. Um ano de-pois, a Financiadora de Estudos e Proje-tos (Finep) realizou a primeira chamada do programa Inovar Semente e, em 2007, surgiu o Criatec, o maior fundo de capi-tal semente do país. Existem, também, outras gestoras que mantêm foco em Ca-pital Semente no país, como a Performa e a Jardim Botânico Investimentos, entre

outras. Todas criadas depois de 2000.Nesses últimos anos, o apoio gover-

namental tem sido forte no incentivo ao desenvolvimento do Capital Semente. A Finep, por meio do Inovar Semente, já aprovou a criação de sete fundos de Seed Money e, no final de maio, realizou a 12ª edição do Seed Forum, um even-to no qual empreendedores têm a opor-tunidade de se capacitar e apresentar seus projetos a investidores. Neste ano, a Financiadora planeja lançar mais uma chamada do programa Inovar Semente. Já o Bndes, por meio do Criatec, realizou investimentos em 36 empresas, sendo que oito delas receberam uma segunda rodada de recursos. O Banco irá lançar, no segundo semestre deste ano, o Criatec 2 – e já existem planos para o surgimen-to do Criatec 3.

“Como ocorreu em todos os países que já possuem uma cadeia de capital semente estruturada, o papel do governo é fundamental no início. Nesse ramo, há maior risco. E, hoje no Brasil ainda existe, por parte dos investidores, muito temor a isso, fruto do conforto com as taxas de

Binder, da Antera: demanda por Capital Semente é grande no Brasil

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1. Família e amigos: os mais comuns financiadores de novos negócios.

2. Investidor anjo: Pessoa física (ou jurídica, mas com recursos próprios) que investe em empresas nascentes, apoiando empreendedor com conhecimento, experiência e contatos, além de recursos.

3. Capital Semente: Primeira camada de investimento acima do investidor anjo. É feito na fase inicial do negócio.

4. Venture Capital: Investe em empresas já estabelecidas, mas de pequeno e médio porte e com potencial de cres-cimento. O investimento financia, principalmente, a expansão desses negócios.

5. Private Equity: Empresas de grande porte. Estão em fase de reestruturação, consolidação e/ou expansão de seus negócios.

6. Desinvestimento: O momento de saída da empresa é um dos mais importantes. É quando os investidores obtém lucro, ao vender sua participação nas empresas. Pode ocorrer através de venda das participações para outros fundos, aquisição por outra empresa ou por IPO (oferta pública inicial de ações).

Fonte: Abvcap, Anjos do Brasil, Exame, Ig São Paulo

_A CADEIA DO CAPITAL EMPREENDEDOR

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INVESTIMENTO

juros acima de 10%”, analisa Bernardo Portugal, sócio-fundador e diretor de in-vestimentos da Confrapar e membro do Conselho Deliberativo da Abvcap. A ideia é que o governo, por meio de suas ações, consiga atrair investidores privados para o ramo. “É importante que essas iniciati-vas sejam bem-sucedidas, para que fique demonstrado que se trata de uma ativi-dade importante, legítima e lucrativa”, explica Binder.

Formação da cadeiaAtrair investidores privados é justa-

mente um dos focos da Finep. “Por meio do Inovar Semente e do Seed Forum, queremos fazer com que os investidores privados se aproximem das empresas inovadoras”, explica Rochester Gomes, chefe do Departamento de Capital Se-mente da Financiadora. Das 130 empre-sas que participaram do Seed Forum até a 11º edição, 18% foram investidas. “É um número excelente. Além disso, mes-mo as outras empresas que não foram in-vestidas participaram de capacitações e tiveram a oportunidade de amadurecer”, afirma.

De acordo com David Travesso, presi-dente da FIR Capital, houve um aumen-to nos últimos dois anos no número de investidores privados, muitos, inclusive, estrangeiros. “Só agora, há dois anos, o Seed Money vem ganhando força no Bra-sil e vem fazendo investimentos plane-jados”, afirma. Entre os motivos, segun-do ele, estão o surgimento de negócios interessantes na área de web e os juros mais baixos, que forçam os investidores a aceitar maior risco para obter maior remuneração. “As empresas que não são do ramo da web, no entanto, ainda têm dificuldades em conseguir esse tipo de financiamento”, explica.

A FIR Capital foi fundada em 1999 com o objetivo de investir em empresas

nascentes no modelo californiano, mas, em meados da década 2000, passou a dar mais foco a empresas já em expan-são. “Não chegamos a deixar de lado o Seed Money, mas tivemos dificuldades para encontrar investidores”, explica Travesso. Há alguns anos, contando com recursos da Finep, a gestora tentou mon-tar quatro fundos de capital semente: em São Carlos, no interior de São Paulo, em Recife (PE), no interior de Minas Gerais e em Florianópolis (SC). “Apenas o de Flo-rianópolis deu certo. Não conseguimos viabilizar os outros por falta de investi-dores interessados”, explica Travesso. O Fundo Santa Catarina realizará seu quin-to e último investimento ainda no primei-ro semestre deste ano.

A existência de lacunas na cadeia de capital empreendedor (Veja Box na pá-gina 37) é um dos fatores que afeta o desenvolvimento da indústria de Capital Semente no Brasil. “O grande desafio é preencher a cadeia toda. No Brasil, ela está incompleta. Não dá para ficar limita-do a um ou outro caso de sucesso”, afir-ma David Travesso Neto da FIR Capital. De acordo com ele, há muita possibilida-de de investimento na casa dos R$ 100 milhões, mas para valores menores – R$ 15 milhões e R$ 20 milhões, por exem-plo – a oferta ainda é restrita. “A curva da indústria de Venture Capital ainda não está montada. Falta sequência no cresci-mento”, explica.

A primeira etapa da cadeia, que seriam os investidores anjos (em geral, pessoas físicas que fazem investimentos iniciais em projetos), começou a se consolidar na última década. Hoje, existem cinco redes desse tipo de investidor e quatro núcleos regionais da Anjos do Brasil, organização sem fim lucrativos que divulga o inves-timento anjo pelo país. “A formação da cadeia de capital de risco é extremamen-te importante. Se não existe esse elo, não

Portugal, da Confrapar: governo deve incentivar

investidores a aportar recursos em empresas

nascentes

Gomes, da Finep: 18% das empresas que participaram

do Seed Forum foram investidas

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há continuidade dos projetos. Muitos po-dem acabar sendo perdidos”, explica Cas-sio Spina, fundador da Anjos e autor do livro “Investidor Anjo: guia prático para empreendedores e investidores”.

A solidez da cadeia serve como incen-tivo para os investidores anjo. “Quando o investidor anjo vê que tem um fundo de Capital Semente, ele se sente mais confortável para atuar. É importante que exista esse continuum”, explica Robert Binder, da Antera. Ele ressalta, também, que quanto mais cedo as empresas são investidas por capital de risco, mais bem estruturadas elas se tornam. “A partir do momento que entra o investidor anjo, você tem o sócio, que já começa a traba-lhar na estrutura da empresa”, afirma.

A consolidação do Venture Capital, que seria uma fase posterior à do Capital Semente, também é essencial para o de-senvolvimento do Seed Money “O fundo de Capital Semente quer que o fundo de Venture Capital substitua seu investimen-to, até chegar à bolsa de valores. À medi-da que isso estiver funcionando, teremos um setor que produzirá novas empresas, as quais vão desenvolver inovações e no-

vos produtos”, explica Binder.Track RecordComo o Capital Semente ainda é muito

novo no Brasil, ainda não existe um track record, ou seja, um histórico de desem-penho das empresas investidas por esse tipo de capital. A partir do momento que isso se formar, a tendência é que o Seed Money ganhe impulso. “Quando você investe em semente, investe na fase ini-cial de alto risco. Você só consegue trazer o capital privado a partir do momento em que as pessoas começam a ser muito bem sucedidas. Como o Brasil não tem o que se chama track record, é difícil de você con-vencer as pessoas, em um primeiro momen-to”, afirma Binder.

Segundo ele, esse histórico de sucesso está começando a se formar. Duas empre-sas do fundo Criatec já foram desinvestidas até agora, por exemplo. A Usix, empresa de TI que atua na área de Seguros, foi a primei-ra. Ela foi adquirida, em 2010, pela Ebix, lí-der mundial em soluções para o setor, com sede nos Estados Unidos.“O resultado está sendo bom. Um indício disso é que o Bndes já quer fazer Criatec 2 e 3”, diz. Sinal de que o track record está se formando.

Spina, da Anjos: continuidade de projetos depende da consolidação da cadeia de capital de risco

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Uma versão nacional do Seed Forum da Finep vai acontecer durante o XXII Seminário Nacional de Parques Tecno-lógicos e Incubadoras de Empresas e XX Workshop Anprotec, a ser realizado em Foz do Iguaçu (PR), entre os dias 17 e 21 de setembro de 2012. É a primeira vez que o Seed Forum terá uma edição nacional. Até então, os eventos eram regionais e ocorreram, até agora, apenas em oito estados do país, restritos às empresas desses locais.

O Seed Forum Nacional será uma oportunidade para que empresas incubadas e graduadas do país inteiro mos-trem o potencial de seus negócios aos investidores. “Nem todas as empresas que participam dos Seed Foruns são incubadas. Essa edição no Seminário vai ser só para empresas incubadas ou graduadas. Vamos aproximar esses em-preendedores dos investidores e queremos mostrar que o processo de incubação é capaz de criar empreendimentos inovadores e sólidos”, destaca o chefe do Departamento de Capital Semente da Finep, Rochester Gomes.

A ideia é que a realização do Seed Forum durante o Seminário Nacional também aproxime os investidores do mo-vimento de empreendedorismo inovador. “Queremos trazer os investidores ao evento e fazer com o Seminário faça parte da agenda deles”, afirma Gomes.

_XXII SEMINÁRIO NACIONAL SEDIARÁ SEED FORUM

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SUCESSO

No topo da listaEmpresa graduada pela EsalqTec é considerada uma das

mais inovadoras do mundo. Mérito dos empreendedores que transformaram uma antiga pesquisa em produto

Em fevereiro deste ano, quando a revista americana Fast Company – especializada em tecnologia e negócios – divulgou a lista das 50 empresas mais inovadoras do mundo, um nome gerou surpresa: em 33º lugar no ranking geral e em 1º no nacional estava a brasileira BUG Agen-tes Biológicos. O empreendimento de Piracicaba (SP) – graduado pela Incubadora de Empresas Agrozootécnicas da Escola Superior de Agricul-tura Luiz de Queiroz (EsalqTec) – ficou à frente de gigantes como PayPal, Grupo EBX, Stefani-ni, Embraer e Petrobras. O motivo? A empresa conseguiu produzir, em escala comercial, uma alternativa natural ao uso de pesticidas na agri-

cultura. “Foi realmente uma surpresa para nós”, afirma Diogo Carvalho, um dos sócios-fundado-res e atual diretor de negócios da empresa.

A BUG, criada em 2001 por Carvalho e Danilo Scacalossi Pedrazzoli, ambos engenhei-ros agrônomos e estudantes de mestrado da Esalq na época, surgiu a partir de pesquisas realizadas no laboratório de entomologia da Universidade. Lá, eram estudadas as vespas do gênero Trichogramma, inimigas naturais de pragas que atacam culturas como as de cana e soja. Como o próprio nome diz – bug significa inseto em inglês –, essas vespinhas hoje são o principal produto da empresa. “O potencial

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SUCESSO

de controle biológico desses insetos já era conhecido há anos. Nosso maior desafio foi transformar aquilo que era uma pesquisa em escala comercial e a um custo interessante para o produtor. Fora da Esalq, mudamos o sistema de criação para chegar a um mo-delo com margem de lucro e preço compe-titivo. Esse foi o nosso grande diferencial”, destaca Carvalho.

Durante dois anos, a empresa ficou in-cubada na EsalqTec, sobrevivendo com base em recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp), que, por meio do programa PIPE, financiou a BUG, nos primeiros anos, com três aportes de subvenção econômica. Depois desse perí-odo de incubação, a empresa teve que se mudar, principalmente em função da ne-cessidade de mais espaço. As vespas são fabricadas em quatro unidades de produ-ção, grandes galpões, da BUG. “Contamos bastante com a ajuda da Universidade nessa época. Além da incubadora, utilizá-vamos os laboratórios para uma parte da produção”, relata Carvalho.

As vespas são vendidas em cartelas de papelão. Cada uma possui 24 cápsulas e contém, ao todo, de 50 mil a 100 mil ves-pinhas, o suficiente para proteger um hec-tare. Para a aplicação do produto, as cápsulas são destacadas pelo produtor e devem ser distribuídas no terreno a cada 20 metros. A BUG atende, atualmente, cerca de 350 mil hectares de lavoura no país, fornecendo ves-pas para cerca de 300 clientes, dentre eles empresas como Raízen e São Martinho. Os clientes vieram depois de muito trabalho no convencimento dos produtores, acostumados a utilizar pesticidas. No início, a empresa che-gava a fazer testes e aplicar o produto de gra-ça, mesmo não tendo lucro. “Há dez anos era difícil. O agricultor nasceu aplicando insetici-da e é muito difícil mudar isso”, diz Carvalho.

No ano passado, a BUG se fundiu com a Promip, empresa que também atua no ramo de controle biológico. A Promip foi fundada

em 2006, a partir das pesquisas da Universi-dade, e ainda possui uma de suas unidades incubada na EsalqTec. A diferença é que tra-balha com ácaros predadores, que atuam no controle de pequenas culturas como moran-go, tomate e pimentão.

A fusão faz parte de uma das estratégias de crescimento da BUG, que quer aumentar seu portfólio para outras culturas. “Agora, vamos chegar com um pacote completo ao produtor”, afirma Carvalho. A BUG também realiza pesquisas para aumentar seu por-tfólio e capacidade de produção. A empresa ainda mantém parcerias com a Esalq e tem metas ambiciosas: quer, em cinco anos, ter 10% do mercado de defensivos. De acordo com ele, a concorrência no Brasil é baixa. “Existem empresas que trabalham com fun-gos. Com insetos, são poucas. Agora, há em-presas de fora que olham para o Brasil, mas o país representa um mercado que levará vários anos para ser suprido”, prevê. L

_RANKING

A revista Fast Company chegou até a BUG através de um livro da repórter americana especializada em tecnologia Sarah Lacy, chamado “Brilliant, crazy, cocky: how the top 1% of entrepreneurs profit from glo-bal chaos”. Sarah, há alguns anos, visitou o Brasil e conheceu a empre-sa durante dois dias. Quanto voltou aos Estados Unidos e escreveu o livro, a BUG foi um dos cases de des-tacados na publicação. “Foi através do livro que a Fast Company nos achou. Depois eles acompanharam a BUG por meio do site e, even-tualmente, nos mandavam algumas perguntas. Mas nunca ficamos sabendo que estávamos participando do ranking. Foi realmente uma surpresa”, relata Diogo Carvalho, diretor de negócios da BUG.

Capa da revista que destacou a BUG entre as mais inovadoras do mundo

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Micro e pequenas empresas devem estar atentas ao cumprimento de requisitos legais que envolvem aspectos

trabalhistas, tributários e de propriedade intelectual

Fragilidade jurídica

A história das disputas que envolveram a criação do site Facebook ficou mundial-mente conhecida após o lançamento do filme A Rede Social, em 2010. O longa--metagem mostra Mark Zuckerberg - atual diretor-executivo da empresa - responden-do a dois processos: um de Eduardo Save-rin, seu ex-sócio e colega na Universidade de Harvard, que se sentiu lesado ao ver sua participação no Facebook ser reduzida de 34% para 0,3%, e outro movido pelos irmãos Cameron e Tyler Winklevoss, que acusaram Zuckerberg de roubo de proprie-dade intelectual.

Problemas como esses não estão restri-tos a grandes empresas. Micro e pequenos

empreendimentos também lidam, no dia--a-dia, com questões jurídicas e, se não se prevenirem, podem parar nos tribunais e perder oportunidades de investimento. Uma pesquisa realizada em 2008 com 60 empresas distribuídas em cinco incubadas do estado de Santa Catarina revelou um cenário de fragilidade e de falta de cultura jurídica nos empreendimentos analisados.

O estudo foi realizado pelo escritório catarinense Guimarães e Santiago, como parte do projeto Progressus, da Funda-ção Certi. Por meio de entrevistas, foram levantadas informações em cada uma das empresas sobre quatro temas: direito tra-balhista, tributário, societário e proprieda-

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de intelectual. Apesar de os dados não se-rem aprofundados, a pesquisa identifi cou vários pontos de fragilidade nas empresas, como ausência de regulação de relações societárias, falta de controle e proteção da propriedade intelectual, problemas no modo de contratação de colaboradores e desconhecimento de aspectos tributários.

Júlio Santiago, um dos advogados que coordenou a pesquisa na época, relata que uma das empresas que participaram do es-tudo hoje é cliente do escritório. “Quando o empresário veio aqui conversar sobre o problema, ele lembrou: ʻpoxa, estava olhando o relatório que vocês fi zeram na-quela época. Se eu tivesse me preocupado, não precisaria estar aqui agoraʼ”, conta. Se-gundo Santiago, no âmbito das empresas incubadas, há falta de cultura jurídica e o predomínio da informalidade. “Há um cer-to amadorismo. As empresas utilizam mo-delos ultrapassados. Mas é importante que elas lembrem que, apesar de serem peque-nas, são globais, e isso exige preocupação com o aspecto jurídico”, aponta.

Propriedade intelectualNas empresas de base tecnológica, mui-

tas vezes, a propriedade intelectual (PI) é o principal ativo que o empreendimen-to possui e, de acordo com os advogados especialistas na área, é importante que as MPEs se preocupem com essa questão desde o início. “Dependendo da natureza da empresa, a propriedade intelectual é o principal fruto da atividade empresarial. Então, proteger a PI é dar garantia de que o empresário vai poder colher os frutos do seu investimento, além de assegurar a questão da exclusividade”, afi rma o advo-gado Gustavo Escobar.

De acordo com ele, que tem como clien-tes muitas empresas residentes no parque tecnológico Porto Digital, no Brasil há falta de cultura de propriedade intelectual, as-pecto que se refl ete até mesmo em empre-

endimentos de base tecnológica. “Há um esforço muito grande para a geração de P&D, mas ainda persiste um baixo índice de produção de patentes, comparado com países até bem menores. Hoje está mudan-do esse paradigma. Estamos deixando de ser um país consumidor para ser produtor de tecnologia. E fi ca muito mais fácil de compreender a questão da proteção e do respeito à PI quando você não é só consu-midor, mas sim produtor. Esse é um pro-cesso natural pelo qual estamos passando”, analisa.

A mesma opinião é partilhada pelo ad-vogado Júlio Santiago. “Apesar de terem na propriedade intelectual uma de suas principais bases de sustentação, muitas empresas de base tecnológica apresen-tam fragilidades nesse aspecto”, avalia. Ele aponta que muitos empreendimentos, por falta de precaução, não tornam seu know how parte de seu patrimônio, o que pode prejudicar, depois, a obtenção de investi-mentos e o próprio sucesso do negócio. “O investidor aceita o risco do projeto, mas não aceita os riscos jurídicos. Quando é feita a due dilligence [processo de investigação e auditoria nas informações de empresas para confi rmar os dados disponibilizados aos po-tenciais compradores ou investidores], se é identifi cado problema de proteção intelec-tual, a empresa não conseguirá receber o investimento”, alerta.

Alguns colegas de faculdade se unem e tem a ideia de criar uma empresa com base em pesquisas feitas na universidade, sem se preocupar com a formalização jurídica das questões societárias. Essa é a história do começo de muitos empreendimentos incu-bados, segundo o advogado Renato da Vei-ga, especializado em questões empresariais e tecnológicas. “Já atendi várias empresas com essa mesma causa: colegas de faculda-de se juntam, um tem a ideia, o outro reali-za. Não há uma preocupação em defi nir no início o que cada um trouxe, mesmo que a

Veiga: direitos dos sócios devem estar bem defi nidos no início do empreendimento

Júlio Santi ago: empresas sofrem com falta de cultura jurídica

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criação seja a base do valor da empresa”, relata.

Os problemas dessa informalidade, de acordo com Veiga, surgem quando um dos sócios decide sair do empreendimento. “Já vivenciei ações pesadas por causa disso. Faltou prevenção: uma cláusula prevendo indenização, mas determinando que o só-cio que sair não pode levar material intan-gível da empresa”, explica.

O diagnóstico jurídico realizado pelo escritório Guimarães e Santiago apontou esse mesmo problema. Dos 60 empreen-dimentos analisados, 22% tinham sócio informal e 91% não haviam regulado o di-reito de preferência entre os sócios. “Mui-tas vezes os sócios se unem devido a uma amizade. Mas a relação societária tem que estar acima da amizade. E é melhor que os empreendedores resolvam antes o que vai acontecer se alguém quiser sair da so-ciedade do que deixar essa questão para depois, quando os problemas vão estar personalizados”, afirma Santiago.

Conflitos entre sócios também podem se refletir na propriedade Intelectual dos em-preendimentos. “O que acontece quando chega um momento de estresse ou ruptura na sociedade? A propriedade intelectual está vinculada à empresa e, muitas vezes, pela informalidade, alguém que investiu

nela, seja do ponto de vista financeiro ou técnico, acaba ficando de fora. Na minha ótica, a questão societária é formal e pré-via, e deve estar muito bem estabelecida na formação da startup”, analisa Escobar.

Contratação de funcionáriosOutra questão que deve ser alvo da

preocupação de empresários é a contra-tação de colaboradores. Em empresas de base tecnológica, existem especificidades que devem ser consideradas. “O próprio contrato, para empresas da área de Tecno-logia, deve ser diferente. É preciso haver cláusulas de sigilo. Empresas de TI, por exemplo, lidam com informações sigilosas de clientes e os colaboradores devem ter consciência de que não podem divulgar esse tipo de dado. É necessário que haja um controle do uso e da disseminação des-sas informações. Já vi vários programa-dores conversando sobre seus trabalhos, publicamente, sem se dar conta de que estavam revelando informações sigilosas”, explica o advogado Renato da Veiga.

Veiga alerta, também, que os empreen-dimentos devem se preocupar com a ques-tão do trabalho remoto. “Muitas vezes, na área de TI, os colaboradores trabalham de casa e a questão do trabalho remoto ainda não está consolidada na Justiça Trabalhis-

_PROBLEMAS COMUNS

Estudo realizado com 60 empresas incubadas de Santa Catarina, em 2008, revelou diver-sas fragilidades jurídicas nos empreendimentos. Na época:• 17% das empresas tinham funcionários na forma de pessoa jurídica;• 24% não possuíam cartão ponto;• 22% tinham sócio informal;• 91% não haviam regulado o direito de preferência entre os sócios;• 55% não possuíam registro de marca;• 49% utilizavam cópias ilegais de softwares;• 70% não possuíam termo de confidencialidade;• 72% não possuíam registros dos seus softwares.

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ta. No caso de funcionários que vão traba-lhar dessa forma, não basta que a empresa simplesmente siga procedimento padrão de contratação. É preciso haver um contra-to específico”.

As questões trabalhistas também po-dem resultar em problemas na área de propriedade intelectual. “É preciso que as empresas definam de quem é a tecnologia gerada pelo funcionário durante seu traba-lho. Há muitos casos de colaboradores que realizam parte do trabalho em casa, fora do horário de trabalho. A propriedade inte-lectual é da empresa ou do colaborador?”, alerta Júlio Santiago.

Papel das incubadorasNo projeto Estudo, Análise e Proposi-

ções sobre as Incubadoras de Empresas no Brasil, realizado pela Anprotec em parceria com o Ministério de Ciência, Tec-nologia e Inovação (MCTI), o serviço de assessoria jurídica aparece como um dos que são mais requisitados pelas empresas incubadas e poucos oferecidos pelas in-cubadoras. A Incubadora Tecnológica da Feevale (ITEF), da cidade gaúcha de Novo Hamburgo, é uma das poucas que ofere-cem esse tipo de serviço. Lá, um profes-sor do curso de Direito orienta semanal-mente os empreendedores. “Havia muita demanda dos empresários para resolver questões como relacionamento com for-necedores e clientes. Além de dúvidas sobre propriedade intelectual e sobre a própria estruturação do negócio”, explica o coordenador da incubadora, Alexandre Stroher.

Na ITEF, além das incubadas, os proje-tos pré-incubados e as graduadas também recebem orientação jurídica. “A questão jurídica está no dia-a-dia do empresário. E como a incubadora tem o papel de ajudar na estruturação do negócio, ela deve aju-dar o empresário a desenvolver essa cul-tura jurídica. O empreendimento tem que

se graduar com uma visão do que pode ou não prejudicá-lo”, recomenda.

Desde que entrou em funcionamento, a Incubadora Aeronáutica (Incubaero), lo-calizada em São José dos Campos, oferece o serviço de assessoria jurídica por meio de um advogado terceirizado. “É um ser-viço simples, para orientar os empresários principalmente em relação a contratos. Há muita demanda por contratos de sigilosi-dade, por exemplo”, explica a gestora da Incubaero, Ideli Martins de Souza. Quando os empreendimentos precisam de serviços jurídicos mais complexos, os empresários são orientados a procurar advogados. “Acredito que todas as incubadoras deve-riam fazer o mesmo, até pelo perfil dos empreendedores, que muitas vezes acaba-ram de sair da universidade e são inexpe-rientes em relação a questões jurídicas”, afirma.

O modelo da Incubaero, de terceirização do serviço, é adotado também pela Incuba-dora de Pato de Minas (IEP), localizada em Minas Gerais, no Núcleo de Empreendimen-tos em Ciência, Tecnologia e Arte (Nectar), de Recife, e nas incubadoras do projeto Rio Criativo, no Rio de Janeiro.

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Incubadora da Feevale, em Novo Hamburgo (RS), oferece assessoria jurídica semanal aos empreendimentosL

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OPORTUNIDADE

Para entender as preferências de clientes e usuários, companhias apostam em soluções que envolvem neuromarkting e tecnologias de monitoramento

Mistérios do consumo

A diferença entre Coca-Cola e Pepsi está apenas no sabor? Uma pesquisa publicada na revista científica Neuron, em 2004, mostrou que não. O neurocientista americano Read Montague realizou um estudo em que 67 pes-soas tiveram suas atividades cerebrais anali-sadas durante a degustação dos dois refrige-rantes. Quando os participantes não sabiam o nome das marcas, 50% deles acharam a Pepsi melhor. Na segunda etapa do teste, quando sabiam quais eram as bebidas, 75% preferi-ram a Coca-Cola. Os resultados mostraram que a marca exerceu mais influência do que o sabor em si, ativando as regiões cerebrais res-ponsáveis pelo controle cognitivo e memória.

Entender o que se passa na cabeça do consumidor é uma tarefa cada vez mais difícil para empresários, publicitários e profissionais do marketing. Nesse cenário, soluções como neuromarketing e outras tecnologias de moni-toramento e análise ganham espaço e abrem mercado para empresas de base tecnológica. “Apenas com a verbalização, ou seja, com o que o consumidor fala durante uma pesquisa, não é possível qualificar suas preferências”, explica Carlos Augusto Costa, coordenador do Laboratório de Neuromarketing da FGV Proje-tos, lançado no ano passado.

Criada há apenas dois anos, a empresa IDXP, que foi incubada na Fumsoft, de Minas

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OPORTUNIDADE

Os sócios da IDXP: empresa oferece solução para analisar comportamento do consumidor no ponto de venda

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ãoGerais, está de mudança para o Vale do Silí-cio. O empreendimento – um dos vencedores do IBM Smart Camp 2011 – oferece soluções de rastreamento de consumidores em lojas de varejo de autosserviço, aquelas em que os próprios clientes selecionam os produtos. “Nós não vendemos pesquisa, mas um serviço. Nossa tecnologia permite que o varejista ana-lise o comportamento do consumidor a um custo menor e em tempo quase instantâneo”, explica Gustavo Lemos, CEO da IDXP.

A solução funciona por meio de rastrea-mento por radiofrequência, uma tecnologia capaz de analisar a movimentação dos car-rinhos ou cestas de compra dentro do ponto de venda. É possível saber a localização do consumidor com uma precisão de até 10 cen-tímetros. Os dados são cruzados com o mapa da loja e de produtos e com as informações de checkout, que mostram o que o cliente real-mente comprou. As informações ficam dispo-níveis através de um software fornecido pela IDXP. “O varejista pode fazer experimentos e, na mesma hora, olhar para o sistema e ver quais são os impactos que estão sendo causa-dos. O sistema permite medir, agir e mensurar em um ciclo muito rápido”, afirma Lemos.

A nova versão do software da IDXP vai ser capaz, também, de fazer recomendações a partir da análise de indicadores-chave. “O sistema mostra, por exemplo, um corredor em que muita gente está passando, em um tempo acima da média do supermercado, mas pouca gente está comprando. Temos a sinalização de que aquela é uma área de passagem. Aí o sistema pode fazer algumas sugestões, como colocar ali um ponto de degustação ou produ-tos com poder de compra muito grande, que vão fazer as pessoas parar”, explica Lemos. De acordo ele, esse foi um caso real que aconte-ceu em um supermercado. “Colocamos salga-dinhos naquele corredor. Isso fez as pessoas pararem e aumentamos em 20% a venda do setor como um todo”, destaca.

A solução da IDXP é uma novidade no mercado varejista mundial. Por isso, os sócios

decidiram se mudar para os Estados Unidos neste ano. “Nosso produto permite aumentar a rentabilidade por metro quadrado de um va-rejista. Em economias em crescimento, como o Brasil, ainda existe a possibilidade de expan-são das lojas. Em economias estagnadas ou mais maduras, como Estados e Europa, não. Lá, nesse momento, eu sou prioridade de in-vestimento, já que eles não têm outra opção para aumentar rentabilidade”, explica Lemos.

Seguindo cliquesO produto da IDXP foi criado com base

em uma estratégia que vem sendo adotada há anos na internet: o rastreamento dos usu-ários nos sites de e-commerce, que possibilita a realização de recomendações aos clientes. A multinacional Amazon foi uma das pioneiras no uso desse tipo de tecnologia e, hoje, mais de 30% das vendas do seu site são feitas por meio do sistema de recomendações.

Foi em uma competição da Netflix – em-presa provedora de vídeos online – que os amigos João Bernartt e João Bosco, então es-tudantes de mestrado da Universidade Fede-ral de Santa Catarina, tiveram a ideia de criar a Chaordic Systems. O concurso, realizado em 2009, oferecia o prêmio de US$ 1 milhão para quem criasse um algoritmo de recomendação 10% mais preciso que o da Netflix. “Chegou um momento em que vimos que a chance de nós ganharmos seria pequena. Já tínhamos aprendido bastante e vimos que podíamos

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Chaordic, incubada no Celta, personaliza lojas vituais

para melhorar experiência do usuário – e vender mais

trazer aquela tecnologia de sistema de reco-mendação para o Brasil”, relata João Bosco, que realizou seu mestrado na área de mine-ração de dados.

Incubada no Centro Empresarial para La-boração de Tecnologias Avançadas (Celta), de Florianópolis (SC), a Chaordic Systems conse-guiu captar, já no seu primeiro ano, cerca de R$ 1 milhão por meio de editais de fomento como da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e Fapesc (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Cata-rina). O primeiro cliente da empresa foi a livra-ria Saraiva. “Foi nosso primeiro, e já grande, cliente. Depois, as empresas começaram a nos procurar e está sendo assim desde então. Nós não precisamos investir muito em marketing, os clientes apareceram”, afirma Bosco. A taxa de conversão de vendas da Saraiva online (ín-dice de comparação com base no número de visitas que o site recebe e o número de com-pras efetivadas) cresceu cerca de 40% após o uso do sistema. O principal produto da empre-sa se chama Chaordic Onsite. “Personalizamos uma loja para que ela seja diferente para cada cliente. Para isso, utilizamos as informações geradas pelos usuários no site”, afirma Bosco.

A empresa Tuilux – residente na Incubado-ra de Empresas de Santos, em São Paulo (SP) – também desenvolve sistemas de recomen-dação em massa. O empreendimento foi fun-dado em 2009 por Helder Knidel e Leandro Castro, ambos com pós-graduação pela Uni-versidade Estadual de Campinas. A tecnologia

desenvolvida pela empresa utiliza como base fenômenos e processos naturais como algorit-mos genéticos, redes neurais e sistemas imu-nológicos artificiais. “O comércio eletrônico é muito recente. A cada ano, as lojas vendem mais, no entanto, elas não estão vendendo melhor. A taxa de conversão gira em torno de 1%.” Nos próximos anos, as empresas vão ser forçadas a mudar. Quem não for eficiente não vai conseguir sobreviver. “As ferramentas de recomendação são uma das principais medi-das que uma loja pode adotar para aumentar sua taxa de conversão”, afirma Helder Knidel.

Na cabeça do consumidorO neuromarketing - que estuda o com-

portamento do consumidor a partir da neu-rociência – também vem surgindo no país como uma das soluções para aumentar a compreensão do comportamento do con-sumidor. A empresa Forebrain – residente Incubadora de Empresas da COPPE/UFRJ – é uma das únicas do Brasil que oferece serviços na área. “A neurociência transfor-ma algo intangível em tangível, capaz de ser mensurado”, explica Billy Nascimento, dire-tor executivo da Forebrain. Criada em 2010, a Forebrain oferece serviços como a análise sensorial de produtos, de marcas, de efeti-vidade publicitária e de embalagens. “Hoje as pessoas buscam experiências emocionais. O problema é entender como o produto vai gerar essas experiências. Para isso, empre-gamos metodologias neurocientíficas” diz o empreendedor.

No ano passado, a FGV Projetos tam-bém lançou um laboratório de Neuroma-rketing. “A pessoa realiza uma compra devido a uma soma de componentes emo-cionais como a atenção que ela presta ao produto, a emoção que ela sente e a capa-cidade de memorização. O neuromaketing possibilita o desenvolvimento de produtos mais adequados ao anseio do consumidor”, conclui o coordenador do laboratório, Car-los Augusto Costa. L

OPORTUNIDADE

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O Brasil não é destino certo apenas de investimentos fi-nanceiros, mas também de “investimentos” culturais. Gale-

rias de arte de países como Estados Unidos e Inglaterra estão abrindo unidades provisórias em São Paulo. Os novos compradores de arte estão por aqui. E a notícia também é boa para o público em geral: com esse novo Brasil, grandes mestres internacionais das artes visuais estão virando temas de exposições em cidades como Belo Horizonte, Curitiba e São Paulo.

O genial pintor italiano Caravaggio é um desses grandes artistas que recebe uma mostra no país. Nascido em 1571, em Milão, foi um nome de prestígio no seu tempo, especialmente em Roma. Até hoje suas pinturas são temas de estudos, em especial a incrível capacidade de simular uma luz ex-tremamente dramática em suas telas. Seu sucesso em vida foi tamanho que o pintor criou uma verdadeira oficina de artistas, culminando nos caravaggescos - pintores que foram seus assistentes e tentavam pintar tal qual o mestre, cujas obras também estão expostas na mostra.

A exposição de Caravaggio é importante em dois aspectos. Primeiro, o ineditismo: o público brasileiro nunca havia tido a oportunidade de ver uma exposição do artista. Segundo, pela preciosidade das obras. É sabido que poucas pintu-ras do artista sobreviveram ao tempo. Por aqui, sete serão exibidas.

Outra mostra importante é a do pintor também italiano Amadeo Modigliani, que, para se ter uma ideia, conviveu, em Paris, com nomes importantes como o famoso Picasso. Ao todo, estão expostas 12 pinturas e cinco esculturas, a maio-ria delas com a principal característica do artista: retratos de mulheres com rostos e pescoços longos. A mostra conta também como documentos pessoais do artista e fotografias de suas modelos e de seus locais de trabalho.

Caravaggio e seus seguidores. Casa Fiat de Cultura, em Belo Horizonte: De 16/05 a 15/07. Masp (Museu de Arte de São Paulo). De 26/07 a 23/09.

Modigliani: Imagens de Uma Vida. Masp (Museu de Arte de São Paulo): 17/05 a 15/07. Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. Abertura: 26/07 – Data de encerramento a definir.

CULTURA

P O R B R U N O M O R E S C H I

Mestres das artes visuais

Imperativo

Veja J. Edgar. Uma coisa no cinema é certa: um novo filme do diretor Clint Eastwood sempre vale a pena. É o caso de J. Edgar. A produção não é, de fato, a melhor de seu currículo, mas a direção de Eastwood continua impecável. O maior erro do filme não é a história que relata a trajetória de um dos ex-chefes do FBI. O problema é a atuação de Leonardo Di Caprio. Ele tenta, tenta, mas ainda não consegue convencer. J. Edgar (2012, EUA, 137 minutos). Direção de Clint Eastwood. Com Leonardo Di Caprio. Em DVD.

Leia Getúlio 1882 - 1930 - Dos Anos de Formação à Conquista do Poder, de Lira Neto (Editora Companhia das Letras). A primeira parte de uma extensa e completa biográfica de Getúlio Vargas, umas das personalidades mais importantes da história brasileira. O autor teve acesso a cartas e diários íntimos do político.

Leia também O Poder dos quietos, de Susan Cain (Editora Agir). A obra desmente algo que aprendemos como uma verdade no mundo dos negócios: o fato de que ser extrovertido é a melhor maneira de se dar bem. Para comprovar que isso não é uma regra, a autora mostra histórias de introvertidos de sucesso.

Telas de Amadeo Modigliani: exposição passará por São Paulo (SP) e Curitiba (PR)

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A ecologia dos ParquesM a u r i c i o G u e d e s

Diretor do Parque Tecnológico da UFR J

P residente da IA SP – A ssoc iação Inter nac ional de Parques Tecnológicos

Ao mesmo tempo em que uma centena de chefes de estado e milha-

res de pessoas se reúnem no Brasil para discuti r o desenvolvimento

sustentável durante a Rio+20, estará sendo realizada, entre os dias

17 e 20 de junho deste ano, a 29ª Conferência Anual da Internati o-

nal Associati on of Science Parks (IASP), em Tallinn, capital da Estônia. O país tem

IDH considerado muito alto – 340 no ranking mundial de 2011 (o Brasil ocupa a

posição 84) – e seus 1,3 milhão de habitantes têm acesso à internet Wi-Fi em

prati camente todo o território, que inclui mais de 1,5 mil ilhas. Para quem não

está ligando o nome à pessoa, foi lá que nasceu o soft ware Skype, o que torna o

restante da humanidade eternos devedores da Estônia.

Várias sessões da conferência têm como foco o futuro dos Parques Tecnoló-

gicos. Temos assisti do, nos últi mos anos, ao surgimento de novos projetos, que

guardam grande semelhança com os Parques, mas também signifi cati vas dife-

renças, principalmente na questão do limite territorial em que atuam. Alguns

exemplos são o 22@Barcelona, na Espanha, o Berlin Adlershof, na Alemanha, o

Zhongguancun Science Park, na China, o Kista Science City, na Suécia, e o nosso

Porto Digital, em Recife (PE). Embora não tenham um terreno claramente delimitado, todos eles mantêm uma

equipe de gestão atuando no desenvolvimento da economia do conhecimento nas suas regiões e sua missão

está voltada ao estí mulo à inovação e ao empreendedorismo, ao apoio a startups e à arti culação entre empre-

sas, empreendedores, universidades e centros de pesquisas.

Nos últi mos dois anos, o Internati onal Board da IASP tem acompanhado esses novos modelos de Parques e

discuti do em que medida eles devem ser acolhidos em nossa associação com o mesmo status que os Parques

e as Incubadoras Tecnológicas tradicionais. A resposta é sim, são novos formatos de iniciati vas com a mesma

missão de transformar conhecimento em riqueza e bem estar.

Há quem pergunte se esta será uma tendência que transformará os Parques Tecnológicos em algo diferente

daquilo que conhecemos hoje. Não creio. Em várias partes do mundo existem Parques que ultrapassaram os

seus limites territoriais e trouxeram benefí cios econômicos e sociais para toda a região. O caso mais emblemáti -

co é o do Parque Industrial da Universidade de Stanford, criado em 1951, que deu origem a um fenômeno bati za-

do, 20 anos depois, pelo jornalista Don C. Hoefl er, de Silicon Valley. Tenho a convicção de que nos próximos anos

teremos no Brasil Parques Tecnológicos “transbordando” suas fronteiras, com consequências para a própria

imagem da cidade ou região. É natural que surjam projetos com essa proposta desde a sua origem.

O desenvolvimento sustentável do planeta certamente dependerá de mudanças radicais nas esferas políti ca

e econômica, mas também de inovações tecnológicas. A geração de conhecimento e sua transformação em

produtos e serviços que possam atender a essa demanda adquirem, neste momento, caráter de urgência. Todas

as iniciati vas que possam acelerar esse processo serão muito bem-vindas.

OPINIÃO

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Inscrições abertas!Estão abertas, até o próximo dia 6 de julho, as inscrições para a 16a edição do Prêmio Nacional de Empreendedorismo Inovador, promovido pela Anprotec, em parceria com o Sebrae.

Para empreendimentos, projetos e instituições que fazem a diferença.

Não perca a oportunidade

de mostrar o potencial inovador

(e transformador) de sua instituição!

Melhor incubadora de empresas orientada para a geração e uso intenso de tecnologias (PIT)

Melhor incubadora de empresas orientada para o desenvolvimento local e setorial (DLS)

Melhor projeto de promoção da cultura do empreendedorismo inovador (CEI)

Melhor empresa incubada (EI)

Melhor empresa graduada (EG)

Melhor Parque Tecnológico (PTH)

Inscreva sua organização em uma das seguintes categorias:

1

2

3

4

5

6

Acesse: www.anprotec.org.br, conheça o Regulamento e faça sua inscrição.

Mais informações:Anprotec - Unidade de Atendimento ao AssociadoFone: (61) 3202-1555 / Email: [email protected]

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Inscrições abertas!

Participe do maior evento de parques tecnológicos e incubadoras de empresas da América Latina.

Foz do Iguaçu espera por você!

Inscreva-se no site: www.seminarionacional.com.br

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Inscritos até 31 de julho ganham

desconto e concorrem a prêmios.

Realização: Organização local: